Expressões Culturais

Afrobrasileiras em BH

capoeira . comunidades tradicionais de terreiros . dança-afro . hip hop . quilombos . reinado . samba . soul

CATÁ LOGO 2012- 2013

Expressões Culturais Afrobrasileiras em BH

Ligação com Lugares e Participantes Apresentação África Eventos 3 5 6 14 . . Samba Reinado Terreiro Soul 18 65 92 162

Capoeira Dança Afro Hip hop Quilombo 185 218 234 262

Perfil dos Ficha Técnica Entrevistados 272 277

2 ENTRADAS DO CATÁ LOGO • SAMBA • Domingos do Cavaco • Ângelo Almeida Lima, Os Inocentes de Santa Tereza • Lúcia Santos • Dóris • Nonato do Samba • Doneliza • Felipe Diniz Marinho, Grêmio Recreativo Cultural Escola de Samba Força Real • Mestre Linguinha, Escola de Samba Canto da Alvorada • Gelson Luiz • Mário César de Almeida, A.R.E.S Unidos Guaranis • Eduardo Raimundo Bavose, Grêmio Recreativo Escola de Samba Estrela do Vale • Jadir Ambrósio • Silvestre • Plínio, João e Mauro Saraiva, Irmãos Saraiva • Black Pio • Mandruvá • Dé Lucas, Grupo Na Cadência do Samba • Mestre Affonso • Lagoinha • Fabinho do Terreiro • Carlinhos Visual • Reinaldo do Curral do Samba • Silvio Luciano • Zé do Monte • Bira Favela • César de Aguiar • Waltinho Sete Cordas • Serginho Beagá • Mestre Conga • Geraldo Magnata • Xiquinho Poeta • Dudu Nicácio • Edinho • Lulu do Império • Alexandre Silva Costa (Lee), Escola de Samba Cidade Jardim • Fernando Bento • Márcio Nagô • Nilton Maravilha • Marcelo Roxo, Grupo Fidelidade Partidária • Ronaldo Coisa Nossa • Valdete da Silva Cordeiro, Grupo Cultural Meninas de Sinhá • REINADO • Francisca Enetéria Evangelista, Guarda de Moçambique Três Coroas de Nossa Senhora do Rosário • Guaraci Maximiniano dos Santos, Guarda de Moçambique Nossa Senhora do Rosário de Pompeia • Isabel Casimira das Dôres Gasparino, Guarda de Moçambique e Congo Treze de Maio de N. S. do Rosário • Maria Anastácia Calixto, Guarda de Moçambique de Santa Efigênia • Maria Solange Leandro Esteves, Guarda de Moçambique São Benedito • Nelson Pereira da Silva, Guarda de Moçambique N.S. do Rosário e Sagrado Coração de Jesus • Jeremias Felipe Gomes, Irmandade de Moçambique N. S. do Rosário do Nova Gameleira • Damião, Guarda Congo Velho de Nossa de Senhora do Rosário • Eudes, Guarda de Marujos de São Cosme e Damião e de N. S. do Rosário • Ildefonso Motta, Irmandade de Nossa Senhora do Rosário do Jatobá • Hélio Silva, Guarda de Moçambique Nossa Senhora do Rosário Nova Granada • Dílson de Oliveira Faria, Associação Beneficente Dança de Congado da Vila Santo André • Maria Aparecida de Souza, Guarda de Moçambique N. S. do Rosário e São João Batista • Zelita Pereira da Silva, Guarda dos Caboclinhos do Divino Espírito Santo • Rodrigo Luís Sabino dos Santos, Guarda de Moçambique do Divino Espírito Santo do Reino de S. Benedito • Maria do Rosário de Moura, Guarda de Moçambique Nossa Senhora do Rosário e São José • Odete Maria dos Santos, Guarda de Congo São Benedito e N. S. do Rosário do Cabana • Kelma Gizele, Guarda São Jorge de Nossa Senhora do Rosário • Cleone da Silva Pedro, Guarda de Moçambique de Nossa Senhora da Divina Providência • Zilda Pereira Lisboa, Guarda de Congo Feminina Nossa Senhora do Rosário • Manoel Fonseca dos Reis, Centro Cultural Chácara Maria Reis • TERREIROS • Isabel Casimira das Dores Gasparino, Centro Espírita São Sebastião • Tata Italengombi, Cabana Espírita Umbandista Caboclo Flecha Dourada • Ricardo de Moura, Casa de Caridade Pai Jacob do Oriente • Geraldo Ubiraí Neves Winter, Centro de Parapsicologia Cosme e Damião • Noezi Ferreira de Oliveira, Ilé Ojó Obá Kaô • Guaraci Maximiano dos Santos, Centro Espírita São Sebastião • Reginaldo Teixeira da Silva, Nzó Atim Obatolocy • Mãe Nilce, Templo Umbandista Pai Joaquim de Aruanda • Sidney d’Oxóssi, Ilê Wopo Olojukan • Mãe Deija, Ilé de Iemanjá • Jorge de Oxum, Kwé Dansitonude • Elmito Marques da Silva, Centro Espírita Ogumbejé • Rosane Benedita Pereira de Melo, Centro Espírita Pai Jobino da Bahia • Mãe Marlene de Gantois, Casa Espírita Discípulos do Pai Eterno • Mãe Cecília, Casa Espírita Pai João de Aruanda • Norcélia de Oxum, Kwê Zoorodê • Tânia Moreira, Terreiro Pai José do Rosário • Ivanildo Cassimiro, Centro Espírita Pai Mateus de Angola • Sidney, Centro Afro Brasileiro Nzo Atim Oiá Oderin Atim Katispera • Andréia de Oyá, Ilê Axé Omi Ogunsade • Laura de Ogum, Centro Espírita Ogum Megê • Mãe Luanderê, Centro de Irradiação Espírita Umbandista Mãe Maria Conga • Sandra de Melo, Centro Espírita de Umbanda Omoluaruaru • Pai Doca, Rupami Ayoni Jiboni • Jairo Ribeiro Lopes, Centro de Irradiação Nossa Senhora do Rosário de Fátima • Zumbá, Terreiro Oca Tupinaré • João Bosco Arabeken do Candomblé, Centro Religioso e Cultural Áfrico-Brasileiro Logun Edé • Ronie Pereira, Ilê Rumpami Geleci • César de Odé, Tenda Espírita Xangô Airá • Hélio Motti, Centro Espírita Caboclo Sete Liras do Mar • Edineuza Porto Santos, Roça Bakisso Ki Inkissy • Nilza de Xangô, Centro Espírita Pai Xangô • Flávio Correia de Lima, Ylê Alaketu Ya Osun • Maria da Conceição, Ilê Wopô de Nanã • Mãe Cris de Oxalá, Casa Oxalá dos Montes Altos • Reinaldo de

3 Osogyan, Ilê Axé Babá Byyomin • Vitória Paulina de Araújo, Tenda Espírita Umbanda Sete Forças Divinas • Nair dos Anjos de Moraes, Templo Umbandista Pai José de Moçambique • Maria de Fátima Nogueira, ARCA Brasileira Jacutá de Iansã • Lourdes de Iemanjá, Centro Espírita de Umbanda Ya Oba Ca Ô • Anderson Vicente da Silva, Terreiro Ilê Axé Odé Omilá • Mãe da Luz, Casa de Caridade Ogum Beira Mar • Leonardo de Oxóssi, Ilê Axé Ibó Ode • Lucineide Porto de Paula Santos, Ilê de Odé • José Augusto Pinto, Tenda Espírita Caboclo Sultão das Matas • Henrique Perret Neto, Centro Espírita Estrela do Oriente • Geralda Rosa Martins, Centro Espírita de Umbanda Pai Cipriano • Iara Bárbara de Andrade, Choupana de Umbanda Cabocla Jussara • Fabiana, Kwê Vodum Azam Tobossi • César T’Ogun e Vilmara D’Osun, Ilê Asé Oya Ku Ru Ge Si • Tatetu Londeji, Roça Branca Terreiro de Candomblé • Geraldo Chamone Sobrinho, Cabana Espírita Umbandista Caboclo Pena Azul • Maria José da Silva, Tenda Espírita Umbandista Obaxaim • Italesimbi, Dandalunda Kissimbi Keuamasi - Candomblé Angola Moxicongo • Márcio Luiz de Castro, Ilê Axé Oba Tunde • Claudia Bertonili Gregório, Centro Espírita Pai Serapião • Cleone de Souza Pedro, Centro Espírita Marechal Floriano Peixoto • Marjove Augusta Manini Soares, Ilê Axé d’Oyá Kunliejy • Cássia Aparecida Carlota, Centro de Umbanda Nanã e Xangô • Mametu Muiandê, Terreiro de Candomblé Angola Manzo Ngunzo Kaiango (Senzala de Pai Benedito) • Maria Ivone de Sena Brasil, Centro Espírita Pai José de Aruanda • Luiz Safé, Ilé Asè Odé Safé Edún Ará • Marlene Tavares, Centro Espírita Caboclo Ficheiro • SOUL • Toninho Black, Baile da Saudade (Black Power Hits) • Black Steve • Mestre Tito, Brother Soul • Lord Tuca, Comunidade do Soul • James • Kaká • Lília Mari • Lorinho • Luís Cadeado • Miquita • Misael Avelino • DJ Abelha, Movimento Black Soul • Geraldinho, Quarteirão do Soul • Ronaldo Black • CAPOEIRA • Maíra Cesarino Soares, Grupo Bantus Capoeira • Marcelo de Paula, Instituto de Capoeira Brasileira • Bocão, Centro de Cultura Canzuá Capoeira • Raimundo Ferreira de Souza, Grupo Internacional Oficina da Capoeira • Mestre Cavalo, Muzenza Capoeira • Mestre Buléia, Centro de Cultura Arte Quilombo Capoeira • Jamil Francisco da Costa, Centro Cultural e Social de Capoeira Mandinga Mineira • Mestre Índio, Associação de Capoeira Angola Dobrada • Mestre Binha, Associação Sinhá Bahia de Capoeira • Mestre Fuinha, Associação de Capoeira Cordão de Ouro • Nego Humberto, Grupo Axé Para Todos • Mestre Gavião, Grupo de Capoeira Mãe África • Mestre Agostinho, Grupo Ginga de Capoeira • Mestre Jiboia, Grupo de Capoeira Minas Gerais • Professor Camaleão, Grupo Abadá Capoeira • Mestre João Angoleiro, Associação Cultural Eu Sou Angoleiro • Mestre Mão Branca, Grupo Capoeira Gerais • Mestre Tulipa, Centro Cultural Social Tradição de Bamba Capoeira • Mestre Aranha, Grupo Negaça • Mestre Chicoreba, Associação Malícia Brasil Capoeira • Mestre Gato, Grupo Estilo Capoeira • Cinésio Feliciano Peçanha, Fundação Internacional de Capoeira Angola • Contramestre Rene Lopes, Associação Cultural de Capoeira Angola Camujere • Contramestre William, Associação Cultural de Capoeira Angola BHZ • Mestre Boca de Peixe, Associação Cultural Companhia de Pernas pro Ar • Mestre Beto Onça • DANÇA-AFRO • Djalma Januário, Agbara • Carlos Afro e Cia • João Angoleiro, Companhia Primitiva de Arte Negra • Associação Cultural Odum Orixás • Fabiano Camilo, Samba de Terreiro • Patrícia Alencar, Primeira Dança • Júnia Bertolino, Cia Baobá de Dança • Evandro Passos Xavier, Cia de Dança Bataka • Munrra, Grupo Cuenda • Rô Fatawá, Associação Aruê das Gerais • Flávia Soares, Companhia de Dança Arte da Pedra • HIP HOP • Negro F • Eduardo Sô • HISNE • Hely Costa, Grupo Cultural Arte Favela • Reinaldo Ribeiro, Spin Force Crew • Cleidson de Paula, Kontrast • DJ A Coisa • Rodrigo B-boy, Elemento X • DJ Pooh, Retrato Radical • Ed Mun • Dj Roger Dee • Ice Band • Roger Deff, Julgamento • B-boy João, Lokomotion • IRON • MC Simpson • Rapper Blitz, Coletivo Nós Pega e Faz • DJ Francis • Victor Magalhães, Coletivo Bambata • PDR Valentim, Família de Rua • Lauana MC, Larissa MC e Vanessa Beco MC, Negras Ativas • Lelo Black • DJ Bené Ramalho • QUILOMBOS • Miriam Aprígio Pereira, Comunidade Quilombola de Luízes • Makota Cássia, Manzo Ngunzo Kaiango • Maurício Moreira dos Santos, Comunidade Quilombola de Mangueiras

4 01. APRESENTAÇÃO

Este Catálogo reúne 210 expoentes de oito expressões culturais afrobrasileiras da cidade de Belo Horizonte. Mestres e praticantes de Capoeira, Dança-Afro, Hip Hop, Reinado, Samba, Soul, Comunidades Tradicionais de Terreiros e de Quilombos estão aqui presentes, dando mostra da diversidade afrobrasileira nesta cidade. O Catálogo contém o testemunho, em primeira pessoa, do envolvimento de cada participante com a sua manifestação. O conjunto dos depoimentos revela um pouco da intimidade de cada uma das expressões culturais através das pequenas biografias de seus praticantes, que compartilham detalhes de suas experiências pessoais. Os testemunhos falam de carreiras artísticas, realizações políticas e de vivências religiosas. São músicos, dançarinos, capoeiristas, ativistas e devotos dedicados a promover divertimento, cidadania e o culto a santos e divindades. O material reunido é, em parte, um inventário dos grupos, em parte um documentário sobre histórias de vida. Mas a listagem ordenada, a compilação dos relatos e a identificação de praticantes de cada expressão cultural compõem um conjunto mais parecido com um Catálogo. Embora abrangente, não é um Catálogo completo. Longe disso. A coletânea é uma amostra representativa de um universo muito maior de expoentes e lideranças dos principais movimentos afrobrasileiros que cobrem a cidade. O número de entrevistados de cada expressão cultural foi quase sempre proporcional a uma estimativa, feita em 2011, do número total dos seus representantes na cidade. São aqui apresentados 33 grupos de capoeira, 11 grupos de dança afro, 21 de reinado, 62 de comunidades tradicionais de terreiro, 16 de soul, 41 de samba, 23 de hip hop e, por ser um número pequeno, todos os três quilombos auto reconhecidos da cidade. A proporção de entradas em relação ao universo dos componentes de cada expressão buscou manter uma relação razoável entre mapa e território, ou representação e inventário completo. No entanto, mesmo sendo o maior número de entradas do Catálogo, os 62 depoimentos de comunidades de terreiros formam a menor proporção em relação ao número conhecido de terreiros na cidade. Um inventário recente das comunidades tradicionais de terreiro na Região Metropolitana de Belo Horizonte registrou mais de 300 terreiros. Contudo, para o intuito desta exposição, os 62 depoimentos configuram um mapa suficientemente representativo do território ocupado pela religiosidade de matriz africana na cidade. As entradas para cada uma das oito expressões culturais são introduzidas por estudiosos do tema. Os textos resumem a história de cada expressão cultural, dando destaque à trajetória da manifestação em Belo Horizonte, e incluem uma bibliografia básica para quem quiser saber mais sobre o tema. Os gêneros culturais e os estilos artísticos tratados neste Catálogo contam uma parte da história dos afrodescendentes na cidade. As produções artísticas e as celebrações rituais de hoje dão continuidade a modos de expressar anseios e valores que foram criados, recriados e atualizados ao longo da sua trajetória histórica na cidade. Enquanto o hip hop e o soul são expressões mais recentes e provêm de ligações com outras diásporas africanas, a capoeira, as comunidades de terreiros, o reinado e o samba são tradições mais antigas, incorporadas ao patrimônio cultural do país. O legado dessas histórias está presente nas cerimônias e nos eventos que promovem, nos lugares que ocupam e nos espaços da cidade onde se apresentam.

5 02. LIGAÇÃO COM ÁFRICA

A maioria das pessoas entrevistadas para este Catálogo considera a sua expressão cultural como sendo afrobrasileira – como uma das tradições formadas a partir do desenvolvimento de matrizes culturais africanas em contextos históricos brasileiros. Um número muito pequeno, apenas 4% dos entrevistados, descartou o vínculo com a origem africana e um passado escravo. Mas todos os outros reconhecem a formação histórica de uma cultura afrobrasileira e falam de:

raízes, de linhagem, da ancestralidade, da matriz afro, da continuidade, da mistura, da miscigenação, do Brasil como lugar de criação do novo, da interlocução de negros com indígenas e brancos, e de uma negritude afrobrasileira em que a matriz africana não se ligou ao português, mas a algo original, ao brasileiro, ao brasileiro afro.

À pergunta “VOCÊ CONSIDERA A SUA EXPRESSÃO CULTURAL, AFROBRASILEIRA? POR QUÊ?”, apresentamos algumas respostas, ordenadas alfabeticamente pelo nome do respondente.

– Totalmente. Porque são as minhas raízes, porque é o sangue que corre nas minhas veias. O barulho do tambor que emociona e me envolve, me faz amar a Afonso vida. O barulho me faz viver, faz sonhar... E aí, eu vou falar aqui até amanhã Marra Filho, cedo, se você quiser. Tudo isso tem relação direta com a cultura Mestre afrobrasileira... Nas palestras que eu faço, nas escolas, colégios, Afonso: universidades, eu levo um pouco da negritude, da nossa história, né, para (in dentro desses lugares. Porque as pessoas, às vezes, não tem o menor memoriam) conhecimento do que é, como é que é, para que é. Às vezes você começa a comentar determinadas situações, as pessoas choram. O que elas sentem, elas falam: “Meu Deus, eu não imagina que pudesse ser assim?” Mas é.

– Eu acho que isso é um paradoxo. Muita gente acha que samba é só para negros. Mas eu penso que, sendo brasileiro, pra mim, já é sambista. O samba Alexandre é do brasileiro, é uma coisa brasileira. É de resistência. Antes da abolição da Silva Costa, escravatura já tinha essa resistência. Não acho que é estanque: que só os Lee: negros e a população afrobrasileira que fazem e podem fazer samba. Acho que é brasileiro.

Aloísio – O soul é afro. Ele nasceu nos Estados Unidos, mas a musicalidade veio da Gomes Vaz, África. E no Brasil o soul se difundiu primeiro entre os negros. Steve:

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Andréia Barroso, – Porque temos manifestações religiosas na casa, exaltamos a cultura Andréia de Oya afro através das roupas, das comidas. Fazemos uma festa ao ano, a (Iansã): festa da comida africana.

Ângelo Almeida – Onde tem toque de tambor é negro, preto, está nas raízes. O toque do Lima, Pantyola: tambor vem de nossas raízes africanas.

Antônio Eustáquio – Porque fazemos o maculelê, o samba de roda, a dança afro e todos eles de Jesus, têm origem afrobrasileira, todos foram trazidos ou inventados por Mestre Tulipa: escravos.

Carlos Fernando – Pelas origens da capoeira, que foi criada pelos escravos, vindos da da Silva, África, mas que ficaram aqui no Brasil e aqui desenvolveram a capoeira. Mestre Gato:

Carlos R. da – Primeiro só de eu ser negro. Eu nasci negro no morro, eu sou afro- Silva, brasileiro. Carlinhos Visual:

– Porque tem tudo a ver com a terra em que a gente está: o Brasil, e também a língua que a gente fala. Essa é a terra que nossos orixás escolheram para a gente estar, pois o homem pode ter trazido o negro para cá, mas isso aconteceu porque o orixá permitiu. Senão, nem lá na África os colonizadores chegariam. Eu acredito que de alguma forma nós César Augusto precisaríamos estar aqui para vivenciar algo, então os orixás permitiram que da Silva, a gente viesse. Agora a gente está aqui no Brasil. É ele que é a nossa pátria César e terra, mas nem por isso esquecemos nossas origens que é a mãe África, Marimbondo: onde estão meus ancestres. Assim, a gente não toca um candomblé igual em ponto e vírgula como acontece na África, pois o que foi passado e nós conseguimos assimilar nessa terra seria esse nosso candomblé. Esse candomblé que superou a escravidão, esse candomblé no Brasil que enfrentou os senhores de engenho e que lutou contra o preconceito, que ainda hoje existe.

– Nossos ancestrais africanos trouxeram o candomblé de lá da África e, ao chegarem aqui, tiveram que se ajeitar e acabaram juntando suas práticas César Pinto de com a dos índios. Misturou-se, portanto, na religião católica que já estava Oliveira, aqui, os deuses africanos, como os orixás e os deuses dos índios, como César de Odé tupã e caipora. Dessa forma, se for preciso a gente cantar em umbanda Oxóssi: pura, a gente canta, se for preciso cantar em Banto, a gente canta, e se for preciso cantar em Iorubá, a gente também canta. Nesse sincretismo que entram nossas raízes africanas e nossos ancestrais.

– É claro, só tem “negão” no Coletivo Bambata. O hip hop já é uma cultura Coletivo afrobrasileira, e eu falo isso pela sua identidade no Brasil. É claro que a Bambata, identidade do hip hop mesmo, mundialmente, também é negra, mas eu acho Victor que a identidade que ele adquiriu em cada estado do Brasil, no início da Luciano: década de 80, ele perpetuou dentro da cultura afrobrasileira, não é? Foram os negros que sempre puxaram, sempre puxaram a frente, eles foram pioneiros.

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Elmito – Porque nós temos a origem baseada na influência africana, que é o santo, Marques da os orixás, candomblé, omolokô etc. Todos tem a origem do africanismo. Silva, Apenas damos a continuidade. Marcos:

Entre Família – Sim. Porque, tá nessa questão do hip hop, não é? O hip hop tem essa Crew, origem bem afro. Hoje já não é mais só isso, mas tem aquela origem afro do Leandro rap, do reggae, tem muita influência. Então, eu acredito que sim, é uma Moreira questão da rua, é uma questão do negro se expressar, que é uma coisa que Gonçalves, começou bem antigamente mesmo. Então, com certeza, vem de origem HISNE: mesmo, vem de berço mesmo.

Família de – Eu considero ... Se a gente entender que tudo isso que a gente tá fazendo Rua, tem um berço, veio de algum lugar, e que a cultura brasileira ela é muito, e Pedro Carlos quase que o tempo todo, influenciada por uma matriz africana, eu acho que a Valentim partir disso sim. A gente não tem nenhuma bandeira no que diz respeito a Caetano, isso, como eu te falei, as bandeiras são hip hop e skate, pra tentar preservar a PDR originalidade disso. Mas a gente é fruto de uma história também, eu acho que Valentim: nesse sentido sim.

Felipe Diniz – Ora, o samba vem da África. O que fazemos é propagar a cultura da África, Marinho, mas inserida na realidade brasileira, no samba. Mas sem enfatizar a cor da pele. Felipe: Enfim, o que fazemos está inserido numa cultura miscigenada, afrobrasileira.

Flávia – A capoeira, quando chega ao Brasil, é afrobrasileira. A dança afrobrasileira tem Soares: expressões africanas e brasileiras, como o samba.

– Porque uma das essências que sempre tento manter viva do meu grafite e Frederico dos meus traços é contar uma trajetória. Então sempre nas formações a gente Eustáquio busca essa essência de contar uma realidade local e que a cultura Maciel, afrobrasileira passou por isso de contar as épocas e deixar as revivências Negro F: nisso. E no meu trabalho eu sempre busco essas referências.

– Eu acho que sim, pelo fato de eu levar esses elementos (capoeira e candomblé) para dentro, elementos que não são específicos da cultura hip hop para dentro do meu rap, para dentro do meu trabalho artístico. E também pelo fato de eu ser um descendente e ter um perfil de afrodescendente, de ter o cabelo crespo, de ter a pele escura, de ter o nariz achatado, de morar em favela, de viver as desigualdades sociais que Grupo de Rap todo favelado vive, de que todo morador de comunidade vive, de não ter Crime Verbal e tido base no estudo, de não ter tido uma Educação de qualidade, de não Coletivo Nós ter tido uma Saúde de qualidade, de não ter tido tantas oportunidades na Pega e Faz, vida, e de viver na margem da sociedade mesmo. Então, eu acredito que Junior Marques, o grupo tem muito esse histórico, e na própria música, no próprio trabalho Rapper Blitz: artístico mesmo, você consegue viver isso, você consegue perceber isso. A gente não é um grupo que se dedica única e exclusivamente à matriz africana, entendeu? Mas a gente carrega e tenta mesclar a cultura norte- americana com a cultura afrobrasileira, que é essa coisa do Samba, da Capoeira, com essa batida lá do Afrika Bambaatta [primeiro DJ de hip- hop; considerado o criador do hip-hop].

8 – Eu acredito que sim. Se é nessa orientação, o trabalho, o grupo é afrodescendente. Mas com traços muito específicos de um povo muito rico que é o brasileiro, na sua cultura, na sua miscigenação. Não tem como negar os atravessamentos, as interferências e todo um ordenamento que o seu entorno impõe – seja ele social, seja ele econômico, seja ele cultural. E que acaba desqualificando, desfigurando, de alguma forma, transvestindo uma prática que seria no estrito de uma forma e que tem que ser praticada de Guaraci outra para poder ser aceita, para poder ser suportada ou pura e Maximiano simplesmente para existir na sua singularidade. Então, quando a gente pensa dos Santos, em afrobrasileiro, a gente está pensando na miscigenação, na interlocução, Tatetu melhor dizendo, de vários saberes. Que vão dar espaço, que vão produzir um Yalêmim: saber novo, com identidade própria, com traços diferentes. Nós não vamos dizer nunca: “essa minha casa é de raiz pura”. Nenhuma raiz é tão pura assim que não precise de água. A água vem de onde? Ela não vem da própria planta. Então há um atravessamento aí, há uma mudança na direção da sua raiz. Ela vai ficar mais rica? Com certeza, se ela estiver sendo regada. O discurso da pureza é um discurso muito perigoso, que pode trazer uma intolerância, uma desqualificação e uma própria segregação.

Guilherme – Porque sabemos que a história da capoeira surge com rituais africanos, Drumond dessa junção de vários povos e várias práticas que culminaram na nossa Alkimin, capoeira. Mestre Léo:

– Porque antes nós nos comunicávamos com os tambores, batendo os Hudson Carlos tambores; hoje a gente se comunica através da língua cantada. Então é um de Oliveira, pouquinho do que os indígenas, ou os afro-americanos também faziam. Ice Band e os Quando um rapper surge numa comunidade é como se fosse mais um sobreviventes: tambor ecoando, buscando alertar para os problemas e aquela realidade local.

Ivanildo – Porque é um ritual, por causa do tambor que se toca. Eu bato tambor, Cassimiro de Sá, minha sobrinha também... E tem o Preto Velho. Preto vem da África, né? Ivani, Babalaô:

Jeremias Gomes, Irmandade de – Considero. Porque o Reinado veio da África. Moçambique O Reinado é dos negros africanos. N. S. do Rosário:

João Bosco Alves – É um contínuo da visão de mundo africana no contexto da diáspora. da Silva, Nossos mestres são africanos, os nossos ancestrais. Mestre Mão Mestre Benedito de Angola foi o mestre de mestre Pastinha. Essa é a Branca: nossa linhagem.

– Considero uma expressão afrobrasileira porque prestamos culto às origens Jorge Alex africanas, embora em território brasileiro. Tem muita coisa diferente de lá, dos Santos, mas estamos presos às nossas origens africanas. As vestimentas dos orixás, Jorge de a forma de cultuar, a forma de dançar, de se expressar, isso não é brasileiro. Oxum: Nós adaptamos tudo isso. Acaba que nem é africano, pois na África é diferente. Nossa origem é a mesma. A intenção é a mesma: louvar.

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– Atualmente sim, mas lá atrás tínhamos o soul como uma cultura norte José Maria americana e essa realidade era patente no passado. Hoje, nos Gonçalves de apropriamos do movimento e somos expressivos em nível nacional. Quem Carvalho, dança o Soul é negro, e o que é manifestado pelo negro, é cultura Lorinho: afrobrasileira.

José Reinaldo Nunes – Porque somos brasileiros e negros. A capoeira foi criada no Brasil, da Rocha, Mestre por negros. Tulipa:

Juracy Guimarães dos – Por participarmos de uma arte considerada afrobrasileira, pela Santos, mistura de elementos brasileiros e africanos. Mestre Jiboia:

Leonardo Daniel Batista, – Em razão da herança africana. Porque cultuamos orixás. Pai Leonardo:

– Adoro um tambor, né? Adoro conversar com meus neguinhos. Sinto muito feliz de ver hoje a minha raça no nível cultural que está. O negro Lúcia da Anunciação não precisava nem de ler, nem de escrever, nem de estudar. Não tinha Rosa Santos, a escola para negro. Negro não. Negro era para carroça, para carregar Dama do Samba de as coisas. Eu falo pela minha casa, quer ver? O meu marido é negro: BH: ele é professor. Ele tem três cursos superiores: ele é contador, ele é auditor e é professor de nível superior. Então, o meu filho também fez técnicas comerciais.

Luís Gonzaga Conrado, – Porque a capoeira é genuinamente brasileira, e feita por negros Mestre Porrada: escravos, então está aí nossa afrobrasileiridade.

– O dançar em si, como no sapateado, que tem os ícones, James Luiz Carlos Candido Brown, Michael Jackson, Toni Tornado, dentre tantos outros, parte de de Oliveira, Cadeado: uma ginga que vem do negro.

– Mais ou menos, pelo meu ponto de vista, eu acho que sim, sempre procuro Márcio colocar uma coisa brasileira, como samba. Procuro coisas diferentes, passos Júnior, do maculelê, para incrementar a coreografia, um afro brasileiro. A origem é o Munrrá: Afro. Olha a gente sempre procura introduzir afrobrasileiro, é a base que temos e não o afro primitivo.

– Eu acho que nosso candomblé é brasileiro, pois não se compara com o candomblé da África. Os deuses são do panteão africano, como Xangô, Márcio Luiz Oxum, Ogum, mas o culto lá é totalmente diferente do nosso. Com isso fica de Castro, uma pergunta, onde se perdeu, já que veio de lá? Eu sempre respondo Oba Tunde quando alguém me fala sobre essa questão, não é que perdeu, e sim ou Baiano: transformou-se, pois lá se fala Ioruba, aqui a gente fala português, muitas coisas estão diferentes, mas as tradições e raízes permanecem.

Maria Aparecida de – Isso vem dos antigos, dos africanos, dos angola. Eu sou apaixonada Souza, Guarda de com qualquer Guarda de Congo, Moçambique, Catopé, Marujo. Eu Moçambique N. S. tenho raízes, tem por onde puxar. Já tem a coisa de sangue. Eu gosto do Rosário São muito de Congado. Eu não posso ver um Congado bater que o meu João Batista: corpo balança todinho.

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– A religião do candomblé veio através dos escravos, na época da escravidão Maria da né? Não tem raça pura no Brasil, os escravos vieram com os portugueses. Conceição, Chegando ao Brasil, houve aquele cruzamento de negro com branco, de negro de com índio, de branco com negro e teve várias raças, né? Tipo cafuzo, mestiço, Nanã: mulato, e por aí vai. No nosso país, eu particularmente acho que não existe puro sangue no Brasil.

– Para mim a umbanda é uma expressão afrobrasileira por ser uma forma de Maria da resistência religiosa, em que os ensinamentos são dados a partir dos Luz Cruz, ancestrais. A raça negra já foi muito humilhada e a umbanda é um lugar de Mãe da Luz: resistência, de recarregar as forças.

– Tem outro jeito não: sou negro, mexo com coisa de senzala, canto afro, faço coisas do tempo das matas, das cachoeiras, como usar as árvores para fazer Maria Nilce banco, usar raiz e folhas para passar nas pessoas, na benzeção, como os Lopes índios. Uso as esteiras, faço comida e sirvo comida, uso roupa colorida, brinco Cardoso, grande, lenço na cabeça – isso é coisa de negro, gente! Pai Joaquim bate Mãe Nilce: bengala, usa cachimbo, mais afro que isso só mesmo aqueles negros da Etiópia, que têm os esqueletos iguais aos de um Preto Velho!

Maria Solange – É uma expressão afrobrasileira religiosa. Porque eles falam que o Leandro Esteves, Congado, principalmente o de Moçambique, é da África. Então, é por Guarda de isso. E eu considero como uma festa afrobrasileira. Não tem nada a ver Moçambique São com o Candomblé, é afrobrasileira. Benedito:

– Eu considero a população favelada diretamente ligada aos escravos recém libertados. Para mim, não existe a Pedreira Prado Lopes sem a Escola de Samba e vice-versa. E tanto uma quanto a outra são representantes de Mário César expressões afrobrasileiras. Aliás, nossa escola tem uma sede que não é de Almeida, concreta, palpável. A sede é a própria favela, cheia de negros e Mário César: descendentes de escravos. Inclusive, nosso grito de guerra na avenida é “Alô Pedreira Prado Lopes!” Um grito que simboliza a relação direta da escola de samba com o lugar onde está inserida.

– Por causa da raiz africana da umbanda. A umbanda nasce na África. Mirian Considero o centro uma expressão afrobrasileira porque a umbanda veio do Guedes afro, a umbanda nasceu exatamente nos terreiros dos senhores de engenho, Pires, com os africanos. A nossa raiz veio daí, dos caboclos, dos Pretos Velhos. Ela é Luanderê: uma raiz africana, totalmente afro. Umbanda significa “Uma Banda”, reuniu-se todos os terreiros, de Jeje a Ijexá.

Nair dos Anjos – A umbanda é uma religião afrobrasileira e o próprio batuque tem essa de Moraes, marca da afro descendência, né? A vibração do atabaque é o que marca o dona Nenzinha: início das nossas práticas aqui no terreiro.

Odete Maria dos – Considero. Olha, ela tem uma função de levar essa palavra de amor a Santos, Deus, mas é diferenciado é na área do louvor; do louvor africano, mas Guarda de São não na mesma espessura, né? Eu sei porque já veio uma africana aqui. Benedito e Nossa Ela falou que o Brasil explorou muito mais o lado africano do que eles Senhora do mesmo. Rosário:

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– Porque a gente está trazendo a nossa negritude, nossa herança africana Patrícia Fonseca para a dança, trabalhando a nossa verdadeira história, aquela que sempre de Alencar, Pati, foi apagada, deixada de lado. Estamos trazendo à tona a história e Titia, Tiça: trabalhando a nossa identidade, a nossa ancestralidade.

Raimundo Ferreira – Os instrumentos, as músicas que cantamos, são de matriz africana, de Souza, Mestre como a própria capoeira. Ray:

– Acho que é por causa dos rituais. As coisas que a gente faz Raquel Maria de Paula vieram dos negros africanos. O Preto Velho, por exemplo, é uma Reis Zumbaquenan, entidade africana. Ele é descendente dos escravos. Nós somos uma Zumbá: continuidade da tradição africana.

– Porque a nossa religião é de matriz africana, eu me considero de um grupo religioso africano. Apesar de se ter perdido uma ligação total com a origem Reinaldo Luís africana, o culto afrobrasileiro é totalmente diferente do culto africano. A Silva, ligação que se manteve foi o culto aos mesmos orixás. Não temos condições Babazinho: de fazer da mesma maneira que a africana. Aqui nós temos várias religiões. Aqui praticamos em terreiros e casas de candomblé, lá toda uma cidade é de um determinado orixá. Então não tem nunca como ser igual lá na África.

– O que acontece, a história que eu aprendi é que o Congado é uma mistura. É a maneira de o negro manifestar a sua devoção pelos santos e isso veio da África. Já os reis, eles entraram por parte dos portugueses. Os portugueses fizeram colônias na África e lá eles usavam Rodrigo Lúcio coroa, capa etc. Então, o Reinado, deixa eu achar uma melhor maneira Sabino dos Santos, de dizer, é uma manifestação cultural sim. O Congado não é religião. Os Guarda de congadeiros têm religião. Eu sou católico, tem gente que é espírita, Moçambique do umbandista, candomblecista. Tem tudo isso. Inclusive, a minha irmã é Divino Espírito da Guarda, mas ele costuma frequentar a Igreja Evangélica. Então, o Santo do Reino de Reinado é uma mistura. Então, não se pode dizer que é só algo São Benedito: afrobrasileiro. Veio dos negros da África, colonizados por portugueses e veio parar aqui. O Brasil só foi juntando um pouco dessas culturas. Dessa mistura toda, veio parar essa cultura aqui, no qual o brasileiro adotou e depois de vários acontecimentos – de imagens, de milagres – nós vamos trabalhando nessa cultura com devoção e fazendo Reinado.

Rogério Francisco Dias, – Não o hip hop em si, mas a releitura que o jovem negro Roger Deff: brasileiro faz do hip hop.

Ronaldo – Hoje em dia não. Porque hoje as coisas estão muito misturadas e não tem Bernardo mais aquela divisão. O soul tem, sim, uma raiz afro, mas o movimento, hoje, Soares, não tem cor. Ronaldo Black:

– Nós trabalhamos muito com os orixás e os orixás são africanos. Mesmo os Rosane mentores que nos conduzem aqui, eles são muito voltados pra esse lado. Eles Benedita nos ensinam um remédio caseiro, os instrumentos que a gente usa são todos Pereira de muito simples, a comida é muito simples. É muito voltado pra esse lado. Melo: Apesar da umbanda ser uma mistura, nós somos muito voltados pra esse lado.

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– Eu considero o grafite, o hip-hop, como uma das expressões afrobrasileiras. Eu acredito que essa questão do hip-hop é toda baseada nas batidas afro, nessa pegada afro, e esses caras pegaram esse estilo, esses elementos da arte de cantar, da arte de desenhar, do cara que anda de skate, o cara do DJ. Então, Sérgio Luiz eu acho que os caras, os criadores do hip-hop, os caras dessa classe, os caras do Amaral, colheram de várias fontes e foram os caras negros não é, cara? Os IRON: afrodescendentes que criaram isso, foram eles que criaram essa ideia, essa questão do hip-hop. E é por isso que tem tudo a ver, além da batida ter uma coisa assim, ter uma coisa mixada, a batida do hip-hop tem essa pegada também.

Sidney Ferreira – Porque o candomblé é uma expressão afrobrasileira. Descende da da Silva, África, mas é uma reinterpretação brasileira. Sidney Ti Oxóssi:

Wanderson Vieira – Porque estamos tocando samba, batucando. E se a Mãe África é a Lucas matriz de tudo, somos sim uma expressão afrobrasileira. Dé Lucas:

William – Porque ela não é 100% africana e nem 100% brasileira. Tudo que nós Douglas fazemos dentro da capoeira vem de raízes africanas. A forma de cantar, a Guimarães forma de se expressar vem das nossas raízes africanas e brasileiras – não Mestre Mão tem como separar. Nem a gente quer que se separe. Aliás, eu falo para os Branca: meus alunos que aqui o nosso idioma é brasileiro e não o português.

William José da Silva, – Porque a cultura [da capoeira] nasceu no Brasil. Ela veio da África, sim. E Professor a África é a terra dos negros. Mas, “engravidou” lá e nasceu aqui. Camaleão:

– Porque o Brasil surgiu em função dos negros. O negro é que criou, o negro é que fez tudo. O negro é que pôs os brancos todos de pé. O Zelita Pereira da branco só mandava, mas quem trabalhava eram os pretos. Para nós e Silva, para os que já foram, os cativos, isso não era humilhação nenhuma, Guarda dos porque foi Deus que pôs essa pele escura em nós. Nós não pedimos Caboclinhos do para nascer preto. Então, é por isso que eu acho. E eu me orgulho muito Divino Espírito de falar isso. Eu gosto de falar, eu sou da Guarda, porque nós somos da Santo: cultura afrobrasileira. Cultura, porque vem lá do passado, vem lá de outros tempos.

13 03. PRINCIPAIS EVENTOS E LUGARES AFRO EM BH

Os lugares e os eventos afrobrasileiros da cidade estão ligados por linguagens e estilos que os aproximam, formando circuitos por onde seus protagonistas, seguidores e frequentadores transitam. A batida, o batuque, a ginga e o ritmo dão o tom ao jogo, à dança, à luta e à resistência, e marcam o compasso tanto dos cultos como da música e da diversão. São cantos, rezas, rituais, procissões e cadências que conectam pessoas, eventos e lugares-afro na cidade.

A listagem de eventos apresentada abaixo resume as principais apresentações e cerimônias públicas realizadas pelos grupos entrevistados, ou seja, não abarca o calendário completo da cidade. Do mesmo modo, a indicação da localização dos entrevistados desenha um retrato parcial das coordenadas afro da cidade, restrito à amostra apresentada aqui. O espaço ocupado por tradições afrobrasileiras na cidade deve ser pelo menos três vezes maior do que está mostrado no mapa. Nas rodas de capoeira e do samba, nos bailes e quarteirões do soul, nos palcos do hip-hop e da dança afro, nos territórios quilombolas e nas comunidades de terreiros, crianças, jovens e adultos desenvolvem talentos artísticos, formam identidades e abraçam estilos culturais que dão sentido para suas vidas. São sambistas, dançarinos, reis, rainhas, príncipes, princesas, capitães, devotos de santo, dançantes, soldados, caixeiros, filhos de orixás, médiuns, pais e mães de santo, mestres e contramestres, capoeiristas, treineis, rappers, MCs, grafiteiros, DJs, b-boys, b-girls e quilombolas que fazem de BH uma cidade afrobrasileira.

EVENTOS AO LONGO DO ANO

★Samba do Trabalhador – 2a feira, 17:00 h no Pizza Bar, Av. do Contorno 1636, Floresta ★FAN – Festival de Arte Negra, Parque Municipal ★Ensaio da Velha Guarda Faculdade do Samba – quartas, 15:00 h, Centro Cultural da UFMG ★Cidade Hip Hop – evento anual ★Festa de Caboclos – Terreiros ★Roda de Capoeira na Feira Hippie – aos domingos ★Duelo de MCs – toda sexta a partir de 21:00 h, Viaduto de Santa Teresa ★Palco Hip Hop – evento anual ★Rodas de Capoeira – todas sexta às 19:30 h na Praça Santa Rita ★Quarteirão do Soul e Movimento Black Soul – sábados, R. Sta. Catarina entre Amazonas e Tupis ★Sexta da Dança – última sexta feira do mês, Viaduto de Santa Teresa ★Baile da Saudade – todos os segundos sábados do mês, Casa de Show Flash Dance, Lagoinha ★Bar Opção – sextas e sábados a partir de 18:30 h na Rua Alabandina, 619, Caiçara ★Baile na Praça Sete – aos domingos, no calçadão da Rua Rio de Janeiro ★Cartola Bar – sextas e sábados a partir de 22:00 h, Rua Vila Rica nº 1168, Caiçara ★Festa Quizomba – anualmente, promovida pela Associação Cultural Odum Orixás ★Curral do Samba – de segunda a segunda, Rua Império 400, bairro São Paulo ★Rodas de Capoeira – todo último domingo do mês, na Praça Raul Soares

14 CALENDÁRIO MENSAL

EM JANEIRO ★Festa de Oxóssi – Terreiros, dia 20 ★Festa de Oxalá – Terreiros ★Game Over – Batalha de Breaking EM FEVEREIRO ★Carnaval – Boulevard Arrudas e carnaval de rua nos bairros EM MARÇO ★“Game Over– Batalha de Breaking EM ABRIL ★Festa de Ogum – dia 23, Terreiros ★Festa de São Jorge – G. São Jorge de N. S. Rosário, bairro Concórdia EM MAIO ★Festa do Pai Benedito – Quilombo Manzo Ngunzo Kaiango ★Os quatro elementares – dia 13, Quilombo de Mangueiras ★Festa de Preto Velho, dia 13, Terreiros e Praça 13 de Maio ★Festa de N. S. dos Negros – G. de M. Três Coroas, bairro Sagrada Família ★Festa de N.S. dos Negros – G. de M. Três Coroas, bairro S. Família ★Festa da Abolição – G. de M. Treze de Maio de N. S. Rosário, bairro Concórdia Festa de São Benedito – G. de M. de São Benedito, bairro Floramar ★Festa do Cativeiro – A. Beneficente Dança de Congado da Vila Santo André, bairro Santo André ★Festa da Guarda - G. de Congo S. Benedito e N. S. Rosário, bairro Cabana EM JUNHO ★Festa de Exu - principalmente em junho – Terreiros ★Festa do Divino Espírito Santo – G. dos Caboclinhos do Divino Espírito Santo, bairro Nova Cintra ★Festa do Divino Espírito Santo – G. de M. do Divino Espírito Santo, bairro AparecidaEM JULHO ★Festa de Santana – último sábado, Quilombo de Luízes ★Festa de Nanã – Terreiros EM AGOSTO ★Festival Anual de Capoeira – Última semana de agosto, Grupo Bantus Capoeira ★Festa da Capoeira – Cuenda, Morro do Papagaio ★Festa de Kavungo – Quilombo Manzo Ngunzo Kaiango ★Festa de Iemanjá – dia 15, Terreiros e na Pampulha ★Festa de Obaluaê/Omulu – Terreiros ★Festa de N. S. Rosário, São Jorge e São Benedito – Irmandade de M. de N. S. Rosário, B. Nova Gameleira ★Festa de N. S. Rosário e Santo Antônio – G. Congo Velho de N. S. Rosário, bairro Pilar

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EM SETEMBRO ★Dança Afro – Festa para as Crianças (ibeji), Primeira Dança ★Hip hop – Mostra Canta e Dança ★Festa de Iansã – Quilombo Manzo Ngunzo Kaiango ★Festa de Erê/Menino de Angola/São Cosme e Damião – dia 27 – Terreiros ★Festa de Xangô – Terreiros ★Festa de N. S. Rosário e Santo Antônio – G. Congo Velho de N. S. Rosário, bairro Pilar ★Festa de N. S. Rosário – G. de M. N. S. Rosário Nova Granada, bairro Nova Granada ★Festa da Guarda – G. de M. de N. S. Rosário e São José, bairro Jardim Inconfidência

EM OUTUBRO ★Festa de N. S. Aparecida – Ass. Beneficente Dança de Congado da Vila Santo André, bairro Santo André ★Festa de Erê – Quilombo Manzo Ngunzo Kaiango ★Festa de N. S. Rosário – G. N. S. R. Pompéia, bairro S. Família ★Festa de N. S. Rosário – G. de M. N. S. R. E Sagrado Coração de Jesus, bairro Aparecida ★Festa de N. S. Rosário e Santo Antônio – G. Congo Velho de N. S. Rosário, bairro Pilar ★Festa de N. S. Rosário – G. N. S. Rosário e São João Batista, bairro Santo André ★Festa de N. S. da Divina Providencia – G. de M. de N. S. da Divina Providência, bairro Providência ★Festa de N. S. Aparecida – G. de Congo Feminina N. S. Rosário, bairro Aparecida ★Encontro de Bambas – Instituto Capoeira Brasileira

EM NOVEMBRO ★Comemoração da Consciência Negra e Prêmio Zumbi – Palácio das Artes ★Agbara Dundum – apresentação anual do grupo ★Quilombo do Papagaio – Aglomerado Sta. Lúcia, Morro do Papagaio

EM DEZEMBRO ★Festa das Iabás – Terreiros ★Festa de Oxum – dia 8, Terreiros ★Festa da Abolição – G. de M. Treze de Maio de N. S. Rosário, bairro Concórdia

16 LUGARES

Mapa Google: https://www.google.com/fusiontables/embedviz?viz=MAP&q=select+col2%3E%3E0+from+14 34MiGg0e-pI19NbADjPO8hGNzOw0igo0WjGueY&h=false&lat=-19.907279872731596&lng=- 43.92802668383786&z=14&t=1&l=col2%3E%3E0&y=1&tmplt=2

Samba Reinado

Comunidade de Terreiro Soul

Capoeira Hip hop

Dança Afro Quilombo

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o samba em belo horizonte

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04. SAMBA

Fernanda de Oliveira

Criativa, heterogênea e multifacetada, a música popular é amplamente reconhecida como campo prodigioso das expressões culturais no Brasil. Um gênero que se destacou como manifestação privilegiada foi o samba: expressão musical, coreográfica, poética e lúdica de origem negra.

Formas expressivas comuns ao samba tal qual é conhecido no Brasil atualmente podem ser identificadas já em registros do século XVII, quando o nome “samba” ainda não era difundido. A primeira referência documentada da palavra samba data de 1838, e é de Pernambuco. Entre essa data e meados dos anos 1920, há registros de atividades musicais e coreográficas já chamadas de samba em várias regiões do Brasil: Bahia, Ceará, Pernambuco, São Paulo, Rio de Janeiro. No mesmo período há registro de outras manifestações musicais e coreográficas que não eram conhecidas por esse nome, mas tinham as marcações com palmas e tambores, os gingados, os molejos (cadência de tornozelos, pés, coxas, quadris, pescoço, braços) e os sapateados típicos do samba, no Maranhão, em Alagoas, no Rio Grande do Norte e em Minas Gerais. Edison Carneiro, em 1961, listava como formas de samba atuais e passadas, o caxambu, o coco, o jongo, o lundu, o partido-alto, o samba-de- roda e o tambor-de-crioula: onde houve negro banto, lá estão as danças de roda e sapateados com ou sem umbigada. Todas essas danças foram incluídas por Oneyda Alvarenga, colaboradora de Mário de Andrade, dentro do grande espectro das danças do tipo samba (Dossiê das Matrizes do Samba no Rio de Janeiro. Centro Cultural Cartola/ Iphan RJ/ FCP, 2007.)

A partir dos anos 1930, o samba foi eleito como símbolo musical da identidade brasileira. Mas o samba não foi (e nem é) sempre (de estilo) nacional. O samba eleito como música nacional foi especificamente o de estilo carioca (e também o paulista): gênero de canção vinculada a um modo de vida urbano, gravada em discos e tocada nas rádios, articulada a uma indústria fonográfica e a um mercado musical localizado na região sudeste. Importante notar que nem mesmo no Rio ou São Paulo os sambas aconteciam (e acontecem) apenas sob tal modalidade nacional. São muitos os sambas: como forma de música, dança e divertimento, presente em quase todo o Brasil, com muitas variações regionais, acontecem sob diferentes modalidades expressivas, durante situações sociais específicas, marcadas por estilos particulares de sociabilidade.

Relacionado, por identidade de origem, aos batuques e lundus, umbigadas e outras variantes de folguedos lúdicos e sagrados de matriz africana, o samba é vinculado ao divertimento e à arte daquelas pessoas que durante muito tempo, e ainda hoje por sinal, não são reconhecidas nem estimadas à altura da sua valorosa criatividade. Pessoas das chamadas camadas populares da sociedade que são criadoras de uma variedade extraordinária de coreografias, cantos e ritmos por meio dos quais resiste o samba. Porque percebendo-se o tamanho vigor com que persiste já na altura do seus quase 200 anos, o samba aparece como força – com múltiplas formas – de resistência cultural, ligada ao conhecimento, à criatividade e à arte de um povo afrobrasileiro.

No início dos anos 1930, se consolidaram no Rio de Janeiro as primeiras escolas de samba ligadas ao carnaval. Essas manifestações modificaram profundamente o estilo do samba feito

19 no Rio e também daquele feito noutras cidades que tinham o carioca como inspiração. A partir daí, num breve espaço de tempo, em função da intensa difusão pelas rádios, o samba nacional (carioca) foi conhecido em todo o Brasil.

Em Belo Horizonte, essa difusão teve influência fundamental na consolidação de uma cena sambista vigorosa, composta por antigos bambas ligados às primeiras escolas de samba da cidade, surgidas na década de 1940. A maioria dos sambistas que se apresentarão a seguir identificam a importância do carnaval para a efervescência do samba – com as rodas, os encontros, os ensaios, os desfiles e os saudosos concursos – em nossa cidade. A suspensão dos desfiles das escolas de samba em 1991, por determinação municipal, causou forte impacto para os belorizontinos que, contudo, nunca largaram os pagodes das esquinas, das praças, das ruas, dos terreiros e botecos ocupando a cidade com o samba, com ou sem carnaval.

Ainda hoje, com os desfiles carnavalescos de volta à avenida, as casas de shows e botequins – alguns deles exclusivamente dedicados ao samba – são territórios de importância maior para os sambistas da cidade viverem da sua vocação. Nesse aspecto muitos ressentem a falta de apoio pelo poder público, e anseiam políticas dedicadas ao reconhecimento e incentivo do samba, essa manifestação que tanto contribui para a qualidade de vida na cidade.

Samba de breque, samba de terreiro, de quadra e de avenida. Samba de enredo, partido-alto, pagode, . Samba-de-roda, de crioula, de batuque, de caboclo e de folia. Samba de gafieira, samba de black, sambasoul (conforme expressa um dos sambistas apresentados a seguir): Belo Horizonte, pode não se saber assim, mas é cidade do samba. Ainda que ingrata para com as damas, os mestres, os bambas, os jovens sambistas, os grupos e escolas de samba. As apresentações que se seguem trazem depoimentos de alguns desses artistas perenes, valorosos, resistentes, que seguem, contudo, fazendo do samba um ritmo maior.

PARA SABER MAIS :

ALVES, Guilherme Velloso; MELO, Victor Andrade de. A batucada dos nossos tantãs : o samba como possibilidade de vivência do lazer. Universidade Federal de Minas Gerais, Escola de Educação Física, 2007.

AUGRAS, Monique. O Brasil do samba-enredo. Rio de Janeiro: Editora Fundação Getúlio Vargas, 1998. 296 p.

BARBOSA, Orestes. O samba. Suas histórias, seus poetas, seus músicos e seus cantores. 2. ed. Rio de Janeiro: Funarte,

BERTOLINO, Júnia. O Samba de Roda no Brasil e em Belo Horizonte. In: Heranças do Tempo: tradições afro-brasileiras em Belo Horizonte. Ana Cristina Pontes & Fernanda Emília de Morais (org.). Belo Horizonte: Fundação Municipal de Cultura, 2006.

CARDOSO FILHO, Marcos Edson; GARCIA, Sérgio Freire. Pelo gramofone: a cultura da gravação e a sonoridade do samba (1917-1971). Dissertação de Mestrado (Mestrado em Música). UFMG/ Escola de Música, 2008.

CARNEIRO, Edison. Folguedos tradicionais. 2. ed. Rio de Janeiro: Funarte, 1982. 176 p. Disponível em:

20 Dossiê das Matrizes do Samba no Rio de Janeiro. Centro Cultural Cartola/ Iphan RJ/FCP2007. http://www.cnfcp.gov.br/pdf/Patrimonio_Imaterial/Dossie_Patrimonio_Imaterial/Dossie_Sa mba_RJ.pdf

FERREIRA, Edinéia Lopes. Contando a história do samba: caderno de textos. Belo Horizonte : Mazza, 2003.

GOÉS, Luís, No tempo do Carnaval – em BH e no Bairro Santa Tereza. Belo Horizonte, sem data.

GUIMARÃES, Francisco (Vagalume). Na roda do samba. 2. ed. Rio de Janeiro: Funarte, 1978. 242 p.

LOPES, Nei. Partido-alto: samba de bamba. Rio de Janeiro: Pallas, 2005. 264 p.

MAGALHÃES. Cibele Santana. Carnaval e cultura popular: um estudo da escola de samba. 1994. 30 f. Trabalho de Conclusão de Curso. (Graduação em Ciências Sociais) - Universidade Federal de Minas Gerais. Orientador: Ana Lúcia Modesto.

MAIA BARCELOS, Tânia. Subjetividade e samba: a dor pede passagem. Psicol. rev. (Belo Horizonte), Belo Horizonte, v. 16, n. 1, abr. 2010 .

MATOS, Cláudia. Acertei no milhar: malandragem e samba no tempo de Getúlio. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982.

MOURA, Roberto M. No princípio, era a roda: um estudo sobre samba, partido-alto e outros pagodes.

NAPOLITANO, Marcos; Wasserman, Maria Clara. Desde que o samba é samba: a questão das origens no debate historiográfico sobre a música popular brasileira

OLIVEIRA, Maria Ligia Becker Garcia Ferreira de. Sérgio Magnani : sua influência no meio musical de Belo Horizonte. Dissertação de Mestrado (Mestrado em Música). UFMG/ Escola de Música, 2008.

REGO, José Carlos. Dança do samba: exercício do prazer. Rio de Janeiro: Editora Aldeia; Imprensa Oficial, 1994. 116 p.

RODRIGUES FILHO, Guimes. A capoeira Angola: uma pequena enciclopédia da cultura afro- brasileira na escola. Belo Horizonte: Nandyala, 2007.

SÁ. Thiago Antônio de Oliveira. Quem não gosta de samba, bom sujeito não é: consumo e apropriação Cultural. Dissertação (Mestrado em Sociologia) – UFMG/FAFICH, 2010.

SODRÉ, Muniz. Samba, o dono do corpo. 2. ed. Rio de Janeiro: Mauad, 1998. 112p.

TINHORÃO, José Ramos. Pequena história da música popular: da modinha à lambada. 6. ed. Rio de Janeiro: Art

TUGNY, Rosângela Pereira de; QUEIROZ, Ruben Caixeta de Queiroz (organizadores). Músicas africanas e indígenas no Brasil. Belo Horizonte :Editora UFMG, 2006.

21 VENTURIM, Terezinha Cogo; MARINHO, Janice Helena Silva de R C. Cantos de Encenar Brasilidade: análise das marcas de subjetividade no enunciado dos enredos de Escolas de Samba, numa abordagem modular. Dissertação de Mestrado (Pós-Graduação em Estudos Linguísticos). UFMG/ FALE, 2008.

VIANNA, Hermano. O Mistério do Samba. Jorge Zahar Editor Ltda., 1995

Blogs e sítios eletrônicos http://faculdadedosambadebh.blogspot.com/p/memoria-da-faculdade.html http://ocenosamba.com.br/ http://muiraquitanblog.blogspot.com/ http://www.ronaldocoisanossa.com.br/

Revistas:

Angoleiro É O Que Eu Sou. 2ª Edição. 2010. Editores: Mestre João Angoleiro, Marilene Dos Santos, Júnia Bertolino e Carem Abreu; Redatores: Carem Abreu, Paulo Magalhaes e Júnia Bertolino.

Filmografia: MAIA, Carla; JUNQUEIRA, Raquel (Direção). RODA (Brasil | 2011 | HD | cor | stereo | 16:9 | 70′). Disponível em: http://rodaofilme.wordpress.com

PORTELLA, Pedro (Direção). Memórias e improvisos de um tipógrafo partideiro. Brasil, 2007, doc., cor, 52 min.

Coordenou a pesquisa sobre o Samba: Fernanda Oliveira

Colaboraram realizando as entrevistas: Caroline Césari, Helen Carolina Almeida Moreira, Isabel Casimira, Júnia Bertolino, Liliana Vasconcelos Xavier, Luiz Divino Maia, Paula Pimenta Gomes, Poliana Xavier.

22 Localização dos Entrevistados: https://www.google.com/fusiontables/embedviz?viz=MAP&q=select+col2%3E%3E0+from+1434MiGg0e- pI19NbADjPO8hGNzOw0igo0WjGueY+where+col0%3E%3E0+%3D+'Samba'&h=false&lat=- 19.907279872731596&lng=-43.92802668383786&z=14&t=1&l=col2%3E%3E0&y=1&tmplt=2

23 Domingos do Cavaco

Foto: Liliana Vasconcelos Eu, Domingos Felipe dos Santos, sou mais conhecido no samba como Domingos do Cavaco. Nasci no Morro das Pedras no dia 9 de novembro de 1958. Lá se vão mais de 20 anos de samba. Sou intérprete, compositor e toco o meu cavaquinho. No samba comecei bem moleque. Eu faço por prazer, pela alegria de estar cantando e tocando um instrumento.

Teve uma época que fiquei tentando descobrir se tinha alguém da minha família que era da música, que animava alguma festa. Procurei entender se a minha paixão pela música vinha de algum antepassado. Depois descobri que os meus avós maternos, que eu nem conheci, animavam as festas do interior. Eu sempre soube que tinha uma ascendência musical. Aqui na região tinham os velhos do passado, que tocavam aquele samba de raiz e eu ficava ali na rodinha deles. Hoje eu entendo porque eu ficava ali. Nas minhas composições falo mais das coisas que vejo, sobre alguém, algum acontecimento da minha vida, tem música em que falo do Morro das Pedras. Quando componho, a música vem praticamente pronta, depois eu só dou um retoque. Não vem todo dia, vem de vez em quando. Quando ela vem, tem que estar preparado para escrever senão você perde a música. Eu tenho dois CDs: um que eu lancei há 14 anos e outro que tá saindo agora.

Já fui puxador de samba e já compus sambas enredos. Eu era da Escola de Samba Cidade Jardim. Meus avôs e tios eram da Cidade Jardim, então fui pegando amor por essa escola. Na Cidade Jardim tem uns seis ou sete sambas enredos que eu compus, até mesmo em parceria. Em 2004 eu fiz um samba sobre os 100 anos de JK, em parceira com o Fabinho do Terreiro e um carioca que o acompanha. E já fui puxador de samba em duas escolas de samba em Lagoa Santa. Atualmente, faço samba em bares, festas particulares, e na Praça da Saúde, uma feirinha que tem na Avenida Silvia Lobo, faço roda de samba aos sábados. Fui eu que levei o samba daqui do morro para a feira. Começou a entrar gente de todas as idades na roda de samba. Minhas músicas tocam muito nos bares, nessas máquinas que tocam discos.

O samba pra mim é religião. Até a família fala comigo: –Vai parar não? Eu digo: –Não posso. Até onde der eu continuarei brincando!

Endereço: Estrada Nova, 38 (Morro das Pedras). Telefone: (31) 9181-9397

Os Inocentes de Santa Tereza

Imagem cedida por Panttyola

Meu nome é Ângelo Almeida Lima, sou conhecido como Panttyola. Participo do bloco desde menino – entrei para os Inocentes com 11 anos. Na minha época, toda a molecada, até as filhas dos generais, queria participar do bloco, fantasiar e sair tocando pelas ruas da comunidade e na avenida. Sou responsável pela reativação do grupo, que ficou vários anos parado. Em 2004, resolvi pedir autorização aos antigos, regularizei a situação nos cartórios, e com a ajuda de amigos, antigos membros e parceiros da comunidade, voltamos a realizar este trabalho cultural e social tão importante para a preservação de nossas raízes.

Belo Horizonte já teve um maravilhoso carnaval e estamos fazendo nossa parte para fazer cada vez mais bonito nas ruas e na avenida. Mantemos a tradição de pintar o rosto, assim como faziam os operários que pintavam a cara para poder curtir o carnaval sem serem reconhecidos pelas patroas – suas esposas, que ficavam em casa achando que eles estavam nas obras trabalhando.

Todo ano, a partir de julho, começam os ensaios, nas praças do bairro Santa Tereza, quase sempre na Duque de Caxias. O bloco está aberto à participação de todas as pessoas e busca atrair, principalmente, a criançada e a juventude da comunidade, deixando-as longe das drogas e de caminhos errados. Queremos cada vez mais envolver e unir o povo deste bairro, que é nossa comunidade, nossa casa, nossa paixão. Honrar e continuar a história de vitórias do bloco na avenida.

E o mais importante, que é aquilo que faz valer toda a correria: continuar a arrastar crianças, adultos, idosos, famílias nas ruas do Santê! Ver o brilho nos olhos dos meninos tocando, as mulatas sambando, o povo fantasiado e de cara pintada indo atrás do batuque do tambor. Não podemos perder o que é nosso: o carnaval é do povo! E Belo Horizonte também tem carnaval!

Ângelo Almeida Lima, presidente. Telefone: (31) 9673 4905 E-mails: mailto:[email protected]; mailto:[email protected]

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Lúcia Santos

Foto: Acervo Pessoal

Meu nome artístico é Lúcia Santos. Desde meados dos anos de 1980, por aí, comecei a minha trajetória na música, fazendo seresta. Daí passei para o samba e vi que dava futuro, que era minha praia. Estreei no Bar Opção, do Ronaldo Coisa Nossa, onde cantei muito tempo. De lá pra cá, faço shows com minha banda “Lúcia Santos e Banda” em vários estabelecimentos e casas de shows. E gravo CDs com outros artistas.

Agora eu pretendo lançar meu CD “Cantando e Contando a História do Samba dos Artistas de Belo Horizonte”, com Lourdes Maria. Eu fui honradamente eleita (passei na Lei de Incentivo) para fazer as gravações das músicas que ela compunha e que nunca foram ao ar. Esse é meu maior sonho. Atualmente, sou presidente da Velha Guarda do Samba de Belo Horizonte. Nós fizemos muitos shows e estamos abertos a convites e contratos. A Velha Guarda é registrada. Com isso, tem o poder de ser chamada de Associação Velha Guarda da Faculdade do Samba.

Atualmente, eu me sinto lisonjeada porque o meu público me valoriza muito. Eu nem sei se mereço tanto... Mas, sou considerada a Dama Mineira do Samba de Belo Horizonte. Agrado a gregos e troianos e agradeço a todos por isso. Eu procuro fazer meu trabalho da melhor forma possível, interagindo com o público. O dia que eu tiver de cantar e meu público não interagir comigo, não me ajudar a cantar (como fazem há 15 anos) é porque não está bom. Mas isso não vem acontecendo.

Eu agradeço de coração a todos que me incentivam e me elogiam. Isso é muito bom. Porque se eles elogiam, eu quero melhorar para agradá-los, porque eu sou do público, do povo. É a eles que eu devo essa fama que me puseram – esse título honroso que eles me puseram nas costas é uma responsabilidade enorme.

Rua Osório Duque Estrada, 267 (bairro Campo Alegre). 31730-000 Belo Horizonte - MG Telefones: (31) 3494-1464/9951-2404 E-mail: mailto:[email protected] Site: http://www.luciasantosbh.com.br

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Dóris

Foto: Júnia Bertollino Meu nome é Elzelina Dóris. Sou conhecida como Dóris – cantora, educadora e idealizadora do projeto cultural “Cantando a História do Samba”. O samba está presente em minha vida desde a infância. A família toda ouvia Beth Carvalho, Benito de Paula, Alcione e Pixinguinha. Ouvia, mas não conhecia sua história. Em 1998 trabalhei no projeto “Adote um Morro” na Escola Profissionalizante Raimunda Silva Soares, na Pedreira Prado Lopes, através da Secretária Municipal da Comunidade Negra (SMACON). Convidei meus alunos, que eram adolescentes, para assistirem ao meu show. A reação foi de desconhecimento e rejeição ao samba e isso me impressionou muito. Foi aí que tive a ideia de criar um projeto sobre a história do samba, focando os jovens estudantes.

Em 2000, criei o projeto “Cantando a História do Samba”, coordenado pela AMAC (Associação Musical Artística Cultural) desde 2009, que tem a finalidade de valorizar a história social do samba a partir da preservação da memória. E tem também o objetivo de despertar e desenvolver a integração social, o bem estar e a construção de uma cultura de paz e fortalecimento da autoestima e identidade das pessoas. Meu trabalho é de pesquisa e é desenvolvido em escolas por meio de seminários e oficinas. Na minha carreira de sambista tive momentos muito importantes com compositores e cantores como Dona Ivone Lara, Leci Brandão, Ilê Ayiê, Luiz Melodia, Maria Alcina e outros. Em 2007, lancei o CD “Dóris Canta Samba”, com sambas de compositores mineiros como Ronaldo Coisa Nossa, Toninho Gerais, Serginho BH, Luiz Carlos da Vila, que compôs a música “História do Samba”, e Ataulfo Alves Júnior, que gravou as músicas de seu pai. Esse CD é utilizado como suporte pedagógico no meu projeto. Me apresento com o grupo “Dóris e Banda” que tem sede própria, onde realizamos nossos ensaios e fazemos o planejamento das atividades dos nossos projetos.

Endereço da sede: Av. Mem de Sá, 1346 (Santa Efigênia) 30.260.270 Belo Horizonte - MG Telefone: (31) 9132-0577. E-mail: mailto:[email protected]; mailto:[email protected] Sites: http://www.dorissamba.com.br/http://www.projtohistoriadosamba.org/ http://www.amacmg.org.br/ http://www.cantandoahistoriadosamba.com.br Redes Sociais: http://www.facebook.com/dorissamba/ http://www.twitter.com/dorissamba

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Nonato do Samba

Foto: Acervo Pessoal

Meu nome é Raimundo Nonato, sou conhecido como Nonato do Samba. Me apaixonei pelo samba com 15 anos. Na época, eu curtia o soul, musica negra trazida de fora. Um amigo me levou para ver um ensaio da Escola de Samba Monte Castelo e a bateria me encantou. Foi amor à primeira vista e nunca mais deixei o samba.

Entrei na Monte Castelo como passista, depois fui pra ala de bateria e ritmista. Também integrei a Unidos do Guarani. Aos 18 anos, fundei o Raízes do Samba, meu primeiro grupo de samba. No Raízes, fui líder, vocalista e ritmista durante nove anos. Depois veio o Cor do Samba, que mais tarde chamaria Samba e Cia., grupo com quem gravei o CD Programa Legal. Em 1997, parti em turnê para o Japão e Coréia divulgando meu trabalho e o samba em terras orientais. Voltei após um ano cheio de saudades daqui, da minha família, do ritmo e do povo brasileiro. Desde então, parti para a carreira solo.

Lancei mais dois CDs: Momento Mágico (1999) e Verdadeiro Brasileiro (2009). Atualmente, além de meu trabalho artístico, sou produtor cultural de samba, intérprete e compositor da Escola de Samba Bem-te-vi. Também participo do bloco Por Acaso, projeto social integrado pelos jovens da comunidade Beco do Peru.

Sou, acima de tudo, um sambista mineiro que tem, como objetivo de vida, a difusão e o desenvolvimento do verdadeiro samba, ritmo de nossas raízes, entre todos os brasileiros.

A música de qualidade precisa ser valorizada e difundida: que o samba chegue às praças, quadras esportivas, ruas, comunidades; que conquiste os jovens e que ganhe espaço na mídia. O samba é alegria. Precisamos levar alegria para o povo!

Telefones: (31) 8423-6733; 3432-8062 E-mail: mailto:[email protected]

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Doneliza

Foto: Acervo Pessoal Eu, Ana Eliza de Souza, mais conhecida como Doneliza, sou sambista, cantora, compositora e componente da Velha Guarda do Samba de Belo Horizonte. Nasci em 26 de julho de 1948, em uma cidade pequena do interior de Minas chamada Águas Formosas. Saí de lá muito jovem, com 14 anos e bati de frente com esta capital. Eu saí de lá com um sonho, uma ilusão, com uma vontade de crescer, alimentando o sonho de me tornar uma grande compositora, uma grande intérprete. Tudo isso foi de infância. E vim alimentando esse sonho, achando que iria chegar aqui e seria fácil. Eu cheguei aqui e bati de frente com a selva de pedra, aí eu falei: – pera aí! Vamos devagar, porque não é bem assim como você sonhou. Na primeira testada já deu pra sentir que não ia ser fácil.

Daí eu vim trabalhando em casa de família, à noite fazendo bico em um barzinho aqui, outro ali. Enfim, eu consegui me segurar até aqui. Hoje eu tenho um vasto conhecimento, faço as minhas próprias composições, já canto junto com o pessoal da Velha Guarda do Samba, já conheço muitos artistas. Eu tenho várias letras de samba, a maioria das músicas são registradas, porém nunca tocaram no rádio. Eu tenho letras da nossa negritude, da luta dos negros, de zumbi, dos meus antepassados africanos. Comecei a compor aos 16 anos e a minha primeira composição foi a de uma música chamada Menina Matreira. Para compor, não tenho parceiros do samba. Na verdade, na minha vida no samba eu tive um parceiro que é o Hebert (Hebit). Eu fiz um samba com ele. A música chama Pagode, Mensagem do Samba. Foi o único samba que fiz de parceria. E uma marchinha de carnaval que eu fiz com o Dudu Nicácio. O resto eu fiz tudo sozinha.

Eu acredito que o bom compositor tem que ter noção do que escreve, do que diz e ter muito cuidado com as palavras. Porque nós compositores transmitimos uma mensagem. Porque a música em si, além de ser alegria, ela é uma mensagem. Então, quando eu faço uma música eu faço um verso de uma poesia, porque o compositor é poeta, é poetiza. Já participei de filmes sobre o samba em Belo Horizonte, recebi prêmios de melhor samba enredo pela Escola de Samba Cidade Jardim, premiação de Marchinhas, e hoje eu já estou com mais de sessenta anos e não deixei morrer a esperança de um dia gravar o meu CD.

Rua Mercedes Luiza de Miranda, 111 (bairro Maria Goreth). Belo Horizonte - MG Telefone: (31) 3077-8555

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Grêmio Recreativo Cultural Escola de Samba Força Real

Bandeira da Escola

Meu nome é Felipe Diniz Marinho, Bacharel em Turismo pela Faculdade Estácio de Sá. Desde criança, sou apaixonado por carnaval. Uma das primeiras recordações que tenho é de minha mãe me acordando para ver o desfile da Portela pela televisão. Mas, a minha escola preferida do Rio de Janeiro é a Imperatriz Leopoldinense. Desde o dia em que a vi pela TV, em 1993, passei a torcer por essa escola. O Rio, aliás, é minha grande referência carnavalesca. Sempre fui –e ainda vou– a essa cidade para acompanhar o Desfile das Campeãs.

