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ID: 46996933 05-04-2013 Âmbito: Informação Geral Corte: 1 de 9 DEMISSÃO DE RELVAS

Lusófona quis salvar Relvas mas não convenceu Crato

Cinco anos após Relvas ter obtido a sua licenciatura, a Lusófona voltou a aprová- lo, refere o relatório da Inspecção-Geral da Educação e Ciência. Não convenceu que enviou o caso para o Ministério Público com vista à declaração de nulidade do grau académico do agora ex-ministro

tanto nos Estatutos da ULHT, como guel Relvas “encontra-se inquinado Ontem, numa entrevista à SIC Notí- Andreia Sanches, Clara no Regulamento de Avaliação de Co- de violação de lei, por não terem sido cias, Nuno Crato garantiu que nunca Viana e Sofia Rodrigues nhecimentos daquela universidade, observadas as disposições legais apli- falou com Relvas sobre o processo frisa-se no relatório da IGEC. Na ver- cáveis, na matéria, à data da prática da licenciatura mas que manteve o uando no ano lectivo de dade, acrescenta-se, este tipo de pro- dos factos”. Sendo assim, defende, primeiro-ministro informado “dos 2006/2007 era aluno da va surgia associado à “avaliação fi nal este acto é “gerador de nulidade, por contornos gerais do processo”. Há Universidade Lusófona de por exame” no Regulamento Peda- falta de elementos substanciais à sua “alguns dias” disse a Passos Coelho Humanidades e Tecnologias gógico do curso de Ciência Política, prática”. A ULHT alegou que o acto que enviaria o caso para o tribunal. (ULHT), em Lisboa, Miguel que fora aprovado apenas por Santos de avaliação de Relvas agora con- Relvas requereu admissão à licen- QRelvas não fez exame es- Neves, na sua qualidade de reitor, e testado é “constitutivo de direitos”, ciatura de Ciência Política e Relações crito à cadeira de Introdução ao por isso padecia de invalidade. pelo que, mesmo que fosse inválido, Internacionais em Setembro de Pensamento Contemporâneo, que Esta foi a única “irregularidade não poderia agora ser revogado” pe- 2006. Foi a Fernando dos Santos Ne- concluiu, ainda assim, com 18 valo- formal” admitida pela ULHT no ca- la universidade. A IGEC contrapõe, ves, então reitor da Lusófona, que se res. E é por essa razão que o ministro so de , já que aquele lembrando que nos termos do Có- dirigiu para pedir uma eventual atri- da Educação Nuno Crato requer ago- regulamento não foi elaborado pelo digo do Processo Adminsitrativo os buição de equivalências com base na ra que o tribunal analise a anulação Conselho Pedagógico do Curso de actos nulos “não produzem efeitos sua experiência profi ssional. Santos da licenciatura de Relvas. A decisão Ciência Política, a quem competia nem são constitutivos de direitos” Neves foi também um dos dois pro- ofi cial de Crato foi conhecida ontem, a esta atribuição. Para ultrapassar pelo que a Relvas continuam a faltar fessores que analisaram o currículo em comunicado, cerca de duas horas esta inconveniência, a ULHT optou cinco créditos, os correspondentes à do candidato e que acharam que ele e meia depois do ministro-Adjunto e por tentar resolver o caso retroacti- cadeira em causa, para obter o grau valia 160 dos 180 créditos necessários dos Assuntos Parlamentares ter apre- vamente: em Dezembro de 2012, cin- de licenciado. para obter o grau de licenciado. E foi, sentado ao país a demissão. co anos depois de Relvas ter obtido Um dia depois de uma moção de igualmente, o homem que assinou No relatório que a Inspecção-Geral o seu grau académico, o Conselho censura ao Governo, e em vésperas o despacho a defi nir as disciplinas a de Educação e Ciência (IGEC) fez so- Pedagógico da Faculdade de Ciência de uma decisão do Tribunal Constitu- que Relvas deveria ter equivalência. bre o modo como Relvas obteve a Política, Lusofonia e Relações Inter- cional sobre o Orçamento do Estado, Por fi m, leccionou uma das quatro sua licenciatura, a que o PÚBLICO nacionais, em que está integrado o o braço-direito do primeiro-ministro cadeiras semestrais que Relvas teve teve acesso, descreve-se o que o ex- curso de Relvas, ratifi cou o regula- sai de cena — até à hora de fecho des- que fazer: Introdução ao Pensamen- ministro fez para obter 18 valores na mento aprovado por Santos Neves ta edição não era conhecido o seu to Contemporâneo, precisamente. A cadeira de Introdução ao Pensamen- em 2006. substituto. cadeira onde o aluno melhor se saiu: to Contemporâneo: uma “discussão Na mesma reunião de Dezembro 18 valores. E que agora está no centro oral de sete artigos de jornal” da sua de 2012, o Conselho Pedagógico Passos foi informado da decisão de Crato. autoria “publicados em diferentes confi rmou e ratifi cou a avaliação de O despacho de Nuno Crato diz que o Apesar de o anúncio da demissão órgãos de comunicação social, entre Relvas na cadeira de Introdução ao relatório da IGEC relativo ao proces- do ministro-Adjunto ter surpreen- 2003 e 2006”. Pensamento Contemporâneo. Ava- so de licenciatura de Miguel Relvas dido até o CDS, Miguel Relvas deu E esclarece-se que isto foi feito “em liação que foi também confi rmada, será enviado ao Ministério Público, nota de que já tinha combinado a sua fase de exame, sem que [o aluno] ti- no mesmo dia, pelo Conselho Peda- para que posteriormente o Tribunal saída “há semanas” com o primeiro- vesse realizado prova escrita”. Facto gógico da universidade. A 7 de De- Administrativo do Círculo de Lisboa ministro. “Saio por vontade própria. que, acrescenta-se, foi confi rmado à zembro, era emitido um despacho “possa extrair os devidos efeitos le- É uma decisão tomada há várias se- IGEC em Setembro passado pelo ex- do reitor dando conta que, com estas gais” das irregularidades detectadas. manas conjuntamente com o senhor reitor da ULHT, Fernando dos Santos decisões, se procedera à sanação de- E abre a porta a que mais diplomas, primeiro-ministro. Saio apenas e só Neves, que foi também o responsável fi nitiva das irregularidades detecta- de outros alunos da Lusófona, pos- por entender que já não tenho con- pela nota obtida por Relvas na ca- das pela IGEC. sam ser anulados. É que a IGEC de- dições anímicas para continuar”, deira de Introdução ao Pensamento Os procedimentos adoptados pela tectou mais “defi ciências e aparentes afi rmou o ministro numa declara- Contemporâneo. ULHT não convenceram a IGEC: con- incoerências”. Entre Jneiro e Feve- ção aos jornalistas, na Presidência Esta forma de “exame” contraria o trariamente ao exposto pela ULHT, reiro foram analisados “398 casos do Conselho de Ministros. que se encontrava então estipulado afi rma que o acto avaliativo de Mi- individuais”. Com o pin da bandeira de Portugal Tiragem: 44021 Pág: 3

