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www.ipsilon.pt 12 Fevereiro 2010 Sexta-feira A literatura émánacama? portuguesa O sexo dosnossosescritores

NUNO SARAIVA ESTE SUPLEMENTO FAZ PARTE INTEGRANTE DA EDIÇÃO Nº 7253 DO PÚBLICO, E NÃO PODE SER VENDIDO SEPARADAMENTE

O sucessor de “First Impressions of Earth”, terceiro álbum da banda, está a ser gravado com Joe Chiccarelli, que trabalhou com Beck ou Björk Jacques Tati... Os Strokes estão em estúdio e não soam Retrospectivas de luxo muito alegres Passaram os últimos tempos em Berlim – e em Lisboa entretidos com projectos paralelos, como os Little Joy do baterista Fabrizio Moretti ou o álbum a solo de Julian Casablancas, “Phrazes of the Young”, mas os homens que compõem os Strokes não querem acabar com a banda que, no início do século XX, devolveu o cabedal, ténis All-Star e citações dos Flash Television ao mundo do rock’n’roll. Nada disso, os Strokes estão de volta ao estúdio, em Nova Iorque. O sucessor de “First Impressions of Earth”, terceiro álbum da banda, editado em 2007, está a ser Sumário gravado com Joe Chiccarelli, que trabalhou com Beck ou Björk, e ... e “Repulsa”, A trilogia do escocês Literatura portuguesa 6 Julian Casablancas, em entrevista à de Polanski na Bill Douglas, vai ser é má na cama? revista “Spin”, já fez a declaração retrospectiva ofi cial vista em Berlim de intenções: “Atingimos o topo do dos 60 anos da Berlinale e no IndieLisboa Anthony de Sá 12 ‘underground’, mas nunca ficámos tão grandes como os Green Day, os Canadiano de origem Os 60 anos do Festival de Jasmila Zbanic (Urso de Braun”), Godard (“O Creed ou qualquer uma das Cinema de Berlim Ouro 2006 por “Filha da Acossado”), Oshima (“O açoriana, dá voz aos que bandas a que era suposto nunca tiveram histórias tomarmos o lugar em 2001. comemoram-se com duas Guerra”) propôs “The Império dos Sentidos”), Portanto, na minha cabeça, está retrospectivas de absoluto Match Factory Girl”, de Polanski (“Repulsa”), Juan José Millás 14 aqui um passo a dar.” luxo – uma das quais vamos Kaurismäki, e a dupla Renoir (“O Rio”), Tati (“As A simples recordação das O Ípsilon no território mítico ter oportunidade de ver, na coreano-americana Bradley Férias do Sr. Hulot”)... Ou mandíbulas de Scott Stapp, íntegra, em Portugal. Rust Gray e So Yong Kim a ainda: Alexander Sokurov do escritor espanhol vocalista dos Creed, movendo-se para expirar um sonoro “with arms “Diálogos com Filmes”, muito aclamada mas pouco (“O Sol”), Jean-Marie Straub Ferran Gallego 18 wide open” no topo da montanha, marcando os 40 anos da vista trilogia do escocês Bill (“Crónica de Anna Não acredita que possamos diz-nos que as intenções são secção paralela Forum, vai Douglas “My Childhood Magdalena Bach”), Michael compreender os dias de hoje meritórias. A questão é: ser transplantada para o (1972), “My Ain Folk” (1973), Powell e Emeric conseguirão os Strokes tal feito, IndieLisboa em Abril, que “My Way Home” (1978) – e Pressburger (“Os Contos de sem entender o nazismo agora que os Creed são “has been”, mas os Green Day continuam a ergueu o Forum a “Herói vamos poder ver esta Hoffman”), Raul Ruiz Precious 22 caminhar sobre os topes? Independente” 2010 em selecção de filmes em Maio (“Genealogias de Um O fi lme de que se fala para os Se pensarmos que tantos álbuns honra da “intransigência” no Indie. Crime”), Serguei Óscares (e nós falamos com o clássicos, como “Abbey Road”, dos formal de uma secção que Infelizmente, para ver “Play Paradjanov (“A Lenda da Beatles, ou “Raw Power” dos começou em 1971 como It Again!...”, só mesmoes o em e Fortalezaotaead de Suram”), realizador e com as actrizes) Stooges, nasceram de um clima de tensão e de conflitos latentes, o espaço de abertura aos Berlim. A retrospectivaspectiva TerrenceTerrence Malick (“A 24 novo dos Strokes só poderá correr “novos cinemas” do mundo. oficial dos 60 anosnos da BBarreiraarreira Invisível”), Demos-lhe música bem. Afinal, ainda a banda mal se Para comemorar os 40 Berlinale foi comissariadamissariada WWongong Kar-waiKa (“Anjos acomodou ao estúdio e já ecoam anos, o director Christoph pelo crítico inglêsês David CCaídos”),aído Zhang Massive Attack 26 palavras recentes de Casablancas. Terhechte convidou 12 Thomson e reúnene YYimou (“Milho Ainda à “Spin”, confessou que a Mais uma vez, um parto nada banda está “em desacordo” quanto cineastas que apresentaram uma escolha Vermelho”)...V fácil ao estado das novas canções: os seus primeiros filmes no idiossincrática NNem falta uma basicamente, alguns querem Forum nos últimos anos de três passagem por trabalhá-las mais, outras acham que para escolherem outras dezenas de Portugal com será melhor deixá-las como estão. À tantas obras estreadas em filmes a “Cidade “New York Magazine”, por sua vez, Berlim. Jia Zhang-ke foi estreados ou Branca” de Ficha Técnica lançou a bomba habitual em bandas que já foram mais felizes. Dinheiro, buscar um dos primeiros premiados no festivalestival Alain Tanner. Director Bárbara Reis claro está: “Dividimos o dinheiro... filmes do turco Nuri Bilge que se lê como uumm É luxo só, Editor Vasco Câmara, Inês Nadais mas não dividimos o trabalho.” Ceylan, “Kasaba”; o “quem é quem” do dizemos nós... (adjunta) E, para ilustrar a alegria e iconoclasta israelita Avi cinema mundiall ddaa JJorge Mourinha Conselho editorial Isabel companheirismo com que, perante Coutinho, Óscar Faria, Cristina isto, imaginamos estarem a Mograbi preferiu “D’Est”, segunda metadee do Fernandes, Vítor Belanciano decorrer as sessões, deixamos uma de Chantal Akerman, século XX. Registem:stem: Design Mark Porter, Simon declaração lapidar do vocalista, na enquanto o tailandês Aditya Almodóvar (“A LLeiei ddoo Esterson, Kuchar Swara supracitada entrevista à “Spin”: Assarat (cujo “Wonderful Desejo”), Antonioninioni Um dos primeiros Directora de arte Sónia Matos “Não somos pessoas que vão ao Town” venceu o Indie 2008) (“A Noite”), Bressonsson Designers Ana Carvalho, Carla cinema juntas. Na verdade, uma fi lmes de Nuri Bilge Noronha, Mariana Soares banda é uma grande maneira de escolheu “George (“Pickpocket”), Ceylan vai ser visto Editor de fotografi a Miguel destruir uma amizade.” Os dados Washington”, de David Fassbinder (“O no programa do Forum Madeira estão lançados. Vai correr tudo Gordon Green, a bósnia Casamento de MMariaaria de Berlim, escolhido E-mail: [email protected] bem. por Jia Zhank-ke Flash

Clint Eastwood em “Gran Torino”

“La Dolce Vita” Clint: o mais popular Terrence Malick Realiza, interpreta e... ganha contrata Bale e sondagens de popularidade. O Bardem para um pelo “paparazzo” Victor Ciuff a legado mais recente foi deixado sentado numa cadeira perto de drama romântico campos de râguebi, mas foi a acumular a função de produtor com Terrence Malick tem novo projecto, um papel diante das câmaras que planeado para 2011 e que se Clint Eastwood, de arma em riste encontra em pré-produção. Conta em “Gran Torino”, alcançou o topo com Christian Bale, mas também da hierarquia de popularidade do com Javier Bardem, Rachel norte-americano Harris. Mais de McAdams e Olga Kurylenko (a mais dois milhares de inquiridos recente Bond Girl em “Quantum of responderam a este “site” de Solace”). Mas já há um filme de sondagens em Dezembro, mês no Malick pronto, “The Tree of Life”, qual “Invictus” ainda não tinha com Brad Pitt e Sean Penn. Um chegado ao grande ecrã, e deram ao drama familiar passado nos anos imparável veterano, de 79 anos, o 1950, estreia-se no final deste ano. O lugar mais alto desta classificação. realizador de “A Barreira Invisível” Reinou entre os votantes do sexo nem parece de facto o mesmo e está masculino, enquanto as mulheres pronto para outra. Recorde-se que deram mais votos a Johnny Depp. O demorou 20 anos a passar de “Days eterno Jack Sparrow subiu de oitavo of Heaven” (1978) a “A Barreira para o segundo lugar, uma posição Invisível” (1998) e que nos seus 35 acima de Denzel Washington, líder anos de carreira apenas fez cinco da sondagem nos últimos três anos. filmes. E que só depois, em 2005, é Quem desceu do pódio para a que se pôs em campo para um sétima posição foi John Wayne, que, outro, “O Novo Mundo”, em que apesar de ter falecido no longínquo trabalhou com Bale. ano de 1979, continua a manter-se O actor, ao responder em Abril às no “top ten” desta votação desde perguntas dos jornalistas em Paris a que foi instituída em 1994. Se ainda propósito de “Inimigos Públicos”, estivesse vivo, The Duke teria 102 de Michael Mann, comentava que anos, mais 23 do que Eastwood, o deve parte da sua carreira à Marcello Mastroianni como Marcello Rubini que lhe permitiria ser o mais velho confiança: houve “pessoas que (e em baixo numa cena iconográfi ca de “La Dolce Vita”), de uma lista, na qual todos os tiveram fé em mim e gosto de me personagem inspirada em Victor Ciuff a actores em actividade têm mais de lembrar disso e ter também fé “La Dolce Vita”, uma das obras- as festas a que eu ia”, revelou ao trabalho, em 1953, foi o relato 40 anos. Numa tabela onde também noutras pessoas”. Uma delas foi primas de Federico Fellini, “The Guardian” o jornalista que da morte de Wilma Matesi, constam Meryl Streep (8º) e Julia “alguém tão original como Terrence retratou a sociedade romana inspirou a personagem Marcello uma jovem de 21 anos Roberts (10º), a primeira actriz da Malick”, um dos “muitos dos anos 50, uma sociedade Rubini. encontrada no porto de Roma tabela é Sandra Bullock, que entrou realizadores com quem trabalhei decadente em que o álcool e o “A verdadeira Dolce Vita após “overdose” numa festa. directamente para o 4º lugar. Para com quem gostaria de voltar a sexo eram as práticas vigentes. nasceu em Roma, muito antes Este género de acontecimentos além do recente Globo de Ouro pela trabalhar”. Da lista constavam, Meio século após a estreia do da abertura dos cafés em Via marcaria a carreira de Ciuffa, interpretação em “The Blind Side”, além de Malick, Todd Haynes (“Não filme, as livrarias vão receber Veneto e tinha muito mais a ver que adoptou o pseudónimo esta classificação reafirma-a como a Estou Aí”), Mary Harron (“Psicopata “La Dolce Vita, Minuto per com mortes misteriosas, Uga Naldi. Chegou a pensar mais bem colocada para receber o Americano”), Werner Herzog Minuto”, livro de memórias de abusos de droga e vidas parar mas “precisava do Óscar para Melhor Actriz.. OOss (“(“EspíritoEspírito InIndomável”)domável”) e Victor Ciuffa. Quem é Victor debochadas de aristocratas dinheiro. O meu editor restantes lugares desta sondagemondagem JJamesames MangoldMangold (“O Ciuffa? romanos do que Hollywood”, costumava chamar-me e dizia: são ocupados por Tom Hanksanks Comboio das 3 e 10”10”).). Italiano de 77 anos, anónimo conta Ciuffa, cujo primeiro ‘Envia-me um artigo que dará a (5º), George Clooney (6º)) e Agora,Agora, BaBalele jjuntar-untar- para o comumm dos mortais, este papel uma erecção’”.erecção . Em Morgan Freeman (9º). se-áse-á a BarBardemdem e passou a décadacada que o ffilme,ilme, 2010, o deboche romanooao McAdamsMcAdams sosobb a com Marcelloo Mastroiani, regressaregressa ao papel. batutabab tuta do realizadorealizadorr retrata a fotografarografar e a ded 66 aanosnos num escrever sobrere escânescândalosdalos “drama“drama romântico”romântico”,, na Via Venetoo e outros escreveescreve a lugares frequentadosuentados pela “Hollywood“Hollywood nata da sociedade.edade. ErEraa um Reporter”.Reporter”. J.A.C.J.A.C. “paparazzo”.. Marcello Rubini, a personagemrsonagem a que Mastroiannianni ddáá corcorpo,po, era um jornalistaalista ddaa cclasselasse média que see infiltravainfiltrava entre os notáveis. Os pontos em comum entre Victor e Marcello não acabam aqui.i. Afinal, antes do princípio ddaa rodagem, Fellinillini e Ciuffa encontravam-sem-se regularmentee no romano Café de Paris. Christian Bale e Javier Bardem “Fellini entram no próximo fi lme de Terrence Malick queria ouvir – o próximo, isto é, o que vai fazer a seguir tudo sobre ao que já tem pronto APRESENTAÇÃO AO VIVO LANÇAMENTO EXPOSIÇÃO AGENDA CULTURAL FNAC entrada livre

APRESENTAÇÃO FRANCIS FORD COPPOLA Masterclass A Fnac apresenta a projecção da Masterclass do realizador Francis Ford Coppola durante o Estoril Film Festival'09, onde apresentou o seu último filme Tetro, considerado uma das suas mais assinaláveis obras. 17.02. 21H30 FNAC COIMBRA 19.02. 21H00 FNAC ALGARVE 22.02. 21H30 FNAC ALMADA

AO VIVO MARGARIDA PINTO A Aprendizagem Um novo trabalho em nome próprio onde apresenta uma narrativa musical que fala do percurso de uma personagem através das canções.

13.02. 16H00 FNAC ALMADA

AO VIVO THE FOX Hunting Grounds Os The Fox apresentam na Fnac o seu primeiro álbum, Hunting Grounds, onde exploram as linguagens do rock indie e alternativo. 15.02. 22H00 FNAC COLOMBO 20.02. 17H00 FNAC CHIADO 21.02. 17H00 FNAC ALMADA

AO VIVO TRAMADIX Tiro-Liro Os Tramadix apresentam, na Fnac, temas consagrados no contexto musical internacional, reinterpretados com novas sonoridades e estilos tão diversos como a música clássica, jazz, bossa-nova ou mesmo funk.

18.02. 21H30 FNAC GUIMARÃES 21.02. 17H00 FNAC NORTESHOPPING

EXPOSIÇÃO UM DIA PERGUNTO O TEU NOME Fotografias de Cátia Alves Novo Talento Fnac Fotografia 2009, Menção Honrosa Projecto fotográfico assente na ideia de que a sociedade contemporânea privilegia a imagem e a identidade global em detrimento da individualidade. 12.02. - 12.04.2010 FNAC ALMADA

Consulte a agenda cultural Fnac em

Apoio: Andamos a escrever mais mas será que temos jei Os brasileiros são melhores do que nós, os poetas superam os romancistas. Será por causa das limitações da língua, falta-nos tradição literária ou somos demasiado pudicos? Os diagnósticos variam, mas os sintomas são comuns: em Portugal, (ainda) escrevemos pouco sobre sexo e nem sempre sai grande coisa. Luís Francisco (texto) e Nuno Saraiva (ilustrações)

Não é fácil encontrar na literatura bém não tem dúvidas: “Somos bons da o seu compatriota Ruy Duarte de guel Sousa Tavares concorda: “Tem a portuguesa bons nacos de prosa ou noutras coisas, nessa não.” Mais con- Carvalho. Será que as palavras do por- ver com a capacidade dos escritores; passagens poéticas com conteúdo se- tundente, o jornalista e escritor Mi- tuguês de cá não ajudam? o português do Brasil é melhor, mas xual. Que o diga António Mega Fer- guel Sousa Tavares assume que, em “‘Bunda’ é muito melhor do que não é só isso...” Pois, conclui, José Edu- reira, que em 2005 publicou uma Portugal, “escreve-se muito mal sobre ‘rabo’. ‘Seios’ é piroso, ‘mamas’ é cru. ardo Agualusa, “os escritores brasilei- antologia do “Erotismo na Ficção Por- sexo”. Já o crítico Pedro Mexia acha ‘Pau’, no Brasil, resulta e por cá vai-se ros, de uma forma geral, são muito tuguesa do Século XX”. Pesquisou que o problema não é só português, generalizando. Mas a palavra come- melhores do que os portugueses quan- exaustivamente décadas de produção está “em todo o lado”, devido à “difi- çada por ‘c’ nem poderia aparecer do se trata de escrever sobre sexo”. literária e o trabalho revelou-se “mui- culdade do tema”. neste artigo...” Inês Pedrosa, escritora Mas Portugal tem e teve bons escri- Capa to difícil”, por falta de matéria-prima. Mas se Mega Ferreira tivesse alar- e directora da Casa Fernando Pessoa, tores. Haverá alguma razão para que Em quantidade e, sobretudo, em qua- gado o seu horizonte à literatura de regista uma série de dificuldades com o sexo apareça tão pouco e de forma lidade. Será que não temos mesmo língua portuguesa, o resultado pode- o léxico. “A nossa língua anda muitas tantas vezes desastrada ao longo de jeito para verter em romance essas ria ser bem diferente. Autores como vezes por dois extremos: o lírico e o décadas de produção literária? Bom, coisas do corpo? João Ubaldo Ribeiro e Rubem Fonse- obsceno, grosseiro. Às vezes faltam as não será apenas uma. Há um conjun- O hoje presidente da Fundação do ca, ambos do Brasil, aparecem com palavras”, completa Lídia Jorge to de razões, a começar pelo facto Centro Cultural de Belém não deixa frequência quando se pedem bons Será, então, um problema da lín- básico de que “o sexo é diferente a Sul margem para segundas leituras: “En- exemplos de literatura com conteúdo gua? “Não. Se fôssemos realmente do Equador”, como constata Mega contrei coisas horrendas ao longo da sexual, erótico. O escritor angolano bons conseguíamos sê-lo com a nossa Ferreira, que fala de “um pudor enor- pesquisa.” A escritora Lídia Jorge tam- José Eduardo Agualusa menciona ain- língua”, sentencia Mega Ferreira. Mi- míssimo” entre nós.

6 • Sexta-feira 12 Fevereiro 2010 • Ípsilon is sobre sexo, eito?

Ípsilon • Sexta-feira 12 Fevereiro 2010 • 7 DANIEL ROCHA DANIEL ROCHA DANIEL

Pedro Mexia acha que, quando se trata de sexo, a literatura Miguel Esteves Cardoso destaca Camões, Nemésio, Cesariny, portuguesa oscila perigosamente entre os extremos do obsceno Herberto Hélder, Joaquim Miguel Fernandes Jorge e Joaquim e do kitsch. Mal por mal, prefere o obsceno. Manuel Magalhães. Na prosa, “somos um desastre”. A tradição do neorealismo foi desastrosa, com as gerações seguintes fi caram

A falta de naturalidade aparece, “Basílio achava-a irresistível; quem escritor Rui Zink. Também para ele, assim, como o pecado maior das nos- diria que uma burguesinha podia ter os poetas levam a melhor. “Para ex- sas letras nesse campo. “A literatura tanto chique, tanta queda? Ajoelhou- pressar o desejo e o corpo, escolhe- portuguesa está cheia de pudor, fal- se, tomou-lhe os pezinhos entre as mos a poesia. Assim, de cor, penso samente vitoriano”, analisa o escritor mãos, beijou-lhos; depois, dizendo em [António] Botto, Florbela [Espan- Baptista-Bastos. “A tradição do neore- muito mal das ligas ‘tão feias, com ca], Natália [Correia], Eugénio [de alismo foi desastrosa, com um estilo fechos de metal’, beijou-lhe respeito- Andrade], [Maria] Teresa Horta, Al absolutamente piroso a tratar de sexo, samente os joelhos; e então fez-lhe Berto, [Alberto] Pimenta... Já na pro- e as gerações seguintes ficaram mar- baixinho um pedido. Ela corou, sor- sa somos furtivos, tímidos ou, então, cadas”, aponta Miguel Sousa Tavares. riu, dizia: ‘não! não!” E quando saiu temos actos falhados.” Talvez isso explique o recurso maciço do seu delírio tapou o rosto com as Pode haver várias tentativas de ex- a metáforas sempre que o sexo entra mãos, toda escarlate; murmurou re- plicação para esta inabilidade literá- em cena. Que traz consigo outro pro- preensivamente: ria, numa área que é, e será sempre, blema: “Algumas metáforas são assus- - Oh, Basílio! “um campo minado”. Mega Ferreira tadoras”, avisa Pedro Mexia. Ele torcia o bigode, muito satisfeito. fala da “tardia tradição do romance” Inês Pedrosa acha que elas não fa- Ensinara-lhe uma sensação nova; ti- entre nós, mas também dos “50 anos zem falta nenhuma. “O sexo tem uma nha-a na mão!” de ditadura salazarista”, com a sua força em si que dispensa a metafori- Sexo oral no século XIX?! Foi por lógica de “censura e marginalização zação.zação. Esta é usada para esconder as estas e por outras que o próprio pai do tema sexual”. Um véu pesado, palavras. Mas pele é pele, corpo é cor- de Eça, apesar de conquistado pela também com uma componente reli- po...”, dizdiz a escritora.escrito Mas também força da narrativa, lhe puxou as ore- giosa muito forte, que deu origem a istoisto não é uma lleiei aabsoluta: “Hoje em lhas. A descrição de cenas eróticas uma “cultura casta e lírica”, analisa dia,dia, na crítica, parecepare que a metáfora sempre chocou algumas consciências. Lídia Jorge. estáestá ‘out’; tudo o quequ não pareça mui- E é por isso que os poetas, com a sua toto cerebral parece qque já não merece abordagem teoricamente mais desli- A “prova de fogo” serser literatura.”literatura.” gada da realidade, beneficiam de um Todos os que escrevem têm consci- maior à-vontade. O que eles dizem ência da realidade que os rodeia no A forçaforça da ppoesiaoes não é bem o mundo, é poesia, pensa- que respeita aos espinhos do erotismo ApesarApesar de tudo, evitarevi tratar as coisas rá o cidadão comum. escrito. Uma consciência formal, que pelospelos nomes pode não ser um golpe Será essa a explicação para a larga se prende com os gostos do público, de morte na inteintençãon de criar uma vantagem que a poesia leva sobre a o seu estilo pessoal ou a contundência atmosferaatmosfera de tenstensãoão carnal. Nem sem- prosa nesta área do erotismo? Não, da crítica. Mas também – porque den- prepre a linguagemlinguagem maism explícita teve a diz Miguel Esteves Cardoso. O escritor tro de um escritor há sempre uma aceitaçãoaceitação públicapública queq hoje vai tendo e colunista considera que “os melho- pessoa – uma consciência pessoal. No e os escritores foramfor encontrando res escritores sobre sexo tendem a ser momento de escrever sobre sexo, se- caminhos que nãonão passassem pela os melhores escritores”. No caso por- rá que os escritores não pensam: “O camuflagem metmetafórica.a Às vezes, tuguês, os melhores são poetas. “Ca- que é que a minha mãe [ou o meu como lembralembra Baptista-Bastos,Bapti há que mões e, mais recentemente, Vitorino filho, ou...] vai pensar disto?” Será ofereceroferecer ao leitor uuma “ampla mar- Nemésio, Mário Cesariny, Herberto que, de algum modo, se autocensu- gemgem dedutiva”.dedutiva” Leia-se “O Primo Hélder, João Miguel Fernandes Jorge ram? Basílio”,Basílio”, ddee Eça de Queirós, e Joaquim Manuel Magalhães.” Con- “Claro, como aliás acontece com romancerom em que Me- clusão, para que não restem dúvidas: qualquer cena relativamente ‘inspi- ga Ferreira situa a “Na prosa somos um desastre.” rada na vida real’”, assume o escritor “primeira inscri- Será, talvez, porque os portugueses Francisco José Viegas, apoiado por çãoç do erotismo na “têm mais jeito para expressar a frus- António Mega Ferreira, também ele literaturaliteratu portuguesa”: tração do que o desejo”, na visão do com obra publicada: “Tenho consci- A sugestão é mais importante do que a exibição. A precisa mais de exibição s

8 • Sexta-feira 12 Fevereiro 2010 • Ípsilon PEDRO CUNHA PEDRO RUI GAUDÊNCIO RUI SHAMILA MUSSÁ

Miguel Sousa Tavares António Mega Ferreira publicou em 2005 uma antologia do Lídia Jorge “Erotismo na Ficção Portuguesa” e encontrou “coisas horren- das” ao longo da pesquisa m um estilo absolutamente piroso a tratar de sexo, e m marcadas Miguel Sousa Tavares

ência dos condicionalismos do pas- amor tem uma farta fatia do destino. critor? “É preciso atenção, mas a biando Ruas”, uma rapariga “um sado e do presente e não sei se teria E o sexo tem uma farta fatia do amor.” abordagem tem de ser natural e sem pouco ‘atrasada’, que não sabe auto- talento para evitar os alçapões.” Já E é por isso que os escritores arriscam abdicar do estilo próprio e do tom da controlar-se e, por isso, conta com Miguel Sousa Tavares garante não ter constantemente enfrentar essa “pro- obra”, avisa Miguel Sousa Tavares. toda a clareza a expressão do seu de- “qualquer autocensura” – “A minha va de fogo” do erotismo. Mesmo que É por isso que Lídia Jorge não pro- sejo”. Não teve reacções negativas. preocupação é não ser ridículo, não muitos acabem por se queimar. cura “escrever cenas demasiado ex- Também não há forma de prever forçar.” Tese, antítese... e síntese. Lí- Pedro Mexia acha que é, “como no postas, exibicionistas” – “A nossa cul- ao milímetro o que as pessoas vão dia Jorge: “Somos seres complexos, cinema, das coisas mais difíceis de tura não o faz e eu não o faço. É cul- pensar. Francisco José Viegas lembra- às vezes fazemos censuras de que não fazer” e salienta que na literatura “há tural e é, também, pessoal.” Regra se de uma crítica em que se falava de nos damos conta.” sempre dois extremos, ambos peri- máxima: “A sugestão é mais impor- um “erro fatal” no romance “Longe Inês Pedrosa, por seu turno, está-se gosos: o obsceno e o kitsch”. A ter de tante do que a exibição. A Agustina de Manaus” – o escritor tinha ‘assas- “nas tintas” para o que as pessoas escolher, coisa que sucede muito fre- [Bessa-Luís] até costumava dizer que sinado’ uma personagem feminina possam pensar. Considera “um desa- quentemente quando se lê sobre se- quem precisa mais de exibição são os “exactamente quando ela se prepa- fio escrever sobre sexo” e o seu livro xo, ele prefere o primeiro. Mas há, impotentes.” rava para uma cena de sexo com outra mais recente, “A Eternidade e o De- entre os autores, quem evite “andar Francisco José Viegas bate mais for- mulher”… Na verdade, comenta Inês sejo”, termina exactamente com um nessa corda bamba entre o obsceno te. “O que me irrita mais é quando Pedrosa, “temos tendência para pen- orgasmo feminino. “Se é verdade que e o kitsch”. um autor, sobretudo quando escreve sar que o país é mais conservador do um romance caminha para o seu clí- António Lobo Antunes, por exem- na primeira pessoa, tem de falar do que realmente é”. max, então é um final muito apropria- plo, já confessou a sua falta de jeito imenso, forte, brutal, devastador, “Nunca é um exercício fácil, cor- do!”, brinca. Mas recorda-se de rece- para as cenas eróticas e não se mete grosso pénis erecto. É uma mania exi- rem-se múltiplos riscos e, muitas ve- ber “alguns conselhos pré-publicação nisso. Outros – e génios! – antes dele bicionista e, já agora, ‘brochante’ na zes, ser politicamente correcto atra- para ‘esconder’ o orgasmo mais no fizeram o mesmo. “O [Alfred] Hitch- maior parte das vezes, porque, vê-se palha as coisas”, regista Patrícia Reis. meio do livro”... Ignorou-os e o seu cok dizia que não podia filmar uma logo, quem faz pouco sexo, escreve A escritora e jornalista salienta ainda próximo trabalho terá ainda mais ce- cena de sexo por causa dos planos de sobre o assunto.” outra variável nesta equação a múlti- nas eróticas, porque a autora esco- corte, que falseiam a realidade. Só em Também ele prefere a sugestão à plas incógnitas: “O sexo é entendido lheu abordar o tema da amizade mas- plano-sequência…”, lembra Mexia. exibição. “As cenas de sexo, ou os di- de forma diferenciada. Somos leitores culina. E, quando os homens se jun- álogos sobre sexo, correm muito mais diferentes ao longo da vida, do mês, tam, falam inevitavelmente de sexo. “Vigilância acrescida” o risco de desaguar no puro mau gos- da semana. O que hoje nos choca, O mesmo parece acontecer aos es- Será pelo desafio da escrita ou pela to. Acho que prefiro sugerir, abrir um amanhã pode ser indiferente. E o se- critores quando enfrentam a folha em incontornabilidade do tema quando pouco o jogo, mas deixar a coisa sus- xo é valorizado e desvalorizado numa branco. Lídia Jorge: “Escrever é fazer falamos da existência humana, a ver- pensa. Ou então ser decididamente vertigem doida desde que as novas amor com o mundo. Há uma pulsão dade é que o sexo acaba quase sem- ‘brutal’.” Quando tem de ser, tem de tecnologias o banalizaram.” erótica na escrita, como em qualquer pre por irromper numa história. E, ser. Lídia Jorge recorda uma persona- Usando assumidamente um eufe- arte. Escreve-se sobre o destino. E o quando isso acontece, o que faz o es- gem do seu romance “O Vento Asso- mismo – “Não lhe chamaria auto-

Bons na cama: Agustina Bessa-Luís, José Cardoso Pires, Eugénio de Andrade, Eça de Queirós, Jorge de Sena e Mário Cesariny . A Agustina até costumava dizer que quem o são os impotentes Lídia Jorge

Ípsilon • Sexta-feira 12 Fevereiro 2010 • 9 DANIEL ROCHA DANIEL ROCHA DANIEL MIGUEL DANTAS MIGUEL

Rui Zink considera que “os portugueses têm mais jeito para ex- Francisco José Viegas José Eduardo Agualusa prefere a ginástica sexual dos es- pressar a frustração do que o desejo”, sobretudo na prosa, onde critores brasileiros, “de uma forma geral muito melhores do “somos furtivos, tímidos ou, então, temos actos falhados” que os portugueses”

O ideal é deixar as personagens a foder, lá dentro, de outra coisa enquanto eles fazem a coisa

censura, antes vigilância acresci- ‘Quero fazer uma sopa de peixe mau gosto” escritas pelo Nobel José O livro é “Água, Cão, Cavalo, Cabe- da” –, Mega Ferreira explica que o com o leite as minhas mamas’, repetiu Saramago. ça”, o autor Gonçalo M. Tavares. “Se escritor “corre sempre o risco de, ao ela, como se dissesse a coisa mais na- Nem todos são cruéis “ao ponto de houvesse um prémio em Portugal dar destaque a uma determinada ce- tural do mundo. Colocou a mão no dizer nomes”, como confessa Rui [para más passagens eróticas], have- na, esta ficar presa no seu conteúdo seio esquerdo e espremeu-o de modo Zink, que se limita a constatar que “a ria alguns bons concorrentes”, avalia erótico, apenas uma cena, sem mais tal que o mamilo espreitou pela borda cabeça dos homens portugueses é Mega ferreira. “Incluindo pérolas de do que ela própria”. Ou seja, de não do decote. ‘Gostava de provar?’ pouco fluida quando chega às coisas grandes escritores. Como já dizia o contribuir em nada para o fluir da Tomás sentiu uma erecção gigan- do corpo”. Por pudor ou memória outro: ‘Homero também dormi- história. Um problema para o qual tesca a formar-se-lhe nas calças. In- selectiva, José Eduardo Agualusa tam- ta’…” Francisco José Viegas diz ter uma so- c a -paz de proferir uma palavra e bém fala no geral: “Há escritores ex- A questão não é académica. No Rei- lução: “O ideal é deixar as persona- com a garganta subitamente seca, fez celentes que produziram frases más no Unido há mesmo um prémio anu- gens a foder, lá dentro, no quarto, e que sim com a cabeça. Lena tirou to- sobre sexo, mas graças a Deus não me al para Mau Sexo em Literatura, este nós falarmos de outra coisa enquan- do o seio esquerdo para fora do de- recordo de nenhuma.” ano conquistado por Jonathan Littell, to eles fazem a coisa como deve cote de seda azul (…). A sueca ergueu- Já Patrícia Reis lembra um livro com o romance “As Benevolentes”. ser.” se e aproximou-se do professor; em “cujo título é maravilhoso e verdadei- Vendeu mais de um milhão de exem- pé, ao lado ele, encostou-lhe o seio à ro: ‘O Amor é Fodido’, de Miguel Es- plares por essa Europa fora e o júri Maus exemplos boca. Tomás não resistiu. Abraçou-a teves Cardoso”. Mas… “O conteúdo, destaca a genialidade da obra. Bom, O problema é quando entramos por pela cintura e começou a chupar-lhe as cenas mais concretas de sexo, a lin- pelo menos da maior parte: “Passa- ali adentro e a coisa não corre mesmo o mamilo saliente.” guagem gratuitamente pornográfica gens como ‘Vim-me subitamente, um nada bem. Veja-se este naco de prosa Há gostos para tudo, mas esta é não me adiantou nada.” De um livro jorro que me esvaziou a cabeça como de “O Codex 632”, um dos vários uma das cenas mais vezes lembrada inteiro para uma passagem específica, uma colher raspando o interior de um “best-sellers” de José Rodrigues dos quando se fala em maus exemplos de eleita pelo crítico Eduardo Pitta: ovo pouco cozido [tradução livre]’ Santos: sexo na literatura portuguesa. Uma “Dois soldados, em vez de enterra- garantiram o prémio a ‘As Benevolen- Os brasileiros “Parou de comer e fitou-o com uma quase unanimidade que o autor não rem os cadáveres dos seus amigos tes’”, anunciou a “Literary Review”, João Ubaldo expressão insinuante. ‘Sabe qual é a comentará neste artigo, por se ter es- mortos em batalha, escaparam às or- promotora de uma iniciativa que este Ribeiro e minha maior fantasia de cozinhei- cusado a prestar declarações. dens, e num pequeno bar, ainda com ano tinha na lista de finalistas nomes Rubem ra?’ Resta-lhe a consolação de aparecer o uniforme manchado, mandam vir tão consagrados como os de Paul The- Fonseca ‘Hã?’ em boa companhia quando se pedem uma mulher – uma prostituta – e os roux, Nick Cave, Philip Roth ou Amos escreveram ‘Quando um dia for casada e tiver exemplos de passagens eróticas par- dois sobem com ela para um quarto Oz. Entre outros. algumas das um filho, vou fazer uma sopa de pei- ticularmente más. Pedro Mexia come- e fornicam-na. Um colando-lhe o pé- melhores xe com o leite das minhas mamas.’ ça por se lembrar do “leite de ma- nis na boca e o outro fornicando-a por O fogo de Jorge de Sena páginas de Tomás quase se engasgou com a mas”, mas como, no seu entender, trás como fazem os cães às cadelas e Mas deixemo-nos de negativismos. sexo em sopa. “isso nem é bem literatura”, avança os homens às mulheres ou a outros Fechada a cortina sobre as más cenas português do ‘Como?’ para algumas passagens “de extremo homens.” de sexo, o que haverá a destacar no Brasil; Maria Teresa Horta e Vitorino Nemésio, escolhas recorrentes; Jonathan Littell e José Rodrigues dos Santos são exemplos do mau sexo em literatura O sexo tem uma força em si que dispensa a usada para esconder as palavras. Mas pele é pele,

