Anos De Chumbo: Rock E Repressão Durante O AI-5
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Alexandre Saggiorato Anos de chumbo: rock e repressão durante o AI-5 Passo Fundo, maio de 2008 Alexandre Saggiorato Anos de chumbo: rock e repressão durante o AI-5 Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em História, do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade de Passo Fundo como requisito parcial e final para obtenção do grau de mestre em História sob a orientação do Prof. Dr. Haroldo Loguercio Carvalho. Passo Fundo 2008 Dedico este trabalho a todos os músicos que fizeram parte desta história. Agradeço a todas as pessoas que colaboraram de uma maneira ou de outra para que este trabalho acontecesse. RESUMO Esta dissertação apresenta um estudo sobre o rock produzido no Brasil durante a ditadura militar, mais precisamente no período de maior repressão e censura causada pelo Ato Institucional Nº5 (AI-5), dentro de uma perspectiva da transgressão comportamental da censura moral do regime militar e da tentativa de engajamento artístico exercido por parte da esquerda. Contudo, será explorada a obra e a conduta de alguns grupos de rock existentes no período, dentre os quais serão destacados: Novos Baianos, Casa das Máquinas e O Terço, sendo através da construção social desses, que investigaremos os efeitos da repressão no rock brasileiro dos anos 1970, constatando de que maneira os artistas atuaram na época. Palavras-chave: Rock, repressão, transgressão. ABSTRACT This work presents a study about the Rock made in Brazil during the military dictatorship, precisely at the time with greater repression and censorship by the institutional act number (Ato Institucional Nº5, AI-5), under not only the perspective of the transgressed behavior of the military dictatorship’s moral censorship, but also by the attempt of artistic engagement done by the left-wing part. However, the work and the behavior of some Rock groups of that period will be explored, among these we point out: Novos Baianos, Casa das Máquinas and O Terço, being through their social construction, our point of investigation upon the effects in the repression on the Brazilian Rock of 1970, understanding the way these artists acted at that time. Key words: Rock, repression, transgressed acts. LISTAS DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 – Fruto Proibido ........................................................................................ 75 Figura 2 – Secos & Molhados ................................................................................. 87 Figura 3 – Há 10 mil Anos Atrás ............................................................................ 99 Figura 4 – Novos Baianos, 1970 ............................................................................. 103 Figura 5 – Lar de Maravilhas .................................................................................. 123 Figura 6 – Mudança de Tempo ............................................................................... 138 SUMÁRIO INTRODUÇÃO....................................................................................................... 9 1. CAIA NA ESTRADA E PERIGAS VER: DIREITA, ESQUERDA E A CULTURA UNDERGROUND ................................................................................ 17 1.1 Certo sim, seu errado: o golpe de 1964, direita, esquerda e o AI-5........ 18 1.2 Agora só falta você: em busca do engajamento artístico........................ 24 1.3 É só curtir: hippies e a cultura underground ........................................... 29 2. A PRIMEIRA BATALHA: MÚSICA E POLÍTICA NO BRASIL.................... 39 2.1 “Hey boy viver por viver”: o Rock como música “enquadrada”........... 39 2.2 Só se eu não for brasileiro nessa hora: a música de protesto................. 47 3. SINAL DA PARANÓIA: ROCK 70, MÚSICA, CENSURA E CONDUTA..... 60 3.1 “Se você quer me conhecer, finja que toca comigo”: A musicalidade presente......................................................................................................... 60 3.2 Não fale com paredes: sob censura........................................................ 69 3.3 “E o que me importa é não estar vencido”: o rock subversivo.............. 83 4. “A MINHA ESPADA É A GUITARRA NA MÃO”: A TRANSGRESSÃO DOS NOVOS BAIANOS, CASA DAS MÁQUINAS E O TERÇO...................... 100 4.1 “No céu azul, azul fumaça, uma nova raça”: Novos Baianos “e o perigo na rua” .............................................................................................. 100 4.2 “Essa liberdade que nunca chega”: Casa das Máquinas ....................... 118 4.3 “Quando amanhecer de novo haverá lugar”: O Terço........................... 130 CONCLUSÃO......................................................................................................... 