ARARAS E SEUS CRAQUES DO FUTEBOL

NILSON ZANCHETTA JUNIOR

2ª EDIÇÃO

Ficha Técnica ======

Araras e seus craques do futebol

Nilson Zanchetta Junior

2ª edição - 2014-03-30

Coordenação de Projeto

Nilson Zanchetta Junior

Projeto Gráfico, Editoração Eletrônica, Foto e Arte da Capa

Gráfica e Editora Topázio

Revisão

Maria Cirlene de Souza

Fotografias

Nilson Zanchetta Junior, Marcelo Valem, Pelé Cressoni, Nello José Scarcella Junior, Camila Ripp, Alcyr Mathiesen, Walter Gambini, arquivos dos jogadores e divulgação.

Topázio Gráfica e Editora

Rua Sete de Setembro, 528 – Centro – 13600-130 – Araras – SP

Telefone: (19) 3541 7888

Nenhuma parte deste livro poderá ser reproduzida sejam quais forem os meios empregados sem permissão por escrito do autor

Todos os direitos reservados.

Dedicatória

Dedico este livro a família dos jogadores, minha família, aos ararenses em geral e em especial a minha filha Pietra Eduarda Zanchetta.

Agradecimento

Agradeço primeiramente a Deus por ter me dado o dom e a sabedoria e, sobretudo, a unificação do talento e da força de vontade. A minha família que me incentiva na minha incansável rotina e me orienta para eu superar os obstáculos que o destino nos proporciona. Sou grato também aos meus professores Paulo Roberto Botão e Rogério Bazi que foram meus principais incentivadores para que esta obra se tornasse realidade. PREFÁCIO

Milton Neves

O futebol do interior paulista merece mesmo todo respeito e carinho por parte da crônica esportiva, dirigentes e torcedores. Araras é uma importante cidade que ajudou, e continua ajudando, a revelar grandes jogadores para o futebol brasileiro. Aílton Lira, por exemplo, era um meia extraordinário. Batia na bola como poucos. Homem simples, invejado por adversários e temido por goleiros, principalmente nas bolas paradas. E Velloso, o grande Wagner Fernando Velloso, excelente goleiro, excelente caráter e futuro grande treinador, tenho certeza. Sorato é artilheiro nato. Segue com “trocentos” anos marcando seus golzinhos. O mais importante, sem dúvida, foi aquele na final do Brasileirão de 1989 sobre Gilmar Rinaldi, então goleiro do São Paulo, que ficou com o vice. O Vasco foi o campeão de 89.

Além dos filhos de Araras, devemos destacar também outros grandes jogadores que passaram pelo União São João, entre eles , um dos melhores laterais em todos os tempos. Por tudo isso, a iniciativa de Nilson Zanchetta merece aplausos. O futebol do interior, que é um grande celeiro de craques, não pode ficar esquecido. Merece ser estimulado, sempre. E a obra é, sem dúvida, um grande incentivo aos jogadores da cidade e da rica e bonita região de Araras.

Que jornalistas de Rio Claro, Presidente Prudente, Ribeirão Preto, São José do Rio Preto, Araraquara, Sorocaba, Piracicaba e de tantas outras cidades do interior paulista, façam o mesmo. Os clubes e os craques dos nossos celeiros merecem sempre um lugar de destaque. E se tem uma coisa que eu gosto e respeito é “jogador véio”. Por isso, entendo ser fundamental livros, revistas, rádios, televisões e sites contando suas histórias.

O nascimento do município de Araras

A história da cidade de Araras foi retratada por alguns autores que a consideram “uma cidade encantada”, como diz o próprio hino do município, Matthiesen (2005) estudou a trajetória histórica do município e revelou que a cidade encontra-se no noroeste com relação a capital do Estado, distante, 170Km da capital paulista. Possui uma área de 610Km quadrado, com um total de 320 km quadrado de perímetro urbano. O surgimento foi no dia 15 de agosto de 1862, data em que foi fundada pelos irmãos, Bento de Lacerda Guimarães e José de Lacerda Guimarães, a quem o império concedeu os títulos de ‘Barão de Araras’ e ‘Barão de Arary’, respectivamente.

Tudo começou quando os irmãos, Barão de Araras e Barão de Arary, fizeram a doação de um terreno para a construção da capela de Nossa Senhora do Patrocínio, localizada bem no centro do município. (Mathiensen, 2005).

Araras foi elevada a categoria de Vila no dia 24 de março de 1871 pela lei de nº 29, passando a partir daquele momento a constituir a emancipação política e administrativa de Araras, tornando definitivamente um município. A data 24 de março é oficialmente comemorada o aniversário da cidade de Araras.

Segundo dados oficiais da época, divulgado por Mathiensen, 2005 o município então criado possuía mais de cinco mil habitantes e exportava 300 arrobas de café. Metade da população constituía-se de escravos procedentes das províncias do Norte, ‘importados’ para o trabalho das fazendas. Havia também uma pequena imigração para o trabalho livre.

A origem do nome da cidade é em função das inúmeras aves araras que se habitavam no Ribeirão das Furnas, um rio que atravessa toda a extensão do município.

Fatos curiosos marcaram o inicio da cidade de Araras. No dia 8 de abril de 1888, foi festejada no município a libertação do último escravo existente na cidade, antecipando-se à abolição da escravatura. No dia 7 de junho de 1902 a cidade comemora uma outra grande conquista, pois, Araras é o primeiro município a comemorar a Festa das Árvores no Brasil.

No ano de 1913, foi inaugurada uma das casas de espetáculos que marcou época nas noites ararenses, O Teatro Apólo, disponibilizando os melhores recursos de acústica e conforto existentes na época.

Considerada várias vezes o município de maior desenvolvimento do Brasil, Araras é conhecida pelas suas belezas, potência e qualidade de vida. A Cidade Encantamento, cantada no hino do município, floresceu com a arrancada da cultura canavieira, viveu os tempos áureos do ciclo do café, estendeu seus laranjais por grandes extensões e soube se modernizar e crescer, no ritmo rápido da industrialização diversificada.

Segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), Araras possui 112.783 habitantes, sendo que deste contingente populacional, 25% vão de 0 a 14 anos, 19% de 15 a 24 anos, 24% de 25 a 39 anos e 32% acima de 40 anos e todos desfrutam de uma infra- estrutura moderna, onde a arborização se faz presente nos quatro cantos da cidade. Aliás, há um século, foi em Araras a realização da 1ª Festa da Árvore no Brasil, considerado o primeiro movimento ecológico do país.

Segundo dados da Agência Municipal de Ciências, Tecnologia e Desenvolvimento de Araras, a cidade ocupa atualmente a 41ª posição com índice de 0,38% de participação no volume total de ICMS (Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) do Estado de São Paulo.

A cidade de Araras possui três faculdades: UNAR (Centro Universitário de Araras, Dr. Ulson), a UFSCAR (Universidade Federal de São Carlos) e a Uniararas (Centro Universitário de Araras Hermínio Ometto).

O pólo industrial da cidade de Araras conta com a participação de grandes empresas importantes no cenário mundial, como a Nestlé, cuja a primeira unidade da multinacional foi implantada no Brasil no ano de 1921.

A agricultura e a agroindústria também obtêm uma fatia importante da economia de Araras, pois 66% da área agrícola é ocupada pela lavoura canavieira, sendo produzidas 5 milhões de sacas de açúcar e 150 milhões de litros de álcool, divididas entres duas Usinas: São João e Santa Lúcia.

Entretanto, as Usinas, universidades, indústrias nacionais e multinacionais garantem à cidade uma economia sólida com o progresso transparecendo inclusive em seus espaços públicos e nos atos de seu povo.

Ainda sobre a geração de renda para o município, cerca de 7% da área agrícola se diversificam no cultivo do milho, soja, mandioca, café e principalmente a fruticultura. Na agropecuária, Araras, produz 25 mil litros de leite tipo A por dia, derivado da Fazenda Colorado fabricante do leite Xandô, que tem ainda perto de 3 mil cabeças de gado de corte de raças valorizadas e rebanhos de excelente nível. Outros 22% da lavoura são voltados a citricultura, cujo produto final é destinado à produção de suco para a exportação.

O município possui atualmente 3.172 empresas comerciais e 533 industrias distribuída em quatro Distritos. Estão cadastradas 1.333 empresas prestadoras de serviços e 3.698 autônomos. A força de trabalho do Município está na indústria, comércio e na lavoura a qual apresenta aumento na colheita de cana-de-açúcar.

Segundo a Revista Dirigente Municipal, Araras foi considerada pela quinta vez consecutiva no ano de 2001, a cidade mais desenvolvida entre as 500 melhores do país. Araras não tem favelas e as classes mais pobre, entre elas os bóias-frias, vivem em casas populares construídas nos últimos 20 anos.

Segundo dados da prefeitura de Araras (1), o esgoto da cidade é 100% tratado, uma das poucas cidades do Estado a possuir esse percentual. A água, em abundância pelos seus leitos, corre por toda cidade.

Na saúde, cerca de 1200 leitos, um serviço de atendimento de urgência que é exemplo no país e projetos que colocam a prevenção diante de qualquer situação, garantem um bem estar seguro a toda população. No dia 31 de março de 2006 o prefeito, Luis Carlos Meneghetti e o vice-prefeito Dr. Francisco Nucci Neto inauguraram um novo hospital, localizado na zona leste da cidade, onde concentram vários bairros, beneficiando uma totalidade de população perto de 40 mil habitantes. A idéia da construção deste novo hospital, que leva o nome de Eliza Sbrissa Franchozza, mãe do radialista e proprietário da Radio Clube Ararense, João Franchozza, o Cólera, foi do médico e ex-vice-prefeito, Dr. Nelson Dimas Brambilla. A cidade conta ainda com outros dois hospitais particulares, da Unimed e do Pró Saúde.

A cidade parte da Bacia Hidrográfica do Rio Mogi-Guaçu, tomando parte importante na formação da cidade o Rio das Araras e o Ribeirão das Furnas. O clima no município localizado a 611 metros de altitude possui clima quente, chuvas concentradas no verão e inverno seco; temperatura média de máxima 32 graus e mínima de 8 graus Celsius.

O município de Araras tem vários veículos de comunicação, que tem por objetivo levar a informação aos seus habitantes, dispondo de seis emissoras de rádio: Rádio Fraternidade AM e FM, Rádio Clube Ararense, Rádio Gospel, Rádio Tropical e Rádio Araras FM. A imprensa escrita conta a participação de três jornais: Jornal Tribuna do Povo, Jornal Já e Opinião Jornal, além da Revista Expressão Regional.

Araras se prepara para receber cada vez mais indústrias e ampliar assim o seu parque industrial, dando passos firmes a um crescimento ordenado e responsável.

Os times profissionais da cidade de Araras

A cidade de Araras já teve seis times profissionais, que participaram de competições organizadas pela Federação Paulista de Futebol, entidade que administra o futebol paulista, a Associação Atlética Ararense, a Usina São João, o Atlético Futebol Clube, o Comercial FC, Araras Clube Desportivo e o União São João, único time que ainda mantém as atividades disputando competições oficiais em parâmetro profissional.

O surgimento da Associação Atlética Ararense

A Associação Atlética Ararense surgiu após a extinção do Operário FC, que com a adesão da Forças Armadas do Brasil na Segunda Grande Guerra Mundial, o Presidente Getúlio Vargas baixou um decreto frente a qualquer entidade com conotação comunista. Assim, o termo Operário deveria ser abolido por ter significação esquerdista (Matthiensen, 2005).

Na Assembleia Extraordinária realizada em 4 de outubro de 1943, o presidente do Operário Futebol Clube, Arlindo Montagnolli, o Vice-Presidente Hugo Lagazzi, em obediência à determinação do Governo propôs a mudança do nome da agremiação para Associação Atlética Ararense, mudando também as cores dos uniformes de branca e preta pelo grená e e que o distintivo circular ostentasse as letras A.A.A. De acordo com Mathiensen (2005) a primeira sede foi cedida pelo proprietário da Fazenda São Joaquim, onde foi constituído seu Estádio, que leva o nome de São Joaquim. A Associação Atlética Ararense participou da segunda divisão do nos anos de 1949, 1950 e 1951.

Ainda na década de 50 a diretoria da AAA começou a estudar uma forma do clube não se acabar, o caminho, no entanto, foi terminar os investimentos no futebol, que passou a ser extinto e o investimento começou a ser feito em outros setores do clube, deixando de ser um time de futebol para ser um clube social. A Associação Atlética Ararense foi o primeiro clube da cidade de Araras a construir uma piscina aos seus associados, isso no ano de 1964.

Atualmente a Associação Atlética Ararense é um dos maiores clubes sociais de Araras e região, com uma estrutura física invejável. No futebol o clube investe nas categorias de base, com aulas para seus sócios mirins, visando único e exclusivamente disputas de Campeonatos Municipais.

A ‘Piscina’ como é conhecida a Associação Atlética Ararense conta atualmente com cerca de 8000 mil associados oferecendo-lhes: campo de futebol com vestiários, chuveiros e sanitários, duas piscinas para adulto, uma piscina infantil, conjunto de ‘playground’, quiosques e churrasqueiras, um amplo salão social para bailes, jantares e comemorações culturais e de lazer, quadras de basquete, quadras de tênis de campo, campos de bochas, sala para jogos de cartas, salas para tênis de mesa e jogos de xadrês, dois bares com sanitários sociais, sala para snooker, sauna masculina e feminina, sala de musculação e sauna.

O surgimento da Usina São João Esporte Clube

A Usina São João nasceu da Sociedade Esportiva e Recreativa Usina São João, fundada em 8 de janeiro de 1953, com sede na Usina São João, Zona Rural de Araras, que adotava as cores verde e branco.

A Usina São João disputou a terceira divisão do Campeonato Paulista por quatro vezes, nos anos de 1961 a 1964 e seus jogos eram realizados no saudoso Estádio Engenho Grande, dentro da própria Usina São João.

Depois do ano de 1964 a equipe disputou apenas campeonatos varzeanos e amadores. Após 17 anos a Usina São João resolve profissionalizar novamente sua equipe de futebol e se transformou a partir do dia 14 de janeiro de 1981 no União São João de Araras.

O surgimento do União São João

Segundo informações do Senhor José Paulo Curtulo no livro Em... Canto de Araras do historiador e professor Alcyr Matthiensen, o União São João surgiu no dia 14 de janeiro de 1981, após alguns meses antes realizar-se uma reunião entre os integrantes da comissão técnica da então Usina São João, que tinham os profissionais: o técnico da Walter Daltro, o preparador físico João Carlos Zaniboni (Tutu Zaniboni), José Paulo Curtulo, o presidente da equipe Waldemar Privatti e o Diretor-Presidente da empresa Usina São João, o homem do dinheiro e apaixonado por futebol, Hermínio Ometto.

Na reunião foi discutida a possibilidade de Araras ter uma equipe de futebol na divisão profissional do futebol brasileiro. Após discutidas as propostas para a criação da Associação Desportiva Classista Usina São João como time profissional foi preciso escolher um nome para o time e filiar-se na Federação Paulista de Futebol nas categorias de profissionais.

Muitos nomes foram sugeridos, mas o nome de União São João Esporte Clube foi unanimidade e as cores do uniforme também foi mantida, verde e o branco, as mesmas da extinta Usina São João, que segundo o Hermínio Ometto o verde representa a cana-de-açucar e o branco, a cor do açúcar.

O primeiro presidente do União São João foi o Sr. José Paulo Curtulo, o qual filiou o time de Araras na Federação Paulista de Futebol e montou o processo administrativo.

A data de fundação do União São João, dia 14 de janeiro também é a data do aniversário do criador do União São João e Prefeito de Araras, Dr. Hermínio Ometto, que faleceu no dia 8 de junho de 1986 na cidade de São Paulo, aos 72 anos.

A primeira competição oficial do União São João é em 1982, a equipe participa do Campeonato Paulista da Segunda Divisão, no lugar do extinto Clube Atlético Ararense. Permaneceu nesta divisão até 1987, quando conquistou o acesso à Série de elite do Campeonato Paulista.

No dia 18 de maio de 1988 inaugura-se o novo Estádio do União São João, denominado como Hermínio Ometto em homenagem ao criador da equipe. O primeiro jogo em seu novo Estádio terminou empatado contra o Botafogo de Ribeirão Preto, 1 a 1. O primeiro gol no Estádio foi marcado pelo União através do atacante Celso Luis. Ainda no segundo semestre do ano de 1988 o União é convidado para participar pela primeira vez da 3ª divisão do Campeonato Brasileiro, sagrando naquele mesmo ano campeão ao empatar na final com o Esportivo de Minas por 2 a 2.

Em 1991, o União São João inaugura os refletores do Estádio Hermínio Ometto em um jogo amistoso contra o Palmeiras, o qual o time de Araras venceu por 1 a 0. Também neste ano o escudo do União é alterado pela primeira vez, as iniciais U.S.J. E.C. dão lugar ao nome completo: União São João E.C.

Em 1992 o União São João consegue pela primeira vez o acesso à 1ª divisão do Campeonato Brasileiro de 1993. Neste mesmo ano o União vive um momento histórico, pela primeira vez tem um jogador convocado para a Seleção Brasileira: o lateral esquerdo Roberto Carlos, que defenderia o país no pré-olímpico.

Em 1993 o lateral esquerdo Roberto Carlos a maior revelação da história do clube é vendido para o Palmeiras na maior transação financeira de um jogador do interior para um time da capitã, 500 mil Dólares. Mais tarde foi negociado com a Inter de Milão/ITA e atualmente joga no Real Madrid/ESP e na Seleção Brasileira, onde esteve em duas Copas do Mundo, de 1998 e 2002.

Em 1994 após o falecimento do Gilberto Ometto, os presidentes José Mario Pavan e Iko Martins adquirem o União São João, junto a Usina e transforma o União São João no primeiro clube-empresa do Brasil, com a criação do União São João S/A, controladora do União São João Esporte Clube.

Títulos do União São João

O União São João conquistou seu primeiro título em 1987, o de Campeão Paulista da Divisão Intermediária, conquistando o acesso a Série de Elite do Campeonato Estadual, onde permaneceu por 18 anos, sendo rebaixado em 2005 novamente para a Série A2.

Nos anos de 1988 e 1996 conquistou o Brasil ao ser campeão Brasileiro da 3ª e 2ª divisão respectivamente. No ano de 1991 o União São João foi Campeão da Copa Benedito Teixeira, classificatório da Série B do Brasileiro de 1992. Em 1997 o União foi o melhor time do interior na Série A1 do Campeonato Paulista, ficando atrás apenas dos grandes clubes da Capital Paulista e do Santos, que fica na baixada santista.

E no ano de 2002 com as ausências dos grandes clubes o União foi vice-campeão Paulista, perdendo o título para o Ituano.

Além do Senhor José Paulo Curtulo, o União São João já teve como presidente os empresários Marco Logli e Iko Martins e atualmente é dirigido pelo presidente, José Mario Pavan.

O surgimento do Comercial Futebol Clube

O Comercial Futebol Clube, carinhosamente chamado de Leopardo da Paulista, surgiu no dia 26 de agosto de 1929, após uma reunião de esportistas da cidade de Araras, que se reuniram no antigo Bar Lima, situado na Rua Tiradentes, no centro. Fizeram parte do encontro o primeiro presidente do time, José Camargo Shimidt, Oswaldo Russo, Joaquim F. Machado Junior, Álvaro Ribeiro, Clementino Cascelli, José Mathias de Azevedo, Mamede de Souza e outros esportistas do município.

Um dos presidentes mais atuantes do Comercial Futebol Clube foi Joel Fachini, o qual é homenageado com o nome do Estádio da equipe, localizado hoje no centro da cidade de Araras, próximo ao Hospital São Luis. A história não deixa esquecer também de dois adeptos e fanáticos pelo Comercial FC, João Ganciar e José Alberto Rodini.

O primeiro jogo da história do Comercial terminou empatado, por 0 a 0. no dia 26 de julho de 1931, contra o Cordeirópolis na casa do adversário. O resultado e a estréia da equipe no futebol foi muito comemorado pelos seus dirigentes com um jantar no teatro Apollo e depois com baile no teatro Santa Helena (Mathiensen, 2005).

O Comercial FC participou nos anos de 1950 e 1951 dos Campeonatos Paulistas Profissional, organizados pela Federação Paulista de Futebol e nas duas vezes terminou a competição na 8ª colocação.

Houve uma época na cidade de Araras, que rivalidade entre Associação Atlética Ararense era tão grande que a matriz era uma divisa do município: dali pra cima, moravam somente torcedores grenás, ou seja, da Ararense, e a outra metade da cidade, no sentido sul, existiam somente torcedores do Comercial.

Em 1956 na gestão do presidente, José Alberto Rodini o Comercial FC o clube progrediu consideravelmente, pois além do time profissional, passou a ter equipes de aspirante e, juvenis e infantis, hoje denominados Sub-20, Sub-17 e Sub-15 respectivamente. Foi neste mesmo ano que pela primeira vez o Sport Club Corinthians Paulista da capital veio jogar em Araras diante do Comercial atraindo um grande público no Estádio Joel Fachini, o time da capital venceu o time de Araras por 2 a 0. O então presidente do clube, José Alberto Rodini trouxe para jogar em Araras as equipes consideradas de tradição do cenário futebolístico, Santos São Paulo e Palmeiras.

Títulos conquistados

As maiores conquistas do Comercial FC vieram na década de 50. Depois de eliminar os rivais tradicionais de Araras-Associação Atlética Ararense e Usina São João- o Leopardo da Paulista foi representar a cidade de Araras no Campeonato Amador do Estado de São Paulo, sagrando-se vice-campeão nos anos de 1957 e 1958. Em 57 perdeu a final para o Paraguaçu Paulista, por 2 a 0, em Bauru e no ano seguinte foi derrotado na final para o Tatuí, por 3 a 2, em Piracicaba.

Em 1961 o Comercial FC chegou a profissionalizar novamente, mas sem muito apoio financeiro voltou ao amador no ano seguinte. No inicio da década de 70 para a tristeza dos milhares de comercialinos o time profissional encerrou suas atividades futebolística.

O surgimento do Atlético FC

O Atlético Futebol Clube foi fundado no dia 20 de fevereiro de 1966, como uma homenagem ao Clube Atlético Mineiro e por isso tem tudo igual ao time de /MG, o mesmo nome, as cores do uniforme, o escudo e o mascote.

O Galo é oriundo do Jardim Fátima, começou a se destacar pela grande torcida que levava nos jogos que disputava no Estádio Municipal Joel Fachini.

Nos anos de 1979, 1980 e 1981 e 1986 o Atlético Futebol Clube disputou os Campeonatos Paulistas, organizados pela Federação Paulista de Futebol.

O surgimento do Araras Clube Desportivo (ACD)

O Araras Clube Desportivo surgiu no ano de 1966, após a desistência da Associação Atlética Ararense e o Comercial FC na divisão profissional do futebol de Araras.