10 • Sexta-feira 12 Fevereiro 2010 • Ípsilon Este é o meu corpo, Comen- tário tomai e comei

João esde o dia em que metade da blogosfera desatou a

RUI GAUDÊNCIO RUI Bonifácio martelar na famosa passagem da sopa de peixe de José Rodrigues dos Santos, aventaram-se variadas justificações para a tristeza pátria com o sexo em NUNO FERREIRA SANTOS D palavra: que a nossa língua não serve para o sexo; que somos de escasso pinanço; que o povo é pudico; que. Mas por muito que bater no país dê prazer aos proponentes a membros da “intelligentsia”, é facílimo apontar o dedo a más passagens de sexo em toda a literatura: em Updike, entre uma simpática ejaculação facial e uma delicada sodomia, há frases que envergonham não os mais pudicos mas os mais exigentes. No entanto, há algo de sintomático em termos escolhido para imagem magna da nossa literatura Fernando Pessoa, que sonhava com ovelhas quando tinha Ofélia a seu lado. Opção tão mais curiosa quando havia Camões e Bocage, certamente bem mais atreitos às artes do amor. Retorquir que Camões é o poeta ofi cial da nação é operação de camufl agem: ninguém o lê. Baptista-Bastos sublinha que há muito “pudor, falsamente Inês Pedrosa Mesmo na poesia contemporânea vence o mais casto, vitoriano”, mas lembra que também há bons casos de escritores Eugénio, o telúrico lírico, foi laudado em desfavor dos mais portugueses que dão ao leitor “ampla margem dedutiva” abertamente homossexuais ou lascivos, de Botto a Cesariny, aceitando que é na poesia que se encontra o nosso melhor sexo. É assim que vamos. Quer isto dizer que somos conformados nas partes baixas? De todo. Podemos ser hipócritas e sonsos, mas neste país sempre se fodeu bem e à fartazana. Quando muito podemos , no quarto, e nós falarmos queixar-nos da perene sombra de um ditador castrador, um falso pudico que nos deixou por legado a crença de que camufl ar a nossa imagem diária é imperativo à sobrevivência. a como deve ser Francisco José Viegas O que teve efeitos paradoxais: continuamos paroquiais, mas cada egrégio engenheiro dá por si um dia numa caibrada no jardim com a balconista, cada senhora das Finanças sonha mandar uma trancada no elevador com o faxineiro, já para extremo oposto? Onde estão os bons Outras referências: Maria Isabel xo. Apesar de Inês Pedrosa não querer não falar dos estudantes das repúblicas que por tradição exemplos? As respostas surgem agora Moura (Rui Zink); Inês Pedrosa (Pa- que lhe falem “disso” da escrita femi- emprenhavam as sopeiras, das cabeleireiras da Bobadela que mais soltas e abundantes – talvez que, trícia Reis); Francisco José Viegas (Pe- nina e masculina, tem mesmo de praticam “dogging” com o marido mecânico, dos carteiros por serem raros, acabem por gerar dro Mexia); Carlos de Oliveira, em ser… que roubam pensões de reforma para manter o broche maior unanimidade. “Uma Abelha na Chuva” (“um primor Francisco José Viegas: “Elas são me- semanal da mulata, dos padres que ensinam os acólitos a Miguel Sousa Tavares fala de “Si- de sugestão erótico-sexual, na se- lhores do que os homens e estão a molhar o bico, tudo histórias verdadeiras. nais de Fogo”, de Jorge de Sena, ro- quência em que D. Maria dos Prazeres escrever mais sobre sexo – não sei se Até há pouco tempo, a nossa melhor literatura mostrava mance também citado por Mega Fer- viaja na charrette, sente-se atraída isso é bom ou mau –, mais e mais des- tudo isso: Raul Brandão, em “Impressões e Paisagens”, reira, que o considera uma “obra pelo cocheiro”, diz Baptista-Bastos); pudoradamente, com mais imagina- contava a história do Padre Joaquim que “estendia invulgar”, onde a “instância sexual Miguel Esteves Cardoso (Mega Ferrei- ção e até com mais melancolia.” Mega brutalmente” a Leonarda “entre a folhagem”. O Jorge de só não está do princípio ao fim por- ra); Almeida Faria (Francisco José Ferreira: “As mulheres, porventura, Sena de “Sinais de Fogo”, o Nuno Bragança de “A Noite e o que se trata de uma obra inacaba- Viegas). ultrapassam melhor o pudor quase Riso” e de “Square Tolstoi”, o Lobo Antunes de “Explicação da…” Patrícia Reis chama-lhe “um E ainda José Cardoso Pires. Em “A ancestral que nos tolhe; talvez tenham dos Pássaros”, que põe, se a memória não me falha, uma livro poderoso”. Rui Zink também Balada da Praia dos Cães”, Francisco maior capacidade para escrever com mulher a enfi ar o dedo no rabo escolhe Jorge de Sena, mas prefere José Viegas aprecia a safadice e Rui mais à-vontade – talvez porque nome- Salvo erro foi na língua do marido durante o duche, “O Físico Prodigioso”. Zink elege mesmo como melhor cena ar o sexo, escrever sobre sexo, seja todos mostraram esse sexo José Eduardo Agualusa lembra vá- da literatura portuguesa de conteúdo uma forma de emancipação.” portuguesa que se crível, porque mais interessado rios romances de Rubem Fonseca e erótico “a masturbação revoltada do Lídia Jorge não vê a coisa assim, até nas pessoas do que na ginástica destaca ainda “O Sorriso do Lagarto”, inspector Elias”. É assim: porque acha que “o esforço de trans- inventaram termos e ou em qualquer política sexual. de João Ubaldo Ribeiro; “Rakushisha”, “Elias masturba-se. Sempre de gressão” foi feito pela “geração ante- No capítulo homossexual, de Adriana Lisboa; e “Os Papéis do olhar parado, vendo para dentro e a rior” à sua. E, já agora, também não expressões como temos páginas bem explícitas Inglês”, de Ruy Duarte de Carvalho. desfocar-se (o olhar de quem se deixa aceita que se pense no sexo como “ca- em “Lunário”, de Al Berto, bem O primeiro merece igualmente a pre- ir de viagem) enquanto a mão, o ros- pacidade de expressão de uma litera- esfodangar, dar de como em Rui Nunes, Guilherme ferência de Pedro Mexia e Francisco to e a boca dela o trabalham lá em tura”: “É uma prova de fogo um escri- stick e escalavrar... de Melo, Pitta, entre outros. José Viegas. Diz este: “O livro de lín- baixo, e tudo se concentra. Elias vai tor ser capaz de entrar na intimidade Se aceitarmos que o sexo não gua portuguesa onde há melhores num espaço fechado, numa caixa de sexual e ser capaz de a descrever com está apenas no truca-truca, temos ainda melhores exemplos: cenas de sexo é ‘A Grande Arte’, de espelhos, a cabeça solta, desligada eficácia e elegância. Mas não é a me- no Camilo da “Maria Moisés”, no Torga de “A Consulta”, no Rubem Fonseca. Ele é muito bom a dele. O pénis recurvo não pára de ser dida para avaliar uma literatura.” Cardoso Pires de “Alexandra Alpha” há pessoas a deixar-se escrever essas cenas porque, justa- percorrido por uma cadência sabo- Seja como for, não é mais difícil pa- reger pelas partes baixas. E no entanto ai Jesus que se pina mente, não quer escrever ‘cenas de reada e insistente, e ele de olhar imó- ra uma mulher expor-se dessa manei- pouco. Parecemos virgens numa orgia: não vimos nada, não sexo’. Quer falar de homens e mulhe- vel, diante dum vidro (que já não é ra do que para um homem? Analisa sabemos de nada e aquele esperma não era o meu. res.” de espelho, mas transparente) diante Inês Pedrosa: “As mulheres são muito Perante tudo isto, em país tão demograficamente menor e Mas Viegas guarda ainda espaço dum pára-brisas, um autocolante, um penalizadas quando escrevem sobre até há pouco tempo tão analfabeto, podemos dar razão aos para Mónica Marques e a sua “Transa espelho retrovisor, para baixo e para sexo. Há um discurso libertário, mas que nos garantem que a nossaa língua não se presta ao sexo? Atlântica”, com uma cena de ‘ménage cima, as molas do assento a rangerem a verdade é que continua a impor-se Corrijam-me se estiver errado, mas salvo erro foi na língua à trois’ que é “de uma elegância fes- num movimento mecânico e igual. aquele estereótipo de que um homem portuguesa que se inventaram termos e expressões como tiva, feliz e deliciosa”. Eduardo Pitta Sempre.” com muitas relações sexuais é um ga- esfodangar, dar de stick e escalavrar. A mesma língua que vai ainda mais longe no elogio. Para ranhão e uma mulher tem de ser re- encontrou sinónimos para pénis tão belos como sardão, tarolo o crítico, a melhor cena de conteúdo A vez delas catada, se se atreve a escrever sobre e marsápio, que criou a passarinha, a pachacha e a crica, que sexual da literatura de língua portu- Se há algo que nos surpreenda nestas isso é porque é uma devassa. As mu- designa clítoris por berbigão e rabo por entrefolhos. guesa é… “Todas as de ‘Transa Atlân- escolhas, talvez seja a presença mar- lheres pensam em afectos e não têm Qual é então o problema do sexo na literatura portuguesa tica’. Overdose absoluta, sem metá- cante de mulheres autoras. O que corpo…” actual? O mesmo das facas e dos garfos, das cortiças e dos fora. Pau e xoxota mesmo. Um clássi- permite levantar a eterna questão de Mas têm. E estão a falar cada vez curtumes, da gordura no fogão. Falta-nos em detalhes que co do género.” E a seguir destaca Al haver, ou não, uma escrita feminina, mais dele. Neste como noutros cam- impõem o real o que nos sobra em poesias. A literatura Berto, por “Lunário”, a “primeira nar- por oposição ao estilo dos homens, pos, talvez elas sejam a nossa maior portuguesa sofre ainda da arte de esgadalhar frases de efeito rativa portuguesa ‘gender fucker’”. tradicional, de tratar as coisas do se- esperança. (que mais não é do que uma forma de punheta que arreda a narrativa do bom caminho), ou da grande inquirição existencial, ou da grande Ideia. Não é o sexo, bom ou mau, que falta. É o talento e o trabalho. O mundo é irredutível a uma frase forte e precisamos de muito pormenor para acreditar nele. a metaforização. Esta é Diria aos nossos escritores, se conhecesse algum: dêem-me pessoas. Com ou sem fodanga. , corpo é corpo... Inês Pedrosa

Ípsilon • Sexta-feira 12 Fevereiro 2010 • 11 A voz de uma c Nasceu na comunidade dos açorianos emigrados n e que esperavam que fossem os fi lhos a c d

DoDo outro lladoado da llinhainha ttelefónica,e a aconteceram, recorri às coisas que partirpartir dede Toronto,Toronto, CCanadá,anad a voz soa observava. jovialjovial e eentusiasmada.ntusiasmmada. NNum inglês As pessoas são obsessivas com a perfeito,perfeito, AnAnthonythony de SSáá ddiz-se “thril- questão autobiográfica? led”led” com o sucessosucesso dodo seuseu livro “Ter- Sem dúvida. Mas compreendo. Já ul- ra Nova” e “excite“excited”d” com a notícia de trapassei a altura em que ficava inco- quequq e NellyNelly FurtadoFurtado comproucomppr os direi- modado. Mas o que acontece numa tostos paparara o aadaptardaptarr aaoo cicinema.n E, de comunidade como a nossa em Toron- repente,repente, a mmesmaesma vozvoz deslizadesl para um to é que há um pouco de medo de que sussurrosussurro meimeioo cacantadontado e cheios de a minha experiência pessoal se torne

Livros “uuuuss”.“uuuuss”. AnAnthonythonny esestátá a falar “aço- sintomática de toda a comunidade. riano”.riano”. Algumas pessoas ficaram incomo- ChefeChefe do DDepartamentoeppartament de Inglês dadas pelo facto de o livro se ter tor- da HumberHumber SchoolSchool forfor WWriters,ri Toron- nado tão popular no Canadá, onde to,to, cocontanta em “Terra“Terrra Nova”Nova” (Dom Qui- esteve nas “short-lists” para vários xote)xote) a hihistóriastória ddosos pprimeirosrimeiri imigran- prémios e tem tido muita atenção dos testes queque foramforam de PPortugalortugal (sobretudo media, sobretudo agora que Nelly dosdos Açores)Açores) para o Canadá,Canad nos anos Furtado comprou os direitos para o 50,50, da pperdaerda dodoss ssonhos,onho da difícil transformar num filme. relaçãorelação cocomm a geggeraçãoração dos filhos, O acordo já foi concluído? dada didifícilfícil relarelaçãoção cocomm Portugal. Foi, na semana passada. Mas havia o E conta comcomoo foi crcrescere na To- medo de que o livro representasse rontoronto dos aanosnos 70 na comuni- toda a gente na comunidade e as pes- dade portportuguesaugu uesa – uma “co- soas estavam envergonhadas por se munidademunidadee ssilenciosa”,ilenc que, ter aberto esta porta para os proble- atéatté agagora,oro a,a gguardarauardd os seus mas que naturalmente surgem numa segredos.segredoos. comunidade. QuantoQuanto do lilivrov é O que digo a essas pessoas é que as autobiográfico?autobiográfi histórias de Manuel e de António não É umumaa perperguntagun frequen- são histórias de imigrantes portugue- te.te. NNãoão é auautobiográfico.to ses, são a história de todos os imi- O memeueu paipai nãonã veio para grantes. É sobre todas as comunida- o CanadáCanadá na Frota des que lutam por uma vida numa BrancaBranca e nnão se afo- terra nova. gougou e foi pparara à costa. Mas é inevitável ver o Manuel A mmaioraior partepa daquilo como um símbolo dos sonhos queque escrevoescre é retira- perdidos da primeira geração. doo ddee ccoisas que Sim, na sua maioria as pessoas da aconteceramaconte a primeira geração são como ele. Vie- membrosmembro da família ram para este país com muitos so- ouou históhistórias que nos nhos e em muitos aspectos sofreram erameram ccontadaso pe- uma desilusão e não lhes era possível RICCA PAULO loslos memeusu pais quan- voltar para trás. Foi difícil para eles. dodo éraéramosm crianças Não se sentiam 100 por cento cana- sobresobre a terra de on- dianos, e quando voltavam para visi- de tintinhamh vindo. tar, fosse São Miguel ou Lisboa, tam- MasMas a ssegunda bém não se sentiam parte disso. Mui- parte, quando o tos viviam entre estes dois mundos e filho,filho, António,A uma das coisas que faziam para se sese tornatorn o sentirem melhor era dizerem para si narradornarrad [a próprios: não cumpri os meus sonhos pprimeirarimei parte mas os meus filhos hão-de cumpri- é narradanarra pelo los. E isso é injusto. É injusto impor ppai,ai, Manuel],Ma os sonhos aos filhos, porque eles têm ppartearte mmuito o direito de ter os sonhos deles. mmaisais dada sua Nesta comunidade, como aconte- eexperiênciaxperiê ce noutras, estamos obcecados em pepessoal,essoal, imagina- falar dos que tiveram sucesso. Mas sese.e. são uma percentagem pequena. Aí tenhotenho qque me colo- Nunca se conta a história dos noven- carcar no ppontoon de vista ta e cinco por cento que lutaram pe- dede uumama cricriançaa a cres- la vida aqui. Quis dar voz aos muitos

cercer emem Toronto,Toro numa que sentiram que não tinham con- ANTÓNIO RODRIGUES JOSÉ comunidadecomunidade portugue- seguido chegar onde pretendiam. sa. ReRecorricorri a experiênciase Estou convencido que muitos deles pessoais,pessoais, porpor exemploe no acabaram por cumprir o seu sonho, queque diz respeitorespeito às tensões mas nunca acreditaram que tinham que surgiamsurgiam quandoqua tentava conseguido. viverviver simsimultaneamenteultanea com Isso terá a ver em parte com a umauma culturaculturar ccanadianaanad e com forma como eram olhados pelos o meu lladoado portuportuguês.g E isso canadianos? era difícil. MasMas parapar os factos Acho que aconteceu por duas razões. específicos,específicos, o alcoolismoalcoolis [de Ma- Quando esses primeiros imigrantes nuel],nuel], as ccoisas que vieram para o Canadá, em 1953 (o Anthony de Sá comunidade silenciosa s no Canadá. Cresceu na Toronto dos anos 70 rodeado por homens que tinham perdido os sonhos a cumpri-los. Em “Terra Nova”, Anthony de Sá quis dar voz aos que nunca tiveram histórias de sucesso para contar. Alexandra Prado Coelho

meu pai veio em 1956), havia dois lu- ram impedidas de terem os seus pró- foi a de achar que era um lugar com os pais. Recebeu tanta atenção “Nesta comunidade, gares onde conseguiam trabalho: as prios sonhos. atrasado que gostaria de deixar que achei que talvez houvesse ali al- como acontece quintas e os caminhos-de-ferro. Tra- Manuel sente-se desconfortável para trás? guma coisa. Então escrevi outra cha- balhavam em isolamento, e esse foi ao aperceber-se que a filha é Pelo contrário. Quando era adoles- mada “The Shoeshine Boy”, sobre noutras, estamos o primeiro problema. Depois, quan- mais forte que o filho. Todas as cente, não queria ter nada a ver com uma história que aconteceu em 1977: do um pequeno grupo decidiu fixar- mulheres são muito fortes no a minha cultura portuguesa, e inte- um rapaz que engraxava sapatos em obcecados em falar se no país, voltaram a Portugal para livro. grava-me muito bem na cultura da Toronto e que foi brutalmente violado casar e instalaram-se em cidades co- É verdade. Cresci com os meus tios, América do Norte, era louro, tinha por três homens e assassinado. dos que tiveram mo Toronto e Montreal. O inglês de- tias, a minha avó, a viver nas casas ao olhos azuis, tinha bons resultados na É uma história que conta em les não era bom e estavam limitados lado. Vivíamos como uma grande fa- faculdade, as coisas estavam a correr Terra Nova. sucesso. Mas são uma a trabalhos na limpeza de casas, nas mília. O meu pai queria que falásse- bem. Em Lomba da Maia, vi esse atra- Sim, e que se vai transformar num ro- obras. Muitos não tinham estudado mos inglês em casa, e era a minha avó so – a minha mãe dizia “aquilo está mance que estou a terminar. Essa his- percentagem e sentiam-se desconfortáveis ao per- que, quando ele saía, me dizia “ó ra- muito atrasado” –, mas havia alguma tória transformou esta comunidade pequena. Nunca ceberam que não conseguiam inte- paz, fala português”. Eu, como crian- coisa que tinha charme, que parecia e esta cidade para sempre. Fui con- grar-se na cultura canadiana. ça, via que na vida pública, quando preservado numa cápsula do tempo, tactado por agentes literários, e ao se conta a história dos Além disso, eu, que estava a cres- saíamos de casa, os homens eram a e que era belo. Foi aí que comecei a fim de pouco tempo as editoras aqui cer, sentia claramente uma divisão na cabeça simbólica da família, mas den- redescobrir essa parte de mim que eu estavam a lutar pelo manuscrito. noventa e cinco por comunidade entre os “açorianos”, tro de portas quem tinha o poder achava que tinha deixado para trás. Este livro [“Terra Nova”] lançou pe- que eram a maioria, e aqueles “que eram as mulheres. Elas eram fortes, Quando é que decidiu ser la primeira vez luz sobre uma comu- cento que lutaram vieram do continente”. e tinham que o ser para lidarem com escritor e começar a escrever nidade que está aqui há 50 anos mas pela vida aqui” Os que vinham do continente tudo aquilo. Falou-se muito da perso- sobre essa parte de si? que se manteve preservada. Nada ti- sentiam-se mais cosmopolitas? nagem da avó no livro, de como era Há cinco anos escrevi uma pequena nha sido revelado sobre como é viver Sim. Não sei se eram as pessoas do horrível e brutal. Não quero julgá-la, história chamada “Only a Boy”, sobre e crescer como um canadiano-por- continente que se sentiam superiores a vida dela foi difícil, ela tinha que ser um rapaz de cinco anos e a experiên- tuguês neste país. Somos uma comu- porque falavam “português correc- forte e aquela era a única maneira de cia que ele teve num centro comercial nidade relativamente silenciosa. to”, e eram vistos como um pouco mostrar a sua força. mais cosmopolitas, ou se eram os aço- Ela lida com os filhos como os rianos que se viam como não estando animais, que protegem as crias ao nível dos outros. mais fortes e, se necessário, Há uma forte tensão no seu livro abandonam as que têm menos entre a geração dos pais e a dos hipóteses de sobrevivência. filhos. Isso é muito comum na É exactamente isso. Numa aldeia co- SÃO comunidade? mo Lomba da Maia as pessoas tinham É. Tem que se compreender como era muitos filhos. A minha mãe lembrava- LUIZ ser um imigrante em Toronto nos se de ver três irmãos morrer no espa- JAN / FEV ~1O anos 70. A minha geração foi a pri- ço de três semanas. Não se ia ao mé- meira a nascer no Canadá, e esperava- dico, não havia carros. O papel dos se muito de nós. Menos das mulheres. pais era criar filhos para trabalhar nas As raparigas saíam da escola mais ce- quintas. Era uma forma um pouco do para ir trabalhar, para serem se- animal de olhar para as coisas, mas cretárias ou algo do género, e não era uma realidade muito dura num eram encorajadas a estudar. mundo amargo. Muitos dos meus amigos ouviam os Quando é que conheceu os pais dizerem “se não tiveres bons re- Açores? sultados na escola vais trabalhar”, nas O meu pai era um dos que não que- obras por exemplo, para ganhares riam regressar. Sentia profundamen- dinheiro para a família. Havia muito te que isso fazia parte do passado a ideia de sustentar a família porque dele. Acabámos por regressar de for- as coisas eram difíceis. ma muito semelhante à que conto no Quando no livro o filho sonha tor- livro, quando soubemos que a minha nar-se artista... não tinha sido para avó estava a morrer. Eu tinha quatro isso que o pai viera para o Canadá. anos e não me lembro de grande coi- Isso não era um trabalho a sério, não sa excepto de tomar banho “nos tan- fora para isso que ele se sacrificara. ques”, na água fria, e ir à casa-de- Muitas pessoas da minha geração fo- banho no exterior, coisa que nunca tinha visto. Depois do meu pai morrer, ti- nha eu 222 anos, a minha mãe decidiudecidiu que íamos voltar a São Miguel.Migu Foi aí que pela pri- meirameira vez compreendi que WWW.TEATROSAOLUIZ.PT estavaesta ligado a esse lugar e

Foi aos 22 anos que, me apaixonei por ele. O TEATRO DA CORNUCÓPIA É UMA ESTRUTURA FINANCIADA POR numa viagem aos NessaN altura eu era com- Açores, Anthony de pletamentep canadiano, Sá percebeu a ligação nãon queria ter nada a profunda que tinha ver com o meu lado com as ilhas onde os português. E lembro- 14 JAN A 14 FEV seus pais tinham me de sair do aeropor- QUARTA A SÁBADO ÀS 21H nascido. Nelly Furtadoo to e ir de carro até DOMINGO ÀS 16H SALA PRINCIPAL M/16 (à direita), também luso-so- Lomba da Maia e sentir ÚLTIMAS REPRESENTAÇÕES silva!designers canadiana e filha de uma ligação muito for- açorianos, quer adaptarar o te a este sítio. SÃO LUIZ TEATRO MUNICIPAL BILHETEIRA DAS 13H ÀS 20H RUA ANTÓNIO MARIA CARDOSO, 38; 1200-027 LISBOA T: 213 257 650; [email protected] livro ao cinema A sua reacção não [email protected] / T: 213 257 640 BILHETES À VENDA NA TICKETLINE E NOS LOCAIS HABITUAIS

Ípsilon • Sexta-feira 12 Fevereiro 2010 • 13 É num bairro residencial de Madrid, no sótão da sua casa onde se chega depois de subir vários degraus estrei- tos, que o espanhol Juan José Millás RICCA PAULO trabalha. Ali é o seu território cheio de pilhas de livros e jornais. Quando se senta no sofá, é ao pé do candeeiro antigo que lê com as pernas estendidas. Os mais recentes livros de Lorrie Moore e Patrícia Cor-

Livros nwell estão abandonados na poltrona do autor do romance autobiográfico “O Mundo”, junto a obras de colegas espanhóis. Na sala ao lado está o com- putador de onde saiu há pouco o ro- mance “Lo que se de los hombre- cillos”, que será publicado em Espa- nha em Setembro. Pelas paredes, fotografias coabitam com lagartixas de vários materiais. Por lá andam também colecções de insectos, cha- pas de santinhos em metal e pedras que parecem dedos (com unhas bem definidas). “O que mais me encanta na natu- reza é como ela produz dedos. Dou- me conta que é o que mais produz...”, vai dizendo o jornalista e cronista (do “El País” e de outros meios), que re- cebeu o Prémio Don Quijote de Pe- riodismo. Entretanto desencanta de cima da secretária pedra atrás de pe- dra, cada uma mais perfeita do que a anterior. Não é por acaso, percebe-se ao en- trar nesta caverna de Ali Babá, que chamou ao seu mais recente livro “Os Objectos Chamam-nos” (ed. Planeta). É um livro de contos em que as per- sonagens se movem no mesmo bair- ro onde se moviam as de “O Mundo”, o madrileno Prosperidad e a sua Rua Canillas. [ver Ípsilon de 20 de Feve- reiro de 2009] “É um bairro onde fiquei preso, de alguma maneira. Passei muitas horas da minha infância, ali, naquela rua, LAURA JULIO LAURA

Juan José Millás na cidade dos homen Recebeu o Ípsilon numa caverna de Ali Babá: o sotão da sua casa em Madrid. É aí que o espanhol f perplexas perante o quotidiano. Conversa sobre “Os Objectos Chamam-nos”, livro de contos. I

14 • Sexta-feira 12 Fevereiro 2010 • Ípsilon jogando, brincando. De algum modo “Se falamos com Por isso foi, ao longo de anos, guar- sões por roupa interior feminina, perdi-me ali e ali continuo.” dando dentro de uma pasta contos pactos com o Diabo e escritores que sinceridade e que considerava estarem nesse regis- encontram raparigas com livros de O fantástico no quotidiano to. Para os seleccionar obedecia ao Paulo Coelho debaixo do braço, para Como muitos escritores num momen- honestidade das seu olfacto. quem o mundo está cheio de sinais. to da sua vida José Juan Millás, 64 “De vez em quando, plaff! apare- Coxos que não sabiam que eram co- anos, pensou na possibilidade de nossas obsessões cia-me uma ideia e escrevia. Queria xos, médicos que acham que não têm construir um território mítico, tal co- fazer contos breves. Interessa-me dedos, taxistas para quem na rádio mo o de William Faulkner ou de Juan ligamo-nos às a economia da linguagem. O meu só se dizem parvoíces e passageiros Carlos Onetti. Até que se deu conta obsessões dos outros. sonho é fazer um romance e uma cró- de comboio que se arrependem de que esse território era Madrid. nica de jornal onde não sobre, nem tudo, seja lá do que for. “É um lugar muito plástico, muito Com o passar dos falte uma só palavra. Estes contos fo- “A perplexidade destas persona- maleável. Pode-se fazer com Madrid o ram um campo de experimentação gens está em não entenderem a vida. que se quiser que ninguém nos dirá anos dou-me conta nesse sentido.” Fazem esforços para parecer que en- nada. Invento ruas e nunca me cha- Passados oito anos foi lê-los e ficou tendem, dissimulam como se enten- mam a atenção. Se o tivesse feito com que cada vez mais nos surpreendido. Achou-os divididos em dessem. São personagens que são Barcelona ou com qualquer outra ci- duas partes: as origens e a vida. Uma marcianos, como se os tivessem co- dade, nunca mo teriam permitido. parecemos uns com de juventude, infância e adolescên- locado na Terra, onde têm que imitar Madrid é inexistente: uma cidade em os outros e por isso cia, e outra de maturidade. Reparou os movimentos e as formas das pes- que todos vieram de fora e ninguém num dado curioso: os protagonistas soas para que não se perceba que são pergunta de onde somos. Dei-me con- tentamos ser da segunda parte eram os mesmos marcianos. Vivem permanentemen- ta que Madrid tinha as características da primeira parte, só que adultos. te perante a ameaça de que os des- de um território mítico e passei a uti- originais. Por isso, Tinham a mesma perplexidade pe- cubram.” lizá-la como o meu próprio território.” rante a vida. Ao autor de “Laura e Júlio” (ed. É um mistério mas Millás sonhou um dos temas A determinada altura, chegou a Quetzal) sempre interessou trabalhar com “Os Objectos Chamam-nos”, li- pensar se o protagonista não seria a assimetria. Nestes contos volta a vro onde reuniu 75 contos. Nesse so- recorrentes da minha sempre o mesmo. “Decidi que não. ela. “A assimetria produz muita es- nho associou urbanismo e literatura. obra é a identidade” Mas em última instância, apesar de tranheza e a estranheza produz sa- O mais certo é que tivesse acabado as personagens dos contos serem ber. Quando vemos tudo no seu lu- de chegar de Córdova ou de Milão, sempre distintos acabam por ser gar, não nos diz nada. Se estivermos cidades com centros históricos fasci- sempre os mesmos. O que me fasci- numa esplanada a tomar um copo, nantes. nava é que todos os contos fossem o passa muita gente e não olhamos. Se “Sonhei que conseguia escrever um mesmo e, ao mesmo tempo, diferen- passar um coxo, reparamos. Toma- livro de contos em que estes se rela- tes.” mos atenção. No entanto, é como cionavam entre si, como as ruas da Os contos de “Os Objectos Cha- todos os outros, mas olhamos para parte antiga de uma cidade europeia. mam-nos” são atravessados por crian- ele. Gosto muito de tudo aquilo que Sempre gostei de me perder nesses ças que vão pela rua a dar pontapés é capaz de provocar estranheza por- centros históricos labirínticos, cheios nas pedras e vêem mulheres dentro que é um modo de encontrar o fan- de surpresas, que nos conduzem sem- de bolhas com paredes invisíveis; jo- tástico no quotidiano. Estes contos pre a um ponto de saída.” vens que reparam em círculos de su- acontecem sempre em atmosferas Imaginou um livro em que os con- or debaixo das axilas dos manequins muito domésticas, muito familiares, tos fossem como ruas que se cruzam; nas montras; mães que gostam de muito quotidianas, onde sem dúvida em que se chega ao fim de uma viela histórias de homenzinhos que cabem existe um grande mistério.” e se tem a surpresa de encontrar ou- na palma da mão e que não se casam Apesar de se passarem nestes con- tra, que parece igual mas é diferente. com mulheres do mesmo tamanho tos coisas que são pura fantasia, a Esse conjunto de ruas seria como um porque estão “apaixonados pelas mu- sensação que o leitor tem é que tudo mapa da sua infância. lheres grandes”. Mortos-vivos, obses- é possível. “É tudo possível, claro”,

21 FEV Vozes do DOM 12:00 SALA SUGGIA | 7,5 € Renascimento Português CORO CASA DA MÚSICA

James Wood direcção musical

Obras de Carlo Jesualdo, Manuel Cardoso e Duarte Lobo Millás fala de Madrid como um Portugal viveu no Renascimento a território maleável para um época áurea da composição vocal. escritor; “uma cidade em que Os legados de Duarte Lobo e Manuel todos vieram de fora e ninguém Cardoso permanecem como expoentes pergunta de onde somos. Dei- da polifonia portuguesa, obras me conta que Madrid tinha as da mais alta qualidade a nível características de um território europeu. Em Itália, Gesualdo mítico e passei a utilizá-la como inovava, introduzindo dissonâncias o meu território” lancinantes como os sentimentos provocados pelo amor. Um fascinante programa feito de contrastes. www.casadamusica.com | T 220 120 enzinhos MECENAS CASA DA MÚSICA APOIO INSTITUCIONAL MECENAS PRINCIPAL CASA DA MÚSICA ol fantasia, constrói personagens SEJA UM DOS PRIMEIROS A APRESENTAR HOJE ESTE JORNAL NA CASA DA MÚSICA E GANHE UM CONVITE DUPLO s. Isabel Coutinho, em Madrid PARA ESTE CONCERTO. OFERTA LIMITADA AOS PRIMEIROS 10 LEITORES.

