Universidade de São Paulo Escola de Comunicações e Artes
MUSEUS E COLEÇÕES UNIVERSITÁRIOS: POR QUE MUSEUS DE ARTE NA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO?
Adriana Mortara Almeida
Tese apresentada à Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo como exigência parcial para obtenção do grau de Doutor em Ciências da Informação e Documentação
Orientadora: Maria Helena Pires Martins
São Paulo 2001 Universidade de São Paulo Escola de Comunicações e Artes
MUSEUS E COLEÇÕES UNIVERSITÁRIOS: POR QUE MUSEUS DE ARTE NA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO?
Adriana Mortara Almeida
Tese apresentada à Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo como exigência parcial para obtenção do grau de Doutor em Ciências da Informação e Documentação
Orientadora: Maria Helena Pires Martins
São Paulo 2001
Comissão Julgadora
Dedico essa tese ao Rodrigo, que trouxe uma imensa felicidade para minha vida, ao Cláudio, que me alimenta com seu amor e aos meus pais. Agradecimentos
Esta tese não poderia ter sido realizada sem o apoio financeiro da FAPESP e sem o apoio, direto ou indireto, de todos os colegas profissionais, amigos e familiares. Agradeço a Maria Helena, que sempre acreditou em meu trabalho e me deu força quando precisava, enriquecendo e aperfeiçoando-o. E também ao seu carinho como “avó” do Rodrigo. Gostaria de agradecer a todos os profissionais de museus que dedicaram seu tempo a responder minhas perguntas, seja por escrito, por telefone, pessoalmente, enfim, a vocês que tornaram possível recolher informações sobre os inúmeros museus universitários do Brasil e de fora do Brasil. Alguns ainda me forneceram fotografias, catálogos e publicações que alimentaram nosso “banco de dados” sobre museus universitários de arte. Aos colegas do MAC agradeço sua paciência e atenção em fornecer informações, documentos e materiais essências para esse trabalho, especialmente a Meg, a Sara, a Ana, ao Martin, a Isis e a Maria Helena. Aos funcionários do IEB agradeço sua paciência e atenção em fornecer informações, documentos e materiais essências para esse trabalho, especialmente a Eliane, Ana Paula, Inês, a equipe do Arquivo, a Marta Rossetti e Murillo Marx. Agradeço às equipes da CPC/USP, por seu empenho em ajudar a encontrar os dados que precisava, especialmente Christina, Luís, Liana e Henrique. A VITAE agradeço pela autorização de consulta à parte de seus cadastros. Ao Michel e toda equipe do GREM, agradeço por todo apoio dado para minha pesquisa no Canadá; aos profissionais do Reference Center da Smithsonian Institution, por sua paciência e confiança em minha pessoa. Aos amigos agradeço o apoio dado durante todo esse período estando sempre prontos a dar uma palavra amiga. Agradeço especialmente Teresa e Denise. Ao Gilson pelo desenho das plantas. A Magda e equipe da Prata da Casa pelo tratamento das imagens. Aos meus familiares, irmãos, irmãs, cunhados, cunhadas, tios e tias, agradeço todas as ajudas, especialmente ao tio Valério e Laura pelas revisões e traduções, a Bilu pela pesquisa e ao Bruno e Fábio pela edição e impressão. Aos professores Murillo Marx e Teixeira Coelho pelas sugestões e críticas feitas no exame de qualificação, que auxiliaram muito no desenvolvimento da tese.
Resumo
Essa tese trata do perfil dos museus universitários – sua origem, desenvolvimento e perfil atual -, com ênfase para os museus de arte. Procura definir o que seria um museu universitário modelo e busca identificar o quanto desse modelo existe na prática. Descreve a formação e as características dos museus da Universidade de São Paulo e dos museus universitários de arte no Brasil. Analisa a coleção e o museu de arte da Universidade de São Paulo – Coleção de Artes Visuais do Instituto de Estudos Brasileiros e Museu de Arte Contemporânea – diante do modelo proposto para museus universitários. E finalmente, discute a necessidade da Universidade de São Paulo possuir ou não essas coleções de arte.
