Projecto de Requalificação Urbana dos Bairros de Génese Ilegal das Galinheiras e dos Fetais

Dentro do tema das Novas Centralidades

Joel Junqueira Antunes

Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em ARQUITECTURA

Júri

Presidente: Prof. Pedro Filipe Pinheiro de Serpa Brandão

Orientador: Prof. Nuno José Ribeiro Lourenço Fonseca

Vogal: Prof. Ana Isabel Loupa Ramos

OUTUBRO 2011 RESUMO

Actualmente, o tema das reconversões urbanas sobre bairros clandestinos tem sido objecto de constantes discussões, reveladas pelas preocupações constantes, por parte dos Municípios e urbanistas, na definição e busca de soluções que ofereçam resposta às necessidades da população e pontos fracos do bairro, numa procura de encontrar uma ligação eficaz com o meio urbano a que pertencem.

Ao longo da primeira fase da disciplina de Projecto Final, na elaboração de um Plano Estratégico a propor para a Alta de Lisboa, foi possível de visualizar uma extensa área ocupada por construções de carácter clandestinas, nas proximidades da cidade de Lisboa, e que até à data não foram objecto de qualquer plano urbano público e requalificador. Esta situação preocupante, foi o assunto com que me debati ao longo da última fase da disciplina e sobre o qual o presente relatório procura salientar, apresentando as diversas análises realizadas e a proposta de plano para as áreas mais especificas dos Bairros das Galinheiras e dos Fetais, pertencentes respectivamente aos municípios de Lisboa e .

Embora se verifiquem intenções por parte dos municípios nas suas reconversões e requalificações, as características que estes bairros exibem, como as suas confusas estruturas urbanas e morfologia do terreno, conduzem a uma maior dificuldade por parte do projectista em encontrar soluções. Esta situação representa um grande desafio urbano e sobre o qual procurei implementar um plano, dentro do tema das Novas Centralidades urbanas, na procura de gerar os seus pólos dinâmicos.

Palavras-Chave: Bairros Clandestinos | Requalificação | Galinheiras e Fetais | Novas Centralidades.

ABSTRACT

Nowadays, the urban reconversion of the clandestine neighborhoods has been a target of discussions, which reveals the increasing concerns of the Municipalities and Town Planners in finding solutions which can solve their weaknesses and needs of their population, looking for better connections with the urban area that they should belong.

In the first part of the discipline of Final Project, on the elaboration of a strategic plan for the “Alta de Lisboa” area, it was possible to find a lot of areas called clandestine, right next to City, and which weren’t a subject of an urban plan which could solve their many needs. This worrying, was the topic that I chosen to discuss along the last part of the discipline, in which this work seeks to highlight, presenting all the analysis made and a plan proposal for the Galinheiras and Fetais neighborhoods which belongs to Lisbon and Loures respectively.

Although, we can see that there is a concern, by their municipalities, in their urban reconversion and requalification, but the features like their confusing urban structures and the morphology of the terrain, makes it difficult to the urban planners to find any solutions. This situation represented a great urban challenge in which I looked to find a solution inside the New Urban Centralities topic and to highlight their importance to this neighborhoods and surroundings.

Keywords: Clandestine Neighborhoods | Urban Requalification | Galinheiras e Fetais | New Urban Centralities.

AGRADECIMENTOS

Aos meus pais, pelo esforço prestado ao longo do meu percurso escolar e académico.

À minha irmã Marilyne, pela constante presença na minha vida.

Aos meus tios, Margarida e Luis, que nunca me deixaram desistir deste sonho.

Aos professores Carlos Cruz e Frederico Moncada, pela constante ajuda prestada ao longo do ultimo ano. E à generalidade dos docentes do curso de Arquitectura do IST, pelo papel que tiveram no meu crescimento académico.

Ao meu orientador Nuno Lourenço, pela disponibilidade prestada.

À generalidade dos meus colegas de curso e em especial, ao Carlos Silvério, Pedro Lages, João da Silva, Diogo Pires e Zara Ferreira pelo companheirismo e amizade prestados ao longo do meu percurso académico.

A todos os meus amigos e colegas que passaram pela minha vida.

A todos eles, o mais sincero obrigado.

INDICE 0| INTRODUÇÃO…………………………………………………….……………………………………………………………9 0.1| OBJECTIVOS E OBJECTO DE ESTUDO |……………………………………..……………………………..…………………10 0.2| JUSTIFICAÇÃO DO TEMA E MOTIVAÇÕES DO AUTOR |…………………………….………………………….……….…...10

0.3| METODOLOGIA E ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO |…………………………….………………………..…………..11 1| ANÁLISE TEÓRICA |………………………………………………………………………………………...………………13

1.1| O FENÓMENO DA CONSTRUÇÃO CLANDESTINA |…………………………………………………………………14

1.1.1| A origem do fenómeno |……………………………………………………………..………………14

1.1.2| Evolução do fenómeno |…………………………………………………………….………………16

1.1.3| Tipologias |…………..……………………………………………………………….……………18

1.1.4| Processos e legislações |…………..………………………………………………….……………19

1.1.5| Bairros clandestinos na AML |……....………………………………………………….……………20

1.1.6| O ESTADO DA ARTE |……....……………….………………………………………….…………21

1.2| AS NOVAS CENTRALIDADES |……………………………………………..………………………………………26

1.2.1| AS NOVAS CENTRALIDADES | Caso de estudo…...…………………...…………………....………28 2| PROJECTO: ANÁLISE |……………….…………………………………………………………………….………………31

2.1| ÁREA ESTRATÉGICA |………………………………………….……………………………………………….…33

2.1.1| Diagnóstico Biofísico |…...…………………...... …………………..……………34

2.1.2| Mobilidade e usos |…...…………………...... …………………..……………35

2.1.3| Planos existentes |…...……………………...... …………………..….…….…37

2.2| ÁREA DE VIZINHANÇA E BAIRROS|…………………………….………………………………………….………39

2.2.1| Evolução urbana |…...………………….…...... ………………………..………40

2.2.2| Planos municipais e propostas para o local |…...………………….…...... ……………..…..………43

2.2.3| Análise Biofísica |…...…………………………………………...…...... …………….…..………46

2.2.4| Estrutura Edificada |…...…………………………………………...…...... …….………..………48

2.2.5| Acessibilidade |…...…………………………………………...…...... …….………..………...…50

2.2.6| Espaço Público e Equipamentos Urbanos |…...……………………...... …….………..………...…53 3| PROJECTO |……………….………………………………………………………………………………….………………57

3.1| PLANO ESTRATÉGICO|…………………………………...…….………………………………………….………58

3.2| PLANO DE VIZINHANÇA|…………………….…………...…….………………………………………….………60

3.3| PLANO DE BAIRROS|…………………….…………...…….…………….……………………………….………62

3.3.1| Novo Eixo Viário |…...……………………………………………...... …….………..………...…63

3.3.2| Parque Urbano |…...……………………………………………...... …….………..………...…65

3.3.3| O PLANO |…...……………………………………………...... …….………..………...... …66

3.3.3.1| Fetais |…...…….……………….…………...... …….………..………...…70

3.3.3.2| Parque Urbano |…...…….…………………...... …….………..………...…73

3.3.3.3| Galinheiras |…...…………..………………...... …….………..………...…75 | CONSIDERAÇÕES FINAIS |……………….……………………………………………………………….………………..81 | BIBLIOGRAFIA |……………………….…….……………………………………………………………….………………..83 | ÍNDICE DE ANEXOS |……………………………….…….………………….…………….....…………….………………..85

ÍNDICE DE FIGURAS

1 | ANÁLISE TEÓRICA Fig. 1.01 – Pacotes residências na Calçada do Carriche – Fonte: (Soares, 1984)………………………………………..…………….15 Fig. 1.02 – Aparecimento de um bairro clandestino sobre um monte rústico – Fonte: (Freitas, 1961)……………………..………...15 Fig. 1.03 – Vale de – Fonte. (Freitas, 1961)……………………………………………………………..………………………...16 Fig. 1.04 – Loteamento clandestino– Fonte. (Soares, 1984)………………………………………………………………….……...…....17 Fig. 1.05 – Bairro sem loteamento inicial– Fonte. (Soares, 1984)………………………………..………………………….…………....17 Fig. 1.06 – Processo de um Loteamento clandestino– Fonte. (Soares, 1984)…………………………………………….…….……....17 Fig. 1.07 – Bairro de lata – Fonte. Autor………………………………………………………………..……………………..…..………....19 Fig. 1.08 – Exemplo de uma Vila nas Galinheiras – Fonte. Google maps……………………………..…………………...…..…….....19 Fig. 1.09 – Gráfico do efeito do planeamento urbano nos preços dos terrenos – Fonte. (Salgueiro, 1977)……………..……….....19 Fig. 1.10 – Mapa de localização das AUGI’s na AML e linha de cintura ao redor de Lisboa.– Fonte. (Projecto de Investigação “Reconversão e reinserção urbana de bairros de génese ilegal” 2010)………………………...…..….....21 Fig. 1.11 – Bairros que constituem a Vertente Sul – Fonte. (Google maps, Autor)………..…………………………………..…….....22

Fig.1.12 – Planta de intervenção geral –Fonte. (Câmara Municipal de Odivelas)…………………………………………………….…….23 Fig. 1.13 – Planta de 1988 – Zonas demolidas e localização dos novos bairros – Fonte. (Instituto Geográfico do Exército)…...... 24 Fig. 1.14 – PER – Fonte. (Google maps)…………………………………………..…………………………….…………....24 Fig. 1.15 – Rés-do-chão preenchido com muros de alvenaria – Fonte. (Rodrigues, 2007)……………………………….……...... 25 Fig. 1.16 – Rua 6B – Bairro das Galinheiras (Prolongamento da Azinhaga das Galinheiras) – Fonte. (Google maps)..……...... 25 Fig. 1.17 – Localização da cidade de Agualva-Cacém – Fonte. (RISCO)…………………………………..………..…….…...... 28 Fig. 1.18 – Imagens anteriores e posteriores à intervenção. A meio, esquema dos novos eixos estruturantes e zonas mais afectadas pelo plano – Fonte. (RISCO)…………………………………………………………………………………..….…..…….….....29 Fig. 1.19 – Zona de cruzamento de vias – Fonte. (RISCO)……………………………………………..…….…………………….….....29 Fig. 1.20 – Parque junto à ribeira das Jardas – Fonte. (RISCO)……………………………………….………………...…..…….….....29 2 | PROJECTO: ANÁLISE Fig. 2.01 – Localização das 3 áreas de estudo ……………………..……………………………………….………………...…….….....32 Fig. 2.02 – Divisão por municípios …………………………..……………………………………………….………………….…….….....33 Fig. 2.03 – Planta de verdes …………………………….……………………………………………….………………….……...….….....35 Fig. 2.04 – Rede viária ………………………………….……………………………………………….………………….………….…...... 36 Fig. 2.05 – Estrutura viária ………………………………….……………………………………………….………………….………….....36 Fig. 2.06 – Plano de Urbanização da Alta do Lumiar Fonte. (http://c10.quickcachr.fotos.sapo.pt/i/N3505ee55/7731831_cq8S5.jpeg)...... 37 Fig. 2.07 – Eixo Central e Parque Oeste Fonte. (http://farm3.static.flickr.com/2780/4385443067_abdfeed1de_o.jpg )……………………………….………………….………...…...... 37 Fig. 2.08 – Planta de áreas propostas pela disciplina ……………………………………………………….……………….………...... 39 Fig. 2.09 – Castelo na Quinta do reguengo Fonte. (Google maps)…………………………………………….……………….……...... 40 Fig. 2.10 – Planta de 1911 da área das Galinheiras Fonte. (Arquivo Municipal de Lisboa)………………….……………….…...... 41 Fig. 2.11 – Fotografia aérea de 1988 Fonte. (Instituto Geográfico do Exército)………………………………………………….…...... 41 Fig. 2.12 – Fotografia aérea de 2001 Fonte. (Google maps)………………………………………………………………….………...... 42 Fig. 2.13 – Fotografia aérea actual Fonte. (Google maps)………………………………………………………………….……...... 42 Fig. 2.14 – Planta de Qualificação geral (PDM’s)…………………………………………………………………………….……...... 43 Fig. 2.15 – Proposta de plano do LUDA para o bairro das Galinheiras Fonte. (LUDA project)……………………….……...... 44 Fig. 2.16 – Bairros que conformam os Fetais………………………………………………………..……………………….……...... 45 Fig. 2.17 – Planta de cotas…………………..………………………………………………………….…..……………………….…….....46 Fig. 2.18 – Maqueta de estudo do terreno……………………………………………………………...……………………….………...... 46 Fig. 2.19 – Via de grande inclinação (Rua do Olival) Fonte. (Autor) ………………………………….…………………..…………...... 47 Fig. 2.20 – Vale entre bairros bastante irregular Fonte. (Autor) …………………………..……………..………………..…………...... 47 Fig. 2.21 – Planta de verdes …………………………..……………………………………………………….……………...…………...... 47 Fig. 2.22 – Fotografia aérea de 1988 Fonte. (Instituto Geográfico do Exército)………………………………………………….…...... 48 Fig. 2.23 – Dependência dos aglomerados a eixos contínuos antigos …………………………..……………….……...…………...... 48 Fig. 2.24 – Planta da estrutura edificada………………………….. …………………………..…………….….……...………….…….....49 Fig. 2.25 – Estrutura viária dos bairros e vizinhança..……….. …………………………..……………….……...……………...…….....51 Fig. 2.26 – Hierarquia viária aparente..……….. …………………………..……………….……...……….……...……...... 52 Fig. 2.27 – Fetais Fonte. (autor)…………..……………….……...……...... 52 Fig. 2.28 – Galinheiras centro Fonte. (Google maps)…………..……………….…...... …...……...... 52 Fig. 2.29 – Largo das Galinheiras. Fonte. (http://mw2.google.com/mw-panoramio/photos/small/22693024.jpg)...... 53 Fig. 2.30 – Centro Social Paroquial da Fonte. (Google maps)…………..……………….……...……...... 53 3 | PROJECTO | Fig. 3.01 – Plano estratégico..……….. …………………………..……………….……...……………...……...... 58 Fig. 3.02 – Nova linha de metro proposta..……….. …………………………..……………….…………...……...... 59 Fig. 3.03 e 3.04 – Braço de parque e nova linha de metro junto aos aglomerados residenciais existentes...……………...... 59 Fig. 3.05 – Plano de vizinhança..……….. …………………………..……………….…………...……...... 61 Fig. 3.06 – Diagrama de intenções para o projecto………………………..……………….…………...……...... 62 Fig. 3.07 – Influência do novo eixo na estruturação dos bairros..………..……………….…………...……...... 64 Fig. 3.08 – Influência do parque urbano sobre os bairros..………..……………….…………...……...... 64 Fig. 3.09 – Proposta de plano de requalificação dos bairros..…… ………….………………..……...……...... 66 Fig. 3.10 – Maqueta de intervenção sobre os bairros..…… ………….………………..……...……...... 68 Fig. 3.11 – Prédio na azinhaga do reguengo Fonte. (http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=1370313)...... 68 Fig. 3.12 – Localização dos equipamentos no plano proposto ………….………………..……...……...... 69 Fig. 3.13 – Plano para os Fetais ………….………………..……...……...... 71 Fig. 3.14 – Relação da praça com o parque ………….………………..……...……...... 72 Fig. 3.15 – Praça e elementos que a envolvem ………….………….……...... 72 Fig. 3.16 – Corte longitudinal no novo eixo (vista para a praça) ………….………….……...... 72 Fig. 3.17 – Imagens ilustrativas do que se pretende para o parque Fonte. (Google image)...... 73 Fig. 3.18 – Funcionalidades no parque...... 74 Fig. 3.19 – Relação do parque com os bairros...... 75 Fig. 3.20 – Esquema para as hortas...... 75 Fig. 3.21 – Corte longitudinal sobre o novo viaduto...... 75 Fig. 3.22 – Rampa do mercado Fonte. (http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=1370313)...... 75 Fig. 3.23 – Azinhaga das Galinheiras Fonte. (http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=1370313)...... 75 Fig. 3.24 – Relação do bairro das Galinheiras com o parque…...... 76 Fig. 3.25 – Actual Largo das Galinheiras Fonte. (Google maps)...... 77 Fig. 3.26 –. Nova Praça...... 77 Fig. 3.27 – Corte longitudinal sobre a Avenida …...... 77 Fig. 3.28 – Corte transversal à Avenida.. …...... 77 Fig. 3.29 – Plano central das Galinheiras …...... 78 Fig. 3.30 – Corte transversal 1 …...... 79 Fig. 3.31 – Corte transversal 2 …...... 79 | ANEXOS | Fig.I.01 – Demolições Fonte. (RISCO) …………………………..…...... …………..……………...…..…………...... I Fig.I.02 – Plano Fonte. (RISCO) ………………...... …………..……………..……………….....…………...... I Fig.I.03 – Antes da intervenção Fonte. (RISCO) ………………...... …………..……………..……………….....…………...... I Fig.I.04 – Ribeira das Jardas antes da intervenção Fonte. (RISCO) …………………………...... ……………….....…………...... I Fig.I.05 – Rua Dona Maria II Fonte. (http://1.bp.blogspot.com/-TAHsI_QZKv0/TWm6OhG_UQI/AAAAAAAAAJ8/GNzFUhm-qt8/s1600/7890497_gouhz.jpeg)...... I Fig.I.06 – Ribeira apos plano Fonte. (RISCO) …………………………..……………..…...... …………….....…………...... I Fig. II.01 – A área no século XIX – Fonte. (Biblioteca Nacional de )……………………………………………...... …….…....II Fig. II.02 – Evolução urbana de 1911, 1950, 1988 à actualidade – Fonte. (Grupo E)……………………………….……...…….….....II Fig. II.03 – Calçada do Carriche – Fonte. (http://restosdecoleccao.blogspot.com/2010/07/calcada-de-carriche.html)...... ….……....…….….....II Fig. II.04 – Aeroporto da Portela – Fonte. (http://restosdecoleccao.blogspot.com/2010/06/aeroporto-de-lisboa.html)……………………………………...... II Fig.III.01 – Localização dos equipamentos existentes ...... …………………………..……………..………..…………...... III Fig.V.01 – Centros e bairros na area estratégica ...... …………………………..……………..………..…………...... V Fig.VI.01 – Galinheiras Fonte. (Google maps) …………………………..……...... ………..…………….……...... VI Fig.VI.02 – Fetais Fonte. (Google maps) …………………………..…………...... …..…………….....…...... VI Fig.VII.01 – Junto ao largo Fonte. (http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=1370313)...... VII Fig.VII.02 – Azinhaga dos cucos Fonte. (autor) ………………...... ………..……………..…………….....…...... VII Fig.VII.03 –Rua das raparigas Fonte. (http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=1370313) ...... …..VII Fig.VII.04 – Estrada da Povoa Fonte. (http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=1370313)...... VII Fig.VII.05 – Rampa do mercado Fonte. (http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=1370313) …………………...... VII Fig.VII.06 – Azinhaga do reguengo Fonte. (autor) …………………...... ……..……………..…………….....…...... VII Fig.VII.07 – Rua do Olival Fonte. (autor) ………………………..……………..……………...... …...... VII Fig.VII.08 – Bairro visto do vale Fonte. (autor) ………………………..…...... …………..…………….....…...... VII Fig.VII.09 – Escola EB1 Fetais Fonte. (autor) ...... ………………………..……………..…………….....…...... VII Fig.VII.10 – Rua do Olival Fonte. (autor) …...... ……………………..……………..…………….....…...... VII Fig.VII.11 – Vale Fonte. (autor) ………………………..……………...... …………….....…...... VII Fig.VII.12 – Passagem sob o Eixo N/S Fonte. (autor) ………………………..……………..……………...... …...... VII Fig.VII.13 – Vista do lado Poente (Vale de Loures) Fonte. (autor) ………………………..……………..………...... …….....…...... VII Fig.VII.14 – Vista do lado Nascente (Rio Tejo) Fonte. (autor) ………………………..……………..……………...... …...... VII Fig.VIII.01 – Influência do novo eixo …………………...... ……..……………..……………...... …...... VIII Fig.VIII.02 – Influência do parque urbano...... ………………………..……………..……………...... …...... VIII Fig.IX.01 – Mapa de demolições...... ………………………..……………..……………...... …...... IX Fig.X.01 a 04 – Fotos da maqueta...... ………………………..……………..……………...... …...... X Fig.X.05 – Corte longitudinal sobre a avenida, vista para Nascente. Relação dos novos edificios com existente...... …...... X Fig.X.06 – Corte longitudinal sobre a avenida, vista para Nascente. Vista sobre a praça...... …...... X

LISTA DE ABREVIATURAS

AML Área Metropolitana de Lisboa

PALOP Países Africanos de Lingua Oficial Portuguesa

AUGI Áreas Urbanas de Génese Ilegal

PER Programa Especial de Realojamento

CRIL Cintura Regional Interna de Lisboa

Eixo N/S Eixo Norte/Sul

PROPOSTA DE REQUALIFICAÇÃO URBANA DOS BAIRROS DAS GALINHEIRAS E DOS FETAIS

0| INTRODUCÃO

0| INTRODUÇÃO |9

PROPOSTA DE REQUALIFICAÇÃO URBANA DOS BAIRROS DAS GALINHEIRAS E DOS FETAIS

0.1| OBJECTIVOS E OBJECTO DE ESTUDO |

O presente relatório tem como objectivo a apresentação das diferentes análises realizadas dentro das áreas de intervenção e da exposição dos pressupostos e estratégias elegidas para a proposta de plano sobre uma falha num meio urbano, e que foi alvo de aprofundamento ao longo da disciplina de Projecto Final em Arquitectura, no ano lectivo de 2010/2011, dentro do curso de Mestrado Integrado em Arquitectura.

As propostas de plano compreendidas, inserem-se dentro da “Alta de Lisboa”, na periferia da Capital com os concelhos imediatamente a Norte, Loures e Odivelas, e bastante fechada e limitada por um conjunto de eixos viários estruturantes contínuos. Estes eixos de relevante importância para a distribuição e escoamento de trânsito da cidade, são eles a 2ª Circular, a CRIL (Circular Regional Interna de Lisboa) e a Calçada do Carriche, cujo principal destaque visual e funcional, dentro desta área estratégica para primeira intervenção, é o facto de abranger o actual Aeroporto da Portela. Numa primeira fase da disciplina, as análises e propostas de plano centraram-se na premissa da possível “saída” do Aeroporto para outra localização fora da cidade, deixando ali um extenso vazio de potencialidades múltiplas de intervenção, cabendo ao grupo definir novos usos e ligações com os espaços urbanos adjacentes. Este plano estratégico envolveu uma área extensa de intervenção, finalizada e apresentada à escala 1:5000, definindo os traços gerais e com possíveis pormenorizações a 1:2000 ou 1:1000, esclarecendo como estes traços afectam os núcleos existentes ou os novos pólos urbanos.

Na segunda fase da disciplina, decorrida ao longo do 2º semestre, o trabalho individual partiu da selecção de uma área mais específica de intervenção, com o intuito de criar um projecto à escala de um Plano de Pormenor, cuja escolha recaiu sobre as áreas dos Bairros das Galinheiras e dos Fetais (Municipios de Lisboa e Loures respectivamente). A área assinalada, insere-se dentro de um conjunto de bairros de Génese Ilegal verificados no canto Noroeste da área geral e que nunca foram objecto de qualquer plano público. Nesta zona foram reflectidas as opções tomadas em grupo na primeira parte do trabalho para aqueles núcleos, com alterações resultantes de um estudo mais detalhado e da escolha na manutenção do Aeroporto no mesmo local. Temas como a morfologia urbana, espaço público e acessibilidades foram objectos de maior detalhe mas o circunstância inicial de estes espaços apresentarem características próprias e algumas radicais, de espaços de construção clandestina e de evolução repentina, levaram-me a efectuar um estudo sobre os seus fenómenos e causas de aparecimento, tipologias, e modelos de intervenções realizadas no país sobre situações semelhantes. Para complementar o estudo anterior e servindo de apoio a uma futura proposta de plano, é apresentado o tema das Novas Centralidades, assunto que tem sido discutido como solução de intervenção para os espaços periféricos urbanos sem identidade, ao qual procurei a sua implementação para os Bairros Clandestinos.

0.2| JUSTIFICAÇÃO DO TEMA E MOTIVAÇÕES DO AUTOR |

Como referido, a área de trabalho individual e sobre o qual o presente trabalho se agrupa, faz-se sobre os bairros das Galinheiras e dos Fetais, apresentando elevadas falhas tanto na sua morfologia, estrutura, espaço público e inexistência de serviços essenciais para a população, que conduziram à sua contínua segregação e isolamento do resto da cidade. Estas falhas verificadas numa fase inicial, geraram especial atenção e preocupação, pela urgência de intervenção a que estes espaços deveriam ser sujeitos, embora sejam alvos para possíveis intervenções por parte dos municípios respectivos, mas que por dificuldades físicas e políticas, estes têm sido constantemente adiados. Por estas razões concentrei-me sobre estas áreas bastante diferenciadas de determinadas áreas da sua vizinhança, procurando um modelo de intervenção sobre espaços existentes, densos e de características rústicas, o contrário do que se visualiza nas suas proximidades como na Alta do Lumiar ou Ameixoeira com grandes blocos habitacionais contemporâneos.

Como o plano se foca sobre dois bairros vizinhos mas bastante isolados, procurei realizar uma análise conjunta de forma a permitir uma maior união e abertura, e procurando suavizar a maior ameaça comum, da morfologia irregular do terreno base. A solução geral futura iria partir da criação ou reformulação de centros em cada bairro, e sobre o qual o trabalho se focou em apresentar, propondo um plano conjunto de forma a criar dependências. Um plano que se revelou desafiante, ganhando maior respeito e sensibilidade sobre estas áreas ilegais clandestinas e adquirindo um novo ponto de vista sobre a situação que se verifica especialmente dentro da AML.

0| INTRODUÇÃO |10

PROPOSTA DE REQUALIFICAÇÃO URBANA DOS BAIRROS DAS GALINHEIRAS E DOS FETAIS

0.3| METODOLOGIA E ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO |

A organização do presente trabalho procura apresentar a metodologia seguida ao longo da elaboração do projecto:

1| Análise Teórica | Esta fase do trabalho encontra-se subdividida em duas análises distintas, sobre os fenómenos da Construção Clandestina e das Novas Centralidades.

1.1| Construção Clandestina | Este tema foi alvo de maior aprofundamento e de constantes análises ao longo da elaboração do projecto. Neste subcapítulo são expostos os fenómenos que deram início ao aparecimento, especialmente dentro da AML, deste tipo de construção e loteamentos, e das consequências e tipologias verificadas e estudadas por outros autores, na procura de condensar os seus pontos mais marcantes, gerando pontos de partida e maiores conhecimentos para uma intervenção sobre estes espaços. Dentro desta temática foi realizado um estudo sobre o estado da arte, dos tipos de intervenções realizados sobre estes espaços, analisando casos de estudo.

1.2| Novas Centralidades | Neste subcapítulo foi realizado um estudo de entendimento de conceitos ligados a esta temática recorrente sobre espaços degradados e longe dos principais centros das cidades. Foca-se essencialmente numa análise do texto de Jodi Borja, “Fazer Cidade na Cidade Actual. Centros e Espaços Públicos como Oportunidades”, expondo resumidamente as características que estes novos centros deverão apresentar e de que modos se poderão criar estes espaços de identidade, conseguindo retirar pistas futuras para proposta de plano sobre os bairros em estudo. Para complementar foi analisado sintetizadamente um caso de estudo sobre uma criação de uma centralidade sobre um espaço degradado.