O nascimento da equipe se deu após a mobilização de esportistas da cidade e com o apoio da Prefeitura de Araras, fundou o Acedê. O Araras Clube Desportivo disputou por três vezes o Campeonato Paulista categoria profissional, organizado pela Federação Paulista de Futebol, em 1966 disputou a 4ª divisão e nos anos de 1967 e 1968 disputou a 3ª divisão, mas o clube encerrou suas atividades futebolística. (FARAH 2001)

O menino da Vila

Ailton Lira se orgulha de ter usado a ‘10’ que já foi de Pelé

Ailton Lira da , ou só Ailton Lira, foi simplesmente um craque, ídolo de duas grandes torcidas – Santos e São Paulo - e mestre em cobranças de falta. Teve a responsabilidade de vestir a camisa ‘10’ do Santos, que pertenceu ao maior astro do futebol mundial, Pelé.

A carreira do ararense, que nasceu no dia 19 de fevereiro de 1951, começou com 14 anos, no Cruzeiro, um clube amador da cidade. Com 15 anos se transferiu para o Acedê (Araras Clube Desportivo), o que significou um passo gigantesco.

Como para muitos outros profissionais, competência e uma pitada de sorte foram os ingredientes para alcançar o sucesso.

Em 1966 o técnico Zé Duarte, das categorias de base da Ponte Preta, veio a Araras observar o seu desempenho, mas como chegou atrasado ao jogo, no intervalo, não chegou a ver Ailton Lira em campo, pois ele havia sido substituído no intervalo. Acabou gostando das habilidades do jogador Ditinho Mozzaquatro, outro talento do futebol amador de Araras. “Durante a semana o Zé Duarte voltou a Araras com um diretor da Ponte Preta para contratar o Ditinho Mozzaquatro. Quando chegaram na cidade encontraram o Odair e o Martoni, jogadores que atuavam no futebol amador, e ao invés deles irem à casa do Ditinho eles vieram na minha casa e o Zé Duarte se espantou: - mas não foi este jogador que vi jogar, e os dois recomendaram - mas pode levar este que ele joga direitinho”.

Os dois representantes da Ponte Preta aceitaram levar o Ailton Lira e o Ditinho Mozzaquatro para um período de teste no clube. Aprovados, os dois começaram a disputar campeonatos nas divisões de base. Enquanto Ailton Lira deu seqüência na carreira de jogador de futebol, seu amigo Ditinho Mozzaquatro resolveu não dar continuidade, voltou a Araras e tornou-se um empresário no ramo de couro. “Se não fosse esta oportunidade talvez não tivesse conseguido iniciar minha carreira”, diz Lira.

Os pais de Ailton Lira, Lazaro Silva e Gercira Lira Silva, eram apaixonados por futebol e não impediram que o filho fosse treinar na Ponte Preta. “Meus pais sempre me incentivaram e quando surgiu esta oportunidade eles aceitaram sem nenhum problema e deram o maior apoio. Meu pai sempre foi um crítico do meu futebol e inclusive me cobrava mais empenho”, conta.

Na Ponte Preta Aílton Lira conquistou o acesso à série de elite do Campeonato Paulista, em 1969, e em 1972 se profissionalizou. Neste mesmo ano se transferiu para a Caldense, de Minas Gerais, onde disputou, até 1976, o . Tornou-se ídolo dos torcedores e moradores da cidade de Poços de Caldas.

Em agosto de 1976, aos 25 anos, teve uma outra grande chance. Foi contratado pelo Santos, onde participou do time da Vila Belmiro conhecido como os ‘Meninos da Vila’. Tornou-se um dos meio campistas mais respeitados do clube vestindo a camisa ‘10’, que anteriormente pertenceu a Pelé. O ararense é um grande admirador do rei. “Foi uma honra ter vestido a camisa dez do Santos, que foi do Pelé. Eu participei um pouco da carreira dele e posso garantir que dificilmente vai aparecer outro com a sua qualidade e capacidade”. Assim como o inicio da carreira, sua transferência para o Santos foi bastante curiosa. Foi através dos locutores esportivos da Rádio Bandeirantes que surgiu a oportunidade de se transferir para um grande clube, graças ao seu futebol refinado e aos elogios que eram narrados através das ondas do rádio para todo o Brasil. “Os proprietários da Rádio Bandeirantes eram os mesmos da Rádio Cultura, de Poços de Caldas. Então eles já me conheciam, e quando fui para o Santos me ajudaram muito falando das minhas qualidades como atleta. Isso facilitou para que eu adquirisse confiança em jogar em um grande clube como o Santos”, observa.

Ailton Lira lembra também do comunicador Fiori Gigliotti, que morreu em 2006. Na época ele criou um bordão em sua homenagem fazendo referencia à cidade de Poços de Caldas, o que gerou um desconforto aos ararenses. O Fiori falava muito: - O moço que veio de Poços de Caldas. Muitos ararenses mandaram cartas e telefonaram à emissora para dizer que o craque nasceu em Araras e não em Poços de Caldas.

O time do Santos conhecido no final da década de 70 como ‘Meninos da Vila’ recebeu o apelido porque a equipe profissional era composta por jogadores jovens e conquistou o título de campeão Paulista de 1978. Formava com: Vitor, Nelsinho Batista (hoje técnico de futebol), Joãozinho, Neto e Gilberto Sorriso, , Ailton Lira, e Batata, Juari e João Paulo.

Com uma característica invejável nas armações de jogadas, Aílton Lira foi também um especialista em cobranças de faltas e de penalidades máximas, de modo que a maioria dos seus gols foi de bolas paradas. O ararense não tem números oficiais sobre os tentos que marcou. “Não tenho precisamente quantos gols fiz na minha carreira. Sei que fiz mais gols na Caldense do que no Santos. Acho que tenha sido uma média de 130 gols”, destaca.

Um gol de pênalti, em vitória de 4 a 1 do Santos sobre o São Paulo, no Campeonato Paulista de 1978, marcou a sua carreira e teve repercussão nacional. “Fui o primeiro jogador a ir andando para cobrar um pênalti. Foi contra o São Paulo. Chutei fraquinho num canto e o Valdir Perez que era o goleiro pulou no outro. A bola nem chegou a relar na rede. Em todos os cantos do Brasil que eu vou as pessoas lembram deste gol”. O gesto de Lira depois foi copiado por outros astros do futebol como , pelo Palmeiras, e , pelo Corinthians.

Depois de defender o Santos, de 1976 até 1979, foi contratado pelo São Paulo em 1980, onde jogou apenas por seis meses, o suficiente para conquistar o carinho dos torcedores são-paulinos e o título de Campeão Paulista daquele ano.

Em 1980 Ailton Lira recebeu uma proposta irrecusável do Al-Nasser, da Arábia Saudita, onde jogou até 1982. Neste mesmo ano retornou ao Brasil para defender o Guarani, de Campinas, no Campeonato Paulista. No ano seguinte teve o que considera um privilégio em sua carreira. Foi contratado para jogar a segunda divisão – hoje Série A2 - do Campeonato Paulista pelo União São João, clube da sua cidade natal.

No mesmo ano voltou a reencontrar o técnico Zé Duarte, que o projetou no futebol, que o convidou para jogar a primeira divisão do Estadual pelo Comercial de Ribeirão Preto. Em 1984 se transferiu para a Portuguesa Santista, onde jogou dois campeonatos estaduais.

Em 1986 e em 1987 seu destino foi o Itumbiara, de Goiás, para a disputa do Campeonato Goiano e o da segunda divisão do Brasileiro. No ano seguinte, aos 37 anos, encerrou a carreira no Guará, do Distrito Federal, onde disputou o Campeonato Estadual.

Logo depois que encerrou a carreira deu seqüência no meio futebolístico, como técnico. Sua primeira experiência foi nas categorias de base do União São João de Araras, onde ficou até 1990. Assim que deixou o União resolveu iniciar um projeto com crianças e fundou, em Araras, a escolinha de futebol Camisa 10. Devido aos inúmeros convites para ser técnico resolveu encerrar as atividades da escolinha e foi treinar o time do Villa Palmeiras, de Guarulhos, depois foi para o Primavera, de Indaiatuba, Caldense (MG), Imtubiara (GO), Francana (SP), Paraguaçu Paulista (SP), Olímpia (SP) e agora deverá se transferir para o Lençoense (SP) para comandar a equipe na Copa SP de Futebol Júnior.

Ailton Lira classifica a profissão de jogador de futebol como “melhor do que qualquer outra” e diz se sentir honrado por ter sido atleta profissional. “O futebol é uma profissão em que você faz o que gosta e ainda ganha muito bem e eu tive o prazer de jogar em estádios de futebol com grandes públicos”, lembra.

Atualmente o ex-jogador é reconhecido nas ruas de todo o Brasil e muitos torcedores ainda pedem autógrafos. “Eu estive em um clube social, aqui mesmo em Araras, e um torcedor veio me pedir autógrafo. Fiquei até assustado com a alegria da pessoa por estar perto de mim. Recentemente estive em uma empresa na cidade de Amparo e um torcedor também veio me pedir autografo e para tirar foto. Um outro caso também foi quando um torcedor beijou o meu pé. Isso me deixou até emocionado e às vezes fico me perguntando: - Será que realmente fui um grade jogador mesmo?”.

Hoje com 55 anos, Ailton Lira mora com a esposa, Maria Izilda Campanhollo Silva e mais cinco filhas, Daniele Silva, Elaine Cristina Silva, Camila Silva, Tatiane Silva e Ariane Silva, no jardim Maria Luiza, um bairro de classe média na cidade de Araras.

Carreira internacional Bernardi já disputou a Liga dos Campeões, mas sente saudades do União

Perseverança. Este é o adjetivo que mais se adeqüa ao ainda jovem zagueiro Bernardi, 27 anos, que nasceu em Araras no dia 2 de dezembro de 1979. Tiago Bernardi foi criado pela mãe Antônia Aparecida Bernardini e pela tia Maria Luiza Bernardino Maiolini. Como muitas crianças brasileiras sempre sonhou ser jogador de futebol profissional, e em 1991 deu os primeiros passos para uma carreira promissora. Começou a jogar com apenas sete anos, na SME (Secretária Municipal de Esportes de Araras) e seu primeiro técnico foi o ex-jogador de futebol Marinho. Três anos depois foi convidado para jogar nas categorias de base do União São João, de Araras, onde jogou em todas as divisões, dente de leite, infantil, juvenil, juniores, até chegar ao profissional, em 1998. “Desde criança sempre gostei de jogar. Minha mãe, meus tios e tias sempre foram assistir aos meus jogos no estádio e isso deu mais motivação para que eu conquistasse o meu objetivo que era chegar à equipe profissional”, conta o atleta.

Em 1998 o sonho tornou-se realidade. Foi convidado pelos treinadores Zé Rubens do Sub-20, e Pardal, do profissional, para jogar no time principal do União São João, o que deixou muito feliz. “Quando recebi o convite foi só alegria porque o União tem uma estrutura fantástica e por isso fiquei muito contente”, lembra.

Bernardi chegou a ser o capitão do time ararense. Disputou o Campeonato Paulista da Série A1 e o Campeonato Brasileiro da Série B em 1998 e 1999. Destaque da equipe, o zagueiro foi logo despertando interesse de outros clubes do país.

Em 2000 teve a sua primeira experiência em outra equipe. Se transferiu, por empréstimo, ao Criciúma (SC), onde ficou por dois meses, tempo suficiente para ganhar a confiança da torcida e dos dirigentes que fizeram proposta para adquiri-lo em definitivo. A negociação, entretanto, não deu certo, como conta: “Fui muito feliz no Criciúma, tanto que a diretoria queria me contratar em definitivo enviando quatro jogadores para o União, mas as negociações não evoluíram e acabei não sendo negociado”.

Como a sua transferência para o time catarinense não foi possível, em 2000 o zagueiro ararense voltou ao time de Araras para jogar a Série A1 do Campeonato Paulista. Logo após o término da competição, o empresário de atletas de futebol, Machado, de Porto Alegre, adquiriu metade dos direitos federativos do zagueiro ararense, que no mesmo ano foi para o Internacional de Porto Alegre, onde ficou durante quase dois anos e conquistou o título de campeão gaúcho em 2001.

Em 2002 a carreira do zagueiro ararense foi marcada por alegrias e tristezas. O grande ápice foi a sua transferência para o Santos a pedido do técnico Emerson Leão. “O Leão pediu minha contratação para o Santos desde quando eu jogava no Inter e ele era o técnico do Juventude, mas resolvi não aceitar o convite. Quando ele foi para o Santos, novamente ele me chamou e resolvi me transferir para lá”, lembra.

No entanto, o sonho de jogar em um grande time paulista durou apenas seis meses. Uma contusão no tendão de aquiles interrompeu sua trajetória no time da Vila Belmiro, onde apesar da contusão, fez parte do elenco que conquistou o título de campeão brasileiro. “Fui muito bem recebido no Santos. Eu tinha total confiança do técnico Émerson Leão, e joguei de titular até me contundir”. O time do Santos naquele ano jogou com: Fábio Costa, Maurinho, André Luiz (Bernardi), Alex e Léo, , Renato, Diego e ; Willian e .

O processo de recuperação da grave contusão começou no próprio Santos, mas como não havia previsão de término contrato foi rescindido. O caminho foi procurar um médico especialista, conforme relata: “O médico do União, Newton Baretta me levou para o hospital Ciro Libanês, em São Paulo. Fui operado pelo médico especialista e professor da USP Osny Salomão e para complicar ainda mais acabei sendo prejudicado por uma infecção hospitalar”. Para acelerar sua volta aos gramados, Bernardi recorreu à clínica de fisioterapia do Nivaldo Baldo, em Campinas, especializada no tratamento de atletas de esporte profissional.

Depois de dois anos sem jogar, enfim o zagueiro de Araras retornou aos gramados. Em 2004 disputou a Copa Federação Paulista de Futebol pelo União São João. No ano seguinte foi contratado pelo Atlético de Sorocaba para jogar o Campeonato Paulista da Série A1.

Europa

No mesmo ano teve a sua primeira experiência fora do país. Foi jogar no FC Thun na Suíça, onde se tornou ídolo da torcida e ficou até o começo de 2006. O interesse dos suíços pelo seu futebol aconteceu após uma partida no dia 24 de fevereiro de 2005, em que o Atlético de Sorocaba empatou com o Palmeiras, no Parque Antarctica, pelo Campeonato Paulista.

“O meu empresário, Jorge Machado estava com o Mario Rossi, um representante do FC Thun da Suíça assistindo o jogo contra o Palmeiras e a partir daí iniciaram as negociações e acabei me transferindo para jogar no futebol suíço”, conta Bernardi com orgulho.

No FC Thun foi o autor do gol que deu a classificação inédita para a Liga dos Campeões da Europa, uma competição européia, equivalente à Taça Libertadores da América. “Disputar esta competição é o sonho de qualquer jogador. Só participam clubes de tradição da Europa, como Barcelona, Real Madrid, Lyon, Bayer de Munique, Liverpool entre outros times de tradição”, fala.

O reconhecimento foi tão grande que os ônibus urbanos que circulam pela cidade suíça estamparam fotos com o rosto de Bernardi.

Embora jovem, e já tendo passado por grandes clubes do futebol brasileiro e tido a experiência de jogar no exterior, relembra com saudades o time em que ele atuou na sua passagem pelo União e diz que o time que jogou o campeonato paulista de 200c0 foi um dos mais fortes em que atuou. O União jogava com: Paulo Roberto, Flávio, Bernardi, Andrei e Domires Junior, , Fabrício, João Santos e Aílton, João Paulo e Edu Salles.

No segundo semestre de 2006, Bernardi se desvinculou do empresário Jorge Machado e do União São João e seus direitos federativos passou a ser cuidado pelo empresário austríaco Horst Zangler, que há sete anos reside em Campinas/SP.

Em agosto de 2006, o zagueiro ararense foi contratado pelo Slovacko da República Theca, onde atuou por oito meses e marcou três gols. Em junho de 2007, foi contratado pelo Artha da Áustria, onde assinou contrato de um ano. Bernardi afirma que na profissão de jogador de futebol se ganha muito dinheiro: “O futebol dá um retorno financeiro muito bom. Acredito que qualquer pessoa que estuda a vida inteira não consegue um emprego em que se recebe o equivalente ao salário de um jogador de futebol profissional”.

Hoje com 27 anos e solteiro, Bernardi se divide entre a casa da mãe, Antônia Aparecida Bernardini, no Jardim Luiza Maria e da tia, Maria Luiza Bernardini, no Jardim Campestre, zona leste do município. Um dos sonhos do zagueiro ararense Bernardi é voltar a defender um clube grande da capital paulista. Outro objetivo é conquistar um título de campeão europeu.

A mãe de Bernardi, Antônia Aparecida Bernardini foi durante muitos anos babá dos três filhos do jogador Roberto Carlos, Roberta, Giovanna e Roberto Carlos Junior, este último adotado.

Especialista em cobrança de falta ‘Rei’ no México, Danilo é craque no Brasil

Habilidade com a perna esquerda. Facilidade nas cobranças de falta e, sobretudo, inteligente na armação das jogadas. Especialidade: servir os companheiros.

Este é o perfil do meio-campista Danilo Valério Sacramento, que nasceu em Araras no dia 3 de novembro de 1982. Hoje com 24 anos já carrega em seu currículo passagens por grandes times do futebol brasileiro. No exterior já foi chamado de ‘rei’.

Lembra, com saudades de quando teve sua primeira oportunidade, em 1993: “Comecei com onze anos na Secretária Municipal de Esporte de Araras. Meu primeiro técnico foi o Zildélio, e nós disputávamos torneios contra times de Araras”.

Empenhado e muito talentoso, o meio-campista Danilo não demorou a chamar a atenção de outros clubes do município. Em 1994 se transferiu para o Clube dos Bancários, onde foi comandado pelo técnico Silvio Garlizoni.

No ano seguinte foi convidado pelo ex-jogador, hoje técnico de futebol Aílton Lira, para jogar na Escolinha de Futebol Camisa 10. “Fiquei um bom tempo no Camisa 10 e aprendi muito com o Aílton Lira. Foi ele quem me deu boas dicas como pegar bem na bola e por isso hoje treino bastante cobranças de falta, o que nos jogos resulta em gols”, conta.

Depois de se destacar no Camisa 10, surgiu a primeira oportunidade de se transferir para um time de tradição do futebol paulista, o São Paulo FC. “O Ailton Lira conhecia muito o Pitta, que era o técnico da categoria infantil do São Paulo e me levou para jogar lá. Cheguei a disputar a Copa Nike, mas como a equipe não foi bem, acabei sendo dispensado”, lembra.

Liberado pelo São Paulo, em abril de 1996, Danilo voltou a Araras e novamente integrou a equipe do Camisa 10, onde ficou apenas alguns meses. No segundo semestre atuou pela AABB (Associação Atlética Banco do Brasil) e teve como treinadores Kiko e Adinan Adão.

Em todos os clubes onde jogou Danilo sempre foi o diferencial e em 1998 teve a sua primeira oportunidade para atuar nas categorias de base do União São João, clube reconhecido por revelar talentos.

Com o passe vinculado ao time de Araras, Danilo integrou a equipe Sub-17 (juvenil) e foi treinado pelo técnico Marquinhos Coxinha. Após dois anos atuando com destaque o jovem atleta foi promovido para jogar na categoria Sub-20, treinado pelo técnico Zé Rubens, pai do jogador Vagner, que também foi revelado pelo time ararense e que depois teve passagens pelo Santos, São Paulo e no exterior.

Após alguns treinos no Sub-20, Danilo foi emprestado para o Primavera, de Indaiatuba, em 2000, para a disputa da Copa São Paulo de Futebol Júnior. Jovem, porém muito talentoso fez um grande campeonato e ajudou a equipe a chegar à reta final da competição, quando foi eliminada pelo São Paulo FC, clube que o dispensou.

No jogo contra o time da capital, o jovem ararense foi escolhido o melhor em campo e marcou o único gol de seu time na partida, na derrota, por 2 a 1. “Fizemos uma brilhante campanha. Inclusive no jogo que fomos eliminados pelo São Paulo eu marquei um gol e o próprio São Paulo queria me contratar, mas naquele momento não foi possível porque eu estava vinculado com o União, que preferiu não me negociar”, conta.

Ainda em 2000, Danilo chegou a integrar o elenco do Campinas FC do ex-jogador e hoje empresário . Com a equipe participou de uma excursão na Itália.

Com os direitos federativos vinculado ao time ararense, Danilo voltou a ser integrado ao União São João, mas algumas mudanças haviam sido feitas na comissão técnica do time Sub-20. O técnico Zé Rubens havia sido dispensado e o novo comandante era o Carlos Rabello, que antes mesmo de terminar o Campeonato Paulista Sub-20 daquele ano deixou o lugar para o Play Freitas, que mais tarde foi o grande responsável pela promoção do jovem ararense ao time principal.

Em 2001, Danilo foi campeão Paulista Sub-20 com o União, após vitória sobre o São Paulo, na final, por 2 a 0. O gols foram marcados pelo atacante Galvão, hoje no Atlético (MG). O time de Araras era treinado pelo técnico Play Freitas e a equipe jogava com: João Paulo, Carlos Henrique, Robinho, Diguinho e Fernando, Tales, Ledson e Danilo, Galvão e Wilson, que também é ararense e logo após o título teve seus direitos federativos negociados em definitivo com o Sport Club Corinthians Paulista. “Joguei durante todo o campeonato. Somente na reta final fui chamado para integrar oficialmente a categoria principal do União, mas me considero campeão”, diz.

Em agosto do mesmo ano Danilo foi promovido ao profissional do time ararense e disputou a Série B do Brasileiro, quando foi destaque e o artilheiro da equipe. Marcom oito gols nos onze jogos disputados. O seu primeiro gol com a camisa do União é considerado uma pintura. Foi contra a Desportiva (ES), no Estádio Hermínio Ometto, em Araras. “Driblei quase que meio time do Desportiva e fiz um golaço. A partir daquele momento me firmei no time e fui bastante elogiado”, lembra com orgulho.

Naquele ano o União chegou à fase final, mas foi eliminado pelo Paysandu (PA) após dois empates, 1 a 1 em Araras e 0 a 0 em Belém (PA).

O único campeonato disputado pelo time que o revelou foi o suficiente para despertar o interesse de grandes clubes do futebol brasileiro e também do exterior.

O seu destino foi o México. O Monterrey fez uma proposta oficial de dois milhões de dólares e o ararense foi negociado em definitivo para o futebol mexicano. “Quando acabou a Série B do Brasileiro, o presidente do União, José Mario Pavan, me chamou e disse que não iria me negociar. Mas para minha surpresa, quando eu estava comemorando a passagem de ano de 2001 para 2002, o Beloto me ligou e pediu para eu me apresentar lá no União que eu havia sido negociado”, conta.

