Resenha de Política Exterior do Brasil número 104, 1° semestre de 2009

ministério das relações exteriores RESENHA DE POLÍTICA EXTERIOR DO BRASIL Número 104, 1° semestre de 2009 - Ano 29, ISSN 0101 2428

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A Resenha de Política Exterior do Brasil é uma publicação semestral do Ministério das Relações Exteriores, organizada e editada pela Coordenação-Geral de Documentação Diplomática (CDO) do Departamento de Comunicações e Documentação (DCD).

Ministro de Estado das Relações Exteriores Embaixador

Secretário-Geral das Relações Exteriores Embaixador Antonio de Aguiar Patriota

Subsecretário-Geral do Serviço Exterior Embaixador Denis Fontes de Souza Pinto

Diretor do Departamento de Comunicações e Documentação Embaixador Hélio Vitor Ramos Filho

Coordenação-Geral de Documentação Diplomática Conselheiro Pedro Frederico de Figueiredo Garcia Secretário Eduardo Albuquerque de Barros Braga

Resenha de Política Exterior do Brasil / Ministério das Relações Exteriores, Departamento de Comunicações e Documentação : Coordenação-Geral de Documentação Diplomática. – Ano 1, n. 1 (jun. 1974)-. – Brasília : Ministério das Relações Exteriores, 1974 - .

348p.

ISSN 01012428 Semestral.

1.Brasil – Relações Exteriores – Periódico. I.Brasil. Ministério das Relações Exteriores.

CDU 32(05)

Departamento de Comunicações e Documentação Sumário

DISCURSOS 27

Conflito na Faixa de Gaza Discurso sobre o conflito na Faixa de Gaza, proferido no Conselho de Segurança das Nações Unidas, pela 27 Representante Permanente do Brasil, Embaixadora Maria Luiza Ribeiro Viotti. Nova York, EUA, 07/01/2009

Conferência de imprensa após assinatura de atos entre o Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, e o Presidente da Venezuela, Hugo Chávez Conferência de imprensa após assinatura de 31 atos entre o Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, e o Presidente da Venezuela, Hugo Chávez. Maracaibo, Venezuela, 16/01/2009

Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto Discurso do Presidente da República, Luiz Inácio Lula 39 da Silva, durante solenidade do Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto. São Paulo, SP, 27/01/2009 Almoço oferecido ao Presidente da República da Namíbia, Hifikepunye Pohamba

Discurso do Presidente da República, Luiz 43 Inácio Lula da Silva, durante almoço oferecido ao Presidente da República da Namíbia, Hifikepunye Pohamba. Brasília, DF , 11/02/2009

Visita do presidente da Colômbia, Álvaro Uribe Declaração à imprensa do Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, após assinatura de 47 atos, por ocasião da visita do presidente da Colômbia, Álvaro Uribe. Brasília, DF , 17/02/2009

Conferência Internacional em Apoio à Economia Palestina para a Reconstrução de Gaza

Discurso proferido pelo Ministro das Relações 53 Exteriores, Embaixador Celso Amorim, na Conferência Internacional em Apoio à Economia Palestina para a Reconstrução de Gaza. Sharm el-Sheikh, Egito , 02/03/2009

Visita do Presidente do Uruguai, Tabaré Vázquez

Discurso do Presidente da República, Luiz Inácio 55 Lula da Silva, por ocasião da visita do Presidente do Uruguai, Tabaré Vázquez. Brasília, DF , 10/03/2009

Seminário “Brasil: Parceiro Global em uma Nova Economia; Estratégias Sólidas para Momentos Desafiadores” Discurso do Presidente da República, Luiz Inácio Lula da 59 Silva, durante abertura do Seminário “Brasil: Parceiro Global em uma Nova Economia; Estratégias Sólidas para Momentos Desafiadores”. Nova York, EUA , 16/03/2009 Seminário organizado pelos jornais “Valor Econômico” e “The Wall Street Journal”

Palestra do Ministro das Relações Exteriores, 67 Embaixador Celso Amorim, em Seminário organizado pelos jornais “Valor Econômico” e “The Wall Street Journal”. Nova Iorque, EUA, 16/03/2009

Cúpula de Líderes Progressistas - Viña del Mar - Chile Intervenção do Presidente da República, Luiz Inácio 73 Lula da Silva, durante a Primeira Sessão da Cúpula de Líderes Progressistas. Viña del Mar, Chile, 28/03/2009

2ª Cúpula América do Sul-Países Árabes - Doha, Catar Discurso do Presidente da República, Luiz Inácio 77 Lula da Silva, na sessão de abertura da 2ª Cúpula América do Sul-Países Árabes. Doha, Catar, 31/03/2009

II Fórum Mundial da Aliança de Civilizações - Istambul, Turquia

Discurso do Ministro das Relações Exteriores, 81 Embaixador Celso Amorim, no II Fórum Mundial da Aliança de Civilizações. Istambul, Turquia, 06/04/2009

Fórum Econômico Mundial - América Latina

Discurso do Presidente da República, Luiz Inácio Lula 83 da Silva, na plenária de abertura do Fórum Econômico Mundial - América Latina. Rio de Janeiro, RJ, 15/04/2009 Primeira Sessão Plenária da 5ª Cúpula das Américas - Port of Spain – Trinidad e Tobago Discurso do Presidente da República, Luiz Inácio Lula 91 da Silva, na Primeira Sessão Plenária da 5ª Cúpula das Américas. Port of Spain, Trinidad e Tobago, 18/04/2009

Segunda Sessão Plenária da 5ª Cúpula das Américas - Port of Spain – Trinidad e Tobago Discurso do Presidente da República, Luiz Inácio Lula 93 da Silva, na Segunda Sessão Plenária da 5ª Cúpula das Américas. Port of Spain, Trinidad e Tobago, 18/04/2009

Dia do Diplomata I

Discurso do Presidente da República, Luiz Inácio 99 Lula da Silva, durante cerimônia em comemoração ao Dia do Diplomata. Brasília, DF, 07/05/2009

Dia do Diplomata II

Discurso do Ministro das Relações Exteriores, 103 Embaixador Celso Amorim, durante a cerimônia em homenagem ao Dia do Diplomata. Brasília, DF, 07/05/2009

Dia do Diplomata III Discurso proferido pelo Secretário-Geral das Relações Exteriores, Embaixador Samuel Pinheiro 107 Guimarães, proferido durante a cerimônia em homenagem ao Dia do Diplomata - Brasília , 07/05/2009

Visita do Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, à Arábia Saudita Discurso do Presidente da República, Luiz Inácio Lula 111 da Silva, por ocasião de almoço na Câmara de Comércio na Arábia Saudita. Riade, Arábia Saudita, 17/05/2009 Seminário Brasil-China: Novas Oportunidades para a Parceria Estratégica

Discurso do Presidente da República, Luiz Inácio Lula 115 da Silva, durante cerimônia de encerramento do Seminário Brasil-China: Novas Oportunidades para a Parceria Estratégica. Pequim, China, 19/05/2009

Inauguração do Centro de Estudos Brasileiros em Pequim, na China Discurso do Presidente da República, Luiz Inácio Lula 121 da Silva, durante cerimônia de inauguração do Centro de Estudos Brasileiros. Pequim, China, 19/05/2009

Viagem do Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, à Turquia Discurso do Presidente da República, Luiz Inácio Lula 125 da Silva, durante jantar oferecido pelo Presidente da Turquia, Abdullah Gül. Ancara, Turquia, 22/05/2009

Sessão do Conselho de Direitos Humanos da ONU

Discurso do Presidente da República, Luiz Inácio 129 Lula da Silva, durante Sessão do Conselho de Direitos Humanos da ONU. Genebra, Suíça, 15/06/2009

Prêmio Mundial das Telecomunicações e Sociedade da Informação Discurso do Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante visita à sede da União Internacional 135 de Telecomunicações (UIT), onde foi agraciado com o Prêmio Mundial das Telecomunicações e Sociedade da Informação. Genebra, Suíça, 15/06/2009 Apresentação da candidatura Rio 2016

Mensagem do Presidente da República, Luiz 137 Inácio Lula da Silva, durante apresentação da candidatura Rio 2016. Lausanne, Suíça, 17/06/2009

Viagem do Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, ao Cazaquistão

Discurso do Presidente da República, Luiz 139 Inácio Lula da Silva, durante almoço oferecido pelo presidente do Cazaquistão, Nursultan Nazarbayev. Astana, Cazaquistão, 17/06/2009

Visita da Presidente das Filipinas, Gloria Macapagal, ao Brasil Discurso do Presidente da República, Luiz Inácio Lula da 141 Silva, por ocasião da visita da Presidente das Filipinas, Gloria Macapagal-Arroyo. Brasília, DF, 24/06/2009

Reunião Ministerial da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) Discurso proferido pelo Ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, por ocasião da Reunião 145 Ministerial da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), no painel intitulado “Keeping Markets Open for Trade and Investment “. Paris, França, 25/06/2009 Conferência das Nações Unidas sobre a Crise Financeira e Econômica Mundial e seu Impacto sobre o Desenvolvimento

Discurso do Ministro das Relações Exteriores, 147 Embaixador Celso Amorim, na Conferência das Nações Unidas sobre a Crise Financeira e Econômica Mundial e seu Impacto sobre o Desenvolvimento. Nova York, EUA, 26/06/2009 atos internacionais 151

COMUNICADOS, NOTAS, 157 MENSAGENS E INFORMAÇÕES

Ofensiva terrestre israelense em Gaza (03/01/2009) 157

Assistência a brasileiros na Faixa de Gaza (05/01/2009) 157

Envio de ajuda humanitária à Faixa de Gaza (08/01/2009) 157

Visita do Ministro Celso Amorim ao 158 Oriente Médio (08/01/2009)

Retorno ao Equador do Embaixador 158 do Brasil em Quito (10/01/2009)

Situação dos Direitos Humanos na Faixa de Gaza (12/01/2009) 159

Mensagens de solidariedade do Presidente da República e do Ministro Celso Amorim 159 ao Governo da Costa Rica (13/01/2009) Visita do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva 159 à Bolívia - 15 de janeiro de 2009 (14/01/2009)

Visita do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Venezuela 160 - Maracaibo, 15 e 16 de janeiro de 2009 (14/01/2009)

Ataque a instalações das Nações 160 Unidas em Gaza (15/01/2009)

Visita do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Bolívia 160 - 15 de janeiro de 2009 - Declaração Conjunta (15/01/2009)

Situação em Gaza - novos contatos do 164 Ministro Celso Amorim (16/01/2009)

Visita ao Brasil do Ministro dos Negócios Estrangeiros da República Popular da China - 164 Brasília, 18 a 20 de janeiro de 2009 (16/01/2009)

Cessar-fogo unilateral em Gaza (17/01/2009) 164

Visita do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Venezuela 165 - 16 de janeiro de 2009 - Comunicado Conjunto (19/01/2009)

Visita ao Brasil do Ministro dos Negócios Estrangeiros da República Popular da China, Yang Jiechi - Brasília, 18 170 a 20 de janeiro de 2009 - Comunicado Conjunto (19/01/2009)

Visita ao Brasil do Ministro dos Negócios Estrangeiros de São Tomé e Príncipe, Carlos 170 Tiny - Brasília, 20 de janeiro de 2009 (19/01/2009) Visita ao Brasil do Ministro dos Negócios Estrangeiros de Chipre, Markos Kyprianou - 171 Brasília, 21 de janeiro de 2009 (20/01/2009)

Mensagem do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao 171 Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama (21/01/2009)

Retenção de carga, no porto de Roterdã, do genérico LOSARTAN, originário da Índia e destinado à indústria 173 farmacêutica brasileira (21/01/2009)

Mensagem do Ministro Celso Amorim à Secretária de Estado dos Estados Unidos da 173 América, Hillary Clinton (22/01/2009)

Visita ao Brasil do Ministro dos Negócios Estrangeiros da Bósnia e Herzegóvina, Sven Alkalaj - Brasília e 174 Rio de Janeiro, 22 a 25 de janeiro de 2009 (22/01/2009)

Visita ao Brasil do Ministro dos Negócios Estrangeiros da Bósnia e Herzegóvina, Sven 174 Alkalaj - Brasília e Rio de Janeiro, 22 a 25 de janeiro de 2009 - Declaração Conjunta (23/01/2009)

Doação humanitária à Palestina (23/01/2009) 175

Chamada para consultas do Embaixador 175 da Itália no Brasil (27/01/2009)

Reunião Anual do Fórum Econômico Mundial - Davos, 28 de janeiro a 1º de fevereiro de 2009 - Participação do 176 Ministro Celso Amorim (29/01/2009 Reunião Anual do Fórum Econômico Mundial - encontro do Ministro Celso Amorim com o Ministro do Comércio 176 da Índia, Kamal Nath - Davos, 30 de janeiro de 2009 (30/01/2009)

Violência na Faixa de Gaza (02/02/2009) 177

Situação no Zimbábue (02/02/2009) 177

Combate a praga na Libéria (02/02/2009) 177

Libertação de reféns em poder das FARC (05/02/2009) 178

Assinatura de Ajuste Complementar entre a Agência Brasileira de Cooperação (ABC) e 178 o Instituto Interamericano de Cooperação em Agricultura (IICA) (06/02/2009)

Assistência humanitária a Cuba, 179 Haiti e Honduras (06/02/2009)

Pacote de estímulo econômico norte-americano 179 - dispositivo “Buy American” (06/02/2009)

Visita ao Brasil do Presidente da Namíbia, Hifikepunye 179 Pohamba - 9 a 12 de fevereiro de 2009 (10/02/2009)

Visita do Ministro das Relações Exteriores do Uruguai, Gonzalo Fernández - Brasília, 180 12 de fevereiro de 2009 (11/02/2009) Visita do Ministro dos Negócios Estrangeiros do Canadá, 180 Lawrence Cannon -15 a 18 de fevereiro de 2009 (13/02/2009)

Posse do novo Governo de 181 união nacional no Zimbábue (13/02/2009)

Visita ao Brasil do Presidente da Colômbia, Álvaro 181 Uribe - 16 e 17 de fevereiro de 2009 (16/02/2009)

Reunião Ministerial Brasil-Argentina - 182 17 de fevereiro de 2009 (17/02/2009)

Visita de Estado ao Brasil do Presidente da República da Colômbia, Álvaro Uribe Vélez - Brasília 17 de fevereiro 182 de 2009 - Comunicado Conjunto - “Brasil-Colômbia: Fortalecendo uma Relação Especial” (18/02/2009)

Situação da cidadã brasileira Paula 186 Oliveira na Suíça (18/02/2009)

Visita ao Brasil do Vice-Primeiro-Ministro da Líbia, 187 Imbarek Ashamikh - 16 a 20 de fevereiro (18/02/2009)

Visita do Vice-Presidente da República Popular da China, Xi Jinping - Brasília e Manaus, 18 187 a 20 de fevereiro de 2009 (18/02/2009)

Ato assinado por ocasião da visita ao Brasil do Vice-Presidente da República Popular da China, Xi 188 Jinping - 18 a 20 de fevereiro de 2009 (19/02/2009) Visita do Ministro Celso Amorim aos Estados 190 Unidos - 25 de fevereiro de 2009 (20/02/2009)

Reunião do Presidente Lula com Embaixadores 190 brasileiros na África (20/02/2009)

Inauguração de Armazém Humanitário do Governo brasileiro no Aeroporto Internacional Antônio 191 Carlos Jobim - 2 de março de 2009 (25/02/2009)

Visita do Ministro Celso Amorim à França - 26 a 28 de 191 fevereiro de 2009 (25/02/2009)

Visita ao Brasil do Primeiro-Ministro dos Países Baixos, 192 Jan Peter Balkenende - 2 a 4 de março de 2009 (27/02/2009)

Visita do Ministro Celso Amorim ao Egito 192 - 2 a 4 de março de 2009 (27/02/2009)

Assassinato do Presidente João Bernardo Nino Vieira, 193 da Guiné-Bissau (02/03/2009)

Contencioso Brasil-Estados Unidos sobre subsídios ao algodão - Audiência sobre a forma 194 e o montante da retaliação (03/03/2009)

Visita ao Brasil do Presidente do Uruguai, Tabaré 194 Vázquez - Brasília, 10 de março de 2009 (09/03/2009)

Visita ao Brasil do Secretário-Geral da OEA, José 195 Miguel Insulza - Brasília, 10 e 11 de março (09/03/2009) Visita ao Brasil do Diretor-Geral da FAO, Jacques 195 Diouf - Brasília, 9 e 10 de março de 2009 (09/03/2009)

Eleição do Embaixador João Clemente Baena Soares 196 para a Comissão Jurídica Interamericana (09/03/2009)

Visita ao Brasil do Presidente do Uruguai, Tabaré Vázquez - Brasília, 9 e 10 de março de 196 2009 - Declaração Conjunta (10/03/2009)

Visita ao Brasil do Primeiro-Ministro de São Tomé e 202 Príncipe, Rafael Branco - 9 a 13 de março de 2009 (10/03/2009)

Visita ao Brasil do Príncipe de Gales - 11 203 a 15 de março de 2009 (10/03/2009)

Revisão da política comercial do Brasil na OMC (11/03/2009) 203

Visita ao Brasil do Ministro das Relações Exteriores e Cultos da Bolívia, David Choquehuanca 204 - Brasília, 12 de março de 2009 (11/03/2009)

Visita ao Brasil do Ministro das Relações Exteriores e Cultos da Bolívia, David Choquehuanca - Brasília, 12 205 de março de 2009 - Comunicado Conjunto (12/03/2009)

Visita do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva aos 207 Estados Unidos - 14 a 16 de março de 2009 (13/03/2009)

Encontro do Primeiro-Ministro de Trinidad e Tobago, Patrick Manning, com o Presidente Luiz Inácio Lula 207 da Silva - Brasília, 19 de março de 2009 (18/03/2009) Visita ao Brasil da Presidente da Argentina, Cristina Fernández de Kirchner - São 207 Paulo, 20 de março de 2009 (19/03/2009)

Visita do Ministro Celso Amorim à Bélgica, aos Países 208 Baixos e a Cabo Verde - 21 a 25 de março de 2009 (20/03/2009)

Visita ao Brasil do Primeiro-Ministro do Reino Unido, Gordon Brown - Brasília e São 209 Paulo - 26 de março de 2009 (24/03/2009)

Visita ao Brasil do Ministro dos Negócios Estrangeiros da 209 República Islâmica do Irã, Manouchehr Mottaki (25/03/2009)

Visita ao Brasil do Primeiro-Ministro do Reino Unido, Gordon Brown - Brasília e São Paulo - 26 de março de 2009 - 210 Declaração Conjunta (27/03/2009)

II Cúpula América do Sul-Países Árabes - Doha, Catar, 217 31 de março de 2009 (28/03/2009)

II Cúpula América do Sul-Países Árabes - Doha, Catar, 31 de março de 2009 - Comunicado 218 Conjunto Mercosul-CCG (28/03/2009)

Visita do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva 219 a Paris - 1º de abril de 2009 (31/03/2009)

Falecimento do ex-Presidente da República Argentina, 219 Raúl Alfonsín (01/04/2009)

Cúpula de Líderes do G-20 sobre Estabilidade, Crescimento 219 e Emprego - Londres, 2 de abril de 2009 (01/04/2009) Trabalhadores brasileiros no Japão (01/04/2009) 220

Viagem do Ministro Celso Amorim à 221 Grécia - 3 de abril de 2009 (02/04/2009)

II Fórum Mundial da Aliança de Civilizações - Istambul, 221 6 e 7 de abril de 2009 (03/04/2009)

Acordo de Comércio Preferencial 221 Mercosul-SACU (06/04/2009)

Terremoto na Itália (06/04/2009) 222

Lançamento de Foguete pela Coréia do Norte (07/04/2009) 222

Novo Comandante da Missão de Paz no Haiti (08/04/2009) 222

Visita ao Brasil do Ministro dos Negócios Estrangeiros de Cabo Verde, José Brito - 223 Brasília, 14 e 15 de abril de 2009 (13/04/2009)

Visita ao Brasil do Ministro dos Negócios Estrangeiros 223 da República da Sérvia, Vuk Jeremic (15/04/2009)

Lançamento de Foguete pela Coreia do Norte (15/04/2009) 223

Visita ao Brasil do Ministro das Relações Exteriores do Peru, José Antonio García Belaúnde 224 - Rio de Janeiro, 16 de abril de 2009 (15/04/2009)

V Cúpula das Américas - Trinidad e Tobago, 224 17 a 19 de abril de 2009 (16/04/2009) Conferência de Revisão de Durban 224 sobre Racismo (21/04/2009)

Visita do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva à 225 Argentina - Buenos Aires, 23 de abril de 2009 (22/04/2009)

Visita do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Argentina - Buenos Aires, 22 e 23 de abril de 225 2009 - Declaração Conjunta (23/04/2009)

Adoção pela República do Peru do Sistema 237 de TV Digital ISDB-T (23/04/2009)

Visita do Ministro Celso Amorim à Venezuela (25/04/2009) 238

Seminário internacional “A Propriedade Intelectual como instrumento de Política Industrial” - 238 Brasília, 29 e 30 de abril de 2009 (27/04/2009)

Visita ao Brasil do Presidente do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas 239 - 27 a 29 de abril de 2009 (28/04/2009)

Visita ao Brasil do Presidente do Peru, Alan García - Rio Branco, 28 de abril de 2009 239 - Comunicado Conjunto (28/04/2009)

Reunião do Grupo Diretor do Plano de Ação Brasil-EUA para a Eliminação da Discriminação 243 Étnica e Racial e Promoção da Igualdade - Washington, EUA, 29 e 30 de abril (29/04/2009) Reeleição de Pascal Lamy ao cargo de Diretor-Geral 244 da Organização Mundial do Comércio (OMC) (30/04/2009)

Visita ao Brasil do Chanceler do Nepal, Upendra Yadav - 244 4 a 6 de maio de 2009 (30/04/2009)

Visita ao Brasil do ex-Presidente dos Estados Unidos, 244 Jimmy Carter - 3 a 5 de maio de 2009 (30/04/2009)

Visita ao Brasil do Ministro das Relações Exteriores do Chile, Mariano Fernández - 245 Brasília, 4 de maio de 2009 (02/05/2009)

Adiamento da visita do Presidente 245 do Irã ao Brasil (04/05/2009)

Visita ao Brasil do Ministro das Relações Exteriores de Botsuana, Phandu Skelemani 245 - 4 a 7 de maio de 2009 (04/05/2009)

Acordo para publicação da série 246 “Como exportar” (05/05/2009)

Visita de Estado ao Brasil do Presidente do Paraguai, Fernando Armindo Lugo 246 Méndez - 7 e 8 de maio de 2009 (06/05/2009)

Visita ao Brasil do Ministro dos Negócios Estrangeiros 246 da Coréia do Norte - 10 e 11 de maio de 2009 (08/05/2009)

Visita ao Brasil da Ministra das Relações Exteriores de Honduras, Patrícia Isabel 247 Rodas - 11 a 13 maio de 2009 (08/05/2009) Visita do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Arábia 247 Saudita - Riade, 16 e 17 de maio de 2009 (15/05/2009)

Visita do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva à 247 China - Pequim, 18 a 20 de maio de 2009 (17/05/2009)

Concessão do Prêmio Mundial de Telecomunicações e Sociedade da Informação ao Presidente 248 Luiz Inácio Lula da Silva (18/05/2009)

Mensagem de congratulações do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Primeiro-Ministro 248 da Índia, Manmohan Singh (18/05/2009)

Visita do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Turquia 249 - Istambul e Ancara, 20 a 22 de maio de 2009 (19/05/2009)

Visita do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva à China - Pequim, 18 a 20 de maio de 2009 249 - Declaração Conjunta (19/05/2009)

Subsídios à produção de Licor Negro nos EUA (21/05/2009) 253

Declaração Conjunta - Visita Oficial do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva à República 254 da Turquia - 21 a 22 de maio de 2009 (22/05/2009)

Visita ao Brasil do Presidente do Senegal, 256 Abdoulaye Wade - 24 a 27 de maio de 2009 (22/05/2009)

Teste nuclear norte-coreano (25/05/2009) 256

Órgão de Apelação da OMC - Decisão 257 do Comitê de Seleção (25/05/2009) Visita ao Brasil do Presidente da Venezuela, Hugo 257 Chávez - Salvador, 26 de maio de 2009 (25/05/2009)

Visita ao Brasil do Presidente da Venezuela, Hugo Chávez - Salvador, 26 de maio de 2009 258 - Comunicado Conjunto (26/05/2009)

Visita ao Brasil do Presidente da República do Uzbequistão, Islam Karimov - 27 262 a 29 de maio de 2009 (27/05/2009)

Tratado sobre exceções e limitações a direitos 262 de autor para deficientes visuais (27/05/2009)

Atentado no Paquistão (27/05/2009) 263

Visita ao Brasil do Presidente da República do Uzbequistão, Islam Karimov - Brasília, 28 de maio 263 de 2009 - Declaração Conjunta (28/05/2009)

Novo processo judicial contra a Senhora 264 Aung San Suu Kyi, em Mianmar (29/05/2009)

Retomada dos trabalhos da Conferência 264 do Desarmamento (29/05/2009)

Visita do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva a El 265 Salvador - São Salvador, 1º de junho de 2009 (29/05/2009)

Visita do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Guatemala - Cidade da Guatemala, 1º e 2 de junho de 2009 (29/05/2009) 265 Visita do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Costa 265 Rica - São José, 2 e 3 de junho de 2009 (29/05/2009)

XXXIX Assembléia-Geral da Organização dos Estados Americanos - São Pedro Sula, 266 2 e 3 de junho de 2009 (29/05/2009)

Acordo de Comércio Preferencial 266 Mercosul – Índia (01/06/2009)

Reunião de Ministros da Agricultura da CPLP (02/06/2009) 266

Visita do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva à 267 Guatemala - Cidade da Guatemala, 1º e 2 de junho de 2009 - Declaração Conjunta (02/06/2009)

Atentado em Zahedan, Irã (03/06/2009) 270

Situação na Guiné-Bissau (05/06/2009) 271

Eventos de Promoção Comercial e de 271 Cooperação na África (05/06/2009)

Visita do Ministro Celso Amorim à Colômbia - Cartagena e Bogotá, 7 e 8 de junho de 2009 (05/06/2009) 271

Visita ao Brasil do Vice-Primeiro-Ministro e Chanceler da Jamaica, Kenneth Baugh - 272 Brasília, 8 a 11 de junho de 2009 (08/06/2009)

Portal “Brasileiros no Mundo” (09/06/2009) 273 Atentados no Paquistão (09/06/2009) 273

Visita do Ministro Celso Amorim à França - Paris, 273 11 e 12 de junho de 2009 (10/06/2009)

Cúpula dos Chefes de Estado e de Governo dos BRICs - Ecaterimburgo, 16 de junho de 2009 (15/06/2009) 274

Visita do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao 274 Cazaquistão - Astana, 17 de junho de 2009 (15/06/2009)

Cúpula dos Chefes de Estado e de Governo dos BRICs - 274 Ecaterimburgo, 16 de junho de 2009 - Declaração Conjunta (17/06/2009)

Visita do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva 278 ao Cazaquistão - Astana, 17 de junho de 2009 - Declaração Conjunta (17/06/2009)

Eleição para o Conselho de 280 Administração da OIT (19/06/2009)

Visita ao Brasil da Presidente das Filipinas, Gloria Macapagal Arroyo, 22 a 25 de junho de 2009 (23/06/2009) 280

Visita do Ministro Celso Amorim a Paris e Nova York, 281 23 a 26 de junho de 2009 (23/06/2009)

Visita ao Brasil da Presidente das Filipinas, 281 Gloria Macapagal-Arroyo - Brasília, 24 de junho de 2009 - Declaração Conjunta (24/06/2009)

Reunião Ministerial informal do IBAS - Paris, 25 de junho de 2009 - Declaração Conjunta (25/06/2009) 284 Situação em Honduras (28/06/2009) 285

Visita do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva 286 à Líbia para participar da Cúpula da União Africana - Sirte, 1º de julho de 2009 (29/06/2009)

Eleições presidenciais 287 na Guiné-Bissau (29/06/2009)

ARTIGOS 289

Artigo do Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, publicado na edição especial 527-A da revista “Carta 289 Capital”, intitulado “Investindo no B do BRIC”. 03/01/2009

Artigo do Ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, e do Ministro da Ciência e Tecnologia, Sergio Rezende, intitulado “A cooperação 291 Brasil-China na área espacial”, publicado no jornal “Folha de São Paulo”. 19/02/2009

Artigo do Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, para o jornal “Le Monde”, 293 intitulado “A Crise vista do Sul”. 30/03/2009

Artigo do Ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, intitulado “O Brasil e a OIT”, publicado 295 no jornal “Folha de São Paulo”. 14/06/2009 Artigo do Ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, intitulado “Em Ecaterimburgo, 297 os Bric atingem sua maioridade”, publicado no diário “Valor Econômico”. 16/06/2009

ENTREVISTAS 299

Entrevista do Ministro das Relações Exteriores, Embaixador Celso Amorim, à revista “Caros 299 Amigos” - edição de fevereiro/2009. 01/02/2009

Entrevista do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao 307 programa de rádio “Café com o Presidente”. 06/4/2009

Entrevista concedida pelo Ministro das Relações Exteriores do Brasil, Embaixador Celso Amorim, 309 ao jornal “Correio Braziliense”. 03/05/2009 Entrevista concedida pelo Ministro das Relações Exteriores do Brasil, Embaixador Celso 313 Amorim, à revista “Isto É Dinheiro”. 04/05/2009

Entrevista concedida pelo Ministro das Relações Exteriores do Brasil, Embaixador Celso 317 Amorim, à revista “Carta Capital”. 11/05/2009

Entrevista exclusiva concedida por escrito pelo Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, 323 à agência de notícias Xinhua, da China. 16/05/2009

Entrevista do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao 327 programa de rádio “Café com o Presidente”. 25/5/2009 Entrevista concedida pelo Ministro das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, ao jornal “O Globo” - 331 “Política internacional é jogo de gente grande”. 05/06/2009

Entrevista concedida pelo Ministro das relações Exteriores, Celso Amorim, ao jornal o 335 “Globo” - “Old Kids on the Block”. 16/06/2009

Entrevista concedida pelo Ministro Celso Amorim à revista “Russki Newsweek” - “Nenhum de nós quer 337 enfraquecer o dólar” - Ecaterimburgo , 22/06/2009

ÍNDICE REMISSIVO 339 DISCURSOS

Conflito na Faixa de Gaza

Discurso sobre o conflito na Faixa de Gaza, proferido no Conselho de Segurança das Nações Unidas, pela Representante Permanente do Brasil, Embaixadora Maria Luiza Ribeiro Viotti. Nova York, EUA, 07/01/2009

“Senhor Presidente, idôneos, inclusive da ONU, concordam sobre O Brasil está profundamente preocupado a iminência de uma catástrofe humanitária. A com a magnitude e a gravidade dos perda de vidas inocentes em Israel também é desdobramentos do conflito israelo-palestino lamentável e deve cessar. nos últimos dias. Associamo-nos aos membros do Por meio de comunicados à imprensa Conselho de Segurança na busca de uma divulgados desde o início da operação solução negociada. A paz duradoura só israelense em Gaza, o Brasil tornou amplamente pode ser alcançada com a criação de um conhecida a sua visão. Condenamos o recurso à Estado Palestino independente, vivendo violência pelas partes e deploramos a resposta pacificamente lado a lado com Israel, dentro militar desproporcional de Israel aos ataques de fronteiras internacionalmente reconhecidas ilegais por foguetes contra seu território, e em pleno respeito às resoluções do Conselho que devem igualmente cessar. O novo ciclo de Segurança. de violência inflige grande sofrimento e Hoje, a opinião pública internacional angústia à população civil. Instamos a um espera ação efetiva por parte dos membros imediato cessar-fogo e à abertura dos postos das Nações Unidas. Nesse esforço, o de fronteira em Gaza, de maneira a permitir Conselho de Segurança tem um papel-chave, o acesso à ajuda humanitária e a aliviar a embora não exclusivo, a desempenhar. Todos insustentável situação humanitária na região. compartilhamos um interesse sistêmico em um O cessar-fogo é ainda mais necessário à luz do Conselho respeitado e ativo. Sua legitimidade grande aumento no número de mortes de civis e sua efetividade podem ser erodidas se e da situação desesperadora dos residentes o órgão for percebido como hesitante ao em Gaza, onde observadores imparciais e cumprir com suas obrigações legais e políticas

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 27 de manter ou restabelecer a paz e a segurança estaria disposto a contribuir, se as partes o internacionais. Recentemente, o Presidente considerarem útil. Lula renovou nossa disposição de cooperar Da mesma forma, o Conselho precisa mais intensamente com a comunidade assegurar que todas as partes atendam internacional de maneira a neutralizar a crise plenamente as necessidades econômicas e atual e realmente progredir na causa da paz. humanitárias da Faixa de Gaza. Todas as Este seria o principal objetivo da Conferência partes – e, em razão de seu maior poderio ampliada proposta recentemente pelo próprio relativo, principalmente Israel – precisam Presidente Lula. Tal iniciativa poderia respeitar em todos os casos e em todos facilitar o trabalho do Conselho. O Ministro os momentos o Direito Internacional das Relações Exteriores, Celso Amorim, Humanitário e os direitos humanos. Nós visitará em breve a região, quando discutirá recebemos com satisfação o anúncio ontem formas eficazes de encaminhar soluções para de que Israel abrirá corredores humanitários a crise atual e ajudar israelenses e palestinos em Gaza. Este é um primeiro passo que a alcançar a paz. Sentimo-nos encorajados deve ser imediatamente complementado por pelas iniciativas do Presidente Hosni outras medidas. Ao mesmo tempo, reiteramos Mubarak e Nicolas Sarkozy, anunciadas que é inaceitável que a população civil seja ontem. Também acolhemos com satisfação alvo tanto de ataques de foguetes quanto de a visita do Secretário-Geral à região. Uma ações militares com probabilidade de atingir sessão especial do Conselho de Direitos inocentes, especialmente mulheres e crianças. Humanos, atualmente sob consideração, A recente morte de civis causada por ações poderá igualmente fortalecer nossos esforços militares de Israel na vizinhança de escolas da coletivos. Também é imperativo melhorar a ONU em Gaza constitui trágica ilustração dos prestação de assistência humanitária. A pedido perigos intoleráveis da situação atual. da Autoridade Nacional Palestina, o Brasil Suspender a violência é essencial para está enviando quatorze toneladas de alimentos permitir que o processo de paz seja retomado e remédios a Gaza. com seriedade e tão prontamente quanto Tais esforços, contudo, não isentam este possível. As negociações entre Israel e órgão de sua responsabilidade mais urgente a Autoridade Nacional Palestina, assim de exigir de todas as partes que cessem como a necessária composição interna imediatamente a violência. Um cessar-fogo entre palestinos, não podem progredir solicitado pelo Conselho de Segurança deve enquanto Gaza estiver ardendo e enquanto ser plenamente implementado por todas as seus moradores e aqueles no Sul de Israel partes. Depois de tantas décadas, ninguém temerem por suas vidas. Da mesma forma, pode alimentar ilusões sobre uma solução o processo de negociação não terá qualquer militar para o conflito ou sobre a possibilidade chance enquanto todas as partes não forem de obter ganhos políticos duradouros com o lembradas de forma clara e inequívoca de que uso da força. Tampouco se pode consentir no a comunidade internacional considera que emprego da força como ferramenta política. um acordo justo e abrangente é a única forma Um mecanismo internacional para monitorar realística e aceitável de avançar. Somente o a cessação sustentada das hostilidades Conselho de Segurança pode transmitir essa poderia ser estabelecido, para o qual o Brasil mensagem de forma convincente.

28 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 Uma vez cessadas as hostilidades, o Conselho deverá tratar de forma mais decidida do processo de paz, sem prejuízo da atuação individual de Estados-membros, grupos de Estados-membros e de outras organizações. A cada momento, o Conselho deve determinar a forma mais apropriada e o melhor caminho a seguir para uma solução pacífica para o conflito. Agora é o momento de agir, inclusive por meio da implementação da Resolução 1850 (2008), em que o Conselho estabelece para a comunidade internacional uma série de objetivos a serem cumpridos. Entre eles estão a irreversibilidade das negociações; o cumprimento das obrigações assumidas sob o mapa do caminho do Quarteto, conforme definidas no Entendimento Conjunto de Annapolis; a obrigação de evitar quaisquer atos que possam prejudicar a confiança ou prejulgar os resultados das negociações; e a intensificação de esforços para o reconhecimento mútuo e a coexistência pacífica de todos os Estados da região. Todos esses objetivos estão ameaçados pelos eventos recentes e suas trágicas implicações. Como mencionaram várias delegações durante a sessão de 18 de dezembro, a Resolução 1850 (2008) impõe ao Conselho uma difícil prova. O órgão precisa ser bem-sucedido. Obrigada.”

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 29

Conferência de imprensa após assinatura de atos entre o Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, e o Presidente da Venezuela, Hugo Chávez

Conferência de imprensa após assinatura de atos entre o Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, e o Presidente da Venezuela, Hugo Chávez. Maracaibo, Venezuela, 16/01/2009

Meu caro amigo Presidente da Venezuela, América do Sul, é para tornarmos mais ágeis Hugo Chávez, os acordos que firmamos. Companheiros ministros venezuelanos, Não quero mais fazer críticas à burocracia, Companheiros ministros brasileiros, nem brasileira e nem venezuelana, até porque Empresários da Venezuela e empresários os burocratas são extremamente necessários. do Brasil, Mas, às vezes, um acordo que firmamos por Companheiros da imprensa brasileira e da “n” problemas demora seis meses, um ano, um imprensa venezuelana, ano e meio para acontecer. E essas reuniões Quando, algum tempo atrás, eu e o têm permitido que consigamos avançar a cada Presidente Chávez combinamos fazer pelo reunião que fazemos. O momento que estamos menos quatro reuniões por ano, possivelmente vivendo no mundo hoje e as decisões que algumas pessoas pensaram que o Chávez ia estamos tomando para unificar a América do ter overdose de Lula e Lula iria ter overdose Sul exigem que tenhamos mais competência, de Chávez. Alguns não compreendiam porque mais ousadia e, eu diria, mais rapidez. eram necessárias tantas reuniões. O processo de integração da América do Sul, Ontem, Chávez, eu assumi o compromisso que aos olhos de alguns parecia impossível, com o Evo de que também vou fazer quatro está acontecendo. A América do Sul vive, reuniões por ano com ele em cidades possivelmente, desde a descoberta espanhola fronteiriças, para que a gente possa resolver e portuguesa, desde a independência dos mais rapidamente os nossos problemas. países de língua espanhola e da independência Eu queria aproveitar esta oportunidade de do Brasil, possivelmente esteja vivendo o seu assinatura de acordos e de visita a um projeto melhor momento de governantes progressistas. de irrigação, combinado com o extraordinário Nas eleições que têm acontecido na América projeto habitacional, para dizer a vocês todos do Sul, fica cada vez mais demonstrado ao e sobretudo à imprensa que essa quantidade mundo que o povo um pouco que se cansou de reuniões que Chávez e eu temos feito, e da mesmice do século XX. E o povo resolveu que pretendo fazer com outros presidentes da então escolher outros governantes.

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 31 Parece ironia do destino, mas pessoas que E no momento de maior desânimo, Fidel estavam quase predestinadas a nunca chegar me fez a seguinte pergunta: “Lula, você à Presidência da República chegaram. A conhece algum lugar do mundo no qual um começar pelo Presidente Chávez, que conheci trabalhador, um operário, já tenha obtido 1,2 em 1992, se não me falha a memória em milhão de votos? É só pegar a história das Cuba, que me parece tinha acabado de sair eleições no mundo que você vai perceber que da prisão porque tinha tentado dar um golpe o que aconteceu em São Paulo com você foi na Venezuela. E eu pensava: eu acho que esse um feito histórico, ou seja, um operário ter golpista nunca mais chegará a ser Presidente 1,2 milhão de votos na primeira eleição que da República da Venezuela. Pouco tempo disputou”. Aquilo me animou. Embora o Fidel depois, Chávez era eleito democraticamente, nunca tivesse participado de uma eleição, eu para Presidente da República da Venezuela. falei: esse conselho é um conselho bom. E Depois vieram as minhas eleições no Brasil. voltei com disposição de continuar fazendo Eu particularmente já estava cansado política. Depois de três derrotas, eu cheguei de perder eleições. Eu perdi em 82, para à Presidência da República do Brasil. Nas governador do Estado de São Paulo, perdi primeiras conversas que tivemos Chávez e eu, em 89, perdi em 94 e perdi em 98. Havia começamos a sonhar com uma perspectiva de companheiros meus que ficavam torcendo integração da América do Sul. para que eu desistisse. E eu tinha a convicção Logo em seguida veio a eleição do de que era apenas uma questão de tempo, que companheiro Kirchner; depois a eleição mais eu ia ganhar as eleições. Uma vez, em 1982, eu tarde do companheiro Tabaré; já tínhamos fui candidato a governador do Estado de São Lagos no Chile e depois Michelle; depois a Paulo. Tive 1,2 milhão de votos. Eu me senti, eleição de Evo Morales; mais tarde a eleição Chávez, o mais frustrado dos seres humanos. de Rafael Corrêa, e mais recentemente a Eu pensei em desistir da política. Porque nós eleição do Lugo. Se um historiador resolver fazíamos comícios muito grandes, o que eu escrever um livro sobre as mudanças na dava de autógrafos daria para me eleger. E o América do Sul, ele vai constatar que é último comício que eu fiz, no centro de São um momento ideológico sem precedentes Paulo, me convenceu de que eu iria ganhar na América do Sul. Agora aumenta nossa as eleições. Ao terminar as eleições, eu tinha responsabilidade. Por quê? Porque precisamos obtido somente 10% dos votos. provar que a esquerda, ao chegar ao governo, Ou seja, frustração que eu pensei que tem competência para governar. não iria superá-la. Logo em seguida eu fui A vida inteira, Chávez, sofremos as a Cuba e tive uma conversa com o Fidel. E acusações de que nós éramos bons para estava comentando com o Fidel que eu estava discursar mas não tínhamos competência pensando em nunca mais ser candidato, para governar. Aqui, Chávez, tem muitos porque eu tinha me convencido de que empresários brasileiros, que hoje são meus trabalhador não votava em trabalhador. Não amigos, e que durante muito tempo tiveram era tão simples assim: um dirigente sindical muita desconfiança se era possível ganharmos ser candidato a alguma coisa e achar que as eleições e fazermos a coisa acontecer. todos os trabalhadores votariam nele somente Aqui na Venezuela eu tenho certeza de que pelo fato de ele ser trabalhador. aconteceu a mesma coisa, com o Evo Morales

32 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 aconteceu a mesma coisa. E o que nós temos perto o que algumas pessoas falavam de percebido? É que os indicadores econômicos e você. Eu te disse um dia que eu nunca pensei os indicadores sociais têm demonstrado que o na vida em ser vítima de alguns setores de avanço da América do Sul é o maior de muitas comunicação no Brasil, como você foi aqui e muitas décadas. Aos poucos, os pobres vão na Venezuela. E o que aconteceu no Brasil sendo menos pobres. não foi diferente do que aconteceu aqui, do Aos poucos, as pessoas vão tendo que acontece na Bolívia e do que acontece em direito àquilo que lhes foi negado durante muitos países do mundo quando as pessoas praticamente todo o século XX. Muitos que não fazem parte da elite dirigente chegam governantes estavam convencidos de que o ao poder. pobre era pobre e que portanto, era preciso Aí começam a se incomodar com as governar para uma parcela da sociedade que coisas boas que nós fazemos. Os empresários tinha poder de pressão. E para o povo pobre... brasileiros, Chávez, sabem do carinho que o ele não tinha capacidade de organização, não meu governo tem dado à Venezuela e sabem tinha capacidade de pressão, “vamos fazendo o quanto eu tenho incentivado eles a visitarem o que é possível”. a Venezuela. Alguns falavam assim para Eu, ontem, estava em um comício mim: “Mas nós vamos para a Venezuela fazer inaugurando uma obra com o Evo Morales e uma fábrica e depois o Chávez vai tomar a eu dizia ao ministro que estava ao meu lado: fábrica?” Quantos falaram... Quantas vezes olha a cara do povo indígena da Bolívia, eu conversei com o Emílio... Estou vendo o olha o sofrimento a que essas pessoas foram Emílio escondido atrás das câmeras aí. Por submetidas, votando em pessoas que não que eu tenho incentivado os empresários falavam nem espanhol, votando em gente brasileiros a virem aqui? Porque também eu que tinha os olhos verdes, em gente que tenho consciência de que é muito bom para freqüentava mais Miami do que seu próprio o Brasil que a Venezuela esteja desenvolvida. país. A vitória do Evo foi quase a consagração É muito importante para que a gente possa de um povo oprimido, na América Latina, tanto construir uma balança comercial equilibrada, no Brasil como na América espanhola, desde e as empresas brasileiras se instalando aqui que os espanhóis e os portugueses chegaram na Venezuela e produzindo aqui, não vão aqui. Eu dizia para o meu companheiro: essa apenas atender ao mercado venezuelano. Vão gente, ao votar em Evo Morales, deu o grande exportar parte da produção para outros países grito de independência que esteve sufocando e para o Brasil também, para que a gente não a população indígena durante cinco séculos. tenha uma balança comercial muito vantajosa E eu sei de todos os preconceitos de que o para o Brasil, como nós temos hoje. Evo foi vítima, mas sou parte viva da história A relação comercial é muito importante a testemunhar que nunca aquele povo foi quando há um equilíbrio, e a Venezuela tratado com o carinho, com o respeito e com não tinha muita opção se não houvesse essa a determinação com que o companheiro Evo determinação do governo de industrializar a tem tratado os índios da Bolívia. Venezuela, porque ou compra do Brasil ou Eu acompanhei o começo do teu governo compra dos Estados Unidos. Ideologicamente aqui na Venezuela, acompanhei aquele golpe é mais correto comprar do Brasil. Ou compra que te deram aqui e acompanhava muito de da Europa ou compra do Japão... Mas nós que

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 33 fazemos parte do governo brasileiro, e foi essa elaboração de projetos industriais, para ajudar a idéia da construção da Refinaria Abreu e com conhecimento e com experiência para Lima, é para que a gente possa importar coisas que a Venezuela possa montar o seu parque da Venezuela, para que a gente possa equilibrar industrial. as nossas relações, e para que a Venezuela não Com o petróleo que tem, com auto- fique a vida inteira dependendo apenas do suficiência na agricultura e com um bom petróleo. Eu me lembro de uma conversa que parque industrial a Venezuela, certamente, eu tive com o presidente Chávez, quando ele sofrerá nos próximos anos uma transformação me levou a uma base militar para me mostrar, que deixará muita gente com inveja do que o orgulhosamente, os Sukhoi que ele tinha teu governo conseguiu fazer na Venezuela. comprado. Por isso estamos aqui, com ministros, com Ao mesmo tempo, tinha uma crise empresários, consolidando a nossa relação alimentar, faltavam muitos produtos no política, a nossa relação comercial e também mercado da Venezuela. Eu me lembro que a nossa relação cultural. Eu estou convencido, eu falei com o Chávez que no hotel em que a Presidente Chávez, que o que nós conquistamos gente estava não tinha leite. E eu dizia para o até agora será irreversível. Muito mais difícil companheiro Chávez: Chávez, o Brasil pode foi quando Pérez Alfonso, pela primeira vez ajudar a Venezuela a fazer uma revolução ministro do petróleo aqui neste país, tentou (incompreensível). Para nós, seria mais dizer que os americanos precisariam pagar interessante continuar vendendo produtos, um pouco mais pelo petróleo, porque pulou mas para nós, também, qualquer país, seja de US$ 2 para US$ 10, de 10 para 40, de 40 ele pobre ou rico, tem que ter na segurança para a Opep, e hoje a Venezuela pode dizer alimentar condição, eu diria, de prioridade de forma categórica que ela é definitivamente para defender a sua soberania nacional, para “dona do seu nariz” e dona do seu petróleo. defender os interesses estratégicos do Estado. Não há valor mais importante para um E aqui fizemos um acordo, e veio para governante e para uma nação, do que levantar cá a Embrapa, um instituto de pesquisas no de manhã e perceber que somos um pouco Brasil, na verdade uma empresa brasileira de mais independentes, que somos um pouco pesquisas que é motivo de orgulho para o Brasil mais donos de nossas coisas e que podemos e motivo de orgulho para o mundo, porque fazer um pouco mais pelas pessoas que são é a empresa que detém a mais importante a razão da nossa existência no governo. Mas tecnologia na agricultura tropical do mundo. tudo, Rafael, estava maravilhoso... meu caro Aqui na Venezuela tem tudo o que Deus quer Gabrielli, quando o petróleo estava US$ 150 que tenha um país para produzir alimentos. o barril. Hoje eu vi pela manhã na televisão, o Tem terra, tem água, tem sol. O que precisa Brent está a US$ 47. Ou seja, em poucos meses apenas é plantar, e para plantar precisa o quê? subiu de 30 para 150, sem nenhuma explicação, Tecnologia, e é isso o que está acontecendo. E e em pouco tempo desceu de 150 para 30, eu saio daqui, Chávez, muito orgulhoso com também sem nenhuma explicação. Toda vez esse projeto que estamos visitando. Segundo, que eu perguntava ao Gabrielli, ele me dizia: a questão industrial. Instalamos também em “É o consumo chinês”. Quando na verdade, Caracas, em um acordo que fizemos, a ABDI, os chineses continuam consumindo, significa uma instituição brasileira com experiência em que não eram os chineses, significa que era

34 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 a especulação com o petróleo no mercado que resolver essa crise logo, que não pode futuro. Como também foi a especulação com permitir que os países pequenos da América a soja e commodities no mercado futuro que Latina, do Caribe, que dependem quase que elevou os preços de forma absurda, gerando exclusivamente das exportações para os uma especulação, que gerou uma bolha que Estados Unidos, sofram por uma crise que não explodiu. E aí nós percebemos: é a primeira pagaram. vez na história que a crise não acontece em um Que o Presidente Obama possa olhar para país pobre, nem no Brasil, nem na Venezuela, a América Latina com um olhar democrático, muito menos na Bolívia ou no Haiti. com um olhar de simpatia, não vendo aqui A crise acontece no coração do mundo nada do que eles viram nos anos 60. Que veja desenvolvido, que tinha solução para todos aqui uma região que aprendeu a conviver na os problemas dos nossos países, mas que democracia, que aprendeu a se desenvolver, agora não tem solução para os seus próprios que aprendeu a cuidar dos pobres, e que problemas. Aliás, não tem conhecimento por isso os Estados Unidos precisariam ainda, do conjunto do prejuízo que a crise olhar para a América Latina com um olhar financeira está trazendo neste momento para de desenvolvimento, com um olhar de o mundo. O que me preocupa, Presidente investimento, com um olhar... um olhar de Chávez é que não sejamos nós, os países em chefe de Estado sem preconceito. Que olhe desenvolvimento, que estávamos crescendo 7, para Cuba. E Cuba não precisa de nenhum 5, 6, a 4% ao ano. A 9, 12, como a China, e favor. Cuba não precisa fazer nenhum gesto, que estávamos permitindo que no século XXI é só colocar fim a um bloqueio perverso que que o povo pobre pudesse ter acesso aos bens proibiu que a Revolução Cubana seguisse a essenciais à vida humana, a ter acesso à água sua trajetória normal. Eu fico imaginando um potável, a ter acesso à comida, seja a vítima país com uma formação acadêmica que Cuba dessa crise da qual nós não temos culpa. tem, com a qualidade da escola em Cuba, se Por isso precisamos chamar o mundo não tivesse o bloqueio, que país extraordinário desenvolvido à responsabilidade de encontrar e desenvolvido seria Cuba. uma solução rápida antes que essa crise E portanto, não existe mais explicação, não possa, novamente, fazer o mundo em existe nenhuma explicação - nem política, desenvolvimento ter o seu desenvolvimento nem sociológica, nem ideológica, nem bloqueado, como tivemos nos anos 80 pela científica - para que o bloqueio continue, é dívida externa. Ou seja, o meu País passou 20 apenas uma questão de gesto. Até porque o anos sem crescer. Outros países, a Argentina, presidente Obama ganhou as eleições junto por exemplo, que era um país rico, empobreceu aos cubanos que moram em Miami. Eu diria, com os 20 anos de dívida externa. Chávez, que a Venezuela tem uma importância Quando nos libertamos de tudo isso, extraordinária nesse momento que foi vem essa crise financeira. E eu espero que o marcado por divergências entre o teu governo Presidente Obama, que vai tomar posse hoje e o governo Bush. Eu penso que em algum ou amanhã? Segunda-feira? Ah, Lunes? Que momento, você e Obama vão se encontrar. vai tomar posse... eu espero que Deus coloque Acho que Evo e Obama vão ter que se a mão na cabeça dele e que lhe dê inteligência encontrar. Porque eu não vejo o Obama como e sensibilidade para que ele perceba que tem um presidente normal para os Estados Unidos.

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 35 Eu vejo o fato do povo americano ter feito aqui; vi com orgulho o canal que vai ser a com que um negro fosse eleito Presidente dos base do desenvolvimento disto aqui. Agora, Estados Unidos da América do Norte, é um junto com este projeto tem que ter um gesto extraordinário, e eu penso que o Obama processo de transformação, um processo tem que transformar esse gesto do povo de industrialização para que a gente possa americano em um gesto de transcendência baratear o preço do tomate. Eu perguntei para da política americana para a América Latina, o Chávez quanto custava o quilo de tomate, respeitando a nossa soberania, as nossas e ele me disse que no mercado, fora, está por democracias e uma convivência igualitária volta de US$ 5 e que aqui dentro é mais barato entre nós. para a comunidade. Ele mesmo me disse: “Só Certamente nós vamos ter chance de tem uma explicação para isso: a demanda é conversar com o Presidente Obama. E maior do que a capacidade de oferta. No certamente temos que conversar antes que o dia em que a gente estiver plantando tomate aparelho de Estado tome conta, porque você para todo mundo, o preço vai cair e vai cair sabe que a máquina é poderosa e que se a substancialmente”. gente não lutar contra ela, ela come a gente Assim vale para o frango, assim vale para em pouco tempo e nós não fazemos aquilo a carne bovina, assim vale para o milho, para que queríamos fazer. A máquina é capaz o arroz, para a soja, e eu estou convencido, de fazer de nós uma coisa diferente daquilo Chávez, de que nos próximos dez anos, que a gente pensava ser quando chegasse à quem vier à Venezuela vai ver uma mudança Presidência da República. Pois bem, meu extraordinária na economia venezuelana. amigo e companheiro, eu estou dizendo essas Não vai ver aquela economia de um país palavras porque para mim o significado de rico em petróleo, vendendo apenas para um termos chegado até onde chegamos é uma outro país e depois gastando o dinheiro do marca histórica que a nossa geração conseguiu petróleo comprando o que comer de um país produzir na América do Sul. importador de petróleo. Eu acho que você Espero que outros melhores venham e escolheu o caminho certo. que a América do Sul nunca mais retroceda, O petróleo é muito importante (falha na que ela avance cada vez mais e que o povo gravação) ajudar a transformar a economia pobre da América do Sul possa conseguir, da Venezuela, sobretudo para aqueles que no século XXI, conhecer a qualidade de vida não se utilizam do petróleo, para aqueles que e a dignidade que muitas vezes não foram não trabalham nas empresas de petróleo. Mas permitidas a ele no século XX. Saio daqui, para aqueles que estavam aqui no território da Chávez, com a convicção de que a partir Venezuela sonhando durante séculos: quando é dos acordos firmados aqui e outros acordos que o dinheiro do petróleo vai chegar até nós? E firmados em outro momento, vão permitir que o que vocês estão fazendo é fazer com que esse a Venezuela se transforme numa grande nação dinheiro chegue em forma de oportunidades, capaz de garantir que cada prato de comida de empregos, de distribuição de renda e de do povo venezuelano possa ser plantado pelas melhoria da qualidade de vida do povo da mãos do povo venezuelano. Venezuela. Por isso, meu companheiro, tenha Eu vi o orgulho daquelas mulheres que certeza de que o Brasil, em qualquer momento, estavam plantando tomate; eu vi com orgulho será sempre um parceiro da Venezuela. Quero, o processo de irrigação que está acontecendo Chávez, terminar dizendo a você que tenha a

36 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 nossa solidariedade e que a nossa equipe de acompanhamento, acompanhe com muito carinho os acordos que foram firmados aqui. Que os nossos embaixadores acompanhem, para que a gente possa na próxima reunião, que será no Brasil, perceber que houve avanços nos acordos que fizemos hoje. Quero desejar aos companheiros da Venezuela toda a sorte do mundo e que a Venezuela conquiste o espaço a que ela tem direito na América do Sul e no mundo. Boa sorte.

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 37

Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto

Discurso do Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante solenidade do Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto. São Paulo, SP, 27/01/2009

Meu caro presidente Fernando Henrique Meus amigos e minhas amigas, Cardoso, Agradeço o convite para participar, pelo Meu caro governador do estado, José Serra, quarto ano consecutivo, do Dia Internacional Meu caro governador , em Memória das Vítimas do Holocausto. governador da Bahia, Eu posso dizer que me sinto pessoalmente Meu caro prefeito , envolvido com a instituição desta data. Dom Odilo Scherer, arcebispo Em agosto de 2004, recebi de uma comitiva metropolitano de São Paulo, do Congresso Judaico Mundial e de líderes Senhor Giora Becher, embaixador de Israel comunitários brasileiros - certamente alguns no Brasil, deles estão aqui presentes - uma petição à Senhora , ministra-chefe da ONU solicitando medidas mais concretas Casa Civil, na luta contra o anti-semitismo. Assinei Paulo Vannuchi, secretário especial dos de imediato o documento, afinal o Estado Direitos Humanos, brasileiro foi co-patrocinador de diversas Alberto Goldman, vice-governador de São resoluções da ONU afirmando a importância Paulo, de rememorar aquela tragédia. Deputado Vaz de Lima, presidente da Mais tarde, eu soube que o Brasil foi o Assembléia Legislativa de São Paulo, primeiro país a subscrever aquela petição. Deputados federais, Soube também que ela serviu de base Senadores, para consagrar 27 de janeiro como o Dia Senhor Joseph Safra, presidente da Internacional em Memória das Vítimas do Congregação e Beneficência Sefardi Paulista, Holocausto. Hoje, como em todos os dias, Senhor Cláudio Lottenberg, presidente da devemos nos empenhar na luta da memória Confederação Israelita do Brasil, contra o esquecimento. É preciso manter Senhor Boris Ber, presidente da Federação viva a lembrança, para que nunca mais se Israelita do estado de São Paulo, repita o assassinato em massa, o genocídio Senhores rabinos e representantes das como ideologia e a limpeza étnica como associações judaicas, razão de Estado.

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 39 O regime nazista promoveu a mutilação garante o respeito mútuo a todos. Temos uma espiritual, a humilhação moral, a ruína legislação clara e rigorosa no que se refere a material e a eliminação física de milhões de todas as formas de intolerância. Somos uma homens, mulheres e crianças. Vitimou judeus, das poucas democracias do mundo, talvez a comunistas, homossexuais, negros, ciganos, única, em que a Constituição garante que para testemunhas de Jeová e todos que considerou crime de racismo não deve existir nem fiança, inferiores na raça, no credo e na cor. nem prescrição. O Holocausto marcou o auge da crueldade O Brasil não aceita discriminação. Judeus humana e configurou o maior episódio de e árabes, sejam religiosos ou não, convivem violência e covardia de nossa história, um pacífica e harmoniosamente em nossas episódio que não deveria ter ocorrido e que cidades, dividem espaços e compartilham a não pode nunca mais voltar a ocorrer. construção e o desenvolvimento do Brasil. É certo que a intolerância e a xenofobia Por isso, o conflito entre Israel e Palestina, no ainda não foram totalmente extintas. No Oriente Médio, atinge os corações e as mentes entanto, em todo o mundo a sociedade vem de todos, e nos obriga a evitar que o ódio dando importantes passos na superação dos contamine o nosso país. Mais do que tudo, o preconceitos. Brasil pode se valer dessa convivência pacífica Um grande exemplo acaba de se concretizar para colaborar para a construção da paz. nos Estados Unidos. Lá, há poucas décadas, Minhas amigas e meus amigos, negros e brancos não tinham os mesmos A diplomacia brasileira tem uma larga direitos. E hoje, pela primeira vez, um negro é tradição de atuar de forma conciliatória na Presidente dos Estados Unidos. solução de conflitos, e no que se refere aos O combate ao ódio e à discriminação já não povos israelense e palestino, nosso Estado é um grito isolado, mas integra o ideário das vem ao longo de seis décadas ratificando sociedades dos mais diferentes países. as resoluções internacionais que têm por Minhas amigas e meus amigos, objetivo garantir a coexistência pacífica Ao participar deste evento, ano após ano, e segura de dois Estados soberanos. Esse busco demonstrar o profundo respeito que eu tem sido o sentido de todas as nossas e todo o governo nutrimos pelas comunidades manifestações, pois só assim alcançaremos a que compõem a grande nação brasileira. paz naquela região. Eu me orgulho de ser presidente de um país Eu tenho me esforçado pessoalmente marcado pela diversidade, onde a tolerância para impedir que o ódio mútuo, acumulado

40 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 ao longo de décadas, acabe sufocando ainda em condições de segurança e de soberania. mais as alternativas de paz. Como vocês O Brasil não aceita a escalada da sabem, recentemente determinei ao chanceler violência como solução para os conflitos. Celso Amorim que viajasse à região com o Lamentamos profundamente a morte de civis, objetivo de apoiar os esforços para o cessar- mulheres e crianças. Conclamamos o pronto fogo, o alívio da situação humanitária e o estabelecimento das condições que permitam estabelecimento de uma paz reguladora. a plena retomada da assistência humanitária Na ocasião, a diplomacia brasileira reiterou à população de Gaza e a tranquilidade para a às autoridades sírias, israelenses, palestinas, população de Israel. jordanianas e egípcias, a necessidade de se Guardo uma profunda esperança evitar mais mortes e sofrimento na população na construção do diálogo e continuarei civil de ambos os lados. Lembramos às partes empenhado para que, o mais rápido possível, envolvidas que há outros atores interessados aquela região viva uma trégua consistente que em agir a favor de um entendimento, e a paz seja prenúncio de uma paz duradoura. só tem a ganhar com a participação de países Minhas amigas e meus amigos, como o Brasil. Que este Dia Internacional em Memória das Todos sabem que o Brasil não está interessado Vítimas do Holocausto ajude todos os homens nos resultados políticos e nos dividendos e mulheres a se recordarem das iniquidades que econômicos que podem ser obtidos na região. tanto macularam a trajetória da Humanidade. Nosso interesse exclusivo é o de contribuir para Que ele fale à consciência coletiva sobre a a paz duradoura e definitiva na região. necessidade de se reparar os danos sofridos O Brasil tem condições e credenciais no passado, de se interromper as injustiças do para participar, junto com outros países, de presente e de se evitar tragédias no futuro. iniciativas que conduzam a um consenso para Espero, sobretudo, que este dia nos convide superar a violência e a irracionalidade. Por a olhar para as novas gerações, que não isso mesmo, apoiamos a realização de uma podem ser hostilizadas pelos erros cometidos conferência internacional em seguimento à por seus antepassados. Devemos garantir que reunião de Annapolis, ocorrida em novembro as crianças e os jovens se desenvolvam em de 2007, como um passo importante para o um ambiente onde a desconfiança mútua seja restabelecimento da paz na região, com base no substituída pelo preceito bíblico, quando diz: reconhecimento do direito de constituição do “Ama teu próximo como a ti mesmo”. Estado palestino viável, e da existência de Israel Shalom. Muito obrigado.

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Almoço oferecido ao Presidente da República da Namíbia, Hifikepunye Pohamba

Discurso do Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante almoço oferecido ao Presidente da República da Namíbia, Hifikepunye Pohamba. Brasília, DF , 11/02/2009

Excelentíssimo senhor Pohamba, que a Marinha do Brasil mantém na Namíbia. Presidente da República da Namíbia e sua Desde 1998, quase 500 oficiais namibianos senhora, receberam treinamento no Brasil, e atualmente Minha querida companheira Marisa, outros 162 integrantes da Marinha da Namíbia Meu caro Ministro das Relações Exteriores estudam em nosso país. Graças a esses laços, da República da Namíbia, podemos ouvir português com sotaque Demais integrantes da delegação da brasileiro nos meios militares desse querido Namíbia, país africano. Ministro Celso Amorim, Ministro das Quando estive na Namíbia, em 2003, Relações Exteriores, uma embarcação brasileira foi incorporada Demais ministros brasileiros que estão às Forças de Defesa, e no mês passado participando desta recepção, entregamos à Marinha da Namíbia um Senadores, navio-patrulha construído no Brasil. A partir Deputados, do segundo semestre deste ano, chegarão Empresários, quatro lanchas-patrulha também produzidas Convidados, no Brasil. A Namíbia estará dando, então, É com grande alegria que recebo hoje o passo decisivo para exercer plenamente sua Presidente Pohamba. Vossa Excelência está soberania sobre seus recursos marítimos. Os dando seguimento ao trabalho do companheiro excelentes resultados dessa cooperação nos Sam Nujoma na consolidação de uma encorajam a levar nossa parceria para outros democracia próspera e vibrante, que inspira a setores prioritários. luta por paz e justiça em toda a África. O empenho que o governo do Presidente Sua visita, amigo Pohamba, confirma a Pohamba dedica às políticas sociais abre vitalidade do diálogo entre Namíbia e Brasil e extraordinárias possibilidades de colaboração nossa determinação em transformar, cada vez no combate à fome, à pobreza e à exclusão mais, o Oceano Atlântico em nossa fronteira social. Assim como o Brasil, a Namíbia comum, uma ponte entre nossos povos. É o reconhece no atendimento das necessidades que estamos fazendo por meio da missão naval dos segmentos mais carentes instrumento

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 43 fundamental de resgate de nossa dívida social. que essa aliança seja ainda mais ambiciosa, Com a abertura de escritórios da Embrapa que aproxime os dois continentes. e da Fiocruz no continente africano, ficou Esta é a mensagem que vamos levar mais fácil compartilhar avanços nas áreas para a II Cúpula África-América do Sul, da agricultura e da saúde. Estão criadas as que se realizará em Caracas, em agosto condições para juntarmos esforços para próximo. No momento em que os países em realizar o potencial da agricultura familiar desenvolvimento são as principais vítimas de como fonte de empregos e segurança alimentar uma crise financeira que não criaram, temos para nossas populações mais vulneráveis. a oportunidade e o desafio de buscar ações Sei que podemos contar com o indispensável genuinamente coletivas e solidárias. engajamento do setor privado para realizar Ao longo de vários anos, países em as possibilidades da parceria entre nossos desenvolvimento como a Namíbia e o Brasil países. O comércio bilateral aumentou se dedicaram à árdua tarefa de estabilizar suas mais de seis vezes desde 2002. Somente no economias e promover políticas de inclusão último ano cresceu 40%. Mas precisamos social e de combate à pobreza. Mas não ampliar e equilibrar nossas trocas, com o podemos atuar sozinhos contra os efeitos de Brasil importando mais produtos da Namíbia. uma turbulência que golpeia, sobretudo, as Por isso, missão empresarial brasileira irá à mais fortes economias do Planeta. Namíbia, em julho deste ano, em busca de O comércio é, certamente, parte da solução. novas possibilidades de negócios. O protecionismo, em contrapartida, só servirá No setor energético, as empresas brasileiras para agravar a crise econômica. Um acordo já saíram na frente. Há forte interesse em na Rodada de Doha, da OMC, enviará uma participar no projeto do aproveitamento poderosa mensagem para os mercados e dará hidrelétrico do rio Cunene, na fronteira com novo fôlego à economia global. Angola. Outra área promissora é a área de Os países em desenvolvimento vêm biocombustíveis. O Presidente Pohamba apontando o caminho. O aumento do visitará amanhã a sede da Petrobras para comércio e dos investimentos Sul-Sul tem conhecer a revolução que o Brasil está atenuado o impacto perverso da recessão que realizando em matéria de fontes alternativas se alastra mundialmente. Por meio do Acordo de energia. Uma revolução que combina de Comércio Preferencial entre o Mercosul e energia limpa e renovável com segurança a União Aduaneira Sul-Africana estamos na alimentar para todos. vanguarda desse esforço. Caro amigo Pohamba, Mas não basta reformar as regras do comércio Meu governo elegeu a África como internacional. Precisamos buscar um sistema prioridade. Visitei 20 países, em nove viagens de governança global mais democrático. Os ao continente. Abrimos ou reativamos 16 processos decisórios não podem continuar novas embaixadas. Na reunião de nossos concentrados nas mãos de poucos, ignorando- embaixadores na África, que convoquei se as aspirações dos países em desenvolvimento para a próxima semana, vamos analisar e das grandes economias emergentes. iniciativas e projetos que tornarão sustentável Por isso, reitero meu reconhecimento pelo e duradoura a parceria com um continente apoio do governo da Namíbia à aspiração mais autoconfiante e determinado a tomar seu brasileira a assento permanente no Conselho destino em suas próprias mãos. O Brasil deseja de Segurança da ONU. Entendemos esse gesto

44 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 como voto de confiança na capacidade de o Brasil contribuir para a construção dessa nova ordem mais legítima e, sobretudo, mais justa. Meus amigos, minhas amigas, É com esse espírito de confiança que convido todos os presentes a brindar o destino comum de brasileiros e namibianos. Faço a Vossa Excelência votos de continuado êxito na liderança dessa querida nação africana, bem como de saúde e felicidade pessoal.

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Visita do presidente da Colômbia, Álvaro Uribe

Declaração à imprensa do Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, após assinatura de atos, por ocasião da visita do presidente da Colômbia, Álvaro Uribe. Brasília, DF , 17/02/2009

Excelentíssimo Senhor Álvaro Uribe, retorno dessas pessoas ao convívio de seus Presidente da Colômbia, familiares. Seguimos à disposição para Senhor Jaime Bermúdez, Ministro das ajudar no que for preciso, sempre e quando Relações Exteriores da Colômbia, solicitados. Embaixador Celso Amorim, Ministro das O excelente nível de nossas relações se Relações Exteriores, expressou na criação da Comissão Bilateral Luis Guillermo Plata, Ministro do Brasil-Colômbia, que nos vai permitir realizar Comércio, da Indústria e Turismo da uma agenda ambiciosa de cooperação nas Colômbia, áreas de desenvolvimento sustentável na Miguel Jorge, Ministro do Desenvolvimento, Amazônia, ciência e tecnologia, agroindústria, Indústria e Comércio Exterior, educação e cultura. Amigos da delegação colombiana, Nos últimos quatro anos, nosso comércio Companheiros brasileiros, aumentou 150%. Em 2008, as trocas Amigos da imprensa, alcançaram a cifra recorde de US$ 3 bilhões, Com grande alegria recebemos o Presidente sendo que as exportações colombianas Álvaro Uribe em sua primeira visita de Estado para o Brasil subiram 94%. A Comissão de ao Brasil. Este é um momento especial de Monitoramento do Comércio, que decidimos nossas relações. Momento marcado pela instituir, permitirá aumentar e equilibrar cooperação e solidariedade. nosso intercâmbio nesse contexto de crise em O governo colombiano e o Comitê que vivemos. Internacional da Cruz Vermelha comemoram Os investimentos brasileiros na Colômbia a libertação de seis reféns no início deste somam US$ 1,5 bilhão. Nossas empresas levam mês. Abriram-se esperanças para os que empregos, tecnologia e competitividade aos ainda permanecem sequestrados e há novas principais setores da economia colombiana, perspectivas para a paz e conciliação dos como energia, infraestrutura, siderurgia e colombianos. O Brasil colaborou para o automobilística. O encontro empresarial de

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 47 que Vossa Excelência participou ontem na os efeitos mais nefastos da crise. Incorporamos Fiesp estimulará novos investimentos nos cerca de 10 milhões de brasileiros ao mercado dois sentidos. de trabalho. Mais de 20 milhões deixaram a Nossos países podem unir esforços na situação de pobreza extrema. A classe média área dos biocombustíveis. Colômbia e Brasil é agora maioria no Brasil: 53% da população. trabalham conjuntamente para preservar e Não podemos deixar que esses ganhos sociais, proteger a diversidade biológica e o patrimônio duramente conquistados, sejam revertidos. hídrico da Amazônia. Temos de garantir o No plano externo, necessitamos atuar desenvolvimento sustentável de uma região juntos. O multilateralismo deve ser fortalecido. onde vivem mais de 25 milhões de pessoas. A recuperação da economia internacional A Comissão de Vizinhança vai aprofundar depende, mais do que nunca, dos países em nossa cooperação em benefício de nossas desenvolvimento. Devemos combater práticas populações fronteiriças, sobretudo na região protecionistas dos países desenvolvidos. O de Letícia e Tabatinga. protecionismo só aprofunda a crise. Precisamos Estamos avançando igualmente no atuar de forma coordenada nos foros de plano tecnológico. Assinamos o Acordo negociação internacionais. de Cooperação em Aplicações Pacíficas Estamos preparados, na América do Sul, de Ciência e Tecnologia Espaciais. Com para enfrentar esses desafios. Percorremos um ele, vamos impulsionar nosso intercâmbio longo caminho até a formação da Unasul. Ela científico no campo da tecnologia espacial. já demonstrou sua enorme utilidade como fator Caro amigo Presidente Uribe, de estabilidade institucional e democrática na O mundo está testemunhando uma crise América do Sul. Registro o apoio decisivo de crédito gerada nos centros financeiros que da Colômbia para a criação do Conselho de contaminou a economia internacional. Aumenta Defesa da Unasul. A integração promove a responsabilidade dos governos. Os impasses oportunidades de desenvolvimento e bem- econômicos exigem soluções políticas. estar na região. Podemos e vamos fazer muito Este é momento de adotar políticas públicas mais. A Colômbia tem despertado o interesse consequentes e solidárias para corrigir a de investidores brasileiros em vários setores. desordem econômica global e mitigar seus Neste momento, empresas brasileiras desejam efeitos negativos. Sei que seu governo está participar no projeto de construção da Ferrovia fazendo importantes esforços e acaba de do Carare, empreendimento com potencial anunciar vultosos investimentos, sobretudo para gerar quatro mil empregos diretos. em projetos de infraestrutura, energia, Presidente, educação e saneamento básico. O Brasil teve o privilégio de sediar a No Brasil, combinamos políticas primeira Cúpula da América Latina e do macroeconômicas responsáveis com medidas Caribe sobre Integração e Desenvolvimento, anticíclicas que estimulam a geração de na Bahia, em dezembro. Em 200 anos de empregos e o aumento da produção. Nosso vida independente, nunca os países latino- Programa de Aceleração do Crescimento americanos e caribenhos haviam se reunido investirá R$ 646 bilhões, até 2010, em sem a intermediação de outros interlocutores. infraestrutura logística, energética e social. Temos a responsabilidade de dar seguimento A ampla rede de proteção social que à agenda definida na Declaração de Salvador e implantamos no Brasil serve de anteparo para aprofundar uma perspectiva regional própria.

48 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 Por isso, nós queremos convidá-lo também imaginaram fazer na vida, porque elas nunca para continuarmos a somar forças pelo avanço tinham tido a oportunidade de tomar decisões da integração latino-americana e caribenha por conta própria. Sempre havia alguém que num ambiente de pluralismo e diversidade, se considerava mais preparado para dizer o com respeito mútuo e com base na cooperação que [deveriam fazer]. e no diálogo. Vamos imaginar a crise que aconteceu nos Meu caro companheiro Uribe, anos 90, no mundo inteiro. Vamos imaginar Eu penso que você e eu, que chegamos a o que aconteceu com a crise asiática, com a Presidentes da Colômbia e do Brasil no mesmo crise mexicana, elas não totalizaram US$ 200 ano - eu cheguei a partir de outubro de 2002 e bilhões de prejuízo. Por ocasião daquelas você chegou no começo do ano - a Colômbia, crises, quase todos os países da América do Sul que tem eleições em maio do próximo ano, quebraram, quase todos os países emergentes e o Brasil, que tem eleições em outubro do tiveram problemas muito sérios. Naquela próximo ano, [vão] exigir que nesse pouco época, eu me lembro porque, em uma parte mais de um ano que [temos] como Presidente eu era oposição e na outra eu virei governo, da Colômbia e do Brasil, possamos fazer um quanto os países ricos sabiam encontrar pouco mais do que fizemos nesses seis anos, soluções para nós. Quantos palpites o FMI e poderemos fazer um pouco mais do que dava de como deveríamos fazer o ajuste fiscal, aquilo que foi feito praticamente durante todo de como deveríamos controlar gastos, de como o século XX. deveríamos conter investimentos. O Banco A verdade é que, embora nunca quiséssemos Mundial, ou seja, todo mundo se achava no admitir publicamente, os nossos países sempre direito de dizer o que nós deveríamos fazer. se colocaram mais de costas um para o outro, Às vezes você recebia um empresário, às e sempre olhamos os nossos irmãos ricos da vezes você recebia um Ministro de outro país, América do Norte e da Europa. Essa crise e ele começava a conversa dizendo o que a econômica, que para alguns parece um pesadelo gente tinha que fazer no Brasil para as coisas sem fim, para nós precisa ser encarada como darem certo. uma oportunidade extraordinária de fazermos Eu também aprendi, na minha vida aquilo que certamente saberemos fazer, mas pessoal, que quando a gente mora em um que nunca ousamos fazer porque sempre bairro que um vizinho tem um problema, nós recebíamos o prato pronto dos chamados países temos todas as soluções para os problemas desenvolvidos. Algumas coisas, que eu penso dos nossos vizinhos, mas quando o problema que nós precisamos mudar de comportamento é dentro da nossa casa, os problemas ficam e mudar as ações do governo. muito mais difíceis. Eu estou vendo agora os Na minha vida pessoal, Uribe, muitas vezes países ricos sem muita solução para os seus eu vejo pessoas que se separam, pessoas que problemas internos. Eu já não vejo mais o ficam viúvas, e as pessoas pensam que o mundo Banco Mundial, o FMI e outras instituições acaba quando morre alguém. Normalmente, a darem tanto conselho aos Estados Unidos, à pessoa fica na beira de um caixão, achando Europa, como davam a nós. Possivelmente, que o mundo acabou, porque não sabe o que porque agora a dor do calo seja no pé deles e vai fazer no dia seguinte. Normalmente, você não no nosso pé. encontra as pessoas um ano depois, elas estão Por que eu estou dizendo isso, Uribe? felizes e estão fazendo coisas que elas jamais Primeiro, porque eu sou um torcedor fanático

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 49 da Seleção brasileira, do meu time no Brasil, dois turnos ou em três turnos, para que a gente que é o Corinthians, do crescimento da possa suprir a demanda por empregos no América do Sul e do acerto que tiverem a Brasil. Terceiro, nós colocamos mais R$ 100 Europa e os Estados Unidos. Eu digo todo dia: bilhões no nosso Banco de Desenvolvimento, eu rezo para o Obama aquilo que eu não rezei para que ele tenha recursos para financiar para mim, porque eu sei da importância dos o projeto das empresas brasileiras aqui no Estados Unidos para o comércio mundial, eu Brasil e também das empresas brasileiras em sei da importância dos Estados Unidos para outros países. Eu estou sabendo que empresas a América Latina, e eu sei que se os Estados brasileiras que tinham grandes investimentos Unidos se recuperarem logo, melhor para todo na Colômbia, por alguma razão, desativaram mundo. Se eles não se recuperam logo, pior os seus investimentos. O meu compromisso para todo mundo. Eu rezo também para que a público contigo é fazer com que nós tenhamos, Europa se recupere. Que aqueles homens que aqui no Brasil, uma conversa com essas sabiam tudo sobre a Colômbia, sobre o Brasil, empresas, e que o BNDES possa trabalhar sobre a Argentina, saibam um pouco sobre para que a gente possa manter o financiamento eles e que tomem as decisões que precisarem do investimento, porque nós temos uma tomar para estancar essa crise. relação muito próspera com a Colômbia, Nesta semana as revistas publicam que o temos uma vantagem na balança comercial, e PIB de quase todos os países europeus caiu. nós queremos que essa balança comercial seja Eu sei que não vai retomar um crescimento mais equilibrada. Portanto, é importante que rápido, mas que pelo menos pare de cair. E é empresas brasileiras produzam na Colômbia, preciso tomar as medidas urgentes que têm que gerem empregos na Colômbia, e gerem ser tomadas. Eu espero que no dia 2 de abril, também equilíbrio na balança comercial. quando o G-20 estiver reunido em Londres, a Uma coisa que nós precisamos nos gente tenha a sabedoria de tomar as decisões provocar, apenas para você e eu pensarmos: corretas para que o mundo volte à normalidade, por que a nossa balança comercial não é feita para que o sistema financeiro internacional nas nossas moedas? Por que nós temos que seja controlado e para que as pessoas não comprar dólar para tratar das exportações façam da atuação do sistema financeiro uma colombianas para o Brasil e das brasileiras verdadeira jogatina irresponsável, como foi para a Colômbia? O que nós precisamos é feita nos últimos anos. colocar os nossos Ministros da Fazenda, os Pois bem, o que nós poderemos fazer nossos Presidentes de Banco Central para se aqui na América do Sul. Primeiro, eu quero sentarem em torno de uma mesa e criar regras te dizer que no Brasil, certamente, nós não para que a gente não precise ficar dependente cresceremos o tanto que nós crescemos em do dólar, que está cada vez mais escasso e cada 2008, mas certamente o Brasil vai ter uma vez mais problemático. Por isso é que eu rezo desaceleração, e não uma recessão econômica. todo dia pelo Presidente Obama, para ele fazer Segundo, nós estamos mantendo todos os as coisas certas e trazer vantagens para nós. investimentos públicos do governo federal Eu quero terminar, Uribe, dizendo para você e estamos aumentando os investimentos. que a relação que o Brasil está construindo Terceiro, nós estamos pedindo para que os com a Colômbia é uma relação, possivelmente, Ministros de infraestrutura façam contratos, mais forte do que em qualquer outro momento nas obras de infraestrutura em nosso país, em da nossa história. O Brasil tem que assumir

50 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 a responsabilidade pela quantidade de Mundial não achava bom, porque o FMI fronteiras secas que temos em toda a América não aceitava, porque, quem sabe, os Estados do Sul, o Brasil não pode se dar ao luxo de Unidos não vissem com bons olhos, quem esquecer que tem países na América do Sul sabe a União Européia não entendesse bem. com mais carência econômica do que o Brasil, Eu acho que agora, meu caro companheiro com menos possibilidade de conhecimento Uribe, nós precisamos fazer com muito mais científico-tecnológico que o Brasil. E o Brasil, ousadia e muito mais coragem aquilo que nós, pelas suas características - sem nenhuma visão em outros momentos tivemos, eu diria, inibição de hegemonia, como alguns já quiseram ter de fazer, tivemos, eu diria, até preocupação em outros momentos - nós queremos construir em fazer porque não sabíamos qual seria a uma parceria sólida, em que a gente possa se [reação] dos chamados países desenvolvidos. tratar com mais confiança, com mais respeito Na hora da crise, o que fica provado é que e com mais companheirismo. Ou seja, nós o nosso povo depende das nossas ações; na estamos cercados por dois grandes oceanos, e hora da crise, o que fica provado é que nós é se fosse um barco e afundasse, não escapavam que temos que resolver os nossos problemas, nem colombianos e nem brasileiros. Portanto, porque quem anda nas ruas de Bogotá é você, é hora de nós aproveitarmos a crise e construir, quem anda nas ruas de Brasília sou eu. O com a inteligência das nossas assessorias, as nosso povo não vai se queixar na ONU, o coisas que nós ainda não conseguimos fazer. nosso povo não vai se queixar para nenhum Eu sei que para a Colômbia ter um crédito Presidente de outro país. Eles vão cobrar é de do Brasil para comprar máquinas do Brasil, nós, da Argentina ao Suriname. muitas vezes é mais caro do que pegar Nós vamos ter que encontrar uma solução dinheiro em outro lugar. Eu sei também que diferente para agir enquanto continente, as garantias, muitas vezes, têm problema de com muita responsabilidade, porque nós país para país, de Banco Central para Banco poderemos sair dessa crise mais fortalecidos Central, de Ministro da Fazenda para Ministro do que entramos nela. Eu acredito nisso, da Fazenda. trabalho para isso, e quanto mais as pessoas Se nós conseguirmos determinar uma lógica falam em crise no meu ouvido ou mais eu na Unasul, em que a gente possa estabelecer, leio [sobre] crise na imprensa, mais eu tomo definitivamente, uma troca comercial em decisão de fazer investimentos neste país. moedas próprias, nós já estaremos nos Recentemente, nós fizemos uma discussão, livrando de um grande problema, que é o nosso a Petrobras tinha investimentos de US$ 112 pequeno empresário precisando procurar dólar bilhões até 2010. Nós aumentamos para 174 para poder financiar as suas exportações. Nós bilhões até 2013. Agora decidimos, Uribe, vamos ter que trabalhar como nós, aqui no e na próxima semana certamente estarei Brasil, poderemos contribuir para financiar anunciando 1 milhão de casas populares. Nós essas nossas exportações. queremos fazer com que os setores que possam Eu, Uribe, vejo nesta crise uma grande gerar empregos com mais facilidade supram o oportunidade para a gente ter um pouco mais desemprego que possa haver em algum setor de ousadia, um pouco mais de coragem e de ponta que depende de produtos importados. fazer o que, em tempo de normalidade, nós Nós pretendemos fazer outras medidas. Eu achávamos que não podíamos fazer porque sou contra fazer pacote amplo econômico, Basiléia não concordava, porque o Banco mas, pontualmente, nós vamos fazer todas as

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 51 medidas para que o povo brasileiro saia dessa Quando ele quebra, nós não temos o direito crise muito mais fortalecido, que o Brasil de fazer com que os trabalhadores que saia mais fortalecido. Eu torço para que, se vivem do seu salário, os pobres que ainda nós trabalharmos com muita firmeza, se nós estão esperando a oportunidade de ganhar trabalharmos com muita convicção política, a cidadania, a classe média dos nossos países, América do Sul, ao terminar esta crise, esteja os nossos intelectuais, os nossos professores, muito mais preparada para subir de patamar os nossos trabalhadores rurais, sejam vítimas na economia mundial do que nós estávamos de uma crise que eles nem sabiam que existia. quando esta crise começou. Eu queria dizer essas palavras, Uribe, Eu acho extraordinário, e vou dizer para para dizer a você que acho que Brasil e terminar: quando o Muro de Berlim caiu, Colômbia, mais os outros países da América muita gente ficou com uma certa bronca do Sul [poderão] construir novas fórmulas de mim porque eu disse que, finalmente, a de negociação, de balança comercial, de esquerda mundial estava livre para refazer garantia de importação ou de exportação, de os seus pensamentos, criar novas doutrinas, financiamento das nossas indústrias, sem ficar pensar novas coisas. Alguns não gostaram, dependendo daquilo que nós dependemos mas eu continuo convencido de que nada durante todo o século XX, que era a boa melhor do que a gente criar as condições de vontade dos países ricos em fazer concessões a nossa intelectualidade pensar e repensar, a aos países pobres. cada dia, alguma coisa nova para ser colocada Eu acho que agora chegou a hora de a gente em prática. dizer que nós, juntos, poderemos encontrar as O mesmo eu digo da crise econômica. soluções que cinco anos atrás ou seis meses Essa dívida nasceu, e todo mundo já sabe, de atrás, pareciam impossíveis. Agora, não só é algumas décadas de irresponsabilidade - e a possível, como é necessário, porque afinal de palavra correta é irresponsabilidade - de um contas, eu disse na ONU e vou repetir agora: sistema financeiro que não se preocupou com o momento é de pensar politicamente e não o setor produtivo, mas apenas [em] ganhar, pensar apenas economicamente. e muitas vezes ganhando na especulação. Muito obrigado.

52 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 Conferência Internacional em Apoio à Economia Palestina para a Reconstrução de Gaza

Discurso proferido pelo Ministro das Relações Exteriores, Embaixador Celso Amorim, na Conferência Internacional em Apoio à Economia Palestina para a Reconstrução de Gaza. Sharm el-Sheikh, Egito , 02/03/2009

Senhor Presidente, Senhora Presidente, É fundamental trazer melhorias ao dia-a- Esta Conferência é, acima de tudo, dia dos cidadãos comuns na Palestina e, para uma demonstração de solidariedade ao tanto, a dignidade moral é tão importante povo palestino por parte da comunidade quanto as condições materiais. internacional e de compaixão com o seu É hora de paz, e não de processo de paz. sofrimento. Espero sinceramente que ela seja Senhor Presidente, Senhora Presidente, percebida e entendida por todos os envolvidos. É indispensável que a Resolução 1860 Mas esta Conferência também deve seja plenamente implementada. A ajuda renovar a nossa resolução de estabelecer um humanitária e o comércio normal e legítimo Estado Palestino viável, em uma etapa inicial, devem circular livremente em Gaza. Pré- convivendo lado a lado e em paz com Israel. condições para o cumprimento de uma decisão A falta de confiança dá poder aos radicais do Conselho de Segurança não são aceitáveis. e tira daqueles que optaram pela moderação o O Brasil recebe com satisfação a disposição apoio do seu próprio povo. das forças políticas palestinas em formar um Concordo com aqueles que disseram que é governo de reconciliação. Reconhecemos importante apoiar a Autoridade Palestina. Eu o papel do Egito na consecução desses mesmo já estive três vezes na Cisjordânia. Sou desenvolvimentos. testemunha do progresso material alcançado Exortamos o novo Governo de Israel a na região. engajar-se inteiramente no processo de paz. Mas também gostaria de fazer eco às Devem ser imediatamente interrompidos palavras de Bernard Kouchner, que dizia que os graves obstáculos à solução da coexistência está principalmente nas mãos de Israel garantir dos dois Estados, de que são exemplos a que a Autoridade Palestina possa cumprir as expansão dos assentamentos por Israel e o promessas do processo de paz. freqüente uso da força.

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 53 Mais do que nunca, a persuasão por parte da comunidade internacional é um ingrediente essencial para atingir a paz. O Brasil acredita que todos os atores relevantes na região que estejam preparados para agir de forma construtiva devem ter uma chance de participar do processo. Incorporar às discussões países em desenvolvimento de fora da região também daria mais legitimidade e traria novas idéias às conversações de paz. O Brasil encoraja a convocação de uma conferência em seguimento à reunião de Annapolis. Senhor Presidente, Senhora Presidente, Na minha visita à região durante o conflito, entreguei, em nome do povo brasileiro, 14 toneladas de alimentos e remédios para aliviar a situação humanitária em Gaza. Esse não foi um evento isolado. Nas conferências de doadores de Estocolmo e Paris, o Brasil contribuiu com um total de US$10,5 milhões. A nossa colaboração em Paris foi a maior já feita pelo Brasil e uma das mais altas realizadas por países em desenvolvimento não-islâmicos. Meu colega indiano fará menção à nossa contribuição com o IBAS, que inclui o Brasil, a Índia e a África do Sul. Hoje tenho a honra de anunciar que o Governo brasileiro decidiu doar mais US$10 milhões para a reconstrução de Gaza. Com esse propósito, o Presidente Lula pediu ao Congresso que autorizasse essa doação com urgência. Estamos convencidos de que a harmonia e a segurança irão certamente prevalecer sobre a discórdia e a agressão. Obrigado.

54 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 Visita do Presidente do Uruguai, Tabaré Vázquez

Discurso do Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, por ocasião da visita do Presidente do Uruguai, Tabaré Vázquez. Brasília, DF , 10/03/2009

Meu caro companheiro e amigo Tabaré Mas boa parte de nossos anseios se tornou Vázquéz, Presidente da República Oriental do realidade. Uruguai, Sob sua liderança, amigo Presidente, a Meu caro companheiro José Sarney, parceria privilegiada entre Uruguai e Brasil Presidente do Senado Federal, vem se reafirmando em resposta a uma Senhor Gonzalo Fernández, ministro das realidade internacional que exige de nós Relações Exteriores da República Oriental do clareza de propósito, coesão e solidariedade. Uruguai, e demais membros da delegação do É significativo que sua visita ocorra quando Uruguai, comemoramos os 100 anos do Tratado da Embaixador Celso Amorim, ministro Lagoa Mirim, de 1909. Nele estabeleceu- das Relações Exteriores, por meio de quem se mais do que o condomínio entre nossos cumprimento os demais ministros brasileiros países sobre aquela lagoa. Forjou-se a aliança aqui presentes, entre dois povos determinados a compartilhar Senhores parlamentares, um futuro de prosperidade e solidariedade. Amigos e amigas, A implantação do projeto da hidrovia da A satisfação com que recebo o Presidente Lagoa Mirim consolidará uma convivência Tabaré Vázquez, aqui em Brasília, não é verdadeiramente sem limites. apenas por sua condição de chefe de Estado É por isso que estamos empenhados de um país irmão. Estou, hoje, reencontrando em levar adiante projetos de construção de um amigo, um companheiro. Há muitos anos, pontes, portos e hidrovias. A nova ponte sobre como líderes da oposição em nossos países, o rio Jaguarão e a reforma da atual melhorarão tivemos a oportunidade de compartilhar nossas comunicações e nosso comércio. sonhos e esperanças. A abertura do escritório do BNDES em Passados alguns anos, vimos que esses Montevidéu é outro passo importante para sonhos eram possíveis de serem realizados. consolidar nosso projeto de integração. Vai Que nossas esperanças não eram meras contribuir não apenas para que os investimentos utopias. Falta muito o que fazer, por certo. brasileiros no Uruguai continuem a crescer.

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 55 Ajudará a diversificá-los para setores com só confirma o acerto de nossa visão de fazer da grande potencial de integração de cadeias, América do Sul um pólo de desenvolvimento. como o aeronáutico, o farmacêutico, o naval, Por isso, nossa região tem sido menos afetada o de autopeças e o de informática. pelas turbulências financeiras. Essa perspectiva levou a Petrobrás a decidir Para aprofundar a integração, precisamos investir US$ 100 milhões em melhorias na encontrar formas inovadoras para superar distribuição de gás e de combustíveis no a escassez de crédito. Devemos, portanto, Uruguai. A Petrobras também já sinalizou acelerar a discussão do uso de moedas locais seu interesse na prospecção e exploração no nosso comércio bilateral e regional. de petróleo e gás na plataforma continental Mas a crise econômica nos impõe também uruguaia. o desafio de construir uma nova arquitetura Para levar adiante projetos dessa escala, financeira global. Precisamos de mecanismos precisamos superar gargalos. regulatórios transparentes e eficazes contra a A linha de transmissão elétrica entre San especulação desenfreada, que tantos prejuízos Carlos, no Uruguai, e Candiota, no Rio Grande têm causado, sobretudo aos mais vulneráveis. do Sul, dará maior segurança e eficiência Devemos rechaçar com veemência a adoção aos nossos sistemas elétricos. Mas nossa de medidas protecionistas. integração energética regional não dispensa Devemos resistir à tentação de novos solidariedade, como aquela que leva nossos adiamentos na conclusão das negociações países a intercambiar energia em momentos de Doha, sob pena de postergar a retomada de carência. do comércio e agravar a crise. É imperativo Meu caro companheiro Tabaré, ampliar a participação dos países em Nossa parceria é crucial para aprofundar o desenvolvimento nas decisões das instituições Mercosul. Temos de agilizar as negociações multilaterais que afetam a todos. para eliminar a dupla cobrança da Tarifa Uruguai e Brasil estão determinados a Externa Comum. assumir suas responsabilidades. São essas Decidi fortalecer o Focem, como perspectivas que estarei levando à reunião do instrumento fundamental na superação das G-20, em Londres. assimetrias. Reitero aqui o compromisso, Amigas e amigos, anunciado em Sauípe, de dobrar a contribuição Estou absolutamente convencido de brasileira ao Fundo. Assim garantiremos a que Uruguai e Brasil estão predestinados a todos os países os benefícios plenos de nosso crescer juntos e a construir em parceria sua projeto compartilhado. prosperidade. Sua visita se realiza em momento de Estamos enfrentando juntos também as profunda transformação e incerteza do adversidades do quadro mundial. Noto com quadro internacional. Nossos países vivem os alegria que o recente balanço de seu governo reflexos de uma crise que não criamos e que é muito semelhante àquele que fazemos do ameaça nossas conquistas no campo social e nosso no Brasil. econômico. Os preços de nossos principais Respeitadas nossas diferenças nacionais, produtos de exportação vêm sofrendo forte apostamos em políticas sociais, que atacaram volatilidade, reduzindo os recursos para a exclusão social. Expandimos o emprego e nossos projetos de crescimento. Esse cenário o rendimento dos trabalhadores. Investimos

56 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 na educação, na saúde, na expansão de nossa infraestrutura. Desenvolvemos políticas macroeconômicas responsáveis. Reduzimos nossa vulnerabilidade externa. Compartilhamos uma visão e muitos interesses comuns, que nos permitem vislumbrar com otimismo o futuro de nossa cooperação e integração. Com essa certeza, quero propor um brinde em homenagem a você, meu companheiro Tabaré, e à fraternidade entre o povo uruguaio e o povo brasileiro. Muito obrigado.

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 57

Seminário “Brasil: Parceiro Global em uma Nova Economia; Estratégias Sólidas para Momentos Desafiadores”

Discurso do Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante abertura do Seminário “Brasil: Parceiro Global em uma Nova Economia; Estratégias Sólidas para Momentos Desafiadores”. Nova York, EUA , 16/03/2009

Quero cumprimentar os meus Ministros, Esta vai ser a parte chata de toda a Embaixador Celso Amorim, Senhora Dilma Conferência, porque quando o Celso Amorim Rousseff, Senhor , Henrique falou de fome, vocês não estavam vendo Meirelles, pratos, talheres e, portanto, a fome vai Quero cumprimentar o Robert Thompson, aumentar na medida em que eu for falando. editor-chefe do Wall Street Journal, Por favor, não atirem nenhuma faca e, muito Quero cumprimentar o Antônio Aguiar menos, um sapato. Patriota, Embaixador brasileiro, Minhas amigas e meus amigos, Quero cumprimentar o Luciano Coutinho, O mundo vive hoje a mais grave crise desde Presidente do BNDES, 1929, uma crise muito diferente das ocorridas O nosso Antônio Lima Neto, Presidente do nas últimas décadas. Uma crise que não surgiu Banco do Brasil, em um país emergente ou na periferia do O José Sérgio Gabrielli, Presidente da sistema. Uma crise que, nasceu e explodiu no Petrobras, coração do mundo desenvolvido. Provocada, Quero cumprimentar nosso querido em grande medida, pela falta de controle do Alessandro Teixeira, Presidente da Agência sistema financeiro nos países mais ricos. Brasileira de Promoção de Exportações e Os bancos, em vez de cumprirem seu papel Investimentos, de financiador do setor produtivo, descolaram- Quero cumprimentar os diretores se da realidade e dedicaram-se à especulação. do “Valor”, os empresários brasileiros, Transformaram-se num grande cassino. Muitas americanos, instituições financeiras quebraram, um grande Quero dizer para vocês da grata alegria número de empresas entrou em dificuldade de estar mais uma vez aqui em Nova Iorque, e milhões de trabalhadores perderam suas conversando com amigos do Brasil e casas, seus empregos, sua proteção social. Em brasileiros amigos dos Estados Unidos. pouco tempo, a ganância de alguns deu lugar

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 59 ao pânico de muitos. Uma gravíssima crise Interno Bruto, hoje representa apenas 35% do de confiança abateu-se sobre a economia dos PIB, uma das menores taxas do mundo. países mais ricos. No início do meu segundo mandato, No Brasil não tivemos este tipo de crise. lançamos o Plano de Aceleração do Nossos bancos - privados ou públicos - não Crescimento, com o objetivo de expandir foram contaminados pelas aventuras dos a infraestrutura energética, de transportes, especuladores internacionais. Um sólido urbana e social. Inicialmente, esse Plano sistema de bancos públicos, hoje responsável previa um investimento da ordem de US$ por mais de 40% do crédito no Brasil, atenuou 250 bilhões, em valores da época. Agora, os efeitos da crise internacional. com a crise, acrescentamos US$ 30 bilhões Quando a crise veio à tona, com a quebra em investimentos adicionais para atender do Lehman Brothers, nossa economia estava a expansão da Petrobras na exploração arrumada. Crescíamos a taxas robustas, as das grandes reservas do pré-sal, no litoral maiores dos últimos 30 anos. brasileiro. Nos últimos seis anos, o Brasil criou mais Graças a todas essas mudanças, o Brasil de 11 milhões de novos empregos formais e começou a respirar um novo clima. A roda da promoveu uma sensível expansão da renda economia passou a girar mais forte. Abriu- dos trabalhadores. O mercado de bens de se um círculo virtuoso no nosso país. Mais consumo ampliou-se consideravelmente, consumo, mais produção, novos investimentos, resultado de nossas políticas de transferência mais Brasil para mais brasileiros. de renda, em especial o Bolsa Família. Os Em 2008, os investimentos diretos aumentos reais de salários, a reforma agrária estrangeiros atingiram US$ 45 bilhões, com fortalecimento da agricultura familiar e a 2,8%, ou seja, do PIB. Nos dois primeiros expansão sem precedentes do crédito popular meses deste ano, na contramão da tendência consolidaram o mercado interno. Mais de 20 mundial, observa-se um ingresso significativo milhões de pessoas, antes situadas abaixo da de capitais no nosso país. linha da pobreza, ingressaram na classe média. Meus amigos e minhas amigas, Contrariando preconceitos e prognósticos, A crise internacional nos está obrigando a mostramos que era possível expandir o enfrentar turbulências que não criamos. Mas, mercado interno e, ao mesmo tempo, aumentar como havíamos organizado e dinamizado nossas exportações. Nossas exportações nossa economia antes, estamos em condições cresceram quase quatro vezes nos últimos de sair dela mais cedo do que se esperava. seis anos. Diversificaram-se geograficamente. Nas crises do México, da Rússia e dos Não ficamos atrelados a nenhum mercado países asiáticos, menos graves que a atual, o em particular. Aumentamos nossas vendas Brasil quebrou em poucos dias. Foi obrigado de produtos com maior valor agregado. a pedir socorro ao FMI. Desta vez, o Brasil A inflação foi domada. A vulnerabilidade não quebrou, nem vai quebrar. Estamos externa reduzida. O Brasil passou à condição enfrentando as dificuldades com todos os de credor líquido internacional. E acumulamos instrumentos à nossa disposição. mais de US$ 200 bilhões de reservas. Graças a Enquanto a maioria dos países ricos um forte ajuste fiscal, a dívida pública interna mergulha na recessão, o Brasil vai continuar que, em 2003, equivalia a 56% do Produto crescendo. Cresceremos em 2009 menos do

60 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 que gostaríamos, menos do que poderíamos, amplo e fecundo debate público. Em nosso se não fosse essa crise externa. Mas estejam país, mais de 130 milhões de brasileiros certos de que vamos crescer. vão às urnas a cada dois anos, para eleger Meus amigos e minhas amigas, seus representantes e governantes. Nossas A sociedade brasileira realizou um enorme instituições, a começar pelo Congresso esforço nos últimos anos. As decisões Nacional e pelo Poder Judiciário, são de política econômica de meu governo vigorosas e independentes. A liberdade apenas interpretaram um sentimento forte de imprensa é respeitada como um valor que dominava a esmagadora maioria dos fundamental. E os sindicatos, os partidos, as brasileiros. Era preciso pôr fim a trinta anos associações profissionais funcionam, graças a de estancamento ou crescimento econômico Deus, livremente. medíocre. Era necessário enfrentar, Somos uma democracia de dimensões simultaneamente, o secular problema da continentais. Com uma população de múltiplas pobreza, da desigualdade e da exclusão de origens, com uma cultura rica e diversificada, dezenas de milhões de brasileiros. mas com forte identidade nacional. Não apenas A história do meu país mostra que o somos misturados, como gostamos de ser crescimento econômico, por si só, não misturados. Vivemos em paz conosco e com resolve o problema da miséria. Ao me eleger nossos vizinhos. E não abrimos mão disso. Presidente da República, o Brasil deixou O Brasil dispõe de imensos recursos: terra, claro que havia decidido trilhar um novo água, sol, energia e população. Graças aos caminho. Um caminho em que a distribuição avanços de nossas pesquisas em agricultura de renda é fator decisivo de um novo tipo tropical, somos um grande celeiro do mundo. de desenvolvimento, mais inclusivo, mais Mas somos também um país com indústrias humano, mais sustentado e duradouro. de ponta, na biotecnologia e no setor Durante décadas, ou talvez séculos, nossos aeroespacial, entre outros. Temos importantes dirigentes governaram com os olhos voltados universidades e centros de pesquisa científica para um terço ou um quarto da população e tecnológica, cada vez mais integrados brasileira. Passavam a idéia de que dezenas à atividade produtiva. Avançamos no de milhões de homens e mulheres, velhos desenvolvimento de energias renováveis, na e crianças, nunca teriam espaço na nação extração de petróleo e gás em águas profundas. brasileira. Era como se eles fossem um peso Aqui, meus amigos e minhas amigas, um ou um estorvo para o crescimento do país, e parênteses para falar um pouco das energias não um imenso patrimônio, um ativo de valor renováveis. Há 30 anos, o Brasil domina a incomensurável. tecnologia do biocombustível. Há 30 anos, O Brasil superou essa concepção egoísta, estamos tentando convencer o mundo de que mesquinha e absurda. Hoje está claro para para enfrentar o aquecimento global é preciso todos que era possível construir um Brasil que tenhamos a coragem de definirmos, para todos os brasileiros. Mais ainda, que o definitivamente, uma outra matriz energética Brasil é mais forte e tem mais futuro quando para o mundo. trabalha para incluir todos os brasileiros. No Brasil, já temos utilizado 25% de Essas opções cruciais foram feitas em um etanol na gasolina há muitas décadas e isso clima de aprofundamento da democracia, de tem funcionado de forma extraordinária.

