Frase ANTAlógica I

"Se em 2010 a diretoria só fez m... desde janeiro, só poderia mesmo encerrar o ano chamando o Alfredo." - Kadu Nogueira, o poeta do chulo, explicando por que o atacante Alfredo foi promovido ao time principal nas últimas rodadas.

Frase ANTAlógica II

"De café-com-leite ao jogo de abertura da Copa - isso que é evolução!" - Janco Tianno, ex-jogador de videogame com mais de cem mil gols marcados só contra o Catar, país-sede da Copa do Mundo FIFA de 2022, após ser informado sobre a escolha nada virtual.

ÍNDICE

1 - Entrevista - believe it or not – pág. 3 2 - Retrospectiva - parte I - o verdadeiro número do azar – pág. 5 3 - Danilo Mironga - ele de novo – pág. 9 4 - Retrospectiva - parte II - more or less – pág. 11 5 - Internauta - desafio com a bola toda – pág. 14

Participam deste número:

Capa: AVS Editor: Gus Textos: Gus Colaboradores: Kadu, Amaral, Archibald, Sérgio Bento e Stein

2 Entrevista - Velhinha do Morumbi

"Agora tenho concorrência!"

Não foi fácil. Depois de tantas idas e vindas, incluindo uma falsa notícia de que teria morrido em 2007, a única pessoa que acredita 100 % na diretoria do SPFC tornou-se arredia e foi preciso adotar certos estratagemas para convencê-la a dar a entrevista, como poderão conferir. Nesta breve conversa, ela fala sobre o que faz para evitar a desinformação maliciosa e tranqüiliza os fãs ao dizer que continua acreditando.

ANTAS - desde 2004, quando sua fama chegou aos holofotes, aumentou a legião de admiradores. Contudo, foram noticiados episódios em que até a senhora pareceu ter se desiludido com o time e com algumas decisões dos dirigentes. E agora, como está sua paciência?

Melhor que nunca. Realmente, já tive momentos de incerteza, mas isso aconteceu por causa deste mundaréu de informações que colocam por aí. É tanta coisa que às vezes a gente se confunde e acaba interpretando mal os fatos, não é mesmo? Mas acho que já consegui me adaptar. Hoje evito ler jornais e me contento com as informações que saem no site oficial e alguns Blogs de confiança. O tal do Tuíter, também só o da assessoria de imprensa. Nem preciso me dar ao trabalho de digitar, já que é tudo filtrado pelo meu bisneto Teobaldo, que veio do interior fazer faculdade, é são-paulino e está morando aqui em casa. Agora não me deixo afetar pelas mentiras que colocam por aí.

Que mentiras seriam essas?

Essas coisas que o pessoal fala do Juvenal e daquele rapaz simpático, o Milton Cruz. Noutro dia, eles até me levaram pra comer churrasco com um amigo uruguaio. Um senhor muito distinto! Faria o maior sucesso no Baile da Saudade. Conversamos a tarde toda e fiquei até emocionada com a história de vida daquele garoto chileno que está em Cotia. Você sabia que o menino era tão pobre que nasceu numa cabana que ele mesmo ajudou o pai a construir? Pois é... E ainda foi maltratado no Real Madrid. Não aparece nem na galeria de estrangeiros do time. Quanta ingratidão!

A senhora deve estar falando do Saavedra. Na sua opinião de torcedora experiente, foi válido contratar um jogador que passou um ano sem sequer ficar no banco? Não seria melhor ter apostado mais na garotada?

Meu rapaz, eu vou te dizer uma coisa: esses meninos de hoje são complicados. Antigamente, eram mais respeitadores, obedeciam a mãe, iam pra caminha cedo... Agora parecem aquela garota da novela, que batia nos avós. Fiquei muito chateada com o Oscar, que até jogava bola com o Teobaldo. Foi embora e nem levou o cachecol que costurei só pra ele. Então eu concordo com a diretoria. O mundo lá fora é perigoso e não podem sair desse jeito, ou vão acabar pegando um resfriado. Mas acho que agora estão entendendo melhor essa preocupação. Os moleques que ganharam a Copinha já estão jogando e parece que não tem nenhum sacripanta

3 no meio. Então pode esperar que teremos um time cheio de garotos em 2011. O Juvenal falou e eu acredito. Aliás, acabei de lembrar: Teobaldo, vai dar ração pro Juvenal! Como, que Juvenal? O gato! Essa juventude é desligada...

Em 2004, a senhora acreditava que a Lei Pelé era a responsável pela maioria dos problemas. Mudou alguma coisa?

Olha, até que me convenceram que essa Lei não é tão ruim assim. Graças a ela, o São Paulo contratou jogadores que foram campeões. Então confesso que fiquei um pouco confusa, mas o Doutor Marco passou aqui e me explicou tudo. A diretoria reclamava da Lei Pelé para despistar. E fizeram isso tão bem que conseguiram enganar até a mim. Coisa incrível, não?

