UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA INSTITUTO DE LETRAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS E LINGÜÍSTICA

PRISCILA MAYNARD ARAUJO

O PROCESSO DE TRADUÇÃO PARA A LÍNGUA INGLESA DOS DIÁLOGOS EM CAPITÃES DA AREIA DE .

Salvador/BA 2009

PRISCILA MAYNARD ARAUJO

O PROCESSO DE TRADUÇÃO PARA A LÍNGUA INGLESA DOS DIÁLOGOS EM CAPITÃES DA AREIA DE JORGE AMADO.

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Letras e Lingüística da Universidade Federal da Bahia, como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Letras e Lingüística. Orientador: Prof. Dr. Gustavo Ribeiro da Gama

Salvador/BA 2009

Aos meus pais, Jussara Maynard Araujo e Josilávio de Almeida Araujo, pelas palavras de incentivo e por acreditarem, sempre, em mim.

AGRADECIMENTOS

Agradeço, em primeiro lugar, a minha família, aos meus irmãos Patrícia Maynard Araujo e Augusto Maynard Araujo, seus cônjuges, e demais familiares por tornarem nosso “lar” especial, sempre, a cada dia.

Agradeço ao meu companheiro, George Mesquita Andrade, pela dedicação, compreensão e apoio em todas as horas, sejam elas diurnas ou noturnas.

Presto um agradecimento especial a Adélia Franco, pela acolhida de todas as quintas feiras, durante os dois anos em que cursava as disciplinas isoladas do mestrado.

Agradeço à Professora Dra. Denise Scheyerl pela aceitação inicial no Programa de Pós- Graduação em Letras e Lingüística da Universidade Federal da Bahia (UFBA).

Agradeço ao meu professor orientador, Dr. Gustavo Ribeiro da Gama, pela confiança, pelos conselhos valiosos e pelas críticas que só me fizeram avançar durante todo o processo do mestrado.

Agradeço, também, ao meu co-orientador, Dr. Luciano Rodrigues Lima, pelas contribuições referentes ao autor Jorge Amado.

Agradeço ao presidente da biblioteca brasileira de Nova York, Domício Coutinho, pois, sem seu intermédio, jamais teria conseguido realizar as entrevistas, via web, com o tradutor Gregory Rabassa.

Agradeço aos brilhantes professores do Instituto de Letras que tanto contribuíram para a minha formação. Agradeço, de maneira carinhosa, à professora Elizabeth Ramos, pelos ensinamentos durante as aulas.

Agradeço, também, a Fundação Casa Jorge Amado, pelas informações e materiais concedidos que contribuíram para a elaboração da parte referente ao autor.

Presto um agradecimento todo especial à amiga Ilana Gomes pelos nossos momentos de descontração, pela amizade e cumplicidade, sentimentos que ultrapassaram os limites da universidade.

Agradeço ao amigo Braulino Pereira de Santana por ter dedicado o seu tempo precioso para a leitura deste trabalho e pelos pequenos detalhes que fizeram toda a diferença. Meu muito obrigado!

Enfim, agradeço aos meus colegas de turma, Ricardo Nascimento, Rebeca Alcântara, Luís Gomes, Marcus Zanon, Adelmário e, em especial, Luciene, companheira a quem recorri intermináveis vezes à procura de respostas e de incentivo para continuar caminhando.

RESUMO

Esse trabalho estuda a tradução para a língua inglesa dos diálogos da obra Capitães da Areia de Jorge Amado. Para tanto, utilizaremos como base teórica a Teoria dos Polissistemas proposta por Itamar Even-Zohar (1990). Essa teoria nos permitirá determinarmos, primeiramente, a posição, central ou periférica, que esse texto-meta ocupa no sistema literário norte-americano. É a partir dessa posição que forneceremos possíveis justificativas para as escolhas lexicais feitas pelo tradutor para reescrever o texto-meta. Faremos uso, também, da sistematização dessa teoria proposta pelo teórico Gideon Toury (1995) e intitulada Estudos Descritivos da Tradução. Através dessa sistematização, identificaremos as normas tradutórias, ou seja, as escolhas lexicais comumente empreendidas tradutor. Essas normas, segundo Lefevere (2007), são controladas tanto pelos reescritores, tradutores, críticos, revisores, como pelas instituições que controlam a leitura, a escrita e a reescritura da literatura. No intuito de sistematizar o estudo descritivo das traduções literárias, os teóricos José Lambert e Hendrik Van Gorp (1985) elaboraram um modelo metodológico. Nesse modelo recolhem-se informações sobre o contexto macro-estrutural em que está inserido o texto-meta. Esses dados, por sua vez, serão aplicados ao contexto micro-estrutural, ou seja, o corpus desta pesquisa. Considerando o fato que nem todas as soluções tradutórias puderam ser classificadas tomando como base o contexto histórico, fizemos uso de alguns procedimentos tradutórios propostos pelos teóricos Vinay e Darbelnet (1996). Trabalharemos, ainda, com os conceitos de domesticação e estrangeirização propostos por Venuti (1995), apesar de estarmos conscientes da inclinação do teórico à adoção do conceito de domesticação. Por fim, traremos, nas conclusões finais, a união entre as informações recolhidas no nível macro-estrutural e no nível micro-estrutural buscando determinar a função cultural que esse texto-meta desempenha nesse sistema literário norte-americano.

Palavras-Chave : Jorge Amado, Gregory Rabassa, Tradução, Função cultural do texto-meta.

ABSTRACT

This work studies the english translation process of the dialogues of the book Capitães da Areia written by Jorge Amado. As a theoretical basis we are going to use the Polysystem Theory proposed by Itamar Even-Zohar (1990). This theory will allow us to determine the position, whether central or peripherical, occupied by the target text within the north-american literary system. Having this position in mind, we can provide possible explanations regarding the lexic choices made by the translator to rewrite the target text. We will also make use of the systematization of this theory proposed by Gideon Toury (1995) and called Descriptive Translation Studies. This systematization will allow us to identify the translation norms, meaning the lexic choices usually made by the translator. These norms, according to Lefevere (2007), are controled either by the rewriters, translators, critics and reviewers or by the institutions that control the reading, writing and rewriting of literature. Aiming, also, to systematize the descriptive study of literary translations, the theorists José Lambert and Hendrik Van Gorp (1985) elaborated a methodological model. Firstly, in this model, we gather information about the macrostructural context where this target-text is inserted. These information are apllied to the microstructural level, in other words, to the data analysed in this research. Having in mind that not all the translation options made by the translator were classified considering the macrostructural context, we made use of some translation procedures proposed by Vinay e Darbelnet (1996). Moreover, we will work with Venuti´s domestication and strangerization´s concepts, in spite of being aware of Venuti´s tendency to adopt the domestication one. Lastly, in the final considerations, we will establish connections between the information gathered in the microstrutural and microstructural level with the aim to determine the cultural function that this target-text has within this North American literary system.

Keywords: Jorge Amado, Gregory Rabassa, Translation; Cultural function of the target-text.

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I 13 1 A TRADUÇÃO LITERÁRIA E A FIDELIDADE 13

1.1 O processo tradutório: algumas considerações 16 1.1.1 As figuras do autor e do escritor na modernidade 24

CAPÍTULO II 26 2 FUNDAMENTOS METODOLÓGICOS 26

2.1 A Teoria dos polissistemas 26 2.2 Os estudos descritivos da tradução e os teóricos Gideon Toury e André 28 Lefevere 2.3 O modelo metodológico de Lambert e Van Gorp 29 2.4 Os conceitos de Domesticação e Estrangeirização 31 2.5 A metodologia 32

CAPÍTULO III 34 3 OS DADOS PRELIMINARES E OS NÍVEIS MACRO E MICRO- 34 ESTRUTURAL

3.1 Dados preliminares 34 3.2 Níveis macro e micro-estrutural 38 3.2.1 Resgatando a dimensão humana dos sujeitos envolvidos no processo 38 tradutório e seus produtos 3.2.2 O autor Jorge Amado e a marca de oralidade em sua obra 39 3.2.3 O texto de partida e seus diálogos metatextuais 43 3.3 O tradutor Gregory Rabassa e a sua circunstância 46 3.3.1 Gregory Rabassa: conceito e técnica vital de tradução 47 3.3.2 O estilo de Gregory Rabassa e Captains of the Sands 50

CAPÍTULO IV 54 4 INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS COMPARATIVOS 54

4.1 Análise do corpus 55 4.1.1 Domesticação da linguagem 56 4.1.2 Soluções criativas 68 4.1.3 Expressões idiomáticas 78 4.1.4 Nomes de logradouros 90 4.1.5 Elementos afro-baianos 92

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 96

REFERÊNCIAS 99

ANEXO 1 – Materiais complementares ANEXO 2 – Os diálogos analisados 8

INTRODUÇÃO

[...] Trata-se, portanto, de uma segunda relação comunicativa, que se substitui à primeira ou que, de alguma forma a complementa. O segundo ato comunicativo é, lógica e factualmente, posterior ao primeiro, quer se trate de um intervalo mensurável em segundos (interpretação simultânea) ou em séculos. Esse novo ato comunicativo se fundamenta numa relação de equivalência, ou seja, as mensagens geradas no primeiro e no segundo atos comunicativos mantêm entre si um certo grau de correspondência [...] (AUBERT, 1993, p.10).

A atividade tradutória, em sua conceituação mais geral, é um fazer intelectual que visa à comunicação de signos verbais. Tal comunicação verbal pode ocorrer dentro de uma mesma língua (tradução intralingual), entre duas línguas diferentes (tradução interlingual) ou, ainda, entre linguagens de signos diferentes (tradução intersemiótica). Essa divisão da atividade tradutória, entretanto, parece ser de estrito conhecimento da academia já que, para a maioria das pessoas, a atividade tradutória propriamente dita, para usarmos uma terminologia proposta por Roman Jakobson (1970, p.65), remete-se, exclusivamente, à tradução interlingual. A tradução propriamente dita, ou interlingual, é um processo duplo por natureza. Nesse processo temos dois textos, ancorados em duas línguas e culturas diferentes e produzidos em dois momentos históricos diversos. Mesmo sendo excludentes em todos os seus aspectos, tais textos desenvolverão uma relação de correspondência assim que adentrarem o campo da atividade tradutória. Essa relação de correspondência ou equivalência constitui o cerne de todo o processo tradutório e será definida pelos diversos teóricos e teorias da Tradução, podendo variar da correspondência total, que julgamos impossível, até a total incorrespondência entre as culturas, línguas e textos envolvidos. As nomenclaturas adquiridas pelos textos integrantes da atividade tradutória dentro dos mais variados contextos lingüísticos expressam, de certa forma, a postura que será adotada durante a execução dessa atividade. Um contexto estruturalista de tradução, por exemplo, classifica os produtos integrantes da atividade tradutória como texto original e tradução. Essa nomenclatura, por si só, expressa a crença de que o ideal de toda tradução é a origem/o texto original e que a tradução, enquanto produto, deve ser uma repetição do conteúdo, do estilo, da fluência e da naturalidade desse texto 9 original. Além disso, o que está em foco nesse contexto é a classificação positivista dos dados, ou seja, uma análise desses dados per si , sem considerar questões como o contexto histórico em que essa tradução foi produzida nem os atores responsáveis por esses produtos tradutórios. A tradução, dessa forma, é considerada uma simples cópia do original e se encontra, sempre, em uma relação de desvantagem e inferioridade em relação ao mesmo. Em um contexto pós-estruturalista de linguagem, entretanto, os textos que integram essa relação tradutória se definem como texto-fonte e texto-meta, ou texto-de- partida e texto-de-chegada. Nesse contexto, a análise de dados não mais se restringe, apenas, aos produtos, agora chamados texto-fonte e texto-meta, mas consideram-se aspectos como contexto histórico, os atores envolvidos nesse processo e a audiência a quem esse texto-meta se destina. A atividade tradutória, a partir desse momento, é considerada uma interpretação a ser fixada pelo agente da tradução, o tradutor. Nesse contexto pós-estruturalista considera-se, sobretudo, o papel do tradutor e a sua inevitável interferência e visibilidade no decorrer do processo tradutório. Além disso, texto-fonte e texto-meta possuem, nesse contexto, um status equivalente. O texto-meta, dessa forma, não ocupa uma posição inferior, no tocante ao texto-fonte, mas se encontra numa relação de posterioridade, implicando a sua realização em um momento histórico diferente. Os principais responsáveis para que a atividade tradutória passasse a ser considerada um processo de interpretação, a partir do final da década de 1970, foram os teóricos Itamar Even-Zohar (1990), Gideon Toury (1995), André Lefevere (2007) e José Lambert (1985). A teoria dos polissistemas surgiu, primeiramente, nos anos de 1969 e 1970, sendo proposta nos estudos do teórico Itamar Even-Zohar (1990). Essa teoria afirma que sistemas semióticos tais como língua, literatura e cultura, entre outros, tendem a se integrar de maneira a manipular o ambiente cultural de uma sociedade. Já o teórico Gideon Toury (1995) propõe a existência de normas de tradução, ou seja, os procedimentos mais adotados pelo tradutor durante o processo tradutório. O penúltimo teórico, Lefevere (2007), afirma que essas normas são mecanismos de controle manipulados por dois fatores que controlam a cultura: os críticos, resenhistas, professores e os tradutores, e as instituições ou pessoas que têm o poder de promover ou impedir a leitura, a escritura e a reescritura de literatura (Lefevere, 2007). Por fim, temos a proposta metodológica elaborada pelos teóricos José Lambert (1985) e Hendrik Van Gorp (1985) para estudar, de maneira descritiva, as traduções literárias. 10

Este trabalho surgiu da necessidade de se verificar a maneira como a tradução de elementos detentores de coloquialidade foi feita, sendo esta coloquialidade uma das características mais marcantes da obra do autor Jorge Amado. Essas inquietações surgiram em conversas com colegas dentro do Departamento de Letras da Universidade Federal da Bahia (UFBA). A escolha pelo autor Jorge Amado deu-se em razão de ser esse escritor responsável pela imagem de mistério e fantasia que envolve a cidade da Bahia, como os velhos baianos a chamavam 1, e que tanto fascina os turistas do mundo inteiro. A escolha dessa obra, Capitães da Areia , surgiu por acreditarmos que a inserção desse texto-fonte, através da tradução, no sistema literário norte-americano, não é fruto do acaso, tendo esse texto-meta desempenhado uma função cultural no referido sistema no ano de 1988. Além disso, observa-se que esse texto-meta foi publicado 51 anos após a editoração do texto-fonte Capitães da Areia . Esta pesquisa se propõe, ainda, a alcançar quatro objetivos. O principal deles é realizar um estudo descritivo-comparativo entre o texto-meta, escrito em língua inglesa, e o texto-fonte, escrito em língua portuguesa. Tal estudo descritivo-comparativo analisará a maneira como os diálogos da obra Captains of the Sands , foram disponibilizados ao leitor norte-americano. De forma mais específica, pretende-se obter uma melhor compreensão do processo tradutório desses diálogos, bem como analisar as soluções encontradas pelo tradutor para os elementos culturais brasileiros; pretende-se, ainda, descrever os procedimentos tradutórios mais recorrentes no texto-meta. A estratégia da heterogeneidade discursiva, teorizada por Venuti (2002), postula que um texto-meta ideal fará um uso equilibrado dos materiais linguísticos e culturais presentes tanto no texto-fonte quanto no texto-meta. Baseando-nos nesse pressuposto, defendemos a hipótese de que o texto-meta Captains of the Sands mantém o tom discursivo dos diálogos presentes no texto-fonte. Durante uma breve leitura desse texto- meta, percebemos, também, que o tradutor Gregory Rabassa manteve algumas referências culturais brasileiras ao longo do mesmo. Tendo isso em mente, defendemos, também, a hipótese de que os procedimentos tradutórios adotados pelo tradutor promoveram uma maior aproximação com a cultura brasileira. Este trabalho é composto por cinco capítulos. O capítulo I contempla a Tradução Literária, tece considerações acerca da especificidade desse processo tradutório e traz um breve relato acerca das concepções teóricas que embasarão a nossa pesquisa. Neste

1 Raillard, Alice. Conversando com Jorge Amado,1992. 11 mesmo capítulo, forneceremos uma visão geral sobre o papel do autor e do escritor na modernidade. No capítulo II serão delineados os pressupostos metodológicos que fornecerão a base para a nossa análise. Faz-se necessário ressaltar que a maioria dos teóricos utilizados neste trabalho considera a tradução um processo de interpretação e uma forma de reescritura. Dessa maneira, trabalharemos, primeiramente, com a Teoria dos Polissistemas do teórico Itamar Even-Zohar (1990); faremos uso, também, da sistematização dessa teoria pelo teórico Gideon Toury (1995), que deu origem aos Estudos Descritivos da Tradução. Utilizaremos a noção de fatores controladores da cultura proposto por Lefevere (2007) e o modelo descritivo elaborado por José Lambert (1985) e Van Gorp (1985). Tal modelo tradutório descritivo nos permite, também, ressaltar algumas categorias lingüísticas. Em razão disso, fizemos uso dos sete procedimentos tradutórios propostos por Vinay e Darbelnet (1996). Tais procedimentos tradutórios foram, aqui, adotados devido à necessidade de classificação dos dados micro-estruturais do nosso corpus . Vale ressaltar, porém, que esse não é o foco principal do nosso trabalho. Por fim, serão explicitados os conceitos de domesticação e estrangeirização propostos por Venuti (1995). Os capítulos III e IV foram dedicados à análise da tradução. No capítulo III nos ocupamos da dimensão humana dos sujeitos envolvidos no ato tradutório, ressaltamos vários aspectos que nos ajudaram a compreender todo o contexto em que, tanto o texto- fonte, como o texto-meta foram produzidos. Ocupamo-nos, também, nessa seção, de aspectos concernentes à vida do autor e do tradutor que se mostraram relevantes no processo de produção das diversas obras. Após toda essa contextualização, passamos, no capítulo IV, à análise do corpus propriamente dito. Classificamos as opções tradutórias feitas pelo agente da tradução sob certos procedimentos que estão em consonância com os diversos teóricos explícitados na metodologia. Sempre que forneciam mais de uma solução tradutória para o mesmo item no texto-fonte, essas opções foram classificadas em tabelas, promovendo um agrupamento dos procedimentos tradutórios mais recorrentes no texto-meta, fato que está consonante com os Estudos Descritivos da Tradução propostos pelo teórico Gideon Toury (1995). As soluções tradutórias isoladas foram classificadas sob certos procedimentos tradutórios explicitados, também, na metodologia. Apesar disso, tentamos lidar, individualmente, com cada solução tradutória durante a possível justificativa das mesmas. No capítulo V, têm-se as considerações finais e as referências, bem como os anexos utilizados em nosso trabalho. 12

Tendo em mente que todo trabalho possui limitações, a presente pesquisa não pretende esgotar o tema em questão. Nesse ínterim, vale ressaltar a relevância e a contribuição que este trabalho se propõe a fornecer aos Estudos da Tradução.

13

CAPÍTULO I

1 A TRADUÇÃO LITERÁRIA E A FIDELIDADE

Segundo os teóricos Rosemary Arrojo e Kanavillil Rajagopalan (2003), grande parte das teorias lingüísticas defende a oposição entre os significados literais e os significados figurados ou metafóricos contidos nas palavras. Tal oposição tem como objetivo principal distinguir entre os processos tradutórios dos textos pragmáticos e literários, advogando lingüisticamente, para os primeiros, uma maior fidelidade ao texto original. Libertaremos, entretanto, o conceito de fidelidade dessa amarra lingüística, prescritiva e descontextualizada e revelaremos a sua verdadeira função dentro de um processo tradutório pós-estruturalista, situando-o em consonância com o contexto histórico e as perspectivas de leitura e interpretação. De acordo com as teorias lingüísticas expressas acima, os textos pragmáticos possibilitariam um acesso correto aos significados contidos nas palavras que compõem sua narrativa. Esses significados, considerados estáveis, poderiam ser acessados independentemente de contextos históricos ou interpretações. Em contrapartida, os significados metáfóricos ou figurados, presentes nos textos literários e poéticos, só poderiam ser acessados através de um processo de interpretação. Acreditamos que tal distinção demonstra, sobretudo, uma necessidade lingüística de classificar os dois tipos de textos em processos tradutórios diferentes, tendo como base a dicotomia estruturalista compreensão × interpretação. Por serem acessados de maneira objetiva, os significados dos textos pragmáticos permitiriam uma ‘compreensão correta’ (grifo meu) , ao passo que, nos textos literários, esse acesso só seria permitido através do processo de interpretação. Retomaremos essa questão mais adiante. Os teóricos Rosemary Arrojo e Kanavillil Rajagopalan (2003) reagem contra essa busca do significado literal e afirmam que:

Além do pensamento de Nietzsche, podemos considerar a psicanálise de Sigmund Freud e, principalmente, o conceito do “inconsciente” que mudou radicalmente a própria noção de sujeito. A partir do insight freudiano de que o homem carrega consigo um lado desejante e desconhecido, todo o conhecimento, todas as ciências, todas as “verdades”, todos os sentidos “literais” têm que ser necessariamente relativizados e reconhecidos como produto – ou sintoma – de uma interpretação, mediação inevitável entre homem e mundo (ARROJO; RAJAGOPALAN, 2003, p.54). 14

Nessa citação, os teóricos demonstram a impossibilidade de acessarmos, objetivamente, os significados literais contidos nas palavras. Tal acesso puro e objetivo à linguagem só seria facultado a seres que têm a capacidade de penetrar na mente humana. Qualquer pensamento nos chegaria, assim, através da linguagem e seus componentes ideológicos, recortado de acordo com a própria conveniência do falante. Dessa forma, faz-se necessário relativizar todas as verdades e todos os sentidos literais. O sujeito e, especificamente no campo da tradução, o tradutor, idealizado por essa concepção estruturalista, seria, portanto, um sujeito detentor de consciência plena, capaz de estabelecer uma relação puramente objetiva com a realidade. Tendo em mente essas considerações, concluímos que o processo tradutório tanto dos textos pragmáticos quanto dos textos literários só poderia ocorrer através de uma interpretação, mediação inevitável entre o homem e o mundo. O livro que está no cerne do nosso trabalho, por exemplo, foi fruto da verbalização do conhecimento não-verbal adquirido pelo autor Jorge Amado a partir de suas observações dos meninos abandonados dos estados da Bahia e de Sergipe. Aliando os pressupostos teóricos fornecidos acima com o depoimento fornecido pelo autor em questão, podemos afirmar que ele recortou a realidade, que lhe serviu de inspiração para a confecção do livro Capitães da Areia , de acordo com a sua perspectiva. O autor recorda sua:

[...] vagabundagem lírica, durante seis meses, pelas pequenas cidades do estado da Bahia e de Sergipe. As crianças abandonadas, que nas cidades de Salvador e Aracaju vivem do furto e de assaltos, iguais a homens, me comoveram e me tentaram como material para um romance. Andei atrás delas, seguindo a vida diária destes meninos durante alguns meses, até que me encontrei suficientemente apto a escrever o romance. Demorei-me então na paz da cidade de Estância, escrevendo os primeiros capítulos do livro. Desta paz e dos capítulos iniciados veio–me arrancar um telegrama: tudo estava pronto para a minha viagem ao estrangeiro. Eis o motivo porque este meu último romance foi terminado a bordo de um navio japonês, na Costa do Pacífico [...] (AMADO, 2001, p. 15 apud RAMOS, 2004, p. 20).

Essa transformação de situações vividas e, conseqüentemente, de experiências não-verbais, em linguagem fora problematizada pelo teórico George Bluestone (2003). Segundo ele, a linguagem não pode expressar a experiência não-verbal; sendo sucessiva e linear, ela não pode expressar as múltiplas experiências e nem revelar a fluência 15 inquebrável do processo vital. A realidade, em suma, não pode ser expressa ou veículada, somente a sua ilusão ( tradução minha , BLUESTONE, 2003, p.12) 2. Embora visto de outra maneira, na abordagem pós-estruturalista, o conceito de fidelidade ainda prevalece. Dentro dessa abordagem esse conceito vai além do domínio estritamente lingüístico e será inserido numa perspectiva filosófica e ideológica. A fidelidade, agora, está correlacionada a concepções de texto, leitura e de interpretação. Admite-se que um texto original, chamado agora texto-fonte, possa dar origem a várias traduções, agora chamadas textos-meta, devido ao processo de interpretação que é individual e particular a cada leitor. Acredita-se, ainda, que cada leitor de um texto qualquer traz, para a leitura, suas visões e concepções de mundo, além de algumas indicações sobre seu momento histórico. Dessa maneira, leitores diferentes, realizarão leituras diferentes de um mesmo texto-fonte e produzirão diferentes textos-metas. Nessa concepção pós-estruturalista, é dado ao leitor, e ao tradutor, o exercício da interpretação. O exercício da tradução, aqui, é aberto e infinito. Os textos-meta existem para caírem em desuso já que a atividade tradutória é situada historicamente, e cada período histórico exige um exercício de interpretação que faça referência a seus aspectos contemporâneos. Já os chamados textos-fonte existem para a imortalidade e, para que produzamos as interpretações citadas anteriormente. De acordo com Chamberlain (2005, p. 45) o significado da palavra “fidelidade” (grifo do autor) , em um contexto tradutório, muda de acordo com o propósito a que esse texto-meta deve servir num contexto estético e cultural mais amplo. Essa maneira de enxergar o conceito de fidelidade nos mostra, verdadeiramente, as questões que merecem nossa atenção dentro de um processo tradutório. Faz-se necessário resgatar a tradução da posição de marginalidade em que ela se encontra e revelar o papel importante que ela desempenha na história literária de um povo. Podemos, ainda, afirmar que os diversos teóricos, principalmente os lingüistas, encobriram a verdadeira razão de ser da tradução baseando os seus questionamentos em uma noção vaga de equivalência e deixando de revelar o verdadeiro papel da inserção de um texto-meta em uma determinada cultura e momento histórico. É baseado nas razões acima que afirmamos, em nosso trabalho, que a infidelidade é, por vezes, necessária e eficaz. Muitas vezes ela permite que o texto-meta se apresente como um produto que atendeu

2 Language cannot convey non-verbal experience; being successive and linear, it cannot express simultaneous experiences […] it cannot reveal the unbroken flow of the process of living. Reality cannot be expressed or conveyed- only the illusion of it. 16

às exigências não só do público receptor desse texto como também do momento histórico em que ele se insere. Ainda em relação aos textos literários, podemos afirmar que, em um contexto de tradução literária, o conceito de fidelidade deve estar consonante com as acepções denotativas, conotativas e pragmáticas das palavras. Tais acepções seriam acessadas de maneiras diferentes por cada leitor cujas interpretações resultariam em uma equivalência dinâmica aproximativa e dissimétrica (DELILLE et al., 1986). O teórico Francis Aubert (1993, p.50), em seu livro As in(fidelidades) da tradução: servidões e autonomia do tradutor, exemplifica essa questão polissêmica propondo uma solução interlingual, sugar-cane brandy , para cachaça, por exemplo. Segundo ele, esta solução não pretende resgatar toda a rede associativa de imagens referenciais que o termo ativaria em qualquer falante brasileiro do português como o alambique, a figura do pinguço, o gole pro santo, a meia-de-seda e toda a civilização de cana-de-açucar. Em contrapartida, a solução tradutória sugar cane brandy suscitará, no leitor-meta, outras redes associativas de imagens que, certamente, não corresponderão às mesmas associações feitas na língua-fonte. Podemos afirmar, dessa forma, que há, constantemente, em qualquer processo de tradução, a presença de um resíduo tradutório, termo cunhado pelo teórico Venuti (2002) e que será discutido mais adiante.

1.1 O PROCESSO TRADUTÓRIO: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES

Dentre as acepções fornecidas pelo Dicionário Houaiss (2007, p. 2745) para a palavra Traduzir (grifo meu) , temos: 1. Transladar, transpor de uma língua para outra; 2. Exercer a profissão de tradutor; 3. Submeter a uma interpretação; 4. Manifestar (-se), demonstrar (-se), revelar (-se); fazer transparecer ou transparecer; 5. Manifestar-se como representação de; simbolizar. Podemos afirmar que os significados da palavra Traduzir , listados acima, não condizem com a visão prescritiva, bastante difundida, do processo tradutório que afirma ser a tradução uma “cópia” (grifo meu) do texto original e o tradutor um reprodutor de significados. Este fato é, inicialmente, comprovado na terceira significação do termo Traduzir , Submeter a uma interpretação (grifo meu) . De acordo com o Dicionário de Lingüística (DUBOIS, 2006, p. 350), dizemos que um enunciado é interpretável, ou suscetível de receber uma interpretação semântica, quando o falante nativo pode dar-lhe um sentido. A quarta acepção invoca, também, o papel 17 ativo do tradutor na execução do ato tradutório, pois, durante esse ato, o tradutor se manifesta, se demonstra e se revela interpretando o texto-fonte e revelando-se no texto- meta. “Traduzir é negociar permanentemente: uma perda eventual pode representar um ganho inesperado e surpreendente mais adiante” (BATALHA; PONTES JÚNIOR, 2007, p. 96, grifo meu ). Essa negociação entre as perdas e os ganhos de um processo tradutório é empreendida pelo tradutor através da sua interpretação do texto-fonte e, como visto, resultará em uma equivalência dinâmica aproximativa (DELILLE et al., 1986). Em um processo tradutório interlingual, por exemplo, parte-se de um texto-fonte, escrito por um autor que tem seu estilo próprio e utiliza de materiais lingüísticos e culturais intrínsecos à cultura-fonte. Do outro lado, temos um texto-meta, cujo tradutor é um co-autor que utiliza outra língua para disponibilizar esse texto àqueles leitores da cultura-meta. Nesse processo de transposição de uma língua para outra, diferenças entre as línguas e as culturas se tornam bastante evidentes. Cabe ao tradutor, com seu estilo próprio, decidir pelo apagamento, ou não, dessas diferenças culturais e lingüísticas. O teórico Francis Aubert (1993), cuja definição do processo tradutório aparecera na introdução, afirma que, ao produzir linguagem, o emissor participa de uma interação comunicativa composta por três mensagens: a mensagem pretendida, a mensagem virtual e a mensagem efetiva (grifo do autor) . A mensagem pretendida seria a intenção comunicativa do emissor, ou seja, aquilo que ele “quis dizer”. Já a mensagem virtual constituiria o conjunto das leituras possíveis a partir da expressão lingüística gerada, e a mensagem efetiva seria aquela realizada na recepção, no destinatário. O teórico afirma que o ato tradutório toma como ponto de partida uma mensagem efetiva, ou seja, uma mensagem que parte da atribuição de significação do receptor-tradutor a uma das alusões acessadas a partir da mensagem virtual (1993). Diante disso, parece-nos impossível e improvável que o receptor-tradutor “reproduza” (grifo meu) os significados do texto-fonte. O processo tradutório em que se pauta este trabalho será, sempre, resultado de um exercício interpretativo, feito por um tradutor, a partir de um texto-fonte. Afirmaremos, ainda, que tal exercício interpretativo estará relacionado com a sua personalidade, seus sentimentos, pensamentos, experiências e aspectos sociais e econômicos no momento da tradução (ARROJO, 1986). Entretanto, tal interpretação, fixada no texto-meta, não poderá ser repetida em nenhum outro momento histórico, nem 18 mesmo por esse tradutor, já que ele estará em um momento diferente da sua existência e o mundo à sua volta será outro. Diante das considerações acima acerca do papel do tradutor, forneceremos certa visibilidade ao trabalho desse agente do processo tradutório, classificando o seu trabalho como original já que utiliza outra língua para recriar o texto estrangeiro (VENUTI, 1995). Além disso, consideraremos o papel que o tradutor exerce como crucial na medida em que torna um texto estrangeiro acessível a pessoas que não tem habilidade lingüística para ler o texto-de-partida. Basearemo-nos, portanto, em uma visão pós-moderna e pós-estruturalista que desconstrói a noção de origem estável e insere o texto numa cadeia de intertextualidade, sendo o autor apenas mais uma fonte a ser consultada. Apesar da adoção do conceito de tradução como reescritura pela maioria dos teóricos utilizados neste trabalho, escolhemos o conceito proposto pelo teórico André Lefevere (2007). Esse teórico afirma que a tradução é a forma mais óbvia de reescritura. Essa reescritura é feita pelo agente da tradução e tem por objetivo principal manipular o texto-fonte, de modo que este venha a ratificar os interesses de pessoas que ocupam o poder e que estão interessadas em controlar a lógica da cultura e a sociedade (LEFEVERE, 2007). Entretanto, esse mesmo processo de reescritura pode, também, renovar o sistema literário que receberá esse texto-meta através da inclusão de elementos que eram ausentes no sistema literário receptor. Embora a atividade tradutória, até esse momento do nosso trabalho, tenha sido descrita como uma atividade de cunho interpretativo, tal atividade sempre esteve atrelada à ciência lingüística. A dicotomia saussuriana dividiu a linguagem humana entre língua e fala. Esse modo de caracterização da linguagem humana favoreceu o aparecimento da dicotomia sujeito × objeto . Segundo Arrojo (2003) essa dicotomia pressupõe a descrição, o controle e o não envolvimento do sujeito, o indivíduo, com o objeto, a língua. Ora, descrição e não-envolvimento do sujeito são características de uma postura estruturalista e logocêntrica. Nessa abordagem, o leitor, no nosso caso, o tradutor, não pode fazer uso algum de sua subjetividade, sendo um mero plagiador das “intenções” (grifo meu) do autor e do “sentido” (grifo meu) do texto-fonte. Como vimos anteriormente, acreditamos ser esse plágio impossível, já que o tradutor pode, apenas, expressar sua visão do que estes sentidos e intenções possam ter sido (ARROJO, 1986). A aceitação dessa dicotomia sujeito × objeto acarreta, também, uma oposição entre o ato de compreender e interpretar. Retomando essa questão, afirmamos que, dentro de 19 uma abordagem lingüística, a compreensão é objetivamente previsível, determinável e totalmente independente de contexto ou perspectiva. Já na interpretação, o sujeito revelaria sua visão do texto/ evento desde que o tivesse compreendido de forma “correta” (grifo meu) . Não é possível, dessa forma, interpretar sem compreender dentro desse contexto lingüístico e estruturalista (ARROJO, 2003). Listaremos a seguir os primeiros lingüistas que se ocuparam do processo tradutório, subordinando-o, sempre, à ciência lingüística. Em seu livro, Os problemas teóricos da tradução , o lingüísta Georges Mounin (1975) afirma que as línguas e culturas, com suas visões de mundo particulares, são impenetráveis e que a atividade tradutória é impossível. Acreditamos que a crença expressada por este teórico acerca da impossibilidade da tradução está intrínsecamente ligada ao fato do mesmo subordinar a atividade da tradução à lingüística e afirmar ser essa a única via de acesso às significações. Parece-nos no decorrer do seu livro que o próprio teórico não acredita nessa impossibilidade, pois afirma que os tradutores existem e que nós, freqüentemente, entramos em contato com as suas produções. Para Mounin (1975) a atividade tradutória constitui o escândalo da lingüística contemporânea. Após George Mounin (1975), o segundo lingüísta a abordarmos é John C. Catford (1980). Este autor define a tradução como sendo “a substituição de material textual numa língua (LF) por material textual equivalente em outra (LM)” (CATFORD, 1980, p. 22, grifo do autor ). Este processo se daria através do conceito de equivalência que o autor fragmenta em equivalência textual e correspondência formal (1980). O autor propõe, ainda, que os itens recorrentes na tradução sejam classificados como regras de tradução ou de algoritmos de tradução , visando uma sistematização do processo (1980). Sabemos, entretanto, que todo processo tradutório é individual e possui suas próprias particularidades sendo impossível sistematizá-lo. Em último lugar temos o lingüísta Eugene Nida (1996). Em seu modelo, Eugene Nida (apud BASTIANETTO; CORREIA; COSTA; CARVALHO, 1996) propõe equivalência formal e equivalência dinâmica. O primeiro tipo de equivalência se propõe a reproduzir, de maneira mais literal possível, a forma e o conteúdo do original. Já o segundo tipo não se prende mais à forma do texto original e, sim, ao seu conteúdo semântico. Embora pareça que esse teórico se distancie dos pressupostos lingüísticos e prescritivos, ele ainda baseia todo o ideal do processo tradutório no original. A tradução, dentro dessa concepção, deve refletir tanto o significado como a intenção do texto original (1996). 20

Como pudemos notar, a definição da noção de equivalência foi a principal contribuição da ciência lingüística para a tradução. Consideradas sob este ponto-de- vista, as traduções implicavam simetria, reversibilidade e possibilidade de intercâmbio entre os elementos (RODRIGUES, 2000). Entretanto, tal simetria entre os elementos é algo que, muitas vezes, nem mesmo acontece dentro de uma própria língua, já que as línguas vivem em perpétuo movimento. George Steiner (tradução minha , 1980, p. 40) 3 afirma que nenhuma forma semântica é atemporal e que um texto está sempre incrustado em um tempo histórico específico. Examinadas sob esse ponto de vista, as traduções eram sempre classificadas em certas ou erradas, corretas ou incorretas, e adequadas ou inadequadas. Eram, portanto, sempre associadas a noções de falhas ou inferioridade em relação ao “texto-original” (grifo meu). Essa busca incessante da totalidade de sentidos, intenções e conteúdos presentes no texto-fonte, empreendida pela ciência lingüística, e a constante necessidade e impossibilidade do tradutor, como afirma Derrida (2005), diante de tais expectativas, será comparada ao mito da Torre de Babel. Metaforicamente, o autor seria esse ser inalcansável, “Deus” (grifo meu) , ao qual nenhum tradutor, humano e mortal, por melhor que fosse se aproximaria ou alcançaria através do seu texto-meta. Dentre os trabalhos mais importantes da década de 50, temos os trabalhos dos lingüístas canadenses Jean-Paul Vinay e Jean Darbelnet (1996), Stylistique comparée du français et de l´anglais , inicialmente publicado em 1958. Esses teóricos utilizaram a estilística comparada para realizar um estudo entre a língua inglesa e a francesa. A partir de tal estudo comparativo, esses autores (1996) apresentaram sete procedimentos técnicos de tradução e os dividiram em dois eixos: a tradução direta e a tradução oblíqua. A tradução direta seria a tradução palavra por palavra ou literal e a tradução oblíqua seria aquela que promove uma alteração da forma sem alterar o conteúdo da mesma. Os sete procedimentos propostos pelos tradutores são: 1. Na tradução literal: a) empréstimo; b) decalque e c) tradução literal palavra por palavra. 2. Na tradução oblíqua: d) transposição; e) modulação; f) equivalência e g) adaptação. Embora tenhamos advogado a independência da disciplina Estudos da Tradução em relação à ciência lingüística durante todo o nosso trabalho, verificamos a necessidade de classificar certas opções tradutórias cujas justificativas não poderiam ser fornecidas com base, apenas, no contexto histórico. Definiremos, assim, os sete

3 […] Ninguna forma semántica es atemporal. […] Un texto está siempre incrustado en un tiempo histórico específico [...] (STEINER, 1980, p. 40). 21 procedimentos técnicos da tradução visando fornecer, ao leitor, subsídios que o ajudarão na avaliação do nosso corpus de análise. O primeiro procedimento da tradução direta a ser definido será empréstimo lingüístico (a). Tal procedimento pode ser identificado sempre que o termo da língua-fonte aparecer ipsis litteris no texto da língua-meta. Segundo Vinay e Darbelnet (1996) o empréstimo lingüístico é justificado sempre que não houver, na língua-de-chegada, uma palavra que expresse o mesmo significado da língua-fonte. Já o segundo procedimento, o decalque (b), se define como um caso particular de empréstimo que se estenderia aos sintagmas e não somente a palavras, como acontece no primeiro procedimento. Segundo Vinay e Darbelnet (1996) teríamos dois tipos de decalque: o decalque de expressão e o de estrutura. Enquanto o primeiro tipo introduziria novos modos de expressão respeitando a estrutura sintática da língua- meta, o segundo tipo introduziria construções sintáticas alheias a ela. O terceiro e último procedimento da tradução direta seria a tradução literal palavra por palavra (c). Apesar de estar em disacordo com o nosso trabalho, incluímos tal procedimento, aqui, no intuito de demonstrarmos que estamos conscientes do mesmo. Os próximos procedimentos a serem ressaltados fazem referência à tradução oblíqua. Tais procedimentos se intitulam transposição (d), modulação (e), equivalência (f) e adaptação (g). O primeiro deles (d) alude à substituição, no plano formal, de um segmento da língua-fonte por outro segmento na língua-meta, sem que haja alteração do conteúdo da mensagem. A modulação (e), por sua vez, pode ser classificada em modulação livre ou modulação obrigatória. Segundo Vinay e Darbelnet (1996) a modulação de uso obrigatório faz referência a expressões dicionarizadas e de uso freqüente. Já o procedimento técnico modulação livre faz referência ao modo como um falante nativo se expressaria, embora essa expressão não se encontre, ainda, dicionarizada. O penúltimo procedimento (f), a equivalência, consiste na utilização de termos lingüísticos e estilísticos diferentes usados para expressar a mesma situação nos dois textos, o texto-fonte e o texto-meta. Segundo Vinay e Darbelnet (1996, p.22) esse procedimento seria utilizado no processo tradutório de “provérbios, idiomatismos, clichês e locuções substantivas e adjetivas (grifo meu) ”. Por fim, a adaptação (g), alude a situações culturais diferentes, inexistentes na língua-meta, e que necessita ser expressa através de uma outra situação cultural que o tradutor julgue apropriada. Faz-se necessário ressaltar que a escolha dos teóricos Vinay e Darbelnet (1996) ocorreu em razão da proximidade do texto-meta ao texto-de-partida. Estamos conscientes, entretanto, da limitação oferecida por esses procedimentos técnicos na 22 medida em que se restringem, unicamente, à classificação positivista dos dados e não se ocupam das circunstâncias históricas em que os diversos textos-meta são produzidos, negando, assim, a função cultural desempenhada por estes no sistema literário. O teórico Roman Jakobson (1970) propõe, também, algumas soluções para as passagens que apresentem dificuldades tradutórias. O teórico afirma que, nessas ocasiões, a terminologia pode ser modificada por empréstimos, calcos, neologismos, transferências semânticas e, finalmente, circunlóquios. Segundo ele (1970) um signo verbal pode ser interpretado através de três tipos de tradução: intralingual, interlingual e a intersemiótica. A tradução intralingual aconteceria dentro de uma mesma língua sendo uma reformulação de algo que foi dito. Já a tradução interlingual acontece entre duas línguas diferentes e é, especificamente, o tipo de tradução em que se baseia nosso trabalho. Finalmente, a tradução intersemiótica remete a uma tradução feita entre linguagens de signos diferentes. Essa divisão da atividade tradutória aparecera, em nosso trabalho, na introdução. No entanto, para situar o teórico Roman Jakobson (1970) historicamente, retomamos a divisão da atividade de tradução, proposta por ele (1970), e suas soluções propostas para os problemas tradutórios, ancoradas na lingüística. A primeira tentativa no sentido de estabelecer uma disciplina independente, institucionalmente, da lingüística foi elaborada por James Holmes (1972). A disciplina, chamada Translation Studies, criticava severamente as dicotomias estabelecidas pela lingüística estruturalista, assumindo uma posição pós-estruturalista da linguagem. Segundo Arrojo (1998) o boom dos estudos da tradução aconteceu a partir do momento em que se consideraram a visibilidade do tradutor, o papel autoral do ato tradutório e a superação das noções de inferioridade e inadequação difundidas pelas propostas essencialistas. Esta libertação das concepções essencialistas permitiu a apropriação do original como uma transformação em que as diferenças entre duas línguas e culturas não são reprimidas, mas investigadas. Esta confrontação entre a abordagem lingüística da tradução e os estudos da tradução foi necessária e oportuna na medida em que abordou questões relativas à disputa de poder dentro das instituições acadêmicas onde a tradução quase sempre é subordinada à lingüística. A partir das décadas de 1970 e 1980, teóricos como Itamar Even-Zohar (1990), Gideon Toury (1995) e José Lambert (1985) passaram a considerar a tradução dentro de uma relação funcional e sistêmica. A partir desse momento, o teórico Gideon Toury (1995) sistematiza a Teoria dos Polissistemas (1990) e dá início aos chamados Estudos Descritivos da Tradução. Os Estudos Descritivos da Tradução tem como principal 23 finalidade traçar os procedimentos mais adotados pelo tradutor durante o processo tradutório, ou seja, as suas regularidades ou normas. Com base na Teoria dos Polissistemas e nos Estudos Descritivos da Tradução, os teóricos José Lambert e Hendrik Van Gorp (1985) elaboraram um modelo metodológico que tem como finalidade principal o estudo descritivo das traduções literárias. Esse modelo metodológico abrange, ainda, contexto histórico, processo tradutório, recepção do texto traduzido e alguns aspectos sociológicos como a distribuição e a crítica da tradução. Diferentemente das abordagens lingüísticas, nos estudos descritivos não há espaço para que se emitam juízo de valor e nem se classifiquem as traduções em certas ou erradas ou adequadas ou inadequadas. O que importa, aqui, é estabelecer a função cultural da tradução em uma determinada sociedade, seu desenvolvimento histórico e a influência do mercado editorial na produção e divulgação das obras traduzidas. Data do ano de 1995 a publicação do livro The translator´s invisibility pelo teórico Lawrence Venuti (1995). Venuti (1995), primeiramente, define a tradução como “um processo através do qual a cadeia de significados que constituem o texto da língua de partida é substituído por uma cadeia de significados na língua de chegada que o tradutor fornece através da interpretação (1995, p. 17, tradução minha )”4. Entretanto, é a partir da segunda definição que percebemos que a experiência do tradutor advém da tradução, principalmente, para as línguas majoritárias, embora defenda, por vezes, um projeto minorizante. Em seu segundo conceito, o teórico afirma que “A tradução é uma substituição forçada da diferença cultural e lingüística do texto estrangeiro por um texto que será inteligível ao leitor de chegada (1995, p.18, tradução minha ) 5”. Em seu livro, Venuti (1995) afirma que o processo tradutório pode ser feito usando-se os métodos de domesticação e de estrangeirização. Métodos esses que Venuti (1995) importou do teórico Schleiermacher (apud VENUTI, 1995), sendo a domesticação uma “redução etnocêntrica do texto estrangeiro a valores culturais da língua-meta. 6” e a estrangeirização “uma pressão desviante desses valores de modo a registrar a diferença cultural e lingüística do texto-estrangeiro 7” (VENUTI, 1995, p. 20, tradução minha ). Venuti afirma, ainda, que embora tente reproduzir o texto da língua de partida, o

4 Translation is a process by which the chain of signifiers that constitutes the source-language text is replaced by a chain of signifiers in the target language which the translator provides on the atrength of an interpretation. 5 Translation is the forcible replacement of the linguistic and cultural difference of the foreign text with a text that will be intelligible to the target language reader. 6 (tradução minha) An ethnocentric reduction of the foreign text to target-language cultural values. 7 (tradução minha) An ethnodeviant pressure on those values to register the linguistic and cultural difference of the foreign text. 24 tradutor o reduz e o suplementa quando consulta materiais diversos que o possam auxiliar na tradução (VENUTI, 1995, p. 24). 8 No intuito de concluir esta seção, mencionaremos, a título de conhecimento, uma das teorias mais polêmicas sobre a tradução, ou seja, a Desconstrução. Faz-se necessário explicitar que o termo Desconstrução foi cunhado pelo próprio Jaques Derrida e, segundo ele, designa exatamente o que a maior parte dos gramáticos chama de construção. Aplicado ao contexto da tradução, o tradutor desconstruiria as frases dispostas no texto-fonte e as construiria novamente em sua língua (DERRIDA, 2005) Nessa reflexão, a tradução é sempre considerada como um acontecimento que revela o double bind : a necessidade e a impossibilidade da sua realização (OTTONI, 2005, p.72). Através do double bind evidenciamos, também, que há uma relação dissimétrica entre as línguas que resultam em um excesso ou resto de significação. É interessante notar que a teoria da Desconstrução desfaz e decompõe todas as estruturas logocêntricas, negando, portanto, toda a idéia de original e de significados estáveis a serem recuperados. Essa teoria considera que a tradução sempre traz algo novo e é considerada um “original” (grifo meu) .

