ARTE PÚBLICA • Roteiro MÉDIOTEJO • Projeto ARTEJO Médio Tejo

Vila Nova da Barquinha Atalaia Praia do Ribatejo Tancos ARTEPÚBLICA • Manuel João Vhils Violant Carlos Vieira Vicente

1 ROTEIRO Roteiro MÉDIO TEJO • Projeto ARTEJO ARTE PÚBLICA • Médio Tejo

Vila Nova da Barquinha Atalaia Praia do Ribatejo Tancos

Manuel João Vhils Violant Carlos Vieira Vicente

2 Médio Tejo

Vila Nova da Barquinha ...... 18-25, 28-29, 38-39 Atalaia ...... 26-27 Praia do Ribatejo ...... 30-33 Tancos ...... 34-37

Manuel João Vhils Violant Carlos Vieira Vicente

3 ARTE PÚBLICA •

4 5 O PROGRAMA ARTE PÚBLICA •

Imaginemos que vamos a todas as localidades abrangidas pelo Arte Pública fundação edp e que pintamos as paredes de branco, desmontamos as instalações dos espaços, apagamos do mapa as obras de arte criadas nas várias povoações intervencionadas de norte a sul do País. Que efeito teria na vida destas pessoas?

O Arte Pública fundação edp é um mapa feito de um conjunto de obras de arte con- cebidas em espaços públicos de pequenas localidades de diversas regiões do País. Um programa desenhado pela fundação edp para proporcionar a comunidades rurais um maior contacto com a arte, provocando, simultaneamente, uma reflexão sobre a sua função na sociedade. Um programa que concilia as duas principais áreas de intervenção da fundação edp – inovação social e cultura –, mobilizando artistas e comunidades rurais num diálogo inovador que resulta num roteiro ines- perado de arte pública e num motivo de orgulho para todas as partes envolvidas.

Sinais de trânsito transformados em figuras tradicionais como a da mulher de lenço na cabeça? Duas raízes de árvores entrelaçadas, com pernas e braços? Um moinho em cima de um burro? Um homem em cima de um escadote a apanhar estrelas? Obras “bonitas” e “boas para a terra”, como costumam dizer as pessoas destas comunidades, sem se alongarem a extrapolar significados para lá dos significantes que lhes são apresentados. É neste grau zero, é nesta marca de início, que reside a premência do programa Arte Pública fundação edp.

O Arte Pública fundação edp introduz um contacto concertado por parte das populações com uma ideia contemporânea de cultura visual. Para muitos, o conceito de arte liga-se ainda à noção de artesanato ou a uma ideia de arte- -verdade, em que o objeto artístico assume a função de replicação da realidade, numa mimética de embelezamento da mesma, como nos explica o artista plástico Xana, membro do movimento artístico dos anos 80 Homeostética e um dos artistas do projeto Arte Pública fundação edp que deixaram a sua marca nas localidades a barlavento e a sotavento do Algarve.

Em cada região, associações e artistas foram desafiados a apresentar propostas de intervenção pública, que iam da pintura à escultura ou à instalação em vídeo e/ou som. Os artistas partiram para o terreno com duas premissas. A primeira foi a de não se colocarem no papel de educador, mas sim de facilitador. O de pôr ferramentas à disposição de modo que as populações pudessem inteirar-se de como funciona todo o processo de criação artística, desde o brainstorming à definição de temáticas, ao uso de técnicas, à mão na massa, ao resultado. E a segunda foi a de desmistificar a arte enquanto prática elitista, inacessível. A arte tem, na sua premissa, uma matriz política: a de dar liberdade, a de proporcionar caminho e escolha.

Foram envolvidas as instituições locais para definir quais os espaços públicos dis- poníveis, a par dos equipamentos da rede da EDP Distribuição, empresa parceira da fundação edp neste projeto, a serem intervencionados. E, em cada localidade, a população foi convidada a participar em assembleias comunitárias. As pessoas conheceram os artistas e deram a conhecer-se. Expressaram as suas sugestões de temas a serem tratados em obras, contaram as histórias e as tradições da terra, falaram das atividades económicas predominantes e das figuras de relevo.

Aos artistas coube a tarefa de interiorizar as sugestões e integrarem os temas PP 4 e 5: Assembleia comunitária, Tancos, 2017. — P 7: Assembleia comunitária, Vila Nova da Barquinha, 2017. Barquinha, da Nova Vila comunitária, Assembleia 7: P — 2017. Tancos, comunitária, Assembleia 5: e 4 PP sugeridos no seu trabalho e na sua linha autoral. Foram feitas maquetes das “obras-que-iriam-ser” que foram depois apresentadas à população.

6 7 O PROGRAMA ARTE PÚBLICA •

Seguiram-se os dias de trabalho, de feitura das obras. Na comunidade, cresce a curiosidade e a proximidade aos artistas. Precisam de alguma coisa? Água? Algo para comer? Momentos de pausa são passados na pastelaria da rua, no convívio com os locais.

O Arte Pública fundação edp é este ponto de encontro no qual se cruzam intencio- nalidade artística e intencionalidade social. É um programa que promove uma sensação de pertença, que já não se perde, independentemente de a tinta começar a cair, de a chuva vir a desbotar os tons. Neste caso, trata-se de uma sensação de pertença dupla. Este património artístico é das pessoas, da comunidade. Motivo por que são criadas, em cada região, visitas-percurso com guias locais, que são também elas uma forma de elo, de ligação das populações a quem as visita. E fá-las sentir-se não isoladas do mundo, mas parte de uma ideia de contemporaneidade que vive a cultura visual a uma velocidade estonteante. Se por um lado a arte fixa, fixa a identi- dade de uma povoação, por outro fluidifica-se, permite-se novos usos e abordagens.

Minho Trás-os- Braga -Montes Crespos e Pousada Padim da Graça Alfândega da Fé Merelim (São Paio) Torre de Moncorvo Panoias e Miranda do Douro Parada de Tibães Mogadouro Palmeira Alto Ribatejo Alentejo Vila da Marmeleira Campo Maior Assentiz Degolados São João da Ribeira Ouguela Ribeira de São João Médio Algarve Vila do Bispo Tejo Barão de São João Mexilhoeira Grande Vila Nova da Barquinha Figueira

Atalaia S. Bartolomeu de Messines 2019. Barquinha, da Nova Vila II, Maria D. Escola da alunos com Vicente Carlos (execução), Praia do Ribatejo Alte Tancos Alportel Adolescências

8 9 Roteiro MÉDIO TEJO • Projeto ARTEJO ARTE PÚBLICA •

Vila Nova da Barquinha Atalaia

Vila Nova da Barquinha

1 NAU CATRINETA, Carlos Vicente

c/ alunos do CEAC - Centro de Estudos M542 de Arte Contemporânea

2 SOPHIA, Violant

3 ADOLESCÊNCIAS, Carlos Vicente A13 N110 c/ alunos da Escola D. Maria II A23 4 MAYDAY, Violant A23 6 QUASE BANDA DESENHADA, A23 5A Manuel João Vieira