143 REFERÊNCIAS...................................................................................................... 148 DISCOGRAFIA ...................................................................................................... 155 INTRODUÇÃO Buscando compreender e analisar as características do obscuro e pouquíssimo estudado Rock Brasileiro dos anos 1970, o presente estudo forma a hipótese de que esse movimento dentro de um contexto político e social da época, possibilitou uma contraposição ao regime militar, não somente por meio da tradicional militância política das esquerdas, mas de uma maneira transgressora envolvida nas atitudes comportamentais dos grupos que caracterizaram naquele momento um ato subversivo à censura e à repressão militar. Portanto, buscou-se dissertar de uma maneira histórico- social a relação da imposição do AI-5 e o Rock produzido no Brasil nos anos de 1968 a 1978. A disposição de cantar as manifestações políticas, sociais e históricas, cultivando certa propensão ética e até mesmo pedagógica, vem sendo aplicada ao longo dos anos no Brasil. Mas, foi a partir do início da década de 1960 e, consecutivamente, atravessando toda a década de 1970, que a canção popular estreitou de forma significativa um vínculo aos atos políticos, definindo um perfil de contestação explícita, acusações e aversões, transformando-se em um método de influenciar a opinião pública. Visto dessa maneira, o Rock Brasileiro produzido nos anos 1970, propicia um estudo comportamental detalhado dos grupos, frente às manifestações políticas e sociais brasileiras, onde se pode compreender a dimensão que o gênero rock representou nesse período, visto que, “entre a explosão da Jovem Guarda nos anos 60 e o Rock BR dos anos 80, há um capítulo importante e pouco documentado da aclimatação do rock nos trópicos”. (BAHIANA, 2006, p.65). Starling (2004, p.219), afirma que: Os anos do regime militar brasileiro costuraram um vínculo de integração extrema entre a palavra, a ação, o discurso político, a forma, a estrutura poética e a performance interpretativa da canção. Por conta desse vínculo que estabelece um quase isomorfismo entre os versos da canção e as práticas da política, essa canção passou a manter um elo operante e muito visível com um conjunto vigoroso de idéias, ideais, crenças e sensibilidades políticas que formaram as origens e o desenvolvimento das forças de resistência ao regime militar brasileiro. É de extrema importância analisar as letras construídas pelos roqueiros brasileiros durante o AI-5, pois tais canções expõem, não meramente as posições políticas, sociais e culturais adotadas no momento, mas também subsidiam no entendimento da razão pela qual tais posições foram tomadas. Necessário e válido também é ressaltar que temos a percepção de que as canções podem ter outras significâncias além daquelas cobiçadas pelo autor, como em todo e qualquer texto. Portanto, essas composições podem ser analisadas e entendidas de diversas maneiras. Aqui, se buscou aprofundar as letras que demonstrassem maior envolvimento com as manifestações políticas e sociais durante o regime militar. A ênfase será dada justamente em um período crítico para a sociedade brasileira, ou seja, logo após o presidente Arthur da Costa e Silva assinar no dia 13 de dezembro de 1968 o Ato Inconstitucional n. º 5. A repressão então começa a produzir seus frutos na cultura brasileira. O jornalista e crítico musical Carlos Calado relata como a música sofreu o duro golpe do AI-5: A atmosfera do país era bastante pesada, principalmente depois de 13 de dezembro, quando o governo militar do general Costa e Silva contra-atacou a onda de contestação que tomava o país com o repressivo Ato Inconstitucional nº 5. Foi o início de uma série de prisões, atos de censura, cassações políticas e o fechamento do Congresso, que também resultou na prisão de Gil e Caetano. (CALADO, 1996, p.153). Musicalmente, a década de 1970 foi marcada por artistas que construíram e asseguraram categoricamente a identidade do rock nacional. Vários grupos surgiram incorporando ao rock elementos musicais característicos da música brasileira, além de compor e cantar em português, ou seja, fazendo de fato “rock brasileiro”. Também nesse período foi ampliada a visão e o domínio dos equipamentos musicais e da técnica 11 dos estúdios. Além disso, começaram a ser introduzidos no país os grandes shows em ginásios, casas de espetáculos e até mesmo ao ar livre. Segundo a jornalista Ana Maria Bahiana (2006, p.276): O mundo ainda era dividido em “lá fora” e “aqui”, mas as distâncias começavam a diminuir. Os discos eram lançados em intervalos razoáveis, mais pessoas viajavam, a informação circulava com mais facilidade, as rádios FM tocavam um repertório bastante atual. A sensação de isolamento se dissipava, mas a de magia e comunidade também. Fazer sucesso se tornava mais que