Ípsilon • Sexta-feira 12 Fevereiro 2010 • 15 É tudo possível no quotidiano, coisas. Cenas ou pormenores que pas- diz Millás. Oiçam-no contar sam de uns livros para os outros. “Não como um dia, na infância, viu é consciente. Não me lembrava de ter um manequim suar RICCA PAULO colocado Pierre Clausaut nessa outra história publicada no ‘El País’. Costu- mo esquecer-me das coisas que escre- vo e às vezes aparecem de novo por- que as esqueci.” As personagens passam muito tem- po dentro de casa, sempre em sítios fechados. “Sempre disse – e foi algo que elaborei posteriormente – que os contrapõe Millás. “Nós, os escrito- espaços físicos dos meus romances e res, trabalhamos com a fantasia e com contos se convertem num território a realidade, misturamos. Essa mistu- moral. A atmosfera dessas casas onde ra é o que produz o desconcerto no as personagens se movem, desses tá- leitor. Achamos que no quotidiano xis, desses lugares fechados, dão ao não podem acontecer coisas fantás- relato uma atmosfera moral que me ticas e a vida está cheia de coisas fan- satisfaz. Quero com isto dizer que es- tásticas. Digo mais: o fantástico acon- ses espaços são uma metáfora de um tece na vida quotidiana.” espaço moral. Enquanto fechados, “Os manequins não suam”, dize- asfixiantes, representam um olhar de mos enquanto fixamos os olhos do carácter filosófico ou moral sobre a escritor por trás dos óculos. “Bem, realidade.” isso ainda está por demonstrar”, res- A meio da conversa naquele sótão, ponde imediatamente [risos] “Eu vi depois do café, de conversas sobre quando era pequeno um manequim sapatos MBT que imitam o andar dos suar por isso o conto. Diz que não masai e o escritor não tira dos pés, suam, mas eu vi. Quando ia para o depois de Millás ter andado à procura colégio o manequim estava limpo. de alguns dos seus livros e exclamar Quando vinha do colégio o mane- que estes lhe vão desaparecendo das quim tinha um pouco de suor debai- estantes, voltámos às personagens, xo da axila. Escrevi o conto porque espanholas, muito locais, mas com me aconteceu. Há neste livro contos sámos por uma fachada barroca, mui- dirige a nós através de um espelho. “Nós, os escritores, uma universalidade que levam leito- autobiográficos.” to bonita e ele seguiu. Eu perguntei- Claro que se nos pomos a pensar nis- res de todo o mundo a acreditar que lhe: ‘O que era isso?’. Ele respondeu: to é uma situação tão rara que mere- trabalhamos com aquilo lhes podia acontecer. Os espaços fechados ‘Bah, um museu.’” ce ser explorada.” “Creio que o universal é o local. Achámos melhor não insistir. E a con- Muitos dos contos de “Os Objectos a fantasia e com Falo de coisas que são próximas de versa divagou para os taxistas que Chamam-nos” são conversas com ta- Está tudo ligado mim e portanto próximas de todo o povoam alguns contos do livro. Millás xistas. “O táxi é um espaço fechado Num dos contos surge a referência a a realidade, mundo. Porque somos muito pareci- foi, um dia, fazer uma reportagem a onde estão duas pessoas que não se um tal Pierre Clausaut que terá escri- dos. Se falamos com sinceridade e Múrcia. Apanhou um táxi e pediu ao conhecem e que não vão voltar a en- to “Os objectos me chamam”. Numa misturamos. Essa honestidade das nossas obsessões taxista para lhe mostrar a cidade. “Ele contrar-se. Estão numa posição estra- crónica no “El País”, em 2001, Millás mistura é o que ligamo-nos às obsessões dos outros. ligou o carro, arrancou, brummm, nhíssima: um está sentado de costas já se referia a ele. Pierre existe? “In- Com o passar dos anos dou-me conta parou e disse: ‘Aqui vive o meu cunha- e fala para quem está atrás através de ventei-o, pareceu-me que soava bem, produz o desconcerto que cada vez mais nos parecemos uns do.’ Seguiu, brummm, parou: ‘Aqui um espelho. Não há situação mais es- a escritor francês.” com os outros e por isso tentamos ser fica El Corte Inglés.’ De repente pas- tranha do que isso. Alguém que se A obra de Millás está cheia destas no leitor. Achamos originais. Por isso, um dos temas re- correntes da minha obra é a identi- que no quotidiano dade.” Quando terminou “O Mundo”, Mil- não podem acontecer lás não sabia se ia conseguir escrever coisas fantásticas outro romance mas acaba de entregar ao seu editor espanhol “O que sei dos e a vida está cheia de homenzinhos”. A personagem prin- cipal é um catedrático de Economia coisas fantásticas. que se acaba de jubilar. A mulher ain- da trabalha, é reitora na Universida- Digo mais: de. Ele, em casa, escreve artigos de Economia para um jornal. E vê ho- o fantástico acontece menzinhos. “Homenzinhos que gos- na vida quotidiana” tam das mulheres grandes?”, pergun- támos. “Bem, por aí. Tudo se liga. São como vielas que formam um mapa, uma cidade.” Quando olha para essa cidade, pa- ra a sua obra, vê-a muito unitária. “Quando se vê a obra de um autor com uma certa perspectiva damo-nos conta que é um erro falar de obras menores. Por vezes as obras menores foram fundamentais para uma escre- ver uma obra maior. Quando se vê em perspectiva a obra de um autor forma um puzzle. E cada romance ou cada conto é uma peça. Se tiramos um ro- mance porque pensamos que é me- nos importante, o puzzle fica incom- pleto. Há autores cuja obra é mais coerente do que em outros, no meu caso, na minha obra está tudo entre- laçado. Há mensagens dirigidas de uns romances para os outros, acho que é uma obra muito unitária.” “O Mundo” (Prémio Planeta 2007, Prémio Nacional de Narrativa 2008) é um dos dez finalistas do Prémio Li- terário Casino da Póvoa a ser atribu- ído dia 24 no encontro literário Cor- rentes d’Escritas. Como vê este ro- mance na sua obra? “Vejo como um objecto nuclear, faz parte do núcleo da minha obra. Nunca pensei que is- so acontecesse. Podem começar a ler- me por aí.”

O PÚBLICO viajou a convite da editora Planeta.

16 • Sexta-feira 12 Fevereiro 2010 • Ípsilon 2010 ATELIER MARTINO&JAÑA [email protected] ] 253 424 700 | email ] 4810 431 Guimarães | telefone ] Av. D. Afonso Henriques, 701 D. Av. ] Endereço Endereço Auschwitz concentra todas as contradições das sociedades modernas

Ferran Gallego, professor de História do Hitler e os seus homens: Fascismo na Universidade de Barcelona, não a elite do nazismo acredita que possamos compreender o século não incluía apenas XX e mesmo os dias de hoje sem entender inadaptados como, no país de Bach e Kant, se exterminaram milhões de seres humanos em nome da civilização, da cultura e do “triunfo da vontade”. José Manuel Fernandes Livros

Entre o operário ferroviário de Muni- que que fundou o partido nazi, Anton Drexler, e o militar aristocrata, mor- finómano e decadente que chegou a ser o número dois do III Reich, Her- mann Göring, parece ir a distância de um mundo. Porém, no ambiente de colapso social, económico e moral da Alemanha do pós-guerra, gente imen- samente diferente haveria de se jun- tar, pouco a pouco, para protagonizar uma experiência de transformação revolucionária com as mais trágicas consequências para o país e para a Europa. Conversar com Ferran Gallego a propósito do seu “Os Homens do Führer: A Elite do Nacional-Socialis- mo 1919-1945” (Esfera dos Livros) é tentar perceber que elementos da nossa cultura, hoje como então, tor- naram possível uma deriva cujos fan- tasmas ainda não se afastaram por completo das sociedades contempo- râneas. Nos 12 retratos que traça no livro, surgem personagens que nem sempre caem no estereótipo do nazi bruto e animalesco, homens complexos e contraditórios. Até que ponto era complexo e variado o nacional-socialismo? Suficientemente complexo e variado para ter conseguido conquistar o apoio de dezenas de milhões de ale-

18 • Sexta-feira 12 Fevereiro 2010 • Ípsilon Ferran Gallego acredita que as raízes do nacional-

ENRIC VIVES-RUBIO socialismo estão presentes em fenómenos actuais como o terrorismo basco

tores do nazismo saíram do cristianis- mo protestante e, também, de entre os católicos. Para um cristão todas as vidas valem o mesmo; para um nazi as vidas não têm todas o mesmo valor, podem até não ter nenhum valor. Pior: há vidas que o nazi considera portadoras de infecções sociais e, por- tanto, que têm de ser “extirpadas”. Temos porém de olhar para o nazis- mo na sua época, compreendendo o trauma que a sociedade europeia sen- tiu na sequência da I Guerra Mundial. Creio que foi Dostoiévski que escre- veu que se Deus morre tudo passa a ser permitido, e foi um pouco isso que aconteceu na Europa nessa altura. Teve-se a percepção de que a emer- gência de um enorme poder técnico permitiria ultrapassar os limites da Humanidade, e isso coincidiu com um momento em que desapareceram as baias morais. Foi uma mistura explo- siva. Nos anos de 1930 a democracia não era popular na Europa, praticamente só o Reino Unido mães normais, que não eram sádicos resistiu à vaga das ditaduras… nem extremistas. De facto estamos O nazismo era único, mas movimen- demasiado habituados a olhar para tos como o fascismo italiano, o fran- os nazis como uns brutos e a reduzir quismo espanhol, e tantos outros, o nazismo ao seu carácter monstruo- foram movimentos que se afirmaram so. Isso acontece porque é mais có- como revolucionários, que se senti- modo olhar para esse fenómeno des- ram protagonistas num momento de sa forma, porque assim consideramos É mais cómodo mudança, e que acabaram por ter al- que foi uma loucura que nada teve a gumas relações de parentesco mesmo ver connosco e com a história euro- olhar para o não tendo sido idênticos. Partilhavam peia. Porém o nazismo foi uma deriva uma cultura anti-democrática que patológica da mesma cultura euro- fenómeno [do queria destruir a herança de 1789, o peia que foi capaz de conceptualizar legado da Declaração dos Direitos do os direitos humanos. O que hoje nos nazismo] como Homem e do Cidadão. Há uma passa- surge como completamente extrava- gem nos diários de Goebbels em que gante foi, na altura, adoptado como uma loucura que ele escreve: “Hoje acabou a História uma ideologia normal por milhões de que começou em 1789”. Queriam des- pessoas, atraindo até grandes intelec- nada teve a ver truir o sentido da política tal como se tuais como Martin Heidegger, milhões afirmara desde a Revolução Francesa, de cidadãos que viram no movimen- connosco e com a ou mesmo da Revolução Americana. to um sinal de que a Vontade podia Queriam acabar com a ideia de cida- vencer a Razão. história europeia. dãos iguais e substitui-la pela da co- O discurso da vontade, a munidade de células que habitam afirmação política de que [Mas] o que hoje num mesmo organismo, num mesmo somos capazes se quisermos: corpo nacional. essa linguagem ainda hoje está nos surge como Drexler, o primeiro presente no espaço público… companheiro de Hitler que É por isso que continua a ser impor- completamente retrata no livro, o operário tante estudar o nazismo, pois ele nas- ferroviário que funda o partido, ceu da nossa cultura. Há discursos e extravagante é tratado de uma forma quase comportamentos que podem regres- compassiva. Ele declara-se sar, há pedaços da nossa cultura que foi adoptado ao mesmo tempo socialista e fizeram o nazismo e não desaparece- alguém que aspira a resgatar ram, como as identidades radicais, a como uma a sua comunidade. Porquê a obsessão pelo triunfo individual, a referência a socialismo? indiferença moral. O nazismo foi pos- ideologia normal No centro da Europa houve uma tra- sível porque se acreditou que o mun- dição que opunha o chamado “socia- do do século XIX tinha sido destruído por milhões de lismo alemão” ao “socialismo marxis- e se podia fazer o que se quisesse em ta”, mas que entendia o socialismo nome da comunidade e com a força pessoas como um “comunitarismo naciona- da Vontade. lista” e não tinha raízes nos movimen- Todos os que retrata são ateus ou tos operários clássicos. agnósticos. Há alguma relação Mas tanto um como o outro entre a ausência de religião e de detestavam a burguesia. relação com Deus e o advento O nazi via na burguesia um sinal da destas ideologias? degenerescência ideológica e cultural O nazismo não pode aceitar um Deus e por isso também a desprezava. Era que afirma que os homens são todos um símbolo da decadência contra o iguais e feitos à sua imagem e seme- qual havia que desencadear um mo- lhança. Há um espiritualismo nos na- vimento de regeneração. Os nazis zis, mas que afirma a superioridade declaravam-se mesmo anti-capitalis- de uma comunidade-raça. Não foi por tas, o que não é estranho num movi- acaso que muitos dos grandes oposi- mento que cresceu nos meios po-

Ípsilon • Sexta-feira 12 Fevereiro 2010 • 19 Os 12 de Hitler

“Os Homens do Führer” organiza-se em torno de 12 fi guras que, entre 1919 e 1945, tiveram infl uência junto de Hitler ou marcaram o destino Gregor Strasser Joseph Goebbels Robert Ley do nacional-socialismo. Pedimos a Ferran Gallego O estratega dos sucessos eleitorais. O ministro da Propaganda. É O líder da Frente Alemã do Trabalho. Uma fi gura muito desconhecida, ele que concebe a comunidade É pena que a sua fi gura seja tão para, em poucas palavras, nos dizer quem foram o grande estratega do partido, que popular alemã unida sob o nacional- pouco conhecida, porque dirigiu e que papel desempenharam esses membros faz dele um grande movimento de socialismo como algo que tem de ser a organização de massas mais da elite nazi. massas, e o único no movimento construído através da persuasão, da importante do III Reich. Foi essa que poderia ter substituído Hitler. capacidade de a fascinar utilizando organização que neutralizou e, Se tivesse sido ele a ganhar, teria, os novos meios de comunicação depois, canalizou a energia da classe provavelmente, conduzido o social. É o homem que acredita e operária alemã. Enquadrava-a e nacional-socialismo à unidade com que quer que os outros, mais do que neutralizava qualquer elemento de a direita alemã em vez de instaurar terem medo do nacional-socialismo, oposição ao nazismo que surgisse uma ditadura. acreditem na sua doutrina. na classe operária.

Anton Drexler Julius Streicher Ernst Röhm Hermann Göring Baldur Von Schirac Operário ferroviário e fundador O Gauleiter de Nuremberga. Um O líder das SA, morto depois da O chefe da Luftwaff e, antigo herói Dirigente da organização estudantil, do partido de que Hitler viria professor de província obcecado liquidação dessa milícia às mãos da I Guerra. Chega a ter uma mais tarde Gauleiter de Viena. Era a ser o líder incontestado. Um com o judaísmo, que usava para das SS. É um militar que vê o mundo enorme infl uência no partido, um cobarde. Originário de boas patriota que acreditou que era justifi car todas as suas frustrações como um militar e que acredita, de que é a segunda fi gura, mas famílias, com ligações à nobreza, possível conquistar os operários pessoais. Um dos protagonistas depois da queda do Império, que vai perdendo essa infl uência conservador, foi encarregue de para o nacionalismo alemão. mais sinistros do movimento deve transformar-se num militar ao entrar num processo de substituir os estudantes mais Testemunhou a transformação nacional-socialista, pornógrafo, revolucionário, num miliciano. decadência pessoal por causa da radicais, de origens mais humildes, desse projecto no Estado nazi e não violento, que até muitos nazis Acredita que o nacional-socialismo sua dependência da morfi na. Era que inicialmente estavam à frente o denunciou. desprezavam. tem de ser um movimento armado e militar de carreira, vinha da elite do das organizações nazis estudantis. que as suas tropas de choque serão Império, foi o grande contacto entre Em Nuremberga portou-se como a base da nova Alemanha. Hitler e a alta burguesia alemã. um cobarde a quem só interessava

pulares e cujos dirigentes vieram nima, e mesmo que a maioria não Wehrmacht com as SS, que desempe- de baixo. De resto, a elite alemã des- fosse entusiasta, considerava, prosai- nharam papéis distintos, não há dú- prezava-os. Mas também não eram camente, que o nazismo lhe tinha vida de que muitos militares profis- proletários, antes gente marginaliza- proporcionado uma vida melhor. sionais foram responsáveis por actos da: Hitler, o pintor que fora repudia- Mais: temos testemunhos de alemães e por ordens que violavam todas as do; Goebbels, o licenciado que tem que nunca se manifestaram, que não leis da guerra. Isso sucedeu sobretudo de trabalhar no balcão de um banco. eram nazis, e que não resistiram não a Leste, naquela que foi a verdadeira Eram também gente que a guerra e por terem medo da repressão mas por guerra de Hitler. Aí a Wehrmacht não o pós-guerra tinham atirado para as recearem ir contra a onda de entu- hesitava, por exemplo, em abandonar margens da sociedade, mesmo quan- siasmo que Hitler gerou. Na Alemanha os prisioneiros, e muitas vezes fuzila- do vinham de boas famílias. Pessoas dos anos 30 era possível uma pessoa va-os – metade dos prisioneiros de revoltadas, rejeitadas. Goebbels, por desconfiar das suas próprias convic- guerra russos são deixados morrer. exemplo, foi obrigado a deixar a na- ções por se sentir tão isolada… Ao mesmo tempo a Wehrmacht tole- morada porque estava desempregado Além de Göring, não há mais rava as acções das SS contra os judeus. e a família dela era rica e não o acei- nenhum militar entre os 12 A Leste travou-se uma guerra muito tava. Muitos partilhavam por isso um companheiros de Hitler que suja, uma guerra total como não há enorme ressentimento contra uma escolheu. Porquê? A Wehrmacht memória e que hoje temos muita di- sociedade que os deixara de fora. comportou-se realmente como ficuldade em compreender em todas Considerando a variedade um exército profissional imune as suas dimensões. de histórias pessoais, e de à influência do nazismo? Os E como explicar o fenómeno percursos, dos 12 protagonistas crimes foram das SS? dos Einsatzgruppen, esses que retrata no livro, podemos Foi muito doloroso fazer a escolha esquadrões encarregues de concluir que os alemães dessas 12 figuras e é pena que não te- exterminar os judeus depois da acabaram por ser, como nha podido incluir alguns militares, invasão da URSS, grupos que alguns defendem, não apenas ou outras figuras importantes como eram integrados muitas vezes enganados, mas antes “carrascos Ribbentrop ou Hess. Uma das razões por soldados ou até polícias que voluntários”? por que deixei muitos militares de um dia podiam estar a vigiar Isso é esquecer que Hitler, mesmo fora foi porque optei por retratar um uma pacata rua de Hamburgo quando já era chanceler, nunca ven- grupo de políticos que está com Hitler e, no dia seguinte, a matar um 5 Mar’10 ceu umas eleições como maioria ab- desde muito cedo. Os militares eram judeu com uma bala na nuca em Concerto sex, 21:45 soluta. Muitos opunham-se-lhe quan- profissionais, apareceram mais tarde, Kiev? do chegou ao poder. E se depois a e embora tivesse sido muito interes- É um fenómeno muito impressionan- Alemanha não se transformou numa sante analisar a forma como a tradi- te o dessas pessoas “cinzentas”, mui- prisão gigante onde meia dúzia de ção nacionalista prussiana do exérci- tas vezes soldados na reserva, cida- brutos mantinha o povo aterrorizado, to foi pervertida pelo nacionalismo dãos que tinham vivido como adultos / Nigéria isso ficou a dever-se ao grande suces- nazi isso não cabia nesta obra. Houve na República de Weimar e votado nos Um dos pais do Afrobeat oferece uma noite de so económico do nazismo dos primei- alguns que se opuseram a Hitler e fo- social-democratas, e que ali actuavam ritmos alucinantes. Venha a Tondela conhecer ros anos. Nessa época, a democracia ram destituídos ainda antes de a II às ordens das SS. Não eram delin- o músico que Brian Eno defi niu como “o maior tinha, para a maioria das pessoas, a Guerra começar; contudo, a verdade quentes, não eram lúmpen, mas fize- baterista de todos os tempos”. imagem de um regime associado a é que as forças armadas também acei- ram-no… Assim como também encon- desemprego, hiperinflacção, humi- taram como um adquirido positivo a tramos entre os SS académicos, jovens lhação. Não temos números para me- destruição da República de Weimar. cultos, alguns deles com carreiras bri- A 19 Fev’10: Virgem Suta dir a popularidade de Hitler, mas sa- Se não podemos acusar os militares lhantes, mas que se tinham deixado

A ACERT É UMA ESTRUTURA APOIADA POR bemos, por exemplo, que 75 por cen- de cumplicidade directa com o Holo- fanatizar. Não podemos continuar a Associação Cultural e Recreativa de Tondela Rua Dr. Ricardo Mota, s/n; 3460-613 Tondela to da acção da Gestapo decorria de causto, podemos acusá-los de terem olhar para eles apenas como brutos, t +351 232 814 400 w www.acert.pt denúncias, sinal de que a sociedade convivido com naturalidade a ditadu- pois há muita investigação recente se auto-vigiava. A resistência foi mí- ra. Mesmo assim, e sem confundir a que nos mostra como, por exemplo,

20 • Sexta-feira 12 Fevereiro 2010 • Ípsilon salvar a vida. Contudo tinha sido do Armamento. Procurou fazer um refugiado com origem russa também o Gauleiter de Viena, que passar a imagem de que não era que acaba por ser condenado enviara para os campos todos os um nazi, antes alguém que serviu em Nuremberga porque foi judeus da cidade. Hitler, e fê-lo sem pudor até morrer, nomeado responsável pelas procurando sempre enganar toda regiões ocupadas, missão que a gente. Até a sua morte, na cama não desejava e na qual não deu da amante, que teve de ir avisar a ordens para matar ninguém, pelo mulher, foi um sinal de que sempre contrário. Não é um Kant, nem tentou enganar todos. Nuremberga um Heidegger, mas mesmo assim poupou-lhe a vida apesar de, como foi um pensador que elaborou ministro do Armamento, ter exigido a doutrina nacional-socialista mão-de-obra escrava e portanto sido como a de uma cultura que se responsável por milhares e milhares identifi ca com uma raça e o faz de mortes. Mentiu sempre, fazendo com autoridade e complexidade. Heinrich Himmler de conta que estava surpreendido O criador das SS. Tinha o aspecto com o que sucedera na Alemanha de um burocrata, de um manga-de- nazi. O paradoxo é que acabou por alpaca, mas era de uma inteligência ser respeitado na Alemanha do pós- superior. Ele tinha na cabeça o guerra porque, de alguma forma, era projecto do estado racial e foi capaz o modelo dos alemães que tinham de pegar num pequeno grupo, apoiado Hitler e tinham sobrevivido como eram inicialmente as SS, e de e se reviam na mentira de Speer. o converter quase em sinónimo do Por isso continua a ser visto como nazismo. Havia um Estado SS. É ele, um técnico, um artista, nunca se mais do que ninguém, o responsável deixou apanhar como um fanático pela identifi cação entre o nazismo e enlouquecido. Martin Bormann o extermínio dos judeus, de que foi o O homem-sombra de Hitler. Um cérebro e o impulsionador. burocrata obcecado pelo poder e que o dominava manobrando nos bastidores. Nunca aparecia em palco, em lugar de destaque, estava sempre na sombra, mas tinha infl uência sufi ciente para, nas lutas internas que determinavam a formação das decisões de Hitler, derrotar Speer, Göring, Goebbels… É, de alguma forma, o rosto dos milhares de funcionários cinzentos que, por toda a Alemanha, eram o esqueleto do nazismo, assegurando Alfred Rosenberg que o Estado funcionava não O ideólogo que acabou enforcado. apenas com base em fanáticos mas Albert Speer É uma das fi guras mais mal envolvendo também todos os seus O arquitecto, o esteta e o ministro compreendidas do nazismo. É funcionários. J.M.F

alguns haviam sido alunos brilhantes to fortes que evitem que a técnica vindos de famílias que lhes tinham sem moral conduza ao utilitarismo. dado a melhor educação. O que se Em Auschwitz escondem-se, conden- passou foi que essas pessoas como sam-se, todas as contradições das que sofreram aquilo que eu costumo nossas sociedades modernas. Até a designar por “mutilação moral”. ideia de progresso, pois um médico A possibilidade de pessoas Foi no mesmo como Mengele não se via como um cultas, educadas, poderem criminoso, mas como alguém que voltar a cair em tais país em que procurava fazer avançar a ciência, extremismos, assim como a que queria perceber as raízes bioló- já referida permanência de nasceu Bach gicas dos comportamentos humanos elementos na nossa cultura que e o fazia pelo método experimen- permitiram o nazismo, reforçam que se imaginou tal. a necessidade de o estudarmos e Estamos suficientemente atentos compreendermos melhor? Auschwitz, ou o que ainda há pouco se Estudar o nazismo não é a mesma passou na ex-Jugoslávia apenas coisa que estudar outro período his- e enquanto nos prova que o retrocesso é tórico qualquer. Sem compreender- sempre possível? mos este fenómeno nunca podere- matavam judeus Em momentos de insegurança e de mos compreender o que foi o século incerteza, em momentos de medo, XX. Mais: temos de saber que foi no nos campos podem surgir movimentos que bus- mesmo país em que nasceu Bach que cam a identidade, a afirmação do gru- se imaginou Auschwitz, e que en- ouviam as suas po, da tribo, e todas as identidades quanto matavam judeus nos campos radicais criam-se não em torno do que ouviam as suas composições para composições para une mas do que separa o grupo dos piano e faziam-no em nome da cul- outros. Quem sou eu? Eu sou o que o tura alemã. Auschwitz foi construído piano e faziam- outro não é. E isso faz-se num grupo em nome da civilização e contra uma que, em momentos de insegurança, suposta barbárie. Os nazis estavam no em nome da oferece segurança aos seus membros. convencidos de que eles é que eram É isso que se passa, por exemplo, com os bons, os “decentes”. Himmler cultura alemã. muitos jovens muçulmanos que se sempre utilizou essa linguagem, pois sentem atraídos pelos grupos radi- pedia aos seus homens para aguen- Auschwitz não cais, pelo terrorismo, pois negam o tarem esse trabalho “tão duro” que outro e procuram acolhimento nessas era o do assassínio em massa e, ao foi um acidente, comunidades de iguais. Eles também mesmo tempo, não se deixarem con- recusam o mundo moderno, como os taminar e manterem a sua “decên- não foi apenas nazis recusavam. Tal como recusam cia”. Auschwitz não foi um acidente, os terroristas bascos, que matam em não foi apenas um excesso do nazis- um excesso do nome de um povo, de uma identida- mo, Auschwitz interroga-nos sobre o de, não de uma revolução ou da carácter da cultura e da modernida- nazismo emancipação. Vivem para um nacio- de. Auschwitz obriga-nos a pensar nalismo de comunidade, para um que temos de estar sempre conscien- patriotismo de espaços pequenos, de tes de que a nossa capacidade para vizinhos, em que só reconhecem os mudar o mundo e o poderio que nos que são muito próximos e recusam dão as tecnologias têm de ser sempre um mundo aberto em que todos os balizados por referências morais mui- homens são iguais.

Ípsilon • Sexta-feira 12 Fevereiro 2010 • 21 Cinema Contos da violência normal no Harlem Lee Daniels é o realizador do fi lme de que se fala para os Óscares: “Precious”, testemunho em tom de catarse sobre a violência física e emocional numa família do Harlem. Juntam-se a ele as suas actrizes, Mo’Nique, a mãe agressora, e Gabourey Sidibe, a fi lha obesa. E o toque de Oprah Winfrey. Helen Barlow

Lee Daniels é uma força a ter em con- “A mensagem do filme rava uns cinco ou seis dias. Fiquei lá ta. Realizador, 50 anos, gay, vítima, a vê-la crescer”, diz, a rir-se. “Não se na infância, de violência física por é que as pessoas pode dizer que tenha sido um papel parte do pai, que era polícia, é uma glamoroso mas assim é que se sabe das histórias de sucesso da indústria se devem abrir às se alguém confia em nós. Tratava-se de entretenimento americana. Foi o mais de descobrir a beleza interior, o primeiro produtor afro-americano possibilidades que tormento de Mo’Nique. A única pes- de um filme vencedor de um Óscar, soa que tinha de ser bonita era Pre- “Monster’s Ball -Depois do Ódio” (me- surgem na vida. Tudo cious.” lhor actriz, Halle Berry). A pedido de o que conseguirem No entanto, onde poderia ele en- de Bill Clinton esteve à frente de uma contrar alguém para desempenhar, campanha para convencer os jovens fazer por vocês pode de um dia para o outro, o papel de afro-americanos a votar nas eleições uma instável adolescente de 16 anos, americanas de 2004, recrutando pa- ajudar a elevar-vos ...” analfabeta, a viver no Harlem, em ra isso os seus amigos músicos LL 1987, com uma mãe que a agride e Cool J e Alicia Keys. Criou-se expec- Oprah Winfrey grávida de um segundo filho do pró- tativa em torno da sua estreia como Lee Daniels prio pai? realizador com “Shadowboxer”, só na rodagem “Não“Não ppodia telefonar a um agente que foi um “flop”. Mas com “Pre- dede HollywoodHolly e dizer: ‘Olhe, tem por cious” as qualidades – já para não aí uma rrapariga preta com 200 qui- falar dos contactos... – do ex-agente filme, realizador, actriz secundária A mãe agressora Oprah, los? PPortantoo tive de fazer audições de talentos seriam realçadas. Conse- (Mo’Nique) e actriz principal (Gabou- co-produtora pelopelo paísp inteiro. Vi mais de 500 guir gente como Oprah Winfrey, Ma- rey Sidibe). Juntam-se aqui as expe- e a fi lha obesa do filme, raparigasrapar e a Gabbie estava mesmo riah Carey e Lenny Kravitz para o riências da autora do livro e do pró- No encontro com o Ípsilon, Daniels, diz que ali aoao virar da esquina, no Harlem. filme foi uma proeza. Tal como juntá- prio realizador, que decorou alguns vestido desportivamente, cabelo com- “Precious” Ela fez uma audição e fiquei es- los, em volta de uma história auto- dos cenários usando a memória da prido encaracolado, sempre em pé, lhe lembra tupefacto.tup A questão era que já biográfica da escritora Sapphire, à sua infância. E Daniels faz ainda do fala alto e mostra-se decidido a contar “A Cor tínhamostín várias Preciouses, sua amiga, a comediante e apresen- retrato duro e cru uma insolente des- as suas histórias. É gritante como al- Púrpura”, masm nenhuma verdadeiramen- tadora de “talk shows” Mo’Nique, e bunda de artifício, de fantasia. gumas das sequências do filme. Ex- de Spielberg, tete perspicaz. Gabbie não está descobrir Gabourey Sidibe. “Pre- Nos Globos de Ouro, quando rece- plica-nos como preparou Mo’Nique filme que a rrepresentare quando ergue os cious”, violento testemunho, de ca- beu o prémio de melhor secundária, para o papel de mãe agressora em protagonizou olhos,olho entusiasmados; é ela pró- tarse, sobre as relações de violência Mo’Nique agradeceu assim a Lee Da- “Precious”. pria.pria Mas tudo o resto é repre- física e emocional, o abandono, nu- niels: “És um realizador brilhante, “Disse-lhe para deixar crescer os sentação.sen Tivemos de trabalhar ma família afroamericana, está no- destemido, espantoso, que não vaci- pêlos das axilas e das pernas. Pergun- imensoime com ela para que baixas- meado para seis Óscares da Acade- la. Obrigada por confiares em tei-lhe quando tempo levaria a crescer sese o tom de voz.” mia, incluindo os quatro principais: mim.” uma borbulha e ela disse que demo- ComC 26 anos cheios de ener-

22 • Sexta-feira 12 Fevereiro 2010 • Ípsilon gia, Gabourey admite ser há muito tempo fã de estrelas de cinema.ma. “Sou uma rapariga entusiasta,”” diz, dando umas risadinhas.s. “As minhas origens não estãoo SÃO na arte de representar. A mi-- nha mãe é cantora, por issoo sempre vivi perto da pintura e LUIZ FEV/MAR~1O da arte, embora eu própriaa nunca tenha feito parte disso.. Na véspera da audição [para “Precious”] era estudante e recepcionista, agora sou actriz.triz. Não é como se tivesse agoraa uma grande cabeça e ficasse de repenteepente

espectacular; acredito plenamentemente silva!designers que já era espectacular. Mas mmudei,udei, cresci. Foi uma coisa estranha estestarar Gabourey nas filmagens com tantas pessoasssoas O realizadorrealizado Sidibe, uma que para mim eram ícones... apren- e os seus estreante, foi di imenso, Tenho agora um conhe- actores, entre descoberta cimento diferente da vida. Antes pen- representada por Whoopie Goldberg] os quais depois de um sava que poderia ser recepcionista em ‘A Cor Púrpura’. Acho que lhe vão os cantores “casting” feito toda a vida.” acontecer coisas maravilhosas.” Mariah Carey a 500 actrizes; Daniels justifica a escolha de Ma- e Lenny está nomeada A mensagem de Oprah riah Carey, que interpreta uma as- Kravitz para o Óscar Daniels rapidamente pôs de lado sistente social, e do seu “melhor quaisquer preocupações sobre o fac- amigo” Lenny Kravitz, que interpre- to de Gabourey poder estar, como ele ta um enfermeiro: “Adoro músicos. diz, “em negação quanto ao seu ta- Estão sempre ansiosos para se po- 13 FEV manho”. “As raparigas de raça negra rem à prova.” LUIZA lidam bem com o seu tamanho. Na Para Daniels “Precious” conta uma NETO JORGE verdade, a maior parte das raparigas história universal. “Eu sou negro e a por LUIS MIGUEL gordas até se orgulha disso. A minha história é contada de uma perspecti- CINTRA JOÃO PAULO irmã é uma mulher enorme e veste-se va de alguém de raça negra e aconte- SANTOS piano à moda e usa saltos altos. As pessoas ce a uma rapariga de raça negra, mas Música Jorge Peixinho é que têm a percepção de que elas esta história podia acontecer noutro deveriam sentir-se embaraçadas”, sítio qualquer. Andei por todo o mudo diz. com o filme e fiquei chocado e sur- 2O FEV 27 FEV 13 MAR MÁRIO SOPHIA DE HERBERTO Oprah Winfrey surgiu como pro- preendido pela forma como as mu- CESARINY MELLO BREYNER HELDER dutora deste projecto de 10 milhões lheres no Japão e na Europa se iden- por GRAÇA por BEATRIZ por MARIA de dólares. “A mensagem do filme”, tificam com a Precious.” LOBO BATARDA JOÃO LUIS segundo ela, “é que as pessoas se de- A lindíssima Paula Patton acom- OLGA PRATTS piano BERNARDO IRENE vem abrir às possibilidades que sur- panhou uma professora de uma es- Música Fernando Lopes Graça SASSETTI piano LIMA violoncelo gem na vida. Tudo o que consegui- cola para se preparar para o papel Música Bernardo Sassetti Música J.S.Bach rem fazer por vocês pode ajudar a de assistente social, o que lhe per- SÃO LUIZ TEATRO MUNICIPAL BILHETEIRA DAS 13H ÀS 20H elevar-vos e a sair da situação em que mite ter uma radiografia do sistema RUA ANTÓNIO MARIA CARDOSO, 38; 1200-027 LISBOA T: 213 257 650; [email protected] estão... Ninguém que veja o filme po- norte-americano. “Há ainda quem [email protected] / T: 213 257 640 BILHETES À VENDA NA TICKETLINE E NOS LOCAIS HABITUAIS de depois andar por aí permitindo consiga escapar por entre as malhas que as Preciouses do mundo sejam desse sistema e chegar aos 16 anos invisíveis.” sem saber ler nem escrever”, diz- Gabourey fê-la recordar-se de si nos. “Depende do bairro e do pro- própria quando se estreou no cinema fessor. Há pessoas que não querem em “A Cor Púrpura” (1985), de Spiel- saber e outras, como a minha per- SÃO MAIORCA berg. “Este é o ‘Cor Púrpura’ dos nos- sonagem, que tomam conta daquelas sos tempos, uma versão muito con- crianças que foram ignoradas e pri- LUIZ 26, 27, 28 FEV SEXTA E SÁBADO ÀS 21H00 / DOMINGO ÀS 17H30 tundente com alguns dos mesmos vadas de tudo. Mas o sistema está FEV~1O temas, como os maus-tratos. É o pri- contra ela...” meiro filme da Gabby e a Precious UMA CRIAÇÃO faz-me lembrar a Celie [personagem Ver crítica de filmes págs. 44 e segs Comemorações COMPANHIA do bicentenário PAULO RIBEIRO do nascimento “Eu sou negro MÚSICA de Frédéric FRÉDÉRIC Chopin e a história é contada CHOPIN INTERPRETADA POR de uma perspectiva PEDRO de alguém de raça BURMESTER

negra, mas esta SALA PRINCIPAL história podia acontecer noutro sítio WWW.TEATROSAOLUIZ.PT qualquer” Lee Daniels, realizador © José Alfredo