A viagem para o seu novo clube aconteceu dois dias depois, no dia 2 de janeiro. De Araras partiu para São Paulo, onde se encontrou com o presidente do União, José Mario Pavan que estava viajando a passeio. Ele lembra: “Eu estava ansioso. Tinha apenas 19 anos e pela primeira vez estava tendo uma oportunidade de jogar no exterior. Na viagem até São Paulo fui de carro com o ‘Piracema’(motorista do União São João) e com o meu pai e nós conversamos muito sobre o momento de felicidade que eu estava vivendo”.

Após uma viagem tranqüila de avião, Danilo foi recepcionado no aeroporto mexicano com muita festa pelos torcedores do Monterrey. A chegada também teve muita repercussão da imprensa, conforme conta: “Fiquei até assustado quando cheguei lá. Logo que desembarquei no México dezenas de repórteres vieram me entrevistar. Eu nem sabia direito falar espanhol e a minha sorte é que o Pavan sabia e me orientou”.

Depois de conhecer as dependências de sua nova equipe, Danilo iniciou sua preparação para o jogo de estréia, marcado já para a semana seguinte à apresentação, o segundo do Monterrey na temporada, no torneio Apertura. O estádio estava tomado por torcedores. Danilo se lembra que eram cerca de 50 mil pessoas para acompanhar a sua estréia no time que apostou em seu talento. Logo na estréia foi mostrando o seu valor e fazendo justiça frente ao valor investido na sua contratação. Marcou dois gols e a torcida o chamou de rei. “Nós jogamos contra o Leon, marquei dois gols e ganhamos a partida por 4 a 1. Depois do jogo os torcedores começaram a gritar ‘ei,ei,ei o Danilo é nosso rei’, mas até então eu não entendia nada, só sei que falavam o meu nome. Algumas pessoas que entendiam português vieram me falar e acabei ficando muito emocionado”, conta.

No Monterrey Danilo jogou o primeiro semestre de 2002. Foram 19 partidas como titular pelo torneiro Apertura. A campanha da equipe foi apenas regular. Na metade do ano regressou ao Brasil, para passar férias com a família.

No Brasil, o ararense acompanhava através da internet e jornais as informações do seu clube no México e ficou sabendo que no seu retorno a tarefa de se manter na equipe não seria tarefa tão fácil, já que o técnico argentino Daniel Passarela havia sido contratado para comandar a equipe no segundo semestre de 2002 e já tinha um propósito de não contar com atletas brasileiros no seu grupo. “Quando eu retornei de férias eu comecei a treinar normalmente. Mas o presidente do Monterrey me chamou e me comunicou a decisão”, lamenta.

De volta ao Brasil, Danilo foi emprestado ao Cruzeiro (MG), em contrato até julho de 2003. Na ocasião o técnico era o Marco Aurélio, que já o conhecia como atleta, lembra: “O José Mario Pavan que era meu procurador acertou a minha transferência para o Cruzeiro através do jogador Wilson Gottardo, que na época ajudou nas negociações”.

Após duas semanas no Cruzeiro, o ararense viu suas chances de jogar diminuídas, já que o técnico Marco Aurélio havia deixado o clube para ser técnico no Japão. O time mineiro contratou o técnico , que acabou não dando chance para o jovem meio- campista mostrar seu futebol. “O Vanderlei trouxe muitos jogadores experientes naquele ano e por isso acabei não sendo utilizado no campeonato. Cheguei a conversar com ele sobre a possibilidade de jogar, porque nos treinos eu jogava muito bem e fazia gols, mas mesmo assim ele não me ‘relacionava’ para os jogos”, salienta. Em 2002 o Cruzeiro jogava com: Gomes, Maicon, Marcelo Batatais, Luisão e Leandro, Augusto Recife, Fernando Miguel, Jorge Wagner e Alex, Lucas e Fabio Júnior.

Sem chance nenhuma de atuar no Cruzeiro, Danilo resolveu rescindir o contrato e conheceu o empresário de futebol ararense José Antônio (Totó Bressan), que se ofereceu para ser o seu procurador e acertou a sua transferência para o Vasco da Gama. “O José Mario Pavan queria que eu voltasse ao União. Mas como o Vasco da Gama também tinha interesse para que eu fosse pra lá, resolvi aceitar este desafio de jogar em um grande clube do futebol carioca”, relata.

Com 21 anos, Danilo disputou, em 2003, os campeonatos carioca e brasileiro e a para o Vasco da Gama. Conquistou o título de campeão carioca e marcou o gol que considera o mais importante da sua carreira. “Tive a honra de ser campeão carioca com o Vasco da Gama e na Copa do Brasil. Marquei o gol mais importante da minha carreira em uma partida, contra o Bahia,,que valeu a classificação”, revela o meia.

Depois do Vasco, Danilo foi emprestado à Portuguesa de Desportos, a pedido do Antônio Bressan, que naquele ano foi contratado para ser diretor de futebol do time do Canindé. Disputou o Campeonato Paulista da Série A1 e fez uma campanha que considera apenas regular. Foram nove jogos e nenhum gol marcado.

Como Bressan acabou assumindo um cargo de dirigente na Portuguesa de Desportos, Danilo resolveu se vincular a outro procurador, o também ararense Iko Martins. Ainda com contrato até dezembro de 2004 com o Monterrey do México, Danilo se reapresentou ao time mexicano e chegou a fazer a pré-temporada, mas como não seria reutilizado fez um acordo com a diretoria do clube e acabou adquirindo seus direitos federativos em definitivo. “O Iko Martins me ajudou muito. Através dele eu consegui fazer um acordo amigável e acabei definitivamente me desvinculando do Monterreyl”, diz.

De volta ao Brasil, Danilo foi emprestado à Ponte Preta, através do empresário Juan Figuer, que adquiriu metade dos seus direitos federativos e passou a ser o mediador do atleta com os clubes de futebol.

Seu destino, no entanto, foi a Ponte Preta, onde se apresentou em setembro de 2004 e marcou dois gols no Campeonato Brasileiro. Em 2005 atuou pela Ponte no Campeonato Paulista e no Campeonato Brasileiro e marcou cinco gols durante a temporada.

Em 2006, novamente disputou o Campeonato Paulista e o Campeonato Brasileiro e marcou três gols. Antes mesmo de o campeonato nacional terminar o jovem meio-campista ararense acabou sendo dispensado do elenco, com outros sete jogadores. O motivo foi a campanha irregular do time campineiro na competição. E acabou rebaixada a Série B do Brasileiro.

No primeiro semestre de 2007, o meio-campista ararense teve seus direitos federativos adquiridos pela empresa espanhola As-Sport, que o emprestou por três meses para o Al-Nasser da Arábia Saudita. Atualmente o meia está sem clube e o seu futuro poderá ser o futebol espanhol.

Embora ainda jovem, com apenas 24 anos, Danilo aponta o União São João de Araras como um clube especial na sua carreira. “O União é time da minha cidade e foi onde eu mais me destaquei como jogador até aqui. Foi o clube que me abriu as portas para me tornar um atleta profissional. A Ponte Preta é um time que também tenho bastante carinho pelo tempo que lá fiquei. Foram dois anos e três meses e o time em que mais marquei gols. Foram dez no total e uma marca de quase 100 jogos”, afirma.

Torcedor confesso do Palmeiras e fã do futebol do meia , Danilo deixa claro que ser jogador de futebol não é importante somente pelo conforto que é possível dar à sua família e sim pelo reconhecimento do público pelo seu trabalho. “Eu consegui realizar o meu sonho de ser um jogador de futebol e poder dar um conforto para que a minha família possa viver bem. O melhor de tudo é o carinho dos torcedores que pedem autógrafos, pedem para tirar uma foto e acima de tudo nos reconhecem na rua valorizando o trabalho que é feito dento de campo”.

Danilo é solteiro e namora há cinco anos a ararense Maria Eduarda Pavan com quem faz planos para se casar em um futuro breve. “A Eduarda é minha companheira de todas as horas. Ela está ao meu lado nos momentos bons e me ajuda muito nos momentos difíceis. Ela guarda todos os recortes de jornais e fotos sobre a minha carreira”, relata.

Filho de Valdir Valério Sacramento e Marisa de Lourdes Valério Sacramento, Danilo tem mais dois irmãos, Kleber Valério Sacramento e Letícia Valério Sacramento. Com exceção do irmão que já é casado, o restante da família mora em uma casa que foi comprada por Danilo, no Jardim Europa. O pai do jogador foi frentista de posto de combustível e hoje é empresário no ramo de imobiliária. Além da casa que deu para os pais morar, Danilo construiu, também no Jardim Europa, bem em frente à casa da família, um espaço com churrasqueira, onde reúne a família e os amigos. Com o dinheiro do futebol Danilo já projeta o futuro e já comprou vários imóveis para alugar.

Danilo tem ainda outros sonhos para o futuro. Quando encerrar a carreira pretende ser comentarista. “Rádio e televisão é uma coisa que gosto muito. Quando estive suspenso na Ponte Preta fui convidado para comentar na Rádio Bandeirantes e gostei. Sempre sou convidado também para participar de programas de televisão e acho uma profissão muito legal. Quem sabe um dia”, finaliza.

A polêmica história de um goleiro ararense Início na Ponte Preta foi decisivo para o sucesso de Fabiano

Fora de campo um sujeito irreverente, campeão em fazer amizades. Dentro das quatro linhas uma personalidade forte. Este é o retrato do goleiro ararense Fabiano, que ao longo de sua carreira fez coisas que até o mais apaixonado por futebol dúvida. Já bateu em árbitro, tirou satisfação com torcedores na arquibancada e foi alvo de uma confusão generalizada no México.

Fabiano Pereira de Camargo nasceu em Araras no dia 25 de janeiro de 1975. Desde criança o seu brinquedo predileto é a bola. Brinquedo que acabou se transformando em ganha- pão, pois é um dos goleiros mais respeitados do futebol brasileiro.

Em 1987 com apenas 12 anos deu os seus primeiros passos como jogador de futebol na SME (Secretária Municipal de Esporte de Araras). Nesta época, escondido de sua mãe, Santina Carolina Manara Camargo, cortava parte do tapete da sala para fazer luvas de goleiro, posição que adotou desde o início e sobre a qual nunca teve dúvidas.

Após um ano jogando em Araras, por acaso, conseguiu oportunidade de se transferir para um time tradicional do futebol brasileiro, a Ponte Preta, de Campinas. O coordenador das categorias de base, José Ricardo, e o técnico da categoria dente-de-leite do time campineiro, Hélio Sarcedo, estiveram em sua casa, acompanhados do técnico da SME, Lucidio Marciano, e o convidaram para atuar na Ponte. “Lembro que era a véspera dos dias das crianças. Eu estava arrancando minhoca para pescar no lago no dia seguinte. Quando cheguei em minha casa fiquei surpreso com o convite e não pensei duas vezes, fui jogar na Ponte Preta. Desde o começo já tive muita sorte”, relata.

Depois de convencer a família que gostaria de jogar na Ponte Preta, Fabiano se apresentou no estádio Moisés Lucarelli no dia 12 de outubro de 1988 e passou a ser o goleiro titular da categoria dente-de-leite. Foi vice-campeão paulista, perdendo a final para o XV de Piracicaba. “Lembro que neste ano o XV utilizou o jogador Kalunga irregular, ele tinha idade avançada e não poderia disputar aquele campeonato. Nós soubemos disso depois que ele foi contratado para jogar comigo na Ponte Preta”, lamenta. Kalunga não deu continuidade à carreira de jogador profissional e acabou preso, conforme conta Fabiano: “Quando eu fui para a Portuguesa nós fomos fazer uma palestra no presídio de Carandiru e eu o reencontrei lá”.

No ano seguinte Fabiano se firmou como goleiro titular da categoria infantil e ficou até 1991, quando foi chamado para jogar no juvenil, onde a sua estrela começou a brilhar. “Quando fui convidado para fazer parte do juvenil percebi que o meu sonho de me tornar jogador profissional daria certo”, afirma.

Aos 16 anos, como ele mesmo diz, estava na hora certa e no lugar certo, pois da categoria juvenil pulou direto para o time profissional, a pedido do técnico da Ponte na época, Vanderlei Luxemburgo. Naquele ano a categoria de juniores do clube foi disputar os jogos regionais e dois goleiros da equipe principal, Wilson Maia e Rodrigo, estavam contundidos, deixando o elenco apenas com o titular Anselmo. “Eu estava sentado na calçada em frente ao Moisés Lucarreli, esperando para começar o treino da categoria juvenil, quando o Luxemburgo me chamou para treinar o coletivo entre os profissionais. Aquele momento foi um dos mais importantes da minha vida, até porque era a minha grande chance, ainda mais com a fera Luxemburgo”, lembra.

Com apenas 16 anos, graças a uma boa atuação e elogiado por Luxemburgo, conseguiu vaga entre os goleiros da equipe principal. Passou a ser a quarta opção do técnico pontepretano. “Graças a Deus eu fiz uma grande atuação e depois do treino o Luxemburgo pediu para eu acompanhar a programação do profissional. Isso pegou os goleiros do juniores de surpresa, pois quando eles retornaram viram que eu havia subido do juvenil direto para o profissional, sem jogar na categoria intermediária. Eles ficaram muito irritados comigo, mas eu não tive culpa de estar na hora certa e no lugar certo”, salienta.

Em dois anos só treinando na categoria profissional, Fabiano não chegou a jogar, mas ressalta que adquiriu experiência e maturidade e sabia que chegar a ser titular da Ponte Preta era uma questão de tempo. “Lembro que em 1994 fui oficialmente profissionalizado na Ponte Preta. O meu salário era de R$ 500,00”, recorda. Para a disputa do Campeonato Brasileiro, Vanderlei Luxemburgo deixou a Ponte Preta e foi substituído por Osmar Guarnelli. O goleiro titular era o André Dias e o reserva o ararense Fabiano.

A estréia de Fabiano na equipe principal da Ponte aconteceu quando tinha 19 anos, em jogo contra o Coritiba, no estádio Couto Pereira pelo Brasileiro. Mas a estréia foi com derrota, lembra: “O André foi disputar uma bola e acabou se contundindo e foi a partir daí que tive a primeira chance de jogar na Ponte Preta, perdemos por 2 a 0”.

A partida seguinte, contra o Juventude, em Caxias do Sul, foi a primeira em que começou jogando. O resultado também foi uma derrota por 2 a 0, mas o goleiro garante que não teve culpa: “Perdemos de 2 a 0, mas o nosso time era muito inferior e não tive culpa nos gols”. Naquele ano o time campineiro por pouco não foi rebaixado. Só se salvou na última rodada, graças a uma vitória, por 2 a 1, em confronto regional contra o Mogi Mirim, fora de casa, no qual a atuação do goleiro Fabiano foi decisiva. “Os jogadores mais veteranos fizeram corpo mole e não quiseram jogar. Nosso time entrou em campo praticamente com a molecada e mesmo assim conseguimos a vitória e fomos bastante reconhecidos pela torcida”, lembra.

O ano de 1995 não foi bom para o goleiro ararense. Além do vice-campeonato na Copa São Paulo de Futebol Júnior, após perder para o Corinthians na final por 1 a 0, teve que amargar o rebaixamento para a Série B e ainda sofreu uma grave contusão no joelho, que o tirou de todo o segundo turno da competição, conforme lembra: “Disputei uma bola com o chileno Sierra, do São Paulo, e acabei levando a pior. Não disputei o segundo turno inteiro do Brasileiro, fomos rebaixados e perdi a chance de defender a seleção brasileira de novos no Mundial em Tulon”.

No ano seguinte o goleiro Fabiano permaneceu na Ponte Preta e em paralelo ao futebol resolveu cursar educação física, na PUC de Campinas. Freqüentou as aulas durante três anos, mas devido aos compromissos com a carreira não conseguiu dar continuidade. Ainda em 1995 disputou a série a A2 do Paulista e a Série B do Brasileiro.

Em 1997 começaram as atitudes polêmicas do jovem goleiro ararense Fabiano de apenas 22 anos. A Ponte Preta havia contratado bons jogadores e mesmo assim, segundo Fabiano, o resultado foi um fracasso total.

Em uma partida contra a Paraguaçuense, com mais de 15 mil pontepretanos no Estádio Moisés Lucarelli, o time perdeu por 2 a 1, com direito a uma falha do goleiro ararense, que foi xingado de frangueiro. Sua atitude surpreendeu a todos, como ele mesmo conta: “Nós precisávamos ganhar o jogo. Estava empatado em 1 a 1 e faltando 15 minutos para acabar a partida, aconteceu uma falta de longe. Eu pedi para não formar a barreira e dancei. O Toinzé chutou e eu tomei um peru e a partir daquele momento comecei a ser humilhado pela torcida que gritava ‘frangueiro’, ‘frangueiro’, ‘frangueiro’. Aquilo me irritou e quando acabou o jogo eu fui em direção à arquibancada, pulei o alambrado, fui no meio da massa e gritei ‘vocês acham que sou o culpado e se baterem em mim nós vamos sair dessa’. A confusão estava armada e se não fossem dois chefes de torcida e mais os policiais acho que teria morrido”.

A atitude do goleiro ararense repercutiu no Brasil inteiro. A partir daquele momento os torcedores tiveram a certeza de que o Fabiano estava realmente disposto a lutar pela equipe e a visão da torcida passou a ser outra. “Sei que hoje quando volto ao Moisés Lucarelli a torcida sempre grita ‘Doutor eu não me engano o Fabiano é pontepretano”, conta com orgulho.

A Ponte Preta permaneceu na Série A2 do Paulista, e no segundo semestre de 1997 ainda conseguiu um feito que há muito tempo era esperado. Voltou à divisão de elite do campeonato nacional. Fabiano foi considerado um dos destaques da equipe na competição e um dos grandes responsáveis pela conquista. “O último jogo contra o Náutico foi uma das maiores emoções da minha vida, 25 mil pessoas invadiram o campo e me ergueram para o alto como um troféu”, conta com saudosismo.

Valorizado pela conquista, passou a interessar a vários times do futebol brasileiro, mas a Portuguesa chegou primeiro e fez uma proposta oficial para a compra dos direitos seus direitos federativos.

O ararense atuou na lusa em 1998, e fez uma excelente campanha, com o time chegando à final do Paulista, contra o Corinthians. Mas, na partida final, quem chamou a atenção foi o árbitro argentino Ravier Castrille. “Nós fomos assaltados pelo árbitro. Ele deu dois pênaltis para o Corinthians e em um deles alegou toque de mão do zagueiro César, que depois ficou marcado pelo choro comovendo todo o Brasil”, conta decepcionado.

Naquele ano a Portuguesa era comandada pelo técnico e jogou com: Fabiano, Alexandre, César, Emerson e Augusto, Alex, Evandro, Alexandre e Aílton, Leandro Amaral e Evair. A diretoria da Lusa fez questão de homenagear todos os jogadores, com a entrega de um prêmio de campeão moral. Fabiano também foi escolhido, por todos os técnicos das equipes na época, como o melhor goleiro da competição.

No Campeonato Brasileiro do mesmo ano a Portuguesa fez uma boa campanha, e chegou a golear o São Paulo por 7 a 2 e vencer o Flamengo, no Maracanã, por 3 a 2. “Neste jogo do Flamengo o Alexandre marcou um gol e atravessou o Maracanã inteiro e veio me abraçar, cumprindo uma promessa que fez caso marcasse um gol. Neste jogo a diretoria do clube carioca falou também que se o Flamengo perdesse o jogo iria devolver o dinheiro do ingresso pra torcida e tomaram, tiveram que devolver”, enfatiza.

Depois do Brasileiro um desentendimento entre o técnico Candinho e a diretoria culminou em um desmanche total da Portuguesa de Desportos. Como jogada de marketing o clube contratou o técnico Mario Jorge Lobo Zagallo para o Campeonato Brasileiro. Os resultados, entretanto, foram decepcionantes e o time foi mal na Copa do Brasil e fez campanha modesta no Campeonato Paulista. O Zagallo deixou a equipe na metade do Campeonato Brasileiro e foi substituído por . A Lusa só não foi rebaixada por causa de um Ranking que a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) estabeleceu na época, beneficiando clubes considerados tradicionais e organizando, para o ano seguinte, a Copa João Havelange. Devido à má campanha da Portuguesa no ano anterior, o goleiro acabou perdendo a condição de titular. O técnico Nelsinho Batista assumiu a equipe e pediu a contratação do goleiro Ronaldo, ex-Corinthians. “A equipe estava muito bem na competição, mas infelizmente o Ronaldo se machucou na metade do Campeonato Paulista. Entrei em seu lugar e conseguimos nos classificar para a segunda fase”, conta. No entanto, mais uma decepção marcou a trajetória da Lusa no estadual. “Caímos num grupo muito forte que tinha o Santos, São Paulo e Guarani. Fomos eliminados e mais uma crise se instalou lá”, ressalta.

No segundo semestre de 2000 o goleiro ararense recebeu convite do técnico Luis Felipe Scolari para disputar a Copa João Havelange, pelo Cruzeiro. O time fez boa campanha, mas perdeu a final do torneio para o Vasco da Gama. O Cruzeiro jogava na época com: Fabiano, Rodrigo, Cléber, Criz e Sorin, Ricardinho, Donizeti Oliveira, Giovani e Sérgio Manuel, Ozéias e Fabio Junior.

Mesmo com a eliminação na Copa João Havelange, a diretoria do Cruzeiro esperava que o goleiro Fabiano permanecesse por mais uma temporada, mas o seu vínculo com a Lusa impossibilitou a negociação, já que a Portuguesa o queria de volta para o Campeonato Paulista de 2001. “Foi uma burrada da minha parte. Fiquei irritado porque a Portuguesa contratou o para ser o titular, fiquei irritado e disse que não gostaria de ficar na reserva. Como castigo me emprestaram para o América Mineiro e disputei o estadual”, relata.

Comandado pelo técnico , o América chegou à final do torneio, disputada contra o Atlético Mineiro e sagrou-se campeão. “Era um time muito jovem, mas com muita qualidade técnica e vontade de vencer. Desde a minha chegada no clube e a do técnico Lula não perdemos mais nenhum jogo e fomos campeões”, recorda. O América(MG) jogava com: Fabiano, Edson, Wellington Paulo, Thiago e Michel, Rui, Ricardo, Claudinei e Tucho, Rodrigo e Alessandro. A final do campeonato mineiro de 2001 teve uma coincidência. Os dois goleiros que atuaram na partida, Fabiano pelo América (MG) e Velloso pelo Atlético Mineiro, são ararenses.

No segundo semestre o goleiro Fabiano permaneceu no América e disputou o Campeonato Brasileiro, mas na terceira rodada contra o próprio Atlético (MG), ele sofreu uma grave contusão no joelho, que o deixou em tratamento durante sete meses. “Precisei me submeter à cirurgia e fiz a recuperação no próprio América (MG)”, lembra.