2| PROJECTO: Análise | Neste capítulo são apresentados, de um modo organizado, as diferentes análises realizadas sobre as áreas de plano estratégico e global, e área de bairros.

2.1 | Área estratégica | São apresentadas as observações realizadas no 1º semestre essenciais de expor, de forma a criar uma imagem das características físicas e estruturais do local e meio que envolve os bairros detalhados.

2.2 | Área de vizinhança e bairros | Neste subcapítulo são expostas as observações sobre estas duas áreas em conjunto, de forma a tornar a análise mais simples e explicativa, utilizando a superfície mais conveniente para cada tema. Estas áreas trabalhadas no 2º semestre, resultam de um aumento de escala progressivo, em que a vizinhanca engloba os bairros vizinhos, e a área de bairros apenas estuda as Galinheiras e Fetais. Nesta fase apresentam-se, de um modo mais detalhado, as várias análises realizadas ao longo do projecto, procurando criar uma matriz final das carências e potencialidades existentes em cada local. Estas análises distribuem-se pela:

| Evolução urbana | Planos Municipais e estudos no local | Análise Biofísica | Estrutura Edificada | Acessibilidade | Espaço Público e Equipamentos Urbanos |

3| PROJECTO | Neste capítulo são apresentadas as soluções propostas para as diferentes áreas de envolvência.

3.1 | Plano estratégico | É apresentado o plano proposto pelo grupo na primeira fase da disciplina de Projecto Final em Arquitectura, exibindo os pontos essenciais da proposta.

3.2 | Plano de vizinhança | Apresentação de um plano que não foi alvo de entrega para a disciplina, mas um plano inicial que procura criar as bases, de ligação com os bairros vizinhos e questionar as opções tomadas no plano anterior.

3.3 | Plano de bairros | Este subcapítulo apresenta o projecto que funcionou como base para o presente trabalho, apresentando desenhos realizados, esquemas explicativos e as soluções adoptadas. Parte de uma exposição das premissas estruturadoras gerais do projecto, para uma apresentação da solução comum dos núcleos e daí mais pormenorizada de cada bairro. Esta apresentação procura não ser exaustiva, expondo apenas os seus traços mais característicos, auxiliados por imagens explicativas por desenho ou através da maqueta realizada.

0| INTRODUÇÃO |11

PROPOSTA DE REQUALIFICAÇÃO URBANA DOS BAIRROS DAS GALINHEIRAS E DOS FETAIS

0| INTRODUÇÃO |12

PROPOSTA DE REQUALIFICAÇÃO URBANA DOS BAIRROS DAS GALINHEIRAS E DOS FETAIS

1| ANÁLISE TEÓRICA |

Neste capítulo procuro complementar o estudo urbano realizado sobre as áreas planeadas, com uma análise mais teórica e resumida sobre os principais temas debatidos ao longo do semestre e essenciais ao projecto, apresentando opiniões próprias e de outros autores, retirados de textos em que se debatem estas mesmas temáticas.

1 | ANÁLISE TEÓRICA|13 PROPOSTA DE REQUALIFICAÇÃO URBANA DOS BAIRROS DAS GALINHEIRAS E DOS FETAIS

1.1| O FENÓMENO DA CONSTRUÇÃO CLANDESTINA |

1.1.1| A origem do fenómeno |

A cidade de Lisboa dos inícios do século XIX, encontrava-se ainda fortemente definida dentro dos seus limites morfológicos, bastante dependente do seu centro histórico e dinamizador. O êxodo rural que se foi sentindo nos fins desse século, aliada à crescente oferta de emprego deu origem, nas principais cidades do Pais e essencialmente na capital, a que se verificasse uma evolução significativa da população urbana que obrigou à extensão e quebra dos seus limites construídos. A cidade crescia, figuravam grandes planos urbanísticos de iniciativa pública que concebiam o território urbano para Norte, na procura de um domínio e controle sobre a sua transformação de que a cidade era alvo. Caso do plano das Avenidas Novas de Ressano Garcia, e na extensão de novas artérias estruturantes, avenidas Almirante Reis e da República, que serviam de apoio para a consolidação do espaço urbano para Norte, aproveitando os terrenos até a data agrícolas e propícios a nova construção. Mas em parte “As expansões são produto de novos interesses e conceitos sobre a cidade” (Soares, 1984: p.20) à qual a burguesia portuguesa em ascensão económica e política soube aproveitar, essencialmente dentro do século XX. Segundo SOARES (1984: 20), esta burguesia portuguesa encontrava-se ligada aos sectores fundiários, colonial e comercial, atribuindo pouco valor aos investimentos nos sectores produtivos, industrial ou mesmo agrários, factos que vão limitar e repercutir-se nas políticas urbanas deste século. Políticas essas que vão privilegiar os potenciais negócios centrados no sector terciário e imobiliários em crescente ascensão no controlo do mercado habitacional.

Este avanço dos limites urbanos, culminou em novas estruturas e malhas que em pouco se associam à morfologia e dinâmicas vividas no centro original. Começam a ganhar identidade, necessidade e estendem-se para fora dos limites municipais da capital, começando a perder credibilidade, os quais passaram a ser designados de subúrbios da cidade, um conceito que associa inferioridade em relação ao centro e sobre os quais foi dada pouca importância.

Esta expansão urbana teve o contributo especial dos meios de transportes que se estendiam já sobre grandes percursos, muito pela sua contínua e progressiva evolução tecnológica. O transporte colectivo ganhava expressão e força na procura de mobilidade a vários pontos da cidade, tanto de emprego como de lazer, minimizando as distâncias percorridas. Os eléctricos e os caminhos-de-ferro foram os pioneiros, muito pelo maior domínio das suas técnicas. O primeiro permitiu o crescimento “linear” ainda dentro da cidade, enquanto o segundo funcionou como importante elemento de auxílio à explosão demográfica da periferia, gerando aglomerados concentrados junto das respectivas estações (caso das linhas de Sintra e do Norte). Mais tarde com o maior domínio do transporte rodoviário colectivo, ficou favorecida o aparecimento de novos núcleos para Norte, embora as suas manchas ainda fossem concentradas, mas foi com o automóvel privado que a periferia se foi consolidando, assentando e estendendo-se, aumentando a área de envolvência. Os limites da cidade iam-se perdendo, tornando-se menos nítidos na paisagem urbana, sobre o qual o conceito de urbano já não se circunscrevia ao conceito de cidade mas sim a toda a área construída e densa que a ela se ligavam, tal como refere SILVA (1986: p.14) “a noção de urbano surge associada a uma escala muito ampla já que a cidade parece designar outra realidade, mais restritiva e localizada”.

A evolução dos meios de transporte, aliados às longas extensões das infra-estruturas de serviço, criaram os meios favoráveis ao aparecimento de novos núcleos urbanos sobre os terrenos rústicos, até a data para usos agrícolas ou florestais. As grandes imobiliárias ganharam grande destaque como elementos que guiaram à densificação fora do centro urbano. A presença de espaço vazio e de condições de construção, e o aparecimento da figura do loteador privado, favoreceu o aparecimento dos “pacotes residenciais” (Nunes da Silva, 1986: p.15), representados como novas pequenas cidades, ilhas residenciais, sobre as quais erguiam prédios de habitação colectiva de vários pisos como “cogumelos num espaço rural” (ibid: p.16), e que se iam consolidando segundo uma organização espacial que vai em conta com os princípios especulativos destas imobiliárias, tendo em vista ao melhor rendimento. Estes pacotes eram direccionados para as classes mais altas, com rendas proveitosas favorecidas pelo controlo da oferta baseadas. Estes conjuntos formavam o símbolo do progresso, do moderno, de rotura com o velho, tratando-se de uma urbanização “por saltos” (ibid: p.15) pela sua localização concentrada, isoladas e em locais estratégicos.

Quase todos eles desenvolvem-se em torno de uma “espinha dorsal tipo via rápida” (ibid.) desvalorizando uma hierarquia viária na sua estrutura, favorecendo à confusão e falta de vivências ricas no seu interior, onde o sentido clássico da rua é quase inexistente. Tornam-se verdadeiros espaços dormitórios, e onde a preocupação de colocação de equipamentos sociais ao serviço dessa população foi um factor pouco preocupante. Sabe-se que actualmente para licenças camarárias de

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loteamentos, é obrigatória a dispensa de solo para uso público, tanto para infra-estruturas como para equipamentos. Esta legislação antes dos anos 70 seria inexistente, pelo que não se verificam nestes planos, espaços centrais reservados à sua construção, sendo futuramente relegados para os seus limites, em zonas que pouco favorecem ao sucesso do seu uso pela população. Embora não ocupem grande área de implantação, as respectivas áreas de construção, pelo grande número de pisos, é bastante superior, albergando centenas de habitantes sobre os quais se vão repercutir as necessidades apresentadas.

Estas manchas urbanas, que se foram erguendo controladamente, procurando diminuir e conter os números de oferta de habitação, não ofereciam respostas para as classes médias e mais baixas que não detinham posses para as elevadas rendas fundiárias que se faziam sentir dentro dos territórios urbanos aprovados e legais. Aliada à necessidade rápida de um lugar para dormir, pela proximidade e existência dos centros de emprego da cidade, estas classes inferiores e bastante relegadas das regalias dos centros, criaram soluções próprias e bastante aproveitadas por futuros pequenos loteadores, através dos loteamentos e construções clandestinas.

Como já explicitado anteriormente, a periferia da cidade de Lisboa inicialmente seria vista como espaços baldios para usos agrícolas e para consumo da cidade, verificando-se quintas privadas espalhadas pelas extensas áreas a Norte e Poente da Capital. Aliadas às especulações imobiliárias sobre os loteamentos legais, a população mais pobre viu se na obrigação de procurar alternativas viáveis de acordo com as suas posses, instalando-se sobre estes terrenos disponíveis de uma forma que se revelou, descontrolada. E é sobre este campo que apareciam vários loteadores proveitosos, que compravam os terrenos vazios aos respectivos proprietários e iniciavam os processos de loteamentos, ultrapassando várias regras e leis urbanísticas, ganhando o termo de “loteadores clandestinos”.

Após análise e complementando com informação bibliográfica, podem-se reunir diversas causas para o seu aparecimento (1ª Jornadas Nacionais sobre Loteamentos Clandestinos, cit in, Ferreira, 1984: p.36):

 Baixos rendimentos da população portuguesa;  Escassez da oferta de habitação;  A grande especulação imobiliária e fundiária sobre os processos legais;  Crédito à habitação inacessível;  Marginalização das pequenas empresas no mercado imobiliário formal;  Abandonos das explorações agrícolas, florestais e pecuárias.  Rigidez e morosidade dos processos de loteamento e construção;  Centralização e burocratização da Administração Urbanística;  Legislações e planeamentos que privilegiavam os grandes promotores;  Hábitos das populações dando preferência à habitação isolada com quintal;  Modificações nas exigências da população na habitação procurando lugares na periferia pelo meio rural, que permite a moradia;  Forte tradição rural e peso ideológico da casa própria.

Fig. 1.01 – Pacotes residências na Calçada do Carriche Fig. 1.02 – 1961, Aparecimento de um bairro clandestino sobre um monte rústico (Carenque, Amadora)

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Surgia assim o termo “Clandestino” no urbanismo: Clandestino – (SALGUEIRO, 1977) “toda a construção edificada sem a licença camarária exigida pelo RGEU”. Clandestino (SOARES, 1984) significa, que foi “feito às ocultas, escondidas, que existe sem que se saiba ou sem a autorização das entidades competentes”. Após iniciativas locais, este termo já não seria empregado para definir estas áreas pontuais das cidades, passando a caracterizar Fig. 1.03 – Vale de Odivelas o seu conjunto: Decreto-Lei n° 804/76, Áreas de génese ilegal (1976)– “Aquelas em que se verifique acentuada percentagem de construções efectuadas sem licença legalmente exigida, incluindo as realizadas em terrenos loteados sem a competente licença” (cit in, JORGE, 2010). Lei 91/95, AUGI (1995) – “Os prédios ou conjuntos de prédios contíguos que, sem a competente licença de loteamento, quando legalmente exigida, tenham sido objecto de operações físicas de parcelamento destinadas à construção até à data da entrada em vigor do decreto-lei 400/84 de 31 Dezembro e que, nos respectivos planos municipais de ordenamento do território (PMOT), estejam classificadas como espaço urbano ou urbanizável” (cit in, JORGE, 2010). Esta última denominação, AUGI, é a que mais se utiliza para caracterizar estes territórios, pois procura englobar na sua definição, uma maior envolvência de operações efectuadas.

1.1.2| EVOLUÇÃO DO FENÓMENO |

Podem-se distinguir 3 épocas distintas dos assentamentos destas construções, sobre o espaço actualmente urbano (ARAUJO, 2011):

 Até aos anos 60, que se caracteriza pela aparição das primeiras construções sobre o terreno, sem uma estrutura urbana aparente, muito pela rápida necessidade de alojamento. Fazem parte desta, os bairros de lata e as construções que se erguiam à noite ou aos fins-de-semana, de técnicas bastante precárias, simples e que constituem perigo aos seus habitantes. Estas localizavam-se nas proximidades de Lisboa, em sobras expostas e propícias à “invasão” (Galinheiras, Prior Velho);  Anos 60 até Abril de 1974. O grande movimento demográfico que se fez sentir, aliadas às impossibilidades do governo em criar planos eficazes e rápidos ao seu controlo e alojamento, favoreceu ao desenvolvimento das actividades dos loteadores ilegais. Estes, através de processos especulativos e aliados aos incentivos do governo para o loteamento privado, aproveitam os espaços baldios e criam condições ao desenho e venda de lotes para construção. Em 1966 com a abertura da ponte sobre o Tejo (actual 25 de Abril), e pelo maior controlo e menor terreno disponível junto a Lisboa, deu-se uma explosão demográfica para os terrenos da margem Sul, mais amenos, oferecendo condições e menor controlo fiscal;  Depois de Abril de 1974. Após a revolução de Abril, verificou-se uma forte imigração de indivíduos oriundos dos PALOP, e dos retornados que fugiram para o estrangeiro. As administrações centrais e locais ainda não possuíam os meios de controlo eficazes a esta contínua vinda de população e que, pela ligação à terra destes novos habitantes, começavam a surgir as casas com quintal, abstraindo-se dos prédios volumosos existentes nos centros, favorecendo continuamente à actividade dos loteadores clandestinos. Verifica-se uma extensão da população pela periferia, consolidando zonas à data vazias, aumentando a mancha e cada vez mais distantes do centro. A partir dos anos 80 começa-se a verificar uma preocupação pelas autarquias nas infra-estruturações destes bairros, aceitando-os nas suas malhas urbanas e procurando a sua reconversão legal.

O processo do loteamento clandestino, tem inicio com a compra dos grandes terrenos expectantes aos proprietários tradicionais. Segundo FREITAS (1961: p.31), não há regras que definam onde poderia aparecer um futuro bairro qualquer que fosse a sua dimensão. As orientações geográficas, ou a morfologia dos terrenos não eram factores intimidatórios ao seu aparecimento. Era desenhada uma malha mais ou menos reticulada, ortogonal, que apenas tinha em mente os limites de propriedade, não dando valor à morfologia do terreno. As malhas desenhadas para a margem Sul, de terrenos amenos,

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seriam as mesmas para aquelas identificadas no Vale de Loures, Coroa Norte de Lisboa, caracterizada pela sua irregularidade de terreno com zonas bastante declivosas. Após o primeiro loteamento, surgem outros que a eles se justapõem, muito pela valorização que o terreno foi alvo após a consolidação do bairro. Este facto é bastante proveitoso pelos especulantes loteadores que mantinham zonas por preencher, na procura de uma futura valorização, já que, à data dos primeiros lotes, estes eram vendidos como terrenos rurais (assim identificados nos planos da região) bastante competitivos com os urbanos, eram, segundo SALGUEIRO (1977) “um mal necessário”¹.

Os seus baixos custos explicam-se, não só pelo menor valor do terreno rural, mas muito pelo não pagamento e construção das infra-estruturas de saneamento assim como dos processos de licenciamento. O seu processo efectua-se na ordem de Loteamento -> Construção -> Infra-estruturas. Isto relega para o fim um bem essencial para qualquer edifício, fazendo com que os habitantes sejam os principais prejudicados. Assim conclui-se que os loteadores e vendedores de lotes não se prejudicam, apenas evitam gastos actualmente obrigatórios aquando de um processo de urbanização legal. Inicialmente seria necessário um investimento na aquisição do terreno mas que, após as primeiras construções, os lucros eram bastante aliciantes.

O fenómeno da ilegalidade nestes bairros sucede apenas quando acontece a construção dos edifícios. Os loteadores adquirem legalmente os terrenos, após este processo, desenham a sua estrutura de acordo com os limites sem ter em atenção a morfologia do terreno. A sua implementação no local é feita através de estacas que delimitam os lotes e que depois são divididos em avos, reaproveitando-se o espaço. As suas vendas para os pequenos construtores era feita segundo métodos que não eram regulados pela administração local segundo os regimes de compropriedade². Em muitos dos casos, as famílias compram os pequenos lotes para erguerem as suas casas sob as promessas dos loteadores de que aquele seria legalizado e infra-estruturado, e que não estariam em risco de expropriação ou demolição por ordem da administração local. Inicia-se assim o processo de construção, que torna a situação ilegal, pois este processo final não fora aprovado. Erguiam-se várias tipologias de acordo com a existência ou não de fiscais municipais reguladores, ameaçando na expropriação e demolição dos edifícios. Caso curioso da pormenorização dos procedimentos realizados pelos construtores, no texto de SALGUEIRO (1977: p.38) explicando-nos que, quando existia este risco de fiscalização, os edifícios tomavam formas simples, de rápida construção, erguidos aos fins-de-semana. Erguiam-se a partir das paredes exteriores e depois as coberturas através de materiais e técnicas rápidas. Aquando da passagem dos fiscais, o construtor é multado devendo esta ser embargada, embora este não entenda dessa forma e continue o seu processo anterior, erguendo as divisões interiores, acabamentos exteriores e mobiliários. Já no caso em que esta fiscalização é mais precoce, estas construções tomam formas e técnicas mais controladas.

Fig. 1.04 – Loteamento clandestino Fig. 1.05 – Bairro sem loteamento inicial

Fig. 1.06 – Processo de loteamento clandestino

¹ “Os bairros clandestinos existiam e existem devido a um conjunto de circunstancias que os tornava um mal necessario”. ² Existe compropriedade quando 2 pessoas são simultaniamente titulares de um terreno.

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1.1.3| TIPOLOGIAS |

Conseguem-se identificar 2 tipologias de apropriação dos solos para fins de construção clandestina:

 As situações em que se verifica a compra de lotes ou avos para proceder à construção;  E as invasões sem aquisição, sobre terrenos pertencentes a outras identidades (Cova da Moura, barracas);

Inserem-se dentro deste último, os bairros de lata, verificados principalmente junto aos centros consolidados urbanos, em interstícios e espaços sobrantes portanto, em espaços privilegiados mas apresentando condições bastante precárias cujo material de construção predominante é o metal, a lata que faz de paredes e tecto. Esta situação torna claramente o espaço e proximidades em que se encontram num lugar excluído, onde o medo e a insegurança predominam, geralmente habitados por emigrantes de África ou indivíduos de etnia ciganas. Esta paisagem que desprestigia o município e a nação, colocam os seus habitantes no topo das prioridades para sua ocupação em novos conjuntos urbanos, como se têm verificado nas periferias da cidade, como é o caso dos bairros PER (Programa Especial de Realojamento) da Ameixoeira. Esta torna-se na única solução adoptada pelos projectistas urbanos pela falta de qualidades das construções.

Na primeira tipologia é possível de encontrar 2 géneros de compradores distintos:

 Aquele que procuram comprar por forma a tornar rentáveis e trazer futuros rendimentos;  Outros que apenas pretendem os lotes para construção própria.

O primeiro tipo, a “segunda camada de especuladores” (FREITAS, 1961: p.31), em muitas das situações, optam por rentabilizar ao máximo a área de lote disponível, criando condições ao albergamento do máximo de pessoas, sem aumento da área de implantação. Esta situação manifesta-se de dois modos dentro dos bairros da AML, as Vilas e os Prédios. As “vilas” (SALGUEIRO) ou “ilhas” (FREITAS), são bem visíveis no bairro das Galinheiras, onde se geminam habitações com fachadas comuns, de pequenas dimensões que usufruem do mesmo logradouro (raramente visível) pertencendo ao mesmo dono do lote. Este factor cria problemas sociais, “focos de imundice” e insalubres como refere FREITAS (1961) com uma grande impermeabilização do solo, existindo muitas divisões sem luz ou ventilação natural. Os prédios de habitação colectiva de poucos pisos, verificam-se um pouco pela maioria dos bairros, misturando-se com as moradias unifamiliares, embora existam casos de conjuntos de prédios isolados, tal como se pode verificar nas Galinheiras e nos Fetais.

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Os bairros no geral, apresentam características semelhantes, detendo as mesmas causas de aparecimento, mas apresentando, olhando mais pormenorizadamente e segundo (SALGUEIRO, 1977), tipologias distintas que as distinguem fisicamente de acordo com 4 factores:

 O tempo para construção. Esta dimensão manifesta-se nas qualidades das construções das quais deviam ser erguidas rapidamente muito por culpa dos processos de fiscalização já mencionados;  A topografia do terreno. Este factor é a principal diferença entre os bairros da margem Sul, sobre terrenos planos, e os da margem Norte, sobre terrenos acidentados. Em terrenos irregulares e declivosos, facilita-se a existência de caves, pisos semienterrados e técnicas que surpreendem por vezes o observador (Fetais);  A capacidade de investimento. As tipologias também se regem de acordo com os meios que se possui à data. Para construção de um prédio é necessário um maior investimento que para uma moradia.  Desejo de lucro. Se se tratar de construção para arrendar é necessário aproveitar o espaço existente por forma a torna-lo mais rentável.

Pode-se dizer que são estes os factores que criam a diferença e distinção de cada bairro, dando-lhes a identidade específica e própria.

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Ao nível do edificado podem-se verificar várias tipologias, nomeadamente (ARAUJO, 2011):

 Habitação própria, essencialmente moradias de 1 a 2 pisos para uso próprio, depois complementadas por anexos, garagens que podem ser do próprio ou arrendadas;  Habitação colectiva. Tipologia dominante na AML, em regimes de arrendamento aproveitando-se o solo existente e albergando o maior número de pessoas (3 a 5 pisos);  Edifícios de habitação secundária, moradias unifamiliares construídas inicialmente para segundas residências. Estas localizam-se numa zona mais afastada do centro, em zonas mais abrigadas e que futuramente foram perdendo a sua função inicial para aproveitamento dos filhos ou outros familiares;  Pequenas indústrias sem licenças para tal.

Fig. 1.07 – Bairro de lata Fig. 1.08 – Exemplo de uma Vila nas Galinheiras

1.1.4| PROCESSOS E LEGISLAÇÕES |

As entidades administrativas locais e centrais, foram demonstrando esforços por forma a impedir este fenómeno através de um conjunto de leis que se vieram a demonstrar, ineficazes ou facilmente ultrapassadas, muito por culpa de falhas ou falta de insistência dos fiscais camarários. Até à década de 80, este fenómeno era pouco valorizado, comprovado pela pouca bibliografia existente, eram zonas que cresceram “às claras” (SOARES, 1984: p.18) em frente as câmaras municipais mas que estas não conseguiram arranjar meios suficientes ao seu abrandamento. Em 1951 era conhecido o primeiro regulamento para o edificado que procurava reger e controlar as condições ao nível do edifício individual e sua localização, o RGEU (Regulamento Geral das Edificações Urbanas) passando a exigir os licenciamentos municipais. A partir desta data para qualquer tipo de construção ou transformação, era exigida a sua aprovação pela Câmara correspondente. Em 1965 aparecia a figura do loteamento urbano de iniciativa particular que, até a data seriam acções realizadas apenas pela administração. Este decreto-lei correspondente (n° 46 673, de 23 de Novembro) acabou por favorecer este fenómeno (SOARES et al, RODRIGUES et al, cit in, JORGE 2010: p.18), embora a sua intenção inicial fosse a contrária, começando a expandir-se a cidade não legal e os grandes blocos habitacionais das imobiliárias. Esta lei protegeu vários loteamentos clandestinos pelo direito à propriedade construída. Estes processos de legalização e licenças eram morosos e dispendiosos, o que, aliada a urgência de construção eram facilmente ultrapassados.

Em 1964 aparece o Plano Director da Região de Lisboa (PDRL), baseado numa pesada rede viária de vias estruturantes com vista ao descongestionamento do centro da cidade, e na criação de cidades-novas, manchas de alta densidade que seriam circunscritas por áreas verdes classificadas no plano como rurais. O que se sucedeu foi o contrário do previsto, com o congestionamento do centro, as cidades-novas não passaram do plano. Um facto verificado é a existência de bairros clandestinos nas zonas consideradas rurais pelo plano, nas zonas de “protecção de infra-estrutura paisagística”, de “elevada potencialidade agrícola” e “agro-florestal a preservar” (JORGE, 2010).

Este plano geral revelou-se um insucesso, procurando-se criar planos urbanos mais circunscritos ao centro municipal ou , facto que auxiliou à extensão destes bairros. Estes definem os usos dos solos, atribuindo maior valor ao urbano e zonas planeadas deixando zonas rurais abertas e propícias à construção clandestina. Este planeamento foi bastante circunscrito não adoptando politicas para os usos dos solos rurais, que rapidamente eram invadidos.

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Várias leis foram estabelecidas com vista a atribuir maiores meios às câmaras municipais e direitos de expropriação, mas que, logo depois à Lei dos Solos, surgia o decreto-lei n° 804/76, surgindo o regime de reconversão das “áreas de construção clandestina” que procurava criar meios à sua legalização, cabendo à Administração local decidir as viabilidades para cada caso. Surgia uma preocupação sobre estas áreas, na sua requalificação, no seu estudo, verificadas nas jornadas e encontros entre câmaras da AML realizadas, na procura de cruzar experiências e soluções e criando politicas que requalificassem estas zonas que caracterizavam-se como subúrbios degradados e mal vistos pela sociedade. Em 1982 surgia a figura do Plano Director Municipal, que enquadrava a reconversão destes bairros embora ainda sem eficácia, sendo o marco e ponto de viragem em 1995 com a Lei 91/95 de 2 de Setembro, que passou a denominar estas áreas de AUGI’s, delimitadas por cada município e que colocou novas regras que vieram a ser funcionais e aceites, acelerando processos de reconversão. Esta lei aliada aos PDM’s veio a reduzir este fenómeno da clandestinidade, este ultimo pelo aumento da área classificada urbana ou sua totalidade (caso do município de Lisboa). Os números de reconversões triplicavam embora abaixo do esperado. Estes atrasos explicam-se pelos entraves ainda existentes às aprovações dos planos e suas legalizações, devidas aos planos de gestão territorial ainda incompatíveis com estas verdades urbanas.