Em 2004, montei um blog sobre as histórias das escolas de samba de BH. Mais tarde, em virtude de um trabalho da faculdade, o blog ficou sério e importante. Fiz isso também por notar a carência na internet de notícias do carnaval da cidade. Através do blog, conheci mestre Afonso, que me apresentou a presidentes de escolas e sambistas de BH. Eu Conheci Ângela Pereira da Costa, então presidente da Cidade Jardim, que me encaminhou a Luiz Carlos Novais, presidente da Escola de Samba Bem-te-Vi, do Carlos Prates. Eu entrei e fiquei nessa escola até o final do carnaval de 2010, onde ocupei várias funções (entre 2009 e 2010, fui o vice presidente). Nesse ano, fui Tamborim de Ouro, indicado pela Escola de Samba Galoucura.

Em 2011, sem fazer parte de nenhuma escola de samba, desfilei pela Unidos Guaranis e pela Cidade Jardim. Após o carnaval de 2011, por incentivo de amigos dos bairros Ipanema e Dom Bosco, fundamos, em 1o de janeiro de 2011 a GRCES Força Real. A fundação ocorreu em minha casa e eu fui escolhido presidente da escola. No momento, mantenho o blog, escrevo enredos para escolas de samba do interior, de São Paulo e de Brasília e trabalho para a estruturação da Escola de Samba Força Real para o desfile do próximo Carnaval de Belo Horizonte.

Felipe Diniz Marinho, presidente da escola Rua Galileu, 25 (bairro Ipanema), 30.870.000. Belo Horizonte - MG Telefones: (31) 3416-8800; 9376-4966 Blog: http://carnavalbh2.blogspot.com E-mail: mailto:[email protected]

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Escola de Samba Canto da Alvorada

Bandeira da Escola

Eu sou o Mestre Linguinha, nascido em Paulistas, Minas Gerais. Desde os 9 anos sou integrante da Escola de Samba Canto da Alvorada, bicampeã do carnaval de Belo Horizonte. Na escola, fui aprendendo, tocando e trabalhando. Assim, cheguei à condição de cantor, puxador de sambas enredos, até me tornar mestre de bateria. A partir daí, as portas começaram a se abrir para shows e apresentações. Passei a acompanhar artistas do Rio de Janeiro que vinham a BH, como Bezerra da Silva, Guineto e Leci Brandão. Também comecei a viajar pelo Brasil e a participar de programas de televisão. O primeiro, dentre outros, foi o do falecido apresentador Flávio Cavalcanti, quando a TV ainda era em preto e branco.Com o tempo, passei a desenvolver projetos de oficinas em Centros Culturais e em escolas públicas, buscando inserir a cultura afro-brasileira do samba na música, levando nossa cultura e ensinando às pessoas a tocar instrumentos.

Eu gostaria que todos tivessem as oportunidades que tive, já que, através da música cheguei a conhecer o Japão, China, Alemanha, França, entre outros países. Na China, inclusive, dei um curso como representante da Escola Canto da Alvorada.

A Bateria do Canto da Alvorada, Bateria Periferoz, faz ensaios na pracinha do Bairro Campo Alegre, alguns meses antes do carnaval. Esses ensaios, muito valorizados pela comunidade, são abertos ao público. A bateria também faz apresentações, shows e participa de festas de casamentos e bailes de formaturas, entre outros eventos.

Hoje em dia, as baterias das escolas de samba de BH estão mais valorizadas. É comum serem procuradas por cerimoniais para tocarem nos eventos. Nessas celebrações, a Bateria Canto da Alvorada – que costuma “descer” com 60 componentes no carnaval –, se apresenta com aproximadamente 12 a 15 integrantes.

Estúdio do Linguinha, Rua dos Bacuraus, 20 (bairro Planalto) CEP 31730-100 Belo Horizonte – MG. Telefones: (31) 3494-1367; 9717-1367 E-mails: [email protected] ; [email protected]. Site: www.mestrelinguinha.com

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Gelson Luiz

Foto: Beatriz Accioly

Meu nome é Gelson Luiz, sou músico, sou violonista e bandolinista e tenho uma formação voltada para o chorinho e para o samba tradicional.

Eu comecei no samba em 1979. Foi através do chorinho que tomei contato com o samba tradicional. Comecei tocando em um conjunto da empresa dos Correios, na qual eu trabalhava. Depois toquei no grupo Cochicho, depois no Luz do Repente. Conheci os membros que hoje tocam comigo no Rapa de Tacho quando éramos do grupo Baú do Maracá. Lá eu toco violão, canto e toco bandolim.

Eu gosto muito de compor sambas com inspiração no samba tradicional. As minhas composições de samba mais recentes estão voltadas para tratar o nosso social, o “social mineiro”. São composições que retratam o cenário de Belo Horizonte, a cultura mineira em geral...

Hoje o samba é um modo de vida mesmo. Além do meu trabalho como músico, no Rapa do Tacho, como compositor e como professor, estou fazendo uma pesquisa sobre samba também e tenho lido muito sobre isso.

Grande parte do meu tempo é dedicada ao samba. Uma vez por mês também faço um encontro de músicos na minha casa para tocarmos e trocarmos experiências. É um momento que temos, é uma troca de figurinhas. É um hábito que quero que vire uma tradição.

Rua Carlos Lacerda, 385 (bairro Trevo) Belo Horizonte - MG Telefone: (31) 9184-2077 E-mail: mailto:[email protected] Site: http://www.myspace.com/gelsonluiz

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A.R.E.S Unidos Guaranis

Bandeira da Escola

Meu nome é Mário César de Almeida, nascido na favela Pedreira Prado Lopes, em Belo Horizonte. Eu me entendo como negro, como sambista e favelado. Sou formado em História e em Artes Plásticas, professor de História no ensino público e presidente da Escola de Samba Unidos Guaranis, da Pedreira Prado Lopes.

Para mim, a Escola de Samba Unidos Guaranis é uma ferramenta para que as pessoas que moram na favela possam fortalecer suas identidades culturais e, a partir daí, alcançar uma ascensão social.

A cada desfile eu noto um aumento na definição dos moradores locais como sambistas, e como comprometidos com as causas comunitárias. Percebo que isso acontece independentemente do resultado do carnaval. Por isso, considero um feito de grande vulto, uma vitória, cada vez que levo a Unidos Guaranis e sua comunidade para um desfile. Acredito que tais momentos servem para que a cidade fique sabendo da existência de uma favela chamada Pedreira Prado Lopes e do seu povo, que está ali para representá-la.

A Escola de Samba Unidos Guaranis não é uma escola de samba qualquer. Ela mantém um compromisso com as pessoas da Pedreira Prado Lopes, um compromisso de se fazer representar, desde 1934, quando ainda não era Unidos Guaranis, nos desfiles de carnaval da cidade. Eu acredito que manter viva essa representatividade com a Pedreira Prado Lopes talvez seja o maior compromisso da Associação Recreativa Escola de Samba Unidos Guaranis, que como esse nome desfila no carnaval de BH desde 1964.

Ensaios: Rua Araribá, esquina com Av. José Bonifácio, Favela Pedreira Prado Lopes 70070-934 Belo Horizonte - MG Telefone: (31) 9322-3144. E-mail: mailto:[email protected]

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Grêmio Recreativo Escola de Samba Estrela do Vale

Foto: Patrick Arley

Eu sou o Eduardo Raimundo Bavose, presidente do Conselho da Escola de Samba Estrela do Vale. Estou no carnaval desde 1984. Já fui diretor de harmonia e vice presidente em escolas de samba de BH ao longo desses anos. Sou um apaixonado pelo carnaval.

A nossa Escola é a mais jovem do carnaval de Belo Horizonte. Foi fundada em 14 de março de 2009 e já foi campeã em 2012 – Escola Campeã do Grupo B.

É uma Escola jovem, mas guerreira, que vai crescer e está crescendo.

A gente trabalha para que ela seja a maior Escola de Samba de Belo Horizonte. Trabalhamos arduamente para atingir esse objetivo e esperamos fazer do carnaval de BH um dos melhores do Brasil, como já foi no passado.

A nossa Escola é, basicamente, formada por jovens. A gente trabalha muito com os jovens da nossa comunidade – região do Santa Rita, Vila Pinho e Santa Cecília –, e temos esse objetivo: levar para a população daqui da região essa expressão cultural tão presente na vida de nós brasileiros.

Queremos mostrar que nós temos carnaval e que também é possível fazer um bom carnaval.

GRES Escola de Samba Estrela do Vale Rua Santa Inês do Alto, 89 (bairro Santa Cecília, Barreiro) Belo Horizonte - MG E-mail: mailto:[email protected]

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Jadir Ambrósio

Foto: Liliane Xavier Eu me chamo Jadir Ambrósio, sou cantor, compositor e trombonista. Nasci no dia 8 de dezembro de 1922, em Vespasiano. Hoje Vespasiano é ali, mas quando eu vim de lá era um dia de viagem. Cheguei a Belo Horizonte em março de 1926.

No samba eu comecei quando morava no bairro Cachoeirinha. Minha família toda já gostava um bocadinho de música, mas ninguém sabia tocar. A minha irmã comprou um violão. Então eu pegava o violão e ficava tocando. E foi assim que eu aprendi quase que sozinho a tocar violão. Aí nós formamos um conjunto de samba e colocamos o nome de Filhos da Lua. E aquilo até que agradou. Entusiasmou mais o meu gosto pela música. Teve até publicação no Jornal Estado de Minas. Então, fui crescendo e passei a me interessar por instrumento de sopro, o trombone. Depois fui tocar numa banda em Santa Cecília. Toquei em cabaré, serestas, bailes nas vilas, aniversários, em cidades vizinhas, nos clubes, nas gafieiras. Até que fui esbarrar na rádio Guarani, rádio Inconfidência e rádio Mineira. Foi quando eu fui convidado para ir para o Conservatório da UFMG. Teve um movimento que todo colégio tinha que ter um estudante negro. Era uma batalha contra o preconceito. Lá eu tive oportunidade de crescer no campo musical: fiz aula de canto, piano, composição. Tive oportunidade de cantar no Francisco Nunes e por aí afora. Toquei nos blocos de carnaval em Belo Horizonte: bloco Leão da Lagoinha, bloco dos Sujos, Bloco Sujeira Nº1. Era tudo brincadeira, só folia mesmo.

Sou do tempo em que os sambistas se reuniam na Lagoinha. Muitos sambas bonitos saíram da Pedreira Padre Lopes, saudosa Pedreira. Atualmente eu continuo cantando. Estou gravando o meu terceiro CD de música de samba. É para ficar gravado, para quando eu passar a ser saudade alguém possa matar a saudade de mim. Igual ao hino do Cruzeiro que eu fiz em 1965 e ficou. Eu fiz não para ganhar dinheiro, eu fiz de coração. Eu mesmo estou cantando para ter um arquivo. Os meus sambas todos tem história, eu canto uma história musicada. Eu faço parte da Sociedade Brasileira de Autores Compositores e Escritores de Música – SBACEM e tenho mais de quinhentas músicas. Tenho diversas músicas gravadas por pessoas importantes do universo musical, como: Luiz Gonzaga, Blecaute, Clara Nunes e outros.

Rua: Catanduva, 380 (bairro Renascença). Belo Horizonte - MG Telefone: (31) 3442-4826

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Silvestre

Foto: Acervo Pessoal

Meu nome é Silvestre dos Santos Ferreira Filho, tenho 50 anos. Sou sambista, cantor e compositor. Tenho como segmento o samba de raiz, nas vertentes do samba rock e partido alto. Nasci no Aglomerado da Serra, região centro sul de Belo Horizonte, comunidade onde tive meu primeiro contato com o samba.

Todo início de ano, ficava vendo aquele alvoroço das escolas de samba se preparando para o carnaval. Meus parentes e amigos traziam para casa o enredo para decorar, e ficavam cantando de um lado para o outro. Tomei gosto pelo ritmo e passei a tentar acompanhar os sambistas.

Colocava o vinil para tocar e cantava junto, até conseguir seguir o tom. Um LP dessa época que me marcou, “Pique Brasileiro”, tinha Leci Brandão, Jorge Aragão, Zeca Pagodinho, Jovelina Pérola Negra e Martinho da Vila. Trago, hoje, em minhas músicas, essas influências.

São anos de trabalho, em que acumulo erros e acertos, mas ainda com a energia dos meus 22 anos, idade em que comecei a cantar samba, com o grupo ”Fim de Tarde Samba Show”. Éramos um grupo de amigos, que nos finais de tarde de domingo se reunia na rua para fazer um som. Fomos convidados para tocar em um boteco na Serra e logo montamos repertório e passamos a nos apresentar em várias casas de Belo Horizonte. Bons tempos aqueles!

Hoje canto solo e estou formando um novo grupo, para apresentar composições próprias em centros culturais, em praças, em parques e participar dos editais propostos pela cidade.

Minha grande satisfação é quando apresento um repertório e vejo o reconhecimento do público, pois a alma do artista é única e esse reconhecimento é um tempero.

Rua Ministro Oliveira Salazar, 1198/02 (bairro Santa Mônica). Belo Horizonte - MG Telefones: (31) 3283-0760; 3452-3990; 8523-5199 E-mail: mailto:[email protected]

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Irmãos Saraiva

Foto: Liliane Xavier Plínio: – Somos os “Irmãos Saraiva”, três irmãos compositores e cantores: eu, João e Mauro Saraiva. Eu e Mauro nascemos em Esmeraldas e o João, em Belo Horizonte. Na verdade, o grande articulador do grupo foi o nosso irmão Pedro Saraiva. Ele faleceu em 1989. O Pedro parecia que estava se despedindo da gente. Ele foi no desfile de carnaval em 1988. Ele até chorou com o samba enredo que fizemos para a escola de samba Canto da Alvorada. Ele faleceu logo depois do desfile. Ele era mais velho, nos deu luz, nos encaminhou para o samba. Nós fazemos sambas desde meninos. O nosso pai também era músico. Mauro: – A primeira música que fiz eu tinha 10 anos e foi para um concurso da escola. Fiz uma música do bonde. A professora me acompanhou no piano. Quando acabei de cantar o grupo veio ao chão e eu ganhei o prêmio. Daí em diante eu venho fazendo música. Morei no Rio de Janeiro fazendo música, depois aprendi a fazer samba enredo e depois a fazer a música diante da letra – a pessoa faz a letra e eu coloco a música por cima. Plínio: – Nós fazemos música desde 1950. Participamos do carnaval em BH com sambas enredos para a Canto da Alvorada. Na década de 1980 fizemos importantes sambas-enredo, como A Lenda da Esmeralda, O Cavalo Alado, A Gata Borralheira e em 1988 um samba enredo sobre os 100 anos da Abolição. Esse último foi composto por Maria do Carmo e Mauro Saraiva. Nossos sambas-enredos foram diversas vezes campeões do carnaval. João: – Fizemos quatro sambas enredo para a Canto da Alvorada, inclusive fomos estandarte de ouro. Plínio: – Já compusemos sambas enredos para escolas de samba do interior de Minas, músicas para o Cruzeiro e para o Atlético, jingle e sambas sobre Belo Horizonte, o Menor Abandonado e tantos outros. Mauro: – Já lançamos dois CDs com músicas autorais: Os Irmãos Saraiva e Músicas Racionais. O hino da Cultura Racional é nosso, O Desencanto Universal: “Pra que viver num mundo de encanto se o pranto é o canto nossa melodia...”. Nós somos os pioneiros da Cultura Racional em BH.

Mauro dos Santos: R. Pará de Minas, 1015/207 (Padre Eustáquio). Tel: (31) 9155-8374; João dos Santos: Rua Dep. Bernardino Sena Figueiredo, 511/500 (Cidade Nova). Tel: (31) 3486- 0705; 9120-6494. Plínio S. dos Santos. Rua da Sé, 233 (Itaipu). Tel: (31) 3323-231; 9247-2013

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Black Pio

Foto: Acervo pessoal

Eu sou Black Pio, Ronaldo da Silva, nascido em 25 de fevereiro de 1960 no Morro das Pedras, em Belo Horizonte. Todo meu aprendizado vem de lá, das cantorias no Boteco do Piaba – traziam mestres como Seu Tião do Bandolim, Cidi do Pandeiro, Luiz Cachaça, Otávio e Eustáquio, Eurides Pio, meu pai, Inhô do Acordeon e outros bambas do samba.

Sou cantor, produtor fonográfico, intérprete e professor de percussão na área de construção e execução percussiva. Iniciei minha trajetória formando o grupo Acauã e participando de vários festivais no estado de Minas Gerais. Logo lancei minha carreira solo. Sou pesquisador de artes: participei do curso “Nosso Negócio É Música” realizado pelo Sebrae, e também do curso de folclore no Palácio das Artes. Em 1993 voltei de uma turnê nos Estados Unidos, contratado pelo Centro Artístico Obá Obá Ltda., sediado em Nova York, onde participei de excursões por várias cidades ao lado de grandes artistas brasileiros. Sou coordenador geral da Associação dos Compositores e Músicos Independentes do Estado de Minas Gerais, fundada em 1996.

Sou um negro em movimento. A multiplicidade da minha poética afro-mineira está no fato de que toda arte por mim produzida traz o legado de meus ancestrais. A minha ritmicidade étnica foi herdada do congado, jongo, candombe, da soul music de James Brown, que viabilizavam a construção múltipla do meu samba: samba de viola, samba de terreiro, samba de caboclo, samba de gafieira, samba de black, samba de partido-alto, samba-soul.

Minha discografia: CD “Plural” , CD “Flerte” e Coletânea CD e DVD “Vozes do Morro”, DVD “Encontro Minas na MPB”. Atuei também em CDs de outros artistas mineiros como Paulo Mourão, Jadir Ambrósio, Jorge Santos Villard, Jorge Dissonância, Seu Ribeiro e outros.

Telefones: (31) 9302- 3624; (31) 3456-5123 E-mail: mailto:[email protected] http://blackpio.tnb.art.br #blackpio

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Mandruvá

Foto: Acervo Pessoal

Eu sou o Mandruvá e há 30 anos atuo no samba em BH, o que faço com muito gosto. Trato da minha família com a música e sou cultura 24 horas, pois quero deixar um legado. Para isso, convido a rapaziada para participar, dando dicas de como devem trilhar um caminho bacana no samba. No momento, existe uma visão mais ampla sobre o ritmo, que depois que virou matéria de faculdade, está mais respeitado. Antes, o samba não era considerado nem MPB. Música Popular Brasileira era Chico, Lulu Santos, Djavan, Milton...

Minha trajetória na música começou em 1979. Comecei com o grupo Partideiros do Ganzê. Depois montei os seguintes grupos: Ritmistas do Samba, A Fina Flor do Samba; Mandruvá & Samba em Grande Estilo, Descontra Samba, Mandruvá & Essa Rapaziada do Samba, Mandruvá e Grupo Nossa Raiz e Os Pretões. Atualmente, atuo nas seguintes áreas: com o grupo Mandruvá Bateria Show e Mulatas, fazendo casamentos, festas de fim de ano etc.; com a Velha Guarda e Faculdade do Samba de BH, em que sou primeiro secretário e músico; com carreira solo, em shows diversos e em abertura de shows de grandes sambistas que vêm a BH, como Alcione, Zeca Pagodinho, Almir Guineto etc.

O pico do samba foi em 1980. Com o tempo foi enfraquecendo. De 96 pra cá deu uma diminuída. Em 2000 pegou pé e já têm 12 anos de boom. Porque o samba é igual urso, hiberna, mas não morre. Fica deitado, de repente ressurge. O atual ressurgimento se deu depois que o samba foi abraçado por pessoas de formação acadêmica. Para mim é muito satisfatório ver pessoas instruídas abraçando o samba, pois dessa forma o ritmo cresceu e foi aceito em todos os meios. Cresceram as possibilidades de shows e de atividades ligadas ao samba, aumentando assim os rendimentos dos artistas.

Em 2009 fui campeão na avenida por cinco vezes, pois cinco agremiações, entre bloco e escolas, desfilaram com sambas meus. Isso pode ser fato talvez de Guinness Book.

Rua Américo Lucena, 37 (bairro Ana Lúcia). CEP 47710-350. Belo Horizonte - MG. Telefones: (31) 9908-6607; 3485-1971 E-mail: [email protected]. Site: http://mandruvasambabh.com.

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Dé Lucas

Foto: Acervo Pessoal

Eu sou Dé Lucas, faço parte do Grupo Na Cadência do Samba. Meu envolvimento com o samba começou quando eu tinha cinco, seis anos de idade. Nasci, fui criado e moro até hoje no Aglomerado da Serra, onde tem um pessoal que faz música, faz samba, da melhor qualidade.

Meu pai e meus tios eram músicos e eu sempre estava lá entre eles, observando e tentando tocar algum instrumento, da mesma forma que meu filho agora comigo. Com 14 anos eu já comecei a trabalhar tocando na noite. Mas, como o dinheiro era curto, acabei tendo que trabalhar com outros serviços também.

Foi no final da década de 1980 que conheci o Pico e o Pedro, meus companheiros do grupo. Na época eu trabalhava como garçom de pedreiro em Contagem e fui a uma roda de samba na Feira do Eldorado. Foi lá que a gente tocou junto pela primeira vez e ali começou a parceria, que já dura mais de vinte anos.

Estamos há quatro anos com esse projeto aqui no bairro São Marcos, na casa do Serginho Divina Luz, que é o Quintal do Divina Luz, fazendo um samba bem tradicional. Aqui a gente sempre conta com a participação de vários amigos, vários compositores. Pessoas de Belo Horizonte, das cidades satélites e de fora do estado também.

A ideia é que o projeto seja itinerante. É tentar quebrar barreiras mesmo: não tem que ser só aqui, só ali, tem que abrir a porteira!

A pretensão do nosso trabalho é, da melhor maneira possível, dar vazão à nossa arte, essa arte do negro, do povo brasileiro.

Rua Maria Aparecida, 375 (bairro São Marcos) Belo Horizonte - MG Telefones: (31) 3223-0858; 9756-6198 E-mail: mailto:[email protected]

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Mestre Affonso (in memoriam)

Foto: Acervo Pessoal.

Meu nome é Afonso Marra Filho, chamado de Mestre Affonso por ter sido diretor de bateria de escola de samba. Atuei em quase todas as grandes escolas de samba de BH, sendo o único diretor fora do Rio de Janeiro convidado para atuar como diretor auxiliar na bateria da Grande Rio. Senti-me honrado, mas por problemas pessoais, não pude assumir o compromisso.

Completo 63 anos em 2012, com 53 dedicados ao samba. Sem vaidade, mas com orgulho, posso afirmar que através dos meus ensinamentos, muitos músicos levam hoje o pão para casa. Sou também compositor, carnavalesco e radialista. Há 8 anos atuo na Rádio Itatiaia como colaborador do programa Acir Antão. Escrevo para jornais e blogs, sou produtor musical, cultural, de eventos e presto assessorias para escolas de samba de BH e do interior de MG.

A cada dia vejo a frondosa árvore do samba frutificar e espalhar suas sementes. Fico feliz pela oportunidade de ajudar e ser ajudado a construir a história do samba em BH. Eu digo sempre: – Obrigado meu Deus, pela honra e a glória de ter nascido sambista.

E essa glória veio da África, dos tambores, da luta contra a discriminação e as chibatas. Minha tristeza tem relação com os “feitores” da cultura popular que tentam massacrar e dividir o samba através de denominações – como pagode, samba de breque, black, samba soul. Samba é samba! Samba é origem e é raiz. É luta do povo e formação do país. Samba é ideal, glória, presente de Deus.

Através do samba, pude conduzir crianças e jovens aos caminhos do bem. Através do samba eu posso me sentar junto às velhas baianas para curtir o rodopiar das suas almas. Vivo feliz junto às comunidades, onde sinto o cheiro da flor e do amor. O samba tem problemas, claro, mas tem o valor da união e da luta – somos guerreiros. O samba é o meu amor maior.

Mestre Afonso (21/7/1949 – 25/10/2012) Este depoimento foi dado a Luíz Divino Maia em 20/4/2012.

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Lagoinha

Foto: Isabel Casimira

Meu nome é Milton Rodrigues Horta, conhecido popularmente por Lagoinha. Nasci no distrito de Itapanhoacanga, município de Alvorada de Minas, em 22 de março de 1934. Fui um dos fundadores da Escola de Samba Cidade Jardim, em 1961. Por volta de 1963 fui o primeiro a ter a audácia de lançar mulheres com poucas roupas no carnaval de BH – o maior reboliço.

Meu primeiro disco foi lançado em torno de 1957. Comecei muito novo, gravei seguidamente umas 80 músicas. Fui penta campeão do carnaval de Belo Horizonte como intérprete de marchinha de carnaval e de samba. Tive a honra de receber meu primeiro cachê artístico das mãos de Juscelino Kubitschek de Oliveira, por um show feito junto com o repentista Caxangá, no Cassino da Pampulha.

Fui honrosamente condecorado com a comenda de mérito artístico Rômulo Paes, pelo então vereador Geraldo Félix. Aproximadamente em 1962 representei Minas Gerais no programa do Paulo Gracindo na Rádio Nacional, no Rio de Janeiro, acompanhado pelo grupo musical Regional do Canhoto, muito famoso na época.

Quando eu me apresentava na Rádio Guarani, na Caravana do Aldair Pinto, eu era considerado meio show, tamanha a minha importância. Fui e sou considerado o melhor sambista de Minas Gerais. Inaugurei a Rádio Itacolomi. Meu primeiro contrato de rádio, por volta de 1960, foi na Rádio Inconfidência. Além de ter cantado na Rádio Nacional, também cantei na Radio Tupi, na Rádio Mayrink Veiga e nos programas de televisão do Chacrinha e do Clube do Bolinha. Fui personagem do livro Hilda Furacão e também fui citado no livro Cidade Encantada, que fala sobre a história do bairro da Lagoinha, Cidade Encantada.

Sou envolvido com o congado. Tenho muita fé em Nossa Senhora do Rosário e já fui rei em minha terra, Itapanhoacanga. Sou um estudioso de samba, leio tudo sobre o samba e pertenço à Velha Guarda do Samba de Belo Horizonte.

Telefone: (31) 2515-6512 E-mail: mailto:[email protected]

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Fabinho do Terreiro

Foto: Acervo Pessoal

Sou o Fabinho do Terreiro: sambista, compositor e intérprete. Conheci o samba quando eu era moleque. Frequentava as rodas que rolavam no quintal de minhas tias Laura e Dalva, no bairro Instituto Agronômico. Cresci ouvindo Paulinho da Viola, Candeia e outros nomes da época. Todos os domingos o samba comia solto! O batuque me envolvia, o corpo todo arrepiava, e eu pensei: é isso que eu quero para a minha vida! Comprei instrumentos, juntei com os amigos e não parei mais!

Formei, com meu irmão Ricardo Barrão e meus primos, o grupo Terreiro Samba Show. Durante 25 anos, tocamos em várias casas de Belo Horizonte, inclusive no tradicional Curral do Samba, no bairro São Paulo. Hoje sigo carreira solo, independente, compondo e interpretando.

Trabalho divulgando minha música: acho que é também uma forma de manifestação e resistência. A gente vai levando a cultura na tora, no peito e na raça! Faço diversas parcerias com outros sambistas, o que enriquece muito as letras e melodias, e expande as ideias.

Orgulho-me de ter minhas músicas gravadas por vários nomes respeitados do samba: Neguinho da Beija Flor, Agepê, Almir Guineto, Gracia do Salgueiro, Nelson Rufino, Zeca Pagodinho, Leci Brandão, Purarmonia. Participo também do carnaval belorizontino: sou intérprete e compositor da escola de samba Chame-Chame e participo do bloco carnavalesco Trema na Lingüiça.

É muito gratificante difundir a música das nossas raízes e receber o reconhecimento e carinho do público, independente de classe e de cor. Não há limites e barreiras para a magia do batuque e da batida do samba! “O samba chama quem tá de porre, tá de tédio e amargura! É o remédio natural, essência pura! Chega pra cá, venha sonhar!”

Telefone: (31) 9695 5126 E-mail: mailto:[email protected]

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Carlinhos Visual

Foto: Liliana Xavier Eu, Carlos Roberto da Silva, nasci em Itamarandiba no dia 17 de fevereiro de 1960. No samba sou conhecido como Carlinhos Visual. Sou músico, intérprete e há 7 anos comando um programa de samba, o Batuque na Cozinha, na Rádio Educativa da Universidade Federal de Minas Gerais 104,5 FM. O programa vai ao ar de segunda a sábado de 13 às 14 horas. Mas também já tive uma passagem pela Radio Inconfidência; eu e o Serginho BH apresentávamos o programa O Samba Bate Outra Vez. Além da rádio, também sou produtor de casas noturnas de samba e MPB em Belo Horizonte.

Eu venho da periferia, do aglomerado da Serra. Cheguei, em 1975, na noite, com a black music. Comecei dançando soul. Aí eu fui crescendo e o soul aqui foi dando uma parada, então eu fui para a escola de samba. Eu queria sambar, então fui para a Cidade Jardim. Da escola de samba eu fui para o samba. Eu aprendi primeiro a sambar, a tocar instrumentos, depois caí para o samba. O meu gênero musical é o samba. A gente não vira sambista, a gente cresce e toma gosto pelo samba. A gente do morro já nasce com samba. No morro não tem rock, tem é samba no pé. Estou até hoje no samba defendendo essa bandeira.

Eu morei na Serra muitos anos: 35 anos! Cheguei lá na época que eram só becos e vielas, época da lamparina e do lampião. Não sou compositor, nem me atrevo. Mas eu só fiz um samba para a Serra, a música Serrinha. Já fiz muita participação de backing vocal. Quando o Serginho BH convidou as escolas de samba de BH para gravarem os sambas enredos, fiz backing vocal.

Tenho vontade de gravar um CD só de sambas mineiros. Eu quero fazer um projeto para mostrar o meu acervo de samba, de discos, histórias, fotos com os sambistas de Belo Horizonte. Antigamente samba era coisa de preto. Aí sambista apanhava, era preso. Hoje não, todo mundo quer ser sambista.

Samba hoje não tem cor: é de preto, é de branco. Porque a porta mais fácil de entrar é o samba – ele aceita branco, preto e mulato. O samba veio para unir as raças.

Telefone: (31) 9637-3434 E-mail: mailto:[email protected]

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Reinaldo do Curral do Samba

Foto: Acervo pessoal Sou Reinaldo Avelar da Silva, mais conhecido por Reinaldo do Curral. Nasci em 1951. Desde sempre sou músico e agente cultural do samba. Iniciei na música fazendo voz e violão, cantando em barzinhos. Depois, como idealizador e proprietário, com apoio de amigos, inauguramos o Curral Bar, onde hoje está instalado o popular Curral do Samba. No começo do Curral Bar, ainda não tínhamos uma ideia de um amplo local para acomodar os apreciadores do samba. E tudo foi evoluindo naturalmente para se tornar o Curral do Samba. Assim batizado porque, antigamente, o local era um matadouro da prefeitura de Belo Horizonte, em que o gado ficava confinado para ser abatido e distribuído à cidade inteira. Centenas de amigos fazem parte da história do Curral do Samba: em homenagem a eles, a gente fez uma roda de samba e a coisa pegou no gosto dos frequentadores entusiasmados. O resultado foi o sucesso do Curral do Samba. Isso faz 37 anos. Por tradição afrodescendente, a primeira casa em Minas Gerais foi o Elite, lá na Avenida Bias Fortes. O Elite existiu por 54 anos e encerrou suas atividades sem reconhecimento público-cultural. Depois do Elite, com muito orgulho e persistência dos que amam e respeitam a cultura afrodescendente, é o Curral do Samba a mais antiga casa do gênero em Minas Gerais. O samba veio lá da Pedreira Padro Lopes, na Lagoinha. Era aquele samba de botequim em que frequentavam o Juscelino Kubitschek, o talentoso Jadir Ambrósio e outros bambas. Hoje, nós do Curral do Samba, temos compositores e compositoras, cantores e cantoras que são notáveis sambistas com evidência na mídia. O Curral do Samba também formou sua própria ONG denominada Centro Mineiro de Cultura Comunitária, legalmente constituída. Daí a gente cria condições para que outros criem o produto cultural de cada um. Gravamos muitos CDs dos sambistas mineiros, como o de Geraldo Magnata, Jussara Preta, Seu Domingos, Jadir Ambrósio, Bira Favela, Fabinho do Terreiro, TriMulatos e tantos outros bons artistas. Minas Gerais cresce demais em termos de composição musical. E a maioria dos compositores mora em nossa Belo Horizonte e na região metropolitana. Falo do samba do dia a dia. É o samba do dia a dia que faz os sambas enredo do carnaval a cada ano. O Centro Mineiro de Cultura oferece condições para as escolas de samba gravarem e fazerem os arranjos em nossos estúdios. Aqui, no Curral do Samba, a cultura afrodescendente tem vez. Acreditamos que é com ações afirmativas que ergueremos a nossa bandeira maior – o Samba. Rua Maria Pietra Machado, nº 123 (bairro São Paulo). Belo Horizonte - MG Telefone: (31) 8833-8822. E-mail: mailto:[email protected]

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Silvio Luciano

Foto: Liliana Xavier Me chamo Silvio Luciano Índio do Brasil, sou sambista, cantor e compositor. No samba todos me conhecem como Silvio Luciano. Nasci no dia 7 de setembro de 1935 em Barbacena. Eu vim bem menino para Belo Horizonte. Com 14 anos eu comecei a frequentar a Escola de Samba Surpresa, do bairro Lagoinha. Foi o meu irmão mais velho quem me levou. Era tudo muito difícil, a gente tinha que esquentar o tamboril na avenida. Já fui pra avenida sem nada eletrônico. Já fui interprete de samba e a gente cantava era no gogó, não tinha microfone. Depois mudei para o Concórdia e me liguei à Inconfidência Mineira. Antes da Surpresa terminar, fiz muitos sambas enredos para a escola. Na década de 1960, logo quando começou o Mineirão, o pessoal da bateria da Surpresa combinou de levar a Charanga para o estádio. Essa música “Eu Queria Tanto” virou hino da Charanga. Eu fiz para o Bororó. A Charanga foi considerada a Orquestra Sinfônica dos Estádios. Foi um sucesso; mas, como tudo, acabou. Tem uma turma que ainda segue a tradição e faz carnaval.

A minha trajetória de música foi muito boa – cantei em clubes, no Elite, na Marinha, na TV Itacolomi. Eu e o Mestre Conga éramos da banda da TV Itacolomi. Trabalhamos com Grande Otelo e diversos artistas de teatro. Na composição de sambas, comecei desde pequeno. Algumas se perderam com o tempo. No começo eu gostava de compor e não me preocupava muito em gravar. Tudo é motivo para compor. Eu tenho muitas composições. Em 1975 eu fiz samba enredo para a Escola de Samba Unidos da Colina e fui campeão do samba enredo. Fui exclusivo da União da Escola de Samba. A escola de samba que não tinha compositor para fazer o samba enredo, eles mandavam o tema e nós fazíamos. Em 1975 fiz samba para a Colina, Cidade Jardim e a Inconfidência Mineira. A música “A Lua e o Morro” eu fiz na Pedreira Padre Lopes, na paisagem do morro. A última composição que eu fiz para o carnaval foi em 1986 para o Ronaldo Coisa Nossa; era para um bloco que ele tinha. Atualmente tenho atividades com dois grupos: o Superastral e a Velha Guarda de Samba. O Superastral surgiu em 1990. Somos eu, o Juarez, o Tarcísio, o Carlinhos e o Zezinho. A Velha Guarda do Samba é para dar o suporte aos sambistas antigos. Sobre a composição, a pessoa já nasce com a coisa nata, com o dom para escrever. Eu desde criança já tinha este dom para escrever.

Rua Império, 400 (bairro Eymard). Belo Horizonte - MG Telefones: (31) 3432-1804; 8438- 054

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Zé do Monte

Foto: Liliana Xavier

Eu me chamo José Antônio Guimarães, mais conhecido como Zé do Monte. Nasci no dia 29 de novembro de 1938 em Belo Horizonte. Cresci na rua Espírito Santo e com 7 anos de idade me mudei para o bairro Pompéia. Aí comecei a jogar futebol. Quando eu jogava na várzea eles me colocaram o apelido de Zé do Monte porque tinha um jogador mais velho que jogou no Galo e que tinha falecido, e eu tinha as mesmas características dele. Então, me colocaram o apelido. Fui crescendo, servi o exército, e quando saí eu queria ter uma profissão. Então fui para a tipografia. Tenho 44 anos de tipógrafo e nas horas vagas faço os meus sambas.

Comecei a compor meus sambas no Pompéia com os meus amigos, no bar. No começo era só brincadeira, mas fui evoluindo. As músicas que faço são sobre o cotidiano. Eu tenho músicas sobre o meu bairro, Pompéia, Belo Horizonte e sobre a Portela. Componho no final de semana com os amigos, em festas, nos bares. Na verdade componho sozinho. Eu pego o tema no bar e depois desenvolvo na minha casa.

Participei da Velha Guarda de Belo Horizonte, ensaiava com eles, mas devido ao tempo não pude prosseguir. Eu nunca tive um grupo – só o “Monte Samba”, em que toco junto com os meus filhos sambistas, Gilmar do Cavaco, Geraldo e Gerson. Nós tocamos samba mais nos finais de semana, em encontros com amigos. De referências no samba do Brasil nós temos o Arlindo Cruz, o Zeca Pagodinho e outros. Em Belo Horizonte, tem o Bira da Favela, o Cabral e o Fabinho do Terreiro e outros mais. O Bira já gravou no seu CD um samba de minha autoria – “Faz Isso Não, Neném”. Já participei de filmes documentários sobre a Velha Guarda de Samba de Belo Horizonte: o documentário “Roda” e um outro filme sobre a minha vida – “Memórias e Improvisos de um Tipógrafo Partideiro”, do Pedro Portella. Nesse filme, inclusive, gravei em BH, na tipografia; gravei com a Velha Guarda da Portela, no Rio de Janeiro; e com o Xangô da Mangueira. Eu ainda não consegui gravar um CD, porque falta patrocínio. Já tenho mais de trinta músicas prontas para gravar. Já fiz até uma demo, mas ainda não consegui gravar meu CD.

Endereço: Rua Ouro Branco, 299 (bairro Pompéia). Belo Horizonte- MG Telefones: (31) 3075-5611; 8308- 9109

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Bira Favela

Foto: Liliana Xavier

Meu nome é Ubirajara dos Santos Custódia. Nasci no dia 3 de setembro de 1950, em Belo Horizonte. No samba sou conhecido como Bira Favela. Sou criador de um grupo de samba em BH, o Grupo Favela. Logo depois que o grupo se desfez, passaram a me chamar de Bira Favela. E quem me deu esse nome foi o Toninho Geraes, que é um amigo do samba. Comecei aos 7 anos na Rádio Inconfidência, em um programa infantil chamado Gurilândia, animado por Aldair Goiano Pinto. Em 1957, o Pelé começou a se destacar e me deram o apelido de Pelé do Samba. Eu era o único negro do elenco infantil. A minha mãe foi quem me incentivou, porque peguei esse lado dela: ela cantava e era dançarina na casa de shows Elite. Nós morávamos no Santo Antônio. Eu nasci naquele Aglomerado, Vila Estrela, Morro do Papagaio, Santa Lúcia e foi ali que tive a honra de conhecer o professor Emílio Salomé, quem me deu muito ensinamento: as minhas primeiras lições de iniciação e teoria musical. Desde então estou com a música e desde 1970, como músico profissional, registrado pela Ordem dos Músicos. Aos 20 anos, ingressei em uma boate chamada Sambão, na Álvares Cabral esquina com rua da Bahia. Foi ali que decidi continuar e de lá pra cá só trabalhei com música. Eu trabalho em bares, boates e eventos em que predomina o samba – atualmente nas comunidades dos bairros Pindorama, Ipanema e Glória. Nessa carreira eu conheci vários empresários. Já trabalhei para a Kaiser, cervejaria, de 1980 a 88, como funcionário músico. Viajávamos com uma banda e assim fiquei conhecendo Minas Gerais. Eu trabalho assim, sou convidado ou então promovo festas. Gravei o CD “Bira Favela, Uma Vida pelo Samba” em 2005, aprovado por Lei de Incentivo. Nesse CD falo de Minas Gerais e os compositores são mineiros: Toninho Gerais, Gervázio Horta, Fabinho do Terreiro e outros. No carnaval, pertenço à Cidade Jardim, que é a escola da região onde eu nasci. Eu aprendi a gostar da Escola de Samba Cidade Jardim. O ex-presidente da escola, o falecido Jairo Pereira da Costa, que era meu amigo, me chamava para ser um dos puxadores de samba enredo, com mais três, quatro puxadores. Eu nasci na favela, mas o primeiro contato na música foi com o maestro. Então minha iniciação musical é mais para a harmonia. Aí a gente pega mais a maneira dos antigos cantarem – do Ataulfo Alves, Sílvio Aleixo, Aguinaldo Timóteo, Jadir Ambrósio e outros.

R. São João Nepomuceno, 22 (bairro Santo Antônio, Aglomerado Vila Estrela, Morro do Papagaio e Santa Lucia). Telefone: (31) 9686-1950. E-mail: mailto:[email protected]

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César de Aguiar

Fotografia: Liliana Xavier Eu, César de Aguiar, nasci em Curvelo, mas vim para BH recém nascido. Sou compositor, radialista, intérprete e músico autodidata. Comecei a cantar aos nove anos de idade. Fui criado no Barro Preto, entre a Av. Augusto de Lima e Av. do Contorno. Ali havia um campo de futebol. Sempre fui inclinado a jogar bola e a cantar. Quando criança, tínhamos uma turma de futebol e na época de carnaval eu formava um grupinho para aprender marchinhas e sambas. Formava blocos de carnaval com os meninos da minha idade e saíamos batendo lata. Fazíamos os pandeiros de lata de marmelada com tampinhas de refrigerante e cantávamos tudo quanto era samba e marchinhas da época. Aos 15 anos comecei a ganhar dinheiro cantando e tocando cavaquinho e instrumentos percussivos em clubes de futebol. Com 17 anos passei a tocar e cantar na zona boêmia, nos cabarés, nos dancing, no legendário Montanhês, Casa do Baile, Cassino Pampulha, Mariana Dancing e outros. Eu tinha que ter algum responsável por mim, e o maestro Torres, da Rádio Inconfidência, foi o meu tutor. Foi com ele que recebi indicação para ser cantor da Rádio Inconfidência, onde fiquei de 1951 até 1953. Depois fui para a Rádio Guarani para cantar baião, forró e músicas nordestinas, levado pelo maior animador de auditórios, Aldair Pinto, e o seu diretor artístico, jornalista Paulo Nacife, fundador do jornal O Balcão. Depois da Guarani fui para a TV Itacolomi. Ali me denominaram o Rei do Baião em Minas. Fui o primeiro artista a cantar na televisão em Minas. Depois fui para o Rio de Janeiro e cantei em programas de televisão, na TV Tupi, na TV Rio, na Rádio Nacional e nos famosos cabarés da Lapa. Fiquei no Rio uns três anos. Depois fui para São Paulo, cantei em programas de televisão, na TV Tupi de SP, na TV Nacional, na Rádio Record. Em São Paulo, infelizmente, perdi a voz, em um estúdio de gravação. Estava com calos nas cordas vocais. Voltei para BH e fiz duas cirurgias. Aí parei de cantar, por volta de 1966. Passei a empresariar artistas. Promovi eventos em Belo Horizonte e muitas cidades de Minas com os maiores artistas do Brasil: Luiz Gonzaga, Rosemary, Agepê, Ângela Maria, Martinho da Vila e até . A minha história tem mais de 50 anos. Sou cantor, depois que perdi a voz passei a empresariar artistas e, nesse período, produzi revistas de letras de músicas e método de violão que eu mesmo editava e distribuía no Brasil: revistas Só Sucesso, Sucessos e Mais Sucessos e outras. Já gravei LP, compacto. Gravei 6 discos pela gravadora Copacabana. E há 5 anos retornei à minha carreira. Gravei dois CDs pela Lei de Incentivo, o último é César De Aguiar – A Volta de um Cantor e a Sua História Musical. César de Aguiar - bairro Dom Cabral. Telefone: (31) 8423-2262

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Waltinho Sete Cordas

Fotografia: Liliana Xavier

Me chamo Walter Gonçalves Ferreira. Nasci no dia 10 de março de 1935, na Pedreira Padre Lopes. No samba sou conhecido por todos como Waltinho Sete Cordas. Eu comecei bem menino, pode-se dizer que foi um dom que Deus e o meu sangue me deram. Porque o meu pai era músico, ele tocava violão. Ele também tocava na Rádio Inconfidência com o professor Bento de Oliveira. E naquela época passou um conjunto, Trio de Ouro, com Dalva de Oliveira, Herivelto Martins e Raul Sampaio. Eles precisavam de alguém que tocasse violão e levaram o meu pai, como quem diz –vamos ali e já volto.

E meu pai mudou-se para o Rio de Janeiro e morreu por lá. Meu pai inclusive era compadre do Dino Sete Cordas, o violão maior. Mas não foi meu pai quem me ensinou, não foi ninguém. Meu pai só comprou pra mim, quando eu era pequeno, um cavaquinho. Eu toquei cavaquinho muito tempo. Aí o professor Bento de Oliveira falou para eu tocar violão. Deus me deu um bom ouvido e eu faço valer essa condição.

Quando eu comecei a tocar eu morava na Pedreira. Lá eu participava das rodas de samba, tinha muitos amigos sambistas. Vivi na Pedreira até os meus 20 e tantos anos. Depois mudei para o bairro Aparecida e depois para o bairro São Geraldo. Toquei em diversos conjuntos com muita gente boa, com o Lamartine, com meu sobrinho cavaquinista Fernando Bento, com o Rudney Carvalho, outro cavaquinhista, e com a Dóris, durante 7 anos, no projeto Cantando a História do Samba, e muitos outros.

A gente tá sempre aprendendo, que a gente nunca é que sabe. Eu estou sempre aprendendo e faço questão disso. Esses meninos mais novos também ensinam a gente. Apesar destes 77 anos eu vivo mais um dia aprendendo com essa rapaziada. Também toquei na Velha Guarda com aqueles meninos. Eu atualmente toco no Conjunto Seresteiro Amigos de JK, tocamos em bares de Belo Horizonte. Já toquei com muitos músicos bons. A gente tocando depende muito do parceiro. Bom mesmo é tocar com o parceiro que deixa a gente despreocupado.

Waltinho Sete Cordas Telefone: (31) 9655-9023

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Serginho Beagá

Foto: Liliane Xavier Eu, Serginho Beagá, nasci em 24 de maio de 1958 em Belo Horizonte. Na minha família todo mundo era músico. O meu avó era maestro, Caetano Avelino Ramos, fundador da primeira banda Santa Cecília do Brasil. Comecei a tocar cavaquinho aos 6 anos de idade. Quando eu tinha uns 10 anos eu fiz um samba. Mostrei para uma prima minha e ela me incentivou. Desde então comecei a compor sambas. Mais tarde, em 1982, fui disputar um samba enredo na Cidade Jardim e perdi. Meu samba ficou em 3o lugar. Em 2o ficou o do Toninho Geraes, em 1o ficou o do Paizinho. Então Jairo Pereira da Costa nos chamou, Toninho e eu, e pediu que a gente juntasse os nossos sambas enredos. Juntamos! O samba foi para a avenida e ganhamos. Me chamaram para puxar o samba, porque eu já era puxador do bloco caricato Partido Alto. Aí eu fiquei lá por um tempo. Tive ofertas das escolas Canto da Alvorada, Bem Te Vi e outras. Fiquei rodando essas escolas. Eu tocava no conjunto Que Samba Show. E todo mundo sabia que eu era doido com o Neguinho da Beija Flor. Quando o Gilberto e o Prego o trouxeram para um show em BH seríamos nós que o acompanharíamos. Fiquei muito emocionado, me levaram ao hotel para conhecê-lo, para passar as músicas. Ele me perguntou se eu tinha uma música. Cantei a que me veio na cabeça. Ele gostou da música e gravou. Na segunda vinda a BH ele me levou para a banda dele. Depois o Dominguinhos do Estácio me chamou e gravou minha música, a Lecy Brandão, a Jovelina Pérola Negra, o Agepê, Demônios da Garoa, Diogo Nogueira, Aline Calixto, Marquinhos Ramos e outros. A minha parceria com o Toninho Geraes continuou desde aquele samba enredo. A Cidade Jardim foi um berço, a minha primeira escola de samba. Depois fui para a Mangueira e a Imperatriz Leopoldinense. Na Imperatriz puxei samba enredo. Fui puxador de samba na Sapucaí no Rio e em BH. Ganhei vários prêmios. Em 2004 fundei a escola de samba Academia do Samba Império da Nova Era. Ganhamos vários prêmios, o Tamborim de Ouro. A bateria da escola de samba continua até hoje, só que a escola deu uma parada. Faço vários shows em Minas e fora. Conheço um pedaço do mundo. A minha carreira existe por existir. Eu sou sem vaidade, sem apego. Eu vivo de música. Comecei gravando LPs, compacto. Tenho um disco instrumental, o Cavaquinho Amigo, que foi distribuído pelo mundo inteiro. Em 2000 gravei “Eu sou do Samba”, gravei “Chegou o Samba”. Muitos CDs têm músicas minhas, parceiros ou músicos que gravaram. Eu sou do samba, a minha razão musical é o samba. Telefone: (31) 9642-3078. E-mail: [email protected] Blog: http://serginhobeaga.blogspot.com.br

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Mestre Conga

Foto: Fernanda Oliveira Meu nome é José Luiz Lourenço, conhecido como “Mestre Conga”, um apelido carinhoso dado por colegas generosos por eu ser um dos mais antigos sambistas de BH. Vim para o samba pela dança: essa coisa gostosa e amorosa que abriu meus olhos para a vida! Em 1945, alguns colegas me chamaram para desfilar na antiga Escola de Samba Surpresa. Desfilei sem pretensão, tocando tamborim. Em 1946, o Sr. Ildeu Amaro da Silva, o Dorico, que vinha desfilando na Escola de Samba Unidos da Floresta, me convidou para participar. Depois, em 1947, fui para a Escola de Samba Remodelação, no bairro Floresta mesmo, onde fui passista. Em 1948 fui eleito Cidadão Samba, concurso realizado pelos Diários Associados que mexia demais com o ego da gente. Era muito importante. A gente realmente se sentia um cidadão! Entre 1948 e 1949 fiquei como responsável pela Escola de Samba Remodelação. Em 1950, criei, com a ajuda de outros companheiros, a Escola de Samba Inconfidência Mineira, no terreiro lá de casa, no bairro Concórdia. Em 1955 comecei a compor. Fiquei na Inconfidência Mineira até 2005. Em 2006 eu me afastei. Atualmente faço meu trabalho individual, como cantor e compositor, com o disco “Mestre Conga Decantando em Samba”. Aprovamos, além disso, o projeto de documentário: “Mestre Conga – o Inconfidente do Samba”. Tenho também um trabalho coletivo com a Velha Guarda da Faculdade do Samba de BH. Participamos do documentário “Roda”, sobre essa velha guarda de samba. Em termos da minha formação ética e política, faço questão de lembrar que sou ex-aluno da Escola de Líderes Operários (ELO) da Federação dos Trabalhadores Cristãos de Minas Gerais, dirigida pelo Ari de Freitas. Participo da Associação Cultural Eu Sou Angoleiro, nos ensaios e apresentações de dança. E sou representante suplente no Conselho Municipal de Cultura desde 2011. Sempre militei na parte cultural que é o samba, tendo vindo de uma Guarda de Congo. Participo de tudo que for feito para elevar o negro e a sua arte. Somos todos negros e acho que temos que comer na mesma panela. Há quantos anos vivemos no anonimato? Me sinto lisonjeado com esse trabalho que a CPIR está fazendo no sentido de exaltar e homenagear o artista, seja ele negro, mulato, índio, cigano. Essa é uma iniciativa que muito nos honra, I para mim é motivo de elogio e só tenho a agradecer à saudosa Graça Sabóia e a quem mais teve essa iniciativa de colocar nossa raça no lugar que ela merece. É tudo o que a gente gostaria que todos os nossos irmãos de cor tivessem e que estamos tendo: respeito e reconhecimento. Mestre Conga. Bairro São Bernardo. Telefones: (31) 3994-6732; 3994-6626.

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Geraldo Magnata

Foto: Acervo Centro Mineiro de Cultura

Eu, Geraldo Magnata, sou intérprete, radialista, percussionista e compositor. Nasci em Belo Horizonte no dia 27 de junho de 1953. Tenho 40 anos de samba, comecei aos 18. Dentro do universo do samba eu canto, toco, componho, sou ganhador do projeto Vozes do Morro, bicampeão de samba enredo pela Escola de Samba Canto do Alvorada, em 1987 e 89, e hexacampeão em Nova Lima pela Escola de Samba Monte Castelo. Compus vários sambas enredo e fui puxador de samba. Fundei uma casa de samba – Magnatas Bar –, porque eu sou um dos fundadores do grupo Magnatas do Samba, no qual militei por 21 anos.

Eu praticamente participei de todos os movimentos ligados ao samba em Belo Horizonte, como a fundação do Clube do Samba de Belo Horizonte, a fundação da Cooperativa dos sambistas, a fundação da Liga do Samba. Trabalho numa rádio educativa que antes era comunitária – sou voluntário na rádio. Então, há 14 anos eu exerço a comunicação através da Rádio Favela 106,7 FM. Apresento o programa Pode Sambar, todo sábado de 14 às 16 horas. Através da Rádio Favela eu pude divulgar o samba de Belo Horizonte, Minas e do Brasil.

Sou empreendedor, faço alguns shows e promovo eventos, como a Noite do Abraço Amigo em que, na oportunidade, eu rendo homenagens àqueles que me ajudaram como sambistas, compositores, patrocinadores e divulgadores dentro deste universo, deste planeta que é o samba. E no dia 2 de dezembro, no dia Nacional do Samba, produzimos um evento no Curral do Samba. Reunimos sambistas e fazemos shows e o ingresso é um brinquedo. No dia 25 nós fazemos um Samba de Natal com a presença do Papai Noel e a criançada da comunidade. Tenho o meu CD – “Vai Que Eu Tô Te Vendo” –, gravado no Centro Mineiro de Cultura e já participei de outros CDs com músicas minhas que foram gravadas – como no CD do grupo Magnatas do Samba, do grupo Capricho e com o Fabinho do Terreiro. Na época do vinil, gravei pela escola de samba Canto da Alvorada.

A gente tem uma identidade, sou muito irreverente e procuro tocar no coração das pessoas quando estou no palco. E depois que eu passei pelo projeto Vozes do Morro, alavanquei a minha carreira. Eu já era conhecido, mas apenas no meio do samba; depois desse projeto fiquei conhecido por todos, pelo povo.

Telefone: (31) 9649-1741. E-mail: mailto:[email protected]

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Xiquinho Poeta

Foto: Acervo Pessoal

Meu nome é Francisco de Assis Vieira, nasci no dia 2 de março de 1960 no tradicional bairro do Carlos Prates, em Belo Horizonte. Sou o primeiro sambista da minha família, mas trago desde a infância minha devoção ao samba. É um dom recebido de Deus que sempre foi moldando a minha vida e me direcionado para que eu me tornasse um sambista. Ainda criança, quando eu via alguma reportagem sobre o samba ou sobre os desfiles de escola de samba dizia sempre à minha mãe: – “Um dia ainda vou ser um sambista”.

Minha trajetória no mundo do samba começou na década de 1970 quando fui levado por uma ex-namorada a um ensaio do Grêmio Recreativo Escola de Samba Unidos Guaranis, uma das escolas de samba mais tradicionais e queridas de Belo Horizonte, que era dirigida pelo grande sambista Vitório de Jesus. A Unidos Guaranis tinha como grande destaque a bateria nota dez e uma envolvente ala de passistas que era considerada “os reis do samba no pé”. Encantei-me com tudo isso e nesse mesmo ano passei a integrar essa agremiação. Fui passista, diretor da ala dos passistas, presidente da ala dos compositores, diretor de harmonia, diretor geral de carnaval e presidente da escola. No carnaval de Belo Horizonte, fui eleito por duas vezes o “Cidadão do Samba Adulto”, em 1982 e em 1993, concurso que premiava o melhor passista da cidade. Compus alguns sambas de enredo, e da TV Alterosa e Radio Guarani recebi três “Tamborim de Ouro”: em melhor enredo, melhor evolução e conjunto, e melhor samba de enredo. Em 1986, por discordar da diretoria dessa escola entreguei meu cargo de diretor geral e passei a integrar a diretoria do G.R.E.S.M.I. Bem Te Vi onde realizamos grandes desfiles. Mas como ninguém ensina a gente a ter amor, em 1990, voltei à Unidos Guaranis – assumi a presidência e reconduzimos a escola ao grupo especial.

Em 1994, ouvindo meus anseios de sambista, fui buscar novos horizontes uma vez que os desfiles de escolas de samba em Belo Horizonte foram interrompidos. Passei a integrar a ala de passista do G.R.E.S Portela de Madureira no Rio de Janeiro, onde estou até hoje e pretendo dar continuidade à minha vida de sambista: “E se eu pudesse voltar casava outra vez com o samba”.

Xiquinho Poeta E-mail: mailto:[email protected]

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Dudu Nicácio

Foto: Dilla Puccini

Sou Dudu Nicácio. Sou músico compositor. Meu contato com o samba vem desde criança. Meu pai era diretor de duas escolas de samba da cidade de Oliveira, onde fui criado. Como eu era doidinho com ele, sempre ia aos ensaios nas quadras para acompanhá-lo. Por conta disso, desde muito cedo, me deixei fascinar pela loucura do carnaval. Nas ruas, nos bailes, na minha casa, tudo era sempre uma festa. O samba também me contagiava pelos discos antigos da minha mãe, pelas rodas de violão e pelas serestas. A minha madrinha era a maior seresteira da cidade, uma negra linda! Cantava muitos sambas-canções do Noel Rosa, Nelson Cavaquinho e Adoniran Barbosa. Eu nem fazia distinção entre o samba e qualquer outro tipo de música, eu simplesmente achava que era música bonita.

Quando vim para BH foi que comecei a entender que o samba na história da MPB tem uma página própria. Comecei a frequentar muito bares de samba, como Opção e Cartola. Aos poucos fui conhecendo o pessoal do samba daqui e me entrosando. A partir daí, passei a ter meu trabalho como compositor marcado por essa vivência do samba. Com o passar dos anos montei uma agência cultural, chamada Ultrapássaro, onde idealizo e realizo um monte de projetos. O Samba do Compositor, por exemplo, foi fundamental para o fortalecimento da cena do samba aqui em Minas, feito junto com Miguel dos Anjos e o saudoso Mestre Jonas. Tem também o projeto Do Morro ao Asfalto, já no sexto ano, que acontece nas vilas e favelas e promove um intercâmbio cultural entre regiões da cidade extremamente desiguais que raramente se comunicam. Outro projeto é o Bloco da Cidade, que acontece na quadra do GRES Cidade Jardim e é um dos responsáveis pela revitalização do carnaval de rua de BH. Tenho dois discos lançados, “Dudu Nicácio e Leopoldina” (2005) e “Dois do Samba” (2008), em parceria com o carioca Rodrigo Braga. Em 2012, lançarei o meu primeiro disco solo.

A militância com os direitos humanos influencia muito minha carreira artística: desde a escolha de trabalhos que envolvam o reconhecimento da diversidade e a colaboração entre artistas, até a feitura das parcerias musicais e a ocupação da cidade.

E-mail: mailto:[email protected]

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Edinho

Foto: Isabel Casimira Sou Edson José de Alcântara da Silva. Nasci em 14 agosto de 1942 no bairro Concórdia, em Belo Horizonte, no mesmo quarteirão onde a escola de samba Inconfidência Mineira ensaiava. Com 14 anos de idade comecei a frequentar os ensaios da escola. Em pouco tempo já era diretor de uma ala. Poucos anos depois essa minha ala da Inconfidência Mineira foi considerada a melhor de BH. Era chamada Aladinho, nome que resumia a Ala do Edinho. Desde então, todas alas que dirijo recebem esse nome, independente da escola onde esteja atuando. A marca da Aladinho era ser uma ala com passos marcados, que era composta só de homens negros, criteriosamente escolhidos.

Por insistência do saudoso presidente Jairo Pereira da Costa, então presidente da escola de samba Cidade Jardim, aceitei participar da sua escola, por volta dos anos 70, com atuação da Aladinho. Gostei tanto que acabei ficando por 10 anos consecutivos na Cidade Jardim, até que o mui digno presidente da escola de samba Unidos Guaranis, o saudoso Vitório de Jesus, depois de insistir por uns cinco anos para que eu fosse participar da sua escola, acabou conseguindo. No primeiro ano fomos campeões. Na Unidos Guaranis eu coloquei as mais lindas mulatas na ala, o que fez com que ficasse melhor; modificamos o modo de apresentar, deixando de lado os passos marcados, que era minha marca, e começamos a fazer evoluções. Fiquei lá por mais seis anos, mas um ano antes de sair fui emprestado junto com a minha ala pelo Vitório de Jesus para a escola de samba Canto da Alvorada, que era do segundo grupo e lutava para ser campeã. Foi o que aconteceu: fomos campeões.

Voltei a disputar o carnaval seguinte na Unidos Guaranis, que era do primeiro grupo. Depois disso retornei para a Inconfidência Mineira, permaneci como diretor de ala e atendendo ao pedido de amigos como Augustão e José Alfeu, comecei a ensaiar a comissão de frente da escola. Gostei tanto que arranjei pessoas qualificadas pra tomar conta da Aladinho e continuei na comissão de frente da Inconfidência Mineira. Até que me tornei presidente dessa escola. Devido a várias dificuldades que senti como presidente da Inconfidência Mineira, resolvi me demitir. Fui convidado pelo presidente Lee da Cidade Jardim a ajudar a sua escola a voltar para o grupo especial e é na Cidade Jardim onde estou atualmente.

Rua Tamboril, 856 (bairro Concórdia). Telefones: (031) 3444-3878; 8873-9296

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Lulu do Império

Foto: Poliana Xavier Meu nome é Mario Lúcio, pseudônimo Lulu do Império. Eu vivo da música há 41 anos. O meu prazer é quando estou no palco, fazendo shows, apresentações ou interpretando samba enredo. Essa é a minha higiene mental! Eu entrei no samba aos 19 anos por influência de um amigo, a quem eu dou muito valor, pois ele era o líder do conjunto Tempero da Vila, o falecido Kalu. Eu continuei com o nome do grupo. A minha banda Tempero da Vila existe há 12 anos. Também integro a Velha Guarda Estação do Samba, ao lado de Fabinho do Terreiro, seu irmão Barrão, Jussara Preta, João de Aquino e Mandruvá. Esse pessoal é maravilhoso! E nós estamos juntos há muito tempo trabalhando e divulgando o samba.

Participo de um show de mulatas e da Nota Dez Bateria Show, que possui 14 elementos: cavaco, cavaquinho, violão e voz, e mais 11 ritmistas Estou com a Nota Dez Bateria Show, que é comandada pelo Mestre Lázaro e pelo Mestre Zá, há aproximadamente 5 anos. Mas o conjunto tem mais tempo. Passei por diversos conjuntos, como Os Pretões, que era formado por pessoas renomadas no samba – Paizinho do Cavaco, Raimundo do Pandeiro, Simão de Deus, Teco da Viola, Valdir Alquimia, Gatão e Mandruvá. Quando sou convidado, faço shows com Os Pretões, mas não pertenço mais ao grupo.

Nessa minha trajetória no samba, algo de muito valor é a minha participação no carnaval. Eu comecei em uma escola de samba tradicional: a Inconfidência Mineira, do bairro Concórdia. Nessa escola eu fui mestre-sala, fui sambista, saí na bateria e depois fui puxador de samba (intérprete). Depois saí de lá e fui puxar o samba da Escola de Samba Canto da Alvorada. Também puxei samba da Imperatriz de Venda Nova e da Escola Paz e Amor, de Esmeralda. Então, sou intérprete do samba, já fui o melhor de Belo Horizonte. O Tamborim de Ouro, prêmio que existia no carnaval da capital, eu ganhei quatro seguidos: três pela Canto da Alvorada e um pela Cidade Jardim. A minha ligação com o carnaval está presente no meu nome artístico: “Império” entrou porque eu desfilei quatro anos na Império Serrano e porque eu imitava um cantor muito bom dessa escola, o Jorginho do Império. Por isso, me puseram esse pseudônimo. Lulu eu já tinha. E é com muita satisfação que eu canto samba com conjuntos ou com escolas de samba. Eu adoro o samba total!!! A música do samba é comigo!

Rua Ubirajara, 746 (bairro São Benedito). Santa Luzia – MG. Tel: (31) 9289 3764

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G.R.E.S. Cidade Jardim – Escola de Samba Cidade Jardim

Foto: Bruno Vasconcelos

Meu nome é Alexandre Silva Costa, Lee. Meu pai, Jairo Pereira da Costa, fundou a Escola de Samba Cidade Jardim em 13 de abril de 1961, com as cores vermelha e branca. Aos 6 anos de idade comecei a desfilar como passista dessa escola. Fui passista, mestre-sala, ritmista e agora estou presidente, desde 2008.

A Escola de Samba Cidade Jardim nasceu de uma ala da escola União Serrana que ficava no Morro da Serra. Seu Jairo, meu pai, era componente de uma ala da União Serrana, mas ele queria uma escola como as escolas do Rio de Janeiro, com o samba-enredo, as alas, o mestre-sala e a porta bandeira, a figura do puxador de samba. Ele investiu nesse desejo e hoje, a Cidade Jardim é uma das mais tradicionais escolas de samba de Belo Horizonte. É a que mais venceu títulos em concursos de carnaval. Temos 19 títulos conquistados, 11 consecutivos.

Nossa escola é a única da cidade que tem uma sede própria conquistada com muita luta, porque o seu fundador colocou a Cidade Jardim em primeiro lugar: o caso era de amor.

A Cidade Jardim é um patrimônio cultural imaterial e estamos ajudando a administração da cidade a entender esse valor. Estamos aqui mais para fazer pela cidade, pelo social, estimular os meninos pra voltar a curtir um Carlos Cachaça, um Chico Buarque.

Nossa escola tem hospitalidade. Quem chegar é bem chegado: quem quiser almoçar, vai almoçar; quem quiser se divertir, vai se divertir.

Somos um quilombo urbano. Um local de resistência que acolhe a todos. Quem é do samba, pode chegar.

Quadra da Escola de Samba Cidade Jardim Rua Gentios, 1415 (Conjunto Santa Maria). Belo Horizonte - MG E-mail: mailto:[email protected]

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Fernando Bento

Foto: Luciano Cuíca Play Me chamo Fernando Bento. Nasci no dia 12 de dezembro de 1979 na Vila dos Marmiteiros, mas me criei em Santa Luzia. Sou compositor, intérprete e cavaquinista. No samba eu comecei praticamente na barriga da mamãe. Na minha família tem sambistas, músicos, chorões – então, a gente já nasce praticamente tocando. E por volta dos 8 anos de idade ganhei o meu primeiro cavaquinho e comecei a estudar com o meu pai e o meu tio, Waltinho Sete Cordas. Aos 15 anos comecei a tocar com o Erê do Samba um grupo de sambistas mirins. Profissionalmente comecei aos 17, com os sambistas daqui de Minas como Waltinho Sete Cordas, Toninho Geraes, Serginho Beagá, Bira Favela, Geraldo Magnata, Lulu do Império, Fabinho do Terreiro, entre outros. E do Rio de Janeiro, com o Luiz Carlos da Vila, Mauro Diniz, Monarco, Noca da Portela, Délcio Carvalho, Zé Luís do Império, Almir Guineto, Ataulfo Alves Júnior, Dona Ivone Lara, Nei Lopes, Wilson Moreira e Nelson Sargento, entre outros. Aí comecei a estudar música. Estudei com o Lúcio Gomes e o Ian Guest e aos 22 anos com o Alexandre Piló, filho do maestro Piló. Faço trabalhos de direção musical, arranjos e gravações. Faço a parte de produção de arranjos e também executo tocando cavaquinho e bandolim. Também promovo eventos, festas e shows. No Cartola Bar faço uma roda de samba toda sexta feira: “Fernando Bento e a Patota de Cosme”. O nome do grupo é uma homenagem que fiz a Cosme e Damião e uma referência à música de Zeca Pagodinho. Nas madrugadas de sábado para domingo faço o Samba da Madrugada, em Santa Tereza. Fiz a produção do CD do seu Domingos do Cavaco e do CD “Cem Anos de Noel Rosa” com Lesley Escariolly. E gravei o DVD “Do Terreiro a Escola de Samba” com o Bantuquerê em 2006. Com este grupo fiz uma turnê na casa Rio Scenárium e participei do show do Toninho Geraes, no Carioca da Gema, ambos na Lapa. E fui um dos finalistas no Festival de Samba na Casa Brasil Mestiço, também na Lapa, no Rio de Janeiro. Fiz parte do projeto Do Morro ao Asfalto, Samba do Compositor e em maio de 2012 participei, como um dos intérpretes, do show Sâmbero, em homenagem ao Mestre Jonas no Grande Teatro Palácio das Artes. Durante seis anos fiz a direção musical do projeto Cantando a História do Samba e há quatro anos faço a direção musical do Festival Clara Nunes em Caetanópolis com Márcio Guima.

Fazer música é o que eu amo! Eu me sinto mais perto de Deus. Com certeza o meu plano terrestre é a música: tocar, cantar e levar alegria para as pessoas. Telefone: (31) 9918-5646. E-mail: mailto:[email protected]

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Márcio Nagô

Foto: Antônio Sérgio Moreira

Eu, Márcio Nagô, sou intérprete e compositor. Nasci no dia 31 de março de 1980 em Brumadinho. O meu primeiro contato com o samba foi através dos sambistas que o meu pai ouvia. Ele me apresentou, ainda muito novo, os grandes sambistas – Martinho da Vila, Almir Guineto, Lecy Brandão, Agepê, Bezerra da Silva, Zeca Pagodinho... Então, neste período, foi formada, inconscientemente, essa minha identidade com o samba. Assim eu me alimentei do samba que vinha do Rio de Janeiro, fazendo essa ponte direta do Rio com o interior de Minas.

Comecei a tocar pandeiro e a me identificar com outros instrumentos de percussão. Foi quando surgiram as primeiras composições – e eu precisava mostrar, botar na roda. Foi aí que conheci o Fabinho do Terreiro, que me levou pro samba do Ferro Velho, no Boa Vista. Eu chegava lá e mandava a minha música. Aí as portas foram se abrindo.

Os meus primeiros parceiros de composição foram o Barrão e o Fabinho do Terreiro. Desde então comecei a fazer participações nos sambas em Belo Horizonte. Cheguei a organizar alguns eventos em Brumadinho em que eu levei o Fabinho, o Mandruvá, o Nonato e o Serginho Beagá. Foi bacana porque o pessoal foi para o meu terreiro conhecer o meu trabalho e a partir daí a ponte continuou. Participei do carnaval da escola de samba Império da Nova Era, fundada por Serginho Beagá. No último ano em que a escola desfilou nós ganhamos o carnaval do grupo de acesso. Eu fui um dos puxadores.

O meu trabalho é extremamente autoral. Eu acredito na minha música. Meu samba é de Brumadinho, sendo assim recebe as influências quilombolas de lá. Caminhei e depois de um tempo continuei compondo; gravei o meu primeiro CD, “Raiz do Meu Samba”, em 2008. Em uma dessas passagens pela cidade do Rio de Janeiro tive a honra de cantar com o grupo “Galo Cantou”, no Trapiche da Gamboa. Agora estou trabalhando no meu segundo disco, que terá a participação do Serginho Beagá e do Waldir Silva e a presença de compositores como Mandruvá, Black Pio e Sanrah.

Telefone: (31) 9952-4414 E-mail: mailto:[email protected]

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Nilton Maravilha

Foto: Poliana Xavier

Meu nome é Nilton Maravilha. Sou sambista há 40 anos. Meu primeiro emprego foi como locutor – trabalhei no Diário Associado, na Rádio Guarani, na TV Alterosa, no Diário da Tarde e no Estado de Minas. Nesses locais eu conheci pessoas que trabalhavam com samba. Os músicos iam se apresentar nas rádios e assim, eu me introduzi no meio da música.

Então, eu deixei o trabalho de locutor pra me dedicar à música. Comecei com o compositor Gervásio Horta, que me introduziu e me levou para o samba. O Acir Antão, o Fabinho do Terreiro e o Leo Bahia também foram importantes nesse início de contato com o samba. Fui um dos primeiros a fazer samba com baixo, guitarra e percussão. Hoje se usa mais cavaquinho e os instrumentos tradicionais, mas é a mesma coisa.

Meu trabalho é focado no samba. E trabalhar com samba em uma escola de samba foi uma das primeiras coisas que eu fiz. Trabalhei durante seis anos como intérprete na Escola de Samba Cidade Jardim. Depois eu tive o meu primeiro conjunto de samba, chamado “Sol Samba de Aço”, onde eu cantei principalmente nos bares. Logo depois, fui com esse conjunto para São Paulo, onde morei quatro anos trabalhando com samba.

