EXCLUSIVO REPORTAGEM A O REGRE B A ADOPÇÃO N XANANA D A “Não sou o herói As crianças que só D que me pintam” os estrangeiros querem E S TIN SSO DOS POLICE G F O TO G R A FA D A N A IN www.visao.pt TIM Nº 746 · 21 de Junho 2007 ID A Continente e ilhas: ¤ 2,75 D v E

Bateu Belmiro na PT, travou Jardim Gonçalves no BCP, impôs a sua colecção de arte no CCB. Agora quer o Benfi ca... E NINGUEM´ PARA´ O BERARDO? Entrevista e história de vida O QUE DIZEM BAGÃO FÉLIX, LUÍS NAZARÉ, MANUEL ALEGRE, LEONOR PINHÃO, EDITE ESTRELA

OFERTA POSTER GIGANTE ‘SALVAR A TERRA’ V Economia

E NINGUÉM PARA´ O BERARDO? Bateu Belmiro, na PT, travou Jardim Gonçalves, no BCP, impôs a sua vontade ao Governo, no caso da colecção de arte no CCB. Agora, Joe Berardo, o milionário da moda, surpreendeu o País ao anunciar a intenção de se tornar dono do «Glorioso». E, afi nal, para quê? POR FILIPE LUÍS*

sonho deste homem bem po- 60% das acções encarnadas, ao preço de 3,5 dia ser o de tornar-se a perso- euros cada. Ou perto de 45 milhões, na segun- nagem real de uma velha pia- da versão da oferta (compra de 85 por cento). da. À janela da Basílica de São Um amendoim, no imenso saco de vitualhas Pedro, no Vaticano, o Papa de Joe Berardo. Ainda um amendoim, mesmo abençoa os peregrinos. Mas, que o montante suba a 50 milhões, valor dos Odesta vez, Bento XVI está acompanhado por 100% que a CMVM (Comissão do Mercado um homem vestido de preto. E, na praça, um de Valores Mobiliários) quer ver em cima da turista japonês pergunta para o lado: «Quem é mesa. Na véspera do anúncio da OPA, Berardo aquele velhinho, de branco, vendeu 5 milhões de acções ao lado do Joe Berardo?» da PT, o que lhe valeu um Notoriedade e reconhe- encaixe de 55 milhões. Ain- cimento são, o comendador da sobram uns patacos para madeirense sabe-o bem, uma comprar um jogador decen- forma de poder. Quem, em te. A sua fortuna é de quase , é mais conhecido 2 mil milhões de euros. Pala- do que o primeiro-ministro? vras para quê? O presidente do Benfi ca. Por Comprando o Benfi ca, Be- maioria de razão... o dono do SE O BERARDO, EM rardo compra uma «nação». Benfi ca. Quanto vale a possi- ‘ Reforça o acesso a todos os bilidade de gerir tempos de VEZ DE COMPRAR poderes, obtém o reconhe- antena, em horário nobre, QUADROS, COMPRAR cimento nacional e inter- ter a capacidade de abrir te- nacional, ganha assento em lejornais, parar o País, deixar JOGADORES, POR inúmeras cadeiras ofi ciais, em suspenso 6 milhões de MIM, FICO TODO transforma-se, se quiser, e almas em Portugal, mais os se ganhar títulos, numa es- outros milhões na diáspora CONTENTE... pécie de líder popular. Resta lusófona da Europa, da Amé- João Botelho, realizador de cinema saber se Berardo, tornado rica e da África, manter em ’ excêntrico, gastará com esta respeito autoridades civis, políticas e judiciais «amante» de luxo o que ela lhe exigir – ou se e, ainda por cima, com habilidade e bom sen- só está ali para ganhar algum. À VISÃO, o co- so, tornar-se uma fi gura realmente popular? mendador reconheceu que não está lá para

Trinta e um milhões. Precisamente o valor de perder dinheiro. Já doou a capela ao Benfi ca, MONTEIRO PEDRO

60 v 21 DE JUNHO DE 2007 REFORMA? QUANDO MORRER... SE‘ EU MORRER Joe Berardo ’

21 DE SETEMBRO DE 2008 v 61 ECONOMIA OPA

Com a mulher, Carolina Outra colecção Logo após ser agraciado, pelo então Os automóveis de estimação, reunidos na Presidente Ramalho Eanes, com a Ordem sua garagem da África do Sul de Santiago FOTOS: RUI MAROTE RUI FOTOS:

no tempo de Manuel Damásio – embora não não tivesse ele nascido a 4 de Julho. Para trás, perto de Boksburg. O amigo Gonner, um mi- saiba «se os santos ainda lá estão». Para bom deixava um emprego de colocação de rótulos neralogista da Anglo-American, prestava-lhe entendedor... em garrafas, na Wine... assistência técnica. Sem meios para desenvol- Forneceu legumes às minas de ouro. Mas verem a «produção», aceitaram a sociedade Transformava areia em ouro trocou o negócio pelo de garimpeiro de fato de Joe, já então detentor de um razoável pé Midas, eis o que já lhe chamaram. E, de fac- e gravata, ainda na pré-história da mudança de meia. De trabalhador agrícola a porteiro de to, quando chegou à África do Sul, com uma para a actual fatiota preta. Um amigo sul-afri- boite, a ganhar 450 rands por mês, Berardo ex- mão à frente e outra atrás, com 61 perimentara quase tudo. Meteu- rands no bolso (6 euros à cotação -se no negócio de caixas de cartão actual), José Manuel Rodrigues e sacos de ráfi a para embalar os Berardo, hoje casado com Caro- SE JOE BERARDO INVESTE, legumes que passou a fornecer à lina Conceição, pai de dois fi lhos, É‘ PARA TENTAR INFLUIR despensa mineira. Foi homem da Renato e Cláudia, agraciado, por noite, chegou a possuir um bar, o Ramalho Eanes com a Ordem de E TIRAR CONTRAPARTIDAS 505, em Hillbrow. E teve os seus Santiago, agora com 62 anos, mas Manuel Alegre, poeta e deputado problemas. Em Agosto de 1967, a então com 19, não imaginaria que ’ sua fi cha foi registada na esquadra haveria de transformar areia em de Hospital Hill Police Station, de outro. Pois bem: foi, literalmente, o que ele cano, de origem portuguesa, Tony Caldeira, Joanesburgo. Alegadamente, era acusado de fez. Moço espigadote, inscrito nos serviços conta como ele começou a extrair ouro do porte ilegal de arma. de imigração como trabalhador agrícola, sem entulho acumulado à entrada das minas de Os erros da juventude ajudaram a moldar falar uma palavra de inglês, começava a dar ouro. Caldeira tentara já a experiência, num um carácter aventureiro, próprio de um self forma a uma espécie de sonho americano, ou laboratório caseiro, numa quinta de família, made man apostado em vencer na vida. Dos le- Milionários e doidos... pela bola Saiba quem são os ricos apaixonados pelo futebol, que clube compraram, quanto gastaram e quando

Malcolm George Gillet Roman Eggert Randy Lerner, Glazer, EUA e Tom Hicks, EUA Abramovich, Magnusson, EUA MANCHESTER UNITED LIVERPOOL Rússia Islândia ASTON VILLA 1,1 mil milhões de euros 321 milhões de euros CHELSEA WEST HAM 106 milhões de euros Maio de 2005 Fevereiro de 2007 163 milhões de euros 153 milhões de euros Agosto de 2006 Julho de 2003 Novembro de 2006

62 v 21 DE JUNHO DE 2007 Com Amizade com o chefe da diplomacia sul-africana, do tempo do apartheid

Primeiras compras Uma das peças pioneiras da que viria a ser a valiosa Colecção de Arte No Marítimo Contemporânea, na sua casa No início dos anos noventa, foi presidente da África do Sul da Assembleia Geral do clube madeirense gumes ao Rolls Royce dourado foi um fósforo. milhões. Uma fortuna de 9 milhões de con- colecção de arte contemporânea. Desejoso Tal como se propõe «ajudar o Benfi ca», o bom tos, dinheiro contado na África do Sul, descia de protagonismo, fez um spot televisivo para Berardo também ajudou o Governo sul-afri- para menos de meio milhão. Algo se estava o American Express, tornando-se o primeiro cano, retirando gratuitamente as areias da en- a passar. Era Berardo que zarpava. Os seus milionário conhecido a sujeitar-se a isso. Me- trada das minas. E as areias deram ouro. Muito amigos políticos perdiam poder. O país dos nina dos seus olhos tornou-se, também, a área ouro. O Midas português tornou-se lendário. rands e dos afrikaners tornava-se perigoso. dos vinhos – das poucas onde mantém activi- Tu cá tu lá com a elite branca da África do Sul, O seu dinheiro mudava de local. Os seus ne- dade produtiva... – com a compra da Quinta da fotografado com o poderoso chefe da diplo- gócios de alvo. Bacalhoa, na Península de Setúbal. Recente- macia sul-africana, Pik Botha, de quem foi O antigo jovem madeirense, portador de mente, e em parceria com a casa francesa Ro- amigo pessoal, alegado protégé de um minis- todos os sonhos, mal se recordava dos tempos thschild, abriu um negócio de enoturismo em tro da Agricultura (que terá comprado minas, em que cultivava as hortenses do Colégio Estremoz, na Herdade das Carvalhas, berço tendo Berardo como alegado testa de ferro) e Infante D. Henrique, se encostava ao do conhecido Quinta do Carmo. Com de um judeu, homem forte da bolsa de Joanes- sacho e contemplava o Monte Palace, muitos burros para tocar, algum fi cará burgo, Berardo jogou e venceu. símbolo do glamour funchalense. Com para trás? Que não seja o Benfi ca, pedem seis irmãos, pobres como ele, talvez agora os sócios encarnados. Das hortenses ao Palace soubesse, no íntimo, e apesar de tudo, No início de 1989, com o fi m anunciado do que seria, três décadas depois, pro- Abramovich ou Azevedo? apartheid e Nelson Mandela prestes a ser li- prietário do mesmíssimo Palace... A ambicionada entrada no bertado, Joe Berardo abandona a África do Quatro décadas volvidas, Joe Benfi ca é, porém, um pau Sul, já a falar melhor inglês do que o esque- Berardo é senhor de um empório de dois bicos. Menos do que cido português. As acções das suas empre- com uma palavra a dizer no Mil- empresário, Berardo é um sas tinham começado a cair, em 1997, de 25 lennium BCP, na PT e na política investidor e um especulador. milhões de euros (à cotação actual) para 5 cultural do País, através da sua No historial do regresso da