11 VERTIGO, Violant Atalaia Atalaia 8A 8B

5 VILA DE OLEIROS, Vhils N3 Praia do Ribatejo

7 O CAMPO, Carlos Vicente

N110

8 AUSÊNCIA, Violant IC3 c/ alunos da Universidade Sénior N3 Tancos de Praia do Ribatejo Praia do Ribatejo

Tancos N3 Vila Nova da Barquinha 10A 3A 9A 9 MÃOS DE ARRAIS, 1B Carlos Vicente N3 1A 11A 10 NOAH, O BARQUEIRO, Violant e Carlos Vicente Vila Nova da Barquinha Vila Nova da Barquinha Vila Nova da Barquinha

img © Pérsio Vila Nova da Barquinha Tancos Praia do Ribatejo Roteiro MÉDIO TEJO • Projeto ARTEJO ARTE PÚBLICA •

apeadeiro ferroviário em Parque de Escultura Con- Artejo, Marina Honório Tancos. O monumento é temporânea Almourol e a considera que houve Médio Tejo considerado o ex-líbris Galeria Santo António, que reuniões e debates muito da região, como alguém resulta de uma parceria interessantes. “Alguns Artejo da faz questão com a fundação edp”, diz- artistas tiveram uma Praia do Ribatejo, 2017. Ribatejo, do Praia João Vieira, Tancos, 2017. Tancos, Vieira, João de frisar. Para trás fica- comunitária, Assembleia -nos Fernando Freire. “De grande capacidade de Vila Nova da Barquinha ram campos e campos Visita técnica, Vhils e Manuel modo que as populações explicar o que iam fazer.” vedados, pertencentes do concelho possam ace- A parceria da câmara ao Polígono Militar de pladas”, explica Carlos der à arte e ser acultura- com a fundação edp é Parceiro: Tancos, que integra o Re- Vicente, coordenador do das para esta forma de de longa data. “É o nosso gimento de Engenharia Arte Pública fundação expressão, e de vida, em grande parceiro no domí- Município de Vila Nova nº 1, a Brigada de Reação edp – Artejo no terreno, sociedade.” O Centro Cul- nio da arte e da cultura”, da Barquinha que é também artista e nomeadamente na cura-

técnico superior de cultu- doria e assessoria de Daí apareceram os olei- ra da Câmara Municipal espaços e eventos como ros, os arrais”, diz Carlos Facebook: de Vila Nova da Barqui- a Galeria do Parque, a Vicente. “Estiveram mui- nha. Da parte da tarde, Galeria Santo António to bem representadas. facebook.com/artejo. tivemos direito a uma ou o Mercado das Artes. Não nos podemos esque- Praia do Ribatejo, 2017. Ribatejo, do Praia

vnb/ visita guiada ao Centro comunitária, Assembleia comunitária, Assembleia Já o Centro de Estudos cer de que uma localida- de Interpretação Templá- de Arte Contemporânea, de como Tancos tem 200 Vhils e Carlos Vicente, Atalaia, 2017. rio pelo presidente do exe- situado na Casa da Hi- e poucos habitantes.” No percurso que fazemos Rápida e o Regimento de cutivo, Fernando Freire, tural alberga o Centro de dráulica, na Rua da Barca, ALTERAR O PARÁGRAFO: no autocarro do município Paraquedistas. eleito nas autárquicas Interpretação Templário, proporciona oficinas tan- Em Tancos, a existência para conhecer as 11 obras Do outro lado da margem de 2017, juntando-nos que abriu em novembro to de formação teórica do antigo cais é uma refe- do projeto Arte Pública do rio Tejo, encontra-se aos alunos do Instituto de 2018, uma biblioteca- como prática, para adul- rência à ligação desta fundação edp no conce- Arripiado, uma povoação Politécnico de que -arquivo especializada em tos e crianças, nas áreas terra ao rio e aos velhos lho de Vila Nova da Bar- do concelho da . templários, um auditório arrais. Vila Nova da Bar- quinha, os representantes No PT junto ao apeadeiro e o posto de turismo. “O quinha era uma terra de de cada uma das juntas de Tancos, encontram-se programa Arte Pública marítimos. Ainda hoje se de freguesia brincam esboçadas umas mãos fundação edp – Artejo é pratica a pesca da lam- (execução), entre si, competem pelas vigorosas, a segurar mais um elemento para pôr preia e do sável, muito

paisagens mais bonitas, uma vara. Da autoria de 2017. Atalaia, Vila Nova da Barquinha no apreciados na gastrono- da Escola D. Maria II,

disputam os melhores Carlos Vicente, são uma comunitária, Assembleia mapa”, refere a vereadora mia local, que é uma refe- Carlos Vicente com alunos alunos com Vicente Carlos Adolescências acessos, enumeram obra homenagem ao seu avô, 2019. Barquinha, da Nova Vila da Cultura, Marina Honó- rência para quem está de feita. Outrora terra de barqueiro em tempos rio. “O objetivo é desen- visita. Também a norte, o templários, o castelo de idos, que ligava as duas frequentam a primeira volvermos uma série de do desenho, pintura, concelho foi no passado Almourol vê-se ao fundo, margens transportando edição do curso de Turis- roteiros – de históricos a fotografia, vídeo, teatro conhecido pelos seus oli- quando chegamos ao pessoas, cargas e afins. mo Militar do País, que culturais, sobre o patri- e marionetas, ao abrigo vais e produção de azeite. posto de transformação Antes da chegada do com- começou em dezembro mónio ou a gastronomia de um protocolo firma- No PT em Atalaia, terra de (PT) da EDP Distribuição boio a , no século de 2018. A ideia é fazer –, de modo a permitir aos do entre a autarquia, o oleiros, a obra de Vhils é que se encontra junto ao XIX, Tancos foi também uma parceria com o Polí- visitantes traçarem um tra- Instituto Politécnico de uma homenagem a essa

um importante porto gono Militar de Tancos e jeto de visita integrado.” Tomar e a fundação edp. vivência e a esses homens fluvial do País. Região de aproveitar as infraestru- Quanto ao envolvimen- “A fundação edp permi- que a partir do barro tor- oleiros, artefactos feitos turas dos diversos cam- mento das populações no te-nos trazer artistas que navam mais fácil a vida

em barro eram as prin- pus para fazer atividades de outra forma não con- da comunidade. cipais mercadorias que de lazer como paintball seguiríamos trazer.” No “Uma iniciativa como seguiam para Lisboa. em ambiente controlado Vieira, João , Manuel âmbito do programa Arte esta é importante a vários “Os artistas é que es- ou paraquedismo. “No Pública, foram feitas oito níveis. Contribui para o Tancos, 2017. Tancos, colheram os locais, mas seguimento da nossa filo- assembleias, duas por embelezamento do espa- Assembleia comunitária, Assembleia

houve o cuidado de que sofia em termos culturais, 2018. Barquinha, da Nova Vila freguesia. “A comunidade ço público e, logo, para o as quatro do fazemos a promoção da deu ideias aos artistas, bem-estar da comunida-

concelho fossem contem- arte, de que é exemplo o Desenhada Banda Quase partilhou a cultura local. de. Permite aos artistas

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artistas, que vem de um meio particular, e que são muitas vezes ignora- dos pelas instituições.” As lezírias ao longo da margem do Tejo formam a paisagem do território. O Parque de Escultura interagirem diretamente Contemporânea Almourol Rui Chafes, Fernanda com as comunidades, Fragateiro, Xana ou em prol da salvaguarda Joana Vasconcelos e im- da cultura tradicional, pulsionou o turismo de preservando a memória Vila Nova da Barquinha. do passado e trazendo-a “O que isto era e o que para o presente, criando isto é”, refere Carlos uma ponte entre gera- Vicente. “Com o Parque ções, comunidades, meios de Arte Contemporânea, urbanos e meios rurais”, recuperaram-se muitas considera Alexandre casinhas antigas, abriram- Farto, conhecido por Vhils. -se mais hotéis, abriram “E porque, desta forma, esplanadas na praça. A uma instituição com o fica situado numa delas, arte beneficiou bastante peso da fundação edp integrado nos sete hecta- Vila Nova da Barquinha”, apoia novos talentos e res do Barquinha Parque, remata Carlos Vicente. uma nova geração de que ganhou o Prémio “E o parque foi o gatilho.” Nacional de Arquitec- tura Paisagista em 2007 na categoria de Espaços Exteriores de Uso Público. O Parque de Escultura Contemporânea tem

Assembleia comunitária, Vila Nova da Barquinha, 2017. Barquinha, da Nova Vila comunitária, Assembleia obras da autoria de José Pedro Croft, Cabrita Reis, (execução), Carlos Vicente com alunos da Escola D. Maria II, Vila Nova da Barquinha, 2019. Barquinha, da Nova Vila II, Maria D. Escola da alunos com Vicente Carlos (execução), Adolescências

14 15 Roteiro MÉDIO TEJO • Projeto ARTEJO • SHORT BIOS ARTISTAS ARTE PÚBLICA •

Manuel João Vieira (1962) Alexandre Farto, aka Vhils (1987) João Maurício, aka Violant (1988) Carlos Vicente (1956)