Então é verdade que a diretoria vai até a senhora para dar explicações sobre o que acontece no clube?

Eu diria que já foi mais verdade. De uns anos pra cá, acho que conseguiram outras pessoas que acreditam em tudo o que o presidente fala. Dependendo do caso, talvez até mais que eu (rs). Então não deve haver necessidade de ficar vindo o tempo todo aqui em casa. Mas ainda aparecem de vez em quando. Foi até curioso, porque o Milton Cruz veio tomar café justamente no dia em que não entendi por que trouxeram um beque pra Libertadores, mas o coitado não ficou nem no banco. Disse que estavam guardando sua energia para os jogos finais. Só que aí ele foi emprestado para o Fluminense e fiquei mais desorientada ainda. Mas o Ricardinho Gomes me telefonou pra contar que o jogador estava com muitas saudades do Rio e que não dá pra manter um atleta infeliz no grupo.

A senhora acreditou?

Claro! Por que não acreditaria? O Ricardinho é um cavalheiro e pessoas assim não mentem. Pena que precisou ir embora. Adorava quando ele vinha em casa e cantava em francês. Ah, se tu no existe pas... Teobaldo, depois traz aquele disco do Charles Aznavour! O quê, a vitrola quebrou??? Então faça uma boa ação e baixe uns mp3!

Para finalizar, uma pergunta que todos os leitores devem se fazer: qual é o nome da senhora?

Acho que é uma coisa muito pessoal para revelar. Só uns poucos selecionados, incluindo o Juvenal e o Teobaldo (esse porque a mãe contou), conhecem esta informação. Então os leitores que me desculpem, mas vou ficar devendo essa. Aliás, você tem certeza que a entrevista vai sair na revista oficial do clube?

Absoluta.

Ótimo. A gente tem que tomar certos cuidados, né? Tem sempre alguém querendo fazer com que não acreditem. Tristes tempos.

4 Retrospectiva - parte I

Manchando o SETE!

Como o São Paulo Futebol Clube de 2010 aperfeiçoou a Lei de Murphy.

Como o final de 2009 sugeria, a temporada são-paulina só poderia ter dado certo se houvesse uma conjunção espetacular entre sorte e surtos de talento. Isso esteve perto de acontecer na Taça Libertadores da América, quando nenhum tricolor sensato ousaria apostar em vitória contra o Cruzeiro. Mas veio a pausa da Copa do Mundo e, no retorno, foi-se a curta bonança. Nem as defesas de Rogério Ceni, a dedicação de Alex Silva e os lampejos de foram suficientes para superar o festival de decisões erradas, que prosseguiram implacáveis após a queda perante os colorados. ANTAS revisitará as sete ações e omissões mais fracassadas de um ano que até poderia ter passado em , mas não necessariamente com tamanho afinco em prol da miséria. Tirem as crianças de frente da tela. As cenas rememoradas abaixo podem fazer com que troquem de time.

1 - Juvencentrismo - embora não seja novidade, a concentração de todas as decisões na figura presidencial foi mais nociva que de costume. Dividido entre os problemas do Morumbi e do time, Juvenal Juvêncio poderia ter delegado tarefas, mas preferiu seguir como voz suprema e infalível. "Ele se investe de poderes divinos achando que é só dar a cara na Barra Funda, como se sua simples presença iluminasse tudo" - sintetiza André Amaral. Assim, não foram poucas as vezes em que Leco, Jesus Lopes e Marco Aurélio Cunha bateram cabeça para explicar o que desconheciam por completo. Em setembro, pouco depois de começarem as especulações sobre seu substituto, surgiu o boato de que um dos nomes pode ser o próprio Juvenal. Uma interpretação muito livre da reforma dos estatutos poderia dar brecha ao terceiro mandato. Por enquanto, ele não nega, nem confirma. Caso decida concorrer, lançará o clube em nova guerra jurídica que pode levá-lo à deriva administrativa. Enquanto isso, a oposição dorme - ou, quando muito, resmunga pelo Twitter.

2 - Miopia clínica - André Luís, Léo Lima, Cléber Santana, Carlinhos Paraíba, Fernandinho, Marcelinho Paraíba e . De todos os citados, apenas se podia esperar algo substancial dos últimos dois, mas a idade de Marcelinho e as condições físicas de Cicinho os deixaram no baixo nível dos demais. Como se não fosse o suficiente, a diretoria decidiu premiar o "choro guerreiro" de e renovou seu contrato. Nem assim Milton Cruz

5 deixou de promover o culto à sua suposta capacidade. Em entrevista ao LANCE, o guru das contratações garantiu ter avalizado o argentino Montillo... ao Cruzeiro. Antes da incrível revelação, tinha acionado uma nova bomba – Samuel, terceiro melhor zagueiro do inexpressivo . Entre os que vingaram, Fernandão (por dois jogos), Alex Silva e já eram conhecidos. Nem por isso Milton deve deixar de se atribuir méritos. Para 2011, começaram os burburinhos de nomes discutíveis. Mas será que terão cara de ?

