Masarykova Univerzita Filozofická fakulta Ústav románských jazyků a literatur

Bakalárska diplomová práca Comparação de colonização dos arquipélagos da e dos Açores

Brno 2019 Bianka Pacherová Masarykova Univerzita Filozofická fakulta Ústav románských jazyků a literatur

Portugalský jazyk a literatura

Bianka Pacherová Comparação de colonização dos arquipélagos da Madeira e dos Açores Bakalárska diplomová práca

Vedúca práce: Mgr. et Mgr. Michaela Antonín Malaníková, Ph.D. Brno 2019

Vyhlasujem, že som bakalársku diplomovú prácu vypracovala samostatne s využitím uvedených prameňov a literatúry.

Zároveň vyhlasujem, že vytlačená verzia práce zodpovedá elektronickej verzii v Informačnom systéme MU.

V Brne, 30.04.2019 ......

Bianka Pacherová

Ďakujem vedúcej bakalárskej práce pani Mgr. Michaele Antonín Malaníkovej, Ph.D., za ústretovosť, odborné vedenie a cenné rady.

Taktiež by som chcela poďakovať mojim rodičom za podporu počas celého štúdia.

Índice

Introdução ...... 6 1. Localização e característica geográfica dos arquipélagos ...... 7 2. Descobrimento das ilhas ...... 9 3. Processo de povoamento dos arquipélagos ...... 12 3.1. Povoamento da Madeira ...... 12 3.1.1. Sociedade e administração ...... 13 3.1.2. Agricultura e comércio ...... 17 3.1.3. Igreja ...... 21 3.1.4. Cultura e educação ...... 24 3.2. Povoamento dos Açores ...... 25 3.2.1. Administração e sociedade ...... 27 3.2.2. Agricultura e comércio ...... 31 3.2.3. Igreja ...... 33 3.2.4. Cultura e educação ...... 36 4. Comparação ...... 38 Conclusão ...... 40 Bibliografia ...... 41

Introdução

Portugal, ou Império Colonial Português, foi durante quase seis séculos um dos maiores impérios do mundo. Os Portugueses foram primeiros a colonizar territórios distantes em três continentes – América, África e Ásia. Mas antes de ganharem estas colónias ultramarinas, colonizaram arquipélagos inabitados no Atlântico – a Madeira e os Açores. Estas pequenas ilhas vulcânicas, localizadas no meio do oceano, ajudaram-lhes mais tarde, graças à sua posição geoestratégica, a conquistar imensos territórios e a criar o primeiro império global da história. Neste trabalho final de licenciatura tentaremos analisar e comparar o processo de colonização destes dois arquipélagos, sobretudo durante o período entre os séculos XV e XVII. O trabalho tem uma estrutura temática e cronológica. Segundo e terceiro capítulo dedicam-se ao descobrimento das ilhas no contexto da expansão marítima portuguesa e às suas características geográficas. O capítulo quatro é dividido em duas partes (a primeira dedicada à Madeira, a segunda aos Açores) e tem como objetivo investigar o processo da colonização e o desenvolvimento histórico, social, cultural e económico dos dois arquipélagos durante o período determinado. No penúltimo capítulo pretende-se oferecer uma análise da sociedade e administração nas ilhas. Nomeadamente, tentaremos analisar o papel que desempenhou a economia, agricultura, comércio, cultura e finalmente a igreja durante a colonização dos arquipélagos. A parte final será dedicada à comparação do povoamento e desenvolvimento da Madeira e dos Açores desde o seu descobrimento pelos portugueses nos anos 1419 e 1427 até ao século XVII. O trabalho apoia-se sobretudo nas obras Nova histó ria da expansão portuguesa: A colonização atlântica, coordenado por Artur Teodoro de Matos, História da Madeira – uma visão atual de Rui Nepomuceno, o livro Açores: nove ilhas uma história de Susana Goulart Costa, obras de Alberto Vieira sobre a história da Madeira e vários documentos e materiais disponíveis online. Os livros de autor checo Jan Klíma são também uma fonte importante para este trabalho.

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1. Localização e característica geográfica dos arquipélagos

A Madeira e os Açores são dois arquipélagos de origem vulcânica que fazem parte da região da Macaronésia, localizados no oceano Atlântico entre 40° e 15° de latitude norte e 16° a 25° de longitude oeste1, perto da costa da África, desde Marrocos até Senegal. A Macaronésia é uma unidade biogeográfica constituída pela Madeira, os Açores, as Canárias, Cabo Verde e ainda uma pequena parte da costa noroeste da África. Ao longo da sua história geológica, incluiu ainda outras ilhas que hoje se encontram submersas.2 O nome de origem grega que designa estes arquipélagos atlânticos é derivado das palavras makáron, que significa afortunado, e nésoi – ilhas.3 Por isso, os arquipélagos da Macaronésia são às vezes chamados ilhas afortunadas e são relacionados com o mito grego sobre a Atlântida. Com exceção de Fuerteventura e Lanzarote nas Canárias, as restantes ilhas da Macaronésia têm uma origem comum.4 São ilhas vulcânicas, mas de tipos e idades diferentes, o que lhes confere características diversas também entre cada ilha, como muitas vezes acontece em relação às suas áreas.5 Dos arquipélagos da Macaronésia, os Açores é o mais jovem. A montanha mais alta de , Pico (2351 m)6, é um estratovulcão e encontra-se nos Açores, na ilha do Pico, a ilha mais jovem deste arquipélago. A mais velha é a ilha de Santa Maria.7 O arquipélago dos Açores situa-se entre os 36º e os 43º de latitude norte e os 25º e os 31º de longitude oeste, precisamente sobre a Dorsal Média Atlântica onde a placa terrestre americana se encontra com a eurasiática e a africana. Os Açores são formados por três grupos de ilhas: o Grupo Ocidental contém a ilha do Corvo e a ilha das Flores; O grupo central é o maior e é constituído pelas ilhas Faial, Graciosa, Pico, São Jorge e Terceira; finalmente, o grupo Oriental é formado pela ilha da Santa Maria e a maior ilha do arquipélago, São Miguel.8

1 DE MATOS, Artur Teodoro. SERRÃO, Joel. and DE OLIVEIRA MARQUES, Antonio Henrique. Nova histó ria da expansão portuguesa, A colonização atlântica. Lisboa, 2005, p. 15. 2RTP, Rádio e Televisão de Portugal, Ilhas de Macaronésia [online]. Disponível em: https://www.rtp.pt/play/p2610/e244802/ilhasmacaronesia [cit. 30.1 2019]. 3 Ibid. 4 Ibid. 5 DE MATOS, A. T., SERRÃO, J. and DE OLIVEIRA MARQUES, A.H. Nova histó ria da expansão portuguesa, A colonização atlântica. p, 16. 6 CRUZ, José. SILVA, Manuel. Estudo do efeito de maré em aquíferos costeiros: o caso de estudo da ilha do Pico (Açores–Portugal). Actas do IV. Congr da Água, Lisboa, 1998. Disponível em: http://www.aprh.pt/congressoagua98/files/com/024.pdf [cit. 30.1 2019]. 7RTP, Rádio e Televisão de Portugal, Ilhas de Macaronésia [online]. Disponível em: https://www.rtp.pt/play/p2610/e246862/ilhasmacaronesia [cit. 30.1 2019]. 8 GOULART COSTA, Susana. Açores: nove ilhas, uma história [: nine islands, one history]. Berkeley: Institute of Governmental Studies Press, University of California, 2008, p. 1.

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O arquipélago da Madeira, situado na placa africana a 30° e 33° de latitude norte9, é constituído além da principal ilha da Madeira, pela ilha do Porto Santo, as Ilhas Desertas inabitadas que antes faziam parte da ilha da Madeira10 (Chão, Deserta Grande, Ilhéu de Bugio) e dois grupos de Ilhas Selvagens, também inabitadas.11

9 MATA, João. O arquipélago da Madeira. 2013. PhD Thesis. Instituto Superior Técnico. Disponível em: https://www.researchgate.net/profile/Jose_Madeira3/publication/259038611_O_Arquipelago_da_Madeira/links/ 0c96052960cd2e9a52000000.pdf [cit. 28.12 2018]. 10 RTP, Rádio e Televisão de Portugal, Ilhas de Macaronésia [online]. Disponível em: https://www.rtp.pt/play/p2610/e244802/ilhasmacaronesia [cit. 28.12 2018]. 11 KLÍMA Jan, Madeira. Praha, 2011, p. 7.

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2. Descobrimento das ilhas

A questão da descoberta das ilhas portuguesas no Atlântico é uma das mais controversas e incertas na história de Portugal. Antes de começar a apresentar a história do (re- )descobrimento dos arquipélagos e para a perceber melhor, é preciso apresentar o contexto histórico em Portugal na altura do início da expansão portuguesa, no séc. XV. Como início dos descobrimentos é geralmente considerada a conquista de Ceuta em 1415. No fim do séc. XIV, o reino de Portugal ainda não estava preparado para se expandir. Primeiro, era necessário estabilizar a situação no país que estava numa guerra civil e sem rei. Em 1411, após o Tratado de paz de Ayllón, terminaram os conflitos entre os reinos de Portugal e Castela e a crise portuguesa dos anos 1383 - 1385. A dinastia de Avis começou assim com D. João I a tornar-se rei e a situação em Portugal a melhorar. Nos anos 1411 e 1412 tiveram de enfrentar outro problema – a fome. A falta de trigo no reino e a necessidade de importar alimentos foi uma das principais motivações para começar a expansão para África, embora o comércio já tenha sido muito bem desenvolvido entre Portugal e Flandres ou Veneza. Além de alimentos principais, a nova rota comercial deveria servir também para importar mercadorias mais caras do Oriente e África como especiarias, tecidos ou ouro.12 Papel mais importante nos seguintes descobrimentos e conquistas desempenhou o filho do rei João I: o Infante Dom Henrique de Avis, conhecido como Henrique, O Navegador. Gomes Eanes de Zurara resumiu cinco razões que o Infante Henrique provavelmente teve para a expansão. Segundo a sua Crónica do descobrimento e conquista da Guiné, as razões eram económicas ligadas com comércio, religiosas (espalhar a fé do Jesus Cristo) e políticas (O Henrique queria encontrar aliados para o ajudarem na guerra). Além destas motivações pragmáticas, podemos encontrar uma mais simples, que é muito natural para o Homem – a curiosidade. O Infante queria explorar e conhecer terras novas e distantes além Canárias e Cabo Bojador. A última razão seria conhecer onde se encontram as fronteiras da terra dos muçulmanos e até onde chegava o poder deles. Conquistar Ceuta, uma cidade com localização muito conveniente, foi um movimento bem pensado dos portugueses. Deste sítio era possível proteger os barcos no mar Mediterrâneo e também começar a conquista das terras muçulmanas.13 O passo seguinte do Infante D. Henrique foi explorar o Atlântico. Antes de começarem a concentrar a sua atenção no arquipélago madeirense e nos Açores, os portugueses tinham