Seu retorno aos gramados aconteceu em 2002, na Copa Sul-Minas contra o Juventude, com vitória do time mineiro por 3 a 0. O ararense foi considerado o melhor jogador em campo. Logo depois da Sul-Minas, veio o Super Campeonato Mineiro e uma outra contusão, uma lesão na clavícula, o tirou dos gramados. Desta vez a recuperação foi rápida, a tempo de disputar a Série B do Brasileiro, quando o clube quase conseguiu o acesso. Na reta final, perdeu a vaga para o Fortaleza (CE), que conquistou o acesso em 2002.

A morte do pai

Em novembro de 2002, logo que acabou a disputa da série B do Brasileiro pelo América (MG), Fabiano resolveu deixar Belo Horizonte e retornou a sua terra de origem, Araras, onde passaria férias com a sua família. Seu local predileto de lazer é um sitio comprado com o dinheiro do futebol, em 1999, que fica no bairro rural do Campo Alto, conhecido como Cascata. Mas logo que chegou a Araras percebeu que algo estranho estava acontecendo. Seu pai, Odarcy Pereira de Camargo, estava com muita dor nas costas. “Foi o momento mais difícil da minha vida. Segundo o meu pai era uma dor muito forte e na medida em que os dias passavam a dor estava aumentando. Procuramos um especialista e um exame constatou uma metástase de um câncer, que meu pai já tinha operado em 1998 sem eu saber, porque eu estava na Portuguesa e minha família preferiu não me falar”, lembra.

Fabiano perdeu o seu grande companheiro de pescaria e, sobretudo, seu maior incentivador para que se tornasse goleiro. Odarcy Pereira de Camargo morreu no dia 1º de janeiro de 2003, aos 63 anos, o que provocou muita tristeza na família e fez com que o jogador até pensasse em abandonar a carreira, como lembra emocionado: “A morte do meu pai foi um verdadeiro choque pra mim. Meus planos eram ganhar dinheiro com o futebol e depois aproveitar com toda a minha família. Mas o destino é realmente cruel e traiçoeiro e levou meu ‘véio’ embora. Cheguei a comentar com a minha mãe que não iria mais jogar”.

No entanto, a amargura que sua mãe, casada há 40 anos quando perdeu o marido, sentia por dentro não podia transparecer para os filhos, principalmente para o jogador, que ainda tinha muito tempo de carreira pela frente. Na ausência do pai, ela passou a ser a sua incentivadora. “Lembro que minha mãe me falou ‘você não vai se entregar por causa disso, meu filho. Vai com a força de Deus. você vai conseguir superar”.

Incentivado pela família e por Luiza, uma amiga de Belo Horizonte, viajou à capital mineira e se apresentou ao América (MG) para a temporada de 2003. “Fui recebido com muito carinho pelos meus companheiros, que vieram me abraçar e me deram muita força naquele momento tão difícil que eu estava passando. Mas no terceiro dia de treinamento quebrei a mão e não disputei a competição. Fiz a minha recuperação em Araras junto com a minha família”, relata.

No segundo semestre de 2003, Fabiano se reapresentou ao time mineiro novamente, para ser o goleiro titular do Campeonato Brasileiro da série B. Nesta competição mais uma polêmica veio à tona, o que também repercutiu no Brasil e no mundo.

Restando dez jogos para terminar a competição, o América (MG) não atravessava um bom momento no campeonato. O jogo era contra o Avaí (SC) no estádio da Ressacada, em Florianópolis. O América ganhava por 1 a 0 até os 45 minutos do segundo tempo. De repente o árbitro paranaense Tadeu Mafra deu um pênalti duvidoso para o Avaí, o que irritou Fabiano, que conta a reação: “Naquele momento fui com educação para falar com o árbitro, mas ele foi me xingando de ‘veado’ e filho da ‘puta’ e me deu um cartão amarelo. Isso foi a gota d’água. Passou um filme na minha cabeça. Lembrei do meu pai que tinha morrido, dos bezerros que estavam morrendo no sítio, dos salários atrasados e vi os meus companheiros de time chorando em campo. Fui pra cima dele e dei lhe um soco no rosto, um chute na ‘bunda’ e ainda corri atrás dele. Só parei quando a polícia me prendeu e me levou para a delegacia”.

O goleiro obviamente foi expulso e o América já havia feito as três alterações. O atacante Alessandro precisou ir para o gol, mas o pior não aconteceu. “Olha depois disso aconteceu o milagre, o atacante, o ‘cidadão’ do time deles, conseguiu chutar pra fora e ainda ganhamos o jogo de 1 a 0”, lembra.

Durante toda a madrugada, Fabiano ficou na delegacia de Florianópolis prestando depoimento. No outro dia retornou com o restante da delegação para Belo Horizonte e quando chegou ao aeroporto de Pampulha foi recebido com festa por mais de 4 mil torcedores do América (MG), sendo aplaudido pela sua atitude. “Depois daquele momento me tornei um ídolo da torcida”, relata.

Algumas semanas depois Fabiano foi julgado pelo episódio na sede da CBF, no , e punido com 180 dias de suspensão, ou seja, ficou sem jogar durante seis meses. Devido ao longo período em que ficaria inativo, o goleiro ararense fez um acordo com a diretoria do América e rescindiu o seu contrato e ficou em Araras, mais uma vez em férias forçadas, sempre no seu local de lazer predileto, o sítio.

Passados os cinco meses da punição, em novembro de 2003, Fabiano resolveu voltar a treinar para manter a forma, mesmo estando sem vínculo com nenhum clube. Resolveu entrar em contato com o amigo João Brigatti e o técnico ambos na comissão técnica da Ponte Preta, clube que o revelou. “Eu precisava manter a forma e por isso entrei em contato com eles para que eu pudesse participar dos treinos e estar em condições de jogo, caso algum clube manifestasse interesse”, relata.

Restando dez dias para finalizar os seis meses de punição, o goleiro ararense recebeu um telefonema do seu irmão, Adelino Pereira de Camargo Neto, o Dino, que trabalha na comissão técnica do São Caetano há muitos anos. “Fiquei surpreso e muito feliz, ele tinha acertando a minha contratação para ser o reserva do goleiro Silvio Luis”, lembra.

Em 2004, o São Caetano montou uma equipe competitiva, dirigida no início pelo , que depois foi substituído por . O São Caetano jogava com: Silvio Luiz, Anderson Lima, Serginho (morreu vítima de parada cardíaca), Dininho e Triguinho, Marcelo Mattos, Mineiro, Gilberto e Marcinho, Euller e Fabrício Carvalho (Warley). A equipe conquistou o Campeonato Paulista, em final disputada com o Paulista, de Jundiaí e ainda chegou às semifinais da da América. A chance de disputar a final foi perdida em jogos contra o , da Argentina.

Mas antes da eliminação para o Boca, Fabiano se envolveu em mais uma confusão, desta vez em jogo contra o América, do México, pela Libertadores. De acordo com o goleiro ararense a confusão começou aqui no Brasil no jogo de ida. Blanco, o principal jogador do América, fez um gol e na comemoração humilhou o ex-zagueiro Serginho, o que irritou os jogadores do São Caetano. A partida terminou empatada e se instalou um clima de guerra para o jogo da volta, no México. “Lá no México o Blanco novamente arrumou confusão. Ele deu uma cotovelada no Anderson Lima e foi expulso. O Triguinho fez o gol da vitória do nosso time e com a classificação conquistada começamos a comemorar próximo ao banco de reservas. Os jogadores do time deles ficaram irritados e foram pra cima do Silvio Luiz e quando eu vi aquilo, fui lá e comecei a dar bordoada nos caras. Isso novamente gerou repercussão, porque as emissoras de televisão me pegaram brigando. O Silvio Luiz pulou dentro do vestiário e o Marcelo Mattos chorava que nem criança [risos]”, recorda. O saldo da briga foi um corte profundo na cabeça do ararense, segundo ele mesmo “nada grave”.

Ainda pelo São Caetano, em jogo contra o Atlético Paranaense, em Curitiba, Fabiano reencontrou o árbitro Tadeu Mafra, com quem havia tido a confusão no ano anterior. Ele estava acompanhado do filho assistindo o jogo e fez um pedido para o Fabiano, como ele revela: “Ele teve ainda a cara de pau de me pedir a minha camisa. Eu fiquei nervoso e não dei, mas depois me arrependi. Eu deveria ter dado a camisa. Ele me disse também que não apitou mais nenhum jogo depois daquele episódio”. Em 2005, Fabiano recebeu uma proposta para ser titular, no Juventude, para disputas os campeonatos gaúcho e brasileiro. Como estava na reserva de Silvio Luiz no São Caetano resolveu aceitar o desafio e se transferiu para o time gaúcho. “O Doni que era o titular tinha sido negociado com o Roma e como eu iria jogar resolvi aceitar o convite”, diz.

No ano seguinte, aos 31 anos, Fabiano deixou o Juventude e o seu destino foi a Inter de Limeira para a disputa do Campeonato Paulista da série A2. “O jogou comigo na Portuguesa e é um grande amigo. Ele me convidou para jogar na Inter e acabei aceitando”, fala.

Depois da Inter de Limeira, o goleiro ararense se transferiu para o CRB, de Alagoas, para a disputa da série B do Brasileiro e um fato curioso mais uma vez marcou a sua carreira e de jogador passou a ser auxiliar técnico. Após 14 partidas como titular sofreu uma grave contusão. Foi submetido a uma cirurgia nos ligamentos cruzados e precisou ficar longe dos gramados.

A má fase do time alagoano na competição fez com que vários técnicos que passaram pela equipe fossem demitidos e o grupo de jogadores pediu a sua efetivação como técnico. “Dirigi a equipe em uma partida contra o Santo André e perdemos por 2 a 1. A diretoria resolveu contratar o técnico Gerson Sodré que me efetivou como auxiliar, já que estou impossibilitado de jogar”. O CRB conseguiu se manter na Série B do Brasileiro em 2006.

Em 2007, Fabiano com 33 anos resolveu encerrar a carreira, o motivo foram as contusões, mas fez questão de ressaltar que seu grande ídolo é o ex-goleiro Taffarel. Atualmente está trabalhando na sua cidade de origem como empresário no ramo de móveis. No entanto, seu desejo é iniciar a carreira de técnico de futebol.

Fabiano Pereira de Camargo é filho de Santina Carolina Manara Camargo e de Odarcy Pereira de Camargo e tem mais três irmãos todos casados, Luis Eduardo Pereira de Camargo, de 41 anos, que trabalha como operário na Usina São João. Silmara Aparecida Pereira Camargo, 40, funcionária administradora da Fazenda Santo Antônio, Adelino Pereira de Camargo Neto, 35, conhecido como Dino, que também trabalha com o futebol e há muitos anos é integrante da comissão técnica do São Caetano.

No dia 24 de junho de 2006, Fabiano casou-se com Ana Paula Carrillo Pereira, de Santo André. No entanto, o enlace durou apenas quatro dias devido um desentendimento do casal. A moça não queria morar em Araras e o Fabiano não aceitou morar em Santo André, os dois preferiram a separação. O ararense entrou na justiça solicitando a anulação do casamento.

Raça, força e confusão

Intempestivo, Lica admite ter perdido oportunidades

O zagueiro Lica ficou conhecido por ser um jogador viril e de muita raça. Forte feito um touro, por onde jogou despontou como um líder dentro e fora de campo.

Sua carreira foi marcada por momentos de sucesso e também polêmicas. Criou problemas em concentrações, abandonou clubes, ‘tirou satisfação’ com técnico da Seleção Brasileira e perdeu chances de defender times de massa. Com isso, admite, deixou inclusive de ganhar dinheiro.

Alessandro Cristiano Vitorini nasceu em Araras no dia 20 de abril de 1973. Quando criança morava com os pais, José Antônio Vitorini e Evanira dos Santos Vitorini e mais dois irmãos, João Luis Vitorini e Maria José Vitorini Martins, no bairro Parque Industrial, região norte de Araras.

O apelido foi dado por um vizinho da família, que desde muito pequeno o chamava de Lica e até hoje nem mesmo sua esposa, Fabiana Renata Moraes Vitorini, o chama pelo nome, garante: “Não sei por que este meu vizinho começou a me chamar por Lica, só sei que pegou e todos me conhecem pelo apelido”.

Em 1985, quando tinha 12 anos, Lica começou a trajetória no futebol. Sua primeira oportunidade foi no Comercial Futebol Clube, de Araras.

Após dois anos atuando pelo time ararense foi convencido pelo amigo e companheiro de equipe Índio, fazer um teste na Internacional de Limeira. “O Índio insistiu para eu ir junto com ele neste teste. Aceitei o convite e nos apresentamos na Internacional e fui aprovado pelo técnico Ismael Pereira em meio a 150 meninos”, lembra.

Aos 14 anos, Lica foi morar no alojamento do clube, no Estádio Major José Levy Sobrinho, o Limeirão e passou a integrar a categoria infantil.

Seu primeiro jogo pela Inter de Limeira foi em 1988, contra o Guarani de Campinas. Considerado o melhor em campo foi logo assinando o seu primeiro contrato, conta: “Com 15 anos já fiquei independente, porque comecei a ganhar uma ajuda de custo e se fosse aos dias de hoje, com a minha idade, eu ganhava quase que a metade do salário do meu pai”.

Destaque absoluto e com uma carreira promissora, o zagueiro ararense teve mais uma conquista. Serviu à Seleção Brasileira Sub-16 com apenas 15 anos de idade. “A minha convocação foi através de um diretor da Inter de Limeira, Vladimir Jacomelli, que convidou o então técnico da Seleção Brasileira Sub-16, René Simões, para assistir algumas partidas minhas e depois fui convocado”, diz.

A sua primeira passagem pela Seleção Brasileira rendeu o título de campeão sul- americano, em cima da Argentina, em 1988, e o seu maior desafio foi ter que eliminar as ações do atacante rival , que durante a sua carreira disputou três Copas do Mundo, em 1994, 1998 e 2002, jogou no Boca Juniors, River Plate, Fiorentina e Roma da Itália e em 2005 também encerrou a carreira. “Naquele ano eu marquei o Batistuta que já era um excelente atacante e consegui me sair muito bem”, diz.

A Seleção Brasileira Sub-16 campeã daquele ano jogava com: Elbert; Anderson Lima, Lica, Andrei e Biro; Carlos, Moisés, Gilmar e Cléber; Marcio e Luciano. No ano seguinte, em 1989, este mesmo grupo disputou o Mundial da categoria e foi eliminado nas oitavas de final.

Em 1990 o ciclo de Seleção Brasileira chegou ao fim. Neste ano começaram as atitudes polêmicas do zagueiro ararense. Foi convocado pelo técnico para servir à Seleção Brasileira Sub-20, cuja equipe começou a preparação em Teresópolis, no Rio de Janeiro, para o Campeonato Sul-Americano da categoria, na Escócia.

Insatisfeito por ter sido sacado da equipe, Lica foi tirar satisfação com o técnico Ernesto Paulo e por isso foi cortado no dia seguinte. Nunca mais foi chamado, lamenta “Eu estava treinando normalmente na equipe titular. Ainda no primeiro tempo ele me tirou do time. Quando acabou o treino eu o chamei de lado e perguntei o porquê ele tinha me tirado do treino. Ele falou que havia me tirado apenas para fazer um teste caso precisasse numa eventualidade. Quando foi no outro dia eu fui comunicado do corte e depois nunca mais fui convocado”.

Vinculado à Internacional de Limeira Lica se profissionalizou em 1991 e passou a se dedicar somente ao seu clube de origem. No seu primeiro Campeonato Paulista como profissional participou de um lance até hoje comentado pela beleza. O ex-jogador Dener, que morreu em 1994, vitima de acidente automobilístico no Rio de Janeiro, fez um gol em que driblou três defensores e ainda deu uma meia-lua no zagueiro Lica. Marcou um golaço, na vitória da Portuguesa sobre a Inter de Limeira, por 2 a1, no Campeonato Paulista de 1991. No ano seguinte, Lica novamente defendeu o time de Limeira no Estadual.

Em fevereiro de 1993, aos 20 anos, mais uma atitude polêmica marcou a carreira do zagueiro ararense. Lica foi contratado pelo Atlético Mineiro, por R$ 150 mil Reais. Ficou apenas dois meses e depois abandonou o clube. “Este valor em 93 era um absurdo de dinheiro. A Inter de Limeira ia se encher de dinheiro. Eu já estava praticamente negociado com o Atlético de Madrid da Espanha e perdi uma grande oportunidade na minha vida”, recorda.

A imaturidade, normal para um jovem jogador de apenas 20 anos, diante de um público igual praticamente à população de sua cidade de origem na época, fez com que o destino não fosse o esperado. “Fui jogar um clássico contra o Cruzeiro com mais de 90 mil torcedores. Entrei em campo e minhas pernas ficaram bambas. Logo no começo do jogo cometi um pênalti e depois fiz mais uma falta e fui expulso ainda no primeiro tempo, perdemos por 2 a 1”.

As criticas da imprensa e a desconfiança dos dirigentes e integrantes da comissão técnica do Atlético Mineiro sobre o seu futebol fizeram com que Lica abandonasse a equipe de forma bastante curiosa. Logo após o jogo a delegação do Atlético Mineiro seguiria para uma excursão aos EUA e Japão. “Quando chegamos no aeroporto em São Paulo eu estava sem dinheiro e pedi emprestado para o Sérgio Araújo, que também jogava no Atlético. Ele me emprestou, peguei um táxi e voltei para a cidade de Araras na casa dos meus pais”. Os dirigentes do Atlético Mineiro sentiram a falta do jogador logo na contagem dos atletas, antes do embarque, mas mesmo assim a equipe seguiu viagem para cumprir a agenda de jogos amistosos no exterior.

De acordo com Lica o medo de viajar de avião também foi primordial para que ele voltasse para a cidade de Araras e não acompanhasse a delegação do Atlético Mineiro. “Tenho muito medo de avião, já passei por experiências horríveis com turbulência. Já até fugi de aeroporto de medo. Este caso do Atlético Mineiro também é por causa da viagem de avião que teríamos que fazer. Na minha família sou único a viajar de avião”.

Por causa desta atitude, Lica ficou oito meses sem poder jogar, já que o Atlético Mineiro não permitiu a liberação do seu contrato para assinar com nenhuma outra agremiação.

Em 1994, Lica enfim conseguiu a liberação e disputou a Série A2 para o Independente de Limeira. “Foi como um castigo pra mim jogar no Independente”, destacou. No ano seguinte voltou à Inter de Limeira disputou a Série A2 do Paulista.

No ano seguinte Lica realizou um sonho, defender o União São João de Araras, time profissional de sua cidade de origem. Lembra do fato com satisfação: “Em 1996 tive o prazer em jogar pelo União de Araras. Disputei o Campeonato Paulista e fui campeão Brasileiro da Série B, onde conseguimos subir o União para a primeira divisão do futebol nacional. O União foi a equipe em que mais me destaquei. Fizemos um brilhante Campeonato Paulista e ainda conquistamos o título da Série B do Brasileiro, eliminando o rival Mogi Mirim”.

Neste ano após eliminar o Mogi Mirim o União São João disputou um quadrangular final contra as equipes do América (RN), Náutico(PE) e Londrina (PR). O União foi o campeão e o América (RN) vice. Ambos foram promovidos para a Série A do nacional.

Depois de ser campeão no União, Lica se transferiu novamente para a Inter de Limeira, jogou o Campeonato Paulista de 1997 e no segundo semestre do mesmo ano foi contratado pelo Guarani. Entretanto, um assalto à mão armada nas ruas de Campinas fez com que ararense voltasse com a família para Araras. “Eu tinha um carro Tipo na época. Estava telefonando para os meus familiares e os bandidos chegaram apontando a arma e roubaram o carro. Encontrei o carro depois, todo depenado. E por isso resolvi deixar o Guarani e voltei para a Inter de Limeira”, relata.

Voltou ao seu time de origem, em 1998 e ficou até 2001. Disputou os campeonatos estaduais, mas sempre nos segundo semestre de cada ano era emprestado para outras equipes. Em 1998 jogou a Série C, para o Rio Branco. Em 1999 defendeu a Série B do Brasileiro, para o Remo, de Belém (PA), e em 2000 foi para o Figueirense (SC) e jogou a Copa João Havelange.

Em 2001 Lica defendeu três clubes diferentes. Jogou a Série A1 do Paulista na Inter de Limeira, depois foi para o Santo André para disputar a reta final da Série A2 do Estadual, conquistando o acesso a Série A1, e em agosto voltou a defender o Guarani de Campinas no Brasileiro da Série A.

No seu retorno à Inter de Limeira, no começo de 2002, por pouco Lica não foi dispensado por indisciplina, na pré-temporada, em um hotel na cidade de Águas de Lindóia. “Nós estávamos nos preparando para disputar o Campeonato Paulista e à noite fui fazer uma brincadeira para descontrair. Peguei um extintor e comecei jogar aquele pó branco nos quartos dos jogadores. O técnico me chamou no dia seguinte e disse que não iria mais contar comigo para o campeonato. Depois de algumas derrotas da Inter no campeonato fui chamado para integrar o grupo novamente”, conta.

Outro fato marcante em 2001, ainda na Inter de Limeira, foi uma confusão com o goleiro Ronaldo, que foi ídolo da torcida do Corinthians. Em um jogo na Vila Belmiro o primeiro tempo terminou 4 a 0 para o Santos. No vestiário o goleiro Ronaldo gritou dizendo que não tinha homem no time da Inter de Limeira. Lica lembra da reação: “Depois que ele falou aquilo eu e o Caçapa nos levantamos e partimos pra cima dele, mas não chegamos a agredi-lo porque os outros jogadores apartaram a confusão. Voltamos para o segundo tempo e perdermos de 5 a 3”.

Em 2002 Lica disputou o Paulista pelo Santo André e depois foi contratado pelo Ceará, onde conquistou o Campeonato Cearense. No ano seguinte defendeu o União, na Série B do Brasileiro. Em 2004 jogou o Estadual pelo Atlético de Sorocaba e o Brasileiro pelo Rio Branco, de Americana.

No inicio de 2005, se transferiu para o Joinville, de Santa Catarina. Jogou até março de 2006 e aos 33 anos resolveu encerrar a carreira.

Após 20 anos, Lica se diz honrado em ter escolhido a carreira de jogador de futebol como profissão: “Se na outra vida eu puder escolher, vou ser jogador de futebol de novo. Você adquire o sucesso muito rápido e ganha dinheiro muito rápido e ainda conheci muitos países e regiões. Se tivesse escolhido uma outra profissão jamais teria conhecido os lugares por onde já passei”.

Casado com Fabiana Renata Vitorini, tem um filho, Ryan Alessandro Vitorini de 11 anos. A família mora no Jardim Rosana, um bairro de classe média alta na região norte na cidade de Araras.

Aos 34 anos, Lica não quer mais voltar a jogar futebol. Mesmo sabendo que pelo menos por mais cinco anos poderia ainda ser um atleta de futebol está convencido que sua carreira chegou ao final. “Eu não recebi mais nenhum convite para jogar. Acho que a partir do momento que isso acontece é porque está na hora de encerrar”, sentencia.

