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Condeúba, uma importante cidade baiana na década de 1920.

JOANDINA MARIA DE CARVALHO1 A vila de Santo Antônio da Barra, após a proclamação da República passou a se chamar Condeúba. Situada na região sudoeste da , a cidade figurou entre as principais do estado no período denominado como Primeira República. Essas constatações só foram possíveis devido a pesquisas desenvolvidas por pesquisadores que se debruçaram sobre fontes orais, escritas e iconográficas. Os depoimentos de idosos da comunidade revelaram a existência de uma outra cidade e de novos aspectos da sociedade local e regional. A partir de 1930, Condeúba entrou em um processo de declínio e não houve por parte do poder público e da sociedade condeubense o devido cuidado com a memória e história da cidade. Apenas nos últimos dois anos, o poder público local e a sociedade estão se voltando para o cuidado com o Paço Municipal, um bonito prédio do século XIX, onde existem registros deixados pela Coluna Prestes em abril de 1926. Quando passaram por Condeúba, a Coluna se encantou com a cidade e de uma maneira especial com o Paço.

Condeúba, uma importante cidade baiana na década de 1920.

A presente comunicação faz parte de uma pesquisa desenvolvida, por ocasião da especialização lato sensu, em História do Brasil – UESB – BA, entre os anos de 1998, 1999 e 2000. A temática central era Poder e Parentela em Condeúba, a alternância das famílias Torres e na política local. Mais recentemente, a minha transferência de Vitória da Conquista para Condeúba e o meu trabalho como professora e na assessoria à Secretaria de Cultura nas áreas de história e patrimônio trouxeram novas questões e necessidades. Três perguntas básicas são colocadas: 1) – Por que no período da Primeira República Condeúba estava entre as principais cidades baianas? 2)- Por que após 1930, a cidade e o município passou por uma estagnação econômica, social, cultural e política? Por que mais recentemente, o interesse pela história e memória condeubense é algo conflitante que interessa a alguns e não a outros. Situada na região sudoeste da Bahia, nas proximidades de Vitória da Conquista e Caetité, no final do século XIX e primeira metade do século XX, o município possuía uma área com cerca de 6.635 km². Em 1911 passou a ter uma nova divisão administrativa composta por cinco distritos: São Filipe, São João do Alípio, Santa Rosa, e distrito sede. Desses, São Filipe foi incorporado a , São do Alípio passou a se chamar Jânio

1 Professora da rede estadual na Bahia, licenciada em História e com especialização em História do Brasil pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB. Mestre em bens culturais e projetos sociais – CPDOC – FGV. Quadros, Santa Rosa/ Guageru e Candeal/ Cordeiros. Posteriormente, na segunda metade do século XX, esses se emanciparam de Condeúba. Segundo o censo demográfico de 1920, a população do município atingiu 60.297 habitantes com a estimativa de que cerca de 15% dela, ou seja 9.044 viviam no distrito sede. A dinâmica vida urbana do município, principalmente por sua vocação comercial colaborou para o crescimento demográfico acentuado no final do século XIX e início do século XX. No campo prevaleceu a agricultura familiar. Existiram poucas fazendas com pecuária e plantações de cana, ou seja, não existiam grandes latifúndios. Alguns trabalhadores rurais conseguiam sobreviver em suas próprias terras e outros trabalhando em terras alheias. Depoimentos de idosos do município enfatizam a importância de Condeúba antes de 1930. Segundo o Sr. Leonel Ribeiro:2 “O comércio era adiantado e bom. No princípio do século, por ouvir dizer, Condeúba era uma cidade de médio porte e com um comércio exuberante”. Por sua vez, o Sr. Remígio da Silva Filho,3 que trabalhou no comércio da época e posteriormente atuou como coletor federal, relatou com entusiasmo que chegou a ter em Condeúba 34 lojas comerciais. “Meu tio João da Silva Torres vendia de tudo: tecido, ferragem, material de fogueteiro, pregos, parafusos do tamanho que quisesse.” Já a senhora Laurinda Maria de Carvalho,4 residente na fazenda Alegre, há 55 km de Condeúba, confirma em seu depoimento o dinamismo da vida econômica do município. Seu pai José Rodrigues de Novaes ia de oito em oito dias a Condeúba entregar carga de couro ou de rapadura. “Lá, ele comprava as coisas que trazia para nós. Muitas coisas bonitas. Trazia vestidos, xales e tecidos”. Havia, portanto, um comércio dinâmico envolvendo as pessoas do campo e da cidade. A maneira de viver daquelas pessoas não era fácil, mas era um cotidiano a que se acostumavam. Criavam gado, trabalhavam na roça, faziam farinha, rapadura... Era verdadeiramente uma agricultura familiar e raramente havia migrações para as regiões sudeste e sul do país.

