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Parte da observação do trabalho dos artistas Marcos Chaves, Arthur Bispo do Rosario, S. Gabriel Joaquim dos Santos e Frans Krajcberg e propõe uma aproximação entre eles em função de uma característica comum: o aproveitamento, em suas criações, do que é considerado lixo, sucata ou resto. O conto “Partida do audaz navegante”, de João Guimarães Rosa, é analisado ao lado da obra desses artistas e interpretado como uma alegoria do processo criativo que se realiza pelo aproveitamento das sobras. A poesia de Manoel de Barros perpassa todo o texto, contribuindo para a reflexão acerca das sobras na criação, uma vez que o poeta enfatiza a sua opção pelos seres, palavras e coisas desimportantes. Abstract This text will discuss the meaning of works originated from ‘scraps’, especially in the contemporary world which is characterized by, amongst other aspects, the exacerbation of consumption and by the exhaustion of the natural resources. It is part of an observation of works by the artists Marcos Chaves, Arthur Bispo do Rosario, S. Gabriel Joaquim dos Santos and Frans Krajcberg, and it proposes an approximation between them in relation to one common characteristic: namely the good use, in their creations, of what is regarded as rubbish, scrap or leftovers. The tale “Partida do audaz navegante” (Departure of the bold sailor), by João Guimarães Rosa, is analysed alongside these works and it is interpreted as an allegory of the creative process, which is achieved by the good use of the scraps. The poetry of Manoel de Barros is present along the whole text, contributing to the reflection on the leftovers in the creation, since the poet emphasizes his option for the unimportant beings, words and things. INTRODUÇÃO: ...raspas e restos me interessam Há poucos meses, a região onde moro foi surpreendida com algumas novidades: dois bancos de concreto destinados aos passantes foram cobertos por pedaços de cerâmica, compondo um bonito mosaico; próximo dali, diversas garrafas pet cheias d’água, viradas de boca para baixo, estavam estrategicamente dispostas ao lado das plantas, numa clara tentativa de salvá-las do longo período de seca que maltrata a cidade a cada ano. Numa manhã de domingo, caminhando pela região, vejo a moça responsável por todo aquele trabalho concluindo o mosaico num dos bancos – nele compunha as palavras “pássaros livres”. Eu já tinha notícias suas porque já me havia sido indicado o seu trabalho de restauração de roupas usadas, as quais transformava em peças novas e criativas. (Lembrei-me, ao conhecer, mais adiante, as roupas customizadas feitas pela artesã, da gaveta de retalhos de minha avó. Esta gaveta era – hoje sei – um lugar especial de minha infância: nas férias, eu passava longas horas revirando esse espaço lúdico em busca dos retalhos mais bonitos, das fitas e passamanarias, a fim de criar com eles blusas, bolsas, adornos para o cabelo e, sobretudo, de imaginar, com aquelas sobras de tecidos e aviamentos vindos das oficinas da mais alta costura da cidade, funções e composições outras.) Entretanto, até então eu só sabia desse seu ofício; nenhuma notícia do trabalho anônimo que deixava para a cidade. Mas foi exatamente esse trabalho destinado à vizinhança que mais me chamou a atenção. Percebi que as pessoas que passavam fazendo caminhada a cumprimentavam e com ela conversavam, enquanto seguia completando o mosaico no banco. A todos ela atendia com um largo sorriso e brilho nos olhos. Parecia estar feliz na realização de seu trabalho. Disse a ela que era muito bonito aquilo que fazia – referia-me precisamente ao fato de imprimir na cidade um gesto de amor e cuidado, oferecendo ao público, generosa e desinteressadamente, o trabalho produzido por suas mãos. Ela me respondeu que era disso que o mundo mais precisava. 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Um quadro que corresponde a uma visão deles mesmos em suas atividades e, simultaneamente, a uma percepção das afinidades que os aproximam, dos procedimentos que os orientam, dos desejos que os movem – embora, de modo geral, não se conheçam e não estabeleçam entre si quaisquer trocas (seja no nível da informação técnica, da reflexão sobre as suas práticas ou das suas visões de mundo). 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A visão desse enorme canteiro de obras composto por artistas os mais diversos é algo que me parece fascinante e belo. Este trabalho é uma tentativa de compartilhar essa visão. 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