12 KLÍMA, Jan, Dějiny Portugalska. 2., rozš. A dopl. Vyd. Praha, 2007, p. 97–98. 13 Ibid., p. 103.

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interesse também na colonização das Canárias – o arquipélago vizinho da Madeira já conhecido pelos dois reinos da Península Ibérica. As tentativas de ocupação das Canárias foram complicadas por causa do reino de Castela e acabaram sem sucesso para os portugueses. Em 1344 começou a disputa entre o reino de Portugal e Castela e surgiram duas perspetivas acerca da prioridade de descoberta e legitimidade de soberania das Canárias. Historiadores portugueses como José da Costa Macedo, Visconde de Santarém ou Gomes Eanes de Zurara defendem a reivindicação lusíada, enquanto a escola historiográfica espanhola, nomeadamente Elias Serra Ráfols e Buenaventura Bonnet, dizem o oposto. O primeiro tratado de paz foi assinado em 1431, mas a disputa só acabou em 1479 com o tratado de Alcáçovas, graças ao qual os castelhanos ganharam direito às Canárias.14 A primeira ilha do arquipélago da Madeira que os portugueses encontraram foi a menos conhecida ilha do Porto Santo, descoberta pelo navegador João Gonçalves Zarco, sob comando do Infante D. Henrique, em 1418. Um ano mais tarde foi também descoberta a maior ilha da Madeira por Tristão Vaz Teixeira. Existe também outra versão da história pouco provável: segundo Diogo Gomes, o primeiro português a lançar âncora nas beiras da Madeira foi o capitão Afonso Fernandes, mas por causa de vários testemunhos a favor de Zarco, esta teoria nunca foi aceite.15 Finalmente, os Açores foram descobertos em 1427 por segundo a carta de de 1439. Nesta altura algumas ilhas do arquipélago tinham nomes diferentes – Jesus Cristo (Terceira), São Luís (Pico), São Dinis (Faial).16 A realidade do descobrimento dos arquipélagos portugueses é, porém, um pouco diferente. É preciso dizer que os portugueses, na verdade, não foram os primeiros a conhecer as ilhas atlânticas. Provavelmente já gregos e romanos antigos teriam conhecido algumas ilhas do atlântico muito mais cedo. Por exemplo, historiadores como Diodoro da Sicília, Estrabão ou Plutarco escreveram sobre ilhas muito parecidas com a Madeira, com abundância de água e madeira, descobertas pelos navegadores da Grécia e Roma antigas. Também os Fenícios e Árabes sabiam sobre a existência de ilhas da Macaronésia. É possível encontrar outra menção da Madeira na lenda sobre Robert Machim e a sua namorada Anna de Harfet – um casal inglês que naufragou na Madeira após fugirem de Londres em 1344. Segundo Valentim Fernandes da Morávia, o nome da cidade de Machico, situada perto do Funchal, tem origem

14 DE MATOS, A. T., SERRÃO, J. and DE OLIVEIRA MARQUES, A.H. Nova histó ria da expansão portuguesa, A colonização atlântica, p. 38–39. 15 KLÍMA, J., Madeira, p. 12. 16 GARCIA, José Manuel. O início dos Descobrimentos com o Infante D. Henrique. Vila do Conde, 2016, p. 56.

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nesta lenda.17 As ilhas atlânticas aparecem nos mapas europeus desde o ano 1325. Os Açores poderão ter sido conhecidos já no séc. XIV, como mostram alguns mapas de 1370, onde as ilhas são colocadas em latitude frente a Lisboa, mas longitude muito mais perto do continente do que na realidade se encontram.18 Tal como os Açores, a Madeira foi desenhada nos mapas do séc. XIV, por exemplo, no mapa de Angelino Dulcert de ano 1339, chamada Insula Capraria, no mapa de Pizzigani (1367) chama se Ysola Canaria e no Libro de Conocimiento dos anos 1348 – 1349 podemos encontrar ilhas referidas pelos nomes Leiname, Diserta e Puerto Santo.19 O arquipélago da Madeira foi representado cada vez mais realisticamente, e já com os mesmos nomes que usamos hoje, nos mapas e atlas principalmente italianos e catalães de segunda metade do séc. XIV e primeiros anos do séc. XV – antes da data que é considerada a data oficial de descobrimento pelos navegadores portugueses. Por isso se pode considerar que as descobertas oficiais das ilhas pelos portugueses foram na verdade redescobertas. O que faz a diferença é o facto de os portugueses, ao contrário dos seus predecessores, terem aproveitado essa oportunidade para povoar as ilhas nos anos seguintes.

17 KLÍMA J., Madeira, p. 9–11. 18 GARCIA, J. M. O início dos Descobrimentos com o Infante D. Henrique, p. 54. 19 KLÍMA, J., Madeira, p. 11.

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3. Processo de povoamento dos arquipélagos

3.1. Povoamento da Madeira

Os portugueses tinham duas motivações para povoar a ilha da Madeira, como indica Rui Nepomuceno. A primeira, relacionada com a deficiência de cereais no reino e a outra, com expansão e exploração do Atlântico. Esta nova ilha representava uma solução para o problema cerealífero português e também ajudou a atingir o segundo objetivo dos portugueses – tomar posse de uma ilha que poderia apoiar as viagens marítimas20 e segurar a zona do Atlântico, estreito de Gibraltar e Noroeste Africano.21 Por causa da localização geoestratégica, os portugueses aproveitaram rapidamente a oportunidade para ocupação da Madeira e do Porto Santo. Uma ocupação primitiva do arquipélago iniciou-se logo a seguir à expedição ao Porto Santo, realizada no Inverno de 1418, e a viagem à Madeira que aconteceu em Julho de 1419, quando os portugueses desembarcaram pela primeira vez em Machico. Todavia, o povoamento organizado começou só em 1425, somente dez anos após a conquista de Ceuta. Entre os primeiros que aportaram na Madeira estavam João Gonçalves Zarco e cerca de catorze pessoas da nobreza secundária, incluindo Bartolomeu Perestrelo e Tristão Vaz Teixeira acompanhados pelas famílias. Segundo as diferentes análises às quais se refere Rui Nepomuceno, grande parte dos primeiros colonizadores vieram do Norte do reino e não de Algarve como se acreditava antes. Muitos madeirenses tinham origem nas regiões de Entre-Douro-e-Minho, Trás-os-Montes ou Beira. Como prova servem além dos arquivos de igreja também instrumentos musicais ou vestuário tradicional com origem nestas regiões, utilizados pelos madeirenses.22 Tristão Vaz Teixeira, a quem foi destinada a capitania de Machico (antes do casamento conhecido como Tristão ou Tristão da ilha) foi um escudeiro e depois cavaleiro do Infante D. Henrique. Às suas custas mandou uma caravela para Madeira e começou a povoar a parte leste da ilha, mas depois ficou ocupado com as guerras no norte da África. Bartolomeu Perestrelo (Pallastrelli) era da linhagem italiana que veio para Lisboa no séc. XIV por causa de comércio. Bartolomeu serviu D. João I e depois o Infante D. Henrique, e estava encarregado de povoar e tomar conta da pequena ilha do Porto Santo. Contudo, todos os seus esforços foram em vão por causa das condições geográficas (a ilha não tinha quase nenhuma

20 NEPOMUCENO, Rui. História da Madeira: uma visão actual. Porto, 2006, p. 11. 21 DE MATOS, A. T., SERRÃO, J. and DE OLIVEIRA MARQUES, A.H. Nova histó ria da expansão portuguesa, A colonização atlântica, p. 61. 22 NEPOMUCENO, R. História da Madeira: uma visão actual, p. 12; p. 15–16.

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água), ataques dos piratas e sobrepopulação dos coelhos que consumiram toda vegetação da ilha, o que levou às fomes. Por fim, Perestrelo rendeu-se e mudou-se para o continente, mas o Infante obrigou-o a voltar e a continuar lá até à sua morte. Quem contribuiu mais para o povoamento da Madeira foi João Gonçalves Zarco, armado cavaleiro em Tânger.23 Governou a capitania do Funchal, onde, após ter vivido algum tempo em Câmara de Lobos, acabou por fixar residência permanente.24 Estes homens foram escolhidos para serem capitães graças às suas contribuições para a expansão ultramarina. Além dos três capitães e outros povoadores com origem nobre, os restantes eram famílias e pessoas mais pobres, entre os quais estavam presos não condenados por roubo ou homicídio (aos quais foi destinado o trabalho mais duro), assim como aos escravos que foram importados mais tarde das Canárias e de África. Quando Zarco e os seus companheiros aportaram na Madeira pela primeira vez, a ilha era completamente deserta, mas a flora intacta, selvagem e exuberante. Portanto, foi necessário começar o processo de desbravamento das terras por meio de fogo e cultivação do solo.25

3.1.1. Sociedade e administração

Durante os primeiros séculos, a povoação do arquipélago não tinha autonomia ou governo regional como hoje, mas era subordinada e assente em poder central e nas leis do reino de Portugal. A distribuição das terras na Madeira, tal como a sua organização administrativa, política, económica e social foi realizada de forma centralista. Todavia, entre anos 1433 e 1497 não foi diretamente a Coroa real quem administrou o arquipélago, mas o donatário, ou seja, Senhor da Madeira.26 Só em 1433 D. Duarte oficialmente doou o senhorio da Madeira ao seu irmão, o Infante D. Henrique, por carta de 26 setembro desse ano. O Infante recebeu o arquipélago com todos os direitos, jurisdição civil e criminal, exceto em sentença de morte ou mutilação de membros. Maioria de justiça ficou reservada para a Coroa e, com exceção do rei, ninguém podia cunhar moeda.27 A jurisdição religiosa do arquipélago foi doada à Ordem de Cristo, governada também pelo Infante. Um ano mais tarde, D. Duarte estabeleceu a Lei Mental (promulgada em 18 de abril de 1434), que proibia os donatários de dividir as terras

23 KLÍMA J., Madeira, p. 14. 24 DE MATOS, A. T., SERRÃO, J. and DE OLIVEIRA MARQUES, A.H. Nova histó ria da expansão portuguesa, A colonização atlântica, p. 73. 25 NEPOMUCENO, R. História da Madeira: uma visão actual, p. 12. 26 Ibid., p. 14–15. 27 DE MATOS, A. T., SERRÃO, J. and DE OLIVEIRA MARQUES, A.H. Nova histó ria da expansão portuguesa, A colonização atlântica, p. 78.

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doadas pela Coroa e garantiu o direito de herdar as terras só ao filho varão mais velho do donatário. Se o donatário não tivesse filho legítimo, seria obrigado a devolver as terras à Coroa.28 Após a morte do Infante, passou a donatária da Madeira a D. Fernando, seu filho adotivo, e mais tarde ao filho menor de D. Fernando, D. Diogo, que assumiu a donatária por causa da morte precoce do seu irmão D. João. A sua mãe, viúva de D. Fernando, D. Beatriz, administrou o arquipélago desde 1470 até 1483, o ano em que D. Diogo atingiu a maioridade (14 anos). D. Diogo foi assassinado por D. João II em 1484 e a donatária acabou nas mãos do rei D. Manuel I, terceiro filho de D. Fernando. A 27 de abril de 1497 decidiu definitivamente integrar o arquipélago na Coroa Real.29 Desde o início de povoamento, existiu divisão do arquipélago em três capitanias e cada uma delas tinha o seu administrador ou capitão. João Gonçalves Zarco (a partir de 1460 conhecido também como João Gonçalves da Câmara), como mencionado anteriormente, teve um papel importante na povoação e administração da Madeira, sobretudo a capitania de Funchal. Embora Zarco, tal como Bartolomeu e Teixeira, governassem o arquipélago a partir da primitiva distribuição das terras, iniciada em 1425, as capitanias foram formalmente constituídas mais tarde. A capitania de Machico foi constituída em 1440, a do Porto Santo em 1446 e a capitania de Funchal foi oficialmente doada a Zarco somente em 1450. Alguns historiadores acham que a possível causa deste atraso foi a necessidade de testar e aperfeiçoar primeiro o sistema de capitanias que nunca tinha sido usado antes e que mais tarde se tornou muito comum em outras colónias portuguesas no atlântico. As cartas de doações das capitanias madeirenses serviram depois como modelo para as doações de capitanias nos Açores, Cabo Verde, São Tomé, etc.30 A responsabilidade pela administração das capitanias era partilhada pela Coroa Real ou o Senhor do arquipélago (donatário), o concelho (desde meados do séc. XV) e os capitães. Estes administravam as suas terras com autonomia e por isso as capitanias não dependiam uma das outras. Entre as competências principais dos capitães, exercidas em nome do doador, eram a justiça cível e crime (exceto o direito de condenar à morte ou talhamento de membro, que pertencia à Coroa) e distribuição das terras de sesmaria.31 Os capitães tinham o monopólio dos moinhos, fornos de pão e venda do sal. A responsabilidade pela organização da defesa perante piratas ou corsários e manutenção de ordem pública cabia também aos

28 KLÍMA, J., Dějiny Portugalska. 2, p. 107. 29 NEPOMUCENO, R. História da Madeira: uma visão actual, p. 14. 30 Ibid., p. 19. 31 Ibid., p. 16–19.

