Estudantil Republicano Dos Primeiros Anos Da Ditadura
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, . orla M período de comemorações, o turbilhão das iniciativas e discursos dissolve muitas vezes o que de mais importante podem ter as referências públicas ao passado: o exercício da memória colectiva, indispensável à participação cidadã. O 25 de Abril faz 25 anos e Eocupará certamente muito espaço na comunicação social, nos discursos oficiais e em celebrações que se multiplicarão. As forças vivas da sociedade portuguesa têm um papel importante neste momento, ajudando a transformar a data simbólica num instrumento de compreensão da nossa história recente. INICIATIVA de divulgar entre os estudantes uma publicação como a que tens nas mãos insere-se neste espírito. O derrube do fascismo em Portugal, comemorado neste vigésimo quinto aniversário, foi o resultado dos esforços persistentes de muitos cidadãos e cidadãs Aque durante décadas enfrentaram cada um, como pessoas, a prepotência e a brutalidade de um regime fechado sobre si próprio e dono da verdade. Homenagear essas coragens que souberam organizar-se colectivamente é o primeiro dos nossos objectivos. SCOLHEMOS uma faceta concreta da resistência à ditadura como tema desta iniciativa. Os estudantes, nomeadamente os universitários, conheceram durante as décadas de Estado Novo um ensino que era o espelho do monolitismo do poder. "O estudante, estuda", Edizia Salazar, sintetizando as intensões de consolidação de uma elite bafienta, plenamente identificada com a ideologia oficial e alheada da cidadania. Só a custo de muita violência o regime derrotou o associativismo estudantil republicano dos primeiros anos da ditadura. A mesma receita policial seria aplicada sistematicamente a partir de meados da década de cinquenta, com o ressurgimento da contestação nas universidades, mas já sem o mesmo êxito. As sucessivas "crises académicas" transformaram os estudantes em definitivos adversários do regime, cujas vitórias seriam sempre transitórias. STA história é a nossa história. Porque foi na adversidade do salazarismo que as gerações de universitários que nos antecederam perceberam a livre associação e a intervenção na vida académica como direitos dos estudantes. Foi contra os poderes instalados que Eimpuseram o reconhecimento de interesses comuns e unificadores, enfrentando uma visão dominante que atribuía ao associativismo uma função meramente lúdica e de serviços. Foi ultrapassando o paternalismo de Estado que os estudantes derrubaram os muros da universidade, alargando os seus horizontes às exigências de democracia política, justiça social e à busca de novos modos de vida, fora do redil "Deus, Pátria, Famílià'. SCOLHEMOS então assinalar o aniversário da revolução de Abril lembrando o que nós, estudantes, também fizémos por ela. Para sabermos mais do que fomos e quisémos na Editadura e compreendermos melhor o que somos e exigimos à democracia. MVSEV ACADÉMICO 3 §i m. (f; ~ cc: · ~Ei\:\ ,,,= ~---=· Os tempos em volta O "REVIRALHO" 1927/28 1927 li@§ i§ mi estudantil 3 As tropas portuenses de "Caçadores 9" protagonizam a APRIMEIRA REPÚBLICA MORRIA ÀS MÃOS primeira revolta contra a ditadura militar. Éa guerra civil, de uma ditadura militar que se transformaria de curtíssima duração. 6 O café A Brasileira é encerrado depois em "Estado Novo". Poucos se davam por ser recinto de comícios conta do que estava para vir, mas muitos se revolucionários. 8 Uma nova revolta é alvo de dispunham a contrariá-lo. Entre os autores bombardeamento aéreo das zo nas de Lisboa controladas pelos das primeiras denúncias da ditadura militar oposicionistas. que tomara o poder em 28 de Maio de 1926 16 Jaime Cortesão e Raúl Proença, membros da Liga de estão os estudantes republicanos, cuja influência Defesa da República, são demitidos das direcções da vem crescendo nos três pólos universitários Biblioteca Nacional e dos seus do país, Coimbra, Lisboa, Porto. serviços técnicos, respectiva mente. Em 1864, Antero de Quental e a sua disputa de influência nas 10 Sai em Coimbra a primeira Sociedade do Risco organizam o camadas universitárias, extravaza edição da "folha de arte e crítica" Presença . combóio de universitários de Coimbra em muito a reivindicação de uma que, quatro anos depois da inauguração política de educação progressista B!l 26 É assaltada e destruída a da ligação ferroviária ao Porto, aí se e de corte com o peso da igreja sede de A Batalha, diário deslocam, contra o duque de Loulé e o na universidade. Neste momento sindical de inspiração . anarquista, um dos principais seu ministro Rolim de Moura. O conturbado da história do país jornais de Lisboa. As instalações arcaísmo da universidade portuguesa e vamos encontrar os estudantes da Confederação Geral do a sua rigidez disciplinar cedo encontra republicanos na preparação e Trabalho, sua proprietária, são encerradas pela polícia em vam os seus adversários nos jovens que execução das tentativas de Novembro. contactavam com as novas ideias que derrube do regime pela força das circulavam na Europa. armas. 