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Thais Hentschel Stuzeneker de Sampaio Raschle

As redes sociais digitais como fontes de pautas: o caso Galvão na Copa de 2010

CELACC/ECA-USP 2011

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Thais Hentschel Stuzeneker de Sampaio Raschle

As redes sociais digitais como fontes de pautas: o caso Galvão na Copa de 2010

Trabalho de conclusão do curso de pós-graduação em Mídia, Informação e Cultura produzido sob a orientação do Prof. Dr. Dennis Oliveira CELACC/ECA-USP

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Agradecimentos

Agradeço às pessoas mais importantes da minha vida: Anneliese Heidi Hentschel, Daniel Raschle, Hudson Stuzeneker de Sampaio e Rafael Hentschel Stuzeneker de Sampaio. Obrigada pelo apoio e incentivo incondicionais e por acreditarem mais em mim do que eu mesma. Amo muito vocês. Agradeço também ao professor Juarez Xavier que com sua nítida paixão pela comunicação conduziu este trabalho de pesquisa para que chegasse ao resultado aqui apresentado.

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Resumo Este artigo científico investiga a nova tendência da imprensa brasileira de ser pautada por temas nascidos nas redes sociais virtuais. O fenômeno “Cala boca Galvão”, hashtag surgida no Twitter durante a Copa do Mundo de Futebol de 2010, é utilizado como objeto de análise para que o artigo mostre o nível de influência que um assunto surgido em mídias sociais pode exercer sobre veículos de comunicação brasileiros. Também é abordada a transformação nos veículos de comunicação e nos comunicadores que criaram perfis em redes sociais digitais para se aproximarem do público. Palavras-chave: Comunicação, Internet, Redes Sociais, Mídia e Imprensa

Abstract This research paper investigates the new trend in the Brazilian press to be guided by subjects created in virtual social networks. The phenomenon "Cala boca Galvão" hashtag on Twitter emerged during the World Cup Soccer 2010, is the analysis’ object so the article can demonstrate the level of influence that an issue arose in social media can have on the Brazilian press. Also the article brings the transformations in the media and communicators who have created profiles on social networks to approach the digital public. Keywords: Communication, Internet, Social Networking, Media and Press

Resúmen Este trabajo de investigación estudia una nueva tendencia en la prensa brasileña de guiarse por informaciones creadas en las redes sociales virtuales. El fenómeno de "Cala boca Galvão" hashtag en Twitter he surgido durante la Copa Mundial de Fútbol 2010, es el objeto de análisis del artículo y muestra el nivel de influencia que un assunto surgido en los medios sociales pueden tener en los medios de comunicación brasileños. También se discute la transformación de los medios de comunicación y comunicadores que han creado perfiles en redes sociales para acercarse al público digital. Palabras clave: Comunicación, Internet, Redes Sociales, Medios de Comunicación y Prensa

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Sumário Introdução------6 A internet e as redes sociais virtuais------7 A comunicação no séc.XXI: a internet como ferramenta para as relações atuais------8 Cala boca Galvão------10 Transformação dos comunicadores------11 Considerações Finais------12 Referências Bibliográficas------15 Anexos------16

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As redes sociais digitais como fontes de pautas: o caso Galvão na Copa de 2010 Thais Hentschel Stuzeneker de Sampaio Raschle* Introdução Com o surgimento da internet e o crescimento exponencial de seus usuários a comunicação se modificou radicalmente e na última década as redes sociais digitais ganharam força entre os mais variados públicos. Através da internet é possível que as pessoas tenham acesso a mais informações e tomem conhecimento de pontos de vista diferentes dos que normalmente são divulgados pela mídia hegemônica- mídia com características mercadológicas que se utiliza de práticas burguesas para estabelecer e manter sua dominação sobre classes subalternas. Este artigo tem como objetivo investigar o nível de influência exercida pelas redes sociais virtuais nas pautas publicadas na imprensa brasileira. Para tanto foi feito um recorte temporal- de 10 a 30 de junho de 2010- e temático- “Cala boca Galvão”, fenômeno do Twitter durante a Copa do Mundo de Futebol. Para a produção do artigo foram pesquisadas citações desta expressão nos veículos de mídia durante o espaço de tempo escolhido. Depois da coleta de dados foi feita classificação quanto à relevância dos veículos e análise com embasamento teórico. Já foram publicados estudos voltados para as redes sociais digitais, sobre a hashtag (expressão acompanhada do símbolo # utilizada para colaborar com a pesquisa de interesses e assuntos relevantes e criar um ranking dos temas mais discutidos no dia) “Cala boca Galvão” e muitos outros sobre as pautas da mídia brasileira. Mas, esta é uma abordagem inovadora, que articula os temas.

______*Thais Hentschel é jornalista, com experiência em emissoras de televisão, assessoria de imprensa e comunicação corporativa. Formada pelas Faculdades Integradas Alcântara Machado atua no mercado de comunicação há sete anos.

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A internet e as redes sociais virtuais A internet surgiu em 1969 e em 1975 tinha apenas dois mil usuários. Em janeiro de 2011, 2 bilhões de pessoas em todo o mundo utilizavam a rede segundo a União Internacional de Telecomunicações. São muitas as suas definições, entre elas a do jornalista Militão de Maya Ricardo: Um meio que permite a construção conjunta e remota de websites e a formação de grupos de discussão formados por pessoas de vários pontos do globo terrestre. A Internet derruba fronteiras geográficas e aproxima virtualmente pessoas com interesses mútuos. Um meio que inicialmente reduz a proporção entre grandes e pequenos emissores perante os olhos do leitor, pois a página de uma multinacional tem o mesmo tamanho da página do armazém da esquina. Seus limites são a mesma tela do computador do navegador- 15, ou 17 polegadas. As pessoas que têm acesso à Internet tornam-se editores de veículos globais de comunicação. (MAYA, 2000: p. 202)

A internet cresce a partir do público, sem o direcionamento político do governo- especialmente no ocidente- o que assusta parte da população, principalmente em uma sociedade na qual informação é sinônimo de poder. A capacidade de difusão de informações da rede virtual é enorme. Mesmo sites que não são produzidos por empresas de comunicação, como blogs, por exemplo, são capazes de atingir grande número de pessoas. É importante lembrar que veículos não oficiais muitas vezes foram responsáveis por mudanças relevantes. No século XVIII o surgimento da imprensa periódica não oficial que incluía os jornais The Post Man, The Post Boy, The Flying Post e The Protestant Mercury, foi responsável pela transformação da esfera pública (espaço social de debate livre onde se tem mais liberdade de expressão e é possível analisar a realidade sociopolítica e fazer críticas ao governo) de temporária em permanente tornando a política parte da vida de grande parcela da população. As publicações eram lidas em voz alta em cafés e as discussões eram feitas com a participação de todos. Nas mídias digitais as dimensões psicossociais, socioculturais e político- econômicas são democratizadas e o indivíduo consegue ser visto como único. Com os progressos da informação, o resto da humanidade parece estar mais perto de nós e cria- se a consciência de ser do mundo e estar no mundo (SANTOS, 2000). Nestas redes as comunidades virtuais são formadas por pessoas com afinidades de interesses e de conhecimentos que passam a trocar informações independentemente de sua localização geográfica. De maneira ágil e dinâmica as trocas de experiências enriquecem culturas distantes fisicamente.

