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SENADO FEDERAL R E L A T Ó R I O F I N A L D A COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUÉRITO (VOLUME III) Criada por meio do Requerimento nº 497, de 2000-SF, “destinada a investigar fatos envolvendo as associações brasileiras de futebol”. Presidente: Senador ALVARO DIAS Vice-Presidente: Senador GILBERTO MESTRINHO Relator: Senador GERALDO ALTHOFF Brasília 2001 FEDERAÇÕES E OUTROS CASOS O CASO VANDERLEI LUXEMBURGO 1. Dos Fatos No decorrer do ano de 2000, foram veiculadas na imprensa diversas denúncias envolvendo o Sr. Vanderlei Luxemburgo da Silva, técnico de futebol e ex-treinador da Seleção Brasileira. Entre outras irregularidades, o Sr. Luxemburgo foi acusado de manter relacionamento financeiro com empresários de futebol, recebendo comissões para indicar jogadores para os times que dirigia e até mesmo para a seleção brasileira e de possuir movimentação muito superior aos seus rendimentos como técnico de futebol.. Estes fatos motivaram a CPI a convocar a Sra. Renata Carla Moura Alves, que denunciou o ex-treinador da seleção brasileira, o próprio Sr. Vanderlei Luxemburgo da Silva, além de solicitar a transferência de seus sigilos bancário e fiscal para a CPI. A seguir, encontram-se resumidos e separados por tópicos os depoimentos de Renata Carla Moura Alves, realizado em 09/11/2000 e Vanderlei Luxemburgo, realizado em 30/11/2000. 2. Depoimento Da Sra. Renata Carla Moura Alves 2.1 Relacionamento da Sra. Renata Alves com o Sr. Vanderlei Luxemburgo Renata Carla Moura Alves iniciou seu relacionamento com Vanderlei Luxemburgo entre 1989 e 1990. Até o ano de 1991, os dois mantiveram relação amorosa. Em 1993, cerca de 1 ano e meio após o término do namoro entre ambos, a Sra. Renata Alves foi procurada por Vanderlei Luxemburgo, que lhe fez uma proposta de trabalho, para que ela atuasse como sua procuradora em leilões judiciais no Rio de Janeiro. Apesar da recusa inicial, a Sra. Renata Alves acabou aceitando a oferta de emprego. Segundo ela, a partir deste momento, passou a ter conhecimento sobre o mundo do futebol, devido ao fato de ser sua responsabilidade organizar as agendas do Sr. Luxemburgo e marcar suas reuniões e entrevistas. Nas palavras da Sra. Renata Alves: Assim, fiquei trabalhando para Luxemburgo, atendia naturalmente o celular dele, atendia os telefonemas que eram feitos para a minha casa; na Luxemburgo Veículos, também eu tinha livre acesso a tudo; nos bancos, eu não precisava assinar nada, só precisava pegar os talões de cheques. Foi assim que entrei no mundo do futebol e trabalhei para o Luxemburgo até o final de 1996, quando fui chamada pela Receita Federal. Disse ao Luxemburgo que tinha 27, quase 28 anos, e que a Receita havia me chamado, me convidado a comparecer e dizer alguma coisa. Ele me disse vire-se e desligou o celular. Com esse “vire-se” é que começou o problema, porque estou sendo processada também pela Receita em função dos bens que ele comprou em meu nome desde 1996. E, há quase cinco anos, estou sendo processada por culpa dele. Em 1997, a Sra. Renata Alves ingressou com a ação trabalhista contra o Sr. Luxemburgo. 2.2 Comissão em compra e venda de jogadores – A “Embaixada” Quando questionada se o Sr. Vanderlei Luxemburgo teria se utilizado da sua condição de treinador para lucrar com a compra e venda de jogadores, a Sra. Renata Alves respondeu: Só trabalhei para o Vanderlei Luxemburgo durante alguns anos, como procuradora. Então tudo o que sei é realmente relacionado a ele, ao que ele me falava ou ao que eu escutava ou presenciei. O Vanderlei, segundo ele, pela forma que ele passava essas transações, era um ato normal. Se era generalizado, realmente não sei. O Vanderlei fazia isso e falava como se isso fosse uma coisa comum no futebol brasileiro: indicar jogadores e receber comissões para isso. A Sra. Renata Alves afirmou, ainda, existir um esquema montado para realizar o processo de compra e venda de jogadores, indicando um local que, segundo ela, seria utilizado para tal finalidade. Seria uma casa localizada na Barra da Tijuca, conhecida como “embaixada”. Desse local, o Sr. Luxemburgo sairia com malas de dólares, mais precisamente uma pasta tipo “007”, que ficava guardada na residência da Sra. Renata. Afirmou, ainda, que, em 1994, começou a deixar o Sr. Luxemburgo no local, porém não tinha permissão para entrar, sendo que, a partir de 1995, obteve permissão para freqüentar a “embaixada” As reuniões aconteceriam às quartas-feiras ou às sextas-feiras à noite, a partir de 22 horas, e entravam pela madrugada, das quais participavam, além do Sr. Luxemburgo, empresários e outras pessoas, afirmando ter visto no local os Srs. Sérgio Malucelli, sócio de Vanderlei Luxemburgo, Juan Figger, Luiz Viana, Eduardo Sakamoto, Marcel Figer e Gilmar Rinaldi, empresários de futebol e Eurico Miranda, dirigente do Club de Regatas Vasco da Gama. Segundo apurado posteriormente, o local