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 61 No Brasil, estamos produzindo... 90% dos uma campanha engendrada pelas empresas carros novos são flex-fuel, são carros que que vendem petróleo contra a perspectiva de podem utilizar gasolina, álcool, em qualquer a gente produzir petróleo com um trabalhador percentual que nós quisermos colocar. rural analfabeto, na África. Porque para Uma coisa que me deixa, eu diria, perplexo, extrair petróleo, todo mundo sabe o que custa é que o mesmo mundo desenvolvido que briga uma plataforma, o que custa um engenheiro, para que a gente faça políticas ambientalistas o que custa uma sonda, o que custa uma capazes de evitar o desaquecimento pesquisa. Para produzir um litro de biodiesel, [aquecimento] global, muitos ainda não a gente pode cavar alguns buracos, plantar assinaram o Protocolo de Quioto, muitos ainda muda de cana e, daqui a algum tempo, nós não cobram nenhuma tarifa dos combustíveis estaremos produzindo combustível limpo, poluentes, e muitos ainda impõem taxas que gera empregos e que vai contribuir para o absurdas ao etanol. desaquecimento global. Eu não consigo entender. Eu posso até Eu, às vezes, fico frustrado. Tentei avaliar do ponto de vista econômico, mas do falar tantas vezes com o Presidente Bush, ponto de vista da construção de uma nova certamente vou falar muitas vezes com o matriz energética... O Brasil tem desafiado, Presidente Obama, mas é preciso a ajuda de tanto aqui, nos Estados Unidos, quanto na vocês, porque eu sei que não é fácil um país União Européia, os empresários, os governos mudar a sua matriz energética. E tampouco a construírem parceria para que a gente possa queremos brigar com os produtores de milho apresentar ao mundo, definitivamente, uma dos Estados Unidos. Não queremos. verdadeira mudança na matriz energética. O que nós queremos é criar mais frango Eu poderia não estar falando isso agora para comprar o milho dos produtores de milho porque, afinal de contas, acabamos de descobrir dos Estados Unidos, para que a gente possa, petróleo na camada pré-sal brasileira. E no dia em contrapartida, vender o etanol produzido 1º de maio, se a Petrobras não falhar comigo de cana-de-açúcar, seja nos países da América - o José Sérgio está aqui - nós vamos tirar o Central, seja nos países da África, ou seja em primeiro barril de petróleo a mais de 6 mil parcerias de empresários americanos com metros de profundidade. empresários brasileiros. Então, por que eu estou falando em Eu tenho dito aos empresários europeus que biocombustível? Eu estou falando em eu não quero mexer na coisa toda arrumada, biocombustível porque é uma oportunidade na Europa. Não quero mexer na agricultura não apenas de limpar a matriz energética, alemã, não quero mexer na agricultura sueca, mas é uma oportunidade extraordinária de não quero mexer na agricultura da Suíça, está nós darmos resposta ao desenvolvimento dos tudo arrumadinho, tudo pronto. O que eu países mais pobres, sobretudo ao continente quero é que eles façam parceria para produzir africano. o biocombustível de que eles precisam, não de Muita gente, na discussão sobre a matriz beterraba, mas de alguma coisa que possa gerar energética, já culpou o etanol brasileiro pelo emprego e desenvolvimento no continente encarecimento do alimento em junho do ano africano, que daqui a 20 anos estará com passado. E nós dizíamos claramente que não 700 milhões de habitantes, gente que precisa só não era verdade, como era, possivelmente, comer, precisa estudar e precisa trabalhar. E

62 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 isso é responsabilidade nossa: transferir para mesmo objetivo, promovemos a compra de eles e compartilhar com eles aquilo que nós alguns bancos privados, ou de governos locais, aprendemos a fazer. por bancos do governo federal. Criamos Parece absurdo o que eu estou falando, estímulos fiscais à indústria automobilística, mas vocês estão acompanhando a violência que permitiram revitalizar esse setor. E vamos contra os imigrantes na Europa. Vocês sabem financiar a construção de 1 milhão de casas que em tempo de crise as principais vítimas nos próximos dois anos. são aqueles imigrantes que tanto ajudaram a Não vacilaremos em lançar mão de todos construir outro país. os instrumentos ao alcance do Estado para Os Estados Unidos não têm como brigar minorar os efeitos da crise. Deste mesmo com os hispânicos. Afinal de contas, são 40 Estado que alguns queriam “mínimo” e milhões que aqui ajudaram a construir esta inoperante, e em cuja porta tantos batem nação, que aqui ajudaram a construir esta hoje pedindo ajuda. O demônio de ontem imensa nação, a maior do mundo, a mais rica transformou-se no salvador de hoje. do mundo. O Estado brasileiro - um Estado Só tem um jeito de nós evitarmos que haja democrático de Direito - não fugirá de suas qualquer problema: é trabalharmos juntos responsabilidades. Não deixará de exercer seu para que os pobres sejam menos pobres e que papel regulador. E, sempre que necessário, os ricos, sem ficar mais pobres, fiquem um intervirá para que a anarquia dos mercados pouco menos ricos, para que a distribuição da não resulte em caos econômico e social. riqueza no mundo seja mais justa e garanta a Não vamos nos apequenar diante da crise. nossa paz. Não cortei nem cortarei um centavo do gasto Eu, se fosse o Presidente da Petrobras, ou social, nem das obras de infraestrutura. Vamos se fosse o diretor das empresas de produção continuar estimulando de forma responsável o de etanol no Brasil, colocaria nos aeroportos consumo dos brasileiros. Garantiremos, assim, brasileiros carros flex-fuel. Quando qualquer a rápida recuperação da produção e, com ela, empresário americano ou europeu chegar a preservação e ampliação do emprego no ao Brasil, ele vai ter que andar em um carro nosso país. flex-fuel, para ele perceber que o cheiro do Mas sei que nosso esforço isolado não combustível é mais gostoso e faz menos mal à bastará. A crise é global e sistêmica. Sua saúde do que o combustível que nós estamos resolução final exige, portanto, soluções habituados a usar. globais e sistêmicas também. Ainda que Minhas amigas e meus amigos, nossas exportações representem apenas 14% Desde o primeiro instante, nosso governo de nosso Produto Interno Bruto, necessitamos procurou mobilizar o país para enfrentar os estimular nossas vendas ao exterior como efeitos da crise. Seria longo demais citar todas resposta à crise. as medidas que tomamos e que continuaremos Por isso, tenho me empenhado na conclusão a tomar. da Rodada de Doha da OMC. O protecionismo Possibilitamos a utilização de parte das é uma droga que pode propiciar um alívio reservas para financiar as exportações. momentâneo, mas que, a longo prazo, conduz Reduzimos o compulsório dos bancos para a crises maiores. É o que nos ensina a história aumentar a capacidade de crédito. Com o do século XX.

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 63 É fundamental que os organismos sobre as economias desenvolvidas a mesma multilaterais contribuam para o vigilância que exerceu sobre os países pobres restabelecimento do crédito necessário para e em desenvolvimento. Poderá até dispensar alimentar o comércio mundial, especialmente a arrogância que muitas vezes demonstrou dos países em desenvolvimento. no passado. Sei que é importante salvar bancos, Nossas propostas - que estamos discutindo seguradoras e financeiras, na medida em com outros países amigos, e que debati com que delas dependem poupanças, moradias e o Presidente Obama anteontem - também a previdência social de dezenas de milhões incluirão o fim dos paraísos fiscais. Eles de homens e mulheres. Mas também é representam o aliado fundamental do crime importante, seguramente mais importante, organizado internacional, do narcotráfico, da salvar empregos. Sei, por experiência própria, corrupção e do terrorismo. Não é possível o que é estar desempregado. O desempregado combater eficazmente essas manifestações perde mais do que o seu ganha-pão. Ele se perversas sem atacar a retaguarda financeira vê privado de horizonte, de dignidade e de que nunca lhes faltou. esperança, sobretudo quando a crise assume Minhas amigas e meus amigos dimensões tão amplas como a atual. Meu otimismo não é irresponsável. É claro que cada país terá que enfrentar a Conheço os brasileiros. Vamos sair desta crise crise à sua maneira, levando em conta suas mais cedo do que muitos. Queremos sair dela especificidades. Mas não é menos claro que há juntos com nossos irmãos sul-americanos um quadro internacional que exige respostas e de toda a América Latina. Mas, ainda que coordenadas. Por essa razão, além das medidas possamos, em um prazo médio, eliminar nacionais, devemos buscar soluções globais os efeitos mais perversos da crise, haverá para enfrentar a crise. conseqüências que perdurarão por muito A conjuntura em que vivemos mostra tempo. o colapso dos mecanismos de governança A crise atual não é só econômica e financeira. mundial, aí incluindo os organismos Ela é uma crise de civilização. Denuncia multilaterais econômicos e financeiros, o FMI modelos absurdos de produção e consumo que e o Banco Mundial em especial. destroem a natureza, comprometendo já não o Não por acaso foi necessário dar relevo futuro da humanidade, mas seu presente. Põe e substância política ao G-20. É importante em evidência a irracionalidade de concepções que este G-20 renovado seja duradouro, econômicas, que se pretendiam definitivas até porque ele é integrado por países em e que favoreceram aventuras especulativas. desenvolvimento, que não são responsáveis Tem, assim, uma dimensão ética e moral. pela crise, mas que certamente contribuirão A crise ameaça o próprio cerne da para que seja superada. democracia, pois demonstra que os destinos O Brasil levará propostas concretas à da humanidade escaparam ao controle do Cúpula de Londres. Muitas delas dizem ser humano. A saída definitiva da crise exige respeito à democratização do FMI. Outras a construção de novos paradigmas: para estarão relacionadas ao aumento de sua a organização da produção, do trabalho; capacidade para ajudar no restabelecimento para a preservação do ambiente; para o dos fluxos interbancários e do crédito ao estabelecimento de uma cultura de paz que comércio. É importante que o Fundo exerça inspire uma nova e democrática governança

64 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 mundial; para o restabelecimento da política Obama, para pessoas como eu, que já estou como atividade superior, pela qual homens e com seis anos de mandato, que poderia estar mulheres constroem e redefinem livremente cansado. Esta crise veio me provocar, esta novos contratos sociais. crise veio me desafiar. E ela vai me dar mais Como disse, aqui mesmo em Nova Iorque, motivação para fazer mais do que fizemos até durante a última Assembléia Geral da ONU: é agora. chegada a hora da política. Ontem, em El Salvador, acabou de ser eleito A mensagem que quero levar à reunião do um novo Presidente, um grande companheiro G-20, em Londres, é esta. Temos complexos que conheço há muitos anos. A América problemas econômicos a enfrentar. Há Latina e a América do Sul estão passando por tecnicalidades que não podemos desconsiderar, renovações políticas como jamais vistas na mas não teremos efetivas soluções se não história deste continente. Acabou o tempo da houver respostas políticas e vontade política. Guerra Fria, acabou o tempo da luta armada. É Não é apenas a economia que está ameaçada tempo de democracia. E a democracia exercida em muitos países. A ameaça maior é a da na sua plenitude, ela, muitas vezes, parece desagregação social e do caos político que daí confusa, muitas vezes tem muitas distorções possam vir. Portanto, as decisões econômicas e, muitas vezes, ela leva a divergências. que viermos a tomar têm de ser comandadas Os Estados Unidos da América do Norte por definições políticas muito precisas e têm a obrigação e uma chance extraordinária corajosas. Isto é o que se espera dos líderes. de restabelecer uma nova relação com a Para isso fomos eleitos. Temos de honrar os América Latina. Não a Aliança pelo Progresso, mandatos que recebemos. da década de 60, nem muito a política de O exercício da vontade política em ingerência, também na década de 60, mas momentos graves da história não se confunde estabelecer uma relação de parceria, de ajudar com o voluntarismo infantil que desconhece os países mais pobres a se desenvolverem, a realidade. Quando a irracionalidade de se apresentarem como amigos e construir econômica prevalece, o Estado Democrático aquilo que falta ser construído. de Direito assume, com mais força, aquela Eu conheço hoje a América Latina como função que nunca deveria ter perdido: a função a palma da mão. Tenho o prazer de ser amigo de indutor e regulador da atividade econômica, de quase todos os Presidentes da República, de promotor da igualdade social, de garantia de Michelle Bachelet até o companheiro da liberdade e de agente da solidariedade. Calderón, no México. Com nuances diferentes, Nós, que estamos transitoriamente à frente todos eles têm interesse em trabalhar em destes Estados, temos responsabilidades que parceria com os Estados Unidos, todos eles vão além da atual conjuntura. De nossa ação, têm expectativa de que os Estados Unidos ou de nossa omissão, dependerá o futuro da estabeleçam uma nova relação, uma relação humanidade. construtiva, não uma relação de interferência Meus amigos e minhas amigas, política, de divergência política sistemática. Eu estive, no último sábado, com o Eu converso muito com o Evo Morales, Presidente Obama. Vocês ouviram os meus converso com o Chávez, converso com amigos falarem da nossa relação aqui na o Rafael Correa, converso com o Uribe, América Latina. Esta crise, ela é uma converso com Cristina, converso com oportunidade para pessoas como o Presidente Michelle Bachelet. Todos, sem distinção, têm

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 65 intenção de restabelecer uma nova política ponto de vista sociológico, do ponto de vista da com os Estados Unidos. racionalidade humana, nada mais que impeça Oxalá Deus ilumine o Presidente Obama, o restabelecimento das relações entre Estados já que vamos nos encontrar daqui a pouco, lá Unidos e Cuba. Não é possível que a gente em Trinidad e Tobago, na primeira reunião de continue fazendo, no século XXI, políticas que o Presidente Obama vai participar com com o olhar do que aconteceu no século XX. todos os Presidentes da América Latina. E Vamos fazer política pensando no século ali, quem sabe, seja o cenário ideal para que a XXII, e deixar o que aconteceu no século XX gente restabeleça uma política de convivência ou no século XIX como experiência histórica democrática, uma política de convivência para que a gente aperfeiçoe os acertos e não pacífica, uma política de convivência cometa os mesmos erros. produtiva, desenvolvimentista, em que todos Por isso, ao me retirar hoje dos Estados saibam que falamos diferente, que temos Unidos, eu me retiro com a convicção de que muitas vezes propostas específicas no nosso a eleição do Presidente Obama possivelmente país, mas que somente com essa unidade é que seja uma oportunidade de os Estados Unidos nós estaremos capazes de construir a paz. fazerem coisas diferentes das que fez no E uma última palavra - que me perdoem os século passado. Mais e melhor, porque a companheiros que estão com fome. Cuba: eu melhor forma de combater o terrorismo, a nem sei o que os cubanos querem, porque os melhor forma de manter paz é nós sermos cubanos não me pediram para falar isso. Mas mais amigos e menos inimigos. não existe mais, do ponto de vista político, do Bom almoço e muito obrigado.

66 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 Seminário organizado pelos jornais “Valor Econômico” e “The Wall Street Journal”

Palestra do Ministro das Relações Exteriores, Embaixador Celso Amorim, em Seminário organizado pelos jornais “Valor Econômico” e “The Wall Street Journal”. Nova Iorque, EUA, 16/03/2009

Presidente Lula, minha colega, ministra mas tem, também, um lado político, que nós Dilma, demais ministros, membros do do Brasil, os empresários, e a classe média Governo, empresários, representantes dos brasileira, durante muito tempo, talvez não jornais “Valor Econômico” e “Wall Street compreendêssemos, por acreditar que a paz é Journal”, é uma honra estar aqui. um bem que se tem de graça. Aqui, nos Estados A primeira observação que eu queria Unidos, como em muitos outros países, se fazer em relação à política externa brasileira percebe que a paz tem um preço. Você tem do presidente Lula é que ela se tornou que pagar por ela. O ideal é pagar por ela não efetivamente global. Tínhamos, antes, uma com armas, mas por meio de programas de globalização, mas a política externa não era desenvolvimento comum, de integração, que global. Hoje, a política externa é global. Isso ajudem os vizinhos. traz várias implicações, no plano político, Muitas vezes, uma negociação reconhece cultural, etc., mas, como, hoje, estamos a assimetria entre as partes. Eu me lembro vivendo uma crise financeira, gostaria de que, quando o Mercosul negociou com os destacar que a globalização da política externa países do Pacto Andino, houve dificuldades. brasileira, com a conseqüente diversificação Tivemos que fazer concessões que, no fundo, de parceiros que acompanhou esse processo, nos beneficiam, já que o seu custo é menor tem nos ajudado a enfrentar a crise. O fato do que o de uma política de permanente de dispormos de um leque muito maior de confrontação. parceiros em todas as partes do mundo faz A integração na América do Sul ajuda a com que o impacto da crise seja menor. consolidar a democracia na região. Aqui nos Não vou passar em revista a todas as Estados Unidos, há uma visão de que certos regiões do mundo, mas ressalto que a países podem ter seguido determinados América do Sul e a América Latina e o Caribe caminhos, que podem ter tomado decisões constituem uma prioridade da política externa intempestivas, mas a própria integração desses brasileira. Isso tem um lado econômico, países no contexto sul-americano ajuda a

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 67 moderar certos ímpetos radicais. Eu não diria não apenas com toda essa infraestrutura, mas que esse é o objetivo central, mas o resultado também com a possibilidade de uma ação de uma política externa que visa à integração política conjunta. Há alguns meses, a crise da América do Sul. política na Bolívia esteve muito grave e foi Trabalhamos para que tivéssemos arranjos justamente a UNASUL que pôde agir. Talvez de livre-comércio entre praticamente todos fosse mais difícil para a OEA, talvez fosse os países da América do Sul. Com exceção difícil para uma ação de fora da América do da Guiana e do Suriname, que são países em Sul, mas a UNASUL pôde fazer isso. que o arranjo é diferente, todos os países da O crescimento do comércio do Brasil com América do Sul estão ligados por acordos de a América do Sul e com a América Latina e o livre comércio. Constituímos uma grande área Caribe foi espetacular. Atualmente, o total das de livre comércio na América Latina. exportações brasileiras para América Latina e É importante que os investidores saibam Caribe é praticamente o dobro das exportações que eles dispõem desse mercado ampliado. do país para os Estados Unidos, que, por sinal, Quase um século e meio depois dos Estados estão em nível recorde. Ou seja, o comércio Unidos, estamos unindo, na América do Sul, com os EUA não caiu. Nós é que aumentamos o Atlântico ao Pacífico. Não vou listar todos tanto o comércio com a América Latina e os projetos, mas há pelo menos duas vias o Caribe, que representa hoje o dobro das inter-oceânicas importantes em construção: exportações destinadas aos Estados Unidos. uma que vai do Acre para o Peru, e outra que Talvez há seis ou sete anos, as exportações passa mais ao sul, atingindo a Bolívia e o para a América Latina representassem pouco Chile, em um processo de integração que vai mais da metade das exportações para os nos preparar, também, para uma participação EUA. Esse aumento se deve em grande parte ainda maior, inclusive nos mercados asiáticos, à ação dos empresários, mas, também, a uma quando a atual crise econômica for superada. articulação política como essa que eu mencionei O Mercosul tem sido motor da integração da UNASUL e o fato de, por exemplo, o sul-americana, representando seu processo Presidente ter realizado, há poucos meses, mais avançado. Apesar de imperfeita, como na Bahia, a primeira reunião entre países da foi a da União Européia durante muito tempo, America Latina e Caribe em toda a história dos há uma tarifa externa comum e já se conseguiu 200 anos de independência da região. até mesmo criar um fundo para compensar as Também gostaria de mencionar dois assimetrias entre os países. temas importantes para o Brasil. Um deles Creio que se trata do primeiro processo de diz respeito ao Haiti. O Brasil está presente integração entre países em desenvolvimento no Haiti e procura ajudar no processo de no qual se dispõe de um fundo como o da recuperação desse país. Até hoje, todas as União Européia. Claro que não com os mesmos vezes em que, seja a OEA, seja a ONU, montantes, mas o Presidente Lula acabou de agiram no Haiti, a ação ocorria de maneira anunciar que a contribuição brasileira dobrará, exclusivamente voltada para a questão da levando em consideração que o Uruguai e o estabilidade e a segurança. Pela primeira vez, Paraguai são países menores e precisam de o Brasil lidera uma ação de paz que também uma compensação. é voltada para o desenvolvimento. Temos, Com a criação da UNASUL, passamos a em conjunto com os Estados Unidos, um ter uma base econômico-comercial que conta projeto que será emblemático para o próprio

68 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 desenvolvimento do setor produtivo no Haiti, US$ 20 bilhões em um período de cinco a seis envolvendo a área de indústria têxtil e muitas anos. Vendemos alimentos, vendemos aviões outras atividades na área dos biocombustíveis. em grande quantidade. O nosso horizonte não se limitou, A China foi mencionada neste seminário entretanto, somente à América Latina e como país que apresenta “desafios e Caribe. O Presidente Lula, pela primeira vez, oportunidades”. Claro que há empresários transformou em realidade o anseio brasileiro preocupados com a “invasão” de produtos de ter uma verdadeira política para a África. O excessivamente baratos da RPC. Ao mesmo Brasil está presente em vinte países africanos. tempo, a China representa uma oportunidade, Alguns afirmavam no Brasil que a busca do com sua enorme necessidade por recursos aprofundamento da parceria com a África era naturais, por alimentos (que, atualmente, são “um pouco poética”, “um pouco lírica”, e que sofisticados, já que embutem valor agregado e não encontraria substrato na realidade. Não tecnologia - não é a idéia de vender só produto obstante, o comércio do Brasil com a África primário), e por aviões, produto que também aumentou de US$ 5 bilhões, em 2002, para US$ vendemos para a China. 26 bilhões em 2008. Se tomássemos a África Todos esses exemplos representam um como um país individual, ela seria hoje nosso processo que se vai consolidando. Tivemos o 4º maior parceiro comercial, atrás apenas dos prazer de ver a primeira declaração ministerial Estados Unidos, da China e da Argentina, e na de ministros da fazenda dos BRICS sobre frente, por exemplo, da Alemanha e da Itália. a próxima Reunião dos líderes do G-20, A ação dos investidores brasileiros, cada vez em Londres em 2 de abril. Trata-se de uma mais ousada, vem acompanhada de ações de declaração importante. Os BRICS começam cooperação técnica, na área agrícola, na área a ser uma realidade. Foram inventados pelos da saúde, de combate à AIDS, etc. jornalistas econômicos daqui de Nova Iorque, Para reforçar esses processos, o Brasil mas hoje estão se institucionalizando e vamos tomou a iniciativa de propor a criação de ter a primeira cúpula dos BRICS dentro de novos fóruns, como, por exemplo, o Fórum alguns meses. Índia-Brasil-África do Sul. Pela primeira O Brasil está atento a essas realidades, o que vez, os três países, três grandes democracias, não quer dizer que tenhamos deixado de lado o países multiétnicos e multiculturais, criam relacionamento com os países desenvolvidos. um fórum para discutir diversas questões Temos uma parceria estratégica com a União com importância pra a paz. Estamos agindo Européia, que é algo que apenas uma meia conjuntamente na Guiné-Bissau, na Palestina dúzia de países possui, em um relacionamento e no Haiti. Além disso, tais ações também que não é apena retórico, mas, ao contrário, têm interesse do ponto de vista econômico. envolve diversos projetos nas áreas de energia, A maior unidade de produção de ônibus de educação, industrial, e cooperação com do mundo hoje, por exemplo, é uma “joint países mais fortes. venture” constituída na Índia entre uma Com os EUA, creio que estamos vivendo empresa brasileira e uma empresa indiana. um momento de novas oportunidades. O Continuamos, também, investindo, na África encontro do Presidente Lula com o Presidente do Sul e em outros países. Obama foi excelente. Já tínhamos uma Com os países árabes, por exemplo, o boa relação com a administração anterior. comércio brasileiro aumentou de US$ 6 para O fluxo comercial do Brasil com os EUA

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 69 também duplicou nos últimos cinco ou seis são, entre outras, os subsídios aos produtos anos. As pessoas comentam muito, com toda agrícolas. A redução substancial desses essa discussão sobre a ALCA, que o Brasil subsídios será benéfica também para as estava deixando os EUA de lado. Bem, vejam medidas anticíclicas dos países ricos, porque os senhores, o comércio do Brasil com os dinheiro que está indo hoje para uma camada EUA, sobretudo exportações do Brasil para muito pequena da população (1% ou 2% da os EUA, cresceu mais do que o de qualquer mão-de-obra que está na agricultura), poderá outro país que tenha acordo de livre comércio ser empregado em obras de construção, de com os EUA. Eu acho que esse é um dado saneamento, de meio ambiente, que empregam fantástico, e com uma grande vantagem: os muitas pessoas. Então não vejo absolutamente nossos déficits não cresceram, ao contrário uma contradição entre a necessidade de criar do que ocorreu com vários dos países que emprego, a necessidade de proteger emprego têm acordo de livre comércio com os EUA. e também a eliminação de subsídios. É duro, é São estatísticas fáceis de comprovar e eu difícil, porque evidentemente o instinto natural não preciso me estender sobre isso. Criamos num momento de dificuldade é de se retrair. o fórum de ´CEOs´, temos várias outras A meu ver, os três maiores benefícios iniciativas na área de biocombustíveis, mas da Rodada de Doha são: a eliminação de também temos uma coisa importante: a subsídios (agrícolas, principalmente, como cooperação em terceiros países, na África, na já mencionei); a possibilidade de criação de América Central e no Caribe, e aí eu volto ao um sistema de acesso livre de tarifas e livre ponto. Há um lado econômico importante, há de cotas para países mais pobres (o presidente um lado de fomentar o desenvolvimento de Lula sempre insiste que esse é um aspecto outros países porque isso também é do nosso fundamental - ajudar os países mais pobres); e, interesse, porque assegurará a paz no mundo. por último, o reforço do sistema multilateral. Creio que tudo o que aconteceu na reunião do Pode parecer “coisa de diplomata”, mas Presidente Lula e do Presidente Obama indica o reforço do sistema multilateral é muito que seguimos numa direção muito positiva. importante, porque está intimamente ligado à Muitas pessoas têm dúvidas e apresentam paz. Eu não vou dizer que, se nós tivéssemos ceticismo sobre a rodada Doha da OMC. Eu a OMC, não teria havido a Segunda Guerra também vejo as dificuldades, mas destaco que Mundial, seria uma coisa absolutamente vivemos o seguinte paradoxo: o momento absurda pensar uma coisa dessas, mas, em que o acordo é mais difícil é, também, o evidentemente, você ter um fórum onde você momento em que ele é mais necessário, já que tem a sua disputa, que é julgada e discutida todos sairemos perdendo se nos deixarmos e que não é objeto de uma guerra comercial, levar pelo protecionismo. Repetirei uma também ajuda na manutenção da estabilidade. imagem que ouvi de Larry Summers: “o Então, meus amigos, eu só queria dizer comércio é como uma bicicleta. Ou andamos que o mundo está mudando e que temos a para frente ou caímos”. E é preciso destacar necessidade de uma nova governança global. que a Rodada de Doha não é um acordo de Na OMC, essa nova governança já está livre comércio; não vai levar a tarifa zero ocorrendo, embora não tenhamos chegado a para todos os produtos. É apenas um acordo uma conclusão sobre o conteúdo. Eu já fui que visa eliminar as maiores distorções que embaixador no GATT, na OMC, e depois tive existem no comércio internacional, que a honra de ser Ministro de Estado e assinar o

70 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 Acordo de Marrakesh. Há quinze anos, todas as decisões eram tomadas pelo chamado “o Quadro”, representado pelos Estados Unidos, União Européia, Canadá, e Japão. Hoje se falarmos de Quadro, as pessoas vão dizer Estados Unidos, União Européia, Brasil e Índia. É uma mudança extraordinária no processo de decisões. Esperamos, naturalmente, que dê resultados. Até agora não deu, eu concordo, é algo que tem que vir. As mudanças nos setor financeiro, eu não preciso falar porque já estão ocorrendo. Naturalmente elas terão que vir acompanhadas também de mudanças mais amplas, nas áreas que dizem respeito a aquecimento global, segurança, e isso envolve também adaptações da ONU, inclusive do Conselho de Segurança. Gostaria de destacar, para terminar, um aspecto da governança global que tem que mudar, que diz respeito ao esporte. Já foi falado aqui da Copa do Mundo, mas nós devemos fazer também Olimpíada num país em desenvolvimento, e 2016 é uma bela oportunidade para fazer uma Olimpíada no Rio de Janeiro. Muito obrigado.

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Cúpula de Líderes Progressistas - Viña del Mar - Chile

Intervenção do Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante a Primeira Sessão da Cúpula de Líderes Progressistas. Viña del Mar, Chile, 28/03/2009

Querida companheira Michelle Bachelet, Primeiro, esta é uma reunião que se realiza Querida companheira Cristina, em um momento sem precedentes nas últimas Querido companheiro Tabaré, décadas. O mundo todo está pagando o preço Querido companheiro Zapatero, do fracasso de uma aventura irresponsável Querido companheiro Jens Stoltenberg, daqueles que transformaram a economia Primeiro-Ministro do Reino da Noruega, mundial em um gigantesco cassino. Querido amigo Gordon Brown, Entraram em crise paradigmas defendidos Companheiro Joe Biden, Vice-Presidente de forma arrogante por muitos daqueles que dos Estados Unidos, agora estão sendo levados pela tempestade Meu caro Miguel Insulza, especulativa que eles mesmos semearam. Minha cara Alicia Bárcena, Faliu não só um modelo econômico. Entrou Companheiros membros das delegações em crise a idéia de que a política era uma aqui presentes. atividade menor, limitada por supostas leis Eu queria dizer que é muito gostoso econômicas que se impunham sem nenhuma participar de uma reunião onde não precisamos discussão. chamar de Vossa Excelência, ou Excelência, Os políticos, supostamente, estavam e nos tratarmos como companheiros, obrigados a seguir um roteiro que não havia respeitando as nossas diferenças. sido escrito pela sociedade. Neste momento, Eu me preparei, Michelle, para seis minutos. nosso desafio maior é não nos deixar paralisar Seis minutos porque eu sempre tenho medo pela perplexidade, pela incerteza e pelo temor dos meus improvisos porque, muitas vezes, a de ousar. paixão e a emoção... falo muito mais do que Precisamos ter coragem de pôr em prática o tempo necessário. Aqui na América Latina nossas convicções. Os olhos do mundo estão nós temos esse hábito, ou seja, a palavra é o sobre nós. Afinal, nós rejeitamos a fé cega nos nosso dom. Então, eu vou ser comedido, muito mercados, o desprezo do Estado, o lucro como comedido aqui nas minhas palavras. Eu tenho bússola moral. até gente da minha delegação com relógio, ali, Há 20 anos a queda do Muro de anotando. Só não podem gritar aqui. Berlim dava início ao fim do socialismo

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 73 burocrático, marcado por regimes ineficientes Conclamamos os países que têm mais economicamente. Na época, fui muito responsabilidade na atual turbulência criticado por dizer que a queda do Muro de financeira, no aquecimento global Berlim era a oportunidade para os partidos e no protecionismo a assumir suas de esquerda pensarem projetos diferentes de responsabilidades. sociedade, a oportunidade para nos livrarmos Precisamos reafirmar, com todo vigor, de dogmatismos. O movimento sindical nossa convicção de que só a solidariedade é brasileiro e o meu partido surgiram dessa capaz de estruturar um sólido eixo para nossa brecha aberta com a queda do Muro. Tínhamos ação coletiva global. de mudar, mas sem mudar de lado. Desemprego, pobreza, migração, O momento que agora vivemos exige de desequilíbrios demográficos e ambientais nós, membros da Governança Progressista, são problemas que requerem respostas uma atitude coerente. Precisamos entender o economicamente coerentes mas, sobretudo, que ocorreu, aprofundar o debate sobre a crise socialmente responsáveis. e propor alternativas. Isto não é possível sem um Estado forte, um Meus amigos, Estado indutor de políticas públicas voltadas Estamos a poucos dias da Cúpula do G-20 para a garantia de direitos fundamentais e do em Londres. A comunidade internacional bem-estar coletivo. Só a ação estratégica de um aguarda propostas que revertam a brutal Estado democrático, socialmente controlado e retração da economia e a destruição em massa eficiente na prestação de serviços, é capaz de de milhões de empregos. O mundo espera, realizar essa tarefa. sobretudo, demonstrações de liderança e Companheiros e companheiras, coragem daqueles que apostam numa visão de A realização da primeira Cúpula do futuro comum. movimento na América do Sul tem um É, portanto, chegada a hora da política, significado especial. No momento em como tenho afirmado incessantemente. A que o mundo busca alternativas para um globalização não admite respostas isoladas modelo esgotado, nossa região oferece uma ou a volta dos nacionalismos estreitos. Exige perspectiva renovadora. mecanismos de governança global. Sem A América do Sul vive uma vigorosa renunciar à nossa soberania, temos de construir onda de democracia popular, encabeçada articulações mais amplas e sistêmicas. por segmentos historicamente deserdados Não podemos correr o risco de postergar e marginalizados, que hoje encontram seu soluções profundas e estruturais. Caso lugar e sua voz numa sociedade muito mais contrário, a crise porá a perder os avanços que solidária. Muitos desses países precisaram ser os países em desenvolvimento alcançaram praticamente refundados do ponto de vista com tanto esforço e sacrifício no combate à institucional, mediante a aprovação de novas pobreza e à exclusão. Constituições. Agora que a globalização mostra sua face Não é mera coincidência que hoje oculta, não devemos recuar para as trincheiras predominem governos de esquerda na América do protecionismo ou da autarquia. Nem é hora Latina. A recente eleição de presidentes de abandonar compromissos com tecnologias progressistas na Guatemala, no Paraguai e em verdes, nem deixar de apostar na revolução El Salvador é prova de que nossa mensagem das fontes renováveis de energia. de esperança e renovação encontra solo

74 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 fértil mesmo em tradicionais redutos do conservadorismo. Estamos derrubando os mitos. Mostramos que é possível preservar equilíbrio macroeconômico com forte distribuição de renda e inclusão social. No caso do Brasil, uma forte política de transferência de renda tirou mais de 20 milhões de brasileiros da indigência, incorporando-os à produção, ao mercado e à cidadania. Os investimentos em infraestrutura que o País já vinha fazendo antes mesmo da crise nos dão a confiança de que sairemos dela mais rápido e mais preparados para enfrentar o novo mundo de amanhã. O fortalecimento do Estado, sobretudo para equacionar os desafios estratégicos de nosso desenvolvimento, não acarretou indevida intervenção no mercado. Não podemos ficar prisioneiros dos paradigmas que ruíram. Um mundo mais democrático na tomada de decisões que afetam a todos é a melhor garantia de nossa segurança coletiva, dos direitos dos mais vulneráveis e da preservação da saúde do Planeta. Isso só será possível com a reforma das principais instituições multilaterais. Estamos renovando as melhores tradições humanistas da esquerda, fazendo de nossos ideais uma agenda progressista e factível. Nosso debate oferece uma plataforma de grande visibilidade para impulsionar novas perspectivas de paz social, estabilidade econômica e segurança coletiva para este continente e para todo nosso Planeta. É uma oportunidade que não devemos desperdiçar. E, para terminar, meu caro Gordon Brown, e anotar na sua agenda, um recado para o G-20: não podemos deixar de discutir uma solução para os mercados futuros. Não podemos deixar, com pena de voltarmos à crise do petróleo e à crise das commodities agrícolas na Bolsa de Futuro, no mundo inteiro. Obrigado.

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2ª Cúpula América do Sul-Países Árabes - Doha, Catar

Discurso do Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, na sessão de abertura da 2ª Cúpula América do Sul-Países Árabes. Doha, Catar, 31/03/2009

Sua Majestade xeque Hamad Bin Khalifa estabelecemos ligações aéreas, lançamos Al-Thani, emir do estado do Catar projetos de cooperação técnica no combate à Excelentíssimos senhores chefes de Estado desertificação e vamos construir a Biblioteca e de Governo Aspa, em Argel. Paralelamente, teremos em Excelentíssima senhora Michelle Bachelet, Tanger um centro de pesquisas sul-americano. presidente da República do Chile e presidente Vamos aproveitar a complementaridade da União de Nações Sul-Americanas (Unasul) entre nossos países para explorar as Excelentíssimos chefes de Estado e de possibilidades de uma economia que cada Governo sul-americanos vez mais se internacionaliza. O crescimento Senhor Amr Moussa, secretário-geral da acelerado do intercâmbio birregional Liga dos Estados Árabes confirmou o que já sabíamos: o enorme Senhoras e senhores participantes da 2ª potencial do comércio Sul-Sul. Entre a Cúpula América do Sul - Países Árabes América do Sul e os países árabes, as trocas Senhoras e senhores integrantes da saltaram de US$ 11 bilhões em 2004, para imprensa US$ 30 bilhões no ano passado, um aumento Meus amigos e minhas amigas de 170% em somente quatro anos. Com especial satisfação estamos hoje em No momento em que o protecionismo Doha para retomar o diálogo pioneiro que ameaça ressurgir, queremos construir espaços iniciamos há quatro anos em Brasília. econômicos que assegurem uma prosperidade Temos agora o desafio de aprofundar o compartilhada. Em 2004 anunciávamos ambicioso compromisso que assumimos a emergência de uma nova geografia naquela ocasião. Queremos dar passos econômica e comercial no mundo. O que era concretos e duradouros para consolidar a uma incipiente realidade naquele momento, cooperação entre o Mundo Árabe e a América hoje, com a crise mundial, se transforma em do Sul. imperiosa necessidade. Por isso, o Mercosul Estamos reduzindo distâncias físicas, está negociando acordos de livre comércio aproximando visões de mundo e integrando com o Conselho de Cooperação do Golfo, povos e culturas. Para isso, fortalecemos o Egito, a Jordânia e acordo de preferências o intercâmbio econômico e comercial, tarifárias com o Marrocos.

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 77 A América do Sul está reagindo à crise econômica sem precedentes, em muitas mundial com confiança e ousadia. Estamos décadas. O mundo estará atento para saber multiplicando os projetos de investimento, na se a América do Sul e os Países Árabes certeza de sairemos da crise mais fortes. serão capazes de propor medidas que evitem Os empresários reunidos aqui em Doha que uma crise financeira se transforme saberão aproveitar as grandes possibilidades em terremoto social e político. Essa crise de negócios exploradas no II Foro Empresarial impacta mais duramente os países pobres e da Aspa. as populações carentes, os mais vulneráveis à Senhores e senhoras, crise e os menos responsáveis por ela. A crise global que vivemos lançou o mundo Temos uma extraordinária oportunidade em um período de profundas transformações de apresentar propostas consistentes para e de quebra de paradigmas. Os países em a reforma da governabilidade global. desenvolvimento não podem dividir-se. Têm Representados pela Arábia Saudita, Argentina de organizar-se em defesa de seus interesses e Brasil, nossas regiões devem levar daqui comuns. uma mensagem forte e clara. Na América do Sul estamos avançando Defendemos o papel estratégico do Estado em projetos de integração regional que vão no caminho do desenvolvimento e do bem- além da criação de um espaço econômico estar coletivo. A regulação e transparência continental. Queremos que a articulação das transações financeiras devem servir de de nossa diversidade seja um fator de bússola para os novos tempos. É preciso que multiplicação de nossa força. os organismos multilaterais sejam capazes de Queremos realizar todo o potencial de uma irrigar a economia mundial com os créditos região com enormes reservas energéticas, necessários para dinamizar o comércio agrícolas e minerais. Para isso devemos mundial e reativar os investimentos. prosseguir no esforço que estamos fazendo Nenhum país conseguirá superar a crise para reduzir as assimetrias sociais e regionais. com ações isoladas. Sem solidariedade e O Mundo Árabe também ganhou espírito de cooperação, não colocaremos consciência de que é imperativo realizar o em prática ações coletivas e coordenadas potencial de uma região unida por língua, indispensáveis. história, e que ocupa importante localização Medidas de estímulo das economias não estratégica no mundo. Suas riquezas têm devem redundar em práticas protecionistas, de ser um fator de prosperidade, nunca um que somente agravarão a turbulência, pretexto para ingerência e dissensão. exercendo um efeito dominó difícil de reverter. Senhores e senhoras, Por isso, defendemos a conclusão da Em poucos dias, a Cúpula do G-20 se Rodada Doha, de forma a garantir para os reúne, em Londres, para enfrentar uma crise países agrícolas pobres a possibilidade

78 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 de fazer do comércio um motor de relevantes. A reunião de Annapolis foi um desenvolvimento. Nada mais apropriado primeiro passo na direção de um debate do que defender a conclusão da Rodada transparente e democrático sobe os rumos da nesta cidade, onde foi lançada com tantas paz na região. Precisamos lograr soluções que esperanças há quase oito anos. permitam reunir todas as partes envolvidas Não construiremos uma arquitetura global nos conflitos que sacodem o Oriente Médio, mais justa sem a reforma dos organismos respeitadas as resoluções das Nações Unidas internacionais. Somente assim os países que e o Direito internacional. mais contribuíram para a crise financeira, para Mas há também um grande trabalho a degradação ambiental, para os desequilíbrios de combate a teses e mitos que procuram no comércio e para a insegurança coletiva envenenar a atmosfera mundial. Depois dos assumirão suas responsabilidades. Somente atentados do 11 de setembro de 2002 não assim os países em desenvolvimento terão voz faltaram aqueles que imaginaram a existência e representação adequadas. de uma incompatibilidade entre o Islã e os Meus amigos, minhas amigas, valores da democracia. Postularam um choque A necessidade de reordenar o sistema de de civilizações que ignorava a contribuição tomada de decisões é especialmente urgente incalculável da tradição de tolerância árabe no Oriente Médio. Não podemos permanecer para a preservação da cultura clássica, ao insensíveis ao sofrimento do povo palestino. longo de séculos. Não é possível que depois de tantos anos de A Aspa, que reconhece o valor da negociações, freqüentemente interrompidas cultura árabe para o mundo, nos ajudará a por ações militares, não tenhamos ainda um fazer renascer essa verdadeira aliança de Estado palestino coeso e economicamente civilizações. Esse é o ambicioso propósito que viável. É importante que o novo governo de nos trouxe aqui hoje. O Catar está de parabéns Israel se engaje firmemente no processo de por patrocinar essa empreitada, ao sediar esta paz, com base nos acordos anteriormente Cúpula. alcançados e no plano árabe de paz. Por Esses gestos confirmam que não nos essa razão continuarei a defender, como fiz deixamos vencer nem pela distância nem pelo na Assembléia Geral das Nações Unidas de ceticismo daqueles que duvidavam de nossa 2006, a convocação de uma conferência de capacidade de trabalhar juntos. Prevaleceu a paz com ampla representação, que inclua determinação de romper padrões e paradigmas países em desenvolvimento. para aperfeiçoar um diálogo pioneiro entre Aplaudimos também os esforços para duas regiões que desejam construir um mundo a reconciliação interpalestina. Não haverá à imagem de suas melhores tradições de solução para os graves problemas do Oriente entendimento e de solidariedade. Médio sem a participação de todos os atores Muito obrigado.

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II Fórum Mundial da Aliança de Civilizações - Istambul, Turquia

Discurso do Ministro das Relações Exteriores, Embaixador Celso Amorim, no II Fórum Mundial da Aliança de Civilizações. Istambul, Turquia, 06/04/2009

Em nome do Presidente Lula, expresso interno quanto no plano internacional. a sincera gratidão do Governo brasileiro No âmbito do Fórum de Diálogo IBAS, ao Primeiro-Ministro Recep Erdogan e ao a Índia, o Brasil e a África do Sul - três povo da Turquia pela hospitalidade. Poucas democracias multiculturais, uma em cada parte outras cidades no mundo simbolizam tão do mundo em desenvolvimento - trabalham perfeitamente quanto Istambul o encontro de conjuntamente em uma variedade de assuntos, civilizações. desde a coordenação política à cooperação Sul- Externo o apreço mais cordial ao nosso Sul em benefício das nações mais pobres. anfitrião do ano passado, ao Presidente de Acabo de acompanhar o Presidente Lula Governo espanhol, José Luis Rodríguez à segunda Cúpula América do Sul-Países Zapatero; ao Secretário-Geral da ONU, Ban Ki- Árabes, em Doha. Quatro anos após a Cúpula moon, e ao Alto Representante Jorge Sampaio, de Brasília, foi realmente encorajador ver por seu incansável trabalho. mais uma vez em ação a idéia essencial da Em nome do Presidente Lula e do Governo Aliança de Civilizações - diálogo, intercâmbio brasileiro, tenho a honra de confirmar que e cooperação interculturais. o Brasil sediará o III Fórum da Aliança de Há muitos desafios a serem enfrentados Civilizações, em 2010. para promover a causa da nossa Aliança. Uma A tolerância, a cultura da paz, a democracia solução justa e duradoura para a Palestina, de e os direitos humanos têm sido essenciais para forma a permitir o estabelecimento da paz na o nosso desenvolvimento recente. região, seria um exemplo eloqüente para todos. Com o objetivo de implementar as A atual crise econômica porá à prova nossa recomendações do Grupo de Alto Nível, o capacidade de diálogo. Brasil já preparou o seu Plano Nacional para A insegurança econômica pode conduzir, a Aliança de Civilizações, que está sendo facilmente, ao racismo, à xenofobia e ao entregue hoje ao Presidente Jorge Sampaio. fanatismo. O desemprego, a desigualdade e a O Presidente Lula tem-se empenhado por fome alimentam o extremismo. traduzir em políticas públicas os valores da Será necessária uma cooperação diversidade e da tolerância, tanto no plano internacional ampla e includente. A Cúpula

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 81 do G-20 em Londres, na semana passada, foi apenas o primeiro passo, ainda que promissor. Este Fórum também pode contribuir para a nossa resposta comum à crise econômica ao aumentar a consciência da sociedade civil sobre a importância do comércio livre e justo para o desenvolvimento e para a luta contra a pobreza. O desarmamento, especialmente nuclear, deve ser prioritário em nossas agendas. Estou seguro de que as discussões de hoje ajudarão a consolidar nossos compromissos com aqueles objetivos e a enriquecer a agenda para o próximo Fórum. Espero acolhê-los todos no Brasil no próximo ano.

82 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 Fórum Econômico Mundial - América Latina

Discurso do Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, na plenária de abertura do Fórum Econômico Mundial - América Latina. Rio de Janeiro, RJ, 15/04/2009

Caríssimo amigo e companheiro, presidente e também o nosso querido governador Sérgio Álvaro Uribe, da República da Colômbia, Cabral, que tanto tem se empenhado em Meu caro companheiro Sérgio Cabral, demonstrar à comunidade empresarial do governador do estado do Rio de Janeiro. Brasil e do mundo a pujança e o potencial do Quando o Klaus falou aqui nesta tribuna estado do Rio de Janeiro. que o Rio de Janeiro poderia ser a sede das É auspicioso que este evento esteja Olimpíadas de 2016, vocês que estão atrás ocorrendo na sequência da Cúpula do G-20, do Sérgio não viram o sorriso do Sérgio, de em Londres, e a poucos dias da Cúpula das alegria, sabendo que aqui tem empresários Américas, quando a Humanidade busca dos países que concorrem com você. E eu, respostas comuns para um desafio sem modestamente, digo: que vença o melhor. precedentes. Meu caro prefeito da cidade do Rio de Os momentos de crise devem ser utilizados Janeiro, para saltos de qualidade das relações globais e Meu caro Luiz Fernando de Souza Pezão, regionais. O Brasil tem a vocação de construir vice-governador do estado do Rio de Janeiro, consenso, aproximar pontos de vista, desenhar Meu caro Klaus Schwab, presidente do soluções voltadas para a solidariedade e a Fórum Econômico Mundial, adversidade. Por isso recebemos mais uma Companheiros do governo, vez, em janeiro último, o Fórum Social Empresários brasileiros, Mundial, para discutir com a sociedade civil Empresários convidados, o impacto da crise sobre a vida das pessoas. Meu caro Alessandro, da Apex, No encontro de hoje e de amanhã com a Meus amigos e minhas amigas, comunidade empresarial, essas preocupações Gostaria, primeiramente, de felicitar o devem estar no centro de nossos debates. A Fórum Econômico Mundial, na pessoa de iniciativa privada é parceira fundamental para Klaus Schwab, pela iniciativa de organizar desenhar um novo modelo de desenvolvimento este encontro aqui na cidade do Rio de Janeiro, mais inclusivo e sustentável.

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 83 Meus amigos e minhas amigas. mercados e acesso ao financiamento externo. A comunidade internacional precisa Foram estabelecidas linhas de crédito flexíveis, responder de forma coordenada a uma crise para uso imediato, sem condicionalidade. verdadeiramente sistêmica. A atividade Essa foi a grande novidade, ou seja, a partir econômica se retraiu, o comércio mundial de agora, com esse fundo, o FMI não vai mais despencou 9%. Só neste ano, 50 milhões de ter nenhuma delegação descendo no aeroporto pessoas poderão perder os seus empregos. de nenhum país para fiscalizar a contabilidade Surgida, como se sabe, no coração do do país. Essa é uma conquista, dos países mundo desenvolvido, a crise hoje ameaça emergentes e dos países em desenvolvimento, fazer suas principais vítimas nos países mais muito grande. Esse mecanismo funcionará de pobres, em desenvolvimento. forma preventiva, fortalecendo os países antes A acelerada repatriação de capitais e a que a crise se instale. diminuição dos investimentos estrangeiros Aqui é importante lembrar uma coisa. Eu, golpearam as economias emergentes, por exemplo, fui um homem traumatizado responsáveis por grande parte do crescimento durante quase duas décadas, e sobretudo na do mundo nas últimas décadas. década de 90, quando o Brasil mais precisou Precisamos responder à enorme do FMI e quando aqui, a cada 30, 40, 50 expectativa com que o mundo nos olha. Ele dias, desciam técnicos do FMI para dizer o espera respostas consistentes e respostas que a gente tinha que fazer, onde tinha que coerentes. A cúpula de Londres deu um conter gastos, que estradas iríamos fazer, se importante primeiro passo ao reconhecer que podíamos fazer escolas ou não, porque era não há solução sem participação efetiva dos tudo por conta do ajuste fiscal. Até agora não países em desenvolvimento. Não criamos um houve nenhuma delegação do FMI visitando problema, mas somos parte fundamental da a Alemanha, visitando a França, visitando os solução do problema. Estados Unidos, visitando o Japão. Parecia Ações de governos para estimular a que o FMI tinha sido criado apenas para economia já representam o equivalente a 2% fiscalizar países pobres. Na medida em que os do PIB mundial. Mas ainda é muito pouco, seus criadores têm problemas, o FMI então, diante do ritmo da recessão que já atinge um obrigatoriamente - e essa é uma outra conquista grande número de países. É preciso fazer a do G-20 - tem que mudar de comportamento. economia global voltar a funcionar. Tem que ser uma instituição multilateral de Em Londres, como vocês acompanharam, financiamento com regras democráticas de concordamos em injetar US$ 1,1 trilhão participação dos países. Ninguém é mais do no FMI e no Banco Mundial. São US$ 850 que ninguém porque coloca US$ 1 a mais na bilhões para sustentar políticas anticíclicas em conta do financiamento. países em desenvolvimento. Esses recursos É preciso, no entanto, ir além de mudanças vão estimular a demanda, conter a contração emergenciais, transformando os paradigmas da atividade econômica e ajudar a manter o que levaram a economia mundial à beira do equilíbrio das contas externas. Vão, sobretudo, precipício. Não podemos postergar soluções preservar os empregos. Outros US$ 250 profundas e estruturais. O crédito e o comércio bilhões financiarão o comércio mundial. Esses só retornarão se recuperarmos a confiança em recursos devem destinar-se, prioritariamente, um sistema financeiro robusto e transparente. aos países mais vulneráveis, que perderam A reforma dos organismos internacionais

84 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 deve adequar-se ao novo papel dos países em e estimular a produção. Não há exemplo desenvolvimento, como atores indispensáveis mais eficaz de medida anticíclica. Por isso, a em um mundo cada vez mais interdependente. estatização dos bancos em dificuldade, mesmo O primeiro passo foi dado com a decisão de temporária, não deve ser descartada por mero revisar a distribuição de cotas e votos no FMI e preconceito ideológico. Não podemos ficar no Banco Mundial. Não faria nenhum sentido prisioneiros dos paradigmas que ruíram nos maior aporte de recursos de nossos países se últimos meses. eles continuassem marginalizados na tomada Amigos e amigas, das principais decisões. Crises já não são mais América Latina e Caribe têm todas privilégio de países em desenvolvimento. É as credenciais para propor um sistema imperativo criar mecanismos preventivos em financeiro internacional que não seja todos os países, inclusive nos desenvolvidos. sinônimo de especulação desenfreada, Isso só será possível se instâncias multilaterais lucro fácil e socialização de perdas. Com de regulação supervisionarem as instituições esforço e políticas adequadas conseguimos, financeiras de alcance global. Mas não só nos últimos anos, estabilizar nossas as financeiras. A crise também evidenciou economias e criar condições propícias o que havia de nebuloso na explosão dos para o crescimento sustentável. Estamos preços internacionais em 2008: à especulação resgatando, a duras penas, uma pesada irresponsável com as commodities somou- dívida social. É imprescindível encontrar se a bolha do subprime. Estamos falando soluções economicamente consistentes para de deslocamento abrupto num universo de os problemas de crescimento, integração e grandeza de US$ 16 trilhões movimentados desenvolvimento. Essas respostas devem, sem qualquer controle, conforme estimativas ao mesmo tempo, ser socialmente justas de da Unctad. Essa engrenagem contagiou o forma a combater a pobreza e o desemprego. preço dos alimentos, dos metais e do petróleo, É verdade que a nossa região enfrenta levou maior instabilidade ao livre comércio e, desafios e deficiências enormes, mas o sobretudo, gerou consequências perversas para potencial para superá-los é extraordinário. a vida das populações mais pobres do Planeta. Reagimos à crise e a encaramos como Minhas senhoras e meus senhores, oportunidade. O Mercosul une sua voz para A reativação do comércio é fundamental afirmar que o momento é de superação e de para a retomada do desenvolvimento. Tenho inovação. Vamos nos integrar cada vez mais dito que o protecionismo é como uma droga para vencer as dificuldades. que oferece alívio imediato, mas que logo Consolidando um espaço econômico lança sua vítima numa prolongada depressão. integrado, estaremos também somando forças A rápida conclusão da Rodada de Doha seria para enfrentar, na nossa região, o impacto da a demonstração extraordinária de nossa desaceleração econômica mundial. A recente determinação de reverter o protecionismo. Ao ampliação do capital do BID em US$ 180 bilhões mesmo tempo, estaríamos sendo solidários sublinha o importante papel dos mecanismos com os países agrícolas pobres que vêem no regionais de financiamento no fomento à comércio o caminho para a sua prosperidade. atividade produtiva. O fortalecimento da É necessário salvar bancos e seguradoras CAF e o lançamento definitivo do Banco do para proteger depósitos e a previdência social. Sul também contribuirão para a retomada do Mais importante, contudo, é proteger empregos crescimento e geração de empregos.

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 85 O Brasil vem fazendo a sua parte. Estamos chegando a hora da verdade. Está chegando a enfrentando melhor a crise porque adotamos hora de todos nós - governantes, empresários políticas econômicas e financeiras responsáveis produtivos, empresários do sistema financeiro, e consistentes, mas também porque nunca jornalistas, professores - todos, humildemente, sucumbimos aos dogmas do Estado mínimo, confessarmos que o mundo contemporâneo em nem deixamos de adotar ações vigorosas de que nós vivemos errou na dose da economia cunho social e de fomento à produção. O virtual. Que não era honesto, que não era governo tomou medidas para manter a liquidez justo, sobretudo com a parte mais pobre da no sistema financeiro, adotou providências Humanidade, que alguém pudesse ganhar para que as empresas continuem tendo acesso bilhões e bilhões de dólares sem produzir ao crédito e está estimulando o consumo pelas um microfone, sem produzir um sapato, sem vias da desoneração tributária. Acabamos produzir uma camisa, sem produzir um carro, de lançar um programa extraordinário de sem produzir absolutamente nada, apenas habitação, que vai construir um milhão de trocando papéis por papéis, e por mais papéis. moradias para combater o déficit habitacional, Não é possível que uma parte do mundo, principalmente das famílias mais pobres, e tão sabida, que dava tanto palpite sobre gerar centenas de milhares de empregos. a economia dos países emergentes não Já tínhamos o PAC - o nosso Programa de percebesse, durante anos, que os trilhões de Aceleração do Crescimento - com investimentos dólares e que muita gente que aparecia na de R$ 646 bilhões até 2010, que expressa a lista da Forbes como os homens mais ricos do parceria entre o Estado, com a visão estratégica, mundo, não estava apresentando o crescimento e a iniciativa privada, com a sensibilidade das suas fortunas com o crescimento do PIB social. Ele agora nos ajudará a sair mais rápido de cada país e com o crescimento da melhoria da crise, e nessa tarefa o empresariado também de vida da Humanidade. tem um papel insubstituível. Eu fui agora ao G-20 e, meu caro Uribe e Minhas senhoras e meus senhores meu caro Klaus... foi a primeira reunião de Somos chamados a renovar um que eu participei, com todos os países ricos, compromisso coletivo, com regras e práticas em que a humildade pairava no ar. Ninguém de governança global que moldem uma ordem sabia de nada, ninguém era mais esperto do mundial mais justa e humana. Queremos uma que o outro. Todo mundo sabia que o paciente globalização com ética, em que as pessoas não tinha feito check-up no tempo certo e estejam no centro de nossas preocupações e estava com uma doença grave. E a junta ações. O mundo espera muito de nós. Nosso médica, representada pelo G-20, não tinha pior erro seria não agir com audácia e visão o remédio total e necessário para enfrentar transformadora. aquele diagnóstico da doença. Meu caro Klaus, meus amigos e minhas Eu tenho duas alegrias na vida e uma amigas, tristeza. A tristeza é porque eu perdi muitas Eu tenho o hábito de fazer meu discurso em eleições aqui no Brasil, e a alegria é porque dois tempos. Um tempo prestigiando os meus ganhei uma. Mas não é isso, não. É porque eu assessores que carinhosamente produzem passei 20 anos da minha vida carregando uma para mim este manancial de palavras, e faixa e gritando na rua, nas portas de fábrica, o outro é o que eu acabei de sentir agora, nos palanques: “Fora FMI”. E nesses dias olhando a cara de vocês. Eu penso que está chamei o meu Ministro da Fazenda e disse

86 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 para ele: Nós vamos emprestar dinheiro para tirando o seu dinheiro do subprime e aplicando o FMI. Nós agora não somos mais devedores, no mercado futuro do petróleo e aplicando no nós agora queremos ser credores e queremos mercado futuro dos alimentos. emprestar dinheiro para o FMI, sob a condição Eu propus no G-20... Eu não quero acabar de que esse dinheiro emprestado possa servir com o mercado futuro. Pelo amor de Deus, para ajudar a economia dos países mais pobres não tenham essa imagem de mim, porque e dos países em desenvolvimento. tudo o que eu quero é pensar no futuro. Mas Em segundo lugar, eu passei metade da é preciso que quando alguém [quiser] aplicar minha vida dizendo que era preciso construir em alguma coisa no mercado futuro, que essa uma nova ordem econômica mundial. E agora pessoa deposite em cash uma parte daquilo eu vi com os meus olhos e ouvi com os meus em que está apostando, para que a gente tenha ouvidos, pessoas que eu pensei que nunca ia a convicção de que não é apenas especulação. chegar perto delas dizendo que era preciso Se não tem regulação, as pessoas perdem o uma nova ordem econômica mundial, que era limite da responsabilidade. Quantas coisas preciso acabar com uma coisa que é quase um sérias aconteceram com empresas importantes escárnio, chamada “paraíso fiscal”. É preciso nessa coisa chamada derivativos! Eu sei que acabar com a falta de regulação no sistema até instituições multilaterais de financiamento financeiro mundial. perderam dinheiro em derivativos. As pessoas Não é possível que um presidente da já não se contentam, já não existe mais limite, República, que um empresário do setor falta o bom senso de a gente perceber que tem produtivo, que um agricultor que trabalha de que ter um certo controle. Eu não quero um sol a sol, seja fiscalizado todo santo dia, e que Estado empresário, eu não quero um Estado um cidadão que especula não seja investigado gerenciador. Eu quero um Estado indutor, e eu e tenha um certo controle. Aqui no Brasil a quero um Estado fiscalizador. Um Estado que alavancagem permitida não ultrapassava faça valer os interesses da maioria do povo e mais de dez vezes o patrimônio líquido de não apenas os interesses de uma minoria. um banco. Em um país rico, ela chegava a 35 E aí, Uribe, uma coisa que eu particularmente vezes. As pessoas estavam emprestando o que sinto: é que durante um período, nessas últimas não tinham. duas décadas, houve uma ausência de dirigentes Eu nunca, meu caro Uribe, nunca... há dois que assumissem o papel de dirigentes de um anos que ninguém conseguiu me explicar por Estado que tenha responsabilidade com o povo, que o preço do petróleo saltou de US$ 29 o e parecia que o mercado iria resolver tudo. E aí, barril para US$ 150 o barril. Ninguém nunca dois erros graves: nem o Estado pode resolver conseguiu me explicar a explosão do preço tudo, e nem o mercado pode resolver tudo. Uma dos alimentos em maio do ano passado. Era boa relação entre Estado, sociedade e mercado muito fácil dizer: os chineses estão comendo pode resolver os problemas. Mas achar que o mais. E eu dizia isso... Era mais fácil dizer governo não vale nada, que ninguém precisa de “os pobres do mundo estão comendo mais”, governo... E foi essa quase toda a moda política ou “a Europa comeu o mercado regulador”, do século XX, de que o Estado não vale nada, o estoque regulador diminuiu em quase 178 não precisa do Estado, o Estado só atrapalha. milhões de toneladas. Mas o dado concreto Na hora em que os criadores dessa tese vêem é que parte do dinheiro do subprime, alguns o seu calo apertar, quem é que pode salvá-los? espertos que criaram o subprime já estavam Exatamente o Estado, que não valia nada.

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 87 Por isso é que eu disse na ONU que essa emprestar, porque tinha pouco dinheiro... Até crise precisa de soluções políticas, e muitas uma empresa como a Petrobras, meu caro soluções políticas. O FMI não pode continuar Furlan, que é uma empresa que ninguém pode sendo o que era, o Banco Mundial não pode ter dúvidas - se tivesse alguma dúvida, depois continuar sendo o que era, o sistema financeiro do pré-sal acabou a dúvida - não conseguia não pode continuar sem estar umbilicalmente mais captar dólares no exterior, porque ligado ao setor produtivo, que é o que gera desapareceram. riqueza no país. Então, eu disse na reunião do G-20 e vou Aqui no Brasil - e é importante dizer para dizer aqui: essa crise é verdadeira, é real, vocês, para não falar apenas de coisas boas - começou pelo sistema financeiro e já chegou tudo vinha muito bem, até o Lehman Brothers à indústria, começou nos Estados Unidos, quebrar nos Estados Unidos. Como num passe mas já chegou a todos os países. O que nós de mágica, os trilhões de dólares que estavam precisamos é estancá-la, se a gente começar a sobrevoando os oceanos desapareceram. pensar em voltar a crescer. Aqui no Brasil, o nosso sistema público Certamente o Brasil, que entrou por último de bancos representa quase 50% de todo na crise, vai sair primeiro dessa crise e vai sair o crédito nacional e, de repente, o crédito mais fortalecido dessa crise. É por isso que eu desapareceu. O dólar desapareceu do Planeta, tenho avisado aos empresários: não desativem acabou o crédito de empresas importantes, os seus projetos de investimento, porque o que tomavam empréstimo em dólar - talvez BNDES tem dinheiro para ajudar a fazer esses na Colômbia tenha acontecido o mesmo projetos. Na hora em que essa crise acabar, - e todas essas pessoas se voltaram para o nós vamos sair mais fortes. mercado interno. O que fez o nosso sistema Mas essa crise que começou lá, no sistema financeiro, inclusive alguns bancos públicos? financeiro, chegou à produção, chegou à Tornaram-se mais seletivos. “Tinha dez agricultura e, sobretudo, chegou ao comércio clientes precisando de dinheiro, apareceram exterior. Hoje não só está escasso o crédito, 50, então agora eu vou ser mais seletivo. como está escasso o seguro. Não existe Aquele meu cliente para quem eu emprestava mais seguro para as exportações. E vejam dinheiro, que era bom, mas apareceu outro que todos nós continuamos falando contra o melhor, aquele já não vai ter mais dinheiro. protecionismo, mas tem muitos países ricos E já que tem muita gente querendo e pouca achando que o protecionismo vai ajudá-los, o gente com dinheiro para emprestar, eu vou que eu acho um desastre para a Humanidade e aumentar a taxa de spread aqui”. De repente, para o desenvolvimento econômico do mundo. tudo ficou mais caro, de repente, tudo ficou Então eu queria terminar, meu caro Klaus, mais difícil. E olhem que o governo tomou dizendo a vocês que essa crise de desconfiança medidas imediatas. Nós colocamos mais de passa pelo comportamento dos meios de 100 bilhões do compulsório na economia. comunicação, passa pelo comportamento Nós compramos, em associação com bancos político dos políticos mesmos, passa pelo públicos, bancos importantes para financiar a comportamento dos empresários, passa pelo produção. Nós colocamos linhas para capital comportamento dos trabalhadores. A verdade de giro. E tudo isso demorou para funcionar, nua e crua é que entrou água no navio. E nesse porque as pessoas estavam com medo de momento, não adianta a gente estar dizendo

88 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 que estava na primeira classe, na segunda E quando os pobres começaram a ter dinheiro classe, ou na terceira ou na quarta classe. no bolso, eles começaram a comprar feijão, Vocês viram que quando o Titanic afundou, arroz, sapatos. Tinha gente que escrevia artigo: não teve essa de escapar quem estava na “Como é que o Lula quer dar dinheiro para os terceira classe ou quem estava na primeira, ou pobres? Eles estão comprando dentadura, eles seja, quem estava no barco pagou o preço. estão comprando carne, eles estão comprando E esse barco... O que me assustou é que eu geladeira, chinelo...” Não vou dizer o nome imaginava que bancos fossem muito fortes, da marca. “Eles estão comprando chinelo e o Lehman Brothers quebrou do dia para a com o Bolsa Família.” Eu quero que eles noite. Aquela empresa de seguros, a AIG, o comprem o que eles puderem comprar. É que eu achei grave é que ao pegar dinheiro do muito pouco. Para um rico, R$ 80 não valem governo americano para resolver o problema nada, se dá de gorjeta quando se toma uísque dos seus clientes, distribuiu bônus. O bônus é em um bar. Mas para uma mulher pobre, que uma coisa que a gente dá por mérito de ganho, tem dois ou três filhos, R$ 80 na mão dela é mas lá o mérito foi por prejuízo. Talvez ela a possibilidade de ela dar comida para a sua tivesse uma seguradora mais forte do que ela família durante, pelo menos, 15 dias no ano para pagá-la. [mês]. Desse modelo nós não abriremos mão, Então, chega de brincadeira. Aqui no e os empresários brasileiros já aprenderam Brasil - está cheio de empresários brasileiros que é bom que seja assim. Os empresários aqui e vocês podem conversar quando eu brasileiros já perceberam que o pobre ganhar virar as costas - nós estamos fazendo, eu um pouco é melhor. Os pobres estão abrindo acho, mais do que muitos imaginavam, para conta bancária, os pobres estão abrindo conta que a economia não pegue o nosso país como bancária neste país. pegou outros países. E temos mais coisas para Então, eu penso que o modelo do Brasil fazer. E fiquem certos de que nós faremos não serve para todo mundo, e não quero que qualquer coisa para evitar que este país volte ninguém copie o modelo do Brasil. Mas eu à estagnação da década de 80, à estagnação conheço países no mundo que crescem há dez da década de 90, de anos em que se pediu anos a 7%, e a pobreza continua igual, como para esse povo pobre ficar esperando o bolo estava antes, porque a gente repete a velha crescer para distribuir, e o bolo crescia e só lógica: quem é rico fica mais rico, quem é alguns comiam. Nós agora queremos dizer: pobre fica mais pobre. E nós estamos provando Vocês vão comer junto conosco. A cada vez que quem é rico fica igual estava ou um pouco que esse bolo crescer um pouquinho, vocês menos rico, e o pobre, que era mais pobre, fica vão participar na mesa conosco. Porque uma menos pobre e vai ascendendo à classe média. coisa que eu tenho provado a mim mesmo é Quem é que ganha? Ganha o empresário do de que só tem possibilidade de a gente acabar comércio, ganha o empresário da indústria, com a miséria do mundo se a distribuição de ganha o banco. Muito dinheiro na mão de renda for concomitante com o crescimento. poucos é concentração de riqueza; pouco Aqui no Brasil nós fizemos antes. Aqui no dinheiro na mão de muitos é distribuição de Brasil, quando nós criamos o Bolsa Família, riqueza. E é assim que a gente quer construir nós criamos antes de a economia começar a essa nova ordem econômica mundial. crescer, em 2003, com o projeto Fome Zero. Muito obrigado.

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Primeira Sessão Plenária da 5ª Cúpula das Américas - Port of Spain – Trinidad e Tobago

Discurso do Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, na Primeira Sessão Plenária da 5ª Cúpula das Américas. Port of Spain, Trinidad e Tobago, 18/04/2009

Obrigado, Primeiro-Ministro. procuração. Eu penso que quando eu, Cristina, Na última reunião em que eu fui convidado Calderón, estamos no G-20, nós estamos para participar do G-8, no Japão, eu disse na falando em nome dos nossos companheiros reunião - e o secretário-geral Ban Ki-moon da América Latina. A reunião do G-20 foi estava presente - que essa crise econômica um avanço muito grande. Eu acho que foi um deveria ser debatida nas Nações Unidas. As avanço que nem os melhores especialistas Nações Unidas têm um instrumento chamado do mundo acreditavam que a gente pudesse Ecosoc, que poderia transformar o debate em chegar ao que nós chegamos. O fato de as um debate que envolvesse todos os países pessoas aceitarem discutir a democratização de todos os continentes, e não se restringisse do FMI, o fato de todo mundo concordar apenas ao G-8. Isso não foi possível por “n” em injetar US$ 1 trilhão no FMI e o FMI razões, que depois o Secretário-Geral das emprestar o dinheiro sem condicionalidades é Nações Unidas pode falar. um avanço extraordinário. É um avanço... Eu, É importante lembrar que, até poucos dias que durante 20 anos via descer no meu país atrás, as decisões sobre a economia mundial uma delegação do FMI para dizer que política eram tomadas, primeiro pelo G-7, depois fiscal deveríamos fazer, que investimentos pelo G-8, depois pelo G-8+5, e agora já são deveríamos fazer, onde tínhamos que cortar G-20, que não são 20, são 22. O que nós dinheiro, foi um ganho extraordinário o estamos percebendo? Que há uma evolução fato de nós estabelecermos que não há mais na participação dos países para decidir sobre condicionalidades nos empréstimos do FMI. uma crise que eu considero profunda, e uma Segundo, é preciso... a decisão de fortalecer crise que nasceu da irresponsabilidade do o Banco Mundial também foi extremamente gerenciamento, pelos Estados, do sistema importante. Fortalecer com o compromisso financeiro internacional. de que o Banco Mundial cuide de emprestar A reunião do G-20... e eu queria retratar recursos para os países mais pobres fazerem isso aqui com muita fidelidade, sem ter a sua economia voltar a girar. Obviamente,

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 91 outra vez a responsabilidade recai numa uma cadeia muito grande. Ontem nós escala de valores de quem pode mais, até decidimos a mesma política de isenção chegar em quem pode menos. Os países que de impostos e capital de giro para atender estavam lá, todos se colocaram de acordo. Até à cadeia produtiva na área de alimentos, o Brasil, que durante 20 anos era um país que que também é muito grande. Quando um vivia tomando dinheiro emprestado do FMI, grande frigorífico quebra, atrás daquele decidiu que vamos emprestar dinheiro ao grande frigorífico tem milhares de pequenos FMI. Obviamente, sob a condição de que esse produtores, de pequenos criadores de gado, dinheiro seja emprestado para os países mais que são vítimas e não têm financiamento. necessitados. Então, nós tomamos duas decisões: emprestar Acho que a reunião teve um avanço recursos às grandes empresas que estão com excepcional porque todo mundo está mais problemas financeiros muito sérios e, ao humilde. Já não há mais aquela arrogância do mesmo tempo, emprestar capital de giro para chamado mundo desenvolvido, dizendo o que que as empresas pequenas possam voltar a nós tínhamos que fazer, porque a crise é de funcionar. tal magnitude que ninguém sabe o que fazer. Só um último dado aqui, que eu acho Ninguém tem mais a certeza absoluta. O FMI importante. Anunciamos um programa de já não tem mais certeza absoluta, o Banco habitação de construção de 1 milhão de casas Mundial já não tem mais certeza absoluta. próprias para reativar a construção civil. Eu Nenhum governante tem mais certeza acho que para a gente não permitir que haja absoluta, porque a crise pegou todos nós. uma degradação nas conquistas que nós No caso do Brasil, preocupados com as tivemos nos últimos dez anos, é importante conquistas que nós tivemos nos últimos que todos nós façamos aquilo que não tempos, nós temos tomado medidas que podíamos fazer em tempo de normalidade. têm mostrado algum efeito positivo. A Eu diria, fazer mais investimento público, primeira coisa que nós fizemos foi [tomar] o máximo que pudermos fazer, para a gente medida para não permitir que a indústria poder tentar reativar o nosso mercado interno automobilística brasileira entrasse em crise, e, consequentemente, minimizar o sofrimento porque a indústria automobilística brasileira dos trabalhadores. representa 24,5% do PIB industrial, tem Obrigado, Primeiro-Ministro.

92 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 Segunda Sessão Plenária da 5ª Cúpula das Américas - Port of Spain – Trinidad e Tobago

Discurso do Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, na Segunda Sessão Plenária da 5ª Cúpula das Américas. Port of Spain, Trinidad e Tobago, 18/04/2009

Primeiro, quero cumprimentar e agradecer de prever e prevenir os efeitos das recentes ao Primeiro-Ministro Manning, pelo aventuras especulativas do capital financeiro, tratamento carinhoso do povo de Trinidad e nos impôs ajustes econômicos retrógrados, Tobago. discriminatórios e vazios de preocupação Segundo, eu estava pleiteando aqui, nada social. Aquelas políticas foram ditadas por mais nada menos do que o mesmo tempo que supostos especialistas que não conheciam o Daniel Ortega teve para falar... Parece que nossa região, mas que agiam com o acordo não é possível. Vou falar o mesmo tanto que submisso de parte de nossas elites dirigentes. falou Cristina, Obama e o Primeiro-Ministro O modelo hegemônico separava o econômico de Belize. do social, opunha estabilidade ao crescimento, Primeiro, eu quero agradecer ao nosso desqualificava a política e a ação do Estado, anfitrião, o Primeiro-Ministro Manning, ao seu ridicularizava a noção de soberania nacional. governo e ao povo de Trinidad e Tobago pela O legado desse período foi doloroso, mas hospitalidade com que estão nos recebendo. reagimos de forma madura. Nossas sociedades A agenda original desta reunião foi buscaram saídas institucionais para atender a definida bem antes da inclusão da grave crise aspirações, há tantos anos frustradas. Por meio econômica e financeira que hoje afeta toda a de eleições democráticas e participativas, Humanidade. Uma crise que teve sua origem fomos forjando projetos alternativos de no mundo desenvolvido, mas se espalhou por desenvolvimento. A região vem consolidando todos os continentes. avanços sociais e econômicos. Políticas de A América Latina e o Caribe sofrem, hoje, combate à fome, à pobreza e à exclusão social a queda das exportações, a escassez do crédito são, hoje, prioridades. internacional, a diminuição dos investimentos, Mostramos que só há desenvolvimento a retração do turismo e das remessas. quando se combina crescimento com Nos anos 80 e 90 do século passado, o distribuição de renda. A região amadureceu pensamento conservador, que foi incapaz coletivamente. Nossas políticas se guiam pelo

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 93 respeito à diversidade, e estamos corrigindo para a crise atual. Na América Latina e no assimetrias que prejudicam os parceiros Caribe estamos fazendo nossa parte para menores. vencer a crise, acelerando o ritmo de nossa Sica, Caricom e Unasul, da mesma forma integração em infraestrutura e fortalecendo as que o Mercosul, são exemplos de uma nova cooperações em políticas sociais. concepção de integração. Representam reais O comércio deve ser poderoso indutor de opções de governança regional que contribuem desenvolvimento, funcionando como medida para a construção de um mundo multipolar, anticíclica na conjuntura atual. Para tanto, ele regido pelos princípios do multirateralismo. deve ser justo e equilibrado, preservando a Esta cúpula demonstra que nossa região não capacidade dos Estados nacionais de formular admite fórmulas rígidas, pensamento único políticas voltadas para o crescimento e a e imposições unilaterais. A integração das geração de empregos. A conclusão da Rodada Américas supõe diálogo político e cooperação de Doha é, assim, fundamental. Mas é para o desenvolvimento. O exemplo do Haiti fundamental também restaurar o financiamento mostra que a segurança coletiva tem que se para as economias em desenvolvimento, combinar com o respeito à soberania nacional especialmente para os países mais pobres. O e com a redução das desigualdades. aumento do capital do BID, o fortalecimento Não hesitamos em enfrentar a violência e da CAF e o lançamento definitivo do Banco a criminalidade transnacional. O Conselho de do Sul ajudarão na retomada do crescimento e Defesa da Unasul e o Conselho de Combate na geração de empregos. às Drogas buscarão soluções regionais para Amigos e amigas, essas ameaças. A crise não deve servir de desculpa para Amigos e amigas, retroceder nos compromissos com tecnologias A recente cúpula do G-20 foi demonstração ambientalmente sustentáveis ou abrir mão das de engajamento coletivo para enfrentar uma fontes renováveis de energia. A sociedade crise sistêmica. Adotamos decisões, em quer e exige combustíveis renováveis limpos Londres, que agora precisam ser colocadas e baratos. em prática. Essas decisões têm, também, as A região reúne condições climáticas e de marcas dos países em desenvolvimento, e solo para exportar energia sem descuidar de delas participamos. Era, e é, urgente reformar nossa demanda interna, menos ainda de nossa a arquitetura financeira mundial e os seus segurança alimentar. Seríamos os primeiros a organismos. Precisávamos aumentar os condenar os biocombustíveis se ameaçassem a recursos do FMI e do Banco Mundial para oferta de alimentos ou a preservação de nossas ajudar, sem condições, países pobres e em florestas. A produção de etanol à base de cana- desenvolvimento. Era, e é, necessário criar de-açúcar, respeitada a realidade de cada país, linhas de crédito mais flexíveis. Sei que, por aumenta a segurança energética e alimentar si só, essas e outras medidas não resolverão e gera divisas. Os biocombustíveis são arma a crise, mas o papel dos líderes políticos não eficaz na luta contra o aquecimento global. é só o de denunciar, mas também de propor e O Brasil está pronto a compartilhar as construir alternativas viáveis. tecnologias que desenvolveu por mais de Quero aqui reiterar meu apoio à próxima 30 anos, e a ampliar e fortalecer iniciativas reunião da Ecosoc, das Nações Unidas, quando de cooperação triangular. Assumimos serão discutidas e propostas alternativas compromisso de redução das emissões de

94 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 carbono, que vão além do estabelecido pelo deve privilegiar o futuro. Protocolo de Quioto. Estamos reduzindo O êxito desta cúpula depende do o desmatamento na Floresta Amazônica, e engajamento pleno de todos os países da garantindo a preservação dos ecossistemas e o região nessa empreitada. Nossos atos e gestos uso sustentável da floresta por seus habitantes. concretos demonstrarão que não há mais Amigas e amigos, lugar em nosso continente para políticas Nosso esforço integrador nas Américas de isolamento. Por meio da solidariedade, será sempre incompleto enquanto persistir, da inclusão e do respeito às diferenças em nossas reuniões, a anômala exclusão de poderemos estabelecer as bases para uma um dos países do continente, que é Cuba. nova fase do desenvolvimento das Américas. Tive o privilégio de acolher na Bahia, em Vamos tornar realidade o sonho de assegurar dezembro do ano passado, a Cúpula da a todos os países acesso às oportunidades de América Latina e do Caribe sobre integração crescimento econômico, à educação, à saúde, e desenvolvimento. Lá, todos os países latino- à segurança e à paz. americanos e caribenhos declararam, de forma Muito obrigado pela paciência. inequívoca, seu apoio ao fim do bloqueio Visita do Presidente da República à econômico, comercial e financeiro que ainda Argentina vigora contra Cuba. Discurso do Presidente da República, As relações com Cuba serão um sinal Luiz Inácio Lula da Silva, durante almoço importante da disposição nossa e dos Estados oferecido pela Presidente da Argentina, Unidos em relacionar-se com a região. As Cristina Kirchner. Buenos Aires, Argentina , medidas tomadas até agora pelo Presidente 23/04/2009 Obama vão em boa direção, mas todos nós [Quero cumprimentar] minha amiga, concordamos que é apenas um começo. É companheira e Presidenta da Argentina, importante que sejam ampliadas e venham Cristina Kirchner, sem pré-condições, afinal, quem mais sofreu e Quero cumprimentar os dois ministros que ainda sofre com as restrições do bloqueio é o têm contribuído de forma extraordinária para povo de Cuba. O diálogo direto entre os dois que nossas relações sejam sempre melhores: governos pode abrir o caminho para superar o ministro Jorge Enrique Taiana, ministro das essa situação, com a qual as Américas não Relações Exteriores e Culto da Argentina, e querem mais conviver. o companheiro Celso Amorim, ministro das Meus amigos e minhas amigas, Relações Exteriores do Brasil. E, em nome Não poderia concluir minhas palavras, dos dois, quero cumprimentar todos os demais sem perguntar-lhes: para que servem reuniões ministros brasileiros, ministros e ministras como esta? Elas são um espaço democrático argentinos. de confronto de ideias e concepções que [Quero] cumprimentar os empresários. refletem, na sua diversidade, as distintas Não se preocupe, Cristina, que eu não situações históricas de nossos países. Essa vou ler discurso. Apenas para lembrar aos diversidade é positiva e não devemos temê- companheiros argentinos que esta é a minha la. Mas este é também um espaço em que 14ª visita à Argentina, em seis anos. devemos buscar construir alternativas, se Quando tomei posse, ou melhor, quando possível, alternativas comuns. Essa construção ganhei as eleições, em 2002, eu anunciei não pede que esqueçamos o passado, mas ela que o primeiro país que eu iria visitar seria

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 95 a Argentina, e cumpri o prometido: visitei político da nossa integração nesses últimos a Argentina. A partir daquele momento, seis anos, vamos perceber que andamos estreitamos as nossas relações, e hoje eu uma caminhada muito grande para chegar posso dizer que não conheço outro momento aonde chegamos. Primeiro, tornar os países histórico da Argentina e do Brasil em que da América do Sul amigos e um confiar no as duas nações estiveram tão próximas, outro não era uma tarefa fácil. Conseguimos. se entendendo tão bem, sem abrir mão da Segundo, recuperar o prestígio e a importância diversidade que existe entre nós. comercial do Mercosul. Conseguimos. A Argentina é um país de uma burocracia Terceiro, criamos a Unasul. Muita gente cobra forte e competente, o Brasil é um país de uma de nós porque a Unasul demora tanto para se burocracia forte e competente. Duas burocracias fortalecer. As pessoas se esquecem de que a que funcionam de forma extraordinária, para União Européia levou 50 anos para ser o que facilitar e para dificultar, e que nós, aos poucos, é hoje, e eu acho que nós já andamos de forma estamos quebrando essa divergência de visão, extraordinária. com muita discussão política. Além do quê, o progresso político e Eu confesso a vocês, companheiros ideológico da América Latina. Não precisa argentinos, que nós estaremos cada vez mais ninguém fazer um grande esforço intelectual próximos. Eu não vejo como Argentina e para saber o que era o nosso continente há Brasil não compreenderem que do nosso dez anos. Olhem agora e vejam a mudança comportamento, das nossas relações, vai extraordinária nos atores sociais e nos depender muito o sucesso do Mercosul, da segmentos sociais que foram ocupando os Unasul e da integração da nossa tão querida cargos de presidente em todo o continente América Latina. latino-americano. E, com essa mudança, Acabou o tempo em que Argentina e Brasil houve a mudança de visão do papel do Estado. disputavam quem era mais querido pelos Aquela história que se vendeu durante muitos Estados Unidos ou pela União Européia. Nós anos, que só era possível melhorar a vida das descobrimos, nesses últimos seis anos, que pessoas se a economia crescesse, e que ela muito mais bonito é fazermos o esforço que tinha que crescer muito para depois distribuir, for necessário fazer para, a partir da nossa nós provamos que as duas coisas podem integração e da complementaridade da nossa acontecer concomitantemente: você pode competência científica, tecnológica, política, crescer distribuindo renda e pode distribuir cultural, construirmos nos nossos países tudo renda para crescer. aquilo que nós precisamos para melhorar a Inegavelmente, a Argentina vivia vida do nosso povo. um momento de ouro antes dessa crise. Eu acho que nós ainda temos que construir Inegavelmente, o Brasil vivia um momento muito. De vez em quando eu fico inquieto excepcional antes dessa crise. Aliás, acho pela demora dos acordos, de vez em quando que é a primeira crise no mundo que pega os a Cristina fica inquieta, na América do Sul, países emergentes, e sobretudo os da América de vez em quando, Chávez fica inquieto, o Latina, melhores do que os países europeus e Evo fica inquieto, o Uribe fica inquieto, o do que os próprios Estados Unidos da América Alan García, todo mundo, porque as coisas do Norte, é a primeira. demoram mais do que a gente esperava. Obviamente, eu e Cristina torcemos para Entretanto, se nós imaginarmos o avanço que a Europa se recupere logo, e os Estados

96 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 Unidos, porque eles são grandes países, têm éramos chamados para alguma coisa? Onde é muito conhecimento científico e tecnológico, que nós éramos ouvidos? compram muito os nossos produtos, e nós Hoje, não. Hoje, a democracia é exercida queremos comercializar com eles. Mas é com um pouco mais de maturidade, porque o importante registrar para a história que as sucesso da reunião do G-20 - que eu acho que pessoas não podem mais tratar a América do foi muito importante, muito mais do que eu Sul, a Argentina e o Brasil como tratavam na esperava quando saí do Brasil - se deveu ao fato década de 80, ou na década de 90, em que de que ninguém sabia a solução do problema, qualquer um que viesse do Norte podia chegar de que os Estados Unidos estavam muito aqui dando palpite na nossa vida, dizendo o humildes, de que a Alemanha estava muito que a gente tinha que fazer, o que a gente humilde, de que o Reino Unido estava muito tinha que produzir e qual a política fiscal humilde. Então, estava todo mundo à espera de que nós íamos elaborar. Quantas e quantas que alguém soubesse o que fazer. Todo mundo vezes as ingerências dos que causaram a estava à espera. Também, ninguém sabia o crise... Se fossem tão fiscalizadores das que fazer, cada um sabia cuidar do seu, cada finanças mundiais, como foram da Argentina um sabia cuidar do seu país. Mesmo assim, e do Brasil, nós saberíamos da crise três anos eu nunca vi tanta humildade, simplicidade, e é antes, dois anos antes. Agora já começam a assim que tem que ser, é assim que precisa ser. dizer quando a Argentina vai crescer, o que a O Celso se lembra, uma vez eu fui convidado Argentina merece, quando o Brasil vai crescer. para o G-8. Cheguei no G-8... era para tomar Eu não quero ser desrespeitoso com [participar de] um almoço, quase que eu chego ninguém, mas eu quero dizer em alto e bom na hora da sobremesa. Viajar até Berlim para som que o Brasil só deu certo quando ele foi tomar um café! Muito caro esse café. Cheguei dono do seu nariz, quando não aceitava que lá, levei um documento totalmente contrário pessoas de fora dissessem o que a gente tinha ao documento apresentado pelo G-8, um que fazer. documento feito pela China, Índia, Brasil e Eu acho, Cristina, que uma coisa importante África do Sul. Aí, a primeira-ministra Angela que está acontecendo, que de vez em quando Merkel pegou o documento da minha mão e alguns companheiros não valorizam... Mas falou: “Eu concordo com o documento”. Eu vamos ser francos, Taiana, Celso Amorim falei: Angela, não é verdade. O teu documento - vocês que são duas pessoas experientes - é antagônico ao meu, então, como é que você não é motivo de orgulho para vocês, saber pode adotar os dois? Então, eu disse ao Celso: que Argentina e Brasil estão participando eu não vou mais ao G-8, não me convide que eu do G-20? Quando é que a gente imaginava não vou mais. Pode ser chique para alguém, para um país da América do Sul participar do mim, participar de café. É muito caro o café. G-20? Muita gente acha isso pouco. Mas era Bem, no Japão eles já mudaram, e agora importante, como disse o Obama... Um dia o vão mudar. Agora o G-8 já vale muito pouco Obama disse: “Governar o mundo era fácil, diante do G-20, e daqui a pouco o G-20 estará há 60 anos. Churchill e Roosevelt se reuniam, pequeno, na hora em que a ONU assumir a cada um fumando o seu charuto, tomavam discussão da crise mundial e todos os partidos as decisões e o mundo acatava”. Eram dois [países] participarem. homens que tomavam atitudes... Depois Agora, eu penso - e queria fazer um apelo entrou o Stalin, já para repartir. Mas onde nós aos companheiros aqui - que nós precisamos

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 97 parar de falar em crise. Eu acho que nós que não tenha assunto tabu entre nós, [para] precisamos pensar o pós-crise. que não tenha assunto difícil, [para] que não Eu tenho consciência de que os Estados seja o empresário que pensa que está perdendo Unidos estão numa situação - hoje, falando um pedaço de mercado, um argentino ou um em crise - pior do que qualquer país menor. brasileiro, que demova o governo argentino e Tenho consciência disso. Obviamente que o governo brasileiro de firmarem a convicção, eles, que produzem dólares, têm a vantagem cada vez mais, de que a integração é a melhor, da maquininha de fabricar dólar, e têm a a maior e a mais eficaz oportunidade de Brasil vantagem de ser um país de um PIB de US$ e Argentina saírem dessa crise infinitamente 17 trilhões, não é pouca coisa. Mas eles estão mais forte do que entraram. numa situação complicada, porque têm déficit Os meus adversários políticos, de vez em público muito grande, porque têm déficit quando, parece que torcem para a crise ser comercial muito grande, porque tem a China, forte no Brasil, para que eu tome prejuízo. que os Estados Unidos têm que responder, a Eu digo sempre, Cristina: eu nunca tive medo América Latina, que os Estados Unidos têm de crise. Nunca tive medo de crise. Eu sou que responder, sobretudo para os países do de uma região do Brasil tão miserável, que Caribe e os países do Caricom. se o menino que for nascer tiver medo de Mas por que eu acho que a gente não tem crise, ele já nem nasce. [Não] nasce, porque que falar em crise? Eu não passo otimismo a mortalidade é muito grande, a mortalidade, exagerado. Não me peçam para passar antes do primeiro ano de vida, é muito grande. otimismo exagerado. Eu sempre disse que Eu acho que essa crise é a oportunidade essa crise, metade dela era pânico, e a outra fantástica para a gente fazer, de forma ousada, metade era crise real. tudo aquilo que nós não fazíamos antes, No dia 22 de dezembro do ano passado, porque tinha norma de Basiléia, tinha norma Cristina, eu fui para a televisão fazer apologia do FMI, tinha norma do Banco Mundial. Essas do consumo, para que o povo brasileiro normas foram boas para um momento. Para comprasse, para fazer a roda da economia girar. alguns países significou quebrar os países. Hoje eu estou convencido de que os Estados Agora, eu acho que nós temos que criar as Unidos têm que fazer isso, estou convencido nossas normas, porque foi para isso que nós de que a Europa tem que fazer isso, e estou fomos eleitos, e essa crise é uma oportunidade convencido de que eles só vão fazer quando extraordinária. restabelecerem o crédito e a normalidade do Por isso, eu quero desejar à minha amiga crédito. Eu estou convencido. Cristina e aos companheiros argentinos Tenho a convicção - e quero terminar, que estejam certos de que essa crise, nós a Cristina, dizendo a você - de que nós precisamos venceremos juntos. fazer todo o esforço que for necessário, [para] Um abraço.

98 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 Dia do Diplomata I

Discurso do Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante cerimônia em comemoração ao Dia do Diplomata. Brasília, DF, 07/05/2009

Minha querida companheira Marisa, relações internacionais -, eu não tenho dúvida Meu querido companheiro Celso Amorim, de que duas coisas vão acontecer. ministro das Relações Exteriores, Primeiro, eu mesmo tive uma lição Embaixatriz Ana Maria Amorim, importante, que foi a lição de garantir - pelo Embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, menos no meu governo nós não mandamos nosso querido secretário-geral das Relações nenhum projeto de lei - que não é possível que Exteriores e paraninfo da turma Villa-Lobos, a gente não leve em conta o tempo de carreira Embaixador Fernando Reis, diretor-geral do embaixador. Às vezes, para chegar ao cargo do Instituto Rio Branco, máximo leva 40 anos, 38 anos, as pessoas Secretário Marcos Vinícius Moreira passam esperando a vida inteira para ter um Marinho, na pessoa de quem cumprimento os cargo importante e, quando entra um novo formandos da turma Heitor Villa-Lobos, governo, coloca um político derrotado no lugar Senhoras e senhores familiares dos do embaixador. Isso parece fácil, mas eu acho formandos, que não tem nada mais importante para valorizar Senhoras e senhores diplomatas, e motivar a carreira do que a gente garantir a Amigos e amigas, fluidez do tempo que as pessoas têm que ocupar Antes de ler o meu discurso, uma resposta os seus cargos. Essa foi uma lição que eu tive, ao Celso. É o seguinte: ele nem acabou de do primeiro para o segundo mandato. preencher as 400 vagas e já reivindicou mais. A outra coisa é que eu não tenho dúvida O dado concreto, Celso, é que eu penso que nenhuma de que quem vier, a partir de 2010, depois dos anos que o nosso país passou com a dinâmica da política internacional sem crescer economicamente, sem crescer brasileira, as pessoas saberão que é preciso socialmente, depois que o nosso país durante contratar mais gente. Não precisamos chegar tanto tempo cedeu ao discurso do Estado aos 14 mil dos Estados Unidos, até porque mínimo e do mercado máximo, e que as coisas nós não queremos ter tanta ingerência, nós foram se deteriorando neste país, e depois queremos apenas fazer diplomacia. que a gente começou a recuperar o papel do Como já está muito adiantado o horário e Estado - de o país voltar a crescer, de fazer eu criei o projeto Fome Zero, não vou ficar políticas sociais, de ter mais altivez nas nossas aqui fazendo discurso porque... público é que

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 99 nem passarinho novo, a primeira imagem que quanto mais o Brasil tiver importância no fica é daquele que deu a primeira comida para cenário político mundial, mais humildade ele. Se eu fico aqui falando muito tempo, a vocês precisam ter. A arrogância estará falida imagem que vocês vão ter do governo não na diplomacia de um país como o Brasil, até [será] a melhor possível. porque não faz parte da nossa índole, não faz Eu queria dizer para vocês algumas coisas. parte das características do povo brasileiro a Eu não vou ler o meu discurso porque ele arrogância - se bem que temos - nós também está um pouco... o Celso já falou. Acho que não somos imunes. a mesma pessoa que escreveu o teu, escreveu Mas o grande trabalho que vocês terão pela o meu. Outras coisas o Samuel já falou de frente é o trabalho de consolidar o que nós improviso. Eu queria dizer, sobretudo, a começamos a fazer. Não pensem que foi fácil vocês jovens que estão se formando hoje. recuperar o Mercosul, não pensem que foi Certamente, vocês terão no futuro muito mais fácil a gente derrotar a idéia da Área de Livre trabalho do que os nossos diplomatas têm no Comércio, a Alca, que os Estados Unidos presente e do que muitos tiveram no passado, queriam impor ao Brasil na década de 90. Não eu diria, mais recente também. pensem que foi fácil construir a Unasul, não Em política tem uma coisa que o Brasil pensem que foi fácil a gente fazer muitas das fez [durante] muito tempo, depois o Brasil coisas que nós queríamos fazer. desaprendeu, e o Brasil está aprendendo: é Eu vou contar um dado para vocês, sem que não é possível nenhum interlocutor ser nenhuma arrogância, [sobre] o G-8 do ano respeitado, se ele não se respeita. O tempo passado. Eu fui a Berlim no ano retrasado. em que um diplomata brasileiro achava que o Quando nós tivemos uma reunião do G-5 Brasil não poderia participar de nada, porque o (China, Índia, Brasil, [México] e África Brasil era pequeno, porque o Brasil não tinha do Sul) nós aprovamos um documento. inserção na economia, isso acabou. A gente não Chegamos em Berlim, nós fomos para a tem importância pela quantidade de dinheiro mesa e eu fui o orador do G-5. Entreguei que a gente tem, a gente não tem importância o documento para a Angela Merkel e ela pela quantidade de bombas atômicas que a concordou com o meu documento: “Não, o gente tem, a gente não tem importância apenas G-8 aceita o seu documento”. Eu disse: minha pela quantidade de conhecimento tecnológico querida, o teu documento é antagônico ao que nós temos. A gente tem importância pelo meu, como é que você aceita o meu assim? nosso comportamento e, sobretudo, pelos Ou seja, eles não falam a mesma língua. [Eu nossos objetivos. disse]: vocês estão dizendo uma coisa e nós Se nós traçamos um objetivo, na nossa vida estamos dizendo outra. Aí eu comuniquei e na vida de um país, de conquistar espaços que eu não iria mais ao G-8. É um cafezinho políticos, nós sabemos que é preciso trabalhar, muito caro. Pegar um avião daqui para Berlim abrir espaços, porque em política ninguém dá para fazer aquela reunião que a gente fazia... espaço de graça para ninguém. Não esperem Sempre é importante, porque tem uma relação benevolência, não esperem que alguém vá ter de conhecimento, você sempre conversa com reconhecimento sobre vocês, se vocês não alguém. Mas o dado importante é que eu disse fizerem por merecer. que não ia mais, comuniquei ao Celso que não E eu acho que é esse o momento que ia mais, que não dava para fazer uma reunião, o Brasil vive. Eu posso dizer a vocês que digo, uma viagem de 12 horas para chegar lá,

100 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 ficar 10 minutos em uma reunião [em que] eles na prática. Era muito preconceito contra já tinham decidido tudo, já tinham elaborado algumas coisas. Contra a América do Sul, tudo. Eles podem continuar fazendo a reunião contra a América Latina, contra países deles, mas eu não sou obrigado a ir. pequenos, muito preconceito contra a África. Bem, a partir desse momento - tínhamos A nossa cabeça raciocina onde os nossos pés combinado isso com a Índia, que também pisam. Se um de vocês, recém-formado, for disse que não iria mais; com a China, que trabalhar em Moçambique, daqui a oito meses também disse que não iria mais - a partir daí, o quando vocês vierem fazer a primeira visita ao G-8 começou a mudar, e já começou a se fazer Itamaraty, vocês estarão falando exatamente o discurso de que não tinha mais nenhuma a linguagem do povo de Moçambique, aquilo razão de ter G-8, era preciso ter G-13 ou G-14. que eles pensam. Vocês estarão vendo o De vez em quando eles arrumam um país a mundo, mais ou menos, de onde eles vêem o mais para colocar, e como nós somos como mundo. Mas se vocês forem para Paris vocês coração de mãe, quanto mais arrumar, mais a estarão vendo também, de lá, o restante do gente aceita, vai colocando... Nós não temos mundo. Essa compreensão de que a cabeça preconceito de entrarem mais países. O dado pensa onde os nossos pés pisam não pode concreto é que o G-8 já não é mais G-8, o G-13 valer para a diplomacia brasileira. A nossa não é mais G-13, o G-14 não é mais G-14. cabeça tem que ser mais ampla, mais arejada, O dado concreto, depois da reunião e saber que poucos países do mundo têm a de Londres, do G-20, é que o que ficou inserção que nós poderemos ter, pela simpatia configurado de articulação política mundial que tem. E vamos reconhecer aqui: uma coisa que pode decidir, em momentos de crise, é é pela competência do Itamaraty, uma coisa é exatamente o G-20. Vejam que nós demos um pelo centro de excelência que é o Itamaraty. passo extremamente importante. Eu ouvi um Mas as pessoas já vêem o Brasil com simpatia discurso do Obama, Celso, que me chamou a pelo futebol. Cada jogador desses, famoso no atenção, lá, em uma das reuniões. Ele disse mundo, virou um representante do Brasil em o seguinte: “antigamente era fácil tomar parte do mundo. Nós somos conhecidos pelo decisões em políticas internacionais. Por samba, os nossos mulatos e as nossas mulatas exemplo, Roosevelt e Churchill se sentavam já são um pouco da cara da gente. As pessoas em torno de uma mesa, tomando uma bebida vêem a gente com essa leveza que não vêem quente, e tomavam decisões para o mundo um americano, que não vêem um russo, que inteiro”. Hoje, não é mais assim. Hoje nós não vêem um chinês. Essa é uma vantagem temos que saber a diversidade de países comparativa do Brasil, no meu modo de ver. importantes que tem, a diversidade de países Juntando tudo isso à competência do [Instituto] que têm importância econômica, tecnológica, Rio Branco, nós então viramos esse centro de militar, diplomática. O mundo está muito mais excelência que nós somos hoje no mundo. complicado do que naquele tempo. Portanto, é Eu, como leigo, posso dizer para vocês que preciso mais paciência, mais perseverança e poucas vezes eu vi diplomacia tão respeitada mais vontade de fazer as coisas para que elas e admirada quanto a brasileira, elogiada em aconteçam. qualquer país do mundo. E não falo isso Eu me lembro que quando nós entramos agora porque sou presidente, não. Eu e o aqui, nós tínhamos muito mais animosidade Marco Aurélio viajamos muito, e essa é a histórica com a Argentina, do que animosidade vantagem de quem perde muitas eleições para

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 101 presidente, e eu perdi três. Eu viajava muito o que aceita a responsabilidade de morar nem mundo e em cada lugar que nós chegávamos sempre em lugar confortável, nem sempre em o Brasil era elogiado pela excelência da nossa países que têm todas as condições do mundo. diplomacia. Se a gente juntar essa excelência Eu conheço o nosso pessoal de países africanos, de conhecimento teórico da nossa diplomacia e eu sei que a situação é muito delicada, sei. com o forte conteúdo político - eu não vou Mas esse é um aprendizado também, e uma contar aqui a pergunta que se fazia para alguns coisa extraordinária que ajuda na formação do alunos, não. Eu vou... se tem pistolão? Não caráter e da qualidade do diplomata brasileiro. vou contar isso aqui porque tem jornalista aí. Se todo mundo quiser ir só para Paris, só para Eu acho que nós vivemos um momento Londres, só para... aí, não tem espaço para de ouro. Obviamente que todos nós ficamos todo mundo. lisonjeados com a quantidade de elogios. Eu É preciso que haja essa compreensão de que acho que o Brasil, nesses últimos 45 dias, teve nós vamos abrir mais embaixadas, de que nós mais artigos escritos favoravelmente ao Brasil vamos ter mais funcionários, de que nós vamos no mundo inteiro, do que nos últimos 100 ter mais inserção no mundo, e muito disso vai anos. Como eu não leio em inglês... mas eu depender do trabalho de vocês. Eu não tenho já não aguento mais receber a Newsweek, já dúvida nenhuma de que eu tenho hoje, depois não aguento mais... Agora, prestem atenção: de conhecer esta Casa um pouco mais, depois se algum diplomata brasileiro achar que de conviver com tanta gente extraordinária, porque o El País, o Le Monde, o New York eu não tenho dúvida de dizer para vocês que Times e tantas outras “times” por aí estão vocês entraram em uma das carreiras mais falando bem da gente, [isso] é motivo de a brilhantes que este país tem, e entraram em gente ficar presunçoso, tome cuidado porque a uma Casa que é um centro de excelência, não gente quebra a cara. A gente também não pode apenas de competência profissional, mas, trabalhar com a ilusão dos elogios. Por conta sobretudo, de responsabilidade em defesa da de elogios, um homem levou um império soberania do nosso país. à decadência total, que foi o nosso amigo Por isso, eu quero desejar a todos vocês toda Gorbachev, que saía todo dia na imprensa a sorte do mundo. Aos familiares, que tenham brasileira, na primeira página. Eu já conhecia paciência, porque muitas vezes vão ficar mais a mancha da testa dele do que o Marco meses sem ver o filho, meses sem ver a filha. Aurélio Garcia, porque era Folha, era Estadão, Eles vão logo, logo, se engajar, porque agora era Globo, era em todo jornal do mundo. acabou aquela moleza do cidadão se formar e [Quando] você começa a acreditar muito ficar aqui o tempo inteiro porque não tinha para nisso e para de olhar o teu chão, você começa onde ir. Porque se não tinha embaixada, você a fazer política a partir dos elogios e esquece a ia mandar para onde? A nossa idéia é de abrir realidade. Aí é o caminho do fracasso. mais embaixadas para que a carreira de vocês Então, eu queria dizer para vocês, para possa fluir com muito mais rapidez e para que terminar, que vocês estão começando, a gente possa ganhar, enquanto nação, cada possivelmente, uma das carreiras mais vez mais respeitabilidade no mundo. brilhantes que um ser humano quer trilhar. Ou Que Deus abençoe todos vocês. seja, a carreira de um homem, de uma mulher, Um abraço.