Mo’Nique interpreta uma

mãe que violenta PRODUÇÃO: COMPANHIA PAULO RIBEIRO a sua filha; está CO-PRODUÇÃO: CENTRO CULTURAL OLGA CADAVAL SÃO LUIZ TEATRO MUNICIPAL nomeada para TEATRO NACIONAL SÃO JOÃO o Óscar de actriz TEATRO VIRIATO APOIO À DIVULGAÇÃO secundária

Ípsilon • Sexta-feira 12 Fevereiro 2010 • 23 Panda Bear MANSOMIGUEL

MatiasMúsica Aguayo “Respondo muito à energia da música não tem prazeres de dança, mas é algo paradoxal, porque quase nunca vou a discotecas” culpados

Estamos a rodar discos para Noah Len- Mostrar música a Noah Lennox signifi ca alargar fronteiras. nox (Panda Bear) há uma hora e arris- camos uma surpresa. Não pesquisa- De Jackie Mittoo ao som perfeito do dub, de Variações aos Orange Juice mos prazeres culpados presenteando- o com os 10CC e o standard “I’m not e a Bob Dylan. Nos concertos de hoje e amanhã, no Lux, in love”, que ele adora, não procura- mos um olhar de produtor com mú- vai surpreender-nos com a música do seu próximo álbum. sica do Studio One jamaicano ou a “Rollerskate” de Matias Aguayo. Re- Antes, surpreendeu-nos a nós: 10CC? “I’m not in love”? cordemos: com os , Noah vem procurando uma lógica in- “Clássico, clássico”. Mário Lopes terna que transforme ondas sonoras abstractas em canções pop, num de- purar constante de gestos intuitivos que os conduziu a “Feels” ou a “Mer- riweather Post Pavilion”, disco que terminou 2009 destacado como me- lhor do ano (no Ípsilon e em meio mundo). No seu percurso a solo, todos recordamos “”, magnífi- co álbum de 2007, imensamente solar, beatífico sem catedral, onde canções nasciam de mil sons resgatados a sa- bem-se lá que proveniências. Foi com este Noah Lennox, americano nascido em , a viver em Lisboa há meia década, que arriscámos uma surpresa. Hoje e amanhã, no Lux, vai mostrar- nos a música que vem preparando para o sucessor de “Person Pitch”, a editar em Setembro. Nós, em anteci- pação, mostrámos-lhe canções para desvendar um pouco mais do que es- condem as suas. Estamos a rodar mú- sica há uma hora, retomamos, e arris- camos uma surpresa.sa. Som subterrâneo:o: estalidos, fer- vilhar electrónico, ondasondas sonoras abstractas lutandoo para ganganharhar sentido. Noah franzee a testa, apuraapura o ouvido, não reconhecenhece imeimediata-diata- mente. Mostramos-lheos-lhe a cacapa:pa: “Hollinndagain”, álbumlbum ao vivo dos Animal Collectiveective, lançado em 2002 e reeree-- ditado em 2006. “Te-Te- nho muito carinho porpor este disco”, confessa.sa. [Abre a capa, vê a ffotooto do interior] “Isto erara o to-to- po do meu prédio.o. Vivia com o Josh [Dibb; assinassina co-co- mo nos Animalmal Collec-Collec- tive] e mais umas sseteete pessoas num apartamento. O rio estava aqui [aponta para a ddireita].ireita]. MaMa-- nhattan Square maisais pparaara aalili [aponta para a esquerda]”.querda]”. Aponta ainda, imaginandonando um mapa maior que a foto,foto, a es- João tação de metro mais próxima Gilberto e o grande passeio aaoo llongoongo “Quando tinha 15 do rio. A canção continua,ontinua, anos a minha mãe deu- suja, convulsiva: “SempreSempre me um ‘greatest-hits’ de tentámos fazer algo que re- Astrud e João Gilberto. flectisse aquilo que somos Ouvi esse disco mais Noah Lennox/Panda Bear, no tempo e esta múmúsicasica vezes que qualquer americano nascido soa-me muito confusa,nfusa, outro na minha em Baltimore, a viver desconfortável. Era aassimssim vida” em Lisboa há meia década, que me sentia na altura.ura. apresenta hoje e amanhã Não sabia o que era no Lux a música para o realmente a minha sucessor de “Person Pitch”

24 • Sexta-feira 12 Fevereiro 2010 • Ípsilon 10 CC “‘Jam de rádio! Clássico, absolutamente clássico. Adoro a produção das vozes em fundo, parecem samples”

Orange Juice “Brutal [‘You Can’t Hide Your Love Forever’]. Isto é música divertida, mas não de forma pateta. [Os Orange Juice] são muito sérios Temptations quanto a não serem “Achamos estranho sérios” que os Beach Boys sejam referidos em relação aos Animal Collective, quando vida. Vivia mês a mês, a tentar pagar há outros grupos vocais “bom disco”: “Modesto?”, pergunta- mais impressionante, portanto sinto nos perguntassem o que [Animal Col- a renda. Por Nova Iorque ser tão cara, igualmente bons”, como os mos; “Modéstia? Não sei o que signi- que só estou a ver uma parte do cená- lective] fazemos, responderia música todo o meu dinheiro ia para a ren- “óptimos Temptations” fica”, responde. rio”. Mais que o prazer que lhe provo- soul. A ideia por trás dessa música é da”. e os “grandes Four De La Soul em fundo e Noah ocu- ca ouvi-lo, Variações conquista-o pela carregar a alma em canção. Sinto que Tops” pado a estabelecer uma genealogia: singularidade: “Parece que, tal como fazemos algo semelhante. As nossas O dub é perfeito “Em termos de uso de samples, Prin- Bob Dylan, favorece as palavras e o experiências é que são muito diferen- Diz-me quem ouves, dir-te-ei quem ce Paul era realmente revolucionário. seu ritmo, que isso é mais importante tes das de um homem negro dos anos és, não se aplica a Noah Lennox. Há Eles e os Public Enemy foram os pri- que manter a estrutura certinha. Acho 1970”. Neste ponto, está absolutamen- demasiados contrastes, há peças que meiros a fazer aquilo que fiz no últi- isso muito interessante, até porque te correcto. parecem não encaixar. Por exemplo. mo disco. Não inventei nada de novo. componho canções de forma muito As suas experiências são as de um Mostramos-lhe o argentino Matias Public Enemy, Prince Paul, os Dust geométrica, com grandes simetrias. homem branco de 2010, que nasceu Aguayo e o tecno xamânico de “Rol- Brothers em ‘Paul’s Boutique’ [dos Sempre que ouço alguém como ele, nos EUA, que se diz sentir próximo do lerskate”. Ele viaja: “Gosto muito Beastie Boys], o ‘Odelay’ do Beck. fico a pensar em como o conseguem temperamento europeu, que se mu- deste tipo e dos Closer Musik [o duo Sinto que sou parte de toda essa tra- fazer. É tão pouco natural e tão exci- dou para Portugal. Há dez anos, a sua que Aguayo partilha com Dirk dição”. tante ao mesmo tempo”. música era “confusa” e “desconfortá- Leyers]. Adorava uma faixa deles de Recostado num sofá Normalmente, dizíamos, cada can- O interesse de Noah por Variações vel” - reflectia as incertezas em que uma compilação da [editora] Kom- ção que Noah ouve é ponto de partida não foi propriamente uma revelação. vivia. Mas então, tal como agora, algo pakt, a ‘One, two, three no gravity’. a ouvir canção atrás para outra coisa. O “Black organ” de Já o referira quando da edição de “Per- a atravessava. Algo inesperado e ines- Gosto da alegria desta faixa, de como Jackie Mittoo, mítico teclista jamai- son Pitch”. Ora, nessa altura, houve peradamente próximo. ele vai brincando, de como sente que de canção, Noah cano, condu-lo até ao dub – “o meu um nome bem mais citado que o de O vinil de “Felicidade”, canção de não tem de ser demasiado sério”. som ideal”, refere. “Adoro o som do Variações. O dos Beach Boys, claro, Tom Jobim cantada por João Gilber- Confessa: “Respondo muito à energia esmiúça aquilo que prato de choque, muito agudo e deci- culpa da qualidade celestial das har- to, corre no gira-discos. “Quando ti- da música de dança, mas é algo pa- dido. E depois há muitos ‘lowends’ a monias vocais que ocupam todo o nha 15 anos a minha mãe deu-me um radoxal, porque quase nunca vou a ouve. Insiste em dois aparecer, há os ‘reverbs’ e os ‘delays’ álbum. Pareceu-nos óbvio oferecer ‘greatest-hits’ de Astrud e João Gilber- discotecas. Sinto-me desconfortável. pontos. Não gosta a construir todo o resto do edifício “God only knows” a Noah Lennox. E to. Ouvi esse disco mais vezes que Talvez prefira experimentar tudo sonoro e, ainda assim, o som mantém- foi: “A composição é um estrondo, qualquer outro na minha vida. É tão aquilo em segunda mão. Tranco a de música séria que se rarefeito. A marca sónica [do dub] gosto muito das vozes corais e isto agradável. Sinto que posso ouvi-lo a porta e, em casa, imagino que estou é perfeita para mim. Posso ouvi-la pa- acerta em muitos dos pontos que me qualquer altura do dia. Só boas vibra- naquele ambiente”. se leva demasiado ra sempre”. entusiasmam”. E não foi: “Achamos ções.” Este é, portanto, um homem que um pouco estranho que os Beach Boys Para Noah, esta é música que tra- adora música de dança, mas não dan- a sério e não gosta O adjectivo é divertido sejam sempre referidos em relação duz na perfeição o seu temperamen- ça fora de casa. É um melómano com Recostado num sofá a ouvir canção aos Animal Collective, quando há tan- to. Ironiza que ter aquele disco a cair- discoteca caseira reduzida que apro- de música lúdica atrás de canção, Noah Lennox esmi- tos outros grupos vocais igualmente lhe nas mãos quando tinha 15 anos veita os sons que lhe mostramos para que pretende ser úça aquilo que ouve, enquadrando os bons”. Quais? Noah refere os Zombies só pode ser maquinação do destino. criar pontes, para discutir música sem sons e expondo como eles se reflec- - curvamo-nos perante “Odessey & “Estava a dizer-me que um dia eu vi- acessos de fã. Nele, mistura-se o olhar engraçadinha tem em si mesmo e na música que faz. Oracle” e agradecemos a referência. veria neste ambiente”. Pausa. Olha de historiador e o gosto pela autobio- Recostado, insiste em dois pontos. Noah diz “tantos grupos doo-wop”, para nós, olha para a rua pela janela. grafia. Ouve-se o “Magic Number” Não gosta de música séria que se leva aponta os “óptimos Temptations” e “Bem... o destino enganou-se no pa- dos De La Soul e a reacção imediata demasiado a sério e não gosta de mú- os “grandes Four Tops” e afasta-se ís”. Nova pausa. “Mas a língua é a – “groove super divertido” – dá rapi- sica lúdica que pretende ser engraça- definitivamente dos Beach Boys. “Se mesma”. damente lugar a outras dissertações. dinha. Fala-nos de como na adolescência em “Divertido”, eis o adjectivo que lhe Baltimore passava o tempo a ouvir a ouvimos uma mão cheia de vezes. “rádio top 40” e as “rádios de rock Com os Orange Juice e “Falling and clássico”: Creedence Clearwater Re- laughing”: “Um disco brutal [“You vival, Led Zeppelin, Guess Who. De Can’t Hide Your Love Forever”]. como passou de Snap e Mary J. Blige António Isto é música divertida, mas não de para os Wu Tang Clan. Dir-nos-á que Variações uma forma pateta. [Os Orange Juice] aprecia ver os Animal Collective refe- “Tal como Bob Dylan, são muito sérios quanto a não serem ridos como influência para tanta gen- favorece as palavras sérios. Adoro o som das guitarras a te, mas que se sente “muito mais or- e o seu ritmo, isso é tilintar. Soam um pouco a Vampire gulhoso” quando acaba de gravar um mais importante que Weekend - e gosto dos Vampire We- ÚLTIMAS REPRESENTAÇÕES manter a estrutura ekend”. Exultante com os 10CC e “I’m SÓ certinha” not in love”, êxito de parco prestígio ATÉ 28 DE FEVEREIRO que utilizámos como provocação: QUARTA A SÁBADO 21H30 “‘Jam de rádio! Clássico, absolutamen- DOMINGO – MATINÉE 16H00 te clássico. Adoro a produção das vo- zes em fundo, parecem samples”. “I’m not in love”, repete a canção. HANNAH “Tão brutal”, exulta. Prazer culpado? Nada disso: “Sou contra o conceito de E prazer culpado, sou contra gostar de uma coisa por qualquer outra razão que não dar-te prazer ouvi-la”. E di- vertido, último exemplo, com o An- MARTIN tónio Variações que descobriu pou- KATE FODOR co depois de chegar a Portugal. Ouve- ENCENAÇÃO e REALIZAÇÃO VÍDEO se “O corpo é que paga”: “Tem uma JOÃO LOURENÇO ‘vibe’ semelhante a Orange Juice. Coi- [M/12]

sa positiva. Divertida”. Variações po- ESTRUTURA FINANCIADA PELO rém, merece ressalva. “Não consigo ‘entrar’ no universo lírico, que toda a gente me diz ser o

Ípsilon • Sexta-feira 12 Fevereiro 2010 • 25 Há grupos assim. Só conseguem criar no conflito. Parece ser esse o caso dos ingleses Massive Attack, ao longo de mais de vinte anos. Nenhum álbum tem tido parto fácil, sendo motivo pa- ra tensões. Com o novo “Heligoland”, o quinto, não foi diferente. O anterior longa-duração do grupo de Bristol, “100th Window”, editado há sete anos, foi na realidade uma ideia desenvolvida solitariamente por 3D, ou seja, Robert Del Naja, 45 anos, com a ajuda do engenheiro de som e multi-instrumentista Neil Davidge. O Música outro membro que resta do projecto, Daddy G, ou melhor Grant Marshall, 50 anos, tirou uma sabática, outra forma de dizer que não estava satis- feito com a direcção que o projecto estava a tomar, resolvendo dedicar-se à paternidade. Depois do lançamento desse disco o grupo resolveu entrar em digressão e foi aí que os dois fizeram as pazes. Entretanto passaram anos, mas não pararam. Fizeram duas digressões mundiais, com passagens por Portu- gal, lançaram uma antologia, foram curadores do festival Meltdown e 3D e Neil Davidge criaram a banda sono- ra para vários filmes. No novo álbum reuniram a maior colecção de colaborações de sempre. Damon Albarn (Blur e Gorillaz) con- tribui vocalmente e em termos de produção, o mesmo acontecendo com Tim Goldsworthy da DFA Recor- dings dos LCD Soundsystem. Adrian Utley, dos Portishead, toca guitarra e, em termos vocais, há as participa- ções de Guy Garvey, dos Elbow, da antiga cúmplice de Tricky, Martina Topley-Bird, de Hope Sandoval, dos Mazzy Star, de Tunde Adembimpe, dos americanos TV On The Radio, e do inevitável Horace Andy. Tom Waits chegou a ser hipótese, mas a coope- ração não se concretizou. Com o mul- tifacetado Mike Patton (Faith No Mo- re, Fantômas ou Mr. Bungle), grava- ram mesmo três canções, nenhuma delas presentes no disco, mas que deverão ser dadas a conhecer numa edição futura ainda este ano. Temperamento Os três primeiros álbuns dos Massive 3 D e Daddy G: uma história Attack, “Blue Lines” (1991), “Protec- temperamental tion” (1994) e “Mezzanine” (1998), geraram consenso em torno do pro- jecto e da sua síntese estilística única a partir de elementos soul, dub, hip- hop ou pós-punk. O primeiro disco, em particular, fixou um momento da história da mú- sica popular, articulando o que vinha de trás (da cultura dos “sistemas de som” jamaicanos aos Soul II Soul) e abrindo caminho para o que seguiria (dos Portishead a Goldie). Os longos hiatos temporais entre cada disco são reveladores que os mé- todos de trabalho, no grupo, nunca foram fáceis. Por norma, a cada novo disco consideram a dissolução. Há vinte anos que é assim. Questão de temperamento certamente, mas tam- bém de processos de criação, como tem reconhecido 3D em algumas en- trevistas recentes. “Contrariamente a um grupo de músicos que procura alguma harmo- Quanto mais me bates mais Massive Attack Um grupo fundamental da década de 90 regressa com novo álbum, “Heligoland”. Mais uma vez, o p

26 • Sexta-feira 12 Fevereiro 2010 • Ípsilon Segundo 3D, nem por assegurar uma linha para o novo disco. “Damon tem grande energia, Obama representa a contrariamente a mim, não fica eter- namente a desenvolver uma ideia luz ao fundo do túnel. quando sente que não vai chegar lá. Trabalha depressa. É muito estimu- Num mundo assim, lante. Capta o momento e segue de imediato para o passo seguinte. É es- onde ninguém parece pontâneo e muito bom a canalizar 06 MAR saber o que fazer, eles energia”, diz 3D. Depois voaram até Nova Iorque on- SÁB 22:00 SALA 2 | € 15 resolveram criar o seu de se encontraram com Tim Goldswor- WORLD MUSIC thy, produtor e fundador da editora próprio universo: DFA, que os ajudou nas fracções rítmi- cas de alguns temas. Tanta intervenção “Heligoland” gerou, afinal, uma sonoridade onde as linhas melódicas, as componentes rítmicas, as vozes e as orquestrações

estão completamente definidas. www.casadamusica.com | T 220 120 O que se mantém, em relação ao nia tocando em conjunto, a nossa passado recente, são os ambientes música nasce a partir do trabalho de nublados, talvez consequência das laboratório. Em estúdio há sempre relações internas tensas, do mundo um número infinito de soluções, mas exterior tumultuoso ou das experiên- também nos podemos perder nessas cias recentes de 3D. Co-criador do estilo muitas possibilidades que a tecnolo- Nos últimos três anos, escreveu e Afrobeat, ao lado de Fela gia proporciona. Somos obsessivos produziu bandas sonoras para filmes Kuti nos anos 60 e 70, com pormenores, perdemos imenso e documentários, como “Trouble In o nigeriano Tony Allen tempo com eles. Gostava de ter uma Water”, “44 Inch Chest”, “In Prison é um dos bateristas mais aproximação mais instintiva, mas não My Whole Life” e “Gomorra”. Por es- influentes de sempre, não consigo”, dizia, a semana passada, ao te último, ganhou o Prémio David Di só na música africana como “Le Monde”. Donatello para melhor canção. no jazz, funk e hip-hop. Em determinado momento, no de- “É diferente trabalhar para um filme, Secret Agent é o álbum a curso da produção do primeiro ál- onde existe uma ideia visual e um solo mais recente, que se bum, deixaram de se falar. Depois de guião, que é qualquer coisa que está seguiu à sua participação “Protection”, durante um mês não sempre presente”, afirmou à revista no projecto The Good, houve comunicação e Tricky, que nun- “State”, embora reconheça que a ex- The Bad & The Queen, ca foi membro efectivo do projecto periência cinematográfica foi impor- com Damon Albarn, Paul mas contribuiu para a sua ascensão, tante para lhe restituir a crença no si- Simonon e Simon Tong. incompatibilizou-se com os demais. lêncio: “As pessoas esqueceram-se da

Depois da digressão que se seguiu importância do silêncio, seja nos filmes MECENAS CASA DA MÚSICA APOIO INSTITUCIONAL MECENAS PRINCIPAL CASA DA MÚSICA ao lançamento de “Mezzanine” aca- ou na música. Neste álbum quisemos bou por sair Mushroom, aquele que restaurar essa sensação de espaço que estava mais ligado à cultura hip-hop, estava em ‘Blue Lines’ e que, ao longo desgostoso com a direcção encetada dos anos, se foi diluindo um pouco.” pelo grupo que deixava quase de lado SEJA UM DOS PRIMEIROS A APRESENTAR HOJE ESTE JORNAL COMPLETO NA CASA DA MÚSICA E GANHE UM CONVITE a síntese de músicas negras, ganhan- Sem esperança DUPLO PARA ESTE CONCERTO. OFERTA LIMITADA AOS PRIMEIROS 10 LEITORES. do as guitarras predominância nos Nos discos a costela politizada do pro- concertos, o que aproximou os Mas- jecto não vem muito ao de cima. É sive das convenções rock. nos concertos, e em tudo aquilo que Quando “100th Window” foi edita- envolve a música propriamente dita, do, em 2003, foi recebido de forma que ela se faz sentir. “Em tudo o que ambivalente. É, talvez, o álbum mais fazemos existe, acima de tudo, um arriscado do grupo, com uma veia sentido estético, mas se nesse proce- electrónica sombria assumida, capaz dimento aquilo que comunicamos de gerar momentos de grande beleza responder a uma situação social ou estética, mas também aquele onde se politica tanto melhor”, dizia-nos há afastam mais da génese do projecto. quatro anos 3D quando o interrogá- Foi um disco totalmente concebido vamos sobre o papel dos vídeos, do por 3D que, na altura, responsabilizou design dos discos ou da comunicação Daddy G por não ter colaborado mais. visual nos espectáculos ao vivo. Este escudou-se no argumento de que Há sete anos vivia-se a ressaca do tinha sido pai, mas na verdade tam- 11 de Setembro, protestava-se contra 19 FEV SEX 21:00 SALA SUGGIA | Û 16 bém não se revia na maior parte das a guerra do Iraque e 3D era um dos SŽrie Cl‡ssica canções criadas pelo parceiro. rostos que se manifestava contra Na digressão que se seguiu, muito Bush e Blair. Hoje, em Inglaterra, A PRIMAVERA politizada e tecnologicamente avan- Blair já não está no poder e nos EUA ORQUESTRA NACIONAL DO PORTO çada, voltaram a associar-se. As pazes é Obama quem lidera, mas mesmo foram feitas, mas as indecisões con- assim não parece haver grandes mo- Olari Elts direc‹o musical tinuaram. A versão final de “Heligo- tivos de esperança. Jean-Efflam Bavouzet piano land”, editada esta semana, é na ver- Segundo 3D, existe um sentimento dade a segunda. Antes já tinham de desconfiança generalizada, à es- Claude Debussy Printemps; Fantasia para piano e orquestra completado um álbum, mas ou por- querda ou à direita. Nem Obama re- Robert Schumann Sinfonia n¼ 1, Primavera que algumas canções foram parar presenta a luz ao fundo do túnel. indevidamente à internet ou porque Está tudo à espera que ele constitua não se sentiam satisfeitos com o re- a próxima desilusão, afirma. Num A ONP antecipa a Primavera em todo o seu esplendor com um sultado final, acabaram por refazê-lo mundo assim, onde ninguém parece concerto onde Þguram obras-primas de Schumann e Debussy totalmente. saber o que fazer, eles resolveram alusivas ao tema. A presena do pianista Jean-Efßam Contaram com um aliado impor- criar o seu próprio universo. Chama- Bavouzet, um dos grandes intŽrpretes debussyanos da tante, Damon Albarn, que os convi- ram-lhe “Heligoland”. actualidade, inclui a raramente apresentada Fantasia dou para o seu estúdio londrino. Ali, para piano e orquestra do mestre francs. numa atmosfera diferente, acabaram Ver crítica de discos págs. 42 e segs

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Ípsilon • Sexta-feira 12 Fevereiro 2010 • 27 Viagem na companhia do poeta dos sons Partilham a paixão por Schumann e acham que o segredo da interpretação está em saber ouvir o outro. O barítono Florian Boesch e o pianista Roger Vignoles prometem mostrar a simbiose entre música e poesia no ciclo que o CCB dedica ao compositor. Cristina Fernandes

“Schumann tinha uma maneira única BEN EALOVEGA de lidar com os

STEPHAN VON DER DEKEN STEPHAN VON poemas. É também o compositor que dá ao piano o papel mais

Música importante, fazendo dele uma chave na interpretação da música e da poesia” Florian Boesch

Florian Boesch e Vignoles são convidados do ciclo “Schumann: uma voz vinda de longe”, que o CCB promove entre 13 e 23 para assinalar o bicentenário do compositor

Durante toda a vida, Robert Schu- cional, e Roger Vignoles, um dos mais importante, fazendo dele uma veia literária do compositor se reflec- ópera exige muito tempo longe da mann (1810-1956) travou verdadeira maiores pianistas acompanhadores chave na interpretação da música e te na escolha dos textos e no seu tra- família. Por outro lado, esta forma de luta entre duas vocações: ser poeta do nosso tempo. da poesia”. A opinião é partilhada por tamento. “Schumann começou a sua expressão é também mais apelativa ou ser músico. Acabaria por se con- Florian Boesch e Vignoles são con- Roger Vignoles. Para o pianista britâ- carreira a escrever para piano, tendo para este cantor, neto de uma profes- verter num “Tondichter” (“Poeta dos vidados do ciclo “Schumann: uma voz , o maior desafio nestas obras “é composto a sua primeira canção ape- sora de canto e estudante de design sons”), como ele próprio se definiu. vinda de longe”, que o Centro Cultu- comunicar de forma tão clara quanto nas em 1840. Mas era tão apaixonado e escultura em Viena antes de se de- A inspiração literária é uma das cons- ral de Belém promove entre 13 e 23 possível a atmosfera de cada peça, pela literatura que sinto que há peças dicar profissionalmente à música. tantes da sua produção, mesmo para assinalar o bicentenário do com- encontrar o carácter, o imaginário e para piano — como a ‘Kreisleriana’, o “Numa produção de ópera há que quando se trata de peças puramente positor. No dia 15 interpretam o pro- a sua cor especial”. Cada canção é ‘Carnaval’ e tantas outras — que têm desenvolver uma personagem. Num instrumentais. No Lied estas duas grama “A Voz Presente”, composto “um pequeno quadro”, não basta uma espécie de texto silencioso, pa- recital de Lied expresso-me a mim vertentes encontram uma simbiose pelos ciclos Liederkreis op. 24 e op.39 transmitir as palavras, há que estar lavras que apenas estão à espera de próprio, transmito o que a poesia e a perfeita, que se manifesta numa das e por algumas canções avulsas sobre atento ao que Schumann fez musical- vir à superfície.” música significam para mim, é uma produções mais fascinantes do uni- poesia de Henrich Heine, mas o ciclo mente com o poema. A colaboração com Florian Boesch experiência mais pessoal.” verso da canção de câmara do Ro- inclui ainda a participação do Schos- A escolha do programa do recital começou por acaso. “Ia apresentar a As primeiras vivências de Roger mantismo. É também uma simbiose takovich-Ensemble (dia 13), do violi- de Lisboa deve-se sobretudo a Florian “Winterreise” de Schubert em Leeds Vignoles estão também relacionadas perfeita entre o cantor e o pianista nista Bruno Monteiro e do pianista Boesch, que fez questão de apresen- com Robert Holl, mas ele adoeceu um com a voz. Na infância cantava no co- que a interpretação dessas obras so- João Paulo Santos (dia 17), da Orques- tar os dois ciclos “Liederkreis”. “Os dia antes. O seu agente sugeriu que ro da catedral com os seus dois irmãos licita: uma profunda empatia emo- tra de Câmara Portuguesa (com o vio- poetas são diferentes, logo o resulta- Florian Boesch o substituísse, ele via- e aos 12 anos começou a acompanhar cional e estética, mas também um loncelista Bruno Borralhinho como do teria de ser diferente. Heine [autor jou de Hamburgo para Leeds e só ti- um deles ao piano. “Mais tarde, fui caminho de partilha percorrido pas- solista) e dos pianistas Piotr Ander- dos poemas do op. 24] estabelece vemos 50 minutos para ensaiar um para uma escola de Verão em Bayreu- so a passo onde o piano e a voz são zewski e Jean-Efflan Bavouzet. uma ideia muito romântica no pró- ciclo que leva 70 minutos!”, recorda th e descobri que adorava o repertó- parceiros de igual importância. Estes prio texto que dá lugar situações dra- Vignoles. “O recital correu muito rio germânico da canção de câmara aspectos e uma paixão imensa por Texto silencioso máticas e dolorosas, enquanto com bem, houve um grande entendimen- e o trabalho com cantores”, conta. Schumann sobressairam da breve “Schumann tinha uma maneira única Eichendorff [a base do op. 39], Schu- to pelo que continuámos a colaborar.” Outra grande influência foi Gerald conversa telefónica com Florian Bo- de lidar com os poemas”, explica Flo- mann penetra mais na dimensão psi- Para Boesch foi um dos grandes de- Moore, talvez o mais importante pia- esch, um barítono ainda jovem com rian Boesch ao Ípsilon. “É também o cológica.” safios da sua carreira: “Roger é o com- nista acompanhador do século XX. crescente reconhecimento interna- compositor que dá ao piano o papel Roger Vignoles acrescenta que a panheiro musical ideal. É como quan- “Cresci a ouvi-lo e tinha a sua manei- do temos um companheiro de passeio ra de tocar nos meus ouvidos.” Actu- que anda sempre junto de nós. Ele almente, Vignoles dá frequentemen- acompanha-me mas eu também o te masterclasses para cantores e pia- acompanho a ele nessa jornada que nistas. A sua principal preocupação é o recital.” é ensiná-los a ouvir. “Dou conselhos individuais ao pianista e ao cantor, Percursos mas a grande mudança não vem do A carreira de Florian Boesch tem que eu digo, mas sim de se começa- sido repartida entre o LLied,ied, a rem a ououvirv verdadeiramente um ópera e a oratória. Jáá fez os aoao outroutroo de outro. É aí que ocor- principais papéis mozartia-zartia- rem vverdadeirose milagres”, diz. nos e em breve cantaráá o seu Será ttambéma essa arte de ouvir, primeiro “Wozzeck”,k”, dede dede partilhapar atenta da música Berg. Mas os recitais ocupamocupam numa jornadaj comum, que de- cada vez mais espaçoo no seu monstrarámonst no CCB com Florian percurso. “Tenho doiss filhos Boesch.BoB e Na companhia de pequenos e o trabalhoho na Schumann.S

28 • Sexta-feira 12 Fevereiro 2010 • Ípsilon

ANDREW LANG ANDREW Dança

O som e a fúria na cabeça de Hofesh Shechter A revolução não é uma coisa que esteja no sangue das peças dele - mas, depois de as vermos, pode passar a estar no nosso. “Uprising” e “In Your Rooms” vêm ao Centro Cultural de Belém hoje e ama- nhã. Depois de se cruzar com elas, a dança contemporânea nunca mais foi a mesma. InêsInês NadaisNadais