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ID: 46996933 05-04-2013 Âmbito: Informação Geral Corte: 2 de 9

DANIEL ROCHA Miguel Relvas disse que sai do Governo mas continua a acreditar no projecto político de Passos Coelho

na lapela – a imagem de marca do ac- tual Governo – o ainda ministro leu a declaração devagar e emocionou-se Governo admite crise se TC algumas vezes. Não disse claramente qual a razão da sua saída do Governo, inviabilizar 600 milhões afi rmando apenas que irá iniciar uma “nova etapa” na sua vida — “Inicio agora uma etapa na minha vida, fo- ra da actividade governativa”. Para ceita que cabe dentro desse limite, acrescentar de seguida: “Mas conti- Leonete Botelho pois está calculada no próprio OE em nuo a participar e, mais do que tudo, e Sofia Rodrigues 420 milhões de euros. A devolução a acreditar na validade e no acerto do subsídio de férias aos funcionários político do projecto político pelo dr. não substituição, ontem públicos aumentaria a despesa em ”. mesmo, de Miguel Relvas 800 milhões e a reposição de 90% enquanto ministro ad- do 13.º mês aos pensionistas cerca Sem perguntas junto e dos Assuntos Par- de 700 milhões. “Este é o tempo de decisões pesso- lamentares está a ser vista O problema colocado por um ais importantes, tanto na minha vida Anos meios políticos, inclu- eventual chumbo a algumas medi- como na vida da minha família, creio sive no próprio PSD, como mais um das terá de ser apresentado à troika, ser o momento certo para fazer uma sinal de que o Governo mantém em uma vez que poderá pôr em causa interrupção e para iniciar uma nova aberto o cenário de demissão caso a o cumprimento do limite do défi ce, etapa”, afi rmou numa declaração em decisão do Tribunal Constitucional ainda que este tenha já sido estica- que não respondeu a perguntas. sobre o Orçamento do Estado ultra- do de 4,5% para 5,5%. O problema Sem desvendar que outra fase irá passar determinados limites. Se as é que o aumento de 1% do PIB não é viver, Relvas mostrou disponibilida- medidas chumbadas atingirem até sufi ciente para acomodar, ao mesmo de para “agora em funções diferen- 600 milhões de euros, o executivo tempo, as derrapagens da execução tes continuar a lutar por um futuro conseguirá acomodar esse montante. orçamental e o chumbo de medidas melhor para Portugal”. Mas, se implicar um buraco fi nancei- de peso, como o corte do subsídio de Relvas foi o homem forte de Pe- ro maior, a solução é uma incógnita. E férias aos funcionários públicos. E no dro Passos Coelho quando este avan- recoloca em cima da mesa o cenário PSD já há a convicção de que não é çou para a liderança do partido em de uma crise política. Sobretudo se as possível aumentar mais os impostos 2008 (e perdeu) e mais tarde em medidas chumbadas forem as suscita- ou cortar nos salários para fazer face 2010 quando se tornou presidente das pelo Presidente da República. Na a (mais) um buraco orçamental. do PSD. Isso mesmo não deixou de maioria PSD/CDS, defende-se mesmo ser lembrado. Recordou que a somar que Cavaco Silva convoque, nesse Volta o cenário aos dois anos em que foi ministro, há caso, um Conselho de Estado. da demissão do Governo, outros três em que “lutou” no PSD A decisão do Tribunal Constitu- também pela “pela afi rmação de um novo líder cional sobre os quatro pedidos de não substituição que encabeçasse um projecto de fi scalização sucessiva da constitu- imediata de mudança para Portugal”. cionalidade de várias normas do Relvas Sem nunca se referir à licenciatu- Orçamento do Estado estará, ao que ra, Relvas deu nota de algumas re- tudo indica, tomada e terá mesmo já O cenário de admissibilidade, pelo formas ou programas que tutelou. sido dado conhecimento do seu teor Governo, de abrir uma crise política Mas nunca respondeu aos críticos e ao Presidente da República ontem à caso a decisão do TC fosse muito des- aos que há muito reclamavam a sua tarde. A sua divulgação, no entanto, favorável já tinha sido anunciada na saída do Governo: “Sei que só a his- estará prevista apenas para o fi m da semana passada pelo PÚBLICO, An- tória julgará, com a objectividade e a tarde de hoje, por uma questão de tena 1, , Sol e vários outros distância temporal indispensáveis, a gestão de danos: esperar pelo fecho órgãos de comunicação social e só acção que cada um de nós enquanto das bolsas para minimizar o impac- vários dias depois foi desmentida pe- agente político”. to do anúncio nos mercados. Já no lo vice-presidente do PSD, Jorge Mo- Nem respondeu mesmo ao CDS, ano passado a divulgação do acórdão reira da Silva. Mas ontem continuava que há pouco mais de uma semana aconteceu ao início da noite de 5 de a ser admitida na maioria, agora liga- pediu uma remodelação no Governo Julho, uma quinta-feira. da à falta de substituição de Miguel e apontou baterias a dois ministros: A linha vermelha de 600 milhões Relvas e reforçada por dois factores. o que tinha a coordenação política de euros para o aumento do défi ce Por um lado, o próprio Miguel Relvas (Relvas) e ao da Economia. Ontem, em consequência de um eventual afi rmou, na declaração à imprensa, na reacção, à demissão os centristas “chumbo” do TC de algumas medi- que a sua demissão tinha sido “uma foram muito contidos, sublinhando das do Orçamento é bastante curta, decisão tomada há várias semanas a correcção institucional do ministro tendo em conta que se calcula em conjuntamente” com Passos Coelho. demissionário. cerca de 1900 milhões de euros os Por outro, o facto de a nota do ga- O MEC anuncia também que irá prejuízos para as contas nacionais binete do primeiro-ministro a con- “proceder, de imediato, à verifi cação caso todas as medidas submetidas fi rmar a demissão acrescentar que de todos os processos de creditação, à fi scalização sucessiva fossem con- Passos iria propor “oportunamente quer de experiência profi ssional, sideradas inconstitucionais. Na ver- ao Presidente da República a exone- quer de outra formação” efectuados dade, apenas a contribuição extra- ração” do ministro “e a nomeação do pela ULHT que suscitem dúvidas. E ordinária de solidariedade exigida seu substituto”, o que não aconteceu que daí serão “extraídas as devidas aos pensionistas com reformas acima ontem, apesar da longa reunião se- consequências”. dos 1350 euros representa uma re- manal entre Passos e Cavaco. Tiragem: 44021 Pág: 4