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capitães.32 Não era raro os capitães terem longas ausências da sua capitania, sobretudo os do Porto Santo por causa de poucos recursos da ilha. Nestes casos, o ouvidor substituía e funcionava como representante do capitão ausente. Este desinteresse dos capitães não ajudou ao desenvolvimento das capitanias e levou às cada vez mais fortes e frequentes intervenções do poder Real (como criação dos almoxarifados e alfândegas ou nomeação do contador, provedor de fazenda real, etc.) até finalmente os capitães perderam o direito de administrar diretamente a fazenda e justiça em 1579.33 O regime das capitanias na Madeira sobreviveu até anos 70 do séc. XVIII, mas nesta altura os capitães já não tinham quase nenhum poder político ou administrativo.34 Em 1375 foi promulgada a Lei das Sesmarias, aplicada em todos os territórios portugueses, a fim de impedir o processo de despovoamento, causado por causa de escassez de cereais e mão-de-obra nas zonas rurais. Esta lei pretendia distribuir as terras de sesmaria, obrigar os proprietários a cultivá-las e diminuir o número de mendigos que foram obrigados a trabalhar nas terras de baldio.35 Com o acordo desta lei, como escreve Rui Nepomuceno, foi realizada na Madeira a primeira grande distribuição dos terrenos organizada em 1425. Diferentes terras de sesmaria foram distribuídas por capitães aos habitantes da ilha até o fim do séc. XV. O tipo de cada terreno dependia da posição social do beneficiário. A sociedade na Madeira, tal como no continente, era dividida entre classes sociais mais elevadas (nobreza) e classes sociais mais baixas. As pessoas das classes dominantes podiam receber terrenos que iam habitualmente do mar à serra sem qualquer encargo, enquanto às pessoas que viviam do seu trabalho, pobres ou de nível social mais baixo, foram distribuídas terras mais pequenas e sob condições especiais, como obrigação de tornar os terrenos aráveis num prazo de dez anos.36 Outras partes da ilha como praias, matos, ribeiros, fontes, etc. eram públicas. Existiam também espaços nas terras de sesmaria que podiam ser utilizados por toda a gente enquanto não aproveitados pelos seus proprietários. As doações de terras de sesmarias acabaram em 1501, quando a Lei das Sesmarias foi suspensa pelo Senhor da Madeira, D. Manuel.37 O povoamento do arquipélago começou na zona do Funchal e simultaneamente na Costa Sul. Nos anos 60 do séc. XV já estavam sedeadas fazendas também no Norte da ilha

32 DE MATOS, A. T., SERRÃO, J. and DE OLIVEIRA MARQUES, A.H. Nova histó ria da expansão portuguesa, A colonização atlântica, p. 80. 33 NEPOMUCENO, R. História da Madeira: uma visão actual, p. 20. 34 DE MATOS, A. T., SERRÃO, J. and DE OLIVEIRA MARQUES, A.H. Nova histó ria da expansão portuguesa, A colonização atlântica, p. 83. 35 KLÍMA, J., Dějiny Portugalska. 2, p. 83. 36 NEPOMUCENO, R. História da Madeira: uma visão actual, p. 13. 37 DE MATOS, A. T., SERRÃO, J. and DE OLIVEIRA MARQUES, A.H. Nova histó ria da expansão portuguesa, A colonização atlântica, p. 67–69.

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(fazenda de João Lourenço). A população atingiu mais de 3000 habitantes até 1455 e nesta altura já existiam 10 freguesias no arquipélago38. Em 1451, Machico e Funchal foram elevadas a vilas. Nestas vilas também existiam, desde 1477, importantes alfândegas criadas por D. Beatriz.39 A Madeira foi povoada com grande rapidez e no séc. XV a ilha já estava praticamente toda povoada, com exceção da zona central montanhosa, que permaneceu despovoada ao longo dos séculos. Os vales no interior também não foram povoados e serviam muitas vezes como refúgio de escravos ou lugar para criação de gado.40 A partir do séc. XV começaram a formar-se ligações entre as diferentes famílias de nobreza. Como exemplo, podemos mencionar a família de João Lourenço e de João Gonçalves Zarco. João Lourenço foi um dos primeiros povoadores e o senhorio da fazenda na Ponta de Tristão. Foi também responsável pelo povoamento do noroeste da ilha onde o seu filho primogénito, Francisco Moniz, continuou o aproveitamento das terras e desbravamentos ainda no início do séc. XVI. Francisco, como filho mais velho, herdou a fazenda do seu pai com acordo da Lei Mental, mas por causa de partilhas e dotes de casamento a propriedade era muito menor do que a inicial sesmaria. Contudo, o nome de Francisco Moniz ficou nessa zona conservado até hoje. Desde a segunda metade do séc. XVI conhecemos o porto na Fajã do Barro como Porto Moniz e o seu nome estendeu-se a toda freguesia.41 A linhagem de João Lourenço ligou-se com a do primeiro capitão do Funchal quando o seu filho Francisco Moniz casou-se com uma bisneta de Zarco. Também as filhas de Lourenço – Catarina e Inês – casaram-se com dois netos de Zarco – Luís Mendes de Vasconcelos e João Mendes de Vasconcelos. Lopo Mendes de Vasconcelos, filho de Catarina e Luís acompanhou Vasco de Gama na sua viagem à Índia em 1502.42 Desta maneira formou-se a aristocracia madeirense que se separou das outras classes, como era habitual. No Funchal existiam partes da cidade onde residia só nobreza e outras onde apenas viviam os trabalhadores, artesãos e pescadores.43 Desde meados do séc. XV lentamente se começou a formar a vida municipal. Em cada uma das três sedes de capitania existia um município com função de sede de administração e justiça. Mais tarde foram criados municípios também na Ponta do Sol (1501), Calheta (1502) e Santa Cruz (1515). A coexistência entre os municípios e os capitães nem sempre era pacífica. Várias vezes ocorreram conflitos que levavam a queixas e reclamações destinadas ao

38 NEPOMUCENO, R. História da Madeira: uma visão actual, p. 16. 39 Ibid., p. 21. 40 DE MATOS, A. T., SERRÃO, J. and DE OLIVEIRA MARQUES, A.H. Nova histó ria da expansão portuguesa, A colonização atlântica, p. 62. 41 Ibid., p. 63. 42 Ibid. 43 NEPOMUCENO, R. História da Madeira: uma visão actual, p. 29.

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rei como mediador.44 Em 1470, na capitania do Funchal eram só 30 homens-bons, não existiam paços de concelho e vereações realizavam-se ao ar livre. Originalmente os homens- bons não eram eleitos pelo povo madeirense, mas nomeados por D. Henrique e pelos capitães. Apenas em 1461, graças a D. Fernando, os madeirenses ganharam o direito a eleger o Procurador, Juízes e Vereadores para os representar. Contudo, somente 21 anos mais tarde, após reivindicações do povo, o Duque legislou que «os vinte e quatro dos mesteres tenham direito a dois lugares na vereação para representar em nome de povo».45 Além dos capitães, municípios, ouvidores e almoxarifes, existiam também outras funções e instituições com poder administrativo, como corregedor, contador, provedor ou (mais tarde) provedor de Fazenda Real. A estrutura administrativa na Madeira mudou com a formação de União Ibérica. Entre 1581 e 1640 a Madeira foi administrada por um Governador-geral que mais tarde se denominaria Governador e Capitão-Geral.46

3.1.2. Agricultura e comércio

A Madeira na altura da descoberta pelos portugueses era fortemente arborizada. Por isso, nos primeiros anos os recursos disponíveis na ilha, como madeira e sangue de drago, foram aproveitados para gerar ganhos económicos. O passo seguinte após desbravar as terras foi a implantação dos produtos básicos necessários para subsistência, plantas alimentares e animais domésticos. Desde muito cedo se desenvolveu comércio entre a ilha e o continente. A Madeira começou a exportar cereais e a importar produtos manufaturados. A agricultura madeirense passou por vários ciclos ao longo dos anos. Antes do primeiro, ciclo sacarino, que começou logo nos anos 40 do séc. XV, o produto principal produzido na Madeira foi trigo. Após o início de povoamento, os terrenos no arquipélago incluíram além de hortas, baldios ou florestas também terras aráveis destinadas à cultivação de cereais e plantas alimentares. Nessa época, a quantidade de cana de açúcar produzida na ilha era mais ou menos igual à produção de trigo, madeira ou vinho, mas isso iria mudar algumas décadas depois, nos anos 70.47 Como a parte continental do reino português tinha deficiência de cereais, a Madeira primeiro deu resposta às necessidades e começou a produzir trigo para exportar. Para facilitar este processo, o regente D. Pedro em 1439 declarou a exportação dos

44 DE MATOS, A. T., SERRÃO, J. and DE OLIVEIRA MARQUES, A.H. Nova histó ria da expansão portuguesa, A colonização atlântica, p. 88–91. 45 NEPOMUCENO, R. História da Madeira: uma visão actual, p. 22. 46 Ibid., p. 14, 20. 47 DE MATOS, A. T., SERRÃO, J. and DE OLIVEIRA MARQUES, A.H. Nova histó ria da expansão portuguesa, A colonização atlântica, p. 88–91.

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cereais da Madeira para o continente isenta de impostos. A produção de trigo na ilha excedia em mais de dois terços o consumo insular – cada alqueire que semeavam produzia 60 alqueires, enquanto a produção no continente era só uma metade desta quantidade.48 Todavia, o objetivo de classes dominantes com melhor posição e maior poder económico era começar a utilizar a terra o mais rapidamente possível para agricultura, não tanto para as necessidades do povo português, mas sobretudo para comércio com outras partes da Europa. Por causa desta atitude empresarial e assente na rentabilidade em meados do séc. XV a produção de cereais diminuiu notavelmente e os madeirenses começaram a construir canaviais em vez de plantações de trigo. A Madeira tornou-se rapidamente num grande exportador de açúcar. Por outro lado, a indústria açucareira teve também um efeito negativo, nomeadamente na exploração da ilha e de mão-de obra dos escravos ou jornaleiros do continente. Como escravos eram usados guanches – os indígenas das Canárias ou pessoas de costa da África onde foram realizadas várias viagens durante o séc. XV. A cultura de cana-de-açúcar também redundou em crises de subsistência.49 Apenas alguns anos foram precisos para o Funchal passar de exportador de trigo para importador. No fim do séc. XV, a produção de cereais baixou radicalmente e a partir das últimas décadas a Madeira já não conseguia produzir trigo suficiente para alimentar todos os habitantes, pelo que os madeirenses foram forçados importar cereais das ilhas vizinhas – dos Açores ou das Canárias. As fomes foram agravadas muitas vezes também pelas epidemias de peste. Outro fator que piorou a situação das constantes crises de subsistência (entre fim do séc. XV e meados do séc. XVII) foram as atividades dos piratas e corsários ingleses, holandeses ou franceses. O corso e a pirataria apareceram no séc. XV, no mesmo tempo em que surgiu o comércio com produtos exóticos, transportados pelos navios portugueses através do oceano. Existiam também corsários madeirenses, encarregados de proteção das embarcações portuguesas, como foi por exemplo o fidalgo Francisco Homem de El-Rei, famoso pirata no séc. XVII.50 Outro produto destinado à exportação era o vinho. Mantinha-se também cultivação de plantas alimentares, frutas e legumes, mas a economia e agricultura madeirense ficou dependente de produção de açúcar até finais do séc. XVI. A transformação de cana para açúcar fazia-se em alçapremas (moinhos artesanais para cana de açúcar51) e mais tarde em engenhos. Como a qualidade de açúcar dependia parcialmente de quem trabalhasse nos

48 NEPOMUCENO, R. História da Madeira: uma visão actual, p. 39–40. 49 Ibid., p. 27. 50 Ibid., p. 102–103; p. 107–108; p. 110. 51 Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [online]. Disponível em: https://dicionario.priberam.org/al%C3%A7aprema [cit. 22.03 2019].