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O Orkut foi a primeira rede social na internet relevante no País com usuários brasileiros desde 2003. Em apenas dois anos o site já era chamado de “a nova moda da internet brasileira” pelos meios de comunicação. Em 2004, Mark Zuckerberg e seus colegas de faculdade criaram o Facebook, que atualmente é utilizado por aproximadamente 750 milhões de pessoas. Em agosto de 2011 o Facebook ultrapassou o Orkut em números de usuários no Brasil pela primeira vez com 30 milhões de perfis brasileiros, contra 27,3 milhões no concorrente. Outra rede social digital bastante difundida no Brasil é o Twitter. Idealizada em 2006, a rede mostrou sua força em 2009 quando o ator Ashton Kutcher e a emissora americana de TV CNN disputaram publicamente quem chegaria primeiro a um milhão de seguidores.

A comunicação no século XXI: a internet como ferramenta para as relações atuais Desde a invenção da escrita, o texto passou a ser uma espécie de memória coletiva. Tudo que é escrito fica registrado e pode ser consultado a qualquer momento. As classes dominantes serviram-se da escrita em seu favor. Durante a Reforma, por exemplo, as elites se utilizaram de panfletos e da promoção de debates públicos para fazer seu ponto de vista chegar a todas as classes. Assim, o envolvimento do povo na Reforma foi tanto causa quanto consequência da participação da mídia. A invenção da prensa tipográfica trouxe a possibilidade de disseminação de conhecimento e, na época, quebrou barreiras importantes. Para o padre acadêmico Walter Ong a maior contribuição foi levar mais longe a mudança a longo prazo na relação entre espaço e discurso (BRIGSS; BURKE, 2006: p.28). O suporte digital tem a mesma função, ampliar a comunicação rompendo as barreiras do aqui e do agora. Com isso cada sujeito acaba se inventando e se reinventando continuamente, fazendo parte de uma rede de produção de conhecimento onde ele recebe interferência alheia em sua formação e interfere também na vida de indivíduos que ele não conhece, através de seus textos. Se os filósofos da antiguidade declamavam sucessivamente suas ideias na praça, se os jornalistas se agrupavam nos portos para receber notícias dos navios que chegavam de outros países com meses de atraso no século XIX, ou se a rede de contato dos estudantes franceses em 1968 ou dos ‘caras pintadas’ brasileiros da década de 1990 funcionava nas salas de aulas, hoje tudo pode ser feito online. Bastam instantes para atingir um número enorme de pessoas. (BARRETO, 2011: p. 162)

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Esta citação do co-fundador da Webcitizen- empresa dedicada à criação de canais de participação, e co-idealizador do site Votenaweb, Fernando Barreto, mostra claramente a importância da internet para a comunicação. A emergência das técnicas da informação, que podem ser adaptadas a todas as culturas, modificou drasticamente o cotidiano das pessoas e a sociedade atual passou a reger-se pela tendência à virtualização das relações humanas. A era digital possibilita a “convergência de momentos” (SANTOS, 2000). Nas redes sociais digitais todo e qualquer discurso é permitido, não existem restrições e as pessoas passaram a disseminar suas crenças, gostos, valores e opiniões mais frequentemente e para um número muito maior de interlocutores. Graças ao alcance das informações colocadas na internet as impressões pessoais transcendem os pequenos círculos de convivência e atingem pessoas muito distantes. São milhões de autores emitindo suas opiniões simultaneamente. Portanto, os textos são ora convergentes e ora divergentes. Mas, tantas informações permitem enriquecer o repertório da sociedade, que certamente não teria acesso a tantos discursos não fosse a plataforma digital. Com todas essas características chega-se a uma importante transformação ocasionada pela rede: a participação do público na imprensa. O que já acontecia através de cartas e e-mails passou a ser uma comunicação feita em via de duas mãos e em fluxo contínuo. Desde 2008, grande parte das empresas jornalísticas passou a criar perfis, principalmente no Twitter, para aumentar a interação com o público e disseminar mais rapidamente as notícias. Os leitores foram transformados em publicadores de conteúdo, ou seja, criadores de conteúdo participativo e produtores de conhecimento. A jornalista, mestre em comunicação e informação e consultora em mídias digitais Ana Brambilla enxerga a participação do público como de extrema importância no atual momento do jornalismo brasileiro: Os primeiros dez anos deste milênio situaram mudanças fortes no jornalismo (...) A ideia de fazer de cada cidadão um repórter foi adotada em inúmeras partes do mundo, despertando no público um olhar seletivo da realidade. É assim que acontece o turning point do jornalismo colaborativo ao jornalismo das mídias digitais: se até então o usuário batia na porta de um veículo oferecendo seu conteúdo para publicação, agora é o veículo que deve correr atrás do usuário em busca de um conteúdo diferenciado e com alto teor de noticiabilidade. (BRAMBILLA, 2011: p. 97)

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Cala boca Galvão O caso que ilustra este artigo e mostra a força do Twitter é o fenômeno “CALA BOCA GALVAO”. Essa frase escrita exatamente assim (sem assento nem pontuação) chegou ao Trending Topics do Twitter (ranking dos temas mais discutidos no dia no site) alguns dias em junho de 2010 durante a Copa do Mundo de Futebol. A brincadeira com o principal narrador da TV Globo, Galvão Bueno, começou na abertura da Copa, em 10 de junho de 2010. A partir de então veículos de comunicação de todo o mundo tentaram decifrar o que significava a frase que estava entre os assuntos mais comentados da internet e apareceu em uma faixa durante o primeiro jogo do Brasil, no dia 15 de junho. A criatividade dos brasileiros, que começaram a dizer que “CALA BOCA” significava “Salve” e “GALVAO” era um pássaro ameaçado de extinção, fez com que grandes veículos de comunicação, incluindo os jornais The New York Times e El País se interessassem pelo assunto. A história que se espalhou dava conta que as penas do Galvão eram arrancadas para serem vendidas no mercado negro para confecção de fantasias de carnaval. Cada vez que a expressão fosse retuitada (publicada novamente por outros perfis) seriam doados dez centavos para salvar os Galvões. Assim o fenômeno ganhou mais força. Em 15 de junho a história verdadeira foi revelada pelo The New York Times. Em 23 de junho “CALA BOCA GALVAO” ganhou a capa da edição 2170 de da Revista Veja, a mais vendida do Brasil. No especial, a semanal utiliza o gancho desta brincadeira para explicar o que é o Twitter e a influência do site em todo o mundo. Intitulada “O pássaro que ruge” a reportagem frisa a capacidade do microblog de conseguir levar ao mundo inteiro qualquer informação. A matéria também mostra que o Twitter provocou impactos na política, nos negócios e na cultura do entretenimento, citando como um dos exemplos as fraudes na apuração das eleições iranianas denunciadas pela população através da rede. Com abordagem completamente diferente a Revista Época, da Editora Globo, também publicou matéria sobre o assunto na mesma semana. Com o título “Galvão Bueno: o campeão do Twitter” a reportagem diz que com um truque de aparência ecológica a frase “Cala Boca Galvão” fez o narrador ser citado por milhões de pessoas no mundo inteiro. Segundo a Época, Galvão Bueno ficou irritado em um primeiro momento, mas a Rede Globo avaliou que ele deveria entrar na brincadeira.