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público dizer que uma licenciatura Andreia Sanches num ano era impossível. Pelo que se sabia, até ontem, não foi, contudo, O aluno n.º 20064768 á muito que a lei prevê que o processo de creditação que a experiência profi ssional acabou por ser decisivo no pedido e académica possa dar de anulação do curso feito pelo origem a créditos. Cabe a ministro da Educação (ver texto que teve 18 a Pensamento cada instituição de ensino nestas páginas). Hsuperior decidir que A consulta ao dossier de Relvas na cadeiras deve o aluno fazer e quais as ULHT, que, depois de insistentes pe- Contemporâneo que não precisa de frequentar porque didos, acabaria por ser autorizada a lhe é reconhecida equivalência. Mas 9 de Julho, uma semana depois de o logo em Julho de 2012, quando se PÚBLICO dar conta do percurso do soube que Miguel Relvas tinha feito ministro, adensaria mais essas dú- Deu entrada na Lusófona em 2006, acabou a licenciatura uma licenciatura em apenas um vidas. Numa licenciatura — Ciência ano na Universidade Lusófona de Política e Relações Internacionais — um ano depois. A universidade começou por negar Humanidades e Tecnologias (ULHT), composta por 180 créditos, distribu- o caso causou surpresa no meio ídos por 36 cadeiras, Relvas obtivera irregularidades. Esta é a história do curso de Miguel Relvas académico, com reitores a virem a 160. Teve que fazer apenas quatro

FOTÓGRAFO

Miguel Relvas fez apenas quatro disciplinas semestrais do curso de Ciência Política da Lusófona Tiragem: 44021 Pág: 5

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ID: 46996933 05-04-2013 Âmbito: Informação Geral Corte: 4 de 9

A saída antecipada de Miguel Relvas não tem qualquer efeito na estabilidade do Governo Ângelo Correia militante do PSD