1.1.1 AS FIGURAS DO AUTOR E DO ESCRITOR NA MODERNIDADE

Esta seção pretende discorrer sobre o prestígio da figura do autor no contexto contemporâneo e demonstrar que a sua figura nem sempre teve a importância e a visibilidade que a crítica clássica lhe atribui. Nas sociedades etnográficas, por exemplo, as narrativas nunca eram atribuídas a uma pessoa, em particular, a um gênio, e sim a um mediador, um xamã. Nessas narrativas admirava-se, sobretudo, o domínio do código narrativo. Barthes afirma que “a escritura é a destruição de toda a voz, de toda a origem” (BARTHES, 2004, p. 57, grifo meu ), essa afirmação destrói toda a personificação do corpo que escreve o texto. O teórico (2004) afirma ser o autor uma personagem moderna. Esse conceito de autoria, juntamente com o conceito de erudição, que pressupõe originalidade, são considerados, pelo teórico Lawrence Venuti (2002), os grandes responsáveis pela atual posição de marginalidade em que a tradução se encontra. Nesta posição, o tradutor é sempre considerado um imitador de um texto-de-partida, o que

8 […] Although intended to reproduce the source-language text, the translator´s consultation of these materials inevitably reduces and supplements it, […] (VENUTI, 1995, p. 24). 25 dificulta a sua elevação à categoria de escritor. O teórico Lori Chamberlain (2005) afirma que em razão de a atividade tradutória ameaçar apagar a distinção entre a produção e a reprodução, essencial para instituição do poder, é responsável por ela ser tão fortemente codificada e regulamentada. Acredita-se, ainda, que o autor estabelece uma relação de anterioridade e patriarcalismo com seu texto, usando-o como uma extensão do seu próprio ser, tornando o texto a própria encarnação da figura do autor. Contrapondo a essa idéia de anterioridade, Barthes (2004, p. 61) afirma que “o escriptor moderno nasce ao mesmo tempo que seu texto” (grifo meu) e, para ele, não existe outro tempo senão o da enunciação, sendo todo texto escrito, aqui e agora (grifo do autor) . Neste trabalho concordaremos com a opinião de Barthes de que atribuir um autor ao texto é fechar a escrita (BARTHES, 2004). Em outras palavras, a afirmação acima implica dizer que um texto é passível de uma só interpretação e que a variedade de leitores a ler o texto “recuperaria” (grifo meu) o mesmo significado. Acreditamos, no entanto, que a interpretação é diferente e particular a cada indivíduo e, sendo a tradução, um processo de interpretação, vários textos, ou várias traduções, seriam geradas.

26

CAPÍTULO II

2 FUNDAMENTOS METODOLÓGICOS

A teoria que permeia o nosso trabalho - a Teoria dos Polissistemas proposta nos estudos do teórico Itamar Even-Zohar (1990) - nos possibilita verificar a posição ocupada pelo texto-meta Captains of the Sands no sistema literário norte-americano. Identificamos tal posição com base, principalmente, nas informações recolhidas sobre o contexto literário e nos relatos do tradutor Gregory Rabassa acerca da aceitação do texto-meta em relação a outros livros publicados naquela época. Tais relatos foram disponibilizados a partir das entrevistas concedidas pelo tradutor através da web . Utilizamos, também, o modelo dos Estudos Descritivos da Tradução propostos pelo teórico Gideon Toury (1995) e que consiste na sistematização da Teoria dos Polissistemas (EVEN-ZOHAR, 1990). A partir desse modelo, selecionamos as opções tradutórias adotadas pelo tradutor e que foram mais recorrentes nesse processo. Tais soluções foram agrupadas em tabelas sempre que faziam referência ao mesmo item ou assunto no texto-fonte. Soluções tradutórias alusivas aos itens isolados do texto-fonte foram, também, classificadas sob certos procedimentos tradutórios que se encontram consonantes tanto com os fundamentos teóricos quanto os metodológicos. Consideramos, também, o conceito de reescritura proposto por André Lefevere (2007) e mencionamos os fatores controladores das normas tradutórias. Em consonância com os pressupostos listados acima, utilizamos o modelo descritivo para traduções literárias proposto pelos teóricos José Lambert e Van Gorp (1985) que propõe um modelo sistemático. Por fim, lançamos mão dos conceitos de Domesticação e Estrangeirização propostos pelo teórico Lawrence Venuti ( 1995).

2.1 A TEORIA DOS POLISSISTEMAS

A Teoria dos Polissistemas - cunhada pelo teórico israelense Itamar Even-Zohar (1990) com o objetivo de solucionar problemas muito particulares de tradução da literatura hebraica - propõe a integração entre os vários sistemas, literários e não- literários, de maneira a controlar a sociedade. Além desse conceito de sistema, Yurij Tynianov trouxe, ainda, para a Teoria dos Polissistemas, as noções de hierarquização 27 dentro do polissistema literário e de evolução (TYNIANOV, 1878 apud GENTZLER, 2001). Essa noção de hierarquização, incorporada à Teoria dos Polissistemas, possibilitou a inclusão, no polissistema literário, de elementos antes rejeitados por outras teorias cuja classificação se restringia, apenas, aos cânones (EVEN-ZOHAR, 1990). Aqui, elementos considerados de baixa cultura tais como a literatura popular ou a literatura infantil, entre outros, desempenham um papel importante na medida que contribuem para a estabilidade ou a evolução do sistema literário. Esses elementos se encontram numa relação de tensão constantemente dinâmica com os chamados “cânones”, pois enquanto estes ocupariam o centro do polissistema - posição almejada pelos que desejam prestígio e poder - aqueles estariam na períferia representando os elementos detentores de características que já foram canonizadas ou que tiveram suas tendências inovadoras excluídas da posição central de prestígio. Os princípios que regem esse dinamismo dentro do polissistema são chamados primários e secundários. Um elemento primário é um elemento novo e inovador que tende a ocupar a posição central do polissistema quando o cânone estagna e passa a uma posição secundária dentro do polissistema literário. Podemos afirmar, ainda, que até o aparecimento dessa teoria, os pesquisadores falharam em perceber a conecção entre a posição ocupada pelos textos no sistema literário e as decisões tomadas enquanto os produziam (EVEN-ZOHAR, 1990). Quanto ao papel da literatura traduzida, ela dependerá do tempo de existência, força e estabilidade de um polissistema particular (GENTZLER, 2001). Os polissistemas das culturas anglo-americana e francesa diferem dos polissistemas de Israel e dos Países Baixos. Enquanto naqueles países a literatura traduzida tende a desempenhar um papel secundário dentro do polissitema, chegando à posição central apenas quando a literatura central se encontra em crise, em polissitemas de literaturas jovens ou periféricas, esse tipo de literatura desempenha um papel fundamental. Nesses polissistemas a literatura traduzida mantém uma posição central e nenhuma distinção é feita entre texto original e tradução (grifo meu) . A literatura traduzida, dentro desses polissistemas, é um dos meios através do qual são introduzidos novos elementos na cultura-de-chegada elaborando um novo repertório. Entretanto, quando essa mesma literatura ocupa uma posição periférica, ela não influência em maiores processos, é modelada de acordo com normas convencionalmente já estabelecidas e exerce, portanto, um papel conservador na cultura alvo. È interessante notar que, até o advento da Teoria 28 dos Polissistemas, a literatura traduzida era sempre considerada como ocupante de uma posição secundária dentro de qualquer polissistema literário (GENTZLER, 2001).

2.2 OS ESTUDOS DESCRITIVOS DA TRADUÇÃO E OS TEÓRICOS GIDEON TOURY E ANDRÉ LEFEVERE.

A disciplina denominada Estudos da Tradução teve seu nome cunhado por James Homes em 1972. Tanto James Holmes quanto outros teóricos, que se situavam dentro dos Estudos da Tradução, ainda mantinham concepções essencialistas de texto e significado desconsiderando, assim, a visibilidade do tradutor durante o processo tradutório. O agrupamento dos teóricos André Lefevere e Gideon Toury à disciplina chamada Estudos da Tradução se deve ao fato de ser, nesse contexto, onde se inserem seus trabalhos. Rodrigues (2000) afirma que, na década de 1970, o teórico Lefevere caracterizava-se por possuir uma atitude prescritiva em relação ao processo tradutório. Segundo ela, é somente a partir de 1981 que Lefevere considera a tradução um tipo de reescritura. Segundo o autor, os reescritores, entre eles, os tradutores, seriam responsáveis pela recepção e pela sobrevivência das obras literárias (LEFEVERE, 2007). De acordo com o autor (LEFEVERE, 2007) as pessoas envolvidas no estudo dessas reescrituras deverão se perguntar quem traduz, por que, sob que circunstâncias e para que público. O próximo teórico a ser abordado aqui se chama Gideon Toury (1995). Tendo sido integrante da Escola de Telavive e influenciado pelas idéias de Even-Zohar (1990), Toury expandiu e sistematizou as idéias do teórico da Teoria dos Polissistemas criando a Teoria dos Estudos Descritivos da Tradução. Assim como a Teoria dos Polissistemas, a Teoria dos Estudos Descritivos tem como ponto de partida de suas observações o texto-meta e o contexto receptor da tradução. Segundo Toury (1995) as culturas fazem uso da tradução como uma maneira de preencher lacunas. Em outras palavras, a decisão em fazer uma tradução parte sempre de uma deficiência da cultura-meta. Embora Vieira (1996) afirme que uma das falhas da teoria proposta por Gideon Toury (1995) é a crença de que as traduções são fatos, apenas, do sistema receptor, Toury (1995) afirma que a noção de tradução é um aglomerado de três postulados: o do texto-fonte; o de transferência e o de relação. Segundo o autor, nenhum desses 29 elementos seria excluído de um programa de Estudos Descritivos orientado a partir da cultura-meta, eles apenas mudariam seu status dentro do processo tradutório. Quanto ao postulado do texto-fonte, por exemplo, o autor afirma que, ao considerar qualquer texto uma tradução, assume-se que existe outro texto em outra cultura, que tem prioridade lógica e cronológica sobre ele (TOURY, 1995). Já em relação ao postulado da transferência podemos afirmar que o autor supõe que o processo tradutório envolve a transferência de algumas características do texto-fonte para o texto-meta. E, finalmente, o postulado de relação supõe a existência de relações que ligam o texto-meta ao texto- fonte. Embora muitos teóricos contemporâneos da tradução tenham excluído de suas teorias o conceito de equivalência, por associá-lo à prescrição e a um retorno às origens, Toury (1995) incorpora o conceito em sua teoria e o redefine. Para o autor, a equivalência passa a ser um fator empírico que exprime as reais relações entre os texto- meta e o texto-fonte (TOURY apud RODRIGUES, 2000). Além de redefinir o conceito de equivalência, o teórico Gideon Toury distingue três tipos de normas diferentes dentro do processo tradutório: normas iniciais, preliminares e operacionais. As primeiras determinam a escolha básica entre as normas do texto-fonte ou as normas do texto-meta. As normas preliminares estariam ligadas às políticas tradutórias tais como a escolha dos textos e as operacionais afetariam a matriz do texto. Para reconstruir essas normas, teríamos as fontes textuais e extratextuais. As textuais seriam os textos traduzidos e as extratextuais seriam os comentários feitos pelos tradutores, editores ou publicitários.

2.3 O MODELO METODOLÓGICO DE LAMBERT E VAN GORP

Esse modelo metodológico, elaborado por José Lambert e Hendrik Van Gorp (1985), tem como principal finalidade o estudo descritivo das traduções literárias. O modelo incorpora, ainda, alguns pressupostos apresentados pelos teóricos Even-Zohar (1990) e Toury (1995). Do primeiro teórico, os autores do modelo adotaram a noção de polissistema, uma visão funcional e relacional que compreende os polissistemas da língua de partida e da língua de chegada. Os conceitos propostos pelo segundo teórico, Gideon Toury (1995), aceitação e adequação, foram, também, inseridos pelos teóricos 30 mencionados acima em seu modelo metodológico. Tais conceitos foram aplicados à tradução em termos de normas dominantes, pois não se é possível encontrar uma tradução totalmente voltada para a cultura-fonte ou para a cultura-alvo. Enquanto os recursos estilísticos de uma dada tradução podem ser orientados pela cultura alvo, seus referentes culturais podem, ainda, partir do texto-fonte. É preciso enfatizar a impossibilidade de abranger todas as relações que se fazem presentes na atividade tradutória, daí adotarmos o conceito de normas dominantes no processo tradutório, sendo que exceções a essas normas também serão mencionadas. Embora o processo tradutório e suas normas dominantes sejam baseados em um modelo intuitivo, com esse modelo metodológico o processo tradutório pode, ao menos, ser sistemático (1985). Nesse modelo, o aluno, primeiramente, coleta informações sobre as características macro-estruturais da tradução. Percebemos, então, que esse modelo metodológico envolve contexto histórico, processo tradutório, recepção do texto traduzido, e alguns aspectos sociológicos como a distribuição e a crítica da tradução. O esquema sintético proposto no apêndice do texto de José Lambert e Hendrik Van Gorp (1985) propõe quatro níveis para o estudo descritivo das traduções:

1. Dados preliminares: título; para-textos (diagramação da capa, orelhas, nome do autor, nome do tradutor, etc); meta-textos (prefácios, ensaios, críticas, etc) e estrutura geral da tradução; 2. Nível macro-estrutural: divisões do texto (capítulos, atos, cenas); títulos de capítulos e seções; estrutura narrativa e estratégia global de tradução; 3. Nível micro-estrutural: seleção vocabular; estruturas gramáticais, formais e estilísticas; narrativa; modalização; linguagem etc; 4. Nível sistêmico: oposições entre as relações macro e micro-estruturais do texto; relações intertextuais e relações intersistêmicas.

Como fora mencionado anteriormente, esse método baseia-se numa abordagem funcional, relacional e sistêmica. Primeiramente, é considerado o contexto macro- estrutural da tradução e algumas hipóteses são levantadas. Essas hipóteses, por sua vez, são testadas e verificadas no nível micro-estrutural. Por vezes, entretanto, o nível micro- estrutural levanta hipóteses a serem confirmadas pelo nível macro-estrutural.

31

2.4 OS CONCEITOS DE DOMESTICAÇÃO E ESTRANGEIRIZAÇÃO

Os conceitos mencionados acima foram utilizados pelo teórico Lawrence Venuti (1995) e fazem referência às posturas antagônicas a serem tomadas pelo tradutor durante o processo tradutório. A Domesticação seria uma “redução etnocêntrica do texto estrangeiro a valores culturais da língua-meta. 9” e a Estrangeirização “uma pressão desviante desses valores de modo a registrar a diferença cultural e lingüística do texto- estrangeiro 10 ” (VENUTI, 1995, p. 20, tradução minha ). Faz-se necessário ressaltar que nenhum texto é totalmente domesticado ou estrangeirizado e que esses conceitos tendem a co-existir dentro de um processo tradutório. Antes de prosseguirmos em nossas considerações a respeito da reescritura, faz- se necessário explícitar o conceito de tradução proposto por Venuti (1995). Assim como os outros teóricos abordados aqui na metodologia, para Venuti (1995, prefácio do livro The translator´s Invisibility ) a tradução é a reescritura de um texto-fonte e sempre reflete certa ideologia. Essa ideologia se manifesta na medida que são inscritos valores pertinentes à cultura–alvo no texto-meta em detrimento dos valores estrangeiros. Ocorre, ai, um apagamento das características do texto-fonte e uma domesticação do texto estrangeiro. Apesar de advogar, para si, uma posição de combate em relação à hegemonia global do inglês norte-americano, traduzindo produtos de literaturas minoritárias, Venuti (1995) realiza, em seus textos, um total apagamento das características pertinentes à cultura-fonte. Percebe-se, desse modo, que o teórico demonstra, ao longo do seu livro, uma forte tendência à domesticação, embora faça menção, também, ao conceito de estrangeirização. Esse processo de domesticação resulta em um produto fluente, imperialista e narcisista, onde é possível, aos norte-americanos, reconhecer-se no outro, no estrangeiro. Segundo Venuti (1995) uma tradução fluente é escrita na variante do inglês padrão, moderno e amplamente usado não sendo admitidas as traduções especializadas, as coloquiais ou as arcaicas. A tradução fluente é, ainda, domesticada e não-estrangeira. Dentro desse tipo de tradução, nada mais resta ao tradutor do que ser totalmente invisível. A ele resta, somente, a autodestruição e a posição marginal que ele já ocupa

9 ( tradução minha ) An ethnocentric reduction of the foreign text to target-language cultural values. 10 ( tradução minha ) An ethnodeviant pressure on those values to register the linguistic and cultural difference of the foreign text. 32 dentro do processo tradutório. Esse auto-aniquilamento do tradutor promove a visibilidade do autor e do texto estrangeiro. Quanto mais invisível o tradutor, mais brilhante fica a “aura” do texto-fonte e do seu autor. No entanto, essa invisibilidade é fruto, exclusivamente, do trabalho do próprio tradutor, da sua própria manipulação inteligente da língua. A sua presença, contudo, só é notada quando são detectadas as “falhas” ou os “desvios” (grifo meu) , elementos, muitas vezes, inevitáveis e, até mesmo, necessários, mas nunca resultantes do pouco conhecimento lingüístico do tradutor. Se a estratégia de domesticação durante o processo tradutório resulta na invisibilidade do tradutor, é através da estrangeirização que ele se torna visível. Segundo Venuti (1995), a tradução deve soar estrangeira para o leitor e resistir à leitura fácil deixando visível a intervenção do tradutor. O autor (VENUTI, 2002, p. 29) classifica, ainda, esse tipo de tradução como minorizante 11 e afirma que seu discurso heterogêneo resiste à assimilação promovida pela domesticação na medida que registra as diferenças lingüísticas e culturais do texto estrangeiro gerando um resíduo. Esse resíduo é resultado da não-equivalência total entre as palavras influenciadas tanto pelo contexto lingüístico como cultural e é, graças a ele, que percebemos que o texto é, de fato, uma tradução e não um texto escrito originalmente naquela língua (VENUTI, 2002). O referido autor (VENUTI, 2002) afirma, ainda, que se esse resíduo é liberado em pontos significativos em uma tradução, a participação do leitor será, apenas, interrompida ocasionalmente.

2.5 A METODOLOGIA

Para analisarmos os dados do nosso corpus , recorremos à análise descritivo- comparativa da tradução do romance Capitães da Areia do autor Jorge Amado para a língua inglesa. Durante essa análise, identificamos as escolhas realizadas pelo tradutor e observamos os procedimentos mais comuns que ocorreram durante o processo tradutório. Essas regularidades, dentro do processo tradutório, foram nomeadas de normas dominantes. Faz-se necessário ressaltar que exceções a essas normas serão, também, destacadas. Em razão da posição da literatura traduzida no polissistema literário americano, determinamos as escolhas empreendidas pelo tradutor e refletimos

11 Esse adjetivo surgiu a partir de língua menor e foi classificado pelos tradutores como um termo pouco usado em português (VENUTI, 2002, p. 25). 33 sobre questões como o cânone literário, o papel do tradutor e as relações entre autor e tradutor. Pretendemos, também, explicitar a aceitação ou as críticas feitas à tradução na época da publicação da mesma. Após a leitura do texto-meta e, mais especificamente, dos diálogos entre os personagens, observamos que o tradutor manteve o mesmo estilo durante quase todo o texto traduzido. No total, foram contabilizados 112 diálogos. Em razão da grande quantidade de diálogos, apenas os trechos de diálogos que atendem aos objetivos propostos por essa pesquisa foram agrupados por tabelas. Alguns desses trechos, porém, não foram incluídos, já que não são pertinentes aos objetivos propostos nesta pesquisa. Faz-se necessário ressaltar que esses fragmentos foram escolhidos de maneira aleatória e que eles são provenientes das três partes da narrativa. Entretanto, antes de iniciarmos a análise dos dados micro-estruturais, promovemos algumas reflexões a respeito dos dados preliminares do texto-meta e o contexto macro-estrutural. Essas categorias foram escolhidas a partir do esquema proposto por José Lambert e Van Gorp (1985) por acreditarmos que elas podem fornecer uma visão compreensiva do processo tradutório.

34

CAPITULO III

3 OS DADOS PRELIMINARES E OS NÍVEIS MACRO E MICRO- ESTRUTURAL

3.1 DADOS PRELIMINARES

Como já fora mencionado anteriormente, o modelo metodológico cunhado pelos teóricos José Lambert e Hendrik Van Gorp (1985) nos disponibiliza quatro níveis para o estudo descritivo. Nesta seção secundária, serão abordados os aspectos referentes ao primeiro nível, nomeados por ele, de dados preliminares. Esses aspectos seriam o título da tradução; os para-textos (diagramação da capa, orelhas, nome do autor, nome do tradutor, etc); os meta-textos (prefácios, ensaios, críticas, etc) e a estrutura geral da tradução. O primeiro dado preliminar a ser analisado será o título da tradução, Captains of the Sands . Segundo o dicionário Houaiss, o termo ‘capitão-de-areia’ é uma expressão informal, típica da Bahia, usada quando nos referimos aos menores delinqüentes que vivem pelas ruas, principalmente na região das docas. Já de acordo com o professor Dr. Luciano Rodrigues Lima, professor adjunto da UFBA e professor titular da Universidade do Estado da Bahia (UNEB), em conferência oral no dia 05 de junho de 2009, o termo capitão-de-areia é usado aludindo a todos os menores abandonados que vivem pelas ruas da Bahia. É interessante ressaltar, entretanto, que esse termo era usado na época da escritura do livro, não sendo usual nos dias de hoje. Entendemos, portanto, que se fazem necessários esclarecimentos, até mesmo, a leitores contemporâneos da Bahia ou de outros estados e regiões já que se trata de um termo bastante específico de uma época. De maneira semelhante, a tradução literal desse título, Captains of the Sands , não tem nenhuma significação para o leitor norte-americano, daí entendermos que o tradutor Gregory Rabassa deveria ter disponibilizado um título mais culturalmente relevante ao público dessa tradução. Apesar de todas as associações listadas acima, o tradutor optou por traduzir literalmente o título. Ele afirma ser desrespeitoso tomar liberdades com o título de um livro (2005) e, mais ainda, se esse livro for escrito por um 35 mestre como Jorge Amado (entrevista em 29 de janeiro de 2008). Essa postura tradutória seria adotada pelo tradutor na maioria de suas traduções. Quanto aos para-textos, iniciaremos nossa análise pela divulgação do nome do tradutor, que quando é divulgado, aparece apenas na folha de rosto ou nos créditos. No entanto, nessa tradução, o nome do tradutor aparece na capa, embora em letras menores do que o do autor. Entretanto, só o fato de o nome do tradutor Gregory Rabassa estar presente na capa já demonstra o seu prestígio como tradutor na cultura norte-americana. Esse tradutor foi o grande responsável para que o melhor da literatura latino-americana chegasse aos americanos, sendo um grande expoente do boom literário da literatura latino-americana nos Estados Unidos da América (EUA). O Boom literário latino- americano foi um movimento literário que ocorreu nas décadas de 1960 e 1970. Por meio das traduções de Gregory Rabassa, vários livros dos escritores latino-americanos foram disponibilizados ao público norte-americano e europeu. O Renascimento do Boom literário latino-americano nos Estados Unidos aconteceu no ano de 1988. Nesse ano, o movimento literário se mostra ainda mais forte do que no momento anterior na medida em que se disponibiliza para o público muito mais títulos, além dos já tão aclamados sucessos comerciais. É nesse período de renascimento que se insere a obra que está no cerne do nosso trabalho, Captains of the Sands , traduzida por Gregory Rabassa e, cujo texto-fonte, será situado historicamente e analisado mais adiante. Embora fosse observado, em 1988, um renascimento do boom literário latino- americano, o tradutor Gregory Rabassa afirma, em entrevista que nos foi concedida via web, que a literatura latino-americana nunca passou da marca de ser considerada exótica (Fonte: entrevista 19 de agosto de 2008) 12 . Para ele, as publicações dos mais variados escritores latino-americanos, no respectivo ano, eram apenas uma questão de aquisição monetária. Entretanto, de acordo com um artigo do jornal eletrônico do The New York Times , publicado em 04 de janeiro de 1988, a tendência literária do realismo mágico ainda prevalecia na ficção de alguns autores mais jovens dos Estados Unidos. Esse fato justifica toda inserção de livros cujas narrativas se pautam em elementos tais como: fato e fantasia, realidade e ilusão, lenda e superstição. Ora, tais elementos, constituem a própria narrativa do texto-fonte Capitães da Areia , fato que justifica, sem sombra de

12 [...] Sadly, Latin American Literature, including Brazil´s, has never gotten over the stamp of being something exotic…[…] (RABASSA, 2008, entrevista). 36 dúvidas, a sua inserção num sistema literário em que a tendência do realismo mágico ainda está em voga. Nas entrevistas que realizamos com o tradutor, constatamos que a tradução feita por Gregory Rabassa, Captains of the Sands , foi publicada juntamente com outros livros escritos pelos mais diversos autores latino-americanos. Todos estes livros estariam compilados em uma série latino-americana, organizada pela Bard Books Latin American Series. Dessa série, o tradutor também afirma ter traduzido Mar Morto . Ao perguntamos se essa série teria a intenção de criar uma imagem latino-americana, o tradutor nos respondeu que, em sua opinião, os editores estavam aproveitando, economicamente, o momento do renascimento do Boom literário latino-americano. Sua opinião, aliás, vem corroborar uma afirmação feita pelo próprio Venuti (1995). Segundo ele (VENUTI, 1995), a tradução mantém uma relação íntima não só com as práticas econômicas, mas também com os sistemas de mecenato e as forças que atuam no desenvolvimento da indústria editorial. Não podemos deixar de notar, ainda, na capa do livro, a transcrição de um comentário sobre o autor Jorge Amado no jornal Newsweek . O comentário afirma que Jorge Amado é o escritor expoente das letras brasileiras e que ele é adorado em todo o mundo. A capa do livro traz, ainda, uma ilustração de uns quatro meninos que aparecem sob uma lona colorida e que ilustram, supostamente, o grupo dos Capitães da Areia . Embora suas roupas apareçam rasgadas, os meninos ilustrados possuem uma aparência muito saudável se comparados aos meninos de rua do Brasil. Ainda na capa, temos uma referência à tradução como a primeira tradução inglesa. Os meta-textos, por sua vez, seriam os prefácios, ensaios e críticas feitas à tradução. O primeiro meta-texto a ser identificado no texto-meta é um prefácio, escrito pela editora, sobre a vida e obra do escritor baiano. Nesse prefácio, a editora cita, ainda, os romances Gabriela, Clove and Cinnamon ; Tereza Batista: Home from wars ; e Dona Flor and Her Two Husbands . Ao citar esse último romance, a editora, no intuito de fornecer ao leitor-meta um referente cultural familiar, afirma ter sido esse romance a base para um musical e filme muito famoso da Broadway. A editora divide, ainda, a obra de Jorge Amado em duas fases: a primeira, nos anos de 1930 e 1940, e a segunda, com uma abordagem mais novelística, nos anos de 1950. Ainda na folha de rosto, temos um comentário feito ao autor e publicado no jornal Washington Post Book World . Esse comentário descreve Jorge Amado como o mais lido escritor latino-americano. Ao final do texto traduzido tem-se a presença de um posfácio, em inglês, o qual a editora atribui 37 ao autor Jorge Amado. Acreditamos, entretanto, que esse texto fora escrito por Jorge Amado em português e traduzido pela editora, embora não se mencione o feitio da tradução em nenhum momento no posfácio. As críticas encontradas à tradução estão sob a forma de artigos de jornais e foram recolhidas na Fundação Casa de Jorge Amado. No primeiro deles 13 , o autor afirma que o tradutor Gregory Rabassa capturou, perfeitamente, a voz de Jorge Amado na tradução inglesa. Apesar de não estarmos baseando nossa pesquisa em uma abordagem prescritiva e voltada para o texto-fonte, foi impossível não identificar, durante a nossa pesquisa, uma formalização da linguagem, fato que nos leva a contestar a afirmação presente nesse tendencioso artigo de jornal. O autor afirma, ainda, que, nesse romance, Jorge Amado apresenta uma sociedade similar à Dos Passos e recomenda a leitura desse livro aos leitores que desejarem um toque de imperfeição em seu prazer literário. No mais, ele comenta que os leitores que se sentirem ofendidos com as atitudes menos esclarecidas de um homem latino dos anos de 1930 podem ter problemas lendo esse livro. O segundo artigo de jornal compara o livro ao filme “Pixote” alegando certas semelhanças entre eles, embora o autor afirme que Jorge Amado é mais político do que o produtor do filme Hector Babenco. Esse artigo declara ser 1988 o ano de Jorge Amado, pois será publicado um título por mês da obra do autor. Ele atesta, ainda, a primeira aparição de uma tradução feita a partir do livro Capitães da Areia . Quanto à estrutura geral da tradução, podemos afirmar que o tradutor mantém a divisão da narrativa em três partes e o número de capítulos permanece o mesmo do texto-de-partida. Das 293 páginas do texto-de-partida temos 248 no texto-de-chegada. O número maior de páginas no texto-fonte é resultado das inúmeras ilustrações, feitas por Poty, baseadas nas passagens narrativas do livro. No texto-meta não se verifica a presença de nenhuma ilustração, embora conte, como vimos, com prefácio e posfácio. Segundo o professor Dr. Luciano Rodrigues Lima, em conferência oral no dia 05 de junho de 2009, a atividade tradutória amplia ou reduz os textos. O professor disse, ainda, que a língua inglesa é mais econômica do que a língua portuguesa. Essas seriam suas possíveis justificativas para o número menor de páginas do texto-meta.

13 Jornal San Francisco chronicle em 1988. 38

3.2 NÍVEIS MACRO E MICRO-ESTRUTURAL

3.2.1 RESGATANDO A DIMENSÃO HUMANA DOS SUJEITOS ENVOLVIDOS NO PROCESSO TRADUTÓRIO E SEUS PRODUTOS

O título desta seção foi inspirado em um artigo 14 escrito por Maria Lúcia Guidicini, no qual a autora ressalta a importância dos chamados aspectos psicolingüísticos da tradução. Apesar de a autora tratar, apenas, dos aspectos psicolingüísticos do tradutor, adaptamos o título do artigo de maneira que incluímos, também, a dimensão humana do autor. Essa atitude demonstra a nossa crença de que o processo tradutório vai além de seus produtos e que todos os elementos relacionados a ele são essenciais para sua compreensão. Esta seção, portanto, pretende-se-à não apenas situar, historicamente, os sujeitos envolvidos no processo tradutório como também os seus produtos, ou seja, o texto-de-partida, e o texto-de-chegada. Para tanto, serão abordados aspectos referentes ao estilo, trajetória de vida e contextualização das obras. Faz-se-à necessário ressaltar que os diálogos metatextuais do texto-de-partida foram abordados visando fornecer uma melhor compreensão dos temas que compõem a narrativa amadiana e não com o intuito de estabelecer uma relação de equivalência com o texto-de-chegada. Esses temas que compõem a narrativa amadiana nos forneceram, também, subsídios para o entendimento do universo do autor já que a sua ficção era alimentada por temas vividos e experimentados na vida real. Iniciaremos, portanto, o nosso texto tecendo algumas considerações acerca do estilo do autor, ressaltando, a marca da oralidade presente em sua obra. Marca essa resultante da manipulação inteligente, por parte do escritor baiano, de elementos fortemente ancorados nas formas da oralidade e que sofreu muita discriminação por parte de alguns escritores que não perceberam a sua riqueza. Explicitaremos, também, alguns dados biográficos, sempre estabelecendo um paralelo com a sua narrativa. Após uma breve incursão sobre o autor e o texto-de-partida, abordaremos questões relativas ao processo tradutório, o tradutor e o texto-de-chegada. Como vimos, a crença estruturalista de que o processo tradutório se restringia apenas à análise dos seus produtos foi derrubada pelos pós-estruturalistas, que passaram a acreditar que o processo de interpretação de um texto envolve outras variáveis que não apenas os seus

14 Cf. Lucia M. GUIDICINI. Resgatando a dimensão humana do tradutor. In: IV ENCONTRO Nacional de Tradutores; A tradução: alvos e ferramentas. São Paulo: USP/ FFLCH/ DLM/ CET, 1990. p. 65. 39 produtos. Essas variáveis estariam relacionadas com a pessoa do interpretante, seu ser, sua formação, personalidade, competência e responsabilidade no momento da leitura. Ora, sendo o processo de tradução, um processo de interpretação, podemos afirmar que essas variáveis possuem um papel fundamental no processo de tomada de decisão por parte do tradutor. A essa lista de variáveis acrescentaríamos o momento vivido pelo tradutor durante o processo de execução do ato tradutório, a sua posição, de prestígio ou não, no sistema literário americano. No intuito de reconstituirmos todo esse processo acerca do tradutor fizemos uso de entrevistas, que nos foram concedidas via web e do seu livro intitulado If this be treason , publicado em 2005, onde ele tece algumas considerações a respeito das traduções feitas por ele, ao longo de sua carreira.

3.2.2 O AUTOR JORGE AMADO E A MARCA DA ORALIDADE EM SUA OBRA

[...] Teve, pois, forçosamente, que subverter as estruturas estabelecidas da língua literária, adaptando-a às suas necessidades”(5). Essa atitude desagradou naturalmente os puritanos senhores da gramática. Mas era a única possível e aconselhável a escritor que logo de início se apresentava como um construtor de estilo. Idêntico fenômeno sucedeu com Jorge Amado quando, lúcido da tradição culta em que se inscrevia, porém manipulando formas, gêneros e linguagem da literatura oral, levantou seu edifício estilístico, que violentaria certamente a paisagem convencional. Extraindo elementos do nosso romanceiro popular e construindo uma frase modulada pelo ritmo do coloquial urbano e rural, Jorge Amado logo se distinguiria como proprietário de um estilo radicalmente seu. [...] 15

Na tentativa de eliminar o artificialismo dos textos simbolistas e parnasianistas, moldados nos padrões europeus, e fornecer ao público uma literatura mais brasileira, Jorge Amado não apenas fez do povo o personagem principal dos seus romances, como também utilizou seus dialetos, expressões e gírias. Esse linguajar popular, extraído do convívio direto com os que estavam à margem da sociedade, mais especificamente as minorias, sempre aparece em suas obras, acompanhado de certa dose de lirismo. Essa presença lírica, em seus livros, está intrinsecamente relacionada à miséria, na qual vivem os seus personagens, e tem a função principal de amenizar a cruel realidade de suas vidas.

15 PORTELLA, Eduardo. A fábula em cinco tempos em Jorge Amado: trinta anos de literatura. 40

A decisão de incluir, em sua obra, os falares dos pobres e miseráveis com seus “erros gramáticais” (grifo meu) foi alvo de muito preconceito lingüístico por parte dos acadêmicos e leitores comuns, chegando-se, até mesmo, a questionar-se a validade de sua obra para as letras brasileiras. Ancorada em preconceitos lingüísticos e considerando indissolúveis os elos que unem a língua à gramática tradicional, a crítica da literatura amadiana falhou em perceber a riqueza estilística presente nos livros do autor, não apenas considerando a sua literatura estéticamente pobre 16 como também ignorando as matrizes culturais que servem de sustentação à sua narrativa. Tais matrizes culturais incorporam esquemas de aventura e heroísmo presentes no cordel e no folhetim, no melodrama, na novela radiofônica e no cinema 17 . Apesar desse fato, parece que a obra de Jorge Amado tem se valorizado cada vez mais com o passar dos anos, tanto nacionalmente quanto no exterior. No Brasil, o relançamento da obra do autor deu-se em março deste ano (2008) e deverá se estender até 2011, de acordo com informações contidas no site da Companhia das Letras. Sua importância também se faz sentir no interior das instituições acadêmicas na medida que seus pesquisadores freqüentam assiduamente a Fundação Casa Jorge Amado, no intuito de colher dados sobre a obra amadiana. Internacionalmente, Jorge Amado é o mais universal de nossos autores 18 , possuindo traduções em 55 países e em 49 idiomas 19 . É, também, o escritor brasileiro mais vendido no exterior. Podemos afirmar, assim, que a literatura amadiana é uma das grandes responsáveis por difundir os valores culturais brasileiros no exterior. Valores estes originados e fortemente arraigados na Bahia, oferecendo a Bahia ao Brasil e o Brasil ao exterior. (GOLDSTEIN, 2000). Apesar de todo o reconhecimento internacional, Jorge Amado (1961, p.20) afirma que:

Nunca desejei ser senão um escritor de meu tempo e de meu país. Não pretendi e não tentei nunca fugir ao drama que nos coube viver, de um mundo agonizante e um mundo nascente. Não pretendi nem tentei jamais ser universal senão sendo brasileiro e cada vez mais brasileiro. Poderia mesmo dizer, cada vez mais baiano, cada vez mais um escritor baiano [...] 20

16 Paulo Bezerra. Prefácio do livro Jorge Amado: romance em tempo de utopia 17 Paulo Bezerra. Prefácio do livro Jorge Amado: romance em tempo de utopia 18 Martins Editora. Jorge Amado: trinta anos de literatura. pag. 192 19 Revista Língua Portuguesa 20 Discurso de posse na Academia Brasileira de Letras. 41

Jorge Amado nasceu no dia 10 de agosto de 1912, na localidade de Ferradas, hoje município de Itabuna/ BA. Sua infância fora marcada por lutas, muitas vezes, acompanhadas de morte, que tinham como principal objetivo a conquista de terras para o plantio de . Todas essas lutas que Jorge Amado viveu e presenciou apareceriam em suas narrativas num misto de documento, poesia e história. A oposição entre os participantes dessas lutas, tenham elas ocorrido nos cacauais, entre jagunços e coronéis, ou nas fábricas, entre os operários e seus patrões, seria um tema bastante recorrente em grande parte da sua obra. Essa dupla polarização seria a grande mola propulsora dos seus romances e culminaria, quase sempre, com a conscientização e o engajamento dos personagens em atos de protesto. O engajamento político do escritor com o Partido Comunista, no mundo real, e o desenvolvimento de uma consciência política nos personagens, ao final das suas narrativas ficcionais, contribuíram para que alguns autores dividissem a sua obra em duas fases: uma primeira fase de denúncia social e uma segunda fase que se iniciaria com a publicação do seu livro Gabriela, cravo e canela . Entretanto, o escritor Jean Roche (1987) afirma que, se há alguma mudança, a partir da publicação deste livro, na escrita amadiana, esta se refere ao aprimoramento das qualidades de romancista do escritor. È o próprio autor que, num desabafo contra uma crítica esquerdizante, anula essa divisão da sua obra quando expõe em seus dizeres que,

[...] acreditando na idéia de que até certo momento eu teria feito uma obra revolucionária, de denúncia social, para um amanhã melhor, uma nova era, uma obra ao lado do povo, e que de repente eu teria modificado minhas posições, abandonado minha atividade militante do Partido!... Eles não diziam explicitamente que era por isso. Diziam que a obra se tornara folclórica, que era a negação da obra passada, não sei mais o quê, como se os elementos da vida, do folclore, não estivessem presentes em livros como Jubiabá, Mar Morto , a presença de Iemanjá, do candomblé, etc., ou em Capitães da areia ... Tudo isso é uma tolice incomensurável. Mas perdura até hoje: as duas obras, a do início, revolucionária, denunciando a injustiça social, e a outra. Não, minha obra é uma unidade, do primeiro ao último momento. Só se pode dizer que existe, no início, uma profusão do discurso político, correspondendo ao que eu era então. 21

A respeito dessa divisão temática na obra de Jorge Amado, o professor Luciano Rodrigues Lima, professor adjunto da UFBA e professor Titular da UNEB, propõe, em artigo 22 publicado no site da UNEB, a presença de quatro grandes temáticas ao longo de

21 Raillard, Alice. Conversando com Jorge Amado. 1992, p. 266 22 De como Jorge Amado, da Bahia, navegou, por tanto tempo, fora do alcance dos canhões sem mira da crítica universitária brasileira. 42 toda a obra do autor, são elas: o realismo socialista, a poetização da afrobaianidade, o canto épico do Cacau e as utopias individuais e pós-ideológicas que contém ressonâncias do realismo mágico latino-americano onde se inserem as obras: A morte e a morte de Quincas Berro D’água , Dona Flor e seus dois maridos , Tereza Batista Cansada de Guerra e do Agreste . Quanto à obra que está no cerne do nosso trabalho, Capitães da Areia , o referido professor afirma que ela possui elementos temáticos concernentes ao realismo socialista e à poetização da afrobaianidade. Ao completar quinze anos, Jorge Amado passa a morar em um casarão situado na Ladeira do Pelourinho, número 68, atual hotel Pelourinho. Data desse tempo o florescimento da consciência do autor acerca dos problemas econômicos e sociais enfrentados pelas minorias. Segundo o próprio escritor :

[...] ao contato com o povo mais pobre, mais marcado, mais perseguido. Assim eu cresci. Assim aprendi a vida baiana. Essa juventude tão livre, dentro de intimidade tamanha com a vida baiana, a vida popular baiana, faria com que esse cenário da Bahia e o povo da Bahia fossem, praticamente, os temas de toda obra que eu criei em minha vida de romancista. 23

Não é à toa que seu terceiro romance, intitulado Suor , tem como personagem principal esse casarão situado numa das Ladeiras mais pobres da cidade 24 da Bahia, onde se refugiam as prostitutas, os mendigos, os vagabundos e todos os que se situam à margem da sociedade. De acordo com Jacques Salah (2008) as ruas que mais aparecem na literatura amadiana, a Ladeira do Pelourinho e a Ladeira do Tabuão, são as mais miseráveis, consideradas, também, as mais misteriosas do Centro da cidade. Segundo o autor, a presença destas ruas na obra amadiana invocaria, implicitamente, as idéias de poesia, liberdade e aventura. A crítica literária amadiana é bastante polêmica quando se trata do início da carreira do escritor. Enquanto alguns críticos só consideram iniciada sua literatura com o romance Jubiabá (1935), outros consideram as suas três primeiras obras de grande valor literário. O fato é que o próprio Jorge Amado marca o começo da sua literatura a partir de Jubiabá , em 1935, sendo os livros anteriores considerados, pelo escritor, “apenas cadernos de aprendiz de romancista” (DUARTE, 1995). É a partir deste livro

23 Depoimento dado num artigo de jornal Record do Rio de Janeiro de 1978. FCJA 24 Como a chamavam no tempo de Jorge Amado. Os velhos baianos, como ele, ainda hoje dizem Cidade da Bahia ou Cidade de Salvador da Baía de Todos os Santos, seu nome completo. (RAILLARD, 1992, p.31) 43 que se originarão os dois livros posteriores do romancista: Mar Morto e Capitães da Areia , numa espécie de entrelaçamento entre as obras.

3.2.3 O TEXTO DE PARTIDA E SEUS DIÁLOGOS METATEXTUAIS

Os romances de motivação baiana, Jubiabá , Mar Morto , Capitães da Areia , além de semelhante configuração estilística, identificam-se pelo esfôrço comum de projeção de tôda a grande e múltipla temática da cidade [...]. A Bahia, a cidade da Bahia é o principal e absorvente personagem. Em tôrno dela, e como uma constelação sua, se ergue uma série de outros temas, a maioria dos quais de contextura ética [...] 25

Em Capitães da Areia , a cidade da Bahia é o grande cenário determinante das ações dos personagens, chegando a ser a verdadeira autora do romance. Queimado em praça pública, no momento do seu lançamento, esse romance trataria de um assunto inédito, até então, na chamada literatura de 1930, a infância abandonada. Apesar de ter como tema central a infância abandonada, Capitães da Areia ainda comporta uma série de outros temas que são recorrentes em toda a obra amadiana. Tais temas serão, aqui, abordados na medida que se revelam as partes que integram a narrativa. Entretanto, relembraremos ao leitor que, antes de iniciar a narrativa, Jorge Amado utilizou o recurso do prólogo, onde a escrita das autoridades contrasta com a da mulher do povo. As “cartas à redação” mostram uma sociedade desigual e polarizada, na qual ricos se opõem a pobres, opressores a oprimidos e consentidos a rejeitados. A primeira parte da narrativa de Capitães da Areia , “Sob a Lua num velho trapiche abandonado”, tem como objetivo maior apresentar o romance e a biografia das principais personagens. Já no título podemos identificar a palavra lua que invoca um elemento muito recorrente em toda a obra amadiana - a noite. A importância deste elemento deve-se ao espírito de desordem, devaneio e mistério que ela evoca preenchendo a narrativa com lirismo e poesia (SALAH, 2008). Alguns capítulos desta primeira parte serão mencionados em razão de conterem informações essenciais à compreensão do nosso trabalho. Outros, entretanto, serão omitidos já que apresentam elementos recorrentes. Já no primeiro capítulo, o Trapiche , o escritor utiliza, freqüentemente, elementos líricos ligados à natureza: mar, lua, ondas, oceano, noites, estrelas, o cais e o areal, numa tentativa de permear a narrativa de

25 PORTELLA, E. A fábula em cinco tempos. Prefácio do livro Jorge Amado: trinta anos de literatura, 1961, p.19. 44 imagens líricas. Neste capítulo, temos, também, a apresentação do personagem principal Pedro Bala, menino abandonado que nunca conhecera sua mãe e cujo pai morrera numa greve atingido por uma bala da qual se originará seu apelido. Os apelidos, traços marcantes dos Capitães da Areia , são atribuídos em virtude de um gesto, uma fala ou um defeito físico logo que o integrante passa a fazer parte do grupo. É somente a partir do segundo capítulo, Noite dos “Capitães da Areia” , que seremos introduzidos aos demais personagens e conheceremos o papel que cada um desempenha dentro da narrativa. O negro João Grande invoca o tema da negritude. O Sem-Pernas, coxo, atormentado pelas gargalhadas e surras da polícia, tem a função de despertar a piedade das senhoras em troca de comida e estada, para depois indicar aos Capitães da Areia onde são guardados os objetos de valor das residências. O Gato invoca a marginalidade urbana, o tipo vigarista. O Boa-Vida invoca a malandragem. O Professor, que só furtava livros, invoca para a narrativa a figura dos contadores de estórias presentes no cordel. O Pirulito consegue se ordenar padre, graças ao auxílio do Padre José Pedro. O Querido-de-Deus invoca a herança da cultura afro-brasileira no Brasil, já que, além de praticar capoeira, ainda é ogã no candomblé de Gantois. O Volta Sêca invoca o grupo de Lampião, que diz que é seu padrinho. E, por fim, o Padre José Pedro, representante da igreja católica, e a mãe-de-santo Don´Aninha, representante da religião afro-brasileira, a quem os personagens recorrem quando estão doentes. É interessante notar a relação lírica com que o autor vai descrevendo os personagens e os ambientes onde se desenrolam as suas ações. Todo este lirismo atinge seu ápice, por exemplo, no quarto capítulo, As Luzes do Carrossel. Nesse capítulo, o Carrossel parece conter uma espécie da magia que encanta a todos que o vêem. Em virtude da presença dele em certo vilarejo, Lampião e seu grupo, ao avistá-lo, não saqueam a cidade, nem defloram as moças e matam os homens, práticas comuns aos cangaceiros. Eles esquecem totalmente a realidade e se entregam a um mundo de pureza e fantasia no qual são crianças novamente. Fato semelhante ocorre com os Capitães que, ao rodar no Carrossel, se sentem iguais aos outros, meninos que tem o aconchego de um lar para retornar e uma família que os protegem e alimentam. No quinto capítulo, Docas , delineia-se, de forma muito nítida, a oposição entre a cidade alta e a cidade baixa, os pobres e os ricos e a terra e o mar. Pedro Bala, personagem principal, toma conhecimento que seu pai, um grevista, lutara a favor dos homens que trabalhavam no cais. Sua mãe, mulher rica da cidade alta, morrera quando Pedro Bala ainda tinha seis meses de vida. A oposição entre a terra e o mar é, também, 45 ficcional, na medida em que o capoeirista Querido de Deus, que também é pescador, retorna ao cais onde aguardam Pedro Bala e Boa-vida. O sexto capítulo, Aventura de Ogum , traz para a narrativa a problemática dos candomblés. Representando uma religião adotada pelas minorias e que faz oposição à religião oficial, os candomblés foram perseguidos pela polícia cujo interesse era sua total extinção. Entretanto, os candomblés se revelaram um verdadeiro tesouro para a ficção amadiana com seus misteriosos ritos e modos de pensar e de agir. No décimo capítulo, Alastrim , ocorre um dos pontos mais críticos de toda a narrativa. O Cônego do Arcebispado acusa o padre José Pedro de ser cúmplice dos Capitães da Areia e o chama de comunista. O Cônego disse ter tido reclamações de uma das viúvas mais protetoras da religião baiana cujos donativos eram enormes. Esse capítulo traz algumas reflexões feitas pelo Padre José Pedro, nas quais ele cogita a possibilidade de Jesus Cristo ser um comunista e sente a aprovação do senhor às suas idéias e atitudes em relação aos Capitães da Areia . Na segunda parte da narrativa, “Noite da grande paz, da grande paz dos teus olhos”, mais dois personagens integram o bando dos Capitães da Areia : Dora e Zé Fuinha, seu irmão. Se, na primeira parte a poesia parece estar diluída na narrativa, nesta segunda parte ela se concentra na personagem de Dora. No primeiro dia que chega ao trapiche, Dora trata gentilmente os Capitães ajudando-os nos afazeres domésticos, costurando as roupas deles e curando suas feridas. A maioria deles passa a considerar Dora como uma mãe e irmã, só o Professor e Pedro Bala nutrem sentimentos de amor por ela. Dora, por sua vez se encanta por Pedro Bala. No capítulo, Dora, irmã e noiva , Dora decide participar das aventuras diárias dos Capitães da Areia . Essa coragem faz com que o personagem Sem-Pernas a compare a Rosa Palmeirão, que continha a fragilidade de Maria Bonita e a coragem de Lampião (SALAH, 2008). Ainda nessa segunda parte da narrativa temos, também, a captura dos personagens de Pedro Bala e Dora. Pedro vai para o reformatório e Dora para o orfanato. Após sofrer inúmeros maus tratos, Pedro Bala consegue fugir do reformatório e resgata, com a ajuda de outros Capitães da Areia , Dora, já muito doente e ardendo em febre, do orfanato. Eles levam Dora ao trapiche. Pedro Bala a possui, faz de Dora sua esposa. De madrugada, percebe que Dora está morta. O corpo é levado à Iemanjá no saveiro do capoeirista e pescador Querido-de-Deus. Pedro Bala nada atrás do saveiro do Querido-de-Deus e parece presenciar o momento em que Dora, moça valente, vira estrela no céu. 46

Na última parte do livro, “Canção da Bahia, canção da liberdade”, todos encontram seus destinos. O Professor vai estudar com um pintor famoso no Rio de Janeiro. O Pirulito torna-se Irmão Franciscano da Sagrada Família. Boa Vida tornou-se malandro vagando pelas ruas da cidade com seu violão. Gato vai para Ilhéus com Dalva. Volta Seca integra o grupo de Lampião. O Sem-Pernas, numa perseguição policial, se joga do Elevador Lacerda. João Grande embarca num navio cargueiro do Lóide como marinheiro. O título do penúltimo capítulo, Os atabaques ressoam como clarins de guerra , já invoca a força que dirige Pedro Bala à luta social. O engajamento de Pedro Bala culmina quando a organização dos fura-greve decide que ele irá organizar outro grupo de meninos abandonados, os Índios Maloqueiros de Aracaju.

