João Tabarra Tiago Guillul Werner Herzog Jonathan Coe Jamie Lidell

O mundo pelo buraco da fechadura a partir de hoje, em Lisboa e no Porto, nos palcos do Alkantara Festival

ESTE SUPLEMENTO FAZ PARTE INTEGRANTE DA EDIÇÃO Nº 7351 DO PÚBLICO, E NÃO PODE SER VENDIDO SEPARADAMENTE EDIÇÃO Nº 7351 DO PÚBLICO, INTEGRANTE DA PARTE FAZ ESTE SUPLEMENTO Sexta-feira 21 Maio 2010 www.ipsilon.pt PEDRO CUNHA CUNHA PEDRO

Os Belle & Sebastian, que já não davam notícias desde 2006, têm disco à vista

parte do próximo álbum dos Hannon, dos Divine Comedy. Sebastian sucedem, assim, a bandas Belle & Sebastian escoceses, e que provavelmente Além do trabalho em estúdio, os como os Mogwai, Pavement e com novas canções começarão já a ser tocadas ao vivo Belle & Sebastian vão estar Breeders, e a um cineasta como Jim nos poucos concertos que os Belle & ocupados com o Bowlie Weekender Jarmusch. Para o fim-de-semana Foram precisos quatro anos para Sebastian têm agendados para este 2. A banda foi a escolhida para estão já confirmadas as presenças que os Belle & Sebastian Verão. O último álbum da banda, patrocinar o segundo fim-de- dos Teenage Fanclub, Isobel mostrassem novidades, mas é “The Life Pursuit”, remonta a 2006. semana do evento – coisa que já Campbell e Mark Lanegan, Julian agora. A banda de Stuart Murdoch e Depois disso, só tínhamos ouvido tinha feito em 1999 –, organizado Cope, The Vaselines, Vashti Bunyan, amigos anunciou no seu site oficial música nova no projecto “God pelo festival All Tomorrow’s Parties, The Apples In Stereo, Silver que está em estúdio a trabalhar em Helped the Girl”, de 2009, que que decorre de 10 a 12 de Dezembro Columns, Flaming Lips, Jon Spencer novas canções, que deverão fazer contou com a participação de Neil em Minehead, Inglaterra. Os Belle & Blues Explosion e Mercury Rev.

influência, sublinham os curadores Michael Flash Darling, Jon Shirley e Mary Shirley no catálogo, do tamanho das de Marilyn e de Elvis. “A maioria dos trabalhos data de 1994 e dos anos que se seguiram, sugerindo claramente que Sumário a morte de Kurt motivou estes artistas, e tantos Alkantara Festival 6 outros, a confrontar-se As vidas dos outros, com o seu legado. O que é de hoje até 9 de Junho realmente espantoso, porém, é haver trabalhos Imaginarius 12 muitíssimo recentes”, Um festival cria escreve Darling. a sua comunidade A par de uma selecção claramente documental, Jonathan Coe 16 com imagens de Charles Feliz entre as mulheres Peterson e Alice Wheeler Luiz Ruff ato 20 que reconstituem a Um brasileiro em Lisboa transformação de Kurt (não é uma história de amor) Cobain numa “star” global, “Kurt” inclui uma João Tabarra 22 série de obras que O degelo de um artista evidenciam os fenómenos de identificação e de Tiago Guillul 24 projecção associados à Regressa, de óculos escuros, O “frontman” dos Nirvana é o tema de uma grande exposição no Seattle Art Museum que reavalia cultura pop, com artistas a sua importância patrimonial e iconográfi ca para a cultura pop das duas últimas décadas com um álbum ultra-violeta como Sam Durant ou peças – da pintura ao vídeo, Douglas Gordon a Jamie Lidell 30 Kurt Cobain, um fetiche da fotografia à instalação assumirem-se como Perdido na ambição sonora – que sublinham a duplos, de Cobain, e colectivo no museu ressonância muito particular outras que exploram o Werner Herzog 32 da vida e da obra desse potencial mitológico da Com Nicolas Cage em Nova Kurt Cobain já foi o fetiche Rodney Graham, Scott Fife rapaz muito loiro e muito de narrativa do seu suicídio. Orleães, depois do Katrina de Gus van Sant em “Last e Elizabeth Peyton, entre mal com o mundo na Se não fosse tão longe, Days” e é agora um fetiche outros artistas, mas haverá geração que se tornou adulta estávamos lá batidos com colectivo no Seatlle Art ainda debates, projecções nos anos 90. Cobain a nossa camisa aos Ficha Técnica Musem, onde desde o dia 13 de filmes e concertos, num continua vivo, e continua a quadrados dos gloriosos InêsInês NadaisNadais Directora Bárbara Reis decorre todo um programa programa que explorará, ser a gigantesca influência anos 9090.. Editor Vasco Câmara, Inês Nadais de reavaliação da até 6 de Setembro, a forma no inconsciente colectivo (adjunta) importância, digamos, como o tratamento que se tornou em Conselho editorial Isabel patrimonial e iconográfica contemporâneo dos temas 1991, o ano em que Coutinho, Óscar Faria, Cristina do “frontman” dos Nirvana, da liberdade, da perda, do os Nirvana lançaram Fernandes, Vítor Belanciano Design Mark Porter, Simon que se suicidou em 2004, desejo e da alienação foi um álbum mítico, Esterson, Kuchar Swara com 27 anos. A peça influenciado pela vida “Nevermind”, e Directora de arte Sónia Matos central, “Kurt”, é uma tumultuosa (e, vá, também sobretudo um slogan Designers Ana Carvalho, exposição que inclui pela obra fundadora) de mítico, “Here we are Carla Noronha, Mariana Soares trabalhos de Douglas Cobain. now / Entertain Editor de fotografi a Miguel Madeira Gordon, Alice Wheeler, Ao todo, são cerca de 80 us”. Uma E-mail: [email protected] O Kurt Cobain de cartão e cola de Scott Fife

Ípsilon • Sexta-feira 21 Maio 2010 • 3 Flash

Os irmãos Larrieu vão ser revisitados na próxima edição do festival, a partir de 3 de Julho

Kirsten Dunst vai juntar-se a Sam Riley na adaptação Kirsten Dunst filmes como “As Virgens Suicidas” do romance de Kerouac ou “Marie Antoinette”. Depois de vários realizadores, Os “meninos” de Maria também vai andar Dunst ganhou notoriedade com a entre os quais Gus Van Sant, terem “On the Road” participação em “Entrevista Com o tido o projecto em mãos, parece Vampiro” (1994), de Neil Jordan, que é desta que o romance icónico do Rosário Pedreira A actriz Kirsten Dunst vai integrar o mas a sua estreia no cinema data de da “beat generation” chegará elenco de “On the Road”, a 1989, quando, aos oito anos, fez de mesmo ao grande ecrã. Salles, que apresentam-se adaptação do romance homónimo filha da personagem interpretada está a trabalhar no filme desde de Jack Kerouac que o realizador por Mia Farrow em “Oedipus 2005, percorreu o rasto das A editora Maria do Rosário um outro romance escrito: brasileiro Walter Salles irá começar Wrecks”, o segmento realizado por deambulações de Kerouac através Pedreira foi contratada no “É uma pessoa que vai ter a filmar em Agosto. Francis Ford Woody Allen para “Histórias de dos Estados Unidos, tendo reunido final do ano passado pela obra e vai dar que falar”, Coppola, que já em 1980 comprara Nova Iorque”. material suficiente para realizar os direitos de adptação da obra, Não se sabe ainda que papel irá também um documentário, que se Leya para ser a editora de diz. será um dos produtores. E terá sido desempenhar em “On the Road”, chamará “In search of ‘On the novos autores portugueses O regresso de João Tordo, provavelmente através de Copolla mas é mais um nome confirmado Road’”, que se encontra neste no grupo. Os primeiros depois do Prémio José que Dunst chegou ao elenco de “On no respectivo elenco, a juntar-se aos momento em fase de pós-produção. livros daquela que foi Saramago que recebeu no the Road”, uma vez que a actriz tem de Kristen Stewart, Sam Riley e responsável por lançar ano passado, faz-se com um trabalhado regularmente com a Garrett Hedlund. filha do cineasta, Sofia Coppola, em uma ambiciosa longa-metragem – escritores como José Luís romance cujo narrador é Teatro Municipal de Vila do Conde, “Drawing Restraint 9” –, inspirada Peixoto, valter hugo mãe e um escritor “frustrado e o festival apresenta ainda um filme- em rituais xintoístas e filmado no João Tordo (todos Prémio hipocondríaco”, que viaja Amália e os irmãos concerto dos Orelha Negra, interior de um barco japonês de José Saramago) quando até Budapeste para um Larrieu em Vila convidados pelo Curtas a criar uma pesca à baleia. A banda sonora é de estava nas editoras Temas & encontro literário, e “está banda sonora para a série de filmes Björk, que também protagoniza o do Conde turísticos “Soundtracks For the filme, juntamente com Barney. Debates e QuidNovi longe de imaginar até onde City”, que o realizador Todos os restantes elementos do começam a ser publicados a a literatura o pode levar”. Já há nomes (oh yeah!) para a 18ª experimental inglês Ian Helliwelll extenso elenco são japoneses. partir de Junho na colecção Coxo, apoiado numa edição do Curtas Vila do Conde, encontrou em mercados de rua e Esta inédita parceria deveu-se em de Autores de Língua bengala, e planeando uma que decorre de 3 a 11 de Julho: na lojas de artigos em segunda mão. boa medida a Maja Oeri, uma das Portuguesa, da chancela D. viagem rápida, acaba por secção “Remixed”, estreia absoluta Também o Drumming - Grupo de herdeiras da multinacional de “Amália Remix”, projecto Percussão faz uma visita a Vila do farmacêutica Roche, que é Quixote. conhecer Vincenzo Gentile, multimédia dos Dead Combo de Tó Conde, interpretando ao vivo uma simultaneamente administradora “O Bom Inverno” é o um escritor italiano mais Trips e Pedro Gonçalves com o banda sonora para o documentário do MoMA e presidente da Laurenz título do novo romance de jovem, que o cineasta Bruno de Almeida; na de animação ““L’Encyclopédie: La Fondation. João Tordo, que será convence a ir numa viagem secção “In Focus”, retrospectiva vie des Bêtes”, de François Sarhan. O modo como as duas instituições editado em Setembro. E “As da Hungria até Itália. “É o dos irmãos Arnaud e Jean-Marie Paralelamente, na secção “In irão dividir entre si o arquivo de Larrieu (com muitas aparições do Focus”, os irmãos Larrieu “Drawing Restraint” ainda não foi Memórias Secretas da estilo de João Tordo (mais actor e realizador muito lá de casa regressam a um festival onde no resolvido em detalhe, mas é já certo Rainha D. Amélia”, a nova próximo da literatura Mathieu Amalric). passado apresentaram “Peindre ou que a obra começará por ser novela de Miguel Real, sairá anglo-saxónica do que da Vamos por partes faire l’amour” e a média-metragem mostrada no Schaulager entre 12 de em Outubro. Em Junho, tradição portuguesa), com GONÇALO SANTOS (música primeiro): “La Brèche de Roland”, primeiro Junho e 3 de Outubro, aproveitando chega às livrarias “A Vida mais terror e ‘suspense’ do além de “Amália encontro com Amalric, para uma o público que se deslocará a Basileia Remix”, operação retrospectiva que integra, além para visitar a Art Basel, que este ano Verdadeira”, o romance de que o seu romance construída a partir destes, os filmes “Un homme, un decorrerá entre 16 e 20 de Junho. O estreia de Vasco Luís anterior. A história vai em de imagens e sons vrai”, “Les fenêtres sont ouvertes” e Schaulager mostrará ainda, numa Curado, que, até ao crescendo e é muito bem de Amália “Les derniers jours du monde”. estreia mundial, a série “Drawing momento, apenas havia feita”, anuncia a editora. electronicamente restraint 17”, que inclui uma publicado, em pequenas “As Memórias Secretas da alterados que está instalação escultórica e uma marcada para MoMA e Schaulager performance registada em vídeo. editoras, “A Casa da Rainha D. Amélia” é a 10 de dividem Matthew Considerando que “Drawing Loucura” (1999), e “O novela de Miguel Julho Restraint” é “a espinha dorsal” de Senhor Ambíguo” (2001). Real. O escritor, no Barney todo o trabalho artístico de Barney, Neste romance, um homem Prémio Jacinto do Ann Temkin, curadora do que está a vender a casa de Prado Coelho O Museu de Arte Moderna de Nova departamento de pintura e Iorque (MoMA) e a Laurenz escultura do MoMA, acha que as família recorda os tempos 2009, cruza uma Fondation, proprietária do características desta obra, dada a que ali passou. Foi pela ficção à volta do armazém-museu-galeria Schaulager, multiplicidade de elementos que “linguagem espólio de em Basileia, na Suíça, compraram a congrega, se adequam bem a esta extraordinariamente rica e Salazar com o meias o arquivo da obra “Drawing aquisição partilhada. “O arquivo cuidada” de “A Vida que poderiam Restraint”, uma espécie de “work- incorpora tantos elementos in-progress” do artista norte- diversos que instituições como o Verdadeira” e pela sua ter sido as americano Matthew Barney, cujo MoMA ou o Schaulager podem “galeria de personagens memórias primeiro núcleo, baseado na ideia mostrar apenas porções da obra”, que oscila entre o trágico, o “pungentes, de restrições auto-impostas, foi apresentando, por exemplo, cómico e o absurdo” que a dolorosas e criado no final dos anos 80 – “apenas os vídeos, sem as editora apostou neste livro. comoventes, quando o autor ainda estudava na esculturas e os desenhos”. Universidade de Yale –, e que vai “O romance é muito bom, fortemente actualmente na sua 17ª série. “Drawing Restraint” é um tem uma linguagem muito críticas de O valor da transacção não foi “work-in-progress” de Matthew bonita e tem assunto”, Portugal e dos divulgado, mas especialistas da Barney: vai actualmente explica Maria do Rosário portugueses” obra de Barney admitem que o na sua 17.ª série Pedreira, que vê neste autor da rainha D. montante pago terá rondado os cinco milhões de dólares (cerca de “uma maturidade literária Amélia. Isabel Coutinho quatro milhões de euros). A obra enorme”. “É um livro muito inclui vídeos de performances de profundo”, acrescenta. Barney, desenhos, esculturas, Vasco Luís Curado já tem João Tordo tem novo romance, objectos feitos de materiais como “O Bom Inverno”, nas livrarias a partir de Setembro petróleo, cera e plástico, e ainda

4 • Sexta-feira 21 Maio 2010 • Ípsilon APRESENTAÇÃO AO VIVO LANÇAMENTO EXPOSIÇÃO AGENDA CULTURAL FNAC entrada livre entrada livre

APRESENTAÇÃO A PEREGRINAÇÃO DE ENMANUEL JHESUS Livro de Pedro Rosa Mendes Pedro Rosa Mendes reinventa um espaço nobre da literatura portuguesa, de Fernão Mendes Pinto a Ruy Cinatti. O resultado é um romance em diário de bordo e uma ficção de portulano. 21.05. 18H30 FNAC CHIADO 26.05. 18H30 FNAC COLOMBO 28.05. 19H00 FNAC LEIRIASHOPPING

APRESENTAÇÃO AS AVENTURAS DE FILIPE SEEMS de António Jorge Gonçalves e Nuno Artur Silva Nuno Artur Silva, argumentista, e António Jorge Gonçalves, desenhador, apresentam a edição especial da trilogia As Aventuras de Filipe de Seems.

22.05. 17H00 FNAC LEIRIASHOPPING

AO VIVO RICARDO RIBEIRO Porta do Coração O novo álbum de Ricardo Ribeiro dá a conhecer fados tradicionais que contam com a participação de nomes sonantes do fado nacional. 23.05. 17H00 FNAC LEIRIASHOPPING 27.05. 18H30 FNAC CHIADO 30.05. 17H00 FNAC COLOMBO

AO VIVO MONTEFIORI COCKTAIL Festa do Cinema Italiano 8 1/2 Os Montefiori revelaram ser um dos projectos musicais italianos e internacionais mais conceptuais de todos os tempos.

23.05. 18H30 FNAC COLOMBO 24.05. 18H30 FNAC CHIADO

EXPOSIÇÃO OBJECTIVOS DE DESENVOLVIMENTO DO MILÉNIO No Ano Europeu de Luta Contra a Pobreza e a Exclusão Social, a Fnac expõe uma selecção de fotografias que visa alertar para problemas graves como o número de pessoas que vive em pobreza extrema, a sustentabilidade ambiental e a disseminação de doenças graves como a SIDA. 11.05. - 11.07.2010 FNAC STA. CATARINA

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Apoio: Alkantara Festival O coração do mundo bate aqui

Vamos tratar-nos pelo primeiro nome hoje em Lisboa (este ano com uma Radio Muezzin porque está é uma relação de iguais. extensão ao Porto) e se prolonga até De Stefan Kaegi. Pelos Rimini Protokoll. Encenação Maria tem a voz cristalina e colocada 9 de Junho. de Stefan Kaegi como só as locutoras de rádio conse- Gonçalo explica, sem querer estra- Lisboa. SãoS Luiz Teatro Municipal. R. António Maria Cardoso, 38. guem ter, mesmo aos 77 anos. Nesta gar a surpresa da estreia, que “Centro De 21/05 a 22/05. 6ª e Sáb. às 21h. Tel.: 213257650. 5€ a 12€. emissão da Rádio Moxico, gravada no de Dia” é um projecto da Dona Vlas- Centro Social da Sé, em Lisboa, Maria sova, “senhora com mais de 50 anos, Porto. TTeatro Carlos Alberto. R. Oliveiras, 43. De 26/05 a 27/05. apresentará discos pedidos e leituras que gosta de se divertir em festas, e 4ª e 5ª às 21h30. Tel.: 223401905. 5€ a 15€. de cartas de soldados às suas madri- de estar com amigos de várias ida- Prosseguindo uma linha próxima do teatro documental, Capa nhas de guerra. Gonçalo pede-lhe des”. Vlassova convidou este grupo esta pequena peça assinada por um dos elementos do para ler como se estivesse “lá, na rá- de artistas para trabalhar “num pro- colectivo suíço Rimini Protokoll, Stefan Kaegi, explora o dio Moxico – afinal, a Maria é a locu- jecto que envolvesse uma comunida- impacto do progresso na vida dos “muezzin”, tora favorita dos nossos ouvintes”. O de”, continua Gonçalo. À partida, responsáveis pelas orações transmitidas pelos “jingle” é o genérico da série “Bonan- este poderia parecer um espectáculo altifalantes das cidades muçulmanas. A sua za”, e, quando a música sobe no ar, sobre a terceira idade, uma vez que substituição por gravações e a uniformização da Natalina, 80 anos, e Otília, 77, estalam boa parte do elenco é constituída pe- mensagem, contrariando uma prática de décadas, os dedos em silêncio e encolhem os los idosos acima mencionados – e ou- degrada o grau de proximidade dos fiéis com as suas ombros ao ritmo do trote dos cavalos tros que se lhes queiram juntar. Mas, da família Cartwright. Por momentos, diz Gonçalo, “é também um espectá- mesquitas. Kaegi, num gesto de humildade que não apesar de estamos num edifício no culo sobre uma instituição de acolhi- deixa de ser fascínio ocidental, coloca em cena quatro centro da cidade com Tejo em fundo, mento, sobre o Portugal dos últimos homens e quatro visões de um mundo pleno de regras. também estamos no Oeste America- 40 anos”: “Um espectáculo sobre nós Peça exploratória e sensível, impressiona pela clareza, no, e no Moxico, uma das mais remo- próprios, que chegámos aqui e nos pela sugestão de pistas de reflexão e pelo modo como tas regiões de Angola, a Norte das deparámos com aquilo que se costu- cria pontes entre a presença da fé e a sua resistência, e terras do fim do mundo. ma dizer que é o processo artístico capacidade de adaptação, à vida moderna. Tiago Apesar de não haver sobrenomes, normal de um documentarista, ou Bartolomeu Costa as idades são relevantes. Gonçalo tem que trabalha perto do documental”. idade (33) para ser neto de Maria. As- Um olhar documental sobre as pes- sim como as Anas, a Susana, a Raquel, soas reais é, admite Thomas Walgrave, em breve onde reside a beleza de tudo o Frederico, o Pedro, a Íris e o Romeu director do festival, uma das caracte- isto). Estes espectáculos “trazem-nos têm idade para ser netos de Otília, Na- rísticas da criação contemporânea, e uma realidade que normalmente não talina, Joaquim, Germano, Helena, das artes performativas, em particu- vemos e que não faz parte das notí- Eugénia e Emília. No entanto, a rela- lar. “Há uma tendência mais para a cias, da visão quadrada do mundo às ção que aqui, no Centro Social da Sé, realidade do que para a ficção.” Mas oito da noite, que é, no fundo, a nossa se estabeleceu entre estes jovens (ar- é também uma das singularidades do porção de realidade do dia: estas pes- tistas, criadores) e estes idosos (refor- Alkantara. Muitos destes espectáculos soas não chegam lá.” mados de um qualquer passado) vai mostram-nos que as pessoas reais têm A programação deste ano tem tudo para além das idades que os definem algo de especial. Contam-nos histórias para fazer justiça ao slogan “mundos e das vidas que os separam. Juntos, que ainda não ouvimos. Falam línguas em palco”, que é a assinatura do fes- trabalham (alguns desde Julho de que não entendemos. E esperam de tival. Tem “muezzin” do Cairoo (“Radio 2009) para criar “Centro de Dia”, um nós, audiência, o desconforto próprio Muezzin”), idosos de um centro de dos espectáculos da terceira edição de quem acabou de levar um soco de diad na Sé lisboeta (“Centro de Dia”), do Alkantara Festival, que começa crua realidade (Walgrave irá explicar imigrantes chineses em Amester- Na terceira edição do Alkantara, que hoje começa em L do palco. Do Cairo a Buenos Aires, dos imigrantes c dia de Lisboa, o festival conta-nos histórias que a Um soco de realidade, até 9 d

6 • Sexta-feira 21 Maio 2010 • Ípsilon Em “Radio Muezzin”, Stefan Kaegi assume pelo menos cinco posições sobre o Islão: as posições dos seus cinco protagonistas, homens do Cairo m Lisboa e no Porto, as pessoas reais são a matéria-prima s chineses em Amesterdão aos idosos num centro de e ainda não ouvimos e fala línguas que não entendemos. 9 de Junho. Raquel Ribeiro

Ípsilon • Sexta-feira 21 Maio 2010 • 7 “Centro de Dia” resultou de um trabalho “site-specifi c” Moscovo como um circo de vários meses com os idosos pós-capitalista, no retrato da Sé, em Lisboa polifónico dos Berlin PEDRO CUNHA PEDRO

dão (“C’est du Chinois”), uma em- sobre uma série de premissas, como pregada doméstica uruguaia em Bue- as que estão expostas na parede – a nos Aires (“Una Obra Útil”), habitan- questão do outro, o colonialismo, a tes de Moscovo (“Moscow”), a sexualidade, materializados em íco- pobreza africana vista por um holan- nes como o Tarzan, que é do tempo dês (“Enjoy Poverty”), prostitutas de deles.” Tarzan é o “nome de código” Leste presas em camiões (“Hard to Be deste grupo que, diz Frederico, é “o a God”), empregadas domésticas in- grupo mais punk de todos: só faz o donésias treinadas para serem envia- que lhe apetece quando lhe apetece”. das para os quatro cantos do mundo O objectivo era pensar “os afectos e a (o tríptico “To Serve”). sexualidade, na terceira idade, ver o Tem tudo isto, com e sem legendas. que é uma zona de exclusão, um lar É aqui que o diálogo se torna impor- ou um centro de dia, e como funciona tante: “Estes espectáculos fazem uma a relação entre as pessoas nesses sí- reflexão sobre o nosso lugar no mun- tios”, acrescenta Gonçalo. Chegaram do. São essencialmente sobre nós, a uma reflexão sobre o próprio tem- mas sobre a nossa posição num diá- po, continua Susana: “Tanto sobre o logo”, diz Walgrave. nosso tempo aqui, há já quase um ano, como sobre o tempo do espec- Documentário em palco táculo em si; mas também sobre o No Centro Social da Sé, nova emissão tempo do jovem e o do velho. São vá- da Rádio Moxico. Hoje, Romeu é o rios tempos e o cruzamento desses moderador do programa “Política do tempos todos.” e um artista que faz uma obraa sobsobre Episode III - Enjoy Poverty Centro”. Fala-se da comida (a sopa Passa-se por muitos processos para si próprio”. Walgrave explica comoomoo o De Renzo Martens. tem muita farinha), da utilidade de se chegar até aqui. Mas, em quase to- filme estabelece umama relação entreentrre Lisboa. Maria Matos Teatro Municipal. Av. Frei Miguel Contreiras, um centro de enfermagem (“Eu caí dos, o resultado é este: o documen- nós e o “outro”,tro”, analisando o “condi-ondi- 52. De 29/05 a 30/05. Sáb. e Dom. às 17h. Tel.: 218438801. 5€. aqui, faz sentido fazer aqui a fisiote- tário sobe ao palco. cionamentonamento do nonosso olhar” atravésrav rapia”, diz Otília), do convívio (ou da Pela primeira vez, o Alkantara vai da forma ccomo Martens “se coloca no Renzo Martens é um artista implicado, adjectivo falta dele), da reforma que não chega mostrar um filme:: “Enjoy Poverty”, filme,fil questionando o papel do artis- explorado à náusea quando se quer mostrar um até ao fim do mês porque fica quase do holandês Renzo Martens.Mt Martens ta, que aqui é profundamente politi- engajamento politicamente correcto. Não é o toda na farmácia. Eugénia canta mar- mostra de forma crua como a pobre- camente incorrecto”. caso deste filme, pungente retrato da exploração chas populares. Maria faz as hostes za é a matéria-prima mais exportada Esse diálogo entre o “nós” (jovens, artística da miséria humana que, ao mostrar um tema de radialista. Na parede, há um mapa de África e que, tal como no caso dos brancos, ocidentais, ricos) e o “outro” (a guerra e a fome), está a dirigir-se a outro de Lisboa e um mapa de Portugal com outros bens (ouro, borracha, cacau (idosos, negros, orientais, pobres) (a estética da miséria). Uma abordagem sem pudores pioneses presos a cada uma das foto- ou petróleo), os africanos não bene- reflecte o carácter contemporâneo aos mecanismos de distanciação provocados pela grafias destes idosos. Na outra pare- ficiam da sua exportação. Para o di- do Alkantara: “Esta ideia de contem- globalização, pela arte social e pelo lucro que daí de, um poster mostra o debate de rector do festival, este documentário poraneidade não é uma coisa exclu- advém. Mais inquiridor do que inquisidor, Martens traça ideias e percebe-secebe se ccomo se chegou está no alkantara porque “encaixa sivamente ocidental. Este é o erro que até “Centro de Dia”. GGonçalo recons- muito dificilmente noutro contexto, sempre fizemos com outras culturas: um implacável destino para aquilo a que gostamos titui:i“ “Não queremos fazer um docu- como o de um festival de documen- assumimos que nós temos a evolução de chamar multicultural. T.B.C. mentário, queremos procurar cola- tário, por exemplo. É mesmo uma e que os outros têm a tradição”, diz boradores que nos ajudem a reflectir coisa marginal entre o documentário Walgrave. O festival quer, também, estabelecer pontes para uma compre- é um festival “perto da batida do co- Centro de Dia Renzo Martens denuncia a ex- ensão do outro “nestes tempos tur- ração do mundo”. De Dona Vlassova & Guests. Encenação de Gonçalo portação da pobreza africana bulentos”. Nesse sentido, o Alkantara Mais perto da batida do coração do mundo muçulmano, por exemplo. Amorim. Stefan Kaegi, dos Rimini Protokoll, Lisboa. Centro Social da Sé. R. S. Mamede ao Caldas, 19. De 27/05 abre hoje o festival com “Radio Mue- a 1/06 (excepto dias 29 e 30). 5ª, 6ª, 2ª e 3ª, das 10h às 17h (Dia) zzin”, em que quatro “muezzin” do e às 19h (Noite). Cairo (e um especialista em rádio) Dona Vlassova and guests estão a trabalhar desde contam o seu dia-a-dia. Kaegi diz que Setembro de 2009 com velhotes do Centro Social da Sé a estratégia de usar pessoas reais não para apresentar um espectáculo dividido em duas serve para pensar sobre si próprio: partes: o dia e a noite. O dia é uma experiência “Estou apenas a tentar abrir uma ja- continuada, de entrada livre, em que se pode ter um nela, para todos nós vermos o que contacto directo com o funcionamento do centro. A está a acontecer lá fora.” Conta como noite é o resultado da reflexão performativa dos artistas os seus “muezzin” lhe permitem “nar- rar o Cairo e dar aos europeus uma sobre o tempo que lá passaram, sobre ideia mais complexa do Médio Orien- a cidade que existe e a que não existe, a partir de temas te do que as típicas imagens de terro- como a afectividade, o convívio, o sexo e os tempos. R. R. ristas que estamos habituados a ver

8 • Sexta-feira 21 Maio 2010 • Ípsilon Comen- Um festival em tário nome de quê?

Aprender a falar mandarim Tiago eve a programação de um festival ser com uma família chinesa, eis o Bartolomeu avaliada pelo trabalho que faz a partir do desafi o de “C’est du Chinois” Costa terreno em que se insere, ou pelo modo Dcomo faz dialogar esse terreno com um conjunto de agentes fora dele? Melhor: deve um festival aglutinar as tendências que definem o “ar do tempo” mas uniformizam as programações, gerando festivais em série, independentemente do local onde se apresentam? Eis uma refl exão que alguns aspectos da programação do Alkantara 2010 suscitam. É uma programação que nos faz pensar, por exemplo, na responsabilidade do festival relativamente à visibilidade internacional dos criadores portugueses, num país que não tem ainda uma plataforma de internacionalização convincente nem consegue, de forma sistemática, garantir a presença dos criadores nacionais nos circuitos externos. De dois em dois anos, o Alkantara Festival serve, inevitavelmente, de barómetro do contexto de produção e criação nacional. É injusto? É. Não diz tudo? Não. Mas são as regras do mercado quando se vive num pais periférico em que não é ainda habitual a presença de programadores estrangeiros (e, muitas vezes, até dos Moscow sa naquela cidade.” Não se trata de nacionais) nas estreias dos criadores portugueses. E se Pelos Berlin. dar a ver a verdadeira imagem da ca- a dança conseguiu um circuito, o teatro em português Lisboa. Terreiro das Missas (Belém). De 24/05 a 26/05. pital russa, porque “a função do artis- (aposta do Alkantara desde que deixou de ser “Danças ta não é contar a verdade”, diz Degry- na Cidade”, em 2004) continua ausente dos circuitos da Dom. e 3ª às 19h; 2ª e 4ª às 21h. se. “Aqui temos seis ecrãs a contar a criação contemporânea. Depois de “Bonanza” (Alkantara 2008), os Berlin verdade em simultâneo. Eles falam É certo que Portugal só foi um “hit” por uns anos, apresentam uma viagem ao mistério russo, não sem por si mesmos. Quando se ouvem to- já lá vão 20, e, hoje, não consegue competir com o ironia. Não é a Moscovo dos czares que ali está, mas a das estas opiniões, a audiência cria a fascínio que a criação vinda do antigo Leste, e pelo cidade que, sendo Europa, se distancia dela pela ideia da cidade. Ao mesmo tempo, as falso diálogo multicultural com o Oriente, exerce austeridade e resiliência dos seus habitantes. Mais diferentes opiniões não têm de con- numa Europa culpada. Este ano, a presença nacional interessado em perguntar e ver do que em responder e cordar entre si. A ideia de fidelidade no Alkantara é bastante mais reduzida (e bastante organizar dramaturgicamente um território, “Moscow” a uma verdade tem mais a ver com a menos entusiasmante) do que seria habitual. Fruto de ultrapassa o mero retrato de uma cidade. É também ideia de fidelidade a ti próprio.” critérios de programação, da agenda dos criadores uma viagem sensorial a um universo que tem tanto de Esta multiplicação de perspectivas ou de uma deriva estratégia em direcção a uma arte fascinante como de absurdo, da abjecção pela política acontece também emm “C’est du Chi- desterritorializada, o festival está mais próximo de nois”, de Edit Kaldor. Cinco elemen- uma lógica internacional(ista) que, se por um lado nos às pessoas, as ruas, o vodka e a música e a política. T.B.C. tos dde uma família chinesa falam das permite fi car satisfeitos por recebermos espectáculos suas vidas, da forma esperançosa como os de Bruno Beltrão, Toshiki Okada, Mpumelelo na televisão ocidental”. Daí que o cria- como vieram para a Europa, das di- Paul Grootboom, Stefan Kaegi ou do colectivo Berlin, dor suíço diga que não tem apenas ferenças entre a Holanda e a China. por outro deixa a amarga sensação de normalização uma posição sobre o Islão: “Tenho, Em mandarim, sem legendas. No fi- com outros festivais. Há duas formas de ver a coisa: é pelo menos, cinco posições – as dos nal, a audiência vai acabar por apren- um sinal positivo pela relação de equilíbrio com outras meus cinco protagonistas.” der 50 palavras em mandarim, es- programações; é um sinal negativo pelo que representa Este tipo de trabalho documental senciais para a compreensão do es- de desatenção por parte dos programadores dos teatros agora exposto no festival é feito em pectáculo. durante as temporadas normais. “H3”, de Bruno íntima e continuada proximidade en- Uma vez mais, a ideia é “esta histó- Beltrão, estreou-se em Maio 2008, Toshiki Okada foi tre criadores e pessoas reais. Nos pri- ria ser verdade para alguém”, diz Kal- descoberto pelo Kunsten, meiros tempos de imersão no Centro dor, explicando como esta performan- em Bruxelas, em 2007, que de Dia da Sé, o grupo estava “cons- ce é mais uma forma de reflectir sobre Deve um festival também foi o ano de de tantemente a traçar uma fronteira si mesma do que de ajudar uma audi- Grootboom, e Kaegi esteve entre nós e eles”, explica Frederico. ência a aprender mandarim. Kaldor aglutinar as em Avignon em 2009. Mas, após meses de trabalho, “con- nasceu na Hungria, mas emigrou tendências que Estes são os “blockbusters” segue-se uma relação horizontal com quando era adolescente para os Esta- que fazem o compromisso as pessoas”: “Sabemos perfeitamen- dos Unidos. Hoje vive na Holanda. definem o “ar do ideal entre a pesquisa que te quem somos e eles sabem perfei- “Não tenho uma língua-mãe. Quase interessa para a evolução tamente quem são; sabemos que nos não sei húngaro, o meu inglês é para tempo” mas do discurso contemporâneo separam décadas e vidas completa- aí 80 por cento e falo muito mal ho- e a margem de negociação mente diferentes”. As fronteiras entre landês. Passei grande parte da minha uniformizam as com o espectador dito o “nós” e o “outro” diluem-se. Tal co- vida em situações em que não falava comum. Porque há outro mo também se torna ténue a linha nenhuma língua. Por isso, observava. programações? tipo de espectáculos que que separa a realidade da ficção. Ka- Quando não falamos uma língua, ab- o Alkantara não se coíbe egi diz que a sua intenção não é sepa- sorvemos as coisas de maneira dife- de apresentar e que são, independentemente da sua rá-las, pelo contrário: “A realidade rente.” Neste sentido, ainda que fala- qualidade intrínseca, um chamariz para um publico aumentada torna-se ficção.” da em mandarim, “C’est du Chinois” mais desconfi ado. Há dois anos, o fracassado “Bahok”, é uma obra profundamente autobio- de Akram Khan; este ano, temos “Bare Soundz”, de Os bastidores do mundo gráfica de uma criadora húngara. Savion Glover, exímio sapateador. Numa tenda, seis telas acompanham Claro que podemos acreditar que a diversidade de um outros tantos protagonistas. Moscovo festival é isto mesmo: ir do sapateado à experimentação é um circo, fogueira das vaidades de C’est du Chinois radical (e muito mal seguida, recebida e tratada) de Ana gritantes contrastes resultantes do De Edit Kaldor. Borralho e João Galante, juntar o que não se conhece e “boom” económico, caleidoscópio de intriga (o fôlego de Luís Guerra para uma obra de longa Lisboa. Maria Matos Teatro Municipal. Av. Frei Miguel Contreiras, cores, miséria escondida nos bastido- duração) ao que é certo (“Radio Muezzin”, de Stefan res. Esta é a Moscovo do colectivo bel- 52. De 03/06 a 05/06. 5ª a Sáb. às 19h. Tel.: 218438801. 5€ a 12€. Kaegi), ter fi éis (Vera Mantero em plena forma, Thomas ga Berlin.. “Moscow” é a quarta parte Edith Kaldor explora a capacidade elástica dos Hauert em estreia mundial) e pequenos formatos (da de uma sérieéi de trabalhos dos Berlin artifícios teatrais num espectáculo em mandarim e sem irrelevância de Antoine Defoort à singularidade de Dick sobre cidades ( Jerusalém, Iqaluit, Bo- legendas. As possibilidades de construir e passar uma Wong), e por aí fora. nanza foram as anteriores). “A cidade mensagem são aqui usadas para explorar o modo como Para uma cidade como Lisboa, falsamente é o nosso próprio texto e as pessoas identificamos o corpo do outro, quando o outro se cosmopolita, a meio caminho de ser tudo mas a fi car são as personagens”, diz um dos cria- expõe sem filtros. Necessariamente documental, é uma afi nal pelas aparências, o Alkantara faz fi gura de irmão dores, Yves Degryse. Os Berlin encon- obra em permanente risco, quer pela sua premissa responsável. É pouco? É muito? É um peso que não traram em Moscovo uma certa aura dramatúrgica (uns chineses iguais a nós, mas menos pediram? É quanto custa ser-se igual aos outros. E isso de decadência nos antigos circos que tem dias em que é extraordinário e outros em que é iguais pela lingua que falam, e à qual não temos ainda funcionam sem quaisquer con- desinteressante. Como a programação de um festival. dições. “E ao mesmo tempo, ‘circo’ é acesso), quer pela sua falsidade teatral (a ficção existe a melhor tradução do que hoje se pas- imediatamente porque estão num palco?). T.B.C.

