Carlos Roberto Gallo (Depoimento, 2012)
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FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS CENTRO DE PESQUISA E DOCUMENTAÇÃO DE HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA DO BRASIL (CPDOC) Proibida a publicação no todo ou em parte; permitida a citação. A citação deve ser textual, com indicação de fonte conforme abaixo. GALLO, Carlos Roberto. Carlos Roberto Gallo (depoimento, 2012). São Paulo - SP, 2012. p. Carlos Roberto Gallo (depoimento, 2012) Rio de Janeiro 2014 Transcrição Nome do Entrevistado: Carlos Roberto Gallo Local da entrevista: São Paulo - SP Data da entrevista: 10 de Julho 2012 Nome do projeto: Futebol, Memória e Patrimônio: Projeto de constituição de um acervo de entrevistas em História Oral. Entrevistadores: Thiago William Monteiro e Felipe dos Santos Souza Câmera: Maíra Nielli Transcrição: Juliana Paula Lima de Mattos Data da transcrição: 12 de agosto de 2012 Conferência de Fidelidade: Ana Luísa Mhereb ** O texto abaixo reproduz na íntegra a entrevista concedida por Carlos Roberto Gallo em 31/09/2012. As partes destacadas em vermelho correspondem aos trechos excluídos da edição disponibilizada no portal CPDOC. A consulta à gravação integral da entrevista pode ser feita na sala de consulta do CPDOC. Entrevista: 10.07.2012 C.G – Fique à vontade. T.M – Obrigado. Bom, Cotia, interior de São Paulo. 10 de julho de 2012. Depoimento de Carlos Roberto Gallo para o projeto Memória, Futebol e Patrimônio, que é uma parceria da Fundação Getulio Vargas e do Museu do Futebol. Hoje, participam deste depoimento os pesquisadores Thiago Monteiro e Felipe Santos, pelo Museu. Bem, bom dia, quer dizer, boa tarde. Em primeiro lugar, nós gostaríamos de agradecer principalmente à você, Carlos, por ter nos recebido aqui hoje, por ter aceitado o nosso convite. Muito obrigado. E, em segundo lugar, eu gostaria que você se apresentasse. Falasse o seu nome, a sua data de nascimento e um pouco sobra a sua infância, a sua vida para a gente começar um pouco. C.G. – Eu que agradeço pela lembrança. O meu nome é Carlos Roberto Gallo. Nasci no dia 4 de março de 1956, na cidade de Vinhedo, próximo a Campinas. Uma cidadezinha muito acolhedora. Estive toda a minha infância vivida lá e foi ali que nasceu o desejo, um sonho de um dia me tornar um jogador de futebol. Aliás, não é nem um desejo de me tornar um jogador de futebol, mas uma infância onde eu adorava assistir jogos, tanto ouvindo pelo rádio, não é? Porque no final da década de 1960 e início de 1970, as informações eram mais por jornais e por rádio. As transmissões por televisão eram poucas, os noticiários eram poucos, não é? Então, a gente ouvia muito pela rádio e isso mexeu muito com a imaginação. Então, era mais um sonho de ser um jogador, de sonhar de estar sendo um jogador. Acho que essa 2 Transcrição seria a expressão melhor: é um sonho de estar sendo um jogador de futebol. Mas não aquela ambição. Eu nunca tive, na minha infância, ambição de ir para o clube fazer avaliação, passar por todos os testes para falar: “Não, eu vou ser um jogador de futebol”, “eu vou ser goleiro da seleção”. Isso eu nunca tive, nunca me passou pela cabeça. Mas eu sonhava e vivia aqueles momentos meus, sozinho, no quintal de casa, chutando bola na parede, me imaginando como jogador. E ouvindo o jogo pela rádio, o que mais me despertava, o interessante é isso, o que mais me despertava a curiosidade, que me deixava empolgado, eram os lances de - é óbvio, não é? - situação de gol. Mas, assim, era a defesa do goleiro. Pela forma como o narrador, ele se expressava. Ele expressava aquele momento ali. Então, eu achava muito mais significativo até do que o próprio gol. Porque, não sei, a minha tendência era estar do lado do mais fraco, não é? E o goleiro é sempre o que está sendo executado, ali, com a finalização do atacante. Então, quando ele defendia a bola, eu vibrava com aquilo. O mais fraco está superando aquele outro que está com o poder, que está com a arma na mão. O atacante está chutando a bola, a bola é a arma do atacante para ele executar o goleiro. O goleiro defende, ele consegue evitar aquela fatalidade de sofrer o gol. Então, eu vibrava muito com aquilo. Então, eu vivia esses sonhos aí, me imaginava defendendo bola, era muito legal, eu gostava muito disso. E quando eu podia, eu tinha oportunidade, perto de casa tinha um campinho lá e, sempre que possível, eu ia e ficava brincando no gol, de chutar gol a gol e ficava saltando e tentando reproduzir ali, fisicamente, aquilo que eu imaginava o goleiro fazendo. Então, a infância foi vivida muito assim. Quando eu podia, eu assistia aos jogos, na época, tinha o - Vinhedo antes de ser Vinhedo era tida como Rocinha. Esse era o nome antes de ser a cidade de Vinhedo, era Rocinha, não é? Depois foi emancipada e passou a se chamar Vinhedo. E tinha o clube de futebol próximo a minha casa chamado Rociense. A procedência era da Rocinha aí, não é? Do município de Rocinha, então, tinha o clube lá, o Rociense. E o clube, na época, disputava a quarta divisão do campeonato paulista. E, sempre que possível, eu ia assistir aos jogos. Eu gostava muito de ficar atrás do gol, vendo o goleiro saltar, defender. Quando tinha treinamento, eu ficava olhando e eu achava aquilo fantástico, sabe? Às vezes, vamos dizer, atualmente, quando cortam a grama, tem aquele cheiro da grama cortada, aquilo vem na memória, sabe? Aquele tempo antigo. É uma coisa que marca. É interessante isso. Mas eu me reporto muito a esse período aí, às vezes. É muito legal. Aquela idade de criança, você tão jovem, vê algo inatingível lá na frente e fica vivendo esses sonhos. Eu acho que é a melhor coisa que a gente tem na vida. Inclusive, eu me lembro agora, nesse Rociense, na época, final dos anos 1960, começou a ter o campeonato dente de leite na cidade de São Paulo, não me recordo por qual emissora e era muito divulgado. Então, lá na cidade tinha um senhor que já é falecido e se chamava Lourival Siene, era mais conhecido por Seu Chene, e ele era um amante do esporte, e ele adorava trabalhar com criança. Então ele trabalhava no Rociense nos finais de semana, ele ia para o clube e nos proporcionava a oportunidade de nós jogarmos. Então, nós íamos todos os sábados para passar o dia todo treinando entre aspas, não é? No caso, era mais brincadeira e a gente ficava com ele. Eu me recordo de uma frase que ele disse em um dos encontros que nós tivemos depois de eu ter parado de jogar futebol. Eu me encontrei com ele, e ele disse: “o maior pecado que pode acontecer é você tolher uma criança, tirar um sonho dela”. Então, ele foi essa pessoa que proporcionou a oportunidade de eu poder sonhar de verdade, jogando ali como criança, dentro de um campo de futebol. Eu jogava na linha, tentei ser atacante, fazer gol, depois passei para 3 Transcrição a defesa, então a gente ia brincando em todas as posições e via que tudo era difícil, não é? Agora, como eu ficava, todo dia, lá no campinho, quando era possível, saltando, pulando, defendendo, até que eu fui parar no gol e isso aconteceu... A gente treinava de sábado, brincava. E um dia, ele resolveu marcar um jogo com a equipe do amigo dele, da cidade de Itatiba. Aí eles vieram jogar no nosso campo. Aí tudo arrumadinho, bonitinho para jogar, mas não tinha goleiro para jogar, porque ninguém gostava de jogar no gol. Principalmente naquela época, não é? O goleiro era tido sempre como o jogador mais fraco ou o pior da equipe, que não tinha condições, o que não deixava de ser verdade. Mas só que eu gostava de jogar no gol. Eu gostava, brincava muito, saltava e como não tinha goleiro, eu falei: “Não, pode deixar que eu jogo no gol.” “Pode deixar que eu jogo porque eu gosto de fazer isso, eu sei fazer isso.”. Aí nós fomos fazer esse primeiro jogo, eu joguei no gol e nós perdemos de 2 a 1. E foi uma experiência, assim, não foi muito legal não, foi até um pouco desagradável. A gente perde, fica chateado, aborrecido. E causa aquela decepção. Só que nós fizemos outro jogo, no outro final de semana, lá no campo do adversário, em Itatiba. Retribuir a visita. E nesse jogo, em Itatiba, nós vencemos de 2 a 0 e eu defendi dois pênaltis nesse jogo. Aí, quer dizer, muda totalmente a condição de pensamento, aquilo que tinha sido de aborrecer, uma semana antes, depois, se tornou tudo alegria e a gente começa a gostar dessas sensações. Que você vai jogar, você consegue fazer coisas boas e te dá vontade de continuar fazendo. Então minha infância foi marcada, assim, nesse sentido. Muito sonho, nenhum objetivo de vida a ser, de me tornar a ser um goleiro lá na frente. Mas vivendo esse sonho que esse senhor, o seu Chene, proporcionou. Então, eu sou muito grato a ele por essa possibilidade, mas nunca pensando em me tornar um jogador lá na frente. F.S – E você pode falar... você falou que a sua infância foi motivada por essa questão do sonho, que era uma coisa que... nem passava, era só sonho mesmo de estar sendo um goleiro? C.G – Só. F.S – Como era a convivência com o teu pai, com a tua mãe. Se você chegava a comentar disso com eles? Se o teu pai, sei lá, ouviu os jogos com você na rádio? Se ele acompanhava também com você? C.G – Está.