E DEBATES

A Maria da Fonte e a Patuleia. Alguns problemas *

Aborda o 11resente artigo alguits dor problemas Esta dualidade entre pólos teóricos oponíveis lei3antados pelo estz~doda Marja da Fonre e da Pn- - espontaneidade e enquadramento político - ruleia enquanto renipos de Kuerra civil eni que as constitui um item útil para nortear a análise das principais forças soci~olítk'osse exprimem. pro- várias fases da Maria da Fonte e da Patuleia se bem hlenias esres.frequentemei?tedisciit~dos pela biblio- que seja evidentemente improvável ou mesmo im-

dadelenquodi.an~e~?topolítjcn na Maria da Fonte e A espontaneidade ' é um tópico dificilmente na Paruleio, a natureza destes movimentos e a abordável na medida em que os seus vestígios são roririnuidade ou náo entre eles -que o presente assar vagos. Ela não será definida, como à partida arfigo foi esri~itiirado. poderia parecer ser possível, pela inexistência de coordenação da acção colectiva. Considerarei, sim, como seus elementos balizadores, por um lado, a I. A dicotomia espontaneidade1 concertafão da acção apenas no quadro das comuni- Ienquadramento político na Maria dades locais ' e. oor outro. a autonomia ideolóeica- da Fonte e na Patuleia face às correntes políticas organizadas então exis- tentes e actuantes. A dicotomia espontaneidadelenquadramento Já o enquadramento político é um tópico bas- político na Maria da Fonte e na Patuleia é um tema tante mais passível de ser trabalhado pois consubs- muito discutido pela historiografia recente sendo tancia-se em organizações ou movimentações que pertinente a sua análise. Neste sentido, tentarei rea- deixam vestígios mais palpáveis, traços materiais lizar um teste da validade desta dicotomia ao longo mais nítidos. O enquadramento político parece ter- destes movimentos, antes de mais numa perspectiva -se efectuado essencialmente através das Juntas temática embora utilizando os marcos da história Govemativas - a formacão de Juntas foi tão sieni- política tradicional. Assim, considerarei a primeira ficativa que terá iniciado, segundo a historiografia, fase da Maria da Fonte como decorrente do seu uma nova fase da rebeliáo "- e ainda através de eclodir à formação da primeira Junta e demissão de outras formas de actuacão das forcas, .~olíticas orea- Costa Cabral; a segunda fase da Maria da Fonte nizadas (miguelistas, setembristas e outros anti-ca- como a verificada desde a formação da primeira bralistas) - para além da sua atitude nas Juntas, Junta e queda de Costa Cabral até ao golpe contra- estas correntes exprimiram-se na imprensa em geral -revolucionário de 6110/1846; e a Patuleia como e nos cargos políticos e militares ocupados, a nível delimitada por este golpe contra-revolucionário e central, desde a demissão do governo cabralista até pela derrota popular assumida na Convenção do à Emboscada, e a nível da administração local, Gramido. mesmo nas áreas onde náo se constituíram Juntas.

- - - * ~stetexto é urna adaptação de alguns capítulos do relatório da lição que constitui &componentepedagógica das Provas de Aptidão Pedagógica e Capacidade Científica defendidas em Julho de 1987 no I.S.C.T.E.

159 Dadas as características apontadas dos itens cipação feminina nas práticas religiosas, mais inten- .espontaneidade>> e renquadramento político>>,o siva nesta época do que a masculina, talvez contri- segundo será naturalmente bastante mais desenvol- bua ainda para explicar o maior peso das mulheres vido ao longo do texto do que o primeiro. na obstaculização ao cumprimento das Leis da Saúde. Na segunda fase da Maria da Fonte, verifica-se I. 1. Espontaneidade uma maior clareza política com a formação genera- lizada de Juntas e com o sucesso de uma das rei- Na primeira fase da Maria da Fonte, a partici- vindicações (políticas) da Maria da Fonte: a demis- oação.. popular.. é grande, viva e sentida. são dos Cabrais. Tanto os campos como as cidades, embora com Porém, no Verão de 1846, realidades como a obiectivos diferenciados e de forma diversa. se re- persistência de guerrilhas no Norte e a resistência voltaram e armaram. Nos campos do Norte, surgi- ao desarmamento e à dissolução de várias Juntas ram as guerrilhas. Vilas e cidades - como, por parecem manifestar a continuidade de formas de exemplo, Guimarães e Braga - foram invadidos acção e comportamentos que se situam do lado da por populares empunhando armas assiin como ins- «espontaneidade» humentos de trabalho, verificando-se também mo- As guerrilhas sobreviventes do Norte foram vimentações no interior dos centros urbanos. frequentemente dirigidas por eclesiásticos, nomea- A própria pluralidade de explosões, as suas diferen- damente mieuelistas.- salientando-se entre elas. a do ciadas motivações e a diversidade de objectivos Padre Casimiro. Este padre de Vieira do Minho expressos manifestam o carácter em larga me- chegou a comandar ceica de 3000 homens na re- dida espontâneo dos primeiros tempos da Maria da -eião. Primeiramente aclamado ~IntendenteGeral da Fonte. Comarca da Póvoan. intitulou-se posteriormente No Norte rural, as mulheres e o clero tiveram «Defensor das Cinco Chagas e Comandante Geral uma acção relevante das Forgas Populares do Minho e Trás-os-Mon- Membros do clero, sobretudo dos escalões tem ', mantendo a sua guerrilha em acção desde o mais baixos da hierarquia, dirigiram guerrilhas e detonar da Maria da Fonte até ao fim da Patuleia. áreas sublevadas Os eclesiásticos eram frequente- Foi precisamente no Verão de 1846 que o Padre mente importantes notáveis locais, tendo um grande Casimiro manifestou, numa carta por si escrita e prestígio e autoridade e um papel mediador essen- depois aprovada pelos populares, algumas reivindi- cial. Destacaram-se eclesiásticos miguelistas e se- cações dos partidários da rebelião: entre outras coi- tembristas assim como cabralistas. Ficaram conheci- sas, reclamava contra o govemo e os tributos - dos nomes como, por exemplo, os do cónego Mon- nomeadamente a propósito das estradas -, lembra- talverne, do padre José das Taipas, do abade de va o govemo de D. João VI e de D. Miguel, pedia Priscos, do padre António