As Meninas Do Cy
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MUSICA MUSICA COLECAO COLECAO Acervo pessoal Inahiá Castro Inahiá Castro nasceu em Goiânia (GO), em 1967, mas vive em São Paulo desde os 2 anos de idade. Jornalista, formada em 1989, é também fotógrafa e teve seus textos e imagens publicados em diversos veículos, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Marie Claire, Caminhos da Terra, Globo Ciência, entre muitos outros, sempre buscando expressar com qualidade o amor que tem à palavra escrita. Seguindo os caminhos abertos pela tecnologia, migrou com facilidade da mídia impressa para o chamado jornalismo 2.0, como editora de portal da internet, autora de blogs e colaboradora de sites. em Cy do Quarteto Vida e Música De personalidade intensa e inquieta, tem a virtude e o defeito de se interessar por infinitas coisas em áreas diversas ou dispersas. A paixão pela música foi herança genética. O pai era um baterista profissional argentino, da época das big bands de jazz; e a mãe, filha de seresteiro, conquistou o marido com sua voz afinada em um sarau. A biografia do Quarteto em Cy é o primeiro livro de sua autoria e abre caminho para a carreira de escritora, que provavelmente terá a mesma pluralidade que a define. As Meninas do Cy Á CASTRO I INAH As Meninas do Cy Vida e Música do INAHIÁ CASTRO Quarteto em Cy 00789 - 12083359 capa pb.indd 1 22/03/13 15:33 As Meninas do Cy INAHIÁ CASTRO Vida e Música do Quarteto em Cy 1 2 As Meninas do Cy INAHIÁ CASTRO Vida e Música do Quarteto em Cy 3 “A pessoa sem gratidão tem a alma pela metade.” Isso foi meu pai quem me ensinou. E para continuar com minha alma inteirinha, não posso deixar de registrar aqui minha eterna gratidão a tantas pessoas que foram fundamentais para a realização deste projeto. Algumas por assumirem missões mais práticas, do tipo “mão na massa”, outras por sempre terem uma palavra de ânimo, uma intenção de ajudar, uma vontade de dividir o sonho comigo, e também àquelas que foram meu porto-seguro nesta empreitada, simplesmente, por existirem. Todos esses amigos, entes queridos e artistas têm a mesma e total importância para mim. Por isso, me permito apenas citar-lhes os nomes, em ordem alfabética, na certeza de que cada um sabe por que está aqui. A Deus em primeiro lugar e sempre. A Ele agradeço e peço que abençoe e cuide de cada um destes meus amados: Adalberto Carvalho; Alfredo Castro Filho; Alfredo Montebello; Ana Carla Nunes; Ana Paula Rios; Andréa Castro; Andréa Chackur; Aquiles Rique Reis; Ariel Norberto Merlo; Átila Almada; Bebeto Castilho; Bia Campos; Bia Paes Leme; Carlos Alberto (Toca do Vinicius); Carlos Guttemberg; Carlos Henrique Coraucci; Carlos Lyra; Carolina Florencia Merlo; Célia Sueli Gennari; Celia Vaz; Celso Fonseca; Cesar Morcazel, Christophe Hanras; Cilene Chakur; Deborah Munir; Eduardo Prestes; Eliana Caetano; Eliana Garcia; Eliana Oliveira Castro; Elides Ramos dos Santos; Fernanda Faria; Francisco Buarque de Hollanda; Gabriel Gonzaga; Guilherme Bryan; Gilberto Gil; Helena Vasconcelos; Igor Garcia; Jorge Ohara; José Luiz Moura Velloso; Kadu Lago; Katia Vasconcelos; Keyla Fogaça; Laís Rosal; Levina Ferraz; Luiz Cláudio Ramos; Letycia; Lygia Rebello; Magro Waghabi; Marcel Naves; Maria Onésia do Nascimento; Mario Sergio Valle; Maxionília Rodrigues; Milu Duarte; Oscar Castro Neves; Patricia Lages; Pih Morais; Raphael Zerbetto; Renato Borges; Roberto Menescal; Robson Jassa; Ruy Faria; Silvana Cordeiro; Tânia Borges; Tina Andrade; Tom Ceravolo; Tuna Dwek; Yasmine Monteiro; Yasmin Merlo; Silvio Ambrosini; Thais Robertti; Thadeu Cajado. Inahiá Castro Para Meus pais, Alfredo e Eliana, que musicaram minha vida com o que há de melhor. João Pedro Castro Merlo, pedaço de mim. Sumário A Estética do processo – Carlos Alberto Afonso 9 Introdução – Inahiá Castro 12 Ida e ideal 16 Infância: Brincadeiras, música, arte e os primeiros encontros 19 Seu Eurico 21 A hora da criança 24 E por que não? 29 Enfim, Rio de Janeiro 33 As baianinhas 35 A fuga do poeta 38 Primeiros passos sem o poeta 45 A estreia 47 Zum zum 49 Brasil afora 55 O primeiro ano 63 Liberdade, liberdade 68 Som definitivo 71 A primeira mudança 75 The girls from Bahia - de Ibirataia para o mundo 81 Coast to coast 83 Duas prá lá, duas prá cá 87 Back to the States 91 Sabiá 94 Tempos difíceis 98 Recomeço 101 Pelo Brasil com o poeta 103 Resistindo 110 Antologias, cobras e querelas 119 Descaminhos 125 Formação definitiva 130 Seguindo em frente 132 9 de julho de 1980 134 Com o maestro 138 Cada qual no seu canto 143 A volta 149 Em Cy 152 30 anos 163 De ouro 168 Japão e Cuba 170 Sempre em frente 177 Infantil 180 Percalços 186 40 e outros anos 188 Resenhas 196 Discografia oficial 197 Discografia extra 242 Créditos fotográficos 247 6 7 A ESTÉTICA DO PROCESSO Acabo de ler os originais deste excelente As Meninas do Cy – Vida e Música do Quarteto em Cy, de Inahiá Castro. Com ansiedade de sexagenário adoles- cente, enfio o dedo no bolo e começo o prefácio por onde programara encerrar: com um agradecimento que me surpreende a mim mesmo. Pois agradeço a uma rede de articulações do mundo virtual por ter ensejado