UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE BELAS-ARTES

UM ROTEIRO DA ARTE MODERNA EM LISBOA, A PARTIR DA COLEÇÃO BERARDO Uma proposta de trabalho em rede no Serviço Educativo

Catarina Isabel Vicente da Silva

Dissertação Mestrado em Museologia e Museografia

Dissertação orientada pelo Prof. DoutorFernando António Baptista Pereira

2017

Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.

DECLARAÇÃO DE AUTORIA

Eu Catarina Isabel Vicente da Silva, declaro que a presente dissertação de mestrado intitulada “Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a Partir da Coleção Berardo. Uma Proposta de Trabalho em Rede no Serviço Educativo”, é o resultado da minha investigação pessoal e independente. O conteúdo é original e todas as fontes consultadas estão devidamente mencionadas na bibliografia ou outras listagens de fontes documentais, tal como todas as citações diretas ou indiretas têm devida indicação ao longo do trabalho segundo as normas académicas.

O Candidato

Lisboa, 3 de janeiro de 2017

1 Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.

AGRADECIMENTOS

Agradeço a disponibilidade e paciência do meu orientador, dos profissionais do Museu do Chiado, do Museu Berardo, e do Museu Calouste Gulbenkian, que foram capazes de facultar um pouco do seu tempo para responder às minhas perguntas. E a todos os que de alguma forma me ajudaram a chegar até aqui. Aos meus pais, irmãs, avós, e restante família.

2 Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.

RESUMO

A arte de um modo geral, tem um papel de extrema importância na sociedade, e na sua cultura e sabedoria. Por sua vez, o modernismo possuiu e possui uma grande influência na arte, na sua generalidade, na obra de arte, na história de arte, e na história e cultura. A mostra de arte nos museus, em específico da arte moderna, foi em tempos um ponto em falha, escasso ou inexistrente, em . De forma a conseguir que essa problemática fosse corrigida, foi constituído um museu, que através de uma vasta coleção de obras de arte moderna e contemporânea, seria capaz de completar essa lacuna – o Museu Berardo. No entanto, existem dois outros museus – o Museu do Chiado e o Museu Calouste Gulbenkian, que atuam nos mesmos campos da arte que o Museu Berardo. Funcionando em conjunto, estes três museus, formam uma união capaz de enriquecer não só a arte moderna, através da sua visualização e estudo, mas também a sociedade, o país, e o mundo, oferecendo através das suas coleções e exposições, um maior espectro de obras e de informação sobre a história da arte moderna, dentro e fora do país. O museu é visto como um local de conhecimento e aprendizagem, de enriquecimento. O museu é a entidade que oferece cultura, história, e abertura, a todas as faixas etárias e situações sociais. Assim, e através do trabalho feito pelos museus, nos seus serviços educativos e no que oferecem ao público que os visita, vêm-se estes museus como locais de desenvolvimento pessoal e cultural. O trabalho em rede torna a oferta mais interessante, mais abrangente, mais vasta, causa um maior envolvimento, e assim sendo, torna-se capaz de tornar ainda maior o desenvolvimento. A partir da cidade de Lisboa, surge através destas entidades a oportunidade de criar um roteiro de arte moderna que as envolva, e as interligue, levando o conhecimento de dentro para fora, para o usufruto de todos.

PALAVRAS-CHAVE: Museu Berardo; Museu do Chiado; Museu Calouste Gulbenkian; Arte Moderna; Serviço Educativo; Trabalho em Rede.

3 Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.

ABSTRACT

Art in general way, plays an extremely important role in society, in its culture and its wisdom. On the other hand, modernism had and still has a great influence in art, in generality, in the work of art, in the history of art, and in history and culture. The art exhibition in museums, specific to modern art, was once a failing, scarce or inexistent point in Portugal. In order to get this problem corrected, a museum was created, a museum which through a vast collection of modern and contemporary works of art would be able to complete this gap - the Berardo Museum. However, there are two other museums - the Chiado Museum and the Calouste Gulbenkian Museum, which work in the same fields of art as the Berardo Museum. Working together, these three museums form a union capable of enriching not only modern art, through its visualization and study, but also society, the country, and the world, offering through its collections and exhibitions a wider spectrum of works of art and information on the history of modern art, inside and outside the country. The museum is seen as a place of knowledge and learning, of enrichment. The museum is the entity that offers culture, history, and openness to all age groups and social situations. Thus, through the work done by these museums, in their educational services and in what they offer to the public visitation, these museums are seen as places of personal and cultural development. Networking makes the offer more interesting, more comprehensive, wider, causes greater involvement, and thus being, it becomes capable of making the development even greater. From the city of , through these entities, the opportunity arises to create a guidebook of modern art that envelops them, and interconnects them, bringing knowledge from the inside out, to the enjoyment of all.

KEY WORDS: Berardo Museum; Chiado Museum; Calouste Gulbenkian Museum; Modern Art; Educational Service; Networking.

4 Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.

LISTA DE ABREVIATURAS AO LONGO DO TEXTO

AICA – Associação Internacional de Críticos de Arte APOM – Associação Portuguesa de Museologia BANIF – Banco Internacional do CAM – Centro de Arte Moderna CAMJAP – Centro de Arte Moderna José Azeredo Perdigão CB – Coleção Berardo CCB – Centro Cultural de Belém FCG – Fundação Calouste Gulbenkian ICOM – International Council of Museums MB – Museu Berardo MC – Museu do Chiado MCB - Museu Coleção Berardo MCG – Museu Calouste Gulbenkian MNAC – Museu Nacional de Arte Contemporânea

5 Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.

AGRADECIMENTOS …………………………………………………...…….….. 2 RESUMO …………………………………………………………………...... 3 ABSTRACT ………………………………………………………………………... 4 LISTA DE ABREVIATURAS …………………………………………………….. 5

ÍNDICE GERAL

INTRODUÇÃO ……………………………………………………………………. 9

CAPÍTULO 1 – A ARTE, O MODERNISMO E A EDUCAÇÃO NOS MUSEUS 16 1.1 A Arte Moderna …………………………………………………..……….. 16 1.2 A Arte e o Museu …………………………………………………………. 20 1.2.1 O Museu de Arte Contemporânea …………………………….…. 21 1.3 A Arte e a Educação: Diferentes Experiências em Museus Internacionais ……….…………………………………………………….. 22 1.3.1. Learning Through Art - Museu Solomon R. Guggenheim 23 1.3.2 Neuroeducation: Learning, Arts and the Brain - Fundação Dana e Universidade John Hopkins …………………………….. 24 1.3.3 Staying in School: Arts Education and New York City High School Graduation Rates – The Center for Arts Education …... 25 1.3.4 Reinvesting in Arts Education – Winning America’s Future Through Creative Shcools - President’s Committee on the Arts and The Humanities ………………………………………...…….. 26

CAPÍTULO 2 – O MUSEU BERARDO E O SEU SERVIÇO EDUCATIVO .… 28 2.1 O Projeto de Criação do Museu …………………………………………….. 28 2.2 A Missão do Museu …………………………………………………………... 29 2.3 A Vocação do Museu ………………………………………………………… 30 2.4 A Coleção e o Museu ………………………………………………………... 31 2.4.1 Lacunas ……………………………………………………………... 34 2.5 A Exposição …………………………………………………………………... 34

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2.5.1 Conservação, segurança e prevenção …………………………... 40 2.5.2 A Apresentação …………………………………………………….. 42 2.5.3 Divulgação | Identificação …………………………………………. 45 2.5.4 Percurso da Exposição ……………………………………………. 46 2.5.5 Análise da Exposição da Colecção Permanente do Museu Coleção Berardo (1900-1960) ……………………………………………………... 47 2.5.5.1 Tipologia …………………………………………………... 47 2.5.5.2 Temática ………………………………………………….. 47 2.5.5.3 Modulação do Espaço …………………………………… 48 2.5.5.4 Espécimes Expostos …………………………………….. 49 2.5.5.5 Material Expositor ………………………………………... 49 2.5.5.6 Iluminação ………………………………………………… 50 2.5.5.7 Aspetos a ter em conta ….………………………………. 51 2.6 O Serviço Educativo …………………………………………………………. 54

CAPÍTULO 3 – O MUSEU NACIONAL DE ARTE CONTEMPORÂNEA – MUSEU DO CHIADO E O SEU SERVIÇO EDUCATIVO ……….…………… 56 3.1 A Missão do Museu ………………………………………………………..... 56 3.2 A Vocação do Museu ……………………………………………………….. 57 3.3 O Museu e a Coleção ……………………………………………….…...…. 58 3.4 A Exposição ………………………………………………….………………. 60 3.4.1 Tipologia e Temática ……………………………………………… 61 3.4.2 Modulação do Espaço ……………………………………………. 61 3.4.3 Espécimes Expostos e Material Expositor ……………………... 61 3.4.4 Iluminação …………………………………………………………. 62 3.5 O Serviço Educativo ………………………………………………………… 62

