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0 Universidade Federal Do Rio Grande Do Sul Programa De 0 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS E LINGUÍSTICA MESTRADO EM LITERATURA BRASILEIRA ANDRÉIA SCHEEREN TROPICAL-MELANCOLIA: CAETANO VELOSO CONFINADO NA BAHIA PORTO ALEGRE 2011 1 ANDRÉIA SCHEEREN TROPICAL-MELANCOLIA: CAETANO VELOSO CONFINADO NA BAHIA Dissertação apresentada como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Literatura Brasileira, pelo Programa de Pós-graduação em Letras e Linguística da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Orientador: Homero José Vizeu Araújo PORTO ALEGRE 2011 2 ANDRÉIA SCHEEREN TROPICAL-MELANCOLIA: CAETANO VELOSO CONFINADO NA BAHIA Dissertação apresentada como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Literatura Brasileira, pelo Programa de Pós-graduação em Letras e Linguística da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Aprovada em 08 de agosto de 2011. BANCA EXAMINADORA Luís Augusto Fischer– UFRGS Antonio Marcos Vieira Sanseverino– UFRGS Ian Alexander– PUC-RS 3 AGRADECIMENTOS Agradeço ao Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal Do Rio Grande Sul, pela oportunidade de aprimoramento e ao meu orientador, Homero José Vizeu Araújo, pelo incentivo, pela paciência e pela dedicação à pesquisa. Também agradeço a todos os professores dessa universidade que me oportunizaram uma formação qualificada cujos ensinamentos acompanham-me na prática diária. Agradeço também a Joseane de Mello Rücker por ter me apoiado em todos os momentos deste percurso, pelo carinho, pela confiança e por me lembrar que a investigação acadêmica pode ser atrelada à sala de aula com dedicação e entusiasmo. 4 Como lhes é proibido, dali em diante e por longo período, tomar partido, atacar abertamente a sociedade da Restauração e o novo Império, exprimir às claras o seu luto pela liberdade perdida, a sua compaixão pelo povo miserável e derrotado, os escritores se veem, enquanto permanecem no país a fim de seguir a carreira literária, literalmente relançados sobre si mesmos, sobre seu próprio mundo privado. E, então, esses desdenhadores dos burgueses descobrem que a melancolia da impotência pode tornar-se uma força literária produtiva, um alento para o rigorismo estético e intelectual, que, concentrando- se ostensivamente no mundo interior dos sujeitos isolados, é capaz de por a descoberto as relações secretas ou as correspondências entre o universo pessoal reduzido ao silêncio e o universo político a ser reduzido a silêncio. (Dolf Oehler) 5 RESUMO Esta dissertação analisa como as inovações estéticas, em Álbum Branco, de Caetano Veloso, lançado em 1969, constroem uma síntese do projeto anunciado pelo Tropicalismo. Para isso, essa investigação visa demonstrar como o sentimento de melancolia – traço comum a todas as canções do disco – configura não só uma visão de mundo, mas uma proposta atuante e combativa. Entre os autores que dão suporte à pesquisa estão: Roberto Schwarz, Marcelo Ridenti e Celso Favaretto. A fim de associar engajamento político e investimento estético, Veloso apresenta-nos um olhar acre sobre o final da década de 1960 e os valores cultivados pela esquerda e pela ditadura militar. Palavras-chave: Caetano Veloso – Álbum Branco – melancolia – Tropicalismo – ditadura militar 6 RESUMEN Esta disertación analiza como las innovaciones estéticas del Álbum Branco, de Caetano Veloso, disco lanzado en 1969, construyen una síntesis del proyecto anunciado por el Tropicalismo. Con este fin, la investigación pretende demostrar como el sentimiento de melancolía - una característica común a todas las canciones del álbum - establece no sólo una visión del mundo, sino una propuesta activa y combativa. Entre los autores que apoyan la investigación son: Roberto Schwarz, Marcelo Ridenti y Celso Favaretto. Con el fin de asociar el compromiso político y la inversión estética, Veloso nos presenta una mirada amarga sobre los finales de los años de 1960 y los valores cultivados por la izquierda y por la dictadura militar. Palabras clave: Caetano Veloso - Álbum Branco - melancolía - Tropicalismo - dictadura militar 7 ABSTRACT This dissertation examines how the aesthetic innovations in Álbum Branco, by Caetano Veloso, record launched in 1969, build a synthesis of the project announced by Tropicalismo. To this end, this research aims to demonstrate how the feeling of melancholy - a common feature in all the songs on the record - not only sets a view of the world, but an active and combative proposal. Among the authors used to support this research are: Roberto Schwarz, Marcelo Ridenti and Celso Favaretto. In order to associate political engagement and aesthetic investment, Veloso presents us with a sour look on the late 1960s and the values cultivated by the left-wing and by the military dictatorship. Keywords: Caetano Veloso – Álbum Branco - melancholy - Tropicalismo - military dictatorship 8 SUMÁRIO EM BUSCA DOS LENÇOS E DOS DOCUMENTOS ............................................................... 