2 Depoimento do Sr. Leonel Ribeiro, concedido a Joandina Maria de Carvalho em março de 2000. O Sr. Leonel atuou como vereador no município de Condeúba, representando o distrito de Tremedal no período que antecedeu a sua emancipação (1948-1952). Filho do Sr. Eulálio e da Senhora Filomena Ferraz Ribeiro foi criado pelos pais adotivos: Leonel Pereira da Silva e Maria Nunes da Silva, dos quais herdou o talento para a política. No período da entrevista, ele residia em Vitória da Conquista, onde atuava como advogado. 3 Depoimento do Sr. Remígio da Silva Filho, concedido a Gildásio Alves e Joandina Maria de Carvalho em maio de 1997. Natural de Condeúba, onde viveu toda a sua vida, Sr. Remígio tinha uma memória extraordinária. Ele que perdeu o pai aos 20 anos, atuou no comércio com o Sr. João da Silva Torres e posteriormente atuou como coletor federal até se aposentar. Faleceu em 1988. 4 Depoimento da Senhora Laurinda Maria de Carvalho para Joandina Maria de Carvalho em outubro de 1997. Filha do Sr. José Rodrigues de Novais e Everaldina Novais, dona Laurinda atuou como dona de casa, artesã e trabalhadora rural. Casada com o Sr. José Martins de Carvalho teve 3 filhas mulheres e 6 filhos homens. Atualmente com 103 anos, dona Laurinda mora em Alegre, distrito de Condeúba. 2 Fontes escritas corroboram as informações das fontes orais. Em 1923 por iniciativa do prefeito João Torres, a corografia Memória Descritiva de Condeúba, escrita por Tranquilino Torres em meados da segunda metade do século XIX foi editada pela Tipografia Vieira. Ao texto de Tranquilino foi acrescentado Breve História de Condeúba, escrita por Nestor Evangelista de Carvalho com informações sobre a Condeúba da época. Esse livro foi impresso na Tipografia Vieira,

“O comércio é de grande atividade nos dias de feira que se realizam aos sábados. As feiras são bastante concorridas e muito abundantes de víveres, constituindo-se um celeiro de alguns municípios vizinhos. O comércio é considerado como um dos mais importantes da zona sertaneja. O mercado é situado no centro da Praça Conselheiro João Torres” (CARVALHO, 1924: 119-120)