De volta a Belo Horizonte, montei outro conjunto, que manteve o mesmo nome, mas com uma nova formação. Depois eu participei do “Samba 7”: Bira Favela, Simão de Deus, Zica, Dodô, Capixaba e Moacir da Cuíca. Nós tocamos juntos por cerca de três anos. Depois eu parei porque fui trabalhar com o Célio Balona. Nesse momento, o repertório mudou um pouco, mas continuei cantando samba.

Então, hoje eu toco samba, Clube da Esquina e MPB. Faço apresentações em bares e festas pelo Brasil afora. E sou conhecido em Minas Gerais como cantor de samba. O Nilton Maravilha é sambista, embora eu cante outros estilos de música. E acho que vou morrer sambista, porque eu adoro o samba. E porque a minha origem é samba.”

Rua Oriental, 418 (bairro São Lucas). Belo Horizonte - MG Telefone: (31) 9674 1559

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Marcelo Roxo – Grupo Fidelidade Partidária

Foto: Elias Henrique

Eu, Marcelo Roxo, nasci no Rio de Janeiro, na data de 7 de outubro de 1975. Sou carioca, mas passei grande parte da minha vida fora do Rio. Sempre gostei de uma batucada, mas aos 17 anos me envolvi definitivamente com o samba. Foi quando comecei a frequentar o Acadêmicos do Salgueiro, onde aprendi a tocar tamborim. Eu saía de BH todo fim de semana, de setembro até fevereiro, pra ensaiar no Salgueiro. Lá fiz muitos amigos e com um desses, o Tim Maia, por várias vezes subi diversos morros por conta de escola de samba. Certa vez ele me disse que iria me apresentar um cara que era o contrário de mim: que era mineiro, morava no Rio, e pertencia à Ala dos Compositores – o Mário Moura. Foi ele que, já em 1999, me convidou a ir ao Brasil 41 pra conhecer um grupo que ele estava formando com alguns amigos. Deu-se então meu início no Fidelidade Partidária. O Mário Moura, o Zé Cléverson, o Achtschim, o Marcinho e o Teco formavam o grupo nessa época. Foi assim que começou o Fidelidade Partidária, um grupo que nasceu para cantar músicas que na época não eram cantadas, principalmente na região centro-sul. O nome do grupo, Fidelidade Partidária, é o nome de um samba do Nei Lopes e do Wilson Moreira. O Wilson Moreira é o nosso padrinho e esteve aqui em 2002 numa roda de samba para batizar o grupo.

Era difícil fazer samba, porque o samba não era bem visto. Fazíamos samba por conta de um repertório que a gente gostava, não porque a gente tinha algum contato com qualquer sambista de Belo Horizonte. Então, quando participamos do projeto “Eu Sou o Samba”, no Lapa Multishow, abrindo o show dos Pretões, que eram grandes referências do samba em Belo Horizonte, tivemos a oportunidade de nos aproximar da nata do samba na capital. Também tocamos no Armazém dos Sabores, logo quando saímos do Brasil 41; depois, durante 8 anos no Cartola Bar e 5 anos no Bar Reciclo. Atualmente, fazemos eventos particulares e tocamos quinzenalmente no bar A Gosto de Deus. A formação atual do grupo é: G. Monteiro no 7 cordas, Mateus no violão de 6, Amarildo no cavaco, Marcinho fazendo surdo e voz, eu fazendo voz e pandeiro e mais dois percussionistas, o Padé Faraco no repique de anel, conga e efeito, e o Diguinho fazendo caixa, balde e efeito também. Esse balde também é uma contribuição do Fidelidade Partidária através de um gringo chamado Fernando Gonzáles. Antes do Fidelidade não existia balde aqui em BH. Telefone: (31) 8741- 0974. E-mail: mailto:[email protected]

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Ronaldo Coisa Nossa

Foto: Silvana Vilela Ribeiro

Meu nome é Ronaldo Antônio da Silva, mas sou conhecido como Ronaldo Coisa Nossa ou Ronaldo do Opção. Sou sambista, compositor e integrante da Velha Guarda de Samba de Belo Horizonte. Nasci em 1944. Passei minha infância e adolescência no bairro Lagoinha, onde tive contato com minhas primeiras inspirações do mundo do samba. Tomei gosto pelo ritmo vendo os sambistas veteranos nas rodas, encontros e nos ensaios de carnaval. Inspirei- me em Silvio Luciano e no passista Waltinho Gonçalves, ambos da Escola de Samba Surpresa. Sempre tive mania de rimas, escrevia tudo rimando na escola. Pessoas próximas me aconselharam a musicalizar minhas poesias, segui o conselho delas e comecei a compor, e não parei mais. Escrevi alguns sambas enredos para concorrer no carnaval. Participei da formação da Escola de Samba Acadêmicos das Alterosas, integrando a bateria. Tínhamos uma ala chamada “Óia Nós Aê!”. Com ela participamos da fundação da Escola de Samba Bem Te Vi, de desfiles da Escola de Samba Inconfidência Mineira, Acadêmicos das Alterosas e Cidade Jardim. Em 1982, formei com amigos o bloco carnavalesco “É Coisa Nossa”. Juntamos o útil ao agradável: com o samba reivindicamos melhorias para a comunidade, bairro Parque Pedro II, hoje Caiçara. Mudei para lá após meu casamento e o bairro não tinha água, nem luz, nem rua pavimentada. O bloco desfilou por três anos e durante este período conquistamos muitas de nossas demandas! Na década de 90, abri o Del Rango´s. Fundamos a casa pra oferecer boa musica e rango aos trabalhadores que estavam construindo o shopping da região. Foi a época em que mais escrevi! Cada trabalhador que entrava no bar vinha com sua história e muitos casos para contar. A riqueza das raízes e do cotidiano daqueles homens me inspiravam! Hoje, o Del Rango´s é conhecido como Bar Opção. Abrimos todo final de semana ao som do Grupo Essência. É um ponto de encontro de sambistas da velha e da jovem guarda de samba de BH. No subsolo do bar montei um estúdio, Kilombo Coisa Nossa, onde gravei a maior parte de meus CDs : “Sob Signo do Samba”, “Gotas”, “Rascunhos” e “Do Nosso Jeito”. Cada CD tem um pique diferente, mostram faces do meu dia a dia. São, também, homenagens ao povo negro, à velha guarda e a todos amantes da MPB e do samba, ritmo de sangue brasileiro.

Rua Alabandina, 619 (bairro Caiçara). Belo Horizonte – MG. Telefone: (31) 3415-6905 E-mail: [email protected]. Site: http://www.ronaldocoisanossa.com.br/bar-opcao/

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Grupo Cultural Meninas de Sinhá

Foto: Paulo Amaral Meu nome é Valdete da Silva Cordeiro, nasci em 1938 na Bahia, mas moro há mais de 40 anos no Alto Vera Cruz, em BH, onde me tornei líder comunitária desde que cheguei. Mas o que mais me marcou na vida foi a criação do grupo Meninas de Sinhá. Tudo começou porque eu passava todo dia, quando ia trabalhar, em frente ao Centro de Saúde e via que várias mulheres saíam com sacolas de remédios pra dormir e antidepressivos. Então tomei a decisão de chamar essas mulheres pra conversar para saber o que estava acontecendo. Percebi que elas não eram doentes, precisavam melhorar a autoestima ou só falar de seus problemas. Não foi fácil, elas falavam que não tinham tempo, eu respondia que também cuidava da casa e dos filhos e ainda trabalhava fora, mas que tiraria pelo menos uma hora pra elas. Fui insistindo, até que um dia foram duas e dessas apareceram outras, quando assustei éramos 50 mulheres. Fazíamos trabalhos manuais como fuxico, tapetes, bonecas, bordados. Fui ensinando o que sabia, mas percebi que estava tirando elas de casa pra trabalhar novamente e eu não queria isso. Com a ajuda da Prefeitura e da professora Dedé que nos ensinou a expressão corporal, nos apresentamos a primeira vez em um palco. Aprendi e dei continuidade à ginástica, inserindo brincadeiras infantis – era muito divertido! Mas quando introduzi brincadeiras, as mulheres sempre pediam no final pra brincar de roda. Foi aí que descobrimos nosso talento e maior motivação para a alegria e união: as brincadeiras de roda. Com a ajuda do Roquinho fomos gravando as músicas lembradas e pesquisadas, fizemos uma cartilha e fomos aprendendo e cantando. Então, fomos convidadas pra inauguração do Centro Cultural Alto Vera Cruz, em 1996. As mulheres já se achavam muito assanhadas pra ter o nome de Lar Feliz, daí nos batizamos de Meninas de Sinhá. Depois disso, saímos nos jornais, fomos convidadas para shows, entrevistas, participamos de filme e não paramos mais, viajamos pelo Brasil e até para a Polônia. No começo foi difícil, muitos maridos e filhos não aceitavam, pois estavam acostumados com tudo na mão e, com o grupo, elas passaram a tirar um tempo só pra elas. Hoje somos 32 integrantes da região do Alto Vera Cruz, Taquaril e Granja de Freitas. Usamos uma sala da Associação do Centro de Ação Comunitária Vera Cruz para nossos encontros. Lançamos dois CDs, nos apresentamos em várias cidades do Brasil e na Europa, sempre levando nosso exemplo solidário e compromisso em preservar antigas cantigas e brincadeiras de roda. Essa é a nossa referência. Rua Fernão Dias, 1131-A (bairro Alto Vera Cruz). Telefone: (31) 3466-6881 E-mail: mailto:[email protected] http://www.youtube.com/meninasdesinha

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o reinado em belo horizonte

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05. REINADO

Rubens Alves da Silva Liliana Vasconcelos Xavier

O Reinado é uma tradição antiga que remonta aos tempos do Brasil colonial. O surgimento dessa expressão de matriz luso-afro-brasileira está vinculado às chamadas “irmandades negras”, também descritas “irmandades dos homens de cor”, associadas a Nossa Senhora do Rosário e aos santos negros de devoção – São Benedito e Santa Efigênia. Agremiações religiosas expressivas do catolicismo popular, criadas por leigos na altura do século XVIII, desempenharam importante papel de ação social e porque não dizer político no seio da sociedade colonial.

Assumiram de forma solidária tanto compromissos de cunho assistencialista e de apoio moral aos seus associados (auxiliando nos casos de doenças, providenciando enterros, colaborando na compra de cartas de alforrias etc.); como também – e principalmente – constituíram um nicho onde as crenças religiosas, as práticas culturais, a memória coletiva e, em suma, a visão de mundo africana puderam ser preservadas, promovendo assim laços de sociabilidade, coesão social e a afirmação identitária étnico-racial de africanos e os seus descendentes em terras brasileiras.

Foi ao abrigo das irmandades negras que reis e rainhas de nações africanas (Moçambique, Congo etc.) foram eleitos no Brasil. Entronados com toda pompa e expressividade, a coroação dos representantes simbólicos das nações africanas era celebrada com empolgantes festejos, e animados cortejos que serpenteavam pelas ruas e becos das vilas coloniais – despertando a curiosidade dos olhares e dos ouvidos da população local, sem deixarem de ser muitas vezes vistos com certa desconfiança ou mesmo reprimidos pelos controladores da ordem social. A primeira coroação de rei e rainha de nação africana no Brasil aconteceu em Recife, capital de Pernambuco, no ano de 1647.

Em Minas Gerais, as primeiras “irmandades dos homens de cor” foram criadas na Vila do Serro (hoje Serro) no ano de 1704 e na Vila Rica, no ano de 1711. Mas foi nessa Vila, que se tornou mundialmente conhecida pelo seu acervo patrimonial com o nome de Ouro Preto, que ecoaram as narrativas sobre a origem mais remota da tradição do Reinado, ao evocar a figura emblemática do Chico Rei – Galanga. Descrito como tendo sido um chefe tribal africano, vendido como escravo para um proprietário de mina subterrânea de ouro naquelas promissoras paradas entre as montanhas de Minas.

Chico Rei é descrito em narrativas como um homem perseverante, trabalhador e fervoroso devoto de Nossa de Senhora do Rosário. Empreendedor, ele conseguiu com muito esforço na labuta da mineração, inteligência e astúcia, comprar com o passar do tempo a sua carta de alforria e tornar-se proprietário de uma mina de ouro aparentemente improdutiva, negociada com o seu ex-senhor. Bem sucedido no empreendimento, Chico Rei acumulou recursos

66 suficientes para concretizar seu desejo e cumprir a promessa feita a si mesmo, no silêncio do seu sofrimento, de também poder comprar a liberdade de tantos outros conterrâneos submetidos à condição desumana da escravidão. Agradecido pelo êxito dessa conquista gloriosa – que Chico Rei atribuiu em primeiro lugar à graça recebida por intercessão da Nossa Senhora do Rosário – ele investiu esforços na construção de um templo edificado no alto do Morro da Cruz, em Ouro Preto, para prestar como devoto sua homenagem à Santa.

Mas também em reconhecimento à solidariedade demonstrada pelo companheiro, os irmãos de confraria decidiram coroar Chico rei congo do Brasil. Com toda pompa e animação, Chico Rei foi conduzido em cortejo pelas guardas que deram origem ao congado mineiro (moçambiques e congos principalmente), entoando os seus cânticos rituais, entrecortados pelos toques de caixas, tambores e o ressonar de gungas que anunciavam o começo inesquecível da tradição afromineira que veio se difundir pelo extenso território das Minas Gerais.

No caso particular de Belo Horizonte, a primeira irmandade negra aqui fundada, localizada na região do Barreiro, data de finais do século XVIII, registrada sob a denominação de Irmandade de Nossa Senhora do Rosário do Jatobá. Atualmente, essa Irmandade (alternativamente chamada de Guarda) tem no seu comando o capitão-mor Ildefonso Motta, cuja família segue à frente da Irmandade desde 1932. O capitão-mor Ildefonso Motta, herdeiro da tradição deixada pelo pai e depois o irmão que já se foram: “O Reinado é herança de família”.

Pelo que foi verificado, a tradição do Reinado foi introduzida em Belo Horizonte por iniciativa de pessoas oriundas do interior de Minas. Iniciadas na tradição no interior de onde saíram, as primeiras lideranças (capitães, reis e rainhas congas) trouxeram consigo o conhecimento dos segredos, saberes e experiência prática no ritual do Reinado – por isso mesmo são essas antigas lideranças lembradas com respeito e distinção no meio congadeiro.

A partir dos ensinamentos transmitidos por esses “antigos”, além do aprendizado na prática desde a infância, muitas vezes, no contexto ritual, é que a mencionada tradição veio se ramificar na malha urbana da capital. Como é ilustrativo o caso da Guarda de Moçambique Três Coroas de Nossa Senhora do Rosário, cujo fundador, Alberto Pedro dos Santos, que foi capitão da Guarda de Moçambique Treze de Maio de Nossa Senhora do Rosário, na época da Rainha Conga Maria Casimira. Hoje esses grupos rituais do Reinado estão sob o comandando das filhas dessa Rainha Conga, Maria Casimira, com o capitão Alberto dos Santos, sendo elas a Rainha Conga Izabel e a vice presidente da Guarda Francisca Evangelista.

Associado ao movimento de atualização e reinvenção da tradição do Reinado em Belo Horizonte, novas guardas foram organizadas – a exemplos das guardas de congos femininas. A presença significativa de jovens e crianças entre os novos adeptos da prática ritual, engrossando as fileiras dos grupos congadeiros, parece também apontar para essa dinâmica da tradição na cidade e sinalizar positivamente para continuidade desta tradição que hoje vem ganhando maior visibilidade e destaque como expressão da cultura e religiosidade “afromineira”.

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Outra observação a ser feita, na mesma direção sugerida anteriormente, diz respeito ao lócus de referência espacial da prática ritual do Reinado e, por extensão, o congado em Belo Horizonte. Em comparação com o que se tem notícia no passado, nos dias de hoje a prática ritual do Reinado não se restringe mais e quase exclusivamente à área territorial de propriedade da liderança principal da instituição e outros participantes – o terreiro e a casa do capitão-mor ou dos reis congos, reis de ano etc. –, mas também tem se deslocado para espaços públicos dentro do mesmo bairro onde as irmandades se localizam ou fora desses limites geográfico, com apoio de pessoas ou grupos influentes no contexto da cidade – artistas, agentes municipais da cultura etc.

Dois exemplos, apenas para ilustrar, são as Festas tradicionais do Reinado realizadas no Bairro Aparecida e a participação especial de grupos de congados em evento promovido pela Associação Cultural Tambor Mineiro, fechando a rua em frente à sede dessa entidade, localizada em bairro da região central de Belo Horizonte.

Atualmente, a paisagem (pluri)cultural de Belo Horizonte é abrilhantada pela presença de aproximadamente 35 Guardas, distribuídas na malha urbana da cidade e divididas por regionais, bairros e vilas. Sem contar a ala dos coroados (reis congos, reis perpétuos, reis de ano, príncipes e princesas), as Guardas são incorporadas por grupos rituais distintos (“guardas” ou “ternos” do congado), também descritos como “cortejo dançante” do desfile ritual do Reinado, denominados, seguindo a hierarquia da tradição: Moçambiques, Congos, Caboclos e Marujos.

Mas, se a tradição do Reinado e a prática ritual do congado estão tendo maior visibilidade em Belo Horizonte, e recebendo o reconhecimento da sua importância cultural no cenário da cidade, isso não significa, todavia, que muitos dos problemas enfrentados por essa tradição no passado tenham sido resolvidos a contento. Os relatos que ouvimos de nossos interlocutores alertam para esse fato. Eles reclamam das dificuldades que ainda encontram para conseguir autorização de órgãos do poder municipal para sair às ruas com o cortejo do Reinado.

Também se queixam da escassez de recursos para aluguel de ônibus em função do cumprimento de suas obrigações de “ajudar”, com a participação no ritual, outras irmandades a fazerem as suas Festa. Problema que acreditam poder ser resolvido, em parte, com o apoio de translado disponibilizado pela prefeitura; assim como outros problemas recorrentes, como a manutenção do espaço físico de referência da irmandade (reforma da “sede”, pintura de paredes, rebocos etc.) ou mesmo compra de uniformes, aquisição e conserto dos instrumentos musicais do grupo. São problemas que trazem preocupação, mas não arrefecem os ânimos e nem destroem a esperança dos herdeiros da tradição, com a fé que têm na força do Reinado.

Com efeito, o reconhecimento da importância do Reinado no cenário cultural da cidade de Belo Horizonte vem se consolidando hoje através das ações de órgãos públicos como IEPHA, IPHAN e a PBH. O processo de registro desta tradição “afromineira” como patrimônio cultural imaterial da cidade, que compreende a ação de salvaguarda dos bens intangíveis é um exemplo do mencionado esforço.

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Podemos, em suma, dizer que o reconhecimento notório da rica tradição do Reinado na cidade propicia que esta abrigue um patrimônio elaborado por cidadãos herdeiros de uma tradição afro-brasileira, que contempla uma manifestação dinâmica que interage com a cidade e principalmente confere identidade e dota de sentido a vida de seus cidadãos.

PARA SABER MAIS:

GOMES, Núbia Pereira de M. e PEREIRA, Edimilson A. Negras raízes mineiras: os Arturos. 2.ed. Belo Horizonte: Mazza, 2000. LUCAS, Glaura. Os sons do rosário: o congado mineiro dos Arturos e Jatobá. Belo Horizonte: UFMG, 2002. MARTINS, Leda Maria. Afrografias da memória: o reinado do rosário no Jatobá. Belo Horizonte: Mazza Edições, 1997. SILVA, Rubens Alves da. A atualização de tradições: performances e narrativas afro- brasileiras. São Paulo: LCTE Editora, 2012. SILVA, Rubens Alves da. Negros católicos ou catolicismo negro(: um estudo sobre a construção da identidade negra no congado mineiro. Belo Horizonte: Nandyala, 2010. SOUZA, Marina de Mello e. Reis negros no Brasil escravista: história da festa de coroação de Rei Congo. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2002.

Coordenaram a pesquisa sobre o Reinado: Rubens Alves da Silva e Liliana Vasconcelos Xavier.

Colaboraram realizando as entrevistas: Daniel Antônio Gomes Cruz, Diogo Raul, Isabel Casimira e Poliana Vasconcelos Xavier

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Localização dos Grupos Entrevistados: https://www.google.com/fusiontables/embedviz?viz=MAP&q=select+col2%3E%3E0+from+14 34MiGg0e- pI19NbADjPO8hGNzOw0igo0WjGueY+where+col0%3E%3E0+%3D+'Reinado'&h=false&lat=- 19.907279872731596&lng=-43.92802668383785&z=14&t=1&l=col2%3E%3E0&y=1&tmplt=2

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Guarda de Moçambique Três Coroas de Nossa Senhora do Rosário

Dona Francisca Enetéria Evangelista. Foto: Liliana Vasconcelos Xavier

Meu nome é Francisca Enetéria Evangelista, sou vice-presidente da Guarda de Moçambique Três Coroas de Nossa Senhora do Rosário. Meus pais, Alberto Pedro dos Santos e Conceição da Costa, fundaram a Guarda no dia 28 de maio de 1952.

Ele era capitão na Guarda da Maria Cassimira, no Concórdia e, para pagar uma promessa, fundou a Guarda. Então eu comecei pequenininha; já tive várias funções na Guarda. Quando mamãe fundou a Guarda eu era princesa, depois fui crescendo e fui pé de coroa e quando cheguei a ser mocinha eu era rainha da estrela, que é princesa. E hoje eu sou vice-presidente, graças a Deus!

No começo eram os meus pais, eu e meus irmãos, depois vieram os sobrinhos, os primos, os tios, os amigos antigos do bairro, como o senhor Preto e a dona Vanda. Atualmente, a Guarda está com mais ou menos 28 componentes que têm compromisso de vir para os festejos.

Nós estamos considerando o encontro da família todo último domingo de maio. Enche a rua, a casa de gente... É este o nosso principal festejo.

Conseguimos juntar todos os participantes que moram longe: o meu irmão Jorge, que é o principal Capitão e mora no Rio de Janeiro; a tia Luiza, que é a nossa rainha mora em Venda Nova; vem Guarda de fora, amigos do bairro, amigos antigos do meus pais – todos para celebrar Nossa Senhora do Rosário. E para fazer a festa, contamos com a ajuda dos vizinhos, amigos e dos participantes da Guarda. Chega no mês de maio cada um manda uma coisa: arroz, óleo, biscoito, bolo.

Sempre tivemos apoio da comunidade e da paróquia. São eu e os meus irmãos que continuaram os festejos de papai. E essa promessa nós vamos manter enquanto vida nós tivermos!

Guarda de Moçambique Três Coroas de Nossa Senhora do Rosário Rua São Roque, 632 (bairro Sagrada Família). Belo Horizonte - MG

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Guarda de Moçambique Nossa Senhora do Rosário de Pompeia

Foto: Acervo Pessoal

Guaraci Maximiniano dos Santos: – A Guarda de Moçambique Nossa Senhora do Rosário de Pompéia foi fundada na década de 1960 por dona Cecília Félix dos Santos e por Beraldo Martins, ambos falecidos. Inicialmente, a Guarda era localizada no bairro do Alto do Tanque, na cidade de Santa Luzia; foi transferida para Belo Horizonte, bairro Sagrada Família, no final da década de 70. Dona Cecília e Sr. Beraldo eram militantes fervorosos da devoção a Nossa Senhora do Rosário, com um percurso bem sustentado pela fé. A experiência veio de dois outros Reinados – a Guarda de Moçambique do Sr. Galdino, no bairro Sagrada Família, e a Guarda de dona Geralda, no bairro Alta dos Pinheiros. A Guarda de Moçambique de Nossa Senhora de Pompéia descende dessas duas Guardas, que deixaram de existir quando Sr. Galdino e dona Geralda faleceram.

Desde que foi fundada, a Guarda de Moçambique Nossa Senhora do Rosário de Pompéia teve muitos colaboradores: capitães, como Dionísio Evangelista, vassalos, dançantes, reis, rainhas, como Geraldina de Jesus e Izolina de Jesus, príncipes e princesas e, não menos importante, todo um povo fervoroso envolvido nos trabalhos de apoio – as cozinheiras, como Luiza Tomaz Batista, as costureiras e outros, chegando a ter cerca de 90 componentes, diretos e indiretos. Esteve à frente desse movimento a fundadora, minha mãe, rainha perpétua Cecília Félix dos Santos, a qual, a partir de sua devoção, deu continuidade aos trabalhos de divulgação, louvação e disseminação desta fé e do respeito à religiosidade afrodescendente, representada simbolicamente na forma de Reinado.

Partindo disso, podemos afirmar que o objetivo primeiro desta comunidade está alcançado, ou seja, a legitimação de uma expressão real da fé. E que esse objetivo vem sendo sustentado até hoje, após o falecimento de mãe, com a minha direção, juntamente com os devotos de Nossa Senhora do Rosário de Pompéia e demais colaboradores, e a graça do Pai Eterno.

Guarda de Moçambique Nossa Senhora do Rosário de Pompeia Rua Geraldo Menezes Soares, 500 (bairro Sagrada Família) Belo Horizonte - MG

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Guarda de Moçambique e Congo Treze de Maio de N. S. do Rosário

Dona Isabel Casimira (Foto: Acervo Pessoal)

Eu sou Isabel Casimira das Dôres Gasparino, filha de dona Maria Casimira das Dôres, fundadora da Guarda de Moçambique e Congo Treze de Maio de Nossa Senhora do Rosário, juntamente com meu irmão, Ephigênio Casemiro, em trinta de janeiro de 1944.

Desde o nascimento da Guarda eu participava como Princesa, e em 1963 fui coroada vice- rainha conga da Guarda Treze de Maio para representar minha mãe em outros eventos e repartir as obrigações com ela. Com a morte de mamãe em 1984 fui coroada rainha conga do Treze de Maio. E em agosto de 1989 fui coroada rainha conga do estado de Minas Gerais.

Dando continuidade aos que me antecederam, a festa é realizada de 1º a 13 de maio, dependendo do dia em que caia o dia treze, que indica o começo ou o fim da festa.

Além dessa festa, realizamos, no dia 23 de junho a fogueira e o levantamento da bandeira de São João e rezamos o terço. No dia 8 de dezembro realizamos o levantamento da bandeira e o terço cantado de Nossa Senhora Da Conceição. E a partir da terceira semana de maio indo até janeiro, o Reinado de Treze de Maio de Nossa Senhora do Rosário visita os coirmãos, retribuindo a presença na nossa festa, tanto na capital, quanto na região metropolitana.

Participam meus filhos, netos, bisnetos, vizinhos, amigos da Guarda e simpatizantes, totalizando por volta de 50 a 60 devotos. São eles os amigos da Guarda, os devotos e a comunidade que ajudam a manter o Reinado do Treze de Maio.

O Reinado vem dos nossos antepassados, do Chico Rei, e promove a preservação das nossas raízes. Porque um povo que não preserva sua história perde a sua identidade.

Guarda de Moçambique e Congo Treze de Maio de Nossa Senhora do Rosário Rua Jataí, 1309 (bairro Concórdia). Belo Horizonte - MG E-mail: [email protected]

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Guarda de Moçambique de Santa Efigênia

Maria Anastácia Calixto (Foto: Isabel Casimira Gasparino Martins)

Meu nome é Maria Anastácia Calixto. Participo do Reinado da Guarda de Moçambique Santa Efigênia desde 1967, junto com meu companheiro Laudelino Silva, conhecido como “Sô Bem”, falecido há dez anos. Ele era apaixonado por reinado e eu também me apaixonei. Ele era o capitão regente da nossa Guarda.

Agradeço a Deus todos os dias, estou nessa por amor. Eu já tenho 90 anos de idade, tenho pouca saúde e muita fé e confiança em Nossa Senhora e em Santa Efigênia.

Eu amo esta Guarda e faço o que for preciso, com boa vontade, para manter a devoção a Santa Efigênia.

A primeira vez que eu fui coroada rainha de Santa Efigênia foi no Reino da dona Isaura, esposa do senhor Nicodemos, que era rei Congo. Com o falecimento do senhor Nicodemos, dona Isaura manteve a festa por mais ou menos 15 anos. Com a morte de dona Isaura, passamos a festa para a minha casa, neste atual endereço.

Quando me separei do Laudelino, ficamos três anos sem festejar. Depois desse período reuni os dançantes, devotos, sobrinhos e amigos e, junto com o senhor Sebastião Braga, que era capitão, o meu sobrinho José Geraldo, que até hoje é um dos capitães, e a rainha de Santana, Dona Vanda Manuela, levantamos a Guarda com as graças de Deus e de Santa Efigênia e não paramos mais.

Realizamos a nossa festa no segundo domingo de outubro.

Guarda de Moçambique de Santa Efigênia Rua Horizonte, 221 (bairro Santa Efigênia) Telefones: 3283 1698 e 98647548

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Guarda de Moçambique São Benedito

Foto: Poliana Vasconcelos Xavier

Meu nome é Maria Solange Leandro Esteves. Sou segunda capitã da Guarda de Moçambique São Benedito. A Guarda foi fundada em 16 de junho de 2002 por mim, por meu pai Geraldo Alves dos Santos, meu primo Roberto Marques (1º capitão do Moçambique) e alguns outros integrantes. Nosso Congado conta hoje com 16 membros. E nosso grupo, ainda que tenha pessoas que não são da família, se caracteriza por ser muito familiar – avó, mãe, pai, filhos, netos e primos.

Nós fazemos as nossas festas e sempre somos convidados por outras Guardas de Congado para participar de seus festejos. Entre as festas realizadas durante o ano pela Guarda de Moçambique São Benedito destacam-se a do mês de janeiro, que é a festa de abertura do congado com o levantamento da bandeira de São Sebastião; a de junho, com a festa de São João; e a do mês de dezembro, com o fechamento do congado, nas comemorações de Nossa Senhora da Conceição. O mês da nossa festa em homenagem a São Benedito é maio. Essa celebração é realizada no nosso terreiro com a participação das guardas convidadas e da população.

O congado é uma expressão afro-brasileira religiosa. Eu participo das festividades do Rosário desde a minha infância; é algo que eu gosto muito! Já fui de outras guardas: da Guarda de Congo de Nossa Senhora do Rosário e da Guarda de Moçambique São Jorge Guerreiro.

Desde quando eu era pequena meu pai e minha mãe já participavam do Congado. Meu pai era capitão e minha mãe rainha conga. Então, eu nasci e me criei dentro do Congado. Depois, a Guarda de Moçambique São Jorge Guerreiro onde eu dançava parou, e aí nós montamos a nossa Guarda. Eu sempre tive vontade de ter e conseguir montar uma guarda. Eu continuo lutando, porque eu não quero que a Guarda acabe – o congado é uma expressão muito perseguida. E se meus filhos quiserem continuar, depois que eu partir, podem continuar. O congado é uma coisa boa, uma coisa que não faz mal para ninguém, só faz o bem. É a fé que nós temos nos nossos Santos São Benedito e Nossa Senhora do Rosário!

Maria Solange, 2a-capitã, Guarda de Moçambique São Benedito Rua José Drumond, 255 (bairro Floramar). Belo Horizonte - MG Telefone: (31) 3435 6184

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Guarda de Moçambique N.S. do Rosário e Sagrado Coração de Jesus

Foto: Acervo Pessoal A Guarda de Moçambique Nossa Senhora do Rosário e Sagrado Coração de Jesus foi fundada em 1917 pela minha avó, Nadir Silvina da Silva, e pelo meu avô, Luiz Miguel Moreira. O meu bisavô, Francisco Carolino, já era mestre de congado em Contagem. As primeiras fardas da nossa Guarda eram feitas com saco de açúcar, porque antigamente o saco de açúcar vinha num saco de pano branco. Aí minha avó alvejava aquele saco e fazia as fardas – as calças e camisas brancas.

Então, eu, Nelson Pereira da Silva, já nasci dentro do Congado, nasci dentro desta Guarda porque a minha mãe era a sua rainha e o meu pai era guarda coroa. Atualmente não tenho cargo, eu procuro ajudar da melhor maneira que eu posso: canto, toco e ajudo organizar as festas. Já fui capitão regente, mas na época eu morava em Esmeraldas e estava muito difícil porque era muito compromisso que a Guarda tinha e eu não estava em condições de cumprir todos. Já toquei todos os instrumentos, inclusive o primeiro instrumento que toquei – a folha, o que eles chamam de patangome – foi meu avô quem me obrigou a tocar. Ele obrigava a gente. Depois toquei reco-reco, depois eles aboliram o reco-reco. Depois eu comecei a tocar caixa, fiquei muitos anos de caixeiro. Até que resolveram me consagrar capitão.

Atualmente, a Guarda formada tem 25 pessoas. O capitão mor é o Nilson, meu irmão, o capitão regente é o Wilson, que é meu primo. Na verdade fica tudo com a família mesmo e vem de geração a geração. E espero que no futuro nossos filhos possam continuar esta obra. O presidente é o meu tio, filho do fundador da Guarda. E o resto somos nós, minha irmã Neuza, os netos, bisnetos. As atividades que realizamos são mesmo a do Reinado, e não só as nossos, mas também as de todos os lugares que nos mandam ofício que nós procuramos cumprir. Nós fazemos dois festejos por ano em outubro: um aqui, no segundo ou terceiro domingo, e um no último domingo, no Retiro das Esmeraldas. É o ano inteiro cumprindo ofício, ajudando os nossos coirmãos, para que eles possam nos ajudar a manter a nossa festa. Por isso mesmo que é chamada Irmandade de Nossa Senhora do Rosário. Não importa se eu danço aqui e o outro dança no Rio, Sabará, São Paulo, Brasília. Onde a gente encontrar é Irmandade.

Guarda de Moçambique Nossa Senhora do Rosário e Sagrado Coração de Jesus Rua Mariana Barcelos, 6 (bairro Aparecida). Telefone: (31) 3422-8506

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Irmandade de Moçambique N. S. do Rosário do Nova Gameleira

Foto: Acervo Pessoal Meu nome é Jeremias Felipe Gomes, sou capitão mor da Irmandade de Moçambique Nossa Senhora do Rosário do Nova Gameleira. A Guarda foi fundada pela rainha conga Maria de Lourdes Santos há mais de cinquenta anos. A família da fundadora e de seu marido, José Sabino da Costa, eram de Itaguara e participavam do Reinado há várias gerações. Em Belo Horizonte, na antiga Vila dos Marmiteiros, Maria de Lourdes fundou a nossa Irmandade como pagamento de promessa pela cura de seu filho Geraldo Evangelho. Na época, José Faustino e José Matias eram os capitães. Em 1978, a Guarda mudou a sede para o bairro Nova Gameleira, onde permanece até hoje. A tradição do Reinado foi passando de geração em geração. Em 1991, com o falecimento da Maria de Lourdes, a coroa passou para a sua filha, Maria Alice Rocha – antiga rainha do povo. No dia 17 de dezembro de 2010, Maria Alice faleceu. Maria de Lourdes e seus filhos, João Eustáquio (rei congo), Geraldo Evangelho (caixeiro de guia) e Maria Alice Rocha, antes de falecerem, colocaram a Guarda sob a minha responsabilidade.

Eu não saio desse cargo, porque tenho fé em Nossa Senhora do Rosário e porque prometi tomar conta da Irmandade, para manter essa tradição, que também é forte na minha família. Eu, na barriga da minha mãe, praticamente dançava congado. Eu venho do Reinado do meu pai como um dançante, de dançante eu passei a batedor de patangome, de patangome fui caixeiro, de caixeiro fui primeiro capitão de Moçambique, de primeiro capitão como regente, de regente eu fui promovido a capitão mor. Infelizmente, em 1986, eu perdi o meu pai e não tive condições de continuar a Irmandade dele – a Guarda de Moçambique de Nossa Senhora do Rosário do Morro do Cascalho. Mas, Nossa Senhora do Rosário me mostrou o caminho e me fez conhecer a nossa Irmandade. Esse Reinado é minha vida. Eu não troco a minha tradição e a minha religião por nada desse mundo.

A nossa festa acontece tradicionalmente em setembro. Nós começamos o período de festa com o levantamento da bandeira de aviso, do Divino Espírito Santo, e depois com as novenas. Durante a festa nós temos o levantamento das bandeiras festeiras, a procissão na comunidade, a participação das Guardas visitantes e a missa conga. Depois desse período, a Irmandade faz visitas para poder pagar as Guardas que vieram nos ajudar.

Rua F, no 6 (bairro Nova Gameleira). Belo Horizonte – MG. Telefone: 9777-7728

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Guarda Congo Velho de Nossa de Senhora do Rosário

Foto: Daniel Antônio Gomes Cruz

Meu nome é Damião. Eu sou um dos capitães da Guarda. São quatro capitães: eu, Flávio, Elizabete e Alessandra. Eu sou o capitão-regente. Resolvo os problemas, arranjo o transporte, recebo as Guardas visitantes e olho os convites. Agora está mais dividido porque antes eu resolvia tudo sozinho.

Minha relação com o congado, como se diz, começou na barriga da minha mãe. Foi livre e espontânea pressão! Desde muito pequeno eu e meu irmão gêmeo, o Cosme, já dançávamos no meio da Guarda. Quando eu fiz uns oito anos, minha vó, Oraldina Apolinário, começou a me preparar para ser capitão. Quando eu tinha uns 16 pra 17 anos, meu tio Aílton, que era o capitão, faleceu. Então eu assumi o posto.

Nossa Guarda foi fundada em 1935, por minha vó e por minha mãe, Dona Haydê. Infelizmente a vó morreu e a gente tem pouco registro dela. Hoje a Guarda é uma grande família. Mesmo quem não é da família a gente considera como se fosse. Nós somos umas 40 pessoas. Alguns ficam fora um tempo, mas acabam voltando. Todo mundo é daqui de BH, mas tem gente morando em lugares distantes como Santa Luzia, Vespasiano e Neves.

Nossa festa é em outubro. Só muda pra novembro quando é ano de eleição. Nela a gente homenageia Santo Antônio e Nossa Senhora do Rosário. Aqui no bairro todo mundo gosta, nunca tivemos reclamação, nem dos evangélicos. Nossa maior dificuldade é com o transporte da Guarda para as festas e com a manutenção dos instrumentos. O couro de alguns já nem é mais original.

A gente considera nossa cultura algo importante porque tem uma história que vem de longe e que criou raízes aqui, por isso a gente acha que podia ter um maior suporte da sociedade e do governo.

Guarda Congo Velho de N. S. do Rosário Rua Rio Bonito, 98 (bairro Pilar). Belo Horizonte - MG E-mail: [email protected]. Telefones: 31 97593113/ 87514525/ 32883529.

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Guarda de Marujos de São Cosme e Damião e de N. S. do Rosário

Foto: Daniel Antônio Gomes Cruz

Meu nome é Eudes. Sou capitão-regente da Guarda, responsável pela evangelização, pelos instrumentos, pelos caixeiros e por tudo o que diz respeito aos festejos. Tudo tem que ter minha assinatura. Minha esposa, Maria das Graças, é responsável pelos dançantes e me ajuda muito em tudo. Nós nos conhecemos em 1972 e foi por conta do nosso casamento que eu vim pra essa Guarda. A Graça tá na Guarda desde a fundação. Mas eu já era dançante desde os 12 anos na Guarda do Concórdia, e também já fui caixeiro em uma Guarda de Moçambique. Quando me casei com a Graça, o pai dela fez uma cerimônia, me passou sua espada e desde então eu sou o regente.

A história da Guarda começou mesmo em 1966 quando teve a primeira festa de São Cosme e Damião, mas eles já saíam antes e já batiam caixa. Antes, a Guarda tinha o Nome de Guarda Feminina de São Cosme e Damião. Mas como precisava dos homens pra bater caixa e eles não queriam ser chamados de “feminina”, ela mudou de nome. Hoje em dia, contando com os dançantes, a Guarda têm mais ou menos 40 pessoas, de todas as idades – a mais nova tem um ano e três meses e não pode ouvir uma caixa bater que já quer dançar! Mas esse número já foi muito maior.

A comunidade gosta muito da festa, se interessa, mas poucos querem mesmo participar e manter o espaço. A gente tem muita dificuldade, principalmente com o transporte e com a manutenção da sede que foi quase toda feita com doação. Às vezes a gente recebe convite para participar de festas de outras Guardas, mas não pode ir por falta de apoio. Nossa festa principal, que é na rua, é a de setembro em que a gente homenageia São Cosme e Damião, mas também tem a festa de São Sebastião em janeiro e de Santo Antônio em junho, que são aqui mesmo na sede.

Guarda de Marujos de São Cosme e Damião e de N. S. do Rosário Rua União, Beco São Cosme e Damião, 16 (Vila Santa Rita de Cássia). Belo Horizonte - MG Telefones: (31) 3287 9855; 9854 1169; 8593 7503

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Irmandade de Nossa Senhora do Rosário do Jatobá

Foto: Daniel Antônio Gomes Cruz

Meu Nome é Ildefonso Motta. Sou capitão mor dessa irmandade, que está na minha família desde 1932, quando meu pai pegou a responsabilidade, depois o irmão dele e depois eu.

O Reinado é herança de família. Eu já nasci nele. Uma pessoa que sempre teve também um papel importante nessa história é dona Maria Geralda Ferreira, minha mãe, que faleceu em 2005.

Mas a história dessa Irmandade é muito mais antiga. Data do século XVIII e veio passando de geração em geração desde o tempo em que aqui era fazenda de escravos.

Sou responsável por tudo o que diz respeito ao Reinado. Tenho muitas vezes que abrir mão de estar com a minha família para cuidar da Irmandade. Minha função é manter a ordem, a disciplina, ser solidário, fazer valer as tradições. A gente não pode fugir delas, mas se eu for autoritário não vou conseguir nada.

Hoje a Irmandade conta com mais ou menos 80 participantes entre jovens, adultos e crianças. A maioria mora em BH, Contagem e Ibirité. Nossa festa acontece em agosto e nela a gente homenageia Nossa Senhora do Rosário, Santa Efigênia, São Benedito e Nossa Senhora das Mercês. É uma das festas que mais aglomera gente na região.

Fora a nossa festa, entre os meses de abril e outubro, a gente ajuda as outras Irmandades a fazer a festa deles. Eles vêm ajudar na nossa festa e a gente vai lá e ajuda eles.

Apesar de termos o tombamento como Patrimônio Histórico da cidade, nossas dificuldades são muitas, pois nos mantemos com nossos próprios recursos. Ninguém nos dá nem uma lata de tinta. As principais dificuldades são o deslocamento para outros lugares e a manutenção do espaço, dos instrumentos e uniformes.

Irmandade de Nossa Senhora do Rosário do Jatobá Rua Paulina, 21 (bairro Itaipu). Belo Horizonte - MG Telefones: (31)3598-4651; 3598-44539

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Guarda de Moçambique Nossa Senhora do Rosário Nova Granada

Sr. Hélio Silva (Foto: Poliana Vasconcelos Xavier) Meu nome é Hélio Silva. Sou capitão mor da Guarda de Moçambique Nossa Senhora do Rosário Nova Granada. Comecei no Reinado com seis anos de idade. A primeira Guarda que eu participei, a Guarda de Marujo Santa Efigênia, foi na minha terra, a cidade de Santana do Morro do Chapéu. Meu avô e meu pai participavam dessa Guarda. A família toda é congadeira. Depois vim para Belo Horizonte e como capitão de guarda participei da Guarda de Congo Masculino Nossa Senhora do Rosário do Jatobá. Nesse período fui indicado para o Conselho da Federação do Congado de N. Sra. do Rosário do Estado de Minas Gerais. Eu exercia a presidência desse Conselho, quando fui convidado por dona Antônia para ajudar na realização das festas da Guarda de Moçambique Nossa Senhora do Rosário Nova Granada.

A Guarda foi fundada em 1939 pelo senhor Joaquim Marques, que foi o responsável pela construção da capela que se encontra na sede da Irmandade. Ele esteve na direção da Guarda até o seu falecimento, em 1993. Em seguida, Dona Antônia, rainha perpétua da Guarda e esposa de Joaquim Marques, assumiu essa função. Com o falecimento de dona Antônia em 1995, eu assumi a responsabilidade da Guarda como capitão regente. Assim, os fundadores, que já faleceram, passaram para a família, que não quis tocar, e então, caiu na minha mão. E para não deixar acabar essa tradição eu comecei a mexer, e não acabou e nem vai acabar. Quando eu participava das festas da Guarda como convidado, só tinha o Moçambique. Atualmente, a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário é composta por duas Guardas: Guarda de Moçambique Nossa Senhora do Rosário e a Guarda de Congo São Benedito Feminina, que somam aproximadamente 75 componentes. Então são duas Guardas, mas quem comanda todo o Reinado de Nossa Senhora do Rosário aqui é o Moçambique.

Nós fazemos em maio a festa do glorioso São Benedito e em setembro a festa de Nossa Senhora do Rosário. Nas celebrações em homenagem aos santos do reino de Nossa Senhora do Rosário nós realizamos novenas, levantamos as bandeiras festeiras, festejamos com as Guardas que vem nos visitar e após a santa missa conga, nós fazemos a procissão na rua principal do bairro.

Guarda de Moçambique Nossa Senhora do Rosário Nova Granada Rua Rosário, 90 (bairro Nova Granada). Belo Horizonte – MG. Telefone: 3386 3877

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Associação Beneficente Dança de Congado da Vila Santo André

Foto: Acervo Pessoal Me chamo Dílson de Oliveira Faria, nasci em Belo Horizonte, em 5 de outubro de 1977. Sou vice capitão mor desta Guarda. Conheci o congado menino. Já nasci no congado. Comecei dançando na Guarda do Ciriaco; minha irmã Eliane, que é a rainha de santa Catarina da Guarda, também começou no Ciriaco. Foi o Ciriaco quem criou meu pai depois que minha avó morreu. Meu pai tinha uns 7 anos. Fiquei muitos anos na Guarda dele. Então um dia fui ajudar meu pai a fazer a festa dele. Depois disso continuei nesta Guarda e estou nela até hoje.

Esta Guarda foi fundada em 1936 pelo Joaquim Soares e José Veríssimo. No começo, bem criança, eu era só dançante, depois fui aprendendo os instrumentos, bater caixa e fui aprendendo os fundamentos do congado. Já fui capitão regente. E aprendi até me tornar o vice capitão mor. O primeiro capitão mor é o meu pai, Veríssimo. Na falta dele é que eu assumo a responsabilidade.

Hoje, nesta Guarda, a gente dança é Moçambique. Os participantes da Guarda são da família ou conhecidos de muitos anos. São pais, filhos, irmãos, primos e assim vai. A Guarda hoje está pequena, somos mais ou menos 30 pessoas. Tem muita criança. Diogo, meu filho, é o capitão regente, a Edméia é a rainha conga, a dona Lucília é a rainha de Nossa Senhora Aparecida. E existe a rainha do ano, que é a rainha coroada naquele ano.

Nós fazemos nossas festas no mês de maio e em outubro. A de maio é a Festa do Cativeiro, que é a festa do fim da escravidão dos negros. E a de outubro, a Festa de Nossa Senhora Aparecida, é conhecida como Festa Grande porque é uma semana de festa. Nos dias das festas nós fazemos o levantamento de bandeira. Cada etapa, cada horário aqui tem um ritual. Tem o ritual pra comida, pra tomar café e almoçar. Tem o ritual pra acordar, a Alvorada. E tem durante o resto do ano a festa de outras Guardas, que só não vamos quando é no mesmo dia que a nossa festa. Na Guarda do Ciriaco vamos sempre, até sem convite, na Guarda São Bartolomeu, na dos Arturos. Isso aqui para nós é uma Igreja que trata de danças de Reinado. Uma Igreja que louva Nossa Senhora do Rosário. É a nossa raiz, nossa fé, nosso fundamento em Nossa Senhora do Rosário.

Rua Garças, 229 (bairro Santo André). Belo Horizonte - MG Telefone: (31) 2567-7661. E-mail: [email protected]

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Guarda de Moçambique N. S. do Rosário e São João Batista

Foto: Acervo Pessoal. Eu sou Maria Aparecida de Souza, sou a primeira capitã da Guarda. Nasci no dia de São João Batista, em 24 de junho de 1958. A minha avó, dona Bela, a rainha conga da Guarda, fundou a nossa Guarda em 1954 para levantar a bandeira de São João Batista. Depois veio mais gente e começaram a fazer festa. Antigamente só fazia festa para São João Batista, Santo Antônio e São Pedro. Depois começaram a bater Congado e a chamar as Guardas de fora. Eu comecei no Congado menina. Comecei como princesa da minha mãe, a Albertina. Ela foi a primeira rainha de Santa Isabel. Depois fui para pé de bandeira, fiquei carregando a bandeira da guia muitos anos. Depois comecei a tocar folha, a cantar, empolguei e passei a bandeira para a Valéria, a irmã do meu falecido marido. Aí comecei a bater caixa. O meu padrinho, o Sinval, começou a me ensinar a cantar, a tocar. Então eles me colocaram na capitania.

Como primeira capitã eu faço de tudo, porque um dia que um capitão não vem eu tenho que fazer a minha parte e a deles. Tenho que organizar tudo quando tem festa, enfeitar bandeira. As nossas festas começam em janeiro. Primeiro é a festa de São Sebastião, dia 20 de janeiro, que é para abrir o Reino. Depois a de São Jorge, no dia 23 de abril. No dia 13 de maio comemora São Benedito, em julho Santa Isabel, no segundo domingo de outubro é a festa grande em que a gente comemora todos os santos. A gente fecha o Reino no último domingo de outubro. Durante o ano visitamos outras Guardas. Hoje a Guarda está com poucos participantes. Muita gente que era da Guarda saiu do bairro e foi pra longe, outros já faleceram. Então, a nossa Guarda está pequena; a gente tem umas 20 pessoas certas, que eu sei que podemos contar. Na capitania somos eu, o Raimundo, o Paulo Luís e o Maurício. A dona Joana é a rainha do Rosário, a Neuza é a rainha de Santa Isabel, a Maria é a rainha da Guia. Tem a Vanda que é a rainha do Divino Espírito Santo, o Adilson que é o Rei do Divino Espírito Santo, e a Marlene e a Raimunda que são as rainhas de São Benedito.

O Congado vem dos antigos, dos africanos, dos Angola. Eu sou apaixonada por qualquer Guarda de Congo, Moçambique, Catopé, Marujo. Eu tenho raízes, tem por onde puxar. Já tenho a coisa de sangue. Eu gosto muito de Congado. Eu não posso ver um Congado bater que o meu corpo balança todinho.

Guarda de Moçambique N. S. do Rosário e São João Batista R. Padre Lopes, 64 (Santo André). Telefones: (31) 3632-3739; (31) 8517-6892

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Guarda dos Caboclinhos do Divino Espírito Santo

Foto: Acervo Pessoal Meu nome é Zelita Pereira da Silva. Sou mestre da Guarda dos Caboclinhos do Divino Espírito Santo. Eu fui gerada no Reinado, dentro dessa Guarda. Os fundadores foram os meus pais, João Pereira da Silva e Clotilde Pires da Silva. Eles nasceram e foram criados em Baldim, Minas Gerais, onde fundaram a Guarda dos Caboclinhos do Divino Espírito Santo. A Guarda é de uma geração de índio. Eu sou neta de índio e por isso nós temos esse segmento. A Guarda renasceu no dia 15 de outubro de 2002, através de uma promessa pela cura de meu neto. Hoje eu tenho certeza que naquela hora eu não poderia contar com gente. Então, eu contei com a ajuda do Divino Espírito Santo. A Guarda possui atualmente 32 componentes e não tem capitão, porque funciona como se fosse uma tribo com mestre, contramestre, cacique e caciquinho. A minha Guarda foi feita para realizar festejos para Nossa Senhora do Rosário, o Divino Espírito Santo e para receber as visitas de outras Guardas na minha festa. Eu também levo a minha Guarda para pagar e ajudar na realização das outras festas.

Nós fazemos a nossa festa no terceiro domingo de julho, em que nós comemoramos as vitórias e fazemos os nossos pedidos ao Divino Espírito Santo e a Nossa Senhora do Rosário, com a presença de nossos coirmãos de outras Guardas de Belo Horizonte e adjacências. A festa dura três dias e consiste no levantamento de bandeiras festeiras e na apresentação da nossa Guarda e das Guardas visitantes. Em seguida, nós temos a grandiosa missa com a benção das coroas de promessa, celebrada pelo padre Djalma, um legítimo padre congadeiro, e a procissão. A nossa festa é tradicional no bairro pelo fato de ser um ritual bastante diferente do Congado tradicionalmente conhecido. Nós batemos arco e flecha e cantamos outras marchas.

Tenho muito amor pelo Congado e pela Guarda, mas eu era, na família, a que menos sabia e entendia. Eu acho que a vida de congadeiro não é fácil! A gente canta, louva o Santo, caminha a pé, passa da hora de comer e até da hora de chegar em casa. Mas nós temos que pedir a Deus para aliviar os sofrimentos daqueles que estão lá fora. Se eu pudesse, acabaria com todo tipo de arma e trocaria em favor de uma caixa de Congado. Vai, acompanha uma Guarda, acompanha um Reinado.

Guarda dos Caboclinhos do Divino Espírito Santo Rua Santa Rosa de Lima, 84 (bairro Nova Cintra). Telefone: 3374 5832

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Guarda de Moçambique do Divino Espírito Santo do Reino de S. Benedito

Foto: Acervo Pessoal Meu nome é Rodrigo Luís Sabino dos Santos. Tenho 32 anos e sou capitão regente da Guarda de Moçambique do Divino Espírito Santo, que foi fundada no dia 13 de outubro de 1996, a partir de uma promessa da Dona Zelita para a cura do seu neto. Ela costurou as fardas que nós usamos para sairmos de surpresa e fundar o Moçambique. Os capitães fundadores foram Iara Bárbara de Andrade (primeira capitã), Jaderson Pereira Lisboa (segundo capitão) e Wellington Alves de Arruda (terceiro capitão). Minha família toda é congadeira. Minha mãe era da Guarda de Congo Feminina, que eu só acompanhava. A primeira vez que eu fardei foi no dia da fundação da Guarda do Divino, como caixeiro. E depois da saída dos primeiros capitães, eu fui coroado como capitão em maio de 2000. E estou até hoje nessa função de reger a Guarda. Acima do meu cargo tem o capitão mor. E como eu não tenho a idade e nem a experiência para capitão mor, eu faço a função do regente. As principais atividades do Moçambique são a participação nas festas que nós somos convidados, a coroação dos festeiros, em dezembro, e a realização da Festa do Divino no terceiro domingo de junho.

O nosso Moçambique tem as cores vermelha e branca porque o Divino Espírito Santo tem sete dons. E cada dom tem uma cor. E nós adotamos o vermelho. O vermelho é a sabedoria! O branco porque simboliza a paz. Então, as nossas cores são o vermelho e o branco, e como o nosso Moçambique é do Divino Espírito Santo, mas o terreiro é de São Benedito, às vezes nós também colocamos uma fita marrom em homenagem ao São Benedito. Inclusive na segunda-feira da nossa festa, a Guarda costuma usar uma fita marrom em homenagem a São Benedito. E o Divino Espírito Santo, para mim, é uma graça, é o santo maior, é só uma pomba branca representando um poder imenso, um poder muito forte. E eu tenho muito orgulho do que faço e de ser dessa Guarda. E de ter, pela idade que tenho, o respeito de muitos capitães mais velhos do que eu. Isso é muito importante pra mim. Então, eu fico muito feliz com isso, e como se diz, vou eu com o meu vermelhinho pelo prazer de dançar e de mostrar a nossa cultura e a nossa devoção ao santo. Espero que, no futuro, com mais aprendizado e experiência, eu possa chegar a ser um mor e, com os meninos que estão chegando, eu possa colocar alguém para me substituir como regente, como primeiro capitão. E vamos seguindo.

Guarda de Moçambique do Divino Espírito Santo do Reino de São Benedito Rua Henrique Dias, 107 (bairro Aparecida). Telefone: 9869-2775

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Guarda de Moçambique Nossa Senhora do Rosário e São José

Foto: Acervo Pessoal Eu, Maria do Rosário de Moura, nasci em Contagem, no dia 25 de fevereiro de 1955. Sou capitã mor desta Guarda. Entrei no Congado por tradição. Começou com o meu pai. Ele fundou esta Guarda em Contagem, junto com minha mãe. Até os Arturos ajudaram o meu pai. Já tem mais de 60 anos – o meu pai nem filho tinha. Minha mãe, Conceição Domingues Diniz, era rainha conga da Guarda, e o meu pai, José Miguel Diniz, era capitão mor. Foi o meu pai que passou tudo pra mim. Ainda temos a caixa, o Rosário de Maria, o bastão e o patangome da época que o meu pai fundou o Moçambique. Então comecei menina. Já toquei patangome, caixa, até que o meu pai foi ficando doente e falou comigo: - “a partir de hoje você vai ser capitã mor”. Aqui em BH não tem capitã mor mulher. Até hoje eu ainda enfrento as coisas. Quando o meu tio, os primos dele, falavam – “será que ela vai dar conta?”, o meu pai falava: – “dá, ela aguenta!”. Nós fazemos novenas, levantamos bandeiras, como a de São Benedito e a de Santa Efigênia. A gente reza o terço no dia de levantar a bandeira; fazemos a nossa festa e ajudamos a fazer a festa dos outros. Em maio vamos para a festa dos Arturos, do Ciriaco, e, em alguns anos, no Dilson do Santo André. Em agosto vamos para o Jatobá e, em setembro, começa a nossa festa, no terceiro domingo. Depois vamos para o Ciriaco de novo e em outubro para os Arturos. Nós batemos Congado até novembro. Nós fechamos o Reino e abrimos a Folia de Reis com os meninos daqui mesmo – só que é na minha casa, no bairro Glória.

Foi a rainha conga que pediu para o meu ex-marido montar a Folia de Reis pra ela. Aí ele foi, com muita dificuldade, e montou uma Folia de Reis pra ela. Nessa época a rainha conga era a minha mãe, Conceição Domingas Diniz. Hoje na Guarda somos umas trinta pessoas. Têm o Antônio dos Reis Diniz; José Jeremias Diniz, e minhas irmãs Maria da Conceição Diniz, que é a rainha perpétua, e a Edna Aparecida dos Santos, que é regente. Tudo aqui é família. Tem a Doralice, que dança também. Têm a Dália, que é a bandeira de guia; a Marilene, que é a guarda coroa; a rainha de Nossa Senhora da Conceição, que é a dona Mariana, que já está com 89 anos. A Marisa, que é a rainha festeira este ano; e tem a Marina, que é capitã. E os meninos também ajudam, eles são caixeiros. Ser capitã mor precisa aguentar a responsabilidade todinha da Guarda: mandar os ofícios; saber se vai sair, quando vai. Tudo é comigo: aprendi foi com o meu pai!

Rua José Romano, 227 (bairro Jardim Inconfidência). Telefones: (31) 8632-8586; 93184977

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Guarda de Congo São Benedito e N. S. do Rosário do Cabana

Foto: Daniel Antônio Gomes Cruz

Me chamo Odete Maria dos Santos. Eu vou te falar o que é o mais importante da nossa história. É que eu gosto do congado, que está no meu sangue. Isso vem de dentro de mim. Eu boto muito amor no que eu faço e é por isso que a gente consegue seguir. Quando a gente bota o amor e o respeito na frente, tudo dá certo.

Nossa Guarda já tem quase 20 anos. A gente guardou a data do dia 23 de maio como o dia cabeceiro, quando teve uma reunião e a gente decidiu mesmo que ia começar. Mas eu sempre gostei de uma caixa. Então, quando eu vim pra cá, pro Cabana, eu fui capitã na Guarda do Seu Zé Francisco, na rua João Pires. Dancei com eles por 16 anos. Mas meu pai me deu essa missão de montar essa Guarda antes dele morrer. Um dia ele me chamou, me pediu dois pauzinhos, ficou batendo um no outro e falou: – “Ô minha filha, se eu sarar a gente vai passar três dias em Aparecida do Norte comendo do bom e do melhor, mas se eles vê que eu não vou sarar, eu vou comemorar com os anjos. Mas por favor, minha filha, siga a minha missão”.

Na Guarda eu sou a capitã mor. Como se diz? O pé-de-boi de tudo. Normalmente, em outras Guardas, é o rei que financia, mas aqui não. A gente banca tudo. Então, eu sou responsável por tudo que se refere aos membros. Olho os tamborins, uso o apito pra reger os dançantes, tiro os cânticos. Minha função é reger ali no meio. É fazer manter o respeito. Porque muita gente vem pra festa e acha que pode beber, namorar. Eu falo: – “gente, é um dia só; dá pra aguentar”.

Mas na Guarda a gente tem que saber que naquela hora somos tudo irmão. Porque se eu der o respeito, tudo sai respeitado. Nossa festa é sempre no terceiro domingo de Maio. Hoje nós somos 32 integrantes. Já passou um bocado de gente, mas no final só fica mesmo é a família.

Guarda de Congo São Benedito e Nossa Senhora do Rosário do Cabana Rua Centro Social, 260 (bairro Cabana). Belo Horizonte - MG Telefone: (31) 3386 5175

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Guarda São Jorge de Nossa Senhora do Rosário

Foto: Acervo Pessoal Meu nome é Kelma Gizele. Sou a rainha da alvorada e capitã da Guarda São Jorge de Nossa Senhora do Rosário. A nossa Guarda é uma instituição cultural e religiosa que preserva, mantém e divulga o Reinado e a devoção a Nossa Senhora do Rosário. As atividades da Guarda começaram na década de 1930, no bairro Concórdia, na data oficial de fundação de 13 de maio de 1938. Na década de 30, o Sr. Alcides e a Sra. Rosa de Lima, junto com alguns amigos, vizinhos, compadres e alguns parentes, resolveram formar uma Irmandade de Nossa Senhora do Rosário. Assim formaram um Congo e um Moçambique, que foram coordenados pelo Sr. Alcides, o capitão fundador, e Sra. Rosa de Lima, rainha conga fundadora. A Guarda São Jorge de Nossa Senhora do Rosário é a Irmandade mais antiga entre as tradições do Rosário no seu bairro, o Concórdia, e é também uma das mais antigas do município de Belo Horizonte. As tradições e ações culturais herdadas dos antepassados, dos fundadores, são mantidas pelos atuais descendentes e amigos, todos devotos de N. Sra do Rosário. Nossa última matriarca foi a minha mãe, que todos conheciam e chamavam calorosamente de tia Wilma. Desde 1975, quando assumiu a direção da Guarda, tornou-se a responsável pela transmissão dos saberes que sempre orientaram a todos nós participantes. Com o seu falecimento, eu e minha irmã Kelly assumimos a responsabilidade da Guarda. Hoje contamos com cerca de 18 pessoas.

As principais atividades anuais da Guarda são a Festa de São Jorge, no mês de abril, e a Festa de Nossa Senhora do Rosário, no mês de outubro. Temos o nosso projeto permanente – o “Reinado em Preservação e Difusão” –, e bandeiras ao longo do ano. Levantamos a bandeira em homenagem a determinados santos. Nós temos bandeira em janeiro, que é de São Sebastião. Em abril, a bandeira é de São Jorge. Depois temos as bandeiras de Santo Antônio, São João Batista e São Pedro, em junho. Em outubro, as bandeiras de Santa Efigênia, São Benedito, Nossa Senhora do Rosário e Nossa Senhora da Guia. Essas são as bandeiras do nosso Reinado. Além disso, nós fazemos intercâmbios com outras Irmandades, participando de festejos para os quais somos convidados e, da mesma forma, acolhemos em nossos festejos as Irmandades que conosco vêm louvar o Santo Rosário de Maria. E viva o Rosário! Rua Tamboril 639 (bairro Concórdia). Belo Horizonte - MG Telefone: (31) 3421 3225. E-mail: [email protected]

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Guarda de Moçambique de Nossa Senhora da Divina Providência

Foto: Isabel Casimira Gasparino Martins

Eu, Cleone da Silva Pedro, nasci no dia 7 de fevereiro de 1977 em Belo Horizonte. Sou devoto de Nossa Senhora do Rosário. Comecei aos seis anos de idade acompanhando meu avô Chico – Francisco Luiz de Souza –, o fundador, junto com a sua amiga Maria Lúcia Pereira dos Santos, da Guarda de Moçambique Nossa Senhora da Providencia, em 1974.

Eu tinha o meu avô como ídolo. Foi ele quem me ensinou a ter fé e confiança em Nossa Senhora do Rosário. Ensinou-me muitas coisas: a respeitar as pessoas, novas ou velhas, a conduzir a regência da Guarda, a ter respeito por todos.

Quando meu avô dizia que eu seria o futuro regente da Guarda, eu dizia a ele que não teria capacidade para isso, até por que havia pessoas mais velhas na casa.

Comecei como caixeiro de trás e com o tempo me tornei caixeiro de guia, que é chamado capitão de guia. Foi quando um belo dia de festa meu avô me passou o bastão para que eu cantasse. Me assustei com aquele ato de meu avô! Passado o susto, criei coragem e cantei.

Como aprendiz que eu era, fui ficando experiente, aprendendo a me comportar e a distinguir o que eu poderia fazer. Foi quando meu avô adoeceu e disse que eu estava preparado para assumir a regência da Guarda, e que a primeira coisa que eu deveria fazer era ter o respeito de meus comandados, deveria ser humilde para que eles se acostumassem comigo.

Tenho o maior prazer em cantar e dançar para Nossa Senhora. Recebi e recebo muitas bênçãos, faço o que eu gosto, tenho certeza que esta era minha missão! Pela maneira com que tudo aconteceu, graças a Deus, tenho o respeito de todos e vou tocando o barco até o dia que Deus me permitir.

Guarda de Moçambique de Nossa Senhora da Divina Providência Rua Madre dos Anjos, 563 (bairro Providência). Belo Horizonte - MG Telefones: 3433-6389 (Zélia); 3433-9558 e 8704-2436 (Cleone)

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Guarda de Congo Feminina Nossa Senhora do Rosário

Foto: Isabel Casimira Gasparino Martins

O meu nome é Zilda Pereira Lisboa. Nasci em Belo Horizonte no dia 12 de agosto de 1949. Desde criança, eu e a minha irmã Neuza Pereira Teixeira, nascida em 1948, participávamos do Reinado com meu pai, Geraldo Pereira da Cruz, minha mãe, Marieta Dias Pereira, e meu avô Joaquim Pereira da Rocha. Eles fundaram a Guarda de Congo de Nossa Senhora do Rosário no bairro Aparecida, e eu fui a princesa aproximadamente em 1953.

Eu tinha muita vocação para dançar, cantar, bater caixa, mas isso não era possível porque a Guarda era masculina e eles não aceitavam que as mulheres participassem dessas funções. Às vezes, se faltava caixeiro, em caso de emergência, meu pai deixava eu tocar. Assim foi que eu aprendi.

Com o passar dos anos e com o falecimento de todos os componentes da Guarda masculina, que carinhosamente chamávamos de “Guarda dos Caducos“, minha mãe deu a ideia de fazermos a Guarda de Congo Feminina de Nossa Senhora do Rosário.

Atualmente estamos completando 39 anos de existência. Os participantes da Guarda são mais ou menos 75 devotos, de Belo Horizonte e da região da grande BH. A minha irmã Neuza, também detentora dos conhecimentos do Congado, já foi juíza e dançante e hoje é responsável pela cozinha, é zeladora e conselheira da Guarda. A Maria, junto comigo, é responsável por ensaiar as marinheiras, ensinar as cantorias e rezas, e os demais amigos que nos auxiliam.

Nossos festejos acontecem em maio, com o hasteamento da bandeira de Santa Cruz, e em outubro, com a festa da nossa padroeira – Nossa Senhora do Rosário.

Gostaria que a nossa festa se mantivesse firme – me sinto realizada com o nosso envolvimento de fé. Aqui, até a tristeza pula de Alegria!

Guarda de Congo Feminina Nossa Senhora do Rosário Rua 1º de Julho, 194 (bairro Aparecida). Belo Horizonte - MG Telefones: 3428-8549 (Neuza) /3428-5032 (Zilda) 8501-1655

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Centro Cultural Chácara Maria Reis

Foto: acervo pessoal

A história da Chácara Maria Reis teve início em 1849 com meus avós, devotos de Santo Antônio. Eles eram donos da Fazenda Pampulha, que a partir de 1904 ficou conhecida como Fazenda de Sá Don’Anna, a Portuguesa. Em 1938 foi construída ali a Capela de Santo Antônio, onde passaram a comemorar a Festa de Santo Antônio e de Nossa Senhora das Graças. O cortejo saía da sede da fazenda com destino à capela. Na década de 1980 os congados já vinham para a festa levantar bandeiras e em 1988 eu fundei o Reinado de Santo Antônio de Pádua, me tornando o rei perpétuo.

A Chácara é um centro ecumênico, também conhecido como Terreiro de Santo Antônio. Além da capela em estilo colonial, erguida com o nome de Capela de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Livres, a Chácara também abriga os seguintes espaços: um verdadeiro museu de arte sacra regional; a sede da Ordem Templária da Cruz de Santo Antônio de Pádua, com seu Centro de Tradições Chico-Rey (um grupo especializado em pesquisa e divulgação das tradições religiosas de caráter popular do povo mineiro); a sede da Conferência de Santo Antônio de Pádua da Sociedade São Vicente de Paula – com trabalhos assistenciais para as famílias carentes da região; e ainda a sede do Centro das Tradições do Rosário no Estado Maior de Minas Gerais – CETRRO – , antiga Federação dos Congados de Minas Gerais, representante oficial das 4 mil Guardas, Cortes, Bandas e Ternos de Congado, Moçambique, Candombe e Vilões de nosso Estado. Ali nós mantemos vivos rituais ancestrais: desde 1886, a Trezena de Sábados de Santo Antônio; desde 1930, no segundo domingo de junho sob o Rito Católico Romano, o Jubileu em Honra de Santo Antônio; desde 1988, a Festa de São Benedito e o Capítulo Geral da Ordem Templária, quando revivemos os antigos ritos dos Cavaleiros Templários sob o Rito Católico Ortodoxo de Antioquia.

A maior autoridade do Reinado sou eu, rei perpétuo de Santo Antônio Manoel Fonseca dos Reis, assistido por meu guarda mor, José Maciel Júnior. A nação que rege o Palácio Real é o Moçambique e os toques que antecedem nossos rituais são das águas do Djedje Mahin.

Rua Boa Ventura, 2118 (bairro Jaraguá). 31.270-310 Belo Horizonte - MG E-mail: [email protected]. Orkut/Face: Rei Manoel. Skipe: Tapuruman

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povos e comunidades tradicionais de terreiro, povo de axé, povo de santo

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06. TERREIROS

Juliana Campos Fernanda de Oliveira

Povos ou Comunidades Tradicionais de Terreiro, Povo de Santo, ou Povo de Axé são algumas das denominações correntes entre os adeptos das religiões de culto aos ancestrais: orixás, inquices, voduns, santos e guias, como o candomblé e a umbanda. Essas religiões de matrizes africanas, também chamadas de religiões afro-brasileiras, referem-se a:

“(...) um conjunto algo heteróclito, mas certamente articulado, de práticas e concepções religiosas cujas matrizes são reportadas a tradições trazidas pelos escravos africanos e que ao longo de sua história, incorporaram em maior ou menor grau, elementos das cosmologias e práticas indígenas, assim como do catolicismo popular e do espiritismo de origem europeia.” (GOLDMAN 2008).

Presentes no Brasil desde a chegada dos primeiros escravizados africanos durante o processo de colonização, as religiões afro-brasileiras constituem um capítulo importante na conformação da sociedade, da cultura e da religiosidade brasileiras. Entretanto, tais religiões são ainda muito discriminadas, especialmente se compararmos sua representatividade à maneira como a sociedade nacional legitima outras religiões, como o catolicismo e mais recentemente o protestantismo. O povo de axé, ao contrário, sempre foi alvo de perseguições, preconceito e racismo por parte do Estado, de segmentos das religiões cristãs e da sociedade civil. Nas últimas décadas, como modo de reparação das injustiças promovidas pelo próprio Estado ao longo de séculos, foram criadas legislações que determinam sua proteção e cresceram as ações do poder público para promover visibilidade, respeito e valorização da cultura negra. Apesar disso, resta um logo caminho a percorrer para que a sociedade brasileira supere o racismo e a intolerância religiosa. De todo modo, as religiões afro-brasileiras têm mostrado a riqueza cultural que constituem suas práticas e ritos. A apresentação que se segue pretende, sobretudo, possibilitar à leitora/leitor a apreciação da amplitude do conhecimento de sacerdotes e sacerdotisas dessas religiões historicamente discriminadas, possibilitando o reconhecimento da diversidade e complexidade das culturas que as fundamenta.

Candomblé e Umbanda – um panorama geral

O candomblé pode ser compreendido como uma religião de matrizes africanas marcada pelo culto às divindades, orixás, inquices ou voduns. A denominação para o panteão de divindades varia com o que é denominado nação no candomblé. De modo geral, na nação queto, cultua-se orixás, na nação angola, cultua-se inquices e na nação jeje, voduns. Alguns candomblés podem cultuar também entidades como o caboclo e outras que variam de terreiro para terreiro. Os terreiros se estruturam a partir de uma complexa rede de relações entre os adeptos, orientadas por uma hierarquia religiosa e estruturadas a partir da “família de santo”, ou seja, um “grupo de adeptos do candomblé que têm relações de parentesco mítico principalmente pela via da iniciação” (SILVA, 1995). Trata-se de uma religião bastante

93 heterogênea, baseada na oralidade, sem um grande “livro-guia” (como a Bíblia para os cristãos, por exemplo). Toda sua liturgia, suas regras e preceitos se edificam a partir dos ensinamentos da liderança religiosa da Casa (pai ou mãe de santo, ialorixá ou babalorixá – em iorubá; tata de inquice ou mameto de inquice – em banto).