Fig. 1.09 – Gráfico do efeito do planeamento urbano, nos preços dos terrenos

1.1.5| BAIRROS CLANDESTINOS NA AML |

Actualmente e olhando para estes bairros a uma escala global da AML, é curiosa a cintura que estes formam ao redor da cidade de Lisboa. Não se verificam muitos bairros deste tipo dentro dos actuais limites da cidade (exceptuando-se como maior caso o das Galinheiras), existindo predominantemente nos concelhos imediatamente ao lado, nomeadamente o de Loures. Actualmente este possui o maior número de indivíduos que habitam sob estas condições, segundo estudo (antes da delimitação do concelho de Odivelas anteriormente a ele pertencente) os bairros ultrapassavam os 100 000 habitantes. Esta cintura saliente e a localização dos bairros na sua generalidade, incluindo os da margem Sul, podem ser sintetizadas em 3 factores (SALGUEIRO, 1977: p.30):

 A proximidade aos locais de trabalho. Entende-se esta teoria, que procura explicar o forte êxodo rural que Lisboa foi alvo no século XX. Grande parte trabalharia no centro da capital, daí a procura de maior proximidade, embora não a desejada devida às condições mais restritivas e mais onerosas do centro. Estendem-se ao longo de vários outros pontos de emprego pela área metropolitana, nomeadamente junto às linhas ferroviárias ou nas indústrias municipais;  Proximidade de limites de concelho. Segundo a autora, é das mais importantes e salientes razões, e que de facto constata-se ao observarmos a maior predominância destes bairros nas imediações de cada município. Em Loures a título de exemplo, estes predominam a Sul, junto ao município de Lisboa, assim como na margem Sul, entre Almada e Seixal actualmente bastante marginada. A explicação encontrada seria a do menor controlo por parte das entidades municipais naqueles locais, muito pela distância ao centro, de maior controlo e rigidez, afirmando que “nas margens, às vezes até áreas de dúvidas sobre o concelho a que pertencem” o que favorece e oferece algum conforto aos construtores clandestinos;  Preço do terreno. Terrenos livres, acessíveis e a baixos custos são obviamente factores de localização. Este facto constata-se quando verificamos bairros nas proximidades de eixos estruturantes recentemente construídos e sujeitos a futura valorização. Esta valorização não é imediata pelo afastamento ao eixo mas a sua existência nas imediações favorece ao transporte. Este factor também se pode compreender quando analisamos o gráfico do efeito do planeamento na curva de preços que distingue, em comparação, os preços sobre solo urbano e rurais aliadas à distância ao centro. A diferença é elevada e bastante aliciadora.

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Fig. 1.10 – Mapa de localização das AUGI’s na AML e linha de cintura ao redor de Lisboa.

1.1.6 | O ESTADO DA ARTE | Teorias de intervenções sobre bairros clandestinos

Conhecendo-se melhor os fenómenos que estiveram na causa, aparecimento e assentamento destas construções junto aos centros urbanos, e pela constante preocupação verificada pelas autarquias na reconversão e requalificação destes espaços, é fundamental conhecer-se o que se tem feito no país para resolver as suas fragilidades e que têm recorrido ao plano urbano. Sabe-se que as autarquias foram propondo e colocando a concurso alguns planos de urbanização e de pormenor para os bairros de maiores dimensões, verificando-se vários exemplos dentro da AML, que apresenta os casos mais preocupantes sobretudo nas proximidades de Lisboa.

Assim se vai discutindo dentro do mundo urbanístico, não só dentro de Portugal mas por todo o Mundo, essencialmente junto aos países menos desenvolvidos onde estes surgem em superioridade. Qual a melhor solução a adoptar para estes bairros? Será que é viável a sua demolição por apresentarem riscos e carências fisiológicas, dotando-as de uma nova malha de novos edifícios, equipamentos? Ou será que é suficiente uma intervenção cirúrgica, de forma a que com um simples gesto, em uma ou várias zonas, se dote o bairro de serviços e bens, com o intuito de combate ao seu carácter precário e confuso? Podem-se distinguir assim, na sua generalidade 2 tipos de intervenções que se têm conformado sobre estas áreas e que têm sido alvo de constantes discussões e criticas.

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Planos de Necessidades | 1

A primeira, parte de uma procura de legalização dos bairros através do seu levantamento e numa intervenção pontual ou pontuais dentro do seu território. Estas intervenções têm-se verificado sobretudo nos bairros que apresentem condições físicas e sociais de permanência ou em que as suas condições não exibam perigo para a população. Neste subtema poder- se-á ainda encontrar 2 tipologias, nomeadamente aquelas em que a preocupação é a de legalizar estes bairros, quando estes não apresentam grandes dimensões, ostentem facilidade de levantamentos, procurando a intervenção se centrar na colocação das infra-estruturas básicas, ou de equipamentos e espaços públicos sem levar a efeito, demolições ou mudança de tecidos. Uma outra, passa pelas mesmas situações anteriores mas com a diferença de se pretender intervenções nos centros, uma “acupunctura” em zonas estratégicas, onde a principal preocupação parte da intervenção sobre espaços públicos, em projectar no seu interior equipamentos e zonas dinâmicas, como muito se verificam nos casos de maiores dimensões (caso das intervenções nas “favelas” do Brasil) podendo adoptar algumas demolições. Mantem-se assim a maioria da imagem inicial do bairro, a sua memória, a história que os seus edifícios contam, e com o objectivo de os tornar espaços de cidade dinâmicos, por forma a ganharem não só os seus habitantes mas também a cidade.

Um dos vários casos que podemos visualizar, principalmente nos municípios da AML, é a proposta de intervenção para os bairros da “Vertente Sul” no concelho de Odivelas.

Este caso é bastante semelhante, pela sua morfologia e condições, aos conjuntos a Poente do Eixo N/S dos quais fazem parte os bairros das Galinheiras e dos Fetais, pois estão dispostos segundo vários aglomerados, quase alinhados, e separados por espaços vazios aproveitados para usos agrícolas, depósitos ou sem qualquer uso. Esta sua disposição quase linear muito se deve à morfologia do terreno e que neste caso, expõe as construções para Norte. Localizam-se sobre uma encosta bastante declivosa, podendo constituir perigo à sua população mas que, após estudo da Câmara de Odivelas, foi evitada a sua demolição, factor positivo para os seus residentes que preferem a sua casa.

Esta encosta, no limite dos concelhos de Odivelas e de Lisboa, alberga um conjunto de vários bairros como o Vale do Forno, Encosta da Luz, Quinta do Zé Luís, Serra da Luz e Quinta das Arrombas, todos eles caracterizados como Áreas Urbanas de Génese Ilegal. Estes bairros embora separados, formam um conjunto próprio, sem diferenças sociais, apresentando todas as carências próprias destes bairros nomeadamente nos tecidos sem qualquer rigor técnico, sem previsão anterior de redes de infra-estruturas básicas, de equipamentos e espaços públicos.

Fig. 1.11 – Bairros que constituem a Vertente Sul.

Em 2009 era celebrado um programa de Acção sobre estes bairros no âmbito da política de cidades do PORLISBOA e dos eixos de sustentabilidade territorial e coesão social. Este programa liderado pela Câmara de Odivelas, apresenta um conjunto extenso de objectivos e que se focam: em “Afirmar Lisboa internacionalmente como espaço de intermediação”; “Capacitar Lisboa como meio acolhedor e lugar de encontro multicultural”; “Combater défices acentuados na qualificação dos recursos humanos”; “ (Re)Qualificar o tecido urbano”; “Esbater a fragmentação do espaço metropolitano”; ”valorizar recursos paisagísticos e patrimoniais singulares”; “vencer obstáculos à mobilidade e tornar mais eficiente a gestão do espaço público”; “Fortalecer a cooperação institucional e territorial” (site do PORLISBOA).

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Analisando a planta geral de intervenção, é possível concluir que esta vertente foi vista num conjunto geral mas partindo das necessidades mais específicas para cada bairro, procurando implementar construções para usos comuns e favorecer às suas permeabilidades.

Nomeadamente no aproveitamento do espaço vazio entre bairros, para o desenho daquilo a que denominam de “Praça das culturas da Serra da Luz” (3) e a que se assemelha a um pequeno parque verde por forma a colmatar as ausências de espaço público qualificados, auxiliando à reconversão dos bairros que lhe fazem frente. Uma outra situação, a intervenção dentro dos bairros, mais pontuais com desenhos de pequenos largos requalificando o bairro (2), pedonalizando algumas zonas, controlo sobre trânsito em algumas vias e na construção de equipamentos importantes como centros cívicos de multiusos albergando jardins-de-infância entre outros (1).

Pode-se sintetizar que esta intervenção de plano proposta engloba um conjunto de soluções que se revelarão à partida eficientes, pois procuram responder a um leque de necessidades próprias de cada bairro, não privilegiando certas classes e procurando colmatar as suas carências. Só uma futura monitorização dará uma certeza quanto ao seu sucesso. Estas intervenções baseiam-se e podem ser bases para outros projectos do mesmo tipo como (ARAUJO, 2011):

 Identidade através da criação de pequenas centralidades através de equipamentos e requalificação do espaço público;  Acessibilidade e Mobilidade, com controlo sobre os caminhos rodoviários e pedonais, transporte colectivo e estruturação da sua rede viária;  Segurança e Conforto, com a requalificação do espaço público, mobiliário urbano e equipamentos, melhoria da sua paisagem com espaços verdes;  Diversidade e Adaptabilidade, com uma multifuncionalidade dos novos e actuais espaços urbanos, diversidade de equipamentos;  Continuidade e Permeabilidade, no melhoramento da rede viária e acessos suprimindo antigas barreiras físicas naturais (topografia) e artificiais (CRIL);  Sustentabilidade Social e Cultural, na inclusão social e dinamização cultural de actividades próprias e provisão de acções para valorização profissional.

Fig. 1.12 – Planta de intervenção geral

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Planos de Realojamento | 2

O outro tipo de intervenção, define-se pela total ou parcial demolição dos bairros, para construção de novos edifícios dispostos sobre uma malha muitas vezes de corte com o que existia. Estas situações têm se verificado bastante na AML muito pela existência de demasiados bairros de lata ou de populações que residiam em edifícios bastante precários, perigosos, e que desprestigiavam as imagens dos municípios e sobretudo de Lisboa. A resolução para estes casos parte dos chamados “Planos de Realojamentos” financiados em grande parte pelas administrações centrais e locais, de rendas bastante baixas, oferecendo condições bastante superiores àquelas que os moradores dispunham. Outra situação para o seu aparecimento deriva das expropriações para construção de vias estruturantes (Eixo N/S por exemplo) ou porque as suas localizações inviabilizam um plano de pormenor eficaz para o bairro.

Para esta análise opto pela tipologia mais vulgar e usada na AML nos últimos anos e que passa pelo realojamento de populações ao abrigo do programa PER com foco no bairro PER Ameixoeira, dentro da área de estudo de projecto.

O Programa Especial de Realojamento, surgiu em 1993 (Decreto-Lei 163/93) com a promessa de acabar com os bairros de lata e conjuntos de edificados em condições bastante precárias nas Áreas Metropolitanas de Lisboa e Porto, realojando as suas famílias em novos edifícios junto das grandes cidades. Este realojamento verifica-se em edifícios existentes pertencentes às respectivas câmaras ou, como mais se verifica, são criados novos loteamentos em zonas por construir, erguendo-se grandes blocos habitacionais, oferecendo as condições mínimas de alojamento e o aparecimento dos “novos bairros” que têm sido alvo de críticas. O programa de realojamento da Ameixoeira possui um conjunto de 1126 fogos com processo de licenciamento aprovado em 2001 e já finalizado.

Fig. 1.13 – Planta de 1988 – Zonas demolidas e localização dos novos bairros. Fig. 1.14 – PER Ameixoeira.

A população ali residente provém de outros núcleos habitacionais com as características acima descritas, na Charneca e Ameixoeira (Quinta do Louro, Quinta da Pailepa e Galinheiras) e do Vale do Forno (entre Odivelas e Lisboa) em que a sua grande maioria são indivíduos de etnia cigana (actualmente alojados e concentrados nos edifícios a Nascente) sobre os quais recai grande culpa dos actuais estados de insegurança e degradação destes bairros. Analisando as suas antigas condições, tratavam-se de bairros cujo metal é o material principal, de construções bastante sensíveis ao clima e sem infra- estruturas de saneamento. Junto às Galinheiras, foram realojadas dentro do mesmo programa, os habitantes do bairro camarário anteriormente já expropriadas aquando da construção do Aeroporto da Portela, mas de carácter temporários.

Nestes conjuntos verificam-se, especialmente junto às Galinheiras, um mau estado do espaço público com lixo no chão e é de se salientar a quase inexistência de serviços e comércio nos primeiros pisos destes blocos, muito pelo factor “insegurança” de algumas zonas, tapando-se com muros, espaços reservados para o efeito por forma a evitar “invasão”. Esta situação auxilia à exclusão dos bairros, tornando os espaços monofuncionais, sem atracção, apenas de passagem. Este mau estado do espaço exterior é explicado muitas vezes pela falta de adaptação destes indivíduos àqueles espaços ou pelo desagrado, demonstrando a sua revolta.

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Aliadas ao facto de a sua população ser pobre, de fracos rendimentos, a sua localização longe de centros de transporte público e equipamentos essenciais, torna a situação mais preocupante. O espaço encontra-se fora do círculo de envolvência da estação de metro da Ameixoeira e de paragens de autocarros, assim como de equipamentos sociais, centros de saúde e escolas (sendo que já inaugurou a escola EB1 das Galinheiras a Norte) localizados a alguma distância que obrigam à população a investir no transporte.

Para além desta situação, verifica-se a total dispersão dos blocos pelo terreno, construindo-se em zonas que estavam à data, na sua grande maioria livres de edificados, não se conseguindo ter uma ideia do bairro como um todo, mas de fragmentos. Assim como da pouca atenção oferecida aos bairros existentes, não existindo qualquer tipo de ligação de continuidade urbana com estes, como as Galinheiras a Norte, centro da Ameixoeira a Sul e os bairros do Chapeleiro e da Torrinha que foram mantidos e não implementados no programa para realojamento da população. No caso deste ultimo bairro, actualmente encontra-se completamente circundado por estes blocos de 7 a 8 pisos, podendo (segundo RODRIGUES, 2007) “ser englobado no processo de realojamento, com o acréscimo de possuir uma elevada vantagem competitiva (...) os seus residentes estranhariam menos a mudança e sentiriam mais afinidade com o espaço pois não seriam sujeitos a uma nova realidade”. Nesta situação, actualmente destaca-se o contraste visual entre estas construções mais antigas e os novos blocos em que a “transição não se deu de uma forma progressiva mas de uma maneira repentina e brusca com a consequente depreciação na sua avaliação” (ibid).

Uma outra realidade em falta e essencial é a inexistência de um espaço central, de convívio para a população, tal como da inexistência de uma rede ecológica ou de espaços públicos com grandes áreas sem usos.

Um factor positivo para a zona foi o loteamento EUROPAN nas Galinheiras a Norte, que consiste numa urbanização, não para realojamentos mas de características semelhantes caracterizadas por edifícios com fogos a preços abaixo dos habituais valores do mercado imobiliário. Este seu tecido une-se com o antigo bairro, e procura trazer para o município, mais população, de uma classe um pouco superior àquela já analisada dos bairros a Sul (e Norte nas Galinheiras) de modo a promover um convívio, naquele espaço, entre classes e evitar a segregação espacial que os bairros sociais a Sul eram alvo. Outro factor positivo é a existência de uma escola EB1 entre estas duas urbanizações colmatando uma carência em demasia na zona.

Fig. 1.15 – Rés-do-chão preenchido a muros de alvenaria. Fig. 1.16 – Rua 6B – Bairro das Galinheiras (prolongamento da Azinhaga das Galinheiras)

Conclui-se que estas tipologias quando necessárias, devem ser alvo de um acompanhamento e estudo mais aprofundado sobre a sua localização e a população a alojar ou realojar. Tendo como bases uma população pobre, torna-se essencial a procura de proximidades destes bairros a interfaces de transportes ferroviários ou rodoviários, de uma rede de espaço público democrática a que o pobre tem tanto direito como o individuo de classe superior. Tal como uma mistura de classes e usos, é essencial uma ligação destes novos bairros com o local em que se insere, de um ponto de vista urbano e físico, com continuidades de eixos, ligações, por forma a evitar o seu isolamento característicos destas “ilhas sociais”.

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1.2| AS NOVAS CENTRALIDADES | Do centro para a periferia

Como qualquer história de uma cidade, o seu desenvolvimento partiu de um centro, a sua zona histórica, o espaço da cidade que alberga o tempo e que nos conta as suas origens. Este espaço ao longo dos tempos foi sofrendo várias mutações, mas sempre com a tentativa de manter a ideologia clássica a que estes espaços devem corresponder, com as suas praças e largos nostálgicos e com bastante dinamismo. Mas a cidade cresceu, e cada vez mais longe deste centro, densificou-se e estendeu-se para os seus antigos campos rústicos periféricos sobre os quais se deu uma explosão demográfica. Aparecia assim a “metropolização”, como refere Jordi Borja (2000), a cidade de cidades onde o centro actualmente é os centros. A cidade fragmentou-se, o seu conjunto, a macro-cidade, é caracterizada agora pelos seus aglomerados urbanos dispersos, alguns ligados mas do qual se reconhecem heterogeneidades e em que a procura das novas centralidades foram um bem necessário para resolver as suas fragilidades, do rápido avanço da periferia e sua separação do centro nostálgico. Estes “territórios sem modelo” (SOLA-MORALES, 1995) fruto das especulações do mercado, são lugares sem uma identidade, espaços dormitórios que não conseguem dar uma resposta que seja democrática a toda a população e onde o sentido de espaço público se circunscreve apenas aos vazios deixados pelos densos edificados, os espaços intersticiais entre as rodovias ou estacionamentos e a construção. Igualmente nas proximidades do centro histórico, ainda dentro do que se chama “o centro”, verificam-se uma diversidade de morfologias urbanas, com opções centrais de pretender criar conjuntos urbanos que homogeneizam socialmente o espaço e o segrega, ou que, pela falta de um plano público se vão deteriorando e perdendo crédito na cidade. Jordi Borja chama a atenção a esta situação e apela às entidades públicas que cumpram o seu papel na procura de um plano para uma área urbana justa para todos e democrática, não privilegiando sectores da sociedade, porque só assim se consegue uma maior integração social e funcionamento urbano.

Claramente se verifica um pouco por todas as cidades, uma congestão e degradação dos seus centros históricos, muito pela terciarização ou mono-funcionalidade a que são alvos, o que irá conduzir à diminuição gradual dos seus índices habitacionais, constituindo lugares usados de dia e mortos à noite. E assim é lançada a questão, de como pretendemos criar um plano eficaz para a cidade ou periferias sem regenerar o centro histórico? Este autor lança o desafio de não tornar os espaços mono-funcionais mas sim com algumas predominantes (comércio, cultural e turísticas) e sempre com habitação na procura da sua não saturação. Assim como, a criação de novos centros na cidade poderão auxiliar à sua não degradação, dotando esses espaços de potencialidades, interligados por uma rede de acessos ou de espaços públicos, retirando a forte pressão deste centro. Estes novos centros aparecem naturalmente através de um espaço preferencial pela população de convívio ou junto a grandes edifícios ou marcos simbólicos da cidade. Procura que a atenção não seja virada para as memórias aristocráticas ou burguesas do passado, mas sim a memória popular, da sua população. Pode-se dizer que surgiu uma centrifugação e que se deu por várias razões (DOMINGUES, 2000):

 Da centrifugação de funções direccionais que dotavam o centro histórico do seu carácter polarizador, como económicas (sedes de empresas), cultural (cinemas, teatros museus) político-administrativos, etc.;  Do congestionamento do automóvel, ou por outras questões de reconfiguração das estruturas e sistemas de mobilidade pela relocalização dos novos terminais de transporte colectivo, por exemplo, a Gare do Oriente em Lisboa;  Da emergência de novos ícones urbanos (arquitecturas de autor) que retiram a representação simbólica aos edifícios patrimoniais;  Da crise da cidadania com a descoincidência dos locais de participação cívica, como juntas de e câmaras municipais, que reivindicam e afirmam as suas próprias centralidades e identidades, e pela plasticidade dos habitantes da cidade;  Da obsolescência funcional do centro como já referido.

Estas são algumas das razões que deram origem, segundo o autor, à descentralização e ao aparecimento de várias centralidades, tanto municipais como mais localizadas, mas essencialmente àquelas de maiores dimensões, caso do Parque das Nações que actualmente é o centro económico e turístico de Lisboa.

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A cidade é conformada por vários pequenos centros, referidos por Caçoila (2007) como “mosaicos culturais”, uma “justaposição de estratos e funções diferenciadas, conotadas com especificas formas de viver o quotidiano”. Os centros são, segundo Borja (2000), “os lugares que contem uma pluralidade de significados por excelência” são espaços próprios que são atractivos para o exterior e integrantes para o interior, de multifunções e que são simbólicos para os aglomerados em que se inserem. São a “diferença mais relevante de cada cidade, a parte da mesma que pode proporcionar mais sentido à vida urbana”. Este autor realça a diferenciação de lugares dentro das cidades por forma a tornar espaços anteriormente degradados, ou ainda em projecto, mais urbanos e que realcem o lugar em que se encontram, um “marco”, criando-se uma “cidade de cidades” (ibid), pequenos ou grandes núcleos tendo em conta o conjunto em que se insere. E é através desta “diferenciação” que se tornam os espaços mais competitivos e integradores. Mas como se consegue esta diferenciação? A resposta certamente partirá do projecto urbano com uma forte insistência do poder público, combatendo anteriores poderes que regiam o desenho urbano como o mercado imobiliário, não prestando atenção às carências e necessidades de todos os extractos populacionais. O sector privado ganhou valor para a promoção de novos loteamentos ou gestão de espaços urbanos, mas só através de um poder público forte e presente se poderá criar um projecto que aproveite as potencialidades objectivas de cada espaço, segundo factores não lucrativos mas regeneradores de espaços, porque o projecto urbano é cada vez mais “uma exigência social”. Jordi Borja lança-nos pistas para o sucesso destes novos espaços e sem os quais não se responderá de forma eficaz e decisiva tanto em zonas de prédios altos, consolidados, como em espaços de menor densidades, através da mobilidade e acessibilidades, do desenho dos tecidos urbanos e do seu espaço público.

A mobilidade é claramente factor fundamental na permeabilidade física de espaços, é um direito de todos que existam condições à acessibilidade para todos os espaços. Neste tema, o autor foca e usa o termo “iluminar” os aglomerados através da mobilidade, acender os seus espaços. Que é necessario acender as “zonas escuras da cidade”, que actualmente pouca importância têm para a cidade e que vai agravando à sua exclusão física e social. A resposta não passará apenas na procura da extensão ou de novas soluções de transportes públicos adequados à zona. Certamente que se tem tornado nas maiores exigências dentro do espaço urbano, mas não é esta a resposta para iluminar os bairros, a mobilidade não se trata apenas de ir para fora, mas também para dentro, é a sua rede de centralidades, qualidade urbana e colocação de novos serviços nestas zonas capazes de atribuir reconhecimento pelos outros e orgulho pelos próprios moradores.

Esta última certamente que partirá também do desenho e controlo dos seus tecidos. Tanto novos, como antigos, como aqueles que se formaram sem plano ou uma ordem, desenham os espaços interiores que caracterizam cada pólo. Estas tramas devem-se planear segundo as perspectivas dos seus moradores, uma visão horizontal, de dentro para fora e não segundo cânones que se consideram os correctos e iguais para todos. É a ideia de cada morador ou da pessoa que irá usar o espaço, que se devem reger para cada local. O desenho urbano tem-se definido pela continuidade e repetição que atribuem a certas zonas uma homogeneidade, aliadas às imposições e regulamentações de usos para cada espaço da cidade vindas dos planos municipais de ordenamento do território. Borja afirma que é positivo a procura da continuidade de eixos importantes para a “integração do cidadão” com a envolvente e a cidade, mas que é essencial o aparecimento de elementos diferenciais que anulem a homogeneidade e saturação de paisagens, de uma mistura social que anule a segregação de classes. Defende a “heterogeneidade, a mistura, a presença de colectividades sociais diferentes em cada ponto da cidade” através dos usos dos espaços urbanos segundo fins públicos e não lucrativos. O zonamento rígido dos planos municipais não é a solução para estes casos mas sim a mistura de funções que “é possível e desejável se se lhe sabe tirar partido”, lançando algumas sugestões especialmente ao nível dos edificados, como os usos dos primeiros pisos de edifícios administrativos e privados para cafés e restaurantes, zonas culturais ou do aproveitamento de vazios entre infra- estruturas ou indústrias para uso público.

Outra questão fundamental num projecto urbano e no desenho de uma nova centralidade é o seu espaço público e procurar que este responda a todos os interesses. Como refere Borja, “os espaços públicos não são um tipo de projecto como os outros (...) devem apoiar-se em valores éticos, de liberdade, tolerância e solidariedade”. É um direito de todos o usufruto do espaço dito público, o vazio entre edifícios, que este seja rico de beleza por forma a encontrar a “justiça urbana”. Os espaços públicos de centralidade são importantes e o maior desafio à política urbana centrando-se em conceitos urbanísticos, políticos e culturais.

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Urbanístico na medida em que é resultado dos vazios entre cheios, é o elemento ordenador do urbanismo em todas as suas escalas. Suporta diversos usos, funções e cria lugares de continuidade e de diferenciação, estrutura os bairros e cria ligações com a cidade, é para os governos locais, “o exame que têm de passar para serem considerados construtores de cidades” (ibid).

Político quanto à oportunidade de tratamento urbanístico sobre todas as realizações arquitectónicas, criando espaços de transição e para uso colectivo. Assim como da existência de grandes espaços aglomeradores como “praças e avenidas” nos seus centros, permitindo maiores concentrações de pessoas e permitir a sua extensão aos primeiros pisos dos edifícios políticos e administrativos.

Cultural pois cada pólo tem a sua identidade e necessita de um espaço que funcione de símbolo, que estes espaços de subúrbios sejam “monumentalizados” na medida em que necessitam de um centro dinâmico e marcante. Mas que esta dimensão não se circunscreva apenas aos espaços não construídos mas também “ao conjunto dos edifícios, equipamentos e infra-estruturas da cidade.” Há que valorizar todo o desenho, todas as formas pois pretendem transmitir uma memória a que o autor atribui especial valor e sobre o qual se deverá basear o desenho destas novas centralidades, a memória popular.

1.2.1| AS NOVAS CENTRALIDADES | Caso de estudo

Por toda a AML, foram assomando vários novos centros que procuram ganhar independência a Lisboa e procurar a sua regeneração urbana, algumas de evolução natural (centros de municípios), outras que surgiram mais tardiamente e que vieram a necessitar de um plano regulador, como é o caso da Agualva-Cacém, pertencente ao município de Sintra. Esta anterior vila, e em 2001 erguida a cidade, são partilhadas por 4 freguesias, Agualva, Cacém, Mira Sintra e São Marcos e foi alvo de uma evolução urbana exponencial a partir da década de 70 muito pela passagem ali da linha ferroviária que liga Lisboa a Sintra.

Subsistia uma desordem, caos urbanístico com grandes congestionamentos automóveis (vindos da IC19) aliados à confusa estrutura viária. Não se tratava de uma zona urbana ilegal, mas de uma área urbana degradada, que sofreu uma evolução repentina que se repercutiu em malhas confusas que necessitavam urgentemente de um plano por forma a criar uma nova centralidade na AML, e proporcionar à sua população uma rede de espaços públicos digna e um redesenho da sua estrutura geral. Verificavam-se algumas potências próprias do local, nomeadamente da ribeira das Jardas, que rasga a cidade a meio e que, pela proximidade às vias estruturantes e estação ferroviária, criava condições ao aparecimento ali de um novo centro dinamizador e próprio da cidade.

