De Luuanda a Luandino : Veredas / Francisco Topa
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DE LUUaNDA a LUANDINO: VEREDAS FRANCISCOTOPA ELSA PEREIRA (Coord.) Título: De Luuanda a Luandino: Veredas Coordenação: Francisco Topa e Elsa Pereira Fotografia da capa: Lubata: pormenor da ilustração de José Luandino Vieira para a capa da 1.ª edição de Luuanda (1964) Design gráfico: Helena Lobo Design www.hldesign.pt Co-edição: CITCEM – Centro de Investigação Transdisciplinar «Cultura, Espaço e Memória» FLUP – Via Panorâmica, s/n | 4150-564 Porto | www.citcem.org | [email protected] Edições Afrontamento, Lda. | Rua Costa Cabral, 859 | 4200-225 Porto www.edicoesafrontamento.pt | [email protected] Colecção: Monografias N.º edição: 693 ISBN: 978-972-36-1462-6 ISBN: 978-989-8351-44-9 (CITCEM) Depósito legal: 403281/15 Impressão e acabamento: Rainho & Neves Lda. | Santa Maria da Feira [email protected] Distribuição: Companhia das Artes – Livros e Distribuição, Lda. [email protected] Dezembro de 2015 Este trabalho é financiado por Fundos Nacionais através da FCT – Fundação para a Ciência e Tecnologia, no âmbito do projecto UID/HIS/04059/2013, e pelo Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER) através do COMPETE 2020 – Programa Operacional Competitividade e Internacionalização (POCI-01-0145-FEDER-007460). SUMÁRIO NOTA DE APRESENTAÇÃO .................................................................. 5 DE LUUANDA... Luuanda: nacionalização literária, reinvenção e angolanização da língua portuguesa . 11 Salvato Trigo Luuanda, um modo outro de cantar Sião . 29 Laura Cavalcante Padilha Do texto ao contexto: Luuanda e a extinção da Sociedade Portuguesa de Escritores . 43 Cláudia Pinto Ribeiro Luuanda, a libertação de Angola e a geração de 50/60 . 55 Joana Passos Luuanda – and how to change the world . 67 Elisabeth Edborg O transplante do baobá . 73 Vincenzo Barca Luuanda em espanhol: traduzir o intraduzível . 79 Àlex Tarradellas Da língua luuandina a uma língua eslava: o desafio de uma tradução . 85 Dorota Woicka Luuanda: a oralitura telúrica do musseque . 93 José Luís Mendonça A vergonha na estória de «Vavó Xíxi e seu neto Zeca Santos» . 99 Joelma Santana Siqueira Gorki e Luandino Vieira: relações literárias . 111 Rubens Pereira dos Santos O sentimento de vergonha em Luuanda ......................................................... 121 Francisco Topa / Sofia Mota Freitas Antes da leitura das estórias de Luuanda ........................................................ 131 Pires Laranjeira DE LUUANDA A LUANDINO: VEREDAS ... A LUANDINO: VEREDAS A Luanda de Luandino: quando a geografia cede à ficção . 139 Tania Macêdo Discursivização em «Muadiê Gil, o sobral e o barril» . 147 Alberto Carvalho João Vêncio revisited . 161 Fernando J. B. Martinho Nosso Musseque: uma abordagem pelo viés das estórias . 173 Diana Gonçalves Loureiro Fábulas e parábolas: aproximações aos livros para crianças de Luandino Vieira . 183 Ana Margarida Ramos Cinema da libertação: Luandino Vieira filmado por Sarah Maldoror . 191 Maria do Carmo Piçarra 4 NOTA DE APRESENTAÇÃO NOTA DE APRESENTAÇÃO O volume que agora se dá ao prelo reúne a quase totalidade das comunicações apre- sentadas no colóquio De ‘Luuanda’ (1964) a Luandino (2014): veredas, realizado a 10 e 11 do ano passado, na Faculdade de Letras do Porto. Pretendeu-se na altura – e a intenção prolonga-se para este ano de 2015 – assinalar a passagem do cinquentenário de Luuanda, livro maior de José Luandino Vieira, entretanto tornado clássico da literatura angolana e da literatura de língua portuguesa. Essa celebração coincidia com uma dupla efeméride, particularmente relevante no espaço da língua portuguesa: por um lado, cumpriam-se 50 anos sobre o golpe militar de 1964 (que deu início a vinte e um anos de ditadura no Brasil), e por outro assinalavam-se os 40 anos da Revolução dos Cravos (que veio pôr termo a qua- renta e um anos de ditadura do Estado Novo em Portugal). Estes dois acontecimentos – o início de uma ditadura e o final de outra – vieram pôr, mais uma vez, em evidência a importância das humanidades e a relação estreita que, sobretudo em épocas de crise e autoritarismo, se estabelece entre a literatura e a resistência, entre o pensamento estrutu- rante de uma nação e esses pequenos ou grandes incêndios que lavram nas páginas dos livros (como escrevia José Fanha na apresentação da sua Antologia Poética da Resistência). A coincidência com outros aniversários mantém-se em 2015; neste ano, passa o cinquen- tenário da atribuição a Luuanda do Grande Prémio de Novelística da Sociedade Portu- guesa de Escritores e festejaremos também os 40 anos da independência de Angola. Os dezanove textos reunidos neste livro estão repartidos por dois grupos: um pri- meiro consagrado a Luuanda e um outro que contempla a restante obra de