31º Encontro Anual da ANPOCS, de 22 a 26 de outubro de 2007, Caxambu, MG 2007 Seminário Temático 30 - SOCIEDADE E ESPORTE Autor: FRANCISCO XAVIER FREIRE RODRIGUES Instituição: UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MATO GROSSO – UNEMAT UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL - UCS Título do paper: EMPRESÁRIOS E FUTEBOL-NEGÓCIO: CONCEPÇÃO DOS JOGADORES SOBRE A FUNÇÃO E A IMPORTÂNCIA DOS EMPRESÁRIOS NO FUTEBOL BRASILEIRO

Resumo: Este trabalho investiga a atuação dos empresários no futebol-negócio. O futebol atual se tornou um negócio rentável, o que implicou em uma maior participação dos empresários neste ramo particular da industrial cultural do entretenimento. Analisamos a concepção dos jogadores brasileiros sobre a função e a importância dos empresários no mercado futebolístico. Entrevistamos 98 jogadores profissionais em atividade. Constatamos que 78% dos jogadores estão vinculados a algum empresário. A maioria dos jogadores (73%) considera que a atuação dos empresários é positiva, pois se trata cada vez mais de uma necessidade, visto que o atleta não tem tempo e nem conhecimentos jurídicos e mercadológicos suficientes para cuidar de sua carreira. É o empresário que realmente os insere no mercado de trabalho, fazendo as negociações entre clubes e empresas de marketing.

INTRODUÇÃO

O futebol não pode ser visto apenas como um esporte, mas deve ser entendido também como um setor econômico importante da sociedade moderna. Neste paper, defendemos a idéia de que o futebol é também um dos principais aparelhos ideológicos1 estratégicos capitalistas, visto que implica na preparação das pessoas (no caso dos jogadores como atletas, trabalhadores e dos indivíduos de uma forma geral na qualidade de consumidores do espetáculo por meio da ideologia, cultura de massa, etc.) para a vida na modernidade e para a globalização (neo)liberal (atual fase do capitalismo), fazendo com que os indivíduos passem a aceitar a competição, a seleção, a flexibilidade e a busca pelos resultados como algo inerente à vida moderna, precarizando as relações pessoais, em um certo sentido. O futebol é um fenômeno multidimensional bastante complexo, que pode ser analisado a partir de diversas dimensões, seja cultural, política, social e econômica. A nossa investigação centra-se nos aspectos do futebol relacionado ao mundo do trabalho, especialmente no que se refere à modernização da legislação e das relações de trabalho. Os objetivos deste trabalho são investigar a atuação dos empresários no futebol-negócio e analisar as concepções dos jogadores brasileiros sobre a função e a importância dos empresários no mercado futebolístico. Apresentar uma caracterização geral dos jogadores brasileiros, com ênfase na origem regional, faixa etária, idade da profissionalização, níveis de renda, escolaridade e sindicalização, aprendizagem de futebol, perspectivas profissionais e passagem pelo futebol do exterior.

1 Difunde os valores da sociedade capitalista, sendo utilizado como um veículo da indústria cultural. Partimos do pressuposto de que o futebol atual se tornou um negócio rentável, o que implicou em uma maior participação dos empresários neste ramo particular da industrial cultural do entretenimento. O texto divide-se em três grandes partes: (1) a primeira apresenta uma caracterização sócio-econômica dos jogadores entrevistados; (2) a segunda analisa as concepções dos jogadores sobre a atuação dos dirigentes e dos empresários e sobre a profissionalização no futebol brasileiro; (3) a terceira parte, intitulada Considerações Finais, sintetiza as principais constatações e conclusões da pesquisa aqui apresentada.

1 CARACTERIZAÇÃO SÓCIO-ECONÔMICA DOS JOGADORES ENTREVISTADOS

Neste item apresentaremos uma caracterização geral dos nossos entrevistados, indicando- se a origem dos entrevistados segundo regiões e estados do Brasil, o número de jogadores entrevistados por clube, a idade dos atletas, a idade em que se profissionalizaram, o nível de escolaridade, o nível de renda dos jogadores, o índice de sindicalização, as formas de ingresso nos clubes (tipos de transferências), passagem de jogadores pelo futebol do exterior e as perspectivas profissionais dos atletas pesquisados.

1.1 Origem dos jogadores entrevistados por região e estado

O Gráfico 1 apresenta dados de uma pesquisa realizada em 2005/2006 com atletas das três divisões do futebol brasileiro (Séries A, B e C).

Gráfico 1 – Origem dos atletas entrevistados por região

40

30

20 39,18% 32,99% Percent

10 16,49%

7,22% 4,12% 0 Sul Sudeste Nordeste Centro-Oeste Norte Fonte: Pesquisa de Campo 2005/2006

2 O Gráfico 1 mostra a distribuição dos atletas entrevistados por região de origem. Verificamos que a maioria dos atletas pertence à região Sul (39,18%). Temos ainda 32,99% de atletas do Sudeste, 16,49% dos entrevistados do Nordeste, 7,22% do Centro-Oeste e 4,12% entrevistados da região Norte. No Gráfico 2, o leitor pode observar a distribuição dos atletas entrevistados por estado de origem. Predomina atletas dos estados de São Paulo (22,68%) e do Rio Grande do Sul (22,68%), seguidos por atletas oriundos do Paraná (11,34%), cabendo recordar que a seleção dos times incluídos na amostra, pode ter tido forte influência nessas participações, visto que 05 clubes pesquisados são do estado do Rio Grande do Sul e 01 do Paraná.

Gráfico 2 – Distribuição dos atletas entrevistados por estado de origem

25

20

15

22,6 22,6 10 8% 8%

11,3 4% 5 7,22 % 5,15 5,15 3,09 3,09 3,09 % % 3,09 3,09 2… % 2… % % % % 2… 0 1… 1… 1… 1… RS SP RJ GO SC DF PR BA MT PE CE PA AL PB MG ES MA SE Fonte: Pesquisa de Campo 2005/2006

1.2 Número de jogadores entrevistados por times e aprendizagem de futebol

Os dados relativos ao número de atletas entrevistados por times são apresentados no Gráfico 3 a seguir. O Caxias - RS foi o clube que mais teve jogadores entrevistados (13), seguido de Grêmio - RS e do Fluminense - RJ (com 11 atletas cada). Paysandu-PA (04), Vasco da Gama – RJ (04) e Curitiba – PR (07) foram os clubes que cederam menos seus atletas para entrevistas, alegando indisponibilidade de tempo dos atletas. É importante salientar a inclusão na amostra da participação de times que estão fora das Séries A e B, como é o caso do Glória de Vacaria-RS, clube que cedeu 8 atletas para nossa investigação.

3 Gráfico 3 – Número de atletas entrevistados por times

Vasco 4 Coritiba 7 Cruzeiro 10 Ponte Preta 8 Paysandu-PA 4 Fluminense 11 Fortaleza 10 Glória de Vacaria 8 Caxias 13 Juventude 5 Grêmio 11 Inter 6

0,0 2,5 5,0 7,5 10,0 12,5 Frequency Fonte: Pesquisa de Campo 2005/2006

Como pode ser visto no Gráfico 4 abaixo, a maioria dos atletas entrevistados aprendeu a jogar futebol nas escolinhas (39,18%). Esse dado é revelador de uma realidade na qual o futebol é uma modalidade sustentada pela ciência, um saber institucionalizado. Aprende-se a praticar o futebol nos espaços especializados (escolas). Por outro lado, um número significativo de jogadores acredita que não se aprende a jogar futebol, mas se nasce com o dom (31,96%), algo natural que necessita apenas ser despertado. No entanto, admite-se que nem todos os indivíduos possuem as características/elementos que os possibilitem a se tornarem atletas e jogadores de futebol. Mas, para despertar o dom, é necessário um trabalho sistemático de treinamento, algo que se recebe nas escolinhas de futebol.

Gráfico 4 – Aprendizagem de futebol

40

30

20 39,18% 31,96% Percent 26,80% 10

0 2,06% peladas/várzea nasceu sabendo escolinha não sei jogar/dom Fonte: Pesquisa de Campo 2005/2006

As peladas formaram muitos jogadores no futebol brasileiro, especialmente antes do advento das escolinhas de futebol. Alguns estudiosos do nosso futebol (FREYRE, 2003, 1971a) e (RODRIGUES FILHO, 2003) defendem que as peladas influenciaram na constituição do estilo

4 brasileiro de jogar futebol, caracterizado pela individualidade, arte e malandragem. Cerca de 26,80% dos jogadores afirmaram que aprenderam a jogar futebol nas peladas. Em nossa dissertação de mestrado2 (RODRIGUES, 2003, p. 137), constatamos que 46% dos jogadores do SC Internacional de Porto Alegre – RS aprenderam a jogar nas peladas (nos campos de várzeas), 27% dos atletas aprenderam a jogar futebol nas escolinhas, o mesmo percentual dos que responderam que já nasceram com o dom para jogar futebol.

1.3 Faixa etária dos jogadores e idade da profissionalização

Os dados expressos no Gráfico 5 referem-se à idade dos jogadores pesquisados. Percebe- se que a menor idade é de 17 anos e a maior, de 36 anos. A idade de maior freqüência é a de 23 anos, cabendo deixar claro que a média de idade dos atletas brasileiros é de 23 anos, média que consideramos relativamente baixa (mas a média de idade dos atletas na França é de 19 anos (Le Monde, 07/12/2001).