9 CAPÍTULO 1: O ENREDO TROPICALISTA ........................................................................ 18 1. 1 O PAPEL DO INTELECTUAL NACIONAL-POPULAR ....................................................19 1. 2 TROPICALISMO: A VIDA FORA DE SI MESMA ............................................................ 27 CAPÍTULO 2: LADO A - A MELANCOLIA DA IMPOTÊNCIA ........................................... 42 2. 1 O RISO ENIGMÁTICO DE IRENE ................................................................................. 44 2. 2 TUPY OR NOT TUPY: THE EMPTY BOAT E LOST IN THE PARADISE ............................ 51 2. 2. 1 A volta ao coração de Narciso ......................................................................... 54 2. 2. 2 Lost in the green paradise ............................................................................... 59 2. 3 ENTRE O TOMBO DO NAVIO E O BALANÇO DO MAR ................................................. 65 2. 4 ATRÁS DO TRIO ELÉTRICO NA TERRA DO SOL ........................................................... 73 2. 5 OS ARGONAUTAS: A ALMA INQUIETA ...................................................................... 79 CAPÍTULO 3: LADO B – QUEM CANTA SEUS MALES ESPANTA .................................... 91 3. 1 CAROLINA, A ANTIMUSA TROPICALISTA .................................................................. 92 3. 2 A RODA-VIVA DE CAMBALACHE ........................................................................... 103 3. 3 NÃO IDENTIFICADA BRASILIDADE ......................................................................... 114 3. 4 CHUVAS DE VERÃO E O APAZIGUAMENTO DO EU .................................................. 121 3. 5 ACRILÍRICO: A SÍNTESE AMARGA DE UM PROJETO ................................................. 130 3. 6 ALFÔMEGA E A PROPOSTA DE UM LEVANTE .......................................................... 139 A MELANCOLIA COMO CONFLUÊNCIA ........................................................................ 146 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................... 153 ANEXOS ........................................................................................................................ 158 9 EM BUSCA DOS LENÇOS E DOS DOCUMENTOS No dia 13 de dezembro de 1968, o governo militar – estabelecido no poder desde 1964 – instaurou no país o Ato Institucional n° 5. Essa nova forma de opressão acabou com os meios de resistência pacífica ao regime: os militares efetivaram a caça às bruxas, desrespeitando qualquer direito fundamental do cidadão e obrigando alguns políticos, trabalhadores e estudantes a lançaram-se à luta armada. Aquele que ousasse desafiar as regras impostas pelo regime era premiado com a tortura, a expulsão, a perda de direitos civis e, em muitos casos, a morte. As liberdades coletivas e individuais foram cerceadas; os veículos de comunicação, as universidades e os movimentos políticos e culturais, controlados. Antes da promulgação do Ato Institucional, mesmo com a imposição de silêncio, as manifestações culturais da esquerda persistiam: o governo era de direita e opressor; e o campo da cultura, dominado pelas elucubrações da esquerda. Roberto Schwarz (2001), em seu conhecido ensaio “Cultura e Política, 1964-1969”, escrito no momento em que se vivia essa circunstância, faz um retrato das imbricações existentes entre movimentos sociais, políticos e manifestações artísticas daquele período. O crítico aponta que, apesar de a repressão ter sido fortíssima, pois líderes de movimentos populares e das forças armadas foram presos e torturados, a cultura da esquerda revelava relativa hegemonia entre 1964 e 1968. Apesar da ditadura da direita há relativa hegemonia cultural da esquerda no país. Pode ser vista nas livrarias de São Paulo, cheias de marxismo, nas estreias teatrais, incrivelmente festivas e febris, às vezes ameaçadas de invasão policial, na movimentação estudantil ou nas proclamações do clero avançado. Em suma, nos santuários da cultura burguesa a esquerda dá o tom (SCHWARZ, 2001, p. 8, grifo do autor). Apenas com a edição do Ato Institucional nº 5, artistas e intelectuais seriam, de fato, derrotados: a imprensa e as artes, em geral, sofreram censura 10 muito mais rigorosa e foram impedidas da livre manifestação. Acabara-se o período de aceitação da "palavraria" contestatória da esquerda até então tolerada. Caetano Veloso (1997), em seu livro de memórias, Verdade Tropical – publicado trinta anos após a explosão do movimento musical denominado Tropicalismo liderado por Gilberto Gil e por ele mesmo
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