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Entre os dias 10 e 30 de junho de 2010 foram publicadas 55 matérias nos veículos de imprensa brasileiros com o tema “Cala Boca Galvão” (tabela completa no Anexo 1). Para este artigo, além da observação quantitativa foi feita uma qualitativa que classificou os veículos de acordo com a audiência e credibilidade. Entre os que falaram do assunto, 13 são muito relevantes, 17 são relevantes e 25 pouco relevantes. Sendo que “muito relevantes” são veículos com muita audiência (revistas com vendas a partir de 150.00 exemplares por edição, jornais a partir de 200.000 exemplares vendidos por dia e sites a partir de 20 milhões de visitantes únicos por mês), circulação nacional, considerados de grande credibilidade e baseados em princípios editoriais éticos. “Relevantes” são os veículos que apesar de atingir número alto de leitores são pautados por notícias sensacionalistas, ou aqueles de circulação local. Entre os “pouco relevantes” estão veículos com baixa audiência (menos da metade de vendas dos veículos considerados com muita audiência) e pouca credibilidade ou voltados para um nicho específico e sites voltados exclusivamente ao entretenimento.

Transformação dos comunicadores As redes sociais digitais transformaram não apenas as pautas publicadas na imprensa brasileira, mas também a forma como os comunicadores e os veículos de comunicação lidam com o público. Grande parte deles tem sua conta nas redes virtuais através das quais entram em contato com o público. Nessa ocasião, o jornalista Pedro Bial saiu em defesa do amigo e lançou a campanha #falagalvao no Twitter, mas não obteve o mesmo sucesso. Um exemplo de comunicador que utiliza as redes sociais digitais para entrar em contato direto com seu público é o apresentador Marcelo Tas. Com mais de 1.8 milhão de seguidores Tas aproveita seu perfil no Twitter para promover seu programa exibido semanalmente pela TV Bandeirantes, o CQC. A influencia dele é tanta que Marcelo Tas tem uma coluna na revista Isto É denominada “Rede do Tas: Polêmica e humor nas redes sociais por um especialista no assunto”. Nesta seção o apresentador publica postagens de anônimos e famosos no Facebook e no Twitter sobre os principais assuntos da semana. O humorista e apresentador Rafinha Bastos, que divide a bancada do CQC com Marcelo Tas, também sabe tirar proveito da internet. Ele foi escolhido a personalidade

12 mais influente do Twitter no mundo em pesquisa publicada pelo jornal The New York Times no dia 24 de março de 2011. O estudo criado pela empresa Twitalyzer, levou em consideração o número de seguidores dos famosos, o quanto é falado sobre essa pessoa e a quantidade de vezes que as mensagens dela são retuitadas e mencionadas. Após divulgar o ranking dos dez mais influentes o The New York Times publicou um longo perfil do humorista para apresentá-lo a seus leitores em 04 de agosto de 2011. Outro frequentador assíduo das redes sociais digitais é o apresentador do Jornal Nacional da Rede Globo William Bonner. Com aproximadamente 1.831 milhão de seguidores o âncora de um dos jornais de maior influência no Brasil utiliza o Twitter para mostrar uma face mais brincalhona e engraçada. Muitas vezes posta durante os intervalos do Jornal Nacional e não é raro ele pedir desculpas através da rede quando comete algum erro durante a exibição do noticiário.

Considerações Finais A imprensa tem o objetivo de produzir e difundir conteúdos. As redes sociais digitais têm finalidade bastante diferente e menos pretensiosa: reunir virtualmente pessoas com afinidades de interesses. Mas, estas redes também têm o poder de produzir e difundir conteúdo rapidamente, com a vantagem de que nelas todos são emissores e receptores de informação. Assim como já aconteceram diversas vezes em outras épocas com a televisão, o rádio e até mesmo o surgimento da internet, as redes sociais virtuais podem se estabelecer como uma nova mídia e convergir com a imprensa tradicional (jornais, revistas, emissoras de rádio e televisão) e influenciá-la, mas não substituí-la. Sempre que uma nova mídia surge representando um desafio, a imprensa tradicional repensa seu papel em termos culturais e de negócios e se transforma sem perder sua força. Não é à toa que os jornais impressos já sobreviveram às eras do rádio, da televisão e do cinema. Desta vez não será diferente. A imprensa irá se reinventar se for preciso e continuará em frente. Não é possível afirmar que as redes sociais digitais vão promover uma reforma intelectual e moral na sociedade, transformando a forma como a imprensa é vista. A mídia dificilmente perderá seu poder de influência, mas terá que se transformar e se adaptar a novas formas de trabalho rapidamente para não perder a sua força. Este artigo pôde provar a hipótese que as redes sociais virtuais pautam a imprensa brasileira dentro do recorte temporal, conceitual e temático escolhido. Foram 55 veículos discutindo um assunto surgido no Twitter, sendo 24% deles muito

13 relevantes, 31% relevantes e 45% pouco relevantes segundo a categorização utilizada.

Estas comunidades pautam, além do conteúdo publicado na mídia, as empresas de comunicação e os comunicadores, que criaram perfis nestas redes para atingirem o público. Esta é uma tendência. Os responsáveis por veículos de comunicação já notaram que os assuntos discutidos no ciberespaço por milhares de pessoas diariamente fazem parte de temas que são de interesse do público e não podem ficar indiferentes a eles. O grande desafio da imprensa atualmente é continuar sendo referência de credibilidade e eficiência tendo um público tão participativo e que muitas vezes noticia fatos importantes antes de qualquer veículo de comunicação e com uma visão privilegiada de quem está vivenciando tal situação naquele momento. Dois destes exemplos são os tremores de terra ocorridos em São Paulo em 2008 e em Brasília em 2010 que foram noticiados em primeira mão no Twitter por pessoas que os sentiram. Além disso, o conteúdo divulgado por essas redes tem um formato completamente novo, curto e objetivo reafirmando a citação de McLuhan de que o meio é a mensagem. Também é importante ressaltar que a internet é universal e ilimitada com alcance muito superior a qualquer outra mídia em tempo real. Através dela também é possível acabar com o discurso único divulgado pela imprensa, o discurso competente, aquele no qual os interlocutores já foram previamente reconhecidos como tendo o direito de falar e ouvir, os lugares e as circunstâncias já foram predeterminados para que seja permitido falar e ouvir e o conteúdo e a forma já foram autorizados segundo os cânones da esfera de sua própria competência. A imprensa também terá trabalho no sentido de gerenciar as informações divulgadas pela redes sociais digitais que atingem um grande número de pessoas. No caso do fenômeno “Cala boca Galvão” a TV Globo tentou minimizar o assunto publicando matéria na revista Época dizendo que tratava-se apenas de um brincadeira que deu visibilidade a Galvão Bueno. A imprensa utiliza sempre o mesmo modelo de reportagem, inclusive entrevistando as mesmas pessoas para tratar de determinados assuntos. As mídias digitais dão a oportunidade de outros especialistas emitirem suas opiniões de forma a atingir grande número de leitores. Com isso, outros pontos de vista passarão a ser discutidos e a imprensa deverá diversificar suas fontes para não parecer tendenciosa. Portanto, os veículos de comunicação precisarão ganhar cada vez mais agilidade para não serem passados para traz e ao mesmo tempo terão que redobrar sua atenção

14 para não correr o risco de divulgarem notícias erradas por ansiarem por serem os pioneiros na divulgação dos fatos. A qualidade da informação pode ser o grande diferencial entre os veículos de comunicação sérios e competentes e os demais. A credibilidade da imprensa nunca foi colocada tão à prova, pois agora o público tem espaço para dizer se determinadas situações são verdadeiras ou não.