disciplinas semestrais: Quadros Ins- a mudança de curso, que era o que titucionais da Vida Económica Polí- Relvas requeria, terminava a 15 de tica e Administrativa (acabou com 12 Agosto. A inspecção notou, contudo, Um ministro mediático: das polémicas pressões valores), Introdução ao Pensamento que muitos outros foram admitidos Contemporâneo (18 valores), Teoria fora do prazo. e “saneamentos” às reviravoltas sobre a RTP do Estado da Democracia e da Revo- Numa carta à universidade, Relvas lução (14) e Geoestratégia, Geopolíti- solicitava que se dignassem “a apre- ca e Relações Internacionais (15). ciar” o currículo profi ssional do can- Mais: o parecer que esteve na ori- didato “tendo em vista eventual re- suspensão, em Janeiro, do programa contratar o ex-futebolista Paulo Futre gem dessa decisão tinha sido subscri- conhecimento” de equivalências ou Maria Lopes de comentário Este Tempo, na Antena para comentador, mas a negociação to por apenas dois professores. Um de créditos, “nos termos aplicáveis, 1, alegadamente por intervenção do abortou depois de um telefonema deles era reitor da universidade e di- em conformidade com a Declaração iguel Relvas tinha a pasta ministro, descontente com as críticas do ministro ao então presidente, rector do curso, Fernando dos Santos de Bolonha”. E juntava certifi cados que melhor combinava do cronista Pedro Rosa Mendes Guilherme Costa, manifestando- Neves, o mesmo que decidiu, num e registos de interesses entregues com o protagonismo me- ao poder político angolano. Eram se contra essa contratação, num despacho exarado um mês depois, na Assembleia da República que de- diático que assumiu desde conhecidas as relações amistosas do claro atropelo das competências quais eram, em concreto, as disci- monstravam actividade como con- o início da legislatura: a da ministro com aquele país africano. O da administração da empresa. plinas a que a experiência profi ssio- sultor em empresas, bem como um Mcomunicação social. Mas jornalista clamou “censura” e disse-se Em Agosto, depois de o consultor nal do candidato (pública, política documento relativo à tomada de pos- nem sempre terá sabido lidar com vítima de Relvas noutro “afastamento” do Governo para as privatizações, e empresarial, segundo o processo) se como presidente da Assembleia ela. Somou casos polémicos acerca — o de correspondente da Lusa em António Borges, admitir que a RTP tinha sido considerada equivalente. Geral da Associação de Folclore da de alegadas pressões sobre jornalistas Paris. O director de Informação da poderia ser concessionada, Guilherme Santos Neves foi também o professor Região de Turismo dos Templários. — 2012 foi um ano pródigo nisso — e rádio demitiu-se; o director-geral de Costa demite-se. O director da RTP2, que deu a Relvas 18 valores em Pen- Os professores acharam que tudo intromissões na gestão editorial da Conteúdos da RTP, Luís Marinho, Jorge Wemans, tomaria a mesma samento Contemporâneo. junto merecia 160 créditos. RTP, enfrentou a contestação dos tra- manifestou a mesma opinião de opção pouco tempo depois. No processo do aluno n.º 20064768 A auditoria de Outubro à Lusófo- balhadores da RTP e da agência Lusa desagrado do ministro, mas refutou O último caso mediático — e que — é este o número atribuído a Relvas na acabaria por revelar que muitos por causa de cortes no fi nanciamento ter agido a mando de Relvas quando terá novos episódios em tribunal —, não havia vestígios de qualquer alunos da Lusófona obtiveram graus e perdeu um assessor por envolvi- decidiu acabar com o programa. — é de Novembro, quando a PSP intervenção do conselho científi co académicos com créditos, mas que mento no processo das secretas. Tanto a ERC – Entidade Reguladora teve acesso a imagens em bruto dos do departamento do curso e do con- a nenhum outro tinham sido dados “Derrubou” uma administração da para a Comunicação Social como o confrontos junto ao Parlamento, selho científi co da universidade. como ao aluno n.º 20064768, que RTP, dois directores de Informação Parlamento não encontraram culpas alegadamente por autorização terminaria a licenciatura com 11 va- — um de rádio, outro de televisão —, do ministro no caso. do então director de Informação. Quatro cursos lores. o director da RTP2, um programa Três meses depois, no âmbito Nuno Santos, agora despedido da Relvas já tinha estado inscrito em Em Outubro do ano passado, o de opinião e cinco comentadores da do dossier das secretas, o ministro RTP, clamou inocência e disse-se três cursos universitários: Direito, ministro Nuno Crato emitia um des- Antena 1. E inscreveu no currículo ameaçou uma jornalista do PÚBLICO, vítima de “saneamento político” História e Relações Internacionais. pacho sobre a Lusófona. Aplicava político quatro episódios de pressões Maria José Oliveira, de revelar dados orquestrado pelo ministro Relvas. A primeira inscrição acontecera em uma sanção de advertência formal sobre os media. Deixa como herança da sua vida privada na sequência de A informação que professava na TV 1984 — Direito, na extinta Universi- à universidade, por aquela não ter um processo de reestruturação (muito um pedido de esclarecimento sobre pública não agradaria ao Governo, e dade Livre, onde Relvas frequentara cumprido as recomendações feitas contestado) em curso na RTP, uma a sua relação com o ex-espião e ex- em especial à tutela — afi nal, Relvas apenas o 1.