Universidade Federal Da Bahia Instituto De Humanidades, Artes E Ciências Professor Milton Santos Programa Multidisciplinar De Pós-Graduação Em Cultura E Sociedade
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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA INSTITUTO DE HUMANIDADES, ARTES E CIÊNCIAS PROFESSOR MILTON SANTOS PROGRAMA MULTIDISCIPLINAR DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CULTURA E SOCIEDADE ARTIVISMOS DAS DISSIDÊNCIAS: COLABORAÇÕES INTERSECCIONAIS BAIANAS AO TEATRO NEGRO por DEIVIDE SOUZA DE JESUS Orientador: Prof. Dr. LEANDRO COLLING SALVADOR, 2019 UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA INSTITUTO DE HUMANIDADES, ARTES E CIÊNCIAS PROFESSOR MILTON SANTOS PROGRAMA MULTIDISCIPLINAR DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CULTURA E SOCIEDADE ARTIVISMOS DAS DISSIDÊNCIAS: COLABORAÇÕES INTERSECCIONAIS BAIANAS AO TEATRO NEGRO por DEIVIDE SOUZA DE JESUS Orientador: Prof. Dr. LEANDRO COLLING Dissertação apresentada ao Programa Multidisciplinar de Pós-Graduação em Cultura e Sociedade, do Instituto de Humanidades, Artes e Ciências Professor Milton Santos, como parte dos requisitos para obtenção do grau de Mestre. SALVADOR, 2019 Ficha catalográfica elaborada pelo Sistema Universitário de Bibliotecas (SIBI/UFBA), com os dados fornecidos pelo(a) autor(a). JESUS, DEIVIDE SOUZA DE ARTIVISMOS DAS DISSIDÊNCIAS: COLABORAÇÕES INTERSECCIONAIS BAIANAS AO TEATRO NEGRO / DEIVIDE SOUZA DE JESUS. -- Salvador, 2019. 99 f. Orientador: LEANDRO COLLING. Dissertação (Mestrado - Programa Multidisciplinar de Pós-Graduação em Cultura e Sociedade) -- Universidade Federal da Bahia, Instituto de Humanidades, Artes e Ciências, 2019. 1. ARTIVISMO. 2. DISSIDÊNCIAS SEXUAIS. 3. TEATRO. 4. INTERSECCIONALIDADE. 5. RAÇA. I. COLLING, LEANDRO. II. Título. DEIVIDE SOUZA DE JESUS ARTIVISMOS DAS DISSIDÊNCIAS: COLABORAÇÕES INTERSECCIONAIS BAIANAS AO TEATRO NEGRO. Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa Multidisciplinar de Pós-Graduação em Cultura e Sociedade (POSCULTURA), do Instituto de Humanidades, Artes e Ciências Professor Milton Santos, da Universidade Federal da Bahia, como requisito obrigatório para a obtenção do título de Mestre, defendida e aprovada em 05 de agosto de 2019. BANCA EXAMINADORA ________________________________________________________________ Prof. Dr. Leandro Colling - (Poscultura – UFBA) (Orientador) _______________________________________________________________ Prof. Dr. Adalberto Santos - (Poscultura – UFBA) (Avaliador Interno) ________________________________________________________________ Prof. Dr. Matheus Santos - UNEB (Avaliador Externo) Dedico esta dissertação à todas as minhas ancestrais (des)VIADAS e PRETAS, que vieram antes e que virão depois de mim! AGRADECIMENTOS Chegar nos agradecimentos desta dissertação gera um sentimento de dever cumprido. Eu preciso agradecer imensamente a mulher que nunca me deixou fraquejar, mesmo nos momentos em que eu pensei em desistir! Oyá Mesi, esta dissertação não seria possível sem seus ventos soprando a direção em que eu deveria seguir. Obrigado por me abraçar nos momentos de dor e não deixar eu cair e pela segunda família com a qual me presenteou! EPAHEY! É quase impossível escrever estes agradecimentos sem as lágrimas no rosto. Para quem vem de uma família pobre, o único a conseguir entrar em uma universidade e a chegar no mestrado, sabe o peso que isso tem. Para chegar até aqui, minha família abdicou dos seus sonhos para que eu pudesse ter uma educação de base