3.3 O TRADUTOR GREGORY RABASSA E A SUA CIRCUNSTÂNCIA 26

O título desta seção foi inspirado em um dos capítulos presentes no livro If this be treason , escrito pelo tradutor Gregory Rabassa e publicado em 2005. É o próprio tradutor, que em seu livro, utiliza a frase mencionada por Ortega Y Gasset, “Yo soy yo y mi circunstancia”, para se definir. Gregory Rabassa nasceu em Yonkers, Nova Iorque, Estados Unidos. Seus avôs eram naturais de quatro países diferentes: Espanha, Cuba, Inglaterra e Estados Unidos. Seu pai era natural de Cuba e sua mãe de Nova Iorque. Depois de traçada sua árvore genealógica, fica fácil imaginar a razão pela qual o tradutor desenvolveu uma relação de intimidade com as línguas. Em seu livro Rabassa nos narra episódios que demonstram a relação de proximidade que o tradutor mantém com as palavras. Ele nos confidencia, por exemplo, que inventava palavras que nem ele, nem seus familiares sabiam exatamente de onde vieram. Em seu livro, o tradutor-autor afirma que essa relação íntima que nós desenvolvemos com as palavras é determinante na hora de executarmos uma tradução. Ainda como estudante do período conhecido por nós brasileiros como ensino médio, Rabassa começou a aprender formalmente a língua latina e a francesa, únicas línguas oferecidas na escola. Já na faculdade, Rabassa começaria a aprender espanhol, dando continuidade ao aprendizado do francês. Pouco tempo depois, o tradutor afirma ter feito seu primeiro curso em português se tornando, assim, um colecionador de

26 Na quarta acepção do dicionário Houaiss: contexto; mundo. 47 línguas. O tradutor afirma que durante todo esse tempo de aprendizado, os exercícios mais recorrentes eram os de tradução, o que contribuiria para a lapidação de certos traços essenciais a esse ofício. Seus estudos lingüísticos na faculdade seriam interrompidos por um chamado para a guerra. Entre outras coisas, durante este período, o tradutor parece ter aprendido a língua italiana. Tendo em mente as considerações feitas acima, poderíamos afirmar que o exercício do ofício de tradutor, para Gregory Rabassa, poderia ser considerado uma continuidade da sua trajetória de vida. O próprio autor afirma nunca ter se preparado ou ter tido treinamento sistematizado para exercer a função de tradutor sendo a atividade tradutória uma habilidade que se desenvolvera naturalmente. Neste ano de 2008, o tradutor Gregory Rabassa completa 86 anos e atualmente encontra-se traduzindo Grande Sertão: Veredas do autor Guimarães Rosa, livro que o tradutor considera, como pode ser atestado em sua primeira entrevista (29 de janeiro de 2008), de grande dificuldade tradutória.

3.3.1 GREGORY RABASSA: CONCEITO E TÉCNICA VITAL DE TRADUÇÃO

Nosso objetivo, nesta seção, é explicitar a crença do tradutor acerca do que é o processo tradutório. Ao perguntarmos sobre a sua visão pessoal acerca do processo tradutório, em entrevista do dia 29 de janeiro de 2008, o tradutor Gregory Rabassa afirmou que:

Tradução nada mais é do que uma tentativa de repetição do que é dito em uma língua no uso expressivo das palavras em outra. Essa repetição é, no mais, impossível e o que nos resta é uma imitação. Mas o que há de errado nisso? Geralmente o original é melhor do que a tradução, como deveria ser, mas a nova versão também pode ser interessante [...] 27

Com base na citação acima, podemos afirmar que o tradutor não baseia o seu processo tradutório em uma equivalência entre texto-fonte e texto-meta, embora proponha uma imitação semântica do que está inscrito no original. Discordamos,

27 Translation is naught but an attempt at repetition of what is said in one language into the expressive use of words in another. This repetition is at best impossible and what we are left with is an imitation. But what’s wrong with that? Usually the original is better than the translation, as it should be, but the new version can also be interesting […] (RABASSA, entrevista)

48 entretanto, da afirmação do tradutor de que o original é melhor do que a tradução, pois entendemos que tal julgamento se baseia em critérios particulares de julgamento. Essa proximidade ao original, proposta pelo tradutor, pode ser identificada, também, em um artigo publicado na coletânea The craft of translation .

[...] Nós, certamente, não deveríamos esperar que uma palavra em uma lingua encontrasse a sua equivalente em outra […]. Dessa maneira, uma tradução não pode, nunca, se igualar ao original; pode apenas se aproximar dele e a sua qualidade pode, apenas, ser julgada em razão dessa proximidade. Uma palavra nada mais é do que uma metáfora que substitui um objeto ou, em alguns casos, outra palavra. […] 28

Nesse mesmo artigo, intitulado No two snowflakes are alike: translation as metaphor , o tradutor afirma que a tradução é um processo aberto e infinito. Dentro desse processo infinito, o tradutor pode realizar diferentes traduções de um mesmo texto, basta que ele escolha diferentemente entre as metáforas novas que devem ocupar o lugar das originais. A fixação dessas metáforas ocorre através de um processo de interpretação e o texto final pode variar a cada leitura, a cada indivíduo. Percebemos, portanto, que o tradutor Gregory Rabassa admite certa independência do tradutor em relação ao texto-fonte, sendo essa, talvez a sua idéia de imitação, proposta em sua primeira citação. Passaremos, agora, a listar as suas principais traduções. Nesse levantamento serão listadas apenas as traduções realizadas a partir de livros, pois o arsenal do tradutor comporta outros tipos de materiais. A sua primeira tradução de um livro fora Hopscotch (1966) cujo texto-fonte intitulava-se Rayuela (1963), livro escrito por Júlio Cortázar. Mesmo sem ter lido todo o livro, Gregory Rabassa começou a traduzir. A citação abaixo demonstra, claramente, a técnica que fora utilizada no feitio de sua primeira tradução e que, com exceção de uns poucos livros, se estenderia por toda a sua trajetória de tradutor. […] Eu traduzi o livro à medida que realizava a primeira leitura […] Essa se tornaria minha técnica usual com livros subsequentes. Eu usava a desculpa que essa attitude fornecia à tradução o frescor de uma primeira leitura e que esse sentimento de frescor seria repassado aos leitores. Eu repeti essa explicação por tantas vezes que passei a acreditar nela, relutante em confessar que eu era, apenas, preguiçoso

28 [...] We should certainly not expect that a word in one language will find its equal in another […]. In this sense, then, a translation can never equal the original; it can approach it, and its quality can only be judged as to accuracy by how close it gets. A word is nothing but a metaphor for an object or, in some cases, for another word. […] (RABASSA, 1989, p.1) 49

demais para ler o livro duas vezes. Eu realmente acho, entretanto, que, agindo assim, eu estava dando vazão a algo novo e natural […] 29

A técnica adotada pelo tradutor Gregory Rabassa, no feitio de quase todas as suas traduções, tem lhe rendido tanto elogios, por parte dos autores, como uma posição de prestígio entre os tradutores dos Estados Unidos. Essa sua primeira tradução lhe rendera o prêmio National Book Award for Translation , já extinto. O tradutor, por sua vez, nomeia sua técnica tradutória instintiva de razão vital, termo proposto por Ortega y Gasset. Outra tradução muito importante em sua carreira foi feita a partir do livro do escritor Gabriel García Márquez, Cien Años de soledad (1967), e intitula-se One Hundred Years of Solitude (1970). Essa tradução, juntamente com Hopscotch (1966), seriam as suas duas traduções mais reimpressas e reeditadas. Além disso, elas são consideradas centrais dentro do movimento, já mencionado em nosso trabalho, do Boom latino-americano. Poderíamos mesmo afirmar que o tradutor Gregory Rabassa disponibilizou ao público norte-americano o que se tinha de melhor na literatura latino-americana. Em seu livro, If this be treason: translation and its dyscontets a memoir , o tradutor lista trinta autores traduzidos por ele, a maioria, latino-americanos. Dentre eles temos os brasileiros Osman Lins, Clarice Lispector, Afrânio Coutinho, Dalton Trevisan, Vinícius de Moraes, Oswaldo França Júnior, Mário de Carvalho, Joaquim Maria Machado de Assis, Darcy Ribeiro, José Sarney, João de Melo e Jorge Amado. Das obras desse último, traduzidas por Gregory Rabassa, temos Mar Morto ( ) em 1984; Capitães da Areia (Captains of the Sands ) em 1988; Tocaia Grande ( ) em 1988 e O Sumiço da Santa ( ) em 1993. Após ilustrarmos, durante toda a seção acima, a maneira particular do tradutor Gregory Rabassa em executar suas traduções e listarmos todos os autores brasileiros traduzidos por ele, incluindo Jorge Amado e suas obras, passaremos a analisar algumas posturas tradutórias assumidas pelo tradutor durante a tradução do livro Capitães da

29 […] I translated the book as I read it for the first time. […] This would become my usual technique with subsequent books. I used the excuse that it gave the translation the freshness that a first reading would have and which ought to make others’ reading of the translation be endowed with the same feeling. I have put forth this explanation so many times that I have come to believe it, loath as I am to confess that I was just too lazy to read the book twice. I do think, really, that by doing things this way I was birthing something new and natural […] (RABASSA, 2005, p. 27) 50

Areia . Tais procedimentos tradutórios foram verificados, apenas, a partir do discurso indireto presente na tradução Captains of the Sands .

3.3.2 O ESTILO DE GREGORY RABASSA E CAPTAINS OF THE SANDS

Antes de iniciarmos a análise contrastiva dos diálogos, abordaremos algumas passagens onde os elementos culturais fortemente enraizados na cultura brasileira foram identificados. Esses elementos, todos eles, foram retirados de passagens onde predomina o discurso indireto, fato que não nos permite ser redundante quando da análise do discurso direto presente nos diálogos. Outro aspecto que merece ser mencionado é o fato de que quase todos esses elementos aparecem na primeira parte da narrativa, In the Moonlight, in an old abandoned warehouse , aparecendo, com menor freqüência na segunda e na terceira partes da narrativa. Apresentaremos, pois, as soluções encontradas pelo tradutor no intuito de disponibilizar o texto brasileiro a um público norte-americano. Algumas posturas adotadas pelo tradutor no texto-de-chegada já haviam sido utilizadas por ele no feitio de outras traduções 30 , como o próprio tradutor demonstra em seu livro. Em relação aos personagens, podemos afirmar que o tradutor Gregory Rabassa optou por traduzir, apenas, seus apelidos, mantendo seus nomes próprios no texto-meta. A tradução desses apelidos pode ser atribuída ao fato dos personagens os adquirirem no decorrer da narrativa, fato que contribuiu para que o leitor da cultura receptora lhes atribuísse uma significação. No que concerne a tradução de nomes, o próprio autor afirma que:

[...] Nas minhas traduções eu prefiro preservar os nomes no formato original e, às vezes, traduzir os apelidos, se eles carregam algum valor descritivo e podem ser traduzidos sem causar muitos prejuízos à estória. […] 31

Começaremos nossa análise desses apelidos pelo personagem principal Pedro Bala. Inicialmente esse personagem aparecera na tradução como Pedro Bala, the bullet . Entretanto, percebemos que, no decorrer da narrativa, o tradutor se refere a ele como

30 listadas no livro do tradutor, If this be treason: translation and its dyscontets a memoir (2005). 31 [...] In my own translations I prefer keeping names in the original while sometimes translating nicknames if they carry some descriptive value and can be translated without doing too much mischief to the tone of the story […] (RABASSA, 2005, p.14). 51

Pedro, Pedro Bala ou, até mesmo, como Bullet. Os demais personagens que integram a narrativa, e que aparecem na tradução, são considerados secundários e serão enumerados a seguir. O primeiro deles, Raimundo, o caboclo , se tornaria Raimundo, the Halfbreed na tradução. Barandão , na tradução, se chamaria Outrigger . O negro João Grande , na tradução aparece como Black Big João ou somente Big João . Sem-Pernas é traduzido por Legless . Querido-de-Deus , aparece como God´s Love . Gato é traduzido por Cat . João José, o professor , manteve seu apelido de Professor na tradução. Pirulito se tornou Lollipop . Boa-vida se tornou Good-Life . Volta Sêca aparece na tradução como Dry Gulch . E o Padre José Pedro , juntamente com a mãe-de-santo Don´Aninha , tiveram seus nomes conservados na tradução. Outro aspecto a ser ressaltado, aqui, é a presença dos elementos da religião afro- brasileira, ou, do candomblé. Acerca desse aspecto, o tradutor afirma que:

[…] Considerando o fato de que o elemento afro-brasileiro é tão dominante, concluí que, mais do que nunca, eu deveria preservar muitos dos termos da maneira como eles aparecem no original. Qualquer tentativa de tradução roubaria grande parte de sua essência. Como apoio, um glossário foi anexado, que poderia, até mesmo, ter sido de grande ajuda aos leitores brasileiros do estado de São Paulo ou do Rio Grande do Sul, sem falar nos leitores aqui de Lisboa. […] 32

A citação acima fora feita quando da elaboração da tradução do livro O Sumiço da Santa , de Jorge Amado. Nessa citação, o tradutor afirma não traduzir os nomes referentes à religião afro-brasileira, o candomblé, esclarecendo o leitor através de um glossário anexado ao final do livro. No entanto, em Captains of the Sands , não se verificou a anexação de glossário algum, embora algumas palavras relacionadas à religião afro-brasileira tivessem sido mantidas na língua fonte. Um exemplo disso é a luta ou dança que advém dessa religião, a capoeira, trazida para a narrativa pelo personagem Querido-de-Deus , God´s Love no texto-de-chegada. Essa palavra, no texto- meta, ora aparece grafada em itálico, ora parece ter sido incluída na narrativa como uma palavra facilmente entendida pelo leitor da cultura-meta, sem destaque algum. Um procedimento diferente, porém, fora adotado pelo tradutor quando Don´Aninha , a mãe do terreiro da Cruz de Opô Afonjá adentra a narrativa. Essa

32 […]Since the Afro-Brazilian element is so dominant, I found that more often than not I had to leave a lot of terms as they appear in the original. Any attempt at translation would have robbed them of a great deal of essence. To support this a glossary was appended, which could even have been of great help to Brazilian readers down in São Paulo or Rio Grande do Sul, not to mention readers over there in Lisbon. […] (RABASSA, 2005, p. 137) 52 personagem aparece na tradução com diversas denominações. Primeiramente, o tradutor se refere a ela como priestess of the temple of the Cross of Oxó of Afoxé numa tentativa de aproximar o leitor-meta da cultura afro-brasileira, sem, entretanto, prover nenhuma explicação, confiando, talvez, na qualidade de pesquisador curioso do leitor-meta. Essa personagem ainda aparece denominada de mãe-de-santo, com destaque em itálico, Mother Aninha ou simplesmente Aninha . Podemos mencionar ainda, o búzio, instrumento através do qual Don´Aninha antevê os acontecimentos. Este instrumento, típico da cultura afro-brasileira, aparecera, no texto-meta, em termos de uma definição, ou seja, game with seeds . Ainda em relação aos nomes dos santos afro-brasileiros presentes na tradução, podemos afirmar que no capítulo intitulado The Ogun adventure , o tradutor optou por manter os nomes dos santos na tradução, embora estejam grafados de maneira diferente. Nesse capítulo, os deuses negros Iemanjá , Xangô , Ogun e Omolu aparecem na tradução sem nenhum destaque, incorporados à narrativa, como se o leitor norte-americano soubesse atribuir uma significação cultural a esses deuses. A manutenção desses itens no texto-meta pode ser classificada sob o conceito da estrangeirização (VENUTI, 1995), ou seja, a manutenção da diferença cultural inerente ao texto estrangeiro. Outro referente cultural fortemente enraizado em nossa cultura brasileira é a figura do cangaceiro que aparece na narrativa, como já fora mencionado, invocado pelo personagem Volta Sêca . No momento em que aparece na narrativa, algumas características desse personagem são delineadas. Seu cabelo, por exemplo, é descrito como cabelo de mulato sertanejo, o que, no texto-meta aparece como a backlands mullato´s hair . O lugar de onde ele veio, a caatinga, aparece como underbrush , e as suas alpargatas são traduzidas como canvas shoes . Fica clara, aqui, a tentativa do tradutor em fornecer referentes culturais aproximados ao leitor do texto-meta. Percebemos, também, neste momento da narrativa a presença do Jornal O Diário que é conservado no texto-meta e aparece em itálico. O Diário traz notícias de Lampião cujo nome é conservado na tradução e nem mesmo aparece em itálico. O quarto capítulo da tradução, The lights of the carrousel , ilustra um momento da narrativa em que Lampião´s gang , o bando de Lampião, adentra uma pobre vila do sertão que aparece na tradução como a poor town in the backlands . Nessa passagem percebemos que o tradutor tentou fazer uma aproximação entre o leitor-meta e a cultura- fonte na medida em que traduz sertão por backlands . Outro fato a ser analisado refere-se ao modo como os cangaceiros apareceram no texto-meta. Os cangaceiros foram tratados 53 como bandidos comuns, ou seja, como bandits . O fato de Lampião ser um bandido muito específico de uma região do Brasil e de não haver um referente cultural na cultura americana que se adequasse às suas características fez com que o tradutor promovesse essa generalização. Para concluirmos este tópico, chama-nos a atenção o fato do nome próprio Lampião não ter sido posto em destaque no decorrer da narrativa, o que nos leva a presumir que o leitor do texto-meta saberá exatamente quem é Lampião, fato que nos parece pouco provável. Apesar da presença desses referentes culturais tipicamente brasileiros presentes na narrativa, o tradutor afirma, em entrevista, que ele deve ter considerado a sua tradução fluente, senão ele teria feito diferente. O tradutor afirma que as expressões coloquiais devem ser transpostas ao texto-meta da melhor maneira possível. Ele afirma ter sido cuidadoso com gírias e termos do candomblé (2005).

54

CAPÍTULO IV

4 INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS COMPARATIVOS

Como já fora mencionado anteriormente, foi selecionado o texto-de-chegada Captains of the Sands (1988), traduzido por Gregory Rabassa, para fazermos a análise contrastiva com o texto-de-partida. É importante ressaltar que essa análise contrastiva baseou-se somente no discurso direto encontrado nos diálogos. Nosso objetivo, aqui, é detectar as escolhas tradutórias que se mostram mais recorrentes na tradução. Pretende- se, ainda, identificar possíveis posições ideológicas assumidas pelo tradutor ou por quem encomendou a tradução, pois, como já fora demonstrado anteriormente, o texto- meta Captains of the Sands , publicado, juntamente com outros livros, em uma série latino-americana, veio desempenhar um papel na cultura-de-chegada. Não pretendemos, no entanto, emitir quaisquer juízos de valor acerca das opções tradutórias feitas pelo tradutor e tampouco classificá-las em certas ou erradas, adequadas ou inadequadas. Tomar tal atitude seria basear toda a justificativa da tradução não só em um critério de escolha pessoal, como também em uma noção vaga de equivalência. Além disso, nesse contexto, o tradutor é sempre considerado um escravo do autor, um plagiador e, na maioria das vezes, um traidor. Espera-se que a tradução tenha o mesmo estilo e a mesma fluência do original, fato que julgamos impossível já que autor e tradutor são detentores de estilos próprios e as culturas em que os textos são ancorados são dotadas de diversas diferenças. Adotaremos, portanto, uma atitude descritiva e seguiremos, desse modo, a vertente dos chamados Estudos Descritivos da Tradução. Sabemos que nos Estudos Descritivos da Tradução as observações acerca do processo tradutório são realizadas a partir do texto-de-chegada. Desse modo, traremos em primeiro lugar, os diálogos do texto-de-chegada, seguido do texto-de-partida que servirá de suporte para a análise da tradução.

55

4.1 ANÁLISE DO CORPUS

Uma das principais características do texto-fonte Capitães da Areia é a forte presença de elementos detentores de coloquialidade. De acordo com o dicionário Houaiss da língua portuguesa (2007, p. 763), uma das acepções da palavra ‘coloquialidade’ refere-se à qualidade de coloquial e faz alusão a uma variante da língua falada usada em situações informais ou de pouca familiaridade. Tais elementos detentores dessa característica permeiam toda a obra de Jorge Amado cujos romances reproduzem as marcas culturais presentes no linguajar do povo. Apesar do texto-fonte Capitães da Areia estar permeado de formas lingüísticas populares, percebe-se que no texto-meta Captains of the Sands , vários desses elementos lingüísticos e culturais, próprios das camadas populares, foram nivelados tomando-se como referência uma norma de língua escrita inglesa. Esse procedimento já fora referendado na metodologia e se intitula Domesticação (VENUTI, 1995). É preciso lembrar que, embora essa domesticação seja considerada, nos termos do teórico Gideon Toury (1995), a norma dominante presente no processo tradutório em questão, o tradutor Gregory Rabassa propõe algumas soluções bastante funcionais quando traduz o discurso popular. Tais soluções serão disponibilizadas ao leitor no intuito, principalmente, de valorização do processo tradutório promovido pelo tradutor de um escritor que, como ele mesmo afirma em entrevista (29 de janeiro de 2008), é um mestre das letras brasileiras. As soluções tradutórias, por sua vez, serão classificadas em categorias que virão em forma de tabelas. Essas categorias foram selecionadas a partir das teorias usadas nos fundamentos teóricos e metodológicos. Será apresentado, também, o número dos diálogos em que esses trechos aparecem de maneira que o leitor possa localizá-los no anexo II caso necessite de maiores informações acerca do contexto lingüístico em que se inserem. A referência ao anexo II foi adotada no intuito de otimizar o espaço destinado à análise desses trechos já que alguns diálogos possuem uma grande extensão. Vale ressaltar que esses trechos foram recortados do texto-de-chegada de acordo com as falas produzidas pelos personagens. A primeira categoria de análise intitula-se domesticação e, como já vimos, é atribuída ao teórico Lawrence Venuti (1995, p.20, tradução minha ), sendo uma “redução etnocêntrica do texto estrangeiro a valores culturais da língua-meta 33 ”

33 An ethnocentric reduction of the foreign text to target-language cultural values ( tradução minha ). 56

4.1.1 DOMESTICAÇÃO DA LINGUAGEM

DIÁLOGO TEXTO-DE-CHEGADA TEXTO-DE-PARTIDA 18 “Today we’re going to spend.” - Hoje nós vai fazer gasto. 34 “... We’re going to have beautiful - ... Nós vai fazer um filho lindo. children…” 78 “… that you’re going out with us on the -... que vai andar com a gente pela streets, doing things …?” rua, batendo coisas ... “You’re crazy …” - Tu endoidou ... “As if you were all great big men . - Como se vocês fôsse tudo uns You’re all boys .” homão . É tudo uns menino . 12 “Let’s have the straight story …” - Desembucha esta história direito ...

Nos trechos de diálogos selecionados acima, especialmente nos trechos de diálogos 18 e 34, temos uma amostra do grau de domesticação que ocorre na linguagem do texto-meta. É possível notar a presença de frases gramaticalmente corretas, frases que não condizem com o nível intelectual dos personagens, capitães da areia, que nunca tiveram acesso a uma educação formal e sistematizada. Verificamos, desse modo, o apagamento de algumas marcas lingüísticas bem peculiares aos personagens, poderíamos dizer, até, de marcas culturais pertinentes à aquele grupo social já que acreditamos ser a expressão lingüística, também, uma expressão cultural. Podemos afirmar, desse modo, que houve uma formalização maior da linguagem. Além dos aspectos mencionados acima, no trecho do diálogo 78, podemos identificar a gíria brasileira 34 batendo coisas que, no texto-meta, aparecera como doing things . De acordo com o dicionário Houaiss (2007) bater coisas tem uma conotação informal de apoderar- se furtivamente de objeto alheio. Entendemos, entretanto, que no processo de domesticação da linguagem, ocorreu uma perda de tal conotação. Podemos, também, afirmar que a frase doing things pode invocar uma série de significações outras gerando, para usarmos um termo proposto por Venuti (2002), um resíduo no texto-meta.

DIÁLOGO TEXTO-DE-CHEGADA TEXTO-DE-PARTIDA

107 “Godfather ...” - Meu padrim ...

75 “Did you know that Lampião is my – Tu sabe que Lampião é meu padrim ? godfather? ”

“This bastard acting like a cangaceiro - Êste bêsta metido a cangaceiro não 62 won’t let us do what we’ve got to do,” quer deixar que a gente faça o que

34 Dicionário Aurélio eletrônico. 57

“That fairy’s got smallpox…” resolveu – Aquêle fresco tá com a bexiga... “I swear it’s loaded and if anybody 61 so much as touches Almiro… ” - Juro que tem bala e que como um “What business is it of yours, que toque em Almiro... bandit ?” - Que é que tu tem que fazer aqui, cangaceiro ?

Os trechos de diálogos 107, 75, 62 e 61 foram agrupados em virtude da alusão que eles fazem à figura de Lampião e aos cangaceiros. Nos trechos dos diálogos 107 e 75, ilustrados acima, podemos identificar, ainda, o grau de domesticação que ocorre na linguagem. Nesse processo, diferenças lingüísticas peculiares a certos personagens são apagadas e a tradução tende a parecer um todo homogêneo onde os personagens são provenientes da mesma região e possuem a mesma variante lingüística. Tal fato acontece, nesse diálogo, com o personagem Volta-Sêca que utiliza a forma lingüística padrim ao invés da forma padrão padrinho . Aprendemos durante a narrativa que o personagem se sente excluído, pois fala diferente da maioria das pessoas e não se consegue fazer entender. Seu linguajar é próprio do sertão e diferente do que é falado na cidade. Como já fora visto, esse personagem invoca a figura de Lampião que era o herói popular mais freqüentemente citado pelo autor até a publicação do presente livro (SALAH, 2008). Segundo Salah (2008) a figura de Lampião será o exemplo a ser seguido pelo personagem principal Pedro Bala. Faz-se necessário enfatizar que a figura de Lampião já aparece incorporada à narrativa do texto-meta. Classificaremos essa escolha tradutória, nos termos de Vinay e Darbelnet (1996), como um empréstimo lingüístico já que não há, na língua-de-chegada, um referente cultural que substitua o personagem em questão. Como esperado, esse empréstimo lingüístico gera um resíduo tradutório, para utilizarmos o termo proposto pelo teórico Venuti (2002). Uma possível explicação para a figura de Lampião ter sido mantida no texto-meta se deve ao fato de o ano de 1988 ter sido considerado o ano do renascimento do boom literário latino-americano, sendo necessária a presença de elementos que fornececem ao leitor-meta uma literatura mística e exótica. Esse empréstimo lingüístico ocorre, ainda, como pode ser observado no trecho do diálogo 62, em relação à palavra cangaceiro . Neste diálogo, ela é conservada no texto-meta e aparece em destaque na narrativa. Justificaremos esse empréstimo lingüístico nos termos anteriores, sendo necessário em um momento histórico que necessitava de uma literatura permeada de elementos místicos e exóticos. É interessante 58 notar que não se percebe a presença de nenhuma nota explicativa e nem de um glossário ao final do livro que torne tanto a figura de Lampião quanto a do cangaceiro culturalmente relevante para o leitor-meta. Como pode, ainda, ser observado na tabela acima, os trechos de diálogos 62 e 61 trazem soluções tradutórias diferentes para a mesma palavra do texto-fonte, cangaceiro . Enquanto no trecho do diálogo 62 essa palavra é disponibilizada ao leitor-meta por meio de um empréstimo lingüístico , no trecho do diálogo número 61 temos a solução tradutória bandit para a palavra cangaceiro . Entendemos que, ao substituir a palavra cangaceiro pela palavra bandit , o tradutor igualou cangaceiros a bandidos. Esta postura, a nosso ver, demonstra uma posição de cunho ideológico na medida em que classifica, erroneamente, uma figura histórica brasileira que tanto é própria de uma região bem específica do Brasil, os sertões, como sua existência data apenas de certa época na história.

DIÁLOGO TEXTO-DE-CHEGADA TEXTO-DE-PARTIDA

“Come here, my little devil. What a - Vem, bichinho bom. Que 10 hoodlum you’re going to be. I’ll malandro não vai sair daí! Vou te teach you lots of things, my little ensinar tanta coisa meu puppy.” cachorrinho.

34 “I’ll take you so some hoodlum - Vou te levar para um malandro doesn’t grab you.” não te pegar.

36 “The police station isn’t a hotel, you - A polícia não é hotel, bum …” malandro ...

57 “Because since those hoodlums were - Porque como aquêles here beside you…” malandrins estavam aqui junto ao senhor...

Os trechos dos diálogos 10, 34, 36 e 57 foram agrupados em razão das soluções tradutórias, que consideramos também detentoras de certa ideologia, propostas para a palavra malandro . No trecho do diálogo de número 10 temos a solução tradutória hoodlum proposta para malandro . De acordo com o Longman dictionary, a palavra hoodlum é uma gíria para pessoa violenta e criminal. A escolha do tradutor parece querer enfatizar a face violenta e criminal do personagem, embora essa conotação não pareça estar presente no texto-fonte. Essa postura ideológica, no entanto, parece estar presente nos trechos dos diálogos 34 e 57. No trecho do diálogo 34, o personagem principal Pedro Bala, após manter relações sexuais com uma negrinha no areal, a escolta 59 até o asfalto para que nenhum malandro a faça mal. Essa conotação violenta e criminal está, também, presente no trecho do diálogo 57 onde o guarda pergunta ao homem da piteira se os capitães da areia haviam lhe furtado alguma coisa ( Capitães da Areia , p. 156). Para contrastar com essas conotações temos a escolha tradutória bum para malandro . Segundo o Longman , a palavra bum invoca um malandro que vive vagando pelas ruas e pedindo esmolas. Notamos, portanto, que o tradutor realizou escolhas tradutórias diferentes para a mesma palavra no texto-fonte. No entanto, essas escolhas tradutórias diferentes invocam diferentes conotações, o que resulta em um resíduo tradutório ( VENUTI, 2002) e em algumas soluções ideológicas por parte do tradutor.

DIÁLOGO TEXTO-DE-CHEGADA TEXTO-DE-PARTIDA

“... A nice big ring, fine for my finger. - ... Um anelão bom para meu dedo. 2 Real fine ... Batuta mesmo ...

27 “…It’s great ,” “It’s real great .” - ... É batuta – É batuta mesmo .

42 “A wild setup… ” - Toca batuta...

“I’m learning how to play a wild - Tou aprendendo tocar um samba 82 samba. And I’m going to get me a porreta . E tou cavando um violão , guitar, sister.” irmã. “You really are playing good , - Tu ta tocando batuta mesmo , mano. brother.”

32 “….He liked to fool around …” -... gostava de tirar pilhéria ... “It was a wild thing, the strike, wasn’t - Foi uma coisa batuta a greve, não it?” foi? “I’d like to make a strike. It must be - Eu gostava de fazer uma greve. Deve great. ” ser porreta. 16 “Take it, nice Guy …” - Toma, batuta .

1 “A crazy story, Big Boy” - Uma história porreta , seu Grande.

31 “…The one where there was a storm? - ... Aquela que tinha um temporal. Wild …” Batuta … “Terrific , yeah.” - Era porreta , sim.

109 “What a great thing the strike is! I - Que coisa porreta a greve! Nunca vi never saw anything so nice. It’s like a coisa tão bonita. É como uma festa... big festival…” - Companheiro, êsse é um porreta... “Comrade, this fellow is a great one ,”

110 “You’re the greatest bunch I’ve ever - Vocês são os mais batutas que eu já seen… ” vi...

109 “You’re terrific,” - Você é um batuta. 60

Nesses trechos de diálogos, trabalharemos, ainda, com o Conceito de Domesticação proposto por Venuti (1995). No processo de Domesticação da linguagem promovido pelo tradutor, as soluções tradutórias fornecidas para os brasileirismos de cunho informal, batuta e porreta , se reduzem às palavras de cunho, também, informal fine, great, wild, crazy, good e terrific. Esses dois brasileirismos, batuta e porreta , aparecem no Novo dicionário de termos e expressões populares (1982) fazendo alusão à coisa muito boa, excelente . Esta designação que faz referência a boas qualidades está, também, presente no Houaiss (2007) para esses dois brasileirismos. O dicionário Longman traz uma conotação informal para a palavra fine e propõe o seguinte exemplo: It suits me fine . Tomando como referência o contexto do trecho do diálogo 2 percebemos que o personagem adquiriu ilicitamente um anel que acredita estar em combinação com a sua aparência. Acreditamos que essa conotação informal do adjetivo fine tenha motivado tal escolha por parte do tradutor. O dicionário Longman traz, ainda, uma conotação informal para o adjetivo great , também proposto como solução tradutória para batuta no trecho de diálogo número 27. Nessa conotação informal o adjetivo assumiria a conotação de esplêndido ou muito bom . Outra solução proposta para a palavra batuta foi a palavra wild nos trechos de diálogos de número 32 e 42. O dicionário Longman traz uma conotação informal e de uso antigo para o adjetivo wild significando especialmente bom de maneira excitante. Podemos identificar essa conotação no trecho do diálogo 32 quando o personagem se refere à greve que é considerada a mais bela das aventuras ( Capitães da Areia , p.281). Temos, ainda, nesse trecho de diálogo, a frase gostava de tirar pilhéria cuja solução tradutória fora He liked to fool around . De acordo com o dicionário Houaiss (2007), o substantivo feminino pilhéria faz alusão à idéia de graça ou piada. Uma das conotações para a solução tradutória fool around , presente no Webster´s New World Dictionary, faz alusão ao fato de conversar ou agir de forma brincalhona. Concluímos, então, que o tradutor manteu o tom discursivo do original Já no diálogo 16 e 110, temos a utilização da palavra batuta fazendo referência a um amigo, pessoa confiável ou camarada. As soluções tradutórias fornecidas para esta palavra foram, respectivamente, no diálogo 16 e 110, nice guy e greatest bunch . Essas soluções mantiveram o tom discursivo do texto-fonte, embora possamos identificar certa perda estilística. Quanto ao brasileirismo porreta , temos a palavra great cuja 61 conotação informal já fora explicitada e a palavra crazy considerada um adjetivo informal. No diálogo de número 109, temos a frase Companheiro, êsse é um porreta , nessa frase, a palavra porreta alude à idéia de amigo leal ou confiável. O tradutor, novamente, faz uso da palavra great cuja conotação informal fora explicitada. Reconhecemos nessas soluções tradutórias o esforço do tradutor na busca semântica desses itens sempre tendo como elemento norteador o contexto. Atestamos, também, o seu esforço em manter o tom discursivo do original.

DIÁLOGO TEXTO-DE-CHEGADA TEXTO-DE-PARTIDA

3 “… I’m fixing to gobble up - Tou arranjando uma comida. something nice with it .”

8 “…You must be waiting for your - ... Tu com certeza tá esperando tua little nibble and you haven’t got any comida e não vai perder tempo. time to waste.”

72 “Professor, do you think only you and - Professor tu ta pensando que a Big João can have something to eat ? comida é só pra tu e pra João Grande? Leave some for us too…”

“These guys fixed themselves a meal - Êstes frescos arranjaram uma comida 73 and they want it all for themselves. e quer que seja pra êles só. A gente We’ve got a right to it too... ” também tem direito...

44 “And you’ll lose your little dish ?” - E tu perde a comida ? “The maid ? Tonight, right off… - A comida ? Como hoje mesmo...

Nos trechos dos diálogos 3, 8, 72 e 73 verificamos, ainda, o processo de domesticação da linguagem proposto por Venuti (1995). Particularmente nesses trechos, trabalharemos com as soluções tradutórias, propostas pelo tradutor, para a palavra comida . O dicionário Houaiss de língua portuguesa (2007) traz a palavra ‘comida’ como um brasileirismo de expressão tabu referente a pessoa com quem se têm relações sexuais costumeiras ou que se entrega sexualmente de maneira passiva. Esta palavra está presente, também, no Novo dicionário de termos e expressões populares (1982) como um substantivo feminino que alude à idéia de amante passageira. No processo de domesticação da linguagem percebemos que as soluções tradutórias fornecidas pelo tradutor nos diálogos 3, 8 e 73 para a palavra ‘comida’ não possuem qualquer conotação sexual. Entretanto, o verbo To eat , no trecho do diálogo 72, de acordo com o site 62 www.yourdictionary.com/eat, faz referência ao sexo oral. Acreditamos, porém, que a modalidade sexual a que se referiam os Capitães da Areia estivesse mais ligada à genitália. Podemos afirmar, então, que essa escolha tradutória para o verbo To eat gerou um resíduo no texto-meta, utilizando o conceito proposto por Venuti (2002). O trecho do diálogo 44, embora apresente uma solução criativa 35 , fora incluído, aqui, apenas no intuito de contrastar com as soluções tradutórias fornecidas pelo tradutor para esse item lexical. Proposta como uma solução para a palavra ‘comida’, a palavra dish designa uma pessoa atraente sexualmente, e aparece no dicionário Longman com uma conotação informal e de cunho ofensivo para as mulheres. Faz-se necessário lembrar que o tradutor, desde o primeiro momento em que é exposto ao item lexical ‘comida’, no texto-fonte, tem conhecimento que esse termo faz referência a mulheres ( Capitães da Areia , p. 37). No entanto, somente a última opção tradutória ressaltada neste trabalho, parece carregar a carga semântica do item lexical presente no texto-fonte. Essa carga semântica pode ser verificada, claramente, na escolha tradutória maid como solução para comida. Esta escolha tradutória foi, necessariamente, baseada no contexto em que o diálogo se insere.

DIÁLOGO TEXTO-DE-CHEGADA TEXTO-DE-PARTIDA

4 “…if anyone is spotted to run off - ... se algum fôr bispado trate de dar o somewhere else. suíte para outro lado.

22 “…It’s so the man will get up and - ... È pro homem se levantar e eu I’ll snatch the package. But scram abafar o embrulho. Mas dá o suíte out right away so the man doesn’t logo pro homem não te ver... see you,

86 “What? No. Put him in the hole to - O quê? Não. Para começar, meta-o start. na cafua. 95 “Put him in the hole .” - Metam-no na cafua . “Every damned day. They only - Todo santo dia. Só quer saber 92 wanted to know when you were quando tu sai da cafua . getting out of the hole .”

44 “… Tomorrow he’ll try to get into the -... Amanhã ele dá um jeito de house…” embocar na casa.

10 “I’m coming in ...” - Vou embocar ...

35 Termo proposto pelo tradutor Gregory Rabassa em seu livro 63

Trabalharemos, ainda, com o conceito de Domesticação proposto por Venuti (1995) durante a análise dos trechos de diálogos acima. Já no trecho do diálogo número 4 percebemos a domesticação sofrida pela linguagem quando se propõem as soluções is spotted e run off , respectivamente, para as expressões fôr bispado e dar o suíte . Tais expressões foram encontradas tanto no dicionário baianês (2007) como no Houaiss (2007). A primeira delas faz referência, nos dois dicionários, ao fato de ser percebido ou observado. A solução tradutória proposta para esta palavra, is spotted , manteve o tom discursivo do texto-fonte, embora possamos identificar uma perda estilística. Quanto à segunda expressão, dar o suíte , ela aparece, no dicionário Houaiss (2007), fazendo alusão à idéia de ir-se embora , dar o fora , escafeder-se . Esta expressão aparecera, também, no Novo dicionário de termos e expressões populares (1982) fazendo alusão à idéia de dar o fora . A solução tradutória proposta para esse item fora o verbo frasal run off . Não podemos deixar de notar que houve, no texto-meta, uma perda estilística em relação ao texto-fonte. Entretanto, com base nas escolhas tradutórias acima, atestamos o trabalho de pesquisador, empreendido pelo tradutor, na busca semântica de tais itens. Consideraremos, também, que esses foram os recursos lingüísticos e estilísticos ao dispor do tradutor naquele momento, fato que justifica a sua escolha. O processo de domesticação nos trechos de diálogos 86, 95 e 92 fazem referência ao brasileirismo cafua . Segundo o dicionário Houaiss (2007), cafua é um aposento escuro e separado onde, nos colégios, os alunos eram deixados de castigo. Essa palavra fora, também encontrada no dicionário baianês (2007) significando um lugar pequeno e apertado, lugar de bagulho. Já o dicionário de gíria (1998) traz o brasileirismo cafua com uma conotação de casa clandestina de jogos. Entretanto, essa última conotação não parece estar consonante com o contexto da narrativa. Trazendo para o contexto da narrativa, o personagem Pedro Bala encontra-se preso no reformatório. Após várias surras e recusas em desvendar o esconderijo dos Capitães da Areia , grupo sob a sua custódia, o personagem é colocado na cafua . No texto-meta, temos como solução tradutória para a palavra cafua , a palavra hole que, no Webster´s New World Dictionary, designa um espaço pequeno, sujo e mal iluminado. Com base no contexto da narrativa (Capitães da Areia , p. 221) tomamos ciência de que é exatamente essa conotação que estava presente no texto-fonte, de maneira que, ao propor tal solução tradutória, o tradutor manteve o tom discursivo do original. Analisando as escolhas tradutórias propostas para a palavra embocar , get into e coming in , respectivamente, nos diálogos 44 e 10, podemos verificar que o tradutor 64 procurou disponibilizar, ao leitor-meta, a carga semântica presente no texto-fonte. Uma das conotações, para a palavra embocar , que o dicionário Houaiss (2007, p.1118) traz é a de um verbo intransitivo aludindo à idéia de penetrar no interior de; adentrar . Esta mesma acepção fora encontrada no Novo dicionário de termos e expressões populares (1982) aludindo à mesma idéia. Concluímos, então, que as soluções tradutórias propostas para este item mantiveram o tom discursivo do original. No entanto, não pudemos deixar de notar certa perda estilística no texto-meta. Podemos, ainda, atestar o trabalho de pesquizador empreendido pelo tradutor na busca semântica de tal item.

DIÁLOGO TEXTO-DE-CHEGADA TEXTO-DE-PARTIDA

31 “... I’ve got no urge to ship out .” - Não quero arribar , não...

94 “I’m getting out …” - Vou arribar ... “…When I take off can I join your - ...Quando eu bater asa , posso ir gang?” pro teu grupo?

96 “Are you running away ?” - Tu vai bater asa ?

Os trechos dos diálogos 31 e 94 foram agrupados, aqui, em razão de conterem soluções tradutórias diferentes, ship out e getting out para a mesma palavra no texto- fonte, arribar . Essa palavra fora encontrada no dicionário de gíria (1998), no dicionário de baianês (2007) e no Novo dicionário de termos e expressões populares (1982). Nos três dicionários, a palavra tem uma conotação de ir embora . Concluímos, desse modo, que a solução tradutória fornecida pelo tradutor no trecho do diálogo 31 teve como elemento norteador o contexto; nesse contexto, os personagens estão conversando sobre ser marítimo e embarcar em um navio por um tempo. O mesmo acontece com o trecho do diálogo 94. Neste trecho, tem-se a solução tradutória getting out para a palavra arribar . Trazendo para o contexto da narrativa, esse diálogo se passa entre um colega de refeitório e o personagem Pedro Bala, ambos internos no reformatório. Pedro Bala avisa ao colega que, em breve, sairá de lá (Capitães da Areia , p.232). Os trechos dos diálogos 94 e 96 foram, também, agrupados em razão de conterem soluções tradutórias diferentes para a mesma palavra no texto-fonte, bater asa . Esta palavra fora encontrada no dicionário de gíria (1998) e faz referência ao ato de ir embora. As soluções tradutórias para esta palavra foram take off e running away . Essas soluções tradutórias fazem referência ao ato de sair , partir ou escapar. Podemos afirmar que essas soluções tradutórias mantiveram o tom discursivo do texto-fonte, 65 embora possamos identificar uma perda estilística no texto-meta. Novamente, atestamos o trabalho de pesquisador do tradutor na busca semântica de tais itens.