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Referências Bibliográficas BRAMBILLA, Ana (org). Para entender as mídias sociais. E-book http://issuu.com/ anabrambilla/docs/paraentenderasmidiassociais, Acessado em 09/08/2011, às10h10 e em 21/08/2011 às 13h15. BRIGGS, Asa; BURKE, Peter. Uma história social da mídia: De Gutenberg à Internet. : Zahar, 2006 CHAUÍ, Mrilena. Cultura e Democracia: O discurso competente e outras falas. São Paulo: Editora Cortez, 2003. DOWNING, John D. H. Mídia Radical: Rebeldia nas comunicações e movimentos sociais. São Paulo: Senac, 2001. IANNI, Octavio. Teorias da Globalização. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 1999. IANNI, Octavio. Enigmas da Modernidade-Mundo. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 2001. LÈVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo: Editora 34, 1ª edição, 1999. LÈVY, Pierre. A inteligência coletiva: por uma antropologia do ciberespaço. São Paulo: Loyola, 5ª edição, 2007. MORAES, Denis de. Sociedade Midiatizada. Rio de Janeiro: Editora Mauad, 2006 MURRAY, Janet. Hamlet no Holodeck: o futuro da narrativa no ciberespaço, São Paulo: Itaú Cultural/UNESP, 2003. ORTIZ, Renato. Mundialização e Cultura. São Paulo: Editora Brasiliense, 2000. PELLANDA, Nize Maria Campos. Ciberespaço: um hipertexto com Pierre Lévy. : Editora Artes e Ofícios, 2000. SANTOS, Milton. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal. Rio de Janeiro: Editora Record, 2000. WILLIAMS, Raymond. Marxismo e literatura. Rio de Janeiro: Zahar, 1999. Sites: Época, http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,EMI148786-15215,00- GALVAO+BUENO+CAMPEAO+DO+TWITTER.html, Acessado em 28/09/2011, às 15h15. Veja, http://veja.abril.com.br/230610/passaro-ruge-p-082.shtml, Acessado em 23/05/ 2011 às 19h, 04/07/2011, às 12h30, 27/07/2011, às 15h30 e 18/08 às 21h30. Twitter, http://twitter.com/#!/, Acessado em 05/06/2011 às 11h. (utilizado para

16 pesquisa)

Anexos Anexo 1 Nível de Muito Relevante Relevante Pouco Relevante Relevância

Veículos ■ Época ■ Agora São Paulo* ■ 45 Graus ■ Folha de S. Paulo ■ Baixo Parnaíba- ■ 180 Graus ■ G1 Piauí ■ Ad News ■ IG ■ Correio do Povo ■ Babado ■ O Estado de S. ■ Meio & Mensagem ■ Clica Piauí Paulo ■ Diário de ■ Conversa Afiada ■ O Globo Pernambuco ■ Fuxico na net ■ R7 ■ Diário do Nordeste ■ Geek ■ Superinteressante ■ Diário do Pará ■ IDG Now ■ Terra ■ Extra* ■ Infosfera ■ TV Globo- Central ■ Info ■ Jornal do Povo de Três da Copa ■ MSN Lagoas ■ UOL ■ O Diário- Maringá ■ Jornal Grande Bahia ■ Veja ■ O Povo- Ceará ■ Jornale- ■ Zero Hora ■ Portal Imprensa ■ Lazer Tecnologia ■ Rádio Montes ■ Meio Bit Claros ■ O Esquema ■ Rede Brasil Atual ■ O Fuxico ■ Rede TV!- ■ Oficina da Net Programa Pânico ■ Oxenti ■ Vale Notícia ■ Ponto Marketing ■ Propagando Propaganda ■ Repórter Net ■ Repórter News ■ TN online ■ TV e Diversão

Total 13 17 25 A classificação do nível de relevância foi atribuída baseada na audiência e credibilidade de cada veículo *Jornais com audiência relevante, porém com pouca credibilidade por abordarem temas sensacionalistas

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Anexo 2 Matérias consultadas para produção do artigo:

45 Graus Globo nega boicote a Cala boca Galvão Publicada em: 16/06/2010 http://www.45graus.com.br/globo-nega-boicote-a-campanha-cala-boca- galvao,geral,64437.html

180 Graus Expressão contra narrador da TV Globo lidera lista do Twitter. Veja! O locutor Galvão Bueno apresentou o show de abertura da Copa, nesta quinta, em Johannesburgo Publicada em: 10/06/2010 http://180graus.com/gente/expressao-contra-narrador-da-tv-globo-lidera-lista-do- twitter-veja-335267.html

AD News ‘Cala boca Galvão’ revela força do Twitter e do YouTube Publicada em: 14/06/2010 http://www.adnews.com.br/internet/104927.html

Agora São Paulo Brincadeira de brasileiro Publicada em: 30/06/2010 http://www.agora.uol.com.br/show/ult10111u759238.shtml

Babado- Coluna da Lu Lacerda Expressão ‘Cala boca Galvão’ ganha o mundo Publicada em: 15/06/2010 http://lulacerda.ig.com.br/a-expressao-cala-a-boca-galvao-ganha-o-mundo/

Baixo Parnaíba- Piauí Blogueiro escreve cordel do ‘Cala Boca Galvão’ Publicada em: 16/06/2010 http://www.baixoparnaiba.com/blog-do-paiva/blogueiro-escreve-cordel- do-%E2%80%9Ccala-a-boca-galvao%E2%80%9D

Clica Piauí Faixa “Cala Boca Galvão!” é retirada do jogo entre Brasil e Coreia Exibida com destaque logo que a bola começou a rolar para a estreia brasileira na Copa do Mundo, contra a Coreia do Norte, em Johannesburgo, uma faixa com a frase “Cala a boca, Galvão!” foi recolhida Publicada em: 16/06/2010 http://www.clicapiaui.com/esportes/17696/faixa-cala-boca-galvao-e-retirada-do-jogo- entre-brasil-e-coreia.html

Conversa Afiada Por que todo mundo pede: cala a boca, Galvão Publicada em: 16/06/2010 http://www.conversaafiada.com.br/brasil/2010/06/16/por-que-todo-mundo-pede-cala-a-

18 boca-galvao/ Correio do Povo Campanha "Cala Boca Galvão" no Twitter toma proporções gigantescas. Publicada em: 18/06/2010 http://www.conversaafiada.com.br/brasil/2010/06/16/por-que-todo-mundo-pede-cala-a- boca-galvao/

Diário de Pernambuco A festa da estreia Publicada em: 17/06/2010 http://www.diariodepernambuco.com.br/2010/06/17/viver6_0.asp

Diário do Nordeste Cala boca Galvão! A maior piada interna de todos os tempos Publicada em: 16/06/2010 http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=800573

Diário do Pará Piada sobre Galvão Bueno vira notícia no El País Publicada em: 18/06/2010 http://diariodopara.diarioonline.com.br/N-94500- PIADA+SOBRE+GALVAO+BUENO++VIRA+NOTICIA+NO+EL+PAIS.html

Época Galvão Bueno: o campeão do Twitter Publicada em: 20/06/2010 http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI148786-15215,00- GALVAO+BUENO+CAMPEAO+DO+TWITTER.html

Extra 'Cala boca, Galvão' está entre os tópicos mais comentados do Twitter Publicada em: 14/06/2010 http://extra.globo.com/esporte/cala-boca-galvao-esta-entre-os-topicos-mais- comentados-do-twitter-371443.html

Folha de S. Paulo Febre no Twitter, "Cala Boca Galvão" vai parar no "New York Times" Publicada em: 16/06/2010 http://www1.folha.uol.com.br/tec/751902-febre-no-twitter-cala-boca-galvao-vai-parar- no-new-york-times.shtml

Fuxico na net Sucesso mundial “Cala boca Galvão” Publicada em 12/06/2010 http://www.fuxiconanet.com/2010/06/sucesso-mundial-cala-boca-galvao.html