Ípsilon • Sexta-feira 21 Maio 2010 • 9 Uma s

Os fi gurantes que Gerardo O que se faz Naumann convoca para “Una Obra Útil” são, em certo sentido, portuguesas de duplos da protagonista To Serve De Simone Aughterlony e Jorge Léon. Deserve Lisboa. Maria Matos Teatro Municipal. Av. Frei Miguel Contreiras, 52. De 08/06 a 09/06. 3ª às 21h. 4ª às 19h. Tel.: 218438801. 5€ a 12€. Vous Êtes Servis Lisboa. Cinema São Jorge. Av. da Liberdade, 175. De 04/06 a 06/06. 6ª a Dom. às 17h. Tel.: 213103400. House Without a Maid Lisboa. FFundação Medeiros e Almeida. Av. Frei Miguel Contreiras, 52. De 03/06 a 06/06. 5ª a Dom. das 15h às 20h. Obra multidisciplinar que se divide em três (filme, instalação, palco), o projecto “To Serve” traz para o plano da narrativa teatral a ausência de “pathos” na vida das empregadas domésticas. Poderia ser uma variação de romances clássicos, se os autores não insistissem numa exploração miserabilista das figuras que convocam e na curiosidade mórbida em relação à vida dos outros, fruto da convicção de que o voyeurismo é a condição essencial para conhecermos melhor o outro. T.B.C.

Kaldor diz que o seu objectivo era pregada doméstica. Em palco estão outrasutra coicoisas. A obra reflecte o meu “criar uma experiência semântica do o próprio Naumann, um assistente, própriopróp processo de criação.” mundo”. Porque quando estamos dois actores, e os figurantes, que mu- MasM a obra reflecte também a uti- sempre na mesma língua “aceitamos dam todas as noites. Por isso, a obra lidadelida do teatro e, neste sentido, tudo como um dado adquirido, nunca é sempre diferente: “Não tem diques “útil”“út é uma palavra com que Nau- temos de confrontar-nos com a impos- de contenção. É perigosa, cheia de mannma gosta de jogar. Como Kaldor, sibilidade de comunicação”. risco”, explica Naumann. Por vezes querqu pôr o espectador num lugar de os figurantes perguntam: “Qual é a desconfortode e, através do real, ques- Um teatro útil minha posição?” Não importa, diz o tionarti a sua própria condição. “O Pensar o monolinguismo do outro é encenador: “O palco não é lugar para teatro,te em geral, resiste à mudança. Como numa sala de ensaio, mesmo mais do que pensar a utilidade da lin- estar agarrado a algo fixo. Gosto que FazF muita força para anular o real, antes de serem reveladas – é assim a guagem. Cada um dos cinco chineses as coisas tenham vida e mudem de parap o deixar lá fora: fecha as portas, fase imediatamente antes da abertu- em palco terá de encontrar uma for- estado. Por isso, gosto de fábricas: são isolai o som, põe cortinas, maquilha ra do Alkantara Festival. Esse estado ma de representar uma palavra (um lugares onde os objectos mudam de o actor, veste-o, dá-lhe um texto para de experimentação, essa ideia de que, objecto, um sentimento). Ao mesmo forma veloz. De manhã entra a maté- decorar. Por mim, deixo as portas agora mesmo, no dia em que o festival tempo, essa é também a função do ria-prima e, em duas ou três horas,, abertas, faço obras no espaço públi- começa, há ainda criadores à procura teatro, “encontrar uma representa- saem automóveis.” co, gosto de não resistir ao real que de soluções e respostas para cada ção”, diz Kaldor. Naumann encontrou o diário íntimoo se manifesta, dando-lhe, de algum obra, são para o director do Alkanta- A perspectiva documental em Kal- de Carina na rua. A peça é a história,a, modo, continuidade. Quero resistir ra, o belga Thomas Walgrave, todo o dor, contudo, permite-lhe quebrar o muito fragmentada, da jovem uru-u- ao teatro como artifício”, explica. entusiasmo e toda a energia. Um pou- contrato pré-estabelecido pelo teatro guaia que passou tempos difíceis emm Apesar deste mundo de idosos es- co como quando os pratos estão na com a audiência. O seu trabalho “cria Buenos Aires como empregada do-o- quecidos num centro de dia, de imi- cozinha, antes de irem para a mesa. um desconforto ou uma insegurança méstica (um tipo social que, nestete grantes ilegais, de prostitutas raptadas, Há o cheiro, a expectativa, a eferves- suficientes para fazer a audiência re- Alkantara, ganha relevo também nou-ou de escravos modernos, de empregadas cência, uma certa magia. agir e questionar”. A criadora afirma tro espectáculo, o tríptico “To Serve”, domésticas sem nome, de africanos A metáfora parece divertir Thomas que está mais interessada em “dizer de Simone Aughterlony e Jorge Léon). pobres à mercê da exploração, ou de Walgrave, que a justifica também pa- algo do que em dirigir-[se] a alguém”, “Os figurantes são úteis para pensar meros figurantes de teatro – apesar de ra referir o risco que ele e os criadores e nesse sentido o teatro “é um gati- o problema do trabalho, uma vez que tudo isto, conclui Walgrave, muitos assumem quando escolhem e deci- lho” para que o espectador possa os empregados domésticos também criadores “continuam a procurar a be- dem quais as obras que farão parte “projectar-se”. são como figurantes na nossa vida”, leza”: A beleza não tem de ter uma da programação, meses antes do fes- E assim se chega à questão da “uti- sublinha o criador. Além do diário de função, não precisa de explicação: é tival. No princípio, só existe um em- lidade” do teatro, da necessidade de Carina, a peça é também o “work in uma forma de consolo, um escape, brião de projecto, uma ideia. E um dar voz àqueles que raramente são progress” de Naumann a tentar chegar uma fuga. Isso é que é fascinante.” risco. “Entre falar de um projecto e ouvidos, os silenciosos, os “outros”, a uma ideia para um filme através de Talvez a beleza seja isto: no Centro realizá-lo vai uma grande distância”, os que, por estarem afastados dos uma peça de teatro. Esta é a verdadei- de Dia da Sé, Maria, ainda na sua voz diz. “Existe um risco.” Um pouco co- círculos do poder, não chegam ao te- ra utilidade da obra: “Também estou cristalina de radialista, aos 77 anos, a mo aconteceria com o prato antes de lejornal ou ao “palco”, aqui lido como a trabalhar ali, porque quero fazer um dizer que “os que ficam para o fim fi- ser cozinhado. metáfora de exposição mediática. No filme e este trabalho é pensar o pro- cam sós”: “Não tenho família, os ami- Diverte-o também pensar que, no espectáculo “Una Obra Útil”Útil”, o argen- jecto. Os actores actuam, os figurantes gos já morreram. Hoje sou uma mulher momento em que fala, os coreógrafos tino GerardodN Naumann utiliza 25 fi- estão integrados e fazem o que lhes muito só. Mas isso não me preocupa e encenadores desta edição do Alkan- gurantes para compor a história de dizemos. Tudo tem a forma de algo muito porque tenho o espírito livre.” tara Festival estão ainda nessa fase de Carina, jovem uruguaia que emigrou em processo, não está resolvido, não criação. Todos, incluindo os portu- para Buenos Aires e aí se tornou em- há um produto final. O produto final O “pathos” (ou a ausência dele) gueses. É sobre estes que falamos, seria o filme, que não está feito. Estes na vida das empregadas embora para Walgrave não haja dis- Una Obra Útil são os processos úteis para chegar a domésticas, em “To Serve” tinção entre uns e outros: são todos iguais,gp pelo menos aqui. De Gerardo Naumann. “vamos sentir falta de tudo aquilo Lisboa. Junta de Freguesia de Santos-o-Velho (Ginásio). de que não precisamos”, de Vera Man- R. Esperança, 49. De 22/05 a 25/05. Sáb. a 3ª às 19h. tero & Guests, foi a escolha para a A ideia de que a vida pode ser arte, se para isso tiver os abertura (no Porto) e o encerramento meios necessários, está na base desta peça inspirada (em Lisboa) do festival. A honra jus- num diário de uma empregada doméstica perdida tifica-se pela referência que a coreó- de amores, comprado na rua (uma história banal, como grafa representa para a dança con- são banais muitas das histórias que o teatro conta). temporânea dentro e fora de Portugal. Multidisciplinar, é uma peça que coloca em causa “É a voz mais conhecida da sua gera- o próprio processo dramático, desmontando os ção na dança contemporânea em Por- tugal. É muito importante o que faz.” mecanismos de construção de uma história. Gerardo Criada na Alemanha e também já es- Naumann desafia, mais do que as convenções teatrais, treada em Montpellier (França), esta o modo como elas se interligam com a sociedade. T.B.C. nova obra de Vera Mantero faz neste

10 • Sexta-feira 21 Maio 2010 • Ípsilon secção “made in Portugal” z em Portugal, como o que se faz no resto do mundo, não conhece fronteiras. As escolhas e Thomas Walgrave para o Alkantara Festival 2010 refl ectem, de Vera Mantero a Luís Guerra, a efervescência e a qualidade, ponto. Sem quotas. Ana Dias Cordeiro

Luís Guerra de Laocoi (nome de um lugar imaginário). É uma homenagem a Cristina de Pina. Quem é ela? Será que existe? Luís Guerra constrói um mundo fic- tício à volta desta conceituada realiza- dora e criadora de danças, também ela nascida no imaginário Laocoi, e que se suicida aos 93 anos com ciane- to, na Ilha do Pico. O que mostra o co- reógrafo é um processo de decadência entre o princípio, com a perfeição de duas jovens bailarinas quase idênticas, e o fim, com um travesti num corpo mais velho. A música é de Tânia Car- valho, que, como Luís Guerra, é uma das principais referências da nova ge- ração artística emergente em Portugal. Têm em comum “uma linguagem cor- poral muito específica, grotesca, ex- pressionista, com sentido de humor”, explica o director do festival. Ana Borralho e João Galante O que se encontra no leque das es- Mantero que lhe foram devolvidos propõem encontros imediatos colhas portuguesas é uma diversida- em 2005, quando o Ballet Gulbenkian com os espectadores, em de de formas intermédias, do teatro foi extinto, o artista plástico André sessões contínuas à dança com texto, passando por per- Guedes criou com Miguel Loureiro formances que juntam público e in- “como rebolar alegremente sobre um térpretes. vazio Exterior”Exterior”. Será esta obra o re- Acontece em “World of Interiors”, verso ded “como rebolar alegremente como rebolar alegremente sobre um vazio A última criação de Vera proposta de Ana Borralho e João Ga- sobre um vazio interior”, que Vera Exterior Mantero faz fi nalmente a sua lante, que baralha as tradicionais li- Mantero apresentara em 2001 na De André Guedes e Miguel Loureiro. estreia nacional no Alkantara nhas do palco. Os espectadores desta Fundação Gulbenkian? É uma evo- Porto. Teatro Carlos Alberto. R. Oliveiras, 43. De 22/05 a 23/05. Sáb. instalação fazem eles próprios parte cação dessa obra, através de sensa- e Dom. às 21h30. Tel.: 223401905. 5€ a 15€. festival a estreia em Portugal. Todas da criação improvisada numa sala do ções vividas no momento em que os as outras peças portuguesas fazem Museu Berardo, em Lisboa. Da peça, caixotes (talvez esquecidos) foram Lisboa. Teatro da Comuna. Pç. de Espanha. De 29/05 a 31/05. Sáb. aqui a sua estreia absoluta. resultará um contraste entre os textos reabertos. A peça foi uma forma de a 2ª às 19h. Tel.: 217221770. Em “vamos sentir falta de tudo aqui- duros e crus do argentino Rodrigo recuperar os figurinos, fazer algo Hurra! Arre! Apre! Irra! Ruh! Pum! lo de que não precisamos”, a coreó- García e a forma muito íntima como com as memórias e os testemunhos De Luís Guerra. grafa e os co-criadores Christophe serão ouvidos pelos espectadores. neles contidos. Lisboa. Teatro Municipal Maria Matos. Av. Frei Miguel Contreiras, Ives, Marcela Levi e Miguel Pereira, só “Serão quase sessões individuais” de Entre as escolhas portuguesas, ha- 52. De 22/05 a 24/05. Dom. a 2ª às 21h. Tel.: 218438801. 5€ a 12€. por momentos se cruzam no palco. encontro entre o espectador e os in- verá também “Centro de Dia”, uma Vamos sentir falta de tudo aquilo de que Numa sucessão de solos, entram e sa- térpretes, especifica Walgrave. performance que confunde público não precisamos em, em movimento constante, como O íntimo será também descoberto e intérpretes, no Centro Social da Sé, De Vera Mantero. uma vaga. Na mão ou debaixo do bra- em “Se uma janela se abrisse”, peça em Lisboa, sob coordenação de Gon- Porto. Teatro Nacional São João. Pç. Batalha. De 21/05 a 22/05. 6ª ço, transportam todos o mesmo ob- em que Tiago Rodrigues trabalha so- çalo Amorim. Ou ainda a total sur- jecto – uma cabeça solta de um mane- bre imagens de notícias da RTP e, presa da criação de “Amigos Colori- e Sáb. às 21h30. Tel.: 223401910. 7,50€ a 16€. quim – que contém outros pequeninos através de um processo de dobragem, dos”, que põe em cena “blind-dates” Lisboa. Culturgest - Grande Auditório. Ed. Sede da Caixa Geral de objectos despejados no chão de um altera o seu conteúdo. O que vemos em que só no momento do espectá- Depósitos. R. Arco do Cego. De 07/06 a 09/06. 2ª a 4ª às 21h30. palco que vai sendo aos poucos habi- são imagens reais; o que ouvimos é a culo, o público saberá quem actua Tel.: 217905155. 5€ a 12€. tado. Alguns objectos evocam a infân- voz dos intérpretes a relatar histórias em palco. Em cada sessão deste pro- World of Interiors cia, uma memória, ou o quotidiano, íntimas, pessoais. Ao reinterpretar o jecto ligado à associação PRADO, de De Ana Borralho & João Galante. desafiando o sentido da existência ou texto de notícias, a peça questiona a Patrícia Portela, artistas diferentes Lisboa. Museu Colecção Berardo. Pç. do Império. De 27/05 a 29/05. representando metáforas de um esta- forma como a informação formata a (ao todo, cerca de 30, numa escolha 5ª a Sáb. das 19h às 21h. Tel.: 213612878. do de alma. Pelo menos para alguém, visão que temos hoje do mundo. que mistura géneros e junta nomes Se uma janela se abrisse terão sempre um significado, parece da nova geração da dança e do teatro De Tiago Rodrigues. sugerir-nos o título da peça. Memórias e fi gurinos a músicos e outros e artistas mais tra- A partir dos dois caixotes com os fi- dicionais), propõem ao público “ter- Lisboa. Teatro Nacional D. Maria II - Sala-Estúdio. Pç. D. Pedro IV. Abrir horizontes gurinos de uma coreografia de Vera túlias performativas” improvisadas. De 02/06 a 05/06. 4ª a Sáb. às 23h. Tel.: 213250835. Nenhuma das criações “made in Por- tugal” está presente na programação por ser portuguesa, insiste Walgrave. A escolha fez-se da mesma maneira que se fez a selecção de todas as ou- tras peças. “Porque são interessan- tes” e representativas da variedade da “paisagem nacional e internacio- nal”. Em cada uma delas, sente-se um pulsar cosmopolita, com o “melting- pot” de influências e intérpretes a esbater fronteiras entre países, mas também entre formas de dança, tea- tro e artes performativas. O espectá- culo é português, o elenco pode ser internacional. Os despojos da extinção do Nesse universo sem limites, surge Ballet Gulbenkian são o país (ou o mundo) imaginário cria- a matéria-prima do do porp Luís Guerra emm “Hurra! Arre! espectáculo de André Guedes Apre Irra! Ruh! Pum!”. São seis gritos e Miguel Loureiro de entusiasmo, repulsa ou explosão, num tríptico (de dois gritos cada) de

Ípsilon • Sexta-feira 21 Maio 2010 • 11 Teatro

As feridas sangram por dentro. Aqui, o bem e o mal olham-se nos olhos. Há a culpa e o perdão. Pedro Paiva abraça a sua almofada azul, compa- nheira de mais de seis anos. “Quando entramos nesta casa, dão-nos um col- chão, uma almofada, uma fronha, dois cobertores, dois lençóis, um co- po e talheres”. A casa é a prisão de muros brancos com arame farpado à volta. “No final de cada dia, a almo- fada é a minha melhor companhia: apaga as minhas mágoas, guarda os meus segredos. Ela, tal como eu, car- rega o peso da minha reclusão”. Pedro está num ensaio e as frases farão parte de um monólogo de “En- trado”, espectáculo que terá estreia na próxima quarta-feira, dia 26, no Estabelecimento Prisional do Porto, em Custóias, É a produção que abre a décima edição do Imaginarius – Fes- tival Internacional de Teatro de Rua

“Um festival tem de ser uma oportunidade para conectar as maiores forças de uma comunidade ao longo do ano” Renzo Barsotti, director do festival de Santa Maria da Feira, na véspera do arranque oficial. Com repetição a 27 e 28 de Maio. Sempre às 21h, sem- estou mudado, e descubro que eu Quando a usa ainda sente o sabor de pre em Custóias. Trinta presos falam realmente não mudo...”. Francisco quando era criança. “Mas é também sem rodeios das suas experiências. é jovem, tem brancas no cabelo, quer a colher onde se faz o chamado caldo, O corpo também fala. E muito. descobrir o seu lado bom. e pode ser uma arma”. A música de Camané sai do grava- Emanuele Muzio vai rasgando as dor: “Já gastei a Primavera do meu folhas dos dias que passam. “Aqui Crime e castigo tempo e não me entendo”. dentro não há descanso e o calendá- “Entrado” é o nome que se dá ao pre- Os presos levantam os pratos e rio é uma máquina do tempo. Às ve- so que acaba de entrar e, por isso, só enchem-nos com a água que despe- zes é amigo, às vezes inimigo. Aqui fazia sentido apresentar este espec- jam pela cabeça. Limpam-se. Lenta- dentro é necessária muita calma, mas táculo na prisão. Com ele, o Imagi- mente lavam a cara e o corpo. Ten- eu continuo à espera do meu dia ver- narius volta a sair da fronteira de tam livrar-se da culpa. Há mais histó- melho, do meu dia de liberdade”. Santa Maria da Feira e, uma vez mais, rias para contar. Francisco Alves tem Abel Sousa tem uma colher na mão aposta numa produção própria feita 16 tatuagens no corpo. A última é de- que lhe traz boas e más recordações. por gente que nunca esteve num pal- dicada à filha de dois anos e meio. “Esta é a história da minha colher, co. Desde Setembro do ano passado, Nas costas: “Eu acredito que preciso dada pela minha mãe, com a qual que a PELE_Espaço de Contacto So- de mudar, penso em mudar. Eu já comi as primeiras papas e a sopa”. cial e Cultural, o Centro de Criação A rua transpira outra vez no Im A partir de dia 27, na décima edição do Imaginarius - Festival Internacional de Teatro de a falar da culpa, idosos a voltar ao tempo em que as maçãs ainda vinham directamente das Uma comunidade inteira, à conquista do espaço público. Reportagem de Sara Dias

12 • Sexta-feira 21 Maio 2010 • Ípsilon No lar de valter hugo mãe “A Feliz Idade” desafi ou um grupo de idosos entre os 60 e os 87 anos a recuar à infância: apareceram pirolitos, pedaços de carvalho e vestidos de noiva

“A Laura morreu, pegaram em crua. Os residentes apresentam- 87 anos, crianças e jovens de mim e puseram-me aqui no lar se. escolas da cidade, famílias com dois sacos de roupa e um César Santos encarna o oriundas de bairros sociais e álbum de fotografi as”. O senhor senhor inconformado, que alunos da Escola de Hotelaria e Silva está em cima da mesa do questiona, que abre o álbum de Turismo. Ao longo do processo, a lar de idosos. Acaba de fi car memórias, que não quer morrer. encenadora depressa percebeu viúvo e só. “Só na velhice a mesa É um dos actores de “A Feliz que os mais velhos não se fi ca repleta de ausências, Só na Idade”, uma das encomendas limitavam a falar da infância. velhice o vento não ressuscita”. deste Imaginarius. Foi desafi ado “Falavam de como o mundo está As frases são repetidas pelos a partilhar memórias, a recuar diferente, de como as maçãs novos companheiros. “O lar da à infância. “Não sabia que as fi cam a apodrecer nas árvores feliz idade, assim se chama este coisas que tinha escrito podiam e ninguém as come, de como a matadouro”. A realidade nua e ter valor”, confessa. Trouxe um estrutura das famílias mudou”, pirolito para lembrar a meninice conta. Redefi niu o trabalho. e um pedaço de carvalho que lhe “É necessário pensar como se recorda o cheiro das cascatas armazenam as pessoas de idade “[Nos ensaios] que se faziam na rua. nas sociedades europeias. Será Anna Stigsgaard, da que alguém pára para pensar falámos de como companhia dinamarquesa se esta é a melhor solução?”, Odin Theatre, pediu o nome questiona. O espectáculo dedica o mundo está emprestado a valter hugo mãe e uma parte às memórias, às chamou ao lar e ao espectáculo brincadeiras de crianças, aos diferente e as famílias “A Feliz Idade”. O resultado vestidos de noiva. No fi nal, há mudaram” do trabalho de um ano e meio um baile no convento, com o em residência é apresentado público a ser convidado para Anna Stigsgaard, nos claustros do Convento dos dançar e comer uma sopa “Entrado”, que se apresenta a partir de quarta-feira Lóios, dias 27, 28 e 29, com um servida por 25 empregados de no Estabelecimento Prisional de Custóias, parte das histórias encenadora grupo de idosos dos 60 aos mesa vestidos a preceito. S.D.O. de reclusão dos próprios prisioneiros

para o Teatro e Artes de Rua, que ago- da prisão entra em cena para inter- entendem. Usa a caneta para escrever ra assume a direcção artística do fes- pretar uma versão mais pesada de o número nas mãos dos presos. Mais tival, e o estabelecimento prisional António Variações, aquela do corpo à frente, escuta-se o som do acor- estão juntos neste projecto. Não hou- que paga quando a cabeça não tem deão, ouve-se um tango. Dois grupos ve “casting”, apareceu quem quis, e juízo. Os reclusos divertem-se, até de reclusos enfrentam-se, cruzam a história acabou por ser escolhida que as sentenças são pronunciadas. olhares de ameaça e agressividade. pelos próprios reclusos. Quiseram “Condenado a três anos e quatro me- Momentos tensos, da escolha do gru- olhar para dentro. Mastigar a culpa e ses número 874”. po, do clã dentro da prisão. Entra-se o perdão. Os actores, de fato de trabalho, t- no corredor principal, e há pequenas Tudo começa à entrada da prisão. shirt branca justa ao corpo, calças performances a acontecer. Um ho- Quatro reclusos segredam ao ouvido azuis escuras, sucumbem ao peso das mem dobra camisas na lavandaria e do público as frases que se murmu- condenações. Caminham resistentes recita Shakespeare: “Como fede o ram quando alguém entra na prisão. para a revista. Encostam-se à parede, meu crime, o seu cheiro chega até ao “Vais sair daqui um homem”. “Estás braços no ar, pernas afastadas. O fei- céu”. Na biblioteca, constroem-se cá porquê?”. “Quem és?”. “Precisas rante, o homem que representa o pássaros de papel (e mil pássaros são de ligar para alguém?”. “Estás por sistema, entra com o megafone na necessários para pedir a liberdade). minha conta”. “Bem-vindo”. A banda mão, a balbuciar coisas que não se Na capela só podem entrar os pe- Imaginarius e Rua de Santa Maria da Feira, haverá presos s árvores e ciganos a apoderar-se de Shakespeare. s Oliveira (texto) e Paulo Pimenta (fotos)

Ípsilon • Sexta-feira 21 Maio 2010 • 13 Shakespeare na Baralha A comunidade de ciganos da Baralha nunca mais será a mesma. O realizador Marco Martins, os actores Beatriz Batarda e Gonçalo Waddington, a coreógrafa Clara Andermatt e a fotógrafa Filipa César acamparam no local durante os últimos meses. Há várias Julietas e alguns Romeus entre os jovens da família Monteiro. Os voluntários do clã estão Há várias preparados para recriar o Julietas famoso “Romeu e Julieta” no e alguns sítio onde moram. Desde o Romeus ano passado que os ensaios entre os não param. Beatriz Batarda jovens do clã coordenou “workshops” de Monteiro, na interpretação resguardados comunidade de qualquer olhar exterior. Era de ciganos da preciso conquistar a confi ança. Baralha, onde Marco Martins levou a máquina Marco Martins de fi lmar. Vários artistas e Beatriz passaram por ali e vão voltar Batarda para assistir. acamparam

lhores companhias da Europa, apro- priou-se do espaço público, e o pú- blico agradeceu a oferta e o acesso, totalmente gratuito, a espectáculos inéditos em Portugal. O país depres- sa soube do que se passava ali, na- quela cidade entre Porto e Aveiro. Os espectáculos não passavam desper- cebidos. Não podiam. A artista plástica Joana Vasconcelos teve mais de mil mulheres a trabalhar numa colcha de croché gigante que “vestiu” o castelo da cidade. O cria- dor da polémica campanha da Benet- ton, Oliviero Toscani, andou a foto- grafar burros em Miranda do Douro para uma exposição que habitou uma praça. La Fura dels Baus recrutou um grupo de aspirantes a actores para uma teia humana pensada proposi- tadamente para o Imaginarius. A co- reógrafa Clara Andermatt trabalhou com um grupo de idosos. A comuni- dade local não tem ficado de fora. Este ano, há seis novas criações e várias companhias nacionais e euro- peias a ocupar a Feira. Clara Ander- matt regressa para apresentar uma adaptação de “Void” para o espaço público. O Teatro de Marionetas do Porto apresenta “Make Love Not War”, a partir da “Lisístrata” de Aris- tófanes, sobre as mulheres que fazem greve de sexo enquanto os homens Depois da cadores. Os homens estão adorme- um trabalho de muito empenho”, “Vivemos todos não pararem de combater. O espanhol estreia no cidos. Acordam e vestem as camisas garante. Francisco Alves acrescenta: Leo Bassi também está de volta com Imaginarius, o brancas passadas a ferro, é o momen- “Vivemos todos os dias nesta cadeia, os dias nesta cadeia, “Utopia” e a companhia francesa Off grupo de to da saída. Não há palavras, apenas quer queiramos quer não. Mas tam- encerra o festival com uma perfor- reclusos que cantos gregorianos do coro Ala dos bém queremos demonstrar que nem quer queiramos mance circulante, “Les Roues de Cou- criou Afinados, projecto desenvolvido na só os criminosos têm lugar cá dentro, leur”. E há espectáculos que activam “Entrado” prisão pelo serviço educativo da Ca- que ninguém está livre de vir para quer não. Mas quase militantemente o sentido de continua: esta sa da Música. cá”. comunidade, como “A Feliz Idade” e foi apenas a Mais do que um espectáculo, “En- Hugo Cruz, o encenador, sublinha também queremos “Romeu e Julieta” (ver caixas). primeira trado” é um embrião de um grupo que o enredo foi criado pelos presos. demonstrar que “A cada edição, o Imaginarius tem pedra da de teatro na prisão. Nuno Jesus, vo- “‘Entrado’ partiu das histórias de vi- de encontrar motivos para existir, construção de calista da banda de Custóias, acredi- da dos reclusos, das suas memórias. ninguém está livre numa relação próxima com o terri- um grupo de ta que “é uma mais-valia para a ca- E a história é a entrada, o estar na tório”, explica Renzo Barsotti, que teatro na deia”: “Abre portas, ajuda a não per- prisão e uma saída. É perceber que de vir para cá” assume desde a primeira hora a di- prisão dermos a auto-estima e o valor que qualquer um de nós pode, eventual- recção artística do Imaginarius. Pen- cada um tem. E, desta forma, as pes- mente, estar ali”. Francisco Alves, sar, mostrar, fazer pensar: “Há uma soas ficam com noção da realidade aposta forte na criação própria e no da cadeia, do que se faz cá”. Rui Ve- Sentido de comunidade recluso envolvimento da comunidade. Um lho é o preso que encarna a persona- O Imaginarius nasce da vontade de festival tem de ser uma oportunidade gem que lê o código penal. “Ganha- apostar numa área das artes perfo- para conectar as maiores forças de mos um bocado de confiança e é bom mativas inexplorada no país. A Câ- uma comunidade ao longo do ano”. para a nossa integração. Dentro do mara de Santa Maria da Feira decidiu mal que estamos, tentamos arranjar arriscar e deu-se bem: tirou o teatro Ver agenda de espectáculos na pág. 54 alguma coisa de positivo. Está aqui das salas, contratou algumas das me- e segs.

14 • Sexta-feira 21 Maio 2010 • Ípsilon Harold Pinter, no rés-do-chão e na cave Os Artistas Unidos regressam a um sítio onde foram felizes com o díptico “Comemoração” e “A Nova Ordem Mundial”, que hoje chega a Lisboa. Clara Campanilho Barradas

Três casais no restaurante mais caro mista, nos anos da Thatcher [Marga- ço A Capital e no CCB. “Chegámos ao mandou fechar A Capital. Foi a 29 de ra que é inacreditável fecharem um da cidade celebram atirando palavras ret Thatcher, primeira-ministra do Pinter em 2000, porque todos os au- Agosto de 2002. O Pinter foi a segun- teatro como esse’. Depois conheci-o uns aos outros que só Harold Pinter Reino Unido entre 1979 e 1990]. For- tores novos que achávamos interes- da pessoa a escrever uma carta de pessoalmente. Era um homem encan- poderia ter escrito. Depois, dois ho- mou-se uma atmosfera insuportável santes, a meio da conversa, diziam- solidariedade, com uma grande sim- tador, divertidíssimo, muito atento e mens discutem o que devem fazer de claustrofobia. [Na peça], sente-se nos: “Ah, mas eu quero é o Pinter”. O patia. No próprio dia recebi um fax a muito solidário”. com um prisioneiro, com palavras que há uma violência por trás da apa- Pinter gerou muito teatro. Para escre- dizer: ‘Faça favor de dizer aí à Câma- Jorge Silva Melo aceita que Harold que só Harold Pinter poderia ter es- rente festa. Há uma coisa latente. E, verem uma peça, os novos autores Pinter possa ser um Shakespeare do crito. “Aquilo que ele consegue com em ‘A Nova Ordem Mundial’, no fun- liam-no sempre. Fizemos algumas século XX. “É uma coisa desse género, a banalidade é extraordinário. Com do são as mesmas personagens, as peças que ainda não tinham sido fei- sim. Da segunda metade do século duas frases banais, ele cria um mun- mesmas confusões de língua, com um tas em Portugal ou tinham sido muito XX, do pós-guerra. Eu acho que ele do, de personagens, de musicalidade. outro tipo de violência. É como se pouco feitas. Depois o Pinter recebeu tem um universo tão rico como Nas frases de ‘Comemoração’, não há uma se passasse no rés-do-chão, e a o Nobel da Literatura, em 2005, e não “Pinter não diz: como Shakespeare ou como Brecht. Brecht nada. E, no entanto, a quantidade de outra na cave. Mas é o mesmo mun- nos apeteceu pôr isso a render. Não na primeira parte do século XX, Pin- coisas, frustrações, violência, suben- do”, explica o encenador. seria autêntico”, reflecte Silva Melo. é que ‘eles’ são assim? ter na segunda, com certeza”. tendidos que ali estão”. Os textos foram escritos na última Agora é. No fundo, nestas peças, “Pinter São palavras que só Jorge Silva Me- década de trabalho de Harold Pinter. As peças de Pinter exigem uma tal Ele quer dizer: como não diz: como é que ‘eles’ são assim? lo, encenador regular, e fidelíssimo, Para Silva Melo, esse trabalho foi do- orquestração que os Artistas Unidos Ele quer dizer: como é que ‘nós’ che- das peças de Pinter em Portugal, po- minado por uma questão. “Eu creio decidiram fazer cinco antestreias é que ‘nós’ chegámos gámos a esta sociedade tão grosseira, deria ter dito. O pretexto, agora, é o que a pergunta com que Pinter fina- (Aveiro, Guarda e Ponte de Sor) para a esta sociedade tão vulgar, tão sem valores, tão bes- díptico formado por “Comemoração” lizou os seus anos é: o nosso poder é que o espectáculo fosse coeso mas tial, tão estúpida, tão descartável? O e “A Nova Ordem Mundial”, duas pe- assente em quê? Em que novo impé- fluido. “Não é fácil. É preciso um elen- tão grosseira (...), tão riso que existe é sempre muito ama- ças do dramaturgo pelo preço de uma rio colonial é que nós assentamos?”. co muito bom, mas não há papéis de relo. Estamos petrificados pelo riso”, que os Artistas Unidos têm em cena, Para enfatizar a pergunta, os Artistas vedetas. Precisa de um elenco muito, bestial, tão estúpida, conclui Silva Melo. O que está aqui a partir de hoje e até dia 27, no Peque- Unidos decidiram complementar o muito coeso porque o jogo entre estas representado “é a visão de um mun- no Auditório do Centro Cultural de espectáculo: “Já estávamos a ensaiar pessoas é muito musical. Qualquer tão descartável? do do qual é preciso suspeitarmos. Belém (CCB), em Lisboa. a ‘Comemoração’ e achámos que fal- nota dissonante fica muito falsa e Esta nova ordem mundial é baseada “Comemoração”, a última peça es- tava qualquer coisa. Precisávamos de nota-se”, explica o encenador. O riso que existe no terror. É nessa ditadura que está crita por Pinter, é de 1999; “A Nova ir à tal cave”. Além de conhecer as peças, Silva é sempre muito a assentar a nossa aparente democra- Ordem Mundial” de 1991. Mas porquê Melo também conheceu Pinter. “No cia”. duas peças? “A ‘Comemoração’ fala Um riso amarelo dia em que íamos estrear ‘A Colecção’ amarelo” desta nova democracia que apareceu, Os Artistas Unidos já tinham trabalha- no CCB, com o grande encenador Ar- Ver agenda de espectáculos págs. 54 e muito grosseira, exibicionista, consu- do peças de Harold Pin-ter no espa- tur Ramos, o doutor Santana Lopes Jorge Silva Melo segs. ADRIANO MIRANDA Teatro

Para enfatizar a pergunta colocada por “Comemo- ração”, os Artistas Unidos quiseram juntar-lhe “A Nova Ordem Mundial”

Ípsilon • Sexta-feira 21 Maio 2010 • 15 NUNO FERREIRA SANTOS

Jonathan Coe ainda não sabe muito bem o que fazer com as reacções a “A Chuva Antes de Cair”: “Há quem ache que é o meu melhor livro e há quem ache que é o pior” Livros Jonathan Coe entre as mulheres “A Chuva Antes de Cair”, o mais recente romance do escritor britânico, é uma história de mães que não gostam das fi lhas. Parece uma ruptura com toda a obra anterior, mas não: ele sempre esteve preocupado com “a passagem do tempo”. Alexandra Prado Coelho

“A Chuva Antes de Cair” nasce de uma ram uma mudança na sua obra. interesse em encontrar padrões e sig- de vista de metade da humanidade”, constatação: há mães que não gostam imagem que estava há muito na cabe- “Acho que nunca tive uma reacção nificados em séries de acontecimen- responde rapidamente. Mas, acres- dos filhos. “Nem todas as mulheres ça do britânico Jonathan Coe: “Uma tão confusa a um livro. Tem sido mui- tos aparentemente casuais”. centa, vive “num mundo muito femi- são maternais”, diz Coe. “A maioria jovem cega numa festa de família, ro- to difícil saber o que fazer com isso”, Em “A Chuva...” há, sobretudo, um nino”, com a mulher e as duas filhas, das mulheres que não tem instintos deada por adultos curiosos que não confessa. “Há quem ache que é o meu conjunto de mulheres complicadas, e a maior parte das suas amigas são maternais não tem filhos, mas conhe- sabiam exactamente como é que ela melhor livro e quem ache que é o e as complexas e por vezes violentas mulheres. É com mulheres que tem ci algumas que, por uma razão ou se encaixava neste grupo familiar. É pior.” Para ele, não foi uma mudança. relações entre mães e filhas, num pa- mais facilidade em falar, são os assun- outra, tiveram filhos e não têm qual- uma memória que tenho de uma fes- “Tudo o que está neste livro estava drão (o tal padrão) que se repete de tos de mulheres (e reconhece o cliché) quer interesse neles. Não se trata de ta que a minha família deu há quase nos anteriores, geralmente submerso uma geração para a seguinte. “A rela- que lhe interessam: “família, relações, porem a carreira em primeiro lugar, 25 anos. Tudo partiu dessa imagem. em camadas de ironia, comédia, co- ção entre mães e filhas pode ser par- filhos”. trata-se de não quererem ter uma re- Queria explicar quem era essa rapa- mentário social e político. Retirei to- ticularmente intensa e poderosa, na Filhos, sobretudo. O novo livro, lação com os filhos”. É trágico para riga, porque é que ela estava ali, como das essas camadas e o que temos aqui forma como molda o carácter das pes- agora mesmo editado no Reino Unido uma criança “ficar aprisionada du- é que tinha ficado cega.” é o que está no centro dos meus ou- soas”. (“The Terrible Privacy of Maxwell rante a infância nessa pequena uni- No livro agora publicado em Portu- tros livros, mas agora de forma mais De onde vêm todas estas mulheres Sim”), é sobre um pai e um filho. Não dade familiar com uma mãe que não gal pela Asa, Coe – autor de “A Casa clara”, explica ao Ipsílon num hotel – Rosamond, que, aos 70 anos, conta se trata de uma relação violenta como quer que ela esteja ali, e a vê mais do Sono”, “O Rotter’s Club” e “Que de Lisboa. a história, a sua prima Beatrix, em as de “A Chuva Antes de Cair”, mas como uma contrariedade do que co- Grande Banquete!”, sátiras da vida E quais são essas questões que, afi- crescente descontrolo pela vida fora, de uma relação de distância, de afas- mo um objecto de amor”. política britânica nas últimas décadas nal, sempre estiveram na sua obra? Thea, Imogen? E de onde vem o con- tamento. E aí Coe volta ao tom satíri- – afasta-se do humor e da crítica social Coe hesita um momento e prossegue, forto com que Coe parece instalar-se co, à política como pano de fundo. Fechado num quarto para seguir a jovem cega, Imogen. E contido, discreto, quase tímido. “Há neste universo feminino? “Nenhum No livro que acaba de lançar em Para contar a história, criou Rosa- envolve-se numa dramática história um tom de melancolia, uma preocu- escritor seria um escritor decente se Portugal, tudo isso seria supérfluo. mond, homossexual num período de mulheres, que muitos considera- pação com a passagem do tempo, um não conseguisse escrever do ponto Há uma tragédia, que parte de uma em que era ainda bastante difícil

16 • Sexta-feira 21 Maio 2010 • Ípsilon “Até um certo ponto acreditamos que somos a nossa própria criatura, e um dia olhamos para o espelho e apercebemo-nos 25 MAI de que estamos a TER 19:30 SALA SUGGIA | € 10 olhar para o nosso ÁUSTRIA 2010 pai ou a nossa mãe. EMILIO POMÀRICO direcção musical PETER BÖHM realização informática Foi nesse momento musical

que decidi que queria JOHANNES MARIA STAUD Berenice, Suite 1 ¹ escrever este livro.” OLGA NEUWIRTH Construction in Space, para ensemble espacializado e electrónica ²

A ópera Berenice de Staud aborda o conflito entre meditação e histeria, beleza e decadência, intimidade e horror. As obras dos dois compositores austríacos contemporâneos em programa, ambas em estreia nacional, revelam os resultados surpreendentes da exploração do conceito de

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assumi-lo, os anos 50, mas, à parte visitar os avós, Coe mostrava-lhes os disso, uma pessoa “bastante conven- álbuns. “As fotos tornaram-se a base cional”. É ela que, no final da vida, de uma narrativa da família. Já tinha confia a história de Imogen a uma decidido que [no romance] a pessoa série de cassetes que grava antes de que ia ouvir a história seria cega, e morrer e que vão ser encontradas isso tornava a descrição das fotogra- pela sua sobrinha, juntamente com fias um maior desafio, porque tinha vários álbuns de fotografias. de ser muito detalhada”. As limita- Quem é Imogen? É esta a pergunta ções, diz, “acabam por ser liberta- Teatro Nacional São João que nos obriga a seguir a história que doras”. sex 21 e sáb 22 maio 21h30 Rosamond vai contando através de Escrever este livro deu-lhe um pra- Vera Mantero & Guests velhas fotografias, ordenadas crono- zer especial, porque lhe permitiu vamos sentir falta de tudo aquilo logicamente, como se a descrição o afastar-se dos enredos habitualmen- de que não precisamos mais objectiva possível destas per- te complexos, cheios de personagens mitisse chegar a uma qualquer ver- e de histórias cruzadas, e centrar-se Teatro Carlos Alberto dade. apenas naquela narrativa que se sáb 22 e dom 23 maio 21h30 “Rosamond não é uma narradora agarra a um fio de história, de ima- André Guedes simples, em quem possamos confiar gem em imagem. “Foi libertador ficar & Miguel Loureiro inteiramente”, avisa o autor. “Há lei- fechado num quarto durante alguns como rebolar alegremente tores que não acreditam em nada do meses com esta mulher de 70 anos”, sobre um vazio Exterior que ela diz no livro e que acham que sorri. está a distorcer a história para dar E que “verdade” revelam essas Teatro Nacional São João uma boa imagem de si própria. Não imagens – uma casa numa quinta, seg 24 e ter 25 maio 21h30 era essa a minha intenção. Ela é co- uma caravana, um passeio num lago, mo toda a gente. Às vezes podemos uma casa de férias, e rostos sempre Bruno Beltrão / confiar nela, outras vezes não. Tem mais velhos? A “verdade” que nos Grupo de Rua de Niterói uma relação escorregadia com a ver- diz que nada acontece por acaso, que H3 dade, como julgo que aconteceria a há relações de causa e efeito, e que qualquer pessoa que estivesse a olhar nenhuma filha sobrevive incólume a Teatro Carlos Alberto para a sua vida na velhice e a tentar uma mãe que não a ama. Os tais pa- qua 26 e qui 27 maio 21h30 recordar-se de tudo”. drões: “Interessa-me perceber quão Stefan Kaegi As fotografias ajudam. E ter um profunda é a influência, construtiva (Rimini Protokoll) esquema “fechado” para contar uma ou negativa, que os nossos pais têm

Radio Muezzin moritz elbert + design luciana fina + foto história, através da descrição de ima- sobre nós e até que ponto é fácil, ou gens, ajuda um escritor ou, pelo con- não, escapar a ela”. www.tnsj.pt trário, limita-o? “Isso tem a ver, mais Aos 48 anos, pai de duas filhas, a porto 21 > 27 maio 2010 www.alkantarafestival.pt uma vez, com a minha família. Não questão tornou-se central para Coe.