DIÁLOGO TEXTO-DE-CHEGADA TEXTO-DE-PARTIDA 32 “... He was somebody who’d pass by - ... Era um que tôda tarde vinha dar every afternoon to have a few words dois dedo de prosa comigo... with me . 45 “…she kicked off in five days. - ... ela bateu a caçuleta em cinco dias.

24 “…You get the thing started and we’ll - ...Tu bota as coisas para andar, a get on board. ” gente se aboleta.

30 “I’m luck itself .” - Eu sou é bamba mesmo . “…I’m wiped out .” -... Tou a nennen .

34 “Let’s stop playing around ,” - Vamos deixar de chove-não- molha.

4 “…If he was to open his mouth to - ... Se ele abrir a boca no mundo everybody there’s no kind of não há costas largas que livre ele do influence …” xilindró...” “…Guards are only for playing hide- - ...Guarda é pra correr “picula”. and-seek.”

Os trechos dos diálogos acima foram agrupados em razão de conterem soluções tradutórias, cujos equivalentes formais oportunos, para os itens presentes no texto-fonte eram ausentes da língua-meta. Essas soluções, no entanto, conservaram o conteúdo semântico presente no texto-fonte. O trecho do diálogo 32 traz uma expressão fortemente ancorada na Bahia, dar dois dedo de prosa e que fora encontrada tanto no dicionário baianês (2007) quanto no dicionário de gíria ( 1998) como Trocar dois dedos de prosa . Nos dois dicionários, essa palavra faz alusão ao ato de conversar ou bater um papo. Nos termos de Vinay e Darbelnet (1996) podemos afirmar que o tradutor fez uso do procedimento tradutório transposição ao propôr a solução tradutória to have a few words para esta expressão. Situação semelhante acontece no trecho de diálogo 45. Nesse trecho temos a expressão bater a caçuleta . Essa expressão fora encontrada no site www.dicionarioinformal.com.br e significa morrer ou quebrar. Ela aparece, ainda, tanto no dicionário de baianês (2007) quanto no dicionário de gírias (1998) aludindo à idéia de morte. É com essa conotação que essa palavra aparece nesse trecho de diálogo. A solução tradutória fornecida para esta palavra, no texto-meta, fora o verbo frasal kicked 66 off . Este verbo frasal fora encontrado no Webster´s New World Dicitionary (1988) como uma gíria aludindo à idéia de morte. Podemos classificar esta escolha tradutória, nos termos de Vinay e Darbelnet (1996), como uma transposição já que a expressão bater a caçuleta é típica da língua portuguesa e o tradutor transfere seu conteúdo semântico sem respeitar sua categoria gramatical. Atestamos, porém, o grande trabalho de pesquisador empreendido pelo tradutor na busca semântica de tal item. No trecho do diálogo 24 temos a frase we´ll get on board para a gente se aboleta . Essa palavra, aboleta , fora encontrada no dicionário de gírias (1998) e faz referência ao fato de ocupar espaço . Trazendo para o contexto da narrativa, este diálogo acontece entre o personagem Sem-Pernas e os outros capitães da areia. O personagem Sem-pernas está trabalhando em um carrossel, cujo dono é Nhôzinho França. Então o personagem professor combina, em acordo coletivo com os capitães, que todos irão subir e girar no carrossel ( Capitães da Areia , p. 75). A solução tradutória fornecida pelo tradutor, get on board , nos parece totalmente consonante com o contexto da narrativa. Classificaremos essa solução tradutória nos termos de Vinay e Darbelnet (1996) como uma transposição. Entretanto, chamamos atenção, mais uma vez, para a realização do trabalho de pesquisador, pelo tradutor, na busca semântica de tais itens. Já no trecho do diálogo 30 temos a frase I´m luck itself proposta como solução tradutória Eu sou é bamba mesmo . A palavra bamba aparece no dicionário de gírias (1998) fazendo referência a uma pessoa esperta ou a um especialista. A solução tradutória fornecida para este brasileirismo manteve o tom discursivo do texto-fonte na medida que alude à tendência do personagem de ter sucesso em suas empreitadas (Capitães da Areia , p.92). Já o último brasileirismo, nennen , não consta nos dicionários utizados nesta pesquisa. Entretanto, de acordo com a Fundação Casa Jorge Amado o brasileirismo nennen remete à falta de dinheiro. A solução tradutória proposta para este item, wiped out , aparece no dicionário Longman com uma conotação de remoção completa, fato que condiz com o contexto do diálogo no qual o personagem perdeu todo o seu dinheiro jogando cartas ( Capitães da Areia , p. 92) e encontra-se totalmente desprovido. No trecho do diálogo 34 temos a frase Let´s stop playing around proposta como solução tradutória para Vamos deixar de chova-não-molha . O dicionário Houaiss de língua portuguesa (2007) traz este brasileirismo como sendo de cunho informal e que faz alusão a uma situação indecisa ou a uma coisa que não se resolve. Este brasileirismo está, também, presente, no dicionário de gíria (1998) com a mesma conotação de 67 indecisão. A solução tradutória, play around , aparece, no dicionário Longman dictionary, fazendo alusão a relações sexuais frívolas e sem seriedade, ou seja, casos amorosos sem compromissos que acontecem, geralmente, entre pessoas casadas. Entretanto, remetendo-nos ao contexto narrativo ( Capitães da Areia , p. 100), percebemos que o personagem principal Pedro Bala derruba uma negrinha no areal das docas, que é “a cama de amor de todos os malandros, de todos os ladrões, de todos os marítimos, de todos os Capitães da areia ”. Ela, porém, resiste a Pedro Bala, que está ansioso por possuí-la. É com esta conotação que essa frase é empregada. Percebemos, entretanto, a presença de um resíduo tradutório, nos termos do teórico Lawrence Venuti (2002). No trecho do diálogo 4 temos, novamente, uma transposição , utilizando um termo proposto por Vinay e Darbelnet (1996). A frase there´s no kind of influence fora proposta como solução tradutória para a expressão costas largas . Segundo o dicionário Houaiss (2007), a expressão ter as costas largas tem uma conotação de suportar cargos ou responsabilidades. De acordo com o mesmo dicionário, a conotação, presente tanto no texto-meta como no texto-fonte, estaria presente na expressão ter as costas quentes que faz referência ao fato de estar confiante, sem receio para falar ou realizar algo, por ter a proteção de alguém. Já o dicionário de gírias (1998) traz as duas expressões, ter as costas largas e ter as costas quentes, com uma conotação de proteção. É nesse sentido que a expressão costas largas é utilizada, pois o personagem que compra os produtos furtados, caso venha a delatar os companheiros de roubo, não escapa do xilindró nem se tiver a proteção de alguém ( Capitães da Areia , 1970, p.38). Chamamos atenção,ainda, para a frase Guards are only for playing hide-and-seek proposta como solução tradutória para a frase Guarda é pra correr “picula”. Segundo o dicionário Houaiss (2007), a palavra picula tem uma conotação lúdica e designa o mesmo que pique. O dicionário Houaiss (2007) traz como definição para pique uma brincadeira infantil em que uma das crianças deve correr atrás de outra(s) e pegá-la, com exceção de um ponto, escolhido em comum acordo, onde se está a salvo. A brincadeira que aparece definida no Houaiss (2007) parece outra senão a proposta pelo tradutor. Entretanto, ao consultarmos o dicionário baianês (2007), verificamos a seguinte definição para picula : pique de esconder. Acreditamos, assim, que o tradutor, teve acesso à essa acepção do termo a julgar pela sua escolha tradutória.

68

4.1.2 SOLUÇÕES CRIATIVAS

O próximo aspecto a ser assinalado em nossa análise diz respeito às soluções tradutórias fornecidas pelo tradutor no sentido de traduzir o discurso popular presente nos trechos de diálogos. Vale ressaltar que o tradutor Gregory Rabassa nomeia essas soluções de criativas. Segundo ele (2005) essa capacidade do tradutor de exercitar sua habilidade criativa, quando repelida, é classificada como a pior das traições. Durante todo o nosso trabalho, partimos do pressuposto que o processo tradutório envolve perdas e ganhos. As chamadas perdas foram ressaltadas no item anterior, neste item, porém, valorizaremos o processo tradutório empreendido pelo tradutor ressaltando os ganhos. Faz-se necessário notar que esses elementos, as perdas e os ganhos, fazem parte de qualquer processo tradutório e remetem à estratégia de heterogeneidade defendida por Venuti (2002).

DIÁLOGO TEXTO-DE-CHEGADA TEXTO-DE-PARTIDA

1 “It’s about a black man like you. A - É de um negro assim como tu. real he-man black.” Um negro macho de verdade .

2 “I’ve seen a ring, you guys …” - Vi um anelão, seu mano ... “On a sucker’s finger…” - No dedo de um pato ...

Já no trecho do diálogo número 1, percebemos que o tradutor exerceu a sua habilidade criativa quando propôs a solução tradutória A real he-man black para Um negro macho de verdade. De acordo com o Longman: dictionary of english language and culture , a palavra he-man é informal e tem uma conotação humorística. Ela se refere a um homem que quer que as pessoas vejam que ele é forte e tem músculos potentes. Já no Webster´s New World Dictionary a palavra he-man aparece com uma conotação coloquial e se remete a um homem forte e viril. Usando os termos de Venuti (2002) podemos identificar no texto-meta a presença de um resíduo tradutório que o promove estilisticamente contribuindo para o seu enriquecimento. O personagem João Grande, negro forte, de músculos retesados tem como maiores virtudes a sua força e a sua bondade, mas doía-lhe a cabeça se tinha que pensar ( Capitães da Areia , 1970, p. 34). Esta postura ideológica retrata a raça negra como uma raça desprovida de inteligência e está presente durante todo o texto-fonte podendo ser observada, também, nos diálogos de números 14 e 23. Embora o autor Jorge Amado seja considerado o 69 grande difusor da idéia de mestiçagem (Goldstein), afirmamos que tais posturas ideológicas podem, ainda, ser encontradas em seus primeiros romances. Parabenizaremos o tradutor, também, pelas frases you guys e On a sucker’s finger , presentes em trechos do diálogo número 2 e propostas como soluções criativas para seu mano e No dedo de um pato . Segundo o Longman Dictionary of English Language and Culture a palavra guy tem uma conotação informal e pode ser usada para se referir tanto a homem quanto a mulher. Esse mesmo dicionário, ainda, traz uma conotação informal para a palavra sucker . Essas soluções criativas são classificadas, aqui, como os ganhos do processo tradutório, que promoveram o enriquecimento do texto-meta.

DIÁLOGO TEXTO-DE-CHEGADA TEXTO-DE-PARTIDA

4 “… Maybe he doesn’t pay good, but - Pode não pagar bem, mas é uma he’s tight-lipped … cova . “…would keep him out of the pokey …” - ... que livre ele do xilindró ... “…to bring the dough and take the - ... pra trazer os miúdos e levar bonnets.” as carapuças.”

“… It was a trick, I don’t want to - … Tinha trapaça , eu não quero 16 pocket your dough…” embolsar teu cobre... “...You can get rich with those tricks. ” - ... Tu pode enricar com essas treitas .

14 “Do you think they’re marked? You can - Ta pensando que tem treita? Pode take a look. I play a clean game…” espiar. Eu faço jogo limpo… 80 “Did you get the dough?...” - Segurou os cobres?... “ I was dumb enough to think - Eu caí na besteira de pensar que Ezequiel was alone” Ezequiel vinha só.

No trecho do diálogo 4, ressaltaremos, ainda, os ganhos do processo tradutório. Nesse trecho de diálogo, podemos destacar o adjetivo tight-lipped proposto como uma solução tradutória para cova . Segundo a professora Élida Paulina Ferreira, em conferência oral no dia 05 de junho de 2009, a palavra cova está presente, no trecho do diálogo 4, aludindo à idéia de túmulo. O novo dicionário Aurélio, em sua versão eletrônica, traz a palavra cova aludindo à idéia de sepultura e a palavra túmulo aludindo, também, à idéia de sepultura. A palavra túmulo traz, ainda, a expressão ser um túmulo fazendo referência ao ato de saber guardar segredo(s) ou, ainda, ser muito discreto . É essa conotação que parece estar presente no texto-fonte e que o texto-meta só veio confirmar através da solução tradutória tight-lipped . Outra solução tradutória criativa 70 proposta para o Brasileirismo informal xilindró , nessa pesquisa, foi a palavra, também de conotação informal pokey . A palavra xilindró fora encontrada no Novo dicionário de termos e expressões populares (1982) fazendo alusão á idéia de prisão ou cadeia. Segundo o dicionário Longman , a palavra pokey designa um lugar sem atrativo e inconfortável. Temos, ainda, outra solução criativa, to bring the dough and take the bonnets, proposta como solução tradutória para pra trazer os miúdos e levar as carapuças . A palavra miúdos aparece, no dicionário Houaiss (2007) aludindo à idéia de trocado . Já no Novo dicionário de termos e expressões populares (1982) esta palavra aparece designando pouca coisa, pequena quantidade . A solução tradutória fornecida para esta palavra, dough , aparecera, no dicionário Longman , como uma gíria para dinheiro. Gostaríamos, aqui, de parabenizar o tradutor, pois, ao propor tal solução tradutória, ele enriqueceu o texto-meta. Nesta mesma frase, temos, ainda, a palavra carapuças cuja solução tradutória fora bonnets . Segundo o dicionário Houaiss (2007) a palavra carapuça faz alusão a barrete ou gorro de forma cônica ou semi-esférica . Encontramos, também, no dicionário Houaiss (2007) a palavra barrete fazendo alusão a uma peça de vestuário que se define como cobertura mole de pano ou de malha que se ajusta à cabeça . Já a solução tradutória, bonnets , fora encontrada no Webster´s New World Dictionary (1988) como um termo coloquial que faz alusão a qualquer chapéu usado por mulheres ou garotas. Concluímos, assim, que o tradutor manteve o tom discursivo do texto-fonte. Os trechos de diálogos 16 e 80 foram agrupados em razão de proporem a mesma solução tradutória, dough , para a palavra cobre . Esta palavra está listada tanto no dicionário Houaiss da língua portuguesa (2007) quanto no Novo Dicionário de termos e expressões populares (1982) fazendo referência à idéia de dinheiro. A solução tradutória proposta, dough , é, segundo o Longman Dictionary of English Language and Culture (1992), uma gíria que designa dinheiro. Nos termos de Vinay e Darbelnet (1996) poderíamos classificar essa solução tradutória como um procedimento de tradução literal palavra por palavra , pois as duas palavras são usadas em um contexto coloquial de linguagem designando o mesmo elemento. Ainda no diálogo 16, temos as soluções criativas trick (s) para trapaça ou treitas e a expressão to pocket your dough proposta como solução para embolsar teu cobre . O dicionário Houaiss (2007) afirma que treita/treta são a mesma palavra e fazem alusão a uma ação que se vale de astúcia ou manha. O dicionário baianês traz, ainda, a palavra treita/treta fazendo alusão a safadeza 71 ou malandragem. Esta palavra aparece, também, no dicionário de gíras (1998) fazendo alusão à idéia de mutreta ou corrupção . Quanto à palavra trapaça, ela aparece no dicionário Houaiss (2007) fazendo alusão à idéia de ação de má fé ou fraude. A solução tradutória proposta para estes itens do texto-fonte fora trick (s) e, segundo o dicionário Longman , esta palavra faz alusão a um ato inteligente executado para trapacear ou enganar alguém. Esta solução tradutória pode ser classificada, nos termos de Vinay e Darbelnet (1996) como uma tradução literal palavra por palavra já esses termos são, ambos, utilizados no âmbito da coloquialidade . A solução tradutória To pocket your dough proposta para embolsar teu cobre pode, também, ser classificada, nos termos de Vinay e Darbelnet (1996) como uma tradução literal palavra por palavra . No trecho do diálogo 14, temos a solução tradutória Do you think they´re marked? para a frase Tá pensando que tem treita? A solução tradutória proposta para este trecho, Do you think they’re marked? pode, ainda, ser classificada nos termos de Vinay e Darbelnet (1996) como uma transposição , ou seja, uma substituição, no plano formal, de uma parte do discurso por outro sem alterar o conteúdo da mensagem. Tal solução tradutória aparecera listada, aqui, em virtude de remeter ao mesmo item do texto-fonte presente no trecho de diálogo 16. Percebemos, ainda, que esta solução tradutória foi fornecida com base no contexto da narrativa.

DIÁLOGO TEXTO-DE-CHEGADA TEXTO-DE-PARTIDA

43 “… The sun’s knocking us out…” - ... O sol tá encalistrando... “Get your foot off there…” - Tira esta pata daí de cima... “Fresh Kid …” - Frangote atrevido ...

32 “…Where’d you ever tell of a fresh kid - ... Onde já se viu um capetinha like this talking about breasts with a dêstes falar em peito para uma velha worn-out old woman like me?” encongrujada como eu?

Os trechos dos diálogos 43 e 32 foram agrupados em razão de conterem a mesma solução tradutória, (fresh) Kid tanto para as palavras frangote quanto para capetinha . Segundo o dicionário Houaiss (2007), a palavra frangote , em seu sentido figurado, se refere a um rapaz novo. Essa palavra aparece, também, no Novo dicionário de termos e expressões populares (1982) fazendo alusão a rapazola metido a homem . Já a palavra capetinha aparece, no dicionário Houaiss (2007), como um brasileirismo informal que designa menino levado, traquinas. A solução tradutória, kid , aparece, no dicionário Longman , não só fazendo referência a crianças como também a adolescentes 72 que possuem idade suficiente para freqüentar a universidade. Ainda com relação ao trecho do diálogo 43, temos a solução tradutória Fresh Kid para Frangote atrevido . De acordo com o dicionário www.meriam-webster.com, uma das acepções da palavra fresh é diposta (o) a tomar liberdades, ousar ou atrever-se. Consideramos, então, que, ao propor a solução tradutória fresh kid tanto para frangote atrevido como para capetinha , o tradutor manteve o tom discursivo do texto-fonte, enriquecendo, assim, o texto-meta.

DIÁLOGO TEXTO-DE-CHEGADA TEXTO-DE-PARTIDA

9 “Tell that bag to stop bothering me. - Diga àquela bruaca que não me I’ve had it up to here with her…” amole. Tou chateado dela até aqui... “I see an old whore stretched out - Tou vendo um couro espichado there, yes, sir. ali, sim senhor. “That old whore doesn’t tempt me,” - Mesmo esse couro não me tenta. “Not even to jerk me off.” Nem para me tocar bronha . 10 “… I told them both off , too. Then I - ... Também eu disse as boas aos skinned the old whore …” dois. E depois pelei a bruaca ... 11 “I don’t go to whorehouses . I know - Não vou em casa de couros . Sei where things worth the trouble are.” onde tem coisa que valha a pena.

Os diálogos de número 9, 10 e 11 foram agrupados em razão de conterem as soluções criativas bag, old whore e whorehouses propostas como soluções tradutórias para palavras que fazem alusão, respectivamente, a mulheres que tem como profissão a prostituição e ao seu local de trabalho. Segundo o Webster´s New World Dictionary a palavra bag é uma gíria e designa uma mulher sem atrativos. Essa solução fora proposta pelo tradutor para a palavra bruaca. O dicionário Houaiss (2007), por sua vez, classifica esse brasileirismo como informal e pejorativo, designando tanto uma mulher idosa e feia como uma prostituta mais velha, decadente e feia . Já o Novo dicionário de termos e expressões populares (1982) traz o termo bruaca fazendo referência a uma prostituta velha e sem atrativos . Encontramos essa palavra, também, no dicionário de gíria (1998) fazendo alusão à idéia de mulher feia. Entendemos, dessa forma, que a solução proposta pelo tradutor resultou da fixação da sua interpretação do texto-fonte, deixando de lado algumas alusões e fixando outras. A próxima solução tradutória a ser abordada, old whore , foi proposta para a palavra couro. No dicionário Houaiss (2007), temos o seguinte conceito para couro: prostituta velha e abjeta (desprezível). Já o Dicionário do palavrão e termos afins (1982) traz essa palavra fazendo referência à idéia de meretriz 73 desprezível e velha . Faz-se necessário notar que a palavra couro aparece ao longo do texto sempre vinculada a prostitutas. Nos termos de Vinay e Darbelnet (1996), observamos que o tradutor fez uso de uma transposição . Ainda nesse diálogo, temos a expressão Nem para me tocar bronha . O dicionário Houaiss traz a palavra bronha como um brasileirismo de uso pejorativo que designa masturbação masculina. Essa palavra aparece, também, no Novo dicionário de termos e expressões populares (1982) fazendo referência ao ato de masturbar-se. Segundo o dicionário Longman (1992) o verbo frasal jerk off é uma gíria usada, especialmente na América, para a palavra masturbação. Entendemos que o tradutor favoreceu a tradução do discurso popular ao propor a solução tradutória Not even to jerk me off para a frase Nem para me tocar bronha . Classificaremos esta opção tradutória, também, como uma equivalência, proposta nos termos de Vinay e Darbelnet (1996). Outra solução tradutória proposta é o verbo frasal tell (off) na frase I told them both off como uma escolha para a frase Eu disse as boas aos dois . Segundo o dicionário Longman , uma das acepções da expressão tell somebody (off) é falar de maneira raivosa com alguém num tom repressor. Novamente, classificaremos esta opção tradutória como uma equivalência , procedimento proposto nos termos de Vinay e Darbelnet (1996). Ainda nesse mesmo diálogo temos a frase I skinned the old whore como solução tradutória para pelei a bruaca. De acordo com o dicionário Houaiss (2007) o verbo pelar faz alusão à idéia de tirar os pertences de alguém, geralmente de modo ilícito. Temos essa palavra, também, no Novo dicionário de termos e expressões populares (1982) aludindo à idéia de confiscar , subtrair , tomar e arrancar . A solução tradutória, I skinned the old whore, pode ser classificada, respectivamente, nos termos de Vinay e Darbelnet (1996), como uma tradução literal palavra por palavra . Ao longo de todo este diálogo, pudemos constatar o grande trabalho de pesquisador empreendido pelo tradutor visando a manutenção do tom discursivo presente no original e a disponibilização de soluções que favorecem a coloquialidade presente no texto-fonte.

DIÁLOGO TEXTO-DE-CHEGADA TEXTO-DE-PARTIDA

12 “… or I’ll give you a licking.” - ... se não leva porrada.

14 “…I’ve had a mother run of bad -... Tava com um peso filha da luck!” mãe! “Not this time, I’ve got to piss …” - Agora não que vou mijar. .. 74

15 “… Just so you can make up your - ... Só pra dar meio de você damage.” livrar teu prejuízo.

No trecho do diálogo de número 12, temos a solução criativa licking proposta como solução tradutória para o termo pejorativo porrada que, segundo o dicionário Houaiss (2007), faz alusão à idéia de pancada. Esta palavra fora encontrada, também, no dicionário de gíria (1998) fazendo referência a essa mesma conotação. A solução tradutória licking aparece no dicionário Longman como uma palavra de uso coloquial e pressupõe uma surra severa. Nos termos de Vinay e Darbelnet (1996), este procedimento seria classificado como uma tradução literal palavra por palavra . Outra solução criativa proposta pelo tradutor está contida na frase I’ve had a mother run of bad luck proposta como uma solução para a frase Tava com um peso filha da mãe , no trecho do diálogo de número 14. Segundo o dicionário Houaiss (2007) a palavra peso possui uma conotação de falta de sorte, azar. Essa palavra aparece, ainda, no Novo dicionário de termos e expressões populares (1982) aludindo a essas mesmas conotações. Classificaremos esta solução tradutória, nos termos de Vinay e Darbelnet (1996), como uma transposição . A coloquialidade presente neste trecho de diálogo foi favorecida, também, pela presença da palavra piss que é uma gíria que o dicionário Longman traz como ofensiva e que deve ser evitada no discurso formal. Essa solução tradutória, piss, fora proposta para a palavra informal mijar . Classificaremos este procedimento tradutório, nos termos de Vinay e Darbelnet (1996), como uma tradução literal palavra por palavra . No diálogo 15, temos a frase make up your damage proposta como solução tradutória para dar meio de livrar teu prejuízo . Esta solução pode ser classificada, nos termos de Vinay e Darbelnet (1996), como uma transposição , cuja definição se encontra acima. Segundo o dicionário Longman , a expressão gramaticalmente correta seria make up for. Entretanto, na frase acima percebemos a falta de tal preposição, fato que pode indicar certa informalidade na linguagem.

DIÁLOGO TEXTO-DE-CHEGADA TEXTO-DE-PARTIDA

33 “Lots of grub ?....” - Muita bóia ?...

18 “…We haven’t got any more grub .” - .... Não tem mais bóia . “If not we’ll turn this grease pot - Se não a gente vira êsse frege- upside down.” môscas de cabeça pra baixo. 75

Os diálogos 33 e 18 foram agrupados em razão de proporem a mesma solução tradutória para a palavra ‘bóia’. O dicionário Houaiss (2007) traz uma das conotações da palavra informal ‘bóia’ que faz referência à comida ou refeição. Esta acepção é também encontrada no dicionário de gíria (1998). Aqui, a palavra bóia designa o mesmo que comida. As soluções tradutórias para a palavra bóia são apresentadas, aqui, através da palavra grub . Essa palavra seria uma maneira informal de se referir a comida. Esta solução tradutória poderia ser classificada nos termos de Vinay e Darbelnet (1996) como um procedimento de tradução literal palavra por palavra . É preciso, também, parabenizar o tradutor pela solução criativa grease pot proposta como uma solução para frege-môscas . Segundo o dicionário Houaiss (2007), a palavra frege-moscas é um brasileirismo informal e uma de suas acepções designa um restaurante barato e popular. Já no Novo dicionário de termos e expressões populares (1982), esta palavra designa uma espelunca ou um botequim pouco asseado. A solução tradutória proposta para esta palavra, grease pot , parece estar baseada nesta última acepção. Podemos, então, afirmar que esta solução tradutória tanto promoveu estilisticamente o texto-meta quanto favoreceu a sua coloquialidade.

DIÁLOGO TEXTO-DE-CHEGADA TEXTO-DE-PARTIDA

34 “Let me go, you bastard. Do you - Deixa eu ir embora, desgraçado. want to ruin me, you son of a bitch? Tu quer fazer minha desgraça, Let me go, I’ve got nothing for filho da mãe? Deixa eu ir embora, you.” que não tenho nada com tu. “I hope plague and hunger and war - Peste, fome e guerra te fall down on you, you bastard. God acompanha desgraçado. Deus te will punish you, you bastard. Son of castiga, desgraçado. Filho de uma a bitch, bastard, bastard,” mãe, desgraçado, desgraçado.

O trecho do diálogo de número 34 foi selecionado aqui em virtude de apresentar uma solução tradutória problematizada pelo tradutor em seu artigo intitulado No two Snowflakes are alike . Nesse artigo, o autor afirma que devemos estar atentos aos sentimentos que estão por trás dos palavrões. Ele afirma que a expressão da língua portuguesa filho da mãe deixa a cargo do ouvinte deduzir o seu impacto e abre uma série de conjecturas sobre a mãe do indivíduo (1989). Entretanto, o dicionário de gíria (1998) traz a expressão filho da mãe designando qualquer pessoa. A solução tradutória son of a bitch proposta como solução tradutória para filho-da-mãe pode ser considerada, 76 utilizando os teóricos Vinay e Darbelnet (1996), como uma modulação obrigatória , ou seja, já consagrada pelo uso.

DIÁLOGO TEXTO-DE-CHEGADA TEXTO-DE-PARTIDA

5 “… It must have been some faggot - Isso devia ser algum chibungo dressed up as a girl.” vestido de menina. “I don’t like fairies .” - Não gosto de chibungo .

79 Are you blind or something?” - Agora anda cego? “How are things with those - Como vão aquêles frescos ? faggots ?” 39 “Beat it, fag , before I bust your - Sai, chibungo , antes que eu te face…” pranche a cara...

60 “Get out, pocky. Get out faggot .” - Dá o fora, bexiguento. Dá o fora, fresco .

Os diálogos de números 5, 79, 39 e 60 foram grupados em razão de fornecerem soluções tradutórias que se referem a homossexuais. Segundo o dicionário Houaiss (2007) a palavra chibungo é um brasileirismo pejorativo tanto usado no centro-oeste como na Bahia e faz alusão à idéia de homossexual afeminado. Esta palavra fora, também, encontrada no dicionário baianês (2007) fazendo alusão à sacana ou viado . As escolhas tradutórias para essa palavra foram faggot , fairies e a abreviação fag . A primeira delas aparece, no dicionário Longman , como uma gíria americana para homossexual. No mesmo dicionário a palavra fairy aparece como um termo que faz referência a homossexuais que se comportam de maneira afeminada. Já a abreviação fag é uma palavra para se referir a homossexual. Estas mesmas escolhas tradutórias foram propostas para a palavra fresco(s). Classificamos, novamente, essas escolhas tradutórias com base no princípio da transposição , categoria que propõe a substituição, no plano formal, de uma parte do discurso por outra sem que se altere o conteúdo da mensagem.

DIÁLOGO TEXTO-DE-CHEGADA TEXTO-DE-PARTIDA

38 “Who busted your cherry?” - Quem tirou teu cabaço?

48 “You’re the one who broke my - Foi tu que tirou meu cabaço ... cherry…”

77

Os diálogos de número 38 e 48 foram agrupados em razão de proporem a mesma solução tradutória, cherry , para a palavra cabaço presente no texto-fonte. Embora o tradutor utilize os verbos To bust e To break , não encontramos a palavra cherry associada a nenhum desses verbos. Essa palavra apareceu no dicionário Longman (1992) junto ao verbo lose na expressão lose one´s cherry . Acreditamos, pois, que o tradutor realmente exerceu sua criatividade ao propor uma expressão não-dicionarizada no texto-meta, gerando um ganho no processo tradutório.

DIÁLOGO TEXTO-DE-CHEGADA TEXTO-DE-PARTIDA

41 “To tell the truth, I was shit - Pra falar verdade, tive um afraid…” cagaço da desgraça... 72 “She’s a knockout …” - É um peixão ... “What difference does that make for - E nós com isso? A babaca é a us? The pussy´s all the same …” mesma...

94 “Where’s your hideout ?” - Onde fica o buraco ? “I saw your picture in the paper…” - Vi teu retrato no jornal... 96 “Look, stooly, try to sleep… - Olha, xereta , trata de dormir...

Os trechos dos diálogos de número 41, 72, 94 e 96 foram selecionados no intuito de demonstrar as soluções tradutórias criativamente. No diálogo de número 41, temos a solução tradutória shit afraid. De acordo com o Longman Dicitionary of English Language and Culture (1992) a palavra shit é um termo de expressão tabu. Essa expressão aparecera, no diálogo, acompanhada do adjetivo afraid , remetendo-se à expressão cagaço da desgraça do texto-fonte. Segundo o dicionário Houaiss (2007) a palavra cagaço faz alusão a um grande medo, pavor ou susto. Classificaremos esta solução tradutória nos termos dos teóricos Vinay e Darbelnet (1996) através da categoria da transposição que propõe a substituição de uma parte do discurso por outra, no plano formal, sem alteração da mensagem. Já no diálogo 72, temos a solução knockout proposta como solução para peixão . O dicionário Houaiss traz a palavra peixão como um termo de cunho informal que faz referência a uma mulher bonita e de corpo exuberante. Já a solução tradutória knockout aparece, no texto-meta, como um termo informal que faz referência a alguém ou alguma coisa que causa uma grande admiração. Percebe-se, aí, uma perda de conotações presentes no texto-fonte e o acréscimo de outras conotações no texto-meta gerando um resíduo tradutório, nos 78 termos de Venuti (1995). No mesmo diálogo, temos a palavra pussy que é uma gíria tabu proposta como solução tradutória para babaca . O dicionário Houaiss traz o termo babaca fazendo alusão ao órgão sexual feminino. Classificaremos esta solução tradutória, nos termos de Vinay e Darbelnet (1996), como uma tradução literal palavra por palavra . No diálogo de número 94, temos a solução hideout proposta para buraco . Por fim, no diálogo 96, temos a palavra stooly proposta como uma solução tradutória para xereta . Segundo o dicionário Webster´s New World Dictionary , a palavra stooly faz alusão à idéia de informante. Já a palavra xereta aparece, no Houaiss (2007), como um brasileirismo informal e de uso pejorativo e designa uma pessoa que participa de forma invasiva ou inadequada na vida alheia. Entendemos que as soluções propostas nesses diálogos mantiveram o tom discursivo do texto-fonte.

4.1.3 EXPRESSÕES IDIOMÁTICAS

Atribuímos a seleção dessas categorias lingüísticas ao modelo teórico e metodológico proposto por José Lambert e Van Gorp (1985) que nos permite ressaltá- las. Essa seleção se deve, sobretudo, à grande presença de expressões idiomáticas no texto-meta. Essas expressões idiomáticas, no texto-meta, foram obtidas através de um processo de equivalência dinâmica aproximativa, mesmo onde se verificou a total incorrespondência entre os sistemas lingüísticos (DELILLE, 1986). Consideraremos, ainda, tais expressões idiomáticas como mais um ganho dentro do processo tradutório, já que promoveram o enriquecimento do texto-meta. Elas foram ressaltadas tomando-se como base alguns dicionários, a saber: Longman Dictionary of English Idioms (1990), Collins Cobuild Dictionary of Idioms (1995), New Webster´s Dictionary and Thesaurus of the English Language (1992) , Dictionary of American Slang (1834) e o Dicionário de Expressões Idiomáticas da Língua Inglesa dos autores Maria Helena Schambil & Peter Schambil (2002).

DIÁLOGO TEXTO-DE-CHEGADA TEXTO-DE-PARTIDA

4 “You know, Legless, he keeps his - Tu sabe, Sem-pernas, que êle é mouth shut…” um bicho calado... “…he says there’s no market for it - … diz que não tem saída . “...All fat cats there .” - ...Tudo gente de nota .

79

Já no trecho do diálogo de número 4, podemos identificar algumas expressões idiomáticas. A primeira expressão idiomática, Keep one´s mouth shout , fora proposta como solução tradutória para é um bicho calado . Essa expressão fora encontrada no Longman Dictionary of English Idioms (1990) e faz referência ao ato de calar a boca (tradução minha )36 . Essa expressão aparecera, também, no dicionário de expressões idiomáticas da língua inglesa (2002) e, segundo os autores, significa fazer boca de siri , engolir a língua ou calar a boca . Embora o texto-fonte tenha o papel apenas de suporte para a nossa análise, entendemos que o tradutor manteve a sua carga semântica através da utilização de outro recurso lingüístico, a expressão idiomática. Nos termos de Vinay e Darbelnet (1996) podemos afirmar que o tradutor fez uso de uma transposição na medida que substituiu uma parte do discurso por outra. Utilizando, ainda, um termo proposto pelos mesmos teóricos, referente à tradução oblíqua, podemos firmar que o tradutor fez uso, também, de uma modulação de uso obrigatório já que utilizou uma expressão idiomática aceita, amplamente usada e dicionarizada. Já a segunda solução tradutória, there´s no market for it, proposta para diz que não tem saída fora encontrada tanto no Longman Dictionary of English Language and Culture (1992) quanto no New Webster´s Dictionary and Thesaurus of the English Language (1992) fazendo alusão à demanda pública para algum produto. Podemos classificar essa escolha tradutória, também, como uma modulação obrigatória (VINAY, DARBELNET, 1996). A última expressão a ser ressaltada, fat cats , segundo o Longman Dictionary of English Language and Culture (1992) , é um termo informal americano que faz alusão a um homem rico, especialmente um que fuma charuto e dirige um amplo e caro automóvel. Já no Collins Cobuild Dictionary of Idioms (1995) essa palavra aparece fazendo referência a um homem de negócios ou um político que usa sua riqueza, seu poder e seus privilégios de maneira que lhe parece injusta. Essa expressão remete ao trecho tudo gente de nota presente no texto-fonte. Nas três soluções tradutórias propostas acima, entendemos que o tradutor fez uso da categoria da modulação obrigatória , pois utilizou expressões dicionarizadas e de uso corrente (VINAY, DARBELNET, 1996).

DIÁLOGO TEXTO-DE-CHEGADA TEXTO-DE-PARTIDA

10 “Keep your money. You earned it - Guarda teu dinheiro. Tu ganhou fair and square.” direito.

36 Shut one´s Mouth (2). 80

O trecho do diálogo de número 10 traz a expressão idiomática fair and square, obtida através de um processo de equivalência dinâmica aproximativa nos termos de Delille et al. (1986), como solução tradutória para a frase Tu ganhou direito . Essa expressão idiomática fora encontrada tanto no Longman Dictionary of English Idioms (1990) quanto no Collins Cobuild Dictionary of Idioms (1995). Ela aparece, nesses dois dicionários, fazendo referência a algo honesto, correto e apropriado. Já no Dicionário de Expressões Idiomáticas da Língua Inglesa (2002), bilíngüe, essa palavra faz referência à idéia de merecimento. Entendemos, portanto, que o tradutor enriqueceu o texto-meta, fazendo uso de um recurso lingüístico que não estava no texto-fonte, a expressão idiomática, sem prejuízo da carga semântica. Classificaremos essa solução, também, tomando como base o termo proposto por Vinay e Darbelnet (1996), como uma modulação obrigatória que pressupõe a utilização de uma parte do discurso amplamente utilizada, aceita e dicionarizada. Poderíamos, também, classificá-la como uma transposição que é uma substituição, no plano formal, de uma parte do discurso por outra cujo conteúdo da mensagem é o mesmo. (VINAY; DARBELNET, 1996)

DIÁLOGO TEXTO-DE-CHEGADA TEXTO-DE-PARTIDA

18 “Don’t spin me a yarn … - Deixa de conversa fiada....

O trecho do diálogo 18 traz a expressão idiomática spin a yarn como uma solução tradutória para conversa fiada . Como dito anteriormente, essa expressão idiomática fora obtida através de um processo de equivalência dinâmica aproximativa nos termos de Delille et al. (1986). Essa expressão fora encontrada no Longman Dictionary of English Idioms (1990) e faz referência à idéia de inventar uma desculpa contando uma história não-verdadeira. Essa expressão fora encontrada, também, no Dicionário de Expressões Idiomáticas da Língua Inglesa (2002), bilíngue, e faz alusão à idéia de contar uma lorota ou uma história comprida. Entendemos, portanto, que a solução proposta pelo tradutor enriqueceu o texto-meta e, pode ser classificada como uma modulação de cunho obrigatório nos termos dos teóricos Vinay e Darbelnet (1996).

DIÁLOGO TEXTO-DE-CHEGADA TEXTO-DE-PARTIDA This black boy is dumb as a donkey - Êsse negro é burro como uma 14 in a door.... porta. 81

19 “We know how to keep a secret as - Nós sabe guardar um segrêdo good as under lock and key…” tão bem como um cofre .

O trecho do diálogo 14 traz a frase This black boy is dumb as a donkey in a door , proposta como solução tradutória para Esse negro é burro como uma porta . Nos termos de Vinay e Darbelnet (1996), podemos classificar essa solução tradutória como um decalque de expressão , ou seja, a introdução de novos modos de expressão respeitando a estrutura sintática da língua receptora. O trecho do diálogo 19 propõe a expressão idiomática under lock and Key como uma solução tradutória para tão bem como um cofre, obtida através de um processo de equivalência aproximativa dinâmica (DELILLE et al., 1986). Essa solução tradutória está presente no Longman Dictionary of English Idioms (1990) e faz referência à idéia de estar trancado. De acordo com o Dicionário de Expressões Idiomáticas da Língua Inglesa (2002), bilíngue, a expressão under lock and key significa debaixo de sete chaves ou fechado a chave . Essa escolha tradutória pode ser classificada como uma modulação obrigatória , nos termos de Vinay e Darbelnet (1996), já que essa expressão idiomática é dicionarizada, aceita e de uso freqüente.

DIÁLOGO TEXTO-DE-CHEGADA TEXTO-DE-PARTIDA

21 “…wants to blow a whistle .” - ... quer dar o alarme . “You” “stay here on the street to - Tu – fica aqui na rua para dar o give the alarm if anyone comes. alarma se vem alguém.

97 “Let’s get out of here before they - Vamos embora antes que give the alarm .” alarmem .

Os trechos de diálogos de números 21 e 97 foram agrupados em virtude de conterem soluções tradutórias diferentes fazendo referência ao mesmo item no texto- fonte. No trecho do diálogo 21 temos a expressão idiomática to blow a whistle proposta como uma solução tradutória para dar o alarme e obtida através de um processo de equivalência dinâmica aproximativa (DELILLE et al., 1986). Essa solução tradutória está presente tanto no Longman Dictionary of English Idioms (1995) quanto no Dicionário de Expressões Idiomáticas (2002). Nos dois dicionários, a expressão faz referência à idéia de dedar, delatar ou denunciar alguém. Nos termos de Vinay e Darbelnet (1996), podemos afirmar que se trata de uma modulação obrigatória na medida em que essa expressão idiomática se encontra dicionarizada, aceita e é usada 82 freqüentemente. A outra solução tradutória, give the alarm , faz referência ao mesmo item do texto-fonte. Faz-se necessário ressaltar que o dicionário Houaiss (2007) traz os mesmos significados para a palavra alarme e alarma . Além da expressão idiomática já citada nesse trabalho, verificamos a solução tradutória give the alarm para dar o alarma . Nos termos de Vinay e Darbelnet (1996), nós classificaríamos essa escolha tradutória tanto como um procedimento da tradução oblíqua, modulação obrigatória , já que a expressão give the alarm aparece listada no Longman Dictionary of English Language and Culture (1992).

DIÁLOGO TEXTO-DE-CHEGADA TEXTO-DE-PARTIDA

25 “I know it backwards and forwards . - Já sei tudo aquilo de cor e It’s a snap .” decorado . É o tipo da coisa canja . 28 “We can stick it back where it - A gente pode botar no lugar was… It’s duck soup for us …” onde estava... É coisa canja pra gente.

Os trechos dos diálogos de número 25 e 28 foram selecionados em razão de fornecerem soluções tradutórias diferentes para a expressão coisa canja . A primeira delas, It’s a snap , aparece tanto no Dictionary of American Slang (1834) , quanto no Longman Dictionary of English Language and Culture (1992). Nos dois dicionários essa palavra faz referência a uma tarefa fácil de executar. Já a segunda solução tradutória, It’s duck soup for us , aparece tanto no Dictionary of American Slang (1834) quanto no Webster’s New World Dictionary (1988). Nos dois dicionários essa palavra faz referência a algo que é facilmente executado. Temos, ainda, no trecho do diálogo número 25, a expressão idiomática backwards and forwards proposta como uma solução tradutória para de cor e decorado . Essa expressão aparece tanto no Collins Cobuild Dictionary of Idioms (1995) quanto no Longman Dictionary of English Idioms (1990). O Collins Cobuild Dictionary of Idioms (1995) enfatiza, ainda, que a expressão To know something backwards and forwards é própria do inglês americano. Classificamos esta solução como uma modulação obrigatória , nos termos de Vinay e Darbelnet (1996) já que é dicionarizada, aceita e de uso freqüente.

DIÁLOGO TEXTO-DE-CHEGADA TEXTO-DE-PARTIDA

36 “The police station isn’t a hotel, you - A polícia não é hotel, malandro. bum. Beat it, beat it ,” Desaperta, desaperta …

83

39 “Beat it , fag, before I bust your - Sai, chibungo, antes que eu te face…” pranche a cara...

“Now you’re going to have - Agora tu vai ter bexiga na 60 smallpox on your prick, you black piroca, negro burro. jackass.” “Beat it , sexton…” - sai , sacrista... “Get out, pocky. Get out faggot.” - Dá o fora, bexiguento. Dá o fora, fresco.

Os trechos de diálogos de número 36, 39 e 60 foram selecionados em razão de conterem a expressão idiomática beat it . Essa expressão idiomática está presente tanto no Dictionary of American Slang (1834) quanto no Dicionário de Expressões Idiomáticas da Língua Inglesa (2002), bilíngue. Essa expressão, nos dois dicionários, faz referência ao ato de ir embora ou partir. O dicionário bilíngue propõe, ainda, para essa palavra a expressão dá o fora! . Analisando os termos do texto-fonte que levaram a tal escolha tradutória, temos que a palavra desaperta , segundo o dicionário Houaiss (2007), é um Brasileirismo informal que significa ir-se embora , sair , esquivar-se . Entendemos, portanto, que o tradutor além de enriquecer o texto-meta através do uso dessa expressão, ainda tornou a carga semântica do texto-fonte acessível ao leitor-meta. Nos termos de Vinay e Darbelnet (1996) a solução tradutória Beat it foi obtida por meio de uma modulação obrigatória já que essa expressão é aceita, dicionarizada e de uso corrente. No diálogo de número 60, temos, ainda, as palavras prick e jackass encontradas, também, no Dictionary of American Slang (1834). A palavra prick aparece, no dicionário, como um termo de origem tabu e de uso antigo que faz referência ao órgão sexual masculino. Já a palavra jackass é um termo coloquial que faz referência a uma pessoa de pouca inteligência. Entendemos que o tradutor realizou escolhas, a nosso ver, que promoveram a tradução da coloquialidade, marca tão presente nos diálogos dos personagens do livro Capitães da Areia .

DIÁLOGO TEXTO-DE-CHEGADA TEXTO-DE-PARTIDA

49 “… He almost kicked the bucket … - .... Andou por pouco .... “... He’s as skinny as a rail …” - ... Tá mais magro que um espêto... 58 “The guy was skinny as a rail . He - O bicho era magro como um might be a big shot …” espêto. É capaz de ser tutu ...

25 “…You’re going to end up a dish of - ... Tu vai acabar tutu. .. mush …” 84

Os trechos dos diálogos 49 e 58 foram agrupados em razão de fornecerem a mesma solução tradutória skinny as a rail obtida através da equivalência aproximativa (DELILLE et al., 1986) como solução tradutória para a frase magro como um espêto . Vale ressaltar, aqui, que essa solução tradutória não fora encontrada em nenhum dos dicionários consultados nesta pesquisa. Fato que nos leva a crer que essa escolha tradutória resultou de um decalque de expressão em que se procurou respeitar a estrutura sintática da língua-meta. O diálogo 49 traz, ainda, a expressão idiomática kick the bucket . Essa expressão fora proposta como solução tradutória para a frase Andou por pouco . Verifica-se, aí, que o tradutor utilizou outro recurso lingüístico para manter o mesmo tom do texto-fonte. Nos termos de Vinay e Darbelnet (1996), o tradutor fez uso do procedimento de tradução oblíqua modulação obrigatória , pois utilizou uma expressão idiomática dicionarizada e de uso freqüente. Esta expressão fora encontrada tanto no Dictionary of American Slang (1834) quanto no Dicionário de Expressões Idiomáticas da Língua Inglesa (2002) fazendo alusão à idéia de morte, sendo que, no primeiro, ela apresenta, ainda, uma conotação humorística. O diálogo 58 traz, ainda, a solução tradutória big shot para tutu . Segundo o Longman Dictionary of English Language and Culture (1992) , a expressão big shot faz referência a uma pessoa de grande importância ou influência. Entretanto, considerando o contexto lingüístico em que esse trecho de diálogo se insere, parece-nos pouco provável que a palavra tutu , aí, faça referência ao dinheiro ou a pessoas de grande importância, pois os personagens estavam se referindo ao fato de o homem ser magro como um êspeto. ( Capitães da Areia , p. 156). Segundo o professor Luciano Rodrigues Lima, em conferência oral no dia 05 de junho de 2009, a palavra tutu alude ao fato do indivíduo ser portador da doença tuberculose. Entendemos que essa parece ser a conotação presente no text0- fonte. Acreditamos, também, ser esse o caso do trecho do diálogo de número 25.