Em maio de 2007, Lica recebeu um convite da Prefeitura Municipal de Araras para ministrar aulas para garotos de 8 a 13 anos no Centro Esportivo Alvorada. “Pretendo passar a experiência que tive como atleta trabalhando em escolinha de futebol e dar a oportunidade para que novos garotos conquistem o sonho de ser um atleta profissional”. Finaliza.

O homem que parou Pelé Jogando pela Ponte Preta, Marinho ganhou elogio e camisa do “rei”

Todo jogador de futebol profissional viveu momentos dos quais nunca se esquecerá. Este é o caso do ex-lateral Marinho, ararense de jeito simples, porém carismático. Seu maior triunfo aconteceu no inicio da sua carreira, em partida na qual anulou simplesmente o rei do futebol, Pelé.

Até hoje Marinho guarda na memória as palavras de elogio que recebeu do maior astro do futebol mundial no final da partida. Porém, não guarda uma camisa que também ganhou de Pelé no final da partida. Ele não a perdeu ou jogou, mas, por incrível que possa parecer, ela foi trocada por dois cavalos na cidade de Araras.

Mario Antônio Francelino, o Marinho, nasceu em Araras no dia 3 de março de 1953. Quando criança vivia com a família na Fazenda Santa Cruz e sua diversão era brincar de jogar futebol nos campinhos de terra e pelas ruas da cidade. A brincadeira aos poucos foi ficando séria e aos 14 anos passou a fazer parte de um time amador de Araras, o Coloretes, formado só por negros.

Não demorou a se destacar e aos 15 anos despertou o interesse da Ponte Preta, onde foi jogar na categoria juvenil como lateral direito. “Fui convidado pelo técnico Zé Duarte que me viu jogar aqui em Araras”, conta. Após sete meses no clube foi convidado para fazer parte do elenco profissional, onde foi reserva do Nelsinho Batista, hoje técnico de futebol.

No Campeonato Paulista de 1970 a Ponte Preta se preparava para enfrentar o Santos, e o ararense de apenas 17 anos foi avisado que começaria jogando a partida, já que Nelsinho Batista estava suspenso. Sua missão era simplesmente marcar Pelé. “Foi uma semana em que nem dormi só de pensar no jogo e saber que tinha que marcar o Pelé, o melhor jogador do mundo. O jogo foi na Vila Belmiro e na época o campo do Santos era conhecido, o ‘campo do diabo’, pois dificilmente eles perdiam lá dentro. Quando o Pelé entrou em campo fiquei todo arrepiado e com as pernas bambas”, recorda.

Logo no primeiro lance do jogo em que o Pelé pegou na bola Marinho mostrou seu cartão de visita com uma entrada forte. Mesmo assim recebeu um elogio do camisa 10 santista. “Dei lhe uma pancada e fui logo pedindo desculpas, ele olhou pra mim e colocou na minha cabeça e disse – ‘O garoto não precisa dar pancada, você sabe jogar’. Isso me deu muito moral durante toda a partida e consegui fazer um bom jogo”, relata.

A Ponte Preta venceu o jogo por 2 a 1, com gols de Manfrini e Dicá e o Pelé deixou o campo sem marcar gol. Naquele ano o time de Campinas foi vice-campeão Paulista, perdendo a final para o São Paulo. O time jogava com: Wilson, Marinho (Nelsinho Batista), Samuel, Araújo e Santo, Teodoro, Roberto Pito e Dica, Alan, Manfrini e Adilson.

No final da partida na Vila Belmiro o lateral Marinho recebeu das emissoras de rádio de Campinas vários prêmios como o melhor jogador em campo, mas o maior troféu foi a camisa que ganhou do Pelé e que mais tarde foi trocada por dois cavalos. “Essa camisa eu dei de presente para o meu pai, que era santista, mas dois dias depois ele a trocou por dois cavalos. Ele gostava muito de criação e dependia dos cavalos e por isso resolveu trocar. Eu ainda falei para ele que era a camisa do Pelé e ele respondeu se ele ia montar na camisa ou se a camisa engataria na carroça”, lembra com saudade do momento.

Marinho permaneceu na Ponte em 1971 e 1972, e jogou como titular os campeonatos Paulista e Brasileiro. No ano seguinte foi emprestado para o Figueirense para a disputa do Campeonato Brasileiro e terminou a competição na quarta colocação. Suas boas atuações renderam a convocação entre os 40 melhores jogadores indicados para a Seleção Brasileira que disputaria a Copa do Mundo de 1974, no México. “Fui chamado, mas eu sabia que para jogar uma Copa do Mundo na minha posição seria muito difícil, pois havia muitos jogadores de qualidade na época como o , Toninho Baiano, mas só de ficar entre os 40 foi motivo de orgulho pra mim”, salienta.

Ainda vinculado à Ponte Preta, Marinho voltou ao clube em 1974 e disputou o Campeonato Brasileiro. Foi a última competição que jogou pelo time de Campinas, já que no segundo semestre foi negociado em definitivo com a Ferroviária, de Araraquara. “Disputei um excelente Campeonato Paulista para a Ferroviária, ficamos em oitavo lugar naquele ano e no ano seguinte foi negociado com a Portuguesa de Desportos”, conta.

Em 1975, Marinho se apresentou na Portuguesa de Desportos, onde ganhou o apelido de ‘Canhão do Canindé’, pelos seus chutes fortes em cobranças de faltas e pênaltis. “A Portuguesa era um time médio, tinha um elenco muito reduzido e talvez por causa disso não teve um grande sucesso”, observa. O time jogava com: Everton, Marinho, Mendes, Calegari e Bolivar, Badeco, Eudes e Antônio Carlos, César, Enéas e Valtinho.

Na Lusa, o lateral ararense disputou os campeonatos Paulista e Brasileiro e embora tenha sido um dos destaques da equipe não ganhou nenhum título. “Os Campeonatos sempre eram muito difíceis, os times eram muito nivelados, mas nós sempre chegávamos entre os cinco primeiros”, lembra.

Em 1980, Marinho adquiriu o seu passe, hoje direitos federativos, em definitivo e iniciou fase com passagem em vários times do futebol brasileiro. Proposta é o que não faltava. Seu destino inicial, porém, foi o São Paulo, do Rio Grande do Sul, onde disputou o Campeonato Gaúcho. No segundo semestre do mesmo ano se transferiu para o Internacional, de Porto Alegre e jogou o Campeonato Brasileiro.

Em 1981 foi contratado pelo Operário, de Ponta Grossa (PR), para atuar no primeiro semestre. Na segunda metade do ano foi jogar no Coritiba, também no Paraná. Em 1982 foi para o Goiás, onde conquistou o seu primeiro título da carreira, conforme conta: “Conquistei o Campeonato Goiano e tive uma brilhante atuação, sendo bastante reconhecido”.

Ainda em 1982 voltou ao futebol paulista. Transferiu-se para o Suzano, time da grande São Paulo, onde disputou a segunda divisão do futebol estadual e foi vice-campeão e conquistou o acesso à divisão de elite. “No Suzano eu já estava com quase 30 anos e pra eu disputar uma primeira divisão era muito difícil. Então eu preferia jogar em clubes que estavam em divisões menores”.

Em 1983 seu destino foi o Radium, de Mococa (SP), onde ficou durante dois anos e disputou a segunda divisão do futebol paulista. Uma das partidas do Campeonato Paulista de 1984 foi contra o União São João, time da cidade de origem do ex-zagueiro Marinho. “Foi um ‘jogaço’ aqui em Araras contra o União. Mas ganhar aqui era muito difícil. Os árbitros que apitavam aqui complicavam muito o jogo para os times de fora e perdemos de 2 a 1”, afirma. Depois do Radium, Marinho foi jogar no Flamengo de Varginha, interior de Minas Gerais, onde ficou por um ano.

Em 1986 vários convites surgiram para jogar na sua própria cidade de origem. Na época, além do União São João, o Comercial FC de Araras havia feito uma proposta para o Marinho disputar a segunda divisão do Paulista, mas seu destino foi o União São João. “Eu não queria mais viajar, já tinha 33 anos e minha mulher me alertou que não sairia mais de Araras. Então recebi o convite do União São João para jogar como zagueiro e não pensei duas vezes e acertei a minha permanência para defender o clube”.

Logo no seu primeiro ano no time da sua cidade, Marinho mesmo já veterano para o futebol, ganhou a tarja de capitão e por pouco a equipe não conseguiu o acesso à primeira divisão do Campeonato Paulista, como lembra o agora zagueiro: “Em 1986 o União decidiu o acesso contra o União Barbarense, mas naquele ano nós fomos muito prejudicados pela arbitragem. O árbitro deu um pênalti no segundo tempo para o time deles e nós perdermos de 1 a 0 e não subimos”.

No ano seguinte, em 1987, Marinho estava disposto a encerrar a carreira. Mas antes tinha o sonho de conquistar, com o time da sua cidade de origem, o acesso à série de elite do Estadual. Ele conta: “Nós fomos campeões em cima do São José lá na casa deles e conseguimos o acesso. Na viagem de volta a Araras nós voltamos com a taça e foi só alegria”. O União São João jogava com: Privatti, Vlademir, Marinho, Cavalcanti e Carlinhos, Vanderlei, Miranda, Valdir Lins e Play, Celso Luiz e Cássio.

Decepção

A maior decepção do ex-lateral direito Marinho foi não ter sido convocado para a Seleção Brasileira juvenil em 1972, que disputou o Campeonato Mundial na Suíça. “Neste ano eu era sempre convocado para jogar na Seleção Brasileira de Juvenil e fiz todos os jogos de preparação como titular. Mas quando saiu a lista dos convocados para o Mundial na Suíça fiquei surpreso em estar fora. Eles preferiram chamar dois cariocas, o Terezo, do América, e o Edvaldo, do Fluminense. Por isso que o futebol às vezes não é sério, eles nem jogavam e só porque eu era de um time pequeno, do interior, no caso a Ponte Preta, não fui convocado”, desabafa. Na época o técnico da Seleção Brasileira Juvenil era Toninho Pavão, que mais tarde foi dirigir o Figueirense e pediu a contratação do lateral direito Marinho.

Quando avalia os 18 anos de carreira, Marinho não tem dúvida sobre qual sua maior conquista: os amigos que fez. “As amizades que fiz com jogadores de futebol que jogavam comigo ou nos times adversários isso ninguém apaga. Nós fazíamos muito churrasco, festa de confraternização com os jogadores da Portuguesa, onde eu jogava, do São Paulo, Santos, Palmeiras. Lembro até hoje quando o Muricy Ramalho, que era jogador do São Paulo e o Picolé, que jogava no Palmeiras, foram jogar no México em 1977, fizemos uma grande festa de despedida. Foram momentos marcantes pra mim”, diz.

Marinho também lembra que na época em que jogava os salários não eram bons e para ter um complemento era preciso vencer os jogos. “Nós recebíamos um dinheiro razoável nas vitórias, porque o bicho era melhor que o nosso salário. Mas se algum jogador falar que ficou rico jogando futebol na minha época é mentira. Nem o Ademir da Guia, que foi ídolo do Palmeiras, ficou rico. Mesmo o Pelé hoje tem dinheiro porque no final de sua carreira fez um contrato com o Cosmos dos EUA. Foi onde ele ganhou dinheiro”, explica.

Ao encerrar a carreira, o ararense Marinho começou a trabalhar como treinador de futebol na categoria de juniores do União São João, em 1988. No ano seguinte recebeu um convite para ser técnico da escolinha de futebol da Prefeitura de Araras no time da SME (Secretaria Municipal de Esporte), onde ficou até 2004.

Durante este longo período, recebeu um convite para ser técnico do Lemense, na Série B1 do Campeonato Paulista, em 1995, mas as dificuldades dos clubes já naquela época interromperam seu trabalho no time da cidade vizinha de Araras. O contexto era difícil, como ele relata: “Eu como técnico exigia do atleta dentro de campo, mas os atletas não tinham o que comer. Não recebia salário e ficava difícil você cobrar do jogador dentro de campo e por isso resolvi não continuar”.

Em 1999 tentou mais uma vez ser técnico, desta vez no Palmeiras, da cidade de Santa Cruz das Palmeiras, mas novamente pelas dificuldades financeiras do clube voltou a Araras e continuou o projeto na Escolinha de Futebol da prefeitura, no Ginásio de Esporte do Narciso Gomes, onde além de ser o técnico dos garotos entre 7 e 13 anos, era o responsável pela manutenção. “No meu projeto da prefeitura revelei alguns jogadores como o Thiago Bernardi, o João Paulo, Danilo e o Guto”, lembra com orgulho.

Sem conseguir ficar longe da bola, Marinho ainda fez alguns amistosos no time dos Milionários, formado por jogadores veteranos, experiência da qual também se lembra com saudade: “É muito prazeroso rever os amigos e participar de amistosos pelo Brasil, onde sempre somos bem recebidos para lembrar dos momentos em que jogávamos profissionalmente. E ainda ganhar um cachê”.

Aos 53 anos, Marinho está aposentado, mas ainda trabalha, agora como emplacador de carros para uma empresa terceirizada que presta serviços ao Detran. Vive com a mulher, Sonia Maria Agostino e duas filhas, Gabriela Francelino de 21 anos e Isabela Agostino Francelino, de 15, no Jardim Campestre, na zona leste de Araras.

O homem do acesso

Em 17 anos de carreira, Miranda ajudou oito equipes a subirem de divisão

Se na cidade de Araras alguém chamar por Antônio Carlos Buzolin poucos vão saber quem é mas se chamar pelo jogador de futebol Miranda, aí sim, todos vão lembrar de um zagueiro ararense que em dezessete anos de carreira profissional disputou onze decisões de campeonatos. Foi o ararense que mais acessos conquistou como jogador profissional, oito no total.

Nascido em Araras no dia 13 de junho de 1964, Miranda gostava de jogar futebol desde criança, quando apenas por brincadeira se divertia nos ‘campinhos’ espalhados pelos bairros do município, sem nunca imaginar ser atleta profissional.

Em 1980, com 16 anos, teve sua primeira oportunidade, nas categorias de base de um time profissional de Araras. O zagueiro fala com saudosismo sobre este início: “Eu brincava nos ‘campinhos’ de terra espalhados pelos bairros e nesta época alguns colegas treinavam no União São João e me convidaram para treinar. Desde então nunca mais parei. Fiquei oito anos no União”.

O apoio dos pais foi fundamental para que o zagueiro insistisse na luta por seu espaço como jogador de futebol. Em 1979, quase deixou a carreira para ser bancário. Ele relata que a carência financeira quase o obrigou a mudar sua trajetória: “Eu sempre fui de uma família humilde, e precisava trabalhar para ajudar meus pais. Não recebia nada para jogar no União e fui chamado para trabalhar no Bradesco. Felizmente os dirigentes do União me chamaram e passaram a me dar uma ajuda de custo e pude dar continuidade ao trabalho”.

Em 1987 o técnico da equipe profissional do time de Araras, Adaílton Ladeira esteve acompanhando os treinos das categorias de base e o zagueiro Miranda chamou a sua atenção. Durante a semana foi promovido para a equipe principal. “O União havia perdido um jogo para o Velo Clube de Rio Claro e o Ladeira estava precisando de um zagueiro. Como eu era o artilheiro do time júnior, com sete gols, atuando como defensor, ele me fez o convite e eu comecei a jogar na semana seguinte”, recorda. Miranda diz ser eternamente grato pela oportunidade oferecida pelo técnico Adaílton Ladeira, que recentemente foi dispensado do comando técnico da categoria Sub-20 do Sport Club Corinhtians Paulista.

Os acessos

Depois de se destacar no União São João, onde conseguiu o seu primeiro título da série intermediária do Campeonato Paulista, que dá acesso à divisão principal, hoje denominado Série A1 do Estadual, Miranda foi emprestado para o Catanduvense, em 1988. Com a nova equipe foi vice-campeão Paulista. Novo acesso para a Série A1. No ano seguinte, ainda vinculado ao União São João de Araras, foi negociado em definitivo com o Marilia, onde atuou até janeiro de 1993. Lá se sagrou vice-campeão Paulista da Série A3, em 1990, e campeão da Série A2, em 1992.

Em 1993, Miranda se desvinculou do Marilia. Adquiriu em definitivo o que naquela época era chamado de passe, hoje direitos federativos. Foi anunciado como reforço do União Barbarense, de Santa Bárbara D’Oeste, onde foi vice-campeão Paulista da Série A3. A equipe só não conseguiu o acesso porque o regulamento premiava com a promoção apenas o primeiro colocado.

Em 1994 seu destino foi a Portuguesa Santista, onde conseguiu mais um acesso, com a conquista do vice-campeonato Paulista da Série A3. No segundo semestre deste mesmo ano se transferiu para a Matonense e no ano seguinte foi contratado pelo Noroeste, de Bauru. Foi novamente campeão da Série A3 do Campeonato Paulista e conquistou mais um acesso, desta vez à série A2 do Estadual. Ainda em 1995 teve uma rápida passagem pelo Mirassol, mas em 1996 retornou à Matonense, desta vez para ser campeão novamente e subir para a série A2 do Paulista.

Em 1997 conquistou o último título de sua carreira, novamente pela série A3 do Campeonato Paulista, pelo União Barbarense.

Sua carreira se aproximava do fim, mas aos 34 ainda foi vice-campeão Paulista com o Taubaté. Novamente não subiu, pois também naquele ano apenas o campeão garantia vaga na divisão de cima.

Em 1999, esteve no Internacional, de Bebedouro, seu penúltimo clube, onde era um dos jogadores mais experientes do grupo. Encerrou a carreira em 2000, com 36 anos, no São José. Lá foi vice-campeão Paulista e mais uma vez não conseguiu o acesso, já que a regra permitia a promoção apenas do time campeão.

O ‘homem do acesso’ carrega a marca até hoje e não se intimida ao entrar em campo. “Hoje estou com 42 anos e ainda brinco de jogar futebol nos clubes sociais da cidade e o pessoal sempre brinca comigo – ‘Chama o Miranda que nós estamos na final’. Não sei se era sorte aliada à competência ou se era o fortalecimento do grupo, mas em praticamente todos os clubes em que joguei disputei final de campeonato. Quando eu jogava os dirigentes dos clubes brincavam e diziam – se quiser subir vai lá em Araras e busca o Miranda”.

O ex-atleta também faz questão de enaltecer as amizades que conquistou quando atleta profissional: “Eu consigo contar nos dedos os inimigos que tive. Em todos os lugares que vou sou bem recebido e formei muitas amizades”.

Miranda recorda com saudades dos clubes que defendeu, mas uma equipe que faz questão de lembrar é a de juniores do União São João, de 1982. “É um time que tenho muita saudade. Jogava o Marolla no gol, Silmar, Rubinho, Tufi e eu (Miranda), Dido, Jair Bonato, Marquinhos, Muniz e Mauá, Luis Antônio Storolli e Bié. Eram somente garotos de Araras e se pudesse voltar no tempo, gostaria de voltar nesta época, quando eu tinha 17 anos. Arrisco dizer que foi o melhor time que atuei na minha vida”.

Miranda casou-se em 1985 com a ararense Adriane Aguiar Buzolin e teve um casal de filhos, Rayane Buzolin, hoje com 19 anos e Caio Buzolin, com 12, ambos nascidos e residentes em Araras. A maior frustração do jogador foi nunca ter jogado em uma cidade turística do nordeste do país. “Acho que a maior frustração da nossa família é não ter ido jogar em nenhum clube do Nordeste, onde tem praia. Mas Deus foi muito generoso comigo pela família que me deu. Outra frustração é quando você encerra a sua carreira. O jogador de futebol tem duas mortes, quando você para de jogar e quando você realmente perde a vida”, comenta.

Aos 42 anos Miranda trabalha como inspetor de alunos no Centro Universitário de Araras Hermínio Ometto - Uniararas - para sustentar a família, que vive no Jardim Campestre, na zona leste da cidade e acredita que cada um tem sua história dentro do futebol: “Eu poderia ter ganhado mais dinheiro e até dar um conforto melhor para a minha família, mas o dinheiro não é tudo, o que valeu a pena são as coisas que a minha família aprendeu comigo, ser uma pessoa justa e ser digno. Por todas as cidades em que joguei, todos vão falar bem de mim. Acho que isso é o mais importante que consegui passar para eles. Claro que gostaria de ter ganhado mais dinheiro no futebol e ser rico, mas hoje vivo muito feliz com a minha família unida e todos trabalhando”.

Nos horários em que não está trabalhando como inspetor, Miranda ministra aulas de futebol para garotos de 5 a 12 anos, na escolinha do Grená - Nestlé e lamenta não ter se preparado para ser um técnico de futebol profissional: “Eu deixei a desejar por não ter me preparado para seguir carreira dentro do futebol, quem sabe para ser um auxiliar técnico ou mesmo um treinador. Mas mesmo assim estou contente e sou uma pessoa muito feliz”.

História no Flamengo

Indicado duas vezes por Coutinho, Nelson fez sucesso no rubro- negro carioca

Sonho de muitos realizado por poucos. O zagueiro ararense Nelson teve o privilégio de jogar em um dos times mais badalados da década de 70. Foi zagueiro do Clube de Regatas Flamengo, time de maior torcida do Brasil, que era integrado por: Cantarelli, Toninho Baiano, Rondinelli, Nelson e Júnior, Merica, Carpeghiani, Osni e , Adílio e Cláudio Adão. O técnico: Cláudio Coutinho.

Nascido em Araras no dia 13 de outubro de 1956, Nelson Luiz Quintiliano começou a jogar futebol aos 12 anos, no Oratório São Luiz, localizado na região central de Araras. Ainda jovem sofreu uma grave fratura na perna, que o intimidou e quase pôs fim a sua carreira. “O Carlito Dadona comandava o Araras Kid e o Iko Pastorello era um amigo meu que jogava lá e quando me recuperei da contusão eles insistiram muito para o meu pai me deixar a jogar”, conta. De tanto insistir, Nelson aceitou o convite e começou a defender o seu novo clube.

Depois do Araras Kid, ainda defendeu o Comercial FC, o São Benedito e o Sayão FC, todos times amadores de sua cidade natal. Durante este período em que jogava em Araras, Nelson fez vários testes no Guarani de Campinas, mas devido às dificuldades de alojamento não permaneceu. “Naquele tempo com 13 e 14 anos o Guarani não disponibilizava alojamento e por isso não fiquei. Até acho que não deveria sair de casa com aquela idade mesmo”, lembra.

Em 1971, já com 15 anos voltou a fazer teste no Guarani e foi aprovado. “Com esta idade o Guarani permitia que se ficasse no alojamento. Eu ficava lá durante a semana e vinha embora depois dos jogos, no final de semana. Lembro que pegava o ônibus no centro porque ainda não existia a rodoviária e minha mãe chorava quando eu partia e quando eu chegava”, relata. Nelson foi titular da categoria juvenil do Guarani durante dois anos.