102 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 Dia do Diplomata II

Discurso do Ministro das Relações Exteriores, Embaixador Celso Amorim, durante a cerimônia em homenagem ao Dia do Diplomata. Brasília, DF, 07/05/2009

“Excelentíssimo Senhor Presidente da de planejamento político no Itamaraty, República, Luiz Inácio Lula da Silva então sob a batuta de um grande diplomata, Nossa querida Primeira-Dama, Marisa Paulo Nogueira Batista, até a batalha pela Letícia, dignidade cultural do País e pela liberdade de Ana, minha mulher, expressão na Embrafilme, em pleno governo Senhor Secretário-Geral das Relações militar. Como Secretário-Geral, tem sido Exteriores e Paraninfo, Embaixador Samuel protagonista de inúmeras das mudanças na Pinheiro Guimarães, Casa. A indicação de Samuel, meu querido Senhor Diretor-Geral do Instituto Rio amigo, como paraninfo da Turma 2006-2008 Branco, Embaixador Fernando Guimarães do Instituto Rio Branco - uma turma histórica Reis, - não poderia ser mais feliz. Embaixadoras, A escolha do imortal Maestro Heitor Embaixadores, Villa-Lobos como patrono faz jus a um dos Jovens colegas, nomes mais importantes da nossa cultura. O Familiares dos formandos da Turma Villa- gênio de Villa-Lobos sintetiza muito do que Lobos, aspiramos: a valorização da brasilidade aliada Senhoras e senhores, à universalidade do ser humano. Quero iniciar minhas palavras juntando-me Não pretendo me estender, mas gostaria à homenagem dos formandos ao Secretário- de fazer uma breve referência ao excepcional Geral do Itamaraty, escolhido como Paraninfo momento por que passa a inserção internacional desta turma. O Embaixador Samuel Pinheiro do Brasil. Não me recordo nesses meus 46 Guimarães é um dedicado diplomata - dos mais anos de atividade diplomática - na realidade talentosos e criativos, e também um grande não eram 44, como disse outro dia um jornal professor, como demonstrou hoje de maneira ao dizer falsamente que eu iria pra a Agência sintética e objetiva. É um amigo com quem Internacional de Energia Atômica -, não me trabalhei em muitas ocasiões. Enfrentamos recordo de outro momento em que o Brasil algumas lutas juntos desde a tentativa pioneira desfrutasse de tanto prestígio e estivesse tão

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 103 presente nas grandes decisões internacionais. do verso de uma canção que se tornou um Essa nova realidade tem muitas causas. hino de liberdade: “quem sabe faz a hora não Uma delas tem origem nas próprias mudanças espera acontecer”. O seu Governo, Presidente por que passa o sistema internacional. Outra, Lula, em matéria de política externa, com em e mais importante, tem a ver com a intensa outras tantas, não espera acontecer. atividade diplomática colocada em marcha O mundo está mudando. O mundo quer pelo Governo do Presidente Lula. Tem a ver mudar. E o Brasil é partícipe e agente dessa também, e muito, com o carisma pessoal do mudança. Presidente. A redistribuição do poder nas relações Este não é o momento de fazer balanços internacionais já está em curso. Países em e avaliações. O seu Governo, Presidente desenvolvimento querem construir uma Lula, o nosso governo, ainda está destinado ordem mais justa, democrática e conducente a importantes realizações no ano e meio, ou ao progresso econômico-social. pouco mais, que ainda tem pela frente. Com a crise financeira internacional, Mas é impossível olhar para trás e não ver o muito bem lembrada aqui pelo Embaixador muito que foi feito: a integração sul-americana Samuel, dogmas caíram, falsas certezas que culminou no Tratado da UNASUL; sua desmoronaram. O oligopólio de países ricos e/ expansão para toda América Latina e Caribe, ou nuclearmente armados já não é sustentável. com a Cúpula de Sauípe e a criação da CALC; Hoje, o Presidente Lula é “o cara” e o Brasil a aproximação com o continente africano, com é “o país”. os países árabes, com a Ásia, com todo o mundo As instituições globais precisam refletir em desenvolvimento; a liderança na operação a realidade contemporânea. No campo de paz da ONU no Haiti; a formação do Fórum financeiro, o G-20 já está consolidado como IBAS (Índia-Brasil-África do Sul); a criação e fórum privilegiado de discussões sobre coordenação do G-20 na OMC; o aproveitamento a regulamentação do sistema financeiro de oportunidades como a dos BRICS. internacional. No plano político, a reforma das Todas são iniciativas diplomáticas que Nações Unidas com o objetivo de tornar as contribuíram para elevar o Brasil à condição tomadas de decisão, principalmente no Conselho de país de influência reconhecida - e mesmo de Segurança, mais legítimas e eficazes, é um buscada - no concerto das nações. Algumas processo longo, difícil, mas inexorável. destas iniciativas foram tomadas depois de Senhoras e Senhores, detalhada e minuciosa reflexão, outras o foram O Dia do Diplomata deste ano coincide necessariamente no calor dos embates e das com a formatura da primeira turma negociações (como o do G-20 da OMC), mas decorrente da ampliação dos quadros do sempre com a mesma inspiração de busca de serviço exterior. No dia de sua posse, um mundo mais justo e de afirmação do nosso esta era a maior turma que o Instituto Rio país. Ao debruçar-me sobre elas, recordo-me

104 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 Branco jamais formara. Trouxe para a Casa A cerimônia de formatura é um rito de exatamente cem novos diplomatas. passagem. Representa simbolicamente a Com a orientação do Presidente Lula de incorporação plena dos funcionários ao serviço criar 400 novas vagas, ampliamos nosso público federal e à Casa de Rio Branco. serviço diplomático em 40%. Eram cerca de Quando a minha geração - que é também 1.000 diplomatas brasileiros em 2005. Neste a geração do Embaixador Samuel e do ano, seremos 1.400. O acréscimo foi mais Embaixador Fernando Reis - ingressou no que oportuno: foi necessário. Na realidade, Itamaraty, vivíamos dias de esperança. foi pouco. O Brasil ensaiava os primeiros passos no Se nós formos olhar em volta de nós sentido de romper uma inserção internacional e pensarmos o que fazem outros países, tímida, atrelada a uma visão do mundo e de não para termos como modelo, mas como nós próprios, que nos deixava em posição de referência, o que às vezes é útil, o Governo consentida subordinação. A Política Externa do Presidente Obama acaba de tomar uma Independente de Afonso Arinos e San Tiago decisão semelhante, em termos proporcionais Dantas, impulsionada por Jânio Quadros e por idêntica, de aumentar em 40% o quadro de João Goulart, buscava superar um complexo diplomatas. Só que no caso deles, eles passam de inferioridade, proveniente do passado de 10.000 para 14.000. colonial, institucionalmente já distante, mas A ampliação da malha diplomática, com que se fazia sentir nos planos econômico, novas Embaixadas na África e no Caribe e cultural e político. Consulados para atender as comunidades O Brasil de hoje que vocês estão herdando brasileiras tem que ser acompanhada, nos é muito diferente. A geração de vocês deixou próximos anos, por um aumento expressivo e para trás as sombras da ditadura militar e contínuo nos quadros diplomáticos. Temos que as cadeias da desigualdade. É uma geração ter um serviço exterior equipado em qualidade que pode orgulhar-se do país. Um país que e quantidade para lidar com os desafios da enfrenta com determinação e sem pruridos ou realidade internacional contemporânea. Não falsas vergonhas suas mazelas e dificuldades basta que nossos argumentos sejam justos. internas e age com desassombro nos fóruns É preciso termos porta-vozes de nossa internacionais. mensagem, com qualidade e em número O Itamaraty, a Casa de Rio Branco, a nossa suficiente. Por isso, a reforma e a ampliação Casa, a sua Casa, está muito feliz em poder dos quadros do Itamaraty devem continuar. acolher cem novos colegas aptos e dispostos No Dia do Diplomata, a Chefia da Casa a defender os interesses e valores brasileiros recebe oficialmente, com a presença honrosa do no mundo. Sr. Presidente da República, a geração de jovens Muito obrigado” que se ocupará da lide diária da política externa.

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Dia do Diplomata III

Discurso proferido pelo Secretário-Geral das Relações Exteriores, Embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, proferido durante a cerimônia em homenagem ao Dia do Diplomata - Brasília , 07/05/2009

Bom dia a todas as senhoras e senhores. Em primeiro lugar, estamos diante de Excelentíssimo Senhor Presidente da uma grave crise econômica, que decorreu República, Dona Marisa Letícia, de um processo de globalização e de Excelentíssimo Senhor Ministro de Estado, desregulamentação acelerada e irresponsável; Celso Amorim, e Sra. Ana Maria Amorim. de uma idéia de Estado mínimo, de que o Queria cumprimentar, em primeiro lugar, Estado deveria se retirar da economia, e de todos os familiares dos formandos; os colegas preferência, desaparecer. Era a idéia do fim Embaixadores; todos os demais colegas; a das fronteiras, o fim dos Estados nacionais. turma do Instituto Rio Branco e o seu Diretor, Em segundo lugar, estamos diante de uma Embaixador Fernando Reis. crise ideológica. A crise ideológica decorre do Agradeço a escolha como Paraninfo dessa fato de que, durante muitos anos, a maioria dos turma do Rio Branco, a primeira da reforma, Estados se convenceu de que o neoliberalismo que representa um novo tempo. Essa não é era a teoria correta para a explicação do uma homenagem feita a mim, mas à política mundo econômico e do mundo político. Hoje, externa conduzida pelo Senhor Presidente da o mesmo Estado que iniciou esse processo de República, assessorado pelo Senhor Ministro liberalização, de transformação da economia de Estado. Esta é uma turma de diplomatas mundial, o Reino Unido, foi o primeiro a do Século XXI. O século XXI será, para nós, estatizar seus bancos. Estamos, portanto, brasileiros, e para esta turma, um século muito diante de uma crise ideológica, que requer diferente. Estamos diante de um processo de uma redefinição do capitalismo - talvez o reconstrução do sistema mundial. “capitalismo do século XXI”. Há alguns anos, o Senhor Presidente da Em terceiro lugar, vivemos uma gravíssima República mencionou a idéia de uma nova crise ambiental, talvez a mais séria de todas geografia econômica e política no mundo. Na as crises- já que a crise econômica talvez ser realidade, hoje a situação de crise leva a uma superada em breve. A crise ambiental requer nova geografia, a uma nova distribuição do uma mudança do próprio modo de ser do poder em nível mundial. sistema capitalista: a idéia do individualismo,

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 107 a idéia da liberdade total dos indivíduos de humana: transformar e qualificar a massa escolher o que produzir e o modo de produzir. da população brasileira, a enorme massa da Esta é uma crise extremamente difícil de ser população brasileira excluída, e o sistema enfrentada e que tem conseqüências em todas as empresarial brasileiro. partes do mundo, inclusive no nosso território, O segundo desafio é a superação das sem que possamos enfrentá-la sozinhos. vulnerabilidades externas. Do ponto de Temos de enfrentá-la em coordenação e vista político, até hoje não fazemos parte - em cooperação com os demais países, tanto apesar de estarmos nos aproximando - dos desenvolvidos, quanto em desenvolvimento. principais mecanismos de decisão política A crise energética, vinculada à crise ambiental do sistema internacional. Temos ainda certa e ao modo tradicional de utilização da energia, vulnerabilidade militar e uma vulnerabilidade é igualmente profunda. relativa no campo econômico-tecnológico, Finalmente, há o uma crise política, devido à insuficiência de produção tecnológica. gerada pela emergência da China como Aliás, no campo científico tivemos ontem grande potência internacional e pelo desafio a notícia de que o Brasil passou de 15º para de acomodá-la no sistema internacional. Isso 13º lugar dentre os países de maior produção inclui também a emergência de outros países, científica, o que foi um feito extraordinário. os BRICs, entre eles, o Brasil, que vem de ser Isso infelizmente não ocorre no campo das reconhecido pelo prêmio Nobel de Economia, patentes, que se refere à transformação do Edmund Phelps, como a economia mais bem conhecimento científico em conhecimento preparada para enfrentar a crise econômica. tecnológico. Pode-se chamar isso de crise política O terceiro desafio refere-se à superação para os países que dominaram o sistema das disparidades. Não vou entrar em detalhes internacional, do ponto de vista político, sobre isso, porque, diante do Presidente militar e econômico, durante décadas e talvez Lula, seria inadequado. Todos sabem que a até séculos (alguns desses mesmos países já grande luta da sociedade brasileira é contra estavam no Congresso de Viena, em 1815). De as disparidades sociais, a começar pelas modo que este é um processo de reconstrução disparidades regionais, as disparidades entre do sistema mundial. o campo e a cidade, as de natureza de gênero, Estamos diante de um processo de de origem étnica, as disparidades de renda construção nacional, de enfrentamento de e, mais do que de renda, de propriedade. As grandes desafios internos. O primeiro deles é a disparidades de propriedade são muito mais realização do potencial brasileiro. Se fizermos agudas do que as disparidades de renda, muito uma lista dos dez maiores países do mundo em mais agudas. território, população e produto interno bruto, Finalmente, há a construção da democracia, somente três países estariam nessas três listas uma democracia em que a participação do simultaneamente: os Estados Unidos, a China povo seja mais efetiva, mais ampla, que é e o Brasil. O potencial brasileiro está muito um desafio muito grande para a sociedade longe de ser plenamente utilizado. Esta é uma brasileira. tarefa de construção nacional extraordinária, A política externa se define diante desses a construção da infra-estrutura, tanto no seu desafios internos e também de desafios aspecto físico, mas também da infra-estrutura externos. Vivemos uma época de grande

108 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 expansão dos interesses nacionais no exterior, relação aos países vizinhos, como o Presidente a começar pelo comércio. Houve uma costuma dizer. extraordinária diversificação comercial em Somos o país com o maior número de direção à África, aos países árabes, como fruto vizinhos no mundo - depois da China e da política externa, das numerosas viagens da Rússia, que tem, cada uma, 14 países do Presidente da República, do Ministro de vizinhos; o Brasil tem 10. Esse fato traz Estado e de outros ministros ao continente grande complexidade para a política externa africano, também aos países árabes, aos países que os senhores, formandos do Instituto Rio da Ásia. Branco, terão de conduzir no futuro. Será um Há uma enorme diversificação das desafio maior do que o de hoje. exportações brasileiras, além de um enorme Há, ainda, o desafio de luta pela crescimento em termos absolutos no total do desconcentração de poder. O sistema comércio. Essa diversificação é extremamente internacional se caracteriza por uma importante porque reduz a nossa extraordinária concentração de poder, tanto vulnerabilidade econômica. Ao mesmo tempo, político, quanto econômico, tecnológico e uma extraordinária e desafiante expansão dos militar. Essa luta se manifesta, por exemplo, investimentos brasileiros, na América do Sul, na candidatura brasileira ao Conselho de mas também em outras regiões, na Europa, Segurança das Nações Unidas, na participação em alguns países árabes, na Ásia. do Brasil como parte do G-5 junto ao G-8, na Um desafio recente são as migrações, o fato criação do Foro IBAS de coordenação com a de que hoje existem cerca de quatro milhões de Índia e com a África do Sul, para, justamente, brasileiros no exterior. Isso cria uma questão articular alianças com os grandes Estados da também política e econômica, além do aspecto periferia na sua ação de desconcentração de humano e social. A participação das remessas poder. desses brasileiros é extremamente importante Essa luta pela desconcentração de poder para o equilíbrio do balanço de pagamentos também se verifica no campo econômico, do Brasil. como foi a atuação G-20 comercial, na Rodada Outra questão importante para a política de Doha da OMC. Pela primeira vez, os países externa são as assimetrias regionais, a em desenvolvimento conseguiram se articular assimetria crescente entre o Brasil e os países para enfrentar aquilo que, normalmente, era vizinhos. Este é um fato gerado pelas próprias uma decisão tomada pelos chamados “grandes dimensões territoriais e econômicas do Brasil, países comerciantes”, que negociavam entre pela diversidade do seu parque produtivo. É si e nos apresentavam uma solução fechada. um desafio que se revela nos desequilíbrios Os países em desenvolvimento não tinham comerciais, no fato de haver muito mais outra opção, senão aceitar aquela solução. A investimentos brasileiros nos outros países do criação do G-20 e o próprio fato de a rodada que desses países sul-americanos no Brasil. não ter terminado - poderia ter terminado, se o Essa preocupação está na base da política Brasil e os demais países em desenvolvimento que vem sendo executada: o reconhecimento tivessem aceito as propostas feitas pelos países dessas assimetrias, que antes não eram desenvolvidos - mostram essa mudança. reconhecidas, e o tratamento generoso, fruto O G-20 financeiro é outro exemplo: da responsabilidade que o Brasil tem em pela primeira vez na história, os países em

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 109 desenvolvimento estão tendo participação Em resumo, esses são os grandes desafios destacada na reorganização do sistema que os senhores têm pela frente nos próximos financeiro internacional. 40 anos de sua carreira. Finalmente, um grande desafio da política Gostaria, finalmente, de agradecer mais uma externa - que tem relação com os outros que vez esta homenagem - como disse, considero mencionei - é a questão da normatização das que é uma homenagem à política externa relações internacionais, a criação de normas conduzida pelo Presidente da República e pelo internacionais. Essas normas podem ser mais Ministro Celso Amorim - e dizer que é, para ou menos favoráveis ao Brasil, nos diversos mim, uma satisfação muito grande estar aqui campos de negociação. com os senhores, com todos os colegas, com o A política externa luta para que haja uma Presidente da República, e lembrar que recebi normatização favorável ao desenvolvimento meu diploma do Instituto Rio Branco das mãos econômico brasileiro. Isso se reflete nas do Presidente João Goulart, na presença do negociações ambientais, por exemplo, e nas Embaixador Araújo Castro, que era Ministro outras negociações que mencionei. As normas de Estado na época, e do paraninfo da minha devem ser favoráveis ao desenvolvimento da turma, que era San Tiago Dantas - San Tiago sociedade brasileira e à superação dos seus Dantas estaria feliz aqui. desafios internos. Muito obrigado.

110 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 Visita do Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, à Arábia Saudita

Discurso do Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, por ocasião de almoço na Câmara de Comércio na Arábia Saudita. Riade, Arábia Saudita, 17/05/2009

Senhor Muhammad ibn Jameel Mulla, exportador mundial de petróleo, com um PIB de Ministro das Comunicações e Tecnologia da US$ 470 bilhões e um mercado de 27 milhões Informação da Arábia Súdita, de pessoas, o país ocupa lugar destacado Senhor Abdul Rahman al Attiya, Presidente na economia regional e mundial. Desperta da Câmara de Comércio da Indústria de Riade, justificado interesse para o nosso país. Companheiros Ministros que me A Arábia Saudita é nosso maior parceiro acompanham nesta viagem, Celso Amorim, comercial. Nos últimos seis anos houve um das Relações Exteriores, Miguel Jorge, da crescimento de 450 por cento no fluxo de Indústria, Desenvolvimento e Comércio Balança Comercial entre os dois países. O Exterior e Franklin Martins, da Secretaria de potencial de nosso relacionamento é muito Comunicação Social, maior, no entanto. Para alcançar metas mais Senhores empresários brasileiros, ambiciosas, Governo e empresários têm de empresários da Arábia Saudita, avançar na identificação e aproveitamento de Meus amigos e minha amigas, novas oportunidades. Minha visita à Arábia Saudita - a primeira Demonstração viva dessa disposição é de um Presidente brasileiro - busca dar a expressiva comitiva de empresários que continuidade a nosso esforço de construir um me acompanha. Temos que diversificar relacionamento profundo com os países do nosso comércio ainda concentrado em Oriente Médio. poucos produtos. Podemos aumentar nossos O lançamento da Cúpula América do Sul investimentos de parte a parte. Sei do interesse - Países Árabes, nossas novas Embaixadas saudita em atrair outras empresas brasileiras nos na região, a designação de um Embaixador setores de petróleo, gás, mineração, aviação, Extraordinário para o Oriente Médio e a engenharia e construção. Nessas áreas, temos participação brasileira nos esforços de paz experiência e competência internacional. na Palestina são demonstrações concretas de Podemos iniciar uma relação de novo tipo, nossas intenções. que inclua a efetiva transferência tecnológica As relações com a Arábia Saudita ocupam para a modernização da indústria local. A firma papel de destaque nessa estratégia. Maior brasileira Biomm realizará investimentos na

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 111 Arábia Saudita para a implantação de fábrica um milhão de moradias, com o objetivo de de insulina humana, para atender a Arábia combater o déficit habitacional e gerar centenas Saudita e todo o Oriente Médio. Temos de milhares de empregos. Nosso Programa de grande expectativa de receber investimentos Aceleração do Crescimento - um investimento sauditas no setor do agronegócio. O Brasil de mais de 300 bilhões de dólares - está já é um importante fornecedor de alimentos ajudando a retomar o desenvolvimento com e matérias-primas para a Arábia Saudita, mas maior rapidez. Nessa tarefa, o empresariado pode se tornar também um parceiro estratégico tem papel fundamental. para a segurança alimentar deste país. Parceiros no G20 financeiro, Brasil e Senhoras e senhores empresários, Arábia Saudita já deram mostras de que Em momentos de rápidas transformações, podem contribuir para construir uma nova como o que vivemos, não há tempo a perder. governança econômica global que atenda os Temos de fortalecer nossas relações com um interesses dos países em desenvolvimento. número cada vez maior de países, em todas as Caros amigos, empresários sauditas e regiões do globo. brasileiros, Um bem sucedido acordo entre o Mercosul Para aqueles que têm receio das distâncias, e o Conselho de Cooperação do Golfo dará ou do desconhecido, é bom lembrar o exemplo novo impulso ao nosso comércio bilateral. dos imigrantes árabes que vieram tentar a sorte O Brasil e o Mercosul estão empenhados no Brasil e lá foram acolhidos calorosamente. na rápida retomada das negociações. As A comunidade árabe conquistou merecido dificuldades existentes podem ser resolvidas espaço em todos os segmentos da sociedade com a adoção de soluções criativas, que brasileira. permitirão um acordo equilibrado que trará Apesar dos problemas históricos distintos, benefícios mútuos. estou convencido de que o Brasil e a Arábia Senhoras e senhores, Saudita são países que devem aproveitar Brasil e Arábia Saudita também podem suas complementaridades. Temos metas trabalhar juntos no âmbito multilateral, para semelhantes e podemos trabalhar juntos em fazer do comércio um fator de desenvolvimento. benefício de nossos povos. Desde que a Arábia Saudita se tornou membro Meus amigos da Arábia Saudita e meus da OMC, contamos com um novo aliado amigos brasileiros, para uma conclusão equilibrada da Rodada Eu não poderia deixar de dizer algumas de Doha. Esse é um tema fundamental para palavras que não estão escritas aqui, para nossos países, especialmente num momento ressaltar esse encontro que estamos fazendo em que ressurgem pressões protecionistas que aqui na Arábia Saudita. tendem a penalizar os países mais pobres. Parecia muito difícil um Presidente da Ampliar as transações comerciais será, República vir à Arábia Saudita. Desde 2004 neste momento de crise, uma importante eu tenho insistido com o Ministro Celso medida anticíclica. Nossos países foram menos Amorim para que nós pudéssemos, em uma afetados pela crise em razão da solidez dos dessas viagens, passar na Arábia Saudita, mas programas de governo e das políticas públicas sempre houve problemas com a agenda, ou que adotamos. A Arábia Saudita, assim como de um lado ou de outro. Até que na última o Brasil, empreende amplo programa de obras reunião do G20, em Londres, eu encontrei de infra-estrutura. No Brasil, vamos construir com o Rei e eu disse a ele que tinha algum

112 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 problema que eu não conseguia uma agenda discussão dos combustíveis renováveis, na para vir à Arábia Saudita. Ou seja, passados questão energética, na questão da ciência e poucos meses, eu estou aqui e é a primeira tecnologia, na questão da educação, ou seja, vez que um Presidente da República brasileiro nós temos um trabalho extraordinário para vem à Arábia Saudita. Eu sei que muita gente que a gente possa construir. A nossa indústria da Arábia Saudita, empresários, ministros, o farmacêutica pode trabalhar tranqüilamente próprio Rei Abdullah foi ao Brasil quando era em parceria com uma indústria da Arábia príncipe herdeiro, em 2000, outros príncipes Saudita. Agora, para isso, e ontem eu tive foram ao Brasil. Mas eu penso que agora muda oportunidade de falar com o rei Abdullah, a qualidade das nossas visitas. Eu acho que e vou repetir aqui, para isso é necessário isso é resultado um pouco da crise econômica que haja a determinação, e quero dizer aos por que passa o mundo. companheiros árabes que durante mais de A Arábia Saudita e o Brasil resolveram um século a cabeça brasileira esteve voltada tomar uma decisão de que em tempo de apenas para os Estados Unidos e para a crise não adianta a gente ficar chorando ou Europa, e que a gente não enxergava o Oriente se lamentando, o que é importante é que Médio como oportunidade. tomemos iniciativas para superarmos a crise e Aliás, a gente não enxergava a América do sairmos da crise mais fortalecidos do que nós Sul como oportunidade, a gente não enxergava éramos antes da crise econômica. E é isso que a África como oportunidade, era tudo os estamos fazendo aqui. Estados Unidos e a União Européia. Mas A Arábia Saudita tem um grande programa exatamente pelo fato de esses países serem de investimento em infra-estrutura e certamente muito desenvolvidos e todo mundo querer o Brasil tem interesse de participar. O Brasil ter relações com eles, fica cada vez mais tem um grande programa de infra-estrutura difícil que um país como a Arábia Saudita e certamente a Arábia Saudita terá interesse ou como o Brasil coloque seus produtos de participar. Mas, para que isso aconteça, é industrializados neste país, porque eles são importante que os dirigentes políticos estejam mais competitivos do que nós, porque eles com a cabeça aberta, para conhecer novos detêm mais conhecimento tecnológico do que espaços, para conhecer novas oportunidades nós. E nós não queremos mais ser exportadores e para que a gente possa encontrar novos apenas de matéria-prima, de commodities. parceiros, para que a gente possa crescer um Nós queremos dinamizar o desenvolvimento pouco mais, desenvolvendo os nossos países, tecnológico dos nossos países através do e melhorar a qualidade de vida do nosso povo. fortalecimento da nossa indústria e é por isso É importante descobrir o que a Arábia Saudita que eu estou aqui, é porque nós precisamos tem a oferecer, o que o Brasil tem a oferecer. encontrar novos parceiros, estabelecer as Não é apenas uma relação de quem pode similaridades entre nós, o que nós poderemos comprar ou de quem pode vender, mas é uma oferecer e o que nós poderemos receber, o que relação de construir algo novo que ainda a Arábia Saudita pode nos oferecer para que não existe entre a Arábia Saudita e o Brasil. a gente construa juntos uma ação conjunta, As parcerias entre os nossos empresários, até para participar do comércio mundial com começando pela área de petróleo e passando mais força. pela indústria petroquímica, entrando na É importante lembrar que quando nós indústria do agronegócio, entrando na convidamos o primeiro encontro Países Árabes

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 113 e América do Sul, no Brasil, muita gente de empresários, de especialistas, de cientistas, não acreditava que ele pudesse acontecer, e para que a gente possa se conhecer, porque aconteceu. E foi um sucesso. Naquele tempo, tem muita gente que vê pela televisão vocês, os Estados Unidos pensavam que o encontro árabes, vestidos desse jeito, e pensam que era contra os Estados Unidos. Israel pensava vocês são muito estranhos ao Brasil. E vocês que o encontro era contra Israel. E a gente não não são estranhos ao Brasil. Primeiro, porque queria fazer o encontro contra ninguém. O no Brasil tem mais árabes do que em muitos encontro era favorável a nós, era um encontro países árabes; segundo, porque os árabes para discutir os nossos problemas. E fizemos fazem parte da cultura mundial, ou seja, muitas o segundo [encontro] na cidade de Doha, no palavras utilizadas no dicionário brasileiro têm Catar, com muito mais participação árabe e origem árabe. Portanto há uma identificação muito mais participação da América do Sul. perfeita entre o mundo árabe e o Brasil, entre É importante lembrar que quase todos os a Arábia Saudita e o Brasil, entre o desejo de presidentes da América do Sul estiveram desenvolvimento da Arábia Saudita e o desejo presentes em Doha. E que aqueles que de desenvolvimento do Brasil. não foram, foram representados pelos Portanto, meus senhores, eu quero terminar vice-presidentes, numa demonstração de as minhas palavras esperando que neste ano que as pessoas estão descobrindo que é já recebamos uma delegação da Arábia preciso procurar novas parcerias no mundo Saudita no Brasil. E que ainda este ano, outra globalizado, onde poucos países detêm o de empresários brasileiros venha ao Brasil monopólio da negociação, o monopólio da [Arábia Saudita] e que ainda no decorrer do produção e o monopólio da tecnologia. ano a gente comece a trocar essas experiências, Nós estamos apenas dizendo ao mundo que porque o mundo não protegerá quem não tiver a Arábia Saudita não quer mais apenas vender coragem de ousar. E ao invés de nós ficarmos petróleo, ela quer investir em conhecimento, colocando nossas reservas depositadas em ela quer investir em ciência e tecnologia, títulos americanos - o Brasil tem pouco, tem porque ela também quer exportar produto de apenas 200 bilhões de dólares em reservas, valor agregado tão competitivo quanto o dos mas a Arábia Saudita tem muito, a China tem países modernos. E o Brasil quer a mesma muito -, ou seja, ao invés de a gente ficar com coisa. O Brasil já exporta avião, o Brasil o dinheiro paralisado recebendo rendimento já exporta produtos importantes de valor dos títulos americanos, se nós construirmos agregado, mas ainda é pouco diante do que fábricas, se nós investirmos em ciência e nós poderemos produzir e essa junção de dois tecnologia, se nós fizermos universidades, se países com vontade de crescer, com vontade nós investirmos nas indústrias de produção de de se desenvolver, pode criar um novo alimento, certamente daqui a 20 ou 30 anos a paradigma na relação Mundo Árabe-Brasil, Arábia Saudita e o Brasil serão infinitamente América do Sul e Mundo Árabe. melhores do que são hoje. Por isso eu estou aqui muito satisfeito. Acho Por isso eu quero dar os parabéns aos que daqui para frente, muitos empresários empresários brasileiros que vieram aqui, aos brasileiros terão que vir à Arábia Saudita, e empresários da Arábia Saudita e dizer que também muitos empresários da Arábia Saudita uma nova era começou na relação entre a terão que ir ao Brasil. É importante que essas Arábia Saudita e o Brasil. viagens se dêem com uma delegação grande Muito obrigado.

114 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 Seminário Brasil-China: Novas Oportunidades para a Parceria Estratégica

Discurso do Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante cerimônia de encerramento do Seminário Brasil-China: Novas Oportunidades para a Parceria Estratégica. Pequim, China, 19/05/2009

Ministros que me acompanham, Franklin Desde o início desta década, o comércio Martins, da Secretaria de Comunicação entre a China e o Brasil cresceu a uma taxa Social; Pedro Brito, da Secretaria Especial de anual média de mais de 40% ao ano. No Esportes, último ano, chegou a 55%. Senhor Governador do Banco de A China passou a ser, em 2009, o maior Desenvolvimento da China, parceiro comercial brasileiro. Nossas trocas Senhor Presidente do Banco de continuaram crescendo - mesmo durante a Desenvolvimento da China, crise - a despeito da recessão que se abateu Senhor Embaixador da República Popular sobre o mundo. da China no Brasil, As exportações brasileiras para a China Senhores e senhoras empresários do Brasil estão concentradas em produtos como soja, e da China, minério de ferro, petróleo e celulose. São Amigos e amigas, produtos importantes. Queremos incrementar Este é um momento especial das relações essas exportações. Mas é necessário entre a China e o Brasil. Comemoramos diversificá-las para garantir a expansão do 35 anos do estabelecimento de relações fluxo de comércio bilateral no longo prazo. diplomáticas entre nossos países e reforçamos Temos de agregar valor a estes produtos. nossa parceria estratégica. Intensificou-se o Isso depende da ação conjugada dos comércio bilateral. Está cada dia mais claro o governos, removendo barreiras, e dos potencial de expansão dos investimentos entre empresários, exercendo sua criatividade. os dois países. Nossos governos têm trabalhado Assim reduziremos o risco que a volatilidade intensamente para fortalecer nossa parceria. dos preços das commodities poderá ter na Mas é necessário uma participação mais economia e no emprego. ativa dos meios empresariais. Por isso fiz Avançar na cooperação entre autoridades questão de viajar acompanhado por expressiva sanitárias dos dois países é fundamental pare delegação de homens de negócios. esse objetivo. Isso dará impulso à venda de Senhoras e senhores, outros produtos como a carne, por exemplo.

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 115 A diversificação também envolve produtos econômica global e retomar rapidamente o de maior sofisticação tecnológica.É o caso dos caminho do crescimento. aviões da Embraer, que apesar de estarem entre Os programas sociais do governo - a os principais produtos de exportação brasileira, começar pelo Bolsa Família - asseguraram ainda são pouco conhecidos na China. o nível de renda da parcela mais pobre da Merecem destaque a experiência da população, com impacto positivo na demanda Petrobras na perfuração de petróleo em e no consumo. águas profundas e nossa pujante indústria Em 2007, lançamos o Programa de de máquinas e equipamentos agrícolas, de Aceleração do Crescimento, que investirá US$ motores e de compressores. 306 bilhões até 2010 e mais US$ 240 bilhões A experiência brasileira com após 2010, em obras de logística, energia, biocombustíveis oferece alternativa eficiente infraestrutura e melhorias urbanas e sociais. e limpa para a circulação de automóveis, e a Reduzimos impostos, de forma a co-geração de energia. Aí também a aplicação estimular o consumo interno e aumentar a de tecnologia a produtos básicos valorizará competitividade de nossas empresas. nosso comércio. Em 2008, a Petrobras anunciou a No setor de serviços há grande potencial descoberta de grande reserva de petróleo de de cooperação, sobretudo na informatização alta qualidade no litoral, que colocará o Brasil de grandes sistemas. entre os maiores produtores e exportadores de No Brasil, o governo e o setor privado petróleo e de derivados. trabalham ativamente na “Agenda China”, Assinei, recentemente, decreto que que prevê ações positivas na área de comércio regulamenta o estabelecimento de Zonas e de investimentos. de Processamento de Exportações, criando A instalação em Beijing de escritório grandes oportunidades para a instalação de da Agência Brasileira de Promoção de indústrias chinesas no Brasil, voltadas para o Exportações e Investimentos se somará ao comércio internacional. Departamento de Promoção Comercial do Podemos ampliar muito nossa Parceria Itamaraty no fomento e apoio a novas parcerias Estratégica mediante a ampliação dos entre empresários brasileiros e chineses. investimentos diretos. Até o final de 2009, estará funcionando o Os acordos firmados entre o Banco de Consulado do Brasil em Cantão, sede de uma Desenvolvimento da China e instituições das maiores feiras de negócio do mundo e brasileiras como a Petrobras e o BNDES pioneira do processo que transformou o país permitirão a participação chinesa em em potência comercial. importantes projetos no Brasil. Os acordos que serão assinados hoje entre o Também gostaríamos de ver mais presença Banco de Desenvolvimento da China, o Banco chinesa no mercado de capitais. Por isso, do Brasil e o Banco Itaú complementam a convido os bancos e os investidores a olhar mais moldura para a expansão do comércio. para o mercado e para as empresas brasileiras. Senhoras e senhores, O mercado de títulos da dívida brasileira Nos últimos anos, o Brasil cresceu é totalmente aberto para os investidores de forma sustentável com estabilidade estrangeiros. Há também crescente mercado macroeconômica. Estamos mostrando ao para investimentos em títulos privados e mundo que temos condições de superar a crise ações. O governo brasileiro trabalhará com os

116 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 setores competentes do governo chinês para do que países com a Colômbia, países com a viabilizar esses investimentos. Venezuela, países como a Argentina. Em uma Senhoras e senhores, demonstração de que dois países que têm as Em jantar na noite de ontem com o mesmas necessidades, dois países que estão em Presidente Hu Jintao, constatamos mais uma franca expansão, e dois países que têm muitas vez a grande coincidência de posições entre similaridades, garantem a possibilidade da o Brasil e a China nos foros internacionais nossa balança comercial ser quase que infinita, na área econômica, comercial e financeira na medida em que levarmos em conta o tamanho e também o potencial para ampliação da já da China e o tamanho do Brasil. Na medida extensa cooperação bilateral. em que levarmos em conta as necessidades da Para essa cooperação, estamos elaborando China e as necessidades do Brasil. o Plano de Ação Conjunta com vistas a E aí, é importante que tenhamos em conta orientar nossas ações nos próximos cinco que neste mundo globalizado nós não temos o anos. Será amplo programa de cooperação, direito de ficar esperando a sorte passar na nossa construído com base em amplas consultas frente. Nós temos que ir ao encontro da sorte. entre os governos e os diversos setores da A primeira decisão do meu governo, de sociedade civil dos dois países. construir uma parceria estratégica com a China Convido a todos os nossos amigos se deu em uma reunião em que nós decidimos empresários a participarem desse esforço e garantir que os chineses pudessem construir o tenho certeza de que desse seminário sairão Gasene. Foi a única decisão do meu governo muitas contribuições. que eu coloquei em votação - a única. Porque Meus amigos e minhas amigas, tinha gente que defendia a parceria com o Eu queria, primeiro, abusar da paciência do Japão, e nós defendíamos a parceria com a intérprete, que terá que ter muita paciência, China. E o gasoduto está sendo construído. para dizer duas coisas a mais. China e O José Sergio Gabrielli participou daquela Brasil estão trabalhando para que essa crise reunião e até teve direito a voto. econômica não permita que voltemos ao O dado concreto é que nem o Brasil deve ter que éramos há 10, 15 ou 20 anos. China e medo da China e nem a China pode ter medo Brasil estão demonstrando um potencial tão do Brasil. O dado concreto é que nós temos que extraordinário nas suas relações políticas, conversar cada vez mais, como duas grandes cultural, comercial, que serve de reflexão para nações, como duas grandes economias, com os empresários brasileiros, para o governo um potencial de complementaridade que não brasileiro, para os empresários chineses e para existe entre o Brasil e nenhum outro país, e que o governo chinês. não existe entre a China e nenhum outro país. Imaginem que apenas há 35 anos É com essa dimensão que nós precisamos estabelecemos a nossa relação diplomática. E nos relacionar, sem criar bloqueios, mas criar em 35 anos, China e Brasil já têm um fluxo de instrumentos para que a nossa relação se dê de balança comercial próximo dos US$ 40 bilhões. forma cada vez mais justa, mais igualitária e A China e o Brasil já se transformaram nos mais produtiva para os dois países. maiores parceiros comerciais. Países com quem China e Brasil, hoje, são mais importantes mantemos relações há séculos, países ricos, as do que alguns possam pensar. Aliás, não é nossas exportações são infinitamente menores. possível qualquer decisão econômica, ou E eu diria: não menor do que a China, menores qualquer discussão econômica entre os países

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 117 ricos do mundo, sem levar em conta a existência chovendo demais, lugares em que chovia da China, sem levar em conta a existência demais chovendo de menos. Nós estamos do Brasil, sem levar em conta a existência vendo acontecer muitas coisas que parecem da Índia, sem levar em conta a existência da fora do normal. Rússia, e sem levar em conta a existência de E nós temos que ter duas sabedorias. outros países importantes, inclusive países A primeira, é que nós somos culpados; a africanos, como a África do Sul. segunda, é que nós temos alternativas. E o Por que eu estou dizendo isso? É porque, Brasil quer partilhar com a China o nosso nesse mundo globalizado, em que os ricos conhecimento tecnológico na produção de já não têm tanta certeza como tinham no energia alternativa, sobretudo de combustíveis século XX, não são tão perfeitos como limpos, de etanol, de biodiesel. E não queremos eram no século XX, e países como a China que a gente tenha nenhuma competição com a e o Brasil se apresentam como alternativas produção de alimentos. Nós queremos que a concretas de países que têm estabilidade China continue produzindo os alimentos para econômica, de países que souberam cuidar da o seu povo, o Brasil continue produzindo os macroeconomia, de países que souberam fazer alimentos para o seu povo. reservas, e de países que, em vez de terem Mas tem continentes, como o africano, medo da crise, estão apostando que a crise é que [com] uma parceria China-Brasil, na uma oportunidade para que a gente saia muito produção de biocombustíveis nesses países, mais forte do que nós entramos, para que a nós poderíamos estar dando a países africanos gente possa ser mais criativo, mais inventivo, que passaram todo o século XX, o século e para que a gente possa ter coragem de XIX, o século XVIII, sem esperança, a fazer aquilo que nós até então não tínhamos esperança e a certeza de que no século XXI coragem de fazer. Em vez de medo, em vez de eles poderiam ter a chance que não tiveram no preocupação, mais coragem e mais ousadia. século passado. E, aí, o desafio para os empresários Eu ainda vou ter mais reuniões com o brasileiros: é de que as oportunidades não Presidente Hu Jintao. Hoje, depois vou aparecem na porta da nossa casa, batendo. encontrar com o Presidente Hu Jintao na Nós temos que percorrer o mundo procurando Itália, depois vou encontrar com o Presidente essas oportunidades, nós temos que descobrir Hu Jintao no G-20 financeiro. E certamente os nossos parceiros. ainda este ano deverei receber o presente Hu Por exemplo, a China e o Brasil têm muita Jintao, para que eu possa pagar o jantar que preocupação com a questão do clima. Aliás, ele me ofereceu ontem. eu acho que toda a humanidade hoje tem E cada reunião dessa é a oportunidade preocupação com a questão do clima, porque de nós tirarmos as nossas diferenças, de nós estamos vendo lugares em que não chovia descobrirmos novas oportunidades, novas

118 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 parcerias para que China e Brasil possam, juntos, consolidar a mudança na geografia comercial que nós já começamos a fazer. Quero dar os parabéns ao governo chinês, aos empresários chineses, aos empresários brasileiros, pelos acordos que nós vamos assinar hoje. Tenho certeza de que vocês estão dando uma contribuição inestimável para que a gente possa construir, neste século XXI, uma outra história da Humanidade. A história em que China e Brasil nunca mais serão esquecidos na roda de conversa dos países ricos, ou porque seremos tão ricos quanto eles, ou porque eles dependerão de muitas coisas que nós saberemos produzir. E vocês não imaginam o prazer, a satisfação de nós começarmos a sentir que nós somos grandes, que nós temos importância, e que ninguém nunca mais vai sentar à mesa de negociação dizendo: “Não precisamos convidar China e Brasil, porque eles são pobres”. Nós estamos aprendendo a gostar de sermos ricos. Nós estamos aprendendo a gostar de levar benefícios para a parte mais pobre da nossa população. E nós sabemos, China e Brasil - e os dois governos sabem - que ainda temos que fazer muito para consolidar um padrão de vida adequado para o nosso povo. Uma coisa o mundo tem que ter certeza: não há volta. Nós queremos nos transformar em duas grandes economias. E para que isso aconteça, nós precisamos ter coragem de, a cada dia, renovar e fortalecer a nossa parceria. Muito obrigado.

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Inauguração do Centro de Estudos Brasileiros em Pequim, na China

Discurso do Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante cerimônia de inauguração do Centro de Estudos Brasileiros. Pequim, China, 19/05/2009

Senhor Presidente da Academia de Ciências enfrentamos nesses tempos de transformações Sociais da China, no plano internacional. Ministros brasileiros que me acompanham Há 35 anos, a China e o Brasil nesta delegação, Celso Amorim, das Relações estabeleceram relações diplomáticas, Exteriores; Franklin Martins, da Secretaria de iniciando uma cooperação que se fortaleceu, Comunicação Social, sobretudo nos últimos anos. Com base na Senhor secretário-geral do Centro de amizade e no respeito mútuo, aperfeiçoamos Estudos Brasileiros da Academia de Ciências continuamente nossos canais de diálogo e Sociais da China, avançamos lado a lado no desenvolvimento Senhoras e senhores da comunidade de importantes projetos. acadêmica chinesa, Somos economias dinâmicas e Amigos da imprensa, complementares. Por essa razão temos podido Meus amigos e minhas amigas brasileiras, intensificar a cooperação em diversas frentes, chineses, como nas áreas de energia, de aviação e de Embaixadores convidados de outros países, exploração de recursos minerais. Temos É uma honra visitar uma das mais uma bem sucedida cooperação em ciência e reconhecidas instituições acadêmicas da tecnologia, com o emblemático programa de China e de toda a Ásia, cuja excelência é satélites, cujos benefícios estendemos a outros reconhecida em todas as áreas de pesquisa a países em desenvolvimento. que se dedica. O comércio bilateral vem alcançando Manifesto minha satisfação de estar números recordes a cada ano e nos mantemos presente na abertura do Centro de Estudos empenhados em ampliar e diversificar nosso Brasileiros da Academia de Ciências Sociais intercâmbio. Em 2009 a China passou a ser o da China. Esta é uma ocasião propícia para principal parceiro comercial do Brasil. compartilhar com os senhores algumas Temos, ainda, o desafio de explorar reflexões sobre a parceria estratégica entre a reciprocamente o imenso potencial de China e o Brasil, analisando os desafios que investimentos que nossas economias oferecem.

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 121 O dinamismo da relação entre China e Brasil Senhoras e senhores, pode ser aferido de várias maneiras. Num No atual contexto de crise econômica, contexto marcado por forte ênfase na diplomacia nossos governos têm interagido de maneira presidencial, a interação entre Chefes de Estado construtiva na busca de uma nova arquitetura é um indicador importante das prioridades. financeira internacional. Podemos fazê-lo Dou-lhes um exemplo: de julho de 2008 ao final porque soubemos dar respostas à crise que de 2009 o Presidente Hu Jintao e eu teremos nos não criamos e que ameaçava fazer retroceder reunido em nove ocasiões. conquistas duramente obtidas por nossos Nesses encontros e agora nesta visita que povos. faço a Pequim, renovamos a determinação de Embora o epicentro da crise esteja nos seguir aprofundando a parceria entre China e países desenvolvidos, a Cúpula de Londres Brasil. Prova desse firme propósito é a decisão evidenciou que não há meio de superá-la que tomamos de elaborar um Plano de Ação sem o envolvimento direto dos países em Conjunta que, de forma concreta, lançará desenvolvimento. Isso deve se refletir, por novas bases para uma ampla cooperação no exemplo, na maior participação de países período 2010-2014. como a China e o Brasil no processo decisório Senhoras e senhores, de instituições como o Fundo Monetário Ao longo desses 35 anos de amadurecida Internacional e o Banco Mundial. convivência, China e Brasil vêm mostrando A adequação das normas internacionais ampla convergência de interesses e prioridades à realidade não deve se limitar, contudo, na busca de um desenvolvimento sustentado à reforma das organizações econômicas. e na construção de uma ordem internacional Também é preciso adaptar as instituições mais justa. políticas às profundas mudanças ocorridas no O sistema internacional passa hoje mundo nas últimas décadas. por grandes transformações. Os países É inadiável a democratização das em desenvolvimento têm conseguido instituições dedicadas às questões de desempenhar um papel cada vez mais ativo segurança internacional, como o Conselho nas instituições internacionais e nas discussões de Segurança da ONU. Para preservar sobre a reforma da governança global. sua credibilidade, é preciso torná-lo mais Como duas grandes nações em representativo, equilibrado e eficaz. Isto desenvolvimento, participamos de será alcançado com a maior participação de mecanismos como os Brics, o G-5, o G-20 países em desenvolvimento, inclusive como comercial e o G-20 financeiro, o que nos membros permanentes. permite intensificar o diálogo sobre grandes Se retardarmos excessivamente estas temas da agenda internacional. mudanças, estaremos debilitando as próprias Já foi o tempo em que apenas reagíamos Nações Unidas. aos acontecimentos. O mundo multipolar Senhoras e senhores, que emerge no século XXI vai nos encontrar Muitos são os desafios internos que China atuando no centro do processo decisório e Brasil enfrentam. Vivemos a condição de global com uma perspectiva multilateral. pertencer ao mundo industrializado e ao

122 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 mundo em desenvolvimento. Como países em desenvolvimento, compartilhamos o objetivo de garantir um crescimento econômico sustentável, com benefícios concretos para todos os segmentos de nossas sociedades. A troca de experiências sobre nossas realidades representa fator de enriquecimento dessas duas grandes nações. Precisamos promover o intercâmbio, o diálogo, a interação entre empresários, cientistas, estudantes, turistas, enfim, entre cidadãos brasileiros e cidadãos chineses. Precisamos comparar nossas políticas de desenvolvimento, nossos programas de combate à pobreza. Queremos conhecer melhor a cultura milenar da China e gostaríamos que os chineses soubessem mais sobre a arte e a literatura brasileira. Os esforços do Instituto de Estudos Latino- Americanos desta Academia e de seu diretor, Zhen Bingwen, são fundamentais para essa aproximação. O Centro de Estudos Brasileiros que hoje se inaugura prestará enorme contribuição para o nosso conhecimento mútuo. Servirá, igualmente, de ponte entre as instituições acadêmicas brasileiras e as chinesas. Estou certo de que o Centro desenvolverá, com padrão de excelência, pesquisas sobre o Brasil, promoverá estudos da língua portuguesa e será importante elemento difusor da nossa cultura na China. A China e o Brasil são dois gigantes unidos pelo desejo permanente de melhorar as condições de vida de nossas populações. Pelos nossos interesses e dimensões estamos destinados a nos encontrar, unidos, em diversos tabuleiros da cena internacional e em diversas coalizões. Muito obrigado.

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Viagem do Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, à Turquia

Discurso do Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante jantar oferecido pelo Presidente da Turquia, Abdullah Gül. Ancara, Turquia, 22/05/2009

Excelentíssimo senhor Presidente, brasileira haviam firmado, em 1858, o Abdullah Gül, da República da Turquia, primeiro tratado bilateral regulando comércio Senhora Hayrünissa, e navegação. Minha mulher, Marisa Letícia, Em 1927, estabelecemos relações Altas autoridades da Turquia, diplomáticas e, em 1931, o Brasil abriu Ministros que me acompanham nesta Legação em Ancara, após a instalação da viagem, Celso Amorim, Miguel Jorge, Legação turca no Rio de Janeiro, em 1928. Os Franklin Martins, laços entre os dois países são antigos e vêm- Senhoras e senhores integrantes do corpo se fortalecendo ao longo dos anos. Ganham diplomático, agora maior intensidade. Senhoras e senhores, Em 2004, o ministro Celso Amorim Completamos hoje três dias desta que é a realizou a primeira visita oficial de um primeira viagem de um presidente brasileiro chanceler brasileiro à Turquia. A visita de à Turquia. Depois de visitar Istambul, cidade Vossa Excelência a Brasília em 2006, quando de grande beleza natural e fascínio histórico, estabelecemos a Comissão Bilateral de Alto tivemos hoje em Ancara um dia de intenso Nível, muito contribuiu para a aproximação trabalho. Pude constar como é que a capital entre nossos países. reúne a marca das civilizações da Antiguidade Senhor Presidente, e o selo da Turquia moderna. Revitalizada por Durante nossas conversações - e as que Mustafa Kemal Ataturk, Ancara constitui a mantive com o Primeiro-Ministro Erdogan síntese deste país, elo por excelência entre o -, pudemos passar em revista as relações Ocidente e o Oriente. entre nossos países e avaliar conjuntamente O Brasil, já como nação independente, no as promissoras perspectivas que se abrem. século XIX, foi atraído por esta civilização. A cooperação econômica avança. Nosso Em 1875, o Imperador Dom Pedro II visitou comércio bilateral superou pela primeira vez Istambul. O Império Otomano e a monarquia a marca de US$ 1 bilhão em 2008. Importante

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 125 delegação de empresários brasileiros me atualidade: a democracia, o respeito aos acompanha à Turquia e participou em Istambul direitos humanos, a promoção da justiça de exitoso Seminário Empresarial. Além dos social, o fortalecimento do multilateralismo. investimentos diretos, avançamos no campo Compartilhamos a necessidade de encontrar da energia, como demonstram os contratos uma saída negociada para o Oriente Médio. celebrados entre a Petrobras e a TPAO. Nossas Pautamos nossa atuação pelo engajamento da duas empresas exploram promissoras jazidas promoção da paz. Favorecemos iniciativas de petróleo na costa de Sinop e de gás natural que possam levar israelenses e palestinos em Kirklareli. a um acordo definitivo, baseado no O Brasil está pronto a cooperar com a reconhecimento de um Estado Palestino digno Turquia para a diversificação de sua matriz (incompreensível) com Israel. A Turquia tem energética. Na área dos biocombustíveis, credenciais para desempenhar papel central detemos avançada tecnologia, sobretudo nesse conflito, inclusive no que tange à para a produção do etanol. A produção de reconciliação em lugares interpalestinos. biocombustíveis, a partir da biomassa, tem Turquia e Brasil são igualmente importantes grande potencial na Turquia, país que possui economias e possuem peso e influência solos férteis e grande incidência solar. crescentes na cena internacional. O início das operações regulares da Participamos do G20 e de outros foros Turkish Airlines, ligando Istambul a São internacionais. Na recente Cúpula de Londres, Paulo, aproximará ainda mais nossos países. reafirmamos a disposição de trabalhar Essa iniciativa estimulará o turismo e será conjuntamente pela retomada do crescimento favorecida pela instalação de Consulados- econômico, com sustentabilidade financeira. Gerais de nossos países em Istambul e em São Para tanto, temos de democratizar o FMI Paulo. e o Banco Mundial. Somente por meio do Senhor Presidente, diálogo entre as nações desenvolvidas e A Turquia promoveu recentemente, em em desenvolvimento, poderemos alcançar Istambul, memorável reunião da Aliança das soluções abrangentes e duradouras, que Civilizações, projeto nascido de iniciativa apontem para uma nova ordem internacional conjunta de seu governo e da Espanha, à qual mais justa e democrática. O combate à fome o Brasil se associou desde a primeira hora. e à pobreza deve constituir a prioridade na A repercussão internacional desse evento, construção dessa nova ordem. A eliminação organizado com competência pelo governo das distorções no comércio internacional e a turco, foi extraordinária. rápida conclusão das negociações da Rodada O Brasil sediará a próxima edição da de Doha da OMC são essenciais, em especial Conferência no Rio de Janeiro, em 2010. para os países mais pobres. Agradeço, desde já, a generosa oferta de poder O Brasil também defende a reforma do compartilhar a valiosa experiência da Turquia Conselho de Segurança das Nações Unidas, em sua organização. que reflita a atual realidade internacional, Senhor Presidente, com a adequada participação dos países em Nosso diálogo está rodeado de valores desenvolvimento, inclusive entre os membros e percepções comuns sobre questões da permanentes. Somente assim o Conselho

126 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 assegurará a legitimidade e a eficácia necessárias. Senhor Presidente, Retorno hoje ao Brasil profundamente enriquecido por esses dias que passei neste país amigo. Não posso deixar de expressar minha gratidão pela generosa assistência que o povo e o governo da Turquia demonstraram quando tivemos que retirar grande número de brasileiros ameaçados pela Guerra (incompreensível). Levo a lembrança dos contatos proveitosos que pude ter com Vossa Excelência, com o Primeiro-Ministro Erdogan e com o grande número de interlocutores que pude encontrar. Levo também a recordação de uma grande nação, que preza os valores da democracia, e de um povo muito parecido com o povo brasileiro na sua alegria e generosidade. Quero pedir a todos os convidados que levantemos um brinde ao presidente Abudullah.

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Sessão do Conselho de Direitos Humanos da ONU

Discurso do Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante Sessão do Conselho de Direitos Humanos da ONU. Genebra, Suíça, 15/06/2009

Senhoras e senhores, princípios de universalidade, interdependência É com grande satisfação que me dirijo ao e indivisibilidade dos direitos humanos. Conselho de Direitos Humanos. A figura de Sérgio Vieira de Mello estará Gostaria de cumprimentar a Alta para sempre associada aos mais altos valores Comissária, Navanethem Pillay. O histórico defendidos pelas Nações Unidas. da vida de Pillay é a maior prova de seu Senhor Presidente, comprometimento com a causa dos direitos Sabemos que o tratamento dos direitos humanos. Em abril último, sua contribuição humanos é um dos principais desafios foi fundamental para o sucesso da Conferência do sistema multilateral. A criação deste de Revisão de Durban. Conselho, para a qual o Brasil tanto Senhor Presidente, tive a grande satisfação contribuiu, representou avanço importante. de recebê-lo em recente visita ao Brasil durante Reflete a necessidade de substituir a dinâmica a assinatura, em Manaus, do compromisso contraproducente de tempos passados por um “Mais Amazônia pela Cidadania”. Permita-me ambiente de cooperação e convencimento. expressar a satisfação do governo brasileiro Um de seus instrumentos inovadores é o com o sucesso da primeira presidência Mecanismo de Revisão Periódica Universal. africana do Conselho de Direitos Humanos Ao garantir avaliação abrangente e transparente sob sua sábia liderança. Ao longo de seu da situação de direitos humanos em todos os mandato, este Conselho fortaleceu-se em sua membros da ONU, o Mecanismo tornou o vocação para o diálogo, em seu compromisso sistema mais racional e mais equilibrado. com a universalidade de seus temas. O Brasil se orgulha de ter sido um dos Senhor Presidente, primeiros países a apresentar seu relatório De certo modo, a luta pelos direitos nesse novo modelo. O Conselho está mais humanos se confunde com a minha trajetória apto a responder prontamente a situações pessoal e política. (incompreensível) que merecem atenção especial e urgente da Em sua curta e marcante gestão, Vieira comunidade internacional. de Mello defendeu um enfoque abrangente Estou certo de que a maior ênfase na e equilibrado, que leva em consideração os cooperação produzirá resultados tangíveis.

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 129 Uma agenda positiva é mais eficaz para às ações concretas. O Brasil investe na melhorar as condições de vida da população cooperação Sul-Sul como forma de promover afetada e prevenir novas e sistêmicas violações os direitos humanos. de direitos humanos. Em diversas regiões do continente Agradeço a forte aprovação deste Conselho africano, prestamos cooperação técnica à proposta brasileira sobre Metas Voluntárias na área de pesquisa agrícola com vistas a em Direitos Humanos, como parte das promover o direito à alimentação. Na área comemorações dos 60 anos da Declaração da saúde, estamos participando dos esforços Universal de 1948. Este documento é para ampliar o acesso a medicamentos para importante para a conjugação entre igualdade Aids, por meio da construção de fábrica de e liberdade em cada país, indispensável à antirretrovirais em Moçambique. conquista da paz entre os povos. No Haiti, emprestamos um novo É fundamental estender a mão a governos significado às operações de paz da ONU ao nacionais e atraí-los para colaborar com a demonstrar que, para se obter a verdadeira comunidade internacional de forma aberta paz, não basta combater a violência pela força e receptiva. Governos acuados tendem ao das armas: deve-se, ao contrário, promover isolamento e ao radicalismo. Não interessa a o desenvolvimento econômico e, com ele, a ninguém um ambiente que incentiva o rancor inclusão e justiça social. Na Palestina, além de e alimenta a intransigência. Este Conselho importante contribuição financeira, estamos deve buscar no diálogo, e não na imposição, implementando, juntamente com a África do o caminho para fazer avançar a causa dos Sul e com a Índia, projeto de inclusão social direitos humanos. em Ramalá. O Brasil trabalha para que este Conselho se Quero fazer um apelo à paz. Junto-me a afirme como uma instância universal, objetiva outras vozes que vêm proclamando mudanças e cooperativa, à qual todos - governos, no Oriente Médio. Não podemos desperdiçar sociedade civil, indivíduos - possam recorrer os novos ventos de mudanças. para garantir que os direitos humanos sejam Senhor Presidente, plenamente respeitados em todos os países. Em momento de crise econômica mundial A universalidade só tem consistência como o que vivemos precisamos, mais do que quando incorpora a diversidade e a pluralidade, nunca, unir esforços. A atenção aos direitos respeitando diferentes costumes, tradições, humanos é parte indispensável de qualquer visões científicas, racionalidades, crenças e estratégia para superar os efeitos da crise pensamentos. mundial que eclodiu em setembro de 2008. Senhor Presidente, Foi esse o espírito que animou o Brasil, A realização dos direitos econômicos, juntamente com os companheiros africanos sociais e culturais não é apenas essencial para e com a Rússia, Índia e China, a promover garantir um padrão de vida digno a todos. Sessão Especial do Conselho sobre a dimensão Ela é, sobretudo, importante para preservar humana da atual crise econômica e financeira. direitos civis e políticos, para consolidar o No Brasil, a consolidação da democracia e Estado de Direito e para construir sociedades a consagração dos direitos humanos avançam democráticas justas e prósperas. com o esforço do governo e a determinação Acredito que o exemplo é a melhor forma da nossa sociedade. Desde 2003 definimos de persuasão. É preciso passar das palavras uma moldura institucional para tratar do

130 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 tema dentro do governo. Conferimos status possa emergir uma ordem internacional que ministerial à Secretaria de Direitos Humanos e recompense a produção e não a especulação, à Secretaria da Promoção da Igualdade Racial que respeite padrões ambientalmente viáveis, e à Secretaria de Políticas para as Mulheres. que faça do comércio internacional um Adotamos políticas econômicas e instrumento do desenvolvimento, que apoie financeiras responsáveis, sem comprometer os esforços para combater a pobreza e os os investimentos na área social. O programa desequilíbrios que maculam o mundo hoje. Fome Zero, por meio do Bolsa Família, A crise financeira, que nasceu da assegura alimentação regular e adequada e desregulação das economias mais ricas, não já atinge 11 milhões de famílias pobres no será pretexto para incentivar o descumprimento Brasil. Ao longo dos últimos seis anos e meio, das obrigações de cada Estado com a promoção nos esforçamos para garantir emprego e renda e proteção dos direitos humanos. Tampouco para as pessoas. Reduzimos a desigualdade, deve conduzir a que sejam descumpridos diminuindo pela metade a pobreza extrema. compromissos com os mais necessitados. Dez milhões de brasileiros saíram da miséria, O Congresso brasileiro acaba de aprovar, 20 milhões migraram para a classe média. O por iniciativa do Executivo, legislação salário mínimo real cresceu 65%. Criamos que regulariza a situação de centenas de mais de 10 milhões de empregos formais. milhares de migrantes no País. O Brasil foi e Foram medidas importantes e essenciais, continuará a ser um país aberto e solidário aos mas ainda insuficientes para saldar o legado trabalhadores migrantes e suas famílias. de desigualdades no meu país. Temos muito Apesar do empenho da comunidade caminho pela frente. internacional em eliminar todas as formas de Assinarei, em breve, um decreto presidencial intolerância, nossas sociedades continuam instituindo o 3º Programa Nacional de Direitos a testemunhar os flagelos causados pela Humanos, que o Brasil introduziu já em 1996, discriminação. atendendo às recomendações da Conferência Há menos de dois meses, na Conferência de Viena, de 1993. A terceira edição do de Revisão de Durban, reafirmamos nosso Programa se baseia nas resoluções de uma compromisso coletivo de combater o ampla conferência nacional concluída em racismo, a discriminação racial, a xenofobia Brasília, em dezembro passado, envolvendo e as formas correlatas de intolerância. Agora a participação direta de milhares de cidadãos. é preciso zelar pelo cumprimento dessas Incorpora, também, propostas aprovadas em promessas. Não pode haver respeito integral 50 conferências nacionais que meu governo aos direitos humanos em um mundo onde promoveu desde 2003, somando 4 milhões é crescente a desigualdade entre pessoas de pessoas num debate democrático sobre as e entre nações. A reforma das instituições políticas públicas que concretizam direitos internacionais, com maior participação dos humanos: da saúde à educação profissional, países em desenvolvimento em suas decisões, da diversidade sexual à segurança alimentar, é essencial para assegurar uma governança do desenvolvimento agrário à proteção do mais justa e eficaz. meio ambiente. O mais importante é garantir que a Senhor Presidente, dignidade dos seres humanos esteja sempre Como governante de um país em no centro das atenções e preocupações da desenvolvimento, espero que dessa crise comunidade internacional. Tenho certeza de

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 131 que, com esse enfoque, será muito mais fácil acabamos de legalizar centenas de milhares promover uma cultura de respeito aos direitos de imigrantes que viviam ilegalmente no País, humanos em todo o mundo. para dar uma resposta, para dar um sinal aos Garantir e promover a paz é a razão de preconceituosos, àqueles que imediatamente existir das Nações Unidas. Não haverá paz querem encontrar os responsáveis pela sua no mundo enquanto persistirem injustiças, própria desgraça, pelo seu desemprego. E não desigualdades e intolerância. A tolerância são os imigrantes os responsáveis pela crise, está na base da verdadeira paz e concórdia, é não são os pobres do mundo [os] responsáveis a base para a efetiva realização de todos os pela crise. Os responsáveis pela crise são os direitos humanos. mesmos que durante séculos sabiam como Uma das maiores conquistas dos direitos ensinar a administrar os Estados. Sabiam ter humanos é a democracia, é a convivência ingerência nos Estados pobres da América democrática na diversidade. Ninguém precisa Latina e da África. E esses mesmos senhores, falar a mesma língua, ninguém precisa ter que sabiam de tudo há algum tempo, hoje não a mesma cor. Não precisam ter as mesmas sabem mais nada. Não conseguem explicar idéias ou credos. Precisamos, sim, é de ter a como davam tantos palpites sobre as políticas grandeza de sentar em torno de uma mesa, dos países pobres e que não têm sequer uma discutir nossas propostas e fazer avançar palavra para analisar a crise dos países ricos. nossas ideias. Este é um momento em que os países Senhor Presidente, pobres precisam fazer valer a soberania dos Amigos e amigas aqui presentes, seus Estados. Os países não são respeitados Alta Comissária, porque são ricos. Os países não são respeitados Eu queria dizer a vocês que é exatamente porque têm alta tecnologia. Os países não são no lugar em que se discute direitos humanos respeitados apenas porque têm um grande que nós precisaríamos fazer uma discussão sistema de defesa. Os países são respeitados sobre a crise econômica mundial, suas causas quando seus dirigentes se respeitam. Os países e seus (incompreensível). são respeitados quando seus dirigentes falarem O que nós estamos percebendo é que, em [falam] exatamente aquilo que o povo deseja vez de os países pobres ficarem reclamando que eles falem. Não existe, na história da dos efeitos da crise, nós temos a oportunidade, humanidade, nenhum interlocutor que respeite pela primeira vez de, junto com os países outro interlocutor que não se respeita. ricos, debatermos a crise com profundidade, A discussão econômica, neste momento, as suas causas, os seus efeitos e as soluções embora eu faça parte do G-20, exige a para que a crise não repercuta mais fortemente participação de todos os países do mundo. na parte mais pobre da humanidade. Disse ao secretário Ban Ki-Moon que a ONU Essa crise traz um efeito perverso, deveria trazer para dentro das Nações Unidas sobretudo quando os imigrantes - sobretudo o debate sobre as questões econômicas, para os pobres africanos, latino-americanos, que pudéssemos ouvir o presidente Obama, asiáticos - que transitam pelo mundo à procura para que pudéssemos ouvir o presidente Hu de oportunidade de trabalho, começam a ser Jintao, mas que também pudéssemos ouvir enxergados como responsáveis por ocupar os países menores do mundo. Porque, de um lugar das pessoas filhas dos países. Como forma direta ou indireta, todos estão sofrendo disse em meu documento, no Brasil nós a consequência da irresponsabilidade de um

132 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 sistema financeiro desregulado e que durante tanto tempo viveu da especulação e não da produção. Nós não temos um momento mais importante do que este. Falo a vocês com a convicção de um país que foi o último a entrar na crise e será o primeiro a entrar [sair] na [da] crise, mas que estava vivendo um momento excepcional, como todos os países. A África está consolidando a sua democracia, na América Latina estamos consolidando a nossa democracia. E nós temos clareza de que os princípios elementares dos direitos humanos são o direito de a pessoa [se] levantar de [pela] manhã e tomar um café, almoçar, jantar, ter acesso à cultura, ter acesso à educação. Não é mais aquele tempo em que direitos humanos era apenas o direito de nós gritarmos que queríamos (incompreensível). Hoje, nós não queremos gritar. Nós queremos comer, queremos estudar, e queremos que o bolo da riqueza produzida no mundo seja distribuído de forma mais justa, mais solidária, para que a gente possa concretizar, definitivamente, os direitos humanos no planeta Terra. Muito obrigado

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Prêmio Mundial das Telecomunicações e Sociedade da Informação

Discurso do Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante visita à sede da União Internacional de Telecomunicações (UIT), onde foi agraciado com o Prêmio Mundial das Telecomunicações e Sociedade da Informação. Genebra, Suíça, 15/06/2009

Meu caro secretário-geral, meu amigo número de pessoas, a fim de que possam Touré, exercer sua cidadania. O acesso às tecnologias Companheiros ministros brasileiros que deve extrapolar a dimensão de infraestrutura me acompanham nesta viagem, de comunicações. Os cidadãos devem estar Senhores e senhoras conselheiros da UIT, capacitados a utilizar essas tecnologias de Jornalistas, maneira interativa e crítica. É assim que Amigos e amigas vamos promover a cidadania e a diversidade O Brasil se orgulha de ser membro da União cultural na sociedade do conhecimento. Internacional de Telecomunicações a partir Estamos determinados a resolver o de 1877. Desde que a UIT foi criada, para problema da inclusão digital no nosso país. padronizar o telégrafo, muita coisa mudou. Estamos equipando todas as escolas públicas O telefone, o rádio, a televisão e a internet urbanas brasileiras com internet banda larga. estão hoje em todas as partes; dominam as Estamos distribuindo, experimentalmente, comunicações. O mundo ficou menor e as milhares de computadores portáteis para pessoas ficaram mais próximas. alunos e professores da rede pública de Cerca de um mês atrás, em 18 de educação básica. Já distribuímos um kit com maio, comemoramos o Dia Mundial das dez computadores e outros itens a mais de 5.500 Telecomunicações e da Sociedade da municípios brasileiros para a implantação de Informação. A ocasião nos fez lembrar da telecentros comunitários, que são espaços de importância de combater a exclusão digital, convivência, aprendizado e lazer. Reduzimos que é hoje uma das maiores limitações na o imposto sobre as soluções de informática e busca do desenvolvimento. criamos linhas de financiamento para a rede Para reduzir as desigualdades, precisamos varejista, o que contribuiu para aumentar a aumentar o acesso às tecnologias modernas de venda de computadores no Brasil. Hoje, há comunicação. Elas devem chegar a um maior quase 30 milhões de computadores pessoais

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 135 no país. Em 2003, eram apenas 15 milhões. precisamos de um instrumento multilateral Os programas brasileiros de inclusão digital que estimule uma efetiva cooperação e de governo eletrônico utilizam o software internacional. aberto e livre. Essa opção reduz custos e O desafio dos crimes cibernéticos demonstra permite a construção de ambiente digital a importância do debate sobre a governança seguro e favorável à troca de experiências da internet. A Cúpula Mundial da Sociedade e conhecimentos. Além disso, o software da Informação concluiu que essa governança de código aberto e livre é essencial para a deve ser transparente e democrática, com a construção de uma sociedade da informação participação de governos e sociedade civil. A inclusiva, centrada na pessoa e voltada para o UIT deve fazer parte desse esforço, inclusive desenvolvimento. no Fórum de Governança da Internet das A capacidade das telecomunicações de Nações Unidas. ultrapassar fronteiras também pode ser usada Agradeço mais uma vez ao Secretário- para atividades ilícitas. A Cúpula Mundial de Geral da UIT pela honra de receber o Prêmio Sociedade da Informação deu à UIT mandato Mundial das Telecomunicações e Sociedade para aumentar a segurança na internet. da Informação. Vejo esse prêmio, Secretário, Gostaria de felicitar o secretário-geral Touré como resultado do esforço do governo pelo lançamento da Agenda Global de brasileiro para promover a inclusão digital Cibersegurança. e um espaço virtual democrático e seguro, Para garantir a segurança na internet, sobretudo para nossas crianças e adolescentes. precisamos unir nossos esforços de Com esse prêmio, o governo brasileiro cooperação. A UIT, como agência se sente ainda mais estimulado a continuar especializada da ONU, é o lugar certo trabalhando, ao lado da UIT e dos demais para coordenar esse esforço. No combate parceiros, para construir uma sociedade da à pedofilia, a UIT poderia definir padrões informação democrática e que promova cada a serem adotados por todos os países. No vez mais o desenvolvimento. combate ao crime cibernético em geral, Muito obrigado.

136 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 Apresentação da candidatura Rio 2016

Mensagem do Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante apresentação da candidatura Rio 2016. Lausanne, Suíça, 17/06/2009

Senhor Presidente, candidatura do Rio de Janeiro. O governo Senhores membros do Comitê Olímpico federal ofereceu todas as garantias possíveis e Internacional, assumiu todos os compromissos necessários. Eu gostaria de reiterar meu integral Por isso aprovamos o financiamento integral compromisso com a candidatura do Rio de do projeto. E também é esta a razão pela Janeiro para sediar os Jogos Olímpicos de qual os três níveis de governo e todo o País 2016. Assumo este compromisso porque estão unidos em apoio à candidatura do Rio entendo o extraordinário poder que o 2016. esporte tem, de transformar nações e a vida Estive recentemente em Londres e Pequim das pessoas, especialmente das mais jovens para ver o que é necessário para sediarmos e das mais humildes. Ninguém fez mais para os jogos e para aprender mais sobre o reforçar este poder do esporte do que vocês poder e sobre os valores do movimento do movimento olímpico. olímpico. Tive a honra de encontrar-me com Para o Brasil, sediar os Jogos Olímpicos muitos de vocês. Esses contatos ajudaram e Paraolímpicos em 2016 será não apenas a entender melhor a maneira pela qual os uma grande honra, será também uma forma líderes políticos podem trabalhar com os maravilhosa de catalisar as transformações líderes esportivos para obter resultados que sociais em curso no nosso país e na América beneficiem as próximas gerações. do Sul. O Rio está pronto e o Brasil está pronto. Por essa razão o meu governo tem sido Estamos à espera de vocês no Rio, em 2016. tão enfático e determinado em apoiar a Muito obrigado e boa sorte.

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Viagem do Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, ao Cazaquistão

Discurso do Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante almoço oferecido pelo presidente do Cazaquistão, Nursultan Nazarbayev. Astana, Cazaquistão, 17/06/2009

Presidente, empresários para expandir e diversificar É uma honra visitar o Cazaquistão e ter ainda mais essas trocas e atrair investimentos a oportunidade de consolidar um diálogo recíprocos. Com esse propósito, determinei lançado pela visita pioneira que o presidente ao Vice-Ministro de Indústria e Comércio Nazarbayev fez ao Brasil em 2007. Queremos Exterior que venha ao Cazaquistão em realizar o potencial de uma relação que data setembro deste ano, acompanhado de missão de 1991. O Brasil foi um dos primeiros países empresarial. a reconhecer a independência cazaque. A forte vocação agrícola de nossas A abertura de nossa Embaixada residente economias abre amplo leque de opções. A em Astana, em 2006, e a troca de visitas visita que Vossa Excelência fez à Embrapa presidenciais dão impulso ao relacionamento criou condições para que nossas empresas bilateral. Estamos reduzindo as distâncias e de pesquisa agropecuária participem dessa ampliando oportunidades de cooperação. É o cooperação. Podemos trabalhar juntos no que estão fazendo os 26 jovens cazaques que aperfeiçoamento da produção de carne, trigo e participam de um programa de intercâmbio de cultivos agrícolas em regiões semi-áridas. esportivo e educacional, em Ribeirão Preto. O Cazaquistão é uma potência energética O projeto do Centro Cultural do Cazaquistão, empenhada em diversificar sua matriz. Como concebido pelo arquiteto Oscar Niemeyer, o Brasil, apresenta condições de liderar a fará da simpática e agradável Astana uma revolução dos biocombustíveis. cidade ainda mais familiar para os brasileiros. Confio em que novas oportunidades Na esfera comercial, os avanços são se abrirão para a Embraer comprovar a palpáveis. O intercâmbio entre os dois países competitividade dos seus aviões na Ásia quintuplicou nos últimos cinco anos, mas Central. A abertura de escritório da Vale, no ano ainda está muito aquém do seu potencial. passado, em Almaty, ajudará o Cazaquistão Precisamos trabalhar em conjunto com nossos a realizar o seu vasto potencial mineral.

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 139 Ao tornar-se em breve o primeiro produtor Uma paz duradoura só virá com a promoção mundial de urânio, o país demonstra o papel do desenvolvimento econômico, a inclusão e estratégico que está chamado a desempenhar justiça social. para a economia mundial. O Cazaquistão dará contribuição ainda mais Senhor Presidente, relevante no cenário internacional quando Em tempos de crise internacional, nossos assumir as presidências da Organização para a países têm mantido políticas econômicas Cooperação e Segurança na Europa, em 2010, sólidas e iniciativas audazes. Estamos e da Organização da Conferência Islâmica, preservando empregos e protegendo conquistas em 2011. sociais. O Cazaquistão é o país que cresce mais Meus amigos, minhas amigas, rapidamente na Ásia Central. Transformou-se A Ásia Central e a América do Sul têm em um ator cada vez mais influente. experiências a compartilhar em matéria Queremos construir uma agenda que de integração regional. A experiência na contribua para reduzir as assimetrias de consolidação do Mercosul e da Unasul pode poder e democratizar as instâncias decisórias ser útil para o desenvolvimento institucional internacionais. Compartilhamos a idéia de um dos foros regionais integração da Ásia Central. mundo multipolar e a importância de revigorar Cazaquistão e Brasil são países multiétnicos as instituições internacionais. e multiculturais. Aprendemos ao longo de Continuaremos a defender a reforma das nossa história os valores da tolerância e do Nações Unidas e a necessidade, em particular, respeito à diversidade. O Brasil sediará a III de ampliação do número de membros Reunião da Aliança de Civilizações no Rio permanentes no Conselho de Segurança. de Janeiro em 2010. Essa iniciativa busca Agradeço o valioso apoio do Cazaquistão ao ajudar a superar preconceitos e polarizações pleito brasileiro. entre culturas e comunidades diferentes. Primeiro país a abrir mão de seu arsenal Ficaria muito honrado em poder contar com nuclear, o Cazaquistão tem sólidas credenciais a participação de nossos amigos cazaques na área de desarmamento e segurança. A Ásia e especialmente do presidente Nazarbayev, Central e a América Latina e Caribe são zonas nesse evento. livres de armas nucleares. Esse é um fator de Caro Presidente, meus amigos, particular transcendência no momento em que Ao agradecer ao governo e ao povo se agravam as tensões decorrentes de novos cazaques a maneira calorosa e fraterna pela testes nucleares. qual eu e minha delegação fomos acolhidos Sei do empenho do Presidente Nazarbayev em Astana, quero expressar minha convicção pela paz e a estabilidade no Afeganistão. O de que, com minha visita ao Cazaquistão, em Brasil tem participado de conferências em prol retribuição à visita do presidente Nazarbayev da recuperação do país. Nossa experiência ao Brasil, as condições estão dadas para que no Haiti indica que não basta combater a nossas relações ganhem maior dinamismo. violência com ações de dissuasão militar. Por isso, quero propor um brinde...

140 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 Visita da Presidente das Filipinas, Gloria Macapagal, ao Brasil

Discurso do Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, por ocasião da visita da Presidente das Filipinas, Gloria Macapagal-Arroyo. Brasília, DF, 24/06/2009

Excelentíssima senhora Gloria Arroyo, que nos deu a honra de visitar o Brasil em Presidente da República das Filipinas e o 1960, ano da inauguração de Brasília. senhor Jose Miguel Arroyo, Seu país se destaca numa das regiões de maior Minha companheira Marisa Letícia Lula da dinamismo no mundo atual, graças ao caráter Silva, empreendedor de seu povo e suas lideranças. Embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, Apesar da distância geográfica, estamos ministro interino das Relações Exteriores, unidos por traços históricos comuns. Filipinos Senhor Alberto Rômulo, ministro das e brasileiros compartilham o legado de povos Relações Exteriores da República das multiculturais, forjados na diversidade e no Filipinas, em nome de quem cumprimento os desejo do desenvolvimento. Representamos demais integrantes da delegação filipina, dois grandes países, com democracias Ministros Reinhold Stephanes, da consolidadas, economias diversificadas e Agricultura, Pecuária e Abastecimento; extenso patrimônio ambiental. Temos também Miguel Jorge, do Desenvolvimento, Indústria os desafios próprios das sociedades em e Comércio, desenvolvimento. Parlamentares aqui presentes, A luta contra a pobreza e as desigualdades Senadores, é um objetivo comum. Nossos programas de Deputados, inclusão social constituem importante elo Senhores integrantes do corpo diplomático, de aproximação: o Pantawid Pamilyang e o Amigos, amigas, Bolsa Família conferem a milhões de filipinos Jornalistas das Filipinas e do Brasil, e brasileiros lugar e voz em nossas sociedades. É com grande satisfação que recebo Isso significa expandir a cidadania e fortalecer a presidente Gloria Arroyo em Brasília, a democracia. nesta que é a primeira visita de um chefe de Esse ambiente de mudanças cria condições Estado filipino ao Brasil. Vossa Excelência efetivas para intensificar nossas relações. dá continuidade aos esforços de aproximação Claro indicador dessas potencialidades é o iniciados pelo seu pai, Diosdado Macapagal, comércio bilateral crescente. Entre 2004 e

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 141 2008, o intercâmbio passou de 400 milhões a da integração regional. Após a primeira reunião mais de 1 bilhão de dólares. Mas há um espaço ministerial entre os dois blocos, realizada significativo para aumentar e diversificar em Brasília, estou certo de que os próximos nossas trocas em bases equilibradas. encontros em Kuala Lumpur e em Nova Iorque, A aproximação entre a Câmara de à margem da próxima Assembléia Geral da Comércio das Filipinas e a Confederação ONU, darão novo impulso a essa aproximação. Nacional de Indústrias do Brasil será de Cara Presidente, grande valia na busca de novas oportunidades O momento que vivemos exige de nós, de negócios e no aproveitamento de nossas líderes de países em desenvolvimento, uma complementaridades. atitude firme e coerente no enfrentamento da Sei que Vossa Excelência esteve em crise. Em recentes pronunciamentos que fiz Pernambuco para a inauguração do terminal na OIT e no Conselho de Direitos Humanos de contêineres do Porto de Suape. Esperamos em Genebra condenei a onda de xenofobia que outros sigam os passos da Tecon Suape que acompanha a retração das economias dos e ampliem investimentos em infraestrutura países mais ricos. no Brasil. Nossas empresas também estão A crise atual resulta de um ciclo de quase descobrindo nas Filipinas uma sólida plataforma três décadas de equívocos cometidos em nome para atividades no Sudeste da Ásia. A abertura do neoliberalismo. Foram as teses do Estado do escritório da Vale do Rio Doce em Manila é mínimo, as privatizações desenfreadas de um passo importante nessa direção. empresas públicas e a crítica à forte presença Com a assinatura de instrumentos bilaterais reguladora do Estado que conduziram a nas áreas de agricultura e pesquisa agropecuária, economia global à beira do abismo. Parte do podemos aumentar significativamente as mundo em desenvolvimento enfrenta severa possibilidades de produção de alimentos e redução da demanda externa por seus bens de matéria-prima. Os entendimentos entre a e serviços. As remessas dos trabalhadores Embrapa e a PADCC serão fundamentais para migrantes diminuíram, comprometendo uma o intercâmbio de experiências em tecnologia importante fonte de recursos de vários governos. na agricultura tropical. Mas a crise é também uma oportunidade O acordo sobre cooperação em bioenergia para a construção de uma nova ordem e abre caminho para que compartilhemos nosso governança internacionais. Ela nos mostra que conhecimento na produção de etanol. É o mundo não pode ser regido por um clube de muito auspiciosa a aprovação de lei filipina sete ou oito países ricos, sem levar em conta que introduz os biocombustíveis na matriz mais da metade da humanidade. energética do país. Podemos avançar muito na As organizações políticas e econômicas utilização de combustíveis renováveis. multilaterais não podem mais prescindir do Como membros fundadores do Mercosul e peso e da legitimidade conferida pelos países da Asean, estamos conscientes da importância em desenvolvimento. É impensável que o

142 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial continuem sendo um condomínio de europeus e norte-americanos. As Nações Unidas também carecem de reforma para oferecer respostas eficazes aos desafios cada vez mais complexos do cenário internacional. A esse respeito, desejo manifestar meu profundo reconhecimento à decisão do governo filipino de apoiar o pleito brasileiro a ocupar assento permanente em um futuro Conselho de Segurança ampliado. Nossa aliada de primeira hora na OMC, as Filipinas têm atuado lado a lado com o Brasil no G-20 em prol de um resultado equilibrado da Rodada de Doha. Nosso desejo comum é de acabar com as anomalias que caracterizam, em especial, o comércio agrícola. Na agenda ambiental, estamos comprometidos com um resultado ambicioso, na Cúpula de Copenhague, sobre mudança do clima. Todos somos responsáveis por conciliar crescimento e proteção ambiental. Mas essas responsabilidades são diferenciadas. Os países ricos não podem ignorar seus compromissos mandatórios de redução de emissões. Querida amiga Gloria Arroyo, As decisões que tomamos durante sua histórica visita lançam as bases para que consolidemos cada vez mais essa parceria. No seu retorno a Manila, peço que leve a mensagem de estima e amizade do povo brasileiro pelos filipinos e nossa admiração pela sua luta em busca de um futuro melhor. É com esse espírito de confiança e otimismo que proponho um brinde à saúde e à felicidade pessoal de Vossa Excelência, ao seu esposo e ao bem-estar do povo-irmão das Filipinas.

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 143

Reunião Ministerial da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE)

Discurso proferido pelo Ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, por ocasião da Reunião Ministerial da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), no painel intitulado “Keeping Markets Open for Trade and Investment “. Paris, França, 25/06/2009

(versão em português) Assunto que causa grave preocupação é a A redução no comércio mundial tem sido renovada tendência de países desenvolvidos mais aguda do que nos estágios iniciais da a recorrer a formas de subsídios que mais Grande Depressão. A causa principal é a distorcem a agricultura: subsídios de exportação. queda na demanda e na produção. Ademais, os chamados subsídios anti- A OIT estima que até 60 milhões de cíclicos incrementam os preços e a produção empregos podem ter sido perdidos entre 2007 no plano doméstico às custas de produtores e 2009. Isso acarretará maior demanda por estrangeiros. Nos mercados internacionais, medidas protecionistas. em momentos como o atual, isso tem o efeito Não há até o momento muitas elevações de de deprimir ainda mais os preços. tarifas. A maior parte dos países desenvolvidos Tais subsídios causam grave impacto não possui margem entre as tarifas máximas nas economias dos países mais pobres. Para e as aplicadas. Os pacotes multibilionários alguns deles, isso significa o adiamento, por de “resgate” e de “estímulo”, no entanto, anos ou décadas, da realização dos Objetivos invariavelmente causam impacto no comércio de Desenvolvimento do Milênio. e no investimento. O protecionismo tem grande efeito No passado, um dos argumentos comumente exemplar. Uma vez que um Governo protege apresentados por alguns países desenvolvidos sua indústria, outros Governos são levados para justificar direitos de compensação sobre a “ajustar as regras”. Os países pobres não indústrias privatizadas era de que elas não podem dar-se ao luxo de recorrer a seus existiriam não fosse o apoio governamental. Tesouros como forma de reação a esse tipo de O mesmo raciocínio pode ser válido agora competição artificial. Confrontado com tais a propósito das indústrias automotivas e pacotes, os países em desenvolvimento serão financeiras, entre outras, em alguns países tentados a utilizar as amplas margem à sua desenvolvidos. disposição de acordo com as atuais normas.

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 145 O protecionismo é uma doença perversamente contagiosa. É transmitida dos ricos para os pobres. Seria ingênuo esperar que clamores ou declarações políticas poderão contê-lo, quanto mais erradicá-lo. A conclusão da Rodada de Doha favoreceria significativamente as possibilidades de aumento do protecionismo. Porém, se quisermos concluir a Rodada agora, não devemos emendar o pacote que temos sobre a mesa, o qual demandou sacrifícios de todas as partes. Estamos convencidos de que um diálogo intenso ajudará a esclarecer ainda mais o valor das concessões que já foram feitas. Acima de tudo, não nos esqueçamos de que, se os benefícios devem estender-se a todos, esta é a Rodada de Desenvolvimento cujo propósito central é o de criar novas oportunidades para os países desenvolvidos, especialmente os mais pobres.

146 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 Conferência das Nações Unidas sobre a Crise Financeira e Econômica Mundial e seu Impacto sobre o Desenvolvimento

Discurso do Ministro das Relações Exteriores, Embaixador Celso Amorim, na Conferência das Nações Unidas sobre a Crise Financeira e Econômica Mundial e seu Impacto sobre o Desenvolvimento. Nova York, EUA, 26/06/2009

Senhor Presidente da Assembleia Geral, atual crise. Devemos dar ouvidos a suas Senhores Chefes de Estado e de Governo, preocupações. Devemos levar em conta Senhores Ministros, seus interesses, ao empreender nossas ações Senhoras e Senhores, coletivas em prol da recuperação. As perdas ocasionadas pela atual crise Em Doha, em dezembro último, econômica afetam economias e sociedades confrontávamo-nos todos com a temível em todo o globo. O Brasil tem apoiado possibilidade de um colapso financeiro entusiasticamente uma participação mais nos principais países desenvolvidos. A intensa das Nações Unidas no debate sobre a profundidade e o escopo da turbulência eram crise financeira e econômica. ainda essencialmente desconhecidos. Provou- O Presidente Lula está pessoalmente se oportuna nossa decisão de estabelecer, empenhado em alcançar este objetivo. Em sua então, um mandato para a realização desta intervenção no Debate Geral da 63a. Sessão conferência. Estabelecemos um processo da Assembleia Geral, apresentou propostas multilateral para discutir a crise financeira concretas para a resposta das Nações Unidas baseada na legitimidade e no caráter inclusivo à crise. Desde então, o Presidente Lula tem das Nações Unidas. levantado sistematicamente o assunto em Seis meses depois, a despeito de alguns diferentes foros, como o G-20 e a cúpula dos sinais positivos, o cenário global ainda está BRICs, e em contatos com outros líderes. sombrio, particularmente para os países Nas Nações Unidas, países sem voz nas mais pobres. Muitos dos ganhos duramente atuais estruturas de gestão financeira podem conquistados nos últimos anos em termos de expressar suas opiniões. Alguns deles estão crescimento econômico, redução da pobreza entre os mais pobres do mundo e foram os mais e desenvolvimento social foram perdidos ou severamente afetados pela recessão global. seriamente comprometidos. A possibilidade Eles não têm qualquer responsabilidade pela de atingir os Objetivos de Desenvolvimento

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 147 do Milênio foi seriamente comprometida. Os recursos do FMI e do Banco Mundial A contração da demanda e a escassez de devem ser aumentados. Os bancos regionais financiamento do comércio dos países pobres de desenvolvimento devem ser fortalecidos reduzem as perspectivas de recuperação. O de modo a que possam ajudar a reconstruir acesso a mercados podem abrir caminho para economias fragilizadas. Os países de que os países em desenvolvimento erradiquem menor desenvolvimento relativo devem, a pobreza e a fome. Nunca é demais insistir naturalmente, receber atenção prioritária. O na importância da conclusão bem-sucedida Brasil já anunciou sua contribuição ao FMI da Rodada de Doha da Organização Mundial e expressou seu apoio à recapitalização dos do Comércio. O êxito nessa área enviaria BMDs. Apoiamos nova alocação de Direitos mensagem poderosa contra o protecionismo, Especiais de Saque. A distribuição desses inclusive os efeitos potencialmente negativos recursos deve considerar as necessidades dos dos pacotes de estímulo lançados pelos países países em desenvolvimento, especialmente os desenvolvidos. mais pobres. A maioria dos países em desenvolvimento O regime de condicionalidades restritivas depende de exportações agrícolas. A impostas aos países em desenvolvimento eliminação, por parte dos países ricos, deve ser inteiramente reformado. Políticas de subsídios agrícolas à exportação e de anti-cíclicas com foco em proteção social, medidas de apoio interno que distorcem programas de transferência de renda, saúde e o comércio teria impacto importante na educação, recuperação financeira de empresas capacidade dos países pobres de sair da e setores econômicos, infra-estrutura e recessão por meio do comércio. Também emprego não devem ser consideradas artigos daria contribuição eficaz para a segurança de luxo para consumo exclusivo dos ricos. Na alimentar dessas nações. verdade, são os países em desenvolvimento os São urgentemente necessários esforços que mais delas necessitam, inclusive aqueles adicionais dos países desenvolvidos no sentido que não estão em condições de financiar tais de cumprir e ampliar seus compromissos medidas por seus próprios meios. de ajuda oficial ao desenvolvimento. As instituições internacionais de crédito Transferências de renda equivalentes a devem adaptar seus paradigmas para 0.7% do PIB dos países ricos representam apoiar medidas de estímulo nos países em percentual relativamente modesto para desenvolvimento. É imperativo que a latitude aqueles que as oferecem. Na verdade, isto é normativa (“policy space”) de tais países e menos do que o montante pago pelos países seu controle nacional sobre suas políticas e da OCDE a seus agricultores ineficientes. programas sejam plenamente respeitados. Porém, essas transferências fazem a diferença A crença na auto-regulação dos mercados entre a vida e a morte no caso de alguns de foi uma das causas da crise. Saudamos os seus beneficiários. esforços feitos até o momento de expandir e Sozinha, a ajuda oficial ao desenvolvimento reforçar a regulação das atividades econômicas não será suficiente. São necessárias novas e financeiras. Porém, tais medidas têm-se medidas, nos âmbitos multilateral e regional, limitado à esfera nacional. Elas devem ser para garantir a liquidez e o financiamento do coordenadas em nível global. Os países em comércio entre os países do Sul. desenvolvimento e economias emergentes

148 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 devem continuar a buscar meios criativos de em termos tanto de legitimidade como de proteger-se a si mesmos das flutuações das eficácia. principais moedas. Quotas e direitos de voto nas instituições Senhor Presidente, financeiras internacionais devem ser O caminho para a plena recuperação atualizados. Estamos confiantes em que se da economia mundial poderá ser longo e poderá aprovar uma reforma abrangente até tortuoso. Devemos olhar para além do curto abril de 2010/ janeiro de 2011. As instituições prazo e definir uma nova moldura para o de Bretton Woods devem abrir-se à cooperação desenvolvimento e as finanças que sobreviva com a Assembleia Geral e o ECOSOC. É à atual crise e impeça outras. Deve-se essencial assegurar maior transparência e reavaliar o papel do Estado, juntamente com prestação de contas no debate sobre a política o setor privado, na regulação e promoção econômica mundial. do desenvolvimento. A crise relegou a teoria Senhor Presidente, do Estado mínimo ao museu dos equívocos Esta Conferência é uma oportunidade ideológicos. Tomemos o caso do Brasil. Como histórica de mudança. Estreitou os laços entre sabem todos, o Brasil foi afetado pela crise. os Estados-membros com vistas a fortalecer, Mas foi poupado de seus piores efeitos. Em melhorar e reformar a governança econômica grande medida, isto deveu-se ao fato de que global. O fato de que tenhamos podido acordar diversificamos nossos parceiros comerciais, documento final equilibrado e ambicioso investimos no mercado interno por meio demonstra a vitalidade das Nações Unidas. da redistribuição de renda e promovemos a Provou que os céticos estão equivocados. expansão da infraestrutura. Em todas as três Devemos muito do êxito dessa empreitada dimensões, o papel do Estado foi crucial. à hábil liderança de Vossa Excelência. Esta Nossos desafios clamam por reformas da conferência não deve ser o ponto de chegada. governança global. As estruturas decisórias Nem deve ser um fim em si mesmo. Cabe a de certos órgãos da própria ONU e das nós, Estados-membros, assegurar que seja instituições de Bretton Woods - adotadas há o início de um processo pelo qual toda a mais de 60 anos - estão ultrapassadas. Não humanidade, e não apenas alguns, decida o mais refletem a atual realidade econômica e seu próprio destino. política. As estruturas atuais são deficientes Obrigado.

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 149

ATOS INTERNACIONAIS

Ajuste Complementar ao Acordo Básico Programa Executivo ao Acordo Básico de de Cooperação Técnica entre o Brasil e o Cooperação Científica e Técnica entre o Brasil Timor-Leste para Implementação do Projeto e São Tomé e Príncipe para Implementação do “Formação de Professores em Exercício nas Projeto “Alfabetização Solidária em São Tomé Escola Primária do Timor-Leste – Segunda e Príncipe – Fase V”. 20/01/2009 Etapa”. 09/01/2009 Acordo entre o Brasil e o Conselho de Ministros Ajuste Complementar ao Acordo Básico de da Bósnia e Herzegovina sobre Isenção de Visto Cooperação Técnica entre o Brasil e o Timor- para Portadores de Passaportes Diplomático, Leste para Implementação do Programa Oficiais ou de Serviço. 23/01/2009 Estratégico de Cooperação Técnica 2009-2011 na Área de Segurança Alimentar em Timor- Ajuste Complementar ao Acordo Básico Leste. 09/01/2009 de Cooperação Científica e Técnica entre o Governo da República Federativa do Brasil e Encontro de Fronteira dos Presidentes Luiz o Governo da República da Guatemala para Inácio Lula da Silva e Evo Morales Ayma – Implementação do Projeto “Apoio à Execução Declaração Conjunta de 15 de janeiro de 2009. do Programa Escolas Abertas na Guatemala”. 15/01/2009 30/01/2009

Ajuste Complementar ao Convênio Básico de Ajuste Complementar ao Acordo Básico Cooperação Técnica no Setor Elétrico com a de Cooperação Científica e Técnica entre o Venezuela. 16/01/2009 Governo da República Federativa do Brasil e o Governo da República da Guatemala para Ajuste Complementar ao Convênio Básico Implementação do Projeto “Capacitação em de Cooperação Técnica nas Áreas Agrícola e Sistemas de Produção de Frutas Temperadas Industrial com a Venezuela. 16/01/2009 para a Guatemala”. 30/01/2009

Memorando de Entendimento entre o Brasil Ajuste Complementar ao Acordo Básico e São Tomé e Príncipe sobre Cooperação em de Cooperação Científica e Técnica entre o Assuntos Aquícolas e de Pesca. 20/01/2009 Governo da República Federativa do Brasil

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 151 e o Governo da República da Guatemala Memorando de Entendimento entre o Brasil para Implementação do Projeto “Formação e a Líbia para a Promoção do Comércio, do de Técnicos em Alfabetização de Jovens e Investimento e da Infraestrutura. 19/02/2009 Adultos”. 30/01/2009 Memorando de Entendimento entre o Brasil Ajuste Complementar ao Acordo Básico a Líbia para o Estabelecimento de Consultas sobre Privilégios e Imunidades e Relações Políticas. 19/02/2009 Institucionais celebrado entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Instituto Memorando de Entendimento entre o Brasil Interamericano de Cooperação para a a Líbia sobre Cooperação no Domínio da Agricultura (IICA), para a Implementação de Educação Superior. 19/02/2009 Parceria Triangular de Cooperação Sul-Sul. 05/02/2009 Protocolo de Intenções entre o Brasil a Líbia sobre Cooperação Técnica na Área da Saúde. Memorando de Entendimento entre o 19/02/2009 Governo da República Federativa do Brasil e o Governo da República Árabe Síria para Programa Executivo Relativo ao Acordo o Estabelecimento de Consultas entre seus Marco para o Estabelecimento de um Ministérios das Relações Exteriores e dos Programa de Cooperação Internacional entre Negócios Estrangeiros. 09/02/2009 o Brasil e a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) para Ajuste Complementar de Cooperação em Promover a Alimentação Escolar no Âmbito da Aplicações Pacíficas de Ciência e Tecnologia Iniciativa América Latina e Caribe Sem Fome. Espaciais entre o Brasil e a Colômbia. 09/03/2009 17/02/2009 Ajuste Complementar ao Acordo Básico Ajuste Complementar ao Acordo Básico de Cooperação Científica e Técnica entre o de Cooperação Técnica entre o Brasil e a Brasil e o Uruguai para Implementação do Colômbia para Implementação do Projeto Projeto “Capacitação em Português como “Cooperação para o Fortalecimento do Sistema Língua Estrangeira Instrumental para Agentes e do Processo de Proteção da Propriedade do Governo Uruguaio – Polícia Rodoviária”. Industrial na Colômbia”. 17/02/2009 10/03/2009

Memorando de Entendimento entre o entre o Programa Executivo ao Acordo Básico de Brasil e a Colômbia para o Estabelecimento Cooperação Científica e Técnica entre o Brasil da Comissão Bilateral Brasil-Colômbia. e São Tomé e Príncipe para Implementação do 17/02/2009 Projeto “Implantação do Programa Nacional de Extensão Rural (PRONER) em São Tomé e Protocolo entre o Governo da República Príncipe”. 11/03/2009 Federativa do Brasil e o Governo da República Popular da China sobre Cooperação em Energia Programa Executivo ao Acordo Básico de e Mineração. 19/02/2009 Cooperação Científica e Técnica entre o Brasil

152 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 e o São Tomé e Príncipe para Implementação da República do Benin para Implementação do Projeto “Centro de Formação Profissional do “Projeto Piloto em Doença Falciforme”. Brasil – São Tomé e Príncipe”. 13/03/2009 11/03/2009 Ajuste Complementar ao Acordo de Ajuste Complementar ao Acordo Básico de Cooperação Técnica entre o Governo da Cooperação Técnica, Científica e Tecnológica República Federativa do Brasil e o Governo entre o Brasil e a Bolívia para Implementação da República do Benin para Implementação do Projeto “Apoio à Implementação do Banco do Projeto ``Gestão de Patrimônio Material e de Leite Materno”. 12/03/2009 Imaterial no Benin ``. 13/03/2009

Ajuste Complementar ao Acordo Básico de Memorando de Entendimento entre o Cooperação Técnica, Científica e Tecnológica Governo da República Federativa do Brasil entre o Brasil e a Bolívia para Implementação e o Governo da República Togolesa Relativo do Projeto “Fortalecimento da Capacidade ao Estabelecimento de um Mecanismo de Institucional do Ministério de Saúde e Esportes Consultas Políticas. 17/03/2009 da Bolívia em Sistemas de Vigilância em Saúde Ambiental”. 12/03/2009 Ajuste Complementar ao Acordo de Cooperação Técnica e Científica entre o Governo da Memorando de Entendimento Para a República Federativa do Brasil e o Governo Constituição de Mecanismo de Coordenação e da República Togolesa para Implementação Cooperação Brasil-Bolívia. 12/03/2009 do Projeto “Apoio Institucional ao ITRA”. 17/03/2009 Acordo, por Troca de Notas, entre o Brasil e a Bolívia sobre o Regulamento da Comissão Ajuste Complementar ao Acordo de Cooperação Mista Brasileiro-Boliviana para Construção de Técnica e Científica entre o Governo da uma Ponte Internacional sobre o Rio Mamoré. República Federativa do Brasil e o Governo 12/03/2009 da República Togolesa para Implementação do Projeto “Gestão de Patrimônio Material e Ata da I Comissão Mista de Cooperação Basil- Imaterial no Togo”. 17/03/2009 Benin. 13/03/2009 Ajuste Complementar ao Acordo entre o Ajuste Complementar ao Acordo de Governo da República Federativa do Brasil e Cooperação Técnica entre o Governo da a Organização Internacional do Trabalho (OIT) República Federativa do Brasil e o Governo para Cooperação Técnica com outros Países da República do Benin para Implementação da América Latina e Países da África para a do Projeto “Bolsa Família - Fase Piloto”. Implementação do Programa de Parceria OIT/ 13/03/2009 BRASIL para a Promoção da Cooperação Sul- Sul. 22/03/2009 Ajuste Complementar ao Acordo de Cooperação Técnica entre o Governo da Memorando de Entendimento entre o Brasil República Federativa do Brasil e o Governo e o Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 153 do Norte sobre Cooperação em Assuntos na Utilização de Derivados de Crédito como Migratórios. 24/03/2009 Instrumentos Financeiros de Controle de Risco Creditício ``. 04/05/2009 Memorando de Entendimento entre o Ministério das Relações Exteriores da República Ajuste Complementar ao Acordo de Cooperação Federativa do Brasil e o Ministério dos Técnica entre o Governo da República Negócios Estrangeiros da República Helênica Federativa do Brasil e o Governo da República sobre o Estabelecimento de um Mecanismo de de Botsuana para Implementação do Projeto Consultas Políticas. 03/04/2009 “Fortalecimento do Plano Nacional Estratégico para Hiv/Aids 2003-2009”. 05/05/2009 Memorando de Entendimento entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Acordo para o Estabelecimento de uma Governo da República de Cabo Verde para o Comissão Mista de Cooperação entre o Governo Incentivo à Formação Científica de Estudantes da República Federativa do Brasil e o Governo Caboverdianos. 14/04/2009 da República de Botsuana. 05/05/2009

Declaração Conjunta - Visita de Trabalho Programa Executivo do Acordo Geral de à República Argentina do Presidente da Cooperação entre o Governo da República República Federativa do Brasil, Luiz Inácio Federativa do Brasil e o Governo da República Lula da Silva. 23/04/2009 de Moçambique para o Projeto “Apoio ao Desenvolvimento Gerencial Estratégico do Ajuste Complementar ao Acordo de Governo de Moçambique”. 06/05/2009 Cooperação Científica, Técnica e Tecnológica entre o Governo da República Federativa do Programa Executivo do Acordo Geral de Brasil e o Governo da República de Cuba para Cooperação entre a República Federativa do Implementação do Projeto “Fortalecimento Brasil e a República de Moçambique e para o Institucional do Centro de Tecnologia e Projeto “Apoio à Implementação do Sistema Qualidade do Ministério da Indústria Sidero- Nacional de Arquivos de Estado”. 08/05/2009 Mecânica de Cuba”. 04/05/2009 Memorando de Entendimento para o Ajuste Complementar ao Acordo de estabelecimento de Consultas Políticas entre Cooperação Científica, Técnica e Tecnológica o Ministério das Relações Exteriores da entre o Governo da República Federativa do República Federativa do Brasil e o Ministério Brasil e o Governo da República de Cuba para dos Negócios Estrangeiros do Reino da Arábia implementação do Projeto ``Modelo Conceitual Saudita. 16/05/2009 de Estrutura do Banco de Dados Geológicos da República de Cuba ``. 04/05/2009 Memorando de Entendimento entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo Ajuste Complementar ao Acordo de da República da China sobre Petróleo, Cooperação Científica, Técnica e Tecnológica Equipamento e Financiamento. 19/05/2009 entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo da República de Cuba Comunicado Conjunto entre a República para implementação do Projeto ``Capacitação do Brasil e a República Popular da China

154 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 sobre o Contínuo Fortalecimento da Parceria Matéria de Assistência Técnica na Área de Estratégica. 19/05/2009 Agricultura Familiar. 26/05/2009

Ajuste Complementar ao Acordo de Básico Declaração Conjunta entre a República de Cooperação Técnica entre o Governo da Federativa do Brasil e a República do República Federativa do Brasil e o Governo Uzbequistão. 28/05/2009 da República do Senegal para implementação do Projeto “Apoio ao Desenvolvimento da Memorando de Entendimento entre o Governo Rizicultura no Senegal”. 25/05/2009 da República Federativa do Brasil e o Governo da República do Uzbequistão para a Cooperação Ajuste Complementar ao Acordo Básico na Área de Turismo. 28/05/2009 de Cooperação Científica e Técnica entre o Governo da República Federativa do Brasil e Memorando de Entendimento sobre Consultas o Governo da República Oriental do Uruguai Políticas entre o Governo da República para Implementação do Projeto “Apoio ao Federativa do Brasil e o Governo da República Fortalecimento do Sistema Nacional de Sangue do Uzbequistão. 28/05/2009 e Hemoderivados do Uruguai”. 25/05/2009 Acordo entre o Governo da República Ajuste Complementar ao Acordo Básico Federativa do Brasil e o Governo da República de Cooperação Científica e Técnica entre o do Uzbequistão sobre a Isenção de Visto para Governo da República Federativa do Brasil e o Portadores de Passaportes Diplomáticos. Governo da República Oriental do Uruguai para 28/05/2009 Implementação do Projeto “Fortalecimento do Ensino Técnico na Área do Meio Ambiente”. Memorando de Entendimento entre o 25/05/2009 Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior da República Federativa do Ajuste Complementar ao Acordo Básico Brasil e o Ministério de Relações Econômicas de Cooperação Científica e Técnica entre o Exteriores, Investimentos e Comércio da Governo da República Federativa do Brasil e o República do Uzbequistão para a Promoção do Governo da República Oriental do Uruguai para Comércio e do Investimento. 28/05/2009 Implementação do Projeto “Fortalecimento das Políticas de Enfrentamento à Epidemia de Acordo de Cooperação na Área de Esporte DST/AIDS no Uruguai”. 25/05/2009 entre o Ministério do Esporte do Brasil e o Ministério dos Assuntos Culturais e Esportivos Carta de Intenções entre o Governo da da República Federativa do Brasil e o Governo República Federativa do Brasil e o Governo da República do Uzbequistão. 28/05/2009 da República Bolivariana da Venezuela para o Financiamento de Projetos Binacionais Memorando de Entendimento entre o Venezuelano-Brasileiros. 26/05/2009 Ministério das Minas e Energia da República Federativa do Brasil e o Comitê Estatal de Programa de Trabalho entre o Governo da Geologia e Recursos Minerais da República República Federativa do Brasil e o Governo do Uzbequistão sobre Cooperação na Área de da República Bolivariana da Venezuela em Recursos Minerais. 28/05/2009

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 155 Ajuste Complementar ao Acordo Básico Memorando de Entendimento sobre de Cooperação Científica e Técnica entre o Cooperação na Área de Bioenergia, Incluindo Governo da República Federativa do Brasil Biocombustíveis, entre o Ministério de Minas e o Governo da República da Guatemala e Energia da República Federativa do Brasil e para a Implementação do Projeto “Centro de o Departamento de Energia da República das Formação Profissional Brasil-Guatemala”. Filipinas. 24/06/2009 01/06/2009 Protocolo de Cooperação entre a Comunidade Visita de Estado à República da Guatemala do dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) Excelentíssimo Senhor Presidente da República e o Governo da República Federativa do Federativa do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva- Brasil para a Implementação do Projeto Declaração Conjunta. 01/06/2009 “Conferência Internacional Infanto-Juvenil: uma Contribuição ao Programa de Educação Ajuste Complementar ao Acordo de Ambiental da CPLP”. 30/06/2009 Cooperação Técnica entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo da Ajuste Complementar ao Acordo Básico República da Costa Rica para Implementação de Assistência Técnica entre o Governo do Projeto “Fortalecimento dos Processos de da República Federativa do Brasil e a Operação, Manutenção e Controle de Estações Organização das Nações Unidas, a Organização de Tratamento de Águas Residuárias em Internacional do Trabalho, a Organização Pequenas Coletividades Urbanas e Sistemas das Nações Unidas para a Alimentação e a Lacunares”. 03/06/2009 Agricultura, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, a Declaração Conjunta do Presidente da Organização de Aviação Civil Internacional, República Federativa do Brasil e do Diretor a Organização Mundial da Saúde, a União Geral da Organização Internacional do Internacional de Telecomunicações, a Trabalho – OIT. 15/06/2009 Organização Metereológica Mundial, a Agência Internacional de Energia Atômica e a União Memorando de Entendimento entre o Governo Postal Universal, para a Operação no Brasil da República Federativa do Brasil e o da Unidade Temática do Programa das Nações Governo da República de Moçambique para o Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) sobre Desenvolvimento do Turismo. 16/06/2009 Redução da Pobreza. 30/06/2009

156 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 COMUNICADOS, nOTAS, MENSAGENS E INFORMAÇÕES

Ofensiva terrestre israelense Assistência a brasileiros na em Gaza Faixa de Gaza 03/01/2009 05/01/2009

O Governo brasileiro deplora a incursão O Governo brasileiro está acompanhando militar terrestre israelense na Faixa de Gaza, com atenção os acontecimentos na Faixa de que tende a agravar ainda mais o conflito Gaza. A Embaixada do Brasil em Tel Aviv e israelo-palestino. o Escritório de Representação em Ramallah Reiterando declarações anteriores em têm, desde o início da crise, mantido contato que conclama ambas as partes a se absterem com a comunidade brasileira residente no de atos de violência, o Governo brasileiro local de modo a prestar-lhe a assistência apóia os esforços, inclusive no Conselho necessária. de Segurança da ONU, por um cessar- O Ministério das Relações Exteriores fogo imediato, de modo a permitir a pronta permanecerá atento à situação, com vistas a retomada do processo de paz. assegurar toda a proteção consular aos brasileiros A realização de uma conferência eventualmente afetados pelo conflito. internacional em seguimento à reunião de Annapolis, conforme proposta feita Envio de ajuda humanitária à pelo Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Faixa de Gaza constituiria passo importante para o restabelecimento da paz na região, com base 08/01/2009 no reconhecimento do direito de constituição do Estado palestino e da existência de Israel Em atenção a pedido formulado pela em condições de segurança. Delegação da Autoridade Nacional Palestina Com este objetivo, o Ministro Celso em Brasília, o Governo brasileiro enviará, Amorim manteve contatos nos últimos dias nesta sexta-feira, dia 9 de janeiro, aeronave com lideranças políticas européias, norte- Hércules C-130 da Força Aérea Brasileira americanas e árabes, bem como com o com 14 toneladas de medicamentos e Secretário-Geral da ONU. O Ministro Celso alimentos para doação às pessoas afetadas Amorim encontra-se no momento em Lisboa, pelo conflito na Faixa de Gaza. A referida onde manterá conversações com autoridades aeronave aterrissará, no dia 11 de janeiro, em portuguesas, inclusive sobre o processo de Amã, na Jordânia. Dali, os donativos serão paz na Palestina. imediatamente transportados à Faixa de Gaza,

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 157 com o apoio da Organização Jordaniana II e com o Ministro do Exterior Salah Bashir. Hachemita de Caridade. Também em Amã, no dia 13, o Ministro A carga de 6 toneladas de medicamentos participará de cerimônia de entrega da doação, a serem doados está composta de: pelo Governo brasileiro, de 6 toneladas de hidroclorotiazida (anti-hipertensivo), sais medicamentos e 8 toneladas de alimentos aos de reidratação oral, fator 9 (hemoderivado), palestinos afetados pelo conflito em Gaza. tiopental sódico (anestésico), glibenclamida O objetivo da visita é apoiar os esforços (antidiabético), mebendazol (antiparasitário), para um cessar-fogo imediato, o alívio da iodo aquoso (anti-séptico), cloridrato de situação humanitária e o estabelecimento de alfentanila (anestésico), sulfato de morfina uma paz duradoura na região. A visita ocorre na (anestésico), diazepam (ansiolítico) e citrato sequência de contatos mantidos pelo Ministro de fentanila (analgésico). Além disso, o Amorim com alguns dos principais líderes Governo brasileiro doará 8 toneladas de políticos envolvidos na busca de uma solução alimentos de alto valor calórico e protéico, em para o conflito - o Secretário-Geral da ONU, 350 caixas de produtos prontos para consumo, o Presidente palestino, o Secretário-Geral que incluem: sardinha em lata, fiambre bovino da Liga Árabe, o Presidente da Comissão da em lata, leite em pó, biscoito de água e sal, União Européia, a Secretária de Estado dos biscoito de maisena, macarrão instantâneo, Estados Unidos e os Ministros dos Negócios farinha de milho em flocos e açúcar cristal. Estrangeiros de Israel, França, Egito, Turquia, Espanha, Suíça e Síria. Visita do Ministro Celso Amorim ao Oriente Médio Retorno ao Equador do 08/01/2009 Embaixador do Brasil em Quito 10/01/2009 Entre 11 e 13 de janeiro, o Ministro Celso Amorim fará visitas a Israel, Palestina, Síria No dia 8 de janeiro de 2009, o Governo e Jordânia, para tratar do conflito na Faixa brasileiro recebeu do Equador, no âmbito do de Gaza. No dia 11, em Damasco, será Convênio de Créditos Recíprocos (CCR) da recebido pelo Presidente Bachar Al-Assad ALADI, o valor referente às parcelas vencidas e pelo Ministro dos Negócios Estrangeiros, em dezembro do financiamento do BNDES Wallid Muallem. No mesmo dia, segue para para a construção da Hidrelétrica de San Jerusalém, onde manterá encontro com a Francisco. Ministra dos Negócios Estrangeiros de Israel, O Embaixador do Brasil em Quito, Tzipi Livni. No dia seguinte, em Ramalá, o Antonino Marques Porto, chamado pelo Ministro Amorim terá reuniões de trabalho Ministro Celso Amorim para consultas, em com o Presidente da Autoridade Nacional 21 de novembro de 2008, deverá retornar ao Palestina, Mahmoud Abbas, com o Primeiro- Equador no início da próxima semana. Ministro Salam Fayaad, e com o Ministro dos O Governo brasileiro continuará a Negócios Estrangeiros, Riad Malki. Em 13 de acompanhar com atenção a evolução de suas janeiro, cumpre programação em Amã, onde relações econômicas e financeiras com o estão previstos encontros com o Rei Abdullah Equador.

