MONICA ROSSATO Doutoranda Em História Do Programa De Pós-Graduação Em História Da Universidade Federal De Santa Maria (PPGH/UFSM) E-Mail: [email protected]
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AS RELAÇÕES NACIONAIS E INTERNACIONAIS NA TRAJETÓRIA, PENSAMENTO E ATUAÇÃO POLÍTICA DE GASPAR SILVEIRA MARTINS MONICA ROSSATO Doutoranda em História do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Santa Maria (PPGH/UFSM) E-mail: [email protected] DRª MARIA MEDIANEIRA PADOIN Orientadora. Professora do Programa de Pós Graduação em História/PPGH e Departamento de História da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) E-mail: [email protected] Este texto traz considerações iniciais da pesquisa intitulada “As relações nacionais e internacionais na trajetória, pensamento e atuação política de Gaspar Silveira Martins”, desenvolvida junto ao Programa de Pós-Graduação em Historia da Universidade Federal de Santa Maria (PPGH/UFSM). Este artigo busca analisar a trajetória e atuação política de Gaspar Silveira Martins na região fronteiriça platina e na Europa, no fim do século XIX, observando que sua trajetória e pensamento/posicionamento político estavam relacionados a uma base de origem fronteiriça e as redes sociais nacionais e internacionais construídas em diferentes espaços. Na perspectiva da História Política e das elites, este projeto insere-se no projeto “guarda-chuva” intitulado História da América Platina e os processos de construção e de consolidação dos estados nacionais no século XIX e no início do século XX. Palavras-Chave: fronteira; política, trajetória; Silveira Martins “Descansa em paz, Demosthenes dos pampas!” 1. Essa expressão foi pronunciada por José do Patrocínio em 1901, na ocasião do falecimento de Gaspar Silveira Martins, político fronteiriço do sul do Brasil que ocupou altos cargos do Império e que representou a participação de uma elite provincial junto ao Estado Nacional brasileiro. Mais do que isso, Silveira Martins levou à representatividade 1 Parte de uma citação realizada por José do Patrocínio apud José Julio Silveira Martins (1929, p. 5) na ocasião da morte de Gaspar Silveira Martins em 1901. 2 nacional a região fronteiriça platina2, espaço onde ele e sua família estiveram integrados. Gaspar Silveira Martins nasceu na fazenda “Asseguá” 3 e foi batizado na Paróquia de Nossa Senhora del Pilar e São Rafael de “Serro Largo”, Estado Oriental do Uruguai, no ano de 18354. Ele era natural de uma zona de fronteira, formada por territórios uruguaio e brasileiro, oriundo de uma família de estancieiros brasileiros. Inicialmente, apresentamos um rápido perfil biográfico desse fronteiriço. Gaspar Silveira Martins realizou seus estudos secundários em Pelotas, Rio Grande do Sul e cursos preparatórios para as Academias do Império, no Colégio Victório, Rio de Janeiro. Em 1851 matriculou-se no Curso Jurídico de Olinda (Pernambuco), transferindo o curso para a Academia Jurídica de São Paulo, onde formou-se Bacharel em Direito em 1856. Nesse mesmo ano, casou-se com Adelaide Augusta de Freitas Coutinho. Em seguida, exerceu a advocacia no Rio de Janeiro, no escritório de seu sogro, o Dr. José Julio de Freitas Coutinho. De 1860 a 1864 atuou como Juiz Municipal no Rio de Janeiro. Nas eleições para a Assembléia do Rio Grande do Sul foi eleito Deputado Provincial pelo Partido Liberal Histórico assumindo o cargo em 1862. Em 1872 ele assumiu como Deputado Geral na Câmara dos Deputados, e permaneceu até 1879. Foi Ministro da Fazenda do Império em 1878, e entre 1880 a 1889 atuou como Senador. Em 1889 foi empossado à Presidência da Província do Rio Grande do Sul. 2 Neste trabalho, utilizamos os conceitos de região fronteiriça platina, espaço fronteiriço platino, fronteira platina ou região de fronteira e zona de fronteira. A região fronteiriça platina é entendida aqui como uma região maior que a zona de fronteira, que abrange o sul do Brasil (Rio Grande do Sul), Uruguai e as Províncias do Litoral da Argentina. O conceito de região fronteiriça platina é pensado aqui, quando nos referimos às relações que envolveram a trajetória de Gaspar Silveira Martins e sua família, como as relações econômicas, políticas, sociais, entre outras, que ultrapassaram a zona de fronteira, pois foram relações construídas no Uruguai, Argentina e na Província do Rio Grande do Sul. O conceito de espaço fronteiriço platino é pensado como uma região de aproximação, disputa, interesses, articulação, integração e circulação de homens, gado, mercadorias, idéias, projetos políticos, entre outros, conforme Padoin (2001, p. 60). A zona de fronteira é entendida por nós como uma região territorial próxima ao limite político entre os Estados Nacionais Uruguaio e Brasileiro. Utilizamos zona de fronteira para nos referirmos ao local onde as famílias Silveira e Martins estavam estabelecidas e onde Gaspar Silveira Martins nasceu. 