º ano e obtivera aprovei- já em 2009, também pela inspec- agência Lusa a funcionar com menos director do SIED, Jorge Silva Carvalho era, ele próprio, visado em muitas tamento numa cadeira, com 10 va- ção, a respeito dos procedimentos um terço do orçamento e um enorme (agora acusado pelo Ministério notícias. A ERC ilibou Nuno Santos lores. Apesar deste facto, declarou à de creditação profi ssional, e admi- pacote legislativo sobre o sector da Público). Mais uma vez, a ERC ilibou no caso das imagens, mas prepara-se Assembleia da República, por duas tia que alunos que tivessem obtido comunicação social acabado de rever o ministro. Mas Relvas perdeu um para considerar nulas as acusações vezes, que era estudante do 2.º ano graus académicos com créditos mal — falta fazê-lo aprovar, mas isso será adjunto político, o ex-jornalista do ex-director por falta de provas no de Direito (em 1985, quando foi de- fundamentados poderiam vê-los tarefa para o sucessor. Adelino Cunha, que ajudou o ex- outro processo que abriu. A gestão putado pela primeira vez, e na legis- anulados. O pressuposto de partida de espião a espalhar uma história sobre pouco hábil do ministro desta última latura seguinte, quando voltou a ser “No caso de não haver fundamen- Miguel Relvas parecia claro e um envelope com registos telefónicos polémica levou também à saída, a eleito). Numa entrevista à TVI, em tação sufi ciente para a creditação estava no Programa do Governo: de um jornalista do PÚBLICO. pedido do próprio, do seu consultor Julho do ano passado, diria que se profi ssional ou inexistindo registo privatizar um canal da RTP e Na mesma altura, a RTP planeava político para a área de media. tratara de um “lapso”. de conclusão de unidades curricula- manter um só canal generalista ENRIC VIVES-RUBIO Em 1985, pediu transferência para res, deve a ULHT disso extrair todas de serviço público. Convidou um História, matriculou-se em sete dis- as consequências legais, incluindo a grupo de personalidades que fez um ciplinas mas não fez nenhuma. E em possível declaração de nulidade de relatório com propostas radicais que 1995 escolheu a Universidade Lusía- certifi cações atribuídas, sem prejuízo acabou dentro da gaveta. Durante da, uma das instituições que nasce- de os estudantes em causa poderem os quase dois anos de mandato, a riam da cisão da Livre, para cursar retomar o percurso académico de estratégia do ministro para o serviço Relações Internacionais. Mas não forma a obter o grau”, escreveu Cra- público de TV e rádio foi mudando frequentou o curso. to. Era um despacho onde também sucessivamente ao sabor das opiniões A 7 de Setembro de 2006, “por exi- se dizia que a vida universitária tem de quem consultava, o que manteve gência pessoal e por corresponder especifi cidades insubstituíveis: “O a empresa sempre em polvorosa. a um imperativo de contínua valo- contacto com os mestres, a vida em Gastou quase milhão e meio de euros rização curricular”, como justifi cou sala de aula, o debate organizado.” em consultorias para fi car, afi nal, numa entrevista ao jornal i, pediu À ULHT foram dados 60 dias pa- quase tudo como estava. O operador admissão ao curso de Ciência Políti- ra reanalisar “todos os processos”. público terá que cortar quase um ca da Lusófona. Estava “largamen- E apresentar resultados. E 90 dias terço dos custos com pessoal e viver te” fora do prazo legal para o efeito, para adoptar uma série de recomen- apenas com a taxa do audiovisual e como revelou a auditoria ordenada dações. A universidade, que tinha co- publicidade. À agência Lusa cortou pelo Ministério da Educação e da Ci- meçado, em Julho, por negar quais- um terço do fi nanciamento, levando ência (MEC) a 13 de Julho. Na altura, quer irregularidades no curso de Rel- a uma inédita greve de três dias. o prazo previsto para candidaturas vas, disse que iria cumprir tudo. O annus horribilis começou com a Nuno Santos acusou Relvas de “saneamento político” Tiragem: 44021 Pág: 6

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Period.: Diária Área: 27,50 x 30,61 cm² AID: DEMISSÃO 46996933 DE RELVAS05-04-2013 Âmbito: Informação Geral Corte: 5 de 9