158 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 Situação dos Direitos Humanos O Ministro Celso Amorim enviou na Faixa de Gaza também mensagem ao Ministro das Relações 12/01/2009 Exteriores da Costa Rica, Bruno Stagno, nos seguintes termos: O Conselho de Direitos Humanos (CDH) “Prezado Ministro, das Nações Unidas aprovou hoje, 12 de Recebi com profunda tristeza a notícia do janeiro, a Resolução A/HRC/S-9/1 intitulada terremoto que atingiu a Costa Rica, no dia 8 “As Graves Violações de Direitos Humanos no de janeiro. Território Palestino Ocupado, particularmente Queira receber a expressão de minha mais devido aos Recentes Ataques Militares sincera solidariedade diante dessa tragédia, Israelenses contra a Faixa de Gaza Ocupada”. bem como minhas condolências às famílias O documento, adotado por ampla maioria, que perderam seus entes queridos.” pede o fim imediato das hostilidades na região. O Brasil subscreveu o pedido de realização Visita do Presidente Luiz Inácio de Sessão Especial do Conselho sobre a Lula da Silva à Bolívia - 15 de situação dos direitos humanos na Faixa de Gaza e, em conformidade com as posições janeiro de 2009 defendidas pelo País nas anteriores sessões 14/01/2009 relativas ao assunto, votou favoravelmente à resolução aprovada hoje. O Presidente Luiz Inácio Lula da Silva viajará, no dia 15 de janeiro, às cidades de Mensagens de solidariedade Puerto Suárez, na Bolívia, e Ladário (MS), onde manterá encontros com o Presidente da do Presidente da República e Bolívia, Evo Morales. do Ministro Celso Amorim ao Em Puerto Suárez, o Presidente Lula Governo da Costa Rica participará da cerimônia de entrega dos 13/01/2009 trechos rodoviários Arroyo Concepción - El Carmen e El Carmen - Roboré. As obras O Presidente Luiz Inácio Lula da Silva integram o Corredor Interoceânico lançado enviou hoje, 13 de janeiro, a seguinte pelos Presidentes do Brasil, da Bolívia e do mensagem de solidariedade ao Presidente da Chile em dezembro de 2007. Costa Rica, Oscar Arias: Em Ladário, o Presidente Lula manterá “Senhor Presidente, reunião de trabalho com o Presidente Evo Tomei conhecimento, com profundo Morales, em que serão tratados temas como pesar, da ocorrência do terremoto que atingiu financiamento à infra-estrutura, comércio a Costa Rica, na região do vulcão Poás. bilateral e combate ao narcotráfico. Consternado com a devastação causada, O Brasil é o principal parceiro comercial quero expressar a solidariedade do Governo da Bolívia. Em 2008, a corrente de comércio e do povo brasileiros diante da perda de vidas bilateral atingiu US$ 3,9 bilhões, o que humanas, dos feridos e danos materiais, e representou aumento de mais de 60% em transmitir minhas sentidas condolências às relação a 2007. famílias das vítimas.”

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 159 Visita do Presidente à região pelo Presidente Lula, o Ministro Luiz Inácio Lula da Silva à Celso Amorim reiterou a autoridades sírias, Venezuela - Maracaibo, israelenses, palestinas, jordanianas e egípcias 15 e 16 de janeiro de 2009 a necessidade de imediato cumprimento da Resolução 1860 (2009) do Conselho de 14/01/2009 Segurança das Nações Unidas, que impõe a cessação imediata das hostilidades, único O Presidente Luiz Inácio Lula da Silva meio de se evitar mais mortes e sofrimento viajará a Maracaibo, nos dias 15 e 16 de entre a população civil de ambos os lados. janeiro, para conversações com o Presidente da Venezuela, Hugo Chávez, no quadro do mecanismo de encontros presidenciais Visita do Presidente Luiz Inácio trimestrais iniciado em 2007. Os Presidentes deverão tratar de iniciativas Lula da Silva à Bolívia - 15 de para impulsionar a cooperação bilateral em janeiro de 2009 - andamento nas áreas habitacional, bancária, Declaração Conjunta agrícola e industrial, além da parceria no 15/01/2009 setor energético e de integração fronteiriça. Também deverão examinar temas regionais e internacionais. Encontro de fronteira dos presidentes Luiz Em 2008, o intercâmbio comercial entre Inácio Lula da Silva e Evo Morales Ayma Brasil e Venezuela totalizou US$ 5,69 bilhões. Em 15 de janeiro de 2009, os Presidentes As exportações brasileiras para a Venezuela da República Federativa do Brasil, Luiz Inácio somaram, no período, US$ 5,15 bilhões, e as Lula da Silva, e da República da Bolívia, importações brasileiras da Venezuela, US$ Evo Morales Ayma, se reuniram na fronteira 538,55 milhões. comum, na região de Ladário - Puerto Suárez, oportunidade em que se realizou entrega dos Ataque a instalações das Nações trechos rodoviários Arroyo Concepción - El Carmen e El Carmen - Roboré, que unem por Unidas em Gaza via terrestre ambos os países. 15/01/2009 Ademais, realizaram uma revisão do amplo espectro de temas da agenda bilateral, com O Governo brasileiro recebeu com choque vistas a seguir aprofundando as relações entre a notícia do ataque israelense que atingiu os dois países, as quais, coincidem, passam as instalações das Nações Unidas em Gaza por um excelente momento, para assim (UNWRA) e provocou incêndio e destruição de consolidar as bases de uma futura Associação alimentos e remédios doados pela comunidade Estratégica, internacional às vítimas do conflito. Nesse Nesse sentido, e tomando em consideração sentido, junta-se às manifestações de protesto as Declarações de dezembro de 2007 e julho e indignação feitas pelo Secretário-Geral das de 2008, bem como os diversos encontros Nações Unidas, Ban Ki-moon. bilaterais que mantiveram, o Presidente Luiz O Brasil lamenta a continuada perda de vidas Inácio Lula da Silva e o Presidente Evo em função da sequência do conflito. Enviado Morales Ayma:

160 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 1. Reiteraram seu firme compromisso com Morales pela reiteração do apoio da Bolívia o necessário aperfeiçoamento, fortalecimento para que o Brasil se torne membro permanente e defesa da democracia, expressando sua do Conselho de Segurança das Nações Unidas. convicção de que o respeito ao Estado de 5. Manifestaram, igualmente, sua Direito, à sua integridade e unidade e à vontade preocupação com os efeitos da crise financeira popular constituem fatores de progresso, internacional, e enfatizaram a necessidade prosperidade e paz social. de ampliar as perspectivas para uma ação 2. Destacaram a importância de aprofundar coordenada mediante a adoção de medidas a democracia e o diálogo como meio para regulatórias que previnam e mitiguem resolver diferenças de opinião e conflitos. possíveis efeitos negativos causados por uma Nesse contexto, o Presidente do Brasil crise originada fora da região. expressou seu reconhecimento pelo acordo 6. Renovaram seu firme compromisso político alcançado na Bolívia que permitirá a com o fortalecimento e aprofundamento dos realização do Referendo Aprobatório da nova processos de integração regional, em especial Constituição Política do Estado no próximo dia do Mercosul, assim como da UNASUL, cuja 25 de janeiro, o qual contará novamente com consolidação é um objetivo comum. a participação de observadores internacionais. 7. Ratificaram seu firme compromisso de 3. Expressaram sua firme determinação aprofundar o trabalho bilateral em uma agenda com a promoção e proteção dos direitos que reflita a importância que atribuem ao humanos e reiteraram o compromisso de desenvolvimento social e econômico de seus seus Governos e povos com a defesa dos povos, em um contexto de paz, solidariedade, princípios de universalidade, indivisibilidade complementariedade, democracia, justiça e interdependência dos direitos humanos social e respeito ao meio ambiente, como um e das liberdades fundamentais, reiterando aporte à integração sul-americana. particular reconhecimento do efetivo e 8. Reafirmaram a importância de ampliar objetivo trabalho da Comissão da UNASUL a cooperação bilateral para aprofundar a para o esclarecimento dos lamentáveis integração social, a integração energética, acontecimentos ocorridos no Pando, em a integração física, o desenvolvimento conformidade com a Declaração de la fronteiriço, a complementação econômica, Moneda, de 15 de setembro de 2008, e nos o intercâmbio comercial e de experiências e termos da Declaração do Conselho de Chefas conhecimentos e a utilização sustentável dos e Chefes de Estado da UNASUL emitida em recursos naturais, em contexto de respeito à 16 de dezembro de 2008, na Costa do Sauípe. harmonia entre o homem e a natureza. 4. Reiteraram que a não intervenção e o Nesse contexto, ressaltaram a recente respeito ao Direito Internacional são princípios reunião de Comissões Ministeriais de ambos fundamentais das relações internacionais e países em Brasília, em 9 de janeiro corrente, que a estrita observância desses princípios que mostra a firme determinação política de é essencial para a paz e a convivência aprofundar a associação energética entre harmônica entre Estados soberanos, para o Brasil e Bolívia. fortalecimento do multilateralismo e para 9. Em relação aos projetos bilaterais em a construção de uma ordem internacional curso, e como uma demonstração de sua mais estável e democrática. Nesse sentido, firme disposição de avançar com rapidez na o Presidente Lula agradeceu ao Presidente integração bilateral,

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 161 A. Em matéria de financiamento para a 6. Coincidiram em continuar trabalhando integração em infra-estrutura física para concretizar as ações necessárias que 1. Reiteraram sua compreensão de que a possibilitem uma melhora na navegabilidade integração física e a cooperação financeira e na utilização do Canal Tamengo para o entre os dois países são elementos centrais transporte de carga, mediante uma cooperação para construir a Associação Estratégica e bilateral, nos termos acordados conjuntamente. são peça-chave da articulação de uma visão B. Em matéria de cooperação fronteiriça, comum para o desenvolvimento de nossas migrações e luta contra os ilícitos na área de áreas fronteiriças e de nossas nações. fronteira 2. Acordaram que o financiamento 1. Instruíram suas Chancelarias a adotarem brasileiro para projetos de infra-estrutura as medidas necessárias para que durante o rodoviária na Bolívia se realizará com a primeiro semestre de 2009 se realizem as garantia que a Bolívia dará mediante os reuniões dos Comitês de Fronteira, para mecanismos do Convênio de Pagamentos e incorporar à agenda bilateral a resposta aos Créditos Recíprocos (CCR) da ALADI. Nesse anseios de nossas populações fronteiriças, sentido, coincidiram na importância do CCR com o objetivo de que o resultado destas como instrumento de aprofundamento da contribua para a elaboração de um Plano de cooperação e da integração na região. Desenvolvimento Fronteiriço que atenda às 3. O Presidente Luiz Inácio Lula da Silva principais demandas sociais das comunidades reiterou a disposição brasileira de financiar residentes na zona de fronteira e em suas áreas projetos de infra-estrutura prioritários do de influência. Plano Nacional de Desenvolvimento da 2. Destacaram a assinatura do Instrumento Bolívia, além daqueles já acordados no Executivo entre o Governo da República âmbito do Projeto “Hacia el Norte”. Nesse Federativa do Brasil, o Governo da República contexto, ressaltaram os avanços realizados da Bolívia e o Escritório Regional para o para a próxima assinatura do financiamento do Cone Sul da Organização Internacional de projeto Villa Tunari - San Ignacio de Moxos. Migrações (OIM), em 14 de outubro passado, 4. Destacaram a realização da primeira que permite avançar na resolução conjunta reunião e o estabelecimento da Comissão e acordada, em contexto de pleno respeito à Mista para a Construção da Ponte Guajará- legislação vigente na Bolívia e em atenção Mirim - Guayaramerín, que contribuirá para a à situação de vulnerabilidade das famílias consolidação da integração regional. brasileiras assentadas na zona de fronteira do 5. Expressaram sua satisfação pelos Departamento do Pando. avanços que realizam para permitir a próxima Sublinharam ainda a contribuição positiva aprovação, por parte dos Congressos Nacionais, das comunidades migratórias de cada um dos do Acordo para a Construção de uma Ponte países no outro. Internacional sobre o Igarapé Rapirrã pelo 3. Expressaram sua satisfação com Governo do Brasil, respondendo ao anseio das a entrada em vigor do “Acordo para a populações fronteiriças de Plácido de Castro Permissão de Residência, Estudo e Trabalho (Brasil) e Montevidéu (Bolívia) de contar a Nacionais Fronteiriços”, aprovado pelos com uma via de interconexão que garanta Congressos Nacionais de ambos os países, o segurança e funcionalidade para o trânsito de qual permitirá que os cidadãos residentes nas pessoas e veículos. zonas fronteiriças possam exercer seus direitos

162 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 educacionais, trabalhistas e de residência em preferencialmente no decorrer do primeiro situação de plena legalidade. semestre de 2009, em Brasília. 4. Congratularam-se, da mesma forma, Nesse contexto, instruíram suas pelo recente anúncio do Governo do Paraguai Chancelarias a realizar os estudos necessários sobre a entrada em vigor do Acordo sobre para a assinatura de acordo em matéria de Regularização Migratória de Cidadãos do luta contra o contrabando de madeira, com a Mercosul, da Bolívia e do Chile e do Acordo brevidade possível. sobre Residência para Nacionais dos Estados C. Em matéria de comércio e investimentos Parte, da Bolívia e do Chile, fato que permitirá 1. O Presidente da Bolívia expressou dar resposta efetiva à regularização de seu reconhecimento pelo compromisso do cidadãos brasileiros e bolivianos, assim como Governo do Presidente Lula em fortalecer o continuar trabalhando no âmbito do Acordo desenvolvimento do comércio bilateral. Esse bilateral. apoio permitiu a aprovação da Declaração dos 5. Destacaram a determinação de ambos Presidentes dos Estados Partes do Mercosul os Governos para fortalecer a prevenção e o sobre Medidas de Apoio e Solidariedade combate ao narcotráfico e ao crime organizado com a Bolívia, em 16 de dezembro de 2008, transnacional, observando os compromissos na Costa do Sauípe, diante das dificuldades estipulados nos Convênios de 1977 e 1988, econômicas e sociais e da perda de acesso assim como de promover a cooperação regional a mercados em razão da recente supressão na matéria. Para tanto, decidiram adotar as unilateral de preferências tarifárias extra- medidas necessárias para operacionalizar os regionais. A Declaração habilita a adoção de termos da Declaração Bilateral emitida em medidas de emergência concretas, como a 17 de dezembro de 2008, na Costa do Sauípe. flexibilização dos requisitos específicos de Nesse sentido, expressaram seu beneplácito origem (REO), permitindo absorver, no ano de com a próxima realização da VI COMISTA 2009, montante de até 30 milhões de dólares de Drogas e Temas Conexos, em Brasília, nos em exportações bolivianas. dias 29 e 30 de janeiro de 2009. 2. Destacaram o resultado da IV Da mesma forma, o Presidente da Bolívia Comissão de Monitoramento do Comércio agradeceu ao Presidente brasileiro a disposição Brasil - Bolívia, realizada em La Paz, em de contribuir, com a brevidade possível, com 3 de novembro de 2008, que contou com a facilitação de helicópteros para que possam importante participação de autoridades de apoiar os esforços bolivianos na luta contra o ambos os Governos, o que permitirá seguir narcotráfico. na consecução dos objetivos propostos para 6. Instruíram implementar um plano incrementar e diversificar o comércio entre os integral, complementar ao de luta contra o dois países, avançando em entendimentos e em narcotráfico, para enfrentar os delitos conexos, cooperação sobre normas de origem, medidas como o tráfico de armas, pessoas e a lavagem sanitárias e fitossanitárias, normas técnicas, de dinheiro, assim como o contrabando promoção comercial, assuntos aduaneiros e de madeira e outros e o roubo de veículos setor produtivo, entre outros. em zonas de fronteira. Para concretizar Nesse contexto, determinaram que a esse fim, determinaram a realização da I Agência Brasileira de Desenvolvimento Reunião do Grupo de Trabalho Binacional Industrial (ABDI) e o Ministério de Produção encarregado de elaborar o mencionado plano, e Microempresas da Bolívia desenvolvam

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 163 um Programa Bilateral de Cooperação para Visita ao Brasil do Ministro atender às principais demandas bolivianas. dos Negócios Estrangeiros da Ressaltaram a realização, em 24 de março República Popular da China - de 2009, na cidade de São Paulo, da I Rodada Brasília, 18 a 20 de janeiro de 2009 de Negócios Brasil-Bolívia, no âmbito do Programa de Substituição Competitiva de 16/01/2009 Importações da Chancelaria brasileira, com o apoio da Federação de Indústrias do Estado de A convite do Ministro Celso Amorim, São Paulo (FIESP) e do “Promueve Bolivia”. visitará o Brasil, no período de 18 a 20 de Ambos mandatários expressaram seu janeiro, o Ministro dos Negócios Estrangeiros agradecimento pela hospitalidade dos povos da República Popular da China, Yang Jiechi. do Brasil e da Bolívia, especialmente pela Em Brasília, no dia 19, o Chanceler Yang grata e calorosa recepção que lhes brindaram Jiechi será recebido pelo Presidente Luiz as populações de Ladário e Puerto Suárez. Inácio Lula da Silva e manterá encontros de trabalho com o Ministro Celso Amorim. Na Situação em Gaza - oportunidade, serão analisados os avanços registrados no relacionamento bilateral em novos contatos do todas as áreas, bem como propostas de ações Ministro Celso Amorim que possam expandir a cooperação em áreas 16/01/2009 estratégicas, como a de alta tecnologia, energia, agricultura e espaço. Serão também Hoje, 16 de janeiro, dando continuidade discutidos meios de intensificar e diversificar às conversações sobre a situação em Gaza, o intercâmbio bilateral na área de comércio e o Ministro Celso Amorim manteve contato investimentos. telefônico com o Alto Representante da União Serão ainda tratados os principais temas da Européia para Política Externa, Javier Solana; agenda internacional e as formas de aprofundar o Ministro dos Negócios Estrangeiros da a coordenação de posições comuns dos dois Turquia, Ali Babacan; o Ministro das Relações países, especialmente nas discussões relativas Exteriores do Chile, Alejandro Foxley; o à nova arquitetura política, econômica e Ministro dos Negócios Estrangeiros da França, financeira mundial. Bernard Kouchner; e o Ministro dos Negócios Estrangeiros da Noruega, Jonas Störe. Cessar-fogo unilateral em Gaza As conversas visaram ao intercâmbio de 17/01/2009 impressões e avaliações sobre as perspectivas de um cessar-fogo em Gaza. A todos os interlocutores, o Ministro Celso Amorim O Brasil acolhe positivamente o cessar- reiterou a necessidade do cumprimento fogo unilateral decretado pelas autoridades imediato da resolução 1860 (2009) do israelenses na Faixa de Gaza. O Governo Conselho de Segurança, que pede o fim das brasileiro espera que a medida, conforme hostilidades, e a preocupação brasileira com a requerido pela Resolução 1860 (2009) do degradação da situação humanitária na Faixa Conselho de Segurança, leve à retirada das de Gaza. forças de Israel daquele território e à imediata

164 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 abertura das fronteiras, de modo a permitir o O encontro, inspirado nos laços de acesso irrestrito de assistência humanitária. irmandade de nossos povos e na aliança O Governo brasileiro conclama as partes estratégica existente entre ambos países, a evitar qualquer ato que coloque em risco permitiu revisar os ganhos do ano de 2008 e o objetivo de uma trégua sustentável, que delinear as ações bilaterais para o ano de 2009. permita a imediata retomada das negociações 1.- COOPERAÇÃO NAS ÁREAS DE com vistas a uma paz duradoura na região. UNIVERSALIZAÇÃO DE SERVIÇOS O Brasil reitera sua disposição de continuar BANCÁRIOS E DESENVOLVIMENTO a participar dos esforços internacionais que URBANO E HABITACIONAL conduzam à criação de um Estado palestino Com o objetivo de implementar o viável, em coexistência pacífica com o Estado memorando de entendimento assinado em de Israel. 30 de setembro de 2008, em Manaus, os O Governo brasileiro sublinha ser Presidentes instruíram seus respectivos órgãos fundamental o pleno cumprimento de todas competentes - Caixa Econômica Federal as resoluções do Conselho de Segurança a brasileira e o Ministério do Poder Popular respeito da situação na Palestina, em particular, para Habitação, por meio do Banco Nacional neste momento, a Resolução 1860 (2009). de Habitação (BANAVIH) venezuelano - para aprofundar os trabalhos de cooperação na área Visita do Presidente Luiz Inácio habitacional e de desenvolvimento urbano. Para tanto, deverão intensificar o intercâmbio Lula da Silva à Venezuela - 16 de conhecimentos com o objetivo de: de janeiro de 2009 - Comunicado 1) promover a urbanização de favelas de Conjunto maneira integrada a ações sociais sustentáveis, 19/01/2009 mediante a participação comunitária, a capacitação profissional e a geração de emprego e renda; COMUNICADO CONJUNTO DOS 2) aperfeiçoar a cooperação nas áreas PRESIDENTES HUGO CHÁVEZ FRÍAS de capacitação, assistência técnica e E LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA, desenvolvimento de fundos para financiamento POR OCASIÃO DO ENCONTRO habitacional e de infra-estrutura; PRESIDENCIAL REALIZADO NO Ficou registrado o interesse da Caixa em PROJETO AGRÁRIO SOCIALISTA conhecer as experiências venezuelanas de gestão PLANÍCIE DE MARACAIBO, ESTADO do MERCAL e PDVAL, do Fundo de Garantia ZULIA, VENEZUELA, EM 16 DE de Fianças e as experiências venezuelanas na JANEIRO DE 2009 integração de uma perspectiva de gênero nas atividades de financiamento público. Os Presidentes Hugo Rafael Chávez Frías Nesse sentido, serão realizados encontros e Luiz Inácio Lula da Silva se reuniram na técnicos no Brasil e na Venezuela, no primeiro sede do Projeto Agrário Socialista Planície bimestre de 2009, para tratar dos seguintes de Maracaibo, em 16 de janeiro de 2009, temas: urbanização de favelas, registro social/ dando continuidade às reuniões presidenciais bancário, assistência técnica e capacitação, trimestrais iniciadas em dezembro de 2007. administração de fundos, modalidades

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 165 de financiamento e sistemas de gestão da Expressaram, ainda, sua satisfação com a informação. conclusão das negociações para a aquisição de Os Presidentes decidiram ampliar o escopo nafta e coque venezuelanos por parte do Brasil; da cooperação relativa ao acesso a serviços de equipamentos de fabricação brasileira por bancários, ao designar o Ministério do Poder parte da indústria petroleira venezuelana, bem Popular para a Economia e Finanças, pelo lado como com a crescente participação de empresas venezuelano, e a Caixa, pelo lado brasileiro, brasileiras no setor energético venezuelano. para assinar instrumentos específicos, tendo Da mesma forma, congratularam-se pela em conta a necessidade de ampliar e priorizar assinatura de memorando de entendimento a cobertura, em escala nacional, da rede entre a PDVSA Industrial e a ABIMAQ, que bancária pública, constituindo: estimulará um maior intercâmbio comercial 1) redes de atenção à população que entre ambos países. necessita acesso a serviços bancários e Saudaram a assinatura do acordo programas sociais; complementar ao Convênio Básico de 2) soluções tecnológicas de apoio à Cooperação no Setor Elétrico entre os universalização do acesso a serviços bancários Governos dos dois países, que facilitará a e programas sociais. transferência de tecnologia e a aquisição de Acordaram igualmente que a Caixa abrirá bens para a geração e distribuição de energia escritório na Venezuela para dar apoio e elétrica. ampliar os termos acordados na cooperação. Reiteraram seu compromisso em continuar Ficou acordada entre os Presidentes impulsando iniciativas no campo energético, uma agenda de encontros técnicos entre orientadas à segurança energética regional, a Caixa e o Ministério de Finanças, no em um contexto mundial caracterizado por decorrer do primeiro trimestre de 2009, que uma profunda crise econômica. fundamentarão o futuro acordo de cooperação 3.-COOPERAÇÃO AGROPECUÁRIA entre ambas instituições, a ser assinado no Ambos mandatários expressaram sua próximo encontro presidencial. disposição em continuar promovendo 2- COOPERAÇÃO ENERGÉTICA a cooperação nas áreas pecuária e Os Presidentes manifestaram satisfação agroindustrial, por meio da assinatura de um com os progressos alcançados até o momento acordo complementar ao Convênio Básico de nos projetos que ambos países desenvolveram Cooperação nos seguintes aspectos: de maneira conjunta em matéria energética, 1. intercâmbio de informações, de orientados ao aprofundamento do processo conhecimentos e de programas específicos de integração regional, fundamentado nos para o desenvolvimento de atividades de princípios da complementaridade, cooperação cooperação científica e tecnológica; e solidariedade. 2. desenvolvimento conjunto de programas Igualmente manifestaram sua satisfação e projetos integrais de pesquisa científica, com a futura abertura de escritório da empresa tecnologia e inovação, com intercâmbio BARIVEN no Brasil. de materiais de pesquisa e equipamentos, Saudaram os trabalhos em curso com conforme necessário; vistas à conformação da empresa mista para a 3. compra e venda de máquinas, veículos, construção da Refinaria Abreu e Lima. caminhões, peças de reposição e acessórios

166 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 agrícolas, adquiridos por meio de empresas grande medida para aprofundar a cooperação públicas e privadas da República Federativa industrial, sobretudo no setor energético, entre do Brasil; os dois países. 4. intercâmbio de técnicos, cientistas 5.-SEGURANÇA ALIMENTAR e peritos em matéria agropecuária e Os Presidentes felicitaram-se pelos esforços agroindustrial, que prestarão serviços de empreendidos pelas equipes de ambos países consultoria e assessoramento no estudo, na busca da segurança alimentar. preparação e execução de programas e O Presidente Hugo Chávez recordou que projetos específicos em matéria agrícola, esses esforços permitem que seu país avance florestal, aquícola, desenvolvimento rural e no “Plano Estratégico Nacional Socialista de sanidade agropecuária; Agricultura Familiar”, que contribuirá para 5. respaldar o Acordo de Cooperação em elevar a produção agrícola na Venezuela. matéria Agrícola entre a EMBRAPA e o INIA, Manifestaram sua satisfação com a assinatura por meio da inclusão de cooperação técnica da Carta de Intenção entre a Venezuela e o e transferência de tecnologia nas áreas de Brasil para a construção de dois frigoríficos produção de cítricos, mandioca e café, no de alta capacidade de processamento e marco do projeto de agricultura familiar em armazenamento de carnes, nos Estados Lara e execução entre as duas instituições. Anzoátegui, cujos projetos prevêem também 4.-COOPERAÇÃO INDUSTRIAL transferência de conhecimentos brasileiros Acolheram com satisfação a culminação sobre administração de frigoríficos. da Fase I dos 7 pré-projetos industriais 6.-COOPERAÇÃO CULTURAL E desenvolvidos entre o Ministério do Poder EDUCACIONAL Popular para as Indústrias Leves e Comércio Os Presidentes congratularam-se com a (MILCO) e a ABDI, com o apoio da Fundação convocatória para os dias 9 e 10 de março de CERTI, nas seguintes áreas: 1) equipamentos 2009 da Comissão Mista Cultural estabelecida para processar alimentos; 2) equipamentos pelo “Convênio de Amizade e Cooperação de refrigeração industrial; 3) envases e tapas entre o Governo da República Federativa de metal; 4) envases de vidro; 5) fundições; do Brasil e o Governo da República da 6) cartões de circuitos impressos; e 7) tubos Venezuela”, com o objetivo de impulsionar os de PVC. mecanismos de cooperação e intercâmbio em Reiteraram seu compromisso em seguir matéria educacional e cultural. trabalhando em conjunto com o objetivo de Reconheceram a importância dos avanços avançar nas Fases II (engenharia de detalhe) e na execução binacional do projeto “Escolas de III (implantação), com vistas à consecução de Fronteira”, que forma parte do MERCOSUL alianças estratégicas entre a Venezuela e Brasil, Educativo, e apoiaram as atividades que neste para a execução dos projetos mencionados. marco se desenvolvam para consolidar a Os Presidentes indicaram que o acordo integração educacional a partir da irmandade alcançado hoje para a abertura de um das escolas em nossas fronteiras. escritório da ABIMAQ na sede da PDVSA 7.- ECONOMIA COMUNITÁRIA Industrial, em Caracas, e a abertura recíproca Os Presidentes constataram com agrado de um escritório da PDVSA Industrial na sede o avanço das relações entre ambos países da ABIMAQ, em São Paulo, contribuirá em em matéria de economia comunitária, com

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 167 o objetivo de criar oportunidades para o (OI) na área fronteiriça, para a utilização de desenvolvimento conjunto da economia social, chamadas internacionais entre ambos países. por meio do intercâmbio de experiências sobre 9.- TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO banco comunal e economia solidária. Os Presidentes ressaltaram a oportunidade Expressaram sua complacência com o que os dois países têm de impulsionar avanço das relações entre o Ministério do o uso do “software” livre e de padrões Poder Popular para a Economia Comunal da abertos; sublinharam que ambos países já República Bolivariana da Venezuela e o Serviço se aproximaram e identificaram temas de Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas interesse e que devem continuar os esforços Empresas (SEBRAE) da República Federativa de fomento da pesquisa e desenvolvimento do Brasil, as quais se traduzem na formação, de soluções de tecnologia da informação em assessoria, acompanhamento técnico e “software” livre, adaptadas às necessidades de encadeamento produtivo das micro e pequenas nossos países, e com isso fortalecer a soberania indústrias venezuelanas e outros atores da e independência tecnológica de ambas nações. economia comunal, para o fortalecimento da Por sua vez, a cooperação bilateral favorecerá indústria venezuelana socialista. países irmãos no acesso ao uso e apropriação 8.- TELECOMUNICAÇÕES de tecnologia da informação como alternativa Ambos mandatários manifestaram de adoção para o uso de ferramentas úteis satisfação com os avanços alcançados entre a adaptadas a suas necessidades reais, bem como empresa venezuelana CANTV e as empresas o fortalecimento das capacidades tecnológicas brasileiras para promover a interconexão por dessas nações. fibra ótica dos Estados do Norte do Brasil à rede 10.- INTEGRAÇÃO FRONTEIRIÇA da CANTV ao sul da Venezuela. Celebraram a Os Presidentes sublinharam a necessidade reunião de esforços para finalizar a primeira fase de fortalecer a integração por meio da do projeto, em que se espera a conectividade do facilitação dos intercâmbios fronteiriços. Norte do Brasil para a exploração de serviços Conscientes da importância do transporte de telecomunicações, no primeiro trimestre terrestre de passageiros e de carga no de 2009, e que permitirá a continuação dos intercâmbio comercial, e tendo como trabalhos para a conclusão da segunda fase, objetivo o desenvolvimento integral, ambos com a interconexão entre as cidades de Boa mandatários exortaram os organismos Vista e Manaus, e dessa infra-estrutura à rede nacionais competentes a continuar trabalhando de fibra ótica do Estado venezuelano. de maneira conjunta e coordenada, com base Com a conclusão da segunda fase do nos princípios de reciprocidade e equidade, projeto, os Presidentes de ambos países utilizando instrumentos que se adaptem às esperam favorecer as comunicações das necessidades tecnológicas atuais e permitam populações do Norte do Brasil, o que, aprofundar os acordos bilaterais existentes, por sua vez, impulsionará um maior para garantir a eficiência no serviço de desenvolvimento e intercâmbio na zona de transporte terrestre internacional como fronteira, e poderá permitir o estabelecimento ferramenta essencial para avançar no processo de possíveis acordos entre os operadores de de integração, a fim de melhorar a qualidade telecomunicações CANTV e TELEMAR de vida de seus habitantes.

168 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 Saudaram a convocatória da VIII reunião violência na Faixa de Gaza e exortaram uma em matéria de transporte terrestre no mês de vez mais os atores envolvidos a reconhecer fevereiro de 2009, no Brasil. que a única saída para o conflito israelense- Ambos mandatários reiteraram o palestino é a solução negociada. compromisso de realizar na Venezuela, no mês Manifestaram consternação por essa de março de 2009, a IX reunião do Grupo de escalada de violência injustificada na Faixa Trabalho sobre desenvolvimento fronteiriço. de Gaza. Ambos Presidentes ratificaram 11.- TURISMO a urgência do imediato cumprimento da Os Presidentes manifestaram sua satisfação Resolução 1860 do Conselho de Segurança com o desenvolvimento turístico do eixo das Nações Unidas para um cessar fogo que Manaus-Margarita e com a incorporação da leve à retirada das tropas israelenses e ao Bahia aos fluxos turísticos entre os dois países. imediato alívio da situação humanitária na Instruíram os ministros da área para que Faixa de Gaza. convoquem, durante o primeiro semestre de Rechaçaram de maneira contundente os 2009, o Grupo de Turismo estabelecido na ataques por parte do exército israelense à Comissão Binacional de Alto-Nível, com o sede da Organização das Nações Unidas em objetivo de dinamizar as estratégias neste setor. Gaza e deploraram a morte de civis inocentes, 12.- INTEGRAÇÃO REGIONAL sobretudo mulheres e crianças. Saudaram o avanço do processo de 14.- CRISE FINANCEIRA integração latino-americano e caribenho, que Saudaram os esforços dos países da região se evidenciou na convocatória e nos resultados em buscar alternativas permanentes que da reunião de Salvador da Bahia, bem como dêem resposta à profunda crise do sistema os compromissos para dar continuidade a esse econômico internacional. processo nas próximas reuniões no México, em Manifestaram sua satisfação com os 2010, e na Venezuela, em 2011, o que reflete a excelentes resultados que, para benefício determinação dos povos e governos de nosso de ambos os países, produzem as reuniões Continente para avançar com autonomia o periódicas bilaterais dos Presidentes, e se caminho da união e da solidariedade. comprometeram a acelerar a conclusão de Nesse processo se destaca a recente acordos em matéria de energia, produção de incorporação de Cuba ao Grupo do Rio, bem alimentos, indústria e programas sociais, com como a conformação do Conselho de Defesa e vistas à consolidação no presente da proeza do Conselho de Saúde da UNASUL, iniciativas emancipadora de 200 anos. que ambos presidentes se comprometeram a Os Presidentes acordaram realizar a impulsionar e fortalecer. próxima reunião bilateral no Brasil, em maio 13.- SITUAÇÃO NA PALESTINA de 2009. Ressaltaram a evolução e o amadurecimento LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA da América do Sul também em relação à solução PRESIDENTE DA LA REPÚBLICA de controvérsias entre os países da região, FEDERATIVA DO BRASIL. que alcançaram soluções pacíficas para suas HUGO RAFAEL CHÁVEZ FRÍAS diferenças, evitando sempre recorrer às armas. PRESIDENTE DA REPÚBLICA Deploraram, portanto, o recrudescimento da BOLIVARIANA DA VENEZUELA.

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 169 Visita ao Brasil do Ministro constante, o relacionamento bilateral. As duas dos Negócios Estrangeiros da Partes acordaram iniciar a discussão de um República Popular da China, Programa de Trabalho de Longo Prazo Brasil- Yang Jiechi - Brasília, China, com vistas a fortalecer a cooperação em todos os setores do relacionamento, em 18 a 20 de janeiro de 2009 - benefício mútuo. Comunicado Conjunto Os dois Chanceleres entendem que os dois 19/01/2009 países compartilham amplo consenso em torno de temas importantes das agendas regionais e A convite do Ministro de Estado das internacional. As duas Partes manifestaram a Relações Exteriores da República Federativa intenção de aprofundar o diálogo estratégico do Brasil, Celso Amorim, visitou o Brasil, no e manter estreita coordenação e colaboração período de 18 a 20 de janeiro, o Ministro de a respeito da crise financeira internacional, a Negócios Estrangeiros da República Popular reforma do sistema financeiro internacional, a da China, Yang Jiechi. reforma das Nações Unidas, a revitalização da O Ministro Yang Jiechi foi recebido Rodada Doha e a cooperação entre países em em audiência pelo Senhor Presidente da desenvolvimento, entre outros. República Federativa do Brasil. O Presidente Brasil e China acolheram positivamente o Lula confirmou sua intenção de visitar a anúncio do cessar-fogo decretado pelas partes China proximamente, reiterou convite para envolvidas no conflito na Faixa de Gaza. que o Presidente Hu Jintao visite o Brasil e Brasil e China sublinham ser fundamental o manifestou ainda as boas-vindas à visita ao pleno cumprimento de todas as resoluções do Brasil do Vice-Presidente da RPC, Xi Jinping, Conselho de Segurança a respeito da situação prevista para o ano em curso. na Palestina, em particular, neste momento, a Em reunião de trabalho, os dois Chanceleres Resolução 1860 (2009). avaliaram positivamente o significativo O Chanceler Yang Jiechi convidou o desenvolvimento da relação bilateral. Chanceler Celso Amorim a visitar a China, Ressaltaram a importância que o estreito no mais breve prazo no ano em curso, convite intercâmbio e as trocas de visitas de alto que foi aceito, com satisfação, pelo Ministro nível têm na promoção do desenvolvimento Celso Amorim. de ambos os países e no aprofundamento da Parceria Estratégica Brasil-China. Os Ministros Visita ao Brasil do Ministro dos reiteraram o entendimento de que a Comissão Negócios Estrangeiros de São Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e Coordenação (COSBAN) realizará sua II Tomé e Príncipe, Carlos Tiny - Reunião, em Brasília, no ano em curso. As duas Brasília, 20 de janeiro de 2009 Partes manifestaram a intenção de promover o 19/01/2009 desenvolvimento equilibrado e dinâmico em suas relações econômico-comerciais, para O Ministro dos Negócios Estrangeiros expandir e diversificar o comércio bilateral, de São Tomé e Príncipe, Carlos Tiny, visita para estimular e promover os investimentos o Brasil no período de 12 a 21 de janeiro. recíprocos, para ampliar substancialmente Em Brasília, última etapa de sua visita, será a cooperação e para revigorar, de forma recebido pelo Ministro Celso Amorim. O

170 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 roteiro do Chanceler santomense incluiu, dos Deputados, Deputado Arlindo Chinaglia. também, Salvador (12 e 13 de janeiro) e Rio Os dois Ministros tratarão da cooperação de Janeiro (de 14 a 17 de Janeiro) no setor energético, do intercâmbio comercial Em Salvador, o Ministro Carlos Tiny e da negociação de acordo para supressão manteve reunião com a Empresa Baiana de de vistos. Avaliarão, também, os cenários Desenvolvimento Agropecuário (EBDA) e a regionais à luz da II Reunião de Cúpula da Federação das Indústrias Baianas. No Rio de Parceria Estratégica Brasil-União Européia, Janeiro, teve encontros na FIRJAN, na ANP e realizada em 22 de dezembro último, no Rio na Petrobras. de Janeiro, e das negociações Mercosul-União Em Brasília, além do encontro no Itamaraty, Européia. será recebido no Ministério da Educação, no No plano multilateral, os dois Chanceleres Ministério do Desenvolvimento Agrário e na pretendem aprofundar o diálogo sobre a EMBRAPA. reforma do Conselho de Segurança da ONU A visita do Chanceler de São Tomé e e a Força das Nações Unidas de Manutenção Príncipe é retribuição da visita do Ministro da Paz em Chipre (UNFICYP). Abordarão, Celso Amorim àquele país, em maio de 2008. ainda, entre outros assuntos, a crise financeira Entre as iniciativas mais importantes mundial, a Rodada de Doha e a situação no do relacionamento bilateral, destacam-se Oriente Médio. as ações de cooperação em gestão pública, Após o ingresso na União Européia governo eletrônico, saúde, educação e em 2004, Chipre vem aprofundando sua segurança alimentar. Durante o encontro modernização e ampliando sua atividade do Ministro Carlos Tiny com o Ministro econômica, sobretudo nos setores de serviços Celso Amorim, serão assinados acordos para marítimos e financeiros. O ingresso de Chipre cooperação em pesca e para a implementação na zona do euro, em janeiro de 2008, abriu do programa Alfabetização Solidária em São novas oportunidades econômicas para o Tomé e Príncipe. incremento das relações com o Brasil.

Visita ao Brasil do Ministro Mensagem do Presidente dos Negócios Estrangeiros de Luiz Inácio Lula da Silva ao Chipre, Markos Kyprianou - Presidente dos Estados Unidos, Brasília, 21 de janeiro de 2009 Barack Obama 20/01/2009 21/01/2009 O Ministro dos Negócios Estrangeiros O Presidente Luiz Inácio Lula da Silva de Chipre, Markos Kyprianou, realizará enviou hoje, 21 de janeiro, a seguinte visita oficial ao Brasil, no dia 21 de janeiro, mensagem de felicitações ao Presidente dos acompanhado do Representante Permanente Estados Unidos da América, Barack Hussein de Chipre nas Nações Unidas, Minas Obama: Hadjimichael, novo Embaixador não-residente, “Senhor Presidente, designado, para o Brasil. O Ministro Kyprianou É com prazer que me dirijo a Vossa Excelência será recebido pelo Ministro Celso Amorim e para cumprimentá-lo por sua posse como manterá encontro com o Presidente da Câmara Presidente dos Estados Unidos da América.

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 171 Como sociedades multiétnicas, porto de Roterdã, pelas autoridades holandesas, democráticas e de grande diversidade de uma carga do genérico LOSARTAN, cultural, Estados Unidos e Brasil têm produzido na Índia e destinado ao Brasil. O muitas semelhanças e propósitos comuns. insumo foi vendido pelo fabricante indiano Compartilho sua intenção de buscar soluções Dr. Reddy’s à empresa brasileira EMS, que políticas para os grandes problemas que o comercializaria no mercado brasileiro sob ameaçam a segurança coletiva no mundo de a forma de medicamento para o controle da hoje desde uma perspectiva multilateral. hipertensão arterial. No Brasil, a hipertensão é Compartilho, igualmente, suas uma das principais causas de doença e morte, preocupações em encontrar soluções urgentes e a maioria dos pacientes depende do Sistema e profundas para enfrentar a grave crise Único de Saúde para se tratar. financeira e econômica que, originada no A fabricação do LOSARTAN na Índia dá-se mundo desenvolvido, ameaça os países em ao abrigo dos dispositivos legais internacionais desenvolvimento. O Brasil e os demais países que protegem a propriedade intelectual da América Latina souberam reconstruir nos no setor de medicamentos, em particular últimos anos suas economias com inegáveis aqueles previstos no Acordo TRIPS (“Acordo ganhos sociais e políticos. Esse esforço de sobre Aspectos dos Direitos de Propriedade dezenas de milhões de homens e mulheres não Intelectual Relacionados ao Comércio”, da pode ser frustrado. Organização Mundial do Comércio). No Brasil, Na expectativa de poder, num futuro como na Índia, o produto não é protegido próximo, dar início pessoalmente a um diálogo por patente e pode ser importado livremente, fluido e proveitoso, faço votos de que Vossa respeitada a legislação sanitária aplicável. Há, Excelência tenha muito êxito nas suas novas hoje em dia, no mercado brasileiro, inúmeros funções e de que sejamos os instrumentos produtos genéricos produzidos a partir desse de uma renovada amizade entre nossos dois princípio ativo. povos. A decisão de reter a carga em trânsito, Cordialmente, que não foi em nenhum momento internada (Luiz Inácio Lula da Silva)” no território holandês, foi desencadeada por pedido administrativo de terceira empresa Retenção de carga, no porto de (sem, portanto, sequer recorrer ao sistema judiciário local) que alegadamente seria Roterdã, do genérico LOSARTAN, a detentora dos direitos de propriedade originário da Índia e intelectual do LOSARTAN naquele país. Tal destinado à indústria procedimento impõe ao vendedor o ônus da farmacêutica brasileira prova da legalidade do comércio do genérico e não ao demandante da intervenção, o que 21/01/2009 inverte conceito jurídico universalmente aceito de que a prova cabe à parte acusatória. MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES Independentemente dos valores ou EXTERIORES volumes envolvidos, ou o fato de que a carga MINISTÉRIO DA SAÚDE foi devolvida ao país de origem, a Índia, o Com grande preocupação, o Governo Governo brasileiro estima que a decisão das brasileiro tomou conhecimento da retenção, no autoridades holandesas de reter um insumo

172 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 estratégico para a Saúde Pública de um país em o comércio, como prevêem as próprias regras desenvolvimento, exportado em conformidade da OMC. A Declaração de Doha sobre TRIPS com as normas internacionais vigentes, assinala e Saúde Pública deixa claro que a proteção um grave retrocesso no trato da questão do dos direitos de propriedade intelectual não acesso universal aos medicamentos. Trata-se pode e não deve impedir a adoção de medidas de uso distorcido do sistema de propriedade para proteger a saúde pública. A Declaração intelectual internacional, supostamente também afirma o direito de os países usarem apoiado em legislação da União Européia - plenamente as flexibilidades do Acordo mas decididamente contrário ao espírito e à TRIPS para garantir o acesso universal aos letra da “Declaração de Doha sobre o Acordo medicamentos. TRIPS e a Saúde Pública”, adotada pela IV Conferência Ministerial da OMC. A medida Mensagem do Ministro Celso não é apoiada, ademais, pelo organismo Amorim à Secretária de Estado multilateral mundial no campo da saúde, a Organização Mundial da Saúde, por se dar dos Estados Unidos da América, em detrimento do interesse maior da saúde da Hillary Clinton população afetada. 22/01/2009 O caso deve ser visto ainda à luz dos rumos que tem tomado a iniciativa IMPACT (“Força O Ministro Celso Amorim enviou, ontem, Tarefa Internacional contra os Produtos 21 de janeiro, a seguinte mensagem de Médicos Falsificados”) quando, a pretexto de congratulações à Secretária de Estado dos combater os medicamentos falsificados, tenta Estados Unidos da América, Hillary Clinton: impor a revisão da definição da Organização “A Sua Excelência a Senhora Mundial da Saúde na matéria, de modo a Hillary Clinton inibir o comércio legítimo de medicamentos Secretária de Estado dos Estados Unidos genéricos, de qualidade e preços competitivos. da América Diante da gravidade do caso, que é o Tenho a satisfação de cumprimentá-la primeiro do gênero a afetar diretamente as por sua posse como Secretária de Estado importações brasileiras para o setor de saúde, e oferecer-lhe meus calorosos votos de o Governo brasileiro está determinado a êxito, num momento em que as profundas levantar o assunto no Conselho Executivo transformações do sistema internacional da OMS, ora reunido em Genebra, e do qual tornam a diplomacia e o diálogo ainda mais Brasil é membro. O Governo deixará claro, indispensáveis. perante a comunidade sanitária mundial, seu Compartilho a reiterada confiança que descontentamento com a ação no porto de Vossa Excelência tem demonstrado no Roterdã, que põe em dúvida o compromisso fortalecimento do multilateralismo e na dos países europeus com o acesso das construção de consensos, instrumentos populações de países em desenvolvimento essenciais para alcançarmos o objetivo de aos medicamentos. Outras opções de resposta estabelecer uma ordem internacional mais serão analisadas conforme requerido pelo equilibrada, inclusiva e justa. andamento do assunto, inclusive no âmbito da Sua posse ocorre em momento Organização Mundial do Comércio (OMC). particularmente auspicioso do relacionamento O Brasil defende a primazia da saúde sobre entre o Brasil e os Estados Unidos. Estou certo

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 173 de que trabalharemos para desenvolver novas Visita ao Brasil do Ministro oportunidades de parceria bilateral e para dos Negócios Estrangeiros reforçar a amizade que une nossos dois povos. da Bósnia e Herzegóvina, Sven Reitero o desejo de, em breve, felicitá- Alkalaj - Brasília e Rio de la pessoalmente e de iniciar nosso trabalho conjunto em data conveniente para ambos. Janeiro, 22 a 25 de janeiro de 2009 - Cordialmente, Declaração Conjunta Celso Amorim 23/01/2009 Ministro das Relações Exteriores” No dia 23 de janeiro de 2008, o Ministro Visita ao Brasil do Ministro dos das Relações Exteriores da República Federativa do Brasil, Embaixador Celso Negócios Estrangeiros da Bósnia Amorim, recebeu o Ministro dos Negócios e Herzegóvina, Sven Alkalaj - Estrangeiros da República da Bósnia e Brasília e Rio de Janeiro, 22 a 25 Herzegóvina, Sven Alkalaj, configurando-se de janeiro de 2009 a ocasião na primeira visita oficial ao Brasil de uma alta autoridade bósnia. 22/01/2009 Os dois Chanceleres afirmaram o interesse em conferir maior impulso ao diálogo O Ministro dos Negócios Estrangeiros da político e às relações bilaterais entre os dois Bósnia e Herzegóvina, Sven Alkalaj, visita países, com base nos valores democráticos o Brasil de 22 a 25 de janeiro. Trata-se da e no respeito às liberdades fundamentais primeira visita de uma alta autoridade bósnia que o Brasil e a Bósnia e Herzegóvina ao Brasil. compartilham e que orientam sua visão do Em Brasília, o Ministro Alkalaj será futuro das relações internacionais. recebido pelo Ministro Celso Amorim, com Os Ministros Celso Amorim e Sven quem assinará acordo para isenção de vistos Alkalaj reafirmam o empenho do Brasil e em passaportes diplomáticos, oficiais ou de da Bósnia e Herzegóvina em prol do reforço serviço. Na ocasião, serão debatidos temas do multilateralismo, saudando o início das da agenda bilateral e multilateral. O Ministro negociações intergovernamentais sobre bósnio se encontrará também com o Secretário reforma do Conselho de Segurança da Executivo do Ministério do Desenvolvimento, Organização das Nações Unidas, que deverão Indústria e Comércio Exterior, Ivan Ramalho. ter início até 28 de fevereiro de 2009. Os dois No Rio de Janeiro, o Ministro Alkalaj Chanceleres acordaram na troca de votos visitará a Câmara de Indústria e Comércio do para candidaturas de ambos países como Estado do Rio de Janeiro (CAERJ). membros eletivos do Conselho de Segurança A visita ao Brasil do Ministro Sven Alkalaj para o mandato 2010-2011. visa intensificar o diálogo político e o comércio O Chanceler Celso Amorim reafirmou o bilateral, bem como a cooperação entre os empenho do Brasil em buscar uma conclusão dois países, cujas relações diplomáticas equilibrada das negociações da Rodada de foram estabelecidas em dezembro de 1995, Doha e confirmou o apoio do Brasil à acessão três anos após a independência da Bósnia e da Bósnia e Herzegóvina na Organização Herzegóvina. Mundial do Comércio.

174 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 Os dois Ministros confirmaram, ademais, a foi enviado aos hospitais Al-Ahli e Shifa, este vontade de dinamizar o intercâmbio comercial o maior da Faixa de Gaza. e de investimentos entre os dois países, O Governo brasileiro segue acompanhando inclusive por meio de missões empresariais. com atenção a situação em Gaza. Considera Nesse contexto inserem-se os entendimentos fundamental a plena implementação da mantidos entre o Ministro Sven Alkalaj e Resolução 1860 (2009) do Conselho de o Secretário Executivo do Ministério do Segurança, como forma de se alcançar um Desenvolvimento, Indústria e Comércio cessar-fogo sólido e duradouro. De imediato, Exterior, Ivan Ramalho, na tarde de 22 de e dada a situação especialmente grave da janeiro, com o objetivo de intensificar o fluxo população civil em Gaza, exorta o Governo bilateral de comércio. de Israel a permitir, sem qualquer tipo de Os Ministros Celso Amorim e Sven Alkalaj restrição, o fluxo de assistência humanitária. firmaram Acordo para Isenção de Vistos para O Brasil espera que a intensa movimentação Portadores de Passaportes Diplomáticos, diplomática promovida, entre outros, pelo Oficiais ou de Serviço. Congratularam-se Governo do Egito e pela União Européia também pelo início das negociações de acordo resulte em rápida resposta às questões ainda para isenção de vistos para portadores de pendentes para o estabelecimento de um passaportes comuns, de modo a impulsionar ambiente que propicie a necessária retomada o turismo e os negócios entre os dois países. de negociações, com vistas a uma solução Os Chanceleres Celso Amorim e Sven justa e definitiva para a questão palestina. Alkalaj registraram sua satisfação com os No mesmo espírito, o Governo brasileiro resultados positivos da visita e expressaram recebeu a designação do novo Enviado Especial seu compromisso de dar continuidade ao norte-americano para a Paz no Oriente Médio, diálogo bilateral com vistas ao fortalecimento o experiente Senador George Mitchell, como dos laços de amizade e cooperação entre o um sinal positivo do engajamento dos EUA Brasil e a Bósnia Herzegóvina. numa solução com base em amplo diálogo.

Doação humanitária à Palestina Chamada para consultas do 23/01/2009 Embaixador da Itália no Brasil 27/01/2009 O Escritório em Gaza da Agência das Nações Unidas para os Refugiados Palestinos O Brasil tomou conhecimento da decisão (UNRWA), responsável pela distribuição das do Governo italiano de chamar para consultas doações enviadas pelo Brasil à população o Embaixador da Itália no Brasil, em razão do palestina, confirmou que as oito toneladas de “parecer expresso sobre o caso Battisti pelo alimentos e seis toneladas de medicamentos Procurador-Geral da República”. chegaram a Gaza em 16 de janeiro e já O Governo brasileiro considera que todos foram distribuídas. Os alimentos foram os procedimentos sobre a questão estão sendo destinados a dois abrigos de emergência, seguidos de acordo com a legislação brasileira. ambos administrados pela ONU e ocupados O Governo brasileiro reitera a confiança por centenas de pessoas deslocadas. O expressa pelo Presidente da República, em sua carregamento de medicamentos, por sua vez, carta dirigida ao Presidente da Itália, de que os

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 175 laços históricos e culturais que unem o Brasil e Comércio e Indústria, Toshihiro Nikai. a Itália continuarão a inspirar nossos esforços Participará de reunião informal de ministros com vistas a aprofundar ainda mais as sólidas sobre a Rodada Doha, convocada pelo relações bilaterais nos mais diversos setores. Governo suíço, seguida de almoço oferecido pela Conselheira Federal do Departamento de Reunião Anual do Fórum Temas Econômicos da Suíça, Doris Leuthard. Na tarde do mesmo dia, o Ministro Celso Econômico Mundial - Davos, 28 de Amorim manterá encontro bilateral com a janeiro a 1º de fevereiro de 2009 - Comissária Européia de Comércio Exterior, Participação do Catherine Ashton, e proferirá palestra, em Ministro Celso Amorim sessão plenária do Fórum Econômico Mundial, intitulada “O combate ao protecionismo”. 29/01/2009 Reunião Anual do Fórum O Ministro Celso Amorim participará do Econômico Mundial - encontro Fórum Econômico Mundial, em Davos, de 29 a 31 de janeiro. do Ministro Celso Amorim com o Na noite do dia 29, o Ministro manterá Ministro do Comércio encontros com o Ministro do Comércio da da Índia, Kamal Nath - Davos, Índia, Kamal Nath, e com o Diretor-Geral da Organização Mundial do Comércio, 30 de janeiro de 2009 Pascal Lamy. 30/01/2009 No dia 30, pela manhã, o Ministro Celso Amorim manterá reunião bilateral com o Os Ministros Celso Amorim e Kamal Nath Ministro do Comércio da Austrália, Simon mantiveram encontro bilateral em Davos, Crean. Em seguida, o Ministro será um dos Suíça, à margem da Reunião Anual do Fórum debatedores do evento “Brazil, a new power Econômico Mundial. Na ocasião, os Ministros broker”, promovido pelo Fórum Econômico Amorim e Nath trocaram impressões sobre Mundial, durante o qual discorrerá sobre o a atual situação econômica internacional, papel do Brasil como novo ator de peso no inclusive com vistas a identificar possibilidades cenário internacional. À tarde, terá encontros para a retomada das negociações comerciais com o ex-Secretário-Geral da ONU, Kofi multilaterais no âmbito da Rodada de Doha. Annan, com o Ministro do Comércio da Os Ministros valeram-se da oportunidade Nova Zelândia, Tim Groser, e com a Ministra para tratar do tema da recente retenção, do Clima e Energia da Dinamarca, Connie por autoridades dos Países Baixos, de Hedegaarde. À noite, o Ministro Celso medicamentos genéricos fabricados na Índia Amorim participará de jantar com Ministros e importados pelo Brasil, enquanto a carga do Comércio, com o Diretor-Geral da OMC e se encontrava em trânsito em território com representantes de entidades empresariais. neerlandês. Os Ministros Amorim e Nath No dia 31, pela manhã, o Ministro Celso coincidiram em sua grande preocupação com Amorim se reunirá com os Ministros japoneses a decisão de se reter insumo estratégico para da Agricultura, Shigeru Ishiba, e da Economia, a saúde pública, comercializado entre países

176 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 em desenvolvimento em plena conformidade da Resolução 1860 (2009) do Conselho de com as disciplinas internacionais vigentes. Segurança das Nações Unidas. Tal decisão também assinala grave retrocesso para o princípio do acesso universal aos Situação no Zimbábue medicamentos e contraria, ademais, o espírito 02/02/2009 da Resolução 2002/31 da Comissão de Direitos Humanos sobre o direito ao padrão mais elevado possível de saúde física e mental. O Governo brasileiro recebeu com agrado Os Ministros compartilharam igualmente a a aceitação, pelo Governo e pelos principais convicção de que medidas dessa natureza líderes oposicionistas zimbabuanos, dos termos têm impacto sistêmico altamente negativo e prazos propostos pela Cúpula Extraordinária sobre o comércio legítimo de medicamentos dos Chefes de Estado da Comunidade para o genéricos, o comércio Sul-Sul e as políticas Desenvolvimento da África Austral (SADC) nacionais de saúde pública. para a formação de um governo de coalizão Os Ministros Amorim e Nath concordaram nacional no Zimbábue. em que as delegações do Brasil e da Índia O Brasil encoraja as forças políticas denunciem a retenção dos medicamentos zimbabuanas a observarem os parâmetros genéricos pelas autoridades neerlandesas na estabelecidos pela SADC e expressa a próxima reunião do Conselho-Geral da OMC, confiança de que as lideranças partidárias do prevista para o dia 3 de fevereiro próximo. Zimbábue saberão colocar o bem coletivo e Os Ministros acordaram, ainda, que os dois os interesses maiores do povo zimbabuano países deverão manter atuação estreitamente acima de suas divergências políticas. coordenada, tanto na OMC quanto em outros Da mesma maneira, o Brasil faz um foros relevantes. chamado à comunidade internacional para que trabalhe construtivamente com o governo Violência na Faixa de Gaza de coalizão nacional no Zimbábue e contribua para a criação de um ambiente de entendimento 02/02/2009 e de reconciliação nacional. O Governo brasileiro reitera sua expectativa O Governo brasileiro recebe com grande de que a mediação empreendida pela SADC preocupação as notícias de agressões mútuas logrará alcançar uma solução consensual para entre Israel e o Hamas na Faixa de Gaza. a crise no Zimbábue. O Brasil conclama as partes envolvidas a exercer contenção e a evitar quaisquer atos Combate a praga na Libéria que prejudiquem a consolidação do cessar- 02/02/2009 fogo anunciado em 17 de janeiro. O Brasil considera que a violência dificulta o acesso da assistência humanitária Em resposta à emergência decretada internacional e prejudica os esforços em pela Presidente da Libéria, Ellen Johnson favor de uma solução negociada, pacífica Sirleaf, em função de praga que vem e sustentável para o conflito. Nesse sentido, destruindo plantações de cacau, café, banana reitera a necessidade do pleno cumprimento e arroz naquele país, o Governo brasileiro,

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 177 por intermédio da Agência Brasileira de Assinatura de Ajuste Cooperação, enviará a Monróvia, no período Complementar entre a de 3 a 11 de fevereiro, o responsável pela área Agência Brasileira de de diagnóstico fitossanitário do Ministério Cooperação (ABC) e o Instituto da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. A missão visará a elaborar projeto emergencial Interamericano de Cooperação de combate à praga, que vem afetando a em Agricultura (IICA) subsistência de milhares de pessoas na Libéria. 06/02/2009

Libertação de reféns em O Diretor da Agência Brasileira de Cooperação (ABC) e o Representante do poder das FARC Instituto Interamericano de Cooperação em 05/02/2009 Agricultura (IICA) no Brasil assinaram, em 5 de fevereiro de 2009, Ajuste Complementar ao A pedido do Comitê Internacional da Cruz Acordo Básico sobre Privilégios e Imunidades Vermelha e com a anuência do Governo da e Relações Institucionais entre o Brasil e Colômbia, o Governo brasileiro prestou apoio aquele Instituto. logístico, por meio da cessão de helicópteros e O Ajuste, que abrange, entre outros temas, tripulações militares, às operações de libertação, a área de desenvolvimento rural sustentável, em território colombiano, de seis reféns que se enquadra-se na estratégia brasileira de encontravam sequestrados pelas FARC. aprimorar os instrumentos para a cooperação O Governo brasileiro transmite aos recém- Sul-Sul. O documento permitirá a execução de libertados os mais calorosos cumprimentos, projetos em vários países em desenvolvimento, neste momento de reconquista da liberdade e de a começar pelo Haiti. Nesse país, o Ajuste reencontro com seus familiares, e congratula- assinado com o IICA facilitará a execução se com o Governo colombiano e o Comitê do Programa Estratégico de Cooperação Internacional da Cruz Vermelha pelas ações que Técnica nas áreas de Agricultura e Segurança possibilitaram o êxito da missão humanitária. Alimentar e Nutricional, celebrado entre o O Governo brasileiro manifesta a Brasil e o Haiti em dezembro de 2008. expectativa de que essa iniciativa bem- sucedida dê ensejo à libertação de todos Assistência humanitária a Cuba, os sequestrados que permanecem ainda Haiti e Honduras distantes de seus familiares, e possibilite novas perspectivas para o processo de paz e 06/02/2009 reconciliação de todos os colombianos. O Ministro das Relações Exteriores da Os Governos do Brasil e da Espanha Colômbia, Jaime Bermúdez, telefonou hoje prestarão, em atendimento à solicitação ao Ministro Celso Amorim para agradecer, dos Governos de Cuba, Haiti e Honduras, em nome do Governo colombiano, a ajuda assistência humanitária a esses países, prestada pelo Brasil nas operações de cuja segurança alimentar foi seriamente libertação dos reféns. comprometida pela devastação causada, em

178 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 2008, pelos furacões Ike, Gustav e Hannah. O Ministério das Relações Exteriores está O Governo brasileiro doará 44,4 mil avaliando, em conjunto com outros órgãos do toneladas de arroz (19,4 mil para Cuba; 15 Governo e com o setor privado, os possíveis mil para o Haiti; e 10 mil para Honduras) e impactos da medida sobre as exportações 1.105 toneladas de leite em pó, bem como 4,5 brasileiras para os Estados Unidos, bem toneladas de sementes de frutas, verduras e como, se for o caso, as ações necessárias para legumes, produzidos pela agricultura familiar. enfrentá-los. O Governo espanhol assumirá os custos O Brasil reafirma seu compromisso relativos ao transporte marítimo da doação até com a progressiva expansão do comércio o seu destino e à sua conseqüente distribuição. internacional como a melhor forma de Os três países beneficiados serão responsáveis se enfrentar a crise econômica mundial e pelos trâmites alfandegários e contarão com o conclama seus parceiros a cooperarem na apoio do Programa Mundial de Alimentos. busca de soluções conjuntas. Trata-se da primeira operação conjunta entre o Brasil e a Espanha no campo da Visita ao Brasil do Presidente da assistência humanitária. Tal ação resulta de Namíbia, Hifikepunye Pohamba - 9 acordo celebrado pelos Presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e José Luis Rodríguez a 12 de fevereiro de 2009 Zapatero durante a XVIII Cúpula Ibero- 10/02/2009 Americana, realizada em novembro de 2008 em El Salvador. O Presidente da Namíbia, Hifikepunye Pohamba, realizará visita oficial ao Brasil Pacote de estímulo econômico de 9 a 12 de fevereiro. Virá acompanhado do Ministro das Relações Exteriores, do norte-americano - dispositivo Ministro da Defesa, do Ministro da Indústria e “Buy American” Comércio e de outras autoridades. 06/02/2009 No dia 11, o Presidente Pohamba será recebido pelo Presidente Luiz Inácio Lula da O Governo brasileiro tem acompanhado Silva, no Palácio do Planalto, e, em seguida, com preocupação as notícias sobre a inclusão homenageado com almoço no Palácio de dispositivos de natureza protecionista no Itamaraty. À tarde, fará visitas de cortesia aos pacote de estímulo econômico atualmente em Presidentes do Senado Federal, Senador José discussão no Congresso dos Estados Unidos. Sarney; da Câmara dos Deputados, Deputado Independentemente de sua consistência ; e do Supremo Tribunal Federal, ou não com as normas da OMC, que está Ministro Gilmar Mendes. sendo atentamente examinada, a intenção No dia seguinte, no Rio de Janeiro, de reforçar os requisitos “Buy American” o Presidente namibiano deverá visitar a no pacote econômico norte-americano emite Petrobras e a Escola Naval, onde se reunirá sinal negativo em relação às iniciativas de com autoridades do Ministério da Defesa, cooperação internacional para a busca de em particular do Comando da Marinha, soluções para a crise. e encontrará os oficiais da Marinha da

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 179 Namíbia que vêm recebendo formação Edison Lobão, e com o Ministro da Fazenda, no Brasil, no âmbito do programa de Guido Mantega. cooperação entre as Marinhas dos dois O Brasil é o principal parceiro comercial países. do Uruguai. Em 2008, o fluxo de comércio A visita do Presidente Pohamba é novo alcançou US$ 2,66 bilhões, o que representa marco na recente intensificação de visitas de aumento de quase 30% em relação a 2007. alto nível entre os dois países. O Presidente Lula visitou Windhoek em 2003; Sam Nujoma, Visita do Ministro dos Negócios então Presidente namibiano, esteve no Brasil Estrangeiros do Canadá, em 2004; e o Vice-Presidente José Alencar chefiou delegação brasileira às cerimônias de Lawrence Cannon -15 a 18 de posse do Presidente Hifikepunye Pohamba, fevereiro de 2009 em março de 2005. 13/02/2009

Visita do Ministro das Relações O Ministro dos Negócios Estrangeiros do Canadá, Lawrence Cannon, visitará o Brasil Exteriores do Uruguai, Gonzalo no período de 15 a 18 de fevereiro. Manterá Fernández - Brasília, 12 de encontros com autoridades políticas e com fevereiro de 2009 acadêmicos e empresários em São Paulo, 11/02/2009 Brasília e Rio de Janeiro. O Ministro Cannon será recebido pelo O Ministro das Relações Exteriores do Ministro Celso Amorim, no dia 16, para Uruguai, Gonzalo Fernández, visitará Brasília tratar de temas da agenda bilateral, regional no dia 12 de fevereiro, para reunir-se com o e global. Ministro Celso Amorim. Os dois Ministros examinarão as Os dois Chanceleres passarão em revista tendências do comércio bilateral - cujo os temas bilaterais, a agenda do Mercosul, volume total em 2008 cresceu 24,7% em a situação política regional e a conjuntura relação a 2007 - e do fluxo de investimentos econômica, tendo presente a necessidade entre os dois países, bem como medidas de identificar oportunidades de cooperação para intensificá-los. Tratarão também que permitam enfrentar o impacto da crise da próxima Cúpula das Américas e da internacional. cooperação com o Governo haitiano e com A visita do Ministro Gonzalo Fernández a MINUSTAH. servirá também para a preparação da visita Os Ministros examinarão, igualmente, que o Presidente Tabaré Vázquez deverá possíveis medidas para superar a crise realizar ao Brasil em março, a convite do financeira internacional, no contexto da Presidente Luiz Inácio Lula da Silva. preparação da próxima reunião do G-20 Durante sua passagem por Brasília, o financeiro. Discutirão também temas como Ministro uruguaio terá, ainda, encontro de a situação no Oriente Médio e a reforma das trabalho com o Ministro de Minas e Energia, organizações internacionais, particularmente

180 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 das Nações Unidas e das instituições que a assistência construtiva da comunidade financeiras multilaterais. internacional se mostra essencial para a A visita do Ministro Cannon dá rápida recuperação do país, em especial no continuidade às visitas do Chanceler Peter que diz respeito à situação humanitária. MacKay ao Brasil, em fevereiro de 2007, e do Ministro Celso Amorim ao Canadá, em Visita ao Brasil do Presidente da maio de 2007. Colômbia, Álvaro Uribe - 16 e 17 de fevereiro de 2009 Posse do novo Governo de 16/02/2009 união nacional no Zimbábue 13/02/2009 O Presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, fará visita de Estado ao Brasil no dia 17 de O Governo brasileiro registra com fevereiro, atendendo a convite feito pelo satisfação a posse, no dia 13 de fevereiro, Presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante do novo Gabinete de União Nacional no sua última visita à Colômbia, em julho de Zimbábue e reitera seu reconhecimento pelo 2008. Virá acompanhado do Ministro das papel exercido pelos Presidentes Thabo Relações Exteriores, do Ministro do Comércio Mbeki e Kgalema Motlanthe da África Indústria e Turismo e de outras autoridades. do Sul, em nome da Comunidade para o No dia 16 de fevereiro, o Presidente Desenvolvimento da África Austral (SADC), Uribe manterá encontros com empresários para a consecução desse objetivo. brasileiros em São Paulo e participará de A solução encontrada pelas partes e mesa-redonda na sede da FIESP, onde serão apoiada pela SADC vai ao encontro da examinadas oportunidades de ampliação do mensagem de incentivo ao diálogo e à comércio e dos investimentos entre os dois moderação transmitida pessoalmente pelo países. Ainda em São Paulo, o Presidente Ministro Celso Amorim ao Presidente Robert colombiano terá encontro com o Governador Mugabe, ao Primeiro-Ministro Morgan José Serra. Tsvangirai e ao Vice-Primeiro-Ministro No dia 17, o Presidente Uribe será recebido Arthur Mutambara, em sua visita a Harare, pelo Presidente Lula, no Palácio do Planalto, em outubro de 2008. e, em seguida, homenageado com almoço no O Brasil espera que este desdobramento Palácio Itamaraty. inaugure nova etapa no país, com ampla Os mandatários passarão em revista os reconciliação e com a criação de ambiente principais temas da agenda multilateral, favorável para que o Zimbábue retome regional e bilateral. Examinarão, nesse o caminho da normalidade política e do contexto, estratégias e ações conjuntas que crescimento com paz e justiça social. permitam mitigar os efeitos, na região, da crise O Governo brasileiro renova sua econômica global. Os Presidentes tratarão, disposição de cooperar com as novas ainda, do comércio bilateral e de projetos de autoridades zimbabuanas, num momento em infra-estrutura.

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 181 Na tarde do dia 17, o Presidente Uribe fará aprofundar o diálogo bilateral sobre as visitas de cortesia ao Presidente do Senado medidas tomadas pelos dois Governos no Federal, Senador José Sarney; da Câmara contexto da atual crise internacional. dos Deputados, Deputado Michel Temer; Os Ministros examinarão propostas para e do Supremo Tribunal Federal, Ministro preservar e ampliar o comércio bilateral Gilmar Mendes. e os investimentos recíprocos, de modo a Por ocasião da visita, Brasil e Colômbia fazer frente ao contexto atual de retração do assinarão os seguintes acordos: crédito, redução da atividade econômica e - Memorando de Entendimento entre o recrudescimento de medidas protecionistas Governo da República Federativa do Brasil em algumas economias desenvolvidas. e Governo da República da Colômbia para o Estabelecimento da Visita de Estado ao Brasil do Comissão Bilateral Brasil-Colômbia Presidente da República da - Ajuste Complementar de Cooperação em Aplicações Pacíficas de Ciência e Tecnologia Colômbia, Álvaro Uribe Vélez - Espaciais; e Brasília 17 de fevereiro de 2009 - Ajuste Complementar ao Acordo - Comunicado Conjunto - “Brasil- Básico de Cooperação Técnica entre o Governo da República Federativa do Brasil Colômbia: Fortalecendo uma e o Governo da República da Colômbia para Relação Especial” Implementação do Projeto “Cooperação para 18/02/2009 o Fortalecimento do Sistema e do Processo de Proteção da Propriedade Industrial na Atendendo a convite formulado pelo Colômbia”. Presidente da República Federativa do Brasil, Em 2008, as exportações brasileiras para Luiz Inácio Lula da Silva, o Presidente da a Colômbia somaram US$ 2,3 bilhões, e República da Colômbia, Álvaro Uribe Vélez, as exportações colombianas para o Brasil fez Visita de Estado ao Brasil, no dia 17 de totalizaram US$ 830 milhões. fevereiro de 2009. No quadro de sua Visita, o Presidente Álvaro Reunião Ministerial Uribe Vélez foi recebido pelo Presidente do Senado Federal, pelo Presidente da Câmara Brasil-Argentina - dos Deputados e pelo Presidente do Supremo 17 de fevereiro de 2009 Tribunal Federal. 17/02/2009 O Presidente Luiz Inácio Lula da Silva impôs a condecoração Grande Colar da Ordem Os Ministros Celso Amorim, Guido Nacional do Cruzeiro do Sul ao Presidente Mantega e Miguel Jorge manterão reunião de Álvaro Uribe Vélez. trabalho, em 17 de fevereiro, com os Ministros Ao longo de proveitoso diálogo, os argentinos das Relações Exteriores, Jorge Presidentes abordaram temas da agenda Taiana, da Economia, Carlos Fernández, e da multilateral, regional e bilateral, constatando Produção, Débora Giorgi. o excelente nível em que se encontra a relação A reunião ministerial tem por objetivo entre ambos países.

182 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 1. Os dois Mandatários sublinharam a transparente e não discriminatório no âmbito importância da coordenação entre os países da OMC deve ser vista por toda a comunidade da região para enfrentar os efeitos da crise do internacional como componente essencial na sistema econômico internacional. Ressaltaram recuperação da crise. a necessidade de levar a contribuição dos 5. Os Presidentes convieram na importância países em desenvolvimento à Cúpula do do fortalecimento do multilateralismo e na G-20, em Londres, de maneira a fortalecer os necessidade urgente de proceder à reforma da princípios de responsabilidade e transparência Organização das Nações Unidas, em particular no funcionamento dos mercados financeiros do Conselho de Segurança, com o objetivo internacionais. Nesse contexto, Brasil e principal de torná-lo mais representativo, Colômbia concordam com a necessidade de legítimo e eficaz. Em relação ao Conselho contar, à semelhança de outras regiões, com a de Segurança, os Presidentes insistiram participação de órgão representativo da América na necessidade de uma reforma ampla. O Latina e Caribe na Cúpula de Londres. O Brasil Presidente Álvaro Uribe Vélez reconheceu a vê com simpatia o interesse da Colômbia em histórica aspiração do Brasil em ocupar assento ter participação ativa nas negociações. permanente em um Conselho de Segurança 2. Os Presidentes ressaltaram a importância reformado. Os Mandatários indicaram, ainda, da 50ª Assembléia de Governadores do a importância de que a Colômbia tenha voz Banco Interamericano de Desenvolvimento presente no Conselho, questões que devem ser (BID), que terá lugar de 27 a 31 de março em consideradas de maneira construtiva. Medellín, Colômbia, na qual se abordarão 6. Os Presidentes destacaram também temas financeiros estratégicos para a região e a necessidade de aprofundar a cooperação metas futuras, assim como a forma em que o internacional, sob uma perspectiva de Banco apoiará aos países membros para fazer responsabilidade compartilhada, para combater frente à situação econômica internacional. a delinqüência organizada transnacional, o 3. Os Presidentes ressaltaram a necessidade tráfico de armas e munições, o seqüestro e de enfrentar tendências protecionistas, que o tráfico de pessoas, e o problema mundial aprofundam os efeitos da crise, e reafirmaram das drogas e seus delitos relacionados. Nesse a convicção que a integração regional e o contexto, manifestaram seu mais enérgico fortalecimento dos fluxos de investimento são repúdio à violência resultante da ação dos essenciais para o crescimento econômico e grupos à margem da lei. preservação dos êxitos sociais alcançados em 7. Os dois Mandatários saudaram a seus países. realização, na Costa do Sauípe, nos dias 16 e 4. Os Presidentes reafirmaram que o acesso 17 de dezembro de 2008, da Cúpula da União a mercados é fundamental para a promoção das Nações Sul-Americanas (UNASUL), da do desenvolvimento econômico e social. Um Cúpula da América Latina e do Caribe sobre sistema internacional de comércio mais justo Integração e Desenvolvimento (CALC), e eqüitativo é essencial para a reversão da da Cúpula do Grupo do Rio e da Cúpula crise econômica, favorecendo a criação de do Mercosul. Ressaltaram a prioridade que empregos e a competitividade nas economias atribuem ao processo de integração e ao em desenvolvimento. Nesse contexto, fortalecimento do diálogo político entre os a conclusão de um acordo equilibrado, países da região, e reafirmaram a necessidade

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 183 de articular iniciativas entre os mecanismos de trabalho para o fortalecimento da relação regionais de integração. especial entre o Governo da República 8. Os dois Chefes de Estado também Federativa do Brasil e o Governo da República congratularam-se pela criação do Conselho da Colômbia. Nesse sentido, instruíram seus Sul-Americano de Defesa - órgão de consulta, Ministros das Relações Exteriores a celebrar a cooperação e coordenação - e do Conselho de I Reunião da Comissão Bilateral no primeiro Saúde Sul-Americano, durante a Cúpula da semestre de 2009, na Colômbia. UNASUL, em dezembro de 2008. 12. Os Presidentes congratularam-se pelos 9. Os Presidentes expressaram satisfação resultados dos encontros com empresários com as atividades de seguimento da Cúpula brasileiros, realizados em São Paulo, no dia 16 América do Sul-Países Árabes e da Cúpula de fevereiro, no contexto da visita presidencial. América do Sul-África, que constituem Exprimiram seu interesse de que o encontro efetiva demonstração das possibilidades estimule o comércio e os investimentos de cooperação e concertação política entre entre Brasil e Colômbia. Nesse sentido, a América do Sul e as duas regiões, e se manifestaram interesse no estabelecimento referiram à próxima Cúpula América do Sul- de um foro empresarial permanente para a Países Árabes, que se realizará no Catar, em promoção do comércio e dos investimentos 31 de março, e à próxima Cúpula América do entre Brasil e Colômbia. Sul-África, que também será realizada este 13. Também instruíram as autoridades ano, na Venezuela. competentes a examinar a possibilidade 10. O Presidente da Colômbia, Alvaro de agilizar o lançamento do projeto piloto Uribe, agradeceu ao Presidente Luiz Inácio “Exportação por Envios Postais para Pequenas Lula da Silva o apoio de seu Governo aos e Médias Empresas - Exporta Fácil”, no trabalhos da missão humanitária que facilitou quadro do Memorando de Entendimento o retorno à liberdade, durante a primeira assinado sobre o tema, em dezembro de 2008. semana de fevereiro de 2009, dos cidadãos 14. Os Presidentes reconheceram o amplo colombianos que estavam seqüestrados potencial de cooperação econômico-comercial pelas Forças Armadas Revolucionárias da ainda a ser explorado entre os dois países. De Colômbia (FARC). Também exaltou o espírito forma a aprofundar as relações nesse campo e de cooperação e amizade da missão brasileira, favorecer o encaminhamento de soluções para e destacou sua impecável atuação, marcada eventuais dificuldades pontuais no comércio pela discrição e eficiência. bilateral, decidiram criar uma Comissão de 11. Com o objetivo de dinamizar a relação Monitoramento do Comércio Bilateral, em bilateral em todos os níveis, com apoio nível de Vice-Ministros de Comércio, com a em mecanismo ágil de diálogo político e participação das respectivas Chancelarias, a coordenação de iniciativas, os Presidentes reunir-se regularmente de forma alternada nos decidiram a criação de Comissão Bilateral, a dois países. A primeira reunião da Comissão reunir-se anualmente no nível de Chanceleres. será realizada ainda no corrente semestre, em Com base no Memorando de Entendimento data a ser acordada. firmado nesta data, a Comissão Bilateral 15. Registraram, com satisfação, a conduzirá, doravante, um amplo programa decisão da Colômbia e do Mercosul de

184 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 dar início à negociação sobre serviços no tomaram nota, com satisfação, das visitas âmbito do ACE-59. recíprocas entre Ministros da Defesa dos 16. Os Presidentes buscarão examinar a dois países. Este marco deve assegurar um viabilidade de um mecanismo bilateral de mecanismo permanente de alto nível, para o pagamentos em moeda local. Para tanto, aprofundamento da cooperação bilateral na revisarão com suas autoridades econômicas e área de defesa. presidentes de Bancos Centrais a possibilidade 21. Registraram que a XII Comissão de dar seguimento a essa iniciativa. de Vizinhança Brasil-Colômbia, instância 17. Os Chefes de Estado reafirmaram sua fundamental para o aprofundamento da intenção de continuar promovendo projetos relação entre os dois países, deverá realizar-se binacionais de infraestrutura. Nesse contexto, no segundo semestre de 2009. saudaram a continuidade dos estudos 22. Os Mandatários instruíram suas preparatórios para a construção da Ferrovia do autoridades competentes a agilizar as Carare, investimento de amplo potencial para negociações com vistas à assinatura, com estimular as taxas de crescimento econômico a brevidade possível, do Acordo sobre e as complementaridades entre as economias Permissão de Residência, Estudo e Trabalho dos dois países. para os Nacionais Fronteiriços Brasileiros e 18. Considerando a importância da Colombianos. rede fluvial amazônica como via para a 23. Saudaram, igualmente, a realização, integração, a complementaridade econômica em março deste ano, da III Reunião do Grupo e o desenvolvimento regional, o Presidente de Trabalho bilateral em Meio Ambiente e a Álvaro Uribe Vélez convidou o Presidente Luiz importância do fortalecimento de mecanismos Inácio Lula da Silva a que o Brasil participe de ação em matéria de áreas protegidas. dos estudos que se realizarão, no âmbito da 24. Os Mandatários congratularam-se Iniciativa para a Integração Regional Sul- pela extensa gama e qualidade dos projetos Americana (IIRSA), sobre a navegabilidade de cooperação técnica bilateral levados a do Rio Putumayo, voltados à consolidação do cabo pelos dois Governos, em áreas como corredor de transporte intermodal Tumaco- agricultura, saúde, meio ambiente e educação. Puerto Asís-Belém do Pará. Nesse sentido, manifestaram a importância de 19. Os Mandatários saudaram a que a Comissão Mista de Cooperação Técnica continuidade das tratativas, entre EMBRAER, e a Comissão de Ciência e Tecnologia se Força Aérea Brasileira e Força Aérea reúnam no primeiro semestre de 2009. Colombiana, para desenvolvimento da 25. Registraram a assinatura, nesta data, do aeronave KC-390, iniciativa que incrementará Ajuste Complementar sobre Cooperação para o nível tecnológico da indústria aeronáutica o Fortalecimento do Sistema e do Processo dos dois países. de Proteção da Propriedade Industrial na 20. Os Presidentes reiteraram o propósito Colômbia. de manter interação constante entre 26. Os Presidentes manifestaram satisfação autoridades militares dos dois países, com o pela assinatura do Ajuste Complementar intercâmbio de informações, no marco dos de Cooperação em Aplicações Pacíficas da acordos bilaterais existentes. Os Presidentes Ciência e Tecnologia Espaciais, cujo objetivo

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 185 primordial é criar quadro de referência para a diferentes cenários que a produção coordenação dos esforços mútuos no campo de biocombustíveis nos países em da tecnologia espacial. desenvolvimento não obra em detrimento da 27. No campo da cooperação cultural, segurança alimentar a nível mundial. tomaram nota, com satisfação, de que, ao 31. Tendo presente a identidade amparo de acordos firmados em 2007, vem-se de posições entre Brasil e Colômbia realizando proveitoso intercâmbio no setor de no desenvolvimento de políticas audiovisual e na promoção de atividades que governamentais para os biocombustíveis, valorizam a diversidade cultural da Colômbia o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do Brasil. Manifestaram seu interesse em expressou a importância de se contar com celebrar a IV Reunião da Comissão Mista a ativa participação da Colômbia na Global Educacional-Cultural, no primeiro semestre Bioenergy Partnership (GBEP), foro onde de 2009, na qual se avançaria em projetos de se discutem critérios e indicadores da interesse mútuo. sustentabilidade da produção e uso dos 28. Os Presidentes aprovaram o biocombustíveis. crescimento do número de estudantes 32. O Presidente Álvaro Uribe Vélez colombianos que realizam seus estudos manifestou, em seu nome e de sua delegação, de pós-graduação no Brasil. Notaram que, seu agradecimento pela hospitalidade e nos últimos cinco anos, 300 estudantes atenção recebida por parte do povo e do colombianos receberam bolsas de estudo Governo do Brasil. do governo brasileiro. Tomaram nota, com satisfação, da realização, em 2008, Situação da cidadã brasileira pelo terceiro ano consecutivo, de Cátedra Paula Oliveira na Suíça de Estudos Brasileiros na Universidade Nacional da Colômbia. 18/02/2009 29. Os Presidentes solicitaram às respectivas autoridades do setor elétrico acelerar os O Governo brasileiro tomou conhecimento entendimentos com vistas a viabilizar a da decisão da Procuradoria-Geral do Distrito interconexão elétrica entre Bocas del Querari de Zurique de indiciar a cidadã brasileira (Brasil) e Bocas del Querarí (Departamento Paula Ventura Oliveira em processo penal del Vaupés - Colombia); Bocas del Yauaraté perante as autoridades suíças, sob a acusação (Brasil) e Yavaraté (Departamento del Vaupés - de ter cometido delito de indução da Justiça Colombia); e Letícia-Tabatinga. em erro. 30. Os Presidentes reafirmaram que os Segundo comunicado divulgado pela biocombustíveis são alternativa energética referida Procuradoria, a nacional brasileira social, ambiental e economicamente deverá permanecer no país enquanto durarem sustentáveis, especialmente para os países as investigações, com seus documentos em desenvolvimento, e acordaram explorar mantidos sob custódia da Justiça suíça. e aprofundar modalidades de cooperação O Consulado-Geral do Brasil em Zurique bilateral nesse setor. Ressaltaram, nesse continuará a prestar à Senhora Paula Oliveira contexto, a necessidade de reiterar em e à sua família a assistência necessária.

186 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 Visita ao Brasil do Vice-Primeiro- Líbia na América Latina. O comércio bilateral Ministro da Líbia, Imbarek superou US$ 1,7 bilhão em 2008. Grandes Ashamikh - 16 a 20 de fevereiro empresas brasileiras, como a Petrobras, a 18/02/2009 Odebrecht e a Queiroz Galvão, atuam no mercado líbio.

O Vice-Primeiro-Ministro da Líbia, Visita do Vice-Presidente da Imbarek Ashamikh, realiza visita oficial ao República Popular da China, Xi Brasil de 16 a 20 de fevereiro. Em São Paulo, em 16 de fevereiro, o Jinping - Brasília e Manaus, 18 a 20 Vice-Primeiro-Ministro foi recebido pelo de fevereiro de 2009 Governador José Serra, pelo Prefeito de São 18/02/2009 Paulo, Gilberto Kassab, e pelo Presidente da Câmara Legislativa, Vaz de Lima. Foi A convite do Governo brasileiro, o Vice- também homenageado com jantar oferecido Presidente da República Popular da China, Xi pela Câmara de Comércio Árabe-Brasileira. Jinping, realizará visita ao Brasil, no período Visitou, ainda, em 17 de fevereiro, fazenda de 18 a 20 de fevereiro de 2009. especializada em melhoramento genético de Em Brasília, no dia 19, o Vice-Presidente gado bovino, no interior de São Paulo, e usina será recebido em audiência pelo Senhor de biocombustíveis, em Mato Grosso do Sul. Presidente da República, ocasião em que Em Brasília, o Vice-Primeiro-Ministro pretendem debater formas de dinamizar as líbio será recebido, no dia 18 de fevereiro, relações bilaterais e intensificar a coordenação pelo Ministro da Agricultura, Pecuária e em torno dos grandes temas da agenda Abastecimento, Reinhold Stephanes. No dia internacional. 19, será recebido pelo Ministro Celso Amorim, Em seguida, o Vice-Presidente Xi Jinping que oferecerá jantar em sua homenagem. manterá encontro de trabalho com o Ministro Manterá, também, encontros com Presidente Celso Amorim, com vistas a avaliar o da Câmara dos Deputados, Deputado Michel desenvolvimento das relações bilaterais e as Temer, e com o Ministro do Desenvolvimento, propostas de trabalho futuro, bem como trocar Indústria e Comércio Exterior, Miguel Jorge. impressões sobre os respectivos entornos No dia 20, em Salvador, a delegação regionais e a conjuntura internacional, em líbia cumprirá programa organizado especial a crise financeira e a necessidade de pela Construtora Norberto Odebrecht/ reformas do sistema de governança mundial. CODEVERDE, e fará visita a projetos de Na presença do Vice-Presidente chinês e irrigação no semi-árido baiano. do Ministro Celso Amorim, serão assinados os A visita do Vice-Primeiro-Ministro dá seguintes atos: Protocolo sobre Cooperação em seqüência às conversações mantidas por Energia e Mineração (nos campos da mineração ocasião das visitas à Líbia do Ministro Celso e processamento de minérios, eletricidade, Amorim, em maio de 2008, e do Ministro combustíveis renováveis, gás natural e Miguel Jorge, em janeiro de 2009. petróleo); Memorando de Entendimento entre O Brasil é o maior parceiro comercial da a Petrobras e o Banco de Desenvolvimento da

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 187 China (promoção da cooperação em comércio da China (doravante denominados “Partes”), de petróleo e financiamento); Memorando de Considerando o interesse mútuo na promoção Entendimento entre a Petrobras e a CNPC e na diversificação futuras da cooperação para compra e venda de petróleo; Acordo de entre os dois países nas áreas de energia compra e venda de petróleo entre a Petrobras e de mineração; Desejando aproveitar as e a SINOPEC; Memorando de Entendimento oportunidades de cooperação concreta entre entre a Energia Sustentável do Brasil e a os dois países nas áreas de energia e de Donfang Energy (sobre o contrato para mineração, baseando-se nos princípios do fornecimento de 18 turbinas para o Projeto benefício mútuo e da cooperação de longo Jirau, no Complexo Hidroelétrico do Rio prazo; Convencidos de que a confiança Madeira); Termos e condições para linha de mútua e o entendimento entre instituições financiamento entre o Banco Itaú-BBA eo governamentais e os setores públicos Banco de Desenvolvimento da China (para e privados de ambos os países são de projetos no Brasil); Acordo de Cooperação importância vital para promover a cooperação Técnica e Científica entre a Huawei do Brasil bilateral; e Tendo em mente o Memorando de e a Fundação Universidade de Brasília; e Entendimento entre o Ministério das Minas Memorando de Entendimento entre o BNDES e Energia da República Federativa do Brasil e o Banco de Desenvolvimento da China sobre e a Comissão do Desenvolvimento Nacional cooperação para linha de financiamento. e Reforma da República Popular da China Além de visita oficial a Brasília, o Vice- sobre o Estabelecimento da Subcomissão de Presidente Xi Jinping irá a Manaus, onde se Energia e Recursos Minerais da Comissão avistará com o Governador . Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação Em 2008, o comércio entre os dois países e Cooperação, assinado em Pequim, em atingiu o montante de US$ 36 bilhões, e a 5 de junho de 2006, Acordam o seguinte: China tornou-se o segundo maior parceiro Artigo I 1. As Partes, em conformidade individual do Brasil. com suas respectivas legislações internas, fortalecerão a cooperação bilateral nas Ato assinado por ocasião áreas de petróleo, gás natural, combustíveis renováveis, eletricidade, mineração e da visita ao Brasil do Vice- processamento de minérios, por meio do Presidente da República Popular mecanismo de cooperação estabelecido da China, Xi Jinping - 18 a 20 de no âmbito da Comissão Sino-Brasileira de fevereiro de 2009 Alto Nível de Concertação e Cooperação. 2. As Partes identificarão e promoverão 19/02/2009 projetos de interesse mútuo. Os projetos de cooperação podem contemplar as seguintes PROTOCOLO ENTRE O GOVERNO DA áreas, entre outras que as Partes possam, de REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL E comum acordo, vir a incluir: a) intercâmbio O GOVERNO DA REPÚBLICA POPULAR de informações sobre leis e regulamentos, DA CHINA SOBRE COOPERAÇÃO EM políticas públicas e de planejamento nas ENERGIA E MINERAÇÃO áreas de energia, mineração e processamento O Governo da República Federativa do de minérios; b) intercâmbio de informações, Brasil e O Governo da República Popular pesquisas conjuntas e desenvolvimento de

188 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 tecnologias avançadas e eficientes de geração privados nos setores de energia e mineração. de energia, mineração e processamento de Artigo IV Cada Parte se esforçará para manter minérios; c) intercâmbio de informações a outra Parte informada sobre a elaboração, o sobre proteção do meio ambiente nas áreas desenvolvimento e as regulamentações dos de energia, de mineração e de processamento projetos bilaterais de cooperação, com vistas de minérios; d) incentivo ao desenvolvimento a solucionar, conjuntamente, as dificuldades e conjunto e das atividades de exploração os obstáculos que possam surgir durante a sua aplicadas às áreas de petróleo e gás natural; e) implementação. Artigo V As Partes deverão incentivo ao desenvolvimento conjuntos de estimular as empresas dos dois países a petróleo, de reservas de gás natural e outros pesquisar novas oportunidades de negócios recursos minerais em terceiros países; f) nos campos de exploração, desenvolvimento, implementação da cooperação em engenharia produção e refino de petróleo, gás natural, e serviços técnicos aplicados aos setores de mineração e processamento de minérios, petróleo, gás natural e carvão; g) cooperação na produção, no comércio e no uso de no refino de petróleo pesado; h) incentivo à biocombustíveis, bem como na geração, cooperação no setor elétrico; i) Intercâmbio transmissão e distribuição de energia elétrica, de informações sobre tecnologia para a incluindo empreendimentos científicos, geração de energias renováveis, tais como tecnológicos e industriais nos dois países. as hidrelétricas, os biocombustíveis e outras Artigo VI 1. De acordo com suas respectivas fontes de energia; j) extensão da cooperação legislações nacionais e seus compromissos e troca de experiências na produção e no internacionais, as Partes adotarão as medidas uso do etanol combustível, promovendo, apropriadas para proteger os direitos de de forma conjunta, o desenvolvimento e a propriedade intelectual que surgirem da aplicação dos biocombustíveis; k) estímulo implementação deste Protocolo. 2. Respeitando à formação de parcerias sino-brasileiras, o disposto no parágrafo 1 deste Artigo, as incluindo associações , com o objetivo entidades cooperantes acordarão previamente de intensificar o comércio bilateral de sobre os termos relativos aos direitos de máquinas e equipamentos para a produção propriedade intelectual desenvolvidos ou de biocombustíveis, entre outras áreas; l) fornecidos no âmbito da implementação do aumento da cooperação na área de mineração, Protocolo, no que se refere, entre outros, à com ênfase no processamento conjunto de aquisição da propriedade, manutenção, uso minerais tais como o ferro, o alumínio, o e exploração comercial desses direitos, bem níquel, o cobre e o carvão, bem como no como no que respeita à confidencialidade das processo de agregação e fusão, agregando informações cuja publicação ou divulgação valor local aos produtos minerais. Artigo II As possa prejudicar a aquisição dos direitos Partes farão esforços para transformar o etanol de propriedade intelectual. Artigo VII As em uma commodity energética e promoverão Partes designam o Ministério das Minas o seu uso no âmbito internacional. Artigo III e Energia e o Ministério das Relações As Partes deverão apoiar-se na Subcomissão Exteriores da República Federativa do Brasil de Energia e Mineração da Comissão Sino- e a Comissão do Desenvolvimento Nacional Brasileira de Alto Nível de Concertação e e Reforma da República Popular da China Cooperação para facilitar a implementação para coordenarem a implementação deste de empreendimentos bilaterais públicos e Protocolo, com a participação adicional de

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 189 outros Ministérios e órgãos governamentais comum já manifestado pelos Presidentes Lula quando forem necessários. Artigo VIII Este e Obama em conferência telefônica. Protocolo será implementado a partir da data O Ministro Celso Amorim e a Secretária de sua assinatura e terá aplicação de dez (10) de Estado tratarão das principais iniciativas anos, renovável automaticamente por iguais do relacionamento bilateral e discutirão temas períodos. Artigo IX Qualquer das Partes regionais e globais. A preparação da viagem do poderá, a qualquer momento, notificar a outra Presidente Lula aos Estados Unidos também de sua intenção em retirar-se do presente fará parte da agenda. Protocolo, por escrito e por via diplomática. A retirada surtirá efeito seis (6) meses após a Reunião do Presidente Lula data da notificação e não afetará a conclusão e com Embaixadores a implementação de projetos em curso, salvo se acordado em contrário pelas Partes. Artigo brasileiros na África X O presente Protocolo poderá ser modificado 20/02/2009 ou emendado a qualquer momento, por consentimento mútuo das Partes, por Os Embaixadores brasileiros em 19 via diplomática. Artigo XI Quaisquer países na África Ocidental e Central, e nos controvérsias relativas à interpretação ou Países de Língua Oficial Portuguesa, além implementação do presente Protocolo serão do Embaixador junto à União Africana, resolvidas por meio de negociação direta encerraram, hoje, 20 de fevereiro, uma série entre as Partes, por via diplomática. Feito de reuniões com autoridades governamentais em Brasília, em 19 de fevereiro de 2009, em brasileiras, com o objetivo de fazer um dois originais, nos idiomas português, chinês balanço das relações do Brasil com aqueles e inglês, sendo todos os textos igualmente países e de discutir formas de aprimorar as autênticos. Em caso de divergência de iniciativas brasileiras em matéria de diálogo interpretação, prevalecerá o texto em inglês. político, intercâmbio cultural, cooperação técnica e promoção comercial. Visita do Ministro Celso Amorim O Presidente Lula recebeu o grupo de Embaixadores no dia 18 de fevereiro, aos Estados Unidos - 25 de acompanhado dos Ministros Celso Amorim, fevereiro de 2009 José Gomes Temporão, Miguel Jorge, Edson 20/02/2009 Lobão e Guilherme Cassel, dos Presidentes da FIOCRUZ e da APEX, de altos representantes O Ministro Celso Amorim realizará visita dos Ministérios da Fazenda e da Defesa, da a Washington no próximo dia 25 de fevereiro, ABDI e da EMBRAPA. para encontrar-se com a Secretária de Estado, A reunião no Palácio do Planalto, que Hillary Clinton. durou cerca de quatro horas, procurou avaliar Esta será a primeira reunião entre altas objetivamente os avanços já alcançados, autoridades brasileiras e norte-americanas bem como os principais entraves à expansão desde a posse do Presidente Barack Obama. sustentada da presença brasileira na África, A visita será oportunidade para examinar com como a falta de conexões aéreas e marítimas, a nova Secretária de Estado os caminhos para e a operação ainda incipiente dos instrumentos aprofundar as relações bilaterais, interesse oficiais de crédito.