Esse mesmo trabalho, escrito em 1924, informa que existiam 14 destilarias em todo o município para o fabrico da aguardente, nove engenhos de ferro, sistema “stamato” para o fabrico do açúcar e rapaduras e 106 de madeira para o mesmo fabrico. Calculam-se mais de quatrocentos fábricas para mandioca, sendo algumas movidas a mão e outras a cavalo. Contava ainda o município com 70 lojas de tecidos e miudezas, trinta e cinco de molhados, louças e ferragens e duas farmácias. O transporte é feito por cavalos e mulas, em número de 830. O autor esclarece que as informações foram colhidas nos livros de lançamentos de impostos municipais, de indústria e profissão. Embora, ele não informe o ano, é provável que esteja se referindo ao período privilegiado em seu texto, ou seja, década de 1910 e 1924. As rendas municipais, que em 1893 era superiores a 19.000$000 decresceram consideravelmente de 1904 a 1911, atingindo apenas 11.000$000, mas a seguir, no exercício de 1912, foram aumentando progressivamente até chegar a 24.000$000. O município contava com um eficiente sistema de cobrança de impostos, através da coletoria estaduais, nacionais e municipais. Assim, era possível fazer mais pela cidade. Na década de 1920 o município era composto de cinco distritos de paz: o da cidade, compreendendo também Piripá, Bom Jesus de Tremedal, São João do Alípio, Santa Rosa e Caraíbas. Fizeram parte de Bom Jesus do Tremedal as povoações de Venda e São Felipe, tendo sido esta, por algum tempo, sede do distrito. Faziam limite com Condeúba: , Caculé, Bom Jesus dos Meiras e Conquista. Confina-se ainda com o estado de Minas Gerais, pelo lado do sudoeste, uma distância de 30 Km, tendo como divisa o morro de Condeúba. O anexo a Memória Descritiva escrita por Nestor Evangelista, um dos assessores do prefeito João Torres, assim como as fontes orais e exemplares do jornal O Condeúba, informam que os mandatos do coronel Manuel de Assis Ribeiro na segunda década do século

3 XX, do Sr. João da Silva Torres, (1920-1923), do Sr. Remígio da Silva (1924-1927), do Sr. Gustavo Fagundes de Lima (1928-1930) demostraram que esse grupo político de base familiar estava em sintonia com o governo do estado. Na década de 1920, sobretudo nos governos do Sr. João Torres em nível municipal e do Sr. José Joaquim em nível estadual, Condeúba recebeu muitos investimentos principalmente na sede do município. A década é apontada pela documentação como um período de retomada do progresso tanto do ponto de vista econômico, como político e cultural, já que após um período de decadência, a cidade tinha um aspecto de abandonada. Segundo Nestor Evangelista, secretário da intendência, a cidade passou a contar com investimentos que resultaram no melhoramento da urbis, em construções e reconstruções, a exemplo do Paço Municipal, reinaugurado em 25 de janeiro de 1922 e do prédio escolar autorizado pelo governo do estado e reinaugurado em 03 de julho de 1923. Outra realização desse período foi o restabelecimento da comarca de Condeúba, que desde 1904 ficou pertencendo a Vitória da Conquista. O dois de julho de 1923 foi um período de festa para a população de Condeúba, pois além de comemorar o dia da independência da Bahia, comemorou-se também o restabelecimento da Comarca. As comemorações cívicas e inaugurações foram “abrilhantadas pelas apresentações da filarmônica Santa Cecília, que executou o hino nacional, sendo muito aplaudida por todos os presentes”. Uma outra conquista atribuída ao intendente e ao Conselho Municipal foi a inauguração em 03 de maio de 1922 de uma estação telegráfica, fato de extrema importância frente às dificuldades da época. (CARVALHO, 1924: 124-132). Naquele momento da história, assim como as construções de estradas de ferro eram indicativos de desenvolvimento. Um outro evento considerado de suma importância para a cidade e que “fechou com chave de ouro” a administração de João Torres, foi a publicação da Memória Descritiva de Condeúba pela Tipografia Vieira, cujo autor foi um ilustre condeubense, sócio fundador e um dos primeiros presidentes do Instituto Histórico e Geográfico da Bahia, livro esse prefaciado por Francisco Borges de Barros, membro da Academia Baiana de Letras e oficial de gabinete do governador José Joaquim Seabra. O jornal Brasil Revista, de propriedade de uma associação comercial da capital, em maio de 1925, dedicou duas páginas ao município de Condeúba e aos feitos dos seus governantes. Na dedicatória de Breve Notícias de Condeúba, Nestor Evangelista de Carvalho, informa que o principal objetivo do texto era homenagear o jovem cidadão e intendente,

