Franciscorodrigues EMPRESARIOS

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31º Encontro Anual da ANPOCS, de 22 a 26 de outubro de 2007, Caxambu, MG 2007 Seminário Temático 30 - SOCIEDADE E ESPORTE Autor: FRANCISCO XAVIER FREIRE RODRIGUES Instituição: UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MATO GROSSO – UNEMAT UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL - UCS Título do paper: EMPRESÁRIOS E FUTEBOL-NEGÓCIO: CONCEPÇÃO DOS JOGADORES SOBRE A FUNÇÃO E A IMPORTÂNCIA DOS EMPRESÁRIOS NO FUTEBOL BRASILEIRO Resumo: Este trabalho investiga a atuação dos empresários no futebol-negócio. O futebol atual se tornou um negócio rentável, o que implicou em uma maior participação dos empresários neste ramo particular da industrial cultural do entretenimento. Analisamos a concepção dos jogadores brasileiros sobre a função e a importância dos empresários no mercado futebolístico. Entrevistamos 98 jogadores profissionais em atividade. Constatamos que 78% dos jogadores estão vinculados a algum empresário. A maioria dos jogadores (73%) considera que a atuação dos empresários é positiva, pois se trata cada vez mais de uma necessidade, visto que o atleta não tem tempo e nem conhecimentos jurídicos e mercadológicos suficientes para cuidar de sua carreira. É o empresário que realmente os insere no mercado de trabalho, fazendo as negociações entre clubes e empresas de marketing. INTRODUÇÃO O futebol não pode ser visto apenas como um esporte, mas deve ser entendido também como um setor econômico importante da sociedade moderna. Neste paper, defendemos a idéia de que o futebol é também um dos principais aparelhos ideológicos1 estratégicos capitalistas, visto que implica na preparação das pessoas (no caso dos jogadores como atletas, trabalhadores e dos indivíduos de uma forma geral na qualidade de consumidores do espetáculo por meio da ideologia, cultura de massa, etc.) para a vida na modernidade e para a globalização (neo)liberal (atual fase do capitalismo), fazendo com que os indivíduos passem a aceitar a competição, a seleção, a flexibilidade e a busca pelos resultados como algo inerente à vida moderna, precarizando as relações pessoais, em um certo sentido. O futebol é um fenômeno multidimensional bastante complexo, que pode ser analisado a partir de diversas dimensões, seja cultural, política, social e econômica. A nossa investigação centra-se nos aspectos do futebol relacionado ao mundo do trabalho, especialmente no que se refere à modernização da legislação e das relações de trabalho. Os objetivos deste trabalho são investigar a atuação dos empresários no futebol-negócio e analisar as concepções dos jogadores brasileiros sobre a função e a importância dos empresários no mercado futebolístico. Apresentar uma caracterização geral dos jogadores brasileiros, com ênfase na origem regional, faixa etária, idade da profissionalização, níveis de renda, escolaridade e sindicalização, aprendizagem de futebol, perspectivas profissionais e passagem pelo futebol do exterior. 1 Difunde os valores da sociedade capitalista, sendo utilizado como um veículo da indústria cultural. Partimos do pressuposto de que o futebol atual se tornou um negócio rentável, o que implicou em uma maior participação dos empresários neste ramo particular da industrial cultural do entretenimento. O texto divide-se em três grandes partes: (1) a primeira apresenta uma caracterização sócio-econômica dos jogadores entrevistados; (2) a segunda analisa as concepções dos jogadores sobre a atuação dos dirigentes e dos empresários e sobre a profissionalização no futebol brasileiro; (3) a terceira parte, intitulada Considerações Finais, sintetiza as principais constatações e conclusões da pesquisa aqui apresentada. 1 CARACTERIZAÇÃO SÓCIO-ECONÔMICA DOS JOGADORES ENTREVISTADOS Neste item apresentaremos uma caracterização geral dos nossos entrevistados, indicando- se a origem dos entrevistados segundo regiões e estados do Brasil, o número de jogadores entrevistados por clube, a idade dos atletas, a idade em que se profissionalizaram, o nível de escolaridade, o nível de renda dos jogadores, o índice de sindicalização, as formas de ingresso nos clubes (tipos de transferências), passagem de jogadores pelo futebol do exterior e as perspectivas profissionais dos atletas pesquisados. 