A banda sonora pede-nos para irmos, duas peças que a companhia de Ho- acabou bem, parece-nos, mas ele diz bro é muito rápidoápido a tentar enen-- e vamos. Continuarmos na posse de fesh Shechter traz hoje e amanhã ao que não tem bem noção, foi apanha- “A cabeça das pessoas contrar padrõeses de conforto,conforto, e eu todas as nossas faculdades, físicas e Centro Cultural de Belém – e ninguém do em falso: “Honestamente, eu vim não quero quee o público esteja mentais, era a pior coisa que podia dorme, nem durante nem depois. para Londres porque a namorada que não tem muito com confortável. A confusão mantémmantém-- acontecer a Hofesh Shechter, o core- “Nunca consigo terminar a coreogra- tinha na altura queria vir e a banda que se entreter nos nos acordados”.”. ógrafo israelita de 34 anos que em fia antes de terminar a banda sonora, onde tocava bateria também. O único 2002 foi para Londres ver se lhe acon- e nunca consigo terminar a banda so- plano que eu tinha quando cheguei meus espectáculos, Para a guerrara tecia alguma coisa e de repente per- nora antes de terminar a coreografia. era tentar sobreviver naquilo que ti- Não nos estamosmos de facto a ververr a cebeu que era ele o acontecimento São dois mundosu dos que ganham ga a forma o a nhanha todotodo o aarr de sserer uumm mumundondo mumui-i embora vá passar dormir num mmotimotim – (“o maior acontecimento da dança juntos”, ddiz.iz. Não toto duro – e ainda estou a lutar”). A que é o tipo dede britânica desde o início do milénio”, sabe exacta-acta- música,música, que ele próprio compõe (no o tempo todo a tentar coisa com quee escreveu o “Observer”). “Detesto que mente a qualual caso ddee “In Your Rooms”Rooms”,, aaliás,liás, é mes- resolver o puzzle, “Uprising” maisais os espectadores das minhas peças desses mun-n- mo ele na bateria, ao vivo), ffazaz ppar-ar- se parece, a come-me- sintam que estão completamente a dos perten-n- tete do arsenal necessário parapara im- porque é isso que çar pelo nomee e por controlar a coisa. Não quero que ce: formou-u- pedirpedir a nossa cabeçacabeça de fazer o um dos sítios dee onde vem, olhem para ‘Uprising’ e ‘In Your se na Jerusa-a- seuseu trabalho susujo:jo: “Tenho de es- a cabeça faz. os levantamentostos jjuvenisuvenis em Rooms’ e pensem: ‘ah, isto, ok, estou lem Academymy tartar sempre um passo à frentefrente dos França. “Alguémém escreveu a perceber onde ele quer chegar’. of Music andand espectadores.espectadores. Se a energia dada pe-pe- Felizmente, sou só que ‘Uprising’ era sobresobre os Preciso de apanhar os espectadores Dance, acumu-cumu- çaça comecomeçaça a tornar-se muitomuito evevi-i- motins de Pariss e dede repen-repen- em falso, de os confundir, e é por is- lou um anoo de serser-- dente, muito clara, fafaçoço alguma um bailarino: nunca te isso tornou-sese um facto. so que nos meus espectáculos a mú- viço militarar obrigaobriga-- coisacoisa que lhes tira o tapete. hei-de resolver nada” Os motins foramm apenas uma sica está sempre muito alta. De certa tório com a BatshevaBatsheva O nnossoosso cére- das coisas que me passarampassaram maneira quero que, enquanto ali es- Dance Companympany e as au- pela cabeça: tinhanha decididodecidido tra- tão, as pessoas estejam fora de si”, las de bateriaeria em TeTelavive,lavive, balhar só com homenshomens pporqueorque explica ao Ípsilon, desde Londres, a foi para Parisaris aaprofundarprofundar Hofesh Shechter transita queria que estaa peçapeça fosse umaumaa meio da manhã. os estudosos de per-per- do colectivo em “Uprising” coisa selvagemm e o movimenmovimentotoo A música está de facto muito alta cussão e acabouacabou (em cima) para a bateria masculino presta-sesta-se imenso a is-is-- em “Uprising” e “In Your Rooms”, as em Londresres (e(e em “In Your Rooms” so, e a meio do processo vi aque-

30 • Sexta-feira 12 Fevereiro 2010 • Ípsilon les rapazes em Paris a fazerem a maior lho, como a Alice”. E também tem balbúrdia. Os motins interessaram-me muita coisa do tema favorito de Ho- pelo lado comportamental, não pelo fesh Shechter: a tensão entre o indi- lado social: se não estivessem a fazer víduo e o grupo, entre os rituais e a confusão nas ruas, aqueles rapazes liberdade, entre a ordem e o caos. estariam a jogar futebol, ou a jogar “Trabalhamos muito sobre o que um boxe”, sublinha. Boys will be boys, pequeno indivíduo sente dentro de portanto, e não passa disso: Hofesh uma grande máquina social bem ole- Shechter gosta dos jogos de poder (e ada”. Trabalharam muito sobre o que dos jogos que são mesmo só jogos) ele sentiu dentro da grande máquina que estão no sangue dos grupos de social bem oleada do exército israeli- rapazes, e “Uprising” vai a esse jogo. ta, portanto (uma experiência de pri- Antes de ter rapazes a serem rapa- vação de liberdade que, admitiu ao zes à frente dele na televisão, Hofesh “The Guardian”, foi “um curto- Shechter teve rapazes a serem rapa- circuito”emocional: “Em Israel somos zes à frente dele no estúdio: “Sentava- criados com um forte sentido de li- me a olhar para eles, a observar como berdade e responsabilidade individu- se comportavam. Não cheguei com al. E de repente nem sequer podemos nenhuma ideia, não lhes pedi que decidir quando é que vamos à casa fossem protectores ou agressivos, di- de banho”). vertidos ou duros. Literalmente des- “A experiência no exército é de fac- cobrimos a peça juntos. Quando es- to muito peculiar”, diz-nos, “mas não tou a trabalhar tento ao máximo re- me marcou para sempre, simples- lacionar-me com a energia dos mente pôs-me a pensar sobre as coi- bailarinos, porque o trabalho são sas”: coisas como vivermos em socie- eles, não sou eu”. No fim do processo dades apenas aparentemente abertas, tinha 26 minutos de som e fúria – o e de não estarmos “sequer perto” de tipo de energia em estado bruto que sermos cidadãos verdadeiramente transfigura radicalmente as salas on- livres. Para falar disso, ele precisa de 2ª Feira de “Uprising” se apresenta (“a neu- muito barulho, mas não precisa de rose nunca foi tão mobilizadora”, muito tempo. “Sou novo, estou numa escreveu Jenny Gilbert no “The Inde- fase em que não me apetece criar lon- 15 Fevereiro pendent”; uma viagem num carrossel gas sagas sobre a condição humana; em dia de festa popular não seria tão estou numa fase em que quero que as A partir das 22h00 emocionante, dizemos nós). coisas tenham impacto. E quando têm “In Your Rooms” é outra história. não vale a pena prolongá-las”. Festa até de madrugada com Encomendada por três das mais im- “Uprising” tem o impacto revolu- portantes instituições londrinas liga- cionário de uma bandeira vermelha DJ RUI REMIX das à dança – The Place, Southbank e “In Your Rooms” tem o impacto de Centre e Saddler’s Wells –, onde foi um slogan daqueles de fazer largar sendo sucessivamente apresentada tudo. Mas isto não quer dizer que Ho- em diferentes fases de gestação, a fesh Shechter tenha uma mensagem: segunda peça do programa que a Ho- não tem (além de estar na fase do im- fesh Shechter Company traz a Lisboa pacto, está na fase do sarcasmo: “É reconfigura “Uprising” – e eleva-o a uma ferramenta muito útil para dar outra potência. “Quando me pediram um efeito de perspectiva. Se disser- que criasse ‘In Your Rooms’, decidi mos a uma pessoa que temos uma apresentar ‘Uprising’ como primeira coisa importante, profunda e como- parte. Era terra firme a partir da qual vente para dizer, estamos logo a ar- podia começar qualquer coisa, um ruinar essa possibilidade”). “Muitas mundo elementar, mas ao mesmo pessoas têm mensagens de que eu tempo também me desafiava a levar faço ‘copy’ e ‘paste’, mas eu só tenho tudo aquilo mais longe”, conta. Haver perguntas. As mensagens estão lá só raparigas ao barulho é, diz, uma re- para criar confusão. A cabeça das pes- volução: “Elas fazem-nos olhar para soas não tem muito com que se en- eles de outra maneira. O simples fac- treter nos meus espectáculos, embo- to de estarem ali expõe o lado mais ra vá passar o tempo todo a tentar frágil e mais patético dos homens – resolver o puzzle, porque é isso que mesmo que seja silenciosa, é uma a cabeça faz. Eu, felizmente, sou só presença muito sólida”. um bailarino: nunca hei-de resolver Ao mexer nas feridas de “Uprising”, nada”. Mas lá que começávamos uma DIM MAK presents Steve Aoki “In Your Rooms” transforma-se numa guerra depois de ver as peças dele, coisa muito menos crua e directa do começávamos. The Libertines que a primeira: tem “qualquer coisa Gary Powell DJ Dirty Pretty Things Ver agendagppgg de espectáculos págs. 32 e segs. 27 queqp nos faz cair pelo buraco do coe- Teratron Batida Coki & Cotti Long Way to Alaska FEVEREIRO

Tropa Macaca João Dinis Álvaro Costa Pfadfinderei VJ SÁBADO 23:00

TODOS OS ESPAÇOS | 18 € OUTROS ESPAÇOS (TODOS EXCEPTO STEVE AOKI, TERATRON, SALA 2) | 7,5 € ENTRADA LIMITADA À LOTAÇÃO DE CADA ESPAÇO

“In Your Rooms”, disse o

“Observer”, é PATROCÍNIO MECENAS CASA DA MÚSICA APOIO INSTITUCIONAL MECENAS PRINCIPAL CASA DA MÚSICA “provavel- mente a mais importante criação da dança britânica SEJA UM DOS PRIMEIROS A APRESENTAR HOJE ESTE JORNAL NA CASA DA MÚSICA E GANHE UM CONVITE DUPLO desde o início PARA O CLUBBING (EXCEPTO STEVE AOKI, TERATRON, SALA 2). OFERTA LIMITADA AOS PRIMEIROS 10 LEITORES. do milénio”

Ípsilon • Sexta-feira 12 Fevereiro 2010 • 31 aMaumMedíocremmRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente

Ciclo A Escola da Noite Teatro Académico de Gil os espectáculos “Solos apresenta, a partir de 1 de Vicente) e “Calendário I e II”, de António Pinho Março, um ciclo dedicado de Pedra” (dia 6, no Vargas, “Vulcão”, de Abel à figura do monólogo Teatro da Cerca de São Neves, com Custódia que trará a Coimbra Bernardo). Do programa Gallego, “Historias Denise Stoklos, uma “Do Monólogo, Coisa Tricolores”, da espanhola das mais carismáticas Pública”, que integra Candida Pazó, e actrizes brasileiras, a Semana Cultural “Concerto à La Carte”, de num programa duplo: da Universidade de Franz Xaver Kroetz, com “Mary Stuart” (dia 5, no Coimbra, constam ainda Ana Bustorff.

Pessoas sem história

“A Felicidade, Amanhã...” recria o universo de Beckett a partir de quatro pequenos textos e outros fragmentos. A condição humana, na Comuna. Ana Dias Cordeiro

A Felicidade, Amanhã... De Samuel Beckett. Pela Comuna. Encenação de Álvaro Correia. Com Alexandre Lopes, Carlos Paulo, Hugo Franco, Maria Ana Filipe, Marco Paiva, Miguel Sermão, Rui Neto e Tânia Alves.

Teatro Lisboa. Teatro da Comuna. Pç. Espanha. Até 27/03. 4ª a Sáb. às 21h30. Dom. às 16h. Tel.: 217221770. 7,5€ a 10€. “A Felicidade, Amanhã” é um jogo de referências No palco, homens e mulheres beckettianas que reconstituem o universo do autor deambulam, por entre baldes, caixas, ergue-se nu, um outro canta. As talvez, dos quatro dramatículos de com o público”, sublinha Álvaro água, terra, contentores. Um homem canções são registos de memórias e Beckett, aquele que neste conjunto se Correia. Em cena, antes de apagar a um sinal de esperança, sobretudo no aproxima mais do possível retrato de luz, Bam, o protagonista, diz: fim. Existe, apesar de tudo, uma realidade: a vida de um “Entenda quem puder.” Como se, felicidade. As figuras aparecem e triângulo amoroso (Tânia Alves, antes de ele próprio apagar a luz, desaparecem. Mergulham a cabeça, Carlos Paulo, Maria Ana Filipe) Beckett quisesse ter dito “Entenda enterram-na, enterram-se. Será isto a contada em três monólogos que quem puder aquilo que eu fiz”, morte? Sabem elas quem são? Sabem criam uma ilusão de diálogo. ironiza o encenador. o que fazem? Sabem que estão. Em “Acto sem Palavras II”, A e B, as No universo de Samuel Beckett, personagens (Miguel Sermão e Marco interessa o meio – é lá que vive o Paiva), entregam-se a uma “mini- O contrário acontecimento. Não interessa como ritualização”, uma repetição de as pessoas chegam lá, nem para onde gestos que os aprisiona e ao mesmo vão a seguir. Interessa a sua condição. tempo liberta. “Como nós, precisam de um E interessa o que dizem, em frases de pequenos rituais para se sentirem partidas, entrecortadas de sons de equilibrados”, continua Álvaro musical respiração num “sprint” de alta Correia, que enquanto actor competição. Como se a palavra representou Beckett em 2006, estivesse antes da razão. quando o Teatro da Comuna pôs em Franzisca Aarflot, Em “A Felicidade, Amanhã...”, em cena “Todos os que Caem”. Esse colaboradora regular dos cena desde ontem e até 28 de Março texto entra pelo palco dentro pela Artistas Unidos, monta o no Teatro da Comuna, o encenador voz gravada de Maria do Céu Guerra. Álvaro Correia quis recriar o universo Mas também o som de uma “day-after” de uma noite de do dramaturgo irlandês, juntando respiração – como noutras peças o sexo entre desconhecidos. quatro textos – “Não Eu”, “Acto sem som do caminhar ou do bater do Cláudia Silva Palavras II”, “Play” e “O Quê Onde” coração. É uma referência, um - e pequenos fragmentos do autor. O fragmento de Beckett que serve de Cantigas de Uma Noite de Verão próprio título nasce de uma frase da ligação. Como a cena em que quatro De David Greig, Gordon McIntyre. peça “Eh Joe”, escrita em 1965 para a personagens deitadas olham um Pelos Artistas Unidos. Encenação de televisão, na qual uma mulher e o ponto fixo, e o que muda não é o Franzisca Aarflot. Com Andreia marido dialogam e este sempre lhe corpo, nem o sítio para onde olham, Bento, Pedro Carraca. vai prometendo a felicidade, nem a posição, mas sim o espanto Lisboa. Teatro da Trindade - Sala Estúdio. Largo da amanhã. “São personagens numa que se transforma lentamente em Trindade, 7 A. Até 28/03. 4ª a Sáb. às 21h45. Dom. determinada situação. E continuam horror, e que finalmente dá lugar ao às 17h30. Tel.: 213420000 na mesma situação, à espera, como conforto da memória, com os braços em ‘À Espera de Godot’”, diz Álvaro que se cruzam. É mais uma evocação: “Cantigas de Uma Noite de Verão”, a Correia. de “Come and Go” (“Vai e Vem”, de peça dos escoceses David Greig e Em “Não, Eu”, a personagem não é 1965), em que três mulheres dão as Gordon McIntyre que está em cena um corpo mas apenas uma parte mãos para afugentar a velhice e a desde ontem na Sala Estúdio do dele, uma boca (Rui Neto), que debita solidão. Teatro da Trindade, com encenação 13 minutos de texto, com frases “O Quê Onde” é a última peça da norueguesa Franzisca Aarflot, truncadas, aparentemente sem nexo, dentro desta peça. Uma, duas, quatro colaboradora regular dos Artistas mas que se encontram, voltam e personagens (Carlos Paulo, Tânia Unidos, podia ser um musical. Não o recomeçam. Juntas quase podiam Alves, Maria Ana Filipe, Marco Paiva) é porque não tem escala para isso contar uma história. Mas Beckett não debaixo de uma lâmpada. O diálogo - dois actores (Andreia Bento e Pedro está interessado “no quotidiano pára e volta ao principio, debaixo da Carracas) e um músico (Miguel real”, continua o encenador. A haver luz que se apaga e reacende. “Não Fevereiro)-, o que a transforma, aqui uma história, é uma história está bem, eu recomeço.” Diálogo ou descreveu David Greig numa inacabada. “Há uma espécie de ilusão de monólogos a quatro vozes? entrevista de 2009, no “inverso” ou esquizofrenia.” E um teste aos limites “É o último texto de teatro de Beckett na “miniatura” de um musical: “Se do possível na interpretação. “Play” é e tem qualquer coisa de brincadeira um musical tem uma dúzia de

32 • Sexta-feira 12 Fevereiro 2010 • Ípsilon TEMPORADA 2009|2010 METROPOLITANA 18 Anos – Idade Maior direcção artística Cesário Costa Mais Beckett, desta vez em Évora: “Dias Felizes”

O “Inferno” de Olga Roriz vai a Portalegre

Um homem (Pedro Carraca) | Concertos para Famílias e uma mulher (Andreia Bento) Agenda numa noite de Verão | Janeiro / Fevereiro 2010 Teatro Eu Souou a Minha Própria Própri Mulher JORGE GONÇALVES JORGE De Doug Wright. Pela Seiva Trupe. Encenação de João Mota. Com Júlio DOMINGO, 14 DE FEVEREIRO, 11H30 Continuam Cardoso. Porto. Teatro do Campo Alegre. R. das Estrelas s/n. Câmara Até 14/02. 4ª a Sáb. às 21h45. Dom. às 16h. Tel.: GRANDE AUDITÓRIO  CCB Pelo Projecto Teatral. Com André 226063000. Maranha, Gonçalo Ferreira de Almeida, Helena Tavares, João Cão Que Morre Não Ladra Pela Companhia do Chapitô. CONCERTO DE CARNAVAL Rodrigues, Maria Duarte. BENJAMIN BRITTEN – Carnaval do Canadá, Op. 19 Lisboa. Teatro Municipal Maria Matos. Av. Frei Encenação de John Mowat. Com Miguel Contreiras, 52. Até 14/02. 3ª a 6ª das 17h às Jorge Cruz, Marta Cerqueira, Tiago PABLO SARASATE – Fantasia Carmen 0h. Sáb. e Dom. das 15h às 0h. Tel.: 218438801. Viegas. DARIUS MILHAUD – Carnaval de Londres, Op. 72 Entrada gratuita. Lisboa. Chapitô. R. Costa do Castelo. Até 21/02. 5ª a Dom. às 22h. Tel.: 218855550. 7,5€ a 10€. A Febre Otto Pereira violino Patrick Lange direcção musical De Wallace Shawn. Pelo Teatro Hannah e Martin Oficina. Encenação de Marcos De Kate Fodor. Pelo Teatro Aberto. Orquestra Metropolitana de Lisboa Barbosa. Com João Reis. Encenação de João Lourenço. Com Torres Novas. Teatro Virgínia. Largo São José Lopes Ana Padrão, Irene Cruz, Rui Mendes, Com a participação do grupo Percussões da Metropolitana dos Santos. Dia 13/02. Sáb. às 21h30. Tel.: entre outros. Comentários de César Viana 249839309. 10€. Lisboa. Teatro Aberto - Sala Vermelha. Pç. Letra M Espanha. Até 28/02. 4ª a Sáb. às 21h30. Dom. às 16h. Tel.: 213880089. 7,5€ a 15€. De Johannes von Saaz. Pelo Teatro CO-PRODUÇÃO da Rainha. Encenação de Fernando O Banqueiro Anarquista Mora Ramos. Com António Durães, A partir de Fernando Pessoa. Paulo Calatré. Encenação de João Garcia Miguel. Porto. Mosteiro de São Bento da Vitória. R. S. Bento Com Anton Skrzypiciel, Ana Rosa APOIOS actores, nós temos dois. Se um da Vitória. Até 13/02. 4ª a Sáb. às 21h30. Dom. às Abreu, Isa Araújo, entre outros. 16h. Tel.: 222007283. 10€ a 15€. musical tem uma orquestra, nós Guimarães. Centro Cultural Vila Flor - Grande Preço único:  5,00 Os Dias Felizes Auditório. Av. D. Afonso Henriques, 701. Dia 13/02. temos guitarras acústicas”. Ao Sáb. às 22h. Tel.: 253424700. 7,5€ a 10€. contrário do que acontece num De Samuel Beckett. Pelo CENDREV. musical, as personagens não cantam Encenação de Júlio Castronuovo. Elizabeth e As Águas Verdes do Com Isabel Bilou, Rui Nuno. Pacífi co de repente. Aqui, as canções são mais Évora. Teatro Garcia de Resende. Pç. Joaquim De Philippe Minyana, Nuno uma espécie de ligação entre as António de Aguiar. De 17/02 a 28/02. 4ª a Sáb. às Gervásio. Pelo Royal Teatro Livre. 21h30. Dom. às 16h. Tel.: 266703112. cenas, um portal que dá uma nova Encenação de Luísa Ortigoso. Com perspectiva ao público, explica a Não se Ganha, Não se Paga! Maria Eduarda Dias. encenadora. De Dario Fo. Encenação de Maria Lisboa. Instituto Franco-Português. Av. Luís Bívar, A história passa-se em Edimburgo Emília Correia. Com Cristina 91. Até 21/02. 4ª a Sáb. às 21h30. Tel.: 213111400. 10€. no primeiro dia de Verão. Helen é Cavalinhos, Horácio Manuel, uma advogada especializada em Lucinda Loureiro, entre outros. Dança divórcios e Bob um fora da lei que Lisboa. Teatro da Trindade. Largo da Trindade, 7 A. Até 28/03. 4ª a Sáb. às 20h30. Dom. às 16h30. Estreiam tem por encomenda vender um carro Tel.: 213420000. roubado. Encontram-se casualmente Uprising/In Your Rooms num bar, discutem Dostoiévski e A Cidade De Aristófanes. Pelo Teatro da De Hofesh Shechter. Com Winifred acabam na cama. É um fim-de- Cornucópia. Encenação de Luis Burnet-Smith, Chien-Ming Chang, semana de loucura em que, bêbados, Miguel Cintra. Com Márcia Breia, Christopher Evans, Bruno Karim têm mau sexo, gastam 15 mil libras Rita Durão, Nuno Lopes, Maria Guillore, Philip Hulford, Jason numa noite, Helen chega encharcada Rueff, Bruno Nogueira, Gonçalo Jacobs, Ye-Ji Kim, Elias Lazaridis, ao casamento da irmã e Bob fica a Waddington, entre outros. Hofesh Shechter, Yen-Ching Lin, Sita Ostheimer, Hannah Shepherd. falar com o seu pénis, cansado de ser Lisboa. Teatro Municipal de S. Luiz. R. Antº Maria Cardoso, 38-58. Até 14/02. 4ª a Sáb. às 21h. Dom. às Lisboa. Centro Cultural de Belém - Grande beijado e tocado por mulheres com 16h. Tel.: 213257650. 12€ a 25€ Auditório. Praça do Império. De 12/02 a 13/02. 6ª e as quais não tem compromisso. Sáb. às 21h. Tel.: 213612400. 10€ a 20€. O tempo é um tema comum, já que Blackbird Ver texto na pág. 30 e segs. ambos vão quase na crise dos 40 - De David Harrower. Encenação de Tiago Guedes. Com Miguel mas há também um outro tempo, o Guilherme, Isabel Abreu. Continuam desta relação, cujas cenas vão sendo Lisboa. Teatro Nacional D. Maria II - Sala Estúdio. contadas pelas próprias personagens Pç. D. Pedro IV. Até 21/02. 4ª a Sáb. às 21h45. Dom. Íman na terceira pessoa. Esse efeito de às 16h15. Tel.: 213250835. 6€ a 12€. De Filipa Francisco. Aveiro. Teatro Aveirense. Pç. República. Dia 13/02. perspectiva permite ao público A Mãe Sáb.Sáb. às 21h4521h45.. TelTel.:.: 234400234400922. 8€ a 10€. distanciar-se da história e vê-la por De Bertolt Brecht. Pela prismas diferentes. Parece ser uma Companhia de Teatro ddee Inferno DeDe OOlgalga RoriRoriz.z Com Catarina comédia romântica, daquelas que Almada. Encenação de Joaquim Benite. Com AAndréndré Câmara, AAdrianadr Queiróz, fazem rir quem já passou por isto; RafaelaRafaela Salvador,Salva entre para a encenadora, é um texto sobre Albuquerque, Carlos Gonçalves, Teresa Gafeira,eira, outros.outros. estar apaixonado. Portalegre.Portalegre. CeCentron de Artes do Teresa Mónica, entre outros.utros. “Cantigas de uma Noite de Verão” EspectáculoEspectácul de Portalegre. Praça Porto. Teatro Nacional São João.. PPç.ç. ddaa ddaa Republica,Repu 39. Dia 13/02. faz parte de uma trilogia que os Batalha. Até 21/02. 4ª a Sáb. às Sáb.Sáb. ààs 21h30. Tel.: Artistas Unidos vão reunir num livro. 21h30. Dom. às 16h. Tel.: 2245307498.453 10€. 223401900. 3,75€ a 15€. Franzisca, que encenou a primeira parte do tríptico, “Lua Amarela”, em Single Singers Bar 7 Personagens eme Hora de Oslo, no ano passado, viu a peça De Dagoberto Feliz. Pelo Teatrão. Com PontaP original em Edimburgo e pensou DeD Elisa Worm. imediatamente que queria encená-la Inês Mourão, Isabel Craveiro, entre outros. PPelo Ballet em Portugal. Também pensou logo Coimbra. Oficina Municipal do CContemporâneo em Andreia Bento e Pedro Carracas, Teatro - Tabacaria. R. Pedro ddo Norte. cujas características favorecem as Nunes - Quinta da Nora. Até Espinho.Es Auditório de 27/02. 4ª a Sáb. às 22h. Tel.: João Reis em “A Febre”, Espinho.Es Rua 34, 884. Dia personagens: charme, esplendor e 239714013. 12/02.12 6ª às 21h30. Tel.: um certo choque de personalidades. de Wallace Shawn

Ípsilon • Sexta-feira 12 Fevereiro 2010 • 33 aMaumMedíocremmRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente

Christopher Hitchens, 18h30, na Casa Fernando o autor de “Deus Não Pessoa (Rua Coelho da Confe- é Grande – Como a Rocha, 16, em Lisboa). rência religião envenena O tema: “A Urgência Tudo”, é o convidado do Ateísmo”. Haverá da segunda conferência tradução simultânea e a Ciclo Livres entrada é livre no limite Pensadores, dia 18, dos lugares disponíveis.

Ensaio curtos versando ocorrências edição portuguesa mais pessoais, e mesmo íntimas, entre o literariamente empenhada, práticas O centro e as doméstico e o sexualmente comerciais de almocreve, Mitologias transgressivo, tendo este por vezes inescrupuloso sempre que necessário. lugar no mesmo foro doméstico – e O catálogo agora co-editado pela margens maiores e uma incontinente produção de Biblioteca Nacional e por um dos incomestíveis (epistolário, diários selos da Leya – uma ironia ao nível Uma viagem sucinta e inacabados, escritos agonísticos daquela, involuntária, com que Mário menores sempre fulanizados, entrevistas que Soares conclui o seu depoimento: sarcástica pela moderna se tornaram um “must” para fãs e “Trata-se do escritor-maldito mais poesia portuguesa. Pedro para o currículo de jornalistas) que interessante do século XX” – é, pois, a Mexia Um imprescindível contudo alimentaram o mito tanto ou homenagem devida a uma instrumento de trabalho mais do que os seus textos personagem como LP. Comissariados Aula de Poesia para quem desejar “canónicos”: “Comunidade”, “Os por Luís Gomes, exposição e catálogo Eduardo Pitta aproximar-se do “Universo Namorados”, “O Teodolito”, “O não primam pelo ineditismo dos Quetzal Libertino...”, poucos mais. ensaios, mas reúnem de forma Pachequiano”. Osvaldo Pacheco tinha uma notória rigorosa e exaustiva materiais mmmnn Manuel Silvestre dificuldade em descolar do caso informativos e bibliográficos que dele pessoal – o seu ou o dos que visava – e fazem um imprescindível “Visitação” (1983), Luiz Pacheco – 1925-2008 – Um tendia a fazer rebater a ideia de instrumento de trabalho para quem a de António Franco

Livros Homem Dividido Vale por Dois e literatura sobre as incidências partir de agora desejar aproximar-se Alexandre, “O Contraponto – Bibliografia biográficas que elegia. O resultado é do “Universo Pachequiano”, para Corpo de Atena” BNP/D. Quixote. ambíguo, desigual e francamente citar Luís Gomes. Nesse sentido, o (1984), de Rui cansativo quando enfrentado por verdadeiro “curador” do catálogo é o Knopfli, mmmmn extenso (“vide”, por ex., as cartas a “designer” Jorge Silva, que realiza “Segredos, sebes, Aires Pereira recolhidas na secção “1 aqui uma das suas mais belas peças, aluviões” (1985), De Luiz Pacheco homem dividido vale por 2”, deste desde a opção por uma cartolina de Joaquim Manuel (LP) dizia Ernesto volume). Mas confere uma profunda rugosa que lhe permite conquistar Magalhães, “A Jornada de Cristóvão Sampaio que era o coerência àquilo a que, em vez de para a capa a sugestão “retro” das de Távora” (1986-1990), de João exemplo acabado “Obra”, será preferível chamar imperfeições macroscópicas dos Miguel Fernandes Jorge, “Variações do literato: aquele “Intervenção” ou “Actuação”, na tipos de chumbo, até à rejeição do em Sousa” (1987), de Fernando Assis que fala medida em que faz da indistinção papel “couché” da praxe nestas obras Pacheco, “O Virgem Negra” (1989), obsessivamente de entre “vida” e “escrita” o seu motor, dadas ao novo-riquismo, à discreta de Mário Cesariny, “O Céu sob as um único tema, a mostrando, em acto, como a combinatória de duas cores nos Entranhas” (1990), de Luís Miguel literatura. Parece pois justo que a literatura se pode alimentar do índices, nos textos e seus títulos ou Nava, “Sonetos Românticos” (1990), Literatura, enquanto dispositivo irrisório – ou de como a decisão sobre nas bibliografias, ou, decisivamente, de Natália Correia, “Do Mundo” mitológico, se tenha apoderado de o irrisório (ou não) não procede de à opção por uma dupla entrada na (1994), de Herberto Helder, LP, fazendo dele um dos últimos uma ontologia mas de uma ética: a da obra, em função da escolha de “Luiz “Meditação sobre Ruínas” (1994), de mitos postos em circulação por uma escrita, a única que Pacheco Pacheco” ou da “Contraponto”, Nuno Júdice, “Uma Carta no máquina que hoje parece ter reconhecia. hemisférios de um mesmo planeta Inverno” (1997), de Vasco Graça emperrado, num tempo em que o Da escrita e, seria caso para dizer, em espelho. Moura, “O Monhé das Cobras”, de “marketing” editorial produz mais da sua transformação em impresso. É um livro que dá gosto ler, folhear, Rui Knopfli, Lisboa (2000), facilmente “stars” do que mitos. Porque o caso Pacheco é também contemplar, sentir nos dedos e “Lisboas” (2000), de Armando Silva Este catálogo de Luiz Pacheco Porque há um “caso” Pacheco, desde fascinante por uma patologia muito cheirar: coisas anacrónicas, por certo Carvalho, “Cenas Vivas” (2000), de e da Contraponto é um dos mais logo patente no desequilíbrio literária: a que consiste em fazer deliberadamente. Por outras Fiama Hasse Pais Brandão, “Alta belos epitáfi os para a quase flagrante entre a literatura comestível aceder ao impresso (mas não palavras, é o catálogo adequado a um Noite em Alta Fraga” (2001), de extinta civilização do impresso do autor – um punhado de textos necessariamente ao livro, pois LP literato que, como confessa num Joaquim Manuel Magalhães. revitalizou a tradição do folheto e do depoimento transcrito por Ana da Eis uma (sólida) proposta de panfleto) tudo o que, irrisório ou não, Silva, sentia “o gosto de ver aquilo cânone poético das últimas décadas sai da mão do escritor. Este tropismo que se escreve em letra de forma... portuguesas. E faz todo o sentido, implica uma vampirização do essa vaidade, esse gosto, esse orgulho tendo em conta que Eduardo Pitta privado, que parece não ser mais do de ver o livro na montra, quem disser tem como preocupação recorrente a que pretexto para a publicidade pela que não, aldraba” (p. 35). Não definição do cânone e das margens. escrita; e um princípio de economia surpreende, pois, que o núcleo mais “Aula de Poesia” segue-se a aberrante, aliás conatural à economia forte dos textos inéditos pertença a “Comenda de Fogo” (2002) e “Metal da literatura na época da dois editores-interventores, Vítor Fundente” (2004), compilações de industrialização da imprensa, Silva Tavares e Manuel de Freitas, textos que o crítico foi publicando segundo o qual tudo o que sai da mão ambos empenhados em projectos desde 1994 na revista “LER” e nos (e, logo, da “vida”) do escritor deve que, nas palavras do primeiro, são suplementos culturais do jornal passar a impresso. Da mão à “cometas tracejando luz no negrume PÚBLICO, acrescidos de impressora, esta versão da literatura editorial” (p. 12), “editores-editores... conferências e obituários. confia-se a um princípio de saturação que apenas têm ou tiveram de Este conjunto de recensões do mercado que se diria uma prestar contas a si próprios” (p. 15), abrange um arco temporal que vai antecipação irónica da mesma, e em palavras do segundo. Heroísmo e de Cesário Verde a autores nascidos contudo muito outra, saturação pose, a vida – quantas vezes, a “vida em 1972. Acerca dos poetas mortos actual do mercado literário por danificada” – redimida pelo estilo (no canónicos (Cesário, Pessanha, Régio, irrelevâncias impressas em papel caso de Silva Tavares, esse estilo, à Carlos de Oliveira, Sophia), Pitta é colorido e brilhante. Não surpreende, sua maneira muito castigado e respeitoso, e bom, como sempre, na pois, que LP tenha alargado a sua castiço, forjado num certo contexto síntese biográfica e estilística, como actuação, logo desde o início, à lisboeta ao longo de meio século, de numa passagem sobre Sophia em edição, com a Contraponto, na qual O’Neill, Cardoso Pires e Pacheco a que elogia “a nitidez da dicção, o se construíram as bases do seu mito Dinis Machado & etc.), enfim, a paganismo visionário, um ímpeto de literário: proximidade às vanguardas Literatura como destino: mitologias ética radical, o sentido trágico da locais (Cesariny, António Maria maiores e menores de uma quase existência (não isento de Lisboa, Herberto, um certo Manuel de extinta civilização do impresso, para religiosidade), um genuíno empenho Lima), culto não paradoxal dos a qual este catálogo de Luiz Pacheco nas causas sociais e o espontâneo clássicos, grafismo sóbrio mas sempre e da Contraponto é um dos mais convívio das coisas e dos seres” (pág. moderno, o destino artesanal da belos epitáfios. 139). Ou isto, sobre Herberto: “(…)