4 principal líder de Condeúba na década de 1920. Para ele, esse intendente foi o principal líder do município em um momento de uma série investimentos. A cidade passou por uma revitalização que incluiu reformas em prédios públicos a exemplo do Paço Municipal, cemitérios, escolas e publicação da Memória Descritiva de Condeúba de autoria do condeubense Tranquilino Torres. O texto traz informações sobre instrução pública, meio de comunicação, população, comércio, agricultura, estabelecimentos rurais e rendas municipais. A primeira oficina de tipografa que existiu na cidade pertenceu ao capitão José Vieira. Ali foi editada a Memória Descritiva de Condeúba, de autoria de Tranquilino Torres com anexo de Nestor Evangelista de Carvalho, exemplares do Jornal O CONDEÚBA, meio de comunicação quinzenal distribuído na região. Foi publicado desde 12 de outubro de 1916 por um semestre e retomado depois, na década de 1920. Durante esse intervalo, Condeúba contou com outro jornal, O ALVORECER, de propriedade do tenente Helvécio Ribeiro. É desse período também a organização de um prédio escolar, situado na principal praça da cidade. Tratou-se de um lugar moderno e bonito. A inauguração dessa escola se deu em Julho de 1923, fazendo parte das solenidades, e festejos do centenário da Independência da Bahia com a presença do intendente João Torres, Juiz Pompílio Dias Leite, Cel Fidelcino Augusto dos Santos, intendente de bom Jesus dos Meiras e padre Waldemar Cunha. O discurso de padre discorreu sobre religião e instrução. O segundo orador foi o professor João Ângelo do Sacramento que relembrando as tradições, dissertou sobre a educação das crianças, a criação do grupo escolar e elogiou o intendente da época com vivas entusiasmados, em que fora correspondidos. Em seguida a filarmônica Santa Cecilia abrilhantou a festa com uma grande apresentação. O texto de Tranquilino é uma corografia escrita no final do século XIX, que traz informações sobre o extenso município. É dividido em três partes: Geografia, História Eclesiástica e História Civil. Foi prefaciado por Francisco Borges de Barros, membro da Academia Baiana de Letras, ligado diretamente ao então governador, José Joaquim Seabra. Esse afirma em seu texto que,

“Na obra em apreço vê se que o seu autor leu tudo, esmerilhou tudo, assimilou tudo com a paixão de um especialista, com paciência invencível que constituem os dotes primordiais dos que se devotam as causas do passado. Do modo como foi traçado, persuasivo com larga segurança de vista e admirável poder de síntese. Foi o maior serviço que pode ser prestado às letras históricas e geográficas do seu Estado.” (BARROS, 1924)

5 Certamente, os principais protagonistas citados acima não imaginavam que o município vivia na década de 1920 um período áureo e que posteriormente entraria em processo de declínio. “Os povos cantam o seu progresso pelos registros, pela sua história, pelo valor de seus historiadores, geógrafos e homens de ciência. Terra sem história equivale a uma terra sem vida”. 5 Na conclusão do texto de Tranquilino Torres, vê se uma ata de uma reunião extraordinária da Câmara Municipal, convocada na forma da lei e realizada em 02 de dezembro de 1889 com o fim de apoiar a proclamação da República. Políticos e comerciantes da época assinaram a ata e aqueles que foram convocados e não compareceram tiveram que pagar uma multa. O sentimento era favorável à República. A atual administração de Condeúba através do prefeito Silvan Baleeiro, Secretário de Cultura Ygor Roberto e sua assessoria juntamente com o advogado e historiador Ruy Medeiros estão empenhados em tornar a segunda edição do livro uma realidade, o que certamente será uma conquista ímpar para Condeúba e região. Tranquilino Torres foi um importante pesquisador e autor das coreografias dos municípios da Vitória, Poções e Isabel Paraguaçu (atualmente Mucugê). Sócio fundador do Instituto Histórico e Geográfico e pesquisador incansável, certamente se dedicou ao trabalho sobre o município em que nasceu. Durante toda a Primeira República, o poder político em Condeúba pertenceu ao grupo político de base familiar dos Torres. O grande número de coronéis e a presença de três deles como representantes do poder local no legislativo estadual demonstra sintonia como o coronelismo estadual e com a política implementada pelo presidente Campos Sales (1898- 1902). Em Condeúba existiram coronéis fazendeiros, coronéis comerciantes e coronéis pelo carisma, o que vem confirmar explicação do Sr. Vítor Nunes Leal, segundo o qual não há uma palavra no seu livro Coronelismo, Enxada e Voto, pela qual se possa atribuir o status de senhor absoluto ao coronel, ou as expressões de mando do sistema coronelístico. (LEAL, 1980) A partir de 1912 e até 1930, a política local esteve sob o comando do grupo liderado pelo coronel Manuel de Assis Ribeiro, sendo sucedido por seus genros, pessoas também influentes na sociedade local. A senhora Áurea de Assis Ribeiro casou-se com o senhor João da Silva Torres; A senhora Horminda de Assis casou-se com o senhor Jovino Arsênio da Silva; A senhora Maria de Assis Rocha casou-se com o senhor Olímpio Rocha. O filho Autínio de