O processo de formação dos candomblés remete aos períodos de intensa importação de escravizados de diversas regiões da África, dentre os quais se destacam dois grandes grupos etnolinguísticos: sudaneses e bantos. Os sudaneses, que viviam nos territórios hoje denominados Nigéria, Benin e Togo, são divididos em diversos subgrupos, cujos mais influentes no Brasil são: os iorubá ou nagô (subdivididos em queto, ijexá etc.) e os jeje. Os bantos abrangem as populações oriundas do Congo, Angola e Moçambique e são divididos em angolas, caçanges e bengalas, entre outros. A estrutura dos candomblés tal como conhecemos hoje se erigiu a partir deste complexo de relações entre estes grupos em território brasileiro, que desencadearam determinados recortes étnicos e, por consequência, a diferenciação de ritos relacionados a estes recortes, originando o que atualmente se denominam as nações do candomblé. Veremos que os terreiros presentes no Catálogo se declaram como pertencentes a uma (e em alguns casos mais de uma) dentre três nações: queto, jeje ou angola, cada qual com sua liturgia e divindades próprias. Ao mesmo tempo, estes sistemas de distinções étnicas não podem ser encarados de forma ortodoxa. Muitos trabalhos que tentam reconstituir a história da formação dos candomblés mostram os diferentes grupos sempre postos em relação, seja no sentido de divergir ou assimilar elementos de cada uma destas origens étnicas, o que contribuiu para os ritos atuais serem muitas vezes resultado de uma combinação de tradições de distintos grupos (SERRA, 1995).

A umbanda é divulgada como uma religião genuinamente brasileira, pois suas origens remontam a uma mistura das tradições religiosas e populares presentes no país: o culto às divindades africanas, aspectos de tradições indígenas, o catolicismo popular, o kardecismo, dentre outras. Diversas pesquisas localizam sua origem nas primeiras décadas do século XX no Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul, a partir da emergência de manifestações das religiões de matrizes africanas dentro de práticas kardecistas. Entretanto, pesquisas apontam vários traços das práticas umbandistas no interior dos chamados ritos populares ainda no século XIX, sobretudo nos grupos bantos (SILVA, 2005). Assim como no candomblé, a umbanda se caracteriza desde sua formação por uma diversidade de cultos e contempla uma infinidade de denominações (omolocô, umbanda linha branca, quimbanda, umbanda oriental, umbanda esotérica entre outros), algumas mais antigas e outras que vão surgindo em movimentos mais recentes, com a incorporação de novos elementos.

Os terreiros em Belo Horizonte

Sobre a origem destas diversas formas religiosas afro-brasileiras em Belo Horizonte, muitos/as pesquisadores/as fazem referência aos registros em arquivos históricos da prática de calundus no ainda Arraial Curral Del Rei em meados do século XVIII. Calundus era o nome usado para denominar diversas práticas de origem africana no Brasil até o séc. XVIII e é possível que muitas delas tenham relação com os saberes e práticas que constituíram os candomblés do século XIX. O primeiro terreiro de umbanda registrado oficialmente na cidade de Belo Horizonte data de 1933. O candomblé, em suas formas atuais, começou a se difundir em BH na década de 1960, a partir de experiências religiosas umbandistas (MORAIS 2011, 94

NOGUEIRA 2017). As informações disponíveis dão fortes indícios da relação estreita entre tais manifestações desde os seus primeiros tempos, sendo comum uma forte interação entre a umbanda e o candomblé nos terreiros da cidade. Este fato pode ser observado na atualidade e os relatos presentes neste Catálogo mostram a diversidade de terreiros onde estão presentes tanto a umbanda quanto o candomblé. Além disso, grande parte dos terreiros belorizontinos são territórios de outras manifestações religiosas e culturais, como o reinado e a capoeira. Destaca-se também a existência de dois quilombos na cidade que possuem terreiros como parte fundamental de sua constituição. Outro fato notável nas presentes narrativas: os terreiros da cidade em geral não são apenas templos de culto religiosos, mas lugares de realização de atividades culturais, serviços sociais voluntários, funcionando como importantes referências de apoio, acolhimento e hospitalidade para a comunidade envolvente.

Nas próximas páginas, você encontrará registros escritos de narrativas orais dos representantes das comunidades religiosas tradicionais de terreiro envolvidos nessa publicação. Essas narrativas foram produzidas a partir de entrevistas realizadas com lideranças dos terreiros para a elaboração do presente Catálogo. A participação de técnicos e estudantes que são religiosos de matriz africana na equipe de trabalho foi importante para facilitar a abordagem e a mobilização das lideranças religiosas entrevistadas. De um universo de mais de 300 terreiros mapeados na cidade de Belo Horizonte, foram entrevistados 62. A escolha foi de forma amostral, buscando contemplar todas as regiões da cidade, as três nações do candomblé mais presentes e as diferentes formas de umbanda, em uma tentativa de representar esta diversidade de manifestações que o quadro de terreiros de Belo Horizonte apresenta.

Referências bibliográficas do texto:

GOLDMAN, Marcio. Histórias, devires e fetiches das religiões afro-brasileiras: ensaio de simetrização antropológica. Análise social, XLIII. Lisboa: Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, 2008.

MORAIS, Mariana Ramos de. Registros da fé afro-brasileira na capital de Minas. Anais dos Simpósios da ABHR, Vol. 12 , 2011. http://www.abhr.org.br/plura/ojs/index.php/anais/article/view/220

NOGUEIRA, Nelson Mateus. O Moxicongo nas Minas Gerais: raízes e tradição. Cabana Senhora da Glória, Belo Horizonte, 2017.

SERRA, Ordep. Águas do Rei. Editora Vozes. São Paulo, 1995.

SILVA, Wagner Gonçalves da. Candomblé e Umbanda: caminhos da devoção brasileira. Editora Selo Negro. São Paulo, 2005.

PARA SABER MAIS:

ALMEIDA, Amarildo Fernando de. Imaginário religioso - a transmissão da religiosidade e do saber sobre as Iabás do Terreiro Ilê Wopo Olojukan (Belo Horizonte/MG). Dissertação de Mestrado (Mestrado em Ciências da Religião). Belo Horizonte: Departamento de Ciências Sociais, Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-Minas), 2009. 95

BERGO, Renata Silva. Quando O Santo Chama: O Terreiro de Umbanda como contexto de aprendizagem na prática. Tese de Doutorado (Doutorado em Educação). Belo Horizonte: Programa de Pós-Graduação em Educação, Faculdade de Educação, Universidade Federal de Minas Gerais, 2011. CAMPOS, Amanda Horta. Uma casa de portas abertas: experiências em Manzo Ngunzo Kaiango. Trabalho de Conclusão de Curso. (Graduação em Ciências Sociais). Belo Horizonte: Departamento de Sociologia e Antropologia, Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal de Minas Gerais, 2010. CAMPOS, Juliana Miranda Soares. Religião e etnicidade: etnografia da formação de um terreiro de candomblé no Quilombo de Mangueiras. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Ciências Sociais). Belo Horizonte: Departamento de Sociologia e Antropologia, Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal de Minas Gerais, 2011. CAMPOS, Juliana Soares; HORTA, Amanda, MOUTINHO, Pedro. “Sobre crença e afeto: diálogos de um candomblé na cidade”. Ponto Urbe – Revista do Núcleo de Antropologia Urbana da USP. São Paulo: Departamento de Antropologia, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, 2009. Link: http://www.pontourbe.net/index.phpoption=com_content&view=article&id=8:sobre-crencae- afeto-dialogos-de-um-candomble-na-cidade-&catid=7:graduacao-em-campo&Itemid=12 CARDOSO, Alexandre. “Dimensões básicas da religiosidade belo-horizontina”. Estudos Avançados (CEPRAB), São Paulo, ano 18, n.52, p. 63-75, 2004. CARDOSO, Alexandre Antônio. Os alquimistas já chegaram: uma interpretação sociológica das práticas mágicas em Belo Horizonte. Tese de Doutorado. (Doutorado em Sociologia). São Paulo: Programa de Pós-Graduação em Sociologia, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, 1999. CARDOSO, Ângelo Nonato Natal. Mito, dança e ritmo no candomblé em Belo Horizonte. Dissertação de Mestrado (Mestrado em Música Popular). Rio de Janeiro: Programa de Pós-Graduação em Música, Centro de Letras e Artes, Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), 2011. FERREIRA, Carlos Amauri; MAIA, Anderson Marinho. “A Umbanda e sua manifestação na região metropolitana de Belo Horizonte: da tradição à contemporaneidade”. 2011. Trabalho apresentado no XII Simpósio da ABHR, 31/05 – 03/06 de 2011, Juiz de Fora (MG), GT 17: A alteridade na pesquisa: religiões afro-brasileiras, tradições indígenas e catolicismo popular, 2011. Link: http://www.abhr.org.br/plura/ojs/index.php/anais/article/view/221 GOMES, Ângela Maria da Silva. Rotas e diálogos de saberes da etnobotânica transatlântica negro-africana: terreiros, quilombos, quintais da Grande BH. Tese de Doutorado (Doutorado em Geografia). Belo Horizonte: Programa de Pós-graduação em Geografia, Instituto de Geociências, Universidade Federal de Minas Gerais, 2009. MORAIS, Mariana Ramos de. O candomblé na metrópole: a construção da identidade em dois terreiros de Belo Horizonte. Dissertação de Mestrado (Mestrado em Ciências Sociais). Belo

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Horizonte: Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais, Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, 2006. MORAIS, Mariana Ramos. “Registros da fé afro-brasileira na capital de Minas”. Trabalho apresentado no XII Simpósio da ABHR, 31/05 – 03/06 de 2011, Juiz de Fora (MG), GT 09: Religiões Afro-brasileiras e espiritismos, 2011. Link:http://www.abhr.org.br/plura/ojs/index.php/anais/article/view/220 MORAIS, Mariana Ramos de. Nas teias do sagrado: registros da religiosidade afro-brasileira em Belo Horizonte. Belo Horizonte: Espaço Ampliar, 2010. MDS - Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Alimento: Direito Sagrado – Pesquisa Socioeconômica e Cultural de Povos e Comunidades Tradicionais de Terreiros. Brasília, DF. Secretaria de Avaliação e Gestão de Informação, 2011. PONTES, Ana Cristina. “O candomblé em Belo Horizonte”. In: PONTES, Ana Cristina; MORAIS, Fernanda Emília de (Orgs.). Heranças do tempo: tradições afro-brasileiras em Belo Horizonte. Belo Horizonte: Fundação Municipal de Cultura, 2006. REZENDE, Michela Perigolo; CASTRIOTA, Leonardo Barci. “A preservação do patrimônio afro-brasileira: o caso de Belo Horizonte”. Revista Fórum Patrimônio – Ambiente Construído e Patrimônio Sustentável – Cadernos de Trabalho. Vol. 1 , No. 1, 2007. Link: http://www.forumpatrimonio.com.br/view_full.php?articleID=107&modo=1 SANTOS, Geovânia; VILARINO, Marcelo. “Umbanda no Brasil e em Belo Horizonte”. In: PONTES, Ana Cristina; MORAIS, Fernanda Emília de (Orgs.). Heranças do tempo: tradições afro-brasileiras em Belo Horizonte. Belo Horizonte: Fundação Municipal de Cultura, 2006. VAZ, Beatriz Accioly. Na encruzilhada dos deuses e dos homens: apontamentos sobre os significados e papeis de Exu em um terreiro de candomblé banto. Trabalho de Conclusão de Curso. (Graduação em Ciências Sociais) – Belo Horizonte: Departamento de Sociologia e Antropologia, Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal de Minas Gerais, 2010.

Coordenaram a pesquisa sobre Terreiros: Juliana Campos, Fernanda de Oliveira, Carlos Eduardo Marques e Pedro Moutinho.

Colaboraram realizando as entrevistas: Alysson Armondes; Amaralina Fernandes; Ana Carolina de Oliveira; Carolina Brauer; Claudio Antônio Meireles Rocha; Daniel Alves de Jesus; Eduardo Costa de Mancilha; Érica Coelho; Felipe Moreira; Flora Gonçalves; Gabriel Campos Cunha; Geíse Pinheiro; Gilmara Souza; Guilherme Abu-Jamra; Isabel Casimira; José Candido Ferreira; Julinéia Soares; Júlio César Marques; Lucas Cunha; Lucileia Vieira; Luiz Divino Maia; Mariana Oliveira; Luisa Girardi; Marilza Máximo; Melina Rocha; Natalia Menhem; Pedro Ivo Souza; Poliana Xavier; Ricardo Oliveira; Robson Paulo Santos; Rodrigo Martins; Ronald Aguiar; Virgínia Baptista Cá.

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Localização dos Entrevistados: https://www.google.com/fusiontables/embedviz?viz=MAP&q=select+col2>>0+from+1434MiGg0e- pI19NbADjPO8hGNzOw0igo0WjGueY+where+col0>>0+=+'Comunidade+Tradicional+de+Terreiro'&h=f alse&lat=-19.918254945581133&lng=-43.93429232409664&z=14&t=1&l=col2>>h

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Centro Espírita São Sebastião

Foto: Rafael Barbi

Eu sou Isabel Casimira das Dores Gasparino, uma sacerdotiza que pratica a umbanda desde o ventre da minha mãe, Maria Cassimira das Dores. Minha mãe herdou o Centro Espírita São Sebastião por missão espiritual. Quando eu e meu irmão Ephigênio Casêmiro éramos pequenos, ficávamos em casa sozinhos. Meu irmão, oito anos mais velho, cuidava de mim para nossa mãe ir trabalhar no centro espírita. As sessões aconteciam no bairro Santa Tereza e eram comandadas pelo senhor Marcelino, que recebia o Preto Velho Pai Timbiras de Angola. Por decisão desse mentor espiritual, Dona Cassimira herdou o centro espírita cujos objetos rituais foram entregues em sua casa, no bairro Concórdia, levados em uma carroça.

Esse acontecimento causou grande surpresa, pois só depois que esses objetos chegaram foi que minha mãe recebeu a comunicação sobre a decisão de Pai Timbiras. A partir de então, por missão sagrada, ela dirigiria os trabalhos espirituais em sua casa que, nessa época, era muito simples, com apenas três cômodos. Um grande desafio.

Aos poucos, com a solidariedade de amigos e apoio material em agradecimento por graças recebidas, um novo cômodo pôde ser construído para que Dona Cassimira pudesse trabalhar com seus guias. Atividade a qual dou continuidade, dirigindo a Casa desde 1984, quando minha mãe faleceu.

O Centro Espírita São Sebastião é uma Casa de caridade que se preocupa em manter as raízes dos seus ancestrais. Em 2013 completaremos 80 anos de tradição. Fazemos nossas reuniões espirituais às segundas, quartas e sextas de 20:00 às 22:00 horas. Nossas principais celebrações são: Comemoração de São Sebastião, dia 20 de janeiro; Comemoração de Ogum, dia 23 de abril; Comemoração de Cosme e Damião, dia 27 de setembro; e Nossa Senhora da Conceição, dia 8 de dezembro.

Rua Jataí, 1309 (bairro Concórdia). Belo Horizonte - MG Telefone: (31) 3421-7646 E-mail: [email protected]

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Cabana Espírita Umbandista Caboclo Flecha Dourada

Foto: Arquivo pessoal

Nossa casa foi fundada por Dona Terezinha, também conhecida como Mameto Kitulá, descendente direta do Terreiro Bate Folha em Salvador, fundado por Manoel Bernardino da Paixão.

Nossa nação é Angola-Congo e os principais inkises da Casa são Tempo, Bamburucema e Mutakalambô.

A iniciação de Dona Terezinha na umbanda ocorreu por volta de 1956. Em 1972 ela foi iniciada no candomblé, recebendo o deká em 1979, quando passou a ser conhecida como Mameto Kitulá. Após a passagem de Mameto Kitulá, em 2008, o Centro passou a ser dirigido por mim, Tata Italengombi, segunda geração da Casa.

Eu cuido das atividades do Centro e conduzo o preceito a Mameto Kitulá. Realizo a difusão do candomblé seguindo a tradição que me foi passada pela minha mãe de santo e zeladora, Nengua Guanguancese, e pelo meu pai de santo, Tata Minguanchi: através do culto e respeito às forças da natureza, expressão dos gestos e vibrações das danças.

Atualmente estamos guardando sete anos de luto pela passagem de Mameto Kitulá. Por isso, tocamos umbanda todas as sextas feiras, respeitando a origem do seu sacerdócio, apesar da casa ter como fundamento o candomblé. Depois de respeitado o luto e realizado todo o preceito a Mameto Kitulá, iniciaremos o sacerdócio do candomblé, realizando, aqui na Casa, as festas e cultos aos nossos principais inkises.

Cabana Espírita Umbandista Caboclo Flecha Dourada - NZO Jindanji Bamburucema Av. Barão Homem de Melo 424 (bairro Jardim América) Belo Horizonte - MG Telefone: (31) 3371-0022

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Casa de Caridade Pai Jacob do Oriente

Foto: Arquivo pessoal

Sou Ricardo de Moura, zelador de umbanda da Casa de Caridade Pai Jacob do Oriente, aqui na Lagoinha, na rua Fagundes Varela, 99. A nossa Casa é tradicional; tem 45 anos que está aberta. Assumi a direção da Casa há oito anos, na hierarquia e na herança, pois sou descendente direto dos fundadores. Ela foi fundada por meu pai e pelo Pai Jacob, seu preto velho, guia e mentor espiritual da Casa. Com a morte de meu pai, o terreiro foi passando de descendente a descendente. Primeiro assumiu minha mãe e eu agora.

É uma Casa de culto afro-brasileiro na doutrina e no culto de umbanda, com os guias e orixás de umbanda. Sou de raiz de candomblé de Angola Muxicongo e filho de Tateto Nepanji da Roça Nossa Senhora da Glória. O terreiro toca as sessões abertas ao público às segundas e quartas feiras a partir das 19:30 horas com passes e desenvolvimentos mediúnicos, além do atendimento particular ao público às terças e quintas feiras.

A Casa tem um projeto social com a Vila Nosso Senhor dos Passos, onde está situada. Há uns 10 ou 11 anos trabalhamos com doações de cestas básicas, arrecadadas com parceiros que conseguimos com o projeto Fome Zero. De 40 em 40 dias a gente doa umas 100 a 120 cestas. A gente pega e repassa, fazendo o cadastro. Além disso, temos projetos na área da saúde e cidadania, com auxilio do corpo de médiuns da Casa, que ajudam conforme a disponibilidade de cada um. Temos projetos de alfabetização, capoeira e conscientização da pessoa enquanto ser.

A Casa é uma referência para a Vila. Virou ponto de apoio, tanto espiritual, quanto emocional e material também, apesar de não termos tanto para doar, mas a gente está sempre dividindo.

Rua Fagundes Varela, 99 (bairro Lagoinha) Belo Horizonte - MG Telefone: (31) 34423316

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Centro de Parapsicologia Cosme e Damião

Foto: Arquivo pessoal

Meu nome é Geraldo Ubiraí Neves Winter, tata do Centro de Parapsicologia Cosme Damião. O Centro existe desde 1977 e seus principais orixás são Ogum e Oxum. Minha primeira manifestação foi aos seis anos. Comecei a ter uma febre muito forte, depois comecei a ter manifestações – falava com vários tipos de vozes – e médico nenhum curava. Sou de família protestante e minha mãe achou que eu estava ficando louco – me mandou para Belo Horizonte para me internar em um hospício. Nesse período, um tio trouxe do Rio de Janeiro uma junta médica para me ver antes que me internassem. Dois médicos eram espíritas kardecistas. Olharam e falaram: – Ele não tem nada de loucura; o negócio dele é espírito.

Foi difícil para o meu tio aceitar, mas ele viu que a coisa era real quando eles fizeram orações para mim e eu manifestei. Como minha mediunidade era muito avançada, fomos para a Bahia procurar um centro espírita. Almoçando no Mercado Modelo, tive uma manifestação e comecei a passar comida no rosto. A primeira entidade que apareceu foi Cosme e Damião. Tentando me interromper, meu tio me bateu no rosto, quando então foi entrando um senhor magro, de terno branco, que falou para ele: – Não faz isso com a criança, ele está manifestando. Era o Camafeu de Oxóssi, que então cuidou de mim: fiquei com ele, me desenvolvi, me preparei. Fui babalorixá aos 12 anos. E aí continuei. Recebi uma caridade e tinha que passar para frente.

Aqui no Centro recebo mais ou menos 40 frequentadores, que comparecem às quartas-feiras, às 20:00 horas. Tem novatinho e tem os que estão aqui desde o início. No mês de julho, fazemos a Festa dos Orixás. Também tenho um Centro em Paris e outro na Bélgica há 28 anos, conduzidos pela Andrea e pelo Vincent, meus filhos de santo. Trabalho para o Dr. Hoffmann fazendo curas espirituais. Falo oito idiomas e viajo o mundo fazendo atendimentos. Hoje tenho mais de 6 mil filhos de santo: vou aonde eles estão.

Rua Cassiano Campolina, 80 (bairro Dona Clara), Pampulha Belo Horizonte - MG Telefone: (31) 3497 6381 /(31) 9953 0746.

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Ilé Ojó Obá Kaô

Foto: Luisa Girardi

Sou Noezi Ferreira de Oliveira, conhecida como Kaô Kabeci, Ebomi de Xangô, ou Kaô Babasilé. Esse nome significa “Xangô, pai dos pobres e humilhados”, e eu sou aquela que protege essas pessoas. Sou a mãe do Terreiro Ilé Ojó Obá Kaô, que é “A Casa do Olho do Rei Xangô”. Esta Casa nasceu em 1987, no Campo Alegre, numa festa de São Cosme e Damião. Esse foi o dia da nossa primeira sessão pública.

O mais bonito dessa sessão é que nós estávamos tristes porque não tinha ninguém... Nós tínhamos mais de 250 pacotes de balas pra distribuir, com brinquedinho e tudo, mas não tinha ninguém... Aí foi pingando, foi pingando, foi pingando e, de repente, o terreiro estava tomado! Não tinha mais onde colocar crianças, e os erês desceram, e os meninos de Angola desceram, e fizeram aquela festa...

Hoje o Ilé Ojó Obá Kaô tem 15 pessoas, fora os tios e os netos de santo. Nós nos reunimos semanalmente todas as quartas-feiras, e anualmente comemoramos: o Dia do Universo, no dia 14 para 15 de maio; o dia de Xangô, na última quarta-feira de junho; a comida de santo, em agosto, setembro; e a Festa de Cosme e Damião, no segundo domingo de outubro.

Esta Casa é uma coisa que nós acreditamos. Gostamos muito de participar de atividades sociais, emprestando a nossa voz para as minorias. Acreditamos e defendemos a nossa umbanda. Eu amo a minha fé, acredito nela, e tento tirar a tarja de que a umbanda é uma religião de pessoas atrasadas. Todo mundo fala que a umbanda é uma religião de gente analfabeta, mas isso não é a realidade.

Na verdade, os místicos são intelectuais, são filósofos. É uma filosofia do povo. Queremos manter as tradições negras – os costumes e os hábitos negros –, e defendemos com orgulho a nossa descendência da África. Temos respeito pelo nosso cabelo, pela nossa cor, pela nossa comida, pela nossa fé.

Rua Oitenta, 381, Casa 1 (bairro Venda Nova). Belo Horizonte - MG Telefone: 3455-9466. E-mail: [email protected]

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Centro Espírita São Sebastião

Foto: Acervo pessoal

Sou Guaraci Maximiano dos Santos, Tatetu Yalêmim. O Centro Espírita São Sebastião é expressão primeira da fé de nossa matriarca, D. Cecília Félix dos Santos. A partir de manifestações mediúnicas variadas – vozes, sonhos, visões, incorporações – de difícil entendimento para a então adolescente, D. Cecília foi orientada a procurar um centro espírita de mesa, ainda nos anos trinta. Logo depois, passou a incorporar seus guias espirituais, uma constante em sua vida. Concomitantemente, começaram as procuras por benzeções, rezas e partos. Nesse contexto, se institui informalmente seu primeiro terreiro dentro de sua moradia, na Rua Sto. Agostinho, no bairro Sagrada Família. Logo, seu guia chefe, Pai Supriano, determina a fundação da atual Casa nos anos quarenta.

Em uma dinâmica onde o tempo é atravessado pelos ditames da espiritualidade, nossa mãe é orientada a tratar de sua saúde, se iniciando no candomblé. Já nos anos sessenta, D. Cecília, por intermédio do Sr. Terezino, de Mametu Gangêtú, Mametu Pararás, Carlos Olojukan, dentre outros, inicia-se no candomblé de Angola, na raiz da Goméia, por Mametu Kilondirá, Yatôki (Camarão) e Mametu Kiló, descendentes diretos de Joãozinho da Goméia. Foi no terreiro de Joãozinho, em Duque de Caxias, estado do Rio de Janeiro, que Tabaladê D’Ogum, D. Cecília, cumpriu seus preceitos e obrigações. Desta forma, o candomblé, agregado às outras vertentes defendidas na filosofia e práticas desta Casa (a umbanda e o reinado), formou uma tríade religiosa, dando origem a um espaço comum que se coloca a serviço da fé, hoje zelado por mim, Tatetu Yalêmim.

Respeitamos os preceitos e rituais de cada vertente no compromisso da interlocução e construção de saberes sobre estes movimentos, precipitados pela singularidade de cada uma, com uma efetiva e contínua historicidade. Nossa Casa é um ponto de referência para muitos adeptos da religião, por ter servido e servir de berço para vários preconizadores da fé. É uma verdadeira escola aberta a todos.

Rua Geraldo Menezes Soares, 500 (bairro Sagrada Família). Belo Horizonte – MG Telefone: (31) 3481-9405E-mail: [email protected]

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Nzó Atim Obatolocy

Foto: José Cândido

Sou Reginaldo Teixeira da Silva, Tatetu Sessy Itaocy, da Casa Nzó Atim Obatalocy. Nossa Casa toca o candomblé e a umbanda. Somos da nação de Angola, da família Goméia. Nossos inkises são Mutakalambo, Dandalunda, Omolu e Tempo. Nossa Casa é bem antiga. A Casa começou com minha avó, Deolinda de Xangô, na Vila Anchieta (atual bairro Anchieta). Passou para minha mãe e meu pai, e agora está comigo. Vai fazer 32 anos.

Eu fundei esta Casa, que está neste local desde 1985. Eu fui iniciado no candomblé de Angola, mas tocava umbanda. Recebi minhas obrigações do candomblé, comecei a ser zelador de inkises. Aí minhas obrigações aumentaram e me dediquei mais ao candomblé.

Nossa Casa é uma referência para a comunidade em geral. Realizamos muitas atividades que integram as pessoas da Casa e as moradoras da região. Distribuímos cestas básicas, oferecemos cursos sobre a religião e língua banto, aulas de capoeira. Aqui no bairro nós somos muito respeitados, é muito tranquilo. A comunidade participa, as pessoas vêm pegar as coisas que são doadas, vêm para as festas. Na Festa de São Cosme e Damião, em setembro, aqui lota de meninos. Durante o ano fazemos muitas festas, como a Festa de Preto Velho, em maio, e de Oxóssi, em junho, Cosme e Damião (setembro).

Temos uma base de 250 pessoas frequentes na Casa. E um grande número de filhos, por volta de 650, espalhados pelo Brasil e pelo mundo. Somos um grupo afro-brasileiro. Por mais que eu queira fazer tudo em banto, quando eu vou tocar a umbanda, não deixo de tocar um culto brasileiro. Então, eu toco o banto, que seria angolano, mas não deixo de tocar uma coisa brasileira.

Participamos de movimentos negros devido à religião. É a briga pelo negro, pelo espaço do negro, porque, tendo o espaço para agir, eu terei um espaço de estilo religioso. A religião é o tom, é o tema principal.

Rua Buritis, 93 (bairro São Gotardo, Serrano). Belo Horizonte - MG Telefones: (31) 3354-6930/3354-8140/9711-6930. E-mail: [email protected]

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Templo Umbandista Pai Joaquim de Aruanda

Foto: Carolina Brauer

Eu sou Mãe Nilce, mãe de santo do Terreiro Pai Joaquim de Aruanda. Trabalho na umbanda fazendo cura, abrindo os caminhos, ajudando os filhos mais necessitados. A umbanda é paz, é luz, amor e caridade.

Na minha Casa tem Preto Velho de Aruanda, de Angola, da Senzala, de Moçambique, do Congo, e tem Nossa Senhora do Rosário, vários caboclos, vários exus, ciganas, além dos meninos de Angola e do senhor Ogum na frente, Oxóssi das matas e todos os meus orixás.

Sou a mãe de santo, mas faço todas as coisas do terreiro: abro os trabalhos, chamo as entidades, faço as giras dos filhos, preparo os banhos e as comidas para os santos e para o pessoal da sessão; canto pra louvar e agradecer as entidades presentes ou em forma de luz.

Toda semana tem sessão às quintas e sábados, de 20 às 22 horas. Primeiro oramos para a abertura dos trabalhos, cantamos para todos os santos e depois chamamos as linhas – caboclo, criança, depende do dia. Tem também os atendimentos particulares. A pessoa marca dia e horário e escolhe a entidade. Isso acontece à parte da sessão. No atendimento particular fazemos limpeza de verduras, canjica, pipoca, banho de cerveja.

Aqui tem festa o ano inteiro! Iemanjá, Iansã, menino de Angola, Tranca Rua e Cigana tem todo mês. A do Preto Velho acontece no mês de maio e a gente chega a fazer feijoada para 300 pessoas! O terreiro aqui é aberto. Estamos de braços abertos para esperar as pessoas de luz.

E as minhas almas santas benditas que sempre iluminem as nossas vidas e a todos os nossos caminhos.

Rua Valério, nº 9 (bairro Pirajá) Belo Horizonte - MG Telefone: (31) 3432-4624

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Ilê Wopo Olojukan

Foto: Acervo pessoal

Sou Sidney d´Oxóssi, atual babalorixá do Ilê Wopo Olojukan. A Casa, vinculada à tradição Yorubá (Ketu) e de patrono Oxóssi, é reconhecida como o primeiro terreiro de candomblé de Belo Horizonte. Foi fundada por Carlos Ribeiro da Silva, um baiano conhecido em BH por Carlos Olojukan, ou Carlos Ketu, que no início da década de 60 chegou de Salvador com um objetivo determinado: fundar o primeiro terreiro de candomblé da cidade.

Ele abriu as portas para a fundação de vários outros terreiros e sempre lutou pela valorização e promoção da identidade cultural dos praticantes do culto aos orixás. Todo seu trabalho resultou no tombamento da Casa como patrimônio cultural do município. E, para fazer jus ao título de patrimônio cultural, Carlos Olojukan iniciou um novo projeto: a criação do Centro Cultural Carlos Ribeiro da Silva, para que o terreiro fosse apropriado por toda comunidade afrodescendente de Belo Horizonte.

Mas, infelizmente ele não teve tempo de concluir este projeto e faleceu em 1997. Depois de cumprido o tempo de luto ao Sr. Carlos, assumi o trono, em 1999. Conduzo as atividades da Casa, exercendo o sacerdócio e suas atividades institucionais como bem cultural da cidade. Busco construir parcerias com organizações sociais e com o poder público para assegurar a promoção do patrimônio, tanto físico quanto simbólico do terreiro.

Nossa Casa organiza várias atividades, como palestras e atividades artísticas sobre cultura de matriz africana, cursos de gastronomia ligada aos orixás, visitas guiadas. Nossas principais cerimônias são: a Festa de Odé (Oxóssi), patrono do Ilê, em abril; Olubajé em agosto; Caboclo Jupiara em novembro; além das obrigações e celebrações dos filhos da Casa.

Rua Doutor Benedito Xavier, 2030 (bairro Aarão Reis) Belo Horizonte -MG Telefone: (31) 3072-4312

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Ilé de Iemanjá

Foto: Emília Siqueira

Meu nome é Djanira, sou conhecida como Mãe Deija. Sou ialorixá, filha de Iemanjá Ogunté. Quem fundou meu terreiro foi a Preta Velha que recebo desde criança, chamada Maria Conga de Moçambique. Ela foi o primeiro orixá a descer dentro da Casa. Só que ela deixou bem claro: – Estou fundando essa Casa para minha mãe Iemanjá; esta Casa é minha e de minha mãe Iemanjá. Então, ela me pediu para não colocar o nome dela na Casa, e sim do meu santo, que é Iemanjá, na qualidade de Ogunté. Por isso o terreiro é chamado Ilé de Iemanjá. O terreiro tem 51 anos e já passou por vários lugares, mas sempre mantendo o mesmo nome.

Tento integrar os adolescentes da região próxima ao terreiro, tirando-os da rua. Já consegui tirar muitos adolescentes das drogas.

Tento também, com o terreiro, uma maior aproximação com as causas negras para que a cultura afro-brasileira seja valorizada. Já estive representando o terreiro em Brasília nos 300 anos de Zumbi, e ajudei na organização das caravanas mineiras.

Durante o ano fazemos muitas festas, como as festas para as crianças, Festa de 13 de Maio (dia dos negros) e Festa do Caboclo. Nas festas convido outros terreiros para participar e também participo de eventos quando convidada.

Já estive no Congo, Nigéria e Angola. Fui para ter mais conhecimento, pois dentro dos santos sou uma ialorixá e quero me aprofundar na cultura afro para instruir e transmitir para meus filhos.

Praça São João Batista, 38 (bairro Santa Cruz) Belo Horizonte - MG Telefone: (31) 3624 2551

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Kwé Dansitonude

Foto: Acervo pessoal.

Meu nome é Jorge Alex dos Santos, conhecido como Jorge de Oxum, do Terreiro Kwé Dancitonude. Sou da nação de candomblé Jêje Mahin. Nossos orixás são Oxum, Bessem (nosso patrono), Sogbô e Azansu. As atividades nesta casa tiveram inicio em 15 de julho de 2010, quando a casa passou a ser reconhecida.

Eu comecei no candomblé no ano de 1989, após mudar de religião, pois eu era evangélico e senti necessidade de me afastar dessa religião. Foi quando me aproximei do candomblé. A primeira vez que fui ao candomblé eu passei mal, bolei, e tive que fazer santo. Eu fui feito no Rio de Janeiro, no dia 15 de janeiro de 1989, pelo pai de santo João Manuel Onorato, filho de Oiá. Permaneci com Pai João por 17 anos. Depois disso, já em Belo Horizonte, me liguei à Mãe Dilza Dalva Machado, que cuidou de minhas oferendas para meu santo. Sou descendente da Casa Seja Unde, por parte do meu pai de santo, e do Terreiro do Bogum, por parte da minha mãe de santo.

Nossas principais atividades se concentram no mês de novembro. São quinze dias seguidos de atividades. O primeiro sábado é dedicado aos Zandrós (louvação aos ancestrais pedindo permissão para o candomblé de domingo). Domingo, a oferenda é para os voduns: Bessem, Sogbô, Azansu; louva-se o santo do pai de santo. É época das pessoas da casa cumprirem todas as suas obrigações. No sábado seguinte faz-se o Polê, uma louvação aos Atinças (árvores sagradas) e ao Zandró do Boitá. No domingo há o Boitá, uma procissão de oferenda aos voduns (por volta das 17:00 h); após o Boitá começa o candomblé. Na terça-feira faz-se o Zandró a Aziri Tobos (divindade das águas). Na quarta-feira louva-se Aziri Tobos.

Rua Linhares, 125 (bairro Renascença) Belo Horizonte - MG E-mail: [email protected]

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Centro Espírita Ogumbejé

Foto: Virgínia Cá

Meu nome é Elmito Marques da Silva e sou conhecido como Marcos. Sou o fundador e o responsável pelo Centro Espírita Ogumbejé, onde também sou responsável por tocar e cantar para o santo. Organizo o centro junto com o Cambono, que é a pessoa que faz doutrinação e acende os cachimbos, o auxiliar de santo. Temos ainda os médiuns e os filhos de santo.

Aos dezesseis anos recebi o chamado do santo. Nesse tempo eu participava da Igreja Católica. A partir desse chamado, dei abertura ao centro, que teve sua inauguração em 18 de fevereiro de 1972.

Nossas festas acontecem nos meses de abril, agosto e setembro, com objetivo de ajudar ao próximo.

Sou o único responsável pelo centro devido à dificuldade de formar novos responsáveis para dividir a responsabilidade comigo. Não costumo frequentar outras casas, a não ser quando é festa de Iemanjá, na Lagoa da Pampulha, em agosto.

Temos as festas realizadas em abril, a comida tradicional da Casa Ogum para o povo. Em agosto, damos comida a Obaluaie, a pipoca para as pessoas, e a Manguza dos Eres, a comida de frango com quiabo, arroz e refrigerante. Em setembro temos a festa de Cosme e Damião, com a distribuição de balas, refrigerantes, pipocas de embalagem e bolos para adultos e crianças.

Considero o meu grupo uma expressão afro-brasileira, por termos a origem baseada na influência africana, que são os santos, os exus, o candomblé, o omolokô etc. Todos têm origem na África, apenas damos continuidade.

Rua Siderose, 112 (bairro Parque Pedro II) Belo Horizonte - MG Telefone: (31) 3415-8029

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Centro Espírita Pai Jobino da Bahia

Maria Martins Pereira. Foto: acervo da família

Meu nome é Rosane Benedita Pereira de Melo. Nosso centro foi fundado por minha mãe, a ialorixá Maria Martins Pereira. Ela nasceu em 1933, em Araçuaí, onde passou sua infância. Mamãe, desde nova, tinha visões. Via um índio pendurado no quarto com os pés balançando. Com 15 anos foi a um centro no Rio de Janeiro e desenvolveu-se na umbanda com o pai de santo Seu Joaquim. Nessa época, junto com vovô, mudou-se para Teófilo Otoni, onde conheceu papai.

Depois da experiência no Rio montou um quartinho em casa para receber seus muitos seguidores. Mudamos para Divinópolis e mamãe continuou com seu quartinho. Em 1973 papai estava doente e nos mudamos para Belo Horizonte. Alugamos uma casa no bairro Pompéia e mamãe queria ir além de seu quartinho. Dividindo com Luiz Amado, conseguiu um espaço no Horto, mas nesse mesmo ano mudamos para o bairro Maria Goretti, e o Centro veio junto.

Eu gostava de acompanhar mamãe em seus trabalhos e, com o Centro em casa, estava sempre por perto. Foi aqui que conheci meu marido, Eduardo Antonio de Melo, que frequenta o Centro desde adolescente. Mamãe faleceu há dois anos. Deixa saudades. Eduardo se preparou com mamãe para ser babalorixá e nós e mais dez médiuns seguimos o seu trabalho. Eu sou mãe pequena do centro.

Nossa força vem de Oxalá e Ogum. Cantamos para Oxalá, depois Ogum vem abrir os trabalhos. Pai Guiné é nosso guia, orienta nossos trabalhos e vêm para Eduardo. Nos reunimos duas vezes por semana: no sábado é umbanda e no domingo pela manhã os participantes se concentram em aprender a doutrina do espiritismo. Comemoramos as festas de Oxóssi (janeiro), Ogum (abril), dos Pretos Velhos (maio), de Nanã (julho), de Iemanjá (agosto), Ibeji (setembro), Iansã (novembro) e Obaluae (dezembro).

Rua Maria das Graças, nº47 (bairro Maria Goretti). Belo Horizonte - MG Telefone: (31) 3436-6052. E-mail: [email protected]

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Casa Espírita Discípulos do Pai Eterno

Foto: Felipe Moreira

Sou a ialorixá Mãe Marlene de Gantois, filha de Mãe Menininha de Oxum. Aprendi com minha mãe que se me pedem ajuda, devo ajudar. Os orixás querem ver todos bem. Após muitos anos de luta para construir, tijolo a tijolo, minha casa, aqueles que aqui buscam fé e amor terminam por encontrar. Assim aprendi em Salvador, assim prossegui. Sigo a tradição de minha Mãe Menininha: minha casa está aberta e acolherá como puder.

Não distingo os santos nem as pessoas, desde que bem intencionadas. Não há dinheiro que compre minhas boas intenções, não há quantia que me faça querer mal a alguém.

Sou bem vivida, obstinada, viúva e mãe, independente e solidária, e minha casa é como eu, edificada com luta. Atendo figuras influentes em nossa sociedade e até o mais desconhecido transeunte. Oriento e acolho quem precisar. Realizo curas espirituais, jogo de búzios, terapias radiestésicas, festas anuais dos santos, oficinas de pintura. As sessões acontecem todas as segundas-feiras, a partir das 20h. Temos também um espaço de creche comunitária, sessões de massoterapia, cursos de bordado, oficinas de culinária e auxílio à alfabetização.

O Centro sobrevive com as doações dos que aqui frequentam e dos bem intencionados, sempre cabendo mais um. Já apareci em inúmeros jornais de época falando sobre a paz de Jesus e aconselhando as pessoas a serem calmas. Hoje participo da Rádio Tropical, todos os sábados, a partir das 13:30 h. Minha casa já venceu o prêmio Top of Mind: Serviços Sociais 2005-2006, prova de reconhecimento de nossas boas ações.

Sou filha de Oxumaré e, como meu orixá, é preciso estar em movimento, por isso estou ampliando o terceiro andar da casa, para que possamos continuar trilhando o bem. Se Oxumaré parar de se movimentar, o mundo também para. E a Casa Espírita Discípulos do Pai Eterno quer prosseguir sempre em direção a boas energias.

Rua Ismênia Tunes, 133 (bairro Horto). Belo Horizonte - MG Telefone: (31) 34676270. E-mail: [email protected]: HTTP://www.maemarlenedegantoise.blogspot.com

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Casa Espírita Pai João de Aruanda

Foto: Acervo pessoal

Sou Mãe Cecília, sou mãe de santo, zeladora e benzedeira no terreiro Pai João de Aruanda. Sou também rainha perpétua da Guarda de Congado de Nossa Senhora do Rosário Estrela de Davi, situada em Justinópolis.

Fui iniciada no candomblé Angola, mas foi na umbanda que me desenvolvi. Frequentei muitos terreiros, porém percebi que várias coisas não me agradavam. Até que um dia, estava reunida em casa com minhas amigas, era dia de São Sebastião (Oxóssi), e não tínhamos nenhum local pra ir. Resolvi pegar um tambor de água, virei-o e fizemos um altar. A partir daí passamos a nos reunir com bastante frequência e decidi registrar o terreiro. Começamos as atividades em 1988 e o terreiro foi registrado em 1991. Desenvolvemos pouco a pouco.

Ser mãe é muito bonito, saber que o orixá te escolheu é gratificante. Eu quis fundar a Casa porque fui cobrada, minha bisavó era da África, não tinha nem documentos, foi escravizada. A gente busca aqui celebrar os orixás, nos lembrar dos nossos antepassados que foram escravizados e manter a religião e cultura que é nossa. Ninguém me ensinou, e por isso considero que seja um chamado.

Em nossa comunidade temos cerca de 104 participantes, 44 filhos e o restante visitantes que frequentam regularmente. Realizamos eventos abertos à comunidade externa: aos sábados, tocamos para pomba gira e às segundas realizamos o toque normal. Toda primeira segunda feira do mês, a casa toca para Obaluaê (meu pai), conforme a tradição do candomblé Angola.

Cultuamos o bem, o amor ao próximo, o respeito, não fazemos mal a ninguém. Eu me sinto honrada em poder ajudar as pessoas, através de uma reza, de um trabalho. Quando benzo, por meio de uma comida servida ao orixá, as pessoas me agradecem e dizem: agora graças a Deus está tudo bem. Sou grata pela graça de Zambi. Mantemos a cultura africana e brasileira e por isso celebramos duas festas, de Preto Velho (13 de maio) e a festa de Erê (27 de setembro).

Rua Antônio Marcos da Cruz, 536 (bairro Rio Branco, Venda Nova). Belo Horizonte - MG Telefones: (31) 3453-4374/3453-7269

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Kwê Zoorodê

Foto: Ana Carolina de Oliveira Costa

Meu nome é Norcélia de Oxum. Fui iniciada no santo há 36 anos, no ano de 1977 e sou filha de Oxum com Ogum.

Meu primeiro zelador foi o finado Maurílio do Ogum. Na época eu estava com 18 anos e estava com vários problemas de saúde, que já vinham desde a minha infância. Oxum queria que eu fosse iniciada, mas meus pais carnais não aceitavam.

Após a caída do quelê, fui para casa do meu avô de santo, o finado Luiz Mangueira, onde fiquei por dez anos. Logo depois fui para a casa do finado Nono do Oxóssi, onde terminei minhas obrigações.

Em 2002 abri minha casa de santo Kwê Zoorodê, onde meu finado Pai Nono, que ainda estava vivo, plantou o axé.

A casa foi aberta no terreiro em que moro e sempre pude contar com a ajuda dos meus familiares carnais e filhos de santo.

As principais festas que a casa faz são as de Xangô, comemorada em junho, a de Erê, em setembro, e a de Oxum, em novembro. Estas são as festas que envolvem uma maior preparação dos rituais e da festa para o público.

Durante toda minha vida o que me mantém de pé é o amor e o respeito que eu tenho pelos orixás. E por isso busco constantemente sabedoria dentro do que faço e dentro do que sei.

Rua Baviera, 353 (bairro Cachoeirinha) Belo Horizonte - MG Telefone: (31) 3422-1625 E-mail: [email protected]

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Terreiro Pai José do Rosário

Foto: Acervo pessoal

Meu nome é Tânia Moreira. Sou a Ekedi Teni de Oxumarê do Terreiro Pai José do Rosário, fundado em 1970 e situado na rua Pedro Vicente, 63. Fui iniciada em 1993 como Ekedi Teni. Sou uma das responsáveis pelo terreiro, mas tenho duas irmãs que também fazem parte. Nós o herdamos da nossa mãe, Ilda de Oxóssi. Quando ela fundou o terreiro, era umbanda, mas logo depois ela se iniciou na nação Jeje e posteriormente na nação Ketu, em que também fomos iniciadas.

Minha iniciação se deu logo após a morte da minha mãe, quando foi feito o xirê pelo pai de santo. Quando ele jogou, foi-nos revelado que eu, junto com minhas irmãs, deveríamos dar continuidade ao trabalho dela, com todo respeito a tudo e a todos, e vamos fazer isso enquanto os orixás nos permitirem e nos derem força e saúde para gente continuar a obra dela.

Meu pai de santo foi filho de santo de minha mãe. Ele se chama Gerson do Oxóssi. Sua iniciação foi neste terreiro. Sinto-me muito grata por todas as bênçãos e graças que recebo.

Não me considero melhor do que ninguém, porque eu acho que nesse meio nós temos que ser uma família e se todos pensarmos assim nós nos tornaremos uma família sem preconceitos, sem brigas, sem uns querendo ser melhores que os outros.

Espero que com este trabalho nós possamos nos unir e nos tornar uma nação grande. As principais festas que acontecem no nosso terreiro são as festas de Oxóssi, de preto velho, de erês e as obrigações de santo. Atualmente estamos em reforma, mas quando for concluída haverá uma grande festa, a da entrega do deka de Juliana Moreira, com fé em todos os orixás!

Rua Pedro Vicente, 63 (bairro Universitário) Belo Horizonte - MG Telefone: (31) 3441-6336

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Centro Espírita Pai Mateus de Angola

Foto: Luiz Divino

O meu nome é Ivanildo Cassimiro. Sou homossexual, conhecido como Ivani. Eu sou casado há 20 anos, vivo muito bem na minha religião e trabalho honestamente na umbanda. Antes, quando eu tinha uns 15 anos, eu era, como se diz, do mundo. Eu não gostava e não aceitava o espiritismo. Mas a partir do momento em que fui visitar um terreiro de umbanda com uma amiga (o terreiro da Vitória, que ficava perto de minha casa), comecei a sentir muitas vibrações espirituais. Com isso, eu me senti muito bem.

Desse momento em diante, eu entrei na gira espiritual. Ou seja, entrei no desenvolvimento para receber as guias, as entidades. Inclusive, nessa época, há uns vinte anos atrás, a minha sobrinha Ariana, que era uma menina ainda, estava muito doente. Por meu intermédio, numa encarnação do Preto Velho, ela foi curada. Posso dizer que esse fato foi um milagre e foi muito importante para a minha entrada definitiva no espiritismo e para a fundação de meu terreiro.

As entidades do meu terreiro, Centro Espírita Umbanda Pai Mateus de Angola, são do bem. São elas que nos alertam sobre as coisas. São elas que nos salvam. Mas, para isso acontecer, basta que tenhamos fé em Deus, pois Deus vem em primeiro lugar. Depois vêm as entidades.

Eu quero dizer que trabalho com honestidade, com o coração aberto. Além disso, faço caridade e trato as pessoas de forma igual, independente da classe social. Por fim, quero dizer que me casei na umbanda e me sinto muito feliz no espiritismo.

Rua Cruzeiro do Sul, 807 (bairro Cardoso, Barreiro de Cima). Belo Horizonte - MG Telefones: (31) 3387-1004; 8768-1877; 9646-6954 Blog: http://centroespiritapaimateusdeAngola.blogspot.com.br

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Centro Afro Brasileiro Nzo Atim Oiá Oderin Atim Katispera

Foto: Acervo pessoal

Meu nome é Sidney, sou o Pai de Santo Odé Cidogy do Centro Afro Brasileiro Nzo Atim Oiá Oderin Atim Katispera. Esse nome vem de nossa ascendência – o pai João da Gomeia. Todos nós somos conhecidos como Povo da Gomeia. Ele dizia que onde ele morava existia um pé de katispera e que todos nascidos daquela casa voltariam para lá um dia.

O terreiro já teve outro nome (Templo Umbandista Rainha Iansã). Foi criado em 1978, pela minha mãe Dona Maria da Conceição, Mãe Mavulegy, nascida em Montes Claros. Ela veio para Belo Horizonte em 1971 com a mediunidade na umbanda e começou como benzedeira. Em 1991, Mavulegy iniciou-se no candomblé, passando a partir daí a zelar, preservar e cultuar os inkises e a nação Angola Moxicongo, juntamente com a umbanda.

A casa foi reinaugurada como Angola em 1999 e hoje tem 110 participantes (os muzenzas) e sua diretoria.

A casa tem festas o ano inteiro como, por exemplo, festa de Ogum (abril), festa de Preto Velho, do Rosário (maio), festividade do dono da Casa Mutakalambo e Kukuana (agosto), festa de Erê, São Cosme e Damião (outubro), Comida aos Ancestrais (novembro), festa da dona da Casa, Nguru Zemula (Matamba), festividade das águas Dandalunda, Kaiala Kunqueto (festa das mulheres), e festividade do Exu da casa (dezembro) na matriz, um sítio em Juatuba.

Também, trabalhamos com cursos sobre religião afro-brasileira, linguagem, origem da família, tradição, e temos projetos sociais – distribuímos cestas básicas e atuamos no combate às drogas.

Rua Ribeirão Preto, 24 (bairro Piratininga, Venda Nova) Belo Horizonte - MG Telefone: (31) 87468575 E-mail: [email protected]

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Ilê Axé Omi Ogunsade

Foto: Acervo pessoal

Meu nome é Andréia de Oyá, sou mãe de santo da Casa Ilê Axé Omi Ogunsade que significa “Casa da Força das Águas da Rainha que Ogum Criou”.

Nossa história começa em 2001, quando Oxum, manifestada na Mãe Ivone de Oxum, minha mãe biológica, disse que aquele ano seria o último para ela construir a casa de candomblé e que essa era a sua vontade. A mãe me disse o seguinte: – Eu vou montar o candomblé, mas no dia em que eu botar uma yaô de Oxum, eu me sinto em paz com Oxum; eu vou viver minha vida e você vai tocar o candomblé.

Ela então inaugurou a Casa em 15 de junho de 2002 e em 2003 colocou uma yaô de Oxum e uma yaô de Oxalá e veio a falecer pouco tempo depois. Após seu falecimento, em 2004, a Casa ficou fechada e em luto até 2006, quando me tornei a mãe de santo da Casa, aos 33 anos. Minha mãe de santo é Ana de Ogum. A partir daí tornei-me responsável pela Casa, construindo e refazendo os passos de minha mãe.

Dividem a diretoria, Oxum, que inaugurou a Casa, e Iansã, a herdeira. Temos muitas entidades que dançam em nossos filhos.

Acontecem várias atividades durante o ano, como as Águas de Oxalá (janeiro), festa de Exu, a festa de meu Pai Ogum, comemorada junto com a de Oxóssi (abril), a festa de Omolu com a de Nanã, Olubajé (todos os santos), Oxum e Iansã (novembro, festa maior das donas da Casa). Ocorrem também as obrigações, iniciações, atendimento ao público e a cerimônia de Amalá, todas elas voltadas para manter vivas as tradições religiosas e culturais afro- brasileiras.

Rua João Magela Luz, nº163 (bairro Céu Azul). Belo Horizonte – MG. Telefone: (31) 30770261. E-mail: [email protected] Site: http://casadecandomble.com.br

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Centro Espírita Ogum Megê

Foto: Geise Pinheiro

Sou Yalorixá de Inkise Laura de Ogum, sou filha de Ogum, guerreiro e vencedor de demanda. Tenho 27 anos de feitura. Sou fundadora do barracão (como é chamado o terreiro no candomblé) Centro Espírita Ogum Megê, criado há 25 anos. O pai pequeno do meu terreiro é Carlos de Ogum, filho de Catulembá da Casa de Inkise de Angola. Juntos estamos vencendo as dificuldades financeiras e os preconceitos. Trabalhamos com seriedade para ampliar e valorizar o entendimento espiritual de nossa nação.

Nosso principal desafio é preservar nossa história e ensinar os fundamentos do candomblé. A minha luta é ensinar, orientar, mostrar realmente o que é o candomblé, o que são realmente as entidades africanas, as zuelas, o dialeto orubá (nosso pai pequeno prefere essa grafia), pois temos que preservar as origens africanas presentes em nossa nação.

Toda nação tem seu respeito. Toda nação tem seu valor. Somos da nação de Angola, de raiz Bate Folha. Os principais orixás e entidades que baixam no nosso barracão são: Ogum Megê; Oxum Opará; Preto Velho Pai Mateus; os caboclos; os exus da Casa (Tiriri e Maria Padilha) e a Pomba Gira Malandrinha, dentre outros.

Todos aqueles que quiserem conhecer nosso barracão estão convidados. Nossas reuniões são realizadas todas as terças e quintas das 19 às 22 horas. Também fazemos jogo de búzios, cartas e atendimento individual. Entre as festas realizadas temos a festa de Ogum, em 16 de julho, Pretos Velhos em 13 de maio, São Cosme e Damião em 27 de setembro e Exu da Casa em novembro. Estamos abertos para receber os interessados.

Mucuiú n'Zambi para todos!

Rua Jequiriça, 112 B (bairro Concórdia). Belo Horizonte - MG Telefones: (31) 8332-3202/8473-3517 E-mail: [email protected]

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Centro de Irradiação Espírita Umbandista Mãe Maria Conga

Foto: Felipe Moreira

Sou Mirian Guedes Pires, Mãe Luanderê. Venho de uma raiz católica. Dizem que é comum entrar na umbanda pelo caminho da dor, o que foi o meu caso. Passando por uma fase difícil (a falência de uma loja que possuí no passado), fomos até a Casa de Pai Joaquim, recomendados por um amigo, buscar ajuda. No início era meu marido que frequentava, pois eu relutei bastante, até que por fim comecei a gostar. As coisas foram acontecendo e, sem sentir, já estava montando minha Casa. Pai Joaquim me deu todo o apoio, me ajudou e me segurou até que eu pudesse caminhar com os próprios pés. O Centro, hoje registrado formalmente em cartório, surgiu no final de 1988.

Apesar do meu dia a dia ser na umbanda, fui também raspada no candomblé. Possuo ambas ramificações. Pelo fato de vários médiuns que entravam na Casa precisarem fazer suas obrigações, querendo fazer santo, eu precisei plantar os fundamentos para a Casa como a casa de exu, as camarinhas de santo, casa das almas etc. Mas os fundamentos, o culto aos orixás é basicamente o mesmo, e aqui cultuamos nove no total, de Ogum a Oxalá, sendo Ogum o meu santo.

Dirijo a Casa com a ajuda dos ogãs, ekedes, iaôs, pais pequenos e as abiãs; meus babalorixás e ialorixás aparecem quando é dia de festa. No mês de maio celebramos a festa do Preto Velho, em junho celebramos o meu Ogum. Em setembro ou início de outubro é a festa de Cosme Damião. Em dezembro celebramos a festa das Yabás e em agosto a festa tradicional de exu.

A minha umbanda é a minha rotina, é minha raiz, foi onde me iniciei, é minha origem, e tal como ela, também tenho elementos misturados. A própria umbanda é essa mistura, pois significa “uma banda”. Seu nascimento se deu nos terreiros dos senhores de engenho e a umbanda buscou reunir todos eles, desde Jeje até Ijexá.

Rua Maria Césarea Moreira, 325 (bairro Céu Azul). Belo Horizonte - MG Telefone: (31) 3031-2245. E-mail: [email protected]

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Centro Espírita de Umbanda Omoluaruaru

Foto: Poliana Vasconcelos Xavier

Meu nome é Sandra de Melo. Sou Mãe de Santo do Centro Espírita de Umbanda Omuluaruaru, que foi fundado por mim na década de 90. Nossa linhagem na umbanda é Omolokô, um pouco de todas as nações. Eu sou nascida e criada no Evangelho. Eu não tinha participação nenhuma com santo. Por motivos de doenças e outras coisas que foram acontecendo comigo, eu passei para a religião espírita.

Primeiro eu frequentei o Centro de Mesa, até passar para a umbanda. Quem fez a minha feitura de santo foi a Oxokibó Dandalunda, filha de santo do falecido Antônio Pereira Camelo. Oxokibo Dandalunda é filha de Oxalá e Iemanjá, e mãe de santo no Centro Espírita de Umbanda Yaobakao. Então, ela me recolheu e deu a feitura do meu santo. Eu devo a ela tudo o que eu tenho, pois é a minha mãe de santo. A ela e a meus orixás. Sou muito feliz por isso.

O Centro Espírita de Umbanda Omuluaruaru é Obaluaiê, o São Lázaro, o dono da cura. Atualmente, nós contamos com cerca de 35 pessoas envolvidas no terreiro, entre ogãs, filhos de santo, mãe pequena, médiuns e as pessoas que chegam para assistir. As principais atividades da Casa são as sessões abertas ao público, às quintas-feiras, e as festas em homenagem aos orixás. As principais são Oxóssi em janeiro, Iemanjá em fevereiro, Ogum em abril, festa dos Pretos Velhos em maio, Exu em junho, Nanã em julho, Obaluayê em agosto, Erê em setembro, Iansã e Oxum em dezembro. Além disso, a Casa realiza trabalhos particulares. Eu coloco cartas, búzios, tarôs, faço obrigações e feitura de santo.

A umbanda fez e faz muito bem na minha vida. É preciso ter muita fé em Deus e em todos os orixás para aguentar tanta humilhação, porque existe muito preconceito em relação ao mundo dos espíritos. O problema todo da espiritualidade é o preconceito. É como se diz, o lado da espiritualidade não tem aceitação. Eu não queria, mas parece que as pessoas tem medo de mim.

Rua do Campinho, nº 175 (bairro Vila Maria, Jardim Vitória). BH - MG Telefone: (31) 3493 1469

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Rupami Ayoni Jiboni

Foto: Júlio César

Meu nome é Aristóteles Nery Soares, sou conhecido como Doté de Ode, Pai Doca. Sou sacerdote da nação Jeje Mahin na Roça Rupami Ayono Jiboni, descendente da casa Rupami Ayono Runtologi.

No começo, minha casa se chamava Casa Doca de Odé. Para dar seguimento às tradições, mudei o nome para o atual. Muitas pessoas estranham quanto digo que sou Jeje Mahim, afinal, em Belo Horizonte, nossa nação não é tão conhecida como outras.

Comecei na umbanda com 8 anos e aos 12 anos iniciei-me no candomblé por Joãozinho de Iansã e João de Ogum. Após o falecimento deles dei continuidade às obrigações com Doné Dalva de Bessém, filha de santo de Luíza Franquelina da Rocha, mais conhecida como Gaiacu Luíza.

Minha ascendência tem seu axé plantado na cidade de Cachoeira e São Felix, no Recôncavo Baiano. Abri minha casa no ano de 1979 e desde essa época tenho sido muito feliz e dei seguimento à minha nação com 23 filhos – muitos, inclusive, com casas abertas em Belo Horizonte e Brasília. Dessa forma, às vezes, tenho que fazer diversas viagens para dar obrigação a meus filhos e também orientação espiritual, aconselhamento sobre a manutenção da casa, indo a São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília constantemente.

Fazemos questão de guardar com zelo e carinho os voduns de nossa nação. No mês de agosto realizo uma das festas mais importantes de minha casa: Andé de Azansun, aberta à comunidade. Em outubro, desde 1975, ano de minha feitura no santo, realizo a obrigação do meu santo com evento fechado. Os eventos abertos contam com boa acolhida da comunidade do entorno e mesmo da cidade.

Rua Jutaí, 3 (bairro São Geraldo). Belo Horizonte - MG Telefone: (31) 3077 2040

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Centro de Irradiação Nossa Senhora do Rosário de Fátima

Foto: Arquivo pessoal

Meu nome é Jairo Ribeiro Lopes. Sou o pai de santo do Centro de Irradiação Nossa Senhora do Rosário de Fátima. Tenho 42 anos de terreiro. Eu e minha mãe frequentávamos o Centro de Irradiação Espiritual São Judas Tadeu, onde fomos iniciados. Eu fiquei um pouco fora até que constatei a entidade chegando e falando o nome, que é o Pai Benedito. Depois várias outras entidades se manifestaram. E com os ensinamentos da Mãe Nanã, que é do Centro de Santa Bárbara Virgem, e outros adeptos da religião, eu aprendi os fundamentos. Em 1982, eu e minha mãe fundamos o nosso centro, que hoje tem três gerações unidas: pais, filhos e netos. Cerca de 40 pessoas participam do terreiro, entre pai de santo, ogãs, filhas de santo, pai pequeno, mãe pequena, médiuns e outros participantes assíduos da casa.

A principal atividade do centro é receber o público que toma passe e conversa diretamente com as entidades. Além disso, nós fazemos os trabalhos que são pedidos pelas entidades e realizamos várias festas de orixás. Nós começamos assim: Oxalá em dezembro, Oxóssi em janeiro, Iemanjá em fevereiro, Ogum em abril, festa dos Pretos Velhos no dia 13 de maio, Exu em junho, Ogum também no dia 13 de junho, Iemanjá de novo, dia 15 de agosto, Obaluaiê em agosto, Erê, dia 27 de setembro e Xangô (que é o meu orixá) no dia 30 de setembro, Iansã, dia 4 de dezembro, Oxum no dia 8 de dezembro e Omulu, dia 16 de dezembro. Depois nós voltamos novamente com as festas. São duas festas de Iemanjá, porque no dia 2 de fevereiro nós comemoramos Iemanjá e é também o dia em que nós abrimos o Centro. É Iemanjá e a abertura da Casa!

O axé do terreiro é marcado pela força das orações. É um terreiro bem democrático, frequentado por todo tipo de pessoa. O meu terreiro é ecumênico. No meu caso, como pai de santo, além de coordenar as cerimônias e as festas, eu tenho que receber a todos como filhos e ensinar o que for melhor para eles. Nesse processo de conhecimento, quase tudo é falado. Não tem quase nada escrito. A gente fala, faz e deixa a herança para os filhos de santo. Vamos contando histórias e os outros vão guardando. Então, essa é a minha linha no terreiro, ensinar, explicar e aprender com os novos.

R. Antônio Eustáquio Piazza, nº 3207 (bairro Tirol). Telefone: (31) 3382-7204

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Terreiro Oca Tupinaré

Foto: Arquivo pessoal

Eu me chamo Raquel Maria de Paula Reis. Tenho a dijina de Zumbaquenãn, mas sou conhecida como Zumbá. Sou a zeladora do Terreiro Oca Tupinaré Umbanda e Candomblé. Adoro essa maravilhosa religião. Através dela, venho conquistando vitórias, muitas, que eu nem imaginava alcançar. Por isso, não a troco por nada, apesar dos tropeços que já tive. Eu não abandono nunca meus inkises (meus santos) e nem minhas entidades. Eles me ajudam muito.

Agradeço muito meu finado zelador, Lodeci, do Terreiro de General Carneiro, do qual participei durante 18 anos. Foi ele quem me iniciou e me ensinou o pouco que sei da vida espiritual. Penso que a gente não sabe nada da vida, está sempre aprendendo. Eu considero isso também um aprendizado. Agradeço também a minha família, que me apoia e me ajuda muito.

Foi o Caboclo Tupinaré, acompanhado dos demais guias, que abriram o candomblé. Eles, que me acompanham todos esses anos, me orientaram e instruíram para que eu abrisse o meu terreiro em 2008. O terreiro, que tem o nome do caboclo, está aberto a todos. Nós realizamos muitas atividades em nossos encontros, que acontecem às segundas-feiras à noite. Realizamos também, ao longo do ano, as festas comemorativas do candomblé.

Quero reforçar que foi o caboclo e os guias que me deram forças para conquistar as coisas que almejo há muito tempo e até as que nem pedi. Muitas vezes, a gente não sabe o que pede, mas as entidades sabem. Por isso, eu sou muito grata às entidades – todas elas. São elas que me dão a sabedoria para caminhar sempre forte. Elas que sabem do que precisamos. Eu espero, com sinceridade, que as entidades continuem sempre comigo, com o meu terreiro e com as pessoas que o ajudam, apoiam e o visitam, para que eu possa sempre continuar trabalhando com força e sabedoria.

Rua B, 238 (bairro Santa Cruz, Barreiro de Cima). Belo Horizonte - MG Telefones: (31) 3381-9684 / 9601-3664 E-mail: [email protected]

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Centro Religioso e Cultural Áfrico-Brasileiro Logun Edé

Foto: Arquivo pessoal

Meu nome é João Bosco Arabeken do Candomblé, também conhecido como Benzedor. Sou coordenador e responsável pelo Centro Religioso e Cultural Áfrico-Brasileiro Logun Edé.

Minha mãe era católica praticante e devota de Santa Rita. Quando menino, vivia desmaiando, sentindo muitas dores de cabeça e os médicos diziam que era problema de cabeça; me receitavam remédios, mas nada curava. Até que um dia, Dona Maria, uma senhora conhecida de minha mãe e umbandista, afirmou que meu problema não era de médico e sim espiritual. A partir daí, apesar de minha pouca crença, fui entrando e conhecendo este caminho.

Fui benzido sempre, até me iniciar, há 38 anos, pelo meu pai de santo, Pai Simão, em Nova Vista. Lá, também fui iaô, recebi meus direitos e abri minha Casa no bairro Água Branca.

Transferi o terreiro para cá, pois com a doença da minha mãe, ficava difícil ir e vir, e mudei o nome para o atual. Os participantes são muitos, começando pela Celinha, Célia Gonçalves, makota – é uma das mais velhas; Elza Bibiano, ebômi; Eliete, makota; Cleide, iaô... São muitos, até eu lembrar todos!...

As festas são realizadas ao longo do ano com destaque para Águas de Oxalá, em janeiro; Oxóssi, em abril; Ogum, em junho; Obaluaiê, em agosto; Logun Edé, em outubro; Iabás, em dezembro.

Vem muita gente nas minhas festas. Vizinho é mais difícil; vem mais gente de fora do que daqui de perto. O nosso público vem de vários lugares e de todas as classes sociais.

Rua Abelardo Chacrinha Barbosa, 25 Conjunto Túnel de Ibirité (bairro Tirol, Barreiro) Belo Horizonte - MG Telefones: (31) 3384-9988/3332-3200

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Ilê Rumpami Geleci

Foto: Júlio César

Sou Ronie Pereira, Dofono de Oyá no Ilê Rumpami Geleci. Dou destaque à nação Jeje em minha Casa, mas não me esqueço da força dos orixás. Sou filho de Mãe Wanderlúcia da Casa de Odé Cican. Descendo com muito orgulho de João do Ogum desde 1989 e me esforço para perpetuar a força desse axé.

Não é sempre que o trabalho em minha Casa está ligado ao candomblé. Trabalho com sessão de umbanda desde 1995 e com atendimento espiritual e divulgação cultural de minha herança africana. Oriento meus filhos de santo a estudarem a história dos negros e negras no Brasil e na África para que possam conhecer a origem de sua vida e o porquê de nossa religião ser ao mesmo tempo tão bonita e tão perseguida. Aponto para meus filhos e filhas que o norte a ser buscado não deve ser somente a sabedoria do candomblé. Devemos obter conhecimento da história para que nossa estima não seja diminuída.

Em relação às festividades e eventos de minha Casa, realizamos diversas festas. Algumas são de umbanda e outras são de candomblé. Na umbanda minha Casa se chama Casa de Maria Padilha e realizo festas para as entidades regularmente, tais como para Exu, Preto Velho, Caboclo de Pena e Boiadeiro. Também sou membro da Guarda Moçambique do Divino Espírito Santo, sou coroado Rei Perpétuo de São Sebastião e, em razão disso, promovo a Festa de Nossa Senhora do Rosário, momento em que ergo um altar em minha Casa, dando seguimento à força da tradição. No candomblé minha grande festa é o Olubajé, no mês de agosto, e observo com rigor a execução desta grande comemoração.

Minha Casa possui fortes laços com o trabalho comunitário e artesanal. Também sou artesão. Trabalho com modelagem, restauração e pintura de imagens sacras de gesso e madeira.

Rua Padre Marcos Guabiroba, 120 (bairro Goiânia B) Belo Horizonte - MG Telefone: (31) 3082 0304

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Tenda Espírita Xangô Airá

Foto: Eduardo de Mancilha

Eu, César de Odé, juntamente com Mãe Maria de Xangô, somos os líderes espirituais da Casa Tenda Espírita Xangô Airá. Sou zelador de santo da Casa e adepto do candomblé há mais de 45 anos. Fui raspado pela Doné Wanderlúcia de Odé Cican, filha de João de Ogum, filho de Tata Fomotinho. Nosso espaço é pequeno e humilde, mas pleno em espiritualidade, com uma história de tradição que se inicia por volta de 1950 e se reinicia com a refundação da Casa por Mãe Maria em 2005.

Nosso caminho é a umbanda. Cultuamos entidades como Preto Velho, Boiadeiro, Marinheiro, Baiano, Exu e Caboclo – povo ancestral que fundou nossa religião. Também tocamos em outras linhas, pois qualquer orixá aqui é bem vindo e merece nosso respeito. Por isso, caso o pessoal de santo vire para inkises, voduns ou orixás, nós estamos abertos para louvar aquela divindade que se manifestou.

Assim, se tivermos o privilégio de receber divindades da nação Angola, a gente canta Angola, se forem Keto, louvamos Keto, se forem Jeje, veneramos Jeje. Agregamos em nossos cultos diferentes matrizes religiosas africanas. Além disso, realizamos as festas tradicionais ao longo do ano, como por exemplo, em 29 de julho para Xangô e 20 de janeiro para Oxóssi.

Nós realizamos os toques de portas abertas ao público, todas as quintas-feiras, de 20h às 22h30. A Casa é composta por volta de 10 a 15 pessoas, entre filhos de santo e médiuns que nos ajudam nos rituais e limpezas. Caso ninguém possa me auxiliar nas sessões, eu mesmo passo para lá, canto, toco e vou fazer o culto. Não me prendo em hierarquia.

Para mim, o importante é o iniciado e seu orixá, ou melhor, o seu ori, enquanto conhecimento, morada do espírito e fonte primária de energia. Ko si Òòsà ti i dá´ni gbè léhìn Orí eni: nenhum orixá abençoa uma pessoa antes de seu ori.

Tudo que aprendi foi com amor, pois umbanda e candomblé é isso: fé, pureza e caridade.

Rua Monte Alegre,1050 (bairro São Lucas). Belo Horizonte - MG Telefones: (31) 3282 6813/9834 5335. E-mail: [email protected]

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Centro Espírita Caboclo Sete Liras do Mar

Foto: Guilherme Abu-Jamra

Me chamo Hélio Motti, e minha esposa Maria do Carmo de Freitas Motti. Estamos na umbanda há 30 anos, e eu mais, pois estou com 77 anos e comecei com 16 anos. Quinze anos após nos casarmos, ela começou. Ela tomou conta do Terreiro da Mãe Doxi, na Rua Olintho Magalhães, por três anos, quando Mãe Doxi esteve doente.

Quando ela veio a falecer, minha esposa abriu um terreiro, em 1989, primeiramente chamado Núcleo de Assistência Espiritual Sete Liras do Mar, agora chamado Centro Espírita Caboclo Sete Liras do Mar, onde estamos até hoje, trabalhando em prol da nossa umbanda.

Hoje minha esposa realiza o desenvolvimento mediúnico e as sessões de trabalho e meu filho, Humberto, é o presidente. Trabalhamos seriamente, sem mistificação, da melhor maneira possível.