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engenhos, desde 1485 os «mestres de açúcar» foram controlados e examinados antes de receberem a carta que os permitia exercer o ofício.52 A tradição de açúcar e os engenhos da Madeira espalharam-se e serviram como modelo para São Tomé e Príncipe e Brasil. Açúcar barato oriundo destas colónias contribuiu mais tarde para a crise e declínio na Madeira.53 Em 1466 o prazo de aproveitamento das terras de sesmaria foi alargado e desde então os possuidores já não precisavam de usar fogos para cultivar as terras o mais rapidamente possível. Isto foi consequência da ordem do segundo Senhor da Madeira, o Infante D. Fernando, que proibiu utilizar fogos para desbravar as terras. Esta ordem foi dada por causa de falta de lenha, necessária em engenhos de açúcar, e destinou se principalmente a quem tivesse terras com urgência de aproveitar, como era o caso das terras de sesmaria.54 Apesar dos desejos dos camponeses que reivindicavam aumento dos terrenos destinados à cultivação dos cereais, D. Fernando tomou esta decisão a favor dos plantadores dos canaviais, protegendo os seus interesses. Mais decisões políticas foram baseadas na proteção das fábricas de açúcar, como a do ano 1507, quando o rei proibiu cortar para construção naval ou exportação.55 Produção de açúcar não dependia só de lenha, mas também água. Grande contributo para aperfeiçoamento da tecnologia dos engenhos aconteceu em 1452 graças a Diogo de Teive quem patenteou o primeiro engenho de água.56 A água era encaminhada e transportada do centro da ilha para os campos de cana, os engenhos e moinhos, através de famosos canais, chamados levadas. Para assegurar suficiência de água para fabricação de açúcar, em 1562 um decreto proibiu que a água fosse utilizada para outros fins que não fosse rega dos campos de cana ou funcionamento dos engenhos.57 O município mais importante e mais desenvolvido na Madeira, a única cidade na época e também o centro de comércio e produção de mercadoria, era o Funchal. A capitania de Machico não dispunha de condições geoclimáticas tão favoráveis em comparação com a do Funchal. Por causa disto, a produção média de açúcar na capitania de Machico no séc. XVI era habitualmente entre um quarto ou um quinto da do Funchal. Em 1590 o italiano Leonardo Torriani escreveu sobre a capital da Madeira: «O comércio é muito importante e feito com navios que vêm a esta cidade de todas as partes da África dos cristãos, de Itália, Espanha,

52 DE MATOS, A. T., SERRÃO, J. and DE OLIVEIRA MARQUES, A.H. Nova histó ria da expansão portuguesa, A colonização atlântica, p. 102–107. 53 KLÍMA Jan, Madeira. Praha: Libri, 2011. p. 21. 54 DE MATOS, A. T., SERRÃO, J. and DE OLIVEIRA MARQUES, A.H. Nova histó ria da expansão portuguesa, A colonização atlântica, p. 62; p. 68–69. 55 NEPOMUCENO, R. História da Madeira: uma visão actual, p. 39–40. 56 VIEIRA, Alberto. O açúcar na Madeira, produção e comércio nos séculos XV a XVII, Granada, 1993. Disponível em: http://www.madeira-edu.pt/Portals/31/CEHA/bdigital/hsugar-Madeira3a.pdf [cit. 26.03 2019] 57 NEPOMUCENO, R. História da Madeira: uma visão actual, p. 60.

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França, Alemanha e Escócia, pelo que o Funchal é chamado a pequena Lisboa.»58 Uma das consequências desse forte desenvolvimento foi o aumento demográfico de 600% em 50 anos. A população madeirense cresceu de 3 000 habitantes em meados do séc. XV até 18 000,59 incluindo 2 000 escravos, no fim do mesmo século. Em 1572 a população da Madeira era 22 172 pessoas. 3 000, ou seja 14%, sendo escravos60 – o que significa que o rápido crescimento se deveu em grande parte ao aumento de importação de mão-de-obra. Segundo Joel Serrão, os escravos chegaram após a expedição a Lanzarote em 1444 e estabelecimento da feitoria de Arguim e os cativos oriundos do litoral Saariano na mesma década em 1441. Não obstante, nos campos de cana, ao contrário do que acontecia na América, trabalhavam junto com os escravos também homens livres e cativos. A importação dos escravos à Madeira foi proibida só em 1773.61 Este período de enorme crescimento económico e demográfico atingiu o seu expoente máximo em 1506. Nos anos imediatos seguiu-se um rápido declínio e a Madeira entrou na crise económica açucareira. A crise resultou de fatores internos como alterações climáticas, carência de adubagem dos terrenos, erosão dos solos, aparecimento do bicho da cana, e também de um fator externo – novos produtores de açúcar no mercado, como as Canárias, São Tomé ou Brasil, com os preços mais baixos. A crise acabou nos anos 30 do séc. XVI, quando os canaviais foram substituídos por vinhedos.62 A ilha tinha as melhores condições geográficas e climáticas para a cultivação de vinha e também solo vulcânico muito rico em nutrientes. No ciclo do vinho estas vantagens eram aproveitadas por agricultores madeirenses. A Madeira era dividida em duas zonas principais onde se produzia vinho – uma estendia-se na primitiva capitania do Funchal, onde tinha origem o vinho de maior qualidade destinado à exportação a outra zona situava-se no norte da ilha na capitania de Machico. O vinho desta parte da ilha era de menor qualidade, mas produzido em maiores quantidades e consumido só por madeirenses ou usado para produção de aguardente. O vinho da Madeira tornou-se muito conhecido pela sua qualidade na Europa já no séc. XV, como provam os testemunhos dos italianos Cadamosto (1455), Giulio Landi (1530) ou Pompeo Arditi (1567), e o comércio desenvolveu-se nos séculos seguintes. A produção vinícola da Madeira passou também pelas crises causadas por várias doenças como

58 NEPOMUCENO, R. História da Madeira: uma visão actual, p. 30. 59 Ibid., p. 59. 60 Ibid., p. 75. 61 Ibid., p. 93–94. 62 VIEIRA, A. O açúcar na Madeira, produção e comércio nos séculos XV a XVII. Centro de Estudos e História do Atlântico. Disponível em: http://www.madeira-edu.pt/Portals/31/CEHA/bdigital/hsugar-Madeira3a.pdf [cit 26.03 2019]

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oídio ou filoxera, no séc. XIX. Até então a produção estava numa curva de ascendência e o vinho era distribuído por todo o continente europeu, África e mais tarde América do Norte, Brasil ou ìndia. Contudo, o país onde os vinhos madeirenses tinham mais popularidade era a Inglaterra e até Shakespeare foi um dos apreciadores. Além da Grã-Bretanha, que assegurava a maior parte do comércio externo, o vinho também estava presente no mercado entre outras ilhas atlânticas como os Açores ou as Canárias, em troca por cereais, e mais tarde também com outras colónias – Cabo Verde, Angola e o Brasil – onde era a partir do fim do séc. XVI trocado por açúcar. O vinho foi obrigatoriamente usado como prevenção de escorbuto nas embarcações que navegavam no Atlântico.63

3.1.3. Igreja

Quando chegaram à Madeira pela primeira vez, os portugueses trouxeram naturalmente com eles também a sua fé. Logo após o desembarque de Zarco em Machico no dia 2 de julho de 1419 foi realizada a primeira missa pelos franciscanos que acompanharam Zarco. A inspiração para os nomes dos primeiros dois madeirenses nascidos na ilha, gémeos filhos de Gonçalo Aires chamados Adão e Eva, também proveio muito provavelmente dos franciscanos.64 A primeira comunidade espiritual na Madeira foi criada em S. João da Ribeira e a organização religiosa esteve nas mãos da ordem franciscana até 1433. Neste ano a administração espiritual foi doada à Ordem de Cristo com sede em Tomar, cujo mestre era o Infante D. Henrique. Isto levou a problemas com os franciscanos até eles abandonarem a ilha em 1459, mas decidiram a regressar 3 anos mais tarde. Durante a sua estadia conseguiram construir muitos templos, dos quais poucos se conservam até hoje.65 Segundo historiadores, a primeira igreja construída no arquipélago foi Nossa Senhora do Calhau no Funchal (danificada pela aluvião de 1803, demolida em 1835) e foi em volta das primitivas habitações dos colonos onde se ergueram os primeiros templos da Madeira. Outras casas da igreja construídas nesta altura foram a Capela de Santa Catarina no Funchal, a Igreja do Senhor dos Milagres em Machico e mais tarde a Igreja do Espírito Santo em Câmara de Lobos, a Capela de Vera Cruz na Quinta Grande, a Capela de São Tiago nos Canhas e a Igreja

63 VIEIRA, Alberto. O vinho e a vinha na história da Madeira Séculos XV – XX. Funchal, 2003, p. 168–171; p. 340, 341 Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/310947936_A_VINHA_E_O_VINHO_NA_HISTORIA_DA_MADEI RA_Seculos_XV_-_XX. [cit. 27.03 2019]. 64 NEPOMUCENO, R. História da Madeira: uma visão actual. p. 31. 65 Ibid., p. 31–32.

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de Nossa Senhora da Estrela na Calheta.66 O Vigário de Tomar estabeleceu a estrutura religiosa do arquipélago e nomeou um vigário para cada capitania para administrar o clero e as atividades religiosas na sua jurisdição – em Machico esta função foi desempenhada pelo Frei João Garcia e no Funchal por João Gonçalves. A situação só mudou em 1461 depois dos moradores pedirem o aumento do número dos clérigos para que fosse assegurada a prática religiosa em Câmara de Lobos, Ribeira Brava, Ponta de Sol, Arco da Calheta e outros lugares. As novas áreas das ilhas atlânticas eram dependentes do mesmo vigário de acordo com a bula de 1456. Esta situação continuou até 1514 quando foi criado o bispado, ou seja, a diocese sediada no Funchal.67 Em certas circunstâncias, como em caso de morte ou ausência do capitão ou do governador general, o bispo podia exercer também estas funções durante um período limitado. Isto aconteceu por exemplo em 1757 por causa da ausência do governador Manuel Saldanha de Albuquerque ou em 1798 devido à morte do governador Diogo Pereira Forjaz Coutinho, mas neste caso o bispo partilhou o poder com o corregedor e o comandante militar.68 Entre 1514 e 1553, segundo a bula do Papa Leão X, a Madeira foi a sede eclesiástica de todos os territórios ultramarinos em África, no Brasil e no Oriente, o que a fez a maior diocese do mundo na época. Em 1533 o Bispado madeirense tornou se em Arcebispado e segundo Nepomuceno e no mesmo ano foram criadas sufragâneas dioceses de Angra (Açores), São Tiago (Cabo Verde), São Tomé e Santa Catarina (Goa). Quanto às paróquias, a primeira foi provavelmente constituída no Funchal e denominada Nossa Senhora do Calhau. A sua sede foi transferida em 1508 para a Sé do Funchal, elevada neste ano a Catedral do Bispado do Funchal. Mais tarde foi criada a paróquia em Machico e na segunda metade do séc. XV também paróquias em Caniço, Santa Cruz, Câmara de Lobos, Ribeira Brava, Ponta de Sol, Calheta e São Vicente.69 Outra ordem religiosa, os jesuítas, chegou em 1570 ao Funchal onde fundaram o Colégio de Companhia como resposta à reforma protestante levada por M. Lutero e J. Calvino. Os jesuítas representavam o movimento contrarreforma e aplicaram os princípios da inquisição na Madeira. A inquisição exercia a atividade nas ilhas através dos visitantes do tribunal do Santo Ofício em Lisboa. Os arquipélagos dos Açores e da Madeira foram visitados três vezes: em 1575 por Marcos Teixeira, em 1591–93 por Jerónimo Teixeira Cabral e em

66 NEPOMUCENO, R. História da Madeira: uma visão actual, p. 34. 67 DE MATOS, A. T., SERRÃO, J. and DE OLIVEIRA MARQUES, A.H. Nova histó ria da expansão portuguesa, A colonização atlântica, p. 175–177. 68 NEPOMUCENO, R. História da Madeira: uma visão actual, p. 33. 69 Ibid., p. 32–35.