Teixeira das Quintas e um sufrágio eleitoral alargado apenas limitado pelo sobretudo o do Padre Casimiro '. analfabetismo e uma reorganização da Guarda Na- Perdurou também, na memória culta e popular cional, onde seria facilitada a entrada e onde os o papel das mulheres na rebeliáo A própria desig- oficiais seriam escolhidos por votação no seu inte- nação da revolta - Maria da Fonte - evoca a rior 'O. Ora estas reivindicaiões dificilmente podem importância das mulheres, designação tanto mais ter resultado aoenas de um enauadramento ~olitico curiosa quanto se trata, segundo a historiografia, de miguelista, mesmo admitindo que as formas deste. uma designação mítica. menos conhecidas, possam ter sido mais subterrâ- As mulheres tiveram frequentemente um papel neas e mais próximas de uma dinâmica local de essencial nos motins populares do Antigo Regime concertação da acção colectiva. que foi em parte o caso da Maria da Fonte. Para Refira-se, agora, a resistência ao desinembra- além disso, a mulher tinha uma posição relevante mento das Juntas. Por um lado, houve uma resis- na vida e no trabalho no Noroeste Atlântico. Sendo tência a dissolução de certas Juntas encabeçada por uma região de emigração, o peso das mulheres acti- elas próprias enquanto náo estiveram seguras de vas era, em consequência, importante. Era também alguns dos seus objectivos terem sido atingidos ou uma área em que a pequena exploração agrícola estarem em vias de sê-lo - como, por exemplo, exigia a participação no trabalho rural do maior nos casos das Juntas de Coimbra, Santarém e Evo- número de membros da família camponesa. A parti- ra ". Todavia. por outro lado, poderá ter havido uma resistència que escapou ao enquadramento de que será exemplo a marcha dos pulares sobre Lis- boa detida por Passos Manuel I'. São, pois, numerosos os indícios da continua- ção de uma participaçáo popular espontânea forte na segunda fase da Maria da Fonte. Na Maria da Fonte, constituiran-se Juntas em Na Patuleia, apesar do carácter mais efectivo Viana do Castelo, Braga, Penela (Barcelos), Guima- do enquadramento politico, a espontaneidade conti- rães, Vila Real, Aveiro, Lamego, Viseu, Guarda, nua a existir. Coimbra. Leiria, de Mós. Nazaré. Batalha, Dela serão manifestações, por exemplo, o Alcobaça, Caldas da Rainha, Lourinhã, Torres Ve- comportamento das massas populares mais exalta- dras, Santarém, Portalegre, Évora. Setúbal. Santiago das no Porto aquando da prisão do Duque da Ter- do Cacéin, Beja, Loulé. Alcantarilha. Faro ". As ceira, as movimentaçòes rurais na área de Sintra Juntas distribuíam-se, pois, por todo o país, haven- pouco depois da Emboscada, e certas actuaçòes de do porém mais Juntas no litoral do que no interior guerrilhas e de batalhões de voluntários I'. Contu- - coincidindo com a área de maior concentração do, estes «excessos. poderão não ser sintomáticos de centros urbanos (e mais importantes); contudo, de espontaneidade: não estariam os setembristas in- nas principais vilas e cidades do interior, formaram- teressados na agitação popular no Porto? Para alem -se geralmente Juntas. disso, muitas guerrilhas foram lideradas por indivi- A primeira Junta, a de Vila Real, surgiu a 10151 dualidades políticas assim como os batalhões de vo- 1846; ora, tendo a Maria da Fonte tido inicio entre luntários foram apoiados e utilizados pelas forças 19 de Março e meados de Abril (consoante as anti-cabralistas organizadas. Todavia, nestas situa- várias versòes). decorreu entre um a, no máximo, ções parecem ter continuado a existir comportamen- dois meses entre os primeiros motins e a formação tos populares em larga medida autónomos. de órgãos de poder alternativo lc. Enquanto a primeira Junta surgiu a 101511846, a última consti- tuída, a de Penela, aliás um caso tardio, formou-se a 141611846". Foi, pois, relativamente rápida quer I. 2. Enquadramenfo Político a constituição das Juntas quer a sua difusão. Na Patuleia, foi no Porto que surgiu a primeira Junta, que veio aliás a liderar as forças anti-gover- namentais. Logo. em seguida, constituiram-se Jun- Apchir J(.'~\tcl.~. I<~A*J, I3urc?lo~ (i~1ni.8. :d/ rlt uuc A Mdrlil dil F3111cc .I I'~1i~l~1.tlt)rdm oh- rh. \'i13 Rsill Pziinficl. Pon.,. :\vcirii. 01ivcir~ jecto, na muito cuna primeira fase da Maria da de Azeméis, Coimbra, Viseu, Guarda, Castelo Fonte não há Juntas e o papel das forças anti-cabra- Branco, Santarém, Leiria, Cascais, Sintra, Palmela, listas organizadas é reduzido. Setúbal, Évora, Portalegre, Beja, Faro, Funchal, Por um lado, é certo que miguelistas, setem- S. Miguel, TerceiraNY. As Juntas estendiam-se, bristas e outros anti-cabralistas fizeram ouvir espo- portanto, por todo o país e mesmo pelas ilhas adja- radicamente a sua voz assim como apoiaram ou centes. chegaram mesmo a dirigir certas acções. Contudo, A maioria das Juntas formou-se durante o mês não o faziam de uma forma organizada, com objec- de Outubro: tendo-se a Junta do Porto constituido tivos concretos e planeados, e a própria orientação a 10/1011846, as outras surgiram nos dias ou sema- política nem sempre era a mesma nas várias movi- nas seguintes, sendo os casos da Junta de Braga mentações. Por outro lado, da revolta ainda não ti- (formada nos finais de Novembro) e a do ~unchal nham nascido ór~ãosde ~oderalternativo com oro- (constituída nos finais de Abril seeuinte)-, casos ex- postas políticas alternativas. cepcionais I'. Verificou-se, pois, uma explosão ra- Não há então, pois, um enquadramento político pidíssima das Juntas: 3 a 4 dias após a Emboscada definido, permanente e global 14. de Saldanha, começaram a formar-se Juntas que se Na segunda fase da Maria da Fonte e na Patu- generalizaram muito rapidamente. leia, são as Juntas e as forças anti-cabralistas que Façamos agora uma comparação da geografia e realizam o enquadramento político dos partidários da cronologia da constituição das Juntas na Maria da rebelião. Passemos a analisá-las. da Fonte e na Patuleia. O número de Juntas na Maria da Fonte é ligei- sempre os nomes apontados como integrando-as são ramente superior ao das Juntas napatuleia (27 e 26, exactamente