Nosso terreiro é muito bem frequentado, graças a Deus, e vamos continuar até o dia que nosso Pai nos der oportunidade de ficar aqui na Terra. Assim que nós partirmos, eu não sei se alguns dos médiuns, ou meus filhos e minhas netas, se algum deles desejará continuar com o terreiro... isso é o futuro que dirá.

No mais, ele está situado na rua Rio Casca, número 324, no Carlos Prates. O nosso culto é umbanda omolokô angola com as almas. Aqueles que quiserem nos visitar nos darão muito prazer, – as portas estão abertas. As sessões nossas são às terças-feiras, de 19h30 a 22h, e as sessões de trabalho são às quintas-feiras, das 16 até as 21 horas. No mais, agradeço a todos, e muito obrigado por essa oportunidade.

Rua Rio Casca, nº324 (bairro Carlos Prates) Belo Horizonte - MG Telefone: (31) 3375–7614

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Roça Bakisso Ki Inkissy

Foto: Julinéia Soares da Costa

Eu sou Edineuza Porto Santos, makota da Casa da Roça Bakisso Ki Inkissy, a antiga Tenda Espírita Ilê dos Orixás. Conheci o Pai Rodrigo quando ele tinha 10 anos. Nós nos perdemos um do outro, mas nos reencontramos 10 anos depois, quando abrimos a Tenda. Eu aprendi muito com ele, mas a maior parte do que eu sei sobre o mundo espiritual aprendi quando estava completamente sozinha no mundo. Eu deixei o mundo lá fora e deixei os orixás falarem comigo!

O pessoal falava que o mundo espiritual era “diabólico”, mas eu descobri na Bíblia que não era. A história de Ruth, Maria e Raquel é igualzinha à história de Oxum, Iansã, Xangô, Ogum. Os orixás estão na Bíblia! A religião é uma só, ela só muda de cultura. Só muda de língua. Se eu for para a Alemanha, eu vou ter que falar alemão. Se eu for para outro país, eu vou falar outra língua.

A Roça tem um equilíbrio muito grande. Todo mundo que entra aqui tem um equilíbrio. Mas eu costumo falar com o pessoal: – você melhorou porque teve fé e chegou no tempo certo de melhorar. Porque o pessoal imagina que só o trabalho melhora e não precisa ter fé. Tem que ter a fé. Primeiramente em Deus. E depois nos orixás.

Aqui é tudo muito bom para mim. Eu procuro transmitir o máximo do que posso às pessoas que vêm aqui e que precisam do mundo espiritual. Essas pessoas costumam achar que estão me incomodando... Mas eu penso que, na verdade, elas estão me equilibrando na Terra.

Rua Bernardo Cisneiro, 455 (bairro Bom Jesus) Belo Horizonte - MG Telefone: (31) 3422-8721

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Centro Espírita Pai Xangô

Foto: Isabel Lima

Sou ialorixá Nilza de Xangô, mãe do Centro Espírita Pai Xangô.

Eu fui iniciada há 36 anos, no Centro Espírita Maria Conga.

Sou filha da ialorixá Efigênia do Espírito Santo, tendo-a como mãe, e por babalorixá José Nero do Espírito Santo. Sou neta do babá Antônio Camelo e bisneta do tata Tancredo da Silva Pinto.

Minha saída de santo aconteceu em novembro de 1975. Eu e meu irmão de santo abrimos o Centro Espírita Pai Everaldo em 2000. Depois que eu e meu irmão nos separamos, o povo do Centro me deu a placa de presente e eu mudei o nome para Centro Espírita Pai Xangô.

Como mãe do Centro, eu conto com 40 filhos de santo, atualmente. Nossa nação é a omolokô.

Hoje nós abrimos as sessões com atendimento gratuito ao público às quartas-feiras, que é o dia de Xangô. Além das sessões, toda segunda-feira nós abrimos para a iniciação de novatos à nação, com a ajuda dos filhos da Casa.

Rua Riachuelo, n° 90 (bairro Carlos Prates) Belo Horizonte - MG Telefone: (31) 3278-3926 E-mail: [email protected]

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Ylê Alaketu Ya Osun

Foto: Lucas Cunha

Sou Flavio Correia de Lima. Nossa Casa, Ylê Alaketu Ya Osun, teve seu axé assentado em 1991 pelo babalorisa Hélio da Osun. Antes, a Casa tinha o nome de Roça de Ketu Ogum-Já Caboclo Lage Grande. Foi fundada em 1978 e dirigida pelo babalorisa Maurilio de Ogum-Já. A Casa faz parte da nação Ketu, com raízes em Jeje-Nagô da Roça de Osumaré.

O babalorisa Hélio da Osun Opara dirigia a Casa com pai Maurílio de Ogum até 1991, quando o pai Maurílio se aposentou. Em 1991 o babalorisa Hélio da Osun adquiriu o imóvel da Roça de Ketu Ogum-Já Caboclo Lage Grande, deliberando pela mudança de nome para Ylê Alaketu Ya Osun. O Pai Hélio iniciou suas obrigações (bori) em 1971 e em 1978 recebeu das mãos do Pai Baianinho de Oxum Todemim seus direitos de babalorisa. Nesse mesmo ano, o babalorisa Hélio da Osun, auxiliado pela Ya Nilzete de Yemanjá, tirou seu primeiro barco de yawo, iniciando assim suas primeiras filhas de santo: Maria de Lourdes (Dofona de Oxum) e Ana Maria Soares (Nita de Agué).

Em 22 de abril de 2003 nossa Casa recepcionou o Ministro Ubiratan Castro da Fundação Palmares, quando foram destacadas as reivindicações do povo de candomblé que resultaram na criação da Coordenadoria da Promoção da Igualdade Racial (COMPIR) em Belo Horizonte. No ano de 2011 as últimas festividades ocorreram entre junho e julho com a confirmação e feitura do Ogã Marcio de Odé, Daltinho de Obaluaê e Netinho de Ogum. A principal festividade da Casa é a Festa da Osun comemorada no dia 12 de outubro, que é o orixá patrono da Casa.

O pai Hélio da Osun nos deixou em 29 de agosto de 2011, aos 72 anos de idade e 32 de sacerdócio – uma vida totalmente dedicada ao respeito a todas as nações, orixás, voduns, inkises e divindades das religiões africanas. Após o luto de um ano, a nossa Casa irá continuar a sua história de culto aos orixás, mantendo o mesmo respeito a todas as nações.

Rua Felício Roxo, 50 (bairro Santa Cruz). Belo Horizonte - MG Telefones: (31) 9643-1349/9952-9958 Facebook: https://www.facebook.com/yleasealaketu.osalufon

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Ilê Wopô de Nanã

Foto: acervo pessoal

Sou Maria da Conceição, Tita de Nanã. Desde pequena sentia uma força espiritual em mim, percorrendo meu corpo, me impelindo em direção a algo. Após minha família se mudar para Belo Horizonte, minha mãe me levou à casa do sr. Lisboa, por motivos de saúde. Pelo fato dele ser iaô ainda, e não poder me dar a obrigação, me levou à Casa Ilê Wopô de Olojukan, do sr. Carlos, Odé Olojukan, onde fiz o santo, me tornei iaô. Após 14 anos de santo, recebi o deká aqui em minha própria Casa, onde desde então pratico minha própria individualidade. Recebo as pessoas, faço o candomblé, realizo as festas.

Fui aconselhada por ele a experimentar a vida lá fora, conhecer diversas pessoas e enriquecer minha vivência. Viajei o país e entrei em contato com diferentes linhagens e tradições do candomblé. Após ter transitado em muitas delas, retorno ao Ketu, meu verdadeiro lugar de pertencimento. Apesar disso, tenho enorme carinho por todas as mães de santo e todos os pais de santo que me acolheram.

Em minha Casa cultuamos todos orixás com o maior carinho e respeito, pois apesar de ser filha de Nanã, sei que ela não vem sozinha e que traz todos consigo. Realizo também a festa dos erês – em que a vizinhança participa, e as crianças gostam muito das comidas–, a festa das Iabás, a festa de Olubajé, Águas de Oxalá, e assim que me aposentar, pretendo fazer trabalho social com a comunidade aqui da região.

Há mais de 37 anos cuido dos santos e de quem aqui bate. Não faço distinção de raça, cor, se tem ou não dinheiro. Independente disso tudo, quem bate aqui tem minha ajuda. Seja através de um ebó ou de um conselho. Recebo todos em minha Casa com carinho e dedicação. Enquanto pessoa, sinto uma força interior que me compele a ser solidária. Acredito que, como fui agraciada com sabedoria e saúde, devo praticar o bem sem esperar retorno em troca.

Desejo muito axé, muita força e amor e principalmente muita paz para todo mundo e que sejamos uns pelos outros, sejamos solidários.

Rua Cricaré, 273 (bairro Maria Helena). Belo Horizonte - MG Telefone: (31) 3456-3758. E-mail: [email protected]

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Casa Oxalá dos Montes Altos

Foto: Acervo pessoal

A Casa Oxalá dos Montes Altos é uma comunidade espírita de umbanda da nação Omolokô, criada por mim, mametu de inkise Mãe Cristina de Oxalufan, também conhecida como Mãe Cris de Oxalá.

Fui iniciada há mais de 30 anos pelo grande Tata Izidro Pereira Camelo (Alufá Oké N'lato Ôkurin Ogodô, já falecido), com o qual terminei todas as minhas obrigações. Tirei a mão de wumê com o Tata Francisco Augusto Almeida (Oni-ká), o Pai Chiquinho do Abaluaiê (sacerdote da mesma família e nação Omolokô).

Sou neta legítima do Tata Tancredo Pinto da Silva, o primeiro cumbabizante (batizado em nome de Oxalá). Foi ele quem introduziu a bandeira do Omolokô, que tem muito das nações Angola e Jeje, com as iniciais das nações Malês, Lundas e Kiocos.

Abri meu ilê em 1993, onde permaneço até hoje. Recebo frequentemente em minha Casa 20 dos meus filhos, mas muitos outros estão em outras cidades, dentro e até fora do estado.

Entre as nossas atividades, oferecemos sessões ao público toda segunda-feira às 20h, além de trabalhos particulares como jogos de búzios, sacudimentos, entre outros.

Em relação às festas em homenagem aos orixás, nossa Casa é abençoada por todos eles e, por esta razão, todas as homenagens são realizadas nos dias específicos de cada um. As festas que mais se destacam são as de Oxalá, Oxum e Iemanjá.

Rua Quinze de Abril, 8 (bairro Centro, Lagoinha) Belo Horizonte - MG Telefone: (31) 9246-2333 E-mail: [email protected]

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Ilê Axé Babá Byyomin

Foto: Amaralina Fernandes

Sou Reinaldo de Osogyan, babalorixá do Terreiro Ilê Axé Babá Byyomin. Minha Casa foi construída por mim e pelo pai pequeno Marcelo, hoje falecido, no final de 2002. Primeiro liderei a Casa como pai de santo de umbanda. Nesses tempos, tudo era feito no templo, nesse mesmo lugar, mas não tinha o barracão onde hoje são feitas as festas do candomblé. Em 2007, quando fechei meu ciclo, é que tomei meus direitos como babalorixá com a condução de Seu Rogério de Oxóssi e implantei o candomblé aqui. Tudo que diz respeito ao candomblé é a ele quem devo satisfação, por isso nossa ligação é eterna.

O principal orixá e dono da Casa é Osogyam, jovem guerreiro e rei Elegybu que, juntamente com seu pai, Oxalá, é um dos orixás do branco. Os rituais em sua homenagem são realizados em um ciclo de cultos, em que podemos citar as cerimônias do pilão e das águas.

Acho que o principal problema que a religião enfrenta é a discriminação e o desconhecimento pelas outras pessoas. Não sei se estou pensando muito, ou se estou querendo demais, mas hoje não existe a escola para educar as crianças? Gostaria que tivesse uma parte, nas aulas de religião, que explicasse um pouco sobre o que é o candomblé na realidade, para que as crianças de hoje crescessem com a cabeça diferente dos mais velhos.

Tem que explicar o que é a religião para quem não faz parte dela, e não é para que essa pessoa faça parte, mas para que ela tire da cabeça aquela negatividade sobre nossa crença. Contar que a nossa história vem do começo do mundo. Acreditamos que os orixás foram os primeiros seres que tiveram vida sobre a Terra; eles viveram aqui. Então eles sabem qual é o problema da Terra e, através de Deus, eles vêm para tirar esses problemas dela.

Mito e história todo mundo tem para contar, mas em religião você tem que acreditar naquilo que sente, que te conforta, porque você vive daquilo... Eu penso assim.

Rua Caxangá, 275 (bairro Guarani) Belo Horizonte - MG Contato: (31)8849-2942

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Tenda Espírita Umbanda Sete Forças Divinas

Foto: Luiz Divino

Meu nome é Vitória Paulina de Araújo. Eu trabalho no Terreiro Tenda Espírita Umbanda Sete Forças Divinas há 27 anos. Ou melhor, estou no comando, sou a dirigente, mas quem manda é Deus.

As sessões são aos sábados à noite, com os portões abertos à participação de todos. Nesse dia, fazemos caridade; não se cobra nada. Nos atendimentos particulares, se cobra. Os tipos de caridade são: benzeção, trabalhos para doença, para arrumar emprego, para pagamentos de INSS, etc. Mas existem pessoas que nos procuram apenas porque precisam de orações, minhas e dos médiuns. São os médiuns, os filhos de santo, que me ajudam.

Nesses anos todos, o terreiro vem crescendo muito, graças a Deus, pois hoje em dia se tem muito mais evolução. Além disso, com o tempo, a gente vai aprendendo muitas coisas com todos. A gente aprende com os guias, com o Preto Velho, com os médiuns, com os participantes... Enfim, evoluímos, todos nós. Eu também evoluo. Assim, penso que se as coisas melhorarem, muito bem. Mas, se não melhorarem, está bem também. Então, não posso reclamar de nada, porque, graças a Deus, as coisas estão boas comigo e com o meu terreiro.

Eu quero dizer que gosto muito de fazer caridade. É o que mais gosto de fazer. Aliás, é por isso que tenho o terreiro. Ou seja, o terreiro é o modo que encontrei para ajudar os outros. Acredito que essa é a principal razão da existência do terreiro.

Se pudesse e tivesse condições, eu faria uma creche para colocar os meninos de rua. Eu construiria um lar para eles... Esse é o meu grande sonho. Mas, como não tenho e ainda não posso ter uma creche, eu encontrei no terreiro, com minhas atividades, a forma de ajudar e fazer caridade com o próximo.

Rua Agenor José dos Anjos (rua F), 115 (bairro Brasil Industrial, Barreiro de Cima) Belo Horizonte – MG Telefone: (31) 3321-3686 E-mail: [email protected]

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Templo Umbandista Pai José de Moçambique

Foto: Pedro Ivo de Souza

Meu nome é Nair dos Anjos de Moraes. Sou a presidente e fundadora do Templo Umbandista Pai José de Moçambique.

Fui iniciada na umbanda por Mãe Cândida há mais de 35 anos. Comecei atendendo no quarto da minha casa no Horto, onde eu tinha um pequeno altar, até que as entidades me orientaram a arrumar um espaço só para elas e em 1985 eu me mudei para o bairro Boa Vista, onde o terreiro foi fundado.

Eu dedico a esse terreiro mais tempo do que dedico à minha casa. Tudo na minha vida é esse terreirinho. Isso aqui para mim é tudo!

Meu terreiro só funciona através da caridade e o pouco que nós temos aqui em mãos é para ajudar as pessoas num momento de enfermidade, numa questão pessoal, com as preocupações da vida.

A pessoa vem aqui é para pedir as caridades para os orixás e principalmente para os Pretos Velhos, que eu sou apaixonada com eles. E é só isso que eu quero, mais nada.

Realizamos sessões abertas nas sextas-feiras e comemoramos as festas de São Sebastião em janeiro, a Festa de Exu no dia 13 de maio, em 13 de julho a Festa dos Pretos Velhos e a Festa dos Meninos de Angola, em 27 de setembro.

Rua Teófilo Pires, 242 (bairro Boa Vista) Belo Horizonte - MG Contato: (31) 3485-6737

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ARCA Brasileira Jacutá de Iansã

Foto: Érica Coelho Espeschit

Meu nome é Maria de Fátima Nogueira e meu nome sacerdotal é Kitaloya. Eu iniciei na umbanda há 35 anos e tenho 22 anos de obrigação no Candomblé Angola de Katispero, descendente de Joãozinho da Goméia. Na Umbanda, fui mãe de santo por seis anos no bairro Jardim Alvorada e no bairro Glória. Mas o meu santo queria que eu tomasse obrigação no candomblé. Fui raspada em 28 de outubro de 1990, quando o santo me deu o nome de Kitaloya.

Eu, meu marido, Ademir da Silva Brito (Itarangue de Mutakalambô), e meus filhos fundamos a Associação Espírita Jacutá de Iansã em 20 de janeiro de 1995. Como a Casa sempre teve vários projetos sociais, culturais e religiosos, realizamos uma alteração estatuária, conforme exigido pelo código civil, e mudamos o nome da Casa para ARCA Brasileira Jacutá de Iansã. ARCA é uma sigla utilizada para "Associação de Resistência Cultural Afro-brasileira". Eu e meu marido somos a mãe e o pai da Casa. Nela, há 70 filhos feitos que se dividem entre várias atividades.

Os principais inkises da Casa são Gurucema Wullo e Muta Kalambô. Fazemos festas para todos os inkises e comemorações para as entidades, em especial para exus e boiadeiros.

Nos dias de toque, às quartas-feiras, fazemos sopão para os filhos e a comunidade. Também fazemos doações de cestas básicas e estamos trabalhando firme para a construção de uma creche do terreiro.

Temos o registro do terreiro como bem cultural pela Fundação Municipal de Cultura e como Utilidade Pública. Além disso, somos integrantes do Centro Nacional de Africanidade e Resistência Afro-brasileira (CENARAB) e participamos de várias atividades vinculadas a ele, com a principal intenção de divulgar e afirmar a cultura afro-brasileira.

Rua Aroeira Neves, n°151 (bairro Álvaro Camargos) Belo Horizonte - MG Contato: (31) 3417-9079. E-mail: [email protected]

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Centro Espírita de Umbanda Ya Oba Ca Ô

Foto: Eduardo Mancilha Sou Lourdes de Iemanjá, Oxogbibo, umbandista e tenho raízes no Omolokô-Lunda-Quioco, oriundo do sudoeste de Angola, a nação de origem nas almas. Iniciei em 1957 pelos candegues São Antonio Perreira Camêlo de Xangô, ou Kê-ôurukê, e Isaura Gonçalo Pereira, a Yá-byi-Yiriú, filhos de Tancredo da Silva Pinto e Tia Olga da Mata. Comecei na espiritualidade nos anos 1960 através de benzeduras, atendimentos e incorporação das entidades. Como Afofo, aquela pessoa curiosa que não tem obrigação dentro da nação, atendia num quartinho de oração, até começarem a aumentar as procuras atrás de minha orientação. Como não era iniciada, precisei buscar orientação para desenvolver minha mediunidade e fundar minha Casa. Abri o terreiro em 1969, por causa da fé e da minha missão. Foi por amor mesmo. Tive as intuições certas e segui as orientações da minha mãe Iemanjá. Recolhi, ou seja, me iniciei, por necessidade, pois, para mim, quem está na espiritualidade tem que ter fundamento, pois ela é um fogo que queima 24 horas e, por isso, se você não tiver entendimento, você acaba levando tudo para o lado errado. Quando falo entendimento, me refiro a se iniciar e ter a sorte de encontrar pessoas que realmente possuem conhecimento, caráter e sabedoria. A partir da fé fui iniciando e agregando mais filhos de santo para nos ajudar nas práticas do centro. Hoje, ele tem por volta de 25 pessoas, entre ogãs, ekedes e ebambis, aquelas mais velhas na Casa. Também tem aqueles que possuem 40, 26, 17 e 9 anos de santo. Aqui todo mundo ajuda, pois, com apenas um olhar meu, todos sabem o que devem fazer – um acende o cachimbo, outro passa o pano etc. Os patronos da Casa são Iemanjá e Oxalá, pois eu sou filha de Iemanjá com Oxalá, chamada também de Oxogbibo. Além de trabalharmos também com Vovó Catarina, que é a minha entidade, com Pai Cruzeiro, Rei Congo, Cabocla Jurema e Pena Dourada. A primeira festa de santo é no dia 20 de janeiro com Oxóssi e depois em 2 de fevereiro para Iemanjá. Em 26 de julho temos Nanã (a Vó) e em outubro temos a Festa das Iabás. O caminho da espiritualidade é muito sofrido e duro, pois para você poder romper, ou seja, ser licenciado pelos orixás, você é muito testado, e não é fácil não. Eu sou muito rigorosa em relação à parte espiritual, gosto de tudo de forma muito correta, pois você não pode brincar com o invisível, aquilo que você não conhece. Me iniciei e aprendi assim. Sei que cada nação tem seu ritmo e sua maneira. Aqui é dessa forma. Eu busco orientar e ajudar as pessoas através da espiritualidade.

Rua Tocaios, n°1050 (bairro Santa Efigênia). Telefone: (31) 3482-2325

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Terreiro Ilê Axé Odé Omilá

Foto: Acervo pessoal

Meu nome é Anderson Vicente da Silva. Eu sou de Logun Edé e tenho 23 anos de santo. Sou o responsável pela comunidade tradicional Ilê Axé Odé Omilá, o nome do terreiro. Eu procuro manter as coisas em ordem no meu terreiro, com atenção especial à instrução da equipe, sempre os alertando sobre as suas responsabilidades e os desafios a serem enfrentados. Minha preocupação maior é com a equipe dos iniciantes.

Meu terreiro tem 20 anos. Funciona no mesmo endereço desde 1992. Eu sou filho de santo de José Geraldo de Oxum. No terreiro, tenho 78 filhos de santo, feitos, que são frequentes e participantes ativos. Além dos participantes fixos, recebemos a visita de pessoas diversas, que vêm para receber nossas cargas positivas e nossas bênçãos, e elas sempre voltam.

Eu posso dizer, com convicção, que meu candomblé caiu num lugar certo, está no lugar apropriado. Nós somos muito respeitados onde estamos instalados. Para se ter uma ideia, não existe nenhum tipo de preconceito dos vizinhos contra nossa religião. Até as Igrejas Evangélicas locais nos respeitam e nos aceitam muito bem. Mesmo assim, ou talvez por isso, eu tenho muito cuidado para não ter nenhum tipo de problema com ninguém. Eu procuro manter o terreiro funcionando direito, tudo em ordem, com o espaço sempre limpo e organizado.

As nossas sessões são quinzenais e acontecem sempre às quintas-feiras à noite, das 20 às 22 horas. Além das sessões, durante o ano sempre comemoramos as festividades relacionados ao candomblé e às nossas entidades.

O terreiro é aberto a todas as pessoas que queiram e tenham interesse em participar das sessões e das festas, sem nenhum tipo de distinção.

Rua Maria Cecília da Silva, nº 60 (bairro Jatobá VI, Barreiro) Belo Horizonte - MG Telefones: (31) 3385-6843 / 9846-5852 E-mail: [email protected]

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Casa de Caridade Ogum Beira Mar

Foto: Arquivo pessoal

Sou Mãe da Luz, mãe de santo há 30 anos na Casa de Caridade Ogum Beira Mar. Meu desenvolvimento teve início aos sete anos de idade, quando comecei a trabalhar com os espíritos. Foi complicado no início! Fui crescendo e nunca deixei de ser espírita. Através de um sonho, uma santa me falou que minha sorte estava na cidade de Belo Horizonte.

Eu vim para cá e quando cheguei na estação de trem, arrumei um emprego. Procurei um centro espírita e fiquei no centro. Crescia em mim uma vontade que vinha mandada por Deus de ter o meu próprio Centro. Junto com Dos Anjos, minha filha de criação, começamos a trabalhar na sala de sua casa.

Com o passar dos anos e o aumento de médiuns trabalhando juntos, surgiu a oportunidade de comprar um pedacinho de terra onde é o terreiro atualmente. Pagamos aos poucos e construímos em mutirão. Nossa sede tem 17 anos.

A umbanda é muito importante pra mim, por ser um lugar de resistência da raça negra, que já foi muito humilhada, muito discriminada. Aqui tem sido muito bom, dá mais firmeza. Eu ando de cabeça erguida por todo lugar.

Tudo que eu faço é por amor – eu gosto mesmo de trabalhar na umbanda.

Realizamos duas grandes festas anuais: a Festa de Preto Velho em maio e a Festa de São Cosme e São Damião em setembro. As sessões em nossa Casa acontecem todas as segundas e quintas, sempre das 20 às 22 horas.

Rua Lassance , 523 (bairro São Geraldo) Belo Horizonte - MG Telefones: (31) 3487-2085 / 8495-6825 E-mail: [email protected]

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Ilê Axé Ibó Ode

Fotografia: Júlio César Marques

Leonardo Daniel Batista: – Sou o Babalorixá Leonardo de Oxóssi. Meu Ilê Axé Ibó Odé está de braço abertos para quem quiser conhecer uma casa de candomblé que mantém respeito às tradições e preceitos.

Comecei na umbanda como filho de santo de Nilza Vilela, vindo a ser filho de Cesária de Oxóssi. Iniciei-me no candomblé com Fábio de Oyá no Jeje Mahin, ficando com ele durante um ano. Depois fui para a Casa de Wagner de Oxum, passando do Jeje para o Ketu. Tomei de Wagner de Oxum o Odu Ita (obrigação de 3 anos) e depois conheci dona Lídia, tomando com ela o Odu Ijé e Otumlaxé.

Fundei o meu axé no ano de 1999 por desígnio dos orixás. É por isso que tenho o posto de babalorixá. Tenho 45 filhos iniciados no santo. Meu candomblé é Ketu, embora tenha tido meu começo no Jeje Mahim. Devido às minhas tradições de iniciação, sou muito observador das regras e preceitos do candomblé. Sempre que um novo abiã quer virar um iniciado eu o oriento para que primeiro faça um bori e, com o tempo, depois de nos conhecermos melhor, é que eu realizo com ele a iniciação para que ele vire um yaô.

Acredito que todo yaô deve estudar a história dos negros no Brasil e os mitos e lendas dos orixás na África, para que ele saiba compreender a valiosa importância que a cultura negra exerce na construção do Brasil e os preceitos e tradições do candomblé.

Minha festa maior é para meu pai Oxóssi no mês de outubro. Também faço festas para Ogum e Xangô. Devido à minha herança na umbanda eu realizo uma festa para o Exu Tranca-Ruas no mês de junho e faço sessões de entidades da umbanda toda semana na minha Casa. Tenho filhos que ocupam cargos de confiança na Casa e que me ajudam a manter o Ilê.

Rua Marieta Alexandrino Macedo, 210 (bairro Parque São Pedro) Belo Horizonte - MG Telefones: (31) 3450 9911 / 9609 7184

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Ilê de Odé

Foto: Júlio César Marques

Meu nome é Lucineide Porto de Paula Santos. Nasci numa casa de santo. Minha mãe realizava reuniões com as entidades da umbanda na nossa casa e com o tempo foi orientada pelos guias a abrir uma casa de santo. Meu pai era espírita e isso ajudava no entendimento sobre a religiosidade de nossa família.

Sou conhecida como Mãe Neneide e sou ekede de Oxum. A minha história com o santo é bastante natural, e hoje estou responsável por uma casa de vodum. Procuro passar para frente aquilo que aprendi com os voduns. Inclusive meu filho natural, que muito me acompanha nos trabalhos, é o runtó na casa.

Meu irmão, Nozinho de Oxóssi, abriu esta Casa em 29 de agosto de 1975, vindo do estado do Espírito Santo de chinelo no pé e duas mudas de roupas. Oxóssi permitiu que ele começasse esta Casa e ainda a mantém. Nozinho de Oxóssi era filho de Adolfo Cleber Henrique, do Kué Jagum-Jebi, da qual somos herdeiros e damos seguimento a este grande axé.

Lamento que algumas Casas sejam abertas sem respeito à história, aos fundamentos, sem que os responsáveis tenham conhecimento daquilo que estão praticando. Desde o falecimento de Nozinho de Oxóssi estou à frente da Casa. Trabalho muito para manter viva sua liderança e a força do seu axé que se traduz na existência desta Casa. Nossa maior festa é para o vodum de Odé em abril. Realizamos outras festas, tais como o Olubajé em agosto e a Festa das Iabás em novembro. Como Nozinho de Oxóssi também trabalhava com entidades da umbanda mantivemos a Festa de Caboclo em sua memória.

Possuímos uma Roça, vital para a realização dos fundamentos da nação Jeje, na cidade de Barão de Cocais, interior de Minas Gerais, que é onde devotamos nossa gratidão aos voduns.

Rua Vassouras, 235 (bairro Bom Jesus). Belo Horizonte - MG Telefone: (31) 3422 4196

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Tenda Espírita Caboclo Sultão das Matas

Foto: Isabel Casimira

Eu, José Augusto Pinto, babalorixá, nasci em 3 de janeiro 1949. Sou conhecido também como Baba José Augusto ou José Augusto de Oluayê. Comecei a minha trajetória espiritual aos cinco anos de idade quando fui levado pela minha madrasta a uma casa para benzer de caxumba. Chegando lá eu incorporei o Exu Tranca Rua das Almas. Quando acordei estava em uma igreja evangélica com cinco bíblias em cima da minha cabeça. Desde então entrei para umbanda e não parei mais.

Fundei em 1970 a Tenda Espírita Caboclo Sultão das Matas. Passando para o candomblé de Angola, no qual fui iniciado em 31 de janeiro de 1978, fui feito de orixá. Passados três anos, meu babalorixá, Carlos Alberto Almeida, conhecido por Merenum (in memoriam), mudou de nação. Passou para a nação Ketu, que pertence ao Axé Oxum Maré Aracá de Salvador, onde ele passou a tomar o axé com a ialorixá Dona Ana de Ogum. Sendo assim, a minha Casa também mudou, de nação Angola passou para Ketu.

Associação Cultural Religiosa Tenda Espirita Caboclo Sultão das Matas, Ylé Ase Omo Oluayê, é o nome da minha Casa, que presido junto com minha esposa Nair de Oxalá. Hoje contamos com a ajuda da ekede Meire, minha filha, que é mãe da Casa. Contamos também com mãe Sirlene de Oxum e com outros filhos e diretores. Trabalhamos juntos! Realizamos reuniões públicas às segundas-feiras, das 20:00 às 22:00 horas.

Ministro palestras de esclarecimentos para estudantes, religiosos e pesquisadores interessados no entendimento sagrado de nossa cultura. Realizamos trabalhos sociais de distribuição de cestas básicas, agasalhos, remédios, atendimento aos necessitados. Presto atendimentos com jogo de búzios. O aniversário do ilê é dia 24 de agosto, quando fazemos a festa de Olubajé, que é a festa designada ao orixá da Casa. Olubajé significa o banquete do rei: o rei convida os orixás para o seu banquete. É uma comemoração da nação Ketu. Somos visitados por adeptos de outras nações e várias religiões, formando assim uma grande concentração de povos religiosos de matriz africana.

Rua Sambeatiba, nº68 (bairro Cachoeirinha). Belo Horizonte - MG Telefones: (31) 3444-6897; 9813-6044; 8629-6797. E-mail: [email protected]

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Centro Espírita Estrela do Oriente

Foto: Isabel Casimira

Eu sou Henrique Perret Neto, sacerdote de umbanda e de candomblé Angola. Nasci em Belo Horizonte no dia 11 de abril de 1961.

Aos 12 anos conheci a umbanda que era dirigida por Sr. Antônio, na rua Resplendor. Foi com ele que iniciei meu desenvolvimento mediúnico na umbanda. Mais tarde vim a participar de diversos movimentos umbandistas junto com amigos e simpatizantes.

Fundamos o terreiro da umbanda Grupo Espirita Estrela do Oriente em outubro de 1978. Seu primeiro registro foi feito na Confederação Umbandista, em agosto de 1982. A sede definitiva foi estabelecida na rua Andaraí nº 137, bairro Nova Vista.

Aqui realizamos nossas sessões de umbanda e fazemos atendimento ao público aos sábados, das 14:00 às 18:00 horas.

Nosso culto aos inkises da nação Angola é desenvolvido em Ouro Preto, na Serra Geral Mina Capanema, na roça de candomblé Casa Raiz Bate Folha. Ali celebramos em datas especiais.

Fui iniciado aos 24 anos pela zeladora de inkises mameto Kitulá, com quem consegui cumprir todas as minhas obrigações – da primeira à vigésima primeira obrigação de santo.

Atualmente, depois do falecimento de Kitulá, continuo minha jornada espiritual tendo como zelador o tata de inkises Munguaxi e a nengua Ritari do Candomblé do Bate Folha de Salvador, Bahia.

Rua Andaraí, nº 137 (bairro Nova Vista) Belo Horizonte – MG

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Centro Espírita de Umbanda Pai Cipriano

Foto: Poliana Xavier

Meu nome é Geralda Rosa Martins. Sou ialorixá do Centro Espírita de Umbanda Pai Cipriano. Tenho 46 anos de terreiro. Fui iniciada na umbanda pela mãe de santo Eurídes, do Centro Espírita Pai Miguel. Eu não acreditava em terreiro. Eu era da Irmandade Coração de Jesus. Fiz uma novena de nove horas e nela o menino Jesus de Praga me fez a revelação do que era um centro espírita. Nós umbandistas desenvolvemos o médium, que incorpora. E incorporar eu acho a coisa mais maravilhosa que Deus me deu. E para estar com guia nós temos que rezar para que Deus dê a permissão da entidade incorporar. A minha trajetória no Centro Espírita de Umbanda Pai Cipriano é muito longa. Eu fundei esse centro no dia 12 de março de 1972. Nessa época, eu era mãe de santo e agora eu sou ialorixá. Se for preciso desenvolver qualquer médium, eu desenvolvo. E comida para santo, eu faço de todo tipo. Mesmo com o meu problema de saúde, eu sou a responsável pelo centro. Faço muito casamento, muita cura e muito emprego. E realizo as obrigações. Não tem festa, mas tem as obrigações dos santos.

Dia 20 de janeiro é dia de São Sebastião: eu faço a comida do santo. Em abril, dia 23 é dia de São Jorge: eu faço a canjica de São Jorge. Maio é mês dos nossos queridos pretos velhos. Em junho, no dia 29, eu faço a canjica para Xangô. Em setembro, vem as minhas crianças, São Cosme e Damião. Dia 8 de dezembro, pra Iemanjá eu faço peixe assado e reparto com pão. E quinta-feira santa, na Quaresma, eu faço uma obrigação para Exu. Então, completam- se sete linhas. As sessões abertas ao público estão suspensas por causa do meu problema de saúde [2012]. Os principais orixás responsáveis pelo terreiro e que dão o grito de guerra para qualquer finalidade primeiro é o chefe Pai Cipriano e depois Pai Benedito. Tem também o Sete Folhas de Aruanda e Ogum Beira Mar de Aruanda. Eu coordeno o centro, mas tenho quem me ajude. O meu marido é médium e meu filho é ogã. E tenho cerca de oito pessoas de muita confiança para arriar os trabalhos. No terreiro tem que existir responsabilidade, atenção, segredo e união. Eu não aceito trabalho espiritual mal feito. Eu exijo nos meus trabalhos respeito. Eu estudo muito. Quem nunca foi aluno não pode ser professor.

Rua Joaquim Monteiro, nº 252 (bairro Havaí). Belo Horizonte - MG Telefone: (31) 3374 6236

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Choupana de Umbanda Cabocla Jussara

Foto: Arquivo pessoal

Meu nome é Iara Bárbara de Andrade. Sou nascida e criada dentro da Choupana de Umbanda Cabocla Jussara. O terreiro foi fundado no dia 14 de setembro de 1977 e este ano faz 35 anos de existência e conhecimento. Eu sou herdeira deste terreiro, que era da minha mãe, dona Cesária, que desenvolveu no terreiro da dona Conceição, do Caboclo Araribóia, que ficava no bairro Padre Eustáquio. E também sou herdeira dos belíssimos orixás, para quem eu toco em homenagem à ialorixá Cesária. Nós estamos conseguindo o nosso objetivo, que é louvar aos nossos bondosos orixás, por tudo aquilo que eles nos dão. O principal orixá do meu terreiro é Oxóssi. Tudo que nós fazemos nós temos que pedir licença para Oxóssi. Mas nós cultuamos todos os orixás: do Oxalá ao Exu. Nós fazemos festa para todos os orixás: em janeiro, Festa de Oxóssi; em abril, Festa de Ogum; em maio, Festa dos Pretos Velhos, no dia 13 de maio, abolição da escravatura; em junho, Festa para Exu e para Xangô; em julho, Festa para Nanã; em setembro, Festa para São Cosme e Damião e Festa de Xangô; em dezembro, é a Festa das Iabás, que são as santas mulheres: Iansã, Oxum, Nanã e Iemanjá. O terreiro nasceu e vai morrer na rua Santa Rosa de Lima. Ele nasceu nessa rua, saiu e tornou a voltar. Eu entrei no espiritismo, desenvolvi e sou a responsável pelo terreiro. Sob a minha responsabilidade são 26 participantes. Eu sou a que o povo chama de mãe de santo. Eu me considero a zeladora de santo do orixá da Casa. Eu tenho a minha tia Zelita, ialorixá, que é a minha zeladora. O Paulo é o pai pequeno da Casa e o Mauricio é o ogã. E é o maior orgulho para mim passar para as minhas filhas carnais e para os meus filhos de santo o que eu aprendi, que são valores africanos, que são valores da vida após a morte: o que você pode pedir, o que você pode ganhar, o que você pode aprender com a sabedoria deles. Espiritismo é o estudo do saber, para aqueles que acreditam e que têm fé, o que é a vida após a morte. Tenho muito orgulho de ser espírita e falo isso com muita fé no espiritismo. Tudo isso eu devo e agradeço à minha mãe Cesária por ter me apresentado e me deixado entrar e permanecer no espiritismo. Agradeço também à Cabocla Jussara por me deixar tocar a Casa dela. E agradeço também a um Preto Velho, Rei Salomão, por manter o terreiro. É um Preto Velho de uma sabedoria inexplicável. Eu agradeço a todos os orixás, de Exu a Oxalá, por essa oportunidade de ter o nosso terreiro. Umbanda, humildade, caridade, união, fraternidade.

Rua Santa Rosa de Lima, nº 84 (bairro Nova Cintra). Telefone: (31) 3374 5832

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Kwê Vodum Azam Tobossi

Foto: Ana Carolina de Oliveira Costa

Meu nome é Fabiana, meu cargo é Doné Dofona de Aziri Tobossi.

A Casa foi fundada em 1946, pelo meu sogro, Otacílio de Assis Pinto, que era filho de santo de Pararasi, que por sua vez era membro da Roça do Sejá Hundê ou Roça do Ventura, localizada na cidade de Cachoeira, na Bahia.

Quando o meu sogro Otacílio decidiu abrir a Casa, ele teve a ajuda de sua mãe de santo, do caboclo e do Ogã Bobosa, ambos ogãs do Sejá Hundê.

No ano de 1969 confirmou também para Ogã Pegigã meu marido, Wagner, quem herdou a Casa, mas não pôde assumir o cargo de pai de santo por ser ogã. E quem acabou por assumir a Casa fui eu, após ser preparada para isso por minha tia Alaíde do Sejá Hundê, que também era filha de santo de Pararasi.

As principais festas que a Casa faz são as de Aziri, comemorada em outubro, a de Azansu, em agosto e uma pequena comemoração para Ogum em abril. Essas são as comemorações que envolvem maior preparação ritualística e festiva para o público externo.

A Casa funciona semanalmente às segundas-feiras, quando as reuniões são fechadas para o público externo, e às quartas-feiras, quando elas são abertas a todos.

Rua Jorge Carone, 34 (bairro Nova Cintra) Belo Horizonte - MG E-mail: [email protected]

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Ilê Asé Oya Ku Ru Ge Si

Foto: Eduardo Mancilha

César T’Ogun e Vilmara D’Osun: – A Casa Ilê Asé Oya Ku Ru Ge Si ou Ilê Asé Oya Gbale foi fundada pela Yalorisá Leopoldina de Oya, também conhecida por Dina Marimbondo, que começou sua tarefa espiritual através da umbanda em meados dos anos 40 e que fundou essa Casa nos anos 50, sendo o primeiro terreiro de candomblé do bairro. O Centro veio a ser registrado no cartório no ano de 1965. Esse registro era obrigatório à época, que era de ditadura – em toda sessão era formulada uma ata com os nomes dos presentes, que posteriormente deveria ser entregue e supervisionada, além de carimbada pela delegacia de costumes. Isso porque qualquer crime que acontecia na região, o primeiro local que eles realizavam as diligências policiais era no candomblé, pois consideravam os zeladores e os adeptos como suspeitos. Guardamos até hoje essas atas assinadas, datadas e carimbadas.

Em 1974, a Ya Leopoldina se iniciou no orisá com o Sr. Deluanji, que sofrera um acidente automobilístico e foi a um ló, como a morte é conhecida no candomblé. Ya Leopoldina continuou suas obrigações com Doné Wanderlucia de Ode Cikan – conhecida como mãe Delucia, uma das primeiras mulheres iniciadas no orisá em Minas Gerais –, com a qual continuou até os últimos dias de sua vida. Nessa época, a Casa então ficou consagrada a Oya Gbalé. Em 2009, a Yalorisá Leopoldina foii a um ló e o ilê passou a ser dirigido por nós, seu hombono (filho mais velho) César T’Ogun, e Vilmara D’Osun, filha carnal de Ya Leopoldina. Apesar de Ogum ter sido tronado na cadeira de Oyá, nós somos os herdeiros do axé implantado por Mãe Dina, por isso priorizamos sua história, sempre relembrando que ela batalhou muito e teve pouco reconhecimento. Como Baba e Ya, priorizamos o tratamento de ori (cabeça) e direcionamento dos médiuns através dos ebós, boris e fá (raspagem).

Nós tratamos as pessoas e tentamos mostrar aos adeptos e frequentadores da Casa que precisamos ter paciência, que a paciência vai ajudar no caráter da pessoa. Há um dito africano que expressa bem isso e nós, do Ilê Asé Oya Ku Ru Ge Si, deixamos para todos: Sùúrù Nibaba Iwà, – A paciência é o pai de bom caráter!

Rua Monte Alegre, 1050 (bairro São Lucas). Belo Horizonte - MG Telefones: (31) 3282-6813 / 98345335. E-mail: [email protected]

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Roça Branca Terreiro de Candomblé

Foto: Arquivo pessoal

Sou Tatetu Londeji, zelador dos filhos e inkises da Roça Branca Terreiro de Candomblé, a Casa de Angola mais antiga de Belo Horizonte, por mim fundada. Me iniciei por vontade do inkise em 24 de abril de 1966, na primeira Casa de candomblé de Minas Gerais, Terreiro de Oxóssi Caçador, de Terezino Nere Santana (Tata Italeji), pelas mãos do Tatetu dele, Miguel Arcanjo Paiva (Tatetu Deuandá), filho de Olegário de Dandalunda, e este, filho de Maria Neném (Mametu Tuendanzambi). Minha feitura foi muito rígida e se hoje tenho a sabedoria e o encantamento do candomblé, devo tudo aos meus antigos, como Miguel, Oloiá, Mebandu, Diantalá, Italeji. O meu primeiro barco consistiu em quatro muzenzas: Bandamoji, Monatolu, Sesimuka e Dundalesi, pessoas iniciadas em minha Casa em 1971. De lá para cá venho preparando gente no santo, confirmando kambonos e makotas. A Roça Branca foi fundada em 1969 na Rua Itapetinga, bairro Cachoeirinha. Em 1975 mudei a Roça para o bairro Floramar. Antes disso eu toquei candomblé nos bairros Aparecida, São Francisco, na cidade de Caratinga e também na Casa de Mirtes, na Rua Itapecerica, onde preparei o meu primeiro barco. Época em que as religiões de matriz africana eram perseguidas pela sociedade e pela polícia. Tentavam acabar com os terreiros e prendiam os zeladores. Não foi fácil! Candomblé é a nossa religião, e religião tem que ser com amor e fé, consciente do seu eterno aprendizado, pois você nasce e morre dentro dela aprendendo, o que faz do candomblé uma religião belíssima! Aqui na Casa louvamos todos os inkises, sendo os principais Gongobira (Logun Edé) e Matamba, e o velho Chapéu de Couro, o primeiro caboclo assentado em Belo Horizonte. As principais festas da Casa são o Lemba-mean, realizada duas semanas antes da quaresma, a cerimônia para N’kosi, realizada uma semana depois do domingo de Páscoa, a festa para Boiadeiro, a de Mutakalambô em junho e a festa de Kukuana para Kavungo, em agosto. Em dezembro tocamos para as inkiseanas e em outubro temos a festa de Gongobira. Sou zelador de candomblé há 43 anos e nunca recebi ajuda alguma do governo. Somente eu e meus filhos de santo cobrimos todas as despesas das festas e da manutenção da Roça. Para uma Casa com nossa história, tradição e raiz isso não deveria acontecer. Faço o que posso pelo candomblé! Banda nguzo Kaká maiangonkisi bibi quaquamealunga! – Que a força das divindades esteja com todos! Salve!

Rua Padre Paulo Fernandes, 30 (bairro Floramar). Belo Horizonte - MG Telefone: (31) 3433-729. E-mail: [email protected]

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Cabana Espírita Umbandista Caboclo Pena Azul

Foto: Natália Menhem

Eu sou Geraldo Chamone Sobrinho, Tata de Inkise Kiluangojí, fundador da Cabana Espírita Umbandista Caboclo Pena Azul, aberta em 1984. Desde criança eu tinha visões e, após o falecimento do meu pai, quando eu tinha 9 anos, as visões começaram a se manifestar de forma ruim. Essa situação persistiu até que a mãe de um amigo me levou a um centro espírita, que frequentei dos 12 aos 24 anos.

Fui iniciado na umbanda aos 12 anos de idade pelo seu Didi, finado Silvestre Nogueira Souto Maior, na Tenda Espírita Imaculada Conceição, que tinha um trabalho bonito na linha de umbanda. Aos 18 anos parei de frequentar a umbanda por nove meses, porque queria ter uma vida assim chamada “normal”. Foram nove meses bravos. Voltei para o centro de Pai Didi e, após alguns anos, fiquei doente e fui orientado a procurar ajuda no candomblé.

Conheci a hoje finada mãe de santo Terezinha Lopes da Silva, Mãe Terezinha, Mameto Kitulá, que me iniciou no candomblé de Angola em 1982. Em 1986, a Casa foi registrada como associação civil sem fins lucrativos e reconhecida como sendo de utilidade pública municipal e estadual.

Aqui na Casa, na medida de meus conhecimentos, preparo muito os médiuns, pois para que eles possam cuidar dos outros têm que aprender primeiro a cuidar deles mesmos. No início do desenvolvimento, antes que comecem a incorporar entidades, os médiuns aprendem a fazer orações, preces, defumações, banhos, passes magnéticos e a cantar e aplicar as curimbas (cantos) dos guias, entidades e orixás. Hoje temos 112 médiuns e raramente recebemos menos de 120 pessoas nas sessões abertas ao público, que acontecem todas as terças-feiras às 20:00 horas.

Rua Professor Benedito Fonseca, 135, 2º piso (bairro Dom Joaquim) Belo Horizonte - MG Telefones: (31) 3484-6006 / 9147-3988

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Tenda Espírita Umbandista Obaxaim

Foto: Arquivo pessoal

Sou Maria José da Silva (Iemanjá Apeajá), a mãe de santo deste terreiro, que fundei, junto com outros médiuns, no ano de 1994, aqui no bairro Boa Vista.

Fiz o santo em 1974 no Terreiro Ogum Yara, no bairro Santa Inês, com o pai de santo Edomeu Atanásio Mendes (Ocurim Saluba) e, desde então, continuo seguindo na umbanda, tradição Omolokô. Obaxaim, que dá nome ao nosso terreiro, refere-se a Ogum, orixá guerreiro, da luta e da batalha. Apesar do nome, aqui cultuamos todos os orixás da umbanda.

As reuniões públicas de nosso Terreiro acontecem todas às quintas-feiras a partir das 20 horas. Na última quinta-feira do mês é dia da reunião de Exu e Preto Velho.

Realizamos anualmente as seguintes festas dedicadas aos orixás e entidades: Ogum em abril, Preto Velho em maio, Exu em junho, Obaluaiê em agosto, Nanã e Cosme e Damião em setembro. Além dessas, já fizemos também uma feijoada e uma festa junina, ambas beneficentes, com o objetivo de angariar recursos para creches, asilos e hospitais. É possível que façamos novamente essas festas nos próximos anos.

Nossas reuniões e festas são abertas ao público. Todos que queiram nos visitar são bem- vindos e serão muito bem recebidos. Somos um terreiro de umbanda sério, voltados para o ensino e a prática do bem.

R. João Amaceks, 121 (bairro Boa Vista) Belo Horizonte - MG Telefones: (31) 9975-5202 (Gilberto) / 9739-5968 (Maria José) E-mail: [email protected]

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Dandalunda Kissimbi Keuamasi - Candomblé Angola Moxicongo

Foto: Acervo pessoal

Sou Italesimbi, zelador de santo deste terreiro. Em Belo Horizonte e região metropolitana, pouquíssimos terreiros podem ser considerados como sendo verdadeiramente de candomblé. Isso pode ser constatado verificando-se suas raízes e descendências. Muitos dizem ser do candomblé, mas na verdade não o são, pois foram iniciados por praticantes de outros cultos. O nosso terreiro é genuinamente de candomblé.

Sou filho de Tatetu Nepanji (Sr. Nelson Mateus), o qual iniciou-se com Mametu Oloia (D. Helena), que foi iniciada no Terreiro do Bate Folha (Mata Escura) de Salvador por Tatetu Ampumandenzo (Sr. Manoel Bernadino), que iniciou-se com Mametu Turenda de Azambi (D. Maria Néném), que foi iniciada por Tatetu Kilunga (Sr. Roberto Barros), sendo que este último foi um ex-escravo, iniciador do candomblé Angola no Brasil. Sou Angoleiro Moxiconguence, tenho raízes provando quem sou e de onde vim.

Fundei este terreiro junto com meus filhos em 28 maio de 2000, numa festa de Preto Velho.

Nossas reuniões públicas ocorrem quinzenalmente na segunda e última segundas-feiras do mês, a partir das 20 h 30 min.

Anualmente realizamos as seguintes festas, preferencialmente aos domingos: Exu, no período da quaresma; Preto Velho em maio; Boiadeiro em setembro; Vunge em outubro; Gongobila em novembro; e Oxum em dezembro.

Av. Cemig, 221 (bairro Novo das Indústrias, Barreiro) 30647-970 Belo Horizonte - MG Telefones: (31) 9776-8606 / (31) 3415-7710 E-mail: [email protected] Orkut: http://www.orkut.com.br/Main#Profile?uid=7231879373246578240

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Ilê Axé Oba Tunde

Foto: Arquivo pessoal

Meu nome é Márcio Luiz de Castro. Fui iniciado pelo babalorixá Carlos Ney Simão, conhecido como Kisymbi de Oxum, que foi iniciado por Terezino Nere Santana, que teve suas obrigações com Pai Miguel Grosso Deuandá. Atualmente sou filho de Jorginho, conhecido como Ofá de Ouro em Vitória. Minha religião é o candomblé e a nação que abrange minha Casa é o Keto Nagô, mas temos influências de outras nações, pois louvamos orixás de outras etnias, como Efon e o Logunede. Também cultuamos entidades umbandistas, como Tranca Rua e Serra Nova. Esse sincretismo entre umbanda e candomblé é muito forte em Minas Gerais e é importante para nós. A Casa Ilê Axé Oba Tunde tem uma história ainda curta, fundada por mim em 2011 com a iniciação do Iaô Junior de Oxum. A cada dia a Casa vai crescendo um pouquinho com ajuda de todos. Isso de forma devagar, pois no candomblé tem muita energia para se colocar, por isso você não consegue montar uma Casa toda, como ela deve ser montada, em menos de seis anos. Hoje o funcionamento do Ilê está mais voltado para as obrigações de ano, de 1, de 3 e de 7, e para as festas tradicionais, como a Festa do Tranca Rua em março; abril do Ogum; agosto a gente faz para o Caboclo; setembro tem a festa para Xangô e dezembro fechamos com a festa das Iabás. Abrimos uma vez por mês, às quartas-feiras, para celebrar a cerimônia do amalá, oferecida a Xangô em pedido de paz, justiça, vitórias, caminhos e saúde. Nosso culto maior é para Oxumaré e também a Xangô, o rei da nossa nação Keto, da qual somos fiéis.

Quero uma cultura melhor para meus filhos de santo, por isso ensino que nossa religião é voltada para culinária, instruindo sobre a comida do santo: o porquê, da onde vem e como foi criado aquilo, sempre exigindo que o estudo seja maior. Acho muito importante instigar essa curiosidade neles, por isso sempre os lembro sobre nossa cultura, naturezas e origem, relembrando quem são nossos ancestrais, para assim manter nossa verdadeira identidade no candomblé. O que eu espero do candomblé é isso, que as pessoas estejam envolvidas, não por estarem, mas por realmente saberem por que estão ali, conscientes. Pois para mim ela é a religião mais linda, rica e culta que conheci, entretanto muitas pessoas ainda não têm noção do poder e da beleza dos seus ensinamentos.

Rua Cel. Joaquim Tibúrcio, 15 (bairro Floramar). Belo Horizonte - MG Telefone: (31) 3433 3538. E-mail: [email protected]

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Centro Espírita Pai Serapião

Foto: Isabel Casimira

Eu sou Claudia Bertonili Gregório, nascida em Belo Horizonte em 16 de abril de 1959. Sou casada com Sebastião Pereira Corrêa. Depois de nossa união conjugal, sentimos a necessidade de trabalharmos espiritualmente na umbanda pela caridade. Em comum acordo decidimos que iríamos realizar atendimento ao público com passes e orientações espirituais dadas pelas entidades com que fomos presenteados.

Nossos guias protetores são o Preto Velho Pai Serapião (incorporado por Sebastião) e o meu Preto Velho Pai João de Aruanda. Colocando-os em incorporação para a caridade, mantemos nossas reuniões uma vez por semana, levando a bandeira da umbanda com muita honra.

Sebastião realiza jogos de cartas para atender os consulentes e, graças a Deus e às forças espirituais de nossas entidades, estamos conduzindo as reuniões para proporcionar aos que nos procuram um pouco de paz e sabedoria espiritual.

Hoje fico à disposição de Pai Serapião para traduzir as palavras e ajudar nos banhos e orientações espirituais necessárias aos consulentes e aos médiuns.

Coordeno na primeira segunda-feira de cada mês reuniões mediúnicas, estando sempre à frente das firmezas. Sempre que necessário, abrimos este gongá a pedido de Pai Serapião. Temos reuniões públicas toda quarta-feira, de 20:00 às 22:00 horas.

Arrecadamos utensílios para doações. Graças a Deus temos o orgulho de contar com a espiritualidade amiga.

Rua Manoel Passos, nº466 (bairro Santa Cruz) Belo Horizonte - MG. E-mail: [email protected]; [email protected]

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Centro Espírita Marechal Floriano Peixoto

Foto: Isabel Casimira

Eu sou Cleone de Souza Pedro, nascido em Belo Horizonte no dia 7 de fevereiro de 1977. Assumi a direção do Centro Espírita Marechal Floriano Peixoto, fundado por meu avô Francisco Luiz da Souza, a seu pedido.

Comecei a ajudar como assistente e os anos foram se passando. Sempre na companhia de meu avô, vendo a maneira como ele conduzia as situações, fui aprendendo como ele comandava e lidava com as pessoas com carinho e atenção. Fui percebendo o respeito que todos tinham por ele, a admiração pela forma como ele dirigia os trabalhos e rituais.

Quando ele adoeceu, em 2002, ficou impossibilitado de conduzir as sessões e me disse que os trabalhos não poderiam ser paralisados. A missão que ele tinha seria minha, pois as pessoas precisavam encontrar as portas abertas para receberem as bênçãos – suas necessidades espirituais deveriam ser resolvidas. Essa era a vontade de meu avô e daí em diante seria a minha. Com muita fé e confiança em Deus e nos guias de luz, com coragem e responsabilidade, tomei frente dos trabalhos. É uma responsabilidade muito grande, mas não poderia fugir a ela. É a minha missão.

Passei a abrir as sessões com as preces como o meu avô sempre fazia. Aos poucos fui pegando experiência, sempre seguindo o ritmo do meu avô, que era a prática da invocação das entidades de luz designadas a vir nos ajudar a prestar a caridade.

O que me deixa bastante contente é saber que tudo que meu avô idealizou e lutou para construir está sendo realizado. Ele partiu sabendo que sua obra continuaria; que eu, Cleone de Souza Pedro, seu neto, com a ajuda de todos, daria continuidade ao que ele semeou com tanta fé e amor.

Agradeço a Deus todos os dias, pois todos que entram nesta Casa recebem bênçãos.

Rua Madre dos Anjos nº 563 (bairro Providência). Belo Horizonte - MG Telefones: (31) 8704-2436 / 3433-6389

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Ilê Axé d’Oyá Kunliejy

Foto: Roberta Kelly Figueiredo

Meu nome é Marjove Augusta Manini Soares, Ialorixá Oyá Kunliejy.

Em nossa Casa, o Ilê Axé d’Oyá Kunliejy, temos reuniões públicas para cultuar a umbanda e o candomblé. Além de mim, é também responsável por esta Casa o meu irmão de santo, Vantuir d’Xangô, o Babalorixá Obaokuta, muito respeitado e querido por todos da Casa.

Meus mentores espirituais foram: na umbanda, o senhor Didi, no bairro Floresta, há 40 anos. No Kardec, o senhor Francisco, no bairro Serrano, há 38 anos. E na umbanda, e depois no candomblé, o senhor Geraldo, no bairro General Carneiro, na cidade de Sabará, onde permaneci por mais de cinco anos.

Meu pai de santo no candomblé é William Brands, o Babalorixá Obarejy, filho de Xangô na nação de Keto, com quem me iniciei em 1997.

Foi meu Pai William quem plantou o Axé de minha Casa, em 1999, que na ocasião ficava na rua Geraldo Faria de Souza, número 18, no bairro da Graça. Lá nos reuníamos para cultuar a umbanda. Com o crescimento da Casa, e do número de filhos de santo, mudamos para o atual endereço.

Rua Bechelany, 181 (bairro Bonsucesso, Barreiro) Belo Horizonte - MG Telefones: (31) 3381-1476/8634-0147 E-mail: [email protected]

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Centro de Umbanda Nanã e Xangô

Foto: Daniel Alves de Jesus

Meu nome é Cássia Aparecida Carlota, Ialorixá Zienin, conhecida como Cássia d’Oxum.

Sou filha de Ia-Talanderê, neta de Ia-Embanda, bisneta de Domi, de Salvador, Bahia.

Atualmente eu sou uma das governantas do Centro de Umbanda Nanã e Xangô, junto com minha mãe, Kota Tainezi, também iniciada nas águas do Bate-folha, por Ia-Talanderê. Somos responsáveis pelo Centro de Umbanda Nanã e Xangô.

Tenho os meus filhos de santo, que também são integrantes do corpo mediúnico desta Casa, fundada no bairro Flávio Marques Lisboa no ano de 1977.

Este terreiro teve início no bairro Pindorama, ainda na minha infância. Ele foi fundado pela minha mãe, Kota Tainezi.

Nossa responsabilidade é muito grande, pois temos um trabalho junto à comunidade de orientação espiritual, tanto para nossos filhos, a comunidade, como para aqueles que procuram nossa Casa: filhos de santo, simpatizantes e admiradores do culto aos orixás.

Avenida Menelik de Carvalho, 1030 (bairro Flávio Marques Lisboa, Barreiro) Belo Horizonte - MG Telefone: (31) 3336-0995

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Terreiro de Candomblé Angola Manzo Ngunzo Kaiango (Senzala de Pai Benedito)

Foto: Juliana Campos

Meu nome é Mametu Muiandê, Efigênia Maria da Conceição. Fui iniciada na umbanda e depois no candomblé e hoje eu tenho um terreiro de candomblé na rua São Tiago, 216, que foi desativado por motivo de um suposto risco de desabamento. Enquanto esperamos a liberação pelo poder público, estamos precariamente alojados em um abrigo. Nós desenvolvemos um projeto social com crianças e adolescentes que se chama Projeto Kizomba. É um trabalho sem fins lucrativos, que atua com doações e trabalho voluntário de amigos e filhos da Casa. É coordenado pelos meus filhos carnais, Maurinho e Cássia. Nosso projeto social atende aos jovens que necessitam de atividades esportivas e educacionais e oferece palestras para prevenir o envolvimento com a criminalidade. Essas crianças estão também desabrigadas com a interdição, pois não temos espaço para continuar a desenvolver o projeto. Esperamos, com a ajuda dos amigos e dos órgãos públicos, poder solucionar este problema do desalojamento. É a nossa maior preocupação. Nossas atividades religiosas também estão suspensas, mas esperamos que as coisas se resolvam.

Eu comecei a minha história com um terreiro de umbanda em uma casinha de madeira – eu, meus três filhos e mais duas pessoas amigas –, e hoje eu tenho um grupo de quase 200 pessoas entre filhos e netos da Casa. Esperamos a colaboração e a consciência dos órgãos públicos para manter a Casa, pois ali distribuímos alimentos e desenvolvemos ações de ajuda comunitária. Fazemos benzeções, chás, remédios e banhos para atendimento da comunidade e oferecemos palestras educativas. Fazemos um apelo não só pela nossa cultura religiosa, mas também pelo projeto social que desenvolvemos e que está paralisado. Por este motivo, reforço o apelo para que as pessoas amigas e de boa vontade possam a nossa luta. Nossas principais celebrações são: Festa de Pai Benedito, no último domingo de maio, quando é realizado o batismo pelo preto velho; Festa de Erê, em outubro, quando também é realizada uma caminhada pela paz no bairro, com a participação dos alunos de capoeira; e a Festa de Matamba, em setembro, que também pode ser comemorada no fim do ano, no dia da festa para as inkisianas. Participamos também de um Encontro Internacional de Capoeira, quando acontecem os batizados dos alunos.

Rua São Tiago, 216 - Santa Efigênia - Belo Horizonte, MG. Telefone: (31) 3283-5986

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Centro Espírita Pai José de Aruanda

Foto: Pedro Moutinho

Meu nome é Maria Ivone de Sena Brasil e eu sou a zeladora do Centro Espírita Pai José de Aruanda. A minha filha é a mãe pequena e o Eduardo é o pai pequeno. Ogã é o Roberto ou o Renato. O Júnior também ajuda. Meu envolvimento com a umbanda surgiu devido às minhas vistas. Eles vieram a descobrir que eu tinha problema de vista depois dos meus 14 anos. A gente foi no seu Zé Arigó, em Congonhas do Campo. Ele recebia o Dr. Fritz, o Bezerra de Menezes... Então ele era mais ou menos assim, dessa linha. Aí ele falou que eu tinha que prestar caridade. Nós continuamos, e mesmo assim eu ainda custei a aceitar porque a minha família era muito católica. Depois, quando eu estava com 18 anos, eu já comecei a frequentar alguns terreiros. E foi aí que eles pegaram e falaram que eu tinha mediunidade e que eu precisava me desenvolver. Eu ainda fiquei um tempo fora, sem aceitar. Depois, aconteceu um problema com o meu sobrinho. Eu já tinha casado, já tinha as minhas filhas nessa época. Então eu comecei. Entrei no dia 13 de outubro e já estava prestando caridade com todos os orixás. Eu devia estar com 35 anos na época. Agora eu já vou fazer 78. Fiquei seis anos nesse Centro Pai João de Congo, onde fui feita. Foi então que os meus irmãos de santo pediram que eu cedesse a minha sala para eles desenvolverem alguns pré-médiuns do nosso Terreiro de Pai João de Congo. Eu cedi a minha sala e aí cresceu um movimento de gente. Foi só aumentando, aumentando, e eu não tive jeito de fechar o terreiro. Então é aqui que eu sigo a minha missão. Os rituais são às segundas, quartas e sextas feiras, das 20 às 22 horas. De mais importante para mim é a união. Todos os filhos têm, assim, aquela fé viva. Para mim é a coisa mais importante que tem dentro do terreiro. Que a união faz a força, não é? Sem a união é muito difícil. Então, graças a Deus, eu não tenho com o que me queixar, não. Esse terreiro não tem problema de desunião. Graças a Deus todo mundo obedece muito à gente e a gente também faz por onde eles nos obedecerem. E no mais, é a ajuda mesmo aqui para o terreiro que a gente não tem. Ajuda assim, de deputados, do governo, dos prefeitos, que não olham para a nossa Casa. Nunca olharam! Agora vamos ver se Deus põe uma benção e possa vir dar uma luz para eles entenderem que nós também precisamos dessa ajuda. O que nós temos? Não temos nada! Temos Deus por nós. Não é isso? O que eu acho que devia ser importante era conhecer essa parte nossa.

Rua Fluorina, 287 (bairro Pompéia). Belo Horizonte – MG. Telefone: (31) 3463 3191

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Ilé Asè Odé Safé Edún Ará

Foto: Juliana Campos

Sou Luiz Safé, ministro religioso do Terreiro Ilé Asè Odé Safé Edún Ará, na Comunidade Quilombola de Mangueiras. Nossa Casa é descendente do Gantois. A minha mãe de santo, Mãe Myrian de Oxum, é filha de Seu Valdemiro de Xangô, que era filho direto de Mãe Menininha.

A maneira como se deu meu encontro com a comunidade de Mangueiras foi realmente uma coisa de orixá, estava escrito pra ser assim. Conheci o pessoal do quilombo em uma das sessões de atendimento que eu realizava, e juntamos a fome com a vontade de comer: eles buscavam alguém para resgatar a religião de matriz africana no grupo e nós buscávamos um local para fundar a Casa de santo. Fui convidado para ir ao quilombo e assim fundamos o Centro. Hoje, contamos com cerca de 40 pessoas envolvidas no terreiro, dentre os moradores do quilombo, pessoas que já me acompanhavam, e outras de procedências diversas que vão chegando ao longo do tempo.

Nosso candomblé é de Keto, mas também realizamos reuniões semanais das entidades da umbanda. A partir deste ano vamos seguir um calendário de festas. Começa com Ogum em abril, Xangô em junho, Olubajé e Oxóssi, dono da Casa, em agosto, Erê em setembro e a Festa de Iabá em dezembro, para encerrar o ano.

Nosso terreiro é muito privilegiado pelo diferencial que a Casa tem: o fato de estar próxima à energia dos orixás, de estar diretamente ligada a esta energia da água, da mata, da folha, e também por estar dentro de um quilombo, um lugar onde tem essa tradição cultural africana tão forte. Nós brincamos que “não tem santo que não chegue nesta Casa”. Uma das principais intenções da nossa Casa é fazer um resgate da religião de matriz africana dentro do quilombo, e por isso eu tenho um enfoque bem didático. Nos apresentamos como uma Casa onde se aprende candomblé, onde se ensina candomblé, onde todas as manifestações são bem vindas, e onde tudo é ensinado e é visto pelos olhos do orixá.

Rodovia MG 020, 1350 (km 13,5) - bairro Ribeiro de Abreu. Belo Horizonte - MG E-mail: [email protected]

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Centro Espírita Caboclo Ficheiro

Foto: Isabel Casimira

Meu nome é Marlene Tavares. Nasci em Belo Horizonte, em 11 de abril de 1944. Sou ialorixá. Depois que raspei recebi o nome de Mãe Marlene das Minas Gerais. A casa do meu pai de santo [já falecido] é uma Casa Nagô Vodum. Fica em Gongo Soco, em Barão de Cocais. Minha Casa é Jeje Mahi e o patrono é o Caboclo Flecheiro. Os presidentes eram meu marido e eu, mas meu marido faleceu. Nós fizemos o santo, mas continuamos na umbanda.

Eu tinha mais de 30 anos de umbanda quando raspei o santo no candomblé. É daí que a pessoa sai para o candomblé: o santo exige e a pessoa tem que raspar. Desde que meu pai de santo faleceu, a Casa dele ficou fechada e agora eu vou reabrir.

Quando o Centro Espírita Caboclo Flecheiro era uma casa só de umbanda a gente cultuava os Pretos Velhos, os Exus, os Caboclos, os Meninos de Angola, os Baianos, os Marujos. E não vamos nunca deixar de cultuar, porque na minha Casa eles têm lugar. Sabe por quê? Porque não é que hoje eu raspei o santo e eu vou esquecer a umbanda.

Os Pretos Velhos já me ajudaram muito! Fizeram muito por mim. E eu vou acumulando, entende? Vou fazendo a minha bagagem: agora tem a parte dos orixás e o meu compromisso com eles. Mas vamos continuar cultuando os negros, os caboclos. Então, na minha Casa reverenciamos os guias de umbanda e todos os orixás. Tem festa para todos.

A Casa está interrompida temporariamente porque está mudando de lugar. Na cidade a gente não está tendo condição mais de manter uma Casa: por causa de uma folha que não tem, não tem uma água. Por isso vamos mudar. Não defini ainda para onde. Porque a gente vai reabrir também a Casa de Barão de Cocais – lá tem água, tem mato. Aqui já não tem o que é mais importante no candomblé: as folhas, a água, esse axé. Quando eu reabrir minha casa, sei que poderei contar com pelo menos uns 30 médiuns; é só avisar que os filhos voltam todos.

Contato: (31) 3485 2509

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a cultura soul em belo horizonte

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07. Soul

Tomás Amaral

Belo Horizonte hoje é a capital mundial do funky soul. A quantidade de eventos que ocorrem semanalmente ligados à musica e à dança de James Brown e a quantidade, originalidade e qualidade técnica de dançarinos de soul na capital mineira, hoje, fazem desta uma cidade ímpar nesse universo. Pretendemos apresentar aqui um resumo – até onde nossa pesquisa nos permite alcançar – da chegada e da eclosão do soul na cidade na década de setenta. E, posteriormente, dos processos de resistência de uns, resgate de outros, e descoberta por parte de uma nova geração; que juntos configuram uma volta potente da música e da dança soul em Belo Horizonte, na atualidade.

A soul music tem origem nos Estados Unidos no final da década de cinquenta. Deriva diretamente do gospel; do rhythm & blues; e carrega em seu DNA, como toda música negra norte-americana, a matriz do blues. No final do Século XIX, os ritmos africanos que os descendentes de escravos ainda tocavam e a energia com que se entregavam em suas celebrações e cultos – em praças e terreiros em diferentes regiões dos Estados Unidos e sobretudo em Nova Orleans – não deixaram de existir quando a maior parte da população negra do país foi trocando os antigos cultos pelas igrejas cristãs. As igrejas batistas dos negros – onde pastores performáticos entretêm as multidões cheios de ritmo e feeling em sua pregações, entoando melodias, refrãos e berros; e a multidão responde em transe, cantando e dançando – deram origem aos cantores de soul.

Os afrodescendentes levaram o ritmo, a energia, a dança e o transe para dentro das quatro paredes das igrejas cristãs. Com contrabaixo, bateria, guitarra elétrica, piano ou órgão e às vezes trompete e saxofone em suas mãos, os negros elevavam os ritmos da tradição da música negra norte-americana, tais como o blues, o swing e o rhythm & blues, aos limites e à transcendência da devoção religiosa. E cantando sempre letras religiosas. Através de músicas que vão das baladas lentas às canções enérgicas, cheias de swing, o gospel ganha um papel fundamental na formação musical de várias gerações negras nos Estados Unidos. A música na tradição gospel é usada como um meio de louvar a Deus. A energia presente na música é, para os participantes do culto, a própria manifestação de espírito divino.

Na década de cinquenta, Ray Charles divulga ao mundo, através da indústria fonográfica, o que se passava musicalmente em tais igrejas de negros, ao gravar aquele ritmo enérgico dos cultos. Algumas pessoas à sua volta foram resistentes a tal ousadia, temendo a banalização de algo sagrado. No entanto, de tal ruptura se tem o nascimento do soul. O que passa a diferir o soul do gospel são as letras e o circuito de distribuição. Assim como o blues, o soul passa a abordar temas mundanos: os cantores cantam sobre mulheres, amor, alegria, tristeza ou descrevem um novo passo de dança. Os cantores e grupos de soul vieram da tradição gospel. Estamos falando de artistas como: Otis Redding, Sam Cooke, Sam & Dave, Wilson Picket, Smokey Robinson, The Supremes, The Impressions, The Delfonics, The Stylistics, The

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Temptations, Stevie Wonder, Aretha Franklin, Al Green, Curtis Mayfield, Marvin Gaye e, claro, James Brown.

James Brown – que já chamava a atenção no mercado étnico da indústria fonográfica em um Estados Unidos sectário, no final da década de cinquenta, com suas interpretações enérgicas de baladas soul – leva a cabo uma revolução na soul music, na primeira metade da década de sessenta, ao lançar hits com o ritmo cada vez mais potente, dançante e negro. No palco, Mr. Brown quer gritar como nenhum cantor gritou antes. Dança, roda, cai de joelhos e se expressa de uma maneira que ninguém parece ter feito antes.

