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editorial 1 Seguimos em frente ano de 2013 promete. Promete porque inclui na sua linha de frente O o traço feminino de personagens que estão transformando a agenda política, social e financeira deste país. Nas últimas eleições, o voto feminino avançou e registrou um recorde histórico: mais de 600 prefeituras passaram ao comando de mulheres. Um total ainda aquém dos 30% previstos em lei, é verdade, mas que demonstra como estamos caminhando. Avançamos na direção certa e trazemos, nessa onda, o surgimento de novas vozes e lideranças reveladoras do protagonismo juvenil de meninas que não mais esperam acontecer. Conosco, a certeza de que existe a presença de olhar feminino nos grandes momentos e nas principais obras do país. O Brasil se prepara para sediar os maiores eventos esportivos do mundo (Copa 2014 e Olimpíadas 2016) e, também em sua preparação e realização, elas fazem a diferença. Neles, efeti- vamente, percebe-se a mão da mulher que enfrenta a vida, dirige máquinas e tratores e comanda uma legião de trabalhadores em obras monumentais. Mas há contradições que nos levam a pensar: se são eventos que propiciam mais autonomia e poder às mulheres, simultaneamente, podem também representar risco de aumento da exploração sexual, principalmente. É preciso ficar atento e não permitir que antigas práticas continuem agredindo a mulher e diminuindo o seu papel. A Revista Mátria tem tido destaque na divulgação de temas relacionados ao universo feminino e feminista. Nossa publicação, amplamente distribuída no meio educacional, busca promover o debate nas escolas e permite a discussão sobre os avanços e (infelizmente) sobre as ameaças ainda enfrentadas pelas mulheres. Durante os últimos anos, trouxemos em nossa capa perspectivas de futuro, personagens femininas de destaque e exemplos de conquistas das mulheres em nosso país, mas não podemos esquecer que ainda há desafios a serem vencidos. Pensando neles, este ano, destacamos um mal que ainda persiste no Brasil e no mundo: o trabalho infantil. Uma realidade que ameaça o futuro de milhares de crianças e que está, em boa parte, dentro dos lares sem ser enxergado. Mas não paramos aí. Nesta edição falamos de protagonismo juvenil, da coragem de mulheres – como Carmen Foro (vice-presidente da CUT) e Rima Zeid Al-Kilani, Diretora-Geral de Educaço na Palestina –, e da inquietude de personagens que fazem da tecnologia, da sala de aula, da sua condição pessoal e do seu talento a fórmula para a conquista de um mundo onde a diferença é o respeito.

Boa leitura! Diretoria Executiva da CNTE

CNTE - Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação Março de 2013 Mátria violência contra a mulher 2 Ilustração : Chico Régis

A lei esbarra Texto: Katia Maia na falta de estrutura

CPMI constata fragilidade no combate da violência contra a mulher

Mátria Março de 2013 CNTE - Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação violência contra a mulher 3 á três anos eu conheci o pai Sucateados - O resultado de atendimento às mulheres sai dos cofres “H da minha filha. Eu gostei um ano de trabalho mostrou que federais e os estados, apenas incubidos muito dele. Só que, de três meses para cá, ele ainda há uma grande precariedade da contrapartida, terminam por devol- passou a me xingar, a puxar meus cabelos, quanto à estrutura com que contam ver dinheiro, na medida em que não a me furar com caneta. Foi aí que eu pensei os órgãos oficiais, em se tratando de conseguem aplicar os recursos dentro em mudar. Afinal, qual o exemplo que eu suas condições físicas, de pessoal e do prazo”, disse. Na avaliação da se- estaria passando para ela, permitindo que de trabalho. “As delegacias são em nadora falta, por parte dos governos ele me batesse?”. Essa é a fala de Analice, número reduzido, muitas delas fun- estaduais, “prioridade e compromisso” após conseguir romper com a sequên- cionando em instalações precárias em relação ao assunto, apontou. cia de violência à qual fora submetida. e a quase totalidade contando com A senadora Ana Rita e a deputada Ela agora aposta numa nova história um pequeno número de delegadas, Jô Moraes foram taxativas ao apontar para ela e sua filha. inspetores e escrivães”, argumentou que o problema é ainda mais grave No entanto, muitas mulheres no a senadora Ana Rita (PT-ES), relatora no campo, em relação às trabalha- Brasil não têm a mesma oportunidade da CPMI. doras rurais e às mulheres indígenas. de Analice. O Estado brasileiro tem-se Mesmo considerando os recursos “O atendimento fica mais concen- equipado para garantir a segurança empregados pelo governo, a senadora trado nas capitais, inalcançável para as de centenas de milhares de mulhe- Ana Rita destacou que os mecanismos mulheres rurais e indígenas, distantes res, vítimas de violência no Brasil. A de proteção e assistência à mulher desses centros urbanos”, relatou a gravidade da situação é tamanha que estão sucateados. A maior parte das deputada. a estrutura de atendimento e as con- delegacias especializadas está em pés- Indígenas – Um levantamento dições de proteção oferecidas pelos simas condições físicas. “Há falta de de caráter mundial, feito pela Orga- governos foi alvo de uma Comis- recursos humanos e, por omissão do nização das Nações Unidas (ONU), são Parlamentar Mista de Inquérito poder público, as casas que servem de divulgado em 2010, revelou que (CPMI), no Congresso Nacional. abrigo contra a violência praticada uma em cada 3 índias já foi estu- Antes dessa CPMI, já haviam contra a mulher estão deterioradas”, prada em algum momento da vida. sido instaladas muitas comissões de afirmou. Nele também aparecem as mulheres inquérito para apurar a situação da De acordo com a senadora, o indígenas como alvo fácil de confli- violência contra a mulher no Brasil. problema muitas vezes advém de tos armados ou de desastres naturais, A última delas aconteceu em 2001, mecanismos inadequados vinculados além de se constituírem em vítimas de trazendo à luz os casos concretos que à questão orçamentária. “Boa parte racismo, apontado como outro fator ocorriam no país. “Agora, essa CPMI do que é aplicado em política de de violência. de 2012, teve como objetivo avaliar a ação dos órgãos governamentais responsáveis pela implementação de : Divulgação

políticas de enfretamento da violência Foto contra a mulher”, explicou a deputada Jô Moraes (PCdoB-MG), presidente da CPMI. Dessa vez, a comissão de inquérito visitou 18 estados e o Distrito Federal, realizou 35 reuniões, incluindo audi- ências públicas no Congresso e nos estados. “Ouvimos representações da sociedade civil, dos diferentes movi- mentos sociais, de várias áreas do poder judiciário, do poder executivo, além do ministério público, da defensoria pública e até de outras instituições existentes”, relata a deputada.

CNTE - Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação Março de 2013 Mátria violência contra a mulher 4 Um dos grandes problemas relata- aldeia. Depois, o motorista mandou : Katia Maia

dos pelas próprias mulheres indígenas Foto que ela descesse e a ameaçou com tem sido a questão do alcoolismo dis- uma arma. seminada entre a população masculina Procurada pela reportagem de indígena, o que gera vários tipos de Mátria para falar sobre o assunto, a ações de violência contra elas. assessoria de imprensa da Funai infor- A própria senadora Ana Rita, em mou não contar com ninguém para visita ao Mato Grosso, conhecendo a comentar as denúncias. Aldeia Água Bonita, pode perceber Rural - Segundo a Fundação como principais determinantes do Perseu Abramo, numa análise geral, problema da violência, a droga e o a cada quinze segundos uma mulher álcool. “A droga gera essa relação con- e espancada no Brasil. Isso represen- flituosa com as mulheres, resultando ta 2,1 milhões de mulheres por ano, na violência”. constituindo-se numa situação bastan- Outra grave situação apontada te aflitiva para as famílias rurais. No pelas próprias indígenas é a do des- entanto, ainda é pequeno o registro respeito às crianças e aos adolescentes dessa modalidade de violência no em relação à vida sexual. Segundo campo, provavelmente em decorrên- elas, em algumas etnias, as meninas são cia do machismo e do patriarcalismo Senadora Ana Rita - PT/ES iniciadas sexualmente a partir dos 9 comuns a essas regiões. anos e muitas começam a engravidar Durante a Marcha das Margari- a partir dos doze anos. o agravante de não contarem com das de 2010, o governo prometeu a Tutela do Estado – A indígena atenção do setor público. instalação de delegacias móveis de Maria Azumezohero, representante Segundo Maria, a grande contra- assistência à mulher nas áreas rurais. do Conselho Nacional das Mulheres dição ocorre por força da atuação das “Em princípio, a presidenta Dilma Indígenas, relatou na CPMI o fato delegacias de polícia, que prendem Rousseff comprometeu-se a dis- de as mulheres indígenas serem vio- índios embriagados e violentos, mas ponibilizar dez unidades para atuar lentadas tanto por seus companheiros não se envolvem em questões de nos territórios rurais de maneira como por homens não indígenas, com violência familiar, sob a alegação de experimental. Mas agora estamos que os povos indígenas têm tutela do em fase de acréscimo e estão sendo Estado e seus problemas devem ser tratados pela Fundação Nacional do

: Divulgação Índio (Funai). Para Azumezohero, o

Foto Violência Sexual órgão precisa ter mais sensibilidade contra mulheres com respeito aos problemas específi- indígenas - 2011 cos das mulheres indígenas. O Relatório “Violência Contra os 17 casos, 39 vítimas, Povos Indígenas no Brasil”, elaborado sendo 12 menores em 2011 pelo Conselho Indigenis- de idade. ta Missionário (CIMI), revela casos como o ocorrido no Município Onde? Alto Alegre, na Aldeia Yanomami de » Amazonas Kumixi, onde uma adolescente foi » Bahia atacada e abusada sexualmente dentro » Maranhão da área indígena, sendo seu agressor » Mato Grosso funcionário do Ministério da Saúde. » Mato Grosso do Sul Em outro relato, uma mulher do povo » Roraima Apinaje revela ter sofrido tentativa de » Tocantins A indígena Maria Azumezohero estupro ao pegar uma carona para a sua Fonte - CPMI da Violência Contra a Mulher

Mátria Março de 2013 CNTE - Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação violência contra a mulher 5 As unidades móveis são instru- Para ela, a lei trouxe consigo o : Katia Maia

Foto mentos cuja ação pode propiciar mais Pacto Nacional de Enfrentamento à autonomia e segurança às mulheres Violência Contra a Mulher, coorde- do campo. “No entanto, precisamos nado pela SPM, que hoje atinge os de mais. Como creches, por exemplo, vinte e sete estados brasileiros. “Mas o para que as crianças fiquem protegidas controle sobre a efetivação desse pacto e as mulheres possam trabalhar com ainda é precário”, lamenta. tranquilidade”, lembrou Carmen Foro. Agressão é comum – De acordo com Carmen Foro, a violên- cia contra a mulher no campo não tem, atualmente, nenhum suporte que lhe possa atenuar. Dados de uma pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (IPEA), durante a Marcha das Mar- garidas, trouxeram números e casos A violência referentes à violência e à segurança em números pública no campo. Na ocasião, 11% Deputada Jô Moraes - PCdoB/MG das entrevistadas declararam já terem Em 2011, dois terços sido expulsas de casa. dos casos de violência licitadas 54 unidades. O problema é A própria Contag fez um levanta- contra a mulher foram que ainda não existe nenhuma em mento, em 2008, durante a 4ª Plenária presenciados pelos filhos. funcionamento”, lamenta Carmen Nacional de Mulheres Rurais, a qual Foro, secretária de Mulheres Traba- revelou o fato de que 55,2% das en- No mesmo ano, mais de lhadoras Rurais da Confederação trevistadas haviam sofrido algum tipo 42 mil mulheres com Nacional dos Trabalhadores na Agri- violência. Dessas, 21,9% foram vítimas filhos denunciaram cultura (Contag). de violência física, 51,1% sofreram Conforme anunciado pela Secre- violência moral e 27,3% sofreram ter sofrido algum taria de Políticas para as Mulheres, da violência sexual. tipo de agressão. Presidência da República (SPM-PR), Do total das mulheres entrevista- Também em 2011, foram essas unidades prestarão os serviços das, 27,6% responderam que foram de assistência social, jurídica, psico- ameaçadas de morte, 11,9% sofreram relatados, no total, lógica e de segurança pública e serão estupro marital e 4,3% foram vítimas quase 75 mil casos coordenadas pelos governos estadu- de cárcere. A pesquisa revelou ainda de violência contra ais. A expectativa é que cada estado que 63,7% das violências domésticas a mulher, seja física receba dois ônibus para prestar tal foram praticadas pelos maridos ou (61,3%), psicológica atendimento. A entrega de unidades companheiros das vítimas. (24%) ou moral (10,9%). móveis faz parte do Pacto Nacional Em 2013, a Lei Maria da Penha pelo Enfrentamento à Violência contra completa 7 anos e a conclusão que Na maioria dos relatos as Mulheres. se pode tirar a partir de uma série (74,6%), o agressor era De acordo com a Secretária Na- de audiências públicas é que “a companheiro, cônjuge cional do Enfrentamento à Violência lei pegou. Um exemplo é que nas ou namorado da vítima, contra as Mulheres da SPM-PR, escolas já se pode ver as meninas, Aparecida Gonçalves, os governos quando ameaçadas, evocando a seguidos por ocorrências estaduais e municipais, junto com o Maria da Penha. Em certa medida, envolvendo ex-namorado movimento organizado de mulheres, o conteúdo da lei já se incorporou ou ex-marido (16,3%). decidirão as localidades por onde pas- à educação de muitas escolas”, co- Fonte - IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), na amostra Síntese sarão os veículos. memora Jô Moraes. de Indicadores Sociais.

CNTE - Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação Março de 2013 Mátria MULHERES NA COPA 6 : Katia Maia Foto

Laiana já foi doméstica e hoje orgulha-se de ser tratorista

ulher no volante, perigo constante”, apesar de “M bastante conhecido, esse dizer popular não inco- Até aqui moda Laiana Sammya. Ela sabe que, no fundo, conta com a admiração dos colegas de trabalho, não só pela profissão por ela escolhida, como também pela importância de sua tudo bem, presença como tratorista na construção de uma das doze arenas que receberão os jogos da Copa do Mundo 2014. Laiana, 29 anos, é uma das quase 200 mulheres que mas pode ajudam a reconstruir o Estádio Mané Garrincha, em Brasília, estádio que será palco da abertura da Copa das Confederações, em junho próximo. Já tendo trabalhado como doméstica, ela agora dirige uma máquina manipu- desandar ladora – uma espécie de trator – e tem orgulho de ocupar um espaço ainda dominado pelos homens. “Eu não ligo para as brincadeiras. Quando me desafiam, fico ainda mais determinada a continuar”, diz. Segundo Texto: Katia Maia e ela, a profissão que escolheu tem a ver com uma paixão: Maurício Angelo “eu adoro dirigir!”, declara.

Mátria Março de 2013 CNTE - Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação MULHERES NA COPA 7

Em todo o país, centenas de mu- : Katia Maia

lheres colocaram a mão na massa e Foto estão conquistando cada vez mais espaço na realização das obras da Copa. Um lugar que lhes traz mais autonomia e poder. “Temos uma série de fatores que influenciam positivamente a vida das mulheres com a realização da Copa do Mundo em 2014 – bem como das Olimpíadas e Paraolimpíadas de 2016 –, eventos que representam, acima de tudo, oportunidades para as mulheres brasileiras”, avalia Beatriz Gregory, da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República. Qualificação – Um reflexo do interesse das mulheres em se qualifi- car e ocupar novos postos de trabalho Rosa trabalha na marcenaria do estádio da Copa e quer ir além está no Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pro- natec). O programa do Governo Autonomia – Essa possibilida- que estão se preparando para ocupar Federal, oferece cursos de educação de de conquistar novos postos de o setor de turismo. Mulheres que vão profissional e a maior parte (60%) das trabalho e ocupar profissões antes à luta e não têm medo de ousar. 50 mil vagas oferecidas, tanto para reconhecidamente masculinas é uma Riscos – Mas, como nos ensina cursos relacionados ao turismo como forma de “a mulher conquistar sua um outro dito popular, “a mão que à construção civil, foi ocupada pelas autonomia econômica e com isso se dá também tira” e os grandes eventos mulheres. inserir melhor na sociedade, tendo em esportivos mundiais programados “Pode-se também perceber a suas mãos a possibilidade de definir para acontecer no Brasil também enorme inserção das mulheres numa sua vida e fazer suas próprias esco- acendem uma luz amarela no cru- outra área, a de Controle de Processos lhas”, comemora Beatriz. zamento. A ameaça é de que eles se Industriais, na qual, não raras vezes, a No primeiro semestre de 2012, tornem, na verdade, uma porta aberta presença de mulheres quase alcança levantamento do governo federal para a exploração sexual de crianças 50%, quebrando preconceitos e con- indicava que, dos 19.403 trabalha- e adolescentes. tribuindo para a alteração da atual dores envolvidos com a construção “A nossa preocupação central divisão sexual do trabalho”, pontua dos estádios, 907 eram mulheres, é quanto à exploração sexual de ainda Beatriz. o equivalente a 5% do total. Pode mulheres e meninas que, em tal Rosa Amélia Lima Costa, 45 parecer pouco, mas equivale ao dobro contexto, representam a maioria anos, era auxiliar de cozinha, e hoje da média nacional registrada na cons- de prováveis vítimas, fazendo em dia trabalha na carpintaria da trução civil. com que o governo brasileiro Arena de Brasília, demonstran- A Copa do Mundo vai, sem esteja bastante preocupado com a do nítida satisfação pelo lugar dúvida, trazer impactos positivos questão”, declarou Beatriz Gregory. conquistado. “Acho que estamos na vida de centenas de milhares de Beatriz acrescenta que a Secreta- ganhando espaço e a mulher tem mulheres. Além de todo o contin- ria de Políticas para as Mulheres da todo o talento para chegar além”, gente que se qualifica e assume novas Presidência da República tem tido a diz, enquanto é observada pelos profissões em espaços tidos como tipi- preocupação de levar para o mundo companheiros de carpintaria. camente masculinos, há ainda aquelas esportivo as campanhas de combate

CNTE - Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação Março de 2013 Mátria MULHERES NA COPA 8 da Europa e também no Brasil. É prevista ainda a criação de um site

: Agência : Brasil europeu para denúncias. Foto Meninas – O pesquisador Miguel Fontes, do Sesi, analisou a relação existente entre o número de entrada de turistas estrangeiros em São Paulo e na Bahia, de 2008 a 2010, e o total de denúncias de exploração sexual infantil ocorridas no período, nesses dois estados. De acordo com as palavras do consultor, “a exploração sexual de crianças e adolescentes está ligada às atividades turísticas de lazer. Por isso, podemos projetar que a realização de grandes eventos esportivos mun- diais, ao promover um aumento do à violência contra a mulher, com a se ver ampliado o turismo sexual fluxo de pessoas (para o Brasil), pode intenção de vê-las divulgadas também infantil no país durante a realização ampliar o número de casos desse pelos grandes times. da Copa de 2014 e da Olimpíada tipo”. Até porque, confirmando a Turismo sexual – Em outubro de 2016. grandiosidade dos eventos, estimati- de 2012, em Paris, durante a apre- O estudo, coordenado pelo vas do Ministério do Turismo falam sentação de um estudo sobre a Serviço Social da Indústria (Sesi), da possibilidade da presença de 600 relação entre o turismo de lazer e foi divulgado durante o seminá- mil turistas estrangeiros e 5 milhões a exploração sexual de menores no rio internacional “Turismo Sexual de visitantes brasileiros só durante a Brasil, pesquisadores e especialistas Envolvendo Crianças e Grandes Copa do Mundo de 2014. fizeram um alerta sobre o risco de Eventos Esportivos”, o qual reuniu Ainda segundo Fontes, as crian- organizações que lutam contra a ças exploradas sexualmente no Brasil exploração sexual infantil e pro- têm a idade média de onze anos, fissionais do setor de viagens de sendo que a cada 5 casos de denún- : Katia Maia

Foto diversos países. cias, 4 deles envolvem meninas, 37% Durante esse evento, a organiza- do total de casos concentrados na ção internacional Child Prostitution Região Nordeste. Child Pornography & Trafficking of Children for Sexual Purposes (ECPAT), para trabalha para diminuir o risco à prostituição e ao tráfico de crianças Estima-se que 2 para fins sexuais, também anunciou o lançamento, com apoio do Sesi, milhões de crianças se de uma campanha internacional prostituam no mundo. para prevenir o agravamento desse Mais de 40 milhões de problema durante os Jogos no Brasil. pessoas no mundo se A campanha da ECPAT, intitu- prostituem atualmente e lada “Não desvie o olhar”, lançará vídeos e pôsteres para exibição a grande maioria (75%) em aeroportos, aviões, agências de são mulheres com idades Beatriz Gregory: o governo federal está preocupado com a exploração viagens, bares, restaurantes e outros entre 13 e 25 anos. de mulheres durante o evento espaços públicos em dez países Fonte: Fundação Scelles/2012

Mátria Março de 2013 CNTE - Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação MULHERES NA COPA 9 : Divulgação Foto

Mirna, prefeita da obra, sente orgulho de estar à frente Igualdade pelo da construção reconhecimento Na linha de frente operária, mulheres colaboram para a realização da Copa do Mundo de 2014, no Brasil

É provável que a construção civil seja nenhum problema com eles. Lidar com Mirna pretende seguir atuando na área a mais masculina das áreas de trabalho. operário é difícil, principalmente neste e até aceita mudar para outro estado ou Portanto, culturalmente passou até a ser ramo, porque trabalham sobre pressão, outra região. “O que eu quero são desafios”, natural que carregue com ela o DNA do com data para entregar, etc. Nunca recebi completa. preconceito, do machismo e da resistên- nenhuma cantada nem escutei nenhuma cia a mudanças. Mesmo assim, no imenso gracinha, pelo contrário, sempre fui muito Relação antiga canteiro de obras em que se transformou o respeitada”, conta. Para Francisca Falcão Damasceno (foto Brasil na preparação para a Copa do Mundo Além de atuar como prefeita da obra, abaixo), 34 anos, uma das doze operárias a de 2014, a participação feminina se faz Mirna também se encarregou de prestar trabalhar na obra do Castelão, a oportunida- sentir, ainda que de maneira tímida, mas auxílio aos encarregados vindos de fora de de trabalhar teve uma ligação histórica fundamental. do Ceará, ajudando-os não só a procurar com a sua família: o pai e o avô participaram Em Fortaleza, capital do Ceará e quinta residências para alugar como a mobiliar da obra original do estádio, em 1971. cidade mais populosa do país, com 2,4 suas casas, propiciando-lhes a manutenção. “Fiz um curso de formação e também milhões de habitantes, duas mulheres Com uma relação tão próxima, Mirna atuava pude estudar por meio de um convênio fizeram parte da construção do novo Cas- também no sentido de garantir os direitos firmado pelos responsáveis pela própria telão (Governador Plácido Castelo), estádio trabalhistas dos operários e o pagamento obra, concluindo o ensino básico. Assi- com capacidade para cerca de 64 mil espec- da remuneração na data correta. naram minha carteira e tudo começou a tadores. A obra custou R$ 518 milhões de melhorar de verdade. Eu já vinha de outra reais e contou com mais de dois mil cola- obra, então não foi tão difícil por ter o

boradores, dentre os quais sessenta e cinco : Divulgação costume de trabalhar com companheiros mulheres. Já na condição de operárias, o Foto homens, mas o preconceito ainda existe número foi bem menor: apenas doze. e é grande, sim”. Mirna – No comando de tudo, como Francisca pretende tirar a habilitação prefeita da obra, esteve Mirna Tatiana Maia de motorista e já se inscreveu num curso Cunha, 39 anos. Mirna é uma das poucas de mestre de obras para dar sequencia à encarregadas-chefes nas obras da Copa dis- sua carreira. tribuídas pelo país. E, para ela, que migrou A julgar pelas falas de Mirna e de Fran- da área de saúde para a construção civil, cisca, obter sucesso e modificar a realidade, a experiência foi muito interessante e a tão marcada pelo preconceito e pela resis- relação com os operários foi a mais sadia tência, parece ser um caminho natural tanto possível: “Aceitei o desafio e nunca tive para uma como para outra.