os mesmos nem são nomeados pela respectivamente). mesma ordem ". Verifica-se uma grande coincidência entre a No interior das Juntas, num e noutro dos movi- mancha geográfica das Juntas na Maria da Fonte e mentos. são também os mesmos cargos - de presi- na patuleia. Concretamente, há 15 localidades em dente e de vice-presidente - que aparecem diferen- que se formaram Juntas em ambos os movimentos: ciados, sendo ainda referido o de secretário ". Viana do Castelo, Braga, Guimarães, Vila Real, É sabida, com maior ou menor extensão, a Aveiro, Viseu, Guarda. Coimbra. Leiria, Santarém, composição da indiscutível maioria das Juntas: de Portalegre, Setúbal, Evora, Beja, Faro. Estas locali- 21 das 27 existentes na Maria da Fonte e de 25 das dades correspondem em geral aos mais importantes 26 surgidas na Patuleia. Havendo 15 localidades centros urbanos, excepção feita ao Porto e a Castelo com Juntas em ambos os movimentos, interessa Branco onde apenas houve Juntas na Patuleia. Para comparar a sua composição. É possível realizá-la além destes dois casos, as divergências localizam- em 14 casos - já que é conhecida a grande maioria -se: nas ilhas - só na Patuleia é que surgiram Jun- ou a totalidade dos membros das Juntas na Maria tas na Madeira e nos Açores ; e na região Litoral da Fonte e na Patuleia em I I; é sabida a composi- Centro - onde existiram mais Juntas na Maria da ção das Juntas num dos movimentos e é conhecido Fonte do que na Patuleia talvez porque no primeiro pelo menos um dos seus elementos no outro movi- destes movimentos sejam conhecidas mais Juntas mento em 3 outros. Dos 11 primeiros casos, há em localidades mais importantes (como, por exem- coincidência total na composição das Juntas em 9 plo, Batalha, Nazaré, Porto de Mós, Alcobaça, Cal- - são os casos de Vila Real, Aveirq, Viseu, Guar- das da Rainha, Lourinhã, Torres Vedras); na Patu- da, Coim-bra, Santarém, Portalegre Evora, Beja; só leia, porém, também apareceram Juntas em conce- em Braga e Faro é que apenas se mantêm da Maria lhos de relevância moderada perto de Lisboa (são da Fonte para a Patuleia respectivamente 1 e 2 dos os casos de Sintra, Cascais ou Palmela). membros das Juntas. Nos 3 casos em que há lacu- Em ambos os movimentos, algumas Juntas nas, embora não totais, no conhecimento da compo- parecem querer ter alcance provincial como,por sição das Juntas, há coincidências dos nomes sabi- exemplo, as de Vila Real, Viseu, Santarém e Faro dos - Viana do Castelo, Guimarães e Setúbal. que se assumiram respectivamente como Juntas de Verifica-se, pois, uma notável continuidade entre os Trás-os-Montes, Beira Alta, Eshemadura e Algar- componentes das Juntas na Maria da Fonte e na ve 2". Patuleia. É. em suma. indubitável a dimensáo nacional Do ponto de vista político, destacaram-se nas das Juntas quer na Maria da Fonte quer na Patuleia, Juntas líderes setembristas conhecidos assim como e não parece haver razões para opor um e outro outros liberais anti-cabralistas ou ainda miguelis- destes inovimentos quanto à sua geografia. tas '% Setembristas - como, por exemplo, em Gui- As Juntas, na Maria da Fonte, demoraram entre marães, Coimbra e Santarém em ambos os movi- um a dois meses a começar a constituir-se; na Patu- mentos e no Porto na Patuleia. Outros liberais anti- leia, formaram-se logo no início do movimento cabralistas - como, por exemplo, em Leiria na revolucionário. Embora se possa afirmar que, em Maria da Fonte e em Vila Real nesta revolta e tam- termos globais, o enquadramento foi rápido, existiu, bém na Patuleia. Miguelistas -- nomeadamente na porém, uma diferença, no seu ctiminga. Guarda num e noutro dos movimentos, em Penafiel eem Braga na Patuleia. O alinhamento político das Juntas mantém-se da Maria da Fonte para a Patu- leia: os casos mais notáveis são os das Juntas se- tembristas de Coimbra e Santarém (lideradas res- pectivamente pelo Marquês de Loulé e Passos Ma- nuel) e das Juntas miguelistas da Guarda (chefiadas Quer na Maria da Fonte, quer na Patuleia, a pelo general Póvoas). Note-se que o Porto, cuja dimensão das Juntas cuja composição é inteiramen- Junta encabeçada pelo Conde das Antas e por José te conhecida é semelhante: o número dos seus ele- Passos liderou em termos nacionais a Patuleia, é mentos oscila entre 3 e 13. Note-se todavia que, nos omitido pois aí nunca se formou uma Junta na documentos das Juntas da Maria da Fonte, nem Maria da Fonte. Geogralia das Juntas Governativas na( Maria da Fonte e na Patuleia Reclamnçóes, objectivos. pi-ocesso ram a dissolução das Juntas. Disso nos dão teste- de dissoluçáo, fun('6es munho as negociações neste sentido com as Juntas de Santarém, Evora e Coimbra. Abordaremos primeiramente as Juntas na se- Concretizando no caso da Junta de Santa- gunda fase da Maria da Fonte. rém "': apesar de ser sido oficiado a esta Junta que A Junta de Vila Real, a primeira Junta surgida, se devia dissolver, esta não o fez e, diversamente, constituiu-se na sequência de um vazio de poder fez chegar ao novo governo as suas reivindicações, motivado pela derrota das hostes cabralistas e pelo sobretudo em tomo da composição governamental. abandono da cidade pelas suas autoridades; imedia- da reorganização da Guarda Nacional. do reconhe- tamente afirmou serem os seus objectivos apoiar as cimento do papel da Junta e da reposição do Decre- reivindicações da rebelião e evitar a desordem ". to de 10 de Fevereiro de 1842; por fim, o governo Algumas Juntas evitaram exigir, pelo menos e a Junta acordaram que esta devia manter-se creu- logo, a demissão de Costa Cabral - foi este, por nida pelo tempo necessário para auxiliar o governa- exemplo, o caso da Junta de Braga que apenas re- dor civil e mais autoridades do distrito na pacifica- clamou «modificações no sistema tributário e no ção dele e no desarmamento de quaisquer forças [sistema] administrativo do seu governo,, e mesmo irregulares que não formem parte da Guarda Nacio- esta reivindicação só foi efectuada na sequência de nal» ", demorando ainda a Junta alguns dias a dis- pressões nesse sentido '! Claramente postos em solver-se de facto. causa foram, em