190 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 O Presidente Lula, em consequência, de dar maior celeridade à assistência determinou a realização de nova reunião de humanitária internacional prestada pelo coordenação ministerial para estabelecer maior Brasil, de forma a tornar disponível estoque correspondência à demanda que o Brasil recebe de permanente de 14 toneladas de alimentos para países africanos, associada ao forte crescimento doação a populações eventualmente atingidas do interesse pelo intercâmbio de conhecimentos por calamidades e desastres naturais. e de experiências com nosso país. A iniciativa atende a proposta do Ministro Os Embaixadores mantiveram, ainda, no Celso Amorim, prontamente aceita pelos demais período de 16 a 20 de fevereiro, reuniões com Ministros de Estado que integram o Grupo as diferentes áreas do Ministério das Relações de Trabalho Interministerial de Assistência Exteriores responsáveis pelas relações com Humanitária Internacional (GTI-AHI). a África. Reuniram-se, também, com amplo Exemplos recentes da assistência leque de órgãos de governo e outras entidades humanitária brasileira, em resposta à atuantes nos projetos de cooperação com solicitação de outros Governos, são o envio de países africanos, entre eles MDIC, MCT, 15 toneladas de medicamentos e alimentos à MS, MDA, MDS, MAPA, Fundação Cultural população afetada pelos conflitos na Faixa de Palmares, EMBRAPA e FIOCRUZ, além de Gaza e a doação de 45 mil toneladas de arroz representantes do setor privado com marcado a Cuba, Haiti, Honduras e Jamaica. interesse empresarial na África. A África ocupa hoje lugar de destaque Visita do Ministro na política externa e no comércio exterior Celso Amorim à França - 26 a 28 brasileiros. O Brasil mantém 34 embaixadas no continente africano, que foi visitado nove de fevereiro de 2009 vezes pelo Presidente Lula desde 2003. A 25/02/2009 corrente de comércio do Brasil com a África aumentou mais de 400% desde o início do O Ministro Celso Amorim realizará visita a Governo, chegando a US$ 26 bilhões em 2008. Paris de 26 a 28 de fevereiro, ocasião em que será recebido pelo Presidente francês Nicolas Inauguração de Armazém Sarkozy e realizará reunião de trabalho com o Chanceler Bernard Kouchner. Humanitário do Governo O encontro em Paris ocorre logo após brasileiro no Aeroporto a visita oficial ao Brasil do Presidente Internacional Antônio Carlos Sarkozy, no dia 23 de dezembro de 2008, Jobim - 2 de março de 2009 que constituiu oportunidade para impulsionar diversas iniciativas bilaterais e concretizar 25/02/2009 a Parceria Estratégica entre os dois países, mediante o lançamento do Plano de Ação da Será inaugurado, no próximo dia 2 de Parceria Estratégica. Além de discutir temas março, o Armazém Humanitário do Governo bilaterais em seguimento à visita, o Ministro brasileiro no Terminal de Cargas do Aeroporto Amorim e o Chanceler Kouchner tratarão Internacional Antônio Carlos Jobim - Galeão, de temas multilaterais, como a reforma das em cerimônia aberta à imprensa. Nações Unidas, em particular do Conselho A instalação do Armazém tem o propósito de Segurança, a ampliação do G-8 e a crise

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 191 financeira internacional. O Primeiro-Ministro Balkenende e o Ainda em Paris, o Ministro Amorim Presidente Lula participarão de mesa-redonda presidirá reunião, no dia 27, com dez com diretores de empresas neerlandesas com Embaixadores brasileiros no Oriente Médio, interesses no Brasil e do seminário empresarial com vistas a discutir a situação na região e intitulado “Brasil-Países Baixos: Fortalecendo as relações com o Brasil, além de preparar os Laços entre os Dois Países”. a participação brasileira na Conferência de Em São Paulo, no dia 3 de março, o Doadores para a Reconstrução de Gaza, Primeiro-Ministro Balkenende manterá ainda a ocorrer no dia 2 de março próximo, em encontro com o Governador, José Serra, e Sharm el-Sheik, Egito. Estarão presentes os visitará a Embraer, em São José dos Campos, Embaixadores brasileiros no Egito, Israel, e a Escola Superior de Agricultura “Luiz de Jordânia, Síria, Arábia Saudita, Catar, Turquia, Queiroz”, em Piracicaba. No Rio de Janeiro, Irã e Iraque, além da Chefe do Escritório de no dia 4 de março, manterá encontro com o Representação na Palestina. Presidente da Petrobras e com o Governador . do Estado, Sérgio Cabral. Visita ao Brasil do Primeiro- A visita do Primeiro-Ministro Balkenende objetiva a dinamização do relacionamento Ministro dos Países Baixos, bilateral, na seqüência da visita que o Jan Peter Balkenende - 2 a 4 de Presidente Lula fez aos Países Baixos em abril março de 2009 de 2008. 27/02/2009 Em 2008, os Países Baixos foram o terceiro maior investidor estrangeiro no Brasil. O fluxo O Primeiro-Ministro dos Países Baixos, de comércio bilateral apresentou crescimento Jan Peter Balkenende, realizará visita ao de 20% no ano passado, tendo alcançado a Brasil, no período de 2 a 4 de março. Virá cifra de US$ 11,9 bilhões. acompanhado do Ministro dos Transportes, Camiel Eurlings, e de expressiva missão Visita do Ministro Celso Amorim empresarial, integrada por representantes de ao Egito - 2 a 4 de março de 2009 diversos setores: portuário, aéreo, eletrônico e petroquímico, entre outros. 27/02/2009 O Primeiro-Ministro Balkenende será recebido pelo Presidente Luiz Inácio Lula da O Ministro Celso Amorim visitará o Silva na sede da FIESP, no dia 2 de março, Egito, de 2 a 4 de março, para participar de ocasião em que será passada em revista a conferência internacional sobre Gaza e da agenda bilateral. Serão também tratados reunião ministerial de países árabes e sul- assuntos de interesse global, como a crise americanos. financeira internacional, a mudança do clima Em 2 de março, o Ministro participará, em e a reforma das Nações Unidas e de seu Sharm el-Sheikh, da Conferência de Doadores Conselho de Segurança. Serão assinados em Apoio à Economia Palestina para a protocolos de cooperação nos setores portuário Reconstrução de Gaza. Trata-se do primeiro e hidroviário. grande esforço coletivo da comunidade

192 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 internacional para a normalização da situação Nino Vieira. O atentado seguiu-se à explosão humanitária em Gaza após o conflito de que tirou a vida do Chefe do Estado Maior janeiro. A conferência, que deverá ter a das Forças Armadas do país, General Tagmé participação de mais de 70 países, terá como Na Waié. foco a obtenção de recursos para assistência O Governo brasileiro manifesta seu humanitária; o financiamento para a mais forte repúdio a esses atos de violência, reconstrução e o desenvolvimento da Faixa de que atentam contra as instituições bissau- Gaza; e o apoio ao processo de reconciliação guineenses. política entre as facções palestinas. Na O Brasil está em coordenação estreita com ocasião, o Ministro Celso Amorim anunciará os demais países-membros da Comunidade contribuição brasileira. dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), a No Cairo, no dia 4 de março, terá lugar fim de proceder a uma análise conjunta da a III Reunião dos Ministros das Relações situação e de propiciar o apoio necessário Exteriores da Cúpula América do Sul - Países para a normalização do quadro interno na Árabes (ASPA). O encontro servirá para Guiné-Bissau. preparar a II Cúpula de Chefes de Estado de A Missão do Brasil junto à ONU, que países árabes e sul-americanos, que ocorrerá preside os trabalhos da Comissão para a em Doha, no dia 31/3. Construção da Paz das Nações Unidas (CCP) O fórum bi-regional foi criado em 2005, na para a Guiné-Bissau, foi orientada a reunir-se I Cúpula de Chefes de Estado e de Governo, com o Secretariado da ONU e com membros realizada em Brasília, e é integrado por do Conselho de Segurança. 34 países - 12 sul-americanos e 22 árabes. O Presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem Tem como objetivo promover o diálogo e a sido informado da situação em Guiné-Bissau cooperação econômico-comercial entre as pelo Ministro Celso Amorim e, diretamente, pelo duas regiões. Embaixador do Brasil em Bissau, Jorge Kadri. As trocas comerciais entre o Brasil e o O Ministro Celso Amorim, que participa mundo árabe cresceram aproximadamente da Conferência de Apoio à Reconstrução de 150% desde a realização da I Cúpula ASPA. Gaza, em Sharm El-Sheikh, no Egito, manteve Em 2008, o fluxo de comércio alcançou a conversas sobre a situação na Guiné-Bissau soma de US$ 20,2 bilhões. com os Ministros das Relações Exteriores da França e de Portugal, entre outros. Assassinato do Presidente João O Embaixador do Brasil em Bissau tem acompanhado a situação dos brasileiros Bernardo Nino Vieira, que se encontram na Guiné-Bissau e, em da Guiné-Bissau seus contatos com o Primeiro-Ministro 02/03/2009 e a Ministra das Relações Exteriores do país, tem manifestado a expectativa do Foi com profunda consternação que Governo brasileiro de que as autoridades o Governo brasileiro recebeu a notícia constituídas saibam propiciar um ambiente do atentado que vitimou o Presidente da de serenidade e de diálogo pacífico, com República da Guiné-Bissau, João Bernardo pleno respeito à ordem constitucional.

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 193 Contencioso Brasil- 2,5 bilhões de dólares e a possibilidade de Estados Unidos sobre aplicá-las ao comércio de bens, propriedade subsídios ao algodão - intelectual e serviços. Este valor reflete Audiência sobre a forma atualização dos pagamentos efetuados pelos EUA em períodos posteriores a 2005. e o montante da retaliação As conclusões dos árbitros estão previstas 03/03/2009 para divulgação no próximo dia 30 de abril.

Realiza-se em Genebra, de 2 a 4 de março Visita ao Brasil do Presidente corrente, audiência no âmbito do procedimento do Uruguai, Tabaré Vázquez - arbitral da Organização Mundial do Comércio que determinará a forma e o montante das Brasília, 10 de março de 2009 medidas que o Brasil poderá adotar contra 09/03/2009 os Estados Unidos no contencioso sobre subsídios ao algodão. O Presidente do Uruguai, Tabaré Vázquez, O procedimento arbitral que visa a definir o realizará visita oficial ao Brasil no dia 10 de valor e a forma das contramedidas foi retomado março, a convite do Presidente Luiz Inácio em agosto de 2008, após confirmação, pelo Lula da Silva. painel de implementação e pelo Órgão de Os Presidentes farão balanço dos principais Apelação, de que as medidas adotadas pelos projetos e iniciativas bilaterais. Deverão Estados Unidos foram insuficientes para dar examinar meios para impulsionar a integração cumprimento às determinações do Órgão de da infraestrutura, como a nova ponte sobre o Solução de Controvérsias da OMC. Rio Jaguarão; a linha de transmissão elétrica Os Estados Unidos continuaram a realizar entre San Carlos, no Uruguai, e Candiota, no desembolsos de “Apoio à Comercialização” Rio Grande do Sul; e a Hidrovia da Lagoa (“Marketing Loans - MLs”) e “Pagamentos Mirim. Também discutirão ações sociais Contra-Cíclicos” (Counter-Cyclical Payments conjuntas para maior integração das regiões - CCPs), os quais causam prejuízo grave de fronteira. ao Brasil devido ao impacto nos preços Os Presidentes tratarão, ainda, da crise internacionais do algodão. No que tange aos econômica mundial, com ênfase nas medidas subsídios à exportação, os Estados Unidos para mitigar seus efeitos. Examinarão mantiveram as garantias de crédito oferecidas a agenda de integração regional e do sob o programa GSM-102. Mercosul, tendo presente o interesse mútuo O Brasil ressalta que a observância em aperfeiçoar a União Aduaneira, com das regras da OMC é fundamental para a a eliminação da dupla cobrança da Tarifa credibilidade do sistema multilateral de Externa Comum (TEC), e em fortalecer comércio. mecanismos para superação das assimetrias A documentação apresentada pelo Brasil no entre os sócios do bloco, particularmente curso dos procedimentos de arbitragem solicita o Fundo Estrutural de Convergência do autorização de contramedidas da ordem de Mercosul (FOCEM).

194 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 Durante a visita, deverão ser assinados os Exteriores e Defesa Nacional da Câmara dos seguintes documentos: a) Acordo de Serviços Deputados e do Senado Federal. Aéreos; b) Ajuste complementar ao Acordo Básico de Cooperação Científica e Técnica Visita ao Brasil do Diretor- para implementação do projeto “Capacitação Geral da FAO, Jacques Diouf - em Português como Língua Estrangeira Instrumental para Agentes do Governo Brasília, 9 e 10 de março de 2009 Uruguaio”; e, c) Adendo ao Memorando de 09/03/2009 Entendimento de 5 de julho de 2006 entre o Ministério de Minas e Energia do Brasil e o O Diretor-Geral da Organização das Nações Ministério de Indústria, Energia e Mineração Unidas para Alimentação e Agricultura do Uruguai. (FAO), Jacques Diouf, encontra-se em visita O Brasil é o principal parceiro comercial oficial ao Brasil. do Uruguai. Em 2008, as exportações O Diretor-Geral da FAO foi recebido em brasileiras para o Uruguai totalizaram US$ audiência pelo Presidente Luiz Inácio Lula da 1,6 bilhão (com crescimento de 27,6% em Silva, hoje, 9 de março, e manteve encontros relação a 2007), e as exportações uruguaias com os Ministros da Agricultura, Reinhold para o Brasil alcançaram US$ 1,018 bilhão Stephanes, do Desenvolvimento Agrário, (com crescimento de 29,5% em relação ao Guilherme Cassel e do Desenvolvimento ano anterior). Social e Combate à Fome, . Estão previstos, ainda, encontros com o Visita ao Brasil do Secretário Especial para Pesca, Altemir Gregolin, e com a Secretária-Executiva Secretário-Geral da OEA, do Ministério do Meio Ambiente, Izabella José Miguel Insulza - Brasília, Teixeira. Entre os temas que serão discutidos, 10 e 11 de março incluem-se a realização da Cúpula Mundial 09/03/2009 sobre Segurança Alimentar, em Roma, em novembro próximo, e questões relacionadas à O Secretário-Geral da Organização dos segurança alimentar e nutricional, à reforma Estados Americanos (OEA), José Miguel agrária, ao desenvolvimento rural (incluindo a Insulza, realizará visita de trabalho a Brasília, agricultura familiar) e à reforma da FAO. nos dias 10 e 11 de março. Foram assinados, em 9 de março, O Secretário-Geral da OEA será recebido acordos da FAO com o Fundo Nacional de pelo Ministro Celso Amorim, no dia 10, ocasião Desenvolvimento da Educação, na área de em que serão examinados o relacionamento do alimentação escolar, e com o SEBRAE, na Brasil com a OEA e temas regionais, como a área de empreendedorismo. No dia 10, será situação no Haiti, as relações entre o Equador celebrado acordo com a EMATER-RS, na e a Colômbia, e a Cúpula das Américas. área de desenvolvimento rural. José Miguel Insulza será recebido também O Diretor-Geral da FAO e o Embaixador do pelos Presidentes das Comissões de Relações Brasil junto à FAO, José Antonio Marcondes

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 195 de Carvalho, darão entrevista coletiva no dia dois países, oportunidade em que passaram em 10 de março, às 15h15, no Itamaraty. revista o amplo espectro da relação bilateral. O Presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o Eleição do Embaixador João Presidente Tabaré Vázquez: 1. Destacaram as excelentes relações entre Clemente Baena Soares o Brasil e o Uruguai, que têm a marca da para a Comissão Jurídica proximidade geográfica, da história comum, da Interamericana identidade de valores e da ampla convergência 09/03/2009 de ideais e de interesses. Ressaltaram, ademais, a necessidade de manter o freqüente O Governo brasileiro recebeu com e fluido entendimento em nível presidencial e satisfação a eleição do Embaixador João em todos os demais níveis de Governo. Clemente Baena Soares para a Comissão 2. Reiteraram o compromisso do Brasil e do Jurídica Interamericana (CJI), que ocorreu Uruguai com a promoção da paz e da segurança durante a reunião do Conselho Permanente da internacional e com todos os propósitos e Organização dos Estados Americanos (OEA), princípios da Carta das Nações Unidas, em no último dia 4 de março. particular a igualdade soberana dos Estados, a A Comissão Jurídica Interamericana serve solução pacífica de controvérsias e o respeito de corpo consultivo da OEA para os assuntos à integridade territorial dos Estados. Nesse jurídicos e visa a promover a codificação e sentido, expressaram sua convicção de que o o desenvolvimento progressivo do Direito respeito ao direito internacional é fundamental Internacional na região. para alcançar soluções duradouras e definitivas Único brasileiro a ter exercido o cargo para os conflitos entre Estados e para garantir de Secretário-Geral da OEA, o Embaixador o desenvolvimento e a prosperidade dos povos Baena Soares irá ocupar a vaga na CJI aberta e nações. pela saída do Professor Ricardo Seitenfus, 3. Concordaram que o fortalecimento recentemente nomeado Representante da das organizações multilaterais constitui a Organização em Porto Príncipe, Haiti. melhor via para a construção de uma ordem internacional mais estável e justa, uma Visita ao Brasil do Presidente vez que as soluções de longo prazo para os problemas mundiais exigem diálogo amplo do Uruguai, Tabaré Vázquez - e a ação concertada que somente essas Brasília, 9 e 10 de março de 2009 - organizações podem propiciar. Reiteraram, Declaração Conjunta portanto, a necessidade de se avançar em uma 10/03/2009 reforma da Organização das Nações Unidas que a dote dos instrumentos adequados para Em 10 de março de 2009, a convite do enfrentar os desafios atuais nos campos da paz Presidente da República Federativa do Brasil, e da segurança, do desenvolvimento, do meio Luiz Inácio Lula da Silva, o Presidente ambiente e dos direitos humanos. da República Oriental do Uruguai, Tabaré 4. Reconheceram a urgência de que o Vázquez, realizou visita oficial ao Brasil com processo negociador em torno da reforma o propósito de fortalecer os laços que unem os do Conselho de Segurança das Nações

196 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 Unidas logre resultados concretos e leve políticas para o manejo sustentável desses à ampliação de assentos nas categorias de recursos. membros permanentes e não-permanentes, 8. Reiteraram sua determinação em condição essencial para garantir maior continuar executando políticas públicas representatividade, legitimidade e eficácia de combate à fome e à pobreza, de modo a àquele órgão. O Presidente Luiz Inácio Lula construir sociedades socialmente justas e da Silva aproveitou a ocasião para agradecer economicamente prósperas. Expressaram a novamente o reiterado apoio uruguaio intenção de estreitar a cooperação bilateral à aspiração brasileira de ocupar assento com vistas a compartilhar experiências permanente no Conselho de Segurança das bem-sucedidas nas áreas da redução da Nações Unidas. desigualdade social, do acesso aos serviços 5. Recordaram que os direitos humanos, básicos de saúde e educação e da capacitação a democracia e o desenvolvimento são para inserção no mercado de trabalho. interdependentes e se reforçam mutuamente. 9. Reiteraram igualmente seu compromisso Nesse contexto, ressaltaram a importância da com o desenvolvimento sustentável e sua promoção e da proteção dos direitos humanos decisão de contribuir para melhorar a resposta e liberdades fundamentais em todo o mundo, internacional diante da mudança climática, em um espírito de concórdia e cooperação com base na Convenção das Nações Unidas para superar os entraves à efetiva fruição sobre Mudanças Climáticas, levando em desses direitos. Na qualidade de líderes de conta as legítimas aspirações dos países em países formados por distintas culturas e etnias, desenvolvimento. Reiteraram, ademais, a manifestaram forte preocupação com casos de importância do princípio de responsabilidades violência religiosa e de xenofobia no mundo compartilhadas, porém diferenciadas, entre e insistiram na necessidade de fortalecer o países desenvolvidos e em desenvolvimento. diálogo entre os povos, promover a tolerância 10. Concordaram que a crescente e, no atual contexto de crise econômica, escassez de energia no mundo e que garantir a dignidade e os direitos humanos dos a relação da questão energética com a migrantes e de suas famílias. mudança climática tornam urgentes os 6. Em virtude de atual conjuntura migratória esforços bilaterais e regionais de integração em que se registra incremento de ações dos sistemas energéticos. Concordaram restritivas em diversos países, reafirmaram igualmente que o desenvolvimento dos sua vontade de continuar o intercâmbio biocombustíveis constitui um importante de experiências no tocante à política de vetor de desenvolvimento econômico e social, vinculação que mantêm com seus nacionais promoção tecnológica e geração de energia no exterior. limpa, com efeitos positivos na redução 7. Coincidiram em ressaltar a importância das emissões de gases que contribuem estratégica dos recursos hídricos, em para o aquecimento global. Nesse sentido, particular os fronteiriços, tais como as águas decidiram estreitar a cooperação bilateral e do Rio Quaraí, a Lagoa Mirim e o Aquífero multilateral com vistas ao desenvolvimento Guarani, e sublinharam a vontade de ambos os de biocombustíveis. países de fortalecer as auspiciosas instâncias 11. Coincidiram na avaliação de que a de coordenação existentes e aprofundar as atual crise econômica internacional, que

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 197 teve origem nos países desenvolvidos, de aprovação dos projetos devem ater-se a demonstra a necessidade de se construir uma critérios estritamente técnicos para garantir nova arquitetura financeira global, dotada sua plena operatividade. de mecanismos transparentes de governança 15. Reiteraram o compromisso de e regulação capazes de evitar os efeitos operacionalizar um sistema de garantias como nocivos de ações especulativas desenfreadas. um primeiro passo no estabelecimento de Assinalaram que as discussões para a criação um Fundo Mercosul de apoio às pequenas e desses mecanismos não podem permanecer médias empresas envolvidas em iniciativas de restritas aos países desenvolvidos, mas integração produtiva. requerem, ao contrário, ampla participação dos 16. Manifestaram sua disposição de países em desenvolvimento, os quais, embora dar prosseguimento às negociações extra- não tenham contribuído para desencadear a regionais do MERCOSUL, seja pelo atual crise, devem ser parte necessária de sua aprofundamento de relações no âmbito Sul- solução. Nesse contexto, manifestaram forte Sul, seja pela retomada do diálogo no plano preocupação com a tendência protecionista em do Acordo de Associação Inter-regional alguns países desenvolvidos e com seu potencial MERCOSUL - União Européia. efeito adverso sobre os fluxos comerciais, os 17. Reconheceram a importância da investimentos e os níveis de emprego. consolidação da UNASUL, que deve se 12. Concordaram que a crise econômica transformar em fator de unidade e cooperação impõe aos Governos o desafio de buscar na América do Sul, criando sinergias positivas maneiras criativas para superar a escassez em áreas como o desenvolvimento da infra- de crédito e expandir o comércio mundial. estrutura física regional, a potencialização de Reiteraram que a retomada da Rodada políticas sociais na região e a cooperação em Doha e a remoção dos entraves ao comércio matéria de defesa. internacional são fundamentais para se atingir 18. Saudaram a assinatura dos seguintes esse objetivo. No âmbito regional, observaram atos internacionais: que será fundamental aprofundar o processo i) Adendo ao Memorando de Entendimento de integração no MERCOSUL e ampliar o sobre Interconexão Elétrica de 5 de julho de uso de mecanismos inovadores e enfoques 2006; flexíveis com esse objetivo. ii) Ajuste Complementar ao Acordo Básico 13. Reiteraram seu compromisso com o de Cooperação Científica e Técnica entre o MERCOSUL - principal âmbito de integração Brasil e o Uruguai para Implementação do regional para ambos os países - e salientaram Projeto “Capacitação em Português como a importância de eliminar a dupla cobrança da Língua Estrangeira Instrumental para Agentes Tarifa Externa Comum (TEC) como um passo do Governo Uruguaio - Polícia Rodoviária”; e fundamental para a consolidação da união iii) Acordo de Serviços Aéreos entre o aduaneira. Governo da República Federativa do Brasil e 14. Saudaram a plena implementação o Governo da República Oriental do Uruguai do Fundo para a Convergência Estrutural 19. Finalmente, o Presidente Tabaré do MERCOSUL (FOCEM), instrumento Vázquez agradeceu, em seu nome e no de sua de grande importância para a correção das Comitiva, as gentilezas e manifestações de assimetrias entre os Estados membros do apreço e amizade recebidas do Governo e do bloco e concordaram que os procedimentos povo brasileiros durante sua visita ao Brasil.

198 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 Com relação aos projetos e iniciativas da permitirá o aumento do intercâmbio de bens agenda bilateral e como demonstração de seu e de pessoas entre os dois países, oferecendo firme compromisso de avançar com celeridade alternativa de baixo custo para o transporte na integração, multimodal na região de influência da Bacia O Presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o da Lagoa Mirim. Presidente Tabaré Vázquez: Determinaram, ademais, que a CLM avance 1. Acordo na Área de Saúde nos entendimentos relativos ao projeto Aceguá- Saudaram os avanços na agenda de Aceguá de saneamento, cuja execução poderá integração fronteiriça, de que é exemplo a tornar-se modelo para o desenvolvimento celebração, em novembro passado, do “Ajuste integrado da infraestrutura de saneamento nos Complementar ao Acordo para Permissão de demais pontos da fronteira comum. Residência, Estudo e Trabalho a Nacionais Instruíram também que a CLM desenvolva Fronteiriços Brasileiros e Uruguaios, para projeto de manejo sustentável dos recursos Prestação de Serviços de Saúde”. pesqueiros na área abrangida pela Bacia Instruíram suas autoridades de saúde a da Lagoa Mirim, em conformidade com as intensificar os contatos bilaterais e a tomar as preocupações brasileiras e uruguaias quanto à providências necessárias com vistas à plena preservação de ecossistemas locais e ao bem- implementação do referido Acordo assim que estar das populações ribeirinhas. forem cumpridos os requisitos legais para sua 4. Comissão da Bacia do Rio Quaraí entrada em vigor. Determinaram que a Comissão da Bacia 2. Celebração dos 100 Anos do Tratado de do Rio Quaraí seja reativada, a exemplo Limites na Lagoa Mirim da Comissão da Lagoa Mirim, de forma Recordaram os 100 anos da assinatura do a fomentar a coordenação bilateral no “Tratado Relativo às Fronteiras na Lagoa tratamento de temas sanitários, ambientais e Mirim e o Rio Jaguarão e o Comércio e a de gestão dos recursos hídricos. Navegação nessas Paragens”, a completar-se 5. Nova Agenda de Cooperação e em outubro do corrente ano. Desenvolvimento Fronteiriço Instruíram as respectivas Chancelarias Decidiram dar continuidade às reuniões a propor iniciativa que marque a passagem da Nova Agenda de Cooperação e desse aniversário de grande importância Desenvolvimento Fronteiriço, de modo a histórica para a consolidação das relações promover o desenvolvimento integrado, em de fraternidade e amizade entre o Brasil e o diversos temas, da faixa de fronteira. Nesse Uruguai. sentido, instruíram suas Chancelarias a 3. Comissão Mista Brasil - Uruguai para o convocar, para a segunda quinzena do mês de Desenvolvimento da Bacia da Lagoa Mirim maio do corrente ano, a próxima reunião da Notaram com satisfação a reativação dos nova Agenda, a realizar-se no Brasil. trabalhos da Comissão Mista Brasil - Uruguai Manifestaram satisfação pela aprovação para o Desenvolvimento da Bacia da Lagoa do regimento interno do Foro de Intendentes Mirim (CLM). e Prefeitos da Fronteira e pelos trabalhos Instruíram as Chancelarias, as áreas desenvolvidos pela Comissão Binacional encarregadas de transporte e os demais órgãos Assessora de Saúde. com competência na matéria a implementar o 6. Integração Fronteiriça e Livre Circulação projeto da “Hidrovia da Lagoa Mirim”, que de Pessoas

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 199 Ressaltaram a importância dos 8. Energia Elétrica entendimentos bilaterais para garantir Notaram a exportação de energia elétrica melhores condições de vida às populações interruptível do Brasil para o Uruguai, em fronteiriças, atendendo suas necessidades caráter emergencial, como forma de ajudar a diárias e oferecendo soluções para seus superar a situação de dificuldade provocada problemas, inclusive no que diz respeito pela seca e a diminuição dos níveis dos às facilidades de trânsito de pessoas e reservatórios uruguaios. O Presidente Tabaré mercadorias e garantia de acesso aos serviços Vázquez agradeceu ao Presidente Luiz Inácio básicos de saúde, educação e saneamento. Lula da Silva pela cooperação brasileira nesse Para tanto, determinaram que as momento de necessidade. Chancelarias coordenem trabalho de avaliação Reconheceram a importância de se sobre a implementação dos instrumentos concretizar o projeto de integração binacional jurídicos bilaterais ou no âmbito do Mercosul para a construção da linha de transmissão com impacto sobre a vida dos cidadãos elétrica de grande porte entre San Carlos fronteiriços, de modo a corrigir e melhorar (Uruguai) e Candiota (Brasil), garantindo procedimentos, identificar necessidade de assim a plena interconexão elétrica entre complementação e atualização do quadro os dois países. Nesse sentido, saudaram a normativo existente e propor iniciativas para assinatura, pelos Ministérios encarregados do avançar rumo à livre circulação de pessoas. tema de energia, de um Adendo ao Memorando 7. Restauração da Ponte Mauá e construção de Entendimento de 5 de julho de 2006, que de segunda ponte sobre o Rio Jaguarão estabelece esforço conjunto para encontrar o Saudaram os avanços nos processos de desenho institucional que garanta as condições licitação relativos ao projeto executivo de adequadas para viabilizar a construção e restauração da Ponte Internacional Barão operação da linha de transmissão. de Mauá; e à elaboração dos estudos de Instruíram as Chancelarias e as autoridades viabilidade técnica, econômica e ambiental da área de energia de ambos os países que e do projeto executivo de engenharia de uma intensifiquem as reuniões técnicas previstas no segunda ponte internacional sobre o Rio referido Adendo com vistas a propor soluções Jaguarão, entre os Municípios de Jaguarão no corrente ano para equacionar todas as (Brasil) e Río Branco (Uruguai). questões envolvidas no projeto, inclusive as Reiteraram a importância, para a relacionadas a temas tributários, regulatórios, integração dos dois países, da execução das fontes de financiamento, as condições da obras de restauração da Ponte Mauá e de exportação de energia interruptível, contrato construção de uma segunda ponte sobre o firme de fornecimento de energia no Rio Jaguarão no prazo mais breve possível. longo prazo e avaliação da necessidade de Nesse sentido, determinaram que as celebração de eventual acordo bilateral sobre Chancelarias e as autoridades de transporte interconexão elétrica que garanta segurança organizem reuniões bilaterais periódicas jurídica ao empreendimento. para acompanhamento e supervisão dos Instruíram as respectivas Chancelarias, trabalhos a serem realizados pelas empresas ademais, a atuarem de maneira coordenada com vencedoras das referidas licitações. vistas a obter a aprovação do financiamento

200 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 solicitado pelo Uruguai para o projeto da linha 12. Investimentos e Integração Produtiva de transmissão por meio do Fundo Estrutural Manifestaram sua satisfação com o de Convergência do MERCOSUL (FOCEM). aumento dos investimentos de empresas 9. PETROBRAS brasileiras no Uruguai, tanto no agronegócio Notaram a importância da presença da quanto na indústria, por representarem novos PETROBRAS no Uruguai e instaram a aportes de capital e por contribuírem para a empresa a aumentar os seus investimentos no geração de renda e de empregos. país e a participar na prospecção e exploração Saudaram a iminente abertura de de hidrocarbonetos na plataforma continental representação do BNDES e de escritório uruguaia. do Banco do Brasil em Montevidéu, por 10. Cooperação Técnica sua importância para o apoio a projetos de Notaram a execução de projetos de desenvolvimento. cooperação nas áreas de educação, legislação Reiteraram o caráter estratégico da aduaneira, saúde, desenvolvimento social, integração e da complementação produtivas, vigilância sanitária, fortalecimento institucional assim como o desenvolvimento da na área de mineração e educação alimentar e associatividade empresarial como forma nutricional, entre outros. de alcançar maior equilíbrio nas trocas Coincidiram que devem ser mantidos os comerciais e assinalaram a existência de esforços com vistas à adoção de um marco grande potencial para cooperação nos setores específico de cooperação bilateral no campo naval, aeronáutico, farmacêutico, plásticos, da biotecnologia, assim como para aprofundar informática e de autopeças. Os Presidentes o intercâmbio de informação que facilite a receberam positivamente a intenção de realização de projetos conjuntos nas áreas de elaboração, por parte da Agência Brasileira saúde e produção agropecuária. de Desenvolvimento Industrial (ABDI) e Determinaram que as Chancelarias do Ministério da Indústria, Energia e Minas promovam avaliações regulares dos resultados do Uruguai (MIEM), de uma proposta de dos inúmeros projetos de cooperação técnica agenda de trabalho para setores industriais entre Brasil e Uruguai com o intuito de superar identificados nas áreas de associatividade, eventuais dificuldades, aperfeiçoar os arranjos integração produtiva e complementação existentes e identificar novas demandas de técnica industrial. cooperação. Instaram seus respectivos Ministérios 11. Cultura encarregados dos tema de indústria, em Ressaltaram a importância da promoção e cooperação com o BNDES e instituições difusão da cultura e concordaram em realizar financeiras uruguaias, a organizar encontros a I Reunião da Comissão Mista Cultural empresariais e rodadas de negócios para e Educacional Brasileiro-Uruguaia, assim a identificação de projetos estratégicos como a adoção de Programa Executivo de integração produtiva que, por sua Cultural e Educacional para o biênio importância e potencial impacto positivo 2009-2010 para a coordenação e posterior nos setores industriais de ambos os países, execução de ações bilaterais em ambas as poderiam ser objeto de políticas oficiais de áreas temáticas. apoio e fomento.

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 201 13. Comissão de Monitoramento do Determinaram que as autoridades Comércio Bilateral envolvidas no tema aprofundem o diálogo Expressaram satisfação pelos avanços sobre os critérios técnicos necessários para obtidos no âmbito da Comissão de alcançar convergência entre as propostas de Monitoramento do Comércio Bilateral ambos os países. entre Brasil e Uruguai, que tem solucionado Assinada na cidade de Brasília, em 10 de questões pontuais e removido entraves ao março de 2009. comércio entre os dois países. Instaram as autoridades que integram a Visita ao Brasil do Primeiro- Comissão a fortalecer seu papel de instância de Ministro de São Tomé e Príncipe, concertação e de promoção do diálogo com o setor privado, promovendo maior conhecimento Rafael Branco - mútuo das normas de ambos os países, a 9 a 13 de março de 2009 interação entre o setor privado e os órgãos de 10/03/2009 controle e a identificação de necessidades de harmonização dos critérios e das regras com O Primeiro-Ministro de São Tomé e incidência sobre o comércio exterior. Príncipe, Rafael Branco, realiza visita ao 14. Sistema de Pagamento em Moeda Brasil entre os dias 9 e 13 de março. Local (SML) No dia 11, em Brasília, o Primeiro- Manifestaram o interesse de ambos os Ministro será recebido pelo Presidente Lula e países no estabelecimento de um diálogo homenageado em almoço no Itamaraty pelo sobre o sistema de pagamento em moeda local. Ministro Celso Amorim, com quem assinará Nesse sentido, solicitaram aos respectivos atos sobre cooperação em agricultura e formação Bancos Centrais que realizem, no prazo mais profissional. A programação em Brasília inclui curto possível, jornada de trabalho com vistas ainda reuniões nos Ministérios da Educação, ao compartilhamento, com as autoridades Cultura, Minas e Energia e Previdência Social, monetárias uruguaias, da experiência no Tribunal Superior Eleitoral, na Empresa brasileira na matéria, especialmente no Brasileira de Comunicação (EBC), na Caixa tocante às medidas e providências tomadas Econômica Federal e no SENAI, além de nos campos regulatório e de adaptação dos audiência com o Governador do Distrito sistemas informáticos relativos ao Sistema de Federal, José Roberto Arruda. Pagamento em Moeda Local. Nos dias 12 e 13, o Primeiro-Ministro 15. Plataforma Continental estará em Salvador, onde será recebido pelo Concordaram em apresentar uma proposta Governador Jacques Wagner, pelo Reitor da convergente no que diz respeito à demarcação Universidade Federal da Bahia, e participará dos limites das plataformas continentais do de seminário empresarial na Federação das Brasil e do Uruguai na Comissão de Limites Indústrias da Bahia (FIEB). da Plataforma Continental na Organização No dia 9, Rafael Branco esteve em das Nações Unidas, em clara demonstração São Paulo, onde manteve encontro com do compromisso com a concertação bilateral representantes da Câmara de Comércio Brasil- no plano multilateral. São Tomé e participou de evento empresarial

202 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 na sede da Federação das Indústrias do Estado à noite pelo Governador Eduardo Braga, no de São Paulo (FIESP). Teatro Amazonas, e assistirá à apresentação da Orquestra Amazonas Filarmônica. Visita ao Brasil do Príncipe de No dia 14, a Duquesa da Cornuália visitará o Centro de Arte e Educação Municipal e o Gales - 11 a 15 de março de 2009 Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia 10/03/2009 (INPA). O Príncipe de Gales visitará a Comunidade Maguary, que desenvolve O Príncipe de Gales, Charles Philip Arthur projeto de preservação de água mediante George, realizará visita ao Brasil, no período reflorestamento, no município de Belterra, no de 11 a 15 de março de 2009, acompanhado Estado do Pará. por sua esposa, a Duquesa da Cornuália. No dia 11, o Príncipe de Gales será recebido, Revisão da política comercial em Brasília, pelo Presidente Luiz Inácio Lula do Brasil na OMC da Silva. Também terá encontros com os Presidentes do Senado Federal e da Câmara 11/03/2009 dos Deputados, e será homenageado em jantar oferecido pelo Ministro Celso Amorim. A Organização Mundial do Comércio Durante sua viagem ao Brasil, o casal real (OMC) concluiu hoje (dia 11/3), em Genebra, conhecerá iniciativas brasileiras em favor da o V Exame da Política Comercial do Brasil. proteção do meio ambiente, como a criação O exercício ocorre a cada quatro anos para de reservas ambientais e ações de combate à países em desenvolvimento e a cada dois anos mudança do clima. para países desenvolvidos. O Príncipe de Gales também visitará o Vinte e sete países submeteram mais Rio de Janeiro, Manaus e Santarém. No Rio de 800 perguntas por escrito ao Brasil, um de Janeiro, terá encontro com empresários e recorde para o País. Trata-se de acréscimo com especialistas em questões ambientais e de 65% em relação à revisão anterior. sociais e participará, no Palácio Itamaraty, de Participaram do debate 40 delegações de seminário sobre meio ambiente, organizado países desenvolvidos e em desenvolvimento pelo BNDES. O Príncipe visitará, ainda, a de todos os continentes. Esse amplo interesse Escola Naval e o Jardim Botânico. traduz uma percepção positiva do papel do Em Manaus, no dia 13, o Príncipe de Gales Brasil no sistema multilateral de comércio e se reunirá com os Governadores dos Estados do comportamento da economia brasileira no amazônicos. Conhecerá os projetos da Oficina atual cenário de crise. Escola de Lutheria da Amazônia (OELA) Durante os debates, os países reconheceram e visitará o Instituto de Permacultura da a posição relativamente favorável do país face Amazônia, com a presença de representantes à crise econômica internacional e elogiaram o da Aliança dos Povos da Floresta. A Duquesa empenho brasileiro para superá-la sem recorrer da Cornuália se encontrará com o Grupo de a medidas que contrariam as regras da OMC. Apoio aos Portadores de Osteoporose, no Embora não constitua o foco do exercício, Palácio Rio Negro. O casal real será recebido foram também mencionadas favoravelmente

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 203 as políticas sociais desenvolvidas pelo Brasil. a serem respondidos por escrito e comentados Foi ressaltada ainda a diversificação do nas sessões plenárias do Órgão de Revisão de comércio bilateral brasileiro e sublinhado, Políticas Comerciais, realizadas nas manhãs pelos parceiros envolvidos, a ação brasileira dos dias 9 e 11 de março corrente. No dia 9 de de cooperação na área comercial, inclusive março, os países apresentaram seus comentários o programa conduzido com países africanos com base nos documentos circulados e no dia produtores de algodão. 11 foram debatidas as respostas apresentadas Entre os pontos criticados, ressalta-se a pelo Brasil. A preparação das respostas elevação da média das tarifas de importação envolveu a coordenação de diversos órgãos em relação ao exercício anterior, causada pelo governamentais pela Secretaria-Executiva da aumento das tarifas para têxteis e calçados CAMEX e pelo Itamaraty. em 2007. A delegação brasileira recordou que a elevação tarifária se realizou nos limites Visita ao Brasil do Ministro das autorizados pelos compromissos na OMC e Relações Exteriores e Cultos da que as importações desses setores cresceram cerca de 30% em 2008. Também foi criticada Bolívia, David Choquehuanca - a manutenção no Brasil de um número alto Brasília, 12 de março de 2009 de licenças à importação, a despeito da 11/03/2009 decisão de revogar medidas recentes nessa área. A delegação brasileira recordou que O Ministro das Relações Exteriores e Cultos o elevado número se devia à integração dos da Bolívia, David Choquehuanca, realizará procedimentos de autorização de diversos visita oficial ao Brasil em 12 e 13 de março. órgãos num único sistema informatizado, o Em 12 de março, será recebido pelo Ministro SISCOMEX. Celso Amorim, para reunião de trabalho, e INFORMAÇÃO COMPLEMENTAR será homenageado com almoço no Palácio O Mecanismo de Revisão de Políticas Itamaraty. Os dois Ministros deverão avaliar Comerciais foi criado na Rodada Uruguai de a evolução do relacionamento bilateral, bem Negociações Comerciais e é conduzido pelo como tratar das questões de interesse comum Órgão de Revisão de Políticas Comerciais da no plano regional e internacional. Organização Mundial do Comércio (OMC). O Chanceler boliviano terá, ainda, encontros Em novembro último, delegação do com as seguintes autoridades: o Presidente Secretariado da OMC visitou Brasília e da Comissão de Relações Exteriores e manteve contato com todas as áreas de Defesa Nacional do Senado Federal, Senador Governo. Com base nas informações obtidas, Eduardo Azeredo; o Presidente da Comissão o Secretariado elaborou relatório, sob sua de Relações Exteriores e Defesa Nacional da responsabilidade, sobre a política comercial Câmara dos Deputados, Deputado Severiano brasileira. O Governo brasileiro, por sua Alves; o Presidente da Liga Parlamentar parte, preparou também documento de Brasil-Bolívia, Deputado Nilson Mourão; e apresentação das políticas brasileiras. Ambos o Presidente do Tribunal Superior Eleitoral, os documentos estão disponíveis ao público Ministro Carlos Ayres Britto. na página de internet da OMC. Em 2008, o intercâmbio comercial Com base nesses relatórios, 27 países bilateral alcançou a cifra de US$ 3,99 bilhões. membros da OMC enviaram questionamentos, As exportações brasileiras para a Bolívia

204 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 somaram US$ 1,14 bilhão, e as exportações Os Ministros destacaram a assinatura bolivianas para o Brasil totalizaram US$ 2,85 do Memorando de Entendimento para bilhões. Constituição do Mecanismo de Coordenação e Cooperação Brasil-Bolívia, que constitui Visita ao Brasil do Ministro das peça fundamental para a construção da associação estratégica bilateral e que tem Relações Exteriores e Cultos o objetivo de realizar, de forma semestral, da Bolívia, David Choquehuanca um acompanhamento da evolução do - Brasília, 12 de março de 2009 - relacionamento bilateral e informar as Comunicado Conjunto reuniões de Presidentes. Os Ministros congratularam-se pela 12/03/2009 assinatura, nessa oportunidade, de dois Ajustes Complementares, na área de Saúde, O Ministro de Relações Exteriores e Cultos ao Acordo Básico de Cooperação Técnica, da Bolívia, Embaixador David Choquehuanca Científica e Tecnológica entre os dois países. Céspedes, realizou visita oficial a Brasília em Os Ajustes permitirão, de um lado, estabelecer 12 de março de 2009. e implementar um banco de leite humano na O Ministro das Relações Exteriores do Bolívia, que será referência no país, e, de Brasil, Embaixador Celso Amorim, recebeu outro, apoiar o fortalecimento institucional do seu homólogo no Palácio Itamaraty, onde Ministério de Saúde e Esportes da Bolívia em mantiveram profícua reunião de trabalho. métodos de capacitação e formação em saúde No mesmo dia, o Chanceler Choquehuanca pública e vigilância em saúde ambiental. realizou visitas de cortesia aos Presidentes das Da mesma forma, durante a visita, os Comissões de Relações Exteriores do Senado Ministros ressaltaram a assinatura do “Acordo Federal e da Câmara dos Deputados, Senador entre o Governo da República da Bolívia e o Eduardo Azeredo e Deputado Severiano Governo da República Federativa do Brasil Alves, e ao Presidente da Liga Parlamentar sobre o Exercício de Atividade Remunerada Brasil-Bolívia, Deputado Nílson Mourão. para Dependentes do Pessoal Diplomático, No Palácio Itamaraty, o Chanceler Celso Consular, Militar, Administrativo e Técnico”. Amorim condecorou o Ministro Choquehuanca Os Ministros congratularam-se, ainda, com a Ordem Nacional do Cruzeiro do pela entrada em vigência do “Convênio de Sul, no Grau de Grã-Cruz. O Chanceler da Crédito entre a República Federativa do Brasil Bolívia condecorou o Ministro Amorim com a e a República da Bolívia” que permitirá a Medalha da Legião de Honra Marechal Andres aquisição de máquinas agrícolas destinadas à de Santa Cruz, no Grau de Grã-Cruz mecanização da agricultura boliviana em um Durante a reunião, os Ministros passaram montante de US$ 35 milhões. em revista a intensa e construtiva agenda Os Ministros saudaram os avanços bilateral e coincidiram com relação ao alcançados entre autoridades dos dois países excelente estado do relacionamento entre na operacionalização da Declaração bilateral os dois países e Governos. Assinalaram sua a respeito da Cooperação no Combate ao expectativa em relação ao próximo encontro Narcotráfico e ao Crime Organizado, emitida de fronteira entre os Presidentes Luiz Inácio em 17 de dezembro de 2008, na Costa do Lula da Silva e Evo Morales. Sauípe. Nesse sentido, foram discutidas as

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 205 ações em curso com vistas à facilitação, consolidação democrática regional, o Chanceler pelo Governo brasileiro, de helicópteros do Brasil destacou a importância das ações que possam apoiar os esforços bolivianos na empreendidas pelo Estado boliviano para que luta contra o narcotráfico. Nesse contexto, seus cidadãos que residem no exterior possam acordaram trabalhar para a negociação de um exercer seu direito ao sufrágio, conforme acordo bilateral que regulamente as operações estabelece a Constituição Política do Estado conjuntas das forças policiais dos dois países. e os instrumentos universais de relevância em Identificou-se, ainda, o interesse mútuo de matéria de Direitos Humanos. A esse respeito, avançar em iniciativas voltadas à elaboração o Chanceler Celso Amorim informou que de um Programa de Ação contra o narcotráfico solicitará a cooperação das autoridades de escopo mais amplo, em nível regional sul- eleitorais brasileiras para compartilhar com americano. o Governo boliviano seu conhecimento e Os Ministros acordaram convocar, ainda experiência nessa área. O Ministro da Bolívia para o primeiro semestre de 2009, uma expressou seu reconhecimento por esse gesto Reunião bilateral sobre Desenvolvimento de apoio. Fronteiriço, com o objetivo de elaborar um Os Ministros instruíram sua Chancelarias, Plano de Ação que oriente os trabalhos dos a estudar, em consulta com os demais Comitês de Fronteira a partir do segundo órgãos responsáveis dos dois Governos, a semestre do corrente ano. possibilidade de elaborar um instrumento Os Ministros coincidiram em retomar os bilateral na área da previdência social. trabalhos da Comissão Mista Demarcadora Com referência à Declaração dos de Limites. Nesse sentido, expressaram sua Presidentes dos Estados Partes do Mercosul disposição para que a realização da próxima sobre medidas de apoio e solidariedade com a Conferência da Comissão Mista tenha lugar Bolívia, adotada na Costa do Sauípe, no mês em Brasília, no segundo semestre de 2009. de dezembro passado, o Ministro de Relações Os Ministros indicaram a conveniência Exteriores do Brasil expressou sua mais de acelerar a implementação do Instrumento ampla disposição para que sejam acordadas, Executivo entre os Governos do Brasil e da na V Reunião da Comissão de Monitoramento Bolívia e o Escritório Regional para o Cone Sul do Comércio Bilateral, a realizar-se no dia 23 da Organização Internacional de Migrações. de março de 2009, as medidas necessárias à Os Ministros concordaram em realizar imediata implementação daquela Declaração, esforços em cada um de seus países para aspecto de muita importância que reafirmará facilitar a conclusão da regularização os laços de integração. migratória de seus concidadãos, no marco Os Ministros, conscientes da imensa riqueza dos acordos vigentes tanto bilaterais como do em matéria de biodiversidade que possui a Mercosul. Nesse contexto, convocaram suas Amazônia, compartilhada por Brasil e Bolívia, comunidades a aproveitar-se dos benefícios reafirmaram o compromisso de coordenar e criados pelos referidos acordos, que garantem articular políticas, programas e projetos no o exercício de seus direitos cidadãos e um âmbito de sua legislação constitucional e o processo real de integração e construção da compromisso regional de proteger os recursos identidade e cidadania sul-americanas. naturais provenientes da biodiversidade Com relação a outro tema de similar amazônica e o meio ambiente e de promover a importância para o processo de integração e sua utilização de forma sustentável.

206 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 O Ministro Celso Amorim agradeceu a econômicas, sociais e políticas por que passa reiterada manifestação de apoio da Bolívia a região. No que se refere à agenda bilateral, para que o Brasil se torne membro permanente deverão ser examinadas formas de intensificar do Conselho de Segurança das Nações a cooperação na área econômico-comercial e Unidas. O Ministro David Choquehuanca em temas como os biocombustíveis. agradeceu o endosso brasileiro à candidatura No dia 16 de março, em Nova York, o da Bolívia para assento não permanente no Presidente Lula fará palestra em seminário Conselho de Segurança das Nações Unidas sobre a economia brasileira e oportunidades no biênio 2017-2018. de investimentos no País. Ao mesmo tempo, o Ministro David Choquehuanca agradeceu a seu homólogo Encontro do Primeiro-Ministro brasileiro, em nome do Governo e do povo de Trinidad e Tobago, Patrick bolivianos, a cooperação outorgada pelo Brasil na luta contra a epidemia de dengue. Manning, com o Presidente Luiz Ao término de sua visita, o Ministro de Inácio Lula da Silva - Brasília, 19 Relações Exteriores e Cultos da República da de março de 2009 Bolívia, David Choquehuanca, agradeceu ao povo e ao Governo brasileiros pelas atenções 18/03/2009 de que foi objeto durante sua visita. O Presidente Luiz Inácio Lula da Silva Visita do Presidente Luiz Inácio receberá em audiência, no dia 19 de março, o Primeiro-Ministro de Trinidad e Tobago, Lula da Silva aos Estados Unidos Patrick Manning. O encontro servirá para - 14 a 16 de março de 2009 troca de impressões sobre a próxima Cúpula 13/03/2009 das Américas, da qual o Primeiro-Ministro trinitário será o anfitrião, entre os dias 17 e 19 O Presidente Luiz Inácio da Lula da de abril. Silva realizará visita de trabalho aos Estados Unidos, de 14 a 16 de março, atendendo a Visita ao Brasil da Presidente da convite formulado pelo Presidente Barack Argentina, Cristina Fernández Obama. Será o primeiro encontro entre os dois mandatários. de Kirchner - São Paulo, 20 de A reunião ocorrerá em Washington, no dia março de 2009 14. Com relação à agenda global, os Presidentes 19/03/2009 deverão examinar, entre outros temas, a crise financeira mundial e formas de coordenar A Presidente da Argentina, Cristina posições para a Cúpula do G-20, em Londres, Fernández de Kirchner, visitará São Paulo, no início de abril. Quanto aos temas regionais, no dia 20 de março, para participar do os Presidentes deverão trocar impressões sobre encerramento da Semana da Argentina, a próxima Cúpula das Américas, em Trinidad organizada pela Federação das Indústrias e Tobago, sobre a cooperação entre o Brasil e do Estado de São Paulo (FIESP) e pelo os Estados Unidos em terceiros países, como Ministério das Relações Exteriores e Culto o Haiti, e sobre o contexto de transformações da Argentina.

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 207 A Presidente argentina manterá encontro Mundial, Robert Zoellick, com o Ministro de trabalho com o Presidente Luiz Inácio Lula de Estado do Reino Unido para África, Ásia da Silva, para tratarem de temas de interesse e Nações Unidas, Mark Malloch-Brown, e comum e explorarem soluções conjuntas para com o Secretário-Geral da “Commonwealth”, preservar e ampliar o comércio bilateral e Kamalesh Sharma. os investimentos. Os Presidentes encerrarão No dia 23, o Ministro Celso Amorim o seminário empresarial “Oportunidades de será recebido pelo Presidente da Comissão Comércio, Negócios e Investimentos entre Européia, José Manuel Durão Barroso. Terá a Argentina e o Brasil” e participarão de encontro também com a Comissária da UE almoço com empresários e Governadores de para Relações Exteriores e Política Européia Províncias argentinas. de Vizinhança, Benita Ferrero-Waldner, com A Semana da Argentina em São Paulo quem tratará das relações entre o Brasil e a envolve a realização de rodadas de negócios, União Européia, com ênfase na implementação seminários e mesas redondas, com o objetivo de do Plano de Ação da Parceria Estratégica intensificar as relações empresariais por meio Brasil-UE, adotado em dezembro de 2008. da identificação de oportunidades de negócios Ainda no dia 23, o Ministro se reunirá e da formação de parcerias, inclusive para com o Ministro dos Negócios Estrangeiros atuação em terceiros mercados. Está prevista da Bélgica, Karel De Gucht, para avaliarem a participação de cerca de 500 empresários o estado das relações bilaterais, bem como argentinos, além da comitiva oficial. temas da agenda internacional. No dia 24, o Ministro Celso Amorim Visita do Ministro realizará visita oficial aos Países Baixos. Terá encontro com o Ministro dos Negócios Celso Amorim à Bélgica, aos Estrangeiros, Maxime Verhagen, com quem Países Baixos e a Cabo Verde - discutirá temas da agenda bilateral e global. 21 a 25 de março de 2009 Durante sua permanência na Haia, o Ministro 20/03/2009 Celso Amorim também manterá encontros na Corte Internacional de Justiça e no Tribunal O Ministro Celso Amorim realizará visita Penal Internacional. oficial à Bélgica, aos Países Baixos e a Cabo Na seqüência, o Ministro Celso Amorim Verde no período de 21 a 25 de março. participará, no dia 25, em Praia, Cabo Verde, Na Bélgica, o Ministro Celso Amorim terá, de reunião ministerial extraordinária da no dia 21, encontro com o Alto Representante Comunidade dos Países de Língua Portuguesa para Políticas Comuns de Segurança e Relações (CPLP), sobre a situação em Guiné-Bissau. Exteriores e Secretário-Geral do Conselho da A CPLP tem procurado apoiar a manutenção União Européia (UE), Javier Solana, ocasião da normalidade político-institucional e o em que deverão passar em revista temas desenvolvimento daquele país. O objetivo da da agenda internacional. No mesmo dia, o reunião ministerial é reforçar a coordenação Ministro Celso Amorim participa do “Brussels dos países lusófonos para a cooperação Forum 2009”, sobre governança econômica com o Governo de Guiné-Bissau e discutir global, junto com o Presidente do Banco formas de apoiar de maneira concreta as

208 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 eleições presidenciais a serem realizadas em 2 de abril de 2009. À noite, participará proximamente. de recepção para empresários brasileiros e britânicos no Centro Britânico-Brasileiro, em Visita ao Brasil do Primeiro- São Paulo. Em 2008, o fluxo de comércio bilateral Ministro do Reino Unido, Gordon apresentou crescimento de 20,7%, tendo Brown - Brasília e São Paulo - alcançado a cifra de US$ 6,3 bilhões. O 26 de março de 2009 Brasil é o maior receptor sul-americano de 24/03/2009 investimentos britânicos.

O Primeiro-Ministro do Reino Unido, Visita ao Brasil do Ministro Gordon Brown, realizará visita ao Brasil no dos Negócios Estrangeiros dia 26 de março de 2009. O Primeiro-Ministro virá acompanhado de sua esposa, a Senhora da República Islâmica do Irã, Sarah Brown, e do Secretário de Estado Manouchehr Mottaki para Negócios, Empreendimento e Reforma 25/03/2009 Regulatória, Peter Mandelson. Na manhã do dia 26, em Brasília, o O Ministro dos Negócios Estrangeiros Primeiro-Ministro britânico será recebido pelo da República Islâmica do Irã, Manouchehr Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ocasião Mottaki, realiza visita oficial ao Brasil, nos em que serão discutidos temas bilaterais e dias 25 e 26 de março. A visita do Ministro assuntos de interesse global, como a crise Mottaki, a primeira de um Chanceler iraniano financeira internacional, a Rodada de Doha ao Brasil desde 1993, realiza-se em retribuição da OMC, a mudança do clima, o combate à à visita do Ministro Celso Amorim a Teerã, pobreza, a reforma das Nações Unidas e de em novembro de 2008. seu Conselho de Segurança, entre outros. Em Brasília, o Ministro Mottaki deverá Ao final do encontro, os mandatários darão manter encontros com o Presidente Luiz Inácio entrevista coletiva à imprensa. Lula da Silva, com o Ministro Celso Amorim, Na tarde do dia 26, em São Paulo, o com o Ministro de Minas e Energia, Édison Primeiro-Ministro visitará o Museu do Lobão, e com o Presidente da Câmara dos Futebol. Serão apresentadas as atividades Deputados, Michel Temer. Participará também da entidade beneficente “Gol de Letra”, que da abertura de reunião entre a delegação desenvolve programa de educação integral iraniana e empresários e representantes de para crianças e adolescentes, e do projeto instituições públicas brasileiras. “Inspiração Internacional”, iniciativa do A visita dará continuidade ao diálogo que Conselho Britânico que visa a promover o o Brasil tem mantido com diferentes atores esporte como meio de inclusão social. no Oriente Médio e na Ásia Central. No ano O Primeiro-Ministro proferirá, ainda, passado, o Irã absorveu cerca de 15% das palestra na Fundação Armando Álvares exportações brasileiras para o Oriente Médio Penteado (FAAP) sobre a crise financeira e a e consolidou-se como nosso terceiro maior Cúpula do G-20, que se realizará em Londres, mercado na região. No acumulado da década,

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 209 o Irã figura como um dos dez principais na avaliação de que a profundidade e a mercados para as exportações do agronegócio abrangência da atual crise econômica global brasileiro. têm afetado pessoas e empresas em todos os países do mundo e, de forma crescente, Visita ao Brasil do Primeiro- nos países em desenvolvimento, e de que a solução da crise escapa à capacidade de ação Ministro do Reino Unido, Gordon individual dos países. Brown - Brasília e São Paulo - 26 5. O Presidente e o Primeiro-Ministro de março de 2009 - concordaram em que os países devem Declaração Conjunta trabalhar de forma conjunta para estabilizar as economias; restaurar as condições para o 27/03/2009 crescimento, a normalidade dos mercados de crédito e dos fluxos financeiros; impedir o 1. A convite do Presidente da República avanço do protecionismo; e preparar o caminho Federativa do Brasil, Luiz Inácio Lula da para uma recuperação econômica sustentável Silva, o Primeiro-Ministro do Reino Unido, e de baixa emissão de carbono. Discutiram as Gordon Brown, visitou o Brasil no dia 26 de ações do Brasil e do Reino Unido diante da março de 2009. crise e compartilharam as lições aprendidas. 2. O Presidente e o Primeiro-Ministro Concordaram em que políticas protecionistas congratularam-se pelos avanços verificados apenas servirão para aprofundar a recessão no desenvolvimento da parceria estratégica global, e reiteraram seu compromisso com entre os dois países desde a Visita de Estado uma rápida e abrangente conclusão da Rodada do Presidente Lula ao Reino Unido em 2006. de Doha, com base nos importantes resultados A visita do Primeiro-Ministro ao Brasil obtidos até agora. Concordaram em trabalhar constituiu oportunidade para elevar essa de forma conjunta para assegurar que os parceria a um novo patamar. países cumpram o compromisso assumido em 3. O Presidente e o Primeiro-Ministro Washington de não levantar novas barreiras ao reiteraram sua visão comum de um mundo comércio e aos investimentos. Os Mandatários sem fome e sem pobreza, no qual os benefícios conclamaram que esse compromisso seja da educação e da saúde sejam amplamente reiterado e fortalecido na Cúpula de Londres. difundidos e no qual todos possam viver 6. O Presidente e o Primeiro-Ministro com dignidade e segurança. Sublinharam manifestaram a apreciação comum de que a importância central da democracia e a Cúpula de Londres, a realizar-se em 2 de do Estado de Direito, da promoção do abril, com a presença dos líderes das maiores crescimento econômico por meio do comércio economias do mundo e dos representantes inclusivo e de mercados abertos, bem como das principais organizações internacionais, a necessidade de enfrentar com urgência a constituirá oportunidade para a ação ameaça representada pela mudança do clima internacional com vistas a: e de empreender a reforma de instituições - restaurar a demanda global por meio de internacionais, de modo a torná-las mais ação concertada e coordenada de política legítimas, efetivas e representativas. fiscal e monetária; A crise econômica e a Cúpula de Londres - ajudar na estabilização do sistema 4. Os dois Mandatários coincidiram financeiro internacional e assegurar uma

210 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 recuperação econômica sustentável. Nesse sublinharam a importância que conferem a sentido, concordaram que a reconstrução um sistema multilateral efetivo, bem como da confiança nas principais instituições à reforma das instituições internacionais, financeiras dos mercados-chave é uma de modo a torná-las mais legítimas, prioridade e que ações governamentais representativas e eficientes. Concordaram adequadas para esse fim, como o tratamento em trabalhar juntos durante e após a Cúpula dos ativos depreciados, da recapitalização do de Londres para assegurar que o FMI e setor bancário e do apoio à liquidez, poderão o Banco Mundial tenham os recursos e a ser parte central da solução; concordaram capacidade para apoiar a economia global e também que a ação contínua do setor público dar assistência aos mais pobres durante a crise nas áreas fiscal e monetária tem papel decisivo econômica. Da mesma forma, acordaram unir na promoção da demanda e do emprego; esforços para acelerar a reforma das estruturas - estabelecer reformas fundamentais para de governança de modo a aumentar sua fortalecer a regulamentação do setor financeiro transparência e representatividade. Economias a fim de evitar futuras crises. Coincidiram emergentes e em desenvolvimento devem ter em que todas as instituições financeiras, maior voz e representação. Com esse objetivo, mercados e instrumentos devem estar sujeitos o próximo realinhamento das cotas do FMI a regulamentação e supervisão apropriadas, o deve estar concluído no máximo em janeiro que requer forte cooperação internacional; de 2011 e a segunda fase da reforma de voz - apoiar países emergentes e em e representação do Banco Mundial deve ser desenvolvimento para enfrentar e superar a completada durante as Reuniões de Primavera repentina inversão de fluxos internacionais de 2010. Os dois Chefes de Governo de capital. Concordaram que isso requererá concordaram igualmente que os próximos urgente mobilização de recursos e liquidez de dirigentes do FMI e do Banco Mundial devem Instituições Financeiras Internacionais para ser indicados por meio de processo de seleção financiar políticas e projetos anticíclicos em aberto e baseado no mérito, sem considerar áreas como infra-estrutura, financiamento nacionalidades ou preferências geográficas. do comércio e programas sociais. O FMI 8. O Primeiro-Ministro frisou que considera e o Banco Mundial devem, inclusive, que o Brasil desempenha papel de importância desenvolver um novo mecanismo preventivo crescente no cenário internacional. Reiterou de elevado acesso e rápido desembolso, com o firme apoio do Reino Unido ao Brasil um enfoque novo e mais flexível no tocante a como Membro Permanente do Conselho de condicionalidades; e Segurança das Nações Unidas, ao seu papel - adotar medidas concretas para acelerar no G20 e à institucionalização da cooperação a reforma das instituições financeiras entre o G8 e demais membros do G5. Esses internacionais. Coincidiram em que as grupamentos deverão constituir o caminho estruturas de governança devem refletir para a integração efetiva do Brasil e de adequadamente a nova configuração de outras potências emergentes às estruturas forças relativas na economia mundial e, da governança global. Nesse contexto, o portanto, conferir maior representatividade às Presidente e o Primeiro-Ministro enfatizaram economias emergentes e em desenvolvimento. a urgência da reforma das Nações Unidas. Fortalecimento do Sistema Internacional Combate à Pobreza e à Desigualdade 7. O Presidente e o Primeiro-Ministro 9. O Brasil e o Reino Unido reconhecem a

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 211 urgência de reduzir a pobreza e a desigualdade em Financiamento Internacional Inovador globais e de tomar medidas práticas para para Sistemas de Saúde. minimizar o impacto da crise financeira nos 11. Os dois Mandatários manifestaram a países em desenvolvimento. Expressaram intenção de realizar parcerias trilaterais em satisfação com o andamento dos Bancos apoio à cooperação Sul-Sul, em benefício Multilaterais de Desenvolvimento e os instaram dos países em desenvolvimento. O Brasil a prover mais recursos, de modo mais rápido e e o Reino Unido estão dispostos a explorar aprimorado. Destacaram a necessidade de uma novos mecanismos e a desenvolver iniciativas ação global imediata para a implementação específicas para intensificar a implementação das Metas de Desenvolvimento do Milênio das Metas de Desenvolvimento do Milênio. e a importância de que os líderes honrem Trabalhando juntos, os dois Países poderão seus compromissos de aumentar a assistência ampliar a utilização das experiências e para o desenvolvimento a fim de proteger os inovações brasileiras. mais pobres. Conclamaram a ONU a lançar 12. Os Mandatários concordaram em um “Alerta de Vulnerabilidade” a fim de trabalhar juntos para acelerar o progresso monitorar o impacto da crise sobre os mais global em saúde materna, a menos avançada pobres e apoiar Fundo de Resposta Social Meta de Desenvolvimento do Milênio. Ambos Rápida do Banco Mundial. Concordaram que trabalharão com seus parceiros internacionais ambos os mecanismos deveriam se beneficiar para mobilizar ajuda política e financeira com da experiência mundialmente reconhecida do o objetivo de fortalecer sistemas de saúde e Brasil em proteção social. Quanto ao Fundo ajudar a salvar vidas de milhões de mães, de de Resposta Social Rápida, ele se dará por recém-nascidos e de crianças. meio da participação brasileira no “Painel 13. O Presidente e o Primeiro Ministro de Assessoramento de Alto Nível”. O Reino acordaram conceder seu apoio conjunto à Unido contribuiu com US$ 250 milhões para Campanha Educação para Todos da Copa o Fundo. do Mundo da FIFA de 2010, no contexto das 10. O Brasil e o Reino Unido concordaram Metas do Desenvolvimento do Milênio. em empreender uma nova fase de parceria África para o desenvolvimento, especialmente 14. O Presidente e o Primeiro Ministro beneficiando-se com a experiência positiva reiteraram a prioridade que conferem aos do Brasil em política social, incluindo o esforços para apoiar o desenvolvimento fortalecimento de sistemas abrangentes de africano por meio de canais bilaterais e proteção social na África e a promoção de multilaterais. Concordaram em cooperar em segurança alimentar global. Os dois Chefes áreas-chave, incluindo: de Governo enfatizaram a importância dos - inovação agrícola (o Escritório da Mecanismos Financeiros Inovadores para EMBRAPA em Gana estabelecerá contatos o desenvolvimento, tendo os dois países com parceiros africanos); recentemente anunciado que contribuiriam - capacitação de pessoal; para o Mecanismo Internacional de - setor eleitoral; Financiamento sobre Imunizações (“IFFIm”), - apoio ao desenvolvimento de que tem o objetivo de salvar 10 milhões de biocombustíveis sustentáveis na região; vidas até 2015 por meio de vacinação, e - combate à pobreza (utilizando a também de apoiar a Força Tarefa de Alto Nível especialização do Ministério brasileiro do

212 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 Desenvolvimento Social e o Combate à Clima. O Presidente cumprimentou o Reino Fome em programas de transferência social Unido pela Lei de Mudança do Clima. Ambos condicionada); os países demonstraram firme compromisso - cooperação na Guiné-Bissau. de tratar da mudança do clima. 15. O Presidente e o Primeiro Ministro 19. A realização da Conferência de concordaram em intensificar a cooperação Copenhague no âmbito da UNFCCC indica conjunta entre o Brasil e o Reino Unido e o que 2009 é um ano crucial para adotar uma diálogo com a África. resposta global de combate à mudança do Comércio Internacional clima. O Presidente e o Primeiro-Ministro 16. O Presidente e o Primeiro-Ministro comprometeram-se pessoalmente em destacaram sua determinação de ver um assegurar um arcabouço robusto para tratar da resultado exitoso, ambicioso e equilibrado mudança do clima em Copenhague. Todos os para a Rodada Doha de Desenvolvimento países são chamados a agir, de uma maneira de negociações comerciais. Concordaram que reconheça as diferentes circunstâncias que essa é uma oportunidade crucial para nacionais e respeite o princípio da UNFCCC promover a prosperidade global e tirar milhões de “responsabilidades comuns, porém, de pessoas da pobreza. A crise econômica diferenciadas e respectivas capacidades”. global e a dramática volatilidade dos preços 20. O Presidente e o Primeiro-Ministro das commodities tornaram a liberalização sublinharam a necessidade de serem multilateral ainda mais importante, assim criados urgentemente novos mecanismos de como a adoção de medidas para garantir que financiamento que permitam aos países em os países mais pobres tenham acesso aos desenvolvimento se adaptarem às mudanças benefícios dos mercados globais. do clima e empreenderem ações de mitigação, Mudança do Clima e Desenvolvimento inclusive por meio da rápida mobilização e Sustentável disseminação de tecnologias limpas. Os dois 17. O Presidente e o Primeiro-Ministro Mandatários saudaram a operacionalização, concordaram em trabalhar juntos para em Poznan, do Fundo de Adaptação. combater os perigos da mudança do clima 21. O Presidente e o Primeiro-Ministro e proteger e usar de forma sustentável os enfatizaram que a transição para uma economia recursos naturais. Os mais pobres têm sido os com baixa emissão de carbono oferece reais primeiros a sentir esses efeitos nocivos e são e excelentes oportunidades de negócios. os menos preparados para se adaptar. Ambos Os dois Chefes de Governo concordaram os Chefes de Governo concordaram com a que o Diálogo bilateral de Alto Nível sobre importância de buscar caminhos sustentáveis Desenvolvimento Sustentável tem sido para tratar dos desafios interrelacionados do valioso no sentido de promover a colaboração uso de energia, da mudança do clima e da e aprofundar os entendimentos entre os dois gestão dos recursos naturais. países e saudaram o acordo de estender por 18. O Primeiro-Ministro saudou o firme mais 3 (três) anos o Diálogo bilateral. comprometimento demonstrado pelo Brasil Energia com as negociações no âmbito do Convenção- 22. O Presidente e o Primeiro-Ministro Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do concordaram que o mundo tem diante de si Clima (UNFCCC) e a publicação, em dezembro o desafio de assegurar a transição necessária de 2008, do Plano Nacional de Mudança do para uma economia com baixa emissão de

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 213 carbono, garantindo que todos tenham acesso Segurança alimentar à energia segura a custos competitivos. Ambas 24. Os dois Mandatários notaram com são vitais para a prosperidade global e o preocupação a volatilidade recente dos preços desenvolvimento sustentável. Os Mandatários de alimentos em todo o mundo. Concordaram concordaram em trabalhar conjuntamente, por que o impacto da crise financeira no mundo, meio do Memorandum de Entendimento em tanto nos países desenvolvidos como nos países Energia, com vistas a aperfeiçoar o mercado em desenvolvimento, não deve enfraquecer o de petróleo, melhorar a eficiência energética compromisso da luta global contra a fome. e continuar a promover o uso de tecnologias Concordaram, igualmente, com a necessidade de energia renovável e de baixa emissão de de uma ação global concertada, no curto e carbono. Os dois Mandatários manifestaram no longo prazo, para erradicar a fome do satisfação em anunciar um projeto de mundo e lidar com a deterioração dos termos cooperação em Eficiência Energética. de troca das commodities agrícolas e com o 23. O Primeiro-Ministro reconheceu a impacto negativo de práticas distorcivas de vasta experiência do Brasil na produção e no comércio, que ameaçam milhões de pessoas uso de biocombustíveis. Os biocombustíveis, entre as mais pobres do mundo. O Presidente produzidos de forma sustentável, e o Primeiro-Ministro ressaltaram o papel desempenham papel central na promoção fundamental que o Brasil pode desempenhar do aumento da segurança energética e da enquanto grande produtor agrícola dotado redução das emissões de carbono no setor de de terra, água e tecnologia para expandir sua transportes, para que os países desenvolvidos produção de modo sustentável. De igual modo, alcancem suas mestas de utilização de fontes sublinharam o papel do Reino Unido enquanto renováveis. Da mesma forma, poderão um dos maiores consumidores e produtores contribuir para a implementação das Metas de gêneros alimentícios. Comprometeram-se de Desenvolvimento do Milênio nos países a trabalhar essas questões de modo conjunto, em desenvolvimento. Os Mandatários bilateralmente e no contexto das discussões anunciaram que a rede Brasil-Reino Unido do G8+5. de cientistas estabelecerá um programa de Florestas Tropicais pesquisa conjunto (custeado pela EMBRAPA 25. O Presidente e o Primeiro-Ministro e pelo “International Sustainable Development concordaram que o mecanismo de Redução de Fund” do Reino Unido) para apoiar e acelerar Emissões para o Desmatamento e Degradação o desenvolvimento de biocombustíveis de (REDD) oferece oportunidades para a segunda geração. Ambos concordaram em que mitigação da mudança climática e a adaptação o Brasil e o Reino Unido deverão cooperar em de objetivos, bem como extensos co- pesquisas para tratar das lacunas em relação benefícios ambientais e de desenvolvimento. aos efeitos diretos e indiretos da produção dos Meios para alcançar o REDD podem biocombustíveis e que continuarão a trabalhar variar de um país para outro. Atividades de juntos na Parceria Global para a Bioenergia demonstração foram úteis para mostrar o (“Global Bioenergy Partnership-GBEP”) para que funciona, em termos de oportunidades desenvolver proposta de critérios e indicadores em países específicos para investimentos que de sustentabilidade da bio-energia, incluindo conduzam a transformações, para alavancar biocombustíveis. investimentos do setor privado e possibilitar

214 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 a fundos nacionais como o Fundo Amazônia que o mercado de negócios no Brasil continue ter acesso a recursos na escala requerida. O a promover o comércio e o investimento, Reino Unido ofereceu apoio ao BNDES para particularmente nos setores de alto valor operacionalizar de forma efetiva o Fundo agregado incluindo energia, infra-estrutura e Amazônia. saúde. Concordaram que esse trabalho deve 26. Os dois Mandatários saudaram a propiciar progressos com vistas a um efetivo disponibilização de US$ 500 milhões para o Acordo para Evitar a Dupla Tributação. Programa de Investimento Florestal de apoio Nesse contexto, os Mandatários observaram às atividades de demonstração e notaram a que acordos bilaterais nas áreas de troca de oportunidade para o Fundo Amazônia. Ambos informações sobre tributação e de tributação reconheceram a necessidade de financiamento de membros da tripulação de aeronaves estão antecipado, e concordaram em trabalhar para serem concluídos em breve. estreitamente com esse objetivo. Defesa Economia e Comércio 30. O Presidente e o Primeiro-Ministro 27. O Primeiro-Ministro congratulou congratularam-se pelos contatos recentes de o Presidente Lula pelo desenvolvimento alto nível sobre temas de defesa e segurança, e econômico do Brasil. A economia brasileira concordaram que contatos desse gênero devem mantém-se robusta durante a atual crise ser desenvolvidos nas áreas de estratégia, financeira internacional, demonstrando política de defesa e operações conjuntas. a eficácia das consistentes políticas Operações de manutenção da paz e de macroeconômicas e monetárias adotadas. construção da paz 28. Ambos os Mandatários reconheceram a 31. O Presidente e o Primeiro-Ministro importância da articulação entre estabilidade salientaram o crescente reconhecimento econômica e justiça social, e entre de que as operações de paz das Nações desenvolvimento continuado e investimentos Unidas incluam reconstrução, estabilização dos setores público e privado. Saudaram o e desenvolvimento. O Primeiro-Ministro crescente diálogo entre o Brasil e o Reino congratulou o Brasil pelo papel de liderança Unido em temas de política econômica, desempenhado no Haiti. Ambos os incluindo a estreita cooperação durante as Mandatários reconheceram o papel central que respectivas Presidências sucessivas do G20 e forças de paz regionais podem desempenhar, com vistas à Cúpula de Londres, em 2 de abril. em particular as da União Africana, e 29. O Presidente e o Primeiro-Ministro concordaram em trabalhar em conjunto para saudaram o crescimento das relações desenvolver especialização para empregá-las comerciais e de investimentos entre os dois de modo efetivo. países e o progresso alcançado no âmbito Desarmamento e Não-Proliferação do Comitê Econômico e Comercial Bilateral 32. O Presidente e o Primeiro-Ministro (JETCO). Registraram o extenso histórico de sublinharam seu compromisso com o investimentos britânicos no Brasil e saudaram desarmamento, a não-proliferação de armas o recente anúncio de novos e expressivos nucleares e o êxito da Conferência de Revisão investimentos. Os dois Chefes de Governo do Tratado de Não-Proliferação de Armas concordaram que o Brasil e o Reino Unido Nucleares de 2010. Congratularam-se pelo continuarão a trabalhar juntos para assegurar aumento da fluidez do diálogo bilateral sobre

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 215 temas de desarmamento e não-proliferação e “UK Sports Council”, o “British Council”, e concordaram em manter conversações de alto a UNICEF, e apoiado pelo Comitê Olímpico nível com frequência anual. Internacional e pela “FA Premier League”, Parceria em Cooperação Bilateral que ajudaria a transformar a vida de milhões 33. O Presidente e o Primeiro Ministro de jovens através do esporte. Os Mandatários também saudaram o fortalecimento da saudaram o lançamento do programa no cooperação entre o Brasil e o Reino Unido Brasil, no ano passado. em uma ampla gama de questões de política Educação: interna. Os Mandatários concordaram que os - O Presidente e o Primeiro Ministro dois países devem continuar a desenvolver sua saudaram a expansão das vínculos no campo parceria em áreas-chave de política interna, da educação entre o Brasil e o Reino Unido. O incluindo as abaixo assinaladas: Brasil e o Reino Unido têm trabalhado juntos Política Econômica: na Educação por mais de uma década e diversos - Os dois Mandatários saudaram o corrente programas conjuntos foram desenvolvidos. Os intercâmbio entre os Governos brasileiro e Mandatários se comprometeram a assegurar britânico sobre as principais questões políticas que esta cooperação estreita continue através econômicas nacionais. Eles concordaram que da implementação do existente Memorando trabalhar em áreas tais como gastos públicos, de Entendimento sobre a Educação. tributação e orçamento foi particularmente Ciência e Inovação: valioso no corrente contexto econômico e - O Presidente e o Primeiro Ministro enfatizaram a importância de sua continuação. saudaram os excelentes resultados do Ano Nesse contexto, concordaram em continuar o Brasil- Reino Unido de Ciência e Inovação, intercâmbio de idéias e de pessoal entre os 2007 e 2008, que conduziu à elevação do Ministérios da Fazenda e outros. patamar de cooperação científica entre os Esporte: dois países. Aguardam com expectativa o - O Presidente e o Primeiro Ministro lançamento, em 2011, do satélite brasileiro notaram os crescentes laços no campo Amazônia-1 que conterá uma câmera britânica esportivo entre os dois países, particularmente para monitoramento de desmatamento e aqueles associados com o uso do esporte para colaboração mais profunda em ciências promover a inclusão social. O Brasil e o Reino agrícolas, com a abertura de um laboratório Unido concordaram em continuar a trabalhar de pesquisas brasileiro no Reino Unido. estreitamente seus vínculos desportivos à Enfatizaram a importância de continuar luz do fato de Londres ser anfitriã dos Jogos a promover colaboração científica para Olímpicos e Paraolímpicos em 2012, da encontrar maneiras de abordar os desafios Copa do Mundo da FIFA no Brasil em 2014, globais e a necessidade de apoiar empresas da candidatura do Rio de Janeiro para os brasileiras e britânicas em seus esforços para Jogos Olímpicos e Paraolímpicos em 2016, comercializar os resultados de suas pesquisas e da candidatura inglesa para a Copa do inovadoras. Mundo de 2018. Os Mandatários saudaram o Saúde: compromisso de criar um legado duradouro - Ambos os Mandatários saudaram o Ano para as Olimpíadas 2012 e o lançamento do de Cooperação Bilateral em Saúde 2008/2009 programa “Inspirações Internacionais”, pelo e manifestaram o desejo de reforçar a

216 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 cooperação em cuidados médicos primários, em conjunto para eliminar práticas ilegais, administração hospitalar, desigualdades no inclusive o tráfico de pessoas. Saudaram, campo da saúde, questões de saúde global e igualmente, os recentes esforços coordenados de inovação, pesquisa e desenvolvimento. dos dois países que permitiram a continuação Drogas: da dispensa mútua de visto para turistas e - O Presidente e o Primeiro Ministro executivos do Brasil e do Reino Unido. saudaram o aumento da cooperação entre os 36. O Primeiro-Ministro agradeceu dois países na prevenção do uso de drogas calorosamente ao Presidente Lula por sua e na luta contra o tráfico e crimes conexos. hospitalidade, e manifestou a expectativa de Ambos os Mandatários coincidiram em recebê-lo na Cúpula de Londres em 2 de abril. que, dada a natureza internacional do tráfico Brasília, 26 de março de 2009. de drogas e crimes conexos, a cooperação internacional é essencial para seu efetivo II Cúpula América do Sul-Países combate. Concordaram em apoiar firmemente Árabes - Doha, Catar, a continuidade da colaboração entre as agências de prevenção e repressão às drogas 31 de março de 2009 de Brasil e Reino Unido. 28/03/2009 Contatos entre os povos 34. Finalmente, o Presidente e o Primeiro- O Presidente Luiz Inácio Lula da Silva Ministro congratularam-se pela abrangência participará da II Cúpula de Chefes de Estado crescente dos contatos entre os povos dos e de Governo América do Sul - Países Árabes dois países, inclusive para negócios, turismo (ASPA), no dia 31 de março, em Doha, no e educação. Concordaram que mais ações Catar. Antes do encontro, nos dias 29 e 30 deveriam ser tomadas para ajudar os dois povos de março, terá lugar o II Foro Empresarial a se conhecerem melhor. Nesse contexto, o da ASPA, do qual participarão empresários e Presidente e o Primeiro-Ministro destacaram representantes das Câmaras de Comércio de o “Global Fellowship Programme” do Reino ambas as regiões, entre os quais cerca de 30 Unido, no âmbito do qual jovens britânicos empresários brasileiros. visitam o Brasil, a China e a Índia com o Durante a Cúpula, prevê-se a adoção propósito de melhor compreender as potências da Declaração de Doha, sobre diversos emergentes e as habilidades necessárias aos temas de interesse comum dos 34 países, estudantes em um mundo mais globalizado. e de uma Declaração Mercosul-Conselho 35. O Primeiro-Ministro salientou a de Cooperação do Golfo, sobre a futura contribuição da comunidade brasileira conclusão do Acordo de Livre Comércio entre à vibrante sociedade multicultural do os dois grupos. Reino Unido. Ambos os Mandatários O Fórum ASPA, do qual o Brasil é o comprometeram-se a garantir que o Coordenador Sul-Americano, foi criado em fluxo, nas duas direções, de estudantes, 2005, por ocasião da I Cúpula de Chefes de visitantes e executivos seja incentivado e Estado e de Governo, realizada em Brasília. que os procedimentos de imigração sejam Integrado por 34 países (12 sul-americanos transparentes e não-discriminatórios, com e 22 árabes, além da UNASUL e da Liga respeito à dignidade das pessoas; e a trabalhar dos Estados Árabes), a ASPA, além de

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 217 proporcionar diálogo político, atua em cinco e Sua Excelência Yousef bin Alawi bin grandes segmentos: econômico, cultural, Abdullah, Ministro Responsável por científico-tecnológico, ambiental e social. Relações Exteriores do Sultanato de Oman, Ao longo dos últimos quatro anos, foram no exercício da Presidência do Conselho de realizadas nove reuniões em nível ministerial, Ministros do CCG, com a participação de sobre Cultura, Recursos Hídricos, Economia, Sua Excelência Abdulrahman bin Hamad Al- Meio Ambiente, Assuntos Sociais e Relações `Attiyah, Secretário-Geral do CCG, em Doha, Exteriores. No campo da cooperação cultural, Catar, em 31 de março de 2009, por ocasião foi criada a Biblioteca ASPA e o Instituto de da II Cúpula América do Sul - Países Árabes Pesquisa sobre a América do Sul, sediado no (ASPA), quando os Chefes de Estado e de Marrocos. Governo do MERCOSUL e do Conselho de Na área comercial, os resultados são Cooperação do Golfo (CCG) reafirmaram significativos. Desde que a ASPA foi criada, o compromisso de criar uma Área de Livre o comércio entre as duas regiões cresceu de Comércio MERCOSUL - CCG. US$ 11 bilhões, em 2004, para mais de US$ As duas partes saudaram a realização da II 25 bilhões, em 2008. No caso do Brasil, o Cúpula América do Sul - Países Árabes (ASPA) comércio com os países árabes cresceu 150% em Doha sob a liderança de Sua Alteza Real nos últimos quatro anos, tendo alcançado Shaikh Hamad bin Khalifah Al Thani, Emir do cerca de US$ 20 bilhões no ano passado. Estado do Qatar, e expressaram sua confiança de que o resultado do encontro contribuirá II Cúpula América do Sul-Países significativamente para o fortalecimento dos vínculos entre o MERCOSUL e o CCG. Árabes - Doha, Catar, 31 de Os Líderes recordaram que a negociação março de 2009 - Comunicado MERCOSUL - CCG foi lançada no contexto Conjunto Mercosul-CCG da I Cúpula ASPA, realizada em Brasília em 28/03/2009 maio de 2005. Reiteraram que a iniciativa contribuirá não só para gerar oportunidades de Comunicado Conjunto Mercosul - CCG negócios para os membros de ambos os blocos, A partir das excelentes relações entre os mas também para incrementar as relações Estados do Conselho de Cooperação do Golfo entre os países sul-americanos e árabes. (CCG) e os Estados Partes do MERCOSUL, Expressaram, também, sua satisfação com o nos planos econômico e político, bem como aumento acelerado dos fluxos de comércio, de seus vínculos culturais, e, desde a assinatura do Acordo de Cooperação Com base no Acordo de Cooperação Econômica em 2005, e com a expansão dos Econômica assinado em Brasília em maio investimentos e parcerias no setor privado. de 2005 (durante a I Cúpula América do Sul Os Chefes de Estado e de Governo do - Países Árabes), que lançou as negociações MERCOSUL e do CCG saudaram o progresso de uma área de livre comércio (ALC) entre as substancial das negociações MERCOSUL - duas regiões, CCG e destacaram a necessidade de explorar Mantiveram encontro Sua Excelencia soluções criativas para as questões que Alejandro Hamed Franco, Ministro das permanecem pendentes desde a rodada de Relações Exteriores do Paraguai, no exercício negociações realizada no Rio de Janeiro, em da Presidência Pro Tempore do MERCOSUL, janeiro de 2007. Nesse sentido, instruíram seus

218 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 Ministros e Agências competentes a acelerar o seus familiares, ao Governo e ao povo ritmo das reuniões, com o intuito de concluir argentinos minha solidariedade as negociações o mais brevemente possível. nesta hora triste. Luiz Inácio Lula da Silva Visita do Presidente Luiz Inácio Presidente da República Federativa do Brasil” Lula da Silva a Paris - 1º de abril Na mesma ocasião, o Ministro das Relações de 2009 Exteriores, Celso Amorim, enviou a seguinte 31/03/2009 mensagem de pêsames ao Chanceler Jorge Taiana: O Presidente Luiz Inácio Lula da Silva “Senhor Ministro, realizará visita de trabalho à França, no dia Foi com grande pesar que recebi a notícia 1º de abril de 2009. Manterá encontro de do falecimento do Presidente Raúl Alfonsín. trabalho com o Presidente Nicolas Sarkozy, Pude testemunhar a decisiva contribuição em preparação à Cúpula do G-20 Financeiro do Presidente Alfonsín para que Brasil e a realizar-se em Londres, no dia 2 de abril. Argentina caminhassem rumo à construção Os dois Presidentes deverão, ainda, passar em de sua aliança estratégica. Sua visão de longo revista os principais temas da agenda bilateral prazo em prol da integração e da democracia e mundial, com ênfase nas questões relativas foi decisiva para a criação do Mercosul. à governança das instituições internacionais. Peço-lhe a gentileza de transmitir minha solidariedade e minhas sinceras condolências Falecimento do ex-Presidente da à família do Presidente Raúl Alfonsín neste momento de perda. República Argentina, Celso Amorim Raúl Alfonsín Ministro das Relações Exteriores” 01/04/2009 Cúpula de Líderes do G-20 sobre O Presidente Luiz Inácio Lula da Silva Estabilidade, Crescimento e enviou, hoje, a seguinte mensagem de condolências à Presidenta Cristina Fernández Emprego - Londres, de Kirchner: 2 de abril de 2009 “Senhora Presidenta, 01/04/2009 Com a morte de Raúl Alfonsín não só a Argentina, mas toda a América do Será realizada, em 2 de abril próximo, Sul perderam um grande construtor da em Londres, a Cúpula de Líderes do G-20 democracia. sobre Estabilidade, Crescimento e Emprego. Artesão da aliança Argentina-Brasil, A reunião corresponde ao seguimento da Alfonsín deixa a lembrança de um primeira Cúpula de Líderes do G-20, realizada homem de diálogo com profundas em Washington, em 15 de novembro de 2008. concepções democráticas. A Cúpula acontece em contexto de Tive nele um interlocutor e um amigo. agravamento da crise econômico-financeira Quero expressar meu pesar, que é também internacional, que atinge agora não apenas do povo brasileiro, e envio a os países desenvolvidos, onde foi gestada,

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 219 mas também os países emergentes e em nas áreas de emprego, moradia, educação, desenvolvimento, sobretudo pelos canais de informação e retorno. comércio e de financiamento externo. A delegação brasileira manifestou Na Cúpula de Londres serão discutidos satisfação com as medidas do Governo japonês a retomada do crescimento econômico, o e discorreu sobre as iniciativas que vêm sendo combate ao protecionismo, a nova regulação do tomadas pelo Brasil no sentido de reforçar o sistema financeiro, aportes de recursos para que trabalho de assistência a brasileiros por parte instituições financeiras internacionais, como o da Embaixada e dos três Consulados-Gerais FMI e o Banco Mundial, estejam habilitadas no Japão. Tais iniciativas, assim como o apoio a auxiliar os países em desenvolvimento e a prestado por grande número de entidades reforma da governança econômica global. assistenciais e redes de solidariedade, têm O Presidente Luiz Inácio Lula da Silva logrado atender algumas das necessidades chefiará a delegação brasileira, integrada mais prementes da comunidade brasileira em também pelo Ministro Celso Amorim, pelo solo japonês. Ministro da Fazenda, Guido Mantega, e pelo Cabe assinalar que o Japão é o único país Embaixador do Brasil no Reino Unido, Carlos que vem implementando medidas do gênero Augusto Rego Santos Neves. para estrangeiros afetados pela crise. Ambas as delegações concordaram em Trabalhadores somar esforços e atuar em estreita coordenação na busca de soluções construtivas para brasileiros no Japão enfrentar o problema do desemprego, da 01/04/2009 educação e da moradia dos brasileiros que vivem no Japão. Ficou decidida a realização Realizou-se em Brasília, no dia 17 de de uma próxima reunião de coordenação março último, a III Reunião de Coordenação consular, até o final de 2009, para avaliar a Consular Brasil-Japão, com a participação situação e o andamento das medidas adotadas. do Subsecretário-Geral das Comunidades Brasileiras no Exterior do Itamaraty, do Viagem do Ministro Celso Embaixador do Japão em Brasília e de altos Amorim à Grécia - funcionários governamentais de ambos os países. 3 de abril de 2009 Na ocasião, examinou-se em profundidade 02/04/2009 o conjunto de medidas recém-anunciadas pelo Governo do Japão para apoiar trabalhadores O Ministro Celso Amorim realizará estrangeiros, sobretudo brasileiros visita oficial à Grécia no dia 3 de abril. Na (“decasséguis”), em face da atual conjuntura oportunidade, manterá encontro de trabalho econômica e seus reflexos adversos para com a Ministra dos Negócios Estrangeiros, o mercado de trabalho. Representante do Dora Bakoyanis, a fim de tratar de temas de “Escritório de Promoção das Medidas interesse bilateral e da agenda internacional. de Apoio aos Residentes no Japão”, do O Ministro Celso Amorim será recebido, Gabinete do Primeiro-Ministro japonês, deu ainda, pelo Presidente Karolos Papoulias e pelo esclarecimentos sobre as medidas de urgência Primeiro-Ministro Konstantinos Karamanlis. e de longo prazo adotadas e em estudo Por ocasião da visita, serão assinados os

220 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 seguintes atos entre o Brasil e a Grécia: a iniciativa conta com 100 membros, entre (1) Memorando de Entendimento para governos e organizações internacionais. Consultas Bilaterais Periódicas em nível de O Ministro Celso Amorim fará Ministro, Vice-Ministro ou de Subsecretários- pronunciamento em nome do Presidente da Gerais; República na sessão de abertura do II Fórum. (2) Memorando de Entendimento para O Brasil deverá, igualmente, anunciar o Cooperação entre Academias Diplomáticas; Plano de Ação Nacional para a Aliança de (3) Acordo de Cooperação Econômica, Civilizações, que inclui, entre outras, ações Científica e Tecnológica; que estimulem o apreço à diversidade e a (4) Acordo sobre Extradição; e disseminação dos objetivos da Aliança de (5) Acordo sobre o Exercício de Atividades Civilizações. Remuneradas por parte de Dependentes A sessão de abertura contará ainda com a do Pessoal Diplomático, Consular, Militar, presença dos Chefes de Governo da Turquia Administrativo e Técnico. e da Espanha, do Secretário-Geral das Nações Em 2008, a corrente de comércio bilateral Unidas e do Alto Representante do Secretário- alcançou cerca de US$ 400 milhões, dos Geral das Nações Unidas para a Aliança de quais US$ 332 milhões corresponderam a Civilizações. exportações brasileiras. Eentre os produtos exportados pelo Brasil para a Grécia destacam- Acordo de Comércio se aeronaves de uso civil e militar. Preferencial Mercosul-SACU 06/04/2009 II Fórum Mundial da Aliança de Civilizações - Istambul, Os países-membros da União Aduaneira 6 e 7 de abril de 2009 da África Austral (SACU) assinaram, no dia 03/04/2009 3 de abril, na capital do Lesoto, o Acordo de Comércio Preferencial (ACP) Mercosul-SACU. Será realizado, nos dias 6 e 7 de abril, Os países do Mercosul já haviam assinado o em Istambul, na Turquia, o II Fórum acordo durante a última cúpula do bloco, na Mundial da Aliança de Civilizações. A Costa do Sauípe (BA), em dezembro passado. reunião ocorre em seguimento ao I Fórum, O ACP Mercosul-SACU é o terceiro organizado pelo Governo espanhol, em acordo comercial extra-regional assinado pelo Madri, em janeiro de 2008. Mercosul, após o ACP Mercosul-Índia (2004- A iniciativa “Aliança de Civilizações” 2005) e o ALC Mercosul-Israel (2007). foi proposta pelo Presidente de Governo O acordo com a SACU tem como principal da Espanha, José Luis Rodríguez Zapatero, objetivo facilitar o acesso aos mercados dos em 2004, com o objetivo de ajudar dois grupos regionais, o que incrementará não a opinião pública mundial a superar somente o fluxo de mercadorias, mas também preconceitos e polarizações entre culturas e as oportunidades de investimentos para ambos comunidades diferentes. Coordenada pelo os lados. O ACP constitui base, ademais, para Alto Representante do Secretário-Geral das futura negociação de acordo de livre comércio Nações Unidas para a Aliança de Civilizações, Mercosul-SACU. Jorge Sampaio, ex-Presidente de Portugal, Na negociação do ACP com a SACU, o

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 221 Mercosul atuou de forma coordenada com Lançamento de Foguete pela vistas a obter condições de acesso ainda mais Coréia do Norte vantajosas para as economias menores do 07/04/2009 agrupamento (Paraguai e Uruguai). Verifica- se, assim, que a agenda extra-regional do O Governo brasileiro acompanha com Mercosul é um dos instrumentos concretos atenção a situação gerada pelo recente para o tratamento da questão das assimetrias lançamento, pela República Popular no bloco. Democrática da Coréia, do foguete O ACP Mercosul-SACU segue agora Taepodong-2, que, segundo o Governo para apreciação pelo Congresso Nacional. A norte-coreano, transportava um satélite de entrada em vigor ocorrerá após a finalização comunicação. O Governo brasileiro tomou dos trâmites internos de ratificação por todas nota das reações de preocupação de diversos as partes signatárias. países, especialmente os da região. Juntamente com o ACP Mercosul-Índia, O Governo brasileiro segue com interesse o ACP Mercosul-SACU dá seguimento a as discussões mantidas sobre o assunto processo gradual de criação de bases para a no âmbito do Conselho de Segurança das futura negociação de entendimento comercial Nações Unidas e reitera a importância que trilateral Mercosul-Índia-SACU. atribui às Negociações Hexapartites para o encaminhamento favorável da questão da Terremoto na Itália segurança na Península Coreana. 06/04/2009 Novo Comandante da Missão de Paz no Haiti O Governo brasileiro tomou conhecimento, com grande pesar, da ocorrência, na noite de 08/04/2009 ontem, 5 de abril, de grave terremoto que abalou a região de Abruzzo, na Itália, e resultou O General-de-Brigada Floriano Peixoto na morte de mais de cem pessoas, com saldo Vieira Neto assume hoje, 8 de abril, o de dezenas de milhares de desabrigados. Comando da Força Militar da Missão de Ao solidarizar-se com as famílias das Estabilização das Nações Unidas no Haiti vítimas, o Governo brasileiro manifesta (MINUSTAH) em substituição ao General- seu profundo sentimento de tristeza e de de-Brigada Carlos Alberto dos Santos Cruz. solidariedade ao Governo e ao povo italianos. O General Floriano Peixoto foi escolhido, O Presidente Luiz Inácio Lula da Silva no último dia 30 de março, pelo Conselho de enviou, hoje, mensagem de condolências ao Segurança das Nações Unidas por indicação Chefe de Estado e ao Chefe de Governo da do Secretário-Geral da ONU, Ban Ki-moon. República Italiana. O Ministro Celso Amorim Desde 2004, o Brasil tem ajudado, também enviou manifestação de pesar a seu juntamente com outros países, a consolidar homólogo italiano. um ambiente estável e de maior segurança no Haiti. O General Floriano Peixoto será o

222 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 quinto brasileiro a comandar a MINUSTAH, Incentivo à Formação Científica, iniciativa o que confirma o apreço das Nações Unidas do MRE e da CAPES. O Programa possibilita pela contribuição que vem sendo dada pelos a vinda, durante o período de férias letivas, militares brasileiros à Missão. de estudantes cabo-verdianos para cursos de O Brasil reitera seu compromisso de curta duração e utilização de laboratórios de solidariedade com o povo haitiano e com a universidades brasileiras. estabilização da segurança interna, objetivo essencial para a consolidação das instituições Visita ao Brasil do Ministro democráticas e para o pleno desenvolvimento dos Negócios Estrangeiros da econômico e social do Haiti. República da Sérvia, Vuk Jeremic Visita ao Brasil do Ministro dos 15/04/2009 Negócios Estrangeiros de O Ministro Celso Amorim manterá Cabo Verde, José Brito - Brasília, encontro hoje, 15 de abril, no Rio de Janeiro, 14 e 15 de abril de 2009 com o Ministro dos Negócios Estrangeiros da 13/04/2009 República da Sérvia, Vuk Jeremic. Deverão ser tratados os principais temas da agenda O Ministro dos Negócios Estrangeiros, bilateral, a situação regional de ambos os Cooperação e Comunidades de Cabo Verde, países e assuntos globais de interesse mútuo, José Brito, visitará o Brasil nos dias 14 e tais como a reforma das Nações Unidas, as 15 de abril. Será recebido, no dia 14, pelo relações do Brasil e da Sérvia com a União Ministro Celso Amorim para reunião, seguida Europeia e a situação do Kossovo. O encontro de almoço de trabalho. Este será o terceiro ocorrerá na sequência da visita oficial ao encontro entre chanceleres dos dois países nos Brasil realizada pelo Ministro dos Negócios últimos dez meses. Estrangeiros da Sérvia, em 1º de abril de 2008, A programação do Chanceler cabo-verdiano e de reunião dos dois Ministros à margem no Brasil inclui ainda reuniões com o Secretário- do debate geral da LXIII AGNU, em 25 de Executivo do MDIC, Ivan Ramalho, com o setembro de 2008. Governador do Ceará, , e com os embaixadores africanos em Brasília. Lançamento de Foguete pela Além de temas bilaterais, serão discutidos Coreia do Norte aspectos relativos à situação em Guiné-Bissau, tratados inicialmente na Reunião Ministerial 15/04/2009 Extraordinária da CPLP, a que o Ministro Celso Amorim compareceu, em Praia, no O Governo brasileiro tomou nota da último dia 25 de março. Declaração do Conselho de Segurança das Durante a visita, deverá ser assinado Nações Unidas, emitida em 13 de abril, Memorando de Entendimento para a que condena o lançamento de foguete pela aplicação em Cabo Verde do Programa de República Popular Democrática da Coréia.

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 223 O Brasil recebeu com preocupação atingiu US$ 3,2 bilhões, com crescimento de a reação do Governo norte-coreano à 21,6% em relação ao ano anterior. manifestação do Conselho de Segurança, no sentido de cessar a cooperação com a V Cúpula das Américas - Trinidad Agência Internacional de Energia Atômica, e Tobago, 17 a 19 de abril de 2009 reativar instalações nucleares e abandonar as negociações hexapartites sobre a questão 16/04/2009 nuclear norte-coreana. O Governo brasileiro conclama a RPDC O Presidente Luiz Inácio Lula da Silva a cumprir as decisões do Conselho de chefiará a delegação brasileira à V Cúpula das Segurança, a restabelecer a cooperação com a Américas, a realizar-se entre 17 e 19 de abril AIEA e a retomar o diálogo hexapartite, com de 2009, em Port of Spain, Trinidad e Tobago. vistas à manutenção da paz e da estabilidade Os temas centrais da cúpula de Port of Spain na região. são a promoção da prosperidade humana, segurança energética e sustentabilidade Visita ao Brasil do Ministro das ambiental. Relações Exteriores do Peru, Conferência de Revisão de José Antonio García Belaúnde - Durban sobre Racismo Rio de Janeiro, 16 de abril de 2009 21/04/2009 15/04/2009 A convite do Ministro Celso Amorim, o O Brasil atribui grande importância à Ministro das Relações Exteriores do Peru, Conferência de Revisão de Durban sobre José Antonio García Belaunde, realizará visita Discriminação Racial, que ocorre em Genebra oficial ao Brasil no dia 16 de abril. entre 20 e 24 de abril. Para alcançar os Os Chanceleres manterão reunião de objetivos da Conferência, o engajamento de trabalho no Rio de Janeiro, para tratar de todos no diálogo internacional é crucial. temas de interesse bilateral e regional, em O Governo brasileiro tomou conhecimento, especial a preparação do encontro entre com particular preocupação, do discurso do os Presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Presidente iraniano que, entre outros aspectos, Alan García, previsto para o dia 28 de abril, diminui a importância de acontecimentos em Rio Branco. trágicos e historicamente comprovados, como No encontro, os Chanceleres buscarão o Holocausto. O Governo brasileiro considera identificar, ainda, oportunidades para a que manifestações dessa natureza prejudicam assinatura de novos acordos, com ênfase o clima de diálogo e entendimento necessário nas seguintes áreas: cooperação fronteiriça; ao tratamento internacional da questão da integração física e energética; controle discriminação. integrado de fronteira; comércio; cooperação O Governo brasileiro aproveitará a visita do em biocombustíveis; TV Digital; e cooperação Presidente Ahmadinejad, prevista para o dia em matéria de defesa. 6 de maio, para reiterar ao Governo iraniano Em 2008, o volume de comércio bilateral suas opiniões sobre esses temas.