Fig. 1.17 – Localização da cidade de Agualva-Cacém

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Esta sua desordem motivou à criação do programa Cacém Polis, um Programa de Requalificação Urbana e Valorização Ambiental da Cidade e ao Plano de Pormenor da Área Central do Cacém, por parte do Ministério das Cidades, Ordenamento do Território e Ambiente que dispôs de elevados meios financeiros co-financiados pela União Europeia. Estes meios vieram-se a revelar bastante elevados permitindo uma intervenção mais alargada, mas que foi sofrendo atrasos na sua finalização (prevista para 2008 e ainda em fase de finalização).

O plano, da autoria do atelier RISCO, procurou criar e realçar a centralidade daquela, após projecto, nova cidade mas degradada, e que foi alvo de uma profunda restruturação urbana. O plano consistiu (como se pode ver no site do RISCO):

 Na reformulação do sistema viário, na sua hierarquização, criando novos nós, eixos e procurando colmatar os grandes congestionamentos automóveis que vinham em massa do IC19 de ligação directa a Lisboa;  Promoveu a negociação e reformulação de compromissos urbanísticos;  Substituição de edifícios que se apresentavam em mau estado de conservação e demolição daqueles que impediam à concretização do projecto garantindo o seu realojamento;  Reconversão do interface rodo-ferroviário de grande dinâmica e abertura de eixos pedonais;  Criação de um grande espaço público de lazer e de equipamentos no seu centro;  A reformulação global de todos os sistemas de infra-estruturas urbanas e a sua adequação a um novo enquadramento urbano.

A intervenção concentrou-se e reconhece-se no seu parque linear que refez o sistema da ribeira das Jardas agora bastante qualificada, permitindo enquadra-la com o meio urbano, e seu aproveitamento para qualificar a zona, concentrando nela as principais valias e cruzamento de eixos. Caso da Rua dona Maria II que liga este espaço ao novo Largo do Mercado no topo, convertida a rua pedonal com comércios e espaços de estada revelando-se valorizada pelos habitantes. Ou de outros pequenos largos desenhados, separados, mas ligados segundo uma rede que vai ao encontro deste seu novo centro requalificado, que valoriza o existente e que atribui uma nova imagem e identidade, sendo actualmente designada como “a Nova Baixa do Cacém”.

Fig. 1.18 – Imagens anteriores e posteriores à intervenção. A meio, esquema dos novos eixos estruturantes e zonas mais afectadas pelo plano (anexo).

Fig. 1.19 – Zona de cruzamento de vias. Fig. 1.20 – Parque junto à ribeira das Jardas.

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2| PROJECTO: ANÁLISE |

Para a resolução de um projecto urbano capaz de responder às necessidades de uma população extensa, torna-se necessário realizar um estudo e aferir as principais características dos seus núcleos urbanos a trabalhar e resolver. A análise do lugar, aqui tem um grau de importância vital ao sucesso do plano, algo que num projecto à escala do edifício não deixa de ser importante mas que define-se pela menor extensão neste tema. O plano urbano procura atribuir resposta a uma necessidade de uma população, dentro dos direitos de usufruto do espaço público e das infra-estruturas da cidade. As suas soluções poderão passar pela construção de um edifício capaz de responder a um todo urbano, mas segundo modelos gerais e públicos, e não privados.

Esta análise define as características próprias de cada lugar e encontra os elementos que distinguem os vários aglomerados (bairros) funcionando como instrumentos importantes para se perceber a realização de alguns fenómenos verificados, podendo oferecer pistas futuras. Para tal, procedeu-se ao estudo da envolvente em que os bairros se inserem, próprio de um estudo urbano e sobre o qual o trabalho realizado no 1º semestre se focou, e de seguida ao entendimento mais focado e de menor escala com vista a perceber detalhes, fragilidades e forças pontuais.

2| PROJECTO: ANÁLISE |31

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Localização

Fig. 2.01 – Localização das 3 áreas de estudo.

O meu trabalho ao longo do ano, procurou seguir um modelo de diminuição progressiva de escala, analisando à escala de envolvência, propondo um plano estratégico, e de seguida à escala do bairro. Na minha metodologia defini 3 áreas de envolvência para estudo, desenho e entendimento de esquemas segundo o grau de exigência pretendido para cada situação.

(1) Área estratégica: A área geral de estudo situa-se na afluência de 3 Municípios da AML, subdividindo-se pelas freguesias de Olival Basto (Odivelas), e Prior Velho (Loures), Ameixoeira, Charneca, Lumiar e Santa Maria dos (Lisboa). Esta zona, situada num dos pontos mais altos da capital, apresenta características próprias de uma periferia urbana, cuja explosão demográfica criou algumas debilidades. Engloba a principal infra-estrutura de transportes de Lisboa e do País, o Aeroporto da Portela, com as suas longas pistas, inserindo-se dentro dos limites da CRIL, 2ª Circular e Calçada de Carriche, culminando numa forma orgânica, fechada, de diferentes estruturas de vizinhança e ligação.

(2) Área de vizinhança: Esta superfície de estudo, é definida numa pós escolha dos bairros a intervir, criando um plano intermédio ao plano estratégico e à futura proposta para os bairros. Escolhidos os bairros das Galinheiras e Fetais, pelas razões depois descritas, definiu-se o rectângulo de vizinhança por forma a encontrar soluções que englobem os bairros vizinhos, conseguindo-se melhores ligações e pontos de interesse mútuos, e de questionar o plano estratégico para o local. Esta área engloba parte de territórios das freguesias dos bairros em estudo, Camarate (Fetais), Charneca e Ameixoeira (Galinheiras).

(3) Área de bairros: Os bairros das Galinheiras e dos Fetais a explorar com maior pormenor, introduzem-se na zona Noroeste da área geral, actualmente delimitada a Nascente pelo Eixo N/S e a Poente pelo limite acentuado do planalto. Definem-se aqui as duas principais barreiras físicas que fecham os bairros, permitindo apenas ao contacto directo com o bairro dos Fetais de baixo a Norte (Camarate) e a Sul com a Ameixoeira (Empreendimento das Galinheiras). É a superfície sobre a qual se centrou o plano urbano final proposto. Este plano engloba uma intervenção sobre os bairros de Fetais de cima, da Boavista, da Fonte da Pipa (e em parte da Quinta da Mós), denominando-se muitas vezes como “os Bairros dos Fetais”, e sobre o bairro das Galinheiras pertencente à freguesia da Charneca.

2| PROJECTO: ANÁLISE |32

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2.1| ÁREA ESTRATÉGICA |

O primeiro semestre do último ano em Arquitectura, e na disciplina de Projecto Final, aborda o estudo e caracterização sobre espaços urbanos que carecem de uma proposta requalificadora e unificadora, a uma grande escala de envolvência, pondo em foco a questão de que é marcante que todos os espaços urbanos estejam intimamente ligados por intenções que procurem estruturar e atribuir regalias (equipamentos, espaços públicos) a todos os pontos da cidade. É importante que estes demonstrem traços comuns por forma a evitar casos de isolamento, que poderão gerar problemas de carências de oportunidades e principalmente de cariz sociológicos, como a exclusão social.

A cidade de Lisboa de hoje conhecida, é caracterizada pela sua estrutura heterogénea de edificados e espaços que se diferenciam e que em muitos dos casos se fecham em si, muito pela sua repentina evolução sem planeamento. Conseguem-se visualizar áreas caracterizadas urbanas, que carecem de união, estrutura, de espaços urbanos considerados essenciais para qualquer cidade, que levam ao medo e sua desvalorização por parte dos habitantes dos bairros vizinhos e da cidade. Torna-se cada vez mais essencial a procura de planos e estratégias que incidam nesta problemática que hoje assistimos numa cidade dita, de tradições, riqueza cultural e patrimonial, e valorizada pela sua localização geográfica.

Esta situação em muito se deve à evolução demográfica quase repentina que a cidade sofreu após a industrialização, com a vinda da população dos campos para a cidade e com a imigração essencialmente de indivíduos oriundos dos PALOP verificada no pós Abril de 1974, nas periferias da cidade. No interior da cidade, esta situação procurou ser controlada através da criação dos bairros de operários ou de habitação social que, com baixos rendimentos, procurava minimizar problemáticas e essencialmente atribuir uma boa imagem da cidade.

Na periferia, o seu crescimento mais acelerado e descontrolado, como já estudado no capítulo anterior, deu origem a bairros desqualificados, clandestinos que nunca foram alvos de políticas de habitação social e que hoje se tornam pontos da cidade sem valor para a população geral, criando desconfortos e insegurança.

A evolução urbana desta área encontra-se resumida em anexo (II) oferecendo uma ideia de como se consolidou Fig. 2.02 – Divisão por municípios esta área até à actualidade.

O estudo a que se focou o trabalho de 1° semestre, concentra algumas dessas áreas periféricas da cidade de Lisboa, assim como aqueles pertencentes aos concelhos vizinhos a norte, Loures e Odivelas. Foi dentro destes municípios que se verificou das maiores explosões demográficas verificadas na segunda metade do século XX, ficando favorecidas pela sua aproximação à capital e centro de novas oportunidades de emprego, mas longe do tráfego. Esta evolução para a periferia, já prevista no plano de Groer (1948) e Duarte Pacheco, deu origem a vários problemas de tráfego pelo aumento do número de automóveis por habitante, tornando necessária a planificação de novas vias estruturantes que procurassem escoar mais rapidamente o trânsito do centro. Os primeiros eixos basearam-se nas radiais propostas por Groer e depois pelo Plano Director Regional de Lisboa (1964). Mais tarde ganharam maior destaque, a 2ª Circular que funciona como um anel rodoviário, ainda interior à cidade de Lisboa, a CRIL, anel já fora dos limites da capital e o Eixo N/S pela sua ligação da margem Sul do Rio Tejo com a 2ª circular e que mais recentemente foi ligada à CRIL a Norte.

É precisamente dentro dos limites da 2ª circular e CRIL (com a calçada de Carriche a poente) que se insere a área alvo de estudo no 1° semestre da disciplina de Projecto Final.

Esta área no seu geral caracteriza-se pelos seus limites fortemente sentidos pelas vias estruturantes que a desenham, conformando uma área de limites contínuos e pouco permeáveis, mas bastante irregular no seu interior, tanto funcional (aeroporto, industrias, habitação), fisico como estruturalmente.

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2.1.1| Diagnóstico Biofísico|

Analisando plantas de declives do local trabalhadas no semestre, e através de maquetas de estudo do terreno, destaca-se claramente a zona ampla, de nível e artificial do conjunto das pistas e edifícios do aeroporto da Portela. Para efeitos deste estudo, poderá ser identificado como um vazio urbano, pela hipótese de saída daquele local, abandonando ali um espaço na cidade potenciador de novos usos e oportunidades.

Verificam-se áreas de grande declive (acima dos 30%), nas zonas naturais no planalto a Norte e Poente que separa as áreas urbanas do vale de Loures e Odivelas, funcionando como um muro contínuo de contenção natural à evolução urbana para Poente. Dentro das zonas urbanas são possíveis de visualizar, várias irregularidades e pequenos vales (especialmente a Poente do Aeroporto) de declives acentuados e uma linha de cumeada, evidenciada hoje pela passagem nela da extensão do Eixo Norte/Sul à CRIL. Conclui-se que certos bairros se encontram bastante isolados e sensíveis, muito devido à fisionomia do terreno bastante irregular no local e que condiciona em demasia à acessibilidade. Mas este factor natural e bastante sentido em algumas zonas, especialmente a Poente, pode ser potenciador a um sistema de vistas agradável e adequado ao local, sobre as quais um futuro sistema de espaço público deverá estar intimamente ligado.

Torna-se aqui importante encontrar e estudar as linhas de água existentes e as zonas que poderão ser críticas à segurança para os habitantes (vales de grande profundidade, leitos de cheia) aquando de chuvas, culminando num mapa para escoamentos e direcções preferenciais de futuras e possíveis infra-estruturas. São possíveis de verificar construções sobre linhas de água ou em zonas de cruzamentos de várias linhas que, associando à construção desregrada e irregular sobre o terreno, diminuem e fragilizam as condições ideais de habitabilidade. Exemplo do espaço entre os “montes” das Galinheiras e dos Fetais com um conjunto de construções que impermeabilizam grande parte do espaço.

Analisando a planta de verdes desta área, destaca-se a predominância de terrenos baldios, sem uso urbano, que empobrecem o espaço, muito característico de zonas rurais que em alguns casos são aproveitados pela população para cultivo de hortas. Apesar desta função atribuída naturalmente a estes espaços, predominam os espaços vazios, à espera do seu papel para a cidade, e que foram fruto dos vazios sobrantes às construções, maioritariamente ilegais ali erguidas para fins privados. Estes verificam-se nos vales, áreas de declive acentuado, espaços em plano urbano à espera de construção (Alto do Lumiar), espaços de antigos armazéns, pequenas industrias, outros edifícios abandonados e nas proximidades e para protecção das pistas do Aeroporto.

Apesar desta predominância de vazios urbanos, ainda se verificam, pontualmente, espaços pensados e desenhados para fins urbanos de lazer e de riqueza local, como são o parque da Quinta das Conchas, o Parque Oeste no plano da Alta do Lumiar, jardim das Amoreiras na Charneca e espaços semi-privados de quintas ou reservados para serviços nacionais, como o Forte da Ameixoeira convertido a Sede do Serviço de Informações de Segurança. Apesar da existência destes parques ou zonas verdes urbanas, não existe ainda uma ligação ou continuidade entre estas, sendo para uso especialmente dos residentes locais.

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Fig. 2.03 – Planta de verdes.

2.1.2 | Mobilidade e usos |

A questão da acessibilidade rodoviária, nesta área da cidade, é bastante saliente pelas vias estruturantes que a delimitam, fragilizam em certos pontos e oferecem excelentes linhas de acesso dentro e fora da cidade. Esta situação é bastante característica das áreas periféricas de centros urbanos, pela oferta de espaço para sua construção e pela necessidade de resposta eficaz e rápida ao trânsito de escoamento da cidade. Em Lisboa verificou-se uma descida da população residente no seu centro e um aumento para a sua periferia, ao contrário dos principais centros de emprego que se mantém no centro, o que culminará num maior fluxo de entrada de viaturas às quais estes importantes eixos procuram responder. A 2ª circular que delimita a área a Sul e Nascente, funciona como o principal eixo periférico da cidade, de grande fluxo de trânsito automóvel por dia, que “corta” e quase define o que é zona periférica do centro de Lisboa, muito pela sua localização, continuidade e desenho. A CRIL que delimita a Norte e Noroeste e aliado ao Eixo N/S que atravessa a área, constituem talvez as vias de maior velocidade de tráfego, pela necessidade de rápido atravessamento e que se evidenciam pela sua clara separação física, com verdes de protecção, passagem sobre viadutos, túneis e proibição de passagens de peões. Sobra a Poente a Calçada de Carriche e avenida Padre Cruz que, embora não sejam caracterizadas como vias estruturantes (vias de acesso Principal pela ligação aos espaços urbanos, semáforos, passagens para peões) são de grande importância para a cidade, de elevado fluxo automóvel, funcionando como principal linha de acesso Lisboa/Odivelas, cuja importância já advém dos inícios do século anterior, como referido em anexo.

Pode-se concluir que esta área encontra-se bem servida de vias de ligação, mas cujos acessos e atravessamentos sobre estas são muitas vezes confusos e pouco claros, principalmente sobre o Eixo Norte/Sul, dentro da área de estudo. Esta situação é ameaçadora para alguns aglomerados populacionais e cria actualmente, problemas de inclusão social, de ligação e abertura. São os casos do Prior Velho bastante fechado pelo Aeroporto, 2ª Circular (extensão da A1) e a CRIL a Norte com apenas uma via de entrada/saída, o topo Norte com as ligações entre o centro de Camarate e os bairros a Sul assim como das ligações, no geral, dos dois lados do Eixo N/S.

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Fig. 2.04 – Rede viária

Os diferentes usos do solo, dentro da área, são bastante evidentes entre os lados Nascente e Poente, com a clara distinção da zona do Aeroporto da Portela, com todos os seus edificios de serviço e outras indústrias adjacentes (Prior Velho) e as áreas claramente habitacionais a Poente. Estas áreas, com excepção da área do plano da Alta do Lumiar, definem- se pelo seu aspecto rural, sem planos precedentes às construções e bastante dependentes de eixos viários como o é a Estrada Militar para a zona Poente do Eixo N/S e a actual Rua dos BV Camarate a Nascente deste. Esta situação irá culminar, como se verifica, numa confusa estrutura de vias, com mistos de usos habitacionais, com comércios e oficinas, terrenos para usos horticolas, e isolamento de aglomerados. É de se realçar a quase inexistência de uma via ou vias de ligação Nascente/Poente (já anterior à construção do Eixo N/S) estando os espaços construidos bastante dependentes e restringidos às existentes ligações Sul/Norte. Esta situação poderá ter sido causada em parte, também à construção e consequentes extensões das pistas do Aeroporto, que cortaram as ligações anteriores (Portela, Charneca à Ameixoeira) perdendo Fig. 2.05 – Estrutura viária (Estrada Militar, Rua dos BV Camarate, e a avenida estes eixos, a importância que tiveram no passado Severiano Falcão respectivamente ) (anexo II).

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2.1.3| Planos existentes|

Dentro desta área de estudo, apenas se verificou até à data, um plano de urbanização aprovado e implementado no local a partir de 1996 na Alta do Lumiar. Este plano procurou minimizar as carências e as fragilidades existentes naquela zona, que era caracterizada por terrenos abandonados e aproveitados para construções clandestinas e bastante precárias (barracas), procurando criar um elo de ligação e estruturante da zona norte da 2ª Circular, até aos limites do município de Loures. Este espaço teria um limite definido pelas pistas do Aeroporto, Eixo N/S e as urbanizações do Lumiar a Sul, pelo que se tornava necessário criar um plano que estrutura-se e atribui-se condições de habitabilidade e de centralidade àquele local, diminuindo e neutralizando o aspecto clandestino que “empurrava” aquele local para um isolamento profundo. A cidade precisava de planear os seus limites por forma a combater os fenómenos de construções ilegais que ali cresceram em grande e descoordenado número, de novos eixos de ligação às principais vias do centro urbano, de novas tipologias de espaço público que atribuíssem valor ao local e permitissem a sua inclusão na cidade. Este plano aprovado a 1996, e da autoria do arquitecto Eduardo Leira, procurou criar ali um novo centro, de uso maioritariamente habitacional, com uma estrutura ortogonal que englobava o centro histórico da Charneca, centrado num eixo central que fazia ligação à Avenida da República no Campo Grande até à rotunda aérea (sobre o Eixo N/S) ainda em plano à data do projecto. Este plano respondia às necessidades e pretensões para o local, pelo que foi dos poucos planos urbanos aprovados e implementados da 2ª metade do século XX em Lisboa.

Actualmente, grandes edifícios de vários pisos cresceram principalmente junto ao novo Parque Oeste (pertencente ao plano) e na ligação com o tecido do Lumiar pelo que, as restantes zonas se encontram sem uso muito pelo atraso da construção do Eixo Central (ainda em construção) e pela crise e mudanças sócio-ecónomicas que se verificaram no novo século. Actualmente o mercado imobiliário encontra-se em crise, chegando a valores de habitantes e famílias no município bastante inferiores ao número total de fogos existentes, pelo que são necessárias novas politicas para a zona que procurem combater estes acontecimentos, o que poderá questionar a forma inicial do plano. Assim, a Câmara Municipal de Lisboa abriu a possibilidade de alteração do plano revogando as causas à “evolução das condições económicas, sociais, culturais e ambientais”, “da entrada em vigor de leis ou regulamentos que colidam com as respectivas disposições ou que estabeleçam servidões administrativas ou restrições de utilidade pública (...) ” e “da relocalização do aeroporto”.

Fig. 2.06 – Plano de urbanização da Alta do Lumiar Fig. 2.07 – Eixo Central e Parque Oeste

Ainda dentro da área de estudo, destaque apenas para alguns planos de loteamentos de habitação social nas Galinheiras e Fetais a Norte, ao abrigo dos programas PER (Programa Especial de Realojamento e já analisado como caso de estudo) e do Programa para Jovens a custos controladas e de iniciativa municipal. Contudo, não resultaram de um plano de urbanização de escala mais geral (embora exista uma intenção de Plano para o Vale da Ameixoeira mas não aprovado), pelo que é de se salientar o destaque que alguns destes edifícios aparentam pela negativa, tanto nas dimensões dos blocos habitacionais que, em pouco ou nada, procuram estruturar e se interligar com os tecidos frágeis vizinhos.

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2.2| ÁREA DE VIZINHANÇA E BAIRROS |

No âmbito da disciplina de Projecto Final neste segundo semestre, foram sugeridas a requalificação e a procura de um plano para uma área mais restrita, admitindo que o aeroporto se iria manter com as suas funções naquele local. As áreas sugeridas, centram-se na zona Poente deste equipamento, procurando criar soluções que não dependam da sua saída ou permanência, nomeadamente:

1. Lumiar – Cruzamento da Alameda das linhas das Torres Avenida Padre cruz – Eixo Norte Sul 2. Ameixoeira – Metro 3. Ameixoeira – Galinheiras 4. Galinheiras – Centro 5. Galinheiras – Fetais / Charneca (entre as rotundas) 6. Charneca – Envolvente campo das Amoreiras

Fig. 2.08 – Planta de áreas propostas pela disciplina A área sobre a qual me preocupei em investigar, é aquela que na minha opinião teria maiores necessidades, urgentes, de um plano urbano e que nunca foi alvo de qualquer tipo de intervenção a esta escala, nomeadamente a área 5, centrando- me na qualificação das Galinheiras e dos Fetais, procurando minimizar as condicionantes que possuem e dotar os seus espaços de novas facilidades. Este local, em comparação com as restantes áreas propostas e as suas envolventes, carece de equipamentos e de outros pontos estruturadores e centralizadores, tal como de um novo sistema viário, muito por culpa da sua evolução natural, apropriação do espaço pela população, apresentando estes dois aglomerados, claramente características próprias das AUGI’s já estudadas em capítulo anterior. Estes aglomerados vão se tornando mais frágeis e isolados pela cidade, muito por culpa do estado dos eixos viários interiores e de ligação com o exterior, estado das construções e seus agrupamentos muito próximos, verificando-se uma grande impermeabilização do solo, na procura de aproveitamento dos espaços vazios disponíveis e especulação imobiliária. Falta de espaço público pensado como tal e de facilidades que qualquer pólo urbano necessita para a sua inclusão na cidade. Claramente levará a outros problemas como a exclusão social muito em voga nos dias correntes e de difícil resolução.

São tópicos característicos desta zona às quais procurei trabalhar, sobre os dois aglomerados em simultâneo, pela sua semelhança de problemáticas, procurando com um ou dois gestos comuns a sua requalificação.

De entre as várias temáticas existentes e possíveis de visualizar nos núcleos, foquei-me sobre aquelas que achei mais importantes de perceber para poder chegar a um plano para a zona, nomeadamente:

Evolução urbana | Planos municipais | Estrutura Biofísica | Estrutura edificada | Mobilidade | Espaço Público e Equipamentos |

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2.2.1| Evolução urbana |

Como já explorado no estudo da evolução urbana de toda a área estratégica em anexo, a zona correspondente aos actuais bairros das Galinheiras e dos Fetais seria, no século XIX, para fins puramente agrícolas. Este facto verifica-se nas cartas deste século onde a cidade ainda se concentrava junto à Baixa Pombalina proliferando-se vários pequenos pólos habitacionais, que mais tarde dariam origem às sedes de freguesias e bairros da cidade, bastante dependentes das vias principais, à medida que se afastavam deste centro.

O pólo mais próximo desta área à data, seria o núcleo da Charneca, a Nascente, onde actualmente ainda se sente o largo e a Igreja de grande importância cultural para os habitantes e bastante concentrada ao redor dum cruzamento de seis estradas, que junto a este largo se cruzavam, tornando-se aqui muito provavelmente a causa do aparecimento deste núcleo puramente rural. O actual forte da Ameixoeira já era bastante sentido no local, embora fosse “escavado” no terreno, pela grandeza e importância para a defesa da cidade, no entanto a maior construção militar que ali se realizou e da qual a zona ficou favorecida, realizou-se no final deste século com a construção da Estrada Militar. Este novo e longo eixo contínuo, ergueu-se segundo uma iniciativa de defesa da cidade de Lisboa, ligando numa única via, todos os fortes periféricos, conseguindo-se fundir em algumas zonas com a materialização da linha periférica do município que foi sofrendo sucessivos aumentos e reduções, a Estrada da Circunvalação. Pelo terreno bastante irregular do local, esta estrada periférica aparece- nos como uma via de abundantes curvas pelo desejo de limite municipal e pela procura de contornar os pontos mais altos conseguindo-se menores declives. Assim, aliado ao terreno bastante declivoso, pode-se referir que a estrada funciona como linha limite à evolução urbana.

Já nos inícios do século XX, confirma-se a presença bastante sentida deste novo eixo com a sua ligação ao forte da Ameixoeira, através de uma nova via (actualmente ainda denominada por Estrada da Circunvalação) que contorna pelos limites de propriedades, partindo de um desenho curvo e sinuoso, para um troço totalmente recto, que lhe confine e realça o carácter contemporâneo. Devido à tecnologia daqueles tempos, as plantas são nos apresentadas em desenhos que procuram conseguir o máximo de rigor possível, embora sem toda a informação que se consegue através de uma fotografia aérea. É de se realçar o “corte” e a pouca importância dada aos terrenos fora do município, dos quais aparecem em branco na grande maioria das cartas, o que dificulta na procura de se compreender, por exemplo, o que existiria nos Fetais.

Até à década de 50, não se registaram grandes mudanças na área. Salienta-se a importância atribuída a esta estrada de Circunvalação, com perfil alargado e arborização em todo o seu comprimento. Destacam-se ainda outros eixos que, pela menor importância, eram denominadas de azinhagas, como as actuais e ainda nominadas de azinhagas das Galinheiras e do Reguengo, funcionando à data como linhas limites de propriedades e quintas. Nos tempos anteriores, sabe-se que esta zona, a Norte e junto ao centro de Camarate, ficou favorecida pelo interesse dos nobres naquele local. Isto veio a reflectir- se no grande número de quintas que ali se desenvolveram, como a Quinta das Mós, dos Fetais e Fonte da Pipa que deram origem aos nomes dos futuros bairros, e nas Galinheiras, as quintas da Assunção, do Galinheiro Grande e do Reguengo na qual se destaca o “castelo”, a construção mais antiga do local e que actualmente se encontra pouco saliente.

