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SC.24-Y-C ()

3 GEOLOGIA ESTRUTURAL/TECTÔNICA

A integração dos dados obtidos no presente com intercalações muito subordinadas e descontí- estudo com aqueles coletados em trabalhos anterio- nuas de rochas metabásicas, metaultrabásicas e res permitiram a identificação, nesse segmento do calcissilicáticas, e formações ferríferas bandadas. Cráton do São Francisco, de quatro grupamentos li- Também foram incluídos no Complexo Mairi, pa- tológicos posicionados em domínios tectono- es- ragnaisses kinzigíticos em variados estágios de truturais distintos (figura 3.1). A partir das caracte- anatexia parcial. Completam o quadro litológico do rísticas petrológicas, sedimentológicas, geocrono- Domínio I, corpos de granitóides de composição lógicas e, principalmente, da análise geométrica e monzogranítica e granodiorítica, de idade paleo- cinemática dos elementos estruturais de cada proterozóica. compartimento, procura-se reconstruir a evolução O padrão estrutural do Complexo Mairi é muito ir- tectônica da área, dentro de um contexto regional. regular (fotos 14 e 15), onde fotolineamentos estru- turais, ressaltados por intercalações máficas-ultra- Domínio I máficas na região entre e Jacobina, mostram a geometria de redobramentos e formas Trata-se de um terreno cratônico arqueano, in- ovaladas, contrastando com a linearidade do cintu- cluído no Bloco de Gavião, de acordo com a seg- rão metavulcano-sedimentar paleoproterozóico do mentação do Cráton do São Francisco proposta no Domínio II. Essas feições irregulares, pelo menos trabalho de integração regional elaborado por Del- em parte pré-transamazônicas, são reorientadas gado & Pedreira (1994). Esse domínio é limitado a por transcorrências sinistrais rúpteis-dúcteis de di- este, por um cinturão móvel transamazônico (Domí- reção noroeste-sudeste, na região de e nio II), através de descontinuidades estruturais. A França, fato este observado tanto em escala de oeste, o limite com coberturas mesoproterozóicas mapa (figura 3.1) como de afloramento. Estas (Domínio III) é marcado por uma discordância es- transcorrências são ramificações tipo horse tail da tratigráfica regional (não-conformidade). Falha de , que possui grande expressão Compõem o Domínio I, litótipos do Complexo regional no exterior a sudeste da área, e foi desen- Mairi, dominantemente ortognaisses migmatíticos volvida durante reativações tardias do Ciclo Tran- de médio grau metamórfico e composição TTG, samazônico. Observa-se que as transcorrências

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42º00’ 40º30’ 11º00’ 11º30’

a

e

d b

c

12º00’ 12º00’ 42º00’ 40º30’ DOMÍNIOS TECTONO-ESTRUTURAIS LOCALIZAÇÃO DE ÁREA

42º 39º IV 45º 9º

II IV 12º SALVADOR

15º III I III

1 23 4 5 6 7 8 9

10 11 12 13 14 15 1– Coberturas cenozóicas; 2 – Grupo Una; 3 – Grupo Chapada Diamantina; 4 – Grupo Jacobina; 5 – Granitóides Transamazônicos; 6 – Complexo ; 7 – Complexo Mairi; 8 – contato; 9 – falha/fratura; 10 – transcorrência; 11 – cavalgamento; 12 – cavalgamento oblíquo; 13 – anticlinal; 14 – sinclinal; 15 – localidades: a) Jacobina, b) França, c) Piritiba, d) Morro do Chapéu, e) Irecê. Domínios Tectono-Estruturais: I) Terreno cratônico arqueano; II) Cinturão móvel transamazônico; III) Cobertura dobrada mesoproterozóica; IV) Cobertura dobrada neoproterozóica.

Figura 3.1 – Principais feições estruturais e domínios tectono-estruturais da Folha Jacobina.