o contato entre a autora e aquelas que tiveram sua trajetória de representativa quilometragem biografada. Na verdade, muito bem biografada. Por dificuldade histórica de ver arte ensimesmada, não consigo ver diferente do que diz aquela frase tão simples: o artista tem que ir onde o povo está. Pois, além da sonoridade dos céus (como me escreveu uma militante (também) da rede de relacionamento, o Quarteto em Cy, tão forte quanto a face estética, tem-nos oferecido, durante toda a sua caminhada, vigoroso engajamento e ininterrupto exercício de cidadania. E Inahiá Castro nos conta tudo isso em alto-relevo. Quero lembrar aqui de uma certa quarta feira, 12 de junho de 1991. Era Dia dos Namorados. Seis da tarde e o Quarteto em Cy dava a largada para o que seria, apenas, mais uma de suas apresentações, não tivesse aquele evento tão especiais razões além da razão tão especial da data, é claro. E explico: já vínhamos dedicando, à época, os cerca de 20 de nossas atividades educa- cionais a uma tradicional região dos subúrbios cariocas onde o samba faz dupla morada: a famosa Madureira da Portela e do Império Serrano. Constatamos, entretanto, que essa música de tão elevada qualidade não ultrapassava obstáculos consequentes dos interesses de mercado para chegar aos diversos públicos. Essa consciência gerou o inconformismo que desvelou aos nossos olhos uma causa, uma grande causa, que estava ali nítida, à nossa frente, esperando, apenas, ser abraçada. E acabamos por trazer para nós uma fatia dessa responsabilidade de contribuir para o fortale- cimento da referência cultural local, nas dimensões da cidade, a partir de sua música: do choro, do samba tradicional e do samba bossa nova. O concerto que o Quarteto em Cy realizava sobre um pequeno tablado daquele shopping center em Madureira tinha, em seu bastidor, importância laboratorial. Da análise de seus resultados, avançaríamos sempre mais 9 firmes na promoção do contato progressivamente mais irrestrito entre a boa música e todos os públicos, priorizando, naturalmente, os segmentos de mais tímido acesso em face dos distanciamentos etários ou socioeconômicos ou, ainda, geográficos, isolados ou combinados entre si. E, finda a apresen- tação, mais que todo o farto material recolhido, acenávamos para os inter- locutores que se autoindagavam reticentes: ... mas... Quarteto em Cy, em Madureira??? Estava consumado. As meninas subiram ao tablado para uma plateia que não chegava a duas dezenas de pessoas, destacando-se – lembrança pito- resca – um adolescente com uniforme escolar cujo par de olhos arregalados se dividia entre um copo e a mordida seguinte no enorme sanduíche. Lembro-me, ainda, que, antes de chamar as meninas ao – digamos – palco (honra que me coube), recitei um soneto de Vinicius de Moraes ao final do quê, eu mesmo tive que solicitar os aplausos. Inimaginável. Pois, nesta atmosfera em que paredes, teto e piso nos recomendavam desistir, o Quarteto em Cy começa a cantar. Seu canto, expressões faciais, trejeitos coreográficos, seus semblantes me davam a certeza de que elas se apresentavam para um Maracanãzinho lotado. Foi o tempo de viajarem duas canções. A metade da praça estava cheia. E bem antes da metade do show, perto de 1,5 mil pessoas vindas da meia dúzia de largos corredores que levavam ao local se comprimiam, pequenos balanços apertados, olhos arregalados, bocas relaxadas e a lindíssima maquiagem da perplexidade. E vamos deixar bem claro – era a festa da forma de execução (para alegria de meu velho peito bossa-novista). Ali estava o puro exercício do músico cantor e instrumental, a arte das harmonias e arranjos, essencialmente. Tais aspectos ganhavam relevo porque desconhecedor daquele sofisticado repertório do em Cy – tão popular entre outros setores das classes médias – o público, de maneira muito natural, substituía o prazer participativo do cantar junto para navegar os raros mares da relação contemplativa da execução musical. Encerrado o concerto, quatro ou cinco rodadas de bis foram o preço do alvará de soltura das meninas, que, retirando-se, com muita dificuldade, 10 deram a vez do canto ao povo, que entoava um modismo, então, recente: Parou por quê? por que parou? O livro que daqui a pouquinho começaremos a ler e, certamente, em seguida, comentaremos e recomendaremos, traça o itinerário e assinala todas as baldeações dessa trajetória mágica de quem, como nós, tem a convicção de que o artista tem que ir onde o povo está. Este livro, que monumentaliza com delicadeza e precisão cirúrgicas o Quarteto em Cy multifacetado, como é, ilumina aos nossos olhos, esse conjunto harmonioso que une brilho estético, calor social e solidariedade pessoal, ajudando-nos a entender a lógica das relações entre o músico e seu repertório e a receita em Cy que ilustra sua gilbertiana busca de perfeição artística, a permanente mobilização em torno de causas e corajoso engajamento de frequentes intérpretes de Chico Buarque, carimbos vocais de Plataforma, de João Bosco e Aldir Blanc, e Samba do Crioulo Doido, de Stanislaw Ponte Preta, além, é claro, da sedutora lírica de Vinicius de Moraes, nas parcerias várias.