Gráfico 5 – Idade dos atletas entrevistados

12,5

10,0

7,5 13, 40 % 9,2 9,2 9,2

Percent 5,0 8% 8% 8% 7,2 6,1 6,1 6,1 2% 6,1 6,1 9% 9% 9% 9% 5,1 9% 2,5 4,1 4,1 5% 2% 2% 3,0 9% 0,0 1… 1… 1… 1… 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 36 Fonte: Pesquisa de Campo 2005/2006

De acordo com o Gráfico 6, 44,33% dos entrevistados em nossa pesquisa entre 2005 e 2006 se encontravam na faixa etária de 20 a 25 anos. Trata-se de um padrão de idade baixo e bastante adequado ao futebol moderno, o qual exige atletas novos e fortes, pois estamos em uma fase do futebol em que se valoriza demasiadamente a força e o preparo físico (CARRAVETTA, 2006; GURGEL, 2006).

2 RODRIGUES, F. X. F. A Formação do Jogador de Futebol no (1997-2002). Porto Alegre: UFRGS, 2003, ver especialmente os capítulos 4 e 5.

5 Gráfico 6 – Faixa etária dos jogadores pesquisados

50

40

30

44,33% 20

Percent 34,02% 10 15,46% 6,19% 0 até 20 anos mais de 20 até 25 mais de 25 até30 mais de 30 anos anos anos Fonte: Pesquisa de Campo 2005/2006

Conforme constatou a pesquisa, o percentual de jogadores com idade acima de 30 anos é inexpressivo no nosso futebol, representa apenas 6,19%. É necessário destacar que esse grupo de jogadores cresceu nos últimos dois anos no futebol brasileiro devido a um movimento de repatriação3 de alguns jogadores brasileiros de mais idade, considerados velhos, que estavam atuando no exterior. Percebe-se que a média de idade dos jogadores profissionais no Brasil é relativamente baixa, sendo predominante a idade entre 20 e 25 anos. A idade mínima admitida para o exercício da prática futebolística profissional no Brasil, conforme capitulo 4, é de 16 anos. Conforme o Decreto nº 2.574/89, art. 47, inciso III, é vedada aos menores até a idade de 16 anos completos exercerem a prática esportiva profissional, que pode ser exercida somente depois dos 16 anos completos (NAPIER, 2003, p. 264). A profissionalização do jogador pelo clube é facultativa entre os 16 e os 18 anos, mas torna-se obrigatória a partir dos 18 anos de idade. Para muitos garotos, o início da carreira se dá por puro prazer, mas alguns já vêem no futebol uma profissão. É visível que o início da carreira é cada vez mais precoce. A profissão de jogador de futebol tem algumas peculiaridades interessantes, entre elas o fato de que a própria formação se dá nos clubes (empresas empregadoras e não em faculdades e centros de formação profissional). Outra particularidade é o fato de que a formação profissional no mundo do futebol é longa e geralmente se inicia ainda na adolescência.

3 Repatriação significa o retorno ao futebol brasileiro de atletas nacionais que estavam atuando no exterior. Como exemplos podemos citar Zé Roberto, Amoroso, entre outros.

6 É importante registrar aqui que o atleta em fase de formação, se for maior de quatorze anos e menor de vinte anos de idade, poderá receber uma bolsa como auxílio financeiro fornecida pela entidade futebolística, antes da sua profissionalização (Art. 29 da Lei nº 10.672/03)4. A idade da profissionalização indica a entrada do atleta no time profissional e o momento em que ele assina seu primeiro contrato profissional. Como mostra o Gráfico 7, a maioria (47,92%) dos jogadores da amostra se profissionalizou com 18 anos. Um dos atletas entrevistados respondeu que se tornou profissional aos 15 anos de idade. É muito raro o atleta se profissionalizar com essa idade, por isso nossa pesquisa verificou apenas um caso desses. Uma das razões é de ordem legal, pois a lei proíbe isso, admitindo que a entidade desportiva assine contrato profissional com o atleta somente quando este tiver idade igual ou superior a 16 anos. No caso do atleta com 15 anos, não houve de fato a profissionalização, mas sua atuação pela equipe principal. A idade máxima de profissionalização encontrada entre os entrevistados foi de 21 anos, o que é também um caso excepcional, pois se trata de uma idade avançada para os padrões do futebol atual.

Gráfico 7 – Idade da profissionalização dos jogadores entrevistados

50 47,92% 40

30

25,00% 20 Percent 17,71% 10

4,17% 3,12% 0 1,04% 1,04% 15 16 17 18 19 20 21 Fonte: Pesquisa de Campo 2005/2005

É significativo também o grupo de jogadores que se tornou profissional com 17 anos, chegando a 25% do total de atletas pesquisados.

4 O Art. 29 da Lei nº 10.672/03 no seu § 4º diz o seguinte: “O atleta não profissional em formação, maior de quatorze e menor de vinte anos de idade, poderá receber auxílio financeiro da entidade de prática desportiva formadora, sob a forma de bolsa de aprendizagem livremente pactuada mediante contrato formal, sem que seja gerado vínculo empregatício entre as partes” (Lei nº 10.672/03).

7 Ao mesmo tempo, muitos jogadores assinam contratos cada vez mais cedo, também devido à necessidade dos clubes de aproveitar seus jogadores, já que não dispõem de dinheiro para comprar atletas já consagrados no mercado, e também como uma forma de garantir os direitos sobre o atleta formado, já que a Lei Pelé facilitou a transferência de jogadores, o que pode significar o roubo de atletas em formação. O contrato de trabalho prende o atleta ao clube, fazendo com que ele permaneça preso ao clube com o qual assinou contrato até o seu término.

1.4 Nível de escolaridade dos jogadores entrevistados

Um dos fatores preocupantes no campo futebolístico brasileiro é o nível de escolaridade dos atletas. Na verdade, a baixa escolaridade dos jogadores de futebol profissional constitui um elemento que torna este profissional vulnerável à precarização do trabalho, ao desemprego e à ação de agentes mal intencionados, seja durante a carreira, seja depois do seu término. Mesmo não havendo estudos sobre esta questão, os documentos registrados na CBF comprovam que, em média, os jogadores de futebol não chegam a concluir o primeiro grau. Mais adiante apresentaremos alguns dados sobre o nível de escolaridade dos jogadores pesquisados. O preocupante é que a maioria dos garotos que se decidem pelo futebol e buscam construir uma vida profissional neste esporte, abre mão de uma série de coisas (viver ao lado da família, privacidade, etc.), entre elas os estudos. Os estudos deixam de ser prioridade, ficando em segundo ou terceiro plano. Pode-se constatar que são poucos os jogadores que se mantêm estudando durante carreira, ou retomam os estudos depois do término da carreira de jogador profissional. Os atletas são iludidos pela idéia demasiadamente difundida pela mídia brasileira do “futebol- maravilha”, e acabam não percebendo que a carreira escolhida é muito curta e extremamente concorrida. Dos atletas que entram nas escolinhas são poucos os que conseguem se tornar profissionais, e destes, é pequeno também o percentual dos que terão sucesso profissional e receberão elevados salários (conforme será visto no próximo item, a média salarial é baixa, mais de 80% dos jogadores profissionais recebem em média de 1 a 3 salários mínimos, e somente cerca de 5 a 7% recebe mais de 20 salários mínimos). Existe uma idéia muito difundida no imaginário social brasileiro de que o jogador de futebol profissional é aquele indivíduo que ganha bem, é muito famoso, possui tudo que deseja, mulheres e carros importados, etc. Nós sabemos que isso não é verdade, trata-se de um mito. Concordamos com o pesquisador Paulo Favero, da USP (Universidade de São Paulo), quando afirma que

De todas as crianças que jogam futebol na rua, só uma vai virar o Ronaldinho. As pessoas costumam pensar o jogador de futebol como um cara que ganha bem, é

8 famoso, conquista as mulheres. Mas, no fundo, a maioria não vai nem conseguir emprego. [...] O futebol é uma profissão em que o mercado não cresce. Não existem mais empregos. E, se um jogador está em um clube bom, é porque existem muitos outros em clubes ruins (MARQUES, 2006, p. 1).

No caso específico do mercado futebolístico brasileiro, são poucos os jogadores que se mantêm estudando durante sua formação e/ou exercício profissional. Os que continuam os estudos são praticamente heróis, considerando as dificuldades enfrentadas. O certo é que a grande maioria interrompe os estudos para se dedicar exclusivamente ao futebol. Em relação ao nível de escolaridade dos jogadores entrevistados, o Gráfico 8 revela que a maioria (64,95%) está na faixa do II grau (ensino médio), algo significativo para o jogador de futebol, pois não dispõe de tempo para se dedicar aos estudos, e até mesmo devido à idéia muito difundida de que o profissional da bola não necessita de estudo, pois deve saber apenas jogar futebol. Muitos atletas consideram que para se aprender a jogar futebol não é necessário estudar, pois a aprendizagem dá-se na prática, através da constante repetição dos treinamentos. Cabe também destacar que 23,71% (23 atletas) dos entrevistados têm o I grau, além do elevado percentual de atletas que responderam que têm ou estão cursando o III grau, chegando a 11,34% do total de entrevistados.