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não afetam as coberturas mesoproterozóicas do de anfibolitos e ortognaisses dobrados do Comple- Grupo Chapada Diamantina (figura 3.1). xo Mairi. Nas rochas supracrustais kinzigíticas do Comple- Já os granitóides tipo Brejo Grande, peralumino- xo Mairi estão impressas essas mesmas feições de- sos de tendência monzonítica, apresentam forte fo- formacionais, sem padrão geométrico bem definido, liação milonítica, desenvolvendo textura porfiro- principalmente onde ocorre maior concentração de clástica, controlada pelas ramificações da Falha de mobilizados leucossomáticos granadíferos. Corpos Itaberaba. A oeste de Jacobina, uma dessas ramifi- mais expressivos de leucogranitos tipo “S”, por ve- cações, com cinemática sinistral, faz limite entre os zes apresentam apenas tênue foliação reliquiar, in- granitóides e um segmento isolado do cinturão do- dicando que a fusão anatética prosseguiu mesmo brado transamazônico (Complexo Itapicuru). depois de cessados os processos deformacionais. A suíte de plutonismo crustal tardi a pós-colisio- Isócronas de referência foram construídas por nal, à qual presume-se estejam relacionados os Padilha & Loureiro (1991) a partir dos dados Rb/Sr granitóides do Domínio I, tem idade estabelecida preexistentes na região de Piritiba, cujos resultados por diversos autores em torno de 2.000Ma (Sabaté sugerem uma sucessão de eventos compreenden- et al., 1990b; Sabaté, 1992, entre outros). do a formação de crosta continental, seguida de in- trusões graníticas e metamorfismo, nas marcas de Domínio II 3.300Ma, 3.000Ma e 2.700Ma. Considera-se no presente trabalho que os terre- Representa um cinturão móvel metavulcano-se- nos antigos do Domínio I são análogos àqueles do dimentar, orientado N-S, que inclui as serras de Ja- Núcleo do Gavião situados mais a sul, na região de cobina e do Araújo. Esse cinturão de baixo grau Contendas- (figura 2.3). Neste local, dados metamórfico envolve duas unidades litoestratigráfi- geocronológicos fornecem idades em torno de cas distintas, tectonicamente imbricadas em regi- 3.200 a 3.400Ma, em domos gnáissicos tipo TTG, me dominantemente compressivo: o Complexo Ita- considerados como os segmentos mais antigos do picuru, inferior, de natureza vulcano-sedimentar, e Cráton do São Francisco. Esses valores foram obti- idade arqueana ou paleoproterozóica, e o Grupo dos por diversos autores, entre eles Martin et al. Jacobina, composto de metassedimentos con- (1991), pelos métodos Rb/Sr e U/Pb (evaporação glomeráticos e quartzíticos paleoproterozóicos. O de zircões), e Nutman & Cordani (1992), através do imbricamento tectônico foi o responsável pela pre- método U/Pb (em zircões, utilizando SHRIMP). sença de rochas ultramáficas xistificadas do Com- Os corpos granitóides do Domínio I foram colo- plexo Itapicuru intercaladas longitudinalmente nos cados tardi a pós-orogênese transamazônica, e metassedimentos do Grupo Jacobina. Também devem fazer parte do grande alinhamento de intru- produziu o envolvimento de “fatias” de ortognais- sões granitóides com cerca de 500km, na junção ses migmatíticos do Complexo Mairi, cartografadas entre os blocos arqueanos do Gavião e de Jequié na Folha , adjacente a este (Melo et al., descritas por Sabaté et al. (1990a) (figura 2.3). 1993). Os granitóides porfiríticos tipo Lagoa d'Anta são Os contatos com os ortognaisses são feitos atra- metaluminosos calcialcalinos, mostrando-se com vés de zonas de cisalhamento contracionais oblí- estruturas de fluxo magmático preservadas ou, quas com transporte tectônico dirigido de SE para mais freqüentemente, com duas deformações im- NW, as quais evoluem progressivamente ou são re- pressas. A primeira, de natureza compressional, ativadas para transcorrências sinistrais durante o reflete-se em dobras abertas e apertadas, e a se- Ciclo Transamazônico. Essas trancorrências limi- gunda, transcorrente, produz shear bands quase tam uma área isolada do Complexo Itapicuru, na sempre sinistrais, discretas e rotacionam as dobras serra do Araújo, a oeste de Jacobina, estrutural- precedentes. mente concordante com a ocorrência desse com- Os granitóides porfiríticos tipo Miguel Calmon plexo na região de França, sugerindo uma continui- são também metaluminosos calcialcalinos, e estão dade física pretérita (figura 3.1). em contato tectônico – localmente intrusivo (vila Os dados estruturais obtidos no presente traba- França) – com o cinturão móvel vulcano-sedimen- lho são análogos àqueles descritos por Couto et al. tar do Domínio II. Mostram-se menos deformados (1978), Padilha & Loureiro (1991) e Melo et al. que aqueles anteriormente descritos, observan- (1994). Observa-se o registro de três fases de de- do-se apenas uma fraca foliação. Freqüentemente formação nas rochas vulcano-sedimentares do preservam textura magmática e incluem xenólitos Complexo Itapicuru: a primeira, não afeta o Grupo