é uma família de escritores – e não “Até um certo ponto acreditamos que iniciativaestrutura financiada por apoiada por parceria mecenato quero dizer apenas que não há es- somos a nossa própria criatura, e um critores publicados, mas que as pes- dia olhamos para o espelho e aper- soas não escrevem mesmo, não há cebemo-nos de que estamos a olhar co-produção cartas; a história da família não está para o nosso pai ou a nossa mãe. Foi em papel, está em fotografias”. nesse momento que decidi que que- Quando levava as filhas pequenas a ria escrever este livro.”

Ípsilon • Sexta-feira 21 Maio 2010 • 17 SIGRID ESTRADA Desaparecer é preciso E se a nostalgia, de repente, não nos deixar crescer? Em “Juliet Nua”, Nick Hornby tenta perceber se ser feliz compensa, ou se o melhor é fugir. Rui Lagartinho.

Um homem, Tucker, quer desapare- dades quando não escreve. consegue viver no presente. cer, mas, como tem o azar de ser um Dentro do espírito do romance, ca- Inventei uma cidade porque não músico famoso, os fãs, ancorados na lhou falarmos com Nick Hornby por queria ter nenhum presidente de câ- Internet, não deixam. Precisam de se email. mara a escrever-me acusando-me de projectar nele para sobreviverem. A Como apareceu Tucker Crowe não ter percebido a dinâmica dessa partir daqui, Nick Hornby inventou na sua vida? Estava a ouvir localidade em pleno século XXI e a “Juliet nua” (Teorema), um livro onde algum disco de , Bruce convidar-me para os visitar e mudar tenta perceber porque brincamos Springsteen ou Leonard Cohen de ideias. com o tempo durante toda a vida. Há quando a inspiração lhe chegou? A passagem do tempo (e, em casais que arrastam solilóquios e que Na verdade, a ideia deste livro surgiu- especial, o que perdemos não conseguem viver o tempo pre- me depois de ter lido uma entrevista quando não amamos) é algo sente. Um pai com dificuldades de de Sly Stone [músico americano de que o preocupa? Angustia-o? O relacionamento com os filhos, herói funk e soul famoso nos anos 60 e 70] tempo não nos pode tornar mais apenas dos outros. E claro, muita mú- numa revista. Há muito tempo que o sábios? sica. E isto é o regresso de um roman- público não sabia dele e um jornalis- É claro. Mas o tempo é finito quando cista que, embora nunca desapareça ta seguiu o seu rasto. A história desta falamos de vidas humanas, e a nossa irreversivelmente, deixa sempre sau- busca levou-me a pensar na possibi- tragédia é que muitas vezes só perce- lidade de ficcionar a vida de um de- bemos tarde de mais, quando a nossa saparecido. Sabia que queria que Tu- maturidade intelectual já nos serve cker fosse americano, branco e na de pouco. Estas personagens estão casa dos 60, pelo que pensei, claro, perturbadas por tantos arrependi- em alguns músicos. Para além dos que mentos. menciona, acrescento ainda Jackson Senti-o um pouco mais cínico Browne, Alex Chilton e Richard neste livro, um cinismo que Thompson, apesar de este último ser paira sobre o humor... inglês. Não sei porque sentiu isso. Não creio E as influências que o próprio de todo que o livro seja cínico. As per- Thomas Crowe sofre? Dylan sonagens são mais velhas, e para elas

Livros Thomas Harold Pinter e Dolly há mais coisas em jogo. Mas creio que Parton é uma combinação o livro termina com uma manifesta- exótica e no mínimo estranha, ção de fé na possibilidade de reden- não acha? ção. Não é assim tão estranha, na verdade, De que forma “Juliet nua” embora estes nomes talvez pareçam reflecte a sociedade em que estranhos quando os arrumamos nu- vivemos hoje? Só agora poderia ma lista. Se pensar num americano tê-lo escrito? literato, e existem muitos - apesar da- Bem, este livro é em parte sobre a In- quilo em que nós, Europeus, decidi- ternet e por isso é difícil imaginá-lo a mos acreditar -, a música country e a passar-se antes do tempo e da socie- poesia britânica são parte integrante dade actuais. Pessoalmente, só pode- da mesma coisa. Nos EUA, e cada vez ria ter sido escrito por um homem mais no Reino Unido, a maioria das com idade suficiente para perceber Tal como o protagonista pessoas abaixo dos 60 não faz qual- que as segundas oportunidades são de “Juliet Nua”, Nick Hornby quer tipo de distinção entre a cultura raras. também tem vontade popular e a cultura “séria”. É tudo Desta vez, o pai, figura habitual de desaparecer, mas sem parar cultura. Tudo são influências na vida nos seus livros, não tem um mas de trabalhar dos criadores. Quer Charles Dickens cinco filhos. E só se entende com quer os Clash foram grandes influên- um deles... cias na minha vida e, que eu saiba, Ele consegue ter uma boa relação convivem bem e nunca se zangaram com o filho mais novo, o resto foi des- “A maioria entre eles. truído pela bebida, pela incapacidade Porque inventou uma cidade de manter uma relação monogâmica, das pessoas abaixo fictícia, Gooleness? A geografia pela sua opção (má, em minha opi- inglesa é mais fácil de trabalhar nião) de colocar a sua arte acima da- dos 60 não faz se for ficcionada? queles que amava. Tucker é um pai Queria que as minhas personagens que representa bem, na sua forma de qualquer tipo de vivessem isoladas, por isso sabia que agir, inúmeros músicos e escritores. distinção entre a Annie e Duncan não viveriam em Lon- E, além de não conseguir ser um bom dres e que Tucker viveria nos Estados pai, é um pouco tonto e infantil ele cultura popular Unidos. Somos um país tão pequeno próprio. É claro que ele tende para a que a noção de isolamento é difícil de idiotice, a Internet encoraja esse fe- e a cultura ‘séria’. imaginar. Não queria que Duncan se nómeno. Podemos perder-nos nos misturasse com outros fãs de Crowe. debates que nela ocorrem e deixar de Quer Charles Dickens E eu adoro as cidades da costa ingle- ter qualquer noção de perspectiva. sa. São tristes quase por definição, Imagina-se a desaparecer quer os Clash foram isso é visível nas que ocupam a meta- durante 20 anos, como fez o grandes influências de Norte da ilha. São cidades que dei- herói deste romance? xaram de ter vida e turistas a partir Sim. Às vezes penso em desaparecer, na minha vida e, que do momento em que os britânicos mas sem nunca parar de trabalhar. passaram a poder voar para as praias Estou muito agradecido por haver eu saiba, convivem do Mediterrâneo. E como um dos te- interesse pelo meu trabalho um pou- mas centrais deste livro é a dificulda- co por todo o mundo, mas às vezes bem e nunca se de que os adultos têm em viver no sinto-me muito cansado. presente, não encontro melhor am- zangaram entre eles” biente do que uma cidade que não Ver crítica de livros pág. 50 e segs.

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Nasceu em 1961, na pequena cidade voltar ao Brasil. Foi difícil fazer de Cataguases (Minas Gerais), filho um livro de encomenda? “Quando cheguei de analfabeta e semi-analfabeto, co- Não. Vivo como escritor há sete anos. mo faz questão de dizer. Foi operário A encomenda não sufoca necessaria- a Portugal, a minha e hoje é um dos escritores mais rele- mente a criação. A demora se deu impressão foi que vantes do Brasil. O seu anti-romance mais em função de outras urgências. “Eles Eram Muitos Cavalos” (publi- Quando recebi a encomenda, havia [os imigrantes cado em Portugal pela enigmática dois pontos obrigatórios. Escrever editora Quadrante, sem que Ruffato sobre aquela cidade – e fui eu que es- brasileiros] eram tenha recebido direitos) foi eleito um colhi Lisboa – e uma história de amor. dos dez livros da década passada no Escrever sobre Lisboa era mais que irritantemente Livros Brasil. É um grande texto veloz, ágil, uma encomenda, era um prazer. E orgânico, sobre São Paulo, através de interpretei a história de amor como visíveis. Necessários, dezenas de vozes, arraia-miúda. algo flexível, mais amplo. Deixei que mão de obra Os operários são o universo que a história de amor fosse mais uma Ruffato traz para a escrita brasileira criação do leitor. importante, mas (...), contemporânea, com um notável tra- O amor de Serginho por balho de linguagem, a prosseguir na Cataguases... para os portugueses, ambiciosa pentalogia “Inferno Pro- Tem gente que fala que é a história visório”, com quatro volumes já pu- com a moça [uma prostituta brasilei- representavam blicados Depois, talvez seja “o fim de ra]. Ou mesmo com Portugal. prostitutas, e (...) um ciclo”, e ele não sabe o que se Com Portugal é mais difícil de seguirá. acreditar, porque é tão triste malandros. A relação Entretanto, saiu “Estive em Lisboa aquilo que ele passa cá. e Lembrei-me de Ti” (título português Mas o amor envolve frustração, sa- dos brasileiros com na Quetzal, o original é “Estive em crifício. Para mim, o final é o começo Lisboa e Lembrei de Você). Uma en- da história dele em Portugal. Se vai Portugal também foi comenda para o projecto Amores ser boa ou ruim, não sei. MMasas é ddee Expressos, que levou 17 escritores envolvimento. mumudando:dando: ‘O Brasil é brasileiros a 17 cidades. Ruffato veio Nas conversas que foi tendondo mmuitouito melhor que em Junho de 2007 e ficou um mês. sentiu que esses brasileirosros Deu uma novela de 80 páginas, que se sentiam invisíveis parara os vvocês,ocês, e vocês ficamficam é a fala de Serginho, um imigrante portugueses? brasileiro em Lisboa. Quando cheguei a primeirara vez em enchendo o saco’”saco’” Chegou a Lisboa sem ideia? Portugal, a minha impressãoão foi que Inicialmente, queria escrever algo a eram irritantemente visíveis.eis. Neces- respeito daquela tentativa de golpe sários, mão de obra importantetante para em Angola, em 1977. Mas ao chegar o país, mas a invasão de umm pprecon-recon- desisti, achei que era uma ideia mui- ceito, de um estereótipo. GGenerica-enerica- ppeloelo queque temos ddee co- to complexa. Então, deixei que a ci- mente, para os portugueses,es, repre-repre- mum. A construconstruçãoção do dade me oferecesse uma história. sentavam prostitutas, e oss homens imaginárioimaginário é: nós, Bra-Bra- Qual foi o método? eram malandros ou pessoasas desqua- silsil e Portugal, somos Não ter método! Todos os dias saía lificadas. Essa visão passouu por uma muito pareciparecidos,dos, porque de manhã cedo e caminhava muito. aceitação maior, no sentidodo dede que, temostemos a mesma llíngua,íngua, a Adoro caminhar. Encontrava algumas sendo uma necessidade, nãonão deviadevia mesmamesma cultura, as mesmas pessoas que conhecia, e ia para luga- haver irritação. E a minha últimaúltima im- preocupações.preocupações. Mas na rela-rela- res onde nunca tinha ido, Amadora, pressão é de que voltou a haverhaver um çãoção pessoal as diferenças Buraca, para tentar tropeçar na his- certo desânimo com os brasileirosrasileiros sãosão mais importantes. tória. por outro motivo: hoje a situaçãotuação ddee E o caminhocaminho não tem ssidoido Ouviu histórias de imigrantes Portugal é preocupante, e portanto parapara melhorar? brasileiros? todas aquelas pessoas que rerepresen-presen- É,É, de ppartearte a pparte.arte. A qquestãouestão Ouvia as pessoas na rua, mas nunca tam a possibilidade de perderder o em- dodo Brasil, inclusive, é mais séria. como entrevista, ou interessadamen- prego começam novamenteente a ser Porque é um país que não perper-- te. Conversava sem nenhuma inten- repudiadas. tence à AmAméricaérica LatinaLatina – constru-constru- ção, deixava que as coisas aconteces- Ao mesmo tempo a relaçãolação dosdos ímos uma naçãonação dede costas para sem. E curiosamente tive muito con- brasileiros com Portugal tambémambém foi osos ppaísesaíses hispano-america-hispano-america- tacto com imigrantes angolanos, mudando. Hoje, os brasileirosleiros em nos.nos. Também não cabo-verdianos, do Leste europeu, Portugal, pelo menos os queue conhe- somossomos euro-euro- mas poucos brasileiros. ço, têm uma visão bem maisis precon- O Serginho é o resultado dessas ceituosa: “Nós trabalhamos,os, ajuda-ajuda- conversas? mos o país, o Brasil é muitoto memelhorlhor Vou a Portugal desde 1998 quase to- que vocês, e vocês ficam enchendonchendo dos os anos. Conheci muitos imigran- o saco.” É uma relação muitoito con- “Estive em Lisboa tes, ou gente que estava morando aí, flituosa. Na superfície é umama tenten-- e Lembrei-mede Ti” acompanha ou gente que estava voltando para o são aceitável. Mas à profundida-ndida- um imigrante em Portugal: Brasil, um monte de Serginhos. Sem- de é muito séria. a escrita de Luiz Ruff ato é pre estiveram ao meu redor. Então Não existe respeito de “a tentativa de reconstruir foi uma síntese. parte a parte? a história do proletariado Mas a ideia de fazer isso só A relação passa mais pelo queue brasileiro a partir aconteceu seis meses depois de temos de diferente do queue da década de 50”

20 • Sexta-feira 21 Maio 2010 • Ípsilon história de amor

faculdade de Juiz de Fora [Minas Ge- E nesse país, o Luiz Ruffato, não rais] fui fazer o curso de jornalismo. sendo autor de “best-sellers”, Mas decorreram mais de 15 anos, por- vive há sete anos como escritor. que tinha de preencher lacunas da É um bom sinal. minha formação. Como a minha famí- Em 2003 fiz essa opção radical, saí lia toda era de operários, e eu traba- do jornal para viver de literatura. Mas lhei como operário, pensei escrever isso significa viver do entorno da li- sobre isso, um projecto em que o tra- teratura. Fazer palestras, projectos balhador urbano fosse a personagem editorais, viajar para divulgar. O mer- principal. Mas eu achava que seria es- cado literário brasileiro hoje tem uma tranho escrever sobre proletariado vivacidade tal que eles pagam o que usando a forma do romance burguês. antigamente não se pagava, escrever Então tentei mapear ao longo da his- orelhas [badanas], prefácios, antolo- tória os escritores do anti-romance. gias. Não sou um nababo mas vivo de Começa no século XVIII com o [Lau- forma decente. rence] Sterne, o “Tristram Shandy”, No Brasil, por exemplo, o passa pelo Machado de Assis, pelo trabalho de participar em próprio Almeida Garrett, pela litera- festivais é remunerado. tura de vanguarda francesa, por Joyce. Sim. Festivais literários, palestras em Tentei pegar carona nesse anti-roman- universidades privadas, feiras do li- ce. Foram 15 anos construindo uma vro. Hoje não faço quase nada sem ideia de romance, de personagem. que me paguem. Temos um calendá- Há aí um sentido político rio de festivais de dois ou três por também. mês no país, no mínimo. Sendo que Exactamente. É um projecto pensado alguns são enormes. E quase todos antes deste período, mas por uma sé- os estados têm uma bienal do livro. rie de coincidências mostra as mudan- E bolsas e residências. ças no país. O “Inferno Provisório” A Petrobás... o estado de Minas... o [conjunto de cinco romances] é a ten- estado de São Paulo tem um progra- tativa de reconstruir a história do pro- ma em que pega um escritor e leva letariado brasileiro a partir da década para sete ou oito cidades do interior de 50, porque até aí era um país es- para falar em bibliotecas. E todas es- sencialmente agrário. A ideia era es- sas viagens são bem remuneradas. E crever uma história alternativa do é claro que quando você faz isso está Brasil, mostrar a rapidez da passagem a divulgar o seu trabalho. Eu acho que para um país urbano na cabeça de a literatura brasileira está a viver o quem estava em baixo na pirâmide. seu melhor momento.

peus, portanto a gente não pensa em se inseriu no plano global: nas minhas Portugal como essencial no nosso ima- “Enquanto a Europa viagens, as pessoas conversavam co- ginário. Não somos também africanos. está convivendo migo pensando no Brasil como país Do autor de A Tragédia de Fidel Castro, E acho que o brasileiro médio gostaria exótico, banana, futebol, mulata; ho- de ser americano. O Brasil está numa com problemas je vêm conversar sobre política. Isso «Por isso meus caros rota divergente da de Portugal. En- é uma mudança extraordinária na quanto a Europa está convivendo com económicos imagem do país. E finalmente, não amigos e amigas, uma problemas económicos seríissimos, haver esses conflitos religiosos, existir vez que não fui eu nós temos este ano a perspectiva de seríissimos, [o Brasil uma certa harmonia. crescimento de oito por cento. Há um tem] a perspectiva Agora, é claro que temos problemas quem vos criou, moldou optimismo generalizado. Esta admi- grandes. Na educação, não avançámos em barro e soprou a nistração conseguiu trazer uma mas- de crescimento de oito muito: embora hoje seja universaliza- sa de muito pobres para uma classe da, ainda é ruim. Temos problemas vida, receio não estar à média mais remediada. E esse medo por cento (...). na saúde: a oferta à população é pre- da hegemonia brasileira provoca uma cária, embora a gente tenha consegui- altura da vossa infi nita relação de rejeição ao Brasil. É uma E o medo da do vencer a sida de maneira que é maldade nem ser capaz situação preocupante nas relações exemplo para o mundo. Na questão futuras entre o Brasil e os PALOP. hegemonia brasileira da segurança, que já não tem mais a de vos acompanhar nos Que balanço faz dos anos Lula? provoca uma relação ver com diferenças sociais, mas com vossos desvarios mais É um marco. Vamos ter a história bra- o tráfico de droga. E o problema da sileira antes e depois do Lula. Algumas de rejeição ao Brasil. corrupção. sanguinários (ninguém é coisas são indiscutíveis. A estabilidade Então, estou muito optimista, acho perfeito). Sabei-lo melhor económica. As bolsas, de família, de É uma situação que estamos no melhor momento da educação: são criticadas pela elite, história do Brasil, mas temos de resol- do que eu, porque, mas no orçamento geral representam preocupante nas ver esses problemas estruturais. salvo raras excepções, uma parcela ínfima, e no entanto con- relações futuras entre Você tem um projecto de escrita seguiram que circulasse dinheiro on- para preencher um vazio que quando a vossa natureza vos impele à matança não é o meu de nunca circulou, e isso fez com que o Brasil e os PALOP” sentia na literatura brasileira: o os brasileiros não passassem por essa operário, o trabalhador urbano. nome que invocais.» crise. A estabilidade política: é o perí- A minha mãe era analfabeta, meu pai odo mais longo de democracia de to- semi-analfabeto. Eu apenas pensei na www.saidadeemergencia.com da a história do Brasil. E como o Brasil possibilidade de escrever quando na

Ípsilon • Sexta-feira 21 Maio 2010 • 21 Quase 20 anos depois do seu apare- projecção única de 13 filmes, três cido”, admite. E, com efeito, João Ta- “Sei que são palavras cimento, a obra de João Tabarra (Lis- fotografias e mais um filme. barra traça para nós um território re- boa, 1966) continua uma das mais conhecível, habitado por personagens, fora de moda, mas

necessárias da arte contemporânea A clausura como método alegorias e situações, umas cómicas, ROCHA DANIEL portuguesa. Não apenas pelas per- “Les Limites du Désert” é a exposição outras violentas, todas irremediavel- que possibilidade guntas que coloca, mas pela ficções, que se segue a “G”, realizada em 2007 mente humanas, e quase sempre in- as histórias que representa. Estive- na Graça Brandão e na Galeria Zé dos terpretadas pelo próprio. Veja-se o de vida, de amor, mos todos nelas como homens co- Bois, e interrompe dois anos de reco- homem que tenta sair da piscina vazia muns, e voltamos a lá estar em “Les lhimento distante das mundaneidades em “Le Jardin”, ou que tomba ao som de verdade existe Limites du Désert”, a exposição in- do meio e aberto, apenas, a leituras, de um bala em “Grito”, ou que sacode hoje? Estas perguntas dividual que amanhã inaugura em filmes, música, conversas. Um método dos ombros um anjo altivo depois de Lisboa, na Galeria Graça Brandão, de trabalho? “Não lhe daria esse no- este lhe apontar o mar como destino continuam para mim numa co-produção com a BLACK- me”, responde o artista, “talvez seja seguinte (“Les Limites du Désert”). MARIA. antes um feitio. Tento sempre ficar Se o tempo foi importante na ma- apaixonantes. É claro Convém, no entanto, abrir um pa- numa espécie de clausura, para per- terialização das peças – algumas já rêntesis curto, e porventura várias ceber o que como autor posso ainda tinham sido escritas, sob a forma de que podemos vê-las vezes repetido, para lembrar o ca- propor. E passo dois anos em reflexão, guiões, em 2006/07 –, também o é na minho de João Tabarra. Autodidacta, em investigação, em pensamento. É experiência das obras, em particular numa caneca passou pelo fotojornalismo e cruzou muito importante para mim”. na projecção dos filmes, a que Tabar- Exposições ou numa t-shirt, mas uma parte dos anos 90 ao lado de A exposição anterior, se não deter- ra dá o nome de “fragmentos sensí- uma série de artistas que propu- minou, pelo menos motivou este pe- veis”: “Ao montar os filmes todos nu- continuo a achar nham uma crítica do real e dos me- ríodo sabático. “O primeiro ano serviu ma só projecção, não imponho ne- dia. Depois, já neste século, seguiu para me afastar, para conseguir ver. nhuma narrativa, nenhum princípio, que uma das coisas um percurso solitário e afirmado em Para interrogar aquilo que fiz e encon- meio e fim. Consigo obter uma dis- diversas exposições individuais e trar um sentido por onde podia conti- tância perante o que fiz enquanto que me permitem colectivas, em Portugal e no estran- nuar a trabalhar. Ou a fazer proposta autor e, ao mesmo tempo, deixar um geiro, e na participação em 2002 na reflectidas em vez de objectos”. O re- espaço de total liberdade ao especta- afirmar que sou XXV Bienal de São Paulo, com o co- sultado foi, entre outras coisas, o re- dor. Ou seja, em vez de ‘artificializar’ artista missariado de Miguel von Hafe Pé- encontro com uma linha de preocu- um fragmento, um filme, e repeti-lo rez. Hoje, a fotografia e vídeo conti- pações e questões. “Não me interessa em ‘loop’, permito ao receptor uma é precisamente essa nuam a ser os instrumentos que tem o novo, a invenção. Acabei por me sen- experiência singular, uma narrativa à mão e com que trabalha, e o con- tir bem com este reencontro esclare- que ele próprio constrói”. Não se tra- busca” texto político não abandonou as ima- ta de facilitar, assegura, mas de “pro- gens em movimento que compõem As ficções criadas por Tabarra por um tempo que é também um pe- a sua obra. Permanecem no que ago- são habitadas pelo próprio: é o dido e uma proposta. É preciso tem- ra apresenta na Graça Brandão: uma caso de “Les Limites du Désert” po, eu preciso de tempo. Daí ter decidido não encurtar esta peça”. tista: “Toda a exposição percorre es- João Tabarra justifica este atrevi- paço, leveza, gravidade, viagem, mito, mento de solicitar 50 minutos – a du- suspensão, fragmento, e esse trabalho ração da projecção única – ao público ajuda-me a criar, no espaço da galeria com a depuração a que sujeitou as não só o equilíbrio de que preciso em formas e as questões. Por exemplo, toda a instalação, como a tensão e o no que diz respeito à dimensão mais tempo necessários”. Entretanto, as performativa: “O lado burlesco está fotografias, tal como “Viagem I”, muito presente, não consigo fugir de apresentam os espectadores a certos mim próprio, mas a performativida- motivos que reaparecem nos filmes. de, que noutras peças transpirava um Os mitos, os símbolos (o duplo em “O certo esforço e um movimento, está Outro”, a morte ou o cavalo em a aqui mais controlada. Há um maior “Queda”) e uma certa personagem Nos últimos esclarecimento, maior sabedoria. perante horizontes que delimitam anos, João Sem truques, berloques, coisas escon- fronteiras (o homem de pasta na mão Tabarra didas, com outra complexidade”. e tronco de madeira debaixo do bra- sujeitou-se a O único filme projectado fora da ço, em “Viagem”). um sequência livre, “Viagem I” mostra afastamento um homem (o artista) a atirar ao mar Diante da condição humana para uma pedra. Esta salta e, quando es- O facto de nenhuma das obras encer- reconquistar peramos que desapareça na água, rar o seu significado é um aspecto que a solidão fica suspensa na imagem. Um desafio o artista destaca, por exemplo, a pro- necessária às leis da gravidade? Uma intervenção pósito de “Degelo II” e “Degelo III, ao seu no tempo da imagem? Diz-nos o ar- Abrigo”. No primeiro, há uma perso- trabalho O degelo de João Tabarra

Três anos depois da última exposição, “G”, João Tabarra interrompe um período de r das fi guras mais necessárias da arte contemporânea portuguesa à

22 • Sexta-feira 21 Maio 2010 • Ípsilon nagem a sair de um caule de uma ár- O duplo de “O Outro”, um dos vore, no segundo, a aninhar-se nas símbolos da exposição suas raízes: “Têm uma ambiguidade que não quis resolver, e precisamen- ao mesmo nível sobre a água de modo te ficou mais forte porque ficou am- a que não se desloquem. Como uma bíguo em mim”, considera. “Não sei provocação às leis da física”. O filme se as personagens são sobreviventes remete, também, para o processo de ou novos homens”. A mesma interro- trabalho que antecedeu a exposição. gação estende-se a “A Troca” e, em Referimos-mos ao afastamento a que particular, a “Le Homme Qui Rit”, fil- o artista se sujeitou para com “a soli- me que mostra um homem estendido dão necessária voltar a escrever, a na praia, a rir-se enquanto as vagas propor arte, a ver as portas que ti- lhe batem no corpo: “As pessoas po- nham ficado abertas e que podia re- dem estar olhar para um náufrago, solver de outra forma”. mas afirmo no título que ele não é um Nesta obra, uma das portas que náufrago. É apenas um homem que continua aberta é a sua dimensão po- ri. Não se sabe se está a rir porque lítica e histórica. “O meu trabalho não sobreviveu, porque está de partida foge da condição humana. Sempre foi ou porque acabou de chegar. E não uma coisa que me interessou, inclu- sabemos que tipo de viagem está pa- sive pessoalmente, e se isso acontece ra acontecer, ou já aconteceu”. é natural que transborde para o que Outros filmes dispensam, aparen- faço e naquilo que procuro. Sei que temente, as personagens. Descrevem são palavras fora de moda, mas que antes situações, cenas nas quais se possibilidade de vida, de amor, de insinuam metáforas, pequenas alego- verdade existe hoje? Estas perguntas, rias, como o certeiramente intitulado assim como as questões básicas da “História da Selva”, que narra a resis- metafísica, continuam para mim apai- tência de um bichinho de conta a um xonantes. É claro que podemos vê-las manipulador e gigante dedo. Os sen- numa caneca ou numa t-shirt, mas tidos que este filme sugere são múlti- continuo a achar que uma das coisas plos e, na sua modéstia visual, tocam que me permitem afirmar que sou uma rara universalidade. Já “Degelo” artista é precisamente essa busca, es- é um dos filmes visualmente mais ape- sa procura”. lativos de “Les Limites du Desert”. “É “Les Limites du Desert” é novo ter- uma peça de que gosto particularmen- ritório, ou o momento mais recente te. Por ser desconcertante e se tratar dessa viagem. Embarquemos nela. de uma imagem muito calma. Um ria- Provavelmente o deserto ficará para cho de água a correr e dois elementos trás. Ou será outra coisa qualquer que nós, enquanto seres humanos, quando a travessia terminar. reconhecemos: o peso e o real. Mostro um martelo e uma pena e coloco-os Ver agenda de exposições pág. 48

A ambiguidade é um dos traços da obra de Tabarra: não sabemos porque ri “L’Homme qui Rit”

e reclusão para inaugurar “Les Limites du Désert”, na Galeria Graça Brandão. É o regresso de uma a às questões essenciais da condição humana. José Marmeleira

Ípsilon • Sexta-feira 21 Maio 2010 • 23 Atrás de nós estão os iates, os homens de meia-idade entregues ao jogging, as senhoras aprumadas que aprovei- tam a manhã de calor para um refres- co. Atrás de nós está o Porto de Re- creio de Oeiras, o dia é de Maio mas sabe a Verão, “the living is easy”. À nossa frente, o fim do Tejo, o início do Atlântico, e um homem de óculos escuros, barba e t-shirt descuidadas, que não parece pertencer a este ce- nário. Pai de quatro filhos (Caleb, o quarto, nasceu há menos de uma se- mana), pastor baptista e ex-habitante de Queluz, desce todos os dias até à praia: um mergulho no mar, o reco- lhimento nas Escrituras, o regresso ao apartamento e a partida para o trabalho. O homem é Tiago Guillul, que aca- ba de editar o sucessor de “IV”, álbum que em 2008 o colocou com estrondo (e polémica) no mapa da música por- tuguesa, depois de década e meia de actividade - houve quem aderisse com fervor àquele português literato ati- rado disco dentro, àquele rock’n’roll lo-fi com africanices, Vampire We- ekend, Variações e pelo menos um gene de José Afonso dentro; e houve outra tanta gente que desconfiou do entusiasmo e viu apenas um tipo ar- mado em esperto a fazer música rou- fenha, um tipo que, ainda por cima, era pastor baptista e conservador as- sumido. “V” acaba de chegar, dizíamos, e é muito adequado que dele falemos encavalitados na pedraria que man- tém a água à distância. “V” é um disco solar recheado de memórias (já conhecerão certamente o teledis- co com México 86 e subbuteo de “São sete voltas para a muralha cair”). Nos seus teclados espalhafatosos e nas suas baterias de som sintético, “V” filtra memórias da década de 80 pelos olhos de hoje. Diz-nos Guillul: “Reconheço que tenho uma certa pro- Exercícios de camufl agem Dois pontas pensão para a mistificação do passa- Encaminhamo-nos para o bar da Pou- de lança da do. Dizem-me que é uma caracterís- sada D. Maria I, parte do complexo do Flor Caveira: tica portuguesa, mas, como nunca Palácio de Queluz. Jónatas Pires conta- Tiago Guillul, deixei de ser português, não sei. Mas nos da sua viagem no final do ano pas- trintão SEGADÃES PAULO é verdade que tenho isso em mim, de sado a Nova Iorque. Fala-nos de recente, uma forma tão absurda que, se me Brooklyn e de Williamsburg, zonas acaba de lembrar das férias do ano passado, já onde se concentra a inteligentsia “in- editar “V”; as acho gloriosas”. Este é o ponto de die” da cidade, fala-nos dos bares com os Pontos partida para entrarmos em “V” – mas dezenas de concertos diários até de Negros, não é, decididamente, o ponto de madrugada, de outros onde existe rapazes mais chegada. “V” não é um álbum regres- “karaoke de banda” e se desdenha do novos, fizeram sivo, não é a nostalgia barata dos 80s pessoal “chunga” de New Jersey. sair “Pequeno- que enxameia a cultura pop há uma Jónatas Pires e Filipe Sousa, que Almoço década. também nos acompanha, são os vo- Continental” Em “A Febre em 1993“ descobrimos calistas e guitarristas dos Pontos Ne- uma frase reveladora, “a nostalgia é gros (completam a banda o baterista a nova pornografia”: “Para mim, a David, irmão de Jónatas, e o teclista coisa mais parecida com ver porno- Silas Ferreira). Conhecemo-los em grafia é ir para o YouTube ver anún- 2008, num EP de apresentação e no cios antigos. Fico ali num estado de álbum que se lhe seguiu, “Magnífico adormecimento sensorial a olhar Material Inútil”. São pessoal de 20 e anúncios antigos da Coca-Cola e a poucos anos que despertou a sério pensar, ‘Eh pá, nos anos 80 o mundo para o rock’n’roll com os Strokes ou era tão bonito.’” Assumido isto, o re- os White Stripes e que partiu deles paro: “Esse é o poder insidioso da para tudo o resto – Velvet Under- nostalgia, e daí eu querer lidar com ground, Beatles, Thin Lizzy, Bob ela com ironia”. Dylan, Leonard Cohen. Faziam ver- No vinil de “V” está inscrito “Flor- sões dos Heróis do Mar em concerto, Caveira 2010”. 2010, não o esqueça- citavam António Variações e revela- mos. O álbum é de hoje – Guillul, mes- vam uma capacidade surpreendente mo que nos fale da “descoberta” re- de arrancar belíssimas canções às his- cente e feliz de Phil Collins e do tórias do seu quotidiano – e de inscre- “Duke” dos Genesis, não conseguiria ver nelas as suas redondezas.

fazer de outra maneira. Os Pontos Negros acabam de editar Música Que este sol não nos e Em 2008, mudaram a pop em português. Agora, Tiago Guillul e Os Pontos Negros regressam e mergulha nos anos 80 mas de olho no presente e os Pontos Negros camufl am a “podridão” com

24 • Sexta-feira 21 Maio 2010 • Ípsilon “Para mim, a coisa mais parecida com TIAGO RAMOS TIAGO ver pornografia é ir para o YouTube ver anúncios antigos. Fico ali num estado de adormecimento sensorial a pensar, ‘Eh pá, nos anos 80 o mundo era tão bonito. Esse é o poder insidioso da nostalgia” Tiago Guillul

“São Torpes não é St. Tropez”, co- mo se perceberá, inspira-se naquela leitura. Que contaminou o resto do álbum, marcado pelo ano de 2009, aquele em que os Pontos Negros saí- ram do casulo e se mostraram ao mun- do. Filipe Sousa: “Esse ar de praia e optimismo está mais presente na es- trutura das canções e nas melodias. As letras tocam em algumas feridas.”. Jónatas Pires: “Acaba por ser um exer- cício de camuflagem. Quisemos pegar em coisas que podem ser deprimen- tes, que nos fazem lembrar tristeza e podridão, e transformar isso em cele- bração”. Guillul, trintão relativamente recen- te, e os Pontos Negros, ainda distantes o segundo álbum, “Pequeno-Almoço de tal condição, conhecem-se há mui- Continental”, e estamos em Queluz, to. Guillul organizava concertos na a cidade onde nasceram e onde vivem, cave da Igreja Baptista de Queluz, on- a ouvi-los falar dele. É interessante o de os membros dos Pontos Negros contraste entre a opulência majestosa deram os primeiros passos. Guillul da pousada e as ruas por onde nos fundou a Flor Caveira e os Pontos Ne- conduzem depois. Paisagem transfor- gros, além de lançarem nela o seu pri- mada em subúrbio: os prédios anóni- meiro EP, foram tocando, em diversas mos enfileirados, os centros comer- funções, em discos da editora. Em ciais caixote, mas também segredos 2008, ao quarto álbum, Tiago Guillul bem-vindos como a Martinica, minús- abandonou o anonimato. Em 2008, cula pastelaria fundada em 1959 de os Pontos Negros iniciaram um per- onde saem diariamente, a toda a hora, curso discográfico que os tornou a pastéis de nata que, garantem-nos, são banda mais célebre da trupe – álbum melhores do que os de Belém. É inte- nas tabelas, canções nas rádios, con- ressante, depois disto, que o seu “Pe- certos com Xutos & Pontapés e nos queno-Almoço Continental”, gravado grandes festivais. no Porto durante o Inverno mais rigo- Tiago Guillul e os Pontos Negros fo- roso dos últimos muitos anos, seja ram, de certa forma, um primeiro si- álbum que aparentemente celebra o nal de algo que, subterraneamente, sol que está a chegar. Ei-los então: ar- começava a mudar na relação da pop mados de óculos Ray Ban (apropria- portuguesa com o português. Por es- damente transformados em “Rei Bã”, ta altura, já saberão a história: ouvi- o primeiro single) e a caminho de São mos Samuel Úria e B Fachada, os Gol- Torpes (que “não é St. Tropez”). pes e João Coração, os Feromona e Jónatas: “Fiquei muito impressio- agora os Diabo Na Cruz - parte do pa- nado ao ler um texto sobre o ‘Rocket ís que estava a ouvir celebrou com a To Russia’ dos Ramones, onde se fa- vaga, outra parte achou-a um “hype” lava de uma das canções mais festivas sem conteúdo. e solares que eles têm, a ‘Rockaway Em 2008, Tiago produziu o primei- beach’. A praia era uma lixeira com ro álbum dos Pontos. Em 2010, Silas miúdas de biquini e salto alto e tareia Ferreira co-produziu o “V” de Guillul de meia em meia hora. Era o pior sítio – onde também participam Filipe e do mundo e eles cantam-no como se Jónatas. Tão próximos estão que che- fosse impossível haver algo melhor”. gámos a 17 de Maio de 2010 e ei-los engane tudo parece ser luz solar. Não é: Guillul os seus “Rei Bã”. Mário Lopes

