Os Lusíadas: O Projeto De Uma Edição E As Pinturas De Vieira Portuense (1765-1805)
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Os Lusíadas: o projeto de uma edição e as pinturas de Vieira Portuense (1765-1805) Gabriel Peres Marques Dissertação de Mestrado em História da Arte (Versão corrigida e melhorada após defesa pública) Maio, 2021 Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em História da Arte, na área de especialização em Arte Contemporânea, realizada sob a orientação científica da Professora Raquel Henriques da Silva e coorientação da Doutora Alexandra Gomes Markl. Agradecimentos Agradeço à professora Raquel Henriques da Silva pela orientação deste trabalho, pelas revisões e sobretudo por me ter encorajado desde o início. Agradeço também à doutora Alexandra Markl pela coorientação do trabalho, pelas conversas enriquecedoras e pelo acesso às obras do pintor no Museu Nacional de Arte Antiga. Por fim, agradeço à minha família, aos meus pais e irmão, pelo indispensável apoio e críticas, e aos meus amigos, pela constante força moral. Os Lusíadas: o projeto de uma edição e as pinturas de Vieira Portuense (1765-1805) The Lusiads: the conception of an edition and the paintings by Vieira Portuense (1765-1805) Gabriel Peres Marques RESUMO/ABSTRACT PALAVRAS-CHAVE: Vieira Portuense, Os Lusíadas, Camões, Pintura de História, Ilustração. KEYWORDS: Vieira Portuense, The Lusiads, Camões, History Painting, Illustration. Nos anos do virar para o século XIX, o pintor Vieira Portuense (1765-1805) viu-se envolvido num projeto de ilustrar Os Lusíadas do poeta Camões, numa edição projetada pelo mecenas D. Rodrigo de Sousa Coutinho (1755-1812) e o tipógrafo Giambattista Bodoni (1740-1813). Tal edição nunca seria materializada, ficando como seu testemunho a correspondência relativa à mesma e uma série de esboços a óleo feitos pelo artista. Estes serviriam de ensaio para as ilustrações, que seriam depois abertas em gravura por Francesco Bartolozzi (1727-1815), mas também algumas finalizadas em pintura, nomeadamente a Súplica de Inês de Castro, obra que se encontrava desaparecida até 2008. Numa abordagem monográfica, a presente dissertação visa assim estudar estas pinturas de um ponto de vista histórico e iconográfico, procurando também acrescentar novos dados biográficos relativos às mesmas e integrá-las na obra e no tempo de Vieira Portuense. In the years of the turn of the nineteenth century, the painter Vieira Portuense (1765-1805) saw himself involved in a project to illustrate The Lusiads by the poet Camões, in an edition orchestrated by the patron D. Rodrigo de Sousa Coutinho (1755- 1812) and the typographer Giambattista Bodoni (1740-1813). Such edition would never come to fruition, leaving as its testimony the letters exchanged about it as well as a series of oil sketches painted by the artist. These would serve as rehearsal for the illustrations, which would then be engraved by Francesco Bartolozzi (1727-1815), but some would also be finalized in paintings, namely The Supplication of Inês de Castro, whose whereabouts were unknown until 2008. By using a monographic approach, the present dissertation aims to study these paintings from an historical and iconographical view point, while also looking to add new biographical data regarding them and contextualizing them in the work and time of Vieira Portuense. Índice Introdução ........................................................................................................................ 1 1. Francisco Vieira, o Portuense (1765-1805) .................................................................. 7 1.1 Porto e Lisboa ......................................................................................................... 7 1.2. Roma ...................................................................................................................... 9 1.3. Parma ................................................................................................................... 12 1.4. Londres ................................................................................................................ 14 1.5. Retorno a Portugal............................................................................................... 16 2. A gravura e o livro ilustrado na obra de Vieira Portuense ......................................... 19 2.1. The Works of Virgil translated into English verse (1803) .................................... 26 3. Uma magnífica edição ................................................................................................ 33 4. O destino dos esboços ................................................................................................ 41 5. Pinturas para um Paço Real ........................................................................................ 