O Cinema De Hal Hartley
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produção patrocínio Venda proibida. Venda O cinema de Hal Hartley Organização Leonardo Luiz Ferreira O Cinema de Hal Hartley Ferreira, Leonardo Luiz (org.) 1ª. Edição Janeiro de 2018 Produção editorial e revisão: Leonardo Luiz Ferreira Projeto gráfico: Guilherme Lopes Moura Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução deste livro com fins comerciais sem prévia autorização dos organizadores. 23 de janeiro a 4 de fevereiro de 2018 A CAIXA é uma empresa pública brasileira que prima pelo respeito à di- versidade, e mantém comitês internos atuantes para promover entre os seus empregados campanhas, programas e ações voltados para disseminar ideias, conhecimentos e atitudes de respeito e tolerância à diversidade de gênero, raça, orientação sexual e todas as demais diferenças que caracterizam a sociedade. A CAIXA também é uma das principais patrocinadoras da cultura brasileira, e destina, anualmente, mais de R$ 80 milhões de seu orçamento para patrocínio a projetos nas suas unidades da CAIXA Cultural além de outros espaços, com ênfase para exposições, peças de teatro, espetáculos de dança, shows, cinema, festivais de teatro e dança, e artesanato brasileiro. Os projetos patrocinados são selecionados via edital público, uma opção da CAIXA para tornar mais de- mocrática e acessível à participação de produtores e artistas de todo o país. A mostra O Cinema de Hal Hartley é uma retrospectiva inédita de um dos diretores norte-americanos mais cultuados dos anos 90. Hal Hartley é um dos principais nomes do cinema independente norte-americano do fim dos anos 80 e 90, considerado uma figura-chave de um movimento que atingiu vários países. Ao patrocinar mais esta mostra para o público carioca, a CAIXA reafirma sua política cultural de estimular a discussão e a disseminação de ideias, pro- mover a pluralidade de pensamento, mantendo viva sua vocação de democra- tizar o acesso à produção artística contemporânea. Caixa Econômica Federal Curadoria O meu primeiro contato com o cinema de Hal Hartley surgiu na época em que as locadoras no Brasil estavam no auge da popularidade. O VHS tinha chegado para ficar em meados dos anos 80 e já era uma opção barata de en- tretenimento em relação à sala de cinema. Era um momento em que as distri- buidoras também investiam em títulos alternativos e no cinema de autor: há ainda hoje uma série de filmes importantes lançados em fitas de vídeo e nun- ca relançados em formato digital, DVD/Blu-ray. Devemos lembrar também que não existia a Internet, com acesso fácil da atualidade, e que as informa- ções sobre determinado filme ou diretor só chegavam filtradas pela imprensa local ou através de pesquisa e interesse nas locadoras de bairro. Portanto, nos anos 90, eu acompanhei de perto uma nova geração de cineastas norte-ame- ricanos que foram chegando aos poucos nos cinemas e, consequentemente, lançados em VHS — onde eu tinha a liberdade para ver e rever as obras, gravar e marcar cenas. É nesse panorama que “descubro” Hal Hartley em uma série de lançamentos consecutivos em home vídeo: A Incrível Verdade, Confiança, Simples Desejo, Amateur e Flerte. O cinema de Hal Hartley deixou marcas profundas em mim, tanto que quan- do pude passei a colecionar as fitas em VHS, DVDs e a importar títulos que nem foram lançados por aqui. É nesse momento que tenho contato com o seu média-metragem Surviving Desire, uma de suas pérolas esquecidas por cinéfilos e críticos exatamente por conta de sua duração — o que fez com que circulasse pouco por não se tratar de um longa — e difícil acesso para download — até hoje também nunca surgiu uma legenda completa em português da obra, algo que a retrospectiva vai corrigir. Para mim está entre os dez filmes mais im- portantes da minha vida, aquele divisor de águas, que muda, de certa forma, a sua maneira de pensar e observar o mundo. Surviving Desire é até hoje o filme que mais assisti de maneira consecutiva em casa: decorei as falas e cenas, como se o personagem, o professor de literatura apaixonado por uma de suas alunas, se relacionasse diretamente comigo. Há um pouco de mim nele e vem daí essa universalidade dos temas de Hartley. Assim como tantos outros cineastas foram importantes na minha forma- ção, entre eles Manoel de Oliveira, Stanley Kubrick, John Carpenter e Eric Rohmer, Hartley se transformou numa fonte de inspiração: quando “crescer” quero fazer filmes assim. Então, até o momento, o que fiz atrás das câmeras foi com a marca da independência, de manter-se fiel ao meu pensamento ci- nematográfico, mesmo que tudo aponte para a direção contrária. O projeto de uma retrospectiva colocando em reflexão e análise a filmogra- fia de Hal Hartley surgiu com essa vontade de que mais pessoas conhecessem o seu trabalho e (re) descobrissem um autor dos mais reverenciados nos anos 90, chamado