Gráfico 8 – Nível de escolaridade dos jogadores entrevistados

60

40 64,95% Percent 20

23,71% 11,34% 0 I grau II grau III grau Fonte: Pesquisa de Campo 2005/2006

Mesmo sendo baixo o nível de escolaridade dos jogadores brasileiros, cresce a consciência da importância da escola na vida dos atletas, algo evidenciado a partir das entrevistas e conversas informais com os mesmos. É importante uma formação mais consistente do atleta para melhorar seu desempenho profissional fora dos campos, tais como administrar seu capital, discutir contratos, reivindicar seus direitos como profissional e como cidadão, e também para estruturar e planejar a

9 vida para o futuro profissional depois do término da carreira. O fim da carreira do jogador de futebol pode ser traumático se ele não estiver devidamente preparado. Entendemos que os clubes mantêm esforços no sentido de proporcionar escolaridade aos jogadores das categorias de base, até mesmo para cumprir obrigações da Lei Pelé (Art. 29, § 7º, inciso V)5. No entanto, é visível que alguns clubes não têm muito interesse nos estudos dos jogadores, pois a escolaridade tem forte influência na conscientização dos mesmos. Os jogadores com baixo nível de instrução tornam-se mais vulneráveis para negociar transferências, para assinar contratos, para assumir compromissos e até para expressar sua vontade. Percebe-se que muitos dos atletas não têm a compreensão exata do que estão assinando.

1.5 Nível de renda dos jogadores de futebol entrevistados

Uma das preocupações em nossas análises sociológicas acerca do futebol é desnaturalizar as visões sobre este esporte, e assim contribuir para desvendar alguns mitos que predominam nos discursos da mídia e em algumas análises acerca do futebol brasileiro. Entre os muitos mitos que permeiam o imaginário futebolístico está o de que todo jogador de futebol é milionário, um profissional sempre bem sucedido, que ganha milhões de reais. O Gráfico 9 apresenta os rendimentos dos jogadores de futebol incluídos em nossa amostra em 2005/2006, dados coletados por meio da pesquisa de campo. Somando os dois primeiros estratos de renda (de 1 a 3 SM e 4 e 6 SM), temos então 28,9% de jogadores que recebem de 1 a 6 SM, renda equivalente a R$ 2.280,00.

5 § 7º - A entidade de prática desportiva formadora para fazer jus ao ressarcimento previsto neste artigo deverá preencher os seguintes requisitos: V - ajustar o tempo destinado à formação dos atletas aos horários do currículo escolar ou de curso profissionalizante, exigindo o satisfatório aproveitamento escolar (Lei nº 10.672/03).

10 Gráfico 9 – Nível de renda dos atletas entrevistados

Rendimentos em Sálários Mínimos

30

20

26,88%

Percent 25,81%

10 17,20% 17,20%

12,90%

0 De 1 a 3 SM De 4 a 6 SM De 7 a 10 SM De 10 a 20 SM não sabe Fonte: Pesquisa de Campo 2005/2006

Em relação ao nível de renda dos jogadores de futebol, verificamos que a média salarial encontra-se entre 7 e 10 salários mínimos (26,88%). Trata-se de ma média relativamente baixa, pois fica na faixa de R$ 2.100,00 a R$ 3000,00. É significativa também a parcela de jogadores que ganha de 10 a 20 salários mínimos (25,81%). Esta faixa salarial varia de R$ 3.000,00 a R$ 6.000,00. Temos ainda 17,20% dos atletas (16 entrevistados) com renda entre 4 e 6 salários mínimos, o que representa valores que variam de R$ 1.200,00 a R$ 1.800,00. Pode-se dizer que cerca de 29% dos jogadores pesquisados ganham de 1 a 6 salários mínimos, algo em torno de R$ 300,00 a R$ 1.800,00. Diferentemente do que é divulgado pela mídia brasileira, os nossos jogadores de futebol ganham mal, os salários são baixos e são poucos os atletas que de fato podem ser classificados como milionários. Dados do Sindicato de Atletas Profissionais do Rio Grande do Sul mostram que em 2003 existiam no país cerca de 22.000 jogadores de futebol profissional. Destes, algo em torno de 3.500 estavam empregados, e 18.500 se encontravam desempregados. Dentre aqueles, 85% ganhavam salários de no máximo 3 salários mínimos mensais, 13% ganhavam até 20 salários mínimos mensais e apenas 2 % ganhavam acima deste valor6. A CBF divulgou no ano de 2000 um documento, o qual foi posteriormente dirigido ao Tribunal Superior do Trabalho, contendo as condições de trabalho e aspectos salariais dos jogadores brasileiros de futebol. No documento constava que existiam cerca de 22.585 jogadores profissionais em atividade no Brasil, distribuídos pelas seguintes faixas salariais:

6 Fonte: Sindicato dos Atletas de Futebol. 1ª Semana de Direito Desportivo, Canoas, 2003.

11

Tabela 1 – Faixas Salariais dos Jogadores de Futebol no Brasil (1999, 2000 e 2002)

Faixa salarial Nº Atletas em % em 1999 Nº Atletas % em Nº de atletas % em 2002 1999 em 2000 2000 em 2002 1 SM 10.581 51,60% 10.145 44,91% 8.638 52,9%

01 a 02 SM 6.787 33,20% 9.401 41,63% 4.987 30,5%

02 a 05 SM 1.528 7,50% 1.315 5,82% 1.289 7,9%

5 a 10 SM 474 2,30% 629 2,79% 436 2,7% 10 a 20 SM 351 1,70% 339 1,50% 293 1,8%

Mais de 20 SM 765 3,70% 756 3,35% 701 4,3%

Total 20.496 100% 22.585 100% 16.344 100,0%

Fonte: Maciel (2003, p. 57).

Os dados divulgados pela CBF mostram que existiam cerca 22 mil atletas contratados por cerca de 800 clubes em nosso país no ano de 2000. No entanto, se considerarmos que apenas 50 clubes possuem atividades o ano inteiro (participam de competições oficiais nos dois semestres do ano), pode-se concluir que existe um número grande de atletas desempregados. Na verdade, tendo em mente que cada clube tem um número de jogadores que varia entre 24 e 30, o número de jogadores com emprego durante todo o ano é mais ou menos de 1.500 (OLIVIER, 2001, p. 56). Analisando os dados acima, podemos ponderar que é elevado o percentual de atletas desempregados durante alguma fase do ano, especialmente quando os campeonatos regionais se encerram. Os pequenos clubes que disputam apenas os campeonatos regionais (estaduais), geralmente só têm atividades durante três meses, o que muitas vezes ocorre no primeiro semestre do ano, ficando os atletas desempregados por 9 meses durante o restante do ano. Estes clubes costumam dispensar todo o elenco. A tabela acima apresenta a distribuição salarial do futebol brasileiro. Verifica-se que existe uma evidente e monstruosa desproporção entre os salários pagos a alguns jogadores e os salários pagos à maioria dos profissionais do futebol. Cerca de 52,9% dos atletas recebem algo em torno de 1 salário mínimo, enquanto que 4,3% recebem acima de 20 salários mínimos. A renda dos jogadores de futebol é um dado importante, mas muito difícil de ser obtido. Os atletas e os clubes preferem não revelar exatamente os valores equivalentes aos salários. Dados da CBF revelam que 84,8% dos jogadores inscritos na entidade ganham até 2 salários mínimos. Neste universo, é necessário que se diga, aparecem jogadores de times semi-amadores. Já na elite do futebol nacional, a primeira divisão, a realidade é outra totalmente diferente. 46,6% dos jogadores da

12 primeira divisão nacional ganham de 10 a 40 mil reais, o que forma uma classe média muito bem remunerada. E apenas 1,2% tem salários inferiores a mil reais. A lista dos jogadores de futebol que recebem os maiores salário no Brasil apresenta jogadores com salário dentro do padrão europeu. Um levantamento da Revista (nº 1300, novembro de 2006, pp. 48-55) revelou que apenas dois jogadores do Santos Futebol Clube (Maldonado e Zé Roberto) ganham por mês algo equivalente ao que os 25 jogadores profissionais do Vasco da Gama recebem. Isso mostra um enorme desequilíbrio econômico no futebol brasileiro. Os dois atletas mencionados recebem mais de 600 mil reais, valor desembolsado pelo Vasco da Gama para pagar aos seus jogadores. Em 2006 os clubes brasileiros com as folhas salariais mais robustas (maiores) eram o Santos Futebol Clube, o Sport Club Corinthians Paulista, o Fluminense e o São Paulo Futebol Clube. O Santos está gastando o dinheiro que recebeu com as vendas de Robinho, Diego, Léo e Elano (mais de 40 milhões de dólares). O Corinthians – SP estava ancorado na parceria com a MSI, e o Fluminense, patrocinado pela UNIMED. João Paulo de Jesus Lopes, diretor de futebol do São Paulo Futebol Clube afirmou que “No São Paulo temos uma política com vários níveis de faixa salarial, de acordo com o status do jogador. Outros clubes também fazem isso, e são justamente aqueles que, em geral, vão bem nos campeonatos de pontos corridos, onde a organização é premiada” (Placar, nº 1300, 11/2006, p. 50). O jogador mais bem pago no Brasil é Zé Roberto, 32 anos, atleta do Santos Futebol Clube. Zé Roberto não conseguiu um clube na Europa que atendesse suas exigências e resolveu voltar ao futebol Brasil após receber propostas de alguns clubes como São Paulo e Santos. Zé Roberto assinou contrato com o Santos por 10 meses com salário mensal de 500.000 reais. Esse valor é superior ao que Carlitos Tevez recebia no Corinthians, 400.000 reais por mês. O salário de Zé Roberto tem de fato padrão europeu. O campeonato de futebol alemão apresenta salários mais modestos na Europa. Apenas cinco jogadores recebiam mais do que 180.000 euros, o salário de Zé Roberto no Bayern de Munique (Alemanha).