minimamente forte! Agradeço a minha mãe Maria de Lourdes por tantas trouxas de roupas lavadas para que eu tivesse a chance de cursar até a alfabetização no tempo correto, já que, na época, o município só oferecia educação gratuita a partir da primeira série. Tenho o maior orgulho de ser filho de uma doméstica. Minha irmã Rose, que me criou como se eu fosse seu filho, com seu jeito bruto, mas uma leoa para nos defender. Aos meus irmãos Bira, Dudu e Nildes, que sempre foram uma referência de força para minha vida, à minha sobrinha Maise, obrigado por tudo, você é incrível, não esquece disso. Ao meu sobrinho Jean, pelos anos morando juntos e pela força nas horas em que o barril era dobrado. Amo todos vocês e seria muito mais difícil sem poder contar com cada um de vocês. Ao Núcleo de Pesquisa e Extensão em Culturas, Gêneros e Sexualidade – NuCuS, que foi minha casa e me apresentou pessoas que sempre farão parte da minha vida! Carla Freitas, pelas horas de desabafos e lutas constantes, essa Oxum que não pensa duas vezes em correr para a batalha, é um prazer lutar ao seu lado. Cacau, presente mais iluminado que Dan me deu, Gilmaro Nogueira, por sempre apostar no meu crescimento e pelas caminhadas cantando Daniela Mercury. Mayana Rocha, o que seria de mim sem nosso cuirlombo? Obrigado preta! Ramon Fontes, a pisciana mais afetiva que tive o prazer de amar. Além de Kleber, Marilu, Denise, Luana, Léo Stofells, Tiago, Júlio, Vivi, Milena, Troi, Fábio, Alexandre, Léo Coelho, Dandan e todas as cuzetes. Um agradecimento especial aqui para duas pessoas que seguraram minha onda durante esses dois anos de mestrado. A rainha de Angola Nzinga, mais conhecida como Dofona de Iemanjá, aqui é muita treta e amor na mesma proporção (às vezes não). Rodrigo Márcio, pelos anos de cumplicidade, por acreditar em prestarmos juntos a seleção para o mestrado. Foram horas revisando nossos projetos e todas as mudança que tivemos que carregar, que bom que foi contigo. À CAPES, pelos meses de bolsa de estudos. Isso foi fundamental para que eu pudesse encerrar esse ciclo. Ao Coletivo das Liliths, em especial a Rick Andrade, Xãn Marsall e Georgenes Isaac, por toda a disposição de ler, me encontrar e construir essa escrevivência. Também não poderia deixar de agradecer a Daniel Arcades, Thiago Romero e Sulivã Bispo, por essas trocas que foram profundas em mim. À minha família Bichester, Lu Ceta, Josy Lima, Atila Barros, Leona, Jair, Rodrigo, Sammy, Gerônimo, Edmilson Junior (in memorian), Sebastian Junior, Renata, Evaristo, Melyssa, Charles e tantas outras bichas, sapatões e travestis que são parte de minha família. Aos professores Matheus Santos e Adalberto Santos, por aceitarem compor essa banca ENEGRECIDA. Ao professor Leandro Colling, por topar entrar nessa empreitada junto comigo, mesmo sabendo das dificuldades de orientar uma pessoa preta diante dos vários percalços que essas existências enfrentam, a falta de acesso e a precarização da educação. Tinha que ser você Oyasi, a me conduzir para o mestrado. Foi você também que me ensinou a fazer o meu primeiro artigo e estava lá na apresentação no primeiro congresso. Em mim há um sentimento de gratidão por esses onze anos de des+orientação. Não foi à toa que Oyá Mesi nos tornou irmãos! Olorum modupé, Iaó egbon mi? Não poderia deixar de agradecer todo esse aprendizado aos homens de minha vida: Xangô e Oxalá, que forraram a cama para eu deitar e me levantaram todas as manhãs no ano em que fiquei sem bolsa e deprimido. Que a fé, confiança e amor que eu tenho