3 - Ricardo, o simpático - pode um sujeito com bom caráter, correto, cordial e respeitoso se tornar um estorvo profissional? Pode, se não for competente. Este foi o problema básico de como técnico. Depois de não mostrar coragem para mudar o falido esquema do antecessor, foi mantido por duas razões: 1 - a diretoria (entenda-se: Juvenal) queria provar que o técnico é secundário perante a estrutura tricolor; 2 - pegando o time desde o início do ano, acreditava-se que conseguiria aplicar seu conhecimento no preparo da equipe. O que se viu foi o mesmo treinador inseguro, agora se desdobrando para prestigiar a baciada de contratações do tópico acima. Conseguiu nova sobrevida com a classificação às semifinais da Libertadores, o que se mostraria a decisão mais infeliz do semestre. "Era evidente a oportunidade de trocar o comando, mas jogamos o ano pelo ralo" - lamenta Fernando Gelman. Quando o Mister Simpatia finalmente deixou o clube, não foi procurado por nenhum time. Ao menos os outros aprenderam a lição.

Gomes e SPFC - a combinação que nunca devia ter sido

4 - Cotia desvairada - apesar dos fundamentos jurídicos ainda questionáveis, os processos trabalhistas fizeram público e mídia notar o que os leitores da revista sabem há muito tempo. Primeiro, a desculpa para preterir as revelações era . Depois, o problema passou a ser a Libertadores, que exigia atletas experientes, fortes, altos, garbosos, etc... Foi só após ver seus robustos desclassificados pelo Internacional do garoto Giuliano, eleito o melhor da competição, que Juvenal decidiu incentivar seus campeões da Copa SP. Contudo, a inventividade de Sérgio Baresi pouco ajudou para que os estreantes se firmassem, com exceção de Lucas. Carpegiani chegou aproveitando os desfalques para colocar um número recorde de garotos, mas acabou voltando a escalar Wagner, e Cléber Santana. Agora garantem que 2011 será o ano da juventude tricolor. Isso se, em nome do "bom relacionamento", não resolverem lapidar mais jogadores de empresários. Para estes, a Bombonera lotada nunca foi obstáculo.

5 - A marca da soberba - depois de dias promissores, o departamento de marketing voltou aos tempos em que sua melhor propaganda era a de si mesmo. Se não ocorreu um revival do São Paulo Madrid, foi porque estavam ocupados com o suspense sobre o

6 superpatrocínio e ironizando os rivais. Apenas se esqueceram de combinar com os misteriosos interessados. "A diretoria estabeleceu patamares irreais, recusou boas propostas e alugou o uniforme como um outdoor" - acusa Sérgio Bento. No fim, tiveram que anunciar, quase constrangidos, o modesto acordo com o BMG. A dor de cabeça deve continuar. "No meio de 2011, quando acabar esse contrato, as empresas já terão fechado seus orçamentos" - explica Amaral. Ou seja: a tendência é que o manto tricolor termine o próximo ano com mais uma sessão de anúncios. Os valores também devem continuar abaixo das pretensões, já que o time não ajudou. Resta conhecer o pai do filho feio: o diretor Adalberto Baptista ou o vice- presidente Julio Casares. Só não os esperem para o exame de DNA.

6 - Um estádio contra todos - ter o Morumbi na Copa de 2014 sempre foi uma missão difícil, já que tudo que a FIFA mais detesta são estádios que já existem. Foi nesta situação que Juvenal Juvêncio decidiu demonstrar todo o seu tato político: nenhum. Agindo conforme seus instintos, passou dois anos cortejando o presidente da CBF. Na hora mais crítica, porém, decidiu acreditar que o bajulado levaria na esportiva se entrasse de cabeça na eleição do Clube dos 13. Não apenas apoiou a chapa contrária aos interesses de Ricardo Teixeira, como se expôs aos holofotes pelo aliado Fábio Koff. Nem acabou o dia e o Piritubão ganhou força, até descobrirem que era apenas uma ficção alimentada por um jornal. Longe de se render, Teixeira buscou o presidente do Corinthians, outro desafeto tricolor, para a vingança definitiva. Se vai funcionar, só 2011 - se tanto - dirá. Mas nem o maior admirador de Juvenal entenderá como ele gastou tanto tempo num assunto apenas para complicá-lo ainda mais. Um diplomata realmente diferenciado.