Joe Berardo, Portugal S.L. BENFICA (NEGÓCIO EM CURSO) 45 milhões de euros Junho de 2007 Alexandre Silvio Gaydamak, França Berlusconi, Itália Joe Berardo, PORTSMOUTH AC MILAN Portugal 94 milhões de euros 59 milhões de euros MILLWALL Nota: Os valores têm como Julho de 2006 1986 3,4 milhões de euros base o câmbio actual, Janeiro de 1994 sobretudo do dólar e da libra.

21 DE JUNHO DE 2007 v 63 ECONOMIA OPA

África do Sul, tem uma meteórica participa- ção na SIC, de que chegou a deter 25%, e que terá tentado tomar, mas de que desistiu, tra- vado por – incompatibilizado com? – Pinto Balsemão. A participação no Record e Diário Popular também foi fulminante e passada a patacos. No dia seguinte à recente assem- bleia geral do BCP, só com a valorização das acções, acordou 50 milhões mais rico. O seu negócio é números, papéis, compra e venda, Benfi quista jogo. Como se vê, começa a despachar a sua Embora não gostando participação na Portugal Telecom. Por estas de perder dinheiro, diz e outras, os benfi quistas têm o coração nas que a OPA ao Benfi ca é, sobretudo, uma mãos: o Benfi ca pode dar-lhe projecção, es- operação feita com tatuto, notoriedade, popularidade. Para isso, «amor»

o SLB tem de ganhar títulos. Mas o Benfi ca CARVALHO CARLOS JOSÉ pode ser mais um negócio especulativo, con- denado a defi nhar, após a passagem do mete- O percurso da OPA oro. Em que fi camos? Num Abramovich ca- paz de contratar um batalhão de mourinhos 15 DE JUNHO uma empresa alvo de OPA que não irá vender as suas >> A Metalgest, do empresário não pode realizar actos de acções (40% A e 10,04 B). e drogbas? Ou num Vale e Azevedo desejoso gestão corrente que alterem Joe Berardo, lança uma PRÓXIMOS PASSOS de ganhar comissões com vendas de joga- OPA sobre 60% do capital o seu valor patrimonial. Ou >> A Metalgest terá agora dores ou património? Vale aos benfi quistas da Benfi ca SAD, ou seja, seja, a compra ou venda 20 dias para apresentar na a garantia de que Berardo, para fi car ainda 9 milhões de acções de de jogadores por valores CMVM o pedido de registo mais rico, não precisava de se meter nisto. categoria B. chorudos obriga o clube a da OPA. E vale-lhes o autoproclamado benfi quismo >> Oferece 3,5 euros por cada notifi car a CMVM. >> Após o pedido de registo, acção, mais 30,5% do que a >> A CMVM pede do comendador, que se supõe sincero. Afi nal, a CMVM terá oito dias cotação do dia anterior, mas esclarecimentos à Metalgest quem afundar o Benfi ca arrisca-se a afundar- para o analisar. Caso exija muito abaixo dos 5,24 euros sobre esta operação. se com ele... Como nos diz a lampiona fanáti- mais documentação, este e 4,98 (sócios) que as acções ca Leonor Pinhão, «até aqui, ele seria social- 19 DE JUNHO período fi ca suspenso, até à custaram, em 2001. mente visto como o milionário excêntrico >> A entidade reguladora apresentação da mesma. >> A oferta fi cou subordinada da bolsa obriga a Metalgest >> Após o registo, é lançada da Madeira; se a OPA se concretizar, será um à aquisição de, pelo menos, a lançar OPA sobre 85% a oferta que pode decorrer grande empresário com reputação e projec- 50,01% das acções de do capital da Benfi ca SAD. entre duas e dez semanas. ção nacional e mundial». Esperança ou fé? categoria B emitidas. Berardo não concorda com >> Segue-se a sessão Notáveis a favor 18 DE JUNHO a decisão, mas admite estar especial de bolsa para >> Diz o artigo 182° do Código conformado, até porque o apurar os resultados Nitidamente, o comendador gosta de afagos, dos Valores Mobiliários que Benfi ca SGPS já anunciou da oferta. de se sentir acarinhado e do calor do povo. Deixou-se levar em ombros, pelos trabalha-