G1 Galvão comenta o 'cala boca', hit no Twitter Locutor falou sobre a corrente no programa Central da Copa. Ele se divertiu com a brincadeira e resolveu apoiar o movimento. Publicada em: 16/06/2010 http://g1.globo.com/tecnologia/noticia/2010/06/galvao-comenta-o-cala-boca-hit-no-

19 twitter.html Geek “Cala boca Galvão” chega aos Trending Topics do Twitter Publicada em 12/06/2010 http://www.geek.com.br/posts/13233-cala-a-boca-galvao-chega-ao-topo-dos-trending- topics-mundiais-do-twitter

IDG NOW Depois do Twitter, "Cala Boca Galvão" toma a Internet Publicada em 11/06/2010 http://idgnow.uol.com.br/internet/2010/06/11/depois-do-twitter-cala-boca-galvao-toma- a-internet/

IG "Cala a boca, Galvão" chega ao topo dos Trending Topics mundiais do Twitter Frase em “homenagem” ao famoso comentarista está sendo retuitada por usuários no mundo inteiro. Publicada em: 11/06/2010 http://tecnologia.ig.com.br/noticia/2010/06/11/ cala+a+boca+galvao+chega+ao+topo+dos+trending+topics+mundiais+do+twitter+9510 405.html

INFO ´Cala a Boca Galvao´ vai virar flash mob Publicada em: 17/06/2010 http://info.abril.com.br/noticias/internet/cala-a-boca-galvao-vai-virar-flash-mob- 17062010-37.shl

Infosfera Cala boca galvão: anatomia de um trote no Twitter Publicada em: 14/06/2010 http://wp.clicrbs.com.br/infosfera/2010/06/14/cala-boca-galvao-anatomia-de-um-trote- no-twitter/

Jornal do Povo de Três Lagoas “Cala a boca, Galvão” ganha o mundo Publicada em: 14/06/2010 http://www.jptl.com.br/?pag=ver_noticia&id=24693

Jornal Grande Bahia Cala boca, Galvão: piada brasileira com narrador de futebol vira febre na internet Publicada em: 15/06/2010 http://www.jornalfeirahoje.com.br/materia/19386/cala-boca-galvao-piada-brasileira- com-narrador-de-futebol-vira-febre-na-internet

Jornale- Curitiba Depois de Galvão, “Cala Boca Tadeu Schmidt” vira hit no Twitter Publicada em: 21/06/2010 http://jornale.com.br/portal/tecnologia/135-03-tecnologia/5056-depois-de-galvao-cala- boca-tadeu-schmidt-vira-hit-no-twitter.html

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Lazer Tecnologia Cala a boca Galvão Publicada em 16/06/2010 http://www.lazertecnologia.com/2010/06/16/cala-a-boca-galvao/

MSN "Cala Boca Galvão" vai ser citado em "Os Simpsons", diz jornal Publicada em: 23/06/2010 http://entretenimento.br.msn.com/famosos/festa-artigo.aspx?cp-documentid=24664800

Meio Bit ‘CALA BOCA GALVAO’ ganha o mundo Publicada em 14/06/2010 http://meiobit.com/68020/cala-boca-galvao/

Meio & Mensagem Uma pausa para ver o grande viral do momento Publicada em 18/06/2010 http://grupomm.proxxima.com.br/portal/post/12045

O Diário- Maringá "Cala Boca Galvão" vira piada com estrangeiros e segue como assunto mais "tuitado" no mundo Publicada em 12/06/2010 http://www.odiario.com/geral/noticia/307925/cala-boca-galvao-vira-piada-com- estrangeiros-e-segue-como-assunto-mais-tuitado-no-mundo/

O Esquema Cala boca Galvão, o passarinho e a Lady Gaga Publicada em 12/06/2010 http://www.oesquema.com.br/urbe/2010/06/12/cala-boca-galvao-o-passarinho-e-a-lady- gaga.htm

O Estado de S. Paulo 'CALA boca GALVÃO' e se a campanha o calasse? Publicada em 20/06/2010 http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,cala-boca-galvao-e-se-a-campanha-o- calasse,569244,0.htm

O Fuxico ‘Cala boca Galvão’ é o tema mais comentado do Twitter Publicada em 12/06/2010 http://ofuxico.terra.com.br/noticias-sobre-famosos/cala-boca-galvao-e-o-tema-mais- comentado-do-twitter/2010/06/10-69352.html

O Globo Sucesso mundial: “Cala a boca, Galvão” Publicada em 11/06/2010 http://oglobo.globo.com/pais/noblat/posts/2010/06/11/sucesso-mundial-cala-boca- galvao-299364.asp

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O Povo- Ceará El País noticia o “Cala boca Galvão”- E também o New York Times Publicada em 14/06/2010 http://blog.opovo.com.br/pliniobortolotti/el-pais-noticia-o-cala-a-boca-galvao/

Oficina da Net “Cala boca Galvão” é top trend topics Publicada em 18/06/2010 http://www.oficinadanet.com.br/noticias_web/3173/ cala_boca_galvao_e_top_trend_topics

Oxenti Who is “Cala boca Galvão”- Pérolas Publicada em 10/06/2010 http://oxenti.com/www/2010/06/10/who-is-cala-boca-galvo-perolas/

Ponto Marketing Cala boca Galvão: força do Twitter ou apenas moda? Publicada em 29/06/2010 http://www.pontomarketing.com/midias-sociais/cala-boca-galvao-forca-do-twitter-ou- apenas-moda/

Portal Imprensa Movimento "Cala Boca Galvão" ganha espaço em jornais estrangeiros Publicada em 16/06/2010 http://portalimprensa.uol.com.br/portal/ultimas_noticias/2010/06/16/ imprensa36331.shtml

Propagando Propaganda Galvão e o ‘Cala boca Galvão’ Publicada em 16/06/2010 http://www.propagandopropaganda.com/2010/06/galvao-e-o-cala-boca-galvao.html

R7 Tiago Leifert tira onda de Galvão e fala sobre campanha de cala boca contra o narrador O apresentador colocou Luciano Huck no meio da história e ainda peitou a Globo Publicada em 16/06/2010 http://entretenimento.r7.com/blogs/fabiola-reipert/2010/06/16/tiago-leifert-tira-onda-de- galvao-e-fala-sobre-campanha-de-cala-boca-contra-o-narrador/

Rádio Montes Claros “Cala boca, Galvão” vira febre e é a frase mais comentada no Twitter Publicada em 15/06/2010 http://montesclaros.com/noticias.asp?codigo=49255

Rede Brasil Atual Cala boca Galvão é a versão 2010 do Bobueno Publicada em 15/06/2010 http://copanarede.redebrasilatual.com.br/2010/06/cala-boca-galvao-e-versao-2010-do-

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Rede TV! Programa Pânico na TV! Chatão Bueno: cala a boca Galvão Exibida em 20/06/2010 http://www.redetv.com.br/Video.aspx?56,7,117113,entretenimento,panico-na-tv,chatao- bueno-cala-a-boca-galvao-

Repórter Net Cala boca Galvão faz sucesso no Twitter Publicada em 16/06/2010 http://www.reporternet.jor.br/cala-a-boca-galvao-faz-sucesso-no-twitter/

Repórter News Galvão comenta o ‘cala boca’, hit no Twitter Publicada em 16/06/2010 http://www.reporternews.com.br/noticia.php?cod=287020

Superinteressante O Fenômeno #CalabocaGalvão e a farsa ambiental Publicada em 14/06/2010 http://super.abril.com.br/blogs/planeta/estrangeiros-descobrem-farsa-sobre-instituto- galvao/