DIÁLOGO TEXTO-DE-CHEGADA TEXTO-DE-PARTIDA

32 “Black skin, white hair, three times - Negro quando pinta, três vezes thirty-three.” trinta.

49 “… He was running almost a - ....Quase bate o trinta e sete… hundred and four…

108 “There’s going to be a wing-ding - Hoje vai ter fuzuê . today.”

85

Os trechos dos diálogos de números 32, 49 e 108 foram agrupados em razão de conterem soluções tradutórias bem particulares a cada uma das culturas. O trecho do diálogo 32 traz a frase Black skin, white hair, three times thirty-three como solução tradutória para Negro quando pinta, três vezes trinta . Faz-se necessário ressaltar que essas expressões não foram encontradas nos dicionários utilizados na execução desta pesquisa. Entretanto, de acordo com informações da Fundação Casa Jorge Amado, obtidas via e-mail, a expressão Negro quando pinta três vezes trinta era uma expressão utilizada para dizer que os negros não aparentavam a idade que tinham . Negro quando apresenta a idade (pinta), já tem muito mais do que se imagina (três vezes trinta). Acreditamos que, ao propor a solução tradutória Black skin, white hair, three times thirty-three, o tradutor fez uso, nos termos de Vinay e Darbelnet (1996) do procedimento da equivalência que expressa a mesma situação utilizando meios estilísticos e estruturais totalmente diversos. Fato semelhante ocorre com a frase He was running almost a hundred and four proposta como solução tradutória para Quase bate o trinta e sete . Classificaremos esta solução tradutória como uma equivalência que expressa a mesma situação utilizando recursos estilísticos próprios à língua em que está ancorada. O diálogo de número 108 traz a expressão idiomática wing-ding proposta como solução tradutória para fuzuê . A palavra wing-ding fora encontrada no Dictionary of American Slang (1834) e faz referência a qualquer celebração barulhenta e excitante. Classificaremos essa solução tradutória nos termos de Vinay e Darbelnet (1996) pelo procedimento da equivalência em que recursos estilísticos e estruturais diversos são utilizados para manter a tom discursivo do texto-fonte.

DIÁLOGO TEXTO-DE-CHEGADA TEXTO-DE-PARTIDA

32 “Come off it , aunty. You can still - Deixa de conversa , tia. Tu ainda make it...” topa a coisa...

A solução tradutória come off it! proposta para deixa de conversa fora encontrada tanto no Longman Dictionary of English Language and Culture (1992) quanto no Dictionary of American Slang (1834). Nos dois dicionários, essa expressão faz referência ao ato de mentir ou proferir palavras ofensivas ou sem sentido. Verificamos um resíduo no texto-meta (VENUTI, 1995) já que consideramos que as palavras proferidas pelo personagem não são, de maneira alguma, ofensivas.

86

DIÁLOGO TEXTO-DE-CHEGADA TEXTO-DE-PARTIDA

33 “Are you wool-gathering , buddy?” - Tá pensando na morte da bezerra seu mano? “If I had a daughter she wouldn’t be - Se eu tivesse uma filha, não era for your sweet talk , you bum.” pro teu bico , malandro

O trecho do diálogo 33 foi selecionado em razão de conter as soluções tradutórias wool-gathering e sweet talk . Segundo o Longman Dictionary of English Language and Culture (1992), a expressão wool-gathering , proposta como solução tradutória para morte da bezerra , faz alusão ao fato de estar pensando em outras coisas ao invés do que está sendo feito, especialmente se isto leva ao fato de não ouvir as outras pessoas ou fazer as coisas de maneira errada. Nos termos de Vinay e Darbelnet (1996), temos um procedimento de equivalência já que meios estilísticos e estruturais totalmente diversos foram utilizados para disponibilizar essas soluções. Já a expressão sweet talk está presente tanto no Dictionary of American Slang (1834) quanto no Longman Dictionary of English Language and Culture (1992). Nos dois dicionários, essa expressão faz referência a uma conversa informal e insincera como uma tentativa de persuadir pelo charme. No segundo, ela é descrita como tendo um cunho informal. Classificaremos, também, esta solução tradutória dentro do conceito de equivalência nos termos de Vinay e Darbelnet (1996) descritos acima.

DIÁLOGO TEXTO-DE-CHEGADA TEXTO-DE-PARTIDA

44 “I really am nice… It’s all in the gab …” - Eu sou é mesmo simpático... Aquela tá no papo ...

55 “You’ve got the gift . If you could - Tu tem jeito . Se tu tivesse have gone to school…” andado pela escola... “… One day I sneaked in, went into - ... Um dia andei de penetra, me a room. meti numa sala. “You’ve got it in you ...” -... Tu tem é jeito ...

O trecho do diálogo 44 foi selecionado em virtude de propor a solução tradutória it´s all in the gab para a frase aquela tá no papo . Entretanto, a expressão idiomática encontrada tanto no Dictionary of American Slang (1834) quanto no Dicionário de Expressões Idiomáticas da Língua Inglesa (2002) foi a expressão The gift of the gab e faz alusão à idéia de ter lábia, ser bom de bico ou ter o dom da palavra. Classificaremos esta solução tradutória nos termos de Vinay e Darbelnet (1996) como uma modulação 87 livre ou facultativa que é adotada toda vez que não se encontra escrita no dicionário ou gramática, mas que expressa a maneira como um falante nativo se expressaria. Já no trecho do diálogo 55 temos a solução tradutória you´ve got the gift proposta como solução para Tu tem jeito. Uma das conotações que a palavra gift possui é uma habilidade natural para se fazer as coisas. Observamos, também, outra solução tradutória, you´ve got it in you, fora proposta para a mesma frase, Tu tem é jeito . Classificaremos essas soluções tradutórias como procedimentos de modulação facultativa ou livre que expressa a maneira como um falante nativo se expressaria e cuja expressão não se encontra, ainda, dicionarizada.

DIÁLOGO TEXTO-DE-CHEGADA TEXTO-DE-PARTIDA

48 “He doesn’t know what it’s all - Êsse nem sabe que é isso... Tu about… You’re out of your mind … ta feito bôbo ...

No trecho de diálogo de número 48, verificamos a presença da expressão idiomática be (out) of one mind proposta como solução tradutória para a frase Tu tá feito bôbo . Essa expressão está presente tanto no Collins Cobuild Dictionary of Idioms (1995) quanto no Dicionário de Expressões Idiomáticas da Língua Inglesa (2002). Nos dicionários, essa expressão faz alusão à idéia de agir de maneira impensada, boba ou sem juízo. Nos termos de Vinay e Darbelnet (1996), temos uma equivalência , ou seja, dois textos que apresentaram a mesma situação utilizando recursos estilísticos diferentes.

DIÁLOGO TEXTO-DE-CHEGADA TEXTO-DE-PARTIDA 79 “Bite your tongue , you son of a - Dobre a língua , filho da mãe. bitch.”

No trecho do diálogo de número 79, verificamos a presença da expressão idiomática Bite your tongue como uma solução tradutória para Dobre a língua . Essa solução tradutória fora encontrada tanto no Longman Dictionary of English Idioms (1990) quanto no Dicionário de Expressões Idiomáticas (2002) e faz referência à idéia de calar-se, engolir a língua ou engolir seco. Segundo o dicionário Houaiss (2007) a expressão Dobre a língua tem um sentido figurado de reconsiderar o que foi dito, emendar algo que foi dito . Como um brasileirismo informal, essa expressão faz referência à idéia de falar com respeito, pôr-se em seu lugar. Nos termos de Vinay e 88

Darbelnet (1996), temos uma modulação obrigatória no texto-meta, ou seja, essa expressão já se encontra dicionarizada, de uso freqüente e aceita.

DIÁLOGO TEXTO-DE-CHEGADA TEXTO-DE-PARTIDA 85 “You can stand on your head .” - Pode esperar deitado .

No trecho do diálogo de número 85, verificamos a presença da expressão idiomática You can stand on your head proposta como solução tradutória para Pode esperar deitado . Essa expressão idiomática fora encontrada no Longman Dictionary of English Idioms (1990) e faz alusão ao fato de fazer tudo o que é possível e que está ao seu alcance para que algo aconteça. Sabemos que esta frase foi proferida pelo personagem principal Pedro Bala quando questionado pelo detetive sobre o lugar onde se escondiam os Capitães da Areia . Entendemos, assim, que o tradutor enriqueceu o texto-meta através da utilização dessa expressão idiomática, além de tornar acessível ao leitor-meta a carga semântica presente no texto-fonte. Classificaremos esta escolha tradutória, nos termos de Vinay e Darbelnet (1996), como um procedimento de modulação obrigatória já que a expressão usada no texto-meta já é aceita e dicionarizada.

DIÁLOGO TEXTO-DE-CHEGADA TEXTO-DE-PARTIDA “…You’ve got guts ! But they did - ... Tu é um macho ! Mas te 94 you in.” acabaram.

O trecho do diálogo de número 94 traz a expressão idiomática You´ve got guts! proposta, criativamente, como uma solução tradutória para Tu é um macho . A expressão idiomática To have the guts (to do something) está presente tanto no Dictionary of American Slang (1834) quanto no Dicionário de Expressões Idiomáticas da Língua Inglesa (2002). Nos dois dicionários, a expressão faz referência à idéia de ter coragem ou ter peito de fazer alguma coisa. Podemos afirmar, então, que o tradutor fez uso de uma modulação obrigatória , nos termos de Vinay e Darbelnet (1996), pois a expressão acima se encontra aceita, dicionarizada e de uso freqüente.

DIÁLOGO TEXTO-DE-CHEGADA TEXTO-DE-PARTIDA 96 “… they’ll get even for me.” - Pois êles me vingam .

89

O trecho do diálogo de número 96 traz a expressão idiomática get even proposta como solução tradutória para a palavra vingam . Essa expressão idiomática aparece tanto no Longman Dictionary of English Idioms (1990) quanto no Dicionário de Expressões Idiomáticas da Língua Inglesa (2002) como get even with cujo significado remete à idéia de acertar as contas com alguém ou vingar-se de alguém. Temos, também, no Collins Cobuild Dictionary of Idioms (1995) somente a expressão get even . Classificamos esta solução tradutória, nos termos de Vinay e Darbelnet (1996), como uma modulação obrigatória já que a expressão acima é aceita, dicionarizada e de uso freqüente.

DIÁLOGO TEXTO-DE-CHEGADA TEXTO-DE-PARTIDA

109 “If it’s for helping the strikers my - Se fôr pra ajudar os grevistas mind’s already made up. You can tou decidido. Pode contar com a count on us…” gente...

O trecho do diálogo 109 foi selecionado em razão de conter uma variação da expressão idiomática Count on it proposta como solução tradutória para Pode contar com , fazendo referência à idéia de confiar em algo ou em alguém. Faz-se necessário ressaltar que essa expressão idiomática foi somente encontrada no Dicionário de Expressões Idiomáticas da Língua Inglesa (2002) não estando presente nos demais dicionários utilizados nesta pesquisa. Podemos afirmar que houve, nos termos de Vinay e Darbelnet (1996), uma modulação obrigatória já que a expressão se encontra dicionarizada.

DIÁLOGO TEXTO-DE-CHEGADA TEXTO-DE-PARTIDA

110 “Wait and see .” - Espera pra ver .

O trecho do diálogo 110 traz a expressão idiomática wait and see proposta como solução para Espera pra ver . Essa expressão idiomática aparece tanto no Longman Dictionary of English Idioms (1990) quanto no Dicionário de Expressões Idiomáticas da Língua Inglesa (2002). Nos dois dicionários essa expressão faz referência ao ato de aguardar os acontecimentos ou esperar pra ver . Na passagem do livro, o estudante universitário Alberto convoca os Capitães da Areia para debandar os fura-greves. Essa frase é a resposta dada por Pedro Bala ao aviso de Alberto sobre a chegada dos fura- 90

greves. Classificamos esta solução tradutória em termos de uma modulação obrigatória , nos termos de Vinay e Darbelnet (1996), pois essa expressão já se encontra aceita, dicionarizada e é usada frequentemente.

DIÁLOGO TEXTO-DE-CHEGADA TEXTO-DE-PARTIDA

111 “What about the big ring that Legless - E aquêle anelão que Sem-Pernas used to make fun of ?” fazia troça ?

No trecho do diálogo de número 111, temos a expressão idiomática make fun of someone proposta como solução tradutória para troça . Essa expressão fora encontrada tanto no Longman Dictionary of English Idioms (1990) quanto no Dicionário de Expressões Idiomáticas da Língua Inglesa (2002). Nos dois dicionários, essa expressão idiomática faz referência à idéia de fazer troça ou ridicularizar. É interessante notar que a mesma palavra a que essa expressão idiomática faz referência no texto-fonte aparece no dicionário bilíngue utilizado nessa pesquisa. Utilizando os termos propostos por Vinay e Darbelnet (1996) perbecebemos que o tradutor fez uso de uma modulação obrigatória já que a expressão encontra-se aceita, dicionarizada e é usada freqüentemente.

DIÁLOGO TEXTO-DE-CHEGADA TEXTO-DE-PARTIDA

101 “He’ll be wild with happiness.” - Ele vai ficar louco de alegria.

No trecho do diálogo 101 temos a frase wild with happiness proposta como uma solução tradutória para louco de alegria . O Longman Dictionary of English Language and Culture (1992) traz a frase wild with fazendo alusão a sentimentos fortes e descontrolados. Entendemos, assim, que a carga semântica do texto-fonte tornou-se acessível ao leitor-meta. Nos termos de Vinay e Darbelnet (1996) percebemos que o tradutor fez uso de uma modulação obrigatória na medida em que essa expressão já se encontra dicionarizada.

4.1.4. NOMES DE LOGRADOUROS

Um dos procedimentos tradutórios mais adotados pelo tradutor refere-se a nomes dos logradouros. Segundo o dicionário Houaiss (2007) a palavra logradouro faz 91 referência a espaços públicos, sendo qualquer espaço livre, inalienável, reconhecido pela sua municipalidade e de uso comum do povo. Dessa forma aparecem, no texto-meta, nomes de ruas, bairros e localidades grafados da mesma forma que eles aparecem no texto-fonte, gerando um resíduo tradutório no texto-meta (VENUTI, 2002). Esse procedimento nos leva a acreditar que o tradutor quis promover uma aproximação do leitor-meta à cultura-fonte. A presença desses nomes de logradouros contribuía, de certa forma, para a criação de uma atmosfera literária exótica e estrangeira, consonante com o momento histórico-literário da época. Faz-se necessário ressaltar, novamente, que não se verificou a presença de nenhuma nota explicativa de rodapé e nem de um glossário ao final do livro que fornecesse informações acerca de onde se situam tais lugares e se a sua presença teria alguma importância para a narrativa. Como exemplo do que foi dito acima, podemos citar o trecho do diálogo 55 onde temos a presença do logradouro Rua do Chile cujo nome foi conservado na tradução. Segundo Salah (2008, p. 59) a Rua Chile aparece 28 vezes em 8 romances. Ela é considerada o centro do comércio de luxo que atrai os burgueses mais abastados dos bairros ricos e está presente na narrativa no intuito de contrastar, especificamente nesse romance, com a Baixa dos Sapateiros que está dentro do quadro das ruas mais pobres da cidade. Ainda segundo Salah (2008) as ruas e ruelas são um dos meios que o romancista escolheu para alcançar a poesia da Bahia. Poesia essa que implicaria, também, os conceitos de liberdade e aventura. Traremos, a seguir, alguns exemplos dessa regularidade presente no processo tradutório. Faz-se necessário notar que tal postura tradutória foi adotada do começo ao final do texto-meta.

DIÁLOGO TEXTO-DE-CHEGADA TEXTO-DE-PARTIDA 2 “. ..A fat guy who gets on the Brotas - … Um gordo que todo dia toma streetcar at Baixa dos Sapateiro o bonde de Brotas na Baixa do every day.” Sapateiro. “Then what I want, boy, is for you to - Então eu quero, filhinho, que tu 8 go to the Rua Rui Barbosa . Number vá na Rua Rui Barbosa . O thirty-five. número é 35. 12 “I’m going to tell it so you’ll know. - Vou contar pra você saber. Foi It was a girl I saw today. She was in uma garota que eu vi hoje. Tava the Cidade de Palha . na Cidade de Palha . “This is for you all to ride the - Isto é pra gente andar no 28 carrousel today…I invite you all to carrossel hoje... Convido vocês take a ride today on the carrousel on todos para andarem hoje no the square in Itapagipe .” carrossel da praça de Itapagipe ... 36 “I don’t come from here. I’m from - Eu não sou daqui. Eu sou de Mar Grande , I came with my father Mar Grande ,vim com meu pai 92

today.” hoje. 37 “Everything I said is true. My - Tudo que eu disse é verdade. father’s a sailor, he’s got a sloop in Meu pai é marítimo, tem um Mar Grande … saveiro em Mar Grande ... 40 “This is the boy from the robbery in - Êsse é o menino do roubo do Campo Grande .” Campo Grande . 55 “…A nice day, happy people ... Um dia bonito, gente alegre walking, laughing, falling in love andando, rindo, namorando assim just like the people in Nazaré , you como aquela gente de Nazaré , know… sabe?... “… Someday you’re going to have a - Um dia tu ainda bota um bocado couple of paintings in a gallery on de pintura numa sala da Rua the Rua do Chile , buddy. Without Chile , mano.... school or anything else….” 57 “…We live in the Cidade da - A gente mora na Cidade de Palha …” Palha ... 94 “You’ll find the guys at Campo - Tu encontra da gente no Campo Grande every afternoon.” Grande tôda tarde. 106 “Buddy, I’m going to Ilhéus . The - Mano, vou para Ilhéus. A patroa old lady is going to try out life there. vai cavar a vida. Eu vou com ela. I’m going with her.

4.1.5 ELEMENTOS AFRO-BAIANOS

DIÁLOGO TEXTO-DE-CHEGADA TEXTO-DE-PARTIDA

4 “He already told me. And he say’s - Ele já teve me avisando. E diz- he’s coming over at night for some que de noite vem pra capoeira . capoeira .”

“Aren’t you going to Gantóis - Tu não vai hoje ao Gantóis ? today? There’s going to be Vai ser uma batida daquelas. Um drumming like you never heard. A fandango de primeira. É festa de 33 first class- fandango. It´s Omolu Omolu . feast day.” “Lots of grub? And rice drinks ?” - Muita bóia? E aluá ? “If they’ve got any…” “Why don´t - Se tem… - Por que tu não vai, you go, white boy? Omolu isn’t branco? Omolu não é só santo de just a black folks´ Saint. She’s a negro. É santo dos pobres todos. Saint for all poor people.”

“What are we going to do? The - O que é que a gente vai fazer? police have got the dingus…” O troço está na polícia... “Don’t call Ogun a dingus, Legless. - Não chame Ogum de troço, 35 He’ll punish you…” Sem-Pernas. Êle castiga... “He’s in jail, he can’t do - Tá preso, não pode fazer nada. anything,” - Deixa eu matutar. A gente tem “Let me think about it. Remember, que dar conta. A gente garantiu a 93

we promised Aninha . Now we’ve Aninha . Agora tem que fazer. got to come through. ”

“… If it hadn’t been for - Se não fôsse Don´Aninha , que Don´Aninha , who brewed up deu beberagem a êle que botou 49 something for him and got him on ele em pé, tu não via mais ele. his feet again, you wouldn’t have seen him anymore.

“She was like a shadow in this life. - Foi como uma sombra nesta She became a saint in the other. vida. Vira santa na outra. Zumbi Zumbi dos Palmares is a saint in dos Palmares é santo dos halfbreed candomblés , Rosa candomblés de cabloco, Rosa 99 Palmeirão too. Brave men and Palmeirão também. Os homens e women became saints for blacks...” as mulheres valentes viram santos dos negros...

Os trechos dos diálogos de números 4, 33, 35, 49 e 99 foram agrupados em razão de ilustrarem os procedimentos tradutórios adotados pelo tradutor em relação a componentes ligados à religião do candomblé. O dicionário Houaiss (2007) descreve o candomblé como uma religião brasileira - original da região das atuais Nigéria e Benin - trazida para o Brasil e estabelecida no início do século XIX por escravos africanos. Nela, sacerdotes e adeptos encenam, em cerimônias públicas e privadas, uma convivência com as forças da natureza e ancestrais. A definição dessa religião fora incluída, aqui, para demonstrar a sua especificidade em relação ao contexto brasileiro e o quanto ela deve soar exótica e estranha a um leitor norte-americano. Nos trechos dos diálogos ressaltados acima, percebemos que muitos elementos afro-baianos são grafados da mesma maneira que eles aparecem no texto-fonte, numa espécie de empréstimo lingüístico , sendo esse termo atribuído a Vinay e Darbelnet (1996). Esses elementos nem mesmo aparecem em destaque no decorrer da narrativa. Fato que contrasta com a prática, já padronizada, concernente à tradução de ficção latino-americana. Segundo essa prática, os termos relacionados à religião do candomblé aparecem em destaque dentro da narrativa (MILTON). Como pode ser observado nos trechos de diálogos acima, apenas a palavra candomblés , no diálogo 99 aparece em destaque dentro da narrativa. Já no trecho do diálogo de número 4, no texto-meta, a palavra capoeira aparece sem destaque e incorporada à narrativa. Embora essa luta ou dança esteja bastante ligada à cultura afro- brasileira, podemos afirmar que ela já é conhecida pelos norte-americanos, pois, como afirma o tradutor Gregory Rabassa, esse esporte ou luta já se tornou Disneyfied 94

(RABASSA, 2005). Dessa forma, o tradutor pode ter assumido que a compreensão dos leitores norte-americanos não seria prejudicada já que esse referente cultural fora inserido em sua cultura. No trecho do diálogo número 33 temos várias palavras ligadas à religião afro-brasileira, o candomblé, Gantóis, fandango e Omolu . Elas aparecem incorporadas à narrativa e sem nenhum destaque no texto-de-chegada. Como vimos, essa é uma prática já recorrente na tradução latino-americana. Essa postura tradutória pode ter sua justificativa na necessidade de uma literatura exótica e condizente com o momento histórico-literário da época. No trecho do diálogo número 35, temos a presença do deus negro, Ogum , que aparece na tradução como Ogun . Utilizando um termo proposto pelos teóricos Vinay e Darbelnet (1996) podemos afirmar que o tradutor realizou uma adaptação , procedimento adotado quando a situação extralingüística da língua-fonte não é prevista na língua-meta. Relembramos novamente ao leitor que havia a necessidade da presença de elementos exóticos dentro desse texto-meta cujo objetivo principal era suprir uma demanda por uma literatura latino-americana. No trecho do diálogo 49, temos o item cultural, também ligado à religião do candomblé, beberagem, que teve como solução tradutória o verbo frasal brewed up . Segundo o Longman Dictionary of English Language and Culture, o verbo frasal brewed up faz referência à idéia de misturar (chá ou café) com água quente e preparar para beber. Já a palavra beberagem é um termo resultante da etnografia brasileira e refere-se a preparação caseira, ou elaborada por um curandeiro, supostamente medicinal, garrafada. Nos termos de Vinay e Darbelnet (1996) classificaremos esta solução tradutória como uma adaptação já que esse referente cultural é inexistente na cultura-meta. Por fim, ressaltaremos alguns aspectos presente no trecho do diálogo 99. Nesse diálogo, temos a presença dos santos negros do candomblé: Zumbi dos Palmares e Rosa Palmeirão que aparecem sem destaque na narrativa como se esses santos fossem relevantes funcionalmente para o leitor-meta. Esse empréstimo lingüístico , ao nosso ver, necessitaria de maiores esclarecimentos ao leitor-meta. Podemos afirmar que a presença desses elementos no texto-meta é importante na medida em que nos lembra que estamos lendo uma tradução e não um texto escrito originalmente na língua inglesa. Como foi dito acima, o momento histórico em que essa tradução se insere, o ano de 1988, ano do renascimento do Boom Literário, estava favorável, também, à entrada de elementos exóticos e estrangeiros. O próprio fato de esse texto-meta estar inserido em uma série latino-americana já era uma previsão da 95 manutenção de tais elementos, afinal o texto deveria ter uma aparência latino-americana naquele momento histórico específico.

96

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho analisou a tradução para a língua inglesa dos diálogos da obra Capitães da Areia , de Jorge Amado. Durante a sua execução nos valemos de pressupostos teóricos e metodológicos que procuraram entender o processo tradutório como um exercício interpretativo em que o tradutor exerceria um papel central. Realizamos um estudo abrangente de variados elementos que circundaram o processo tradutório em questão. Primeiramente, reconstituímos o contexto histórico em que tanto o texto-meta quanto o texto-fonte se encontravam envolvidos. Durante a reconstituição desse contexto, procuramos, sobretudo, responder às perguntas “quem traduz, por que, sob quais circunstâncias e para que público”, propostas pelo teórico André Lefevere (2007, p. 21). Como já fora mencionado anteriormente, o texto-meta Captains of the Sands fora disponibilizado ao público norte-americano pelo tradutor Gregory Rabassa, no ano de 1988, a pedido do agente do autor Jorge Amado, Tom Colchie (RABASSA, 2005). Acreditamos que a escolha do texto-fonte Capitães da Areia , em detrimento de tantos outros textos, aconteceu em virtude de a sua narrativa se pautar em elementos da tendência literária do realismo mágico que renascia, naquele ano, com força maior do que em seu primeiro momento, nos anos de 1960 e 1970. Quanto às circunstâncias, parte delas já fora explanada no parágrafo anterior, restando-nos lembrar que o texto-meta Captains of the Sands fora inserido no sistema literário norte-americano como um dos livros integrantes de uma série latino-americana organizada pela Bard Books Latin American Series , sendo os outros livros pertencentes aos mais variados escritores latino-americanos. Ao perguntamos ao tradutor a que público o texto-meta Captains of the Sands se dirigia, como resposta, ele nos infomou que esse texto-meta se dirigia ao público leitor médio em geral (em entrevista). Acreditamos que essa resposta contenha, talvez, a justificativa para a estratégia heterogênea utilizada pelo tradutor no feitio da sua tradução, pois, ao mesmo tempo em que ele reescrevia o texto-meta tomando como base uma gramática de língua escrita norte-americana, ele incorporava elementos com traços de coloquialidade. Fornecer um texto-meta totalmente baseado no ritmo coloquial e na cadência oral presentes nas obras de Jorge Amado talvez não agradasse ao público leitor mediano, o que poderia levar esse texto-meta a uma situação de desprestígio na e marginalidade na cultura americana. Esse fato, per si , já justificaria o nível de formalização do texto Captains of the Sands . 97

Após havermos respondido as perguntas propostas por Lefevere (2007), apresentaremos as nossas conclusões a partir da análise dos dados micro-estruturais, procurando, sempre, uni-los ao contexto macro-estrurural. As conclusões acerca do processo tradutório empreendido por Gregory Rabassa podem ser agrupadas da seguinte forma: • O tradutor se aproximou em grande medida do texto-fonte. Acreditamos que essa proximidade com o texto-fonte ocorreu devido ao renascimento da tendência literária do realismo mágico, que teve seu primeiro momento nos anos de 1960 e 1970. Não foi detectada, desse modo, nenhuma grande transformação do texto- meta em relação ao texto-fonte já que praticamente não existiram omissões de palavras ou frases como pode ser detectado na análise de dados. • Verficamos, também, uma proximidade em relação à cultura-de- partida , a qual pode ser detectada através da presença dos referentes culturais, tais como os elementos afro-baianos, ligados à religião do candomblé; os nomes de logradouros e os nomes próprios conservados no texto-meta. Acreditamos que a manutenção desses elementos, tais quais aparecem no texto-fonte, ocorre devido ao fato de aquele momento histórico, vivido pelo sistema literário norte-americano, ter necessitado de uma tradução, latina, mas, sobretudo exótica. • O tradutor disponibilizou, ao leitor-de-chegada, um texto-meta reescrito com base em uma gramática de língua escrita norte-americana , o que ocasionou maior grau de formalização da linguagem, dificultando a identificação dos diversos personagens – Capitães da Areia e moradores urbanos – já que a formalização padronizou as suas diferentes variantes lingüísticas. • Gregory Rabassa propôs, ainda, várias soluções tradutórias que favoreceram a disponibilização da coloquialidade , característica tão marcante em Jorge Amado, ao leitor-meta. Prova disso é a presença dos ganhos tradutórios, ou seja, as soluções tradutórias e as expressões idiomáticas, em que o tradutor exerce sua habilidade criativa e disponibiliza, ao leitor-meta, um texto enriquecido estilisticamente. As conclusões acima também confirmam as hipóteses levantadas na introdução do nosso trabalho, tanto a manutenção do tom discursivo dos diálogos no texto-meta quanto a de algumas referências culturais brasileiras. Embora tenhamos assumido a postura ideológica de que a atividade tradutória é um processo de perdas e ganhos, gostaríamos de atentar para o fato de que a palavra perdas, aqui, não se refere à perda de 98 conteúdo semântico. Como pudemos atestar na análise de dados, Gregory Rabassa exerceu uma grande proximidade ao original. Entretanto, as perdas se referem, aqui, a itens que não se encontram no mesmo patamar de coloquialidade. Entendemos, também, que, algumas vezes, o tradutor não dispõe de recursos lingüísticos que lhe permitam oferecer soluções tradutórias que mantenham o tom discursivo do original. Tal situação acontece em relação aos elementos culturais, por exemplo, pertinentes à cada cultura, o que não invalida o processo tradutório desde que o tradutor torne o seu leitor consciente das estratégias tradutórias utilizadas durante o processo. Nesse ínterim, concluímos o presente trabalho afirmando a percepção de que o esforço empreendido pelo tradutor Gregory Rabassa, ao reescrever o texto-fonte Capitães da Areia, disponibilizou, ao público leitor norte-americano, um pouco da cultura brasileira, especialmente, a cultura baiana. Gostaríamos, sobretudo, de parabenizá-lo pelo seu grande trabalho não somente de tradutor, mas também de pesquisador.

99

REFERÊNCIAS

DICIONÁRIOS

CABRAL, Tomé. Dicionário de termos e expressões populares . Fortaleza: Edições UFC, 1982. 786 p. COLLINS COBUILD DICTIONARY OF IDIOMS: helping learners with real English. University of Birmighan.1995. DICIONÁRIO INFORMAL. Disponível em: www.dicionarioinformal.com.br. Acesso em 04 de março de 2009. DUBOIS, Jean; GIACOMO, Mathée; GUESPIN, Louis; MARCELLESI, Christiane; MARCELLESI, Jean-Baptiste; MEVEL, Jean- Pierre. Dicionário de Linguística . Trad. Izidoro Blikstein. São Paulo: Cultrix, 2006. 653p. HOUAISS, Antônio. Dicionário Houaiss da língua portuguesa . Rio de Janeiro: ed. Objetiva, 2007. 2922p. LARIÚ, Nivaldo. Dicionário de baianês . 3 ed. rev. e ampl. Bahia: Empresa gráfica da Bahia (egba), 2007. LONGMAN DICTIONARY OF ENGLISH IDIOMS. Prepared by Laurence Urdang Associates Ltd for Longman Group Ltd. Longman . Second Impression. Singapore. 1990. 378p. LONGMAN DICTIONARY OF ENGLISH LANGUAGE AND CULTURE: with colour illustrations. England. Longman , 1992. 1528p. MERIAM WEBSTER. Disponível em: www.meriam-webster.com. Acesso em 18 de março de 2009. NEW WEBSTER´S DICTIONARY AND THESAURUS OF THE ENGLISH LANGUAGE. USA, 1992.1,248p. SCHAMBIL, Maria Helena; SCHAMBIL, Peter. Dicionário de expressões idiomáticas da língua inglesa . Rio de Janeiro: DIFEL, 2002.560p. SERRA E GURGEL, J.B. Dicionário de gíria : modismo lingüistico o equipamento lingüístico falado do brasileiro. 5 ed. Brasília: Editora Mania de Livro, 1998. 471p. SOUTO MAIOR, Mario. Dicionário do palavrão e termos afins . 3 ed. Recife: Guararapes, 1980. 166p. WEBSTER´S NEW WORLD DICTIONARY: OF AMERICAN ENGLISH. 3rd college ed. 4 th priting. Cleveland & New York, 1988. 1557p. WENTWORTH, H; FLEXNER, S.B. Dictionary of American Slang . 2 nd ed. New York, 1834. YOURDICTIONARY. Disponível em: www.yourdictionary.com. Acesso em 04 de março de 2009.

LIVROS 100

OBRA DE JORGE AMADO. Disponível em www.companhiadasletras.com.br. Acesso em 22 de agosto de 2008. AMADO, Jorge. Capitães da Areia . 26. ed. São Paulo: Livraria Martins Editora, S.A. 1970. 292p. AMADO, Jorge. Discurso de posse na Academia Brasileira de Letras .1961. AMADO, Jorge. Jorge Amado na primeira do singular : este é um depoimento inédito. O autor de Tieta do agreste fala de sua infância e de sua Bahia. O testemunho de Jorge foi gravado no dia 08 de agosto de 1977, especialmente para os arquivos de literatura Ibérica. RECORD, Rio de Janeiro, jan.1978. p. 4-5. AMADO, Jorge. Trem da leste brasileira. In: ANTELO, Raúl (Org.). Jorge Amado . A ronda das Américas: relatos de viagem pela América Latina publicados pelo jornal Dom Casmurro, do Rio de Janeiro, em 1938. Salvador: FCJA, 2001.p.15-23. ARROJO, Rosemary. A pesquisa em teoria da tradução ou o que pode haver de novo no front. In: ARROJO, Rosemary (org). O signo desconstruído : implicações para a tradução, a leitura e o ensino. 2. ed. Campinas/ SP: Pontes, 2003. p.108-112. ARROJO, Rosemary. A questão da fidelidade. In: ARROJO, Rosemary. Oficina de tradução : a teoria na prática. São Paulo: Ática, 1986. p.37-45. ARROJO, Rosemary. As questões teóricas da tradução e a desconstrução do logocentrismo: algumas reflexões. In: ARROJO, Rosemary (org). O signo desconstruído : implicações para a tradução, a leitura e o ensino. 2.ed. Campinas/ SP: Pontes, 2003. p.71-79. ARROJO, Rosemary. Compreender x interpretar e a questão da tradução. In: ARROJO, Rosemary (org). O signo desconstruído : implicações para a tradução, a leitura e o ensino. 2. ed. Campinas/ SP: Pontes, 2003. p.67-70. ARROJO, Rosemary. Os “estudos da tradução” como área de pesquisa independente: dilemas e ilusões de uma disciplina em (des) construção. DELTA, 1998, vol.14, no. 2. ARROJO, Rosemary; RAJAGOPALAN, Kanavillil. A noção de literalidade: metáfora primordial. In: ARROJO, Rosemary (org). O signo desconstruído : implicações para a tradução, a leitura e o ensino. 2. ed. Campinas/ SP: Pontes, 2003. p.47-55. AUBERT, Francis Henrik. Os referentes e suas expressões no código. In: AUBERT, Francis Henrik. As in(fidelidades) da tradução : servidões e autonomia do tradutor. Campinas/ SP: EDUNICAMP,1993. p.43-52. AUBERT, Francis Henrik. Introdução. In: AUBERT, Francis Henrik As in(fidelidades) da tradução : servidões e autonomia do tradutor. Campinas/ SP: EDUNICAMP,1993. p.7-14. AUBERT, Francis Henrik. As mensagens e os limites da fidelidade. In: AUBERT, Francis Henrik. As in(fidelidades) da tradução : servidões e autonomia do tradutor. Campinas/ SP: EDUNICAMP,1993. p.73-77. BARTHES, Roland. A morte do autor. In: BARTHES, Roland. O rumor da língua . 2.ed. São Paulo: Martins Fontes, 2004. Parte II, p. 57-64. 101

BASTIANETTO, Patrizia Collina. Vinay, Jean-Paul; Darbelnet, Jean. Stylistique compare du français et de l’angais: méthode de traduction. In: VIEIRA, Else Ribeiro Pires. Teorizando e contextualizando a tradução . Belo Horizonte, 1996. p. 13-40. BASTIANETTO, Patrizia Collina; CORREIA, Meire de Mello; COSTA, Maria Carmem Dayrell G. da; CARVALHO, Glória Maria de Mello. Eugene Nida: toward a science of translating. In: VIEIRA, Else Ribeiro Pires. Teorizando e contextualizando a tradução . Belo Horizonte, 1996. p. 71-94. BATALHA, Maria Cristina; PONTES JUNIOR, Geraldo. Conclusão separando o fato da ficção: o tradutor em sua prática. In: BATALHA, Maria Cristina; PONTES JUNIOR, Geraldo. (orgs.) Tradução : conceitos fundamentais. Petrópolis/ RJ: Vozes, 2007.p. 95- 99. BATALHA, Maria Cristina; PONTES JUNIOR, Geraldo. Enfoques lingüísticos sobre a tradução. In: BATALHA, Maria Cristina; PONTES JUNIOR, Geraldo.(orgs.) Tradução : conceitos fundamentais. Petrópolis/ RJ: Vozes, 2007.p.19-66. BENJAMIN, Walter. The task of the translator: an introduction to the translation of Baudelaire’s tableaux parisiens. In: BENJAMIN, Walter. Illuminations essays and reflections .Trad. Harry Zohn. New York: Schoken Books, 1968. BEZERRA, Paulo. Prefácio do livro Jorge Amado: romance em tempo de utopia. In: EDUARDO DE ASSIS DUARTE. 2. ed. Record, 1996. BICALHO, Ana. A Tradução Literária. In: BICALHO, Ana. Graciliano Ramos, Valerie Rumjanek e o processo de (re)criação em La Peste de Albert Campus .Universidade Federal da Bahia. Salvador, 2006. p. 13-26. BLUESTONE, George. The limits of the novel and the limits of the film. In: BLUESTONE, George. Novels and film . Baltimore/ London: The Johns Hopkins lin.Press, 2003. CAMPOS, Geir. Normas gerais de tradução. In: CAMPOS, Geir. O que é tradução . 1. reimp.Brasiliense. São Paulo. 2004. Coleção primeiros passos. p. 52-56. CAMPOS, Geir. Tradução e comunicação. In: CAMPOS, Geir. O que é tradução . 1. reimp. Brasiliense. São Paulo. 2004. Coleção primeiros passos. p.55-64. CATFORD, John Cunnison. Tradução: definição e tipos gerais. In: CATFORD, John Cunnison. (org.). Uma teoria lingüística da tradução : um ensaio de lingüística aplicada. Trad. do centro de especialização de tradutores de inglês do instituto de letras da pontifícia universidade católica de campinas. Rev. Maria da Glória Novak. São Paulo: Cultrix, 1980. 123p. cap.2, p.22-28. CHAMBERLAIN, Lori. Gênero e a metafórica da tradução. In: OTTONI, Paulo (org). Tradução : a prática da diferença. 2 ed.rev. Campinas/ SP: EDUNICAMP, 2005. 174p. p.37-58. DELILLE, Karl Heinz et alli. Para um modelo de crítica da tradução literária. In: DELILLE, Karl Heinz. HORSTER, Maria Antônio; CASTENDO, Maria Esmeralda; DELILLE, Maria Manuela Gouveia; CORREIA, Renato. (orgs.) Problemas da tradução literária . Coimbra: Almedina, 1986. p.7-46. DERRIDA, Jacques. A tradução é desde sempre resistência: reflexões sobre teoria e história da tradução. In: OTTONI, Paulo Tradução manifesta : double bind & acontecimento. Campinas/ SP: EDUNICAMP; EDUSP, 2005. 102

DERRIDA, Jacques. Carta a um amigo japonês. Trad. Érica Lima. In: OTTONI, Paulo (Org.). Tradução : a prática da diferença. 2. ed. rev. Campinas: EDUNICAMP; FAPESP, 2005. p. 21-28. DERRIDA, Jacques. Compreensão e interpretação no ato de traduzir: reflexões sobre o enunciado e a significação. In: OTTONI, Paulo. Tradução manifesta : double bind & acontecimento. Campinas/ SP: EDUNICAMP; EDUSP, 2005. DERRIDA, Jacques. Torres de Babel . Trad. de Junia Barreto. 1. reimp. Belo Horizonte: EDUFMG, 2006. DUARTE, Eduardo de Assis. A aprendizagem romanesca. In: DUARTE, Eduardo de Assis.(org.). Jorge Amado : romance em tempos de utopia. Natal: UFRN. EDUNI, 1995. p.45-67. EVEN-ZOHAR, Itamar. Laws of literary interference. In: EVEN-ZOHAR, Itamar. Polysystem studies . Poetics today, Tel Aviv, v.11, n. 1, nov, 1990. p. 53-72. EVEN-ZOHAR, Itamar. Polysystem theory. In: EVEN-ZOHAR, Itamar Polysystem studies. Poetics today, Tel Aviv, v.11, n. 1, nov, 1990. p. 9-26. EVEN-ZOHAR, Itamar. The ‘literary system’. In: EVEN-ZOHAR, Itamar. Polysystem studies . Poetics today, Tel Aviv, v.11, n. 1, nov, 1990. p. 27-44. EVEN-ZOHAR, Itamar. The position of translated literature within the literary polysystem. In: EVEN-ZOHAR, Itamar. Polysystem studies . Poetics today, Tel Aviv, v.11, n. 1, nov, 1990. p. 27-44. GABREE, John. New & Notable. NEW YORK NEWSDAY. New York. 20.mar.1988. GENTZLER, Edwin. Polysystem theory. In: GENTZLER, Edwin. Contemporary translation theories . 2nd ed., Clevedon: multilingual, massers, 2001. GOLDSTEIN, Ilana Seltzer. O Brasil best seller de Jorge Amado : literatura e identidade nacional. São Paulo: Ed. SENAC, 2003. 321p. GUIDICINI, Lúcia Maria. Resgatando a dimensão humana do tradutor. In: ENCONTRO NACIONAL DE TRADUTORES, 4; A tradução : alvos e ferramentas. São Paulo: USP/ FFLCH/ DLM/ CET, 1990. p. 65. JAKOBSON, Roman. Aspectos lingüísticos da tradução. In: JAKOBSON, Roman. Lingüística e comunicação . Trad. Isidoro Blikstein; José Paulo Paes. São Paulo: Cultrix, 1970. p.63-72. JAKOBSON, Roman. Lingüística e comunicação . Trad. Izidoro Blinkstein; José Paulo Paes. São Paulo: Cultrix, 1969. LAMBERT, José; VAN GORP, Hendrik. On Describing translations. In: HERMANS, Theo (Ed.) The manipulation of literature . Studies in literary translation. London / Sydney: Croom Helm, 1985. LEFEVERE, André. O sistema: mecenato. In: LEFEVERE, André. Tradução, reescrita e manipulação da fama literária . Trad. Claudia Matos Seligman. Coleção Signum. Bauru, São Paulo: EDUSC, 2007. p. 29-49. LEFEVERE, André. Pré-escrever. In: LEFEVERE, André. Tradução, reescrita e manipulação da fama literária . Trad. Claudia Matos Seligman. Coleção Signum. Bauru, São Paulo: EDUSC, 2007. p. 13-27. 103

LEFEVERE, André. Tradução, reescrita e manipulação da fama literária. Trad. Claudia Matos Seligmann. São Paulo: EDUSC, 2007. 263p. LIMA, Luciano Lima. De como Jorge Amado, da Bahia, navegou, por tanto tempo, fora do alcance dos canhões sem mira da crítica universitária brasileira . Disponível em: http://www2.docentes.uneb.br/lucianolima/ MARTINS EDITORA (Org.). Jorge Amado : trinta anos de literatura. São Paulo: Martins, 1961. MCDOWELL, Edwin. Boom in U.S. for latin writers . New York Times. 1988. Disponível em: http://query.nytimes.com/gst/fullpage.html?res=940DE1DD143DF937A35752C0A96E. ... Acessado em 23/8/2008. 16:22 MOUNIN, Georges. Os problemas teóricos da tradução. Trad. Heloysa de Lima Dantas. São Paulo: Cultrix, 1975. NEA News Room. htpp://arts.endow.gov/news/news06/medals/Rabassa.html. Acessado em 25/03/2007. 19:31 NIDA, Eugene A. Toward a Science of Translating with Special Reference to Principles and Procedures Involved in Bible translation. Leiden: Brill, 1964. OTTONI, Paulo. A tradução é desde sempre resistência: reflexões sobre teoria e história da tradução. In: OTTONI, Paulo Tradução manifesta : Double bind & acontecimento. São Paulo: EDUNICAMP, 2005. PAES, José Paulo. A tradução literária no Brasil. In: PAES, José Paulo. Tradução a ponte necessária: aspectos e problemas da arte de traduzir . São Paulo: Ática, 1990. 127p. cap.1, p.09-31. ( Série Temas. vol 22). PAES, José Paulo. Sobre a crítica de tradução. In: PAES, José Paulo. Tradução a ponte necessária: aspectos e problemas da arte de traduzir . São Paulo: Ática, 1990. 127p. cap.9, p.109-118. (Série Temas. Vol 22) PAES, José Paulo. Sobre a tradução de poesia: alguns lugares comuns e outros nem tanto. In: PAES, José Paulo. Tradução a ponte necessária: aspectos e problemas da arte de traduzir . São Paulo: Ática, 1990. 127 p. cap.2, p. 33-48. ( Série Temas. vol 22). PLAZA, Júlio. Tradução intersemiótica . São Paulo: Perspectiva, 2003. PORTELLA, Eduardo. A fábula em cinco tempos. In: MARTINS EDITORA (Org.). Jorge Amado 30 anos de literatura . São Paulo: Martins, 1961, p.13-26. RABASSA, Gregory. Captains of the Sands . USA. Avon: 1988. RABASSA, Gregory. Publicação eletrônica [mensagem pessoal]. Mensagem recebida por < [email protected]> em 19 ago. 2008. RABASSA, Gregory. If this be treason : translation and its discontents a memoir. New York: a new directions book, 2005. 189p. RABASSA, Gregory. No two snowflakes are alike: translation as metaphor. In: BIGUENET, John; SCHULTE, Rainer. The craft of translation . London: The University of Chicago Press, 1992. RAILLARD, A. Conversando com Jorge Amado . Trad. Annie Dymetman. Rio de Janeiro: Record, 1992. 104

RAMOS, Ana Rosa Neves. O “Velho Marinheiro” e os Capitães da Areia. In: Ana Rosa Neves Ramos et al. Capitães da Areia II curso Jorge Amado . Apres. Miriam Fraga; rev. Vera Rollemberg; textos de Ana Rosa Neves Ramos et al. Salvador: FCJA, 2004.102p. p.19-38. REVISTA DA LÍNGUA PORTUGUESA. Jorge Amado. Ano III. No 33. jul. 2008. ROCHE, Jean. Jorge bem/mal Amado . São Paulo: Cultrix.1987 RODRIGUES, Cristina Carneiro. Lingüística e tradução. In: RODRIGUES, Cristina Carneiro. Tradução e diferença . São Paulo: UNESP, 2000. cap. 1, p.25-100. RUBIM, Rosane.; CARNEIRO, Maried. Jorge Amado 80 anos de vida e obra : subsídios para a pesquisa. 2. ed.. Salvador: Fundação Casa de Jorge Amado, 2004.184p. Coleção Casa de palavras série Acervo Jorge Amado. SALAH, Jacques. A Bahia de Jorge Amado. Salvador: Fundação Casa Jorge Amado, 2008.320p. SAN FRANCISCO CHRONICLE. The lost boys of Brazil . [San Francisco]. 1988. SAUSSURE, Ferdinand. Curso de lingüística geral . Trad. Antônio Chelini, José Paulo Paes e Izidoro Blikstein.São Paulo: Cultrix, 1972. STEINER, George. Entender es traducir. In: STEINER, George. Despues de Babel : aspectos del lenguaje y la traduccion.Trad.Adolfo Castañon. México: Fondo de cultura econômica, 1980. p. 13-68. TORRE, Esteban. Alternativas de la traducción. In: TORRE, Esteban. Teoría de la traducción literaria . Madrid: Sintesis,1994. p.121-157. TOURY, Gideon. Descriptive translations studies and beyond . Amsterdam / Philadelphia: John Benjamins, 1995. VENUTI, Lawrence. A invisibilidade do tradutor . In: PALAVRA 3. Trad. Jorge Wanderley. Rio de Janeiro, 1995. p.111-134. VENUTI, Lawrence. A formação de identidades culturais. In: VENUTI, Lawrence. Escândalos da tradução: por uma ética da diferença . Trad. Laureano Pelegrin, Lucinéia Marcelino Villela, Marileide Dias Esqueda, Valéria Biondo. Bauru/ SP: EDUSC, 2002.394p. cap.4, p.129-168. VENUTI, Lawrence. Autoria. In: VENUTI, Lawrence. Escândalos da tradução: por uma ética da diferença . Trad. Laureano Pelegrin, Lucinéia Marcelino Villela, Marileide Dias Esqueda, Valéria Biondo. Bauru/ SP: EDUSC, 2002. 394p. cap.2, p.65-92. VENUTI, Lawrence. Heterogeneidade. In: VENUTI, Lawrence. Escândalos da tradução: por uma ética da diferença . Trad. Laureano Pelegrin, Lucinéia Marcelino Villela, Marileide Dias Esqueda, Valéria Biondo. Bauru/ SP: EDUSC, 2002.394p. cap.1, p.21-63. VENUTI, Lawrence. Invisibility. In: VENUTI, Lawrence. The translator’s invisibility : a history of translation. London: Routledge, 1995. 42p. cap.1, p.1-42. VIEIRA, Else Ribeiro Pires. A interação do texto traduzido com o sistema receptor: a teoria dos Poli- Sistemas. In: VIEIRA, Else Ribeiro Pires (org). Teorizando e contextualizando a tradução . Belo Horizonte: FALE/ UFMG, 1996.

