Os Tempos E Os Territórios Da Colonização Italiana
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Marcos Aurelio Saquet OS TEMPOS E OS TERRITÓRIOS DA COLONIZAÇÃO ITALIANA Porto Alegre, 2002. 2 Ao meu pai, Edi, com muita saudade À minha mãe, Antonieta, uma grande lutadora Ao meu irmão, Adriano, pela luta e incentivo À Luana, minha filha E à Edinês, minha companheira. 3 SUMÁRIO 4 Introdução ................................................................................................................. 05 PARTE I A re-territorialização italiana no Rio Grande do Sul ........................................... 33 1. A gênese da Colônia Silveira Martins ................................................................. 35 2. A des-territorialização italiana para o Brasil ....................................................... 53 PARTE II A re-territorialização na Colônia Silveira Martins ............................................. 79 3. A formação da sede colonial .............................................................................. 82 4. A expansão territorial e os territórios ................................................................ 98 5. O desenvolvimento e os tempos; mudanças territoriais e a política regional ... 143 6. Os tempos e os territórios da colonização italiana ............................................ 194 Considerações Finais .............................................................................................. 234 Bibliografia ............................................................................................................. 235 Anexos .................................................................................................................... 253 INTRODUÇÃO 5 Antes de mais nada, é importante mencionar que este texto corresponde, com algumas adaptações e revisões, à nossa tese de doutoramento em Geografia, defendida na Universidade Estadual Paulista (UNESP), campus de Presidente Prudente em 2001. O processo de pesquisa, no Brasil e no exterior (doutorado sandwich na Università Ca‟Foscari di Venezia), foi financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), a quem agradecemos. Também agradecemos as contribuições do prof. Eliseu Savério Sposito, orientador, e, dos membros da banca examinadora: Ariovaldo Umbelino de Oliveira (USP), Jairo Gonçalves de Melo (UNESP – P. Prudente), Rogério Haesbaert (UFF) e Alessandro Gallo (Università Ca‟Foscari). Desse modo, apresentamos os resultados das indagações, pesquisas e reflexões que fizemos a partir de 1998, no intuito de socializarmos nossa produção e de provocarmos o debate sobre a problemática territorial do desenvolvimento econômico, este, efetivado no tempo histórico, desigual e contraditoriamente, como produto e condição da dinâmica socioespacial, sob o tripé economia, política e cultura (EPC) e sob a articulação tempo- espaço-território. Iniciemos, então, nossa apresentação. Em meio ao século XVIII, para garantir a posse das terras do extremo Sul do Brasil ameaçadas constantemente pelos espanhóis, para diversificar a economia sulista e fomentar o processo de formação do mercado interno, era preciso povoá-las fixando o homem à terra através da prática agrícola, pois até então predominavam, na economia da província do Rio Grande de São Pedro, a pecuária extensiva e as charqueadas. E foi o que o governo metropolitano tentou fazer ao promover a vinda de açorianos a partir de 1748. Estes fundaram várias cidades como Viamão, Porto Alegre, Santo Antônio da Patrulha, Mostardas, Osório, Rio Pardo e outras, porém os resultados, em termos de povoamento e economia, não foram muito positivos. No início do século XIX, o Norte do Rio Grande do Sul e a encosta do planalto rio-grandense ainda não estavam ocupados efetivamente. Para tanto, o governo brasileiro trouxe os colonizadores alemães a partir de 1824. Eles produziram várias cidades como Novo Hamburgo, São Leopoldo, Venâncio Aires e Santa Cruz do Sul. Posteriormente, foi promovida a colonização de parte do território gaúcho pelos imigrantes italianos, que também contribuíram no processo de formação territorial do Rio Grande do Sul. A colonização com imigrantes europeus e seus descendentes deu forma e conteúdo a um novo processo no 6 movimento de diferenciação territorial no Rio Grande do Sul. Outro, foi substantivado no decorrer do século XX, com a industrialização. No que se refere à colonização italiana no Rio Grande do Sul, as primeiras colônias agrícolas produzidas em 1870 pelo governo provincial foram Conde d'Eu (atual Município de Garibaldi) e Dona Isabel (Município de Bento Gonçalves), transferidas ao governo geral em 1876. Em 1875, o governo imperial fundou Nova Palmira ou Caxias (atual Município de Caxias do Sul) também no Nordeste do Rio Grande do Sul. Três anos depois, a partir da mesma