5 BARROS, Francisco Borges. Prefácio à Memória Descritiva de Condeúba. Tipografia Vieira, 1924.

6 Assis Ribeiro, que faleceu jovem deixou viúva a senhora Maria de Assis Ribeiro e o filho Edésio de Assis Torres. O Sr. Remígio da Silva, assim como José Vieira, também faziam parte do grupo. O período entre 1920 e 1924, em nível de coronelismo baiano, aconteceu um declínio do governador Seabra. Em nível de política local aconteceu o período áureo de domínio do grupo de base familiar dos Torres. Uma das principais especificidades do coronelismo local foi, entretanto, segundo se pode apreender dos documentos consultados, o fato de entre 1910 e 1930, Condeúba não ter se constituído um estado informal semelhante a outros no mesmo período na história da Bahia. Ao contrário dos chefes políticos locais que se rebelaram contra o governo do estado, em Condeúba manteve- se a tradição de sintonia com o governo. Diante de situações de conflito entre o governo de Artur Bernardes e tenentes, registros encontrados em jornais de Condeúba manifestam “solidariedade ao chefe da nação”. Percebe-se nos jornais uma visão conservadora a respeito do que estava acontecendo no país e ao mesmo tempo um desejo de que o município estivesse integrado ao “desenvolvimento” do Brasil e da Bahia. Embora o município contasse com um grupo de leitores, a maioria da população vivia à margem dos acontecimentos do país. Em Condeúba, o sucessor do Sr. João Torres na intendência municipal foi o seu irmão Remígio da Silva, cujas principais realizações foram a remodelação do cemitério municipal, a aquisição de um prédio para a estação telegráfica da cidade, a construção de um mercado para as feiras semanais no distrito do Candeal, e subvenção para a construção do prédio que servia de sede para filarmônica local, além de diversos melhoramentos na cidade.6 Foi em um período do seu mandato que estiveram em Condeúba membros da Coluna Prestes, das forças legalistas e dos jagunços que serviam a coronéis como o Sr. Horácio de Matos. Depois de ter atravessado a Chapada Diamantina, inclusive passado por Rio de Contas e Vila Velha do Livramento, chegaram à região sudoeste, incluindo entre os diversos lugares: Vila Nova do , , Vila do Caculé, povoado de Rio do Antônio e finalmente Condeúba, exatamente em 15 de abril de 1926. Em seu livro, Lourenço Moreira Lima, assim descreve Condeúba no momento da passagem da Coluna Prestes:

“A população fugira toda. Prendemos um caixeiro viajante que se escondera no mato. Pouco tempo depois chegou um seu irmão, dono de uma tipografia, na qual imprimimos um boletim. Condeúba foi a melhor cidade que visitamos no sertão baiano. É rica e grande, tendo várias ruas calçadas e uma boa edificação

6 Boletim O Condeúba, no qual o prefeito Remígio Silva presta contas à população. 7 particular. Possui um belo prédio destinado à Intendência Municipal. Soltamos os presos que encontramos na cadeia, como fizemos em Rio de Contas e todos os lugares por onde passava. Aí demoramos até a manhã do dia 17”. ( LIMA, 1979: 303-304)