34 • Sexta-feira 12 Fevereiro 2010 • Ípsilon Eis uma (sólida) proposta de cânone poético das últimas décadas portuguesas; e faz todo o sentido, tendo em conta que Eduardo Pitta tem como preocupação recorrente a defi nição do cânone e das margens trânsitos de Holanda a Angola, chamado “regresso ao real” e História Há, no entanto, mais neste livro do pública, factor que partilhou com destinos fatais, repatriamento, acumula designações pouco que um mero reaproveitamento da tantos outros responsáveis industriais meteorologia insular, negaças à abonatórias para novos e novíssimos: informação já recolhida, e até a e grandes agricultores da sua época universidade, Emissora Nacional, fala de um “excesso de legibilidade”, Salazar capacidade narrativa está mais (reunidos na União dos Interesses publicidade, bibliotecas itinerantes da “vulgata do quotidiano”, do apurada, possivelmente porque na Económicos), acalmou quando da Gulbenkian, mais viagens, Café “diktat corporativo da melancolia”. obra anterior teve que gerir o percebeu que, depois do 28 de Maio, Gelo, operário ‘free lance’, Caixa Em substância, o juízo coincide com mandava, a contributo de mais quatro co-autores tinha havido de facto uma mudança. Geral de Depósitos (…), a argumentação de Gastão Cruz nos e porque agora tem mais espaço para O primeiro passo foram medidas experimentalismos vários, direcção ensaios de “A Vida da Poesia” (2008). Economia abordar este tema. proteccionistas que encareceram editorial” (pág. 171). A tese é conhecida: os novos Quando Alfredo da Silva e Salazar produtos concorrentes aos seus, Mas há excepções: Sena é tresleram Ruy Belo, perderam o lado vivia se cruzam já o primeiro tinha feito como os adubos, e o justamente verberado pelas suas convulso e radical de Magalhães, e grande parte do seu percurso. desenvolvimento da campanha do intragáveis “Dedicácias” e Eugénio caíram numa estagnação prosaica. Nascido em 1871, o empresário, trigo. O contacto com Salazar, de de Andrade leva uma reprimenda Pitta define dois continentes: os Duas obras sobre as ligações criado no seio de uma família forma indirecta, dá-se em 1928, pela ambiguidade e elisão “poetas sem qualidades”, de feição entre os empresários e burguesa abastada e órfão do pai, quando este assume a pasta das biográficas, que segundo Pitta “neo-expressionista” (Ana Paula Salazar. Luís Villalobos encontrava-se refugiado em Espanha Finanças e defende uma estratégia revelam uma certa falta de coragem. Inácio, Carlos Bessa, Rui Pires, quando se deu o 28 de Maio de 1926, cujas principais linhas de E depois há a ideia, veemente, de Manuel de Freitas e outros), e aqueles Alfredo da Silva e dia em que se instituiu a ditadura pensamento eram idênticas às suas, que Cesariny não tem o destaque a quem chama acidamente Salazar militar. Adepto do autoritarismo e seja a estabilização da moeda ou a que merece por causa da “urbanóides” e realistas “neo- Miguel Figueira de antigo apoiante de João Franco e de importância dada a uma “economia homossexualidade assumida, “sem o conservadores” (José Ricardo Nunes, Faria Sidónio Pais, olha inicialmente com nacional”. Será, no entanto, a álibi da cal e o gorjeio da passarada”. João Luís Barreto Guimarães, Luís Bertrand Editora algum cepticismo para mais esta necessidade que aproximará Alfredo A tese é discutível: Cesariny faz de Quintais e eu próprio, entre outros). reviravolta na sociedade portuguesa. da Silva e o futuro presidente do facto parte do cânone e hoje em dia Isto sem prejuízo de certos nomes mmmmn Tinha a vontade de voltar de vez, até Conselho. Uma combinação de má a homossexualidade não prejudica a que escapam a estas tribos, poetas do para gerir de perto o seu império, gestão da Casa Totta (empréstimos recepção crítica de nenhum poeta sagrado (Tolentino), viscerais (valter Salazar e os mas factores como ter sido vítima de com risco mal avaliado por parte do (até porque, digamos, não é caso hugo mãe), iconoclastas (Adília) ou milionários vários atentados, um deles quase embrião do futuro Banco Totta & incomum). neo-dada (Tiago Gomes). A sentença Pedro Jorge Castro mortal, aconselhavam-no a ter Açores) com a conjuntura do “crash” Empenhada e especialmente é inapelável: “O ‘establishment’ Quetzal prudência. A aversão à desordem da bolsa dos EUA e pressão sobre interessante é a defesa de autores prefere o curto relato do dia. Os mais marginais, injustamente poetas laureados renderam-se mmmnn esquecidos ou menosprezados. O definitivamente ao prosaísmo isento elenco vai de poetas ditos menores a de acrimónia e sobressalto, fazendo Até ao final da dissidentes sexuais: Judith Teixeira, o regredir a poesia a um presencismo década de 90, pouco Helder Moura Pereira da segunda envergonhado” (pág. 130). Pitta, se tinha escrito fase, José Emílio-Nelson, Helga como Gastão, faz pairar a dúvida: sobre o fundador do grupo CUF, Moreira e, claro, António Botto, cuja porquê esta acrimónia geracional? Alfredo da Silva, e outros obra completa Pitta tem vindo a A última nota vai para esse hábito empresários portugueses. Hoje, no editar. Regressando a um famoso essencial ao sarcasmo de Eduardo entanto, já é possível ler uma obra texto de Álvaro de Campos, “Aviso Pitta: a referência constante ao como a que foi escrita por Miguel por causa da moral”, Pitta escreve “mainstream”, à “crítica Figueira de Faria sobre as relações que a moral de agora ainda é estabelecida”, ao “mandarinato” entre o empresário e António de substancialmente a mesma de há oito cultural. Pena não haver nomes. Oliveira Salazar. Da mesma forma, até décadas, ainda precisa de ser Além disso, fica a sensação de que há pouco muitas das obras que “avisada” e, claro, agitada, sobretudo para Pitta escrever na “LER” e no incidiam sobre a figura do ditador no que diz respeito aos autores PÚBLICO não é fazer parte do eram livros carregados de ideologias homossexuais. A militância é “mainstream”. Essa não é a mais políticas. Neste contexto, as ligações conhecida, o diagnóstico fica ao pequena das ironias desta breve de Salazar aos empresários eram cuidado de cada um. viagem pela poesia portuguesa. Uma repletas de palavras de ordem Pitta lembra também com especial viagem rigorosa nos factos, exigente próprias do PREC, ou pura e cuidado alguns autores exilados, nos critérios editoriais,editoriais, atentaatenta simplesmente ignoradas.ignoradas. esquecidos porque “desaparecidos”, no “close reading”,ding”, concisa Nos últimos anos, no como é o caso de Alberto Lacerda e no estilo e cortantertante nosnos entanto,entanto, algo mudou no sobretudo Rui Knopfli, poeta realista, apartes. A polémica,lémica, panoramapanorama nacional, o qque,ue, culto, empático e tristemente irónico, especial-mentete a por sua vez, se rereflectiuflectiu ao que o crítico tem tentado resgatar de polémica elegante,gante, é nívelnível editorial.editorial. TalvezTalvez porque um escandaloso olvido. O mesmo se essencial a umm climaclima jjáá passou tempo suficiente diga da agilidade sintáctica e pícara crítico saudável.vel. parapara se ppoderoder olhar parapara o de Fernando Assis Pacheco, que esse passadopassado com perspectivaperspectiva mais esteve muito por cá mas nunca se pôs Este texto foi equilibrada. A utilização de Salazar em bicos dos pés. lido por em algunsalguns livroslivros até popodede parecer “Aula de Poesia” trata igualmente Pedro abusiva,abusiva, como se houvessehouvesse uma de várias antologias publicadas nos Mexia na moda, mas, à falta do eequilíbrioquilíbrio últimos anos, de “Rosa do Mundo” e apresen- perfeito,perfeito, antes em excesso do “Século de Ouro” às geracionais. tação de queque porpor defeito.defeito. Cabe Mas aqui, salvo alguns remoques, “Aula de Eduardo Pitta está pacificado com o Poesia” cânone dos vivos: António Osório, Vasco Graça Moura, Manuel Gusmão, Nuno Júdice ou João Miguel ao leitor ppercebererceber Fernandes Jorge são tratados com a o queque é queque vale ou devida deferência. E a Joaquim nnãoão a pena ler.ler. Manuel Magalhães é reconhecida NoNo casocaso de “Alfredo“Alfredo dada uma espécie de tutela sobre a O poder centralizador de Salazar, SilvaSilva e SaSalazar”,lazar”, o seu geração mais nova. autor de um Estado paternalista, autor, Miguel Figueira de A geração mais nova, permitiu-lhe exercer, de forma Faria, jájá escrevera a precisamente, não é bem tratada discreta, um papel decisivo junto biografiabiografia do maior nestes textos. Pitta não aprecia o da economia privada industrialindustrial português.português.

Ípsilon • Sexta-feira 12 Fevereiro 2010 • 35 aMaumMedíocremmRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente

Simon Schama, professor University, estará em Aí se aborda a história de História da Arte e de Lisboa nos dias 25 e da grande potência Pro- História na 26 para promover “O mundial, se explica a Livros moção Columbia Futuro da América”, identidade americana e os que acaba de chegar às problemas que o país teve livrarias numa edição de confrontar ao longo do da Civilização Editora. tempo.

As obsessões de Millás (identidade, assimetrias, as misteriosas ligações entre as coisas) estão aqui depuradas

os depósitos faz com que se inicie, da Silva escapou a esta influência, Ficção Ciberescritas como diz o autor, a “fase de maior não é de estranhar que muitos outros proximidade pessoal” entre os dois. também não o tenham feito. Paixão pelos livros Alfredo da Silva não gostaria de É, aliás, isso que se confirma com a O medo perder a Casa Totta, e Salazar não leitura de “Salazar e os milionários”, do domingo à tarde queria mais uma falência financeira, de Pedro Castro. A partir de uma nomeadamente por risco de reportagem que fez para a “Sábado”, Os Objectos Chamam-nos Uma só palavra, todas as línguas” é o lema de contágio. Assim, assegura ao o jornalista compilou as cartas Juan José Millás Babel, a editora de Paulo Teixeira Pinto, que empresário que este terá o seu apoio, enviadas a Salazar por diversos (tradução de Luísa Diogo e Carlos agrupa nove chancelas. Na apresentação, através de concessão de empresários, cuja tónica é o tom Torres) Usábado passado na Biblioteca Nacional, o empréstimos, dando Alfredo da Silva reverencial e a convicção de que falar Planeta, € 17,5 neurologista e ensaísta João Lobo Antunes, como garantia as suas outras directamente com presidente do presidente do Conselho editorial da editora, lembrou empresas. “(…) Só o fiz encorajado Conselho era meio caminho andado mmmmn que, se pensássemos bem, “a paixão pelos livros é a mais pela serenidade que vi em V. Ex.ª e para ter um problema resolvido. durável e a mais confiável das paixões.” pela sua promessa, a meu pedido Houve excepções, sendo a de Os editores evitam Isabel A Babel agrupa algumas dessas paixões. Quando se feita, de não me abandonar, antes de António Champalimaud uma delas, publicar livros de Coutinho ouvem os nomes das chancelas que fazem parte de auxiliar, nas dificuldades que d’haí apesar do respeito existente entre os contos porque estes Babel, como a Arcádia, a Ática, a Ulisseia, a Verbo, a me pudessem surgir”, escreveu anos dois. Embora o livro merecesse ser não funcionam tão Guimarães, regressamos ao passado. mais tarde o industrial numa carta a mais bem trabalhado (algumas cartas bem em termos de No “site” que agora lançaram pode ler-se a descrição Salazar. Quando os problemas da são irrelevantes, independentemente vendas. O conto não do conceito e fi losofi a de Babel. Não é um grupo, “é Casa Totta se agudizaram, foi de serem privadas, esvaziando os tem a mesma uma realidade única e singular”. Tem a missão “de ser a novamente Salazar quem, capítulos onde foram incluídas), seja consideração social principal editora de Portugal”; nela “faz-se aquilo em que pessoalmente, resolveu a questão da ao nível de contexto ou da que o romance. No se acredita fazendo bons livros que sejam livros bons.” renegociação dos empréstimos profundidade das personagens entanto Juan José Millás não se tem Além do conselho editorial que é constituído, entre necessários, nomeadamente junto do (como no caso de Martin Sain, deixado vencer. Luta contra essa ideia outros, por Eduardo Lourenço, Artur Anselmo, António Banco de Portugal, instituição que romeno que fugiu ao nazismo e foi de que já que se gasta 20 euros num Feijó, António Emiliano, Fernando Guedes, Graça tinha ainda uma certa independência um dos fundadores da Sacor, cuja livro, é melhor gastá-los num Morais, Manuel Maria Carrilho, Miguel Esteves Cardoso, face ao Governo. O problema era história de vida daria por si só um romance do que em contos. Ricardo Pais, Manuel Sobrinho Simões, a Babel tem também do responsável político, já livro), o seu maior mérito é a forma Considera que, por esse critério, coordenadores. que, no âmbito do acordo anterior, o como expõe o relacionamento entre Borges desapareceria da História da A historiadora de arte Dalila Rodrigues é a destino da CUF estava ligado ao da Ricardo Espírito Santo e Salazar. O literatura. E é por isso que participa coordenadora científi ca das edições de Arte que serão instituição financeira, e com a queda ideal, aliás, seria ter aprofundado num programa de rádio em que se publicadas na chancela Athena (do património artístico do maior grupo português iriam mais este tema, juntando as restantes pede aos ouvintes que enviem contos à criação contemporânea). O director editorial da Babel, perder-se centenas de postos de partes do livro onde inclui o de cinco linhas. Em Portugal já estava Vasco Silva, é o editor das chancelas Ática e Guimarães. trabalho, mas o certo é que Salazar banqueiro (como a construção do editado “Contos de Adúlteros Jorge Reis-Sá, editor que fundou a Quasi Edições, é deu a mão a Alfredo da Silva. Esta Ritz e os casos ligados ao petróleo e Desorientados” (Temas & Debates) e editor das chancelas Arcádia, Pi, Ulisseia e Verbo. situação de dependência do grande aos diamantes) e misturando depois surge agora “Os Objectos Chamam- Na secção dedicada às novidades fi cámos a saber que industrial ao representante máximo os outros como ingredientes nos”. Nesta obra estão reunidos 75 na Ulisseia Poesia será publicado este mês “Macau” do do poder político, e a forma adicionais. contos divididos em duas partes: as brasileiro Paulo Henriques Britto (Prémio PT Literatura detalhada como ocorreu, é o facto Diversos episódios retratados por origens e a vida. Na primeira parte, a 2004). Na Verbo, sairá mais marcante desta obra, que Pedro Castro no seu livro já eram maioria das personagens são crianças, “Apologia do Desacordo adianta ainda outras situações, conhecidos, como a simpatia do adolescentes e vivem rodeados de Uma só palavra, todas Ortográfi co” de António embora com menor impacto. O banqueiro pelo nazismo (referido pais, tios e irmãos. Na segunda, são Emiliano e “Uma Visão relacionamento entre os dois não foi pelos alemães como “o nosso adultas, solitárias, com casamentos as línguas” é o lema de Armilar do Mundo” de Paulo linear, antes repleto de altos e baixos, confidente”) e a problemática da em perigo, obcecadas. Todas com a Babel, a editora de Borges. como se Salazar fizesse questão de estadia do Duque de Windsor na sua mesma atitude de perplexidade “Sodoma Divinizada” de impor uma certa distância. Se é casa de Cascais, numa altura em que perante a vida. Fechadas em espaços Paulo Teixeira Pinto, Raul Leal, com organização, verdade que o recebeu em sua casa, os alemães queriam ter o antigo e vidas claustrofóbicas de que a única introdução e cronologia de alturas houve em que entraram em herdeiro da coroa do seu lado. Mas o forma de escapar é a fantasia. Quem que agrupa nove Aníbal Fernandes (a edição choque (o industrial queria acesso autor acrescenta alguns pormenores leu os livros anteriores de Millás que foi publicada pela Hiena, aos portos africanos para os seus interessantes, como o mistério que editados em Portugal na Temas & chancelas agora revista), será editado navios mercantes) e o ditador nem liga o banqueiro à espionagem, e o Debates (os romances “Assim era a na Guimarães. “Não se trata respondeu às cartas, reivindicativas, episódio em que este esteve preso Solidão”, “Tonto, Morto, Bastardo e apenas da reprodução do manifesto, mas de toda a do industrial. Como refere Miguel por três noites em França em 1945 Invisível”, “A Ordem Alfabética”, contextualização histórica da polémica que opôs o autor, Figueira de Faria, um era o devido a uma denúncia que o ligava “Duas Mulheres em Praga”), na Pessoa e Boto à liga de Acção de Estudantes de Lisboa”, cosmopolita estrangeirado, o outro aos alemães. Quetzal (“Laura e Júlio”), na explica o “site”. Nas obras infanto-juvenis destaca-se era um beirão recatado. Um era O mais emblemático, no entanto, Presença (“A Desordem do Teu uma edição especial de “A Lua de Joana” de Maria Tereza impulsivo e gostava do risco, o outro é a ligação entre Ricardo Espírito Nome”) e na Planeta (“O Mundo”) Maia para comemorar o aniversário da primeira edição. era austero e prudente. Um dava Santo e Salazar, com um afecto e revê agora todo o seu universo. E o livro de bolso (em formato quadrado) na chancela primazia à economia sobre a política veneração por parte do banqueiro É como se as suas obsessões K4, “A Queda de um Anjo”, de Camilo Castelo Branco. e gostava pouco dos grémios cuja dimensão se desconhecia. Os (identidade, assimetrias, psicanálise, Quem quiser conhecer melhor os autores de Babel já aglutinadores impostos pelo regime, seus encontros de domingo à noite as misteriosas ligações entre as tem no “site” biografi as: Pessoa, Jorge de Sena, Agustina o outro defendia uma economia ao mostram a cumplicidade entre os coisas) estivessem concentradas, Bessa-Luís, Padre António Vieira, Ferreira de Castro, serviço da política. Com 18 anos de dois homens. Mesmo ausente, depuradas. Cada um destes contos é Wilde, Nietzche, etc. diferença entre si, em comum tinham Ricardo Espírito Santo não deixa de uma pequena obra-prima. Lidos no A Babel também tem livrarias em Lisboa:no Chiado a convicção de que era necessário enviar cartas e telegramas onde seu conjunto, mexem com o leitor, (Rua da Misericórdia, 68), na Biblioteca Nacional e em defender certos interesses, com sublinha a saudade das conversas que se vê levado para um mundo São Sebastião (Av. António Augusto Aguiar, 148, R destaque para a “paz social”. Foi com Salazar. E se estas iam além dos onde o fantástico se mistura com o C) que abrirá ao público a 23 de Abril, Dia Mundial nesse quadro que o grupo de Alfredo negócios, os temas económicos e quotidiano. Perturbam e podem até do Livro. A agenda das actividades irá estar disponível da Silva deu apoio às tropas de empresariais eram incluídos nos levar a uma leve depressão se forem brevemente. Franco, e, depois, recebeu a temas do serão, com todos os lidos a eito. Quando contámos isto a concessão dos estaleiros navais do benefícios que, inevitavelmente, Millás, ele percebeu. “É como se porto de Lisboa. O poder surgiriam para o grupo Espírito todas as histórias acontecessem a um centralizador de Salazar permitiu-lhe Santo. Mesmo no Estado Novo, não domingo à tarde. Por isso ficaste [email protected] exercer, de forma discreta, um papel restam dúvidas de que os caminhos deprimida. É como se se passassem Babel decisivo junto da economia privada. entre o capital e a política se todos sempre ao domingo à tarde.” http: (Ciberescritas já é um blogue http://blogs.publico.pt/ E se, como é agora sublinhado por confundem muito mais vezes do que Ai o medo que todos sentimos nos /www.babel.pt/ ciberescritas) Miguel Figueira de Faria, nem Alfredo se julga. domingos à tarde... Isabel Coutinho

36 • Sexta-feira 12 Fevereiro 2010 • Ípsilon uma peçadeamoresedesencontros © CLEMENTINA CABRAL HAVIA UMMENINOQUEERAPESSOA CANTIGAS DEUMANOITEVERÃO 4ª asábàs21h45edom17h30naSalaEstúdio continua aossábadosedomingosàs15h Fernando Pessoa ARTISTAS UNIDOS para CRIANÇASM/6 David Greig e Gordon McIntyre M/12 As máquinas fotográfi cas de Tatjana Doll, o telescópio de Rui Toscano: “A Roll of the Dice” põe a tónica no sentido da visão

entreentre abstracçãoabst e realismo ((eleele próppróprior um jogo modernista) queque o artistaartis já na época focava: QuestõesQuestões eemborambora paparecendo abstractas, as aoao projecto.projecto. Nem mmatrizesatrizes dosd trabalhos provinham sempre é óbvioóbvio encontrar, ddaa imagemimagem da sujidade no chão do dodo olhar nnumum conjuntoconjunto jájá previamente filmagens de aateliertelier ddoo pintor. ddefinido,efinido, obras queque possuampossuam em um filme. AAquiloquilo queque Há concontudot uma certa nostalgia OsOidliCii artistas da galeria Cristina comum o conceitoid que o curador se nãoãéddhbil é dado habitualmente a ver ao que se desprended de toda a Guerra numa colectiva propôs tratar: neste caso, “a espectador é aqui mostrado como o exposição. Ela provém não de um importância do olhar, a observação e objecto da arte, ou seja do desejo; e, olhar sentimental em relação ao comissariada por David a percepção”, nessa espécie de como sempre sucede na obra desta tempo modernista, mas sim da Barro. Luísa Soares de “momento suspenso” que “antecede artista, é pelo destaque ao que assunção da perda de sentido Oliveira o lançar dos dados, antes de estes permanece oculto (neste caso, os universal da arte em si. Barro bem tocarem no solo.” Todas as obras bastidores da obra final) que a arte refere que o sentido de cada imagem A Roll of the Dice presentes destacam esta adquire sentido. é diferente de espectador para possibilidade do olhar que determina Nesta exposição, há outras peças espectador. É bem das questões De John Baldessari, Angela Bulloch, o pensamento, a teoria, a que se devem assinalar: a de João ligadas ao olhar que aqui se trata. Mas Filipa César, Tatjana Doll, Sabine investigação, e finalmente o Louro, por exemplo; a de Sabine isto deixa-nos no domínio quase Expos Hornig, João Louro, Matt Mullican, raciocínio. Todas elas se colocam, Hornig (uma imagem que sobrepõe absoluto da subjectividade de cada João Onofre, Julião Sarmento, Rui assim, na descendência crítica do diversos planos, dificultando qual, ou seja, do questionamento de Toscano, Lawrence Weiner. modernismo e da tónica que este voluntariamente a escala e a todas as teorias da arte: no acaso, no último coloca no sentido da visão. profundidade); a pintura estrelada fragmento ínfimo de tempo, no Lisboa. Cristina Guerra - Contemporary Art. R. Somos acolhidos à entrada de Angela Bulloch, também ela espaço (muito pouco) real. Santo António à Estrela, 33. Tel.: 213959559. Até 6/3. 3ª a 6ª 11h às 20h. Sáb. 12h às 20h. (embora Barro prefira encarar estas remetendo para a especulação sobre Desenho, Fotografia, Instalação, obras como as últimas a serem um espaço que não é aquele que os Outros. descobertas) por duas pequenas nossos sentidos nos transmitem; a Peça de pinturas de Tatjana Doll inscrição “The dice is cast / O dado mmmmn representando duas máquinas está lançado” na parede, de fotográficas vistas em espelho. A sua Lawrence Weiner, uma nítida alusão resistência David Barro, que exerceu localização, de cada lado da porta, ao conceito de Barro; e ainda a recentemente as funções de director indica a inevitabilidade da captura do instalação de Julião Sarmento, um Novas esculturas de Sebas- artístico da Espacio Atlantico, feira espectador no enredo que as imagens painel com os estudos para a série que decorreu em Vigo em meados de lhe tecem. Há uma espécie de sentido “Dirt”, vista há tempos nesta mesma tião Resende. Óscar Faria Janeiro com ampla participação das armadilhado na disposição das peças galeria, que efectua uma alteração The Lying Chair galerias portuguesas, foi aqui nas duas salas da galeria: logo a de escala importante em relação às convidado pela galeria Cristina seguir, uma escultura em forma de peças então apresentadas (esta De Sebastião Resende. Guerra para organizar uma colectiva telescópio (de Rui Toscano) revela, diminuição acaba por lhes retirar a com os artistas do seu acervo. O assim que espreitamos pelo visor, um aura que na altura se outorgavam, Lisboa. Galeria Quadrado Azul. Lg. dos Stephens, 4. Tel.: 213476280. Até 4/03. 3ª a Sáb. das 13h às 20h. resultado é “A roll of the Dice”, uma espaço curvo e brilhante que não se colocando a peça ao nível da colectiva que reúne 11 obras de coaduna com a nossa percepção do produção conceptual do autor Escultura, Fotografia, Desenho. diversas origens, de Lawrence céu. Ainda nesta sala, a excelente durante a década de 70). Este é sem Weiner a Filipa César e Matt Mullican. série de Filipa César, “Raccord”, dúvida alguma um dos trabalhos mmmmn O conjunto é surpreendentemente apresenta imagens a preto e branco mais interessantes da mostra, e que coerente, dadas as restrições iniciais de momentos de repouso durante as se insere no conceito através do jogo Há vários anos, mais precisamente

Agenda Inauguram Instalação, Outros. Jane e Louise Wilson: Tempo Suspenso And/Or Ilustrarte 2009 Lisboa. Centro de Arte Moderna - José de Azeredo De Asier Mendizabal. Perdigão. R. Dr. Nicolau Bettencourt. Tel.: - IV Bienal Lisboa. Culturgest. R. Arco do Cego - 217823474. Até 18/04. 3ª a Dom. das 10h às 18h. Internacional de Ed. da CGD. Tel.: 217905155. Até Vídeo, Escultura, Outros. Ilustração Para 18/04. 2ª, 4ª, 5ª e 6ª das 11h às 19h. a Infância Sáb., Dom. e Feriados das 14h às 20h. Abstração e Figura Humana na De Isabelle Escultura. Colecção Britânica do CAM Vandenabeele, Ilustrarte 2009 Lisboa. Centro de Arte Moderna - José de Azeredo Judith Barry Perdigão. R. Dr. Nicolau Bettencourt. Tel.: Martin Jarrie, Lisboa. Museu Colecção Berardo. Pç. Alessandra Panzeri, 217823474. Até 18/04. 3ª a Dom. das 10h às 18h. do Império - CCB. Tel.: 213612878. Até Outros. Alessandro Lecis, 25/04. Sáb. das 10h às 22h. 2ª a 6ª e entre outros. Dom. das 10h às 19h. Debret Lisboa. Museu da Vídeo, Instalação, Outros. De Vasco Araújo. Electricidade. Av. Brasília - Ed.Central Tejo. Tel.: A Perspectiva Das Coisas. A Lisboa. Museu da Cidade de Lisboa. Campo 210028120. Até 31/03. 3ª a Dom. das 10h às 18h. Grande, 245. Tel.: 217513200. Até 07/03. 3ª a Dom. Inaugura 12/2 às 21h30. Natureza-Morta Na Europa, das 10h às 18h. Ilustração. Séculos XVII-XX (1) Escultura. De Juan Zurbarán, Rembrandt, Jean Robert Longo Siméon Chardin, Luis Meléndez, Sem Saída, Ensaio Sobre o Lisboa. Museu Colecção Berardo. Pç. do Império - CCB. Tel.: 213612878. Até 25/04. Sáb. das 10h às Francisco de Goya, entre outros. Optimismo 22h. 2ª a 6ª e Dom. das 10h às 19h. Inaugura 15/2 às Lisboa. Fundação e Museu Calouste Gulbenkian. Av. De Augusto Alves da Silva. 19h30. de Berna, 45A. Tel.: 217823700. Até 02/05. 3ª a Dom. Porto. Museu de Serralves. R. Dom João de Castro, Desenho, Outros. das 10h às 18h. 210. Tel.: 226156500. Até 16/02. 3ª a 6ª das 10h às Pintura. 17h. Sáb., Dom. e Feriados das 10h às 19h. Fotografia. Continuam BES Photo 2009 De André Cepeda, Filipa César, 300 Mentiras (Primeira Parte) A Privilege of Autovalorization Patrícia Almeida. De Pilar Albarracín. M/12 De Koenraad Dedobbeleer. Lisboa. Museu Colecção Berardo. Pç. do Império - Lisboa. Galeria Filomena Soares. R. da Lisboa. Culturgest. R. Arco do Cego - Ed. da CGD. CCB. Tel.: 213612878. Até 04/04. Sáb. das 10h às 22h. Manutenção, 80. Tel.: 218624122. Até 6/3. 3ª a sáb. Tel.: 217905155. Até 18/04. 2ª, 4ª, 5ª e 6ª das 11h às 2ª a 6ª e Dom. das 10h às 19h. das 10h às 20h. 19h. Sáb., Dom. e Feriados das 14h às 20h. Fotografia. Fotografia.

38 • Sexta-feira 12 Fevereiro 2010 • Ípsilon aMaumMedíocremmRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente

As peças de Sebastião Resende podem ser lidas como declinações de uma realidade em suspenso

desde 2003, que Sebastião Resende As seis esculturas que pontuam as SÓNIA TAVARES, FERNANDO RIBEIRO, (1954, Oliveira de Azeméis) não paredes da galeria são feitas em revelava obras no meio que o cartão, dando-lhes assim uma PAULO PRAÇA E NUNO GONÇALVES distinguiu sobretudo desde o início aparência frugal; contudo, um olhar da década de 1990, depois do seu atento detecta na superfície das obras REVISITAM CANÇÕES DE AMÁLIA regresso do Japão: a escultura. Na uma série de pequenos papéis, uma sua maioria, as obras espécie de “remendos” através dos RODRIGUES NUMA VERSÃO POP. tridimensionais do artista possuíam quais Sebastião Resende consegue uma singularidade que derivava de introduzir uma outra dimensão um dos materiais escolhidos para a visual nas peças: estes elementos sua feitura, uma espécie de resina servem não só para unir os distintos sintética, a que depois se agregava componentes de cada objecto, mas CONCERTO DIA 26 DE MARÇO /// 21H uma série de outros componentes também permitem ao artista dotar as (conchas, areias, sementes, etc). As esculturas de um padrão aleatório e peças caracterizavam-se ainda pelas dinâmico, algo de semelhante às suas formas orgânicas, as quais pinceladas de um pintor. Tudo isto /// ENTRADA LIVRE LIMITADA À LOTAÇÃO DA SALA davam corpo a um magma onde se estava antes escondido; agora, na sua fundiam distintas realidades – súbita aparição, outras problemáticas animal, vegetal e mineral. Nesse assumem uma especial relevância: turbulento encontro podia ler-se o não é possível deixar de detectar nas desejo de apontar para um estado esculturas uma dimensão originário, onde os elementos arquitectónica – a ideia de maqueta naturais, em combustão, ainda não – e há ainda elementos próprios da se tinham separado uns dos outros tradição da colagem, nomeadamente – para o autor, a leitura dos filósofos da que tem origem em Kurt da “physis”, ou seja, da natureza, Schwitters, que fará a passagem deste assume uma particular relevância, tipo de composição para o território destacando-se, por exemplo, da instalação, através dos diferentes Anaxímenes de Mileto, para quem “merzbau” por si construídos. “o sopro e o ar abraçam o mundo “The Lying Chair” completa-se inteiro.” com uma série de desenhos Em “The Lying Chair”, Sebastião inspirados na escultura que dá título Resende propõe um conjunto de à exposição – apresentados sobre fotografias, desenhos e esculturas, mesas, os papéis resultam de sessões que podem ser lidas como contínuas, nas quais é possível declinações de uma realidade em detectar as diferentes intensidades suspenso. As peças tridimensionais, de um gesto que se repete – e ainda na sua aparência de maquetas, por quatro fotografias que remetem anunciam algo por vir; contudo, esse para situações de ateliê, o lugar estado primário é agora o definitivo, onde tudo se inicia, essa outra como se, no congelamento desse origem possível para a arte. Uma gesto de recusa em ir para além do exposição em que o conceito de osso, o artista quisesse sublinhar a potência pode ser a chave para unir forma como a economia e o os diferentes trabalhos. Como afirma mercado, condicionam a produção Giorgio Agamben no seu último de um objecto. O conjunto de livro, (“Nudità”, nottetempo, Roma, trabalhos escultóricos apresentados, 2009): “Aquele que é separado todos de parede, deixaram, daquilo que pode fazer pode, no portanto, de ser cobertos pela entanto, ainda resistir, pode ainda habitual pele e mostram-se na sua não fazer. Aquele que é separado da nudez, sem qualquer artifício. Mas própria impotência perde, ao invés, reconhece-se a gramática do autor: antes de tudo, a capacidade de // MORADA // HORÁRIO formas que evocam veias ou caules, resistir. E como é somente a ardente alfaias, ponteiros, bichos rastejantes, consciência daquilo que não Praça Marquês de Pombal Segunda a Sexta com as suas caudas e bicos, vegetais podemos ser a garantir a verdade nº3, 250-161 Lisboa das 9h às 21h em delírio, astros em queda… – uma daquilo que somos, também é // TELEFONE // EMAIL narrativa onde, através de apenas a lúcida visão daquilo que 21 359 73 58 [email protected] deslocamentos e fusões de distintas não podemos ou podemos não fazer realidades, se procede a uma a dar consistência ao nosso agir” desconstrução visual permanente. (tradução de André Dias).

Ípsilon • Sexta-feira 12 Fevereiro 2010 • 39 O lendário Holger Czukay, a 9 de Abril. Concerto dos igualmente lendários no Lux, em Lisboa, com Can, fi gura essencial primeira parte dos na introdução das portugueses Gala Drop, linguagens electrónicas que se prevê terem por no universo rock, faz a essa altura disponível um sua estreia em Portugal novo EP.