224 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 Visita do Presidente Luiz Inácio Américas, da Cúpula do G-20 em Londres e o Lula da Silva à Argentina - impacto da crise na região. Buenos Aires, 23 de abril de 2009 22/04/2009 Visita do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Argentina - O Presidente Luiz Inácio Lula da Silva Buenos Aires, 22 e 23 de abril de fará visita de trabalho a Buenos Aires, no 2009 - Declaração Conjunta dia 23 de abril de 2009, para participar da 23/04/2009 Terceira Reunião Presidencial do Mecanismo de Integração e Coordenação Bilateral Brasil - Nos dias 22 e 23 de abril de 2009, a Argentina (MICBA). O Mecanismo abrange, convite da Presidenta da República Argentina, atualmente, mais de vinte projetos, dentre os Cristina Fernández de Kirchner, o Presidente quais o sistema de pagamentos em moedas da República Federativa do Brasil, Luiz Inácio locais, a cooperação BNDES - Banco de La Lula da Silva, realizou visita de trabalho à Nación - Banco de Inversión y Comercio Argentina. Na ocasião, ambos os Chefes de Exterior (BICE), o empreendimento hidrelétrico Estado passaram em revista o amplo espectro de Garabi e diversos projetos de cooperação da relação bilateral e avaliaram o estado de nas áreas de defesa, nuclear, espacial, saúde, implementação do Mecanismo de Integração transportes, ciência e tecnologia. e Coordenação Bilateral Brasil - Argentina. As Reuniões do Mecanismo de Integração O Presidente Luiz Inácio Lula da Silva e e Coordenação oferecem oportunidade para a Presidenta Cristina Fernández de Kirchner: que os Chefes de Estado passem em revista 1. Reafirmaram seu compromisso com o temas prioritários na agenda bilateral. O permanente aperfeiçoamento e fortalecimento envolvimento direto dos Presidentes confere da democracia representativa em seus países maior impulso político à execução dos projetos e com a necessidade de implementar modelos de cooperação. Trata-se de mecanismo de desenvolvimento baseados na produção inovador que o Brasil mantém apenas com de valor agregado, na geração de riqueza a Argentina e que reflete a densidade do e na criação de empregos como forma de relacionamento bilateral, bem como o firme superar as desigualdades sociais e regionais propósito de continuar fortalecendo a parceria persistentes. Expressaram sua convicção de estratégica entre os dois países. que a democracia, o pluralismo e o respeito aos Ainda no plano bilateral, os Presidentes direitos humanos e às liberdades individuais discutirão iniciativas que possam constituem fatores de progresso, prosperidade contribuir para superar a crise por meio do e paz social. aprofundamento da integração e dos laços 2. Expressaram sua firme convicção quanto econômicos e comerciais. à importância da promoção e da proteção dos O Presidente da República também deverá direitos humanos e reiteraram o compromisso conversar com a Presidenta Cristina Kirchner de seus Governos e de suas populações com sobre temas da agenda regional e mundial, a defesa dos princípios de universalidade, inclusive as perspectivas da integração sul- indivisibilidade e interdependência dos americana, os resultados da Cúpula das direitos humanos, tanto dos direitos civis e

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 225 políticos quanto dos econômicos, sociais e das disparidades dentro de nossas sociedades. culturais. 8. Respaldaram a realização de programas 3. Reiteraram a determinação de continuar de educação, capacitação e treinamento, assim o trabalho conjunto em prol de uma forte como a ampliação das redes de seguridade agenda social e produtiva, com o objetivo de social para aqueles que tenham perdido seus estabelecer ações concretas para combater a empregos e que encontram dificuldades de fome e a pobreza. Concordaram em continuar inserção no mercado de trabalho. trabalhando em projetos nacionais de 9. Coincidiram em destacar que as causas desenvolvimento convergente, fomentando a que levaram à crise indicam a importância promoção da justiça, da inclusão social e do de maior regulação dos mercados financeiros trabalho digno. e que os países desenvolvidos causadores 4. Manifestaram seu apoio ao sistema da crise devem adotar todas as medidas multilateral de comércio e à rodada Doha, a fim necessárias para reaquecer suas economias. de alcançar uma maior integração dos países em 10. Constataram que a crise econômica desenvolvimento na economia internacional. e financeira está dando lugar a uma forte Com este propósito, concordaram que é retração de crédito, que afeta gravemente preciso assegurar que se avance na eliminação o financiamento ao comércio exterior. A da discriminação que sofre a agricultura e na conseqüência, além da restrição de crédito, aplicação de flexibilidades adequadas para que é o aumento da taxa de juros nas economias os países em desenvolvimento, especialmente em desenvolvimento, o que desestimula os os de nossa região, possam levar adiante os investimentos e o consumo. objetivos de diversificação de suas estruturas 11. Por esse motivo, respaldaram a produtivas. aplicação de medidas de capitalização e 5. Ressaltaram seu apoio aos princípios de aumento dos recursos das instituições que guiam as negociações, em particular a financeiras internacionais e a emissão de reciprocidade menos que plena e o tratamento novos Direitos Especiais de Saque do FMI especial e mais favorável para os países em recentemente acordadas durante Cúpula do desenvolvimento. G-20. Essas iniciativas devem estar ligadas 6. Reiteraram a prioridade de defender e à eliminação e à redução significativa das promover o emprego. Com esse propósito, condicionalidades. destacaram as políticas nacionais que ambos 12. Paralelamente, apoiaram a reestruturação os países estão conduzindo para gerar postos do FMI e do Banco Mundial, de modo a de trabalho e os esforços de coordenação aumentar significativamente a participação macroeconômica internacional destinados dos países em desenvolvimento no capital e a conter os efeitos da crise e a promover a na tomada de decisões. Apoiaram, ademais, recuperação econômica. o monitoramento mais efetivo das economias 7. Reafirmaram a importância da dos países avançados por parte do FMI. capitalização e do aumento de empréstimos a 13. Apoiaram a regulação das agências taxas de juros reduzidas do Banco Mundial e do de classificação de risco, assegurando sua Banco Interamericano de Desenvolvimento para neutralidade e independência das instituições promover obras de infraestrutura econômica financeiras e a eliminação dos paraísos e social, que são importantes geradoras de fiscais, a fim de que todos os países se emprego e que contribuem para a diminuição atenham a normas adequadas de transparência

226 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 internacional e de controle impositivo. de nossos países torna urgentes os esforços 14. Destacaram que a reforma do setor bilaterais e regionais de integração dos sistemas bancário e das demais instituições financeiras energéticos. Concordaram, igualmente, que deve assegurar que sejam cumpridos requisitos o desenvolvimento das fontes renováveis de rígidos de solvência, de adequação de capital energia, incluindo os biocombustíveis, a energia de cada instituição ao risco potencial, solar, a energia eólica, a biomassa, o hidrogênio, inclusive aquele derivado de mudanças no entre outras, constitui uma grande oportunidade ciclo econômico, de transparência dos pacotes para o desenvolvimento tecnológico, industrial, e instrumentos relativos a crédito e a bolsas de econômico e social, com efeitos positivos na valores, e de controle e supervisão permanente redução das emissões de gases que contribuem por autoridades governamentais. para as mudanças climáticas. 15. Congratularam-se pelas decisões 21. Reafirmaram sua disposição em adotadas na Cúpula do G-20 em Londres fortalecer a cooperação em matéria antártica e enfatizaram a importância de que essas e de celebrar consultas referentes às reuniões decisões sejam confirmadas por meio de dos foros antárticos. políticas pertinentes em âmbito nacional. 22. Convencidos da necessidade de 16. Manifestaram seu mais firme respaldo ao harmonizar esforços, tanto no âmbito bilateral multilateralismo e aos princípios estabelecidos como no seio dos organismos internacionais, na Carta das Nações Unidas, e enfatizaram regionais e do MERCOSUL especializados que o respeito ao direito internacional é uma na matéria, para enfrentar, com êxito, o condição fundamental para assegurar a paz e problema mundial das drogas, manifestaram a segurança internacionais. a firme decisão de seus Governos de aumentar 17. Destacaram a necessidade de trabalhar a cooperação contra o tráfico de drogas e pela reforma do Conselho de Segurança delitos relacionados, a prevenção contra seu das Nações Unidas, a fim de torná-lo uso indevido e a reabilitação de dependentes, mais eficiente, democrático, transparente, no marco dos princípios de responsabilidade representativo e responsável por suas ações compartilhada, integralidade e respeito aos perante a comunidade internacional. direitos humanos. 18. Manifestaram seu interesse para 23. Coincidiram em que a consolidação que, no âmbito da Organização dos Estados do MERCOSUL como principal âmbito Americanos, se avance na definição de um de integração política, social, econômica e plano de trabalho para combater, sancionar e comercial da região é um elemento chave para erradicar o tráfico de pessoas. enfrentar a atual crise econômica internacional. 19. Reafirmaram seu compromisso com Nesse sentido, ressaltaram a importância de o desenvolvimento sustentável e sua decisão coordenar ações no plano regional no marco de contribuir para melhorar a resposta da Política Comercial Comum e de aprofundar internacional frente às mudanças climáticas. a integração comercial. Ressaltaram a importância do princípio 24. Saudaram a continuidade do processo de responsabilidades comuns, porém de negociações externas do MERCOSUL, diferenciadas, entre os países desenvolvidos e especialmente o progresso das negociações em desenvolvimento. Sul-Sul. Ademais, reiteraram sua disposição 20. Concordaram que o aumento da demanda em retomar as negociações do Acordo de por energia para permitir o desenvolvimento Associação Birregional MERCOSUL -

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 227 União Europeia, com o objetivo de alcançar continue produzindo resultados concretos e um resultado equilibrado e mutuamente tangíveis, assim como benefícios mútuos, satisfatório. nas diversas áreas que compõem as relações 25. Reiteraram seu compromisso com o bilaterais, a fim de que as altas aspirações aprofundamento do MERCOSUL em sua de desenvolvimento e prosperidade de suas dimensão política e social, em particular respectivas sociedades encontrem nesta parceria mediante a ativação do Instituto Social do sua mais legítima expressão política e melhor MERCOSUL e da Comissão de Coordenação tradução prática, em prol do crescimento e do de Ministros de Assuntos Sociais do desenvolvimento de suas populações. MERCOSUL. 31. Expressaram seu contentamento com 26. Nesse sentido, reafirmaram sua disposição os excelentes resultados obtidos durante em impulsionar os trabalhos relativos ao Plano a “Semana Argentina em São Paulo”, que Estratégico de Ação Social do MERCOSUL, ocorreu entre os dias 16 e 20 de março do assim como em adotar programas e medidas corrente ano. A delegação empresarial e específicas no âmbito social que atenuem os institucional argentina, composta por quase efeitos da atual conjuntura de crise financeira quinhentos membros, manteve um denso internacional na região. programa de entrevistas com suas contrapartes 27. Recordaram que os múltiplos acordos, brasileiras, organizado conjuntamente pela normas e entendimentos já implementados Chancelaria argentina e pela Federação das entre os países do MERCOSUL - nas Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP). áreas política, econômica, social, cultural, O programa de atividades contemplou educacional, migratória e de segurança - são a realização do Seminário Econômico ponto de partida fundamental de qualquer “Oportunidades de Comércio, Negócios e concertação política no âmbito subregional. Investimentos entre Brasil e Argentina”, com 28. Reconheceram a importância da a participação de ambos os Chefes de Estado consolidação da UNASUL, que deve se e de grande número de altos funcionários e transformar em um fator de unidade e de empresários dos dois países, como também cooperação na América do Sul, criando outros eventos de caráter comercial e cultural sinergias positivas em áreas como o de singular relevância. desenvolvimento da infraestrutura física 32. Destacaram os avanços posteriores à regional, a potencialização de políticas sociais reunião realizada em 13 de abril de 2009 em na região e a cooperação em matéria de defesa. São José dos Campos, Estado de São Paulo, que 29. Manifestaram seu interesse frente mantiveram o Ministro de Planejamento Federal, ao problema do seqüestro e da restituição Investimento Público e Serviços, o Secretário de internacional de menores. Nesse sentido, Transporte, Embaixadores e outros funcionários ressaltaram a existência de acordos multilaterais, com a empresa Embraer e Aerolíneas Argentinas, regionais e bilaterais sobre a matéria assumidos em que chegaram a um entendimento para a pelas Partes, e se comprometeram a estimular compra de vinte aviões Embraer 190 AR, que sua difusão e observância entre as autoridades contará com linha de financiamento do Banco de aplicação federais, estaduais e municipais Nacional de Desenvolvimento Econômico e de ambas as Partes. Social (BNDES). 30. Reafirmaram a importância de que a 33. Acordaram realizar a Quarta Reunião parceria estratégica entre Brasil e Argentina Presidencial do Mecanismo de Integração e

228 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 Coordenação Bilateral Brasil - Argentina no para enfrentar coordenadamente os desafios dia 18 de novembro de 2009, em Brasília. trazidos pela crise mundial e minimizar seus 34. Com relação aos avanços dos projetos impactos. que compõem o Mecanismo de Integração e Instruir que as negociações entre os Coordenação Bilateral Brasil - Argentina e respectivos setores privados que constituem com o firme compromisso de avançar com o comércio bilateral sejam impulsionadas, celeridade na integração, o Presidente Luiz a fim de atender os interesses daqueles mais Inácio Lula da Silva e a Presidenta Cristina sensíveis, sem perder de vista a necessidade Fernández de Kirchner adotaram as seguintes de aprofundar a integração produtiva e o decisões: comércio entre os dois países e no âmbito A. SUBCOMISSÃO DE ECONOMIA, do MERCOSUL, incentivando as empresas PRODUÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA a investir em inovação e em aumento de Projeto 1.a. Coordenação Macroeconômica competitividade. Ressaltar o acordo de trabalhar Projeto 1.c. Consultas sobre Temas da conjuntamente no acompanhamento das ações OMC de curto prazo implementadas por ambos os Ressaltar a necessidade de envidar países com o objetivo de neutralizar os efeitos os melhores esforços a fim de continuar da crise internacional. colaborando conjuntamente no âmbito das Instruir que, no curto prazo, se aprofunde negociações comerciais multilaterais que se o trabalho de monitoramento conjunto do levam a cabo na Organização Mundial do impacto da crise internacional por meio da Comércio. formalização de um canal de comunicação Projeto 2.a. Sistema de Pagamento do bilateral para o acompanhamento das medidas Comércio Bilateral em Moedas Locais (SML) a serem implementadas no atual contexto Destacar a entrada em vigor do Sistema de de crise, propiciando sua coordenação; e pagamento do comércio bilateral em moedas que, no médio prazo, se avance firmemente locais (SML), de 3 de outubro de 2008, e no caminho que levará à progressiva ressaltar que este sistema cumpre os objetivos coordenação macroeconômica bilateral, de aprofundar a integração financeira e de fortalecendo os sistemas de informação estimular o comércio bilateral das pequenas e mútua e o acompanhamento das políticas médias empresas. nacionais, envolvendo aspectos tais como Instruir os organismos com competência questões tributárias, produção industrial, em comércio exterior dos respectivos integração produtiva, regime de investimentos Governos a tomarem as medidas necessárias e financiamento. para facilitar a utilização do SML no marco Projeto 1.b. Consultas sobre comércio de suas respectivas competências, de modo a bilateral e integração ajudar a incentivar o uso do mecanismo. Manifestar sua satisfação pelos encontros Instruir, ademais, que particularmente mantidos pelo Grupo de Alto Nível, aqueles encarregados da promoção do coordenados pelas Chancelarias, para comércio exterior adotem medidas para dar analisar o impacto da crise econômica e ampla difusão ao Sistema e estudar possíveis financeira mundial nos fluxos de comércio expansões do mesmo para outras operações. e investimento bilaterais e regionais, em Destacar que o Artigo 11 do Memorando que se consideraram diversas iniciativas de Entendimento entre o Ministério de Minas

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 229 e Energia da República Federativa do Brasil gás, produção de medicamentos e indústria e o Ministério de Planejamento Federal, alimentícia. Investimento Público e Serviços da República Instruir aos Bancos que cumpram com os Argentina sobre Intercâmbio de Energia prazos acordados pela Comissão da Quarta Elétrica, firmado em 30 de março de 2009, Cláusula do Acordo de Cooperação, e que se introduz o sistema bilateral de pagamentos em avance nos projetos que sejam considerados moedas locais para toda operação de transação prioritários para ambos os países. econômica originada em seu âmbito. Instruir os Bancos a que, de maneira Projeto 2.b. Projeto sobre Sistema Bilateral imediata, realizem as seguintes ações: de Pagamento em Moeda Local de Benefícios estudar junto aos respectivos Bancos Previdenciários Centrais a possibilidade de utilização de Instruir aos Bancos Centrais, à moedas que reduzam o risco cambial (Sistema Administración Nacional de la Seguridad de Moedas Locais); Social, da Argentina, e ao Instituto Nacional colocar-se à disposição de suas respectivas de Seguridade Social (INSS), do Brasil, que Chancelarias, a fim de que os promotores em um prazo de quatro meses alcancem um dos projetos se ponham em contato com as acordo de sistema bilateral de pagamento entidades financeiras para avaliar a viabilidade de benefícios previdenciários em moeda do financiamento dos mesmos no âmbito do local. Este acordo terá por objetivo que seus Acordo; beneficiários recebam suas aposentadorias enfatizar as atividades de difusão no setor e pensões sem pagar tarifas bancárias nem empresarial de seus respectivos países, com perder recursos pela conversão cambial de o objetivo de revelar eventuais iniciativas de moedas (pesos/dólar/real e vice-versa). integração bilateral de forma coordenada; Cronograma estudar a possibilidade de coordenar Junho de 2009: reunião de análise de suas atividades com o Fundo de Garantias proposta do acordo. recentemente criado pelo MERCOSUL, Agosto de 2009: assinatura do Acordo de com vistas a buscar algum tipo de sinergia Sistema Bilateral de Pagamento em Moeda com o mesmo. Local de Benefícios Previdenciários Com o objetivo de identificar projetos Projeto 3. Cooperação BNDES - Banco de relativos ao fornecimento de equipamento la Nación Argentina - BICE de petróleo e gás por parte das empresas Destacar os avanços dos Bancos no marco argentinas à Petrobrás, convidar para do Convênio de Cooperação entre o BNDES, a próxima reunião da Comissão o o Banco de la Nación Argentina e o Banco de representante da ABDI responsável pela Inversión y Comercio Exterior (BICE) no que matéria no Brasil. diz respeito à criação e à implementação de Cronograma políticas creditícias para o desenvolvimento Reunião da Comissão dentro dos próximos e a consolidação de cadeias de produção 60 dias. integradas bilateralmente, e pelo acordo das Projeto 4. Cooperação Espacial: Satélite instituições em trabalhar na identificação de Argentino-Brasileiro de Observação dos projetos de integração dentro das seguintes Oceanos atividades: aeropartes, indústria naval, Confirmar a realização do projeto SABIA- equipamentos para a produção de petróleo e Mar para a observação costeira e oceânica, que

230 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 terá impacto positivo em áreas como proteção tecnológica espacial entre empresas de ambos do meio-ambiente, prevenção de desastres os países. ambientais, manejo costeiro, recursos hídricos, Projeto 5. Centro Binacional de oceanografia, uso sustentável dos recursos do Nanotecnologia (CBAN) mar, meteorologia e mudanças climáticas. Destacar os importantes avanços alcançados Convidar as indústrias de ambos os países pelo Centro Binacional de Nanotecnologia, que participem no marco do Programa de pelo cumprimento, em sua totalidade, do Cooperação para o desenvolvimento conjunto plano de trabalho apresentado para 2008. de tecnologias avançadas de aplicação Ressaltar o lançamento da primeira espacial assinado entre AEB e CONAE, convocatória para o financiamento de três aplicando a cláusula de reciprocidade adotada projetos conjuntos no marco do acordo entre nos acordos de cooperação espacial aprovados a Agência Nacional de Promoção Científica e pelos Congressos de ambos os países. Tecnológica (ANPCyT) e o Conselho Nacional Instruir que, durante 2009, seja estudado de Desenvolvimento Científico e Tecnológico um programa de cooperação e inovação (CNPq), que serão lançados em 2009. tecnológica espacial entre empresas de Estimular as atividades conjuntas no setor, ambos os países. com ênfase na formação de recursos humanos, Destacar o comum interesse em no desenvolvimento científico e no avanço desenvolver de forma conjunta uma câmara industrial, além da efetiva realização do plano de infravermelho térmico de nova tecnologia de trabalho de 2009: para a provisão dos instrumentos da carga Cronograma 2009 útil da missão do satélite SABIA-Mar. Realização de oito escolas binacionais, Reconhecer o satisfatório avanço nas quatro na Argentina e quatro no Brasil. atuais missões conjuntas do satélite: pelo Análise de Convocatória de Projetos lado argentino, o SAC-D/Aquarius para Laboratório-Empresa 2+2 (uma empresa o estudo dos oceanos, que conta com e um laboratório argentino, um empresa a participação do Brasil; e, pelo lado e um laboratório brasileiro) nas áreas brasileiro, a recepção argentina dos dados previamente acordadas. da missão do satélite CBERS. 2° semestre: workshop em Buenos Aires. Instruir que se dê fomento à ativa Cronograma 2010 participação dos setores industriais e de Lançamento da segunda convocatória investigação de ambos os países nos projetos de projetos CNPq-ANPCyT no ano 2010 comuns. (segundo os termos do acordo CNPq- Ressaltar a urgente necessidade de ANPCyT). identificar as fontes de financiamento para Projeto 6. Programa Bilateral de Energias a efetiva materialização do projeto SABIA- Novas e Renováveis Mar, cuja estimativa preliminar de custos será Expressar sua satisfação pela definição de apresentada em maio de 2009. um Programa Bilateral de Energias Novas e Cronograma Renováveis, que inclui a capacitação de recursos Maio de 2009: conclusão da estimativa humanos em nível de pós-graduação, projetos preliminar de custos do projeto SABIA-Mar. de pesquisa, desenvolvimento, inovação e Dezembro de 2009: conclusão dos estudos normas sobre: biocombustíveis, energia solar, de um programa de cooperação e de inovação energia eólica e de pequenos aproveitamentos

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 231 hidráulicos, assim como em novas tecnologias potencialidades de produção conjunta a associadas à emergente economia do hidrogênio longo prazo. e do uso racional de energia. Instruir que se criem comissões de trabalho Instruir aos Ministérios de Ciência e em nível governamental que, em consulta com Tecnologia do Brasil e de Ciência, Tecnologia o setor privado, deverão apresentar propostas e Inovação Produtiva da Argentina que concretas que permitam superar os obstáculos continuem com os esforços para estimular identificados pelas Partes. as ações de interesse comum definidas pelo Instruir os Pontos Focais a elaborarem, Grupo de Coordenação Bilateral. em um prazo de seis meses, um projeto de Projeto 7. TV Digital acordo bilateral entre ambos os Governos Expressar sua satisfação pelos encontros que permita implementar o Acordo mantidos pelos responsáveis de ambos os Quadro de Reciprocidade, Cooperação e países, nos quais intercambiaram informações Complementaridade firmado pela FINA e técnicas e institucionais, com o objetivo de pelo SINAVAL. avaliar os possíveis aspectos de cooperação Cronograma no desenvolvimento e implementação da Julho de 2009: criação de comissões de televisão terrestre digital. trabalho em nível governamental. Instruir, ademais, a que continuem Novembro de 2009: apresentação um projeto nesse trabalho com o objetivo de explorar de acordo bilateral que permita implementar o oportunidades de uma sociedade mutuamente Acordo Quadro de Reciprocidade, Cooperação vantajosa no que diz respeito a investimentos, e Complementaridade firmado pela FINA e produção de equipamentos, fortalecimento pelo SINAVAL. da integração produtiva, desenvolvimento B. SUBCOMISSÃO DE ENERGIA, técnico, fomento de pesquisas e cooperação TRANSPORTES E INFRAESTRUTURA no campo do desenvolvimento de “software”, Projeto 9. Cooperação Nuclear contemplando, ademais, aplicações para a Manifestar satisfação pela elaboração dos inclusão digital, entre outras possibilidades detalhes de vinte e oito projetos de integração associadas à área de televisão terrestre digital. na área nuclear, sete dos quais correspondem Projeto 8. Indústria Naval a reatores nucleares e doze ao ciclo de Estimular as conversações entre combustível, e nesse sentido, determinar à representantes dos setores público e COBEN que apresente relatório na próxima privado visando a implementar o Acordo reunião do Mecanismo de Integração e Marco de Reciprocidade, Cooperação e Coordenação Bilateral sobre o progresso Complementariedade firmado em julho de na implementação desses projetos e sobre a 2008 pelo Sindicato Nacional da Indústria dotação orçamentária final. de Construção e Reparação Naval e Tomar nota dos progressos substantivos Offshore (SINAVAL) e pela Federación registrados no Grupo de Trabalho sobre reatores de la Industria Naval Argentina (FINA). e resíduos, em particular no que se refere ao Por este Acordo, ambas as associações projeto de criação de uma Empresa Binacional programaram uma agenda de visitas às para o projeto, a engenharia, a construção e a instalações dos estaleiros de cada país, ativação de Reatores Nucleares de potência. com o objetivo de avaliar as capacidades Acolher a identificação, pela COBEN, de produtivas instaladas e de averiguar as fontes de financiamento para a implementação

232 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 inicial dos projetos de integração e recordar licitações de estudos de viabilidade e impacto a necessidade de pronta disponibilidade de ambiental do aproveitamento hidrelétrico de recursos integrais para os mesmos. Garabi, a fim de que o chamado de licitação Tomar nota da criação, no âmbito das se realize um mês depois da entrega dos conversações relativas à Empresa Binacional termos de referência, produto dos estudos de de Enriquecimento de Urânio (EBEN), do inventário em curso. Grupo de Trabalho (GT-EBEN) como fórum Destacar o acordo alcançado, em 31 para a identificação do modelo a ser seguido de março passado, na V Reunião da CTM pela Empresa Binacional em suas vertentes realizada em Buenos Aires, de efetuar com técnica, jurídica e organizacional, e ressaltar a a maior simultaneidade possível os estudos importância de que as discussões sobre o tema de viabilidade de Garabi e os de um segundo abordem, além do enriquecimento, as demais aproveitamento hidrelétrico, mediante a etapas do ciclo do combustível nuclear, assim celebração de um segundo convênio de como a área de reatores. cooperação entre EBISA e ELETROBRAS. Tomar nota das iniciativas de harmonização Destacar a configuração de um Grupo de das normas e da legislação vigente (oito Trabalho Ambiental com vistas a orientar projetos), assim como dos programas de os estudos e as solicitações de habilitações educação e treinamento na área nuclear, que ambientais de acordo com as normas facilitarão o intercâmbio de profissionais, ambientais de ambos os países. estudantes, produtos e serviços; apoiar Instruir que se dê continuidade, no âmbito as iniciativas e instruir as autoridades da Comissão Técnica Mista, aos estudos de competentes no tema que tomem as medidas desenvolvimento das redes de transmissão necessárias para a implementação das de energia na região, e aos de integração e propostas acordadas. intercâmbio de energia dos aproveitamentos no Cronograma longo prazo. Ademais, prosseguir com a análise Julho de 2009: reunião COBEN - Rio de dos comunicados das respectivas centrais, sua Janeiro. comercialização e adaptação às modalidades dos Agosto de 2009: informar sobre o progresso sistemas elétricos de ambos os países. na implementação dos projetos citados e sobre Determinar que a CTM, por meio do seu a dotação orçamentária final. Grupo de Trabalho sobre Marco Regulatório Projeto 10. Construção da Hidrelétrica e Institucional, continue com a análise do de Garabi e outros Empreendimentos modelo institucional e das necessidades de Hidrelétricos complementação do marco jurídico do Tratado Destacar o chamado de licitação por parte para o Aproveitamento dos Recursos Hídricos da EBISA e da ELETROBRAS, a adjudicação Compartilhados dos Trechos Limítrofes do dos estudos de inventário dos trechos Rio Uruguai e de seu Afluente, o Rio Peperi- limítrofes do Rio Uruguai e a assinatura do Guaçu, firmado em 17 de maio de 1980. contrato, em 11 de março de 2009, com o Cronograma consórcio adjudicatário argentino-brasileiro, Julho/Agosto de 2009: finalização do ressaltando que estes serão realizados em um relatório de estudos de inventário da Central prazo total de dezesseis meses. Hidrelétrica de Garabi e chamado de licitação Instruir que nos próximos seis meses se para estudos de viabilidade e impacto elabore o edital de bases e condições para as ambiental.

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 233 Projeto 11. Interconexão Elétrica Brasil - CAMMESA e ONS, com vistas a elaborar um Argentina acordo plurianual que introduza claramente a Destacar a assinatura, entre o Ministro do modalidade “de acumulação”. Planejamento e do Investimento Público da Cronograma República Argentina e do Ministro de Minas Dezembro de 2009: apresentação de estudos e Energia da República Federativa do Brasil, de viabilidade de inclusão da modalidade em 30 de março de 2009, em Brasília, do “Energia de Acumulação”. Memorando de Entendimento que responde a Projeto 12. Novas Pontes sobre o Rio um mecanismo de compra e intercâmbio de Uruguai energia entre Brasil e Argentina, já utilizado Tomar nota que ambas as delegações em anos anteriores: fixaram como prazo do chamado de licitação a) modalidade sem devolução interruptível: do estudo de viabilidade para otimizar a a Argentina adquirirá energia gerada por usinas conectividade entre os dois países o dia 27 de térmicas cuja produção não seja necessária à maio de 2009. provisão do mercado brasileiro e/ou energia Instruir que esse prazo seja respeitado, e hidrelétrica vertida. Este fornecimento será que se proceda com celeridade no processo realizado durante os meses de março a dezembro. de licitação para que, a partir da adjudicação b) modalidade com devolução interruptível: dos estudos e, por conseguinte, de um prazo a Argentina receberá energia de origem de oito meses para a execução dos mesmos, se hidráulica, durante o período de maio a agosto obtenha um relatório final. de 2009, não utilizada no mercado elétrico Cronograma brasileiro, devendo devolvê-la ao Brasil 27 de maio de 2009: chamado de licitação durante o período de setembro a novembro. dos estudos. Destacar que o Memorando alcançado Projeto 13. Ponte Uruguaiana - Paso de introduz em seu Artigo 11, para toda operação Los Libres de transação econômica originada em seu Destacar a realização dos estudos âmbito, o sistema de pagamentos do comércio subaquáticos e de ensaio de cargas realizados bilateral em moedas locais, implementado por pela Argentina, que servirão de base para meio do “Convênio de Sistema de Pagamentos a elaboração, por parte do Departamento em Moeda Local”, assinado entre a República Nacional de Infraestrutura de Transportes Argentina e a República Federativa do Brasil (DNIT), do Brasil, do projeto e de em 8 de setembro de 2008. especificações técnicas para a recuperação Ressaltar o compromisso das partes de e reforço da Ponte, o que será realizado em estudar, ao longo de 2009, a viabilidade coordenação com a Dirección Nacional de da inclusão da modalidade “Energia de Vialidad, da Argentina. Acumulação”, avaliando possíveis impactos e Instruir às delegações que confeccionem, aspectos regulatórios com o objetivo de adotar durante 2009, os respectivos editais de essa alternativa nos próximos Memorandos licitação para a execução das obras de de Entendimento, que prevê que todas essas recuperação da Ponte. operações sejam realizadas através das Tomar nota de que será postergada a conversoras de Garabi e de Uruguaiana. finalização do Controle Terminal de Cargas Destacar o acordo de constituir um grupo Paso de Los Libres (COTECAR) para o final de trabalho bilateral no qual deverão participar deste ano, devido ao fato de que o mesmo

234 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 sofreu novas modificações arquitetônicas, e Outubro de 2009: entrega de avaliação do de que, no Brasil, se encontram em execução estado geral da Ponte e das obras realizadas as obras de melhorias na BR-290/RS. em ambos os lados da mesma. Instruir aos organismos de controle, com Projeto 15. Integração Ferroviária atenção à deficiência de pessoal destes e de Ressaltar os avanços realizados na reunião outros postos de fronteira, que em um prazo sobre Integração Ferroviária realizada em de três meses apresentem suas necessidades Assunção em 10 de dezembro de 2008, no de pessoal para garantir um nível ótimo de desenvolvimento do corredor ferroviário serviços, e para que continuem os contatos Atlântico - Pacífico através de Chile, bilaterais com vistas ao aperfeiçoamento do Argentina, Paraguai e Brasil. controle integrado. Instruir que se faça uma proposta de corredor Cronograma ferroviário de bitola métrica e um levantamento Julho de 2009: apresentação das físico da infraestrutura ferroviária ao longo necessidades de pessoal para garantir um do mencionado corredor, e que se proceda à nível ótimo de serviços. designação dos representantes técnicos de Setembro de 2009: finalização do projeto ambos os países conforme o acordado na e especificações técnicas para a recuperação e reunião de 10 de dezembro de 2008. reforço da Ponte. Cronograma Outubro de 2009: licitação das obras. Julho de 2009: IV Reunião de Integração Projeto 14. Ponte sobre o Rio Peperi-Guaçu Ferroviária entre Paraguai, Argentina, Brasil e Destacar o Convênio entre a Dirección Chile, no Rio de Janeiro. Nacional de Vialidad da Argentina e a Projeto 16. Transporte Ferroviário de Dirección de Vialidad Provincial da Província Passageiros entre Uruguaiana e Paso de los de Misiones para a realização de um projeto Libres de traçado desde a localidade de San Pedro Instruir que as autoridades competentes na até a Ponte pela estrada provincial de número matéria realizem uma visita ao local durante o 27. Por este convênio, a Dirección Nacional primeiro semestre do ano corrente, e elaborem de Vialidad financiará a pavimentação dos 45 um relatório pormenorizado das condições km desse trecho e a execução de duas pontes de infraestrutura em ambos os países e sobre sobre os rios Garibaldi e Yabotí. a possibilidade de implementar os serviços Destacar as obras de pavimentação ferroviários de passageiros entre as localidades realizadas pelo Brasil na rodovia BR-282/SC de Uruguaiana e Paso de Los Libres, assim até a localidade de Paraíso. como uma proposta de plano de trabalho. Instruir a Dirección Nacional de Vialidad e Cronograma o DNIT que coordenem uma visita conjunta à 1° semestre de 2009: visita à área de Ponte com o objetivo de avaliar seu estado e fronteira. que apresentem opções de eventuais medidas 2° semestre de 2009: elaboração conjunta de ou obras necessárias para a efetiva habilitação um relatório pormenorizado das condições de internacional da Ponte e do passo fronteiriço. infraestrutura e proposta de plano de trabalho. Cronograma C. SUBCOMISSÃO DE DEFESA E Maio de 2009: conclusão da pavimentação na SEGURANÇA rodovia BR-282/SC até a localidade de Paraíso. Projeto 17. Grupo de Trabalho Conjunto de Agosto de 2009: visita conjunta à Ponte. Defesa

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 235 Cooperação Industrial Aeronáutica Registrar a isenção do pagamento de direitos Destacar a cooperação entre a indústria de importação e exportação e a autorização aeronáutica brasileira, a fábrica de aviões de para a livre circulação dos insumos e produtos Córdoba e o Ministério da Defesa argentino, envolvidos no projeto “Gaúcho”, concedida a saber: pela República Argentina. a) a visita de 26 de setembro de 2008 de Ressaltar a conclusão, pelo Exército uma equipe de engenheiros brasileiros à Argentino, de novo protótipo do veículo leve fábrica de aviões de Córdoba, de que surgiu aerotransportado “Gaúcho” e o início das um plano e um cronograma de atividades para provas do protótipo pelo Exército Brasileiro. a preparação da unidade industrial argentina Instruir a ambas as Forças a desenvolver para a fabricação de aeropartes, adequação mecanismo que possibilite a compensação de processos, instalações, equipamento e mútua dos desembolsos efetuados para que capacitação necessária para o pessoal; os custos de pesquisa e desenvolvimentos dos b) a assinatura do acordo de projetos sejam divididos. confidencialidade entre as Partes argentina Destacar a decisão de utilização do Sistema e brasileira para a transmissão de normas de Pagamentos em Moeda Local para as técnicas por parte da indústria aeronáutica compensações financeiras necessárias. brasileira à fábrica de aviões de Córdoba, cujo Instar os Ministérios de Defesa a manter conhecimento é necessário para a fabricação o ritmo dos trabalhos e a continuar a de peças e componentes identificados como identificar áreas de cooperação que permitam objetos potenciais de cooperação industrial. a integração do desenvolvimento de insumos, Instruir aos representantes de ambos os componentes e equipamentos de defesa. Governos ante os organismos do MERCOSUL D. SUBCOMISSÃO DE SAÚDE, que avancem rumo a um Regime Comum de EDUCAÇÃO, DESENVOLVIMENTO Importação de Bens Destinados à Indústria SOCIAL, CULTURA E CIRCULAÇÃO DE Aeronáutica que facilite a importação PESSOAS de insumos para a fabricação de peças Projeto 18. Acordo sobre Igualdade de aeronáuticas e que ajude a superar os Direitos Civis e Políticos e Grupo de Alto problemas de competitividade. Nível para a Livre Circulação de Pessoas Tomar nota das reuniões do Grupo de A) Projeto de Acordo sobre Igualdade de Trabalho Conjunto em Matéria de Defesa Direitos Civis e Políticos (GTC), em 6 e 7 de novembro de 2008, em Tomar nota de que a legislação argentina Buenos Aires, e em 13 de abril de 2009, no outorga aos estrangeiros residentes no país Rio de Janeiro, quando foram revisados igualdade de direitos civis e o direito a votar o andamento dos projetos conjuntos e a ser eleito em várias jurisdições municipais supervisionados pelos Subgrupos Naval, e provinciais. Aéreo e Terrestre e da criação da Subcomissão Tomar nota que, no Brasil, se encontra em de Defesa que coordenará projetos que sejam andamento uma proposta de modificação à do interesse de mais de uma Força. Constituição Federal que outorgaria igualdade Ratificar a decisão do GTC de que as de direitos civis e políticos aos cidadãos do Subcomissões lhe elevem apenas os problemas MERCOSUL. que não tenham possibilidade de solucionar Instruir que a contraparte seja informada no nível técnico/operacional. dos avanços nesse sentido e que, aprovada a

236 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 emenda mencionada, se apresente um projeto projeto de desenvolvimento de Substâncias de acordo bilateral para sua análise. Químicas de Referência (SQRs) de ingredientes B) Controle Integrado Fronteiriço ativos farmacêuticos sintetizados na região: Instruir que se assine um Acordo Protocolo de Desenvolvimento de SQRs, Operativo de implementação do Sistema de Modelos de Certificação, Monitoramento para Controle Migratório Integrado com Registros estabelecer o período de vida útil dos SQRs e Compartilhados, a ser aplicado inicialmente Modelo de Informação Técnica. nos postos de fronteira Uruguaiana - Paso de Instruir que, como resultado desses acordos, Los Libres; Foz do Iguaçu - Puerto Iguazú. se efetue a operatividade do desenvolvimento Instruir os órgãos intervenientes que de SQRs, conforme o seguinte cronograma: reforcem o pessoal de controle que trabalha a) no primeiro semestre de 2009, serão nesses postos de fronteira e que se realizem as desenvolvidas SQRs de interesse sanitário: a obras de infraestrutura e de recondicionamento, Didanosina por parte da ANVISA (Brasil) e o conforme as necessidades observadas pelo Triconazol por parte da ANMAT (Argentina); Grupo de Alto Nível. b) no segundo semestre de 2009, serão C) Mecanismo de Cooperação Jurídica definidas, no mínimo, outras quatro novas QS Rs. Internacional em Matéria Penal Ressaltar a decisão de ambos os organismos Instruir que, com relação à ordem conjunta de reconhecer as SQRs desenvolvidas por de captura, se continue avançando no âmbito estes, de maneira que os dois países contariam bilateral, com vistas à aproximação de com aproximadamente cento e vinte SQRs posições e à superação dos diferentes marcos disponíveis para venda. normativos em ambos os países. Cronograma Instruir, quanto à criação de equipes 1° semestre de 2009: desenvolvimento de conjuntas de investigação, que se avance sobre SQRs de interesse sanitário: a Didanosina por a proposta argentina de trabalho bilateral para o parte da ANVISA (Brasil) e o Triconazol por acordo quadro e formulários que contemplem parte da ANMAT (Argentina). os sistemas de informática, com a finalidade 2° semestre de 2009: definição de outras de agilizar a cooperação jurídica na matéria. novas SQRs. Projeto 19. Cooperação em Insumos O Presidente Luiz Inácio Lula da Silva Estratégicos para a Saúde agradeceu, em nome próprio e de sua comitiva, as Instruir os Ministros de Saúde de ambos atenções e manifestações de apreço e de amizade os países a avançarem na definição da recebidas do Governo e do Povo argentino possibilidade de constituir uma entidade durante sua visita à República Argentina. binacional em matéria de insumos estratégicos Assinada na Cidade de Buenos Aires, em e explorem toda possibilidade de cooperação 23 de abril de 2009. direta entre empresas públicas e privadas dos dois países para a produção e desenvolvimento Adoção pela República do Peru de produtos de interesse comum. do Sistema de TV Digital ISDB-T Projeto 20. Fortalecimento das Farmacopeias Brasileira e Argentina 23/04/2009 Destacar a harmonização alcançada pela ANVISA e pela ANMAT sobre os seguintes O Governo brasileiro recebeu, com aspectos técnicos para a implementação do satisfação, o anúncio, feito pelo Ministro

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 237 dos Transportes e Comunicações da (CALC), resultados da Cúpula das Américas e República do Peru, Enrique Cornejo, de que da Cúpula do G-20 em Londres e o impacto aquele país adotará o sistema de TV Digital da crise financeira internacional na América ISDB-T (International System for Digital do Sul. Participarão, também, da cerimônia de Broadcasting), utilizado no Brasil. A medida encerramento do Foro Empresarial Brasil-Peru, peruana foi tomada após recomendação da que deverá contar com a presença de cerca de Comissão Multissetorial encarregada de 200 empresários dos dois países. avaliar diversos sistemas de televisão digital O Presidente Alan García estará terrestre, entre os quais, ademais do ISDB-T, acompanhado dos Presidentes Regionais o norte-americano ATSC e o europeu DVB. (Governadores) de Arequipa, Cusco, Madre Desde 2006, o Brasil promove, na América de Diós, Tacna, Moquegua e Ucayali, e do Sul, em conjunto com o Japão, a divulgação dos Ministros das Relações Exteriores, da do referido sistema, com inovações brasileiras. Produção, da Agricultura, de Minas e Energia, de Transportes e Comunicações e de Habitação, Visita do Ministro Construção e Saneamento. Celso Amorim à Venezuela Está prevista a assinatura de acordos nas áreas de apoio a micro e pequenas empresas, saúde 25/04/2009 pública, ensino técnico e profissionalizante, pesquisa agropecuária e interconexão elétrica. O Ministro Celso Amorim encontra-se em Em 2008, Brasil e Peru registraram Caracas, Venezuela, onde se reunirá com o intercâmbio comercial no valor de US$ 3,2 Presidente Hugo Chávez e com o Ministro das bilhões. Relações Exteriores, Nicolás Maduro. Entre os temas a serem discutidos destacam-se a entrada Seminário internacional “A da Venezuela no Mercosul e a preparação da Propriedade Intelectual próxima visita do Presidente Chávez ao Brasil. como instrumento de Política Visita ao Brasil do Presidente do Industrial” - Brasília, Peru, Alan García - Rio Branco, 29 e 30 de abril de 2009 28 de abril de 2009 27/04/2009 27/04/2009 No contexto do bicentenário da primeira de lei de propriedade intelectual promulgada no O Presidente Luiz Inácio Lula da Silva e Brasil, o Ministério das Relações Exteriores o Presidente do Peru, Alan García, manterão realizará o seminário internacional intitulado encontro de trabalho em 28 de abril, em Rio “A Propriedade Intelectual como Instrumento Branco, no Acre. de Política Industrial: Lições e Desafios”. O Os Presidentes examinarão temas da agenda seminário terá lugar em Brasília, no Auditório bilateral, dentre os quais desenvolvimento Wladimir Murtinho do Palácio Itamaraty, nos fronteiriço, comércio, integração física dias 29 e 30 de abril de 2009. e energética. Discutirão, ainda, assuntos Dados adicionais sobre o evento podem ser regionais e internacionais, como UNASUL, obtidos na página eletrônica www.dipi.mre.gov.br. Cúpula da América Latina e do Caribe

238 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 Visita ao Brasil do Presidente do relações bilaterais e aprofundar a Aliança Conselho de Direitos Humanos Estratégica entre Brasil e Peru, o Presidente das Nações Unidas - 27 a 29 de da República Federativa do Brasil, Luiz Inácio abril de 2009 Lula da Silva, e o Presidente da República do 28/04/2009 Peru, Alan García Pérez, reuniram-se nesta data, na cidade de Rio Branco, Estado do Acre. O Presidente do Conselho de Direitos 2. Os Chefes de Estado destacaram a Humanos das Nações Unidas, Embaixador importância histórica do encontro, do qual Martin Ihoeghian Uhomoibhi, realiza visita participaram também os Presidentes das ao Brasil de 27 a 29 de abril. A programação Regiões do Sul do Peru, os Governadores inclui passagens por Manaus, Brasília, Rio de dos Estados brasileiros da região fronteiriça Janeiro e Salvador. e mais de duzentos representantes do setor Em Manaus, no dia 27, o Embaixador privado dos dois países. Ressaltaram que a Uhomoibhi foi recebido pelo Presidente Luiz iniciativa demonstra o interesse e a esperança Inácio Lula da Silva, a quem agradeceu o papel com a nova dinâmica da relação fronteiriça do Brasil na promoção dos diretos humanos - associada à Rodovia Interoceânica Sul - e a atuação do país no Conselho. Salientou, a qual se comprometeram impulsionar, no ainda, a importância da experiência brasileira curto prazo, por meio da adoção das decisões no combate à fome e à pobreza, no tratamento consignadas no presente Compromisso. da AIDS e no estímulo à cooperação Sul-Sul TELEVISÃO DIGITAL na área de direitos humanos. 3. Ao iniciar a reunião, o Presidente Em Brasília, na manhã do dia 28, o Luiz Inácio Lula da Silva expressou seu Embaixador Uhomoibhi proferiu palestra agradecimento e sua satisfação pela decisão do aos alunos do Curso de Aperfeiçoamento de Peru de adotar o padrão ISDB-T de Televisão Diplomatas do Instituto Rio Branco. Digital Terrestre (TDT). Ressaltaram que a No Rio de Janeiro, na tarde do dia 28, decisão fortalece a integração, contribui para estão previstos encontro com o Governador a cooperação tecnológica e estimula novos Sérgio Cabral e visita a projetos sociais da investimentos. organização Viva Rio, na Favela da Maré. INTEGRAÇÃO ENERGÉTICA Em Salvador, no dia 29, o Embaixador 4. Reconheceram que o acesso a fontes Uhomoibhi manterá encontro com o confiáveis e diversificadas de energia contribui, Governador Jaques Wagner e visitará a Casa de maneira decisiva, para a segurança da Nigéria e a Casa do Olodum, no Pelourinho. energética, condição básica para o progresso material dos países e bem-estar de seus povos. Visita ao Brasil do Presidente do 5. Coincidiram na necessidade de estabelecer Peru, Alan García - Rio Branco, as condições para promover o interesse comum da integração energética entre seus territórios. 28 de abril de 2009 - Para tanto, ressaltaram a importância de Comunicado Conjunto estimular investimentos, de conformidade com 28/04/2009 suas respectivas legislações. 6. Reafirmaram a prioridade do aumento COMPROMISSO DE RIO BRANCO progressivo da participação de fontes de energia Motivados pelo objetivo de estreitar as renováveis na matriz energética dos dois países.

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 239 Nesse contexto, instruíram as autoridades participação das regiões fronteiriças nesse competentes a examinar as oportunidades intercâmbio continua reduzida. Dessa forma, de cooperação no âmbito da produção e do determinaram a adoção de medidas destinadas consumo sustentáveis de biocombustíveis. a superar os obstáculos ao comércio bilateral 7. Ratificaram o interesse na integração e, assim, promover o incremento dos fluxos energética entre os dois países e, para tanto, comerciais e econômicos entre os Estados e as felicitaram o Ministério de Minas e Energia Regiões da zona de fronteira. do Brasil e o Ministério de Energia e Minas 12. Instruíram suas autoridades do Peru pelos avanços alcançados no marco competentes a realizar esforços conjuntos do Grupo de Trabalho Ad Hoc de Integração com vistas a permitir operações financeiras em Energética, criado com o objetivo de elaborar suas respectivas moedas nacionais. Exortaram proposta de convênio bilateral sobre o potencial o pronto estabelecimento de serviços oficiais da integração energética. Nesse sentido, de câmbio de moeda na área de fronteira, com instruíram os Ministérios competentes no o propósito de facilitar o comércio de bens e sentido de que o Grupo de Trabalho Ad Hoc (B) serviços entre os países. elabore instrumento bilateral que estabeleça as 13. Determinaram às autoridades condições necessárias para a integração elétrica. competentes que adotem medidas para o 8. Da mesma maneira, sublinharam a intercâmbio de informações sobre critérios de importância de promover a interconexão controle sanitário e fitossanitário praticados elétrica entre as localidades da fronteira nos dois países e para a harmonização, no comum, no espírito de fortalecer os vínculos que for possível, das normas e práticas entre as populações de fronteira e melhorar vigentes sobre a matéria, com vistas a sua qualidade de vida. superar obstáculos ao comércio bilateral, 9. Felicitaram-se pela assinatura, entre o especialmente nas regiões de fronteira. Ministério de Minas e Energia do Brasil e o 14. Destacaram a realização de atividades Ministério de Energia e Minas do Peru, do conjuntas para a promoção de oportunidades “Memorando de Entendimento para o Apoio de negócio existentes na região de fronteira. a Estudos de Interconexão Elétrica entre Peru Congratularam o Governo do Acre pela iniciativa e Brasil”. de organizar, nesta data, o Foro Empresarial INTEGRAÇÃO ECONÔMICA E Brasil-Peru, evento que muito contribuirá COMERCIAL NA ZONA DE FRONTEIRA para estimular o intercâmbio comercial e os 10. Convencidos da necessidade de investimentos na região fronteiriça. fortalecer os laços de integração econômica 15. Saudaram a realização, em maio regional como uma das formas de superar próximo, da “Semana da Amazônia em os efeitos da crise financeira internacional, Cusco”, que tem como objetivo promover expressaram sua satisfação pelo significativo a região amazônica como destino turístico, incremento do intercâmbio comercial entre bem como destacar seu potencial econômico. os dois países, que, nos últimos quatro anos, Do mesmo modo, congratularam o Serviço aumentou de US$ 1.4 bilhão para US$ 3.2 de Apoio às Micro e Pequenas Empresas bilhões. Comprometeram-se a continuar (SEBRAE) e a Federação de Indústrias do realizando esforços para alcançar maior Estado do Acre (FIEAC) pela proposta de equilíbrio no comércio bilateral. organizar um encontro empresarial fronteiriço 11. Constataram, entretanto, que a no segundo semestre de 2009.

240 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 16. Destacaram a necessidade de turismo entre os dois países, com resultados incrementar a oferta de serviços relacionados positivos para a região fronteiriça. Da mesma ao comércio e ao turismo, especialmente na forma, assinalaram a necessidade de redução região de fronteira. Sobre esse particular, dos entraves ao crescimento do fluxo de concordaram com a importância de estimular passageiros e de carga. o estabelecimento de um maior número 20. Tomaram nota do interesse de de empresas de transporte - de passageiros empresas privadas peruanas em investir para e de carga -, de despachantes aduaneiros, desenvolver uma interconexão ferroviária na assim como a criação de rotas aéreas região fronteiriça. transfronteiriças. Felicitaram o Governo do 21. Reconheceram a importância de facilitar Acre por sua decisão de implementar um a navegação nos rios da zona de fronteira, para Porto Seco em Rio Branco. o que instruíram as autoridades competentes 17. Reconheceram o importante papel das a celebrarem acordo de cooperação técnica pequenas e médias empresas para o maior com o objetivo de facilitar a permanente desenvolvimento das regiões fronteiriças. navegabilidade nas hidrovias peruanas. Receberam com satisfação o anúncio da FACILITAÇÃO DO TRÂNSITO NOS assinatura de três Memorandos de Entendimento PASSOS DE FRONTEIRA entre o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas 22. Os Chefes de Estado destacaram Empresas (SEBRAE) e o Ministério da a importância da simplificação dos Produção do Peru; o SEBRAE e a Corporação procedimentos de controle fronteiriço e Financeira de Desenvolvimento (COFIDE); e instruíram suas respectivas Chancelarias a o SEBRAE e a Associação de Exportadores do acelerarem a negociação de um Acordo Marco Peru (ADEX). Tais instrumentos estabelecem, sobre Controle Integrado, que permita facilitar respectivamente, os termos da cooperação o movimento de pessoas, o comércio bilateral entre as referidas instituições no que se refere e o crescente fluxo de turismo nos passos de à relação entre as micro e pequenas empresas; fronteira habilitados. à realização de projetos conjuntos para o 23. Enfatizaram a necessidade de criar as desenvolvimento da zona de fronteira; bem condições para implementar um sistema de como à coordenação de projetos de pesquisa, controle integrado no passo de fronteira Assis estudos técnicos, atividades de assistência Brasil-Iñapari. Instruíram as autoridades técnica, seminários e reuniões. competentes para que os postos de controle 18. Os Presidentes tomaram nota, com fronteiriço existentes contem com a presença, satisfação, dos avanços em matéria de em número adequado, de funcionários e promoção do comércio, dos investimentos e do instituições correspondentes, assim como turismo, que estão sendo realizados no marco estendam o horário de atendimento a do Grupo Executivo de Trabalho (GET), cuja passageiros e transportadores de carga, com o V Reunião será realizada na cidade peruana de propósito de facilitar o trânsito fronteiriço. Piura, no segundo semestre do ano corrente. 24. Tomaram nota, com satisfação, da INTERCONEXÃO FÍSICA criação do Grupo de Trabalho de Controle 19. Reiteraram a importância de que Fronteiriço Binacional, cuja primeira reunião sejam concluídas, até 2010, as obras da se realizará no Estado do Acre, no mês de Rodovia Intercoceânica Sul, que promoverá setembro de 2009, ocasião em que se levará significativo incremento do comércio e do a cabo um seminário Brasil-Peru sobre

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 241 normas e práticas de controle fronteiriço. Em Cooperação Ambiental Fronteiriça (GCAF), preparação para essa reunião, o Peru propôs a na qual deverão ser tratados assuntos relativos realização de um encontro entre autoridades à luta contra os ilícitos ambientais e ao uso fitossanitárias de ambos os países, em julho de sustentável dos recursos naturais do bioma 2009, em Lima, com o propósito de estabelecer Amazônico. Entre esses temas, destacaram uma dinâmica de trabalho mais estreita, que a importância da cooperação bilateral em permitirá alcançar, de forma mais célere, os matéria de zoneamento territorial integrado. objetivos comuns. Da mesma forma, tomaram nota, com 25. Registraram a assinatura do “Convênio satisfação, da realização, em junho próximo, para Suprimir o Uso e a Apresentação do na cidade de Iquitos, de um Seminário Brasil- Carnê Internacional de Tripulante Terrestre”, Peru sobre Meio Ambiente para fins de transporte internacional de carga 30. Manifestaram sua satisfação com a e de passageiros, com o objetivo de fomentar cooperação que vem sendo levada a cabo o trânsito, o turismo e o comércio. em matéria de vigilância e proteção da INICIATIVAS CONJUNTAS PARA O Amazônia, no âmbito dos respectivos Grupos DESENVOLVIMENTO FRONTEIRIÇO de Trabalho Binacionais. Reiteraram seu 26. Reafirmaram o compromisso de ambos pleno compromisso com a conservação e o os Governos em priorizar a cooperação e desenvolvimento sustentável da Amazônia, o desenvolvimento fronteiriços, por meio bem como com a exploração racional de seus dos empreendimentos e programas de recursos naturais. integração do Grupo de Trabalho Binacional 31. Reiteraram seu apoio ao papel Brasil-Peru sobre Cooperação Amazônica desempenhado pela Organização do Tratado e Desenvolvimento Fronteiriço (GTB). de Cooperação Amazônica (OTCA) como Saudaram as iniciativas em curso no marco foro de concertação política dos países desse Grupo para o desenvolvimento amazônicos, com vistas ao desenvolvimento fronteiriço, e instruíram suas Chancelarias sustentável e à defesa soberana da Amazônia. e setores nacionais pertinentes a redobrar Saudaram, igualmente, a recente eleição do esforços com vistas a acelerar sua execução. Embaixador Manuel Picasso Botto como 27. Sublinharam a importância da Secretário-Geral da Organização. participação da população nos processos SAÚDE de integração fronteiriça binacional. Nesse 32. Congratularam-se pela assinatura do sentido, saudaram o Acordo para reativar o Acordo Complementar ao Convênio Básico Comissão de Fronteira Assis Brasil-Iñapari. de Cooperação Técnica e Científica para a MEIO AMBIENTE E Implementação do Projeto “Fortalecimento DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL dos Sistemas de Saúde do Brasil e do Peru”, 28. Os Presidentes coincidiram em destacar que apoiará os esforços peruanos de reformar o alto grau de convergência na identificação seu sistema de saúde pública. de objetivos e ações a serem adotadas na 33. Do mesmo modo, expressaram sua implementação da agenda ambiental comum, satisfação com a realização, no segundo especialmente na zona de fronteira. semestre de 2009, de seminário sobre o Sistema 29. Tomaram nota da realização, nos Único de Saúde do Brasil, que constituirá dias 27 e 28 de maio, da próxima reunião passo importante para o aprofundamento da do Grupo de Trabalho Brasil-Peru sobre cooperação em matéria de saúde pública.

242 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 34. Saudaram igualmente a convocação, habitação, acesso a energia elétrica e segurança para agosto de 2009, da reunião do Grupo alimentar, entre outros. A Conferência, que se de Trabalho sobre Saúde Fronteiriça, durante realizará no Acre, buscará estimular um maior a qual se definirá um Programa de Trabalho intercâmbio de experiências entre os dois lados. sobre Cooperação Fronteiriça em Saúde, com ****** atividades previstas em temas de vigilância O Presidente Luiz Inácio Lula da Silva epidemiológica, saúde ambiental e assistência aceitou, com satisfação, o convite do Peru para de saúde na fronteira. realizar, no segundo semestre de 2009, a “Expo- 35. Anunciaram a realização da Primeira Brasil 2009”, da qual participará em companhia Jornada Cívico-Nacional no ano de 2010, em de missão empresarial brasileira. A exemplo benefício das populações residentes na zona da Expo-Peru, realizada em São Paulo, em fronteiriça do Rio Javari. setembro de 2008, o evento terá por objetivo 36. O Presidente Alan García agradeceu estimular o comércio e os investimentos de o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva pela lado a lado, ademais de apresentar aspectos generosa e solidária doação de medicamentos culturais, turísticos e gastronômicos. antiretroviriais para o programa peruano de Os Presidentes agradeceram a luta contra o HIV/AIDS, de conformidade hospitalidade oferecida pelo Estado do Acre com os princípios de cooperação e amizade e pela generosa acolhida de seu Governador, que regem a relação entre os dois países. Arnóbio Marques. O Presidente Alan García EDUCAÇÃO E CULTURA expressou seu especial reconhecimento ao 37. Congratularam-se pela assinatura do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ao Acordo Complementar ao Convênio Básico Governador do Acre, estendendo-lhes cordial de Cooperação Técnico Científica para a convite para visitar oficialmente o Peru, bem Implementação do Projeto “Fortalecimento da como levar a cabo nova Cúpula Fronteiriça, Qualidade Educacional nas Áreas Prioritárias no ano de 2010. da Formação Técnica e Profissional do Peru”, que contribuirá para o incremento da qualidade Reunião do Grupo Diretor do da formação profissional no Peru. Plano de Ação Brasil-EUA para 38. Da mesma forma, instruíram as autoridades competentes a tomar as medidas a Eliminação da Discriminação necessárias para a realização, no segundo Étnica e Racial e Promoção da semestre de 2009, de reunião da Comissão Igualdade - Washington, EUA, 29 e Mista Brasil-Peru para Assuntos Culturais, 30 de abril durante a qual deverá ser examinado o 29/04/2009 estabelecimento de cooperação em matéria de educação fronteiriça, bem como avaliadas as condições para o estabelecimento de um liceu Realiza-se, nos dias 29 e 30 de abril, em peruano-brasileiro em Lima. Washington, a segunda reunião do Grupo DESENVOLVIMENTO SOCIAL Diretor do Plano de Ação Conjunta Brasil- 39. Os Mandatários concordaram celebrar EUA para a Eliminação da Discriminação uma Conferência Bilateral sobre Políticas Étnica e Racial e Promoção da Igualdade. Sociais, em Junho de 2009, na qual seriam Participam do encontro o Ministro-Chefe da tratados temas como educação, saúde, Secretaria Especial de Políticas de Promoção

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 243 da Igualdade Racial, Edson Santos, e o Visita ao Brasil do Chanceler do Secretário de Estado Adjunto para Assuntos Nepal, Upendra Yadav - do Hemisfério Ocidental, Thomas Shannon, 4 a 6 de maio de 2009 além de outros representantes de governo, 30/04/2009 da sociedade civil e do setor privado. O Plano de Ação Conjunta Brasil-EUA, O Ministro dos Negócios Estrangeiros do assinado em março de 2008, prevê medidas Nepal, Upendra Yadav, realizará visita ao de cooperação nas áreas de educação, Brasil de 4 a 6 de maio. cultura, trabalho e emprego, moradia, saúde No dia 4, o Chanceler Yadav será recebido e acesso à justiça, entre outras. em Brasília pelo Ministro Celso Amorim para Na reunião dos dias 29 e 30, o Grupo reunião de trabalho e assinatura de Acordo- Diretor deverá discutir os seguintes temas: Quadro de Cooperação Técnica entre os dois Intercâmbio Museológico e Cultural; Papel países. No mesmo dia, visitará o Ministério da Imprensa no Combate à Discriminação das Minas e Energia e, no dia 5, o Presidente Racial; Acesso ao Sistema Judicial; da Comissão de Relações Exteriores e Melhores Práticas no Campo da Educação Defesa Nacional do Senado Federal, Senador Multicultural e das Estratégias de Ensino; e Eduardo Azeredo. A programação do Melhores Práticas no Campo da Diversidade Chanceler do Nepal incluirá, ainda, visita às e da Responsabilidade Social Corporativa. instalações da Usina Hidrelétrica de Itaipu, em Foz do Iguaçu. Reeleição de Pascal Lamy ao cargo de Diretor-Geral Visita ao Brasil do ex-Presidente da Organização Mundial do dos Estados Unidos, Jimmy Comércio (OMC) Carter - 3 a 5 de maio de 2009 30/04/2009 30/04/2009

Os membros da Organização Mundial do O ex-Presidente dos Estados Unidos, Comércio elegeram hoje, 30 de abril, Pascal Jimmy Carter, realizará visita ao Brasil no Lamy para novo mandato de quatro anos período de 3 a 5 de maio. como Diretor-Geral daquela Organização. O No dia 3, estará em São Paulo, onde Governo brasileiro saúda a eleição do Senhor manterá encontros com o Governador de Lamy e toma nota com satisfação da prioridade São Paulo, José Serra, e com o ex-Presidente por ele atribuída à Rodada de Doha. Fernando Henrique Cardoso. O Brasil está firmemente comprometido Em Brasília, no dia 4, o ex-Presidente com a valorização da OMC como órgão central norte-americano será recebido pelo do sistema multilateral de comércio e considera Presidente Luiz Inácio Lula da Silva e pelo que a conclusão da Rodada com base no esforço Ministro da Saúde, José Gomes Temporão. negociador realizado ao longo dos últimos oito No mesmo dia, o Ministro Celso Amorim anos constituirá contribuição valiosa para a oferecerá ao ex-Presidente Carter almoço superação da crise econômica internacional. de trabalho no Palácio Itamaraty.

244 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 Visita ao Brasil do Ministro das realizada depois das eleições presidenciais Relações Exteriores do Chile, iranianas, marcadas para o próximo dia 12 Mariano Fernández - Brasília, 4 de junho. de maio de 2009 A programação empresarial, prevista para 02/05/2009 realizar-se em paralelo à visita, será mantida. Empresários brasileiros e iranianos terão, nos dias 5 e 6 de maio, encontros em São Paulo e A convite do Ministro Celso Amorim, o Brasília. A reunião em São Paulo terá como Ministro das Relações Exteriores do Chile, foco os setores de comércio; indústria e Mariano Fernández, realizará visita oficial ao mineração; petróleo e gás; e energia elétrica. Brasil em 4 de maio. Nova data para a visita presidencial iraniana Os dois Chanceleres deverão examinar será definida pelas duas Chancelarias. temas da agenda bilateral, entre os quais cooperação, comércio, investimentos e Visita ao Brasil do Ministro integração física. Discutirão, ainda, assuntos das Relações Exteriores de regionais e internacionais, como UNASUL, integração latino-americana e caribenha, Botsuana, Phandu Skelemani - 4 resultados da Cúpula das Américas e da a 7 de maio de 2009 Cúpula do G-20 em Londres, bem como o 04/05/2009 impacto da crise financeira internacional na América do Sul. O Ministro das Relações Exteriores de Durante sua estada em Brasília, o Chanceler Botsuana, Phandu Skelemani, realiza visita Mariano Fernández proferirá palestra no oficial ao Brasil de 4 a 7 de maio. Instituto Rio Branco. No dia 5, será recebido pelo Ministro Em 2008, o intercâmbio comercial entre o Celso Amorim, para conversar sobre temas Brasil e o Chile foi de US$ 8,9 bilhões (16% da agenda bilateral e regional. Os dois superior ao de 2007). No primeiro trimestre Ministros discutirão também perspectivas de 2009, a corrente de comércio bilateral de cooperação técnica em biocombustíveis, ultrapassou US$ 1 bilhão. esportes, educação e DST/AIDS, bem como iniciativas para promover o comércio Adiamento da visita do bilateral. Tratarão, igualmente, da abertura de Presidente do Irã ao Brasil Embaixada residente de Botsuana no Brasil, a primeira do país na América Latina, prevista 04/05/2009 para este ano. Durante a visita, deverão ser assinados atos Em mensagem dirigida ao Presidente Lula, bilaterais sobre o estabelecimento de uma o Presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, Comissão Mista Permanente de Cooperação; solicitou o adiamento da visita que faria a Implementação do Projeto “Fortalecendo ao Brasil. Na comunicação, o Presidente o Quadro Estratégico Nacional para HIV-/ Ahmadinejad manifesta apreço pelo convite AIDS”; e o exercício de atividade remunerada brasileiro e pede que a visita, que incluiria por dependentes do Pessoal Diplomático, outros países da América do Sul, seja Consular, Militar, Administrativo e Técnico.

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 245 No dia 6 de maio, o Ministro botsuanês da Silva e será homenageado com jantar deverá visitar a FIESP, em São Paulo. no Palácio da Alvorada. Os mandatários deverão examinar os temas da agenda Acordo para publicação bilateral, entre os quais cooperação na área social, fomento da infraestrutura, comércio, da série “Como exportar” Itaipu e assuntos migratórios. Os Presidentes 05/05/2009 tratarão, ainda, de questões regionais, como Mercosul e Unasul. O Departamento de Promoção Comercial Ainda em Brasília, o Presidente Lugo será do Itamaraty e a Agência de Promoção recebido também pelo Presidente do Senado de Exportações e Investimentos (APEX- Federal, Senador José Sarney, pelo Presidente Brasil), órgão vinculado ao Ministério do da Câmara dos Deputados, Deputado Michel Desenvolvimento Indústria e Comércio Temer, e pelo Presidente do Supremo Tribunal Exterior (MDIC), assinaram hoje, 5 de maio Federal, Ministro Gilmar Mendes. de 2009, acordo de cooperação pelo qual No dia 8, os Presidentes Luiz Inácio Lula se prevê a retomada da publicação da série da Silva e Fernando Lugo irão ao Mato Grosso “Como Exportar”. Lançada em 1978, a série do Sul, para participar da viagem inaugural do de manuais tem sido utilizada sobretudo pelas “Trem do Pantanal”. pequenas e médias empresas que buscam Em 2008, o intercâmbio comercial entre o mercados para seus produtos no exterior. Brasil e o Paraguai foi de US$ 3,2 bilhões, com A publicação dos manuais, em versão exportações brasileiras de US$ 2,5 bilhões e impressa e eletrônica, representa o importações de US$ 700 milhões. cumprimento de nova etapa do programa de trabalho conjunto do Itamaraty e do MDIC, Visita ao Brasil do Ministro com a participação da APEX, na coordenação dos Negócios Estrangeiros da de esforços em favor da abertura de novos acordos, da consolidação dos mercados Coréia do Norte - tradicionais e da habilitação de número 10 e 11 de maio de 2009 crescente de empresas brasileiras para melhor 08/05/2009 competir no plano internacional. O Ministro dos Negócios Estrangeiros da Visita de Estado ao Brasil República Popular Democrática da Coréia (Coréia do Norte), Pak Ui-chun, realizará do Presidente do Paraguai, visita ao Brasil de 10 a 11 de maio. No dia 11, Fernando Armindo Lugo Méndez será recebido pelo Ministro Celso Amorim. - 7 e 8 de maio de 2009 As relações diplomáticas entre o Brasil 06/05/2009 e a Coréia do Norte foram estabelecidas em março de 2001. A Embaixada residente da O Presidente do Paraguai, Fernando Coréia do Norte em Brasília foi instalada em Armindo Lugo Méndez, realizará visita de janeiro de 2005. Criada pelo Decreto 6.587, Estado ao Brasil nos dias 7 e 8 de maio de 2009. de 20 de setembro de 2008, a Embaixada No dia 7, em Brasília, manterá reunião de residente do Brasil em Pyongyang está em trabalho com o Presidente Luiz Inácio Lula fase final de instalação.

246 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 Em 2008, o comércio bilateral atingiu US$ No dia 16, em Riade, o Presidente Lula será 381,1 milhões. recebido pelo Rei Abdullah Bin Abdulaziz al Saud, presenciará cerimônia de assinatura Visita ao Brasil da Ministra de atos e será homenageado com jantar pelo Rei. Receberá ainda o Secretário-Geral do das Relações Exteriores de Conselho de Cooperação do Golfo (CCG), Honduras, Patrícia Isabel Rodas grupo regional com o qual o Mercosul negocia - 11 a 13 maio de 2009 acordo de livre comércio. 08/05/2009 No dia 17, o Presidente Lula participará de café da manhã com empresários sauditas, A Ministra das Relações Exteriores de organizado pela Autoridade Saudita de Honduras, Patrícia Isabel Rodas, realizará Investimentos (SAGIA), e presidirá almoço visita ao Brasil de 11 a 13 de maio. oferecido pela Câmara de Comércio e Indústria No dia 11, em Brasília, a Ministra hondurenha de Riade, com a presença de empresários. será recebida pelo Ministro Celso Amorim Visitará, ainda, o Museu Nacional e a Cidade para reunião de trabalho. Na oportunidade, Saudita da Ciência e Tecnologia. os Chanceleres deverão examinar temas da A Arábia Saudita foi, em 2008, o maior agenda bilateral, tais como cooperação técnica, parceiro comercial do Brasil no Oriente infra-estrutura, ajuda humanitária e a visita Médio. O intercâmbio comercial entre os dois que o Presidente de Honduras, José Manuel países mais que quadruplicou desde 2002. Zelaya, deverá fazer ao Brasil no segundo No ano passado, chegou a US$ 5,47 bilhões semestre. Os Ministros deverão, ainda, trocar (exportações brasileiras de US$ 2,56 bilhões e impressões sobre as perspectivas para a importações de US$ 2,91 bilhões). XXXIX Assembléia Geral da Organização dos Por ocasião da visita, deverão ser assinados Estados Americanos (OEA), a ser realizada na acordos nas áreas de cooperação cultural, cidade de São Pedro Sula, Honduras, nos dias educacional, entre academias diplomáticas e 2 e 3 de junho de 2009. um Memorando para o estabelecimento de um Mecanismo de Consultas Políticas. Visita do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Arábia Saudita - Visita do Presidente Luiz Inácio Riade, 16 e 17 de maio de 2009 Lula da Silva à China - Pequim, 18 15/05/2009 a 20 de maio de 2009 17/05/2009 O Presidente Luiz Inácio Lula da Silva visitará a Arábia Saudita nos dias 16 e 17 de O Presidente Luiz Inácio Lula da Silva maio. Trata-se da primeira visita de um Chefe realizará, no período de 18 a 20 de maio, de Estado brasileiro àquele país. visita de Estado à República Popular da China Estará acompanhado da Primeira Dama, (RPC). do Ministro Celso Amorim e do Ministro As relações entre o Brasil e a RPC têm-se do Desenvolvimento, Indústria e Comércio caracterizado pelo aumento expressivo das Exterior, além de delegação empresarial de trocas comerciais e pela freqüência das visitas cerca de setenta pessoas. bilaterais de alto nível. Neste ano, já visitaram

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 247 o Brasil o Vice-Presidente, Xi Jinping, e o que tenham contribuído para democratizar o Ministro dos Negócios Estrangeiros da RPC, acesso às tecnologias da informação, o Prêmio Yang Jiechi. já foi concedido, entre outras personalidades, A visita do Presidente Lula à China conta ao Prêmio Nobel da Paz Muhammad Yunus, com ampla programação empresarial. Em criador do conceito de microcrédito, e ao Pequim, será realizado seminário com a Presidente do Senegal, Abdoulaye Wade. participação do Presidente Lula, no qual serão A concessão do Prêmio ao Presidente Luiz apresentados os resultados obtidos nas reuniões Inácio Lula da Silva é um reconhecimento empresariais setoriais de Shenzen, sobre bens às políticas brasileiras na área de inclusão de capital e agronegócio, e de Xangai, sobre digital e, em particular, à destacada atuação do serviços financeiros, investimentos e turismo. Governo brasileiro no combate à pornografia O Presidente Lula inaugurará o Centro de infantil na Internet. Foram relevantes na Estudos Brasileiros na Academia de Ciências decisão da UIT, entre outras iniciativas, a Sociais da China e visitará as instalações da decisão do Presidente Lula de sancionar, em Academia Chinesa de Tecnologia Espacial, onde novembro do ano passado, a Lei n.º 11.829 são desenvolvidos os projetos do Satélite Sino- contra a exploração sexual de crianças na Brasileiro de Recursos Terrestres (CBERS), o Internet e a criação do serviço de denúncias mais bem sucedido projeto de cooperação Sul- contra a pornografia infantil implementado Sul em matéria de alta tecnologia. pela Secretaria Especial de Direitos Humanos. A visita do Presidente Lula será ainda A UIT é uma organização do sistema oportunidade para dar perspectiva de longo das Nações Unidas voltada a questões prazo às relações bilaterais, por meio do afetas ao uso internacional de espectros anúncio da elaboração de Plano de Ação de radiocomunicação e a temas relativos para o período 2010 a 2014, a ser aprovado à sociedade da informação, tais como no segundo semestre deste ano, durante a II infraestrutura e acesso às tecnologias Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de da informação e das comunicações, Concertação e Coordenação. inclusão digital, segurança dos sistemas de comunicação, prevenção do crime cibernético, Concessão do Prêmio Mundial de entre outros. Com 144 anos de existência, a UIT constitui uma das mais antigas organizações Telecomunicações e Sociedade internacionais. da Informação ao Presidente Luiz Inácio Lula da Silva Mensagem de congratulações 18/05/2009 do Presidente Luiz Inácio Lula A União Internacional de Telecomunicações da Silva ao Primeiro-Ministro da (UIT) anunciou hoje, 18 de maio, sua Índia, Manmohan Singh decisão de agraciar o Presidente Luiz Inácio 18/05/2009 Lula da Silva com o Prêmio Mundial de Telecomunicações e Sociedade da Informação O Presidente Luiz Inácio Lula da Silva (“World Telecommunication and Information enviou hoje, 18 de maio, a seguinte mensagem Society Award”). Instituído pela UIT em de congratulações ao Primeiro-Ministro da 2006 para premiar personalidades eminentes Índia, Manmohan Singh:

248 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 “Senhor Primeiro-Ministro, caro amigo, de trinta empresários brasileiros dos setores É com grande satisfação que cumprimento de energia, turismo, infra-estrutura, defesa, Vossa Excelência pela realização de mais aviação, alimentos, máquinas e equipamentos, um pleito democrático na Índia, efetuado de entre outros. Trata-se da primeira visita de um forma transparente, com plena participação da Presidente brasileiro à Turquia. cidadania. Em Istambul, o Presidente Lula manterá Congratulo-me também pela expedita e encontro com o Primeiro-Ministro Recep eficaz apuração dos votos, que tornou clara a Erdogan e participará de seminário vitória da coligação liderada pelo Partido do empresarial. Em Ancara, será recebido pelo Congresso. Presidente Abdullah Gül. Os Chefes de Estado Estou certo de que sob sua sábia liderança, e de Governo analisarão as relações bilaterais, a Índia continuará a trilhar o caminho de avaliarão questões regionais e discutirão sucessos que vem alcançando nos planos temas da agenda internacional. interno e internacional e que a sólida parceria A visita presidencial insere-se no contexto com o Brasil será aprofundada, intensificando de intensificação das relações bilaterais nas o denso diálogo político que logramos áreas política, comercial e consular. Exemplos consolidar nos últimos anos. disso são a dinamização do fluxo de comércio Tenho o particular orgulho de que essa e investimentos e o fomento ao turismo parceria se estenda a temas relevantes da favorecido pela abertura da linha aérea entre agenda internacional, como revelam os êxitos São Paulo e Istambul pela “Turkish Airlines”. alcançados com o Fórum-Índia-Brasil-África O intercâmbio comercial entre Brasil e do Sul e nossa aliança em favor da reforma da Turquia mais que dobrou de 2003 a 2008, governança global. evoluindo de US$ 395,2 milhões para US$ Receba meus melhores votos de felicidade 1,15 bilhão, o que representou incremento de pessoal e de continuada prosperidade para o mais de 190%. A Petrobras vem realizando povo indiano. importantes investimentos na Turquia, Mais alta consideração, atuando na prospecção de petróleo e gás Luiz Inácio Lula da Silva natural no Mar Negro, em parceria com sua Presidente da República Federativa do congênere turca, a TPAO. Brasil”. Visita do Presidente Luiz Inácio Visita do Presidente Luiz Lula da Silva à China - Pequim, 18 Inácio Lula da Silva à Turquia - a 20 de maio de 2009 - Istambul e Ancara, Declaração Conjunta 20 a 22 de maio de 2009 19/05/2009 19/05/2009 COMUNICADO CONJUNTO ENTRE A A convite do Presidente da Turquia, REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL Abdullah Gül, o Presidente da República E A REPÚBLICA POPULAR DA CHINA Federativa do Brasil, Luiz Inácio Lula da SOBRE O CONTÍNUO FORTALECIMENTO Silva, realizará visita à Turquia de 20 a 22 DA PARCERIA ESTRATÉGICA de maio, acompanhado de comitiva de cerca 1. Por ocasião dos 35 anos do

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 249 estabelecimento de relações diplomáticas maior significado do contínuo adensamento entre o Brasil e a China, o Presidente Luiz da Parceria Estratégica, na atual conjuntura Inácio Lula da Silva, da República Federativa internacional de grande complexidade, ambos do Brasil, a convite do Presidente Hu Jintao, os líderes reiteraram seu compromisso de da República Popular da China, realizou Visita conduzir o relacionamento bilateral a partir de Estado à República Popular da China, no de perspectiva estratégica e de longo alcance. período de 18 a 20 de maio de 2009. Reafirmaram o desejo de aprofundar ainda 2. Na ocasião, as conversas mantidas pelos mais a confiança mútua e de intensificar e Presidentes Lula e Hu Jintao transcorreram elevar o nível da cooperação, com base nos em clima cordial e amistoso. Os dois líderes princípios de respeito mútuo, igualdade e passaram em revista as relações bilaterais, benefício recíproco. trocaram impressões sobre as questões regionais 5. O Presidente Lula reiterou a posição e internacionais de interesse mútuo e chegaram tradicional do Brasil de reconhecimento de a importantes consensos. Consideraram muito uma só China, de que o Governo da República positivamente os resultados alcançados com a Popular da China é o único governo legal que visita, cujo sucesso contribuirá para dar maior representa toda a China e de que Taiwan é parte impulso ao desenvolvimento da Parceria da China. O Presidente Hu Jintao manifestou seu Estratégica sino-brasileira. alto apreço pela posição brasileira nesse sentido. 3. Foram assinados instrumentos de 6. As partes destacaram o importante papel cooperação nas áreas política, jurídica, do da COSBAN na orientação e coordenação comércio de produtos agropecuários, científica das inúmeras vertentes do relacionamento e tecnológica, espacial, financeira, de energia bilateral. Manifestaram a intenção de ampliar e de cooperação portuária, que aproximarão o planejamento estratégico das relações Brasil- ainda mais os povos brasileiro e chinês. China, por meio de frequentes encontros de 4. Os dois Presidentes coincidiram na alto nível, que permitam intercambiar visões, avaliação de que, ao longo dos 35 anos de não apenas sobre temas da agenda bilateral, relações diplomáticas, a cooperação bilateral mas também sobre as grandes questões foi produtiva e amistosa, proporcionando internacionais e regionais de interesse benefícios mútuos. A criação da Parceria comum. Mencionaram que essa interação Estratégica, em 1993, a troca de visitas deve ser complementada com o Diálogo presidenciais, em 2004, a realização da Estratégico e as Consultas Políticas, bem Primeira Sessão da Comissão Sino-Brasileira como enriquecida por meio do Mecanismo de Alto Nível de Concertação e Cooperação Regular de Intercâmbio entre a Câmara dos (COSBAN), em 2006, a implementação Deputados do Brasil e a Assembléia Popular do Diálogo Estratégico, em 2007, e os três Nacional da China e de outros mecanismos encontros bilaterais entre os mandatários bilaterais e contatos nas áreas de defesa e de dos dois países, em 2008, demonstram o assuntos jurídicos. As partes manifestaram estreitamento do diálogo e do relacionamento a disposição de fortalecer ainda mais o bilaterais. Neste ano, já ocorreram importantes mecanismo do Diálogo Estratégico e realizar encontros de alto nível, por ocasião da Cúpula sua segunda reunião em data oportuna no do G-20, em Londres, e com a viagem do Vice- segundo semestre do corrente ano. Presidente Xi Jinping, da República Popular 7. Ambos os líderes decidiram que será da China, ao Brasil. Ao reafirmarem o ainda elaborado um Plano de Ação Conjunta entre

250 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 os dois Governos, a ser implementado no 9. As partes saudaram a assinatura do período 2010-2014, que contemple, de forma Protocolo sobre Cooperação em Energia e abrangente, todas as áreas de cooperação Mineração, com abrangência sobre os campos bilateral existentes. Para tanto, instruíram os de extração, processamento de minérios, diversos órgãos e instituições integrantes da eletricidade, energias renováveis, gás natural COSBAN a elaborar, em suas respectivas e petróleo, assim como as assinaturas áreas de atuação, no mais breve prazo possível, dos Memorandos de Entendimento entre o conteúdo do Plano de Ação Conjunta. a Petrobras, a Sinopec e o Banco de Decidiram, ainda, que a próxima Reunião da Desenvolvimento da China (BDC) sobre COSBAN se realizará em Brasília, em data Promoção para a Cooperação em Matéria de oportuna do segundo semestre de 2009, para Comércio de Petróleo e de Financiamento, e aprovar o Plano de Ação Conjunta. entre o Banco Nacional de Desenvolvimento 8. Os dois Presidentes expressaram sua Econômico e Social (BNDES) e o BDC sobre satisfação com a contínua expansão do financiamento e cooperação, entre outros intercâmbio econômico-comercial bilateral atos de cooperação. Expressaram, a respeito e se comprometeram a envidar esforços para desses atos, o firme propósito de promover promover ainda mais a diversificação das ativamente sua implementação. pautas e o incremento dos fluxos comerciais. 10. No âmbito do mecanismo do Diálogo Reiteraram sua determinação de, no contexto Financeiro Brasil-China, manifestaram a da crise econômica internacional, preservar disposição de intensificar o diálogo sobre o crescimento da economia de seus países, as respectivas políticas macroeconômicas e salientaram a importância das relações e de aprofundar a cooperação sobre temas comerciais bilaterais nesses esforços. financeiros internacionais, regionais e Acordaram, ainda neste âmbito, intensificar a nacionais de interesse comum. As partes cooperação em matéria aduaneira e fortalecer promoverão ainda mais a cooperação financeira a cooperação sanitária e fitossanitária, entre os Bancos Centrais dos dois países, com buscando eliminar os entraves que persistem vistas a intensificar o intercâmbio e o diálogo nesses campos, com vistas a facilitar e sobre assuntos tais como política monetária, oferecer maior segurança ao comércio cooperação monetária, estabilidade financeira bilateral. Assentiram em incentivar e apoiar e reforma do sistema financeiro internacional. ativamente os diversos órgãos e empresas dos Ao mesmo tempo, as duas partes fortalecerão dois países na realização de investimentos contatos entre os órgãos financeiros dos recíprocos nas áreas de infraestrutura, energia, dois países com base na confiança mútua e mineração, agricultura, indústria e, em benefício recíproco a fim de ampliar as áreas especial, na indústria de alta tecnologia, assim de cooperação. como em estudar e promover positivamente 11. Ambos os Presidentes reconheceram o os investimentos recíprocos e a cooperação papel estratégico da ciência e da tecnologia na área de biocombustíveis. Avaliaram para as políticas de desenvolvimento e positivamente a iniciativa “Agenda China”, competitividade das economias de seus países. lançada pelo Brasil, em julho de 2008, e Assinalaram, ademais, que a cooperação ressaltaram seu interesse em elaborar estudos bilateral é um instrumento-chave para a para identificar prioridades de cooperação em consecução desses objetivos. Dessa forma, matéria de comércio e investimento. expressaram sua grande satisfação com a

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 251 assinatura do Plano de Trabalho em Ciência, recíproco entre os dois povos e fortalecer sua Tecnologia e Inovação, para os próximos base de amizade por meio de contatos entre cinco anos, nas seguintes áreas de interesse segmentos acadêmicos, culturais, de imprensa prioritário: ciências agrárias, agroenergia, e esportivos dos dois países. Coincidiram em energias renováveis, biotecnologia e ampliar a promoção do ensino dos idiomas nanotecnologia. Nesse sentido, saudaram a português e chinês e em fomentar a atividade instalação, em 2010, inicialmente em Pequim, turística. Saudaram a abertura de novos de Laboratório no Exterior (LABEX), da leitorados de língua portuguesa na China e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária inauguração de Institutos Confúcio no Brasil. (EMBRAPA), em parceria com a Academia Ao reconhecerem a importância dos contatos de Ciências Agrárias da China (CAAS). pessoais para o intercâmbio bilateral em todos Celebraram ainda a proposta de criação os setores, as partes se dispuseram a fortalecer do Centro Brasil-China de Pesquisa em a cooperação bilateral em matéria consular, Nanotecnologia, com pesquisas sobre considerar de maneira positiva a abertura de materiais, metrologia e farmacologia, assim novas repartições consulares e facilitar os como a recente decisão sobre a criação do procedimentos para obtenção de vistos. A parte Centro Brasil-China de Mudança Climática chinesa saudou a abertura, proximamente, do e Tecnologias Inovadoras, parceria entre a Consulado-Geral do Brasil em Cantão, na COPPE-Universidade Federal do Rio de Província de Guangdong. O Presidente Lula Janeiro e a Universidade de Tsinghua. formulou seus melhores votos de pleno êxito 12. Os dois Presidentes realçaram, à Expo Mundial de Xangai, em 2010, na qual igualmente, o objetivo de continuar a o Brasil se fará representar. fortalecer a cooperação espacial. Coincidiram 14. As partes coincidiram em que a na avaliação de que o Programa Sino- cooperação em assuntos multilaterais é Brasileiro de Satélites de Recursos Terrestres parte importante da Parceria Estratégica. (CBERS) é um dos exemplos mais bem- Ao reforçar o diálogo e a cooperação sucedidos de cooperação tecnológica entre bilateral, Brasil e China, como grandes países em desenvolvimento e, a propósito, nações em desenvolvimento, contribuem expressaram o desejo de ampliar e diversificar para o encaminhamento de soluções para seu alcance. Congratularam-se pela assinatura as importantes questões que desafiam a de instrumentos de cooperação que garantem comunidade internacional. Para atingir esse a continuidade, a expansão e as aplicações objetivo, Brasil e China dispõem-se a manter do Programa CBERS. Os dois Presidentes estreita comunicação em mecanismos como expressaram sua satisfação com a aplicação das o G-5 e o BRIC. Paralelamente, buscarão informações geradas pelos satélites CBERS intensificar a coordenação e o intercâmbio nos países em desenvolvimento, sobretudo no com outros países em desenvolvimento, continente africano. A experiência exitosa na estimulando a cooperação regional e área espacial deve inspirar novas iniciativas transregional, com vistas a propiciar no campo da ciência e tecnologia. maior participação e voz aos países em 13. Os dois líderes reiteraram o desejo de desenvolvimento nos grandes temas estreitar a cooperação em educação, cultura, internacionais. imprensa, turismo e esporte. Para esse 15. Os dois líderes consideraram que fim, acordaram estimular o conhecimento tanto o Brasil quanto a China vêm adotando

252 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 medidas importantes em resposta à crise de acordo com o mandato que a instituiu, econômica internacional, com o objetivo de assegurando os avanços já obtidos e garantindo assegurar o crescimento econômico no plano resultados abrangentes e equilibrados. Para nacional e contribuir positivamente para a tanto, desejam preservar a base de avanços recuperação da economia global. Ambos os já alcançados, de modo a concretizar a meta mandatários defenderam o aprofundamento da Rodada do Desenvolvimento e a ajudar da reforma em curso do Fundo Monetário a comunidade internacional, sobretudo os Internacional e do Banco Mundial, de modo a países em desenvolvimento, a superar a crise. permitir maior representação e voz aos países 18. O Presidente Lula agradeceu a calorosa em desenvolvimento. Defenderam a oferta acolhida e a grande hospitalidade recebida de mais recursos por parte das instituições durante sua visita à China e convidou o financeiras internacionais, em auxílio aos Presidente Hu Jintao a visitar novamente o países em desenvolvimento afetados pela Brasil, em data oportuna. O Presidente Hu Jintao crise. Coincidiram sobre a necessidade agradeceu e aceitou o convite, com satisfação. de ampliar a representação dos países em desenvolvimento no Comitê Internacional de Subsídios à produção de Licor Padrões Contábeis (IASC Foundation) e em Negro nos EUA outras organizações. Lançaram também apelo aos países desenvolvidos para que adotem 21/05/2009 medidas positivas para a superação da crise, sem, contudo, prejudicar os interesses dos O Embaixador do Brasil em Washington, países em desenvolvimento. , conjuntamente com 16. As partes atribuíram grande importância os Embaixadores do Canadá, Chile e à Cúpula Financeira do G-20, realizada das Comunidades Européias nos EUA, em Londres, e a seu apelo à comunidade encaminhou hoje, 21 de maio, carta ao internacional para o enfrentamento conjunto da Congresso norte-americano pela qual exortam crise financeira. Expressaram o desejo de que os parlamentares a eliminarem a concessão sejam implementados os resultados da Cúpula de subsídios a empresas produtoras de papel de Londres por todos os países envolvidos e e celulose em função da utilização de mistura de que seja levada a cabo a reforma do sistema de óleo diesel com o combustível “licor financeiro internacional. Tais desdobramentos negro”, um subproduto gerado pelo processo contribuiriam positivamente para fazer a de produção de celulose. arquitetura financeira internacional evoluir Estima-se que o subsídio à produção de em direção mais justa, equitativa, inclusiva e licor negro, no valor de US$ 0,50 por galão, ordenada. deverá totalizar US$ 8 bilhões em 2009. 17. Os dois líderes condenaram o aumento O procedimento distorce as condições do do protecionismo no comércio em reação à comércio internacional no setor de papel crise econômica internacional. Declararam e celulose e afeta de modo particular as a intenção de intensificar a coordenação e exportações brasileiras. O Brasil é o quarto a cooperação na OMC, especialmente no maior produtor de celulose, com vendas âmbito do G-20, com vistas a combater em externas que totalizaram US$ 3,9 bilhões conjunto todas as formas de protecionismo em 2008. Desse total, 20% foi destinado ao e a concluir prontamente a Rodada de Doha, mercado dos EUA.

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 253 O subsídio ao licor negro também gera princípios democráticos, à garantia da paz e da preocupação por seus efeitos deletérios ao segurança internacionais, à defesa dos direitos meio ambiente. A concessão do subsídio à humanos e à promoção do desenvolvimento indústria do papel e celulose é viabilizada, com justiça social. em termos legais, mediante artifício pelo qual 3. Durante a visita, os Presidentes Luiz se mistura um combustível fóssil (diesel) ao Inácio Lula da Silva e Abdulah Gül discutiram licor negro. A mistura não é necessária para formas de aprofundar o relacionamento o aproveitamento do licor negro no processo bilateral em distintas áreas e passaram em produtivo da celulose e não era realizada pela revista os principais temas de interesse comum indústria antes da existência do subsídio. da agenda global. Trata-se, portanto, do aproveitamento de 4. Os dois Chefes de Estado enfatizaram sua uma brecha legal que subverte o objetivo determinação de alçar a cooperação bilateral ambientalista da legislação que instituiu o ao mais elevado patamar. Neste sentido, subsídio, a qual visa a fomentar a produção destacaram a importância dos trabalhos da de combustíveis alternativos mediante sua Comissão Conjunta de Alto Nível, estabelecida adição a combustíveis fósseis. em 2006, sob a co-presidência dos Ministros A carta ressalta ainda que, do ponto de das Relações Exteriores dos dois países, como vista jurídico, está claro tratar-se de subsídio mecanismo de coordenação e de promoção passível de questionamento na OMC ou de das relações bilaterais, tanto na esfera do imposição de medidas compensatórias em aprofundamento do diálogo político, quanto investigações de defesa comercial pelas na dinamização do relacionamento no setores autoridades nacionais. econômico, comercial, financeiro, científico e tecnológico, cultural, bem como nas áreas de Declaração Conjunta - Visita defesa e turismo. 5. Durante as conversas, foi concedida Oficial do Presidente Luiz Inácio atenção especial ao comércio e à cooperação Lula da Silva à República da econômica. Os dois Presidentes registraram Turquia - 21 a 22 de maio de 2009 com satisfação o contínuo aumento da 22/05/2009 corrente comercial bilateral e decidiram envidar esforços para que o relacionamento se A convite de Sua Excelência o Presidente desenvolva de forma a refletir as dimensões Abdullah Gül, o Presidente Luiz Inácio Lula e o dinamismo das economias do Brasil e da da Silva realizou Visita Oficial à República da Turquia, dois membros do G-20. Turquia, nos dias 21 e 22 de maio de 2009, 6. Os dois Presidentes encorajaram suas a primeira no mais alto nível de um Chefe respectivas instituições a intensificar o de Estado brasileiro. A visita insere-se no trabalho relativo ao incremento do comércio contexto da determinação dos dois Chefes e investimentos, particularmente nos setores de Estado de intensificar e aprofundar os automotivo, de energia e da indústria de defesa. históricos laços de amizade e de cooperação Nesse sentido, destacaram a necessidade de a entre o Brasil e a Turquia. Comissão Econômica Conjunta e o Conselho 2. Os dois Presidentes reafirmaram os Empresarial bilateral funcionarem ativamente. valores que o Brasil e a Turquia compartilham 7. Os Presidentes Luiz Inácio Lula da Silva quanto ao respeito ao direito internacional, aos e Abdulah Gül saudaram a realização, em

254 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 Istambul, no contexto da visita, do Seminário 11. Os dois líderes também abordaram Econômico Brasil-Turquia, com expressiva as relações entre a Turquia e o Mercosul e participação de empresários de diversos setores reiteraram seu apoio à conclusão exitosa das dos dois países. Em seu pronunciamento no negociações do Acordo de Livre Comércio referido Seminário, o Presidente Lula destacou Mercosul-Turquia. O Presidente Gûl o interesse em dinamizar os investimentos expressou a expectativa de apoio do Brasil mútuos e o comércio bilateral. ao estabelecimento de um Mecanismo de 8. Os dois Chefes de Estado expressaram seu Diálogo Político entre a Turquia e o Mercosul. agrado quanto à cooperação já existente entre 12. O Presidente Lula cumprimentou os dois países na área de energia. Expressaram o Presidente Abdulah Gül pela exitosa sua satisfação com a parceria entre a Turkish organização pela Turquia, do Segundo Fórum Petroleum Company (TPAO) e a Petrobrás, da Aliança das Civilizações, realizado em consolidada com a assinatura, no contexto Istambul, nos dias 6 e 7 de abril de 2009. da visita, de novos contratos entre as duas Ao sublinhar a importância do trabalho da empresas, relativos à prospecção de petróleo na Aliança das Civilizações, os dois Presidentes zona econômica turca no Mar Negro. Durante destacaram o significado das conclusões a visita do Presidente Lula, também foram do Fórum de Istambul e expressaram sua discutidas energias renováveis, área prioritária convicção de que a terceira edição do Fórum, para os governos de ambos os países. a realizar-se no Brasil, em 2010, constituirá 9. Os dois Presidentes acolheram com passo significativo para a consecução dos satisfação a inauguração, em abril de 2009, objetivos da Aliança, assim como para sua de vôos regulares da companhia aérea Turkish expansão em sentido universalizante. Airlines, no eixo Istambul-São Paulo e 13. Os dois líderes também compartilharam reafirmaram sua importância para estimular opiniões sobre os grandes desafios os fluxos de comércio e turismo entre os dois internacionais. Ao discutir a necessidade países. Nesse contexto, o Presidente Lula saudou de resposta global à atual crise econômica, a decisão da Turquia de abrir um Consulado- enfatizaram a importância do fortalecimento Geral em São Paulo e comunicou a disposição do G-20 como uma plataforma altamente de reciprocar o gesto mediante a instalação de representativa que inclui importantes países um Consulado-Geral em Istambul. desenvolvidos e economias emergentes. 10. Os dois Presidentes reiteraram também Expressaram acolher, com satisfação, as o compromisso de estimular as relações nas decisões e iniciativas adotadas na Cúpula do áreas de ciência e cultura entre o Brasil e a G-20, realizada em Londres, em abril último, Turquia. Com esse espírito, saudaram a e reiteraram o compromisso de trabalhar inauguração do Centro de Estudos Latino- conjuntamente com outros líderes do G-20 Americanos estabelecido na Universidade para recuperar a estabilidade econômica e de Âncara. Os dois Chefes de Estado financeira internacional. discutiram ainda a possibilidade de organizar 14. Os Presidentes Luiz Inácio Lula da Silva reciprocamente Semanas do Brasil na Turquia e Abdulah Gül reafirmaram também o empenho e da Turquia no Brasil, de forma a promover de seus Governos em prol do fortalecimento do uma maior visibilidade mútua e propiciar multilateralismo. Sublinharam, nesse contexto, a maior interação cultural entre os povos do necessidade de avançar no processo de reforma Brasil e da Turquia. do Conselho de Segurança das Nações Unidas,

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 255 de forma a torná-lo mais eficaz e representantivo. dias 24 e 27 de maio de 2009. Recordaram a necessidade de que o Conselho No dia 25, em Cachoeira, na Bahia, reflita mais acuradamente as realidades participará, ao lado do Presidente Luiz internacionais contemporâneas, em particular por Inácio Lula da Silva, da inauguração da meio de mais ampla representação de países em Universidade Federal do Recôncavo da desenvolvimento. Os dois Presidentes reiteraram Bahia (UFRB). Em Salvador, os dois também seu compromisso com a conclusão Presidentes farão o lançamento oficial, no exitosa da Rodada de Doha. Brasil, do III Festival Mundial de Artes 15. Os dois líderes analisaram com especial Negras (FESMAN), que se realizará em interesse a situação no Oriente Médio, no Dacar, Senegal, de 1º a 14 de dezembro de quadro do engajamento mútuo na promoção 2009, e terá o Brasil como convidado de da paz, da estabilidade e do desenvolvimento honra. na região. Sublinharam a necessidade de No encontro bilateral, os dois Presidentes avanço no processo negociador do conflito tratarão, entre outras questões, da promoção israelo-palestino que conduza à criação de um do comércio bilateral, da cooperação técnica Estado palestino, convivendo em harmonia e prestada pelo Brasil nas áreas de saúde e segurança com o Estado de Israel. agricultura, e da situação da África Ocidental, 16. Os Presidentes Lula e Gül, ao discutirem em particular em Guiné-Bissau. os efeitos da mudança do clima, convergiram As solenidades do dia 25 farão parte das quanto à necessidade de ampla cooperação comemorações alusivas ao Dia da África. em âmbito global, com base na Convenção- No dia 26, em São Paulo, o Presidente Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do senegalês participará de encontro Clima (UNFCCC) e seu Protocolo de Quioto, empresarial na sede da Federação das reconhecendo as respectivas capacidades dos Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP) países e reafirmando os princípios consagrados e visitará o Museu Afro-Brasil, no Parque na UNFCCC, inclusive o princípio das do Ibirapuera. responsabilidades comuns, porém diferenciadas, Em 2008, o intercâmbio comercial entre dos Estados. o Brasil e o Senegal atingiu US$ 184,2 17. Os dois Presidentes expressaram milhões, com exportações brasileiras de especial satisfação com os entendimentos US$ 174,9 milhões e importações de US$ alcançados durante a visita e reiteraram o 9,3 milhões. empenho de aprofundar e diversificar os laços de amizade entre os Governos e os povos do Teste nuclear norte-coreano Brasil e da Turquia. 25/05/2009

Visita ao Brasil do Presidente do O Governo brasileiro condena Senegal, Abdoulaye Wade - veementemente o teste nuclear realizado pela 24 a 27 de maio de 2009 República Democrática e Popular da Coreia 22/05/2009 (RPDC), hoje, 25 de maio. O teste viola a Resolução 1718, adotada pelo Conselho O Presidente do Senegal, Abdoulaye Wade, de Segurança das Nações Unidas em 14 de realizará sua terceira visita ao Brasil entre os outubro de 2006.

256 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 O Brasil expressa a expectativa de que Tendo em vista as altas qualificações da a RPDC se reintegre, o mais rapidamente Ministra Ellen Gracie e o empenho do Brasil possível e como país não nuclearmente no fortalecimento do sistema multilateral de armado, ao Tratado de Não-Proliferação de comércio, o Ministro Celso Amorim telefonou Armas Nucleares (TNP). para o Diretor-Geral da OMC, Pascal Lamy, Da mesma forma, o Governo brasileiro para manifestar a decepção do Brasil com os conclama a RPDC a assinar, no mais breve resultados do processo de seleção. prazo, o Tratado de Proibição Completa O Presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de Testes Nucleares (CTBT) e a observar a Ministra Ellen Gracie foram informados estritamente a moratória de testes nucleares. da recomendação do Comitê pelo Ministro O Brasil espera, ainda, que a RPDC Celso Amorim. retorne, com espírito construtivo, às Negociações Hexapartites, visando à Visita ao Brasil do Presidente desnuclearização da Península Coreana, e da Venezuela, Hugo Chávez - apela a todas as partes para que se abstenham de atos que possam agravar as tensões nos Salvador, 26 de maio de 2009 contextos regional e global. 25/05/2009

Órgão de Apelação da OMC - O Presidente da Venezuela, Hugo Chávez, visitará Salvador no dia 26 de maio Decisão do Comitê de Seleção para reunião com o Presidente Luiz Inácio 25/05/2009 Lula da Silva, no quadro do mecanismo de encontros presidenciais trimestrais, O Comitê de Seleção da Organização iniciado em 2007. Mundial do Comércio (OMC) divulgou hoje, Os Presidentes deverão examinar os 25 de maio, a decisão de indicar o mexicano desenvolvimentos recentes na agenda Ricardo Ramírez e o belga Peter van den bilateral, com ênfase na cooperação na área Bossche para substituírem os professores industrial, agrícola, de desenvolvimento Luiz Olavo Baptista, do Brasil, e Giorgio habitacional e de prestação de serviços Sacerdoti, da Itália, no Órgão de Apelação bancários à população de baixa renda. Os da Organização, processo em que também Presidentes deverão analisar, também, concorria a Ministra Ellen Gracie Northfleet, a evolução do comércio bilateral, do Supremo Tribunal Federal. Os escolhidos iniciativas na área de energia e os projetos deverão ser formalmente confirmados pelo destinados a impulsionar a integração Órgão de Solução de Controvérsias em e o desenvolvimento fronteiriços. Os reunião agendada para o próximo dia 19 de dois Chefes de Estado tratarão, ainda, de junho de 2009. temas regionais - como a UNASUL e o A candidatura da Ministra Ellen Gracie, MERCOSUL - e internacionais, inclusive ademais de reunir os atributos de saber ações voltadas a reduzir os efeitos da crise jurídico e experiência profissional requeridos financeira internacional. para ocupar a função de membro do Órgão Em 2008, o comércio entre o Brasil e de Apelação, desfrutou de ampla acolhida a Venezuela atingiu US$ 5,6 bilhões, com e apoio dos Estados-Membros da OMC. exportações brasileiras de US$ 5,1 bilhões.