Ípsilon • Sexta-feira 21 Maio 2010 • 25 PAULO SEGADÃES PAULO

nas lojas, juntos. Dois álbuns sola- (“Canção para o Doutor Soares”), che- res para tempo de crise? Sim, mas a garemos a “Praia Verde”, essa em que luminosidade é a única coisa que os canta, qual gospel tropical, que a clas- une. se média dançará para a eternidade sobre o areal algarvio. A praia, o sol, A dança da classe média Quem não gosta de Guillul, aponta- os óculos Ray Os Pontos Negros assinaram por uma lhe habitualmente o conservadorismo Ban: não multinacional, a Universal, cresceram cristão, as alfinetadas reaccionárias à parece, mas o em protagonismo e, de certa forma, esquerda, o prazer que ele retira em novo disco dos a banda é agora a sua vida. No início se atirar ao politicamente correcto. E Pontos Negros deste ano, meteram-se dez dias em tudo muito bem: “O pessoal mete-se foi gravado no estúdio com Jorge Cruz e decidiram comigo porque às vezes também me Porto durante que iriam fazer um álbum que “não meto à ‘chico esperto’”. E tudo muito o Inverno imitasse nada, mas que pudesse um mal: “Preconceitos todos temos, mas mais rigoroso dia ser imitado”: “Seria espectacular há um preconceito negativo em rela- dos últimos se levasse miúdos a pegar em guitarras ção a nós [a Flor Caveira] que é de anos e a fazer bandas”, confessa Jónatas. facto terrível. Sou conservador ideo- Tiago Guillul, por sua vez, com a logicamente, mas sou de classe média família e as obrigações na Igreja Bap- e quando estou com amigos da alta tista de São Domingos de Benfica a essa diferença é notória.” Que tem crescerem, foi estando menos dispo- isto a ver com Praia Verde? Tudo. “Há nível para a carreira. Paradoxalmente, 20 anos o campismo era a possibilida- “[Este disco] acaba isto aconteceu enquanto a sua música de de a classe média real ter férias. A e a música que editava na Flor Cavei- Praia Verde era um pinhal fantástico por ser um exercício ra foram ganhando exposição pública e, quando lá voltei recentemente, sen- - juntou-se a curiosidade mediática ti o lado proletário a vir ao de cima. de camuflagem. perante a figura do pastor punk-rocker Há 30 anos aquilo era acessível à clas- à celebração do seu talento pela críti- se média, mas agora está-lhe vedado. Quisemos pegar em ca e por muito mais público. É essa a minha indignação. A verdade coisas que podem Habituado a gravar em casa, tinha é que o nosso capitalismo é mau, por- agora à disposição os estúdios bem que não é aberto”. Se isto não é 2010 ser deprimentes, apetrechados da Valentim de Carva- neste país do belo sol e das oportuni- lho. Assim sendo, reuniu samples de dades sempre perdidas, não sabemos que nos fazem bandas evangélicas dos anos 1980, o que será. resgatou ideias melódicas aqui e ali, e Quando nos despedimos, Guillul lembrar tristeza convocou Rui Reininho para gravar está a discorrer sobre como o golo de e podridão, “Nabucodonosor” e Nick Nicotine pa- Carlos Manuel à Alemanha, que qua- ra “Barreiro Rock City”. A isso juntou lificou Portugal para o México 86, foi e transformar isso o acesso nostálgico conjuntural que o quase “uma conquista civilizacional”. levou à década de 1980: “De repente Um pouco antes, teorizava que toda em celebração”ç as ppessoas querem divertir-se nova- esta geração de B Fachada, Samuel mentemente como nos anos Reagan, com Úria, Diabo na Cruz, Os Paus ou ele JJónatasónatas PPires,ires, osos aamericanosm a dizer ‘vocês do outro mesmo está, “perdoa-me a compara- ladolado ddo Muro têm essa vida de seca e ção”, “a querer inventar um tropica- dodoss PontosPontos aquiaqui no Ocidente está tudo a curtir, lismo à portuguesa.” É um bom resu- NeNegrosgros comcom medo que a bomba caia, mas mo deste “V”: os desejos de hoje, a tudotudo a curtir.’ Até a música indepen- realidade de hoje, a transbordar me- dentedent actual tem esse lado festivo”, mórias dentro. aponta.apont Mas há mais coisas em “V”: Mar à direita, iates ancorados à es- issoisso a que se chama a realidade. As- querda, atravessamos o pontão sob o sim,sim, entree tragédias familiares (“Can- calor deste Verão em Maio e pensamos çãoção parapa a Maria não furar as orelhas”) no presente que esconde este passado

TIAGO RAMOS TIAGO e protestospro com figuras públicas de Tiago Guillul.

26 • Sexta-feira 21 Maio 2010 • Ípsilon Shellac, orgulhosamente sós Steve Albini, um dos pais do indie (e a mão invisível por trás de uns certos Nirvana), está cá pela primeira vez, com os Shellac. Retrato de um músico à margem, como poucos. Pedro Rios

Não digam a Steve Albini que ele é um purista. “Yeah, whatever”, responde- nos quando lhe acenamos com a pa- lavra maldita. Ele, guitarrista e voca- lista dos Shellac, ex-Big Black e Rape- man, nome fundamental do som do dito “rock alternativo” (gravou “In Utero” dos Nirvana, discos de PJ Har- vey, Pixies e muitos outros), não quer saber do que dizem dele. Os Shellac, auto-descritos como um “trio de rock minimalista”, actuam na Galeria Zé dos Bois, em Lisboa, na Música segunda-feira, e no Auditório de Ser- ralves, no Porto, no dia seguinte. São oportunidades raras para os ver ao vivo. Não dão concertos com regula- ridade, não seguem a actual agenda das bandas rock (disco, apresentações ao vivo, novo álbum), não fazem dis- cos de dois em dois anos – “Excellent Italian Greyhound”, o registo mais recente, é de 2007, e não há novidades discográfi- cas no horizonte. “Não temos um método para decidir quando é que damos concertos. Apro- veitamos oportunidades para ir a sítios. Fazemos tudo o que é interessante. Nunca estivemos em Por- tugal, estamos excitados”, diz Albini, ao telefone a par- tir do seu estúdio, o Electri- Albini tornou- cal Audio, em Chicago. se lendário Formados em 1992, na res- por trás dos saca da explosão do rock al- Nirvana e ternativo, um ano depois do dos Pixies, “Nevermind” dos Nirvana, os mas chega a Shellac são uma banda como Portugal com ções, marcavam os seus concer- que nos aconteceram no passado; – foi assim que conheceu os Ramones poucas no cenário independen- a sua própria tos, tratavam dos concertos e da pro- quando és jovem não pensas tanto e os Suicide. “Grande parte da minha te. Mantêm a ética filha do punk banda moção. Eram, em teoria, um suicídio no passado porque a maior parte das exposição à música era feita sem con- que enformou a música que so- comercial: chamaram a um dos seus tuas preocupações estão a acontecer texto. Recebia os discos por si só, ava em concertos em caves e bares discos “Songs About Fucking” (1987) naquele momento”. quase como artefactos. Tinha quase dos EUA dos anos 80, altura em que “Se és músico (...), não e Albini cantava sobre assassínios, que fantasiar que mundo seria o que as bandas de Albini, os Black Flag, os abuso sexual e misoginia, adoptando, Gloriosamente rudimentar gerava discos daqueles. Ao mudar-me Mission of Burma (com quem o trio podes evitar muitas vezes, o ponto de vista do au- Albini cresceu em Missoula, uma pe- para Chicago, completei a minha actua nos concertos em Portugal) e participar, de uma tor dos actos atrozes. Já os Rapeman quena cidade do estado de Montana, aprendizagem como músico”. outros, ajudavam a inventar um cir- desencantaram o nome numa popu- mas tornou-se conhecido em Chica- Apetece dizer que o isolamento cuito de música alternativo, à margem forma ou de outra, no lar banda desenhada japonesa com go. Em 1981, chegado a Evanston, no ajudou Albini, um autodidacta, a for- de multinacionais e outras grandes o mesmo nome, na qual protagonis- Illinois, há pouco tempo, o então es- mar um som de guitarra único, pre- estruturas. Se hoje se fala tanto em negócio da música, ta passava o tempo a violar mulheres tudante universitário – magricelas, sente também nos Shellac - música indie, com maior ou menor respeito – Albini e companheiros ganharam a óculos de marrão - apaixonou-se pe- bruta, centrada no osso (guitarra, pelo significado original do termo, mesmo a uma escala antipatia de mulheres furiosas que se la cena punk local. Meteu-se no mun- baixo e bateria), feita de repetição muito se deve a Albini. amotinavam antes dos concertos. do das fanzines e dos programas das matemática e tensão, sempre prestes Desde “Lungs” (1982), o primeiro pequena (...). Mas não “Há um elemento de autoconsci- rádios universitárias – foi “despedi- a explodir, raras vezes o fazendo. “As EP dos Big Black, que trazia brindes precisas de aceitar ência” na vontade de operar à mar- do” várias vezes devido às doses in- minhas inspirações foram bandas como preservativos, dinheiro e peda- gem, reconhece. “Se és um músico suportáveis de ruído que insistia em como Wire, Gang of Four, Public Ima- ços de papel ensanguentados, Steve as coisas num sentido e estás a fazer um disco para outras passar logo pela manhã. Congemi- ge Limited, Chrome, Pere Ubu… Cria- joga segundo as suas regras. Até na pessoas, não podes evitar participar, nou os Big Black (com a ajuda de uma ram uma forma de tocar guitarra que carreira enquanto engenheiro de convencional. Deves de uma forma ou de outra, no negó- caixa de ritmos, que se tornou mem- fazia sentido para si mesmas, única. som, que divide entre nomes grandes cio da música, mesmo a uma escala bro da banda), nome fundamental Não queria emular estas pessoas - e um número infindável de bandas criar o teu próprio pequena. Deves apreciar a linguagem do pós-punk americano e antepas- apesar de haver um pouco de emu- “underground”: rejeita receber desse mundo, mas não precisas de sados estéticos de bandas como os lação”, diz. “O meu tocar guitarra é “royalties”, por exemplo, e não se vê vocabulário” aceitar as coisas num sentido con- Nine Inch Nails. rudimentar. Não sou um guitarrista como um produtor, figura que se tor- Steve Albini vencional. Deves criar o teu próprio “Tive uma banda em Montana [os dotado, segundo uma perspectiva nou quase uma norma na indústria. vocabulário dentro dessa lingua- punks Just Ducky], mas vivia numa convencional, mas desenvolvi um “Ao produzir algo é-se co-responsável gem”, refere. espécie de isolamento cultural”, con- vocabulário meu na guitarra, e isso pelo disco. Nos discos que eu faço, a Hoje, Albini escreve canções “me- ta. Sem cena musical local, comprava satisfaz-me”. banda é 100 por cento responsável nos directas” do que as que fazia en- a maior parte dos discos em segunda por essas decisões”, explica. quanto jovem. “Somos todos velhos mão a estudantes que deixavam o Ver agenda de concertos págs. 41 e Os Big Black pagavam pelas grava- o suficiente para reflectir sobre coisas liceu e vendiam a colecção de vinis segs.

Ípsilon • Sexta-feira 21 Maio 2010 • 27 Miúdos numa festa indie para a qual não foram convidados: é assim que se sentem os Harlem no catálogo da Matador

Os Harlem, que vivem em Austin, no Texas, e que intitularam o seu segun- “Queremos canções do álbum “Hippies”, apesar de não que soem como haver neles um grama de incenso “pe- ace & love”, são uma banda de guitar- se as tivéssemos ras. O impulso que os guia parece o mesmo que animava as bandas ame- feito ontem – porque ricanas que, depois de apanharem o turbilhão da “British Invasion”, se é exactamente enfiaram em garagens e, com meios precários, desataram a anunciar a li- o que fazemos” bertação. São filhos do punk que di- Michael Coomers namitou os pés de barro do masto- donte progressivo (e a “voice box” de Peter Frampton) para devolver a mú- sica ao povo. Esclarecido este ponto, acrescente- se que os Harlem são, a par de Stran- ge Boys e Black Lips, das melhores ‘chillwave’ [designação recente para coisas que o rock’n’roll, arte de gui- bandas como Neon Indian ou Toro Y tarras, tem para nos oferecer nestes Moi]. Podem dizer que é um novo gé- tempos. Tudo reduzido ao essencial: nero, que são pessoas a arriscar, mas uma batida e uma voz cantando sobre não passa de música terrível, horro- as coisas importantes da vida. No ca- rosa.” E tem um método: “Queremos so deles: romance em cemitérios, canções que soem como se as tivés- “strippers”, cães de três pernas, “ba- semos feito ontem – porque é exacta- bys”, outro tipo de alegrias e um par mente o que fazemos”. Assim nos de irritações. aproximamos daquilo que torna os Ora, quando apanhamos Michael Harlem uma grande banda. Coomers do outro lado do mundo, o Estamos perto quando Coomers vocalista, guitarrista e baterista (vai dispara uma provocação: “Não faço trocando de posição com o vocalista, a mínima ideia como o Phil Spector guitarrista e baterista Curtis O’Mara; fazia as suas canções. Não me preo- o baixista José Boyer não larga o bai- cupo com música o suficiente para xo), dir-nos-á algo curioso. No seu que isso me interesse. Reajo a música discurso torrencial, com as ideias da mesma forma que reajo a uma pin- atropeladas pelo entusiasmo, excla- tura. Se tem impacto, não me interes- ma: “Há álturas em que gostaria de sa se foi pintada a óleo ou com merda me livrar da porra da guitarra. Expe- de cão. É uma pintura.” Ora, os Har- rimenta passear numa lixeira e de lem pretendem precisamente isso. certeza que encontrarás, no mínimo, Provocar uma reacção imediata: dar três guitarras. Se quiseres partir um alegria a quem os ouve. Sem espaço côco e não tiveres nada mais à mão, para idolatrias. Como Co o m e r s pegas numa pedra grande. Com a gui- não se cansa de afirmar, eles não são tarra é o mesmo”. Depois fala-nos de assim tão importantes. E eis-nos por música japonesa que ouviu recente- fim chegados à grandeza dos Harlem: mente, “completamente atonal, só talento unido a um total despojamen- címbalos, nada de guitarras” – está to de ego. “Aquilo que nos diverte muito insistente neste ponto –, e de quando tocamos é ver as pessoas como adorou aquela novidade. E há- abandonarem-se ao momento, pega- de acabar a dissertação com uma pro- rem nos seus amigos e dançarem sem clamação: “Adoraria ver uma banda sequer olhar para o palco. A banda é nigeriana de sintetizadores. Dois gajos quase secundária.” nigerianos e dois sintetizadores... Pas- saria o tempo a ver concertos deles. A “cena” de Austin Seria tão bom, tão incrível.” O primeiro álbum dos Harlem, “Free cemos, despejamos refrigerantes so- lha casa sem ventilação e cheia de guitarra ao ombro para nos mostrar Que possa existir algum tipo de Drugs”, foi lançado em 2008 numa bre toda a gente e divertimo-nos até gatos onde vivo. Os vizinhos são sim- uma canção ou para tocar connosco. contradição entre a banda que tem e edição de autor de 500 cópias que que, inevitavelmente, acabem por nos páticos e só alguns é que chamam a Quando o vejo, pergunto-lhe com as declarações acima nem chega a ser eles pensaram mais do que suficien- expulsar”. polícia. Há uma mulher que costuma quem tem andado a foder.” para Coomers uma questão a discutir. tes. Mas as pessoas reagiram àquele Os Harlem vivem em Austin, terra entrar-nos em casa com a guitarra Pode ser que os Harlem façam de- Tem uma certeza: “Queremos fazer espírito efusivo e contagiante, as có- do festival South by Southwest, dos para ‘jammar’ e uma rapariga de 14 pois uma canção sobre os casos de música áspera e sem adornos” – e por pias esgotaram, a Matador correu a Strange Boys ou dos Black Angels. Nos anos que vive ao fundo da rua e que Sambol, pode ser que a ouçamos num isso, para gravar “Hippies”, a banda contratá-los e, agora que têm uma últimos tempos, é habitual ouvir falar põe sempre a nossa música a tocar concerto da banda. Claro que, para recorreu a “um gajo que nem era pro- editora que lhes paga bons jantares, de uma “cena” na cidade, protagoni- quando passamos. É porreiro.” Aten- eles, tudo isso é secundário. Só dan- dutor, era o gajo que carregava no sentem-se como “a banda que invade zada por bandas ancoradas nas raízes tem no espírito de colaboração entre çar é preciso. Olhar para a banda não ‘rec’”. Tem ódios de estimação: “Ago- uma festa indie para a qual não foi do garage e do psicadelismo. Eis a fa- bandas: “O Ryan [Sambol, vocalista tem interesse nenhum. ra anda tudo com a conversa do ‘há convidada”: “Estão lá os miúdos ri- mosa cena de Austin, descrita por dos Strange Boys] aparece lá por casa novos sons no ar’ por causa da cos, todos a usar Chanel e nós apare- Michael Coomers: “Ensaiamos na ve- de vez em quando, mas não vem de Ver crítica de discos págs. 44 e segs.

Só dançar é preciso Os Harlem são das melhores coisas que o rock’n’roll tem para nos oferecer. Querem dar alegria a quem os ouve. Sem idolatrias: como nos dizMichael Música Coomers, eles não são assim tão importantes. Mário Lopes

28 • Sexta-feira 21 Maio 2010 • Ípsilon

De Jamie Lidell espera-se sempre o inesperado Mudou de Berlim para Nova Iorque e de Mocky para Beck. Só ainda não deixou a soul, mas adicionou-lhe uma certa dose de estranheza no novo álbum, “Compass”. Vítor Belanciano

Foi aí que conheceu James Ga-Ga- dson, lendário baterista queue tocou com Marvin Gaye ou BBillill Withers. “Depois da primeira sessãoão com Beck, desapareci durantente um mês, tinha a cabeça a late-e- jar, tinha conhecido Jameses Gadson, um tipo incrível, ca-a- loroso, e só pensava em fazerer música”, diz. Incentivado porr Beck, e entusiasmado com o clima das gravações, acaba-- ram por reunir-se todos emm estúdio, na companhia daa cantora Feist e de Pat Sanso-- ne, dos , agora para ajudar Lidell no seu novo álbum. “De repente tinha aquela gente toda a trabalhar para O homem não está aqui para enganar pecial de Mocky. É que os dois últimos mim, Beck a dar-me força, ninguém. No seu álbum mais conhe- álbuns (“Multiply” e “Jim”, de 2008) foi fantástico. E quando não cido, “Multiply” (2005), cantava no haviam sido criados em regime de foi possível completar algu- tema-título “I’m so tired so tired so parceria com o cantor e músico cana- mas ideias, desenvolvemo- tired so tired of repeating myself, got- diano. las mais tarde, através de ta take a trip and multiply”, dando- Desta feita existe também um naipe email, como aconteceu nos pistas sobre a sua personalidade de colaboradores de respeito. Mas o com Pat Sansone ou Gon- inquieta. Por essa altura, quando o processo foi completamente diferen- zales.” entrevistámos, dizia-nos alegremente te. No ano passado, o inglês mudou-se Outra ajuda importante que tinha “tendência para uma certa para Nova Iorque. Uma modificação foi a de Chris Taylor, líder esquizofrenia”, ou pelo menos para que nada teve a ver com música, em- dos Grizzly Bear. “Durante se “colocar em situações de extre- bora reconheça que a cena tecno mi- uma série de tempo andava obcecadoobcecado Jamie Lidell mos.” nimal, à qual a capital alemã é asso- com o álbum ‘Veckatimes’, tudoudo aqui- chateou-se da Nitidamente, Jamie Lidell gosta de ciada, o foi aborrecendo progressiva- lo me parecia complexo e sofisticado.fd cena tecno gestos largos. Gosta de se pôr em cau- mente (“Tornou-se demasiado Ddepois pude confrontar-me com a minimal de sa. Faz o que lhe apetece. Já foi maní- previsível e falta-lhe o funk”). Hoje forma simples e despreocupada como Berlim e aco dos computadores em alguns está mais atento ao que se passa em Chris trabalha. Parece fazer pouco, entusiasmou- discos. Mas também cantor soul, da- Brooklyn. “Nova Iorque é uma cidade mas obtém muitos resultados.” se com queles que acordam a cantar Marvin incrível, mais humana, calorosa e “Sempre gostei Brooklyn: Gaye pela manhã e acabam a ser eles colaborativa do que estava à espera”, Efeito surpresa “Nova Iorque próprios, à noite, num palco qual- afirma. de experimentar Apesar das muitas colaborações, é uma cidade quer. No novo álbum, “Compass”, Também no ano passado, recebeu os limites Lidell insiste que este é o seu disco incrível” não se percebe exactamente o que um telefonema de Beck, com quem mais pessoal. Aquele em que não se quer ser. Dizemos nós, que em algu- tinha andado em digressão em 2006, da tecnologia, mas esconde. A razão, diz, é uma mulher. mas canções vislumbramos um Tom perguntando-lhe se queria encetar O título de algumas canções (“Com- Waits psicadélico, noutras um Otis uma colaboração com ele: “Foi um ao mesmo tempo pletely exposed”, “She needs me” ou Redding tecnológico e noutras ainda telefonema decisivo, porque não sa- “Your sweet boom”) é significativo. um Prince baladeiro como que tritu- bia o que fazer naquela altura e o que de grandes cantores “Fartei-me de falar de mim, a partir rado pelos Grizzly Bear. aconteceu acabou por precipitar uma de temáticas genéricas que suposta- É o seu disco mais disperso, não série de acontecimentos”. soul, da energia mente podem interessar à maioria. existe propriamente um centro, uma Lidell esteve em estúdio com Beck da voz (...). Até porque Neste disco optei por me olhar ao es- ideia nuclear, mas ele parece convic- dois dias e, posteriormente, viria a pelho de forma diferente e gostei.” to das suas razões. “É o meu álbum participar no projecto “Record Club”, o espírito aventureiro As aventuras de Lidell iniciaram-se mais pessoal, tanto a nível lírico como que não é mais do que uma forma de quando deixou a casa dos pais, em da música”, diz, argumentando que o músico americano reunir uma série original Cambridge, para iniciar um curso de necessitava de se afastar da cidade de conhecidos em estúdio para cria- ciência médica na Universidade de onde criou os anteriores álbuns – Ber- rem versões de um determinado ál- da electrónica já não Bristol. Depois de uma interrupção lim – e do grupo de cúmplices com bum. Lidell participou na gravação de seis meses, devido a doença, mu- quem regularmente colabora, em es- de versões de “Oar”, de Skip Spence. é a mesma coisa” dou para filosofia, em parte porque, Música

30 • Sexta-feira 21 Maio 2010 • Ípsilon pelo menos na sua fantasia,fantasia, implicava menos hdhoras de estudo. d náliald digital, l mas sim pegar no micro- O universo da música não lhe era fone e cantar diante de audiências. de ângulos inusitados. Se estranho. A mãe era cantora profis- “Sempre gostei de experimentar os “Jim” parecia um álbum de fim de ci- sional numa orquestra. Em casa ouvia limites da tecnologia, mas ao mesmo clo, “Compass” soa a disco em trân- Michael Jackson e Prince, mas na dé- tempo de grandes cantores soul, da sito, à procura de um novo lugar. Pa- cada de 90 gostava era de festas de energia da voz.” ra já, esse lugar são os palcos. música tecno. Cantar, só no chuveiro. O anterior álbum, “Jim”, parece ter No Verão, apresenta-se ao vivo em Mas na segunda metade dos anos 90 funcionado como a depuração máxi- Portugal. Será a 16 de Julho, no Meco, acabou por conhecer o produtor ma desse percurso. Era o disco de no Festival Super Bock Super Rock. Christian Vogel, com quem inicia os alguém que já não estava interessado Quem já o viu ao vivo, sozinho, sabe Super Collider, um projecto que lhe em iludir influências clássicas da soul do que é capaz, improvisando com a permitiu subir ao palco e cantar em e do funk, mas sim de as assumir e tecnologia, fazendo sons percussivos falsete. Em simultâneo editou traba- incorporar, não para se fazer passar com a voz, reproduzindo-os e alteran- lhos a solo de electrónica abstracta por outros, mas para transmitir o pra- do-os electronicamente em tempo em editoras como a Mille Plateaux. zer que lhe ia na alma em ser ele pró- real. Mas desta vez virá acompanhado Em 2000, saturado de Inglaterra, prio. Muitos dos que cresceram habi- por três músicos. “É um tipo de for- muda-se para Berlim, onde acaba por tuados a vê-lo como um homem das mação que me dá outro tipo de liber- conectar-se com outros emigrantes electrónicas torceram o nariz. “Não dade. Dá-me espaço para me concen- conhecidos, como Mocky, Peaches, me preocupa”, diz, “não penso nisso, trar na voz e há mais cumplicidade Taylor Savy, Gonzales ou Kevin Ble- até porque o espírito aventureiro ori- em palco”, explica, concluindo que chdom. ginal da electrónica já não é a mesma nos concertos e em tudo o que faz “a Na capital alemã reencontrou-se. coisa.” surpresa e o inesperado são muito Aos poucos, o maníaco dos compu- O novo álbum dir-se-ia uma súmu- importantes”. tadores foi percebendo que aquilo la de várias fases, mistura de cerebra- Como se não o soubéssemos. que lhe dava realmente prazer não lidade electrónica, sangue soul e fisi- era esconder-se por trás da parafer- calidade funk, mas sempre a partir Ver crítica de discos págs. 44 e segs.

Ípsilon • Sexta-feira 21 Maio 2010 • 31 Conheciam-se há quase 40 anos, mas nunca tinham feito nada juntos, até este “Polícia sem Lei” e em lugares malditos da sua cidade, Nova Orleães. Herzog continua pasmado (e é mútuo): este é o e

Em todas as entrevistas acerca do fil- “O Francis estava a dar uma festa e Cage e Herzog estavam de acordo em uma casa. Ele convidou-me para ficar me que fizeram juntos, Werner Herzog o George Lucas estava ainda no carro dois pontos: que o filme devia ser fil- “Nicolas Cage em casa dele, mas eu disse que era e Nicolas Cage são peremptórios nisto: quando o Werner entrou”, conta Ca- mado em Nova Orleães e que ambos é um dos actores melhor não criarmos grandes intimi- “Polícia sem Lei” nada tem a ver com ge, penetrando na sua infância, que adoravam répteis. dades. Queria separar as coisas, para o filme de culto homónimo que Abel foi bastante privilegiada. “O Werner mais incrivelmente manter uma certa intensidade nas Ferrara realizou em 1992, com Harvey estava com uma t-shirt branca e tinha A peste e o cavalheiro filmagens”. Keitel. “Propus ‘Port of Call New Or- uma tatuagem com uma caveira e um Filmar com Nicolas Cage foi, para o dotados com que Cage, claro, vivia ele próprio em leans’ como título”, recorda Herzog, chapéu alto. Lembro-me disso, em- cineasta alemão, uma espécie de ajus- Nova Orleães (embora neste momen- “mas infelizmente não consegui con- bora seja uma imagem assim um pou- te de contas com a história. “Achava já trabalhei. to já tenha vendido as duas mansões vencer os produtores.” Nova Orleães, co dissipada, de há muito tempo um absurdo nunca termos trabalhado que lá possuía, uma das quais se diz a cidade onde tudo isto aconteceu, atrás”. Não diz se o realizador alemão juntos. Por isso, quando surgiu o pro- Klaus Kinski foi um, ser assombrada, para minorar as suas ficou, no original em língua inglesa, contribuiu para a sua paixão por to- jecto, tivemos duas curtas conversas Christian Bale foi muito divulgadas dificuldades finan- apenas como subtítulo de “Bad Lieu- das as coisas góticas e germânicas (até ao telefone”, diz Herzog. “O Nicolas ceiras), e admite que a sua relação tenant”, e a proximidade com o filme há pouco tempo, era proprietário de estava a filmar na Austrália; não nos outro, e há mais uns com aquele local, que descreve como de Ferrara ganhou, assim, proporções um castelo na Baviera). Mas já não usa encontrámos, mas decidimos que tí- uma “cidade de magia e misticismo, que não estavam nos planos. o anel de caveira que durante muitos nhamos de o fazer. Disse-lhe que o quantos. Mas Kinski simultaneamente bela e assustadora”, Certamente que hoje, quando Her- anos o acompanhou. “Isso veio de levaria onde nunca havia ido antes e contribuiu positivamente para o seu zog, com 67 anos, e Cage, com 46, fa- uma filosofia que li, japonesa, que diz ele não se juntaria ao projecto se eu é uma peste, e Cage desempenho. lam — em entrevistas separadas —, aca- que temos de merecer o direito a mor- não fizesse parte dele. Eu também “Tenho com aquela cidade uma bamos por perceber que a única coisa rer. Trabalha-se arduamente porque não o faria se não fosse com ele, pois é um cavalheiro relação de amor-ódio, que é o tipo que os dois filmes têm em comum é a morte é o nosso descanso. É uma a perspectiva de trabalhar com este maravilhoso” mais forte de relação. Sinto-me simul- que ambos representam um encontro filosofia sobre não desperdiçar o tem- actor fenomenal era excelente”. taneamente amaldiçoado e abençoa- de cabeças e de talentos originais e de po de vida a viajar, a aprender sobre A ideia de filmar em Nova Orleães Werner Herzog do em Nova Orleães e fiquei aterrori- excepção. Cage trabalhou, de resto, a vida e a natureza, a conhecer pes- foi mais prosaica: havia fortes incen- zado com a ideia de voltar e fazer lá com Keitel em várias ocasiões: “Harvey soas, ou através do próprio trabalho tivos fiscais em jogo, explica o reali- um filme. Mas precisava de o fazer em e eu somos amigos e eu adoro os fil- árduo, a fazer filmes, por exemplo. zador. “Queria fazer o filme logo de- Nova Orleães, para enfrentar qual- mes do Abel [Ferrara], incluindo ‘Po- Por isso, não, já não preciso do anel. pois do furacão Katrina, após a total quer possível experiência estimulan- lícia sem Lei’”. Herzog é toda uma ou- Ele ficou, digamos, tatuado em mim”, destruição da cidade, no meio de to- te que surgisse, para saber que era tra história: conheceu-o nas vinhas explica o actor. da aquela decadência moral, do co- capaz. E fico contente por poder dizer californianas do tio, Francis Ford Co- “Polícia sem Lei”, dizíamos, é com- lapso da civilidade, das pilhagens. que resultou”, conclui agora. ppola, quando tinha apenas oito pletamente um encontro de mentes. Achei fantástico filmar lá e, claro, ha- O filme de Herzog apenas se asse- anos. Quando começaram a fazer o filme, via também o facto de o Nicolas ter lá melha superficialmente ao “Polícia Werner Herzog em casa com Nicolas Cage Cinema

32 • Sexta-feira 21 Maio 2010 • Ípsilon ” em que Cage snifa cocaína como um verdadeiro “junkie” SÃO LUIZ TEATRO MUNICIPAL BILHETEIRA DAS 13H ÀS 20H RUA ANTÓNIO MARIA CARDOSO, 38; 1200-027 LISBOA T: 213 257 650; [email protected] o encontro de dois “cavalheiros maravilhosos”. Helen Barlow [email protected] / T: 213 257 640 BILHETES À VENDA NA TICKETLINE E NOS LOCAIS HABITUAIS SÃO LUIZ MAI/JUN ~1O sem Lei” de Ferrara no sentido em que sóbrio. “O Werner pensou que eu es- com que já trabalhou: “Klaus Kinski também retrata um polícia corrupto, tava a consumir cocaína. ‘O que é tens foi um. Christian Bale foi outro, e há viciado em drogas, que age à margem nesse frasquinho?’, perguntava ele mais uns quantos”. Mas enquanto da lei. Diz Cage que, em muitos aspec- [Cage imita o sotaque alemão]. Não descreve Kinski como “uma peste”, De 21 de Maio a 9 de Junho, o alkantara festival, tos, este tenente é de louvar, por ser podes fazer isso aqui no local das fil- Herzog diz que Cage “é um cavalheiro na sua 3ª edição, acolhe cerca de 30 performances um dos poucos que ficaram na cidade magens!’ Achei que isso era um bom maravilhoso”. de dança, de teatro e de tudo o que se encontra entre quando o caos era total. Inspirou-se sinal”. eles, de artistas oriundos de mais de 20 países. nas dores de costas crónicas da per- “Parecia tão real”, concorda Her- Cirurgia de coração aberto sonagem para desenvolver um andar zog. “Ele snifava com tal convicção Eva Mendes é a prostituta que está ao Mais uma vez, o São Luiz é o principal co-produtor. ligeiramente curvado na sua interpre- que senti mesmo que tinha de acabar lado de Cage em “Polícia sem Lei”. tação. “Era uma oportunidade para com aquilo. Nunca consumi drogas Herzog teve de insistir para tê-la no fazer algo com a movimentação cor- em toda a minha vida. Mesmo quando filme, já que a personagem principal poral da personagem. Queria que ele estou entre pessoal do cinema e me tinha de estar bem apoiada por um Alemanha / Egipto EUA tivesse um andar diferente. Quem sa- passam um charro, passo-o ao próxi- forte elenco. “Já imaginaram o Hum- 21 E 22 MAI 4 A 6 JUN be o que aconteceria se tivéssemos de mo. Nunca dei uma passa. Nunca con- phrey Bogart no ‘Casablanca’ sem a viver com aquelas dores? Recorrería- sumi nada disso, não por ser um mo- Ingrid Bergman? Estaria desampara- RADIO BARE mos ou não às drogas? Em última aná- ralista, mas simplesmente porque não do. Mas os produtores não queriam MUEZZIN SOUNDZ lise, quis perceber se conseguiria tra- gosto da cultura que rodeia as drogas. a Eva. ‘Mas quem é ela?’, pergunta- STEFAN KAEGI SAVION GLOVER zer para o filme o vício da droga com Na realidade, retirei pelo menos cin- vam. ‘Quase não fez filmes nenhuns’. (RIMINI PROTOKOLL) SEXTA E SÁBADO ÀS 21H00 o filtro da minha sobriedade e o poder co cenas em que ele snifa cocaína ou Cinco meses mais tardes, quando aca- SEXTA E SÁBADO ÀS 21H00 DOMINGO ÀS 17H00 da minha imaginação. De forma a que heroína. É claro que tínhamos um es- bei o filme, Eva foi eleita a mulher SALA PRINCIPAL M/12 SALA PRINCIPAL M/6 se obtivesse uma abordagem impres- pecialista que providenciava um pó mais sensual e erótica do planeta. sionista, ao passo que em ‘Morrer em com um aspecto exactamente igual Nessa altura recebi uma série de tele- O Ministério dos Assuntos O bailarino de sapateado Las Vegas’ a abordagem era mais ‘fo- ao da cocaína, mas era a forma como fonemas dos produtores. ‘Ainda bem Religiosos egípcio quer que emprestou os seus pés torrealista’”. o Nicolas a snifava e a forma como ele que ela esteve connosco no projecto!’ a Mumble, o pinguim A representação de Cage foi tão se transformava a seguir que me fa- E eu disse-lhes: ‘Seus idiotas! Eu tive introduzir um sistema de convincente que Herzog não acredi- ziam pensar: ‘Meu Deus, tenho de de lutar para tê-la no filme!” rádio fechado que transmitirá de Happy Feet, é hoje tava que o actor – cuja pesquisa para acabar com isto!’ Claro que depois Talvez igualmente importantes te- a voz de um único muezim visto como um dos a sua personagem de “Morrer em Las percebi que era a fingir, mas isto mos- nham sido os répteis de Herzog. ao vivo e em simultâneo para grandes revolucionários vegas” (que lhe valeu um Oscar) se tra bem o calibre dele como actor”. “O Werner é muito dedicado às su- deste género. centrara no consumo de quantidades Herzog diz que Cage é “um dos ac- as iguanas e quis ter a certeza de que, todas as mesquitas de Estado. Cairão no silêncio milhares absurdas de álcool – estava de facto tores mais incrivelmente dotados” sempre que possível, estariam em Portugal de muezins? 24, 25 E 31 MAI Brasil 1, 7, 8 E 9 JUN 28 E 29 MAI AMIGOS H3 COLORIDOS BRUNO BELTRÃO UM PROJECTO / GRUPO DE RUA ALKANTARA DE NITERÓI FESTIVAL E PRADO SEXTA E SÁBADO ÀS 21H00 ÀS 23H00 SALA PRINCIPAL M/6 JARDIM DE INVERNO M/12 Beltrão continua a Rendez-vous amorosos desenvolver o seu próprio para os artistas e blind vocabulário, no desafio entre dates para o público. a coreografia contemporânea Um espaço/tempo para e as várias formas encontros (im)possíveis, de street dance. intensos e apaixonados. Serão todos encontros irrepetíveis. WWW.TEATROSAOLUIZ.PT

Para fazer esta história de um polícia em decadência moral na Nova Orleães pós-Katrina, Werner Herzog quis absolutamente ter Nicolas Cage; o actor, que vive na cidade e tem com ela “uma relação de amor-ódio”, fi cou “aterrorizado”