Abstract
This thesis addresses the profile of university museums –their origin, development and current profile– with emphasis on art museums. It attempts to define what a model university museum should be and to compare it to the existing situation. It describes the foundation and characteristics of the University of São Paulo museums and of university art museums in Brazil. It analyses the art collection and the University of São Paulo art museum –Visual Arts Collection of the Brazilian Studies Institute and the Contemporary Art Museum– in comparison to the university museum model proposed. And finally it discusses the need for those art collections in the University of São Paulo. Sumário
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INTRODUÇÃO ...... 1
CAPÍTULO 1: Origens e desenvolvimento de museus universitários ...... 9 1. Mas o que seria um museu universitário? ...... 10 2. Origens? ...... 11 3. A universidade vista como guardiã segura e digna para coleções já formadas ...... 13 3.1. Doações e heranças fundando museus universitários ...... 13 3.2. Incorporação de coleções e museus na formação da universidade ...... 16 4. O ensino universitário cria necessidade de acesso a objetos e obras para formação dos alunos e para desenvolvimento de pesquisas - a universidade adquire coleções ..... 19 4.1. A pesquisa universitária coleta exemplares e cria coleções - arqueologia, história natural ...... 21 4.2. Servir ou não servir para o ensino não universitário? ...... 23 5. A universidade busca, adquire coleções para fortalecer sua imagem diante da sociedade, como guardiã da “cultura” local, universal... (arte, arqueologia, etc.) ...... 26 6. O museu universitário serve como referência para a região assumindo um papel de museu municipal / estadual / regional ...... 27 6.1. Museu com vocação para ensino público não universitário ...... 27 7. E hoje, qual o uso dessas coleções das universidades? ...... 30 7.1. Museus de História Natural: ensinar, pesquisar, ensinar...... 31 7.2. Grandes museus abertos aos diversos públicos ...... 32 7.2.1. O Museu da Universidade da Pennsylvania: pesquisa e educação pública ...... 32 7.3. Centro de exposições ...... 38 7.4. O museu como centro formador de profissionais ...... 39 7.5. Coleções para ensino universitário ...... 41 7.5.1. “Museu” sem sede própria ...... 42 7.5.2. Coleção de ensino e pesquisa ...... 42 7.5.3. Museu de departamento e/ou coleção de ensino e pesquisa em exposição ...... 43 7.5.4. Museu para divulgação da ciência ...... 44 7.5.5. Atualização do museu pelas pesquisas ...... 45 7.5.6. Coleções não utilizadas ...... 46
CAPÍTULO 2: Museus da Universidade de São Paulo ...... 48 1. A formação das universidades ...... 49 2. Os museus universitários no Brasil ...... 51 3. A Universidade de São Paulo ...... 52 4. Museus da universidade de São Paulo ...... 57 4.1. Museu Paulista/USP e Museu de Zoologia/USP: origem comum, muitos “donos” e dificuldades ...... 57 4.2. Museu de Arqueologia e Etnologia: fusão de acervos e pessoal potencializa sua ação ...... 63 4.3. Museu de Arte Contemporânea: uma rica coleção doada à Universidade ...... 65 5. Museu de arte, de história....como definir a tipologia? ...... 66 6. A tardia organização regimental ...... 68 7. Os outros museus e coleções: o que fazer? ...... 69 7.1. Centro de Ciência e Tecnologia: vulgarização da ciência para o público escolar ...... 71 7.2. Coleções para público interno (?) ...... 72 7.3. Coleção para ensino e pesquisa ...... 73 7.4. Museus e coleções voltadas para o público externo ...... 74 7.5. Museus e coleções para públicos interno e externo ...... 75 7.6. Pouco apoio, mas números levados em conta ...... 77 8. Retomando: museus e universidades ...... 79