CNTE - Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação Março de 2013 Mátria ARTIGO 10 O significado da renda na emancipação da mulher

Juçara Dutra 1. Renda: do acessório ao essencial Embora tenha havido mudanças na vida Vieira econômica e social, a realidade material dessas Vice-presidente da IE a nossa rica e polissêmica língua mulheres nordestinas atravessou o século XX e e Coordenadora do N portuguesa, renda tanto significa um chegou ao século XXI. A pobreza está sempre Comitê da Mulher da IE tecido, um bordado, um acessório quanto um associada a outros fatores de restrição de di- resultado de atividade econômica produzida reitos, como o direito à educação, à moradia, pelo trabalho, pelo capital ou pela conjugação ao emprego e, consequentemente, à renda. de ambos. No primeiro caso, a sua confec- Por evidente, a renda de que se fala, agora, ção artesanal implica delicado manuseio em não é a acessória – que enfeita as pessoas e os que se mesclam habilidade, criatividade e ambientes – mas é a essencial, a que assegura paciência. Em nossa cultura – e na realidade uma vida digna, ainda que despida de muitas Um dado em que ela se expressa – essa é uma tarefa das conquistas da inteligência e do trabalho peculiarmente feminina. Embora produzidas humano. relevante é em todo o país, as rendas nordestinas são as Reportagem de Sanches (2013) divulga que muitas mais famosas. Atualmente, além de serem pesquisa da antropóloga Walquíria Domin- encontradas em típicas feiras de artesanato, gues Leão Rêgo, da Universidade Estadual das mulheres é possível comprá-las em sofisticadas lojas, de Campinas, que acompanhou, nos últimos alcançadas situadas em aeroportos e centros de compras. cinco anos, as mudanças ocorridas na vida de Essa atividade tradicional ficou marcada na mais de cem mulheres beneficiárias do Pro- pelo Programa cantiga popular “Mulher Rendeira”: “Olê, grama Bolsa Família. Elas vivem no interior conseguiram mulher rendeira,/Olê, mulher rendá,/Tu do Piauí e do Maranhão, na periferia de São me ensina a fazer renda/Que eu te ensino Luís, no litoral de e no Vale do Jequi- ter renda fixa a namorar”. tinhonha. À exceção destas últimas, que são de pela primeira A música, que foi tema do filme “O Minas Gerais, todas as outras são nordestinas. Cangaceiro”, de Lima Barreto (1953), está as- As constatações são muito interessantes. vez em suas sociada ao fenômeno do cangaço, luta armada A estudiosa queria saber se o Bolsa Família vidas. Trata- que ocorreu no país, mais concentradamente tinha sentido meramente assistencialista para no sertão nordestino, entre o final do século essas mulheres ou se conseguira resgatar se, agora, de XIX e o início do século XX. O cangaço teve algum senso de cidadania. Entre as consta- decidir sobre motivações econômicas, políticas e sociais, tações obtidas junto às entrevistadas estão as com diferentes gradações, ao longo de sua seguintes: o dinheiro confere mais liberdade, a própria vigência. Porém, o pano de fundo sempre foi pois, quando a mulher faz uma compra, ela vida e sobre o mesmo: a estrutura oligárquica da ocupação também faz escolhas; é possível ter acesso a da terra e a consequente geração de pobreza produtos antes proibitivos, como um simples as relações e de miséria naquele contexto. O tom lúdico pote de iogurte; existe espaço para o cuidado familiares. da melodia não esconde o problema da falta com sua própria imagem, já que a mulher de perspectivas para homens e mulheres, pode comprar um batom (no caso, o primeiro especialmente para estas: “As moças de Vila adquirido com o próprio dinheiro). Essas Bela/ Não têm mais ocupação./ Sé que fica possibilidades de escolha não estão somente na janela/ namorando Lampião.” vinculadas ao benefício, mas à concepção do

Mátria Março de 2013 CNTE - Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação ARTIGO 11 Programa, que confere titularidade das abre novas possibilidades analíticas, direcionando parte dos recursos fi- contas às mulheres em um percentual permite outras abordagens. nanceiros por meio da gestão pública. superior a 90%. Sanches (2013) fala em uma re- Um dado relevante é que muitas 2. O passo seguinte volução feminista provocada pelo das mulheres alcançadas pelo Progra- Bolsa Família no sertão. De fato, não é ma conseguiram ter renda fixa pela A política de distribuição de renda pouca coisa abrir espaços para além do primeira vez em suas vidas. Então por meio do Programa Bolsa Família canto da cozinha ou do meio da roça. não se trata apenas de escolher entre tem impacto social muito superior ao Mulheres antes invisíveis tomaram comprar um tipo ou outro de alimen- investimento financeiro. Isso acontece forma e assumiram o papel de garan- to. Trata-se, agora, de decidir sobre porque seus resultados incidem, dire- tir a sobrevivência da família. Nesse a própria vida e sobre as relações tamente, sobre as condições de vida de percurso, foram descobrindo seus familiares. A autonomia financeira milhões de brasileiros, tanto na vida corpos, suas mentes, suas vontades e permite manter ou romper um ca- pessoal quanto na esfera familiar ou seus desejos. Agora, paradoxalmen- samento em que a mulher é vítima social. Seja no sertão, seja em outras te, seu maior projeto deve ser o de de violência, por exemplo. Claro que comunidades empobrecidas, o escasso libertar-se daquilo que deu início à uma atitude dessas também depende recurso de cada beneficiário do Pro- sua liberdade: o próprio Bolsa Família. de outras superações, pois o ambiente grama tem uma projeção geométrica, Isso, porém, só pode acontecer se patriarcal e a religiosidade são fatores pois alimenta uma cadeia de neces- a renda for conseguida por meio da que pesam muito nas definições que sidades básicas apresentando reflexos estabilidade obtida por um posto ou envolvem a família. A reportagem traz um espaço de trabalho. Aqui entra a o depoimento de uma mulher de 34 transversalidade das políticas públicas. anos, mãe de três filhos pequenos, Como a mulher pode trabalhar? É que se recusava a falar sobre maus Quando o horizonte imprescindível que tenha formação, tratos impingidos pelo marido. No elevação de escolaridade, educação de ano seguinte (a pesquisadora colheu é a sociedade qualidade. Também é fundamental que depoimentos das mesmas pessoas, con- socialista, o direito se esteja incluída em uma rede de prote- secutivamente, durante cinco anos), constrói na direção da ção de saúde e de seguridade social. É ela não só estava separada do marido preciso que seus filhos tenham creches, como ostentava uma imagem de se- igualdade. entre outros direitos da infância, como renidade. o de poder, de fato, ser criança. Enfim, A investigação também revela o sobre o conjunto da população. Ao a mulher que tem acesso à renda pode, aumento do número de mulheres que mesmo tempo, as exigências do Pro- se for de seu agrado, vestir renda, e, passaram a utilizar métodos anticon- grama relacionadas com a frequência como sugere a cantiga popular, dedicar cepcionais. Essa é outra questão vital à escola, por exemplo, representam parte da vida a namorar. para as mulheres, pois a possibilidade valores agregados que vão confor- de decidir sobre o próprio corpo e mando a cidadania. sobre a maternidade significa o acesso Evidente que, quando o horizon- REFERÊNCIAS: a um direito humano e social. As lutas te é a sociedade socialista, o direito feministas já lograram muitos avanços, se constrói na direção da igualda- BARRETO, Lima. O Cangaceiro alguns dos quais traduzidos em políti- de. Nesse sentido, as mulheres que (filme inspirado na figura de Lampião, concebido e dirigido por Barreto, cas públicas. Porém, ainda há pressões tiveram acesso à renda precisam, com diálogos criados por Rachel de muito fortes, que combinam resis- agora, reivindicar trabalho, emprego, Queiroz, foi premiado no Festival tências culturais com falta de acesso remuneração justa. Essa elevação de Internacional de Cannes). 1953. à informação e aos próprios meios expectativa é impulsionada pelo SANCHES, Mariana. O Bolsa contraceptivos. acesso a outros direitos, como, por Família e a revolução feminista no sertão (reportagem sobre pesquisa da Ao contribuir para a compreen- exemplo, à educação e à cultura. O antropóloga Walquíria Domingues Leão são de fenômenos sociais, um estudo Estado, mesmo atuando em favor ou Rêgo). Disponível em:

CNTE - Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação Março de 2013 Mátria TRABALHO INFANTIL 12 : João Roberto Ripper/Imagens Humanas; Foto

Covardia longe de

Texto: Cristina Sena erradicar

Segundo a Pnad, cerca de 3,7 milhões de crianças e adolescentes de 5 a 17 anos estavam trabalhando no país em 2011

ariana acorda todos os dias às 6h, toma crianças e adolescentes de 5 a 17 anos M café e se prepara para estudar. À tarde, estavam trabalhando no país em 2011. é a vez de cumprir outro compromisso. Ela Importante destacar que essa foi a única volta para casa, almoça rapidamente e se faixa etária em que houve aumento nos desloca para o lixão. Aos 11 anos, a garota índices nacionais. No Censo 2000, eram enfrenta uma jornada dupla pesada, até para 699 mil pequenos operários. Um dado que, adultos. segundo Luiz Henrique Lopes, chefe da A menina é mais uma brasileira que Divisão de Fiscalização do Trabalho Infantil engrossa o contingente populacional da- do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), queles que trabalham no País, na faixa etária surpreendeu o governo: “Não esperávamos de 10 a 13 anos. De acordo com o Censo esse resultado ruim, pois a Pnad mostrava 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia uma queda crescente. O que estamos fazendo e Estatística (IBGE), são 710 mil crianças desde que saiu o Censo é verificar em quais envolvidas com algum tipo de atividade atividades é mais frequente o envolvimento laboral, seja nos centros urbanos, seja no de crianças e adolescentes para atacarmos o campo, as quais representam 5% da popu- problema de forma mais eficaz. Teremos que lação brasileira nessa faixa etária. Segundo reinventar ações de fiscalização e melhorar a Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra todo o aparato das redes estaduais para che- de Domicílios), cerca de 3,7 milhões de garmos de forma mais efetiva”.

Mátria Março de 2013 CNTE - Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação TRABALHO INFANTIL 13 As meninas e o Há mais de 40 anos, a menina meus pais”. Creuza perdeu o pai trabalho doméstico baiana Creuza Maria Oliveira, então aos 5 anos e a mãe aos 12. A falta O Brasil possui um contingente com 9 anos, teve que sair de casa. de oportunidades fez com que ela de 1,34 milhão de trabalhadoras do- Foi trabalhar em uma residência continuasse no trabalho doméstico. mésticas de 10 a 17 anos. A maioria em Salvador, onde morava. “Eram Recebeu seu primeiro salário aos operária na área rural. Elas repre- muitos filhos e eu trabalhando fora 15 anos e, aos 21, viu sua carteira de sentam 39,4% do total de crianças era uma boca a menos para alimen- trabalho assinada pela primeira vez. e adolescentes ocupados. E se, em tar”, lembra. Aos 30 anos, conheceu o mo- termos numéricos, no trabalho irre- Naquela casa, ela não tinha vimento sindical, que mudou sua gular fora de casa são os meninos as salário. Trabalhava duro o dia inteiro vida. Aliou-se a outras mulheres que, principais vítimas, é no interior das e não ia à escola, apesar da promessa como ela, tinham ânsia de mudar a residências que as meninas perdem feita nesse sentido à sua mãe. Aos própria realidade e passou a lutar sua infância e a chance de usufruírem 16 anos, conseguiu frequentar o por respeito e dignidade. Em 1990, um amadurecimento saudável. Um antigo Movimento Brasileiro de fundou o Sindicato dos Trabalha- labor invisível, de difícil fiscalização, Alfabetização, o Mobral, como era dores Domésticos da Bahia. Atuante sobretudo quando executado dentro conhecido. Diz ela: “Terminei com também na Associação Profissional do próprio lar, sendo até aceito so- muito custo. Dormia em sala de aula, das Domésticas, integrou o grupo cialmente. a escola passava dever, mas não dava que conseguiu incorporar direitos “Se no trabalho infantil em geral para fazer. Chegava atrasada porque trabalhistas de sua categoria à Cons- 65% dos envolvidos são do sexo a patroa não permitia sair sem deixar tituição Federal. masculino, a situação muda com- a mesa posta”. Mas, para ela, ainda há muito a pletamente quando se fala do tipo Como ela, muitas das suas colegas avançar, em especial no que se refere doméstico. Aí, as garotas represen- desistiram de estudar. “Era cansativo ao trabalho infantil doméstico. “Eu tam de 70% a 80% dos envolvidos”, e muitas patroas não queriam empre- ainda ouço os mesmos argumen- continua Luiz Henrique. “São ativi- gada que estudasse. Entre o trabalho e tos que ouvia na época em que era dades para as quais as meninas não o estudo, a gente optava por trabalhar. criança e tive que trabalhar. Dizem estão preparadas, que só podem ser Era onde a gente morava. Eu não que é melhor trabalhar que ficar de- exercidas por adultos, já que reque- tinha como voltar para a casa dos socupada, fazendo besteira. Quando rem força física e a criança não está desenvolvida para tal”, acrescenta a secretária executiva do Fórum Na- cional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil (FNPeti), Isa Campanato/Abr : Valter Foto Oliveira. Além de atrapalhar o de- senvolvimento cognitivo, a atividade doméstica expõe a criança ao risco de acidentes, como queimaduras, intoxicação, entre outros. São muitas e muitas histórias vividas assim. Histórias marcadas pelo machismo e pela violação de direitos, histórias que parecem não ter fim.

Creuza Maria Oliveira: sobrevivência a levou ao trabalho doméstico ainda menina

CNTE - Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação Março de 2013 Mátria TRABALHO INFANTIL 14 a menina entra na adolescência, porta e deixar a menina com a res-

afirmam que, se não trabalhar, vai ponsabilidade. O trabalho doméstico : UnB Agência ter tempo livre para namorar. Ainda é muito penoso, só aparece quando Foto acham que é natural”, lamenta. não está feito. Todas as meninas que Hoje ela atua como presidenta começam muito cedo, tornam-se da Federação Nacional das Traba- adultas mais cedo. A criança tem que lhadoras Domésticas (Fenatrad). Foi brincar, tem que imaginar”, explica reconhecida em 2011 com o Prêmio Isa Oliveira. Direitos Humanos, de iniciativa do Governo Federal, tendo sido também Tênis, videogame e celular finalista do Prêmio Cláudia 2012, na A região Nordeste, onde havia categoria Trabalho Social, promovi- maior exploração da mão de obra do por essa revista da Editora Abril. infantil em 2000, foi a única a tem mais efetividade. Em Brasília, “Participar da luta sindical repre- reduzir o problema em todas as por exemplo, onde o custo de vida sentou o resgate da autoestima e é, faixas de idade. Já as demais regiões é bem mais elevado, o Bolsa não para mim, a busca por igualdade de apresentaram dados alarmantes, consegue arcar com as necessidades”. gênero, de raça”, afirma. principalmente entre a população Há que se considerar, no entanto de 10 a 13 anos. que, de acordo com o chefe da Ajudar não é trabalhar Na avaliação do assistente social Divisão de Fiscalização do Trabalho Sobre essa temática, é preciso Vicente Faleiros (foto acima), fun- Infantil do MTE, a subsistência não atentarmos para diferenças que a dador do Centro de Referência, é mais o principal motivador para o perpassam. Nem toda a colaboração Estudos e Ações sobre Crianças e ingresso prematuro no mercado. “O em casa é considerada trabalho in- Adolescentes (Cecria) e pesquisa- Censo revelou que a grande maioria fantil doméstico. Ajudar nas tarefas dor de questões ligadas ao trabalho está trabalhando porque quer um diárias, sob supervisão de um adulto, infantil, o programa de transferência tênis, um videogame, um celular ou é até saudável para o desenvolvimen- de renda Bolsa Família é um dos algo do tipo. Essa constatação exige to da criança. “Acho que as famílias, responsáveis pela diminuição dos mudanças na forma de o governo independentemente do estrato de índices de trabalho infantil no Nor- agir.” Lopes adianta que, para res- renda, devem promover a participa- deste. “É uma região com custo de ponder às novas necessidades, o Peti ção. Quando se faz isso em família vida mais baixo, em que esse tipo passará por reformulação, a ser anun- vira festa. Outra coisa é fechar a de política pública, com esse valor, ciada ainda no começo deste ano. : Val Lima : Val Foto DF é a única unidade da federação com aumento generalizado da exploração de mão de obra infanto-juvenil. 22.830 para 29.618 indivíduos de 10 a 17 anos 1.709 para 4.776 indivíduos de 10 a 13 anos (variação de 179,46%)

Fonte: censo IBGE/2010

Mátria Março de 2013 CNTE - Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação TRABALHO INFANTIL Imagem da campanha Ela 15 Não brinca em Serviço, Felicidade do Centro Dom Helder O nome dela lembra felicidade, Câmara de Estudos e Ação Social (Cendhec) mas sua história de pobreza e trabalho duro fez com que esse sentimento ficasse distante de sua história. Felis- mina começou a lida tão cedo que nem sabe quando ao certo. Com a mãe e outras mulheres e meninas da família, fabricava redes para vender. O município era Jardim de Piranhas, com pouco mais de 13 mil habitan- tes, localizado a 330 quilômetros da capital do estado, Rio Grande do Norte. Na adolescência, a menina foi inscrita no Programa de Erradica- ção do Trabalho Infantil (Peti) que, sob a coordenação do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), centraliza as ações governamentais nessa área. Em ati- vidades no contraturno da escola, aprendeu sobre cidadania, esporte, música. Mas a nova perspectiva trans- formou-se em frustração. Aos 16 anos foi levada a se aposentar. A coluna se ressentiu do esforço provocado pela atividade precoce. Mesmo assim, continuou a trabalhar em atividades difíceis e sacrificantes, já que não conseguiu êxito nos estudos. Agora, aos 27 anos, Felismina costuma contar sua história para outras pessoas. Fala de sua deses- perança, para que outras meninas não repitam sua trajetória. Nessa perspectiva, foi palestrante em uma atividade promovida pela Superin- tendência Regional do Trabalho no Rio Grande do Norte.

Odara Em yorubá, língua de uma das nações africanas chegadas ao Brasil durante a escravidão, odara significa belo. Esse é o nome de uma menina que, aos 10 anos, foi retirada por fiscais do trabalho, junto com sua : Reprodução Flávio Costa/Zdizain Comunicação

Foto família, de uma propriedade rural,

CNTE - Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação Março de 2013 Mátria TRABALHO INFANTIL 16 uma fazenda próxima do quilombo

onde nasceu, na Bahia. Odara cozi- : Renato Alves nhava para a família e cuidava dos Foto irmãos menores enquanto o pai e a mãe trabalhavam na roça. Todos, na verdade, estavam em situação escrava. Em uma conversa com a chefe de fiscalização, Marinalva Dantas, a menina confidenciou: seu pai pro- metera que ela voltaria a estudar e não precisaria mais trabalhar. A fiscal nunca mais pode estar com Odara, mas nunca esqueceu de “como era linda, como tinha sonhos”. Em 20 anos de trabalho como auditora fiscal do MTE, Marinalva conheceu essas e muitas outras his- tórias. Fiscalizou trabalho escravo, atuou em casas de farinha, feiras livres, plantações. Em função de sua ativi- dade, ela aborda meninos e meninas em todo o estado do Rio Grande Marinalva Dantas: muitas histórias de exploração durante fiscalização do Norte, percebendo claramente que alguns mentem a idade, outros são rostos conhecidos, de tanto que sobre Trabalho Infantil. O evento estuda. São mais de 639 mil nessa já foram abordados. São crianças que reunirá, em outubro, representantes situação. No entanto, no grupo de 15 apenas mudam de atividade, dificil- de vários países para trocarem expe- a 17 anos, 26% dos adolescentes que mente param de trabalhar. riências bem sucedidas e discutirem trabalham não estavam matriculados Para ela, a exploração sexual é a desafios ligados à erradicação do na escola. Entre os que não trabalha- atividade mais prejudicial, para dizer problema. vam, o percentual era de 14%. o mínimo. Marinalva preocupa-se Em 2012, foram 7,3 mil ações com a mudança de estratégias da de fiscalização em todo o território rede de exploração, como explica: nacional, as quais resultaram em 6 “Os estrangeiros agora usam menos mil crianças afastadas de experiências O número de denúncias os hotéis. A exploração está acon- de trabalho. O País conta ainda com de violações de direitos tecendo também em domicílios”, um Plano Nacional de Combate ao humanos, feitas por denuncia. Trabalho Infantil, vigente até 2015, e meio do Disque 100, Mas nem todas as histórias com uma comissão, formada por 15 alcançou 155.336 de têm final triste. “Muitos meninos ministérios, cujo objetivo é combater e meninas conseguem parar de a prática ilegal e erradicar suas piores janeiro a novembro de trabalhar, melhoram nos estudos, formas em território nacional até 2012. Aumento de 77% garantem um futuro onde existam 2016, meta assumida perante a Orga- em relação ao mesmo mais oportunidades. O apoio tem nização das Nações Unidas (ONU). período de 2011. Desse que ser à família, não só à criança. Para a secretária executiva do FNPeti, total, 77,5% (120.344) Tem que envolver renda, consciência. tais medidas ainda não são suficien- relacionadas a violações Tem que ser integral”, pondera.Os tes para realizar o compromisso. Até de Direitos Humanos de dados do Censo foram divulgados no porque, o quadro exige grandes mu- período em que o Brasil se prepara danças: ao todo, 90% da população de Crianças e Adolescentes.

para sediar a III Conferência Global 10 a 13 anos que trabalha também Fonte: SDH/BR

Mátria Março de 2013 CNTE - Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação MULHERES NO PODER 17

Um recorde na direção certa Nas últimas eleições, mulheres conquistaram 12,1% das prefeituras em todo o país. O melhor resultado da história

las são brasileiras, têm entre das vagas disponíveis. Esses números, considerando que as eleições ocorrem E 22 e 67 anos, ocupam as mais embora baixos, são recordes na história a cada 4 anos. “Se formos nesse ritmo, variadas funções, estão espalhadas brasileira. O percentual de candidatas estamos avançando de uma forma por 26 estados e desde o dia 1o de do sexo feminino também aumentou, muito lenta e gastaremos 148 anos janeiro comandam 663 cidades do crescendo 21,3% no ano de 2012, em para atingir a paridade”, avalia José país, o equivalente a 12,1% do total relação a 2008. Eustáquio. “É muito insuficiente, dada de municípios. Resultado melhor do De acordo com o demógrafo a importância da inserção das mulhe- que os 9,1% registrados em 2008. e professor titular do mestrado em res”, lamenta. As eleições de 2012 mostraram Estudos Populacionais e Pesquisas Lei – As eleições municipais de as mulheres cada vez mais presentes Sociais da Escola Nacional de Ciên- 2012 destacaram-se por terem sido as na vida política do Brasil, ampliando cias Estatísticas (ENCE/IBGE), José primeiras sob a vigência da Lei No sua participação quando o assunto é Eustáquio Diniz Alves, tais números 12.034/2009, cujo conteúdo deter- disputar o voto do eleitor. O último representam, sem dúvida, um avanço mina que “cada partido ou coligação, pleito revelou o crescimento da par- a serem até comemorados, mas sobre preencherá o mínimo de 30% e o ticipação feminina. O País registrou eles devem ser feitas algumas ressalvas. máximo de 70% para candidaturas um aumento de prefeitas eleitas, 31,5% Um século e meio – Vinte de cada sexo”. Foi também o primei- a mais do que nas eleições de 2008. anos se passaram (de 1992 a 2012) ro pleito depois da eleição de uma Quando o assunto é o total de ve- e a participação feminina saiu de 7% mulher para a presidência do Brasil. readoras eleitas, as estatísticas também atingindo 13% no período, o que sig- Na avaliação da deputada Janete indicam ampliação da participação nifica 1% de acréscimo a cada eleição, Rocha Pietá (PT-SP), coordenado- feminina, tendo o total de mulheres faltando, portanto, 37% para os 50%, ra da bancada feminina da Câmara, alcançado 7.648, representando 13,3% a serem conquistados vagarosamente, a eleição de Dilma Rousseff para a

CNTE - Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação Março de 2013 Mátria MULHERES NO PODER 18 Presidência da República motivou aumentarem o número de candidatas? que cuidar dos filhos e, em nome muitas mulheres a participarem mais É preciso pensar ainda que o resultado da família, acabam abrindo mão de ativamente da vida política. “A pre- das urnas revelou o longo caminho uma carreira profissional”, diz ele. sidenta Dilma é referência e o Brasil que se tem pela frente até a paridade. E completa: “a política exige maior vive um momento novo com a sua Para o professor José Eustáquio, a dedicação e, na medida em que os eleição”, analisa. pergunta é intrigante, já que a mulher homens estão desobrigados cultural- Efeito Dilma – A deputada conseguiu avançar em várias áreas – mente desses cuidados diários, podem Benedita da Silva (PT-RJ), membro educação, saúde, esportes, cultura –, assumir cargos políticos com mais fa- da Comissão de Seguridade Social não obtendo o mesmo êxito na po- cilidade, cargos que, em geral, exigem e Família da Câmara Federal, ressal- lítica. Segundo ele, isso se dá porque viagens de afastamento, reuniões”. tou serem os resultados das últimas existe uma barreira por parte dos eleições “um recorde que deve ser partidos. O pesquisador começou a comemorado por todas nós, mulhe- estudar o tema há 20 anos, e na época res, que representamos a maioria da uma de suas indagações era “se o elei- população”. torado discrimina a mulher”. Outra Quanto a isso, uma pergunta é de suas questões dizia respeito a “se pertinente e merece nossa atenção: mulher não vota em mulher”. por que essa maioria não se reflete Uma hipótese, segundo ele, era no meio político onde foi preciso que o eleitorado não votava em criar uma lei obrigando os partidos a mulher e a outra era que existia uma Curiosidades – barreira para as mulheres chegarem ao eleições 2012 eleitorado. A primeira, sabemos bem, vários institutos de pesquisa e o resul- Das 138.599 candidatas, 143 Ranking da tado das últimas eleições presidenciais concorreram respaldando-se no apoio da presidenta Dilma. participação das trataram de derrubar. mulheres nos Barreiras – Em 2010, dos 9 can- Pelo menos 45 cidades brasileiras tiveram apenas mulheres Parlamentos didatos a presidente, 7 eram homens e duas eram mulheres (Dilma Rousseff concorrendo para prefeito. e Marina Silva). Apesar dessa diferença, Minas Gerais foi o estado Média mundial: 20%, juntas, no primeiro turno, elas obti- com maior número de Países nórdicos: 42% veram 2/3 dos votos. Quanto a esse prefeitas eleitas – 71. Alguns países em fato, o professor José Eustáquio con- São Paulo ocupa o segundo desenvolvimento já tinua sua análise: “eu já pesquisei em lugar, elegendo 67 prefeitas. outros países e não vi nenhum onde registram 40%. Outros Acre foi o único estado que não atrasados,como Angola as mulheres tenham conseguido tantos votos num primeiro turno (67%). E elegeu representantes do sexo (34,1%), Moçambique feminino para o cargo de prefeito. se se vota em mulher para presidente (39,2%) e Bolívia da República, por que não se vota As mulheres obtiveram melhores (25,4) tem índices para prefeito ou vereador?”, questiona. resultados na Paraíba onde significativos. A barreira, portanto, estaria nos dois em cada 10 prefeitos eleitos são mulheres. FONTE: Inter-Parliamentary Union - IPU - 186 países pesquisadose Bolívia (25,4). partidos políticos, segundo o profes- sor. “Não existe nenhum partido que Por partidos, a maior parte das tenha presidenta mulher e essa falta de mulheres eleitas é do PMDB (122), estrutura partidária faz com que exista seguido pelo PSDB (95), PT (67), um fenômeno desse tipo”, lembrou. PSD (56), PSB (51) e PP (44). Outro ponto que tem dificultado Nas capitais, apenas uma a participação mais efetiva das mulhe- mulher foi eleita: Teresa Surita res na política é a questão da divisão (PMDB) conquistou a prefeitura sexual do trabalho. “As mulheres têm de Boa Vista, com 39,26%.