dores, após a assembleia geral (AG) da PT, assim, a presidência de Vieira poderia estar que vetou a OPA da Sonae. Ergueu os dedos em risco.» Malgré tout, a SAD encarnada é a em V de vitória, à saída da AG única clubística que já deu lu- do BCP que travou o regres- De quem cro – e tem um potencial enor- so de Jardim Gonçalves. Esta me. Marca implantada, por costela de menino carente é é o Benfi ca? exemplo, na África lusófona, amplamente coberta pelas ACÇÕES TIPO A é um trampolim seguro para mais-valias. Qualquer um dis- Benfi ca SGPS 40% outros voos. Com vitórias tão tribuiria abraços pelas massas, suadas nas assembleias gerais sabendo que os resultados ACÇÕES TIPO B de potentados económico-fi - SOU CONTRA desses duros braços-de-ferro Manuel Vilarinho nanceiros, o que custa a Berar- ‘ signifi cam dinheiro em caixa. 12,27% do, afi nal, ganhar um simples AS SAD. MAS HAVENDO O Benfi ca é uma SAD emergen- Benfi ca SGPS 10,04% campeonato nacional?... UMA, ENTÃO te, apesar do defi nhamento do Luís Filipe Vieira 5,67% Adepto encarnado, Berardo valor das suas acções, a.B. (an- Sportinveste 4,08% veste de preto. Nem sempre foi QUE FUNCIONE BEM. tes de Berardo). É ele que nos assim. A gravata, que agora lhe POR ISSO ESTOU diz: «O Benfi ca tem de tomar decisões impor- é «desconfortável», construiu-lhe a imagem, tantes e, para isso, falta dinheiro; ora, não é nos velhos tempos de dono de minas. Um A FAVOR DESTA OPA em bolsa, a perder 50% num mês, que o presi- conselho da sua amiga, também madeirense Leonor Pinhão, jornalista ’ dente granjeia apoio. Com as acções a descer e estilista, Fátima Lopes, virou-lhe a cabeça 64 v 21 DE JUNHO DE 2007 HlXekfmXc\dfjki†j^iXe[\j 8FG8[\9\iXi[f]\qjlY`iXjXZƒ‘\j[f9\e]`ZX%%%[fJgfik`e^\[fGfikf

MXcfi[fjZclY\j\dYfcjXX(0[\Ale_f[\)''.

,*#/,d`c_‘\j[\\lifj ,*#*+d`c_‘\j[\\lifj *+#)'d`c_‘\j[\\lifj 8Zƒ‘\j\d9fcjX1 (,'''''( 8Zƒ‘\j\d9fcjX1 )('''''' 8Zƒ‘\j\d9fcjX1 (,'''''' MXcfiEfd`eXc1 ö, MXcfiEfd`eXc1 ö) MXcfiEfd`eXc1 ö, :fkXƒf1 ö*#,0 :fkXƒf1 ö)#,+ :fkXƒf1 ö)#)/

=FEK<I8=@88I&M@JÂF e o gosto. O preto dá-lhe o ar artístico, inte- tórios: o romantismo e o coração fazem-me xidades: «No limite, abre-se o caminho para lectual, próprio de um coleccionador de arte. querer um Benfi ca sempre controlado pelo que uma pessoa qualquer compre o clube, tal E fá-lo mais magro. Mas a fortuna não cessa de clube, mas a razão diz-me que os investidores como certos magnatas do Leste europeu fi - engordar. Uma fortuna ali à mão do «Glorio- vão querer que os mecanismos de governação zeram em Inglaterra e outros países. Em Por- so»? Os benfi quistas querem títulos, jogado- sejam outros para injectarem dinheiro», diz tugal, essa situação seria decerto aproveitada res, aquisições, investimentos. Dizendo o que Luís Nazaré, presidente dos CTT e ex-presi- por grupos chineses, que já estão a entrar em pensa, Berardo entrou a matar, com as críticas dente do Conselho Fiscal do clube encarnado. força em muitas das nossas empresas.» Naza- a uma «vaca sagrada» chamada Rui Costa. O gesto receia que, após esta OPA, «a pressão ré vê com bons olhos a melhoria das relações Muito ao seu estilo, vai tomando o pulso aos do mercado seja tal, que seja inevitável os clu- contratuais dentro das empresas do grupo, benfi quistas. Alguém, disse que, no Benfi - bes virem a perder a prerrogativa do controlo «como a Benfi ca Estádio, Multimédia e SGPS, ca, Berardo pode tornar-se um tubarão num das SAD». O que lhe causa algumas perple- que poderão vir a ser melhorados». E alvitra a aquário de peixinhos vermelhos que, ainda por cima, o celebram como salvador. Será assim? Manuel Alegre, deputado do PS, ex-candidato presidencial e benfi quista convicto, não tem ilusões: «Se ele investe é para tirar contrapartidas. Mas isso já não me choca. O mundo está em mudança e, desde a constituição das SAD, os sócios mandam mui- to pouco.» O poeta-deputado tem 100 acções que não tenciona vender. Outros lampiões declaram-se menos românticos: «Não deixo de ter, com tudo isto, sentimentos contradi-

O BENFICA PRECISA DE UMA‘ INJECÇÃO FINANCEIRA, DESDE QUE VENHA POR BEM, E ACREDITO NO BENFIQUISMO DE JOE BERARDO Rui Rangel, juiz ’ ECONOMIA OPA