Supeitas de favorecimento no A “nova etapa” e as ligações “caso Tecnoforma” já levaram ao mundo dos negócios Roseta a depor no DCIAP

atlântico. Em 2008, foi-lhe atribuído Tecnoforma ocupou na captação de Cristina Ferreira o título de cidadão honorário do Rio José António Cerejo fi nanciamentos do Foral, ao tempo de Janeiro. em que este era tutelado por Relvas — O ex-ministro tem uma Do outro lado do Atlântico, tem elena Roseta, antiga pre- entre 2002 e 2004. O outro inquérito rede de contactos que amigos mediáticos como o ex-chefe sidente da Ordem dos relacionado com estes factos está a de Casa Civil de Lula da Silva, acu- Arquitectos, foi ouvida correr no Departamento de Investi- lhe permite pensar sado de ser o cérebro do “Mensa- no início de Janeiro, co- gação e Acção Penal de Coimbra e numa vida empresarial lão”. José Dirceu (aliado, no Brasil, mo testemunha, pelos incide especialmente sobre um dos fora de Portugal de Rafael Mora e de Nuno Vascon- Hresponsáveis do inquérito projectos da empresa que mais dú- cellos, da Ongoing) é ainda sócio de em que o Departamento Central de vidas suscitaram acerca de eventuais iguel Relvas deixou para Fernando Lima. Mas foi com Paulo Investigação e Acção Penal (DCIAP) favorecimentos de que ela tenha be- trás os tempos contur- Elísio de Souza, líder da Associação está a investigar as suspeitas de fa- nefi ciado. Trata-se de um projecto, bados da governação e Industrial do Rio de Janeiro, que Rel- vorecimento, por parte de Miguel no valor de 1,2 milhões de euros, que entrou ontem, tal como vas surgiu articulado a promover ne- Relvas, da empresa Tecnoforma, na foi aprovado pelos gestores do Foral sublinhou, “numa nova gócios luso-brasileiros. qual Pedro Passos Coelho foi con- e se destinava a formar mais de mil Metapa”. É possível que o A 16 de Setembro de 2010, num sultor e depois administrador entre funcionários de nove municípios da ex-ministro tenha à sua espera uma trabalho sobre Miguel Relvas, intitu- 2000 e 2007. Região Centro para trabalharem em vida para além da política, seja em lado O grande lobista, a Sábado ou- A actual vereadora da Câmara de nove aeródromos e heliportos daque- Portugal, em Angola, onde nasceu, trolada pela Toledo Advisory, com viu Elísio de Sousa: “O Miguel é uma Lisboa revelou no Verão passado la região, parte dos quais não exis- ou, talvez mesmo, no Brasil. sede no paraíso fi scal do Panamá, e pessoa bem relacionada. Qualquer que Relvas a informou, em 2003, tiam ou já estavam desactivados. O ex-coordenador político do Go- com interesses na energia, constru- cliente meu que eu possa levar pa- de que havia verbas disponíveis no Os dados apurados pelo PÚBLICO verno de Passos Coelho possui uma ção, engenharia, ambiente, gestão ra investir em Portugal, ele orienta- programa Foral — por ele tutelado mostram que a Tecnoforma domi- rede vasta de contactos que inclui e projectos. A Finertec (dona da Tâ- me, e o mesmo faço no Brasil com enquanto secretário de Estado do nou por completo a participação nomes da política, das empresas, da mega), liderada pelo luso-angolano as pessoas que me indica. É um Governo de Durão Barroso — para no Foral das empresas privadas de gestão ou da advocacia. Filiado na José Braz da Silva, ex-candidato à li- grande conselheiro. Apresenta-me que a ordem promovesse cursos de formação profi ssional, em particu- Loja Universalis, de onde provém o derança do Sporting, estava a trocar empresários que tenham interesse formação destinados a arquitectos lar na Região Centro. No total, entre grão-mestre do Grande Oriente Lu- “ambiciosos planos de investimento em manter parcerias com empresas das autarquias. A condição de Rel- 2002 e 2004, a empresa, que tinha sitano (GOL), o advogado Fernando por negociações com fundos ligados brasileiras.” vas, que Roseta diz ter rejeitado, era um lugar muito modesto no merca- Lima, actual presidente da Galilei à banca, que resgatam empresas em A 29 de Agosto de 2011, o Jornal de que a ordem contratasse “a empre- do nacional da formação, conseguiu (ex-SLN/BPN), Relvas também cul- difi culdades”. Negócios considerou o ex-ministro sa de Passos Coelho” para dar os que lhe fossem aprovados projectos tiva neste círculo várias amizades. Por essa altura, Braz da Silva e a 4.ª fi gura mais poderosa da eco- cursos. no valor de 4 milhões de euros, 3,6 Nuno Vasconcellos, Rafael Mora, Miguel Relvas (antes deste ser go- nomia portuguesa: “É a sombra do O inquérito do DCIAP é um dos dos quais na Região Centro. Este úl- Agostinho Branquinho, Rui Gomes vernante) surgiram envolvidos em primeiro-ministro. O seu braço di- dois que foram abertos na sequên- timo valor corresponde a 76% da da Silva, José Almeida Ribeiro, José polémicas associadas às secretas e reito. O seu amigo, aliado, político cia da divulgação pelo PÚBLICO, montante dos fi nanciamentos apro- Matos Correia, Carlos Carreiras, Hei- à Ongoing. A 30 de Março de 2011, gémeo, é o seu par; é o poder den- entre Outubro e Dezembro, de um vados à totalidade das 11 empresas tor Romana e António Nunes foram Relvas e Braz da Silva participaram tro do círculo do poder. Incluindo conjunto de trabalhos relacionados privadas que se candidataram a pro- alguns dos nomes que o Jornal de numa reunião entre a Finertec, de na economia, na comunicação, nos com o lugar preponderante que a mover acções de formação nas au- Negócios destacou em Agosto. E com que era gestor, e a Ongoing, onde negócios, nas privatizações [...] tem tarquias. Nestas contas não fi guram dois social-democratas, os advoga- se encontrava Jorge Silva Carvalho. muitos homens de negócios a seus os muitos casos em que a Tecnofor- dos Manuel Dias Loureiro e José Luís Mais tarde, soube-se que o ex-espião pés [...]. Por isso, pode ser o núme- ma executou as acções aprovadas às Arnault, Relvas festejou, no Rio de enviou a Relvas uma lista com suges- ro 1 da lista do próximo ano. Ou, o autarquias e a outras entidades que Janeiro, a última passagem de ano. tões de nomes que o Governo devia que é menos provável, já nem estar concorreram directamente ao Foral A ligação do ex-ministro ao mun- convidar para liderar as secretas. nela.” As polémicas à volta de Rel- e a contrataram para o efeito — tal do dos negócios é recente. Foi só a Em Agosto último, o PÚBLICO vas atraíram mais atenção do que a como Relvas sugeriu à Ordem dos partir de 2006 que sofreu uma ace- noticiou que a CGD recusou, por desejada. Assim, a 3 de Setembro de Arquitectos que fi zesse. leração, quando Relvas surgiu como razões de risco, um empréstimo de 2012, o Jornal de Negócios castigou-o A concentração da actividade da gestor e consultor de três empresas, milhões de euros à Alert Life Scien- e colocou-o na 6.ª posição: “Miguel empresa nas autarquias da Região a Kapaconsult, a Finertec (investiga- ces Computing, multinacional de Relvas era para ser o rei do xadrez Centro pode não ser alheia ao facto da na Operação Furacão) e a Alert, software clínico. No Brasil, a Globo político do Governo. Porque domi- de o gestor regional do programa com operações em Portugal, em divulgou, em Setembro de 2011, o nava o PSD, porque era o homem de ser então Paulo Pereira Coelho, um Angola e no Brasil. Uma relação ex- cancelamento de um “contrato sus- confi ança de Passos Coelho, porque ex-deputado do PSD e sócio de Rel- pressa na declaração de rendimen- peito” de 145 milhões de euros, cele- tinha ligações ao poder de Angola e vas numa empresa sem actividade, tos (IRS) de Relvas que pulou dos brado entre a Fiocruz e a Alert. Brasil, à maçonaria. Mas, ao fi m de que, tal como o agora ex-ministro e 69.938 euros comunicados em 2004 As viagens de Miguel Relvas ao um ano de Governo, parece esgota- Passos Coelho, foi dirigente da JSD. para 216.938 euros, o montante apu- Brasil datam de há vários anos e do.” Só o tempo dirá qual vai ser o Documentos da Ordem dos Arqui- rado quatro anos mais tarde. tornaram-se mais frequentes quan- seu futuro. Mas todos reconhecem tectos mostram que Passos e Relvas A 13 de Dezembro de 2012, a Visão do fi cou responsável, enquanto ges- o fôlego do ex-ministro para contra- concertaram acções para angariar revelou problemas na Finertec, con- tor da Alert e da Finertec, pelo eixo riar os reveses. Aeródromos sob investigação contratos para a Tecnoforma. Tiragem: 44021 Pág: 8