Mátria Março de 2013 CNTE - Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação artigo A trajetória das mulheres 19 na história do Brasil As mulheres brasileiras têm uma bela trajetória de luta e suas vitórias resultam da sua mobilização, pressão e Liège Rocha reivindicações, e em seu caminhar vêm sempre contando Secretária Nacional com o apoio de outros segmentos avançados da sociedade. da Mulher/PCdoB e Conselheira do Conselho Nacional dos Direitos da primeira legislação relativa à educação ganização do Movimento Feminista pela Anistia e Mulher (CNDM) A de mulheres – bastante restrita – surgiu do Comitê Brasileiro pela Anistia); no século IXI (1827), permitindo às meninas »» Participação de mulheres brasileiras durante a rea- frequentarem apenas escolas elementares. Foi lização da I Conferência Mundial sobre a Mulher, também nesse século que surgiu a imprensa México – 1975); feminina (O Jornal das Senhoras, em 1852; »» Criação de grupos de reflexão, surgimento dos e O Sexo Feminino, em 1873. E, no final Centros Brasileiros da Mulher e organização, no do ano de 1889, algumas feministas deram início da década de 80, dos grandes Congressos da início à luta pela igualdade de direitos e pela Mulher Trabalhadora, com o retorno das mulheres conquista do voto, por entenderem que “o exiladas, em 1979; voto não seria apenas um instrumento para alcançar »» Nessa mesma década – criação de Conselhos e De- o progresso feminino, mas também um símbolo dos legacias da Mulher, culminando com promulgação O voto direitos de cidadania”. da Constituição de 88; ressurgimento de jornais fe- não seria Nesse processo, o século XX é ímpar no ministas (Brasil Mulher e Mulherio); e criação dos desenvolvimento do movimento das mu- Clubes de Mães, do Movimento Contra a Carestia apenas um lheres, tendo-se tornado conhecido como o e do Movimento por Creches. instrumento século das mulheres. Senão, vejamos: »» Eleições de 1982 – influência das mulheres organi- Em 1922 – criação da Federação Brasi- zadas para inclusão de suas reivindicações nas plata- para alcançar leira pelo Progresso Feminino. formas políticas dos candidatos. o progresso No mesmo ano – realização da Semana »» 1983 – em governos do PMDB, surgimento dos de Arte Moderna, com destaque para Anita primeiros Conselhos de Defesa dos Direitos das feminino, mas Malfati e Tarsila do Amaral como expressões Mulheres, em São Paulo e Minas Gerais, com vistas também um marcantes no cenário cultural brasileiro da época. a propor políticas públicas para as mulheres. Em 1932 – luta das sufragistas, con- »» 1985, em São Paulo – criação da primeira Delegacia símbolo dos quistando o direito ao voto, no contexto da de Defesa da Mulher, impulsionando a discussão so- direitos de Revolução de 30, e garantindo direitos das bre a necessidade de políticas públicas para enfrenta- mulheres trabalhadores num capítulo espe- mento do problema da violência contra a mulher. cidadania. cífico da Consolidação das Leis do Trabalho »» Durante o processo da Assembleia Nacional Cons- (CLT). tituinte – atuação ativa das mulheres, apresentando De 1964 a 1985 – luta contra o regime emendas, por meio do “lobby do batom”, com ca- militar e pelas liberdades democráticas: ravanas à Brasília e com o Manifesto aos Consti- tuintes. »» Participação de mulheres na Guerrilha do Araguaia (com a presença de Helenira Resende, Maria Lúcia 1988 – Nova Constituição – inclusão Petit, Dina Monteiro, Dinaelza, dentre outras); dos seguintes pontos na Carta Magna: a) no »» Protagonismo no processo da luta pela Anistia (or- Art. 5º, Inciso I – homens e mulheres são iguais

CNTE - Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação Março de 2013 Mátria artigo 20 em direitos e obrigações; b) no Art. 7º, Inciso XVIII – direito O contexto da época mostra-se favorável a que as mulheres à licença da gestante (120 dias), sem prejuízo do emprego avancem na educação, no trabalho, na luta democrática. e do salário; c) no Inciso XX – proteção do mercado de 2003 (1º de janeiro) – criação, por meio da Medida trabalho da mulher; d) no Inciso XXV – assistência gratuita Provisória No 103 (Art.54 – Parágrafo Único), da Secretaria aos filhos e dependentes desde o nascimento até seis anos de Especial de Políticas para as Mulheres, conquista bastante idade em creches e pré-escolas; e) Inciso XXX – proibição importante, garantindo a transversalidade de gênero nas de diferença de salários, de exercício de funções e de critério políticas públicas. de admissão por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil. Hoje – inquestionável o avanço da participação política 1989, em São Paulo (governo Luiza Erun- das mulheres e obtenção de expressivas conquistas: dina) – criação da 1ª Coordenadoria da Mulher, que »» Lei Nº 10.778 , de 23 de novembro de 2003 – que estabelece a notifi- no ano seguinte instala a Casa Eliane de Grammont, para cação compulsória, no território nacional, de casos de violência contra atendimento multiprofissional a mulheres envolvidas em a mulher que for atendida em serviços de saúde públicos ou privados. situação de violência. »» Lei No 11.340/06, conhecida como Lei “Maria da Penha”, sancionada Década de 90 – enfrentamento pelas mulheres das pelo Presidente da República no dia 7 de agosto de 2006 – determinan- consequências do projeto neoliberal (privatizações, sucate- do que, desde então, todo caso de violência doméstica contra a mulher amento dos serviços públicos, precarização do trabalho...) passa a ser considerada crime. com mobilização, sob o lema “O neoliberalismo é anti- »» Minirreforma eleitoral de 2009 – que garante que 5% do fundo par- -feminista”. tidário sejam destinados à formação das mulhe- Ainda nessa década – partici- res; 10% do tempo da propaganda dos partidos pação na promoção das Conferências na TV sejam destinados às mulheres; e 30% de Mundiais, organizadas pela ONU vagas sejam ocupadas por mulheres nas chapas (ECO 92; Direitos Humanos – Viena Superar a sub- concorrentes. 83; Cairo 94; e Beijing 95), investindo representação nos em que o Estado assuma as políticas As mulheres avançaram na edu- públicas para as mulheres. espaços de poder e cação, tendo um nível de escolaridade 1996 – por influência dos decisão como uma superior ao dos homens. Cresce, a cada ventos de Beijing – instituição das questão fundamental ano, a presença feminina no mercado cotas de 30% a 70% para cada sexo na de trabalho. É uma realidade incon- composição das chapas majoritários para o fortalecimento testável o papel da mulher na luta dos partidos políticos. da democracia. democrática. E na eleição da 1ª Presi- Nesse mesmo ano – realização denta da República, cujo significado da campanha “Mulher sem Medo do é emblemático no subjetivo de todas Poder”, que mobilizou mulheres de norte a sul do País nós, as mulheres foram atrizes extremamente importantes. nas ruas, em cursos para pré-candidatas, em campanhas de Toda a crescente participação política das mulheres filiação de mulheres em praça pública. nos vários espaços da sociedade brasileira vincula-se, evi- Após toda essa trajetória de luta e conquistas, o século dentemente, à luta das próprias mulheres para garantir e XXI encontra ambiente propício à continuidade do mo- ampliar suas conquistas, mas outros fatores também dão-lhe vimento. E as mulheres prosseguem sua caminhada, de sustentação: as mudanças sociais, políticas e culturais, uma maneira incessante e firme, gerando novas ações: nova visão de mundo, o nível de escolaridade e a queda da 2002 (junho) – realização em Brasília, sob a respon- taxa de fecundidade. sabilidade de onze organizações/articulações de mulheres, Temos, enfim, que são muitos os desafios colocados para da Conferência Nacional de Mulheres Brasileiras, que as mulheres nos dias de hoje – superar a sub-representação aprovou a Plataforma Política Feminista, divulgada para a nos espaços de poder e decisão como uma questão funda- sociedade brasileira e entregue aos candidatos à presidência mental para o fortalecimento da democracia, romper com da República. os preconceitos e as desigualdades, contribuir para a garantia 2003 (Governo Lula) – vigência de um momento de da laicidade do Estado, perseguir a autonomia econômica esperança para os oprimidos e excluídos, na busca de novos e exigir a democratização da mídia – para que se trilhe um caminhos de transformação para o Brasil, com a expectativa caminho que leve à construção de uma sociedade mais de aprofundamento da construção da democracia brasileira. justa e igualitária.

Mátria Março de 2013 CNTE - Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação MULHERES NA WEB 21

Sociedade 3.0

Como a internet pode contribuir para a propagação do machismo tradicional e ao mesmo tempo ser um campo aberto de discussão

egundo dados do Ibope, apro- contingente tão amplo e tão plural de alguma mudança quanto à mentalidade S ximadamente 94 milhões de pessoas pudesse representar uma única machista, patronal e fálica hegemônica brasileiros acessaram a internet em posição ou uma tendência específica, na sociedade? Como a rede repercute 2011, fazendo com que o Brasil fosse seja em termos de visão de mundo, de a sociedade e essas suas facetas? considerado o quinto país mais co- preferências dos mais variados tipos Para o grupo que conduz o site nectado do mundo. Além disso, 51 ou de qualquer característica comum. Blogueiras Feministas (http://blo- milhões de pessoas usam a internet Outra, é a que nos faz relembrar que, gueirasfeministas.com/), coletivo de regularmente e estamos na liderança desde que a internet começou a estar mulheres que se uniram para pensar em termos de média de tempo em disponível e acessível no Brasil, em as relações de gênero, refletindo sobre que permanecemos conectados: 69 meados dos anos 90, a web trouxe, suas implicações e buscando disse- horas, por pessoa, durante a semana. como em todo o mundo, a expectativa minar questões ligadas ao tema: “a Nenhum outro povo passa tanto de ser uma plataforma de revolução do sociedade está em constante mudança. tempo conectado, em média, quanto conhecimento e da mídia, impactando Porém, ainda vivemos numa sociedade o brasileiro. as relações humanas em geral. Tendo machista, cujas manifestações caracte- Tais números levam a algumas isso em mente, seria possível afirmar rizam o seu status quo. Sociedade, cujo reflexões: uma delas diz respeito que, por meio da web, como reflexo acesso à internet é mais disseminado a que seria difícil afirmar que um direto da sociedade, houve realmente entre as classes média e alta. Então, o

CNTE - Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação Março de 2013 Mátria MULHERES NA WEB 22 Blogueiras feministas: militância tradicional ou fora dela. Isso depende também nas ruas de quais espaços, zonas e comarcas da : Divulgação internet tenhamos como referência. Foto “O que ela torna possível é uma in- teratividade na qual esses preconceitos podem ser interrogados mais efetiva- mente que nas mídias gutemberguiana e televisiva, notadamente mais unidi- recionais. Em outras palavras, ela tem, sim, ante as mídias anteriores um grau inédito de multidirecionalidade, que traz à circulação social dos signos um elemento desestabilizador, renovador”, pondera o pesquisador. que vemos na web, mais do que mu- políticas etc.). Acho mais produtivo danças, são novos espaços para diálogo. entender a rede assim”, afirma. Ao mesmo tempo em que surgem grupos claramente anti-feministas, Mulher objeto? "Se você visitar misóginos, homofóbicos, lesbofóbicos Para as blogueiras feministas, o e transfóbicos, vemos muitas pessoas conceito de “mulher objeto” já não as caixas de chegando até nós curiosas para en- é capaz de abarcar a complexidade comentários dos tender melhor o feminismo.” das questões nelas envolvidas. “As Em 2 anos de atividade, o grupo diferentes possibilidades de relaciona- grandes portais, reúne mais de 600 pessoas no seu mentos afetivos e sexuais, o desejo de por exemplo, você fórum de discussão, com 700 artigos serem donas de seus próprios corpos terá uma impressão publicados, os quais foram escritos e até mesmo a arte são alguns dos por mais de 80 autores diferentes. elementos que contribuem para o de que o estado de Para o escritor e pesquisador Idelber debate. O que podemos fazer é ana- coisas realmente Avelar, por muitos anos responsável lisar o contexto em que uma mulher pelo blog “O Biscoito Fino e a Massa” está inserida”, lembram. Até porque, existente na http://www.idelberavelar.com/, co- apesar da internet se constituir como população é muito laborador da revista Fórum e autor mídia relativamente nova e autônoma, dos livros “Alegorias da derrota” e ao contrário de se mostrar capaz de mais reacionário e “Figuras da violência”, a rede cumpre conseguir pluralizar o debate e trazer preconceituoso do um papel, junto à sociedade, maior do uma abordagem diferente daquela que que o suposto, indo além de mera- é apresentada na mídia tradicional e que de fato é". mente refleti-la de forma direta. “Se na publicidade, acaba por repeti-la. “O você visitar as caixas de comentários problema não é a ‘mulher objeto’ em Idelber Avelar, escritor e pesquisador dos grandes portais, por exemplo, si, mas o contexto em que ela é apre- você terá uma impressão de que o sentada e os usos que se fazem de sua estado de coisas realmente existente imagem e dos estereótipos reproduzi- : Divulgação Foto na população é muito mais reacioná- dos e estigmatizados, que acabam por rio e preconceituoso do que de fato prejudicar todas as mulheres”, afirma é. Já em outros espaços online (redes Bia Cardoso, integrante das Blogueiras sociais, blogs), você encontrará uma Feministas. dinâmica distinta. É melhor pensar Para Idelber, a web não se mostra o próprio social como algo também nem mais imune nem mais presa aos construído online, numa interação preconceitos e vícios de linguagem de forças (retóricas, interpretativas, perpetuados no interior da mídia

Mátria Março de 2013 CNTE - Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação MULHERES NA WEB 23 Da web para as ruas Fotos : Bianca Cardoso Surgido em 2011, no Canadá, depois de uma série de casos de abusos sexuais ocorridos na Universidade de Toronto, o movimento “Slut Walk” ganhou repercus- são em outras partes do mundo, batizado de Marcha das Vadias, reivindicando res- peito às mulheres e ao direito de fazerem o que quiserem com seu corpo. “O debate evoluiu em alguns pontos, como o assédio nas ruas e a discussão em torno da culpa- bilização da vítima em casos de violência sexual. A Marcha das Vadias acaba sendo o grande movimento que sai da rede para as ruas. É uma manifestação clara de que as mulheres, em sua maioria jovens, querem ser respeitadas e também representa uma reivindicação dos espaços da cidade por essas mulheres”, afirma Bia. Outro assunto que costuma pautar a atuação das blogueiras, em particu- lar, e a discussão na web, em geral, é o aborto, o qual enfrenta forte resis- tência por parte do conservadorismo político, religioso e de entidades, país afora. Também quando da aprovação da Lei Maria da Penha, em 2006, os blogs atuaram diretamente no debate, não só por meio de posts, mas também partici- pando de discussões com parlamentares e contribuindo para atrair a atenção da mídia e para conquistar a pressão do público. Idelber acredita que esse papel é difícil de mensurar, considerando que tal participação vai além do ativismo puro e simples. “O papel da escrita em primeira pessoa durante a disseminação de grande número de blogs de mulhe- res, num período curto de tempo, em si, é um fenômeno que se constitui num acontecimento político a ser entendido. Acho inclusive que os blogs experien- ciais de mulheres, não ativistas, naquele momento particular da aprovação da Lei Maria da Penha foram muito mais importantes politicamente”, conclui.

CNTE - Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação Março de 2013 Mátria ARTIGO 24 Nossa santa guerra!

O século passado foi marcado por grandes lutas e grandes conquistas das mulheres em torno dos seus direitos. Isis Tavares Neves ma breve retrospectiva a respeito, Estudo feito pelas organizações Plan Secretária de Relações U permite-nos encontrar, mesmo invi- International e Overseas Development Institute, de Gênero da sibilizado pela história oficial, o relevante papel utilizando dados do Banco Mundial, aponta Confederação Nacional das mulheres nas mais variadas áreas – na para a realidade de que em diversos países dos Trabalhadores em política, nas artes, nas ciências, no trabalho, – sejam eles mais ou menos atingidos pelos Educação (CNTE) e Conselheria do CNDM na educação, nos esportes –, o que trouxe efeitos da crise –, as mulheres e meninas são as significativos avanços para a Humanidade. mais sacrificadas. Os cortes nas políticas sociais As conquistas, bem sabemos, avançam de saúde, educação, moradia etc., além da de maneira subordinada à conjuntura po- redução dos benefícios, trazem consequências lítica e econômica. Até porque, em tempos perversas tanto para umas como para outras: de democracia e crescimento econômico, aumenta a mortalidade infantil, em especial de os movimentos sociais conseguem maior meninas antes dos 5 anos de idade; torna-se interlocução com os patrões e com o poder debilitada a alimentação das mulheres, em público. função das necessidades da família; acirra-se Nessa perspectiva, iniciamos o ano de a dificuldade financeira, gerando, inclusive, a As mulheres 2013 de modo semelhante ao dos anos ante- exploração sexual e a prostituição de mulheres podem ser o riores: lutando pela reafirmação das conquistas e menores; ampliam-se todas as formas de alcançadas e na defesa intransigente de outras violência. principal alvo tantas, a serem ainda concretizadas – os direitos Mas os efeitos da crise não param por aí. nessa guerra sexuais e reprodutivos, o direito a se contar Uma outra guerra maior está instalada. Trata- histórica e com mais mulheres nos espaços de poder, o -se da guerra ideológica contra os avanços e direito à autonomia econômica, o direito à conquistas das mulheres. É quando se observa ideológica democratização dos meios de comunicação; que representantes dos setores mais atrasados por manter enfim, levando adiante a nossa luta, já secular e reacionários valem-se deste período de e histórica, por igualdade. crise para tentar “reorganizar” a sociedade. as mulheres É preciso, no entanto, considerar que há Faltam empregos? São os homens, então, que na esfera alguns anos, acoplada à crise econômica global devem ter prioridade, pois não tem TPM, não – que vem provocando um rearranjo político precisam de licença maternidade, e licença do privado, e econômico no mundo –, surgem, em nível paternidade nunca foi prioridade. Aumentou a afastadas mundial, uma ameaça não só aos avanços e exploração sexual de crianças e adolescentes? direitos já conquistados, mas à própria luta É por culpa das mulheres que abandonam seus de ações das mulheres. lares em busca insana de sucesso profissional, políticas. Tal ameaça não passa incólume ao mo- autonomia financeira e poder! vimento das mulheres e provoca reações. Na Aliada a isso, tem lugar a nova reestrutura- Europa, por exemplo, movimentos sociais ção produtiva que explora o trabalho imaterial tentam organizar trabalhadores e trabalhadoras, e produz uma exploração mais perversa, pois estudantes, contra a ofensiva da direita que se apossa da subjetividade dos trabalhadores penaliza a população com medidas para salvar e trabalhadoras, nos espaços e tempos mais o grande capital. improváveis, sob a aparência de que se está

Mátria Março de 2013 CNTE - Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação ARTIGO 25 dando maior liberdade para as pessoas. Cada qual faz Mas tais discursos de convencimento não se resumem seu horário de trabalho, conquanto esteja disponível de às mulheres que desempenham papel de lideranças de acordo com a necessidade da empresa. Lazer, privacidade, igrejas. Também mulheres incluídas no rol das chamadas vida em família estarão condicionados à hora em que a celebridades – vinculadas ao mundo dos esportes, da música empresa, direta ou indiretamente, precisar do trabalhador. e até da política –, têm dado declarações bastante atrasadas, Ou seja, a sua presença física não é necessária 24 horas, podemos dizer dignas da era medieval, em referência ao mas a presença da empresa e da natureza do seu trabalho papel das mulheres na sociedade. A gravidade da questão em sua mente e, consequentemente, em sua vida, passa a está em que falas assim, em maior ou menor grau, podem ser algo inexoravelmente constante. criar estereótipos e expectativas em milhares de jovens, em Acusadas pelas religiões de serem responsáveis pelas seu processo de formação de valores. mazelas da sociedade por tentarem “ser iguais” aos homens, É digna de nota a declaração da esposa de um famoso tornam-se alvos fáceis e são incentivadas a buscar trabalhos jogador, afirmando que, quando um homem trai, a culpa que não as afastem dos cuidados com o lar, com os filhos sempre é da mulher e que, se um dia fosse traída pelo e com os maridos. marido, com certeza a culpa seria dela, algo de errado ela Para dar suporte a tudo isto, a “palavra” entra em deveria estar fazendo e cabia a ela descobrir o quê. cena. Multiplicam-se nas redes sociais Outros discursos conservadores e vídeos de mulheres religiosas preocu- reacionários juntam-se a esse. É o caso padas com a crise, o desemprego e suas da redução das bandeiras de maior consequências para a autoestima dos Queremos um democracia que incluem os direitos homens. Somente dos homens. Suas sexuais e reprodutivos e, nesse bojo, conclusões, a partir de “debates” entre mundo melhor onde a laicidade do Estado que, como tal, elas mesmas, são de que hoje os pais os interesses de deveria garantir políticas públicas de estimulam suas filhas a terem com- enfrentamento ao aborto clandestino, promissos em estudar, em frequentar pequenos grupos com motivo de morte de milhares de mu- faculdade, em ter uma profissão, em grandes poderes não lheres e adolescentes. adquirir carro, depois um apartamen- Hoje, apesar de termos vencido to, e perguntam-se: e o casamento? determinem quem séculos de violência, dominação e Alguém está preocupado em prepa- é de primeira ou de opressão e estarmos ocupando cada rar suas filhas para o casamento? Para vez mais espaços de poder e decisão, serem as edificadoras do lar, represen- segunda categoria. seja na política, na academia, nas artes, tantes da moral e dos bons costumes? enfim, de termos uma presidenta e E essas líderes religiosas vão mais além, indagando: que muitas valorosas mulheres atuando bravamente no mundo mulher é essa que estamos criando? Os homens estão se inteiro, esse é apenas um lado da questão. Ainda hoje, temos tornando apequenados, subjugados pelo ego sem limites nossa imagem explorada e rebaixada a mero objeto sexual, de suas esposas ou futuras esposas. O homem retorna à não raras vezes, tidas como figuras apáticas ou desprovidas casa depois de um dia de trabalho e ainda se vê obrigado de raciocínio e opinião própria. a dividir tarefas porque sua esposa também acabou de Longe de não nos importamos com nossas famílias, chegar do trabalho, ou ainda não chegou. E elas concluem: filhos e filhas, queremos construir um mundo melhor o homem deve ser e se sentir superior à mulher, pela para os filhos e filhas de todas as famílias. Queremos um simples “razão” de que ele é mesmo superior. Porque mundo melhor onde os interesses de pequenos grupos com assim está escrito. grandes poderes não determinem quem é de primeira ou A ideia dominante é de que feministas são mulheres que de segunda categoria. E, principalmente, um mundo onde tentam transformar tudo em questão política, e geralmente os conceitos de democracia, família, ética, moral, não sejam com fins eleitorais. São mulheres que, além de serem feias, construídos por poucos para serem impostos a milhares. com predominância de características tidas como masculi- Acima de tudo, acreditamos que homens e mulheres nas, são insatisfeitas, têm dificuldades nos relacionamentos, podem construir juntos um mundo onde seja valorizada a sem contar outros tantos rótulos contra elas empregados, cultura da paz, a autodeterminação dos povos, a igualdade, já bastante conhecidos de todos e todas nós. não só no trabalho, mas em seu sentido mais amplo: na Então, guerra ao feminismo e a suas militantes. vida, compartilhada por homens e mulheres.

CNTE - Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação Março de 2013 Mátria INTERNACIONAL 26 : Renato Alves Foto

Rima M Zeid Al-Keilani Diretora-Geral de Educação na Palestina

“A mulher desempenha na sociedade palestina um papel bastante destacado, em todos os aspectos, seja econômico, cultural ou político.”