CAPÍTULO 3: Museus de arte universitários: como são? ...... 82 1. Museus de arte são minoria entre os museus universitários ...... 83 2. Tipos de museus de arte universitários ...... 84 2.1. Galeria de Arte com acervo voltada para diversos públicos ...... 84 2.2. Galeria de arte sem acervo para diversos públicos ...... 85 2.3. Centro de exposições sem acervo próprio ...... 86 2.4. Centro de divulgação da área ...... 87 2.5. Coleção para decoração do campus ...... 87 2.6. Coleção para formação em nível superior ...... 88 3. EUA: museu universitário sem curso e curso sem museu ...... 89 4. Brasil: o ensino utiliza coleções ? ...... 96 4.1. O ensino da arte no Brasil e sua relação com as coleções de arte ...... 98 4.2. O ensino da arte em museus não-universitários ...... 103 5. Coleções de universidades do Brasil: afastadas do ensino universitário? ...... 105 5.1. Museu de Arte Sacra da UFBA ...... 106 5.2. Museu de Arte da UFC – MAUC ...... 109 5.3. Museu de Arte Brasileira – FAAP ...... 113 5.4. Galeria Brasiliana – UFMG ...... 116 5.5. Museu de Arte Assis Chateaubriand – MAAC/UEPB ...... 120 5.6. Museu do Seridó – UFRN ...... 123 5.7. Galeria de Arte Espaço Universitário – UFES ...... 125 5.8. Museu de Arte e de Cultura Popular – UFMT ...... 128 5.9. Museu da Gravura Brasileira – URCAMP / RS ...... 130 5.10. Museu de Arte Popular e Pinacoteca da UFPB ...... 132 5.11. Museu D. João VI – UFRJ ...... 134 5.12. Galeria de Arte da UNICAMP ...... 137 5.13. Museu Regional de Arte – UEFS / Bahia ...... 139 5.14. Museu de Arte Leopoldo Gotuzzo - UFPel/RS ...... 141 6. Considerações sobre os museus de arte universitários brasileiros ...... 143
CAPÍTULO 4: Museu e coleção de arte da USP: Coleção de Artes Visuais do Instituto de Estudos Brasileiros e Museu de Arte Contemporânea ...... 146 1. A Coleção de Artes Visuais do Instituto de Estudos Brasileiros ...... 149 1.1. Dados gerais ...... 149 1.2. As coleções ...... 154 1.3. As pesquisas ...... 156 1.4. As atividades de extensão: cursos, exposições e publicações ...... 163 1.4.1. Cursos ...... 163 1.4.2. Exposições ...... 165 1.4.3. Publicações ...... 168 1.5. O público ...... 169 1.6. O prédio ...... 170 1.7. Uma parte de um instituto: considerações sobre a Coleção de Artes Visuais .. 170 2. O Museu de Arte Contemporânea ...... 172 2.1. Dados gerais ...... 172 2.2. Histórico ...... 176 2.3. As coleções ...... 182 2.4. As pesquisas ...... 186 2.5. As atividades de extensão: cursos, exposições e publicações ...... 192 2.5.1. Cursos ...... 192 2.5.2. Exposições ...... 194 2.5.3. Publicações ...... 198 2.6. Os prédios: estrutura e localização ...... 200 2.7. Os públicos ...... 203 2.8. Considerações sobre o MAC ...... 208
CAPÍTULO 5: MAC/USP: MANTER OU NÃO NA UNIVERSIDADE? ...... 211 1. Cidade no museu ou museu na cidade? ...... 213 2. Desafios para a universidade ...... 215 3. Arte no museu e na universidade: como integrá-las? ...... 219 4. Os profissionais de um museu de arte universitário ...... 221 5. O que ensinar? ...... 222 6. Possíveis caminhos para o MAC/USP ...... 224
BIBLIOGRAFIA GERAL ...... 226
ANEXOS Anexo 1: Questionário sobre museus universitários ...... I Anexo 2: Levantamento de museus universitários brasileiros ...... IV Anexo 3: Pesquisas, cursos, exposições e publicações do MAC/USP: 1997 a 1999 ...... XVI
Lista das ilustrações (material de divulgação dos museus e fotos tiradas pela autora)
Capítulo 1 Museu Ashmolean de Oxford Museu Universitário de Arqueologia e Antropologia da Universidade da Filadélfia, Pensilvânia Centro Universitário da Universidade de Laval, Quebec Museu de Educação Louis-Philippe-Audet da Universidade de Montreal Museu de Geologia da Universidade de Laval, Quebec Museu Redpath da Universidade McGill, Montreal
Capítulo 2 Museu Histórico Prof. Carlos da Silva Lacaz, Faculdade de Medicina, USP Museu Oceanográfico, USP Museu de Anatomia Veterinária Prof. Plínio Pinto e Silva, USP Museu de Geociências, USP
Capítulo 3 Galeria de Arte do Centro Cultural da Universidade de Sherbrooke, Quebec Coleção da Universidade Bishop, Lennoxville, Quebec Museu de Arte Brasileira da Fundação Armando Álvares Penteado, São Paulo Galeria Brasiliana da Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte Galeria de Arte Espaço Universitário da Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória Museu de Arte Assis Chateaubriand da Universidade Estadual da Paraíba, Campina Grande
Capítulo 4 Instituto de Estudos Brasileiros, USP Museu de Arte Contemporânea, USP
INTRODUÇÃO 2
INTRODUÇÃO