Na Quinta Os negócios da Bacalhoa de Berardo O negócio do vinho tornou-se a Ganhava a vida, na Madeira, a colar menina dos olhos do rótulos nas garrafas de vinho de Madeira investidor madeirense Wine. Quando emigrou para a África do Sul, aos 18 anos, o assalariado com a enorme rotação que se ve- deu lugar ao empresário rifi ca nos plantéis das principais equipas e com as elevadas verbas DÉCADA DE 60 das transacções?» >> José Manuel (Joe) Berardo começou a Rui Rangel, juiz-desembarga- trabalhar numa loja de frutas e legumes, na dor do Tribunal da Relação de África do Sul, mas foi ali que arrancou com o Lisboa, recebe Berardo de braços seu primeiro negócio: resíduos das minas de ouro. Em poucos anos, construiu um grupo abertos: «Com Joe Berardo, até de empresas de extracção e de mineração podem nascer parcerias com em- de ouro, a Egoli Consolidated Mines Limited. presas credíveis, de que é proprie- tário, como as do ramo vinícola. DÉCADA DE 70 Ele tem um faro tremendo para >> Com fortuna já feita, regressa à Madeira e os negócios.» E o realizador de ci- compra a Empresa Madeirense de Tabacos. BARRA LUÍS nema João Botelho resume tudo: Na África do Sul, mantém a exploração de fusão destas empresas, «concentrando estru- «Se o Berardo, em vez de comprar ouro e diamantes. turas e reduzindo custos.» quadros, comprar jogadores, eu, por mim, fi co DÉCADA DE 80 Palavra de gestor. Outro gestor, economis- todo contente.» >> Entra no mundo fi nanceiro, com a compra ta, professor universitário e ex-ministro das Ao oferecer 3,5 euros por acção 30% abaixo da Caixa Económica do , que, mais Finanças, Bagão Félix, aliás Lampião Féliz do que elas custaram inicialmente, Berardo tarde, viria a formar o Banif. (cognome da Contra Informação...) quer que difi cilmente vai lá. Uma fonte da CMVM iro- >> Mostra apetência para o imobiliário, com a a OPA siga para bingo: «Ela é um ponto de par- niza que a operação agitou mais o País do que compra da Quinta Monte Palace. tida para mudar muita coisa, nomeadamente o mercado. O que não é mau, para o Benfi ca: na revisão da lei que impede as OPA globais. se voltarmos a João Botelho, «tudo o que nes- DÉCADA DE 90 Se calhar, serei como os adeptos do Manches- te momento seja feito para agitar tem o meu >> Entra no mundo dos meios de ter, que barafustaram contra apoio...» comunicação. Compra a Investec e assume a venda do clube ao Rupert o controlo do jornal Record e da revista Máxima. A mesma empresa chega a Murdoch mas que hoje já só Das cicas à colecção controlar 18% da SIC. vibram com os êxitos. Com Joe Berardo nem sempre o Benfi ca, Joe Berardo ga- coleccionou quadros ou es- >> Dá início a uma colecção de arte, nhará uma notoriedade in- culturas. Houve um tempo hoje avaliada pela Christies em 316 milhões de euros. crível. A seguir ao primeiro- em que coleccionava... plan- ministro e ao Presidente da tas. Ficou célebre o caso das 2000-2007 República, o líder do Benfi ca cicas. Em Maio de 1988, o >> Investe na Teixeira Duarte e na Cimpor. é a fi gura do País.» Bagão não ESTE MOVIMENTO comendador despacha para Defende a fusão entre as duas empresas. se conforma com o modelo ‘ o Funchal, como doação ao No início deste ano, vende a posição de 10% de gestão actual: «O Benfi ca CONDUZIRÁ, Jardim Botânico, cerca de que detinha na construtora e consegue mais- está muito subvalorizado. INEVITAVELMENTE, sete centenas de cicas, plan- -valias de 60 milhões de euros. O Vilarreal, uma equipa de tas milenárias, protegidas >> Com esse dinheiro, reforça a sua posição uma cidade com 45 mil habi- A UM AUMENTO por legislação internacional. no Millenniumbcp, tendo conseguido mais- tantes, ganha três vezes mais DE CAPITAL E/OU A exportação, com fi ns co- -valias potenciais de 200 milhões. do que o Benfi ca, em direitos À CRIAÇÃO DE merciais, era então proibida >> Tem, ainda, posições na Sonae e na televisivos!» pela legislação sul-africana. Portugal Telecom. A deputada socialista UM FUNDO DE O preço das árvores foi cal- >> Começa a investir nos vinhos. Está Edite Estrela, embora não INVESTIMENTO culado em mais de 3 milhões presente na Sogrape, JP Vinhos. tenha gostado das críticas de euros (ao câmbio actu- de Berardo a Rui Costa, re- Luís Nazaré, gestor al). Mas Berardo conseguiu >> A Quinta da Bacalhôa é a menina dos seus ’ olhos. Este ano, comprou as Caves Aliança mata: «Admiro o empreen- comprá-las por apenas 65 e uma empresa australiana de vinhos, a dedorismo e a personalidade plurifacetada mil euros, e tê-las-á avaliado, na declaração Cumulus Wines, que lhe custou 15 milhões de Joe Berardo. Recordo que tive o privilégio de saída, em 5 mil. O caso deu origem a um de euros. de levar para Sintra uma parte da sua excelen- inquérito parlamentar, em Pretória. Cons- >> Torna-se num dos três maiores accionistas te colecção de Arte e criar um Museu de Arte tatou-se, depois, que as plantas acabaram da Papelaria Fernandes. Moderna.» E conclui: «O futebol romântico já nos jardins do Monte Palace, alvo da cobiça só existe para alguns adeptos. Como é possí- e mote dos sonhos do jovem cultivador de vel conciliar uma visão romântica do futebol hortenses do fi nal dos anos cinquenta. Um