47 6. Os Lusíadas ilustrados: de Faria e Sousa ao Morgado de Mateus ............................. 64 7. Dez Cantos, dez esboços............................................................................................. 75 7.1 Canto I: Combate na Ilha de Moçambique ........................................................... 75 7.2. Canto II: Os Emissários de Gama perante o Rei de Melinde ............................... 82 7.3. Canto III: Súplica de Inês de Castro ..................................................................... 87 7.4. Canto IV: A audiência de D. Manuel a Vasco da Gama ....................................... 98 7.5. Canto V: Vasco da Gama interpela o Adamastor .............................................. 104 7.6. Canto VI: Vénus e as ninfas salvam a frota portuguesa .................................... 108 7.7. Canto VII: O Catual recebe Vasco da Gama na Índia ......................................... 115 7.8. Canto VIII: Os arúspices tentam adivinhar o futuro dos portugueses .............. 119 7.9. Canto IX: Chegada à Ilha dos Amores ................................................................ 123 7.10. Canto X: Banquete na Ilha dos Amores ........................................................... 128 Considerações finais ..................................................................................................... 133 Bibliografia .................................................................................................................... 136 Fontes ........................................................................................................................... 140 Introdução Francisco Vieira (1765-1805), mais conhecido como Vieira Portuense, foi um pintor natural do Porto, ativo durante a segunda metade do século XVIII e os primeiros anos do XIX. Foi, na sua juventude, aprendiz do pintor paisagista e decorador francês Jean-Baptiste Pillement (1728-1808), frequentou a Aula Régia de Desenho em Lisboa e, em 1789, como outros artistas do seu tempo, encontrava-se em Roma a estudar os mestres italianos, com uma bolsa da Feitoria Inglesa do Porto. Recebe a proteção de D. João de Mello e Castro (1756-1814) e mais tarde de D. Alexandre de Sousa Holstein (1790-1803), embaixadores de Portugal naquela cidade. O conjunto de cartas e desenhos de paisagens e obras de arte diversas que se conservam testemunham como o pintor não apenas viajou por diversas cidades italianas, das quais se destacam Parma e Bolonha, mas também por diferentes cidades europeias — desde Viena de Áustria, Dresden, Berlim, Hamburgo, até finalmente se instalar em Londres em 1797, onde reside ao longo de cerca de quatro anos. Já artista consagrado pela altura a que regressa a Portugal, é nomeado em 1803 pintor da Real Câmara pelo Príncipe Regente D. João, futuro D. João VI, ficando encarregue de dirigir, em parceria com Domingos Sequeira (1768-1837), as obras decorativas do Paço Real da Ajuda. Encontrava-se a meio da execução de uma tela destinada ao Palácio de Mafra quando contrai tuberculose e parte, por ordens médicas, para o Funchal, onde acaba por falecer em maio de 1805. Não tendo vivido os eventos maiores e as novidades que o início do século XIX trouxe a Portugal e à Europa, a obra de Vieira Portuense reflete, acima de tudo, a experiência de um artista integrado no seu tempo — embora celebrado como um grande pintor português é, sobretudo, o cosmopolitismo que o distingue. Com uma formação assente no classicismo romano, a sua produção pictórica — seja ela de paisagem, mitológica, histórica, religiosa ou retrato — demonstra um olhar atento e adaptabilidade às tendências e oportunidades que os diferentes meios onde circulou ofereciam. É, principalmente, durante o seu período londrino que desenvolve a vertente da sua carreira que se prende com o crescente mercado da gravura e do livro ilustrado, tendo participado em diferentes projetos e concebido estampas, aliado a gravadores como Francesco Rosaspina (1762-1841), Bartolozzi (1727-1815), ou Gregório Queirós (1768-1841). Da união da sua prática enquanto pintor com o seu envolvimento no 1 mundo editorial, surge o início de um empreendimento que, embora nunca fosse verdadeiramente realizado, não deixaria de dar frutos. Em abril de 1792 é redigida uma carta pelo diplomata D. Rodrigo de Sousa Coutinho (1755-1812) ao diretor da Stamperia Real parmense, Giambattista Bodoni (1740-1813), onde se testemunha pela primeira vez o interesse em produzir uma nova edição de luxo do grande poema nacional, Os Lusíadas (1572) de Luís Vaz de Camões (c.1524-1580), empreendimento que seria patrocinado pelo primeiro e do qual o italiano se encarregaria da tipografia e impressão. Passam os anos e a ideia parece ser continuamente adiada até 17 de junho de 1798, quando Vieira Portuense se dirige ao mecenas oferecendo os