Formou o movimento Homeostética na Começou a atividade artística como É designer gráfico e fez há um ano e Natural de Tancos, foi bancário em década de 80, juntamente com Pedro writer, ganhou visibilidade pública na meio o primeiro mural. O seu percurso Lisboa e depressa se fartou da vida Portugal, Ivo Silva, Pedro Proença e exposição do grupo VSP em Lisboa, nas artes plásticas e urbanas estava até passada em comboios. Carlos Vicente Xana, artista que coordenou o Arte em 2007, e no The Cans Festival, em então sedimentado no trabalho de estú- frequentou os dois primeiros anos de Pública fundação edp no Algarve. Fre- Londres, no ano seguinte. Cresceu no dio – pintura, serigrafia, T-shirts, block desenho e pintura na Sociedade Nacio- quentavam ainda a escola de Belas Ar- Seixal, um subúrbio industrializado em print (técnica semelhante à da gravura, nal de Belas Artes e fez depois a licen- tes em Lisboa. Artista plástico e músico, profundas mudanças económicas e em suporte de madeira). Esteve três ciatura em Artes Plásticas no Instituto conhecido pelos Ena Pá 2000, Irmãos sociais nos anos 80 e 90, que modelou meses na Índia (local onde esta técnica Politécnico de Tomar. Mais tarde, fez um Catita ou Corações de Atum, Manuel a sua visão artística. A sua técnica, de é muito usada) e, quando voltou, sentiu mestrado em Turismo Cultural, também João Vieira faz ainda parte do grupo picar a superfície e criar relevo, é hoje necessidade de aplicá-la em suportes na mesma instituição. Técnico superior Ases da Paleta e do coletivo Orgasmo a sua imagem de marca e já apresentou maiores. A sua inspiração advém da de cultura da Câmara Municipal de Vila Carlos. Orgasmo Carlos inclui fotogra- o seu trabalho em mais de 30 países, natureza, lavrando-a com motivos geo- Nova da Barquinha, esteve envolvido fia, escultura, pintura, performance e em exposições individuais e coletivas métricos, texturas e padrões. Vive em na criação do Parque de Escultura Con- instalação. Foi com este projeto que em entidades como Centre Pompidou Riachos, , e esteve indeciso temporânea Almourol e é ainda coorde- anunciou a sua candidatura à Presidên- em Paris, Barbican Centre em Londres na adolescência sobre o que queria nador do CEAC – Centro de Estudos de cia da República em 2011 e 2016. ou CAFA Art Museum em Pequim. Em fazer. No secundário, teve um contacto Arte Contemporânea. Portugal, teve a sua primeira exposição direto com desenho através dos colegas em contexto institucional na Central no curso técnico-profissional que fre- Tejo, em Lisboa, com Dissecção, em 2014. quentou em Torres Novas, e começou a reparar no mundo do graffiti. Licenciou- -se em Artes Plásticas e Multimédia em Santarém e começou a pintar – sem- pre na rua. Tem trabalhos em Castelo Branco, , Lisboa, Fernão Ferro, Santarém, Gante – na Bélgica –, Braga e Coimbra.

16 17 Roteiro MÉDIO TEJO • Projeto ARTEJO • Vila Nova da Barquinha • NAU CATRINETA Carlos Vicente c/ alunos... • 2018 ARTE PÚBLICA •

presença da edificação, e 1 em que o vértice das duas FREGUESIA: Localização: GPS: faces visíveis se encontra VILA NOVA DA Largo 1º de Dezembro Latitude 39.45737766 ao centro. BARQUINHA Longitude -8.43317628 Nau “Eram os barquinhos de papel que colocávamos Catrineta em criança no rio, ao sa- bor do vento”, refere Carlos Vicente repete em outras Vicente, outrora um ban- obras suas realizadas no Autoria: cário em Lisboa, que há âmbito do programa Arte Carlos Vicente c/ alunos anos decidiu trocar a vida Pública fundação edp. O do CEAC - Centro de Estudos passada em comboios por rebordo preto inferior tem de Arte Contemporânea um dia a dia preenchido de peixinhos de cores gar- forma mais enriquecedora. ridas pintados por cima, “Eu punha bastantes no como se fosse um aquário É a obra de receção e rio, o meu avô era pesca- – o negro a acentuar, por boas-vindas. Situada jun- dor e barqueiro em Tancos. contraste, a vitalidade da to ao Parque de Escultura As nossas brincadeiras vida marinha e a apontar Contemporânea, integrado eram ligadas ao rio. Usá- de certa forma para a no Barquinha Parque, este vamos as piteiras, que são questão, tão atual, da po- depósito das águas só po- esponjosas por dentro, luição dos oceanos. A Lua dia ter o rio, o Tejo, como como boias, para atra- também não foi esqueci- referência-base, motor da vessar o rio. Elas flutuam da, o esplendor da sua luz economia da região duran- muito bem até ficarem está refletido nas águas. te séculos. O avô do autor, encharcadas por dentro. Se avançarmos e nos Carlos Vicente, técnico su- E nem sabíamos nadar.” colocarmos em frente perior de cultura da Câ- Carlos Vicente fre- ao outro vértice forma- mara Municipal de Vila quentava a escola primá- do pelas paredes que se Nova da Barquinha e coor- ria de Tancos, que fica so- veem da estrada, o azul denador no terreno do Arte bre a margem elevada da das águas do rio na pe- Pública fundação edp – vila, com vista para a zona numbra ganha força. Um Artejo, era barqueiro no ribeirinha. “Alude também elemento exterior acaba rio. A infância de Carlos à nau, que foi à descober- por rematar a composi- foi passada nas suas mar- ta, que nos deu horizontes, ção do quadro: umas es- gens, a atirar barquinhos nos deu outras maneiras cadas metálicas, que dão

de papel às águas com os de ver.” O barquinho, de acesso ao nível superior 2018. Barquinha, da Nova Vila Contemporânea, Arte de Estudos de Centro - CEAC do alunos c/ Vicente , Carlos amigos. É essa memória papel, simboliza também do depósito. Como se nos que esta intervenção de uma fragilidade, a huma- permitissem subir ao céu.

traçado naïf pretende efe- na, por oposição à força Não um céu qualquer, mas Catrineta Nau tivar no tempo, e há um da natureza. O título, Nau um céu naïf, de cores ar- ponto ótimo de onde se Catrineta, faz parte de um tificiais, como num sonho pode apreciar a pintura verso popular, que pos- imaginado por uma crian- no seu esplendor: precisa- tula assim: “Lá vem a nau ça, pintado nas paredes mente à chegada, assim catrineta/ Que tem muito de um edifício. que nos apercebemos da que contar/ Sonhava eu em criança/ Poder um dia navegar.” Os rebordos supe- Eu acho que este programa é uma grande mais-valia. Mobiliza a comunidade rior e inferior das quatro e envolve-a em projetos de arte pública, assim como proporciona um contacto paredes do depósito de com os artistas e uma identificação com as obras por parte das pessoas. água estão pintados a Marina Honório, vereadora da Cultura da Câmara Municipal de Vila Nova da Barquinha. preto, traço que Carlos

