As Fotografias De José Greco E a Revolução Federalista Em Bagé-RS, 1893-18951
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Revista Latino-Americana de História Vol. 2, nº. 7 – Setembro de 2013 – Edição Especial © by PPGH-UNISINOS Imagens de uma cidade sitiada: as fotografias de José Greco e a Revolução Federalista em Bagé-RS, 1893-18951 Aristeu Elisandro Machado Lopes* Resumo: A Revolução Federalista de 1893 foi um conflito armado caracterizado pela disputa política no estado do Rio Grande do Sul entre dois grupos ideologicamente diferenciados. De um lado estavam os apoiadores de Julio de Castilhos e, do outro, o grupo liderado por Gaspar da Silveira Martins. Batalhas e conflitos ocorreram em várias cidades do estado, entre as quais Bagé se destacou pela forma como a revolução ocorreu. Trata-se do cerco à cidade, promovido pelos federalistas. O cerco foi uma ação desencadeada durante a revolução, mas, também, uma atitude política, estratégica e simbólica. Resistir significava para os republicanos assegurar o controle da cidade de Joca Tavares e Silveira Martins, as lideranças dos maragatos. Já para os maragatos manter a cidade sob seu domínio representaria a retomada de um dos seus principais redutos. Os conflitos foram acompanhados pelo fotógrafo José Greco que os registrou em suas fotografias. As imagens capturadas por suas lentes apresentavam o cotidiano da cidade: os moradores caminhando entre as barricadas, as trincheiras erguidas nas ruas, as lideranças das batalhas e a catedral da cidade transformada em refúgio para os republicanos. Analisar as imagens da cidade de Bagé durante o sítio a partir das fotografias de José Greco é o objetivo desta comunicação. As fotografias permitem averiguar o comportamento dos bageenses durante e após os conflitos e apresentam a cidade transformada pela guerra com estabelecimentos comerciais e residências alvejadas e soldados armados nas ruas. Dessa forma, as imagens registradas por Greco revelam os resultados imediatos da guerra, mas, de igual maneira, constituem-se como parte relevante para a compreensão da história da Revolução Federalista de 1893 e fazem parte da memória da cidade, uma vez que o passado sobre o cerco ainda está presente em suas ruas, praças, esquinas, casas e na lembrança dos moradores mais antigos. 1Este artigo é parte de um projeto maior intitulado: “Rememorando Combates: a Revolução Federalista de 1893 através de fontes textuais, visuais e orais no sul do Rio Grande do Sul” desenvolvido na Universidade Federal de Pelotas sob a coordenação do autor e financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul – FAPERGS – através da concessão de auxílio recém-doutor. * Professor na Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Doutor em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).Pesquisa com fomento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (FAPERGS). Contato: [email protected]. 522 Página Página Revista Latino-Americana de História Vol. 2, nº. 7 – Setembro de 2013 – Edição Especial © by PPGH-UNISINOS Palavras-chave: fotografia; cidade; Revolução Federalista de 1893; memória. Abstract: Federalist Revolution in 1893 was an armed conflict characterized by political quarrels in the State of Rio Grande do Sul, between two groups from different ideologies. From one side there were Júlio de Castilhos’s supporters, and from the other side the group headed by Gaspar da Silveira Martins. Battles and conflicts occurred in many cities in the state including Bagé city, which stands out for the way the revolution happened. It is the siege to the city by federalists, which was an act triggered during revolution, but also a political, strategic and symbolic attitude. For republicans, standing up to meant to assure control of Joca Tavares and Silveira Martins’s city, the leaders of Maragatos. But for Maragatos, to keep the city under their command would represent the resumption of one of their main strongholds. The battles were followed by photographer José Greco, who recorded them in his pictures. These images presented the city’s daily life, dwellers walking through barricades, trenches in the streets, the leadership of battles and the cathedral turned into refuges for republicans. The purpose of this communication is to analyze Bagé’s images during the siege from José Greco’s pictures. These images allow us to see the people’s behavior during and after the conflicts, and present the city transformed by the war – its business establishments and houses targeted, and armed soldiers in the streets. Thus the images from Greco show the instant effects of war, but also are relevant to understand the history of Federalist Revolution of 1893, and are part of the city memories, once the siege is still present in its streets, squares, corners, houses and in former dwellers’ memories. Keywords: pictures; city; Federalist Revolution of 1893; memory. Considerações iniciais A Revolução Federalista de 1893 se caracterizou como uma guerra civil e iniciada no Rio Grande do Sul. O conflito armado ocorreu devido às disputas políticas entre dois grupos ideologicamente diferenciados. De um lado, estavam os