7 - Brilha, estrela! - nem todos os erros acima poderiam resultar numa equipe tão limitada, desencontrada e desinteressada. Para tanto, foi preciso um nefasto complemento nas participações em campo. Poucos mereceriam ser deixados de fora, mas a citação de um deles é emblemática. Richarlyson nunca foi tão prejudicial ao time, por sugestivas sete razões. Primeiro, pelos tradicionais erros elementares, derrubando a tese de que seria bom jogador se fizesse o simples. Segundo, por ainda achar que joga muito mais do que sabe. Terceiro, pela polivalência que o levou a ser aproveitado como volante, lateral e zagueiro, triplicando seus danos. Quarto, pelas expulsões dignas de teatro de revista, todas em partidas difíceis. Quinto, por se aproveitar - ainda que involuntariamente - do preconceito contra uma preferência sexual que sempre negou. Sexto, porque técnicos, dirigentes e até colegas ainda o defendem, enquanto a tolerância com outros é absurdamente menor. E sétimo, porque aparece tanto que não sobra espaço para falar de outros estorvos do elenco. Brilhou...

Richarlyson se despede - adversários terão saudades

Com estas duras memórias, é de se perguntar o que fazer para retomar a competitividade. A resposta até parece óbvia: voltar a acertar. O difícil é fazê-lo, já levando em conta quem

7 começará o ano no poder. "A maioria dos erros cometidos está no DNA de Juvenal" - lamenta Rogério Stein. "Ele deveria dar a garantia pública que não disputará as eleições" - concorda Gelman. Caso isso aconteça, ainda haverá dúvidas quanto à independência do novo mandatário em relação ao ex-presidente. Sobre o time, o pessimismo recai em Carpegiani, cuja presença rememora o inexplicável desprezo de Juvenal à possibilidade de trazer Dorival Junior, sob a justificativa do momento especial do interino Baresi. Apesar da relativa melhora do time, que beirava o rebaixamento, o técnico atual já voltou a exibir o repertório de invenções que o desabonou em 1999. Além das surpresas táticas, tem-se a já anunciada insistência da diretoria com reforços supostamente econômicos. Carpegiani pediu que sejam poucos e eficazes. Talvez seja atendido apenas na primeira parte.

As (poucas) boas notícias.

Nem tudo foi desastre na herança de 2010. Mas não foi fácil lembrar o quê.

1 - recuperação de Rogério Ceni - depois de um 2009 prejudicado por sérios problemas físicos, o capitão voltou à boa forma e impediu alguns vexames, além de se aproximar dos cem gols.

2 - título da Copa SP - com Marcelinho (depois Lucas) como principal destaque, o time sub-18 fez ótima campanha e só passou sufoco na final contra o Santos, empatada graças a um golaço de Roniele. Na disputa de pênaltis, o goleiro Richard garantiu a única festa do ano.

3 - garotos estreando - aproveitando a pressão jurídica e no embalo da Copinha, Lucas e Casemiro se tornaram titulares após a Libertadores. Com Carpegiani, Casemiro voltou para o banco, mas o camisa 37 continua em alta.

Em meio às mudanças necessárias, uma dose de autocrítica seria bem vinda. "Sem essa de diferenciado, moderno, exemplo, soberano, modelo a ser seguido. Pensar assim é o primeiro passo para deixar de sê-lo" - filosofa Amaral. Mas, como há palavras de árdua pronúncia no vernáculo são-paulino, não será surpresa se algumas vitórias no Paulistão resultarem em novos discursos otimistas, até o próximo choque de realidade contra Corinthians ou Santos. É por essas e outras que, ainda que todo final de ano traga sua esperança, no caso do SPFC ela parece continuar dentro da caixa. Dependendo do que vier, pode ser que decida ficar por lá. Quem a culparia?

8 Danilo Mironga

GERSON MIRONGA?

Não assisti à rodada final. Na coluna retrasada, já tinha dito que o jogo dos tricolores seria o meu último do ano, porque perderia de qualquer jeito. Com o triunfo do Fluminense, todo o esforço para desmascarar Muricy foi por água abaixo. O pior foi ler que, agora, ele se atribui dons proféticos. Jura que sonhou com Telê e isso seria sinal da vitória. O futebol é assim mesmo. Vai-se o polvo Paul, vem a mula Ramalho.

Graças ao conjunto da temporada, Muricy será inocentado de todos os fracassos de 2009 e do primeiro semestre de 2010. O desempenho do Palmeiras com Felipão provará que o problema era a turma do bolivariano da Pompéia. Quanto à eliminação do Fluminense na Copa do Brasil, era resquício de . O mesmo vale para o São Paulo. Nos registros de 2010, constará que o time não foi mais campeão depois de sua despedida. Não interessa que Juvenal Rourke tenha achado que qualquer um poderia realizar a fantasia de técnico na sua Ilha. O público de futebol é como aluno de História - só quer decorar as primeiras linhas e pronto. E a História, como todos sabem, é contada pelos vencedores. A verdade passa a ser apenas "tese minoritária" de algum inconformado. É a isto que me sinto condenado neste fim de ano. E a culpa também é minha. Fiquei vendo novela e esqueci minha razão de vida.