66 v 21 DE JUNHO DE 2007 ECONOMIA Vitória OPA No fi nal da Assembleia Geral do BCP, que travou o regresso de Jardim Gonçalves

ESTA OPA DEMONSTRA ‘QUE A MARCA BENFICA É PODEROSÍSSIMA: SÓ EMPRESAS PUJANTES SÃO ALVO DE OPERAÇÕES DESTAS

LUCÍLIA MONTEIRO LUCÍLIA Bagão Félix, ex-ministro das Finanças’ pouco chamuscado pelas dúvidas levantadas pra, até 2016. Senão, adeus colecção, e amigos dos, o critério de Berardo, que continua a em torno deste dossiê, Berardo passou das como dantes. Entretanto, o Estado não pode comprar, refi nou-se. No ano passado, Del- plantas às telas. Apostado em limar uma cer- classifi car as obras como património nacional fi m Sardo, que ocupou o cargo de director ta imagem arrivista, apresentou-se, nas pala- ou impedir que elas venham a sair do País. Joe do Centro de Exposições, disse à VISÃO vras do seu «ex-ideólogo», Francisco Capelo, Berardo não teve de alugar instalações, cons- que, se, inicialmente, «as aquisições eram gestor inicial do grosso da colecção Berardo, truir estruturas ou adquirir equipamentos. feitas para cobrir períodos ou épocas, mais como «o senhor Gulbenkian do século XXI». Não tem de sustentar a conservação, nem de recentemente, elas obedecem à vontade do A colecção de arte contemporânea, que ocu- pagar a funcionários. Em partes iguais, Estado próprio coleccionador ou à maneira como pará todo o Centro de Expo- e coleccionador deram, no se tem aconselhado». sições do CCB, em Lisboa, e primeiro ano, à nova Funda- O Benfi ca já teve a sua experiência com um que abre no próximo dia 25 ção Berardo, presidida a títu- coleccionador famoso. Jorge de Brito, presi- (ver pag. 148), foi avaliada, lo vitalício pelo colecciona- dente no início dos anos 90, era proprietário pela leiloeira Christie’s, de dor, um milhão de euros. O de um importante património artístico. Não Londres, em 316 milhões acordo estipula um fundo de foi uma época feliz para o Benfi ca, que entra- de euros. Sem gastar um aquisição de obras de arte de va, desportivamente, em declínio, apesar do cêntimo, Berardo colocou um milhão de euros por ano, campeonato milagrosamente conquistado a sua colecção no mais im- pago nos mesmo moldes. Re- em 1994, depois da vitória por 6-3 em Alvala- portante centro de exposi- cordando as palavras de Rui de, contra o Sporting. Berardo não esconde ções do País, desalojando, ADMIRO O Rangel, Berardo tem mesmo à VISÃO o seu carinho por Jorge de Brito: inclusivamente, o Museu EMPREENDEDORISMO‘ faro para os negócios. «Ajudou Júlio Pomar, Vieira da Silva e toda do Design, composto por essa geração. E queria ver o Benfi ca ganhar peças reunidas pelo ex-ami- E A PERSONALIDADE O outro ‘Papa’ tudo. Era uma pessoa adiantada para a sua go Capelo. Sem gastar um PLURIFACETADA O acervo tem obras – mais época.» cêntimo, Joe Berardo ainda de 4 mil peças, sendo 850 O comendador revê-se, ele próprio, nessa teve direito a que o seu nome DE JOE BERARDO as que compõem o núcleo imagem vanguardista. Depois de ter batido constasse deste novo museu Edite Estrela, deputada duro –, que vão de Picasso a Belmiro, na PT, Jardim Gonçalves, no BCP e (Museu Colecção Berardo ’ Bacon ou Andy Warhol, de o Ministério da Cultura, no processo da co- de Arte Moderna e Contemporânea). Depois Arman, Balthus e Lucio Fontana a Nicolas lecção de arte, pode vir a ter pela frente, quem de mais de um ano de pressão constante na de Stael, passando pelos portugueses Vieira sabe, um adversário como Jorge Nuno Pinto Comunicação Social, com a chantagem adi- da Silva, Paula Rego e Julião Sarmento, entre da Costa, conhecido como o «papa» do fute- cional da hipotética «fuga» da colecção para outros. No tempo de Capelo, que tinha carta bol português. Só que, neste caso, o adepto o estrangeiro, Berardo conduziu habilmente o branca para comprar em Londres, Paris ou comum não deixará de reconhecer «aquele poder político a uma verdadeira capitulação. Nova Iorque, a ideia era a de preencher as senhor de óculos e semicalvo»... ao lado do A ministra da Cultura, Isabel Pires de Lima, e lacunas cronológicas, por épocas, desde o Joe Berardo. o primeiro-ministro, José Sócrates fi rmaram princípio do século XX. Desde a zanga entre *Com Tiago Fernandes, Paulo M. Santos um contrato que dá ao Estado a opção de com- os dois, e com outros conselheiros envolvi- e João Paulo Vieira