18 19 Roteiro MÉDIO TEJO • Projeto ARTEJO • Vila Nova da Barquinha • SOPHIA Violant • 2018 ARTE PÚBLICA •

um excerto, é da autoria verde-escuras. Em cima 2 de José Saramago e foi de uma das margaridas, FREGUESIA: Localização: GPS: usado como letra de uma existe uma joaninha, a VILA NOVA DA Rua D. Maria II Latitude 39.4615898 música do cantor Manuel aproveitar-se do pólen. BARQUINHA Longitude -8.4413892 Sophia Freire, Fala do Velho do Um passarinho cor de Restelo ao Astronauta. cobre, pequenino, está Integra o rol de palavras pousado no ombro direito Autoria: do papiro. da Sabedoria. Ao pesco- Violant O ambiente adverso ço, tem um fio com uma de que Violant fala traduz- pedra preciosa que pa- -se num céu crepuscular, rece ser água-marinha. A sabedoria não podia atormentado por nuvens A água e o rio foram dos estar representada de escuras que parecem temas mais referidos pela forma mais explícita. Do monstros a pairar no ar população nas assem- grego sofós, Sofia era já e a cercar a cabeça da bleias comunitárias, nas personificada na Anti- musa, que Violant dotou quais os artistas se intei- guidade Clássica através de traços e indumentá- raram das temáticas que de figuras femininas e ria de guerreira. É uma faria sentido abordar nas esta, pintada por Violant mulher poderosa, seios obras. Os trabalhos de na empena de um prédio proeminentes, cintura Violant pululam em por- na Rua D. Maria II, onde ficam situadas as escolas de Vila Nova da Barqui- nha, não é exceção. Esta Sophia encontra-se enlea- da num papiro enorme. “Ela está num ambiente adverso e o elemento

surreal aqui reside no 2018. Barquinha, da Nova Vila , Violant, facto de estar protegida por algo tão frágil como delgada, braços e mãos menores que despertam Sophia uma folha de papel”, ex- esguios. Ela olha-nos de a nossa atenção quando plica Violant, nome com frente, não em atitude de nos aproximamos, após que João Maurício assina desafio, mas de confian- o primeiro impacto visual o seu trabalho artístico. ça – confiança em si mes- de conjunto da obra. Mis- “Essa folha tem escritos ma. Num local onde estão tura de passado e futuro, de [José] Saramago e de situadas as escolas, essa Sophia tem tatuados dois [Fernando] Pessoa, dois mensagem de confiança círculos em cada braço, escritores de quem gosto ganha uma importância como se fossem pulseiras, muito.” acrescida. É uma imagem que são hoje uma grande “Acendemos cigarros que não é indiferente aos tendência junto dos afi- em fogos de napalme/ E alunos. Esta guerreira cionados de tatuagens. À dizemos amor sem saber encontra-se atolada até cintura, exibe um adorno, o que seja./ Mas fizemos à cintura num campo formado por uma fita que de ti a prova da riqueza,/ verde, do qual brotam dá duas voltas às ancas, E também da pobreza, algumas margaridas. As e que tem à frente uma e da fome outra vez./ que se encontram dese- insígnia que poderia ser E pusemos em ti sei lá nhadas ao fundo, junto um brasão. Mas é o pre- Eu sou suspeita. Também sou da área das artes, estudei arquitetura. Acho o bem que desejo/ De mais ao chão, parecem nascer texto para a assinatura projeto muito interessante para que qualquer pessoa, de qualquer estrato social, alto que nós, e melhor e da terra batida que existe de Violant, que forma possa contactar com a arte. A arte urbana tem tido um bocado esse papel. mais puro.” Este poema, em frente à empena. Os uma caveira. Rita Inácio, Museu Etnográfico de Praia do Ribatejo, 36 anos. de que partilhamos aqui talos são roxos. As folhas,

20 21 Roteiro MÉDIO TEJO • Projeto ARTEJO • Vila Nova da Barquinha • ADOLESCÊNCIAS Carlos Vicente c/ alunos... • 2019 ARTE PÚBLICA •

crescer muito rápido, o fu- 3 turo és tu.” E outra rapa- FREGUESIA: Localização: GPS: riga diz ainda: “Aproveita VILA NOVA DA Rua Capitão Salgueiro Latitude 39.46246782 cada dia como se fosse o BARQUINHA Maia – EN3 Longitude -8.44671607 Adoles- último.” Na face maior do PT, encontram-se dese- cências nhados cinco alunos. Os conselhos rondam à volta dos mesmos conceitos, Autoria: incitando ao carpe diem, Carlos Vicente que possam vir a ser úteis ao acreditarmos em nós e c/ alunos do 12º ano aos alunos da escola do nas nossas capacidades. do curso profissional primeiro ciclo. O PT fica As frases são clichés típi- de Multimédia da em frente ao Centro Esco- cos de adolescentes, mas Escola D. Maria II lar do 1º Ciclo e do Centro o cliché tem precisamente Integrado de Educação a força da repetição e, em Ciências, projetado neste caso, encontra-se Começou a interessar-se pelos arquitetos Aires Ma- fixado numa parede, por artes por causa de teus. São os alunos que como uma bandeira, um livro com desenhos frequentam este centro sempre disponível para de Burne Hogarth, que escolar os destinatários ser lembrado. No entanto, levou para casa empres- dessas mensagens. numa terceira face do PT, tado da biblioteca móvel Rapazes e raparigas, na qual estão desenhados da Gulbenkian era ainda os esboços dos 11 alunos os restantes três alunos, criança. “As minhas obras estão feitos a linha pre- há um que destoa ao di- começam sempre com um ta sobre fundo branco, zer: “A adolescência é a esboço, à semelhança dos a invocar o imaginário pior fase da vida.” Este desenhos de Hogarth”, das tiras de banda dese- assomo de sinceridade diz Carlos Vicente. “Desde nhada a preto e branco. funciona como uma es- pequenino que gosto de O PT parece uma casa, pécie de cola a unir e a pintura. Na escola, fazia de paredes amarelas e conferir verdade a todas sempre os desenhos por telhado azul-escuro, e as as outras mensagens. A

todos. Quando vi o livro, personagens colocadas jovem ao lado assevera: 2019. Barquinha, da Nova Vila II, Maria D. Escola da alunos com Vicente Carlos (execução), disse para comigo: «Ca- por cima – pintadas à “Não importa que esteja ramba, gostava de dese- escala humana – pare- tudo contra ti, sê tu mes-

nhar assim.»” À volta do cem pessoas de papel que mo.” Para rematar a es- Adolescências posto de transformação se encontram à conversa, perança de que melhores (PT) da EDP Distribuição encostadas à parede. Só dias virão, o balão de fala que fica na Rua Capitão que, em vez de conversa- da terceira rapariga tem Salgueiro Maia – EN3, em rem apenas uns com os um coraçãozinho verme- Vila Nova da Barquinha, outros, os balões de fala lho desenhado, a aludir ao Carlos Vicente esboçou dirigem-se ao especta- mundo atual da comuni- as figuras dos 11 alunos dor, com o olho piscado cação, feito de emojis. que participaram nesta aos alunos do primeiro obra, estudantes do 12º ciclo que por ali passam ano do curso profissional todos os dias. Numa das Trata-se de uma iniciativa que valoriza os territórios urbanos e rurais, aliando de Multimédia, da Escola faces mais estreitas, uma a arte moderna às tradições locais. É também uma forma de criar interação D. Maria II. A colaboração rapariga diz: “Não tenhas entre a população mais jovem e a mais idosa. Na qualidade de adorno da via passou por escreverem, medo do que tu és... vive a pública, possibilita a criação de nichos turísticos, que se interessam por arte em balões de fala, o que vida ao máximo.” Ao meio, pública e querem visitar obras de artistas de renome. é ser adolescente e com o rapaz de mãos nos bol- Ana Isabel Alves, técnica superior do município de Vila Nova da Barquinha, 37 anos. isso deixarem mensagens sos refere: “Não queiras