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Jacobina, é de natureza compressional, provavel- litótipos dessa cobertura registram a presença de mente pré-Ciclo Transamazônico, e apresenta do- dois eventos compressionais distintos, segundo bras apertadas a isoclinais, descontínuas, às vezes estudos de análise estrutural efetuados por Dan- intrafoliais, melhor visualizadas na região a norte de derfer Filho (1990) (figura 3.3): o primeiro evento

Piritiba (figura 3.2); a segunda, também compressio- (E1), com vetor de deslocamento dirigido de SSW nal, desenvolveu dobras abertas a apertadas, e lo- para NNE, foi o responsável pela inversão da bacia calmente produziu redobramentos coaxiais e su- e geração de dobramentos e empurrões, cuja mag- perfícies de cavalgamentos associadas, com ver- nitude diminui no sentido NNE; e o segundo evento gência para WNW e foi a responsável pela inversão (E2), ortogonal ao primeiro, provocou a ondulação da Bacia Jacobina; e, a terceira, de natureza trans- nos eixos de megadobras sinclinais e anticlinais do corrente sinistral, certamente uma progressão da evento anterior e desenvolvem sistemas conjuga- anterior, tem como principais representantes a Fa- dos de fraturas de cisalhamento (figura 3.1). lha de Itaberaba e suas ramificações, que limitam Esse último evento é interpretado como resultan- unidades paleoproterozóicas diversas e não efe- te da telescopagem dos esforços compressionais tam as coberturas mesoproterozóicas da Chapada gerados nas faixas marginais Riacho do Pontal, a Diamantina. norte, e Araçuaí, a sul. Ambos os eventos deforma- cionais são atribuídos ao Ciclo Brasiliano, pois fo- Domínio III ram registrados também nas coberturas neoprote- rozóicas do Grupo Una (Danderfer Filho, 1990; La- Trata-se de cobertura dobrada de idade meso- goeiro, 1990; Alkmim, 1993; Rocha, 1993). proterozóica, composta por sedimentos dominan- No âmbito da Folha Jacobina, o Grupo Chapada temente terrígenos com metamorfismo incipiente Diamantina estrutura-se em megadobras anticlinais do Grupo Chapada Diamantina. Regionalmente, os e sinclinais suaves, orientadas norte-sul e com fra- N Gnaisse calcissilicático

quartzo tension gashes

Biotita paragnaisse

10 cm Eixo de dobra 75/180

Figura 3.2 – Afloramento, em planta, de rochas supracrustais do Complexo Itapicuru, com foliação vertical e dobras isoclinais e transpostas de primeira geração, desenhadas em intercalações calcissilicáticas. Ponto AR-101, a norte de Piritiba, no rio Jacuípe.