Desde 1980 participamos da vida no campus da Cidade Universitária da Universidade de São Paulo (USP). Inicialmente como aluna de graduação, posteriormente como funcionária e agora como aluna de pós-graduação continuamos a freqüentar o campus. O tema de nossa pesquisa surgiu a partir da vivência como educadora em um museu da Universidade de São Paulo - Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE) -, da observação de outros museus da USP, da inquietação em relação às funções e usos dos museus e coleções de universidades públicas. Em nosso cotidiano no MAE percebíamos uma rica coleção, um conjunto bem formado de profissionais e um pequeno aproveitamento, tanto das coleções como do potencial dos profissionais, pela universidade e pelo público em geral. A falta de integração entre os museus e entre estes e outros órgãos da universidade também dificultava a realização de projetos pelo MAE. Atendíamos cotidianamente escolares de ensino fundamental e médio que vinham visitar as exposições em visitas programadas por suas escolas. Em levantamentos sobre os visitantes do MAE, percebemos uma pequena quantidade de alunos e professores da USP, de famílias e turistas. A maioria dos visitantes era (e acreditamos que ainda é) de escolares. As dúvidas surgiram - a quem deveriam servir os museus da USP? quais as suas funções - pesquisa, ensino e extensão? para quem? Como fazer a comunidade universitária se interessar e participar de atividades nos museus da USP? Será que temos que ampliar nossos públicos ou devemos estar satisfeitos com aqueles que nos visitam? Quais projetos têm prioridade - de pesquisa, de ensino ou de extensão? Afinal, a USP tem a salvaguarda dessas coleções e tem responsabilidade perante a sociedade de mantê-las e divulgá-las, ou não? A partir desses questionamentos, procuramos conhecer outros museus universitários brasileiros e estrangeiros. Buscávamos possíveis modelos institucionais, formas de funcionamento, políticas culturais, relacionamentos com as comunidades universitárias e as não pertencentes à universidade, enfim, características que pudessem auxiliar uma análise crítica da situação dos museus da USP. Para conhecer os museus universitários brasileiros tivemos que localizá-los e listá-los para posteriormente buscar as informações. Sabendo das dificuldades para 3
obter dados pessoalmente - dadas as dimensões do país - e mesmo por correspondência – em virtude da pequena porcentagem de respostas a questionários assim enviados - procuramos fontes indiretas junto à Comissão de Patrimônio Cultural da USP (CPC/USP) e à Vitae Apoio à Cultura, Educação e Promoção Social (Vitae). A CPC/USP vinha coletando há alguns anos informações sobre os museus da USP e também sobre museus brasileiros compondo um Guia de Museus Brasileiros (que teve a sua primeira edição em 1996); a Vitae também vinha solicitando preenchimento de um cadastro pelos museus brasileiros com finalidade de mapeamento e posterior financiamento. Folhetos e contatos diretos com profissionais de alguns museus completaram nossas fontes. Assim conseguimos identificar mais de 125 museus universitários no Brasil.1 Esse grande número de museus já mostra por si a importância desse tipo de instituição. Em levantamentos de museus estrangeiros, também fomos encontrando grande quantidade de museus universitários nos diversos continentes. Tivemos a oportunidade de conhecer pessoalmente uma série de museus da América do Norte, principalmente do Canadá. De outros países obtivemos informações de forma indireta, pela bibliografia ou por meio de respostas aos questionários. No segundo semestre de 1998, surgiu um grupo organizado e internacional, preocupado em conhecer e melhorar as condições dos museus universitários. Por iniciativa de Peter Stanbury, da Austrália, foi organizada uma reunião durante a Conferência Internacional do ICOM em Melbourne para tratar da organização de um grupo de estudo de museus universitários2. A partir daí foi elaborada a proposta para criação de um comitê do Conselho Internacional de Museus (ICOM) exclusivamente para museus universitários, solicitação que foi aceita e será implementada experimentalmente a partir de julho de 2001. Percebemos assim um movimento mais amplo de valorização e reconhecimento dessas instituições. Além disso, a revista Museum da UNESCO dedicou dois números – 206 e 207 - do ano 2000 aos museus universitários.