CAPÍTULO 4 – O MUSEU CALOUSTE GULBENKIAN E O SEU SERVIÇO EDUCATIVO ……………………………………………………………………… 64 4.1 A Missão do Museu …………………………………………………………. 64 4.2 A Vocação do Museu ……………………………………………………….. 65 4.3 O Museu ……………………………………………………………………… 66

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4.4 A Coleção ……………………………………………………………………... 68 4.4.1 Tipologia e Temática ………………………………………………. 69 4.4.2 Modulação do Espaço …………………………………………….. 70 4.4.3 Espécimes Expostos e Material Expositor ……………………… 70 4.4.4 Iluminação ………………………………………………………….. 71 4.5 O Serviço Educativo …………………………………….…………………… 71

CAPÍTULO 5 – UMA PROPOSTA DE ROTEIRO EDUCATIVO DE ARTE MODERNA ………………………………………………………………………… 73 5.1 Ligações: O Museu Berardo, o Museu do Chiado e o Museu Calouste Gulbenkian ………………………………………………………………………… 73 5.2 A Importância do Trabalho em Rede ………………………………………. 76 5.3 Uma Proposta de Roteiro da Arte Moderna ………………………………. 77 5.3.1 O Roteiro e a Oferta Educativa …………………………………… 78

CONSIDERAÇÕES FINAIS ……………………………………………………... 83

BIBLIOGRAFIA ……………………………………………………………………. 87

ANEXOS …………………………………………………………………………… 95 ANEXO A - CURIOSIDADES: A FIGURA POR DETRÁS DA COLEÇÃO …. 95 ANEXO B - CURIOSIDADES: SOL EM JOE BERARDO.COM | REAVALIAÇÃO DA COLEÇÃO BERARDO ………………………………………………………. 96 ANEXO C - FOTOGRAFIAS DO MUSEU BERARDO: ESPAÇOS E ATIVIDADES DO SERVIÇO EDUCATIVO …………………………………….. 97 ANEXO D - FOTOGRAFIAS DO MUSEU DO CHIADO: ESPAÇOS E ATIVIDADES DO SERVIÇO EDUCATIVO …………………………………….. 99 ANEXO E - PARQUES NATURAIS DOS AÇORES – IMAGENS DA APLICAÇÃO MÓVEL ……………………………………………………………... 101

8 Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.

INTRODUÇÃO

A sociedade dos dias que correm é demasiado consumista e crítica mas nem sempre justa, dando apenas importância ao próprio bem-estar, quer físico quer psicológico do indivíduo. O sentido estético e o espírito crítico nem sempre andam a par e passo, e na arte, o que para uns é belo, para outros não o é, pese embora o fato de haver uma abertura maior para qualquer um ser crítico.

A arte é uma forma de cultura e de comunicação. Transmite formas de sentir, de ver, de apreciar, estados de espírito, entre outros aspetos que tornam o ser humano mais rico. Tem também a particularidade de despertar nos seus observadores vários sentimentos, através dos tempos, quer pelas obras que nos foram deixadas, quer pelas obras contemporâneas.

Antigamente, a arte desenvolvia-se através do mecenato ou apoiada em famílias nobres ou endinheiradas que pagavam aos artistas, sendo que o local de exposição das mesmas era essencialmente nas casas sumptuosas dessas famílias ou até mesmo nas ruas. Hoje em dia, a maioria das obras de arte estão de certa forma protegidas dentro de museus ou consignadas a fundações ou a famílias com poder económico.

Definição de museu: . nome masculino 1. Estabelecimento público onde estão reunidas e expostas colecções de objectos de arte, ciência, etc. 2. Grande colecção de objectos de arte ou qualquer ciência.

(Do grego mouseion, “museu”, pelo latin museu-m “museu; biblioteca”)1

1 Definição de Museu. Infopédia – Dicionário da Língua Portuguesa, consultado em: www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa/museu.

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Os museus são templos de cultura, são locais onde algumas obras de arte estão expostas e são preservadas. Um museu pode provocar no seu observador uma nova visão daquilo que este já conhecia, ou passou, num momento exato, a conhecer. A forma como é exposta uma obra de arte, no local certo, com as condições mais desejáveis, pode mudar a perspectiva de quem a observa, pode mudar a sua alma, visto que, no fundo, a arte pretende que exista um determinado impacto naqueles que a absorvem de alguma forma. Todos temos percepções e emoções diferentes ao observar uma obra de arte. A emoção parte de cada um e da forma de sentir e viver o momento, mas - e esse será um pormenor de grande importância - é sempre necessário que exista alguma emoção, e de preferência positiva, no sentido de compreender aquilo que é observado, ou pelo menos na percepção de um observador específico, visto que a obra de arte desperta um sentido subjetivo em cada indivíduo. Para que possa de alguma forma existir uma certa coerência de e para quem observa, é necessário que a leitura de um espaço expositivo seja clara. Para isso, consequentemente, será necessário que a organização desse mesmo espaço seja feita da melhor forma, com a maior clareza, enaltecendo as melhores perspectivas, tendo sempre em mente que a obra estará a ser observada por um público muito diversificado e inserido em diferentes meios socioculturais. Tendo como formação de base uma Licenciatura em Design de Equipamento, foi sentida a necessidade de unir gostos e interesses do passado, para construir uma harmonia, e conjugar os vários aspetos de interesse no que diz respeito ao círculo artístico, com vista a proporcionar um “encaixe”, entre as artes plásticas, o design e os museus. O resultado desejado seria expandir a formação base,aplicando-a à Museologia, com intervenção das artes plásticas. Durante a frequência do primeiro ano letivo do Mestrado de Museologia e Museografia da Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa, foram solicitados trabalhos aos mestrandos sobre Museus e Exposições, que

10 Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo. despertassem o seu interesse, que perspetivassem novas abordagens válidas que propiciassem análises diferentes nas disciplinas que lhes estavam a ser ministradas.

Foi também solicitado que os alunos do referido mestrado pensassem num princípio maior, aproveitando esses mesmos trabalhos para aquele que poderia vir a ser o projeto final, o qual iriam desenvolver, para mostrar no fim do Mestrado. Durante o primeiro ano letivo, os trabalhos realizados passaram essencialmente pela procura de respostas, análise profunda do museu escolhido para a base do trabalho final, das suas estruturas (internas e externas), de forma a conhecê-lo com mais especificidade. Dessa pesquisa resultaram três trabalhos: o primeiro que passou por conhecer o museu, a sua história, e as suas políticas de incorporação; para o segundo e terceiros trabalhos realizados para disciplinas que se interrelacionavam, onde também foi escolhido o mesmo museu, focando o interesse, depois, numa exposição temporária de Vik Muniz que decorreu nos últimos meses do ano 2011.

O fruto desses trabalhos fez com que surgisse um maior interesse sobre a entidade que é o Museu Coleção Berardo. Através desde, encontra-se a definição do museu de arte moderna, que se encontrou em tempos em falta na cidade de Lisboa, e que se tornou o objeto central de estudo da dissertação. Escolhendo aquela que é a primeira exposição permanente do museu, que define o percurso da arte no modernismo, especificamente entre o século XIX e o século XX, pretende-se a evidenciação da mostrados movimentos e protagonistas dos mesmos, que mais se destacaram na sociedade ao longo desse tempo. Por outro lado, e utilizando por base essa mesma exposição, explora-se a arte moderna como um roteiro, iniciado pelo Museu Berardo, e que conduz a outros dois museus que atuam na mesma área que este, criando um percurso transversal às três entidades, Museu Berardo, Museu do Chiado e Museu Calouste Gulbenkian, e fazendo uso do que elas oferecem para a educação da sociedade portuguesa.