política de distribuição e ocupação dos lotes coloniais, também em plena encosta e em terras “devolutas”1, entretanto já na porção “central” da província2, funda-se uma quarta colônia agrícola de imigração italiana: Silveira Martins3, conforme a figura n. 1. E é nesse território que fizemos nossa investigação. Posteriormente, outras colônias foram construídas, oficiais e particulares4. Todas elas contribuíram na constituição do território no 1 Conforme a Legislação das Terras Públicas do Rio Grande do Sul (1961), na Lei n. 601 de 18 de setembro de 1850, que autoriza o governo a promover a colonização e regulamenta em termos gerais a colonização em Silveira Martins, terras devolutas são: “$1. – As que não se acharem aplicadas a algum uso público, nacional, provincial ou municipal. $2. – As que não se acharem no domínio particular por qualquer título legítimo, nem forem havidas por sesmarias e outras concessões do Governo Geral ou Provincial, não incursas em comissão por falta de cumprimento das condições de medição e cultural. $3. – As que não se acharem dadas por sesmarias ou outras concessões do Governo, que, apesar de incursas em comissão, forem revalidadas por esta Lei. $4. – As que não se acharem ocupadas por posses, que apesar de não se fundarem em título legal, forem, legitimadas por esta Lei”(p.5). 2 De Porto Alegre, segundo Carvalho (1886), as distâncias até as sedes das colônias italianas eram as seguintes: Conde d‟Eu: 156.400m; Dona Isabel: 170.400m; Caxias: 198.000m; Silveira Martins: 262.172m. 3 Silveira Martins, nome que perdura até hoje, foi em homenagem ao líder do Partido Liberal e anti-republicano gaúcho, Gaspar de Silveira Martins, Conselheiro do Império, Deputado na Província do Rio Grande de São Pedro, Ministro da Fazenda e Presidente do Rio Grande de São Pedro por 3 meses em 1889. Era natural de Bagé e defensor da vinda de imigrantes europeus para o Brasil. Colônia, porque os imigrantes colonizaram aquele espaço ocupando as terras através dos chamados lotes coloniais. E, “em verdade, colono era, na Roma antiga, o trabalhador rural e o pequeno lavrador, ordinariamente livre e rendeiro” (Azevedo, 1975, p. 81). Para este autor, no Rio Grande do Sul, a denominação colono refere-se aos agricultores e artesãos rurais. Além disso, cabe salientar dois aspectos: 1) a partir da leitura da Legislação pertinente, de Roche (1969) e de Carvalho (1886), podemos considerar que uma colônia era entendida pelo Governo Imperial como um lugar que resultava do processo de colonização por imigrantes estrangeiros, em terras “devolutas” ou não, para a prática da agricultura e povoamento; 2) inicialmente foi chamada de Núcleo Colonial de Santa Maria da Boca do Monte. A fundação oficial da Colônia Silveira Martins aconteceu em 20/09/1878, aprovada em 19/09 pelo Presidente da província. Ou seja, oficialmente, Silveira Martins foi criada pelo Governo Provincial. Conforme Carvalho (1886), essa colônia foi fundada em 1877 e só foi ocupada por italianos posteriormente. Corte (1884) e Ancarani (1914), afirmam que a primeira turma de imigrantes italianos chegou em Silveira Martins no início de 1877. Manfroi (1975) confunde-se e apresenta duas datas: 1887 e 1877. Porém, mesmo com essas afirmações, concordamos com Sponchiado e com a documentação que atesta a chegada da primeira turma de italianos no início de 1878. Portanto, consideramos 1878 como ano da fundação de Silveira Martins, em decorrência da ocupação efetiva daquele lugar com os italianos. Conforme Sponchiado (1990), as medições na área correspondente à colônia já aconteciam em fevereiro de 1877, quando a comissão de medição encontrava-se com famílias nacionais que viviam da caça, da pesca e de uma incipiente agricultura. 4 Conforme Pellanda (1950), Sá (1950), Laytano (1950), Roche (1969), Azevedo (1975) e Giron & Bergamaschi (1998), citamos as seguintes: Alfredo Chaves em 1885, Antônio Prado em 1887, Jaguari em 1889, Ijuí em 1890, Guarani em 1891, Lajeado em 1891, Guaporé em 1892, Não-Me-Toque em 1897, 7 Rio Grande do Sul, principalmente, através da produção de alimentos com trabalho familiar e de outras atividades correlatas. A Colônia Silveira Martins tem sua gênese e desenvolvimento no processo de expansão territorial do capitalismo no Brasil, no último quartel do século XIX. Nosso objetivo geral é compreender sua gênese e o seu ritmo de desenvolvimento econômico artesanal5, os principais fatores que nele influenciaram e as principais características territoriais desse desenvolvimento, entre 1878 e 1950. Para tanto, abordamos a produção e alguns aspectos da cultura e da política local, os tempos e os territórios no referido período e lugar. Simultaneamente, outras questões suscitam nossa reflexão: quem domina no território da Colônia Silveira Martins? Quais as estratégias utilizadas? Quem é dominado e explorado?