Por: Edvaldo dos Santos

Mátria Março de 2013 CNTE - Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação INTERNACIONAL 27 urante o Fórum Social Mundial Palestina Livre, rea- Revista Mátria – A senhora poderia co- D lizado em Porto Alegre, de 28 de novembro a 1o de mentar sobre o perfil da mulher palestina dezembro de 2012 – evento que reuniu representações de atualmente? 36 países, em mais de 150 atividades, em torno de questões referentes ao povo e à autonomia palestina, a Confederação Rima Al-Keilani – A mulher desempenha na Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) pro- sociedade palestina um papel bastante destacado, em moveu uma mesa de debate sobre a Educação, com foco todos os aspectos, seja econômico, cultural ou político. nas condições enfrentadas pelos trabalhadores da região. A mulher palestina tem direito de votar e ser votada. Para o presidente da CNTE, Roberto Leão, a educação é Temos mulheres diretoras de banco, atuando em uma forma de resistência à ocupação. “O povo palestino entidades culturais e desempenhando muitas outras mostra que pode viver e aprender a despeito da situação atividades. Eu, por exemplo, sou diretora-geral de em que se encontra. Os grandes problemas enfrentados Educação no Ministério de Educação do meu país. por eles são resultado direto da histórica omissão da ONU Para você ver, recentemente, nós tivemos uma eleição em fazer valer suas resoluções, o que levou a ocupação e para presidente e as mulheres puderam se candidatar. divisão do seu território”, enfatizou Leão. A diretora-geral de Educação da Palestina, Rima M RM – E sobre o aspecto educacional? Como Zeid Al-Keilani, foi convidada por nossa entidade para é a situação da mulher? Existe o deses- participar da mesa de debates. Antes de sua palestra, a revista tímulo ao acesso da mulher à educação? Mátria conversou com Rima para conhecer um pouco da realidade vivida pela mulher palestina, principalmente RZA – Como falei anteriormente, a mulher exerce com relação à sua formação educacional, às dificuldades um forte papel em várias atividades e a educação é para conseguir frequentar a escola num ambiente tão um dos setores onde somos bastante ativas. Explicitei hostilizado pela guerra cotidiana e a como o governo local o meu caso, porque sou a primeira mulher a exercer tem apoiado aqueles que tentam viver dignamente. Bem o cargo de diretora-geral do Ministério, mas temos sabemos que na região do Oriente Médio, israelenses e outros casos de mulheres exercendo cargos de poder. A palestinos vivem uma guerra secular e as tensões perduram atual ministra da educação também é mulher. Hoje, há muitos e muitos anos. nas escolas palestinas, somos 52% de mulheres, Em 1947, a ONU estabeleceu a divisão do território somos, portanto, mais numerosas que os homens. palestino entre judeus que, com seus 700 mil habitantes, Nas universidades, esse percentual chega a 56%. Isso passariam a ocupar 57% das terras, e palestinos, cuja popu- mostra claramente a nossa importância na sociedade. lação de cerca de 1,3 milhão de habitantes viria a ocupar Na área educacional, o percentual de professoras nas os restantes 43% do território. Em 1964, o líder palestino, escolas é maior. No que se refere a diferenças, temos Iasser Arafat, criou a Organização para Libertação da Pa- escolas separadas para meninos e meninas, eles não lestina (OLP) e, apesar dos vários acordos de paz ensaiados, estudam juntos. Estamos, no momento, inclusive, persistem os conflitos na região. Nesse ambiente hostil, os com o problema de falta de professores para as escolas educadores tentam cumprir sua tarefa social, envolvendo masculinas. Tivemos que dar um passo importante os alunos em torno da questão do conhecimento e do nesse sentido, colocando professoras para lecionar para repasse de informações, porém as dificuldades são extremas, meninos. Isso suscitou críticas. como relata Rima. Rima Al-Keilani tem 57 anos, é casada e mãe de dois RM – Bom, falando dos professores, como filhos homens. Ela é a primeira mulher a exercer um é a sua formação, eles são em sua maioria cargo de diretora-geral do Ministério da Educação na formados em escolas superiores? Palestina e nesta entrevista ela destaca os impedimentos de os professores, neste ambiente de conflito permanente, RZA – Nossos professores são preparados nas nossas cumprirem o seu papel, ensinando muçulmanos e cristãos, universidades, dentro da própria Palestina, porém, fazendo-o sob forte e cotidiana pressão psicológica. Aqui, estamos procurando trabalhar melhor a questão peda- ela destaca a importância da mulher palestina nesse contexto gógica que, em nosso entendimento, precisa melhorar. e lamenta o fato de as pessoas se lembrarem do seu país Estamos buscando tal possibilidade fora da Palestina, apenas como região de conflito. com professores vindos de outros países para atuar

CNTE - Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação Março de 2013 Mátria INTERNACIONAL 28 Nas ruas de Porto Alegre, brasileiros fazem passeata em : Renato Alves

Foto favor da Palestina

conosco. Destaco, por exemplo, o traba- conseguem tê-la. A intolerância gera estimulando a que se aceite a opção do lho pedagógico realizado para a inclusão muitos problemas, ocasionando, inclu- outro. E há ainda o seguinte aspecto: de pessoas com deficiência, ou seja, o sive, o fechamento de escolas quando o de termos várias famílias de cristãos preparo de nossos professores para que há alguma manifestação religiosa. Os desejosas de matricular seus filhos em possam atuar junto a esse tipo de aluno. alunos têm muitas dificuldades de escolas muçulmanas, com intenção de Estamos investindo, nesse sentido, na aprendizagem por força dessa pressão garantir o aprendizado na língua árabe. mudança pedagógica do ensino. psicológica. Em Jerusalém, por exemplo, as autoridades tentam sempre apagar a RM – E sobre liberdade de RM – Poderia nos falar sobre história Palestina dos livros estudados informação? Como é tratado o conflito existente na região? pelos alunos. Isso dificulta bastante o pelo governo o acesso a tec- Qual a interferência desse trabalho dos professores. nologias, como a internet? Há conflito religioso na educação? Veja: nas escolas palestinas temos censura no tocante ao acesso dois livros obrigatórios para a formação à informação digital? RZA – Com certeza, o conflito no religiosa – um para os muçulmanos e Oriente Médio interfere muito na edu- outro para os cristãos. E é preciso ainda RZA – O acesso à informação é total- cação. É só pensarmos na existência ter em conta que, fora as duas religiões, mente liberado na Palestina. Não existe do muro da separação na Cisjordânia temos ainda os Ameritas, um grupo nenhuma censura endereçada à informa- impedindo a livre circulação de estudan- pequeno, a ser também considerado, já ção divulgada na internet ou aos meios tes. Com isso, também os professores que cada grupo tem direito de estudar de comunicação. Todos os partidos têm têm muitos problemas quando precisam de acordo com sua religião. Sobre tais direito de manifestar sua opinião e a se deslocar de uma cidade para outra. livros, quero destacar que ambos buscam ter seus meios de comunicação, mesmo Até porque é necessário ter permissão incentivar os valores humanos, comba- que sejam contra o governo. Quando das autoridades e nem sempre eles tendo, assim, a intolerância religiosa e há qualquer ato de opressão das forças

Mátria Março de 2013 CNTE - Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação INTERNACIONAL 29 de segurança, o presidente manda abrir maneira significativa para a promoção causa, pois quando falam da Palestina inquérito para apurar responsabilidades. da paz no Oriente Médio. Isso vai sempre enfatizam o conflito que nos influenciar, por exemplo, os alunos acomete. Ninguém quer saber da vida RM – Como a senhora vê o que vão estudar fora da Palestina, que das pessoas, como elas vivem, como é ingresso da Palestina na con- hoje se sentem inferiorizados por não o seu cotidiano ou o que as autoridades dição de estado-membro da terem uma pátria, um Estado a que locais fazem pela vida das pessoas que ONU e como isso pode refletir representem. Com esse reconhecimento, vivem no Oriente Médio. Além do na busca da paz no Oriente por parte da ONU, eles agora passam mais, quero registrar que recentemente Médio? a ser reconhecidos de uma forma nova, estive aqui no Brasil e pude conhecer e isso há de lhes dar orgulho. algumas iniciativas do governo brasileiro RZA – Quero ressaltar o ato do para melhorar a vida das pessoas e tenho nosso presidente, Mahmud Abbas, ao RM – Poderia fazer um breve a intenção de levar essas experiências apresentar o pedido da Palestina para relato sobre sua participação positivas para serem implementadas reconhecimento pela ONU, coincidindo nesse debate promovido pela na Palestina. Quero também agrade- com a realização desse debate no Fórum CNTE? cer o apoio do povo brasileiro à causa Social Mundial aqui em Porto Alegre. Palestina, muito importante para nós, Penso que a nova posição da Palestina RZA – É muito importante a nossa e deixar, por intermédio da Revista como estado-membro da Organização participação neste Fórum aqui no Mátria, um abraço a todos os brasileiros. das Nações Unidas vai contribuir de Brasil, até mesmo para divulgar a nossa Muito obrigada!

Conflito no Oriente Médio também interfere na educação das crianças

CNTE - Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação Março de 2013 Mátria encarteteórico 30

As origens da Ilustração : Chico Régis opressão de gênero

Por: Raquel Felau Guisoni

Há várias correntes de pensamento que procuram explicar a origem da opressão de gênero. Neste artigo, ao analisar a concepção marxista, também faremos considerações sobre as outras concepções quanto à origem da opressão das mulheres.

A corrente marxista e a opressão das mulheres

materialismo-histórico, cujos maiores representantes O são Marx e Engels, aponta as bases da opressão femi- nina e os caminhos para superá-la. Tais pensadores afirmam que a opressão da mulher coincide com o surgimento da propriedade privada dos meios de produção e com o surgimento das classes sociais. Embora concentrem seus esforços na análise do mundo do trabalho, das relações de produção, várias obras de Marx e Engels tratam mais diretamente da opressão da mulher. Destacam-se aqui “A Sagrada Família” (1845) e “Os Manuscritos Econômicos e Filosóficos” (1844). Na Ideologia Alemã (1846), Marx e Engels atribuem o mesmo peso teórico aos conceitos de classe social e de “opressão do sexo feminino pelo masculino”. Afirmam que a reprodução e manutenção da vida dos indivíduos, assim como as relações sociais que os mesmos estabelecem, são tão importantes quanto as relações de produção. É Engels quem diz: A primeira divisão do trabalho é aquela existente entre o homem e a mulher para a procriação. [...] a primeira oposição de classe coincide com o desenvolvi- mento do antagonismo entre o homem e a mulher no casamento conjugal e a pri- meira opressão de classe com a opressão do sexo feminino pelo sexo masculino. (RANGEL,Olivia e SORRENTINO, Sara,1994:49)

Mátria Março de 2013 CNTE - Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação 31 São eles que no Manifesto do materialista da história, o fator que em em casa permaneceu quase inalterada, Partido Comunista, de 1848, expli- última instancia, determina a história mas a realidade outra vez se mostrou citam que somente com a socialização é a produção e a reprodução da vida mais forte: em que pese toda a ide- da propriedade pode desaparecer a real (grifo nosso). ologia, a mulher trabalhava porque situação de submissão da mulher. Des- Nem Marx nem eu afirmamos, uma vez sequer, precisava sobreviver. tacam também o papel da família na algo mais que isso. Se alguém o modifica, afir- Em 1889, Albert Bebel escreveu reprodução da opressão da mulher e mando que o fator econômico é o único fator de- “A mulher e o socialismo”, defen- terminante, converte aquela tese numa frase va- apontam a necessidade dessa institui- zia, abstrata e absurda. A situação econômica é dendo que “a tarefa histórica da classe ção ser modificada. a base, mas os diferentes fatores da superestrutu- operária está indissoluvelmente ligada à Em 1884, dando continuidade aos ra que se levantam sobre ela – as formas políticas tarefa de libertação da mulher.” Que essa da luta de classes e seus resultados, as constitui- estudos de Marx sobre Morgan e seu ções que, uma vez vencida uma batalha, a clas- era uma tarefa do presente e não só do livro “A sociedade antiga”, Engels se triunfante redige, etc., as formas jurídicas e in- futuro Estado socialista. Reconheceu escreve “A origem da família, da pro- clusive os reflexos de todas essas lutas reais no as especificidades da luta feminista, as priedade privada e do Estado”, onde cérebro dos que dela participam, as teorias po- quais permitiriam unir as mulheres de líticas, jurídicas, filosóficas, as ideias religiosas e analisa as diversas fases históricas do o desenvolvimento ulterior que as leva a conver- várias classes em torno de algumas ban- desenvolvimento da Humanidade, ter-se num sistema de dogmas – também exer- deiras. Alertou que, para as socialistas, cem sua influência sobre o curso das lutas his- para comprovar que as mudanças na não se tratava apenas de realizar a igualdade de tóricas e, em muitos casos, determinam sua for- direitos da mulher como o homem, no terreno da condição da mulher sempre corres- ma (grifo do autor), como fator predominante ordem social e política existente, o que se constitui ponderam às grandes transformações (Engels,1985:p.547). em objetivo do movimento feminino burguês, mas sociais, ao desenvolvimento da ciência de eliminar todas as barreiras que fazem com que e da técnica. Analisa a involução da Marx e, sobretudo, Engels, o homem dependa do homem e, portanto, um sexo situação da mulher desde a igualdade, atribuíram ao gênero estatuto do outro” e que “a solução total da questão femini- na deve se unir a quem tem inscrita em sua ban- na época do chamado comunismo teórico, assim como o fizeram deira a solução da questão social e cultural para primitivo, até a condição da chamada em relação às classes sociais toda a humanidade, ou seja, os socialistas (BE- civilização. Indica que a história de (grifo nosso). Eles foram os primei- BEL, 1977:45). submissão da mulher começa quando ros a destacar que a reprodução dos ela é afastada da produção social. indivíduos, a manutenção de suas No Programa do Partido Social- Engels afirma ser o primeiro passo vidas e as relações familiares também -Democrata alemão, de 1891, foi para a emancipação da mulher, e não o são relações estruturais, tão decisivas incluída a luta “por direitos e deveres último, a sua incorporação ao trabalho quanto as ligadas à produção, apenas iguais de todos, sem exceção de sexo ou produtivo em larga escala social. No são menos dinâmicas. Marx ainda de raça” e pelo “sufrágio universal igual, entanto, continua, a superação defini- acrescenta em “A Ideologia Alemã” direto e secreto para todos os membros tiva dessa opressão milenar apenas se que: do império com mais de vinte anos, sem dará por meio de uma revolução social Esses três aspectos da atividade social (produção, distinção de sexo, em todas as eleições”. que transforme os meios de produção, satisfação das necessidades e reprodução/família) Propunha também a “abolição de todas e a riqueza por eles produzida, em não devem ser considerados como três fases dis- as leis que, do ponto de vista do direito [...], tintas, senão que intimamente ligados, como três propriedade social. Será a revolução aspectos que vêm existindo desde o princípio da colocam a mulher em estado de inferiori- socialista, que limpará o terreno para História e desde o primeiro homem e que, sem dade em relação ao homem” (MARX, que a libertação da mulher possa, fi- dúvida, ainda hoje seguem regendo a História. ENGELS, LENIN, 1971:96). [...] O móvel essencial e decisivo ao qual obe- nalmente, ser completada. dece a humanidade na história é a produção e a Por essa ocasião, começam a se Muitas são as críticas às teses mar- reprodução da vida imediata, e por sua vez es- destacar lideranças femininas. É o caso xistas sobre a opressão da mulher. A sas são de duas classes: a produção dos meios de de Clara Zetkin, Rosa Luxembur- principal delas utiliza o argumento existir, de tudo o que serve de alimento, vestuá- go, Alexandra Kollontai, Krupskaia, rio, domicílio e utensílios; e, por outro lado, a pro- de que essas reduziram a condição dução do homem mesmo – a continuação da es- Inessa Armand. feminina a uma questão econômi- pécie. (RANGEL,Olivia e SORRENTINO, Clara Zetkin foi a primeira grande ca, a um apêndice das relações de Sara,1994:50). líder feminina do movimento socia- produção. Mas o próprio Engels es- lista alemão e internacional. Em 1891 clareceu tal questão na carta a Bloc, Até meados do século XIX, a passou a ser redatora do órgão de im- datada de 1890: “Segundo a concepção ideia de que a mulher tem que ficar prensa feminina da social-democracia

CNTE - Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação Março de 2013 Mátria encarteteórico 32 serviço social permanente que deve prestar todo ci- alemã, considerado o jornal feminista e proibiram-lhes o exercício de ser- dadão, é inútil falar só em socialismo, e nem se- de maior influência na História. viços noturnos e nas minas. quer de uma democracia completa e estável. (Lê- Em 1907, durante o Congresso da Alexandra Kollontai, líder socia- nin,1980:46). Internacional Socialista. Zetkin apre- lista e feminista, ocupa o cargo de No artigo “O poder soviético sentou uma proposta de resolução Comissária do Povo de Assistência e a situação da mulher” (1919), ele que afirmava: Pública – título equivalente ao de escreveu: os partidos socialistas de todos os países têm o dever ministro de Estado. Foi a primeira de lutar energicamente pela conquista do sufrágio ministra da história atual. em palavras, a democracia burguesa promete igual- universal feminino [...], direito que deve ser reivin- dade e liberdade. Mas, de fato, as repúblicas burgue- dicado vigorosamente em todos os lugares de agi- A primeira Constituição soviética sas, por mais avançadas que sejam, não têm dado tação e no parlamento (ZETKIN, 1976:113). estabelece que as mulheres tivessem à mulher, que constitui a metade do gênero huma- no, plena igualdade com o homem ante a lei nem “direitos iguais aos homens em todos a têm libertado da tutela e da opressão do homem Num outro congresso interna- os terrenos da vida econômica, pública, (...). Abaixo a vil mentira! Não pode haver, não há, nem haverá ‘liberdade’ verdadeira enquanto os cional, o de 1910, em Copenhague, cultural, social e político.” As mulheres privilégios que a lei concede aos homens impeçam a Clara Zetkin defende a realização de foram integradas massivamente aos liberdade da mulher. (Lênin,1980:76) um dia internacional das mulheres. cursos técnicos e superiores. Em 1928, No entanto, apesar das resoluções o número de mulheres nesses cursos Mas Lênin sabia que “a igualdade aprovadas nos seus congressos, a social- chegava a 83.137 e em 1933 já havia na lei não significava igualdade na vida”. -democracia não colocou no centro alcançado o número de 548.832. Uma Era necessário que as trabalhadoras de sua ação a luta pelos direitos sociais verdadeira revolução educacional fe- conseguissem a igualdade tanto na lei e políticos das mulheres. minina! A maior já vista na história como na vida. A revolução socialista de outubro até então! O Código soviético de 1927 foi o de 1917 impulsionou o movimento Vladimir Ilitch Lênin foi o mais avançado do mundo até aquele socialista e afetaria profundamente grande líder desse movimento re- momento. Acabava com a predo- a luta feminista de todo o mundo. volucionário. Uma de suas máximas minância masculina no casamento, Pela primeira vez na história da era a de que “o proletariado não pode característica de todas as outras legis- Humanidade um Estado assumiu pro- lograr a liberdade completa sem conquistar lações. Punha fim à distinção entre gramaticamente a defesa dos direitos a plena liberdade para as mulheres”. Foi casamento registrado e “de fato”, da mulher. ele quem propôs, em 1902, a inclusão entre filhos legítimos e “bastardos”, e No inicio do século XX, na no programa do Partido Social-De- dava garantia, às mulheres e aos filhos, Rússia, 88% das mulheres não sabiam mocrata Russo o item: “estabelecimento direitos esses até então inexistentes. ler nem escrever. Em algumas regiões da plena igualdade de direitos do homem Muitas dessas concepções, por pressão mais atrasadas, os homens ainda e da mulher”. do movimento socialista e feminista, tinham o direito de vida e de morte Nessa conjuntura histórica, muitos passaram a ser incorporadas às le- sobre suas esposas e filhas. As mulheres outros avanços tiveram lugar. Sobre a gislações das principais democracias não podiam votar e nem participar questão do divórcio livre, por exemplo, burguesas ocidentais nas décadas que de qualquer organização política. Lênin se pronunciou decididamente se seguiram. Cabe aos comunistas esse Não existia matrimônio civil, apenas a seu favor. Vejamos: pioneirismo. religioso. O divórcio era quase uma Não se pode ser democrata e socialista sem exigir A partir de meados da década impossibilidade para as trabalhadoras e imediatamente a plena liberdade de divórcio, pois de 1930 ocorreu um arrefecimento a falta desta liberdade implica a máxima ofensa ao o seu ritual revelava-se extremamente sexo oprimido, da mulher, ainda que não seja nada do debate em torno do problema da vexatório, até mesmo para as mulheres difícil compreender que o reconhecimento da liber- emancipação da mulher. Predomi- da burguesia. dade de deixar os maridos não significa convidar nou amplamente nesta ocasião uma todas as mulheres a procederem dessa forma. (Lê- Após a revolução, houve mudan- nin,1980:41-44). visão economicista (produtivista) e ças imediatas. Já no governo provisório, perderam-se as múltiplas dimensões sob a direção de Kerenski, foi promul- Já em “As tarefas do proletariado da questão feminina – que se traduziu gado o direito de voto feminino. Em em nossa revolução”, escrito em abril no campo político, teórico, cultural, outubro de 1917, os bolcheviques de 1917, Lênin afirmou: moral, etc. estabeleceram para as mulheres a sem incorporar a mulher na participação inde- Podemos dizer que os compo- jornada de 8 horas diárias de trabalho pendente tanto na vida política em geral como no nentes que conduziram à crise do

Mátria Março de 2013 CNTE - Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação 33 socialismo foram os mesmos que demonstra que, se a libertação da mulher questões, reduzidas à pergunta originária da cau- sa da opressão, o que fazia das formas da subor- conduziram à crise do feminismo e sua consequente integração na socieda- dinação feminina meras aparências, portadoras de soviético, pois o desenvolvimento do de não se realizaram plenamente sob o uma causa essencial. (RANGEL,Olivia e SOR- socialismo acompanha o desenvolvi- regime socialista, foi sob este regime que RENTINO, Sara,1994:51) mento do processo de emancipação ela atingiu seu maior grau.” (SAFFIOTI, O importante a registrar aqui é da mulher. Um se alimenta no outro. 1976:89-90). que correntes consideram a opres- Quando um retrocede o outro Aqui fizemos alguns poucos são de gênero como primordial em também tende a retroceder. registros, sendo necessário um relação a outras dimensões definidoras Em 1934, pela primeira vez desde estudo aprofundado das experiên- de um grupo social. E a partir desse 1917, verificou-se um retrocesso – a cias socialistas para tirar lições e uma entendimento, constroem uma teoria homossexualidade foi criminalizada melhor compreensão do processo social em torno da posição das mu- –, seguindo-se, em 1936, a proibição da emancipação das mulheres. Mas, lheres nas sociedades patriarcais. da realização do aborto. Mas, o recuo já se comprovou que as mudanças Desse modo, feministas identifi- não foi completo. A mulher soviética vão além daquelas que envolvem a cadas com tal concepção defendem continuou, por longos anos, usu- estrutura econômica e política, mas o feminismo como terceira via. fruindo direitos que, no capitalismo, dizem respeito também a costumes, Negam a produção como elemento estavam longe de conseguir. Mesmo ideologias e tradições, que não mudam mais dinâmico e determinante das na fase mais “conservadora” a URSS tão facilmente. É preciso construir relações sociais, atribuindo esse papel não ficou aquém de nenhuma das uma nova mulher e novo homem na às relações de gênero. Um exemplo é democracias ocidentais, no campo sua integralidade. o chamado ecofeminismo, no qual o dos direitos da família e da mulher. patriarcado tem papel mais decisivo Houve também, até o final da Problemas conceituais que as classes dominantes, seja na de- década de 1950, um aumento gradual de gênero finição e no comando das estruturas da participação da mulher no mercado de poder, seja na ideologia. de trabalho. Havia uma “divisão sexual A utilização do conceito de Não se pode negar que ainda do trabalho” menos assimétrica que gênero tem contribuído para um hoje o patriarcado de fato influen- em outros países. Na URSS, as mu- melhor entendimento da opressão cia e determina muitas matrizes de lheres estavam distribuídas em quase da mulher e do conjunto das relações dominação. Mas também é inegável todas as profissões. Isso não significa sociais. Ele nos remete para a ideia de que ele perdeu seu papel histórico que não houvesse desajustes que des- relações opressoras de sexo/gênero, ao ser superado, juntamente com a favoreciam as mulheres – como o fato permite evidenciar que, além de ex- estrutura familiar (antes determinantes de as profissões predominantemente ploração entre as classes sociais, existe da vida econômica e social), com o femininas terem sido, em geral, menos uma divisão sexual, também desigual. surgimento das classes, que passaram remuneradas. Tal conceito, no entanto, embora seja a deter o poder e a propriedade. A Mesmo uma crítica ao stalinismo, largamente difundido e aceito, tem família e o patriarcado passaram pro- como Volkova, foi obrigada a reco- suscitado discussões, revisões teóricas, gressivamente a ter sua dinâmica e nhecer que: interrogações e questionamentos. Os suas funções sociais submetidas ao a posição jurídica das mulheres soviéticas e o seu impasses destas análises tiveram como novo agente do processo social – a papel na produção encontram-se mais avançados fruto o deslocamento do eixo de re- luta de classes. Atribuir ao patriarca- em relação aos países capitalistas, sob todos os pon- tos de vista. São melhor educadas, vivem melhores flexão nas pesquisas feministas, agora do uma importância que ele já não e têm um estatuto social mais elevado do que antes concentrando-se nos significados tem significa ignorar os verdadeiros da revolução. A educação mista foi reintroduzida, das representações do feminino e do pilares de sustentação da exploração o aborto voltou agora a ser autorizado e embora os divórcios continuem sendo pagos [...]. Existe uma masculino, ou seja, nas construções e da opressão defendidas por Marx, disponibilidade maior de bens de consumo [...] e culturais e históricas das relações Engels, Bebel e Lenin e outros. um aumento dos equipamentos comunais que ali- viaram o trabalho das mulheres nos últimos anos de gênero. Um dos desafios do debate sobre (VOLKOVA, 1978:64). Sobre o assunto, Elisabeth Lobo a causa da emancipação feminina é faz a seguinte ressalva: situar a opressão da mulher em relação Heleith Saffioti, por sua vez, a interrogação inicial sobre a origem da opressão à sua base material e estabelecer os escreveu que “a experiência soviética conduzia muitas vezes a uma desistorização das nexos entre produção e reprodução,