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co caimento para norte (figura 3.1), destacando-se Una. Ambos, portanto, foram desenvolvidos duran- a Anticlinal de Morro do Chapéu e o Sinclinal de te o Ciclo Brasiliano. O segundo evento mascara Campinas (figura 3.3). São resultantes do primeiro quase por completo os registros do anterior, e ca- Evento deformacional/compressional Brasiliano re- racteriza-se pela presença de intensos cavalga- ferido anteriormente, de baixa magnitude. Essas mentos, com dobramentos e falhamentos de baixo dobras foram geradas pelo mecanismo de desliza- ângulo, associados e vergência para SSE (figura mento flexural, com cavalgamentos de vergência 3.1). Essas deformações são de natureza dúctil- ENE muito localizados, no flanco oeste da Anticlinal rúptil e diminuem de magnitude no sentido SSE. de Morro do Chapéu. Neste local ocorrem falhas de Um afloramento situado ao lado da estrada para baixo ângulo truncando o acamamento, com traje- , 6km a sul do entroncamento com a ro- tórias sigmoidais ou geometria de duplexes, em cu- dovia BA-052, mostra claramente a geometria e a jas superfícies de deslocamento desenvolve- cinemática das deformações compressionais do ram-se brechas, mobilizados de quartzo, estrias, segundo evento. Essa exposição contínua tem cer- gouge de falha e ribbons de quartzo. ca de 100m de comprimento, onde se observam O segundo Evento compressional Brasiliano, di- superfícies de deslocamento configurando uma recionado de NNW para SSE, fica melhor evidenci- geometria tipo duplex (foto 16 e figura 3.4). Tam- ado em escala de mapa, registrado pela presença bém ocorrem freqüentes afloramentos onde os car- de sistemas de fraturas de cisalhamento conjuga- bonatos laminados estão dobrados em estilo che- das, mais concentradas nos arenitos silicificados vron, em frentes de cavalgamento como, por exem- da Formação Morro do Chapéu (figura 3.1). plo, próximo ao entroncamento para Jussara, a NW Os dados geocronológicos no Grupo Chapada de Irecê. Ainda nesta região ocorrem dobramentos Diamantina disponíveis na área indicam idades de recumbentes com vergência para S e charneiras Rb/Sr de 1.290Ma (Neves et al., 1980) e 960Ma curvas, tendendo a formar dobras tipo bainha. (Macedo & Bonhomme, 1984) para a Formação Ca- Estas mesmas feições são observadas ao longo do boclo; os estudos desenvolvidos por Srivastava percurso América Dourada-Soares de Baixo, a E de (1988, 1989) permitiram datar esta formação como Irecê. do Rifeano Médio, no intervalo de 1.350-950Ma, ba- Apesar da dominância das deformações relati- seados em estromatólitos. Segundo dados mais re- vas ao segundo evento, localmente ocorrem redo- centes de Babinski et al. (1993), os carbonatos do bramentos tipo “domos e bacias” (região de Barra topo desta formação possuem idade U/Pb de do Mendes, fora da área mapeada, e no segmento 1.140± 140Ma (tabela 2.5). da bacia a nordeste de Morro do Chapéu). Tam- bém existem relíquias de cavalgamentos, (prova- Domínio IV velmente relacionados ao primeiro evento), em flancos de dobras com vergência para S, do segun- Corresponde a uma cobertura cratônica dobra- do evento (vila Ipanema, entre América Dourada e da neoproterozóica, composta por sedimentos Irecê). com metamorfismo incipiente do Grupo Una, Su- Na parte nordeste do Domínio IV, ocorre uma fai- pergrupo São Francisco, cuja principal área de dis- xa entre duas transcorrências sinistrais (rampas la- tribuição na Folha Jacobina é conhecida na literatu- terais do segundo evento deformacional), onde os ra geológica como Bacia de Irecê (Bomfim et al., carbonatos da Formação Salitre estão preservados 1985; Pedreira et al., 1987; Souza et al., 1993). Esse ou quase totalmente preservados das deforma- grupo é constituído pelas formações Bebedouro e ções (figura 3.1). O melhor exemplo situa-se na gru- Una. A primeira é de natureza eminentemente con- ta de Brejões, onde grandes exposições de calcári- glomerático-pelítica, interpretada por vários auto- os da Unidade Gabriel mostram estratificação pla- res como de origem glacial (Montes, 1977; Domin- no-paralela muito regular, suborizontal, com inter- guez, 1993, entre outros). A segunda, essencial- calações de bancos de intraclastos e estruturas mente carbonática, mereceu estudos sistemáticos tipo hummocky, feições de escape de fluidos, gre- de análise paleoambiental a partir dos trabalhos de tas de ressecamento e wavy e linsen. Também na Bomfim et al. (1985). fazenda Garapa, mais a sul do afloramento citado, A análise estrutural efetuada no Grupo Una por afloram calcários laminados da Unidade Gabriel Lagoeiro (1990) concluiu que os dois eventos de- com estratificação plano-paralela muito regular, formacionais (E1)e(E2) presentes no Grupo Chapa- com ondulações e mergulhando suavemente para da Diamantina também estão impressos no Grupo WSW.

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43º00’

11º00’

JACOBINA IRECÊ 11

10 GENTIO 1 2 DO OURO MORRO Folha Jacobina DO CHAPÉU

14 N 12º00’ 3 12 6

4

SEABRA 8 LENÇÓIS 5

7 13

17 16 13º00’ 15 MUCUGÊ 01020 30 40 50 km

ESCALA 19

18 MAPA DE LOCALIZAÇÃO 40º 0º CONTENDAS DO SINCORÁ BAHIA 9 Salvador 14º00’ 0 200 km 42º00’ 41º00’ LEGENDA

1 ANTICLINAL DE MORRO DO CHAPÉU11 ANTICLINAL DE AÇURUÁ COBERTURA CENOZÓICA GRUPO UNA 2 SINCLINAL DE CAMPINAS 12 SINCLINAL DA MANGABEIRA GRUPO CHAPADA DIAMANTINA 3 DOBRAMENTOS DA REGIÃO DE WAGNER 13 ANTICLINAL DE CABRÁLIA ROCHA BÁSICA

