A correspondência de Simón Bolívar e sua presença na literatura: uma análise de O General em seu labirinto de Gabriel García Márquez1 Fabiana de Souza FREDRIGO • Resumo: Simón Bolívar, uma das lideranças mais importantes das independências na América do Sul de colonização espanhola, deixou um epistolário com 2815 cartas. Ao partir do propósito em expor o projeto narrativo epistolar, um dos temas de destaque, no decorrer da leitura, foi o da renúncia do general. As diversas solicitações de renúncia ao cargo administrativo e as justificativas que as acompanhavam levaram-me à análise do que denominei por memória da indispensabilidade. Depois da investigação desse discurso no epistolário, as relações com a literatura e a biografia foram fundamentais para ampliar a compreensão acerca da composição dessa memória da indispensabilidade nas epístolas. Para este artigo, pretende-se cotejar as cartas de Simón Bolívar e o romance de Gabriel García Márquez, O General em seu labirinto. A hipótese é a de que o texto literário, além de usar o epistolário bolivariano para construir seu personagem e a cena romanesca, acrescenta possibilidades explicativas sobre o projeto de memória conduzido pela escrita de cartas, na mesma medida em que reforça o culto ao general Libertador. Palavras-chave: Memória; Cartas; História; Literatura. A correspondência enquanto gênero se caracteriza pela interrupção, pela exigência de continuidade, pela pausa entre uma e outra carta, pela obsessão pelas cartas extraviadas e pela angústia do corte. [...] • Professora Doutora – Departamento de História – Faculdade de História – Universidade Federal de Goiás – UFG – 74001-970 – Goiânia – GO – Brasil. E-mail:
[email protected] HISTÓRIA, São Paulo, 28 (1): 2009 715 FABIANA DE SOUZA FREDRIGO A escrita é um resumo da vida, condensa a experiência e a torna possível (PIGLIA, 2006: 46-51).