CNTE - Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação Março de 2013 Mátria encarteteórico 34 uma noção de autonomia abstrata ou com a superação do mercado e da classe e gênero. Nesse sentido, Heleie- apenas para algumas mulheres. Pelo dominação política de classe. Quanto th Safiotti e Mary Castro propõem contrário, considera a mulher como a esse aspecto, a educação pode ter uma rearticulação na abordagem das sujeito individualizado, mas que faz função fundamental. relações de classe, gênero e raça/etnia, parte do gênero humano, com rela- A corrente emancipacionista, como tramas do tecido social, buscan- ções sociais de sexo/gênero, raça/cor conjugando poder com saber por do aprofundar as formas e processos e outras, em uma sociedade de classes. transformação social, tem como ponto que concretizam essa inter-relação. O poder de mudar passa de referência a importância de investi- por conhecer origens, raízes de mento no sentido de que as mulheres Feminismo emancipacionista opressões e explorações e por sejam as autoras do processo de trans- construir saberes/poderes que formação, conjugando emancipação Hoje, autores e autoras no campo podem levar a mudanças. Inclui política, políticas de ação afirmativas do marxismo, além de reafirmarem debates ampliados entre homens e e mudanças pontuais nas relações de a contextualização histórica, social e mulheres comprometidos com o gênero. Tal perspectiva abarca a autoi- econômica da condição das mulheres projeto socialista, rompendo as amarras dentificação das mulheres em relação ao na sociedade, contribuem para um do imediato. Significa também enfren- seu projeto de emancipação de maneira melhor entendimento dos entraves tar a dialética entre tempos, o aqui e vinculada à emancipação humana. ideológicos e subjetivos à emanci- o futuro. pação da mulher. Percebem como No atual contexto do capitalismo, O feminismo emancipacionista desdobramento desse quadro de difi- houve inserção da mulher na vida se caracteriza por: culdades, a necessidade, desde já, de se pública sem, contudo, serem altera- buscar abordá-lo com transversalidade das suas condições de desigualdade. a. Referenciar-se numa mulher identificada em todos os espaços da sociedade. É relevante destacar que tal realidade com a classe e raça/cor, em contraposição O marxismo deve ser uma das fontes básicas do feminismo emancipacionista, em particular por sua está relacionada com a divisão social e à referência do feminismo de corte liberal proposta de radicalidade, de transformação social sexual do trabalho e com a manuten- e social-democrata que consideram uma radical das bases, das estruturas da economia po- ção das responsabilidades domésticas mulher genérica, desterrada da classe e da lítica e das culturas de relações sociais pautadas em subordinações, para que todos possam exercer a po- para as mulheres. Ou seja: enquanto a classe-raça/cor. tencialidade, a criatividade de seres humanos em divisão do trabalho doméstico for as- b. Não se pautar por leituras acríticas do sua diversidade – projeto ou vir a ser um que o hu- mano se realiza mais além do reino das necessida- simétrica, a igualdade será uma utopia. marxismo, quando este se reporta a uma des (VALADARES, 2007: 55-56). Os escritos de Marx são claros: a mulher proletária genérica, sem circula- emancipação humana não tem caráter ção na raça/cor, quando se restringe ao A corrente emancipacionista se de inevitabilidade, mas aparece como contrato heterossexual ou não considera associa às reivindicações pelos direitos uma possibilidade, dependendo da outras identidades marcadas por sistemas das mulheres, no limite do capitalis- ação dos seres humanos. Ainda de políticos de opressões. mo, ou seja, por uma emancipação acordo com esse pensador, a eman- c. Considerar que as relações sociais entre política. Contudo, essa corrente deve cipação humana deve ser efetivada a os sexos — vetor do conceito de gêne- equacionar tal investimento com um partir de um duplo ato revolucionário, ro — são condicionadas pela estrutura de programa de construção do socialismo, um complementar ao outro, ambos classes, pela luta de classes, pelo lugar das abrangendo gênero, raça/cor, geração sendo realizados num único e mesmo mulheres na classe. Mas que também nem e outras demarcações que produzem processo. O primeiro possui uma definem sujeitos sexuados, nem os sujei- várias discriminações e desigualdades natureza política, por meio do qual tos sexual/social se autodefinem, apenas sociais. Não pode haver, por exemplo, o proletariado pode alcançar o poder no plano da organização da economia. um reducionismo da luta aos ditames político, dando início ao processo de d. Levar em conta a estrutura de classes e, da bandeira liberal - mulheres no destruição do Estado político e seu nela, as relações pautadas por hierarquias poder - sem questionar quais mu- fundamento, isto é, a opressão de de gênero, raça/cor e outras – o que pede, lheres, com que projetos e como se classe. O segundo, marcadamente portanto, referência a práticas concretas, à inserem na sociedade capitalista. social, envolve uma revolução social reprodução ampliada das relações sociais. Por outro lado, a perspectiva por meio da qual se pode transformar e. Ter em vista que o conceito de gênero emancipacionista não se contenta com radicalmente a forma de sociabilidade, aponta para relações sociais, se reportando

Mátria Março de 2013 CNTE - Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação à dialética articulação com outras relações 35 sociedade, que guarda relação com Bibliografia referida – não somente aquelas que ocorrem en- o aprofundamento da democracia; e consultada tre homens e mulheres.No que se refere seja na acumulação de forças para BEBEL, August. La mujer y el a esse conceito, as normas socioculturais é socialismo. Espanha: Akal editor, 1977. a construção da sociedade socialis- que definem as regras em torno do que ta, estão a exigir novas respostas e o BUONICORE, Augusto. As mulheres seria masculinidade e do que seria femi- e a luta socialista.”Disponível em”: aprofundamento de reflexões teóricas nilidade, do que seriam hierarquias e as- NUPE-Marx UFPR www.nupemarx. para impulsionar uma efetiva equida- simetrias. Considerar gênero um estrutu- ufpr.br/.../BUONICORE_Augusto , de de gênero, em consonância com 2012 Acesso em 21.01.2013 sal, entre a produção e a reprodução, entre CASTRO, Mary G. e LAVINAS, o subjetivo e o objetivo. A noção de es- Lena. Do feminismo ao gênero: truturante da totalidade sugere aproxima- a construção de um objeto, in UMA ção com a formulação marxista de que “a QUESTÃO DE GÊNERO. Rio de sociedade não consiste de indivíduos, mas Janeiro, Rosa dos Tempos,1992. expressa a soma de relações, de relações ENGELS, F. A Origem da família, da nas quais se encontram os indivíduos”. (A propriedade privada e do Estado. Rio de luta pela emancipação das mulheres é es- Janeiro: Civilização Brasileira, 1974. tratégica, 2012:19-20). Lênin, V. I. Sobre a emancipação da f . Atentar para que, na atualidade, o termo mulher. São Paulo: Alfa-Omega, 1980 gênero é reduzido a expressar posição – LOBO, Elizabeth. Os usos do gênero. usado para lidar com direitos das mulhe- In RELAÇÕES SOCIAIS DE res, sem, contudo, subverter o edifício de GÊNERO X RELAÇÕES DE relações sociais que se realizam no capi- SEXO. Departamento de Sociologia – NEMGE – USP, 1989 (mimeo) talismo e seus motores, como hierarquia, competição e apropriação privada em MARX, Karl, e ENGELS, Friedrich. A proveito de alguns. ideologia alemã. São Paulo: Martins Fontes, 1989. g. Considerar que no feminismo emancipa- cionista – um feminismo com projeto so- MARX, ENGELS e LÊNIN. Sobre a cialista – o uso do conceito de gênero se Mulher. São Paulo: Global, 1980. afasta do uso do conceito de gênero com ______. Crítica ao Programa de aporte culturalista, já que este último re- Gotha/Crítica ao Programa de Erfurt. Porto: Portucalense, 1971. laciona gênero apenas à performática e ao discurso, omitindo restrições materiais. Ao RANGEL, Olivia e SORRENTINO, mesmo tempo, naquele se informa sobre Sara. Gênero conceito histórico. Revista Princípios, SP, nº 33, 1994. trânsitos, diversidades, diferenças e corpo. SAFFIOTI, Heleieth I. B. A mulher na sociedade de classe: Mito e realidade. O entendimento dos limites da Petrópolis: Vozes, 1976. emancipação política, como a da Valadares, Loreta. As faces do relevância da participação das mu- feminismo. São Paulo: Anita, 2007. lheres na construção do avanço para a Raquel Felau Guisoni Volkova, Tâmara - Ser mulher na emancipação humana é fundamental Professora aposentada de Geografia da rede URSS e países do Leste. Antídoto: para o entendimento estratégico da municipal de SP; diretora da Confederação Lisboa, 1978. Nacional dos Trabalhadores em Educação luta de emancipação das mulheres. A luta pela emancipação Na verdade, mesmo hoje, nos marcos (CNTE), no período de 2002 a 2010, como secretária de relações de gênero e das mulheres é estratégica, do capitalismo, os desafios postos, seja 2ª Conferencia Nacional sobre a vice-presidente; integrante do Conselho emancipação da mulher. Secretaria em torno da conquista dos direitos Estadual dos Direitos da Mulher de Santa Nacional da mulher - PCdoB. políticos; seja em busca da superação Catarina (CEDIM/SC), diretora estadual da Dezembro 2011. da sub-representação nos espaços na União Brasileira de Mulheres (UMB/ SC).

CNTE - Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação Março de 2013 Mátria EDUCAÇÃO 36 Igualdade de gênero agora é matéria oficial

Direito da mulher passa a ser tema obrigatório nas salas de aula do DF

partir de 2013 os alunos do a metodologia que julgarem mais con- presidente do Conselho de Educação A Distrito Federal ganham uma veniente. “A orientação é no sentido do DF, Nilton Alves Ferreira. nova disciplina no currículo escolar: de que a ação esteja contextualizada”, “Indiretamente, já fazemos isso questões ligadas à violência contra a afirma Ana José Marques, coordena- porque trabalhamos nas escolas não mulher, ao preconceito e à discrimina- dora de Educação em Diversidade, da ção serão abordadas durante o período Secretaria de Educação do DF. letivo, como conteúdo integrante das Interdisciplinar – No desenvol- diversas disciplinas. A ideia é tornar o vimento de seu trabalho, o professor assunto corriqueiro e natural nas dis- pode, por exemplo, escolher um texto Jucimeire já aborda cussões e nos trabalhos desenvolvidos de Literatura, que fale da mulher e, a 'o direito da mulher' com os alunos e com a comunidade. partir dele, estabelecer uma conexão ao longo de todo o ano A decisão de incluir esse novo com um outro, de História, ou, em viés de debate nas escolas é inédita relação à Matemática, escolher um no Brasil e tem como base o fato material que trate do percentual de de Brasília possuir o maior número mulheres mortas ou agredidas. O im- de denúncias envolvendo ações de portante é estabelecer a discussão”, violência contra a mulher no País. explica Ana. Dessa forma, o Conselho de Educa- Ela destaca que tais discussões ção do DF entendeu que a educação devem perpassar o cotidiano da escola, é o espaço adequado para construir de forma inter e até multidisciplinar. valores e atuar em direção a uma so- Dessa maneira, o conteúdo passa a ciedade mais justa. ser quase que naturalmente agregado Segundo a Secretaria de Educação, à rotina “e a criança ou adolescente, os professores serão orientados para ao aprender na instituição escolar o atuar de acordo com a nova determi- respeito à mulher, quando se tornar nação, mas terão autonomia para usar adulto não irá agredi-la”, disse o

Mátria Março de 2013 CNTE - Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação EDUCAÇÃO 37 apenas a orientação sexual, mas Neliane Cunha e também a de gênero, tratando de Eliceuda França,

secretaria de : Katia Maia temas diferenciados, como a Lei Maria mulheres do Sinpro- Foto da Penha, a violência doméstica, entre DF: acompanharão o cumprimento outros, sendo, com isso, discutidas da resolução várias questões relacionadas à mulher”, adianta Ana José Marques. Mas a nova realidade, tornada oficial, de a temática passar a fazer parte do currículo, amplia e apri- mora o trabalho. É o que pensa, por exemplo, Jucimeire Barbosa da Silva, professora da Educação de Jovens e Adultos (EJA), em Samambaia, cidade próxima a Brasília, ela que já desenvol- ve um trabalho constante de debate e discussão sobre temas relacionados à mulher. Em sua opinião, é bastante importante a inclusão da matéria no currículo das escolas. “O meu trabalho é diário. Estou o foi desenvolver algo artístico, os alunos do problema da violência, das drogas, tempo todo aproveitando os exemplos fizeram máscaras afro e nós discutimos etc. possui um viés racial; há o caso do cotidiano dos próprios alunos”, o tema, de maneira aprofundada, em das mulheres grávidas com seus outros conta. Em 2012, utilizando-se do sala de aula”, explicou. filhos, já dependentes; dentre outras debate sobre o tema Consciência Datas especiais – O exemplo tantas. São situações e mais situações Negra, desenvolveu um amplo traba- de Jucimeire é similar ao de outras a serem debatidas por quaisquer dis- lho envolvendo a mulher. “A proposta escolas e, agora, com a resolução do ciplinas, se os professores estiverem Conselho, deixará de ser pontual, atentos ao que acontece para além dos vindo a tornar-se algo generalizado, muros da escola e dispostos a discutir.

: Katia Maia amplo. Assim, o Direito da Mulher Eles têm, me parece, é que ter vontade Foto poderá vir a ser abordado não apenas política”, concluiu Ana. em datas especiais, como o Dia Inter- nacional da Mulher, o Dia das Mães ou o Dia da Consciência Negra, mas estará presente todo o tempo, no in- terior da escola. Para isso, contará ainda com o “O nosso maior apoio do Sindicato dos Professores de Brasília (Sinpro) que “pretende desafio é que apontar caminhos e ir às escolas para os profissionais promover oficinas”, relatou Eliceuda França, coordenadora da Secretaria de possam vir a Políticas para as Mulheres, do Sinpro. entender que esses “O nosso maior desafio é que os profissionais possam vir a entender debates são atuais, que esses debates são atuais, con- contemporâneos e temporâneos e estão no dia a dia da sociedade. Na verdade, são muitas as estão no dia a dia da questões: uma delas é a de que a raiz sociedade.

CNTE - Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação Março de 2013 Mátria ARTIGO 38 Respeitar as diferenças é educar para a vida

“A educação é a arma mais poderosa que você pode usar para mudar o mundo. Ninguém nasce odiando outra pessoa Iêda Leal Coordenadora do pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Centro de Referência Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se elas podem Negra Lélia Gonzales e Secretária de aprender a odiar, podem também aprender a amar”. Igualdade Racial Nelson Mandela da CUT-GO

educação formal é um instrumento da alma... Enfim, um jeito de viver o mundo A fundamental na construção, des- com experiências diferentes, mas com absoluta construção e ressignificação de valores que crença na importância de cada pessoa e num perpassam as relações estabelecidas entre os profundo respeito ao próximo. seres humanos dentro das escolas em todos os Nossa história, já há algum tempo, começa segmentos, abrangendo mães, pais, estudan- a ser contada! Nossa cultura, até pouco tempo tes, professores e funcionários administrativos. desconhecida, necessita agora ser reconhecida O objetivo de No entanto, os trabalhadores da Educação é e valorizada! É parte de nós e integra a cons- que serão os grandes responsáveis pelas mu- trução política, econômica e racial da história se educar para danças necessárias para o reconhecimento e do Brasil. Quando o ex-presidente Lula, em a igualdade valorização da história dos negros no Brasil. janeiro de 2003, sancionou a primeira lei de Cada um de nós carrega consigo várias seu governo, atendendo a uma demanda de racial é heranças: somos herdeiros de uma socieda- décadas do Movimento Negro Brasileiro, ele garantir de escravocrata que, a todo momento, nos não propôs simplesmente uma modificação remete à história da escravidão como tendo no currículo escolar brasileiro e, sim, uma direitos a sido um fato necessário para a construção do profunda ressignificação da educação brasileira. todos os País e não como a subjugação de milhares Nesse contexto, é necessário lembrar que de seres humanos africanos, num período a Lei No 10.639, sancionada no dia 09 de cidadãos fundamentalmente comercial, de solidificação janeiro de 2003, não é uma lei qualquer, pois brasileiros. É de uma sociedade capitalista, de desvalorização altera a Lei de Diretrizes e Bases da Educação da pessoa humana e de relações de poder de Nacional (LDB/96), incluindo nos currículos garantir viver subalternização da raça negra. escolares o componente História e Cultura em plenitude No entanto, somos também herdeiros de Africana e Afro-Brasileira. uma outra cultura, profundamente marcante Igualmente importante foi a aprovação do a democracia e que tem contribuído para a confirmação do parecer No 03/2004, em 10 de março daquele e a laicidade nosso ressurgimento histórico: a de acreditar ano, pelo Conselho Nacional de Educação, que outro mundo é possível por meio da per- tendo por relatora a professora Petronilha do Estado cepção de uma outra relação com os processos Beatriz Gonçalves e Silva. Tal parecer apre- brasileiro. culturais, um outro olhar sobre a constituição senta os dispositivos legais que asseguram aos das famílias, da economia, da relação com o brasileiros o direito à igualdade de condições sagrado ou com os fenômenos da natureza, de vida e de cidadania, assim como igual com o processo educacional, com as possibi- direito às histórias e culturas componentes lidades de alimentação, tanto do corpo como da nação brasileira.

Mátria Março de 2013 CNTE - Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação ARTIGO 39 Essa inserção nos currículos escolares necessariamente preconceito racial, a violência contra a mulher, a homofo- modifica o Projeto Político Pedagógico da Unidade Escolar, bia –, buscando a justiça social, o fortalecimento de uma os livros didáticos, os planejamentos e diários dos trabalha- identidade cultural humanizada e o reconhecimento dos dores em educação, não apenas alterando as relações sociais direitos inerentes aos seres humanos. estabelecidas no ambiente escolar, como também quebrando Educar para a Igualdade Racial deve-se traduzir na um círculo vicioso que mantinha nossa população num ampla possibilidade de surgimento de um novo olhar permanente processo de exclusão política e racial. sobre a história de resistência de um povo ao longo de As ações, quando assumidas pelo coletivo, possibilitam mais de 500 anos. Tal possibilidade exige uma sistemática minimizar significativamente o sofrimento gerado pela que contemple alguns pontos: o início, por certo, por nossa violência do racismo no contexto da educação formal. O origem no continente africano; pelo tráfico; pelos 500 anos que a nova legislação propõe é uma mudança cultural. São de escravidão; por dos Palmares; pelo movimento oportunidades para que brancos, negros, indígenas, todos, de luta dos Quilombolas; pelas cartas de alforria compradas enfim, possam conhecer a história brasileira que ainda não com o suor do povo negro; pela Conjuração Baiana, que foi foi devidamente contada. uma organização de um povo que nunca deixou de lutar Em 2013, a lei No 10.639 completa 10 anos. Momento contra a escravidão; pelas leis que não garantiam de fato os propício para comemoração, reflexão, nossos direitos de seres humanos – a avaliação das ações e estratégias. Há Lei do Sexagenário, a do Ventre Livre, experiências exitosas de educação a Eusébio de Queiroz, a Lei Áurea antirracista ocorrendo em todo o Educar para a – que pouco contribuíram para dar território brasileiro, ações que podem dignidade às pessoas, pois sempre se ser consideradas pontuais, mas que Igualdade Racial contava com uma maneira de burlar merecem todo o reconhecimento deve-se traduzir na as normas, prejudicando ainda mais porque, na maioria das vezes, são a nossa população; pela Convenção ações desenvolvidas por professores ampla possibilidade Internacional sobre a Eliminação ligados ao Movimento Negro que de surgimento de Todas as Formas de Discrimina- contribuem, sem medir esforços, para ção Racial, de 1966, com a qual as mudanças significativas da sociedade. de um novo olhar Nações Unidas se comprometem na Somos a resistência! sobre a história de luta contra o racismo; pelo Dia da O que precisamos potencializar Consciência Negra; pelo crescimen- são o compromisso e a responsabili- resistência de um to das organizações em defesa de um dade dos trabalhadores atuantes nos povo ao longo de mais mundo justo para todos; pela funda- sistemas de educação pública e privada ção do Movimento Negro Unificado; do País, no sentido do cumprimento de 500 anos. pelo Estatuto de Igualdade Racial; pela da lei. No processo de implementa- história da África nas escolas; pela de- ção e institucionalização de uma educação que promova marcação das terras quilombolas; pela criação da Secretaria e oportunize o acesso de todos os cidadãos aos bens de de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR),em consumo materiais e imateriais, é de suma importância a 2003; e pela aprovação da lei no 10.369/03. Trata-se de uma reflexão e a avaliação. Tais atitudes é que podem fazer com trajetória de luta que, hoje, atinge um momento em que que todos passem a defender um processo impulsionador não queremos ficar sós. A convocação é para que todos do redimensionamento das ações e estratégias para garantir possam vir conosco para continuarmos a nossa história. um ambiente escolar que acolha a todos e onde vigorem Os desafios são grandes, mas não fugimos da luta. Pos- condições de permanência e de continuidade dos estudos. sibilitar que crianças, jovens, adolescentes e adultos tenham O papel da educação formal é fundamental para que oportunidade de, efetivamente, valorizar nossa história, aconteçam as mudanças sociais tão almejadas por todos nossa cultura, é construir coletivamente uma Educação nós. Nela, o que se quer criar são práticas pedagógicas que que possibilite a vigência de relações etnicorraciais nas salas orientem e promovam ações capazes de valorizar a diver- de aula, tendo sempre como perspectiva a necessidade de sidade étnicorracial. Ações capazes de intervir na formação serem ultrapassados os muros da escola e se ganhar TODA do pensamento das pessoas, com vistas à construção de A SOCIEDADE num emaranhado de compromissos a novos valores e à revisão de valores distorcidos – como o serem honrados por todos nós.

CNTE - Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação Março de 2013 Mátria ENTREVISTA 40 Carmen Foro: Por: Katia Maia "Não basta ser mulher"

ascida em Moju, no nordeste paraense, Carmen Foro, por dois mandatos N secretária de Mulheres Trabalhadoras Rurais da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), e atual vice-presidenta nacional da Central Única dos Trabalhadores (CUT), foi registrada como cidadã de Igarapé-Miri. Mulher do campo, ela traz em seu DNA a trajetória de luta e defesa pelos direitos das mulheres que, segundo ela mesma define, está em sua vida desde a juventude, quando acompanhava seu pai, filiado ao Sindicato de Trabalhadores Rurais. Carmen Foro recebeu a Revista Mátria para um bate-papo e mostrou que mulher tem que ter conteúdo ideológico, feminista. : Renato Alves Foto

Mátria Março de 2013 CNTE - Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação ENTREVISTA 41 Revista Mátria – Como começou a estava sob o comando da prefeitura. Perde- fizemos um trabalho legal de mobilização sua história de militante sindical? mos parte dos benefícios e tivemos muitos e isso me credenciou para ir para a Contag problemas – não tinha luz, o dentista não e para a CUT. Carmen – Sou do Pará, nascida em Moju ia etc. Para a sociedade, o sindicato tinha mas reconhecida como cidadã de Igarapé andado para trás. RM – E a Marcha das Margari- Miri. Meu pai era filiado ao Sindicato O lado bom foi que eu tive a opor- das? dos Trabalhadores Rurais e eu me lembro tunidade de conhecer o município todo, de que, na época, o sindicato servia apenas fazendo um trabalho de base. Fomos a C – Na Marcha das Margaridas, de para extrair dente e arrumar uma consulta todas as delegacias, fizemos campanha 2003, nós trouxemos a maior mobili- do Funrural (Funrural ou Contribuição para imprimir material, festas etc., essas zação do estado do Pará para uma marcha Social Rural). coisas que as mulheres acabam tendo em Brasília. 2000 mulheres! Foram 25 A gente plantava banana, fumo, mais instinto para fazer. Eu não tinha ônibus pela Belém Brasília. Primeira vez verdura e hortaliças e fazia muita farinha. nenhuma consciência do potencial das em que veio tanta gente de um estado Tudo que a gente produzia, a gente levava mulheres na sociedade, nesse sentido. para uma ação nacional! para a cidade de Igarapé Miri pelo canal. Depois, fui colocada no foco para ser Isso repercutiu no Pará. Acabei A embarcação a remo saía semanalmente a próxima presidenta do sindicato e, aí, virando referência no estado e nacional- às três horas da madrugada de Moju e enfrentei problemas porque os companhei- mente quando o assunto era trabalho com chegava ao destino às seis da manhã. Tudo ros achavam que eu não estava preparada, mulheres. Em 2005, por ocasião do debate era levado para vender. era muito nova. Eu tinha vinte e poucos nacional, fui indicada para a Contag, eu anos, diziam que eu era muito boa, mas já estava na direção da CUT e, em 2006, RM – Quando você entrou de vez muito crua. fui eleita vice presidente nacional da CUT, para o sindicalismo? cargo que ocupei até 2009, quando a RM – Como veio o engajamen- Contag se desfiliou da Central. Só agora C – Por volta de 1986, eu já era sócia do to com respeito à questão das voltamos e recuperamos a vice-presidência. sindicato, teve uma disputa e uma mobiliza- mulheres? ção muito grande na cidade para tomarmos RM – O que mudou de lá para cá? o sindicato para ele poder vir para a mão C – Passei a ter um pouco mais de contato dos trabalhadores. Na época, eu já ajudava com o tema por meio da CUT, por um C – Agora, eu tenho um desafio ainda em muitas coisas no sindicato – a escrever boletim de sua Secretaria Nacional sobre maior, porque hoje temos aprovada a cota atas, por exemplo. a Mulher Trabalhadora, chamado Cam- das mulheres e estamos vivendo um novo Eu cursava o ensino médio e comecei panha de Igualdade de Oportunidades processo que é a paridade na CUT. Esse um estágio durante a semana na creche do na Vida, no Trabalho e no Movimento é um dos debates mais importantes que sindicato e, no fim de semana, eu ia para Sindical. vamos enfrentar no Congresso da Contag, a roça. Por conta dessa participação mais A partir daí, a gente começou a cons- que acontecerá em março. efetiva, me filiei ao sindicato - Sindicato dos truir o encontro de mulheres da zona rural Eu sinto que a responsabilidade é Trabalhadores Rurais de Igarapé Miri e, em e fui me afirmando com essa identidade muito grande porque cada uma de nós 1988, conseguimos eleger um trabalhador política. Fui a primeira mulher a assumir que ocupa um posto político não pode ter rural para a presidência, antes nas mãos a presidência e a compor a diretoria do vaidade porque representamos milhares de da Prefeitura. sindicato. mulheres e os desafios para todas nós, do Em 92, quando o nosso presidente se campo e da cidade, são enormes. candidatou a prefeito do município e tanto RM – Como você fez? A gente tem tido conquistas muito o vice como o secretário se candidataram a importantes. Queremos também dividir vereador, eu, como segunda secretária, assumi C – Fui montando uma estratégia para os espaços de governo. E isso é a parte a presidência por nove meses. aumentar a nossa presença, debatemos mais difícil. a questão das cotas e conseguimos a sua RM – Isso ajudou a sua luta? aprovação na nossa federação. Em 1999, RM – O que emperra? saí da secretaria de mulheres da federação C – Assumi num momento muito difícil para depois voltar, em 2002, com mais C – Acho que existem vários aspectos porque o sindicato era só assistencialista e conteúdo e maior clareza das coisas. Então, mas, hoje, com a vivência que eu tenho,