A derrota não termina por aí. Ao recusar o convite do Doutor Coisa Nossa, a mula se tornou o ansiado galã da donzela de Guadalupe. Provavelmente Juca encontrará uma brecha para citá-lo como "lição" a seu novo desafeto, o técnico Bernardinho. Com certeza, Muricy não teria entregado o jogo contra a Bulgária. Nem seria preciso. Se estivesse no lugar do megacampeão, o repertorio da seleção estaria resumido a bolas altas na ponta. O levantador, provavelmente, teria dois metros de altura para bloquear e fazer o pivô. Não me perguntem como conseguiria fazer isso no vôlei, mas não subestimem a mula. Este foi meu erro. Muricy tem um talento que, no Brasil, vale mais que tudo. O brasileiro que transforma ignorância e grosseria em admiração pública é um predestinado. Enquanto os outros têm que ralar, tudo vai acontecendo a seu favor. E ainda fica com a fama de “trabalhador”.

9 Meus dezessete leitores podem me consolar dizendo que virá o primeiro semestre de 2011, só que já sabemos como funciona. Alguns jornais vão até lembrar o retrospecto da mula nos mata-matas, mas logo surgirão as explicações para outra Libertadores perdida. Vão dizer que a Unimed interferiu demais, que o novo presidente atrapalhou, que Conca nunca foi tudo isso, etc... É tudo muito claro. Aí virá o campeonato brasileiro e destacarão seus recordes nos pontos corridos. E se o Brasil não ganhar a Copa América? Mano será questionado de novo e, afinal, ninguém deve esquecer que a primeira opção para o lugar de era ele. Com sua sorte, o Fluminense o liberará e Muricy só terá amistosos, além de uma competição em casa, até a Copa do Mundo. Saem os manos do Mano, chegam os amigos da mula. Só não sei quem será o capitão: Diguinho ou Richarlyson. Páreo duro.

Confesso que estou tão deprimido que tenho pensado até em me consultar com o psiquiatra da novela. Temo que, assim como o personagem tarado por vídeos nojentos, eu tenha um revertério e comece a me excitar com o campeonato brasileiro moldado por Muricy. Aqueles chutões, os passes errados, os times se defecando nas rodadas finais... Socorro, doutor!

10 Retrospectiva - parte II

SEM MAIS! - MENOS, BEM MENOS!

Para apontar os grandes destaques de 2010, ANTAS resolveu se valer de dois bordões do editor, fechando o pódio de vencedores e decepções. Para estas últimas, os títulos foram digitados com a cor verde, em homenagem ao clube paulistano que conseguiu superar o São Paulo em constrangimentos. Confiram se o resultado foi claro:

Sem mais - Medalha de bronze - POLVO PAUL E LA ROJA

Os experts em folclore decretavam que, mais uma vez, a seleção espanhola seria o fiasco da Copa do Mundo. A estréia desastrosa contra a Suíça parecia confirmar esta previsão, mas os detratores não contavam com os poderes proféticos absolutos do polvo Paul e a capacidade técnica da equipe de Xavi. Assim como os brasileiros na decisão de 1958, a ex-Fúria teve que abrir mão do manto vermelho pelo azul redentor. Foi sofrido, até que um passe de Fábregas encontrou Iniesta pronto para mostrar que as coisas mudam, por supuesto. A alegria dos novos campeões mundiais só foi interrompida em outubro, quando o molusco da vitória faleceu. Mas os feitos de ambos - espanhóis e polvo - serão relembrados por gerações. Até porque, dirão os céticos, podem não se repetir tão cedo.

Menos, bem menos - Medalha de lata - JABULANI

A Adidas gastou milhões atrás da bola mais perfeita já chutada num campo de futebol. O resultado não poderia ter sido mais unânime: dos goleiros aos centroavantes, todos a odiaram. Houve quem tentasse defendê-la, mas logo constatou como a esfera indomável prejudicou passes, finalizações e defesas. Como se não bastasse, ainda serviu para a Globo encontrar outra utilidade discutível para a voz secular de Cid Moreira. Fora dos gramados sul-africanos, a polêmica ajudou a Jabulani a ser um sucesso retumbante de vendas. Mas, para a alegria dos jogadores, as concorrentes ignoraram suas inovações nos campeonatos seguintes à Copa. Nem assim a FIFA e a Adidas desistem. Para o Mundial de Clubes, prometem a nova versão da tecnologia. Não é à toa que Julio César não parece disposto a se recuperar tão cedo.