TN online Globo obriga Galvão Bueno a debochar de si mesmo Emissora quer passar imagem mais simpática do locutor Publicada em 17/06/2010 http://tnonline.com.br/noticias/gente%20e%20tv/13,27908,17,06,globo-obriga-galvao- bueno-a-debochar-de-si-mesmo.shtml

TV e Diversão Faixa "Cala a boca, Galvão!" é retirada com menos de dois minutos de jogo Publicada em 15/06/2010 http://www.tvediversao.com/2010/06/faixa-cala-boca-galvao-e-retirada-com.html

TV Globo- Central da Copa Programa exibido em 15/06 http://globoesporte.globo.com/futebol/copa-do-mundo/noticia/2010/06/galvao-bueno- se-diverte-com-o-movimento-que-ganhou-internet.html

Terra Jornal diz que "Cala Boca Galvão" estará em episódio de 'Simpsons' Publicada em 22/06/2010 http://diversao.terra.com.br/tv/noticias/0,,OI4513597-EI12993,00- Jornal+diz+que+Cala+Boca+Galvao+estara+em+episodio+de+Simpsons.html

The New York Times A Better Way to Measure Twitter Influence Publicada em 24/03/2011 http://6thfloor.blogs.nytimes.com/2011/03/24/a-better-way-to-measure-twitter- influence/

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The New York Times A Brazilian’s Comic Mania: Social Media Publicada em 04/08/2011 http://www.nytimes.com/2011/08/07/arts/television/rafinha-bastos-brazilian- comedian.html?pagewanted=all

UOL 'Cala Boca Galvão' vira hit mundial do Twitter em abertura da Copa do Mundo Publicada em 10/06/2010 http://copadomundo.uol.com.br/2010/ultimas-noticias/2010/06/10/cala-boca-galvao- vira-hit-mundial-do-twitter-em-abertura-da-copa-do-mundo.jhtm

Vale Notícia Campanha “Cala Boca Galvão” no Twitter ganha o mundo Publicada em 23/06/2010 http://www.valenoticia.com.br/vn/2010/06/campanha-cala-boca-galvao-no-twitter- ganha-o-mundo/

Veja O pássaro que ruge O locutor esportivo mais conhecido do Brasil foi alvo da campanha "Cala boca Galvão" no Twitter, que mostrou até onde a rede de 140 caracteres pode levar um assunto: o mundo Publicada em 23/06/2010 http://veja.abril.com.br/230610/passaro-ruge-p-082.shtml

Zero Hora Cala boca, Galvão Publicada em 17/06/2010 http://www.clicrbs.com.br/jsc/sc/impressa/4,187,2940253,14912

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Anexo 3 Principais reportagens utilizadas para a produção do artigo

Especial O pássaro que ruge O locutor esportivo mais conhecido do Brasil foi alvo da campanha "Cala boca Galvão" no Twitter, que mostrou até onde a rede de 140 caracteres pode levar um assunto: o mundo Jadyr Pavão Júnior e Rafael Sbarai Joel Silva/Folhapress

"SALVEM O GALVÃO” Imagem do vídeo que se seguiu à frase do Twitter: grandes jornais e sites de notícias se interessaram pelo assunto

Ferir com palavras, pondo para circular histórias falsas com o objetivo de irritar ou destruir

25 alguém, é uma prática tão antiga quanto a história humana. A humanidade viajava ainda à velocidade de 16 quilômetros por hora das carroças, mas as notícias ruins e fofocas já pareciam ter asas. As línguas de trapo mal esperavam o conquistador romano Júlio César, talvez o mais celebrado general e estadista de todos os tempos, sair de Roma para começar seu trabalho de intriga e destruição. Conforme registrou o historiador Gaius Suetonius Tranquillus, morto por volta do ano 122 da era cristã, o patriciado "punha para circular histórias" dando conta de que César arrancava todos os pelos do corpo com pinças e era chamado de "marido de todas as esposas e esposa de todos os maridos". Foi assim antes com gregos, macedônios e egípcios. As maledicências continuaram viajando mais rápido na Idade Média, durante e depois da Revolução Industrial. O que há de novo nesse campo? A internet. Se já voavam de ouvido em ouvido, as fofocas e falsidades ganharam o dom da instantaneidade com os milhões de computadores, celulares e tablets de todo o planeta interconectados por uma rede em que, pela primeira vez na história, todas as máquinas se comunicam na mesma linguagem, sem incompatibilidades nem fronteiras. A fofoca digital pode criar verdadeiros tsunamis que chicoteiam o globo jogando as opiniões de milhões de pessoas de um lado para o outro. Antes que alguém possa verificar a verdade de um fato, sua versão ou versões já se tornaram o fenômeno. O caso que engolfou o locutor Galvão Bueno, a voz oficial das Copas do Mundo e das Olimpíadas nas transmissões da Rede Globo, é uma amostra do poder dessas novas correntes de pensamento criadas na internet. "Cala a boca, Galvão" era uma tirada que já circulava por aí fazia anos. Há pouco mais de uma semana, contudo, ela ganhou o mundo. Postada por usuários no Twitter, a rede social de troca de mensagens de até 140 caracteres, a frase CALA BOCA GALVAO - assim mesmo, em letras maiúsculas, sem vírgula e sem acento - virou hit e se manteve entre os dez assuntos mais comentados do serviço da internet durante toda a semana. Os brasileiros aumentaram a fervura, atribuindo sentidos absurdos à frase: segundo uma das versões, em português, cala boca significaria salve, e galvão, o nome de um pássaro em extinção. Alguns dos maiores sites e jornais do mundo, como o The New York Times, tentaram decifrar a brincadeira, e assim a difundiram ainda mais.

Justin Sullivan/Getty Images

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O CONCORRENTE Mark Zuckerberg, do Facebook: empate com o Twitter no Brasil em número de visitantes únicos

Nascido em 2006 como ferramenta para facilitar a troca de mensagens de trabalho via celular, o Twitter teve uma vida discreta por aproximadamente um ano, até que, durante um festival de música americano, percebeu-se que ele não precisava ficar restrito às empresas. Durante o evento, o número de posts diários saltou de 20 000, em média, para 60 000. Uma luz se acendeu na cabeça de seus criadores - jovens empreendedores do Vale do Silício, na Califórnia, com o programador Biz Stone à frente. A ideia das mensagens curtas não era propriamente uma novidade: os torpedos de celular (SMS) já permitiam apenas 160 caracteres. Mas ao adotar o slogan "O que você está fazendo?" o Twitter se apresentou como uma ferramenta que oferecia algo diferente: um canal para as pessoas dizerem ao mundo o que sentem, pensam ou fazem no exato momento em que teclam. A outra característica crucial do Twitter era permitir que aqueles que de outra forma jamais se aproximariam se ligassem numa rede de seguidos e seguidores. Inicialmente, o esforço para acumular seguidores tinha ares de brincadeira. Ostentar um grande número de fãs era um galardão vazio. Mas, no começo de 2009, quando o ator Ashton Kutcher e a rede de TV CNN disputaram tweet a tweet quem atingiria antes a marca de 1 milhão de seguidores (ele venceu), já estava claro que o Twitter não precisava ser apenas um amplificador de vaidades e irrelevâncias. Atualmente, há 105 milhões de usuários do Twitter espalhados pelo mundo. Todos os dias, 600 milhões de buscas e 65 milhões de mensagens movimentam a rede. Por mês, são 190 milhões de visitas únicas. Esses números fazem do Twitter a segunda maior rede social do planeta, atrás do Facebook, com mais de 400 milhões de pessoas (a rede Qzone tem 310 milhões de usuários, mas só na China, em mandarim). No Brasil, a ferramenta é vice-campeã em número de acessos, ao lado do Facebook, com 10,7 milhões de visitantes únicos ao mês, atrás do Orkut, com 26,9 milhões. A sede do Twitter, em São Francisco, reúne um pequeno corpo de funcionários: 175. Como tantas iniciativas revolucionárias da internet, o modelo de negócio da empresa ainda não está claro. Gigantes da web já tentaram "abocanhar o passarinho", símbolo do Twitter. Em 2008, o Facebook teria posto sobre a mesa de seus donos uma oferta de meio bilhão de dólares. Um ano