13 Tabela 2 - Ranking dos Salários no Futebol Brasileiro 2006 JOGADOR E CLUBE SALÁRIOS RECEBIDOS EM REAIS

Zé Roberto (Santos) 500.000 Petkovic (Fluminense) e Rogério Ceni (São Paulo) 300.000 a 350.000 Amoroso, Roger (Corinthians), Fábio Costa, Kleber, 180.000 a 220.000 Maldonado (Santos) e Romário (recebe dinheiro do Vasco e Flamengo) Magrão, Carlos Alberto (Corinthians), Marcos, Juninho 150.000 a 180.000 Paulista (Palmeiras) e Sávio (Flamengo) Élber (Cruzeiro), Fernandão (Inter-RS), Rogério, 100.000 a 120.000 Pedrinho (Fluminense), Renato César Ramírez (Flamengo) Clemer (Inter-RS), Danilo, Mineiro (São Paulo), Gabriel 80.000 a 90.000 (Cruzeiro) Fonte: (Placar, nº 1300, 11/2006, p. 51).

1.6 Sindicalização dos jogadores entrevistados e tipos de transferências

Ao aprovar a Lei nº 9.615/1998 (a chamada Lei Pelé), Pelé, o então Ministro dos Esportes, disse em um de seus discursos que os atletas brasileiros eram/são alienados e que, com aquela Lei, estava pagando uma dívida que tinha com os nossos atletas. É verdade que praticamente nenhum atleta se mobilizou para defender a proposta que a Lei trazia, de extinção do passe. Isso se deve também ao fato de que os atletas brasileiros têm pouca capacidade de mobilização e principalmente porque a organização sindical dos jogadores brasileiros é ainda incipiente. Poucos são os futebolistas que lutam de fato pelos seus direitos, ou seja, não há uma consciência de classe entre os jogadores profissionais de futebol. A organização dos jogadores brasileiros enquanto categoria profissional apresenta baixo nível, se compararmos com os da Europa, Argentina e Uruguai, países onde os jogadores defendem seus direitos e até organizam greves. A maioria de nossos atletas tem um baixo nível de escolarização. A maioria dos jogadores pesquisados tem o II grau (64,9%) como nível de instrução. No geral, a esmagadora maioria dos nossos atletas ainda tem baixa escolaridade e quase nenhuma consciência de classe. Pode-se sugerir a idéia de que o jogador brasileiro imagina que de uma hora para outra possa se tornar um multimilionário e passa a pensar apenas nele mesmo, na família e em irmãos e amigos, sem se preocupar com os colegas de profissão, pois considera que o que conseguiu no futebol é resultado exclusivamente do seu esforço. Podemos também analisar esse aspecto da seguinte forma: o atleta profissional de futebol é um verdadeiro o bóia-fria do futebol, que não tem tempo sequer para formar a consciência de classe e não se mobiliza por nada.

14 Mesmo não sendo uma classe de trabalhadores que tem tradição sindical, os jogadores de futebol estão cada vez mais procurando os sindicatos. Estes são vistos como veículos de representação dos direitos dos atletas. O presidente do Sindicato dos Atletas Profissionais do Estado de São Paulo, Rinaldo Martorelli, entende que existem grandes dificuldades para o atleta ingressar no Sindicato e disputar eleições. Segundo ele, trata-se de uma profissão que exige dele o tempo inteiro de dedicação, e fica difícil encontrar tempo para esses debates. Martorelli é vice-presidente da Federação Nacional de Jogadores e membro titular do Comitê de Litígios da Fifa. Este comitê é o mais importante órgão da Justiça Desportiva Mundial, sendo o responsável pelas sentenças das disputas entre jogadores de futebol e clubes. Martorelli também é membro titular da Federação Internacional dos Futebolistas Profissionais, o sindicato mundial dos jogadores, que tem sede na Holanda. Se considerarmos os dados relativos ao nível de sindicalização dos jogadores pesquisados, conforme pode ser visualizado no Gráfico 10, 53,61% dos jogadores de futebol são sindicalizados. Já 41,24% dos jogadores responderam que não são filiados aos sindicatos. Se considerarmos que as taxas de sindicalização dos trabalhadores no Brasil decresceram nos últimos anos, pode-se até mesmo dizer que é significativo o índice de sindicalização dos jogadores brasileiros.

Gráfico 10 – Percentual de atletas entrevistados sindicalizados

60 50 40 30 53,61% 41,24% Percent 20 10 5,15% 0 sim não não sabe Fonte: Pesquisa de Campo 2005/2006

A respeito da evidente procura pelos sindicatos por parte dos trabalhadores da bola, poderíamos sugerir a hipótese de que, nos últimos anos, aumentaram bastante os casos de jogadores que buscam seus direitos trabalhistas na justiça do trabalho, o que indica que as disputas jurídicas no esporte ultrapassaram a esfera da justiça desportiva. Sabe-se que a procura pela justiça aumentou em todos os setores da sociedade contemporânea. O aumento da sindicalização indica

15 que os atletas utilizam o sindicato como um veículo para proteger seus direitos. Percebe-se que os jogadores de futebol no Brasil estão, de fato, procurando mais os sindicatos atualmente. Analisaremos algumas formas de transferências de jogadores entre as entidades desportivas profissionais, especialmente os clubes de futebol. As principais determinações da Lei nº 9.615/24/03/1998, com alterações da Lei nº 9.981/00, da Lei nº 10654/01 e da Lei nº 10.672/03: o Art. 38 da Lei nº 9.615/1998 diz que a “cessão ou transferência de atleta profissional, na vigência do contrato de trabalho, depende de sua formal e expressa anuência (Lei nº 9.981/00)”. O artigo seguinte é mais detalhista e reza que a

transferência do atleta profissional de uma entidade de prática desportiva para outra do mesmo gênero poderá ser temporária (contrato de empréstimo) e o novo contrato celebrado deverá ser por período igual ou menor que o anterior, ficando o atleta sujeito à cláusula de retorno à entidade de prática desportiva cedente, vigorando no retorno o antigo contrato, quando for o caso (Art. 39 da Lei nº 9.981/00).

Analisando os tipos de transferências de jogadores, constatamos que o empréstimo é o principal tipo de transferência, presente em 42,06% dos casos constatados pela pesquisa (Gráfico 11). Nessa modalidade, os clubes assinam contratos longos com os atletas e os cedem (emprestam) para outros clubes durante a vigência do contrato. Trata-se, na verdade, da negociação dos direitos federativos do atleta. A negociação geralmente envolve dinheiro.

Gráfico 11 – Tipos de transferências de jogadores

50

40

30

20 42,05% Percent 30,68% 27,27% 10

0 empréstimo comprado estava sem clube e foi contratado

Fonte: Pesquisa de Campo 2005/2006

Nossa investigação constatou que 30,66% dos jogadores estavam sem clube e foram contratados. A compra de jogadores continua sendo um tipo de transferência importante no mercado futebolístico nacional. A nossa pesquisa revelou que 27,27% dos jogadores foram comprados, conforme pode ser observado no Gráfico 11 acima.

16 Com base nos resultados da pesquisa, defendemos a tese de que o número de jogadores que estavam sem clube e foram contratados por outro é um importante elemento que resultou da Lei Pelé, portanto, um dos impactos do fim do passe. Trata-se de um resultado evidente da liberdade de trabalho proporcionada parcialmente pela nova legislação.

1.7 Passagem dos jogadores pelo futebol estrangeiro e perspectivas profissionais

No caso de transferências de jogadores brasileiros para o futebol do exterior, é importante novamente ressaltar que a regulamentação obedece às determinações da Lei nº 9.615, de 24 de março de 1998, com alterações pela Lei nº 9.981/00, e pela Lei nº 10654/01 e da Lei nº 10.672/03, sendo o artigo 40 o principal mecanismo que define as normas da cessão ou transferência de atleta profissional para entidade de prática desportiva estrangeira. A nossa pesquisa constatou que 32,99% dos jogadores já passaram pelo futebol estrangeiro. É elevado o percentual de atletas que já aturam em outro país, o que evidencia que o futebol é, de fato, um mercado de trabalho globalizado (Gráfico 12). É necessário ainda destacar que 67% dos atletas não jogaram no exterior, mas que boa parte deles deseja ainda trabalhar em outro país. Cerca de 51,5% dos jogadores responderam que pretendem jogar no exterior, o que é revelador (Gráfico 13).