11 Sem mais - Medalha de prata - RAFAEL NADAL

O esporte espanhol não se limitou a brilhar nos gramados do futebol. Depois de um 2009 em que o joelho o impediu de barrar o retorno de Roger Federer ao topo, Rafa ressurgiu para ganhar na grama de Wimbledon, no cimento de Flushing Meadows e no saibro de Roland Garros, retomando a coroa e conquistando o Career Slam aos 24 anos. Seu jogo ficou ainda mais consistente, especialmente no serviço. Vencê-lo é cada vez mais difícil e já se pergunta quem serão os poucos capazes de fazê-lo em 2011. Um deles deve ser o eterno rival Federer, que terminou o ano revitalizado com o técnico Paul Annacone, conquistando o ATP Finals em cima do próprio Nadal. Os outros podem ser o sérvio Novak Djokovic e o britânico Andy Murray, ainda atrás de seu major. A favor deste, nem o polvo se arriscou.

Menos, bem menos - Medalha de graveto - FERNANDO ALONSO

O mimado bicampeão foi a nota desagradável do reino de Juan Carlos. Chegou acreditando que teria um carro capaz de fazê-lo passear na frente dos outros, mas viu a Red Bull disparar. Graças aos erros da equipe austríaca e a um jogo de equipe precoce na Alemanha, Alonso conseguiu se aproximar e roubar a liderança do australiano Mark Webber. Na corrida final, tinha tudo para levar o título sem problemas. Contudo, não esperava a obra coletiva do acaso, do erro estratégico da Ferrari e do talento de Sebastian Vettel, que levou o troféu para a Alemanha - onde trabalhava, ironicamente, o incrível Paul. Foi quando Alonso demonstrou o que já se suspeitava: não sabe perder. O resto do mundo não se furtou a dar um recado ao Príncipe das Astúrias: Sebastian is faster than you!

12 Sem mais - Medalha de ouro - VÔLEI MASCULINO BRASILEIRO

Os dias de glória continuam a toda. Primeiro foi o nono título na Liga Mundial, deixando para trás a marca dos rivais italianos. Depois veio o polêmico e dramático campeonato mundial. Com Marlon doente e diante de um regulamento que favorecia o time da casa, Bernardinho & CIA tomaram a decisão mais difícil de suas carreiras. Entraram sem levantador contra a Bulgária para poupar Bruninho e, por um sistema de classificação bizarro, pegar uma chave mais fácil nas quartas-de-final. A crítica e a torcida se revoltaram, mas o desempenho nas partidas finais calou a boca de todos - ou quase todos. Além do tricampeonato, o Brasil apresentou um novo MVP: Murillo. O ponteiro é impecável no passe, bom atacante, saca bem e, ainda por cima, é casado com Jaqueline. Como diria o locutor que impulsionou o esporte, impressionante.

Menos, bem menos - Medalha de plástico - FUTEBOL MASCULINO BRASILEIRO

Por maior que seja o ufanismo em cima da nova geração, o país só deve atingir o pódio da com . Na Copa do Mundo, a seleção não soube concluir bem o trabalho de quatro anos. Dunga deixou de preencher as vagas finais com os melhores e superestimou o lado "guerreiro", sendo que nem todos os avisos e cartões o fizeram repensar a titularidade de Felipe Melo. As lesões de Kaká tampouco bastaram para recomendar mais um meia-atacante reserva. A eliminação veio após um grande primeiro tempo dar lugar à hecatombe protagonizada, entre outros, pelo expulso Melo. Pior para Dunga, que tanto brigou para acabar de volta ao ostracismo de 1990. Fora do verde da vergonha, só o Internacional de , campeão da Libertadores e agora atrás do segundo Mundial de Clubes. Poderia ter sido o SPFC. Poderia...

13 Internauta

Desafio Sabichão!

Amaral está de volta para o último teste de 2010, trazendo:

É Prata!

No embalo da entrega do Troféu Bola de Prata, da revista , o sabichão pergunta:

1- Nos últimos 7 Campeonatos, as zagas da Bola de Prata foram dominadas pelo São Paulo. Quantos prêmios foram dados a zagueiros do SPFC? a – 7 b – 8 c – 9 d - 10 e – 11

2- Em 2008, Rogério Ceni finalmente ganhou sua Bola de Ouro, após 5 Bolas de Prata. Disputou até a última rodada com outro são-paulino e houve até um certo "arranjo" nas notas - pois mal tocou na bola contra o Goiás e teve nota alta. Quem quase bateu o capitão? a - André Dias b – Miranda c – Hernanes d – Borges e – Dagoberto