de ícone do cinema independente, que amargou fracassos de bilheteria e reavaliação negativa da crítica especializada dos anos 2000 em diante, a ponto de chegar a uma questão: quem é Hal Hartley? Para respon- der, nada melhor do que os filmes falarem por si só. E deixando de lado os prêmios, o legado que fica é, sem dúvida, a obra, que permanece viva, filosó- fica e pulsante na tela. É um cinema de ambiguidades, ironias, mas também de enorme apreço ao texto, as palavras como guias da ação. Como diria Henry Fool, um dos personagens emblemáticos de Hartley: “às vezes, nós temos que ir para a obscuridade para nos tornamos depois gênios.” A retrospectiva O Cinema de Hal Hartley só tomou forma definitiva quando em outubro de 2015 o cineasta veio ao Festival do Rio para ministrar uma mas- terclass de direção e apresentar seu mais recente longa-metragem, Ned Rifle. Através de um amigo em comum, eu consegui marcar um encontro com o reali- zador para apresentar o projeto de mostra e afirmar que esse sonho acalentado por alguns anos iria para o papel e deste para a tela em pouco tempo. Contando com o apoio total de Hartley — que só não está presente novamente no Rio de Janeiro por conta de compromissos profissionais —, o ciclo se completa em duas semanas cercadas de filmes, eventos e palestras na Caixa Cultural. Leonardo Luiz Ferreira Curador Leonardo Luiz Ferreira é crítico de cinema, cineasta e jornalista. Membro da Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro (ACCRJ), com passagens por diversos veículos, entre eles, Revista Paisà, Filme B e www.criticos.com.br, e colaborações na Revista Variety, Contracampo e no Jornal do Brasil. Coorganizador do livro John Carpenter: O Medo é só o Começo (Ed. Bookmakers). Codiretor do longa- metragem Chantal Akerman, de cá (2010) e da série Cinema de Bordas (Canal Brasil, 2013). Curador da retrospectiva O Cinema de Nicolas Klotz: A França dos Excluídos e O Cinema de Hal Hartley, entre outros trabalhos. Diretor e produtor do curta Paisagem Interior (2014) e do longa NK + EP (2015). Sumário Biografia · 13 Fortuna Crítica Médias e Longas-metragens A Incrível Verdade por Marcelo Janot · 22 Confiança por Filipe Furtado · 26 Surviving Desire por Leonardo Luiz Ferreira · 30 Simples Desejo por Sérgio Alpendre · 34 Amateur por Fernando Oriente · 38 Flerte por Susana Schild · 44 As Confissões de Henry Fool por Marcelo Miranda · 48 O Livro da Vida por Raphaela Ximenes · 52 Beatrice e o Monstro por Beatriz Saldanha · 56 The Girl from Monday por Camila Vieira · 60 Fay Grim por Rodrigo Fonseca · 64 Meanwhile por Octavio Caruso · 68 My America por Carol Almeida · 72 Ned Rifle por Mario Abbade · 76 Curtas-Metragens por Fernando Oriente e Leonardo Luiz Ferreira Ambição · 80 Teoria da Conquista · 81 Opera No 1 · 82 NYC 3/94 · 83 The Other Also · 84 The New Math(s) · 85 Kimono · 86 The Sisters of Mercy · 87 O Cinema de Hartley através da imprensa brasileira · 91 Entrevistas por Rodrigo Fonseca Hal Hartley · 109 Parker Posey · 113 Artigos Análise do roteiro de Confiança por Sylvio Gonçalves · 117 O Cinema de Hal Hartley por Steve Rybin · 121 Sobre os autores · 126 Créditos · 131 Biografia Hal Hartley nasceu em Lindenhurst, Long Island, Estados Unidos, no dia 3 de novembro de 1959. Os pais Eileen Flynn e Harold Hartley, de raízes ca- tólicas, eram pertencentes à classe média trabalhadora e criaram Hal e mais dois irmãos e uma irmã num subúrbio localizado à uma hora de Nova Iorque. Filho de metalúrgico, Hartley pagou os estudos trabalhando cedo em oficinas e lojas de departamento. Essa observação do universo de uma pequena cida- de e da classe média americana, ele vai traduzir em imagens e textos, anos depois, nos seus filmes. Após se graduar em Lindenhurst High School, em 1977, manifestou o seu primeiro interesse em arte com a pintura. Ele passou a frequentar a Massu- chetts College of Arts, em Boston, onde se aproximou do cinema e fez um cur- so eletivo relacionado a filmagem em Super 8. Após o período entre 1977-78, Hartley retornou para casa para conseguir mais dinheiro voltado aos estudos, o que levou a sua matrícula na State University of New York, na Purchase Film School, em setembro de 1980. É nesse momento que ele conhece um grupo de atores e técnicos cinematográficos que vão trabalhar com o cineasta no futuro, incluindo o diretor de fotografia Michael Spiller, que fotografa oito longas do diretor. A graduação da universidade acontece em 1984, e depois de anos como assistente de produção e direção, ele abre a sua própria produtora, True Fiction Pictures, para realizar o sonho de cinema. O seu filme de conclusão de curso, o média Kid (1984), foi rodado em 16mm e tem como protagonista um jovem que quer sair a todo custo de sua pequena O Cinema de Hal Hartley | 13 cidade, algo que espelha o sentimento compartilhado com personagens dos longas A Incrível Verdade e Confiança.