geral, o novo sistema tributário e A mesma demora a dissolver-se terá sido ca- as Leis da Saúde. Até a Junta de Santarém, no seu racterística da Junta de Évora ". primeiro texto de 21/5/1846, foi moderada: não rei- No caso da Junta de Coimbra, também o seu vindicou explicitamente nada, clamou contra o en- desmembramento foi conseguido pelo governo, gano a que os ministros sujeitavam a Rainha e fina- embora este seja, até certo ponto, um caso parti- lizou com vivas à Carta e ao decreto de 10 de cular na medida em que a recepção do ofício go- Fevereiro de 1842, o que é a mais importante afir- vernamental de 13/6/1846, no qual também era mação política deste texto >'. afirmado que podia continuar unida para ajudar Juntas, porém, como as de Coimbra e Évora - o Governador Civil na pacificação do distrito, é e, um pouco mais tarde, a de Santarém -formula- posterior a sua decisão de se dissolver - tomada a ram outras reivindicações: a dissolução das Câma- 91611 846 '? ras e a demissão do ministério de Costa Cabral, Durante o mês de Junho de 1846. a dissolu- a substituição do projectado ministério pósCabra- ção da maioria das Juntas foi conseguida. O poder lista integrado pelo Duque da Terceira, vigilância e a ordem tinham mudado de mãos. As reivin- e sanções contra os colaborantes com os Cabrais, dicações formuladas tinham sido conseguidas ou reconhecimento oficial do papel das Juntas. reor- pareciam estar em vias de sê-lo. A missão das ganização da Guarda Nacional, eleições o mais Juntas estava terminada. Mais uma vez, os setem- rapidamente possível, Cortes Constituintes e a re- bristas se destacaram, agora na dissolução das Jun- for- ma da Cana nos termos do decreto de 10 de tas. Fevereiro de 1842 'R 'y. Tratam-se, pois, de reivin- As Juntas assumiram-se como apequenos go- dicações com diferentes graus de moderação e que, vernos locais>>e chegaram mesmo a esboçar, uma

vara além da crítica da leeislacão~ mais conflituosa e organização alternativa a do governo central. E par- do afastamento dos Cabrais e dos cabralistas dos ticularmente conhecido o caso da Junta de Coimbra seus empregos públicos, se centram em torno da re- com as suas quatro repartições - Reino, Justiça, oreanizacão da Guarda Nacional e da reviião da Guerra e Fazenda - que nomeou autoridades civis Carta nos termos do decreto de 10 de Fevereiro de e militares e organizou a Guarda Nacional ". O pa- 1842. pel das Juntas foi nitidamente de organização, de Tendo as Juntas sido enquadradas pelas forças manutenção da ordem, de pacificação das movi- políticas organizadas, as suas reivindicações foram mentações populares. em grande medida as dos grupos que as hegemoni- Passemos, agora, às Juntas na Patuleia. zavam. Fundamentalmente, estas Juntas reclamaram a Os governos posteriores à demissão de Costa destituição dos miiiistérios saldanhistas e a sua Cabral, governos estes integrados por anti-cabralis- substituição por um outro que inspirasse confiança tas conhecidos e mesmo por setembristas, pretende- ao pbvo; constituíani os seus objectivos o apoio à Cornpori~áodar 3untas Governatirar na Maria da Fonte e na Patuleia oposição popular ao golpe do Marechal Saldanha e da Fonte, apesar do lugar frequentemente atribuído o evitar da eanarchia eminente» ". h Junta de Santarém, nenhuma Junta que claramen- Como é sabido, a Patuleia foi liderada pela te desempenhasse esse papel ". Junta do Porto. Cronologicamente, foi esta a pri- Abordemos agora uma das outras vias do en. ineira Junta formada e, desde o primeiro momento, quadrameto politico. em parte sobreposta à das pareceu querer encabeçar a resistência popular; or- Juntas: a da acção das correntes políticas organiza. ganizativamente, as outras Juntas parecem ter-lhe das. sido subordinadas em termos da opinião pública, o lugar da Junta do Porto foi indiscutível - assim, por exemplo, a adesão do general Póvoas à Junta 1.2.2. Correntes políticas anti-cabralistas organi. do Porto foi vista como a aliança dos miguelistas zadas com os setembristas e outros patuleias ". A medida que o exército saldanhista conquista- Miguelisras 'O va novas posiçóes e a intervenção estrangeira se consumava, as Juntas foram-se dissolvendo e extin- Na segunda fase da Maria da Fonte, para além guindo. da sua participação nas Juntas, os miguelistas ex- Durante o seu tempo de vigência, as Juntas primiram-se essencialmente nas aclamações de desempenharam um claro papel de organização e de D. Miguel - em Gondarém, Vila Chá, Vieira do gestão da vida local e regional. Minho. Montalegre -, na vinda do general esco- Tentemos agora um balanço sobre os objecti- cês MacDonnall assim como na persistência de vos e as funções das Juntas na Maria da Fonte e na guerrilhas no Norte, salientando-se a do Padre Casi- Patuleia. miro. Em ambos os movimentos, as Juntas propuse- Dum modo geral, os miguelistas propuseram ram-se prosseguir objectivos semelhantes - de então a luta anti-cabralista, manifestando-se alguns manutenção da ordem e de apoio aos levanta- men- sectores em aclamaçóes da Santa Religião, da Na- tos. ção, de D. João VI e de D. Miguel" enquanto O seu papel de organização e enquadramento outros sectores aderiram às reivindicações das Jun- foi também semelhante ainda que, na Maria da tas ". Fonte, as Juntas tenham sido ainda responsáveis em Verificaram-se, no interior do miguelismo, rei- boa parte .pela .pacificação das movimentações~ Po-~ vindicacões assim como actuacões diverificadas - pulares '#. miguelistas houve que colaboraram com outros Tanto na Maria da Fonte como na Patuleia, as oposicionistas (como, por exemplo, o general Pó- Juntas formularam reivindicações em grande medi- voas na liderança da Junta da Guarda) e miguelistas da concretas, precisas, exequiveis e apresentadas houve também que se confrontaram com os setem- como tal. Todavia as reclamaçóes foram de nature- bristas e ouhos anti-cabralistas (6 o caso da oposi- za bem diversa, explicável dada a diversidade de ção entre o Padre Casimiro e Almargem e Antas). contextos em que as Juntas actuaram: a única rei- Na Patuleia, para além das Juntas, a actividade vindicação