Com seu jeito sério e valente, como um zagueiro deve ser, Nelson foi logo conquistando seu espaço e em 1973 foi integrar a categoria juniores, onde a sua trajetória no futebol começou a decolar. O título de campeão Paulista na categoria em 1975, somado a um gol no clássico contra a Ponte Preta, o maior rival do Guarani, foram fundamentais para a sua promoção à categoria principal. “Sempre tive muita sorte na minha carreira. Teve um derby contra a Ponte Preta e marquei o gol da vitória e isso me ajudou a fazer parte do elenco profissional mesmo sem ainda ter idade completa para estar no grupo”, recorda.

Em 1975 o Guarani foi disputar um torneio amistoso em Mato Grosso do Sul e com as ausências dos zagueiros titulares, Amaral e Joãozinho, sem contratos, Estevam e Edson contundidos, Nelson teve a sua primeira chance como titular no time principal. “Fui titular neste torneio e joguei muito bem, sendo bastante elogiado pela comissão técnica do Guarani. A partir daquele momento passei a integrar oficialmente a equipe profissional”, salienta. Ainda neste ano o técnico Cláudio Coutinho, que comandava a equipe principal do Flamengo, indicou a convocação do zagueiro Nelson para servir a Seleção Brasileira Juvenil, para a disputa do Campeonato Mundial da categoria na cidade de Montreal, no Canadá. “O Guarani acabou não me liberando porque o elenco estava com poucos zagueiros e por isso tive que permanecer para defender o profissional”, lamenta.

No ano seguinte Nelson continuou como titular absoluto da zaga do Guarani e foi campeão Paulista em 1976. No segundo semestre deste mesmo ano, o Guarani disputou o Campeonato Brasileiro e o zagueiro ararense se destacou nos dois jogos contra o Flamengo, o que determinou a sua transferência ao clube carioca, como ele conta: “Fui considerado o melhor jogador em campo nas partidas contra o Flamengo, que já tinha no elenco o meia Zico, e o Cláudio Coutinho novamente foi quem pediu minha contratação”.

No primeiro semestre de 1977, Nelson realizou o desejo de muitos jogadores da época, defender o time de maior torcida do Brasil e fazer parte de um dos maiores times de todos os tempos do futebol brasileiro, o que o deixa muito orgulhoso: “Quando cheguei lá no Flamengo fui muito bem recebido e morei no Aterro do Flamengo. Depois fui morar num casarão do próprio clube, que fica em São Conrado e que existe até hoje”.

No Flamengo o zagueiro viveu o auge da sua. Disputou grandes clássicos, fez memoráveis partidas com o Maracanã lotado e esteve presente no elenco que contava com os jogadores: Raul Plasman, Cantarelli, Leandro, Toninho Baiano, Junior, Vanderlei Luxemburgo, Nelson, Rondinelli, Maguito, Carpeghiani, Merica, Andrade, Vitor, Adílio, Zico, Reinaldo, Titã, Cláudio Adão, Nunes e Julio César.

No Flamengo, o zagueiro ararense conquistou uma coleção de títulos. Foi tri-campeão da Taça Guanabara, tri-campeão Carioca, conquistou os troféus Tereza Herrera e Ramon de Carranza, na Espanha, além do título mais importante de sua carreira, o de Campeão Brasileiro em 1980. “Foram três anos de muitas conquistas e de muito orgulho em ter jogado em uma equipe como o Flamengo. Embora eu tenha feito muito menos, fui muito valorizado pela torcida, comissão técnica, enfim, por todos. No Guarani eu fiz muito mais e tive bem menos reconhecimento. Hoje sou muito conhecido no Brasil por ser um ex-jogador do Flamengo”, constata.

Logo depois da conquista do Campeonato Brasileiro, o Flamengo passou por uma grande renovação. O zagueiro Nelson que já estava há três anos no clube resolveu se transferir para o Figueirense (SC), de Santa Catarina e se deu bem. “Sou pé quente, nos clubes em que passei conquistei títulos”, alfineta.

No Figueirense conquistou o título de Campeão Catarinense em 1981 e no mesmo ano foi contratado pelo Náutico Capibaribe, onde foi campeão pernambucano.

No ano seguinte teve a experiência de jogar no exterior. Seu destino foi o Emirados Árabes, onde defendeu as equipes do Al-Jazira e Cultural Club e ABV-DHABI, onde sagrou-se campeão. “Jogar fora do país é difícil para se adaptar. Foi um período em que fiquei muito sozinho, só acostumei depois que a minha família foi pra lá”, salienta.

Em 1984 regressou ao Brasil, foi contratado pelo XV de Piracicaba e jogou no clube até o final do ano de 1985. No ano seguinte se transferiu para o Pinheiros e conquistou o título de Campeão Paranaense. O Pinheiros mais tarde fez a fusão com o Colorado e hoje é denominado Paraná Clube. Em 1987 e 1988 voltou a atuar no futebol paulista desta vez no Catanduvense, onde sagrou-se campeão Paulista da segunda divisão. Aos 35 anos, Nelson encerrou a carreira jogando no Jataiense, de Goiás, em 1989, onde conquistou o seu último título e conseguiu o acesso à divisão de elite do futebol goiano. Afirma ter tomado a decisão certa: “Encerrei a minha carreira porque já estava realizado profissionalmente e preferi ficar perto da minha família em Araras”.

Sobre o jogador mais difícil de marcar dentro de campo, o zagueiro ararense lembra-se de dois atletas, que também fizeram sucesso na década de 70, o atacante Reinaldo, do Atlético Mineiro e o meio-campista , do Vasco da Gama. “O jogador que mais me dava trabalho era o atacante Reinaldo do Atlético Mineiro. Ele jogava todo desengonçado e dificultava muito para os zagueiros. O Roberto Dinamite tinha mais classe, mais jeito para jogar, mas não era tão perigoso como o Reinaldo”, diz.

Nelson Luis Quintiliano é filho de Nelson Quintiliano e Ignês Moreira Quintiliano e tem um irmão, Nilson Quintiliano. Hoje o ex-jogador ararense vive numa casa de classe média alta na região central de Araras, onde mora com sua mulher, a ararense Vânia Vitorino Quintiliano, com quem se casou em 1979, quando jogava pelo Flamengo. Tem três filhos: Nelson Luiz Quintiliano Junior, 26, Pámela Cristina Quintiliano, 24 e Hariessa Quintiliano, 21.

Sem conseguir ficar longe dos gramados, Nelson resolveu fazer um curso para ser técnico de futebol e participou de palestras ministradas por treinadores consagrados como: Nelsinho Batista, Émerson Leão e Luis Felipe Scolari.

Como treinador iniciou a carreira em clubes amadores de Araras, como o Comercial FC e o extinto Camisa 10. Em 2001 chegou a treinar a categoria Juniores do Limeira FC e no segundo semestre do mesmo ano se transferiu para o Independente, também de Limeira.

Atualmente o ex-zagueiro é técnico das categorias de base de um clube social de Araras, a Associação Atlética Ararense. “Tenho muito orgulho do que faço hoje. Poder passar os ensinamentos que aprendi na minha vida como jogador de futebol não tem preço que pague. Aliás, não ensino ninguém a jogar futebol, porque isso é talento, na verdade eu procuro passar aos meninos como deve se conviver na sociedade, respeitando as pessoas e procurando o melhor caminho. Hoje converso com médicos que chegaram a ser meus alunos na escolinha e isso é muito gratificante”, finaliza.

Nem tudo é glória Trajetória de Riza revela riscos da profissão

O ex-jogador de futebol Denílson de Albuquerque Gonçalves, conhecido como Riza, nasceu em Araras no dia 7 de dezembro de 1968. Atualmente com 38 anos, divide uma pequena casa, de quatro cômodos, no bairro José Ometto I, com mais oito pessoas da família, sua mãe, Benita Ribeiro de Albuquerque, e mais oito irmãos, Jorge Milson, Robson, Roberto, Sidiney, Deise, Denise, e Dico. Seu pai, Aristarcho do Nascimento Gonçalves, morreu em 1986.

Riza tem uma história no mínimo curiosa. Tudo começou em 1987 quando escolheu o futebol como profissão. Foi ídolo na cidade de Santo André, onde jogou durante sete anos, teve uma breve passagem pelo Corinthians, em 1989, ganhou fama e dinheiro, mas hoje acumula solidão e arrependimentos.

Usuário de droga desde quando jogava futebol, foi obrigado a encerrar a carreira prematuramente, com apenas 29 anos, em 1997. No ano seguinte entrou para o mundo do crime. Cometeu três assaltos na cidade de Araras e por causa disso ficou preso durante sete anos em regime fechado. Hoje está em liberdade, mas na condição de livramento condicional até 2009. É obrigado a se recolher a sua residência, até às 22 horas, todos os dias. Ao falar sobre sua dependência faz uma afirmação preocupante: “Eu uso droga desde quando comecei a jogar no Corinthians, mas não sou o único. Muitos jogadores usam drogas”.

A carreira de Riza começou em 1985, na categoria Sub-20, no União São João de Araras, quando tinha 17 anos. Mostrando um futebol versátil e de muita categoria o jogador despontou logo e não demorou a despertar o interesse de outros times.

Dois anos depois se transferiu para o Palmeiras, de São João da Boa Vista, onde jogou até o final do ano. Em 1988 foi adquirido de forma definitiva pelo Santo André, onde se tornou ídolo da torcida.

Em 1989, Riza ganhou sua primeira oportunidade em um grande clube do futebol brasileiro. Transferiu-se por empréstimo ao Sport Club Corinthians Paulista, onde conquistou os títulos de campeão Brasileiro e campeão da Copa do Brasil. O período traz boas lembranças: “Foi muito boa a minha passagem pelo Corinthians, o time foi totalmente reformulado e o técnico, na época era o Palhinha, me convidou para jogar lá. Eu participava constantemente da equipe e entrava sempre no decorrer dos jogos, fiz uns cinco jogos como titular”. Naquele ano a escalação do Corinthians era: Ronaldo; , Marcelo Djian, Jorge Luis e Denis; Marcio Bitencourt, Eduardo (Riza) e Neto; Fabinho e Mauro.

Após atuar pelo Corinthians, Riza se transferiu para o Atlético Paranaense (PR), em 1990, onde conquistou o titulo de campeão Paaranaense e o de vice-campeão Brasileiro da Série B. Passou depois por clubes como Anapolina, de Goiás, em 1991; São José (SP), em 1992; Coritiba (PR) e Náutico (PE), em 1993, e disputou o Campeonato Paulista pelo Santo André, em 1994. A rotina era repetida. Disputava o campeonato estadual pelo Santo André no primeiro semestre, e no segundo era emprestado para atuar em outra agremiação.

Em 1995 se desvinculou do Santo André e foi jogar a Série A2 do Paulista na Catadunvense, time da cidade de Catanduva, interior de São Paulo. Em 1996 jogou durante dois meses no Guaçuano, e em 1997 encerrou a carreira no Independente, de Limeira, disputando a Série A3 do Paulista.

Questionado sobre a quantidade de gols marcados na sua carreira como jogador de futebol profissional, alfineta Romário, que quer chegar ao milésimo gol: “Não sou que nem Romário de ficar registrando, mas em todos os anos que joguei, acho que tenho uma média de 100 gols”. Não tem nenhum registro oficial sobre os tentos que assinalou.

Entretanto, um gol marcou a carreira do ex-jogador. Atuando pelo Santo André, em 1993, marcou contra o São Paulo, no Morumbi, pelo Campeonato Paulista, na estréia do meio campista com a camisa Tricolor. O gol é reprisado até hoje em programas esportivos que relatam os jogos do passado. Foi escolhido, o mais bonito da rodada e o Gol do Fantástico, programa de televisão da Rede Globo. “Eu carreguei a bola desde o meio campo em direção ao gol do São Paulo marcado pelo volante Dinho, que depois jogou no Grêmio, ele ficou pra traz, eu driblei o Ronaldão e o e marquei o gol” lembra. Na opinião de Riza, entretanto, este não foi o gol mais importante que marcou, apesar de ser o mais bonito. Ele considera mais significativo um gol marcado pelo Santo André contra o XV de Jaú, e conta: “Nós precisávamos ganhar de 3 a 0, e o jogo estava 2 a 0 até os 44 minutos do segundo tempo, quuando eu marquei o terceiro gol, que deu o acesso para o nosso time”.

Segundo o ararense, uma das grandes recordações que ele ainda tem na memória foi poder ter viajado e conhecido o Brasil, além das mordomias que tinha nas concentrações antes das partidas. “O que mais gostei foi ter viajado muito, conhecer o Brasil como conheci. Me hospedar em hotéis cinco estrelas, comer um jantar cinco estrelas. Tive o prazer de conhecer vários estádios de futebol. Tenho muita saudade disso. Vai ao açougue comprar um quilo de carne hoje para você saber quanto custa. Só milionário para ter a mesma mordomia que tem um jogador de futebol”, relata.

O outro lado

A atuação de Riza como jogador lhe rendeu fama, mas a falta de administração e a as baladas foram fundamentais para a perda dos bens que adquiriu.

Este lado da história é relatado com tristeza. “Ganhei dinheiro com o futebol, mas não tive a capacidade de administrar o que eu ganhei. O melhor salário foi quando joguei no Corinthians. Eu ganhava setecentos cruzados novos, hoje o equivalente a sete mil reais. Já tive seis modelos de carros, motos, apartamentos em Santo André, terreno em Araras. Mas não adianta o jogador de futebol ganhar muito dinheiro e não fazer investimentos. Vai chegar uma hora que ele vai perder tudo mesmo. As ‘mulheradas’ acabaram um pouco com o meu dinheiro. Fazia ‘festinha’ direto com ‘mulheradas’. Não tinha tempo ruim, eu chegava aqui em Araras para fazer visita e era só festa. Mulher para jogador de futebol é como abelha em busca do açúcar”.

Riza também carrega algumas angústias. Entre ela o fato de ter recebido ‘calote’ de alguns clubes no final da carreira. Garante não ter recebido tudo o que tinha direito de alguns times que defendeu no final da carreira. Outra mágoa é a de ter sido ‘desprezado’ pelo ex- jogador e agora técnico de futebol Juninho Fonseca. “Eu fui no Campinas FC em 1998 observar o trabalho que era feito lá pelo Careca (ex-jogador do São Paulo e Guarani) e pelo Edmar (ex- jogador do Corinthians) e o Mauro, que era auxiliar técnico do Nelsinho Batista na Ponte Preta, estava lá e pediu para o Careca ficar comigo para trabalhar e ajudar no projeto, mas o Juninho Fonseca, que era o treinador do Campinas na época, me rejeitou e não quis. Falou que eu poderia atrapalhar o projeto, porque era um jogador de ‘balada’ e usuário de droga. Então eu não fiquei lá por causa do Juninho Fonseca, mas seu estivesse lá eu não teria passado dificuldades e não teria cometido nenhum crime”, lamenta.

A vida de Riza começou a mudar definitivamente um ano após encerrar a carreira. Em 1998 cometeu três assaltos e no mês de maio foi preso em flagrante pela Policia Militar. Ficou preso durante sete anos. O ex-jogador atribui a sua recaída ao crime à estrutura familiar. “Eu tive uma educação familiar muito boa, mas eu tive liberdade muito novo também, e acabei cometendo alguns assaltos, o que foi o suficiente para eu perder sete anos da minha vida na cadeia”.

O dinheiro dos crimes Riza usava para comprar drogas e abastecer as necessidades da família dentro de casa. Apesar de se tratar de uma situação delicada e constrangedora, relata o que fazia: “Eu usava o dinheiro não só para comprar droga. Comprava coisas para minha casa, para eu me alimentar, para eu me divertir. Eu não era uma pessoa que roubava só para comprar drogas. Assaltava porque tinha necessidade de muitas coisas. Quando chegava com dinheiro em casa minha mãe não me perguntava se eu ganhei o dinheiro trabalhando ou se foi furtado. Só que o dinheiro na mão da minha mãe sempre teve valor, para comprar comida ou pagar alguma conta”.

Para Riza, os sete anos na cadeia foram tempos para pensar na importância da liberdade. Deixou de acompanhar o Brasil ser pentacampeão, mas não se arrepende: “Só que hoje, em liberdade, não me arrependo de nada do que fiz, porque a vida é de altos e baixos. A gente cai para poder se levantar”. Espera um dia poder encontrar as pessoas que assaltou, e diz que como não foi violento com nenhuma delas, gostaria de pedir desculpas pelo erro que cometeu.

O ex-jogador revela que o convívio na cadeia não é fácil, pois a maioria dos presos tem a mente vazia. “Na cadeia não tem irmão, não tem mãe, não tem pai e é cada um pra si”, ressalta. De acordo com Riza no convívio os companheiros de cela acabam se tornando uma família e é preciso ter coletividade, mas garante que não deseja a prisão nem para o seu maior inimigo.

Preso Riza ganhou o reconhecimento dos companheiros de cela e um dos melhores momentos foi quando o programa ‘Gol o Grande Momento do Futebol’, da TV Cultura, mostrou o gol que marcou contra o São Paulo em 1993.

Em liberdade desde de outubro do ano passado, Riza mantém contato com poucos jogadores do passado. Um dos amigos dos quais se lembra é o atual técnico de futebol Marcio Bitencourt, com quem jogou no Corinthians, em 1989. “Fui em um churrasco em Jacareí, na Sitio do Marcio. Foi o encontro de todos os ex-jogadores do Corinthians que jogaram em 1989”, lembra com saudade.

Hoje Riza está separado da mulher, Sandra Helena dos Santos, com quem tem dois filhos, Gabriela do Santos Gonçalves, de 13 anos, e Gabriel do Santos Gonçalves, 12. Garante que não usa mais drogas e que apenas gosta de beber ‘socialmente’ e jogar futebol de várzea com os amigos. Hoje, aos 38 anos, Riza pretende voltar a estudar. Parou na 5ª série do ensino fundamental. Pretende iniciar um projeto para transformar jovens atletas em jogadores de futebol e ainda sonha em ser técnico de futebol profissional.

O filho adotivo de Araras Revelado no União São João, Roberto Carlos foi o melhor lateral do mundo

O jogador mais ilustre revelado pelo União São João não é ararense, mas certamente todos da cidade o acolheu como um filho adotivo.

A habilidade com as bolas nos pés, a determinação e um potente chute com a perna esquerda fazem do lateral esquerdo Roberto Carlos um homem vencedor.

Fora de campo é um homem que fala o que pensa, porém autêntico e de uma personalidade forte. Coleciona jóias, carros de luxo e desfruta das mansões que conquistou com o seu próprio suor.

Dentro de campo, o filho adotivo de Araras, é um atleta carismático e amigo de várias personalidades do futebol. Ganhou quase tudo na carreira, sendo o jogador de Araras que mais títulos conquistou pelo mundo a fora.

Além do União São João, Roberto Carlos desfilou suas magias com as bolas nos pés no Palmeiras, Internazionale da Itália e Real Madrid da Espanha.

Roberto Carlos da Silva nasceu em Garça, interior de São Paulo no dia 10 de abril de 1973. Apesar da infância pobre foi criado com muita dignidade pelos pais Oscar da Silva e Vera da Silva, onde trabalharam numa fazenda em Garça no cultivo de café.

Em 1981 com 8 anos de idade se mudou com a família para a cidade de Cordeirópolis/SP, onde foi morar na casa da sua avó materna.

Na cidade nova, em 1983, Roberto Carlos começou a jogar futebol em uma fábrica de tecelagem, onde também trabalhava para ajudar no sustento da família. Foi convidado para participar dos Jogos Abertos do Interior para representar a cidade de Cordeirópolis.

Observado pelo técnico Adaílton Ladeira das categorias de base do União São João, foi convidado a integrar o elenco da categoria juvenil do time ararense em 1988. No entanto, sem o dinheiro para o transporte para um percurso de 15km, distância que separa a cidade de Cordeirópolis a Araras, a diretoria do União São João se comprometeu a bancar para o atleta, além de fornecê-lo uma ajuda de custo igual o da empresa de tecelagem para ajudar no sustento da família.

Assim começou a brilhante carreira do jogador Roberto Carlos. No juvenil do União fez 22 partidas e marcou dois gols. No ano seguinte, em 1999 foi promovido ao time juniores, foram 18 jogos e três gols marcados.

Mostrando um futebol vistoso e de muita categoria, aos 17 anos foi promovido ao elenco profissional. Atuou em 68 jogos com a camisa profissional do União e foi autor de dois gols. O suficiente para ganhar a projeção nacional e ser convocado pela primeira vez a seleção brasileira pelo técnico Ernesto Paulo em 1990. Com a camisa amarelinha conquistou o vice-campeonato mundial da categoria e o Campeonato Pré-Olímpico.

Em 1992, Roberto Carlos foi negociado com o Palmeiras numa das maiores transações de um jogador do interior para um time da capital na época. A Parmalat patrocinadora do Palmeiras no inicio da década de 90 pagou ao União São João de Araras 500 milhões de dólares para a compra definitiva do jogador.

Com 19 anos, Roberto Carlos tornou-se um dos maiores ídolos da torcida palmeirense. Foram 117 jogos e 17 gols marcados. Ajudou o Palmeiras a quebrar um jejum de 17 anos sem conquistar títulos. Foram dois Campeonatos Brasileiros de 1993 e 1994, bi-campeonato Paulista também 1993 e 1994 e o Torneio Rio-São Paulo em 1993.

Após três anos jogando pelo time do Parque Antarctica, o filho adotivo de Araras ganha a sua primeira oportunidade em um time internacional. Em 1995 foi vendido a Internazionale de Milão por 7 milhões de dólares, onde jogou com muito sucesso por 10 meses, foram 34 partidas e 7 gols marcados, até se transferir para o Real Madrid da Espanha.

No Real Madrid, Roberto Carlos chegou em 1997, atingiu seu auge na carreira no ano seguinte, após um ano no time espanhol foi considerado pela FIFA, o segundo melhor jogador do mundo. No ano seguinte em 1998 recebeu o Troféu EFE, prêmio de melhor jogador ibero- americano entregue pela agência de notícias espanhola.

No Real Madrid foram 11 anos de muitas realizações e títulos conquistados. Foi campeão do Campeonato Espanhol em 1996, 1997 e 2002. Campeão da Copa dos Campeões da Europa em 1998, 2000 e 2002. Dois títulos mundiais Interclubes em 1998 e 2002. Jogando pelo time espanhol, Roberto Carlos realizou 574 jogos e 70 gols marcados.

No time principal da Seleção Brasileira, Roberto Carlos foi convocado pela primeira vez pelo técnico em 1993, mas acabou não sendo convocado para a campanha do tetra no EUA.

Mesmo assim sempre foi chamado para os amistosos da Seleção Brasileira e em 1998 chegou credenciado como uma das maiores estrelas para a Copa da França ao lado do seu companheiro de quarto na concentração Ronaldo Fenômeno. Com a perda do título na França, o lateral foi um dos mais criticados.