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1618–19 por Francisco Cardoso Tornéo. Durante as visitas, um dos objetivos dos comissários era a comunidade judaica e de cristãos novos presente nas ilhas. No fim do séc. XVI foram registados na Madeira 94 cristãos novos. A maioria dos judeus era comerciantes com ligações aos portos nórdicos e britânicos donde podiam facilmente entrar ideias protestantes e esta realidade provocava as preocupações dos inquisidores. Um dos objetivos da igreja católica era eliminar a superstição que foi considerada sinónimo de feitiçaria, sortilégios, agoiros, benzedura, idolatria e pacto com o demónio. Em 1618 treze mulheres foram condenadas por feitiçaria, mas a inquisição não teve muito sucesso em erradicar as crenças populares e reduzir os refratários ao catolicismo. Por isso escolheram usar ensino de doutrina para lutar contra a heresia. Recomendava-se ensinar também os escravos maiores de sete anos. Alguns expressaram o desejo de professar cristianismo, mas existiam também casos de resistência dos proprietários ou dos próprios escravos e esforços para continuar com os rituais africanos ou islâmicos.70 A Companhia de Jesus terminou a sua atividade na Madeira em 1759, quando as autoridades insulares foram informadas pela Coroa de que os jesuítas eram réus de traição contra o Rei. O governador José Correia de Sá mandou uma tropa militar ao Colégio onde lhes foram confiscados todos os bens. Após terem estado detidos cerca de um ano dentro do edifício do Colégio, os jesuítas foram expulsos da Madeira m 1760 por decisão do Marquês de Pombal. Em consequência desses acontecimentos o Vaticano rompeu relações com Portugal por dez anos.71 Na Madeira nasceram algumas romarias, tradições e cultos religiosos como o de São Tiago. O culto de São Tiago Menor foi criado em 1521 durante a terrível epidemia de peste e desde então ficou este santo o padroeiro do Funchal. A vereação e o capitão Simão Gonçalves da Câmara decidiram construir o templo em honra do São Tiago e anualmente no primeiro dia de maio fazer procissão de Sé ao referido templo e solicitar desta maneira o fim de peste.72 A mais importante romaria madeirense é a do dia 15 de agosto dedicada à Nossa Senhora do Monte, que segundo a lenda apareceu a uma pastorinha e que foi consagrada padroeira do Funchal depois do aluvião de 1803.73 A igreja também se dedicou às atividades e serviços caritativos. O primeiro hospital da Madeira foi construído junto à Capela de São Paulo. Este terreno foi doado por Zarco em

70 DE MATOS, A. T., SERRÃO, J. and DE OLIVEIRA MARQUES, A.H. Nova histó ria da expansão portuguesa, A colonização atlântica, p. 187–192. 71 NEPOMUCENO, R. História da Madeira: uma visão actual, p. 36–37. 72 Ibid., p. 194. 73 NEPOMUCENO, R. História da Madeira: uma visão actual, p. 35.

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1454 e também a sua mulher Constança Rodrigues deixou cinco casas para albergar idosos. Outro exemplo são as misericórdias. A do Funchal foi construída em 1535 e mais tarde durante o séc. XV foram também criadas as misericórdias da Calheta, de Santa Cruz e de Machico.74

3.1.4. Cultura e educação

A cultura, tal como a educação, era estreitamente ligada à igreja. Quem queria aprender a ler, escrever e contar só podia fazê-lo nas escolas relacionadas com as instituições católicas. O ensino incluía aprendizagem de latim e doutrina cristã. Até há pouco tempo, não existia no arquipélago nenhuma universidade, mas muitos madeirenses frequentavam universidades no continente ou noutros países como Espanha, Itália ou França. Isto só foi possível para pessoas oriundas de famílias de elite, sobretudo filhos de comerciantes de açúcar. Além de escolas de paróquias existiam também colégios estabelecidos e dirigidos pelos jesuítas, uma ordem que contribuiu para a alfabetização e educação dos madeirenses.75 A arte era também ligada à igreja, especialmente a arte sacra que ainda hoje ornamenta os templos católicos. Para construção das igrejas de séc. XV e XVI foram também usadas riquezas geradas no comércio açucareiro. Muitas vezes, pintores flamengos eram contratados para decorar os templos com representações das famílias nobres junto aos santos. Para decorar os templos usava-se também ouro e prata. Estes materiais realçam ainda mais a monumentalidade da arquitetura religiosa.76 Nesta altura, as igrejas serviam como um sítio para as pessoas não só praticarem a sua religião, mas também para socializar, comerciar e, em caso de nobreza, para exibir a sua riqueza.77 Os madeirenses expressavam também a sua cultura através da música. Quase todos tocavam cítara ou lira e cantavam. Alguns instrumentos musicais foram trazidos do continente, mais especificamente do norte do reino.78 Além da música, eram populares entre a nobreza jogos e combates simulados ou jogo no qual se lidava e matavam os touros. Alguns destes jogos eram designados para mostrar-se às damas. Outras típicas expressões materiais da cultura única madeirense são os trajes, a cozinha tradicional e produtos artesanais como os

74 NEPOMUCENO, R. História da Madeira: uma visão actual, p. 36. 75 DE MATOS, A. T., SERRÃO, J. and DE OLIVEIRA MARQUES, A.H. Nova histó ria da expansão portuguesa, A colonização atlântica, p. 195–197. 76 Ibid., p. 199. 77 NEPOMUCENO, R. História da Madeira: uma visão actual, p. 34. 78 Ibid., p. 22, 41.

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bordados ou produtos de cestaria. A sociedade e mentalidade eram conservadoras – as pessoas de classe dominante casavam-se na maioria das vezes por causa de dote. às mulheres casadas não eram permitidas sair da casa sem os seus maridos, irmãos ou filhos e, embora a tradição da produção de vinho na Madeira fosse muito forte, nem mulheres nem jovens o podiam beber. O vinho era reservado só aos homens mais velhos.79

3.2. Povoamento dos Açores

Alguns anos depois o descobrimento da Madeira foi em 1427 descoberto também o arquipélago dos Açores, ou nessa altura chamado também «ilhas terceiras» (segundo a ordem em que foram descobertas pelos portugueses). O descobrimento dos Açores, concretamente do grupo oriental e central foi atribuído a Diogo de Silves, mas alguns historiadores preferem a teoria de que a primeira descoberta foi a ilha de Santa Maria por Gonçalo Velho Cabral apenas em 1431. Depois seguiu o descobrimento da ilha de São Miguel em 1444 e mais tarde a Terceira, São Jorge e Graciosa.80 Depois de Santa Maria, São Miguel e Terceira foram descobertas também as restantes ilhas. Por causa da falta de documentação não é possível indicar exatamente as datas, mas muito provavelmente as ilhas do grupo central (Graciosa, São Jorge, Pico e Faial) foram descobertas entre os anos 1449 e 1451 e como últimas devem ter sido descobertas as ilhas Flores e Corvo, em 1452 por Diogo de Teive. No final dos anos cinquenta do séc. XV todas as nove ilhas já eram conhecidas, mas com nomes diferentes dos que usamos hoje.81 Uma forma de preparação para o povoamento das ilhas de Santa Maria e São Miguel foi o transporte de gado e outros animais domésticos para lá se multiplicarem. Segundo Susana Goulart Costa, em 1449 as ilhas do grupo oriental já tinham um pequeno número de moradores, mas a Coroa só expressou mais vontade de povoar os Açores depois dum grupo de flamengos desembarcar na ilha Terceira, pois este evento representava perigo de perder a posse das ilhas.82 O povoamento do arquipélago foi iniciado nos anos quarenta do séc. XV, mas não começou em todas as ilhas ao mesmo tempo. O início do povoamento dependia das condições

79 NEPOMUCENO, R. História da Madeira: uma visão actual, p. 41–43. 80 GOULART COSTA, S. Açores: nove ilhas, uma história [Azores: nine islands, one history], p. 3–7. 81 Ibid., p. 8. 82 Ibid., p. 5–7.

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geográficas de cada uma das ilhas e da data de descobrimento. A maioria dos primeiros povoadores eram pessoas de estatuto social inferior, pobres que iam na expectativa de conseguir melhor vida e atraídos também por benefícios fiscais. Uma parte mais pequena dos recém-chegados pertencia à nobreza secundária. Os povoadores tinham origem no Algarve, Alentejo, Beira-Alta, Entre-Douro ou Lisboa. Antes de chegarem aos Açores, muitos deles tinham passado algum tempo na Madeira. Nesta altura, a população total do reino não era mais do que um milhão de habitantes83, portanto os colonos dos Açores eram também naturalmente pouco numerosos. Destinos muito mais atrativos para a emigração do continente eram a Madeira ou a costa de África. Como no caso da Madeira, também para os Açores iam expulsos do continente alguns indivíduos indesejados como judeus, mouros ou criminosos condenados a cumprir a pena nas ilhas. Por exemplo, em 1446, João de Lisboa pediu autorização para voltar ao continente depois de ter cumprido nove dos quinze anos de pena de homicídio.84 Além dos degredados, eram também involuntariamente transportados escravos para os Açores e aí obrigados a servir famílias de classe dominante. A presença de estrangeiros – flamengos, genoveses, florentinos, franceses ou ingleses também contribuiu para a diversidade étnica dos açorianos. A influência flamenga era mais forte no grupo central, onde ainda hoje podemos encontrar localidades com nomes de origem evidentemente flamenga (p.e. Ribeira dos Flamengos) e também apelidos oriundos da Flandres (Brum, Dutra, Goulart…). O mesmo é o caso dos italianos, cuja presença é comprovada pelos nomes que sobreviveram até hoje nas ilhas Terceira, São Miguel, São Jorge e Faial: Geraldes (derivativo de Geraldi), Corvelo (Corvinelli), Cacena (Cassana) ou Rua dos Italianos situada em Angra.85 Após a descoberta de América em 1493, o italiano Cristóvão Colombo (mais relacionado com a Madeira por ter casado com Filipa Moniz, filha do primeiro capitão do Porto Santo) também fez escala nos Açores.86 Este evento comprova que os Açores, embora no início não fossem um destino muito atrativo para os portugueses, tinham um valor enorme para a navegação portuguesa graças à sua posição central geoestratégica. Tal como na Madeira e para estimular o povoamento, os novos colonizadores receberam terras de sesmaria das quais deveriam cuidar durante cinco anos. Para regular e registar o processo de doações foi designado o Regimento das sesmarias. Os terrenos foram

83 GOULART COSTA, S. Açores: nove ilhas, uma história [Azores: nine islands, one history], p. 9. 84 Ibid., p. 10. 85 Ibid., p. 12. 86 Ibid.

