Revista Mátria 2010

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Revista Mátria 2010 EDITORIAL 1 Seguimos em frente ano de 2013 promete. Promete porque inclui na sua linha de frente O o traço feminino de personagens que estão transformando a agenda política, social e financeira deste país. Nas últimas eleições, o voto feminino avançou e registrou um recorde histórico: mais de 600 prefeituras passaram ao comando de mulheres. Um total ainda aquém dos 30% previstos em lei, é verdade, mas que demonstra como estamos caminhando. Avançamos na direção certa e trazemos, nessa onda, o surgimento de novas vozes e lideranças reveladoras do protagonismo juvenil de meninas que não mais esperam acontecer. Conosco, a certeza de que existe a presença de olhar feminino nos grandes momentos e nas principais obras do país. O Brasil se prepara para sediar os maiores eventos esportivos do mundo (Copa 2014 e Olimpíadas 2016) e, também em sua preparação e realização, elas fazem a diferença. Neles, efeti- vamente, percebe-se a mão da mulher que enfrenta a vida, dirige máquinas e tratores e comanda uma legião de trabalhadores em obras monumentais. Mas há contradições que nos levam a pensar: se são eventos que propiciam mais autonomia e poder às mulheres, simultaneamente, podem também representar risco de aumento da exploração sexual, principalmente. É preciso ficar atento e não permitir que antigas práticas continuem agredindo a mulher e diminuindo o seu papel. A Revista Mátria tem tido destaque na divulgação de temas relacionados ao universo feminino e feminista. Nossa publicação, amplamente distribuída no meio educacional, busca promover o debate nas escolas e permite a discussão sobre os avanços e (infelizmente) sobre as ameaças ainda enfrentadas pelas mulheres. Durante os últimos anos, trouxemos em nossa capa perspectivas de futuro, personagens femininas de destaque e exemplos de conquistas das mulheres em nosso país, mas não podemos esquecer que ainda há desafios a serem vencidos. Pensando neles, este ano, destacamos um mal que ainda persiste no Brasil e no mundo: o trabalho infantil. Uma realidade que ameaça o futuro de milhares de crianças e que está, em boa parte, dentro dos lares sem ser enxergado. Mas não paramos aí. Nesta edição falamos de protagonismo juvenil, da coragem de mulheres – como Carmen Foro (vice-presidente da CUT) e Rima Zeid Al-Kilani, Diretora-Geral de Educação na Palestina –, e da inquietude de personagens que fazem da tecnologia, da sala de aula, da sua condição pessoal e do seu talento a fórmula para a conquista de um mundo onde a diferença é o respeito. Boa leitura! Diretoria Executiva da CNTE CNTE - Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação Março de 2013 Mátria VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER 2 : Chico Régis Ilustração A lei esbarra Texto: Katia Maia na falta de estrutura CPMI constata fragilidade no combate da violência contra a mulher Mátria Março de 2013 CNTE - Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER 3 á três anos eu conheci o pai Sucateados - O resultado de atendimento às mulheres sai dos cofres “H da minha filha. Eu gostei um ano de trabalho mostrou que federais e os estados, apenas incubidos muito dele. Só que, de três meses para cá, ele ainda há uma grande precariedade da contrapartida, terminam por devol- passou a me xingar, a puxar meus cabelos, quanto à estrutura com que contam ver dinheiro, na medida em que não a me furar com caneta. Foi aí que eu pensei os órgãos oficiais, em se tratando de conseguem aplicar os recursos dentro em mudar. Afinal, qual o exemplo que eu suas condições físicas, de pessoal e do prazo”, disse. Na avaliação da se- estaria passando para ela, permitindo que de trabalho. “As delegacias são em nadora falta, por parte dos governos ele me batesse?”. Essa é a fala de Analice, número reduzido, muitas delas fun- estaduais, “prioridade e compromisso” após conseguir romper com a sequên- cionando em instalações precárias em relação ao assunto, apontou. cia de violência à qual fora submetida. e a quase totalidade contando com A senadora Ana Rita e a deputada Ela agora aposta numa nova história um pequeno número de delegadas, Jô Moraes foram taxativas ao apontar para ela e sua filha. inspetores e escrivães”, argumentou que o problema é ainda mais grave No entanto, muitas mulheres no a senadora Ana Rita (PT-ES), relatora no campo, em relação às trabalha- Brasil não têm a mesma oportunidade da CPMI. doras rurais e às mulheres indígenas. de Analice. O Estado brasileiro tem-se Mesmo considerando os recursos “O atendimento fica mais concen- equipado para garantir a segurança empregados pelo governo, a senadora trado nas capitais, inalcançável para as de centenas de milhares de mulhe- Ana Rita destacou que os mecanismos mulheres rurais e indígenas, distantes res, vítimas de violência no Brasil. A de proteção e assistência