22 23 Roteiro MÉDIO TEJO • Projeto ARTEJO • Vila Nova da Barquinha • MAYDAY Violant • 2018 ARTE PÚBLICA •

para o casco do barco, difícil, as cores enganam, 4 de laranja e lilás, com o abrem quando secam, FREGUESIA: Localização: GPS: símbolo da McDonald’s mas isso permite-me ir VILA NOVA DA Rua Miguel Torga, Latitude 39.46433977 estampado. Podia ser a para qualquer sítio fazer BARQUINHA Cardal Longitude -845274568 Mayday âncora. Os edifícios esca- qualquer coisa.” vacados assemelham-se Este PT fica junto a àqueles que vemos nas uma praceta que tem al- Autoria: imagens noticiosas, vídeo guns bancos, a aproveitar Violant ou fotografia, de cidades a sombra das árvores, e que foram bombardea- onde existe também um das. Neste cenário distó- parque infantil e um rin- Mayday, mayday. O aler- pico, o elemento que falta gue de jogos da Associa- ta é dado por esta inter- aqui é precisamente o da ção Recreativa e Cultural venção de Violant feita no água. Não existe. É uma do Cardal. João Machado, posto de transformação forma de alertar para a presidente da Junta de (PT) da EDP Distribui- importância de estimar- Freguesia de Vila Nova da ção em Cardal. “O rio foi mos e pouparmos água, Barquinha, que abrange um dos temas falados um bem essencial para Cardal, refere que houve nas assembleias com a a vida no planeta. Não é pessoas a não percebe- população e eu decidi rem o caráter corrosivo da manifestar a minha preo- obra, pelo facto de estar cupação relativamente à em contacto direto com sua poluição”, refere Vio- as crianças que frequen- lant. “Há um bacalhoei- tam o parque infantil. As ro atracado em Aveiro árvores fazem também chamado Joana Princesa alguma sombra à obra, e eu imaginei esta coisa dependendo da altura do surreal de a costa vir dar dia, e há copas que se aqui. Gosto de fazer coi- sobrepõem ao posto de Violant, Vila Nova da Barquinha, 2018. Barquinha, da Nova Vila , Violant, sas fora do contexto dos transformação. Um por-

sítios. Senão, iria estar menor que se encontra Mayday a pintar o castelo de Al- num dos edifícios dese- mourol. É tão direto que nhados nesta intervenção não me fascina.” Diz que por acaso que não se vê de Violant pode dar uma tenta diversificar o mais vivalma. A exceção é a pista acerca da pertinên- possível o seu trabalho, de um tubarão enorme, cia da obra junto de fai- de projeto para projeto. espécie de ser resiliente, xas etárias mais jovens: “Encaro isso como um que se encontra a voar. está pintada uma balan- desafio. Costumo dizer A existência de elementos ça, semelhante às que que não pinto bem, sou é surrealistas é transversal simbolizam a Justiça. Ser- teimoso. Pinto, pinto, pin- às obras do artista. mos justos, inclusive com to, até as coisas ficarem Violant chegou a usar o ambiente, é uma forma bem.” sprays no seu trabalho, de garantir o futuro. O cenário é o de um mas hoje em dia pinta grande navio atracado sempre com pincéis. numa rua, os prédios à Largou os sprays porque volta desfeitos, como que tinha de mandá-los vir de bombardeados, há auto- Lisboa. Mora em Riachos. carros e aviões estilha- “Uso cores primárias e, É um projeto muito interessante a nível cultural. Apela a toda a gente e penso çados no chão. A mancha a partir delas, faço as que vai atrair turismo. O edifício estava vazio, agora está mais airoso. geral é cinzenta, cor de outras todas. Isso dá-me João Machado, presidente da Junta de Freguesia de Vila Nova da Barquinha, 57 anos. destruição, com exceção muita liberdade. É mais

24 25 Roteiro MÉDIO TEJO • Projeto ARTEJO • Atalaia • VILA DE OLEIROS Vhils • 2018 ARTE PÚBLICA •

“A ideia sempre foi não são removidos, e que 5 desenvolver este projeto da sobreposição resulta FREGUESIA: Localização: GPS: com a comunidade, e as espessura de papel. “Um ATALAIA Rua Paulino José Latitude 39.47791409 assembleias foram muito dia apercebi-me de que Correia, Atalaia Longitude -8.45210731 Vila de importantes. Eu participei poderia utilizá-los como em algumas e achei en- tela, mas, ao invés de pin- Oleiros riquecedor ter o envolvi- tar por cima, podia acu- mento das pessoas no mular ainda mais cama- processo criativo, partici- das e criar composições, Autoria: par na troca de ideias, cortando através dessas Vhils mais do que perceber a camadas”, explica. O seu realidade local e o impac- trabalho, diz, tenta acima to das intervenções em de tudo tornar o invisível O caminho para Santiago quem ali vive”, explica visível. Esta técnica per- passa por esta rua. Quem Alexandre Farto. “O pro- mitiu-lhe estabelecer uma passa pelo posto de trans- cesso foi importante tam- ligação com a ideia de formação (PT) da EDP bém para pensar e con- vandalismo artístico que Distribuição depara-se cretizar a arte como pro- já tinha explorado com com a figura imponente cesso de inclusão social.” o graffiti. “Ao escavar os de um homem, curvado, a O nome de João Caeta- cartazes vi que estava a moldar um vaso de barro, no foi sugerido a Vhils du- trazer à superfície frag- apoiado numa roda de ola- rante uma das assembleias. mentos da história recen- ria. Trata-se da interven- Caetano foi uma figura te da cidade. Trazer esses ção de Alexandre Farto, bastante dinamizadora da fragmentos da vida social conhecido como Vhils, cultura local. Ensaiava o e cultural à superfície pa-

situada na Atalaia. A fo- grupo de teatro dos bom- receu-me, em termos sim- 2018. Atalaia, , Vhils, tografia que serviu a Vhils beiros, organizava espe- bólicos, quase um trabalho para fazer esta obra, cuja táculos. Diz-se até que de natureza arqueológi- técnica de picar parede é chegou a trazer Amália ca.” A obra Vila de Oleiros Vila de Oleiros de Vila já a sua imagem de marca, Rodrigues a um restauran- demorou uma semana a é da autoria do fotógrafo te que havia numa cave ser feita. “Um pormenor Pérsio Basso. O retratado em Tancos. “Achei que fa- engraçado era o banqui- chama-se João Caetano zia todo o sentido cravá- nho instalado ao lado da e era um dos três irmãos -lo na parede da terra estrutura, no qual os ve- que geriam uma empresa onde teve tanto impacto”, lhotes da terra se iam sen- familiar de olaria, a últi- comenta Vhils. “O senhor tar e dar palpites. Aquilo ma a resistir na Atalaia. João Caetano foi uma funcionava quase como Conta Pérsio Basso que pessoa muito influente nas um teatro ao ar livre. Eles a invasão das lojas de antigas olarias do con- iam observando a evolu- mercadoria chinesa e celho e no meu trabalho ção do trabalho, dando dos plásticos baratos também tem havido uma opiniões e conversando deu a machadada final preocupação em trazer entre eles, em verdadeiro ao ofício dos três irmãos, para a superfície pessoas espírito de comunidade.” que eram inseparáveis. que tanto têm contribuído “Mesmo quando já não para a sua comunidade.” trabalhavam, abriam por Vhils conta que a ideia vezes a oficina para ten- inicial relativa à técnica tarem vender os objetos de baixo-relevo que utiliza A nível cultural, este programa tem muita importância. A obra realizada que ainda restavam. no seu trabalho lhe ocor- aqui na Atalaia teve bastante relevo. É do Vhils, uma pessoa bastante conhecida. O chão era de terra bati- reu após anos a observar Peca por pouco, devia haver mais uma ou duas obras aqui na freguesia. da e tinham uma foguei- como, nas ruas de Lisboa, Manuel Honório, presidente da Junta de Freguesia da Atalaia, 62 anos. ra para se aquecerem.” os cartazes de publicidade

26 27 Roteiro MÉDIO TEJO • Projeto ARTEJO • Vila Nova da Barquinha • QUASE BANDA DESENHADA Manuel João Vieira • 2018 ARTE PÚBLICA •

