"Influências Francesas Na Música De Intervenção Portuguesa Nos Anos

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Universidade de Aveiro Departamento de Línguas e Culturas Ano 2012 MARIA DE FÁTIMA INFLUÊNCIAS FRANCESAS NA MÚSICA DE CANCELA ANTUNES INTERVENÇÃO PORTUGUESA NOS ANOS 70 CAEIRO Universidade de Aveiro Departamento de Línguas e Culturas Ano 2012 MARIA DE FÁTIMA INFLUÊNCIAS FRANCESAS NA MÚSICA DE CANCELA ANTUNES INTERVENÇÃO PORTUGUESA NOS ANOS 70 CAEIRO Dissertação apresentada à Universidade de Aveiro para cumprimento dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Línguas e Culturas, realizada sob a orientação científica da Doutora Otília Pires Martins, Professora Associada com Agregação do Departamento de Línguas e Culturas da Universidade de Aveiro. ao Francisco, meu grande amigo e companheiro de vida. à Joana e ao António, meus amigos de sempre. à memória da minha avó Maria. o júri Presidente Prof. Doutor Paulo Alexandre Cardoso Pereira, Professor Auxiliar da Universidade de Aveiro Vogais Doutora Márcia Liliana Seabra Neves, Investigadora do Instituto de Estudos de Literatura Tradicional da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (Arguente) Profª. Doutora Otília da Conceição Pires Martins, Professora Associada com Agregação da Universidade de Aveiro (Orientadora) agradecimentos Ao longo deste meu percurso, pude contar com contribuições preciosas, que, de uma forma ou outra, me permitiram atingir a meta a que me propus. Agradeço, em primeira instância, à Prof.ª Doutora Otília, a quem muito admiro, pela sua colaboração tão assertiva, discretamente generosa e sempre oportuna, bem como pelo entusiasmo, compreensão e sábia tranquilidade que soube transmitir-me durante este tempo de árduo labor. Agradeço igualmente à AJA – Associação José Afonso, núcleo de Aveiro – na pessoa do José Israel, pela sua pronta disponibilidade para me enviar livros específicos, difíceis de encontrar e na cedência de contactos de alguns músicos. Não posso deixar de expressar o meu agradecimento muito caloroso a Francisco Fanhais e a José Mário Branco, pela sua colaboração, imbuídas de simpatia e generosidade na partilha de ideias, vivências e conhecimentos tão enriquecedores para o meu projeto. À Bárbara, quero também deixar uma palavra carinhosa, pelas vezes em que, ao longo da vida e especialmente deste ano, me ouviu e apoiou, não obstante a longa distância que nos separa! À Andreja Gorenc, envio um sorriso terno e grato, pela execução maravilhosa do desenho “Cidades em Transformação”, que realizou em exclusivo para ilustrar a capa deste trabalho. Um pensamento muito especial, que vai muito para além do reconhecimento, para o meu marido Francisco: o seu apoio incondicional e constante, o carinho, as palavras de incentivo e a sua dedicada colaboração na pesquisa dos inúmeros materiais constantes do meu corpus, foram decisivos para o êxito desta tarefa. Finalmente, agradeço aos meus pais pelo amor com que sempre me têm acompanhado. palavras-chave Engagement, engagé, intelectual, músico, canção, sociedade, protesto Resumo Este trabalho pretende dar a conhecer a importância da cultura francesa durante a década de 60, salientando-se os acontecimentos que resultaram na revolução de Maio de 68,em França. Analisar-se-á o conceito de engagement nas suas diferentes facetas, destacando as influências da música francesa da época, na «re»construção sócio cultural nas décadas de 60 e 70 em Portugal, através das obras de José Mário Branco, Francisco Fanhais e Sérgio Godinho. Keywords Engagement, engagé, intellectual, musician, song, society, protest Abstract This work claims to show the importance of French culture during the 60s, pointing out the events that might have caused the May 68 revolution in France. Its main aim is to analyze the concept of engagement in its different issues, highlighting the influence of French music of that time, the socio-cultural (re)construction in the 60’s and 70’s in Portugal, throughout the works of José Mário Branco, Francisco Fanhais and Sérgio Godinho. Mots Clé Engagement, engagé, intellectuel, musicien, chanson, société protestation Résumé Ce travail prétend montrer l'importance du rôle de la culture française dans les années 60, en mettant en évidence les événements qui conduisirent à la révolution de Mai 68, en France. Il propose une analyse du concept d'engagement sous ses différentes facettes, en soulignant l'influence de la musique française de l'époque, dans la (re)construction socio-culturelle des années 60 et 70 au Portugal, à travers les œuvres de, José Mário Branco, Francisco Fanhais et Sérgio Godinho. Índice INTRODUÇÃO 23 Parte I. O PAPEL DOS INTELECTUAIS EM FRANÇA E EM PORTUGAL: CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA I. Engagement, política e sociedade em França 31 1. “L’Affaire Dreyfus” e o surgimento do “Intelectual engagé” 31 2. A “Action Française” de Charles Maurras 38 3. Intelectuais pacifistas e comunistas: a impossível convivência 41 3.1. “La Trahison des clercs” 43 4. Os anos 30 e os intelectuais franceses: contributos para a mudança 44 5. Os intelectuais franceses na Segunda Guerra Mundial 51 6. Os intelectuais após a Libertação 56 7. A literatura engagée 62 8. O turbilhão dos anos 60 67 II. PORTUGAL, A MAIS LONGA DITADURA DA EUROPA OCIDENTAL 73 1. O Estado Novo: autoritarismo, censura e repressão 73 2. Portugal, terra de exílio 85 PARTE II. ANOS 60: A “FORÇA” DA CONTESTAÇÃO MUSICAL 1. A música, tom e voz do(s) protesto(s) 92 1.1. Georges Brassens, o anarquista libertário 96 1.2. Léo Ferré, revolta e persuasão 110 1.3. Jean Ferrat, música e engagement social 128 2. A música, expressão sem fronteiras e sem barreiras 146 2.1. José Mário Branco, o eterno inconformista 147 2.2. Francisco Fanhais, o progressista comprometido 161 2.3 Sérgio Godinho, o artesão das palavras musicadas 170 xv PARTE III. SINTONIAS MUSICAIS E DISSONÂNCIAS CULTURAIS 1. Os músicos, intelectuais ao serviço de revoluções 183 2. Anos 60: a contestação musical em França 184 3. Portugal, anos 70: a liberdade das palavras e da música 194 CONCLUSÃO 210 BIBLIOGRAFIA/DISCOGRAFIA 218 ANEXOS Anexo I - «Conversa» com José Mário Branco 243 Anexo II – Fotos de José Mário Branco 256 Anexo III - «Conversa» com Francisco Fanhais 259 Anexo IV - Fotos de F. Fanhais 269 Anexo V – Documentos do arquivo pessoal de F. F. 273 Anexo VI – Chansons de G. Brassens, L. Ferré e J. Ferrat 283 Anexo VII - Canções de José Mário Branco, F. Fanhais e Sérgio Godinho CD xvi Indice de Siglas: AEAR - Association des Écrivains et Artistes Révolutionnaires CAC – Coletivo de Ação Cultural CNE - Comité National des Écrivains CGT - Confédération Générale du Travail CVIA - Comité de Vigilance des Intellectuels Antifascistes DGS – Direção Geral de Segurança FLJ – Front de Libération de Jeunesse FLIP – Front de Libération d’Intervention Pop GAC – Grupo de Ação Cultural HLM – Habitation à Loyer Modéré JEC – Juventude Estudantil Católica LUAR – Liga de Unidade e Ação Revolucionária MFA – Movimento das Forças Armadas MPLA – Movimento Popular de Libertação de Angola MRP – Mouvement Républicain Populaire MND – Movimento Nacional Democrático MUD – Movimento de Unidade Democrática MUNAF – Movimento de Unidade Nacional Antifascista NRF – Nouvelle Revue Française PAIGC - Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde PC(P) – Partido Comunista (Português) PCF – Parti Communiste Français PIDE – Polícia Internacional de Defesa do Estado POUM – Partido Operário de Unificação Marxista RDR – Rassemblement Démocratique Révolutionnaire RPF – Rassemblement du Peuple Français SFIO – Section Française de l’Internationale Ouvrière SPN – Secretariado de Propaganda Nacional STO – Service de Travail Obligatoire xvii «La musique, c’est le verbe du futur.» (Victor Hugo). INTRODUÇÃO «Ce qu’on ne peut dire et ce qu’on ne peut taire, la musique l’exprime». (Victor Hugo) _______________Influências francesas na música de intervenção portuguesa nos anos 70 Em pleno século XXI, numa sociedade onde proliferam ideias e ideologias tão diversificadas, consequência do pluralismo de opiniões face a uma sociedade, também ela, multifacetada, falar de engagement, de comprometimento, de intervencionismo ou qualquer outra definição que possa ser sinónima não é tarefa fácil. Contudo, a referência primeiramente utilizada, engagement, emprestada da língua francesa, reporta-nos de imediato para a sociedade e cultura francesas, bem como para um contexto mais específico que conduziu à utilização deste termo. Usado pela primeira vez em França, o conceito de engagement e, portanto, de alguém qui s’engage, conduz-nos aos meandros da política, independentemente do quadrante no qual o indivíduo se situe. Foi nos finais do século XIX que um conjunto de intelectuais franceses, tomando partido na defesa de Dreyfus, injustamente acusado de espionagem e de traição ao seu país, se ergueu e deu significado a este conceito. Este affaire atingiu proporções notáveis, desencadeando um conjunto de protestos por parte dos intelectuais da época em busca da verdade e da justiça para Alfred Dreyfus e, 23 Maria de Fátima Antunes Caeiro_______________ desde então, quando se fala em engagement é impensável dissociar esta ideia de questões políticas e sociais. Poderá colocar-se a questão que permita esclarecer quem foram estes intelectuais no passado e quem são eles na atualidade. Desde professores da conceituada universidade da Sorbonne em Paris, como Charles Péguy, a cientistas como Émile Gallé, passando por artistas como Claude Monet, aos escritores Anatole-France, André Gide, entre muitos outros, estes foram alguns dos que integraram o grupo que desencadeou os protestos a favor de Dreyfus. E assim, na opinião
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