Gráfico 12 – Passagem pelo futebol do exterior

60

40 67,01% Percent 20 32,99%

0 sim não Fonte: Pesquisa de Campo 2005/2006

O processo de globalização tem facilitado as transferências internacionais de jogadores de futebol, abrindo novos mercados para jogadores estrangeiros. Os atletas brasileiros, obviamente, são beneficiados por esse processo. É visível que a cada ano o número de brasileiros que vão para

17 o futebol do exterior é maior. Por globalização, entendemos a crescente interdependência entre povos diferentes, regiões e países em todo o mundo, na medida em que as relações econômicas e sociais abrangem todo o mundo (GIDDENS, 2004, p. 693). Os clubes de futebol funcionam/atuam como empresas transnacionais que consolidam o comércio internacional de atletas (ROBERTSON & GIULIANOTTI, 2006, p. 13-18). É cada vez maior o número de jogadores brasileiros que já atuaram no exterior. Em 2000, um em cada quatro jogadores já havia jogado em algum clube do exterior. É grande também a lista de atletas que atuaram fora e retornaram ao Brasil. Muitos não conseguem se firmar nas suas equipes e voltam, mas outros retornam porque são atraídos pelos salários pagos por aqui, mesmo que continuem defasados em relação à Europa (Revista Placar, 2000, p. 84). No ano de 2000, dos jogadores que atuavam na primeira divisão (Série A) do campeonato brasileiro, 72,7% deles nunca tinham atuado no exterior. E 27,3% dos jogadores passaram pelo futebol do exterior7. Construímos uma tabela que mostra uma certa evolução no que se refere à passagem dos jogadores brasileiros pelo futebol do exterior. Pode-se perceber que o percentual de atletas brasileiros com passagem pelo exterior sobe de 27,3% em 2000 para 33% em 2006. Trata-se de um dado relevante para se pensar a fase atual da globalização do futebol.

Tabela 3 - Evolução da passagem pelo futebol estrangeiro

Quem já jogou em outro país CBF/PLACAR (2000) PESQUISA (2005/2006)

Nunca jogou no exterior 72,7 % 67 % Já jogou no exterior 27,3 % 33 % Fonte: CBF/Placar (2000, p. 84) e Pesquisa de campo (2005/2006).

Como mostra a Tabela 3, 33% dos jogadores pesquisados já jogaram no futebol do exterior, dado condizente com a realidade brasileira, pois o Brasil é conhecido no mundo futebolístico como o país do futebol, e um dos maiores exportadores de jogadores de futebol. Jogar no exterior é um sonho da maioria dos jogadores brasileiros, fazendo parte do projeto profissional de 51,55% dos jogadores pesquisados (Gráfico 13). Tendo isso em mente, buscaremos relacionar as mudanças atuais na legislação esportiva brasileira com as aspirações dos jogadores por atuar no exterior, devido aos salários elevados e às ótimas condições de trabalho, e

7 Entre os atletas do Grêmio - RS no ano 2000, 11 já tinham jogado no exterior (Revista Placar, 2000, p. 84).

18 possibilidades de ascensão no mundo do futebol. É grande a desproporção que existe entre os salários pagos na Europa e no Brasil. Com a nova legislação, a transferência de atletas brasileiros para o exterior se intensificou e ganhou uma nova dimensão: a precocidade com que jogadores de 16 a 18 anos deixam os campos brasileiros para atuarem no futebol europeu, sul-americano e asiático. Está acontecendo no Brasil um movimento parecido com o que já ocorreu na África. Percebe-se que os melhores talentos da África transferem-se para a Europa cada vez mais cedo. Isso explica, em parte, a presença de tantos africanos em seleções européias, como por exemplo, a da França. As transferências de jovens atletas brasileiros para o futebol europeu e asiático têm implicado no denominando movimento de “africanização do futebol brasileiro” (Folha de São Paulo, 15/07/2003)8. A história recente do futebol mostra que o Brasil tornou-se país exportador de jogadores de futebol a partir da década de 1930. Com o fim do passe, os clubes (e mercados) compradores foram beneficiados pelo fato de que não é mais necessário “comprar” o “passe” do atleta, mas pagar a rescisão contratual (em caso de o atleta encontrar-se empregado em um clube brasileiro) ou acertar o pagamento do salário com o jogador (se este não tiver contrato com algum clube). Se o fim do passe possibilita ao atleta (trabalhador) escolher e decidir onde trabalhar, ele estabeleceu a liberdade de trabalho e criou condições para desburocratizar as transferências internacionais, favorecendo ao aumento das exportações de atletas, porém não pode ser apontado (culpado) como a única e principal causa. Considerando que os atletas têm objetivos e ambições profissionais diversas, nossa pesquisa procurou verificar quais seriam as principais perspectivas profissionais dos atletas. A principal expectativa profissional de cada atleta entrevistado está apresentada no Gráfico 13. As expectativas dos jogadores são jogar no exterior (51,55%), na seleção brasileira (38,14%) e também no futebol do eixo Rio de Janeiro-São Paulo (6,19%), considerado o centro do futebol brasileiro. É necessário destacar que este último elemento apareceu entre os jogadores de outros estados do nosso país.

8 O presidente do Clube dos Treze, Fábio Koff, se referiu a essas transferências como uma africanização do futebol brasileiro.

19 Gráfico 13 – Perspectivas profissionais dos jogadores entrevistados

60 50 40 30 51,55%

Percent 20 38,14% 10 6,19% 0 3,09% 1,03% continuar no jogar no eixo jogar no jogar na não sabe mesmo estado RJ-SP exterior seleção Fonte: Pesquisa de Campo 2005/2006

Se os jogadores pretendem mesmo jogar no futebol estrangeiro, é também porque, quando o atleta se transfere para outro país, crescem suas possibilidades de enriquecimento e também de alcançar a seleção brasileira – obviamente que isso depende muito do país em que se está atuando. O futebol europeu favorece muito o jogador no sentido de que lhe dá mais visibilidade, algo importante para se chegar ao selecionado nacional.

2 DIRIGENTES, EMPRESÁRIOS E PROFISSIONALIZAÇÃO NO FUTEBOL BRASILEIRO

Na década de 1930, a solução encontrada para resolver a crise pela qual passava o futebol brasileiro foi a profissionalização dos jogadores. No início do século XXI a tendência parece ser a da profissionalização dos dirigentes e a adoção do modelo de administração empresarial que resguarde a história dos clubes e ao mesmo tempo permita a sua modernização gerencial. No entanto, para ser bem sucedida, esta mudança precisa ser acompanhada de uma reorganização da atual estrutura de poder, proporcionando aos clubes mais autonomia para organizarem os torneios e campeonatos e para explorar melhor o grande potencial popular que eles conseguiram ao longo da sua história, e ao mesmo tempo diminuir a dependência da televisão como fonte de renda para a sua sobrevivência. Esta seção tem por objetivo analisar a percepção dos jogadores entrevistados sobre as causas da crise atual do futebol brasileiro. Aborda a avaliação dos jogadores sobre os dirigentes das federações de futebol no Brasil, bem como a profissionalização dos dirigentes de clubes e federações de futebol no Brasil. Trata também da concepção dos jogadores sobre a importância do

20 empresário no futebol. Analisa, ainda, a percepção dos jogadores sobre os fatores importantes para se ter sucesso no futebol do exterior.

2.1 Percepções dos jogadores sobre as causas da crise do futebol brasileiro

Esta seção aborda a situação atual do futebol brasileiro, enfatizando a percepção dos jogadores sobre as causas da crise, as transferências, a atuação dos empresários e a profissionalização dos dirigentes do esporte brasileiro. Analisamos também os principais fatores apontados pelos entrevistados para o jogador obter uma carreira de sucesso no exterior. O futebol brasileiro atravessa uma grande crise de ordem financeira, administrativa, política, moral e até mesmo técnica. A crise financeira dos clubes (dívidas com fornecedores, com a Previdência Social, empobrecimento), das federações e jogadores é um indício dessa precária situação pela qual passa nosso futebol. A crise política e moral pode ser verificada nos esquemas de corrupção, compra de árbitros, suborno, etc., algo muito presente no campeonato brasileiro de 2006. A crise técnica se verifica no nível técnico de nossos times e atletas e, por último, no suposto fracasso da seleção brasileira na Copa do Mundo disputada na Alemanha. Não temos dúvidas de que uma das causas dessa suposta crise técnica é o êxodo de jogadores brasileiros, que buscam novos mercados. É verdade que os jogadores brasileiros deixam os gramados nacionais para atuar em outros países também por razões econômicas, buscam melhores salários e condições de trabalho. A globalização do esporte com a abertura do mercado europeu para os jogadores internacionais e as disparidades econômicas entre o Brasil e a Europa, o principal mercado do futebol no mundo, contribuiu para aumentar a saída de jogadores brasileiros para o exterior. Os elevados salários pagos aos principais jogadores mundiais praticamente inviabilizam, de certa forma, a permanência de grandes jogadores em um país com a estrutura econômica do Brasil. Os clubes brasileiros não dispõem de receitas para uma estrutura com o nível de gasto semelhante aos dos clubes europeus. Diante dessa reconhecida crise que o nosso futebol atravessa, é importante a ação efetiva de governos, clubes, atletas e federações para tomar medidas no sentido de melhorar a situação do futebol brasileiro. Muitas análises esquecem de mencionar o papel e a responsabilidade dos governos frente ao mercado futebolístico. Nós entendemos que os governos também são atores nesse campo social esportivo, sendo dotados de interesses e estratégias de ação (BOURDIEU, 2000, 1993,1983). Sendo o governo um ator importante, consideramos que ele deveria buscar instituir um caminho que não obstruísse a iniciativa privada, mas a estimulasse, investindo em infra-estrutura e