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Ao longo deste trabalho, mais especificamente no Capítulo 1, serão então apresentados aspetos que se relacionam diretamente com a arte, a arte moderna em específico, o museu como entidade que permite o conhecimento das obras, e a educação através desta instituição, tomando como casos de estudo várias experiências educativas em museus internacionais. No Capítulo 2, ao definir aquele que foi o projeto do Museu Berardo, focando aqueles que seriam os objetivos a cumprir para com o público, surge a necessidade de definir a missão do museu, os princípios pelos quais se rege, qual a sua escolha em relação à mostra de obras de arte expostas, qual a finalidade da mostra da exposição, o porquê de o fazer, e o que se pretende gerar em termos sociais e turísticos a nível nacional e internacional, visto que uma exposição é uma forma de inserir o País num círculo de grande importância, o círculo artístico mundial. Apresenta-se de igual forma a vocação do museu, explicitando quais os períodos que abrange, que correntes artísticas expõe, os autores que nelas se refletem e acima de tudo o interesse que estas possuem, transpondo linhas importantes para a cultura artística de todo o público. Pretende-se ainda entender qual o interesse pelo qual foi movida a procura das obras, a criação da exposição, decifrando a sua simbologia e enumerando os nomes que a esta pertencem, dando especial importância à escolha e mostra de alguns artistas portugueses que tornam, de igual forma, a história da arte apresentada mais rica e abrangente. O ponto seguinte deste projeto passa por contar alguma da história do Museu, referindo pequenos apontamentos sobre a pessoa pela mão da qual este surgiu, o Comendador José Berardo, e indicando o seu percurso, movido por um sonho, e que o fez reunir a coleção que é então fruto de análise. De seguida, é analisado o Museu Coleção Berardo, a forma como este se coloca no circuito dos Museus de Portugal, de que forma surgiu a Coleção Berardo, como foi conseguida, como foi e é agora gerida. De forma a entender melhor aquela que é então a base deste projeto, a Exposição Museu Coleção Berardo (1900-1960) será apresentada de forma detalhada, indicando as obras de arte, as correntes artísticas, os autores que

12 Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo. nela se observam, a razão pela qual esta é uma das exposições permanentes do museu e o seu interesse público. Ainda neste ponto serão indicados os princípios conservativos, de segurança e de prevenção exercidos em relação à exposição tratada, de forma a entender em que ponto esta se situa, isto é, como se encontram expostas e de que forma, em que condições é feita e exercida a segurança neste espaço, e de que forma é feita a prevenção e preservação do bom estado do que está exposto. A apresentação expositiva é outro dos aspetos a focar, visto que é através dela que o público poderá ter a melhor percepção da leitura do espaço e das obras apresentadas. Será feita a referência à forma como são dispostas as obras, a orientação de circulação pela exposição, se a informação está acessível e clara para o público, tendo em conta que não são apenas artistas e críticos que a visitam. Atendendo a que a orientação pela exposição é um dos pontos cruciais e que pode definir o resultado positivo ou negativo da visita ao museu, quer em termos do espaço total, desde a entrada no edifício à entrada na exposição, passando pelos vários espaços de acessos, será de igual forma explorado, de forma a definir como é feita a orientação pelo museu. Por outro lado, definir-se- á a divulgação, a identificação do espaço e da exposição em si, verificando se esta informação se apresenta de forma clara e inequívoca, isto é, se é possível encontrar facilmente o local da exposição, a sala em que esta é apresentada, se a sinalética e os acessos transmitem a informação fundamental a todos aqueles que possam visitar o museu. A Exposição de 1900-1960 é então analisada de acordo com a tipologia em que se insere, a temática que esta apresenta (quais os autores, obras e correntes artísticas que a compõem), e a modulação do espaço, isto é, a forma como as obras se dispõem, a forma como o público circula no mesmo, focando também os espécimes expostos (que tipo de obras são: esculturas, pinturas, impressões ou outra variação), o material expositor utilizado para suportar as obras tendo em conta o aspeto iluminativo do espaço, ou seja, a forma como é feita a iluminação deste. No desenvolvimento da análise, serão indicados aspetos que carecem de melhoria, relativos à exposição que se encontra em

13 Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo. apresentação. Nesse “antes”, será possível visualizar as plantas da exposição, que permitirão uma identificação mais especifica daqueles que são os aspetos do espaço que poderão ser corrigidos. Por outro lado, e fazendo a relação com outro museu em Lisboa, que permite a mostra de arte moderna e contemporânea, vê-se o Museu do Chiado, no Capítulo 3, como um museu que abrange o período desde 1850 até ao presente. Este museu insere-se neste projeto como parte integrante de um roteiro, uma vez que se situa dentro da mesma linha temporal da Exposição de 1900-1960 do Museu Berardo. Para o efeito será feita uma pequena introdução acerca da missão deste museu, um pouco da sua história e o porquê da sua criação de forma a apresentar a sua vocação e o que este representa. No final será introduzida uma pequena análise da “Exposição Permanente 1850-1975”. Dando continuidade ao ponto anterior, é introduzido no Capítulo 4, o agora denominado de Museu Calouste Gulbenkian, uma instituição privada que serve o público em geral2. Esta entidade, possui por sua vez diversas obras que possibilitam um melhor conhecimento sobre a arte deste período. Sendo que neste ponto se apresentam informações sobre a missão da fundação que suporta este museude arte, bem como as guias pela qual foi criado e respetiva vocação. Após uma análise do museu em si, e por este ser um caso especial, procede-se a uma pequena explicação da coleção moderna que a este pertence, visto que estaé apresentada principalmente através de exposições temporárias. Antes de concluir, é então introduzido o projeto em questão, no Capítulo 5, o projeto do roteiro educativo em que se apresentam e conjugam as ofertas culturais e educativas dos três museus em questão, para uma melhor forma de interpretar e conhecer a arte moderna na Cidade de Lisboa.

2 “Por um lado, foi sua intenção permitir que se desenvolvesse benemerente actividade no campo da assistência. Por outro lado, teve em mente que se iniciasse e prosseguisse esforço generalizado no plano da cultura, em sua expressão educativa, artística e científica, proporcionando para tanto os indispensáveis recursos.”, in Fundação Calouste Gulbenkian – Decreto-Lei 40690, de 18 de julho de 1956 aprovando os estatutos da Fundação Calouste Gulbenkian.

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Para concluir, após a análise dos trabalhos de pesquisa e da informação recolhida serão tecidas várias considerações e levantadas várias questões sobre os benefícios da articulação entre os três espaços museológicos que, apesar de contemplarem obras de arte de épocas semelhantes, são tão divergentes em termos de gestão e de suportes educativos.

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CAPÍTULO 1 ARTE: A ARTE, O MODERNISMO E A EDUCAÇÃO NOS MUSEUS

1.1 A Arte Moderna

É diversificada a forma como se pode ver a História de Arte, olhar para estaimplica sempre olhar para algo subjetivo, sendo que cada indivíduo acaba por fazer dela uma abordagem particular ainda que baseada na informação disponibilizada pelas instituições e pela bibliografia. A arte moderna surgiu após a revolução industrial3 e é caraterizada pela produção artística de finais do século XIX a inícios do século XX. Neste período de criação, é evidente a evolução de ideias dos artistas da época, que, quer de forma coletiva, quer de forma individual, encontraram novas formas de produzir as obras de arte, alterando a sua perceção pública. Por entre os vários movimentos da arte desta época, a arte moderna inicia-sena segunda metade do século XIX, sendo que a partir deste ponto, os conceitos de arte e de obra de arte, sofreram grandes mudanças, imprimindo nas peças novos sentidos de originalidade e representação. Ao início, os artistas produziam trabalhos encomendados, com conceitos já estipulados por pessoas com grandes fortunas. No entanto, durante o século XIX, a produção de arte alterou-se, fazendo com que os artistas produzissem obras sobre locais, pessoas e conceitos que lhes eram de interesse. E é com o evoluir do pensamento, e após a publicação e receção do livro de Sigmund Freud, A Interpretação dos Sonhos4, que se valoriza o pensamento, o

3 Ocorreu entre 1760 e 1840. Caracteriza-se pela transição da produção que passa dos métodos manuais para métodos automatizados, utilizando – por exemplo – máquinas. Afetou positivamente o crescimento económico, social e cultural da época. Consultado em: www.bbc.co.uk/history/british/victorians/workshop_of_the_world_01.shtml. 4 Esta publicação, que deu origem à psicanálise, foi muito inovadora, na época, propondo uma diferenciação entre os sonhos conscientes, pré-conscientes e inconscientes, e as reações aos mesmos. Consultado em: www.almedina.net/catalog/product_info.php?products_id=8567.