O principal objetivo da Coluna Prestes era percorrer o interior do Brasil com o objetivo de mobilizar a população contra o governo e as oligarquias. O presidente da República da época era o mineiro Artur Bernardes. A Coluna chegou a contar com 1500 homens que marcharam por 25.000 Km, percorrendo 13 estados brasileiros, O chamado laço húngaro, manobra que aconteceu no norte de Minas Gerais, permitiu que a Coluna Prestes retornasse para a Bahia. Segundo Jorge Amado, “Prestes reingressa em território baiano pelo município de Condeúba, onde havia passado na descida”. (AMADO, 2011: 155). Depoimentos orais e documentação escrita esclarecem que não houve embate entre poder político e elite local e mesmo população com os membros da Coluna Prestes em Condeúba. O tempo de movimentação no município - cerca de um mês – se deve ao fato de membros desse grupo ficaram 3 dias na cidade e em seguida adentrarem para o norte de Minas Gerais, de onde retornaram passando de novo por Condeúba, onde havia passado na descida. Segundo Lourenço Moreira Lima, “da Chapada Diamantina até Minas e nesse estado, os campos estavam floridos”. (LIMA, 1979: 298-299). Se para a população de Condeúba, a passagem da Coluna Prestes foi motivo de transtornos, para os “revolucionários” aquele foi um momento dos mais tranquilos. Ali encontraram fartura, povo pacífico e tempo favorável. Entre 1927 e 1930, quando o intendente era o Sr. Gustavo Fagundes de Lima, encerrou-se o mando dos Torres. Em seu lugar reassumiu o poder a família Cordeiros, que ficou a frente da política local por um longo tempo. Os principais protagonistas desse retorno foram o coronel José Moreira Cordeiro e seu genro Joaquim Mutti de Carvalho. Um dado importante é que ambos não residiam em Condeúba, mas no então distrito do Candeal. A cidade passou então a ser governada por um coronel fazendeiro e por um viajante apelidado de Cometa. Comercializava remédios na região. Esse, que veio de Santo Amaro no recôncavo baiano casou-se com Djanira Cordeiro, única filha do Coronel José Moreira Cordeiro. A partir de 1930, o mandonismo local na Bahia assumiu novas características. Os “coronéis” não recebiam mais o título e a patente do governo federal, mas se adaptaram a nova ordem, disciplinando-se às leis e aos partidos políticos. As ações dos novos chefes políticos baianos contribuíram para a manutenção do sistema. Em Condeúba, o conhecido Sr, 8 José Moreira Cordeiro, coronel Zezinho, que esteve afastado do poder público municipal, durante o período de predominância do grupo de base familiar dos Torres, ao assumir o executivo local inicia uma nova fase da história política de Condeúba, agora um sistema de domínio familiar. Nesse sistema, o recrutamento e a mobilização para a política dependem exclusivamente do grupo de parentesco. (LEWIN, 1993: 22). Após 1930, os Torres perderam o poder. Tinha chegado a vez dos Cordeiros, que passou a contar com o Sr. Joaquim Mutti de Carvalho, o famoso genro do coronel Zezinho.

Fontes Impressas:

Jornal: O Condeúba (Condeúba, 1924 – 1925) Arquivo Particular do Dr. Osvaldo Torres – Condeúba – Ba.

Jornal: Brasil Revista ( Salvador, 1925) Arquivo Particular de Dr. Osvaldo Torres – Condeúba – Ba.

Diário do Centenário. Publicação Oficial. 1922. Edição Especial do Centenário. Arquivo Particular do Dr. Waldenor Alves Pereira – Vitória da Conquista – Ba.

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TORRES, Tranquilino Leovegildo. Memória Descritiva do Município de Condeúba. Condeúba. Tipografia Vieira, 1924.

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9 Fontes Orais:

Entrevistas não Publicadas

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