3 Na presente dissertação, optamos pela utilização da ortografia “Serro Largo”, conforme documentação de época, ao invés de Cerro Largo. Optamos também por manter a formatação “Asseguá”, ao invés de Aceguá, conforme aparece nos documento de época. 4 Inventário de Carlos Silveira e sua mulher Maria das Dores Martins, nº 200, maço 10, estante 28. 2º Cartório de Orphãos e Ausentes, Pelotas, ano 1890. Arquivo Público do Estado do Rio Grande do Sul (APERS), Porto Alegre, RS; Certidão de Batismo de Gaspar Silveira Martins. Documento encontrado na Câmara de Vereadores do Município de Silveira Martins, RS, Brasil. 3 Com a proclamação da Republica e o fim do Império em 1889, por um decreto do governo republicano, Silveira Martins foi desterrado do território nacional em direção a Europa, onde permaneceu até 1892. Nesse ano, com o seu retorno ao Rio Grande do Sul, ex-liberais e dissidentes republicanos organizaram o Partido Federalista (PF), em Congresso reunido em Bagé, Rio Grande do Sul. As divergências de idéias, projetos e interesses entre o Partido Federalista e o Partido Republicano Rio Grandense (PRR), que estava no poder do estado do Rio Grande do Sul, levaram à Revolução Federalista, entre 1892 a 1895. Silveira Martins atuou como articulador político do conflito, contra o grupo dos republicanos que tinham por líder Julio de Castilhos. Após o conflito, em 1896 foi organizado um novo Congresso Federalista onde foi defendido a continuidade do Partido Federalista e a oposição a Constituição Federal da Republica. E, em 1901, Silveira Martins faleceu em Montevidéu, e dezenove anos depois, seus restos mortais foram trazidos ao Rio Grande do Sul e depositados na Igreja Matriz de Bagé5. A trajetória de Gaspar Silveira Martins possibilita refletir sobre a complexidade que o espaço fronteiriço platino representou na construção das trajetórias dinâmicas de homens fronteiriços. Afirmamos isso, a partir da construção da trajetória política de Silveira Martins, proporcionada por uma fronteira, uma vez que o mesmo teve uma cidadania uruguaia e brasileira, conforme a legislação do Estado do Uruguai e do Império Brasileiro. Os caminhos dessa trajetória foram analisados em trabalhos anteriores, que investigaram como Silveira Martins alcançou espaços de representatividade e importância junto ao meio político imperial6. Nesse sentido, como um homem de fronteira, o mesmo pode circular por esses diferentes espaços sociais que foram mobilizados em diferentes situações, como no caso da própria Revolução 5 Após sua morte, o corpo permaneceu em Montevidéu retornando ao Rio Grande do Sul por meio de um decreto presidencial que abria credito para repatriação dos seus restos mortais (GASPAR Silveira Martins. Jornal Gaspar Martins, Santa Maria, 28 de junho de 1920, Arquivo Histórico Municipal de Santa Maria). 6 Para demonstrar o processo de participação das elites provinciais junto ao centro do Império e como os membros da elite sul-rio-grandense construíram suas trajetórias de inserção ver o trabalho de Vargas (2007). Sobre a trajetória de Silveira Martins, ver também: ROSSATO, Monica. Relações de poder na região fronteiriça platina: família, trajetória e atuação política de Gaspar Silveira Martins. 163f. Dissertação (Mestrado em História). Programa de Pós-Graduação em História, UFSM, Santa Maria, 2014; ROSSATO, Monica; PADOIN, Maria Medianeira. Gaspar Silveira Martins: perfil biográfico, discursos e atuação política na Assembleia Provincial. Porto Alegre: Assembleia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul, 2013. 4 Federalista (1893-1895) em que as relações internacionais, especialmente junto ao mundo europeu auxiliam se fizeram presentes. Dessa forma, o objetivo deste texto é realizar alguns apontamentos iniciais a respeito das relações de poder internacionais construídas por Silveira Martins ao longo da sua trajetória, a fim de compreendê-lo como um representante de uma elite fronteiriça platina, articulado a idéias, projetos, pessoas e recursos do âmbito político europeu. O sentido de político aqui é visto não somente vinculado a esfera do Estado e as instituições que o representam, mas estando em todas as instancias sociais e relações interpessoais7. Esferas que são permeadas de relações de poder que ultrapassam o campo político institucional (GOMES, 2005) na reflexão em torno da ação desse individuo no mundo europeu e na construção de seu projeto político ao Brasil. Para o objetivo proposto, discutiremos informações trazidas pelas biografias escritas sobre Silveira Martins, que evidenciam uma intensa atividade intelectual e política dele, especialmente no período em que esteve afastado do Brasil, por decreto de desterro do Governo Provisório, em 18898. Dessa forma, observamos uma experiência internacional marcada pelas redes de sociabilidades, proporcionada antes, durante e depois de exílio na Europa demonstrando que esses relacionamentos