16 Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo. subconsciente, os sonhos, simbologias e iconografias, dando importância à subjetividade. Nesta altura, também a forma como eram concebidase realizadas as obras de arte mudou. Surgiram novas experiências, com materiais diferentes do tradicional – como a cola, a tinta acrílica, a utilização de cartões ou tintas de alumínio, linóleo -, cores puras, novas técnicas e novos meios de apresentar os trabalhos, deixam de ser feitas as mostras privadas dos mais abastados, para serem feitas mostras a todo o público, independentemente da sua situação social5. Inicia-se na Europa, mais concretamente em França, em fins do século XIX, a corrente artística do Naturalismo. Esta forma de interpretação artística guiava-se por aquilo que era natural, vindo dos princípios e métodos da ciência natural, baseando-se também na visão que Darwin possuía da natureza6. Do Naturalismo, resultou o Realismo, representando de forma crua aquilo que era realmente visto. Tudo o que era considerado artificial era colocado de parte, já não existia interesse em embelezar as situações, mas sim em retratá-las com todos os problemas e costumes que transportavam. Mais tarde, surgiu o impressionismo, e posteriormente o Pós- Impressionismo. O nome da corrente artística impressionista, foi criado por um crítico de arte a partir do título da obra de Claude Monet Impressão: nascer do sol7. O impressionismo rompe com o que era feito até então, no que à pintura se referia, e origina um movimento em que se tornava mais importante a cor, luz, moção, ignorando os anteriores conceitos do real e nobre. O Pós- Impressionismo reúne uma série de artistas pertencentes a outras correntes que optam por fazer transparecer e salientar nas suas peças a bidimensionalidade e a cor.

5 BOURDIEU, Pierre; DARBEL, Alain. L’amour de l’art: les musées et leur public. Paris, Minuit, 1966. 6 Darwin defendia o princípio da evolução por seleção natural. Fatores como a hereditariedade e condições sociais, eram determinantes na vida dos indivíduos. Consultado em: www.infopedia.pt/$darwinismo. 7 Obra de 1872, em que Monet representa um nascer do sol no porto do Havre.

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Em resposta ao Naturalismo e Realismo, o Simbolismo apresenta-se como a arte que fazia transparecer não só o que era natural e real, mas também aquilo que por trás dessas caraterísticas existia, a essência e o sentimento. De seguida, surge, antes da Primeira Guerra Mundial, o movimento Art Noveau. Representa, como o nome indica, “arte nova”, por ser um estilo jovem e que pretende reagir à arte do século XIX. Surgem também peças com estilo mais geométrico, mas inspiradas em formas e estruturas naturais. Emergindo na Grã-Bretanha, o movimento Arts and Crafts apresenta formas elementares, românticas e medievais, sendo um estilo de arte decorativa que tenta romper com os efeitos massificadores da industrialização. Já no século XX, surge mais um movimento de vanguarda, o Expressionismo. Vindo da Alemanha, este movimento artístico atravessa vários campos no que à arte diz respeito8. A expressão transparece através do movimento, da emoção, explorando o mundo intuitivo. Deforma a realidade e expressa-se subjetivamente, tentando retratar o sentimento em oposição à realidade. Com o Expressionismo chega o Fauvismo, que Henri Matisse define como "uma arte do equilíbrio, da pureza e da serenidade, destituída de temas perturbadores ou deprimentes”9. Deixam de existir gradientes de cor, ou até mesmo misturas, tudo é simplificado e tudo se torna mais definido. O Cubismo, movimento das artes plásticas e preferencialmente da pintura, corrompeu a perspectiva que haveria sido utilizada pela arte ocidental até o início do século XX, desde o Renascimento. Surge em 1907, vindo de Paris, pelas mãos de Pablo Picasso, e possui uma influência de extrema amplitude, que conduz a uma pintura que fragmenta os planos e os pontos de vista fazendo com que exista uma eliminação da ilusão da tridimensionalidade. Surgem representações de formas geométricas que exibem a estrutura humana figurada e mostra-nos, simultaneamente, a mesma a partir de variados

8 Influencia as artes plásticas, literatura, música, cinema, teatro, fotografia, entre outros. 9 GRAHAM-DIXON, Andrew. Arte, o guia visual definitivo. Publifolha [S.l.], 2012. p.402-407 e p. 612.

18 Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo. pontos de vista.Neste movimento a cor é pobre, variando entre os pretos, cinzas e castanhos, podendo eventualmente surgir através de amarelos ocre. Apesar de emergir a partir da segunda década do século XX, com Kandinsky, o Abstracionismo triunfa finalmente na Europa nos anosda década de 1930, época em que se geravam enormes conflitos no campo da intervenção política, e este é o movimento que tenta defender a autonomia da arte, protegendo aquilo que considera serem os valores próprios da obra de arte em si. Esta era uma arte de choque e de reação que acabaria por fazer surgir, na comunidade, alguma polémica e indignação. Pretendia desenvolver obras de arte que se colocassem para além daqueles que eram os seus precedentes. Negar composições complexas e rígidas, libertando a natureza da cor e da geometria, utilizando cores fortes que criassem emoções e utilizando técnicas agressivas, espontâneas e até automáticas. O Construtivismo teve origem em 1914, na Rússia, sendo considerado uma influência de grande importância em todas as variantes do mundo artístico – seja na arte plástica, design ou arquitetura. É algo abstrato e geométrico, tendo a sua própria autonomia, e mostra uma relação com a natureza e a sociedade, aspetos estes que fazem criar uma ligação entre os mundos artístico e tecnológico. Atribui-se especial atenção à forma como a obra é construída, e não à forma como é composta, organizada. Existe uma utilidade para o objeto artístico, passando a existir uma técnica de montagem, levando à utilização de novos materiais. Surge também a Arte Concreta que pretende ter uma linguagem própria, tendo por base os planos e as cores. O Concretismo vê a arte como algo universal, que deverá ser pensado antes da sua execução, e por isso, deverá ser algo mecânico e claro. Com um pensamento semelhante, nasce o Suprematismo, que se centra principalmente em figuras geométricas básicas, como o quadrado e o círculo, utilizando cores sólidas também elas básicas. Descreve-se como uma arte livre, pura e sem compromissos.

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Em 1909, emergira o Futurismo, baseado na velocidade e na tecnologia desenvolvida. Utilizava a cor viva e o contraste para se exprimir, e imprimia nas suas obras a sobreposição de imagens, desmaterializando os objetos. Em Zurique, por volta de 1916, o Dadaísmo apresenta-se de uma forma desapegada e sem nexo. Um movimento não tradicional, de vanguarda, o Dadaísmo surgiu através de um aglomerado de escritores e artistas que não acreditavam na sociedade, à qual atribuíam culpas pelo que se estava a passar na Primeira Guerra Mundial, eliminando aquilo que fora pré-estabelecido por outros artistas. Provém da palavra “dadá”, que não tem um significado específico, tornando-se irreverente e propondo uma nova leitura daquilo que se conhece, utilizando os objetos que são já comuns e levando-os a uma nova apresentação e contexto, que, no fundo, os descontextualiza, sendo o resultado de uma enorme ironia a partir daquilo que é até então considerado absurdo. Movimento que capta características dadaístas, o Surrealismo assegura um trajeto também relacionado com o absurdo, com o irracional, por vezes até associado à loucura, sendo irreal, assombroso, delirante, fantástico.O fundador deste movimento é André Breton, que o faz surgir pelos finais da segunda década do século XX, onde haveria, pouco antes, existido uma grande tensão e abalo, devido à Primeira Guerra Mundial. O surrealismo apresentava-se com a ideia de fazer brotar uma nova forma de pensar. Com o passado do movimento dadá, seria mais simples inserir um movimento, que tal como o seu antepassado, criasse na sociedade um grande impacto.

1.2 A Arte e o Museu

A história de arte desenvolveu-se nos séculos XIX e XX num estreito paralelismo com a evolução dos museus. Na entidade museológica os objetos colecionados e o conhecimento sobre eles necessitam de ser trabalhados em conjunto. Os acontecimentos de avanço e recuo que acontecem na história de arte não se podem apresentar da mesma forma no museu. O fim do estudo

20 Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo. museológico serve para chegar a um objetivo final, realizar uma exposição que faça referência a esse dinamismo. Juntando imagens e objetos que nos transportam a tempos e lugares em específico, o museu de arte é um depósito de história, estética e evolução, funcionando quase como um palco, em que acontecem cenas marcantes da existência humana.