CNTE - Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação Março de 2013 Mátria entrevista 42 acho que o poder emperra. Esse lugar foi (Pnad) saiu um dado informando que uma educação não sexista e não repro- dos homens e, para que entrem algumas são 4 milhões de mulheres produzin- dutiva de aspectos culturais que existem mulheres, alguns homens tem que sair. O do. A renda das mulheres acaba sendo no campo, mas as negociações estão indo lugar de poder é dos homens. Essa forma mais significativa para a família do que muito devagar. de pensar está muito impregnada. a própria atividade principal da unidade Acaba-se tratando esse ponto de produtiva. É uma economia invisível que forma muito geral. O que queremos é RM – Você acredita que isso vai não está nas estatísticas do governo. que a vida do campo seja reconhecida mudar um dia? como uma realidade diferente mas não RM – A Marcha é uma marcha necessariamente a educação apenas re- C – Não acredito que haverá transformação feminista? produzindo tudo que é de lá. Algumas alguma se não houver compartilhamento coisas precisam mudar. de responsabilidades, se isso não entrar na C – A Marcha tem como base uma agenda do conjunto das pessoas. O caso é proposta feminista, pode ser que muitas RM – Como trazer mais pessoas que, ao que parece, só as mulheres colocam mulheres não tenham consciência disso. para o movimento sindical? na agenda a divisão sexual do trabalho. Mas sua base é de crítica ao Estado, ao Mas é preciso dizer que a Contag modelo de desenvolvimento excludente C – Na área rural existe o viés dos be- tem um trabalho com mulheres que poucas que temos. nefícios que acabam atraindo as mulheres. organizações têm. E há um aumento O próprio governo disse que a pauta No geral, é preciso haver uma mudança significativo de mulheres sindicalizadas da Marcha é diferente da de todos os radical, desde os horários de reuniões nos no meio rural. outros movimentos, inclusive ao da sindicatos – que às vezes impossibilitam Contag. Enquanto a lógica dos outros as mulheres de estarem presentes – até RM – Você atribui essa sindica- é a de modificar algo que já está pronto, um maior investimento em formação, algo lização a quê? nós dizemos que queremos coisas novas. em torno do qual a gente briga muito. A próxima marcha é em 2015, ela É preciso formar mais mulheres C – Ao trabalho de mobilização, de é sempre no início de um governo. numa perspectiva feminista. Sou daquelas consciência e a alguns direitos que fomos que têm convicção de que não basta ser conquistando, como, por exemplo, a Pre- RM – Com relação à pauta de mulher, tem que se ter conteúdo ideológico, vidência Social. De 94 para cá, temos negociação, o que avançou? feminista, com plataforma clara, com so- direito, por exemplo, ao benefício do lidariedade entre umas e outras. Mulher salário-maternidade. Isso atraiu muitas C – O Programa Nacional de Agro- que não ache que basta ter o seu lugar mulheres. ecologia, anunciado pela presidenta num cargo, num posto político, para tudo Quando os homens querem desqua- Dilma. Para nós é fundamental, pois se transformar. lificar a nossa presença no sindicato, eles ele vem com uma nova lógica a respeito falam que é apenas por isso. Obviamente da produção agrícola. Tal Programa foi RM – Como você resume o seu que é isso também, mas não é só isso. anunciado na forma de decreto no mês de trabalho pelos direitos das mu- agosto e deve estar pronto nos próximos lheres? RM – Como está a pauta hoje? 3 meses. Avançamos também no tratamen- C – Eu me orgulho muito dele porque C – Estamos num grande debate sobre to diferenciado dado às mulheres pelo sou uma mulher do campo, sei o que é ser a produção das mulheres. Os dados Programa de Aquisição de Alimentos invisível, sei o que é não ter tido tantas da Organização das Nações Unidas (PAA). Foi uma conquista porque a gente oportunidades, sei e lembro tudo o que para Alimentação e Agricultura (FAO) brigou para dar prioridade aos grupos de passei com minha família. E quando a indicam que, no mundo, as mulheres são mulheres, inclusive os informais. gente passa por tudo isso, a gente sente as maiores produtoras de alimentos, e isso o seu lugar. Em torno de 60% das mu- é invisível. RM – E a escolaridade da mulher lheres que vieram participar da Marcha Quando se fala de agricultura fami- do campo? nunca tinham vindo a Brasília. Esse liar, não se quantifica esse dado. Depois símbolo de força, coletividade, de que a de muita briga em torno da Pesquisa C – Abrimos um debate com o Ministério gente pode ir, criticar e propor é o mais Nacional por Amostragem de Domicílio da Educação em relação a dois aspectos: forte que temos.

Mátria Março de 2013 CNTE - Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação artigo Sindicatos de Educação 43 da América Latina

Em busca da igualdade em todos os espaços de poder e decisão Fátima Silva “Quero ir bem alto...bem alto... É que do outro lado do Secretária de Relações Internacionais da CNTE muro tem uma coisa que eu quero espiar.” e Vice-Presidenta Pagu do Comitê Regional da Internacional da Educação o longo da história, em todo o mundo, as mulheres tenham uma inserção condizente A o movimento de mulheres organizadas com a sua presença no conjunto da população, tem obtido avanços significativos em vários considerando sempre a diversidade étnica, ou setores: participação no mercado de trabalho, seja, a representatividade negra e indígena. acesso à educação e às universidades, conquista A luta das mulheres pela cidadania é his- de direitos sociais e civis. tórica e foi, literalmente, de perder a cabeça. No entanto, nos espaços institucionaliza- Em 1793, em plena Revolução Francesa, dos da política e do poder, as mulheres ainda quando se transpiravam lemas de liberdade, são subrepresentadas, apesar de serem a metade igualdade e fraternidade, Olympe de Gouges da população mundial. Essa desvantagem acabou decapitada por defender os direitos também está presente no movimento sindi- das mulheres e propor a “Declaração dos A ausência cal. O problema, no entanto, não diz respeito Direitos da Mulher e da Cidadã”, em que apenas às mulheres, mas é um tema político, afirmava terem as mulheres os mesmos di- de mulheres exigindo que as organizações repensem seus reitos dos homens – serem, portanto, iguais nos espaços modelos de participação e representação, – tendo, também, necessidades específicas criando novas metodologias de superação por serem mulheres, ou seja, diferentes. É de de poder e de práticas sexistas e excludentes. Olympe a célebre frase “se a mulher pode de decisão De acordo com levantamento da Inter- subir ao cadafalso, pode também subir nacional da Educação (IE), no movimento à tribuna”. significa um sindical da Educação na América Latina, cerca Para compreender a nossa subrepresen- deficit na de 70% dos membros das organizações são tação nos espaços de poder, devemos utilizar mulheres. Porém, nas direções sindicais, elas o conceito de gênero, uma categoria que democracia representam apenas 30%. Repensar as nossas surgiu nas Ciências Sociais, para dar conta e uma dívida organizações requer reconhecer que o espaço dos símbolos, valores, das representações e de direção sindical continua sendo majorita- práticas de cada cultura na relação entre um da sociedade riamente masculino e exige de todos nós uma e outro sexo. Essa reformulação conceitual em relação a vontade política de modificar tal realidade. surgiu para mostrar as desigualdades entre A ausência de mulheres nos espaços de homens e mulheres como uma construção todas nós. poder e de decisão significa um deficit na histórica, social e política. Portanto, aconte- democracia e uma dívida da sociedade em cem no campo político, cultural e relacional. relação a todas nós. A nossa representação po- Não foram dadas pela natureza. O conceito lítica e sindical é fundamental para se avançar de gênero surgiu com o intuito de romper na construção de uma sociedade mais demo- com o conceito de “sexo”, que analisa a crática e mais igualitária. É fundamental que, relação entre homens e mulheres a partir em todos os espaços políticos e representativos, da biologia, dos corpos sexuados. Portanto,

CNTE - Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação Março de 2013 Mátria artigo 44 gênero não é sinônimo de mulher. Refere-se aos distintos É uma construção política cuja base inclui novas con- significados, social e político, existentes numa sociedade, figurações para a igualdade de condições entre homens ao se tratar do ser mulher e do ser homem. e mulheres. É necessário lembrar que as desigualdades do presente têm as suas raízes na divisão sexual e social Paridade nos sindicatos do trabalho, instituída com o surgimento da sociedade Participar de direções sindicais é um direito político patriarcal, quando o trabalho masculino passou a ser das mulheres. A ausência de trabalhadoras nesses espaços supervalorizado e o trabalho feminino desvalorizado. tem reflexos não apenas na organização sindical como Os espaços públicos e de poder foram dominados também nas pautas de negociações que atingem direta- pelos homens. E, deles, as mulheres foram excluídas. mente a vida das trabalhadoras. A supremacia do poder masculino estendeu-se pelos É um desafio para o movimento sindical incorporar mais diferentes períodos históricos e, ainda hoje, tem uma nova concepção de trabalho e de organização sindical, força na sociedade contemporânea. Porém, com outros de modo a considerar, na definição da política sindical, o contornos e outras contradições. trabalho reprodutivo realizado pelas mulheres no âmbito Até hoje, as barreiras culturais têm um peso muito familiar e doméstico, levando, assim, em consideração as importante na exclusão das mulheres dos espaços políticos. desigualdades de gênero e a divisão sexual do trabalho. Os padrões machistas a respeito da vida privada, o cuidado A Central Única dos Trabalhadores (CUT) é, atu- com os filhos e as tarefas domésticas almente, uma importante referência fazem com que as mulheres tenham na construção da igualdade no movi- uma dupla jornada de trabalho, di- mento sindical. O seu 11º Congresso ficultando a sua participação social. aprovou a paridade de gênero na Por isso, muitas mulheres ocupantes As cotas alteram direção da entidade. Para o movi- de cargos de direção são solteiras, a composição dos mento nacional dos trabalhadores em viúvas ou divorciadas. E, quando têm Educação da Confederação Nacio- filhos, são grandes, já criados. Por- espaços de tomada nal dos Trabalhadores em Educação tanto, todos esses fatores devem ser de decisão, trazem (CNTE), está colocado o desafio de considerados na construção de novas diferentes pontos realizar esse debate e aprimorar os práticas e cultura sindical. As de- espaços de participação das educa- mandas da vida privada das mulheres de vista e favorecem doras nos cargos de direção. precisam ser consideradas na agenda novos aprendizados. No âmbito da prática, para a dos sindicatos. Rede de Trabalhadoras da Educação A Internacional da Educação tem da América Latina da IE, as organi- reiterado que, sendo o Magistério um setor majorita- zações da categoria de educadores de cada país precisam, riamente composto por mulheres, é imprescindível a além da política de cotas, investir na seguinte agenda: construção de políticas eficazes de participação, formação política e empoderamento das mulheres. »» trabalhar mais a formação político-sindical das trabalhadoras; Um passo importante foi a elaboração e publicação de um »» incorporar novas temáticas na formação, tais como: conceito de estudo revelando os obstáculos e as práticas que dificultam gênero, vida pública e privada, direito e legislação, economia, aná- a participação das mulheres na vida sindical e apresentan- lise conjuntural, entre outros; do uma série de recomendações para o fortalecimento da »» garantir financiamento para o desenvolvimento de uma política democracia sindical e construção de uma nova cultura. de gênero; Nesse aspecto, a política de cotas tem-se constituído »» incorporar cláusulas de gênero nas negociações coletivas; num importante caminho. As cotas alteram a composição »» realizar formação específica para os homens em temática de gêne- dos espaços de tomada de decisão, trazem diferentes ro, permitindo desenvolver uma nova masculinidade. pontos de vista e favorecem novos aprendizados. No entanto, não são uma solução mágica ou automática. É assim que vamos rompendo os muros visíveis e Mas, sua aplicação rompe com a visão de que o poder é invisíveis da exclusão e da discriminação, e engendrando somente masculino. A aplicação das cotas não carrega um a tão sonhada igualdade entre homens e mulheres, em fim em si mesmo, mas inaugura diferentes perspectivas. todos os espaços da vida humana.

Mátria Março de 2013 CNTE - Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação JOVENS NA POLÍTICA Elas fazem a diferença 45 : Divulgação Foto

Camila Vallejo: coragem para desafiar o sistema contra as políticas educacionais herdadas da ditadura no Chile

las são jovens, bonitas, estão nas Camila tornou-se uma espécie Militância – Mas, não é sua beleza E redes sociais e contam com mi- de porta-voz dos estudantes chilenos, que a faz diferente. A jovem dirigente lhares de seguidores virtuais e reais. um símbolo da revolta jovem contra estudantil chilena desafiou o presidente Com elas, o papo tem um ingredien- o descaso em relação à educação Sebastián Piñera à frente da mobi- te a mais: são protagonistas juvenis na pública. Seu prestígio se espalhou lização estudantil contra as políticas luta por uma causa que faz a diferença pelo mundo. No fim daquele ano, educativas herdadas da ditadura e man- na vida de seus países. Manuela Braga Camila estava na lista anual, feita tidas pelos governos que se sucederam e Camila Vallejo, uma no Brasil, outra pela americana Time, como uma após a transição para a democracia. Para no Chile, representam uma juventude das 100 Pessoas mais Influentes do Camila, é fundamental que os jovens que defende um futuro melhor com Mundo, tendo sagrado-se ainda, assumam um papel ativo na política. educação pública de qualidade. pela Newsweek, como uma das 150 “Não sou uma comunista inserida Em 2011, Manuela Braga foi mulheres mais corajosas do Planeta. em um movimento social alheio a eleita presidente da União Brasi- Leitores do jornal inglês Guardian mim. Sou parte dele, bem como todos leira dos Estudantes Secundaristas também a elegeram, numa enquete os meus companheiros das Juventudes (UBES). No mesmo ano, Camila na internet, a Pessoa do Ano de 2011. Comunistas e do Partido Comunista Vallejo, em seu país, o Chile, conse- Além disso, a beleza de Camila fez (PC). Integramos esse movimento guiu levar às ruas mais de um milhão com que o New York Times a chamasse espalhado por todas as partes. Por de pessoas durante manifestações de “a revolucionária mais glamurosa outro lado, em cada fábrica, empresa, pelas reformas estudantis. do mundo”. sindicato, associação de moradores ou

CNTE - Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação Março de 2013 Mátria JOVENS NA POLÍTICA 46 Emancipação feminina – Quanto à participação das mulheres : Divulgação em ações de protagonismo juvenil, Foto Manuela lamenta a repetição do que sucede em instâncias mais elevadas de poder nos espaços ocupados pelas jovens que queiram participar politica- mente. Segundo ela, embora reconheça que “a participação das mulheres vem Manuela Braga, presidente da ubes, quer mobilizar mais jovens para integrar o movimento estudantil acontecendo de forma significativa”, ainda se percebe a mesma dificuldade mesmo no parlamento do Chile, em nova e livre, ter participação políti- experimentada em níveis local e esta- cada lugar onde há um comunista, ca, poder e voz. Isso precisa mudar”, dual repetindo-se no âmbito estudantil. luta-se para que o movimento social enfatiza, convocando as potenciais li- “O menino pode participar e a menina triunfe”, declarou Camila, que no deranças jovens do Brasil a se tornarem não”, lamenta. início de 2013 foi lançada pelo PC protagonistas na mudança do roteiro Manuela relembra o quanto é candidata a uma vaga na Câmara dos de suas vidas e da nação. contraditório o fato de o Brasil viver Deputados de seu país. Também para Camila, sua entrada um momento especial – depois da Entre os livros e a militância, a no movimento estudantil e na mili- conquista do voto feminino, em 1932, verdade é que Camila e Manuela tância tem ligação com “a vontade de elegeu recentemente uma mulher ao saíram do lugar comum e assumiram mudança e transformação. A juven- mais alto cargo do país – e, ainda assim, cada qual o seu papel de liderança tude vem atentando, cada vez mais, enfrenta graves dificuldades no que se frente aos governos, em defesa da edu- ao poder de transformar e acho que refere à emancipação feminina. cação como o mais eficiente fator de essa vontade que sempre tivemos, de “No movimento estudantil não desenvolvimento de um país. romper paradigmas, é ela que a juven- é diferente, existe grande resistência “Sempre me incomodei em co- tude vem vivendo e, com nosso acesso e preconceito, do que é exemplo o nhecer estudantes pobres que não ampliado à educação, ao mundo do fato de as meninas geralmente terem assistiam aula por não ter dinheiro para trabalho, temos indagado mais, ques- mais dificuldade em participar de ati- o transporte, em conhecer alunos do tionado mais”, afirma. vidades fora da escola. Acredito que turno da noite sem dinheiro para a Inquietude – A chilena não essa realidade será totalmente transfor- alimentação. Essa ainda é a realidade sabe precisar exatamente quando teve mada, com mulheres ocupando cada de muitos, não somente no nordeste, início esse seu interesse pela causa. vez mais os espaços de decisão e, por mas em todo o País”, explica Manuela. Ela explica: “talvez na adolescência, fim, quando transformamos a socie- Antenados – Essa pernambucana quando comecei a me identificar com dade, conquistando espaço tanto para de 20 anos, aluna do Instituto Federal valores de esquerda, comuns à minha homens como para mulheres”, aposta. de Ensino de Educacão, Ciência e família. O que acontecia no mundo Tecnologia de Pernambuco (IF-PE), não me era indiferente, sentia que as espera ver o movimento estudantil se- pessoas não podiam permanecer de cundarista ainda mais “antenado” com braços cruzados, que havia coisas a outras pautas, como a do preconceito mudar”, recorda-se. Na web contra as mulheres. De acordo com a jovem do país “Conheço muitas meninas, dentro vizinho, os princípios de solidariedade, das escolas deste país, que têm sonhos, de compromisso com a sociedade, de @camila_vallejo inteligência e muita capacidade para justiça estavam nela bastante arraigados @Manu_Ubes participar dos grêmios, da UBES, e, como ela própria diz, “reforçaram-se mas sofrem preconceito e repressão na medida em que constatei o que de todos os tipos. São mal vistas pelos faltava realizar no meu próprio país, Camila-Vallejo-Dowling colegas, pela família, pela sociedade, especialmente a partir do momento Manuela.braga.96 que não compreende uma mulher em que entrei na universidade”, disse.

Mátria Março de 2013 CNTE - Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação REALIDADE Não há vagas 47 : Arquivo do Ministério do Trabalho Arquivo do Ministério : Foto

Texto: Maurício Angelo e Laura Veridiana

Sobram promessas e cena é conhecida e bem fa- do governo também é conhecida: a faltam planejamento A miliar. Parece algo normal e presidenta Dilma Rousseff prometeu esperado no Brasil. Mães, tias e avós entregar 6 mil creches até 2014, e execução na madrugando em filas, às vezes lite- mas, até o momento, só construiu 7. construção de creches ralmente acampando, esperando até Segundo pesquisa do Departamento pelo país afora mais de um dia para tentar conseguir Intersindical de Estatística e Estudos uma vaga na creche ou na escola Socioeconômicos (Dieese), em par- para o filho, o sobrinho, o neto. Da ceria com a Secretaria de Políticas enorme massa de pessoas que tentam para as Mulheres, apenas 18% das 10 desesperadamente uma chance, o milhões de crianças que deveriam “normal” é que apenas algumas, estar em creches estão matriculadas. vencido esse processo desumano, Para suprir a demanda, seriam neces- recebam uma senha. Um passe. Para sárias cerca de 19 mil unidades, muito uma nova espera e um novo cadastro. além, portanto, das 6 mil unidades É triste que isso seja encarado previstas. com “normalidade”. Que já não Parece um jogo de gato e rato “choque” mais ninguém. A resposta com a vida humana. É a proposta

CNTE - Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação Março de 2013 Mátria REALIDADE 48 para a contratação de serviços que promovam licitações. O impacto

: Laura Veridiana na vida das crianças e mulheres é

Foto avassalador. Impede não apenas o acesso das crianças a uma educação primária de qualidade como também das mulheres ao mercado de trabalho, conquistando autonomia”, afirma. Leila alerta quanto à dificuldade de serem obtidos dados precisos. “Dizem que estão construindo creches, mas quando se vê ainda estão em fase de processo licitatório de sondagem, topografia. Há toda uma propaganda criando uma falsa Valéria paga creche particular para poder trabalhar ideia de que a política está sendo implementada. O sucesso da polí- tica depende do compromisso do de enxugar gelo. De oferecer uma quem é daqui.Para nós, de fora, eles Governo, dos gestores e da transpa- solução que, mesmo cumprida na querem que fiquemos por lá, não rência do processo”, lembra Leila. totalidade, não chegará nem perto de desejam nossos filhos misturados Para Salomão Ximenes, co- resolver o problema. Enquanto isso, com os meninos aqui de Brasília. ordenador do programa Ação na milhares de mulheres aglomeram-se Existe muito preconceito”, conta. Justiça da ONG Ação Educativa, em filas pelo Brasil afora. Como o ensino integral não está os dados do Censo Escolar 2010, Valéria Clemente de Araújo, 37, implantado nas escolas da cidade em que diferem daqueles coletados nos é moradora de Valparaíso, cidade que Valéria mora e na maioria das Censos Educacionais – uma vez que do estado de Goiás que faz parte cidades do país, ela precisa continuar estes últimos medem matrículas em do entorno do Distrito Federal. pagando a creche em paralelo com instituições de ensino regulares –, Valéria, que trabalha num café a escola. demonstram que em 2010 a taxa de de um prédio comercial localizado frequência a creches, da população na área central de Brasília, procurou Para especialistas, com idade entre 0 e 3 anos, era de vaga em creche pública para o filho situação é precária 23,5%. “Simplesmente repetir essa Mateus, hoje com 7 anos. E, como A primeira meta do Plano Na- meta no novo PNE – manter 50% muitas de suas amigas, não achou. cional de Educação (PNE) é clara: até 2020 – não pode ser admitido, Foi obrigada a pagar uma instituição “ampliar, até 2020, a oferta da edu- pois significaria manter como está o particular para o garoto, que fre- cação infantil de forma a atender ritmo de expansão, admitindo que quenta a creche desde os 4 meses de 50% da população de até 3 anos”. durante toda a próxima década a idade e atualmente divide seu tempo Como tantas outras metas do PNE, entre a creche a escola, onde cursa essa também está muito longe de a 1º série. Valéria chega a gastar R$ se tornar realidade. Segundo Leila 300,00 por mês do seu salário com Regina Lopes Rebouças, assistente algo que é de seu direito, mas não técnica da ONG Centro Feminista CRECHES - QUASE NADA é oferecido. “É humilhante. Muito de Estudos e Assessoria (CFEMEA), » 1.140 em construção complicado para uma mãe passar por há várias deficiências impedindo que » 1.342 em planejamento isso. Minhas amigas também foram essa política avance. » 503 em licitação obrigadas a partir para creche par- “O que se vê nos estados, quanto ticular. Além de Valparaíso, também à dificuldade de implementação » 17 paralisadas não encontramos vagas em Bra- dessa meta, é a falta de capacidade da » 10 projetos reformulados

sília porque eles dão chance para gestão pública, incluindo a burocracia Fonte: Ministério da Educação/2012

Mátria Março de 2013 CNTE - Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação REALIDADE 49 maioria das crianças continuará ex- da Educação Básica e de Valoriza- cluída”, afirma. ção dos Profissionais da Educação Salomão defende que o PNE, (FUNDEB), o Brasil Carinhoso e Metas ainda em discussão no Congresso o Programa Nacional de Reestru- Em conjunto com entidades Nacional, determine o atendimento turação e Aparelhagem da Rede que acompanham de perto o de no mínimo 50% da população Escolar Pública de Educação Infantil tema, como a própria Ação de 0 a 3 anos até o seu quinto ano (ProInfância) simbolizaram um passo Educativa e a Campanha de vigência. Até o décimo ano, seria importante para dar início à mudança Nacional Pelo Direito à atendida toda a demanda manifesta, desse quadro. O FUNDEB, criado Educação, há uma série ou seja, todas as crianças cujos pais ou em 2006, incluiu a educação infantil de medidas lembradas por responsáveis venham a buscar uma no rateio de recursos para o finan- Salomão que poderiam vaga na rede pública. “Também é ciamento da educação infantil. Ainda acelerar o processo de importante o PNE estabelecer metas assim, um dos principais problemas é democratização do acesso de equalização regional e por ren- o baixíssimo valor assegurado para as à educação infantil de dimento das famílias, porque hoje matrículas em creches e pré-escolas, qualidade. São elas: boa parte do atendimento se dá nos que divergem bastante do custo real, municípios e para famílias mais ricas, como demonstra o estudo sobre o 1) Implementar o Custo Aluno- que ‘puxam’ a taxa de escolarização Custo Aluno-Qualidade Inicial, Qualidade Inicial em todas as para cima. É fundamental, do ponto desenvolvido pela Campanha Na- etapas da educação básica; de vista da justiça social, as metas es- cional pelo Direito à Educação e 2) Estabelecer um limite temporal tabelecidas no PNE serem atingidas aprovado pelo Conselho Nacional e quantitativo para a terceirização em cada município”, completa. de Educação. da educação infantil, determinando Essa diferença acaba estimulando a progressiva substituição dos convênios por atendimento Avanço lento o atendimento precário, em tempo regular, como determina inclusive Nos últimos anos, no entanto, parcial e em instituições privadas a legislação trabalhista; medidas e programas, como o Fundo conveniadas com o poder público. de Manutenção e Desenvolvimento O FUNDEB não estabelece limites 3) Apoiar, efetivamente, os Municípios que comprovem para matrículas em instituições con- insuficiência de recursos próprios veniadas, as quais costumam oferecer para o pagamento do Piso Nacional, Leila Rebouças: falta de creches remuneração muito inferior ao incluindo ainda, na carreira do compromete autonomia das mulheres patamar estabelecido pelo Piso Na- magistério, todos os professores cional do Magistério. que atuam com educação infantil; O Brasil Carinhoso, criado em 4) Reforçar as ações de investimento 2012 para ajudar a reduzir a pobreza para construção e compra de extrema, acrescenta ao valor do Bolsa equipamentos para novas unidades; : Divulgação

Foto Família R$ 70,00 para cada membro 5) Elevar por, no mínimo 10 anos, da família com filho de até 15 anos. a vinculação constitucional de Já o ProInfância oferece assistência impostos para a manutenção financeira ao Distrito Federal e aos e desenvolvimento do municípios para construção, reforma ensino, vinculando 25% dos impostos da União e 30% dos e aquisição de equipamentos e mo- impostos e transferências biliário para creches e pré-escolas de estados e municípios; públicas da educação infantil. Tais auxílios, no entanto, estão longe de 6) Promover a responsabilização política, civil e penal dos garantir a oferta necessária e sofrem administradores não cumpridores com a execução final, sendo, muitas da legislação quanto ao vezes prejudicados e até paralisados financiamento da educação e pela burocracia, pela incompetência à valorização do magistério. e pela corrupção.

