Do Canto À Escrita: Novas Questões Em Torno Da Lírica Galego-Portuguesa – Nos Cem Anos Do Pergaminho Vindel
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ESTUDOS 14 DO CANTO À ESCRITA: Novas questões em torno da Lírica Galego-Portuguesa – Nos cem anos do pergaminho Vindel Graça Videira Lopes, Manuel Pedro Ferreira, eds. DO CANTO À ESCRITA: NOVAS QUESTÕES EM TORNO DA LÍRICA GALEGo-PoRTUGUESA – NOS CEM ANOS DO PERGAMINHO VINDEL IEM – Instituto de Estudos Medievais CESEM – Centro de Estudos de Sociologia e Estética Musical Coleção ESTUDOS 14 DO CANTO À ESCRITA: NOVAS QUESTÕES EM TORNO DA LÍRICA GALEGo-PoRTUGUESA – NOS CEM ANOS DO PERGAMINHO VINDEL Graça Videira Lopes Manuel Pedro Ferreira Editores Lisboa 2016 Comissão Científica: Ana Paiva Morais (Universidade Nova de Lisboa) José António Souto Cabo (Universidade de Santiago de Compostela) O Instituto de Estudos Medievais e o Centro de Estudos de Sociologia e Estética Musical da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas – Universidade Nova de Lisboa (FCSH/NOVA) são financiados pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia. Publicação financiada por Fundos Nacionais através da Fundação para a Ciência e a Tecnologia, no âmbito dos Projectos UID/HIS/00749/2013 e UID/EAT/00693/2013. Título Do canto à escrita: novas questões em torno da Lírica Galego-Portuguesa – Nos cem anos do Pergaminho Vindel Editores Graça Videira Lopes, Manuel Pedro Ferreira Edição IEM – Instituto de Estudos Medievais / CESEM – Centro de Estudos de Sociologia e Estética Musical Referência da CODAX, Martin, Las siete canciones de amor, poema musical del siglo XII: publícase imagem da capa en facsímil, ahora por primera vez, con algunas notas recopiladas por Pedro Vindel. Madrid: Pedro Vindel, 1915. Exemplar pertencente à Biblioteca Nacional de Portugal. Colecção Estudos 14 ISBN 978-989-99567-0-4 (IEM) / 978-989-97732-5-7 (CESEM) Paginação e execução Ricardo Naito / IEM – Instituto de Estudos Medievais, com base no design de Ana Pacheco Depósito legal 406157/16 Impressão Europress – Indústria Gráfica Índice Apresentação ..................................................................................................................... 9 Nuno Júdice Nota dos editores ............................................................................................................11 Graça Videira Lopes, Manuel Pedro Ferreira As cantigas de Martin Codax: fragmentarismo ou obra pechada? ........................13 Xosé Ramón Pena Ler o Pergaminho Vindel: suporte; textos; autor ......................................................19 Manuel Pedro Ferreira Métrica acentual nas cantigas de amigo .....................................................................29 Stephen Parkinson Os Lais de Bretanha e a questão das «bailadas» ........................................................43 Yara Frateschi Vieira De um antigo canto em francês a textos tardios em galego-português. Os lais...... 59 Maria Ana Ramos As cantigas do Pergamiño Sharrer. Motivos fundamentais ....................................93 Leticia Eirin O teimoso ecoar das ondas codaxianas (Da mímese pasadista á apropiación actualizadora do «poeta menor» et alia) ..................................................................109 Carlos Paulo Martínez Pereiro Ondas e altas ondas: revisitando algumas influências marítimas e terrestres na fase inicial da lírica galego-portuguesa ...............................................................133 Graça Videira Lopes A escola poética siciliana.............................................................................................155 Gianfranco Ferraro, Manuele Masini Apresentação A comemoração dos cem anos da descoberta e primeira publicação, em 1915, do Pergaminho Vindel do século XIII contendo sete cantigas de amigo de Martin Codax, seis das quais acompanhadas pela notação musical, reuniu alguns dos mais destacados especialistas da poesia medieval galego-portuguesa num encontro que serviu de ponto de partida aos trabalhos aqui apresentados. A excepcionalidade desse documento, anterior ao mais antigo dos nossos Cancioneiros existente na Biblioteca da Ajuda, reside na característica única de trazer até nós a música que acompanhava as cantigas, raríssima excepção que só recentemente ganhou um novo contributo com a descoberta do pergaminho Sharrer, bem posterior, com algumas cantigas de D. Dinis igualmente musicadas. No entanto, não é apenas essa excepcionalidade de virem musicadas que destaca este pergaminho. As cantigas de Martin Codax, designadamente a quinta, «Quantas sabedes amar amigo». que mereceu a atenção de Roman Jakobson, são algumas das mais notáveis peças deste repertório poético e justifica-se plenamente o estudo aprofundado que lhes é dedicado, de vários pontos de vista. A primeira questão colocada por Xosé Ramón Pena diz respeito à sua unidade