4 ANTICLINAL DO MORRO DO PAI INÁCIO 14 ANTICLINAL DE BROTAS GRUPO PARAGUAÇÚ

5 GRUPO RIO DOS REMÉDIOS ESPINHAÇO SINCLINAL DE 15 SINCLINAL DA PIATÃ SUPERGRUPO EMBASAMENTO PRÉ-ESPINHAÇO 6 SINCLINAL DE IRECÊ 16 SINCLINAL DE QUITÉRIA ANTICLINAL

7 ANTICLINAL DE 17 ANTICLINAL DE SINCLINAL FALHA DE EMPURRÃO 8 SINCLINAL DE 18 SINCLINAL DE RIO DE CONTAS CIDADE 9 SINCLINAL DE ITUAÇU 19 SINCLINAL DE ÁGUA QUENTE

10 ANTICLINAL DE UIBAI

Figura 3.3 – Geologia simplificada e principais estruturas da Chapada Diamantina (Danderfer Filho, 1990).

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O contato oriental do Domínio IV (Bacia de Irecê) gundo Macedo e Bonhomme (1984), ou idade en- com o Domínio III (Chapada Diamantina) é tectôni- tre 950-570Ma (Rifeano Superior/Vendiano), se- co, representado por uma rampa lateral (transcor- gundo conclusões dos estudos de Srivastava rência sinistral com componente de cavalgamen- (1988, 1989), realizados com base em estromató- to), gerada durante o transporte de massa do se- litos. gundo evento compressional. Esse deslocamento do Grupo Una é interpretado como de natureza epi- Síntese da Evolução Geológica da Área dérmica (thin skinned tectonics) tendo, como ante- paros laterais, rochas dominantemente areníticas A evolução geológica da parte este da área, está do Grupo Chapada Diamantina. Os esforços foram diretamente relacionada ao desenvolvimento do originados a norte, durante o desenvolvimento da Cinturão Móvel Granulítico Salvador-Curaçá, du- Faixa marginal Riacho do Pontal. rante o Paleoproterozóico. Este orógeno, implanta- Apesar das evidências dos dois eventos defor- do entre os fragmentos cratônicos arqueanos macionais nos carbonatos do Grupo Una, descritos gnáissicos-migmatíticos de Serrinha e Mairi (Len- anteriormente, persistem algumas dúvidas em rela- çóis ou Gavião), evoluiu segundo episódios tan-

ção à presença do evento E1. Na terminação sul da genciais e transcorrentes progressivos (Melo et al., Bacia de Irecê (Folha Seabra), deveriam predomi- 1993), cujos reflexos estão registrados principal- nar dobras e/ou empurrões com vergência para mente nas rochas supracrustais do Cinturão Móvel ENE, o que não foi constatado até então. Itapicuru-Jacobina (Domínio II). A idade da Formação Bebedouro, base do Gru- O terreno cratônico arqueano de Mairi (Domínio I) po Una, foi estabelecida pelo método Rb/Sr em tem sua evolução associada à formação de uma 1.050Ma com diagênese em 930Ma (Neves et al., crosta continental precoce, composta por intenso 1980). Macedo & Bonhomme (1984) a determina- plutonismo de composição TTG (tonalitos, trondhje- ram em 900Ma e concluiram que, entre a deposi- mitos e granodioritos). Esse plutonismo foi gerado a ção da Formação Caboclo e da Formação Bebe- partir de crosta oceânica primitiva, ainda não identi- douro, há um hiato estimado em 56Ma ficada com clareza. Esses ortognaisses foram data- A Formação Salitre, superposta à Formação dos em cerca de 3.400Ma na região SW da Bahia Bebedouro, possui idade Rb/Sr de 760Ma, se- (Martin et al., 1992; Pedreira, 1992). s N

FlatLx-25/N350 Flat S0 rampa 012m Lb-15/N260

Figura 3.4 – Afloramento de calcissiltitos da Formação Salitre, localizado a norte de Cafarnaum. Ótimos exemplos

dos cavalgamentos relacionados ao evento E2, com transporte tectônico dirigido de NNW para SSE e configurando uma geometria tipo duplex.