CNTE - Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação Março de 2013 Mátria ARTIGO 50 A mulher brasileira e sua participação nos cargos de decisão sindicais Marta Vanelli A julgar pelos números, o poder das Secretária geral da Confederação Nacional mulheres ainda deixa a desejar em dos Trabalhadores cargos de direção nos sindicatos em Educação

mulher brasileira tem tido papel A mulher está mais forte e com maior A fundamental no desenvolvimento eco- escolaridade, mas o caminho para a repre- nômico e social do País. Seu mais recente sentatividade e a participação em cargos perfil, divulgado pelo Instituto Brasileiro de de comando e direção, principalmente em Geografia e Estatística (IBGE), revela que, em entidades de classe, ainda é difícil de ser uma década, as mulheres estudaram mais, au- observado. O que se percebe é que há uma mentaram sua presença no mercado formal de longa estrada a percorrer. A luta pela trabalho, incrementando, assim, a sua jornada. A classe trabalhadora é composta por O total de mulheres ocupadas, entre 2001 homens e mulheres e essas, em nossa so- paridade e 2011, cresceu de 43,2% para 54,8%. Simulta- ciedade capitalista, além de oprimidas em fortalece neamente, houve o adiamento da maternidade função de sua classe, também o são por seu em todas as faixas etárias. Dados do Instituto gênero. Fazem parte de sua realidade a dupla a luta das mostram que, em 2001, das mulheres entre os jornada, os baixos salários, o trabalho precário mulheres 25 e 29 anos, 31% não tinham filhos. Em 2011, e o assédio moral e sexual. o percentual subiu para 40,8%. Enquanto isso, Os dados sobre a participação das mu- para garantir a taxa de fecundidade caiu para 1,95 filho lheres comprovam que elas ainda têm uma a igualdade por mulher. participação sindical inferior não correspon- Hoje, há mais crianças nascidas de mães dente à sua inserção no mercado de trabalho. no interior do com idade entre 30 e 34 anos do que de 15 E, por mais que a sindicalização das mulheres movimento a 19 anos. Há dez anos, o cenário era com- tenha aumentado, nas diretorias das entidades pletamente diferente. Pelo que nos informa a essa inserção não as permite ocupar os três sindical, no publicação Estatísticas do Registro Civil 2011, cargos tradicionalmente considerados mais qual a maioria do mesmo IBGE, também na hora de casar, importantes: presidência, secretaria geral e nenhum grupo ganhou tanta participação tesouraria. das mulheres quanto o das mulheres com mais de 30 anos. No meio sindical, as mulheres ficam convive com E mais: ao longo dos anos, também aumentou, segregadas nos cargos de menor poder no Brasil, o número de brasileiras que são político. Tal constatação é uma demons- o machismo chefes de família. Enquanto em 1996, 20,81% tração clara de que nas relações sociais de secular dos dos lares tinham como chefe uma mulher, gênero há uma divisão sexual de poder, homens. segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de concretizada no cotidiano das entidades, Domicílio (PNAD), ano base 2011, passamos nos cargos, nos mecanismos de poder a ter 37,4% das famílias com uma mulher sindical – seja no discurso, na experiência como pessoa de referência, o que revela um sindical, no tempo de mandato, na coor- acréscimo digno de nota. denação dos trabalhos em assembleias, nas

Mátria Março de 2013 CNTE - Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação ARTIGO 51 viagens a Congressos, nos cursos percebemos que, na grande maioria % de % de de formação, etc. dos sindicatos, o percentual de mu- Sindicato/Estado Mulheres Mulheres na nos Desde a criação da Comissão lheres nas direções é razoável. No e ou Município Principais Direção Cargos Nacional da Mulher Trabalhadora, entanto, a situação muda quando ve- em 1986, hoje Secretaria Nacional rificamos o percentual de mulheres SINTEAM/AM 47% 33% da Mulher Trabalhadora, da Central no centro do poder. Das 44 entidades SINTEPP/PA 34% 33% Única dos Trabalhadores, foram edita- filiadas, 20 têm mulheres na presidên- SINTET/TO 30% 0% das muitas publicações para contribuir cia, representando 45%. com o debate, até mesmo aprofun- Merece registro o fato de que SINTERO 27% 33% dando-o onde já se fizesse presente, são os sindicatos da região sul os SINTERR/RR 38% 0% sobre a distribuição do poder entre que concentram o maior percentual SINTEP/MT 48% 60% as mulheres nos sindicatos. feminino nas direções e no centro FETEMS/MS 37% 40% A resolução do 11o Congres- do poder. Um destaque também so Nacional de 2012, ao aprovar a deve ser dado ao SindUTE/MG, ao SINPRO/DF 54% 33% paridade nas direções, indica que “par- SINTEAL/AL e ao CPERS/RS, SAE/DF 50% 0% ticipar de direções sindicais é um direito entidades estaduais, e aos sindicatos SINTEGO/GO 64% 67% político das mulheres. (...) A aplicação municipais: SINTERG/Rio Grande/ APLB/BA 50% 0% da paridade é um passo importante para RS, SINPROSM/Santa Maria/ a construção de políticas que alterem as RS, SINTERPUM/Timon/MA e SINTESE/SE 70% 60% condições de participação política e sindical SINPMOL/Olinda/PE, onde todo SINTEAL/AL 89% 100% das mulheres”. o poder está com as mulheres. SINTEPE/PE 35% 33% Essa resolução já reflete as mu- Continuando, temos ainda Sinproja/pe* 67% 67% danças na composição de cargos nas um outro importante destaque: a CUT estaduais. Assim é que, das 27 APEOESP/SP, maior entidade filiada, Sinpmol/Olinda - PE 67% 100% representações, oito têm mulheres tem 47% de mulheres na direção, as SIMPERE/Recife - PE 74% 67% na presidência, representando 29,6% quais detêm 67% dos cargos detento- SINTEP/PB 46% 17% do total. res de maior poder. Também é preciso SINTE/RN A CNTE é composta por en- destacar que os dois sindicatos de fun- 48% 60% tidades sindicais representantes de cionários/as de escolas, SAE/DF e APEOC/CE 41% 33% profissionais da educação básica e, AFUSE/SP, possuem 50% e 59%, res- SINDIUTE/CE 80% 75% segundo as pesquisas, 82% desses pectivamente, de mulheres na direção SINTE/PI 49% 33% profissionais são do sexo feminino. sem que, no entanto, sua participação Paradoxalmente, durante esses 19 se localize no centro do poder. SINPROESSEMMA/MA 44% 50% anos, da aprovação da cota até a pa- Ao aprovarmos a paridade nas SINTERPUM – Timon - MA 100% 100% ridade, a presença de mulheres na direções, não podemos confundi-la SindUTE/MG 57% 100% direção da CNTE oscilou de 23% com divisão de espaço de poder e APEOESP/SP 47% 67% (na gestão de 1993 a 1995) a 67% (na de decisão nas entidades, os dois são gestão de 2005 a 2008). No centro do diferentes, conforme vivenciamos AFUSE/SP 59% 0% poder, as mulheres alcançaram 33% hoje nas direções dos sindicatos. Ao SINPEEM/SP 55% 33% na gestão de 1997 a 1999 e 67% nas implementar a paridade, que é um SINDIUPES/ES 37% 25% gestões de 2002 a 2005 e de 2005 a aspecto da democratização do espaço APP/PR 47% 67% 2008, períodos em que a primeira sindical, precisamos lutar para garanti- e única mulher, Juçara Dutra Vieira, -la também nos espaços de poder e SINTE/SC 53% 67% ocupou a presidência. decisão, aspecto que aprofunda a pari- CPERS/RS 67% 100% Como demonstrado no Box ao dade. Afinal, estatisticamente, o perfil SINPROSM/Santa Maria - RS 83% 100% lado, analisando a composição das da mulher brasileira já demonstra sua SINTERG/Rio Grande - RS 80% 100% atuais direções dos sindicatos filiados força e seu papel determinante na vida à CNTE, assim como a sua presen- do País. O que falta é fazer valer o CNTE 38% 33%

ça nos principais cargos de poder, que já está indicado na prática. * Jaboatão dos Guararapes - PE

CNTE - Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação Março de 2013 Mátria SAÚDE 52 : Divulgação Foto

HPV – A prevenção começa na escola

DF sai na frente e deve alta pouco para uma nova colo de útero em 90% dos casos. F vacina ser incorporada ao ca- Para preveni-lo é recomendado não vacinar em 2013 cerca de lendário de imunização do Governo apenas o uso do preservativo (cami- 190 mil meninas em toda Federal. Já foi aprovado pelo Senado sinha) como também a vacinação, a rede de ensino público Federal um Projeto de Lei que de- mas essa ainda é recente e cara. Nas termina a vacinação de meninas clínicas particulares, custa em média de 9 a 13 anos de idade contra o R$ 1.000,00. Papilomavírus humano (HPV). O Mortalidade – De acordo com texto, é bem verdade, ainda precisa a senadora Vanessa Grazziotin, “o ser aprovado pela Câmara dos Depu- câncer de colo uterino é o segundo tados, o que deve ocorrer ainda em tumor maligno de maior incidência 2013, segundo previsão da autora da na população feminina, no Brasil, só matéria, senadora Vanessa Grazziotin perdendo para o câncer de mama, (PCdoB-AM). constituindo-se num problema grave O HPV não é muito conheci- na área da saúde da mulher”. Ela do pela população em geral, apesar explicou que a estimativa é de que de ser o responsável pelo câncer do quase 5 mil pessoas morram por ano

Mátria Março de 2013 CNTE - Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação SAÚDE 53 imunização. Nesse sentido, o governo vacinarem contra o HPV. “Vamos do Distrito Federal decidiu se anteci- explicar a importância da vacina para par ao Projeto de Lei em andamento a fase adulta da criança. O exemplo no Congresso e já no primeiro se- será o da vacina de poliomielite e de mestre de 2013 iniciará a vacinação tuberculose, que tomamos quando de crianças entre 11 e 13 anos de somos crianças, com um mês de idade. idade, e que elas valem para o resto Cerca de 190 mil meninas, nessa da vida”, contou. faixa etária, deverão ser vacinadas Pesquisas revelam serem as em toda a rede de ensino público, meninas que ainda não fizeram sexo explica Marília Coelho, subsecretária as principais beneficiadas. Para as mu- de Vigilância à Saúde da Secretaria lheres, o indicado é manter a rotina de Estado de Saúde do Distrito de realização do exame Papanicolau Federal. O processo de imunização e de prevenção das DST pois, mesmo será realizado em parceria com a rede comprovada a eficácia da vacina e educacional e, conforme detalha a mesmo sua aplicação ocorrendo em subsecretária, e vai além da simples larga escala, a redução significativa vacinação em si. “Estamos trabalhan- dos indicadores da doença pode do com a Secretaria de Educação demorar algumas décadas. para realizar um trabalho junto às Segundo o Ministério da Saúde, famílias, cuja proposta é a de explicar a vacina funciona estimulando a pro- a importância da vacina e esclarecer o dução de anticorpos específicos para porquê de sua aplicação em crianças, cada tipo de HPV. A proteção contra antes do início da vida sexual, jus- a infecção dependerá da quantida- tamente pelo fato de a imunização de de anticorpos produzidos pelo ser recomendada principalmente indivíduo vacinado. A duração da em meninas e adolescentes, antes imunidade conferida pela vacina do início da vida sexual, quando sua ainda não foi determinada, prin- eficácia é de quase 100%”. cipalmente pelo pouco tempo em Campanha – Haverá, portanto, que é comercializada no mundo, um intenso trabalho de divulgação. Já desde 2007. foi elaborada uma cartilha para expli- em decorrência da doença, acrescen- car a vacina, seus efeitos, sua eficácia tando que “as maiores vítimas são as e sua importância e, ainda segundo Senadora Vanessa Grazziotin, autora do projeto mulheres de baixa renda”. Marília, está se desenvolvendo “um

A motivação da senadora em trabalho junto aos educadores, para : Divulgação apresentar o material ao Congresso que haja reuniões com as famílias das Foto Nacional deu-se, principalmente, em meninas para serem dadas as expli- função de “o Brasil ser um dos líderes cações necessárias”. mundiais de incidência da doença, A imunização será feita no entre as mulheres até os 25 anos”. próprio colégio, desde que a criança Ela destacou que na região Norte a ou adolescente tenha autorização dos situação ainda é mais crítica, sendo pais para receber a dose, a ser aplicada a causa mais comum de morte por em três etapas – uma a cada mês. câncer. Em complemento, será realiza- Saiu na frente – A Organização da uma campanha publicitária de Mundial da Saúde (OMS) recomen- esclarecimento das famílias para a da que a vacinação contra HPV seja que exista uma ampla compreensão incluída nos programas nacionais de quanto à necessidade das crianças se

CNTE - Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação Março de 2013 Mátria IGUALDADE 54 A diferença é o respeito

ano de 2012 trouxe uma à homofobia, o estabelecimento O mudança significativa para de decisões no Supremo Tribunal todos nós. É que a chamada tradi- Federal (STF) a favor de união cional família brasileira deixou de homossexual, a estruturação de apresentar um perfil de tipo “clás- políticas públicas específicas, a ga- sico” já que, pela primeira vez em rantia de mudança de sexo a cargo nossa história, o Censo capturou do Sistema Único de Saúde (SUS), uma nova realidade no País: os novos a recomendação do Ministério da arranjos familiares, que passaram a Educação para o uso do nome social responder por 50,1% dos lares. de travestis nas escolas. São as “famílias-mosaico”, que A realidade tem levado as escolas abrigam pais separados, mães ou pais a conviver com situações e ques- sozinhos com filhos, netos e avós tionamentos que as desafiam a se morando sob o mesmo teto e casais adequar e a enfrentar com naturali- em união homoafetiva. dade o que hoje já é uma realidade No último levantamento foi para milhares de crianças e adoles- preciso listar pelo menos 19 laços centes. “Existem questões de fundo, de parentesco para dar conta dos novos tipos de família que respon-

dem por 28 milhões de lares, sendo : Divulgação

60 mil deles habitados por pessoas Foto que compõem estruturas homoafe- tivas. Desse total, a maioria, 53,8%, é formada por mulheres. Cada vez mais, casais homopa- rentais estão adotando e tendo seus próprios filhos. Mas, se, por um lado, gays e lésbicas estão preparados para, felizes, terem filhos, por outro, a so- ciedade ainda caminha para aceitar essas novas famílias. Avanço – O Brasil vive nos últimos anos uma sequência de avanços na garantia dos direitos de lésbicas, gays, bissexuais, tra- vestis, transexuais e transgêneros (LGBT), em virtude da conquista de várias medidas: a elaboração do Miriram Debieux Rosa: naturalidade com os Plano Nacional de Enfrentamento novos arranjos familiares

Mátria Março de 2013 CNTE - Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação IGUALDADE 55 como trabalhar junto aos professores A medida foi aprovada pelo e escolas que esse é um novo tipo Conselho Escolar e segundo a de família e que as funções parentais direção da escola, foi adotada porque maternas e paternas podem ser exer- dois alunos reclamaram de cons- cidas independentemente do arranjo trangimento no sanitário masculino. familiar”, explica Miriam Debieux Outras situações pontuais acontece- Rosa, professora de Psicologia e Psi- ram e, desde então, o banheiro dos canálise na Pontifícia Universidade professores passou a ser utilizado Católica (PUC) e Universidade de como alternativa para esses alunos. São Paulo (USP). Na época, um estudante de Já existe na rede de ensino 17 anos (que não quis se identifi- pública e privada, e mesmo por car) disse que aprovava a medida. parte do governo, a preocupação de “Meninos ficam olhando com cara abordar a questão da homoafetivida- feia”, afirmou o jovem. de. “É uma discussão nacional, é uma Na avaliação dos professores e necessidade social contemporânea da direção da escola, a medida não que temos que discutir, debater e é discriminatória e não visa isolar fazer avançar para garantia de di- os homossexuais, mesmo assim, não : Divulgação Foto reitos dessas pessoas”, esclarece Ana pretendem estimular que mais alunos José Marques, – coordenadora de utilizem os banheiros já denominados Tatiane Lionço: "é uma questão educação em diversidade, da Secre- alternativos. “O nosso objetivo é a de saúde pública" taria de Educação do governo do educação. É conscientizar para que Distrito Federal. essas realidades possam ser trabalhadas No Paraná, na cidade de Lon- de forma que todos tenham direitos ”, docente de graduação e mestrado e drina, os alunos do colégio estadual declarou o diretor Donizetti Brandino. ativista LGBT. Vicente Rijo convivem há mais de O presidente da Associação Bra- Tatiane lembra que “Respeito à dois anos com uma alternativa para sileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Diversidade se Aprende na Infância” estudantes transexuais e travestis. Travestis e Transexuais (ABGLT), foi tema do 9º Seminário LGBT re- Eles têm a opção de poder usar um Toni Reis, criticou a medida adotada alizado pela Câmara dos Deputados, banheiro para alunos homossexuais. no Colégio Estadual Vicente Rijo, em Brasília, em 2012. No evento, foi classificando a iniciativa como "se- retomada a discussão iniciada quando gregacionista". da apresentação do projeto “Escola "É uma solução simplista para uma Sem Homofobia”. Foram debatidas a

: Katia Maia situação complexa. Somos totalmente educação, o ambiente escolar, a homo-

Foto contra. Você não pode ir criando ba- fobia na infância e a adolescência e a nheiros, bibliotecas, salas especiais para sexualidade na infância e adolescência. pessoas com especificidades. As indivi- “Não é uma questão ideológica dualidades precisam ser respeitadas. É discutir sexo e drogas com crianças e um princípio totalmente equivocado" adolescentes, é uma questão de saúde declarou Reis em 2012. pública, pois trata-se de discutir pre- Aprendizado – O respeito à venção, questões de civilidade, ética diversidade é um tema que tem sido relacional, como o enfrentamento da discutido na escola, até porque “é na misoginia, do machismo, da discrimi- infância que se aprende a lidar com nação por orientação sexual”, conclui a diferença”, destaca Tatiana Lionço, Tatiane Lionço.

Ana José Marques: debate é uma necessidade social contemporânea

CNTE - Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação Março de 2013 Mátria CULTURA 56 : Divulgação Foto Música sem barreiras

Joyce, Lurdez da Luz e Karina Buhr: tradicionais e novas vozes da música brasileira usam a arte para abordar a igualdade de gênero

Texto: Maurício Angelo

Joyce Moreno, uma das pioneiras do olhar feminino na MPB

specialmente a partir dos anos 60, compondo em primeira pessoa e Herdando um legado dos tempos E ao lado das profundas mudanças trazendo para o centro da discussão do teatro de revista e das “rainhas do e revoluções pelas quais a sociedade um hábito considerado normal na rádio”, a bossa e a nova MPB che- passou em todo o mundo, a música época, questionando-o, em sua garam com tudo com nomes como se constituiu, de maneira destacada, prática de artista. “Eu achava ridículo Joyce e também , Maysa, como uma seara de combate e en- quando ouvia uma mulher cantan- Maria Bethânia, Elis Regina, Clara frentamento, intensificada em países do no neutro ou até no masculino. Nunes, Nara Leão, entre tantas outras. que passaram por uma ditadura, como E também achava estranho ouvir Para Joyce, cada uma pode contri- foi o caso do Brasil. músicas de autores homens falando buir à sua maneira para a mudança Entre inimigos bem conheci- no feminino, ainda que algumas dessas do pensamento vigente. “No meu dos, como o próprio regime militar, músicas fossem muito bonitas. Aos 18 caso pessoal, sempre me interessou gerador de dezenas de canções de anos, comecei a compor no feminino, mais o aspecto da composição, da fala protesto, e o exílio de nomes consa- a falar de questões da mulher, e não feminina direta e da criação de uma grados da nossa MPB, existiam temas parei mais”, afirma a artista, hoje com linguagem própria. O mais compli- mais delicados, como o machismo e quase 50 anos de carreira, dezenas de cado, em 1968, ano do meu disco a igualdade de gênero. discos gravados, atuante nos palcos de estreia, foi o fato de eu ser uma Joyce Moreno foi uma das pri- do Brasil e do mundo e também na compositora, compondo no feminino meiras vozes a encarar esse “Brasil web, por meio do blog http://outras- singular. Isso, sim, foi considerado es- moderno” sob a ótica feminina, -bossas.blogspot.com.br/ tranho na época. Mas, de todo modo,

Mátria Março de 2013 CNTE - Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação CULTURA 57 acho que todas deram uma contribui- Lurdez nasceu em São Paulo e foi na voz e na mente de uma mulher. ção, cada uma do seu jeito”. integrante do grupo Mamelo Sound “Sempre tenho alguma mensagem Joyce se considera uma “feminista System, surgido no fim dos anos 90, para propagar, um MC tem que ter pós-movimento feminista”, por pre- até partir para a carreira solo, em 2009, isso claro, a responsabilidade pelo seu ferir a posição das teóricas feministas ganhando reconhecimento nacional e discurso. Quero ser uma voz ativa que francesas, mais inclusiva e solidária, à internacional. Para Lurdez, a melhor representa muita gente e interesses das feministas americanas, vista por ela maneira de combater o preconceito é maiores, mesmo quando trato de uma como agressiva demais em relação aos compor e escrever livremente. “Acho letra pessoal”. homens. “Na nossa realidade brasileira, que você se libertar ao máximo, es- Segundo Lurdez, um novo o mais importante é ajudar os homens crevendo o que quer que seja, sem público está sendo atraído para esse a se libertarem de certos preconceitos se preocupar com setores que vão gênero musical. “Vejo que o rap feito machistas, às vezes tão gravados no achar ruim, essa é a melhor forma de pelas mulheres tem trazido um novo inconsciente que eles mesmos não combate. Meu primeiro compromisso público para ele, pessoas que gostam percebem. E partir para uma relação é fazer uma música que eu ache muito de outros estilos musicais, que têm mais igualitária mesmo”, pondera. legal de ouvir e que traga inovação de outras experiências e que não gostavam Das pioneiras até hoje, a música alguma forma”. antes de rap. Acho que a sensibilidade e a sociedade brasileira passaram por O caráter de conscientização in- e a diversidade expostas nas letras são mudanças, ao mesmo tempo em que trínseco ao rap ganha novos contornos fundamentais para isso”, finaliza. continuam carregando o ranço do machismo, tratado por novos nomes e novos rostos. É o caso não só de Lurdez da Luz e Karina Buhr, que deram o seu depoimento para a Falo por aqueles que num Mátria, mas também de Juliana Kehl, tem pra onde voltar Vanessa da Mata, Thais Gulin, Tulipa Que sempre vão seguir Ruiz, Bárbara Eugênia, Céu, Roberta sem saber onde vai dar Sá, Ana Cañas, Marina De La Riva, Que pra longe vão ir Aline Calixto, Bluebell, Luisa Maita mas nunca vão chegar e outras, que colocam a mulher no A fincar raíz em terra própria centro do que de melhor é feito na A história tá gravada música da atualidade. na nossa matiz, diz Atravessa a pele é Lurdez da Luz: voz feminina no rap tatuagem cicatriz, O rap e o hip-hop sempre foram Raíz é pé é coração, estilos considerados machistas e mi- é mente sã sóginos, caracterizando a maioria de É retina cristalina sem suas criações pela agressão direta a ter medo do amanhã mulheres e inferiorizando-as ao papel Inevitável, inexorável, de objeto sexual, especialmente no bota cimento e tijolo hip-hop feito nos Estados Unidos. sobre o vento favorável No Brasil, ainda que esse padrão Invisível é o próximo nível não seja seguido à risca, o rap sempre Rude boyz and girls foi mais resistente a mudanças. E de alma sensível uma nova leva de mulheres começa Vão chegar lá a mudar esse cenário. Lurdez da Luz é um dos principais nomes desse (Música: Carregar) momento, ao lado de outras rappers, Lurdez da Luz como Karol Conká, Flora Matos e : Divulgação