1

ANEXO I – MATERIAIS COMPLEMENTARES

QUESTIONS

1. What's your personal view of translation?

1. According to Venuti an individualistic concept of authorship continues to prevail in Anglo- American culture. According to this conception the author freely expresses his thoughts and feelings in writing, which is thus viewed as an original and transparent self-representation, unmediated by transindividual determinants (linguistic, cultural and social) that might complicate authorial originality. This view of authorship carries two disadvantageous implications for the translator. On the one hand, translation is defined as a second-order representation: only the foreign text can be the original whereas the translation is derivative, fake, potentially a false copy. On the other hand translation is required to efface its second- order status with transparent discourse, producing the illusion of authorial presence whereby the translated text can be taken as an original. Bearing in mind the first implication for the translator, do you consider your translations second-order representarions - only the foreign text is the original whereas the translations are derivative?

2. How were the reactions of the academic field to your translations in general?

3. Do you think British and American copyright law has a clear opinion whether translator is or is not a writer? What's your opinion about the term "work-for-hire"?

4. Did you make a lot of interventions into the foreign text "Capitães da Areia" to make it fluent?

5. Was the translation "Captains of the sands" important in your career? Did it bring much prestige?

6. Why was the book "Capitães da Areia" chosen to be translated among many others by Jorge Amado?

7. Do you think the translation of "Captains of the sands" intended, somehow, to introduce a new concept into the English literature? Which concept was that?

8. Was "Captains of the sands" intended to innovate American literature?

9. The translation of "Captains of the sands" was aimed at which audience?

10. Before translating do you think the book "Capitães da Areia" could be tumed into fluent English translation?

11. According to Lawrence Venuti in his book "The translator' s Invisibility" a fluent translation is written in English that is current (“modern") instead of archaic, that is widely used instead of specialized (“jargonization") and that is standard instead of colloquial ("slangy"). In your translation of "Captains of the sands" we can identify a lot of colloquial expressions; even so, do you consider your translation fluent?

2

12. According to Lawrence Venuti, the translator could choose between a domesticating method - an ethnocentric reduction of the foreign text to target language cultural values, bringing the reader home - and a foreignizing method -an ethnodeviant pressure on those values to register the linguistic and cultural difference of the foreign text sending the reader abroad. From these points of view how was the translation of "captains of the sands" done?

13. What was your intention when you translated "Capitães da areia"? 3

4

5

Dear Gregory Rabassa,

Since your answers were of great value and help for my research, my adviser Mr.Gustavo Gama and I came to the conclusion that they could generate other questions, as it usually happens in the field of research. We apologize for disturbing you once again but we hope you can be as helpful as you were the first time

1. In the questions I sent you earlier, you told me that the translation of the book Captains of the Sands was overshadowed by other books the critics deemed of greater importance. Does it mean that translations of Latin American literature or even Brazilian literature was seen as peripheral in the contest of the American Academia?

2. In your book “If this be treason”, you said you translated Sea of Death in 1984. However, in the questions I sent you, you also said that it came out in 1988 in the same Latin American series as Captains of the sands. Was it re-published?

3. Who was the organizer of this Latin American series which included the book Captains of the sands?

4. In your opinion, why was Jorge Amado included in the series?

5. How much influence /interference of the publisher or organizer did you have in your work as a translator? Was there any revision of your text by the publisher? If it was the case. Do you remember which points were those?

6. Was this Latin American series intended to create a Latin American image? If so, which image was that?

7. After this series, did you observe any changes within American Literary system? Perhaps a new concept was introduced or a new way of doing literature? I am asking my question having as a basis the polisystems theory. I don't if this is really relevant.

8. What would be considered a canon within the foreign literature at the time of the translation of Captains of the Sands? 6

19 de Agosto, 2008 Nova Y ork

Dear PriscilIa,

I am in receipt of your new queries via Dominion Coutinho, to whom I shall pass my answers on for a more up-to-date means of transmission. You can tell Professor Ribeiro da Gama that I do not know Professor da Costa but that I would like to meet them both someday. Now to the questions:

1. The translations came out late and these were more recent novels about in translations including some of Jorge's. Sadly, Latin American Literature, including Brazil' s, has never gotten over the stamp of being something exotic. Foreign writing has never done well here except for an occasionalIy breakthroughs and what is published by Americans writers ans sell is generally rather banal. 2. Captains of the Sands were subsequently in another paperback edition of a little different size. 3. I can't remember the name of the one who organizes the Bard Books Latin American series. He had a masterful collection but it never realIy took off. 4. He stood out alongside the good Spanish American writers included. 5. This varied according to book. The only problem I had was when they insisted on "dumbing down" José Jegama Lima's Paradiso. 6. I don´t think so. The books are varied. I think they were taking adventage of the so-calIed Boom. 7. I don't see much system here except the making of money and with García Márques et al. Latin American literature was "hot". 8. As I say above, the only canon I can see is a rather loose one and it is all a matter of Mammon.

Gregory Rabassa.

7

8

9

10

11

12

1

ANEXO II – OS DIÁLOGOS

1 BIG JOÃO / PROFESSOR JOÃO GRANDE / PROFESSOR

“Nice, Professor?” - Bonita, Professor? “A crazy story, Big Boy”. His eyes were - Uma história porreta, seu Grande. – shinning. Seus olhos brilhavam “About sailors?” - De marinheiro? “It’s about a black man like you. A real he-man - É de um negro assim como tu. Um black.” negro macho de verdade. “Will you tell it to me?” - Tu conta? “I’ll tell it to you as soon as I finish reading it. - Quando findar de ler eu conto. Tu You’ll see that only a black man…” vai ver só que negro...

2 LEGLESS / OTHER CAPTAINS OF THE SEM –PERNAS / OUTROS SANDS CAPITÃES DA AREIA

“I’ve seen a ring, you guys, that even a bishop - Vi um anelão, seu mano, que nem de doesn’t wear. A nice big ring, fine for my bispo. Um anelão bom para meu dedo. finger. Real fine. You’ll see when I bring it Batuta mesmo. Tu vai ver quando eu back…” trouxer... “Where’s the showcase?” - Em que vitrina? “On a sucker’s finger. A fat guy who gets on - No dedo de um pato. Um gordo que the Brotas streetcar at the Baixa dos Sapateiro todo dia toma o bonde de Brotas na every day.” Baixa do Sapateiro.

3 LEGLESS / CAT SEM-PERNAS / GATO

“Risking jail for a piece of junk! An ugly - Arriscar cadeia por uma porcaria! thing…” Um troço feio... “What’s it to you? I like it and that’s that.” - Que tem tu com isso? Eu acho bom tá acabado. “You’re a real jackass. The pawnbroker won’t - Tu é burro mesmo. Isso no prego não give you a penny for it.” dá nada. “But it looks nice on my finger. I’m fixing to - Mas dá simpatia no meu dedo. Tou gobble up something nice with it.” arranjando uma comida.

2

4 PEDRO BALA/ LEGLESS/BIG JOÃO/ PEDRO BALA / SEM-PERNAS/ PROFESSOR JOÃO GRANDE / PROFESSOR “Come here, Professor” - Vem cá, Professor. “González at the “14” spoke to me today…” - Gonzalez do “14” falou hoje comigo... “Does he want more gold chains? The last - Quer mais corrente de ouro? Da time…” outra vez... “No. He wants hats. But only felt. Straw’s no - Não. Tá querendo chapéu. Mas só good, he says there’s no market for it. And topa de fêltro. Palinha não vale, diz also…” que não tem saída. E também... “What else?” - Que é que tem mais? “If it’s been worn a lot it’s no good.” - Tem que muito usado não presta. “He wants a lot. If he paid something it would - Tá querendo muita coisa. Se ainda be worth it…” pagasse que valesse a pena... “You know, Legless, he keeps his mouth shut. - Tu sabe, Sem-pernas, que êle é um Maybe he doesn’t pay good, but he’s tight- bicho calado. Pode não pagar bem, lipped. You can’t get anything out of him, not mas é uma cova. Dali não sai nada, even with a hook.” nem a gancho. “He pays rotten too. And it’s in his own interest - Também paga uma miséria. E é not to say anything. If he was to open his mouth interesse dele não dizer nada. Se ele to everybody there’s no kind of influence would abrir a boca no mundo não há costas keep him out of the pokey…” largas que livre ele do xilindró... “O.k., Legless, if you don’t want a piece of the - Tá bom, Sem-Pernas, você não quer action, beat it, but let us get our things straight.” topar o negócio vá embora, mas deixe a gente combinar as coisas direito “I’m not saying I’m not in. I’m just saying that - Não tou dizendo que não topo. Tou working for a thieving foreigner is a bad deal. só falando que trabalhar para gringo But if you want to…” ladrão não é negócio. Mas se tu quer... “He says he’ll pay better this time. Something - Ele diz que desta vez vai pagar to make it worthwhile. But only felt hats, in melhor. Uma coisa que pague a pena. good shape and new. You, Legless, can take Mas só chapéu de feltro bom e novo. some guys and get it done. Tomorrow night Tu, Sem-Pernas, podia ir com uns González is sending over a clerk from the ‘14’ fazer esse negócio. Amanhã de noite to bring the dough and take the bonnets.” Gonzalez manda um empregado do “14” aqui pra trazer os miúdos e levar as carapuças.” “The movies are a good place” - Bom lugar é nos cinemas “The Victoria’s a good spot…” “Just go into the - Bom é na Vitória...- É só entrar nos lobby and a hat is guaranteed…All fat cats corredores e aquilo é chapéu there.” garantido... Tudo gente de nota. “They’ve also got guards all over the place.” - Também tem guarda em penca... “Are you worried about guards? Now if it was a - Tu liga pra guarda? Se ainda fosse cop… Guards are only for playing hide-and- “tira”... Guarda é pra correr “picula”. seek. Will you come with me, Professor?” Tu vai comigo professor? “I’ll come. I even need a hat myself.” - Vou. Mesmo que tou precisando de um chapéu. “Pick whoever you want, Legless. This is your - Arranja os que quiser, Sem-Pernas. show. Except for João and the Cat. I’ve got Este negócio fica por tua conta. Menos something for them to do tomorrow…” o Grande e o Gato, que eu tenho um “Something with God’s – Love.” negócio para eles amanhã. – Um 3

negócio do Querido-de- Deus. “He already told me. And he say’s he’s coming - Ele já teve me avisando. E diz-que over at night for some capoeira.” de noite vem pra capoeira. “Hey, Legless, tell them that if anyone is - Olha, Sem-Pernas, tu trata de avisar spotted to run off somewhere else. Not to come que se algum fôr bispado trate de dar o back here.” suíte para outro lado. Não venha para cá.

5 LEGLESS/ OTHERS SEM-PERNAS/ OUTROS

“A bunch of squirts like you? Who’s going to - Uns franguinhos como vocês, quem believe that you’re capable of mounting a é que vai acreditar que seja capaz de woman? It must have been some faggot dressed derrubar uma mulher? Isso devia ser up as a girl.” algum chibungo vestido de menina. “You like to mess around too. If you want to, - Tu também se faz de bêsta. Se quer é all you’ve got to do is come with us tomorrow. só vim com a gente amanhã. Assim tu That way you can get to know the broad, she’s pode conhecer a zinha que é um stacked.” peixão. “I don’t like fairies.” - Não gosto de chibungo.

6 CAT/GOOD LIFE GATO/ BOA-VIDA

“Let me have them, I know where we can sell - Deixa estar, que eu sei onde se pode them.” vender. “I was thinking of using them myself. I need a - Eu tava querendo êles pra mim. Já pair…” tou precisando. “You with such a good pair on you…?” - Tu com um sapato ainda tão bom... “I’ll pay you your share. How much do you - Eu pago a tua parte. Quanto tu think it is?” pensa? “You really are a dude, aren’t you?” - Tu é da elegância, hein? “I wasn’t born for this life. I was born for the - Não nasci para essa vida. Nasci para big world” o grande mundo. “You keep them… I’ll give you my share.” - Tudo pode ficar com ele... Eu te dou a minha parte. “O.k. I owe you.” - Tá certo. Fico te devendo.

4

7 CAT/GOOD LIFE GATO/ BOA VIDA “I’ve got a sheet here. It’s big enough for two” - Tenho aqui um lençol. Dá para nós dois. “You’re fooling yourself mulatto. I’m a man” - Tu te enganou mulato. Eu sou é homem. “He thought I was queer. Do your dirty things Ele pensava que eu era maricas. Tu te to yourself.” faz de bêsta.

8 CAT / DALVA GATO / DALVA

“Aren’t you the kid who hangs out on the - Tu não é um frangote que fica na corner all night?” esquina tôda noite? “I’m the one who hangs out on the corner. As - Quem fica na esquina sou eu. Agora for the Kid business…” essa coisa de frangote... “Will you do me a favor? I’ll give you - Tu quer me fazer um favor? Te dou something,” “No. You must be waiting for your uma coisa – Não. Tu com certeza tá little nibble and you haven’t got any time to esperando tua comida e não vai perder waste.” tempo. “I can, sure. The one I’m waiting for isn’t - Posso, sim. A que tou esperando não coming now. ” vem agora. “Then what I want, boy, is for you to go to the - Então eu quero, filhinho, que tu vá Rua Rui Barbosa. Number thirty-five. Look for na Rua Rui Barbosa. O número é 35. Gastão. He´s on the second floor. Tell him I´m Procura seu Gastão. È no primeiro waiting” andar. Diz a êle que estou esperando.

9 CAT / GASTÃO / BÉBÉ GATO/ GASTÃO/ BEBÉ

“Dalva sent me.” - Venho da parte de Dalva. “Tell that bag to stop bothering me. I’ve had it - Diga àquela bruaca que não me up to here with her…” amole. Tou chateado dela até aqui... “Who’s that little pimp…?” - Que é esse cocadinha?. “Keep out of this,” “It’s a message from that - Não te mete. – É um recado da bag Dalva. She’s in a tizzy because I haven’t bruaca da Dalva. Tá se pelando que eu come back.” volte. “But you only love your little Bebé now, don’t - Mas tu agora só quer tua Bebézinha, you? Come give me a kiss, you angel without não é? Vem me dar um beijinho, anjo wings.” sem asas. “See, squirt? Tell that to Dalva.” - Tu vá vendo, pedaço de gente? Diz isso a Dalva. “I see an old whore stretched out there, yes, sir. - Tou vendo um couro espichado ali, What undertaker fixed you up with her, eh, sim senhor. Que urubu você arranjou, buddy?” hein, camarada? “Don’t talk about my girl friend.” “Do you - Não fale de minha noiva - Quer want a drink? It’s first-class stuff.” tomar um trago? É caninha da boa. “It’s just a kid. Don´t be afraid.” - É um filhote sòmente. Não faz mêdo. “That old whore doesn’t tempt me,” “Not even - Mesmo esse couro não me tenta. to jerk me off.” Nem para me tocar bronha.

5

10 CAT / DALVA GATO / DALVA “I’m coming in...” - Vou embocar... “What did he say?” - O que foi que êle disse? - No quarto te digo. Me mostre onde é. - O que foi que êle disse? “Sit here,” - Senta aqui – e indicou a cama. “This kid…” - Esse frangote... “Look, sweety, he’s tied up with another - Olha, bichinha, ele tá grudado com woman, see? I told them both off, too. Then I outra, sabe? Também eu disse as boas skinned the old whore” “Let’s split it.” aos dois. E depois pelei a bruaca – Vamos rachar isso. “So he’s with someone else, eh? But my Lord - Tá com outra, não é? Mas meu of Bonfim will cripple them both. The Lord of Senhor do Bonfim há de fazer com Bonfim is my patron saint.” que os dois fique entrevado. Senhor do Bonfim é meu santo. “Keep your money. You earned it fair and - Guarda teu dinheiro. Tu ganhou square.” direito. “Sit down, here.” - Senta aqui. “This kid is like a man...” - O frangote parece um homem... “I’m going to get a picture taken for you to put - Vou tirar um retrato para você botar up there.” aí. “Come here, my little devil. What a hoodlum - Vem, bichinho bom. Que malandro you’re going to be. I’ll teach you lots of things, não vai sair daí! Vou te ensinar tanta my little puppy.” coisa meu cachorrinho.

11 LEGLESS / CAT SEM-PERNAS / GATO

“Now you’ll show me the ring, eh?” - Agora tu vai mostrar o anel, não é? “What do you care about that?” - Tu não tem nada com isso – Tu quer “You just wanted to come to see if you could vir pra ver se topa alguma mulher que run across a woman who’d love you, crippled te queira assim coxo? the way you are, right?” “I don’t go to whorehouses. I know where - Não vou em casa de couros. Sei onde things worth the trouble are.” tem coisa que valha a pena.

12 PEDRO BALA/ LOLLIPOP/ OTHER PEDRO BALA/ PIRULITO/ UM CAPTAIN OF THE SANDS CAPITÃO DA AREIA

“Were you stealing from a comrade?” - Tu tá roubando um companheiro? “You leave tomorrow… I don’t want you with - Amanhã tu vai embora...Não quero our people anymore. You can go with mais tu com a gente. Vai ficar com a Ezequiel’s people, who live by stealing from gente de Ezequiel que vive roubando one another.” uns dos outros. “I only wanted to see…” - Eu só queria era ver... “What did you come to see with your hands?” - Que era que tu vinha ver com as mãos? 6

“I swear, it was only to take a look at the medal - Juro que era só para ver aquela he has.” medalha que ele tem.. “Let’s have the straight story or I’ll give you a - Desembucha esta história direito se licking.” não leva porrada. “Leave him alone, Pedro. He just may have - Deixa êle, Pedro. Era bem capaz de come to take a look at the medal. It’s a medal querer ver mesmo a medalha. É uma Father José gave me.” medalha que o padre José me deu. “That’s the one.” “I just wanted to take a look. I - É isso mesmo - eu só queria ver. Juro swear” “I’m going to tell it so you’ll know. It was a girl - Vou contar pra você saber. Foi uma I saw today. She was in the Cidade de Palha. I’d garota que eu vi hoje. Tava na Cidade gone into a store with the idea of lifting a de Palha. Eu tinha entrado na casa jacket, when she came over and asked me what com idéia de abafar um paletó, quando I wanted. Then we started to talk. I told her I’d ela veio e ficou perguntando o que eu bring her a present tomorrow. Because she was queria. Aí topamos a conversar. Eu good, real good to me, see?” disse que amanhã ia levar um presente para ela. Porque foi boa, boa assim comigo, sabe? “Take it. Give it to her. But don’t tell Pedro - Tome. Dê a ela. Mas não conte a Bala.” Pedro Bala.

13 PROFESSOR / DRY GULCH PROFESSOR / VÔLTA SECA “Professor…Professor…” - Professor...Professor... “What is it?” - O que é? “I want something” - Eu quero uma coisa. “Oh, it’s you, Dry Gulch. What do you want?” - É tu, Volta Sêca? Que é tu quer? “I want you to read this so I can hear the news - Quero que tu leia pra eu ouvir essa about Lampião that’s in the Diário. They’ve got notícia de Lampião que o “Diário” his picture.” traz. Tem um retrato. “Let me read it to you tomorrow.” - Deixa pra amanhã que eu leio. “Read it today or tomorrow I’ll teach you the - Lê hoje, que eu amanhã te ensino a best way to imitate a canary.” imitar direitinho um canário.

14 CAT / BIG JOÃO / GOD´S LOVE / PEDRO GATO/ JOÃO GRANDE/QUERIDO- BALA DE-DEUS/ PEDRO BALA

“Who’s ready for a round?” - Quem topa uma ronda? “They’re more than just marked, Mr. Cat. A - Tá mais que marcado seu Gato. Um pretty old deck…” baralhinho bem velho... “If you’ve got another one it’s all the same to - Se tu tem outro eu não me importo. me.” “No. Let’s go along with these here” - Não. Vamos com êsse mesmo. “It’s about time. I’ve had a mother run of bad - Também já era tempo. Tava com um luck!” pêso filha da mãe! “You’re not going to play anymore?” - Tu não vai botar nada agora? “Not this time, I’ve got to piss…” - Agora não que vou mijar... “He’s got to go to his pocket…” - Vai entrar no capital… 7

“ I’m still behind” - Ainda tou perdendo “Aren’t you going to play anymore? Aren’t you - Tu não arrisca mais nada? Não vai going to bet on the queen?” na dama? “I’m tired of playing…” - Tou cansado de jogar… “Who’s in?” - Quem vai? “Do you think they’re marked? You can take a - Tá pensando que tem treita? Pode look. I play a clean game…” espiar. Eu faço jôgo limpo… “This black boy is dumb as a donkey in a door. - Êsse negro é burro como uma porta. You haven’t seen anything…” Tu não tá vendo…

15 CAT / BIG JOÃO / GOD´S LOVE / PEDRO GATO/ JOÃO GRANDE/QUERIDO- BALA / TWO SAILORS DE-DEUS/ PEDRO BALA/ DOIS MARINHEIROS

“Can anybody join the fun?” - Pode-se entrar nessa brincadeira? “This boy is the dealer.” - A banca é dêsse moço “When this guy Cat is lucky he’s got it all...” - Êsse Gato quando tem sorte é um caso sério... “When he loses too, he loses all night long ” - Também quando dá de perder, perde a noite toda. “Our luck has got to change…” - A sorte tem de virar... “Can the house cover five?” - A banca topa cinco mil? “O.K. I’ll cover it. Just so you can make up - Vá lá. Topo. Só pra dar meio de você your damage.” livrar teu prejuízo. “Now it’s the ace. A two, then a one…” - Agora é o ás. Dois, depois um... “ Tomorrow, when bad luck hits you, you’ll see - Amanhã, quando o pêso te pegar, tu me clean you out ” vai ver que te arraso. “All I’ve got is some small change to pay for - Tou só com os níqueis pra pagar a the beers. The kid’s good” cerveja. O garoto é um braço.

16 CAT / GOD´S LOVE GATO/ QUERIDO-DE-DEUS “Take it, nice guy. It was a trick, I don’t want to - Toma, batuta. Tinha trapaça, eu não pocket your dough…” quero embolsar teu cobre... “You’ll go a long way, kid. You can get rich - Tu vai longe, menino. Tu pode with those tricks.” enricar com essas treitas.

17 GOD´S LOVE / INTERMEDIARY QUERIDO-DE-DEUS / INTERMEDIÁRIO “Haven’t you ever heard of the Captains of the - Nunca ouviu falar dos Capitães da Sands?” Areia ? “Yes, maybe. But…” - Já, sim. Mas... “In any case, they’re the ones who are going to - De qualquer jeito quem ia tratar do take care of the business. That’s how it is…” negócio era êles. Daí...

8

18 CAT / PEDRO BALA / BIG JOÃO / WAITER GATO / PEDRO BALA / JOÃO GRANDE / GARÇON “We’ve run out. We haven’t got any more - Acabou tudo. Não tem mais bóia. grub.” “Don’t spin me a yarn, old man. We want to - Deixa de conversa fiada, meu tio. eat.” Nós quer comer. “If not we’ll turn this grease pot upside down.” - Se não a gente vira êsse frege- môscas de cabeça pra baixo. “Today we’re going to spend.” - Hoje nós vai fazer gasto.

19 CAT / PEDRO BALA / BIG JOÃO / MAN GATO / PEDRO BALA / JOÃO GRANDE /HOMEN “Have you got a light, sir?” - Pode me dar o fogo, senhor? “Is your name Joel?” - É o senhor que se chama Joel? “Why?” - Por quê? “God’s- Love sent us.” - Foi o Querido-de-Deus que nos mandou. “But you’re just kids. This isn’t any business - Porém são uns meninos! Isso não é for kids.” negócio para meninos. “ Just say what it is; we know how to do things - Diga o que é, a gente sabe fazer o right,” trabalho direito. “But it’s something that maybe not even - Mas se um negócio que talvez nem men…” homens... “We know how to keep a secret as good as - Nós sabe guardar um segrêdo tão under lock and key. And the Captains of the bem como um cofre. E os Capitães da Sands always always do a good job…” Areia sempre faz os serviços bem feito... “The Captains of the Sands? That gang the - Os Capitães da Areia ? Esse grupo de newspapers are talking about? Abandoned kids? que falam os jornais? De meninos That´s who you are?” abandonados? São vocês? “It sure is. And people who get things done.” - É a gente, sim. E dos que manda. “I’d rather turn this business over to men. But - Eu preferia entregar êsse negócio a since it’s got to be tonight…The way things homens. Mas como tem que ser esta are…” noite mesmo.... O jeito... “You´ll see how we work. Don´t be afraid.” - Vai ver como a gente sabe trabalhar. Não fique assustado. “Come with me. But let me go ahead. You stay - Venham comigo. Mas deixem que eu a few steps behind me.” vá na frente. Vocês irão uns passos atrás de mim.

20 CAT / PEDRO BALA / BIG JOÃO / MAN GATO / PEDRO BALA / JOÃO GRANDE / HOMEM

“What you people are going to do is hard and at - O que vocês vão fazer é difícil e ao the same time easy. What you have to know mesmo tempo é fácil. Agora o que tem now is that it’s something nobody must know é que é uma coisa que necessita que about. ” ninguém saiba. 9

“It won’t go beyond these four walls, ” - Não passa daqui. “It’s a quarter after one. He won’t be back until - São uma e um quarto. Êle só volta às two-thirty…” duas e meia... “Then there’s not much time,” “If you want us - Então não é muito tempo. – Se quer to go you’d better spit it out right away…” que a gente vá, é bom desembuchar logo. “Two streets up from here. It’s the next to the - Duas ruas adiante desta. É a last villa on the right. You’ll have to watch out penúltima chácara à direita. Tem que for a dog that must be loose already. He’s evitar um cachorro que já deve estar ugly.” solto. É bravo. “Have you got a piece of meat?” - O senhor tem aí um pedaço de carne? “What for?” - Pra quê? “For the dog. One piece should be enough.” - Pro cachorro. Um pedaço chega. “I’ll take a look later.” “You’ll go in the back - Verei já. – Vocês entram pelos way. Next to the kitchen, on the outside of the fundos. Junto da cozinha, na parte de house, there’s a room over the garage. It fora da casa, tem um quarto por cima belongs to the servant, who must be in the da garagem. É o do empregado, que house now waiting for his master. You’ll go in agora deve estar dentro de casa through his room. You’ve got to look for a esperando o patrão. É no quarto dêle package like this one, exactly like this …” que vocês vão entrar. Devem procurar “Just like this. I don’t know if it’s still in his um embrulho igual a este, igualzinho... room. It might be that the servant has it in his – É igualzinho. Não sei se ainda estará pocket. If that’s how it is nothing more can be no quarto. Também pode ser que o done about it.” “If I’d only been able to have empregado o tenha no bolso. Se assim gone this afternoon… It certainly must have fôr, nada mais se pode fazer. – Se eu been in the room then. But now, who knows?” tivesse podido ir esta tarde... Então, com certeza, ainda estaria no quarto. Mas agora quem sabe? “Even if the servant’s got it, we can bring it - Mesmo que esteja com o empregado back…” se pode trazer... “No. It’s essential that no one know how that - Não. É essencial que ninguém saiba package was stolen. What you’re going to do is que houve furto dêste embrulho. O exchange packages, if the other one is in the que vocês vão fazer é trocar os room.” embrulhos, se o outro estiver no quarto. “What if the servant’s got it?” - E se estiver com o empregado? “Then…” - Então… “Then we’ll swap the packages just the same. - Então a gente troca os embrulhos do You can rest easy. You don’t know the mesmo jeito. Pode ficar descansado. O Captains of the Sands” senhor não conhece os Capitães da Areia. “Then you can go. Afterwards, it has to be - Então podem ir. Depois, tem que ser before two o’clock, come back here. But only if antes de duas horas, voltem aqui. Mas the street’s deserted. I’ll wait for you. Then só quando a rua estiver deserta. Eu os we´ll settle our accounts. But I want to tell you esperarei. Acertaremos nossas contas something in all frankness. If you’re caught and então. Mas quero dizer outra coisa arrested don’t get me involved in the case. I lealmente. Se vocês forem percebidos won’t do anything for you because my name e presos, não me envolvam no caso. can’t be mixed up in this at all. Try to get rid of Nada farei por vocês, por que meu 10

this package and don’t call me for any reason. nome não pode aparecer nisso tudo. It’s a case of win or lose…” Tratem de dar fim a este embrulho e não me chamam para nada. É ganhar ou perder. “In that case” “we’ll have to fix a price first. - Neste caso – é preciso marcar o How much are you going to pay us?” preço antes. Quanto o senhor paga à gente? “I’ll pay a hundred milreis. Thirty for each one - Dou cem mil- réis. Trinta para cada e and ten extra for you”. mais dez para você. “You can give us fifty apiece and then we can - O senhor dá cinqüenta a cada e do business. That’s 150 clams for the three of parece que ainda vai fazer negócio. us. If not, you won’t get your package.” São cento e cinqüenta bicos pros três. Se não, não tem embrulho. “O.K.” - Está bem. “It’s not that we don’t trust you. But the whole - Não é que a gente desconfie do thing might go wrong and you said yourself that senhor. Mas a coisa pode sair pelo it wouldn’t matter what happened to us.” avêsso e o senhor mesmo disse que não se importaria com o que acontecesse à gente. “So?” - E daí? “It’s only right for you to give us something up - É justo que o senhor nos passe logo front.” algum. “Only right, yes. In case we don’t get to you - É justo sim. Se depois a gente não afterwards…” pode lhe recorrer... “Only right” - É justo. “It’s time to get going. It´s getting late.” - Agora toca a andar. Se faz tarde. “Rest easy. An hour from now we’ll be back - Pode ficar descansado. Daqui a uma with the package.” hora a gente volta com o embrulho.

21 BIG JOÃO / PEDRO BALA/ CAT JOÃO GRANDE/ PEDRO BALA/ GATO “I forgot the meat for the dog.” - Me esqueci da carne pro cachorro. “Don’t worry. This whole thing smells like a - Não tem nada. Isso me cheira a coisa love affair to me. That guy laid the missy from de amigamento. O sujeito aquêle here and now the servant has got the letters that derrubava a zinha daqui e agora o the two wrote each other and wants to blow a empregado tem as cartas que os dois whistle. That package is full of perfume. It’s se escrevia e quer dar o alarme. Este what the other one has we’ve got to get. ” pacote tá com perfume. É o que o outro há de ter. “You” “stay here on the street to give the alarm - Tu – fica aqui na rua para dar o if anyone comes. You, João, come in with me. alarma se vem alguém. Tu, Grande, entra comigo.

11

22 BIG JOÃO / PEDRO BALA JOÃO GRANDE / PEDRO BALA

“I feel sorry for her” - Tenho pena dela. “Who told her to go to bed with other men…?” - Quem manda deitar com outros... “Look, Big Boy, that servant there is sitting on - Olha, Grande, o tal empregado tá top of the package. You go to the street door, sentado em riba do embrulho. Tu vai ring the bell, and then disappear. It’s so the man chegar na porta da rua, apertar a will get up and I’ll snatch the package. But campanhia e sumir depois. È pro scram out right away so the man doesn’t see homem se levantar e eu abafar o you, he’ll think he was dreaming. Give me embrulho. Mas dá o suíte logo pro enough time to get to the kitchen.” homem não te ver, pensar que foi sonho. Deixa passar o tempo de eu chegar na cozinha.

23 BIG JOÃO / PEDRO BALA/ CAT JOÃO GRANDE/ PEDRO BALA/ GATO

“If he takes too long they’ll be coming.” - Se ele demorar, a gente entra. “Let’s go back in… ” - Vamos entrar de nôvo... “Where were you?” - Onde tu te meteu? “When I stuck my finger in the bell the lady up - Na hora que meti o dedão na there got all scared. She threw open the campainha entonce a dama lá em cima window, it looked like she was going to jump ficou muito assustada. Pegou, abriu a right there. She was looking out like to scare janela, parecia que is se atirar mesmo. you. She was even crying. Then I felt sorry and Espiava que fazia mêdo. Tava mesmo climbed up the drain pipe to tell her not to cry chorando. Entonce eu tava com pena e anymore because there was no reason to. That trepei pela bica pra dizer a ela que não we’d swiped the papers. And since I had to chorasse mais, que não tinha mais de explain everything to her it held me up…” quê. Que a gente tinha abafado os papéis. E como tive que explicar tudo a ela, tive que demorar... “She was good, eh?” - Era boa, era? “She was pretty, yes. She ran her hand over my - Era boa, sim. Passou a mão na minha head, then she said thank you very much, God cabeça, depois me disse que muito protect you.” obrigado, que Deus ia me ajudar. “Don’t be a booby, boy. I was asking if she was - Deixa de ser burro, negro. Eu tava te good for bed. If you got a look at her hips…” perguntando se era boa mas pra cama. Se tu viu o coxame... “I’d like to see the Spaniard’s face when his - Eu só queria ver a cara do galego boss opens the package and doesn’t find what quando o patrão abrir o pacote e não he expected.” encontrar o que esperavam.

12

24 Professor / Legless / Pedro Bala / Volta Sêca / Professor/ Sem-Pernas/ Pedro Bala / Another Captains of the Sands. Volta Seca/ Outros Capitães da Areia

“Do you know how to work the machinery - Tu já sabe mover as máquinas? yet?” “Tomorrow I’m going to learn…” “Tomorrow - Amanhã é que vou saber... – Mr. Nhôzinho is going to teach me.” Amanhã seu Nhôzinho vai me ensinar. “Then tomorrow, when the show is over, you - Então amanhã, quando acabar a can start it turning with just us. You get the função, tu pode botar êle para rodar só thing started and we’ll get on board.” com a gente. Tu bota as coisas para andar, a gente se aboleta. “Do you want to see something nice?” - Quer ver uma coisa bonita?

25 Pedro Bala / Legless / Professor / Cat PEDRO BALA / SEM-PERe NAS

“It’s no good causing any damage for your - Não paga a pena dar um prejuízo ao boss,” teu patrão. “I know it backwards and forwards. It’s a - Já sei tudo aquilo de cor e decorado. snap.” É o tipo da coisa canja. “Wouldn’t it be good if we stopped by the - Não era bom a gente de tarde dá um square in the afternoon? It might just be worth pulo na praça? Quem sabe se não vale something.” a pena? “I’ll go” “But I don’t think a lot of us should - Eu vou. – Mas acho que não pode ir go. The crowd might get suspicious seeing so muitos. A turma pode desconfiar de many together.” ver tanto junto. “A day can’t go by without your mixing it up - Tu não pode passar um dia sem bater with that bag, right? You’re going to end up a coxas com essa bruaca, não é? Tu vai dish of mush…” acabar tutu...

26 Legless / Professor Sem-pernas / Professor

“You’ve got to bring some gasoline, for the - É preciso levar gasolina, gente, pro motor” motor. “I’ll bring it” - Eu levo.

27 Good Life / FATHER JOSÉ PEDRO Boa – vida / Padre José Pedro

“Why are you doing that, my son?” - Por que faz isso, meu filho? “I was only taking a look, reverend. It’s great,” - Tava só dando uma espiada, “It’s real great. But I wasn’t thinking of taking reverendo. É batuta – É batuta mesmo. it. I was just about to put it down. I come from a Mas não vá pensando que eu ia levar. good family.” Ia deixar aí direitinho. Sou de boa 13

família. “It’s just that my father died, you know. But I - É que meu pai morreu, sabe? Mas até was even in a good school… I’m telling the num colégio eu estive... Tou falando a truth. Why should I rob something like that?” verdade. Pra que é que eu ia roubar “In a church besides. I’m not a pagan.” essa coisa? – Demais numa igreja. Não sou pagão.

28 Father José Pedro / Captains of the sands / Padre José Pedro / Capitães da Areia / Professor Professor

“Today I’ve come with an invitation for all of - Hoje venho fazer um convite a todos you.” vocês. “He’s going to call us to benediction. I just - Vai chamar a gente pra bênção. Só want to see who’s for it ” quero ver quem topa... “People, Father José Pedro, who’s our friend, - Minha gente, o padre José Pedro, que has got something for us. Hurray for Father é amigo de nós, tem uma coisa pra José Pedro!” gente. Viva o padre José Pedro! “This is for you all to ride the carrousel - Isto é pra gente andar no carrossel today…I invite you all to take a ride today on hoje... Convido vocês todos para the carrousel on the square in Itapagipe.” andarem hoje no carrossel da praça de Itapagipe. “Father, you’re a good man.” “As a matter of - Padre, o senhor é um homem bom. – fact Legless and Dry Gulch are both working on Mas o que tem é que o Sem – Pernas e the carrousel. And we’ve been invited,” “by the Volta Sêca tão os dois trabalhando no owner, who’s their friend, to ride free at night. carrossel. E a gente tá convidado- pelo We won’t forget your invitation...” “Another proprietário, que é amigo deles, pra time. But you won’t be mad at us for not andar à noite de graça. A gente não accepting, will you? It didn’t work out,” esquece do convite do senhor... – Fica pra outra vez. Mas o senhor não vai zangar com a gente porque a gente não aceita? Não vai, não é? “No. Another time.” “It’s even better this way. - Não. Fica pra outra vez. – Foi até Because the money I had…” melhor assim. Porque o dinheiro que eu tinha... “Did it belong to the church, Father?” - Era da igreja, padre? “We can stick it back where it was… It’s duck - A gente pode botar no lugar onde soup for us. Don’t be sad...” estava... É coisa canja pra gente. Não fique triste... “An old widow gave five hundred milreis for Uma velha viúva deu quinhentos mil- candles. I took out fifty so you people could réis para vela. Eu tirei cinqüenta para ride on the carrousel. God will judge whether or vocês andarem no carrossel. Deus not I did the right thing. Now I’ll just buy julgará se fiz bem. Agora compro candles.” mesmo de vela.

14

29 Father José Pedro/ Pedro Bala / Captains of the Padre José Pedro / Pedro Bala / sands / Dona Margarida Capitães da Areia / Dona Margarida

“We’re going to the carrousel to see Dry Gulch - A gente vai pro carrossel ver Volta and Legless this afternoon. Do you want to Sêca e Sem-Pernas agora de tarde. come with us, Father?” Quer ir com a gente, padre? “Why, it’s Father José Pedro…” - Mas é o padre José Pedro... “Good afternoon, Dona Margarida.” - Boa tarde, Dona Margarida. “Aren’t you ashamed to be seen in this - O senhor não se envergonha de estar company, Father? A priest of the Lord? A man nesse meio, padre? Um sacerdote do of responsibility in the midst of this rabble…” senhor? Um homem de responsabilidade, no meio desta gentalha... “They’re children, ma´am.” - São crianças, senhora. “Christ said: suffer the little children to come - Cristo disse: “Deixai vir a mim as unto me…” criancinhas” ... “Little children… Little children…” - Criancinhas… - Criancinhas… “Woe unto him who does harm unto a child, the - “Ai de quem faça mal a uma Lord said,” criança”, falou o Senhor “These aren’t children, they’re thieves. Rascals - Isso não são crianças, são ladrões. and thieves. These aren´t children. They might Velhacos, ladrões. Isso não são even be the Captains of the Sands...Thieves,” crianças. São capazes até de ser dos Capitães da Areia ... Ladrões “Father was only trying to be…” - O padre só quer aju... “Don’t come close to me, don’t come close to - Não se aproxime de mim, não se me, you filth. If it weren’t for Father I’d call a aproxime de mim, imundíce. Se não policeman.” fosse pelo padre, eu chamava o guarda. “You won’t go far that way, Father. You have Assim o senhor não vai longe, padre. to be more careful about whom you associate Tenha mais cuidado com as suas with.” relações.

30 Good Life / Pedro Bala/ Lollipop Boa – vida / Pedro Bala / Pirulito

“That’s the way it goes. If you start off bad…” - Eu gosto é assim mesmo. De começar ruim… “I’m luck itself.” - Eu sou é bamba mesmo. “You’ve got to lend me something, even if it’s - Tu vai me emprestar nem que seja only one coin. I’m wiped out.” um cruzado. Tou a nennen. “God’s Love is late. Do you want to go to the - Querido-de-Deus vai chegar de docks?” tardinha. Vamos pras docas?

31 Pedro Bala / Good- Life Pedro Bala / Boa – vida

“Did you ever want to be a sailor?” - Tu não tem vontade de ser marítimo? “You can see…I Like it here. I’ve got no urge - Tá vendo... Gosto daqui. Não quero to ship out.” arribar, não. 15

“Well, I have. It’s nice climbing up a mast. - Pois eu tenho vontade. É bonito And how about a storm? Do you remember that trepar num maestro. E um temporal, story that the professor read us? The one where hein? Tu te lembra daquela história there was a storm? Wild…” que o Professor leu pra gente? Aquela que tinha um temporal. Batuta… “Terrific, yeah.” - Era porreta, sim.

32 João de Adão / Good-Life / Pedro Bala/ old João de Adão / Boa-Vida / Pedro Bala/ Black woman uma negra velha

“Look at my friend Good-Life. And Captain - Olha o amigo Boa-Vida. E o capitão Pedro.” Pedro. “You still got a pretty good pair, eh, aunty?” - Tu ainda tem uma peitama bem boa, hein, tia? “These kids today have no respect for their - Êsses meninos de hoje não respeita elders, friend João de Adão. Where’d you ever os mais velho, compadre João de tell of a fresh kid like this talking about breasts Adão. Onde já se viu um capetinha with a worn-out old woman like me?” dêstes falar em peito para uma velha encongrujada como eu? “Come off it, aunty. You can still make it...” - Deixa de conversa, tia. Tu ainda topa a coisa... “I’ve shut the gates, Good Life. I´m beyond the - Já fechei a cancela, Boa-Vida. age. Ask this one...”.“ I saw when almost a boy Passei da idade. Pergunta a êste… - Vi like you he led the first strike here on the docks. quando êle quase menino assim como In those days nobody knew what the devil a tu, fêz a primeira greve aqui nas strike was. Do you remember, old friend?” docas. Naquele tempo ninguém sabia que diabo era greve. Tu te lembra, compadre? “Black skin, white hair, three times thirty- - Negro quando pinta, três vezes trinta. three.” “That’s why you go around with that bandana, - Por isso tu anda com êsse lenço. Ó black woman full of proudfoot bull...” negra cheia de prosopopéia... “Do you remember Raimundo, friend Luísa?” - Tu te lembra de Raimundo, comadre Luísa? “The ‘Blond,’ the one who died in the strike? - O “Loiro”, que morreu na greve? How couldn’t I remember. He was somebody Como não me lembro! Era um que who’d pass by every afternoon to have a few tôda tarde vinha dar dois dedo de words with me. He liked to fool around…” prosa comigo, gostava de tirar pilhéria... “They killed him right here that day when the - Mataram êle bem aqui, naquele dia cavalry charged the people.” “Did you ever hear que a cavalaria atropelou a gente. – Tu tell of him, Captain?” nunca ouviu falar nele, Capitão? “No.” - Não. “You were four years old. After that you went - Tu tinha uns quatro anos. Depois from one person’s house to another for a year disso tu andou um ano da casa de um until you ran away. Then people only got to pra casa de outro até que tu fugiu. hear about you when you became the leader of Depois a gente só veio saber de tu the Captains of the Sands. But people knew that quando tu já era chefe dos Capitães da 16

you’d take care of yourself. How old are you Areia . Mas a gente sabia que tu havia now?” de te arranjar. Quantos anos tu tem agora? “You’re round about fifteen. Isn’t that so, - Tu tá com uns quinze anos. Não é, friend?” comadre? “Any time you want you’ve got a place here on - No dia que tu quiser tu tem um lugar the docks. We’ve kept a place for you.” aqui nas docas. A gente tem um lugar guardado pra tu. “Why?” - Por quê? “Because his father was Raimundo and he died - Porque o pai dêle era Raimundo e right here fighting for the people, for the morreu foi aqui mesmo lutando pela people’s rights. He was quite a man. He was gente, pelo direito da gente. Era um worth ten of the kind you find around here.” homem e tanto. Valia dez desses que a gente encontra por aí. “My father?” - Meu pai? “He was your father. People called him the - Teu pai era. A gente chamava êle de Blond. When the strike happened he talked to Loiro. Quando foi da greve fazia the people, he didn’t look like a stevedore. He discurso pra gente, nem parecia um was caught by a bullet. But there’s a place for estivador. Foi pegado por uma bala. you on the docks.” Mas tem um lugar pra tu nas docas. “Why didn’t you ever tell me this?” - Por que tu nunca me contou isso? “You were too small to understand. Now you’re - Tu era pequeno para entender. Agora getting to be a man,” tu tá ficando um homem “And did you know my mother?” - E minha mãe tu conheceu? “I don’t know anything. When I met the Blond - Não sei, não. Quando conheci o he didn’t have a woman. But you were living Loiro, êle não tinha mulher. Mas tu with him.” vivia com êle. “I knew her.” “ A slip of a woman. There was a - Eu conheci. – Um pedaço de mulher. story going around that your father had stolen Corria uma história que teu pai tinha her away from home, that she came from a rich furtado ela de casa, que ela era de uma family up there above,”. “She died when you família rica lá de cima. – Morreu weren’t even six months old. In those days quando tu nem tinha seis meses. Nesse Raimundo was working in the cigarette factory tempo Raimundo trabalhava na fábrica in Itapagipe. He came to the waterfront later de cigarros de Itapagipe. Depois foi on.” que veio pras docas. “Any time you want...” - Quando tu quiser… “It was a wild thing, the strike, wasn’t it?” - Foi uma coisa batuta a greve, não foi? “I’d like to make a strike. It must be great.” - Eu gostava de fazer uma greve. Deve ser porreta. “Now we’ve got to load that Dutchman.” - Agora a gente vai carregar aquêle holandês.