por esses orixás iluminem vocês abundantemente! Oxalá bukun fun o RESUMO Esta dissertação analisa a produção teatral do Coletivo das Liliths e do Teatro da Queda, de Salvador, Bahia, Brasil. Através da história desses dois grupos, em especial dois de seus espetáculos recentes (Xica e Rebola, respectivamente), em diálogo com referenciais bibliográficos sobre artivismo, dissidências sexuais e de gênero, feminismo negro e sobre a história do Teatro Negro, defendemos o argumento de que essas produções ampliam o Teatro Negro ao tratar, de forma intensa e explícita, as intersecções entre raça, gênero e sexualidade. A dissertação aponta os avanços trazidos por essa perspectiva interseccional e reflete sobre alguns limites das representações realizadas em duas personagens presentes nas peças teatrais analisadas. Palavras-chave: artivismo; teatro negro; dissidências sexuais e de gênero ABSTRACT This dissertation analyzes the theatrical production of the Coletivo das Liliths and Teatro da Queda, from Salvador, Bahia, Brazil. Through the history of these two groups, especially two of their recent performances (Xica and Rebola, respectively), in dialogue with bibliographical references on artivism, sexual and gender dissent, black feminism and the history of Black Theater, we defend the argument of that these productions broaden the Black Theater by explicitly and intensely addressing the intersections between race, gender and sexuality. The dissertation points out the advances brought by this intersectional perspective and reflects on some limits of the representations made in two characters present in the plays analyzed. Keywords: artivism; black theater; sexual and gender dissent SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO 11 1.1 COMO CHEGUEI AQUI 11 1.2 CAMINHOS METODOLÓGICOS 13 1.3 DESVENDANDO OS CAPÍTULOS 15 2. PIMENTA MADURA QUE DÁ SEMENTE: artivismos dissidentes 18 2.1 A PRIMEIRA ENTRE NÓS! Coletivo das Liliths 18 2.2 TEATRO DA QUEDA 22 2.3 APROXIMAÇÕES E DIFERENÇAS ENTRE OS DOIS GRUPOS 29 2.3.1 ARTIVISMO 29 2.3.2 EXPERIÊNCIAS DE VIDA NOS PALCOS 31 2.3.3 MERCADO 33 2.3.4 POLÍTICA IDENTITÁRIA 34 3. O NASCIMENTO: as filhas pretas de Lilith 42 3.1 KOANZA AUANDÊ 44 3.2 XICA MANINCONGO 52 3.3 XICA, KOANZA E EU 57 4. UMA ESCRITA DE CURA: interseccionalidade, um caminho possível e difícil 69 4.1 UMA RÁPIDA CONTEXTUALIZAÇÃO 69 4.2 AS DIFICULDADES EM REPRESENTAR A INTERSECCIONALIDADE 73 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS 88 REFERÊNCIAS 91 1. Introdução A partir de agora considero tudo blues O samba é blues, o rock é blues, o jazz é blues O funk é blues, o soul é blues, eu sou Exu do Blues Tudo que quando era preto era do demônio E depois virou branco e foi aceito, eu vou chamar de blues Baco Exu do Blues 1.1 Como cheguei aqui Entrar na universidade, para uma pessoa preta como eu, geralmente é um processo de conquista, afinal, sempre dizem que a gente precisa estudar para ser alguém na vida. Concordo em parte com essa afirmação, porque ter acesso ao conhecimento acadêmico nos abre muitas portas e possibilidades de ser mais crítico com tudo o que acontece ao nosso redor. Mas isso só é possivel quando também nos são dadas oportunidades para que esse caminho seja trilhado de maneira segura e com condições suficientes para que possamos desempanhar um bom trabalho. Esse não foi meu caso. Quando saí do ensimo médio, aos dezoito anos, fui direto para o mercado de trabalho, por várias questões, uma delas, e a que mais pesou, foi a minha orientação sexual.