O ex-garoto de rua e líder de gangue; criado em prostíbulos, em meio à jogatina; que dançava para ganhar moedas de marinheiros e soldados; ex-cafetão; ex-traficante de drogas e bebidas e ex-presidiário – e agora um obstinado e incansável artista e homem de negócios – revoluciona a soul music emplacando hits como: Night Train (1962), Out of Sight (1964), Pappa's Got a Brand New Bag (1965) e I Feel Good (1966). Em 1967, uma nova canção sai do forno com o groove inspirado no cool jazz do antigo quinteto de Miles Davis.

A composição que James Brown encomendou ao saxofonista Pee Wee Ellis, chamada Cold Sweat, é um marco do gênero funk. É conhecida como a primeira canção que reduz o que se chama harmonia, em música, a apenas um acorde, privilegiando totalmente a rítmica, também chamada de groove. É, também, a primeira canção que apresenta um breakbeat, ou seja: um intervalo onde todos os instrumentos fazem uma pausa deixando apenas a bateria tocar um ritmo vigoroso. Outros pioneiros da funky music, como Rufus Thomas e Sly & the Family Stone, ajudam a desenvolver o gênero; e a música negra nunca mais seria a mesma.

O funk, como um subgênero do soul, – ou também chamado de funky soul, por não haver uma fronteira nítida entre esses estilos – se torna uma febre pela próxima década. A era disco, por volta de 1977, desbanca o funk das paradas de sucesso, mas por pouco tempo. Na década de oitenta, surge um novo estilo de funk, caracterizado pelo uso de teclados, sintetizadores e uma batida mais reta da música pop. E ainda no final da década de setenta, eclode em Nova York a cultura hip hop, como uma evolução da música e das danças funk.

O hip hop abre um novo mercado e utiliza em suas bases musicais os chamados samples: trechos de músicas reproduzidos, no caso, quase sempre de música funk. Isso faz com que alguns cantores e músicos de funk e soul voltem a achar espaço no mercado no início da década de oitenta, durante a ascensão comercial do hip hop, superando o ostracismo da era disco. Dos anos setenta pra cá, todos os estilos que surgiram dentro da vasta tradição de música dançante, em um âmbito internacional, beberam direta ou indiretamente na fonte da funky music.

O auge da era funk nos Estados Unidos, entre aproximadamente 1968 e 1975, foi um momento de explosão política, estética e comportamental da população negra norte- americana. O movimento negro, que se fortaleceu no começo da década de sessenta, despertou uma série de questionamentos que culminou, dentre outros acontecimentos, na cultura funk. Enquanto o movimento dos direitos civis, tendo Martin Luther King como seu maior representante, mobilizava parte da nação para a urgência de um tratamento igualitário do indivíduo negro na sociedade americana; Malcolm X espalhava o seu pensamento

164 revolucionário, através de uma exímia oratória, em discursos públicos, entrevistas, palestras e debates em programas televisivos, igrejas, escolas e centros acadêmicos. As questões suscitadas por Malcolm iam além do âmbito jurídico.

Seguindo a tradição de Marcus Gave, Malcolm tocava na questão da identidade étnica e cultural da população afrodescendente, despertando a consciência destes indivíduos para o fato de que a opressão sobre o negro na América tinha uma dimensão que ia além da política; e que mesmo a repressão politica, ia além do aspecto jurídico. “Os ataques do governo dos Estados Unidos sobre a sua população negra não configuram um caso de direitos civis, mas um caso de direitos humanos.”, dizia. Em aparições na televisão, em rede nacional, Malcolm X se dirigia aos telespectadores negros: “Quem lhe ensinou a odiar a cor da sua pela? Quem lhe ensinou a odiar a forma natural do seu cabelo? Quem lhe ensinou a odiar a forma do seu nariz?”

Seus questionamentos contribuíram para a transformação estética e comportamental da população negra, primeiramente, nos Estados Unidos. Essa transformação é traduzida no desenvolvimento de uma música mais afro; nos cabelos afro ouriçados; nas batas e túnicas africanas adotadas como vestimenta; no jazz negro de vanguarda; no Partido dos Panteras Negras; e numa onda de conscientização étnica e política contra o racismo e a opressão. A música funk, um soul mais afro e mais dançante, foi traduzida por artistas como: James Brown, Rufus Thomas, Sly & The Family Stone, Fred Wesley and the J.B.'s, Maceo & the Macks, Bobby Byrd, Lyn Collins, Marva Whitney, Hank Ballard, Joe Quarterman, Jimmy Castor Bunch, Kool & the Gang, The Meters, Fatback Band, Average White Band, Mandrill, Commodores, War, The Bar-Kays, Tower of Power, Jean Knight, Ripple, Blackbyrds, The O'Jays, Olympic Runners, Ohio Players, Cameo, Parliament, LTD, Chuck Brown & the Soul Searchers, entre vários outros conhecidos e uma infinidade de menos conhecidos.

O radialista carioca Big Boy é considerado o principal introdutor da soul music no Brasil. Em seu programa Big Boy Show, no final da década de sessenta, Big Boy tocava o que havia de bom, de novo e de raro na música pop internacional. Introduziu ao ouvinte carioca múltiplos artistas do rock n’ roll dos anos sessenta e setenta, mas também da black music. Ao lado do discotecário Ademir Lemos, promoveu os chamados Bailes da Pesada, de 1969 a 1972. O primeiro Baile da Pesada aconteceu na casa de show Canecão, no Rio de Janeiro, e atraiu a juventude da Zona Sul mas também das classes mais baixas. E assim como no programa Big Boy Show, o rock e o soul eram tocados.

Os jovens das classes mais baixas, em sua maioria negros, se identificavam mais com a linha da black music na discotecagem. Observando tal demanda, no início do anos setenta, um negro da zona norte carioca, conhecido por Mr. Funky Santos, fundou uma equipe de som e resolveu promover um baile exclusivamente soul. Esse é o marco da tradição dos bailes black no Brasil. O termo black ganhou uma conotação especial: passou a significar algo ou alguém relacionado com a cultura funk. Na época em que Mr. Funky Santos começou a promover o seu baile soul, já havia ocorrido, lá fora, a transformação do soul para o funk. Devido a um atraso na informação, o que é conhecido como cultura ou música funk nos Estados Unidos e no mundo ficou sendo cultura e música soul no Brasil. O que não é de todo errado, por ser o funk um subgênero do soul.

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Seguindo a equipe Mr. Funky Santos, surgiram no Rio de Janeiro várias equipes de som especializadas em black music, como: Black Power, Furacão 2000, Soul Grand Prix, Dynamic Soul, Cash Box, Equipe Modelo, Soul da Massa, Luizinho e o Som dos Blacks e mais algumas dezenas. Cada uma delas promovia o seu próprio baile e algumas, como as citadas acima, conseguiram lançar discos de coletânea, na época em vinil, com músicas que eram tocadas em seus bailes. Enquanto Big Boy e Ademir Lemos introduziam o soul na pista de dança do Canecão em 1969, Tim Maia, Toni Tornado e Gerson King Combo já introduziam a linguagem do soul em suas músicas, assim como a postura, o penteado e as roupas da nova onda. Toda essa cena soul no Rio de Janeiro ficou conhecida como Black Rio. E esse foi o nome também de uma banda muito representativa para o soul brasileiro. Os músicos da Black Rio colaboraram com muitos dos principais músicos da MPB, nos anos subsequentes.

A cultura black dos anos setenta, eclodiu em outras capitais brasileiras, como: Belo Horizonte, São Paulo, Brasília, Recife, Salvador, Porto Alegre e em mais algumas cidades. Não se sabe até que ponto essas regiões foram influenciadas pela cena black carioca e até que ponto consolidaram sua cena própria paralelamente ao Rio de Janeiro. Em Belo Horizonte, o radialista Geraldão, do programa Ritmos da Noite, da antiga Rádio Cultura, fazia um trabalho de difusão da soul music semelhante ao de Big Boy.

Belo Horizonte já, na década de setenta, se destacava entre as capitais brasileiras por apresentar um movimento soul forte, com adesão em massa da população das periferias. Enquanto nos bailes black em São Paulo se tocava uma vertente mais ampla da black music, incluindo a onda brasileira do samba-rock, no Rio de Janeiro e em Belo Horizonte os bailes eram totalmente focados no funky soul.

Em Belo Horizonte, uma linha mais pesada do funky soul predominou sobre as demais. Isso por causa de um clube no centro da cidade – estamos falando do clube Máscara Negra. O Máscara Negra ficava no começo da Rua Curitiba, quase esquina com a Avenida Afonso Pena, nas imediações da Praça Rio Branco ou “Praça da Rodoviária”. O clube foi fundado em meados da década de setenta – depoimentos de frequentadores apontam para o período entre 1974 e 1976 – e funcionou até o início da década de oitenta. Diversas equipes de som especializadas em funky soul passaram pelo clube: Saturno Som; Sonimagion; Stereo Record Som; e, por fim, Som James. A equipe Som James foi a que ficou mais tempo na casa e por isso é a responsável pela identidade musical do clube. O Máscara Negra tinha a fama de ser o clube mais pesado, onde frequentava a malandragem da época e onde as batidas policiais intimidatórias eram constantes. E, também, de ser o clube onde a música era mais pesada ou, como o próprio nome da equipe Som James sugeria, onde se tocava muito James Brown.

Para a cultura da dança soul em Belo Horizonte, o Máscara Negra foi um lugar obrigatório. Outros clubes de dança no centro também eram bem frequentados pelos blacks. O clube União Síria, com a equipe de som Woodstock, tocava soul de sexta a domingo e organizava frequentemente torneios de dança soul, que atraíam os melhores dançarinos da cidade. Muitos clubes em toda cidade promoviam seus bailes: Clube Orion, Fina Flor, Clube de Dama, Clube da Amizade, Comercial Barreiro, Tremedal, etc. Toda uma geração de negros, pardos e alguns brancos, hoje, em 2012, na faixa de 48 a 63 anos, aproximadamente, vivenciou e se recorda do auge da cultura soul, em que a música e dança estavam por toda parte na cidade.

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Por volta de 1976, um grupo de dançarinos de Belo Horizonte que foi a um encontro de soul no Rio de Janeiro – onde também estiveram presentes dançarinos de São Paulo, Bahia, além dos anfitriões cariocas – foi batizado como Black Minas. O dançarino Walmir Black, de São Paulo, relata que a grande surpresa deste encontro nacional foram os dançarinos mineiros, que apresentavam um estilo de dança bem virtuoso e diferenciado. O grupo Black Minas se manteve por apenas dois anos. Em 1978, surgiu o segundo grupo de dança soul em Belo Horizonte: além de contribuir para a cultura soul na cidade, o África Soul foi um dos responsáveis por trazer, de São Paulo para Belo Horizonte, o MNU (Movimento Negro Unificado).

Por volta de 1981, a cultura do soul começou a declinar na cidade. Os clubes no centro foram se fechando. O Som James, no Máscara Negra, resistiu por mais um ou dois anos. Em 1983, com o intuito de segurar a tradição dos bailes black, Toninho Black monta sua equipe de som, chamada Som Zeppelin Soul, e começa a organizar o seu próprio baile na região de Venda Nova. Com o passar do tempo, e com o soul cada vez mais distante do rádio e da moda, Toninho colocou o nome Baile da Saudade em sua festa, que ficou sendo por muitos anos o único evento periódico de soul na cidade.

O grupo de dança Brother Soul, fundado com dez integrantes, foi formado com o intuito de participar de um torneio de dança promovido por Toninho Black no final de 1983, e, dali em diante, se profissionalizou e realizou inúmeras apresentações em festas e eventos culturais. O Brother Soul está em atividade até hoje, com quatro integrantes. Membros da primeira formação do Brother Soul, ao lado de alguns amigos, foram dos poucos dançarinos que, na segunda metade da década de oitenta e nos anos noventa, não pararam de frequentar o baile do Toninho Black e outros eventos esporádicos ligados à black music.

No final dos anos oitenta, Misael Avelino passa a promover um baile de black music, no DCE da Pontifícia Universidade Católica, onde sempre no final da noite o soul era tocado. Misael, antes dos bailes no DCE, já coordenava a rádio comunitária chamada Rádio Favela, que, fundada por ele no início do anos oitenta, no Aglomerado da Serra, apresentava um grande repertório de funky soul em sua programação. O Aglomerado da Serra sempre foi um grande foco da cultura soul na cidade. Nessa época em que a cultura soul declinou, além do baile de Toninho Black, as favelas foram redutos onde a música e a dança do soul não cessaram. Muitos adeptos da cultura, mesmo não frequentando bailes, não deixavam de ouvir suas músicas favoritas de James Brown em sua laje, em um som potente que fazia com que seus vizinhos ouvissem também. Mais do que isso, sempre houve nas favelas a cultura do som na rua (ou no beco).

Em meados dos anos oitenta, DJ A Coisa, um DJ que vinha do circuito do rap, electro funk e da moda do break, aparece na cena soul da cidade atuando em parceria com o Brother Soul e passa a organizar eventos ligado à soul music. No final da década de noventa, Toninho transfere seu baile para a danceteria Flash Dance, em Venda Nova, e seu baile passa a encher mais, resgatando mais dançarinos de soul. Nos anos 2000, o grupo Brother Soul e outro grupo formado por dançarinos veteranos, o BH Soul, se apresentam em diversas casas noturnas da cidade. Uma nova geração começa a descobrir e apreciar a cultura do soul. O Baile da Saudade passa a atrair gente de toda a cidade, sobretudo um público jovem e universitário. 167

Em 2004, o dançarino Ronaldo Black e o lavador de carro e colecionador de discos, Geraldinho, idealizam a partir de uma apresentação de dança espontânea na calçada a realização de encontros semanais de música e dança na rua, que ganha o nome de Quarteirão do Soul. Organizado com ajuda do DJ A Coisa, alguns amigos e um dono de equipamentos de som chamado Abelha, o Quarteirão se torna um novo ponto de encontro dos dançarinos que frequentavam o Baile da Saudade; e vai ganhando visibilidade no centro da cidade. O DJ Abelha inaugura um movimento itinerante, o Movimento Black Soul, que passa a tocar no próprio Quarteirão do Soul (o espaço físico), dividindo os sábados com o discotecário Geraldinho.

Em 2008, Lord Tuca e Black Steve fundam a Comunidade do Soul, movimento que fixa sua base aos domingos na Praça Sete. Dançarinos, eventos, público e DJs se multiplicam, no entanto nem todos os veteranos são totalmente favorecidos pela situação. Dançarinos profissionais perdem espaço no mercado para amadores, que chegam aos eventos de soul e se contentam com qualquer oferta para apresentações de dança, nem sempre com a mesma qualidade. E o principal responsável por manter a tradição na cidade, o discotecário Toninho Black, tem seu negócio afetado pela abundância de eventos gratuitos.

A inclusão da manifestação soul no presente Catálogo é uma oportunidade para a identificação de alguns dos atores que contribuíram para a história dessa cultura na cidade, cada um em um período específico, e para a exposição ao público de suas trajetórias e informações de contato.

Neste capítulo estão reunidos discotecários, produtores de eventos e dançarinos. Há muitos outros DJs e dançarinos de soul na cidade, importantes para a cultura, que não puderam ser incluídos aqui devido ao próprio limite de páginas que teve de ser estabelecido.

A escolha dos dançarinos para representar o soul neste Catálogo é um recorte que leva em conta o protagonismo dos mesmos no desenvolvimento e, sobretudo, na resistência dessa cultura em Belo Horizonte. E sem dúvida, a originalidade e qualidade técnica também são fatores observados nesta seleção, pois o bom dançarino é o carro chefe da cultura soul.

Para Saber Mais:

Leituras AMARAL, Tomás. A cultura do soul. Brumadinho: Revista Asa-Palavra, nº 14. Faculdade ASA de Brumadinho, 2011.

BROWN, Geoff. A Vida de James Brown. Editora Madras, 2011.

CARDOSO, Marcos Antônio. O Movimento Negro em Belo Horizonte: 1978-1998. Belo Horizonte: Editora Maza Edições, 2002.

HALEY, Alex. Malcolm X. Editora Record, 1992.

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HOBSBAWM, Eric. A História Social do Jazz. Editora Paz e Terra, 1990.

RIBEIRO, Rita Aparecida da Conceição; COSTA, Heloísa Soares de Moura. Identidade e resistência no urbano: o Quarteirão Soul em Belo Horizonte. Belo Horizonte: Tese de Doutorado (Pós-Graduação em Geografia). UFMG/IGC, 2008.

SULLIVAN, James. O Dia em que James Brown Salvou a Pátria. Editora: Jorge Zahar, 2010.

WILLIAMS, Richard. Kind of Blue. Editora Casa da Palavra, 2011.

Filmes BH Soul: a cultura Black de Belo Horizonte (2010), de Tomás Amaral.

JAZZ (2000), de Ken Burns.

Ôrí (1989/2009), de Raquel Gerber.

Soul Survivor (2003), de Jeremy Marre.

Os Irmãos Cara de Pau (The Blues Brothers) (1980), de John Landis.

Ray (2004), de Taylor Hackford.

Wattstax (1973), de Mel Stuart.

Coordenou a pesquisa sobre o Soul: Tomás Amaral

Colaboraram realizando as entrevistas: Luiz Divino Maia, Miriam Aprígio Pereira.

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Localização dos Entrevistados: https://www.google.com/fusiontables/embedviz?viz=MAP&q=select+col2%3E%3E0+from+14 34MiGg0e- pI19NbADjPO8hGNzOw0igo0WjGueY+where+col0%3E%3E0+%3D+'Soul'&h=false&lat=- 19.907279872731596&lng=-43.92802668383786&z=14&t=1&l=col2%3E%3E0&y=1&tmplt=2

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Baile da Saudade (Black Power Hits)

Foto: Tomás Amaral

Meu nome é Antônio Marçal dos Reis, conhecido como Toninho Black. Eu conheci a soul music quando tinha uns 16 anos, no início dos anos 1970. Percebi que era uma música de alma, uma música negra, mas para todas as pessoas, todas as raças. Daí, eu passei a frequentar tudo quanto é baile de soul na cidade, até que essa cultura começou a perder força, início dos anos 80, diante do aparecimento de outras modas, como a dance music.

Para continuar curtindo com os meus amigos a música soul, em 1983 eu aluguei um lugarzinho em Venda Nova. Daí, aos poucos, com a adesão dos blacks de toda cidade, o movimento cresceu. Então, em 1983, lancei o Baile da Saudade – na mesma região, mas noutra casa.

O movimento foi feito para que as pessoas da minha época, que ficaram sem onde curtir o soul, tivessem uma opção para dançar a música, numa forma de valorizar a nossa cultura. Desde 1998 o Baile da Saudade está no espaço atual: a danceteria Flash Dance e acontece aos segundos sábados de cada mês. A intenção de resgatar o pessoal da cultura soul foi sendo alcançada aos poucos. Hoje, conseguimos levantar a cultura.

Acredito que foi a persistência do Baile da Saudade que conseguiu segurar o soul em BH. Graças ao Baile da Saudade, vários outros eventos surgiram no centro da cidade. Se não fosse o Baile, não existiria soul em BH atualmente. Essa é a importância deste trabalho de 29 anos. Eu fico muito satisfeito, pois em vários momentos o soul foi discriminado e eu fui criticado por manter um estilo de música que não estava mais na moda. Houve também altos e baixos, ao longo do tempo: dificuldades de manter o baile com pouco público etc. Mas, hoje, o Baile da Saudade é referência na cultura soul e negra de Belo Horizonte e do Brasil. Eu me sinto gratificado por realizar um encontro de todas as raças e cores, para o pessoal poder curtir o que é a nossa cultura.

Baile da Saudade (Black Power Hits) Av. Padre Pedro Pinto, 6100 (Lagoinha, Venda Nova). Belo Horizonte - MG Telefones: (31) 3549-5721 (Toninho Black); 3456-6595 (Danceteria Flash Dance)

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Black Steve

Foto: Nian Pissolati Meu nome é Aloísio Gomes Vaz, sou conhecido como Steve ou pelo nome artístico Black Steve. Frequentei vários clubes de soul na década de 70, como Comercial do Barreiro, Máscara Negra, União Síria, Orion e outros. Participei de muitos torneios de dança promovidos por esses clubes e ganhei muitos troféus. Já fiz, como dançarino, várias apresentações ao lado de bandas e cantores, como Gerson King Combo e Lauren Hill. Meu estilo de dança é muito focado em James Brown, com movimentos elegantes no tronco, cabeça e braços e um sapateado técnico e veloz.

Em 1976 fui um dos fundadores do primeiro grupo de dança soul em Minas Gerais: o Black Minas. Depois fiz parte do grupo África Soul, de 1978 a 1981, que foi um dos responsáveis, nessa época, por trazer o Movimento Negro Unificado Contra a Discriminação Racial, hoje MNU, para Belo Horizonte. Já em 1983, surgiu o Brother Soul, que foi o maior grupo de dança de que participei, em termos de repercussão. Permaneci no Brother Soul por quase duas décadas, período em que fizemos várias apresentações. Durante o recesso do soul na cidade, com a entrada de outros ritmos, fui um dos poucos dançarinos que resistiram: eu, os outros integrantes do Brother Soul, o Toninho Black, do Baile da Saudade, e alguns amigos. O Toninho às vezes pagava pra dar o baile, pra manter a chama do soul acesa. No início de 2000, fui um dos fundadores do BH Soul, último grupo de que participei. Tive participação também na fundação de movimentos de soul na última década, como: Quarteirão do Soul, Movimento Black Soul e Comunidade do Soul, em Belo Horizonte; e Esquinão do Soul, em Santa Luzia.

Eu fui um dos primeiros blacks a aparecer na mídia, ainda na década de setenta. Na ocasião era um programa de variedades, apresentado por Barbosa Neto, na TV Bandeirantes. De lá pra cá, participei de várias reportagens e programas, como o programa "Qual é o Seu Talento?", em cadeia nacional pelo SBT. Sou convidado eventualmente a participar de debates relativos à cultura.

Uma das minhas preocupações é preservar a história do soul em Belo Horizonte e difundi-la pelo mundo.

Black Steve Rua Seis, 166 (Conjunto Novo Aarão Reis). Belo Horizonte-MG Telefone: (31) 3445-8628; 9647-7534. E-mail: [email protected]

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Brother Soul

Foto: Camila Lacerda

Meu nome é José Antônio Tito e sou conhecido como Mestre Tito. Sou mestre de capoeira, também, e dançarino e fundador, juntamente com Conrad Brown, do grupo de dança Brother Soul.

O grupo foi criado em 1983 para manter a tradição do estilo de dança de James Brown. A partir dessa premissa, já realizamos mais de 1.400 apresentações nesses 30 anos de estrada.

Em nossas apresentações levamos ao público a tradição da música soul e de trajes estilizados – como ternos, sobretudos e sapatos finos.

O grupo já teve várias formações e hoje somos quatro integrantes: Conrad Brown, Don Adenauer, Lord Tuca e eu, Mestre Tito. Nos apresentamos constantemente em toda região metropolitana de Belo Horizonte e às vezes em outras cidades e estados, dividindo o palco com diversos artistas.

Atuamos também em projetos sociais em parceria com ONGs e o poder público. Sempre difundindo o estilo de dança ligado ao nosso grande ídolo James Brown.

Brother Soul Associação de Capoeira Cultural Social Santa Rita, Sede Brother Soul Rua José Pedro de Brito, 52 (Vila Santa Rita, Vale do Jatobá) 30668-590 Belo Horizonte - MG Telefones: (31) 3385-673; 9107-2657 (Mestre Tito)

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Comunidade do Soul

Lord Tuca

Eu sou o Lord Tuca. Tenho 48 anos, sou pintor industrial e civil e sou envolvido com o soul desde os 9 anos de idade. Minha luta é para não deixar o soul acabar. O ritmo já andou perigando, pois veio o rock, a lambada, a disco... Mas, sempre ficou a semente. Um dos clubes responsáveis pela permanência do soul em BH é a Flash Dance, em Venda Nova. Mesmo quando quase não recebia ninguém, o clube permaneceu firme, sem visar apenas o lucro e sem se render aos ritmos da moda. Por isso, apoio e não deixo de frequentar o Baile da Saudade, na Flash Dance.

Minha história com o soul é de fidelidade. Eu fui a todos os clubes de BH: Tremendal, União Síria, Orion, Sparta, Máscara Negra, Italiana... Participei do Sucata Soul, do BH Soul e tenho uma longa história com o Brother Soul, grupo do qual faço parte hoje. Eu e meus companheiros militamos pelo soul durante várias décadas.

A Comunidade do Soul foi fundada por mim e por Steve, velho companheiro, no dia 19 de junho de 2009. Nós começamos realizando eventos aos domingos, debaixo do Viaduto de Santa Tereza e ficamos lá quase um ano. O Steve saiu, mas eu dei continuidade, aos trancos e barrancos, com ajuda de outros companheiros. O Geraldinho, do Alto Vera Cruz, foi o primeiro a emprestar o som. Depois veio o som do Pezão, que ficou muito tempo.

Em 2010, a Comunidade do Soul foi para a Praça Sete, com apoio do Sr. Oswaldo, síndico da Galeria Praça Sete. O dono do som atual na Comunidade do Soul é o Valdir Black e os discotecários que fazem o som são: Conrado, Marcos, Sr. Jair, Tomás e outros. Eles se revezam, das 15 às 22 horas. No Movimento, eu também faço caravanas (com Lady Valéria, minha esposa) para outros estados e para o interior de Minas Gerais.

Comunidade do Soul - Praça Sete Rua Rio de Janeiro entre Tamoios e Afonso Pena com Amazonas (Centro) Aos 3º e 5º domingos de cada mês, das 15 às 22 horas. Telefone: (31) 9939-4049 (Lord Tuca) E-mail: [email protected] (Lucas Alexandre, filho de Lord Tuca)

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James

Foto: Nian Pissolati

Eu sou Alvimar Seixas, mas meu apelido de dançarino é James. Eu cresci na Pedreira Prado Lopes, nas imediações dos bairros Bonfim e Lagoinha, zona boêmia de Belo Horizonte. Quando eu tinha 7 anos de idade, as mulheres da zona já me davam moedas para eu dançar twist encerando o quarto delas, ali nas ruas Bonfim e Paquequer.

A partir dos 14 anos comecei a dançar o soul e não parei mais. Frequentei todos os grandes clubes de soul da cidade, como o Máscara Negra, o União Síria e outros, e era um dançarino de destaque nesses clubes.

Eu fui o dançarino que mais ganhou troféus em concursos de dança soul em Belo Horizonte. Participei dos grupos Black Minas, de 1976 a 1977, África Soul, de 1978 a 1981, e Brother Soul, de 1984 a 1987, aproximadamente.

Sempre me destaquei individualmente por ter um estilo mais rápido e agressivo de dança, sem perder a elegância.

Hoje eu danço principalmente na Praça Sete. Minha situação financeira não me permite ir frequentemente a eventos pagos, por isso frequento mais os movimentos de rua. Mas às vezes sou convidado para festas e outros eventos.

Minha vida inteira foi baseada em dança e, na época, em karatê e capoeira, também. Já passei por muitas provações e a dança é o que me mantém vivo. Eu tenho a dança como uma coisa espiritual. A dança pra mim é tudo, é o que me faz sentir feliz.

James: “A melhor forma de me encontrar é me procurando aos sábados na rua Santa Catarina e aos domingos na Praça Sete, nos movimentos de soul.”

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Kaká

Foto: Nian Pissolati

Meu nome é Antônio Carlos dos Santos, conhecido como Kaká. Eu me defino como um dançarino de soul e black music.

O meu maior objetivo é engrandecer o nosso estilo de dança. Tenho mais de 30 anos de dança, já frequentei vários bailes black e procuro estar sempre praticando, aperfeiçoando e levando a dança para novos lugares e novas pessoas.

A dança pra mim é muito importante. Comecei a dançar imitando o Toni Tornado na televisão e frequentando as festinhas em casas de família. Depois frequentei clubes e quadras, conheci muita gente que dançava bem e desenvolvi o meu estilo próprio. Eu tive uma equipe nos anos 80 que se chamava Eletric Soul. Participei de vários eventos e concursos, tanto com equipe quanto individualmente, e ganhei muitos troféus.

Eu fui um dos dançarinos que resistiu na época em que o soul estava em baixa. Fui frequentador fiel do baile do Toninho Black, nesse período, depois conseguimos levantar o soul e eu continuo frequentando o baile até hoje.

Aqui na região do Mantiqueira e de Venda Nova em geral, sou bastante conhecido no universo da black music. Isso por sempre ter sido um dançarino assíduo e de destaque nos bailes. Desde a época dos bailes na danceteria Ritmos, depois nas Quadras do Vilarinho, depois na Flash Dance, mas também onde quer que tivesse um sonzinho.

Hoje frequento os principais eventos de soul que acontecem na cidade e, enquanto eu tiver saúde, vou estar praticando e difundindo a arte da dança black.

Kaká Rua Maria Rosa da Silva, 84 (bairro Mantiqueira, Venda Nova) Belo Horizonte - MG Telefone: (31) 8560-5682

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Lília

Foto: Acervo Pessoal

Meu nome é Lília Mari e sou adepta do soul desde a adolescência – desde os anos 1970, durante o período de ditadura, época de muita repressão.

O soul faz parte da minha história. Eu carrego o soul na alma.

Essa cultura retornou na atualidade resgatando a velha guarda e hoje a vemos como um programa familiar.

A dança é uma terapia tanto para a mente quanto para o corpo. Através do soul temos a oportunidade de reviver o passado e rever as amizades de décadas atrás.

O soul é carente de apoio por parte do poder público, mas é uma cultura negra muito presente na nossa cidade.

Apesar da discriminação que sofremos no passado, a gente resistiu e nossa tradição continua sendo transmitida de geração pra geração.

Ao acompanhar novos segmentos musicais, como o hip hop, identifico reivindicações que os jovens fazem hoje por justiça social entre pobres e ricos, negros e brancos, que já estavam presentes de alguma forma no nosso movimento, durante minha juventude.

Eu fico feliz por fazer parte desta história e quero deixar aos meus netos esse legado.

Lília Rua Gabro, 412 (bairro Santa Tereza) Belo Horizonte – MG Telefone: (31) 3434-9738

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Lorinho

Foto: Tomás Amaral

Meu nome é José Maria Gonçalves e, no cenário do soul, sou conhecido como Lorinho. A dança sempre fez parte da minha vida, eu danço desde a década de 60. Mas minha entrada no universo do soul ocorreu quando tive contato com a performance do cantor e dançarino Toni Tornado. Foi nesta época que eu e meus amigos do Aglomerado da Serra nos reuníamos nas casas vizinhas para curtirmos juntos o estilo que chamávamos de Brown.

Nessa época, introduzíamos em nossas coreografias passinhos ensaiados. Todos dançávamos um mesmo estilo. Esses passos, que até recebiam nomes, alguns deles, eram copiados dos clubes de dança do centro da cidade. Um aprendia e ensinava aos outros, pois muitos de nós não frequentávamos os clubes, por não termos o hábito de sair do morro.

Em relação à dança individual, eu tive influência da dança afro e do jazz, que me ajudaram a desenvolver um estilo diferenciado de dançar o soul. O que me proporcionou premiações em concursos de clubes de dança.

A dança faz parte do meu cotidiano. Eu invisto em um visual diferenciado, composto de muito brilho, para dar destaque e embelezar o movimento.

O soul é uma cultura da rua e uma riqueza cultural do povo negro de Belo Horizonte e do mundo. Esse movimento merece um status de atração turística, por ser uma manifestação que atrai um público amplo e variado.

Lorinho Rua João Samaha, 456 (São João Batista) Belo Horizonte - MG Telefone: (31) 8612-3908

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Luís Cadeado

Foto: Acervo Pessoal

Meu nome é Luiz Carlos Candido de Oliveira, sou conhecido como Cadeado. Sou adepto da cultura black desde menino e, já por volta dos 14 anos, comecei a participar dos bailes de soul, sendo o antigo Máscara Negra a grande referência dos bailes da época. Já promovi bailes com o meu próprio som em clubes e comunidades. Fui ganhador de vários concursos de dança na época dos grandes bailes, mas o que tenho de mais precioso são as amizades que permaneceram e as recordações de vários momentos. Não é por acaso que soul significa “alma”.

O soul, em sua origem, teve como adeptos as classes menos favorecidas e, na atualidade, novas gerações de todas as classes vêm aderindo a essa cultura periférica. Nem todos têm conhecimento das reivindicações manifestadas por nós nos anos setenta – contra a pobreza, a discriminação, as injustiças sociais... Ainda hoje existe uma espécie de ditadura velada. A cultura soul pode, através de sua ideologia, auxiliar a juventude atual na contestação dessa ordem vigente de desigualdade.

É necessário reconhecer, hoje, que o soul é uma manifestação cultural com virtudes. Cabe ao poder público da cidade conceder um apoio à cultura soul, reconhecendo o seu valor. É preciso valorizá-la concedendo espaços e estruturas mais condizentes com o ambiente de família que o soul proporciona. Os bailes black são uma oportunidade de confraternizarmos com antigas amizades, esquecermos nossos problemas e, na pista de dança, nos sentirmos jovens novamente, com a alegria de viver.

Por ser, o movimento soul, uma referência positiva para a sociedade, seria legítimo a obtenção de um auxílio no sentido de resgatar os veteranos da década de 70, para multiplicar essa cultura. Soma-se a isso o fato de que a cena de BH é referência no universo soul do Brasil.

Rua Gabro, 412 (bairro Santa Tereza) Belo Horizonte – MG Telefone: (31) 3434-9738

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Miquita

Foto Tomás Amaral

Eu sou o Miquita, dançarino há quatro décadas. Hoje estou com 61 anos, em plena atividade física, dançando o soul. Fui também, por muitos anos, bailarino de jazz, afro e balé clássico.

Participei das melhores academias de Belo Horizonte, como: Academia Internacional de Ballet, Aruanda, Grupo Corpo e Meia-Ponta.

Sou um dançarino da primeira geração do soul em Belo Horizonte, quer dizer, do início dos anos 1960.

Fui fundador, ao lado de Flávio Pereira, do grupo Black Panthers, que foi o primeiro grupo de dançarinos de soul da cidade, que se expandiu para a dança afro e o balé.

Fiz uma pequena participação em um espetáculo da companhia Teatro Guaíra, de Curitiba, e uma turnê com o cantor Tim Maia pela América do Sul, em 1982.

Frequentei diversos clubes de soul nos anos 70 e 80 e continuo praticando a arte do soul, com a preocupação de manter a tradição e não deixar que a banalização e o oportunismo prejudiquem a essência da cultura.

Rua Rodrigues Alves, 44 (Lagoinha) Belo Horizonte - MG Telefone: (31) 8747-2188

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Misael Avelino

Foto: Arquivo pessoal

Meu nome é Misael Avelino dos Santos. Sou idealizador e radialista da Rádio Autentica FM, antiga Rádio Favela, que emite suas ondas como sendo “a voz do morro”, desde 1981. No final dos anos 1980, buscando alternativas de preservação do soul, criei o Som Sheik, que tocava no DCE da PUC e foi até meados dos anos 90. Nessa mesma década, passei a realizar na Rádio o programa Favela Soul, que vai ao ar todas as sextas-feiras a partir das 22 horas. E, mais recentemente, auxiliei na realização do movimento Quarteirão do Soul, que ocorre todos os sábados no centro de Belo Horizonte. Sou o único locutor oficial na América Latina a possuir um programa semanal de difusão da soul music e me orgulho de ajudar na preservação da memória dessa expressão, cujo precursor é o nosso grande ídolo James Brown.

Defendo a cultura soul por sua ideologia e por seu rico legado e acredito que o poder público deveria assegurar a preservação dessa cultura negra, que cativa a todos e possui status de atração turística na cidade. A black music é uma forma de resistência, pois, apesar de toda a opressão e discriminação sofrida até então, a ideia persiste e promove uma valorização da cultura negra na atualidade por parte do próprio povo negro.

Uso o microfone para assegurar a difusão e a permanência do soul. Eu não sou um dançarino na condição de artista, mas tenho a dança como uma grande forma de prazer. Na condição de difusor dessa cultura, vejo a necessidade de as pessoas encontrarem um local aprazível, uma vez que esta contempla crianças, idosos, senhoras, enfim – toda a família. Defendo também a ideia da valorização de outras manifestações artísticas oriundas da cultura negra em Belo Horizonte, tais como o movimento hip hop, o samba e o pagode, entre outros.

Rua Flor de Maio, 85 (Vila Nossa Senhora de Fátima, Serra) 30230-160 Belo Horizonte - MG Telefone: (31) 3282-1045 (Rádio Favela)

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Movimento Black Soul

Foto: Tomás Amaral

Meu nome é Valdeci Candido, mais conhecido como DJ Abelha. Sou o responsável pelo som intitulado Movimento Black Soul, que realiza sons itinerantes com o objetivo de resgatar os dançarinos de soul da cidade.

Meu envolvimento com música e som acontece desde a década de oitenta, quando eu já realizava sonorização em festas e eventos. A partir de 2003, comecei a trabalhar com a black music de forma itinerante, em uma Caravan dourada, 86, nos aglomerados e bairros diversos da nossa grande Belo Horizonte.

Em 2004, ajudei a fundar o Quarteirão do Soul, ponto de encontro dos blacks no centro da cidade, onde dou som até hoje pra rapaziada dançar na rua.

O Quarteirão acontece todos os sábados e eu dou o som todos os primeiros e segundos sábados de cada mês. E no segundo domingo do mês o Movimento Black Soul dá som na Praça Sete.

O movimento é carente de ações vindas do poder público. E já que reunimos gerações, classes e etnias diversas, buscamos um olhar diferenciado sobre nós, para que não só o soul, mas todas as manifestações da cultura negra continuem atraindo público e proporcionando alegria a todos. O soul resgatou a minha felicidade e eu espero proporcionar isto a outros.

Movimento Black Soul Todo 1o e 2o sábado do mês: Rua Santa Catarina, entre rua dos Tupis e Av. Amazonas (Centro) Ao 2o domingo de cada mês: Praça Sete - rua Rio de Janeiro entre Tamoios e Av. Afonso Pena com Amazonas (Centro) Telefone DJ Abelha: (31) 9122-2979

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Quarteirão do Soul

Foto: Nian Pissolati

Sou Geraldinho, um dos fundadores, em 26 de Abril de 2004, do Quarteirão do Soul. O evento começou na rua Goitacazes, entre São Paulo e Curitiba. De lá pra cá, tivemos problemas e fomos transferidos, em 2009, para a rua Santa Catarina. A prefeitura reconhece o movimento, mas ainda temos problemas com o transporte de equipamentos e carecemos de melhores estruturas. A gente passa o chapéu em cada evento para arrecadar uma ajuda de custo que possibilita transportar e guardar o equipamento de som. Nosso objetivo é levar um pouco de alegria e paz às pessoas na rua.

Eu comecei a curtir a black music em 1972 e frequentei os grandes bailes de Belo Horizonte existentes na época. De 1975 pra frente, já tinha minha equipe de som; eu comecei a tocar, era discotecário e dançava também. Eu fazia bailes no Bairro São Geraldo, Caetano Furquim, Pompéia, Vera Cruz, Boa Vista, Santa Inês. A gente fazia muitos bailes naquela época.

Com o tempo, o estilo de música mudou; entrou a discoteca, a lambada... Foi passando a moda da black music. Hoje, o ritmo está de volta. A maior parte do público do Quarteirão do Soul é dos anos setenta, pessoas que iam aos grandes bailes da época, como Máscara Negra, União Síria, Tremedal e Orion. Tinha também grupo do Clube do Dama, o Clube do Barreiro, o Saturno, do Pompéia...

Os meninos, os jovens, estão vindo hoje para aprender a dançar no Quarteirão do Soul. A gente tenta trazê-los para verem o que era a música dos anos setenta. Hoje, os dançarinos dos anos setenta estão na faixa de 50 a 60 anos. E os jovens estão frequentando e conhecendo a nossa cultura. Vindo para dançar passinhos, trocando o funk de hoje pelo black dos anos setenta. Daqui a algum tempo teremos uma nova geração de dançarinos de soul. Aí vai ser bom...

Quarteirão do Soul Aos terceiros e quartos sábados do mês Rua Santa Catarina, entre rua dos Tupis e avenida Amazonas (Centro) Belo Horizonte - MG Telefone: (31) 8533-6210 (Geraldinho)

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Ronaldo Black

Foto: Tomás Amaral

Meu nome é Ronaldo Bernardo, mais conhecido como Ronaldo Black. Tenho 55 anos, hoje, e danço desde os 8. Eu comecei na época do iê-iê-iê, do twist, daquele rock mais dançante; aí veio o estilo beliscat e depois veio o soul. Até hoje estou nesse mesmo movimento. O auge da onda black, no final dos anos setenta, foi a época mais pesada que a gente viveu. Era a época da repressão... Mas a gente tinha tanto amor pelo soul que éramos presos numa semana e na outra estávamos de novo no mesmo clube pra dançar. Nos anos oitenta, o soul decaiu, mas eu e alguns amigos como o Tuca, Marlúcio, Zé Adão, Tito, Conrado, Steve, insistimos com o movimento. A gente frequentava o som do Toninho, que era o único baile soul na cidade e começamos a fazer apresentações em casas noturnas, principalmente na Zona Sul. Depois começamos a nos apresentar também com a banda Berimbrown, no meio dos anos noventa. Então quando as pessoas nos viam dançando e gostavam, a gente indicava o Baile da Saudade. Daí o Baile e o movimento foram só crescendo. Nós levamos esse processo de resgate até mesmo pro Rio de Janeiro. Os blacks de lá se inspiraram na gente, através do contato que tivemos, para também voltar com a cena soul de lá.

Em 2004, eu, o Geraldinho e outros amigos estávamos ouvindo um som na rua Goitacazes e eu comecei a dançar na calçada. Depois chegou o Abelha, que a gente conheceu naquele momento, com um carro que tinha um som mais potente. Daí parou um tanto de gente pra me ver dançar. Eu propus pro Geraldinho, pro Godê, pro Zezinho, pra gente fazer, ali, no Centro, um ponto de encontro dos blacks, como era a Galeria do Ouvidor nos anos setenta. No sábado seguinte estávamos lá com o som na rua, o DJ A Coisa trouxe o equipamento. Esse encontro se tornou o Quarteirão do Soul. Depois comecei a achar que os dançarinos foram deixando de ser maioria e o Quarteirão virou um ponto para as pessoas beberem e baterem papo, perdendo um pouco daquela essência de praticar a cultura. Então eu resolvi fundar um movimento em Santa Luzia, onde moro, pra tentar pôr em prática esses ideais. Fundei, em 2007, junto a alguns amigos, o movimento Esquinão do Soul, na Avenida Brasília, no bairro São Benedito. O que eu tento transmitir para as pessoas é que o soul pode despertar a cidadania e a paz interior.

Ronaldo Black Rua Geraldo Teixeira da Costa, 1670 (bairro São Benedito). Santa Luzia – MG Telefone: (31) 8618-4064

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a capoeira em belo horizonte

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08. Capoeira

Caroline Césari Rubens Silva

Indissociável da história do afrodescendente no Brasil, a capoeira traz na magia dos seus movimentos, na destreza do seu gingado, na mandinga do seu jogo, na melodia dos seus cânticos e no ritual de suas rodas, referências de um legado africano recriado, com sabedoria e malícia, nos tempos idos da escravidão em nosso país.

Difícil localizar com precisão no tempo e no espaço a origem mais remota deste jogo e arte, dança e luta, que se insinua ser a expressão viva do “somatório de diversas danças rituais praticadas em um amplo arco da África que abasteceu os negreiros” (SOARES, 2004). Há versões que situam o aparecimento da capoeira no espaço marginal das senzalas, praticada pelos escravos dos grandes engenhos monocultores do período colonial, enquanto outras contextualizam o surgimento da capoeira nos grandes centros urbanos do século XVIII, com destaque para as cidades de Salvador e Rio de Janeiro (SOARES, 2004).

Destacada como uma expressão das variadas formas de resistência dos africanos e dos seus descendentes contra o regime opressor da escravidão, a capoeira, ao longo de sua história, para alcançar legitimidade e tornar-se aceita no contexto da sociedade brasileira, exigiu dos seus praticantes a coragem de não se acomodar diante dos inúmeros desafios enfrentados para dedicar-se de corpo e alma a esta prática cultural afro-brasileira; bem como lançar mão de estratégias, as mais diversas, para sobreviver, principalmente durante o período em que foi duramente perseguida, ao lado de outras modalidades culturais de matriz africana no Brasil (como, por exemplo, as religiões e os batuques). Em 1890, a capoeira foi alvo recorrente da perseguição policial e acabou criminalizada de acordo com o Código Penal como prática violenta e um tipo de “vadiagem” que colocava em risco a ordem social vigente.

Alianças complicadas também se inscrevem na história da capoeira no Brasil, sobretudo no final do XIX, quando muitos praticantes desta arte do corpo tiveram participação ativa em processos eleitorais fraudulentos que marcaram o jogo político da disputa pelo poder durante todo o período da velha república. Esse comportamento político perdurou até o advento da chamada Revolução de 1930, com a instauração do governo populista do então presidente Getúlio Vargas.

É no contexto político desse governo que a capoeira sai da ilegalidade, em 1936, ao ser excluída a referência a esta prática cultural do Código Penal Brasileiro. Os interesses que envolveram essa decisão eram, todavia, meramente políticos. Tratava-se de uma estratégia de cooptação da capoeira, visando, por um lado, o controle pelo Estado das práticas culturais consideradas marginais; e, por outro, a promoção da imagem desta prática cultural, que começava a cair no gosto das elites intelectuais e econômicas como autêntico esporte nacional e símbolo da configuração identitária da nação brasileira ao lado de outras expressões de matriz africana prestigiadas, como o candomblé e o samba.

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Neste cenário é que entram em cena duas importantes referências do processo de legitimidade e divulgação da capoeira dentro e fora do Brasil: os mestres capoeiristas Manuel dos Reis Machado, o “mestre Bimba”; e Vicente Ferreira Pastinha, o “mestre Pastinha”.

De modo inovador e inspirado na prática das artes marciais, mestre Bimba introduziu no cenário da capoeira o jogo da “pernada alta”, caracterizado pelos movimentos acrobáticos e ligeiros que distinguiu o estilo da “capoeira regional” inventada por ele. Bimba também se destacou como fundador da primeira organização oficialmente registrada, voltada para o ensino da capoeira como atividade física e esporte no Brasil, chamada “Centro de Cultura Física”.

Vicente Ferreira Pastinha, o “mestre Pastinha”, diferentemente de Bimba, dedicou-se à prática e transmissão de um estilo considerado mais tradicional e próprio de se jogar capoeira, caracterizado por movimentos rasteiros, lentos, enganadores e surpreendentes. Assim, diferentemente de mestre Bimba, que propõe um estilo de capoeira esportivizado inspirado nas artes marciais, Pastinha defendeu uma proposta de capoeira como prática ritual e filosofia de vida, fundamentados em princípios e visão de mundo evocativos de uma africanidade.

Não obstante as diferenças entre concepções da prática capoeirista e o estilo de jogo defendido por um e outro, é indiscutível a importância de mestre Pastinha e mestre Bimba para o processo de difusão, reconhecimento e valorização que a capoeira desfruta hoje dentro e fora do Brasil. Entretanto, se a dedicação abnegada a esta expressão cultural afro- brasileira por estes grandes mestres, apropriada depois como símbolo identitário nacional, rendeu a eles prestígio e renome. Isso, todavia, não significou para a realidade dos mesmos uma oportunidade de escapar à condição estrutural que ainda hoje entrelaça as histórias de vida de muitos afrodescendentes e amantes da capoeira integrantes da sociedade brasileira, pois ambos levaram desde sempre uma vida difícil e morreram na miséria.

A trajetória da capoeira em Belo Horizonte apresenta as suas particularidades, mas não deixa também de refletir as experiências individuais e dramas coletivos que se registra na história, de um modo geral, das expressões culturais e religiosas de matriz africana reinventadas no Brasil: perseguição policial, discriminação, estigma, preconceitos e marginalização. Tradição introduzida tardiamente na cidade, a chegada e disseminação da capoeira nesta localidade é atribuída ao esforço, a partir da década de 1960, de dois pioneiros: um capoeirista vindo de Juiz de Fora, Toninho Cavalieri, o “mestre Cavalieri”, iniciado desde os sete anos de idade na “pernada carioca” (como era chamada a capoeira aprendida por ele); e Amadeu Martins, o “grão-mestre ”.

Mestre Cavalieri foi quem deu o primeiro passo ao chegar na capital mineira nos anos 1960. Por questão de sobrevivência, ele se ofereceu para trabalhar como professor de capoeira numa entidade associativa da cidade, a Associação Cristã de Moços (ACM). A atividade chamou a atenção da clientela e atraiu um contingente significativo de pessoas pertencentes à classe média da capital mineira. Assim, lembra o mestre, “foi o começo da capoeira aqui em Belo Horizonte” (ver LUCE, 2012).

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Já mestre Dunga, quando chegou na cidade no início dos anos 1960, foi ensinar esta arte do corpo no quintal de sua casa, numa favela conhecida pela denominação de “Vila dos Marmiteiros” e em espaços públicos como a estação rodoviária e a Praça da Liberdade, dividindo espaço com a feira de artesanato, surgida com os hippies, na década de 1970, naquele lugar.

Contudo, o mais importante é considerar que estes dois grandes mestres da capoeira em Minas Gerais foram persistentes. A despeito da perseguição policial, as críticas negativas, a discriminação e o preconceito contra a prática da capoeira e, por extensão, contra eles pessoalmente, mestre Cavalieri e grão-mestre Dunga não se furtaram ao desafio de abrir caminhos e participar ativamente da construção da história da capoeira em Belo Horizonte.

Entretanto, é preciso creditar o esforço persistente pela consolidação, crescimento e continuidade da tradição da capoeira em Belo Horizonte a muitos outros nomes também. Tanto capoeiristas iniciados nas rodas de capoeira lideradas pelo mestre Cavalieri ou nas rodas do grão-mestre Dunga – que aconteciam principalmente na Praça Sete, região central da capital – quanto aqueles ligados a outros mestres e iniciados em outras rodas de capoeira, vindos de outros estados dispostos a se estabelecer entre as montanhas de Minas: mestre Jacaré, mestre Luiz Mineiro, mestre Negão (Márcio Alexandre - já falecido), mestre Boca, mestre Paulão, mestre Biba, mestre Tigrê, mestre Chocolate, mestre Noventa, mestre Gaio; e os cariocas de Duque de Caxias, mestre Cobra Mansa, mestre Rogério e mestre Jurandir, percussores da Capoeira Angola belo-horizontina, que depois foram seguidos por mestre Léo, mestre Primo e mestre João que mantiveram essa tradição e são até hoje responsáveis pelos principais trabalhos e grupos de Capoeira Angola da cidade.

Atualmente, existem cerca de 80 grupos de capoeira compondo a paisagem cultural de Belo Horizonte. É importante destacar os nomes dos mestres que os fundaram, sobretudo como reconhecimento bem merecido de que o papel desempenhados por eles para a promoção desta expressão cultural afro-brasileira na capital mineira – num diálogo inclusive constante com os Movimentos Negros organizados (MNU, CASA DANDARA...) e demais expressões culturais afro-mineiras (religiões, congados, sambas, dança afro etc.). Tal desempenho se reflete hoje na consciência critica das ações políticas de inclusão social e afirmação positiva da identidade afrodescendente no universo da capoeira nas Gerais, que veio acrescentar ao esforço dos grandes mestres que os antecederam e tornaram referência emblemática da história desta tradição no Brasil e no mundo, mais uma vez relembrando mestre Bimba e mestre Pastinha. É preciso ter-se claro que a capoeira, como toda tradição que mantém o seu vigor, é dinâmica e a sua continuidade é prova de que isso só foi possível graças à sua capacidade de se reinventar e se atualizar com o passar do tempo. E se esse movimento, de avanços e recuos, aconteceu e acontece é porque indivíduos concretos, pessoas de carne e osso em seu tempo presente, se dispõem a prestar sua contribuição individual no processo da ação coletiva que constrói os rumos da história de um grupo ou povo.

Em suma, nos dias de hoje, em que a capoeira tornou-se uma expressão cultural mundializada – tendo sido, inclusive, registrada pelo Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) como patrimônio cultural brasileiro (e é uma das candidatas ao reconhecimento pela UNESCO como patrimônio da humanidade) – está em pauta a reivindicação dos capoeiristas pela inclusão de uma aposentadoria para os mestres mais

188 velhos, de um plano de saúde específico e de financiamento e ajuda na manutenção ou construção das sedes dos grupos onde esses mestres são referências, entre os itens do “Plano de Salvaguarda” vinculado ao processo de patrimonialização dos bens imateriais; o Conselho de Mestres de Capoeira de Belo Horizonte e região metropolitana (que surgiu por iniciativa dos próprios capoeiristas da capital mineira) acaba de ser fundado; e a imagem e voz da capoeira e capoeiristas é valorizada e trazida a público nas páginas deste catálogo – há que se reconhecer que os afrodescendentes desde o passado longínquo, assim como aqueles de outras origens étnico-raciais que beberam na fonte das expressões religiosas e culturais afro-brasileiras, tiveram que aprender de vez a lição de “quem traz na pele essa marca”: é preciso, sempre, ter força, ter manha, ter graça, ter sonhos e ter fé na vida!

Outros mestres em BH:

CAAB - mestre Medonha Braz; Centro Cultural e Social Cais da Bahia - mestre Chocolate; Grupo de Capoeira do Bairro Mineirão - Eduardo; Associação de Capoeira Cultural Social Santa Rita - mestre Tito; Centro Mineiro de Capoeiragem - mestre Guto; Capoeira Origem - professor Pretinho; Grupo Kuenda - Márcio; Grupo de Capoeira Aruanda - Belson; Associação Capoeira e Cultura Arte Nossa - mestre Tocha; Capoeira Amazonas - mestre Baiano; Capoeira Brasil - professor Bambu; Associação Mineira de Capoeira Raça de Minas - Neide; Grupo de Capoeira Abolição - Carlos Roberto; Grupo Ancestrais - professor Val; Senzala Novo Horizonte - Emerson de Paula; Guerreiros de Palmares Unidos do Faísca - mestre Faísca; A Capoeira - professor Sururu; Grupo de Capoeira Belo Horizonte - mestre Tigre; Os Quilombolas - Everton Dias; Roda Capoeira - contramestre Sorriso; Capoeira Vanguarda - mestre Calango; Grupo de Capoeira Axé Carcará - Márcio; Grupo Esporão - professor Peninha; Arte e Ofício Capoeira - mestre Parafuso; Gingarte - mestre Pelota; Grito de Liberdade - mestre Saci; Capoeira Vanguarda - mestre Calango; Associação de Capoeira Quilombo Raízes de Minas - mestre China; Capoeirarte Brasil - mestre Poeta; Centro Cultural Terreiro de Brasil - contramestre Mandruvá; Equilíbrio Físico - Ricardão; Grupo Raiz de Minas - mestre Boi; Grupo Mundo Capoeira - Zé Baixinho; Grupo de Capoeira Cordel Afiado - professor Polako; Centro Esportivo União Zona Norte - mestre Fantasma; ACCAAP - Leandro; Capoeira Lenço de Seda - Diogo.

PARA SABER MAIS:

ABIB, Pedro R. J. Capoeira Angola: Cultura Popular e o jogo dos saberes na roda. Tese de Doutorado em Ciências Sociais aplicadas à Educação: UNICAMP, 2004.

LUCE, Patrícia Campos. O local e o global na capoeira em Belo Horizonte. Belo Horizonte: Nandyala, 2012.

NORONHA, Daniel. O ABC da Capoeira Angola: os manuscritos do Mestre Noronha. Brasília: DEFER, Centro de Informação e Documentação sobre a Capoeira (CIDOCA/DF), 1993.

PASTINHA, Vicente Ferreira. Capoeira Angola Por Mestre Pastinha. Salvador, Escola Gráfica N. Sra. de Loreto, 1964.

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REGO, Waldeloir. Capoeira Angola: Ensaio Sócio-Etnográfico. Salvados: Editora Itapoã, 1968.

SOARES, Carlos Eugênio Líbano. A Negregada Instituição: Os Capoeiras no Rio de janeiro. Rio de janeiro: Secretaria Municipal de Cultura, Departamento Geral de documentação e Informação Cultural, divisão de editoração, 1994.

SOARES, Carlos Eugênio Líbano. A Capoeira Escrava: e outras tradições rebeldes no Rio de Janeiro (1808-1850). Campinas, SP: Editora da UNICAMP/ Centro de Pesquisa em História Social da Cultura, 2001.

SOARES, Carlos Eugênio Líbano. “O poder da capoeira: navalhas e rabos-de-arraia na luta política do Rio antigo. In: Revista Nossa História. Rio de Janeiro, ano 1, nº5, p.13-20, Marc. 2004.

Em Belo Horizonte

GONÇALVES, Ramon Lopes (Mestre Negoativo). Capoeiragem no País das Gerais. Belo Horizonte: Nandyala, 2010.

LUCE, Patrícia Campos. O local e o global na capoeira em Belo Horizonte. Belo Horizonte: Nandyala, 2012

MAIA, Carla Linhares. Entre gingas e berimbaus: culturas juvenis e escolas. Belo Horizonte, MG: Autêntica, 2008. 154 p.

Documentários

Mestre Pastinha: Uma vida pela capoeira.

Mestre Bimba: A capoeira iluminada.

A Fina Flor da Malandragem.

Mandinga em Manhattan

Paz no Mundo Camará: A Capoeira e a Volta que o Mundo Dá

Coordenaram a pesquisa sobre a Capoeira: Ruben Silva e Caroline Césari

Colaboraram realizando as entrevistas: Alder Oliva, Caroline Césari, Iran Joter Lacerda, Luiza Vianna e Luiz Divino Maia

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Localização dos Entrevistados: https://www.google.com/fusiontables/embedviz?viz=MAP&q=select+col2>>0+from+1434MiG g0e-pI19NbADjPO8hGNzOw0igo0WjGueY+where+col0>>0+=+'Capoeira'&h=false&lat=- 19.90975639182015&lng=-43.93920613101193&z=13&t=1&l=col2>>0&y=1&tmplt=2

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Grupo Bantus Capoeira

Foto: acervo pessoal

Meu nome é Maíra Cesarino Soares. Faço capoeira há 14 anos, sempre no grupo Bantus Capoeira. Em 1992, mestre Pintor fundou o Grupo Bantus Capoeira em Belo Horizonte e convidou o mestre João Pequeno para ser padrinho do grupo. Nossa sede funcionou durante muito tempo na rua Rio Grande do Norte, perto da trincheira da Savassi. Hoje nós não estamos mais nesse endereço, mas as ações do grupo continuam ligadas principalmente a projetos sociais como o Fica Vivo, do Governo Estadual de Minas Gerais, e a Escola Integrada, da Prefeitura de Belo Horizonte. O mestre Pintor hoje está morando em Brasília, mas vem aqui em BH uma vez por mês, daí fazemos rodas e encontros com os outros integrantes do grupo.

Nossas cores são o vermelho, o preto e o branco, que remetem ao povo Bantu, na África. O mestre Pintor escolheu essas cores e determinou que o nome seria Bantus, no plural, como uma referência à africanidade e às nações Bantu que vieram para o Brasil. Como o mestre Pintor não vive na cidade, o formado Lobão e eu estamos contribuindo para a manutenção do grupo em BH. Temos também outros professores que trabalham em outros países que nos ajudam no sustento do grupo. Além de cada professor realizar seus eventos nos projetos nos quais trabalham, realizamos, juntos, anualmente, um festival que conta com a presença do mestre Pintor, de mestres convidados de outros estados brasileiros, dos alunos do grupo e dos envolvidos nos projetos sociais, dos professores que atuam em BH, dos professores que trabalham nos outros países e alguns de seus alunos. Já contamos com mais de trezentos participantes nesse evento.

O grupo para mim é a minha segunda família, sempre fui muito ligada ao mestre Pintor e hoje uso a capoeira também como referência para a minha vida profissional. A capoeira deixa marcas em nosso corpo que nunca se apagam. Sou atriz e dou aulas de preparação corporal para atores utilizando elementos dessa corporeidade afro-brasileira característica da capoeira.

Contato: Contramestre Marmota Rua Zodíaco, 680 (bairro Santa Lúcia). 30360-430 Belo Horizonte - MG Telefones: (31) 3297-2046; (31) 9162-2909. E-mail: [email protected]

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Instituto de Capoeira Brasileira

Foto: Alder Oliva

Eu, Marcelo de Paula, nascido em 16 de janeiro de 1968, conhecido como mestre Marcelinho, sou discípulo do grão mestre Reinaldo. Comecei com o mestre Toninho Bocão, com quem aprendi os primeiros passos. A gente nunca pode negar nossas raízes. Sou oriundo de uma legião de capoeiras do bairro Paraíso, de onde saíram grandes capoeiristas. Comecei em 1980 a praticar a capoeira. Já estive em outros grupos, sendo que fui um dos fundadores do Artes das Gerais e trouxe o Muzenza para BH. Hoje sou um dos alunos mais antigos do mestre Reinaldo em atividade, mas tem outros grandes alunos do grão mestre Rei em atividade por aí. Me sinto honrado por fazer parte deste time.

Pratico capoeira porque sempre gostei de defender minha raça e tudo aquilo que está envolvido com a negritude, pois isso significa a minha cultura e do meu povo. Não abro mão de estar sempre praticando uma capoeira com qualidade e acima de tudo com lealdade. Procuro respeitar a todos de forma igual e jamais me aproveitar da fraqueza de alguém para tirar qualquer tipo de proveito.

Sou o fundador do Instituto de Capoeira Brasileira (ICB), grupo que faz um trabalho totalmente voltado para o resgate da velha guarda da capoeiragem de Minas e a valorização dos capoeiristas que estão chegando no momento. O ICB estará sempre valorizando aquelas pessoas que abriram o mato e colocaram as primeiras pedras para essa construção tão maravilhosa chamada capoeira. Procuro fazer dela a minha filosofia de vida, agindo sempre com honestidade, e ensinando, dando exemplo, sendo um espelho para aqueles que estão nos acompanhando no dia a dia. Nossa meta é colocar a capoeira nos melhores lugares da nossa sociedade e temos o projeto de um dia ainda fazermos um batizado no Palácio das Artes. O ICB estará sempre de portas abertas para todo e qualquer tipo de movimentação onde a raça negra estiver.

Rua Padre Marinho, 320 (bairro Santa Efigênia). Belo Horizonte - MG Telefone: (31) 8705-8232 E-mail: [email protected]

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Centro de Cultura Canzuá Capoeira

Foto: Luiza Vianna

Meu nome é Bocão. Sou aluno do mestre Mão Branca. Iniciei a capoeira com o meu mestre em 1980. Em 1995 fui formado mestre do Grupo Capoeira Gerais por ele.

Fundei o Centro de Cultura Canzuá Capoeira no ano de 1999, com a intenção de consolidar um trabalho de pesquisa e documentação referentes à capoeiragem. Mantenho um forte vínculo com o trabalho do meu mestre, inclusive utilizando o mesmo nome do seu grupo, Capoeira Gerais, para o grupo de capoeira mantido pelo centro.

Uma grande meta do Centro de Cultura Canzuá Capoeira é consolidar o diálogo entre o saber popular e o conhecimento acadêmico. Dessa maneira, realizamos eventos que buscam permitir aos alunos a convivência com os grandes mestres da cultura popular, como também com pesquisadores de diversos campos.

Desde 1997 realizamos simpósios universitários de capoeira e o Circuito de cultura popular com esse objetivo, buscando assim promover o resgate e a divulgação do conhecimento, da história, das tradições e rituais da capoeiragem e dos legados populares, criando um acervo de documentos e imagens para as próximas gerações.

O grupo conta com uma sede própria, onde é desenvolvido o trabalho com a capoeira e outras atividades ligadas ao acervo documental do núcleo, como apresentações de filmes, palestras e reuniões de grupos de pesquisa.

Atualmente, o grupo tem mais de 200 integrantes em Belo Horizonte, além de representantes no exterior, e alunos desenvolvendo esse trabalho em escolas, universidades e centros sociais.

Rua Ceará, 1568 A (bairro Funcionários). Belo Horizonte - MG Telefone: (31) 9166-7777. E-mail: [email protected] Site: http://bocao.tripod.com

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Grupo Internacional Oficina da Capoeira

Foto: Alder Oliva

Meu nome é Raimundo Ferreira de Souza, completo 50 anos em agosto 2012. Sou conhecido no mundo da capoeira como mestre Ray, já a pratico há 35 anos.

Tenho levado a capoeira a diversas partes do Brasil e do mundo. Eu considero que minha função na sociedade seja ensinar capoeira, que a minha principal missão é levar a capoeira a todos as pessoas.

Onde tiver alguém que queira e goste de capoeira eu estou disposto a ensinar. Se eu conseguir incluir na capoeira uma pessoa por dia, trinta pessoas por mês, 365 pessoas por ano, aí eu posso dizer que estou cumprindo a minha trajetória.

Nós temos alunos nos representando em quinze países no mundo, oito estados do Brasil, com a nossa principal filosofia que é: axé e felicidade. A capoeira é uma coisa séria que nós fazemos brincando.

Temos que respeitá-la, preservar seus fundamentos, mas sempre atentos à evolução do mundo, à globalização, à ciência que está dentro da capoeira, porque dessa forma estaremos mantendo as tradições e fundamentos que foram deixados pelos velhos mestres.

Eu gosto e pratico a capoeira como um todo: como filosofia, como história, como luta, como música, como tudo, como vadiação. A capoeira é a minha paixão. Conheça e pratique a capoeira!!!

Rua Pouso Alegre, 854 (bairro Floresta). Belo Horizonte - MG Telefone: (31) 8820-6635 E-mail: [email protected] Site: www.mestreray.com

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Muzenza Capoeira

Mestre Cavalo (Foto: Luiza Vianna)

Sou Allisson Gray de Souza, meu apelido na capoeira é mestre Cavalo. Esse apelido foi dado pelo mestre Reinaldo por eu ter me destacado numa corrida, que era um exercício físico dado pelo mestre. Meu primeiro contato com a capoeira foi em 1985, depois parei, retornei em 1987 e estou aí até hoje.

O grupo Muzenza Capoeira tem o mestre Burguês, do Rio de Janeiro, onde eu me formei como mestre em 2005. Estamos fazendo um trabalho aqui, no bairro Esplanada, zona Leste, onde fazemos as nossas rodas todas as sextas-feiras, às 19:30. E participamos da roda da feira hippie, aos domingos.

Uma vez por mês a gente visita creches e asilos levando o jogo, a brincadeira, o samba de roda e a alegria que a capoeira proporciona. Nos divertimos também onde o aprendizado é muito bom.

O grupo Muzenza está em quase todos os estados do Brasil e em mais de 15 países.

Aqui em Belo Horizonte temos de 100 a 150 integrantes, entre professores, instrutores, monitores, graduados, alunos e simpatizantes. Estamos aí, buscando o nosso espaço na resistência da capoeira.

Contato: Mestre Cavalo Rua Francisco Lobo, 725 (bairro Esplanada) Belo Horizonte - MG Telefone: (31) 8615-3084 E-mail: [email protected] Site: www.muzenzamg.com.br

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Centro de Cultura Arte Quilombo Capoeira

Mestre Buléia (Foto: Luiza Vianna)

Meu nome é Joemilson Marques da Silva, conhecido como mestre Buléia. Iniciei a capoeira em 1976, na época jovem, adolescente ainda, por necessidade de praticar a cultura afro- brasileira. Hoje sou fundador do Arte Quilombo Capoeira, com sede própria aqui na comunidade do bairro Vista Alegre, região do Cabana. A gente atende crianças e adolescentes no espaço cultural aqui.

Vivo da capoeira, vivo pela capoeira. A capoeira, pra mim, significou minha inclusão social e foi muito significativo ter entrado em contato com a capoeira ainda na juventude.

Hoje sou educador social, trabalho em creches aqui na região Oeste e também na zona Sul. Desenvolvemos trabalhos de capoeira com parcerias em Ibirité, Nova Contagem e outras localidades.

Estou fazendo parte da Comissão dos mestres do estado de Minas Gerais, o que é muito importante para estar divulgando mais a nossa cultura afro-brasileira. Nós temos parceria também com outros segmentos afro como, por exemplo, o hip hop e o soul. A gente sempre está ai fazendo os trabalhos. Tive a oportunidade de divulgar a nossa cultura afro-brasileira na Alemanha e em outros estados do Brasil também.

O Arte Quilombo surgiu da necessidade de estar resgatando as matrizes africanas. A gente trabalha aqui com o resgate das nossas raízes.

Contato: Mestre Buléia Rua Epaminondas Otoni, 111 (bairro Vista Alegre) Belo Horizonte - MG Telefone: (31) 9985-7128 E-mail: [email protected]

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Centro Cultural e Social de Capoeira Mandinga Mineira

Foto: Iran Joter

Meu nome é Jamil Francisco da Costa, tenho 46 anos de idade e 30 de capoeira. Em 1994 fundei o Mandinga Mineira. No grupo, procuramos divulgar a capoeira regional, ensinada por mestre Bimba, e valorizar os mestres daqui e os alunos que participam dos trabalhos sociais que fazemos em várias comunidades carentes de BH.

Sou fruto de um projeto social: comecei a capoeira na década de 80, no Alto Vera Cruz, e sou protagonista da minha própria história. Então resolvi fundar o grupo para divulgar a capoeira em Minas e no mundo e para dar continuidade a esse trabalho do qual eu sou fruto.

Eu sou mineiro da gema e a mandinga, pra mim, é o jogo de cintura que temos no dia a dia.

Hoje sobrevivo de capoeira, realizo e participo de eventos, encontros e seminários sobre capoeira. Sou um capoeirista que tá vivo no meio, participando de tudo e sempre querendo mais.

Nosso maior foco é o desenvolvimento de trabalhos sociais com alunos carentes em toda a cidade. Busco, junto com o mestre Peninha, que também está nessa luta comigo, transformar a capoeira em uma ferramenta capaz de promover educação, cidadania e a valorização das crianças e jovens dessas comunidades.

No grupo trabalhamos também com outras expressões como a dança afro, a puxada de rede, o samba de roda, a percussão e o maculelê. Desenvolvemos uma roda na feira hippie, na avenida Afonso Pena, uma vez por mês e contamos com a participação de vários mestres e vários grupos. Nossa ideia é mostrar para o nosso povo o valor da capoeira de Minas.

Mestre Tyson, Centro de Referência e Assistência Social (CRAS/PBH) Rua Mem de Sá, 1500 (bairro Vila Fazendinha). Belo Horizonte - MG. Telefone: (31) 3284-6344. E-mail: [email protected]

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Associação de Capoeira Angola Dobrada

Mestre Índio (Foto: acervo pessoal)

Meu nome é Carlos Roberto Gallo, mestre Índio. Sou mestre de capoeira, formado por mestre Rogério, que foi o responsável pelo primeiro trabalho de capoeira Angola de Belo Horizonte. Nasci em Várzea da Palma, MG, e sou o responsável pelo grupo de Belo Horizonte e também pelos núcleos da Itália, em Cesena e Bolonha. Vivo hoje no interior de Minas, em São Gonçalo do Rio da Pedras, onde trabalho com capoeira com crianças e desenvolvo um trabalho na comunidade ligado à saúde popular.

Sou raizeiro e trabalho com a saúde das comunidades rurais e tento também sensibilizar meus alunos daqui da cidade. Vivo pela capoeira e com a capoeira e não da capoeira. Venho a BH uma vez por mês, mas sempre estou ligado em tudo o que acontece e tenho uma participação no grupo no sentido de dar as diretrizes e ajudar na organização de projetos e eventos.

A Associação de Capoeira Angola Dobrada está completando 20 anos em maio e temos cinco núcleos na Alemanha, além dos dois da Itália, e dos núcleos brasileiros de BH e Curitiba. Hoje temos um corpo forte de pessoas que me ajudam a segurar o trabalho na ACAD. O treinel Iran e a contramestre Alcione seguram o trabalho aqui na sede, onde fazemos nossa tradicional roda todas as quintas às 19 horas. Temos também trabalhos na UFMG, no milharal da FAFICH, e na Utópica Marcenaria, na avenida Raja Gabália, 4700.

Essa minha preocupação com os métodos de cura ligados aos conhecimentos populares das plantas e ervas medicinais é o que diferencia minha forma de pensar e atuar como produtor da cultura popular. Tento levar esses meus conhecimentos para a capoeira angola, no sentido de sensibilizar meus alunos quanto à importância dos cuidados com a saúde e com hábitos alimentares e de vida mais saudáveis. Capoeira é saúde!

Rua Capitão Bragança, 39 (bairro Santa Tereza). Belo Horizonte - MG Telefone: (31) 9772-5704. E-mail: [email protected]

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Associação Sinhá Bahia de Capoeira

Foto: Luiza Vianna

Meu nome é Robiston Mateus da Silva, sou conhecido como mestre Binha. Iniciei na capoeira em 1978 e a partir de 1985 comecei a desenvolver um trabalho em BH voltado para a educação, inclusão social e para promover a cidadania.

Desenvolvemos nosso trabalho em comunidades carentes nas regiões do bairro Cabana e do Barreiro, também em toda a grande BH, no interior de Minas, em alguns estados do Brasil e no exterior.