temática, não apenas na relação com o «mar de Vigo» e as suas ondas, mas na estorea de amor aí relatada, com aspetos originais relativos ao corpus e na caracterização do «corpo velido», expressão de escasso uso, e que D. Dinis irá consagrar. É um capítulo que aborda de forma original o conjunto das cantigas e também coloca a questão interessante da sobrevivência do pergaminho, talvez devido ao êxito deste conjunto representado e cantado para um público de acordo com uma ordem que respeitava a narrativa subjacente. Manuel Pedro Ferreira regressa à história do achado e percursos do pergaminho até encontrar em 1977 o destino seguro da Pierpont Morgan Library, em Nova Iorque. A partir de uma nova análise direta, apresenta propostas originais, quer quanto ao suporte quer quanto ao «carácter cíclico» das cantigas, para além de considerações inovadoras sobre as questões da autoria e toponímia. Stephen Parkinson trata, já em termos mais genéricos, a questão da métrica e acentuação das cantigas ligadas ao aspecto performativo da música que pode sugerir um uso menos rígido da sílaba tradicional. 10 DO CANTO À ESCRITA: NOVAS QUESTÕES EM TORNO DA LÍRICA GALEGO-PORTUGUESA Já Yara Frateschi Vieira trabalha um outro conjunto de composições, os chamados «Lais de Bretanha», que se podem associar a este conjunto de Codax pela «questão das bailadas» e também por esse fundo narrativo, aqui ligado à matéria de Bretanha, abrindo um espaço comparatista no tratamento do Cancioneiro que não pode ser visto apenas no plano ibérico, sendo esta análise continuada por Maria Ana Ramos que, tomando como objecto também os lais, se interroga sobre a sua presença e disposição nas cópias existentes, pressupondo um conjunto mais vasto de que os que subsistem seriam uma escolha antológica. Maria Ana Ramos alarga também à modernidade o tratamento do tema, que encontra em Apollinaire e Aragon dois continuadores, quer no plano temático (o primeiro) quer formal (o segundo). Finalmente aborda a questão do género das bailias, ou «dansas» já numa fase tardia, nas suas ocorrências provençais. Leticia Eirín García dedica o seu estudo ao pergaminho Sharrer, que será um fragmento do perdido «Livro das trovas de D. Denis» mencionado no inventário da biblioteca de D. Duarte, tratando a sua tópica elaborada e singular, que reflete a extensa cultura de D. Dinis. Carlos Paulo Martínez Pereiro alarga à atualidade o tratamento da temática marítima das cantigas de Codax, fazendo incidir o seu trabalho comparativo na lírica de Manuel Bandeira e em exemplos pontuais da poesia de Eduardo Lima Machado, Henrique Marques Samyn e Luz Pozo Garza, que trazem para a modernidade a temática de Codax. Graça Videira Lopes regressa ao topos marítimo e ao tema da viagem e da ausência que ele sugere na fase inicial das nossas cantigas, discutindo a sua relação com o contexto provençal, em particular no que toca a Raimbaut de Vaqueiras, e as circunstâncias históricas que terão permitido esse conhecimento logo na fase inicial da lírica galego-portuguesa, através da participação de figuras destacadas da nobreza nas expedições guerreiras dessa época ou nas cruzadas. Por fim, a menos conhecida «escola siciliana» de trovadores é-nos apresentada por Gianfranco Ferraro e Manuele Masini, num estudo que comporta ainda uma breve antologia bilingue de algumas das mais relevantes composições dos seus principais autores. São muitas e diversas, em conclusão, as perspetivas que se abrem nesta obra. Mas o que é surpreendente é ver como um conjunto tão pequeno de cantigas pode sugerir tão amplas leituras e obrigar-nos a reflectir novos rumos de interpretação e também a comprovar que nada está fechado quando abrimos o nosso Cancioneiro galego-português. Nuno Júdice Nota dos editores A poesia lírica galego-portuguesa, nascida e cultivada em berço melódico, foi redescoberta em tempos modernos através de cópias renascentistas de um extenso cancioneiro medieval, aos quais se veio adicionar o antigo Cancioneiro da Ajuda, deixado incompleto. Os poemas surgiam-nos assim órfãos de música, embora a sua designação – cantares, cantigas – denunciasse, desde logo, tratar-se de letras de canção. A situação mudou em 1914/1915 com o anúncio da descoberta de um pergaminho contendo notação musical para seis cantigas d’amigo, e sua publicação pelo livreiro Pedro Vindel. Um século depois, essas cantigas, atribuídas a Martin Codax, fazem parte do repertório de grande parte dos grupos que, por todo o mundo, se dedicam à música medieval, colhendo o aplauso de audiências cada vez mais vastas, e a sua interpretação continua a suscitar viva discussão académica1. Impunha-se pois comemorar o centenário do achamento do Pergaminho Vindel com um colóquio internacional, realizado em Lisboa a 16 de Outubro de 2014, com a presença de reputados especialistas; evento cujas comunicações serviram de base ao presente livro. Nesse encontro