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ID: 46996933 05-04-2013 Âmbito: Informação Geral Corte: 6 de 9 A DEMISSÃO DE RELVAS

Menos freguesias, mais autarcas revoltados

Lançada com muita ambição, a reforma do poder local suscitou a ira dos autarcas, que se queixam de não terem sido consultados. A nova Lei Eleitoral Autárquica, um dos pilares da reforma, fi cou na gaveta

Margarida Gomes O universo da pasta do ministro adjunto e dos Assuntos Parlamentares

m menos de três meses, o Governo perdeu os dois rostos da Reorganização Administrativa do Território das Freguesias, Paulo Júlio, Esecretário de Estado da Administração Local e da Reforma Administrativa, e Miguel Relvas, até ontem, ministro dos Assuntos Parlamentares. Em fi nais de Janeiro, Paulo Júlio demite-se, na sequência da acusação Miguel Relvas Feliciano Teresa Morais Ana Rita Barosa Alexandre Mestre pelo Ministério Público de um crime de prevaricação, por alegadamente Ministro adjunto e dos Barreiras Duarte Secretária de Estado Secretária de Estado da Secretário de Estado Assuntos Parlamentares dos Assuntos Parlamentares Administração Local e da do Desporto e Juventude ter favorecido, em 2008, um primo Secretário de Estado Adjunto Reforma Administrativa num concurso para chefe de divisão Funções do Ministro adjunto e dos Representação do Governo Estímulo e apoio na Câmara de Penela, quando era Apoio ao primeiro-ministro Assuntos Parlamentares na Assembleia da República A reforma administrativa à prática e da cultura física na coordenação política do e articulação com os grupos do Poder Local, lançada pelo e do desporto, prevenção presidente desta autarquia. Miguel Execução e avaliação Governo, ligação entre os parlamentares. seu antecessor, Paulo Júlio, da violência no desporto e das políticas públicas para Relvas seguiu-lhe as pisadas e, ao fi m ministérios e a Assembleia Definição das políticas determina a redução de cerca pelo combate à dopagem, a comunicação social. de 22 meses no Governo, abandona da República, administração da cidadania e da promoção de um milhar de freguesias, bem como pela promoção Imigração e diálogo local e reforma administrativa, da igualdade de género, reestrutura o sector da imagem externa de o executivo por causa do relatório intercultural. sobre a licenciatura na Universida- imigração e diálogo do combate à violência empresarial local e promove Portugal através da intercultural, desporto e doméstica e ao tráfico a criação das entidades conquista de títulos de Lusófona, que poderá confi gurar juventude, igualdade de de seres humanos. intermunicipais. desportivos. “um caso de polícia”. género e comunicação social. Na hora da despedida de Paulo Júlio, Relvas elogiou o trabalho do Fonte: Ministério dos Assuntos Parlamentares seu secretário de Estado, destacan- do o “contributo decisivo que deu verão realizar-se dentro de cinco De Norte a Sul do país, da esquer- cais, preconizada pelo programa de lítica de âmbito metropolitano, elei- para a reforma global e integrada da meses, a Reforma Administrativa da à direita, os autarcas não poupa- Assistência Económica e Financeira, ta por sufrágio directo e universal, a Administração Local, que permite foi considerada por Miguel Relvas rem críticas a Relvas, acusando-o “é um embuste”, fruto da ignorância área metropolitana, e pelo fortaleci- ter um poder local mais forte e mais como o “choque reformista” da de ser o grande “inimigo” do poder atrevida das condições a la carte das mento e dinamização das comuni- vocacionado para servir ainda me- Administração Local. “É mais um local. No rescaldo da demissão, instituições internacionais, com a dades intermunicipais, dando-lhes lhor os cidadãos”. Ontem, na Pre- passo para o aumento da efi ciência um presidente de câmara criticava conivência cúmplice de quem, entre escala e competências agregadas”. sidência do Conselho de Ministros, dos serviços públicos, bem como ontem a “atitude institucional so- nós, tinha o dever de percepcionar E avisou que os autarcas não serão Miguel Relvas fez um balanço da sua a sustentabilidade do poder local. branceira” que o ex-ministro teve e compreender de modo diferente “um mero patamar intermédio en- passagem pelo Governo de Passos A coesão territorial sai reforçada. sempre para com os autarcas e da- o universo do poder local, a par do tre o Governo e as populações, uma Coelho elogiando o trabalho que fez, Esta é uma reforma para as pesso- va conta do problema que a Lei dos autismo no engodo do cumprimento entidade esvaziada das suas funções, dando nota de algumas informações as e não para os políticos”, disse Compromissos representou para o dos compromissos”. O também pre- um corpo estático sem alma”. sobre reformas ou programas que o ministro aquando da aprovação poder local, tolhendo a actividade sidente da Câmara de Viseu teceu Pelo caminho, fi cou uma nova Lei tutelou, como a fusão das freguesias da lei. das câmaras. E sublinhava a falta de críticas ao “encerramento discri- Eleitoral Autárquica, considerada ou o programa Impulso Jovem. O novo mapa territorial retira 1165 sensibilidade do ex-ministro para minatório e casuístico dos serviços um dos quatro pilares da reforma Uma das grandes bandeiras do ex- freguesias às 4259 actualmente exis- acolher as posições dos autarcas, públicos de interesse geral, muito administrativa que o Governo queria ministro dos Assuntos Parlamenta- tentes, sendo esta alteração a faceta que chegaram a fazer uma concen- especialmente no interior do país”, levar a cabo. Os partidos que apoiam res na área do poder local foi a Re- mais polémica da reforma adminis- tração em Lisboa, o ano passado, e apelava, “muito mais do que o con- a maioria desistiram de apresentar forma Administrativa do Território trativa que o Governo iniciou em Se- contra o novo mapa judiciário de- vite à indignação justa e sentida, a uma proposta, por não terem chega- das Freguesias, que levou à redução tembro passado. corrente da reforma. um parar para pensar no modelo do a acordo sobre a composição do de 1165 freguesias e que deixou um O último congresso da Associação de Estado e país que queremos e executivo camarário, que o PSD pre- enorme amargo de boca aos autar- As críticas dos autarcas Nacional de Municípios Portugueses, necessitamos para os portugueses tendia que passasse a ser homogé- cas. Zangadas com o Governo, as fregue- em Setembro de 2012, foi um palco que somos aqui e agora”. neo (sem vereadores da oposição), Aprovada pelo Parlamento no fi - sias levaram a cabo por todo o país privilegiado para disparar críticas Sobre a “reorganização administra- o que o CDS não aceitou. Quando à nal do ano passado para não atra- várias manifestações contra a refor- contra o Governo. Fernando Ruas, tiva do território”, o líder da ANMP nova Lei das Finanças Locais, que palhar a preparação do processo ma e esperam agora que o Tribunal presidente da ANMP, disse que a re- referiu que ela passa “inequivoca- entrá em vigor em Janeiro de 2014, eleitoral das autárquicas, que de- Constitucional trave a lei. dução do número de autarquias lo- mente, por uma nova instância po- não está isenta de críticas. Tiragem: 44021 Pág: 10

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Miguel acreditou que acompanharia Pedro, Pedro acreditou que era um “não-assunto”

Miguel Relvas O seu percurso político começou cedo, e cedo, a partir da JSD, aprendeu a movimentar-se nos corredores da política. Passos resistiu mais de um ano até ceder. Afi nal, a licenciatura era um assunto