21 criando mecanismos institucionais para um desenvolvimento mais consistente da indústria futebolística nacional. É importante ressaltar que o êxito do futebol brasileiro, com a formação de grandes jogadores e com as conquistas memoráveis (cinco títulos mundiais), pouco devem aos governos. Em relação aos clubes e federações, é evidente a necessidade da implantação de gestões profissionais (empresariais) e sérias, com base em nossa realidade econômica e social, para não se aventurarem em investimento sem retorno. Mesmo tendo o modelo europeu como modelo, não devemos simplesmente imitá-lo, sem uma cuidadosa adaptação à nossa realidade. Alguns analistas apontam que é mais fácil administrar o futebol francês, inglês, italiano e o espanhol devido ao fato de que são países em estágio avançado da modernidade e também por que o território de tais países permite essa administração, mas o nosso, por sua imensidão, exige soluções que com ele se harmonizem (PERRY, 2000). Mesmo sendo evidente a crise do futebol brasileiro e sabendo-se que existem algumas causas objetivas, como as já mencionadas acima, questionamos os jogadores em nossa pesquisa sobre o que eles consideram a principal causa da atual crise do futebol brasileiro. O Gráfico 14 abaixo ilustra as concepções dos atletas entrevistados acerca da principal causa da crise do futebol brasileiro. Para 51,55% dos jogadores entrevistados, a incompetência dos dirigentes é o que tem provocado a crise do nosso futebol. Trata-se de uma questão de ordem administrativa, pois estaria faltando competência gerencial para inserir o nosso futebol na modernidade. Constatamos, também, que cerca de 74% dos jogadores são a favor da profissionalização dos dirigentes de futebol (ver Gráfico 16). Isso seria uma medida importante para tornar a indústria do futebol no Brasil mais forte, capaz de competir com maiores chances no futebol globalizado e cada vez mais empresarial, tal como se encontra na Europa. Uma importante parcela de jogadores (17,53%) elegeu a atuação dos empresários como sendo a principal causa da crise do futebol brasileiro. A atuação dos empresários ganhou novos contornos e tornou-se mais acentuada com a Lei Pelé. No geral, esta é a segunda causa mais importante da crise do futebol brasileiro, na concepção dos jogadores entrevistados. Alguns jornalistas e dirigentes também pensam como a este grupo de atletas.

22 Gráfico 14 – Percepção dos jogadores sobre causas da crise do futebol brasileiro

60

50

40

30 51,55%

Percent 20

10 15,46% 17,53% 10,31% 5,15% 0 incompetência crise financeira atuação dos a Lei Pelé não sabe dos dirigentes do país empresários Fonte: Pesquisa de Campo 2005/2006

Como indica o Gráfico 14, cerca de 15,55% dos atletas entrevistados apontaram a crise financeira do país como a causa maior da crise do nosso futebol. Trata-se aqui de um fator externo ao futebol. Somente uma análise mais ampla poderia comprovar esta suposição. No entanto, é sabido que a crise econômica também afeta o futebol, visto que este é apenas um ramo da economia do entretenimento e sua dinâmica depende do crescimento econômico do país. É surpreendente que apenas (10,31%) acreditem que a Lei Pelé é a causa principal da crise do futebol brasileiro. Surpreende-nos pelo fato de que poucos são os atletas que possuem instrumentos para fazer uma análise ponderada e profunda da realidade futebolística, o que implica que grande parte dos atletas expressa o que é pensando e produzido pela mídia e pelos dirigentes. E boa parte dos jornalistas e dirigentes atribuem a crise do futebol brasileiro à Lei Pelé, o que é um equívoco, ao nosso ver. Discordamos dessa visão, pois a referida lei veio modernizar o futebol, flexibilizar as relações de trabalho9 e trouxe benefícios para clubes e jogadores. Os dirigentes que defendem essa idéia o fazem exatamente porque perderam privilégios e espaço nas negociações de atletas ou tiveram seus lucros afetados. As mobilizações dos cartolas contrárias ao fim do passe tinham razões além das preocupações com a situação financeira dos clubes. Entre elas destacamos o medo desses agentes perderem os ganhos obtidos nas transações de jogadores, que poderiam ser ameaçados com o fim do passe.

9 A flexibilidade no sentido de um modelo de desregulamentação e mudanças no papel e na extensão das leis (SUPERVIELLE & QUIÑONES, 2000, p. 24).

23 As entidades de prática futebolística profissional no Brasil precisam buscar estratégias de gestão compatíveis com o atual contexto econômico-futebolístico mundial, adotando também a profissionalização de sua gestão, ao invés de apenas culpar a nova legislação pela crise financeira, pois os passes não deveriam ser a principal fonte de receita dos clubes. Parte da crise do futebol nacional tem raízes na incompetência e desonestidade dos cartolas. Eles representam mesmo facetas da cultural patriarcal e clientelista brasileira. As análises acima evidenciam as diferentes posições dos atores sociais envolvidos no campo esportivo (jogadores, dirigentes e jornalistas) acerca das principais causas da atual crise do futebol brasileiro. Como nos lembra Bourdieu (1983, 1988, 1993, 2000), as lutas/disputas econômicas e simbólicas são constantes nos campos e podem ser melhor entendidas por meio da análise dos interesses e posições de cada um dos atores participantes do campo.

2.2 Avaliação dos jogadores sobre os dirigentes das federações de futebol no Brasil

Uma avaliação mais direta dos dirigentes do futebol brasileiro realizada pelos jogadores entrevistados em nossa pesquisa pode ser verificada no Gráfico 15.

Gráfico 15 – Avaliação dos jogadores sobre dirigentes da CBF e das federações estaduais

60

50

40

30 52,58%

Percent 20

21,65% 10 17,53% 8,25% 0 competentes e honestos incompetentes defendem apenas seus não sabe interesses particulares

Fonte: Pesquisa de Campo 2005/2006

A imprensa e grande parte da sociedade civil que acompanha o futebol brasileiro tende a avaliar mal a atuação dos nossos dirigentes de clubes e federações. De certa forma, já está impregnada no imaginário social uma certa associação entre dirigentes de clubes de futebol e desonestidade, corrupção. O que é lamentável, mas existe esse sentimento. Em relação aos jogadores de futebol no Brasil, nossa pesquisa constatou que cerca de 52,58% dos atletas acreditam que os dirigentes da Confederação Brasileira de Futebol e das federações estaduais de

24 futebol defendem apenas seus interesses particulares e estão preocupados com o enriquecimento pessoal. Estariam apenas interessados em enriquecer através dos clubes e federações, e não exatamente empenhados na gestão eficiente do futebol. Esta é uma avaliação comparável à que se faz dos nossos políticos. Estes se utilizam dos cargos públicos para gerir seus negócios, configurando aquilo que se chamou no Brasil de privatização do público pelo privado (DA MATTA, 1982; SOUZA, 2003). Analisando com precisão os dados do Gráfico 15, percebemos que a avaliação dos jogadores entrevistados sobre os dirigentes é bastante negativa. Além dos 52,58% de atletas que afirmaram que os dirigentes defendem apenas seus interesses quando estão ocupando cargos de gerência nos clubes e federações, temos ainda 21,65% dos jogadores acreditam que os dirigentes são incompetentes. Se esta avaliação está correta, pode-se sugerir a idéia de que o futebol brasileiro encontra-se em grave situação, pois os dirigentes são incompetentes e ainda defendem seus interesses, e não os do futebol como um todo. Talvez isso explique parte da atual crise do nosso futebol. No entanto, para 17,53% dos jogadores entrevistados em todo o país, os dirigentes do nosso futebol são honestos e competentes. Trata-se aqui de um julgamento extremamente positivo, mesmo que seja feita por um percentual baixo de jogadores (Gráfico 15).

2.3 Percepções dos jogadores sobre a profissionalização dos dirigentes de clubes e federações de futebol no Brasil

A respeito da profissionalização dos dirigentes esportivos no futebol brasileiro, os jogadores entendem que é uma necessidade cada vez mais urgente na atual fase do futebol-negócio. Trata- se, portanto, de uma dimensão do futebol empresarial globalizado. A nossa pesquisa constatou que 74,23% dos jogadores são a favor da profissionalização dos dirigentes de clubes e federações (Gráfico 16). Isso mostra uma tendência de que o dirigente profissional tem, supostamente, outras responsabilidades com os clubes, tratando o futebol como um negócio, de forma mais racional. Algumas conversas que tivemos com alguns atletas revelaram esse sentimento.