Concerto

Os Groupshow de Jan Jelinek no Maria Matos

PopP companhia do cantor Esau pelo próprio violinista ao compositor Mwamwaya), que deu que falar por tendo em vista a sua inclusão na já causa do álbum “Warm Heart Of referida gravação das Sonatas e Pop erótica Africa”, com convidados como M.I.A. O rock toca adufe Partitas de Bach. ou Ezra Koenig, dos Vampire com os Diabo Na Cruz Uma das características principais Weekend. Mas há muito que Etienne da produção de Pauset reside no Uma das editoras mais Tron e Johan Karlberg andam por aí. diálogo entre a música do passado e singulares da pop Pertencem à cada vez maior família do presente. Habitual colaborador do de tribalistas urbanos (M.I.A., Buraka IRCAM e do Festival de Outono de electrónica, a americana Som Sistema, , Sinden, Switch Paris no âmbito da criação Italians Do It Better, ou Spank Rock), ou seja, gente contemporânea, teve inicialmente apresenta dois dos seus desalinhada, sem prateleira fixa, pós- João Pinheiro (bateria) e João Gil formação como pianista e cravista, projectos. Vítor Belanciano hip-hop ou pós-house, capaz de (teclas) estreou-se no final do ano dando frequentemente concertos misturar o que de melhor e pior passado com “Virou!” e revelou-se que incluem repertório antigo e as Glass Candy + Desire acontece nas capitais dos chamados um dos nomes a ter em conta na suas próprias obras. Acerca das peças “primeiro” e “terceiro” mundo, reinvestida numa pop com sotaque dedicadas a Grimal, Pauset escreveu Porto. Plano B. R. Cândido dos Reis, 30. Hoje, às 22h. Tel.: 222012500. 12€. recebendo a influência de linguagens português a que temos assistido nos que “a morfologia e o poder como o kwaito, o marabi ou o últimos tempos. Hoje, inicia uma metafórico” da música de Bach para Numa altura em que a maioria das kuduro, mescladas com inúmeros digressão que começa no Centro de violino solo o fascinam imenso. “Em editoras revela sinais de perda de estímulos ocidentais. É um pouco Artes e Espectáculos da Figueira da vez de uma transcrição, em vez de identidade, a americana Italians Do It disso que são feitas as suas sessões Foz, e prossegue amanhã no Centro um estudo saturado de reverência e Better constituí uma das excepções, DJ, com baixos vigorosos e Cultural Vila Flor, em Guimarães de mitologia, prefiro fazer ouvir a com uma sonoridade, um conceito movimentos electrónicos com um Pelas canções onde existe funk minha própria visão, parcial e visual e um imaginário objectivo: dançar sem parar. como explicado pelos Rapture e yé- subjectiva, desta música: uma visão imediatamente reconhecíveis. Nos Mas a festa da estrutura O Baile e yé como vivido no Monumental, ano que espero reincarnada, não últimos anos, tem-se destacado com da promotora Kalimodjo tem mais 1960 e qualquer coisa, pela mitológica, talvez simplesmente a edição de uma série de álbuns motivos de interesse, como a capacidade de pedir o suor da dança humana, da obra de Bach”, refere nas (Chromatics, Glass Candy ou Desire) apresentação ao vivo dos ingleses e a rouquidão de refrão bem gritado, notas explicativas. A “Chaconne” compilações e máxi-singles (entre Plaid, ligados há muito à editora antecipamos que tudo aquilo que privilegia uma estética assente na eles, o do português Tiago Miranda Os Radioclit animam o Baile “Virou!” mostra pode tornar-se, em fragmentação e na descontinuidade, com o alemão DJ Kaos), a maior parte de amanhã na LX Factory concerto, matéria mais urgente. onde são exploradas diversas deles operando no campo da pop de Porque estes Diabo Na Cruz, afinal, técnicas de produção sonora entre o envolvimento electrónico, com são pessoal para levar a boa festa do arco e o violino associadas à música tensão erótica, vozes voluptuosas e rock’n’roll a sítios onde o rock’n’roll contemporânea. sintetizadores robóticos. não tinha temperamento para se Nascido em 1973, David Grimal Hoje no Porto vão estar os Glass meter. Mário Lopes começou a estudar violino aos cinco Candy e os Desire. Com dois álbuns anos, completando a sua formação lançados, os primeiros são formados no Conservatório de Paris com Regis por Johnny Jewel, também dos Clássica Pasquier. Mais tarde, aperfeiçoou-se Chromatics, e pela cantora Ida No, e com Isaac Stern, Schlomo Mintz e praticam uma música electrónica Philippe Hirshhorn. Tem actuado expansiva, sobre a qual o multi- Um olhar como solista e músico de câmara nos instrumentista desenvolve o seu mais importantes palcos mundiais e talento, acrescentando-lhe motivos contemporâ- colaborado com orquestras e músicos

Concertos “disco”, ritmos moderados e de grande prestígio, entre os quais fantasias com teclados do neo sobre Boris antigamente lá dentro, enquanto Ida revela o seu timbre sensual etéreo. Warp, com uma série de álbuns o Barroco Desire, por sua vez, é o projecto de editados em que a abstracção Jewel com Beats Natty e a cantora electrónica não prescinde de canadiana Megan Louise. Aqui o sensibilidade pop. O DJ americano O violinista David Grimal a sabor pop é ainda mais vincado, com B.Rich e uma série de representantes solo na Culturgest. Cristina orquestrações e ritmos electrónicos portugueses dos sons electrónicos de Fernandes minimalistas integrando diferentes inspiração urbana são outras figuras temperaturas, do glaciar ao ardente, da noite. V.B. David Grimal canalizando-as para um espaço de Lisboa. Culturgest - Grande Auditório. Rua Arco sensualidade, como é audível no do Cego - Edifício da CGD. Sáb., 13, às 18h. Tel.: álbum de estreia do ano passado, “II”. Virou! 217905155. 10€. Ida No, a voz que a digressão Obras de Bach e Pauset. David Grimal voluptuosa cruza Bach e Pauset Dançar sem parar vai começar David Grimal é o próximo convidado dos Glass Candy em Lisboa da série de recitais a solo que a O Baile vs Kali Records Diabo Na Cruz Culturgest promove nesta temporada. O programa que este Berezovsky, James Galway, Georges Radioclit + Plaid Figueira da Foz. Centro de Artes e Espectáculos. R. Abade Pedro. Hoje, às 21h30. Tel.: 233407200. 10€. reputado violinista francês apresenta Pludemacher ou Alain Planès. Lisboa. LX Factory. Rua Rodrigues amanhã é especialmente aliciande, Faria, 103. Sáb., 13, às 23h. Tel.: Guimarães. Centro Cultural Vila Flor - Café- 213143399. 10€ a 15€. concerto. Avenida D. Afonso Henriques, 701. Sáb., pondo em confronto algumas das 13, às 0h.Tel.: 253424700. 2,5€. mais sublimes criações do Barroco Berezovsky, o No ano passado toda a com a contemporaneidade. virtuoso estonteante gente falou deles Os Diabo na Cruz são rock’n’roll, mas Retomando a ideia base do álbum mesmo que aqueles são rock’n’roll onde cabem histórias que gravou na Naïve, David Grimal Boris Berezovsky que falaram deles de antanho para falar daquilo que se interpreta a Sonata para violino solo Porto. Casa da Música - Sala Suggia. Pç. Mouzinho não o saibam. sente hoje, e são rock’n’roll onde nº1 em Sol menor, BWV 1001, e a de Albuquerque. Hoje, às 21h. Tel.: 220120220. 25€. Falamos da dupla adufes tomam o lugar da pandeireta Partita nº2 em Ré menor, BWV 1004, inglesa Radioclit, em chocalhar e iconografia. de J. S. Bach (1685-1750) em conjunto Ciclo Piano EDP. Obras de também responsável A banda que reúne Jorge Cruz (voz com a “Chaconne” da Schumann, Liszt e Chopin. pelo projecto The e guitarra) a B Fachada (vozes e viola “Kontrapartita”, de Brice Pauset (n. Very Best (na braguesa), Bernardo Barata (baixo), 1965). Esta última obra foi solicitada Boris Berezovsky é um dos pianistas Panda Bear, o nosso Animal Collective residente Lydia Lunch no Aveirense

O argelinoar Amar Sundy no Festival de Blues da Guarda

Joss Stone nos Coliseus do Porto BorisBoris Berezovsky, um favorito do público e de Lisboa portuguêsportu de regresso à Casa da Música

quequ melhor personificam o Considerado o mais importante nacionais; o pianista Bernardo Agenda virtuosismovi estonteante saxofonista nacional, Carlos Martins Sassetti, o guitarrista André correntementec associado ao desdobra-se em inúmeros projectos Fernandes, o contrabaixista Nelson sexta 12 22h. Tel.: 222058351. imaginárioim da escola russa. na área da cultura, dos quais aquele Cascais, e o baterista Alexandre Maria Alice CapazC das maiores que terá maior visibilidade é a Festa Frazão. Com um som de saxofone Panda Bear + Tim Sweeney Leiria. Teatro Miguel Franco (Centro Cultural). Lg. acrobacias técnicas, é do Jazz do Teatro São Luiz, em particularmente bonito e um enorme Lisboa. Lux Frágil. Av. Infante D. Henrique, Santana, às 21h30. Tel.: 244860480. 5€. também detentor de uma energia Lisboa. Com uma longa carreira que talento como improvisador, Carlos Armazém A, às 23h. Tel.: 218820890. 15€. poderosa, de uma extensa paleta marcou a história do jazz portuguêsês e Martins apapresentaresenta um dos Ver texto nas págs. 24 e segs. domingo 14 dinâmica e de uma musicalidade influenciou profundamente as novasvas grandes projectos do jazz Louro & Lima e Edgar Pêra Joss Stone contagiante. Depois de ter vencido a gerações de “jazzmen” no nosso país,país, nnacional.acional. Lisboa. Cinema São Jorge - Sala 2. Av. Liberdade, Porto. Coliseu do Porto. R. Passos Manuel, 137, às edição de 1990 do prestigiado Martins é um músico com uma rarara 175, às 0h. Tel.: 213103400. 10€. 21h. Tel.: 223394947. 26€ a 34€. Concurso Tchaikovsky de Moscovo, capacidade de estusiasmo e entrega,ga, Ciclo “Sexta, Meia Noite e uma Orquestra Nacional do Porto Berezovsky iniciou uma importante contagiando aqueles que com ele Guitarra”. Estórias de uma Lisboa carreira internacional que se tem colaboram. Nascido em Etiópia, noo Fora de Si. Direcção Musical de Gints Glinka. Porto. Casa da Música - Sala Suggia. Pç. Mouzinho intensificado nos últimos anos. Em Alentejo, em 1961, começou por Amar Sundy de Albuquerque, às 12h e às 18h. Tel.: 220120220. 2006, foi designado pela “BBC Music estudar música e clarinete na Bandada 10€. Guarda. Teatro Municipal - Pequeno Auditório. R. Concertos de Carnaval - Obras de Magazine” como “Melhor Filarmónica de Grândola, a partir ddosos Batalha Reis, 12, às 21h30. Tel.: 271205241. 5€. Instrumentista do Ano” e a sua 14 anos, tendo ingressado mais tarderde InBlues - Festival de Blues da Guarda Dvorák, Rimsky-Korsakov, Skulte, 2010. Chabrier e Berlioz. discografia (que inclui obras de nos cursos de saxofone e composiçãoição Beethoven, Chopin/Godowski, do Conservatório Nacional, e Andrew Thorn Papa Haydn Tchaikovsky, Rachmaninov, posteriormente na Escola de Jazz ddoo Portalegre. Centro de Artes do Espectáculo - Café- Com Solistas da Orquestra de Mussorgsky, Balakirev, Medtner, Hot Clube. Tocou e gravou com concerto. Pç. da Republica, 39. 6ª às 23h00. Tel.: Câmara da Europa. 245307498. 3€. Lisboa. Fundação e Museu Calouste Gulbenkian - Shostakovich, entre outros) tem sido inúmeros músicos nacionais e Auditório 2. Avenida de Berna, 45A, às 11h. Tel.: distinguida com alguns dos mais estrangeiros, estando também Júlio Pereira 217823700. 6€. importantes prémios da crítica. O ligado à música erudita e à Águeda. Cine-Teatro São Pedro. Lg. Dr. António Breda. 6ª às 21h30. Tel.: 234622837. 10€. segunda 15 pianista russo é também um composição para cinema e para Um dos nossos melhores Sextas Culturais. intérprete de predilecção do público bailado. Neste concerto, baseado improvisadores português, que o tem podido escutar no disco “Água”, rodeia-se de Classifi cados Joss Stone Lisboa. Coliseu. R. Portas St. Antão, 96, às 21h. Tel.: Porto. Casa da Música - Sala 2. Pç. Mouzinho de regularmente em várias salas e alguns dos melhores improvisadoresres 213240580. 28€ a 32€. Albuquerque, às 23h. Tel.: 220120220. 10€. festivais de Verão desde a sua participação na Festa da Música de Jean-Pierre Como Trio Florian Boesch e Roger Vignoles 2001, dedicada ao repertório russo. Lisboa. Onda Jazz. Arco de Jesus, 7 - ao Campo das Lisboa. CCB - Pequeno Auditório. Pç. do Império, às Cebolas, às 22h30. Tel.: 919184867. 7€. 21h. Tel.: 213612400. 17€. De regresso à Casa da Música, onde Ciclo Schumann. tocou recentemente com a Orquestra Trash Sessions: Electro vs I Love Nacional do Porto, Berezovsky 80s Ver texto na pág. 28. apresenta-se agora a solo, com um Silverio + Tha Bloody Bastards feat. Real Combo Lisbonense Mad.Mac & Nuno Lopes + Bandido$ programa bem à medida do seu Caldas da Rainha. Centro Cultural e Congressos. R. perfil: o ciclo “Davidsbündlertänze”, + Hattemachin* + Gimba + Jorge Doutor Leonel Sotto Mayor, às 22h. Tel.: Canadá + António Vibrações. 262889650. op. 6, de Schumann; quatro Estudos Lisboa. Domus. R. da Cintura do Porto - Cais da Transcendentais, de Liszt; e a Sonata Matinha, às 23h. Tel.: 914476519. Big Up Carnival 2010 nº3, de Chopin. Grandes obras do TC + Chris Renegade+ Cooh + S.P.Y. + Romantismo, criadas por sábado 13 MC AD + Subway + Pat Mac Porto. Teatro Sá da Bandeira. R. Sá da Bandeira, compositores da geração de 1810, que Schostakovich Ensemble 108. 2ª às 23h59. Tel.: 222003595. 12,5€. servirão certamente de veículo à Lisboa. CCB - Pequeno Auditório. Praça do Império. Carnaval Super-Herói: Bailarico exibição da sua vigorosa técnica e do Sáb. às 21h00. Tel.: 213612400. 10€ a 12,5€. seu temperamento impetuoso. C.F. Ciclo Schumann. Sofi sticado Lisboa. Bacalhoeiro. Rua dos Bacalhoeiros, 125 - Ver texto na pág. 28. 2º, às 23h. Tel.: 218864891. Jazz Orquestra Gulbenkian quarta 17 Direcção Musical de Lawrence Foster. Bruno Monteiro e João Paulo Almada. Teatro Municipal - Sala Principal. Av. Profes- Santos “Água”, sor Egas Moniz, às 21h30. Tel.: 212739360. 17€. Lisboa. CCB - Pequeno Auditório. Pç. do Império, às Obras de Haydn e Mozart. 21h. Tel.: 213612400. 12€. ao vivo Ciclo Schumann. Real Filharmonía de Galicia Direcção Musical de Yakov Ver texto na pág. 28. Para a apresentação do seu Kreizberg. Com Deszö Ranki (piano). Coro Gulbenkian e Orquestra de Porto. Casa da Música - Sala Suggia. Pç. Mouzinho último disco, o saxofonista de Albuquerque, às 18h. Tel.: 220120220. 16€. Câmara da Europa Áustria 2010. Obras de Mozart e Direcção Musical de John Nelson. Carlos Martins reúne um Lisboa. Fundação e Museu Calouste Gulbenkian Beethoven. - Grande Auditório. Av. de Berna, 45A, às 19h. Tel.: verdadeiro “all stars” do jazz Rodrigo Leão & Cinema 217823700. 22,5€ a 45€. nacional. Rodrigo Amado Ensemble Obras de Beethoven. Vila Real. Teatro - Grande Auditório. Alam. de Grasse, às 22h. Tel.: 259320000. 15€. quinta 18 Carlos Martins Canções de Brecht Com Carlos Martins (saxofone), Com Luís Madureira (voz), Teresa Groupshow Alexandre Frazão (bateria), André Gafeira (voz), Francisco Sassetti Lisboa. Teatro Municipal Maria Matos - Sala Fernandes (guitarra), Bernardo Principal. Av. Frei Miguel Contreiras, 52, às 22h00. Sassetti (piano), Júlio Resende (piano). Tel.: 218438801. 12€. Porto. Teatro Nacional São João. Pç. Batalha, às (piano), Nelson Cascais 16h. Tel.: 223401910. 7,5€ a 16€. Lydia Lunch & Big Sexy Noise (contrabaixo). Aveiro. Teatro Aveirense - Sala Principal. Pç. Clashclub República, às 22h. Tel.: 234400922. 10€. Lisboa. Culturgest - Grande Auditório. Rua Arco do Roman Flugel + Teenage Bad Girl + Cego - Edifício da CGD. Hoje, às 21h30. Tel.: Silverio + Helder Leite + Stuart Open Gate 5 217905155. 5€ a 15€. Porto. Teatro Sá da Bandeira. R. Sá da Bandeira, Portalegre. Centro de Artes do Espectáculo de 108, às 23h59. Tel.: 222003595. 12,5€ a 15€. Portalegre. Praça da Republica, 39, às 14h30. Tel.: Editado em 2008, “Água” foi 245307498. 28€ (passe). Sean Riley & The Slowriders Portalegre JazzFest - 8.º Festival considerado, por grande parte da Porto. Passos Manuel. R. Passos Manuel, 137, às Internacional de Jazz de Portalegre. crítica nacional, como um dos melhores registos do ano.

Ípsilon • Sexta-feira 12 Fevereiro 2010 • 41 aMaumMedíocremmRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente

Pop vieram reafirmar, com o grupo a Tropa Macaca: os discos anteriores já o repetir fórmulas, há muito demonstravam, “Sensação do Princípio” ensaiadas, a nível musical e confi rma-o: um caso sério de criatividade O novo cénico. Talvez por isso, para quem não CHRISTELLE GUALDI esperava muito do novo álbum do arquipélago grupo sete anos depois de “100th Window” (2003), este acabe por dos Massive constituir uma boa surpresa. Não é uma ruptura em relação ao passado. Attack Está longe de o ser. É mais uma continuação – em particular de “Mezzanine” (1998) – com algumas O grupo a optar por canções novidades, nomeadamente a maior mais envolventes. simplicidade de processos, que tornam as canções mais emocionais Vítor Belanciano e directas. Massive Attack Outro grupo de Bristol indispensável para perceber os Heligoland Virgin, distri. EMI Music Portugal anos 90, os Portishead, conseguiu operar uma pequena revolução mmmnn sónica com o último álbum, “Third” Discos (2008). Os Massive não conseguem Há quatro anos, na ir tão longe, mas também não se ressaca de mais saem mal da operação agora uma actuação dos encetada. Mais uma vez recorreram Massive Attack em a um naipe alargado de convidados local de referência) parece algo no passado, Portugal, (Damon Albarn, Tunde Adebimpe adormecida, mas, amiúde, há sinais preservadas pela escrevíamos que o dos TV On The Radio, Hope de uma maturação de alguns dos memória, salvas de grupo estava a fechar um ciclo: Sandoval dos Mazzy Star, Martina seus agentes. Aconteceu com os um doloroso reinventava-se ou acabava. Não só Topley-Bird, Guy Garvey dos Elbow Loosers e os Gala Drop, que tiveram confronto com a por causa das divergências entre ou o inevitável Horace Andy) que alguma exposição fora de Portugal, realidade. Ver “Alf” as duas cabeças pensantes do consegue incutir à maior parte das acontece agora com os Tropa hoje, com olhos de adulto, pode projecto (3D e Daddy G), também canções uma tensão ambígua que Macaca. Editam pela primeira vez na contribuir para estilhaçar a ideia de pela sensação de desgaste que os resulta em temas de superfície Silbreeze (editora prestigiada que uma infância feliz. Ouvir hoje o concertos de Novembro apenas sensual e de inquietude tem no seu catálogo Times New “Sometimes” dos Erasure provará introspectiva, mais pressentida que Viking e Guided By Voices). que o nosso entusiasmo com dois Massive Attack: real. “Sensação do Princípio”, lançado tipos em camisola de alças a dançar não uma ruptura com o passado; Os ambientes são quase sempre em vinil, é sintomático da proposta à chuva no topo de um prédio era uma continuação obscurecidos, aproximando-se nesse do duo: música baseada na repetição pouco justificável e não foi nunca movimento daquilo que foi feito em de “loops” criados em teclados e prova de um faro melómano “100th Window”. Mas por outro “samples” entrecortada pela apurado e precoce. lado parece ter existido a intenção abordagem fracturada e abstracta à Os Hot Chip, eles de êxitos da de cortar com o lado mais glacial guitarra de André Abel (também dos contemporaneidade como “Over desse disco, com o grupo a optar por Aquaparque). and over”, provocarão nos miúdos canções mais envolventes, para No lado A, “Canos Serrados” faz- de hoje o mesmo efeito que os serem ouvidas no novo arquipélago se da acumulação de camadas: Erasure de ontem. Mas os Hot Chip, de “Heligoland”. Objectivo primeiro um “riff” de guitarra tipos “indie” com gosto pela pista cumprido. eléctrica em “loop”; depois, de dança, conseguem mais. progressivamente, mais “riffs”, Conseguem recordar-nos os falsetes teclados antimelódicos, num do senhor das alças dos Erasure Um caso processo contínuo de procura, sem o teledisco à chuva e, com um construção e desconstrução. O duo disco de 2010, destruir as nossas passa rapidamente de momentos impolutas memórias de mil sério abstractos para outros mais guiados novecentos e oitenta e qualquer pelo ritmo, criados a partir da coisa. Os discos anteriores já o manipulação da massa sonora, sem “One Life Stand” é, anuncia-se, o recurso a batidas. “Semba de disco da maturidade. A prová-lo, a demonstravam, “Sensação Feveireo”, no lado B, começa com presença do convidado Charles do Princípio” confirma-o: um festim rítmico que lembra os Hayward, baterista dos Young são um caso sério de Konono nº 1 de um hipotético Marble Giants e, como tal, garante planeta distante e deriva para de credibilidade, e a reunião de criatividade. explorações à . Os discos escapismo electrónico a Pedro Rios anteriores já o demonstravam, sensibilidade de autor atento às “Sensação do Princípio” confirma-o dores da vida. Isto o que se anuncia. Tropa Macaca definitivamente: os Tropa Macaca A realidade é, porém, uma outra são um caso sério de criatividade. coisa. Uma música aburguesada, Sensação do Princípio Siltbreeze qual papel de parede tão simpático à vista quanto inútil (“Take it in” mmmnn Papel de parede seria futurismo inconsequente em 2001), e um tom, quando acção A cena Hot Chip desce ao “downtempo”, demasiado experimental próximo da lamechice (conferir os One Life Stand portuguesa Parlophone; distri. EMI Music pianinhos e a batida 4x4 de (falamos da facção “Brothers”). filha do rock, que mmnnn Ainda assim, “One Life Stand” em 2005 tinha na não é destituído de encantos. Galeria Zé dos Bois, em Lisboa, o seu Há coisas que devem ficar guardadas Cumpre como música funcional, O jazz de câmara de John Abercrombie

marimba,marim vibrafone e gongos é americano John uma peçap virtuosística de grande Abercrombie A fusão do iimpactompac dedicada a Miquel continua a BernaBernat,t que induz fortes sensações construir uma ddee movimentomo visual. discografia notável, novo século RadicRadicalmentea diferente é “Luna tendo sempre NuevNueva”a (2000), onde se explora como base grandes instrumentistas Manu Codjia, um dos umumaa ideiaid mais urbana da e uma subtil, mas profunda, guitarristas mais activos na ppercussão,ercus com recurso a bidões e criatividade musical. A sua longa Hot Chip: um disco inútil objecobjectost de desperdício. Quanto a associação à germânica ECM – é o cena jazz francesa. no ano da graça de 2010 entretanto aabandonadabandonada pepelolo “Poc“Pocketke Paradise” (2006-2008), 24º disco gravado em nome próprio Rodrigo Amado compositor.compositor Podemos falar de uumm para sseis percussionistas, é uma para a editora – trouxe-lhe projecto ibérico, já que Miquel viagem por diferentes fontes tranquilidade e permitiu-lhe Manu Codjia Bernat, o director musical do sonoras — desde o corpo do desenvolver uma linguagem de jazz Manu Codjia Drumming, é natural de Benisanó próprio intérprete a instrumentos de câmara que amplia os princípios Bee Jazz, dist. Massala como electro-pop de designer (Valência), embora desenvolva de percussão convencionais e não enunciados em obras chave como construído com toda a atenção ao estreita colaboração artística e convencionais — onde se conjuga a “Gateway” ou “Timeless”. Neste mmmmn detalhe e com toda a ausência de pedagógica com Portugal há anos. dimensão cósmica e terrena, a registo, gravado com um conjunto alma que liberte uma faúlha que Por outro lado, a peça que dá nome natureza e a existência humana, o de músicos excepcional, conta com Desta vez em seja. “Thieves in the night” exibe as ao disco (“Pocket Paradise”) resulta misticismo e o conhecimento, a participação de Mark Feldman quinteto, o jovem mecânicas sintetizadas de uns de uma encomenda da Fundação através de múltiplas texturas e (violino) e Joey Baron (bateria), já guitarrista francês Visage ou Human League e dançar- Gulbenkian. timbres em mutação no seio de presentes nos anteriores “Third Manu Codjia edita se-á bem às três da manhã de uma Marcando os primeiros dez anos um fluxo constante de energia. Quartet”, “Class Trip” e aquele que é o seu noite de boémia (esquecer-se-á de de existência do Drumming, “Cat’n’Mouse”, aos quais se junta segundo álbum de forma igualmente fácil na manhã agrupamento nascido em 1999 no Thomas Morgan, jovem originais. Sucessor de “Songlines”, seguinte). “I feel better”, inspirada seio da Escola Profissional de Jazz contrabaixista que substitui Mark registo gravado em trio, este álbum no “mítico” “Dragostea tin dei” dos Música de Espinho e da Escola Johnson. É mais uma obra integra na formação um trompete – heróicos O-Zone, recorda-nos o Superior de Artes do Espectáculo característica de um trabalho de Geoffroy Tamisier – e um trombone – tecno de linha de montagem da do Porto, esta gravação é um O artesão artesão que, sem grandes rasgos de Gueorgui Kornazov (também década de 1990 e tem potencial excelente retrato da solidez e criatividade, se faz de um cuidado responsável por um dos temas do para se tornar prazer culpado com perfeição atingida pelo grupo, John Abercrombie extremo posto nos detalhes, e cujo disco) - aos quais se juntam Codjia, alguma piada. bem como da sua maturidade verdadeiro alcance só será Jerome Regard (contrabaixo) e Nada disto, porém, apaga o facto expressiva. Trata-se também de prossegue um trabalho apreendido dentro de alguns Philippe Garcia (bateria), para criar de “One Life Stand” ser um álbum um trabalho revelador da pujança notável na definição de um (muitos) anos. Destaque para “Line- um álbum que amplia a paleta de sons inútil no ano da graça de 2010. e da liberdade criativa de Jesús novo paradigma do jazz de up”, original de Abercrombie onde e áreas estilísticas cobertas pelo Inútil, principalmente, por tentar Rueda, que nos proporciona em o espaço e o silêncio funcionam músico francês. mostrar-se maior do que é: quer ser cada obra, ou grupo de obras, um câmara. como contraponto poderoso às Habitualmente integrado em um álbum de electro-pop exigente e mundo sonoro distinto, marcado Rodrigo Amado vibrantes contribuições de Feldman formações de músicos como Henri multi-dimensional, quando não por uma forte sensualidade e Morgan. Texier, Daniel Humair (que tocou passa de pano de fundo para vidas sonora. Os “Estudos Expressivos” John Abercrombie Quartet Não sendo este um registo tão bateria no seu primeiro disco) e Erik que não o recordarão. Mário Lopes (2003), para quarteto de steel exuberante quanto os anteriores, a Truffaz, Codjia possui um estilo pessoal Wait Till You See Her drums (tambores de aço ECM, dist. Dargil música do quarteto soa aqui ainda e exuberante que evoca grandes originários de Trinidad e Tobago), mais contida e introspectiva, nomes da guitarra como Bill Frisell, Clássica impressionam pelo lirismo e pelas mmmmn provávelmente devido à pela subtileza atmosférica de algumas suas matizes de cor e dinâmica de participação de Morgan que não linhas bem como uma forte ligação aos grande subtileza, enquanto o Sem espalhafato ou golpes de possui o característico “drive” blues, Allan Holdsworth, pelo drive e Paraíso “Perpetuum mobile” (1998) para marketing, o guitarrista norte- jazzístico de Johnson. Multiplicam- invenção melódica dos seus solos, ou se, no entanto, os sinais de um até John McLaughlin, quando os de bolso grupo que possui uma voz própria e ambientes se aproximam da onde a comunicação musical combustão rock. Para os leitores acontece, frequentemente, nacionais, uma referência óbvia será a

Um fascinante disco do NELSON GARRIDO ao mais alto nível. de André Fernandes. No excelente Drumming dedicado à obra concerto realizado pelo Henri Texier para percussão do espanhol Strada Quintet, no último Angrajazz, Codjia foi um dos músicos que se Jesús Rueda. destacou pela elegância e “timing” das Cristina Fernandes Manu Codjia: um suas intervenintervenções,ções, reverevelandolando uma estilo pessoal ddestrezaestreza instrumentalinstrumental notável.notável. Neste e exuberante Jesús Rueda diddisco,sco, sursurpreendidospreendidos antes de mais na guitarra peppelala consistência das composições Pocket Paradise e pelapela naturalidadenaturalidade ddosos arranjos, Drumming ssosomosmos confrontadosconfrontados ccomom umumaa Miquel Bernat Anemos/Diverdi C 33004 ssonoridadeonoridade envolvente qqueue não ssee deixa nunca acomodar,acomodar, num mmmmn jjogoogo permanente que conconjugajuga ttotodasdas as rereferênciasferências citadas numa Gravado em 2009 ““fusão”fusão” para o século XXI. Destaque no Auditório de pparaara os vibrantesvibrantes sosoloslos rearealizadoslizados por Espinho, com o CCodjiaodjia e Tamisier, este último uumm apoio do iimaginativomaginativo trompettrompetistaista Ministério da com um som Cultura espanhol, ororgânicogânico e o último CD do Drumming é umumaa dedicado à obra para percussão do expressiviexpressividadedade espanhol Jesús Rueda (n. 1961). aassociadassociada Ficou apenas de fora a peça habitualmente às “Estancias” (1988), correspondente Miquel Bernat, o director musical ffranjasranjas mais criativas a uma estética mais especulativa do Drumming ddoo jjazz.azz. aMaumMedíocremmRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente

Eastwood mostra-nos, em lhe pergunta sobre a família. força(s). O fi lme diz-nos que Invictus, Mandela e Pienaar Vemos Pienaar como um homem Mandela salvou-se de trinta Espaço enquanto homens e não heróis medroso, periclitante. São dois anos de sofrimento e solidão Público artifi ciais. Controlam-se e são homens que só atingem actos com um poema oitocentista. É senhores de si, mas também heróicos com luta, persistência muito reconfortante saber isto. enfrentam o medo e a e resiliência. Mas não são heróis Vemos também que Mandela solidão. São líderes todos os dias, caem, o que comove não será um político dos nossos carismáticos, mas e reconforta. Ganham troféus, dias, aprumado, bem vestido, de também fraquejam. mas até quando recebem a taça Moleskine na mão, de teleponto e É comovente a cena continuam nervosos e surpresos com assessores de comunicação. em que Mandela com tudo aquilo. Eastwood fi lma a É uma pena. se quebra quando nossa fragilidade como ninguém. Nelson Bandeira, professor, o guarda-costas Mas não se esquece da(s) nossa(s) 26 anos

Porto: ZON Lusomundo Fórum Aveiro: 5ª Domingo estreiam 3ª 4ª 13h05, 15h50, 18h35, 21h20 6ª Sábado 2ª 13h05, 15h50, 18h35, 21h20, 00h05; O fi lme que Eis um exemplo de autoconfiança de gola arrebitada: “Eu não sou um homem, eu sou Cantona”. É o que queria ser Eric Cantona diz em “Looking for Eric”, mas nessa altura já tínhamos amado percebido que é tudo piscadela de olho. O cinema é um jogo, como o futebol, ele gosta de jogar e veste a Não é um grande filme, camisola que os outros lhe colaram. mas é intrigante: um “Looking for Eric” foi uma ideia da melodrama clássico ao qual produtora que o ex-futebolista tem foi cirurgicamente removida “Precious: é um fi lme tão com os irmãos, a Cantona Bros., convicto do valor da história que desenvolveu a história da a tendência lacrimejante. que conta que não recua perante relação entre um fã do Manchester Jorge Mourinha nada para ser amado United e o seu ídolo. Concretamente: em “Looking for sintomaticamente moderno a herança boas consciências dando-lhes a Eric” Cantona é um anjo da guarda Precious da longa linhagem do “drama social” entender que “todos viveram felizes que se materializa a um fã charrado De Lee Daniels, que sempre fez parte da grande para sempre”. A vida não é um conto e a quem vai servir de “personal com Gabourey Sidibe, Mo’Nique, produção hollywoodiana para logo a de fadas e Precious não é uma trainer” existencial. Esse fã chama- Paula Patton, Mariah Carey. M/12 seguir recusar as suas âncoras mais princesa encantada. se também Eric e perdeu o controle evidentes – sobretudo se tomarmos À sua imagem, também o filme está da vida. Um dia desabafa com o MMMnn em conta que tudo nele grita longe de ser perfeito – há cedências poster do seu ídolo e o grande Eric dramalhão lacrimejante e meloso, pontuais ao mau gosto, uma aparece-lhe. Isto em resumo. Para Lisboa: Castello Lopes - Londres: Sala 1: 5ª Domingo 3ª “problem picture” à moda antiga sofreguidão “topa-a-tudo” que o vê a isso foi necessário um realizador. E 4ª 14h, 16h30, 19h, 21h30 6ª Sábado 2ª 14h, 16h30, sobre os horrores sociais dos guetos espaços espatifar-se ao comprido (a Eric conhece o cinema de Ken 19h, 21h30, 24h; CinemaCity Alegro Alfragide: Sala 7: 5ª