de proporcionar uma autónomo dentro das pró- 6 experiência de conforto prias imagens, crescem e FREGUESIA: Localização: GPS: ao visitante. “O que ditou tomam conta da narrativa, VILA NOVA DA Rua Elísio Gomes Latitude 39.46474977 a solução final foram os possibilitam-na. Manuel BARQUINHA (Alto da Fonte) Longitude -8.43930781 Quase meios que havia à dispo- João Vieira foi buscar as sição”, refere Manuel João referências para desenhar Banda Vieira. “Havia sempre a as figuras às suas memó- possibilidade de pintar e rias de postais de viagens Dese- eu quis sempre fazer outra e associou-as às imagens coisa”, que não o graffiti. da região. “Têm que ver nhada De uma experiên- com os símbolos. E à volta cia prévia que o artista, é tudo muito fluido.” também conhecido como O lado mais direto do Autoria: vocalista e mentor dos Ena cunho irónico e satírico do Manuel João Vieira Pá 2000, tinha tido com a trabalho de Manuel João Galeria Ratton, Vieira fez Vieira foi aqui refreado. uma associação aos pai- “Foi um trabalho muito Acaba com uma sereia néis de azulejos que exis- inocente”, diz. “Quando se deitada, precedida de um tem nas gares ferroviá- está a fazer uma figura, barqueiro de remo em pu- rias. “Peguei também no ela ganha uma vertente nho saído do que parece conceito das tiras de ban- vital, não estanque. E, ser o canhão de uma pis- da desenhada e coloquei o por isso, dentro de cada tola. A ideia é, na verdade, quadro mental poderá a assinatura de Manuel ou não existir ironia. Eu João Vieira, sucedida pela próprio, quando me pus da Ratton, galeria espe- a desenhar e a pintar, cializada em pintura ar- coloquei-me no lugar do tística sobre azulejo, não espectador, deixei-me ser 2018. Barquinha, da Nova Vila Vieira, João , Manuel marcar um fim. Isto para surpreendido pelas ima- que a obra – uma faixa gens que ia criando.” de azulejos à volta das Quando frequentou a quatro paredes do posto espectador a olhar à volta Faculdade de Belas-Ar- de transformação (PT) da do PT.” Um olhar que exige tes, em Lisboa, Manuel Quase Banda Desenhada Banda Quase EDP Distribuição do Alto um ato de aproximação, João Vieira experimentou da Fonte que funciona para perceber de que a técnica de pintar sobre como uma cinta que lhe é imagens e possibilidades o azulejo; achou-a difícil, sobreposta – tenha circu- de narrativas se trata, na altura. “É um painel de laridade. Pode começar- mas que é o olhar à dis- 25 metros. Acabei por me -se a ver esta obra de tância que desperta para adaptar e criar um traço Manuel João Vieira a par- a obra, pelo impacto que o muito gráfico. As técnicas tir de qualquer ponto. edifício customizado cria. tanto do gesto como de Durante as assem- “Trata-se de uma banda mistura de tintas são mui- bleias comunitárias desenhada sem narrativa to precisas.” foram debatidas várias verbal”, diz o artista. Não hipóteses, como a de um existem balões de fala farol colocado em cima ou de pensamento. “São de um PT, simbolizando as próprias figuras que É uma grande mais-valia para o concelho poder contar com obras como a de Vhils a ideia de trazer o litoral propõem uma leitura. São e de Manuel João Vieira. Valoriza o território. Além disso, permite aos residentes te- para o interior; ou a de as figuras que nos fazem rem contacto com realidades mais urbanas, bem como aos artistas desenvolverem forrar o interior de um PT chegar a uma narrativa e obras em meios rurais. inativo com maminhas não o contrário.” As figu- Pérsio Basso, técnico superior de comunicação C. M. Vila Nova da Barquinha, 42 anos. de borracha como forma ras operam um processo

28 29 Roteiro MÉDIO TEJO • Projeto ARTEJO • Praia do Ribatejo • O CAMPO Carlos Vicente • 2018 ARTE PÚBLICA •

partido, e o desenho serve exigem ao espectador uma 7 de mimese da sua exis- busca no palheiro, como FREGUESIA: Localização: GPS: tência, a prolongar-lhe a a de um cão num canto PRAIA DO RIBATEJO Rua Humberto Delgado, Latitude 39.49635816 existência mesmo quando inferior de uma das pare- Praia do Ribatejo Longitude -8.34837556 O Campo já não estiver cá. des. A parede virada para “Como a maior parte a estrada tem desenhada do concelho está à volta do uma espécie de convite: Autoria: rio [Tejo], Limeiras repre- há desenhada uma porta Carlos Vicente senta o campo. E, por isso, aberta, só se vê preto lá representei aqui elementos dentro, e a condução faz- mais campestres, tanto de -se por umas escadas, com fauna como de flora”, refe- um gato também preto a re Carlos Vicente. “Foi um meio dos degraus. Há uma elogio ao campo.” Os tron- certa ironia nesta imagem: cos das duas árvores fo- se a porta aberta e o negro ram deixados a branco, a em fundo são sedutores, cor do PT, e foi o ambiente pela possibilidade do novo circundante que foi pinta- e pelo seu caráter miste- do que delimitou os contor- rioso, o gato preto está lá nos de ambas. Os fundos a lembrar-nos do azar que de ambas as árvores estão essa aventura pode trazer. preenchidos a duas cores O nome de Burne Ho- – uma a azul, uma cor fria garth, o ilustrador cujos a simbolizar o outono, e a desenhos têm sido uma Ouvia as histórias das outra a amarelo, uma cor referência no trabalho de trabalhadoras que faziam quente a referir-se ao ve- Carlos Vicente, foi dese- a apanha da azeitona no rão. A apanha da azeitona nhado na face do PT que olival contíguo enquanto é feita no outono e, por tem pintado o trabalhador desenhava, uma a uma, isso, na metade da oliveira da apanha da azeitona,

as folhas das suas árvores de fundo azul, está dese- mesmo por cima da assi- 2018. Ribatejo, do Praia Vicente, , Carlos – uma oliveira e uma fi- nhado um homem a fazer natura do próprio Carlos

gueira, pintadas cada uma a apanha, com a ajuda de Vicente. Em baixo, em jeito O Campo em duas faces do posto uma vara. de rodapé, há uma faixa de transformação (PT) Estas cores de fundo preta desenhada a toda a da EDP Distribuição em vão apenas até meia altu- volta do edifício, a acen- Limeiras, Praia do Ribate- ra do PT, pouco acima das tuar a diferença entre arte jo. A referência à oliveira, árvores. O branco restante e vida. Algumas ervas con- desenhada junto ao vértice confere uma amplitude de trariaram as regras e co- que une duas paredes espaço à obra que acaba meçaram a nascer de al- para que cada metade da por fazer um contraste gumas fendas permitidas árvore fique desenhada com o azul do céu ou o pelo regueiro de cimento numa face, é clara: o PT cinzento das nuvens. Na que existe a proteger as está situado num terreno ponta de um dos ramos da quatro paredes do PT. de oliveiras. A outra árvo- figueira, há, na verdade, re, também a ocupar da um apontamento de fo- mesma forma duas pare- lhas a destoar, a fugir do des, alude a uma figueira; amarelo em fundo para no caso, uma figueira cima do branco, como que específica, que existe num em provocação. Por cima, terreno do lado oposto da paira um corvo. Há ainda Está bonito. As pessoas tiram fotos, mesmo os clientes que vêm aqui ao restaurante. estrada. É uma figueira pequenos pormenores, fi- Cláudia Franco, responsável de restauração, 35 anos. enorme, um tronco grande guras muito pequenas, que

30 31 Roteiro MÉDIO TEJO • Projeto ARTEJO • Praia do Ribatejo • AUSÊNCIA • Violant c/ Universidade Sénior... • 2019 ARTE PÚBLICA •