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distribuídos com base nas condições orográficas. As terras de sesmaria eram habitualmente os terrenos mais baixos e costeiros, sendo as áreas com altitude mais alta reservadas às pastagens e exploração de matos. A maioria das terras de sesmaria (3/4) não foi doada aos pobres, agricultores e artesãos, mas às pessoas ligadas aos capitães e nobreza. Alguns até conseguiram obter terrenos em mais do que uma ilha. Após cinco anos, as terras tornavam-se propriedades, e os novos proprietários ganhavam legitimidade de as vender, doar ou alugar. O processo de doação terminou em meados do séc. XVI. Outra forma de estimular o povoamento, além da doação de terras, foi a isenção de pagamento de dízima de todos os produtos enviados de Santa Maria para o reino em 1443, concedida também a São Miguel três anos mais tarde.87 Entretanto tinha-se iniciado o desbravamento de terras, corte de madeira, procura de água e preparação para parcelamento de terras e cultivo. Para dividir as parcelas e construir as primeiras habitações foram utilizados recursos naturais disponíveis como madeira e pedra. O processo de povoamento era dificultado por eventos de atividade vulcânica (p.e. um terramoto em V. Franca, São Miguel, no dia 22 de outubro de 1522 matou 4000 – 5000 pessoas, e um terramoto em P. Vitória, Terceira em 1614 matou mais de 200 pessoas, etc.).88

3.2.1. Administração e sociedade

Os Açores eram, ao longo dos anos, dependentes de gerência externa, tal como a Madeira. Enquanto no caso da Madeira o desafio foi encontrar um sistema eficaz para governar o território distante, nos Açores foi simplesmente copiado o modelo de capitanias, já testado no primeiro arquipélago. O primeiro senhor das ilhas era o rei D. Duarte e provavelmente entre 1432 e 1438 a donatária foi transmitida ao Infante D. Henrique,89 que a partilhou com o seu irmão D. Pedro e D. Afonso, o qual recebeu a ilha do Corvo. Só depois, no ano 1453, o Infante se tornou o único donatário do arquipélago inteiro90, como comprovado no seu testamento de 1460. Os seus sucessores foram D. Fernando, seu filho adotivo, que governou os Açores desde a morte do Infante em 1460 até 1470. O terceiro donatário foi D. João, o filho mais velho de D.

87 GOULART COSTA, S. Açores: nove ilhas, uma história [Azores: nine islands, one history], p. 7. 88 NUNES, João C.; FORJAZ, Victor H.; OLIVEIRA, C. Sousa. Catálogo Sísmico da Região dos Açores. Versão 1.0 (1850–1998). In: Proceedings do 6º Congresso Nacional de Sismologia e Engenharia Sísmica. 2004, [online]. Disponível em http://www.hms.civil.uminho.pt/events/sismica2004/349- 358%20c56%20Jo%C3%A3o%20Carlos%20Nunes%20_10p_.pdf [cit 15.4.2019]. 89 GOULART COSTA, S. Açores: nove ilhas, uma história [Azores: nine islands, one history], p. 24. 90 DE MATOS, A. T., SERRÃO, J. and DE OLIVEIRA MARQUES, A.H. Nova histó ria da expansão portuguesa, A colonização atlântica, p. 309.

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Fernando. Depois da sua morte prematura, a donatária passou ao seu irmão D. Diogo, mas foi D. Beatriz, a viúva de D. Fernando e tutora dos seus filhos menores de idade, quem administrou o arquipélago desde 1470 até 1483, o ano em que D. Diogo atingiu a maioridade (14 anos). Quando D. Diogo foi assassinado por D. João II em 1484, foi D. Manuel, terceiro filho de D. Fernando, quem assumiu a donatária. O seu governo durou até 1495.91 Todas estas transmissões foram realizadas seguindo a Lei Mental que privilegia os filhos masculinos primogénitos. Entre os poderes do donatário era bastante importante o de criar capitanias. Normalmente, uma ilha correspondia a uma capitania, mas existiam também ilhas divididas em duas capitanias ou capitanias compostas por mais do que uma ilha. Não se sabe a data exata quando se iniciou a divisão administrativa do arquipélago, mas no fim do seu governo o Infante D. Henrique dividiu as ilhas em três grupos – São Miguel e Santa Maria (antes administradas por Gonçalo Velho Cabral) pertenciam à Ordem do Cristo, Terceira e Graciosa (antes governadas por Jácome de Burges) a D. Fernando e as restantes a D. Afonso V.92 Durante a governação de D. Fernando foi criada a capitania do Faial em 1468, a qual foi entregue ao flamengo Jos Dutra, que recebeu também a capitania do Pico em 1482. Quando a donatária passou a D. Beatriz, as capitanias de São Miguel e de Santa Maria foram separadas e entregues a Rui Gonçalves Zarco, filho do capitão do Funchal. Mais tarde foram criadas, por D. Beatriz, duas capitanias na Terceira em 1474 e a capitania da Graciosa após 1473. Além desta divisão administrativa, D. Beatriz criou também a função de contador e a de almoxarife, o qual podia distribuir terras de sesmaria junto com o capitão. Depois do governo de D. Beatriz só foi criada mais uma capitania, a de São Jorge, em 1483, administrada em conjunto com a de Angra por João Vaz Corte Real. As ilhas das Flores e do Corvo são um caso complicado, mas sabemos que em 1475 foram doadas como capitania a Rui Teles.93 No fim do séc. XV existiam então no arquipélago oito capitanias – a de São Miguel, a da Santa Maria, a da Graciosa, a de São Jorge, a da Praia, a de Angra, a do Faial e Pico e a das Flores e Corvo.94 A Lei Mental era aplicada também às doações das capitanias, mas havia algumas exceções. Por exemplo, o capitão de São Miguel em 1474, Rui Gonçalves da Câmara, não tinha herdeiros legítimos, mas D. Diogo permitiu que a capitania fosse herdada pelos seus filhos bastardos. Noutro caso, foi permitido a Jácome Burges, que não tinha filhos

91 GOULART COSTA, S. Açores: nove ilhas, uma história [Azores: nine islands, one history], p. 24–25. 92 DE MATOS, A. T., SERRÃO, J. and DE OLIVEIRA MARQUES, A.H. Nova histó ria da expansão portuguesa, A colonização atlântica, p. 309–311. 93 Ibid., p. 312–314. 94 GOULART COSTA, S. Açores: nove ilhas, uma história [Azores: nine islands, one history], p. 28.

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masculinos, que a sua filha pudesse herdar a capitania de Terceira.95 As competências dos capitães eram mesmas que as dos capitães madeirenses (distribuir terras de sesmaria, direito de ordenar degredo e castigos corporais com exceção de pena de morte e mutilação, exclusivo sobre moinhos, venda de pão e sal, etc.) e as cartas de doações foram também inspiradas neste arquipélago. Os capitães não eram obrigados a ter residência fixa no arquipélago, pelo que alguns deles decidiam viver noutra ilha ou completamente fora do espaço insular e ser representados por ouvidores em vez de administrar a capitania diretamente. Este conceito nem sempre era bem recebido pelos habitantes das ilhas. A criação dos municípios nos Açores surgiu da iniciativa das comunidades locais e começou muito cedo em todas as ilhas exceto o Corvo. O processo foi concluído em meados do séc. XVI, mas antes de criação de concelhos foram fundadas câmaras municipais em alguns lugares elevados a vila. É provável que as sedes das capitanias fossem consideradas vilas e os homens-bons começaram a organizar as câmaras, nomeadamente as de Vila Franca em São Miguel, Vila do Porto em Santa Maria, Praia e Angra na Terceira, Horta no Faial, Santa Cruz da Graciosa, Lages no Pico e Velas em São Jorge.96 As motivações para criar concelhos eram o aumento demográfico e as reivindicações dos habitantes de algumas ilhas. O primeiro concelho criado nos Açores, o de Ponta Delgada em 149997, é um bom exemplo. Até 1499, a ilha de São Miguel tinha uma câmara situada em Vila Franca do Campo, mas muitos moradores expressaram o seu descontentamento com esta situação, que os obrigava «a ir muitas vezes a Vila Franca do Campo tratar dos seus negócios e assuntos administrativos». Outro caso em que os moradores pediram para criar um novo município foi em 1542 na ilha do Pico. Como o caminho de São Roque do Pico para Lajes, o único município naquela altura, era longo e difícil, os habitantes pediram para criar um novo concelho independente. No final do séc. XVIII existiam nos Açores 21 municípios (seis em São Miguel, três na Terceira, no Pico e em São Jorge, dois na Graciosa e Flores e um no Faial e Santa Maria).98 Os municípios tinham várias competências e responsabilidades na área económica, militar, social e religiosa, como por exemplo proibir saída de alimentos nos períodos de carência, apoiar a defesa do território, cuidar de órfãos, etc. Estas questões eram debatidas nas vereações semanais ou quinzenais. Os cargos concelhios apenas eram desempenhados por

95 GOULART COSTA, S. Açores: nove ilhas, uma história [Azores: nine islands, one history], p. 30. 96 DE MATOS, A. T., SERRÃO, J. and DE OLIVEIRA MARQUES, A.H. Nova histó ria da expansão portuguesa, A colonização atlântica., p. 317. 97 Ibid., p. 318. 98 GOULART COSTA, S. Açores: nove ilhas, uma história [Azores: nine islands, one history], p. 33.

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homens-bons, ou seja, pelo grupo oligárquico que governava os municípios de forma bastante independente e difícil de controlar pela Coroa, devido à distância geográfica. A sociedade açoriana seguiu o modelo hierárquico de Portugal continental baseado em estratos sociais e composto por três grupos sociais básicos – o clero, a nobreza e o povo. Isto foi manifestado também na legislação – existiam três tipos de tribunais, cada um tratava dos crimes de diferente grupo social e as penas para os mesmos crimes poderiam variar dependendo do estatuto social do réu. O principal fator que dividia os poderosos dos pobres era posse de terras. Por isso, a divisão social era mais dualista que tripartida. Esta desigualdade social foi baseada na distribuição das terras e sentida especialmente nas ilhas de São Miguel e Terceira. A fragmentação dos terrenos nas restantes ilhas não permitiu formar grandes fortunas, portanto, as desigualdades entre os habitantes não eram tão marcantes. Os casamentos entre a elite e o nível inferior não eram suportados pelos pais para garantir a concentração de propriedade no círculo privilegiado. No início do povoamento, quando o círculo da nobreza nas ilhas não era muito grande, eram comuns casamentos com elite do continente ou da Madeira. Com o crescimento de população, foi cada vez mais fácil formar casamentos entre a nobreza açoriana.

Ilhas Séc. XVI Séc. XVII S. Miguel 27 132 34 241 S. Maria 2 600 4 235 Terceira 21 560 21 078 Graciosa 2 708 6 656 S. Jorge 2 676 6 716 Faial 4 048 13 287 Pico 3 508 10 259 Flores 632 3 235 Corvo 80 478 Total 64 944 100 185

O aumento dos habitantes no séc. XVI também redundou em elevação de algumas vilas a cidade – Angra em 1534 e Ponta Delgada em 1546.99 O Quadro 1100 ilustra a evolução populacional nas ilhas individuais. A população continuou a crescer uniformemente até

99 DE MATOS, A. T., SERRÃO, J. and DE OLIVEIRA MARQUES, A.H. Nova histó ria da expansão portuguesa, A colonização atlântica, p. 320. 100 GOULART COSTA, S. Açores: nove ilhas, uma história [Azores: nine islands, one history], p. 18.

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atingir valores máximos no séc. XX. O crescimento demográfico assim como o desemprego e salários baixos foram fatores que desencadearam a primeira onda de emigração açoriana no séc. XVII. Nesta fase, o destino habitual dos emigrantes era o Brasil e a emigração era controlada pela Coroa.