Cinema 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h50, 16h20, 18h30, desfavorecidos. A Precious do título é citação/homenagem às “Duas Loach (em Cannes assumiu-se 21h45, 24h; CinemaCity Campo Pequeno Praça de uma adolescente quase iletrada, Mulheres” de Vittorio de Sica é tão também como um apaixonado de Touros: Sala 8: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª grávida pela segunda vez de um pai canhestra e despropositada que só dá Pasolini, e quando alguém, em 14h05, 16h15, 18h25, 21h35, 23h45; Medeia Saldanha Residence: Sala 7: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª que a violou, vivendo sob o jugo de vontade de rir). Mas a sinceridade é conferência de imprensa, dirigindo- ´13h10, 15h20, 17h30, 19h40, 21h50, 00h20; UCI uma mãe monstruosa que a trata inegável, e é ela dá sentido a essas se a Loach, mencionou o nome de Cinemas - El Corte Inglés: Sala 13: 5ª 6ª Sábado 2ª 3ª quase como escrava. falhas: tal como a sua personagem que Manoel de Oliveira, o sorriso de 4ª 14h30, 17h, 19h30, 21h55, 00h25 Domingo 11h30, 14h30, 17h, 19h30, 21h55, 00h25; ZON Lusomundo A surpresa está na secura do só quer que a deixem viver a sua vida, Eric também se iluminou...). Mas Amoreiras: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h10, melodrama, que Daniels evacua de é um filme tão convicto do valor da porque é que um realizador que, 15h50, 18h40, 21h30, 00h05; ZON Lusomundo todos os rodriguinhos ornamentados história que conta que não recua com uma precisão de relojoaria (e, CascaiShopping: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h20, 16h, 18h30, 21h30, 24h; ZON Lusomundo e comoções manipuladoras – para isso perante nada para ser amado. Goste- para sermos justos, com uma Colombo: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h30, contribui a mera presença física da se ou não, isso dá-lhe uma secura inabalável), tem insistido em 15h50, 18h10, 21h30, 23h50; ZON Lusomundo Oeiras estreante Gabourey Sidibe, verdadeiro personalidade que poucos filmes proletários em crise, se aproxima Parque: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h10, 16h, 18h30, 21h15, 00h05; ZON Lusomundo Almada Fórum: bloco de ébano cuja voz-off nos guia americanos recentes têm tido. do “feel good movie”? Porque quis 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h10, 15h55, 18h35, pelo pesadelo da sua vida sem mudar, responderá Loach. Não se 21h30, 00h05; vitimização nem histrionismo. Nessa O Meu Amigo Eric diz que faz sempre o mesmo filme? recusa do emocional, “Precious” Looking for Eric É preso por ter cão e preso por não Porto: Arrábida 20: Sala 2: 5ª 6ª Sábado Domingo ganha qualquer coisa de brutal e ter... É verdade. Mas... a presença 2ª 3ª 4ª 13h50, 16h20, 18h55, 21h45, 00h20; ZON De Ken Loach, Lusomundo Dolce Vita Porto: 5ª 6ª Sábado entomológico, com um olhar clínico com Steve Evets, Eric Cantona, de Cantona cria uma expectativa no Domingo 2ª 3ª 4ª 14h25, 16h50, 19h15, 21h40, 24h; que nos recordou aqui e ali François Stephanie Bishop. M/12 espectador: estamos sempre à Ao longo de 2009, “Precious” tornou- Ozon, paredes meias com uma espera da aparição seguinte, de ver se num daqueles pequenos mistura de fantasia e grotesco que MMnnn como Loach constrói o “golpe de fenómenos explorados até à exaustão remete para Terry Gilliam. E ganha teatro”. Isso distrai, de tal forma pelos media como exemplo da também a peculiar singularidade de Lisboa: Medeia King: Sala 1: 5ª 6ª 3ª 4ª 14h, que quando a coisa acaba não “vitalidade” do cinema independente: um objecto enxutíssimo, que reduz o 16h30, 19h15, 21h45 Sábado Domingo 2ª 14h, sabemos que filme acabámos de 16h30, 19h15, 21h45, 00h30; UCI Dolce Vita um filmezinho independente género às suas componentes mais Tejo: Sala 6: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª ver: de Loach ou de Capra? E sabota realizado por um cineasta sem grande irredutíveis, numa espécie de 13h45, 16h10, 18h45, 21h25, 24h; ZON Lusomundo aquilo que costuma ser pungente experiência, apoiado numa actriz isolamento laboratorial. Alvaláxia: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª no cinema do realizador: a verdade 13h50, 16h30, 21h20, 23h55; ZON Lusomundo desconhecida, contando uma história É um tom difícil de manter ao longo Almada Fórum: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª das suas personagens e seus da desgraçadinha ambientada no de todo um filme e Daniels perde-o a 12h55, 15h30, 18h, 21h35, 00h20; actores. Vasco Câmara gueto urbano nova-iorquino e meio, quando Precious sai finalmente recusado por todos os grandes de casa e se abre ao mundo e às suas Eric Cantona como estúdios, que ganha o prémio do possibilidades. Essa abertura “personal trainer” existencial público em Sundance, obtém o corresponde também a uma curiosa apadrinhamento da diva do “talk- abertura do próprio filme, que revela show” Oprah Winfrey, torna-se um a sua fé no poder redentor da palavra “pára-raios” sociológico sobre as por oposição à tirania da imagem (é a série ípsilon II representações da comunidade negra, escrita que “salva” Precious da e recebe seis nomeações para os imagem que “aprisiona” a sua mãe, Óscares da Academia em todas as que vive fechada no apartamento a categorias principais (incluindo ver televisão), ou o facto deste Sexta-feira, melhor filme, melhor actriz e melhor universo ser exclusivamente feminino dia 19 de Fevereiro, realizador). e não necessitar sequer do masculino. o DVD “Valmont”, Isto não significa que a segunda Mas coincide também com a rendição de Milos Forman. longa-metragem assinada por Lee a um percurso melodramático muito Daniels, produtor de “Depois do mais convencional e previsível, que, Todas as sextas, Ódio” (Marc Forster, 2001, o filme que felizmente, se inverte nos últimos deu o Oscar a Halle Berry), seja uma vinte minutos, sublinhando como por €1,95. obra-prima. Mas é um objecto “Precious” está menos interessado no 20anos peculiar, que reivindica de modo final feliz da praxe ou em apaziguar as

44 • Sexta-feira 12 Fevereiro 2010 • Ípsilon Jorge Luís M. Mário Vasco As estrelas do público Mourinha Oliveira J. Torres Câmara Anticristo mnnnn mnnnn a mnnnn A Bela e o Paparazzo mmmnn nnnnn a a O Exército do Crime nnnnn mmmnn nnnnn nnnnn Homens que Matam Cabras só com o Olhar mmmnn nnnnn mmmnn mnnnn Invictus mmmnn mmnnn nnnnn mmnnn O Laço Branco mmmmn mmnnn mmmmn mMnnn O Meu Amigo Eric nnnnn nnnnn nnnnn mMnnn Nas Nuvens mmmmn nnnnn mmmnn MMnnn Precious mmmnn nnnnn mmmnn mnnnn Tudo Pode Dar Certo mmmnn mmmnn mmmnn mmnnn

O cinema xunga e os consumidores de “junk food”

o longo de quarenta anos que levo a fazer fi lmes, nunca me passou pela cabeça responder a um crítico. Por duas razões: primeiro, porque fui crítico e frequentemente muito cáustico com fi lmes e cineastas que Crónica Aentendia não merecerem nem o epíteto nem a oportunidade. Depois, porque acho que a legitimidade e competência dos críticos devem ser julgadas pelos leitores e não pelos realizadores que, eventualmente, se sintam injustiçados. António Se hoje decido abrir uma excepção, não é porque entenda que me deva defender -Pedro do que Vasco Câmara aqui escreveu na semana passada (felizmente para mim, Vasconcelos infelizmente para ele, os meus fi lmes têm-se mostrado imunes à sua opinião, o que me desgosta mais por ele do que por mim), mas porque acho que devo defender alguns dos meus colaboradores, que ele insultou com ligeireza, e porque entendi que devia, pelo menos, tentar o exercício de clarifi car algumas coisas. Não conheço VC de lado nenhum: não sei se é alto ou baixo, magro ou gordo, velho ou novo. Mas percebo, pelo que escreveu para justifi car a bola preta que disparou como uma bala ao coração do meu último fi lme, “A Bela e o Paparazzo”, que é alguém movido por razões pessoais e por um estranho e doentio espírito de “révanche”. VC fala freneticamente de mim, dos meus gostos perversos (ousei proclamar que o melhor fi lme português é a “Canção de Lisboa”, a que ele chama “O Pátio das Cantigas”!), das minhas opiniões blasfematórias (afi rmei que Godard traiu toda a gente, por exemplo), e esquece-se de falar do fi lme, pela simples razão que se esqueceu de olhar para ele. Em 1963, Godard decidiu responder nas páginas dos “Cahiers du Cinéma” aos críticos que arrasaram o seu fi lme, “Les Carabiniers”. Devo confessar que essa lembrança acabou por me decidir a tomar a palavra, sobretudo para defender os meus colaboradores: o argumentista, Tiago Santos, o talentoso autor dos diálogos a que ele se refere com desprezo, os fantásticos actores, que acreditaram na história e defenderam o O cinema marginal fi lme com brilhantismo; e também o público, que ele trata de consumidores de “junk food”, só porque tem surge mais facilmente acolhido com agrado esta “comédia romântica”. Segundo a sumária convicção de VC, o fi lme é “oportunista” e nos países onde existe “xunga”, e “os planos têm na memória anúncios para telemóveis e carros”. uma indústria (leia- Sinto-me impotente para o contradizer e, sobretudo, para rebater argumentos quando ele os dispensa. Mas, se: nos EUA), do que de súbito, tudo se iluminou no meu espírito: o ódio de na Europa, onde se VC a tudo o que faço e digo tem uma origem remota mas persistente: eu, que, nos anos 80, defendi Godard contra instalou uma ideia a fúria saloia de Abecassis, a propósito de “Je Vous Salue Marie”, atrevo-me agora a atacá-lo! Mesmo que VC declare pervertida do que é o que não tem uma relação de fi delidade incondicional com o Mestre, há aqui um ressentimento freudiano: ele sente ‘cinema de autor’ e que eu matei o Pai! Ora, do que eu acuso Godard, que se tornou um eremita amargo, sentencioso e moralista, é onde o Estado passou de não ter tomado o poder. Os pintores impressionistas, a substituir-se ao os realizadores neo-realistas, a geração do Vietname americana, todos eles combateram os bonzos do passado mercado e tomaram o poder, como lhes competia. Godard deixou os seus seguidores num impasse, e refugiou-se em Genebra – como fez Chaplin, quando percebeu que, na Suíça, os impostos eram mais leves –, a fazer fi lmes para o umbigo, com apoios ofi ciais. O que eu gostei em Godard foi a profi ssão de fé que ele adoptou quando, em 1966, levou Samuel Fuller a dizer, num momento memorável de “Pierrot, le Fou”, que “um fi lme é como uma batalha (onde há) amor, ódio, acção, violência e morte. Numa palavra: emoção”. Onde é que isso está, hoje (a emoção), no cinema que ele faz e VC defende? Quem traiu o quê? Depois, VC decidiu que eu só gosto dos fi lmes que são grandes sucessos de bilheteira, quando os fi lmes de Clint Eastwood estão longe de ser “blockbusters” e os meus autores preferidos, hoje, são cineastas como Paul-Thomas Anderson ou Jason Reitman, Nanni Moretti ou Kiarostami. O que eu defendo é que o cinema marginal, que ele tanto preza, surge mais facilmente nos países onde existe uma indústria (leia-se: nos EUA), do que na Europa, onde se instalou uma ideia pervertida do que é o “cinema de autor” e onde o Estado passou a substituir-se ao mercado. Sempre aprendi que não se deve gastar cera com ruins defuntos nem perder tempo com críticos ignorantes, mas não resisto a sugerir a VC que deixe de bolsar aleivosias sobre os profi ssionais que me ajudam a fazer os fi lmes, e que tente pôr os neurónios a funcionar: o ódio impede-nos de ver as coisas como elas são. Deixo-o com o conselho que o meu mestre Stendhal deu aos seus leitores: “Tentem não passar o resto das vossas vidas a odiar e a ter medo”.

Ípsilon • Sexta-feira 12 Fevereiro 2010 • 45 Escolhas

“Batman & Robin”, de Joel “Battlefi eld Earth” (2000) de Jerry Jameson, “Epic Schumacher (1997), é o e “The Love Guru” (2008). Movie” de Jason Friedberg pior fi lme de sempre. Foi No segundo classifi cado e Aaron Seltzer, “Heaven’s a escolha dos leitores da John Travolta corará Gate” de Michael Cimino,

Cinema resvista britânica “Empire”.”. quando se revê na pele de “Sex Lives Of The Potato Nesta lista, ao fi lme que, um alien com dreadlocks; Men” de Andy Humphries, devido aos fatos que já o fi lme de Mike Myers “The Happening” do indiano realçavam os mamilos, fá-lo-á ter saudades do M. Night Shyamalan, deu azo uma leitura “gay” mais moderadamente “Highlander II: The do Homem-Morcego e do seueu extravagante Austin Quickening” de Russell inseparável aliado - Chris Powers. A completar o top Mulcahy e “The Room” de O’Donnell -, seguem-se ten: “Raise The Titanic” Tommy Wiseau.

“A Bela e o Paparazzo”

autoreflexiva; personagens bem 12h50, 15h30, 18h30, 21h20, 00h10; ZON 12h50, 18h20, 00h10; ZON Lusomundo Torres delineadas e bem defendidas por Lusomundo MaiaShopping: 5ª Domingo 3ª 4ª Vedras: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h15, 13h20, 17h30, 21h30 6ª Sábado 2ª 13h20, 17h30, 16h15, 18h50, 21h40, 00h05; ZON Lusomundo Vasco actores altamente profissionais, com 21h30, 00h30; ZON Lusomundo Marshopping: 5ª da Gama: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 21h55, George Clooney sempre no tom 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 12h50, 15h40, 00h25; Castello Lopes - C. C. Jumbo: Sala 1: 5ª certo e o regresso de Jeff Bridges, em 18h40, 21h30, 00h20; ZON Lusomundo Domingo 3ª 4ª 21h30 6ª Sábado 2ª 21h30, NorteShopping: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 24h; Castello Lopes - Fórum Barreiro: Sala 4: 5ª grande forma, a construir um 13h, 16h, 19h, 21h50, 00h50; ZON Lusomundo Domingo 3ª 4ª 21h45 6ª Sábado 2ª 21h45, divertidíssimo veterano da Guerra Parque Nascente: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 00h15; Castello Lopes - Rio Sul Shopping: Sala 1: 5ª do Vietname. Mas o mais 4ª 12h45, 19h, 00h30; ZON Lusomundo Glicínias: 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 22h, 00h30; ZON 5ª Domingo 3ª 4ª 15h, 17h55, 21h 6ª Sábado 2ª Lusomundo Almada Fórum: 5ª 6ª Sábado interessante passa pelas inteligentes 15h, 17h55, 21h, 24h; Domingo 2ª 3ª 4ª 21h50, 00h20; ZON Lusomundo soluções de “mise-en-scène”, que Fórum Montijo: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª começam na fabulosa sequência Eastwood em modo 21h20, 23h50; inicial, quase a evocar a loucura dos propagandístico, e não é só Porto: Arrábida 20: Sala 18: 5ª 6ª Sábado irmãos Marx, e se prolongam pela Mandela: o râguebi de 1995 serve de Domingo 2ª 3ª 4ª 14h, 16h20, 18h45, 21h20, capacidade de interrogar a História magnífico cartão de visita para o 00h15; Vivacine - Maia: Sala 3: 5ª 6ª Sábado recente dos EUA, da Guerra Fria ao futebol de 2010 (estamos a falar do Domingo 2ª 3ª 4ª 21h30, 23h40; ZON Lusomundo Existe a crispação de Larry David, conflito no Iraque, ironizando sobre Mundial deste ano, na África do Dolce Vita Porto: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª é certo, mas parece uma colagem 13h20, 19h, 00h25; ZON Lusomundo Ferrara Plaza: a hipótese do heroísmo e reflectindo Sul), e na parte que lhe toca Morgan 5ª Domingo 3ª 4ª 15h30, 17h40, 19h50, 22h 6ª sobre um fundo neutro e imóvel, sobre os limites do cinema, em Freeman lá conseguiu a Sábado 2ª 15h30, 17h40, 19h50, 22h, 00h10; ZON o cinema de Woody Allen Lusomundo GaiaShopping: 5ª Domingo 3ª 4ª tempos de pastiches pós-modernos. nomeaçãozita para o Óscar. Ou um 15h05, 17h30, 19h50, 22h10 6ª Sábado 2ª 15h05, continuam M.J.T. ensaio do panegírico presidencial 17h30, 19h50, 22h10, 00h35; ZON Lusomundo MMMnn – de tão boa tradição no cinema MaiaShopping: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 21h20 6ª americano – mas com um Sábado 21h20, 24h; ZON Lusomundo Marshopping: Invictus 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 21h20, Lisboa: Castello Lopes - Loures Shopping: Sala 3: 5ª Tudo Pode Dar Certo De Clint Eastwood, presidente sul-africano (“et pour 23h50; ZON Lusomundo NorteShopping: 5ª 6ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h30, 16h10, 18h20, cause”?). Haverá outra maneira de Sábado Domingo 3ª 4ª 22h10, 00h45 2ª Whatever Works 21h10, 23h40; CinemaCity Alegro Alfragide: Sala 5: com Morgan Freeman, Matt Damon, filmar Mandela, figura admirável? 00h45; ZON Lusomundo Parque Nascente: 5ª 6ª De Woody Allen, 5ª 6ª 2ª 4ª 13h45, 15h40, 17h40, 19h40, 21h50, Tony Kgoroge. M/12 Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 15h40, 22h; Castello 24h Sábado Domingo 3ª 11h40, 13h45, 15h40, com Larry David, Adam Brooks, Lyle Provavelmente não, e Lopes - 8ª Avenida: Sala 5: 5ª 4ª 15h40, 18h40, 17h40, 19h40, 21h50, 24h; CinemaCity Beloura MMnnn “americanamente” (no sentido da 21h10 6ª 2ª 15h40, 18h40, 21h10, 23h40 Sábado Kanouse, Evan Rachel Wood. M/12 Shopping: Cinemax: 5ª 6ª 2ª 4ª 14h05, 16h10, 13h20, 15h40, 18h40, 21h10, 23h40 Domingo 3ª 18h05, 21h, 21h55, 24h Sábado Domingo 3ª 11h55, penúltima frase) por certo que não. 13h20, 15h40, 18h40, 21h10; ZON Lusomundo MMnnn 14h05, 16h10, 18h05, 21h, 21h55, 24h; CinemaCity Lisboa: Atlântida-Cine: Sala 2: 5ª 6ª Sábado Filme sobre símbolos e bandeiras, Fórum Aveiro: 5ª Domingo 3ª 4ª 13h40, 16h20, Campo Pequeno Praça de Touros: Sala 7: 5ª 6ª Domingo 2ª 3ª 4ª 21h30; Castello Lopes - Cascais sobre uma autoridade moral que 19h, 21h40 6ª Sábado 2ª 13h40, 16h20, 19h, 21h40, Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h55, 15h55, 17h55, Villa: Sala 2: 5ª 4ª 15h30, 18h20, 21h10 6ª 2ª 00h20; ZON Lusomundo Glicínias: 5ª Domingo 3ª Lisboa: Castello Lopes - Cascais Villa: Sala 3: 5ª 4ª 19h50, 21h50, 23h55; Medeia Saldanha 15h30, 18h20, 21h10, 00h05 Sábado 12h45, 15h30, garante a lei e a união e renega a 4ª 21h40 6ª Sábado 2ª 21h40, 00h15; 16h20, 19h10, 21h50 6ª 2ª 16h20, 19h10, 21h50, 23h50 Residence: Sala 5: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 18h20, 21h10, 00h05 Domingo 3ª 12h45, 15h30, anarquia e o caos, “Invictus” corre Sábado 13h30, 16h20, 19h10, 21h50, 23h50 Domingo 4ª 14h, 16h, 21h40, 00h10; UCI Cinemas - El Corte 18h20, 21h10; Castello Lopes - Loures Shopping: Sala território perfeitamente Tudo seria menos grave se fosse a 3ª 13h30, 16h20, 19h10, 21h50; Castello Lopes - Inglés: Sala 4: 5ª 6ª Sábado 2ª 3ª 4ª 14h20, 2: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h15, 15h50, Londres: Sala 2: 5ª Domingo 3ª 4ª 14h15, 16h45, 16h30, 18h50, 21h40, 00h10 Domingo 11h30, 14h20, 18h40, 21h15, 24h; CinemaCity Alegro eastwoodiano (há dois ou três primeira longa de um jovem, 19h15, 21h45 6ª Sábado 2ª 14h15, 16h45, 19h15, 21h45, 16h30, 18h50, 21h40, 00h10; UCI Dolce Vita Alfragide: Sala 9: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª momentos que sugerem o formado na estética televisiva (e/ou 00h15; Medeia Monumental: Sala 1: 5ª 6ª Sábado Tejo: Sala 8: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 4ª 16h10, 18h50, 21h30, 00h10; CinemaCity Beloura “western” como modelo publicitária), daqueles para quem o Domingo 2ª 3ª 4ª 13h45, 15h45, 17h45, 19h45, 21h45, 14h15, 16h30, 18h45, 21h15, 23h45; ZON Lusomundo Shopping: Sala 7: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 24h; UCI Cinemas - El Corte Inglés: Sala 14: 5ª 6ª Alvaláxia: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 4ª 16h20, 18h55, 21h45, 00h20; CinemaCity Campo “conceptual”). Talvez até em cinema começa nos anos 70 ou 80, Sábado 2ª 3ª 4ª 14h, 16h, 18h, 20h, 22h, 24h 13h40, 15h55, 18h10, 21h55, 00h05; ZON Pequeno Praça de Touros: Sala 1: 5ª 6ª Sábado demasia: filme inteligentíssimo, sem memória dos géneros, nem Domingo 11h30, 14h, 16h, 18h, 20h, 22h, 24h; ZON Lusomundo Amoreiras: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª Domingo 2ª 3ª 4ª 13h50, 16h30, 19h05, 21h45, falta-lhe uma febre qualquer. Mas responsabilidades críticas. Só que Lusomundo Alvaláxia: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 3ª 4ª 13h30, 16h10, 18h20, 20h50; ZON Lusomundo 00h15; CinemaCity Classic Alvalade: Sala 3: 5ª 4ª 13h55, 16h40, 19h10, 22h, 00h15; ZON Lusomundo CascaiShopping: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª Domingo 3ª 4ª 13h30, 16h10, 18h50, 21h30 6ª de Clint pode-se dizer o que Moullet António-Pedro Vasconcelos viu Amoreiras: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 14h, 13h40, 16h10, 18h50, 21h40, 23h50; ZON Sábado 2ª 13h30, 16h10, 18h50, 21h30, dizia de Fuller: nele coexistem, à Lubitsch, Hawks e McCarey, escreveu 16h30, 19h, 21h50, 00h15; ZON Lusomundo Lusomundo Colombo: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 00h10; Medeia Monumental: Sala 2: 5ª 6ª Sábado vez, o “temperamento” e a textos belíssimos sobre o cinema CascaiShopping: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 3ª 4ª 13h40, 16h10, 18h45, 21h10, 23h30; ZON Domingo 2ª 3ª 4ª 13h30, 16h20, 18h55, 21h30; UCI 21h05, 23h40; ZON Lusomundo Colombo: 5ª 6ª Lusomundo Oeiras Parque: 5ª 6ª Sábado Cinemas - El Corte Inglés: Sala 12: 5ª 6ª Sábado “razoabilidade”. “Invictus” foi feito clássico americano e assinou obras Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h05, 15h20, 17h50, Domingo 2ª 3ª 4ª 21h40, 24h; ZON Lusomundo Domingo 2ª 3ª 4ª 21h50, 00h25; UCI Cinemas - El só com a segunda. Tanto pior. Mas interessantes como “O Lugar do 21h45, 00h05; ZON Lusomundo Oeiras Parque: 5ª 6ª Vasco da Gama: 5ª 6ª Sábado 2ª 3ª 4ª 12h55, Corte Inglés: Sala 11: 5ª 6ª Sábado 2ª 3ª 4ª que não se confunda a aura de Morto”, uma espécie de “film noir” Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h05, 15h20, 17h30, 15h35, 18h10, 21h10, 23h45 Domingo 12h55, 15h35, 14h05, 16h40, 19h15 Domingo 11h30, 14h05, 16h40, 19h40, 21h50, 23h55; ZON Lusomundo Almada 21h10, 23h45; Castello Lopes - Rio Sul Shopping: Sala 19h15; ZON Lusomundo Alvaláxia: 5ª 6ª Sábado “menoridade” de “Invictus” com em que Preminger se cruzava com a Fórum: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h, 15h15, 5: 5ª 6ª 2ª 4ª 16h10, 18h20, 21h40, 23h45 Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 16h05, 21h30; ZON Lusomundo uma ausência de dignidade. É o que “nouvelle vague”, “Oxalá”, um 17h30, 21h50, 00h30; Domingo 3ª 13h40, 16h10, 18h20, 21h40, Amoreiras: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª mais há nele.L.M.O. pequeno Truffaut que fazia sentido 23h45; ZON Lusomundo Almada Fórum: 5ª 6ª 12h50, 15h40, 18h30, 21h40, 00h20; ZON Porto: Arrábida 20: Sala 13: 5ª 6ª Sábado Domingo Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h, 15h20, 17h40, Lusomundo CascaiShopping: 5ª 6ª Sábado na época, ou mesmo “Aqui del Rei”, 21h40, 00h05; Domingo 2ª 3ª 4ª 15h40, 21h10; ZON Lusomundo 2ª 3ª 4ª 13h50, 15h55, 18h05, 20h15, 22h20, A Bela e o Paparazzo embora já contaminado pela 00h30; Medeia Cidade do Porto: Sala 1: 5ª 6ª Sábado Colombo: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 12h45, televisão, a emular um Visconti 15h35, 18h30, 21h25, 00h20; ZON Lusomundo Dolce De António-Pedro Vasconcelos Domingo 2ª 3ª 4ª 14h, 16h, 18h, 20h, 22h; ZON Porto: Arrábida 20: Sala 11: 5ª 6ª Sábado Vita Miraflores: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 15h30, doméstico. Por isso, este filme irrita Lusomundo Dolce Vita Porto: 5ª 6ª Sábado Domingo Domingo 2ª 3ª 4ª 14h05, 16h25, 19h, 21h30, com Soraia Chaves, Marco D’Almeida, 18h30, 21h30 6ª Sábado 15h30, 18h30, 21h30, 2ª 3ª 4ª 22h, 00h15; ZON Lusomundo 00h10; Medeia Cidade do Porto: Sala 2: 5ª 6ª tanto na sua tentativa para revisitar o 00h30; ZON Lusomundo Odivelas Parque: 5ª 4ª Pedro Laginha, Virgílio Castelo, Nuno NorteShopping: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 14h, 16h, populismo desajustado de “O Pátio 15h30, 18h30, 21h30 6ª 2ª 15h30, 18h30, 21h30, Markl. M/12 13h10, 15h40, 18h10, 21h, 23h50; ZON Lusomundo 21h50; Vivacine - Maia: Sala 4: 5ª 6ª Sábado 00h20 Sábado 12h40, 15h30, 18h30, 21h30, 00h20 das Cantigas”: nada cola com nada; a Parque Nascente: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª Domingo 2ª 3ª 4ª 13h30, 15h50, 18h10, 21h20, Domingo 3ª 12h40, 15h30, 18h30, 21h30; ZON 13h20, 16h10, 19h30, 22h20, 00h45; ZON Lusomundo 23h50; ZON Lusomundo Dolce Vita Porto: 5ª 6ª a comédia romântica passa-lhe ao lado, Lusomundo Oeiras Parque: 5ª 6ª Sábado Glicínias: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h55, Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h30, 15h40, 17h50, como se o telefilme mais primário Domingo 2ª 3ª 4ª 15h30, 21h20; ZON Lusomundo 16h20, 18h45, 21h10, 23h35; 20h, 22h10, 00h35; ZON Lusomundo Vasco da Gama: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª Lisboa: Castello Lopes - Loures Shopping: Sala 7: 5ª triunfasse do cinema; as personagens NorteShopping: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 12h45, 15h45, 18h30, 21h20, 00h05; Castello Lopes - 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h20, 15h30, 18h10, Uma colagem algo tosca, este 14h10, 16h40, 19h20, 21h40.00h10; ZON Lusomundo resumem-se a anedotas ilustradas; os Rio Sul Shopping: Sala 6: 5ª 6ª 2ª 4ª 15h20, 18h10, 21h, 23h30; CinemaCity Alegro Alfragide: Sala 10: 5ª “Whatever works”, e não é seguro Parque Nascente: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª truques substituem a acção 21h, 23h50 Sábado Domingo 3ª 12h40, 15h20, 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 22h, 4ª 13h50, 16h15, 18h40, 21h, 23h40; Castello Lopes que funcione. A crispação de Larry 18h10, 21h, 23h50; ZON Lusomundo Almada Fórum: 00h05; CinemaCity Beloura Shopping: Sala 3: 5ª 6ª dramática; Soraia Chaves tem uma - 8ª Avenida: Sala 4: 5ª 4ª 15h50, 18h20, 21h40 6ª 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 12h40, 15h35, Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 16h35; CinemaCity David é “escrita”, mas nada no 2ª 15h50, 18h20, 21h40, 00h10 Sábado 13h10, presença agradável, mas não faz ideia 18,30, 21h20, 00h15; ZON Lusomundo Fórum Beloura Shopping: Sala 1: 5ª 6ª Sábado Domingo cinema de Woody Allen parece já 15h50, 18h20, 21h40, 00h10 Domingo 3ª 13h10, da sua função no contexto geral. A Montijo: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 12h50, 2ª 3ª 4ª 23h40; CinemaCity Campo Pequeno Praça 15h50, 18h20, 21h40; ZON Lusomundo Fórum disposto a isso, a alterar a sua 15h40, 18h35, 21h25, 00h15; de Touros: Sala 6: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª proclamação da independência do velocidade de cruzeiro. Ou seja: a Aveiro: 5ª Domingo 3ª 4ª 14h4514h45,, 17h1017h10,, 19h3519h35,, 22h, 00h10; Medeia Fonte Nova: Sala 3: 5ª 6ª prédio por Nuno Markl soa a 22h 6ª Sábadodo 2ª 1414h45,h45, 1717h10,h10, 1919h35,h35, 2222h,h, Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 22h; Medeia crispação já não emana desse 00h25; PPorto:orto: Arrábida 20: Sala 12: 5ª 6ª Monumental: Sala 2: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª metáfora de um cinema que se isola cinema, é colada a ele, como um SSábadoábado Domingo 2ª 3ª 44ªª 13h55, 4ª 24h; UCI Cinemas - El Corte Inglés: Sala 1: 5ª 6ª de tudo, autista em última análise, risco sobre um fundo neutro e imóvel Não é umama grande comédia 16h40,16h40, 19h25;19h25; Arrábida 220:0 Sala 20: 5ª Sábado 2ª 3ª 4ª 14h15, 16h50, 22h, 00h20 Domingo vazio e oco, apenas interessado no 6ª Sábado Domingo 2ª 33ª 4ª 22h, 11h30, 14h15, 16h50, 22h, 00h20; UCI Dolce Vita (e Larry David e Evan Rachel Wood política, nana esteira de “Mash”, 0000h45;h45; MedeiaMedeia CiCidadedade ddoo Porto: Sala 3: Tejo: Sala 1: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 14h, fácil consumo de um público até repetem Woody Allen e Mariel mas possuisui motivos de 5ª5ª 6ª Sábado DomiDomingon 2ª 3ª 4ª 16h25, 19h, 21h40, 00h05; ZON Lusomundo “voyeurista” e pouco exigente, o Hemingway de “Manhattan”). V. C. interesse:e: um ddelírioelírio 13h45,13h45, 16h2016h20,, 1818h55,h Alvaláxia: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 21h10, mesmo que se regala com os 21h30; Nun`Álvares:Nun`Á Sala 23h40; ZON Lusomundo Amoreiras: 5ª 6ª Sábado representativo,ntativo, quase 11:: 5ª 6ª SábadoS Domingo 2ª 3ª 4ª 21h10, 23h40; ZON Lusomundo escândalos das revistas cor-de-rosa. DDomingooming 17h, CascaiShopping: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª Homens que Matam Cabras só surreal, queque confunde Qualquer semelhança com a comédia o espectadorador e o 221h30;1h3 ZON 12h55, 18h40, 00h05; ZON Lusomundo Colombo: 5ª romântica de tão grandes com o Olhar “Homens que matam Cabras...”: LLusomundou 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 21h15, 23h45 4ª obriga a aceitaraceitar DDolce Vita 23h45; ZON Lusomundo Dolce Vita Miraflores: 5ª pergaminhos não passa de mera The Men Who Stare at Goats não é “M.A.S.H”, mas o seu De Grant Heslov, regras Porto: 5ª 6ª Domingo 2ª 3ª 4ª 21h 6ª Sábado 21h, 23h40; ZON coincidência ou, pior, de um delírio representativo confunde Sábado Lusomundo Odivelas Parque: 5ª Domingo 3ª 4ª com George Clooney, Ewan McGregor, desconformesormes tremendo equívoco. Mário Jorge o espectador Domingo 21h20 6ª Sábado 2ª 21h20, 24h; ZON Lusomundo Jeff Bridges, Kevin Spacey. M/12 da paródiadia 2ª 3ª 4ª Oeiras Parque: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª Torres

46 • Sexta-feira 12 Fevereiro 2010 • Ípsilon existente.

sŽrie ’psilon II Filmes premiados para os amantes da sŽtima arte. No ano do seu 20¼ anivers‡rio, o Pœblico leva aos seus leitores 20 dos melhores e mais premiados filmes do cinema internacional. Sexta-feira, dia 19 de Fevereiro, o DVD ÒValmontÓ, de Milos Forman. PrŽmios CŽsar 1990 Melhor Guarda-Roupa In’cio da Colec‹o: 15/01/2010 á Fim da Colec‹o: 28/05/2010 á Preo total da colec‹o: Û39 Promo‹o limitada ao stock In’cio da Colec‹o: 15/01/2010 á Fim 28/05/2010