cadeira, pela farda, pelo da casa, uma maneira de 8 retrato, pela medalha garantir a sobrevivência FREGUESIA: Localização: GPS: de mérito e as botas.” O do lar e de enganar o PRAIA DO RIBATEJO Rua Dr. Francisco Latitude 39.46594249 artista desenhou primeiro desespero pela incerteza Sá Carneiro, Praia Longitude -8.35505962 Ausência um esboço num caderno. do regresso do marido. do Ribatejo “Mostro uma situação de À frente da cadeira estão abandono, de falência.” pintadas umas botas de Autoria: Na imagem, uma mulher soldado, muito grossei- Violant c/ Universi- com um dos filhos ao colo ras, quase grotescas – dade Sénior de Praia e outro, mais velho, de um símbolo de que os do Ribatejo pé ao seu lado, a agar- passos dos conflitos ar- rar-lhe a saia. Os sem- mados são algo da ordem blantes não têm traçadas do insano. Os miúdos es- “Eles têm um museu com feições portuguesas, são tão igualmente pintados uma exposição da I Guer- personagens universais – de uma forma estranha, ra e vieram falar comigo. assim como as marcas da cara de adultos, como se Estavam interessados em guerra e do sofrimento. àquelas crianças tivesse que fizesse uma pintura sido proibido usufruir da ligada ao museu e eu, infância e tivessem de conforme as fotografias e adaptar-se à vida difícil as imagens que me mos- que é preciso enfrentar. traram para me direcio- Mãe e filhos encon- nar, desenhei esta ima- tram-se numa divisão gem no caderno de es- que parece ser a sala, boços.” Violant refere-se há uma estante de lado ao Museu Etnográfico, que tem guardados livros sediado nas instalações como Os Lusíadas ou a da antiga escola primária Bíblia. A casa é humilde de Praia do Ribatejo, nas e as vestes são parcas. quais se encontra esta A postura formal dos obra pintada numa das três indicia também que paredes. A exposição estão a posar para a 2019. Ribatejo, do Praia Sénior, Universidade c/ , Violant que o Museu Etnográfico eternidade – para uma organizou aquando da E, como em qualquer fotografia ou um quadro. Ausência produção do Arte Pública guerra, perante a au- A presença da pequena fundação edp – Artejo sência dos maridos para moldura do soldado em chamava-se A Primeira garantirem o pão na me- cima da cadeira repre- Guerra Mundial... A His- sa, as mulheres têm de senta a homenagem que tória por contar. Entre ocupar essa função e sair lhe prestam. A janela que outros aspetos, abordava de casa para trabalhar. se encontra atrás deles o chamado Milagre de O olhar de tristeza tem uma cortina ver- Tancos: nos campos do desta mulher retratada, de, rematada com uma Polígono Militar de Tancos, cabelo preso em trança, renda branca. No sopé foram treinados 20 mil é suportado pela firmeza da pintura, onde acaba soldados portugueses da postura do corpo, uma a parede e começa o em três meses, para se mão a apoiar-se na ca- chão, existe uma faixa de irem juntar ao flanco deira onde está dobrado calçada, como se fosse dos Aliados na Flandres. o uniforme do marido também ela uma renda “Fiquei com esta ideia e um retrato dele emol- que dá a volta ao edifício Acho que é um projeto muito importante: traz mais pessoas às freguesias do retrato familiar, mas durado. Essa firmeza e afaga aquela família e o roteiro ajuda a fazer a ligação entre as obras. sem a parte paternal. mostra que ocupou ela os incompleta. Benjamim Reis, presidente da Junta de Freguesia de Praia do Ribatejo, 66 anos. Só representada pela lugares de pai e de mãe

32 33 Roteiro MÉDIO TEJO • Projeto ARTEJO • Tancos • MÃOS DE ARRAIS Carlos Vicente • 2018 ARTE PÚBLICA •

ser agarrado e abraçado menagem. “[Burne] Hogarth 9 por aquela robustez de representa uma pessoa FREGUESIA: Localização: GPS: braços, em criança. Mãos com 10 braços, como se TANCOS Rua da Cabine, Latitude 39.46005739 de Arrais são as mãos mostrasse numa só ima- Tancos Longitude -8.3984524 Mãos de do seu avô. O barqueiro gem a sequência dos mo- era uma figura muito vimentos”, refere. “E isso Arrais importante na vila, dele interessa-me bastante.” dependiam alunos que Na parede à direita, está precisavam de ir para a representado um barquei- Autoria: escola ou pessoas que ro de corpo inteiro, careca, Carlos Vicente precisavam de chegar em tronco nu, calças arre- ao trabalho. No posto gaçadas acima do joelho. de transformação (PT) O seu corpo está inclinado, A chegada dos caminhos da EDP Distribuição em por causa da força que es- de ferro, em meados do Tancos, junto à linha do tá a operar sobre uma va- século XIX, abrandou a comboio, uma das faces ra maior do que ele, toda atividade portuária da tem desenhadas duas curvada. O barco não apa- região como veículo de mãos em grande plano, a rece representado, sendo transporte até Lisboa – segurarem um excerto de que os seus pés tocam nu- dali partiam muitos arte- vara. As mãos estão sim- ma faixa azul-bebé, hori- factos feitos em barro –, plesmente feitas a traço zontal, desenhada no fun- mas o barco e o barquei- preto, como se fossem um do do PT, seguida de uns ro continuaram a desem- esboço, que desta forma motivos geométricos e, penhar o seu papel, inclu- confere uma força extra, por último, uma caixa de sive o de servir de ponte uma força em potência, preto. É como se o barco às duas margens, com as àquelas mãos. fosse o próprio PT e o bar- povoações de Tancos, a queiro se encontrasse a

norte, e Arripiado, a sul. movê-lo de sítio. Ao lado 2018. Tancos, Vicente, , Carlos Barcos à vela ou a re- da vara, também pousado mos, havia batelões que sobre a faixa azul-clara, chegavam a transportar está um corvo, que na zona Mãos de Arrais duas camionetas, com é também designado por as viaturas a terem de vicente. Rematar as obras entrar de forma crono- com uma faixa negra, em metrada para não provo- baixo, é um cunho do traba- carem o afundamento da lho de Carlos Vicente para proa. Estes barcos eram o Arte Pública fundação empurrados unicamente edp – Artejo. Todas as suas por um barqueiro, que outras obras têm, igual- tinha de usar de toda a mente, remates a preto, sua força de braços para variando apenas na altu- mover o batelão e levá-lo ra que lhes confere. Nesta, à outra margem, munido há ainda a particularida- apenas de uma vara, que de de o artista ter pintado ia movendo e ancorando Numa outra face do PT, de preto e de azul-claro no leito do rio conforme está desenhada uma figu- as colunas que suportam avançava. ra que é uma referência os corrimões que dão aces- Foi essa a homena- clara de Carlos Vicente, já so ao PT, e as escadas de gem que Carlos Vicente referido em outras obras, azul-petróleo. Como se a Acho que está engraçado. É uma forma de os artistas se exprimirem e de poderem quis fazer, no caso ao seu que influenciou muito o tra- obra tivesse direito a uma ganhar mais trabalho. avô, que era barqueiro balho do artista e a quem entrada de gala. Luís Morgado, reformado, 70 anos. em Tancos. Lembra-se de aproveita para prestar ho-

34 35 Roteiro MÉDIO TEJO • Projeto ARTEJO • Tancos • NOAH, O BARQUEIRO • Violant e Carlos Vicente • 2018 ARTE PÚBLICA •

duas praxes: falarmos mais idosas. Por isso, tentei 10 sobre a importância dos conciliar essa aprovação FREGUESIA: Localização: GPS: barqueiros, que ligam as com o rio, dando amplitude TANCOS Rua da Misericórdia, Latitude 39.45891013 duas margens, que levam à obra através do nome da Tancos Longitude -8.39964867 Noah, o e trazem informação; e mesma.” receber a chegada das Vista ao perto, há vá- Barqueiro andorinhas.” Foi essa rios pormenores na obra professora quem lançou que se tornam mais visí- Autoria: numa aula a charada do veis, como os peixes que Violant e barqueiro que tinha de foram aqui representados Carlos Vicente transportar um lobo, uma não no leito do rio, mas a ovelha e uma couve para a voar. No canto direito da outra margem e, podendo imagem encontra-se tam- apenas transportar um de bém a voar uma coruja, cada vez, tinha de arranjar símbolo da sabedoria que forma de não ficar sem ne- nos remete para tudo o nhum. Ou seja: o lobo pode que em tempos foi apren- comer a ovelha e a ovelha dido dentro das quatro a couve. “Esta charada foi paredes daquele edifício. apenas o ponto de partida A água do rio sai da pare- para a obra”, esclarece de e invade o chão. “Achei Há duas leituras bastante Violant, o outro autor de que resultava. A água distintas a fazer de uma Noah, o Barqueiro. “Na espalha-se e visualmente obra, principalmente a verdade, Noé elimina a acho que ficou muito bem”, uma de grandes dimen- charada, ao colocar todos comenta Violant. “Além sões como esta Noah, o no mesmo barco. Não dei- disso, ajuda a criar uma Barqueiro. Vista de cima, xou ninguém de fora. barreira e cria assim uma da estrada, esta interven- proteção à obra.” Há tam- 2018. Tancos, Vicente, Carlos e , Violant ção de Violant e de Carlos bém um crocodilo. “O cro- Vicente na empena de codilo tem uma história”, uma antiga escola primá- conta Carlos Vicente. “Hou- ria, em Tancos, parece um ve uma altura em que foi Barqueiro o Noah, primeiro plano forçado do noticiado que tinha apare- cenário, o rio Tejo na linha cido um crocodilo na bar- do horizonte, na transver- ragem de Castelo de Bode. sal, e o desenho a mostrar Veio a saber-se que se um barqueiro de perfil, a O objetivo era também tratava de um peixe-gato transportar no barco um passar uma mensagem enorme.” Os autores de- lobo e uma ovelha. Na de união entre todos os cidiram incluir a “notícia”, cabeça, tem uma couve. animais.” Esta foi a primei- de 2011, nesta história. A seguir ao rio, num monte ra obra de Violant a ser Ou não estivemos a viver na margem inversa à de executada. “Por ter sido a numa época marcada pela Tancos, encontra-se outra primeira, e feita em parce- desinformação. povoação, Arripiado, as ria com o Carlos, achei por casas a proporcionarem bem ter uma onda mais uma mancha pixelizada simpática. Não é um tra- de brancos sobre verde. balho tão corrosivo como “Andei nesta escola os outros que fiz para o Para nós é uma mais-valia. Somos muito visitados por causa do castelo, primária. A minha profes- Arte Pública fundação edp mas há já muita gente que procura as pinturas, pessoas que param os carros sora era daquelas à anti- – Artejo”, advoga. “Este e fotografam as obras. ga”, conta Carlos Vicente. trabalho é mais polido, Ana Paula Gonçalves, secretária da Junta de Freguesia de Tancos, 54 anos. “Na escola, havia sempre tenta chegar às pessoas