1.2.1 O Museu de Arte Contemporânea

No que diz respeito aos museus de arte contemporânea, estes tendem a diferir das definições gerais do museu de arte antiga. Apresentam-se como algo diferente, por serem entidades que contam histórias de memórias, no passado recente. Este tipo de museu em específico, por receber nas suas exposições obras do presente, ou do passado muito recente, possui uma forma diferente de contar a história, ou seja, a obra de arte, por ser tão recente, não existe para além do museu, não teve uma história antes de fazer parte da instituição. No que diz respeito por exemplo a museus de arte antiga, é utilizada a sua história, e são refeitas leituras contextualizadoras para as obras, enquanto que no caso da arte contemporânea, a narrativa é criada especificamente no tempo presente. Nestes termos, é o museu de arte contemporânea que permite a inserção de um objeto no mundo artístico. Consequentemente, esta ligação entre o museu, o objeto e o artista, cria uma relação de interdependência, em que o museu se torna quase como uma instância de legitimação em relação ao artista10.

10 BOURDIEU, Pierre; DARBEL, Alain. L’amour de l’art: les musées et leur public. Paris, Minuit, 1966.

21 Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.

1.3 A Arte e a Educação: Diferentes Experiências em Museus Internacionais

A Arte desperta uma série de sentidos e sentimentos a quem a observa. Uma peça de Arte, seja ela de que corrente ou sector for (escultura, pintura, etc.), pode despertar uma série de sensações num indivíduo.Por outro lado, a Arte e a sua aprendizagem podem permitir novas aprendizagens e fazer com que sejam trabalhadas outras capacidades quer física quer psicologicamente11. Ao crescer, cada indivíduo desenvolve-se de acordo com o que o rodeia, e com o está à sua disposição. Os estímulos criados pela arte e pelas obras de arte, ajudam a potenciar esse desenvolvimento. G. Henri Riviére (1989) define o museu como instituição ao serviço da sociedade, “como que um espelho onde a população se revê para se reconhecer, onde procura a explicação do território a que pertence em conjunto com as populações que a precederam na continuidade ou descontinuidade das gerações”12. Se, por um lado, se observam métodos tradicionais de educação no museu, em que as atividades se resumem a explicar a história através de objetos expostos, por outro, pode existir uma atividade mais dinâmica fazendo usufruto do património e da interação. Neste contexto, pode entender-se como mais vantajoso o facto de existir uma ação, que faz com que sejam provocadas desenvolturas no meio que rodeia a entidade museológica, e consequentemente a população em si. A interação do museu com o público, com o fim de educar, permite a discussão e a descoberta, e estabelece ligações de importância entre o património, o espaço, e a própria cultura pessoal13.

11 HARDIMAN, Mariale, et al. Neuroeducation: Learning, Arts and the Brain. Findings and Challenges for Educators and Researchers from the 2009 Johns Hopkins University Summit. New York/Washington D.C.: Dana Press, 2009. Acedido em steam-notstem.com/wp- content/uploads/2010/11/Neuroeducation.pdf. 12 AA.V.V., (1989) La Muséologie selon Georges Henri Riviére. Paris: Bordas p. 142. 13 KENNEDY, Randy. Guggenheim Study Suggests Arts Education Benefits Literacy Skills. The New York Times, 27 de Julho de 2006 http://www.nytimes.com/2006/07/27/books/27gugg.html.

22 Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.

O museu deve colocar-se na sociedade como um espaço de abertura, onde todas as estruturas sociais e económicas poderão estar inseridas. A instituição que é o museu, deve ser dinâmica, aberta, e deve servir a comunidade, para que esta possa também ser ativa na sua participação. É valorizada a presença do indivíduo, por ser ele quem faz usufruto da instituição, mas ao mesmo tempo incute-se nesta a mesma importância, por permitir a junção do património num só edifício/local. Segundo alguns estudos que abaixo vamos referenciar, os programas de Arte escolares e os programas educativos oferecidos pelos museus contribuem de forma positiva na aprendizagem de outras disciplinas e no desenvolvimento pessoal dos alunos.

1.3.1 Learning Through Art - Museu Solomon R. Guggenheim

No caso do Museu de Arte Solomon R. Guggenheim, em Nova Iorque, foi fundado e iniciado um programa no ano de 1970 por Natalie Lieberman, na altura, impulsionado pelo corte de programas de arte e música nas escolas, sendo mais tarde absorvido pela Fundação Guggenheim, em 1994. Deste programa, que até à data, e desde o seu início, envolveu mais de 130 000 estudantes em dezenas de escolas públicas, resultou um estudo, realizado entre os anos de 2004 e 2006, e divulgado no ano de 2006. No Programa Learning Through Art - “Aprender Através da Arte”-, eram enviados para algumas escolas artistas que tinham como objetivo o auxílio dos professores na aprendizagem sobre a arte, e como fazer arte. Este programa ocorre por um período de 10 a 20 semanas, com a presença do artista uma vez por semana na escola, levando também grupos de estudantes a visitar o Museu. De uma forma resumida, concluiu-se através deste estudo que os alunos que fizeram parte do programa mostraram melhorias em seis categorias de literacia e pensamento crítico, em relação a outros alunos que não frequentaram o programa (“The study found that students in the program performed better in six categories of literacy and critical thinking skills —

23 Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo. including thorough description, hypothesizing and reasoning — than did students who were not in the program.”14), revelando-se assim a importância da arte e dos museus na educação e aprendizagem.

1.3.2 Neuroeducation: Learning, Arts and the Brain - Fundação Dana e Universidade Johns Hopkins

A Fundação Dana é uma organização filantrópica privada que suporta a investigação do cérebro através de subvenções, publicações e programas educacionais. Em conjunto com a Universidade Johns Hopkins, entidade que tem como objectivo o melhoramento da saúde pública e da educação, divulgaram ao público a investigação Neuroeducation: Learning, Arts and the Brain – “Neuroeducação: Aprendizagem, Artes e o Cérebro” –, no ano de 2009. Nesta investigação, ambas as entidades têm como dado adquirido que a arte e a educação através da arte aumentam a criatividade, o que por sua vez desenvolve as capacidades académicas noutras áreas. No entanto, não existem muitas investigações que visem comprovar a componente científica desses estudos. Assim, são estudadas as capacidades de controlo motoras, a atenção e a motivação, dentro do estudo/aprendizagem das artes, durante cerca de quatro anos. Através desta investigação, entende-se que os estudantes que recebam formação nas diferentes áreas artísticas apresentam mudanças na estrutura cerebral que auxiliam a transferência das capacidades motoras adquiridas, para áreas semelhantes15. Entende-se também que estudantes motivados a

14 KENNEDY, Randy. Guggenheim Study Suggests Arts Education Benefits Literacy Skills. The New York Times, 27 de Julho de 2006 http://www.nytimes.com/2006/07/27/books/27gugg.html.

15 “In children, there appear to be specific links between the practice of music and skills in geometrical representation, though not in other forms of numerical representation” - HARDIMAN, Mariale, et al. Neuroeducation: Learning, Arts and the Brain. Findings and Challenges for Educators and Researchers from the 2009 Johns Hopkins University Summit. New York/Washington D.C.: Dana Press, 2009. Acedido em steam-notstem.com/wp- content/uploads/2010/11/Neuroeducation.pdf.

24 Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo. praticar uma forma de arte específica, focando atenção à mesma, aumentaram a sua eficiência e atenção como um todo, mesmo quando trabalhando noutras áreas que não as artísticas, aumentando consequentemente os seus QIs. Outros estudos revelaram também que as artes causam impacto no cérebro, desenvolvendo a parte social e intelectual do estudante16.

1.3.3 Staying in School: Arts Education and New York City High School Graduation Rates – The Center for Arts Education

Em outubro de 2009, foi divulgado um relatório chamado Staying in School: Arts Education and New York City High School Graduation Rates – “Ficar na Escola: Educação Artística e Taxas de Conclusão do Ensino Secundário na Cidade de Nova Iorque” -, pelo Centro de Educação para as Artes. Esta entidade tem como objetivo a igualdade de oportunidades no que diz respeito ao ensino com a educação artística como ponto central, para todos os estudantes na cidade de Nova Iorque. Neste relatório são utilizados os dados das escolas de ensino secundário da Cidade de Nova Iorque, para o estudo da influência do ensino das artes na conclusão ou não deste ciclo da formação académica. Conclui-se através deste relatório que escolas com menor acesso a formação artística possuem números maiores de desistência da formação escolar. Por outro lado, escolas com maior investimento no ensino e educação através da arte possuem um maior número de conclusão da formação no ensino secundário17, apesar de existirem obviamente um grande número de

16 “An interest in a performing art leads to a high state of motivation that produces the sustained attention necessary to improve performance and the training of attention that leads to improvement in other domains of cognition.” – HARDIMAN, Mariale, et al. Neuroeducation: Learning, Arts and the Brain. Findings and Challenges for Educators and Researchers from the 2009 Johns Hopkins University Summit. New York/Washington D.C.: Dana Press, 2009. Acedido em: steam-notstem.com/wp-content/uploads/2010/11/Neuroeducation.pdf. (p. 21). 17 “High schools in the top third of graduation rates had almost 35 percent more graduates completing three or more arts courses than schools in the bottom third” – ISRAEL, Douglas. Staying in School. Arts Education and New York City High School Gradutation Rates. New

25 Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo. fatores que intervêm nestes resultados. No relatório, conclui-se também que as artes são uma influência positiva em estudantes de risco, fazendo com que estes prossigam na sua formação escolar e retirando-os de situações de delinquência.