descrito pela Sra. Renata situava-se na Avenida Afonso de Taunay nº 67, atrás do Restaurante Farol da Barra, no bairro Barra da Tijuca, Rio de Janeiro. No local, onde antes havia uma casa de propriedade do Sr. Manuel Domingues, atualmente existe um prédio de apartamentos construído recentemente. Segundo Renata Alves, Vanderlei Luxemburgo teria declarado ter recebido dinheiro de empresários de jogadores de futebol, na forma de comissão pelos jogadores por ele indicados, citando os nomes de Sérgio Malucelli, o principal, de acordo com ela, e de Juan Figger. Ainda segundo a Sra. Renata, o técnico tratava desse assunto com ela como se fosse algo normal: Ele sempre falava isso para mim. Isso era um ato comum, normal. Por isso, quando vim a público e falei sobre isso, nunca pensei que fosse um problema ou que fosse antiético. Ele sempre falou isso naturalmente, como estou conversando com uma pessoa comum: “Hoje ganhei uma boa comissão, de tanto”. E, às vezes, também ligavam, e ele me dizia quem era a pessoa, qual o jogador com quem seria a reunião. Eu anotava na agenda e pronto. Só isso que eu sabia. (...) Ele sempre falou isto para mim, sempre disse isto: que ele ganhava comissão quando indicava um jogador a um empresário, porque talvez assim ele valorizava o passe do jogador e, quando o jogador fosse revendido, ele também estava ganhando comissão. Segundo o Vanderlei, sim. Ele falava isso sempre para mim. E também outras pessoas que conviviam comigo escutavam o mesmo assunto; ele falava isso normalmente.” A maioria das transações de jogadores de que a Sra. Renata tinha conhecimento referia-se a atletas do Palmeiras, como os jogadores Mancuso e Macula. Afirmou, ainda, ter ouvido do treinador que, às vezes, este era obrigado e escalar jogadores que não se encontravam em boas condições técnicas para atender interesses de empresários. 2.3 Empreendimentos do Sr. Vanderlei Luxemburgo Acerca da relação entre o técnico Vanderlei Luxemburgo e o empresário paranaense Sérgio Malucelli, a Sra. Renata Alves afirmou haver intenso contato telefônico entre ambos, e que, às vezes, o empresário Malucelli vinha ao Rio de Janeiro para encontrar o Luxemburgo na “embaixada”, e também para pegar os carros que ela adquiria em leilões para o técnico. Afirmou, também, que a empresa Luxemburgo Veículos pertence ao técnico, sendo o local onde deixava alguns carros arrematados em leilões. O técnico seria ainda proprietário de uma seguradora no Rio de Janeiro, um depósito no bairro Jardim América, subúrbio do Rio de Janeiro, onde estariam guardados muitos carros, além de uma empresa denominada Vimap, no bairro do Grajaú, em São Paulo e empreendimentos no Paraná em sociedade com o empresário Sérgio Malucelli. Desconhece como ocorria a transferência da titularidade dos carros por ela arrematados. Disse ter assinado vários documentos em branco a pedido do técnico Luxemburgo, que cuidava posteriormente da transferência dos veículos. 2.4 Conta Bancária no Exterior A Sra. Renata Alves afirmou que o técnico Vanderlei Luxemburgo possuiria conta bancária nas Ilhas Cayman, que seria utilizada para recebimento de recursos no exterior. 3. Depoimento do Sr. Vanderlei Luxemburgo No dia 30/11/2000, a CPI colheu o depoimento do Sr. Vanderlei Luxemburgo da Silva. As informações prestadas pelo técnico encontram-se resumidas a seguir: 3.1 Relacionamento com a Sra. Renata Carla Moura Alves O Sr. Vanderlei Luxemburgo afirmou ter sido apresentado à Sra. Renata Alves por um amigo. Teria sido procurado por ela muito tempo depois, em uma loja de automóveis de sua propriedade, no Grajaú, em São Paulo. Nessa oportunidade, a Sra. Renata Alves teria lhe proposto um negócio de participação em leilões, no qual ela teria uma participação de 10% sobre as vendas que fossem concluídas. Confirmou ter repassado à Sra. Renata Alves procuração para “levantamento de alvarás dos leilões que tivessem sido adquiridos e que não tivesse sido concluída a compra”. Entretanto, afirmou que a Sra. Renata Alves não arrematava só para ele, mas também para outras pessoas. Confirmou que ela lhe prestava serviços como arrematante, negando porém que ela fosse sua secretária O Sr. Vanderlei Luxemburgo afirmou que a Sra. Renata Alves tomou a iniciativa de procurar a Polícia Federal com o intuito de fazer denúncias contra sua pessoa, havendo a abertura de inquérito em junho de 1997, acusando a Sra. Renata Alves de ter mandando alguém lhe fazer a proposta de retirar as acusações feitas mediante o pagamento da quantia de US$200 mil. Acusou a Sra. Renata Alves de ter feito essas denúncias como forma de auto-promoção. Narrou fato acontecido durante a época em que era técnico da seleção brasileira de futebol e estava na Austrália nessa condição. Nessa oportunidade, teria recebido telefonema de seu advogado, que lhe disse estar sendo procurado pelo advogado da Sra. Renata Alves, propondo um acordo, ameaçando entrar com representação criminal contra o Sr.