3.2.2. Agricultura e comércio

O clima ameno e húmido açoriano representou desde o início uma vantagem para a agricultura. Também o solo de origem vulcânica permitiu a elevada fertilidade e uma produção variada, especialmente na ilha de São Miguel. Fatores que desaceleravam o desenvolvimento das ilhas eram tempestades, inundações e às vezes, também erupções vulcânicas e terramotos. Primeiro foi necessário assegurar a subsistência dos habitantes e depois os açorianos iniciaram exportações. O nível de produtividade não era o mesmo em todas as ilhas. São Miguel e a Terceira eram as mais ricas, a Graciosa, Santa Maria, Flores e Corvo eram auto-suficientes enquanto que o Pico, o Faial e São Jorge dependiam da importação. Logo no séc. XV começou-se com a produção dos cereais e o trigo tornou se uma planta mais difundida e importante, juntamente com o pastel, usado para fazer tinta. Os campos de cereais e pastel situavam-se principalmente nas ilhas de São Miguel e Terceira. Havia uma tentativa de cultivar também cana-de-açúcar, mas os Açores não podiam competir com os grandes produtores dotados de condições climáticas mais favoráveis, como a Madeira ou São Tomé. Em vez de cana sacarina começou-se a plantar vinha, sobretudo na ilha do Pico mas também na Graciosa, na Terceira e em São Jorge. A qualidade do vinho dos Açores não atingia a do vinho da Madeira, pelo que, a partir do séc. XVII, uma parte do vinho produzido localmente era usada para fazer aguardente.101 Outra atividade importante além de agricultura era a pecuária. Foram colocados animais domésticos nalgumas ilhas antes de se instalarem os primeiros povoadores. Devido à alta qualidade das pastagens de São Jorge, muito cedo a ilha ficou conhecida por ter a melhor carne e leite. Ainda hoje, a fonte mais importante de rendimento para economia dos Açores é a produção dos lacticínios. Os animais eram também usados como meio de transporte e força para atividades agrícolas. Surpreendentemente, apesar de o mar dos Açores ser rico em recursos marinhos (peixe e marisco), a pesca não era muito comum e só começou a ser desenvolvida no séc. XIX, quando começa a caça das baleias (realizada primeiro não pelos

101 GOULART COSTA, S. Açores: nove ilhas, uma história [Azores: nine islands, one history], p. 76.

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Açorianos, mas sobretudo americanos que costumavam a fazer escala na ilha das Flores). Até então, a atividade piscatória era sempre sazonal, artesanal e sem grande importância para a economia.102 Muitos dos povoadores vieram para os Açores do interior de Portugal, sem conhecimentos ou experiência com o mar por isso os Açorianos identificaram-se sempre mais com papel dos lavradores do que pescadores (com exceção de Rabo de Peixe ou São Mateus, lugares ainda hoje orientados à pesca). O comércio organizava-se em três níveis: interno dentro de cada uma das ilhas, comércio inter-ilhas e comércio externo. O comércio interno realizava-se principalmente em tabernas onde se vendia azeite, vinho, pão, aguardente, etc. e nos açougues, estabelecimentos designados para vender carne. Em algumas freguesias eram organizados também mercados semanais cujo objetivo era facilitar as transações de cereais legumes ou gado. Este tipo de comércio começou a desenvolver mais no séc. XVIII. O comércio entre as ilhas reduzia as assimetrias dentro do arquipélago. Até ao final do séc. XVII, o centro do mercado insular foi o facilmente acessível porto de Angra. Mais tarde, também ganharam importância os portos da Horta e de Ponta Delgada, enquanto que as ilhas das Flores e do Corvo, mais isoladas, eram pouco atrativas. Contudo, mais lucrativo foi o comércio externo com Portugal continental, Madeira, Norte de África, Brasil ou Inglaterra – os principais parceiros comerciais. De facto, os Açores apenas podiam guardar um terço do trigo produzido e eram obrigados a exportar o resto para outros territórios portugueses como a Madeira, Mazagão em Marrocos e Portugal continental. Esta obrigação de sustentar outras partes do reino continuou até ao final do séc. XVIII.103 Os comerciantes preferiam vender o trigo no mercado internacional do que dentro de arquipélago ou reino. Esta exportação excessiva, juntamente com outras razões como o depauperamento dos solos ou o incentivo do pastel, resultou em escassez de alimentos (pela primeira vez ocorrida em São Miguel em 1508) e às crises de subsistência na Terceira entre os anos 1605 e 1646.104 Para evitar as fomes, desde o séc. XVI que as câmaras armazenavam parte de produção de trigo e proibiam a sua exportação enquanto as necessidades alimentares locais não estivessem asseguradas.105 Outro cereal produzido no arquipélago além do trigo era a cevada nas ilhas da Graciosa e de Santa Maria, sendo que mais tarde foi introduzido também o milho.

102 GOULART COSTA, S. Açores: nove ilhas, uma história [Azores: nine islands, one history], p. 79–81. 103 Ibid., p. 88–94. 104 DE MATOS, A. T., SERRÃO, J. and DE OLIVEIRA MARQUES, A.H. Nova histó ria da expansão portuguesa, A colonização atlântica, p. 345–346. 105 GOULART COSTA, S. Açores: nove ilhas, uma história [Azores: nine islands, one history], p. 72.

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Desde o séc. XVI que se estabeleceram relações comerciais com a Inglaterra. A exportação para Inglaterra era baseada em três produtos: pastel, vinho e laranja. O primeiro a experimentar com o cultivo de pastel foi o flamengo Guilherme da Silveira na ilha do Faial. O cultivo foi depois transferido e desenvolvido em São Miguel. A produção de pastel atingiu o seu cume no final do séc. XVII.106 No mesmo século entrou no mercado inglês o vinho dos Açores, nomeadamente da ilha do Pico. O vinho picoense era trocado por bacalhau, arroz, tecidos, ferro e outros artigos necessários nas ilhas com auto-suficiência reduzida como era o caso do Pico e do Faial.107 Outros artigos com tradição de produção no arquipélago eram frutas, por exemplo figos, maçãs, pêssegos, romãs, etc. e especialmente citrinos exportados para Inglaterra, legumes, leguminosas e também outros produtos como linho, mel e até azeite. Além de Inglaterra, os Açores negociavam também com França, Holanda ou Alemanha e mais tarde também com o Brasil ou a América do Norte. O arquipélago deveu o seu sucesso principalmente à sua localização que se tornou conveniente, sobretudo depois do descobrimento da América e do caminho marítimo para a Índia. Os Açores, sendo a única terra quase no meio de oceano (com exceção da Madeira), eram passagem obrigatória para todas as viagens nas rotas transatlânticas. Os ventos e correntes marítimos também obrigavam as navegações, incluído as de Cristóvão Colombo e de Vasco de Gama, a fazer escala de retorno do Novo Mundo ou da Índia, numa destas ilhas, habitualmente a ilha da Terceira. Ali procuravam alimentos, tratamento de doentes, reparação dos navios e informações. As navegações que transportavam especiarias e metais preciosos também cruzavam pelas águas insulares, o que as tornava interessantes para os corsários e piratas.

3.2.3. Igreja

Antes de serem descobertos pelos portugueses, os Açores eram desertos e sem estruturas religiosas. Isso mudou durante expansão portuguesa ultramarina, quando todos os lugares descobertos, incluindo os Açores, foram doados à Ordem Militar de Cristo com sede em Tomar e administrada, como já se disse, pelo Infante D. Henrique, que era também o Donatário das ilhas. A doação à Ordem de Cristo foi confirmada na bula Inter Caetera no dia 13 de março de 1455 pelo Papa Calisto III. Durante o governo temporal da Ordem de Tomar, era o Grão-Mestre, também designado como administrador ou Governador da Ordem, quem

106 DE MATOS, A. T., SERRÃO, J. and DE OLIVEIRA MARQUES, A.H. Nova histó ria da expansão portuguesa, A colonização atlântica, p. 348. 107 GOULART COSTA, S. Açores: nove ilhas, uma história [Azores: nine islands, one history], p. 95.

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tinha a responsabilidade da construção e preservação das igrejas nas ilhas, a nomeação dos sacerdotes e o sustento económico. O Vigário de Tomar assegurava a estrutura religiosa do arquipélago até 1514, quando o rei D. Manuel I solicitou a Roma a fundação do bispado do Funchal. Desde então, os Açores eram submetidos espiritualmente à diocese madeirense. O primeiro bispo de Funchal, D. Diogo Pinheiro, nomeou em 1523 o vigário de Angra, João Pacheco, como visitador das ilhas e dois anos mais tarde nomeou Frei Marcos de Sampaio como o seu delegado na ilha de São Miguel.108 Devido à falta de documentação desta época é difícil determinar a cronologia de criação das paróquias e unidades religiosas. A primeira ilha onde se começou com a organização das paróquias foi provavelmente São Miguel, ainda nos anos setenta do séc. XV. Na década seguinte, foram criadas paróquias na ilha Terceira e, sucessivamente com o desenvolvimento da povoação, também nas restantes ilhas.109 As igrejas matrizes da Ribeira Grande em São Miguel e Praia na Terceira foram sagradas pelo bispo D. Duarte durante a sua visita em 1517.110 Esta situação de dependência da diocese do Funchal durou até 1534. Neste ano, o papa Paulo III, através da bula Aequum reputamus, fundou a diocese de Angra, subordinada ao Arcebispado do Funchal (criado em 1433)111. Como sede do bispado foi escolhida a Sé de São Salvador e D. Agostinho Ribeiro tornou-se o primeiro bispo. As duas dioceses, do Funchal e de Angra, pertenciam até 1550 ao arcebispado de Lisboa.112 A diocese de Angra foi muito difícil de administrar por causa das condições geográficas do arquipélago. Segundo o concílio de Trento113, os bispos deveriam visitar as ilhas individuais anualmente ou bienalmente, mas este preceito foi nem sempre possível respeitar. Um bom exemplo é o caso da ilha de São Miguel, que desde o povoamento até ao final do séc. XIX, foi visitada pelo bispo apenas três vezes.114 Por isso foram inventados outros mecanismos para administração e exercício do poder dos prelados. Um deles foi a redação de cartas pastorais, através das quais eram divulgadas ordens e apelos a devoções e exercícios espirituais. Estas cartas eram enviadas às paróquias e eram lidas nas missas de domingo.

108 GOULART COSTA, S. Açores: nove ilhas, uma história [Azores: nine islands, one history], p. 129–132. 109 DE MATOS, A. T., SERRÃO, J. and DE OLIVEIRA MARQUES, A.H. Nova histó ria da expansão portuguesa, A colonização atlântica, p. 494. 110 Ibid., p. 496. 111 NEPOMUCENO, R. História da Madeira: uma visão actual, p. 33. 112 GOULART COSTA, S. Açores: nove ilhas, uma história [Azores: nine islands, one history], p. 132–133. 113 O concílio de Trento foi o concílio ecumênico da igreja católica realizado entre 1545 e 1563 e convocado pelo Papa Paulo III. O concílio surgiu como reação á Reforma Protestante e teve como objetivo assegurar a unidade da fé e disciplina. 114 GOULART COSTA, S. Açores: nove ilhas, uma história [Azores: nine islands, one history], p. 135.