Ípsilon • Sexta-feira 21 Maio 2010 • 33 grande plano, no centro da acção”, a alguns milímetros da pele da iguana. recorda Cage com um sorriso afectu- Ela ficou com um ar tão estúpido e oso. “Fizemos um pequeno convívio surpreendido que eu sabia que o re- e ele estava no bar, muito perturbado sultado iria ser desconcertante”. O factor Coppola e a paixão porque não estava a conseguir tempo Cage apreciou a maneira como Her- comum por iguanas: há lugares suficiente dos seus répteis no filme. zog vai ao essencial. “O Werner não em que Herzog e Cage Precisava de, pelo menos, três a cinco precisa de muita parafernália, nem se encontram minutos com eles e, se não conseguis- de muitos ângulos de câmara. E tam- se isso, ficava tão transtornado que bém não precisa de muitos ‘takes’. nunca mais dirigia nenhum filme. Vol- Isso cria uma atmosfera onde nos sen- tei para casa nessa noite a pensar nis- timos mais livres e espontâneos. Fun- so, liguei-lhe e disse: ‘Ainda temos de ciona bem com o que eu estava a ten- filmar aquela cena em que eu prendo tar fazer, e que era uma abordagem o casal de jovens na rua. Porque é que baseada no jazz americano – já que não cortas essa cena e aí podes ter to- estávamos no berço do jazz. Era uma do o tempo que quiseres para as igua- mistura do essencial e da vontade de- nas?’ E ele disse: ‘Não, não, Nicolas! le de ir a alguns cenários no mínimo Obrigado, és muito gentil, mas tam- arrojados, como a cena no lar de ido- bém preciso dessa cena’”. sos e a exposição no antro de droga, Não há muitos actores que, como e também a cena na rua, com a arma Cage, tenham em comum com Herzog no ar, tudo coisas que não estavam esta paixão pelos répteis. “Eu não sa- no guião, que foram improvisadas”. bia disso até jantarmos juntos em No- “Tenho de admitir”, diz Herzog, va Orleães, antes de iniciarmos as “que as minhas filmagens são muito filmagens”, nota Herzog. “Sim, adoro calmas. Só falo baixinho; é como uma filmá-las e dar-lhes papéis importantes cirurgia de coração aberto. Não raro, nos meus filmes, e o Nicolas apoiou- termino a meio da tarde, depois de me muito nisso. Quando cheguei ao ter trabalhado calmamente. Não é local de filmagens, fui logo falar com nada agitado”. o director de fotografia e disse: ‘Não toque nisso, vou filmar eu próprio Tradução de Ana Isabel Palma da Silva com esta lente pequenina e o cabo de fibra óptica’. Tive de a segurar apenas Ver crítica de filmes págs. 36

Nicolas Cage snifou cocaína tão convincentemente durante a rodagem que o realizador chegou a convencer-se de que ele estava realmente a consumir drogas: “Parecia tão real”

34 • Sexta-feira 21 Maio 2010 • Ípsilon The xx É agora: a banda do ano passado em Lisboa e no Porto Pág. 41

NicolasNicolas CaCagege “Eu sou o Amor” ExtraordinárioExE traordinário em “P“Políciaolícia sem O melodramamelodrama cclássicolássico reinventareinventado.do. LeLLei”,i”i , de Werner Herzog.Herzog. PPág.ág. 36 Pág.Pág. 3366

Orhan

Pamuk Cinco estrelas para “O Museu da Inocência”, o primeiro romance depois do Nobel Pág. 50 Jorge Luís M. Mário Vasco As estrelas do público Mourinha Oliveira J. Torres Câmara Estômago mmnnn nnnnn mmnnn nnnnn Eu Sou o Amor mmmmm nnnnn nnnnn nnnnn Histórias da Idade de Ouro mmmnn mmmnn mmnnn nnnnn Humpday mmmnn nnnnn mmnnn mmmnn Líbano mmmmn nnnnn mmmnn mmmnn Mother - Uma Força Única mmmmn nnnnn mmmmn mmmnn Pesadelo em Elm Street mmnnn nnnnn nnnnn nnnnn Polícia Sem Lei mmmmn nnnnn nnnnn nnnnn Robin Hood mmnnn nnnnn mmnnn mnnnn O Segredo dos Seus Olhos mmnnn nnnnn nnnnn nnnnn

actrizes contemporâneas, e de um elenco impecável onde encontramos o actor e encenador Pippo Delbono e os veteranos Gabriele Ferzetti e Marisa Berenson (é impossível não recordar “Morte em Veneza”...), como quem sublinha que a estrutura rígida do melodrama exige o tal corpo estranho para rebentar por todos os lados e construir algo de novo que se insere numa tradição e a reinventa sem pruridos. “Eu Sou o Amor” é uma obra- prima. As iguanas pós-Katrina

Werner Herzog aproveita uma encomenda de produtor para assinar a sua melhor ficção em muito tempo e para nos recordar como Nicolas Cage pode ser

Cinema um actor extraordinário. A fi gura pálida, alta e observadora de Tilda Swinton é o corpo estranho nesta poderosa família industrial milanesa, de uma aristocracia fora-de-tempo Jorge Mourinha Estreiam ignora como mera presença não lhe chega. Polícia Sem Lei utilitária que a divina, gloriosa Tilda Emma é, evidentemente, Tilda The Bad Lieutenant: Port of Call toma perfeita consciência do seu Swinton, e a sua presença introduz o - Corpos papel na poderosa família milanesa. pauzinho na engrenagem da saga De Werner Herzog, Ela é a verdadeira “mamma morta” familiar; é o tal “corpo estranho” de com Nicolas Cage, Eva Mendes, Val (aliás, mais tarde, alguém lhe dirá que falávamos – não apenas pela sua Kilmer. M/16 estranhos “tu não existes”), até o amor lhe cair personagem ser uma “intrusa” que, do céu, numa noite de Inverno, na aceite pela família, nunca se sentiu MMMMn Tilda Swinton é sublime pessoa de um visitante inesperado inteiramente parte dela, mas que nem sequer fica para tomar também porque a presença física da Lisboa: CinemaCity Beloura Shopping: Sala 2: 5ª num filme gloriosamente café. actriz, pálida, alta, observadora, cria 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h40, 16h15, 18h50, 21h35, 00h10; Medeia Saldanha Residence: Sala 6: operático que reinventa o É complicado explicar o que se um contraste, lança um 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 14h20, 16h50, melodrama clássico e a saga passa em “Eu Sou o Amor” sem desequilíbrio, introduz uma nota de 19h20, 21h50, 00h20; UCI Cinemas - El Corte Inglés: correr o risco de menorizar a dissonância no conforto luxuoso que Sala 5: 5ª 6ª Sábado 2ª 3ª 4ª 14h, 16h35, 19h10, familiar para um tempo 21h45, 00h20 Domingo 11h30, 14h, 16h35, 19h10, terceira ficção de Luca Guadagnino, a rodeia. Esse contraste é depois 21h45, 00h20; ZON Lusomundo Alvaláxia: 5ª 6ª em que eles já não existem. porque o que eleva o filme ao amplificado pelas cenas de Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h20, 16h, 18h45, estatuto de obra-prima é a exteriores rurais onde se desenrola 21h30, 00h15; ZON Lusomundo Amoreiras: 5ª 6ª Obra-prima. Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h20, 16h, 18h50, Jorge Mourinha abordagem operática, virtuosa, o “affaire” de Emma, de uma 21h40, 00h20; ZON Lusomundo CascaiShopping: formalista, estilizada, hiper- sensualidade exacerbada que se 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h, 15h45, romântica e pós-modernista com opõe à rigidez estruturada do 18h30, 21h15, 24h; ZON Lusomundo Colombo: 5ª 6ª Eu Sou o Amor Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 12h45, 15h30, 18h25, Io Sono l’Amore que o cineasta siciliano encara o palacete dos Recchi. Guadagnino 21h30, 00h20; ZON Lusomundo Oeiras Parque: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 12h45, 15h35, 18h25, De Luca Guadagnino, melodrama clássico e a saga familiar, mantém essa emoção a borbulhar o modo como ele instala no subterraneamente durante todo o 21h20, 00h10; ZON Lusomundo Torres Vedras: 5ª com Tilda Swinton, Flavio Parenti, 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h15, 16h, 18h45, Edoardo Gabbriellini. M/12 classicismo do género um corpo filme (sabiamente sublinhada pela 21h30, 00h15; ZON Lusomundo Vasco da Gama: 5ª estranho através de Tilda Swinton. música do compositor minimal John 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 12h55, 15h40, 18h40, Vamos, ainda assim, tentar: Adams), para apenas a deixar sair 21h20, 00h05; ZON Lusomundo Almada Fórum: 5ª MMMMM 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h15, 16h, 18h50, conhecemos os Recchi, poderosa em momentos judiciosamente 21h35, 00h25 Lisboa: UCI Cinemas - El Corte Inglés: Sala 14: 5ª 6ª família industrial milanesa, à volta escolhidos, como uma panela de Porto: Arrábida 20: Sala 13: 5ª 6ª Sábado Sábado 2ª 3ª 4ª 14h10, 16h40, 19h10, 21h40, da mesa do jantar de aniversário do pressão que já quase não consegue Domingo 2ª 14h, 16h40, 19h25, 22h05, 00h50 3ª 4ª 00h10 Domingo 11h30, 14h10, 16h40, 19h10, 21h40, 16h40, 19h25, 22h05, 00h50; ZON Lusomundo 00h10; patriarca, que acaba de decidir aguentar a tensão. Dolce Vita Porto: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª Porto: Arrábida 20: Sala 14: 5ª 6ª Sábado deixar o negócio de família ao filho e É inevitável pensarmos em mestre 13h05, 15h50, 18h40, 21h40, 00h25; ZON Domingo 2ª 13h55, 16h35, 19h15, 21h55, 00h35 3ª ao neto. Nesse jantar que respira um Visconti (há um travo de “O Lusomundo GaiaShopping: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 4ª 16h35, 19h15, 21h55, 00h35 travo de passado glorioso, de Leopardo” a passar por aqui, um 13h05, 15h45, 18h35, 21h50 6ª Sábado 13h05, 15h45, Atente-se na “chave” que dá título a aristocracia fora-de-tempo, fôlego de grande ópera italiana) ou 18h35, 21h50, 00h30; ZON Lusomundo série ípsilon II Marshopping: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª este grandíssimo filme: Maria Callas, percebemos também o papel que as em mestre Sirk (a transcendência da 13h, 15h50, 18h50, 21h40, 00h20; ZON Lusomundo ela própria, interpretando a ária da mulheres nele desempenham: Rori, história banal através da encenação NorteShopping: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h10, 16h, 19h, 22h, 00h55; ZON Lusomundo Sexta-feira, “Mamma Morta” de Giordano, na a matriarca, fiel guardiã da tradição arrebatada e gloriosa), mas o que é Parque Nascente: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª dia 28 de Maio, banda-sonora do “Filadélfia” de familiar; Betta, a neta, de notável em “Eu Sou o Amor” é que 4ª 12h50, 15h40, 18h40, 21h30, 00h20; ZON o DVD “As Irmãs Jonathan Demme, que Tilda Swinton temperamento artístico, que começa Guadagnino consegue marcar a Lusomundo Fórum Aveiro: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª vê uma noite na cama à beira de a sentir-se limitada pelas distância dos mestres, criar o seu 13h50, 16h20, 18h45, 21h20 6ª Sábado 13h50, de Maria Madalena”, 16h20, 18h45, 21h20, 23h45 adormecer, antes de o marido expectativas da família; e Emma, a próprio modo de os actualizar e de Peter Mullan chegar e mudar de canal sem sequer mulher do filho, a anfitriã perfeita, modernizar, sem medo de correr Deixe-se à entrada qualquer Todas as sextas, lhe perguntar o que está a ver. A uma mulher discreta que aceitou riscos e sem se retrair para não expectativa acerca deste “Polícia frase que Callas canta é “Io sono representar o papel que lhe foi parecer ambicioso. Fá-lo com a sem Lei” ser um “remake” ou uma por €1,95. l’amore” - “eu sou o amor” - e é distribuído. Mas que, muito preciosa ajuda da divina Tilda, a “sequela” do controverso filme 20anos nesse momento em que o marido a rapidamente, compreendemos que comprovar como é uma das maiores maior que outro cineasta maldito,

36 • Sexta-feira 21 Maio 2010 • Ípsilon aMaumMedíocremmRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente

Abel Ferrara, assinou em 1992. O que parece ter revitalizado o seu podia perfeitamente ser um dos demasiado altas, desdobra-se ao título é mesmo a única semelhança, cinema de ficção (menos Já não se “thrillers” liberais dos anos 70, mesmo tempo no melodrama de com Werner Herzog a apropriar-se interessante nos últimos anos do dirigidos por gente como Alan J. amores desencontrados que dá ao da “encomenda” de rodar o guião de que os documentários) e fazem fi lmes Pakula ou Sydney Pollack – e, nem filme o seu centro emocional, e nas William Finkelstein para prolongar a introduzindo uma inesperada por acaso, o filme passa-se de facto discretas alusões políticas que lhe sua exploração das zonas escuras da contenção visual que torna “Polícia nos anos 70, na transição da dão um aroma simultaneamente natureza humana. Fá-lo através da sem Lei” fita mais acessível aos não- assim Argentina liberal para a época histórico e claustrofóbico. Os descida aos infernos (ou, como iniciados no seu cinema. Claro que, peronista da repressão política e dos acontecimentos de um nível estamos em Nova Orleães, aos falando de Herzog, a simples ideia O vencedor do Oscar de “desaparecidos”, só que vistos a 30 reflectem-se nos outros de modos pântanos) do tenente McDonagh, de “contenção” é anátema – anos de distância, pelos olhos de um distintos mas constantes, com polícia filho de polícia que um acto ninguém corre o risco de confundir melhor filme estrangeiro é antigo investigador judicial que Campanella a não fazer mais do que pontual, inexplicável e o realizador alemão com um uma pequena surpresa – um recorda o crime que mudou a sua uma adequadíssima gestão dos completamente inesperado de qualquer tarefeiro, e este novo filme filme “mainstream” como carreira e decide escrever um vários níveis em função do que a caridade cristã para com um é uma adenda muito mais do que Hollywood já deixou de romance nele inspirado. prisioneiro durante as enchentes do honrosa à sua vasta filmografia. Oscilando entre o presente em furacão Katrina deixa com as costas E, sobretudo, este é o momento saber fazer há muito tempo. que Benjamín recorda e o passado lixadas e uma necessidade de aliviar em que Herzog consegue encontrar Jorge Mourinha em que procura resolver quem a dor que o arrasta para círculos um actor “alma-gémea” ao nível de violou e matou uma jovem na sua progressivamente mais fundos do Klaus Kinski, um intérprete disposto O Segredo dos Seus Olhos própria casa, Juan José inferno, sob o olhar bovino de a segui-lo para onde ele for, disposto El Secreto de Sus Ojos Campanella constrói um crocodilos melancólicos ou iguanas a abandonar-se em prol do filme. De Juan José Campanella, elaborado quebra-cabeças onde a cantoras. Esse actor é um Nicolas Cage muito com Ricardo Darín, Soledad Villamil, história se desenrola em três É, já se percebeu, Herzog a longe dos seus filmes de grande Pablo Rago. M/16 tabuleiros simultâneos. O caminhar naquela finíssima corda espectáculo – é o Cage alucinado, mistério policial clássico bamba em que se especializou, entre habitado, torturado de “Um Coração MMnnn com laivos de film noir, a tragédia claustrofóbica e a irrisão Selvagem” e “Morrer em Las Vegas” com o investigador no quase maníaca, acompanhando que reencontramos aqui, não o astro Lisboa: Medeia King: Sala 1: 5ª Domingo 3ª 4ª papel do “incorruptível” mais uma viagem interior de um de “O Tesouro” ou “Sinais de 14h15, 16h45, 19h30, 22h 6ª Sábado 2ª 14h15, desencantado metido Uma história em três tabuleiros simultâneos, 16h45, 19h30, 22h, 00h30; UCI Cinemas - El Corte que reconstitui a Argentina dos anos 70 homem preso (um pouco à imagem Futuro”. E gostamos muito mais Inglés: Sala 12: 5ª 6ª Sábado 2ª 3ª 4ª 14h, 16h35, em cavalarias do próprio cineasta) numa espiral deste Cage do que do outro — mas foi 19h15, 21h50, 00h30 Domingo 11h30, 14h, 16h35, obsessiva aparentemente sem saída. preciso Herzog ir buscá-lo e saber o 19h15, 21h50, 00h30 Só que aqui, no que é que fazer com ele. O que é mais uma Porto: Arrábida 20: Sala 9: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 13h45, 16h30, 19h20, 22h10, 00h55 3ª 4ª 16h30, essencialmente uma encomenda de razão para saudarmos o regresso do 19h20, 22h10, 00h55 produtor, Herzog trabalha dentro de cineasta (e, já agora, do actor) à sua uma estrutura de filme de género melhor forma. Há um problema muito sério a encimar qualquer abordagem a “O Segredo dos Seus Olhos”: foi a este o filme que a Academia de Artes e Ciências de Hollywood atribuiu o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, no ano em que concorriam à estatueta “Um Profeta”, de Jacques Audiard, e “O Laço Branco”, de Michael Haneke. Como é possível, perguntar-se-ão os mais atentos, que dois dos mais extraordinários filmes JORGE europeus recentes, entre eles uma SALGUEIRO Palma de Ouro em Cannes, tenham sido negligenciados em favor de um filme argentino que vinha apenas com a reputação de ser o maior 4ª a sáb às 20h3 êxito comercial da história do d 0 om às 16h3 cinema local? 0 | M/6 Obviamente, tal “escândalo” só o é se partirmos do princípio de que os Oscares premeiam a qualidade acima de tudo o resto – coisa que já por repetidas vezes compreendemos não ser verdade. Mas este é um caso em que vale a pena deixar de lado os preconceitos. Mesmo se assumirmos que o Oscar foi roubado a “Um

Profeta” ou a “O Laço Branco”, “O © CLEMENTINA CABRAL Segredo dos Seus Olhos” é uma pequena surpresa. Primeiro, pela NOITES BRANCAS elegância e pela inteligência com que abrange e entrelaça géneros a partir de Noites Brancas de FIÓDOR DOSTOIÉVSKI muito diferentes (o melodrama encenação Francisco Salgado produção Procur.arte romântico, o filme policial, o sala estúdio até 27 JUN | 4ª a sáb 21h45 | M/12 “thriller” político) num todo plenamente satisfatório. Segundo (e HAVIA UM MENINO QUE ERA PESSOA principalmente), pelo facto de este ser um filme exemplar de um tipo de Poemas para a Infância de FERNANDO PESSOA cinema “mainstream” inteligente, encenação Lucinda Loureiro | com José Figueiredo Martins adulto, sóbrio, que Hollywood sáb e dom 15h para toda a família | M/6 O Nicolas Cage que encontramos aqui é o Nicolas Cage alucinado produzia em tempos para escolas durante a semana | sob marcação e torturado e não o dos seus fi lmes de grande espectáculo, desembaraçadamente mas que hoje mas foi preciso Herzog ir buscá-lo e saber o que fazer com ele abandonou por completo. Este

Ípsilon • Sexta-feira 21 Maio 2010 • 37 Cinema

Freddy Krueger deixa de ser apenas um papão e ganha aqui estatuto de personagem

história lhe pede e do que o Pesadelo em Elm Street Robin Hood espectador precisa de saber. Continuam A Nightmare on Elm Street 6ª 15h40, 18h30, 21h30, Robin Hood Mais do que um “autor” como De Samuel Bayer, 24h Sábado 12h50, 15h40, 18h30, 21h30, De Ridley Scott, 24h Domingo 12h50, 15h40, 18h30, 21h30; Castello Audiard ou Haneke (as únicas notas com Jackie Earle Haley, Kyle Gallner, Mother - Uma Força Única com Russell Crowe, Cate Blanchett, de autor que se podem sentir em “O Lopes - Rio Sul Shopping: Sala 2: 5ª 6ª 2ª 3ª 4ª Rooney Mara. M/16 15h40, 18h20, 21h20, 23h50 Sábado Domingo 13h, Madeo Max von Sydow, William Hurt. M/12 Segredo dos Seus Olhos” acabam 15h40, 18h20, 21h20, 23h50; ZON Lusomundo De Bong Joon-ho, por minimizá-lo: os planos MMnnn Almada Fórum: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª MMnnn 12h45, 15h05, 17h20, 19h35, 21h50, 00h05; ZON com Bin Won, Kim Hye-ja. M/12 “descentrados” algo óbvios e a única Lusomundo Fórum Montijo: 5ª 6ª Sábado sequência de acção do filme, um Lisboa: Castello Lopes - Loures Shopping: Sala 1: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 13h, 15h45, 18h10, 21h30, 24h MMMMn longo plano-sequência trucado com 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h25, 16h20, 19h, 21h40, 24h; CinemaCity Alegro Alfragide: Sala 2: 5ª Porto: Arrábida 20: Sala 12: 5ª 6ª Sábado câmara à mão que parece ter sido 6ª 2ª 3ª 4ª 13h40, 15h30, 17h20, 19h10, 21h45, Domingo 2ª 14h05, 16h35, 19h10, 21h50, 00h30 3ª Lisboa: Medeia Saldanha Residence: Sala 7: 5ª 6ª enxertado de um outro filme), 23h40 Sábado Domingo 11h40, 13h40, 15h30, 4ª 16h35, 19h10, 21h50, 00h30; ZON Lusomundo Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h50, 16h30, 19h, 17h20, 19h10, 21h45, 23h40; CinemaCity Beloura NorteShopping: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 21h30, 24h Campanella está aqui do lado dos 12h40, 15h, 17h20, 20h, 22h20, 00h40; ZON Shopping: Sala 4: 5ª 6ª 2ª 3ª 4ª 13h50, 15h40, Porto: Medeia Cidade do Porto: Sala 2: 5ª 6ª Lusomundo Parque Nascente: 5ª 6ª Sábado grandes funcionários de 17h30, 19h20, 21h40, 23h45 Sábado Domingo 11h30, Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 14h05, 16h35, 19h25, Domingo 2ª 3ª 4ª 13h40, 16h, 18h50, 21h40, Hollywood que se moldavam àquilo 13h50, 15h40, 17h30, 19h20, 21h40, 23h45; 21h50 00h10; Castello Lopes - 8ª Avenida: Sala 2: 5ª 2ª que o filme lhes pedia e, no CinemaCity Campo Pequeno Praça de Touros: Sala 2: 5ª 6ª 2ª 3ª 4ª 13h40, 15h35, 17h25, 19h15, 3ª 4ª 15h20, 18h50, 21h50 6ª 15h20, 18h50, 21h50, processo, construiram um modo de 21h40, 00h05 Sábado Domingo 11h35, 13h40, 24h Sábado 13h10, 15h20, 18h50, 21h50, 24h “Mother” cruza o “thriller” mais Lisboa: Atlântida-Cine: Sala 1: 5ª 6ª 2ª 3ª 4ª pensar o cinema com inteligência e 15h35, 17h25, 19h15, 21h40, 00h05; UCI Cinemas - El Domingo 13h10, 15h20, 18h50, 21h50; ZON arrepiante com as linhas mestras de 15h30, 21h30 Sábado Domingo 15h30, 18h15, 21h30; Lusomundo Glicínias: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª lealdade que se perdeu Corte Inglés: Sala 13: 5ª 6ª Sábado 2ª 3ª 4ª um melodrama encenado até aos Castello Lopes - Cascais Villa: Sala 5: 5ª 2ª 3ª 4ª 14h20, 17h, 19h25, 22h, 00h30 Domingo 11h30, 3ª 4ª 14h10, 16h40, 19h10, 21h40, 00h15; 15h40, 18h30, 21h30 6ª 15h40, 18h30, 21h30, 00h20 completamente. 14h20, 17h, 19h25, 22h, 00h30; UCI Dolce Vita Tejo: mínimos pormenores, tendo a Sábado 12h40, 15h40, 18h30, 21h30, 00h20 “O Segredo dos Seus Olhos” não Sala 8: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 14h, 16h30, 19h15, Partamos do princípio de que não perfeita noção de como os Domingo 12h40, 15h40, 18h30, 21h30; Castello será a obra-prima que o Oscar faria 21h45 6ª Sábado 14h, 16h30, 19h15, 21h45, 00h25; havia realmente motivo para se fazer sentimentos descabelados podem Lopes - Londres: Sala 1: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª ZON Lusomundo Alvaláxia: 5ª 6ª Sábado 13h15, 16h, 18h45, 21h30 6ª Sábado 13h15, 16h, pensar. Mas é, por onde se quiser Domingo 2ª 3ª 4ª 13h40, 16h20, 18h30, 21h50, um “remake” do filme de Wes desencadear um terror quotidiano de 18h45, 21h30, 00h15; Castello Lopes - Loures ver, um exemplo de um cinema 24h; ZON Lusomundo CascaiShopping: 5ª 6ª Craven que, em 1984, lançou uma consequências imprevisíveis: uma Shopping: Sala 6: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª “mainstream” que não toma o Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 12h50, 15h, 17h10, das séries mais populares do cinema viúva parece não conhecer limites na 4ª 12h50, 15h40, 18h30, 21h20, 00h10; CinemaCity 19h20, 21h30, 23h50; ZON Lusomundo Colombo: 5ª Alegro Alfragide: Cinemax: 5ª 6ª Sábado Domingo espectador por parvo e que anda a 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h15, 15h40, 18h, B de terror dos últimos 25 anos (e defesa acrisolada do filho e transpõe 2ª 3ª 4ª 13h35, 16h25, 21h25, 00h15; CinemaCity fazer demasiada falta. Se o Oscar 21h40, 24h; ZON Lusomundo Vasco da Gama: 5ª 6ª não havia, a não ser a falta de ideias todas as barreiras com a Beloura Shopping: Cinemax: 5ª 6ª Sábado levar as pessoas a vê-lo, já não se Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h, 15h20, 17h30, dos estúdios americanos e a cumplicidade militante do Domingo 2ª 3ª 4ª 13h30, 16h45, 21h25, 00h15; 19h40, 21h50, 00h10; Castello Lopes - Fórum CinemaCity Campo Pequeno Praça de Touros: Sala terá perdido tudo. Barreiro: Sala 4: 5ª 2ª 3ª 4ª 15h40, 18h30, 21h30 necessidade de relançar um espectador, preso ao suspense e à 4: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h45, 16h35, “franchise” refrescado). Partindo manipulação explícita de um filme 21h30, 00h20; CinemaCity Classic Alvalade: Sala 3: desse princípio, o que o estreante espantosamente bem engendrado. E 5ª 2ª 3ª 4ª 15h, 17h50, 21h20 6ª 15h, 17h50, 21h20, 00h10 Sábado 11h45, 15h, 17h50, 21h20, 00h10 Samuel Bayer faz da história do é aqui que Bong Joo-ho triunfa de Domingo 11h45, 15h, 17h50, 21h20; Medeia Fonte papão com facas nos dedos que todos os possíveis confrontos: Nova: Sala 1: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª ameaça uma série de adolescentes sabemos que estamos a ser 14h10, 16h45, 19h20, 22h; Medeia Monumental: Sala 4 - Cine Teatro: 5ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª dentro dos seus sonhos é um conduzidos para uma vertigem de 13h20, 16h, 18h40, 21h20, 24h 6ª 13h20, 16h, 18h40, eficientíssimo filme B de terror que contradições narrativas, mas 21h20; Medeia Saldanha Residence: Sala 5: 5ª 6ª actualiza eficazmente os moldes acreditamos no poder das imagens, Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 14h, 16h40, 19h20, 22h, 00h30 ; UCI Cinemas - El Corte Inglés: Sala 9: 5ª 6ª clássicos do género. Bayer e os no dispositivo exposto de uma Sábado 2ª 3ª 4ª 15h, 18h15, 21h30, 00h25 Domingo argumentistas Wesley Strick e Eric realidade falseada, mas credível. 11h30, 15h, 18h15, 21h30, 00h25; UCI Dolce Vita Tejo: Heisserer respeitam a estrutura do Andamos paredes-meias com as Sala 2: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 15h, 18h, 21h30 6ª Sábado 15h, 18h, 21h30, 00h30; ZON Lusomundo original (os pesadelos mortais que estratégias hitchcockianas e, porém, Alvaláxia: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª invocam a presença de Freddy reconhecemos um olhar original e 13h30, 16h40, 21h20, 00h25; ZON Lusomundo Krueger têm a sua origem no renovador, um modo de filmar que Amoreiras: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 14h, 17h, 21h, 00h10; ZON Lusomundo CascaiShopping: “pecado dos pais”) e homenageiam- nos aproxima e distancia do objecto 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h20, 16h30, no até numa série de planos que filmado. Mário Jorge Torres 21h, 00h20; ZON Lusomundo Colombo: 5ª 6ª citam directamente o filme de Craven, ao mesmo tempo que dão corpo e consistência à narrativa (Freddy, honrosamente recriado por Jackie Earle Haley, é aqui, mais do que um simples papão, uma personagem). O que faz a diferença, então? Simples: apesar de o “Pesadelo em Elm Street” original ter mais buracos do que uma fatia de queijo suíço, tinha a seu favor o factor novidade, o modo como o seu “monstro do id” comentava subrepticiamente a fútil “década do ego”, o evidente amor que Craven tinha pelo género (e que se prolongou nas primeiras sequelas, dirigidas por gente como Jack Sholder, Chuck Russell ou Renny Harlin). Bayer, que vem dos telediscos, é um mero tarefeiro encarregue de entregar um produto pasteurizado, e fá-lo com respeito e desenvoltura, mas sem a alma do original. O que não invalida que, perversamente, este “remake” seja de longe o melhor resultado do recente ciclo de reinvenções supervisionado por Michael “Transformers” Bay, depois de “Amityville – A Mansão do Diabo” e Um fi lme espantosamente bem engendrado “Massacre no Texas” ou “Sexta-Feira e espantosamente credível, que atira o espectador 13”... J. M. para uma vertigem de contradições narrativas

38 • Sexta-feira 21 Maio 2010 • Ípsilon aMaumMedíocremmRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente

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Cinemateca Portuguesa R. Barata Salgueiro, 39 Lisboa. Tel. 213596200

Sexta, 21 Detour O Miar do Gato Barbara Rush, Walter Matthau. 95 L’ Avventura De Edgar G. Ulmer. Com Ann Savage, The Cat’s Meow min. M12. De Michelangelo Antonioni. Com Suspeita Claudia Drake, Tom Neal. 67 min. De Peter Bogdanovich. Com Cary 25/05, 19h - Sala Félix Ribeiro Gabriele Ferzetti, Lea Massari, Suspicion 21/05, 22h - Sala Luís de Pina Monica Vitti. 137 min. Elwes, Eddie Izzard, Edward A Saintly Switch De Alfred Hitchcock. Com Cary 26/05, 21h30 - Sala Félix Ribeiro Herrmann, Kirsten Dunst. 110 min. De Peter Bogdanovich. Com Vivica A. Grant, Joan Fontaine, Cedric Sábado, 22 M12. Fox, David Alan Grier, Al Waxman. 88 Sangue e Ouro Hardwicke. 99 min. 24/05, 19h - Sala Félix Ribeiro min. Talaye sorkh 21/05, 15h30 - Sala Félix Ribeiro O Túmulo Índio Der Tiger Von Eschsapur I Pugni in Tasca 25/05, 19h30 - Sala Luís de Pina De Jafar Panahi. Com Pourang Le Trou Nakhael, Hossain Emadeddin, De Fritz Lang. Com Paul Hubschmid, De Marco Bellocchio. Com Lou Castel, O Efeito dos Raios Gama no De Jacques Becker. Com Jean Kamyar Sheisi. 97 min. M12. René Deltgen, Walter Reyer. 198 min. Paola Pittagora, Marino Mase. 85 min. Comportamento das Margaridas Keraudy, Michel Constantin, Philippe M16. 26/05, 22h - Sala Luís de Pina 24/05, 19h30 - Sala Luís de Pina The Eff ect of Gamma Rays on Leroy, Raymond Meunier. 120 min. 22/05, 15h30 - Sala Félix Ribeiro Man-in-the-Moon Marigolds 21/05, 19h - Sala Félix Ribeiro The Mistery of Natalie Wood Quinta, 27 O Túmulo Índio De Peter Bogdanovich. Com Justine De Paul Newman. Com Joanne Para Sempre Mozart Der Tiger Von Eschsapur Waddell, Michael Weatherly, Matthew Woodward, Nell Potts, Roberta As Badaladas da Meia-Noite For Ever Mozart De Fritz Lang. Com Paul Hubschmid, Settle. 172 min. Wallach. 101 min. Chimes at Midnight 25/05, 21h30 - Sala Félix Ribeiro De Jean Luc Godard. Com Frédéric René Deltgen, Walter Reyer. 198 min. 24/05, 21h30 - Sala Félix Ribeiro De Orson Welles. Com Jeanne Pierrot, Ghalia Lacroix, Madeleine M16. Tom Petty and the Heartbreakers: Moreau, John Gielgud, Orson Welles. Assas. 84 min. 22/05, 19h - Sala Félix Ribeiro E a Vida Continua Runnin’ Down a Dream 115 min. M16. 21/05, 19h30 - Sala Luís de Pina Va Zendegi Edameh Darad 27/05, 15h30 - Sala Félix Ribeiro O Castelo Vogeloed De Abbas Kiarostami. Com Buba De Peter Bogdanovich. 239 min. Os Noivos Sangrentos Schloss Vogeloed Bayour, Farhad Kheradmand. 91 min. 25/05, 22h - Sala Luís de Pina M.A.S.H Badlands De F.W. Murnau. Com Arnold Korff, M12. De Robert Altman. Com Donald Lulu Kyser-Korff, Lothar Mehnert. 75 24/05, 22h - Sala Luís de Pina Quarta, 26 Sutherland, Elliott Gould, Tom min. Skerritt. 116 min. M12. Aconteceu na 5ª Avenida 22/05, 19h30 - Sala Luís de Pina 27/05, 19h - Sala Félix Ribeiro Terça, 25 It Happened on 5th Avenue Em Nome do Pai Um João De Roy Del Ruth. Com Don DeFore, Alvorada Vermelha In Nome del Padre Ann Harding, Charlie Ruggles. 115 min. The Naked Dawn De Marco Bellochio. Com Lou Castel, Ninguém Meet John 26/05, 15h30 - Sala Félix Ribeiro De Edgar G. Ulmer. Yves Beneyton, Laura Betti. 105 min. Com Arthur Kennedy, 22/05, 21h30 - Sala Félix Ribeiro Doe Nessuno o Tutti: Matti da Slegare De Frank Betta St. John, Eugene Iglesias. 82 De Marco Bellocchio, Silvano Agosti, min. Adventure in Denmark Capra. Sandro Petraglia, Stefano Rulli. Com 27/05, 19h30 - Sala Luís de Pina Chun man Dan Mai Com Lou Castel, Paola Pittagora, Marino De Fan Ho. Com Wai-Man Chan, James Barbara Mase. 130 min. O Pianista Yi Lui, Ying Bai. 90 min. Stanwick., 26/05, 19h - Sala Félix Ribeiro The Pianist 22/05, 22h - Sala Luís de Pina Edward De Roman Polanski. Com Adrien Arnold, O Miar do Gato Brody, Daniel Caltagirone, Thomas Segunda, 24 Gary Cooper, The Cat’s Meow Kretschmann. 148 min. M16. De Peter Bogdanovich. Com Cary Walter Brennan. 27/05, 21h30 - Sala Félix Ribeiro A Hiena dos Mares 132 min. Elwes, Eddie Izzard, Edward Two Years Before the Mast 25/05, 15h30 - Sala Félix Ribeiro Herrmann, Kirsten Dunst. 110 min. Crash De Terrence Malick. Com Martin De John Farrow. Com Alan Ladd, M12. De David Cronenberg. Com Elias Sheen, Sissy Spacek, Warren Oates. Brian Donlevy, William Bendix. Atrás do Espelho 26/05, 19h30 - Sala Luís de Pina Koteas, Holly Hunter, James Spader. 89 min. 98 min. Bigger Than Life 100 min. M18. A Aventura 21/05, 21h30 - Sala Félix Ribeiro 24/05, 15h30 - Sala Félix Ribeiro De Nicholas Ray. Com James Mason, 27/05, 22h - Sala Luís de Pina

Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h30, 17h, 21h, 00h10; Maia: Sala 3: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª ZON Lusomundo Dolce Vita Miraflores: 5ª Domingo 14h, 17h, 20h50, 23h55; ZON Lusomundo Dolce Vita 2ª 3ª 4ª 15h30, 18h30, 21h30 6ª Sábado 15h30, Porto: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h20, 18h30, 21h30, 00h30; ZON Lusomundo Odivelas 16h30, 21h10, 00h20; ZON Lusomundo Ferrara Parque: 5ª 2ª 3ª 4ª 15h, 18h20, 21h30 6ª 17h, 21h, Plaza: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 15h30, 18h30, 21h20 24h Sábado 13h30, 17h, 21h, 24h Domingo 13h30, 6ª Sábado 15h30, 18h30, 21h20, 00h20; ZON 15h, 18h20, 21h30; ZON Lusomundo Oeiras Parque: Lusomundo GaiaShopping: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 14h30, 17h50, 12h45, 15h40, 18h40, 21h40 6ª Sábado 12h45, 21h, 00h05; ZON Lusomundo Torres Vedras: 5ª 6ª 15h40, 18h40, 21h40, 00h35; ZON Lusomundo Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h50, 17h30, 21h, MaiaShopping: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 13h10, 00h05; ZON Lusomundo Vasco da Gama: 5ª 6ª 16h20, 21h10 6ª Sábado 13h10, 16h20, 21h10, Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 12h40, 15h30, 18h30, 00h25; ZON Lusomundo Marshopping: 5ª 6ª 21h30, 00h30; Castello Lopes - C. C. Jumbo: Sala 1: Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 14h30, 17h40, 21h20, 5ª 2ª 3ª 4ª 15h50, 18h50, 21h40 6ª 15h50, 18h50, 00h30; ZON Lusomundo NorteShopping: 5ª 6ª 21h40, 00h25 Sábado 13h, 15h50, 18h50, 21h40, Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 14h10, 17h30, 21h30, 00h25 Domingo 13h, 15h50, 18h50, 21h40; Castello 00h50; ZON Lusomundo Parque Nascente: 5ª 6ª Lopes - Fórum Barreiro: Sala 1: 5ª 2ª 3ª 4ª 15h20, Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 14h, 17h30, 21h20, 18h20, 21h10 6ª 15h20, 18h20, 21h10, 23h50 Sábado 00h30; Castello Lopes - 8ª Avenida: Sala 1: 5ª 2ª 12h40, 15h20, 18h20, 21h10, 23h50 Domingo 12h40, 3ª 4ª 15h40, 18h30, 21h20 6ª 15h40, 18h30, 21h20, 15h20, 18h20, 21h10; Castello Lopes - Rio Sul 00h10 Sábado 12h40, 15h40, 18h30, 21h20, 00h10 Shopping: Sala 1: 5ª 6ª 2ª 3ª 4ª 15h30, 18h30, Domingo 12h40, 15h40, 18h30, 21h20; ZON 21h30, 00h30 Sábado Domingo 12h30, 15h30, Lusomundo Fórum Aveiro: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 18h30, 21h30, 00h30; UCI Freeport: Sala 1: 5ª 14h30, 17h50, 21h10 6ª Sábado 14h30, 17h50, 21h10, Domingo 2ª 3ª 4ª 15h20, 18h10, 21h25 6ª Sábado 00h30; ZON Lusomundo Glicínias: 5ª 6ª Sábado 15h20, 18h10, 21h25, 00h15; ZON Lusomundo Domingo 2ª 3ª 4ª 14h20, 17h40, 21h, 00h20 Almada Fórum: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h, 16h10, 20h50, 24h; ZON Lusomundo Almada Ridley Scott está no seu elemento Fórum: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h30, 17h, 21h20, 00h20; ZON Lusomundo Fórum quando tem de criar no écrã Montijo: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 12h35, universos que não existem na 15h30, 18h30, 21h25, 00h25 realidade – poucos outros Porto: Arrábida 20: Sala 16: 5ª 6ª Sábado realizadores conseguiriam recriar a Domingo 2ª 3ª 4ª 13h50, 18h35, 21h45, 00h50; Inglaterra medieval do modo soberbo Arrábida 20: Sala 15: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 14h10, 17h30, 21h20, 00h30 3ª 17h30, 21h20, 00h30 como ele o faz nesta nova versão da 4ª 17h30, 00h30; Cinemax - Penafiel: Sala 2: 5ª 2ª lenda de Robin dos Bosques, aqui 3ª 4ª 15h30, 21h35 6ª 15h30, 21h35, 00h15 Sábado bastante longe das aventuras galantes 15h, 17h40, 21h35, 00h15 Domingo 15h, 17h40, 21h35; Medeia Cidade do Porto: Sala 1: 5ª 6ª e garbosas de Errol Flynn e Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 14h, 16h40, 19h20, 22h; reconcebida como a odisseia de um Nun`Álvares: Sala 1: 5ª 16h30, 19h, 21h30 6ª 16h30, 21h30, 24h Sábado 21h30, 24h Domingo 21h30 2ª arqueiro das cruzadas de Ricardo 16h30, 21h30 3ª 4ª 16h30, 19h, 21h30; Vivacine - Coração de Leão apanhado no

