Hecateu De Mileto E a Formação Do Pensamento Histórico Grego
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KATSUZO KOIKE HECATEU DE MILETO E A FORMAÇÃO DO PENSAMENTO HISTÓRICO GREGO Tese de doutoramento em Estudos Clássicos, na área de especialização Mundo Antigo, orientada pela Doutora Maria do Céu Grácio Zambujo Fialho e coorientada pela Doutora Carmen Isabel Leal Soares, apresentada ao Departamento de Línguas, Literatura e Culturas da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Universidade de Coimbra Faculdade de Letras 2013 II Genealogies. This historical work was prefaced by a motto which, in its intellectual pride and the cold clarity of its reason, sounds in our ears today like the blare of trumpets at dawn. Theodor Gomperz1 1 T. Gomperz. Greek thinkers: a history of ancient philosophy.Transl. Laurie Magnus. London: J. Murray, 1964, pp.254-255. III Aos meus pais, Johei Koike (in memoriam) & Marieta Koike, por terem despertado em mim o amor pelos livros e pelo conhecimento. IV AGRADECIMENTOS A vivência acadêmica na Universidade de Coimbra agrega uma bagagem de conhecimentos e de enriquecimento pessoal difícil de medir. No final do período do doutoramento e com o retorno ao Brasil a aproximar-se, resta lembrar os bons momentos experimentados nesta tão antiga cidade e nesta tradicional universidade. Da mesma forma, cabe reconhecer a participação das pessoas que, de alguma forma, contribuiram para nos sentirmos em “casa”, e para tornar esta pesquisa possível. Assim, agradeço, em primeiro lugar e com todo sentimento, à minha esposa Maria Lygia, que não só teve a disposição de me acompanhar neste empreendimento, como também abraçou a vida acadêmica da Universidade. Agradecimento especial às doutoras Maria do Céu Fialho e Carmen Leal Soares, pelo empenho, disponibilidade e competência com que acompanharam o desenvolvimento dos meus estudos. Meu reconhecimento estende-se a todos os professores do Instituto de Estudos Clássicos, com os quais compartilhei um rica convivência, sempre em ambiente afável. Aos funcionários da Faculdade de Letras, meus sinceros agradecimentos pelo tratamento amigável e pela generosidade com que sempre me acolheram, em especial, Dona Custódia, pela presteza e pelos cuidados comigo e Maria Lygia. A todos os alunos, colegas de disciplinas, de Portugal e do Brasil, que tornaram essa estadia no Exterior tão agradável. Agradeço, ainda, à CAPES, pela oportunidade e apoio, pelo financiamento do doutoramento. Não posso esquecer a participação do meu Tutor de curso, no Brasil, o Professor Doutor Alexandre Cerqueira Lima, da Universidade Federal Fluminense. Agradecimentos que faço extensivos à Doutora Neyde Theml, que motivou e aprofundou o meu gosto acadêmico pelo mundo antigo. Importante lembrar também os professores Livio Rossetti, da Universidade de Perugia, na Itália, a quem sou grato pelo diálogo estabelecido sobre várias temáticas de estudo, e o professor Gabriele Cornelli, da Universidade de Brasília, pela amizade e motivação de sempre. Reconheço mais do que uma gratidão, aos meus pais, irmãos e familiares, o apoio incondicional que me deram em todas as fases de minha formação. Por fim, deixo registrada o sincero reconhecimento dos que, de longe, estiveram sempre perto: minhas tias e amigas Socorro e Jupira, pelo carinho de sempre. V VI NOTAS PRÉVIAS A realização deste trabalho exigiu transpor dificuldades próprias das pesquisas acadêmicas, em várias frentes, considerando-se sobretudo as peculiaridades da investigação acerca da Antiguidade. Uma delas foi lidar com nomes de povos, cidades e personagens não correntes em língua portuguesa. No caso, parte da solução encontrada foi adotar a nomenclatura antiga presente na obra de Maria Helena e João Maria Urenã Prieto, e Abel do Nascimento Pena, Índices de Nomes Próprios Gregos e Latinos (Lisboa, 1995). Os termos não existentes nessa obra foram transliterados à grafia portuguesa segundo os vários critérios em que as palavras gregas são vertidas ao português. Em uma época de indefinição e de tentativa de unificação do vernáculo, mediante Acordo Ortográfico entre os países de língua portuguesa, ainda em transição, fez-se opção pela grafia em voga no Brasil. As abreviaturas utilizadas no trabalho, referentes principalmente a revistas internacionais, podem ser encontradas na lista do Journal Abbreviations do L'Année Philologique. Quanto ao nome de autores e obras antigas, as abreviaturas seguem as do Greek-English Lexicon (LSJ), de Henry George Liddell and Robert Scott, edição de 1940. As notas de pé de páginas são corridas, ou seja, não foram divididas por capítulo. As citações literais das fontes secundárias, quando em nota, estão apresentadas na lingua original das obras consultadas. Em relação aos textos antigos, foi realizada uma versão livre dos fragmentos de Hecateu presentes no