Fig. 2.09 – Castelo na quinta do reguengo (actualmente)

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Fig. 2.10 – Planta de 1911 da área das Galinheiras Fig. 2.11 – Fotografia aérea de 1988

Contudo, a “urbanização” sobre estas quintas deu-se a partir da década de 60. Esta urbanização verificou-se vantajosa para os proprietários dos terrenos que venderam as suas áreas, em pequenas parcelas aos imigrantes ou portugueses vindos dos campos, muito devido à falta ou atraso de uma política que respondesse a este “boom” demográfico que a cidade de Lisboa era alvo. Esta situação era desdramatizada pelas autarquias e responsáveis locais, e aproveitadas pelos “clientes” que pretendiam um espaço de dormida nas proximidades dos centros de emprego e de Lisboa. Começavam a erguer-se pequenos bairros que, até ao fim da década de 70, iam conquistando a forma quase final e conhecida hoje, essencialmente no tecido, novas ruas, tendo as construções surgido pontualmente ao longo dos anos seguintes. As Galinheiras desenvolveu-se primeiramente junto à estrada da Circunvalação, onde se denotou uma preocupação dos habitantes e do município, na construção ali de um largo para comércio, com uma igreja nas proximidades pela grande comunidade católica, um espaço para festas e ponto de convívio. Do lado Sul desta via, destacavam-se as “vilas” de construção mais precária, dispostas paralelamente umas às outras. Do lado Norte, muito pelo terreno e azinhagas anteriores, dispunham-se mais desordenadamente, construindo-se ao gosto do comprador, dependendo também das questões de vizinhança. As Galinheiras, zona dos Fetais de cima e da Fonte da Pipa (ver fig. 2.16), foram os espaços que sofreram uma evolução mais repentina e inicial. Pelo estudo anterior realizado sobre bairros clandestinos, a sua origem terá sido por iniciativa particular mas segundo uma metodologia inicial de Construção -> Loteamento, construindo-se os primeiros edifícios e após contorno sobre fiscalização, seriam desenhados novos eixos e erguidas as “vilas”, mais tarde prédios, que demonstravam o sentido especulativo dos proprietários, observando-se várias zonas fortemente densificadas como os Fetais de Cima. O loteamento do bairro da Boavista, a Nascente, terá surgido a partir da década de 80, sendo aquele que denota alguma organização e novo desenho de ruas, embora sem perfil adequado às cotas dos edificados.

Embora fosse de esperar uma maior disparidade de construções por todo o terreno disponível, é de se salientar a visualização clara de 2 aglomerados nos finais da década de 80, pela vontade dos seus habitantes de proximidade, identidade, convívio, tudo o que caracteriza um bairro e claramente pelos limites anteriores de propriedades. Estes dois aglomerados, ficariam conhecidos depois pelos bairros das Galinheiras e dos Fetais, embora resultem do conjunto de vários bairros derivados das quintas antigas em que se inserem. Bairros habitacionais, onde a questão do espaço público apenas foi questionada nas Galinheiras, município de Lisboa, existindo actualmente grande espírito de comunidade nos dois bairros de características físicas um pouco distintas. Em 1988, construiu-se o recinto para a feira das Galinheiras a Sul, constituindo um ponto importante à abertura para fora dos seus limites, com uma mistura de culturas destacando-se o carácter rural que a zona era caracterizada. Na mesma data era erguida a primeira escola secundária, mas fora dos seus limites, no bairro de Angola a Nascente.

Nos fins da década de 90 na Ameixoeira e proximidade das Galinheiras, desenvolvia-se um conjunto de urbanizações, dentro do Plano Especial de Realojamento (PER), especialmente para individuos de etnia cigana que residiam em barracas naquele e outros locais da AML (caso de estudo). Este plano tornava-se no primeiro plano de intervenção urbana municipal na área.

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Após 2004 foi erguido o loteamento Municipal das Galinheiras (EUROPAN) sobre um antigo bairro camarário, a Sul da estrada da Circunvalação. Este loteamento, de iniciativa para jovens a rendas mínimas, foi criado segundo a intenção municipal de combate ao envelhecimento futuro do local e incentivar ao aumento da população em Lisboa, transformando bastante a vizinhança daquele bairro. Três anos depois era construído, na antiga Quinta das Mós em Fetais, outro conjunto habitacional PER com o intuito de reduzir na zona, o número de barracas existentes. A construção edificada mais recente e conhecida na zona, são as escolas EB1 das Galinheiras e dos Fetais que vieram a colmatar a maior falha ao nível de facilidades urbanas.

A última transformação pública de grande impacto para os dois bairros e vizinhanças, tanto negativamente como positivamente, foi o prolongamento do Eixo N/S à CRIL, que evidencia a linha separadora dos dois lados, sobre uma zona pouco edificada (pela previsão de construção a partir da década de 90) abrindo uma possibilidade de ligação mais eficaz e directa para o centro da cidade. No processo de construção foram realizadas várias escavações e aterros, dos quais resultaram vales irregulares e grandes muros de terra, muitas vezes à altura dos prédios (Ameixoeira) que escondem e retiram protagonismo a algumas construções pela proximidade.

Fig. 2.12 – Fotografia aérea de 2001 Fig. 2.13 – Fotografia aérea actual

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2.2.2| Planos municipais e propostas para o local |

Uma situação que torna esta área distinta das demais ao seu redor, trata-se da sua localização dentro dos limites de três municípios, Lisboa, Loures e Odivelas. Este facto pode ser condicionador em alguns aspectos, pois verificam-se três zonas que estão ao abrigo dos Planos Directores correspondentes e que poderiam dificultar na procura de uma solução comum, pois poder-se-iam verificar conclusões diferentes de cada lado.

Na área de bairros a atribuir maior destaque, o limite principal a considerar é aquele entre os municípios de Lisboa e Loures, pela localização dos núcleos em estudo. Este limite faz-se sobre uma zona actualmente de pouca construção entre os dois aglomerados, em área pouco aproveitada com terreno irregular e em zona de linha de água.

Fig. 2.14 – Planta de qualificação geral (PDM’s) Analisando as plantas de qualificação do espaço urbano dos PDM’s correspondentes, verifica-se que a área de Lisboa (Galinheiras) encontra-se numa zona “por consolidar”, estando aberta a propostas para Planos de Pormenor que procurem promover a “regeneração urbana desta área marginal da cidade”. Encontra-se prevista uma ligação à rotunda aérea do Eixo N/S para o interior deste bairro e sua continuidade com a Estrada Militar dentro da Ameixoeira, tornando-se esta situação como uma das principais oportunidades a explorar num plano futuro. Segundo os termos definidos no plano (disponível no site da Câmara Municipal de Lisboa), este deve:

“Reverter a imagem do espaço urbano existente e procurar forçar a legibilidade da área, imprimindo-lhe identidade, estrutura e significado; Garantir os registos prediais (...) Configurar espaços públicos qualificados e estruturantes que fomentem a coesão social e para o reforço da atractividade da área.”

Verifica-se um edifício considerado “de valor patrimonial”, o castelo existente no topo de maior cota do bairro, existente há mais de 2 séculos no local e que actualmente se encontra bastante desvalorizado e absorvido pelas construções ao redor.

Actualmente não se verificam planos propostos e aprovados pela câmara à sua realização, embora seja das principais preocupações municipais à sua concretização. Algo que se verifica pelos estudos realizados no local, nomeadamente do projecto LUDA (Large Urban Distressed Areas).

O LUDA é um programa internacional que parte da intenção de estudar e propor soluções para áreas interiores e especialmente periféricas de cidades europeias que apresentem problemas urbanos e sociais de inclusão, tendo como slogan “Improving the quality of life in Large Urban and Distressed Areas”. Este estudo (2006) partiu de uma intenção da Câmara Municipal de Lisboa de propor um plano estratégico para toda a zona Poente do Eixo N/S, a Norte da Calçada do Carriche e pertencente ao município, nomeadamente as áreas interiores à freguesia da Ameixoeira e o bairro das Galinheiras (Charneca). Esta área foi considerada uma “LUDA” segundo o estudo pela “fraca estrutura urbana, falta de integração social e espacial, a deterioração do património, dificuldades de mobilidade e falta de espaços público”.

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O seu relatório completo pode ser visto no site do programa, apresentando um estudo geral de toda a zona, criando uma matriz de potências e fraquezas, e propondo planos pontuais sociais e físicos para as áreas junto à calçada do Carriche, Vale da Ameixoeira e sobre o Bairro das Galinheiras ao qual analiso dentro da sua proposta físico-urbana.

Fig. 2.15 – Proposta de plano do LUDA para o bairro das Galinheiras.

Neste plano, é proposto um número significativo de demolições de edifícios considerados, “em mau estado de conservação” ou que impossibilitem à implementação de eixos e espaços para o bairro, desde moradias e anexos de 1 piso a prédios de 4 a 5 pisos, realojando em espaços próprios os seus residentes. Delineia um novo e adaptado sistema viário, procurando combater desníveis e abrir à circulação as zonas que actualmente se encontram mais isoladas, assim como destacar os novos espaços públicos e zonas de equipamentos colectivos. É de se realçar também a procura de desenho de lugares de estacionamento ao longo dos eixos de forma a colmatar carências actuais e futuras, pela proposta de novas habitações. Este redesenho viário permite à passagem do autocarro urbano que actualmente se limita junto ao largo. Destaque para a ligação com a rotunda de acesso ao Eixo N/S (de grande importância para o LUDA e Câmara Municipal) que criará maior dinamismo ao bairro e ligação com o Plano da Alta do Lumiar.

Neste plano propõe novos espaços públicos, alguns entre edifícios e alargando o actual largo por forma a ser “rasgado” pela actual estrada da Circunvalação com um novo traçado. A zona do actual mercado (no centro a laranja) é valorizada propondo uma área de protecção ao seu redor equivalente à nova praça. Este plano procura responder às necessidades dos habitantes e criar condições à abertura de serviços para os bairros vizinhos, abrindo portas a sua inclusão social e física. Mas creio que o desenho proposto de implantação dos novos edificados se encontra desligado do existente, dispostos de forma a criar quarteirões quase fechados, com espaço público ou verdes no seu interior, e com formas reticuladas aleatórias e dispersas por todo o bairro. Uma outra crítica cinge-se na criação de várias pequenas centralidades, destacando-se a zona do actual largo apenas pela sua maior dimensão, e rasgado por um eixo de importância viária, não tendo em conta a sua ligação com o bairro, continuando a ser um espaço pouco explorado para os residentes imediatamente vizinhos. No geral trata-se uma proposta que procurou intervir em todo o bairro, atribuindo importância a todo o espaço e criando demasiados espaços de convívio o que, na minha opinião e após o meu percurso académico, me levam a questionar esta solução.

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Os bairros dos Fetais (que engloba os chamados bairros dos Fetais de baixo, Fetais de cima, da Quinta das Mós, Fonte da Pipa e bairro da Boavista) encontra-se nos limites do município de Loures e freguesia de Camarate, cuja 71% da sua população se encontra dentro de Áreas de Génese Ilegal espalhadas por 26 bairros, e sobre a qual é destacada como a freguesia mais insegura do concelho, estando este bairro em 3º lugar da lista municipal de registos de incidências em 2001 (RAPOSO, 2005). A existência de um número tão grande de bairros clandestinos é bastante preocupante, muito pela proximidade a Lisboa e alvo da rápida imigração que se verificou a partir da década de 60. Nestes bairros registam-se índices de Construção e outros parâmetros urbanísticos, superiores aos estipulados no PDM para a área, registando-se mesmo assim “muitas carências de construção, quer de habitação, quer de equipamentos” (ibid). O único plano conhecido que procura englobar a zona, data o seu início de 1992, o Plano de Urbanização de Camarate, e que ainda não se encontra formalizado. No entanto é possível de verificar as suas intenções, como a procura de combate ao crescimento descontrolado verificado na freguesia, e prevê para o bairro dos Fetais e vizinhos, “ a legalização da propriedade; a estruturação da rede de circulação e estacionamento; a criação de espaços colectivos públicos qualificados e o dimensionamento de áreas para equipamentos.”(ibid).

Por toda a Área Metropolitana de Lisboa, registou-se um grande aumento populacional a partir da década de 60, com a forte imigração e impossibilidade de pagar as rendas das habitações do centro da Capital. Estas construções de técnicas precárias, foram-se espalhando pelo extenso território, dos quais os bairros de lata foram surgindo como solução de dormida e alojamento para muitas famílias. Esta situação verificou-se em grande número em Loures, em que a freguesia de Camarate registou o maior número de AUGI’s e barracas do concelho. De forma a combater esta situação na AML, foi criado o PER (Plano Especial de Realojamento), um plano intermunicipal com o objectivo de varrer todos os bairros de lata existentes na área, através de um programa de demolições e construção de novos loteamentos de realojamento. Na área dos Fetais, mais especificamente na Quinta das Mós, foi construído uma urbanização com 210 fogos através de grandes blocos de 7 pisos, com o intuito especial de realojar as pessoas inscritas neste plano e que à data residiam sob condições bastante precárias, nomeadamente nos bairros da Quinta das Mós e Bairros dos Fetais. No entanto estes planos têm sido criticados pela sua construção pontual e fragmentada sem qualquer ligação urbana que se funda com o tecido dos bairros vizinhos e que, aliada à concentração de grandes números de indivíduos de cultura própria (no caso, de etnia cigana) veio a tornar aquela zona insegura e cada vez mais isolada.

Fig. 2.16 – Bairros que conformam os Fetais

1 – Fetais de Baixo

2 – Fetais de Cima

3 – Quinta das Mós

4 – Fonte da Pipa

5 – Boavista

Bairro PER

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2.2.3| Análise Biofísica |

A morfologia do terreno é sem dúvida, a maior condicionante e ameaça física do local. Verifica-se, no geral, que os aglomerados tanto urbanos como rurais, tentam-se adaptar às características dos solos, tenham elas sido alvo de planeamento anterior ou não. Esta situação verifica-se no cuidado do traçado das ruas e acessos, que tentam fazer o maior percurso possível, reduzindo o declive a vencer. Assim, os eixos paralelos às curvas de nível de corte horizontal do terreno, são as direcções preferenciais que visualizamos hoje em dia, nas urbanizações sobre terrenos irregulares. A título de exemplo, o Bairro da Madre de Deus no Beato, onde as suas ruas definem as curvas do terreno, servidos de outros que os ligam perpendicularmente.

No caso destes bairros, este cuidado não foi a principal preocupação, tanto da parte dos habitantes como dos donos das propriedades quando venderam as suas parcelas para construção. Este facto culmina hoje, num conjunto urbano de difícil acesso, inseguro ao atravessamento e exploração, cujas vias principais representam antigos limites de propriedades e azinhagas com declives acentuados. O caso dos Fetais representa um maior cuidado. Este bairro localiza-se todo ele sobre um “monte” com as construções a procurarem um ponto mais alto para vistas e destaque. Esta concentração de edifícios num terreno bastante inclinado, torna mais difícil qualquer intervenção no seu espaço (facto que explica o constante adiamento na sua legalização), o que vai criar conflitos à sua abertura e ligações mais eficazes. Grande parte das suas vias, de condições de atravessamento precárias, aparecem-nos com declives superiores aos 20% e que dos quais, por vezes, são substituídos por escadarias que surpreendem ao condutor. O mesmo se verifica no topo das Galinheiras, embora tenha existido algum cuidado, contudo ainda limitador.

Fora dos bairros, destaque para a zona do Planalto de Lisboa, limite Poente dos bairros, que impossibilita à construção estando grande parte dentro da Reserva Ecológica Nacional. Contudo verificam-se algumas construções (Grafanil, bairro vizinho) cuja insegurança geotécnica é um facto preocupante.

Esta localização dos bairros sobre um dos pontos mais altos de Lisboa e arredores (mais alto só Monsanto), atribui um carácter especial a ser aproveitado num plano futuro, com as vistas que estas possibilitam e o ângulo e comprimento de visão possíveis em vários casos. A Poente, o vale de Odivelas e Loures que, apesar da impermeabilização verificada de construções, atribui uma abertura agradável, e a Nascente, verificado apenas junto ao Eixo N/S, o rio Tejo e Ponte Vasco da Gama (anexo VII).

Fig. 2.18 – Maqueta de estudo do terreno Fig. 2.17 – Planta de cotas

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Fig. 2.19 – Via de grande inclinação (Rua do Olival) Fig. 2.20 – Vale entre bairros bastante irregular.

Outro tema essencial a qualquer projecto urbano, é o estudo da rede ecológica ligada aos vales e morfologia do terreno. Na zona e proximidades imediatas, apenas se consegue verificar o pequeno largo em jardim, nas Galinheiras e um parque verde, o campo das Amoreiras na Charneca, distante dos núcleos em estudo. Todavia, a zona encontra-se servida de vários espaços vazios, amplos, sem construção de valor verificada, essencialmente nos limites exteriores dos bairros e especialmente, no vale que os separa. Este espaço actualmente encontra-se bastante danificado pelos sucessivos aterros resultantes da construção ali do Eixo N/S, apresentando-se bastante irregular, dificultando no acesso e encontro do túnel sob o tabuleiro rodoviário. O seu terreno baldio é actualmente usado para fins agrícolas, em alguns casos de pecuária, para armazéns, oficinas e depósitos de materiais de construção. Encontra-se aqui uma das principais debilidades destes bairros e possibilidade de ligação de posteriores parques e espaços públicos verdes à vizinhança, o que depende de um plano estratégico geral.

Fig. 2.21 – Planta de verdes

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2.2.4| Estrutura Edificada |

Desde o lado Poente do Aeroporto à zona do planalto, junto ao Eixo Norte/Sul, é possível de verificar que a população se concentrou em vários núcleos ou aglomerados de características distintas, tanto físicas como estruturais, algo que já se verificava antes da construção ali do Eixo N/S. Os pólos e bairros da Charneca, de Angola, S. Francisco e para norte os bairros da Torre, quase funcionam como reflexo do que se verifica do outro lado deste Eixo, com todos os Bairros dos Fetais e Galinheiras, concentrando-se e dependendo de vias antigas quase paralelas à linha de cumeada que os separa. Por forma a uma melhor compreensão desta situação, as figuras em baixo abordam-se sobre uma imagem de 1988 anterior às urbanizações de realojamento e construção do Eixo N/S.

Fig. 2.22 – Fotografia aérea de 1988 Fig. 2.23 – Dependência dos aglomerados a eixos contínuos antigos

Cada aglomerado se distribui, como dito anteriormente, sobre zonas de maior declive, destacando-se em relação à vizinhança, um pouco pela disponibilidade de terreno aquando da sua densificação que ali se instalou, na procura de obter a melhor vista e fuga sobre as zonas de linha de água. Assim como é possível verificar que existe uma maior concentração de edifícios mais altos nos topos e geminados, enquanto que nas zonas mais baixas, os edificados se distribuem mais separadamente não existindo a ideia de quarteirão fechado.

Como já referido anteriormente, estes bairros são formados por um conjunto de edificados que apresentam características próprias de situações urbanas de génese ilegal, dispersos pela zona, e de difícil articulação com a envolvente. Contudo, em cada bairro é possível de identificar estruturas interiores diferenciadas como no caso das Galinheiras, retirado dos termos para sua proposta de plano no site da Câmara Municipal de Lisboa, onde é possível distinguir 4 áreas distintas em termos de tipologia (fig. 2.24):

 (1) A zona central junto ao largo das Galinheiras onde se encontram os poucos serviços para a população;  (2) Uma zona de pátios e vilas de edificação de piso térreo, ao redor deste centro do bairro com edificados geminados, bastante concentrados e fechados;  (3) Uma outra de intervenção recente (2003) de habitação de custos controlados;  E uma extensa área de ocupação predominantemente ilegal, que caracteriza todos os espaços restantes. Esta última ainda se poderia subdividir em 2 tipologias pois a zona junto ao planalto é toda ela ocupada por prédios acima dos 4 pisos e geminados (4), e os restantes por um misto de moradias de quintas, e edifícios de habitação colectiva geminados com moradias (5).

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Para o lado municipal de Loures, Fetais, são possíveis de distinguir também 4 tipologias consoante os bairros em que se inserem (fig. 2.24):

 (1) No bairro da Boavista, em que os edificados apresentam alguma organização no solo com edifícios essencialmente de habitação colectiva, na sua maioria sem logradouro ou quintais;  (2) No bairro da Fonte da Pipa, no ponto mais baixo e junto às Galinheiras, com conjuntos de vilas de edifícios de 1 piso geminados, muitos deles com funções de oficinas e pequenos comércios;  (3) O que se verifica nos Fetais de Cima, com mistos de construções unifamiliares e colectivas, essencialmente para arrendamentos, e que demonstram o carácter ilegal do conjunto;  (4) Área de intervenção no âmbito dos planos PER, com 7 grandes blocos datados de 2007.

Fig. 2.24 – Planta da estrutura edificada.

As funções são, em mais de noventa por cento, habitacionais e os restantes de comércio e oficinas. Irregularidade na igualdade de cérceas sendo muito dificil avistar um arruamento com igual altura de fachadas não existindo qualquer controle nessa situação, estando a construção ligada à necessidade do dono e do cliente. Verifica-se um misto de construção colectiva adjacente com moradias unifamiliares, o que vai resultar em fachadas bastantes irregulares atribuindo uma identidade própria a cada lugar.

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2.2.5| Acessibilidade |

A acessibilidade define-se, como o modo e facilidade com que alcançamos um fim, seja ele no espaço urbano, um edifício, um equipamento, um espaço de lazer, comércio, locais. A facilidade de acessos e seus perfis, afectam a produtividade, valor e abertura de uma população, tendo um especial destaque no combate ao isolamento e degradação de espaços. Este tema subdivide-se às várias tipologias que nos permitem dar acesso aos diferentes pontos descritos numa zona urbana como a rede rodoviária, rede transportes públicos colectivos, ciclovías e percursos pedonais.

Nestes bairros, e tal como se verificam nestes espaços de características ilegais, este tema da acessibilidade encontra-se bastante em falta, confuso, figurando-nos eixos viários sem uma hierarquia de valor e importância, o que auxilia em demasia à exclusão e receio de passagem.

Para análise da rede rodoviária destes bairros, torna-se indispensável o estudo das vias vizinhas às quais poderão servir estes aglomerados populacionais, embora indirectamente:

 Redes estruturantes - Pelo carácter periférico e próximo da capital, entende-se a existência destes eixos nas suas proximidades dos quais se destacam e abrangem os bairros, o Eixo N/S e a CRIL a Norte (embora o único acesso a esta seja através do Eixo). A primeira via é actualmente o principal ponto de acesso do Norte, centro de Lisboa para a margem Sul do Tejo, adquirindo um papel de extrema importância para a cidade. Na zona apenas se regista um acesso a esta através de um nó de acesso a Norte e uma rotunda, junto às Galinheiras, em espera de ligação. É de valor fulcral à abertura desta zona urbana, mas os seus acessos estão ainda bastante desvalorizados, pouco sentidos;  Nas atribuições das respectivas câmaras municipais, e pelo carácter rural que a zona nos apresenta, é normal a quase inexistência de uma hierarquia sentida de vias no local, podendo-se distinguir aquelas que obtêm maior uso, pela sua continuidade, embora todas elas de uma via de trânsito para cada sentido como, a Estrada Militar periférica, a estrada da Circunvalação a Sul, a Azinhaga dos Fetais e a Rua dos BV de Camarate. A primeira via é actualmente o único eixo de ligação entre os dois bairros estando nos limites de cada e daí, sem valor natural de ligação e sua estruturação. Foi de grande importância para o local pela história que a segue, à qual está inteiramente ligada a existência das restantes vias. Esta importância foi se perdendo até à actualidade encontrando-se bastante sensível, sem qualidade de cruzamentos e servindo apenas ao automóvel, com a inexistência de passeios pedonais;  A partir das anteriores se ramificam e se concentram dentro de cada bairro, várias e por vezes desordenadas e de iguais valores de importância, pequenas vias que estruturam e desenham o tecido dos aglomerados, sendo muitas delas provenientes de pequenas azinhagas e antigos limites de propriedades.

Analisando a planta de vias existentes, é possível de identificar as vias que terão maior importância para a estruturação dos lugares, destacando-se pela maior largura e continuidade, as Estradas Militar, de Circunvalação e a Azinhaga dos Fetais. É possível de concluir que, o desenho resultante das azinhagas do bairro dos Fetais, deriva da morfologia do terreno, com dois eixos que acompanham a sua dinâmica, detendo no topo uma maior concentração viária desregulada, verificando-se grande dependência e intimidade destas com a Estrada Militar e Azinhaga dos Fetais, virando as costas aos edificados mais distantes. No bairro das Galinheiras, são possíveis de identificar 3 zonas que se ramificam ao redor da estrada da Circunvalação: A zona planeada e ortogonal das urbanizações EUROPAN (fora da zona a trabalhar); a área Poente à azinhaga das Galinheiras, situada numa zona mais plana, menos irregular, onde podemos identificar eixos rectos e alguns cruzamentos ortogonais; e a zona Nascente entre esta azinhaga e a rotunda do Eixo, com um terreno mais irregular, identificando-se “pontas soltas”, ruas sinuosas, algumas resultantes de antigas azinhagas (Reguengo, do castelo).

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Fig. 2.25 – Estrutura viária dos bairros e vizinhança

Assim consegue-se identificar mais um eixo de relevada importância, a azinhaga das Galinheiras, funcionando como rua de distribuição a partir da estrada de Circunvalação, histórica, à qual poderá contribuir para uma melhor estruturação do bairro.

A rede de transportes públicos colectivos identificada no local é escassa e reduz-se apenas ao autocarro urbano. A rede de metropolitano mais próxima é a estação da Ameixoeira, mas a uma distância relevante do centro das Galinheiras, o que inviabiliza e dificulta ao seu acesso.

Porém, a falta de estruturação viária dificulta em demasia ao atravessamento destas zonas por parte do Autocarro que requere a especificações limitativas de passagem, das quais apenas as Estrada Militar, a de Circunvalação e a Azinhaga dos Fetais conseguem dar resposta, embora também limitativas. Assim, verifica-se a existência de paragens apenas junto a estas vias das quais se destacam os autocarros (Carris):

108 - Campo Grande – Galinheiras

717 - Praça do Chile – Fetais

796 - Campo Grande - Galinheiras

207 (noite) - Cais do Sodré – Fetais

757 - Alto do Chapeleiro – Campo das Amoreiras (charneca)

Pode-se concluir que a zona encontra-se servida por uma boa rede de transportes públicos, que os ligam a centros da cidade de Lisboa e cujas localizações das respectivas paragens deverão ser questionadas e estudadas novas possibilidades dentro de um novo plano.

As redes de espaços pedonais desenhados para o efeito são quase inexistentes no local. Nas ruas e estradas, não se verificam passeios pelo que, estas vias são partilhadas pelo peão e automóvel. Todavia é possível de identificar esta separação em poucos pontos dos quais se destaca, a estrada da Circunvalação junto ao Largo das Galinheiras, embora de reduzido perfil e sobrelotado ao uso, com o peão a ser obrigado a usar a via rodoviária. Nos casos restantes há pouca diferenciação do uso de pavimento ou com perfis bastante reduzidos, com o “alcatrão” ou “a terra batida” a serem partilhados pelo veículo e peão.

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Fig. 2.26 – Hierarquia viária aparente

Fig. 2.27 - Fetais Fig. 2.28 – Galinheiras centro

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2.2.6| Espaço Público e Equipamentos Urbanos |

O tema do espaço público no meio urbano, tem sido o principal alvo de grandes debates quanto à sua importância para a regeneração urbana, suas tipologias e desenhos. É o espaço exterior aos cheios, aos espaços construídos ou privados, é a zona pública, de mistura de vivências, acessos, estacionamentos, comércio e lazer. Os largos e praças, são os pontos que atribuem uma identidade ao local, uma imagem na memória dos vizinhos, uma mistura de culturas e de actividades. Esta situação apenas se verifica no Largo das Galinheiras junto à Estrada de Circunvalação. Torna-se no único espaço público desenhado para esse efeito no local, construído nos fins da década de 70 quando a população se acomodava no espaço e atribuía importância àquele ponto mais nivelado, no cruzamento com a azinhaga das Galinheiras. Este espaço engloba usos de lazer e estada, arborização no seu centro, encontrando-se na proximidade de uma Escola, Igreja católica, paragens de autocarro e algum comércio local. Esta situação vai atrair toda a população circundante levando a uma sobrelotação do seu uso em que por vezes, os pontos de convívio se alargam sobre a via rodoviária. Pode-se referir que, este largo já não consegue responder às exigências da população actual necessitando urgentemente de um novo desenho e enquadramento.

