O Instituto Millenium E Os Intelectuais Da “Nova Direita” No Brasil
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Universidade Federal de Juiz de Fora Instituto de Ciências Humanas Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais THIAGO DE ANDRADE ROMEU ALEXANDRE O INSTITUTO MILLENIUM E OS INTELECTUAIS DA “NOVA DIREITA” NO BRASIL Juiz de Fora 2017 THIAGO DE ANDRADE ROMEU ALEXANDRE O INSTITUTO MILLENIUM E OS INTELECTUAIS DA “NOVA DIREITA” NO BRASIL Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Ciências Sociais, da Universidade Federal de Juiz de Fora, como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre. Orientador: Dmitri Cerboncini Fernandes Juiz de Fora 2017 Ficha catalográfica elaborada através do programa de geração automática da Biblioteca Universitária da UFJF, com os dados fornecidos pelo(a) autor(a) Alexandre, Thiago de Andrade Romeu. O Instituto Millenium e os Intelectuais da "Nova Direita" no Brasil / Thiago de Andrade Romeu Alexandre. -- 2017. 114 f. Orientador: Dmitri Cerboncini Fernandes Dissertação (mestrado acadêmico) - Universidade Federal de Juiz de Fora, Instituto de Ciências Humanas. Programa de Pós Graduação em Ciências Sociais, 2017. 1. Instituto Millenium. 2. Nova Direita. 3. Intelectuais. I. Fernandes, Dmitri Cerboncini, orient. II. Título. AGRADECIMENTOS À minha família, pelo apoio incondicional em todos os momentos. À minha companheira, Juliana, pelo carinho e paciência ao longo dessa jornada. A todos os amigos que, direta ou indiretamente, contribuíram para a realização deste trabalho. Ao meu orientador, Dmitri Fernandes, pela acolhida, pelo profissionalismo e a serenidade com que acompanhou o desenvolvimento desta pesquisa, minha admiração e mais sinceros agradecimentos. A todos os membros do Núcleo de Pesquisa em Autoritarismo, Preconceito e Ideologia, cuja amizade, convivência e reflexões em conjunto me foram essenciais nessa jornada. Resumo Os think tanks são instituições de pesquisa e defesa de valores políticos-ideológicos que emergiram a partir dos anos 1970 no contexto da transnacionalização de políticas econômicas neoliberais. Sua participação na elaboração, divulgação e defesa de ideias deste tipo, tanto para a opinião pública quanto diretamente às instanciais de poder, foram fundamentais para o estabelecimento de governos de direita em vários países da América Latina, nos Estados Unidos e Inglaterra. O Instituto Millenium é um desses think tanks, reunindo hoje pouco mais de 300 intelectuais de grande expressão no campo político, econômico, empresarial, midiático e intelectual do país. A partir das manifestações de junho de 2013, ganharam extraordinária projeção, integrando um grupo agora mais vasto e diversificado de instituições de matiz similar e incorporando uma fração importante do que viria a ser conhecido como a “nova direita” do Brasil. Ao analisar a estrutura institucional e a composição do Instituto Millenium, assim como os artigos de opinião publicados pelos seus mais proeminentes especialistas, a pesquisa pretende avançar na compreensão dos conteúdos políticos e ideológicos da parcela “progressista-liberal” da “nova direita” brasileira 2 Abstract The think tanks are institutions of research and defense of political-ideological values that emerged from the 1970s in the context of the transnationalization of neoliberal economic policies. Its participation in the elaboration, dissemination and defense of ideas of this type, both for public opinion and directly to the authorities in power, were fundamental for the establishment of right-wing governments in several countries of Latin America, in the United States and England. The Millenium Institute is one of these think tanks, bringing together today more than 300 intellectuals of great expression in the political, economic, business, media and intellectual field of the country. Since the mass protests of June 2013, they have gained extraordinary projection, integrating a now vaster and diversified group of institutions of similar hue and incorporating a significant fraction of what would come to be known as the "new right" of Brazil. In analyzing the institutional structure and composition of the Millenium Institute, as well as the articles of opinion published by its most prominent experts, the research intends to advance the understanding of the political and ideological contents of the "progressive-liberal" portion of the Brazilian "new right". 3 Lista de Gráficos Gráfico 1. Formação Principal.................................................................................... 66 Gráfico 2: Instituição de Formação Nacional............................................................ 66 Gráfico 3. País de Formação Internacional................................................................ 