27 depois, foi a vez do Google. Biz Stone explicou por que as ofertas foram recusadas: "O Twitter está focado em desenvolver novas funcionalidades e em permanecer independente". Em 2009, a empresa fechou as contas no azul graças a uma parceria com Microsoft e Google. Pelo acordo, avaliado em 25 milhões de dólares, as gigantes passaram a incluir tweets nos seus resultados de buscas na web. AFP

DESAFIO AOS AIATOLÁS A iraniana Neda Agha-Soltan é baleada durante protesto em Teerã: o Twitter ajudou os manifestantes a expor a repressão

Em quatro anos, o Twitter já provocou impactos na política, nos negócios, na cultura do entretenimento. O exemplo mais extraordinário de suas potencialidades deu-se há um ano, nas eleições iranianas. Em repúdio à reeleição do presidente Mahmoud Ahmadinejad, alinhado com o regime ditatorial dos aiatolás, uma fatia da população recorreu à rede para denunciar fraudes na apuração, organizar protestos nas ruas de Teerã e divulgar imagens da repressão policial. O movimento chegou a ser saudado como "revolução do Twitter". "Numa rede como essa, a voz das pessoas comuns ganha enfim dimensão pública", diz Tim Hwang, do Web Ecology Project, centro de estudos sobre a internet da Universidade Harvard. O Twitter também se mostrou eficaz num contexto político democrático. Nas eleições americanas de 2008, o então candidato democrata Barack Obama fez uso da ferramenta para mobilizar a militância, arrecadar fundos e conquistar novos eleitores. No Brasil, os três principais candidatos à Presidência - José Serra, Dilma Rousseff e Marina Silva - tuítam. "Todos os políticos brasileiros vão querer ser o Obama da eleição deste ano", vaticina Alex Primo, pesquisador de redes sociais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Com base nos dados do IBGE e do Comitê Gestor da Internet no Brasil, o consultor em marketing digital Cláudio Torres calcula que 18% do eleitorado é formado por jovens entre 18 e 24 anos com acesso à internet - e, portanto, expostos às campanhas on-line. O mundo empresarial já abraça o Twitter, uma ferramenta poderosa para anunciar e interagir com os consumidores. Uma pesquisa realizada em fevereiro com companhias americanas reflete a tendência. Segundo a Society for New Communications Research, mais de um terço das 500 maiores empresas listadas pela revista Fortune usa o Twitter de forma consistente.

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Companhias de diversos segmentos utilizam a rede para se relacionar com o seu público de forma mais íntima e instantânea, além de oferecer promoções exclusivas aos seus seguidores. O ator Ashton Kutcher, que, antes de bater a CNN, era mais conhecido como o namorado bonitão da atriz Demi Moore, foi outro que aprendeu a fazer negócios no Twitter. Ele dominou tão bem a arte de falar com seguidores em 140 caracteres que se tornou uma espécie de guru. Abriu uma consultoria, a Katalyst, voltada às novas mídias. No campo do entretenimento, o Twitter transforma anônimos em famosos e abre novos horizontes para os célebres. No Brasil, quem despontou graças aos microposts foi Tessália Serighelli de Castro, que até adotou o apelido Twittess em homenagem à mãozinha recebida do Twitter. Colecionadora de 60 000 fãs quando ainda era anônima, ela foi convidada pela Globo para participar do Brasil 10. O âncora do Jornal Nacional, William Bonner, está no segundo time, dos usuários que, já célebres, abriram uma nova seara na rede. Ele aumentou sua claque de seguidores à base de comentários fortuitos sobre o noticiário, recados para a mulher, Fátima Bernardes, e consultas como: "Que gravata usar na próxima edição do Jornal Nacional? ". As mensagens curtas se mostraram propícias a bate-bocas inusitados. Na semana passada, em um de seus monólogos radiofônicos, o ditador venezuelano Hugo Chávez jurou que Ricky Martin era um chavista. O cantor acionou imediatamente seu 1,2 milhão de seguidores para desmentir o coronel. O ex-menudo ainda emendou, usando uma hashtag, marcação típica do Twitter: "# free Venezuela". ("Libertem a Venezuela"). Em boa parte do tempo, o Twitter é uma espécie de vuvuzela da internet, que apenas amplifica o nada. Mas, por sua velocidade, mobilidade e alcance, é uma plataforma que, em certas circunstâncias, parece "dar poder ao homem comum", como gostam de dizer alguns teóricos. "É como se cada indivíduo tivesse seu próprio meio de comunicação", diz o sociólogo francês Michel Maffesoli. Empresas e celebridades já se viram em apuros por causa do Twitter. Formou-se um certo conhecimento sobre como agir nessas situações. No episódio do CALA BOCA, a Globo mobilizou artistas de seu elenco acostumados a usar a rede para que defendessem Galvão Bueno. Na terça-feira, dia da estreia do Brasil na Copa, a emissora fez com que Galvão falasse do episódio numa entrevista. Ele disse aceitar tudo como brincadeira, e isso minimizou os danos à sua imagem. Mas o passarinho do Twitter deixou sua marca no ombro do locutor.

Bem, amigos... Divulgação

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A VOZ DO BRASIL Com façanhas marcantes e gafes inesquecíveis, Galvão Bueno é, há mais de trinta anos, o narrador esportivo número 1 do país Desde 1978, quase todas as glórias e tristezas do esporte brasileiro chegaram aos olhos, ouvidos e corações dos telespectadores pela narração rascante, emocionada e ufanista do locutor carioca Carlos Eduardo dos Santos Galvão Bueno, que está às vésperas de completar 60 anos. Fosse a conquista do pentacampeonato mundial de futebol de 2002 - quando transmitia os gols de Ronaldo, Ronaldinho e Rivaldo multiplicando os erres até não poder mais, uma de suas marcas registradas -, a morte na pista, em 1994, de seu amigo Ayrton Senna, cujos 41 triunfos ele anunciava ao som do Tema da Vitória, ou as medalhas olímpicas do vôlei, lá estava no ar a voz mais ouvida do país. Dono de uma audiência cativa, Galvão Bueno é tão admirado que em qualquer estádio em que esteja presente são desfraldadas faixas nas arquibancadas com seu nome. E ao mesmo tempo tão achincalhado - nos jogos, na imprensa, nos programas humorísticos, na internet - que teria todos os motivos do mundo para andar de mau humor. Ele acha graça de tudo, sempre sorridente, falando sem parar, cheio de si, dono da verdade, a começar pelo episódio da campanha "Cala boca Galvão". Capaz de narrar com precisão qualquer esporte, dono de timbre impecável e raciocínio rápido, Galvão é autor de façanhas como a de pedir aos telespectadores que piscassem as luzes de casa durante os jogos que passavam de madrugada na Copa de 2002, realizada na Coreia do Sul e no Japão. O país inteiro virava um vaga-lume. Só um personagem com seu poder, em uma emissora como a Globo, poderia provocar uma reação desse tamanho. Mas, da mesma forma que se orgulha disso, ele lamenta alguns momentos constrangedores que protagonizou. Dois ficaram para a história. Um foi seu grito esganiçado, quase histérico, "é tetra, é tetra!" em 1994, ao lado de Pelé e do comentarista de arbitragem Arnaldo Cézar Coelho. O outro aconteceu na Copa de 1974, quando narrou por um pool de três emissoras paulistas, diretamente de um estúdio brasileiro, a partida entre Alemanha Oriental e Austrália pensando que estivessem jogando Bulgária e Suécia. Só percebeu o desastre depois que as imagens transmitidas da Alemanha mostraram no placar do estádio quais seleções de fato estavam em campo. Apreciador de vinhos de qualidade, lançará em agosto um tinto e um espumante gaúchos com seu nome. Com um salário estimado em 1 milhão de reais por mês, Galvão mora a maior parte