1.3.4 Reinvesting in Arts Education – Winning America’s Future Through Creative Shcools - President’s Committee on the Arts and The Humanities

Em 2011, o Comité de Artes e Humanidades da Presidência dos Estados Unidos da América, revelou o estudo “Reinvesting in Arts Education – Winning America’s Future Through Creative Schools” – “Reinvestir na Educação Artística: Vencer no Futuro da América Através de Escolas Criativas”. Neste estudo, revela-se que a educação artística ajuda não só a aumentar os valores em testes, mas também auxilia no próprio processo da aprendizagem. O relatório revela também que no sistema escolar de Maryland, nos Estados Unidos, encontram-se capacidades de aprendizagem através das artes visuais capazes de melhorar a leitura e que as contrapartidas fomentadas por tocar um instrumento são passíveis de serem aplicadas na matemática. Investigadores e docentes das escolas acreditam que a educação artística pode ser uma ferramenta valiosa na reforma da educação, na integração nas salas de aula e oportunidades criativas, sendo assim uma chave para a motivação e melhoramento do aproveitamento escolar18.

York: The Center for Arts Education, 2009. Acedido em: www.cae- nyc.org/sites/default/files/docs/CAE_Arts_and_Graduation_Report.pdf. (p. 3).

18 “…students who may have fallen by the wayside find themselves re-engaged in learning when their enthusiasm for film, design, theater or even hip-hop is tapped into by their teachers. More advanced Reinvesting in Arts Education 55 conclusion and recommendations students also reap rewards in this environment, demonstrating accelerated learning and sustained levels of motivation.” - President’s Committee on the Arts and Humanities. Reinvesting in Arts Education. Winning America’s Future Through Creative Schools. Estados Unidos da América:

26 Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.

De uma forma generalizada, todos os estudos apresentam ideias de que a arte é algo de fundamental para o desenvolvimento do indivíduo, seja nas suas capacidades motoras, sociais e intelectuais, na sua aprendizagem de uma forma geral – aumentando os valores dos testes -, mas também artística ou focada em áreas científicas – como por exemplo as matemáticas -, no seu criticismo, no aumento da criatividade, entre muitos outros campos de ação. É possível notar de igual forma que estudantes abrangidos por programas de arte, com as mais diversas atividades – desde a ida do artista à escola, à ida ao museu de forma regular, ao desenvolvimento de projetos que estimulem a arte e a aprendizagem da arte -, tem uma maior tendência a permanecer na escola, e prosseguir o seu percurso escolar, tornando assim possível o seu desenvolvimento pessoal e cultural, e permitindo assim que exista uma sociedade mais culta e educada, e consequentemente melhor formada. Os estudos e programas de arte nas escolas e nos museus, permitem não só a redução de taxas de abandono escolar, mas também reduzem a taxa de delinquência na adolescência e seguintes faixas etárias, fazendo com que o interesse pela formação escolar e artística, se sobreponha a situações de risco.

2011. Acedido em www.pcah.gov/sites/default/files/photos/PCAH_Reinvesting_4web.pdf. (p. 64 e 65).

27 Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.

CAPÍTULO 2 O MUSEU BERARDO E O SEU SERVIÇO EDUCATIVO

2.1 O Projeto de Criação do Museu

Sabendo da falha na existência de um museu que contivesse uma coleção de arte moderna e contemporânea, a coleção privada reunida pelo Comendador José Berardo desde cerca de 1993, por sua vez guardada no acervo do Centro Cultural de Belém (CCB), originou um acordo entre o Governo Português e o Comendador. A instalação de um Museu no Centro de Exposições do Centro Cultural de Belém é tornada oficial através do Decreto-Lei nº164/200619 de nove de agosto, onde é definido que a Coleção Privada do Comendador Berardo será colocada para acesso do público em geral, num regime de comodato, entretanto renovado na presente legislatura, como veremos. Com o objetivo de completar lacunas em termos de arte moderna e contemporânea, mas também as lacunas da Coleção do Comendador, pretende-se que exista uma ligação que a torne mais completa, e do mesmo modo, possivelmente, criar uma coleção que seja capaz de subsistir por si só. Através do acordo inicial, até ao ano de 201620, ficariam no Centro Cultural de Belém 863 peças, e findo esse período, o Governo Português teria a oportunidade de renovar o acordo por outro período ou comprar toda a coleção. Nesse acordo estabelece-se também que anualmente, quer o Comendador Berardo quer o Ministério da Cultura, contribuem para a colmatação das lacunas com meio milhão de euros, ou seja, com um total de um milhão de euros por ano. Chegado o ano de 2016, anunciou-se no mês de novembro, que o acordo entre as duas entidades, se manteria por um período de mais seis anos,

19 Decreto-Lei nº 164/2006: pt.museuberardo.pt/sites/default/files/documents/decreto_lei_164_2006_0.pdf. 20 O acordo foi feito por um período de dez anos, que se iniciou em 2006.

28 Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo. sendo que a partir do ano de 2022 as renovações serão automáticas, caso não exista denúncia por nenhuma das partes. Neste acordo, e com o objetivo de permitir alguma liberdade para o desenvolvimento do museu em si, o estado português permitiu que a Fundação Berardo revisse a forma como deveria gerir as entradas, sendo que a partir do ano de 2017, estas passarão a ser pagas, existindo como noutros museus, um dia por semana em que a visita será gratuita.

2.2 A Missão do Museu

O Museu é unidisciplinar, atuando sobre a arte moderna e contemporânea, ao expor um grande leque de artistas, através de obras de grande valor a nível nacional e internacional. Este museu não possui uma definição clara da sua missão, isto é, não é possível explicá-la de uma forma curta e simples. No entanto, o Museu Berardo entende por sua missão o estudo, a preservação, a exposição e a promoção da coleção adquirida pelo Comendador Berardo, de forma a suscitar o entendimento e apreciação das artes plásticas desde o início do século XX até aos dias atuais. Para isso vai recorrendo a uma programação diversificada e didática, indo além da apresentação permanente da coleção, e passando pela apresentação de um vasto programa de exposições temporárias internacionais. Este insere o Povo Português e o país, no circuito de obras de arte internacional. Através da mostra destas peças, incute-se na cidade de Lisboa não só um destino turístico, mas também cultural, que beneficia as duas áreas, provocando no público a motivação da visita e da vontade de explorar o museu, a cidade e o país. É ambição do museu, que através da mostra de uma exposição, seja possível enaltecer as qualidades das várias áreas artísticas, de forma evolutiva, partindo do século XX até aos dias presentes, transparecendo a didática, a dinâmica e a flexibilidade nela incutida. A coleção incita a um diálogo vasto entre outras coleções e espólios, de forma a expandi-la, e exercer um intercâmbio internacional, entre outras obras e museus, de forma a dar a

29 Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo. conhecer outras tendências que acontecem no circuito internacional da arte, e abrindo um precedente que promova, ao mesmo tempo, a circulação desse vasto leque de obras. Existindo um interesse na expansão que pretende chegar ao nível artístico internacional, é também desejado pelo Museu, inserir neste círculo aqueles que são os artistas portugueses que contribuem, por sua vez, para uma maior vastidão e abertura desse círculo, mas permitiria também a mostra do trabalho que se faz em terras lusas, realizando exposições temporárias e/ou inserindo-os nesta que é, uma vasta coleção de arte. Com a opção por um programa museológico vasto e plural, pretende-se que seja visto de igual forma, um lado pedagógico que articula os vários aspetos, e que contribui para que exista uma relação entre os elementos que criticam, os que criam e os que ensinam.