33 Pedro Bala / Good- Life/ old black woman Pedro Bala / Boa – vida / negra velha

“Are you wool-gathering, buddy?” - Tá pensando na morte da bezerra seu mano? “He’s got his father’s face. But he’s got his - É a cara do pai. Só que tem o cabelo 17

mother’s wavy hair. If it wasn’t for that cut on ondulado da mãe. Se não fôsse êsse his face you wouldn’t have to try hard to see talho na cara, não tinha que tirar nem Raimundo. A good-looking man…” pôr para ver Raimundo. Um homem bonito... “Have you got a daughter, aunty?” - Tu não tem uma fia, minha tia? “What do you want to know for, you devil?” - Pra que tu quer saber, desgraçado? “I could get friendly with her…” - Eu podia me amigar com ela... “If I had a daughter she wouldn’t be for your - Se eu tivesse uma filha, não era pro teu sweet talk, you bum.” bico, malandro. “Aren’t you going to Gantóis today? There’s - Tu não vai hoje ao Gantóis? Vai ser going to be drumming like you never heard. A uma batida daquelas. Um fandango de first class- fandango. It´s Omolu feast day.” primeira. É festa de Omolu. “Lots of grub? And rice drinks?” - Muita bóia? E aluá? “If they’ve got any…” “ Why don´t you go, - Se tem… - Por que tu não vai, branco? white boy? Omolu isn’t just a black folks´ Omolu não é só santo de negro. É santo Saint. She’s a Saint for all poor people.” dos pobres todos.

34 Pedro Bala / Black girl Pedro Bala / Negrinha do Areal

“You don’t have to, beautiful. Right here is - Não precisa, lindeza. Assim mesmo tá fine” bom. “What do you want?” - Que é que tu quer? “Don’t be stuck-up, girl. Let’s have a little - Deixa de orgulho, morena. Vamos talk…” bater um papozinho... “You’re a mouthful, dark girl. We’re going to - Tu é um pancadão, morena. Nós vai have beautiful children…” fazer um filho lindo. “Leave me alone. Leave me alone, you - Me deixa. Me deixa, desgraçado. bastard.” “Let’s stop playing around,” - Vamos deixar de chove-não-molha. “Let me go, you bastard. Do you want to ruin - Deixa eu ir embora, desgraçado. Tu me, you son of a bitch? Let me go, I’ve got quer fazer minha desgraça, filho da nothing for you.” mãe? Deixa eu ir embora, que não tenho nada com tu. “What’s with you, girl? Do you think I’m - Mas que é que tu viu, cabloca? Tu going to let you go before you give in? Cut pensa que eu vou te deixar antes de tu the pride. Your man won’t find out, nobody’s me dar? Deixa de orgulho. Teu macho going to know. And you’ll see what a good não vai saber, ninguém fica sabendo. E man is like…” tu vai ver o que é um homem bom... “Leave me alone, you bastard…Leave me - Me deixa, desgraçado... Me deixa alone, you bastard…” desgraçado… “Leave me alone, I’m a virgin. Be good, you - Me deixa, que eu sou virgem. Tu pode don’t want me. You’ll find someone else ser bom, não me querer. Depois tu later. I’m a virgin, you’re going to hurt me.” encontra outra. Eu sou donzela, tu vai me fazer mal. “Are you really a virgin?” - Tu é donzela mesmo? “ I swear by Almighty God, by the Virgin,” - Juro por Deus Nosso Senhor, pela Virgem. “Are you telling the truth?” - Tu tá falando a verdade? 18

“I am, I swear. Let me go, my mother’s - Tou, juro. Deixa eu ir embora, minha waiting for me.” mãe tá me esperando. “I’ll only do it in the rear.” - Só boto atrás. “No. No.” - Não. Não. “You’ll still be a virgin. It’s nothing.” - Tu fica virgem igual. Não tem nada. “No. It’ll hurt.” - Não. Não, que dói. “If it hurts I’ll withdraw…” - Se doer eu tiro… “You swear you won’t do it in the front?” - Tu jura que não vai a frente? “I swear.” - Juro. “Aren’t you satisfied with what you did me, - Tu não te contenta, desgraçado, com o you bastard? Do you want to ruin me?” que me fêz? Tu quer me desgraçar? “If I let you go, will you come back - Se eu te deixar, tu volta amanhã? tomorrow?” “Yes, I’ll come back.” - Volto, sim. “I’ll only do what I did today. I’ll let you stay - Só faço o que fiz hoje. Te deixo a virgin…” donzela... “Then you can go. But if you don’t come - Então tu pode ir. Mas se tu não voltar back tomorrow… When I catch you you’ll amanhã... Quando eu te pegar tu vai ver find out how many boards it takes to make a com quantos paus se faz uma cangalha... bed…” “I’ll take you so some hoodlum doesn’t grab - Vou te levar para um malandro não te you.” pegar. “What the devil is that about?” - Que diabo é isso? “What’s the matter with you? Nothing - Que foi que tu teve? Tu não teve happened to you…” nada... “Now you can go, nobody will hurt you.” - Agora tu pode ir, ninguém te faz mal. “I hope plague and hunger and war fall down - Peste, fome e guerra te acompanha on you, you bastard. God will punish you, you desgraçado. Deus te castiga, desgraçado. bastard. Son of a bitch, bastard, bastard,” Filho de uma mãe, desgraçado, desgraçado. “Bastard... Bastard…” - Desgraçado...Desgraçado...

35 Legless / Big João / Pedro Bala Pedro Bala / Boa – vida

“What are we going to do? The police have got - O que é que a gente vai fazer? O the dingus…” troço está na polícia... “Don’t call Ogun a dingus, Legless. He’ll - Não chame Ogum de troço, Sem- punish you…” Pernas. Êle castiga... “He’s in jail, he can’t do anything,” - Tá preso, não pode fazer nada. “Let me think about it. Remember, we - Deixa eu matutar. A gente tem que promised Aninha. Now we’ve got to come dar conta. A gente garantiu a Aninha. through. ” Agora tem que fazer.

36 Pedro Bala / Policeman Pedro Bala / Policial

“Mr. Policeman...” - Seu guarda... 19

“What is it, urchin?” - O que é, moleque? “I don’t come from here. I’m from Mar Grande, - Eu não sou daqui. Eu sou de Mar I came with my father today.” Grande,vim com meu pai hoje. “So, what?” - E o que tem isso? “I haven’t got any place to sleep. I wondered if - Eu não tenho onde dormir. Queria you’d let me sleep at the police station…” que o senhor deixasse eu dormir na polícia... “The police station isn’t a hotel, you bum. Beat - A polícia não é hotel, malandro. it, beat it,” Desaperta, desaperta… “Go sleep in the park… Get out of here…” - Vai dormir num jardim... Vai embora…

37 Pedro Bala / Policeman Pedro Bala / Policial

“So that’s the way you’ve come from out of - Então era assim que você não era town, is it? A thieving punk.” daqui? Um moleque ladrão “I only did it so you’d grab me… ” - Só fiz isso pro senhor me pegar mesmo... “What?” - Hein? “Everything I said is true. My father’s a sailor, - Tudo que eu disse é verdade. Meu he’s got a sloop in Mar Grande. He left me here pai é marítimo, tem um saveiro em today, he didn’t come back because of the Mar Grande. Hoje me deixou aqui, storm. I don’t know where to sleep, I asked to não voltou com o temporal. Eu não sei sleep at the police station. You wouldn’t let me onde dormir, pedi pra dormir na so I made like I was going to rob the woman polícia. O senho não deixou, eu fiz just so´s you´d grab me … Now I’ve got a place que ia roubar a mulher só pro senhor to sleep.” me pegar... Agora tenho onde dormir. “And for a long time to come,” - E por muito tempo “Now you can sleep, you son of a bitch. And - Agora você pode dormir, filho da after the deputy gets here we’ll see how long mãe. E depois que o comissário chegar you’re going to sleep here…” vamos ver quanto tempo você vai dormir aqui...

38 Young black man / Pederast / Others/ another Jovem negro / Pederasta / Outros / policeman outro policial

“Who busted your cherry?” - Quem tirou teu cabaço? “Come on, leave me alone… ” - Ora, me deixe... “No. Tell us. Tell us, ” - Não. Conta. Conta “Oh, it was Leopoldo…Oh!” - Ah! Foi Leopoldo... Ah!. “Why don’t you go sniff the tail of that little old - Tu por que não vai te enrabar com man?” aquêle velhote? “Can’t you see right off that I don’t go for old - Não tá vendo logo que não me passo men?” Come on, I don’t want to talk pra velho. Olhe, não quero mais anymore…” conversa, não... “But I’d bet you’d like it if he gave you some - Mas tu bem que gostava se ele lhe 20

today, eh, uncle?” desse hoje, hein, tio? “I’m an old man… I didn’t do anything,” “I - Eu sou um velho... Eu não fiz nada… didn’t do anything, my daughter’s waiting for - Não fiz nada, minha filha está me me…” esperando... “You, old man. Let’s go…” - Você velhote, vamos... “I didn’t do anything…” “My daughter’s - Eu não fiz nada... – Minha filha está waiting for me…” me esperando...

39 Pederast / Pedro Bala / Other prisioners/ Negro Pederasta/ Pedro Bala / Outros presos/ jovem / Policeman Black young man/ Policial

“This one’s so young. But he’s a lovely…” - Tão novinho êste. Mas é um amorzinho... “Beat it, fag, before I bust your face…” - Sai, chibungo, antes que eu te pranche a cara... “What are you in for, churchmouse?” - Que é que tu tá fazendo aqui, rato de igreja? “None of your business, monkey-face…” - O que não é da tua conta, macaqueiro... “He said I’m going to be tried for minor - Disse que vou ser processado por assault… And he gave me a couple dozen…” ferimentos leves. E me dero duas dúzia...

40 Policeman/ Pedro Bala / Deputy JORGE AMADO

“This is the boy from the robbery in Campo - Êsse é o menino do roubo do Campo Grande.” Grande. “Go see if that coffee is coming or not… ” - Veja se êsse café sai ou não sai... “What have you got to say? And don’t you dare - O que é que você tem a dizer? E não lie to me…” venha me mentir, não... “And I didn’t steal anything or run away…” - Tanto que não roubei e nem fugi... “You’ve got quite a tale there…” - Eis aí um conto formidável... “What’s your father’s name?” - Como é o nome de teu pai? “Augusto Santos,” - Augusto Santos. “If you’re telling the truth I’m going to let you - Se o que você contou fôr verdade, eu go. But if you’re trying to fool me with that vou lhe soltar. Mas se você quis me story, you’ll find out…” tapear com essa história, vai ver... “We do, yes sir.” - Tem, sim senhor. “Go see if a certain Augusto Santos is listed and - Vá ver se tem um tal Augusto Santos come back and tell me. And hurry up, my e volte para me dizer. E ande depressa, time’s almost up.” que minha hora está acabando. “There is one, yes sir… He was at the dock - Tem, sim senhor... Hoje mesmo teve today but he left right away…” no cais, mas voltou logo... “Let this kid go.” - Ponha êsse moleque em liberdade.

21

41 Pedro Bala / Professor / Big João / Cat Pedro Bala / Professor / João Grande/ Gato

“What are you doing in these parts?” - Que é que vocês tava fazendo por estas bandas? “Can’t you see we got up early today. And we - Nao vê que a gente saiu agora cedo. were walking here with nothing to do, that was E veio vindo por aqui, andando sem when we ran into you running along… ” que fazer, foi quando topou com tu, que vinha desabalado... “How’d you put it over on them?” - Como foi que tu tapeou êles? “Weren’t you just a little bit scared?” - Tu não teve nem um pingo de mêdo? “To tell the truth, I was shit afraid…” - Pra falar verdade, tive um cagaço da desgraça...

42 Pedro Bala / Good Life Pedro Bala / Boa-Vida

“And they say only two-old timers live in all - E dizer que nesse mundo mora só this, how about that?” dois velhos, hein? “A wild setup… ” - Toca batuta... “ If Professor could see this he’d go out of his - Se o professor visse isso ficava mind…I never saw anyone so hung up on books doidinho... Nunca vi tanto pegadio and painting.” com livro e pintura. “He’s going to paint a picture of me this big....” - Êle vai fazer uma pintura com eu, dêste tamanho...

43 Pedro Bala / Good-Life / Maid Pedro Bala / Boa vida / Doméstica

“There’s gold in those hills, Bullet…” - Que montanha, Bala… “Shut up.” - Cala a bôca. “Could you give us a mug of water, please? The - Podia dar uma caneca de água à sun’s knocking us out…” gente, por favor? O sol tá encalistrando... “Get your foot off there…” - Tira esta pata daí de cima... “I’ll go get some water…” - Trago a água já... “Thanks a lot…” “beautiful.” - Muito obrigado... – lindeza “Fresh Kid…” - Frangote atrevido... “What time do you get off work?” - Que hora tu sai daqui? “Watch your step. I’ve got my man. He waits - Te repara. Tenho meu homem. Êle for me at nine o’clock on that corner…” me espera às nove horas da noite naquela esquina... “Well, tonight I’ll be on the other one…” - Pois hoje tou na outra...

22

44 Good – Life / Pedro Bala Boa-Vida / Pedro Bala

“I really am nice… It’s all in the gab…” - Eu sou é mesmo simpático... Aquela tá no papo... “With that female hair of yours too, all full of - Também com essa cabeleira de curls…” mulher, toda cheia de cachos... “Don’t be jealous, you halfbreed loafer…” - Deixa de inveja, mulato pachola... “What about the pile of gold?” - E o ourame? “First it’s a job for Legless… Tomorrow he’ll - É trabalho primeiro pro Sem- try to get into the house and spend a few days Pernas... Amanhã êle dá um jeito de living there. After he finds out where the things embocar na casa e passar uns dias are we’ll come along, five or six of us, and get morando. Depois que êle souber onde all the gold…” fica os troço melhor a gente vem, uns cinco ou seis, tira o ourame... “And you’ll lose your little dish?” - E tu perde a comida? “The maid? Tonight, right off… At nine - A comida? Como hoje mesmo... o’clock sharp I’ll be there...” Nove hora tou firme aí... “The damnedest luck, I’ve never seen the like - Ò peste de sorte, nunca vi... of it.”

45 Legless / Lady Sem-Pernas / Madame

“What is it, son?” - Que é, meu filho? “Lady, I’m a poor orphan… ” - Dona, eu sou um pobre órfão... “You can talk, son.” - Pode dizer, meu filho. “Ma´am, I haven’t got any father, my mother - Dona, eu não tenho pai, faz só was called to heaven just a few days ago.” “I poucos dias que minha mãe foi haven’t got anybody in the world, I’m crippled, chamada pro céu. – Não tenho I can’t do much work, I haven’t set eyes on ninguém no mundo, sou aleijado, não anything to eat for two days and I haven’t got a posso trabalhar muito, faz dois dias place to sleep.” que não vejo de comer e não tenho onde dormir. “Are you crippled, son?” - Você é aleijado, meu filho? “What did your mother die of?” - De que morreu sua mãe? “I really don’t know. She got something funny, - Mesmo não sei. Deu uma coisa poor thing, a bad fever, she kicked off in five esquisita na pobre, uma febre de mau days. And she left me alone in the world… If I agouro, ela bateu a caçuleta em cinco could handle work I’d find something. But with dias. E me deixou só no mundo... Se this bad leg only in some private house. Don’t eu ainda agüentasse o repuxo do you need a boy to run errands, help around the trabalho, ia me arranjar. Mas com êsse house? If you do, ma´am…” aleijão só mesmo numa casa de família... A senhora não tá precisando de um menino pra fazer compra, ajudar no trabalho de casa? Se tá, dona... “If I wanted to I could join up with those boy - Se eu quisesse me metia aí com êsses bandits. With those Captains of the Sands as meninos ladrão. Com os tal de 23

they’re called. But I’m not like that, what I Capitães da Areia . Mas eu não sou want is work. Except I can’t take any heavy disso, quero é trabalhar. Só que não work. I’m a poor orphan, I´m hungry...” agüento um trabalho pesado. Sou um pobre órfão, tou com fome... “Come in, son. Let me find some work for - Entre, meu filho. Deixe estar, que you…” “Maria José, fix up the room over the vou arranjar um trabalho para você... – garage for this boy. Show him the bathroom, Maria José, prepare o quarto de cima give him a rob of Raul´s and then get him da garagem para êste menino. Mostre something to eat…” o banheiro a êle, dê um roupão de Raul, depois dê comida a ele... “Before serving lunch, Dona Ester?” - Antes de botar o almôço, dona Ester? “Before lunch, yes. He hasn’t eaten for two - Antes, sim. Faz dois dias que êle não days, poor thing.” come, pobrezinho. “Don’t cry…” - Não chore… “You’re so good, ma ´am. God will repay - A senhora é tão boa. Deus lhe paga... you…” “Augusto…” - Augusto... “Augusto, the same name…” - Augusto, o mesmo nome... “My son’s name was Augusto too… He died - Meu filho também chamava-se when he was just your size… But come in, son, Augusto... Morreu quando tinha assim go wash up for lunch.” o seu tamanho... Mas, entre, meu filho, vá se lavar para comer. “You can throw those clothes away. Maria José - Pode jogar essas roupas fora. Maria will bring you some clothes later…” José depois vai lhe trazer roupa...

46 Raul / Dona Ester / Legless Raul / Dona Ester / Sem – Pernas

“Come in…” - Passe... “Sit down, son, don’t be afraid… ” - Sente, meu filho, não tenha mêdo não... “Stop it, you’re not going to be hungry - Deixe estar, que agora você não anymore. Go on… Go play, go look at your passa mais fome. Vá... Vá brincar, vá books. Tonight we’re going to the movies. Do ver os livros. Á noite nós vamos ao you like the movies?” cinema. Você gosta de cinema? “Yes, sir, I do.” - Gosto, sim senhor. “You’re a saint. We’ll make a proper man of - És uma santa. Vamos fazer dêle um him...” homem...

47 Dona Ester / Legless Dona Ester / Sem –Pernas

“You aren’t afraid to sleep alone, are you?” - Não tem mêdo de dormir aí sòzinho? “No, ma´am” - Não, senhora... “It’ll only be for a few days. Then I´m going to - Isso é por poucos dias. Depois, pô- put you up there in the room that should have lo-ei lá em cima, no quarto que foi de been Augusto’s…” Augusto. “You don’t have to, Dona Ester, it’s fine here.” - Não precisa, dona Ester, aqui tá muito bom. “Good night, son.” - Boa noite, meu filho.

24

48 Pedro Bala / Empregada Pedro Bala / Maid

“The woman here has a son, doesn’t she?” - A môça daí tem um filho, não tem? “It’s a boy she’s taking care of. A nice fellow. ” - É um menino que ela tá criando. Muito bonzinho. “He’s a little younger than you, but he’s a boy - É um pouco mais môço que você, just the same. He’s not a no-good like you mas é mesmo um menino. Não é who’s already sleeping with women…” assim um perdido como você, que até já dorme com mulher... “You’re the one who broke my cherry…” - Foi tu que tirou meu cabaço... “Don’t be vulgar. Besides, it’s a lie.” - Não diga coisa feia. Demais é mesmo mentira. “I swear.” - Juro. “Come today and I’ll show you a nice way…” - Vem hoje, que eu te ensino um modo gostoso... “Tonight on the corner... But tell me something: - De noite, na esquina... Mas diz um haven’t you been screwing with that boy troço: tu não trepa com êsse menino there?” daqui? “He doesn’t know what it’s all about… He´s a - Êsse nem sabe que é isso... É um booby. A spoiled child. You´re out of your tolinho. Menino mimado. Tu tá feito mind. You can’t see that I wouldn’t do it…” bôbo. Não vê que eu não me passo...

49 Pedro Bala / Legless Pedro Bala / Sem –Pernas

“Pew! You stink, Legless.” - Peste! Tu tá até cheirando, Sem- Pernas. “You’re even more duded up than Cat. Jesus! If - Tu tá dez vez mais elegante que o you ever showed up like that at the den,” “the Gato. Puxa! Se tu aparecer assim na others would jump on you. You’re a regular toca – os outros vai dar em cima de tu. little sweetheart…” Tu tá mesmo uma tetéia... “Lay off... I´m casing things. Pretty soon I’ll - Não chateia... Tou vendo as coisas. take off and you can come with the others” Não demora dou o fora, tu pode vim “You’re taking your time this time…” com os outros. “ It’s because the things are better taken care - É que os troço melhor tão trancado. of,” “Let’s see if you can get things going.” - Vê se tu te arranja. “The Gringo was in bad shape. He was running - O Gringo andou ruim. Quase bate o almost a hundred and four. He almost kicked trinta e sete. Andou por pouco. Se não the bucket. If it hadn’t been for Don´Aninha, fôsse Don´Aninha, que deu beberagem who brewed up something for him and got him a êle que botou êle em pé, tu não via on his feet again, you wouldn’t have seen him mais ele. Tá mais magro que um anymore. He’s as skinny as a rail…” espêto...

25

50 Dona Ester / Legless Dona Ester / Sem –Pernas

“Are you crying, son?” - Está chorando, meu filho? “Are you crying, Augusto? Is something - Está chorando, Augusto? Aconteceu wrong?” alguma coisa? “No, ma´am. I’m not crying, I’m not...” - Não, senhora. Não estou chorando não. “Don’t lie to me, son. I can see quite clearly… - Não minta, meu filho. Bem que eu What happened? Are you thinking about your vejo... O que passou? Está se mother?” lembrando da sua mãe? “Don’t cry for your mother. You’ve got another - Não chore por sua mãe. Agora você mamma now who loves you a lot and will do tem outra mãezinha que lhe quer bem everything to take the place of the one you e fará tudo para substituir a que você lost… ” perdeu... “Don’t cry, your mamma will be sad.” - Não chore, que sua mãezinha fica triste.

51 Legless / Cat Sem –Pernas / Gato

“Do you want to make a deal with me?” - Tu quer fazer um negócio comigo? “What is it?” - Que é? “I’ll swap these clothes for yours…” - Eu dou essa roupa, tu me dá a sua... “Swap? Don’t even ask.” - Se topo. Nem se pergunta.

52 Professor / Legless Sem –Pernas / Gato

“Legless! Legless!” - Sem- Pernas! Sem - Pernas! “This here is about you, Legless…” - Isto aqui é com tu, Sem-Pernas:

53 Professor / Legless / Outrigger / Pedro Bala Professor / Sem-Pernas / Barandão / Pedro Bala.

“They still haven’t discovered the robbery…” - Ainda não descobriram o furto... “Your mommy’s looking for you, Legless. - Tua famia tá te procurando, Sem- Your mommy’s looking for you so she can Pernas. Tua mamãe tá te procurando suckle you…” pra dar de mamar a tu... “Maybe they’ll never discover the robbery, - São capazes de não descobrir nunca Legless. Never find out about you… It doesn’t o roubo, Sem-Pernas. Nunca saber de matter.” você... Não se importe não. “When Doctor Raul gets back they’ll find - Quando doutor Raul chegar vão out…” saber...

26

54 Pedro Bala/ black man Pedro Bala / Negro

“How are things, White Owl?” - Como vai, Coruja Branca? “What about you, Bullet? How’s the sweet talk - E tu, Bala? Como vai essa going? prosopopéia?

55 Pedro Bala / Professor Pedro Bala / Professor

“You should paint a picture of this… it’s wild.” - Tu devia fazer uma pintura disto... È porreta... “I know it’ll never be…” - Eu sei que nunca há de ser... “What?” - Quê! “Sometimes I catch myself thinking…” - Tem vez que me topo pensando... “I’ve thought about doing a little painting from - Eu penso fazer um dia um bocado de here day…” pintura daqui... “You´ve got the gift. If you could have gone to - Tu tem jeito. Se tu tivesse andado school…” pela escola... “… but it can’t ever be a happy piece, no …” - ... mas nunca pode ser um troço alegre, não... “Why?” “Can’t you see that all this is really - Por quê? – Tu não vê que tudo é something beautiful? Everything so happy...” mesmo uma beleza? Tudo alegre... “It’s got more colors than the rainbow…” - Tem mais côres que o arco- íris... “That’s right... But if you look at the people - É mesmo... Mas tu espia os homens, everything is sad. I’m not talking about the rich tá tudo triste. Não tou falando dos ones. You know. I´m talking about the others, rico. Tu sabe. Falo dos outros, dos das the ones on the docks, in the market. You docas, do mercado. Tu sabe. Tudo know… All of them with hungry faces, I don’t com cara de fome, eu nem sei dizer. É know how to say it. It’s something I can feel...” um troço que sinto... “That’s why João de Adão had a little strike on - Por isso João de Adão já fêz um the docks. He says that things are going to bocado de greve nas docas. Êle diz change someday, everything’s going to be just que um dia as coisa vira, tudo vai ser the opposite…” de vice-versa... “I read that in a book too… One of João de - Também já li num livro... Um livro Adão´s books. If I could have gone to school de João de Adão. Se eu tivesse tado like you say it would have been good. I would numa escola como tu diz, tinha sido have painted a nice picture someday. A nice bom. Eu um dia ia fazer muito quadro day, happy people walking, laughing, falling in bonito. Um dia bonito, gente alegre love just like the people in Nazaré, you know. andando, rindo, namorando assim But what school? I try to draw a happy picture, como aquela gente de Nazaré, sabe? the day all pretty, everything pretty, but the Mas cadê escola? Eu quero fazer um people come out sad, I don’t know… I was desenho alegre, sai o dia bonito, tudo trying to draw something happy.” bonito, mas os homens sai triste, não sei não... Eu queria fazer uma coisa alegre. “Who can say, maybe it’s better that you drew - Quem sabe se não é melhor mesmo what you did. It might even be prettier, get fazer uma coisa como tu faz? Pode até more attention.” dá mais bonito, mais vistoso. “What do you know about it? What do I know? - Que é que tu sabe? Que é que eu sei? 27

We never went to school…I want to draw A gente nunca andou em escola... Eu people’s faces, the layout of the streets, but I tenho vontade de fazer a cara dos never had any school, there’s a whole lot I don’t homens, a figura das ruas, mas nunca know…” tive na escola, tem um bocado de coisa que eu não sei... “Have you ever taken a look at the School of - Tu já deu uma espiada na Escola de Fine Arts? It’s a real beauty, kid. One day I Belas- Artes? É um belezante, rapaz. sneaked in, went into a room. They were all Um dia andei de penetra, me meti wearing smocks, they didn’t even see me. And numa sala. Tava tudo vestido de they were painting a naked woman...If only camisão, nem me viram. E tavam someday I could…” pintando uma mulher nua... Se um dia eu pudesse... “Do you know how much it costs?” - Tu sabe o preço? “How much what costs?” - Que preço? “The school. The teacher.” - De pagar na escola? O professor? “What’s this all about?” - Que história é essa? “We could chip in, pay your…” - A gente se reunia, pagava pra tu... “You’ve got no idea… It’s all so - Tu nem sabe... Tem tanta complicated…It can’t be done, no, stop being complicação... Não pode não, deixa de foolish.” tolice. “João de Adão said that one day there’ll be - João de Adão disse que um dia a schools for everybody...” gente pode ter escola... “Someday you’re going to have a couple of - Um dia tu ainda bota um bocado de paintings in a gallery on the Rua do Chile, pintura numa sala da Rua Chile, mano. buddy. Without school or anything else. None Sem escola, sem nada. Nenhum destes of those shitty schools can stand up to you… bananas da escola faz uma cara como You’ve got it in you...” tu... Tu tem é jeito... “And you’ll paint my picture, eh? Put my name - E tu faz meu retrato, hein. Bota o underneath, right? Captain Pedro Bala, brave nome embaixo, não bota? Capitão man.” Pedro Bala, macho valente.

56 Pedro Bala / Professor / Couple Pedro Bala / Professor / Casal

“Don’t step on the young’s lady face, sir...” - Não pise na cara da môça, senhor... “That’s good...” - Que bom... “Did you draw that, kid?” - Foi você quem desenhou, garôto? “My buddy here did, Professor, the painter...” - Foi aqui o meu companheiro, o pintor Professor...

57 Pedro Bala / Professor / cigarette holder man Pedro Bala / Professor / Homem de piteira “Look at your picture, sir.” - Olhe seu retrato, senhor. “What, son?” - O que, meu filho? “Where did you learn to sketch, my boy?” - Onde você aprendeu desenho, meu caro? “Nowhere...” - Em lugar nenhum... 28

“Nowhere? What do you mean?” - Em lugar nenhum? Como? “Just that, sir...” - É, sim, senhor... “So how is it you can draw?” - E como desenha? “I feel like it, I pick up a piece of chalk, I - Me dá vontade, pego, desenho. draw.” “Do you mean you never studied drawing?” - Quer dizer que você nunca estudou desenho? “Never, no, sir.” - Nunca, não senhor. “I can guarantee it,” “We live together and I - Posso garantir. - Nós mora junto, eu know.” sei. “Then you’ve got a real talent…” - Então é uma verdadeira vocação... “Why did you draw me sitting down and - Por que você me retratou sentado e reading a book?” lendo o livro? “I thought it suited you better…”. “ I really - Pensei que sentava melhor pro don’t know...” senhor... – Não sei mesmo... “It’s a real talent…” - É uma verdadeira vocação... “Where do you live?” - Onde você mora? “We live in the Cidade da Palha…” - A gente mora na Cidade de Palha... “Can you read?” - Você sabe ler? “ We can, yes, sir,” - A gente sabe, sim, senhor. “Here’s my address. I want you to come look - Aí está meu enderêço. Eu quero que me up. Maybe I can do something for you.” você me procure. Talvez possa fazer alguma coisa por você. “So long, doctor” - Até logo, doutor. “That’s for my picture. Come to my place...” - Isso é pelo retrato. Vá a minha casa... “Did they steal anything from you, sir?” - Lhe roubaram alguma coisa, senhor? “No. Why?” - Não. Por quê? “Because since those hoodlums were here - Porque como aquêles malandrins beside you…” estavam aqui junto ao senhor... “They were two children… One of them has a - Eram duas crianças... Por sinal que wonderful gift for painting.” uma com maravilhosa inclinação para a pintura. “They’re thieves,” “They’re two of the Captains - São ladrões. – São dos Capitães da of the Sands.” Areia . “Captains of the Sands?” “ I read something - Capitães da Areia ?. – Já li algo... about it… Aren’t they abandoned children?” Não são crianças abandonadas? “Thieves is what they are… Be careful when - Ladronas, isso são... Tenha cuidado, they get close to you, sir. Check and see if senhor, quando êles se aproximarem anything is missing...” do senhor. Veja se não lhe falta nada... “That’s the way great artists are lost. What a - Assim é que se perdem os grandes painter he would make!” artistas. Que pintor não seria! “They’re right when they say poets are - Bem dizem que êstes poetas são crazy…” doidos...

58 Pedro Bala / Professor Pedro Bala / Professor

“The guy was skinny as a rail. He might be a - O bicho era magro como um espêto. big shot…” É capaz de ser tutu... 29

“Why don’t you keep it?” - Por que tu não guarda? “What do I want it for?” - Pra que quero? “The man looked like he might have been able - O homem parece que era bem capaz to help you be a painter…” “You should keep de ajudar a tu ser um pintor... – Tu it. Who can tell?” devia guardar. Quem sabe? “Don’t be a fool, Bullet. You know damned - Deixa de ser bêsta, Bala! Tu bem well that the only thing we´ll ever get to be is sabe que do meio da gente só pode thieves…Who cares about us? Who? Nothing sair ladrão... Quem é que quer saber but thieves, just thieves...” da gente? Quem? Só ladrão, só ladrão...

59 Almiro / Outrigger Almiro / Barandão

“I’ve got a devilish itch” - Tou com uma coceira danada. “I seem to be burning up with fever too” - Parece que também tou queimando de febre. “Almiro’s got smallpox… People, Almiro’s got - Almiro tá com a bexiga... Gentes, smallpox.” Almiro tá com a bexiga.

60 Legless/ Outrigger / Other Captains of the sands Sem -Pernas /Barandão / Outros / Almiro / Lollipop Capitães da Areia / Almiro / Pirulito

“Now you’re going to have smallpox on your - Agora tu vai ter bexiga na piroca, prick, you black jackass.” negro burro. “Nobody here’s going to come down with - Ninguém aqui vai ficar bexiguento smallpox just because of this fairy ” só por causa dêsse fresco. “He’s getting out of here right now. He can go - Êle vai sair daqui agorinha mesmo. stick himself in some alley until the dogcatchers Vai se meter em qualquer canto da rua from public health pick him up and take him off até que os mata cachorros da saúde to the pesthouse” pegue êle e leve pro lazareto. “No, no,” - Não. Não – reagiu Almiro. “Yes, you’re going,” “We’re not calling the - Vai, sim. – A gente não vai chamar dogcatchers here for the police to find out os mata-cachorros aqui para tôda where we’re hiding out. You can go nicely or polícia saber onde a gente se acoita. by force, and take your rags with you. You can Tu vai por bem ou por mal e leva teus go to hell because we’re not going to catch trapos. Vai pro inferno, que a gente smallpox because of you. Because of any love não vai ficar com bexiga por você. Por for you, faggot…” amor de você, chibungo... “Let’s everybody pray because this is a - Vamos rezar todo mundo, que isto é punishment of God for our sins. We’ve done a um castigo de Deus pros pecados da lot of sinning, God is punishing us. Let’s ask gente. A gente peca muito, Deus tá for forgiveness… ” castigando. Vamos pedir perdão... “Beat it, sexton…” - sai, sacrista... “People, if he doesn’t want to leave we’ll kick - Gente, se êle não quiser sair, a gente him out with a good clubbing. If not we’ll all bota êle pra fora debaixo de porrada. die of smallpox, all of us… Can’t you see, Se não, tudo vai morrer de bexiga, 30

damn you? Kick him out into the street where tudo… Vocês não vê, desgraçados? A they can pick him up for the pesthouse.” gente bota êle pra fora até uma rua onde levem êle pro lazareto. “No. No” “For the good of love.” - Não. Não. – Pelo amor de Deus. “This is a punishment,” - Isso é castigo.... “Shut your mouth, you son of a priest,” “Let’s - Cala a bôca, filho de padre – vamos carry him out, people, since he refuses to go levar êle, gente, já que ele não quer ir peacefully.” por bem. “So you’re going out, pocky.” - Assim tu vai embora, bexiguento. “No. You can’t do this. I’m a member of the - Não. Tu não pode fazer isso. Eu sou gang. Wait till the Bullet gets here.” um do grupo. Espera Bala chegar. “ It’s punishment … it’s punishment …” - É castigo... É castigo ... “Get out, pocky. Get out faggot.” - Dá o fora, bexiguento. Dá o fora, fresco.

61 Dry gulch/ Legless Volta Seca /Sem-Pernas

“I swear it’s loaded and if anybody so much as - Juro que tem bala e que como um touches Almiro… ” que toque em Almiro... “What business is it of yours, bandit?” - Que é que tu tem que fazer aqui, cangaceiro? “He’s not a cop for people to treat that way. - Êle não é um soldado de polícia pra He’s a member of the gang, he was telling it gente tratar êle assim. É um do grupo, straight. We’re going to wait till Pedro Bala êle falou direito. Vamos esperar Pedro gets here. He’ll decide. And if anybody touches Bala chegar. Êle resolve. E se alguém him I’ll shoot him down just like he was a tocar nêle eu queimo igual que fôsse stinking cop,” um macaco da polícia. “They’re all cowards” “Cowards, cowards.” - Tudo é uns covarde...

62 Pedro Bala/ Legless/ Dry gulch Pedro Bala/ Sem- Pernas/ Volta Seca

“What ´s all this?” - Que é isso? “This bastard acting like a cangaceiro won’t let - Êste bêsta metido a cangaceiro não us do what we’ve got to do,” “That fairy’s got quer deixar que a gente faça o que smallpox…” resolveu – Aquêle fresco tá com a bexiga... “What happened, Dry Gulch?” - Como foi, Volta Seca? “This one’s got the damned thing…” “And that - Êste tá com a maldita... – E aquêle bastard, just like a cop, wanted to kick him out macaco mesmo que um soldado quis into the street so the public health people could botar êle no meio da rua pra take him off to the pesthouse. I wouldn’t have assistência levar êle pro lazareto. Eu got involved. But he didn’t want to go. And all não tava me metendo. Mas êle não of them there,” “tried to make him go. That was quis ir. Aí eles todos juntos quis dar when he said he was a member of the gang and nêle pra obrigar êle ir. Foi quando êle that they should wait till you got back. I thought falou que era um do grupo, que êles he was right, I took his side… He’s no cop to be esperasse que tu chegasse. Eu achei treated like that…” que êle falou direito, fiquei do lado dele... Ele não é um soldado de polícia 31

para tratar êle assim... “You did right, Dry Gulch.” “Have you really - Tu fêz direito, Volta Sêca. – Tu tá got it?” mesmo com ela? “The only thing to do is what I said. We can’t - Só tem mesmo que fazer o que eu call public health here because everybody will disse. Não pode chamar a assistência find out where we’re hanging out. All we can aqui que todo mundo fica sabendo do is leave him on some street where there are onde a gente se acoita. Só tem mesmo people. Let’s do it whether he wants to or que deixar êle na rua onde passe not…” gente. Vamos fazer, tu queira ou não. “Who’s in charge here, you or me? Do you - Quem é o chefe daqui, é tu ou eu? Tu want me to bust you one?” quer que eu te rebente?.

63 Pedro bala/ Almiro / Professor Pedro Bala /Almiro / Professor

“Let me see…” - Deixe eu ver... “It’s milk pox. Black pox gets dark right - É alastrim... Bexiga negra fica logo away… ” preta...

64 Father José Pedro / Pedro Bala / Legless Padre José Pedro / Pedro Bala/ Sem- pernas

“We’ve got to get him to public heath…” - É preciso levar para a assistência... “To the pesthouse?” - Pro lazareto? “Yes.” - Sim. “ No, he’s not going,” - Não, não vai não “I’ve been saying that all along. He’s got to go - Tou dizendo isso há muito tempo. to the pesthouse.” Tem que ir pro lazareto. “ He’s not going,” - Não vai. “Why, my son?” - Por que, meu filho? “You know, Father. Nobody comes back from - Tu sabe, padre, que ninguém volta the pesthouse. Nobody comes back. And he’s do lazareto. Ninguém volta. E êle é one of us, a member of the gang. We can’t do um da gente, um do grupo. A gente that…” não pode fazer isso... “But it’s the law, my son…” - Mas é a lei, filho... “To die?” - Morrer? “He’s not going, no, Father…” - Não vai, não, padre... “Then what are you going to do, my son?” - Então que é que você vai fazer, meu filho? “Take care of him here…” - Tratar dêle aqui... “But how?” - Mas como? “I’ll call Don´Aninha…” - Chamo Don´Aninha... “But she doesn’t know how to take care of - Mas ela não sabe tratar ninguém. anyone.” “It’s better for him to die here than in the - É melhor que morra aqui que no pesthouse…” lazareto. “He’s going to give us all smallpox…” “He’s - Vai pegar bexiga em todo mundo. – going to infect everybody. We can’t let him.” Vai pegar em todo mundo. A gente 32

não pode deixar. “ Shut up you bastard, or I’ll lay you out,” - Cala a bôca, desgraçado, se não eu te arrombo. “He’s right, Bullet.” - Êle tem razão, Bala. “He’s not going to the pesthouse, Father. - Não vai pro lazareto, padre. O senhor You’re a good man, you know very well that he é bom, bem sabe que êle não pode ir. can’t go. It’s awful there, everybody dies.” Lá é uma miséria, tudo morre. “But doesn’t he have a home?” - Mas êle não tem casa? “Who?” - Quem? “Almiro. Yes, he’s got one.” - Almiro. Tem, sim... “I don’t want to go there…” “I ran away.” - Não quero ir pra lá...- Eu tinha fugido. “Take it easy, Almiro. I’ll go first, talk to your - Deixa estar, Almiro. Primeiro eu vou mother. Then we’ll take you. You’ll be all right lá, falo com tua mãe. Depois a gente there, you won’t have to go to the pesthouse. leva você. Tu lá fica bem, não tem que And Father will find a doctor to take care of ir pro lazareto. E o padre arranja um you, won’t you, Father?” médico para cuidar de tu, não arranja, padre? “ I’ll find one, yes,” - Levo, sim.

65 Canon / Father José Pedro Cônego / Padre José Pedro

“Canon….” - Cônego... “Sit down, Father. We’ve got to have a talk.” - Sente-se, padre. Temos que conversar. “This Archdiocese has received some serious - Êste Arcebispado tem graves queixas complaints about you, Father.” contra o senhor, padre. “I think you know what it’s all about…” - Creio que o senhor já sabe do que se trata... “Only if it’s the children…” - Só se é as crianças... “The sinner cannot hide his sin, it is visible in - O pecador não pode esconder seu his conscience…” pecado, ele está visível na sua consciência... “We’ve received a fair number of complaints, - Têm nos chegado bastantes queixas, Father José Pedro. The Archbishop has closed padre José Pedro. O Arcebispado tem his eyes in the hope that you would recognize fechado os olhos na esperança de que your error and correct it…” o senhor conhecesse seu êrro e se emendasse... “Not long ago the widow Santos complained - Não faz muito tempo a viúva Santos that you were helping a bunch of urchins on a queixou-se. O senhor ajudou uma square make fun of her. Rather, you were corja de moleques, numa praça, a encouraging the urchins to make fun of her… vaiá-la. Melhor, incitou os moleques a What have you got to say, Father?” que a vaiassem... Que tem a dizer, padre? “It’s not true, Canon…” - Não é verdade, cônego. “Are you telling me that the widow was lying?” - O senhor quer dizer que a viúva mentiu? “What she said wasn’t true…” - O que ela disse não é verdade... “You know that the widow Santos is one of the - O senhor sabe que a viúva Santos é 33 best supporters of religion in Bahia, don’t you? uma das melhores protetoras da You should see her gifts...” religião baiana? Não sabe dos donativos... “I can tell you the facts…” - Eu posso lhe narrar o fato... “Don’t interrupt me … Didn’t they teach you to - Não me interrompa... No Seminário be humble and respectful to your superiors in não lhe ensinaram a ser humilde e the Seminary? Maybe if you’d been one of the respeitoso com seus superiores? Se more brilliant students…” bem o senhor não tivesse sido um aluno dos mais brilhantes... “Now, however, there is a much more serious - Porém agora há uma coisa muito matter. Because of you, Father, the authorities mais grave. Por sua cause, padre, êste came to this Archdiocese. Do you know what Arcebispo foi procurado pelas you have done? Do you know?” autoridades. O senhor sabe o que fêz? Sabe? “Was it the case of the boy with milk pox?” - Foi o caso do menino com alastrim? “A boy with smallpox, yes sir. And you - Um menino com varíola, sim, concealed the case from the public health senhor. E o senhor escondeu o caso authorities…” das autoridades sanitárias... “Do you know what the leprosarium is like?” - O senhor sabe o que é o lazareto? “It’s rare for anyone to come back from there. - Pois é raro o homem que volta de lá. Much less a child... Sending a child there is Quanto mais uma criança... Mandar committing murder...” uma criança para lá é cometer um assassinato... “That’s not our business,” “That’s the business - Isso não é conosco. – Isto é com a of public health. But it´s our role to respect the Saúde Pública. Mas o nosso papel é law.” respeitar as leis. “Even when it goes against the law of God’s - Mesmo quando atentam contra a lei goodness?” da bondade de Deus? “What do you know of God’s goodness? What - Que sabe o senhor da bondade de great intelligence do you have to know the Deus? Que grande inteligência tem designs of God? Has the demon of vanity got para saber dos desígnios de Deus? O hold of you?” demônio da vaidade o dominou? “I know that I’m an ignorant priest unworthy to - Eu sei que sou um padre ignorante e serve the Lord. But these children have never indigno de servir ao senhor. Mas estas had anyone to look after them. My intentions crianças nunca tinham tido ninguém were…” que olhasse por elas. Eu tive a intenção... “Good intentions don’t excuse evil acts…” - A boa intenção não desculpa os maus atos... “Could they have been evil? They were boys - Teriam sido maus? Eram uns who had never heard anyone speak seriously meninos que nunca tinham ouvido about God. They mix God up with black idols, falar sèriamente de Deus. Misturam they’ve got no idea of religion. I wanted to see Deus com os santos dos negros, não if I could save those souls…” têm nenhuma idéia de religião. Eu quis ver se salvava aquelas almas... “I already told you that your intentions were - Já lhe disse que suas intenções foram good, but that your actions didn’t match your boas, mas suas ações não intentions…” corresponderam às intenções... “You don’t know those boys…” “They’re boys - É que o senhor não conhece êsses who are just like grown men. They live like meninos...- São meninos iguais a 34 men, they know all about life, everything… homens. Vivem como homens, You have to deal with them carefully, make conhecem a vida toda, tudo...É preciso concessions.” tratar com jeito, fazer concessões. “That’s why you do what they want you to - Por isso o senhor faz o que êles do…” querem... “Sometimes I have to do that in order to get - Às vêzes tenho que fazer para good results…” conseguir um bom resultado... “Compromising with robbery, with the crimes - Compactua com os roubos, com os of those hoodlums…” crimes dêsses perversos... “What fault is it of theirs?” “Who takes care of - Que culpa êles têm? Quem cuida them? Who teaches them? Who helps them? dêles? Quem os ensina? Quem os What love do they get? “They steal in order to ajuda? Que carinho êles têm?. – eat because all these rich people who’ve got Roubam para comer porque todos enough to throw away, to give to churches, êsses ricos que têm para botar fora, forget that hungry children exist… What para dar para as igrejas, não se fault…” lembram que existem crianças com fome... Que culpa... “Be still.” “Anyone who heard you would think - Cale-se. – Quem o visse falar diria it was a communist speaking. And it’s not so que é um comunista quem está hard. In the midst of that rabble you must have falando. E não é difícil. No meio dessa picked up their ideas… You’re a communist, an gentalha o senhor deve ter aprendido enemy of the Church...” as teorias deles... O senhor é um comunista, um inimigo da igreja... “May God be sufficiently good to forgive your - Que Deus seja suficientemente bom acts and your words. You have offended God para perdoar seus atos e suas palavras. and the Church. You’ve dishonored the priestly O senhor tem ofendido a Deus e à vestments you wear. You’ve broken the laws of Igreja. Tem desonrado as vestes the Church and of the State. You’ve acted like a sacerdotais que leva. Violou as leis da communist. That’s why we see ourselves Igreja e do Estado. Tem agido como obliged not to be in any hurry to give you the um comunista. Por isso nos vemos parish you’ve asked for. Go” “ and do penance obrigados a não lhe dar tão cedo a for your sins, dedicate yourself to the faithful of paróquia que o senhor pediu. Vá, the church where you work, and forget those penitencie-se dos seus pecados, communist ideas, if not we’ll have to take more dedique-se aos fiéis da Igreja em que serious measures. Do you think that God trabalha e esqueça essas idéias approves of what you’re doing? Remember that comunistas; se não, teremos que tomar your intelligence is not very great, you can’t medidas mais sérias. O senhor pensa penetrate the designs of God…” que Deus aprova o que está fazendo? Lembre-se que a sua inteligência é muito pequena, o senhor não pode penetrar nos desígnios de Deus... “There’s even one who wants to be a priest…” - Se tem um até que quer ser padre... “The interview is over, Father José Pedro. You - A entrevista está terminada, padre may withdraw and may God help you to think José Pedro. Pode se retirar e que Deus better…” o ajude a pensar melhor...