castilhistas apoiadores do Presidente do Estado do Rio Grande do Sul, Júlio de Castilhos; enquanto o outro lado, o dos federalistas, agrupou seus opositores comandados politicamente por Gaspar da Silveira Martins. Estes foram alcunhados de maragatos, numa referência ao local de origem dos irmãos Aparício e Gumercindo Saraiva, San José no Uruguai, colonizada por imigrantes da região da Maragateria, na Espanha 523 Página Página Revista Latino-Americana de História Vol. 2, nº. 7 – Setembro de 2013 – Edição Especial © by PPGH-UNISINOS (WASSERMAN, 2004, p. 276). Já o grupo dos castilhistas foi identificado por seus adversários como pica-paus, já que os quepes republicanos lembravam o formato de um pássaro bicudo. As divergências, contudo, não ficavam restritas somente aos adjetivos dados a um grupo pelo outro. A Revolução Federalista de 1893 foi deflagrada pela tensão ideológica entre eles e pela disputa do poder no estado. Em outras palavras, a existência de projetos políticos diferentes e, portanto, duas formas de condução do governo levaram o confronto ideológico e teórico para um outro, prático, de enfrentamento bélico. Júlio de Castilhos aprovou em 1891 uma constituição de cunho autoritário baseada nos ideais positivistas, a base de seu governo e do seu Partido Republicano Rio-Grandense (FRANCO, 1996). Esta formulação de concentração do poder excluía os adversários do debate político, os quais estavam agrupados no Partido Federalista do Rio Grande do Sul fundado por Gaspar da Silveira Martins. Os correligionários do PRF passaram a ser perseguidos e muitas lideranças se exilaram no Uruguai e no litoral da Argentina e começaram a preparação da Revolução (COSTA, 2009, p. 7). Os conflitos e enfrentamentos militares não ficaram restritos a determinadas regiões ou cidades do estado, mas foram espalhados por todo o território do Rio Grande do Sul e em seguida se estenderam para os estados de Santa Catarina e Paraná. A historiografia sobre a Revolução se deteve em uma análise mais geral ou, então, se direcionou às batalhas e repercussões no norte do estado2.Enquanto isso, a guerra desencadeada no sul ainda necessita de uma pesquisa dirigida à compreensão do seu desenvolvimento e consequências. A análise que doravante será desenvolvida neste artigo tem por objetivo abordar um dos desdobramentos da Revolução no sul do estado – na região da campanha – em Bagé. Pretende-se averiguar duas fotografias sobre os combates realizados no espaço urbano da cidade durante os meses do cerco federalista que a cidade sofreu. As fotografias fazem parte de um conjunto fotográfico maior referente aos conflitos que foram acompanhados por José Greco (1863-1924), o fotógrafo que as produziu. As imagens capturadas pelas lentes de sua câmera fotográfica apresentavam o cotidiano da cidade, os moradores caminhando entre as barricadas, as trincheiras erguidas nas ruas, as 2 Sobre uma compreensão abrangente da Revolução Federalista de 1893 ver: (PESAVENTO, 1983), (ALVES, 1993), (FLORES, 1993) e (FRANCO, 2012). Já em relação aos conflitos no norte do estado consultar, sobretudo: (MONTEIRO, 2006). 524 Página Página Revista Latino-Americana de História Vol. 2, nº. 7 – Setembro de 2013 – Edição Especial © by PPGH-UNISINOS lideranças das batalhas e a catedral da cidade transformada em refúgio para os republicanos. As imagens registradas por Greco revelam os resultados imediatos da guerra, constituem-se como parte relevante para a compreensão da história da Revolução Federalista de 1893 e fazem parte da memória da cidade, uma vez que o passado sobre o sítio sofrido por ela ainda está presente em suas ruas, praças, esquinas, casas e na lembrança dos moradores mais antigos. As fotografias de José Greco e a Revolução Federalista em Bagé A fotografia surgiu com a era industrial, mas foi no século XIX que seus usos prosperaram. A partir da década de 1880, conforme aponta Annateresa Fabris, ocorre uma etapa de massificação da fotografia: “a fotografia se torna um fenômeno prevalentemente comercial, sem deixar de lado a sua pretensão a ser considerada arte” (FABRIS, 2008, p. 17). No Brasil, a maioria dos fotógrafos era estrangeira e instalaram seus estúdios nas principais cidades do Império. No Rio de Janeiro, por exemplo, o estúdio Buvelot&Prat, de Abraham-Louis Buvelot, foi o responsável pela maioria dos daguerreótipos da Família Imperial (LAGO; LAGO, 2005, p. XI)3. Em Porto Alegre os fotógrafos já estavam atuando desde a segunda metade do século XIX e no final do século se identificavam estabelecimentos de aproximadamente vinte fotógrafos (POSSAMAI, 2005, p. 41-42). Contudo, cidades do interior, localizadas distantes do centro do Império, também contaram com estúdios fotográficos. Bagé foi uma delas. Um dos estúdios fotográficos foi o Nova Photographia de Amoretty e Poppe e o outro foi o Atelier José Greco (BRASIL, 2013, p. 66). A coleção de fotografias de José Greco que pertence a Fotoceca Túlio Lopes do Museu Dom Diogo em Bagé é diverso. Ela é formada por fotografias posadas de estúdio com famílias, casais, crianças, homens e mulheres; locais públicos como ruas e praças e uma parte se refere a Revolução Federalista de 1893.