Luandino. A primeira parte abre com uma conferência panorâmica de Salvato Trigo, fundador dos estudos literários africanos na Universidade do Porto e autor da primeira tese de dou- toramento sobre José Luandino Vieira, seguindo-se uma série de estudos sobre essa obra tão decisiva no processo de construção da literatura angolana, subscritos por alguns dos seus grandes estudiosos, como Laura Cavalcante Padilha e Pires Laranjeira. Temos também a interessante – e comovida – intervenção de um companheiro mais novo de Luandino nas letras angolanas (o poeta e romancista José Luís Mendonça) e as intervenções de quatro tradutores que se dedicaram à obra de Luandino; dois mais antigos (a sueca Elisabeth Edborg e o italiano Vincenzo Barca) e dois mais jovens (o espanhol Àlex Tarradellas e a polaca Dorota Woicka). Trata-se de uma oportunidade para evidenciar a importância dos tradutores na difusão de uma obra e, por outro, para percebermos as diferentes motivações que justificaram o interesse de cada um deles por Luandino Vieira. Na segunda parte do volume, são estudados outros textos e obras do escritor, incluindo as suas publicações para crianças, que são objeto de uma primeira apreciação de conjunto por parte de Ana Margarida Ramos. Tópicos mais gerais como «A Luanda de Luandino» são objeto da investigação de Tania Macêdo, ao passo que Maria do Carmo Piçarra aborda os dois filmes de Sarah Maldoror, que tomaram por base narrativas de Luandino. 7 DE LUUANDA A LUANDINO: VEREDAS Fora do volume ficam outras iniciativas que acompanharam o colóquio1: uma mostra de desenhos de Luandino; uma seleção de aforismos retirada dos seus livros e espalhada pelos corredores da Faculdade de Letras; uma exposição bibliográfica com edições raras das suas obras (incluindo quase todas em língua estrangeira); a exibição de um conjunto de documentos pertencentes ao Arquivo da PIDE (que nos ajudou a ver com outros olhos o homem por trás da escrita, na condição de preso político); a projeção do programa «Panorama Literário», exibido pela RTP em maio de 1965, e ainda a plantação de um jaca- randá – em referência metafórica ao abraço lusófono com que quisemos homenagear Luuanda e Luandino Vieira. Cremos que a conclusão a retirar, na altura como agora, é esta: meio século depois, Luuanda está viva, continua a suscitar novos leitores e novas leituras e continua até a inco- modar. Mais ainda: o seu autor está vivo e atuante, e continua a encantar-nos e a surpreen- der-nos com a sua inventividade, a sua inteligência, a sua sensibilidade, a sua memória. Porto, 27 de abril de 2015 Francisco Topa Elsa Pereira 1 https://www.facebook.com/deluuandaaluandino. 8 DE LUUANDA... LUUANDA: nacionalização literária, reinvenção e angolanização da língua portuguesa Salvato Trigo U. Fernando Pessoa. [email protected]. A reflexão que me proponho fazer sobre língua portuguesa e nacionalidade literária angolana/africana encontra a sua justificação imediata no colóquio De «Luuanda» (1964) a Luandino (2014): veredas com que o Departamento de Estudos Portugueses e Estudos Românicos da Faculdade de Letras do Porto, por intermédio do Prof. Francisco Topa, resolveu comemorar os 50 anos daquela obra de Luandino Vieira que, verdadeiramente, iniciou a narrativa literária angolana moderna. Sobre essa obra – Luuanda –, confidenciou Luandino a Michel Laban: «Luuanda foi uma ruptura. Foi deliberadamente uma guinada noutro sentido. Cheguei a estar a ponto de regressar a A Cidade e a Infância, porque, realmente, o desafio era perigoso. Mas depois vi que já não era capaz de regressar…». Que Luuanda, há 50 anos, constituiu, de facto, uma rutura ideológica e linguística, atesta-o hoje o volume, em boa hora, organizado por Francisco Topa, com o subtítulo de «críticas, prémios, protestos e silenciamentos», exaustiva recolha documental sobre a tem- pestade desencadeada pela atribuição do Grande Prémio de Novelística a essa obra de Luandino pela Sociedade Portuguesa de Escritores, em 10 de maio de 1965. A leitura desse volume explicita bem a dimensão ideológica dessa rutura e deixa suspeitar o essencial da sua dimensão linguística. De forma muito resumptiva, direi que Luuanda foi uma rutura linguística no trajeto até então feito, em poesia ou em prosa, por Luandino Vieira, porque, como tive ocasião de escrever, num estudo de fundo que fiz sobre o autor, «o seu texto lança as bases para uma profunda africanização da linguagem literária de raiz portuguesa, não só pela violação da 11 DE LUUANDA A LUANDINO: VEREDAS norma, mas também, e principalmente, pela paixão neológica e analógica» ou metafórica, que aprendeu confessadamente em Sagarana, de João Guimarães Rosa. Sobre tal aprendizagem recordarei, aqui e agora, o penetrante ensaio Novos Mundos que o Professor Óscar Lopes publicou, em O Comércio do Porto, exatamente um ano após a premiação de