à mulher desses centros urbanos”, relatou a gravidade da situação é tamanha que estão sucateados. A maior parte das deputada. a estrutura de atendimento e as con- delegacias especializadas está em pés- Indígenas – Um levantamento dições de proteção oferecidas pelos simas condições físicas. “Há falta de de caráter mundial, feito pela Orga- governos foi alvo de uma Comis- recursos humanos e, por omissão do nização das Nações Unidas (ONU), são Parlamentar Mista de Inquérito poder público, as casas que servem de divulgado em 2010, revelou que (CPMI), no Congresso Nacional. abrigo contra a violência praticada uma em cada 3 índias já foi estu- Antes dessa CPMI, já haviam contra a mulher estão deterioradas”, prada em algum momento da vida. sido instaladas muitas comissões de afirmou. Nele também aparecem as mulheres inquérito para apurar a situação da De acordo com a senadora, o indígenas como alvo fácil de confli- violência contra a mulher no Brasil. problema muitas vezes advém de tos armados ou de desastres naturais, A última delas aconteceu em 2001, mecanismos inadequados vinculados além de se constituírem em vítimas de trazendo à luz os casos concretos que à questão orçamentária. “Boa parte racismo, apontado como outro fator ocorriam no país. “Agora, essa CPMI do que é aplicado em política de de violência. de 2012, teve como objetivo avaliar a ação dos órgãos governamentais responsáveis pela implementação de : Divulgação políticas de enfretamento da violência Foto contra a mulher”, explicou a deputada Jô Moraes (PCdoB-MG), presidente da CPMI. Dessa vez, a comissão de inquérito visitou 18 estados e o Distrito Federal, realizou 35 reuniões, incluindo audi- ências públicas no Congresso e nos estados. “Ouvimos representações da sociedade civil, dos diferentes movi- mentos sociais, de várias áreas do poder judiciário, do poder executivo, além do ministério público, da defensoria pública e até de outras instituições existentes”, relata a deputada. CNTE - Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação Março de 2013 Mátria VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER 4 Um dos grandes problemas relata- aldeia. Depois, o motorista mandou : Katia Maia dos pelas próprias mulheres indígenas Foto que ela descesse e a ameaçou com tem sido a questão do alcoolismo dis- uma arma. seminada entre a população masculina Procurada pela reportagem de indígena, o que gera vários tipos de Mátria para falar sobre o assunto, a ações de violência contra elas. assessoria de imprensa da Funai infor- A própria senadora Ana Rita, em mou não contar com ninguém para visita ao Mato Grosso, conhecendo a comentar as denúncias. Aldeia Água Bonita, pode perceber Rural - Segundo a Fundação como principais determinantes do Perseu Abramo, numa análise geral, problema da violência, a droga e o a cada quinze segundos uma mulher álcool. “A droga gera essa relação con- é espancada no Brasil. Isso represen- flituosa com as mulheres, resultando ta 2,1 milhões de mulheres por ano, na violência”. constituindo-se numa situação bastan- Outra grave situação apontada te aflitiva para as famílias rurais. No pelas próprias indígenas é a do des- entanto, ainda é pequeno o registro respeito às crianças e aos adolescentes dessa modalidade de violência no em relação à vida sexual. Segundo campo, provavelmente em decorrên- elas, em algumas etnias, as meninas são cia do machismo e do patriarcalismo Senadora Ana Rita - PT/ES iniciadas sexualmente a partir dos 9 comuns a essas regiões. anos e muitas começam a engravidar Durante a Marcha das Margari- a partir dos doze anos. o agravante de não contarem com das de 2010, o governo prometeu a Tutela do Estado – A indígena atenção do setor público. instalação de delegacias móveis de Maria Azumezohero, representante Segundo Maria, a grande contra- assistência à mulher nas áreas rurais. do Conselho Nacional das Mulheres dição ocorre por força da atuação das “Em princípio, a presidenta Dilma Indígenas, relatou na CPMI o fato delegacias de polícia, que prendem Rousseff comprometeu-se a dis- de as mulheres indígenas serem vio- índios embriagados e violentos, mas ponibilizar dez unidades para atuar lentadas tanto por seus companheiros não se envolvem em questões de nos territórios rurais de maneira como por homens não indígenas, com violência familiar, sob a alegação de experimental. Mas agora estamos que os povos indígenas têm tutela do em fase de acréscimo e estão sendo Estado e seus problemas devem ser tratados pela Fundação Nacional do : Divulgação Índio (Funai). Para Azumezohero, o Foto Violência Sexual órgão precisa ter mais sensibilidade contra mulheres com respeito aos problemas específi- indígenas - 2011 cos das mulheres indígenas. O Relatório “Violência Contra os 17 casos, 39 vítimas, Povos Indígenas no Brasil”, elaborado sendo 12 menores em 2011 pelo
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