Stefanie Ramos. Foto

CNTE - Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação Março de 2013 Mátria CULTURA 58

Karina Buhr: direto ao ponto arina Buhr é um dos principais nomes da nova geração de compositoras K brasileiras. A baiana que cresceu em Recife começou no Comadre Fulozinha, um coletivo de artistas, e partiu para a estreia solo em 2010. De imediato, Karina foi celebrada como uma das mais incisivas vozes de sua geração, além de ter sido reconhecida não só pela incendiária performance de palco que a caracteriza, como também pela postura mais agressiva e direta nas letras e nas causas que defende, entre elas, o feminismo. Em 2012, Karina lançou o projeto “Sexo Ágil” no Dia Internacional da Mulher (08 de Março), tentando justamente alertar para o machismo escondido em comportamentos do cotidiano, tanto de homens quanto de mulheres. Na entrevista a seguir, Karina revela essa característica marcante, fala com propriedade sobre aquilo que a incomoda e discorre sobre como a arte pode contribuir para promover mudanças. : Divulgação Foto

Mátria Março de 2013 CNTE - Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação CULTURA 59 Revista Mátria – Quando se trata mulheres’”, elas são um setor especial, Queria jogar bola e não podia, de igualdade de gênero, você tem inferior. É assim que é, como se assim queria surfar e não podia, andar de uma das atuações mais notáveis verdadeiramente fosse. skate e não podia (Que bom que isso e intensas seja nas letras, seja na tudo está mudando!). Tem que namorar performance de palco, seja até RM – Como o machismo da socie- pouco, enquanto os meninos namoram na sua participação na prática e dade reflete no campo artístico? muito e são incentivados a fazer mais e nas redes sociais. Como todos mais, tem que ser educada, mais do que esses pontos convergem para K – Reservando aos homens o papel de os meninos, tem que ser meiga, usar uma luta direta e indireta contra gênio e às mulheres o de seguidoras de roupas comportadas. Ou também ter o machismo e o preconceito? algum gênio homem. Limita a ação das obrigatoriamente que usar batom, salto mulheres. Os “grandes”, tanto quanto alto, arrumar cabelo, porque isso é “coisa Karina – Isso faz parte do dia a dia de na ciência, são homens. Para as mulhe- de menina”. todos nós. Esse assunto tem que ser dis- res existe um setor especial, como falei Sempre quis fazer algo no dia 8 de cutido sem cessar, todos os dias das nossas na resposta anterior. É triste, agressivo e março (Dia Internacional da Mulher), vidas, entre homens e mulheres. Esse é opressor, como em todos os outros setores porque não engulo quando chega essa o único jeito das mudanças acontecerem. da nossa vida. data e as mulheres recebem rosas «pelo É tão da nossa cultura essa agressão – seu dia». Meu dia é todo dia, não quero vinda dos homens para as mulheres e das RM – Como você sente a recep- rosa de «dia da mulher». Conheço as mulheres contra elas mesmas – que já se ção e a abordagem do público e razões históricas da data, como marco tornou quase natural, e é triste perceber essa da mídia ao trabalho das canto- importante em torno das conquistas realidade a cada minuto. Como também é ras, nos últimos anos? das mulheres, mas não aguento mais triste ver mulheres aceitando tais práticas, ser tratada como exceção. ou chamando de “feminista chata” quem K – Existe uma tendência a colocar luta contra isso. todas as mulheres no mesmo balaio e RM – Recentemente, o Distrito também de chamar todas de cantoras, Federal incluiu de forma oficial RM – Ainda faz sentido falar em mesmo quando algumas são bem mais a matéria sobre direito das mu- “machismo” na música popular compositoras do que cantoras, como é o lheres no currículo escolar. brasileira atual? meu caso e de outras também. Não há Como você vê a importância de nenhum problema em ser “só” cantora, iniciativas como essa e como K – Infelizmente, faz todo sentido. A claro. Mas, não deixa de ser uma maneira isso pode se tratado na escola música popular brasileira não está fora da de minar nossas ideias, nossas criações por meio da arte? nossa tradição machista. Música é tida e nos colocar num patamar apenas de como coisa de homem, as mulheres têm análise das potencialidades vocais. Sendo K – Isso é muito importante, sempre até o direito de participar, mas num lugar que a arte e a comunicação na arte vão num sentido de mostrar igualdade e não bem menor, sem dividir o papel de agente muito além disso. Mulheres que fazem ressaltar as ditas características femininas. motor das coisas. Os homens são os gênios, trabalhos completamente diferentes uma Um aspecto que sempre me incomodou as mulheres são as musas. Homens res- das outras são tratadas de maneira igual (inclusive quero abordá-lo no próximo peitadíssimos no que fazem podem existir e como se fizessem a mesma coisa. Sexo Ágil – quero fazer outros –), é o um sem número deles, já às mulheres é fato de se estudar história nas escolas sem reservado o lugar da disputa. Mesmo que RM – Fale um pouco sobre nenhuma referência à matança histórica isso não seja verdade, de jeito nenhum, a origem e o objetivo do seu de mulheres, em todas as épocas, e a entre elas, a mídia cria uma disputa eterna projeto “Sexo Ágil”. violência e a discriminação contra elas. e sempre as desvaloriza, a todas elas, sem As crianças precisam saber o porquê exceção, mudando o tom de acordo com K – A origem é tudo isso sobre o que a de serem homens a grande maioria, a as situações. gente falou antes. É desde pequena não quase a totalidade, dos grandes gênios O discurso é de que os grandes conseguir entender nem concordar com da ciência e das artes que se fizeram compositores são os homens e as mulhe- nada no que diz respeito ao tratamento conhecidos e imortalizados! É extrema- res..., “ah... existe até uma que compõe diferente dado a homens e mulheres. E é mente absurdo um fato como esse não bem, mas o que faz são composições ‘de viver isso até hoje. ser esclarecido desde sempre, na escola.

CNTE - Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação Março de 2013 Mátria giro pelo Brasil 60  Famílias chefiadas por mulheres são

: Divulgação 37,3% do total no País, aponta IBGE

Foto Entre 2000 e 2010, o percentual de famílias chefiadas por mulheres no País passou de 22,2% para 37,3%. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), também aumentou o número de mulheres solteiras com filhos e o percentual de casais sem filhos. Os dados mostram ainda que as mulheres têm chefiado mais famílias, mesmo quando possuem marido. Nesses casos, houve, no período, um aumento percentual significativo, saindo de 19,5% para 46,4%. Também conforme o IBGE, no total de famílias brasileiras houve aumento de casais sem filhos (com ou sem parentes no convívio): passaram de 14,9% para 20,2%.

Amazonas e Rio Grande do Sul elegem prefeitas negras  Do norte ao sul, dois estados bem diferentes colocaram no poder mulheres negras em suas prefeituras. Lindinalva Ferreira (esq.), eleita em Novo Airão, no Amazonas, é a primeira prefeita : Blog da Floresta e Portal Dois Irmãos/RS

negra do PT no estado. Após ser derrotada em 2004 e 2008, Foto Lindinalva finalmente chegou ao poder em 2012. Já Tânia Terezinha da Silva (dir.) conquistou a vitória em Dois Irmãos, no Rio Grande do Sul, cidade de colonização alemã em que 91% da população é branca, segundo o Censo. Tânia é a única mulher negra eleita prefeita no RS, que tem 497 municípios.

: Divulgação  Pela primeira vez um navio brasileiro será Foto comandado por duas mulheres Hildelene Lobato Bahia tornou-se a primeira comandante mulher da Marinha Mercante do Brasil, em 2009, a bordo do navio Carangola. Agora, ela acaba de assumir o comando do petroleiro Rômulo Almeida, da Transpetro, em que será auxiliada por Vanessa Cunha. Esta será a primeira vez que um navio brasileiro contará com duas mulheres em seu comando. A temporada no mar durará 90 dias e as duas se alternarão na chefia, cumprindo turnos de 12 horas cada. : Divulgação

SUS atende a 2,5 vezes mais mulheres Foto vítimas de violência do que homens  Segundo dados do Ministério da Saúde, o Sistema Único de Saúde (SUS) registrou a internação de 5.496 mulheres, em 2011, em decorrência de agressões. Além das vítimas internadas, 37,8 mil mulheres, entre 20 e 59 anos, precisaram de atendimento no SUS por terem sido vítimas de algum tipo de violência. O número é quase 2,5 vezes maior do que o de homens que foram atendidos em função desse mesmo motivo e na mesma faixa etária, conforme dados do Sistema de Informações de Agravos de Notificação (Sinan).

Mátria Março de 2013 CNTE - Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação giro pelo MUNDO 61  Recorde de participação

: Mark Wilson/AFP feminina no Congresso Foto dos EUA Com um total de 20 senadoras e 81 mulheres na Câmara dos Deputados, o Congresso dos Estados Unidos nunca esteve tão feminino. O contingente conquistou sete assentos a mais do que na legislatura anterior, somando um total de 101 dos 535 existentes (19%). Esse número tem aumentado a cada eleição, depois do salto histórico ocorrido em 1992, ano da eleição do presidente democrata Bill Clinton.

Estudante paquistanesa é atacada pelo Taleban por defender a educação : Divulgação feminina em seu país  Foto Malala Yousafzai, de 15 anos, foi baleada na cabeça e no pescoço em ataque do Taleban ao ônibus escolar em que voltava para casa, em Swat, no norte do Paquistão. Yousafzai defende a educação feminina e o direito das mulheres no país. A menina foi transferida de avião para a Inglaterra, onde recebeu tratamento e precisou se recuperar durante meses. Uma série de vigílias aconteceram em todo o mundo para orar por sua recuperação. : Divulgação Foto

 Crise global afeta mais meninas e mulheres A crise econômica global afetou mais fortemente mulheres e meninas, segundo um relatório divulgado por organizações de direitos das crianças e de desenvolvimento. Segundo o levantamento feito pelas organizações Plan International e Overseas Development Institute, o encolhimento econômico elevou a mortalidade infantil de meninas e levou mais mulheres a passar fome e até mesmo a sofrer abusos.

Contando jornada doméstica, mulher trabalha : Divulgação mais do que homem, diz OIT  Foto Estudo divulgado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) mostra que, no Brasil, as mulheres trabalham mais do que os homens, quando se calcula o tempo total de trabalho – a jornada gasta com afazeres domésticos e a jornada formal no mercado de trabalho. Os números, relativos ao ano de 2009, mostram que as mulheres têm uma jornada de cerca de cinco horas a mais por semana do que os homens. A OIT informou que os homens trabalham, em média, 43,4 horas por semana no mercado de trabalho e outras 9,5 horas em casa, perfazendo uma jornada semanal de 52,9 horas. Ao mesmo tempo, as mulheres têm uma jornada total de 58 horas semanais, sendo 36 horas no mercado formal de trabalho e 22 horas em casa.

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Sugestão de Leitura » A Causa Palestina. Hasan Zarif. Central Única dos Trabalhadores (CUT), 2012. » Figuras da Violência: ensaios sobre narrativa, ética e música popular. Idelber Avelar. UFMG, 2011. » Trabalho Infantil Doméstico no Brasil. André Viana, Josiane Rose Petry e Veronese Custódio. Ed. Saraiva, 2012. » Gênero, Sexualidade e Educação - Uma Perspectiva Pós-estruturalista. Guacira Lopes Louro. Ed. Vozes, 2010. » Mulheres Que Brilham - Histórias Inspiradoras De 50 Mulheres Que Fazem A Diferença. Cândida, Maria. Ed. Original, 2011. A jornalista Maria Cândida viajou pelos quatro cantos do mundo a fim de investigar a mulher contemporânea. Entrevistou mulheres de países tão distintos quanto África do Sul, Filipinas, Vietnã, Tailândia, França, Holanda, Finlândia, Lituânia, Peru, Estados Unidos, México e Brasil. » A Beleza Impossível. Mulher, mídia e consumo. Moreno, Raquel. Ed.Ágora, 2009. De que maneira a mídia manipula nossa consciência em nome dos interesses do mercado? Onde entram as “diferentes” – gordinhas, velhas, negras – nesse sistema? A obra da psicóloga Rachel Moreno responde a essas e outras perguntas de maneira vigorosa e crítica, apontando caminhos para que possamos nos defender dessas armadilhas. » Ação Psicopedagógica na Sala de Aula. Márcia Ferreira. Editora PAULUS. » Perfil Social, Racial e de Gênero das 500 Maiores Empresas do Brasil e Suas Ações Afirmativas. Pesquisa 2010. Instituto Ethos e Ibope Inteligência. » Gênero, Sexualidade e Educação. Uma perspectiva pós-estruturalista. Guacira Lopes Louro. Editora Vozes, 11ª edição, 2010. » Juventudes e Sexualidade. Miriam Abramovay, Mary Garcia Castro e Lorena Bernadete da Silva. Brasília: UNESCO Brasil, 2004. » Cadernos de Educação. (Ano XV - Número 23 - julho a dezembro de 2010) V Encontro Nacional do Coletivo Antirracismo “Dalvani Lellis“. Escola de Formação da CNTE. » Convenção 156 recomendação 165 OIT. Organização Internacional do Trabalho. Secretaria especial de políticas para as mulheres. Sobre a igualdade de oportunidades e de tratamento para trabalhadores e trabalhadoras com responsabilidades familiares. » Assédio sexual. Ministério da Saúde Assédio violência e sofrimento no ambiente de trabalho, Brasília-DF, 2008. » Olhares feministas. Organização: Adriana Piscitelli, Hildete Pereira de Melo, Sônia Weidner Maluf, Vera Lucia Puga. 1ª edição Brasília-DF, 2009. Coleção educação para todos. Ministério da Educação. » VI Relatório Nacional Brasileiro. Convenção para a Eliminação de todas as formas de discriminação contra as mulheres. CEDAW. Organização das Nações Unidas (ONU). Brasília-DF, 2008. Secretaria Especial de políticas para as Mulheres. » Comitê CEDAW - Experiencias e desafios. Silvia Pimentel. Secretaria especial de políticas para mulheres. Brasília- DF, 2008. » As mulheres ou os silêncios da história. Michelle Perrot. Tradução Viviane Ribeiro. EDUSC. » Mercado de trabalho e gênero. Comparações internacionais. Organicadoras: Albertina de Oliveira Costa, Bila Sorj,Cristina Brusschini, Helena Hirata. FGV editora, 1ª edição, 2008. » História das Mulheres no Brasil. Mary Del Priore. Organização: Carla Bassanezi. Coordenação de textos: Editora UNESP - editora contexto, 2008. » A libertação da Mulher. Samora Machel, Alexandra Kollontai, J. Posadas. P. Lafargue, Vito Kapo e outros. Global editora, 3ª edição. » Educar para a Igualdade. Gênero e educação escolar. Prefeitura Municipal de São Paulo. Coordenadoria Especial da Mulher, 2004. » Imagens de mulher e trabalho na telenovela brasileira (1999-2001). Lucia Helena Rincón Afonso. Editora da UCG e Anita Garibaldi. » Pelas lentes do cinema. Bioética e ética em pesquisa. Dirce Guilhem, Débora Diniz, Fábio Zicker (Eds.). Editora UnB e Letras Livres. Brasília-DF, 2007. » Trabalho e Família: rumo a novas formas de conciliação com co-responsabilidade social PNUD e OIT. Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres. » Mulher Adolescente/jovem em situação de violência. Propostas de intervenção para o setor saúde. Módulo de autoaprendizagem. Stella R. Taquette. Organizadora: Secretaria Especial de Políticas para Mulheres, 2007. » Gênero e diversidade na Escola. Formação de professoras/es em Gênero, Sexualidade, orientação sexual e relações étnico-raciais. Organização: Maria Elisabete Pereira, Fabiola Rohden, Maria Elisa Brandt, Leila Araujo, Graça Ohana, Andreia Barreto, Roerta Kacowicz. CEPESC. Rio de Janeiro, 2007.

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Vídeos » Acorda Raimundo... Acorda!!! Disponível em: www.youtube.com » Violência, fenicidio y patriarcado. Disponível em: www.youtube.com » Vista a minha pele. Disponível em: www.youtube.com

Filmes » Histórias Cruzadas. (Índia, Emirados Árabes, EUA, 2012, 137 min.) Direção: Tate Taylor. O Filme trata da luta pelos direitos civis dos negros, no início da década de 1960. Não se trata apenas de racismo, ou opressão, e sim a valentia de pessoas corajosas e dispostas a mudar os valores pré-estabelecidos pela sociedade. » Amor?. (Brasil, 2011, 100 min.) Direção: João Jardim. Oito histórias envolvendo casos amorosos onde os envolvidos passaram por algum tipo de violência, física ou psicológica. » Carregadoras de Sonhos. (Documentário, Brasil, 2009/2010, 65 min.) Direção: Deivison Fiuza. O filme mostra quatro professoras em ação e os obstáculos que elas enfrentam para conseguir chegar à sala de aula no interior de Sergipe. Coragem, determinação e sonhos, as forças que movem essas quatro educadoras. » 15 filhos. (Brasil, 1996, 20 min) Direção: Maria Oliveira e Marta Nehring. » Era uma vez eu Verônica. (Brasil, 2012, 1h 40min) Direção: Marcelo Gomes. » Preciosa - Uma História de Esperança. (EUA, 2009, 110 min). Direção: Lee Daniel. » Carregadoras de sonhos. (Brasil, 2010, 65 min). Direção: Deivison Fiuza. » Stella. (França, 2008, 103 min). Direção: Sylvie Verheyde. » Alguém que me Ame de Verdade. (EUA, 2007, 90 min.) Direção: Diane Crespo e Stefan C. Schaefer » Chega de Saudade. (Brasil, 2008, 92 min.) Direção: Laís Bodanzky. » Eternamente Pagú. (Brasil, 1987, 101 min.) Direção: Norma Bengell. » Chica da Silva. (Brasil, 1976, 117 min.) Direção: .

Publicações » Imprensa e Agenda de Direitos das Mulheres: uma análise das tendências da cobertura jornalística. A publicação é resultado de projeto de monitoramento de mídia impressa conduzido pela ANDI – Comunicação e Direitos, em parceria com o Instituto Patrícia Galvão. A publicação analisa como os meios de comunicação abordam os temas relacionados à situação das mulheres na sociedade. Os dados apresentados traçam um panorama atual e apontam as tendências da cobertura jornalística acerca dos temas: Mulheres e Poder, Violência contra as Mulheres e Mulheres e Trabalho. A íntegra da publicação pode ser acessada no link: www.observatoriodegenero.gov.br/menu/noticias/imprensa-e-agenda-de-direitos-das- mulheres-versao-web.pdf » Elas não brincam em serviço. 12 histórias de trabalho doméstico de crianças e adolescentes. Cartilha para educadores http://www1.cendhec.org.br/cms/export/sites/default/cendhec/pt/arquivos/elas_nao_brincam_ educadores2.pdf » Boas Práticas de Combate ao Trabalho Infantil. http://www.fnpeti.org.br/boas-praticas/tid.pdf

Blogs » blogueirasfeministas.com » www.abortoemdebate.com.br/wordpress » Joyce Moreno http://outras-bossas.blogspot.com.br/

Internet » www.cnte.org.br » www.soscorpo.org.br » www.ecos.org.br » www.cndm.gov.br » www.papai.org.br » www.agende.org.br » www.ceert.org.br » www.vermelho.org.br » www.maismulheresnopoderbrasil.com.br » www.cut.org.br » www.homenspelofimdaviolência.com.br » www.dialogoscontraoracismo.org.br » www.geledes.org.br » www.agenciapatriciagalvao.org.br » www.cfemea.org.br » www.onu.org.br/onu-no-brasil/onu-mulheres » www.anitagaribaldi.com.br » www.sof.org.br

CNTE - Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação Março de 2013 Mátria interagindo 64 Calendário Sugestões de Atividades Estas são as datas e dias de luta das mulheres pró-igualdade de direitos Fevereiro 1 Ratificação pelo Brasil da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de A mulher na mídia  Através da música podemos Discriminação contra a Mulher (CEDAW, ONU, 1984). 24 Dia da conquista do voto feminino no Brasil (1932). mostrar as várias formas como a mulher é retratada na MARÇO mídia. Na americana My Humps do Black Eyed Peas e 8 Dia Internacional da Mulher. a brasileira Firma Milionária do MC Max, a mulher é um 21 Dia Internacional pelo Fim da Discriminação Racial. objeto de consumo que nada tem a oferecer além de um ABRIL belo corpo, moldado para agradar os homens em troca 7 Dia Mundial da Saúde. 27 Dia das Trabalhadoras Domésticas. de bens materiais. Já nas músicas Mulher Guerreira 31 Dia Nacional da Mulher. do grupo Atitude Feminina e Stupid Girls da Pink isso é MAIO contestado. Incentive o debate mostrando os videoclipes 1 Dia do Trabalhador e da Trabalhadora. e perguntando se a turma, e principalmente as meninas, 7 Dia Mundial das Crianças Afetadas e Infectadas pelo HIV/AIDS. 13 Dia de Denúncia contra o Racismo. se identificam com alguma das músicas e se sentem 18 Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e representadas por alguma das imagens apresentadas. Adolescentes. 28 Dia Internacional de Ação pela Saúde da Mulher / Dia de Combate à Mortalidade Materna. Violência contra a Mulher  A campanha argentina 30 Dia de Luta pela Maior Participação Política das Trabalhadoras Rurais. Pára, Dejá caminar en paz por la calle traz uma boa JUNHO reflexão sobre os diferentes tipos de violência contra 4 Dia Internacional das meninas e meninos vítimas de agressão. a mulher. Em uma simples caminhada, as mulheres 5 Dia Mundial do Meio Ambiente. 15 Dia Mundial Contra a Violência em Relação à Pessoa Idosa. sofrem violência verbal e psicológica ao serem 21 Dia de Luta por uma Educação não-sexista e sem discriminação. assediadas pelos homens. Converse com os seus 24 Fundado o Jornal Movimento Feminino, 1947. alunos. As cantadas na rua podem ser consideradas 28 Dia Internacional do Orgulho Gay e Lésbico. um tipo de violência? Nessas situações, a mulher JULHO se sente elogiada ou com medo e oprimida? 25 Dia da Mulher Afro-latino-americana e Afro-caribenha. AGOSTO 7 Sanção da Lei nº 11.340/2006 que cria mecanismos para coibir a violência As novas famílias  Peça aos alunos que se doméstica e familiar contra a mulher (Lei Maria da Penha). entrevistem, em duplas, sobre a composição familiar 9 Dia Internacional dos Povos Indígenas / Sob a liderança de Berta Lutz é fundada a de cada um: quantos moram na casa? Quem é o Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, 1922. 12 Dia de Luta contra a Violência no Campo - Marcha das Margaridas / Publicado o principal provedor? Parentes moram perto? Assim, os manifesto dos conjurados baianos da Revolta dos Alfaiates, exigindo abolição, alunos perceberão que na própria sala há várias famílias independência e liberdade (1978). diferentes. Outro ponto a ser discutido é como eram as 19 Dia Nacional do Orgulho Lésbico. 29 Dia da Visibilidade Lésbica no Brasil. famílias de antigamente, segundo a experiência de pais e SETEMBRO avós: mudou muito? Debata as razões dessa mudança. 6 Dia Internacional de Ação pela Igualdade da Mulher. 7 Dia dos Direitos Cívicos das Mulheres. Se a história fosse outra  Sugira a leitura coletiva 23 Dia Internacional Contra a Exploração Sexual e o Tráfico de Mulheres e Crianças. 28 Dia Latino-americano de Discriminalização do Aborto / Dia da Mãe Preta do texto “No país de Blowminsk”. Leia com a turma, (Homenagem à Lei do Ventre Livre). em voz alta e pausada, para que os estudantes possam 29 Aprovação da lei 9.100/1995 que garante cotas para mulheres na política. mostrar seu estranhamento ainda durante a leitura. O OUTUBRO texto fala de uma sociedade em que a heterossexualidade 1 Dia Internacional por uma Terceira Idade Digna. 10 Dia Nacional de Luta contra a Violência à Mulher. é proibida. Sugira que os alunos reescrevam o final 12 Dia Internacional da Mulher Indígena / Dia Nacional de Luta por Creches. da estória pensando em outras possibilidades. 15 Dia do(a) Professor(a) / Dia Mundial da Mulher Rural. 25 Dia Internacional contra a Exploração da Mulher. 28 Dia do(a) servidor(a) público(a). Trabalho infantil  Assista com a turma o curta- NOVEMBRO metragem Vida Maria, sobre o trabalho infantil na área 3 Instituição do Direito e Voto da Mulher (1930). rural. Debata sobre o ciclo de trabalho mostrado no filme: 18 Dia Nacional de Combate ao Racismo. como ele pode ser quebrado? Qual é o limite entre a ajuda 20 Dia Nacional da Consciência Negra. 25 Dia Internacional da Não-violência contra a Mulher. dos filhos nos afazeres domésticos e o trabalho infantil? DEZEMBRO 1 Dia Mundial de Luta contra a AIDS. Fonte: Gênero e Diversidade na Escola: Formação de 10 Dia Mundial dos Direitos Humanos. professores(as) em Gênero, Sexualidade, Orientação 18 Adoção da CEDAW - Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Sexual e relações étnico-raciais. Caderno de atividades. Discriminação contra a Mulher (ONU, 1979).

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