25 Gráfico 16 – Opinião dos jogadores sobre profissionalização dos dirigentes de clubes e federações

80

60

40 74,23% Percent

20

16,49% 9,28% 0 sim não não sabe Defende a profissionalização dos dirigentes Fonte: Pesquisa de Campo 2005/2006

No que se refere à profissionalização dos dirigentes esportivos, a maioria dos agentes que atuam no campo futebolístico defende essa bandeira. Alguns clubes europeus, como Milan AC, Real Madrid, Manchester, são exemplos claros de que uma gestão profissional é extremamente necessária no futebol-negócio. Sem dúvida, os clubes europeus, particularmente os acima mencionados, são ótimos exemplos de uma gestão profissional do futebol-negócio. A profissionalização dos dirigentes tem sido apresentada como uma das condições fundamentais para a modernização do futebol brasileiro. E se entendermos o futebol profissional atual como um ramo da economia, é aceitável que haja a necessidade de uma gestão eficiente desse negócio. O Manchester United, considerado um dos mais ricos clubes de futebol do mundo, profissionalizou sua administração e, para isso, contratou profissionais de bancos e outras áreas para formar seus quadros. Este clube possui departamento financeiro voltado também para valorizar suas ações na Bolsa de Valores de Londres. Temos acima um argumento a favor da profissionalização dos dirigentes esportivos combinada com uma boa performance dentro de campo. É pensando em suprir essa demanda por gestores esportivos profissionais que estão surgindo cursos de especialização em Administração e Marketing do Esporte (A Escola Superior de Propaganda e Marketing e a Fundação Getúlio Vargas já realizaram alguns cursos desta natureza). Depois de analisar o discurso dos atletas e a opinião da imprensa esportiva sobre a crise do futebol brasileiro, podemos concluir que, se na década de 1930 a solução encontrada para resolver a crise do futebol brasileiro foi a profissionalização dos jogadores, no início do século XXI a tendência dominante aponta para uma solução a partir da profissionalização dos dirigentes e da

26 adoção de um modelo de administração empresarial que resguarde a história dos clubes e ao mesmo tempo permita a sua modernização gerencial. Nossa pesquisa constatou que a maioria dos jogadores (74,23%) é a favor da profissionalização dos dirigentes esportivos. E apenas 16,49% são contrários ao processo de profissionalização dos dirigentes.

2.4 A Importância do empresário no futebol-negócio: a visão dos atletas entrevistados

2.4.1 Percentual de atletas entrevistados que possuem empresário

Este item trata da importância dos empresários10 no mundo do futebol a partir da concepção dos atletas entrevistados. É importante também saber qual avaliação que os atletas brasileiros fazem acerca da atuação dos empresários no futebol. O futebol se tornou um negócio rentável, o que implicou na maior participação dos empresários neste ramo particular da industrial cultural do entretenimento. Parte da imprensa nacional costuma culpar os empresários pela atual crise que vive o futebol brasileiro. Segundo o discurso de parte da imprensa esportiva, os empresários estariam assumindo funções antes atribuídas aos dirigentes de clubes, o que implicaria no agravamento da situação financeira de alguns clubes. Como pode ser visto no Gráfico 17 a seguir, 78,35% jogadores entrevistados possuem empresário. Este percentual elevado é revelador de um ramo da indústria do entretenimento em crescente empresariamento.

10 Existem mais de 167 empresários atuando no futebol brasileiro. São eles os responsáveis pela representação dos jogadores nas negociações.

27 Gráfico 17 – Percentual de atletas vinculados a empresário

Tem empresário

80

60

40 78,35% Percent

20

21,65%

0 sim não

Fonte: Pesquisa de Campo 2005/2006

O empresário tem um papel relevante no mercado futebolístico atual, pois o futebol se tornou um negócio que necessita de uma gestão profissional, por parte dos clubes (a nível macro), e também por parte dos atletas (no que se refere à gestão da carreira, contratos, etc.). Existem mais de 167 empresários atuando no futebol brasileiro. São eles os responsáveis pela representação dos jogadores nas negociações. Em agosto de 2001, dos 501 jogadores inscritos no campeonato brasileiro, 379 possuíam empresário ou procurador. Entre os empresários existem os mais famosos e ricos que são responsáveis por um número maior de atletas. Segundo levantamento da Revista Placar (14/08/2001, n. 1192, pp. 40-43), os 25 empresários mais importantes cuidam de 199 jogadores, algo em torno de 53% dos atletas com empresário. A Revista inglesa World Soccer divulgou matéria sobre os empresários mais ricos do mundo, e apontou Jorge Machado, Reinaldo , Alexandre Martins e Juan Figer entre os 50 mais ricos do mundo.

Tabela 4: Número de jogadores por empresários EMPRESÁRIO Número de Jogadores Juan Figer/Marcel Figer 17 Antônio Tillemont 16 Oliveira Júnior 15 Reinaldo Pita/Alexandre Martins 14 Léo Rabello 14 Gilmar Rinaldi 13 Luiz Tavera 10 Gilmar Veloz 9 Eduardo Huram 8

28 Jorge Machado e Wagner Riberio 7 Antônio Galante, Cadmo Torres, Ely Coimbra Filho, Sérgio Leismann 6 Baltazar, Francisco Dambrós, José Luiz Morel, Marcelo Viana, Tadeu Oliveira 5 Adilson Gomes, Carlos Roberto, Cláudio Guadagno, Marlene Mattos, Pedrinho 4 Vicençote Fonte: Placar (n. 1192, 14 de agosto de 2001, p. 41).

A tabela acima mostra o ranking dos empresários, os maiores negociadores de jogadores que atuam no futebol brasileiro. É necessário ressaltar que a existência do empresário não é um mal no futebol, pois se trata de um ator importante no futebol-negócio, visto que em muitos casos os atletas não se julgam capazes e/ou não tem tempo suficiente para cuidar dos contratos e das negociações. Geralmente, o empresário/procurador leva cerca de 10 a 15% das negociações dos atletas. O jogador , por ser mais esclarecido do que a maioria dos atletas, dispensava empresário e cuidava de seus negócios na época em que atuava como futebolista profissional. Dos 501 jogadores do campeonato brasileiro da primeira divisão inscritos em 2001, apenas 122 afirmaram que não tinham empresário. A figura do empresário ainda está associada à mutreta, é manchada por causa de alguns desonestos. O Caso de Juan Figer que foi denunciado pelas CPI da Câmara por evasão de divisas, sonegação fiscal, passaportes falsos, etc. Alguns jogadores são representados por familiares: o caso de Fábio Rochemback quando atuava pelo SC Internacional de Porto Alegre-RS. Quem cuidava dos negócios do atleta era seu pai, senhor Juarez Rochemback, até a negociação com o Barcelona por 12 milhões de dólares em 2001. Jorge Machado e Marco Rossi prometeram uma negociação milionária com a Europa ao jogador e passaram a representá-lo. O empresário é importante nas grandes negociações, especialmente com o exterior.

2.4.2 Avaliação dos jogadores sobre a atuação dos empresários no futebol brasileiro

Quando se trata da avaliação dos jogadores sobre os empresários no futebol temos a seguinte avaliação/cenário: cerca de 73,20% dos jogadores consideram que a atuação dos empresários é positiva, pois se trata cada vez mais de uma necessidade, visto que o atleta não tem tempo e nem conhecimentos jurídicos e mercadológicos suficientes para cuidar de sua carreira (Gráfico 18). Os jogadores afirmaram que é o empresário que realmente os insere no mercado de trabalho, fazendo as negociações entre clubes e jogadores. Muitos empresários são verdadeiros proprietários dos direitos federativos dos atletas. Portanto, mesmo que os empresários não sejam

29 bem vistos no mundo do futebol por alguns críticos, entre os jogadores brasileiros eles gozam de grande prestígio, tendo uma atuação bastante valorizada.

Gráfico 18 - Opinião dos jogadores sobre atuação dos empresários

8,25% positiva, necessária para inserir atleta no 18,56% mercado negativa. Buscam ganhar com a venda dos atletas não é importante e nem necessária

73,20%

Fonte: Pesquisa de Campo 2005/2006

Isso também fica evidente pelo percentual de jogadores que possuem empresário. Mais de 78,35% dos atletas do futebol brasileiro possuem empresários, o que é condizente com a avaliação que os mesmos têm sobre os empresários (ver Gráfico 17, sobre atletas que possuem empresários). Não temos dúvidas de que o empresário é um agente importante no mundo futebolístico, tendo cada vez mais inserção nesse mercado globalizado. No entanto, para 18,56% dos jogadores entrevistados, a atuação dos empresários é negativa, pois eles buscam apenas ganhar dinheiro através da venda de atletas. Os atletas seriam objetos de troca entre clubes e empresários. Esta parcela de jogadores entende que os empresários não são importantes no futebol e se aproxima bastante do percentual de atletas que não têm empresário, equivalente a 8,25% dos jogadores pesquisados. É possível sobreviver no futebol sem empresário, mas este tem cada vez mais um papel destacado, inclusive nas transferências internacionais de jogadores (Gráfico 18). Já ressaltamos algumas vezes que o empresário é cada vez mais importante no futebol- negócio. A grande maioria dos jogadores possui empresário (78,35%). Esse dado é importante, pois hoje o empresário é um ator que impulsiona o futebol, ele insere o jogador no mercado de trabalho. Negocia os direitos federativos dos atletas com clubes. Apenas 21% dos jogadores não estão vinculados a empresário. No entanto, mesmo sem empresário o atleta pode ter sucesso no futebol, pode negociar seus direitos federativos e se inserir no mercado futebolístico. Os atletas consideram que o empresário é um agente que possibilita até mesmo a entrada do jogador no futebol estrangeiro.