3- Tirando a Bola de Prata do artilheiro, qual destes ídolos ganhou apenas uma Bola de Prata pelo tricolor? a – b - Ricardo Rocha c – Raí d - Lugano e -

14 4- O São Paulo é, de longe, o time com mais Bolas de Prata: 53. Com 42, quem é o vice? a - Atlético-MG b – Flamengo c – Internacional d – Palmeiras e – Santos

5- Em relação ao total de Bolas de Prata já distribuídas em cada posição, em qual delas ganhamos, proporcionalmente, menos prêmios? a - Lateral direito b - Lateral esquerdo c – Volante d – Meia e – Atacante

Boa sorte a todos! ANTAS agradece a todos os colaboradores e leitores, incluindo os que participaram do concurso para escolha da frase ANTAlógica. Esperamos que a revista tenha servido para aumentar o grau de informação no FOMQ e também tenha divertido num ano que não teve muita graça. Até fevereiro!

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BÔNUS I

Danilo Mironga

TRAJE DE GALA

Sempre achei que uma revista como ANTAS deveria fazer como similares internacionais e escolher as personalidades que marcaram o ano. Aí pensei: por que não aproveitar esta coluna? Não sei se o editor aprovará, mas aqui vão os derrotados e o grande vencedor do primeiro Mironga's Man of the Year. Acreditem: não foi uma escolha fácil e o resultado pode surpreender. Ou não.

Quinto colocado - Juca Kfouri - ganhou o Troféu da Vovó e seguiu intocável em sua cruzada moral pela dignidade dos guadalupenhos. Seu pecador da vez é Bernardinho. A donzela não perde um gancho para remeter à derrota para a Bulgária. Nem seu amigo e diretor Trajano agüenta mais. Não leva o titulo porque a pureza kfouriana não admitiria duas vitórias no mesmo ano, sob pena de acusar a si mesmo de manipular o resultado - e reclamar que ninguém entendeu a ironia.

Quarto colocado - Andrés Sanchez - deu uma verdadeira aula sobre o que um dirigente precisa: cara-de-pau, grosseria, populismo e bajular as pessoas certas na hora certa, ao contrário do medalhista de bronze. Há quatro anos, era o capacho de Dualib. Hoje é o profeta que levará os corintianos por quarenta anos até o estádio prometido. Porém, como o sucesso pessoal não impediu seu clube de passar o centenário lavando a louça do fenômeno, vai ficar sem mais essa.

Terceiro colocado - Juvenal Juvêncio - desta vez, exagerou na dose em todos os sentidos. Chegou a sumir dos holofotes e lembrar os melhores (?) anos soviéticos. Depois resolveu reaparecer e mostrou sua capacidade quase única (só superada pelo campeão) de ver os fatos à sua própria maneira. Seu clube terminará o ano sem Libertadores, sem Morumbi na Copa e com freguesia consolidada para os corintianos. Mas ainda dizem que acha pouco e quer mais. É só seus juristas acharem uma brecha - desde que seja "diferenciada".

16 Vice-campeão - Ricardo Teixeira - quanto mais fracassa, mais é temido. Tentou controlar o Clube dos 13 e, contrariado, mandou o Morumbi para o espaço. Queria igualar o ex-sogro com três conquistas sob sua gestão, mas teve que depositar sua ira sobre o técnico que escolheu contra a vontade de todos. Os políticos paulistas ameaçaram com a bandeira da moralidade e acabaram se unindo ao coro de "Doutor Ricardo é coisa nossa!". Nenhuma acusação o abala. Mas que vai, vai ficar em segundo ainda assim, vai.

CAMPEÃO - Marco Aurélio Cunha - meus dezessete leitores (que andam até admitindo isso em público) podem estranhar, pois mal falei do superintendente de Mr Juvenal Rourke, que passou a ser voto vencido em qualquer assunto no Morumbi. Mas não interessa. Sua capacidade camaleônica de justificar as derrotas e ainda alfinetar os rivais é inigualável. Mais que o próprio chefe, é quem melhor expressa a autoindulgência orgulhosa de uma diretoria incapaz de se debruçar sobre opiniões externas. Ademais, é minha chance de ouro para conceituá-lo definitivamente: a única pessoa de um metro e meio que encara todos de cima para baixo. Alguém discorda?

E assim este colunista se despede de 2010. Ano que vem, quem sabe consiga lançar minha coletânea Troca de canal, Pancho!, com uma edição de luxo autografada pelos meus grandes ídolos desta premiação. Devo convidar a mula para o prefácil?

17 BÔNUS II

SENTENÇA DO DIA – SPFC 1 X 0 LIVERPOOL

Por pior que tenha sido 2010, ninguém merece que a ultima sentença do ano tenha sido tão deprimente quanto a do jogo contra o Vasco. Assim, aproveitando os cinco anos do tricampeonato mundial, bem como o fato de a sentença original ter se perdido, ANTAS reapresenta a análise do momento mais feliz dos últimos dezembros.