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O cinturão móvel paleoproterozóico de baixo a Paleoproterozóico. Ledru et al. (1993), por outro médio grau metamórfico (Domínio II) representa um lado, caracterizaram o Grupo Jacobina como uma sistema tectonicamente imbricado, envolvendo: o bacia tipo “d'avant chaine”, desenvolvida durante a Complexo Itapicuru, o Grupo Jacobina, o Comple- evolução do Orógeno Curaçá-Ipirá. xo Saúde e “lascas” dos ortognaisses TTG. O imbri- Tanto o Complexo Itapicuru como o Grupo Jaco- camento dessas duas últimas unidades ocorre no bina deviam ter originalmente área de exposição âmbito da Folha Serrinha, adjacente a este da área bem mais larga que as atuais. Isto é evidenciado do presente estudo. pela presença de áreas isoladas dessas unidades, O Complexo Itapicuru constitui uma pilha vulca- tanto a oeste como a este da serra de Jacobina, no-sedimentar, cuja evolução inicial deve estar re- embutidas tectonicamente nos gnaisses e migmati- lacionada ao estágio de oceanização durante a tos do Complexo Mairi. fragmentação do protocráton do São Francisco, e Durante o Mesoproterozóico, as seqüências de- individualização dos fragmentos de Serrinha e posicionais do Grupo Chapada Diamantina preen- Mairi, no Arqueano Superior. A origem desses me- cheram uma bacia tipo flexural, cujo depocentro tamorfitos de baixo grau vem sendo discutida des- estava situado a NW de Morro do Chapéu, confor- de os trabalhos pioneiros de Leo et al. (1964) e me indicado pelos dados de paleocorrentes do sis- Griffon (1967). Foram admitidos como prováveis tema fluvial. A Seqüência Deposicional Tombador- greenstone belts, inicialmente por Mascarenhas et Caboclo (sedimentação continental fluvioeólica e al. (1975), Mascarenhas (1976) e Couto et al. plataformal) constitui um típico padrão de onlap (1978), e como bacia do tipo pull-apart por Melo et costeiro, sobre o bloco continental oriental adja- al. (1991). cente à calha da Bacia Espinhaço. A Seqüência Novamente é retomada a analogia do Complexo Deposicional Morro do Chapéu (arenitos de origem Itapicuru a greenstone belt por Mascarenhas & Silva fluvioestuarina) foi depositada em incisões de rede (1994), sugerindo a denominação de Greenstone de drenagem nos sedimentos plataformais da For- Belt de Mundo Novo, para evitar confusão com o mação Caboclo (Dominguez, 1993). Greenstone Belt do Rio Itapicuru (Kishida, 1979). Após a sedimentação do Grupo Chapada Dia- Essa interpretação atual baseia-se na presença de mantina, houve um hiato deposicional, onde os pro- basaltos com pillow lavas na região de Pindobaçu cessos erosivos atuantes caracterizaram uma dis- (Folha ), formações ferríferas tipo cordância. Uma fase de glaciação continental, com Algoma com formações manganesíferas associa- paleocorrentes de E para W, foi responsável pela das, andesitos, dacitos, riodacitos, piroclásticos, deposição da Formação Bebedouro, base do Gru- cherts, calcissilicáticas, grafita xistos, grauvacas, po Una, em torno de 1.000Ma (Karfunkel & Hoppe, filitos e rochas ultramáficas. Esses litótipos dis- 1988). Uma mudança climática contribuiu para o tribuem-se de forma descontínua, principalmente a degelo, elevação do nível do mar epicontinental e este e sul da serra de Jacobina. criação de condições para a deposição da Forma- No presente trabalho segue-se a mesma inter- ção Salitre em uma rampa carbonática. pretação dada por Melo et al. (1994), onde o Com- Os esforços compressivos responsáveis pela in- plexo Itapicuru faz parte de um orógeno desenvol- versão das faixas marginais ao Cráton do São Fran- vido provavelmente durante o Arqueano Superior, cisco, desenvolvidos no Ciclo Brasiliano, se propa- anterior, portanto, à deposição do Grupo Jacobina. garam para o interior do cráton, provocando tam- A formação inicial de crosta oceânica é indicada bém a inversão das coberturas cratônicas meso- pela presença de produtos vulcânicos básicos proterozóicas e neoproterozóicas. Na Folha Jaco- com pillow lavas e sedimentos químico-exalativos bina, os efeitos da telescopagem desses esforços associados. Essa pilha vulcano-sedimentar deve estão melhor impressos nos carbonatos do Grupo ter sido a fonte para os sedimentos siliciclásticos Una, em resposta à tectônica compressional de- fluviais e litorâneos do Grupo Jacobina, que preen- senvolvida na Faixa Riacho do Pontal, situada a cheram uma bacia tipo rift ensiálico, implantada no norte da área.

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