35

66 Good-Life / Professor Boa-vida / Professor

“Give me a cigarette, Good-Life.” - Passa um cigarro, Boa-Vida. “Are you going away?” - Tu vai embora? “Don´t tell anybody... Just the Bullet...” - Tu não diz a ninguém... Só a Bala... “Where are you going?” - Pra onde tu vai? “To the pesthouse…” - Pro lazareto... “Don’t go, Good-Life…” - Tu não vai, Boa-Vida... “Why not, buddy?” - Por que, mano? “You know… It’s the cemetery for sure…” - Tu sabe... É buraco na certa... “Do you think I’m going to hang around here so - Tu pensa que eu vou ficar aqui pra the others will get it?” pegar nos outros? “We’ll take care of you…” - A gente trata de tu... “Everybody would die. Almiro had a home, you - Morria tudo. Almiro tinha casa, tá know, I haven’t got anyone.” certo. Eu não tenho ninguém. “You tell Pedro Bala. The others don’t have to - Tu diz a Pedro Bala. Os outros não know.” precisa. “Are you really going?” - Tu vai mesmo? “When you paint my picture… Are you still - Quando tu fizer meu retrato... Tu going to paint it?” ainda vai fazer? “I am, Good-Life…” - Vou, Boa-Vida... “Don’t have me full of pockmarks, no…” - Não me faz cheio de bexiga, não...

67 Big João / Good-Life Pedro Bala /Almiro / Professor “What was the pesthouse like?” - Como era o lazareto? “You can’t describe it, you can’t. It’s too - Ninguém sabe dizer, não. É uma much… It makes you sick. When people go in coisa por demais... Uma nojeira. A there it’s like getting into a coffin…” gente quando entra é igual um que entra no caixão... “Just like getting into a box to go to the - Igual que entrasse pro caixão pra ir cemetery… Just the same…” pro cemitério... Igual... “What else?” - Que mais? “Nothing. Nothing. I don’t know... God, don’t - Nada. Nada. Não sei não... Por Deus, ask me…” “It’s just like going to the cemetery. não pergunte...- É o mesmo que ir pro Everybody is already dead.” cemitério. Tudo já está morto. “We shouldn’t ask any questions…” - A gente não devia perguntar nada... “Nothing…It’s just too awful…” - Nada...É ruim demais...

68 Old man / João de Adão / Pedro bala Homem velho/ João de Adão / Pedro Bala

“No one can change destiny. It’s something - Ninguém pode mudar o destino. É done up there,” coisa feita lá em cima. “Someday people are going to change the - Um dia a gente muda o destino dos destiny of the poor…” pobres... “No one can change it, no. It’s written up - Ninguém pode mudar, não. Está 36

there…” escrito lá em cima... “Someday people are going to change things…” - Um dia a gente muda... “What do you know about it, skirt?” - Que é que tu sabe, frangote? “He’s the son of the Blond, the father’s voice is - É o filho do Loiro, fala a voz do pai. talking,” “His father died to change people’s – O pai morreu pra mudar o destino da destiny.” gente.

69 Dora/ boy / Maid/ Dora / Garoto / Empregada

“What do you want?” - O que é que você quer? “I’d like to talk to Dona Laura. I’m the daughter - Eu queria falar com dona Laura. Sou of Margarida, who used to be her filha de Margarida, que foi lavadeira laundress…She doesn’t know that she died…” dela... Não vê que ela morreu... “Go call Mother…” - Vá chamar mamãe... “Yes, sir.” - Sim, senhor. “Are you looking for work?” - Você está procurando emprêgo? “ Yes, sir” - Tou sim, senhor. “I’ll see if I can get Mother to arrange - Vou ver se mamãe arranja um lugar something for you…” pra você...

70 Dora/ dona Laura Dora/ dona Laura

“You’d promised me a job…” - A senhora tinha me prometido um emprêgo... “What did Margarida die of?” - De que foi que Margarida morreu? “Pox, ma`am” - Da bexiga, sim, senhora. “Smallpox.” - De varíola? “The fact is I’ve already taken on another maid. - É que já tomei outra empregada. I don’t need anybody right now… ” Agora não tenho necessidade... “Would you be needing a little boy to do - A senhora não tem precisão de um shopping, run errands, things like that? He’s my menino pequeno pra fazer compra, brother…” recados, estas coisas? É meu irmão... “No, child, I wouldn’t.” - Não, minha filha, não tenho. “Do you know of anybody?” - Não sabe de ninguém? “No. If I did I’d recommend you…” - Não. Se soubesse recomendaria você... “Have you got two milreis on you, Emanuel?” - Você tem dois mil-réis aí, Emanuel? “What for, Mother?” - Pra que, mamãe? “Give them to me.” - Me dê. “Take this. God be with you…” - Leve isso para você. Que Deus lhe ajude... “Dos Reis take a cloth and some alcohol and - Dos Reis, passe um pano com álcool wipe the part of the door the girl touched. You no portão, onde esta menina pegou. can’t fool around with smallpox.” Não é bom brincar com varíola...

37

71 Big João / Professor / Dora João Grande / Professor/ Dora

“Your brother says your mother died of - Teu irmão disse que a mãe de você smallpox…” morreu de bexiga... “Papa too…” - Papai também... “One of ours died too…” - Lá também morreu um... “Your father?” - Teu pai? “No, it was Almiro, one of the gang.” - Não. Foi Almiro, um do grupo. “Did you find any work?” - Você arranjou onde trabalhar? “Nobody wants the daughter of a smallpox - Ninguém quer filha de bexiguento... man…” “Have you got a place to sleep?” - Tu tem onde dormir? “No.” - Não. “We could take her to the warehouse…” - A gente leva ela pro trapiche... “A girl… What’s Bullet going to say?” - Uma menina... O que é que Bala vai dizer? “She’s crying,” - Tá chorando. “Come with us. We sleep in a warehouse…” - Vem com a gente. A gente dorme num trapiche... “It’s not a palace but it’s better than the - Não é um palacete, mas é melhor que street…” a rua.

72 Cat/ Professor / Good-Life/ Legless / Dry Gulch Gato / Professor / Boa-Vida / Sem- pernas / Volta Seca

“New people… ” - Gente nova... “Who are they, Professor?” - Quem é, Professor? “Their father and mother died of smallpox. - A mãe e o pai morreu de bexiga. They were in the street with no place to sleep.” Tavam na rua, sem ter onde dormir. “A hearty welcome, madame…” - Boas-vindas, madame... “Who’s this little piece?” - Quem é essa lasca? “She was hungry. She and her brother. - Tava com fome. Ela e o irmão. A Smallpox killed her father and mother…” bexiga matou o pai e mãe... “She’s a knockout…” - É um peixão... “They’re all like vultures over a piece of - Tá tudo como urubu em cima da meat… ” carniça... “Professor, do you think only you and Big João - Professor tu tá pensando que a can have something to eat? Leave some for us comida é só pra tu e pra João Grande? too…” Deixa pra nós, também... “My iron’s all hot…” - Já tou com o ferro em brasa... “Look at this baby, Big Man. Crazy…” - Vê como a bichinha está, Grande. Doidinha... “You won’t get anywhere that way. She’s got to - Tu assim não arranja nada. Ela tem be for all of us.” que ser pra todos. “Can’t you see she’s just a girl?...” - Não tão vendo que é uma menina... “She’s got teats already,” - Já tem peito. “Lampião didn’t respect nobody. Let us have - Lampião também não respeita cara. her, Big Boy…” Dá ela pra gente, Grande... “Stand aside, Big Boy. It’s better that way…” - Desaparta, Grande. É melhor... 38

“Can’t you see she’s crying?” - Não vê que ela tá chorando. “What difference does that make for us? The - E nós com isso? A babaca é a pussy´s all the same…” mesma... “I’ll cut the first one…” - Furo o primeiro...

73 Pedro Bala / Good-Life / Legless / Big João / Pedro Bala/ Boa-Vida/ Sem-Pernas/ Dry Gulch / Professor / Dora João Grande /Volta Seca/ Professor/Dora

“What the hell is going on?” - Que diabo é isso? “What’s this all about?” - Que é isso? “These guys fixed themselves a meal and they - Êstes frescos arranjaram uma comida want it all for themselves. We’ve got a right to e quer que seja pra êles só. A gente it too... ” também tem direito... “That’s right. I for one would like some - Também. Eu pelo menos quero screwing today, ” trepar hoje... “They’re right…” “Give up, Big João.” - Tão com o direito... – Arreda, João Grande. “Bullet, I’ll eat the first one who gets here.” - Bala, eu como o primeiro que chegar aqui. “Get away, Big Boy.” - Sai, Grande. “Can’t you see she’s just a girl? Can’t you - Tu não tá vendo que é uma menina? see?” Tu não tá vendo? “I’ve always stood by you, Bullet. I’m your - Eu sempre tive contigo, Bala. Sou friend but she’s just a girl, the Professor and me teu amigo, mas ela é uma menina, fui brought her here. I’m your friend but if you eu e Professor que trouxe ela. Eu sou come any closer I’ll kill you. She’s just a girl teu amigo, mas se tu vier eu te mato. É and nobody’s going to hurt her…” uma menina, ninguém faz mal a ela... “We’ll knock you down and then…” - A gente te derruba e depois... “Shut up,” - Cala a bôca. “Her father, her mother died of smallpox. We - O pai dela, a mãe dela morreu de ran into her, she had no place to sleep, we bexiga. A gente encontrou ela, não brought her here. She’s no whore, she’s just a tinha onde dormir, a gente trouxe ela. girl, can’t you see that she’s just a girl? Nobody Não é uma puta, é uma menina, não vê touches her, Bullet.” que é uma menina? Ninguém toca nela, Bala. “She’s just a girl…” - É uma menina... “You’re a good man, black boy. You’re - Tu é um negro bom. Tu tá com o straight…” “Anyone who wants to, come direito... – Quem quiser vir, venha... ahead…” “You can’t do this, Bullet…” “You want to - Tu não pode fazer isso, Bala... – Tu have a taste of her now for yourself, like Big agora quer comer ela só com o Grande Boy and the Professor…” e Professor... “I swear I don’t want her, they don’t want her - Juro que não quero comer ela, nem either. She’s just a girl. But nobody touches her. êles quer. È uma menina. Mas Let anybody who wants to try it…” ninguém toca nela. Quem quiser, que venha... “I’m not going because I’m afraid. It’s because - Eu não vou não é de mêdo. É que tu you said she’s just a girl.” disse que é uma menina. 39

“Don’t be afraid. Nobody’s going to touch - Tem mêdo não. Ninguém toca em you.” você. “Are you wounded too?” - Também tá ferido? “No…” - Não... “Is he yours?” - É teu? “Yes, he is. But you can have him.” - É sim. Mas pode ficar com êle. “She leaves tomorrow. I don’t want any girls - Amanhã ela vai embora. Não quero here.” menina aqui. “No,” “I’m staying, I’ll help you… I can cook, - Não. – Eu fico, ajudo vocês... Eu sei sew, wash clothes.” cozinhar, coser, lavar roupa. “ She can stay as far as I’m concerned,” - Por mim pode ficar “Didn’t you say that no one would hurt me?” - Tu disse que ninguém me fazia mal?...

74 Cat/ Dora / Dalva Gato / Dora/ Dalva

“Dora…” - Dora... “What is it, Cat?” - Que é, Gato? “Would you like to do something?” - Tu quer fazer uma coisa? “You’re going to go blind from so much - Tu ainda fica cego de tanto lê, reading, Professor... If we only had electric Professor... Se ainda fôsse luz lights…” elétrica... “What is it, Cat?” - Que é, Gato? “This damned thread… I never saw anything so - Êsse diabo desta linha... Nunca vi hard. Getting it into the eye of this needle…” coisa mais difícil. Meter isso no rabo desta agulha... “Let me have it…” - Dê cá... “Only a woman can do something like that…” - Só mulher é que sabe fazer êsse troço... “ Shitty piece of clothing,” - É uma roupa porreta! “It’s really fine,” “Take your jacket off.” - Boa mesmo. Tira o casaco. “Anything else?” - Tem mais? “The back of my shirt…” - As costas da camisa... “ All set, Cat,” - “Tá pronto, Gato,” “You’re our little mother now…” - Você é a mãezinha da gente, agora... “What’s wrong with my little cat? What - Que foi que Gatinho teve? Que foi? happened?”

75 Dry Gulch / Professor / Dora Volta Sêca/ Professor / Dora

“It’s got news of Lampião…” “Did you know - É que traz notícias de Lampião... – that Lampião is my godfather?” Tu sabe que Lampião é meu padrim? “Godfather?” - Padrinho? “Well, he is… It was my mother who picked - Pois é... Foi minha mãe que tomou, him because Lampião´s a real man, he doesn’t porque Lampião é um macho de kowtow to anybody… My mother was a brave verdade, não respeita cara... Minha woman, a woman who could hold a rifle. One mãe era uma mulher valente, uma 40

day she chased off two cops who were acting mulher capaz de agüentar um fuzil. up. She was quite a woman… As good as a Um dia fêz correr dois soldados que se man.” fizeram de bêsta. Era um mulherão... Valia um homem. “You’re brave too… You know? My mother - Tu também é valente... Sabe? Minha was a great big woman. She was a mulatto, she mãe era um mulherão destas grandes. didn’t have blond hair, hers was the Era mulata, não tinha cabelo loiro, kinkiest…She wasn’t a girl anymore either, she tinha uma carapinha danada... Não era could have been your grandmother… But mais menina também, podia ser tua you’re like her…” avó... Mas tu parece com ela... “It may seem funny, but you remind me of her. - Parece mentira, mas tu me lembra It may seem funny, but you’re like her…” ela. Parece mentira, mas tu parece com ela... “Poor thing… How cruel!” - Coitado dêle... Que judiaria! “Son of a bitch…” “Son of a bitch of a truck - Filho de uma égua... – Filho de uma driver… If I ever catch him someday…” égua de chofer... Se um dia eu te pegar... “It’s time I was going…” - Já tá em tempo d`eu ir... “Where to?” - Pra onde? “To join up with my godfather. He needs - Pra junto de meu padrim. Êle tá me…” precisando de mim... “Are you really going, Dry Gulch?” - Tu vai mesmo, Volta Sêca? “I am, yes.” - Vou, sim. “What if the police kill you, cut off your head?” - E se a polícia te matar, cortar tua cabeça? “I swear they won’t take me alive. I’ll take one - Juro que eu êles não topa vivo. Vou of them with me, but they won’t take me com um, mas eu êles não topa vivo... alive… Don’t be afraid, don’t…” Não tem mêdo não...

76 Lollipop / Dora Pirulito / Dora

“It’s so pretty…” - É uma beleza… “Are they all yours?” - É tudo teu? “When you meet him, you’ll like him...” - Quando tu conhecer êle, vai gostar.. “Do you know I want to be a priest?” - Tu sabe que eu quero ser padre? “How nice ...” - Que bom... “Do you think I’m worthy? God is good, but he - Tu pensa que eu mereço? Deus é also knows how to punish…” bom, mas também sabe castigar... “Why?” - Por quê? “You don’t see how full of sin our life - Tu não vê que a vida da gente é is…Every day…” cheia de pecado?... Todo dia... “It’s not you people’s fault…” “You haven’t - A culpa não é da gente... A gente got anybody.” não tem ninguém. “Father José Pedro said that too. It may be...” - Padre José Pedro também já disse isso. É capaz... “... it may be that I’ll be a priest someday.” - ... é capaz que um dia eu seja padre. “ You will be, yes” - Tu vai ser, sim. “Do you want this Christ Child for yourself?” - Tu quer êsse Deus Menino pra tu? 41

77 Pedro Bala / Dora / Professor Pedro Bala / Dora / Professor

“You were good to me and my brother - Tu ontem foi bom comigo e meu yesterday…” irmão... “You should have gone away…” - Tu devia ir embora... “No, Bullet. She’s like a mother… Like a - Não, Bala. É como uma mãe... Como mother, yes. For everyone…” uma mãe, sim. Pra todos... “She’s like a mother… Like a mother…” - É como uma mãe...Como uma mãe... “I thought you might be a temptation for - Pensei que fôsse ser uma tentação everyone…” pra todos... “Later on they could take advantage of a time - Depois os outros podiam aproveitar when nobody was around…” uma hora que a gente não estava... “No. She’s like a little mother…” - Não. É como uma mãezinha... “You can stay,” - Tu pode ficar “She’s like a Mother!” - É como uma mãe!

78 Pedro Bala / Dora Pedro Bala / Dora

“You’re funny…” - Tu tá gozada... “It isn’t right for you people to feed me every - Não tá direito que vocês me dê de day. Now I can take part in what you do.” comer todo dia. Agora eu tomo parte no que vocês fizer. “You mean…” - Tu quer dizer... “… that you’re going out with us on the streets, -... que vai andar com a gente pela rua, doing things …?” batendo coisas... “That’s right.” - Isso mesmo. “You’re crazy…” - Tu endoidou... “I don’t see why.” - Não sei por quê. “Don’t you see that you can’t? This isn’t - Tu não tá vendo que tu não pode? anything for a girl. This is something for men.” Que isso não é coisa pra menina. Isso é coisa pra homem. “As if you were all great big men. You’re all - Como se vocês fôsse tudo uns boys.” homão. É tudo uns menino. “But we wear pants, not skirts…” - Mas a gente veste calça, não é saia... “ Me too,” - Eu também. “If the police grab us they haven’t got anything. - Se a polícia pegar a gente não tem But what if they grab you?” nada. Mas se pegar tu? “It’s the same thing.” - È igual. “They’ll put you in the Orphanage. You don’t - Te metem no Orfanato. Tu nem sabe know what it’s like…” o que é... “No more to be said. I’m going with you people - Tem nada não. Eu agora vou com now.” vocês. “You’ll see that I’m the equal of any one of - Tu vai ver como eu vou ser igual a them...” qualquer um... “Have you ever seen a woman do what a man - Tu já viu uma mulher fazer o que um can do? You couldn’t stand up under a homem faz? Tu não agüenta um 42

shove…” empurrão... “I can do other things…” - Posso fazer outras coisa.

79 Ezequiel / Pedro Bala/ Ex- Captains of the sand Ezequiel / Pedro Bala / Ex- Capitão da Areia

“Can’t you see where you’re going?...Are you - Não vê onde pisa?... Agora anda blind or something?” cego? “What do you want?” - O que é que tu quer? “How are things with those faggots?” - Como vão aquêles frescos? “Do you still remember the beating you got - Tu ainda se lembra da surra que there? You should keep your mouth shut.” apanhou lá? Tu ainda deve guardar a marca. “One of these days I’m going to pay a visit to - Um dia dêstes vou fazer uma visita a you people.” vocês. “A visit?” - Uma visita? “They say that you’ve got a little whore there - Diz-que agora vocês tem uma for everybody now …” putinha lá pra todo mundo... “Bite your tongue, you son of a bitch.” - Dobre a língua, filho da mãe. “Hold him good,” - Segura êle bem. “Admit that I’m your boss.” - Fique sabendo que eu sou teu patrão. “Four…” - Quatro... “Look alive, kid. Beat it, before I run you in.” - Desaperta, corneta. Dá o fora antes que lhe leve pro xilindró.

80 Pedro Bala/ Dora Pedro Bala / Dora

“Did you get the dough?...” - Segurou os cobres?... “What happened, brother?” - Que foi, meu irmão? “Ezequiel and three others. They’re only men - Ezequiel mais três. Só são homem de when there are four or more… ” quatro pra cima... “Did he do that to you?” - Fêz isso em tu? “There were four of them. Even so, they hit me - Foi quatro. Assim mesmo porque me when I wasn’t looking. I was dumb enough to pegaram desprevenido. Eu caí na think Ezequiel was alone. There were four of besteira de pensar que Ezequiel vinha them.” só. Era quatro. “We’ll get rid of them once and for all.” - A gente acaba com êles desta vez. “Are you coming too?” - Tu vai também? “I am…” - Se vou... “What was the fight about?” - Por que foi a briga? “Nothing.” - Por nada. “Tell me....” - Diga... “He said some things…” - Êle disse umas coisas... “It was because of me, wasn’t it?” - Foi por causa de mim, não foi?

43

81 Pedro Bala / Dora Pedro Bala / Dora

“You’re my sweetheart now. Someday we’ll get - Tu agora é minha noiva. Um dia a married.” gente se casa. “You’re my boyfriend.” - Tu é meu noivo.

82 Good-Life / Dora / Pedro Bala/ Legless Pedro Bala / Dora

“I’m learning how to play a wild samba. And - Tou aprendendo tocar um samba I’m going to get me a guitar, sister.” porreta. E tou cavando um violão, irmã. “You really are playing good, brother.” - Tu tá tocando batuta mesmo, mano. “It went over big at parties…” - É um tal de sucesso nas festa... “Four against one…” - Quatro contra um... “He needs a lesson,” “I won’t let the guy get - Precisa duma lição. – Eu não vou away with it.” com aquêle cara.

83 Legless / Dora Sem-Pernas / Dora

“She even looks like Rosa Palmeirão.” - Até parece Rosa Palmeirão. “Thank you, brother.” - Obrigada, mano.

84 Legless / Big João / Professor Sem-Pernas / João Grande / Professor

“He’s in the Reformatory now. I saw him when - Êle já tá no Reformatório. Eu vi he left the police station. ” quando saiu da polícia. “And she’s in the orphanage…” - E ela no orfanato... “We’ll get them out,”. Until Pedro Bala gets - A gente livra êles. - Até Pedro Bala out, you’re the leader, Legless.” chegar, tu fica como chefe, Sem- Pernas. “People, until Bullet comes back, Legless is the - Gentes, até Bala voltar, Sem-Pernas leader…” é o chefe... “He stayed behind so we could be free. We - Êle ficou pra livrar a gente. É preciso have to free him. Isn´t that right?” que a gente livre ele. Não é direito?

85 Detective / Pedro Bala / Reformatory Director Investigador / Pedro Bala / Diretor do Reformatório

“Now that the reporters have gone, kid, you’re - Agora os jornalistas já foram, going to tell us what you know, whether you moleque. Tu agora vai dizer o que like it or not.” sabe, queira ou não queira. “Talk now…” - Ora, se diz... 44

“Where do you sleep?” - Onde é que vocês dormem? “If you think I’m going to tell…” - Se tá pensando que eu vou dizer... “You will…” - Se vai... “You can stand on your head.” - Pode esperar deitado. “You still won’t talk?” “This is just the - Ainda não vai dizer? – Isso é só o beginning.” começo. “No,” - Não “He´s fainted,” - Desmaiou “Leave him to me,” “I’ll take him to the - Deixe êle por minha conta. – Eu levo Reformatory, he’ll open his mouth there. I êle pro Reformatório, lá êle abre a guarantee it. I´ll let you know.” boca. Garanto. E eu dou o aviso a vocês.

86 Reformatory Director / Beadle Ranulfo Diretor do Reformatório/ bedel Ranulfo

“At last… I’ve been waiting a long time for this - Afinal... Faz bastante tempo que pigeon, Ranulfo.” espero êste pássaro, Ranulfo. “He’s the leader of those so-called Captains of - É o chefe dos tais Capitães da Areia . the Sands. Look at him…The born criminal Veja... O tipo do criminoso nato. É type. It’s true you haven’t read Lombroso… verdade que você não leu Lombroso... But if you’d read him, you’d understand. He Mas se lesse, conheceria. Traz todos has all the marks of the criminal on his face. At os estigmas do crime na face. Com his age he has a scar already. Look at his esta idade já tem uma cicatriz. Espie eyes… He can’t be treated like an ordinary os olhos... Não pode ser tratado como person. We’re going to give him special um qualquer. Vamos lhe dar honras honors…” especiais... “Shall I put him with the others?” - Levo pra junto dos outros? “What? No. Put him in the hole to start. Let’s - O quê? Não. Para começar, meta-o see if he comes out of there a little reformed…” na cafua. Vamos ver se êle sai um pouco mais regenerado de lá... “Diet number 3.” - Regime número 3. “Black bean and water...” “You’re going to - Água e feijão... – Vai sair bem mais come out a lot thinner.” magro.

87 Pedro Bala/ Someone Pedro Bala / Someone

“Is someone out there?” - Tem alguém aí? “Who’s in there?” - Quem é que tá aí? “Pedro Bala.” - Pedro Bala “Are you the leader of the Captains of the - Tu é o chefe dos Capitães da Areia ? Sands?” “ I am” - Sou. “I’ve got a message for you, someone brought it - Tenho um recado pra você, um today… ” trouxe hoje... “Let me have it...” - Solta logo... “Someone’s coming now. I’ll be back later - Agora vem gente. Depois volto. 45

88 Pedro Bala/ Ranulfo Pedro Bala / bedel Ranulfo

“Hey, take it easy…” - Ei, calma... “Could you give me a little more water?” - Pode me dar um pouco mais de água? “Tomorrow…” - Amanhã... “Just another mug.” - Só um pouco mais. “You’ll have more tomorrow. And if you keep - Amanhã tem mais. E se você on pounding on the door and hollering, instead continuar a bater na porta e gritar em of one week spend two.” vez de oito passa quinze dias.

89 Pedro Bala/ Someone Pedro Bala / Someone

“Are you there?” - Tá aí? “A crippled guy said to tell you they’re going to - Um capenga mandou dizer que vão get you out of here. As soon as you come out of te tirar daqui. Logo que tu saia da the hole…” cafua... “Is it nighttime yet?” - Já é de noite? “It’s just starting…” - Tá começando... “I’m dying of thirst.” - Tou morto de sêde. “I can’t give you any water. There’s no way to - Água não posso. Não tem como pass it to you. But do you want a cigarette?” passar. Mas quer um cigarro? “Yes, I do.” - Quero, sim. “Wait, then.” - Então espera. “I’m going to pass the cigarette through here. - Vou passar o cigarro por aqui. Ponha Put your hands underneath, right in the middle as mãos em baixo, bem no meio da of the crack under the door.” grêta da porta. “ Thanks a lot,” - Obrigado. “If you try to communicate with people outside, - Se tentar se comunicar com os de your punishment will be increased.” fora, seu castigo será aumentado.

90 Pedro Bala/ Someone Pedro Bala / Someone

“How many days have I been here?” - Quantos dias já tem que tou aqui? “Five.” - Cinco. “Give me another cigarette.” - Me dá outro cigarro.

91 Reformatory Director / Beadle Fausto Diretor do Reformatório / bedel Fausto

“Get up…” - Levanta... “Let’s see if you’re a little tamer now.” - Vamos ver se agora fica mais manso. 46

“Did you like your apartment? Do you still feel - Gostou do apartamento? Continua like stealing? I know how to teach and break com muita vontade de roubar? Eu sei young hoodlums here.” ensinar, quebrar moleque aqui. “The blacksmith’s shop?” - Na oficina de ferreiro? “I think the field is better. Digging in the - Acho que é melhor na plantação de ground…” cana. Lavrar terra... “Keep your eye on him. He’s a bad bird. But - Ôlho nele. Êste é um pássaro ruim. I’ll teach him…” Mas eu te ensino... “Have you got a machete, a sickle?” - Tem um facão? E uma foice?

92 Pedro Bala / Boy Pedro Bala / Boy

“You’re Pedro Bala, aren’t you?” - Tu que é Pedro Bala, não é? “Yes.” - Sim. “I’m the one who brought you the message.” - Fui eu que trouxe o recado. “Have they come back?” - Êles têm voltado? “Every damned day. They only wanted to know - Todo santo dia. Só quer saber when you were getting out of the hole.” quando tu sai da cafua. “Tell them I’m in the cane field…” - Diz que eu tou no canavial... “Would you like a little ass tonight? We’ve got - Tu não quer comer um sacana hoje? some boys here, at night we…” Tem uns aqui, a gente de noite... “I’m dead tired… How long was I in there?” - Tou morto de sono... Quanto tempo levei? “A week. Somebody died there once.” - Oito dias. Já morreu um ali.

93 Beadle Fausto Pedro Bala / Boy

“What’s going on there?” - Que barulho é êsse? “Everybody on your feet.” - Todos de pé. “Nobody knows anything?” - Ninguém sabe? “Nobody has anything to say?” - Ninguém diz? “Then you can all stand for an hour... Until - Então ficarão todos uma hora de pé... eleven o’clock. And the first one who tries to go Até as onze. E o primeiro que tentar to bed goes into the hole. It’s empty now…” deitar vai pra cafua. Agora está desocupada... “Mister beadle…” - Seu bedel... “Speak, Henrique.” - Fale, Henrique. “I know…” - Eu sei... “Tell us what you know.” - Diga o que sabe. “It was Jeremias who was going to Berto’s bed - Foi Jeremias, que ia para cama de to do something dirty.” Berto fazer coisa feia. “Mr. Jeremias, Mr. Berto!” - Seu Jeremias, seu Berto! “Stand by the door. Until midnight. The rest can - De pé na porta! Até meia noite. Os go to bed.” outros podem deitar. Os castigados estão de pé na porta.

47

94 Pedro Bala / Tablemate Pedro Bala / colega de refeitório

“Are you the leader of the Captains of the - Tu é o chefe dos Capitães da Areia ? Sands?” “Yes, I am.” - Sou, sim. “I saw your picture in the paper…You´ve got - Vi teu retrato no jornal... Tu é um guts! But they did you in.” macho! Mas te acabaram. “Are you going to stay here?” - Tu vai ficar aqui? “I’m getting out…” - Vou arribar... “Me, too. I’ve got a plan… When I take off can - Eu também. Tenho um plano... I join your gang?” Quando eu bater asa, posso ir pra teu grupo? “Sure.” - Pode. “Where’s your hideout?” - Onde fica o buraco? “You’ll find the guys at Campo Grande every - Tu encontra da gente no Campo afternoon.” Grande tôda tarde. “Do you think I’ll tell?” - Pensa que eu vou dizer?

95 Pedro Bala / Beadle Pedro Bala / Bedel

“Where were you hiding?” - Onde estava metido? “I left so I wouldn’t get mixed up in it.” - Saí para não me meter no barulho. “Put him in the hole.” - Metam-no na cafua. “Jeremias is already there,” - Já está Jeremias. “Put them both in. They can talk that way… ” - Ficam os dois. Assim podem conversar...

96 Pedro Bala / neighbor Pedro Bala / vizinho

“Are you running away?” - Tu vai bater asa? “Look, stooly, try to sleep. If you so much as - Olha, xerêta, trata de dormir. Se tu peep I’ll cut your throat, I swear as I’m Pedro piar, eu te abro a garganta, palavra de Bala. And if you say anything after I’ve gone… Pedro Bala. E se tu disser alguma Have you heard tell of the Captains of the coisa depois que eu sair... Tu já viu Sands?” falar dos Capitães da Areia ? “I have.” - Já. “Well, they’ll get even for me.” - Pois êles me vingam.

97 Sister / Dora / Pedro Bala/ Cat Irmã / Dora/ Pedro Bala / Gato

“She’s very sick…” - Ela está muito doente... “I’m coming, Pedro.” - Eu vou, Pedro. 48

“Duck soup....” - Foi canja... “Let’s get out of here before they give the - Vamos embora antes que alarmem. alarm.”

98 Dora / Pedro Bala Dora/ Pedro Bala /

“Pedro?” - Pedro? “What is it?” - Que é? “Come closer.” - Chegue aqui. “Do you want something?” - Tu quer alguma coisa? “Do you love me?” - Tu gosta de mim? “You know I do...” - Tu bem sabe... “Lay down here.” - Deita aqui. “Closer...” - Mais perto... “Do you know that I’m a woman now?” - Tu sabe que já sou môça? “It was at the Orphanage… Now I can be your - Foi no Orfanato... Agora posso ser wife.” tua mulher. “No, you´re sick...” - Não, que tu tá doente... “Before I die. Come...” - Antes de eu morrer. Vem... “You´re not going to die.” - Tu não vai morrer. “Not if you come to me.” - Se tu vier, não. “ You’re mine now,” - Tu é minha agora. “It’s good… I’m your wife.” - É bom... Sou tua mulher. “ Now I’m going to sleep,” - Agora vou dormir.

99 Big João / Pedro Bala/ Father José Pedro/ João Grande / Pedro Bala / Padre José Aninha Pedro / Aninha

“You shouldn’t have done it…” - Tu não devia ter feito... “ She was the one who wanted to,” - Foi ela que quis. “She’s dead” - Está morta. “Our Father, who art in heaven…” - “Padre-nosso que estais no céu...” “She was like a shadow in this life. She became - Foi como uma sombra nesta vida. a saint in the other. Zumbi dos Palmares is a Vira santa na outra. Zumbi dos saint in halfbreed candomblés , Rosa Palmeirão Palmares é santo dos candomblés de too. Brave men and women became saints for cabloco, Rosa Palmeirão também. Os blacks...” homens e as mulheres valentes viram santos dos negros... “She was like a shadow...” - Foi como uma sombra... “She’s gone to heaven, she had no sins. She - Vai pro céu, não tinha pecado. Não didn’t know what sin was…” sabia o que era pecado...

49

100 Professor / Big João / Pedro Bala Professor / João Grande / Pedro Bala

“I’m going away, Bullet…” - Vou embora, Bala... “Where to, buddy?” - Para onde, mano? “What’s this life going to get us? Just a - Que adianta a vida da gente? Só beating at the police station when they catch pancada da polícia quando pegam a us. Everybody says it might change gente. Todo mundo diz que um dia someday…Father José Pedro, João de Adão, pode mudar... Padre José Pedro, João even you. Now I’m going to change mine… ” de Adão, tu mesmo. Agora vou mudar a minha... “I’m going to study with a painter in Rio. Dr. - Vou estudar com um pintor do Rio. Dantas, the one with the cigarette holder, Dr.Dantas, aquêle da piteira, escreveu wrote to him, sent him some of my sketches. a êle, mandou uns desenhos meus. Êle He sent word to send me down… Someday mandou dizer que me mandasse... Um I’m going to show what our life was like… dia vou mostrar como é a vida da I’m going to paint everybody’s picture… You gente... Faço o retrato de todo talked about it once, remember? Well, I’m mundo... Tu falou uma vez, lembra? going to do it…” Pois faço... “You’re going to change our lives too…” - Tu também vai ajudar a mudar a vida da gente... “How?” - Como? “We’ll never forget you, buddy… You read - A gente nunca te esquece, mano... Tu us stories, you were the sharpest of the lia história pra gente, era o mais batuta group... The sharpest…” da gente... O mais batuta... “People, people!” - Gentes! Gentes! “People, Professor’s going away. He’s going - Gentes, o professor vai embora. Vai to be a painter in Rio de Janeiro. People, let’s ser um pintor no Rio de Janeiro. give a cheer for the Professor.” Gentes, viva Professor! “He’ll meet you at the pier. I sent a telegram. - Êle o esperará no cais. Telegrafei. I hope you won’t betray the trust I’ve put in Espero que você não trairá a confiança your talents.” que depositei no seu talento.

101 Canon / Superior of the Capuchins / Father Cônego / Superior dos Capuchinos / José Pedro Padre José Pedro

“You’ve given us a lot of trouble, Father, with - O senhor nos deu muito que fazer, your mistaken ideas on upbringing. I hope padre, com suas idéias erradas acêrca that the Archbishop’s goodness in giving you de educação. Espero que a bondade do this parish will make you think about your sr. Arcebispo lhe dando esta paróquia obligations and give up those Bolshevik fará com que o senhor pense nas suas innovations. ” obrigações e desista dessas inovações soviéticas. “The Canon tells me that among those boys - O sr. cônego me disse que entre there’s one who has a priestly vocation…” êsses meninos há um que tem vocação sacerdotal... “I was going to mention that very same - Ia falar disso mesmo. – Nunca vi thing,” “I’ve never seen such a firm uma vocação tão decidida. 50

vocation.” “Because we’re in need of a brother. It isn’t - Porque nós estamos em falta de um the same as being a priest, I know that full irmão. Não é o mesmo que ser padre, well. But it’s quite close to it. And if his bem sei. Mas está muito próximo. E se vocation is real, the order might have him a sua vocação é verdadeira, a ordem study and even have him ordained.” pode fazê-lo estudar e mesmo se ordenar. “He’ll be wild with happiness.” - Êle vai ficar louco de alegria. “Will you answer for him?” - O senhor responde por êle?

102 Pedro Bala / Father José Pedro Pedro Bala / Padre José Pedro

“You were good to us, Father. A good man. - O senhor foi bom pra gente, padre. We’re not going to forget you… ” Um homem bom. A gente não vai esquecer o senhor... “Do you know Brother Francisco of the Holy - Conhecem o irmão Francisco da Family?” Sagrada Família? “He’ll pray for you…” - Êle rezará por vocês...

103 Pedro Bala / Legless Pedro Bala / Sem-pernas

“It´s Lollipop... ” - É Pirulito... “What’s it got him?” - Que adianta? “Barely enough to eat...” - Não dá de comer... “Someday he’ll be a priest too. He has to go - Tem que ser é tudo junto. all the way.” “Goodness isn’t enough.” - A bondade não basta. “Only hate…” - Só o ódio... “Not hate, not goodness. Only the struggle.” - Nem o ódio, nem a bondade. Só a luta.

104 Pedro Bala / Legless Pedro Bala/ Sem-pernas

“Think you can get in?” - Tu é capaz de penetrar? “I can…” - Se sou... “Then we’ll raid.” - Depois a gente invade. “I’ll go over tomorrow.” - Amanhã de manhã vou lá.

51

105 Old maid / Legless / Spinster Empregada / Sem-pernas / Vitalina

“Do you want something?” - Quer alguma coisa? “I’m a poor crippled orphan.” “I don’t want to - Eu sou um pobre órfão e aleijado. – live by stealing or begging. Have you got any Não quero viver furtando, nem work for me to do? I could do your pedindo esmola. A senhora tem um shopping.” trabalho para mim? Posso fazer compras. “All right.” - Tá bem. “I’m going to make some money while I’m - Aqui vou é fazer dinheiro... here...” “You’re a very smart lady…” - A senhora é muito inteligente... “Thank you, son.” - Obrigada, meu filho.

106 Cat / Big João / Pedro Bala Gato / João Grande / Pedro Bala

“Say, isn’t that Cat?” - Pois não é o Gato? “Life’s about to begin…” - Agora vou começar a vida... “Buddy, I’m going to Ilhéus. The old lady is - Mano, vou para Ilhéus. A patroa vai going to try out life there. I’m going with her. cavar a vida. Eu vou com ela. Sou I might even get rich. Where there are capaz de enricar. Quando tiver plantation owners, you can pull a big fazendeiro a gente vai fazer uma farra swindle.” daquelas.

107 Fat Colonel / Dry Gulch / Lampião/ Zé Bahia Coronel Gordo / Volta Seca / lampião/ Zé Bahia.

“Captain Virgulino...” - Capitão Virgulino... “Inside.” - Para dentro. “Godfather...” - Meu padrim... “Who are you?” - Quem é tu? “I’m Dry Gulch, the son of your good - Sou Volta Sêca, filho de tua friend…” comadre... “Godfather, let me stay with you... Give me a - Meu padrim, deixe eu ficar com rifle.” você... Me dê um fuzil. “You’re still a boy…” - Tu ainda é um menino... “Not anymore, no, I’ve already had a fight - Não sou mais, não, já briguei com with a cop…” soldado... “Zé Bahia, give Dry Gulch a rifle…” - Zé Baiano, dá um fuzil a Volta Sêca... “Guard this exit. If anyone tries to escape, - Tu guarda esta saída. Se um quiser shoot him.” arribar, mete fogo. “Let me, godfather. They beat me in the - Deixe pra mim, padrim. Êles me 52

police station, they beat a lot of kids.” bateram na polícia, bateram em muito menino. “This kid is a good one…” - Êste menino é dos bons... “His mother was a tough one, she was my - A mãe dêle era um bicho, minha good friend…” comadre... “A real wild beast…” - Uma verdadeira fera...

108 Pedro Bala / Outrigger / Big João Pedro Bala / Barandão / João Grande

“It’s nice…” - Tá bonito... “There’s going to be a wing-ding today.” - Hoje vai ter fuzuê. “I wouldn’t want to be a motorman or a - Eu é que não queria ser condutor de conductor. They don’t get a pig’s wages. bonde, nem motorneiro. Ganha uma They did the right thing… ” porcaria. Êles faz bem... “Shall we go have a look?” - Vamos espiar? “It’s nice…” - Tá bonito...

109 João de Adão / Comrade Alberto / Pedro Bala Pedro Bala / Barandão / João Grande

“You got a lot of cheers today, eh?” - Tu hoje ganhou viva, hein? “Captain Pedro, I’d like to introduce you to - Capitão Pedro, eu quero apresentar a Comrade Alberto.” tu o companheiro Alberto. “He’s a student at the University, but he’s our - É um estudante da Faculdade, mas é comrade.” um companheiro da gente. “I’ve heard a lot about you and your gang. - Já ouvi falar muito em você e em seu You’re really something…” grupo. Você é um batuta... “We’re tough, that’s for sure,” - A gente é macho, sim. “Captain, we’ve got to talk to you. We’ve got - Capitão, a gente tem que conversar business with you. Something serious. com tu. Tem um assunto com tu. Um Comrade Alberto here...” troço sério. Aqui o companheiro Alberto... “Shall we go inside?” - Vamos para dentro? “He´s a friend of João de Adão. Come with - É um amigo de João de Adão. Vem us, Big boy.” com a gente, Grande. “How awful!” - Que horror! “What a great thing the strike is! I never saw - Que coisa porreta a greve! Nunca vi anything so nice. It’s like a big festival…” coisa tão bonita. É como uma festa... “The strike is the poor people’s festival…” - A greve é a festa dos pobres... “My father died in a strike, did you know - Meu pai morreu numa greve, tu that? Ask João de Adão if you don’t believe sabe? Pergunte a João de Adão se está me…” duvidando... “It was a beautiful death,” “He was a - Foi uma morte bonita. Êle foi um champion of his class. Wasn’t he the Blond?” campeão da sua classe. Não foi o Loiro? “Do you find the strike nice, Pedro?” - Você acha a greve bonita, Pedro? “Comrade, this fellow is a great one,” “You - Companheiro, êsse é um porreta. Tu 53 don’t know the Captains of the Sands or não conhece os Capitães da Areia Captain Pedro… He´s a comrade...” nem Capitão Pedro... É um “Well, Comrade Pedro, we need you and your companheiro... gang.” - Pois companheiro Pedro, a gente “What for?” precisa de você e do seu grupo. “This black man here is Big João, a good - Pra quê? man. Anyone good may be the equal of Big - Êste negro é João Grande, um negro João, there isn’t anyone better…” bom. Quem fôr bom é igual a João “You people are great...” Grande, melhor não é... “Is it true that Dry Gulch was one of you?” - Vocês são uns batutas... - É verdade que Volta Sêca foi um de “We’ll get him out of jail someday...” vocês? “Is it for the strike that you need us?” - Um dia a gente tira êle da cadeia... “And if it is?” - É pra greve que precisa da gente? “If it’s for helping the strikers my mind’s - Se fôr? already made up. You can count on us…” - Se fôr pra ajudar os grevistas tou “You don’t see…” decidido. Pode contar com a gente... “The strike is proceeding in a very orderly - Tu não vê... way. We want to do things in orderly fashion - A greve está indo muito em ordem. because that way we’ll win and the workers Nós queremos fazer as coisas com will get their raises. We don’t want to start muita ordem, porque assim any trouble, we want to show that the workers venceremos e os operários are capable of discipline.” “ But it so happens conseguirão o aumento. Nós não that the directors of the Company are hiring queremos armar barulho, queremos strike-breakers to go to work tomorrow. If the mostrar que os operários são capazes workers break up the groups of strike- de disciplina. Mas acontece que os breakers, they’ll give the police an excuse to diretores da Companhia andam intervene and everything will be lost… Then contratando fura-greves para trabalhar Comrade João de Adão thought about you amanhã. Se os operários dissolverem people...” os grupos de furadores de greve, darão margem a que a polícia intervenha, e está todo o trabalho perdido... Então o companheiro João de Adão lembrou “Break up the strike-breakers? Such thing,” vocês... - Para debandar os fura-greves? Tá “You people don’t know the Captains of the certo. Sands.” - Vocês não conhecem os Capitães da “If Legless was alive, if Cat was only here…” Areia . - Se Sem-Pernas tivesse vivo e Gato “Professor would have thought up a good plan tivesse aqui... in a minute… Then he would have sketched a - Professor inventava um plano bom picture of the fight. He’s in Rio now.” num minuto... Depois fazia um “Who’s he?” desenho da briga. Agora tá no Rio. “Somebody called João José, who we used to - Quem é? call Professor. He’s painting pictures in Rio - Um chamado João José, que a gente now.” tratava de Professor. Agora tá “He’s the painter João José?” pintando quadro no Rio. “The very same,” - É o pintor João José? “I’d always thought that story was made up. - Êsse mesmo. Do you know that he’s a good comrade?” - Eu sempre pensei que fôsse lenda 54

essa história. Sabe que êle é um “ He always was a good comrade,” companheiro bom? “The strike is a festival for the poor. The poor - Sempre foi um companheiro bom. people are all comrades, our comrades.” - A greve é a festa dos pobres. Os pobres é tudo companheiro, “You’re terrific,” companheiro da gente. “You’ll see how we’ll take care of those - Você é um batuta. traitors.” - Vai ver como a gente acaba com os “I’ll go with one group to the main yard. Big traidor. João will take another. Outrigger will take a - Eu vou com um grupo pro depósito third one to the smaller yard. Nobody gets in. maior. João Grande vai com outro. We know what to do. You´ll see...” Barandão com o terceiro para o menor. Não entra ninguém. A gente “I’ll be there to see,” “So, at four in the sabe fazer. Tu vai ver... morning?” - Eu estarei lá para ver. – Então, às “That´s right.” quatro horas da madrugada? “See you later, Comrades...” - Tá certo. - Até logo, companheiros...

110 Comrade Alberto / Pedro Bala Companheiro Alberto / Pedro Bala

“There they come, Comrade.” - Êles já vêm, companheiro. “Wait and see.” - Espera pra ver. “You’re the greatest bunch I’ve ever seen… ” - Vocês são os mais batutas que eu já vi... “ Comrades, Comrades,” - Companheiros, companheiros.

111 Pedro Bala / Cat Pedro Bala / Gato

“Bullet!” - Bala! “Is that you, Cat?” - É tu, Gato? “Let’s get out of here.” - Vamos sair daqui. “I almost didn’t recognize you… ” “What - Quase não te reconheço... – E Dalva? about Dalva?” “She took up with a colonel. But I’d already - Ficou amigada com um coronel. Mas left her. Now I’ve got a terrific little dark eu já tinha deixado ela. Agora tenho girl…” uma moreninha do balacubaco... “What about the big ring that Legless used to - E aquêle anelão que Sem-Pernas make fun of?” fazia troça? “I pawned it off for five hundred on a colonel - Empurrei por quinhentão num who had plenty… The clown swallowed it coronel cheio da nota... O bicho without a complaint…” engoliu sem gritar...

55

112 Pedro Bala / Outrigger / Captains of the Sands Pedro Bala / Barandão / Capitães da Areia

“People, I’m going away now, I’m going to - Gentes, agora eu vou embora, vou leave you. I’m going away, Outrigger is the deixar vocês. Vou embora, Barandão leader now. Alberto will still come to see you, agora fica o chefe. Alberto vem do what he says. And everybody listen: sempre ver vocês, vocês devem fazer Outrigger is leader now.” o que êle diz. E todo mundo ouça: Barandão agora é o chefe. “People, Pedro Bala is going away. Three - Gentes, Pedro Bala vai embora. Viva cheers for Pedro Bala…” Pedro Bala!... “Bullet, Bullet, ” - “Bala!” “Bala!”.