Em 2002, porém, Roberto Carlos conquista o mundo ao ser campeão da Copa do mundo no Japão e na Coréia do Sul com a Seleção Brasileira. Foi considerado um dos principais jogadores do Brasil e ainda foi o autor de um gol durante a competição, na vitória por 4 a 0, sobre a Seleção da China.

Em 2006, o filho adotivo de Araras encerra seu ciclo na Seleção Brasileira após o fracasso na Copa do Mundo da Alemanha. O Brasil caiu nas quartas de final após perder para a França. Roberto Carlos foi considerado o maior responsável pela eliminação da Seleção Brasileira. Pois, no gol de Henry, ele foi flagrado arrumando a meia e não acompanhou a marcação do jogador francês.

Com a camisa amarelinha foram 141 convocações, um total de 132 jogos e 12 gols marcados, sendo 10 pela Seleção Brasileira principal e dois gols pela Seleção Pré-Olímpica. Conquistou o Torneiro Pré-Olimpico, a medalha de bronze nos Jogos Olímpicos de 1996, a Copa das Confederações em 1997, Copa América em 1997 e a Copa do Mundo de 2002. Hoje aos 34 anos, Roberto Carlos também está deixando o Real Madrid, clube onde tornou um dos maiores ídolos da torcida, foram 11 anos de muita conquista. Seu destino deverá ser o Fernembach da Turquia, time treinado pelo técnico Zico que aprovou a contratação do brasileiro.

Mesmo bem sucedido, Roberto Carlos ainda não falou em encerrar a carreira, mas já chegou a declarar que pretende encerrar a carreira oficialmente jogando nem que for um jogo pelo time que o revelou, o União São João de Araras. Chegou a declarar que pretende fazer um jogo com um dos seus melhores amigos Edmundo no União e um outro jogo no Vasco da Gama, time de coração de Edmundo.

Para o futuro, quando encerrar a carreira o filho adotivo de Araras pretende continuar no meio futebolístico, seu desejo é ser treinador de futebol. Para isso deverá fazer um estágio com o seu padrinho de casamento Wanderlei Luxemburgo.

Roberto Carlos foi casado com a ararense Alexandra com quem teve três filhos, Roberta de 14 anos, Giovanna 12 anos e Roberto Carlos Junior de 9 anos, este último adotado.

Após o divórcio com a ararense, o craque se envolveu com a estudante de jornalismo Simone Hamilko de Curitiba/PR e teve um filho, Carlos Eduardo da Silva, hoje com 4 anos.

Proprietário de uma linda mansão no residencial Morada do Sol em Araras, Roberto Carlos sempre quando pode chega com o seu helicóptero para descansar. O seu carinho e a sua proximidade são tão grande com a cidade de Araras, que em 1999 ele chegou a fazer uma doação de aparelhos para a Santa Casa do município para ajudar na recuperação de crianças doentes, inclusive a do seu filho na época Roberto Carlos Junior.

O homem gol de Araras Campeão Carioca, Brasileiro e da Libertadores, Sorato coleciona vitórias

Não existe nada mais importante numa partida de futebol que o gol. Ser jogador não é uma tarefa tão simples, mas ser um atleta profissional e especialista em balançar as redes adversárias é algo para poucos. Um ararense de 1,80m e 73 kg tem a sabedoria de um atacante e a frieza de um goleador.

Aguinaldo Luiz Sorato nasceu em Araras, no dia 8 de abril de 1969. Defendeu 16 times ao longo dos seus 21 anos de carreira profissional. Em todos os clubes que jogou deixou sua marca de artilheiro. Ganhou títulos importantes e assim como Roberto Dinamite, Romário, Edmundo, entre tantos outros craques, é um dos ídolos da torcida do Vasco da Gama.

Sorato sempre teve a bola de futebol como brinquedo favorito. Nos campinhos e ruas de Araras se divertia na companhia de seus amigos de infância e seu irmão mais velho, Celso Antônio Sorato. Com sete anos começou a jogar na escolinha de futebol da Inco, cujos os treinos aconteciam no campo do São Benedito, sob a orientação do técnico Lucídio.

Já ciente da profissão que escolheria para o seu futuro foi logo avisando sua mãe Ana Moreira Sorato: “Eu já avisei a minha mãe que eu gostaria de ser um jogador de futebol profissional e até pedi para ela não me impedir caso um clube se interessasse por mim”. No entanto, quando começou a dar os seus primeiros passos para a brilhante carreira, ouviu uma frase que o chateou bastante, mas que acabou sendo a vitamina para que o seu sonho tornasse realidade. “Teve uma pessoa em Araras que chegou a me falar que jamais eu seria um jogador de futebol. Que eu não tinha condições para ser um profissional”, lembra.

A partir daquele momento conquistar o seu objetivo não seria somente um sonho e sim uma questão de honra, para mostrar não só o seu valor, mas ser um exemplo de que nenhuma pessoa deve ser julgada por qualquer motivo, muito menos pelas suas limitações.

Em 1979 a família do futuro jogador mudou-se para a vizinha cidade de Leme, localizada a 18 km de Araras, já que o pai, Antônio Sorato, trabalhava numa lanchonete. A mudança fez o ainda menino deixar o time da Inco.

Em Leme fez novos amigos e como em Araras não deixou de mostrar sua habilidade em campinhos e ruas da nova cidade, o que chamou a atenção. “Alguns vizinhos alertaram o meu pai que eu poderia ser um jogador de futebol. Algumas pessoas que moravam próximos a nossa casa pediram para o meu pai me levar ao time do Lemense, que é o principal time da cidade”, recorda.

De acordo com o Antônio Sorato, pai do jogador, seu irmão mais velho, que na época estava com 15 anos, tinha tudo para ser um jogador profissional, mas ele não queria seguir a profissão. Celso, no entanto, levou o irmão para treinar no Lemense, onde teve a certeza que o seu futuro estava definido e nunca mais parou de jogar.

Em 1982 a família voltou a Araras, mas o coordenador das categorias de base do Lemense, Wilson Silveira pediu para que o ainda jovem Sorato, de apenas 13 anos, permanecesse treinando no Lemense, conforme conta Sorato: “Lembro que minha mãe me levava na pista para eu pegar o ônibus de Araras a Leme para eu poder treinar”. Até os 14 anos a rotina do jovem garoto era estudar no período da manhã, na Escola Cesário Coimbra, em Araras e à tarde viajar e treinar na cidade de Leme.

Em 1984, o Lemense disputou um campeonato que reuniu várias equipes da capital e do interior paulista. Logo após um jogo em São Paulo, uma pessoa do Rio de Janeiro, que se identificou como Léo e que tinha como pretensão descobrir talentos para o futebol foi conversar com o Sorato, com 15 anos, e mostrou interesse em levá-lo para jogar no futebol carioca, na época no Flamengo ou Vasco da Gama. “Ele era um olheiro dos times cariocas e me falou que o time que mostrasse interesse primeiro eu iria jogar”, conta.

Uma semana depois, o espião carioca entrou em contato com o coordenador das categorias de base do Lemense, Wilson Silveira interessado em contratar o ararense. “O Wilson falou na época que ele poderia me contratar, mas que teria que pagar para o Lemense”. Naquela época, em 1985, nem se falou em dinheiro. O Vasco mandou apenas uma grande quantidade de material esportivo, incluindo bolas, jogo de camisa, chuteiras, o suficiente para abastecer o time da cidade de Leme durante um ano inteiro.

Após a regularização dos documentos a irmã de Sorato, Sandra Aparecida Sorato, levou o ararense até a cidade de Campinas e o colocou no ônibus que seguiu rumo à cidade do Rio de Janeiro. Seu destino foi o Vasco da Gama.

Chegando ao Rio de Janeiro, Sorato se encontrou com o Léo e foi apresentado no estádio de São Januário, no dia 30 de janeiro de 1985, para jogar nas categorias de base do seu novo clube. “Quando cheguei no Vasco fiquei muito contente, mas depois de alguns dias eu chorava muito de saudade da minha família, Não gostava da comida e tive muitas dificuldades de adaptação, porque eu ficava muito sozinho. Eu dormia no alojamento do Vasco que fica embaixo da arquibancada”, lembra. Ele ficou quatro meses seguidos sem falar com a família, que não tinha telefone em casa. Só depois deste tempo passaram a se comunicar através de cartas.

Logo no seu primeiro ano de Vasco da Gama foi campeão carioca da categoria juvenil e marcou 14 gols. No ano seguinte foi vice-campeão e marcou 11 gols. Em 1987 foi promovido para jogar na categoria de juniores. Entretanto, sua estrela brilhou mesmo em 1988, quando se profissionalizou e passou a atuar na equipe principal, a pedido do técnico Sebastião Lazaroni. “O Vasco tinha um timão. Durante o campeonato eu entrava no decorrer das partidas, mas tive a chance de começar jogando a final, contra o Flamengo”, lembra. Ele tinha apenas 18 anos quando foi chamado pelo técnico Sebastião Lazaroni e avisado que começaria jogando a decisão do contra o Flamengo, já que o titular da equipe, Romário estava lesionado e não tinha condições de atuar.

No seu primeiro jogo como titular do Vasco da Gama, na final do Campeonato Carioca de 1988, Sorato marcou dois gols, na vitória por 3 a 1 sobre o maior rival de sua equipe. Tornou- se campeão carioca e passou a ser um dos ídolos da torcida cruzmaltina. O atacante Romário, que assistiu ao jogo da arquibancada, fez questão de ir até o gramado e abraçar o jovem ararense em meio a uma multidão de repórteres que o entrevistava. “Agora vou ter que tomar cuidado se não vou perder a posição de titular para o Sorato”, disse Romário em entrevista na época.

Mesmo com apenas 18 anos, Sorato mostrou bastante personalidade e também em entrevista na época disparou: “O Zé Carlos, goleiro do Flamengo, disse antes do jogo que sem Romário o Vasco sairia perdendo por 2 a 0. Eu prefiro afirmar que jogo só se ganha dentro de campo”. Desde então a trajetória do menino de Araras já não era mais a mesma. Passou a ser reconhecido nas ruas do Rio de Janeiro e tornou-se mais um na galeria de ídolos da torcida do Vasco da Gama. Naquele ano o time se São Januário jogava com: Acássio, Luis Carlos Wink, Marco Aurélio, Kinõnes e , Marco Antônio Boiadeiro, Zé do Carmo, Bismark e , Sorato (Romário) e Bebeto.

No primeiro semestre de 1989, disputou o Campeonato Carioca, mas a confirmação de sua consagração veio no Campeonato Brasileiro de 1989. Sorato confirmou o status de herói e, sobretudo, de artilheiro nato, afinal foi dele o gol contra o São Paulo Futebol Clube que deu o título de campeão brasileiro ao Vasco da Gama.

O jogo foi no Morumbi no dia 16 de dezembro de 1989. O primeiro tempo terminou 0 a 0, mas aos cinco minutos da etapa final, o ararense Sorato recebeu o cruzamento de Luis Carlos Winck e escorou de cabeça vencendo o goleiro tricolor. Foi o gol da vitória e do título de campeão Brasileiro. “Foi o momento mais marcante da minha carreira, afinal fazer o gol do título de campeão brasileiro em cima do São Paulo no Morumbi é inesquecível. Esse momento eu vou guardar para o resto da minha vida”, afirma.

Naquele ano o Vasco era treinado pelo técnico Nelsinho Rosa e foi campeão jogando com: Acássio, Luis Carlos Winck, Quinõnez, Marco Aurélio e Mazinho, Zé do Carmo, Marco Antônio Boiadeiro, Bismarck e Willian, Sorato e Bebeto. O São Paulo era treinado pelo técnico e perdeu jogando com: Gilmar, Netinho, Adilson, Ricardo Rocha e Nelsinho, Flavio, Bobô, Raí e Mario Tilico, Ney e Edvaldo (Paulo César).

Depois de mostrar a sua qualidade técnica e a categoria em fazer gols, Sorato ainda permaneceu no Vasco da Gama até a metade do ano de 1992, disputando campeonatos cariocas e nacionais.

No segundo semestre de 1992 a Parmalat patrocinou o Palmeiras e o atacante Sorato foi o terceiro principal reforço contratado pelo multinacional e apresentado ao time da capital. No entanto depois de alguns jogos pela Copa do Brasil, o atacante ararense sofreu uma grave lesão na coxa esquerda, que o afastou durante um ano dos gramados. “Quando cheguei no Palmeiras infelizmente não tive sorte. Rompi um músculo da coxa e fiquei impossibilitado de jogar. Mas agradeço aos médicos do clube que foram muito competentes e puderam me fazer voltar a jogar”, conta.

Em 1993, Sorato ficou boa parte do tempo revezando os gramados com o Departamento Médico, mesmo assim, no Palmeiras foi campeão do campeonato paulista em 1993 e 1994. Foi campeão também do torneio Rio-São Paulo e do Brasileiro em 1993.

A partir de 1994, Sorato permaneceu vinculado à Parmalat, mas deixou o Palmeiras e se transferiu, por empréstimo, para o Cruzeiro (MG), onde disputou o campeonato mineiro e o brasileiro.

No ano seguinte foi para o Juventude (RS), clube que também era patrocinado pela Parmalat, para disputar o campeonato gaúcho. Logo após o campeonato gaúcho, Sorato adquiriu em definitivo seus direitos federativos e passou a ser um cigano da bola, rodando em vários times do futebol brasileiro.

Ainda em 1995 foi para o Santa Cruz, para a disputa do Campeonato Brasileiro da Série B. No ano seguinte voltou ao futebol carioca, contratado para defender o Bangu, onde disputou o campeonato carioca. No mesmo ano se transferiu para o Botafogo (RJ), onde jogou o campeonato brasileiro de 1996 e o campeonato estadual de 1997.

Como sua estrela brilhou jogando pelo Vasco da Gama, foi contratado em 1997 novamente pelo time de São Januário para a disputa do nacional e foi mais uma vez campeão brasileiro, desta vez em cima do Palmeiras. Naquele ano Sorato alternava na equipe titular e no banco de reservas. O Vasco era treinado pelo técnico Antônio Lopes e jogava com: Carlos Germano, Válber, , Mauro Galvão e Felipe, Luisinho, Nasa, Juninho (Mauricinho) e Ramon (Alex), Evair (Sorato) e Edmundo. O Palmeiras naquele ano tinha como técnico Luis Felipe Scolari e perdeu o título jogando com o ararense Velloso no gol, Pimentel, Roque Junior, Cléber e Junior, Rogério, Marquinhos, Alex (Oséias) e , Euller (Edmilson) e Viola.

Depois de conquistar o campeonato nacional, Sorato permaneceu no Vasco em 1998 e colecionou mais dois títulos para a sua carreira. Foi campeão carioca e da Taça Libertadores da América.

Em 1999 recebeu uma proposta para jogar no interior de São Paulo, onde só havia atuado apenas nas categorias de base do Lemense, logo no inicio da sua carreira, antes de jogar no Vasco da Gama. Disputou o campeonato paulista da série A2.

No segundo semestre do mesmo ano se transferiu para o Gama (DF) para jogar a Série A do Campeonato Brasileiro. Em 2000 voltou ao futebol carioca e disputou o estadual para o América (RJ). No segundo semestre trocou o América do Rio de Janeiro pelo América de Minas Gerais, onde atuou na Série B do Campeonato Brasileiro. No ano seguinte novamente retornou ao América do (RJ) para jogar o Campeonato Carioca, e no segundo semestre seu destino foi mais uma vez o futebol paulista, desta vez para defender o Paulista de Jundiaí, onde conquistou o título de campeão brasileiro da série C, conseguindo o acesso à série B do nacional.

Em 2002, aos 33 anos, Sorato jogou o Campeonato Carioca pelo Madureira e em setembro do mesmo ano teve a experiência de atuar no futebol europeu. Foi contratado pelo Videoton, da Hungria, onde jogou durante sete meses. “Fui muito bem lá. O Videoton é uma equipe que sempre briga para não ser rebaixado e quando estive lá nós ficamos em quinto lugar no campeonato. Mas a adaptação foi difícil devido, principalmente em relação à língua e ao frio”, relata.

Sorato regressou ao Brasil em abril de 2003, para disputar o campeonato brasileiro pelo Fluminense. No ano seguinte, em 2004 disputou o Campeonato Paulista pelo Marilia e no segundo semestre a Série C do Brasileiro pelo Atlético de Sorocaba.

Em 2005 voltou para o futebol carioca. Desta vez foi contratado para atuar na equipe do Cabofriense, onde ficou até abril de 2006 e conquistou o título de Campeão Carioca. No segundo semestre foi contratado pelo Bahia para a disputa do Campeonato Brasileiro da Série C.

No primeiro semestre de 2007 seu destino foi novamente o futebol paulista, desta vez contratado pelo Ituano para a disputa da Série A1. Assim como fez em todos os clubes que jogou, Sorato deixou sua marca de artilheiro, fez 8 gols, sendo dois contra o Corinthians e um contra o Palmeiras.

No segundo semestre do mesmo ano, o atacante recebeu uma proposta do Vitória/BA, clube onde se transferiu para disputar o Campeonato Brasileiro da Série B. Hoje com 38 anos, o ararense e artilheiro Sorato não pensa em parar de jogar futebol. Pretende dar continuidade a sua carreira de atleta profissional. “Sei que falta pouco tempo para eu parar, mas nunca fiz um planejamento de parar de jogar. Tenho uma boa condição física. Tenho suportado muito bem os treinamentos e a rotina de jogos e isso é o que determina se você tem que parar ou não com o futebol”, pondera.

Sobre a quantidade de gols marcados durante toda a sua carreira, o atacante não sabe precisamente. “Infelizmente não fiz a contagem de quantos gols eu fiz. Foi uma falha, deveria ter registrado”, lamenta.

Com o dinheiro conquistado em todos estes anos de trabalho, Sorato construiu um padrão de vida alto e adquiriu muitos imóveis na capital carioca. Em Araras presenteou sua família com uma casa no Jardim Santo Antônio, onde moram seu pai, Antônio Sorato, sua mãe, Ana Moreira Sorato, e seu irmão caçula Victor Eduardo Sorato, 21. Tem mais dois irmãos, que são casados: Sandra Aparecida Sorato, 42, que há 22 anos trabalha como gerente geral na academia Bella Mie, e Celso Antônio Sorato, 41, que reside e trabalha como operário na cidade de Leme.

Casado com a carioca Andréa Shalon Sorato, com quem tem dois filhos, Amanda Sorato, 15, e Allan Sorato, 13, o jogador ararense pretende continuar morando no Rio de Janeiro quando encerrar a carreira. Seu filho, Allan atualmente joga no CFZ (Clube de Futebol do Zico) e já começa ensaiar os primeiros passos para ser um atleta profissional.

Quando encerrar a carreira de jogador, Sorato pretende continuar perto dos gramados, pois iniciou recentemente estudos para ser técnico de futebol e pretende atuar nesta área.

Coração verde e branco

Trajetória no Palmeiras e desejo de defender seleção marcaram carreira de Velloso

Por onde passa Velloso é reconhecido. Com seu jeito carismático e humilde o ex-goleiro distribui autografos e guarda na memória os momentos em que fez a alegria de torcedores do Palmeiras, Santos, União São João, Atlético Mineiro e Atlético de Sorocaba.

Elasticidade, reflexo, impulsão, caráter, personalidade, habilidade para defender são algumas das qualidades que fazem um bom goleiro, mesmo que tenha nascido na pequena cidade de Araras, localizada a 170 km da capital paulista. A vontade de servir à Seleção Brasileira e de não aceitar o banco de reservas também foram fatos marcantes da carreira do ex-goleiro e hoje técnico de futebol Wagner Fernando Velloso.

Nascido em Araras, no dia 22 de setembro de 1968, ainda com 12 anos Velloso já tinha a plena certeza sobre sua futura profissão e a convicção de jogar na posição de goleiro. “Sempre tive a certeza do que eu queria para o meu futuro. Claro que não tinha a visão de profissionalismo, de uma situação tão importante como uma profissão”, diz.

Sua trajetória começou na cidade de Araras, em 1981, quando defendeu duas escolinhas de futebol formadas por jovens garotos: o Araruna e o Inco.

A sua primeira oportunidade em um clube de tradição fora de Araras foi na Ponte Preta em 1983. “Quando eu jogava na Inco fui fazer um amistoso contra a Ponte Preta, que depois me fez o convite para fazer um teste. Quando cheguei lá o Dimas era o preparador de goleiros e não fui aprovado. Não sei se foi por causa da minha estatura. Sei que estava um frio danado e fui um desastre no treino”, recorda.

Um mês depois da frustração na Ponte Preta surgiu uma nova oportunidade, desta vez para fazer um teste no Palmeiras, seu clube do coração, conforme conta: “O Lú Grande e o Lira, que jogavam comigo no Inco, foram chamados para fazer um teste no Palmeiras. Eles foram a minha casa me convidar para eu também fazer o teste. Acabei sendo aprovado e os dois voltaram para casa”.

Aos 15 anos, Velloso foi aprovado e passou a jogar no infantil e algumas vezes treinar contra a categoria de juniores do próprio Palmeiras. De acordo com o ararense ele passou a ser o único jogador do infantil a morar no alojamento do clube, que só tinham atletas da categoria juniores. “Eu me recordo que no Palmeiras tinham dois jogadores de Araras, o Caju e o Tufi. Nos treinos eles até me facilitavam chutando devagar para eu fazer as defesas”, brinca.

O desafio seguinte foi convencer a mãe, Albidia Sorato Velloso, que a partir daquele momento passaria a morar em definitivo na capital paulista. “Meu pai sempre me apoiou e sempre me deu força, ciente daquilo que eu queria pra mim. Mas a minha mãe foi difícil, eles foram comigo para ver o alojamento onde eu iria morar, a escola onde eu iria estudar e minha mãe não se conformava e chorava muito. Inclusive em casa meu pai conta que foi difícil controlá- la por causa das crises de choro que ela tinha. Quase ele foi me buscar para trazer de volta pra casa”, lembra. O primeiro jogo oficial de Velloso na categoria infantil do Palmeiras foi no empate, por 1 a 1, contra o Comercial de Ribeirão Preto, em 1983. No ano seguinte, Velloso, teve a sua primeira experiência como goleiro titular da seleção brasileira. Foi a primeira Seleção Brasileira infantil que se formou na época. O grupo disputou um mundial da categoria na França, e foi campeão vencendo os donos da casa, na final, por 1 a 0. No começo de 1985, Velloso foi convocado novamente para servir à categoria juvenil da Seleção Brasileira.

Em novembro do mesmo ano, de volta à categoria juvenil do Palmeiras, uma grave contusão no braço esquerdo quase obrigou o ex-goleiro ararense a encerrar a carreira prematuramente. A esperança de recuperação surgiu através do médico da equipe na época, Victor Fugis, que se empenhou ao máximo e garantiu a sua volta aos gramados. “Foi num jogo contra a Ponte Preta, no último lance da partida acabei saindo na bola para fazer uma defesa, sofri uma pancada e quebrei dois ossos do antebraço. Precisei passar por três cirurgias para me recuperar, foram 15 meses sem poder jogar”, recorda.

