Pra Quem Tem Fome: Vigilância E Controle Algorítmicos No Processo De Trabalho De Um Aplicativo De Entrega Em Curitiba
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UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM TECNOLOGIA E SOCIEDADE CAMILLA VOIGT BAPTISTELLA PRA QUEM TEM FOME: VIGILÂNCIA E CONTROLE ALGORÍTMICOS NO PROCESSO DE TRABALHO DE UM APLICATIVO DE ENTREGA EM CURITIBA DISSERTAÇÃO CURITIBA 2021 CAMILLA VOIGT BAPTISTELLA PRA QUEM TEM FOME: VIGILÂNCIA E CONTROLE ALGORÍTMICOS NO PROCESSO DE TRABALHO DE UM APLICATIVO DE ENTREGA EM CURITIBA For those who hunger: algorithmic surveillance and control in the labor process of a delivery application in curitiba Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Tecnologia e Sociedade, da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Tecnologia e Sociedade. Área de Concentração: Tecnologia e Sociedade. Orientadora: Profa. Dra. Claudia Nociolini Rebechi CURITIBA 2021 Esta licença permite que outros distribuam, remixem, adaptem e criem a partir do trabalho, mesmo para fins comerciais, desde que lhe atribuam o devido crédito pela criação original. As fotografias deste trabalho não estão sob a licença 4.0 International da CC, sendo expressamente proibida suas reproduções ou inclusões em outros trabalhos. À Clementina (in memoriam), embora desconhecida, permitiu que a ilusão do seu afeto me confortasse dia a dia. AGRADECIMENTO A realização deste trabalho não seria possível sem a participação e disposição dos entrevistados, os quais se fizeram abertos e disponíveis para ajudar na investigação que nos propusemos. Sem essas pessoas que admiramos, estas páginas não teriam sentido algum. Por esses motivos, o primeiro agradecimento é aos participantes que acolheram a pesquisa e expuseram suas opiniões e vivências. Em seguida, agradeço a todos os órgãos e pessoas da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), em especial ao Programa de Pós-graduação em Tecnologia e Sociedade (PPGTE) que acolheu esta pesquisa, aos docentes e funcionários. Agradeço à minha orientadora Claudia Nociolini Rebechi. O percurso intelectual no desenvolvimento e, principalmente, no aprendizado de uma pesquisa de mestrado é um caminho cheio de dificuldades e incertezas, as quais foram potencializadas pela pandemia que vivemos. Em vistas às inquietações, a orientação sempre foi realizada de maneira presente, atenta e respeitosa com o meu trabalho. Aos colegas dos grupos de pesquisa de Gênero e Tecnologia e do grupo mais recente, Trabalho, Tecnologia e Capitalismo Digital. Minha gratidão à Ludmila Costhek Abilio e Geraldo Augusto Pinto por aceitarem participar da avaliação e pelas contribuições no desenvolvimento desta dissertação. Obrigada a todos os colegas e amigos conquistados nessa trajetória, que me ensinaram, apoiaram e compartilharam momentos marcantes da vida acadêmica, não apenas na famosa salinha, mas em todos os espaços físicos e virtuais da vida. Em especial à Adriana Ripka, guru do PPGTE, Aline, Juliana, Lydia, Nabylla Fiori e aos grandes estudiosos de Feenberg: Lais Carvalho, Luisa Manske e Julio Teodoro pelo conforto e suporte às situações de pânico, interpretando juntos o que é e como é o percurso e a construção de uma dissertação – ainda mais com as angústias de uma pandemia. Ao amigo Claudio “Révi” Bolzan, por ter lido, comentado e estar sempre disposto a discutir as questões referentes a este trabalho. À Priscila Oliveira, amiga que auxilia a minha trajetória acadêmica desde 2017. Aos meus queridos pais, Noely e Constante, pelo amor e carinho. Aos meus familiares, em especial aos meus queridos e eternos avôs, Raul (in memoriam) e Antônio (in memoriam), que me deixaram ensinamentos e uma Barsa. Sou grata também à Dona-Vó Rosa, que me ensina a arte da fé; à doce tia Neide e ao tio Robinson pelos livros e filmes de uma infância. E, finalmente, a minha irmã-amiga Giovanna pelo carinho e conforto diário apesar do oceano que nos separa. E obrigada a Daniel Mittmann pelo incentivo aos estudos e, principalmente, pelo companheirismo. Certamente, sem as nossas longas conversas, nada disso seria possível, porque são suas constantes indagações sobre minhas reflexões que nos fazem “crescer juntos”. Por fim, agradeço à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoas Nível Superior (CAPES) pela bolsa de mestrado concedida, auxiliando e acompanhando o processo da pesquisa – Código de Financiamento 001. – Bom, Raquel, tem uma… tem uma verdade muito triste que você precisa enfrentar: formação profissional de verdade você não possui. E a maioria da gente que está desempregada, está na mesma situação. Eles estão precisando trabalhar, mas eles têm muito pouco a oferecer no mercado de trabalho. – E a gente vai fazer o que? O quê que a gente faz pra sobreviver? A gente vai morrer de fome? Se eu fosse mais jovem, se eu tivesse 