36 37 Roteiro MÉDIO TEJO • Projeto ARTEJO • Vila Nova da Barquinha • VERTIGO Violant • 2018 ARTE PÚBLICA •

aberto. Em fundo, que no 11 caso representa em bai- FREGUESIA: Localização: GPS: xo, vê-se a esquadria de VILA NOVA DA Travessa de Angola Latitude 39.45828058 uma cidade vista de cima BARQUINHA Longitude -8.43042626 Vertigo – os telhados, as ruas, as estradas, as rotundas, os pequenos espaços Autoria: verdes. Num apontamen- Violant to surrealista, existe um esta imagem, que tem relógio virado para cima, um caráter cinemático.” a marcar as nove e cinco. A empena tem vários Olhamos de repente As notas a voar são de recortes, é composta para esta obra de Violant 200 e de 500 euros – as por diferentes saliên- na empena da Loja do segundas acabaram de cias. “A parede faz uma Cidadão de Vila Nova ser retiradas de circula- espécie de biombo e a da Barquinha, que cede ção. Em trajeto de queda, cena da queda acabou também espaço à sede o homem tem uma das por ser também a forma do Para-clube Boinas mais interessante de a Verdes, e podíamos estar aproveitar.” a ver, em formato de Violant refere que desenho, um frame do a obra teve uma boa filme de Martin Scorsese aceitação por parte da O Lobo de Wall Street população. Mesmo quan- (2013), que versa sobre a do ainda se encontrava a crise financeira que eclo- pintá-la, havia carros que diu em 2008, provocada paravam, tiravam foto- pelo capitalismo selva- grafias e ficavam a vê-lo gem levado a cabo por a trabalhar durante um corretores de bolsa, no bocado. Ofereceram-lhe caso a de Nova Iorque. lanche, água, café, cerve- 2018. Barquinha, da Nova Vila , Violant,

Aqui, e aproveitando o ja, enquanto trabalha é Vertigo facto de existir um clube mãos esticadas, como prática comum e em Vila de paraquedistas sedia- se pedisse a alguém que Nova da Barquinha não do no edifício, Violant pôs o segurasse, que lhe foi diferente. um homem de negócios a impedisse o desaire. Esse O título da obra, cair do céu, sem para- alguém podemos ser nós. Vertigo, pode referir-se à quedas, as notas a voa- “Esta figura de fato e sensação de vertigem – e rem por todo o lado de- gravata representa um de surdez súbita – que pois de uma pasta se ter colarinho branco, que faz pode afetar o ouvido mé- parte de um sistema hie- dio. Mas pode ser tam- rárquico em que o fim é o bém uma personagem dinheiro”, explica Violant. da Marvel Comics: uma O dinheiro não é um meio, nativa da Terra Selvagem é um objetivo, é um fim. que obteve poderes “Este homem encontra-se sobre-humanos, os quais numa situação em que o lhe permitem torturar dinheiro perdeu o valor”, mentalmente uma pessoa refere. “Como a obra está a ponto de ficar incons- situada na parede do ciente. Vertigo pode ser Estão umas obras bonitas e trazem turistas, juntamente com o castelo de Almourol clube dos paraquedistas, uma boa metáfora para e o Centro de Interpretação Templário. decidi pegar no tema da dinheiro. Carlos Lourenço, motorista de pesados de passageiros, 38 anos. queda para conceber

38 39 ARTE PÚBLICA •

Arte Pública fundação edp Agradecimentos:

Roteiro MÉDIO TEJO Aos alunos e professores do Agrupamento Projeto ARTEJO de Escolas de Vila Nova da Barquinha, CEAC – Centro de Estudos de Arte Contemporânea Curadoria Arte Pública fundação edp: e FOS – Formação Ocupacional de Seniores João Pinharanda (Universidade Sénior), polo da Praia do Ribatejo, pela participação e apoio. Coordenação Arte Pública fundação edp: Sandra Santos A todas as equipas das juntas de freguesia de Atalaia, Praia do Ribatejo, Tancos e Vila Comunicação Arte Pública fundação edp: Nova da Barquinha pelo envolvimento e apoio. Elisabete de Sá À Águas Tejo, ao Para-clube Nacional Os Textos: Boinas Verdes e a José Ferreira Marques, pela Cláudia Marques Santos disponibilização de espaços para as interven- ções artísticas. Fotografia: Pérsio Basso Um especial agradecimento a todos os Marta Poppe participantes nas assembleias comunitárias e Paulo Alexandre Coelho que apoiaram os artistas durante a execução Maria Antónia Coelho das suas obras nas freguesias de Atalaia, Praia Miguel Baltazar do Ribatejo, Tancos e Vila Nova da Barquinha. Município de Vila Nova da Barquinha

Conceção gráfica: Cláudia Baeta e Paula Dona

Revisão de texto: Joana Ambulate

Edição: fundação edp Lisboa, maio de 2019

Impressão e acabamento: Indústria Portuguesa de Tipografia, Lisboa

Nº Depósito legal: 455752/19 ISBN: 978-972-8909-82-6

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Com o apoio:

5 ROTEIRO Roteiro MÉDIOTEJO •

“Com este programa, a fundação edp contribui para levar a comunidades rurais um maior contacto com a arte, provocando, simultaneamente, uma reflexão sobre a sua função na nossa sociedade. Tem, ainda, outro mérito: o de conciliar no mesmo programa Projeto as duas principais áreas de intervenção da fundação, onde tem um percurso reconhe- cido e consistente: a inovação social e a cultura. Este é um projeto que mobiliza artis- tas e comunidades rurais num diálogo inovador que resultará num roteiro inesperado ARTEJO de arte pública e num motivo de orgulho para todas as partes envolvidas.” Miguel Coutinho Diretor-geral e administrador executivo da fundação edp

Minho Ribatejo Alto Braga Rio Maior Alentejo Crespos e Pousada Vila da Marmeleira Padim da Graça Assentiz Campo Maior Merelim (São Paio) São João da Ribeira Degolados Panoias Ribeira de São João Ouguela e Parada de Tibães Palmeira

Trás-os- Médio Algarve -Montes Tejo Vila do Bispo Barão de São João Alfândega da Fé Vila Nova da Barquinha Mexilhoeira Grande Torre de Moncorvo Atalaia Figueira Miranda do Douro Praia do Ribatejo S. Bartolomeu de Mogadouro Tancos Messines Alte Alportel ARTEPÚBLICA •

ARTE PÚBLICA •

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