ADRIANO MIRANDA um ministro que se licenciou com Perfil créditos. Lurdes Ferreira Perante a polémica surgida, a PGR abriu então uma averiguação Pedro sabe que estou a preventiva, mas que arquivou fazer tudo para que ele por “não terem sido encontrados “ seja primeiro-ministro ilícitos criminais”. O caso regressa e também sabe que hoje ao Ministério Público pela devo ser a única mão de um ministro, por a Opessoa no PSD que Inspecção-Geral de Educação e não quer o lugar dele. A minha Ciência ter entretanto detectado carreira política terá a validade da irregularidades no processo dele”, disse um dia Miguel Relvas, sufi cientes para a declaração de numa entrevista, a um jornalista nulidade da licenciatura, mas que viria a ser seu assessor a decisão tem de ser tomada político. Foi em 2010, um ano judicialmente. antes de chegar a ministro. Se a A imagem da relação pessoal “carreira” tinha apenas a ver com e política entre Passos Coelho e o Governo, Relvas não se enganou Miguel Relvas tem sido a de uma quanto a Passos Coelho, mas intrigante parede, inabalável. falhou em relação a si próprio, Ontem, depois de um ano a com a demissão ontem anunciada. resistir à saída do seu ministro Do tempo que leva, no entanto, adjunto, Passos cedeu. em actividade política, o ministro A cumplicidade cimentada ao demissionário, hoje com 51 anos, longo dos anos entre os dois é não se pode queixar: vão 32 anos, evidente na forma concertada no total. São três décadas que com que ambos trabalharam começam nas bases como “jota” no período em que Passos foi no PSD, em 1980, com 19 anos; excepcionalmente dinâmico, académico. Regressado de Angola Lusófona, e de curso, para Ciência consultor e gestor da Tecnoforma passam pelas estruturas concelhias o “homem do aparelho”, que aos 13 anos, em 1974, Relvas Política e Relações Internacionais. e que coincidiu com o tempo do partido, em Santarém; pelo dominava a máquina social- passou por dois estabelecimentos No ano seguinte, já tinha resolvido que Relvas geriu o programa lugar de deputado, aonde chega democrata e conhecia a realidade de ensino em Tomar, mas não uma licenciatura de três anos, Foral, tendo a tutela da formação aos 24 anos, em 1985, também por autárquica como poucos, o terminou aí o secundário, recorrendo às regras de Bolonha e profi ssional para as autarquias. Santarém, e que vai repetir por deputado que fazia tantas havendo dessa época o registo à atribuição de créditos. Tal como o PÚBLICO noticiou várias legislaturas; pela direcção viagens ao Brasil que em 2008 foi de 10 valores a Filosofi a e de 12 a O caso é tornado público em em Outubro do ano passado, do PSD; pelo lugar de secretário de nomeado cidadão honorário do História. Terminou o 12.º ano, no 2012, através das redes sociais e do a consultora onde Relvas Estado da Administração Local, e Rio de Janeiro. Carioca honorário, ano lectivo 1983/1984, na Escola jornal O Crime, e as contradições trabalhou fi cou com a parte de fi nalmente pelo lugar de ministro. portanto. Confessou mais tarde Secundária de Belém. Nos 23 com os registos biográfi cos leão dos fundos geridos por Foi secretário de Estado de Durão que as viagens eram também anos seguintes, o então deputado, acumulados ao longo da sua vida Relvas, entre 2002 e 2004. Foi Barroso e até ontem ministro por “razões profi ssionais”. Foi, depois dirigente da “jota”, depois política adensaram as suspeitas. também Relvas, como o PÚBLICO dos Assuntos Parlamentares e aliás, do Brasil que chegaram ministro e depois deputado Numa das vezes, Relvas disse que também revelou, quem ajudou a adjunto do primeiro-ministro. Foi os primeiros sinais de ligações da oposição, tentou por várias tinha sido “um lapso”. Tecnoforma a dominar o negócio um governante com o currículo controversas de Relvas – no caso vezes tirar um curso superior. Passos Coelho reagiu então da formação em aeródromos raro de ter sido reeleito sete vezes a José Dirceu, fi gura central Ele próprio viria a dizer que, por dizendo que se tratava de um municipais na Região Centro. consecutivas pelo mesmo distrito do “caso Mensalão” –, ao fi m causa da sua intensa vida política, “não-assunto”. O ano que se As ligações de dirigente (Santarém) e de ter sido eleito para de décadas a fazer facilmente os estudos tinham fi cado para trás. seguiu foi mostrando que o partidário permitiram-lhe criar o Parlamento 24 anos seguidos, contactos e conhecimentos, entre Inscreveu-se na Universidade primeiro-ministro também uma rede, boa parte dela assente como recordava a revista Visão em o mundo político e empresarial. Livre, em Direito, em 1984/85, errara na sua avaliação política. nos tempos da JSD. As ligações 2011. Chamava-lhe “o homem que A agilidade e a sabedoria com depois pediu transferência para O caso ganhou dimensão e foi ao mundo empresarial levaram- mexe os cordéis”. que se movimentava e ascendeu História, no ano seguinte, sem corroendo a imagem do Governo, no a outros contactos. Ontem à A imagem política em na política, com ligações à concluir nenhuma cadeira. Dez culminando com os protestos tarde, corria o rumor de que iria alta do barrosista Miguel maçonaria, contrastaram com anos depois, muda de novo públicos dos que criticavam a falta trabalhar para a EDP Brasil, mas o Relvas valorizava o político a lentidão do seu percurso de universidade, agora para a de autoridade ética e moral de grupo eléctrico desmentiu. Tiragem: 44021 Pág: 11

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ID: 46996933 05-04-2013 Âmbito: Informação Geral Corte: 8 de 9 Frases de um mandato interrompido

“As alterações aceites pelo “O ministro Miguel Relvas não ministro comportou-se com “[Processo da licenciatura de “Nem eu nem o senhor ministro Governo [ao Orçamento do sabe lidar com o poder que a correcção e a transparência Miguel Relvas] é um não-assunto.” da Administração Interna tivemos Estado para 2012] são resultado tem e não sabe quais as balizas devidas.” Pedro Passos Coelho qualquer intervenção nesse da serenidade de saber ouvir, constitucionais da sua função.” Pedro Passos Coelho, 4-7-2012 processo [caso das cassetes da dialogar e decidir.” Pedro Rosa Mendes, Correio da primeiro-ministro , AR, RTP].” Miguel Relvas, 22-11-2012 Miguel Relvas, Diário Manhã, 5-2-2012 30-5-2012 “Norteei a minha vida pela Económico, 29-11-2011 simplicidade da procura do “Qualquer apoio do ministro “[Miguel Relvas] É um dos “Relvas é um peso nas costas conhecimento permanente.” Miguel Relvas a uma candidatura “Os autarcas em Portugal nunca grandes alicerces políticos deste do primeiro-ministro e devia sair Miguel Relvas, i, 13-7-2012 é um beijo da morte.” foram capazes de ser ousados. O Governo (...). Foi Mouzinho da pelo seu próprio pé.” Marcelo Rebelo de Sousa tempo das rotundas passou.” Silveira o último que mexeu no Marcelo Rebelo de Sousa “Miguel Relvas pode até estar e 11-12-2012 Miguel Relvas, O Mirante, 6-1- poder local.” TVI, 3-6-2012 continuar no Governo, mas já não 2012 José Luís Arnaut, Diário é do Governo.” “O desemprego e o desemprego Económico, 13-2-2012 “Fiz os exames que me foram António Bagão Félix jovem tiram-me o sono. Não sou “O ministro Relvas já fez mais mal exigidos. Foi uma experiência Público, 13-7-2012 insensível” à imagem do Governo de Passos “Não vou aqui proceder à interessante, sentar-me nesses Miguel Relvas, 17-2-2013 Coelho em seis meses do que avaliação do mandato do senhor exames ao lado de outros alunos “Miguel Relvas já entrou no todos os outros ministros juntos.” ministro [Miguel Relvas] noutras pertencentes a uma geração anedotário nacional.” “Peçam-nos os resultados no fim Eduardo Cintra Torres, Correio matérias. Nesta matéria [serviços posterior à minha.” , do mandato.” da Manhã, 29-1-2012 de informação], o senhor Miguel Relvas, i, 3-7-2012 TVI24, 13-7-2012 Miguel Relvas , 18-2-2013 Tiragem: 44021 Pág: 1

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ID: 46996933 05-04-2013 Âmbito: Informação Geral Corte: 9 de 9

Governo envia curso de Relvas para a Procuradoria e força-o à demissão

Relvas não fez um exame escrito à cadeira na qual obteve 18 valores e Nuno Crato pediu anulação da licenciatura. Ex-ministro invoca falta de “condições anímicas” para pedir demissão. O perfi l de Miguel Relvas, o balanço da sua acçãoão no Governo, a hishistória do curso e as ligações ao mundo empresarial Destaque, 2 a 11