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Outro mecanismo consistiu na criação de uma ou mais ouvidorias por ilha e transferência de algumas responsabilidades episcopais para os ouvidores, os representativos regionais. As ilhas foram divididas em ouvidorias em 1481 por bula do Papa Sixto IV.115 A primeira ordem religiosa que chegou aos Açores foi a dos franciscanos. Estes acompanharam os primeiros povoadores e instalaram-se na ilha de Santa Maria em 1446. Durante o séc. XVI construíram 6 conventos nas ilhas mais povoadas: três em São Miguel, dois na Terceira, um em Santa Maria e um no Faial. Além dos franciscanos, foi registada a presença de mais três Ordens – os Eremitas de Santo Agostinho fundaram três conventos em Angra, Praia e Ponta Delgada entre anos 1558 e 1618, os Carmelitas Calçados construíram um na Horta em 1649 e três colégios da Companhia de Jesus, uma ordem mais conhecida como jesuítas, foram fundados em Angra, Ponta Delgada e Horta entre 1570 e 1648. Os jesuítas divulgavam a sua fé através do serviço missionário nos territórios distantes e também contribuíram muito para a educação no espaço insular. Mais tarde, foram também fundados conventos femininos pelas clarissas, segunda ordem franciscana. Em total, foram criados 15 conventos – seis na Terceira, seis em São Miguel, dois no Faial e um em São Jorge. No séc. XVII, as Concepcionistas fundaram dois conventos – um em Angra e outro em Ponta Delgada.116 Era comum para a elite açoriana tentar conduzir parte dos descendentes para uma vida de castidade a fim de proteger os patrimónios familiares e também por causa das devoções e ideais religiosos como a pureza feminina. Por isso, muitos jovens nobres foram obrigados a entrar em mosteiros ou conventos. O ingresso na vida religiosa era acessível apenas aos filhos das famílias nobres por causa das exigências financeiras. As mulheres que cresciam em conventos aprendiam a doutrina católica, mas também a ler, escrever, cozinhar, costurar, etc. Geralmente, até ao séc. XVIII os açorianos eram profundamente crentes e praticavam a sua religião com devoção, festejavam o Natal e Páscoa, frequentavam as missas, exercitavam caridade através das misericórdias, etc. A primeira misericórdia foi construída em Angra, provavelmente em 1499117, em frente ao porto onde os tripulantes que retornavam das viagens da Índia ou América procuravam serviços hospitalares. O Santo Ofício visitou as ilhas açorianas, nomeadamente São Miguel, Terceira e Faial, três vezes nos anos 1575, 1592 – 93 e 1619 – 20. Durante estas visitas, a inquisição acusou

115 DE MATOS, A. T., SERRÃO, J. and DE OLIVEIRA MARQUES, A.H. Nova histó ria da expansão portuguesa, A colonização atlântica, p. 495. 116 GOULART COSTA, S. Açores: nove ilhas, uma história [Azores: nine islands, one history], p. 138–141. 117 DE MATOS, A. T., SERRÃO, J. and DE OLIVEIRA MARQUES, A.H. Nova histó ria da expansão portuguesa, A colonização atlântica, p. 515.

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619 pessoas das quais apenas 21 foram processadas, o que significa que apenas 1,3% dos habitantes foram denunciados.118

3.2.4. Cultura e educação

As primeiras escolas nos Açores eram ligadas à Igreja, nomeadamente com a ordem dos franciscanos. Todavia, uma rede mais organizada de ensino começou a formar-se com o estabelecimento da diocese. O primeiro documento do ano 1535 defina o pessoal da catedral, entre o qual um mestre-escola. Estes mestres ensinavam provavelmente gramática. Mais tarde, começou também o ensino da música e canto e latim aos clérigos. A rede escolar foi completada com a criação do colégio dos jesuítas em Angra, dotado pela coroa. A orientação e inspeção do ensino e nomeação dos mestres eram competências do bispo. Aconteceram algumas disputas entre os jesuítas, franciscanos e gracianos pelo ensino nas cidades açorianas, mas o colégio de Angra foi considerado a escola secundária mais prestigiada dos Açores. O ensino superior não existia no arquipélago, por isso todos os que desejavam estudar na universidade tinham de viajar para o continente ou para o estrangeiro. A maioria dos estudantes açorianos frequentavam as Universidades de Coimbra, Évora e Salamanca.119 Apesar de todos os impedimentos e dificuldades existentes nos Açores e também da inexistência da imprensa, alguns açorianos conseguiram integrar-se na vida intelectual portuguesa, por exemplo Frei João Estaço, D. Luís Figueiredo de Lemos e muitos outros padres e frades jesuítas. Outro ramo muito desenvolvido nos Açores foi a historiografia. O cronista mais importante dos Açores foi Gaspar Frutuoso (1522 – 1591) matriculado na Universidade de Salamanca e conhecido pelo seu livro Saudades de Terra.120 Os Açores, tantas vezes visitados por navios estrangeiros, foram facilmente influenciados e inspirados pelas correntes artísticas dominantes na Europa da época. Os objetos decorativos importados como azulejos, imagens, pinturas, móveis, etc. também serviam como modelo para os artistas açorianos. O estilo mais significativo nos Açores foi o maneirismo, mas a estética tardo-gótica também influenciou muito a organização do espaço urbano em Angra e outras cidades. Na arquitetura, dominavam edifícios religiosos de estilo tardo-gótico ou manuelino, construídos com materiais locais – basalto negro em contraste com pedra branca. Outro material frequentemente usado era a madeira de cedro utilizada

118 GOULART COSTA, S. Açores: nove ilhas, uma história [Azores: nine islands, one history], p. 144. 119 DE MATOS, A. T., SERRÃO, J. and DE OLIVEIRA MARQUES, A.H. Nova histó ria da expansão portuguesa, A colonização atlântica, p. 517–520. 120 Ibid., p. 520–523.

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como base de pinturas ou esculturas. Na escultura, destaca-se o terceirense Sebastião Rodrigues, autor do Senhor Jesus da Misericórdia de Angra. O estilo barroco nos Açores foi usado sobretudo nos interiores de igrejas e nos altares, mas também algumas fachadas de Ponta Delgada ou Angra foram inspiradas por esta estética. Todavia, o único edifício claramente barroco é a igreja de Misericórdia da Ribeira Grande.121

121 DE MATOS, A. T., SERRÃO, J. and DE OLIVEIRA MARQUES, A.H. Nova histó ria da expansão portuguesa, A colonização atlântica, p 527–533.

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4. Comparação

Para resumir os capítulos anteriores, destacaremos agora as similaridades e diferenças principais entre a Madeira e os Açores. A localização no meio do oceano, a origem vulcânica e as condições climáticas semelhantes são características básicas que ambos os arquipélagos partilham. Também o descobrimento da Madeira e dos Açores aconteceu quase ao mesmo tempo, com uma diferença de aproximadamente 10 anos. Nenhum dos arquipélagos foi habitado antes de colonização dos portugueses. Apesar de as ilhas terem muito em comum, ao longo dos anos manifestaram se certas diferenças na sua colonização. Apenas duas ilhas do arquipélago da Madeira são habitáveis – a ilha principal da Madeira, situada na proximidade imediata da mais pequena, Porto Santo, enquanto que os Açores são compostos por nove ilhas, entre quais a distância é mais significante. Por isso, os portugueses não descobriram todas as ilhas no mesmo ano e a povoação dos Açores foi mais lenta. A atividade vulcânica e sísmica que acompanhava o povoamento dos Açores também abrandava e complicava este processo, enquanto que na Madeira a atividade vulcânica, que cessou há 6000 anos122, não influenciou o povoamento de modo nenhum. Além disso, a Madeira teve a vantagem de ter sido descoberta primeiro e de ser localizada mais perto do continente, pelo que se tornou mais popular do que os Açores para os emigrantes portugueses do continente. A Madeira serviu como modelo para os Açores em muitas áreas, principalmente em termos de administração. O sistema das capitanias ensaiado na Madeira foi posteriormente usado nos Açores e noutras colónias e as cartas de doações foram também copiadas. Ambos os arquipélagos tinham os mesmos Donatários (Infante Henrique e os seus sucessores) e todas as ilhas foram subordinadas à Coroa portuguesa. A distribuição das terras foi realizada de acordo com a Lei das Sesmarias e com a Lei Mental, assim na Madeira como nos Açores. Os mecanismos da Coroa portuguesa para incentivar povoação eram iguais em ambos os arquipélagos (benefícios fiscais, etc.). Depois da distribuição das terras foram criados municípios. Estes eram mais facilmente controlados pela Coroa na Madeira do que nos Açores. A composição da sociedade nos dois arquipélagos era dividida entre nobreza, clero e povo. As elites madeirense e açoriana entrelaçaram-se no início do povoamento dos Açores

122 Instituto das Florestas e da Conservação da Natureza, IP-RAM [online]. Disponível em: https://ifcn.madeira.gov.pt/biodiversidade/fauna-e-flora/flora/a-madeira.html [cit. 15.4.2019].

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através dos casamentos. A Madeira estava ligada aos Açores também pelo comércio – importação de cereais durante crises de subsistência em troca de outros produtos. A agricultura da Madeira era orientada à produção de açúcar e vinho enquanto nos Açores o cultivo de cana-de-açúcar não provou ser muito rentável. Em vez disso, os açorianos especializaram-se em criação de gado, no cultivo de cereais e, parcialmente, também do vinho. A agricultura na Madeira exigia muita mão-de-obra barata para trabalhar nos canaviais e engenhos, o que redundou na importação de escravos. Estes estavam presentes também nos Açores, mas em número menor e usados maioritariamente como trabalhadores domésticos e trabalho nas terras de sesmaria.123 A estrutura religiosa estabeleceu-se em ambos os arquipélagos seguindo o mesmo sistema de dioceses e paróquias que funcionava no continente. As ordens religiosas como os franciscanos ou os jesuítas instalaram-se nas ilhas logo após o início de povoamento e asseguravam, além de espiritualidade, também a educação. Os arquipélagos, como já foi dito, foram nos primeiros anos, até à criação das dioceses separadas, subordinadas à Ordem de Cristo. Depois, durante algum tempo os Açores foram incluídos na diocese do Funchal. Em termos de cultura, os açorianos e os madeirenses desenvolveram ao longo dos anos o seu próprio folclore e tradições, tal como todas as regiões de Portugal continental, baseadas na herança cultural e religião que trouxeram do continente, mas também inspiradas pelos outros grupos étnicos que se encontravam nas ilhas. As expressões de folclore e arte específicas para as ilhas podem ainda hoje ser observadas na arquitetura, cozinha, lendas, música, festas ou trajes tradicionais.

123 VAZ DO REGO MACHADO, Margarida. Escravos e libertos nos Açores. Uma abordagem a partir dos registos paroquiais das matrizes de Ponta Delgada e da Ribeira Grande (1540-1814). Disponível em: https://drive.google.com/file/d/0B4lWYxsshwITNjYxMmI5NTMtYzMwOC00YzQxLWFiZGEtZTBjNmUxOT QxNGMy/view?hl=en [cit. 15.4.2019].

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Conclusão

Nos capítulos anteriores tentámos analisar em detalhe o decurso do povoamento da Madeira e dos Açores individualmente e comparar o processo de colonização destas ilhas. Uma diferença entre estes arquipélagos, ainda não mencionada e que complicou o trabalho dos historiadores, é a quantidade escassa de documentação preservada dos Açores em comparação com a da Madeira. Identificámos as principais similaridades entre os dois arquipélagos atlânticos – localização, condições geoclimáticas, período de descobrimento, ausência de habitantes indígenas ou iguais mecanismos de povoação. A emigração do povo português para os Açores não foi tão intensa em comparação com a Madeira por causa de algumas desvantagens em termos de composição do arquipélago (mais ilhas dispersas num espaço maior), distância de Portugal continental, ordem do descobrimento do arquipélago e a atividade vulcânica. Apesar dos problemas que os Açores enfrentavam, muitos emigrantes do continente decidiram continuar a viagem e instalar-se no arquipélago mais distante após fazerem escala na Madeira. Esta localização tornou-se mais tarde estratégica para o comércio, a navegação marítima e depois também aérea. Ambos os arquipélagos começaram primeiro com cultivo de cereais. A Madeira tornou- se depois exportadora de açúcar e vinho enquanto os Açores dedicavam-se mais à produção de trigo, pastel, laticínios e carne. As trocas de produtos realizavam-se entre as ilhas, com o continente e com estrangeiros nos portos insulares. Estes portos serviam também como portões de entrada para influências culturais da Europa, África e América. Em conclusão, podemos afirmar que os dois arquipélagos atlânticos aos quais é dedicado este trabalho desempenharam um papel imprescindível na história portuguesa especialmente durante a era dos descobrimentos. Os Açores e a Madeira partilham até certo ponto uma história comum e ao longo dos anos formaram uma relação estreita, ainda que cada um deles tenha preservado a sua identidade única.

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