semelhante foi a da demissão de um dos miguelistas fez-se sobretudo sentir na reactiva- ministério impopular - o que é compreensível ção das guerrilhas nortenhas, continuando a salien- dados os momentos de formação das Juntas -; tar-se a do Padre Casimiro e notabilizando-se tam- reivindicações no sentido da suspensão da legisla- bém a de MacDonnall, nas guerrilhas levantadas ção cabralista mais conflituosa não teriam sentido pelo general Póvoas e pelo brigadeiro Bernardino na Patuleia e, para além disso, propostas políticas nas Beiras e na prática destes em geral. em torno de textos constitucionais, de reformas Os miguelistas propuseram a resistência a políticas ou da composição do governo terão prova- Emboscada de Saldanha e, depois, à intervenção es- velmente tido uma oportunidade bastante menor no t~angeira'~,aclamando alguns sectores a Santa Re- contexto da Patuleia, em que as forças oposicionis- ligião, a Nação. D. Miguel e D. João VI, enquanto tas estiveram sempre na defensiva e na qual não outros sectores apoiaram a Junta do Porto. houve um vario político ao nível do poder central. As guerrilhas do Padre Casimiro e de MacDon- Uma diferença é ainda necessário estabelecer: nall constituem dois exemplos da diversidade de enquanto, na Patuleia, houve uma Junta, a do Porto, modalidades de organização e de mobilizaçáo dos que encabeçou o movimento, não existiu, na Maria corpos armados miguelistas: enquanto a primeira exprime uma acentuada autonomia ideológica face graram batalhóes de voluntários. ocuparam postos ao miguelismo oficial e obedece a uma dinâmica de importantes no exército e actuaram ainda através da organização dominantemente local, a segunda foi imprensa. chefiada por alguém - MacDonnall - cuja vinda Nessa altura, os setembristas "DiU propuseram a para para promover um movinlento restau- resistência à Emboscada. o apoio à Junta do Porto e racionista fora cuidadosamente preparada por algu- comportaram-se de forma variável face à Rainha e mas das figuras miguelistas de maior relevo em ao Paço assim como face à intervenção estrangeira. Portugal e no estrangeiro 44. O setembrismo não era, pois, um bloco - como o O miguelismo continuou, portanto, a não ser manifestaram as atitudes perante a Rainha, o Paço, um bloco - como o manifestaram as reivindica- a intervenção estrangeira e como o mostrariam, ções e as actuações diferenciadas: por um lado, ainda nesse ano, as posiçóes diversificadas perante miguelistas e setembristas confrontarani-se (na Ré- a ida às urnas i' 5'. -.eua. em Caldas de Arecos-. e a ela voz do Dr. Cândi- Em geral, os setembristas tiverem uma atitude do); por outro, miguelistas, setembristas e outros colaborante com os outros anti-saldanhistas na me- patuleias colaboraram, sobretudo na sequência de dida em que todos estavam na defensiva; com os algumas derrotas (e disso foi testemunho particular- miguelistas em particular, o seu comporiamento mente significativo a adesão de Póvoas e Bernardi- nem sempre foi o mesmo, dependendo da tendência no à Junta do Porto como o foi, já após a Conven- destes e da conjuntura política5'. ção do Gramido, a proposta de ida às umas con- juntamente com os setembristas). Carfistas náo-cabralistas '4

A corrente cartista não-cabralista, integrada por Setemhrrstas relevantes personalidades que já haviam participado na oposição ao cabralismo antes de 184611847, Na segunda fase da Maria da Fonte, para além exprimiu-se também durante estes anos. de se afirmarem nas Juntas, os setembristas actua- Na segunda fase da Maria da Fonte, estes sec- ram politicamente aos vários níveis do poder e tores anti-cabralistas manifestaram-se como tal e exprimiram-se na imprensa em geral. participaram nos governos posteriores ao cabralista, Constituíram então reivindicações setembris- não se individualizando como miguelistas ou se- tas 45" a luta anti-cabralista, a vigilância sobre as tembristas; na Patuleia, opuseram-se ao golpe con- fieuras- afectas ao cabralismo. o reeresso dos exila- tra-revolucionário de Saldanha e apoiaram a Junta dos, a libertação dos presos políticos, a reorganiza- do Porto, continuando a não se demarcar como mi- ção da Guarda Nacional, Cortes Constituintes, a guelistas ou setembristas; invocaram ainda frequen- revisão da Carta nos ternos do decreto de 10 de temente a Carta cuia reforma admitiam - o aue 1842, Fevereiro de eleições directas, uma Câmara não constitui uma característica distintiva ~já que~ dos Pares eleita, e mesmo uma Constituição popu- facções das outras correntes também a aclamaram. lar. Naturalmente, nas Juntas mais ou menos clara- As críticas a mieuelistas e setembristas não mente enquadradas pelos setembristas apareceram foram muito acesas - embora se tenham verifica- também estas reivindicações, como aliás já foi do, sobretudo no Verão de 1846. apontado. As suas posições não tornam, pois, fácil a Nessa altura, os setembristas mantiveram uma identificação dos cartistas náo-cabralistas. relação tensa com os sectores miguelistas hostis aos novos governos, tendo participado na sua re- Em suma, as correntes políticas que vimos pressão"; com os outros anti-cabralistas colabora- apontando tiveram formas de expressão variadas, ram até certo ponto embora também tenham exerci- individualizando-se até certo ponto os miguelistas. do pressão no sentido de radicalirar o processo As reivindicaçóes daquelas foram recuadas face ao (nomeadamente, quanto à composição do governo, setembrismo e ao miguelismo anteriores. Em conse- à crítica de dadas entidades concretas e quanto a quência, verifica-se alguma dificuldade em diferen- consignação de reivindicações, entre as quais se sa- ciar as correntes políticas, tendo em atenção o ca- lienta a revisão da Carta *X. rácter moderado das suas reivindicações, por uln Na Patuleia, para além de participarem nas lado, e. por outro, a diversidade de actuação de Juntas, os setembristas levantaram guerrilhas, inte- cada uma das correntes e as reclamações tácticas que a conjuntura política poderá ter imposto ". As- Na Patuleia, a participação popular espontânea sim. tornava-se francamente importante para a