2.3 A Vocação do Museu

A coleção do Museu Berardo, contém cerca de 1000 obras, inseridas em cerca de 77 movimentos artísticos contando com mais de 500 artistas. Esta acolhe um período de cerca de 100 anos que se inicia com uma obra de Pablo Picasso de 1909, e atravessa as principais correntes, tendo por objetivo preencher as lacunas que nela existem a nível histórico e também de valores emergentes, o que demonstra que é uma coleção em aberto, e que se encontra constantemente em construção. Inicialmente, o espólio focava-se a partir do ano de 1945, devido ao pós- guerra da Segunda Guerra Mundial, tendo em conta que após o seu acontecimento se deram alterações mundiais significativas alusivas à realização de obras de arte e ao surgimento de novos movimentos artísticos que emergiram maioritariamente nos Estados Unidos da América, movimentos estes que tiveram, por sua vez, direta influência sobre a arte realizada na Europa. Tendo estes aspetos em conta, e com o objetivo de tornar mais alargado o espetro temporal da coleção em si, existiu a necessidade de recuar,

30 Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo. sendo conduzida até ao ano de 1917, abrangendo então criadores do início do século passado, até à atualidade. Assim o atual percurso da Coleção Berardo (CB), tem o seu início logo após a Primeira Guerra Mundial, visto que nesta mesma altura, a Europa se encontrava numa época bastante conturbada e atravessava uma grave recessão, o que provocou grandes alterações nos âmbitos das vanguardas. O ponto fulcral de inspiração era Paris, lugar por onde todas as correntes, e consequentemente os artistas circulavam. Fazem parte do Fauvismo, Cubismo e Expressionismo, algumas das primeiras obras a pertencer à Coleção Berardo. Não sendo apenas uma série de obras escolhidas ao acaso, a coleção torna-se numa forma de expressar o conflito da modernidade. Existe neste conjunto de peças, uma vasta gama de exemplos a seguir e a reunião e combinação destas torna-se notável. Nomes sonantes como Pablo Picasso, Marcel Duchamp, Kasimir Malevich, Piet Mondrian, Francis Bacon, Andy Warhol, Yves Klein, Willem de Kooning, Francesco Clemente, Jenny Holzer, Sol LeWitt, Richard Serra, Alexander Calder, Henry Moore, Fernando Botero, Vito Acconci, Larry Bell, Christian Boltanki, Mario Merz, Nam June Paik, Bill Viola, Bernd And Hilla Becher, Nan Goldin, Andreas Gursky, são apenas um pequeno exemplo do grande leque de artistas que a Coleção reúne. A par dos criadores/artistas estrangeiros, existem de igual forma, para que se faça uma consolidação e valorização da Arte Portuguesa nesta coleção, nomes como Fernando Calhau, Alberto Carneiro, Paula Rego, Helena Almeida, Pedro Cabrita Reis, Pepe Diniz e Fernando Lemos.

2.4 A Coleção e o Museu

Com a ajuda de diferentes colaboradores, mas maioritariamente com o apoio do Dr. Francisco Capelo, advogado do então BANIF, José Berardo, movido por sonhos, curiosidades e paixões, foi reunindo, nas últimas décadas, aquela que é atualmente a Coleção Berardo. O comendador continua a desejar a criação de estímulos, quer em indivíduos quer em instituições, para que se possam criar e expandir outras coleções, e para que as gerações futuras

31 Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo. possam ter comoexperiências, as preocupações, esperanças e ansiedades de outros tempos. O grande objetivo da coleção, passa pela capacidade de transparecer a complexidade da arte moderna econtemporânea, e demonstrar, de igual forma, obras capazes de ilustrar as épocas vividas pela sociedade aquando da sua criação. Apelando a uma abertura de espírito, e agregando obras que ilustrem a qualidade e imaginação criativa sem limitações, é pretendida uma mostra artística, sem olhar a técnicas ou nacionalidades, e sim apenas à pureza da arte. Esta coleção define-se como um horizonte sem fim, para que possa sempre ser enriquecida com a arte de gerações futuras. Dedica-se ao público, de e para quem a vê. A primeira mostra da CB ao público foi no ano de 1993. Por esta altura, a coleção era apenas um pequeno núcleo de obras que o Comendador considerava pertinente mostrar. No panorama artístico nacional, uma coleção, mesmo que pequena, era um ponto importante para o país, visto que mostras de arte moderna e contemporânea, na época, eram praticamente nulas. Vê-se então a necessidade de fazer a implantação da coleção num espaço museológico. Com este propósito, são então criados, no ano de 1996, dois protocolos – um com a Câmara Municipal de Sintra e o outro com o Centro Cultural de Belém. Foi com este segundo protocolo, que se possibilitou que as obras reunidas pelo Comendador, fossem depositadas em acervo, permitindo então, o intercâmbio e a organização de exposições a nível internacional. A Coleção Berardo aspira oferecer ao país, um acesso vitalício à arte internacional e nacional dos dois séculos por ela abrangida até ao momento, e o seu acervo, ocupa na atualidade um lugar de extremo prestígio por entre outras instituições do mesmo género. O espólio presente no Centro de Exposições do Centro Cultural de Belém, está dividido em três núcleos, que por sua vez estão subdivididos por correntes artísticas.Existem duas exposições permanentes, a do período de 1900 até 1960 - Museu Coleção Berardo (1900-1960) -, e a inaugurada em novembro de 2011 - Coleção Berardo (1960-2010) -, que corresponde então ao período de 1960 a 2010, e que por sua vez dá continuidade à primeira.

32 Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.

Relativamente a esta segunda exposição permanente, sabe-se que algumas das obras foram cedidas pela Fundação Ellipse, outras pela Fundação Serralves e ainda pela Direção-Geral das Artes. O MB está aberto todos os dias da semana, de segunda-feira a domingo, entre as dez e as dezanove horas. Em dias especiais, como o dia 24 e o dia 31 de dezembro, em que a abertura é feita apenas entre as dez e as catorze horas e trinta minutos; no dia 25 de dezembro, este encontra-se encerrado; e no dia 1 de janeiro, encontra-se aberto entre as doze e as dezanove horas. Com a renegociação do acordo entre o estado português e a Fundação Berardo, as outrora entradas gratuitas sofrem alterações. A partir do ano de 2017, para que existam novos meios de financiamento, o ingresso no MB passa a ser pago21, sendo que o valor do bilhete é ainda desconhecido. Mas à semelhança de outros, possui tal como os restantes, pelos menos um dia por semana em que a entrada é gratuita22. Na sua relação com o público, o museu pretende facilidade, isto é, pretende-se que exista uma relação humanizada, com emoção e proximidade para com a coleção, para que se possam captar novos segmentos de público para o visitar, imprimindo um prazer e um sentido de descoberta e dinâmica na aprendizagem. No que toca à programação deste museu, são apresentadas exposições sobre vastas temáticas, sendo que estas poderão ou não ter uma relação direta com a coleção em si. Neste programa, abrangem-se diversos tópicos, como a arte contemporânea estrangeira, a fotografia, a arquitetura, o design e outros. Quanto ao turismo, existe uma ligação forte do museu para com o mesmo e esta é feita através da representação e promoção internacional da coleção.

21 LOPES, Miguel A.. Museu Berardo vai ter entradas pagas a partir de 2017. Agência Lusa, 2016. Acedido em: observador.pt/2016/11/23/museu-berardo-vai-ter-entradas-pagas-a-partir- de-2017/. 22 CARRILHO, Raquel. Museu Berardo em Belém, mas com entradas pagas. Jornal I, 2016. Acedido em: ionline.sapo.pt/535851.

33 Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.

2.4.1 Lacunas

As lacunas situam-se sobretudo a partir da década de noventa. Nesta Coleção, não será possível encontrar, por exemplo, na década referida anteriormente, movimentos suficientemente diferentes uns dos outros e que exerçam julgamentos críticos relativamente a outros, sendo estes movimentos expressionistas e transvanguardistas por um lado, e apropriacionistas por outro, ou até mesmo, que foquem a fotografia alemã, visto que todos esses movimentos têm na Coleção uma representação, mas quando se passa para a década de noventa, deparamo-nos com um colapso. Este colapso acontece por terem sido seguidas vias demasiado institucionais que privilegiaram determinados média em relação a outros. Um dos claros exemplos será o da pintura, que não deixando obviamente de ser importante, foi preterida em relação a outros movimentos, que surgiram desde esse período até aos dias que correm, como por exemplo a vídeo-instalação, que foi, por sua vez, uma forma de explorar outros tipos e linguagem, e foi algo que teve um período de importância, em anos anteriores, e voltou dominantemente na década em falha. No entanto, tal não significa que nos anos que se possam seguir, não seja feita uma retrospetiva que nos irá conduzir a uma falha de novos movimentos de importância da história de arte. A história é feita de nuvens. Alguns dos nomes em falta e a ter em atenção, seriam então exemplos como Mona Hatoum, Douglas Gordon, Gabriel Orozco e Francis Allys. Nomes que fazem falta na Coleção Berardo, e que são, por sua vez, do agrado geral, possuindo grandes referências nos diversos entendimentos, tendo obras bem construídas e cimentadas ao longo dos anos e que se tornam, naturalmente, prioridades da coleção.