Nos restantes locais, a rua é o único espaço de convívio por excelência e escolha dos residentes. Nos Fetais, não se verifica nenhuma centralidade deste tipo, embora se visualize um pequeno largo, mas recente e servindo maioritariamente para apoio a paragem de autocarro na Azinhaga dos Fetais. Este bairro trata-se de um pólo fechado predominantemente habitacional.

Fig. 2.29 – Largo das Galinheiras Fig. 2.30 – Centro Social Paroquial da Charneca (Galinheiras)

No que se refere aos equipamentos urbanos, é de se realçar, tanto dentro dos bairros como arredores, as carências verificadas pela sobrelotação ou incapacidade de resposta ao elevado número de pessoas que abrangem. Encontram-se concentrados junto aos centros de cada freguesia aos quais estes bairros se encontram distantes e que, aliados a uma falta de um sistema de acessos firme e forte que os sirva, concentram-se para as populações da sua proximidade. Contudo, são possiveis de se visualizar alguns dentro dos bairros e para uso das populações em que se inserem.

É possível de se concluir que, o solo pertencente ao municipio de Lisboa, Galinheiras, possui mais equipamentos que todo o bairro dos Fetais, dentro da imagem do que se passa nos bairros vizinhos da freguesia de Camarate com várias carências de facilidades e serviços.

Analisando os equipamentos educacionais, possíveis no site do Ministério da Educação, confirma-se a existência de um grande número de escolas EB1 (Ensino Básico 1º ciclo), um pouco pelos bairros, tornando este equipamento aquele que oferece maiores respostas à procura local, embora ainda com algumas carências verificando-se crianças em lista de espera. Este factor deve-se ao elevado número de crianças nos bairros, tornando ainda mais preocupante o maior número da lista de espera para os jardins-de-infância, de menor número de estabelecimentos em relação às anteriores. Contudo, por forma a oferecer resposta a este problema, é de se realçar um número de “amas” existentes sobretudo, dentro do caso de estudo, nos bairros dos Fetais.

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Dentro dos bairros, as escolas EB1 correspondentes são bastante recentes, cerca de 2 anos, tanto a Escola EB1 das Galinheiras como a EB1/JI dos Fetais, resolvendo um problema substancial nestes bairros da falta de escolas em que as anteriores seriam muito distantes ou sempre lotadas.

Os centros sociais municipais, apenas subsistem no bairro das Galinheiras, com a Unidade de desenvolvimento integrado das Galinheiras (largo) e mais recente, o Centro Social Paroquial da Charneca perto do limite com os Fetais. Estes estabelecimentos procuram ser os centros sociais com lares para idosos, centros de convivio e serviços de apoio domiciliario, assim como para ATL de crianças e Creches. Ainda assim não conseguem abranger toda a população. Do lado dos Fetais este tema é preocupante, não se verificando centros deste tipo, apenas certas associações (Associação Cabo Verdiana dos Fetais e outros centros de apoio ao migrante) que procuram auxiliar na resolução deste problema. Os únicos centros verificados, encontram-se no centro de Camarate, muito distantes e igualmente lotados, para uma população ou bastantes jovem, ou bastante idosa, dependendo da funcionalidade.

Os equipamentos desportivos são essenciais e várias vezes enriquecedores para uma população com elevado número de jovens e crianças como são os casos (característico das AUGI’s). Nas Galinheiras, apenas se verifica um campo de futebol, na estrada de Circunvalação, nos Fetais não se identificam qualquer espaço para o efeito, tanto de grandes como de pequenas dimensões e dentro de um cariz público, pois os existentes na freguesia encontram-se dentro das escolas para uso próprio. Este tema de equipamentos desportivos abrange os campos de futebol e outros desportos ao ar livre, pavilhões polidesportivos, piscinas, pistas de atletismo podendo abranger as ciclovias.

Analisando a planta de equipamentos na vizinhança (anexo III), não se verificam estabelecimentos de saúde (centros de saúde) em que os existentes se localizam em zonas distantes (Centro de Camarate, Lumiar) de grandes e exageradas áreas de envolvência e que deveria ser um tema importante a discutir para estes bairros.

Valência Galinheiras Fetais

Escolas Ensino básico

Jardins infância, creches

Centros sociais

Desportivos

Centros de saúde

Suficiente Existente mas insuficiente Inexistente

Para a presente tabela não entram os estabelecimentos de ensino secundário, pela maior área de abrangência e sem grandes carências verificadas. Esta situação deve-se pelo elevado número de abandonos escolares após o 9° ano de escolaridade, facto que poderá diminuir, tornando a actual Escola Secundaria de Camarate (no bairro de angola) incapaz de abranger os jovens no futuro mas que presentemente não é preocupante.

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3| PROJECTO |

O método seguido para encontro e resolução de um plano requalificador para os bairros das Galinheiras e dos Fetais ao longo da disciplina, procura ser representado de forma semelhante no presente relatório. Os diagnósticos históricos, sociais e físicos destas áreas são indispensáveis e obrigatórios, estudando-os seguindo uma diminuição progressiva de escalas, de modo a conferir maior credibilidade e ligação com a sua vizinhança e com o contexto em que se inserem. Assim, foi recolhida e sintetizada a informação que achei relevante para a procura de um plano, através de uma ou duas intervenções que procurem estruturar o espaço dos bairros e requalifica-los. Esta informação foi subdividida por uma análise SWOT (Strenght, Weaknesses, Opportunities, Threats) respectivamente, Pontos fortes, Pontos fracos, Oportunidades e Ameaças para cada bairro e que pode ser visualizada em anexo (IV).

Neste capítulo, apresento por ordem de produção, os planos que foram realizados para cada área de envolvência, partindo do plano estratégico, de vizinhança e ao plano de bairros.

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3.1| PLANO ESTRATÉGICO |

Na primeira fase da disciplina, como já referido, foi requerido um plano estratégico a desenvolver em grupo, para a área geral que engloba o Aeroporto da Portela. Este plano partiu da análise já complementada neste relatório, funcionando como introdução ao posterior estudo mais específico e de menor escala do bairro.

A proposta geral, bastante delimitada pelas vias estruturantes que desenham os seus limites, partia da premissa de que o aeroporto da Portela seria extinto e movido das suas funções para outro ponto nas proximidades da cidade. Daí lançou-se o desafio sobre o que fazer com todo aquele espaço vazio sobrante das actuais pistas e edifícios deste importante equipamento. A proposta final de grupo, centra-se num grande e extenso Parque Urbano, que faria analogia ao desenho que ali existiu, através da manutenção de dois eixos das antigas pistas do aeroporto, convertidos para ligações pedonais ou limites de edificados. O eixo que se destaca é seguramente o mais extenso Sul/Norte, que corta a área em dois lados, e que se define como um longo caminho pedonal servido de ciclovias, atracções, arborização, continuando nas suas extremidades para o interior dos centros urbanos vizinhos.

Este Parque Urbano, prolongador da rede ecológica de Lisboa para a periferia, estende-se para os bairros e urbanizações vizinhas, através de vários “braços” localizados em zonas de vale e linhas de água, sobre os quais nasciam novos e pequenos parques, que procurariam servir mais especificamente cada população, dotando-os de equipamentos sociais e dinamizadores de estruturação dos núcleos urbanos.

Fig. 3.01 – Plano Estratégico Este novo vazio central, potenciava ao surgimento naquele lugar, de um novo eixo de transporte público colectivo que procurasse colmatar as necessidades, essencialmente dos bairros a Norte (concelho de Loures) e Poente, e que funcione como linha de apoio ao longo comprimento do parque. Na zona Sul, actualmente encontra-se em fase de construção, a extensão da linha vermelha de metropolitano para o Aeroporto, junto à rotunda do relógio, que continuará futuramente, para a Alta do Lumiar e posterior união com a estação da Ameixoeira (linha amarela). Daqui torna-se importante assegurar uma estação e interface em comum. A proposta de grupo apoiou-se numa nova linha de metro à superfície (linha laranja), com uma extremidade na estação do Areeiro (linha verde) seguindo para Norte

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ao longo da avenida Almirante Gago Coutinho, faça interface com a futura estação do aeroporto, percorra toda a extensão do parque continuando para o interior dos bairros a Noroeste, nas zonas de baixo declive e com estações dispostas em pontos estratégicos. Esta linha de transporte público, juntamente com o parque, seriam os elementos base e estruturantes da proposta.

Partindo destes elementos, realizou-se uma proposta para cada núcleo, que se reconheceu necessário um plano mais específico, pelas suas características próprias e diferenciadas. Era necessária a reestruturação das frentes contínuas do parque, dos seus atravessamentos pedonais e da única via rodoviária Nascente/Poente (prolongamento da Alfredo Bensaúde) que considerámos necessária e suficiente para a ligação destes dois lados, que anteriormente o aeroporto terá interrompido. A proposta de grupo procurou desenhar todo o lado Nascente, através de uma malha contínua, que tivesse a mesma base estruturante e que procurasse prolongar os eixos do Prior Velho e dos antigos equipamentos do Aeroporto. Esta zona seria predominantemente de funções terciárias, comerciais, de maior fluxo automóvel. A zona Poente subdividia-se na Alta do Lumiar com plano próprio, e com os bairros AUGI’s do concelho de Loures essencialmente habitacionais (Distinção dos dois lados do Eixo N/S pela maior ligação com o parque central).

Fig. 3.02 – Nova linha de metro proposta

Fig. 3.03 e 3.04 – Braço de parque e nova linha de metro junto aos aglomerados residenciais existentes

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3.2| PLANO DE VIZINHANÇA |

Dentro do anterior plano estratégico, a zona mais preocupante e que me foquei em trabalhar, foi toda a área a Poente do Eixo Norte/Sul, que engloba vários bairros clandestinos, desde a Ameixoeira ao túnel do Grilo a Norte. Identificam-se vários bairros de características morfológicas próprias e dispostos segundo aglomerados concentrados, separados por campos vazios ou eixos viários tendo como único elemento comum, a Estrada Militar periférica. A minha proposta para toda esta franja, extensa mas estreita, procurou manter, mas com um outro desenho mais simples e ligado aos “braços” de parque ali propostos, a ideia de vários aglomerados populacionais separados, com um novo eixo rodoviário em comum que procurasse servi-los, e que funcionasse como elemento centralizador e estruturante dos bairros, no que toca aos novos espaços públicos, equipamentos e edificados. Este novo eixo, permeia sobre linhas pré-existentes dentro dos bairros, procurando a manutenção da estrutura inicial de cada e aumentar a permeabilidade. Nesta zona, a linha de metro teria bastante foco, contornando pelo exterior os bairros dos Fetais, por serem zonas menos declivosas e que permitiam maiores raios de curvatura. Nesta zona subsistiriam duas estações, uma entre os bairros dos Fetais de Cima e as Galinheiras, e outra mais a Norte junto ao bairro dos Fetais de baixo. Estas estações, juntamente com o novo eixo e parque, procuram estruturar os bairros.

No 2° semestre, e já escolhidos os bairros das Galinheiras e dos Fetais pelas razões já enunciadas, aprofundei o meu estudo sobre estas áreas mais específicas. Nesta fase, pedia-se um plano urbano que não dependesse da saída ou manutenção do Aeroporto da Portela. Daqui seria obrigado a questionar a manutenção da linha de metro à superfície, assim como do “braço” de parque urbano, que se encontravam directamente associados à saída desta infra-estrutura.

Tendo como base as ideias de 1° semestre para a zona e a análise mais aprofundada e especifica individual sobre os bairros anteriormente descritos, procurei definir um plano que se centre em apenas um ou dois elementos, que permitissem novas centralidades e que fossem capazes de estruturar os dois bairros em simultâneo.

Após a análise de privações destes espaços, é possível sintetiza-los em dois tópicos urbanos, que partem do tema das Novas Centralidades e essenciais a resolver em primeira instância:

Acessibilidade para Todos, tanto nos acessos rodoviários como pedonais.

Espaço Público, atribuir Centralidades potenciadoras de estruturação urbana.

Dentro destes tópicos e sobre os quais a minha proposta centrou, procurei responder com apenas duas intervenções físicas, comuns aos dois lados, e que achei necessárias a implementar no local. Ideias das quais já derivam do plano estratégico e que se centram num:

Novo Eixo Viário, centralizador e estruturador para cada Bairro.

Parque Urbano, como principal espaço público central, estruturador e unificador.

Estas intenções pretendem ser as bases para solucionar os problemas dos bairros das Galinheiras e dos Fetais, e atribuir pontos de partida para intervenções sobre os bairros vizinhos, igualmente com necessidades de planos. Estas soluções centram-se nestes dois núcleos habitacionais, mas estendem-se à sua envolvência, pois um dos principais problemas verificados é o isolamento de cada bairro em si, permitindo uma maior abertura, ligação, e potenciando ao sucesso destas intenções.

Em relação ao plano de 1º semestre para a zona, a ideia da passagem de um metro foi posta de parte, de forma a que o plano não dependa e se limite a esta estrutura. No entanto, o espaço anterior reservado à sua passagem, foi mantido desocupado de forma a que caso se tornasse viável a sua existência, este fosse facilmente implementado no local.

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Fig. 3.05 – Plano de vizinhança

Este plano procura atribuir especial importância ao vale entre os bairros, para que este se torne no principal espaço público do conjunto de núcleos na imagem. Esta intenção, juntamente com o novo eixo rodoviário, que se estende para o interior de Camarate, obrigam a uma reestruturação urbana e oportunidade de criação ou valorização de centros e praças.

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3.3| PLANO DE BAIRROS |

De forma a permitir uma melhor compreensão da minha proposta de plano para os bairros, subdividi cada intenção pelas funções que pretendo que estas venham a responder. Para o caso do novo eixo viário proposto, pretendo que este funcione como auxílio à criação no local, de melhoria de acessos, de hierarquia viária, ligação de centros urbanos e nova linha de transporte público. Com o parque urbano, pretendo um espaço público central e comum aos bairros em questão e aos vizinhos, assim como de um espaço aglomerante de novas vivências e usos como equipamentos urbanos, hortas comunitárias e sistema de eixos pedonais. Todos estes gestos procuram atribuir a estes espaços, novas centralidades que permitam o seu maior dinamismo, abertura e que se insiram na estrutura da cidade.

Fig. 3.06 – Diagrama de intenções para o projecto

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3.3.1| Novo Eixo Viário |

Actualmente verifica-se uma exclusão sobre estes dois bairros, à sua passagem ou atravessamento, muito pelas condições a que se apresentam a nós as suas vias de trânsito, tanto de entrada como de passagem. Actualmente a via de maior dinâmica de todo o lado Poente do Eixo N/S, é a Estrada Militar que contorna os bairros pelos seus limites laterais, bastante acidentada pela sua função inicial de estrada periférica aliada às condições do terreno bastante irregular. Verifica-se forte dependência sobre este eixo bastante degradado, mal tratado, pouco aproveitado e sobre o qual considero que é necessário retirar alguma pressão que possui actualmente e voltar a atribuir-lhe o carácter periférico, circular, com menor quantidade de tráfego e colocar a responsabilidade de acessos e estruturação urbana a uma nova via, menos acidentada, que cruze os bairros pelos seus pontos mais movimentados.

Melhoria de acessos

A acessibilidade para um determinado ponto urbano, seja isolado ou conjunto de edificados, depende fortemente da sua localização, aliada às infra-estruturas de acessos, eixos viários, pedonais ou misto dos dois, que sejam eficientes, directos e que permitam uma imagem positiva na memória do utilizador, que dependerá também do seu perfil.

Tanto os bairros dos Fetais como das Galinheiras, possuem eixos de acesso razoáveis, com a Azinhaga dos Fetais e a Estrada de Circunvalação, respectivamente, mas são vistas como estradas, de passagem viária e não de ruas. Não se tratam de vias que possibilitam misturas de vivências, de auxílio aos bairros circundantes, apenas de vias de passagem rápida, sem pontos de paragem ou de chamadas de atenção, puramente rodoviários. Observando a zona, as vias mais importantes e estruturantes dos bairros têm direcção Norte/Sul, quase paralelos ao Eixo N/S, muito pelo terreno que assim o limita. Será de grande valor para o local, a criação de uma nova via com esta mesma direcção, entre a Estrada Militar e o Eixo Estruturante ali ao lado. Uma nova linha estruturadora capaz de abrir os dois bairros um ao outro e daí para toda a vizinhança, abrangendo um traçado claro, com perfis atractivos que procure minimizar a influência actual que o terreno tem sobre estes bairros. Este eixo define as principais entradas para os bairros, passando por pontos de interesse de cada, minimizando e até excluindo, o medo à sua passagem, pois os seus centros terão movimento, nova vida.

Hierarquia viária

Este novo eixo une-se com as actuais e principais linhas transversais desta área de estudo, ganhando maior relevância a que, aliada ao seu perfil desenhado para criar novas centralidades, procura adquirir o papel de via importante, distribuidora principal de tráfego, vindo do Eixo N/S e daí para o interior dos bairros.

Actualmente e como já analisado, a maioria das vias detêm um papel semelhante na estrutura dos bairros, o que leva ao caos viário. É pretendido que, tendo como ponto de partida esta nova Avenida Central, se distribuam novos eixos ou redesenho de algumas existentes, por forma a que se sinta esta hierarquia, e atribua uma imagem clara a estes bairros. Esta avenida fará ligação com as vias distribuidoras secundárias para o interior de cada bairro, tendo algumas apenas um sentido de circulação, pelas passagens estreitas entre edificados existentes, permitindo a criação de passeios pedonais e estacionamentos automóvel pontuais.

As duas passagens em viadutos sobre o Eixo N/S existentes pouco se sentem nestes bairros, devendo ser pontos importantes à acessibilidade e de ligação dos dois lados. Esta questão procura ser resolvida, através da continuidade dos seus eixos ao encontro da nova avenida, que permitirá atribuir maior importância aos nós e sentido à existência destas permeabilidades. As vias que passam sobre estes viadutos terão uma importância distribuidora secundária, unindo as duas vias principais Norte/Sul da zona (Rua dos BV Camarate e Avenida Central) e daí para a Estrada Militar periférica.

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Ligação entre espaços centrais, Transporte Público

A intervenção prende-se com a necessidade de criar novas centralidades em cada bairro, novos centros de maior movimento, com largos e zonas de equipamentos públicos que atribuam uma imagem do bairro ao visitante e minimize o aspecto bastante denso. Com esta nova via pretendo unir, com um gesto simples, os dois centros de cada bairro dos quais o das Galinheiras resulta de um redesenho e adaptação do actual largo à nova proposta. Estes dois largos, unem-se possibilitando uma rede de espaços públicos contínua, menos confusa e clara.

Este factor ganha maior relevo, com o eixo central desenhado de forma a permitir a passagem do autocarro urbano, estando inteiramente ao serviço deste transporte público. A continuidade rectilínea do eixo, os raios de curvatura de conforto, redução de declives e desenho dos passeios por forma a permitirem a existência de paragens, atribuem especial foco a este tema que é essencial para os dois bairros, assim como para os bairros vizinhos que pouco sentem a sua passagem ou que se encontra limitada. Este factor deve-se à estrutura viária já referida como confusa, de grandes declives, raios de curvatura insuficientes, irregularidade e descontinuidade viária.

Fig. 3.07 – Influência do novo eixo na estruturação dos bairros (anexo VIII) Fig. 3.08 – Influência do parque urbano sobre os bairros (anexo VIII).

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3.3.2| Parque Urbano |

Entre os bairros das Galinheiras e dos Fetais, junto à linha limite entre os concelhos de Lisboa e Loures, verifica-se um vazio, com baixa densidade ou inexistência de construção, bastante irregular, numa zona de linha de água e profunda pela diferença de cotas dos topos de cada bairro (diferenças de 30 metros). Actualmente é usado para fins hortícolas, depósito de materiais de construção, pecuária, e grande parte sem qualquer uso, muito pelos movimentos de terras resultantes para a construção ali ao lado do Eixo N/S. Assim, este espaço possibilita, pelas suas características, à existência futura de um parque urbano verde comum aos dois bairros e vizinhanças.

Espaço público central

Pretendo que este parque urbano se torne no espaço público comum aos dois bairros, que possibilite à mistura de vivências entre as populações de cada aglomerado e para com os bairros ao redor, possibilitando novas atracções e servindo o espaço de um sistema de acessos favorável.

Actualmente este espaço poderá ser perigoso à existência de edificado, não justificando qualquer construção naquele lugar, assim instalei os seus novos conjuntos junto dos centros de cada bairro, permitindo assim trabalhar as suas frentes para com o parque e possibilitar à sua envolvência e entrada deste elemento para o interior de cada bairro. Este factor aumenta a permeabilidade de cada núcleo e possibilita à continuidade da rede ecológica à qual o parque procura responder. Como referido na análise anterior, este topo da cidade de Lisboa, possui grandes carências ao nível da rede ecológica que se encontra bastante descontínua e quase inexistente, sendo o campo das Amoreiras, no centro da Charneca, o único elemento “verde” na vizinhança próxima. Este parque procura partir dos montes do planalto pertencentes à Rede Ecológica Nacional, a Oeste, e distribuir-se para o interior dos aglomerados urbanos, interligando-se com os outros espaços verdes que possam vir a surgir na vizinhança. Esta ideia parte da solução proposta em grupo para o plano estratégico, embora neste caso o aeroporto continue naquele local com as suas funções, mas que achei de valor para o local a sua permanência, mas já sem a dependência do Parque Urbano que era proposto sobre as pistas aéreas, ganhando assim maior autonomia.

Hortas, Equipamentos, Eixos Pedonais

Como já referido anteriormente, esta zona entre bairros é usado em parte, para hortas privadas que vão atribuindo algum uso a este vale irregular. O meu parque urbano procura não se restringir em ser um espaço central apenas de estada, de lazer, não pretende ser apenas um grande jardim, pois o local não necessita de uma área tão extensa de parque. Assim procurei implementar hortas comunitárias, em constante crescimento no desenho urbano actual, e que se envolva com o verde de parque, funcionando como um único elemento, embora com heterogeneidades de usos.

Pretendo que este espaço albergue certas atracções dos quais os equipamentos urbanos ganham destaque. Dentro deste, procuro colocar os equipamentos de maior área de envolvência, que possibilitem ao uso comum entre os dois bairros e que cativem pessoas dos pólos vizinhos. A sua localização dentro do parque, vai ter especial atenção, pois tornam-se elementos de ligação dos bairros para com o parque e sobre os quais as redes pedonais interiores procuram servir de modo mais eficaz.

Esta rede pedonal serve todo o parque, de acabamento em saibro, procura moldar o terreno por forma a minimizar declives para menos de 6%, tornando a sua passagem agradável e possível para todos os utilizadores. Esta rede interliga os principais espaços dentro do parque com aqueles mais junto aos bairros, como largos e ciclovias. Estes eixos concentram-se junto ao túnel, sob o Eixo N/S já existente, atribuindo maior destaque à sua presença, procurando dar-lhe uso permitindo assim ligações para com a Escola Secundaria do lado Este e continuação do parque.

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3.3.3 | O PLANO |

Fig. 3.09 – Proposta de plano de requalificação dos bairros.

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Para tornar o meu plano possível, são propostas algumas demolições de edificados que, após uma análise mais detalhada, apresentam baixo valor para o local, alguns casos estão degradados ou que não se enquadravam no futuro plano. São propostas o mínimo de demolições possíveis, que garantam o desenho do eixo viário e do parque urbano com um mínimo de impactos para o local. Que possibilite às dimensões mínimas de largura de perfis, continuidades de eixos e principalmente ao desenho de vias com declives amenos e suaves para todos os utilizadores. No caso do bairro da Fonte da Pipa, que se localiza entre os bairros dos Fetais de Cima e as Galinheiras, a minha proposta passa pela sua total demolição e realojamento nas suas imediações. Este bairro localizasse numa zona de vale, em linha de água, onde afluem as águas dos montes vizinhos o que, aliado à sua estrutura confusa e pouco favorável a esta situação, decidi excluir do meu plano possibilitando espaço para hortas, libertando assim todo o vale de qualquer construção (anexo IX).

Na generalidade do plano, destaca-se claramente o único eixo contínuo e unificador dos dois bairros proposto, funcionando como a única via de passagem sobre o parque, de forma a minimizar o impacto rodoviário sobre este. Assim como o parque urbano, entre bairros, com o seu desenho que procura criar condições à acessibilidade a todos os pontos, essencialmente através de rampas.

Ao nível do edificado, estes procuram servir e dar resposta à área de construção demolida, e atribuir mais espaços habitacionais, muito devido à população jovem existente no bairro, possibilitando à sua permanência no núcleo correspondente. Os dois lados do parque procuram ter uma relação morfológica e visual semelhante, com tipologias base iguais, variando no número de pisos e comprimentos de acordo com os eixos existentes. Trata-se de uma grelha ortogonal que procura atribuir um carácter contemporâneo à proposta, mas ao mesmo tempo manter alguma ruralidade e ligação com os bairros em que se inserem. Visualizando a planta geral de plano, é possível de se concluir que existe uma estrutura de edificados semelhante dos dois lados, tanto do centro das Galinheiras como dos edifícios dos Fetais, de forma a criar não só condições de maior ligação e unidade, mas também para possibilitar permeabilidades de parque e de eixos pedonais e visuais, sendo o eixo privilegiado o Norte/Sul, paralelo à via estruturante homónima e perpendicular ao parque urbano. Estes edifícios essencialmente habitacionais, procuram minimizar o impacto que o terreno tem no local, funcionando como muros de suporte, dos quais os pisos de apenas uma fachada serão destinados para comércio ou estacionamentos privados.

As frentes imediatamente para o parque, caracterizam-se como pequenas torres habitacionais que variam em planta, desde a forma quadrangular à rectangular, dependendo do caso em que se encontram. Esta possibilidade advém após uma observação dos edifícios na generalidade dentro dos bairros, com variações de cotas, por vezes de 4 pisos, com os edifícios imediatamente adjacentes (edifícios colectivos com unifamiliares) assemelhando torres. Ou mais especificamente no bairro das Galinheiras, numa zona mais a Poente, com vários blocos isolados no terreno, em espera de construção a geminar, o que criou uma imagem daquela zona do bairro e da qual achei sensato procurar manter, conseguindo assim uma estrutura de edifícios própria do local. O edifício base encontra-se actualmente na Azinhaga do Reguengo e sobre o qual procurei partir e englobar, para o desenho da frente das Galinheiras e dos Fetais para o parque. Este edifício torre, possui 6 pisos sendo ele o conjunto de 2 prédios geminados com empenas planas e de topo triangular, sem vãos, permitindo a “colagem” de outro edifício. A sua singularidade e isolamento para com o resto do bairro gerou especial atenção, ganhando com o meu plano, maior relevância e existência.

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Fig. 3.10 – Maqueta de intervenção sobre os bairros. Fig. 3.11 – Prédio na azinhaga do reguengo.