opi- continuou a fazer-se sentir. Porém o peso político nião pública o conhecimento da autoria das recla- da oposição organizada foi forte - embora parado- mações -exemplo particularmente claro da minha xalmente as reivindicações propriamente políticas afirmação parece ser a repercussão, aquando das tenham sido mais limitadas. As forças politico-mili- eleições previstas para 11 de Outubro de 1846, do tares em presença estavam mais bem definidas. Programa da Associação Eleitoral do Sacramento, Constituíram-se desde os primeiros dias Juntas por visto como muito radical, mas que objectivamente todo o país, lideradas pela do Porto. Estas Juntas se diferencia do da Associação Eleitoral do Mar- tiveram simultaneamente por objectivos combater o quês de Valada apenas pela defesa da consignação golpe de Estado contra-revolucionário de Saldanha da «soberania nacional... como única origem de e evitar a desordem. No combate, no qual participa- toda a autoridade pública. e pela referência explíci- ram guerrilhas, batalhões de voluntários e o exérci- ta à possibilidade de revisão do Tratado de 1842; to regular, encontramos, dum lado, os setembristas, temas porém como, por exemplo, a revisão da Carta miguelistas e sectores cartistas e, do outro lado, ou- por Cortes Constituintes, a reforma da Câmara dos tros sectores cartistas, o governo, Saldanha, os Pares, eleições directas, a ratificação dos tratados Cabrais e a Rainha. pelas Cortes aparecem em ambos estes progra- O enquadramento politico na Patuleia e na mas sh. segunda fase da Maria da Fonte foi, pois, muito Miguelismo, setembrismo e cartismo não-ca- mais efectivo do que na primeira fase. bralista não eram, pois, blocos homogéneos: verifi- cam-se tensões e diversificações no seu interior assim como contradições a esbaterem-se entre umas e outras destas correntes. 11. A Natureza da Maria da Fonte e da Patuleia

A natureza da Maria da Fonte e da Patuleia 1.3. Balanço tem sido uma das questões mais debatidas pela his- toriografia actual, sendo apresentados três de inter- Que poderei eu, pois concluir sobre os aspectos pretação sobre o seu carácter - que seria sobretudo da dicotomia espontaneidadelenquadramento políti- anti-feudal, anti-capitalista ou anti-estatal. Em min- co e a sua combinação ao longo da Maria da Fonte ha opinião, são matizados e diversificados mas não e da Patuleia? oponíveis os entendimentos de Victor de Sá, Mi- A primeira fase da Maria da Fonte teve um riam Halpern Pereira, Villaverde Cabral, Joyce Rie- carácter em larga medida espontâneo - tratou-se gelhaupt e Rui Feijó sobre o carácter dos conflitos de uma pluralidade de motins e movimentações em estudo. Vou procurarar concretizar, tentando ca- nem sempre desencadeadas por razoes semelhantes. racterizar a . perspectiva . de cada autor, através das Não se constituíram então órgãos de poder alterna- suas próprias palavras em excertos que me parecem tivo com propostas políticas próprias e as correntes sienificativos- da sua visão da Maria da Fonte e da políticas existentes ainda não hegemonizavam duma Patuleia. forma generalizada o movimento, hesitando por Victor de Sá afirma por um lado: «Pretendiam vezes até em tomar posição. os revoltosos, com efeito. destruir por suas próprias A segunda fase da Maria da Fonte foi caracte- mãos o que o novo regime não liquidara por meio rizada pelo prosseguimento de guerrilhas e por mo- de leis: queriam a abolição completa e definitiva de vimentações populares de certa importância por um todos os direitos feudais* 57. Por outro lado, noutro lado, e, por outro, pela existência de Juntas Gover- passo do mesmo texto, escreve: <[inicialmente. tra- nativas com reivindicações politicas precisas e pelo tou-se de uma] explosão de cólera dos camponeses derrube do governo cabralista, substituído por ou- para com os colectores de impostos e autoridades tros integrados por setembristas. Apesa da perma- administrativas e judiciárias» "; porém «a verdadei- nência de movimentações mais ou menos espontâ- ra causa (...) estava no descontentamento que se neas, verificou-se frequentemente uma direcção acumulara contra o sistema capitalista do regime política assumida sobretudo por setembristas, mi- constitucional que, desde a sua instauração, provo- guelistas e cartistas não-cabralistas. cara a ruína do pequeno campesinato. A baixa de salários (...I, o aumento de impostos e as conse- mente o passo sobre a revolta contra os detentores quências da usura, assim como a centralização do poder e riqueza locais, não fez mais do que administrativa (...), constituíram os motivos verda- exprimir, veicular, a revolta contra a penetração das deiramente determinantes dos primeiros levanta- relações capitalistas no campo - penehafão essa mentos. A estas razões veio juntar-se a evolução de que o aparelho de Estado era (...) um instrumen- dos preços dos produtos alimentares (...): a uma to não só privilegiado como até, naquela época, in- baixa acentuada (...) sucede uma brusca subida em dispensável,, 1846 (...)» 59. Manuel Villaverde Cabral, sem deixar de ano- Parece, pois, que Victor de Sá opta pelo carác- tar os vários sentidos sobrepostos na Maria da Fon- ter simultaneamente anti-feudal e anti-capitalista da te e na Patuleia, salienta sobretudo o seu carácter revolta. anti-capitalista e anti-estatal. Miriam Halpern Pereira considera a Maria da Uma outra estudiosa, loyce Riegelbaupt, apre- Fonte, numa das suas obras, «uma revolta campo- senta uma tese - até certo ponto autónoma - que nesa (...) dirigida contra os impostos novos e ve- tende para a valorização do carácter anti-estatal da lhos, sem objectivos claramente diferenciados face Maria da Fonte. sublinhando as suas motivap5es às estruturas políticas existentes (...). Mas juntar-se- político-administrativas, culturais e de mentalida- -lhe-ia uma movimentação dos operários contra a des. Parece ser esta a tese da autora: e. .. na pers- mecanização e o inerente desemprego» ".Assim vê pectiva do camponês as rupturas mais graves situa- a mesma autora a rebelião noutro dos seus textos: vam[-se] menos ao nível da organização económica