67 Gráfico 4: Universidades Norte Americanas............................................................. 68 Lista de Tabelas Tabela 1. Membros das Câmaras................................................................................ 55 Tabela 2. Membros dos Conselhos e Comitê Gestor............................................... 56 4 Sumário INTRODUÇÃO.................................................................................................... 9 PARTE I: REFLEXÕES TEÓRICAS 1. Crise de hegemonia: a perspectiva gramsciana das alternâncias de poder... 15 2. A morfologia do pensamento conservador segundo Karl Mannheim.............. 21 PARTE II: OS THINK TANKS E A “NOVA DIREITA” 3. A “nova direita” brasileira, ontem e hoje......................................................... 327 4. Think tanks: O que são e como pesquisá-los................................................. 41 5. Ressaca neoliberal e os think tanks da “nova direita”..................................... 46 PARTE III: ANÁLISE DOS DADOS DA PESQUISA 6. “Revolucionando a agenda política”: o surgimento do Instituto Millenium............................................................................................................ 558 6.1. Estrutura institucional.................................................................................. 63 6.2. Missão, visão e valores............................................................................... 67 6.3. Os notáveis ................................................................................................ 72 6.4. O Millenium no poder.................................................................................. 78 7. Análise de conteúdo retórico......................................................................... 81 7.1. Indivíduo, mérito e valor.............................................................................. 84 7.2. Neoliberalismo, Estado e mercado.............................................................. 91 7.3. Esquerda, direita e ressentimento............................................................... 96 7.4. A ideologia do real....................................................................................... 101 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................ 106 BIBLIOGRAFIA.................................................................................................... 109 ANEXO................................................................................................................ 113 INTRODUÇÃO 5 Há alguns anos atrás, poucos eram aqueles que se diziam de direita no Brasil. Conservada a memória das duas décadas de regime militar no país, era natural que a classe política quisesse se afastar de termos e ideias que remetessem ao período autoritário, principalmente após a redemocratização e a promulgação da Constituição Federal de 1988. Anos antes, com a crise do Welfare State, a queda do Muro de Berlim e, com ele, o fim do socialismo “real”, o capitalismo impôs-se como sistema político e econômico hegemônico em todo o mundo. A forma que este capitalismo tomou e se desenvolveu seguiu, já no início dos anos 1980 e durante toda a década de 1990, a doutrina política e econômica elaborada pelo pensamento austro-americano, notadamente, a Escola Austríaca de Economia e a Escola de Chicago, o corpo teórico mais expressivo daquilo que se convencionou chamar de neoliberalismo. Com vários países da América Latina, entre eles o Brasil, enfrentando grave crise econômica e financeira na última década do século XX, o socorro às nações em desenvolvimento pelo Fundo Monetário Internacional e pelo Banco Mundial veio acompanhado de uma série de medidas imperativas de matiz neoliberal, entre elas, a que limitava o investimento público para a criação de superávit a serviço da dívida externa. Esse processo ficou historicamente conhecido como Consenso de Washington. No contexto nacional, as consequências de tais políticas foram, entre outras, um amplo programa de privatizações de empresas estatais e de abertura econômica. O processo que se iniciou na década de 1990 pelo governo Collor foi continuado por Itamar e se intensificou no governo de Fernando Henrique Cardoso, já em 1995. Com a reforma monetária que tornou possível o Real e a estabilização da economia com a adoção do tripé macroeconômico (câmbio flutuante, superávit fiscal e meta de inflação) já no segundo mandato, o país começava a aventar uma política econômica de longo prazo para o seu desenvolvimento. Galgando relativo sucesso no plano econômico, no plano social as consequências de tais medidas foram desastrosas. Com a série de privatizações das empresas estatais, grandes contingentes de trabalhadores foram demitidos, que junto a serviços públicos ineficientes e a alta carga tributária do país, aumentavam ainda mais a já aguda crise social. A consequente precarização das