1 Em consulta ao Banco de Dados da CPC/USP em 23/11/99, fomos informados que entre os 840 museus cadastrados em sua base de dados, 109 eram universitários. Nós identificamos até agora 129 museus universitários. 2 Peter Stanbury sistematizou informações sobre museus universitários de vários países em um site da internet (www.lib.mq.edu.au/mcm/world), no qual encontramos listas de museus universitários de países da Ásia (Malásia, Filipinas e Japão), Australásia (Austrália e Nova Zelândia), Europa (Bélgica, Espanha, Itália, Holanda e Grã-Bretanha), América do Norte (Canadá) e América do Sul (Brasil e Peru). 4
Nas pesquisas sobre esses museus - brasileiros e estrangeiros - encontramos alguns pontos comuns, como as dificuldades financeiras, a falta de autonomia, a relação por vezes íntima ou por vezes distante com os departamentos afins (incluindo aí professores, alunos e funcionários), com a comunidade universitária e com a comunidade regional, o abandono das coleções, a falta de espaço para armazenamento e para exposição, a falta de profissionais especializados em atividades museológicas, entre outros. Autoridades de alguns países vêm buscando soluções. No caso da Austrália foi criada uma comissão para fazer o diagnóstico da situação dos museus universitários do país e propor modificações. O trabalho iniciou-se em 1996 e vem trazendo resultados positivos, publicados em relatórios. Na Grã-Bretanha já havia sido feito um levantamento há trinta anos, e em 1987 foi criado o Grupo de Museus Universitários para valorização dessas instituições. Novos trabalhos foram elaborados na década de 1990 para mapear as coleções universitárias do país.3 No Brasil, em 1992, um grupo de profissionais de museus universitários organizou o I Encontro de Museus Universitários, em Goiânia, no qual foram discutidos vários problemas, e dele resultou a formação do Fórum Permanente de Museus Universitários. Várias sugestões e moções foram definidas ao final do Encontro, mas pouco foi concretizado. O Fórum continua a existir, reuniu-se uma outra vez na USP em 1997 mas não conseguiu realizar outra grande reunião como a de 1992. Os museus universitários de diversos países, na última década, vêm sofrendo as conseqüências da crise das universidades que, públicas ou privadas, têm enfrentado grandes problemas decorrentes da diminuição de suas verbas. Assim, a já pequena parcela dos museus dentro do orçamento geral da universidade está cada vez menor. Para manter seu funcionamento, os museus precisaram criar mecanismos para
3 Os relatórios australianos são: Cinderella Collections: University Museums and Collections in Australia. The Report of the University Museums Review Committee, 1996 e Transforming Cinderella Collections: The Management and Conservation of Australian University Museums, Collections & Herbaria. The Report of the DCA / AV-CC University Museums Project Committee, 1998. O relatório da Grã-Bretanha foi feito em 1968: Universities and Museums: Report on the Universities in relation to their own and other Museums. Standing Commission on Museums and Galleries, Her Majesty’s Stationery Office, London, 1968. Dois trabalhos publicados na Grã-Bretanha em 1999 exemplificam esse esforço: Beyond the Ark: Museums and Collections of Higher-Education Institutions in Southern England de K. Arnold-Foster e The management of Higher Education Museums, Galleries and Collections in the UK, de M. Kelly. No caso dos Estados Unidos, Laurence Vail Coleman, renomado profissional de museu, elaborou um livro voltado para diretores de museus universitários após extensa pesquisa de campo: College and University Museums: a message for colllege and university presidents. AAM, Washington DC, 1942. 5
obtenção de patrocínios e financiamentos externos, da iniciativa pública e privada. Entretanto, muitas dessas instituições não estavam ou ainda não estão preparadas para competir nesse mercado, talvez por serem burocratizadas demais ou carecerem de profissionais para lidar com essa questão. No caso dos museus da USP, identificamos vários tipos de museus - coleções para ensino e pesquisa, museus voltados para o público escolar, combinações dos dois anteriores, coleções guardadas sem utilização, entre outras situações. Os quatro museus que têm autonomia e são reconhecidos como tal - MAE, Museu Paulista (MP), Museu de Zoologia (MZ) e Museu de Arte Contemporânea (MAC) - são muito diferentes entre si, como veremos nos próximos capítulos. Consideramos que um museu universitário, idealmente, deveria realizar todas as funções de um museu, de acordo com a definição do ICOM4, e além disso deveria: