Paulo Isidoro De Jesus (Depoimento, 2012)
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FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS CENTRO DE PESQUISA E DOCUMENTAÇÃO DE HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA DO BRASIL (CPDOC) Proibida a publicação no todo ou em parte; permitida a citação. A citação deve ser textual, com indicação de fonte conforme abaixo. JESUS, Paulo Isidoro de. Paulo Isidoro de Jesus (depoimento, 2012). Rio de Janeiro, CPDOC/FGV, 2012. 49p. PAULO ISIDORO DE JESUS (depoimento, 2012) Rio de Janeiro 2014 Transcrição Nome do entrevistado: Paulo Isidoro de Jesus Local da entrevista: Belo Horizonte - MG Data da entrevista: 25 de outubro de 2012 Nome do projeto: Futebol, Memória e Patrimônio: Projeto de constituição de um acervo de entrevistas em História Oral. Entrevistadores: Bruna Gottardo (Museu do Futebol) e Bernardo Buarque (CPDOC/FGV) Câmera: Transcrição: Maria Izabel Cruz Bitar Data da transcrição: 14 de novembro de 2012 Conferência da transcrição : Maíra Poleto Mielli Data da conferência: 22 de novembro de 2012 ** O texto abaixo reproduz na íntegra a entrevista concedida por Paulo Isidoro de Jesus em 25/10/2012. As partes destacadas em vermelho correspondem aos trechos excluídos da edição disponibilizada no portal CPDOC. A consulta à gravação integral da entrevista pode ser feita na sala de consulta do CPDOC. Bernardo Buarque – Bom dia. Belo Horizonte, 25 de outubro de 2012, depoimento de Paulo Isidoro de Jesus, ex-jogador da Seleção Brasileira, do Atlético e de grandes clubes do Brasil. Esse depoimento faz parte do projeto Futebol, Patrimônio e Memória1, que é uma parceria entre a Fundação Getulio Vargas e o Museu do Futebol. Participam desse depoimento: Bruna Gottardo e Bernardo Buarque. Paulo, bom dia. Queremos te agradecer imensamente por nos receber aqui na sua escolinha, aqui em Minas Gerais. Eu gostaria de começar te perguntando, Paulo, onde e quando você nasceu. Paulo Isidoro – Bom dia. Muito obrigado pelo convite. Para mim é uma satisfação muito grande estar podendo participar do Museu e poder, assim, também contar um pouco da minha vida. Naturalmente, todo mundo sabe, a gente vem com muita dificuldade, mas a minha infância foi uma vida boa, foi tudo maravilhoso e hoje eu quero dar continuidade àquilo que eu aprendi na minha infância, passando para aqueles que hoje são considerados mirins e infantis. 1 O entrevistado está se referindo ao projeto Futebol, Memória e Patrimônio. 2 Transcrição B.B. – Em que cidade você nasceu, Paulo? P.I. – Eu nasci em Matozinhos, que é uma cidade a 30 quilômetros de Belo Horizonte. Eu nasci no ano de... em 3 de agosto de 1953. E vim para Belo Horizonte com 11 anos. B.B. – Conta um pouquinho dos seus pais, dos seus avós, da sua família e que lembrança você tem de Matozinhos. P.I. – A minha infância... São lembranças boas. Apesar de ter nascido no interior, ser criado no interior, mas eu posso ver que foi uma infância com muita alegria. Tive uma infância de muito apoio dos meus pais. Com muito trabalho, sim, mas com uma certa regalia daquilo que eles poderiam estar me oferecendo naquela época. Tivemos uma vida difícil, mas é uma vida que, na minha infância, me ensinou muito, para que hoje eu pudesse estar transformando aquilo que eu aprendi, hoje, naquilo que hoje eu estou mexendo, que é com a escolinha. B.B. – Em que seu pai trabalhava, Paulo? P.I. – Meu pai era mestre de obras. Ele foi para Matozinhos no intuito de construir uma usina de açúcar, foi para lá para construir essa usina, e lá, então, começou e adquiriu a sua família, onde nós fomos criados, em Matozinhos, onde passamos uma boa parte, com uma boa orientação dele, também. B.B. – Os seus avós, você chegou a conhecer? P.I. – Não, não conheci. Meus avós, quando foram falecidos, pelo que minha mãe conta, eu ainda não tinha nascido, o meu avô, mas a minha avó, eu tive o prazer de ser carregado por ela. Mas não lembro assim da minha avó, só tenho mesmo as histórias que minha mãe conta da minha avó. Bruna Gottardo – E vocês eram em quantos irmãos? 3 Transcrição P.I. – Eu tenho oito irmãos. Então, nós fomos criados em oito. Porque o meu pai adotou uma criança, e esse aí, então, foi para lá nos braços e nós então consideramos como irmão mesmo, então, até hoje a gente ainda tem esse contato e é uma coisa maravilhosa. Então, foi um exemplo de solidariedade que meus pais demonstraram: de uma família que os pais foram falecidos, eles adotaram essa criança. E foi, também, criado com muito carinho. B.B. – E você teve oportunidade de estudar até que série? P.I. – Eu estudei até a quinta série. No interior, devido à dificuldade até para levar um estudo mais longo. Porque as condições... muitas vezes, não tinha como. Mas eu estudei até a quinta série e depois não tive mais condições e nem interesse de continuar meu estudo. B.B. – E o futebol, como é que ele apareceu na sua vida? Seu pai gostava de futebol? Conta um pouquinho sobre a sua relação com o futebol. P.I. – Interior, você sabe como é que é, não é? Você vai, faz a sua parte, o seu trabalho, e depois, na parte da tarde, naturalmente, seus pais liberam para você jogar uma peladinha. Então, para mim, começou mesmo nas peladas. Eu me lembro que em Matozinhos, quando o gado saía do curral, a gente limpava, e nós íamos então para jogar ali uma pelada, que era a chamada “o empurra esterco para se jogar uma pelada”. Então, era uma coisa maravilhosa! Então, surgiu assim. Por que isso? Porque em Matozinhos tinha um curral onde gado ficava preso para ser embarcado no trem, e depois, à tarde, quando ele era encarrilhado nos trens, a gente ia lá, limpava e jogava a nossa peladinha. Então, foi assim que começou minha vida. E depois... Além de jogar nos times amadores lá da minha cidade. B.B. – Você lembra o primeiro clube que você foi jogar? E em que idade você começou a jogar mais, vamos dizer assim, sem ser pelada, começou a coisa a ficar séria, vamos dizer assim? P.I. – Eu, na verdade, gostava muito de jogar pelada, que a gente costumava falar que era o ranca-toco [arranca toco]. Porque o ranca-toco era o seguinte: você fazia ali a pelada e depois 4 Transcrição começava uma coisa assim... sem ter arbitragem. Não tinha falta, não. Então, aquele que aguentasse ia até o final, e ali era mais ou menos cada um para si. Mas eu, já com meus 11 anos, de 8 a 11 anos, eu já comecei a jogar no Cruzeirinho de Matozinhos. Porque tinha, na época, o petiz, e eu fazia parte dessa equipe. Então, no Cruzeiro de Matozinhos, eu jogava no petiz e jogava um pouco no infantil. Aí, depois, quando fui crescendo, tendo mais idade, eu já fui... Com 11 anos, eu jogava no juvenil, na época. Eu não tinha idade, mas tinha um futebol que me qualificava para jogar no juvenil. Então, nos meus 11 anos, nós mudamos para Belo Horizonte. Aí, sim, aí já comecei a fazer um futebol assim mais direcionado para o futebol amador, no qual, quando vim para Belo Horizonte, joguei pelo Ideal, do Bairro da Graça, que era uma equipe administrada... Quem era o presidente era o Carlos César Pinguim, um comentarista de uma rádio aqui de Belo Horizonte. Aí, sim, aí nós começamos a levar o futebol do lado amador para o lado profissional. Então, assim que começou a minha carreira. B.B. – Esse Cruzeirinho lá de Matozinho era uma referência ao Cruzeiro? Ou não tinha nada a ver? P.I. – Eu acredito que até o nome pode ter surgido devido ao Cruzeiro. Porque na época, lá, a maioria... todo mundo era cruzeirense, então, “vamos montar o Cruzeirinho”. Aí se montou o Cruzeirinho. E se fez uma equipe muito forte – selecionou, do interior lá, muitos jogadores bons e fez uma equipe. Então, ficou esse nome. Pode ser que esse nome tenha alguma influência com o Cruzeiro de Belo Horizonte. B.B. – Mas você, garoto, torcia para que time? P.I. – Eu nasci atleticano, cara. [risos] Meu pai costumava falar que, quando eu nasci, ele pegou no bracinho e falou: “Esse é atleticano! Esse é galo doido!” Então, aí ficou. E eu, mesmo jogando no Cruzeirinho, com alguma resistência para mudar, “aqui ele vai jogar mais, é cruzeirense”, mas eu tive a felicidade e não procurei trocar, não. Então, nasci atleticano e estou até hoje aí procurando torcer e levar minha força aí para que o Atlético seja uma equipe bem fortalecida. 5 Transcrição B.G. – E quando você mudou para Belo Horizonte, você mudou com a sua família ou você veio para jogar bola? P.I. – Não. Mudei com a minha família. Aí foi aquele negócio: caminhão aberto, joga tudo para cima da carroceria, põe o cachorro na traseira e vamos morro acima. Então, minha família, devido ao crescimento, porque nós já estávamos crescendo, Matozinhos começou a ficar muito pouco... Aí já precisava de todo mundo estar trabalhando e meus pais, então, acharam melhor nós mudarmos para Belo Horizonte. Na época que ele tomou a decisão, para nós, acostumados ao interior, foi um susto, “ah! vamos para Belo Horizonte”. Nossa! Para nós foi o maior susto. Viemos todo mundo retraído. Mas foi uma experiência e uma troca boa. Então, meu pai foi muito sábio, quando ele tomou essa decisão. Viemos para Belo Horizonte. Graças a Deus, a minha família, com compromisso com a sociedade, com o trabalho, com a dignidade. Todos nós tivemos uma formação muito boa. B.G. – E o Atlético? Quando você veio para cá, você já queria jogar no Atlético? P.I.