A Associação Sinhá Bahia de Capoeira tem hoje 7 mestres e aproximadamente 6 mil pessoas frequentes dentro do nosso trabalho. Além da capoeira fazemos percussão, dança e outras atividades culturais. Trabalhamos em comunidades, em parceria com paróquias, escolas, creches e associações.

Nosso objetivo é atingir o público infantil e a classe mais vulnerável através da educação, que é para nós um todo: tem a parte formal – a escola –, e a informal – a cultura, o esporte e o lazer. Realizamos rodas, palestras, passeios e eventos nacionais e internacionais. Temos parceria com várias instituições que simpatizam com nosso trabalho e abrimos espaço para formação de pessoas que buscam promover trabalhos culturais.

Estamos disponíveis na nossa academia a qualquer momento. Esperamos que qualquer pessoa, grupo e etnia possa participar do nosso trabalho, que é um grupo livre.

Termino aqui com meu muito obrigado!

Rua Hervália, 31 (bairro Caiçara). Belo Horizonte - MG Telefone: (31) 9141-4860 / (31) 3054-6685 E-mail: [email protected] Site: www.sinhabahia.com.br

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Associação de Capoeira Cordão de Ouro

Foto: Iran Joter

A Associação de Capoeira Cordão de Ouro foi fundada em 1º de setembro de 1967 por Reinaldo Ramos Suassuna. De lá para cá o grupo se espalhou por todo território nacional e vários países dos cinco continentes. Em Belo Horizonte, eu, Mestre Fuinha, sou responsável pelo grupo e conto com a ajuda de outros professores e instrutores.

Iniciei na capoeira já no grupo Cordão de Ouro, em 1992. No ano 2000, me formei como professor e em 2010 recebi a primeira graduação de mestre. Aqui no grupo, crianças, jovens e adultos podem praticar capoeira, dança afro-brasileira, maculelê, puxada de rede e samba de roda. Além disso, temos parcerias com escolas infantis e de educação especial, sem contar com o grande trabalho social na comunidade do Morro do Papagaio/Barragem Santa Lúcia, em um projeto que conta com o apoio das famílias e das instituições envolvidas.

Em 2009 formei uma turma de 8 professores. Entre eles, três estão nos EUA e outros no interior de Minas Gerais com grandes trabalhos e parcerias com prefeituras, escolas e ONGs. Hoje, conto com uma equipe de profissionais de 14 pessoas que atendem mais de 20 escolas só na capital.

O grande diferencial do grupo Cordão de Ouro é trabalhar com foco na educação e na cidadania, seja para crianças, jovens e adultos de diferentes classes sociais ou ainda alunos com diferentes limitações, com necessidades especiais.

A capoeira é o grande meio no qual nos tornamos todos iguais e aprendemos a respeitar essas diferenças. E principalmente aprendemos uns com os outros para crescermos juntos de uma maneira consciente.

Rua Conde de Linhares, 1089 (bairro Luxemburgo). Belo Horizonte - MG Telefone: (31) 8654-2999 E-mail: [email protected] Site: www.cordaodeourobh.com

201

Grupo Axé Para Todos

Foto: Luiza Vianna

Eu me chamo Humberto Placedino da Silva, sou conhecido como Nego Humberto. Iniciei capoeira aos 8 anos de idade, em 1965, com um dos alunos do mestre Pastinha, o Josemir, filho da Dona Maria Baiana.

Com o tempo eu fui conhecendo outros mestres, como o mestre Jacaré, que me levou pra treinar na casa dele, o mestre Dunga, Mestre Cavalieri, Marcio Alexandre. Assim, fui desenvolvendo meu trabalho na capoeira até que eu fui treinar com o Caica, no bairro Floresta. E lá eu fiquei treinando uns 15 anos, no grupo Meia Lua. Em 88 eu fundei o grupo Axé Para Todos, no dia 13 de maio de 1988, com 15 jovens daqui do bairro Boa Vista. E até hoje nós estamos nessa caminhada. Já passaram vários alunos pelo grupo, mas por motivos da vida, cada um às vezes tem que partir para um lado, mas o grupo continua.

O meu objetivo é o trabalho social – poder tirar as crianças da rua e do caminho das drogas e formar cidadãos. Não apenas um capoeira, mas um cidadão. Esse é o meu objetivo.

Pratico vários tipos de atividades culturais, como dança afro, frequento o movimento negro, sempre em busca de coisas novas para poder passar para os alunos. Recebo convites para viajar, para me apresentar.

Cada dia que passa a gente vai sendo mais conhecido e conhecendo novos capoeiristas nessa caminhada. O capoeira é um “caminhador”. A gente tem que caminhar pra divulgar o nosso trabalho.

Rua Elvira Augusta, 423 (bairro Boa Vista). Belo Horizonte – MG Telefone: (31) 9797-9145 / (31) 3485-8194 E-mail: [email protected]

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Grupo de Capoeira Mãe África

Mestre Gavião (Foto: Alder Oliva)

Eu, Flávio Pereira da Silva, nascido em 20 de outubro de 1964, conhecido no meio da capoeira como mestre Gavião, discípulo do mestre Chuvisco e consequentemente do grão- mestre Dunga. Pratico capoeira formalmente há 36 anos. Sou fundador do grupo de capoeira Mãe África, que já tem 16 anos de existência na cidade, e sou um dos responsáveis por levar a capoeira ao bairro Alípio de Melo.

Meu primeiro contato com a capoeira foi com oito anos de idade, no bairro Primavera. Ficava vendo Antônio, Mandioca e João se movimentando e não entendia muito bem o que era aquilo. Foi então que perguntei pra eles e conheci a capoeira.

Nessa época, não era muito comum ter crianças na capoeira, praticava sozinho mesmo, olhando e praticando. Depois de ficar dos 8 aos 11 anos treinando sozinho, meu irmão viu que eu levava jeito para o negócio e falou que eu tinha que treinar mesmo, em um lugar próprio, com mestre.

Como já frequentava (como espectador) a roda da Praça Sete, procurei o grão-mestre Dunga e lá chegando percebi que estava com os “bambas” de Belo Horizonte. Logo pensei: quero estar na nata da capoeira, ser bamba também. Continuei treinando com o mestre Chuvisco, aluno do Dunga até ser formado mestre.

Meu objetivo maior é elevar a capoeira ao seu real prestígio, sempre construindo e fortalecendo essa nossa arte.

Contato: Mestre Gavião Rua Leonel Prata, 400 (bairro Alípio de Melo) Belo Horizonte - MG Telefone: (31) 9651-2123

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Grupo Ginga de Capoeira

Mestre Agostinho (Foto: Beatriz Accioly)

Eu me chamo José Agostinho, sou conhecido como mestre Agostinho, do Grupo Ginga. Nasci em Olhos D’Água, no norte de Minas, e vim para BH aos 18 anos de idade pra trabalhar na “cidade grande”. Comecei fazendo vários serviços, de ajudante de pedreiro a serviços de faxina e segurança.

Lembro do dia em que vi pela primeira vez a capoeira... Vi o filho da dona da casa em que eu trabalhava fazendo movimentos diferentes, com alguns amigos na rua, que só depois fui saber que se tratava de movimentos da capoeira. Mas fiquei encantado com aquilo e ficava em casa sozinho tentando repetir o que tinha visto.

Depois de um tempo, fui chamado para trabalhar em uma academia que estava abrindo – era o início da Ginga em 1984. Eu era responsável pela limpeza da academia e também fazia alguns serviços de office boy. Mas continuei encantado com a capoeira e comecei a treinar de manhã cedo, antes dos primeiros alunos chegarem. Aos poucos fui pegando o jeito e meu mestre, que é o mestre Macaco, falou para eu substituir algum professor que não pudesse ir dar aula. Assim eu comecei e até hoje não saí da capoeira...

Hoje estou na coordenação do grupo, que já tem núcleos em Nanuque e também fora do Brasil – na Dinamarca e na Espanha. Além das aulas na Ginga, tenho um projeto com crianças carentes no bairro Jardim América e outro com pessoas portadoras de necessidades especiais.

Meu desejo é retribuir para a capoeira tudo que ela já me deu... A ideia aqui é levar a capoeira da melhor maneira possível, colocar ela no lugar que ela merece, com respeito, com humildade e união. Esse é o Grupo Ginga!

Contato: Mestre Agostinho Av. Nossa Senhora do Carmo, 123 (bairro Sion) Belo Horizonte - MG Telefone: (31) 3281-1706 E-mail: [email protected]

204

Grupo de Capoeira Minas Gerais

Mestre Jiboia (Foto: Iran Joter)

Meu nome é Juraci Guimarães dos Santos, sou conhecido por mestre Jiboia.

Faço meu trabalho aqui no bairro Primeiro de Maio há muitos anos. Comecei na capoeira com 20 anos e passei por vários grupos: treinei com mestre Paulinho Jesus Cristo, com o mestre Chuvisco e depois com o mestre Mão Branca.

Minha paixão mesmo é a criançada, o trabalho social que faço aqui no bairro. Procuro tirar essas crianças da rua e sempre falo pra eles o que é bom e o que é ruim.

Hoje temos que tomar conta mesmo, não podemos deixar eles aí à revelia das drogas e do crime, pela rua afora. Inclusive, minha vinda para o bairro foi muito bacana, hoje eu recebo muitos elogios da população daqui. As mães me procuram para colocar as crianças na capoeira e muitas me agradecem pelo trabalho que realizo. Isso pra mim é minha vida.

Acho que todo mundo da capoeira tinha que trabalhar no morro, porque eles estão precisando. Eu estou aqui pronto pra ajudar e fazer minha parte.

Sou bem conhecido no bairro onde atuo, e também no meio da capoeira. Hoje tenho meu grupo, o Capoeira Minas Gerais, um grupo conhecido e respeitado na cidade.

Contato: Mestre Jiboia Rua Nossa Senhora da Glória, 131 (bairro 1º de Maio) Belo Horizonte - MG Telefone: (31) 9608-3810 E-mail: [email protected]

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Grupo Abadá Capoeira

Professor Camaleão, ao centro, durante um encontro de capoeira em Pitangui, MG. (Foto: acervo pessoal)

Meu nome é William José da Silva, conhecido como professor Camaleão. Eu atuo na capoeira desde 1995, quando entrei no Grupo Abadá Capoeira, mas estou no movimento há mais tempo, desde 1984.

O que me fez entrar para a capoeira foi a energia boa e positiva que senti quando, pela primeira vez, vi uma roda de capoeira. Isso aconteceu no bairro Alto Vera Cruz, há 28 anos. O sentimento foi contagiante, e muito forte também pelo fato de gostar de instrumento, de música e de luta.

O Abadá Capoeira existe desde 1988, fundado por mestre Camisa, no Rio de Janeiro. Está em Belo Horizonte desde 1993. Como disse, faço parte do grupo desde 1995. Nesse ano, eu entrei como estagiário, apesar de já ser instrutor, condição adquirida na experiência que tive com a academia do mestre Chuvisco, do Barro Preto, entre 1984 a 1995. Com o tempo no Abadá Capoeira, em 2006 eu conquistei a graduação de professor. Desde então, ministro aulas e treinos em vários locais de BH e várias cidades de Minas Gerais, onde também realizo cursos, jogos, batizados e coordenação de outros alunos. Eu participo também de cursos em outros estados do Brasil. Quero dizer ainda que, com os treinos e os eventos que organizo, além das participações em outros eventos, pretendo me formar mestre de capoeira.

Eu entendo a capoeira como a filosofia de minha vida, pelos diversos benefícios que ela me traz, como ter uma boa saúde, por ser uma atividade física; o reconhecimento adquirido por poder ajudar muitas pessoas; os lugares que me leva, pelas viagens que faço para desenvolver atividades do grupo; e os intercâmbios que me proporciona com pessoas de diversos lugares do mundo.

Contato: Professor Camaleão Rua Apolo Oito, 242, Conjunto Átila de Paiva (bairro Barreiro) Belo Horizonte - MG Telefone: (31) 3382-8789 / (31) 9263-0675 E-mail: [email protected]/ Website: www.abadacapoeira.com.br

206

Associação Cultural Eu Sou Angoleiro

Mestre João (Foto: Caroline Césari)

Sou conhecido como mestre João Angoleiro ou mestre João. Comecei capoeira aos 12 nos no Colégio Padre Eustáquio e logo fui aprender com o mestre Dunga, na Vila dos Marmiteiros. Fiz reciclagem em capoeira angola com mestre Rogério (responsável pela difusão da capoeira angola em BH) em 1982, e de 1985 a 1987 com mestre Moraes, da Bahia. Depois fiquei sob a tutela do mestre João Pequeno, que me deu o título de mestre.

Em 1993 fundei a ACESA para praticar e difundir a capoeira angola. Hoje temos trabalhos em mais de 12 comunidades em BH e região metropolitana.

Nossos multiplicadores vêm das ruas, periferias e favelas e também do meio artístico, cultural e estudantil. Nesse processo sociocultural integrativo militamos em escolas, ONGs e junto a movimentos sociais, como o movimento negro e outros.

Nossa militância é cultural e política, pela valorização de nossas identidades, tradições e mestres populares. Nossos capoeiristas são atores, dançarinos, sambistas, músicos, congadeiros, artistas do povo e da cidade, além de militantes, cultuadores da ancestralidade numa visão de mundo africana.

Como dizia mestre Pastinha: – A capoeira é mandinga de escravo em ânsia de liberdade.

Nossa missão é alegrar e fortalecer o povo com a chama acesa da verdade e da justiça, por amor a todos os povos e nações da terra. Iê dá volta ao mundo camará!

Contato: Mestre João Rua da Bahia, 570, sala 1200 (Centro) Belo Horizonte - MG Telefone: (31) 3224-8973 E-mail: [email protected]

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Grupo Capoeira Gerais

Mestre Mão Branca (Foto: Iran Joter)

Meu nome é William Douglas Guimarães, mais conhecido como mestre Mão Branca. Sou o presidente/fundador do grupo Capoeira Gerais e também da Federação de Capoeira do Estado de Minas Gerais. Nasci em 14 de abril de 1960 em Belo Horizonte e conheci a capoeira aos 10 anos de idade na Central do Brasil, RJ.

Aos 15 anos comecei com o mestre Jacaré, daqui da cidade. Fiquei com ele por volta de um ano e meio. Retornei ao Rio e treinei com o mestre Hélinho Aganera da escola de samba Flor da Pedra, que foi quem me levou à academia do mestre Gigante (RJ), de quem me tornei discípulo.

Nos anos 80, quando voltei para Belo Horizonte, conheci o mestre Dunga e começamos a trabalhar com pintura juntos, aí ele me chamou para dar aula na Católica (PUC). Depois um amigo meu do Rio me visitou e viu como o meu trabalho tinha crescido e contou ao mestre Gigante que me ligou e me convidou para ir ao Rio conversar. No sábado fui formado professor, mas já no domingo eles se reuniram e disseram que eu tinha que ser contramestre.

Aqui nosso lema é garra, união e força. Baseamos o grupo no número três, por causa dos berimbaus, dos atabaques do candomblé, do Deus, Filho e Espírito Santo. Contudo, o que diferencia a minha prática é a minha ideologia. Acredito que a capoeira é um instrumento transformador de pessoas, porque ela me transformou no que sou hoje.

A capoeira me escolheu e me deu oportunidade de ser melhor, realizado, e devo tudo à ela. Capoeira é história, é luta, é resistência, é sentimento!

Contato: Mestre Mão Branca Rua Estácio Rodrigues, 550 (bairro Estoril). Belo Horizonte - MG. Telefone: (31) 3312-2525 E-mail: [email protected] Website: www.capoeiramestremãobranca.com

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Centro Cultural Social Tradição de Bamba Capoeira

Mestre Tulipa (Foto: Alder Oliva)

Eu sou Antônio Eustáquio de Jesus, nascido em Belo Horizonte em 23 de março de 1967, conhecido como mestre Tulipa. Sou o presidente e o fundador do Centro Cultural Social Tradição de Bamba Capoeira.

Iniciei na capoeira em 1979 e estou nela até hoje, e só paro quando morrer. Eu fui aluno do mestre Chuvisco e depois do mestre dele, o grão-mestre Dunga. Em 1994 resolvi montar meu próprio grupo de capoeira, com uma filosofia mais voltada para o social. Aqui a base é crianças e adolescentes em risco social, e nosso trabalho é feito no sentido de melhorar os problemas que eles enfrentam.

Faço meu trabalho para tentar devolver pra sociedade tudo de bom que a capoeira trouxe pra mim. Sou educador e dou exemplo. No meu grupo busco sempre incluir a todos que querem, que buscam a capoeira para esquecer seus problemas e se tornarem pessoas melhores.

Fui formado professor em 1995 pela Federação Mineira de Capoeira e acredito que o papel fundamental de um mestre de capoeira é ser como um pai é dar ao aluno a segurança e os fundamentos para que possam sair da situação de risco em que se encontram.

Busco plantar essa semente, divulgar a essência da capoeira, e oferecê-la como válvula de escape para as mazelas em que os jovens das comunidades mais carentes se encontram, como uma oportunidade de mudança.

Contato: Mestre Tulipa Rua Maria Helena Marques, 330 (bairro Minas Caixa) Belo Horizonte - MG Telefone: (31) 9566-8391 E-mail: [email protected]

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Grupo Negaça

Mestre Aranha (Foto: Alder Oliva)

Meu nome é Cristian Régis Amado, conhecido na capoeira como mestre Aranha. Eu comecei capoeira em 1979 no bairro Pindorama, com o mestre Coelho no CIAME - Centro de Integração do Menor.

Em 1985 fui para o grupo Morro de Santana, do mestre Reinaldo; fiquei lá por cinco anos. Em 1987 me formei professor com o mestre Reinaldo; em 1988 fui a contramestre. Quando o mestre saiu para outro grupo, fui viajar para comer capoeira, para conhecer mais. Em 2005 fui morar no México e fiquei lá por seis anos. Logo depois ajudei a formar o grupo Artes das Gerais, e dado o meu desenvolvimento na capoeira, resolvi dar meus próprios passos – fundei o Grupo de Capoeira Negaça em 26 de novembro de 1996.

No grupo, à medida que o capoeirista vai crescendo, vai ganhando mais responsabilidade – ele passa a ter obrigação com a capoeira. Tem que jogar, cantar, tocar, viajar, viver esse universo, estar sempre em contato. Tem que ter responsabilidade não só como ser humano, mas como capoeirista mesmo.

Procuro ser sempre um exemplo para meus alunos, sou um educador e respondo por aqueles que estão sob a minha proteção.

O aluno se espelha em quem está na frente e eu busco sempre dar o bom exemplo, pois minha função é formar cidadãos através da capoeira e da educação que ela proporciona.

Contato: Mestre Aranha Rua Guararapes, 1099 (bairro Pindorama) Belo Horizonte - MG Telefone: (31) 9199-3672 E-mail: [email protected]

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Associação Malícia Brasil Capoeira

Mestre Chicoreba (Foto: Iran Joter)

Eu, mestre Chicoreba, comecei capoeira em 1977. Eu via a capoeira na Praça Sete e daí comecei a ir lá todos os domingos, para assistir a roda, ver os jogos. Quando chegava em casa, eu tentava fazer tudo aquilo que eu via.

Foi então que eu conheci o mestre Chuvisco, na década de 1980, e passei a treinar com ele. Isso foi até 1999. Em 1984 comecei meu primeiro trabalho na cidade de Raposos.

A história do nome do grupo é bem interessante, porque a malícia dos escravos nada mais é do que a capoeira.

Com o passar do tempo, após a minha saída do grupo Mandingueiros dos Palmares, do mestre Chuvisco, resolvi fundar um grupo com esse nome “Malícia dos Escravos”. Depois, optei por mudar o nome do grupo para “Associação Malícia Brasil Capoeira”. Isso aconteceu em 27 de novembro de 1999.

O que diferencia nosso grupo é a união. Meus alunos são como filhos pra mim. Tenho pessoas ótimas me acompanhando e somos sempre companheiros, estamos todos no mesmo barco e nos apoiando, haja o que houver.

Contato: Mestre Chicoreba Rua José Benevito da Silveira, 676 (bairro Letícia) Belo Horizonte - MG Telefone: (31) 8661-7159 E-mail: [email protected]

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Grupo Estilo Capoeira

Foto: Iran Joter

Meu nome é Carlos Fernando da Silva, Mestre Gato. Eu nasci em 23 de janeiro de 1970 em um vilarejo daqueles bem pequenininhos mesmo, conhecido como Engenho, em Taquaraçu de Minas, Minas Gerais. Aos seis anos de idade minha família mudou-se para Belo Horizonte. Já no inicio da década de 80, mais precisamente em 1981, comecei a treinar por influência dos amigos e colegas que faziam capoeira com o professor Joel, que era uma figura bastante significativa e representativa na minha região, bairro Pirajá, região nordeste de Belo Horizonte.

Lembro que na época a capoeira não era bem vista. Eu mesmo praticava escondido dos meus pais, que me proibiam de fazê-la. Mesmo assim pratiquei a capoeira com o mestre Joel alguns anos.

Ainda na década de 80 conheci o mestre Chuvisco, com quem treinei por alguns anos e me formei realmente como capoeirista. Mestre Chuvisco é também um grande Capoeirista – foi o primeiro mestre formado pelo mestre Dunga, um dos precursores da capoeira em Belo Horizonte.

Mais tarde fui fazer parte do grupo Oficina da Capoeira, do mestre Ray, com quem convivi onze anos e pude ampliar ainda mais os meus conhecimentos e ter oportunidades, como viajar por vários países da Europa e também para a Colômbia. No ano de 2006 recebi das mãos do mestre Ray minha graduação de mestre.

No ano de 2009 eu decidi então fundar minha própria escola com o nome Estilo Capoeira. Desde então venho me dedicando bastante a esse novo trabalho, organizando e realizando várias atividades e eventos em prol da capoeira.

Rua Jacuí, 1366 (bairro da Graça). Belo Horizonte - MG Telefone: (31) 9124-3415/ (31) 3436-6102 E-mail: [email protected]

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Fundação Internacional de Capoeira Angola

Mestre Cobra-Mansa (Foto: acervo pessoal)

Meu nome é Cinésio Feliciano Peçanha, nasci em 19 de maio de 1960 em Duque de Caxias, Rio de Janeiro. Iniciei na capoeira em 1973, aos 13 anos, com o mestre Josias da Silva. Na década de 70, com a chegada de mestre Moraes ao Rio de Janeiro, tornei-me seu aluno. Em 1981 junto com ele fui para Salvador e fundei o GCAP, em 1982, no Forte Santo Antônio. Durante esse período também me formei em Educação Física na cidade de Salvador. Permaneci no GCAP até 1994 quando fui para Washington e em 1996 fundei a FICA (Fundação Internacional de Capoeira Angola), juntamente com mestre Valmir e o mestre Jurandir. Fui um dos responsáveis pela revitalização da capoeira angola.

Já viajei para a África (Angola) em 2006 para realizar pesquisas junto com o professor Matthias Röhrig. Participei das filmagens do documentário “Mandinga em Manhatan” e introduzi a disciplina “Capoeira” na Universidade de George Washington (EUA) em 1997.

A partir do momento em que eu sou negro e estou em movimento, eu faço parte do movimento negro. Assim, hoje além de ministrar seminários, participar de conferências e desenvolver a capoeira angola em várias partes do mundo, venho desenvolvendo no Brasil o “Permangola”.

Atualmente tenho me dedicado ao estudo aprofundado das origens e influências africanas na capoeira, e vou em África constantemente para pesquisar instrumentos, jogos e lutas locais.

Aqui em Belo Horizonte temos o mestre Jurandir, que viveu muito tempo fora do país e hoje voltou definitivamente pra cá. Ele é o responsável pelo trabalho na cidade, e juntos fomos também os precursores da capoeira angola daqui.

Contato: Mestre Jurandir. DCE da Engenharia – UFMG. Belo Horizonte - MG Telefones: (31) 8769-2337/ 9472-1340 Facebook: FICA BHte E-mail: [email protected] ; [email protected]

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Associação Cultural de Capoeira Angola Camujere

Contramestre Rene (Foto: Nian Pissolati)

Sou o contramestre Rene Lopes. Comecei capoeira em 1976, quando conheci a capoeira regional.

Nessa época ainda não tinha capoeira angola em Belo Horizonte. Eu ia a todas as rodas que aconteciam na rua. Comecei treinando com o Quinzinho, passei para o mestre Boca, depois conheci o mestre Léo. Fiz regional com ele e fiz a mudança junto com ele para a capoeira angola.

Além desse contato com o mestre Léo, também treinei com o mestre Jurandir, com o mestre Cobrinha e com o mestre Rogério, que me deu o título de contramestre em 2004.

Na verdade, eu fiz parte do Grupo de Capoeira Angola Pelourinho, GCAP, de 1985 a 2002, onde treinei com o mestre Moraes e todos os mestres de lá, e foi graças à capoeira angola e a seu ensinamentos que eu não fui para o lado do crime. Ela me formou a pessoa que sou hoje, um contramestre que tem a responsabilidade de ensinar, de ser um educador através da capoeira angola.

Em 2003 passei a caminhar com minhas próprias pernas, busquei o significado da palavra ‘camujere’, e fundei o Grupo de Capoeira Angola Camujere, com a permissão dos mestres Léo e Moraes. Desde que entrei na capoeira não parei um dia até hoje, continuo sempre, e estou aí na luta!

Contato: Contramestre Rene Av. Dr. Ultimo de Carvalho, 260 (bairro Planalto) Belo Horizonte - MG Telefone: (31) 8686-6703 Website: www.camujer.com.br

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Associação Cultural de Capoeira Angola BHZ

Contramestre William (Foto: Alder Oliva)

O meu nome é William, sou contramestre de capoeira angola. Meu envolvimento com a capoeira foi na rua da minha casa, aqui na região Leste, na rua Sumaré, bairro Alto Vera Cruz. Lá eu via o Quinzinho, o Dito, o Bambaia, entre outros, jogar capoeira.

Foi então que uma paixão despertou em mim, mas como brincadeira de criança. Daí, com uns 13 para 14 anos eu comecei capoeira angola com o mestre Léo, que era do Grupo de Capoeira Angola Pelourinho, GCAP. Não tenho título, não fui formado pelo mestre Léo, mas sou reconhecido pelo trabalho que eu tenho e venho desenvolvendo esses anos todos.

Foi através da capoeira angola que eu realmente abri os olhos para além do movimento, e foi graças ao GCAP, ao mestre Moraes e ao mestre Léo que pude perceber a preocupação social e de inclusão que a capoeira angola prima, por natureza.

Em 2001 fui para a Inglaterra como representante do Grupo de Capoeira Angola Pelourinho- GCAP. Eu era o coordenador desse núcleo, mas em 2005 eu me desliguei do GCAP e desde 2006 resolvi trilhar meu caminho.

Como a nossa intenção não era criar “mais um grupo’’ de capoeira..., demos o nome de Associação Cultural de Capoeira Angola, até porque queríamos trabalhar outras linguagens como música, teatro e dança.

O nosso objetivo é a conscientização da questão do negro, do social, e da inclusão dos excluídos.

Contato: Contramestre William Rua Tebas, 841 (bairro Alto Vera Cruz) Belo Horizonte - MG Telefone: (31) 9335-4691

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Associação Cultural Companhia de Pernas pro Ar

Mestre Boca de Peixe (Foto: acervo pessoal)

Sou conhecido como mestre Boca de Peixe, e meu nome é Danny Alexandro Lopes de Oliveira. Eu comecei a capoeira como uma brincadeira, como uma busca por maior qualidade de vida.

Como meu pai obrigava todos lá em casa a estudar, trabalhar e praticar esporte, eu reconheci na capoeira essa possibilidade. Eu vi a capoeira em 1986 em Arraial D’Ajuda, em uma apresentação. Quando eu voltei para Belo Horizonte, eu saí do esporte que eu estava e passei a treinar capoeira numa academia de kung-fu.

Depois conheci o mestre Reinaldo, vulgo Bazuca. Treinei quatro anos com ele, e quando ele se filiou a um grupo do Rio de Janeiro, fui treinar no grupo Artes das Gerais com Marcelinho, Museu e Aranha. Depois o Marcelinho e eu fomos para o Porto de Minas e fiquei lá por dez anos.

Eu e meu irmão (mestre Porquinho) fundamos o nosso grupo em maio de 2000. Já tínhamos 13 anos de capoeira e sentimos a necessidade de fazer um trabalho diferenciado.

Na época os grupos aqui eram muito grandes, treinavam muito, mas primavam pelo desempenho e nós queríamos fazer um trabalho mais voltado para o lado cultural.

Hoje nós estamos trabalhando, prezando os ensinamentos dos velhos mestres, e do toque do berimbau, seja angola ou regional.

Contato: Mestre Boca de Peixe DCE da PUC, Av. Getúlio Vargas, 85 (bairro Funcionários) Belo Horizonte - MG Telefone: (31) 8799-5531 Site: www.cppa.com.br

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Mestre Beto Onça

Mestre Beto Onça (Foto: Iran Joter)

Meu nome é Norberto Fernandes Damasceno, sou conhecido também como Mestre Beto Onça. Nasci em Belo Horizonte em 24 de janeiro de 1963. Iniciei a capoeira em 1978 com o mestre Paraná, com quem fiquei até o ano de 1986.

Fui ao Mercado Modelo, na cidade de Salvador. Lá me encontrei com capoeiristas, mas fiquei decepcionado porque não encontrei a tradição em sua raiz. Isso não me abateu, pois quando voltei a Minas tive mais vontade de estudar.

Comecei a ensinar capoeira no terreiro em casa, onde dava aulas gratuitas. Os alunos aumentaram e fui ensinar na academia Tatame. Depois, dei aulas no SESC, onde fiquei os 19 anos seguintes. Durante esse tempo, em 1991, juntamente com meu mestre, fundamos a AMEC (Associação Mineira do Estudo da Capoeira), da qual sou presidente. Em minha jornada, fui ajudado também pelo mestre Ginásio e mestre Baiano.

Participei ativamente da organização das instituições que buscavam resgatar a capoeira, como a Associação Brasileira da Capoeira, da qual fui delegado, a Federação Mineira de Capoeira, em que fui diretor cultural, e o Conselho dos Mestres de Capoeira de Belo Horizonte, do qual componho a diretoria.

Minha visão é desenvolver a capoeira como um todo, com seus vários toques, sem distinção entre angola e regional. Aqui, o jogo depende do toque do berimbau e do gosto de quem joga.

Contato: Mestre Beto Onça Rua Elísio de Brito, 532/101 (bairro Boa Vista) Belo Horizonte - MG Telefone: (31) 3324-0994 E-mail: [email protected]

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a dança-afro em belo horizonte

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10. Dança-Afro

Joana Brauer

A dança afro-brasileira pode ser entendida como um estilo que é composto por “conjuntos de diferentes danças e dramatizações, que apresentam em comum a raiz negra africana” (BERTOLINO 2011). As danças africanas foram apropriadas no Brasil como uma composição criativa de diversos estilos tradicionais, que desse modo ganhou novas expressões e significados.

Atualmente, os estudos sobre a dança afro incluem não só os movimentos executados, mas também uma discussão que percorre temáticas sobre a tradição, oralidade e a identidade afro-brasileira. A dança afro-brasileira é, como foi ressaltado pelos grupos entrevistados, uma das maneiras que os afrodescendentes encontraram de conhecer mais sobre si mesmos, sobre sua origem, ancestralidade, história e cultura – “é descobrir o que a negritude representa, de onde você veio e quem você é”, e ainda, para as mulheres, descobrir o que é ser uma mulher negra. Mas enquanto a origem afro é a marca de todos os grupos – que baseiam seu trabalho na história e na expressão corporal e musical de povos africanos – a ancestralidade não é uma referência imutável, mas se manifesta criativamente como uma expressão do povo brasileiro. Se há o destaque para a afro descendência, também há o fundamento na identidade multicultural brasileira.

A dança afro em Belo Horizonte tem como pioneira Marlene Silva, que por sua vez teve como mestra Mercedes Batista, considerada a mãe do balé afro no Brasil. Mercedes foi discípula de Katherine Dunhanque, que criou a técnica ‘Dunham’, baseada na estrutura do negro norte americano. Como discípulos de Marlene Silva temos Evandro Passos e Carlinhos Afro, que também teve como mestre Márcio Valeriano (falecido) e João Bosco. O Mestre João teve como mestre Mamour Bá e ainda podemos citar Márcio Alexandre (Mestre Negão) que teve como discípula Rô Fatawá, que por sua vez passou adiante seus conhecimentos, como os outros já citados, para aqueles que hoje são considerados a ‘nova geração’ da dança afro mineira. Assim, foram a partir desses mestres que hoje encontramos profissionais que atuam com a dança afro em Belo Horizonte. A questão do mestre e discípulo é bastante respeitada pelos grupos, que fazem questão de esclarecer com quem aprenderam, mantendo assim a linhagem da ancestralidade.

A expressão cultural na capital mineira tem como característica fluir entre outras artes, como a música, o teatro, a dramaturgia, as artes plásticas e a literatura, além de manterem uma forte relação com outras expressões culturais – como o candomblé, congado, maculelê, samba de roda, mas principalmente a capoeira – o que se alinha aos objetivos de ampliar o conhecimento da história e cultura afro-brasileira. Alguns dos grupos estudam outros estilos artísticos e os incorporam em seus trabalhos. É comum também trabalhos envolvendo discussões sobre a exclusão do negro, a escravidão e a ancestralidade afro. Alguns grupos se articulam com movimentos de consciência negra regularmente, principalmente em eventos

219 promovidos por estes. Unir as forças é uma forma de lutar por maior visibilidade, preservação e valorização da cultura afro-brasileira. Mesmo se alguns têm um histórico de premiações e sejam incluídos em guias e catálogos, o reconhecimento da dança-afro pelo público em geral continua limitado. A promoção de políticas públicas pode ajudar a firmar essa arte, e valorizar os grupos de dança afro da capital.

Infelizmente, muitos dos grupos de dança afro, que antes estavam na cena mineira, hoje não atuam mais – alguns foram desmembrados, outros permanecem com núcleos menores e somente fazem apresentações vez ou outra. Esse quadro reflete as condições difíceis a falta de apoio que os grupos belorizontinos enfrentam. As dificuldades enfrentadas pelos grupos não são poucas. A maioria não tem espaço próprio para ensaiar, tendo que utilizar espaços emprestados ou até mesmo abandonados. Entre os problemas mais comuns, além da falta de espaço, são citadas a escassez de verba e de apoio para darem continuidade às suas atividades. No entanto, isso parece não abalar os grupos, que “fazem por onde” para manter suas atividades e passar seus conhecimentos adiante. As demandas por políticas públicas giram em torno da viabilização das atividades e a valorização na só da dança afro, mas da cultura negra de modo geral. Além do apoio financeiro e da alocação de locais para realização de ensaios e treinos dos grupos, eventos vinculados à dança afro e à cultura afro-brasileira poderiam ser promovidos, por meio de editais específicos.

A paixão por essa expressão artística, muitas vezes vinda de uma experiência íntima e pessoal, é nítida e a consciência do poder da dança como transformador social também. Os colaboradores que realizaram as entrevistas encontraram artistas apaixonados, que relataram sua história de determinação e garra. A hospitalidade e o carinho também se mantêm evidente. Colaboradores foram convidados a almoçar, tomar café e a conhecer outros membros do grupo. Entrevistas que estavam previstas para durar no máximo uma hora, acabaram durando quatro. A aproximação com os grupos provocou a indagação – por que uma arte tão bela não tem o reconhecimento merecido? Alguns grupos relataram o duplo preconceito em torno de sua dança, às vezes vista como ‘macumba’ – como se isso fosse um impedimento para serem reconhecidos. Referiram também à existência de uma janela de visibilidade, restrita a datas de comemorações afro-brasileiras, como em 13 de maio e 20 de novembro, permanecendo invisíveis durante o resto do ano.

Os grupos de dança afro mantém uma importante relação com a cidade e a comunidade em torno. Para alguns, a cidade é ora um palco, ora uma sala para ensaio. Daí uma das reivindicações mais frequentes, a possibilidade de utilizar os espaços públicos ociosos. Muitos grupos oferecem cursos e oficinas para os moradores dos bairros onde realizam suas atividades, na maioria dos casos de baixa renda. O trabalho com jovens, crianças e mulheres é o carro-chefe de alguns grupos. Também há o interesse em levar a dança afro para regiões de média e alta renda, como o bairro Savassi, na esperança de com isso romper com o preconceito contra a dança. Há uma preocupação em efetivar a Lei nº 10.639 (que tornou obrigatório o ensino da história e cultura afro-brasileira na educação básica), ao incentivarem discussões sobre a dança afro em oficinas e apresentações em escolas públicas.

O universo da dança afro de Belo Horizonte é pequeno, mas os grupos trazem consigo uma história de resistência, luta e garra. Buscam a valorização da dança como instrumento de

220 arte-educação, com respeito pelo que fazem, sempre procurando oportunidades de continuar levando a todos uma arte do corpo e da alma.

PARA SABER MAIS:

Angoleiro é o que Eu Sou. Associação Cultural Eu Sou Angoleiro. Ed. Lutador. Belo Horizonte, MG. Junho, 2006. (Pequena introdução à dança afro) BERTOLINO, Júnia. Fonte: http://revistaterreirocontemporaneo.blogspot.com/2011/08/danca- afro-brasileira-1.html BRANDÃO, Jéssica. Revolução em palavras. Novembro, 2006. CONRADO, Amélia Vitória de Souza. Dança étnica afro-baiana: educação, arte e movimento. Dissertação de mestrado (PPGE). Salvador, UFBA. 1996. MOREIRA, Ana Luísa Coelho. Do silêncio ao batuque da dança afro: considerações da identidade negra. Belo Horizonte – MG. 2006. Trabalho de conclusão de curso (Graduação em Psicologia). PUC-MG. OLIVEIRA, Nadir Nóbrega. Dança afro: Sincretismo de movimentos. 1991. Salvador: UFBA. PASSOS, Evandro. A Cor da Cultura. São Paulo, 2009. PONTES, Ana Cristina; MORAIS, Fernanda Emília de. Tradições afro-brasileiras em Belo Horizonte. Fundação Municipal de Cultura: 2006. SANTOS, Inaicyra Falcão dos. Corpos e Ancestralidade: dança, arte e educação. 2002. Salvador: UFBA. SILVA, Júnia Bertolino da. Expressões de Ancestralidade Negra na Dança afro brasileira. Monografia apresentada ao curso de pós-graduação Estudos africanos e afros brasileiros da Universidade Católica de Minas Gerais. 2010. SILVA JUNIOR, Paulo Melgaço da. Mercedes Batista: a criação da identidade negra na dança. Brasília: Fundação Cultural Palmares. 2007. SILVA, Marlene. Dança Afro Brasileira (Documentário).Belo Horizonte.Ano.2004 SIQUEIRA, Maria de Lourdes. Imagens Negras: ancestralidade, diversidade e educação. Belo Horizonte: Mazza Edições. 2006. SOUZA, Edilson Fernandes de. Representações sociais da cultura negra através da dança e de seus atores. 1995. 182 f. il. Dissertação (mestrado) - Universidade Gama Filho, Rio de Janeiro, 1995. XAVIER, Evandro dos Passos. Companhia de Danças Afro-Brasileiras Bataka: Ações artísticas, sócio culturais e políticas. Monografia de Mestrado pela Universidade Estadual Paulista - UNESP. São Paulo, agosto de 2011. http://revistaterreirocontemporaneo.blogspot.com/2011/08/danca-afro-brasileira-1.html

Coordenou a pesquisa sobre Dança Afro: Joana Brauer Colaboraram realizando as entrevistas: Carolina Brauer, Júnia Bertolino, Lilian Bernardes e Flora Rodrigues Gonçalves

221

Localização dos Grupos Entrevistados: https://www.google.com/fusiontables/embedviz?viz=MAP&q=select+col2>>0+from+1 434MiGg0e-pI19NbADjPO8hGNzOw0igo0WjGueY+where+col0>>0+=+'Dança- Afro'&h=false&lat=-19.901201896818066&lng=- 43.91483021548458&z=13&t=1&l=col2>>0&y=1&tmplt=2

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Agbara

Imagem: Nidin Sanches

Sou Djalma Januário, cantor e compositor, produtor e arranjador musical, ativista em prol das bandeiras da luta do povo negro e idealizador do grupo Agbara, um movimento político- cultural que busca valorizar a cultura afro, sem perder a mineiridade.

O Agbara nasceu no bairro 1º de Maio no ano 2000, no âmbito do “Centro de Cultura Popular do Bairro 1º de Maio”, porque a manifestação musical tornou-se indispensável no contexto do movimento. O 1º de Maio, assim como os bairros Santa Cruz e Maria Goretti, é considerado como um dos locais de maior concentração de população negra de BH.

A partir da criação da banda Agbara, no início da década de 2000, surgiu a possibilidade de acrescentar mais uma forma de valorização da cultura afro nas atividades e eventos promovidos pelo grupo: as oficinas de dança e expressão corporal baseadas nas danças dos orixás. Essas coreografias eram inicialmente elaboradas por Evandro Passos, e depois passaram a ser de responsabilidade de Haroldo Alves e de Rosilaine Bragança.

Participam do grupo sete pessoas: Djalma Januário, Jone Herno, Walace Bosco, Tarcísio de Sidônio, Gelton Fiúsa, Priscila Moreira e Nidin Sanches.

Além das oficinas de expressão corporal, o grupo também promove uma série de atividades: oficinas de percepção musical; saraus, nos quais a poesia, a culinária, o teatro e as discussões se mesclam; shows musicais; a “Feira de Cultura Popular do bairro 1º de Maio”, que acontece desde 1981, uma vez por ano (nos anos em que isso é possível); e o “Agbara Dumdum”, evento especificamente direcionado para o dia 20 de novembro.

Rua Ladainha, 51 (bairro 1º de Maio). 31.810-130. Belo Horizonte - MG Telefone: 8861-6899. E-mail: [email protected] Site: http://tramavirtual.uol.com.br/agbara

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Carlos Afro e Cia

Foto: Carolina Brauer

Sou Carlos Afro. Bailarino, professor, coreógrafo de dança brasileira de matrizes africanas, afro-brasileiras, indígenas e populares. Figurinista, roteirista e aderecista de espetáculos de dança afro-brasileira. Fundador e atual diretor do balé-teatro Carlos Afro e Cia. e pesquisador da dança e da influência africana na formação da cultura brasileira.

Comecei em 1983 como um bailarino “pássaro sonhador”, quando fui aluno de Marlene Silva e Márcio Valeriano.

A estreia da Carlos Afro e Cia. se deu em 1986. Em 1988 a Cia. se apresentava no teatro Casanova com o show “Legados de Negritude”. A partir daí, a Cia. foi crescendo em qualidade e rigor técnico, e junto cresci – como bailarino, professor e, gradativamente, despontava o coreógrafo, figurinista, roteirista, e diretor artístico.

A Cia. produz espetáculos de dança brasileira de matrizes africana, afro-brasileira e indígena, ao estilo “Carlos Afro”, que tem um gestual coreográfico próprio e é composta por nove bailarinos, dois percussionistas, uma produtora e uma historiadora. Também ministramos oficinas de dança e de história.

Nosso trabalho é fundamentado na história e na expressão corporal e musical presentes na formação do povo brasileiro. Durante essas três décadas de existência a Cia conquistou vários prêmios e reconhecimento da crítica especializada, como o prêmio “Cena Minas 2011”, com o espetáculo “Fragmentos Afros de Dança Brasileira”.

Av. Cristóvão Colombo, 617 (bairro Funcionários) 30.140-150 Belo Horizonte - MG Telefones: 3284-6010 / 9968-9365 E-mail: [email protected] Blog: http://carlosafro.blogspot.com Facebook: Carlos Roberto Oliveira (Carlos Afro) e Arte Ponto Com Danças

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Companhia Primitiva de Arte Negra

Foto: Hiran Donato

Conhecido como João Angoleiro, sou mestre de capoeira angola, presidente da Associação Cultural Eu Sou Angoleiro (ACESA) e dançarino e coreógrafo da dança étnica. Na década de 70, fui frequentador de quadras de black soul e samba. A partir de 1983, tive como mestre o senegalês Mamour Ba, dançarino do Balé de Senegal e da Escola de Dança Africana Moderna Mudra.

Em 1989, fundei a Companhia Primitiva de Arte Negra com um coletivo de dançarinos afros e capoeiristas. Militando junto ao movimento negro, criamos espetáculos valorizando o povo e a cultura afro-brasileira. Em 2000, gravamos ao vivo no Chico Nunes o espetáculo Poethoria Afro, exaltando o milênio do feminino através da Rainha N’Zinga N’Band, com um olhar poético-histórico sobre os 500 anos do Brasil.

A formação dos dançarinos da Companhia se dá com a técnica “corpo menino” que desenvolvo há vinte anos com base nos exercícios da capoeira angola, yoga e danças tradicionais. As coreografias são criadas a partir de um processo orgânico, configurando jogos cênicos. Nossos dançarinos-atores vêm de múltiplas realidades, alguns em situação de risco, outros são imigrantes e estudantes. Atuam no palco e passam a trabalhar na inclusão social e criam seus próprios trabalhos de dança.

A Companhia tem sede própria há vinte anos e oferece à comunidade aulas e ensaios. Nossas apresentações se dão em palcos, ruas, praças e escolas. Junto à ACESA, a Companhia produz os eventos “Lapinha Museu Vivo no Mês da Abolição” e “Aldeia Kilombo Século XXI”, que se tornam fóruns de fortalecimento da dança afro.

Meu lugar na dança é o da livre criação, com base na tradição, e daqui saúdo a todos. Zambi Zambolá!

Rua da Bahia, 570 Edifício Calazan 12o andar (Centro). Belo Horizonte - MG Telefones: (31) 4063-9822 e 3224-8973 (recado) E-mail: [email protected] Site: www.eusouangoleiro.org.br

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Associação Cultural Odum Orixás

Foto: Lilian Bernardes Aos 13 anos, conheci o sociólogo Paulo Cezar Valle que me levou para trabalhar no restaurante Aruanda. Lá tive meu primeiro contato com a dança folclórica, através do Grupo Folclórico Aruanda, que se apresentava no local. O Grupo Odum Orixás surgiu desse grupo. Foi criado em 1972 pelo próprio Paulo Cezar Valle, junto com a musicista Celsa Rosa e pela atriz Eliane Mares, entre outros. A partir de 1975, com a saída dos criadores, alguns integrantes decidiram continuar e passamos a trabalhar com o foco nas questões de negritude e no combate à ditadura. Nesse período me envolvi mais profundamente, buscando local e infraestrutura para o grupo continuar existindo. Instalados no Colégio Loyola no período noturno por meio de um projeto social, realizávamos oficinas de dança. Na época do Loyola eu não pude dançar, devido à minha cor de pele (parda), embora eu estivesse completamente comprometido com a organização. Somente em 1977 foi que pude participar da dança e da direção. Nesse período consolidei as múltiplas linguagens áfricas de hoje, com a inclusão da música, da poesia, do teatro, e recentemente, da linguagem circense. Em 1981 montei a peça Empregado é bicho à toa? e dirigi a peça Arena conta Zumbi. Após uma dispersão, o grupo retornou em 1998, quando foram iniciados os debates em torno dos 500 do Brasil e o Odum Orixás fez um trabalho que ia de encontro a outros movimentos sociais com uma visão mais crítica, denunciando os 500 anos de exploração do Brasil. Com a expansão dos objetivos e atividades do grupo, tornou-se necessária a transformação do grupo em Associação Cultural Odum Orixás. Atualmente realizamos oficinas de dança, artesanato, cabelos afro, percussão e comidas afro-brasileiras. Contamos ainda com um grupo de pesquisa sobre a cultura afro-brasileira e ações afirmativas. Também fazemos apresentações em teatros, escolas municipais, estaduais e de ensino superior e desenvolvemos o projeto Negro na praça, em diversos espaços públicos da capital e interior, interagindo com o público e artistas locais. Como este projeto é executado com recurso próprio, precisamos de mais recursos para sua continuidade. Anualmente realizamos uma festa (Kizomba) como forma de confraternização e encerramento das atividades do ano.

Rua Pouso Alegre 854 (bairro Floresta). Belo Horizonte - MG Telefones: Madu Santos (31) 9925 7708; Sabará (31) 8572-0134 E-mail: [email protected]; [email protected] Site: http://www.odumorixas.acsolidaria.org.br Facebook: Associação-Cultural-Odum-Orixás

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Fabiano Camilo – Samba de Terreiro

Foto: Acervo Pessoal

Meu nome é Fabiano Camilo, conhecido também como Camilo Gan. Fui criado em Vespasiano, local onde cresci vivenciando diversos movimentos da cultura popular.

Sou músico, dançarino, construtor de instrumentos de percussão, restaurador de acordeons e sanfonas. Trabalho com a dança e com toda educação musical fundamentada na cultura negra e sua diáspora.

Meu trabalho com a dança afro se realiza em uma linguagem que trabalha a expressão rítmica corporal, perpassando o afro orixá, o afro inkise, o afro vodun, o afro silvestre, o samba e o tambor. Tudo isso é a (minha) pedagogia Corpo e Tambor.

Realizo atividades abertas ao público aos sábados, que é divulgado no nosso Facebook: Samba de Terreiro.

Nessas atividades, tem uma oficina que eu idealizei que se chama Terreiro das Mulheres, na qual eu procuro trabalhar a feminilidade fundamentada na cultura negra através do corpo e do tambor.

Convido a todos pra ficarem de olho no Facebook e vir. Pode vir com mãe, tia, menino, não tem faixa de idade. Se já tiver andando, pode vir!

Mercado das Borboletas, Av. Olegário Maciel 742 (Centro). Belo Horizonte - MG Telefone: (31) 8812 8277 Facebook: http://www.facebook.com/pages/Samba-de-Terreiro/161663220571548

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Primeira Dança

Foto: Daniel Iglesias

Eu, Patrícia Alencar, negra brasileira, 31 anos, filha de Iansã, moradora do Morro do Papagaio, engajada na luta contra o racismo e pela igualdade social, sou diretora e coreógrafa do grupo Primeira Dança. Trabalho no dinamismo da natureza com as mulheres, crianças e jovens da comunidade, em homenagem aos grandes guerreiros e heroínas do nosso país, e também abordando o resgate da nossa verdadeira história, a nossa identidade cultural, a beleza, a ternura, a força e a comunicação. Em 2003 iniciei um trabalho de oficinas de dança-afro e percussão em comunidades periféricas do Brasil, um trabalho com foco na mulher, mas com o tempo, o que era de se esperar aconteceu: a mulher, pilar da família, começa a levar para as oficinas os filhos, marido, namorado e a diversidade torna a troca de saberes ainda mais rica e interessante. Em 2006, as oficinas no Morro do Papagaio deram origem ao grupo Primeira Dança. Nessa época, o grupo percebeu a complexidade do universo da arte e aprofundou o estudo em busca de aprimoramento com foco na dança afro e tudo que envolve o universo da cultura negra, no qual a música, a dramaturgia, o corpo, sua intenção, ação e emoção são elementos que não se desassociam. Iniciam-se, no meio deste processo, performances e intervenções em ruas, becos, vielas e quintais, traduzindo em gestos e movimentos a nossa luta diária contra os preconceitos, as nossas conquistas e desejos por uma nação onde haja o respeito pela diversidade cultural. Mas, antes de qualquer coisa, buscamos constantemente o entendimento do nosso primeiro elemento de comunicação – O CORPO. Desde sua criação o grupo vem se inspirando nos mitos dos orixás, no universo feminino de mulheres fortes, empenhadas na transformação social, no cotidiano da comunidade. Atualmente, fazem parte do grupo Primeira Dança 11 pessoas, todas moradoras da comunidade, oriundas das oficinas de dança-afro e percussão. O grupo realiza seminários, workshops e oficinas de dança-afro, samba de roda, palestras referentes à diáspora negra, cidadania, violência, juventude, mulher, em torno do encontro e da busca de valores e da liberdade. A arte é uma das minhas maiores ferramentas para a transformação social que almejo em minha comunidade, por isso me tornei arte educadora, porque posso transmitir através da Dança ensinamentos adquiridos ao longo de minha trajetória. No diálogo corporal levamos ao público a formação e informação, aprofundando nos saberes milenares, na busca do reencontro com nossas raízes africanas.

Rua São Tomás de Aquino, 462 (Morro do Papagaio). Belo Horizonte - MG Telefone: 9879-2901. E-mail: [email protected]

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Cia Baobá de Dança

Foto: Patrick Arley

Fundamos, em 1999, a Companhia Baobá de Arte Africana e Afro brasileira que, desde 2009 passou a se chamar Cia. Baobá de Dança Minas. Eu, Júnia Bertolino, sou uma das fundadoras. Atualmente sou diretora e coreógrafa da Companhia, que tem como meta a valorização, a pesquisa e a difusão da cultura afro-brasileira. A pesquisa foca os gestuais, figurinos, adornos, pinturas, palavras, ritmos e cantos inspirados nas mães ancestrais da mitologia dos orixás, principalmente observando o notório saber dos mestres populares.

Hoje o grupo é formado por 10 - 12 pessoas, trabalhadores liberais e estudantes, residentes em Nova Lima e Belo Horizonte. Alguns estão no grupo há oito anos, como a Gabriela Rosário, a Marisa Veloso e a Lú Silva, que já são professoras de dança-afro, com trabalhos em escolas e projetos sociais. Eu atuo há 17 anos.

A Companhia ensaia duas vezes por semana e damos cursos de dança-afro, palestras nas escolas, universidades e fóruns sobre a importância da arte negra, identidade e dança negra. Trabalhamos a dança cênica, chamada de dança-afro de sala, a partir das pesquisas que fazemos nas diversas danças populares brasileiras e africanas, objetivando manter o corpo étnico e o caráter político-ideológico para a valorização da identidade negra.

Nessa trajetória fizemos vários trabalhos: Fertilidade (1999), Canto de Amani (2000), Quebrando o Silêncio (2005), Ancestralidade - Herança do Corpo (2008), Corporeidade Negras (2010) e Mulheres de Baobá (2011/2012). A Comemoração da Consciência Negra no Palácio das Artes, em 2009, foi um marco para nós, pois lançamos o Prêmio Zumbi de Cultura, idealizado por mim e já na terceira edição, que tem como objetivo premiar e homenagear personalidades que se destacam com seus trabalhos sobre a temática negra na cidade. A Cia Baobá não tem sede própria.

Rua Paraisópolis, 93 casa C (bairro Santa Tereza). 31.010-330. Belo Horizonte - MG Telefones: (31) 99176762; 3467-6762 E-mail: [email protected] /[email protected] Site: www.ciabaoba.com.br

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Cia de Dança Bataka

Imagem: Marcial Ávila

Meu nome é Evandro Passos Xavier. Sou coreógrafo e faço a direção geral da Cia de Dança Bataka, no novo formato de Associação Sócio Cultural Bataka. O Grupo foi criado em 20 de novembro de 1982, quando fizemos uma apresentação no Sindicato dos Bancários, o que nos aproximou do Movimento Negro. São várias gerações da Companhia Bataka, que já completou 30 anos e realizou muitos trabalhos com bailarinos, músicos e percussionistas. Mesmo aqueles que não estão trabalhando com a dança acabam adquirindo esses conhecimentos quando desenvolvem outras atividades no Bataka.

Minha trajetória começou em 1975 quando vim de Diamantina (MG) para Belo Horizonte. Foi quando conheci Marlene Silva, através do bailarino Edu Passos. Lembro que naquela data ela estava inaugurando sua academia na rua Carangola e fiquei impressionado com o seu trabalho. Mais tarde conheci Marita Carlos, que dava aula de dança-afro no Aruanda. Ela foi aluna de Mercedes Batista, que também é mestra de Marlene Silva.

Minha militância artística no movimento negro sempre esteve ligada com minha atuação na cidade. A Companhia Bataka desenvolve diversas atividades sobre a arte negra, como shows, palestras, oficina e cursos para professores e alunos. Atualmente são 14 componentes.

Alguns vivem especificamente da dança e percussão, mas outros são professores em escolas públicas ou arte educadores. Muitos são oriundos da periferia de Belo Horizonte. O grupo realizou atividades em outros estados e também na Itália e África (Costa de Marfim). Em 1999 recebemos uma premiação de reconhecimento artístico (Sated) pela atividade com os meninos portadores de paralisia cerebral na Escola Estadual Doutor Moreira Sales, o que foi um grande marco para nós. Não temos sede própria e ensaiamos no espaço do Grupo Aruanda.

Rua Espírito Santo, 757 (Centro) Belo Horizonte - MG Telefone: (31) 9606-9192 (Evandro Passos) E-mail [email protected]

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Grupo Cuenda

Foto: Bruna Ferraz

Meu nome é Márcio Júnior, sou conhecido por Munrra e, na ausência do Mestre Pantera, sou o pivô, juntamente com os outros professores, da organização e apresentações do Grupo Cuenda. Então, tudo que está relacionado ao grupo passa por mim.

O Grupo Cuenda foi idealizado por Edmilson Inocêncio, o Mestre Pantera, no Morro do Papagaio em 2006. O Grupo nasceu com uma ideologia diferente; para trabalhar na comunidade, tínhamos percebido que os jovens não estavam focados na área cultural, então resolvemos dar essa oportunidade aos nosso jovens e alguns até se tornaram professores de dança afro e de capoeira também. Estamos lá para resgatar essas joias espalhadas por ai na comunidade do Morro do Papagaio.

O Pantera e eu participávamos do Grupo Raízes Cordão de Ouro, que era coordenado pelo Mestre Zé Paulo. Eu entrei para esse grupo com 14 anos. Em 2006 nos desvinculamos do grupo e criamos o Grupo Cuenda de dança e maculelê. Atualmente oferecemos aulas de dança guerreira, maculelê, dança do facão, pirofagia (dança do fogo) e capoeira, que acontecem de segunda a sexta. Temos 70 jovens, mas no grupo de apresentação são 20. Quase todos trabalham e estudam, e estão na faixa etária de 12 a 24 anos. A galera é muito, muito bacana. Eles esperam o dia e o horário para praticarem essa atividade com maior amor do mundo.

O Grupo Cuenda realiza também um encontro anual, que é a festa da capoeira, em agosto, no Morro do Papagaio. O Grupo tem atuado em escolas, festivais, projetos culturais e faculdades através da apresentação de espetáculos (Origens, 2010), oficinas, seminários e mostras culturais, como a mostra Cultural Fica Vivo (2011). Não temos sede própria e utilizamos o espaço da Igreja Velha no Morro do Papagaio.

Rua São Tomaz de Aquino, 546 (Morro do Papagaio) Belo Horizonte - MG Telefone: (31) 9866-3465 (Márcio Júnior) E-mail: [email protected]

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Associação Aruê das Gerais

Foto: Cleide Ilda Dançarinos: Rô, Juliana, Naiara, Elem, Lorena, Davi, Nívea Cristina e Raiana, José Aparecido. Percussão: Bruno, Diego, João Pedro, Leandro Henrique e Welington Roger. Voz: Bruno e Davi. Maquiador: Zezé (José Aparecido). Rô Fatawá: – Quando eu estudava na segunda série do ensino fundamental, houve uma festa folclórica na minha escola e, como sempre gostei de dança, participei da dança afro. Em todas as festas eu gostava de dançar. Quando eu tinha 19 anos, participei, com o Márcio Alexandre, que era o meu professor de dança, dos filmes “Quilombo” e “Chico Rei”, dos cineastas Cacá Diegues e Walter Lima, no Rio de Janeiro. Nessa época, eu trabalhava com o grupo Quilombo das Gerais, dando aulas de dança quando o Márcio não estava; então, quando o Márcio decidiu pesquisar sobre as matrizes africanas no Uruguai e em várias outras cidades, eu fiquei dando aula no lugar dele. Foi aí que eu, e mais duas pessoas, decidimos montar um grupo de dança na minha comunidade, Mariano de Abreu. Fizemos um sorteio e escolhemos o nome do grupo “Aruê das Gerais”. A partir de então passamos a ensaiar com crianças e adultos e fazer várias apresentações de espetáculos. Eu dançava sem saber que estava dançando a “dança afro”. Quando dava aulas para os alunos do Márcio, eu ainda não tinha consciência sobre a dança. Mesmo assim, eu trouxe a dança para a comunidade e passei a dar aulas para os meus alunos, mas eu ainda não sabia explicar o que era a dança afro para eles. Foi aí que passei a ter contatos com outros professores em oficinas. Tive aulas com o Evandro Passos, Marmuba, Júnia, com o mestre Taison, Mestre Peninha, com o Mikita e algumas com o João Bosco. Passei a ler e pesquisar sobre a dança afro, participar de seminários, fiz curso na Belotur e daí descobri que o que eu reproduzia era a dança afro de nossos ancestrais. Já nos apresentamos no FAN, carnaval, Caia na Teia, Kizomba, Mil tambores, Tambor de Natal, Mandinga Kaiunde, Poetoria Afro, na inauguração da Praça Zumbi dos Palmares em BH com a participação da banda Porto de Minas e também em várias missas afro. Com o passar do tempo, as pessoas foram criando responsabilidades com estudo, filhos, já outras pessoas foram se envolvendo com drogas, a violência na comunidade foi aumentando, então tivemos de parar aos poucos. Embora o grupo não esteja tendo ensaios constantes, quando somos convidados fazemos o espetáculo, é só agendar!

Sede provisória: Rua E, 141 (bairro São Geraldo, Mariano de Abreu). Belo Horizonte - MG Telefones: Rô Fatawá (31) 3487-6134 e (31) 9976-3384

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Companhia de Dança Arte da Pedra

Foto: Nian Pissolati

Flávia Soares: – Eu fundei a Companhia Arte da Pedra com o intuito de fazer um resgate da minha própria identidade. Digo que nasci dançando e que a dança sempre foi meu ponto de fuga para sair do sofrimento. A dança chegou em uma fase da minha vida muito conturbada. Com 18 anos, eu saí andando descalça pelas ruas de Santo André e então escutei barulhos de atabaque, misturado com berimbau, que me fez chorar e refletir sobre o que significa ser mulher. Alguém me convidou para entrar naquele espaço, era o mestre Edson, responsável pelo Grupo Angolas de Minas; o som do berimbau aquebrantou o meu coração. Foi através desse contato com a capoeira angola que conheci o coreógrafo Wiliam Silva e pude iniciar finalmente o meu trabalho com a dança afro-brasileira. A companhia Arte da Pedra surgiu por uma necessidade da comunidade Pedreira Padro Lopes. Com a chegada do Espaço Cidadão na comunidade, coordenado por Raquel Romano, consegui realizar o sonho de desenvolver com as crianças e a comunidade o trabalho da dança afro-brasileira. Em 2003 o Espaço Cidadão passou por um período político e, com a troca da coordenação, a Arte da Pedra tomou sua primeira rasteira. Acabamos perdendo a parceria, o apoio e o espaço; então, fui convidada pela vida a deixar o projeto adormecer. O trabalho da Arte da Pedra com as crianças ficou parado por dois anos corporalmente, mas permaneceu vivo em cada uma das crianças. Em 2006 reiniciamos o trabalho com os adolescentes aqui na comunidade através do programa Fica Vivo, com uma certa autonomia. Pude iniciar um trabalho mais profissional, que resultou no documentário Pedreira de Cima a Baixo, com o jornalista Luan Gomide de Souza Candido e com o apoio da USP. Assim, iniciei um trabalho que abordava também a questão da segurança pública, da cultura, da educação, do social e da saúde. Entendemos que a Companhia Arte da Pedra tem a missão de levar o trabalho em locais desassistidos, nos interiores, pois acreditamos que a dança, a percussão e o canto fazem parte da educação cultural. Além da dança-afro, o Arte da Pedra produz oficinas de percussão com Fred Santos e promove palestras e debates sobre a história e cultura negra com Luan Gomide. Fazemos parte do Aldeia Quilombo Século 21, Festival de Arte Negra (FAN) e Lapinha Museu Vivo, no mês da abolição. A Arte da Pedra trabalha diretamente com a formação dos professores das redes públicas, atendendo a lei 10.639 por todo o estado.

Contato: Flávia Soares (31) 9445-2836. E-mail: [email protected]

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a cultura hip hop em belo horizonte

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11. A Cultura Hip Hop

Joana Brauer Rodrigo Amaro

O Hip hop é um fenômeno sociocultural que surgiu na cidade de Nova Iorque entre as décadas de 1960 e 70. Ora classificado como um movimento social, ora como uma “cultura de rua”, o fato é que hoje o hip hop mobiliza milhares de jovens pelo mundo afora.

A expressão hip hop significa, numa tradução literal, movimentar os quadris. Foi inventada por quem atualmente é tido como o fundador dessa forma de expressão cultural, o DJ Afrika Bambaataa. Assim, no ano de 1968, a expressão foi criada para “nomear os encontros dos dançarinos de Break[sic], DJs (Disc-jóqueis) e MCs (Mestres de Cerimônias) nas festas de rua no bairro do Bronx, em Nova York” (ROCHA, DOMENICH, CASSEANO, 2001: p. 17).

Com o passar do tempo, o hip hop se consolida nos Estados Unidos, como resultado da composição de quatro elementos: o Breaking ou B-boy (break-boy, aquele que dança no break, parte instrumental, da música), o Grafite (pintar ou desenhar com spray, ou tinta, espaços urbanos), os DJs (disc-jockey ou disco-jóquei – pessoa que seleciona e toca músicas gravadas para um público). No universo do hip hop, o DJ produz efeitos sonoros singulares na música, utilizando técnicas próprias (como o scratch, ou o ato de ‘arranhar’ o LP), e MCs (mestre de cerimônias – aquele que no microfone anima as festas – hoje o MC é conhecido como rapper, ou aquele que faz rap, ritmo e poesia).

No entanto, é importante ressaltar que o hip hop não é formado por apenas quatro elementos como é comumente divulgado pela mídia. Tem sim quatro pilares (MC, DJ, grafite, b-boying), mas como apontado por estudiosos, o break-beat, um estilo de música que se caracteriza pelos samplers (apropriação de músicas gravadas) de ritmos hip hop, funk e electro e que logo se modificam e alteram para criar os denominados "breaks" – ou a parte em que o instrumental fica em evidência, é outro elemento que junto com a moda e os flyers constitui o que hoje entendemos por cultura Hip hop.

Em sua origem, o movimento hip hop tinha por base um caráter político, com o objetivo de promover a conscientização coletiva dos seus praticantes acerca dos problemas sociais que assolavam as periferias das grandes metrópoles. Ao longo do tempo, o movimento hip hop ganhou novas feições, sendo visto, muitas das vezes, somente como uma manifestação artístico-cultural das periferias das grandes cidades. Também cabe, portanto, a caracterização do hip hop como uma “cultura de rua”, que é o conceito mais utilizado pelos seus próprios integrantes.

O hip hop, por estar na moda e na mídia dos Estados Unidos, chegou em cheio às periferias brasileiras por meio de vídeo clipes. Como aconteceu no Bronx, os participantes do hip hop no Brasil escolheram espaços públicos para suas performances; muitos deles até destacam o paralelismo da experiência entre a história do hip hop no Bronx e no Brasil, já que eles tinham 235 as mesmas dificuldades, eram excluídos e marginalizados pela sociedade. Os integrantes da cultura hip hop identificam a rua como um espaço de inspiração e criação. “O hip hop possui a capacidade de fluir por múltiplos ‘locais’ que não lhe são próprios” (MACHADO, 2003, p.35). Assim, a rua é vista como uma sede, como o próprio palco.

Em Belo Horizonte, inúmeros espaços urbanos foram e ainda são utilizados pelos membros do hip hop, lugares como Praça da Savassi, Praça Sete, Viaduto Santa Tereza, Terminal Turístico JK, Praça da Liberdade, entre outros, sem contar os inúmeros bailes, e depois baladas, que abarcaram as manifestações do hip hop.

É importante ressaltar que a cultura do soul, cultura negra, já tinha forte presença no Brasil, principalmente em Belo Horizonte. A forte relação entre o soul e o hip hop, em Belo Horizonte, é algo salientado frequentemente pelos próprios atores dessa cultura, que citam, principalmente, James Brown como um de seus maiores inspiradores. Por esse motivo, não é raro encontrar membros que transitam entre o soul e o hip hop.

Na capital mineira existe também um intenso intercâmbio entre o hip hop e outras expressões afro-brasileiras, tais como a capoeira, o samba e a dança afro. Nesse sentido, as entrevistas feitas para este Catálogo revelaram que a grande maioria dos grupos reconhece uma origem afro no hip hop, embora alguns grupos não consideram o hip hop como sendo uma expressão genuinamente brasileira. Para esses grupos, o hip hop é uma manifestação de origem afro-americana que incorpora elementos de outras manifestações brasileiras, reforçando, assim, o caráter “multicultural” do hip hop. Além disso, os grupos ressaltam a importância dos pioneiros do hip hop, seja nos Estados Unidos, seja no Brasil, enfatizando a necessidade de respeitar e conhecer os fundadores e a história da cultura hip hop.

Levando em conta a grandeza dos eventos que vem ocorrendo em Belo Horizonte podemos afirmar que o hip hop está em destaque e em um grande processo de ascensão. Não é por acaso que, em entrevista com a apresentadora Marília Gabriela, no Programa “De Frente com Gabi”, ao ser perguntado sobre as batalhas de MC, o rapper Emicida disse “hoje em dia eu acredito que o lugar que tenha tido as iniciativas mais interessantes é Belo Horizonte” (a entrevista está em http://www.youtube.com/watch?v=CRt8IytaN3A&feature=related).

Para corroborar a importância do hip hop em BH, podemos citar eventos como o Duelo de MCs, Palco Hip Hop, Cidade Hip Hop, Hip Hop na Veia, a festa Instinto Louco de Expressão, Movimento Periferia Criativa, dentre muitos outros. Nesses eventos, os produtores e artistas buscam uma integração dos quatro elementos em suas programações, incluindo em suas atividades oficinas, debates, exposições e apresentações DJs, MCs, grafiteiros e B-boys. De um modo geral, os eventos visam estabelecer uma relação direta com a comunidade belo- horizontina, sendo de fácil acesso a todos.

Embora alguns grupos reconheçam a importância dos movimentos de Consciência Negra e até participem de eventos promovidos por estas organizações, percebemos a existência de um posicionamento crítico quanto à atuação e os posicionamentos do Movimento Negro em geral. Assim, muitos dos grupos entrevistados acreditam que as próprias manifestações artísticas do hip hop, por si, só já atuam como uma forma de reivindicação em prol das demandas raciais e sociais.

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As principais demandas apontadas pelos grupos de hip hop junto ao poder público, em linhas gerais, giram em torno, do acesso aos espaços públicos, da disponibilização de recursos materiais e da capacitação voltada para a elaboração de editais. A maioria dos grupos argumenta que o acesso aos espaços públicos e aos editais de fomento à cultura são extremamente burocráticos, o que dificulta as atividades cotidianas dos grupos e, consequentemente, sua visibilidade.

Outra questão fundamental presente nas falas dos entrevistados diz respeito às relações com algumas esferas do poder público, particularmente aquelas que são responsáveis pela segurança pública. Sentem urgência em efetivar um diálogo mais harmonioso entre as partes. Como por exemplo, poderíamos citar a questão problemática que envolve um dos principais eventos de hip hop da cidade de Belo Horizonte, nesse caso, o Duelo de MCs, que enfrenta dificuldades na realização semanal do evento, por conta das constantes intervenções da Guarda Municipal.

O conjunto aqui apresentado é apenas uma pequena amostra do vasto universo que é o hip hop em Belo Horizonte. Inevitavelmente, muitos grupos importantes na cena do hip hop mineiro não foram contemplados. Mas os que estão aqui apresentados revelam que, apesar dos problemas e dificuldades enfrentados, os grupos persistem na luta não só pelas reivindicações políticas, sociais e raciais, como também pelo reconhecimento do hip hop como uma manifestação cultural, artística e por vezes, até mesmo, profissional.