Fatos - não foi a melhor performance técnica do time que tomou conta da América em 2005. Nem poderia ser muito diferente, já que a equipe perdeu ritmo de jogo em meio à bagunça que se tornou o campeonato brasileiro. Mas o SPFC conseguiu se superar em aplicação tática e apresentou o suficiente para desapontar os secadores, além de provar a falsidade das insinuações sobre o grupo. Os torcedores rivais devem se restringir à absurda “reclamação” de que o bandeirinha acertou as marcações polêmicas - sendo que em todas o jogo estava parado antes da finalização. Mas esta noite (manhã, no Brasil) não deve ser desperdiçada respondendo aos desbocados, e sim celebrando os heróis de uma conquista que recoloca o Morumbi no centro do mundo.

Foi uma partida difícil como tinha que ser, perante um adversário que partiu para o nocaute no primeiro minuto. Ironicamente, a invasão de campo por um suposto corintiano permitiu ao capitão Rogério reunir o time e colocar todo mundo para reaquecer. Este seria apenas o primeiro de muitos atos marcantes do goleiro. Mais concentrados, os tricolores equilibraram as ações e ficou claro que tinham treinado uma válvula de escape improvável: Fabão lançando para o domínio de Amoroso ou do recém-chegado Aloísio. Foi justamente num desses lances que Aloísio deu passe antológico para Mineiro surgir do nada e quebrar a série intangível dos ingleses. O volante já era uma das melhores contratações do ano. Só faltava fazer gol. Agora tem tudo para se tornar um ídolo eterno.

Em vantagem, o SPFC pouco chegava à meta adversária, mas pouco era ameaçado. Numa das ocasiões, Rogério defendeu uma cabeçada de forma puramente instintiva. Isso não foi nada. No segundo tempo, Rafa Benitez fez com que seu time se posicionasse de modo a estrangular os brasileiros, que não conseguiram chutar uma bola a gol. Assim, foi preciso demonstrar toda a capacidade defensiva para conter 48 minutos de pressão. Quando o Liverpool superou os obstáculos, havia um último indestrutível. Gerrard cobrou falta com tal perfeição que só

18 aguardava o balanço da rede para celebrar o empate. Mas Rogério estava lá, assim como em finalização de Luís Garcia. O camisa 8 e seus companheiros não entendiam o que se passava. Os tricolores, sim. Era dia de Rogério Ceni fazer História definitivamente, contra todos os detratores que o consideravam "loser". Nada poderia mudar o que o destino decidira antes mesmo do apito inicial.

Com o fim do jogo, foi hora de assistir a outra cena inenarrável: o astro Gerrard sentado, inconsolável. Guardem esta imagem. Ela será tão lembrada quanto o salto de Rogério para frustrar seu grito de gol. No mais, só palmas e mais palmas a todos os que estiveram em campo, incluindo o guindaste Aloísio, que mal chegou e parece estar aqui há anos. Com um passe como o de hoje, nem precisa fazer mais nada para constar na galeria de personagens do clube. Agora resta saber se Amoroso e Autuori permanecerão em 2006. O primeiro é o craque que, se continuar, pode até chegar à Copa do Mundo. Quanto ao técnico, independentemente de sua competência, pode-se dizer que dificilmente teremos um treinador que faça os jogadores se sentirem tão valorizados. Time que se preze não é de técnico, e sim de quem joga.

Sem Atenuantes e Agravantes.

Conclusão - um ano que começou com cara de mais do mesmo e já estava brilhante logo a seguir. Mesmo com algumas furadas de planejamento, a diretoria está de parabéns. Conseguiu tomar as decisões cruciais certas, incluindo as chegadas fundamentais de Amoroso e Aloísio. Marcelo Portugal Gouvêa, depois de tantas conturbações, deixará o clube como um de seus maiores presidentes. Vamos ver se seu sucessor, provavelmente Juvenal Juvêncio, manterá a evolução. Por ora, não há como contestar o que JJ fez de bom desde que retornou, mas também não se deve esquecer Rondon e outras situações inusitadas. Esta base ainda pode garantir muitos títulos ao clube. Porém, é sempre preciso buscar novos acertos. Mas deixemos as preocupações para depois. Nesta semana, tudo é festa. O São Paulo está no topo, mais uma vez! Arigato a todos e até a volta!

Notas -

Nota do time - 7,5

Rogério - DEZ Fabão - 8 Lugano - 8 Edcarlos - 8 Cicinho – 6,5 Mineiro - DEZ Josué - 7 Danilo - 7,5 Junior - 7,5 Amoroso - 7,5 Aloísio - 8,5 - sem nota

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