Ípsilon • Sexta-feira 21 Maio 2010 • 39 aMaumMedíocremmRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente Cinema

“O Maoísta”, de Godard, em Famalicão

Cineclubes para mais informações consultar www.fpcc.pt Cine-Teatro S. Pedro Tudo Pode dar certo Largo S. Pedro - Abrantes De Woody Allen, 2009, M/12 V ANIMAIO 27/5, 21.30h - Pequeno Auditório Sky Captain and the World of Auditório do IPJ (Faro) Tomorrow Rua da PSP - Faro “Almoço de 15 de Agosto” Realização: Kerry Conran, 2004, Ou Morro, ou Fico Melhor Todos 27/5, 21.30h 26/5, 21.30h De Laurence Ferreira Barbosa, 2008, M/16 Teatro Virgínia Cinema Teixeira de 24/5, 21.30h Largo José Lopes dos Santos – Torres Novas Pascoaes Centro Cultural Vila Mostra de Cinema Italiano Centro Comercial Santa Luzia - Amarante Almoço de 15 Agosto Invictus Flor De Gianni Di Gregório, 2008, M/12 Av. D. Afonso Henriques, 701 - Guimarães De Clint Eastwood, 2009, M/12 26/5, 21:30h 21/5, 21.30h Uns Belos Rapazes De Riad Sattouf, 2009, M/12 Cinema Verde Viana Auditório Soror 27/5, 21.45h - Grande Auditório Praça 1º de Maio, Centro Comercial - Viana do Castelo Mariana Cinemas Ria Shoping Cinerama Rua Diogo Cão, 8 – Évora – Sala 3 De Inês Oliveira, 2009, M/12 Uma Outra Educação Estrada Nacional 125, 100 - Olhão 27/5, 21.45h De Lone Scherfig, 2009, M/12 Norte 26/5, 21h30 De Rune Denstad Langlo, 2008, M/12 Teatro Municipal de Fundação Cupertino 25/5, 21.30h Vila do Conde Av. João Canavarro - Vila do Conde de Miranda, Cine-Teatro António Antichrist - Anticristo Famalicão Pinheiro De Lars von Trier,2009, M/18 Praça D. Maria II R. Guilherme Gomes Fernandes, 5 - Tavira 23/5, 16.00h e 21.45h O Maoista Shutter Island De Jean-Luc Godard, 1967, M/16 De Martin Scorcese, 2009,M/16 Auditório do IPJ 21/5, 21:30h 23/5, 21.30h (Viseu) R. Dr. Arestides de Sousa Mendes, 33 - Viseu Casa das Artes de Vila A Nova Vida do Sr. Tetro Nova de Famalicão O’Horten De Francis Ford Coppola, 2009 Parque de Sinçães – Famalicão De Bent Hamer, 2007, M/12 25/5, 21.00h

turbilhão das políticas internas Humpday - Deu para o torto inglesas. Humpday É inevitável ver “Robin Hood” De Lynn Shelton, como uma tentativa de repetir com Mark Duplass, Joshua Leonard, “Gladiador” (lá está Russell Crowe Alycia Delmore. M/16 como herói, lá está a figura feminina forte, a cargo aqui de Cate Blanchett, MMnnn nem faltam os arremedos vocais femininos na banda-sonora), mas Lisboa: Medeia Monumental: Sala 2: 5ª 6ª Sábado Scott tem de se bater, queira ou não, Domingo 2ª 3ª 4ª 19h; UCI Freeport: Sala 3: 5ª 2ª 3ª 4ª 15h40, 18h15, 21h20 6ª 15h40, 18h15, 21h20, com uma memória cinéfila muito 23h45 Sábado 13h30, 15h40, 18h15, 21h20, 23h45 específica que não existia em Domingo 13h30, 15h40, 18h15, 21h20 “Gladiador” e, forçosamente, sai expressando laivos de realismo (neo- EscoladeMulheres oficinadeteatro perdedor. O que não deixa de ser neo-realismo?) e capacidades para O cinema independente americano algo injusto para com um épico de reflectir a história recente deste país já cessou de nos surpreender só por aventuras eficiente, eficaz, sólido balcânico. Neste sentido, “Histórias si, à força de tanto explorar mesmo que pouco inspirado e da Idade do Ouro” cumpre a sua “marginalidades” transformadas em (estranhamente) um tudo nada função, na medida em que revisita, norma mais ou menos convencional, anónimo, que se dirige a um público com relativa competência, os anos uma outra faceta da convenção, que tem andado mal servido de de chumbo do regime do ditador tecida no jogo com a transgressão espectáculos decentes. J. M. Ceausescu, apostando de certa controlada: em “Humpday”, o efeito forma na estafada fórmula do filme da pornografia, das relações Histórias da Idade de Ouro em “sketches” (cinco pequenas homossexuais, dos triângulos Amintiri din Epoca de Aur narrativas, realizadas por cinco amorosos nascentes de uma outra De Cristian Mungiu, Razvan realizadores, a construir um curioso moralidade. Depois, é baralhar e Marculescu, Ioana Uricaru, mosaico histórico e ficcional). No voltar a dar, sem que valha a pena com Diana Cavallioti, Radu Iacoban, entanto a dúvida que persiste passa desesperar ou dizer que estamos Alexandru Potocean, Vlad Ivanov. por saber se acrescenta alguma coisa perante uma surpresa de monta. O M/12 de novo em termos fílmicos, quer ao que resulta mais simpático (conceito tratamento de semelhante estrutura perigoso, apesar de tudo) é a MMnnn reconhecível, quer ao olhar ligeireza do trabalho de câmara e a interrogador sobre a História. E a despretensiosa organização Lisboa: UCI Cinemas - El Corte Inglés: Sala 10: 5ª 6ª resposta é não, embora tal facto narrativa. M.J.T. Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 16h35, 19h10, 21h45, também não incomode ninguém. 00h20 M. J. T. O cinema contemporâneo, seja lá o que for que tal signifique, parece querer aspirar constantemente à novidade, a descobrir novas O cinema independente cinematografias marcantes e americano já criou os seus distintivas, e assim aconteceu com o próprios lugares-comuns: “novo cinema romeno”, “Humpday” é disso um exemplo

40 • Sexta-feira 21 Maio 2010 • Ípsilon Este espaço vai ser seu. não concordando com o Que fi lme, peça de teatro, que escrevemos? Envie- Espaço livro, exposição, disco, nos uma nota até 500 Público álbum, canção, concerto, caracteres para ipsilon@ DVD viu e gostou tanto publico.pt. E nós depois que lhe apeteceu escrever publicamos. sobre ele, concordando ou

Ao segundo disco, os Grizzly Bear transformaram-se numa banda que esgota (sim, que esgota) Coliseus

Pop destituídas de calor e emoção. Mas não é isso que acontece com os The Arcade xx, que criaram um disco Fire, de John Martyn a The xx, contaminado por múltiplas Animal Collective, mas nenhuma temporalidades, com essa mais valia delas se impõe às canções, ao espaço de ser música de adesão imediata. a que os Grizzly Bear acederam pela muito Como é que tudo isto funciona em primeira vez. palco é o que se irá ver em Lisboa e Em entrevista ao Ípsilon, quando com pouco Porto. da edição de “Veckatimest”, Ed Droste falou-nos dos concertos da banda e da sua vitória sobre a Um dos fenómenos mais Gloriosos timidez: “No primeiro ano, assustava- entusiasmantes do ano nos tocar ao vivo. Não olhávamos passado chega agora para o público e ficávamos sentados Grizzly Bear o tempo todo, muito nervosos. a Portugal para dois Agora, habituámo-nos ao jogo concertos. Vítor Belanciano Com “Veckatimest”, fi zeram- psicológico que envolve o palco e sentimo-nos mais confortáveis. nos sonhar (e cantar) alto. David Viner hoje em Coimbra, The xx Levantamo-nos e cantamos bem Vamos fazê-lo outra vez, alto”. A gloriosa música de amanhã em Rio Maior Lisboa. Aula Magna. Alam. Universidade. 3ª, 25, às 22h. Tel.: 217967624. 25€. agora ao vivo. Mário Lopes “Veckatimest” não lhes deu outra e várias gerações, não deixaram de o hipótese. chamar até si. Foi elogiado por Bert Porto. Casa da Música - Sala Suggia. Pç. Mouzinho de Albuquerque. 4ª, 26, às 22h30. Tel.: 220120220. Grizzly Bear Jansch e andou em digressão com os 30€. Spiritualized, com Dr. John ou os Lisboa. Coliseu dos Recreios. R. Portas St. Antão, 96. A revelação de 4ª, 26, às 21h. Tel.: 213240580. 28€ a 40€. supracitados White Stripes. Chamam-se The xx e a estreia “Among the Rumours And The Porto. Coliseu do Porto. R. Passos Manuel, 137. 5ª, um segredo blues homónima foi um dos discos mais 27, às 21h. Tel.: 223394947. 25€ a 35€. Rye”, o último álbum que editou, em celebrados de 2009, transformando Mr. David Viner 2008, será porta de entrada em celebridades pop (à escala indie, Não é normal o que aconteceu entre privilegiada para os concertos naturalmente) quatro miúdos de “Yellow House” e “Veckatimest”. Coimbra. Salão Brazil. Largo do Poço, 3 - 1º andar. portugueses, onde será Hoje, às 23h. Tel.: 239824217. 6€. Londres, nos seus 20 anos de idade Entre o segundo álbum dos Grizzly acompanhado por Alice Lascelle Rio Maior. Cine-Teatro de Rio Maior. Praça da (três, desde a saída de Baria Qureshi). Bear, o primeiro enquanto banda a República. Amanhã, 22, às 22h. Tel.: 961789266. 5€. (violoncelo), John Cheeseman Vamos vê-los no tempo certo. sério e não obra a solo de Ed Droste, (contrabaixo) e Al Mobbs (bateria). Foi há quase um ano que os e esse “Veckatimest” que levou Mr. David Viner, como tantos dos M.L. ingleses The xx irromperam, com Johnny Greenwood, guitarrista dos bluesmen que idolatra, é um segredo arrebatamento, na cena pop. Muito , a considerá-los a sua bem guardado. Britânico de nascença se passou entretanto. O álbum de banda preferida e Jay Z, rapper mas com a América no coração da Clássica estreia “Young Turks” granjeou-lhes supremo, a exclamar bem alto quão sua música, anda desde o início da um culto que poucos preveriam. Mas inspiradora é a música que nele se década a editar discretamente na génese da sua música já se antevia ouve, a banda de Brooklyn pérolas blues e folk de uma Os “Três que algo poderia acontecer. Apesar transformou-se. sofisticação crescente. O músico que de terem pouco mais de 20 anos, a Antes dele refugiava-se num poderemos descobrir esta noite no Tenores” verdade é que a sua música é intimismo sussurrado, escondida na Salão Brazil, em Coimbra, e amanhã intergeracional, capaz de apelar a sua concha de guitarras outonais e no Cine Teatro de Rio Maior (iniciou a do Barroco

Concertos quem cresceu nas décadas de 80 e 90 discretas texturas electrónicas. sua digressão portuguesa ontem, com as sucessivas vagas que se Depois, perdeu a vergonha e sonhou com concerto no Teatro de Vila Real), seguiram ao punk, e às gerações mais alto – é a belíssima concretização começou com uma guitarra apenas, Ian Bostridge e o novas, disponíveis para consumir dessa ambição (segundo lugar nas apadrinhado por John Lee Hooker, agrupamento Europa música sem olhar muito aos géneros listas de melhores álbuns de 2009 do que lhe acrescentou o Mr. ao nome, e que a atravessam (rock, pop, Ípsilon) que veremos nas próximas por nomes da cena rock’n’roll de Galante, dirigido por Fabio electrónicas, dubstep ou R&B). quarta e quinta-feira, nos Coliseus de Detroit como os Ditrbombs, os Von Biondi, apresentam na O seu som é minimalista, Lisboa e do Porto, respectivamente. Bondies, os White Stripes ou os Gulbenkian um conjunto de estruturado com simplicidade a Isolados numa casa na ilha de Cape Soledad Brothers. árias escritas para os mais partir de um ritmo, uma linha de Cod que deu título ao álbum, ou A sua história começou enquanto baixo, uma guitarra serpenteante, em numa igreja em Nova Iorque, a sua “roadie” destes últimos. Foram-lhe famosos tenores do século redor do espaço, e duas vozes num cidade, o vocalista e guitarrista Ed ouvindo as canções, a voz segura e o XVIII. Cristina Fernandes jogo de movimentos circulares. É um Droste, o multi-instrumentista Daniel dedilhar arrancado às profundezas esqueleto com compasso, alma e Rossen, o baixista e produtor Chris da história e não só o convenceram a Ian Bostridge e Orquestra Europa silêncio, capaz de definir os Taylor e o baterista Christopher gravar um álbum como se Galante contornos de uma Bear criaram música propuseram para servir de banda Direcção Musical de Fabio Biondi. Com Ian Bostridge (tenor). ideia nuclear. intrincada, emocionalmente suporte. Daí para cá, desde o estreia Canções assim, épica, riquíssima de homónima de 2003 e o “This Boy Lisboa. Fundação e Museu Calouste Gulbenkian - descarnadas, harmonias vocais e Don’t Care” que se lhe seguiu em Grande Auditório. Avenida de Berna, 45A. 2ª, 24, às 21h. Tel.: 217823700. 20€ a 40€. aparentemente de orquestrações 2004 (onde descobríamos um Bert Ciclo de Música Antiga. clínicas, (assinadas por Jansch atirado para os néons de podem Nico Muhly); Chicago, algures na década de 1950), Orquestra Europa Galante ser riquíssima na a sua música foi alargando fronteiras. Direcção Musical de Fabio Biondi. forma como O britânico de coração americano Lisboa. Fundação e Museu Calouste Gulbenkian - tudo nela avançou para Oeste, cobriu a música Grande Auditório. Avenida de Berna, 45A. 3ª, 25, às denuncia uma de violinos e banjos e descobriu que 21h. Tel.: 217823700. 20€ a 40€. arquitectura havia lugar nela para pesadelos cuidada, onde country em planície a perder de vista Um olhar apressado para o título do cada elemento (aquelas habitadas pelos 16 programa que Ian Bostridge vem cumpre uma Horsepower e mitificadas por Nick apresentar na Gulbenkian na Canções descarndas, função específica. Cave). próxima segunda-feira poderia levar aparentemente clínicas, Cruzam-se Para o público, não deixou de ser os mais distraídos a pensar que o mas de adesão imediata: isto é The xx referências, de Van figura de culto conhecido de poucos. tenor britânico se propunha cantar o Dyke Parks a Já os seus pares, de vários quadrantes repertório de Plácido Domingo,

Ípsilon • Sexta-feira 21 Maio 2010 • 41 Concertos

José Carreras e Luciano Pavarotti, com figuras maiores da música o que obviamente não se coaduna antiga, como são os casos de Anner com o seu percurso, nem com o seu Bylsma, Andrew Manze ou Marie perfil vocal. Os “Três Tenores” Leonhardt, e tem tocado em mencionados no programa nada têm importantes festivais e salas de a ver com as três mediáticas figuras espectáculos portuguesas e que enchiam estádios de futebol na estrangeiras, nomeadamente em última década do século XX, a não Espanha, França, Irlanda, Suécia, ser o facto de também terem sido Bulgária, Macau e México. C.F. estrelas no seu tempo. Annibale Pio Fabri (que chegou a cantar no Teatro da Rua dos Condes de Lisboa na Ana Mafalda Castro faz Jazz década de 1740), Francesco Borosini uma viagem no tempo e John Beard foram importantes O cravo do século cantores do período barroco que têm Terrorismo em comum o facto de terem sido XVII ao século XXI dirigidos por Haendel, em Londres, e be-bop de terem sido os destinatários das Ana Mafalda Castro personagens operáticas para tenor Lisboa. Culturgest - Grande Auditório. Rua Arco do Peter Evans e companhia mais destacadas do compositor. Cego - Edifício da CGD. Amanhã, 22, às 18h. Tel.: Numa época dominada pelas proezas 217905155. 5€ a 10€. numa acção de guerilha que vocais dos “castrati”, a voz de tenor Obras de Stockhausen, Frescolbaldi, mistura energia punk, bop tinha uma importância relativamente Pinho Vargas, D’Anglebert, reduzida, mas os três cantores mutante, liberdade e muita Couperin, Royer, Geminiani, criatividade. referidos tiveram um papel Forqueray, Haendel, Rameau, primordial no estabelecimento e na Balbastre, Duphly, Ligeti. Rodrigo Amado popularização desta tipologia vocal. Retomando o programa de uma Em 2002, a cravista Ana Mafalda Mostly Other People gravação recente, Bostridge cantará, Castro estreou com sucesso no Do The Killing sob a direcção do maestro e violinista Festival Internacional de Música de Lisboa. Culturgest - Pequeno Auditório. Rua Arco do italiano Fabio Biondi, árias que Mafra a peça de António Pinho Cego - Edifício da CGD, às 21h30. Tel.: 217905155. 5€. faziam parte do repertório de Fabri, Vargas “Il Ritorno”, uma obra que Ciclo Isto É Jazz? Borosini e Beard, escritas por lhe foi dedicada e que explora o compositores como Caldara, Vivaldi, instrumento de forma idiomática, Ao quarto disco, os Mostly Other William Boyce, Alessandro Scarlatti e olhando simultaneamente para o People Do The Killing são já uma Haendel. O alinhamento é seu passado e para o seu futuro. No instituição do jazz alternativo norte- completado por trechos mesmo recital tocou também o americano. Juntamente com bandas instrumentais de Telemann, Corelli e “Continuum”, Ligeti, em conjunto como os Little Women, do Handel, um repertório bem típico do com páginas dos séculos XVII e saxofonista Darius Jones, têm vindo agrupamento Europa Galante, que XVIII. Retomando o desafio de a dinamitar barreiras entre estilos e dará um segundo concerto (apenas construir um programa fora do definições musicais, revolucionando instrumental) na terça-feira, vulgar, com música antiga e as bases conservadoras do jazz e preenchido com Concertos e contemporânea, Ana Mafalda Castro mostrando que esta música está hoje Sinfonias da primeira metade do tocará no sábado, às 18h, na tão viva e vibrante como o rock e o século XVIII. Serão interpretadas Culturgest, as duas obras punk. Com uma frente solista de obras de Corelli, Antonio Brioschi, mencionadas e ainda “Wasserman excepção - o trompetista Peter Evans Locatelli, Vivaldi, Bach e Geminiani. (Aquarius)”, de Stockhausen. A estas e o saxofonista Jon Irabagon – e uma O público da Gulbenkian tinha já partituras recentes associa um secção rítmica exuberante e assistido em 2008 à colaboração criterioso conjunto de obras do poderosa - Moppa Elliott no entre Ian Bostridge e Fabio Biondi passado, na sua maioria de grande contrabaixo e Kevin Shea na bateria no âmbito do “Idomeneo” de exigência técnica, expressiva e –, os Mostly Other People Do The Mozart, mas as restantes visitas a intelectual, escritas por Killing practicam uma música em Portugal destes artistas fizeram-se compositores como Frescobaldi, que nada é o que parece ser. Um no âmbito das suas carreiras D’Anglebert, Couperin, Royer, ritmo retirado ao mais puro funk de individuais. No caso do tenor Geminiani, Forqueray, Rameau, Filadélfia (do verdadeiro!) pode britânico, o Lied tem sido um filão Balbastre, Duphly ou Handel. O transformar-se subitamente numa central do seu percurso, enquanto estilo e as épocas do repertório fantasia “free” em que Evans toca Fabio Biondi e a Europa Galante, escolhido conduziram à utilização tudo aquilo que não pensávamos ser agrupamento que causou furor no de três instrumentos distintos com possível de um trompete. Como diz início dos anos 90 do século XX diferentes afinações Elliott; “Somos ensinados na escola devido à teatralidade exuberante das (temperamentos): um cravo de a não tocar tudo o que sabemos de suas interpretações, tem o barroco concerto Franco-Flamengo (Marc uma só vez, mas é exactamente isso como principal domínio de Ducornet 1992) de cinco oitavas para que aqui tentamos fazer”. especialização. o reportório dos séculos XX e XXI, Raramente o jazz foi tocado com um virginal para a obra de tanto rigor, diversão e prazer. Frescobaldi e um cravo Flamengo, cópia de um Ruckers ( Jan van Schevikhoven 1985), de quatro oitavas e meia para o restante repertório. Ana Mafalda Castro tem combinado ao longo da sua carreira a pedagogia e a actividade artística a solo e como acompanhadora. Fabio Biondi dirige Já se apresentou Uma instituição do jazz alternativo a Europa Galante em parceria norte-americano na Culturgest

42 • Sexta-feira 21 Maio 2010 • Ípsilon Shakira no primeiro dia do Rock in Rio... VIVA A SARDINHA! 14 MAIO / 15 JULHO GREG GORMAN

Halloween no Santiago ... Elton John no segundo Alquimista

Agenda Sexta 21 Virgem Suta Ponte da Barca. Praça da República, às 21h30. Tel.: Segunda 24 258480180. Entrada gratuita. Rock In Rio Lisboa 2010 Shellac + Mission of Burma Com Shakira, John Mayer, Ivete João Só e Abandonados Lisboa. Galeria Zé dos Bois. Rua da Barroca, 59 - Sangalo, Mariza, entre outros. Arcos de Valdevez. Casa das Artes. Jardim dos Bairro Alto, às 22h. Tel.: 213430205. 18€. Lisboa. Parque da Bela Vista. Av. Dr. Arlindo Centenários, às 22h30. Tel.: 258520520. 6€. Vicente (Chelas), às 17h. 58€ (dia). Ver texto na pág. 27. Carminho Lou Rhodes Sesimbra. Cine-Teatro Municipal João Mota. Av. Figueira da Foz - Grande Auditório. Centro de Artes Liberdade, 46, às 21h30. Tel.: 212234034. 10€. Terça 25 e Espectáculos. R. Abade Pedro, às 21h30. Tel.: 233407200. 5€ a 12€. Halloween + Hotta Sin + Brosdol Shellac + Mission of Burma + SAS James Porto. Museu de Serralves - Auditório. Rua Dom João de Castro, 210, às 22h. Tel.: 226156500. 7,5€ a High Places Lisboa. Café Teatro Santiago Alquimista. R. Santiago, ANDAR EM FESTA Porto. Plano B. R. Cândido dos Reis, 30, às 23h. 15€. 19, às 23h. Tel.: 218884503. 6€. AS FESTAS DE LISBOA NOS TRANSPORTES PÚBLICOS Tel.: 222012500. Ver texto na pág. 27. Au Revoir Simone Orquestra Nacional do Porto Alcobaça. Cine-Teatro de Alcobaça - Grande Direcção Musical de Alex Klein. Jamie Cullum Auditório. R. Afonso de Albuquerque, às 22h00. Porto. Casa da Música - Sala Suggia. Pç. Mouzinho de Lisboa. Coliseu dos Recreios. R. Portas St. Antão, TEATRO A METRO Tel.: 262580890. 20€. Albuquerque, às 18h. Tel.: 220120220. 16€. 96, às 21h. Tel.: 213240580. 30€ a 50€. Áustria 2010. Obras de Mozart, FLOR DE UM DIA Carlos Santana Deolinda Neukomm, Krommer e Ibert. Coimbra. Teatro Académico de Gil Vicente. Pç. Lisboa. Pavilhão Atlântico. Parque das Nações, às 21h. Tel.: 218918409. 25€ a 45€. 19 A 23 MAIO República, às 21h30. Tel.: 239855636. 15€ a 20€. Artur Pizarro e Orquestra QUARTA A DOMINGO, 16H E 19H Gulbenkian Remix Ensemble Galandum Galundaina ESTAÇÕES DE METRO Direcção Musical de Lawrence Foster. ACESSO NORMAL PARA A VIAGEM DE METRO / PARA TODAS AS IDADES Maia. Cinema Venepor. R. Simão Bolívar - Centro Direcção Musical de Emilio Lisboa. Fundação e Museu Calouste Gulbenkian - Pomàrico. Comercial Venepor, às 21h30. Tel.: 229440034. Grande Auditório. Avenida de Berna, 45A, às 16h00. Porto. Casa da Música - Sala Suggia. Pç. Mouzinho 2,5€. Tel.: 217823700. 6€. Festival de Música da Maia 2010. de Albuquerque, às 19h30. Tel.: 220120220. 10€. Obras de Braga Santos e Schumann. Áustria 2010. Espacialização Sonora: Jamie Baum Septeto Jorge Moyano obras de Staud e Neuwirth. Lisboa. Culturgest - Grande Auditório. Rua Arco do FESTIVAL Seixal. Fórum Cultural do Seixal. Qta. dos Franceses, Cego - Edifício da CGD, às 21h30. Tel.: 217905155. 5€ às 21h30. Tel.: 210976100. 5€. a 20€. Quarta 26 Edward Simon Trio Denis Azabagic A Naifa Santo Tirso. Biblioteca Municipal de Santo Tirso. Rua Coimbra. O Teatrão. Rua Pedro Nunes, às 21h30. DE MÁSCARA Oeiras. Auditório Municipal Eunice Muñoz. R. Gross-Umsttavt - Quinta de Gião, às 21h30. Tel.: Mestre de Aviz, às 22h. Tel.: 214408411. Tel.: 239714013. 10€ a 12€. 252833428. 7,5€. 7,5€. Som da Surpresa 2010 - Ciclo XVII Festival Internacional de No Age + Thee Oh Sees Internacional de Jazz de Oeiras. Guitarra de Santo Tirso. Porto. Plano B. R. Cândido dos Reis, 30, às 23h. IBÉRICA Tel.: 222012500. 15€. Júlio Guerreiro Nuno Soares e Orquestra Clássica Santo Tirso. Biblioteca Municipal de Santo Tirso. de Espinho Quinta 27 10 A 23 MAIO Rua Gross-Umsttavt - Quinta de Gião, às 21h30. Tel.: Direcção Musical de Pedro Neves. Ç 252833428. 7,5€. Com Nuno Soares (violino). EXPOSI ÃO No Age + Thee Oh Sees ARMAZÉNS DO CHIADO XVII Festival Internacional de Espinho. Auditório de Espinho. Rua 34, 884, às Lisboa. Galeria Zé dos Bois. Rua da Barroca, 59 - Guitarra de Santo Tirso. 21h30. Tel.: 227340469. 7€. Bairro Alto, às 23h. Tel.: 213430205. 15€. Sábado 22 Jamie Baum Septeto Rock In Rio Lisboa 2010 20 A 23 MAIO Oeiras. Auditório Municipal Eunice Muñoz. R. Mestre Com Palco Mundo Muse, Snow MOSTRA DAS REGIÕES de Aviz, às 22h. Tel.: 214408411. 7,5€. Patrol, Xutos & Pontapés, Sum 41. Rock In Rio Lisboa 2010 Som da Surpresa 2010 - Ciclo PRAÇA DO ROSSIO Com Elton John, Leona Lewis, Lisboa. Parque da Bela Vista. Av. Dr. Arlindo Internacional de Jazz de Oeiras. Vicente (Chelas), às 17h. 58€. Trovante, entre outros. Lisboa. Parque da Bela Vista. Av. Dr. Arlindo Michel Guillet + Jean-Jacques Ariadne auf Naxos 22 MAIO Vicente (Chelas), às 17h. 58€ (dia). Palix + Marcus Schmickler Direcção Musical de Lawrence + Samon Takahashi V DESFILE DA MÁSCARA IBÉRICA Vinícius Cantuária Foster. SÁBADO, 16H30 + Piotr Kurek Caldas da Rainha. Centro Cultural e Congressos - Lisboa. Fundação e Museu Calouste Gulbenkian - PRAÇA DO ROSSIO – RUA AUGUSTA – ROSSIO Grande Auditório. Rua Doutor Leonel Sotto Mayor, Porto. Culturgest. Avenida dos Aliados, 104 - Edifício Grande Auditório. Avenida de Berna, 45A, às 20h. ENTRADA LIVRE / PARA TODAS AS IDADES às 21h30. Tel.: 262889650. 11€ a 15€. da CGD, às 22h. Tel.: 222098116. 5€. Tel.: 217823700. 20€ a 40€. “Cornelius Cardew e a Liberdade da Au Revoir Simone Escuta”. Bernardo Sassetti e Sinfonietta Guimarães. São Mamede - Centro de Artes e de Lisboa Espectáculos. R. Dr. José Sampaio, 17-25, às 22h. Domingo 23 Portimão. Teatro Municipal de Portimão - Grande Tel.: 253547028. 15€ a 20€. Auditório. Largo 1.º de Dezembro, às 21h30. Tel.: MOSCOW @C 282402475. 15€. Castanets + Tó Trips Porto. Museu de Serralves - Auditório. Rua Dom João Gente Singular. 150.º aniversário de ALKANTARA FESTIVAL Lisboa. Galeria Zé dos Bois. Rua da Barroca, 59 - de Castro, 210, às 22h. Tel.: 226156500. 3,75€ a 7,5€. Manuel Teixeira Gomes. Bairro Alto, às 23h. Tel.: 213430205. 10€. Au Revoir Simone Freddy Locks 23 A 26 MAIO Lou Rhodes Estarreja. Cine-Teatro Municipal de Estarreja. Rua Lisboa. Cinema São Jorge. Av. Liberdade, 175, às DOMINGO E TERÇA, 21H E SEGUNDA E QUARTA, 19H Braga. Theatro Circo - Sala Principal. Av. do Visconde de Valdemouro, às 21h30. Tel.: 23h30. Tel.: 213103400. Entrada TENDA NO TERREIRO DAS MISSAS (BELÉM) Liberdade, 697, às 23h59. Tel.: 253203800. 10€. 234811300. 10€ a 12€. gratuita. M/12 MUSA - Ciclo no Feminino. Lou Rhodes Festas de A Naifa Guimarães. São Mamede - Centro de Artes e Lisboa’10. TODA A PROGRAMAÇÃO EM Horta. Teatro Faialense. Alameda do Barão Espectáculos. R. Dr. José Sampaio, 17-25, às 22h. Tel.: WWW.FESTASDELISBOA.COM de Roches, às 21h30. Tel.: 292391121. 7€. 253547028. 15€ a 20€.

GNR Coro Casa da Música J;NLI=CH;>IL J;NLI=CH;>IL?M ;JICIM JLCH=CJ;F Elvas. Rossio de São Francisco, às 23h30. Tel.: Direcção Musical de Kaspars 268639740. Entrada gratuita. Putninsh. Porto. Casa da Música - Sala Suggia. Pç. Mouzinho de Cristina Branco Albuquerque, às 12h. Tel.: 220120220. 7,5€. Santiago do Cacém. Auditório Municipal Áustria 2010. Obras de Einfelde, António Chainho, às 21h30. Tel.: 269829400. Schubert, Saariaho e Vasks. 5€. G?>C;J;LNH?LM DILH;FI@C=C;F N?F?PCMÅII@C=C;F tiago albuquerque Sean Riley & The Slowriders Joana Amendoeira & José Fontes Cartaxo. Centro Cultural do Cartaxo. Rua 5 Rocha de Outubro, às 21h45. Tel.: 243701600. Lisboa. Centro Cultural de Belém. Praça do Império, Lou Rhodes em Braga, silva!designers / 4,5€. às 17h. Tel.: 213612400. 5€. Guimarães e Figueira da Foz

Ípsilon • Sexta-feira 21 Maio 2010 • 43 Não é novidade que, Angels” é o nome do tão cedo, não haverá novo projecto com o mais concertos dos qual, na companhia EP Nine Inch Nails. Porém, da mulher, Mariqueen isso não signifi ca o Maandig, Reznor vai afastamento de Trent lançar um EP que Reznor dos palcos. tenciona passear no “How To Destroy próximo Verão.