Os edificados no geral, não terão cérceas superiores aos edifícios existentes vizinhos, procurando criar um conjunto urbano unido, do bairro, que não funcionem como elementos de quebras visuais. O seu desenho baseia-se no L de forma a permitir duas fachadas de direcções perpendiculares, privilegiando dois eixos com o mesmo gesto e possibilitar espaços mais reservados no seu interior, para logradouros/hortas e abrigando as entradas para os edifícios.

A localização dos equipamentos dentro dos bairros, tornou-se uma das principais preocupações debatidas ao longo do desenho do plano. Na minha proposta, a sua colocação teve em consideração, os impactos que teriam sobre os edifícios vizinhos ou de mesma estrutura e as suas necessidades futuras de estacionamentos de forma a criar destaque e importância dentro de cada bairro.

Após a análise realizada sobre os equipamentos existentes dentro e nas imediações dos bairros, conclui que aqueles em que a minha intervenção se deveria basear e que teriam maiores urgências de construção seriam:

Equipamentos sociais Centros de apoio ao idoso, como lares e centros de dia, e às crianças como ATL e Bibliotecas, quase inexistentes actualmente dentro dos bairros. Procurei localizar estes estabelecimentos, em zonas dentro dos novos centros dos respectivos bairros, para que se encontrem privilegiados ao nível de acessos e proximidades aos principais espaços públicos. O ATL para actividades das crianças residentes nas Galinheiras, localiza-se assim junto à ampliação do antigo largo, agora praça e próximo à escola primária e creches existentes. A biblioteca situa-se no edifício central, de frente para a praça partilhado com os serviços administrativos e outras associações de moradores. O mesmo se verifica do lado dos Fetais, localizando-se o ATL e biblioteca no edifício Sul da praça pública. Educacionais Estes baseiam-se em creches e jardins-de-infância de forma a combater as creches clandestinas existentes essencialmente nos Fetais. Dai a única creche/infantário proposta, situa-se no edifício Norte da praça dos Fetais, pela maior urgência neste bairro.

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Desportivos É proposto um pólo desportivo com várias modalidades, que permitisse mistura de culturas e inexistente nas imediações, apenas para uso escolar. O pólo proposto, possui dois campos de futebol, um pavilhão coberto e balneários, localizando-se no canto Sudeste do parque urbano e dentro do Município de Lisboa. Encontra-se num dos topos do parque, estando privilegiado na sua localização com a proximidade ao viaduto sobre o Eixo N/S, permitindo o seu uso pelo público geral. Saúde Os centros de saúde mais próximos, localizam-se nos centros do Lumiar e de Camarate. Esta freguesia (e na generalidade dos casos nacionais) apresenta um índice de médicos por pessoa bastante limitado. O centro de Saúde, pela colocação do pólo desportivo nas Galinheiras, é razoável que se localize e pela sua maior dependência, junto aos Fetais. Encontra-se num local mais isolado, que permita área para estacionamentos, fácil acessos e vistas. Num dos pontos baixos do parque de forma a facilitar acessos pedonais e junto à urbanização existente da Quinta das Mós, a sua localização ali permite o uso pela população geral albergando as Galinheiras. Este edifício terá frente para Sul, aproveitando o máximo de ganhos solares, potenciando à construção de um edifício verde, unido com o parque e semienterrado.

Administrativos Poderá ser favorável a criação de extensões de juntas de freguesia para cada bairro, facilitando nos processos municipais. Assim estes localizam-se junto às praças de cada bairro, nos principais edifícios que fazem fachada para com este, salientando a força que este espaço público deverá ter.

É de se salientar a maior necessidade de equipamentos dentro dos Fetais.

Fig. 3.12 – Localização dos equipamentos no plano proposto.

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A generalidade da proposta procura intervir sobre os dois bairros de um modo unido, que minimize ao máximo o seu isolamento um do outro, criando-se condições para melhores acessos e uma certa dependência, muito por culpa do Parque Urbano que deverá ser partilhado e mantido pelas duas populações. Esta situação torna-se potenciadora de entreajuda dos dois bairros, tentando encontrar formas que cativem as pessoas de fora. Após a análise realizada, achei essencial e positivo para os dois bairros, que a intervenção se centrasse na abertura de um para o outro, nas zonas em que, actualmente, são mais desfavorecidos. Nos limites Norte dos Fetais e Sul das Galinheiras, verifica-se uma melhor ligação destes com os bairros correspondentes ou que não criam condições à sua contínua exclusão. Facto que se verifica pela continuidade de eixos e vias em comum. O novo eixo viário neste caso, apenas funciona como o elemento de melhor e mais rápida ligação, rodoviária, obrigando a que as populações dos bairros vizinhos ou de outras zonas, percorram o interior das Galinheiras e dos Fetais, que já dispõem de um espaço público central, novo desenho e maior ordem. Já é possível a passagem do autocarro no interior destes núcleos, permitindo maior dinâmica e abertura. A questão do medo que se verifica sobre estes bairros clandestinos é aqui, minimizada com uma hierarquia clara de vias e de espaços públicos, definindo-se os espaços para a população e mais abrigados dos mais públicos.

Definindo-se as linhas gerais e comuns da intervenção, torna-se essencial perceber o efeito e como o desenho procura resolver as falhas existentes sobre cada bairro. Importa salientar que o centro das Galinheiras foi a área mais desenvolvida, levando a sua intervenção a uma escala mais detalhada, ao nível do desenho de um Plano de Pormenor, muito pela sua localização no município de Lisboa e pelo facto da intervenção se concentrar no centro deste bairro, criando maiores desafios pela existência de edifícios existentes a preservar e interligar com os novos edifícios.

3.3.3.1| FETAIS |

A definição do melhor local para a passagem do novo eixo sobre este bairro, teve um cuidado especial, muito pela maior densidade de construções existentes e o declive do terreno que se encontra bastante representativo. A sua passagem seria positiva para o bairro, que se realizasse no seu centro, ou num local mais centrado em relação ao actual desenho geral, de forma a servir toda a sua população e não a periferia, que se encontra mais favorecida em relação ao seu centro mais denso. Foi possível de se visualizar uma via existente, a rua do Olival (anexo VI), que se apresenta como a única via transversal do bairro, de cruzamento perpendicular à rua do Galvão que atravessa o Eixo N/S. Apresenta-se como um eixo rectilíneo que num determinado momento, exibe um declive de 21%, pelo seu atravessamento perpendicular sobre o monte, e acabando de uma forma repentina, contra o vale de hortas. Pelo seu perfil largo poderia ser um eixo a privilegiar, conseguindo-se assim manter um maior número de construções, aliado também à sua direcção para as Galinheiras. Mas a sua localização oferecia maiores problemas que soluções. Uma delas seria a curva a delinear para que este prosseguisse para o centro das Galinheiras, quebrando aqui a intenção de simplicidade deste eixo, com o menor de contracurvas possível. A outra, e mais problemática é o terreno bastante inclinado deste monte e que deveria ser reduzida para um máximo de 15% regulamentares, para a passagem de um veículo pesado, neste caso, o autocarro urbano, tornando mais desafiante a intervenção. Estudando o seu interior, no limite entre os bairros da Boavista e dos Fetais de Cima, é possível de se verificar uma menor impermeabilização do terreno e que, pela sua localização, facilitará numa ligação mais directa às Galinheiras e também na redução de declive pela sua passagem diagonal. Consegue-se alguma redução mas mesmo assim, insuficiente. A solução encontrada para esta problemática, passou pela diminuição da cota a ser vencida ao “escavar” o topo e “subir” no vale. Esta última é solucionada ao criar condições para a passagem do eixo sobre um viaduto estrutural, que atravessa o parque urbano, conseguindo-se uma continuidade de percursos sob este.

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Aliada à passagem deste eixo, foi construído naquele topo, uma praça pública de forma a criar ali uma centralidade naquele bairro, que seria servida por um sistema viário simples e de equipamentos urbanos. Este topo encontra-se denso, o que dificultaria na criação de uma praça suficientemente larga e afirmativa do local. Era necessário que esta fosse plana, assim definiu-se e estudou-se os edifícios que poderiam ser sacrificados de forma a criar este espaço sem grandes impactos. A solução passou pela demolição de um conjunto de edifícios mais degradados e com lotes por ocupar, de forma a manter aqueles que teriam mais condições de habitabilidade ou com possibilidade de conservação para frentes urbanas. Assim, toda a fronteira do bairro da Boavista com os Fetais de cima foi “limpa”, pela maior permeabilização, confusão que apresenta no traçado das vias e maior dificuldade em unir os dois lados. O bairro da Boavista, apresenta-se com uma organização transversal à do bairro vizinho, e com edificados mais recentes que deveriam ser mantidos. Os Fetais de cima encontram-se bastante densos, com desenho próprio que demonstra a dinâmica do monte, localizando-se a uma cota mais alta em relação ao anterior bairro a Nascente. O espaço entre estes dois engloba características dos dois bairros, mas de uma forma mais confusa, tornando-se o ponto escolhido à passagem ali do eixo, criação da praça e redesenho da sua fronteira.

Fig. 3.13 – Plano para os Fetais

No seu topo foram possíveis de retirar, cerca de cinco metros de terreno, conseguindo-se diminuir para os 11,5% o declive da via, não permitindo um declive menor, devido ao impacto que teria sobre os edificados vizinhos e futuro efeito indesejado de pequeno vale. Pretende-se uma planificação do espaço à cota aproximada do bairro da Boavista, usando a praça e seus equipamentos como elementos muro entre as duas cotas. O espaço entre a praça e a rodovia principal é desenhado como um pequeno talude, evitando um muro que acentuaria a verticalidade, e que vai diminuindo de cota à medida que se movimenta para Norte, devida à planificação da praça à cota dos edifícios a Poente. Toda a intervenção na generalidade, procura criar condições à acessibilidade a todos os pontos, para todas as pessoas, o que vai exigir, para além de escadarias, da presença de rampas com inclinações máximas de 6%. Assim a ligação pedonal do eixo viário para Praça, faz-se por uma pequena rampa, para Sul de forma a aproveitar a menor cota a vencer. Junto a esta, localizei a paragem de autocarro, pela maior disponibilidade de espaço para o efeito, pois a via de trânsito apenas possui uma via em cada sentido e são necessários espaços para cargas e descargas próprios, de forma a evitar obstrução da via. A sua posição também se pode entender pela centralidade no local, albergando um maior número de pessoas, melhores acessos e também pela localização no topo mais plano.

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A praça pública, foi desenhada segundo eixos existentes, de forma rectangular, contendo dois níveis, o central e o lateral. A diferença entre os dois verifica-se na cota em que se encontram, resultado das cotas de entrada das frentes dos edifícios a Poente. A praça terá arborização e encontra-se servida por dois equipamentos, o equipamento social e administrativo e a creche/infantário, que procuram evidenciar o carácter central do espaço. O estacionamento neste espaço localiza-se nos pontos vazios existentes, permitindo laterais e transversais de forma a servir estes equipamentos e a praça.

Fig. 3.14 – Relação da praça com o parque Fig. 3.15 – Praça e elementos que a envolvem

Fig. 3.16 – Corte longitudinal no novo eixo (vista para a praça).

A minha intervenção procurou criar condições à passagem da via e do parque urbano, desenhando as suas frentes, ligações e novos edificados necessários para realojamentos ou novas habitações. Assim a minha intervenção não se espalhou pelo interior denso do bairro, mantendo-o na sua generalidade, apenas intervindo nas suas frentes mais próximas. Creio que uma intervenção em todo o bairro não é necessária, pois a minha intervenção mais pontual procura servir todo o bairro, escolhendo as vias mais importantes e sua ligação com o novo eixo, abrindo portas para a regeneração do local.

As demolições propostas do bairro da Fonte da Pipa e daquelas para a passagem do eixo viário e construção da nova praça, criam a necessidade de desenho de novos edifícios, urbanização, de forma a realojarem a população expropriada e potenciar novas habitações para jovens. Assim, desenhado em conjunto e semelhança com a estrutura dos novos edifícios do bairro das Galinheiras, alguns eixos existentes nos Fetais foram valorizados, desenhando-se uma nova urbanização de edifícios de habitação colectiva. Estes edificados procuram utilizar da melhor maneira o espaço sobrante entre o bairro e o Eixo N/S, permitindo trabalhar as frentes para o parque e ligações com as Galinheiras.

A cota a servir é aproximadamente de 30 metros, desde o ponto mais baixo do parque, aos edifícios do topo do bairro da Boavista. Esta nova estrutura deveria oferecer resposta a esta situação, utilizando os edifícios como elementos muro, onde os pisos resultantes com apenas uma fachada seriam destinados para comércio ou estacionamento privado, dependendo dos casos. Assim, a direcção privilegiada seria a paralela ao terreno, embora se pretenda a entrada do parque para o seu interior, através de eixos perpendiculares que vão ao encontro dos edifícios existentes a Norte, permitindo uma permeabilidade do plano e extensão do parque. O plano procura servir a regra dos 45° entre alçados e perfil de rua, onde as cotas dos edifícios variam de acordo com os vizinhos existentes, valorizando não só eixos de vias mas também de linhas de cérceas, na procura de melhor.

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Os blocos em L possuem os mesmos números de pisos (variando de 4 a 6) mas as bases vão descendo de cotas à medida que nos aproximamos do parque, criando um plano em “escadaria” constante que terminará dentro do parque, com as pequenas torres habitacionais. Estas torres procuram funcionar como os elos que misturam a urbanização com o parque, tornando pouco claro a qual deles pertencem.

Junto a estas “torres” visualiza-se um dos principais eixos que procurei valorizar e expor no plano e que une os dois lados do Eixo N/S, desde o bairro de Angola aos Fetais, num eixo rectilíneo e perpendicular à rodovia. Esta linha atravessa em túnel sob o eixo rodoviário, na procura de evidenciar esta passagem existente, unindo os dois lados e permitindo uma mais eficiente ligação tanto física como visual. Este eixo, dentro do meu desenho, possui um perfil mais largo, um pouco pela procura de colocar o máximo de estacionamento automóvel possível e evidenciar o carácter comercial que terá, servindo assim não só os residentes mas também o parque. A sua continuidade para Poente faz-se segundo uma linha pré-existente, sobre a rua do Grafanil, que destaca o desenho semicircular do bairro e do monte em que se encontra. Todo este eixo foi privilegiado para o peão, embora permitindo a passagem rodoviária, mas limitativa a certos veículos. Este facto resulta de uma opção em aliviar o parque urbano do automóvel minimizando-o ao mínimo possível, sendo o parque desenhado pelos edifícios e não por eixos viários. Assim consegue-se criar frentes de parque comerciais, mas de aspecto mais rural e calmo, característico deste bairro.

3.3.3.2| PARQUE UBANO |

O espaço limítrofe entre os dois bairros, linha separadora de municípios e linha de água, potencia à criação de um parque urbano que procura colmatar as carências dos bairros em questão e vizinhos tanto ao nível de acessos, serviços como de espaço público. Como já referido anteriormente, os limites do parque são desenhados por frentes de edifícios, alguns dos quais existentes, outros propostos mas penetrando quase aleatoriamente, permitindo maior união deste com os bairros construídos, como se de um “cruzar de dedos” se tratasse.

O parque procura dar resposta à irregularidade do terreno, às elevadas cotas a vencer, e à vontade de criar acessos baseados em rampas de inclinações suaves espalhados pela sua área. Estes eixos pedonais, desenham as formas do terreno de forma a minimizar o seu impacto, tornando relva os espaços mais inclinados, e em saibro, os espaços canais. Facto que se verifica junto ao bairro das Galinheiras, onde a cota de parque é maior, lançando a oportunidade de moldar o terreno de um modo suave e permitindo a existência de um sistema de rampas capaz de servir e unir o bairro com o ponto mais baixo do parque. Esta frente, possui um misto de verde de lazer, eixos canais e hortas comunitárias. Aqui procurei servir, segundo um desenho curvo demonstrativo daquele monte, as 3 funções no mesmo espaço e jogar um pouco no seu desenho. Resulta assim 4 níveis inclinados divididos para relva e hortas.

Fig. 3.17 – Imagens ilustrativas que se pretendem no parque (canais em saibro, espaço de lazer, hortas)

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O desenho funcional destas hortas comunitárias, foi um tema com que me debati e interessei especialmente procurando soluções para a sua execução devida à sua inclinação. Estes teriam um muro separador entre público e o privado da horta, de baixa cota, permitindo a sua visualização e harmonia com o parque, mas delimitando à sua passagem livre funcionando também como muro de contenção. No seu interior seriam divididos a meio, de forma a permitirem uma pequena “serventia”, nos casos em que teriam largura que assim o justificasse. No seu ponto mais alto estaria localizado um canal para passagem de água vindo do ponto mais alto, chegando à horta respectiva pelo efeito da gravidade, evidenciado o rural da intervenção.

Este parque procura conciliar o rural com o urbano, adquirindo as hortas um papel especial e importante para a afirmação do espaço, sobre as quais recaiu especial atenção na sua localização e desenho. Para além do referido anteriormente, existem mais dois espaços com esta finalidade dentro do parque, junto ao ponto de menor cota, de forma a aproveitar as águas pluviais para rega, em zona onde anteriormente se localiza o bairro da Fonte da Pipa. Factor que ganha maior relevância com a existência de lagos de desenho curvo e adaptativo ao terreno, em pontos baixos, de forma a aproveitar o escoamento natural das águas e daí para regas dos jardins e hortas, conciliando funcionalidade e lazer.

A oportunidade do eixo viário em viaduto permite a continuidade, sem grandes obstruções, do parque sob a sua passagem, conseguindo-se maior unidade e fluidez dos acessos em saibro e cobertos com arborização de copas mais largas.

A união do parque com os Fetais ganha maior destaque com o seu braço em rampa para junto da praça. O eixo viário, possuindo 11,5% de declive, não permite o seu acompanhamento por passeios para o peão. É necessário que estes se separassem e ocupassem o terreno disponível de forma a minimizar para os 6% regulamentares, permitindo a continuidade dos eixos pedonais em saibro para o interior do bairro e consequente, braço de parque. A cota a vencer, pela modulação para a urbanização nova, é maior junto ao parque, decrescendo à medida que se sobe, o que permite o “minguar” deste braço para o topo. Este sistema de rampas evidencia o desejo de acessibilidade para todos, permitindo também acessos para ciclovias. Este sistema, tem as suas mudanças de direcção junto a eixos de entrada para os edifícios tanto novos como existentes, ganhando maior expressão, funcionalidade e ligação.

Fig. 3.18 – Funcionalidades no parque.

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Fig. 3.19 – Relação do parque com os bairros. Fig. 3.20 – Esquema para as hortas

Fig. 3.21 – Corte longitudinal sobre o novo viaduto

3.3.3.3| GALINHEIRAS |

Enquanto a urbanização desenhada no bairro dos Fetais busca conciliar o parque com o bairro, procurando ocupar e aproveitar o espaço vazio existente, no bairro das Galinheiras a intervenção encontra-se mais centrada, limitada pelos edifícios existentes a que procurei interligar, procurando destacar o espaço junto à nova avenida de forma a centralizar o bairro, conferindo-lhe um carácter mais urbano e estruturador.

Os edifícios existentes junto ao largo das Galinheiras para Norte, foram objectos de especial análise, de forma a perceber quais deveriam ser mantidos para o meu projecto segundo critérios, de contemporaneidade do edifício, importância para o local, impacto da sua demolição, história e funcionalidade. No bairro, foram identificados vários edifícios ou conjunto destes que apresentam níveis de degradação ou que sejam pouco dignos e positivos para o bairro, mas procurei circunscrever-me aos existentes junto ao novo eixo. São possíveis de verificar edifícios de mais de 5 pisos e que apresentam alguma contemporaneidade, pelo que foram mantidos e englobados na nova malha para o bairro. Edifícios esses da Rampa do Mercado e Azinhaga das Galinheiras. Nesta última, destaque para um conjunto de 5 edifícios geminados e dispostos em curva no terreno, que demonstram a mistura entre habitações unifamiliares e colectivas, factor que culminará numa descontinuidade de cérceas, desde o edifício com 1 a 5 pisos. Este conjunto, embora não apresente características completamente positivas, procurei manter e ligar à nova intervenção, ganhando na manutenção do património, vivências e diminuição do carácter puramente contemporâneo que a avenida poderia adquirir no futuro e que não dignifica o aspecto rural que possui actualmente.

Fig. 3.22 – Rampa do mercado Fig. 3.23 – Azinhaga das Galinheiras

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Fig. 3.24 – Relação do bairro das Galinheiras com o parque

A intervenção no geral, procura ocupar este centro de uma forma organizada, ortogonal, tentando impor uma ordem que pouco existia anteriormente e diminuir o impacto que o terreno possui sobre o lugar, mantendo a sua identidade e procurando valorizar a memória da população.

Este conjunto centra-se junto à antiga azinhaga das Galinheiras, transformada em avenida, linearizando-a e retirando várias descontinuidades, atribuindo-lhe um perfil potenciador à urbanidade da intervenção. Este perfil procura criar condições à passagem do autocarro urbano, atribuindo-lhe suficiente largura às vias de forma a não obstrução futura, e tendo um cuidado os raios de curvatura e existências de espaços reservados para as paragens de entrada e saída de passageiros. Estes locais sentem-se em duas situações, junto à praça e mais a Norte, por forma à não concentração de passageiros num só espaço, assim como da intenção de centralizar toda a avenida.

A praça resulta da ampliação do actual largo das Galinheiras para Norte, em que o actual desenho não conseguiria dar resposta dentro do novo plano. Actualmente circunscreve-se na Estrada da Circunvalação, funcionando como rotunda, com o largo no seu interior perdendo valor. Na minha proposta a praça terá o dobro do tamanho e atribui maior importância ao espaço reservado para actividades e não para jardim. Terá um edifício como frente, o equipamento central administrativo com biblioteca e serviços de bares e restauração, de esplanadas para a praça. O actual largo é bastante sentido no desenho da praça, tanto em planta como na manutenção do quiosque metálico existente, um ponto de interesse especial no bairro e que mantém a identidade do espaço. Para além deste elemento e das esplanadas, estará servida de mesas, arborização, estacionamentos na via e casas de banho sob a via a Nascente. Esta via, de sentido para Norte, procura servir a avenida, funcionando como elemento distribuidor de trânsito para as garagens privadas. Esta parte à mesma cota da Praça, a Sul, funciona como praça de táxis (existente no local), subindo ligeiramente a 6% de declive, permitindo o uso do peão. Esta inclinação possibilita, junto ao equipamento a Norte, a existência das casas de banho públicas por baixo da via, pelos 3 metros vencidos, conseguindo-se um desenho simples da Praça.

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Fig. 3.25 – Actual largo das Galinheiras Fig. 3.26 – Nova praça

O edificado junto ao novo eixo principal, procura relacionar-se com os edifícios existentes e mantidos, na procura de maior harmonia entre o velho e o novo, permitindo continuidade de cérceas essencialmente na Avenida. Daí, estas cotas centram-se nos 5 pisos, sendo o primeiro reservado para comércio e entradas para garagens, o segundo, junto à praça para actividades económicas, e as restantes para habitação. Estes edifícios procuram realojar as pessoas expropriadas por algumas demolições neste centro, embora a maioria seja para nova habitação. Não é de inicial intenção o desenho de novos edifícios de habitação, mas o desenho de edifícios apenas para realojamentos, iria deixar um espaço central sem ordem e unidade que possui o plano final, podendo serem aproveitados para programas de realojamentos das famílias em condições precárias no resto do bairro.

Estes edifícios compreendem a sua entrada nas zonas semiprivadas, nos espaços mais fechados resultantes do edifício em L, permitindo maior privacidade e possibilidade de utilização destes espaços para pequenas hortas ou jardins por decisão dos moradores. Estes espaços encimam o estacionamento privado em garagem, que necessita de maior área de espaço em relação à implantação do bloco. Importa a destacar o uso de cobertura em 2 águas, em telha cerâmica de modo a uma melhor união visual com os edifícios existentes. Os conjuntos de edificados são constituídos por vários blocos geminados, que no final resultam no L ou I respectivo. O seu interior basear-se-á em habitações T2 e T3 com caixas de escadas centradas no meio da área de implantação de cada bloco individual. As zonas de salas de estar encontram-se viradas para as ruas e os quartos para os logradouros/hortas, mais abrigados.

Fig. 3.27 – Corte longitudinal sobre a Avenida em que se destaca a irregularidade de cérceas mantida

Fig. 3.28 – Corte transversal à Avenida (à esquerda edificado existente, à direita um novo bloco)

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Fig. 3.29 – Plano central das Galinheiras

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Fig. 3.30 – Corte transversal 1 no conjunto de novos edificados

Fig. 3.31 – Corte transversal 2

Como já referido, este novo centro das Galinheiras foi o objecto de maior aprofundamento quanto ao desenho do espaço público e sua materialidade. No geral da proposta, procurei atribuir maior importância ao peão, criando condições à acessibilidade a todos os pontos minimizando declives, prolongando eixos pedonais importantes, condicionando o acesso automóvel a algumas ruas e essencialmente no desenho dos seus perfis. Como se pode averiguar na planta anterior, defini vias a um tom escuro e outras a tom cinza, desenhando dentro destas os estacionamentos e via de trânsito. Esta situação partiu da opção de tornar os espaços a cinza mais condicionados ao automóvel tanto pelo privilégio ao peão, vias de maior declive e essencialmente para tornar mais clara a hierarquia das vias de trânsito. Ao pavimentar as vias com 2 materialidades distintas, consegue-se criar situações em que se percebem quais as vias principais do bairro (da cidade) e as de acesso local. Verifica-se que as únicas a tom escuro são a Avenida Central, e antigos eixos adaptados à malha e que vão ao encontro dos outros bairros ou do Eixo N/S possuindo todas estas, menores declives que as restantes, ligadas à intenção de centralidades junto a estes eixos concentrando comércio e serviços. Assim o trânsito encontrar-se-á mais concentrado sobre estas vias, que distinguem pela materialidade o espaço rodoviário do pedonal, e as restantes com a materialidade dos passeios na via de trânsito, levando a um maior cuidado da parte do condutor, pois a via é desenhada apenas por uma diferença na coloração das guias (e não de um lancil mais elevado). Estas opções partem de uma vontade de criar uma identidade própria à intervenção e ao local pela diferença de soluções. Como é o desenho dos eixos pedonais, passeios que se prolongam sobre as vias de trânsito definindo as zonas de passadeiras, substituindo as habituais tramas ou linhas limite, criando situações de especial cuidado como nos cruzamentos entre vias principais. Nesta situação cruzam-se 4 eixos, resultando um espaço central para viragem ou continuidade de percurso, sabendo que o espaço a cinza é sempre do peão. Esta solução evita os cantos em curva e obrigará a um maior cuidado por parte do condutor sempre que estiver no bairro. A arborização é sempre um tema bastante importante no urbanismo e essencial em qualquer caso sempre que se pretendam espaços abrigados e agradáveis. Neste projecto as caldeiras para sua plantação, são localizadas estrategicamente e procuro atribuir-lhes mais funções, nomeadamente na regulação do trânsito, desenhando o espaço do peão e do automóvel, e como elementos que procuram evitar os estacionamentos abusivos, evitando os habituais pinos ou outras situações em relevo e desconfortáveis, procurando maior ligação com o parque urbano. A arborização é colocada ao longo de uma métrica de 2,5 metros (equivalente a meio estacionamento), permitindo um melhor aproveitamento destas como limitadoras de estacionamentos (o espaço entre estas distribuem-se entre os 5 e os 10 metros permitindo 1 a 2 lugares respectivamente), de entradas de garagens privadas, paragens de autocarros, passadeiras e cruzamentos. Esta solução permite maior ordem e simplicidade de dimensões baseadas em múltiplos de 2,5 metros. Uma outra situação e que foi alvo de constantes adaptações foi a sua ciclovia, que parte da Alta do Lumiar e continua para os Fetais. Este seu eixo acompanha a avenida, entre os estacionamentos e o passeio pedonal, a uma cota ligeiramente superior de forma a evitar conflitos com o automóvel.