111. Conclusão: Continuidade ou não entre a Maria da Fonte e a Patuleia?

O tema da continuidade ou descontinuidade entre a Maria da Fonte e a Patuleia tem sentido e eventualmente resposta em função da caracteriza- ção da dualidade e~~ontaneidadelen~uadramento ~olíticono decurso destes movimentos e da nature- za destes conflitos. Pareceu-me ser possível concluir nas partes respeitantes a estes tópicos: - Que, em antenção Aquela dicotomia, não existem diferenças substanciais ntre a Maria da Fonte, por um lado, e a Patuleia, por outro. Espon- taneidade e enquadramento político verificaram-se I Reporto-me funtamen!almenie às seguintes obras: em ambos os movimentos. E indiscutível aue uma CABRAL. Manuel Villaverde - O Desenvolvimento do Ca- espontaneidade maior se verificou na muito curta pitalisma em Ponugal. 3.1 edisão. Lisboa, 1981 FEIIO. Rui - «Mobilizqão Rural e Urbana na Maria da primeira fase da Maria da Fonte, quando a revolta Fonien in O Liberalismo no Peninruio Ibérico no Primeiro Merods ainda mal era noticiada; de qualquer modo, mesmo do Século XIX. volume 2, Lisboa, 1982. nesta primeira fase da rebelião, manifestaram-se PEREIRA, Miriam Halpem - Liuie-Câmbio e Desenvolvi- por vezes setembristas e miguelistas. Assim como mento Econ6mico Portugal na Segunda Metade do Século XIX, se verificaram, na segunda fase da Maria da Fonte 2.' edi~áo.Lisboa. 1982: e Ro'oiuáii. Fiiwncas r Dependência Errrrna. Lisboa. 1979. e na Patuleia, algumas atitudes populares que esca- RIEGELHAUPT. Joyce - «Camponeses e Estado Liberal: a param ao enquadramento. Revolta da Maria da Fonte» in Esiudiáneo lIXY6i71. Lisb0u.m 1984. pp 7011 e pp. 203-219. JUSTINO. David - «Conjunrura Económica e Maria da Ver rmbéin Corre.~p~~r>«iidénc"l &r .Jiiiiior Poprdurrr de Moro e Junhho Fonte, Algumar Notai,~in Brucora Aaylirrn. v01 XXXV. n." 791 de 1846. Relatáiios do Ministerio do Reino (51211848). Arquivo 80. Braga. 1981. HislMcodoMinistériodoEquipamenioSocia1,pp. 20.25~28.31-33. MACEDO. Jorge Borges de - «O Aparecimriro em Ponu- " Ou haverá aqui algum enquadramemo desconhecido? Não gal da Conceilo de Programa Poiíricor in Rei'irtu Poriugurro de parece provável ou. pelo menos. dele nuficaram quaisquer indícios Hisrdrio. lomo XIII. Coimbra. 1971. até hoje encontradas ou iratddos pela bibliografia. "er sob= este Lema autores que. ao debrusarem~seentre "Note-seque erres exemplos foramciradosaoaabordabiblio- OUIT~Scoisa7 sobre os movimenios sociais na iransifáo do Antigo gPdfla e não por serempaniculsmnte signiiicuiiuos. Regime para o Capitalismo. o Iratain: BERCÉ. Yves Matie - "Ver um exemplo de proclarnafão da Fae inicial da Maria da Réiolier e, Réi.r,luiionr dons rEure(XVI' XVIIP Sie~ Fonie Proclamação Porrugueres. si local. si data I1846i18471 in cles). Paris. 1980. capr l/lV e TILLY. Charies - Lo Froricc CoZr $80 de Popéir hipressor Clonderrinomeore rin Li~hoodurante coiiiem de 1600 o rioi .iour.~.parir. 1986. cap XI. oMoriniriiliiPoliliiode Y de Oiiruhr

menie por PEREIRA. Miriam Haloern - Livre Cúmhio,,..D 296. Junlar. Sáo lertemunho daouele os dicursos de Cnaa~~~ Cabra1 àr Refiramse agoraas visões de autores de hJváris décadar~ C8maras e a aprovasão de medidas de ex&o Ver. por exemplo. Assim romeniou Barbosa Colen afonqão da Junta de Diário do Grii.rriio.Lisboa. 2ii411846, pp. 2-3. O alaque a Braga já Vila Real c o seu ~igt~ificad~:«A revoliu delocwa-se da haviaiambem sidonoticiadooficialmenre uns diu~anres-verDiário seu primiiivo cenim. Do Minho paisara a ouiros pontos - e espe- do Gorcrno. Lisboa. 17i4i1846 p. i. ciulmenle a Tr&-oc-Montes. Foi aqui, em Vila Real. que o movi- " Ver novamente as fonier ciiadas na nota li.muito em mnoentrou numa mais disciplinada ucgão. Em vez de Iraiar uni- panicdar Correrpondêitcio dos Juntos Populorec... pp 9 e 33. camente cada um. como meihoi lhe parecesse. d arranjar a gente " Junm recenseadar. a panir de: Liwo A;iri ou Correspoii~ de que pudesse dispor. correndo esiradar e montes aos tiros. os dênciu Rrloriro rins Negrrerp«ridéncio dor Jiularrr... o Livro A;uI e O Adi. conlrara~sea i6rmula dirigenre da revolufão; à insurreição sem mnirn,ii, comando e rem finalidade determinada, 3 comperiçáo dos gueml- " Ver sobre a composi$ão das Juntas nu Maria da Fonte: heiror mais ou menos independenres. irá suceder a arganização do para aié~ndas obras ciradas na nota 15. entre ar quais se saienta movimenro e respectiva direcqão por pequenos governos locaiss, pela sua iinponbria a Correrpniidéncio &r Juntos Pondê~iciridus Juntos nie e os Padres Gomes - do Prado -. Manuel da Agra e Joa- Popiilorer. pp. 2. 4. 6. 8. 11. 21. 26. quim da Costa (COLEN. José Barbosa - <>h.cri. p. 131) " Visivei. por exemplo. na maioria das representaçóer dar " Em particular: Iembre~seaqui o conhecido texio de Olivei- Junras publicadas in Correillordé~iiiodar .Jiiiiror P<,pilorer ra Maninr sobre a mulher do Minho Ver MARTINSS. João Pedro " Individualidades políticas que se noiabilirararn tanto na de Oliveird - Pr>nir:ol Coiiiinii~ordneo.v01 2. Pom. pp 187~ Maria da Fonte como na Paruleia rzo aponiadas nos parágrafos 188. seguinies do corpo do rerro. Enire os lideres que não serão aí ciia- "Ver VIEIRA. Casimiio José - ah cir.. p. 22 e pp 64~65. dos. desiucaram-se Mouzinho de Aibuquerque da Junla de Leiria "' Ver VIEIRA. Ca~imiroJosé - oh ri!. pp. 165-171). na Matia da Fone. D. Femando de Sousa Botelho das Junlas de Nesla cana. o Padre Cuimiro exprimiu ainda uma sua nostalgia e Vila Real na Maria da Fonte e na Paluieia. Visconde de Azenha um seu desejo. bem caractetisiicos do iom gera! da missiva: «Ds~ da Junia de Guimaiues em ambos os movimenios e ainda D. Mi- guel Var Guedes. o Coinendudor Piinenlei. o Bafio de Viia Pouca. Ver. por um lado. VIEIRA. Carimiro José - oh. urulii',,,vddp ,,,,iri Rei.r>l!o. iDi,cunaeiiinr Jiiéiiii,,,, de tulei*. I840 u 1846J. publicados por Carlos Range1 de Sampio. Lisboa '' Sobre iodo esie pmcesao. ver as memória?de um peaona- 1905 e A Reroliu Mi~iisiinuCi~iiiru o Cuhrolirnio. Curru, de gem nele intenieniente: SARMENTO. lgnacio de Pirnrro Mordes Aiiiiinio Ribrirr~Suruii.