Pop (Dylanesca pós-The Band) formadas mas de uma simplicidade assinou com a prestigiada consciente do seu presente, então os empolgante. Claro que não é nada independente 4AD, para a qual Harlem são os Ramones desta disso e bastava o psicadelismo agora lança “Magic Chairs”, o seu A equação. Não por revelarem tétrico de “Prairie my heart” para o primeiro álbum decididamente pop. qualquer tipo de semelhanças perceber. Que consigam convencer- É pop no sentido em que é um estéticas com os autores de nos de que nada mais anima esta conjunto de canções, comungando adolescência “Blitzkrieg bop” – essas resumem-se música do que descargas hormonais da estrutura verso/refrão e fazendo a “Be your baby” e à subversão da e uma vontade irreprimível de fazer recurso a condimentos usuais na é um lugar candura dos “girl groups” de 60: é o que torna “Hippies” um grande galáxia indie (riffs tensos de guitarra, “show me how much you hate me” -, disco. ritmos neoprimitivos). São, porém, feliz antes por partilharem uma mesma Ouvimos o turbilhão “freakbeat” só uma parte da história, ou, neste atitude, uma vontade de serem de “Stripper sunset” e “Pissed” caso, de temas protagonizados mais marginais com o coração repleto de (grande, grande canção) e, levados frequentemente por secções de Canções empolgantes de boas melodias. pela urgência da voz e pelo humor sopros, cordas e coros, quem não quer perder A receita é a de sempre. Guitarras, adolescente de “Tila & I” (“So I got audaciosamente compostos e demasiado tempo em bateria, baixo e voz. O resultado são drunk and she got stoned / Oh God, arranjados. Mantêm-se as canções despreocupadas, de quem it was such a joy”), voltamos a tonalidades pictóricas, o estúdio, porque o palco é não quer perder muito tempo em acreditar que a adolescência é um congelamento do tempo e a mais interessante. estúdio porque o palco parece lugar feliz (e que ainda há nela um projecção de estados oníricos. Mário Lopes definitivamente mais interessante. lugar para todos os outros, “velhos” Agora, porém, convivem amiúde Temos então 16 “hits” portáteis que sem ilusões). com as palavras e a voz de Casper Harlem cruzam os Guided By Voices com Clausen, num registo de doce Discos imaginário de gore descartável (“I tortura e demanda existencial não Hippies Matador; distri. Popstock live in a graveyard / I wanna go out sem analogias com as vozes dos Blue but it’s too hot”, em “Friendly À beira do Nile e dos Talk Talk, porventura as mmmmn ghost”), que transformam a pop suas referências mais directas na cristalina dos Shins em single sétimo céu linhagem da pop de câmara. Nada disto parece cartoonesco (claro que os Shins “Modern drift”, a canção de minimamente nunca intitulariam uma canção “Gay Terceiro dos Efterklang roça abertura, e pelo menos metade do encenado, nada human bones”), que pilham alinhamento são de uma densidade disto parece ter descaradamente o Brian Wilson pré- (mais ainda não é) a obra- e de um dramatismo superlativos, qualquer outra “Pet Sounds” e o John Lennon prima. Luís Maio havendo pelo meio um par de temas pretensão além de acabado de sair de Hamburgo para com melodias mais imediatas e oferecer alegria a quem os ouve - de berrar “Why do you torture me, Efterklang arranjos mais ligeiros (“Scandinavian aacordocordo com as concondiçõesdições definidas,definidas, gigirl?”rl?” e transformartransformar a catarse em love” seria radiofónico, se a rádio Magic Chairs qqueue nesse aspectoaspecto não há cedências. terrterroror ssónico.ónico. 4 AD; distri Popstock ainda tivesse ouvidos). Essa leveza Se os Black LiLipsps são um excesso O qqueue mamaisis iimpressionampressiona nos não é, porém, uma fraqueza, e tonitruante (provoca(provocadoresdores com os HarHarlemlem é a naturanaturalidadelidade ddoo ggesto,esto, a mmmmn “Magic Chairs” é mesmo um disco ddiscosiscos certos em casa), se os StrangeStrange fformaorma como as cancançõesções parecem fascinante - o género de disco que se BoBoysys são expressão pessoalpessoal bbrotarrotar dodo nada,nada, compcompletamenteletamente Bandas a produzir acaba sempre por preferir mesmo um som original, quando se tem mais 20 ou 30 à mão. complexo e Então porquê negar-lhe a pontuação substancial, máxima? Primeiro porque houve surgidas na “Parades”, difícil de igualar em todo primeira década o seu prodígio ambiental. Depois deste século, não porque, vá-se lá saber porquê, houve assim tantas. TV On The quanto mais se ouvem estas canções Radio e Grizzly Bear são os nomes fantásticas mais elas dão a sensação que primeiro ocorrem e por de que poderiam ser ainda coincidência (ou talvez não) são melhores. ambos nova-iorquinos. Bem menos conhecidos, os dinamarqueses Efterklang (quer dizer “lembrança”, “Isto não é na língua deles) são provavelmente o Hollywood, bebé” único colectivo europeu digno de lhes fazer companhia nessa liga de Feromona excelência. O crédito resulta de dois Desoliúde álbuns, “Tripper”, de 2004, e O que mais impressiona nos Harlem Amor Fúria sobretudo “Parades”, de 2007, em é a naturalidade do gesto, a forma como que desenvolveram um majestoso grandes canções parecem brotar do nada mmmmn som ambiental, alicerçado na música clássica e contemporânea, Os Feromona são sempre com uma margem forte de o estrépito experimentalismo. distorcido do Entretanto, o quarteto grunge sem K

ddinamarquêsinamarquês G marmariquicesiq

WEN ““depressivo-depr S

MU iintrospectivas”.ntrospectivas”. São a ccelebraçãoe de S

RASMUS WENG KARLSENRASMUS RA tudo o qqueue falha nelnelese e neste ppaís:aís: os sonhossonho desfeitos, ooss deles e oso delas, ttraduzidosraduzidos em rrock’n’rollock’n’roll que despe ooss OrnatosOrnatos Violeta a ddistorçãoistorção dde “power- ttrio”rio” e queque verte o Os Efterklang só não levam a pontuação lirismolirismo de Jorge máxima porque quanto mais ouvimos estas PalmaPalma parap canções, mais elas nos parecem que podiam ter sido ainda melhores 44 • Sexta-feira 21 Maio 2010 • Ípsilon aMaumMedíocremmRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente

romantismo desencantado. Mais produzidos e consistentes do desencantadas de “Film noir”. Caem expectativas, vai fazendo pela vida. só lembrar “Merriweather Post Acontece que este álbum, o que na estreia (“Uma Vida a e erguem-se novamente – sem Chama-se, muito apropriadamente, Pavillion”, o melhor disco pop de segundo dos Feromona, que Direito”), sem prejuízo de espaço para verdadeira desilusão “Canção para nós”. Todos juntos, 2009 para o Ípsilon, ou “Feels”, de apresenta logo no título o seu plano vivacidade, ensaiam a sua versão de porque, na verdade, a ilusão nunca então: “Porque algum dia isto vai 2005). Gravado debaixo de um de intenções (“Desoliúde”), não se baladas yé-yé em “Desalento” (com existiu. Sobram-lhes as guitarras e o correr bem / Há sempre um dia em alpendre para mini-discs, só com compraz em depressão. Pelo Farfisa a iluminar o bailado), rock’n’roll das guitarras. que o mundo é melhor / Sabes que vozes, guitarras acústicas e o som da contrário, estas canções são a única imaginam passeios por Tóquio no Fazem um desvio jazzy em “O um dia a gente pode bem / Inventar natureza à volta, é um bom exemplo forma de saborear uma vitória sobre suave desvio exótico de “Narita amor como nos filmes” (Nuno Prata histórias sem dor / E rir das coisas dos anos em que os Collective ainda ela. Porque tudo nelasnelas tem cheiro a ExExpress”,press”, cantam “Alfama” em aadorarádorará esta), entram em erupção sem querer”. M.L. não tinham descoberto os encantos noite e suor, porqueque os coros de qquedaueda e vidas perdidasperdidas nas telas iincontrolávelncontrolável (o rock como catarse da pop, quando se ficavam pela “Selvagem tosco”” são nnoo “queres mesmo é sentir” dede estranheza em várias formas, num prazer para viver “M“Mulherulher em gomos”)gomos”) e Anos de formação processo de maravilhamento em comunidade, eneencerramcerram o álbálbumum ccomom a progressivo com o som. porque a sátira qqueue tudo Animal Collective É um disco panteísta, de detalhes. rockalhada rregenera:egenera: “Isto nnãoão é “Queen in my pictures”, cânticos Campfire Songs Feromona não HoHollywood,llywood, bbebé”.ebé”. Paw Tracks; distri. Flur fugidios, num todo quase perde tempo comm QQuQuandoando chega,chega, já se impressionista, com o que parece subtilezas: a ffefezz ouvir o ponto mmmnn ser chuva ao fundo a completar a guitarra de Diego ccentralentral do álbum, cerimónia. Em “Moo rah rah rain”, a Armés aponta à o hino geracional “Campfire chuva e trovoada são tão audíveis jugular, a secção pparaara o ppaísaís da Songs”, álbum de como as guitarras e o lamento das rítmica de Bernardordo ccriserise onondede a 2003 agora vozes. Reconhecem-se vários Barata e Marco Armésrmés ggente,ente, concontratra reeditado, mostra elementos clássicos dos Animal amarra-nos no grooveoove totodasdas aass os Animal Collective, mas ainda em bruto: as sem pedir permissão,ssão, e a Collective antes harmonias vocais estão aqui, mas gravidade da voz atira-se a de se terem em segundo plano, engolidas pelo nós sem pudor – ““andaanda como Hinos geracionais para o país da crise e sátiras tornado um caso de estudo sobre som; temos as guitarras acústicas os cães / gatinha comocomo um que regeneram, no novo dos Feromona como a pop e a estranheza podem repetitivas a criar um “mantra” (arte homem”. conviver com resultados sublimes (é que aperfeiçoariam em 2004,

Ípsilon • Sexta-feira 21 Maio 2010 • 45 aMaumMedíocremmRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente Discos

consegue ser em muitos momentos estimulante, mas revela-se também algo longo, como se Lidell se tivesse

DANIEL ROCHA DANIEL deixado enredar na sua ambição. Há canções soul clássicas, psicadelismos electrónicos, deslizamentos de funk, ritmos mecânicos e momentos com blues lá dentro. Não custa imaginar que algumas destas canções acabem por adquirir uma consistência ao vivo que nem sempre se vislumbra em disco. Dir-se-ia que “Compass” é um álbum de fronteira no percurso errante de Jamie Lidell. É o prenúncio de qualquer coisa que está para chegar, ainda não inteiramente concretizado no seu novo álbum. Vítor Belanciano

Jazz No estado puro

O grande saxofonista David Murray ao vivo, em início de carreira. Uma viagem no tempo. Rodrigo Amado

David Murray Live at the Lower Manhattan Ocean Club Jazzwerkstatt; distri. Multidisc mmmmn Os Animal Collective antes de o serem de de athol fugard “Campfi re Songs”: interessante como objecto Distribuído à autónomo, e como peça de um puzzle fascinante época por 2 LP e com “Sung Tongs”), a ou Marvin Gaye. Agora, em reeditado agora sensibilidade psicadélica filha dos “Compass”, baralha tudo. É talvez o em CD cpela Beach Boys e da Incredible String seu disco menos planeado, segunda vez, Band. composto no espaço de apenas um “Live at the Lower Em 2010, “Campfire Songs” é tão mês, contando com colaborações de Manhattan Ocean interessante como objecto Beck, Feist, Pat Sansone (Wilco) ou Club” é um dos títulos emblemáticos autónomo, como enquanto peça Chris Taylor, dos Grizzly Bear, que o da mítica India Navigation, editora para uma compreensão mais co-produziu. É uma obra diversa fundada no final dos anos 60 por completa de uma banda fascinante. onde Lidell tenta organizar a Bob Cummins, um advogado com Pedro Rios enorme confusão que constava no uma enorme paixão por jazz que seu computador pessoal. Verdade mergulhou fundo na “loft scene” de seja dita que nem sempre chega lá. Nova Iorque. Para além de Perdido na ambição “Compass” é um disco que

“Compass” é um álbum de fronteira Jamie Lidell que parece querer antecipar um novo Jamie Lidell Compass Warp; distri. Symbiose De 6 de Maio a 6 de Junho mmmnn Tradução: Jaime Salazar Sampaio; Encenação: Beatriz Batarda; Cenário e figurinos: Cristina Reis; Desenho de luz: José Nuno Lima; Sonoplastia: Sérgio Milhano. Jamie Lidell já Interpretação: Catarina Lacerda e Dinarte Branco. passou por Co-produção Apoios períodos muito diferentes, da De 3ª a Sábado às 21.00h. Domingo às 16.00h TEATRO DO BAIRRO ALTO electrónica R.Tenente Raul Cascais, 1A. 1250 Lisboa Telef: 213961515 / Fax 213954508 abstracta do e-mail: info teatro-cornucopia.pt http://www.teatro-cornucopia.pt @ álbum “Muddling Gear” ao funk digital do projecto Estrutura financiada pelo M/12 2010 Super Collider. O seu álbum mais bem-sucedido continua a ser “Multiply” (2005), disco de soul e funk revestido por corpo www.ipsilon.pt electrónico. A seguir veio “Jim” (2008), falsamente conservador, homenagem sentida a Otis Redding

46 • Sexta-feira 21 Maio 2010 • Ípsilon “Fool’s day”, o primeiro mas horas depois já se gravar “Fool’s day” que single dos Blur desde encontravam cópias no não se importava nada de Mais que a banda se separou eBay. O single teve tanto repetir, ao mesmo tempo em 2003, foi lançado em sucesso que, agora, os que negava os rumores de Blur? edição limitada de mil Blur vieram anunciar que os Blur gravarão um cópias para o Record Store mais novas canções. álbum em breve. Talvez Day e devia ter estado à Damon Albarn disse ao não seja um álbum, então, venda apenas em lojas “New Musical Express” mas sem dúvida que serão de discos independentes, que gostou tanto de outros singles.

do trompete e pelo ritmo orgânico baterista Matt Chamberlain - as de bater no fundo logo à segunda de que sobressai o tom madeira do sequências mais conseguidas. É música, o xaroposo “Don’t be sad”. contrabaixo de Hopkins. Uma quando entra a orquestra, seguindo Com um catálogo de melodias pop viagem no tempo à idade ingénua do uma estética claramente americana, que comprometem fortemente a free jazz. na linha de Aaron Copland, John ambição megalómana do projecto, Adams ou Pat Metheny, que se “Highway Rider” é resgatado do instala a artificialidade e o total fracasso pela maior Na autoestrada, a 60 sentimento de que as harmonias são consistência do segundo disco, com forçadas ao evocar, por breves um par de temas brilhantes, “Into Brad Mehldau momentos, os grandes mestres da the city” e “Come with me”, o clássica europeia. Nem a prestação primeiro em trio, o segundo em Highway Rider Nonesuch; distri. Warner / Farol consistente de Redman salva o disco quarteto com Redman. R.A. mmmnn direcção artística Cesário Costa A elevadíssima METROPOLITANA fasquia que foi TEMPORADA 2009|2010 estabelecida ao longo dos anos por artistas como Duke Ellington, Stan Kenton, Count Basie, Gil Evans (particularmente nas suas colaborações com Miles Davis) ou, mais recentemente, Maria Schneider está sempre presente quando escutamos gravações de jazz orquestral. Neles, as mais puras e intensas emoções estão presentes sem soarem nunca artificiais ou gratuitas. É esse, exactamente, o maior problema de “Highway Rider”, o mais recente e ambicioso projecto do talentoso pianista Brad OS METAIS E A SINFONIA Mehldau. Bem longe da contenção e BRASS ENSEMBLE DA METROPOLITANA da “sinceridade” dos registos em trio que lhe valeram unânime REINALDO GUERREIRO direcção musical reconhecimento mundial, Mehldau David Murray em estado puro, com uma formação de sonho aqui trabalha com Jon Brion, um obras de responsável por álbuns históricos de uma música em estado puro, produtor pop reconhecido por Alfred Reed | Eric Ewazen | Jan Koetsier | Gunther Schuller Hamiet Bluiett (Clarinet Summit), inadulterado. Apesar de se tratar de trabalhos com Kanye West ou Aimee Chico Freeman, Arthur Blythe, uma gravação aparentemente pouco Mann, construindo um álbum James Newton, Anthony Davis ou equilibrada – alguns dos temas são (duplo) desequilibrado que tem nos Sexta-feira, 21 de Maio, 21h30 Muhal Richard Abrams, Cummins longos de mais, com improvisos que momentos em trio, quarteto ou registou também o início de carreira parecem não levar a lado nenhum –, quinteto - a Mehldau, Larry Museu do Oriente de David Murray, na altura um impressiona o total Grenadier e Jeff Ballard juntam-se o saxofonista com uma linguagem descomprometimento dos músicos, saxofonistaxofonista Joshua Redman ou o Sábado, 22 de Maio, 22h00 vanguardista free, ainda longe do que se concentram única e Sala Elíptica do Convento de Mafra sucesso e da notoriedade que viria a exclusivamente na música, sem atingir com os World Saxophone quaisquer preocupações extra- Domingo, 23 de Maio, 20h30 Quartet. musicais relacionadas com o Festival Ibérico de Badajoz 2010 Gravado no Lower Manhattan público, a gravação ou a duração dos Ocean Club, em véspera de ano novo temas. Com um espírito oposto à de 1977, com uma formação de exuberância instrumental que viria a sonho – Murray nos saxofones tenor tornar-se imagem de marca de Brad Mehldau e soprano, Lester Bowie no Murray, a música desenvolve-se espalha-se ao trompete, Fred Hopkins no tranquilamente, sem pressas tentar recriar Inscrições abertas nas Escolas da Metropolitana contrabaixo e Phillip Wilson na (excepção feita à versão destravada as grandes bateria –, é um registo que tem como de “Bechet’s Bounce”), embalada gravações de + info em www.metropolitana.pt principal virtude apresentar-nos pelo jogo encantatório do saxofone e jazz orquestral

Ípsilon • Sexta-feira 21 Maio 2010 • 47 aMaumMedíocremmRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente

O trabalho de António Bolota faz emergir a condição de ruína latente na zona histórica do Porto, Desenhar anunciando (e isso é política) uma catástrofe por vir a ruína

Intervenção de António Bolota no Uma Certa Falta de Coerência. Óscar Faria

António Bolota

Porto. Uma Certa Falta de Coerência / A Certain Lack of Coherence. Rua dos Caldeireiros, 77. Tel.: 917910031 / 919272115. Até 6/06. Sáb. das 16h às 19h30 (restantes dias por marcação). Instalação. mmmmm

Expos No exterior do Uma Certa Falta de Coerência, na Rua dos Caldeireiros, através da porta, consegue ver-se uma linha de colunas negras. Uma intervenção minimal dir-se-ia logo de imediato, tal o rigor da operação. Contudo, esta conclusão só é possível para quem tenha visitado anteriormente o espaço, porque, de facto, aqueles pilares de madeira, entalados entre o chão e o tecto, podiam pertencer àquele lugar desde sempre; terem nascido ali, para manterem de pé uma casa em Entre-se então no espaço: uma aproximando-se de questões ainda outras situações trabalhadas avançado estado de degradação. Sim, métrica regular – a tradicional grelha relacionadas com o desenho. A pelo artista, como um ambiente a intervenção de António Bolota modernista – é-nos dada pela intervenção no Uma Certa Falta de homogéneo, denso, criado com uma (Benguela, Angola, 1962) transforma localização de uma série de colunas Coerência faz um desenho e desenha, subtil intervenção na luminosidade as salas da exposição, sublinhando, em madeira queimada. A superfície porque cada barra, agora do espaço. Há ainda o acaso de a contudo, uma situação pré-existente, das barras possui uma textura que transformada em carvão, pode métrica escolhida ter feito com que vinculada à própria essência do lugar anula qualquer leitura minimalista: inscrever no corpo de cada visitante um dos pilares bloqueie uma das e, por extensão, à zona histórica da vistas de perto, elas revelam um traço, uma mancha, uma portas interiores do Uma Certa Falta cidade: o trabalho do artista faz rugosidades, escamas, brilhos inesperada marca na superfície das de Coerência. Todos estes emergir a condição de ruína ali prateados e cheiram ao fogo que, em mãos. Esta é outra das características acontecimentos revelam uma série latente, fazendo lembrar desastres parte, as consumiu. O trabalho de desta obra: ela “suja” quem dela se de paradoxos: por um lado, o facto passados e anunciando uma António Bolota aproxima-se do aproxima, uma situação por vezes de as colunas, queimadas, negras, catástrofe por vir, entendendo-se esta quotidiano, afastando-se dos difícil de evitar. darem um sentido de ordem a um também na sua dimensão política. pressupostos da “arte pela arte” e O percurso através das salas revela lugar em risco eminente de desabar;

Agenda Inauguram Leitão, 51/53. Tel.: 213970719. Até 04/09. 3ª a Sáb. 41º 52’ 59’’ Latitude N / 8º 51’ 12’’ De Dara Birnbaum. Lisboa. Galeria Zé dos Bois. R. da Barroca, 59 - das 11h às 19h. Inaugura 26/5 às 22h. Longitude O Porto. Museu de Serralves. R. Dom João de Castro, Bairro Alto. Tel.: 213430205. Até 29/05. 4ª a Sáb. das 15h às 23h. Pintura, Desenho, Instalação, De Jorge Barbi. 210. Tel.: 226156500. Até 04/07. 3ª a 6ª das 10h às 17h. Sáb., Dom. e Feriados das 10h às 20h. Les Limites Du Désert Escultura, Fotografia. Lisboa. Centro de Arte Moderna - José de Azeredo Video, Outros. De João Tabarra. Vídeo, Outros. Perdigão. R. Dr. Nicolau Bettencourt. Tel.: 217823474 This Is My Condition Lisboa. Galeria Graça Brandão. R. dos Caetanos, Mais Que a Vida . Até 11/07. 3ª a Dom. das 10h às 18h. 26A (Bairro Alto). Tel.: 213469183. Até 26/06. 3ª a Fotografia, Outros. Um Percurso, Dois Sentidos - A De Ryan McGinley, Ryan McNamara, Sáb. das 11h às 20h. Inaugura 21/5 às 22h. Colecção do MNAC-MC, da Ryan Trecartin, Slater Bradley, Jack Fotografia, Vídeo. Cornelius Cardew e a Liberdade actualidade a 1850. Pierson. Lisboa. Galeria Filomena Soares. R. da Manutenção, Ver texto na pág. 22. da Escuta De Columbano Bordalo Pinheiro, Porto. Culturgest. Av. dos Aliados, 104 - Ed. da CGD. Almada Negreiros, Helena Almeida, 80. Tel.: 218624122. Até 11/09. 3ª a Sáb. das 10h às 20h. Tel.: 222098116. Até 26/06. 2ª a 6ª e Sáb. das 10h às entre outros. Pintura, Vídeo, Instalação, O Outro Nome das Coisas 18h. Fotografia, Escultura, Outros. De Catarina Botelho. Lisboa. MNAC - Museu do Chiado. R. Serpa Pinto, 4. Vídeo, Fotografia, Outros. T. 213432148. Até 6/6. 3ª a dom. das 10h às 18h. Lisboa. Palácio do Marquês de Tancos. R. da Costa Pintura, Outros. Show Titles do Castelo, 23. Dia 22/05. Sáb. das 12h às 20h. Constant Le Breton (1895-1985) De Stefan Brüggemann. Apresentação única. De Vasco Araújo, Javier Téllez. Lisboa. Fundação e Museu Calouste Gulbenkian. Av. O Dia Pela Noite Lisboa. Kunsthalle Lissabon. R. Rosa Araújo, 7-9. Fotografia, Outros. Lisboa. Fundação e Museu Calouste Gulbenkian. Av. de Berna, 45A. Tel.: 217823700. Até 08/08. 3ª a Dom. De Gabriel Abrantes, Vasco Araújo, Tel.: 918156919. Até 06/06. 5ª a Sáb. das 15h às 19h. de Berna, 45A. Tel.: 217823700. De 27/05 a 06/09. 3ª das 10h às 18h. Instalação. Fotografi a Sem Fotógrafo a Dom. das 10h às 18h. Inaugura dia 27/5 às 18h30. Pinturas, Aguarelas. Pedro Barateiro, entre outros De Ed Ruscha, Hans-Peter Feldmann, Lisboa. Lux Frágil. Av. Infante D. Henrique, Correspondência #2 Vídeo, Fotografia, Instalação, Outros. Armazém A. Tel.: 218820890. Até 26/02. 5ª a Sáb. Christian Boltanski, Sol LeWitt, Joseph Investigations De Ana Hatherly, António Poppe. of a Dog das 23h às 06h. Kosuth, Allan Kaprow, entre outros. Instalação, Outros. Lisboa. Arte Contempo. R. dos Navegantes, 46A. Tel.: Porto. Museu de Serralves - Biblioteca. R. Dom João Continuam Alcoitão. Ellipse 213958006. Até 12/06. 5ª a Sáb. das 14h30 às 19h30. de Castro, 210. Tel.: 226156500. De 22/05 a 31/08. 2ª Foundation - Art Dentro Do Labirinto - Pierre Desenho, Outros. a Sáb. das 10h às 18h. Pra Quem Mora Lá, O Céu é Lá - Centre. Al. das Fisgas, Coulibeuf Fotografia, Outros. OSGEMEOS 79. Tel.: 214691806. Até Trans-Caucásia Lisboa. Museu Colecção Berardo. Pç. do Império - De Gustavo Pandolfo, Otávio OSGEMEOS 05/09. 6ª, Sáb. e Dom. De Pauliana Valente Pimentel. A Museum is to Art What a Great das 11h às 18h. CCB. Tel.: 213612878. Até 21/06. Sáb. das 10h às 22h. Pandolfo (OSGEMEOS). 2ª a 6ª, Dom. e Feriados das 10h às 19h. Lisboa. 3 + 1 Arte Contemporânea. R. António Maria Translator is to a Writer Lisboa. Museu Colecção Berardo. Pç. do Império - Pintura, Outros. Cardoso, 31. Tel.: 210170765. Até 29/05. 3ª a Sáb. das CCB. Tel.: 213612878. Até 19/09. Sáb. das 10h às 22h. Instalação, Outros. De André Gomes, Bruno Cidra, Carlos A Matéria 14h às 20h. 2ª a 6ª, Dom. e Feriados das 10h às 19h. Fotografia. Correia, entre outros. Negra da Luz Viagem Ao Meio Lisboa. Baginski Galeria/Projectos. R. Capitão Pintura, Outros. dos Media De Alexandre Estrela.

48 • Sexta-feira 21 Maio 2010 • Ípsilon Jean-Luc Nancy não enviou para a ocasião (16h), Federicoderico estará pessoalmente será uma das peças Ferrari e ÓscarÓscar presente no Auditório da centrais da sessão de Faria (18h)8h) e Diálogos Faculdade de Belas-Artes hoje, subordinada ao tema Federicoo NiNicolaocolao de Lisboa para o segundo “A Política da Arte”. Os e Rodrigogo Silva dia dos encontros “Arte diálogos do dia cruzam (19h30). A entrada e Política (em diálogos)”, Boyan Manchev com é gratuita.ta. mas o texto inédito que Silvina Rodrigues Lopes

por outro, a ilusão de serem estas apontamentos de cor mais ou menos pinturas onde essa acção de inscrever pintura, onde esta se interroga sobre a barras verticais que sustêm o tecto; A pintura nítida sobre branco imaculado. Como um contorno se revela fugaz e rápida, sua pertinência. finalmente, a sensação de ser ter objectos de madeira e tela – o “specific criando traços esbatidos que evocam Por isso, as associações com o passado ali algo – um incêndio, por como object” minimalista associa-se o olhar mais distraído ou mais minimalismo, que no virar das exemplo –, que, na realidade, nunca imediatamente ao pensamento sobre desfocado do pintor. Tudo se passa aí décadas de 50 e 60 do século XX se chegou acontecer. esta exposição -, vão cortando como se o traço, matéria-prima concentrou na definição do objecto Esta é uma instalação “in situ.” E vibração diagonalmente as paredes, essencial do desenho, fosse o artístico e nas questões que a sua deve ser experimentada, percorrida, interesectando, sobrepondo-se e resultado da vibração da mão. inserção no espaço expositivo de modo a que, quando se regressar O espaço também é pintura marcando com uma intervenção Ritmo, velocidade, vibração, levantava, são pertinentes. Podemos novamente ao exterior, se perceba o quase imperceptível o espaço onde se multiplicação: as palavras evocam evocar os tubos néon de Dan Flavin, alcance desta obra: basta olhar para na obra de José Loureiro. inserem. disciplinas que não são habitualmente os primeiros “shaped canvases” de as casas vizinhas ou para quem passa Luísa Soares de Oliveira Na sala de baixo da galeria, e associadas à pintura, como a música Frank Stella, ou até, no na rua. Aqui não há redenção sobretudo numa parede situada já no ou a matemática. Contudo, uma e desenvolvimento das questões possível, apenas “corpos-fantasmas” José Loureiro espaço das reservas, percebe-se, outra, como é sabido, referem-se a referentes ao ritmo e ao corpo, a – imagens de um tecido social em através de vários desenhos, que José actividades humanas abstractas, e isso dança de um Merce Cunningham. colapso – e habitações que encenam a Lisboa. Cristina Guerra. Rua Santo António à Loureiro também decidiu mostrar a independentemente das aplicações Como já acontecia nesta altura, há na Estrela, 33. Tel.: 213959559. Até 22/05. 3ª a 6ª sua própria despedida. das 11h às 20h. Sáb. das 12h às 20h. génese deste processo: segmentos de práticas que cada qual possa ter. pintura de José Loureiro – ou, melhor António Bolota consegue uma vez Pintura. recta desenvolvem-se em réguas Conviria aqui esclarecer ao que se dizendo, em cada exposição de José mais traduzir visualmente as suas contornadas que, através do refere essa abstracção: à voluntária Loureiro – um questionamento preocupações éticas, numa mmmmn movimento da mão, se multiplicam na eliminação da função mimética e à permanente dos seus limites. intervenção consistente. Se Alberto transcrição metódica de variações concentração no pensamento sobre a Sentimos sempre, e aqui talvez mais Carneiro propõe uma reflexão Nova individual de José Loureiro na rítmicas. Há por isso a reminiscência matéria-prima de cada disciplina (os do que nunca, que a pintura se agarra acerca do modo como a árvore se galeria Cristina Guerra, de Lisboa, desse movimento da mão que depois, sons, os números, a cor, ou a ausência àquilo que a define sempre por constitui enquanto segunda significa quase sempre uma renovada já na sala principal, é multiplicado de sons, números e cores). É disto que contraposição ao nada; e, em vez de natureza no território da arte, surpresa na consideração da sua obra. pelo movimento do corpo: os perfis se trata quando se pensa na pintura cair nessa negatividade que tantos activando essa meditação através, Desta vez, na sequência das pinturas a autonomizaram-se em “shaped de José Loureiro; é que este pintor, de atrai, continua a afirmar-se como por exemplo, da instalação “Uma branco e cinza reveladas aqui há cerca canvases” que se sobrepõem ou exposição para exposição, consegue essência, mesmo quando essa Floresta para os teus sonhos” (1970), de três anos, mostra-nos telas muito justapõem, sempre segundo um mergulhar, e levar-nos para dentro essência está reduzida às suas obra que convida o espectador a estreitas e compridas que se dispõem princípio que obedece a determinado daquela zona mais profunda da mínimas dimensões concretas. reencontrar-se com a sua essência, no espaço marcando-o com ritmo e velocidade. Há inclusive Bolota, pelo seu lado, procura antes colocar em relevo a forma como esse sonho está cada vez mais distante, construindo, por isso, um trabalho muito mais materialista do que o de Carneiro. Contudo, a dúvida persiste: existirá uma dimensão espiritual na sua obra? E, embora se possa afirmar ser o aspecto formal que sobressai nesta peça – a relação com a arquitectura envolvente é outro dos dados relevantes para o processo de trabalho do artista –, este, não nos podemos esquecer, reflecte o contexto urbano e social De exposição em exposição, José Loureiro leva-nos envolvente. para dentro da zona mais profunda da pintura

Espelho (Meu) De Nuno Ramalho. Desenho, Escultura. Porto. Espaço Fundação (R. do Bonjardim). R. do Bonjardim, 951. Tel.: 919059992. Até 29/05. Sáb. das The Absent Space 16h às 20h. De José María Yturralde. Desenho. Braga. Galeria Mário Sequeira - Parada de Tibães. Quinta da Igreja (Parada de Tibães). Tel.: Sussuro 253602550. Até 29/05. 2ª a 6ª das 13h às 19h. Sáb. De Henrique Silva. das 15h às 19h. Porto. Centro Português de Fotografia - Cadeia da Pintura. Relação do Porto. Campo Mártires da Pátria. Tel.: 222076310. De 02/05 a 25/07. 2ª a 6ª das 10h às 18h. Soft Theraphy Sáb., Dom. e Feriados das 10h às 19h. De Santiago Villanueva. Fotografia. Braga. Galeria Mário Sequeira - Parada de Tibães. De Catarina Saraiva. Quinta da Igreja (Parada de Tibães). Tel.: Lisboa. Módulo - Centro Difusor de Arte. Calçada dos What Are The Master Pieces 253602550. Até 29/05. 2ª a 6ª das 13h às 19h. Sáb. Mestres, 34A/B. Tel.: 213885570. Até 05/06. 3ª a 6ª e De Jorge Nesbitt. das 15h às 19h. Sáb. das 15h às 20h. Lisboa. Alecrim 50. R. do Alecrim, 48-50. Tel.: Escultura, Outros. Instalação, Outros. 213465258. De 06/05 a 05/06. 2ª a 6ª das 11h às 19h. Sáb. das 11h às 18h. Belém Coff rage Khora Pintura. De Alberto Carneiro, Rui Chafes. Lisboa. Fundação Carmona e Costa. Ed de Espanha Mystic Diver - R. Soeiro Pereira Gomes L1 - 6º A/C/D. Tel.: De Catarina Dias. 217803003. Até 21/05. 4ª a Sáb. das 15h às 20h. Lisboa. Museu da Cidade de Lisboa - Pavilhão Preto. Desenho, Escultura, Outros. Campo Grande, 245. Tel.: 217513200. Até 13/06. 3ª a Dom. das 10h às 18h. Lourdes Castro e Manuel Zimbro: Desenho, Performance, Objectos, A Luz da Sombra Outros. Porto. Museu de Serralves. R. Dom João de Castro, 210. Tel.: 226156500. Até 13/06. 3ª a 6ª das 10h às Térmico 17h. Sáb., Dom. e Feriados das 10h às 22h. De Manuel Caeiro. Escultura, Outros. De Gabriela Albergaria. Lisboa. Ermida de Nossa Senhora da Conceição. Lisboa. Museu da Cidade de Lisboa. Campo Grande, Trav. do Marta Pinto, 12. Tel.: 213637700. Até 30/05. Sub Rosa 245. Tel.: 217513200. Até 13/06. 3ª a Dom. das 10h às 3ª a 6ª das 11h às 17h. Sáb. e Dom. das 14h às 18h. 18h. Pintura, Escultura.

Ípsilon • Sexta-feira 21 Maio 2010 • 49 aMaumMedíocremmRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente

Ficção assomar e a acenar de vez em contrário, avisa Kemal (“A verdade é lembrar-se-á do capítulo intitulado quando do fundo da história, com que eu não sou moderna e “Primeiro Amor”, a história da páginas finais inesquecíveis em que corajosa!”). Todos eles, como diz jovem rapariga que Orhan desenha A exposição o autor se dá ao luxo de poder piscar Kemal, sentem “o peso da antes de ela desaparecer. Tudo o olho aos leitores sem os irritar: virgindade perdida, da vergonha e parece ter começado aí. “Viva, quem vos escreve é Orhan da culpa”. Mais uma vez em Pamuk, de um amor Pamuk!” (p. 621). Este romance é a “modernidade” turca aparece Pamuk no melhor charme da sua como algo que tem mais a ver com Olhar Naquele que é o seu arte de narrar. E, ao mesmo tempo, interesses de moda de uma classe a criar uma personagem, Kemal burguesa, pretensiosa e abastada, do romance mais convencional, Basmaci, que, se não entrar para a que com uma ideia civilizacional para a frente e talvez também o melhor, história da literatura, ficará na pensada, de raiz filosófica, Pamuk continua a descobrir memória de muitos leitores por alimentada por uma elite alargada. Em “Juliet Nua”, Nick Hornby Istambul, no tumulto das muitos anos como uma das mais Kemal, Füsun e Sibel deixam-se singulares, uma espécie de primo enredar nas malhas que os próprios ensina-nos a acertar o suas vozes entre a tradição e turco, rico e infeliz, de Florentino teceram, sem saberem (ou relógio biológico. a modernidade. Ariza (de “O Amor nos Tempos de quererem) lidar com elas de maneira Rui Lagartinho JçJosé Riço Direitinho Cólera”, de García Márquez). responsável. Füsun desaparece por Assim resumido, o enredo poderia um tempo, Sibel afasta-se de Kemal, Juliet Nua O Museu da InocênciInocênciaa ser o de um desinteressante filme e este deixa as suas festas de Nick Hornby

Livros OOrhanrhan PamukPamuk turco dos anos 70 ou 80, como champanhe para se internar no (Trad. Luís Ruivo Domingos) (Trad.(Trad. Miguel RomeiraRomeira)) aqueles que as personagens vêem apartamento onde se encontrava Teorema Editorial PresenPresençaça nas noites estivais em sessões duplas com a jovem vendedora. Esta sem intervalo junto ao Bósforo. Mas reaparece, um ano depois, mas mmmmn mmmmmmmmmm é muito mais do que isso, pois há casada com Feridum, um guionista. toda a complexa identidade de um Kemal não desiste do seu objecto de Numa época de “O MuseuMuse da país no sussurro desta paixão. Num amor e começa a frequentar a casa tanta partilha, InocInocência”ênci é o dia de Abril de 1975, Kemal, 30 anos, onde Füsun vive com o marido e os será que ainda pprimeirorimeiro romance menino rico da “haute bourgeoisie” pais dela. Tudo se passa no seio de existe espaço para qqueue o tuturcor Orhan de Istambul, que passou algum uma grande castidade, com o que um qualquer Pamuk (n.( 1952) tempo a estudar na América, e que marido a aceitar a presença de encantamento publicapublica depoisd de trabalha por desfastio numa das Kemal e este a fundar uma empresa possa de facto ser lhlhee ter ssidoi empresas do pai (industrial das cinematográfica para ajudar o segredo de aatribuídotribuído o confecções), entra na boutique guionista. Durante cerca de oito alguém, ou PrémiPrémioo NobelN em Anzelize (uma transliteração da anos, como se ele estivesse em lista estamos 2006. SegundoSe lendária avenida parisiense) para de espera para a felicidade, Kemal condenados a não nos esquecer que, contou o ppróprioró à comprar uma mala de mão para vai surripiando da casa pequenos para além de o mundo ser mesmo imprensa, demoroud Sibel, beldade da mesma “jeunesse objectos, fetiches de amor, que de pequeno, ultimamente tem vindo a seisseis anos a escrevê- dorée” que estudara em Paris e de um modo ou de outro estão ligados a encolher? “Já ninguém fica lo.lo. E isso nnota-se, quem em breve ficará noivo. Mas eis Füsun: um cão de porcelana que esquecido. Sete fãs da Austrália porqueporque aapesarp de, que a rapariga que lhe vende a mala encima a televisão, dedais, brincos, juntam-se a três canadianos, nove em termtermoso da é outra beldade, Füsun, 18 anos, bilhetes de cinema, frascos de ingleses e duas dúzias de formaforma da narrativa, uma parente afastada e pobre. Os perfume, vestidos, garrafas de americanos, e um tipo que não ser o mamaisi dois apaixonam-se e durante 40 e refrigerante, maços vazios de gravou nada durante 20 anos passa a convencionalconvenc da poucos dias encontram-se num cigarros, sapatos, fotografias, lenços ser falado todos os dias. É para isso suasua oobra,bra nenhum apartamento à hora do almoço. e 4213 beatas de cigarro fumadas por que serve a Internet. Para isso e para dosdos inúmerosinúm e Entretanto, Kemal fica noivo de Sibel Füsun. Com tudo isto enche uma a pornografia. Queres saber quais refinadosrefinado numa festa de arromba no Hilton de casa, “O Museu da Inocência”; o foram as músicas que ele cantou em pormenorespormen foi Istambul. Tivera sexo com ambas as romance agora traduzido é uma Portland, Oregon em 1985?” (p. 57). deixadodeixad ao mulheres, tirara-lhes a virgindade, espécie de catálogo descritivo e O desaparecido a que se alude acaso,acaso, nada soa facto que na sociedade turca só pode bastante anotado desse museu. A chama-se Tucker Crowe e é o motor a falso,falso é um ser “reparado” com o casamento. este propósito, Pamuk não se de “Juliet Nua” o último romance de livrolivro ded imagens Kemal e Sibel são ambos abstém de ir deixando uns recados Nick Hornby “. A música e a cultura cuidadascuidad e de “modernos” e livres, aos seus compatriotas, como este: pop anglo-saxónica das últimas reminiscênciasremin ocidentalizados, mas estão “Os turcos deveriam ver, nos seus cinco décadas colaram-se aos sseuseus dede um “tempo completamente tolhidos pela museus, não imitações de má livros. E é difícil que de lá saiam,m, “‘O Museu da Inocência” é também o museu perdido”,perdido de tradição da sociedade turca, da qual qualidade da arte ocidental, mas sim porque, sobretudo no hemisfériorio da vida de Istambul durante as décadas umauma felicidadefeli também não parecem ter vontade de a sua própria vida. Em vez de exibir Norte do tal mundo que começouçou a de 60 e 70, neste romance em que Pamuk perdida,perdida com o sair (ou simplesmente não sabem as fantasias ocidentalistas dos ficar mais pequeno há uns anos,s, cria uma personagem, Kemal, capaz de fi car mestremest Marcel que podem tentar porque nunca nossos ricos, os museus deveriam gostamos da nostalgia, e de arrumarumar para a história da literatura ProustPr a pensaram nisso). Füsun, pelo mostrar-nos as nossas vidas” (p. em listas o passado recente. Masas

BRENDAN MCDERMID/ REUTERS MCDERMID/ BRENDAN 631). “O Museu da Inocência” é tudo se reinventa, e, num processoesso também o museu da vida de inversamente proporcional ao Istambul durante as décadas de 70 e fenómeno de que o livro fala, “JulietJuliet 80. nua” expande o talento de Nickk Um dos momentos mais Hornby pela inquietação que instala.nstala. inesperados do romance é quando o Temos Tucker Crowe, o músicoo narrador, Kemal, cede a voz ao americano que tenta sair de cenana no autor, Orhan Pamuk, seu amigo, e final dos anos 80: “Se tivesse REUTERS JACKSON/ LUCAS lhe pede que a partir desse continuado a fazer álbuns, seriaa hoje momento seja ele a completar a provavelmente um velho ridículo,ulo, na história na primeira pessoa, pois melhor das hipóteses um heróii dede dançou com Füsun na festa de culto a esgravatar o sustento peloselos noivado no Hilton, facto que Kemal clubes ou, de longe a longe, a actuaractuar desconhecia até então. No fim, o graciosamente nas primeiras partesartes leitor poderá interrogar-se sobre o de alguma banda que que haverá de autobiográfico neste presumivelmente tivesse ajudadoado romance. Se tiver lido “Istambul”, a lançar, embora sem nunca

