Variação E Mudança Em Nomes De Jogadores Da Seleção Brasileira Variation and Changes in Soccer Players' Names of Brazilia
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Onomástica Desde América Latina, n.3, v.2, janeiro - junho, 2021, p. 101 -118 ISSN 2675-2719 https://doi.org/10.48075/odal.v0i0.25720 Variação e mudança em nomes de jogadores da Seleção Brasileira Variation and changes in soccer players’ names of Brazilian National soccer team Vinícius Pereira de Souza Cruz Universidade Federal de Minas Gerais https://orcid.org/0000-0001-6144-018X [email protected] Eduardo Tadeu Roque Amaral Universidade Federal de Minas Gerais https://orcid.org/0000-0001-9416-3676 [email protected] Resumo Este artigo apresenta uma análise de antropônimos oficiais e não oficiais de jogadores da Seleção Brasileira do período compreendido entre 1958 e 2018. O marco teórico se apoia tanto em estudos de Onomástica, como Amaral (2011), Amaral e Seide (2020), Bajo Pérez (2002), Becker (2018), Fernández Leborans (1999), Urrutia e Sánchez (2009), Van Langendonck (2007), quanto em estudos sobre o futebol brasileiro, como Rodrigues (2010) e Caetano e Rodrigues (2009). Os dados analisados são os nomes das listas de jogadores convocados nesse período para os jogos mundiais. Esses nomes são classificados com o objetivo de observar a variação e a mudança ao longo do tempo. Os resultados indicam um predomínio de nomes oficiais em quase todos os anos, bem como uma maior tendência contemporânea às variantes mais formais dos nomes. Palavras-chave: Seleção Brasileira, jogadores de futebol, antropônimos. Abstract This paper presents an analysis of official and unofficial anthroponyms of soccer players from the Brazilian National team from 1958 to 2018. The theoretical framework is based on onomastic studies, such as Amaral (2011), Amaral e Seide (2020), Bajo Pérez (2002), Becker (2012), Fernández Leborans (1999), Urrutia and Sánchez (2009), Van Langendonck (2007), Fernández Leborans (1999) as well as on analyzes about the Brazilian soccer such as Rodrigues (2010) and Caetano and Rodrigues (2009). The data analyzed are the names from the lists of players selected in that period to compete in the World Cup. These names are classified in order to observe the variation and the change over time. The results indicate a predominance of official names in almost every year, as well as a greater contemporary trend towards more formal variants of names. Keywords: Brazilian National soccer team, soccer players, anthroponyms. 101 Onomástica Desde América Latina, n.3, v.2, janeiro - junho, 2021, p. 101 -118 ISSN 2675-2719 Introdução O escritor Nelson Rodrigues, em seu livro de crônicas A pátria de chuteiras, faz menção a uma identidade nacional brasileira criada pela forma alegre de se jogar o futebol e de se consolidar como potência esportiva (RODRIGUES, 2013). Nomes como Pelé, Garrincha e outros que eternizaram nossos jogadores são emblemáticos para a nossa história. Se, por um lado, esses jogadores contribuem para a história do futebol brasileiro, por outro, seus nomes, formados por apelidos, constituem elementos importantes para o estudo da antroponímia brasileira. O tema dos nomes dos jogadores suscita curiosidade da comunidade futebolística, o que se observa nos questionamentos sobre o possível desaparecimento de apelidos nos nomes dos atletas. O ex-dirigente esportivo do São Paulo FC, Marco Aurélio Cunha, por exemplo, sugere uma perda cultural do futebol (NÓBREGA, 2018). Contudo, no período em análise, muitos fatores sociais podem ter colaborado para essas mudanças, desde a acentuada discussão sobre o bullying no final dos anos 90, como cita Perisse (2016), até a midiatização esportiva. Sobre este último, a lógica residiria nas transmissões de jogos que proporcionaram visibilidade exponencial da imagem do jogador (CAETANO; RODRIGUES, 2009). Considerando a importância dos nomes de jogadores para a antroponímia do país, este artigo analisa uma amostra de dados da Seleção Brasileira de futebol masculino em suas participações em Copas do Mundo entre 1958 e 2018 pela lista de convocados. Justifica a escolha deste período para esta análise o surgimento de uma identidade nacional criada pelo futebol e, além disso, o fato de que este período marca o processo de modernização esportiva no contexto da globalização, caracterizada pelas transferências internacionais dos atletas após os anos 70. Para a análise, o trabalho se apoia nas contribuições teóricas de Amaral (2011), Amaral e Seide (2020), Bajo Pérez (2002), Becker (2018), Fernández Leborans (1999), Urrutia e 102 Onomástica Desde América Latina, n.3, v.2, janeiro - junho, 2021, p. 101 -118 ISSN 2675-2719 Sánchez (2009) e Van Langendonck (2007), que definem e explicam as funções dos antropônimos, relacionando-os ao seu emprego social. Também são considerados os trabalhos de Rodrigues (2010) e Caetano e Rodrigues (2009) sobre o futebol, além de matérias esportivas relacionadas com a temática deste artigo. Na próxima seção, explicam-se os pressupostos teóricos. 