PARA SABER MAIS

BRAGA, Rosalina Batista, MENDONÇA, Fernando De Oliveira. O adolescente no mundo e o mundo do adolescente: visões de mundo de adolescente de uma área periférica e de uma área de elite de Belo Horizonte. (s/d) CASSEANO, Patrícia, DOMENIC, Mirella, ROCHA, Janaina. Hip Hop a periferia grita. São Paulo: Fundação Perseu Abramo. 2001. CRUZ, Daniel Antônio Gomes. 2008. Os Usos Políticos da Cultura hip hop: A experiência do coletivo Hip Hop Chama. Belo Horizonte: UFMG. DAYRELL, Juarez Tarcísio. Juventude, grupos de estilo e identidade. Educação em Revista, Belo Horizonte, n. 30, p. 25-39, dez. 1999. DAYRELL, J. A música entra em cena: o rap e o funk na socialização da juventude. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2005. GORCZEVSKI, D. O Hip Hop e a mídia no cenário urbano. Anais do 26º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, Belo Horizonte MG, setembro de 2003. São Paulo: Intercom, 2003. JAYME, Juliana Gonzaga. ALMEIDA, Miguel Renato De. Favela, arte e juventude: pensando a relação entre ações artístico-culturais e identidade no aglomerado da Serra em Belo Horizonte. Mestrado, Antropologia, PUC MG, 2006. LIBÂNIO, Clarice A. Pensando as favelas de Belo Horizonte – ensaios. Coleção Prosa e Poesia no Morro, Belo Horizonte, 2008. MACHADO, Daniel Arthur Diniz. A reconstrução da promessa: as narrativas do hip hop e as 237

identidades em contextos pós-tradicionais. 2003. Dissertação. (Mestrado em Comunicação Social) - Universidade Federal de Minas Gerais, Faculdade Filosofia e Ciências Humanas, Belo Horizonte. MENDONÇA, C.M.C. Moda, estilo de vida e videoclipe, aspectos da cultura hip hop. Anais do 26º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, Belo Horizonte MG, setembro de 2003. São Paulo: Intercom, 2003. SAID, Camila do Carmo. MINAS DA RIMA: jovens mulheres no movimento Hip Hop de Belo Horizonte. Faculdade de Educação. SANTOS, A.R., PRADO, B.A.,SILVA, J.E. O rap reinterpretando na rima o dia-a-dia da comunidade. Anais do 26º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, Belo Horizonte MG, setembro de 2003. São Paulo: Intercom, 2003. SILVA, Fernando Pedro da Silva. Arte Pública: diálogo com as comunidades. Belo Horizonte: C / Arte, 2005. TORRES, Júnia. 2005. Movimento Hip Hop como Cultura Política Expressiva: fluxos simbólicos e re-significações locais. Belo Horizonte: UFMG. Documentários sobre Hip Hop

BH tem Hip Hop. 2008. Direção: Maurício PC e Júnia Torres. Belo Horizonte. Documentário. Sinta o Som que vem das Ruas. 2011. Direção: Daniel Veloso e Eduardo Zunza. Belo Horizonte. Documentário. 35 min. Nos Tempos da São Bento: memória coletiva do hip hop em São Paulo. 2010. Direção: Guilherme Botelho, São Paulo. Documentário. 90 min.

Coordenaram a pesquisa sobre o Hip Hop: Joana Brauer e Rodrigo Amaro.

Colaboraram realizando as entrevistas: Bruno Oliveira, Daniel Antônio Gomes Cruz, Danúbia Cardenia da Silva, Fabricio Costa, Joana Brauer, Mariana Frizero, Rodrigo Amaro.

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Localização dos Entrevistados: https://www.google.com/fusiontables/embedviz?viz=MAP&q=select+col2%3E%3E0+from+1434 MiGg0e-pI19NbADjPO8hGNzOw0igo0WjGueY+where+col0%3E%3E0+%3D+'Hip- Hop'&h=false&lat=-19.920085731495224&lng=- 43.93105221560665&z=16&t=1&l=col2%3E%3E0&y=1&tmplt=2

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Negro F

Foto: Acervo Pessoal

Meu nome é Frederico Eustáquio, mais conhecido como Negro F. Atuo como grafiteiro, coordenador artístico, arte-educador e sou formado em design gráfico. A minha atuação profissional nesta área, que completa 15 anos, iniciou-se a partir da fundação do grupo Manos do Graffiti. Nesse período, atuei também com a banda NUC e participando do projeto Guernica, do Observatório da Juventude UFMG e do Conselho de Juventude de Belo Horizonte. Formei em Design Gráfico pela UNA em 2011.

Em minha trajetória artística, já instalei três exposições com o projeto Cidade Hip Hop em 2010 e 2011 – duas que aconteceram no Centro Cultural UFMG e uma que aconteceu no Plug Minas. Este é o maior festival de hip hop do estado de Minas Gerais.

Atualmente, estou na presidência do Grupo Cultural NUC, sou integrante do Coletivo IN’Grafitti, e coordenador artístico dos projetos da empresa “Dialeto Cultural” com os Projetos: Cidade Hip Hop; Intervenção de Graffiti – que atua na formação de vários jovens pela arte e do grafite, aprovado nas leis Estadual e Municipal de incentivo à cultura; e no projeto Cidadania nos Trilhos – na formação com jovens em arte, em a parceria com a Associação Imagem Comunitária (AIC) e financiado pela Vale.

Hoje, utilizo o grafitti como base inovadora dos meus projetos, incluindo design, educação e arte.

Busco em minhas ações difundir e propagar a arte do grafitti, criando redes para o fortalecimento de nossa produção artística no estado. Dessa forma, mostro que é possível viver da arte.

Rua Grão Pará, 85 sala 1204 (bairro Santa Efigênia) Belo Horizonte - MG Telefones: (31) 9806-7399/ 3657-9378 E-mail: [email protected] Site: http://www.negrof.blogspot.com.br

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Eduardo Sô

Foto: Acervo Pessoal

Meu nome é Eduardo Augusto da Silva, conhecido como Sô, e pelos mais antigos como Minhoca. Fui um dos pioneiros do breaking, locking e popping em Minas, que na época a gente chamava de breakdance, e também um dos precursores dessas danças no Brasil. Conheci o hip hop vendo vídeo clipes. A televisão transmitia alguns passos de dança, isso entre 77 e 83, que me encantaram. Em 1983 eu vi o filme Flashdance, tinha uma cena na qual alguns rapazes dançavam em um corredor. Depois ficamos sabendo que era a Rock Steady Crew. Do filme eu tentava fazer o giro de costas e o robô, que eram os movimentos que eu lembrava.

Eu vim da cultura de passinhos, fazíamos passinhos nas festas nas casas dos colegas e eu pensava que para dançar qualquer coisa eu precisava aprender jazz. Aí eu entrei para o corpo de dança do Mauricio Tobias; lá eu conheci os rapazes com quem formei meu primeiro grupo de breaking, o Break Crazy. Na época saiu no cinema o filme Break’n, que aqui no Brasil foi intitulado de “Breakdance”. Aí pronto, a febre pegou mesmo. Passávamos a tarde no cinema, uma sessão terminava e ficávamos escondidos para ver a próxima – vários meninos perderam o ano escolar porque tínhamos muitas faltas. Mas tudo mudou mesmo quando saiu o filme Beat Street, que mostrou melhor o hip hop. Daí começamos a entender melhor a cultura. Então mudamos a forma de vestir, de andar. O Beat Street foi impactante pra nós, pra quem era do movimento mesmo.

Fiz parte da Companhia Discípulos do Ritmo de São Paulo, onde vivi por pouco mais de 10 anos. Foi lá que recebi o apelido “Sô”. Logo que cheguei em São Paulo, em 89, Os Gêmeos (grafiteiros) me apelidaram com esse nome por eu ser mineiro. Hoje ainda danço. Atualmente faço parte da CO4 Crew, fundada por mim e meu amigo Fabricio Costa, que tem como objetivo pesquisar sobre a cultura hip hop e criar pocket shows para mostrar a beleza de suas danças. Também sou membro da Spin Force Crew e organizo a Sexta da Dança, que acontece toda última sexta feira do mês no Duelo de MCs.

Quem quiser conhecer um pouco mais das danças urbanas, é só comparecer.

Telefone: (31) 9256 4806. E-mail: [email protected]

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HISNE

Foto: Acervo Pessoal

Meu nome é Leandro Moreira, sou conhecido como HISNE.

Trabalho com grafite e faço parte do grupo de grafite Entre Família Crew. Como o nome mesmo fala, o grupo sou eu, minha esposa, meu cunhado, e mais amigos que a gente considera uma família mesmo.

A gente tenta promover a ideia do grafite enquanto raiz, enquanto origem, que é aquela ideia de se encontrar e fazer painéis com temas, se dedicar à questão de fazer produções com grafite, procurando valorizar o bairro e a comunidade onde ele se encontra.

Nossas referências são tiradas do grafite “old school” mesmo, bem das origens, onde se trabalha com letras, personagens. A gente vem trabalhando em cima disso, produzindo nossos painéis pela cidade. Nossa ideia é bem simples, nossa questão mesmo é pintar.

Eu faço grafite desde 2000; na verdade eu estudo grafite desde 2000, pois desse ano para cá o grafite evoluiu de maneira absurda e a gente tem que ir acompanhando, mesmo que você não pinte determinado estilo de grafite. A gente vem acompanhando as técnicas, o material que vem sendo lançado, pois cada dia tem material diferente.

Eu acredito que o nosso grupo é um grupo mesmo de estudo, porque a gente vem estudando o grafite e redescobrindo o grafite. Essa é a nossa ideia.

Contato: Leandro Moreira Gonçalves (HISNE) Telefone: (31) 9327- 6820 E-mail: [email protected]

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Grupo Cultural Arte Favela

Foto: Acervo Pessoal

Meu nome é Hely Costa, sou um dos motivadores do projeto Arte Favela. Hoje são vários jovens envolvidos nas ações do grupo, nas áreas de desenho animado, grafite e música. Falo que sou um motivador, pois no grupo não há hierarquia – todos tem voz ativa. As decisões são tomadas coletivamente. O Arte Favela é formado por um Conselho Juvenil e dentro do projeto tudo é decidido por todos.

O Projeto foi criado em 2003 na região nordeste de Belo Horizonte, no bairro Goiânia, em uma comunidade chamada Vila Presidente Vargas. A ideia foi trabalhar com a identidade cultural dos jovens da região. A principal influência vem da cultura hip hop, entrelaçada com elementos da cultura afro-brasileira: o samba, o soul, a história das favelas e de um povo que luta por dignidade. Foi quando começamos a realizar o trabalho Arte Favela nos becos. A ideia foi trabalhar o grafite a partir de personagens da cultura e da história da arte brasileira e expor nos becos, nos espaços públicos e nas comunidades onde os jovens do projeto moram.

A partir daí, várias parcerias possibilitaram a ampliação do projeto. Gravamos um CD com temas voltados para as manifestações sociais e a realidade local que os jovens vivem, tomando como tema as referências musicais de seus familiares, a literatura brasileira e o hip hop. Depois criamos o núcleo de Desenho Animado, em parceria com a ONG “Favela É Isso Aí”, com o objetivo de agregar o grafite, o rap, o desenho, e a linguagem do cinema de animação.

Este ano vamos realizar a quarta edição do Arte Favela nos Becos – “Olhares de Belo Horizonte”, com a ideia de mostrar um pouco do olhar das pessoas sobre Belo Horizonte, como esse olhar mudou com as gerações.

Contato: Hely Costa Telefone: (31) 9884-3727. E-mail: [email protected]

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Spin Force Crew

Foto: Acervo Pessoal

Reinaldo Ribeiro, diretor e coreógrafo da Spin Force Crew: – A Spin Force Crew surgiu em 1992, com Beat, Jack, Harllen e Shirley. Além de dançar, eles tinham o intuito de transmitir e organizar a cultura hip hop em Belo Horizonte.

O meu envolvimento com o grupo foi por meio do breaking e do grafite. Um dia, fiquei sabendo do encontro que faziam no terminal Turístico JK lendo um flyer; fui lá e encontrei com os eles, os fundadores. Falei do meu interesse em treinar e me chamaram para treinar no bairro Céu Azul, e assim começou. Logo depois, em 1996, eles me convidaram para fazer parte do grupo. Um tempo depois, Jack passou a bola para mim, para organizar o grupo.

O grupo sempre quis trabalhar com as quatro subculturas do hip hop – Mcing, DJ, grafite, breaking –, mas isso só ficava na teoria. Aí quando entrei, convidei outras pessoas da cultura hip hop. Hoje o grupo possui 18 membros, entre b-boys e s, grafiteiros e MCs. Temos dois integrantes de São Paulo, um de Montes Claros, um do Rio de Janeiro, um de Sete Lagoas e os restantes são de Belo Horizonte.

O grupo faz várias apresentações, workshops e palestras de breaking e grafite. Todo ano realizamos a festa Back to the Tape, em que acontecem batalhas de grupos de breaking, apresentações e workshops de outros estilos de danças urbanas e exposição de grafite. A apresentação do evento é feita pelo MC do grupo, Monge.

O objetivo do grupo é divulgar a cultura hip hop, trabalhar na propagação dessa cultura, organizar e poder levar a informação certa para aqueles que não tem acesso.

Sede: Escola Municipal Prof. Paulo Freire Rua Paulo Campos Mendes, 311 (bairro Ribeiro de Abreu). Belo Horizonte - MG Oficinas: terças e quintas, de 18:00 a 21:00h; sábados, de 9:00 a 12:30h Telefones: (31) 9559-5752 (Rey); 8672-0316 (Fabrício); 9401-5485 (Bruno) E-mail: [email protected] Facebook: spinforcecrew

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Kontrast

Foto: Divulgação

Meu nome é Cleidson de Paula, sou conhecido no meio do hip hop como Negão do grupo Kontrast. Faço parte do grupo como rapper. O grupo Kontrast foi criado em 1999 na comunidade do Novo Aarão Reis, passando por várias transformações até chegar à formação atual, que é composta por Gibi, Lau e eu, sendo que o Gibi é rapper e compositor, a Lau é rapper e back vocal, e eu também sou rapper e compositor.

A proposta do grupo é baseada na própria ideia do cotidiano da periferia, na nossa vivência. A gente já fez várias apresentações em Belo Horizonte, em vários eventos importantes, como Cidade Hip Hop, Palco Hip Hop, Hip Hop Chama, Festival de Artes Negras e no Fórum Social Brasileiro. Atualmente a gente está gravando o nosso disco, que vai ter o título “A Lei de Mineiro” e vai estar pronto esse ano [2012].

A gente tá aí na ativa. Hoje eu também faço parte do Coletivo Bambaatta, juntamente com outros nomes da cena do hip hop da cidade, como Julgamento, SOS Periferia, Doctor Bhu e Shabê.

A gente procura fomentar a cultura hip hop dentro de Belo Horizonte como uma forma de crescimento até para os outros artistas.

O Kontrast desenvolveu algumas atividades na nossa comunidade, participando de um projeto com o COMUPRA, que é uma ONG do bairro Ribeiro de Abreu. A gente coopera com o projeto “Deixa o Onça Beber Água Limpa”. Hoje a gente não atua tanto, mas a gente não deixa de estar sempre fortalecendo esse “corre” lá.

Contato: Cleidson de Paula (Negão) Telefone (31) 9633 1749 E-mail: [email protected]

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DJ A Coisa

Foto: Marcos San Juan

Sou Paulo da Silva Soares, também conhecido como DJ A Coisa. Sou filho de Dona Geralda e Sebastião Crispim, tenho quatro irmãos e tenho como referência “Tia Dóia” (Maria da Glória) e Sr. Gilvan, meus professores do primário que me prepararam para a vida e com quem mantenho contato até hoje. Comprei meu primeiro disco com nove anos de idade e me tornei colecionador. Hoje possuo mais de 30 mil discos de vinil e muitos CDs. Comecei a fazer as primeiras festas como DJ por acaso, em festa nas casas de família no bairro em que cresci, Alvorada, em Sabará, Minas Gerais. O protagonista da cena na época era o DJ soul Jair, mas ele gostava muito de ficar conversando com as meninas. Certa vez ele queria sair com uma moça e eu estava por perto, então ele me chamou, me ensinou mais ou menos como fazer e me deixou no comando do som para tocar. Depois disso comecei a trabalhar com ele, já tendo uma festa só para mim. Jair ficava em uma festa e eu fazia outra com o som dele, isso entre 1975 e 1979. Minha primeira festa para um grande público foi em 1977, no Centro Esportivo Alvorada. Fiquei conhecido no Brasil através do grupo Protocolo do Subúrbio, formado em 1986 por Natalício “Lesma Preta”, Ronaldo “Linguiça”, Johnny Peneira, Douglas “Carniça” e eu, DJ A Coisa. No Protocolo fiquei conhecido pelo disco Funk Brasil e pelos shows que o grupo fez na época – em programas de TV e em diversos lugares. Foi lá no Protocolo do Subúrbio que conheci melhor meu amigo, que considero hoje como família, o Ronaldo “Linguiça”. Trabalhei em alguns programas de rádio em Belo Horizonte. O primeiro, em 1989, foi o Só Mix, na BH FM, e o último, em 2005, na Transamérica, o Adrenalina. Sou produtor musical, já lancei mais de 18 discos de 1992 até 2010, entre eles: Fábrica Ritmos, Black Soul e Retrato Radical. Sou produtor de eventos. Atualmente faço todo ano o Hip Hop na Veia pela Vida em Betim, Minas Gerais, e sou assessor de imprensa da ACCDJMG - Associação Cultural Clube dos DJs de Minas Gerais. Desde 1999 faço parte da Banda Berimbrown como DJ, percussionista e dançarino – isso há 13 anos. Junto ao Berimbrown pude mostrar meu trabalho para vários estados do Brasil e para outros países também.

Contato: DJ A Coisa Telefone: (31) 9948 4019. E-mail: [email protected]

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Elemento X

Foto: Fabrício Costa

Sou Rodrigo, conhecido como Rodrigo B-boy. Fundei a Cia. Elemento X em 2001. Eu treinava breaking com alguns b-boys no Viaduto Santa Teresa e nessa época eu já trabalhava como dançarino na Cia. SeráQ., que tem Rui Moreira como diretor.

Vindo desse contato com o mundo artístico e com o meio cênico, nasceu em mim o desejo de usar a dança de rua como linguagem cênica.

Foi ali mesmo, no Viaduto Santa Teresa, que aconteceu a primeira formação da Companhia, no local que hoje é palco para várias ações da cultura hip hop.

A Cia. Elemento X fez diversos trabalhos expressivos de lá para cá, como abertura de premiações de teatro, participações em festivais de arte e cultura, produções de videoclipes de alguns artistas e do filme “Uma Onda no Ar” de Helvécio Ratton.

Hoje a Companhia se apresenta semanalmente no restaurante Engenho de Minas e fazemos performances nas ruas da cidade de Belo Horizonte.

Quem quiser conhecer nosso trabalho, ande pelas ruas da cidade ou vá ao Engenho. Paz, Rodrigo B-boy, Elemento X e Stance 333 na área!

Telefone: (31) 9385 7581 E-mail: [email protected]

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Retrato Radical

Foto: Acervo Pessoal

No início da década de 90, nas lendárias rodas de break, surgiu o primeiro contato com três eternos amigos: Canela Fina, Radical Tee e Iceman. Juntando e dividindo conhecimento, respeitando a música negra, conhecendo sua trajetória, formamos o Retrato Radical.

A primeira e original formação teve eu (DJ Pooh), Canela Fina, Radical Tee, DJ Iceman e Mano África, meu irmão que se incorporou à proposta do grupo. Tivemos o privilégio de ser o segundo grupo de rap a gravar um vinil em BH com o nosso primeiro disco “Seja Mais Um”. Com o fortalecimento da cultura na cidade, somado ao amadurecimento do grupo, chegamos ao nosso segundo álbum, já em CD, “O Barril Explodiu”.

Nessa época, tivemos a incontestável e valorosa parceria das rádios comunitárias, levando o Retrato Radical a ser um dos grupos musicais de maior influência na cidade, o que inevitavelmente nos deu a condição de lançar nosso terceiro disco “Homem bomba”. Esse trabalho solidificou o grupo como instrumento de informação e referência para o público para o qual somos voltados.

Hoje temos no calor humano e no reconhecimento desse mesmo público os motivos de prosseguir. A relação mais próxima e afetiva das pessoas da região onde moramos nos dá a certeza da missão cumprida.

Reservamos para o futuro a certeza de vencer novos obstáculos e chegarmos com novas mensagens positivas para entrarmos mais uma vez na vida e no dia a dia de quem respeita e aprecia o Retrato Radical.

Contato: Odair Gomes (DJ Pooh) Telefone: (31) 8435-5011 E-mail: [email protected]; [email protected]

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Ed Mun

Foto: Dany Fragozo

Meu nome é Edgar, mas sou conhecido como Ed-Mun. Trabalho com grafite 3D há mais ou menos 15 anos. Comecei em 1997 e já participei de vários grupos e projetos sociais como grafiteiro, rapper e b-boy. Fundei alguns grupos também. O que durou mais tempo, 10 anos, foi o Nossart, no qual trabalhávamos os quatro elementos da cultura hip hop. Desde aquela época organizo oficinas, eventos e dou palestras. Atualmente atuo como grafiteiro em um grupo de âmbito nacional, fundando por mim em 2008, chamado Ponto de Fuga (PDF) Crew.

No grupo somos cinco, e moramos longe, então trabalhamos via internet e fazemos alguns eventos de grafite e algumas coisas mais artísticas para nós mesmos.

Acho que o grafite hoje perdeu muito daquela ideia de conversar com as pessoas, de passar uma mensagem, então a gente, meu grupo, está se propondo a fazer isso agora, fazer grafite que passe alguma coisa.

Faço, ainda, algumas intervenções com a Família de Rua, organizando o grafite embaixo do Viaduto Santa Teresa; no Duelo de MCs trabalho junto com o Monge no grupo dele, o Caminho De Zion; e organizo o Palco Hip Hop. Hoje também estudo design e trabalho um pouco como designer e assim tento trazer o design para o grafite e o grafite para o design, no intuito de fazer algo inovador.

Eu sou um amante do hip hop, sou até meio doente. Eu gosto muito do que é o hip hop mesmo, da essência do hip hop, que acredito vem se perdendo, então eu tento sempre manter o hip hop vivo nos meus trabalhos. Teve momentos em que eu achei que o hip hop tinha morrido, mas o hip hop vive em cada um de nós, como o próprio Monge fala.

Telefones: (31) 2535-3475 / (31) 8552-0515 E-mail: [email protected] Sites: www.ed-mun.com / www.pdfcrew.com / www.pdfcrew.com/blog / www.caminhodezion.blogspot.com

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Dj Roger Dee

Foto: Divulgação

Meu nome é Roger Cândido Ferreira, tenho 41 anos e sou conhecido como Roger Dee.

Tive meu primeiro contato com o hip hop em 1983 através da dança, pois treinava sozinho em casa, mas na realidade comecei a dançar o breaking no início de 1984.

Me tornei grafiteiro – praticamente o primeiro grafiteiro de Belo Horizonte –, e desenvolvi, durante esse período, a arte do b-boy e do grafite.

Por volta de 1990 me tornei DJ, acompanhando vários grupos de rap, e nessa trajetória tive contato com vários grupos que não eram do hip hop, mas do Pop e da Música Instrumental Brasileira, como Jota Quest, Wilson Sideral e Írio Júnior.

Participei do grupo de dança Break Crazy, que foi o primeiro grupo profissional de breaking em Belo Horizonte, e de músicas de grupos como Prefixo T, Bento Brothers e Macunaíma X.

Participei dos documentários “BH tem Hip Hop” (inclusive na edição), “Nos Tempos da São Bento” e “O Som que Vem das Ruas”. Produzi alguns artistas como Código B e, em 2011, o CD “O Som que Vem das Ruas”, que reuniu os MCs de maior destaque no Duelo de MCs.

Atualmente trabalho com o Coletivo Família de Rua, que realiza todas as sextas-feiras o Duelo de MCs, a partir das 21 horas, embaixo do viaduto Santa Tereza.

Contato: DJ Roger Dee Telefone: (31) 9645-5676 E-mail: [email protected]

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Ice Band

Foto: Joana Brauer

Meu nome é Hudson Carlos de Oliveira, rapper Ice Band. A minha história é assim: na década de 80, pegando traseiro de ônibus e matando aula, na década de 90, tentando dominar o morro. Meu sonho era ser piloto de avião, acabei me tornado avião de boca de fumo e tive a fuselagem toda furada por tiro de 28”. Aí fiquei mal, no fundo do poço, fiquei internado várias vezes, fiquei preso várias vezes, aí você volta e a sociedade não te abraça, mas a família me segurou e aí eu conheci o hip hop.

Foi escutando rap nas rádios comunitárias que eu me identifiquei com a música e com a cultura e comecei a escrever minhas próprias letras. Aí eu vi no movimento um modo de me subsistir. Então o rapper Ice Band veio de uma necessidade de dialogar com a sociedade, através das músicas, sem ser através das armas, através da didática da rima, da revolução (sem revólver na mão) e do microfone. Em 98, então, me tornei rapper, que foi quando fiz minha primeira gravação, da música ‘Moro numa Favela’.

De 95 a 2002 trabalhei na Rádio Favela, como repórter; também já atuei em filmes de longa e curta metragem, como ‘Um Onda no Ar’ e ‘BH tem Hip Hop’. Hoje faço palestras em escolas, realização de shows, produção de CDs, e sou realizador do projeto ‘Hip Hop Educação para a Vida’, que consiste na mediação de conflitos no ambiente escolar. Ele existe desde 97; hoje temos o apoio do Fundo Municipal de Cultura e desde que começou já passamos por mais de 400 escolas em Minas Gerais. Sou também presidente do Centro de Referência Hip Hop Brasil, que tem o objetivo de reunir tudo que é produzido sobre a cultura hip hop, a fim de criar um acervo. Já recebi a Medalha de Honra ao Mérito de Cidadania (Câmara Municipal de BH) e recentemente o Prêmio Bom Exemplo - Cultura (Jornal O Tempo, Rede Globo, FIEMG e Fundação Cabral).

Se hoje o Ice Band tá tendo reconhecimento, é porque eu já suei pra caramba, já perdi pedaços do meu corpo nos becos e favelas de BH – então foi uma evolução natural das coisas. Eu venho subindo devagar essa escada até o topo.

Telefones: (31) 8684-9052 / (31) 3284-9211. E-mail: [email protected] Sites: www.myspace.com/iceband; www.soundcloud.com/iceband Facebook: hudsoncarlosiceband

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Julgamento

Foto: Marco Aurélio Prates

A história do Julgamento começa em 1993. Foi quando eu, Roger Deff, comecei a me interessar por rap, assim como todo garoto criado nas periferias dos grandes centros. Comecei ouvindo Gabriel, Racionais, Pavilhão 9, entre outras coisas, mas nem sabia direito o que era hip hop.

A ideia de me tornar rapper só se concretizou em 1995. O grupo se chamava “Julgamento Rap”. Após vários shows e um reconhecimento mesmo que incipiente por parte da cena local, em 1998 as atividades do grupo foram encerradas e só voltamos em 2000, com uma nova proposta que trazia um diálogo mais amplo com outras vertentes musicais.

Traduzindo o novo projeto, assumimos o nome que usamos até hoje, “Julgamento”.

A postura, mais focada em questões sociais, se manteve, mas ampliamos as possibilidades de levar essa mensagem ao incluir elementos pouco habituais no rap.

Hoje somos um dos mais atuantes trabalhos de rap da capital mineira, com diálogos estabelecidos não apenas com o rap, mas com outras possibilidades musicais.

A formação atual é: Roger Deff, Rivardo HD e Khumalo (vocais), Tobias e Giffoni (DJs), Prestes (baixo), Helder (guitarra) e Gusmão (batera). O grupo tem dois trabalhos lançados: “No Foco do CAOS” (2008) e “Muito Além” (2011) e estamos desenvolvendo um novo trabalho para ser lançado em breve.

Telefones: (31) 8603 4612 / 3418 6339 E-mail: [email protected] Site: www.julgamentoemcena.com.br

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Lokomotion

Foto: Acervo Pessoal

Então, meu nome é João, conhecido como B-boy João, B-boy Afrokong. Tenho 21 anos, sou um dos fundadores da Lokomotion Kingz, junto a mim o B-boy Matheuzinho e o B-boy Izaías.

Nós montamos a crew com o intuito de ser uma crew legal, sempre respeitando as outras crews em campeonatos, respeitando nossos adversários, e nós estamos aí com essa formação desde o comecinho de 2010, e na luta até hoje Graças a Deus. E na crew, tipo, já teve, dentro desse tempo, algumas alterações, porque saíram alguns caras, entraram outros, mas nós estamos aí, firme e forte.

Todo ano a gente dá workshops e faz apresentações. A Lokomotion Kingz faz um evento anual que é o Game Over, e é um evento que tem o intuito de reunir a galera, fazer disso uma festa, não ser só um campeonato, mas um encontro de amigos.

Vem várias crews de Minas Gerais e de outros estados pra trocar ideias, sem rixas e sem discriminação. Lá é aceito qualquer um, é só chegar e dançar, não importa o estilo, a intenção do evento é fortalecer a amizade.

A gente compete em vários eventos, como o Freestyle Session, B. boy Evolution, Batalha na Vila, entre outros. Nosso treino acontece no Viaduto Santa Tereza toda terça-feira a partir das 20 horas.

É só colar que é nóis.

Contato: João Afrokong Telefone: (31) 8447-2446 E-mail: [email protected]

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Iron

Foto: Acervo Pessoal

Meu nome é Sergio Luiz Amaral, mais conhecido como IRON. Moro em Belo Horizonte e tenho 30 anos de idade. Faço grafite há dez anos, pois comecei em 2002.

Comecei a desenhar desde criança, por influência da minha mãe, dos meus tios e da minha família. Quando ainda tinha oito anos aprendi a pintar e a desenhar com a minha mãe que pintava em panos de prato. Então o grafite veio para mim, pois eu já desenhava desde criança.

Hoje em dia eu pratico atividades de grafite e trabalho com isso também, com trabalhos de intervenção urbana e coordenando um grupo de “oficineiros”. Faço pintura de quadros, telas e exposições. Então, eu estou sempre fazendo arte. Já participei de alguns eventos internacionais, e em outros estados também – por exemplo, participei da Bienal Internacional de Grafite.

É essa a minha vida, cara. O meu grafite é influenciado pelo surrealismo, e hoje em dia eu estou trabalhando nessa área de surrealismo, desenhando animais, pois as minhas referências são muito as aves, os cachorros.

Eu curto muito desenho preto e branco, gosto muito de hachura, do artista Gustave Doré, porque ele gosta muito dessa técnica, dessas coisas assim em preto e branco. Mas as minhas referências no grafite foram tipo o GUD, Os Gêmeos, os caras que eu via pintando. O ser humano eu também gosto de trabalhar. Tenho também umas referências gringas, e umas referências daqui mesmo de Minas, de BH, e também de outros estados.

Contato: Sergio Luiz do Amaral (IRON) Telefone: 9146 3330 https://www.facebook.com/IRONDOIS

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MC Simpson

Foto: Acervo Pessoal

Meu nome é Jonathan Augusto de Souza Pádua, sou conhecido como Simpson Souza. Meu primeiro contato com a música foi através da família. A minha mãe dançava soul na época que eu era moleque, meu tio também – na época soul era febre. Ela me levava para aqueles sons em que eles fechavam os quarteirões – que colocavam as caixas, rolavam uns Miami, uns snap, underground, e eu gostava de tudo que parecia com isso, até eu conhecer Michael Jackson. A partir daí eu gostava de tudo que parecia com Michael Jackson.

Tenho várias influências de músicos antigos, o que fortaleceu a minha trajetória. Aí eu ouvi Racionais MCs, do álbum “Raio-X do Brasil”, a música “O Homem na Estrada”. Lá em casa minha mãe tinha uma fitinha, eu olhei aquela capinha, coloquei pra ouvir e falei: é isso que eu quero ouvir. Passei a pesquisar tudo de rap. Foi assim que conheci Câmbio Negro, DJ Jamaica, Doctor MCs, GOG.

Atualmente eu faço parte de um selo chamado Beat Hit e também sou do selo Sindicado Indie, do produtor Gorila Mangani. Lancei um CD intitulado “Cultura Imortal Suburbana”, em 2010. Em 2007 fui campeão da Liga dos MCs, me sagrando Campeão Brasileiro de Freestyle.

Também fui campeão do Encontro das Ruas que aconteceu em Joinville em 2009. Esse é o maior festival de dança do país. Teve um projeto de hip hop nesse evento e eu fui convidado pelo conhecido Crioulo Doido para participar das batalhas de MCs e fui campeão. A premiação em dinheiro é que me ajudou a lançar o CD “Cultura Imortal Suburbana” em 2010. Atualmente estou trabalhando em um EP que será intitulado “Imprevisível”. Pretendo lançá-lo até no meio desse ano, 2012. Estou gravando alguns videoclipes também, posso adiantar inclusive o da música Voltei de Voadora. E enfim, é isso.

Contato: Jonathan Augusto de Souza Pádua (Simpson Souza) Telefone: 8442 4339 E-mail: [email protected] Site: http://simpsonsouza.blogspot.com/

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Coletivo Nós Pega e Faz

Foto: Divulgação

Meu nome é Júnior Marques da Silva, sou mais conhecido como Rapper Blitz. Faço parte do grupo de rap Crime Verbal e do coletivo de hip hop Nós Pega e Faz. A minha trajetória no rap vem desde 1998. Em 2001, criei o Crime Verbal e em 2005 criamos a Nós Pega e Faz.

A nossa influência vem do Áfrika Bambaataa, vem do Thaíde, vem dos Racionais, que são as pessoas, dos mais antigos, que começaram o rap aqui, que foram se tornando ícones pra gente. E a partir desses conhecimentos fomos tendo outras influências. Para mim, com o Crime Verbal, eu tenho como influências o Z’África Brasil, que é um grupo que carrega muito essa questão da África, da negritude mesmo, e o GOG, que é um cara político pra caramba e sempre leva esse conceito político-social pra dentro das suas letras.

Com o Coletivo Nós Pega e Faz realizamos diversas atividades. A gente realiza a mostra Canta e Dança, que acontece uma vez por ano e é um evento simultâneo dos quatro elementos (grafite, DJ, rap, break). Realizamos a festa “Instinto Louco de Expressão”, uma festa comemorativa que já vai para a décima quarta edição. A gente desenvolve também o programa “Aí Favela” no portal rapmineiro.com, a coluna “Boca no Trombone” dentro do blog do Parks, desenvolvemos a mixtape Rapdemia – que é temática e que a cada edição vem trazendo uma questão.

Temos a marca de roupa UComboio. Além disso, temos um estúdio de gravação e áudio, fazemos design gráfico, artes para capas, cartazes e tal. E estamos nos aventurando, também, na questão do audiovisual – a gente conseguiu uns equipamentos e acredito que um dia vamos conseguir fazer nossa própria produção de audiovisual.

Contato: Rapper Blitz Telefone: 7814 9526 E-mail: [email protected]

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DJ Francis

Foto: Acervo Pessoal

DJ Francis: – Sou Coordenador Geral do Grupo Cultural NUC. Venho desenvolvendo, como coordenador geral, várias ações que são efetivadas pela Instituição.

O Grupo Cultural NUC foi fundado em 2003, desenvolvendo vários programas socioculturais que promovem a médio e longo prazo a capacitação dos moradores do Alto Vera Cruz.

Meu envolvimento no hip hop se deu em meados de 90. Iniciei com um grupo de dança, de break. Em 1996 eu me integrei numa equipe de som que se chamava Black Star Som, e passei a ser DJ dessa equipe por vários anos.

Além do trabalho que eu tive com essa equipe, eu fazia a discotecagem em alguns eventos e também era DJ de alguns grupos de rap. Até que em 97 entrei para o grupo de rap NUC – Negros da Unidade Consciente – e a partir de 1998 a trajetória artística foi se desencadeando, com a participação em shows, eventos, em viagens internacionais e nacionais.

A minha influência, em grande parte, são os artistas do rap nacional. Passei a me interessar mais pela música quando eu comecei a conhecer o rap nacional, porque eu vi que tinha muito mais a ver comigo, falava mais da minha realidade e ia mais direto ao assunto.

Aí, é lógico, essas coisas vão se ampliando, porque quem gosta do hip hop, por exemplo, sabe que a base musical do hip hop é de origem da música soul, do jazz, da música negra, principalmente norte-americana, e a base dessas músicas norte-americanas é uma vertente da música negra e africana.

Contato: DJ Francis. Telefone: 9606 6612 E-mail: [email protected] Website: www.grupoculturalnuc.org.br

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Coletivo Bambata

Imagem cedida pelo grupo

Meu nome é Victor Magalhães, sou integrante do Coletivo Bambata. A minha trajetória no hip hop vem de mais ou menos 1998, 99, inicialmente mais como um entusiasta, de gostar e de ter uma identificação muito grande com o hip hop. Minha trajetória veio mais desse interesse. Eu comecei a frequentar as festas, conhecer os grupos e frequentar uns eventos que tinham no meu bairro, o Barreiro.

Participo do Bambata, que é um Coletivo que surgiu no ano passado através do Coletivo Pegada, um dos braços do Fora do Eixo aqui em Minas Gerais, em Belo Horizonte, porque eles viram uma demanda muito grande do hip hop na cidade. Temos por objetivo a divulgação dos artistas e o fortalecimento da cena mesmo. Resolvemos nos articular e foi muito bacana porque se envolveram vários grupos, produtores e artistas. O grupo se tornou um grupo forte, que se encontra toda semana para estabelecer discussões sobre a cena do hip hop mineiro. Criamos o “Bambata Convida”, que já teve quatro edições.

O Bambata hoje participa de inúmeras atividades na cidade. Uma é dentro do “Palco Hip Hop” – idealizado para fomentar ações do hip hop na cidade, tem a curadoria da Família de Rua. Hoje o Bambata não faz uma só determinada ação, não faz só show. A prioridade do Bambata é fomentar ações que gerem resultados para a comunidade como um todo, e isso envolvendo shows, debates, palestras, interesses de todos os lados.

O meu papel nessa história ainda está em missão. Eu quero contribuir para fortalecer mais e mais. Estamos ainda caminhando. Sabemos da importância de todas essas ações terem continuidade para que realmente o que está sendo feito aqui pelos artistas, grupos e produtores dentro do hip hop mineiro tenha uma visibilidade nacional.

Contato: Victor Magalhães Telefone: 9313 3590 E-mail: [email protected]

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Família de Rua

Foto: Mariana Valentim

Meu nome é Pedro Valentim, a galera me chama de PDR ou PDR Valentim. Sou MC da cultura hip hop e jornalista por formação. Integro o Coletivo Família de Rua, que é um grupo de Belo Horizonte que nasceu da ideia de alguns amigos tentarem promover ações que priorizem a originalidade e a essência da cultura hip hop e do skate na cidade. Hoje somos sete, os DJs Roger Dee e Junin Bum Bep, os MCs Thiago Monge, Ozléo, e eu, a jornalista Ludmila Ribeiro e o produtor cultural Rafael Lacerda. O Família de Rua nasceu em 2007 e é fruto do Duelo de MCs, encontro da cultura hip hop que ocupa todas as noites de sexta-feira o Viaduto Santa Tereza, no centro de BH. O Duelo de MCs nasceu da vontade de levar a cultura hip hop de volta para as ruas, promovendo um espaço de convivência que permitisse às pessoas se encontrarem nas ruas, no espaço público, pois a rua é o palco, é onde tudo se dá, é a referência maior. Temos outro projeto que também é periódico, o Família de Rua Game Skate, que é um campeonato de skate muito simples, que acontece todo segundo domingo do mês, embaixo do Viaduto mesmo. Queremos transmitir a mensagem de que o hip hop é a maneira como vivemos, como a gente enxerga o mundo e as pessoas e dizer que essa cultura tem muita riqueza filosófica e artística. Atualmente a gente faz a curadoria do Palco Hip Hop, realizamos o Duelo de MCs nas duas edições do Cidade Hip Hop, participamos em festivais e eventos, como o FIT-BH (Festival Internacional de Teatro de Belo Horizonte), FAN (Festival de Arte Negra), Feira Música Brasil, Juventude Okupa a Cidade e Verão Arte Contemporânea. O tempo inteiro a gente é convidado pra participar de alguma coisa. Eu acho que essa coisa de agregar sempre as pessoas, em prol da cena, é extremamente importante. A gente tá aí pra isso mesmo – conseguir dialogar com a nossa cidade, com as pessoas da nossa cidade e pensar cada vez mais uma cidade melhor pra a gente viver, tendo a arte e a cultura como coisas primordiais e essenciais para a vida das pessoas. Telefones: (31) 8391 3399 / 3567 3930 E-mail: [email protected] Site: www.familiaderua.com.br Facebook e Twitter: familiaderua

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Negras Ativas

Foto: Acervo Pessoal

O nosso grupo de rap, o Negras Ativas, surgiu em 2003 a partir da necessidade de intervir junto às mulheres da cultura hip hop por causa de um incômodo que sentíamos em relação ao machismo que existia no movimento. A princípio eram feitas algumas intervenções pontuais, como a distribuição de panfletos temáticos, como o “Recado das Minas”. Com o amadurecimento de nossa formação, nosso trabalho foi crescendo e também os debates e as discussões. O rap veio no princípio como um instrumento de aproximação das meninas que frequentavam as festas de rap daquele período, os bailes. A gente foi trabalhando esse elemento da cultura hip hop, procurando ter uma atuação maior na cultura. O grupo foi se qualificando e repensando a sua atuação e aí passamos de um simples grupo de rap para uma Organização de Mulheres até chegar ao que somos hoje – uma Organização de Mulheres Negras Feministas. O grupo de rap é um braço importantíssimo da Organização. Então, a gente tem esse viés do feminismo negro, temos foco em mulheres negras jovens, principalmente moradoras de favelas, vilas e periferias da cidade. Nossos projetos e atividades são feitos pensando nesse público. Temos como influência sobretudo os Movimentos Negros Tradicionais e temos também a participação de algumas mulheres que vieram da militância de Partidos de Esquerda. É isso, essa é a mistura que deu o Negras Ativas: ativistas do Movimento Negro, de Movimentos de Juventude e de Partidos de Esquerda apaixonadas pela cultura hip hop.

Lauana MC, Larissa MC e Vanessa Beco MC Telefones: (31) 8605-1656 e 9134-9750 E-mail: [email protected]

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Lelo Black

Foto: Acervo Pessoal

Meu nome é Cássio Marcelo Vieira, mais conhecido como Lelo Black. Tenho 18 anos de capoeira e uns 15 anos de cultura hip hop. O meu começo se deu na minha comunidade, que era muito carente. Eu cresci sem bicicleta, sem vídeo game, então o negócio era jogar capoeira e dançar. Todo periférico já teve essa fase de não poder exigir muito e foi aí que eu cheguei ao “I Grafitando BH”, que ocorreu em 1995. Foi aí que eu escolhi: “é isso aí que eu quero ser”; foi quando eu vi o grafite, o rap e os DJs tudo junto. E aí o tempo foi passando e hoje eu sou grafiteiro, conhecido também como MC porque eu cantei rap uma boa parte da minha caminhada, mas eu sempre desenhei muito. Nosso grupo sempre convidava um grafiteiro para pintar no nosso show. Bem antes do Duelo de MCs, a gente já acreditava que isso aí ia acontecer – os quatro elementos acontecendo junto. E aí eu fui cantar rap. Já fui convidado para cantar lá em Ipatinga, na época com o Fator R, que era o meu grupo. De Ipatinga a gente foi mais longe, mas só que fazendo grafite eu fui muito mais longe, fui ao Rio de Janeiro em uma edição do MOF (Meeting of Favela), fui também ao Espírito Santo. A gente vem pintando a cidade e realizando umas oficinas de arte e educação, uns trabalhos para a comunidade, com pessoas que não foram muito privilegiadas, tipo a gente mesmo. Mas o grafite é o meu ganha-pão, é o meu lazer, é a minha diversão também. É o que eu gosto de fazer, é tudo para mim. As características do meu grafite, então, eu misturo muito as técnicas, mas o meu personagem preferido são os macacos, desde criança eu sou fascinado com macaco e eu não sabia por quê. Gosto de pintar uns balões, que é uma referência mesmo ao Balão Mágico Super Fantástico que eu tinha um disco e ouvi muito. E é isso aí.

Contato: Cássio Marcelo Vieira ( Lelo Black) Telefone: (31) 8542 5062; E-mail: [email protected] Facebook: https://www.facebook.com/belorizion

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DJ Bené Ramalho

Foto: Acervo Pessoal

Eu, Bené Ramalho, faço parte dessa história da cena cultural de BH há 12 anos contribuindo como um discotecário na área da black music. Dentro de um processo cultural fiz rádio durante o período de 3 anos no qual eu levava ao ar, junto com Guilherme (Bizarro), Genilson, Rubens e Nem, um maravilhoso programa por nome de Onda Negra na rádio Comunitária Santê FM localizada no bairro Santa Tereza. Esse programa ia ao ar às sextas-feiras de 21:00 às 22:30 e se tratava de um programa de entretenimento com informações, dicas culturais, além da boa música. Tocávamos de Tim Maia a Miriam Maqueba e de Miriam Maqueba a James Brown. Nessa rádio, também fiz um programa chamado Descareggae. A Santê era muito plural tanto na vivência com muitas pessoas, quanto na diversidade de programas. Lá foi o meu princípio de descoberta cultural onde construímos com muito carinho esse espaço que cresceu dentro da gente. Quando eu saí da rádio pensei em como as pessoas gostavam do meu som e um amigo me convidou para tocar numa festa, a partir daí toquei em diversas casas noturnas da capital como De Puta Madre, Cervejaria Oficial (Movimento Balanço), Lapa Multishow, Demode, entre outros. Também nesse período discotequei em eventos de peso como bar do FIT, Comida de Boteco, Eletrônica Telemig Celular, Conexão Vivo, Palco Conexão Hip Hop e Festival Internacional de Bonecos. Hoje sou um residente no Bar Graças a Deus.

DJ Bené Ramalho Telefone: (31) 9149-2270 E-mail: [email protected]

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quilombos em belo horizonte

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11. Quilombos

Carlos Eduardo Marques

“Tem o nome de quilombo, porque aqui tem uma turma de negros que constitui um local de resistência, um local de afirmação, um local onde moram pretos! Que maravilha, isso é que é quilombo! Então hoje ser quilombola pra mim é isso, é romper a barreira das opressões, viver as ações afirmativas que tanto nos prestigiam”... Mauricio dos Santos, Quilombo de Mangueiras, 2012

Os “remanescentes de comunidades de quilombos” são grupos formados por afrodescendentes que apresentam uma trajetória particular na história do Brasil. Passaram por processos sociais e políticos específicos de resistência contra a opressão até alcançar hoje um reconhecimento que, mesmo atrasado e ainda sofrendo oposição, lhes confere uma margem de direitos específicos no cenário nacional a partir do qual dão continuidade a suas lutas contra a sua discriminação. A ligação histórica com o território é a base da constituição do coletivo. É da terra que vem o sentimento de união do grupo étnico e é a terra o principal foco de sua luta política. Os quilombolas não precisam apresentar (e muitas vezes não apresentam) nenhuma relação com o que a historiografia convencional trata como quilombos. A definição histórica de quilombo, limitada a grupos de escravos fugidos e isolados, deve ser entendida como uma dentre várias leituras possíveis sobre o tema. A reivindicação atual da identidade “somos quilombolas” alavanca a institucionalização de um novo modelo de cidadania que questiona os efeitos de uma antiga legislação colonialista e escravocrata e que exprime um direito a ser reconhecido em suas especificidades e não apenas um passado a ser rememorado. É sobre isso que fala a liderança Mauricio Moreira, do Quilombo Urbano de Mangueiras: “Isso aqui, eu acho uma coisa muito importante da gente conversar, porque isso aqui é um quilombo de resistência (...) Às vezes, as pessoas vêm visitar (...) e eles chegam aqui procurando tronco! Isso aí é incrível!”.

É necessário ir além da visão que entende os quilombos apenas como patrimônio histórico, esquecendo que se trata de um patrimônio vivo, que comunica passado, presente e futuro. Quilombo não é apenas uma tipologia de dimensões, atividades econômicas, localização geográfica, quantidade de membros e sítio de artefatos de importância histórica. É (e se pensa como) uma comunidade e um lócus de produção material e simbólica. Como podemos perceber nas entrevistas concedidas a este Catálogo, constituem-se a partir de vários fatores, entre eles: um etnônimo, um conjunto de rituais e expressões religiosas compartilhadas, uma origem ancestral comum, um vínculo territorial de longo prazo, relações de parentesco abrangentes e laços de simpatia, um passado ligado à escravidão e, principalmente, uma ligação umbilical com seu território. Não é possível reduzir a ideia de quilombo às ideias de isolamento, fuga ou mesmo a uma suposta unicidade entre os quilombos. Eles devem ser

264 considerados em suas especificidades: cada grupo com suas características próprias. Na fala de Miriam Aprigio do Quilombo Urbano dos Luízes: “Veja, eu mesma tenho um sentimento acerca da noção de pertencimento quilombola como algo em construção. No entanto, acredito que somos imbuídos dos mesmos ideais dos quilombolas tradicionais, já que temos uma relativa experiência comunitária e o espírito de resistência, como projetos em comum.”

Os três quilombos de Belo Horizonte pesquisados neste catalogo confirmam Abdias Nascimento, quando este afirma que “não significa escravo fugido. Quilombo quer dizer reunião fraterna e livre, solidariedade, convivência, comunhão existencial” (NASCIMENTO, 1980: 263). E reforçam que em ambientes urbanos, os quilombos são: “formas associativas (...) permitidas ou toleradas, frequentemente com ostensivas finalidades religiosas (católicas), recreativas, beneficentes, esportivas, culturais ou de auxílio mútuo. Não importam as aparências e os objetivos declarados: fundamentalmente todas elas preencheram uma importante função social para a comunidade negra, desempenhando um papel relevante na sustentação da continuidade africana. Genuínos focos de resistência física e cultural. Objetivamente, essa rede de associações, irmandades, confrarias, clubes, grêmios, terreiros, centros, tendas, afoxés, escolas de samba, gafieiras foram e são os quilombos legalizados pela sociedade dominante.” (NASCIMENTO 1980: 255) Em consonância com Weber (1991), o caráter político da ação comunitária é uma das características mais elementares de uma comunidade. Este autor afirma que a ideia de comunidade étnica pode ser conformada por vários fatores, como visão de mundo, língua própria, religião, lugar de origem, relações de consanguinidade. No entanto, a motriz é a união em termos de vontade política. Os quilombos, enquanto tempo histórico e meio geográfico, são variáveis e dinâmicos, porém se igualam no essencial: a prática da liberdade e dos laços étnicos e ancestrais. São as características que permitem a permanência da ideia de quilombo no meio urbano, mas também são frutos de um processo de marginalização que os empurra para uma segregação residencial dupla: racial e econômica. Tal formulação aparece de maneira bastante clara na fala dos três entrevistados neste Catálogo quando falaram da relação de seus quilombos com a cidade. Para Miriam Aprígio do Quilombo dos Luízes: “Temos sofrido constantes e desenfreadas invasões e especulações. Seja no sentido mais simbólico, através dos preconceitos e da vontade de nos retirar daqui. Seja de forma bem concreta, como eu já disse temos vários casos de invasão (...) Infraestrutura precária, principalmente no período de chuva; Ausência de uma política de valorização da memória, dos valores e tradições não só da cultura do grupo mas desta em relação à cultura da própria cidade são problemas que enfrentamos.”

Para Mauricio dos Santos do Quilombo de Mangueiras: “Um exemplo é o descaso do poder público, a falta de uma numeração no endereço da comunidade para efeitos de CNPJ (...) Hoje nós somos uma comunidade quilombola que poderia estar em qualquer ponto da MG-20.” A pressão imobiliária, a acessibilidade à comunidade, o descaso do poder público bem como outros impactos sociais, psicológicos e ambientais são citados por Maurício, para quem a urbanidade tem trazido problemas como o despejo de esgotos nas nascentes que existe na

265 comunidade. Por sua vez Cássia, Makota Kidoialê, do Quilombo Manzo Ngunzo Kaiango relata que: “Há vários anos a comunidade tem procurado regularizar seu território e sua ocupação, mas não tem tido sucesso. Faltou providências urgentes por parte desta administração municipal em relação à situação de risco eminente de desabamento da construção edificada no território.”

Nesse depoimento, Cássia aponta para as dificuldades do poder público em entender e reconhecer a questão quilombola no meio urbano. Em comum, as três comunidades quilombolas urbanas autorreconhecidas na cidade de Belo Horizonte e retratadas neste Catálogo enfrentam um processo de expropriação territorial e violações de seus direitos e graves violações de seus modos de saber, fazer e viver. Trata-se de grupos, principalmente dois deles, que se confundem com a própria história da cidade, sendo coetâneos de sua fundação. E acima de tudo são patrimônios materiais e imateriais de nossa cidade e um elogio à diversidade característica do meio urbano. Na fala de Miriam Aprigio: “O meu sonho é que possamos ser um polo de cultura, por exemplo, termos uma biblioteca. Não que seja referência para o grupo, mas que seja referência para a cidade, ou seja, um espaço dedicado à cidade de BH e não somente aos quilombolas, pois é preciso pensar a própria ocupação da cidade e dentro desta de forma específica de um grupo étnico (...) Os novos moradores, que são os invasores de nossa comunidade, pensam o contrário. Para eles nós é que somos invasores, por isto nos consideram um problema, referem-se a nós como favelinha, pois nossos modos e nossas casas não estariam no padrão das deles. Existe muita coisa nebulosa, por sermos comunidade. O IPTU é sobre os seis mil metros. No entanto, a própria prefeitura não nos respeita, permitindo e legalizando invasões (...) Agora mesmo estamos sofrendo outra.”

A principal demanda apontada pelos quilombolas é a regularização de seu território. Na fala de Mauricio, do Quilombo de Mangueiras: “É importante que ele procure fazer valer todos os decretos que existem em favor das comunidades quilombolas. É nisso que o poder público deveria estar nos referendando e inclusive na questão da titulação das terras.”

Ou na fala de Cássia, Makota Kidoialê, do Manzo Ngunzo Kaiango: “a gente aprende pelos avós que direito é uma coisa que a gente adquire, que ele vem, mas como quilombola direito é uma coisa que você tem que gritar e exigir porque senão não recebe nada não.” E completa “É só cumprir as leis (...), dar para gente aquilo que é nosso. Eu nasci aqui, não conheço outra moradia, outro lugar. Não conheço outro dono que não seja minha mãe e minha vó, nem ouvi falar que existia.”

Demandam também a melhoria da infraestrutura em seu entorno e em suas territorialidades que são patrimônios culturais da cidade, maior acesso aos espaços públicos e às políticas públicas e acima de tudo o respeito e a valorização de sua existência enquanto quilombolas.

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PARA SABER MAIS: ALMEIDA, Alfredo W. B de. 1996 “Quilombos: sematologia face a novas identidades”, in SMDDH, C. C. N. (org.), Frechal Terra de Preto: Quilombo reconhecido como reserva extrativista, São Luís, pp. 11-19. ALMEIDA, Alfredo W. B. 2002 “Os Quilombos e as Novas Etnias”, in O’DWYER, Eliana C. (org.), Quilombos: identidade étnica e territorialidade, Rio de Janeiro, Ed. FGV, pp. 83- 108. ARRUTI, José Maurício A. P. 2003 “O quilombo conceitual: para uma sociologia do artigo 68 do ADCT”, in Texto para discussão: Projeto Egbé, Rio de Janeiro, Koinonia Ecumênica. CAMPOS, Juliana M.S. 2011. “Religião e Etnicidade: Etnografia da formação de um terreiro de candomblé no Quilombo de Mangueiras” (MG). Monografia de graduação no curso de Ciências Sociais, UFMG. Belo Horizonte. CAMPOS, Juliana M.S. 2012. “Religião no Quilombo: relações entre candomblecistas e evangélicos em Mangueiras (MG)”. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ANTROPOLOGIA PRÊMIO CLAUDE LÉVI-STRAUSS MODALIDADE B. link: http://www.abant.org.br/news/show/id/10 LEITE, Ilka B. 2003 “Os Quilombos no Brasil: questões conceituais e normativas”, disponível em http://www.nead.org.br/index.php?acao=artigo&id=21. MARQUES, C.E. 2009 De Quilombos a quilombolas: notas sobre um processo histórico- etnográfico. Revista de Antropologia, Volume 52 n°01, janeiro-junho de 2009. São Paulo, p. 339-374. MARQUES, C.E. 2009 Vinte Anos da Constituição Federal Brasileira (1988-2008): algumas reflexões a respeito da categoria “remanescentes de quilombos”. Revista TEORIA E SOCIEDADE nº 17.1 – janeiro-junho de 2009.Belo Horizonte p.176-201. NASCIMENTO, Abdias. 1980 Documento n° 7: Quilombismo: um conceito científico emergente do processo histórico-cultural das massas afro-brasileiras. In: NASCIMENTO, Abdias. Quilombismo: documentos de uma militância Pan Africana. Petrópolis, Editora Vozes. 1980. SIMIAO, D. S.; FÍGOLI, L.H.G; SAMPAIO, A.; CAMPOS, Juliana M. S.; SANTOS, C. A; NASCIMENTO, L. G; BECHELANY, F.; VILELA, I. T.; SOUZA, M.O. Quilombos Urbanos em Belo Horizonte. Pensar BH - Política/Social, Belo Horizonte, p. 19 - 23, 01 maio 2009. SIMIÃO, Daniel; SAMPAIO, Alexandre; GOMES, Laura; ADRIADNE, Cynthia; BRAGA, José Luiz; SIQUEIRA, Otávio; CAMPOS, Juliana. Relatório Antropológico de Caracterização Histórica, Econômica e Sociocultural: O Quilombo de Mangueiras. MG. INCRA-MG, 2008. WEBER, Max. Relações Comunitárias Étnicas. In: Economia e Sociedade. Vol. 1. Brasília: Editora da UNB, 1991, p. 267-277.

Coordenaram a pesquisa sobre Quilombos: Carlos Eduardo Marques e Alexandre Sampaio.

Colaboraram realizando as entrevistas: Maurício Siqueira, Pedro Moutinho e Sarah Schimidt.

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Localização dos Quilombos: https://www.google.com/fusiontables/embedviz?viz=MAP&q=select+col2%3E%3E0+from+14 34MiGg0e- pI19NbADjPO8hGNzOw0igo0WjGueY+where+col0%3E%3E0+%3D+'Comunidade+Remanes cente+de+Quilombo'&h=false&lat=-19.920085731495224&lng=- 43.931052215606655&z=16&t=1&l=col2%3E%3E0&y=1&tmplt=2

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Comunidade Quilombola de Luízes

Foto: Acervo Pessoal

Meu nome é Miriam Aprígio Pereira. Sou membro do quilombo dos Luízes, professora e historiadora. Eu cresci nesse ambiente de vida comunitária que sempre permeou o nosso grupo. Tenho atuado para além das questões políticas de defesa do território, na tentativa de pensar projetos de registro histórico e ações educativas e culturais de valorização da história da cidade. Dentro dessas ações, destaque para os quilombos urbanos, especialmente Luízes.

O nosso quilombo é um agrupamento étnico presente na cidade desde o século XIX – por volta do ano 1893, nossos ancestrais migraram da cidade de Nova Lima, portanto antes mesmo do início de Belo Horizonte. O seu histórico de evolução está vinculado ao crescimento da cidade. Nesta área se dedicaram à produção agrícola, resumindo-se a cidade neste período ao cordão formado pela avenida do Contorno. Nosso território se localizava na Fazenda das Piteiras, uma região então considerada suburbana.

Ocupamos desde então o mesmo espaço, mas ao longo do século passado uma ampla movimentação de cunho especulativo imobiliário e invasão urbana, modificações viárias e outras implantadas pelo poder público ou com a sua anuência, levaram a perdas significativas de nosso território.

O reconhecimento do grupo como quilombola é algo ainda em construção devido à própria legislação ser recente; no entanto, o importante é que somos um grupo étnico pautado na ideia de uma vida em comum e reforçado por laços de parentesco – tudo isso sob o signo da resistência, marca da cultura negra em nosso país. Nosso quilombo é hoje composto por 80 pessoas, algo em torno de 20 famílias. Comemoramos a Festa de Santana em homenagem à nossa matriarca Maria Luíza Moreira no último sábado do mês de julho. A festa é uma missa conga com a presença de Guardas de Congado e Moçambique convidadas. É o momento de resgate do espírito de grupo e união fraternal em defesa da preservação da nossa memória.

Comunidade Quilombola de Luízes Avenida Silva Lobo, 1995 (bairro Grajau) Belo Horizonte - MG

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Manzo Ngunzo Kaiango

Cássia (Foto: Acervo Pessoal)

Meu nome é Cássia e faço parte da Comunidade Quilombola Manzo Ngunzo Kaiango. Nos auto-reconhecemos e fomos certificados pela Fundação Cultural Palmares em 2007. Estamos localizados no bairro Santa Efigênia, em Belo Horizonte, há mais de 32 anos. Possuímos um terreiro de candomblé e um trabalho social com toda a cultura afro-brasileira, onde atuamos com as crianças e adolescentes do morro daqui de Santa Efigênia, que nós tiramos das ruas e de qualquer risco de cair no tráfico de drogas. Além disso, temos a capoeira, que é uma manifestação também do Brasil, e a gente fala que é o nosso gancho, porque é através dela que a gente consegue incentivar os jovens a pensar no futuro, na oportunidade de fazer uma ponte com o exterior, que é onde tem grupos que apoiam nosso trabalho. Todo esse trabalho é reconhecido, mas não tem nenhuma ajuda do governo. Ele é praticado pelos voluntários e oficineiros que vêm dar as aulas, ensinar o ofício junto com nós mesmos da comunidade. É uma comunidade em que toda a família é envolvida em todas as atividades, não só religiosas como também culturais. Todo ano a gente tem um encontro internacional de capoeira e todo ano também tem a festa tradicional do Pai Benedito, que é a festa de preto velho, que acontece no último domingo do mês de maio. Nós temos uma relação muito boa aqui, pois conseguimos conquistar e marcar o nosso território. A sensação que a gente tem aqui é de um verdadeiro quilombo porque a gente se sente livre. Nós sabemos que o que a gente faz aqui é manter, e não resgatar. A gente mantém a nossa tradição, a nossa cultura e tentamos repassar isso para a população, para a comunidade do entorno, para todas as pessoas que visitam e frequentam o terreiro. Apesar disso, fomos obrigados a sair de nosso território porque as casas correm risco de desabamento.

Manzo Ngunzo Kaiango Rua São Tiago, 216 (bairro Santa Efigênia). Belo Horizonte - MG Telefone: 3283 5986. E-mail: [email protected]

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Comunidade Quilombola de Mangueiras

Foto: Mauricio Machado Siqueira Filho Maurício Moreira dos Santos: – Sou presidente da Associação Quilombola de Mangueiras. Nossa comunidade é formada por descendentes do casal Cassiano Azevedo e Vicência, que habitavam nosso território na segunda metade do século XIX, em um período anterior à criação da cidade de Belo Horizonte. Maria Bárbara, filha do casal, nascida em 1864, foi uma personagem chave para a garantia do nosso território, pois foi ela quem pagou os primeiros impostos da terra e assegurou os nossos documentos. Quem nos transmitiu a maior parte de nossa história foi um dos moradores mais velhos, o Sr. José Emílio, por quem sentimos dor por sua morte recente. Ele nos deixou um legado muito rico de história oral e com isso a gente pôde começar a trabalhar a era de superação do sofrimento que vivíamos aqui por falta de reconhecimento do poder público. Hoje a comunidade é composta por vinte famílias fixas e duas que estão fora de nossa comunidade, mas que se consideram quilombolas. Recebemos há três anos a certidão de auto-reconhecimento pela Fundação Palmares e hoje estamos figurando também com uma casa de santo. Ivone Maria de Oliveira: – Sou nascida e criada em Mangueiras. Sou também Iaô do terreiro Ilê Asé Odé Safé Odum Ará, localizado dentro da comunidade. Há tempos estávamos procurando uma parceria religiosa aqui para dentro porque isso já havia se perdido na nossa história. Foi quando conhecemos o pai de santo Luis Safé, que vem de uma descendência bastante tradicional na umbanda e que tem nos ajudado muito. Foi ele quem trouxe para cá aquilo que estávamos procurando: as raízes de Ketu. Desde então demos início aos nossos trabalhos no Ilê, que fará quatro anos em outubro. Outra grande parceira foi a mãe de santo Dona Miriam de Oxum, que nos ajudou muito no início de nossas atividades. Desde então estamos nessa luta que não é fácil por causa da descriminação que sofremos. Mas hoje em dia eu sou capaz de dizer “sou macumbeira mesmo! Sou macumbeira de corpo e alma”. O Ilê representa a nossa independência porque tudo o que conseguimos aqui foi por nossa conta, por causa da luta que travamos com a ajuda de alguns poucos parceiros. Comunidade Quilombola de Mangueiras Rodovia MG-20 km 13,5, número 1350 (bairro Ribeiro de Abreu) 31872-055 Belo Horizonte - MG

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perfil dos entrevistados

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12. Um Perfil dos Entrevistados

O perfil demográfico dos 210 grupos entrevistados revela, com uma linguagem numérica mais impessoal, outro lado da história das expressões culturais afrobrasileiras em BH.

Por esse retrato, vemos que foram entrevistados principalmente homens (75%), negros (63%) – ou negros e pardos (85%), se somadas as duas categorias – com idade em torno de 50 anos e escolaridade até o ensino fundamental ou médio (76%). Esse perfil é relativo ao universo de protagonistas das expressões culturais do qual pertencem os entrevistados e não reflete necessariamente o público de seguidores. A escolha dos entrevistados seguiu recomendações de participantes e estudiosos de cada expressão cultural e é possível dizer, com segurança, que são representantes inequívocos de seus grupos.

proporção muito baixa de entrevistados autodeclarados brancos: não ultrapassam 10% do total. A discussão desses dados requer maiores competência e espaço do que nos cabe aqui, por isso apenas indicamos possíveis rumos interpretativos. O fato de protagonistas das expressões afrobrasileiras em BH serem em sua maioria homens negros revela uma fraca “universalização da cultura” na sua base. Em outras palavras, indica que o alicerce cultural dado pelas lideranças mantém uma referência étnico-racial forte. Não teria alcançado, como previra Roger Bastide para a religião de matriz africana, a abertura universal para todos, independente do pertencimento étnico ou social.1 Esse resultado pode ser interpretado de maneiras diferentes. Tanto pode refletir uma segregação cultural dos afrodescendentes (ao menos de seus protagonistas) como, em uma leitura positiva, indicar uma continuidade histórica da guarda da tradição, assumida por

1 Sobre a previsão de Bastide, ver Reginaldo Prandi, “De Africano a Afro-Brasileiro: Etnia, Identidade, Religião. Revista USP, (46), 52-65. 2000. https://doi.org/10.11606/issn.2316-9036.v0i46p52-65. 273 linhagens de afrodescendentes. A predominância desse perfil de raça-cor entre os expoentes culturais indicaria, neste caso, a permanência de um reduto de resistência cultural –as expressões culturais afrobrasileiras em BH estariam guardadas por negros e pardos, que as preservariam de sua apropriação genérica pela sociedade e de sua incorporação à cultura dominante, situações que poderiam acarretar em sua diluição e mesmo desaparecimento.

O perfil de escolaridade pode ter um quadro interpretativo semelhante. A baixa escolaridade dos entrevistados pode refletir tanto a desigualdade racial presente na cidade como um todo, como sugerir uma quebra na passagem da tradição cultural entre negros e pardos que possuem maior escolaridade, para quem a maior convivência com referenciais culturais europeus tornaria a resistência cultural mais difícil de sustentar. Os dados específicos mostram como esses indicadores estão distribuídos por expressão cultural e revelam uma diversidade de situações instigante.

Com relação a raça-cor, a única expressão cultural na qual a proporção de entrevistados negros foi menor do que a metade dos entrevistados foram as comunidades de terreiros. Somando as proporções dos entrevistados que se autodeclararam negros com os pardos, no entanto, os valores mais baixos ainda estão acima da metade dos entrevistados – em torno

274 de 60%, e são encontrados nas comunidades de terreiros e no hip-hop. Já no soul e no samba os entrevistados autodeclarados negros apresentam as porcentagens mais elevadas: em torno de 80% dos entrevistados dessas expressões culturais são negros. Em nenhuma expressão cultural a proporção de autodeclarados brancos alcançou mais de 18% do total de entrevistados.

O padrão de escolaridade por expressão cultural sugere ter relação com a média de idade dos entrevistados. Entre as expressões culturais, os entrevistados com escolaridade média mais baixa, indo só até o ensino fundamental, estão no reinado, grupo em que os entrevistados apresentaram média de idade em torno de 57 anos. No hip hop todos os entrevistados, que apresentam a média de idade mais baixa, 35 anos, possuem pelo menos o ensino médio. Essa diferença reflete o surgimento de melhores condições de acesso à escola a partir de 1980. A variação na proporção de gênero entre os entrevistados revela que a predominância do sexo masculino é mais forte na capoeira, no hip hop e no soul, expressões em que apenas uma entrevistada foi do sexo feminino.

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No caso da capoeira, a predominância masculina deverá mudar nos próximos anos, pois o número de capoeiristas mulheres cresceu nos últimos anos e muitas delas deverão chegar a mestre. No reinado a situação é inversa: é maior o número de mulheres entre os expoentes entrevistados, e essa proporção expressa uma mudança estrutural recente. Até duas ou três gerações atrás as mulheres não podiam ocupar cargos de direção, nem tocar instrumentos, ficando restritas a atividades de apoio como a preparação de comida. Com relação à participação dos entrevistados no movimento negro, menos de 40% dos entrevistados responderam positivamente, mas entre esses a participação não foi especificada e pode variar desde uma participação ativa a apenas o comparecimento a alguns eventos. Houve espaço para justificar a não participação no movimento e a resposta mais comum foi não ter tempo livre, sendo poucos os que declararam franca oposição.

Entre as oito expressões, três apresentam os maiores números de entrevistados que participam do movimento: soul, dança afro e os três quilombos, enquanto em torno de 70% dos entrevistados das outras expressões – samba, terreiro, reinado, hip hop e capoeira – declararam não participar do movimento negro. Esses dados não significam necessariamente que a mobilização política esteja fraca, mas que não está vinculada a um engajamento político formal. Entre os entrevistados, a própria ação cultural – se entendida como uma performance política que emprega uma linguagem própria de resistência – é uma expressão política mais forte.

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13. Ficha Técnica

CATÁ LOGO 2012- 2013

COORDENAÇÃO

PREFEITURA MUNICIPAL DE BELO HORIZONTE PBH COMACON – Coordenadoria Municipal para Assuntos da Comunidade Negra CPIR – Coordenadoria de Promoção da Igualdade Racial Graça Saboia (in memoriam), Luciana Teixeira, Denise Antônia de Paula Pacheco, Valéria Jane Almeida Dutra, Rosangela da Silva, Tânia Cristina Silva Oliveira (Makota Kisandembu)

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS UFMG FAFICH – NuQ Núcleo de Estudos Quilombolas, Indígenas e de Povos Tradicionais COORDENAÇÃO GERAL Deborah Lima COORDENAÇÃO EXECUTIVA Alexandre Sampaio, Flora Gonçalves, Luisa Girardi COORDENAÇÕES TEMÁTICAS Carlos Eduardo Marques: Quilombos e Comunidades Tradicionais de Terreiros; Caroline Césari: Capoeira; Deborah Lima: Apresentação, Ligação com África, Perfil dos Entrevistados; Fernanda Oliveira: Comunidades Tradicionais de Terreiro, Samba; Joana Brauer: Dança afro, Hip hop; Juliana M. Soares Campos: Comunidades Tradicionais de Terreiros; Liliana Vasconcelos Xavier: Reinado; Pedro Moutinho: Comunidades Tradicionais de Terreiros; Rodrigo Amaro: Hip hop; Rubens Silva: Capoeira, Reinado; Tomás Amaral: Soul. REVISÃO DE TEXTO Alexandre Sampaio, Deborah Lima, Flora Gonçalves, Luisa Girardi BOLSISTAS Proex- UFMG & CNPq Ana Carolina Fernandes, Eduardo Mancilha, Ernst Kurt Clauss, Marco Gatti, M. Augusta Oliveira, Mariana Frizero, Marilene Ribeiro, Maurício Siqueira, Pedro Moutinho, Thâmara Carvalho. COLABORADORES Alder Oliva - Alysson Armondes - Amaralina Fernandes - Ana Carolina De Oliveira Costa - Bruno Oliveira - Carolina Brauer - Caroline Césari - Claudio Antônio Meireles Rocha - Daniel Alves de Jesus - Daniel Antônio Gomes Cruz - Danúbia Cardenia da Silva - Diogo Raul - Eduardo Costa de Mancilha - Érica Coelho - Fabrício Costa - Felipe Moreira - Flora Gonçalves - Gabriel Campos Cunha - Geíse Pinheiro - Gilmara Souza - Guilherme Abu-Jamra - Helen Carolina Almeida Moreira - Isabel Casimira - Iran Joter Lacerda - Joana Brauer - José Cândido Ferreira - Julinéia Soares - Júlio César Soares - Júnia Bertolino - Lilian Bernardes - Liliana Vasconcelos Xavier - Lucas Cunha - Luciléia Vieira - Luisa Girardi - Luiz Divino Maia - Luiza M. Vianna - Mariana Frizero - Mariana Oliveira - Marilza Maximo - Maurício Siqueira - Melina Rocha - Natália Menhem - Paula Pimenta Gomes - Poliana Vasconcelos Xavier - Pedro Ivo Souza - Ricardo Oliveira - Robson Paulo Santos - Rodrigo Amaro - Rodrigo Martins - Ronald Aguiar - Sarah Schimdt - Virgínia Baptista Cá. OUTRAS PARTICIPAÇÕES Priscila Fonseca: Banco de dados; Pedro Ivo e Sara Schmidt: Google Maps; Ernst Kurt Clauss, Marcelo Cardoso: Web design. FOTOGRAFIAS Patrick Arley (capa, páginas: 261; 270); Nian Pissolati (páginas: 16; 63; 90; 160; 183; 216; 232). PROJETO GRÁFICO E EDITORAÇÃO Deborah Lima

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