50 • Sexta-feira 21 Maio 2010 • Ípsilon “O Seminarista”, o Vive no Rio, faz trabalhos que estava inédito em mais recente romance para o Despachante e Portugal, e continuará Espaço do escritor brasileiro apaixona-se por uma depois a publicar a sua Público Rubem Fonseca, vai ser rapariga alemã, que obra mais antiga. Rubem publicadopub em Portugal, traduz livros brasileiros. Fonseca, Prémio Camões emem Setembro, pela Este é o 11º romance e Juan Rulfo (no ano de editoraedi Sextante. José de Rubem Fonseca, 2003), tem a maior parte (personagem(pe que já que já recebeu cinco da sua obra publicada apareciaapa nos contos de vezes o Prémio Jabuti. em Portugal pela Campo “Ela“El e Outras Mulheres”) A editora de João das Letras, mas também é umu ex-seminarista Rodrigues irá também existem livros seus na D. queque deu em “matador editar, na Primavera de Quixote, na Bertrand e na profipro ssional” e a quem 2011, o romance “Bufo & Asa. chamamcha o Especialista. Spallanzani”, de 1986,

conseguir discernir nenhuma Ensaio Molière à mesa com Luís XIV nos “dias gloriosos” influência sua na música da referida da gastronomia parisiense: Brillat-Savarin banda. Portanto, parar com tudo escreve na ressaca desse período, em 1770, quando tinha sido uma decisão de carreira O Terceiro “eram escassíssimos os recursos que permitiam muito boa, a menos da consequência aos estrangeiros comer bem em Paris” inevitável de ter deixado de haver carreira.” (p. 79). E temos, do outro Estado na lado do grande charco, algures na costa Norte britânica, numa cidade cozinha protótipo da viragem do milénio, Duncan, o fã não resignado, bastante activo nas romagens de Fisiologia, gastronomia, saudade aos locais por onde o coscuvilhice, anedotário músico andou, e Annie, a sua mundano. O que é que mulher, que se arrasta nessas mudou depois de 1825? excursões mas que vai em breve ter privilégios com que nunca sonhou e Eduardo Pitta lhe permitirão mudar de vida (o que, como se sabe, é um dos grandes Fisiologia do Gosto desafios da era moderna). Brillat-Savarin Quando os três vértices deste (Trad. Júlia Ferreira e José Cláudio) triângulo se juntam na rude e Relógio d’Água plasmada Goolness, sentimos que o mundo mexe porque finalmente as mmmmn personagens de “Juliet Nua” percebem que têm de contrariar o Se vivesse hoje, o um autor de referência. A crítica escassíssimos os recursos que bacalhau), o célebre Henneveu, em que o tempo fez delas. Talvez seja francês Jean mais conspícua põe o livro no permitiam aos estrangeiros comer cujo restaurante, o Cadran Bleu, tarde, mas nunca é tarde de mais Anthelme Brillat- patamar de importância das bem em Paris”. Brillat-Savarin faz o havia quartos que serviam para aprender a viver no presente. Savarin (1755- “Maximes” de La Rochefoucauld e ponto da situação, destacando os indiscriminadamente para Foi a música que os ajudou a 1826) seria olhado dos “Caractères” de La Bruyère. Três cozinheiros que fizeram de Paris encontros galantes e acerto de baralharem-se, é a música que os vai com desdém. O pilares do “diktat” cultural francês... uma cidade com pergaminhos na motins: ali foi decidida a prisão da salvar e que, como uma espécie de preconceito A tradução portuguesa omite o alta culinária: o influente família real, a 10 de Agosto de 1792. enzima da verdade infiltrada no universal subtítulo, “Méditations de Beauvilliers (íntimo do rei), Méot, Tudo razões que fazem o prazer corpo, derruba preconceitos sobre a desautoriza o Gastronomie Transcendante”. Robert, Rose (mestre pasteleiro), da leitura de Brillat-Savarin. O leitor vida sexual que os entreteve e epicurismo dos Talvez não tenha sido má ideia. A Legacque, Véry (o mais caro de distraído confunde o nome do autor acalma as famílias disfuncionais homens de letras. Barthes diz fisiologia de Brillat-Savarin não se todos), Baleine, os irmãos com o queijo homónimo? Não tem onde se abrigaram. Os três, e mais mesmo que “não teria faltado quem atém à gastronomia, mesmo se a Provençaux (especialistas em mal. Um dia chega lá. alguns secundários à sua volta, pusesse no número das perversões moral em que assenta tem como percebem que é inútil encerrar esse gosto pela comida que ele pressuposto o princípio de que “a capítulos biográficos antes do defendia e ilustrava.” exactidão é a mais indispensável de tempo, e que nenhum balanço Publicada originalmente em dois todas as qualidades do cozinheiro.” definitivo sobre uma pessoa pode volumes, a “Fisiologia do Gosto” Antes do prefácio, uma tábua de ser feito pelo próprio. (1825) de Brillat-Savarin foi mais 20 apotegmas introduz o leitor no Página 336, lição aprendida por tarde editada por Michel Guibert, universo mental do autor. Dois Tucker: “A verdade sobre a vida é que suprimiu repetições, “de exemplos: “Os animais alimentam-se, que nada termina até morrermos, e, maneira a oferecer ao leitor o homem come; só o homem de mesmo nesse momento, deixamos moderno um livro mais interessante espírito sabe comer”, e “A mesa é o uma série de narrativas inacabadas e mais coerente.” As supressões vêm único sítio onde ninguém se aborrece atrás de nós. De certa forma, ele assinaladas e, em muitos casos, durante a primeira hora”. Balzac conseguira manter os seus processos substituídas por breves sínteses. O considerava os aforismos brilhantes. mentais de músico e letrista, muito tratado mistura fisiologia com Mas, para Baudelaire, não passavam depois de ter deixado de escrever gastronomia, apontamentos de “tagarelices” pedantes e tolas. músicas, e talvez fosse altura de sociológicos, “gossip” literário e É fácil antecipar o juizo parar.” histórico, anedotário mundano, etc. paternalista do leitor NNoo NiNickck HHornbyornby ddee “J“Julietuliet Nua”,Nua”, o Escrita no fim da vida, a obra fixa a contemporâneo. À distância de 200 camincaminhoho ddee aalgumalguma vasta experiência deste girondino anos, muito daquilo que o autor rredençãoedenção chegachega num tomto moderado que estudou direito, fixou não escapa à “naïveté”. de qquemuem não se qqueruer química e medicina antes de, como Meditações sobre a digestão (“A levlevarar muitmuitoo a sérisério.o. E deputado do Terceiro Estado, ter extracção do quilo parece ser a iissosso é muito bom. assento na Constituinte de 1789. verdadeira finalidade da digestão”), ReconReconfortaforta e estimuestimula.l Não esquecer o tempo histórico os sonhos (“Os sonhos são que lhe coube: sobressaltos da impressões unilaterais que chegam à Revolução Francesa na força da alma sem a ajuda de objectos idade (com o Terror, viu-se obrigado exteriores”) ou a morte (“Se a fugir do país em 1793; passou pela chegares à minha idade, verás que a Suíça e pela Holanda antes de fixar- morte é uma necessidade igual ao Nick Hornby se em Nova Iorque), e a “reabilitação sono”) correm o risco do “déjà vu” de regresso (se é que das alegrias terrenas [e] um num tempo em que a ditadura da alguma vez de lá saiu) sensualismo ligado ao sentido “vida saudável” conta com porta- à música e à cultura pop progressista da História” (cf. vozes persuasivos e vasta imprensa Barthes) no ocaso da vida. Brillat- especializada. Savarin foi gastrónomo, “maire” de O capítulo dedicado à restauração Belley e, a partir de 1797, juiz da é um dos mais interessantes. Em Cour de Cassation, a mais alta 1770, “depois dos dias gloriosos do instância judicial francesa. Escreveu reinado de Luís XIV, das e publicou inúmeras obras de direito libertinagens da regência e da e economia política, mas foi a prolongada tranquilidade do “Fisiologia do Gosto” que fez dele ministério do cardeal Fleury, eram

Ípsilon • Sexta-feira 21 Maio 2010 • 51 aMaumMedíocremmRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente Livros

Manuel João Ramos em viagem pela Etiópia: “Escrevo e desenho para lembrar o que é desaparecer

do meu mundo habitual CUNHA PEDRO e continuar ainda assim vivo”

desenho para lembrar o que é introduzidos ao próprio olhar do Viagens desaparecer do meu mundo habitual povo etíope: “As trocas de olhares, e continuar ainda assim vivo.” A as mudanças súbitas de expressão, “ilustração etnográfica” (as aspas as armadilhas do contacto visual, A cera são do autor) já é incómoda. Os são marcas essenciais de um desenhos “não têm como função sofisticado jogo nacional da e o ouro ilustrar nenhuma passagem escrita sedução.” em concreto. São, antes, ilustrações Manuel João Ramos parece Apesar da sugestão de das limitações (pessoais e culturais) desenhar um peixe através dos do meu olhar e testemunhos do meu reflexos das escamas. Nesta desaparecimento que fascínio visual perante um mundo hesitante entrada na Etiópia, o seu percorre “Histórias Etíopes”, intensamente diverso. Sendo olhar demora-se em efeitos de uma subtilíssima corrente de reproduções de páginas refracção sobre a sua agenda seleccionadas de um diário gráfico, pessoal e cultural. É assim que vai vida atravessa este caderno contém um pouco de várias coisas: descobrindo as suas “ironias de viagem. Rui Catalão traços de narração, informações históricas” (o campo de heteróclitas, breves notas descritivas concentração ao lado da embaixada Histórias Etíopes ou reflexivas.” de Israel; ou a “modesta” Manuel João Ramos Tratando-se de uma edição revista embaixada portuguesa no sexto Tinta da China (“Histórias etíopes” foi publicada andar de um edifício de escritórios, originalmente em 2000, na Assírio & em contraste com as “fantasias do mmmnn Alvim), Manuel João Ramos opta por Preste João”). Neste processo, em preservar uma complexa trama de que a focagem ocidental dá lugar a Manuel João intenções para a viagem, algumas outra lente, começa por familiarizar- Ramos (n. 1960), das quais não chegam a ser se “com a ideia de que o boato e a professor de explicitadas: “A ideia de que, hoje mistificação são peças essenciais na antropologia do em dia, não viajamos, antes dinâmica da vida urbana etíope”: ISCTE, e também desaparecemos, tem ressoado na “Só através de um delicado jogo de desenhador, minha consciência”; “um morto espelhos é possível aceder a níveis propõe vários subsiste (está presente), sem o saber, mais profundos de significação. O roteiros ao leitor, na memória de quem sobrevive. Mas jogo tem um nome: é conhecido em “Histórias um viajante não tem o mesmo como sam-na-wârq (a cera e o ouro, Etíopes”. Primeiro, através de direito ao absolutismo da ausência”. ou poesia e metáfora).” reproduções de páginas do diário da A própria entrada na Etiópia é Este jogo de cera e ouro é sua primeira viagem à Etiópia, em cerimoniosa. O autor já se encontra explorado de maneira sistemática na 1999, com pranchas, desenhos e em Adis Abeba, mas prefere citar as segunda parte do livro, mas o esquiços; segue-se, intercalado com obras de Evelyn Waugh sobre as escritor ilustra-o também esse material, o “diário de viagem” viagens que também fez na Etiópia, discorrendo por acontecimentos e escrito; e por fim, as “histórias ou interrogar-se sobre a razão que o informações mais ou menos etíopes”, recolha de lendas e levou, em Roma, a não entrar num anedóticas (a casa de Rimbaud em narrativas orais (transcritas e pub irlandês com o nome de um dos Harar onde Rimbaud nunca viveu; a traduzidas do amárico por Abdissa seus escritores de eleição, Flann concepção fluida do termo Gamada e Helena Chainho), em volta O’Brien. Segue-se uma alusão à “portugueses”, que também nomeia do tema da presença portuguesa na história do rei Salomão com a rainha indianos, iemenitas e outros Etiópia, entre os séculos XVI e XVII. do Sabá (cuja união gera o mulato imigrantes). O escritor avisa logo na introdução Menelik, primeiro rei do povo Num país em que imperam as que “viajar como desenhador não é abissínio). E, antes de nos ser “fracturas identitárias, seja por via essencialmente diferente de viajar relatado um olhar sobre a Etiópia da religião, da etnicidade ou da como antropólogo”: “Escrevo e contemporânea, somos ainda ostentação económica”, o conflito

52 • Sexta-feira 21 Maio 2010 • Ípsilon A Casa da Esquina, em O projecto “All My marcou decisivamente Coimbra, inaugura hoje, Independent Women”, o feminismo português. Espaço às 19h, a exposição “All comissariado pela artista Entre os participantes Público My Independent Women”, Carla Cruz, procura na exposição estão uma releitura das “Novas problematizar as questões o performer Miguel Cartas Portuguesas” de género e decidiu, Bonneville, a ilustradora de Maria Teresa Horta, nesta quinta edição, Alice Geirinhas e a artista Maria Isabel Barreno e recuperar a experiência plástica Vera Mota. Maria Velho da Costa. colectiva de um livro que

ocorre logo no olhar sobre o Diário processo de integração europeia. património. Como preservá-lo? Mathias, conservador contido, Ciberescritas Enquanto criação original, de considera que o Estado Novo tinha os acordo com os padrões ocidentais, Cenas defeitos de Salazar e nenhuma das A Libranda mesmo que financiam o turismo cultural? suas qualidades, e que já estava Ou enquanto cópia, como manda a exangue em 1974. Reconhece-se em igreja ortodoxa, segundo a qual a da vida geral no pensamento de Franco aqui ao lado criação é um exclusivo de Deus? Nogueira, incluindo a decadência Os editores espanhóis mexeram-se. Viram o que Manuel João Ramos toma partido, diplomática acelerada da situação e a necessidade estava a acontecer por esse mundo fora e resolveram mas a sua simpatia tem um fundo: o de uma solução colonial digna. Mas associar-se para fazer frente à revolução digital. É por que ele pretende transparecer, na Com este volume, completa- Salazar morre em 1970, Tomás é isso que acaba de nascer a Libranda, uma plataforma imediatez da sua primeira viagem à medíocre, Marcelo indeciso, a de distribuição de conteúdos digitais em castelhano e Etiópia, é que esse primeiro olhar, se por agora uma obra revolução é inevitável. Aí, Marcello em catalão e que foi apresentada pela Confederación mesmo estando inconsciente da sua diarística de quatro décadas. Mathias põe talvez alguma esperança, Española de Gremios y Asociaciones de Libreros ignorância, é o que finalmente Pedro Mexia inevitavelmente traída, no (CEGAL). sobrevive. Distante de qualquer oitocentista Spínola, marechal de Isabel Agrupa os maiores grupos editoriais espanhóis como interpretação, a própria ideia de Os Dias e os Anos opereta, e teme os desmandos do Coutinho a Planeta, a Santillana, a Random House Mondadori, e património reside na passagem de - Diário 1970-1993 paranóico companheiro Vasco. O os pequenos como a SM, a Wolters Kluwer, a Edicions testemunho e não na sua Marcello Duarte Mathias processo revolucionário é para o 62 e a Roca Editorial. Terá o maior catálogo de línguas autentificação, material ou D. Quixote autor uma profunda decepção, prova castelhana e catalã a nível mundial. Os pormenores só intelectual. Ou seja, é uma noção de uma doença congénita num país serão divulgados durante a Feira do Livro de Madrid, dinâmica, que integra os mmmnn incurável. As páginas em que cita que abre este domingo. movimentos do tempo presente e de Oliveira Martins, que “antecipa” Já se sabe que não farão vendas directas ao todos os tempos que o ligam ao Não há muitos minuciosamente o PREC, são consumidor: serão distribuidores de conteúdos digitais. passado e lhe dão continuidade. diários estarrecedoras. Depois vem a Os livreiros continuarão a existir e serão eles a vender As histórias orais, que fornecem a portugueses tão normalidade democrática. Mathias os livros, na sua versão digital, através das livrarias matéria para a segunda parte do persistentes como simpatiza com Adelino Amaro da tradicionais ou online. Por isso a Libranda tem já livro, vêm “reflectir” e “legitimar” o de Marcello Costa, frenético, e às vezes com acordos com as livrarias do El Corte Inglès, a Fnac uma fragmentação que é social, Duarte Mathias, Soares, monarca indolente. Quanto à espanhola, a Casa del Libro e a Abacus, entre outras. cultural, mas também histórica: “a no conjunto a que Europa, é praticamente um Os livros distribuídos pela Libranda estarão em sageza” do sam-na-wârq reside chamou “No eurocéptico, daqueles que opõem formato ePub, limitado por utilizador e território com exactamente na atomização da Devagar Depressa sempre a “civilização europeia” à Adobe DRM. Tal como acontece com outros e-books, história, das suas versões diversas, dos Tempos” e “união europeia”, e preferem os compradores só poderão descarregar o livro para complementares mesmo quando que reúne textos que vão de 1962 a Montaigne ao directório franco- seis computadores e para seis dispositivos móveis. E as contraditórias. É assim que o rei 2003. A constância contrasta com a alemão. regras poderão ser ainda mais restritas. católico Susenyos e o seu filho história da publicação desses quatro Embora quase sempre desiludido e Ainda não se sabe qual vai ser o preço de venda ao Fasiladas (que expulsou os volumes, que foram aparecendo, sem algo distante, Marcello Mathias vai- público, mas já se sabe que o IVA aplicado é de 18 por missionários europeus em 1634, ordem cronológica, entre 1980 e nos dando retratos das figuras que cento, seguindo as normas da Comunidade Europeia para restabelecer a paz entre as 2010. conhece nas suas andanças para o software (os livros diversas crenças religiosas) vão “Os Dias e os Anos”, o segundo diplomáticas ou literatas. impressos estão taxados a partilhando algumas das histórias volume, abrange o período de 1970 a Encontramos por exemplo um Já sabem qual é a 4 por cento). A ministra da que sobre eles se contam, até pouco 1993. É uma obra paradoxal face ao Savimbi “Orson Welles da selva”, o Cultura espanhola queria restar que os distinga… “Diário da Índia” e ao “Diário de cabotino Bernard-Henri Lévy, um pergunta que eu vou equiparar o livro electrónico “Que interesse têm estas histórias Paris”, que cobriam a década 1993- Vergílio azedo, Ruben A. ao livro em papel, mas essa para os dias de hoje? A pergunta é 2003. Enquanto estes tinham um civilizadíssimo, Alçada meloso, fazer a seguir, não é? ideia não vingou. tão irrespondível como a sua estilo tranquilo e maduro, embora Cinatti “clochard”. Há muitos E por cá, meus Ao jornal “Público” variante: que importância têm os acontecesse pouca coisa, o volume obituários e notas de almoços e espanhol, Santos Palazzi, dias de hoje para a história?” Manuel agora editado corresponde aos jantares, porque este é também uma senhores? da Planeta, revelou que os João Ramos faz a pergunta e avança “tempos interessantes” (como na espécie de diário do Estoril (onde o e-books custarão menos 30 uma resposta ao gosto do tempo, maldição chinesa), mas tem autor tem casa). Quando se refere a por cento do que os livros em papel (entre os cinco e mas a sua citação final, de Manuel passagens mais esboçadas e figuras com quem não privou, os 14 euros, consoante se tratem de edições de bolso ou Barradas, sugere que o património inconclusivas. Talvez porque o diário Mathias é com frequência injusto, de capa dura). A percentagem de direitos de autor nos não tem necessariamente de ser comece por ser uma espécie de cenas despachando Sartre com uma e-books será de 20 por cento, quando o normal para os visto como algo que se preserva ou da vida diplomática, e portanto simples graçola, e dizendo que livros impressos é de oito a 10 por cento. deita a perder. Os testemunhos da assuma uma dimensão de memorial, Aquilino é ilegível. Mas são Brevemente vai ser comercializado em Espanha o história fazem parte de uma cadeia um pouco hermética para quem não justíssimas as caracterizações do Ipad da Apple e a Telefónica e a Vodafone também têm de transformações em que a ideia de conhece as figuras retratadas. Filho e grande pavão Giscard ou de um certo planos para distribuir livros electrónicos por telemóvel. originalidade, de autoria, é irmão de diplomatas, Mathias fala da abastardamento nacional que A associação de livreiros espanhóis tem no seu site necessariamente subvertida, mas “Casa” (o Ministério dos Negócios Mathias comenta com deliciosos uma secção dedicada ao livro digital. E, no início desta sem que a poesia ou a metáfora se Estrangeiros) com familiaridade e tiques de snobismo. semana, a revista “The Bookseller” divulgou que os percam. Quando as matérias que pertença, embora tenha noção das É um diário vaidoso, mas nunca editores franceses estão a seguir a mesma via e querem deram corpo ao ficções e coreografias, e recorra arrogante. Mathias sente-se excluído Confederación dar aos livreiros uma loja onde possam adquirir os livros passado se muitas vezes à descrição grotesca das da vida literária, fuzila a “pandilha” Española de Gre- em formato electrónico. O grupo Eden Livres (de que dissipam, personagens que encontra, que domina as nossas letras, mas, mios y Asociacio- fazem parte a Flammarion, Gallimard e La Martinière / sobra autoritários efeminados, tendo em conta que vai escrevendo nes de Libreros Le Seuil), a Eplateforme (Editis, Média Participations/ ainda a pinguins engravatados e artigos para o JL, a queixa parece http://www. Michelin) e a Numilog (grupo Hachette Livres) estão sageza demais bobos. excessiva. cegal.es/ no projecto. Mais: em Outubro vai ser lançado o portal da cera As funções diplomáticas, A pulsão aforística é em geral 1001libraires.com, que vai permitir a todas as livrarias e do primeiro em Brasília e depois pouco convincente; em Syndicat de la Li- independentes aceder à venda online de livros digitais e ouro. em Bruxelas, obrigam contrapartida, Mathias está nas suas brairie Française físicos. Mathias acompanhar com sete quintas a descrever um quadro http://www. Já sabem qual é a pergunta que eu vou fazer a atenção os acontecimentos de Delvaux, uma praia em syndicat-librai- seguir, não é? E por cá, meus senhores? Até onde vai a internacionais dos anos 70 a 93, Copacabana ou a túrgida Moscovo da rie.fr/ pasmaceira? Marcello Duarte Mathias incluindo as brigadas vermelhas, “perestroika”. E uma página sobre recapitula agora “os tempos a revolução iraniana ou a queda do Biarritz, excelente, ameaça tornar-se Portail de La [email protected] interessantes” da queda do bloco soviético; mas o que domina um excerto proustiano, uma ficção Libraire Indépen- Estado Novo e da entrada de estas páginas é naturalmente a elegante e melancólica, tal como o dante (Ciberescritas já é um blogue http://blogs.publico.pt/ Portugal na Europa mudança de regime em Portugal e o próprio Mathias. http://pl2i.org/ ciberescritas)

Ípsilon • Sexta-feira 21 Maio 2010 • 53 aMaumMedíocremmRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente

A caça ao nome de rua já está aberta no Porto: o Núcleo Concurso de Experimentação Coreográfi ca, estrutura convidada da edição deste ano do FITEI - Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica, convidou o artista britânico Joshua Sofaer a recriar na cidade o espírito dos concursos

Estreiam Todos podemos ser bombistas suicidas, insinua este texto de Mark Ravenhill que abre o Cabeças Falantes - Festival de Monólogos Bridget Jones na Al-Qaeda

“O Argumento” são muçulmanos contra ocidentais num texto de 2005 que parece ter sido escrito propositadamente para hoje. Cláudia Silva

O Argumento (Product) De Mark Ravenhill. Encenação de Isabel Medina. Com Hugo Sequeira. Lisboa. Clube Estefânia. R. Alexandre Braga, 24 A. Até 30/05. 5ª a Sáb. às 21h30. Dom. às 16h. 10€

Teatro Cabeças Falantes - Festival de Monólogos. Estamos na sala de teatro do Clube Estefânia, espaço programado pela companhia Escola de Mulheres. Mas a primeira cena deste que é o primeiro de muitos solilóquios a apresentar até Dezembro no Festival de Monólogos Cabeças Falantes leva-nos a pensar que estamos numa sala de cinema, no início de um filme, com os créditos a serem projectados. Na verdade, o que vamos ver em “Argumento (Product)”, o texto de

Agenda Teatro Emanuel Muzio, Helder Oliveira, Make Love Not War Las Tribulaciones de Virgínia Hilário Bandeira, Luís Silva, De João Paulo Seara Cardoso. Pelo De e com Hermanos Oligor. Francisco Alves, entre outros. Teatro de Marionetas do Porto. Lisboa. Museu da Marioneta. R. da Esperança, 146 Estreiam Custóias. Estabelecimento Prisional do Porto. Encenação de João Paulo Seara - Convento das Bernardas. Até 22/05. 4ª a Sáb. às Guifões. De 26/05 a 28/05. 4ª a 6ª às 21h. Tel.: Cardoso. Com Edgard Fernandes, Rui 22h. Tel.: 213942810. 5€ a 7€. 229513020. Entrada gratuita (sujeita a marcação). FIMFA LX10 - Festival Internacional &&&&& & &&& Queiroz de Matos, Sara Henriques, Imaginarius - Festival Internacional de Marionetas e Formas Animadas. Sérgio Rolo, Shirley Resende, entre de Teatro de Rua de Santa Maria da outros. Feira. José. Rubem.Fonseca Santa Maria da Feira. Piscina Municipal. R. António A partir de Rubem Fonseca. Pela CTB Ver texto na pág. 12. Castro Corte Real, 1. De 27/05 a 29/05. 5ª a Sáb. às 21h30. Tel.: 256370800. Entrada gratuita. - Companhia de Teatro de Braga, A Escola da Noite. Encenação de A Feliz Idade Imaginarius - Festival Internacional Lisboa. Teatro Nacional D. Maria II - Salão Nobre. Pç. António Augusto Barros. Com Allex A partir de Carpinejar. valter hugo de Teatro de Rua de Santa Maria da D. Pedro IV. De 27/05 a 29/05. 4ª a 6ª às 23h15. Tel.: Miranda, António Jorge, Carlos Feio, mãe e César Santos. Encenação de Feira. 213250835. 8€. Igor Lebreaud, entre outros. Anna Stigsgaard. Com Adelina Silva, Ver texto na pág. 12. FIMFA LX10 - Festival Internacional Braga. Theatro Circo - Pequeno Auditório. Av. Amélia Silva, Ana Silva, César Santos, de Marionetas e Formas Animadas. Liberdade, 697. Até 22/05. 4ª a Sáb. às 21h30. Tel.: De e com Halory Goerger, Antoine Rosa Santos, Samuel Martins, entre The Seed Carriers 253203800. 5€ a 10€. Defoort. outros. De e com Stephen Mottram. Continuam Santa Maria da Feira. Claustros do Museu do Noites Brancas Lisboa. Museu da Electricidade. Av. Brasília - Ed. Central Encenação de Melanie Thompson. Convento dos Lóios. Pç. Dr. Guilherme Alves Moreira. De Fiódor Dostoiévski. Pela Chão Tejo. De 22/05 a 23/05. Sáb. e Dom. às 19h (entrada a Lisboa. Museu da Marioneta. R. da Esperança, 146 Comemoração + A Nova Ordem De 27/05 a 29/05. 5ª a Sáb. às 22h30. Tel.: cada 15 minutos). Tel.: 210028120. 6€ a 12€. - Convento das Bernardas. De 24/05 a 25/05. 2ª e 3ª Mundial Concreto. Com Ivo Bastos, Hugo 256331070. Entrada gratuita. às 21h30. Tel.: 213942810. 5€ a 7€. Alkantara Festival. De Harold Pinter. Pelos Artistas Preto. Imaginarius - Festival Internacional FIMFA LX10 - Festival Internacional Porto. Teatro Sá da Bandeira - Sala-Estúdio Latino. Ver texto na pág. 6. Unidos. Encenação de Jorge Silva de Teatro de Rua de Santa Maria da de Marionetas e Formas Animadas. R. Sá da Bandeira, 108. Até 30/05. 4ª a Dom. às Feira. Melo. Com Alexandra Viveiros, 21h45. Tel.: 222003595. Medeia Américo Silva, António Simão,Simão, JoãoJoão Ver texto na pág. 12. Troubles: ô!..., iiii!..., ah! De Oscar van Woensel, Kuno Bakker, De Agnès Limbos. Pela Cie. Gare Meireles, Pedro Carraca,a, Sílvia Filipe, OláOlá e AdeusinhoAdeusin Manja Topper. Pelos Dood Paard. DeDe AtAtholho Fugard. Encenação Baralha Centrale. Encenação de Sabine Sylvie Rocha, entre outros.ros. Com Kuno Bakker, Gillis Biesheuvel, Lisboa. CCB - Pequeno Auditório.o. PPç.ç. ddoo Império. De dede BeatrizBeat Batarda. Com A partir de Shakespeare. Encenação Durand. Com Agnès Limbos, Gregory Manja Topper, René Rood. Houben. 21/05 a 27/05. 2ª a Sáb. às 21h (exceptoexcepto à 3ª). Dom. às DinarteDinarte Branco, Catarina de Marco Martins. Com Beatriz 17h. Tel.: 213612400. 10€ a 15€. Lisboa. Teatro Municipal Maria Matos. Av. Frei Lisboa. Museu da Marioneta. R. da Esperança, 146 Lacerda.Lacerd Miguel Contreiras, 52. De 26/05 a 28/05. 4ª a 6ª às Batarda, Filipa César, Clara - Convento das Bernardas. De 26/05 a 28/05. 4ª a 6ª Ver texto na pág. 15. Lisboa.Lisboa Teatro da Cornucópia - Bairro 21h. Tel.: 218438801. 5€ a 12€. Andermatt, Beatriz, Dinarte Branco, às 21h30. Tel.: 213942810. 5€ a 7€. AltoAlto.. R. Tenente Raúl Cascais 1A. Até Alkantara Festival. entre outros. FIMFA LX10 - Festival Internacional Sposa Mi (Casa Comigo)igo) 006/06.6/ 3ª a Sáb. às 21h. Dom. às 116h.6h Tel.: 213961515. 15€. Ver texto na pág. 6. Santa Maria da Feira. Sanguedo. R. da Baralha. De de Marionetas e Formas Animadas. De e com Alessandra 27/05 a 29/05. 5ª a Sáb. às 21h30. Tel.: 256370800. Casali. PedroPe e Inês Entrada gratuita. Geneviève... si Chaste, si Pure Entrado Imaginarius - Festival Internacional Lisboa. Chapitô. R. Costa do DeDe José Carretas. Pela Pela PELE e o Centro de Criação para De Freek Neirynck. Pelos Theater Castelo, 1/7. Até 23/05. 5ª a Dom.m. às PaPanmixia. Encenação de de Teatro de Rua de Santa Maria da 22h. Tel.: 218855550. 12€. o Teatro e Artes de Rua. Encenação Taptoe. Encenação de Massimo “Pedro e Inês”, JJoséos Carretas. Com Ana Feira. Ciclo de Mulheres de Hugo Cruz. Com Abel Sousa, Schuster. Com Luk De Bruyker, Jan da Panmixia, MaMargaridar Carvalho, Ver texto na pág. 12. De Bruyne, entre outros. Palhaço. no Porto

54 • Sexta-feira 21 Maio 2010 • Ípsilon públicos que já havia das candidaturas, a vencedorve do lançado noutros locais em 10 dede Junho, um jjúriúri “Viver“V a Rua”, que anos anteriores. Desde o compostomposto por fi gurasguras passarápa a fi gurar dia 12, qualquer pessoa, quee vão da estestilistailista numanum das centenas de qualquer lugar do Kattyty XiomaraXiomara ao dede pplacas verdes mundo, pode sugerir um poetata JorJorgege SSousaousa queque existem nas nome (qualquer nome: não Braga,ga, passanpassandodo pepelala esquinasesq da cidade. precisa de ser um herói ex-atletaatleta Rosa MotaMota,, O projecto inclui local, pode ser apenas escolheráolherá aindaai uma série um familiar maravilhoso) o nomeome ded “workshops” que será celebrado para sobres temas como sempre numa rua do a escritae criativa Porto. Depois do fecho ou a cidadania.

Mark Ravenhill que Isabel Medina “Argumento” foi a estreia mundial montou com o actor Hugo Sequeira, de Ravenhill nos palcos. Também é é um produtor de cinema a narrar, a primeira vez de Hugo num em delírio, um guião de um filme monólogo. Ao contrário do que se série B a uma actriz, tentando pensa, o actor diz que estar em convencê-la a interpretar o papel palco sozinho não é motivo para principal. Cinema dentro do teatro, pânico, mas sim um trabalho que se com o público como que transposto assemelha muito ao do contador de para dentro do ecrã, construindo as histórias. Nunca tinha pensado suas próprias imagens mentais. A fazer um solilóquio, até que um única pessoa a ouvi-lo é a tal actriz, amigo lhe mostrou o texto em que, uma mulher sentada de costas considera, o dramaturgo inglês viradas para o público, com um critica ferozmente o Ocidente e se longo cabelo ruivo e enormes põe do lado dos muçulmanos. pernas cruzadas. Ravenhill disse, aliás, numa A dúvida incomoda-nos durante entrevista que “Argumento” é a todo o espectáculo, até que temos a história de Bridget Jones convertida confirmação, pelas mãos do à Al-Qaeda, conta Hugo, rindo-se. produtor, de que a ruiva não passa Afinal, o guião do filme é sobre uma de um modelo de montra. Foi uma londrina, Amy, que se apaixona por escolha intencional, conta a Mohamed, um taxista muçulmano e encenadora, que vai ao encontro bombista suicida, e se converte ao das entrelinhas do texto de Islão depois de perder um ente Ravenhil. Mais do que sobre a querido nos atentados do World relação dos ocidentais com os Trade Center. muçulmanos, pós 11 de Setembro, e Já para Isabel Medina, Ravenhill sobre o colapso da civilização, o está mais numa posição em que dramaturgo questiona a mulher- critica a sociedade de uma ponta à objecto, a mulher 100 por cento outra, a Ocidente e a Oriente, numa submissa ao homem, opina Isabel de “estamos todos perdidos”. Vai Medina. Quando Hugo Sequeira lhe tudo abaixo, da sociedade de apresentou-lhe o texto e a convidou consumo que propulsiona Guccis e a encená-lo, foi a temática feminina Versaces até à devoção sem limites que chamou a atenção da directora a Alá que faz com que Amy, antes da Escola de Mulheres. uma actriz betinha que queria subir Escrita com muito humor negro na vida, esteja finalmente pronta em 2005, quatro anos depois da para matar crianças em nome de queda das Torres Gémeas, um Deus até aí desconhecido.

André Brito, André Júlio Teixeira, Gonçalves, Elisa Lisboa, José Mata, 24/05 a 25/05. 2ª e 3ª às 21h30. Tel.: 223401910. 7,5€ entre outros. Natália Luíza. a 16€. Porto. CACE Cultural do Porto. R. do Freixo, 1071. Até Lisboa. Teatro Meridional. R. do Açucar, 64 - Poço Alkantara Festival no TNSJ. 22/05. 3ª a Dom. às 22h. Tel.: 225191600. 5€ a 10€. do Bispo. Até 30/05. 4ª a Sáb. às 21h45. Dom. às Ver texto na pág. 6. 17h00. Tel.: 218689245. O Rei Está a Morrer Tri_K De Eugene Ionesco. Pela Comuna. Miserere De e com Dick Wong, Koichi Encenação de João Mota. Com Carlos A partir de Gil Vicente. Encenação de Luis Miguel Cintra. Com João Grosso, Imaizumi, Kawaguchi. Paulo, Ana Lúcia Palminha, entre Lisboa. Museu do Oriente. Av. Brasília - Ed. Pedro outros. José Airosa, Luis Miguel Cintra, Álvares Cabral - Doca de Alcântara Norte. De 24/05 a Lisboa. Teatro da Comuna. Pç. Espanha. Até 27/06. Ricardo Aibéo, entre outros. 25/05. 2ª às 21h. 3ª às 19h. Tel.: 213585200. 4ª a Sáb. às 21h30. Dom. às 16h. Tel.: 217221770. 5€. Lisboa. Teatro Nacional D. Maria II - Sala Garrett. Alkantara Festival. Pç. D. Pedro IV. Até 23/05. 4ª a Sáb. às 21h30. Dom. Jardim Suspenso às 16h. Tel.: 213250835. Ver texto na pág. 6. De Abel Neves. Encenação de Alfredo Brissos. Com Carla Chambel, Simone Quixote de Oliveira, entre outros. De António José da Silva. Pelo Bando. Continuam Lisboa. Teatro Nacional D. Maria II - Sala-Estúdio. Encenação de João Brites. Com Pç. D. Pedro IV. Até 30/05. 4ª a Sáb. às 21h45. Dom. Catarina Félix, Félix Lozano, entre Void às 16h15. Tel.: 213250835. outros. De Clara Andermatt. Com Avelino Lisboa. Teatro da Trindade - Sala Principal. Largo Chantre e Sócrates Napoleão. Agora a Sério da Trindade, 7 A. Até 13/06. 4ª a Sáb. às 20h30. Santa Maria da Feira. Mercado Municipal. Lg. da De Tom Stoppard. Encenação de Dom. às 16h30. Tel.: 213420000. 8€ a 14€. República. De 27/05 a 29/05. 5ª a Sáb. às 22h30. Tel.: Pedro Mexia. Com Afonso Lagarto, 256370800. Entrada gratuita. Ana Brandão, João Reis, São José Dança Imaginarius - Festival Internacional Correia,, entre outros. de Teatro de Rua de Santa Maria da Lisboa.a. Teatro Aberto - Sala Azul. Pç. Espanha. AtAtéé Feira. 31/12. 4ª4ª a Sáb. às 21h30. Dom. à àss 16h. EstrEstreiameiam Ver texto na pág. 12. Tel.: 213880089.13880089. 7,5€ a 15€. H3 A Rainhaainha da Maiorca Belezaeza de De Paulo Ribeiro. Com Erika Leenanenane Gustamacchia, Romulus Neagu, entre De MartinMartin outros. Beja. Teatro Pax-Júlia. Lg. São João. Dia 22/05. Sáb. McDonagh.onagh. PePelolo às 21h30. Tel.: 284315090. 3,5€ a 5€. Teatroro Meridional.dional. Local Geographic Encenaçãoenação O “Quixote” De Rui Horta. de Nuriauria Aveiro. Teatro Aveirense - Sala Principal. Pç. travestido República. Dia 21/05. 6ª às 21h30. Tel.: 234400922. Mencía.cía. do Bando no De Bruno Beltrão. Pelo GGrupo de 10€ a 12€. Comm Teatro da Rua de Niterói. Torres Vedras. Teatro-Cine. Av. Tenente Valadim, 19. Almenoeno Porto. Teatro Nacional São João.João Pç. Batalha. De Dia 22/05. Sáb. às 21h30. Tel.: 261338131. 5€. Trindade

Ípsilon • Sexta-feira 21 Maio 2010 • 55