30 A figura do empresário de jogadores de futebol, ou seja, o agente de atletas, tem sido bastante questionada nos últimos anos. São muitas as opiniões negativas a respeito da atuação do empresário no futebol. Se considerarmos a posição de outros atores do campo futebolístico acerca dos empresários no futebol brasileiro, como jornalistas e sindicalistas, podemos perceber que os interesses e as concepções são diferentes, e até mesmo conflitantes nesse campo esportivo (no sentido utilizado por Pierre Bourdieu, 1993, 2000). Muitos dos empresários se preocupam unicamente com os ganhos obtidos por meio de negociações de atletas e acabam tratando o atleta como mercadoria. Se o futebol profissional atualmente é um negócio, e não temos dúvidas em relação a isso, então é admissível que este negócio seja tratado de forma empresarial. Para isso, é importante regulamentar e, sobretudo, controlar e fiscalizar as ações dos empresários e agentes de atletas. Logo, há necessidade de empresários no meio futebolístico. A atividade de empresário é importante no futebol, e não temos dúvidas de que existem empresários corretos, honestos e que beneficiam seus empresariados. Foram as transformações sofridas pelo futebol que criaram as condições para o advento do empresário, bem como a necessidade de sua existência. Atualmente, alguns jogadores perceberam que é muito melhor e mais prático ter uma pessoa para cuidar dos seus interesses do que eles próprios sofrerem o desgaste de uma negociação. Por isso, é de responsabilidade do atleta escolher um bom agente para representá-lo no mercado futebolístico.

2.4.3 Percepções dos atletas sobre a importância do empresário para se transferir para o futebol do exterior

Nossa pesquisa constatou que, do total de atletas entrevistados, 87,63% afirmaram que é muito importante ter um empresário para se transferir para o futebol do exterior (Gráfico 19). Isso revela que os jogadores têm consciência de que o empresário é um agente central no mercado futebolístico globalizado. A atuação do empresário torna-se importante exatamente porque ele tem uma visão mais ampla do mercado futebolístico. Os jogadores também destacam que a figura do empresário é fundamental, até mesmo para se ter sucesso no futebol do exterior, e não apenas no processo de transferência.

31 Gráfico 19 – Concepção dos jogadores sobre importância do empresário para se transferir para o exterior importância do empresário para se transferir para o exterior

100

80

60

Percent 87,63% 40

20

11,34% 0 1,03% sim não não sabe

Fonte: Pesquisa de Campo 2005/2006

2.4.4 Concepção dos jogadores sobre as funções dos empresários depois do fim do passe

Já foi mencionado anteriormente que a atuação do empresário no futebol ganhou ainda mais importância na fase do futebol-negócio. No caso especifico do Brasil, sabemos que esta fase é recente e teve impulso especial com a modernização que a Lei Pelé empreendeu. Alguns dirigentes e jornalistas costumam dizer que os empresários passaram a assumir funções anteriormente desempenhadas pelos dirigentes. É verdade que os empresários estão cada vez mais presentes na intermediação das transferências de jogadores de futebol, pois são agentes que negociam valores e condições de trabalho dentro do campo futebolístico. Os jogadores também entendem que os empresários assumiram funções dos dirigentes com o fim do passe e a flexibilização das relações de trabalho no futebol brasileiro. Esse é o pensamento de 67,01% dos atletas entrevistados em nossa pesquisa (conforme Gráfico 20). Apenas 17,53% dos jogadores discordam e responderam que os empresários não assumiram funções dos dirigentes com o fim do passe (Gráfico 20).

32 Gráfico 20 – Percepção dos atletas sobre as novas funções dos empresários

Os empresários assumiram funções dos dirigentes com o fim do passe

60

40

67,01% Percent

20

17,53% 15,46%

0 sim não não sabe

Fonte: Pesquisa de Campo 2005/2006

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O trabalho investigou a atuação dos empresários no futebol-negócio. Analisou a Analisamos a concepção dos jogadores brasileiros sobre a função e a importância dos empresários no mercado futebolístico. Abordou inicialmente a origem dos atletas por estado e região, o nível de escolaridade dos jogadores, o nível de renda, a sindicalização, a idade da profissionalização, os tipos de transferências, as perspectivas profissionais dos jogadores e a avaliação dos mesmo sobre as crises, os dirigentes e a profissionalização no futebol brasileiro. A seguir, são resumidas as principais constatações do trabalho, construídas ao partir das evidencias apresentadas ao longo do paper: • Quanto à idade da profissionalização dos atletas entrevistados, constatamos que a maioria (47%) se profissionalizou com 18 anos. A atual legislação admite que a idade mínima para o atleta assinar o primeiro contrato de trabalho como profissional é de 16 anos. A profissionalização do jogador pelo clube é facultativa entre os 16 e os 18 anos, mas torna-se obrigatória a partir dos 18 anos de idade. • Em relação ao nível de escolaridade dos jogadores entrevistados, constatamos que a maioria (64,9%) está na faixa do II grau (ensino médio), algo significativo para o jogador de futebol, visto que estes profissionais não dispõem de tempo para se dedicar aos estudos, e também devido à idéia, muito disseminada na mídia e entre os futebolistas, de que o profissional da bola não

33 necessita de estudos. Nas entrevistas com alguns atletas constatamos esse tipo de pensamento. • No que diz respeito à renda dos jogadores de futebol no Brasil, as estatísticas mostram que cerca de 80% dos atletas profissionais ganham de 1 a 4 salários mínimos. No entanto, a nossa amostra apresentou um nível de renda mais elevado devido ao fato de que grande parte dos entrevistados era formada por atletas que jogam nos grandes clubes brasileiros, na elite do futebol. Por isso, cerca de 25,8% responderam que ganha de 7 a 10 salários mínimos. • Em relação à sindicalização dos jogadores entrevistados, a tese mostra que mais de 50% dos atletas são filiados aos sindicatos. • Quanto ao tipo de transferência de jogadores, verificamos que 40,2% foram emprestados, 33,3% estavam sem clube e foram contratados e 26,8% haviam sido foram comprados. • A nossa pesquisa constatou que 33% dos jogadores já passaram pelo futebol estrangeiro, o que mostra que é elevado o percentual de atletas que já atuaram em outro país, o que evidencia que o futebol é, de fato, um mercado de trabalho globalizado. O processo de globalização tem facilitado as transferências internacionais de jogadores de futebol, abrindo novos mercados para jogadores estrangeiros. Os clubes de futebol funcionam, efetivamente, como verdadeiras empresas transnacionais que consolidam o comércio internacional de atletas (ROBERTSON & GIULIANOTTI, 2006, p. 13-18). • As expectativas profissionais dos jogadores entrevistados são: jogar no exterior (51%), na seleção brasileira (38%) e também no futebol do eixo Rio de Janeiro-São Paulo (6%). • Manifestando-se a respeito das causas da crise do futebol brasileiro, os atletas apontaram as seguintes razões: a incompetência dos dirigentes (51,5%), a atuação dos empresários (17,5%), crise financeira do país (15,5%) e a Lei Pelé (10,3%). Algumas causas são externas ao futebol. • A avaliação dos jogadores sobre a atuação dos dirigentes do esporte brasileiro é a seguinte: 52% de atletas afirmaram que os dirigentes defendem apenas seus interesses quando estão ocupando cargos de gerência nos clubes e federações, e 21% dos jogadores acreditam que os dirigentes são incompetentes. No entanto, para 15,5% dos jogadores entrevistados em todo o país, os dirigentes do nosso futebol, em todo o país, são honestos e competentes. • Em relação à necessidade de uma gestão profissional dos clubes e do futebol em geral, constatamos que mais de 74,2% dos jogadores entrevistados são a favor da profissionalização dos dirigentes de clubes e federações. • Sendo o futebol um negócio rentável, em processo de empresariamento, é compreensível que estejamos assistindo a um movimento de maior participação dos empresários neste ramo

34 particular da industrial cultural do entretenimento. Isso se revela também no fato de que 78,4% dos jogadores entrevistados possuem empresário. • Tratando-se da avaliação dos jogadores sobre os empresários no futebol, constatamos que cerca de 73% dos jogadores consideram que a atuação dos empresários é positiva, pois se trata de um agente que insere o atleta no mercado, visto que o atleta não tem tempo e nem conhecimentos jurídicos e mercadológicos suficientes para cuidar de sua carreira. No entanto, para 18,6% dos jogadores entrevistados, a atuação dos empresários é negativa, pois eles buscam apenas ganhar dinheiro através da venda de atletas. • Os jogadores consideram que os empresários estão assumindo funções dos dirigentes com o fim do passe e a flexibilização das relações de trabalho no futebol brasileiro. Esse é o pensamento de 67% dos atletas entrevistados.

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