Foram 15 meses de muita agonia e preocupação sobre o futuro. Mas como obra do destino, Velloso conheceu Émerson Leão, ex-goleiro do Palmeiras e atual técnico de futebol. Na época Leão era goleiro do time profissional e também estava no Departamento Médico se recuperando de contusão. Foi ele que mais tarde deu a primeira oportunidade ao ararense como titular no time principal do Palmeiras.

De volta aos gramados em 1987, Velloso passou a integrar a equipe de juniores do Palmeiras. Como titular foi o grande destaque da Copa BH, onde adquiriu novamente a confiança de todos no clube e a certeza de que a contusão fazia parte do passado.

No ano seguinte na única Copa São Paulo de Futebol Júnior que disputou, Velloso foi simplesmente a maior decepção da equipe. “Minha participação foi um desastre. Fui muito mal, cometi pênalti errei em outros lances e tudo aquilo que eu tinha feito na Copa BH se apagou. Mas isso foi um aprendizado para minha carreira e passei a me concentrar melhor e saber que uma atuação no campeonato anterior não podia deixar que minha autoconfiança me prejudicasse nos campeonatos futuros”, observa.

Mesmo em má fase, com 20 anos Velloso foi convidado pelo treinador de goleiros da equipe profissional do Palmeiras, Valdir Joaquim de Moraes, para compor o elenco profissional como terceira opção. Na época o titular era o Zetti e o reserva era Ivan.

Ainda no final do ano de 1988, faltando dez rodadas para terminar o Campeonato Brasileiro, o goleiro titular Zetti fraturou a perna e Ivan, substituto imediato, foi o grande destaque na reta final do campeonato nacional daquele ano, enquanto Velloso ficou pela primeira vez no banco de reservas do time principal do Palmeiras.

Em 1989 o Palmeiras contratou o técnico Émerson Leão e mais um celeiro de jogadores com o objetivo de ser campeão paulista. A única posição em que não havia contratado era goleiro, mesmo sem o Zetti com a perna fraturada e o reserva Ivan com a mão quebrada. Velloso passou então a ter a confiança do técnico Émerson Leão e ganhou pela primeira vez, aos 20 anos, a oportunidade de ser o titular do Palmeiras. Naquele ano o time jogou com: Velloso, Edson, Toninho, Dario Pereira e Abelardo, Júnior, Gerson Caçapa, Edu e Neto, Careca e Gaúcho.

A estréia do ex-goleiro ararense como titular da equipe principal foi em um amistoso na véspera do Campeonato Paulista contra o Flamengo no Pacaembu no dia 10 de fevereiro de 1989. Apesar da derrota, por 2 a 1 a atuação do ararense, como ele conta, foi boa: “Foi um dos jogos que atuei pelo Palmeiras que mais me marcou. Eu estava numa noite inspirada e fiz grandes defesas. Lembro até que fiz uma defesa de uma cabeçada do Zico de dentro da área e ele veio me cumprimentar. Acabei sendo o destaque em todos os jornais, emissoras de rádio e TV e foi realmente marcante este jogo”.

A estréia em uma competição oficial foi na vitória, por 2 a 0, contra o Noroeste, de Bauru, no Parque Antarctica, no Campeonato Paulista de 1989. Nesta competição Velloso manteve uma seqüência de onze jogos nos quais sofreu apenas um gol. Mesmo com a recuperação dos goleiros Zetti e Ivan, Velloso foi mantido como titular pelo técnico Émerson Leão até o final do estadual, quando o Palmeiras foi eliminado nas semifinais pelo Bragantino, que disputou a final contra o extinto time do Novorizontino e sagrou-se o campeão Paulista.

Durante a competição, o goleiro reserva Ivan, insatisfeito no banco de reservas chegou a discutir com o ararense. “O Zetti não, mas o Ivan chegou a criar atrito comigo sem eu ter culpa de nada. Eu não forcei nenhuma situação para ser titular, as coisas aconteceram naturalmente, mas eu procurava relevar e só achava que ele tinha que respeitar a minha posição porque eu tinha conquistado de maneira limpa e natural”, revela.

Depois do Campeonato Paulista, Velloso disputou, também como titular, em 1989 o Campeonato Brasileiro. No ano seguinte foi mantido na equipe titular e foi o grande destaque durante as disputas do campeonato paulista e do campeonato brasileiro, sendo cogitado para a Seleção Brasileira que jogaria a Copa do Mundo de 90 na Itália. “A imprensa do Brasil inteiro pedia a minha convocação. Eu não fui convocado porque o técnico Sebastião Lazaroni tinha falado na época que a equipe já estava fechada e que os mesmos jogadores que conquistaram a Copa América de 1989 seriam os convocados para a Copa na Itália”, lembra. A tese se confirmou e os goleiros convocados naquele ano foram: Tafarel, Acácio e Zé Carlos. O Brasil foi eliminado na primeira fase pela Argentina, sofrendo gol de Caniggia.

Seleção brasileira

Com a eliminação da Seleção Brasileira na Copa do Mundo, o técnico Sebastião Lazaroni foi demitido pela CBF. O ex-jogador e hoje comentarista da TV Globo, Paulo Roberto Falcão assumiu o comando e na primeira convocação para um amistoso contra a Espanha chamou o goleiro Velloso. “Nós perdemos o amistoso por 3 a 0 e foi mais uma decepção. Não que eu tenha sido o responsável pelos gols, mas pela expectativa que foi criada em cima da minha convocação e não correspondi. Depois vieram as cobranças de dentro da Seleção e da imprensa do Brasil inteiro”, lamenta.

Em 1991, Velloso disputou o Campeonato Brasileiro no primeiro semestre como titular do Palmeiras. No segundo semestre chegou o técnico Nelsinho Batista para comandar a equipe no Campeonato Paulista e o ex-goleiro ararense perdeu a condição de titular para o então reserva Ivan. O Palmeiras foi eliminado pelo São Paulo na reta final do campeonato.

Para a temporada de 1992, Nelsinho Batista pediu a contratação do experiente goleiro Carlos e sugeriu que Velloso ficasse novamente na reserva. “Eu disse que não, que não aceitaria ficar na reserva porque eu tinha a pretensão de voltar à Seleção Brasileira e por isso eu tinha que estar jogando. Tive propostas na época do Bragantino, do Santos, do Botafogo (RJ), mas o Palmeiras não aceitaria me emprestar para nenhuma outra equipe da Série A”. Com o passe, hoje direitos federativos, vinculado ao Palmeiras, Velloso não viu outra saída a não ser atuar pelo União São João de Araras que disputava a Série A1 do Paulista, mas em chave oposta a dos clubes da capital. Na ocasião o time ararense era dirigido pelos empresários Iko Matins e José Mario Pavan. “Acabei optando pelo União porque era o time da minha cidade. Na época eu estava namorando a minha atual mulher, Franceli, e deu certo de ficar próximo dos meus familiares. O time do União era um timaço”, relembra. Em 1992 no Estadual o União jogava com: Velloso; Edinho, Beto Médice, Henrique e Roberto Carlos; Vinicius, Odair, Glauco e Éder; Marcelo Conte e César.

No segundo semestre do mesmo ano o União disputou o Campeonato Brasileiro e conseguiu o acesso à primeira divisão com time formado por: Velloso, Edinho, Tuca, Guinei e , Vinicius, Odair, Alexandre e Glauco, Osias e Israel. “Nós conseguimos o acesso de forma muito curiosa. Precisávamos vencer no último jogo o Noroeste em Bauru e torcer por pelo menos oito combinações de resultados e quando nós estávamos voltado embora nós recebemos a informação de que nós havíamos conquistado o acesso porque todas as combinações nos favoreceram. Foi a maior festa”.

Depois de ser destaque no time de sua cidade de origem, Velloso se reapresentou ao Palmeiras em 1993. Com ele foi o lateral esquerdo Roberto Carlos, que havia sido negociado em definitivo com o time da capital. “Foi o ano em que o Palmeiras fez a parceria com a Parmalat e contratou um elenco muito forte. O técnico era o Otacílio Gonçalves, que pediu a minha permanência como titular e o Sérgio era o reserva imediato”.

No entanto, uma fratura na mão direita na quinta rodada do Campeonato Paulista contra o Rio Branco de Americana interrompeu a sua seqüência de jogos pelo Palmeiras. “Fiquei 36 dias me recuperando da contusão. Quando voltei o Sérgio estava muito bem, o Palmeiras era o favorito ao título e acabei ficando no banco de reservas”. Naquele ano o Palmeiras conquistou o título de campeão Paulista em cima do Corinthians e o goleiro ararense lamentou não estar entre os titulares. “Se pudesse eu mudaria na minha trajetória do Palmeiras porque eu tive a oportunidade de ser o titular da equipe e acabei não sendo por causa da contusão. Eu já tinha uma história de dez anos dentro do clube e acabei saindo do time por uma fatalidade. Naquele momento o Palmeiras estava vivendo um momento histórico, de após 16 anos, conquistar novamente o título estadual”, lembra. Naquele ano o Palmeiras jogou com: Sérgio, Mazinho, Antônio Carlos, Tonhão e Roberto Carlos, César Sampaio, Daniel, Zinho e Edilson, Edmundo e Evair.

No segundo semestre de 1993, o Palmeiras se preparava para disputar o Campeonato Brasileiro e como o Sérgio havia conquistado o título de Campeão Paulista meses antes, ele seria mantido na equipe titular. Declarando-se insatisfeito em ficar na reserva, Velloso pediu para deixar o clube mais uma vez. “Eu queria sempre jogar. Estava com o desejo de voltar à Seleção Brasileira e sabia que tinha condições de retornar e por isso pedi para ser negociado”, enfatiza.

Velloso partiu para o Santos, considerado um dos quatro maiores times do Estado de São Paulo, onde reconquistou a confiança e o espaço no cenário do futebol brasileiro. No Campeonato Brasileiro daquele ano, o Santos foi eliminado nas semifinais para o Vitória (BA), que depois perdeu a final para o Palmeiras. Mas Velloso fez questão de ressaltar que as únicas duas derrotas do Palmeiras naquele ano foram para o Santos. “Pra mim ficou marcado porque foram as duas vezes que havia jogado contra o meu ex-clube. O Palmeiras era praticamente imbatível e perdeu as duas partidas para o Santos. Foi muito gostoso ganhar do Palmeiras”, diz. No ano seguinte o arqueiro ararense novamente recebeu várias propostas para jogar. O próprio Santos pediu a sua permanência e o Atlético (MG) ofereceu uma proposta de R$ 180 mil para um contrato de um ano. Velloso se reapresentou ao Palmeiras, clube com o qual tinha vinculo empregatício, que ofereceu cerca de R$ 62 mil para ficar no banco de reservas.

Entretanto, em 1994 o laço de amizade entre o atleta e o clube tornou-se difícil, e por pouco ele não encerrou a carreira para ser proprietário de um posto de gasolina na cidade de Araras.

O Palmeiras contratou o técnico Vanderlei Luxemburgo e novamente montou um timaço com a parceria da Parmalat. O motivo da sua decisão de deixar o clube foi outra vez não aceitar ser o reserva do titular Sérgio e o Palmeiras não o aceitaria mais emprestar para nenhuma outra equipe. “Os dirigentes do Palmeiras não entendiam que eu tinha a vontade de voltar à Seleção Brasileira e na época eles disseram que eu só deixava o Palmeiras se fosse vendido e os clubes interessados queriam me emprestar e não me comprar. Com esta decisão tomada pelo Palmeiras fiquei cinco meses parado em casa”.

Sem a possibilidade de jogar em nenhum outro clube por estar com o passe fixado ao Palmeiras, voltou a Araras. Pensou em parar de jogar futebol e resolveu comprar um posto de gasolina. Velloso assistiu de Araras o clube que o revelou ser campeão Paulista em 1994. o time do Parque Antarctica foi campeão jogando com: Gato Fernández, Cláudio, Tonhão (Alexandre Rosa), Ricardo (Amaral) e Roberto Carlos, César Sampaio, Mazinho, Rincón e Zinho, Edílson e Evair. “Pensei em parar de jogar por falta de perspectiva, porque eu não queria voltar ao Palmeiras pela imposição que eles propuseram”, desabafa.

Foram cinco meses longe dos gramados. De janeiro a maio de 1994 Velloso contou com a ajuda da irmã mais velha, Vicentina Velloso e do pai Antônio Velloso, na administração do posto de gasolina que ficou muito conhecido na cidade de Araras como o ‘posto do Velloso’ e passou a ser um ponto de referência do município. Neste mesmo período comprou outro posto em Pirassununga. “Sempre quis ter algo paralelo ao futebol e o posto era uma grande oportunidade para ter um recurso quando acontecem imprevistos, como de ficar sem clube”.

No segundo semestre de 1994, o Palmeiras se preparava para o Campeonato Brasileiro e depois de um convite para participar de um programa esportivo de televisão na extinta Jovem Pan, Velloso encontrou o diretor de esporte do Palmeiras e da Parmalat, José Carlos Brunoro e o preparador de goleiros, Valdir Joaquim de Moraes que facilitaram a sua volta. “Eu já tinha uma esposa e uma filha para sustentar, eu não tinha casa e morava com o meu sogro. Diante disso resolvi fiz uma reunião com a diretoria do Palmeiras e resolvi aceitar a proposta de disputar uma posição e estar integrado ao clube”. Mesmo de volta ao Palmeiras, Velloso continuou proprietário dos postos de gasolina até 1996, quando resolveu deixar este ramo.

No seu retorno ao Palmeiras, a situação foi ainda pior, se antes tinha que se contentar com a reserva, desta vez foi obrigado a carregar o rótulo de terceiro goleiro, já que o Gato Fernández era o titular e o Sérgio o reserva imediato. O atual goleiro Marcos, que foi pentacampeão do mundo com a Seleção Brasileira era o quarto goleiro do Palmeiras em 1994. “Essa minha volta ao Palmeiras foi um recomeço aos 25 anos. Comecei a treinar e fazer parte do elenco. O Palmeiras fez uma excursão no Japão e fiquei fora da viagem”.

De volta ao Brasil, o Palmeiras iniciou a pré-temporada para o Campeonato Brasileiro. Uma conversa separada com o técnico Vanderlei Luxemburgo acendeu a esperança de Veloso de ser o titular no nacional daquele ano, já que o Gato Fernández não permaneceria no elenco e o Sérgio não seria o titular. No entanto, a cogitação da chegada do Tafarel poderia atrapalhar os planos do goleiro ararense. “O Vanderlei Luxemburgo foi muito coerente comigo, ele deixou claro que eu seria o titular, mas se o Tafarel fosse contratado eu seria liberado para uma outra equipe. Eu disse que não tinha problema porque era isso que eu queria ou jogar no Palmeiras ou ser emprestado”.

Surgiu, porém, uma proposta para atuar no Guarani de Campinas, que jogava com: Pitarelli, Marcinho, Jorge Luis, Cláudio e Guilherme, Fabinho, Valdeir Fabio Augusto e Edu Lima, Amoroso e Luizão. Com o impasse da chegada de Tafarel, Velloso não participou do jogo de estréia contra o Paraná Clube para não impossibilitar a sua possível transferência para o Guarani. “O Vanderlei falou comigo e disse que o Sérgio iria jogar o primeiro jogo porque se eu jogasse uma partida para o Palmeiras e o Tafarel chegasse, eu não poderia mais atuar pelo Guarani”, conta.

A definição aconteceu em Recife, na segunda rodada do Brasileiro contra o Náutico, como conta Velloso: “Recebi uma ligação dos dirigentes do Palmeiras na véspera do jogo pedindo para eu viajar à Recife que eu iria jogar. Viajei e fiz a minha reestréia no Palmeiras e o meu primeiro jogo no Campeonato Brasileiro daquele ano”.

No Campeonato Brasileiro daquele ano Velloso jogou todas as partidas pelo Palmeiras e disputou a final, em dois jogos contra o Corinthians. Venceu o primeiro jogo por, 3 a 0, e o segundo terminou empatado em 1 a 1, com o Palestra sendo Campeão Brasileiro. “Além do título fui eleito o melhor em campo pela imprensa de São Paulo nos dois jogos da final. Foi uma conquista que me marcou muito porque eu sempre estava esperando conquistar um título no meu time de coração e o time que me revelou para o futebol”, lembra.

Em 1995, Velloso ganhou um novo concorrente na disputa da camisa 1 do Palmeiras, o goleiro Marcos que passou a ser o seu reserva durante o Campeonato Paulista e o Campeonato Brasileiro. No ano seguinte, Velloso foi bi-campeão da Euro-América (havia conquistado em 1990) e campeão Paulista. O estadual daquele ano era por pontos corridos e o time disputou o último jogo contra o Santos. O Palmeiras jogou com: Velloso, , Sandro, Cléber e Junior (Elivélton), Galeano, Amaral, Rivaldo e Djalminha, Mülher e Luizão.

Em 1997 Velloso permaneceu como titular absoluto do Palmeiras. No ano seguinte conquistou a Copa do Brasil e a Copa Mercosul. Em 1999, comandado pelo técnico Luis Felipe Scollari, Velloso disputou o Campeonato Paulista e parte da Taça Libertadores da América. Foi o ano em que o goleiro Marcos surgiu como uma grande promessa no gol do Palmeiras, sendo o principal destaque para a conquista do título. “Mais uma vez em que o Palmeiras entrou para a história com a conquista da Taça Libertadores da América eu não tive o prazer de estar como goleiro titular até o final. Tive uma lesão na coxa e infelizmente assisti o Palmeiras ser campeão da minha casa e o Marcos se destacou, inclusive defendendo o pênalti do Marcelinho Carioca nas semifinais, se firmando de uma vez por todas no gol do Palmeiras”, lamenta.

Aos 31 anos e recuperado da lesão na coxa, Velloso encerrou também o ciclo no Palmeiras. E foi com tristeza, conta: “A minha saída do Palmeiras foi o dia mais triste da minha vida. Foi um dia que chorei muito porque eu sabia que era o último momento meu no clube e não tive a coragem de me despedir de ninguém. Sai sozinho pelas portas do fundo e sabia que ali estava se encerrando uma história bonita e inesquecível da minha vida”.

No total foram 455 jogos no alvi-verde. Conquistou 244 vitórias, 121 empates e 90 derrotas. É considerado como um dos grandes goleiros que já passaram pelo Palmeiras ao lado de Oberdan Cattani, Valdir Joaquim de Moraes, Leão e Marcos. Conquistou os títulos de Campeão Paulista em 1993, 1994 e 1996, foi campeão Brasileiro em 1993, Copa do Brasil e Copa Mercosul em 1998 e da Taça Libertadores da América em 1999.

Em 1999, Velloso realizou um sonho antigo dos atleticanos aceitando o convite para jogar no Atlético Mineiro. Logo no seu primeiro ano em seu novo clube ficou vice-campeão brasileiro, perdendo a final para o Corinthians. No ano seguinte sagrou-se campeão mineiro em cima do Cruzeiro e por pouco não se transferiu para o Corinthians, o maior rival do time que o revelou, o Palmeiras. “Tive uma proposta para jogar no Corinthians. No meu contrato tinha uma multa rescisória de 600 mil dólares e inclusive acertei tudo com o Corinthians para jogar três anos, mas o presidente do Atlético se ofendeu e não aceitou a minha saída preferindo cobrir a proposta e renovei por mais três anos e quatro meses”.

O goleiro ararense cumpriu todo o contrato, disputando os campeonatos Mineiro e Brasileiro nos anos de 2001, 2002 e 2003.

Em 2004 surgiu uma nova oportunidade para voltar ao futebol paulista. Desta vez o Santos fez uma proposta de um ano de contrato, mas a adaptação em Belo Horizonte e a oferta do Atlético Mineiro para mais dois anos de contrato fizeram com que Velloso permanece no time mineiro. No entanto, no mês de março uma contusão grave no ombro esquerdo durante o Campeonato Mineiro interrompeu a seqüência de jogos. “Precisei fazer uma cirurgia para me recuperar da contusão e neste período que fiquei em tratamento o Atlético contratou o goleiro Danrlei”, lembra.

Ainda em 2004, Velloso ficou surpreso com a atitude do presidente do Atlético Mineiro, Ricardo Guimarães, que sustou um dos cheques referente ao seu contrato. “A diretoria do Atlético me chamou para fazer um acordo, mas eu não aceitei a proposta que eles fizeram. Eles queriam me pagar apenas 25% dos valores que eu tinha para receber e ainda queriam me dispensar por causa da minha contusão. Entrei na justiça para receber os meus direitos e para rescindir o contrato”, destaca. Velloso conseguiu se desvincular do Atlético Mineiro, mas permaneceu o restante do ano de 2004 se recuperando da lesão em clinicas particulares e aguarda a decisão da justiça para receber o que tem de direito do clube mineiro.

Aos 37 anos, em 2005 o goleiro ararense encerrou a carreira. Velloso conseguiu se recuperar da contusão no ombro e voltou aos gramados para defender o Atlético de Sorocaba na Série A1 do Campeonato Paulista. No dia 13 de março em uma partida contra o Guarani no Estádio Brinco de Ouro da Princesa em Campinas aconteceu o último jogo da sua carreira. “Eu consegui provar para todos que eu estava recuperado da contusão no ombro esquerdo, que eu havia sofrido no Atlético Mineiro, mas neste jogo contra o Guarani sofri outra contusão grave, mas no ombro direito e eu já sabia que iria demorar sete meses para eu voltar a jogar e por isso resolvi encerrar a minha carreira”, diz

Hoje Velloso desfruta de um empreendimento construído na Avenida Melvin Jones, em Araras com três campos de futebol, uma choperia e um campo de boliche. Iniciou também em 2006 um projeto para ser técnico de futebol. Recebeu um convite da diretoria do União São João de Araras no inicio do ano para comandar a equipe no Campeonato Paulista da Série A2, mas devido a sua inexperiência resolveu não aceitar e começou então a ser auxiliar técnico do ex- jogador Pintado, na Série A2 do Paulista, na Inter de Limeira e depois no Rio Branco de Americana no Campeonato Brasileiro da Série C. No primeiro semestre de 2007 o ararense resolveu aceitar o desafio de ser técnico de futebol profissional. Foi contratado pelo Cene/MS, time da primeira divisão do futebol sul-mato- grossense.

O ex-goleiro Wagner Fernando Velloso é filho de Antônio Velloso e Albidia Sorato Velloso, tem mais cinco irmãos, Vera, Vicentina, Vanda, Valdete e Valdir. Casou-se em 1993 com a ararense Franceli Maria Maretti Velloso e tem três filhos, Natália Velloso, 13, Rafael Velloso, 10 anos e Rodrigo Velloso, 5 anos. Mora no condômino fechado Terras de Santa Olívia, na zona leste de Araras.