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 257 Visita ao Brasil do Presidente com a integração regional e enfatizaram a da Venezuela, Hugo Chávez importância da adesão da Venezuela para - Salvador, 26 de maio de 2009 - o fortalecimento do MERCOSUL nas suas Comunicado Conjunto dimensões política, econômica e cultural. Registraram com satisfação a decisão 26/05/2009 de convocar o Grupo de Trabalho ad hoc criado pela Decisão CMC 12/07 com vistas No marco do Mecanismo de Encontros a tratar dos temas remanescentes relativos a: Presidenciais Trimestrais iniciado em 2007, Acervo Normativo, Nomenclatura Comum do os Presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e MERCOSUL e Tarifa Externa Comum. Nesse Hugo Chávez Frías reuniram-se na cidade de contexto, Brasil e Venezuela proporão um Salvador, Bahia, em 26 de maio de 2009. regime de adequação para a Venezuela entre Na ocasião, revisaram o conjunto de 2014 e 2018. temas que integra a agenda bilateral, Congratularam-se pela conclusão das aprovaram Acordos voltados à execução negociações sobre o Programa de Liberalização da cooperação nas mais variadas áreas, e Comercial no contexto do Protocolo de examinaram a implementação das decisões Adesão da Venezuela ao MERCOSUL, na tomadas desde o início dos encontros reunião realizada em Brasília, nos dias 19 e presidenciais trimestrais. 20, e em Salvador, em 25 de maio corrente. Também trataram de questões relacionadas Determinaram a realização, nas próximas ao cenário regional e internacional. Ao final semanas, em Caracas, de reunião para da reunião, os Presidentes: concluir os termos de um Mecanismo de Saudaram o fato de que as ações conjuntas, Fortalecimento Produtivo. nos mais diferentes campos, têm gerado 2. COOPERAÇÃO INDUSTRIAL resultados positivos, concretos e visíveis a Recordaram que a instalação, em Caracas, curto prazo em matéria de desenvolvimento de escritório da ABDI e da ABIMAQ industrial endógeno, integração de cadeias estimulará o desenvolvimento industrial produtivas, produção de alimentos, venezuelano, e impulsionará as trocas intercâmbio comercial, cooperação energética comerciais entre os dois países, no quadro de e diversas iniciativas na área social. sua integração econômica e produtiva. Agradeceram a hospitalidade do Governador Saudaram, nesse contexto, a entrega, do Estado da Bahia, Jaques Wagner, e pela ABDI, do resultado do processo de ressaltaram as iniciativas promovidas pelo cadastramento dos fornecedores brasileiros Estado da Bahia com o Governo venezuelano de bens e serviços que poderiam participar e com o Governo do Estado Aragua, que dos sete setores industriais prioritários para resultaram na assinatura de Memorando de o desenvolvimento industrial venezuelano do Entendimento entre o Estado da Bahia e o “Plano 200 Fábricas Socialistas”. Estado Aragua para o desenvolvimento de Manifestaram satisfação com a assinatura ações de integração econômica, comercial, do Programa de Trabalho para Cooperação turística, cultural, educativa e de saúde. Científica, Tecnológica e Industrial que dará 1. MERCOSUL E PROGRAMA DE prosseguimento aos objetivos estabelecidos no LIBERALIZAÇÃO COMERCIAL Programa de Cooperação Industrial assinado Reafirmaram seu compromisso inequívoco em dezembro de 2007.

258 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 3. AGRICULTURA E PRODUÇÃO DE Nacional para a agricultura familiar. ALIMENTOS 4. COOPERAÇÃO ENERGÉTICA Declararam sua intenção de dar Registraram sua satisfação com o continuidade às ações necessárias para o aprofundamento da relação bilateral no setor desenvolvimento da atividade agropecuária energético. na Venezuela, de maneira a trabalhar para a Nesse contexto, congratularam-se pela construção da segurança alimentar na região. assinatura da Extensão do Contrato de Saudaram a conclusão da primeira etapa Associação PETROBRAS e PDVSA na do projeto SOJA, no Estado Anzoátegui, Refinaria Abreu e Lima. Manifestaram sua com participação da Embrapa, que busca satisfação pelos trabalhos que vêm realizando contribuir para a auto-suficiência da com o fim de conformar a empresa mista para Venezuela nessa cultura. a construção da refinaria Abreu e Lima. Nesse contexto, saudaram a continuidade Reiteraram sua intenção de estimular dos projetos de cooperação bilateral nas áreas projetos comuns no setor de energia, pecuária e agroindustrial, no marco do Acordo aproveitando a complementaridade entre assinado em janeiro de 2009, em Maracaibo. Brasil e Venezuela para construir ambiente Expressaram satisfação com o andamento, regional de crescente segurança energética. conduzido pela EMBRAPA e pelo INIA, das Felicitaram-se pela assinatura do iniciativas voltadas à produção, no quadro da Memorando de Entendimento entre Pequiven e agricultura familiar, de cítricos, mandioca e café. Braskem para a implementação de instalações Ressaltaram a relevância de implementar no Pólo Petroquímico de Camaçari, no Estado iniciativas conjuntas destinadas à produção de da Bahia, bem como a assinatura do Adendo insumos para a indústria alimentar. à Carta de Intenções assinada entre ambas as Nesse quadro, congratularam a empresas em janeiro de 2009. PEQUIVEN-BRASKEN pelo projeto de Da mesma forma, congratularam-se construção, na Venezuela, de fábrica de pela assinatura da Carta de Intenção entre a amônia e uréia, cujo estudo de viabilidade empresa Queiroz Galvão e a Corporación técnica foi concluído. Eléctrica Nacional (CORPOELEC) para a Saudaram o estabelecimento de estação construção da Represa de Las Cuevas, Central experimental, com gestão binacional em Las Coloradas, correspondente ao Segundo território venezuelano, das unidades da Desenvolvimento do Complexo Hidrelétrico Embrapa/Roraima e do INIA/Bolívar, Uribante Caparo. destinadas à promoção do intercâmbio de Expressaram, ainda, sua alegria pela tecnologias agropecuárias para problemas assinatura do Memorando de Entendimento comuns na região da fronteira. entre Construtora Norberto Odebrecht e Expressaram satisfação com a assinatura PDVSA para a constituição de uma aliança do Programa de Trabalho entre o Ministério estratégica destinada à criação de empresas de Desenvolvimento Agrário da República prestadoras de serviços de engenharia e Federativa do Brasil e os Ministérios do construção. Manifestaram sua satisfação Poder Popular, para a Agricultura e Terras, e pelos avanços obtidos no fornecimento de para a Alimentação, da Republica Bolivariana coque e de nafta da Venezuela para o Brasil da Venezuela, que promoverá o intercâmbio e pela cooperação que PDVSA Industrial e para o desenvolvimento do Plano Estratégico ABIMAQ têm desenvolvido.

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 259 Destacaram, também, a potencialidade Comércio Bilateral, instrumento fundamental de outros setores energéticos para o para avaliar a fluidez do intercâmbio. desenvolvimento e o aprofundamento 7. COOPERAÇÃO BANCÁRIA E das relações bilaterais, entre os quais, a HABITACIONAL interconexão elétrica e a cooperação na Reiteraram a importância de que a produção de biocombustíveis. cooperação bilateral em matéria habitacional 5. TV DIGITAL se paute por visão ampla do processo de Tomaram nota da realização, no dia 26 de urbanização de favelas, não se limitando à maio de 2009, de reunião técnica destinada construção de moradias, mas promovendo a apresentar, às autoridades venezuelanas, o também o dinamismo econômico das padrão ISDB-T (“Integrated Services Digital comunidades afetadas, a inclusão social e o Broadcasting Terrestrial”) de TV Digital com fortalecimento da cidadania de seus moradores. inovações brasileiras. Celebraram a assinatura dos Acordos de O Presidente Lula agradeceu ao Presidente Cooperação nas áreas de moradia e habitação Hugo Chávez e à sua equipe, integrada pelo e universalização de serviços bancários, que Ministro de Ciência e Tecnologia e Indústrias permitirá às populações que atualmente se Intermediárias da Venezuela, Jesse Chacón, encontram foram do sistema bancário, beneficiar- pela oportunidade de mostrar de forma se do acesso ao crédito e à bancarização. detalhada as vantagens do sistema ISDB-T Expressaram seu contentamento com a com inovações brasileiras, em especial, no assinatura de Carta de Intenção que consolida que se refere ao acesso das populações de os avanços na negociação de dois projetos de baixa renda a serviços de telecomunicações, urbanização de setores da região metropolitana eficientes e de baixo custo. de Caracas, a serem desenvolvidos O Presidente Lula esclareceu que o Brasil conjuntamente pela Caixa Econômica Federal abrirá mão, caso a Venezuela adote o ISDB-T e pelo Ministério do Poder Popular para Obras com inovações brasileiras, dos direitos autorais Públicas e Habitação. de uso do software de interatividade “Ginga”, Manifestaram, também, sua satisfação com desenvolvido com tecnologia nacional, a fim a abertura de Escritório de Representação da de reduzir os custos de adoção do sistema em CAIXA em Caracas e de ponto de atendimento outros países da região. da CAIXA em Pacaraima, no Estado Lembraram, nesse contexto, a importância brasileiro de Roraima, que devem contribuir, do desenvolvimento de tecnologias e produções respectivamente, para o fortalecimento audiovisuais em toda a América do Sul com da cooperação institucional entre Brasil e base em um padrão de TV digital comum. Venezuela e para amparar as comunidades 6. COMÉRCIO REGIONAL E localizadas na fronteira binacional. BILATERAL Os Presidentes saudaram a assinatura de Reiteraram a importância do comércio Memorando de Entendimento destinado à regional, e, particularmente, do comércio cooperação bilateral para a universalização dos bilateral, para manter os níveis de crescimento serviços bancários, permitindo que as populações atuais, face à expectativa de redução de hoje fora do sistema possam beneficiar-se do demanda nas economias desenvolvidas. acesso ao crédito e à bancarização. Recomendaram convocar, proximamente, 8. CIÊNCIA, TECNOLOGIA E Reunião da Comissão de Monitoramento do INDÚSTRIAS

260 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 Recomendaram às autoridades competentes acordados por ocasião do Encontro que avancem no estabelecimento de programas Presidencial celebrado em Caracas, em junho de trabalho conjuntos, em biotecnologia, de 2008, relacionados com a reativação da telemedicina e teleeducação, com o objetivo Comissão Binacional de Alto Nível (COBAN). de levar às populações tradicionalmente 10. INFRAESTRUTURA excluídas novas tecnologias e conhecimentos. Os Presidentes saudaram os entendimentos Acordaram a realização, durante a primeira havidos entre o Presidente do Banco Nacional quinzena de junho de 2009, de encontro sobre de Desenvolvimento Econômico e Social cooperação industrial entre as delegações dos (BNDES) do Brasil, Luciano Coutinho, dois países. e o Ministro de Economia e Finanças da Concordaram com a importância de avaliar Venezuela, Alí Rodríguez, com vistas a projetos conjuntos na área de indústrias de expandir as linhas de financiamento e os transformação para o desenvolvimento da limites das garantias de novos projetos de região Sul da Venezuela e Norte do Brasil. investimento em infraestrutura na Venezuela 9. INTEGRAÇÃO FRONTEIRIÇA com investimentos e tecnologia brasileiros. Saudaram o dinamismo das iniciativas 11. CULTURA voltadas à integração fronteiriça, primeiro Demonstraram sua satisfação com a passo da integração bilateral. realização da Exposição sobre a Obra e a Lembraram, nesse contexto, da Vida de Oscar Niemeyer, no Museu de Arte contribuição VIII Reunião em Matéria de Contemporânea de Caracas, em 21 de maio, Transporte Terrestre (São Paulo, fevereiro de cidadão das Américas e idealizador, através de 2009), da IX Reunião do Grupo de Trabalho sua obra, de um mundo em que a arte possa sobre Desenvolvimento Fronteiriço - GTDF atingir o cidadão de todas as classes sociais. (Caracas, março de 2009) e o Subgrupo de Igualmente, se felicitaram pela realização Saúde na Fronteira (Santa Elena de Uairén, da Feira Cultural Venezuelana na Biblioteca maio de 2009). Pública de Salvador da Bahia, que aproxima Os trabalhos desenvolvidos no GTDF as tradições venezuelanas e, especialmente, beneficiam as populações das localidades do Estado Aragua ao povo bahiano. fronteiriças de Santa Elena de Uairén e 12. TEMAS REGIONAIS Pacaraima, pela execução de projetos Os Presidentes avaliaram muito baseados em um modelo de integração que positivamente o novo espírito de diálogo e leva em consideração a conservação do cooperação que se verificou na Cúpula das meio ambiente e o respeito às comunidades Américas, realizada em Trinidad e Tobago indígenas de ambos os países. Os mandatários em abril de 2009. Manifestaram a expectativa reiteraram, nesse sentido, o compromisso de de que os contatos políticos havidos na celebrar no Brasil, em setembro de 2009, a X ocasião marquem o início de momento de Reunião do GTDF. maior aproximação bilateral, com base no Como resultado prático da integração respeito mútuo e na disposição à cooperação fronteiriça, destacaram: a entrada em mutuamente benéfica, e conduzam à funcionamento do projeto de escolas de construção de uma nova agenda positiva fronteira, e a interconexão de fibra ótica entre entre os países das Américas, que inclua o Roraima e Bolívar. desenvolvimento social e econômico como A Venezuela reiterou os compromissos prioridades políticas.

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 261 13. CRISE FINANCEIRA próxima reunião bilateral na Venezuela, em Saudaram a resistência das economias setembro de 2009. em desenvolvimento aos efeitos negativos da crise financeira. Visita ao Brasil do Presidente da Lembraram, nesse contexto, a República do Uzbequistão, Islam necessidade de tomar medidas para ampliar a atividade econômica interna e os fluxos Karimov - 27 a 29 de maio de 2009 de comércio e investimento regionais. 27/05/2009 Concordaram a relevância, nesse quadro, da Conferência de Altos Funcionários da CALC O Presidente da República do Uzbequistão, sobre Crise Financeira (Santiago, 13/jun). Islam Karimov, realiza visita oficial ao Brasil 14. BANCO DO SUL de 27 a 29 de maio. Trata-se da primeira Saudaram a conclusão das negociações visita de um Chefe de Estado uzbeque à para a criação do Banco do Sul, realizadas América Latina. O Presidente Karimov virá em Buenos Aires, que permitirão, acompanhado de delegação de políticos e proximamente, a assinatura do Convênio empresários de seu país. Constitutivo. No dia 28, será recebido pelo Presidente O Banco do Sul representará um Luiz Inácio Lula da Silva e, em seguida, ponto de virada na forma de atuação das homenageado com almoço no Palácio instituições financeiras regionais, em que Itamaraty. À tarde, fará visitas de cortesia aos a preocupação de financiar ações voltadas Presidentes do Senado Federal, Senador José para o bem-estar das sociedades tenha mais Sarney; da Câmara dos Deputados, Deputado importância do que o lucro das operações Michel Temer; e do Supremo Tribunal Federal, financeiras. Ministro Gilmar Mendes. 15. CÚPULA AMÉRICA DO SUL- A visita foi antecedida de fórum empresarial ÁFRICA bilateral, realizado na FIESP, em São Paulo, Manifestaram suas elevadas expectativas no dia 26 de maio. Na ocasião, foi assinado para a II Cúpula América do Sul - África, que Memorando de Entendimento entre a FIESP envolve 65 Estados e que será sediada em e a Câmara de Comércio e Indústria do Caracas em 18 e 19 de setembro próximo. Uzbequistão, nas áreas de processamento de Observaram o orgulho do Brasil e da alimentos, de couros e calçados, petroquímica, Venezuela pela contribuição africana à química e têxtil. formação de suas identidades nacionais. Frisaram as visões convergentes de ambos Tratado sobre exceções e os continentes, com destaque para a busca limitações a direitos de autor de um comércio internacional voltado para o desenvolvimento, a criação da paz e para deficientes visuais segurança por meios pacíficos, o combate à 27/05/2009 fome e à pobreza, a reforma dos organismos multilaterais para fortalecer a voz do Sul e a O Brasil apresentou hoje, na Organização cooperação energética. Mundial de Propriedade Intelectual (OMPI), Os Presidentes acordaram realizar a proposta de tratado sobre exceções e

262 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 limitações a direitos de autor para deficientes Visita ao Brasil do Presidente da visuais. O objetivo da iniciativa é o de ampliar República do Uzbequistão, Islam o acesso dos deficientes visuais a obras Karimov - Brasília, 28 de maio de literárias e artísticas. A proposta brasileira 2009 - Declaração Conjunta visa a estabelecer critérios internacionalmente aceitos para que os deficientes visuais possam 28/05/2009 beneficiar-se de isenção do pagamento de direitos autorais. Existem mais de 300 milhões A República Federativa do Brasil de deficientes visuais no mundo, 87% dos e quais vivem nos países em desenvolvimento. A República do Uzbequistão A iniciativa pretende realizar objetivos da (doravante denominadas “Partes”), Agenda para o Desenvolvimento da OMPI, Orientadas pela Carta das Nações Unidas proposta pelo Brasil e pela Argentina em e pelos princípios consagrados no Direito 2004, com a incorporação das principais Internacional; reivindicações dos países em desenvolvimento. Desejando desenvolver a cooperação tanto A OMPI, com sede em Genebra, é agência em nível bilateral quanto no âmbito dos fóruns especializada das Nações Unidas desde 1974 multilaterais dos quais ambas participem; e constitui o principal foro internacional para Acordam o seguinte: as negociações multilaterais sobre o direito de 1. As relações entre as Partes serão propriedade industrial e intelectual. baseadas nos princípios de igualdade soberana entre as nações, bem como de cooperação e de Atentado no Paquistão confiança mútua. 2. As Partes incentivarão a cooperação entre 27/05/2009 suas instituições legislativas e judiciárias. 3. As Partes comprometem-se a aprofundar O Governo brasileiro recebeu com pesar e a cooperação nas áreas de cultura, ciência e consternação a notícia do atentado que causou tecnologia, energia, educação, arte, turismo, hoje, em Lahore, no Paquistão, a morte de esporte e saúde, dentre outras. Será incentivado dezenas de pessoas e deixou centenas de o contato direto entre universidades, centros feridos. científicos e culturais, museus e bibliotecas, Ao transmitir suas condolências aos bem como entre organizações que tratem de familiares das vítimas, o Governo brasileiro ciência, cultura e arte. reitera sua mais enérgica condenação à 4. As Partes concordam em fomentar o prática de violência indiscriminada e reafirma intercâmbio de conhecimentos e informações sua veemente oposição a quaisquer atos de nos campos da ciência, tecnologia e sistemas de terrorismo. inovação com vistas a avaliar áreas potenciais para O Governo brasileiro renova seu apoio cooperação. Para isso, a Academia de Ciência ao Governo paquistanês na defesa da ordem da República do Uzbequistão em conjunto pública e do pleno funcionamento das com instituições federais brasileiras de ciência, instituições democráticas e faz votos de que o tecnologia e inovação promoverão diálogo, Paquistão possa trilhar o caminho da paz e da por meio de canais diplomáticos, para sugerir estabilidade. áreas de atuação e propor formas de cooperação

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 263 bilateral a ser posteriormente desenvolvidas. Feita em Brasília, em 28 de maio de 2009, 5. As Partes apoiarão o desenvolvimento em dois originais, nos idiomas português, dos laços entre seus nacionais. Ambas tomarão uzbeque e inglês. medidas, com base em acordos mútuos, para Em caso de divergência quanto à simplificar os procedimentos de concessão de interpretação, o texto em inglês deve prevalecer. vistos aos nacionais da outra Parte 6. As Partes criarão condições favoráveis Novo processo judicial contra a para as relações econômicas, comerciais e Senhora Aung San Suu Kyi, financeiras, assim como para investimentos nos dois países. em Mianmar 7. As Partes cooperarão, nos níveis bilateral 29/05/2009 e multilateral, para promover o desarmamento e a não-proliferação de armas nucleares. O Governo brasileiro vem acompanhando 8. As Partes se empenharão para ampliar com preocupação as informações a respeito o papel e a eficiência da Organização das do novo processo judicial contra a Senhora Nações Unidas como mecanismo universal Aung San Suu Kyi, em Mianmar. para manter a paz e a segurança internacionais. O Governo brasileiro manifesta seu apoio 9. As Partes enfatizam a importância à Declaração emitida pelo Conselho de de reformar as instâncias decisórias Segurança das Nações Unidas sobre o assunto, internacionais a fim de torná-las mais legítimas, no dia 22 de maio, segundo a qual o Conselho representativas e eficazes, por meio da maior “reitera a necessidade de que o Governo de participação dos países em desenvolvimento Mianmar crie as condições necessárias para no sistema multilateral. um genuíno diálogo com a Senhora Aung San 10. As Partes Reafirmam, nesse sentido, Suu Kyi e todas as partes e grupos étnicos a necessidade de expandir o Conselho de envolvidos, a fim de que se alcance uma Segurança nas categorias de membros reconciliação nacional abrangente com o permanentes e não-permanentes. Nesse apoio das Nações Unidas.” sentido, a República do Uzbequistão declara apoio à aspiração do Brasil de ocupar um Retomada dos trabalhos da assento permanente em um Conselho de Conferência do Desarmamento Segurança reformado. 11. As Partes comprometem-se a cooperar 29/05/2009 para a consolidação do primado do direito, da democracia, do pluralismo político e do O Governo brasileiro acolheu, com respeito aos direitos humanos, fazendo uso satisfação, a aprovação, na tarde de hoje, de mecanismos regionais, bem como de em Genebra, de programa de trabalho pela mecanismos previstos pela Carta e pelas Conferência do Desarmamento que permitirá Convenções das Nações Unidas. a retomada das atividades da Conferência, 12. As Partes resolverão questões paralisadas desde 1996. relacionadas à interpretação e à aplicação da O Brasil acredita que a proposta de agenda presente Declaração por meio de consultas de trabalho, que prevê o início imediato de e negociações. Emendas à esta Declaração negociações e consultas em temas variados deverão ser acordadas mutuamente. atinentes ao desarmamento nuclear, reflete os

264 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 esforços empreendidos nos últimos treze anos oportunidade em que serão tratados temas da em favor da revitalização da Conferência, aos agenda bilateral e regional, tais como cooperação quais o Brasil esteve firmemente associado, técnica, biocombustíveis, conversações entre o inclusive quando lhe coube presidir o órgão. MERCOSUL e o Sistema de Integração Centro- O Brasil tem a confiança de que a retomada Americana (SICA), entre outros. das atividades substantivas no âmbito da A Guatemala mantém uma série de Conferência do Desarmamento contribuirá programas sociais inspirados na experiência para fortalecer a busca do objetivo de um brasileira, dentre os quais se destacam o “Mi desarmamento amplo, com vistas à eliminação Familia Progresa”, o “Escuelas Abiertas” e total das armas nucleares. os “Comedores Solidarios”, alguns dos quais serão visitados pelo Presidente Lula. Visita do Presidente Luiz Inácio Durante a visita presidencial, serão Lula da Silva a El Salvador - São assinados acordos para a instalação de centro de formação profissional na Guatemala, Salvador, 1º de junho de 2009 baseado na experiência do SENAI, e para 29/05/2009 a implementação do projeto “Cozinha Brasil-Guatemala”, que tem por objetivo a O Presidente Luiz Inácio Lula da Silva transferência de metodologia brasileira de comparecerá às cerimônias de posse do execução de cursos de educação alimentar. Presidente-eleito de El Salvador, Mauricio O Presidente Lula receberá as chaves da Funes, a se realizarem em 1º de junho de Cidade da Guatemala em cerimônia conduzida 2009, em São Salvador. pelo Prefeito Álvaro Enrique Arzú Yrigoyen. A presença do Presidente Lula na posse do Em 2008, a corrente de comércio bilateral novo Presidente salvadorenho inscreve-se no alcançou US$ 268 milhões, dos quais US$ contexto de aprofundamento e diversificação 244 milhões corresponderam a exportações das relações do Brasil com a América Central. brasileiras. Em 2008, o fluxo de comércio entre o Brasil e El Salvador atingiu US$ 252,5 milhões, dos Visita do Presidente Luiz Inácio quais US$ 249 milhões corresponderam a Lula da Silva à Costa Rica - São exportações brasileiras. José, 2 e 3 de junho de 2009 Visita do Presidente Luiz Inácio 29/05/2009 Lula da Silva à Guatemala - O Presidente Luiz Inácio Lula da Silva Cidade da Guatemala, realizará visita oficial à Costa Rica em 2 e 3 1º e 2 de junho de 2009 de junho de 2009. 29/05/2009 O Presidente Lula manterá com o Presidente Oscar Arias encontro de trabalho O Presidente Luiz Inácio Lula da Silva em que repassarão os temas mais importantes realizará visita oficial à Guatemala em 1º e 2 da pauta bilateral e regional. de junho de 2009. A cooperação técnica entre o Brasil e O Presidente Lula manterá encontro de a Costa Rica é intensa, abrangendo desde trabalho com o Presidente Álvaro Colom, cooperação em matéria de direitos humanos,

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 265 até projetos para a implantação de bancos celebrado em Nova Délhi, em 25 de de leite materno e para a produção de janeiro de 2004, entrou em vigor hoje, dia biocombustíveis. Durante a visita, deverá ser 1° de junho. Trata-se do primeiro acordo assinado acordo de cooperação em matéria comercial extra-regional assinado pelo de tratamento de águas. Mercosul a entrar em vigor. A visita busca ainda promover maior Com a publicação dos Decretos 6.864 e aproximação entre o MERCOSUL e o Sistema 6.865, complementaram-se as formalidades da Integração Latino-Americana (SICA), cuja legais necessárias à incorporação do acordo Presidência “Pro Tempore” caberá à Costa ao ordenamento jurídico brasileiro. Rica a partir do dia 1º de julho de 2009. Este acordo tem como principal O comércio entre o Brasil e a Costa Rica objetivo facilitar o acesso aos mercados do tem crescido de modo significativo em anos Mercosul e da Índia, o que incrementará recentes. Passou de US$ 260,8 milhões, em não somente o fluxo de mercadorias, mas 2003, para US$ 814,35 milhões, em 2008. também as oportunidades de investimentos para ambas as partes. O Mercosul ofereceu XXXIX Assembléia-Geral da preferências em 452 linhas tarifárias, e a Organização dos Estados Índia, em 450 linhas. O ACP constitui o primeiro passo para Americanos - São Pedro Sula, 2 e a criação de uma área de livre comércio 3 de junho de 2009 Mercosul-Índia. 29/05/2009 Juntamente com o ACP Mercosul-SACU (União Aduaneira da África Austral), cujo O Ministro Celso Amorim chefiará a processo de assinaturas foi concluído delegação do Brasil à XXXIX Assembléia- em 3 de abril passado, o ACP Mercosul- Geral da Organização dos Estados Americanos Índia dá seguimento a processo gradual de (OEA), a realizar-se em São Pedro Sula, criação das bases para a futura negociação Honduras, em 2 e 3 de junho de 2009. de entendimento comercial trilateral O tema escolhido para a reunião é “Para Mercosul-Índia-SACU. uma Cultura da Não-Violência”, objeto da Declaração de São Pedro Sula. Reunião de Ministros da Na agenda da Assembléia-Geral da OEA está Agricultura da CPLP prevista, ainda, a discussão de outros temas de grande relevância para a região, entre os quais 02/06/2009 mudança do clima, promoção da democracia e combate aos ilícitos transnacionais. Serão realizados em Brasília, de 2 a 4 de junho, o II Simpósio sobre Segurança Acordo de Comércio Alimentar e Nutricional e a IV Reunião de Ministros da Área de Agricultura e Preferencial Mercosul – Índia Segurança Alimentar da Comunidade de 01/06/2009 Países de Língua Portuguesa. A CPLP reúne Brasil, Angola, Cabo Verde, Guiné O Acordo de Comércio Preferencial Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé entre o Mercosul e a República da Índia, e Príncipe e Timor Leste. As reuniões

266 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 serão coordenadas pelos Ministérios dias 1º e 2 de junho de 2009, acompanhado de do Desenvolvimento Agrário, do Delegação de alto nível. Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Os Presidentes, em diálogo cordial da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, e em ambiente de entendimento mútuo, e das Relações Exteriores. abordaram diversos temas da realidade Nos dias 2 e 3, o II Simpósio reunirá, política, econômica e social de seus países e no Palácio Itamaraty, delegações técnicas intercambiaram pontos de vista sobre a agenda dos Estados-membros da CPLP para bilateral, regional e internacional, em virtude compartilhamento de experiências de do que acordaram a seguinte cooperação nas áreas de agricultura e DECLARAÇÃO CONJUNTA segurança alimentar. Serão apresentadas as 1. Os Presidentes manifestaram sua políticas públicas brasileiras nas matérias, satisfação pelo excelente estado das relações e discutido um Plano de Ação para nortear bilaterais, produto das magníficas relações a cooperação técnica futura da Comunidade de amizade e cooperação, o que se reflete no naquelas áreas. fluido diálogo político que ambas as nações No dia 4, também no Palácio Itamaraty, mantém. Da mesma forma, reiteraram sua a IV Reunião dos Ministros da Área de vontade de continuar fortalecendo os vínculos Agricultura e Segurança Alimentar da CPLP que os unem em todas as áreas. debaterá as oportunidades de cooperação 2. Os Chefes de Estado manifestaram entre os países lusófonos e adotará, além seu compromisso com o pleno respeito aos do Plano de Ação emanado do Simpósio, direitos humanos, às liberdades fundamentais, a Declaração sobre Segurança Alimentar à justiça social e à solidariedade, e Nutricional da CPLP. Os documentos elementos indispensáveis para fortalecer aprovados em Brasília serão enviados à a governabilidade, assegurar o bem-estar consideração do Conselho de Ministros da e o desenvolvimento sócio-econômico de CPLP, que se reunirá nos dias 19 e 20 de seus povos, tendo por base a construção de julho, em Praia, Cabo Verde. sociedades mais prósperas e igualitárias. 3. O Presidente da Guatemala expressou Visita do Presidente Luiz Inácio ao Presidente e ao Povo do Brasil suas condolências pelo acidente aéreo da empresa Lula da Silva à Guatemala - “Air France”, que partiu na noite de domingo, Cidade da Guatemala, 1º e 2 de 31 de maio, do Rio de Janeiro com destino a junho de 2009 - Paris, no qual perderam a vida 228 pessoas, Declaração Conjunta entre as quais grande número de brasileiros. 4. O Presidente Lula manifestou seu apoio 02/06/2009 ao Governo constitucional do Presidente Álvaro Colom, ante as acusações de que tem Atendendo a convite feito por Sua Excelência sido objeto, e expressou sua confiança de o Senhor Álvaro Colom Caballeros, Presidente que prevaleça a governabilidade, a cordura da República da Guatemala, o Excelentíssimo e a harmonia e o respaldou em seu dever de Senhor Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preservar a institucionalidade democrática e a Presidente da República Federativa do Brasil, vigência do Estado de Direito. realizou uma Visita de Estado à Guatemala no 5. O Mandatário brasileiro reiterou os

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 267 termos contidos na Resolução do Conselho funcionam na Guatemala os programas de Permanente da Organização dos Estados “Escuelas Abiertas”, “Comedores Solidarios” Americanos (OEA), do dia 13 de maio do e, particularmente, “Mi Familia Progresa”, ano corrente e, como membro observador e reiterou o apoio de seu Governo às ações do Sistema da Integração Centro-americana desenvolvidas pelo Governo do Presidente (SICA), somou-se ao manifestado pelos Colom em favor desses programas, que trazem Chefes de Estado e de Governo dos países novas oportunidades para os guatemaltecos. membros desse Organismo, na Declaração 10. Em matéria de cooperação, o Presidente Especial sobre a Guatemala assinada Colom reconheceu o valioso aporte que durante a Reunião Extraordinária dos representa para a Guatemala o trabalho Chefes de Estado e de Governo do SICA, desenvolvido pela Agência Brasileira de em Manágua, Nicarágua, no dia 20 de maio Cooperação - ABC - e ambos os Presidentes de 2009, por meio da qual respaldaram o se congratularam pela assinatura, em fins de Governo Constitucional da Guatemala com outubro de 2008, do Ajuste Complementar base no principio de solidariedade regional. ao Acordo Básico de Cooperação Científica 6. Por outro lado, os Mandatários afirmaram e Técnica entre o Governo da República que a redução da pobreza e a luta contra a Federativa do Brasil e o Governo da exclusão social são objetivos comuns de seus Guatemala para a implementação do Governos e constituem a essência de suas Projeto “Assessoria à Gestão Operacional linhas de trabalho na busca do desenvolvimento dos Programas Sociais do Governo da econômico e social de seus povos. Guatemala”, o qual se encontra atualmente 7. Os Presidentes do Brasil e da Guatemala em sua primeira fase de implementação e manifestaram seu compromisso de continuar que beneficiará de maneira direta o programa realizando esforços para combater e nacional “Mi Familia Progresa.” prevenir a propagação da epidemia de gripe 11. Do mesmo modo, ambos os Mandatários AH1N1, ameaça que demanda a prevenção reconheceram a importância da assinatura, internacional de modo a assegurar a saúde de no início do ano de 2009, dos quatro Ajustes toda a população mundial. Complementares ao Acordo Básico de 8. O Presidente da Guatemala agradeceu Cooperação Científica e Técnica para a de modo especial a cooperação técnica que implementação dos Projetos “Escolas Abertas o Brasil proporcionou para o planejamento na Guatemala”, “Formação de Técnicos e execução de distintos programas sociais, em Alfabetização de Jovens e Adultos”, inspirados nos exitosos programas brasileiros, “Plano de Eletrificação Rural Vinculado ao que hoje funcionam na Guatemala e são Desenvolvimento Local” e “Capacitação em coordenados pelo Conselho de Coesão Social. Sistemas de Produção de Frutas Temperadas 9. Nesse sentido, o Presidente Lula da Silva na Guatemala”, os quais já beneficiam o felicitou o Presidente Colom pelo trabalho que funcionamento direto de programas sociais realiza em benefício dos mais despossuídos guatemaltecos, como os dois primeiros. através de distintos programas de Coesão 12. O Presidente Colom reiterou ao Presidente Social e que, como em seu país, tiveram Lula o convite para que empresas brasileiras importante êxito na Guatemala. Da mesma participem das próximas licitações de novas forma, mostrou sua satisfação pela forma como áreas para a exploração e comercialização de

268 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 petróleo e gás, na terra e no mar. Aprendizagem Industrial (SENAI), assim 13. Do mesmo modo, o Presidente Colom como capacitar instrutores e gestores que reiterou seu interesse, junto ao Presidente Lula, atuarão naquele centro. em que empresas brasileiras participem, com 18. Do mesmo modo, os Presidentes o apoio do Governo do Brasil, nos projetos se congratularam pela assinatura, durante hidroelétricos que se criem com a mudança da a presente Visita de Estado, do Ajuste matriz energética da Guatemala, incluindo a Complementar ao Acordo Básico de possibilidade de financiamento. O Presidente Cooperação Científica e Técnica entre o Lula confirmou seu interesse em que empresas Governo da República Federativa do Brasil de seu país participem em tais projetos. e o Governo da República da Guatemala 14. Ambos os Mandatários se congratularam para a Implementação do Projeto “Cozinha pela inclusão da Guatemala como país Brasil-Guatemala”, cuja finalidade é transferir beneficiário em matéria de biocombustíveis, metodologia de execução de cursos de no âmbito do Memorando de Entendimento educação alimentar, com vistas ao incremento entre os Estados Unidos e o Brasil. do conteúdo nutricional dos alimentos 15. Os Presidentes se congratularam pelo consumidos na Guatemala, com ênfase nas avanço da negociação para a aquisição de populações de baixa renda. aeronaves brasileiras “Supertucanos”, com o 19. Os Chefes de Estado concordaram respectivo suporte técnico, que permitirão à que os esforços de cooperação devem ser Guatemala um melhor controle de seu espaço realizados de acordo com as agendas e aéreo para combater o narcotráfico, o crime prioridades dos países receptores, com os organizado e outras ameaças, como catástrofes quais se deverá coordenar as iniciativas, a fim naturais. de simplificar os procedimentos e tornar mais 16. Ao mesmo tempo, o Presidente Colom acessíveis os recursos disponíveis. ficou satisfeito por ter tido a oportunidade de 20. O Presidente Lula da Silva ressaltou mostrar ao Presidente Lula, durante sua visita, o grande atrativo da Guatemala como aliado a implementação na Guatemala dos programas comercial e estratégico na região. Nesse “Escuelas Abiertas”, “Bolsas Solidarias” e sentido, o Presidente Colom manifestou seu “Comedores Solidarios”. desejo de trabalhar conjuntamente com o 17. Ambos os Mandatários manifestaram Brasil para fortalecer os laços comerciais em satisfação pela assinatura, durante a presente benefício de ambos os países. Visita de Estado, do Ajuste Complementar 21. Os Presidentes reiteraram seu apoio ao Acordo Básico de Cooperação Científica ao processo de integração latino-americana e e Técnica entre o Governo da República caribenha e coincidiram sobre a importância Federativa do Brasil e o Governo da República das negociações SICA-MERCOSUL, para da Guatemala para a Implementação do o aprofundamento das relações econômico- Projeto “Centro de Formação Profissional comerciais e a intensificação dos fluxos Brasil-Guatemala em Huehuetenango”, de investimento entre os Estados Partes cuja finalidade é transferir para o Governo do MERCOSUL e os países do SICA. guatemalteco o modelo de implantação Nesse sentido, o Presidente Álvaro Colom dos centros de formação profissional manifestou seu desejo de intensificar as desenvolvidos pelo Serviço Nacional de gestões junto a seus homólogos do SICA,

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 269 com vistas ao lançamento das negociações entre elas a facilitação dos fluxos comerciais, o de um instrumento entre ambas regiões. trabalho para migrantes e a outorga de créditos 22. O Presidente Colom recordou e felicitou em condições favoráveis, que fortaleçam as o Presidente Lula pela celebração da Cúpula instituições financeiras subregionais. América Latina e Caribe sobre Integração e 27. Após revisar os principais temas de Desenvolvimento, no final do ano passado, interesse comum, os Presidentes se mostraram e respaldou a iniciativa de seu homólogo satisfeitos com os resultados alcançados brasileiro para o processo de integração latino- durante a presente Visita de Estado e se americana e caribenha. comprometeram a manter uma estreita 23. Nos temas multilaterais, os Presidentes comunicação que permita tornar mais ágil expressaram sua vontade em continuar e efetiva a excelente relação entre ambos os contribuindo para o processo de reforma e países. O Presidente Lula da Silva agradeceu fortalecimento dos Organismos Internacionais pelo programa organizado, que incluiu visitas dos quais fazem parte ambos os Estados, aos programas “Escuelas Abiertas”, “Bolsas especialmente na Organização das Nações Solidarias” e “Comedores Solidarios”, assim Unidas. Nesse sentido, o Presidente Colom como a entrega das Chaves da Cidade da reiterou o apoio do Governo da Guatemala para Guatemala pelas mãos do Prefeito da capital. que o Brasil passe a integrar, como membro 28. O Presidente Lula da Silva expressou, permanente, o Conselho de Segurança ampliado. em seu nome e de sua Delegação, seu Os Mandatários também intercambiaram seus mais sincero agradecimento ao povo e ao pontos de vista e expectativas sobre os fóruns a Governo da Guatemala, particularmente ao se realizarem proximamente. Senhor Presidente Álvaro Colom, por sua 24. O Presidente Lula reiterou o apoio hospitalidade durante sua estada no país. do Brasil à candidatura da Guatemala como Membro Não-Permanente do Conselho Atentado em Zahedan, Irã de Segurança, período 2012 - 2013, em 03/06/2009 reciprocidade ao apoio outorgado pela Guatemala para igual candidatura para o período 2010 - 2011. O Governo brasileiro recebeu com 25. Os Mandatários manifestaram sua profunda consternação a notícia do atentado preocupação com os efeitos causados pela crise à mesquita da cidade iraniana de Zahedan, no financeira internacional na região e que, ao último dia 28 de maio, que vitimou fatalmente implicar uma queda no Produto Interno Bruto 25 pessoas e deixou dezenas de feridos. (PIB) das economias mais desenvolvidas do Ao lamentar o episódio, que atenta contra mundo, diminui a cooperação e o comércio o direito universalmente reconhecido à bilateral, os quais, longe de diminuírem, liberdade de credo, o Brasil reitera seu total devem ser incrementados. repúdio a todas as formas de atos terroristas, 26. Os Presidentes destacaram a importância independentemente de sua motivação. de que a comunidade internacional, em O Governo brasileiro manifesta plena especial os países responsáveis pela geração da solidariedade ao Governo e ao povo do Irã e crise, adotem medidas de mitigação para com apresenta suas condolências aos familiares das os países de economias menos desenvolvidas, vítimas desse injustificado ato de violência.

270 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 Situação na Guiné-Bissau oportunidades de cooperação e de negócios 05/06/2009 com os países da região: - “Fórum Brasil-África Subsaariana: O Governo brasileiro tomou conhecimento Empreendedorismo para o Desenvolvimento” com preocupação dos acontecimentos da (Dacar, 9 de junho). Coordenado pelo MRE, o madrugada desta sexta-feira em Guiné-Bissau, evento contará com a presença de autoridades que resultaram nas mortes do candidato à de governo e empresários dos países da região Presidência da República Baciro Dabó, do ex- e terá como objetivo identificar oportunidades Ministro da Defesa Hélder Proença e de dois de cooperação e de negócios nos setores de assessores deste. agronegócio, biocombustíveis e tecnologia da O Governo brasileiro exorta a sociedade informação/inclusão digital. Haverá reuniões bissau-guineense a manter a serenidade e a de negócios (“matchmakings”) após o Fórum, atuar com moderação, de forma a preservar na tarde do dia 9/6. o quadro político-institucional e os avanços - “Exposição Brasil Agri-Solutions” logrados no processo de estabilização e de (Dacar, 9 e 10 de junho), organizada pela reformas internas. APEX, na mesma ocasião e local do Fórum, O Brasil também faz um apelo às trata-se de feira exclusivamente brasileira autoridades bissau-guineenses e à comunidade dos setores de máquinas e implementos internacional para que contribuam para a agrícolas, máquinas e equipamentos para manutenção de um ambiente pacífico que biocombustíveis, alimentos industrializados favoreça a organização das próximas eleições, e tecnologia da informação. Na ocasião, os etapa fundamental para a consolidação empresários brasileiros manterão agenda democrática do país e para a retomada de seu de encontros de negócios com empresários projeto nacional. africanos. O Governo brasileiro seguirá - “Missão Empresarial a quatro países acompanhando os desdobramentos da situação da África Subsaariana”. Coordenada pelo em Guiné-Bissau, em coordenação com os MDIC, a missão será liderada pelo Ministro demais membros da Comunidade dos Países Miguel Jorge e visitará Senegal, Nigéria, de Língua Portuguesa. Guiné-Equatorial e Gana, no período de 7 a 12 de junho, tendo por objetivo a promoção Eventos de Promoção Comercial do comércio e dos investimentos brasileiros na região, bem como a exploração de e de Cooperação na África possibilidades de cooperação entre os setores 05/06/2009 produtivos brasileiros e africanos.

De 9 a 12 de junho, o Ministério das Visita do Ministro Celso Amorim Relações Exteriores (MRE), o Ministério à Colômbia - Cartagena e do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), a Agência Brasileira de Bogotá, 7 e 8 de junho de 2009 Promoção de Exportações e Investimentos 05/06/2009 (APEX-BRASIL) e a Confederação Nacional da Indústria (CNI) realizarão, na África, os A convite do Chanceler da Colômbia, seguintes eventos, com vistas a identificar Jaime Bermúdez, o Ministro Celso Amorim

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 271 realizará visita oficial à Colômbia a fim as exportações brasileiras corresponderam a de co-presidir, em 8 de junho de 2009, em US$ 2,29 bilhões. Cartagena, a I Reunião da Comissão Bilateral Brasil-Colômbia. A Comissão foi criada pelos Visita ao Brasil do Vice- Presidentes do Brasil e da Colômbia em 17 Primeiro-Ministro e Chanceler de fevereiro de 2009, na visita de Estado ao Brasil do Presidente Álvaro Uribe. da Jamaica, Kenneth Baugh - Os Ministros manterão encontros de Brasília, 8 a 11 de junho de 2009 trabalho nos dias 7 e 8 de junho, ocasião 08/06/2009 em que repassarão temas da agenda bilateral e regional. Aos Ministros O Vice-Primeiro-Ministro e Chanceler Amorim e Bermúdez serão apresentados da Jamaica, Kenneth Baugh, realizará os relatos dos resultados alcançados nas visita de trabalho ao Brasil de 8 a 11 de seguintes reuniões: VI Grupo de Trabalho junho, acompanhado da Embaixadora Gail de Cooperação Técnica Brasil-Colômbia, Mathurin, Secretária-Geral da Chancelaria IV Comissão Mista Cultural, Educativa e jamaicana e Embaixadora para o Brasil, Esportiva e III Reunião do Grupo Executivo residente em Kingston, e do Senhor Robert de Trabalho Brasil-Colômbia, foro em que Gregory, Presidente da “Jamaican Trade and se vêm discutindo, entre outros assuntos, Investment - JTI”. as atividades no contexto do Programa de O Chanceler jamaicano será recebido, no Substituição Competitiva de Importações dia 9 de junho, pelo Ministro Celso Amorim (PSCI). para reunião de trabalho sobre temas da No dia 8 de junho, o Ministro Celso agenda bilateral e regional, em particular Amorim será recebido em audiência pelo sobre as perspectivas da reunião ministerial de Presidente Álvaro Uribe, em Bogotá. seguimento da Cúpula da América Latina e do Brasil e Colômbia identificaram energia, Caribe sobre Integração e Desenvolvimento desenvolvimento sustentável da Amazônia (CALC), a ser sediada pela Jamaica no final e infra-estrutura como as áreas estratégicas de 2009. prioritárias, neste momento, para o exame O Ministro Baugh cumprirá, ainda, de ações conjuntas no quadro da Comissão programa de encontros com autoridades dos Bilateral. Ministérios do Desenvolvimento, Indústria e No âmbito do Grupo de Trabalho de Comércio Exterior; da Agricultura, Pecuária Cooperação Técnica, foram assinados, em 5 e Abastecimento; da Educação; e da APEX, de junho, projetos de cooperação na área de além de visitas ao Presidente da Comissão proteção à propriedade intelectual, destinação de Relações Exteriores e Defesa Nacional do de lixo e processamento de madeira. Na área Senado Federal, Senador Eduardo Azeredo, cultural, firmou-se Programa Executivo do e ao Presidente da Comissão de Relações Acordo de Cooperação Cultural entre o Brasil Exteriores e Defesa Nacional da Câmara dos e a Colômbia para os anos 2009-2011. Deputados, Deputado Severiano Alves. Em 2008, o intercâmbio comercial Em 2008, o fluxo comercial entre Brasil e bilateral atingiu US$ 3,1 bilhões, dos quais Jamaica alcançou US$ 301 milhões.

272 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 Portal “Brasileiros no Mundo” motivos alegados, o Governo brasileiro reitera 09/06/2009 seu repúdio a todas as formas de terrorismo e transmite as mais sinceras condolências aos O Ministério das Relações Exteriores familiares dos mortos e feridos nesses atentados. lançou, no endereço http://www. O Governo brasileiro expressa sua brasileirosnomundo.mre.gov.br, página solidariedade e renova os votos de paz e eletrônica para assuntos relacionados com as estabilidade ao Governo e ao povo paquistanês. comunidades brasileiras no exterior. O conteúdo disponível inclui compilação Visita do Ministro Celso Amorim de informações sobre tais comunidades, à França - Paris, incluindo listas de associações e organizações que agregam ou apoiam brasileiros, meios de 11 e 12 de junho de 2009 comunicação a eles destinados, estimativas 10/06/2009 populacionais, referências bibliográficas e registros audiovisuais sobre brasileiros no O Ministro Celso Amorim realizará visita exterior. O portal visa também à divulgação oficial a Paris, nos dias 11 e 12 de junho. e preservação de informações e documentos No dia 11, manterá reunião de trabalho com sobre o sistema de conferências “Brasileiros o Ministro dos Negócios Estrangeiros da no Mundo”, tais como artigos, propostas e França, Bernard Kouchner, em seguimento contribuições diversas dos participantes. ao diálogo ocorrido no Rio de Janeiro, em O novo portal do MRE será utilizado como 4 de junho, por ocasião da cerimônia em instrumento para ampliar o diálogo entre o homenagem às vítimas do acidente com o Itamaraty e as comunidades brasileiras no vôo 447 da Air France. exterior e destas entre si, bem como para a Os dois Ministros discutirão a implementação preparação da II Conferência “Brasileiros no do Plano de Ação da Parceria Estratégica, Mundo”, a ser realizada em agosto próximo bem como temas de interesse comum da no Palácio Itamaraty do Rio de Janeiro. agenda internacional, tais como a reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas e Atentados no Paquistão das instituições financeiras internacionais. No dia 12, o Ministro Celso Amorim 09/06/2009 participará, na qualidade de convidado de honra, do seminário “Europe-South America O Governo brasileiro recebeu, com profundo Post-Crisis Relationship: Together or Apart?”, pesar e consternação, a notícia dos atentados comemorativo da Cátedra Mercosul do terroristas ocorridos no Paquistão nos últimos Instituto de Ciências Políticas, Science Po. quatro dias - em 5 de junho, no Distrito do Dir Manterá, também, encontro com o Conselheiro do Norte; no dia 6 de junho, em Malakaand- Diplomático do Presidente Nicolas Sarkozy, Swat e em Islamabade; e hoje, dia 9 de junho, Jean-David Levitte. no Pearl Continental Hotel, em Peshawar. No ano passado, o fluxo comercial entre o Ao condenar de forma veemente a violência Brasil e a França alcançou US$ 8,8 bilhões, de atos dessa natureza, independentemente dos 26% a mais do que em 2007. Os investimentos

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 273 franceses no Brasil alcançaram US$ 2,2 de US$ 9,8 bilhões, em 2003, para US$ 49 bilhões em 2008. bilhões, em 2008 - aumento de 500%.

Cúpula dos Chefes de Estado Visita do Presidente Luiz Inácio e de Governo dos BRICs - Lula da Silva ao Cazaquistão - Ecaterimburgo, Astana, 17 de junho de 2009 16 de junho de 2009 15/06/2009 15/06/2009 O Presidente Luiz Inácio Lula da Silva O Presidente Luiz Inácio Lula da Silva realizará visita à República do Cazaquistão participará, no dia 16 de junho, na cidade no dia 17 de junho, em retribuição à visita do russa de Ecaterimburgo, da I Reunião de Presidente cazaque, Nursultan Nazarbayev, Cúpula do Grupo BRIC (Brasil, Rússia, Índia ao Brasil, em 2007. Em Astana, o Presidente e China), juntamente com o Presidente da Lula terá encontro com o Presidente China, Hu Jintao, com o Presidente da Rússia, Nazarbayev e com o Primeiro-Ministro, Dmitri Medvedev, e com o Primeiro-Ministro Karim Massimov. da Índia, Manmohan Singh. Trata-se da primeira visita de um Chefe de Os Chefes de Estado e de Governo dos BRICs Estado brasileiro ao país. O Presidente viaja deverão passar em revista temas relativos à acompanhado do Ministro Celso Amorim e do crise econômico-financeira e à conjuntura Ministro das Minas e Energia, Édison Lobão. política internacional. A reunião servirá, ainda, Com o objetivo de reforçar os vínculos para discutir a institucionalização do grupo. comerciais, também acompanhará o Presidente Entre 2003 e 2007, o crescimento dos Lula ao Cazaquistão delegação empresarial países do Grupo BRIC representou 65% integrada por representantes dos setores de da expansão do PIB mundial. Em 2003, os construção civil, mineração, alimentação, BRICs correspondiam a 9% do PIB global. aviação civil, bancário e esportivo. O comércio Já em 2008, as economias dos quatro países entre os dois países, embora ainda modesto, responderam, em conjunto, por 15% da alcançou, em 2008, US$ 57,8 milhões. economia mundial, com o PIB totalizando US$ 8,9 trilhões. Considerado pela paridade Cúpula dos Chefes de Estado de poder de compra, esse índice supera US$ e de Governo dos BRICs - 15 trilhões, o que representa 21% do total. O comércio entre os quatro países Ecaterimburgo, 16 de junho de desenvolveu-se significativamente e com 2009 - Declaração Conjunta grande complementaridade, no período de 2003 17/06/2009 a 2008. O comércio Brasil-Rússia cresceu de US$ 2 bilhões, em 2003, para US$ 8 bilhões, (tradução para o português) em 2008; o comércio Brasil-Índia, de US$ Declaração Conjunta dos Líderes dos Países 1 bilhão para US$ 4,7 bilhões; e o comércio do BRIC Brasil-China, de US$ 6,7 bilhões para US$ Nós, os líderes da República Federativa do 36,4 bilhões. No conjunto, o comércio do Brasil, da Federação Russa, da República da Índia Brasil com os demais países do Grupo cresceu e da República Popular da China, discutimos a

274 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 atual situação da economia mundial e outros - processo decisório e de implementação assuntos candentes para desenvolvimento democrático e transparente no âmbito das global, e também as perspectivas para o maior organizações financeiras internacionais; aprofundamento da colaboração no âmbito do - sólida base legal; BRIC, em nossa reunião em Ecaterimburgo, em - compatibilidade entre as ações de 16 de junho de 2009. instituições regulatórias nacionais eficazes e de Chegamos às seguintes conclusões: organismos internacionais de regulamentação; 1. Enfatizamos o papel central das Cúpulas - fortalecimento do gerenciamento de risco do G-20 para a solução da crise financeira. Elas e das práticas de supervisionamento. têm encorajado a cooperação, a coordenação 5. Reconhecemos a importância do comércio de políticas e o diálogo político em relação a internacional e dos investimentos estrangeiros assuntos econômicos e financeiros de âmbito diretos para a recuperação econômica mundial. internacional. Instamos todas as partes a trabalhar em conjunto 2. Exortamos todas as nações e organismos para incrementar o ambiente de comércio e internacionais relevantes a agirem com vigor de investimento internacional. Conclamamos para implementar as decisões tomadas pela a comunidade internacional a resguardar Cúpula do G-20 em Londres, em 2 de abril a estabilidade do sistema multilateral de de 2009. Comprometemo-nos a cooperar comércio, restringir o protecionismo comercial estreitamente entre nós e com outros parceiros e pressionar por resultados abrangentes e para assegurar maior progresso da ação equilibrados para a Agenda de Desenvolvimento coletiva na próxima Cúpula do G-20, que será de Doha da OMC. realizada em Pittsburgh (EUA), em setembro 6. Os países mais pobres foram atingidos de 2009. Esperamos que a Conferência das de maneira mais severa pela crise financeira. Nações Unidas sobre a Crise Financeira e A comunidade internacional necessita Econômica Mundial e seus Impactos sobre incrementar os esforços para providenciar o Desenvolvimento, a ser realizada em Nova recursos financeiros líquidos para esses Iorque, de 24 a 26 de junho de 2009, alcance países. A comunidade internacional também resultados positivos. deve empenhar-se para minimizar o impacto 3. Estamos comprometidos com o avanço da crise sobre o desenvolvimento e para da reforma das instituições financeiras garantir que os Objetivos de Desenvolvimento internacionais, de forma a refletir as do Milênio sejam atingidos. Os países transformações da economia mundial. As desenvolvidos devem cumprir o compromisso economias emergentes e em desenvolvimento de destinar 0,7% do Produto Interno Bruto devem ter maior peso e representação nas à Ajuda Oficial ao Desenvolvimento e instituições financeiras internacionais, cujos envidar maiores esforços para incrementar a diretores e executivos devem ser indicados por assistência, o alívio das dívidas, o acesso a intermédio de processo aberto, transparente e mercados e a transferência de tecnologia para com base no mérito. Acreditamos, também, na países em desenvolvimento. necessidade de um sistema monetário estável, 7. A implementação do conceito de confiável e mais diversificado. desenvolvimento sustentável, que abrange, 4. Estamos convencidos de que a reforma entre outros, a Declaração do Rio, a Agenda da arquitetura financeira e econômica deve para o Século XXI e os acordos multilaterais basear-se, inter alia, nos seguintes princípios: sobre meio-ambiente, deve ser um importante

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 275 vetor na mudança do paradigma do coletivo de todos os Estados. Reiteramos nosso desenvolvimento econômico. apoio aos esforços políticos e diplomáticos 8. Defendemos o fortalecimento da para resolver pacificamente os contenciosos coordenação e da cooperação entre os nas relações internacionais. Estados no campo da energia, inclusive 13. Condenamos com veemência entre produtores e consumidores de energia o terrorismo em todas suas formas e e Estados de trânsito, com vistas a diminuir manifestações e reiteramos que não pode a incerteza e a garantir a estabilidade e a existir justificativa para quaisquer atos de sustentabilidade. Apoiamos a diversificação terrorismo, em qualquer lugar e por qualquer dos recursos e fontes de energia, incluindo motivo. Observamos que a versão preliminar energia renovável, a segurança das rotas da Convenção Abrangente contra o Terrorismo de trânsito de energia, e a criação de novos Internacional está atualmente sob exame da investimentos e infra-estrutura nesta área. Assembléia Geral da ONU e conclamamos 9. Apoiamos a cooperação internacional sua adoção imediata. no campo da eficiência energética. Estamos 14. Expressamos nosso sério compromisso prontos para promover um diálogo com a diplomacia multilateral, na qual as construtivo sobre as formas de lidar com as Nações Unidas desempenham o papel central mudanças climáticas com base no princípio no tratamento dos desafios e ameaças globais. das responsabilidades comuns porém Neste sentido, reafirmamos a necessidade de diferenciadas, tendo em conta a necessidade uma reforma abrangente da ONU, com vistas a de combinar medidas para a proteção do torná-la mais eficiente, de modo que ela possa clima com ações para realizar nossas metas de lidar com os desafios globais de maneira mais desenvolvimento socioeconômico. eficaz. Reiteramos a importância concedida 10. Reafirmamos o compromisso de ao status da Índia e do Brasil nas relações aumentar a cooperação entre nossos países internacionais, e compreendemos e apoiamos em áreas de interesse social e de fortalecer os suas aspirações a desempenhar papel mais esforços para prestar assistência humanitária relevante no âmbito das Nações Unidas. internacional e reduzir os riscos de desastres 15. Acordamos os passos para promover o naturais. Tomamos nota da declaração sobre diálogo e a cooperação entre nossos países de segurança alimentar global lançada hoje forma crescente, proativa, pragmática, aberta como uma grande contribuição dos países do e transparente. O diálogo e a cooperação entre BRIC aos esforços multilaterais para criar as os países do BRIC é proveitoso não apenas condições sustentáveis para este objetivo. para os interesses comuns das economias 11. Afirmamos o compromisso de avançar de mercados emergentes e dos países em com a cooperação entre nossos países no campo desenvolvimento, mas, também, para a da ciência e da educação com o objetivo, inter construção de um mundo harmonioso de paz alia, de realizar a pesquisa fundamental e de duradoura e prosperidade comum. desenvolver tecnologias avançadas. 16. Rússia, Índia e China receberam com 12. Destacamos nosso apoio a uma ordem satisfação o cordial convite para a próxima mundial multipolar mais democrática e justa, Cúpula do BRIC, que o Brasil sediará em 2010. baseada no império do direito internacional, na * * * igualdade, no respeito mútuo, na cooperação, Declaração Conjunta do BRIC sobre nas ações coordenadas e no processo decisório Segurança Alimentar Global

276 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 As flutuações dos preços globais dos desenvolvimento da capacidade de produção alimentos, combinadas com a crise financeira de alimentos em países em desenvolvimento mundial, estão ameaçando a segurança nos últimos trinta anos. Além disso, as alimentar mundial. Por conseqüência, o condições do mercado global não criaram número de pessoas sofrendo de fome e incentivos adequados à expansão da produção de subnutrição aumenta e o avanço em agrícola nos países menos desenvolvidos e em direção ao cumprimento dos Objetivos desenvolvimento, que se tornaram os principais de Desenvolvimento do Milênio pode ser importadores de gêneros alimentícios. revertido. Este desafio deve ser enfrentado Também é importante avaliar os desafios sem demora, de forma abrangente, por meio e oportunidades apresentados pela produção de ações firmes por parte de todos os governos e uso dos biocombustíveis, tendo em e das agências internacionais relevantes. vista não apenas a segurança alimentar Os países desenvolvidos e em mundial, mas, também, as necessidades da desenvolvimento devem tratar da questão segurança energética e de desenvolvimento da segurança alimentar de acordo com o sustentável. Um mecanismo de cooperação princípio das responsabilidades comuns internacional precisa ser estabelecido para porém diferenciadas. Os países desenvolvidos reavaliar as implicações de longo prazo no devem dar apoio tecnológico e financeiro desenvolvimento da energia de biomassa e de aos países em desenvolvimento na área de políticas adequadas. capacidade de produção de alimentos. Os Desta forma, os países do BRIC recebem países do BRIC acolhem com satisfação com satisfação a troca de experiências diversas iniciativas nesta área por parte da em tecnologias, normas e regulamentos ONU e de suas agências especializadas. Os de biocombustíveis, para assegurar que a países do BRIC renovam o seu compromisso produção e o uso de biocombustíveis seja de contribuir com os esforços para superar a sustentável, de acordo com os três pilares crise global de alimentos. do desenvolvimento sustentável - o social, É impossível conter a crise global o econômico e o ambiental - e que essa de alimentos de forma eficaz sem um produção leve em conta a necessidade de entendimento claro e completo das suas atingir e manter a segurança alimentar causas. Tentar explicar a alta nos preços de global. Biocombustíveis sustentáveis podem alimentos pelo aumento do consumo em países constituir uma força motriz para a inclusão em desenvolvimento oculta as causas reais, social e a distribuição de renda, principalmente que são de natureza complexa e multifacetada. em áreas rurais empobrecidas de países pouco A mudança global do clima e os desastres desenvolvidos e em desenvolvimento, onde a naturais têm implicação direta na segurança maior parte dos problemas de fome do mundo alimentar por acarretar alterações nas estão localizados. condições agro-ecológicas. A atual crise Lidar com a crise de alimentos de forma econômica e financeira mundial também tem eficaz exige uma resposta internacional impacto negativo na segurança alimentar por totalmente coordenada e deve incluir medidas retrair os recursos financeiros disponíveis para tanto de curto quanto de longo prazo. A o setor agrícola. Acesso restrito a mercados e comunidade internacional precisa elaborar subsídios que distorcem o comércio em países e implementar, de forma consistente, uma desenvolvidos também têm dificultado o estratégia abrangente para resolver este

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 277 problema global. A esse respeito, os países do da produção de alimentos; BRIC recebem com satisfação os resultados b) inovações tecnológicas e cooperação de fóruns internacionais relevantes, incluindo internacional conjuntas para introduzir a Conferência de Alto Nível sobre Segurança tecnologias avançadas no setor agrícola Alimentar Mundial da Organização das de países em desenvolvimento e aumentar Nações Unidas para Agricultura e Alimentação significativamente a produtividade agrícola. (FAO), em Roma. Direitos de propriedade intelectual no domínio Os países do BRIC também recebem com agrícola devem atingir um equilíbrio entre o bem satisfação os resultados do Fórum Mundial comum da humanidade e incentivos à inovação; de Grãos, realizado em São Petersburgo, e c) melhorar a infra-estrutura agrícola, exortam todas Organizações Internacionais incluindo sistemas de irrigação, transporte, e Estados interessados a tomar as medidas fornecimento, armazenamento e distribuição, necessárias para implementar as medidas e promover políticas de assistência técnica, acordadas no Fórum. acesso a crédito e seguro rural. Neste Para garantir a segurança alimentar é contexto, parcerias público-privadas podem necessário um mercado mundial e um sistema desempenhar um papel significativo; de comércio para alimentos e agricultura que d) melhorar a troca de conhecimentos funcione bem, com base nos princípios da e a comercialização de biocombustíveis imparcialidade e da não-discriminação. A esse sustentáveis; respeito, é de extrema importância acelerar a e) garantir maior acesso a alimentos em Rodada Doha de Negociações da Organização níveis nacional e internacional, por meio de Mundial do Comércio (OMC), com o objetivo políticas apropriadas e do bom funcionamento de encontrar soluções conciliatórias para de sistemas de distribuição, principalmente reduções radicais de subsídios multibilionários para os pobres e para as pessoas mais no setor agrícola, que distorcem os termos vulneráveis em países em desenvolvimento; de comércio e impedem os países em f) compartilhar as melhores práticas desenvolvimento de aumentar a sua produção na operação de programas públicos de agrícola. Estamos comprometidos a nos opor distribuição bem-sucedidos; e ao protecionismo, estabelecendo um regime g) prover os países em desenvolvimento de comércio justo para produtos agrícolas, com meios financeiros e tecnológicos para e a dar aos fazendeiros dos países em implementar por completo medidas de desenvolvimento incentivos para que eles se adaptação para minimizar os impactos adversos dediquem à produção agrícola. da mudança do clima na segurança alimentar. Os países do BRIC apóiam a adoção de uma série de medidas de médio a longo prazo, com Visita do Presidente Luiz Inácio o objetivo de solucionar a questão da segurança Lula da Silva ao Cazaquistão alimentar. Tais medidas podem incluir: a) oferecer assistência e recursos - Astana, 17 de junho de 2009 - adicionais ao setor agrícola, por meio dos Declaração Conjunta respectivos canais orçamentários nacionais 17/06/2009 e de instituições internacionais para o desenvolvimento, principalmente para a Em 17 de junho de 2009, a convite agricultura doméstica, que é a principal fonte do Presidente Nursultan Nazarbayev, o

278 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 Presidente da República Federativa do Brasil, com a República Quirguiz, o Tadjiquistão, o Senhor Luiz Inácio Lula da Silva, realizou Turcomenistão e o Uzbequistão, do Acordo que visita oficial ao Cazaquistão. cria a “Zona Livre de Armas Nucleares na Ásia Durante reunião, os Chefes de Estado Central”, em vigor desde março passado. passaram em revista o amplo leque de questões 4. Apoiaram o fortalecimento do sistema de interesse mútuo e compartilharam suas multilateral de comércio, no entendimento visões sobre as perspectivas de cooperação de que a garantia de um comércio livre e entre a República do Cazaquistão e a República equilibrado é essencial para o desenvolvimento Federativa do Brasil. e para o combate à pobreza. Com base na aspiração comum de ampliar 5. Discutiram a agenda bilateral, a parceria entre os dois países, mediante o demonstraram satisfação com os avanços desenvolvimento de ampla cooperação, os recentes e reconheceram a importância da Chefes de Estado: pronta conclusão das negociações em curso 1. Enfatizaram a dinâmica positiva do de atos bilaterais. desenvolvimento das relações bilaterais, as 6. Manifestaram intenção de criar condições coincidências de posições quanto à solução de favoráveis para maior desenvolvimento das questões de segurança regional e global, bem relações entre os meios empresariais de ambos como às questões contemporâneas da política os países, aumentar a cooperação econômica e internacional. comercial e os investimentos. Neste contexto, 2. Mencionaram o crescimento do papel sublinharam a importância das missões político e econômico de ambos os países da EMBRAPA e da Agência Brasileira de no marco das organizações regionais e Cooperação ao Cazaquistão. internacionais, e reiteraram o compromisso de 7. Expressaram satisfação com a aperfeiçoar suas atividades. Neste contexto, os recente evolução das negociações entre a Chefes de Estado confirmaram suas posições no EMBRAER e o Ministério dos Transportes e sentido de reformar o Conselho de Segurança Comunicações cazaque, e saudaram a próxima das Nações Unidas, a fim de assegurar maior visita de delegação brasileira, composta de participação dos países em desenvolvimento representantes dos setores de mineração, como membros permanentes e não permanentes companhias de aviação civil, bancos e da e a permitir que o órgão se torne mais legítimo indústria alimentar, ao Cazaquistão, em e eficaz. O Brasil agradeceu, mais uma vez, o setembro deste ano. apoio do Cazaquistão à aspiração brasileira a 8. Manifestaram satisfação pelo um assento permanente em um Conselho de frutífero diálogo e instruíram seus Segurança das Nações Unidas ampliado. governos a estabelecer, este ano, Comissão 3. Reafirmaram a importância de iniciativas Intergovernamental sobre Comércio e internacionais nos campos do desarmamento, Cooperação Econômica, e a manter contatos não proliferação e de resolução pacífica de que favoreçam o crescente adensamento das controvérsias. Concordaram que os avanços em relações entre os dois países. direção à não proliferação de armas de destruição 9. Mencionaram a necessidade de em massa devem ser acompanhados de passos desenvolver a cooperação nas esferas consistentes em direção ao desarmamento, cultural, científica, educacional e desportiva, sobretudo o nuclear. O Brasil congratulou, expressaram satisfação com a experiência mais uma vez, o Cazaquistão pela assinatura, bem sucedida na formação de jovens atletas

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 279 do Cazaquistão no Brasil e reconheceram a preconceito contra trabalhadores migrantes, importância de finalizar o projeto do Centro na luta contra o trabalho forçado e na Cultural em Astana elaborado pelo famoso busca da eliminação do trabalho infantil. arquiteto Oscar Niemeyer. Sublinhou, ainda, o fato de que os efeitos 10. Sublinharam a importância do da atual crise são sentidos de forma mais aprofundamento das relações entre Brasil intensa no mundo em desenvolvimento e e Cazaquistão, e de prosseguir o diálogo no a centralidade da promoção do emprego mais alto nível, bem como as consultas entre digno e decente nas discussões sobre a os Ministérios de Relações Exteriores, outros retomada do crescimento. órgãos estatais e organizações públicas. Feito em Astana, 17 de junho de 2009. Visita ao Brasil da Presidente das Filipinas, Gloria Macapagal Eleição para o Conselho de Arroyo, 22 a 25 de junho de 2009 Administração da OIT 23/06/2009 19/06/2009 A Presidente das Filipinas, Gloria A Representante Permanente do Brasil Macapagal Arroyo, realiza, de 22 a 25 de junho, junto à ONU em Genebra, Embaixadora visita de Estado ao Brasil, acompanhada dos Maria Nazareth Farani Azevêdo, foi eleita Ministros de Relações Exteriores, Agricultura, hoje, 19 de junho, Presidente do Conselho de Comércio, Energia, Desenvolvimento Social e Administração da Organização Internacional Imprensa, além da Presidente da Comissão de de Trabalho (OIT), para o período 2009- Relações Exteriores do Senado daquele país. 2010. Ao longo dos 90 anos de história da No dia 24, em Brasília, a Presidente OIT, trata-se da terceira mulher a presidir Gloria Macapagal Arroyo será recebida o órgão. Antes da Embaixadora Farani pelo Presidente Lula e pelos Presidentes do Azevêdo, três outros brasileiros ocuparam a Senado Federal, da Câmara dos Deputados Presidência do Conselho: Julio A. Barboza e do Supremo Tribunal Federal. Manterá Carneiro (1958-1959), Mozart Victor encontro com o Ministro Patrus Ananias, do Russomano (1987-1988) e o Ministro Celso Desenvolvimento Social, que lhe exporá as Amorim (2000-2001). políticas brasileiras de inclusão social, e com O Conselho de Administração é o órgão a direção da União da Indústria de Cana- executivo da OIT, responsável, entre outros de-Açúcar (UNICA), que lhe apresentará a temas, pela definição das políticas da experiência brasileira na utilização do etanol. Organização, pela elaboração da agenda da Durante a visita da Presidente filipina, Conferência Internacional do Trabalho e serão firmados diversos atos bilaterais, com pela discussão e adoção do orçamento da destaque para as áreas de cooperação agrícola, OIT. de bioenergia, de pesquisa agropecuária e de Em seu discurso de posse, a Representante cooperação comercial. Permanente do Brasil recordou a recente A programação da Presidente Gloria Arroyo participação do Presidente Lula na Cúpula inclui passagem pelo Recife, ocorrida no dia sobre a Crise Global de Empregos e a 22, quando foi recebida pelo Governador importância do papel da OIT no combate ao Eduardo Campos, e pelo Rio de Janeiro, onde,

280 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 no dia 25, será homenageada com almoço Celso Amorim participará da Conferência de pelo Governador Sérgio Cabral e pelo Prefeito Alto Nível das Nações Unidas sobre a Crise Eduardo Paes. Econômica e Financeira Mundial e seus A corrente de comércio entre o Brasil e Impactos sobre o Desenvolvimento. as Filipinas superou, em 2008, a cifra de um bilhão de dólares. A empresa filipina TECON Visita ao Brasil da Presidente opera terminal no Porto de Suape e a Vale das Filipinas, Gloria Macapagal- conta com sucursal em Manila. Arroyo - Brasília, 24 de junho de Visita do Ministro Celso Amorim 2009 - Declaração Conjunta a Paris e Nova York, 24/06/2009 23 a 26 de junho de 2009 A convite do Presidente Luiz Inácio Lula da 23/06/2009 Silva, a Presidente da República das Filipinas, Gloria Macapagal-Arroyo, realizou visita de O Ministro Celso Amorim viajará a Paris Estado à República Federativa do Brasil, de 22 entre os dias 23 e 25 de junho corrente para a 25 de junho de 2009. Integraram sua comitiva participar da Reunião Ministerial do Conselho o Ministro das Relações Exteriores, Alberto da OCDE e de encontros relacionados às G. Romulo; o Ministro da Energia, Angelo negociações da Rodada Doha, da OMC. T. Reyes; o Ministro da Agricultura, Arthur No dia 24, participará como convidado C. Yap; o Ministro do Comércio e Indústria, de honra do café-da-manhã oferecido pelo Peter B. Favila; a Ministra do Bem-Estar Instituto Francês de Relações Internacionais Social e Desenvolvimento, Esperanza Cabral; (IFRI) sobre o tema “O Brasil e a Nova Ordem o Secretário de Imprensa da Presidência da Mundial”. Em seguida, manterá encontros República, Cerge M. Remonde; e a Presidente com o Representante de Comércio dos Estados da Comissão de Relações Exteriores do Unidos (USTR), Ron Kirk; com a Comissária Senado, Senadora Miriam Defensor Santiago. Européia para o Comércio, Catherine Ashton; Durante sua estada em Brasília, foi recebida e com o Ministro do Comércio da África do pelo Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que Sul, Rob Davies, entre outros. a homenageou com almoço; pelo Presidente No dia 25, o Ministro Celso Amorim do Senado Federal, Senador José Sarney; manterá encontros com os ministros do pelo Presidente da Câmara dos Deputados, Comércio da Índia, da África do Sul e da Deputado Michel Temer; e pelo Presidente do China. Em seguida, participará da sessão sobre Supremo Tribunal Federal, Ministro Gilmar comércio internacional da Reunião Ministerial Mendes. A programação estendeu-se às do Conselho da OCDE, intitulada “Keeping cidades de Recife e Rio de Janeiro. Markets Open for Trade and Investment”. 2. Durante a Visita de Estado, foram Na tarde desse mesmo dia, terá encontro assinados os seguintes atos: Memorando com o Ministro do Comércio da Austrália, de Entendimento sobre Cooperação em Simon Crean, e participará de reunião informal Agricultura; Memorando de Entendimento de Ministros de Comércio, convocada pela sobre Cooperação em Bioenergia; Protocolo Austrália, para discutir a Rodada Doha. de Intenções sobre Cooperação Técnica na No dia 26, em Nova York, o Ministro Área de Reforma Agrária; Acordo sobre

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 281 o exercício de atividades remuneradas 6. Os dois Presidentes ressaltaram a por parte de dependentes do pessoal importância que atribuem à superação diplomático, consular, administrativo e das desigualdades sociais e recordaram a técnico; Memorando de Entendimento entre a relevância das políticas de transferência Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária de renda dos dois países, como parte de (EMBRAPA) e a “Philippine Agricultural programa mais amplo de proteção social Development and Commercial Corporation - e de desenvolvimento. Expressaram apoio PADCC”; Memorando de Entendimento entre à cooperação entre instituições nacionais a Confederação Nacional de Indústrias (CNI) relevantes, no sentido de aumentar a eficácia e a “Philippine Chamber of Commerce and das políticas públicas adotadas por ambos os Industry - PCCI”, e “Comunicado Conjunto países nesse domínio. entre a Associação Brasileira de Criadores de 7. Dada a importância que o tema de Gado Girolando e o Ministério da Agricultura inclusão social assumiu na cooperação filipino, para a doação amostras de sêmen internacional para o desenvolvimento, os bovino da raça girolando às Filipinas. Líderes reiteraram o compromisso com as 3. O Presidente Luiz Inácio Lula da Silva Metas do Desenvolvimento do Milênio. externou sua grande satisfação com a visita Recordaram a decisão de apoiar a criação de da Presidente Gloria Macapagal-Arroyo, a uma instância no campo da reforma agrária, primeira, em nível presidencial, na história no âmbito da Organização das Nações Unidas das relações bilaterais. para Agricultura e Alimentação (FAO), com o 4. Os dois Líderes compartilharam a objetivo de contribuir para o fortalecimento expectativa otimista de que seja intensificada dos pequenos produtores e agricultores. a troca de visitas entre altas autoridades e 8. Os Presidentes comprometeram- entre representantes de setores influentes das se a envidar os esforços necessários sociedades dos dois países. Nesse sentido, para a implementação do Memorando acordaram realizar, em 2010, a primeira reunião de Entendimento sobre Cooperação em do mecanismo bilateral de Consultas e iniciar Agricultura e do Memorando de Entendimento negociações em torno de instrumentos bilaterais sobre Cooperação em Bioenergia, firmados de cooperação técnica e na área cultural. durante a visita. Sublinharam os diversos 5. Manifestaram a intenção de aumentar benefícios mútuos que esses instrumentos o comércio bilateral Brasil-Filipinas, que podem produzir sobre áreas prioritárias da ultrapassou, em 2008, a marca de US$ 1 agenda bilateral, incluindo a facilitação do bilhão. Assumiram, também, o compromisso comércio bilateral de produtos agrícolas. de evitar, no campo comercial, o recurso Nesse contexto, registraram com satisfação a medidas protecionistas, tarifárias ou o estabelecimento das instâncias de não tarifárias, assim como a subsídios. implementação previstas nos referidos Concordaram em tomar medidas no sentido instrumentos, assim como a doação, pela de facilitar o comércio bilateral em bens e Associação Brasileira dos Criadores de Gado serviços, particularmente em produtos e áreas Girolando, de material genético, em apoio ao de interesse de ambos os países. desenvolvimento da pecuária filipina.

282 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 9. Os dois Líderes reconheceram os papéis a necessidade da adoção de medidas para relevantes desempenhados pelo MERCOSUL implementar os acordos alcançados na reunião e pela ASEAN, em favor da estabilidade e do G-20 em Londres, em abril passado. prosperidade de seus respectivos entornos 12. Coincidiram na necessidade de que os regionais. Saudaram o processo de aproximação países em desenvolvimento mantenham posição em nível ministerial entre os dois grupamentos, coordenada na defesa dos avanços alcançados iniciado em Brasília, em novembro de 2008, que nas negociações relacionadas a saúde pública no terá sequência na reunião de altos funcionários âmbito do Acordo sobre Questões Comerciais de Kuala Lumpur, prevista para agosto deste Associadas aos Direitos de Propriedade ano, e na reunião ministerial que terá lugar à Intelectual, na Organização Mundial do margem da Assembléia Geral da ONU, em Comércio. Em particular, expressaram setembro vindouro. preocupação diante de certas restrições ao 10. Os Presidentes Luiz Inácio Lula da comércio de medicamentos genéricos. Silva e Gloria Macapagal-Arroyo reafirmaram 13. Os Presidentes comprometeram-se sua confiança no multilateralismo como meio a observar o princípio do desenvolvimento de alcançar soluções efetivas, duradouras e sustentável, o qual abrange as dimensões legítimas para a crise que atualmente atinge econômica, social e ambiental, em suas o sistema financeiro global. Não obstante políticas nacionais de desenvolvimento. apreciarem os primeiros sinais de recuperação Demonstraram, também, a disposição de da economia mundial, os Líderes reforçaram participar ativamente do esforço global os papéis fundamentais da ONU e de outros de enfrentamento à mudança do clima, mecanismos multilaterais de cooperação levando em consideração o princípio para a reforma dos regimes regulatórios e das responsabilidades comuns, porém institucionais do sistema financeiro global, diferenciadas, bem como de promover o que se faz necessária para fortalecer a desenvolvimento sustentável das florestas e regulação do setor financeiro e evitar os a conservação dos oceanos e áreas costeiras. efeitos negativos da crise financeira sobre os Coincidiram em que ambos os países países em desenvolvimento. trabalhem juntos em favor de resultados 11. Acentuaram a importância que teria, positivos para as negociações em curso, na para a recuperação da economia global, a ONU, no âmbito da Convenção-Quadro sobre conclusão, de forma equilibrada, da Rodada a Mudança do Clima. de Desenvolvimento de Doha de negociações 14. Os Líderes concordaram em acelerar os comerciais da Organização Mundial do esforços de ambos os Governos para desenvolver Comércio. Chamaram a atenção para a fontes alternativas de energia a partir de contribuição que os países em desenvolvimento vários recursos disponíveis e renováveis, na podem prestar para o reordenamento da promoção do desenvolvimento sustentável. economia mundial. Enfatizaram, nesse Expressaram interesse em trocar experiências sentido, a crescente relevância assumida e conhecimentos em energias renováveis, pela cooperação Sul-Sul, em complemento à tais como a hidrelétrica, biocombustíveis, cooperação Sul-Norte. Também acentuaram geotérmica e solar, entre outras.

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 283 15. Expressaram seu compromisso com a 19. Manifestaram, também, o propósito promoção e a proteção dos direitos humanos de cooperar ativamente para o êxito da VIII em seus respectivos países, assim como na Conferência de Exame do Tratado de Não- arena internacional. Ambos mencionaram que Proliferação - TNP, em 2010, a ser presidida pelo o Brasil e as Filipinas foram dois dos primeiros Embaixador Libran N. Cabactulan, das Filipinas. países que aproveitaram a oportunidade de 20. Os Presidentes Luiz Inácio Lula da submeter-se ao processo de Revisão Periódica Silva e Gloria Macapagal-Arroyo concluíram Universal no Conselho de Direitos Humanos a visita enaltecendo o contínuo avanço da ONU, em 2008. Reafirmaram a contínua das relações Brasil-Filipinas sob suas defesa, por seus países, dos direitos humanos Administrações e expressando a certeza de e do fortalecimento do Conselho de Direitos que a visita de Estado significou um passo Humanos da ONU, como o forum mais histórico no sentido do desenvolvimento de importante para a discussão de questões uma relação moderna e progressivamente relativas aos direitos humanos. mais intensa entre os dois países. 16. Reafirmaram o compromisso dos dois Governos com o processo de renovação da Reunião Ministerial informal do ONU, de forma a permitir o desenvolvimento IBAS - Paris, 25 de junho de 2009 - de um multilateralismo mais eficiente e legítimo. Enfatizaram a necessidade de Declaração Conjunta reforma do Conselho de Segurança, incluindo 25/06/2009 aumento da participação dos países em desenvolvimento nesse órgão. O Ministro das Relações Exteriores do 17. A Presidente Gloria Macapagal-Arroyo Brasil, Sua Excelência Celso Amorim, o manifestou o apoio das Filipinas à aspiração Ministro do Comércio e da Indústria da Índia, do Brasil em ocupar assento permanente em Sua Excelência Anand Sharma, e o Ministro um Conselho de Segurança reformado. O do Comércio e Indústria da África do Sul, Sua Presidente Luiz Inácio Lula da Silva expressou Excelência Rob Davies, encontraram-se hoje, seu profundo reconhecimento à Presidente 25 de junho de 2009, em Paris, à margem da Gloria Macapagal-Arroyo e também a Reunião Ministerial da OCDE. agradeceu pelo filipino às candidaturas Os Ministros do IBAS reafirmaram que brasileiras a um assento não-permanente no as necessidades e aspirações dos países Conselho de Segurança da ONU, no período de em desenvolvimento devem permanecer 2010-2011, e à Comissão do Serviço Público em primeiro plano na Agenda Doha para o Internacional, as quais serão consideradas Desenvolvimento. Nesse contexto, reiteraram durante a 64º Assembléia-Geral da ONU. seu comprometimento em alcançar um 18. Os dois Presidentes acordaram o apoio resultado ambicioso e equilibrado, que cumpra recíproco à candidatura filipina ao Conselho as promessas de desenvolvimento da Rodada. Econômico e Social da ONU, no período Os Ministros observaram com preocupação 2010-2012, e à candidatura brasileira, para o que a OMC está prevendo para este ano a maior período 2012-2014. contração no comércio internacional desde a

284 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 Segunda Guerra Mundial. Enfatizaram que afetam os interesses de todos os membros. uma conclusão da Rodada de Doha que efetive Os Ministros expressaram sua satisfação o seu mandato desenvolvimentista poderia com os resultados concretos já alcançados dar maior estímulo à recuperação econômica, por Índia, Brasil e África do Sul nos seis principalmente nos países mais pobres. anos que se passaram desde a criação do Tornam-se imperativos a eliminação de Fórum de Diálogo IBAS. Receberam com todas as barreiras e um maior engajamento satisfação a recente ratificação do Acordo de econômico global por meio do estabelecimento Comércio Mercosul-Índia e a assinatura do de um regime multilateral de comércio Acordo Mercosul-SACU. Observaram que baseado em regras que seja justo, imparcial as negociações SACU-Índia estão correndo e que responda às aspirações legítimas dos satisfatoriamente. países em desenvolvimento. Os Ministros estão convencidos de que a Reiteraram que a conclusão das Quarta Cúpula do IBAS, a ser realizada em negociações de modalidades com base outubro de 2009, em Brasília, dará impulso nos textos de dezembro de 2008 continua adicional à sua cooperação trilateral. Eles sendo um objetivo importante e imediato. também afirmaram o seu comprometimento Reafirmaram que estão dispostos a intensificar em avaliar outras formas de fortalecer os laços o diálogo com todos os membros da OMC econômicos Sul-Sul. com vistas a encontrar soluções específicas Situação em Honduras para problemas pendentes. 28/06/2009 Estas soluções devem respeitar o balanço geral invocado na Declaração de Doha e na Declaração Ministerial de Hong Kong. O Governo brasileiro condena de forma Neste estágio final das negociações, em veemente a ação militar que resultou na meio ao pior panorama econômico desde retirada do Presidente de Honduras, José a Grande Depressão da década de 1930, Manuel Zelaya, do Palácio Presidencial em seria irracional e irreal supor que maiores Tegucigalpa no dia de hoje e sua condução concessões unilaterais venham a ser feitas para fora do país. por parte dos países em desenvolvimento, Ações militares desse tipo configuram principalmente no contexto da corrente crise atentado à democracia e não condizem com o econômica. Mencionaram que a contribuição desenvolvimento político da região. Eventuais dos países em desenvolvimento à Agenda para questões de ordem constitucional devem ser o Desenvolvimento de Doha não encontra resolvidas de forma pacífica, pelo diálogo e equivalente na história do sistema multilateral no marco da institucionalidade democrática. de comércio, até mesmo por parte dos países O Governo brasileiro solidariza-se com o desenvolvidos. povo hondurenho e conclama a que o Presidente Os Ministros do IBAS também destacaram Zelaya seja imediata e incondicionalmente que o diálogo renovado entre os Membros deve reposto em suas funções. acontecer em um contexto multilateral inclusivo O Presidente Luiz Inácio Lula da Silva e transparente, já que compromissos individuais segue acompanhando a situação por meio

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 285 de contatos com outros Chefes de Estado exercida pela Líbia. A Comissão da União e através de informações repassadas pelo Africana, que funciona como o Secretariado Ministro Celso Amorim. da UA, é presidida por Jean Ping, do Gabão. A Cúpula da União Africana se reúne a cada Visita do Presidente Luiz Inácio semestre, alternadamente, em Adis Abeba e na capital de outro país africano. Lula da Silva à Líbia para Desde 2002, o comércio do Brasil com a participar da Cúpula da União África cresceu cinco vezes, tendo alcançado Africana - Sirte, US$ 26 bilhões no ano passado. Grandes 1º de julho de 2009 empresas brasileiras, sobretudo do setor de construção civil e de energia, também estão 29/06/2009 presentes no continente. O Brasil conta, hoje, com 34 Embaixadas e dois Consulados- O Presidente Luiz Inácio Lula da Silva Gerais na África. Atualmente, estão sendo viajará à Líbia, em 1º de julho, para participar, desenvolvidas na África algumas das como convidado de honra, da abertura da XIII principais iniciativas de cooperação Sul-Sul Cúpula de Chefes de Estado e de Governo da prestadas pelo Brasil, como o Escritório da União Africana (UA), a realizar-se na cidade Embrapa em Gana, o Escritório da Fiocruz de Sirte. O convite reflete o reconhecimento e a fábrica de medicamentos anti-retrovirais de que as relações entre o Brasil e a África se em Moçambique, os Centros de Formação fortaleceram e se intensificaram no Governo Profissional nos países de língua portuguesa do Presidente Lula. e a fazenda-modelo de produção de algodão Durante a visita, prevê-se a assinatura no Mali. de três ajustes complementares ao Acordo de Cooperação Técnica entre o Brasil e a Eleições presidenciais União Africana. O primeiro tem por objetivo na Guiné-Bissau estender a outros países da UA a experiência bem-sucedida da fazenda-modelo montada 29/06/2009 pelo Brasil no Mali, que já beneficia países como Benim, Burkina Faso, Chade e O Governo brasileiro saúda a realização, Mali. O segundo instrumento versa sobre em 28 de junho, das eleições presidenciais desenvolvimento social, enquanto o terceiro na Guiné-Bissau, que transcorreram de forma trata de cooperação agrícola em áreas como pacífica e ordeira, conforme testemunho de capacitação de pequenos agricultores e técnicas observadores internacionais, entre os quais de comercialização e acesso a mercados. três representantes brasileiros integrantes de Com sede em Adis Abeba, capital da Missão de Observação Eleitoral da CPLP. Etiópia, a União Africana foi criada em 2002, Em atenção a pedido formulado pelas em substituição à antiga Organização da autoridades bissauenses, encontra-se, desde 15 Unidade Africana (OUA). Sua presidência, de junho, naquele país, missão técnica da Justiça rotativa, tem duração de um ano e é, atualmente, Eleitoral brasileira para auxiliar no pleito.

286 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 A realização das eleições presidenciais antecipadas, conforme estabelecido pela Constituição da Guiné-Bissau, é etapa importante no processo de retomada da normalidade institucional do país, após o assassinato, em março deste ano, do Presidente João Bernardo Nino Vieira. O Governo brasileiro tem a confiança de que a apuração continuará a ocorrer dentro da normalidade e de que as eleições contribuirão para o fortalecimento das instituições democráticas, a consolidação da paz e o processo de reconstrução nacional na Guiné-Bissau.

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 287

ARTIGOS

Artigo do Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, publicado na edição especial 527-A da revista “Carta Capital”, intitulado “Investindo no B do BRIC”. 03/01/2009

Quando tomei posse no primeiro mandato conquistas do Brasil, especialmente a redução em 2003, prometi acabar com a fome em de 675 milhões de toneladas na emissão de meu país. Sob a bandeira do Fome Zero, gases de efeito estufa, o 1 milhão de novos coloquei a erradicação da Pobreza e a redução empregos criados e a drástica redução da desigualdade em primeiro plano na ação na dependência de combustíveis fósseis do governo. Estava convencido de que, sem importados, procedentes de um número lidar diretamente com estes dois males, perigosamente pequeno de países produtores. seria impossível superar séculos de atraso Tudo isso se consumou sem comprometer econômico e agitação política. a segurança alimentar, que, ao contrário, foi Após quase seis anos, muito progresso foi beneficiada com a crescente produção agrícola. feito. O número dos muito pobres no Brasil se A escassez de alimentos ameaça prejudicar reduziu à metade. A classe média está agora nossas conquistas na redução da pobreza em maioria, 52% da população. Não há motivo mundial. O Brasil está expandindo a produção para complacência. Muitos brasileiros ainda agrícola e reforça a posição como o segundo são incapazes de se sustentar com dignidade. maior exportador de alimentos do mundo. Ao Contudo, a resposta da sociedade brasileira mesmo tempo, o ritmo de desmatamento na para eliminar a privação social e econômica é Amazônia se reduziu à metade, uma indicação uma indicação das profundas mudanças pelas de que a agroindústria moderna do Brasil não quais o País está passando. representa ameaça à floresta tropical O Brasil nunca esteve em melhor A reprodução na América Latina e na posição para enfrentar os desafios adiante África de muitas iniciativas sociais brasileiras, e está totalmente ciente de suas crescentes incluindo o Fome Zero e os programas para responsabilidades globais. HIV-Aids, é uma prova de que as Metas de Os programas de etanol e biodiesel do Brasil Desenvolvimento do Milênio são alcançáveis são um marco de referência para as fontes a um custo relativamente baixo. de combustíveis alternativos e renováveis. Para lidar com a mudança climática, a ação As parcerias estabe1ecidas com países em coletiva é o único caminho a ser tomado. O desenvolvimento buscam reproduzir as ponto de interrogação sobre a relevância

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 289 do G-8 e do Conselho de Segurança não proteção da propriedade intelectual não pode reformado - sem mencionar as instituições ter prioridade sobre o imperativo ético de de Bretton Woods - destaca que não é mais assegurar que as populações pobres tenham possível excluir as grandes economias acesso a drogas que salvam vidas. emergentes do debate de questões de suprema Implementar essa agenda exige um novo importância para a agenda global. sistema internacional, mais regulamentado Mais democracia nas tomadas de decisão e transparente. Para esse fim, o Brasil uniu- internacionais é essencial se queremos se à índia e à África do Sul para formar encontrar respostas verdadeiramente eficazes a lbsa, uma associação das três maiores para os desafios globais. A magnitude da democracias do sul do globo, com foco nos atual crise financeira, por exemplo, exige urna temas de cooperação e desenvolvimento. resposta vigorosa das instituições multilaterais. Também nos juntamos aos nossos vizinhos O Brasil permanece comprometido com na formação da União de Nações Sul- a conclusão bem-sucedida da Rodada de Americanas (Unasul), que tem por objetivo Doha. Desejamos eliminar todas as barreiras fortalecer a integração regional e assegurar ao comércio internacional que estrangulam o uma presença internacional mais forte para o potencial produtivo de incontáveis países na nosso bloco. A Unasul está estruturando um Ásia, África e América Latina. Estive em contato plano de energia, um conselho de segurança direto com líderes de alguns dos principais e um banco de desenvolvimento. países e acredito que ainda temos uma chance Com essas iniciativas, vamos fortalecer o real de avançar nas questões relativamente diálogo e melhorar os mecanismos exigidos menores que ainda estão em aberto. para revigorar o multilateralismo. Mais que O mundo industrializado deve tomar a tudo, vamos fortalecer nossa capacidade de liderança na redução da emissão de gases unir as mãos na construção de um futuro de efeito estufa e dar apoio para as nações mais próspero, justo e pacifico para todos. em desenvolvimento fazer o mesmo, Obs.: Artigo publicado originalmente na mas sem que precisem comprometer o edição especial The World in 2009 da revista crescimento doméstico. Similarmente, a britânica The Economist

290 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 Artigo do Ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, e do Ministro da Ciência e Tecnologia, Sergio Rezende, intitulado “A cooperação Brasil-China na área espacial”, publicado no jornal “Folha de São Paulo”. 19/02/2009

Desde o restabelecimento das relações 1986, o Brasil e a China estabeleceram, dois diplomáticas, em 1974, o Brasil e a China anos depois, uma parceria para a construção, o têm passado por um processo contínuo de lançamento e a operação dos satélites CBERS aproximação, que ganhou nos últimos anos (sigla, em inglês, de Satélite Sino-Brasileiro uma escala sem precedentes, em especial nas de Recursos Terrestres), que, ainda hoje, áreas de comércio e de ciência e tecnologia. representa o maior projeto de cooperação A troca de visitas de alto nível tem sido, conjunta na área de ciência e tecnologia entre ao mesmo tempo, um reflexo e um fator países em desenvolvimento. dessa intensificação das relações bilaterais. Ao romper com o padrão de propriedade Receberemos no Brasil nesta semana o vice- individual de satélites de sensoriamento remoto, presidente chinês, Xi Jinping. Em maio o programa CBERS permitiu aos dois países próximo, o presidente Lula deverá voltar à produzir dados e imagens de seus territórios China, na sequência de uma série de visitas a custo reduzido. O programa insere-se na recíprocas realizadas por ele e pelo presidente estratégia de utilizar a tecnologia espacial como Hu Jintao. instrumento a serviço do desenvolvimento Foi nesse contexto de maior proximidade sustentável, pois é fonte de dados para a política que o comércio bilateral cresceu a formulação de políticas públicas em áreas como um ritmo impressionante nos últimos anos. monitoramento ambiental, desenvolvimento A corrente de comércio entre os dois países agrícola e planejamento urbano. passou de US$ 6,6 bilhões, em 2003, para US$ O CBERS é reconhecido como um dos 36,5 bilhões, em 2008, com um crescimento principais programas de sensoriamento de mais de 550%, quando a expectativa dos remoto do mundo. Brasil e China já lançaram dois governos era atingir o valor de US$ os satélites CBERS-1, em 1999; CBERS-2, 30 bilhões apenas em 2010. A China já é a em 2003; CBERS-2B, em 2007; e devem segunda maior parceira individual do Brasil lançar o CBERS-3, em 2011, e o CBERS-4, na área de comércio, depois dos EUA. em 2014. Isso promove a inovação na indústria Os resultados também são expressivos em espacial brasileira e gera empregos em setor outros setores e, em particular, em ciência e estratégico. O Brasil tem fornecido a estrutura tecnologia, área crucial para o desenvolvimento mecânica dos satélites, o sistema de geração dos dois países. Na sequência de uma visita do de energia e o sistema de coleta de dados e então ministro Renato Archer a Pequim, em telecomunicações.

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 291 No último dia 15 de janeiro, após operar Os países da América do Sul ao alcance das por mais de cinco anos (mais de duas vezes e antenas do Instituto Nacional de Pesquisas meia o tempo inicialmente previsto), o satélite Espaciais, em Cuiabá, são os mais beneficiados CBERS-2 encerrou os seus trabalhos. Nesse por essa política. Em 2007, o Brasil e a China período, superou as expectativas ao gerar mais decidiram fornecer as imagens do CBERS de 175 mil imagens que serviram para monitorar também aos países da África. Dessa forma, o ambiente e controlar desmatamentos, bem os governos e as organizações do continente como avaliar o estado de áreas agrícolas e a africano podem monitorar desastres naturais, ocupaçãode centros urbanos. desmatamentos, ameaças à produção agrícola Sempre dispostos a compartilhar os e riscos à saúde pública. benefícios sociais do sensoriamento remoto É essencial a manutenção de um com o mundo em desenvolvimento, o programa espacial ágil e eficaz, voltado Brasil e a China estenderam o acesso das para o desenvolvimento do país e para a imagens e dos dados aos seus parceiros. melhoria da qualidade de vida de todos Com o CBERS-2, o Brasil tornou-se o maior os brasileiros. Os 20 anos bem vividos distribuidor de imagens de satélite do mundo, do CBERS, que celebramos desde 2008, fornecendo gratuitamente, pela internet, e a sua continuidade com os próximos desde junho de 2004, mais de meio milhão satélites são a certeza de que teremos mais de imagens para cerca de 20 mil usuários. avanços e benefícios para o Brasil, a China A China também adota política similar e já e os demais países em desenvolvimento nos distribuiu mais de 200 mil imagens. próximos 20 anos.

292 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 Artigo do Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, para o jornal “Le Monde”, intitulado “A Crise vista do Sul”. 30/03/2009

Diferentemente das crises dos últimos 15 do mundo, é positiva. É importante, no anos - a asiática, a mexicana ou a russa - a atual entanto, que ele possa produzir soluções tempestade que se abateu sobre o planeta teve capazes de reverter os efeitos devastadores da sua origem no centro da economia mundial, crise e apontar no médio e longo prazos para nos Estados Unidos. uma profunda reformulação da economia Depois de contagiar a Europa e o Japão, internacional. a crise se espalhou, ameaçando os países As expectativas em relação à reunião do “emergentes”, que vinham experimentando G20 em Londres não podem ser frustradas. extraordinário crescimento e saudável São necessárias respostas que criem condições equilíbrio macro-econômico. para o relançamento da economia. Na América do Sul, os últimos dez No rol dos problemas emergenciais vejo o anos foram marcados por forte processo restabelecimento do crédito e o combate ao de crescimento, com sensível melhoria protecionismo como temas centrais. A queda social, sustentabilidade macro-econômica do comércio mundial e dos investimentos está e redução da vulnerabilidade externa. Esse ligada à escassez de liquidez no mundo. Ela processo deu-se em um quadro de expansão e penaliza os países emergentes. Cabe, assim, aprofundamento da democracia. ao FMI irrigar a economia internacional, As aventuras de um capital financeiro sobretudo os emergentes, para reverter, antes descolado da produção, somadas à que seja tarde, a atual tendência recessiva. irresponsável desregulamentação dos Sei que não será fácil concluir a Rodada mercados, conduziu o mundo a um impasse de Doha, que esteve prestes a ser concluída que nem mesmo seus causadores são hoje no ano passado. Em momentos de crise cresce capazes de avaliar a profundidade. o protecionismo, que eu tenho comparado A crise expôs os profundos equívocos a uma droga. Propicia euforia provisória, de políticas econômicas apresentadas como mas, nos médio e longo prazos, acaba por infalíveis e a fragilidade dos organismos produzir profunda depressão, com sinistras multilaterais de Bretton Woods. Mostrou conseqüências sociais e políticas, como nos a obsolescência dos instrumentos de mostra a história do século XX. governança global. Precisamos democratizar o FMI e o Banco A elevação do G20 financeiro, antes um Mundial. Essas instituições, no passado organismo técnico, à condição de instância de pródigas em dar lições aos países pobres e chefes de governo das principais economias em desenvolvimento, foram incapazes de

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 293 prever e controlar a desordem financeira que Também contribuíram para o bom estado se anunciava. da economia brasileira nossas reservas Outro tema central é o fim dos paraísos cambiais, superiores a 200 bilhões de fiscais, essa eficiente retaguarda do dólares. Somos internacionalmente credores narcotráfico, da corrupção, do crime líquidos. Nossa dívida pública representa organizado ou do terrorismo. 36% do PIB. Desde quando os efeitos da crise se Nosso sistema bancário é sólido. Os intensificaram, tenho mantido contatos com bancos estatais, responsáveis por mais governantes de todo o mundo na busca de de 40% do crédito, asseguram ao Estado alternativas. Dessas conversas espero que condições de regulação da economia e de sairá um conjunto de propostas capazes de indução do desenvolvimento. dar uma resposta consistente à crise no G20 Não me canso de repetir que é chegada em Londres. a hora da política e de restabelecer o papel O Brasil fez nos últimos anos um enorme do Estado. Os governantes têm de assumir esforço de reconstrução econômica. as responsabilidades que lhes conferiu a Adotamos políticas contra-cíclicas que sociedade. É importante salvar bancos ou nos tornaram menos vulneráveis à crise. seguradoras, para proteger depósitos e a Nossos programas de transferência de previdência social. Mas é mais importante renda, que beneficiam mais de 40 milhões proteger empregos e estimular a produção. de pessoas, se articulam com uma política Mais do que uma grave crise econômica, de reforma agrária, salarial e de crédito que estamos diante de uma crise de civilização. favorece os mais pobres e produziu uma Ela exigirá novos paradigmas, novos padrões considerável expansão do mercado interno. de consumo e novas formas de organização O Plano de Aceleração do Crescimento da produção. Precisamos de uma sociedade investirá, até 2010, 270 bilhões de dólares na onde homens e mulheres sejam sujeitos de economia, revolucionando a infra-estrutura sua história e não vítimas da irracionalidade física, energética, e social do país. que imperou nos últimos anos.

294 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 Artigo do Ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, intitulado “O Brasil e a OIT”, publicado no jornal “Folha de São Paulo”. 14/06/2009

A ORGANIZAÇÃO Internacional do Uma das primeiras visitas ao exterior Trabalho (OIT) é a primeira organização do do presidente Lula foi à 91ª Conferência que viria a ser conhecido como sistema ONU. Internacional do Trabalho, em junho de Fundada em 1919, anterior, portanto, às 2003. Foi o primeiro discurso do mandatário Nações Unidas, a OIT também se diferencia brasileiro perante um órgão das Nações por sua estrutura de representação tripartite. Unidas depois de assumir a Presidência da Ao contrário do que acontece na grande República. Como o próprio presidente Lula maioria das organizações internacionais, afirmou à ocasião, a agenda da organização se estão representados na OIT não somente confunde com a sua agenda pessoal e política. os Estados nacionais, mas também os Por ocasião do 90º aniversário da trabalhadores e os empregadores. Organização Internacional do Trabalho, no O governo do presidente Lula acredita próximo dia 15, o presidente Luiz Inácio que a ordem internacional deve ser regida Lula da Silva estará presente na Conferência por normas e que essas normas são legítimas Internacional do Trabalho. A visita não será quando construídas no âmbito multilateral. carente de simbolismo: o primeiro operário No que se refere à regulamentação de eleito presidente da República do Brasil padrões trabalhistas globais e à proteção do prestigiará os 90 anos da organização que se trabalho, a OIT é o fórum mais legítimo e dedica a melhorar a vida dos trabalhadores. adequado. O Brasil reconheceu, desde sua O regresso será também ocasião de criação, o importante papel que a organização especial significado para mim, uma vez poderia desempenhar. Foi um de seus que tive a oportunidade, entre 2000 e 2001, fundadores e é um dos membros permanentes quando era representante permanente do de seu Conselho de Administração -instância Brasil em Genebra, de presidir o Conselho executiva da OIT. de Administração da entidade. Nosso comprometimento com a adoção Além disso, assinei dois importantes de padrões mínimos de trabalho se reflete no acordos com a OIT em nome do governo fato de que o Brasil é um dos membros que brasileiro. mais ratificaram normas criadas pela OIT. O primeiro deles, que visa a implementar Das 188 convenções aprovadas, 80 foram o Programa Internacional para a Erradicação ratificadas pelo país. Das 8 consideradas do Trabalho Infantil, possibilitou ao Brasil fundamentais, o Brasil já ratificou 7. ser não somente país receptor, mas também

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 295 doador de recursos para projetos no âmbito orientam a ação da OIT e aqueles defendidos da cooperação Sul-Sul em países africanos pela política externa do presidente Lula. de língua portuguesa e no Haiti. A crise financeira pela qual estamos Em março último, assinei ajuste passando demonstrou o fracasso do modelo complementar para estender a cooperação em que a atividade especulativa se sobrepõe técnica a nossos vizinhos latino-americanos às atividades produtivas. A OIT já vem e caribenhos e a outros países do continente desempenhando papel fundamental na africano para a promoção do trabalho decente. proteção do trabalho no atual cenário de O conceito de trabalho decente é o contração econômica e de redução do nível principal eixo de atuação da OIT. Por de empregos. Com a possibilidade de perda trabalho decente, entende-se a modalidade de 50 milhões de empregos e do aumento de trabalho produtivo e adequadamente de 200 milhões de trabalhadores pobres no remunerado, exercido em condições de mundo, a OIT terá um papel essencial a liberdade, equidade e segurança, sem desempenhar. quaisquer formas de discriminação e capaz Faz parte das prioridades da diplomacia de garantir uma vida digna a todas as pessoas brasileira do governo do presidente Lula que vivem dele. a luta pela promoção do crescimento O Brasil assumiu compromisso com a econômico com justiça social também no promoção do conceito a partir de junho de plano internacional. A visita do presidente 2003, com a assinatura do memorando de da República à conferência nos próximos entendimento que permitiu o lançamento dias é um exemplo desse comprometimento da Agenda Nacional de Trabalho Decente. do Brasil e do próprio presidente Lula com a Há visível interseção entre os valores que Agenda Global de Trabalho Decente.