~ e Cüiidido Fifiiiriredrz i Liniu 184411851. - Meniororidiini de Ciiui'er. Porto. 1846. fixagão do iexio. prefdcio e noer de Jogo Carlos Alvim. Lisboa. r1 '"Ver a respectiva pmlamqão in ROBY. Joào Pinio - <]h. dura. <'!. UP. 1658. autor este que revela iambém as coodicees da sua "'Ver Cizri~e,~p~,~~dB,~~iud0.7 .liriiiur Piclonr... e MACEDO. Anrónio Pono, de R de Junho u Outubro de 1846 ou O Nocioiiol. Pono. de Teireira dc - íb. cir.. pp 70-77 e 203-219. 25 de Maio u Ouiubro de 1846. A Rei'oliqüo de Srirnibro. Lisboa. IYVer .I evoiiição das reivindicaqões da Junta de Coimbra: de Maio a 8 de Ourubro de IR46 ou A Reinlu<üo du Mirihii. de 28 Represeniaqões da Junla Governuriua de Coimbra de 20 e 23n1 de Maio u 6 de Ouiubro de 1846. i846 in Corrrspoiidrncio dor .luiiior P,,piclorer ... pp. 1-4 I" Todo eaie processo esta bem documeniado em MACEW. Aniánio Teixeird de - uh. cii. pp. 70-77 e 203-219. " Decreto de 51611846 in Corre.~l>u- te cni Lish~8".16.O documenta. Iorrs... p. 20 A 201611846, a disroiuqào estava consumada - ver " Sulieniando-se. no Verjo de iR46. o Conde dai Anias e

~ . ,~?. - .. Aimargem Tema já rrarado no corpo do texto a propósiio dos "Ver oh. ?ir. pp. 25~28e 31-32. miguelistas. JuniadeCoimbrade9161iR46assimcomooofíciogovemamen- '"Siluagão Iralada por CARVALHO. Joaquim de - <,h. cii., ia1 de 131611846 in Corrcri>ondènciador.li~nior Popi~lurrs . pp. 26- pp. 305-31 1 assim como referida nu imprensa setembrisiõ - ver. 27. por exemplo. O Noi.iono1. Pono. de 25 de Mdlo a Outubm de "Ver CARVALHO. Joaquim de-01, cir. p. 301~ 1846. O Pairioia. Lisboa, de 22 de Maio a 8 de Ouiubro de 1846. "Ver a proclamqão da Junia do Pono de 1311011846 in O A Re>'ohsüo de Srrririhro. Lisboa. de Maio a 8 de Ourubro de Nacionoi. Parto, 1511011846. p i 1846. A Rei.olu(ui~ do Miith\ ? pe,,;, :-7\ - . , , 1 ,r .q:,,>[," <""3 < LEN, Jose Barbosa - oh cii.. pp. 137-138 e VIEIRA. Casimiro I 1.8 .i>(><..<;L.\bi,. ?I ir'q.rriit.c~~ u !I, José - oh. cii, pp. 75 e 113. Ver ainda o árgãa de imprensa ou en li L P . I 2 h-TJ . .I~II!..I.> ., hliiih~ miguelisra mais duradouro, A Nosuo, Lisboa. 1519 a 3111211847. é completamenie pasta em causa - como. por exemplo. em O " Ver um exemplo desce iipo de proclama@es miguelislm: Populor. Lisboa. 22 e 231211847 atéum jornal serembrirta radiL Proclamaqào Porrugursrs. s/ local vila Chã]. s/ data [Junho/ cal como O Especrro não o admite - ver este último título. Lis- 18461 in CorrrspondBncia dos Junins Populares... p 36 boa, 26/2/1847. A posiqão face à Rainha e ao Pqo constitui no '' Ver iambém um exemplo de oiutm iipo de textos entanto um dos espaqos onde a voz dos selembnsras radicais mais miguelislas: Cornrpondêncio Ilos Juntas Populares ... pp. 8-9. se fez ouvir. " Ver a proclamqüo Os Realistas a o Inirwrn$Üo, silocal. "Uma critica aberta da ida às urnar e mesmo do sistema sidata [provavelmenre Junho118471 in Colecsdo de Papéis Imprer~ eleiroral vigente aparece rerpecrivamente em O Pmcurador dor sos Ciondesrinomrnrr em Lisboa... 31%documento. Poi'or. O Raheròo cirados na noia 49 e em A Guitarra, Lisboa. " Embora a actividade das guemlhai miguelistas durante a [1847]. Maria da Fonte e a Paruleia esteja no seu con~unlopor esrudar, é '' O que é visível na maiaria dos periódicos nomeados na Possível consialar, mesmo com base apenm na bibliografia im~ nota 49. A reiaqão com os miguelista. já foi tratada no corpo do pressa sobre o tem% a diversidade destes corpos armador que iexto a propósito destes állimos. agiam em nome dos direitos de D Miguei. A actividade políiicõ Panicul-ene inieressanle 6 a análise de O Povo, Coim- dos migualisas na Maria da Fonie e na Paluieia consiirui. arsim. bra. 2716 a 3011 111846, um exemDlo muito claro da dificuldade em estabelecer uma linha " A dificuldade em diferenciar as correntes políticas tem. de dema~qãonítida entre esponianeidade e enquadnimenlo poli- como jd ío; vino. panicularucuidade no caso do canismo oão- ,ice. cabraliria. Fonre] como movimenio campner, parece licito sublinhar, como " Ver os manifeslos destas associqóes eleitorais em Livro Riegelhaupr. a imponancia explicaliva do choque EsiadoIComuni- Azul... pp. 6-7e MACEDO, Anr6nio Teixeira de - ob. cit. pp. 1-231 dade (e família) camponesa. Por ouiro Indo. erra inrerpreiqão não ~7 sÁ, vicror de - ob. rir.. p. 288. sed incompatível com uma revalorizagHo do papel da conjuniura 78 sÁ, v~ctorde - ob. cil., pp. 271-272. económica e dos efeitos do desenvolvimento do capiialismo» (in 39 sÁ. vicror de - ob. cir. pp. 218-279 ponto 4 do prefácio de José Manuel Sobral a CASIMIRO. Padre ri, PEREIRA, Mitiam Halpem - Revoluçrío... p. 384. - Aponianipnt OS.... edi~áorecente, Lisboa, sidata). m PEREIRA, Minam Halpem -Livre Ccimbio., . p. 294. " FELJO. Rui - oh. cit. p. 191. 11 PEREIRA. Minam Halpern -"h. cit. p. 3W. Segundo Rui Feij6. o rponio de viragem [deu4 durante 63 CABRAL. Manuel Villaverde - ob. cii. p. 134. a Matia da Fonte. (nb. cii. p. 190). tese esta que me parece per~ CABRAL. Manuel Villaverde - ob. cii.. p. 141 tinente. Porem, no meu texto. ao concluir que a primeira fase da 6'CABRAL. Manuel Villaverde - ob. cir, p. 142. Maria da Fonre se caracietizou por sermuito cuna. rapidissima. " RIEGELHAUPT. Joyce - ob. cir. p. 132. divirjo do mencionado auior Ver FELIO. Rui - oh.