2. Pressupostos teóricos Os nomes próprios de pessoa, também chamados de antropônimos, juntamente com os nomes de lugares, denominados topônimos, e de outras entidades, constituem o objeto de estudo da Onomástica. Quando se observa a influência de fatores sociais no conjunto dos nomes próprios, alguns autores falam em Sócio-onomástica1. De acordo com Ainiala (2016), a pesquisa Sócio-onomástica introduziu a questão da variação na onomástica. Assume-se, assim, nessa vertente variacionista de estudos dos nomes próprios, que os nomes próprios não são estáticos, constantes ou estáveis, mas variáveis. McClure (1981) analisa, por exemplo, formas variantes que não fazem parte dos usos oficiais e afirma que, em alguns contextos sociais, as pessoas nomeadas têm certo grau de escolha do nome pelo qual desejam ser tratadas. Para o autor, já que a nomeação é um ato social, a variação na nomeação das pessoas reflete uma variação em papéis sociais, nas atitudes e no contexto. No campo da chamada variação situacional, Ainiala (2016) destaca que o mesmo indivíduo pode variar o nome, de acordo com o contexto situacional. Esse é um pressuposto que se assume neste trabalho, ao considerar que muitos jogadores recebem uma denominação diferente do nome civil que possuem. 1 Embora seja muito difícil dissociar o estudo dos nomes próprios de questões sociais, Gary-Prieur (2016) defende uma análise que considere exclusivamente fatos linguísticos. 103 Onomástica Desde América Latina, n.3, v.2, janeiro - junho, 2021, p. 101 -118 ISSN 2675-2719 Ao analisar dados principalmente do neerlandês e partindo de critérios semântico- pragmáticos, Van Langendonck (2007) distingue o uso primário versus secundário e oficial versus não oficial dos nomes próprios. Seu argumento para distingui-los se apoia no uso do termo primário para aqueles que preenchem funções principais dos nomes pessoais: direcionamento, identificação e uma ampla possibilidade de subcategorização quanto ao gênero e expressividade. Entre os nomes primários e oficiais, o autor inclui os prenomes e os sobrenomes. No conjunto dos nomes secundários e oficiais, estaria, por exemplo, o nome de família empregado como nome individual. Como nomes não oficiais, teríamos os apelidos (bynames). Ainda dentro da classificação de Van Langendonck (2007: 187-189), o autor observa que, pelo menos no padrão europeu, a partir da combinação sintática, os nomes aparecem em estruturas como (prenome + sobrenome), (prenome + apelido) ou (apelido + prenome) e assim por diante. A divisão proposta por Van Langendonck (2007) é retomada por Amaral (2011) e Amaral e Seide (2020), que analisam dados do português brasileiro. Entretanto, esses trabalhos incluem uma série de antropônimos que mostram a diversidade de formas de denominação de pessoas no Brasil. Amaral e Seide (2020), por exemplo, chegam a propor quatorze tipos de antropônimos em sua proposta tipológica (prenome; sobrenome; agnome; apelido (ou alcunha, ou cognome); hipocorístico; pseudônimo; codinome; heterônimo; nome artístico (e nome de palco); nome de guerra; nome religioso; nome social; nome de urna; nome parlamentar). Um fato relevante destacado pelos estudos citados corresponde à inclusão dos derivados diminutivos e aumentativos no conjunto dos antropônimos. Isto pode ser exemplificado, no Brasil, com as derivações do nome Ronaldo, no formato aumentativo (Ronaldão) e no formato diminutivo (Ronaldinho). Tais formas, por apresentarem semelhança formal com o nome civil, constituem os chamados hipocorísticos. 104 Onomástica Desde América Latina, n.3, v.2, janeiro - junho, 2021, p. 101 -118 ISSN 2675-2719 Contribui para este artigo a divisão proposta por Amaral (2011) entre ortônimos e alônimos. Nessa classificação, o autor explica que os primeiros correspondem, no Brasil, aos prenomes e sobrenomes que configuram os nomes civis, ao passo que os segundos “são aqueles antropônimos que não correspondem com os nomes oficiais garantidos pela legislação e atribuídos ao indivíduo no registro civil” (AMARAL, 2011: 71-72). Nesta última categoria, por exemplo, estão presentes os hipocorísticos e apelidos que serão, mais adiante, retomados a partir de Urrutia e Sánchez (2009) e Bajo Pérez (2002). Com relação aos ortônimos (nomes oficiais), Van Langendonck (2007) e Amaral (2011) são coincidentes em destacar que eles são registrados em instituições oficiais, sendo atribuídos através do ato de registro cartorial. Esses nomes, que compreendem o prenome (simples ou composto)2, o(s) sobrenome(s) e, por vezes, o agnome (por exemplo: Júnior, Filho, Sobrinho, Neto), passam a identificar as pessoas em diversos contextos formais e sociais. Van Langendonck (2007: 190), em sua análise