1928 Mais de sessenta anos depois desta No seguimento da derrota do primeira mobilização de estudantes movimento militar de 3 de 11 Decreto n°15354, art.6: contagiados por ideias republicanas e Fevereiro de 1927, é fundado em "[Em Moçambique) Não é socialistas, as correntes democráticas do Lisboa o Batalhão Académico Anti permitida a admissão de indígenas em espectáculos meio estudantil estavam na linha da Fascista. Aí se procurava estruturar cinematográficos em que se frente da luta política. O Centro uma força de estudantes que exponha algum crime de homicídio, roubo, furto ou fogo Republicano Académico de Coimbra e pudesse mobilizar-se ao lado das posto". os estudantes agrupados em Lisboa em investidas da oposição contra o Ji§®:rttl torno do grupo editor da Seara Nova novo regime. As características 22 O coronel Prata Dias é destacam-se no activismo contra os deste, que apenas se começavam a nomeado director geral dos novos governantes, tomando parte definir, eram já bem percebidas pela serviços de censura. activa nas conspirações "reviralhistas". geração de estudantes que haveria A intervenção dos republicanos, de protagonizar as lutas estudantis que se opõe à dos nacionalistas na até 1931. A principal fonte para a elaboração deste texto sobre as mobilizações estudantis republicanas foi o artigo de Cristina Faria, 4 "Lutas Estudantis de 1927 a 1931 -A Contestação à Ditadura Militar", publicado pela revista História em Julho/ Agosto 1998. É no âmbito dessa busca de equilíbrio de contas que o governo decide o encerramento de uma série de faculdades e escolas superiores. Há três mil estudantes afectados pela medida. Demitem-se em bloco os professores da faculdade de Direito, uma das encerradas e as três universidades iniciam uma greve geral de estudantes. Nos seus manifestos clandestinos, os estudantes denunciam a violência dos confrontos com as forças policiais e as medidas repressivas sobre o movimento: a incorporação militar de estudantes, a ordem de expulsão do concelho de Lisboa dos grevistas chumbados por faltas, as escuras telefónicas e a apreensão de correspondência. A pressão estudantil arrancará algumas promessas ao novo ministro da instrução, Duarte Pacheco, mas a reabertura das faculdades encerradas em Coimbra e no Porto ficará por cumprir. Os protestos continuam, mas as reivindicações estudantis serão ofuscadas pelo envolvimento na conspiração reviralhista. INSPIAA.ÇÃO ESPANHOLA As lojas maçónicas são o ponto de encontro de muitos destes estudantes. Na loja "Revolta" encontram-se estudantes do CRA e relacionados com Os estudantes têm a sua princi a "liga de Paris". A República das Porto, funeral do estudante pal referência política na Liga de Águias é sede de reuniões conspirativas João Martins Branco, Abril 1931 ARQ UNO FOTOG RÁFICO DO PCP Defesa da República, a "liga de alargadas a militares oposicionistas Paris", que reúne alguns intelectuais onde se planeia o fracassado assalto ao e políticos da República avessos à quartel de metralhadoras, em Julho de ditadura: Afonso Costa, Álvaro de 1928. São presos os dirigentes Castro, Jaime Cortesão, António estudantis e maçons Carlos e Silo Cal Sérgio. No seu nascimento, a LDR Brandão e a república é invadida pela elege como preocupação principal polícia de informações. o empréstimo a Portugal que o Por estes dias são vividos em Espanha ministro das finanças, Sinel de momentos de grande agitação en~re os Cordes, tentava negociar na estudantes: o regime de Primo de Rivera Sociedade das Nações. Para os acaba de legitimar os centros de educação republicanos, a pátria está à venda católicos para a atribuição de títulos em nome da resolução do universitários. A Federação Universitária "problema financeiro". de Estudantes decreta a greve geral e o 5 processo de luta no país vizinho é seguido o mesmo ao próprio presidente da atentamente do lado de cá. Mas, durante Federação. Fala-se da "dinâmica o ano de 1929, as mobilizações estudante da Revolução", reviralhistas e estudantis vão conhecer acentuam-se as críticas ao uma certa pacificação. No ano seguinte, clericalismo da instituição regressa a turbulência, com o universitária e à repressão, exigindo agravamento da luta entre estudantes o fim das aulas que decorriam sob 21 Inicia-se em conferência a republicanos e nacionalistas. Estes, vigilância policial. Mas as reorganização do PCP na partidários da ditadura, destroem a sede reivindicações respeitantes ao clandestinidade. O secretário geral é Bento Gonçalves. do jornal estudantil Liberdade. Do universo escolar nunca perdem de lfl§fti@j encontro nacional de academias, em vista a aspiração por uma "sociedade i 2 O presidente da República Coimbra, resulta a prisão de numerosos novà' de bases socialistas. recebe os dois filhos de Musso activistas, entre os quais Carlos Cal lini de visita a Portugal. Brandão, que ficará preso quase meio GUERAA. CML -~1.@§,1@1 ano. A reacção não se faz esperar e o reitor A situação está de novo ao rubro 19 Q Novidades abre uma subscrição pública pafa a oferta da Universidade de Coimbra esfrega as em Espanha, já em 19 31, com de um automóvel ao novo mãos de contente à entrada da polícia sangrentos confrontos de rua e a cardeal patriarca de Lisboa, nas instalações universitárias onde suspensão das aulas em todas as Manuel Cerejeira.