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| CONSIDERAÇÕES FINAIS |

Entrando na recta final deste trabalho percebo e reconheço não só potencialidades, mas também pontos frágeis da minha proposta. Algumas das fragilidades mereceram até chamadas de atenção por parte dos docentes da disciplina, e podem-se justificar por lacunas, numa fase incipiente de projecto, no grau de insistência e na profundidade da análise exaustiva dos distintos bairros abordados e do estudo de outras intervenções com semelhante abordagem e temática. Considero que seria necessário um maior esforço nesta fase, procurando perceber com maior atenção os diferentes pontos valorizados em cada uma das diferentes propostas.

Na génese da proposta, e como se pode constatar no presente relatório, procurei conciliar alguns temas teóricos e ideológicos do Urbanismo de intervenção na cidade, aplicados no plano por mim proposto e desenhado para os bairros de génese ilegal. A aposta na Continuidade e Linearização de eixos anteriormente confusos e complexos permite aclarar o espaço urbano vivido e potenciar não só a reestruturação do bairro, como também a sua interação com a cidade, ao nível dos seus edifícios, vias e espaço público. A ideia de Permeabilidade através dos conjuntos edificados é também asseverada como objectivo da proposta, uma vez que o próprio tecido que conforma estes bairros possui uma complexidade tal que acaba por os segregar do ponto de vista de acessos e aberturas, procurando desta forma estabelecer ou reforçar dependências entre os diferentes pontos do bairro e também entre o próprio bairro e as suas vizinhanças. Isto permite anular a estrutura de bairro encerrada em si, ligando-a à estrutura das suas proximidades e tornar as transições mais fluídas. O estabelecimento de Hierarquia que, gera novos centros ou áreas que contrariam a homogeneidade do uso dos espaços, permitindo tornar os bairros inteligíveis, mais seguros, e estabelecendo uma nova ordem.

Sempre apoiada nestes factores gerais como elementos de auxílio, a proposta de intervenção procura concentrar-se em 2 gestos interventivos, estruturadores, centralizadores e dinâmicos, e que são um novo Eixo viário e um Parque urbano. Tomadas estas duas intenções como elementos centrais da proposta, bases interventivas e essenciais, delas emanam e nelas se apoiam os novos tecidos e redes de cada bairro. A ideia parte do princípio que ao criar zonas centrais e heterogéneas (no que diz respeito à sua funcionalidade) em cada bairro, se potencia o reconhecimento e valorização dos espaços por forma a oferecer uma nova imagem dos bairros para a cidade.

Esta valorização converge para a restrição ao uso geral de determinados espaços e a sua requalificação, de tal forma que permita a continuação das práticas actuais da população sem que a intervenção se assuma como uma incisão agressiva. São exemplos destas práticas o cultivo de hortas para autoconsumo e venda de produtos em feiras, que se assumem importantes para a sustentabilidade do bairro, uma vez que muitos dos residentes delas dependem. Valoriza-se também a acessibilidade a todos os pontos da intervenção, criando condições para facilitar a mobilidade de todos os utilizadores dentro dos pontos principais dos bairros e no Parque urbano, minimizando a principal circunstância crítica existente no bairro, a morfologia assumidamente irregular e limitativa do terreno onde se implanta.

Com a apresentação das características, opções e estudos realizados para este projecto, pretendo realçar a urgência de intervenção pública (ao nível do plano de urbanização e de pormenor) em vários espaços urbanos, numa sociedade dita justa e democrática, por forma a contrariar a formação “guetos” e a potenciar uma melhor imagem da cidade. Ao dar relevo a esta área a Norte de Lisboa, que abrange a generalidade da Ameixoeira e Charneca e toda a freguesia de Camarate (Loures), constituida na sua maioria por bairros clandestinos, procuro salientar e lançar a discussão sobre a situação preocupante da existência de inúmeros bairros, próximos da nossa capital, carenciados de plano e que não foram alvo até à data de qualquer intervenção pública. Estes espaços possuem identidades e dinâmicas próprias, mas que se circunscrevem à casa de cada um e aos pequenos mercados de características rústicas e simples. Em muitos dos casos verificam-se espaços com grande potencial, e potenciais a novos usos que poderiam estruturar e dinamizar estas áreas, sem que fosse necessário optar pela demolição massiva dos edifícios, o que pode facilitar à implementação de um plano. São áreas de transição na periferia, entre concelhos, e sobre os quais deverá recair um plano estratégico de intervenção.

É aqui que o tema das Novas Centralidades assume papel primordial e que foi abordado no meu trabalho. Creio que a solução não passará apenas por criar condições à existência de transportes públicos que facilitem a mobilidade e abertura dos bairros, nem de criar espaços públicos impostos ou pouco identificados com o local, sem questionar as suas capacidades estruturantes dentro e fora de cada bairro. É pertinente criar centralidades mais dinâmicas no seio cada bairro,

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quando a sua dimensão e número de ocupantes o permite, e de outras mais amplas e abrangentes para o conjunto de vizinhança em que se inserem. Como é exemplo o parque urbano do meu plano, que parte de uma intenção do futuro Plano de Urbanização de Camarate de criar corredores verdes, com ponto de partida no planalto periférico pertencente à Reserva Ecológica Nacional. Este parque procura ser não só um centro comum para os dois bairros, mas de união com a envolvência, através de continuidades e usos comuns. Pode-se assim dizer que o plano para este parque, parte de uma necessidade geral de todos os aglomerados populacionais que se dispoem ao seu redor, numa tentativa de resolver no mesmo plano, as falhas, ameaças e necessidades e potenciar as oportunidades dos bairros das Galinheiras e dos Fetais, e dos bairros que os cercam.

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| BIBLIOGRAFIA |

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Retirados da Internet CACOILA, Sandra, et al (2007), “A cidade Informal no Pensamento Contemporaneo”, Disponivel em < http://ciaud.fa.utl.pt/res/paper/REF.%20IS%2007.pdf> (01/09/2011) LUDA Project – Report Case Study Area, Lisbon, Ameixoeira/Galinheiras area, disponivel em < http://www.luda-project.net/pdf/LUDA_D16_Lisbon.pdf> (03/03/2010) RAPOSO, Teresa (2005), “Diagnostico Social das freguesias de Camarate, Prior Velho e Sacavém”. Disponivel em < http://www.cm-loures.pt/redesocial/Diagn%C3%B3stico%20Social%20CSIFCPS.pdf> (01/09/2010)

Outros sites: http://www.risco.org/pt/02_04_cacem.html http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=1370313 (charneca) http://empreendimentodasgalinheiras.blogspot.com/ http://sintraautoctone.blogspot.com/2011/02/causas-da-desordem-urbanistica-e.html http://ulisses.cm-lisboa.pt/data/002/004/index.php?ml=5&x=pual.xml (alta) http://ulisses.cm-lisboa.pt/data/002/004/index.php?ml=1&x=galinheiras.xml http://www.gestual.fa.utl.pt/ http://www.cm-loures.pt Apresentação Powerpoint disponibilizada pelo RISCO (Projecto Urbano do Cacém)

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ÍNDICE DE ANEXOS

Cacém Pólis………...……………………. I

Evolução urbana da área estratégica…………….………………. II

Equipamentos nos bairros………………………………III

Análise SWOT……………………………..IV

Centros junto à área estratégica………………………………V

Ruas……………………………..VI

Fotos dos bairros…………………………….VII

Esquemas do projecto……..…………………….VIII

Mapa de demolições………..………….………..IX

Outras imagens do projecto……………………………..X PROPOSTA DE REQUALIFICAÇÃO URBANA DOS BAIRROS DAS GALINHEIRAS E DOS FETAIS

I. Cacém Pólis (RISCO)

Fig. I. 01 - Demolições Fig. I. 02 - Plano

Fig. I. 03 – Antes da intervenção Fig. I. 04 – Ribeira das Jardas antes da intervenção

Fig. I. 05 – Rua Dona Maria II Fig. I. 06 – Ribeira após plano PROPOSTA DE REQUALIFICAÇÃO URBANA DOS BAIRROS DAS GALINHEIRAS E DOS FETAIS

II | Evolução urbana da área estratégica

Lisboa foi alvo de vários planos urbanos ao longo da sua história e que procuraram conformar o seu tecido e alargar os seus limites exteriores. Destes planos é possível de identificar 4 momentos distintos que começaram, obviamente, com o plano da Baixa Pombalina, no pós terramoto de 1755, que atribuiu uma nova visão da cidade, centrada numa estrutura reticulada que abria portas à sua continuação para Norte. Já no século XIX, verificou-se uma tentativa de reorganização urbana centrada no plano das Avenidas Novas para Norte, que virava as costas ao rio e que se concentrava junto às avenidas hoje conhecidas e importantes como a Avenidas da Liberdade, da República e a Almirante Reis. Este período ficou igualmente conhecido pelo aumento populacional da cidade devido ao êxodo rural. Já dentro do regime salazarista, com a urbanização de toda a área concelhia e que se centra na estratégia proposta no plano de Groer com a previsão do crescimento da cidade, definindo-se novos eixos potenciadores de crescimento e estruturação urbana assim como da construção de importantes espaços públicos e hoje existentes, como a Alameda Dom Afonso Henriques e a praça do Areeiro.

Por fim, a partir da década de 60 foi possível verificar uma explosão demográfica, essencialmente junto da periferia da cidade, sobre os espaços até então rurais, usados para fins de cultivo, no que é hoje conhecido como a Área Metropolitana de Lisboa e da qual se inscreve a área em estudo.

Observando cartas do século XIX, é possível concluir que esta área era essencialmente rural, muito pouco habitada, provida de alguns eixos ainda hoje sentidos, com grande disparidade de construções essencialmente para armazéns, pequenos castelos da nobreza e poços. Nas áreas de maior concentração de vias, aliadas a zonas de relevos amenos, formavam-se pequenos aglomerados populacionais ainda hoje conhecidos, como o centro da Charneca junto a uma igreja, de Camarate e de Sacavém também pela sua proximidade ao rio Tejo. As construções concentravam-se muito junto às artérias viárias (Lumiar) pela sua forte dependência mas a construção que se destaca é claramente o forte da Ameixoeira, de grande dimensão na carta e ainda hoje sentido no local.

Fig. II.01 – A área no século XIX

Neste século, Portugal foi alvo das invasões francesas e por questões de reforço da segurança da cidade, na segunda metade do século XIX, foi proposta e erguida a Estrada Militar que procurava definir o limite Municipal de Lisboa, funcionando como meio mais rápido e eficaz de ligação entre fortes, tornando-se uma via importante para a futura evolução urbana da periferia, pela sua continuidade e perfil.

Em cartas de inícios do século XX, é possível de visualizar a Estrada Militar a Norte e o aparecimento de novos eixos que se ligam a esta. Nota-se uma evolução do centro da Charneca para Norte ao redor de um espaço central triangular, hoje conhecido como o campo das Amoreiras. Aparecimento de um novo núcleo não verificado na carta anterior, da actual Ameixoeira, junto a uma estrada já existente na carta anterior, a actual rua Direita de continuidade com a Azinhaga das Galinheiras.

Nestas cartas, reforça-se a ideia de espaços rurais usados para diferentes usos de cultivo com as construções bastante dependentes dos eixos viários, destacando-se claramente a actual Alameda das Linhas de Torres e Calçada de Carriche que funcionava como único eixo de ligação Sul/Norte (estrada romana) de maior concentração de edificado e quintas.

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Fig. II.02 – Evolução urbana de 1911, 1950, 1988 à actualidade.

Em 1942, pela evolução da tecnologia aérea, e pela necessidade de evolução da cidade e do país para fora de fronteiras, é construído o Aeroporto da Portela, com dimensões pequenas comparadas com o actual, um pouco pela preocupação da sua construção dentro dos limites municipais de Lisboa e menor exigência para os aviões da época. Este é perfeitamente visível em plantas do fim da 1ª metade do século, quebrando alguns eixos de ligação de centros como a Charneca e Camarate, com a cidade para Sul embora ainda sem grandes impactos negativos.

Verifica-se uma evolução populacional junto à avenida Padre Cruz e a estrada da Torre, destacando-se um grande campo arborizado, dentro de espaços de anteriores quintas quinhentistas dos Lilases e das Conchas formando a 2ª maior mancha arbórea da cidade até à data. Nas zonas a Norte não se identifica nenhuma evolução.

Fig. II.03 – Calçada do Carriche Fig. II.04 – Aeroporto da Portela.

Até 1953, as pistas do aeroporto sofreram um aumento das suas dimensões para Norte, prevendo-se assim a separação dos dois lados Nascente e Poente apenas ligados, à data, por um eixo resultante do prolongamento da actual avenida Alfredo Bensaúde (entre as actuais Portela e Encarnação) com o centro da Charneca. A esta data já se construíam os planos de Alvalade e da Encarnação pondo em destaque na cidade estas intervenções modernas para a época e bem servidas de equipamentos e infra-estruturas. Os centros históricos a Norte iam perdendo importância para as áreas novas da cidade, nomeadamente os centros da Charneca que cada vez mais se isolava devido ao constante crescimento do aeroporto, da Ameixoeira e de certo modo, do Lumiar, muito dependente da sua avenida embora bem ligada à cidade (avenida da República, Campo Grande).

Desde esta data e como já referido no primeiro capítulo, até aos anos 80, junto aos centros até então desvalorizados a norte, verificou-se um aumento demográfico repentino caracterizado pelas construções clandestinas de técnicas de construção rápidas nas quintas da Musgueira, Ameixoeira, Galinheiras e pela freguesia de Camarate. Começa-se a sentir a PROPOSTA DE REQUALIFICAÇÃO URBANA DOS BAIRROS DAS GALINHEIRAS E DOS FETAIS

evolução para a periferia da cidade, com a construção de prédios de habitação colectiva ao longo destes eixos e já dentro do concelho de Odivelas (Olival Basto) que anteriormente pertencera a Loures.

Observando plantas cartográficas da década de 80, é possível de concluir que a cidade foi crescendo e sendo consolidada nos lados Este e Sul do aeroporto, muito pela proximidade aos grandes eixos já existentes (2ª circular), ao rio Tejo, e aos centros de trabalho. O aeroporto sofreu o seu último aumento das suas pistas cortando aqui por definitivo a ligação das áreas Poente com Nascente, tornando cada vez mais estas áreas “as traseiras do aeroporto”, que foram crescendo de uma forma natural e desorganizada, sem um plano definidor e de controlo. Estas áreas a Poente sendo elas, Charneca, as Galinheiras, Ameixoeira, e zona da Musgueira, definem limites de antigos cadastros e eixos viários pré-existente. Estas zonas caracterizavam-se por bairros de construções precárias com um preocupante número de “barracas” que se apropriavam dos terrenos de uma forma descontrolada, o que ajudou em grande parte à exclusão desta zona pelo resto da cidade.

A antiga e importante Alameda da Linha de Torres, foi perdendo foco na zona, com a construção da Avenida Padre cruz, no prolongamento da Calçada de Carriche para uma zona pouco densa, devido ao constante crescimento do fluxo automóvel para o centro da cidade e dai necessidade de uma via com um perfil capaz de responder às necessidades mínimas de resposta ao trânsito

Do lado Nascente do Aeroporto, dava-se a crescente evolução das pequenas indústrias, algumas ligadas às funções do aeroporto, que foi crescendo e segmentizando o local.

Durante os anos 90 a cidade continuou a crescer e a densificar nas zonas do Lumiar, Carnide, Telheiras com os respectivos planos de urbanização, e destaque para a construção do Eixo Norte/Sul e seu prolongamento até à 2ª circular, tornando-se um eixo preponderante e potenciador à densificação da zona Norte da cidade. Um plano proposto e aprovado em 1994 foi implementado na Alta do Lumiar, antigo espaço ocupado pelas “barracas”, e que procurou aproveitar esta ligação e prolongamento do Eixo Norte/Sul (embora esta faixa tenha sido construída numa fase posterior à implementação do plano) aliada a um novo Eixo Central de continuidade para Norte da Avenida da República. Este plano centra-se neste mesmo eixo linear conformando ao seu redor, com uma estrutura ortogonal, um conjunto de edificados de habitação colectiva e mista, procurando servir o local de boas infra-estruturas, espaço público, equipamentos urbanos e que procura minimizar o impacto do aeroporto imediatamente adjacente.

Do lado Nascente, destaque para o plano do Prior Velho de estrutura ortogonal, que procurava servir a população, anteriormente em condições precárias, de habitação nova e de equipamentos, embora seja uma zona bastante fechada em si pelas barreiras fortemente sentidas da CRIL, 2ª circular/A1, Aeroporto, o que isolou cada vez mais a zona.

Nos anos seguintes e já dentro do actual século XXI, apenas se verificou na zona, a construção lenta de alguns edificados do plano do Lumiar, embora tenha estagnado pelo constante atraso da sua total implementação. A situação económica e social do país, sofreu mudanças em relação à data de proposta do plano, o mercado imobiliário está em crise e a população de Lisboa vai diminuindo ao longo dos anos com a população a procurar habitação nos concelhos vizinhos. Assim o plano tem sido alvo de novas propostas e estratégias que poderão modificar a sua fisionomia.

Destaca-se a finalização e união do Eixo Norte/Sul à CRIL atravessando toda a área de estudo e que poderia criar, em certo ponto, uma linha barreira entre os dois lados. Mas este aspecto foi algo que terá preocupado os projectistas do Eixo e podem-se verificar diversas permeabilidades e pontos de contacto, tanto em túnel como viaduto, não tornando este eixo um auxílio para uma maior exclusão das zonas a Poente. Observando as plantas anteriores à construção desta faixa, já se denotava uma separação entre, o que se chamam actualmente “os dois lados do eixo”. O espaço ocupado por este, sobre uma linha de cumeada, já era pouco denso em construção, basicamente por barracas de condições precárias e por espaços vazios o que facilitou, em parte, à sua conclusão. Os dois lados eram caracterizados por vários aglomerados isolados de fisionomias e pontos de convívio próprios, dos quais se pode atribuir a denominação de bairros. No município de Lisboa destacam-se o bairro das Galinheiras e mais a Sul da Ameixoeira, já em Loures, dos Fetais e de Camarate que se distribui por vários pequenos bairros, separados por vazios urbanos, embora unidos viariamente. Deste modo pode-se concluir que o Eixo Norte/Sul, via estruturante da cidade de Lisboa e arredores, não funcionou como elemento de quebra urbana, podendo ser aproveitado para abertura destes bairros que, até à data, careciam de um sistema viário de ligação com o centro urbano.

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III | Equipamentos nos bairros

Valência Galinheiras Fetais Creche Unidade de desenvolvimento integrado das Galinheiras ATL Unidade de desenvolvimento integrado das Galinheiras; Centro Social Paroquial da Charneca Centro de Convívio Centro Social Paroquial da Charneca Serviço de Apoio Centro Social Paroquial da Domiciliário Charneca Jardim de infância Jardim de Infância de Charneca Escola EB1 N°3 JI Fetais nº 2(publico) Nuclisol Jean Piaget - Unidade de Desenvolvimento Integrado das Galinheiras (privado) Parque Infantil Largo galinheiras Escola Primaria Escola EB1 Galinheiras Escola EB1 N°3 JI Fetais Escola Ciclo Escola básica Maria da Luz de Deus Ramos

Fig. III. 01 – Localização dos equipamentos existentes PROPOSTA DE REQUALIFICAÇÃO URBANA DOS BAIRROS DAS GALINHEIRAS E DOS FETAIS

IV | Análise SWOT

Bairro das Galinheiras (Charneca, Lisboa)

Pontos Fortes

 Proximidade e localização estratégica com o centro da cidade de Lisboa;  Proximidade com uma das principais vias estruturantes da cidade, o Eixo N/S;  O largo das Galinheiras, como único espaço público do bairro;  Patrimonio edificado (castelo);  Bem servido de Escolas Basicas com a construção na proximidade da EB1 Galinheiras;  Relação cidade-campo. Aproveitamento pela população dos espaços vazios para cultivo de hortas verificando-se tanto nas proximidades dos edificios (possiveis logradouros) e mais distantes (vale entre bairros) sendo um dos bens da população;  Pequenas industriam e comércio local com pequenos cafés e restaurantes caracterisiticos das diferentes culturas;  Feira das Galinheiras a Sul da rotunda do Eixo N/S, ja existente antes da sua construção, e de grande utilidade e importância para todo este lado Poente do Aeroporto;  Forte identidade cultural com datas festivas próprias como a Festa da Primavera em Março; Forte ligação dos moradores com o local em que habitam; Sentido de entreajuda; Vivência do bairro muito activa em algumas zonas; Associações e unidades de desenvolvimento do bairro;  Igreja cristã de grande importância para a população junto ao largo;  Vontade por parte da Câmara Municipal em estudar o local (LUDA) e implementar um plano de Pormenor com vista a sua requalificação;  Vistas;

Pontos Fracos

 Hierarquia viária bastante degradada e quase inexistente;  Forte dependência das Estradas de Circunvalação e Militar degradadas;  Descontinuidade de vias, com alguns perfis bastante reduzidos e sem distinção do espaço rodoviário do pedonal;  Viaduto sobre o Eixo N/S para com o bairro de Angola bastante desvalorizado e isolado;  Topografia do terreno bastante irregular, principalmente a Norte e Nascente;  Défice de espaços públicos pontuais sendo a rua o espaço de convívio;  Défice de equipamentos urbanos nomeadamente, jardins-de-infância, centros sociais (ATL e instituições de apoio a idosos), centros desportivos e de saúde;  Algumas áreas encontram-se bastante impermeabilizadas;  Elevada taxa de abandonos escolares;  Transporte publico limitado para as necessidades da população;  Insegurança, ma imagem e isolamento que se tem verificado sobre o bairro;  Falta de um posto da PSP no local, desejado pela população.

Oportunidades

 Existência de espaços vazios, abandonados ou de construções bastantes degradadas permitindo uma intervenção futura com um reduzido número de expropriações;  Rotunda do Eixo N/S imediatamente ao lado possibilitando uma ligação;  O largo das Galinheiras actualmente possui um papel fundamental ao convívio, encontro e identidade da sua população devendo ser o ponto de partida para um plano no local;  Vontade da população na resolução de um plano geral para o bairro;  População maioritariamente de nacionalidade portuguesa (Nascidos em solo nacional); PROPOSTA DE REQUALIFICAÇÃO URBANA DOS BAIRROS DAS GALINHEIRAS E DOS FETAIS

Ameaças

 Construções que poem em perigo a segurança dos seus moradores;  Construções em zonas de difícil acessos promovendo à sua exclusão;  Vias com declives acentuados;  Inexistência de lares ou de instituições de apoio ao idoso;  Em áreas de grande impermeabilização do solo, perigo aquando de um incêndio muito pelas habitações geminadas e muitas delas com telhados em madeira;  Continua exclusão do bairro e aumento dos níveis de insegurança do local;

Bairros dos Fetais (Camarate, Loures)

Pontos Fortes

 Proximidade a Lisboa  Proximidade com no de acesso ao Eixo N/S permitindo ligação directa à CRIL e ao centro da capital;  Grande percentagem de população jovem;  Vitalidade económica com pequenas industrias, comercio local e numero substancial de empregadores no bairro e proximidade;  Comissão de moradores empenhadas na legalização dos bairros;  Relação cidade-campo embora de menor dimensão em relação com o bairro das Galinheiras pela menor disponibilidade espaço permeável;  Sentido de entreajuda da sua população identificando-se com os respectivos bairros; Vivência dos bairros muito activa;  Vistas

Pontos Fracos

 Desordenação urbana;  Sistema de drenagem natural condicionada essencialmente no bairro da Fonte da Pipa e Fetais de Cima;  Desordenação urbana territorial (habitações com pequenas industrias, oficinas, comercio) levando a saturação de veículos em pontos específicos;  Condições de habitabilidade precárias (infra-estruturas básicas inexistentes em alguns casos);  Muitos dos seus fogos são arrendados o que levará ao desinteresse na resolução da ilegalidade dos bairros;  Índices de pobreza elevados;  Tráficos de substâncias ilícitas verificadas;  Dos bairros com maior insegurança do concelho de Loures;  Carência de equipamentos para jovens (Creches, Jardins de Infância) levando ao aparecimento de creches clandestinas;  Hierarquia viária inexistente dentro dos bairros;  Topografia do terreno;  Inexistência de Espaço Publico desenhado para servir a população;  Conflitos peão/veículo;  Inexistência de equipamentos sociais, desportivos e de saúde dentro dos bairros ou imediatamente nas redondezas;  Entradas para os bairros pouco sentidas levando a sua maior exclusão social;  Passagem sobre e sob o Eixo N/S bastante isolados e pouco sentidos;  Transporte público insuficiente essencialmente de noite;

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Oportunidades

 Proximidade ao Eixo N/S e de passagens sobre e sob este, podendo ser elementos estratégicos à maior abertura do bairro;  Espaços vazios disponíveis na proximidade com o Eixo N/S;  A sua localização num dos pontos mais altos permite um sistema de vistas extenso e potenciador de espaços agradáveis;

Ameaças

 Construções bastante próximas verificadas pelo grande índice de impermeabilização do solo que criará problemas de segurança contra incêndios, deslizamento de terras pelo sistema de drenagem natural em conflito com edificados;  Descontinuidades de perfis e declives de vias dificultando nos acessos essencialmente de ambulâncias ou bombeiros;  Topografia acidentada;  Índice de envelhecimento elevado;  Taxa de insegurança e criminalidade.

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V | Centros (e bairros) junto à área estratégica

Fig. V. 01 – Centros e bairros na area estratégica

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VI | Ruas

Fig. VI. 01 – Galinheiras

Fig. VI. 02 – Fetais PROPOSTA DE REQUALIFICAÇÃO URBANA DOS BAIRROS DAS GALINHEIRAS E DOS FETAIS

VII | Fotos dos bairros

Galinheiras

Fig. VII. 01 – Junto ao Largo Fig. VII. 02 – Azinhaga dos cucos

Fig. VII. 03 – Rua das raparigas Fig. VII. 04 – Estrada da Povoa

Fig. VII. 05 – Rampa do Mercado Fig. VII. 06 – Azinhaga do Reguengo

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Fetais

Fig. VII.07 – Rua do Olival Fig. VII.08 – Bairro visto do vale.

Fig. VII.09 – Escola EB1 Fetais Fig. VII.10 – Rua do Olival

Fig. VII.11 - Vale Fig. VII.12 – Passagem sob o Eixo N/S

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Fig. VII.13 – Vista do lado Poente (Vale de Loures)

Fig. VII.14 – Vista do lado Nascente (Rio Tejo)

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VIII | Esquemas de projecto

Fig. VIII.01 – Influência do novo eixo

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Fig. VIII.02 – Influência do parque urbano

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IX | Mapa de demolições

Fig. IX.01 – Mapa de demolições

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X | Outras Imagens do projecto

Fig. X.01 a X.04 – Fotos da maqueta

Fig. X.05 – Corte longitudinal sobre a avenida, vista para Nascente. Relação dos novos edificios com o existente.

Fig. X.06 – Corte longitudinal sobre a avenida, vista para Nascente. Vista sobre a praça.