18 anos, eu, agora, ia tentar ser a melhor aluna na escola. Eu ia procurar um curso pra fazer. – Olha aqui, Raquel, não desanima. Mas… eu acho que se você… se você procurar alguma coisa dentro de você, entende? Porque você não pode sair por aí procurando um emprego porque precisa de tanto. Aí você vai gastar sola do sapato. E você sabe que, geralmente, acontece o contrário com as pessoas que vencem na vida? Porque o dinheiro é decorrência de uma produção, não é uma finalidade. Por isso que eu acho que se você procurar uma coisa dentro de você, produzir alguma coisa útil. Que possa fazer essa máquina complicada, que é o mundo funcionar, aí o dinheiro pinta. – Alguma coisa dentro de mim? Seu Bartolomeu, o senhor falou que a minha experiência anterior não conta. E eu não sei fazer nada de especial. Eu sou uma dona de casa, Meu Deus, que teve uns empreguinhos pra ajudar marido, pra ajudar pai, pra criar filha. O quê que uma mulher como eu pode fazer, assim, de especial, de útil? – Olha, Raquel, eu tenho certeza que todo mundo tem um talento, uma vocação. Pode ser a coisa mais simples do mundo, entende? Bom, claro, existem atividades que são mais bem remuneradas que outras. Evidente. Mas tudo é importante! Porque o mundo precisa tanto de médico, quanto de jornaleiro, de menino que entrega o leite. De maneira que, eu acho, que se você procurar dentro de você alguma coisa que você possa fazer com prazer, entende? Com garra. Ai, você vai conseguir se sustentar. (VALE…, 1988) RESUMO BAPTISTELLA, Camilla. V. Pra quem tem fome: vigilância e controle algorítmicos no processo de trabalho de um aplicativo de entrega em Curitiba. 2021. 212f. Dissertação (Mestrado em Tecnologia e Sociedade) – Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, 2021. A subordinação do trabalho ao capital impulsiona a vigilância e o controle, a fim de aprofundar a divisão e padronização dos processos de trabalho sob o olhar atento da gerência. Neste sentido, o aumento do uso das plataformas digitais no cotidiano leva em consideração os algoritmos como instrumentos de monitoramento, bem como elementos fundamentais no funcionamento das tecnologias digitais, visto que eles potencializam o controle dos trabalhadores. Essas tecnologias também contribuem para a apropriação e incorporação de novas atividades à relação capitalista, possibilitando a introdução de processos de trabalho à cadeia de valor. Assim, as organizações conhecidas como plataformas digitais se valem da premissa de serem empresas de tecnologia para ocultar os princípios, crenças e valores incorporados aos algoritmos que elas próprias desenvolvem. No entanto, pode-se afirmar que eles carregam valores culturais e de mercado, assim como os princípios das próprias plataformas, que têm como propósito a eficiência do seu desempenho. A interdependência dessas tecnologias e das atividades de trabalho dos indivíduos que as utilizam é um importante aspecto para pensarmos as transformações recentes das relações de trabalho. Dessa forma, o propósito principal desta pesquisa foi refletir sobre a vigilância e o controle algorítmicos na gerência do trabalho a partir da compreensão de entregadores cadastrados na plataforma de entrega iFood na cidade de Curitiba. Para atingir este objetivo, refletimos também quanto às questões referentes à neutralidade algorítmica, à influência da gestão algorítmica nos comportamentos e ao modo como as tecnologias organizam o trabalho associados ao gerenciamento de si, ao empreendedorismo individual e às informações coletadas e processadas pelas plataformas. Trata-se de uma investigação que partiu da análise de vídeos produzidos por dois desses trabalhadores e disponibilizados na plataforma YouTube. O referido material mostrou-se relevante para compreender a operacionalização do aplicativo e a atividade de entrega em sua realização. Na segunda etapa da pesquisa foram feitas entrevistas em profundidade com sete entregadores, visando conhecer suas compreensões e experiências de trabalho. Os relatos do cotidiano e sobre o uso dos aplicativos propiciaram um esboço da organização social que configura e que é configurada pelas subjetividades desses trabalhadores que compõem essas relações. O conjunto desses documentos foi interpretado, então, a partir de um repertório teórico-conceitual sobre procedimentos disciplinares, autogerenciamento subordinado, assimetria de informações e panóptico algorítmico, propiciando o levantamento de considerações pertinentes acerca dos mecanismos de vigilância e controle da gestão algorítmica do trabalho mobilizada pelas plataformas digitais. A observação do corpus da pesquisa apontou, entre outras questões, a divisão técnica das atividades em séries para o acompanhamento da execução pela corporação, a ausência de uma gerência humana direta, o suporte insatisfatório relatado pelos trabalhadores,