296 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 Artigo do Ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, intitulado “Em Ecaterimburgo, os Bric atingem sua maioridade”, publicado no diário “Valor Econômico”. 16/06/2009

Grupo se destaca porque as quatro energia. Claramente, a sociedade moderna economias mostram crescimento robusto precisa repensar um sistema que, de forma Nós nos destacamos nos últimos anos acintosa, fomenta o desperdício dos recursos porque nossas quatro economias têm mostrado naturais e finitos da Terra, ao mesmo tempo crescimento robusto que condena bilhões de pessoas à pobreza e A cidade de Ecaterimburgo, na Rússia, ao desespero. recebe hoje os líderes de Brasil, Rússia, Índia Essa é a razão pela qual, na Assembleia e China - os chamados Bric -, que realizam Geral das Nações Unidas, em 2008, eu afirmei seu primeiro encontro. que “é a hora da política”. Chegou a hora de Essa reunião celebra mais que apenas a fazermos escolhas difíceis e de enfrentarmos primeira cúpula dos Bric. Ela marca uma responsabilidades coletivas. profunda mudança na maneira pela qual Estarão os países ricos dispostos a aceitar nossos países se engajam em um mundo que supervisão supranacional e o controle do experimenta profundas mudanças. sistema financeiro internacional, de maneira a Em Ecaterimburgo, selaremos um evitar o risco de outra crise econômica? compromisso que objetiva trazer novas Estarão dispostos a ceder seu controle sobre respostas a velhos problemas e oferecer uma as tomadas de decisão no Banco Mundial e no liderança corajosa para enfrentarmos a inércia Fundo Monetário Internacional (FMI)? e a indecisão. Concordarão em cobrir os custos da Afinal, o mundo enfrenta hoje desafios adaptação tecnológica para que as pessoas de grande complexidade, mas que exigem nos países em desenvolvimento possam se respostas urgentes. Estamos diante de ameaças beneficiar dos progressos científicos sem que nos afetam a todos - para as quais alguns ameaçar o meio ambiente global? muito contribuíram, enquanto outros se veem Eliminarão os subsídios protecionistas que na posição de vítimas inocentes de suas tornam inviável a agricultura moderna em consequências. muitos países em desenvolvimento, ao deixar Mas vivemos entre paradigmas superados agricultores pobres à mercê de especuladores e instituições multilaterais desacreditadas. e doadores generosos? A atual crise econômica apenas aumenta Essas são as questões que os Bric querem um sentimento crescente de perplexidade ver respondidas. e impotência diante da mudança do clima e É por isso que cobramos, durante a do risco de escassez mundial de alimentos e recente reunião do G-20, em Londres, que

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 297 os países desenvolvidos comprometam-se grandes, unidos apenas pelo tamanho de suas com a reforma do sistema de votação e de economias, vastidão de seus recursos naturais cotas das instituições do sistema de Bretton e vontade de projetar seus valores e interesses. Woods. Apenas assim a voz dos países em Nós nos destacamos nos últimos anos desenvolvimento será ouvida. Obtivemos porque nossas quatro economias têm também um compromisso de que será mostrado crescimento robusto. O comércio estabelecido um fundo que proverá apoio entre nós cresceu 500% desde 2003. Isso financeiro eficiente e rápido - livre de dogmas ajuda a explicar porque hoje geramos 65% neoliberais - a países afetados por uma do crescimento global, o que faz dos Bric repentina queda em suas exportações ou pelo a principal esperança para uma rápida encolhimento do crédito. recuperação da recessão global. Esse é apenas o primeiro passo de uma Isso gera redobradas expectativas sobre revisão nos fundamentos das políticas que os nossos quatro países, para que exerçam gostaríamos de ver avançar na próxima liderança responsável com o objetivo reunião do G-20. Faremos todos os esforços de reconstruir a governança global e o para levar a Rodada de Desenvolvimento de crescimento sustentado para todos. Trata- Doha a uma conclusão rápida e equilibrada. se de um desafio que, tenho certeza, todos É igualmente urgente renovar as Nações aceitaremos. Digo isso porque, ao longo de Unidas, se queremos que as instituições minha carreira política, e em função de minha multilaterais recuperem relevância. Postergar experiência como sindicalista, aprendi uma reformas, especialmente a do Conselho lição básica: para ser efetivo, não é suficiente de Segurança, apenas servirá para erodir estar certo ou ter a justiça a seu lado. Ninguém ainda mais a autoridade das instituições falará pelos fracos e vulneráveis a não ser internacionais. que eles próprios se unam. Para ter sua voz Em 2004, patrocinei o Plano de Ação contra realmente ouvida, mas de uma posição de a Fome da ONU. Fiquei contente ao saber que imperturbável convicção respaldada por a segurança alimentar estará na agenda de nosso peso político. Essa é uma tarefa e um Ecaterimburgo. compromisso que espero sejam assumidos Essas iniciativas demonstram que os pelos Bric em Ecaterimburgo. Bric são mais que um grupo de países

298 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 ENTREVISTAS

Entrevista do Ministro das Relações Exteriores, Embaixador Celso Amorim, à revista “Caros Amigos” - edição de fevereiro/2009. 01/02/2009

Entrevistadores: Beto Almeida, Carlos Setti, democracia, à estabilidade, ao crescimento, Mylton Severiano mas também à ação diplomática. E essa ação se caracterizou primeiro por não O chanceler Celso Amorim recebeu Caros ficar sempre olhando num único eixo, Amigos em seu gabinete, no primeiro Estados Unidos ou União Européia, que andar do Palácio do Itamaraty. Há sete anos são importantes, continuamos a trabalhar - ele comanda a política exterior que pôs o aliás, nesse governo é que se fez a parceria Brasil em evidência no cenário mundial, estratégica entre Brasil e União Européia. mérito que ele diplomaticamente divide Mas passamos a ter visão mais ampla. A com “o aprofundamento da democracia, dar ênfase não apenas no discurso, mas nas da estabilidade, do crescimento”. De ações, à América Latina. A reabrir diálogo forma igualmente diplomática, renovou a com a África, os países árabes, alguns condenação a Israel pela agressão a Gaza e outros grandes em desenvolvimento, como defendeu a posição de Lula em sua “opção Índia e China. E isso teve resultados. Cerca preferencial pelos pobres”. de 57% de nossas exportações vão para países em desenvolvimento, quando era “Solidariedade é a melhor forma de defender quase o contrário. Até pior. E fizemos isso o interesse nacional” com comércio crescente. Então temos uma inserção internacional que até nos credencia MYLTON SEVERIANO: Ministro, as mais no diálogo com os países também ricos. oposições carimbam o governo como Até neste momento, em que o presidente continuação do que vinha, ou principalmente Obama toma posse, e em que obviamente como a mesma coisa. Na sua área, qual a a relação com os Estados Unidos volta ao diferença entre o que vinha e o atual governo? centro das discussões, vejo o interesse já demonstrado por várias declarações, sinais AMORIM: Bem, vamos começar pelos ao Brasil. E creio que isso tem muito a resultados. Basta olhar a presença que o Brasil ver com nossa política independente, não- tem hoje no mundo pra ver as diferenças. confrontacionista, ao mesmo tempo sem Claro que se deve a um aprofundamento da pedir licença para fazer as coisas.

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 299 Muitas coisas que o Brasil fez acabaram MYLTON SEVERIANO: Na atitude. sendo seguidas. O presidente esteve na Síria e na Líbia. Foi criticado, sobretudo pela AMORIM: Atitude. Tivemos excelente relação mídia brasileira. Aliás, unicamente pela mídia com os Estados Unidos, mas não deixamos de brasileira. Até como se fosse uma heresia por criticar, com veemência inclusive, a invasão causa da Líbia - uns quatro meses depois foi do Iraque. Não ficamos pedindo licença, o Aznar, depois foi o Tony Blair. A própria também, quando o presidente foi à Síria na secretária de Estado americana nunca chegou primeira vez e depois eu fui. Pro Irã, nós não a ir, mas me lembro de uma conversa que tive ficamos pedindo licença a ninguém pra fazer... com ela. Nós estávamos na Granja do Torto. Falei: “Vou te contar uma história de um lugar MYLTON SEVERIANO: Mas existia antes aonde você provavelmente não vai, a tenda do uma espécie de pedido de licença? Khadafi.” “Ah, posso ir lá antes do que você pensa.” Na realidade não foi, mas isso mostra AMORIM: Pedido, não: as pessoas procuram a distensão da relação entre eles. E a Síria, ler os sinais. Muitas vezes a autocensura é pior sempre achamos que, além do interesse do do que a censura. Brasil, há os laços humanos, sempre achamos que a Síria era um interlocutor importante no BETO ALMEIDA: Um sinal é quando um Oriente Médio. chanceler tira o sapato ao entrar na alfândega americana. MYLTON SEVERIANO: Nunca tínhamos ido lá? AMORIM: Não vou comentar meu antecessor. Tenho intelectualmente respeito AMORIM: Creio que não, o presidente não. por ele, embora discordemos sobre muitas Mas digo, criticaram a Síria e a Líbia. E a Síria coisas. agora você vê: todos estão indo, porque sabem que não precisa concordar com o outro lado CARLOS SETTI: Essas mudanças apontadas para ter um diálogo. Claro que a América do são em função apenas de uma política de Sul sempre fez parte das nossas prioridades. A governo, ou porque o Brasil passou a ser um questão é da ênfase, da determinação. Então, ator importante no cenário internacional? o presidente Lula recebeu todos os presidentes da América do Sul no primeiro ano de mandato, AMORIM: As duas coisas. Consolidação e visitou todos os países, pelo menos uma vez da democracia, estabilidade, crescimento, e em alguns mais de uma vez, em dois anos de programas sociais do presidente Lula, tudo mandato. Além das iniciativas para reforçar isso nos valoriza. o Mercosul, criar o Fundo de Compensação, para a iniciativa que resultou na Unasul. Isso CARLOS SETTI: E são além-fronteiras. é politicamente importante, reconhecido por todos, e também comercialmente, esses países AMORIM: Na Venezuela, na Bolívia, a compram do Brasil, e compram manufaturas, e China tem interesse em colaborar. Mas diria tem muitos investimentos brasileiros lá. Então que além dessa consolidação você tem que ter já estou apontando uma grande diferença, que uma atitude mais desassombrada. Fui ministro muitas vezes não é apenas no discurso... antes, do governo Itamar, fizemos uma política

300 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 externa correta. O comentário que se fazia (o Europa. Está todo o mundo ganhando. Por que governo Itamar durou dois anos e meio e só criticam? É porque há interesses investidos fiquei um ano e meio como ministro), não na dependência do Brasil. Não querem a sobre aquele governo, mas em geral sobre o diversificação, preferem a dependência, Brasil: que o Brasil não está jogando na liga porque ganham com essa dependência. Não dele, joga numa liga abaixo. Por quê? Porque é o exportador desse ou daquele produto tínhamos sido tímidos. Veja, agora mesmo fui que ganha com a dependência, mas há um ao Oriente Médio, e todos os ex-ministros se grupo de intermediários (isso é uma coisa dedicaram a criticar como se estivesse indo sociologicamente importante) que ganha com além dos tamancos. Quando a maneira como o a dependência. ministro das Relações Exteriores do Brasil foi recebido demonstra que, ao contrário, todos CARLOS SETTI: E a crise no Oriente têm o maior interesse. Inclusive enquanto Médio? eu estava no Oriente Médio, ministros de outros países me ligaram, por interesse, entre AMORIM: Eu diria o seguinte. Todas as outros o responsável pelas relações exteriores pessoas com quem falei, não houve uma que da Europa, Javier Solana. Estive em cinco não me ligasse de volta. Acabei de receber países, todas as pessoas que eu quis ver eu o telefonema do ministro britânico, David vi, e algumas que eu não havia nem pedido, Milliband. Teve papel importante na aprovação e não são pessoas fáceis, como o presidente do cessar-fogo, “olha, foi muito importante Mubarak, do Egito. E todos eles dão enorme você ter ido”. O Brasil tem possibilidades valor a isso. Isso mostra uma visão acanhada de falar com vários atores, de maneira que do Brasil nas críticas. outros não têm. Falei da Síria, porque acho um exemplo importante no contexto do MYLTON SEVERIANO: As críticas em si? Oriente Médio. Acho, sinceramente, que o presidente da Síria pode falar alguma coisa AMORIM: As críticas. Uma visão de quem ao Brasil porque tem confiança, talvez não não acredita na nossa capacidade. No fundo, falaria para um ministro ocidental. Por quê? não quero falar especificamente dos ministros, Porque o Brasil não tem um passado colonial. respeito que estejam fazendo isso com O Brasil é exemplo de convívio interno independência de pensamento, mas essa visão, entre judeus e árabes. Temos boas relações mesmo inconscientemente, acaba servindo com Israel também. Não ficamos marcados aos interesses da dependência. pelos conflitos da Guerra Fria. Então há uma disposição. E eu senti isso, tanto nos países CARLOS SETTI: A manutenção da árabes quanto em Israel. Quando o Brasil fez dependência. aqui aquela cúpula, dois ou três meses depois fui recebido em Israel pelo ministro Sharon. AMORIM: Muitas vezes me perguntei: Terminamos a entrevista, ficamos mostrando vou voltar ao Oriente Médio, gente, todo o fotografias de netos e coisas do gênero. Então, mundo está ganhando, estamos aumentando não vejo dificuldade, e o Brasil se credencia o comércio com a África, América Latina, como interlocutor. Claro que não é o Brasil com os árabes e a Ásia. Também estamos sozinho que vai dar uma solução, mas o aumentando com os Estados Unidos e a somatório tem importância. Tive a chance de

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 301 dizer coisas à chanceler de Israel que acho CARLOS SETTI: E a Defesa lançou uma que se somam a outras, e dizer num espírito nota recentemente, comentando... de amizade. AMORIM: Mas não creio que haja um CARLOS SETTI: O quê? movimento internacional que nos ameace, é claríssimo que nosso programa nuclear é de AMORIM: Disse várias coisas. Israel finalidade pacífica. Agora, o Irã. É um país pode achar que está destruindo o Hamas, sobre o qual o Brasil não pode ficar indiferente. mas na realidade está minando a própria Primeiro porque é um grande mercado. Esse credibilidade da Autoridade Palestina. Está ano caiu um pouco. No ano passado comprou tornando mais difícil a vida dos líderes quase dois bilhões de dólares do Brasil e não considerados moderados. E transmiti também vendeu, praticamente nada, o petróleo que a ela a dificuldade, mesmo para países que produzem não é exatamente o que a gente têm boa relação com Israel, de defender. A compra. gente defende Israel, mas chega um ponto... Defendemos dois Estados, vivendo lado a lado MYLTON SEVERIANO: O quê eles em segurança, mas Israel tem que nos ajudar compram? pra que as posições radicais não prevaleçam. E ela própria disse uma coisa interessante: AMORIM: Tudo. Dois bilhões de dólares “Eu sei que nós temos que ajudar os nossos é muita coisa. Mas frangos, carnes, é um amigos a nos ajudar.” Mas o Brasil se tornou item forte. Temos que manter relações. um ponto de confluência diplomático. As Concordamos com tudo que os líderes iranianos pessoas vêm ao Brasil, procuram o Brasil. dizem ou fazem? Não. É um país importante, setenta milhões de habitantes, uma cultura CARLOS SETTI: O senhor esteve no Irã, milenar. Eu fui lá. Muitos Estados que gozam essas relações, sobretudo na questão nuclear, das bênçãos das grandes potências não têm é possível ver pela imprensa posições dos o dinamismo interno do Irá. Eu vi a irritação organismos internacionais levantando algum quando o segurança queria tirar o cidadão do tipo de intenção de tutela sobre o programa lugar pra fazer passar um ministro estrangeiro. nuclear brasileiro. Eu vi muitas mulheres, ao contrário de outros países, dirigindo automóveis. Não vou AMORIM: Vamos distinguir. Sobre o dizer que lá é perfeito. Liberdade religiosa, programa nuclear brasileiro não pode pairar temos feito algumas críticas. Agora, não nenhuma dúvida. O próprio porta-voz da chegamos ao ponto de condenar o Irã. Tem Casa Branca disse há uns dois anos, quando que ter o diálogo. Voltando à questão da não- alguém fez essa comparação: “A diferença é a proliferação. O Brasil é contra a proliferação. confiança.” Então no caso do Brasil não pode Agora, é preciso distinguir a questão da não- haver nenhuma dúvida. Vez por outra sempre proliferação nuclear da questão do direito surge alguém precisando de uma causa pra ao desenvolvimento da tecnologia nuclear defender, como quando falam que precisa para fins pacíficos. Como se chega auma internacionalizar a Amazônia. normalização? Por exemplo: o Conselho de

302 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 Segurança adotou sanções contra o Irã, e nós AMORIM: Pois é, a mesma frase. não somos favoráveis, mas uma vez que o Conselho de Segurança adotou, nós seguimos. MYLTON SEVERIANO: Li o artigo de um Agora, nós não seguimos sanções unilaterais. brasileiro, fazendo uma crítica pela esquerda, de que o Brasil está assumindo um papel CARLOS SETTI: É inevitável falar de subimperialista na América do Sul, citando Barack Obama, representa uma mudança. O casos como da Bolívia, da Odebrecht no que o senhor acha que isso representa para o Equador, do Paraguai. Brasil e para o mundo? AMORIM: Mas subimperialista por quê? Até AMORIM: É um grande sinal de mudança, se fosse imperialista eu não concordaria, dava de que os Estados Unidos são um país aberto para entender, mas nós estamos defendendo à mudança, aliás, é uma semelhança com o interesses brasileiros. Nossa atitude é aberta. Brasil. Pra minha geração, que já era adulta E veja, os próprios bolivianos disseram que quando da morte do Martin Luther King, é até nunca tiveram relação tão boa com o Brasil. espetacular. Acaba se refletindo nas relações Agora, não quer dizer que você vá fazer tudo com o Brasil, eu vejo no Obama, até no que eles querem. Nem tudo que o Paraguai discurso, eu salientaria dois aspectos positivos. quer. Nem pode permitir, como no caso do Primeiro, a ênfase no multilateralismo. Ele Equador, que uma decisão tão delicada - não disse que os Estados Unidos têm muito poder, vou nem questionar o mérito último, mas mas isso não quer dizer que estejam no direito questiono tenha sido tomada de maneira tão de fazer o que querem. Muito interessante abrupta. E sem nunca ter havido uma conversa, essa compreensão. anuncia como vitória que vai levar para a corte, cessar os pagamentos. O Equador, a posição MYLTON SEVERIANO: Dizendo básica não mudou, continua na corte, mas os explicitamente. pagamentos continuam sendo feitos. Então, vamos levando, são águas passadas. AMORIM: No discurso de posse, importante. Segundo, acho interessante e tem uma BETO ALMEIDA: Como vai ficar a questão afinidade com o pensamento do presidente de Itaipu? Lula, ele diz que nós, que temos prosperidade (ainda que outros tenham prosperidade AMORIM: Temos que discutir, entender que relativa), não podemos nos fechar aos mais esses países têm reivindicações que muitas pobres. Esse pensamento é o que o presidente vezes se dirigem contra as elites econômicas Lula exprime, exprimiu em relação à América desses países e isso acaba se refletindo no do Sul, quando esteve na Bolívia, e tem Brasil, com tratados assinados em outras expressado também em relação à África. épocas. Temos que levar isso em conta, preservando o interesse fundamental do Brasil. MYLTON SEVERIANO: O ponto de Agora, tendo um pouco de compreensão. convergência também quando ele diz que a Porque aí sim, nós adotaríamos uma posição esperança venceu o medo. imperialista. Seria um tiro no pé. Com relação

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 303 à posição do Brasil no mundo, essas pessoas MYLTON SEVERIANO: No caso da todas que são críticas olham muito pelo lado agressão de Israel a Gaza, claro que não íamos comercial. Tudo bem, acho importante. Mas fazer como Chávez e o Evo, que expulsaram os acho que há vida além do comércio. embaixadores israelenses, mas nossa posição não poderia ter sido um pouco mais firme na BETO ALMEIDA: Foi necessário um condenação? presidente que não lê espanhol para que o Brasil tornasse obrigatório o ensino do AMORIM: Nossas notas são muito idioma, como é que isso se inscreve à margem claras, inclusive seguem uma evolução. da discussão comercial? Na primeira, começaram os ataques, nós criticamos. Também havíamos criticado os AMORIM: O Lula é um homem muito ataques do Hamas, mas a partir do segundo inteligente. Tem uma enorme percepção para episódio, quando começaram aquelas a importância dos valores culturais. Valoriza mortes mais evidentes, notas muito claras. a parte intelectual dos intercâmbios culturais, Inclusive quando houve o bombardeio que científicos. O número de universidades que ele atingiu um prédio da ONU nós convocamos tem patrocinado, a criação de escolas. Sempre, o embaixador aqui para dizer que era até durante a campanha, vai aos intelectuais. inaceitável. Mas o Brasil não quer perder a interlocução. Se você der vazão a todas as CARLOS SETTI: A crítica à esquerda emoções, você se incapacita para o exercício preocupa? da diplomacia.

AMORIM: Não. Ela apenas ilustra que nossa BETO ALMEIDA: E a questão do etanol, política é baseada no interesse brasileiro, agora, com o Obama? certa vi-são também de princípios como solidariedade, mas não pautada por visões AMORIM: No próprio telefonema com o ideológicas rígidas. O próprio presidente é um presidente Lula ele disse que o Brasil era um homem que tem o coração aberto para o povo, modelo de campo energético limpo. Ê uma para os pobres. O Obama, por uma vivência área em que temos que fazer muitos acordos. mais próxima da pobreza mesmo. Interessante, ele não só é um negro, como passou parte da MYLTON SEVERIANO: E Cuba diante do infância num país em desenvolvimento, a novo presidente americano? Indonésia, que também dará a ele uma percepção importante das relações internacionais. O AMORIM: É a oportunidade para os EUA presidente Lula é aberto para isso, como a mostrar que têm uma política nova. Ouvimos Igreja dizia, opção preferencial pelos pobres, o Raul Castro dizer, aqui no Brasil, que estaria mas ao mesmo tempo é pragmático. Uma vez disposto a conversar com o presidente Obama, perguntaram a ele se era marxista-leninista, ele onde quer que seja. Até comentei “acho que o disse “eu sou torneiro mecânico”. A historinha Brasil seria um bom lugar”. Logicamente que faz muito sucesso entre meus interlocutores não acontece da noite para o dia, e às vezes é internacionais. até bom.

304 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 MYLTON SEVERIANO: Ministro, qual foi são da mídia, me incomodaram pessoalmente. seu momento mais difícil e qual o de maior Um deles foi quando teve aquele brasileiro gratificação de sete anos para cá? no Iraque que, infelizmente, estava morto, recuperamos o corpo [havia sido sequestrado]. AMORIM: Olha, é difícil escolher um Vim para cá para tratar, sábado e domingo, e só. Por exemplo, quando assinamos aqui o eu vi a mídia querendo aproveitar um episódio tratado da Unasul, tínhamos a consciência de profunda dor humana para querer criticar que estávamos fazendo uma coisa histórica. a política externa, o governo, eu falei “puxa Aquilo dependeu de passos anteriores, acordo vida, isso não é legal”. de livre comércio entre a comunidade andina, Mercosul, muitas coisas. Foi uma coisa muito MYLTON SEVERIANO: Mas qual o viés? importante. Agora, houve outros momentos. A cúpula de Sauípe no final do ano [2008], AMORIM: Era para criticar, “não estão dando reunindo pela primeira vez em 200 anos de proteção”, ou “está protegendo a empresa”. vida independente todos os países da América Senti quase que, digamos, o urubu procurando Latina e do Caribe. Uma coisa extraordinária! carniça. Aquilo realmente me incomodou. Deveríamos estar todos juntos para resolver. CARLOS SETTI: Convocação brasileira. Nós fizemos tudo que era possível, a família reconheceu, sobretudo o pai. Eu menciono AMORIM: Convite brasileiro. Acho excelente como um momento que não era político, e você a participação de Cuba, ajudou na confecção fica meio constrangido com a alma humana. de documentos, uma voz moderada em alguns momentos. O México teve participação muito CARLOS SETTI: O senhor é um dos poucos positiva, está começando também a perceber ministros que estão desde o primeiro dia. Não que, claro, ter boas relações com os EUA é é uma gratificação? ótimo. Mas tem que ter um equilíbrio. Não só político, mas também econômico. Então acho AMORIM: Eu fico muito feliz.É uma grande que estamos em bom caminho. Agora, sem honra. Quando o presidente Lula me convidou, um Mercosul consolidado e sem uma Unasul, do ponto de vista emocional, é o momento você não teria tudo isso. mais importante da minha vida.

O momento mais difícil foi em julho, nas CARLOS SETTI: Quando o senhor diz que negociações da OMC, não foram adiante. prefere ser atacado pela direita, está dizendo Deixamos de concluir uma rodada por coisas que não há uma afinidade ideológica... muito pequenas. Faltou ousadia. AMORIM: Eu nunca fui membro do PT, mas MYLTON SEVERIANO: De quem? as lutas do PT, por um Brasil mais democrático, no aprofundamento da reforma social, a AMORIM: Ah, de vários, mas a maior possibilidade de uma política externa altiva potência do mundo deveria dar o exemplo. e ativa, é algo extremamente importante. E o Mas tive outros momentos que, já que vocês convívio com o presidente Lula é enriquecedor,

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 305 gratificante, um homem que além de tudo tem credibilidade desse conselho? Tem que ter uma grande compreensão humana. legitimidade internacional. A presença de um país como o Brasil, como a Índia, países CARLOS SETTI: Se os outros crescerem, africanos, ajuda essa legitimidade. nós... MYLTON SEVERIANO: Nós não falamos AMORIM: Não é que se crescer, a gente vai do Chávez. Parece que o Lula tinha uma vender, mas se amanhã você tiver que abrir grande aproximação com ele... mão de uma coisinha, para poder permitir que um país vizinho, irmão, olhe o Brasil AMORIM: Mas continua tendo, encontra a como irmão, muitas coisas são responsáveis cada três meses, oficialmente. O comércio com a pelo novo papel do Brasil no exterior. No Venezuela flui de forma espetacular, ao mesmo mundo, vamos dizer. Para o crescimento, tempo o Brasil ajuda no desenvolvimento da aprofundamento da democracia, o governo Venezuela com a instalação da Embrapa, Lula, o social, o combate à fome e etc. Tudo com o escritório da ABDI (agência de isso é admirado no mundo inteiro. Mas você desenvolvimento industrial). Nunca ninguém ter uma região pacifica e contribuir para que pensou em ajudar a Venezuela. Era um país que ela continue pacífica, isso também nos ajudou ganhava o dinheiro do petróleo, ficava com uma muito. elite, e o povo passando fome, nunca criava um desenvolvimento autônomo. A Venezuela CARLOS SETTI: A pretensão do Brasil tem que ter seu próprio desenvolvimento, não de fazer parte permanente do conselho de pode depender só do petróleo. segurança da ONU continua sendo uma prioridade? As pessoas acham erradamente que solidariedade e defesa do interesse nacional AMORIM: Diria que não é um objetivo são contraditórios. Não são. A solidariedade é exclusivo, ou que deva se sobrepor a outros. a melhor forma de você defender o interesse Mas acho que a reforma no conselho de nacional no longo prazo. De maneira saudável. segurança, honestamente, é uma necessidade É isso que tem regido a política externa do próprio sistema internacional. Cadê a brasileira.

306 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 Entrevista do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao programa de rádio “Café com o Presidente”. 06/4/2009

Luciano Seixas: Olá, você em todo o Brasil. que a economia deles para, para a economia Eu sou Luciano Seixas e começa agora o mundial. Há uma vontade política, há uma “Café com o Presidente”, o programa de disposição extraordinária de todos para rádio do Presidente Lula. Olá, Presidente, tentar resolver esse problema. Pela primeira como vai, tudo bem? vez eu vi os Presidentes todos preocupados em encontrar uma saída e o documento foi Presidente: Tudo bem, Luciano. aprovado por consenso. Eu penso que foi um passo extremamente importante para Luciano Seixas: Presidente, os líderes das que a gente possa começar, que os países maiores economias do mundo se reuniram que estão em piores situações possam durante o G-20 para discutir saídas para a voltar a crescer em 2010. A prioridade crise internacional. Que saídas são essas? agora é estancar a crise. Estancando a crise Houve consenso para adotar medidas que você pode ter a possibilidade de fazer com atenuem os efeitos da crise no mundo? que a economia dos países volte a crescer definitivamente. Presidente: Houve consenso e, pela primeira vez, desde que eu sou Presidente Luciano Seixas: Presidente, qual a sua da República, participo de uma reunião em avaliação sobre o resultado desse encontro que todos os Presidentes demonstraram do G-20? Essas medidas vão, realmente, muita maturidade para lidar com o trazer resultados práticos, principalmente problema da crise. Teve uma hora em que para os países mais atingidos pela crise? eu disse que os países emergentes não estavam precisando apenas de ajuda dos Presidente: Eu acredito que sim. Primeiro, países ricos. O que nós queríamos era porque nós tomamos uma decisão de que os países ricos resolvessem as suas fortalecer as instituições multilaterais de próprias crises para que a gente pudesse financiamento, tipo FMI e Banco Mundial, voltar à normalidade, porque este é o dado para que essas instituições possam financiar concreto. Você tem uma crise americana de os países emergentes. Os países mais grande profundidade, você tem uma crise pobres irão receber financiamento sem as européia de grande profundidade, você tem condicionalidades que existiam na década uma crise asiática, e como esses países são de 80. Esse é um passo extremamente os mais ricos, são os que têm mais crédito e importante. Todo mundo também está são os maiores consumidores, na medida em convencido de que o crédito precisa voltar

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 307 a funcionar. Primeiro, internamente, em do Oriente Médio e uma parte da América cada país; e depois externamente, para Latina se reunindo. Isso foi importante facilitar o fluxo da balança comercial dos porque veja o que acontece quando você países. Em terceiro lugar, todo mundo estabelece uma relação e começa a ter uma estava preocupado com o problema do certa harmonia entre os Estados e entre os desemprego, ou seja, todo mundo está Chefes de Estado. Em 2004, nós tínhamos entendendo que é preciso fazer com que a uma balança comercial com o mundo árabe economia volte a gerar empregos. de US$ 8 bilhões. Hoje são US$ 20 bilhões, só o Brasil. Se você pegar a América Latina, Daí porque o Brasil está totalmente correto nós saímos de US$ 11 para quase US$ 30 quando nós tomamos medidas anticíclicas bilhões, numa demonstração de que essas e fazemos investimentos no PAC. Não reuniões terminam sendo muito produtivas vamos paralisar nenhuma obra, como já para as relações comerciais entre os países, afirmamos no começo do ano. Anunciamos além da afinidade política que você vai um programa habitacional, anunciamos um criando entre os Estados, entre os blocos. É novo programa de redução de impostos para muito importante. carros, para a construção civil. Se todos os países fizerem isso, nós temos uma grande Em agosto nós vamos ter uma reunião entre possibilidade de ver o emprego voltar a os países africanos e os países da América acontecer na vida das pessoas. Uma coisa do Sul, em Caracas, para que a gente extremamente importante que aconteceu também possa aproximar esse continente foi que se acertou que os líderes políticos africano com o continente sul-americano e vão começar a discutir a Rodada de Doha fazer com que o comércio flua com maior outra vez, que tinha parado no final do ano rapidez entre os dois blocos, e isso faz passado, porque todo mundo percebeu que com que todos nós nos tornemos menos se nós chegarmos a um acordo na Rodada dependentes dos blocos ricos. Por isso, eu de Doha, um acordo comercial, a gente vai fiquei muito satisfeito com a presença dos poder possibilitar uma ajuda muito grande principais líderes dos países árabes, dos aos países mais pobres do mundo. principais líderes da América do Sul. Foi um sinal extremamente importante de que Luciano Seixas: Você está ouvindo o “Café nós estamos criando maturidade política com o Presidente”, o programa de rádio do para ampliar as relações comerciais, as Presidente Lula. Presidente, o senhor esteve relações políticas e as relações culturais em Doha, no Catar, na abertura da Segunda da América do Sul, do Brasil, da América Cúpula América do Sul e Países Árabes. Latina com outros continentes. Qual foi a importância desse encontro? Luciano Seixas: Muito obrigado, Presidente Presidente: Esse tipo de reunião, Luciano, Lula. Até a próxima semana. é muito importante porque, primeiro, é um estreitamento das relações entre dois Presidente: Obrigado a você, Luciano, e blocos, dois continentes, ou seja, uma parte até a próxima semana.

308 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 Entrevista concedida pelo Ministro das Relações Exteriores do Brasil, Embaixador Celso Amorim, ao jornal “Correio Braziliense”. 03/05/2009

Silvio Queiroz atenção e interesse, inclusive por praticar uma política externa “desassombrada”. Ela O ministro das Relações Exteriores, Celso estará novamente na vitrine nesta quarta, Amorim, não esconde muito o entusiasmo que quando Brasília receberá a visita do polêmico sente pela facilidade com que se estabeleceu presidente iraniano, Mahmud Ahmadinejad, a química pessoal entre os presidentes Lula sob pressões e queixas de Israel, que chegou e Barack Obama - o chanceler só lamenta, a convocar o embaixador brasileiro no país discretamente, que reste apenas um ano e para comunicar seu “desconforto”. meio de mandato ao governo brasileiro. A intimidade maior com a nova administração Amorim manobra em campos minados americana fica evidente pela frequência com também internamente: ainda na última que Amorim se referiu, em entrevista para quinta-feira, foi ao Senado convencer a o Correio, às conversas recorrentes entre Comissão de Relações Exteriores a avançar Washington e Brasília nesses 100 dias de com a tramitação do protocolo de ingresso Obama na Casa Branca. Foi em um desses da Venezuela no Mercosul, uma ampliação encontros com a colega Hillary Clinton que o na qual está em jogo também o prestígio ministro se surpreendeu ao ouvir a secretária regional do governo Lula. de Estado confessar que está, sim, interessada em ouvir conselhos do Brasil. “Você não ouvia “Agora, os EUA nos pedem conselhos” isso antes”, comentou. Chanceler brasileiro fala sobre as boas Essa nova atitude da diplomacia americana relações com o governo Obama, o papel impressionou o chanceler, especialmente do país na aproximação com Cuba e a durante a Cúpula das Américas, realizada no determinação de dialogar de perto com o Irã mês passado em Trinidad e Tobago e dominada pelo tema da reintegração de Cuba ao sistema Jornal: A discussão no Congresso sobre o interamericano. Graças às boas relações que ingresso da Venezuela no Mercosul é mais mantém com as duas as partes - “dois países, comercial ou política? à sua maneira, muito orgulhosos” -, o Brasil se colocou como pivô de um processo de Amorim: Há as duas. Tem gente que diz que é distensão com alcance histórico. E esse não preciso que eles sigam as regras do Mercosul, é o único imbróglio internacional em que que haja um cronograma de desgravação, o país passou a ser um ator observado com que se chegue a uma tarifa externa comum.

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 309 Agora, há uma compreensão de que nós que Cuba está tendo na parte econômica. Essa precisamos avançar, e isso ficou claro no também é a mensagem que nós transmitimos encontro que tive com o presidente Chávez para os Estados Unidos. Mas são dois países (na semana passada). Na parte política, temos adultos, ambos muito orgulhosos, não são que levar em conta que estamos tratando países que necessariamente estejam pedindo com um país que pode não ter tudo do jeito intermediários. Quando a gente pode dar que a gente gostaria, mas tem feito eleições uma boa palavra, a gente dá. Como se faz frequentemente, todas com acompanhamento entre amigos, mas sem dizer que nós somos internacional, tem uma imprensa livre... Eu intermediários, porque nem Cuba aceitaria, abri jornal lá e não tinha uma página que nem os Estados Unidos. E nem o Brasil faria. não fosse crítica ao governo Chávez. Agora, mesmo supondo que haja imperfeições, ou Jornal: O Brasil está no centro desse processo que haja riscos - vamos frisar o “supondo” - a de distensão que é uma história de 50 anos, proximidade é muito melhor que o isolamento. tem participado de outros processos. O que Essa Cúpula das Américas deixou isso claro. significa estar conversando com Hillary, O presidente Lula tocou no assunto nas várias Obama, Raúl Castro? vezes em que esteve com o presidente Obama, eu falei com a Hillary Clinton também sobre Amorim: Isso quer dizer que o Brasil a importância do diálogo. Claro que não foi tem aumentado o seu peso nas relações isso que resolveu, tem a atitude do presidente internacionais. As pessoas aqui, principalmente Obama, o jeito dele de ser, e a boa disposição a mídia - não é só a brasileira, já reparei que que o Chávez revelou. Sei que eles se toda mídia faz isso com o próprio país -, cumprimentaram cordialmente. E no discurso sempre procuram diminuir, criticar. Quando que o Chávez fez na plenária, ele terminou eu fui ao Oriente Médio, diziam: “Ah, o Brasil dizendo: “Quiero ser su amigo. I wanna be quer o Oriente Médio porque quer uma vaga no your friend”. Lembrei dos Beatles... Conselho de Segurança (das Nações Unidas)”. Meu Deus, não é assim. Quem primeiro nos Jornal: Isso de que é melhor conversar vale pediu para aumentar a presença no Oriente também para Cuba? Médio foram os palestinos. E nós sentimos essa receptividade, esse desejo. Eu me lembro Amorim: O Brasil tem uma relação boa aqui, conversando com a Condoleezza Rice - com Cuba desde o governo Sarney, quando posso dizer isso, porque não é mais segredo. foram restabelecidas as relações. Elas se Na época, eles não tinham praticamente aprofundaram agora no governo do presidente diálogo com a Síria, e nós dissemos: “Vocês Lula, com um comércio muito maior, não podem querer resolver o problema do presença de empresas brasileiras lá. Uma vez Oriente Médio se não tiverem diálogo com que eu fui lá, eu fiz um comentário de que um ator fundamental”. Agora, com o Brasil o Brasil não quer ser o sócio número 2 nem macroeconomicamente estável, tratando da número 3, quer ser o número 1. Agora, se os sua maior mazela, que é a má distribuição Estados Unidos abrirem rápido, vai ser difícil de renda - não está perfeita, mas melhorou a gente ser o número 1. Mas, enfim, há um muito -, com crescimento econômico e com interesse nosso em participar desse processo uma política externa que também é, eu diria, de evolução natural, positiva, que eu acho desassombrada... No governo Itamar Franco,

310 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 nós tivemos a ideia de fazer uma área de livre coisa pode interferir na outra, mas a minha comércio sul-americana - hoje ela existe, na visita a Teerã foi antes do resultado da eleição prática - e muita gente dizia: “Olha, vocês nos Estados Unidos, e já era preparação para estão cutucando a onça com vara curta”. Eu a visita do presidente, então não tem uma sei que hoje o próprio Obama chama a Unasul relação direta. para dialogar com ele. Quer dizer, tem gente que fica vendo assombração em toda parte, Jornal: Ficou evidente que a relação com o aí não dialoga, não sai de casa. Nós nunca Obama ficou muito mais fácil até no nível defendemos políticas de confrontação, mas pessoal com o presidente Lula. Dá pena de ter tivemos que criticar os Estados Unidos na só mais um ano e meio com ele? invasão do Iraque, criticamos. Tivemos que ter uma negociação dura na Alca e na OMC, Amorim: Dá sempre pena de ter só mais um tivemos. Isso levou a algum rompimento? ano e meio... (risos) Mas dá para lançar as Nenhum. bases de um relacionamento, e tenho certeza de que o próximo governo vai continuar Jornal: Essa ideia da assombração se aplica ao levando. O Lula tem naturalmente uma Irã, com a visita do presidente Ahmadinejad? grande chance, com o carisma dele - não são só as posições, tem o carisma do presidente, Amorim: Você tem que dialogar. Se você a capacidade de comunicação. Ele é um passar entre os 15, 20 países do mundo, o Irã homem de posições firmes. Eu sempre senti tem que estar entre eles, como a Turquia, a apoio dele em coisas como a Alca, quando Arábia Saudita, que o presidente também vai criamos o G-20 e parecia que o mundo ia cair visitar agora - uns pela riqueza econômica, na nossa cabeça por não termos permitido outros pela população, pela história. O Irã a conclusão da Rodada de Doha. Mas ao certamente tem história, população e riqueza mesmo tempo ele é um homem de conciliação econômica, temos que dialogar. Aliás, não e diálogo. Tudo isso que eu falei do Brasil ele é só o Brasil: o presidente Obama também simboliza, e não é à toa que a Newsweek faz quer dialogar. Agora, isso não nos impede uma matéria de capa dizendo que o Brasil é de manifestar opinião. O Itamaraty emitiu a potência engenhosa, habilidosa, que sabe uma nota, vocês todos publicaram, com a fazer as coisas sem ter bomba atômica. Então, nossa opinião (censurando as declarações de o presidente Lula tem uma boa chance pelo Ahmadinejad sobre o Holocausto). Isso não bom diálogo que ele criou com o Obama, até vai nos impedir de cooperar nem de dizer o porque eles têm uma trajetória parecida, cada que pensamos. um com a sua característica, mas os dois vêm de setores da população oprimidos, por uma Jornal: Foi coincidência que a visita só tenha razão ou por outra, e ascenderam - no caso desencantado agora que mudou o governo nos do Obama de maneira muito rápida. Mas tem EUA? uma diferença de idade e de experiência no cargo, então é até natural que o presidente Amorim: Coincidência... não sei dizer. Tinha Obama procure conversar com o presidente uma vidente americana que dizia: “Eu não Lula, pedir opiniões. Eu tive uma conversa acredito em coincidências”, falava isso do com a Hillary sobre uma determinada coisa Reagan. Não sei se é coincidência ou não, uma e dei uma sugestão, aí eu mesmo percebi e

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 311 falei: “Mas eu não quero aqui dar conselho como está, porque tem uma característica aos Estados Unidos”. Aí, ela disse: “Não, não, muito especial de serem três grandes mas eu estou querendo conselhos!” Isso é uma democracias, cada uma em um continente, coisa que você não ouvia. Todo mundo sabe multiétnicas, multiculturais, por coincidência que os Estados Unidos têm um poder muito dois (Índia e África do Sul) estão tendo maior que o Brasil, mas, enfim, nós temos eleições agora. talvez um savoir faire que também é parte da nossa força em potencial. Jornal: E o terceiro ano que vem...

Jornal: Enquanto as negociações comerciais Amorim: É, o terceiro no ano que vem. São continuam travadas, o nosso futuro está no países que estão num processo constante, Ibas e na articulação dos Brics? são democracias vibrantes do mundo em desenvolvimento. E os Brics são as Amorim: Eu acho que, sem dúvida alguma, maiores economias emergentes, que têm em grande parte. Os Brics começaram como também muitos interesses comuns. Não sou uma coisa política, e agora os ministros da só eu que digo... eu pego as análises dos Fazenda se coordenam, levaram posições economistas, muitos dos quais nos criticaram comuns ao FMI. Nós temos que encontrar veementemente porque não demos prioridade mecanismos de cooperação para trabalharmos aos acordos com os EUA, com a União mais em conjunto, mas já temos. No caso do Europeia, e dizem agora que o Brasil sofreu Ibas temos até uma estrutura montada, e eu menos com a crise econômica porque o acho que o Ibas é muito importante manter comércio está diversificado.

312 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 Entrevista concedida pelo Ministro das Relações Exteriores do Brasil, Embaixador Celso Amorim, à revista “Isto É Dinheiro”. 04/05/2009

“Eu sou o assessor do cara” sejam políticas ou econômicas. “Quem diria, há seis anos, que os principais negociadores O ministro das Relações Exteriores, Celso comercias seriam Estados Unidos, União Amorim, comemora o momento histórico da Europeia, Índia, China e Brasil?”, disse à política externa e diz que Lula e o Brasil serão dinheiro. “As oportunidades aparecem, mas ainda mais influentes no cenário global se você ficar o dia inteiro trancado no quarto, nem as vê. E muito menos as aproveita.” Denize Bacoccina e Gustavo Gantois Amorim tem plena consciência do que fala. Hoje, o Brasil integra o Mercosul, a Unasul, o Os comprimidos de omeprazol foram trocados G5, o G20 financeiro e o da OMC, que ajudou pelo chá de camomila. Mas o ministro das a criar; participa das reuniões do G8, além Relações Exteriores, Celso Amorim, ainda de integrar o Bric e o Ibas. As siglas diversas mantém o hábito de dormir sempre que pode pouco importam no momento. Significam que e comer pouco. É dessa forma que ele aguenta o Brasil conseguiu um lugar ao sol na cena uma rotina pesada de viagens e missões política internacional. “Mais que convidado, nas quais representa não apenas o governo hoje, o Brasil é demandado”, diz Amorim. brasileiro, mas, muitas vezes, também, as posições de outros países em desenvolvimento. Se no cenário interno o ministro ainda se irrita Desde o início de sua gestão, Amorim já com algumas críticas, como as que apontam visitou 167 países - vários mais de uma vez que o Brasil estaria se ligando demais aos - totalizando 468 dias fora do Brasil. E isso países em desenvolvimento ou que há uma sem contar as mais de 80 viagens nas quais obsessiva ambição em pertencer ao conselho acompanhou o presidente Lula. de segurança da ONU, ele se vinga no plano internacional. Nos últimos trinta dias, o Brasil Ele estima que tenha se ausentado de Brasília foi tema de duas capas da edição internacional quase dois terços do tempo em que comanda o da Newsweek. Ambas exaltam a forma como Itamaraty. Tamanho esforço, segundo ele, tem o país conseguiu se destacar no tabuleiro o seguinte saldo: hoje o Brasil participa como mundial, citando o bom estado da economia, o protagonista das principais discussões globais, diálogo franco travado entre o presidente Lula

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 313 e outros líderes e, claro, a força da diplomacia Obama. “Sem os Estados Unidos, é difícil nacional. “Acho que nem se eu escrevesse fazer uma coisa global, mas eles perceberam seria tão favorável”, brinca Amorim. O fato que sozinhos também não fazem nada. Por é que o Itamaraty tem conseguido, com uma isso, quando eles pedem sugestões acho que boa dose de paciência, atrair os vizinhos sul- estão sendo sinceros”, afirma o chanceler. Na americanos para a sua órbita. Sem contar as reunião do G 20, Obama chegou a referir- se visitas junto ao presidente, Amorim viajou ao presidente Lula como “o cara”. Se ele assim 51 vezes para os países da região. Algumas o é, quem será Celso Amorim? “sou o assessor vezes para apagar incêndios, como é o caso do cara”, brinca. “Eu não sou o cara, mas o mais comum com a Argentina, mas a grande Brasil é o país. Não há conversa sem o Brasil.” maioria foi para manter o contato estreito iniciado na gestão Lula. “A crise provou que nossa política externa foi bem-feita” A intensidade e a diversidade das relações brasileiras ficam evidentes no calendário O ministro Celso Amorim analisou as relações de visitas. Nesta quarta-feira 6, o presidente do Brasil com os países do continente e com iraniano Mahmoud Ahmadinejad estará no outros emergentes. Confira, a seguir, trechos Brasil. No dia seguinte, é a vez do presidente de sua entrevista exclusiva à DINHEIRO: do Paraguai, Fernando Lugo. Às vezes, são várias no mesmo dia, como se pode ver nas Revista: O Brasil tem aparecido bastante no bandeiras hasteadas em frente ao Itamaraty. cenário internacional. O que mudou para que “Outro dia tinha a bandeira do Irã ao lado o País tivesse esse reconhecimento? da do Reino Unido”, conta Amorim. Ele já mandou instalar mais dois mastros desde o Amorim: Mudou o Brasil, pra começar. início do governo. O ritmo imposto à política Mudou com a democracia, com a estabilização externa, no entanto, não teria sobrevida se da economia e com a política externa. O não contasse com o engajamento pessoal presidente Lula teve uma disposição muito do presidente Lula. “Somos pessoas com grande. Nos primeiros dois anos de governo histórias de vida diferentes, mas temos uma ele visitou e recebeu todos os presidentes afinidade de pensamento”, explica Amorim. sul americanos. Quando criamos a Unasul, Uma afinidade que é criticada por parte da falavam que estávamos cutucando a onça diplomacia, que considera a política atual com vara curta. Agora o presidente Barack muito “de esquerda”. Nos corredores do Obama pediu uma reunião com o grupo. O palácio ouvem-se críticas à atenção excessiva presidente visitou 21 países da África. Agora, a países em desenvolvimento, com abertura ele vai à China, Turquia e Arábia Saudita. É de embaixadas na África e no Oriente Médio. importante do ponto de vista econômico e comercial. E é curioso porque agora você lê Amorim não se importa. Diz que a crise conselhos que é o que já praticávamos ontem. mostrou que a diversificação está sendo boa Esse alinhamento sul-sul, alianças com países para o Brasil, hoje menos dependente dos em desenvolvimento... mercados centrais. A relação com os Estados Unidos, se já era boa no governo George Revista: A crise, centrada nos países W. Bush, ficou mais respeitosa com Barack desenvolvidos, avalizou essa política?

314 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 Amorim: Nós preferíamos que não tivesse Amorim: Acho que os Estados Unidos crise. Mas ela foi uma comprovação irrefutável entenderam que a América Latina não é um de que essa política de diversificação foi todo homogêneo. A palavra mais usada foi bem-feita. Se tivéssemos feito os acordos de diversidade. Há um respeito mútuo. É claro livre comércio na pressa, como muita gente que sempre há conflitos. Mas não há mais queria que fizéssemos com os Estados Unidos aquela postura “eu tenho razão e eu vou impô- e a União Europeia, teríamos problemas. la ao mundo”. Todos os países que fecharam acordos de livre comércio com eles tiveram seus déficits Revista: Nesta nova relação dos Estados aumentados. Num momento de crise como Unidos com a região, como fica a posição do esse, nossa vulnerabilidade externa seria bem Brasil como intermediário? maior. Amorim: O Brasil sempre terá um peso Revista: A China é hoje o principal parceiro importante na relação internacional. E parte comercial. Ela será a salvação do Brasil? do peso que tem é sua boa relação na região. Sua capacidade de enfrentar pacificamente, Amorim: A China foi no mês passado, não sei sem grandes conflitos, na região. Isso é parte se isso continua até o fim do ano. A salvação do nosso poder. do Brasil é o Brasil. Temos um bom mercado interno. A distribuição de renda contribuiu Revista: Quais são os próximos passos da para isso, as obras do PAC também. Agora, diplomacia brasileira? é claro que a recuperação da economia chinesa vai ajudar muito. Com a ênfase deles Amorim: Não podemos escolher uma única para o mercado interno, poderá até haver linha de ação internacional. A América do uma abertura maior para nossos produtos Sul sempre será a prioridade número um. industriais. Mas o País tem feito muito com a África e vai continuar fazendo. Tem feito com os Revista: O senhor fala que os próprios Brics e vai aprofundar. Vamos continuar chineses reconhecem que o comércio está trabalhando em outras ações com países em desequilibrado. É um discurso parecido com desenvolvimento. O Ibas (Índia, Brasil e o nosso em relação à Argentina... África do Sul) tem cada vez mais prestígio. Tem muita coisa pra trabalhar, mas de repente Amorim: A vida é assim, né? O comércio surge um tema novo. internacional não é um jogo de dois parceiros, mas de múltiplos parceiros. Então você não pode esperar que todos os intercâmbios sejam absolutamente equilibrados. Nem a Argentina pode esperar isso de nós e nem nós da China.

Revista: A relação dos Estados Unidos com o restante da América Latina mudou na Cúpula das Américas?

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 315

Entrevista concedida pelo Ministro das Relações Exteriores do Brasil, Embaixador Celso Amorim, à revista “Carta Capital”. 11/05/2009

Cynara Menezes CartaCapital: O fato de a política externa O chanceler Celso Amorim fala do atual ter dado certo até agora comprova que o protagonismo externo do Brasil presidente não precisava ser poliglota para alcançar resultados internacionais? “Esquerdopatia”, “retórica inútil”, “antiamericanisrno tosco”, “complexo de Celso Amorim: O presidente precisa, acima inferioridade vertido em arrogância”, “forçação de tudo, acreditar no Brasil. É muito mais de barra”, “acúmulo de fracassos”, “beira o importante do que falar.em várias línguas. ridículo”. Esses foram alguns dos torpedos lançados sobre as ações de Celso Amorim à CC: O senhor diria que realmente mudou a frente do Ministério das Relações Exteriores. visão mundial em relação ao Brasil?

Seis anos depois, Amorim ri por último. CA: Não tenho a menor dúvida e não posso “Estamos entre os primeiros dos primeiros”, atribuir isso somente ao governo Lula, festeja, sobre a atual onda de elogios vem ocorrendo desde que o Brasil firmou a internacionais às políticas interna e externa do democracia, acertou a economia. Hoje somos governo Lula. “Pena que tenha sido necessário percebidos como um interlocutor necessário vir do Obama e da Newsweek, antes de vir para a grande maioria dos temas internacionais. dos próprios brasileiros:” CC: Virou um país sério? Quanto às críticas, feitas principalmente por seus antecessores no cargo, preferiu; sem CA: Não gosto dessas comparações. Elas citar nomes, ironizar. “Essas pessoas têm revelam o complexo de vira-latas de que falava complexo de inferioridade. O problema para Nelson Rodrigues, pelo qual só se é capaz de eles é fazer psicanálise, não é nem questão ver pelos olhos do outro. Precisamos sempre de oposição. Eu acho graça”, afirmou o de uma legitimação de fora. Todo mundo chanceler, em entrevista à CartaCapital. Na estava criticando muito a política externa, mas pauta da conversa, a entrada da Venezuela no quando veio a capa da Newsweek, o abraço Mercosul, os negócios com o Irã e o fim do do presidente Barack Obama, aí as pessoas embargo dos EUA a Cuba. começaram a ver de outra maneira. Acho

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 317 bom, mas é pena que tenha sido necessário vir outro país do mundo, de mais de 4 bilhões do Obama e da Newsweek antes de vir dos de dólares ao ano. Do ponto de vista mais próprios brasileiros ou pelo menos de uma amplo, geoestratégico, a entrada da Venezuela parte deles. vai dar uma vértebra ao Mercosul. Deixa de ser, no imaginário das pessoas, o mercado CC: Uma das prioridades da política externa comum do Cone Sul para ser o mercado da do governo Lula foram as relações com a América do Sul, de uma grande parte dela. África. Em que se modificaram? Passamos a ser 80% do PIB, 72% da área e 70% da população. Politicamente também CA: Mudaram de perfil totalmente. Não só é importante ter a Venezuela perto. É nosso pelo número de viagens que a gente fez, até já vizinho e tem tradições culturais, apesar da perdi a conta. Somos o país da América Latina língua espanhola, muito parecidas com as que tem o maior número de embaixadas na nossas, muita mistura, um componente negro África, antes era Cuba. Houve um número mais forte que outros países da América do razoável antigamente, mas foram diminuindo Sul. Temos de confiar na nossa capacidade por medida de economia ou falta de prioridade. de exercer uma influência positiva. Não uma Reabrimos todas que existiram e abrimos intromissão, mas o contato conosco só pode várias outras. Passaram de 20 para 35. fazer bem à Venezuela.

CC: Em termos práticos, o que isso significa? CC: Os argumentos contrários são sempre em relação à política, ao chavismo ... CA: Nosso comércio com a África é hoje de mais de 20 bilhões de dólares, o que não é CA: Não fazemos os outros países à nossa pouco. Temos muito mais relações culturais, imagem e semelhança, lidamos com eles como comerciais, com os governos estaduais, existem. Claro que, se fosse uma ditadura inclusive. Há mais interesse dos empresários. feroz, com tortura ... Nunca ouvi falar de Agora, por exemplo, um grupo de São Paulo tortura na Venezuela. É um país onde você do ramo de transporte está com um interesse pega o jornal e em todas as páginas, exceto a grande em São Tomé e Príncipe. É um país de esportes, há artigos críticos ao presidente. pequeno em população e área, nem tínhamos Pode não ser do jeito que gostaríamos que embaixada lá, mas, como é uma ilha no golfo eles fizessem, mas talvez nós também não da Guiné, dali você vai para Nigéria, Angola, façamos as coisas do jeito que eles gostariam. Gana, Gabão ... Ou seja, não foi uma coisa O Brasil não pôde vender (aviões) Tucanos que eu inventei e o empresário comprou. para eles por uma imposição dos EUA, que Dada a aproximação feita pelo governo Lula, é quem cede parte da tecnologia à Embraer. os empresários estão descobrindo, criou-se Provavelmente eles também não gostem desse uma dinâmica. tipo de condicionante.

CC: Quais seriam as vantagens da entrada da CC: Anda-se perseguindo opositores por lá. Venezuela no Mercosul? CA: Cada caso é um caso, não posso julgar. CA: O Brasil tem o maior saldo comercial Prefiro ficar no mais geral: entrando no com a Venezuela. É mais do que com qualquer Mercosul, a Venezuela será membro de todas

318 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 as declarações, convenções, inclusive as desrespeitosa com um chefe de Estado que foi que têm a ver com a democracia. Temos de eleito e reeleito. E, obviamente, uma parte da fortalecer a integração da América do Sul, e oposição esteve vinculada ao golpe. Então, um foi a Venezuela quem se interessou. Se fosse bom relacionamento com os EUA também vai a Colômbia, também seria muito bem-vinda. dissipar ilusões golpistas de alguns setores.

CC: O senhor acha que o Senado vai aprovar? CC: Pessoalmente, o que o senhor achou de Obama? CA: Sim. CA: É uma pessoa que ouve com atenção. CC: É verdade que Chávez ficou encantado Outra coisa que diria, que vejo semelhante com Obama, ao conhecê-lo na Cúpula das no presidente Lula, é que dá a impressão de Américas? refletir no momento. Pensa na hora e dá uma resposta. Os outros presidentes vinham com CA: Eles tiveram um bom diálogo, não sei as respostinhas prontas. se encantado seria a palavra. Mas tenho a impressão de que gostou, foi muito caloroso. CC: O senhor acha que, com Obama, as tarifas O presidente Obama tem algumas coisas muito ao etanol brasileiro vão cair? positivas. O fato de ser negro, nos Estados Unidos, já é extraordinário. É uma pessoa que CA: O término da Rodada de Doha seria veio de um grupo oprimido, a verdade é essa, o caminho mais expedito. Os pr6prios e que chegou ao poder. E passou uma parte americanos estão vendo as dificuldades, o da infância e adolescência na Indonésia, então custo excessivo do etanol de milho, e isso viu como é um país em desenvolvimento. Tem vai acabar ocorrendo. Mas se resolverá mais uma compreensão maior, espero. rápido com o fim de Doha.

CC: Houve participação do Brasil para CC: A crise aumentou os protecionismos? facilitar o contato? CA: Sim, mas não como na década de 30, aquele CA: Uma boa palavra aqui, uma boa palavra movimento avassalador. Há uma consciência ali, do presidente Lula, principalmente, muito grande de que o protecionismo não é ajuda e predispõe ao diálogo. Mas não houve a solução, que agrava mais os problemas. intermediação propriamente. Entre a consciência e a ação se interpõe o instinto, e ele é protecionista. Mas a razão não CC: Em que essa aproximação pode dar? é protecionista e acabará se impondo.

CA: Em maior tranquilidade, inclusive dentro CC: O Brasil terá um papel importante no fim da Venezuela. As pessoas costumam criticar do embargo a Cuba? o presidente Chávez, mas se esquecem como age a oposição lá dentro. Lembro de ter visto CA: Eles não precisam de intermediários. O um anúncio de colchão que dizia assim: “Se que defendemos é que tenham um diálogo você está cansado do “presidente Chávez, direto, e já começou. Isso não exclui uma use o colchão tal ...” É uma coisa muito ajuda, como disse, com uma boa palavra aqui,

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 319 outra ali. Li umas declarações da secretária de CA: Não é não nos importarmos. Não Estado . (Hillary Clinton) em que ela percebeu deixamos de criticar, como foi criticada nitidamente, e certamente o presidente Obama a declaração sobre o Holocausto do líder também, o fato de todos os países da América iraniano, mas é não nos recusarmos ao Latina e Caribe desejarem o fim do embargo. diálogo. É pelo diálogo que se pode ter Isso não é uma coisa de um país que é mais influência sobre os países. Queiram ou não de esquerda, é geral. Agora, qual será a as pessoas, o Irã é um interlocutor importante evolução de Cuba com o fim do embargo, isso para a questão do Oriente Médio. É um país já é outra coisa, o futuro dirá. Se começar a poderoso, de 70 milhões de habitantes, não fazer exigências, não funciona. Foi o que se adianta tentar ignorá-lo. O presidente Lula tentou durante 50 anos, de maneira totalmente não deixará de dar a opinião dele, do Brasil, inócua. Não creio que os EUA vão cair nesse ao presidente Ahmadinejad, ou a quem quer erro de novo. que ganhe a eleição em junho. Agora, se você só vai convidar e dialogar com as pessoas com CC: Quando o presidente Lula fala que as quais concorda, vai ter muito pouca gente. Obama e Raúl Castro vão fazer as pazes em Ipanema, é só brincadeira? CC: Por que houve o adiamento da visita?

CA: Ipanema é um ótimo lugar para qualquer CA: Se há um problema eleitoral lá, e se tipo de encontro. Mas não se pode controlar a visita pode ser mais produtiva depois da a forma como essas coisas vão se passar. O eleição, compreendemos e achamos natural. fato de o presidente Raúl, na primeira viagem ao exterior, ter passado pelo Brasil é muito CC: Quando o senhor viajou ao Oriente significativo do desejo de nos ter como um Médio, chegaram a falar que as pretensões parceiro especial, privilegiado. Temos uma do Brasil de ajudar na resolução do conflito ótima relação com os EUA, já era boa, vai ser Israel-Palestina beiravam o ridículo ... melhor agora, pelas afinidades. Ou seja, pode ocorrer. Se vai ser em Ipanema, no Leblon ou CA: É complexo de inferioridade. O problema na Bahia, não sei. para algumas pessoas é fazer psicanálise, não é nem questão de oposição. Estive em cinco CC: O Irã pode tornar-se um parceiro países, em todos os casos fui recebido por chefe importante? de Estado, menos em Israel, porque não quis, preferi visitar a ministra do Exterior, que poderia CA: Sim, já é. Em 2007 vendemos 2 bilhões de ser a primeira-ministra após a eleição. É claro dólares para o Irã, não é nada desprezível. Em que não íamos para lá resolver o problema dessa 2008 caiu um pouco, mas podemos retomar. fronteira, uma coisa que se está discutindo há 1 milhão de anos, com dezenas de mediadores. CC: Esta aproximação é um símbolo do Mas o Brasil é um país de influência na pragmatismo comercial que vocês têm ONU, no Conselho de Direitos Humanos, nos praticado, de não se importar com as questões órgãos internacionais. E pode participar de um políticas dos países? processo mais amplo. Para falar a verdade, acho

320 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 um pouco de graça quando leio essas coisas e CA: Essa é uma visão muito jornalística e não me preocupam a mínima. simplificada da política internacional. As coisas não são bem assim, você procura CC: Também se criticou muito o fato de o encontrar interesses comuns. No caso da Brasil ter almejado postos em organizações Bolívia, é verdade que queremos ajudá-los a se internacionais e não conseguir. O senhor acha desenvolver, não nos interessa ter um país em que, ao final do governo Lula, poderemos permanente convulsão como era. Mas, diria chegar a ter a tão sonhada cadeira no Conselho também, em termos estratégicos, econômicos, de Segurança da ONU? que não faltou uma molécula de gás para o Brasil num momento em que em outras partes CA: Não posso dizer, é uma coisa muito do mundo isso ocorreu. Agimos com calma, complexa. O governo Lula perseguiu esse paciência, não deixamos de negociar o tempo objetivo, talvez com mais determinação, mas, todo, e a Petrobras não teria ficado lá se não em tempos recentes, quem relançou essa fosse razoável. proposta foi o presidente José Sarney, em 1989. Durante o governo Itamar, quando fui chanceler, CC: O acordo de Itaipu com o Paraguai foi continuamos a acompanhar esse processo, e feito na época da ditadura. É necessário revê- no governo FHC, em que era embaixador nas lo? Nações Unidas, nunca fui contraditado. As oportunidades surgem de uma hora para outra. CA: Rever o acordo é algo complicado. O fato Quem poderia dizer há dois anos que o principal de ter sido feito durante o governo militar é fórum de discussão de temas financeiros e uma circunstância. Há reivindicações justas econômicos e internacionais deixaria de ser e realistas e outras que não têm viabilidade. o G-7 ou G-8 para ser o G-20? Ninguém. O Vamos trabalhar da maneira mais positiva mesmo pode acontecer com o Conselho de possível. Não é o caso de se procurar fazer Segurança. Se será no governo Lula ou não, uma liberalidade, mas ao mesmo tempo tem não estamos preocupados. de compreender que Itaipu é importante para o Brasil, mas para o Paraguai é quase uma das CC: Quando Collor assumiu a Presidência, únicas fontes de receita. houve uma inflexão no Itamaraty de que era preferível ser o primeiro dos últimos a último CC: Uma das acusações mais pesadas ao dos primeiros. Como o senhor definiria hoje? Itamaraty é de que teria sido “aparelhado” durante o governo Lula. Como o senhor CA: Queremos, não, estamos entre os responde? primeiros dos primeiros. Mas sem desprezar os mais pobres, porque podemos ajudá-los e CA: É uma tolice. Não sei nem em quem votou também porque o fato de termos boas relações o pessoal do meu gabinete, nunca perguntei com eles é parte da nossa força. a ninguém. Quero que as pessoas cumpram com seu dever. Algum dia, procure ver onde CC: O Brasil não tem cedido demais aos estão as pessoas que trabalhavam com meus vizinhos? antecessores e veja se foram perseguidos. O

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 321 que acontece é que as pessoas eram contra o presidente Lula, preferiam uma política externa mais dependente de um ou dois centros de poder no mundo, achavam que o caminho melhor era outro. Vi diplomatas de alta categoria dizer que o Brasil deveria seguir o exemplo do México. Hoje, com a crise, os economistas, inclusive os conservadores, avaliam que o Brasil foi menos afetado porque tem uma relação comercial mais diversificada.

CC: Quando Obama diz que Lula “é o cara”, é mérito do presidente ou da diplomacia brasileira?

CA: Ah, do presidente. A diplomacia não pode é atrapalhar. O presidente tem uma projeção internacional muito grande. Creio que a diplomacia brasileira não decepcionou ao atuar em sua linha. Como ele sempre diz, primeiro, revelando autoestima. Depois, diversificando as parcerias, fortalecendo a integração com os países da América do Sul, tendo uma política africana ativa, buscando uma relação nova com os países árabes, com a Ásia. Algumas dessas iniciativas foram ideias do próprio presidente, outras, do quadro do Itamaraty. A linha geral quem deu foi ele.

322 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 Entrevista exclusiva concedida por escrito pelo Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, à agência de notícias Xinhua, da China. 16/05/2009

Jornalista: O senhor Presidente vai realizar a construção de um sistema de governança sua segunda visita oficial à China nessa global mais eqüitativo e sustentável. semana. Qual é o propósito e objetivos da visita? Jornalista: Em 2009 se comemoram os 35 anos de relações diplomáticas China e Presidente: Esta será a minha terceira visita à Brasil, que por outra parte estabeleceram China, num reflexo da importância da parceria uma Associação Estratégica em 1993. Como entre nossos dois países. Essa parceria se centra o Presidente avalia o estado atual da relação em três principais pilares, que minha visita bilateral? pretende reforçar e consolidar. No âmbito comercial, a China é hoje o primeiro parceiro Presidente: Todos os campos de cooperação do Brasil. Precisamos agora diversificar mais que mencionei apontam para a natureza nossas trocas, sobretudo de forma a agregar estratégia da parceria entre nossos dois maior valor às exportações brasileiras. Para países e seu potencial de alavancar alianças isso, desejamos estimular mais investimentos mais amplas com outros países emergentes. chineses no Brasil, trazendo tecnologia e Nossa associação no campo tecnológico e em promovendo ganhos de produtividade. No favor da reforma das instituições de Bretton âmbito tecnológico, vamos aprofundar a Woods (Fundo Monetário Internacional e parceria em alta tecnologia, reforçando o Banco Mundial), em particular, aponta para Programa CBERS de lançamento de satélites o papel que a parceria Brasil-China pode de sensoriamento, e iniciar outros projetos jogar na conformação de uma nova geografia conjuntos de biocombustíveis e biotecnologia. econômica, tecnológica e comercial no Por fim, nossas duas grandes economias século XXI. emergentes devem continuar a reforçar a coordenação que mostramos durante a Cúpula Jornalista: Segundo dados do governo do G-20 financeiro, em Washington eL ondres, brasileiro, a China é hoje o principal sócio para acelerar a reforma das instituições comercial do Brasil, e pode se tornar também financeiras internacionais. No atual momento uma importante fonte de investimentos de quebra de paradigmas econômicos para seu país. De que maneira poderão ser clássicos, a força de nossas economias nos fortalecidas e desenvolvidas as relações nas habilita a contribuir de forma decisiva para áreas de comércio e investimentos?

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 323 Presidente: Como adiantei, o Brasil acredita que a crise financeira norte-americana pareça que mais espaço para a exportação de ter se estabilizado, persiste a necessidade de produtos brasileiros de maior valor agregado medidas a serem tomadas, implementadas traria maior equilíbrio e sustentabilidade ao e monitoradas pelos governos nacionais de comércio bilateral. Por outro lado, queremos modo a regular as finanças e, principalmente, que a China compita no mercado brasileiro sustentar a demanda, de modo a impedir que esta com base na qualidade e na agregação de valor retração permaneça. O prioritário é procurar a tecnológico - e não simplesmente com base manutenção dos fluxos comerciais, apoiando em preço baixo. Para isto, muito contribuiria financeiramente os parceiros e utilizando o a realização de investimentos no Brasil para a FMI como instrumento de apoio aos países produção de bens de alta tecnologia. Este é o deficitários. Isto requer preservar a demanda caso de muitos dos investimentos brasileiros doméstica e coordenar internacionalmente a na China, como, por exemplo, a fábrica da regulação financeira, de modo a impedir novo Embraer em Harbin. agravamento da crise. Brasil e China têm expandido muito sua parceria comercial nos Jornalista: O Brasil tem iniciado uma últimos anos. Da mesma forma, seu papel no experiência com alguns dos seus principais cenário mundial tem se destacado, para o que sócios, como a Argentina, de comércio em muito contribuiu o manejo apropriado da crise moedas locais. Essa modalidade poderia vir internacional na esfera nacional, em particular a ser aplicada também ao comércio com a a preservação de bancos sólidos. No caso China? específico do Brasil, investimentos maciços na consolidação da rede de proteção social Presidente: A experiência iniciada com foram medidas fundamentais para proteger a os países latino-americanos decorre de demanda e atingir objetivos de justiça social condições específicas, relativas à integração no longo prazo. do continente. Estamos dispostos a estudar com o governo chinês formas de facilitar e Jornalista: Como o senhor Presidente consolidar nossas relações comerciais também recebeu a proposta do Banco Central nessa área. da China de estabelecer uma moeda de reserva internacional alternativa ao dólar Jornalista: Qual é sua avaliação da situação estadunidense? Poderia o Brasil endossar essa atual da economia mundial? Que medidas proposta? deveriam ainda ser tomadas e que papel podem desempenhar a China e o Brasil para ajudar a Presidente: O Brasil acredita que a proposta superar a crise financeira internacional? de uma moeda de reserva internacional alternativa pode ajudar a melhoria da liquidez Presidente: A economia mundial ainda vive um dos mercados, diminuindo a volatilidade futura momento de grande retração, especialmente dos mercados assim como a dependência em no comércio. Notamos que as regiões do relação ao dólar. Faz-se necessária, contudo, mundo sofreram impactos desiguais, com uma maior coordenação internacional no os fluxos de capitais desequilibrados. Ainda tocante às taxas de câmbio.

324 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 Jornalista: Depois da ruptura das negociações O entendimento para ampliar os recursos em julho de 2008 no âmbito da Rodada de à disposição do Banco Interamericano de Doha da OMC, o Brasil fez contatos com Desenvolvimento é um sinal positivo nessa vários governos na tentativa de retomar tais direção. negociações. Em sua opinião, quando a Rodada poderá ser reiniciada e quais as perspectivas Jornalista: O Brasil tem promovido sempre de que seja concluída com sucesso? a integração regional. Poderia comentar o significado desta integração, e o rumo possível Presidente: O Brasil continua a atribuir do desenvolvimento da União das Nações grande prioridade a esse tema, fundamental Sul-americanas (UNASUL)? Poderá a China para que muitos países mais vulneráveis, ter um papel no fortalecimento desse projeto? sobretudo africanos, possam fazer do comércio internacional uma alavanca para Presidente: De fato, a integração regional o desenvolvimento. Por essa razão, temos é um pilar da política externa de meu urgência. Temos motivos para um otimismo Governo. Estou convencido de que os países prudente. As distâncias são pequenas e temos latino-americanos só poderão integrar-se indicações da nova administração dos Estados competitivamente nessa economia, cada vez Unidos, um dos principais eixos de resistência, mais globalizada, se unirem sua forças. Para de que poderão estar prontos a retomar as isso, precisamos criar um espaço econômico tratativas num prazo relativamente curto. comum através de maior integração nas áreas de transportes, energia e comunicações. Jornalista: Na recente Cúpula das Américas A UNASUL fornece o guarda-chuva foi proclamado um “novo começo” nas institucional para avançarmos de forma fluida relações entre Estados Unidos e América nesses vários campos. Ressalto que a criação Latina. Como o senhor Presidente enxerga o dos Conselhos Sul-Americanos de Defesa e futuro dessas relações? de Combate às Drogas são passos igualmente fundamentais para consolidar a identidade Presidente: Efetivamente, a postura franca regional em temas cruciais para a estabilidade e flexível do Presidente Obama em Trinidad política e institucional da região. e Tobago trouxe a esperança de que se possa lançar um verdadeiro diálogo. A disposição Conquanto não haja previsão de países extra- que demonstrou de alargar o horizonte da hemisféricos virem a integrar a organização, agenda de coordenação para além dos temas a forte presença econômica e comercial da tradicionais - comércio, drogas e segurança - China na região já constitui fator de aceleração é motivo de otimismo. O Presidente Obama da integração do continente na economia deixou claro que essas legítimas preocupações mundial. Por outro lado, a experiência que dos Estados Unidos só podem ser efetivamente a China já detém em esforços de integração atendidas no contexto do atendimento das e coordenação regional e subregional no conhecidas reivindicações da América Latina sudoeste asiático certamente poderá aportar como a questão do protecionismo, e do acesso valiosas lições para o exercício em curso na a financiamento para o desenvolvimento. América do Sul.

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Entrevista do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao programa de rádio “Café com o Presidente”. 25/5/2009

Luciano Seixas: Olá, você, em todo o Brasil. grande parceiro exportador de serviços, Eu sou Luciano Seixas e começa agora o exportador de engenharia. Portanto, o encontro “Café com o Presidente”, o programa de rádio foi extraordinário. Tivemos uma conversa de do Presidente Lula. Olá, Presidente. Como mais de duas horas com o rei Abdullah, e eu vai, tudo bem? acho que vai render para o Brasil. Era o último país grande que nós precisaríamos visitar no Presidente: Tudo bem, Luciano. mundo árabe, visitamos, e eu penso que a perspectiva de troca de comércio entre Brasil Luciano Seixas: Presidente, o senhor acabou e Arábia Saudita vai aumentar, e vai aumentar de chegar de uma viagem à Arábia Saudita, muito, sobretudo, na área de serviço. China e Turquia. Vamos começar pela Arábia Saudita. Como é que foi a viagem a este país? Luciano Seixas: E na China, Presidente? Foram fechados novos acordos? Que Presidente: Olhe, há muito tempo eu vinha novidades o senhor trouxe de lá? defendendo que nós deveríamos fazer uma visita à Arábia Saudita por algumas razões. Presidente: Foi uma viagem, eu diria, de todas Primeira, porque a Arábia Saudita é o nosso as que eu fiz, a melhor. Nós fechamos acordo na maior parceiro comercial dos países árabes, ou questão do frango, também temos perspectivas seja, nós temos um fluxo de balança comercial boas de fechar acordo na questão da carne. Mas de US$ 5,5 bilhões. Mas, ao mesmo tempo, foi importante porque teve acordo do BNDES a Arábia Saudita representa 60% do PIB dos com o Banco de Desenvolvimento da China, países do Conselho de Cooperação do Golfo. teve acordo do Banco do Brasil, teve acordo do Portanto, é o país mais importante da região e banco Itaú. E o que era mais importante, que um país que tem um potencial extraordinário nós fomos atrás, era que finalmente o Banco nas trocas comerciais com o Brasil. de Desenvolvimento da China emprestou os US$ 10 bilhões que a Petrobras precisava A Arábia Saudita está em um grande processo de para explorar o pré-sal. A China tem muito desenvolvimento, [com] muito investimento. interesse em estabelecer investimentos no Eles estão pensando em construir três cidades Brasil em projetos que também interessam à novas - cidade tecnológica, cidade industrial, China, sobretudo na área de petróleo, na área cidade de turismo - e o Brasil pode ser um de commodities.

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 327 Nós vamos trabalhar isso de forma muito mundo asiático. Portanto, negociando com intensa e nós queremos ainda, nas próximas a Turquia, nós estaremos negociando com reuniões, ir convencendo os chineses a dois continentes ao mesmo tempo. Mas, comprar os aviões da Embraer, porque nós sobretudo, a possibilidade de crescimento das temos um contrato de 45 aviões, mas, até exportações e das importações brasileiras é agora - e eu acredito que por conta da crise infinita, porque nós temos hoje apenas US$ - eles não deram sequência à compra dos 1,5 bilhão da balança comercial, o que é aviões. Mas, certamente, a China vai comprar pequeno para dois países que, juntos, somam os aviões. É apenas uma questão de tempo. mais de 260 milhões de habitantes. Nós temos que ter paciência porque tanto o Brasil quanto a China, ou o Brasil e outro país, Foi extraordinária a reunião que nós fizemos na hora de fechar um acordo, a gente pensa com empresários da Turquia. A comissão muito. A gente tem que discutir com todos os que nós criamos, especial, para discutir segmentos envolvidos para fazer um acordo negócios, coordenada pelo companheiro em que todos ganhem e que ninguém perca. Celso Amorim, vai se reunir este ano. Já tem a vinda de ministros da Turquia ao Brasil A minha conversa com o Hun Jintao era para com delegações empresariais. Eu convidei o que a gente sentasse em torno de uma mesa, Primeiro-Ministro para voltar ao Brasil ainda negociasse o que fosse possível negociar, este ano, e em agosto, possivelmente, ele já fizéssemos acordo sobre tudo, sempre levando venha, e o Presidente talvez venha no ano em conta que cada país tende a proteger um que vem. Se eles continuarem vindo para cá pouco determinados setores que podem ser com delegações empresariais, e nós voltarmos mais frágeis no mundo econômico, no mundo para lá com mais delegações empresariais, a industrial. Aquela tese nossa de que era preciso tendência natural é o nosso fluxo na balança mudar a geografia comercial do mundo, não comercial crescer, e é o que importa para a ficar dependendo apenas dos Estados Unidos Turquia, é o que importa para o Brasil. ou da União Europeia, deu certo, porque o Brasil hoje tem uma relação comercial Eu acho que esse é o papel mais ousado que nós diversificada, muito ampla, e a tendência é a temos que fazer agora, ou seja, garimpar mais. gente crescer ainda mais. Nós temos que garimpar todos esses países. É lá que nós poderemos vender os nossos Luciano Seixas: Você está ouvindo o “Café produtos. Não é na Alemanha, não é na Suécia, com o Presidente”, o programa de rádio do não é nos Estados Unidos. É nesses países que Presidente Lula. Presidente, o senhor esteve têm similaridade com o Brasil. Por isso eu pela primeira vez na Turquia. Aliás, o senhor vou continuar viajando, porque neste mundo foi o primeiro mandatário do Brasil, depois de globalizado, a gente não pode ficar esperando Dom Pedro II, a visitar aquele país. Como é que o comprador bata à nossa porta. Os que foi essa visita? vendedores como nós, que queremos vender, é que temos que sair, bater à porta dos outros e Presidente: Olha, a Turquia é um país de dizer que nós existimos, e que temos produtos quase 80 milhões de habitantes. A Turquia é sofisticados, além das commodities. Eu acho um país grande, é um país que tem metade que essa coisa, Luciano, vai permitindo que do país europeu, metade do país está no o Brasil ganhe um espaço extraordinário no

328 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 mundo econômico, no mundo financeiro e, sobretudo, no mundo industrial.

Luciano Seixas: Muito obrigado, Presidente Lula, e até a semana que vem.

Presidente: Obrigado a você, Luciano, e até a próxima semana.

Luciano Seixas: O programa “Café com o Presidente” volta na próxima segunda-feira. Até lá.

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Entrevista concedida pelo Ministro das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, ao jornal “O Globo” - “Política internacional é jogo de gente grande”. 05/06/2009

BRASÍLIA. Alvo de críticas por causa das acostumados a isso. Estamos acostumados a últimas investidas do Brasil na política pensar pequeno, no interesse do fulaninho, do externa, como a derrota da ministra do primo do sicrano, do sobrinho do sicrano, se Supremo Tribunal de Federal (STF), Ellen ele vai ser ou não candidato. No jogo de gente Gracie, a uma vaga na Organização Mundial grande, temos que tomar decisões de política do Comércio (OMC), e o apoio declarado ao global, sem desprezarmos os candidatos egípcio tido como antissemita Farouk Hosni, brasileiros, ou os pré-candidatos brasileiros, na disputa pela direção-geral da Unesco, até porque o Brasil tem candidato bom para o ministro das Relações Exteriores, Celso qualquer cargo internacional. Amorim, diz que está acostumado com isso. “Tenho lombo grosso. Vivi isso quando O GLOBO: Essa aproximação política com era presidente da Embrafilme”, disse, após o mundo árabe já traz resultado? Na OMC, entrevista ao GLOBO, na sexta-feira. Amorim como os árabes se comportaram em relação à se defendeu das acusações de ter preterido dois ministra Ellen Gracie? candidatos brasileiros à Unesco - o senador Cristovam Buarque e o diretor-adjunto do AMORIM: Por acaso, o Egito apoiou a Ellen organismo, Márcio Barbosa -, afirmando que Gracie, mas não foi uma troca. eram “candidatos de si próprios”. Disse que política externa é um “jogo de gente grande” e O GLOBO: O que o senhor achou do resultado criticou o processo de seleção na OMC por ter na OMC? pouca transparência. AMORIM: Fui parte desse mesmo comitê Eliane Oliveira e Ilimar Franco que indicou Luiz Olavo Baptista, que ocupava a vaga disputada pela ministra há quase oito O GLOBO: Como o senhor interpreta as anos. Sei perfeitamente como se passam essas críticas que o governo vem recebendo na coisas. Não é uma votação. Não quero dizer condução da política externa brasileira? que houve manipulação, mas, no sentido físico da palavra, a OMC é um órgão muito pouco CELSO AMORIM: Política internacional é transparente, pouco translúcido, você não vê o um jogo de gente grande. É nós não estávamos que está do outro lado.

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 331 O GLOBO: O aumento da projeção do mas candidatos de si próprios, em busca de Brasil no exterior incomoda outros atores um apoio governamental. O Brasil tomou internacionais? uma opção geopolítica ao apoiar o egípcio, assim como os Estados Unidos e Israel estão AMORIM: Deve incomodar muito. É como tirando o time de campo em matéria de fazer aqui no Itamaraty. Tem um negócio que se obstrução, porque viram que há interesses mais chama votação horizontal, que os colegas altos. Os cruzados estão sempre em busca de votam. Você sempre procura votar naquele uma bandeira. sujeito bonzinho, mas que não se projeta muito, senão te incomoda. A possibilidade de O GLOBO: O Brasil resolveu nomear um ele passar na sua frente é menor. Em qualquer embaixador (Arnaldo Carrilho) na Coreia do lugar no mundo é assim. Norte.

O GLOBO: Na sua opinião, o saldo é de AMORIM: Agora estamos sendo criticados derrotas ou de vitórias? por causa da embaixada na Coreia do Norte. Mas, se não tivéssemos embaixada, não teria AMORIM: É como em uma Copa do Mundo. tido tanto destaque na mídia internacional a Tem time que ganha do começo ao fim, que decisão do governo brasileiro de suspender a é o ideal. Mas na política internacional é ida do embaixador para lá. Isso equivale a um muito difícil. Tem times que vão perdendo, pedido de consultas. Se ainda assim quiserem empatando e, no fim, são campeões.É o que está criticar, é bom lembrar que a abertura de uma acontecendo com o Brasil. Mas, de derrota em embaixada é um ato meramente administrativo. derrota, o presidente Lula, nos próximos três ou Quem tomou a decisão política de restabelecer quatro meses, vai participar de três cúpulas muito relações diplomáticas com aquele país foi o importantes. A primeira cúpula dos Brics (grupo governo do presidente Fernando Henrique formado por Brasil, Rússia, Índia e China), do Cardoso. G-8 mais 5 (países mais ricos do mundo, mais Brasil, México, África do Sul, China e Índia) e O GLOBO: No ano que vem haverá eleição do G-20 financeiro (as 20 maiores economias). no Banco Interamericano de Desenvolvimento Não vejo de maneira alguma a política externa (BID). O Brasil apresentará candidato? sendo colocada em xeque. AMORIM: Hoje em dia, o Brasil, que tem O GLOBO: O esforço do governo para incluir uma posição muito forte, tem que ser, até certo a Venezuela no Mercosul provocou uma ponto, econômico em suas candidaturas. É o cruzada ideológica no Congresso, devido à contrário do que era antes, de certa maneira. personalidade do presidente Chávez. O senhor Se você for olhar os EUA, ou mesmo a China, concorda com isso? eles não têm tantos funcionários em cargos tão altos em organismos e agências internacionais. AMORIM: Se não fosse isso, seria outra coisa. O peso deles é evidente. Mas não excluo que a Vocês viram quanta tinta se derramou em torno gente possa vir a apresentar um candidato, ou da Unesco? Havia candidatos respeitados, apoiar algum.

332 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 O GLOBO: O senhor vê alguma chance de entendimento na Rodada de Doha da OMC?

AMORIM: É até possível, mas tenho a impressão de que, no dia em que for assinado o acordo final, já não será manchete. O mundo vai evoluindo, outras coisas vão acontecendo e atualmente a crise financeira é mais importante. Concluir a Rodada na OMC significa disciplinar os subsídios, para evitar ações que contrariam as normas gerais, que consolidam o comércio multilateral. No entanto, o foco está colocado em temas como derivativos e paraísos fiscais.

O GLOBO: Dizem que o Brasil dá passos maiores do que deveria...

AMORIM: Hoje em dia, tratamos num grande tabuleiro da política internacional. Eu fico espantado que muitas pessoas não conseguem ver isso e acham que o Brasil joga sempre em coisas pequenininhas. Acham que devemos ser duros com os nossos vizinhos, sobretudo com os mais frágeis, e não nos metermos em nada fora da região, porque temos que ter consciência dos nossos limites. Esses limites não passam de círculos de giz.

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 333

Entrevista concedida pelo Ministro das relações Exteriores, Celso Amorim, ao jornal o “Globo” - “Old Kids on the Block”. 16/06/2009

“Brasil, Rússia, China e Índia são os New Kids encontros. A ideia da criação de um banco de on the Block” fomento continua na pauta?

EKATERINBURGO, Rússia. O ministro das AMORIM: Podemos desenvolver um Relações Exteriores, Celso Amorim, destacou banco de fomento entre os quarto países. a importância dos Brics no cenário global Evidentemente, outras coisas mais urgentes e os chamou de New Kids on the Block, em tomaram a frente na agenda. Mas os Brics referência ao grupo musical americano que fez podem, sim, ter um papel importante nesta sucesso nos anos 80 e 90. Segundo ele, o uso área. Vê-se pelo aporte de U$ 10 bilhões que de moeda comum para o comércio e a criação o Brasil fez no FMI, outros US$ 10 bilhões de um banco de fomento estão na pauta do da Rússia, US$ 50 bilhões da China. Isso só grupo. confirma que eles podem atuar juntos.

O GLOBO: Pode-se falar na institucionalização O GLOBO: Os Brics tendem a tomar lugar de dos Brics? outros grupos?

CELSO AMORIM: Assinar um tratado e AMORIM: Os Brics são importantes, mas não dizer que vai formar grupo não é imediato. vieram para substituir outras alianças especiais Mas haverá reuniões periódicas. Na busca que já temos constituídas, como o Ibas (Índia, de respostas à crise, os Brics podem dar uma Brasil e África do Sul), a aproximação grande contribuição. Uma opção é o comércio dos países latino-americanos, a parceria em moeda comum, como fazemos com a estratégica que temos com a União Europeia Argentina. ou as excelentes relações com os EUA. São relevantes pelo seu peso na economia mundial. O GLOBO: Quando (o presidente russo São os New Kids on the Block. Dmitri) Medvedev se encontrou com o presidente Lula em novembro, o comércio O GLOBO: Qual o papel do G-8? da Rússia com o Brasil caiu brutalmente por razões externas. Os ministros dos quatro países AMORIM: O G-8 (que reúne os sete países podem tratar deste assunto nos próximos mais ricos do mundo e a Rússia) não tem mais

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 335 sentido como diretório para tratar os destinos do mundo, nem econômico nem político. Se decidirem algo, e os Brics não estiverem com eles, terá valor reduzido. O G-20 (grupo com as 20 maiores economias do mundo) vai existir como a formação mais importante. O mundo está mudando. E não dá para ter sete países ditando as regras.

O GLOBO: Os quatro países são muito diferentes. Especialistas dizem que China pode não assumir compromissos profundos para preservar, por exemplo, seu relacionamento com os EUA.

AMORIM: A China está destinada a ser a maior economia do mundo. Mas o fato de se tornar a maior economia do mundo não vai acontecer como foi com os EUA. A China tem carências energéticas e alimentares. A relação dela com os Brics ou países como o Brasil vai ter que ser muito importante. Prova do interesse dos chineses pelo Brasil é o empréstimo para a Petrobras. Querem também abrir um banco de desenvolvimento no Brasil. A relação entre a China e os EUA é boa. As reservas internacionais chinesas ajudam a sustentar o Tesouro americano. Não acho que vá haver desengajamento por parte dos chineses nas decisões dos Brics.

336 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 Entrevista concedida pelo Ministro Celso Amorim à revista “Russki Newsweek” - “Nenhum de nós quer enfraquecer o dólar” - Ecaterimburgo , 22/06/2009

O Ministro das Relações Exteriores do Brasil, CA: Respeitamos os processos que se Celso Amorim, explicou ao analista da desenvolvem em cada país. Com certeza, Newsweek Leonid Ragozin que os BRICs não somos uma sociedade muito aberta e podem ser classificados como aliança política, democrática. Mas isso não se fez de um dia já que não têm inimigo, e duvidou da suposta para outro. Apenas há 20 ou 25 anos estávamos fraude nas eleições iranianas. com junta militar. Não só passamos a ser um país democrático, mas também estamos NW: A concepção dos BRICs surgiu a partir solucionando problemas sociais extremamente da hipótese de que, até o final do século, complexos que se iam acumulando ao longo esses quatro países passem a controlar a dos séculos. Penso que um diálogo entre os maior parte da economia mundial. Para que países favorece a um diálogo dentro desses existe a organização política dos BRICs? Para países. Que traz resultados positivos. Ou seja, dominar o mundo? sentimo-nos em boa companhia.

CA: Para dominar o mundo, não. Vamos dizer NW: Muitos dizem que os BRICs representam que isso se faz para gerir o mundo de uma uma maneira de diminuir o papel dos Estados forma mais democrática e diversificada. A Unidos no mundo. Está de acordo? história conhece muitos casos em que grupos de países se apresentaram como uma espécie CA: Estamos vivendo num mundo em de aristocratas de política mundial. Não mudança constante. Fazemos parte de outras considero útil a reprodução dessa prática. reuniões de países, por exemplo, IBAS, que inclui a Índia, o Brasil e a África do Sul. São Porém, se um maior número de países tiver também três países em desenvolvimento e três maior importância, teremos uma ordem grandes democracias, cada em seu continente. mundial melhor. Além disso, estamos envolvidos em processo de integração no continente Sulamericano. NW: A respeito da democracia: pelo menos, E, evidentemente, temos uma parceria dois países membros dos BRICs têm estratégica com a União Européia. Tudo isso problemas nesse aspecto. Como se sente nessa é necessário para a criação de uma ordem companhia? mundial mais diversificada. Ao mesmo tempo

Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 337 nossas relações com os Estados Unidos são passar para soluções de pagamento mais simplesmente excelentes. Após a queda do internacionais. Será um longo processo que Muro de Berlim houve receios de que poderia não queremos que seja doloroso. Se o fizermos surgir um mundo monopolar sujeito à vontade instantaneamente haverá crise. dos Estados Unidos, mas esses receios não se concretizaram. O mundo está se tornando NW: Qual a probabilidade de que os BRICs cada vez mais diversificado e os BRICs são tenham mais votos no FMI? Trabalham sobre parte desse processo, mas não a parte única. esse tema como um time?

NW: Como serão os BRICs em 2050? Estão CA: Com certeza, nossos ministros de caminhando na direção de aliança política? economia trabalham conjuntamente sobre esse tema. Quando estava lendo o Financial Times, CA: É muito cedo falar de aliança. Uma chamou minha atenção o fato de que à reunião aliança pressupõe existência de um inimigo. de ministros dos BRICs foi dedicado quase o Nós não temos inimigo. Simplesmente mesmo espaço que à reunião de ministros do queremos construir um mundo melhor e mais G-20. Por isso, com certeza, estamos agindo multifacetado. conjuntamente e queremos reformar a estrutura do FMI e do Banco Mundial, de modo a melhor NW: Qual foi a agenda brasileira em refletir a estrutura do mundo real. Ecaterimburgo? NW: Qual a posição brasileira diante dos CA: Discutimos a coordenação de ações acontecimentos no Irã? Considera legítima a [dos BRICs] nas Nações Unidas e, o que vitória de Ahmadinejad nas eleições? é mais importante, no quadro do G-20. Embora os BRICs tenham sido inventados CA: É preciso ainda ver isso com mais atenção. por economistas da Goldman Sachs, quando Eu próprio não posso dar avaliações. Nossa começamos a encontrar-nos nesse formato em embaixada comunica que lá houve protestos. nível de chefes de chancelarias e ministros de Mas seria muito difícil supor que tal vantagem economia nem podíamos prever essa crise. E - 62 % [Ahmadinejad] e 33 % [Musavi] - se aí os BRICs serviram de grande instrumento explique com falsificações. Outra coisa é para a coordenação de posições das maiores que há vários métodos de influência sobre os economias em desenvolvimento do mundo, que eleitores. Mas é positivo o próprio fato de que têm papel-chave para tirar o mundo da crise. as eleições se tenham realizado e tenha havido discussão aberta. NW: No âmbito dos BRICs, discute-se a questão de nova moeda de reserva mundial? NW: É possível o encontro entre o Presidente Lula e o Presidente Ahmadinejad em CA: Essa questão tem surgido periodicamente. Ecaterimburgo? (o encontro acabou não se Não penso que isso possa acontecer realizando. - Newsweek) imediatamente e duvido que alguém de nós queira enfraquecer o dólar, simplesmente CA: Não sei se suas agendas vão convergir. porque muitos de nós têm reservas em Mas não acho que ele tenha objeções se tal dólares. Mas penso que pouco a pouco vamos encontro fosse possível.”

338 Resenha de Política Exterior do Brasil. Número 104, 1° semestre de 2009 ÍNDICE REMISSIVO

A C África 43, 44, 54, 62, 69, 70, 81, 97, 100, 101, 104, 105, 109, 113, 118, 130, 132, 133, 153, Cabo Verde 154, 208, 223, 266, 267 177, 181, 184, 190, 191, 204, 208, 212, 213, Canadá 70, 180, 181, 253 215, 221, 249, 256, 262, 266, 271, 281, 284, 285, 286, 289, 290, 292, 299, 301, 303, 312, Cazaquistão 139, 140, 274, 279, 280 314, 315, 318, 332, 335, 337 Chile 32, 68, 73, 77, 159, 163, 164, 235, 245, Arábia Saudita 78, 111, 112, 113, 114, 154, 253 192, 247, 311, 314, 327 China 35, 69, 97, 98, 100, 101, 108, 109, 114, Argentina 35, 50, 51, 69, 78, 95, 96, 97, 98, 115, 116, 117, 118, 119, 121, 122, 123, 130, 101, 117, 154, 182, 207, 208, 219, 225, 228, 152, 154, 164, 170, 171, 187, 188, 189, 217, 229, 230, 231, 232, 234, 235, 236, 237, 263, 247, 248, 249, 250, 251, 252, 253, 274, 276, 314, 315, 324, 335 281, 291, 292, 297, 299, 300, 313, 314, 323, 324, 325, 327, 328, 332, 335, 336 B Chipre 171 Bélgica 208 Civilizações 79, 81, 125, 126, 140, 221, 255 BRIC 69, 104, 108, 122, 147, 252, 274, 275, 276, 277, 278, 289, 297, 298, 312, 313, 315, Colômbia 47, 48, 49, 50, 51, 52, 83, 88, 117, 332, 335, 336, 337, 338 152, 178, 181, 182, 183, 184, 185, 186, 195, 272, 319 Bósnia e Herzegóvina 151, 174, 175 Coréia do Norte 223, 246, 332 Bolívia 33, 35, 68, 153, 159, 160, 161, 162, 163, 164, 204, 205, 206, 207, 300, 303, 321 Costa Rica 156, 159, 265, 266

Botsuana 154, 245 CPLP 156, 159, 265, 266 Cuba 32, 35, 66, 95, 154, 169, 178, 191, 304, Durban 129, 131, 224 309, 310, 317, 318, 319, 320 E D Egito 53, 77, 158, 175, 192, 193, 301, 331 Desarmamento 82, 140, 215, 216, 264, 265, El Salvador 65, 74, 179, 265 279 Estados Unidos 33, 35, 36, 40, 50, 51, 59, 62, Desenvolvimento 35, 36, 40, 44, 47, 48, 50, 63, 66, 67, 68, 69, 70, 73, 84, 88, 95, 96, 97, 98, 53, 54, 56, 61, 62, 64, 67, 68, 69, 70, 71, 74, 99, 100, 108, 113, 114, 158, 171, 172, 173, 179, 75, 78, 81, 82, 83, 84, 85, 87, 88, 93, 94, 95, 190, 194, 207, 244, 269, 281, 293, 299, 300, 104, 108, 109, 110, 111, 112, 113, 114, 115, 301, 303, 310, 311, 312, 313, 314, 315, 319, 116, 121, 122, 123, 126, 130, 131, 135, 136, 325, 328, 332, 337, 338 140, 141, 142, 145, 146, 147, 148, 149, 154, 155, 156, 161, 162, 163, 165, 166, 167, 168, Equador 158, 195, 303 169, 170, 171, 172, 173, 174, 175, 177, 178, F 181, 193, 185, 186, 187, 188, 189, 193, 195, 196, 197, 198, 199, 201, 203, 206, 208, 210, Faixa de Gaza 27, 28, 157, 158, 159, 164, 211, 212, 213, 214, 215, 217, 220, 223, 225, 169, 170, 175, 177, 191, 193 226, 227, 228, 230, 231, 232, 233, 235, 236, FAO 152, 195, 278, 282 237, 238, 241, 242, 243, 246, 247, 250, 252, 253, 254, 256, 257, 258, 260, 261, 262, 263, Filipinas 141, 142, 143, 156, 280, 281, 282, 264, 267, 268, 270, 271, 272, 275, 276, 277, 284 278, 279, 280, 281, 282, 283, 284, 285, 286, Fórum Econômico 83, 176 289, 290, 291, 292, 293, 294, 297, 298, 299, 302, 304, 306, 312, 314, 315, 319, 325, 327, França 84, 117, 158, 164, 193, 219, 273 332, 336, 337, 338 G Desenvolvimento Econômico 88, 110, 130, G-20 50, 56, 64, 65, 69, 74, 75, 78, 82, 83, 140, 183, 197, 215, 223, 228, 251, 261, 268, 84, 86, 87, 88, 91, 94, 97, 101, 104, 109, 118, 276 122, 132, 143, 147, 180, 183, 207, 209, 219, Direitos Humanos 28, 39, 81, 126, 129, 130, 225, 226, 227, 238, 245, 250, 253, 254, 255, 131, 132, 133, 142, 159, 161, 177, 196, 206, 275, 283, 297, 298, 307, 311, 321, 323, 332, 225, 227, 248, 254, 264, 267, 284, 320 336, 338

Dólar 50, 51, 86, 88, 98, 112, 114, 142, 163, Guatemala 74, 151, 152, 156, 265, 267, 268, 194, 230, 281, 294, 302, 318, 320, 324, 337, 269, 270 338 Guiné-Bissau 69, 193, 208, 213, 223, 256, Líbia 152, 187, 300 271, 286, 287 M H Mercosul 44, 56, 67, 68, 77, 85, 94, 96, 100, Haiti 35, 68, 69, 94, 104, 130, 140, 178, 179, 112, 140, 143, 161, 163, 167, 171, 180, 183, 191, 195, 196, 207, 215, 222, 223, 296 184, 194, 198, 200, 201, 206, 217, 218, 219, 221, 222, 227, 228, 229, 230, 236, 238, 246, Holocausto 39, 40, 41, 224, 311, 320 247, 255, 257, 258, 265, 266, 269, 275, 283, Honduras 178, 179, 191, 247, 266, 285 285, 300, 305, 309, 313, 317, 318, 332

I Mianmar 264

IBAS 54, 69, 71, 81, 97, 100, 101, 104, 109, N 118, 130, 172, 176, 177, 217, 221, 222, 248, Namíbia 43, 44, 45, 179, 180 249, 266, 274, 281, 284, 285, 290, 297, 299, 306, 312, 313, 315, 332, 335, 337 Nepal 244

Igualdade 65, 130, 131, 196, 236, 243, 244, Nova Economia 59 250, 263, 276 O Índia 54, 69, 71, 81, 97, 100, 101, 104, 109, OEA 68, 195, 196, 247, 266, 268 118, 130, 172, 176, 177, 217, 221, 222, 248, 249, 266, 274, 276, 281, 284, 285, 290, 297, OIT 142, 145, 153, 156, 280, 295, 296 299, 306, 312, 313, 315, 332, 335, 337 OMC 44, 63, 70, 104, 109, 112, 126, 143, Indústria Farmacêutica 113, 172 173, 176, 177, 179, 183, 194, 203, 204, 209, 229, 244, 253, 254, 257, 275, 278, 281, 284, Irã 192, 209, 210, 245, 270, 300, 302, 303, 285, 305, 311, 313, 325, 331, 333 311, 314, 320, 338 ONU 27, 28, 39, 44, 51, 52, 65, 68, 71, 81, 88, Itália 69, 118, 175, 176, 222, 238, 293 97, 104, 122, 129, 130, 132, 136, 142, 149, J 157, 158, 171, 175, 176, 193, 212, 222, 276, 277, 280, 283, 284, 295, 298, 304, 306, 313, Jamaica 191, 272 320, 321 Japão 33, 71, 84, 91, 97, 117, 220, 238, 293 Oriente Médio 40, 79, 111, 112, 113, 126, 130, L 158, 171, 175, 180, 192, 209, 247, 256, 300, 301, 308, 310, 314, 320 Libéria 177, 178 P Trinidad e Tobago 66, 91, 93, 207, 224, 261, 309, 325 Países Árabes 69, 77, 78, 81, 104, 109, 111, 112, 113, 126, 130, 158, 171, 175, 180, 192, Turquia 81, 125, 126, 127, 158, 164, 192, 209, 299, 301, 308, 322, 327 221, 249, 254, 255, 256, 311, 314, 327, 328

Países Baixos 176, 192, 208 TV Digital 224, 232, 238, 260

Palestina 28, 40, 41, 53, 69, 81, 111, 130, 157, U 158, 160, 165, 169, 170, 175, 192, 193, 302, Uruguai 55, 56, 68, 152, 155, 180, 194, 195, 320 196, 198, 199, 200, 201, 202, 204, 222, 233, Paquistão 263, 273 234

Peru 68, 224, 237, 238, 239, 240, 241, 242, Uzbequistão 155, 262, 263, 264, 279 243 V Política Industrial 238 Venezuela 31, 32, 33, 34, 35, 36, 117, 151, Príncipe de Gales 203 155, 160, 165, 166, 167, 168, 169, 184, 238, 257, 258, 259, 260, 261, 262, 300, 306, 309, Propriedade Intelectual 172, 173, 189, 194, 317, 318, 319, 332 238, 262, 272, 278, 283, 290 Z R Zimbábue 177, 181 Racismo 40, 81, 131, 224

Reino Unido 97, 107, 153, 209, 210, 211, 212, 213, 214, 215, 216, 217, 220, 314

S

São Tomé e Príncipe 151, 152, 153, 170, 202, 266, 318

Senegal 155, 248, 256, 271

Sérvia 223

Suíça 62, 129, 135, 137, 158, 176, 186

T

Telecomunicações 135, 136, 156, 168, 248, 260, 291

Capa e Projeto Gráfico Karina Barreira Vivian Fernandes

Diagramação Mariana Rausch Chuquer

Formato 20 x 26 cm

Mancha 15,5 x 21,5 cm

Tipologia Times New Roman Endereço para correspondência

Papel Coordenação-Geral de Documentação Supremo 250 g/m2, Diplomática (CDO) plastificação fosca (capa) Ministério das Relações Exteriores, e 75g/m2 (miolo) Anexo II, 1°subsolo, Sala 10 CEP 70170-900, Brasília, DF Número de páginas Telefones: (61) 3411-9279 / 9037 344 Fax: (61) 3411-6591 Tiragem 500 Impresso pela Dupligráfica Editora Ltda

Departamento de Comunicações e Documentação