1.1 Origem dos jogadores entrevistados por região e estado O Gráfico 1 apresenta dados de uma pesquisa realizada em 2005/2006 com atletas das três divisões do futebol brasileiro (Séries A, B e C). Gráfico 1 – Origem dos atletas entrevistados por região 40 30 20 39,18% 32,99% Percent 10 16,49% 7,22% 4,12% 0 Sul Sudeste Nordeste Centro-Oeste Norte Fonte: Pesquisa de Campo 2005/2006 2 O Gráfico 1 mostra a distribuição dos atletas entrevistados por região de origem. Verificamos que a maioria dos atletas pertence à região Sul (39,18%). Temos ainda 32,99% de atletas do Sudeste, 16,49% dos entrevistados do Nordeste, 7,22% do Centro-Oeste e 4,12% entrevistados da região Norte. No Gráfico 2, o leitor pode observar a distribuição dos atletas entrevistados por estado de origem. Predomina atletas dos estados de São Paulo (22,68%) e do Rio Grande do Sul (22,68%), seguidos por atletas oriundos do Paraná (11,34%), cabendo recordar que a seleção dos times incluídos na amostra, pode ter tido forte influência nessas participações, visto que 05 clubes pesquisados são do estado do Rio Grande do Sul e 01 do Paraná. Gráfico 2 – Distribuição dos atletas entrevistados por estado de origem 25 20 15 22,6 22,6 10 8% 8% 11,3 4% 5 7,22 % 5,15 5,15 3,09 3,09 3,09 % % 3,09 3,09 2… % 2… % % % % 2… 0 1… 1… 1… 1… RS SP RJ GO SC DF PR BA MT PE CE PA AL PB MG ES MA SE Fonte: Pesquisa de Campo 2005/2006 1.2 Número de jogadores entrevistados por times e aprendizagem de futebol Os dados relativos ao número de atletas entrevistados por times são apresentados no Gráfico 3 a seguir. O Caxias - RS foi o clube que mais teve jogadores entrevistados (13), seguido de Grêmio - RS e do Fluminense - RJ (com 11 atletas cada). Paysandu-PA (04), Vasco da Gama – RJ (04) e Curitiba – PR (07) foram os clubes que cederam menos seus atletas para entrevistas, alegando indisponibilidade de tempo dos atletas. É importante salientar a inclusão na amostra da participação de times que estão fora das Séries A e B, como é o caso do Glória de Vacaria-RS, clube que cedeu 8 atletas para nossa investigação. 3 Gráfico 3 – Número de atletas entrevistados por times Vasco 4 Coritiba 7 Cruzeiro 10 Ponte Preta 8 Paysandu-PA 4 Fluminense 11 Fortaleza 10 Glória de Vacaria 8 Caxias 13 Juventude 5 Grêmio 11 Inter 6 0,0 2,5 5,0 7,5 10,0 12,5 Frequency Fonte: Pesquisa de Campo 2005/2006 Como pode ser visto no Gráfico 4 abaixo, a maioria dos atletas entrevistados aprendeu a jogar futebol nas escolinhas (39,18%). Esse dado é revelador de uma realidade na qual o futebol é uma modalidade sustentada pela ciência, um saber institucionalizado. Aprende-se a praticar o futebol nos espaços especializados (escolas). Por outro lado, um número significativo de jogadores acredita que não se aprende a jogar futebol, mas se nasce com o dom (31,96%), algo natural que necessita apenas ser despertado. No entanto, admite-se que nem todos os indivíduos possuem as características/elementos que os possibilitem a se tornarem atletas e jogadores de futebol. Mas, para despertar o dom, é necessário um trabalho sistemático de treinamento, algo que se recebe nas escolinhas de futebol. Gráfico 4 – Aprendizagem de futebol 40 30 20 39,18% 31,96% Percent 26,80% 10 0 2,06% peladas/várzea nasceu sabendo escolinha não sei jogar/dom Fonte: Pesquisa de Campo 2005/2006 As peladas formaram muitos jogadores no futebol brasileiro, especialmente antes do advento das escolinhas de futebol. Alguns estudiosos do nosso futebol (FREYRE, 2003, 1971a) e (RODRIGUES FILHO, 2003) defendem que as peladas influenciaram na constituição do estilo 4 brasileiro de jogar futebol, caracterizado pela individualidade, arte e malandragem. Cerca de 26,80% dos jogadores afirmaram que aprenderam a jogar futebol nas peladas. Em nossa dissertação de mestrado2 (RODRIGUES, 2003, p. 137), constatamos que 46% dos jogadores do SC Internacional de Porto Alegre – RS aprenderam a jogar nas peladas (nos campos de várzeas), 27% dos atletas aprenderam a jogar futebol nas escolinhas, o mesmo percentual dos que responderam que já nasceram com o dom para jogar futebol. 1.3 Faixa etária dos jogadores e idade da profissionalização Os dados expressos no Gráfico 5 referem-se à idade dos jogadores pesquisados. Percebe- se que a menor idade é de 17 anos e a maior, de 36 anos. A idade de maior freqüência é a de 23 anos, cabendo deixar claro que a média de idade dos atletas brasileiros é de 23 anos, média que consideramos relativamente baixa (mas a média de idade dos atletas na França é de 19 anos (Le Monde, 07/12/2001). Gráfico 5 – Idade dos atletas entrevistados 12,5 10,0 7,5 13, 40 % 9,2 9,2 9,2 Percent 5,0 8% 8% 8% 7,2 6,1 6,1 6,1 2% 6,1 6,1 9% 9% 9% 9% 5,1 9% 2,5 4,1 4,1 5% 2% 2% 3,0 9% 0,0 1… 1… 1… 1… 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 36 Fonte: Pesquisa de Campo 2005/2006 De acordo com o Gráfico 6, 44,33% dos entrevistados em nossa pesquisa entre 2005 e 2006 se encontravam na faixa etária de 20 a 25 anos. Trata-se de um padrão de idade baixo e bastante adequado ao futebol moderno, o qual exige atletas novos e fortes, pois estamos em uma fase do futebol em que se valoriza demasiadamente a força e o preparo físico (CARRAVETTA, 2006; GURGEL, 2006). 2 RODRIGUES, F. X. F. A Formação do Jogador de Futebol no Sport Club Internacional (1997-2002).

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