68 v 21 DE JUNHO DE 2007 ECONOMIA OPA

‘Nunca vi as contas do Benfi ca’ Berardo quer tornar o Benfi ca mais rentável, mais vitorioso e mais dinâmico e independente na gestão da sua marca, da publicidade e dos direitos televisivos POR JOÃO PAULO VIEIRA E PAULO M. SANTOS

ferece 3,5 euros por cada acção que os benfi quistas compraram a cinco euros. Não é com dinheiro que Be- O rardo vai convencer os accionistas do clube de Lisboa. Lançou uma oferta sobre 85% do capital do Benfi ca e tenta assegurar a vitória com um projecto que permita ter ao serviço da instituição os melhores jogadores. E, aqui, já está a falar ao coração daquele que, dizem, é o maior clube português.

Que sentido faz o Benfi ca, no universo dos seus negócios? O Benfi ca não é um investimento.

O que é que o Benfi ca pode ganhar consigo? Comigo, nada. Eu posso é ajudar fi nanceira- mente. Eu e outras pessoas podemos organi- zar um fundo para comprar jogadores. Quero comprar poucos mas bons. MARCOS BORGA MARCOS Tem, portanto, ambições de gestão do clube... Não. Não quero nada disso. ma. Se isso não estivesse a acontecer não en- toda a gente, menos o Benfi ca. O clube não de- trava neste negócio. via viver de esmolas. Enche os estádios e tem Mas quer uma posição no capital que lhe permi- uma boa marca, apesar de ser uma das mais ta pressionar a gestão, como faz nas empresas É por um problema de gestão? Não é a gestão. mal aproveitadas. É fácil criticar, mas quem onde investe? Exactamente. Pressionar para Nem nunca vi as contas do Benfi ca. não tem dinheiro não pode fazer nada. terem melhor rentabilidade. Está a dizer que avançou com uma OPA sem co- Dinheiro não lhe falta. Quando entro numa Disse-nos, na semana passada, que é um erro nhecer as contas da empresa alvo? Claro! coisa, tenho sempre de ganhar. O meu traba- apaixonar-se pelas empresas... E é verdade... lho é ter rentabilidade. Senão, é uma chatice. Não fez qualquer análise fi nanceira? Nada! ... não existe aqui uma contradição? O proble- Investir no Benfi ca foi uma decisão pessoal? Es- ma é que tenho uma paixão pelo Benfi ca. Não É, no mínimo, uma aplicação no escuro. É. tive a falar com o meu advogado. Então, como me apaixono por empresas. Há negócios que Como já disse, por amor. é que eu poderia fazer a OPA? Nem sequer sei a pessoa faz por gosto. E eu gosto do Benfi ca. ler! [risos] Tenho a quarta classe, caramba! Gosto, pronto! Tem ideias para o clube? As pessoas que estive- ram envolvidas no Benfi ca estão ricas. Com- Mas estamos a falar de acções que têm pouco Mas não poderia ter ajudado de outra forma? pra-se jogadores e, depois, um ganha 20% o valor, porque não têm infl uência na gestão... Quando uma companhia perde, em poucos outro ganha mais isto e outro mais aquilo. Na Sim, mas quando se lança uma OPA, o merca- dias, 50% do seu valor inicial, não há outra for- publicidade, é o mesmo. Direitos televisivos... do tem de funcionar.