Brill´s New Jacoby (2006), que como é sabido, agregou novas passagens em relação à edição original do referido autor (1923). A versão em português transcorreu durante o ano de 2012, contando com o generoso apoio das Doutoras Maria do Céu Fialho e Carmen Leal Soares, respectivamente, Orientadora e Co-orientadora desta tese. As citações literais de fontes primárias presentes no texto da tese assentam-se VII em traduções estabelecidas e reconhecidas em português. Edições em outras línguas modernas foram, com frequência, utilizadas no caso de discurso indireto referente a fontes primárias. Finalmente, a pesquisa sobre Hecateu aqui apresentada tornou-se possível, em grande parte, graças à consulta constante ao trabalho realizado pela professora canadense da Universidade de Alberta, a Doutora Frances Pownall, que traduziu e comentou os fragmentos hecataicos da coleção de Jacoby, re-editados pelo projeto Brill´s New Jacoby. Nessa obra, a autora revisita e disponibiliza, em inglês, não apenas testemunhos e fragmentos, mas também levanta questões que a obra do Milésio suscita aos pesquisadores. VIII RESUMO Hecateu de Mileto é um autor pouco lembrado nos estudos de historiografia grega, e sobre sua figura muita “poeira” foi depositada. A presente pesquisa pretende mostrar, dentre outros propósitos, que a importância desse autor clássico para a formação da historiografia é bem maior do que muitos têm acreditado. Ele representa muito bem a produção intelectual da aristocracia grega arcaica, e sua figura e obras merecem ser reavaliadas sob um novo prisma, para que sejam alargadas e atualizadas as reflexões sobre o pensamento histórico grego. A razão histórica que ele cultivou, expressa em sua principal sentença, o fragmento 1, tornou-se um modelo para o tratamento apurado acerca do passado, na cultura grega. A revisão crítica das narrativas míticas presentes na tradição épica, especialmente a de Homero e Hesíodo, constituem o primeiro passo para a construção do pensamento histórico. Do mesmo modo, o surgimento da história grega não seria possível sem dois elementos que a cultura jônica produziu: o desenvolvimento do letramento, com a produção de obras em prosa, e a exploração de mundo que homens como Hecateu realizaram. Como representante da tradição logográfica, o Milésio fará uso da escrita para expor e difundir a sua consciência histórica. As suas duas obras, a Periegesis e as Genealogiai, das quais pouca coisa restou, supriram o conhecimento do espaço e do passado no mundo grego, como se fosse uma verdadeira enciclopédia. No século V a.C., elas serviram de fonte para Helânico de Lesbos e Heródoto, e mais tarde, ao chegarem às bibliotecas do período helenístico, tornaram-se, de fato, monumentos da prosa jônica arcaica. O que se propõe nesta pesquisa é analisar os fragmentos atribuídos a Hecateu dentro de um plano mais amplo do que tem sido seguido nas pesquisas modernas, de comumente considerá-los antigos exemplos de geografia ou mitografia. Sua vasta obra IX não se limitou à investigação do espaço e dos mitos, mas abrangeu um espectro de conhecimentos plenamente condizente com as características da histórie jônica. A análise dos fragmentos, no estado em que nos chegaram, ainda são suficientes para sugerir tendências ou indícios do que a tradição preservou. Isso permite de forma limitada formar um esboço do que foi a obra original de Hecateu, e qual sua influência nos autores posteriores. Enquanto na moderna na historiografia Hecateu é tido por mero precursor de Heródoto, a tradição grega antiga o considerou um pensador digno de menção. Pelo que podemos retirar dos indícios presentes nos fragmentos e testemunhos disponíveis, acreditamos que Hecateu foi um autor que merece figurar entre os principais formadores do pensamento historiográfico grego. X ABSTRACT Hecataeus of Miletus is not an author mostly remembered in Greek historical studies, and over his image there was deposited a lot of "dust". This research intends to show, among its purposes, the importance of this classic author for the construction of the historical knowledge, that he is much greater than the scholars have accredited. He faithfully represents the intellectual production of archaic Greek aristocracy, and both his image and his works deserve to be reassessed in a new light, and thus, the studies of Greek historical thought will be expanded and updated. The historical reason cultivated and expressed in his principal judgment, the famous fragment 1, became a model for proper treatment about the past, in Greek culture. The critical judgment of mythical narratives of the epic tradition, especially those of Homer and Hesiod, is the first stage in the development of historical thinking. Likewise, the emergence of Greek history would not be possible without two aspects produced in the Ionian culture: the development of