30 do tempo em Mônaco, mas tem também endereços no Rio de Janeiro e em Londrina (PR), cidade de sua segunda mulher. Acusado de ufanismo, tira a referência de letra, como fez no caso do Twitter. "Sou um torcedor-narrador, e daí?", responde. "Meu trabalho é passar emoção a quem está em casa." Bem, amigos, o homem é mesmo um prodígio.

Revista Época

Galvão Bueno: Campeão do Twitter Como a brincadeira com o locutor se tornou recordista de acessos no mundo NELITO FERNANDES

SORRINDO Galvão ficou chateado com o “Cala boca”, mas se rendeu à campanha ÉÉÉÉÉ... É DO BRASIL!!!!! Poucos minutos depois de a cerimônia de abertura da Copa do Mundo começar, a competição já tinha um vencedor: Galvão Bueno. O locutor da TV Globo foi o primeiro lugar entre os assuntos mais comentados no Twitter no mundo inteiro no dia da festa e, pelo menos até quinta-feira, não saía dos dez mais. Embalada num truque de aparência ecológica, a frase “Cala boca, Galvão!” ganhou o mundo e foi repetida milhões de vezes, numa corrente para a frente que levou Galvão às páginas do New York Times e do El País. Haaaja coração! Enquanto o “cala boca galvao”, assim, sem til nem artigo, rodava o ciberespaço, os estrangeiros se perguntavam o que era isso. E as explicações foram mais hilariantes que a própria brincadeira no Twitter – assim, levaram a galhofa brasileira ao topo das listas de piadas globais da internet. A explicação mais elaborada estava no vídeo Save Galvao birds, visto por mais de 700 mil pessoas no YouTube até a manhã da quinta- feira. Com imagens bem produzidas e narrada por um locutor inglês, a peça publicitária falsa explica que Galvão (galváo, na pronúncia inglesa) é um papagaio brasileiro, da Amazônia, ameaçado de extinção. O motivo: “Suas penas são arrancadas, vendidas em camelôs e usadas em fantasias de Carnaval; 300 mil pássaros são exterminados por ano”. Cada mensagem postada no Twitter geraria 1 cent para salvar o pássaro. A ideia partiu do produtor de vídeo paulistano Fernando Motolese, de 27 anos, e fez bombar

31 o “cala boca”. Além do vídeo, um cartaz do Instituto Galvão também circulou pela rede. E surgiu no Orkut uma comunidade pelo salvamento dos Galvõezinhos. “O Brasil mostrou sua força para o mundo inteiro”, diz Motolese. A piada ganhou uma proporção tal que o próprio Galvão acabou aderindo à brincadeira no ar, durante o programa Central da Copa. Disse que Ayrton Senna já lhe dera o apelido de papagaio e devia estar rindo muito disso tudo lá no céu. “Eu estou com o papagaio e não abro. Estou na campanha a sério”, disse Galvão, sorridente. Nos bastidores, porém, a coisa não foi levada tão na esportiva assim. Quando a brincadeira começou a se espalhar, Galvão ficou irritado, o que é compreensível. Ele se recusou a dar entrevistas a jornais sobre o assunto, afirmando que queria “focar na Copa”. A campanha cresceu. No jogo de estreia do Brasil, uma faixa da torcida em que se lia “Cala Boca Galvão!” apareceu na transmissão da própria TV Globo, que reproduzia imagens geradas pela TV africana. A direção da emissora avaliou, então, que Galvão deveria entrar na brincadeira, com bom humor, como alguém que é apelidado pelos colegas e faz piada de si mesmo. Nem a plateia do programa Central da Copa acreditou quando o apresentador Tiago Leifert pediu um corinho de “Cala a boca, Galvão”. Como ninguém respondesse, ele mesmo incentivou: “Pode falar”. E fez-se o coro. Pode isso, Arnaldo? “Se estivéssemos preocupados, não teríamos entrado na brincadeira. Só repercute o que é popular. Neste caso, muitíssimo”, diz o diretor da Central Globo de Comunicação, Luis Erlanger. “O Twitter fala com milhares, o Galvão com milhões. O resultado foi mais positivo com o flairplay mostrado por ele.” Carlos Eduardo Galvão Bueno é carioca do bairro da Tijuca, Zona Norte do Rio de Janeiro. Filho de um diretor de rádio e de uma atriz, estudou economia e administração, mas se formou em educação física. Apaixonado por basquete e futebol, estreou como comentarista em 1974, depois de vencer um concurso para repórter no programa Disparada esportiva, da Rádio Gazeta. Seis anos depois, estreava na Globo para narrar a Fórmula 1. Sua primeira cobertura de Copa do Mundo foi na Espanha, em 1982. Em 1986, chegou a sair da emissora, para onde voltaria em 1993. Tem contrato até 2014 e costuma dizer aos amigos que quer ficar mais. Estima-se que seu salário gire em torno de R$ 1 milhão por mês – ele não tem participação em comerciais porque não faz merchandising. Desde 2008, mora com a família em Mônaco. Com uma exposição tremenda no mundo dos esportes, é claro que Galvão não é unanimidade. Entre os espectadores, há os que o amam (a maioria, a julgar pela audiência e pelas pesquisas da TV Globo), há os que lhe são indiferentes, há os que o detestam e há os que amam odiá-lo. Entre os colegas também existem queixas. Seu jeito bonachão conquista. Mas ele às vezes exagera. Atropela a fala dos outros, nunca se cala. Quem acha que não existe almoço grátis é porque nunca saiu com ele. Galvão adora pagar a despesa de todo mundo. Mesmo assim, há quem interprete a generosidade como ostentação. Galvão conta com um forte grupo de admiradores. Pedro Bial é um deles. “O Galvão é, indiscutivelmente, o melhor narrador esportivo da história da TV brasileira. Conhece profundamente não apenas futebol, mas esportes tão díspares como equitação, Fórmula 1 e badminton”, diz. “Todo líder, e Galvão é um líder, que faz a coisa certa e com isso angaria popularidade sofre uma natural parcela de rejeição.” O jornalista e apresentador do Big Brother lançou uma contracampanha no Twitter, “falagalvão”, que já foi repetida por outros simpatizantes famosos, como Luciano Huck. Esses fãs – assim como a imensa maioria dos brasileiros – torcem mesmo é para ouvir Galvão gritar, com seu tom de voz inconfundível: “É hexa, é hexa, é hexa!”.

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O CRIADOR Motolese, produtor de vídeo, diante da imagem de um papagaio. É dele o viral Save Galvao birds, visto por mais de 700 mil no YouTube