70 v 21 DE JUNHO DE 2007 Está pronto para comprar 85% do clube? Cla- ro. Quando uma pessoa entra num negócio destes tem de o levar até ao fi m. Não quero é que as pessoas pensem que vou tomar conta do Benfi ca. O Benfi ca deve ser liderado por pessoas eleitas pelos sócios. Diria mesmo que os clubes portugueses vão ter de rever a posi- ção de serem cotados na bolsa. José Veiga Joaquim Oliveira Luís Filipe Vieira «Não concordaria com a vinda de «Direitos televisivos... toda a «Gosto dele como pessoa, mas Não devem estar cotados? Os clubes têm de uma pessoa envolvida noutro clube» gente ganha, menos o Benfi ca» não o conheço há muitos anos» estar protegidos, para que não chegue aqui um russo ou um chinês e os compre. Quanto mais não estão a ser bem dirigidas convocam uma Como começou o seu gosto pela Bolsa? Foi penso nisto, mais eu tenho a certeza de que fi z assembleia geral. Agora, temos de apoiar a ad- com um meu amigo judeu, presidente da bol- bem em lançar a OPA. Não apenas para bem ministração a 100% ou ninguém se entende. sa de Joanesburgo. Um dia, troquei acções, do Benfi ca, mas também dos outros clubes. não cotadas, da minha empresa, por acções, É sócio do Benfi ca? Do Benfi ca e do Marítimo. cotadas, da empresa dele. Correu bem e ga- O Benfi ca, a concretizar-se a OPA, é já a sua Já fui presidente da assembleia geral do Marí- nhei o gosto pela bolsa. Depois, tive advoga- segunda experiência no negócio do futebol, de- timo e foi nessa altura que o clube conseguiu ir, dos e contabilistas que me ajudaram a gerir. pois do Milwall, de Inglaterra, em 1994. Com- pela primeira vez, às competições europeias. Tive, também, a felicidade de comprar des- prei parte do capital [chegou aos 12,5%] para perdícios das minas de ouro. Cheguei a ter aprender. Pus o meu fi lho à frente do investi- Falou com Luís Filipe Vieira, antes de lançar a toneladas de resíduos de minas de ouro que mento, logo que saiu da universidade. Era o OPA? Falei. Não lhe disse que era uma OPA, nem sabia o que fazer com aquilo. pior clube. Não havia um jogo de futebol em mas disse-lhe que estava muito preocupado que não houvesse porrada. As pessoas diziam com o facto de uma companhia estar a perder Porque os comprou, então? Pensei que os mé- que eu estava louco. Disse ao meu fi lho para quase 50% do capital num mês. E prometi fa- todos de extracção estavam a mudar, estavam ver como iria gerir e foi uma boa lição para ele. zer alguma coisa. Ele disse-me que se eu o pu- mais modernos, e que teria de haver ouro, na- Se o pusesse no Manchester, era um blue boy. desse ajudar, era bem-vindo, pois sei mais de queles resíduos.. Não foi preciso ir à universi- Ali, teve de aprender. Mais tarde, vendi. bolsa do que ele. E pronto. dade [risos]. A partir daí, a coisa foi. Costumo dizer que todos temos dias de sorte ou boas Falou da criação de um fundo, no Benfi ca, com oportunidades. É como nos fi lmes policiais. outras pessoas. Quem são? Era o que faltava! GOD HAS BEEN GOOD Os agentes têm de descobrir, entre dois sus- Ainda nem sequer está criado e já quer saber TO‘ ME [DEUS TEM SIDO peitos, quem é o criminoso e o inocente. Te- quem são os parceiros! Quando estiver tudo mos de ter olho para matar o criminoso e não resolvido, vou falar com diversas pessoas para GENEROSO COMIGO] o inocente. Nos negócios e na bolsa é assim. o fundo ser dirigido profi ssionalmente. Outra Mas também já perdi investimentos. das coisas que eu quero motivar – algo que o Não estaria o presidente do Benfi ca’ à espera de Luís Filipe Vieira tem desenvolvido bem – é a uma doação de fundos? O Benfi ca não precisa Mas o saldo é positivo? Se não fosse, não esta- formação. Nisso tenho que dizer que o Spor- de esmolas. Tem que ser uma coisa mais pro- va aqui a falar comigo! [risos] God has been good ting tem feito um bom trabalho. funda. E é nisto que o Luís Filipe Vieira preci- to me. [Deus tem sido generoso comigo]. sa de mim. E já se sabe que ele não tem muita Agrada-lhe a gestão do Benfi ca? Sim. Gosto experiência de bolsa. Gosto dele como pessoa, Tem planos para a reforma? O meu fi lho já está muito do presidente. Ninguém é perfeito, mas mas não o conheço há muitos anos. a tomar conta dos negócios para, daqui a uns é um cargo que obriga a uma dedicação muito cinco anos, eu ir para a reforma. Mas ele já me grande. Há uma coisa que vou pedir, e já tenho E José Veiga? Não sei. Nunca concordaria com disse para eu trabalhar mais dois anos e, de- transmitido isso ao Luís Filipe Vieira: o treina- a vinda de uma pessoa envolvida noutros clu- pois, vamos os dois juntos [risos]. dor tem que incutir disciplina. Não podemos bes. Até pode ser honesto... É um gestor pro- pagar fortunas a jogadores que prejudicam o fi ssional, e tem de ter a preocupação de estar, Não está a pensar nisso? O que é que eu vou clube com discussões com os árbitros. Quem dia e noite, no clube que quiser. Agora, gostar fazer? Não jogo golfe... O prazer que eu tenho quiser ganhar o jogo tem de marcar golos. do Benfi ca e depois começar a fazer um tacho é tornar as coisas rentáveis, melhores que as noutro lado... outras. Nunca fui para a universidade e nunca Se tiver sucesso na OPA, quanto tempo preci- tive aquela coisa de ter as melhores notas. Faço sa para pôr o Benfi ca como gostaria? Não sei. A OPA ao Benfi ca lançou-o para um novo pata- diariamente a universidade da minha vida Nem sei se vou ter sucesso com a OPA. Não mar de popularidade. Está preparado para lidar gosto de especular sobre o que vou fazer. com as massas? Não. Nem quero! Gosta de tornar as coisas melhores. Qual é, para si, a melhor reforma de todas? Estar exac- Vai ter tempo para o Benfi ca? Eu não. Mas vou Mas tem a noção de que, agora, se tornou uma tamente como estou. ter pessoal dedicado ao clube. Os accionistas pessoa mais popular do que algum dia foi? Tal- e os sócios é que elegem o conselho de admi- vez não tanto. Eu nem sei se vou entrar no clu- Então não se quer reformar? Quero, quando nistração. Quando eles virem que as coisas be. Eu sempre fui popular. morrer... se eu morrer [risos].

21 DE JUNHO DE 2007 v 71