2.5 A Exposição

A exposição Museu Coleção Berardo (1900-1960) apresenta obras que fazem parte de um leque de cerca de duzentos e cinquenta artistas e de uma

34 Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo. grande variedade de movimentos da arte moderna do século XX, abrangendo um período de 60 anos, resultado de um pós Primeira Guerra Mundial, e que nos conduz a um passado recente cheio de vivências. Ao mesmo tempo conduz o público à Segunda Guerra Mundial, e posteriormente ao seu pós- guerra. Nesta exposição transparece o momento da história em que o conceito de arte, e de obra são radicalmente transformados, transportando àquilo que hoje vemos como um objeto de arte. Esta exposição encontra-se no último piso do edifício que está aberto ao público, o piso dois. De entre os vários núcleos desta exposição, destacam-se: - Os Espaços Cubistas – Onde Pablo Picasso, se integra como um dos grandes nomes da coleção, e onde entre este e outros nomes, este movimento adquire uma influência no pós-impressionismo, que une a natureza às formas geométricas. Uma das obras a ver, será Les Demoiselles D’Avignon23, de Picasso que é a obra onde transparecem as principais caraterísticas do cubismo. - Dadaísmo - Conduzido por uma falta de apresentação específica, este chega até ao momento em que se situa no ready made, que nos conduz a Marcel Duchamp, outra figura de nome sonante da arte a nível internacional, e com grande história naquela que é a história da arte. Le Porte-bouteilles, é a obra que faz com que se erga um objeto comum àquilo que é considerado uma obra de arte, chocando contra todos os conceitos adquiridos sobre a obra de arte até à data. - Construtivismos - Malevich foi quem utilizou a primeira vez o termo de arte construtivista, de forma a caracterizar o trabalho de Rodchenko, mas só mais tarde, cerca de 1920, este termo se tornou algo mais sólido. - De Stijl - Movimento estético, social e filosófico nascido na Holanda. Por esta altura a Holanda estaria à parte daquela que era a Primeira Guerra Mundial, aspeto que acabou por ser positivo para uma evolução

23 Uma das obras que revolucionou a história de arte, por forma a tornar-se a base para o cubismo e a pintura abstrata.

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no campo artístico. Este exerceu sobre as artes plásticas e o design algumas influências que lhes originaram mudanças. De Stijl ou Neoplasticismo, é de certa forma um movimento idealista do século XX, surgido em 1917, pelas mãos de Theo Van Doesburg, que imprime na arte da modernidade uma pureza abstracionista. Com isto, De Stijl pretendia uma correlação entre o natural e a intelectualidade, de forma a existir um equilíbrio. Este movimento artístico era caraterizado pelo uso das cores primárias, sendo que estas estariam completadas com a utilização das cores preto, banco e cinza, que ajudavam na composição da expressão. Outras das características latentes nestas obras, passavam então pelo uso de ângulos retos, e formas planas, sendo que tudo isto levaria à criação da possibilidade de quebrar regras individuais e criar soluções de uma forma coletiva. O nome do movimento em questão, “De Stijl” surge de uma publicação (revista) com o mesmo nome. Era, acima de tudo, um movimento com muito fervor, por parte de quem o suportava. - Abstração entre Guerras - Dois dos nomes de maior importância para o abstracionismo, seriam então os criadores do grupo natural de Paris, Abstraction-Création, fundado por Auguste Herbin e Georges Vantongerloo. - Surrealismo - Gerindo-se pela liberdade, poesia, amor e o maravilhoso, este movimento procurava libertar-se das regras sociais existentes, onde surgia o trabalho, a família e a religião. A liberdade dava aso à poesia, e o amor iria fazer com que todos os seres humanos se relacionassem em harmonia. Já o maravilhoso seria considerado como aquilo que iria fazer voar a mente do homem. Salvador Dalí é um dos nomes de referência deste movimento, gerando obras que desafiavam aquilo que é o real e o que é considerado o comum. - Figuração no Pós-guerra - Foca a arte do figurativismo, que surge no início do século XX, mais concretamente pelo ano de 1920, reclamando o seu lugar em relação a outras correntes que estariam na (sua) imposição na altura. Esta manifestação artística, vocacionada

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principalmente para as artes plásticas, representava figuras e realidades consistentes e possíveis de identificar, sendo então algo representacional. Os seus elementos mais marcantes seriam a cor, o contraste, as linhas, a textura e a perspectiva, que ajudariam a criar a ilusão de forma e espaço, com o objetivo de atribuir uma maior importância ao que seria representado. O figurativismo contém duas vertentes, sendo que uma delas seria a do real, que criaria então a ilusão de observarmos algo tal como é na sua existência formal e real. E a arte figurativa estilizada, onde seria possível reconhecer aquilo que era retratado, mas onde era identificada uma simbologia ou uma diferença estética ao que esse elemento é na sua naturalidade. - Informalismo – Corrente artística que surge na Europa em finais dos anos quarenta, numa epóca de pós-guerra, da Segunda Guerra Mundial, onde, como é caraterístico nos movimentos desta mesma exposição, o povo se vê inserido numa crise existencial. Este movimento surge por uma necessidade de abstração do que se estaria a passar. Utilizando uma linguagem abstrata, são os materiais que se tornam decisivos na definição da obra, no papel que esta terá na sua mostra. Assim, são inseridos neste movimento novas tendências, que passam pelo uso de materiais que se diferem do que é comum, gestualidade na obra, e geometria espacial. É vista, com grande fulgor, a presença da personalidade do artista, isto é, na obra transparece aquilo que ele próprio é, através dos materiais por ele escolhidos, e pelas próprias técnicas que emprega, criando uma exaltação, e até mesmo uma improvisação na construção da obra. Como muitos outros movimentos artísticos, também o informalismo recorre ao passado, para tomar como base certas caraterísticas de outros movimentos, como por exemplo o gosto pela colagem exercido pelos cubistas, assim como o automatismo surrealista. Nomes como Jean Fautrier, (que surge com obras que demonstram o movimento Nazi em plena Segunda Guerra Mundial), ou Jean Dubuffet, são nomes marcantes não só deste núcleo,

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mas também do movimento em si, transparecendo então as crises e caraterísticas do mesmo. - CoBrA - Criado na Holanda, a sua sigla significa Copenhague- Bruxelas-Amsterdam24, e que surgiu entre os anos de 1948 e 1951. Surgido num ambiente de pós-guerra, mais uma vez, aparece na devastação que a Segunda Guerra Mundial haveria deixado para trás, e numa altura em que seria necessária a união de forças, em todos os aspetos. Aspirando mais liberdade, e sabendo que seria necessário existir uma reconstrução do que havia ficado destruído, os criadores do movimento pretendiam que fosse possível ao artista, satisfazer-se com a sua veia criativa. Por esta altura todas as frustrações, angústias e dores, resultantes da guerra recente, estariam no foco das suas mentes, e consequentemente iriam estar transparecidas nas suas obras, de forma a mostrar o purgatório pelo qual teriam passado. O movimento pretendia, no fundo, que fosse transparecido o conteúdo das suas mentes, mas de forma pura, cheia de emoção, como se fosse possível estar presente no local, só pela observação da obra em si. No CoBrA existia uma grande vontade de quebrar e responder aos ideais do surrealismo. Existia uma vontade de expressão, de criar sem pensar. Não deveria existir um pensamento prévio, mas sim uma espontaneidade que os conduzisse diretamente ao suporte, levando um certo desajeite em grossas camadas de tintas primárias, e deixando marcas profundas no mundo da arte, com as suas imagéticas, de certa forma infantis e primitivas. Christian Dotremente, Pierre Alechinsky, Corneille, Karel Appel, Constant, e Asger Jorn eram membros deste grupo, e consequentemente, os nomes a ter em conta neste movimento. - Expressionismo Abstrato - Posterior à Segunda Guerra Mundial, aparece em 1943, fruto de uma época de incerteza, onde os artistas europeus se mudariam para os Estados Unidos da América, para se sediar em Nova Iorque. O contato que existiria depois dessa mudança, traria então aos Estados Unidos, aquele que é um dos movimentos

24 Definição: Copenhaga-Bruxelas-Amsterdão.

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artísticos de maior importância na história da arte americana. Numa altura em que existia um certo bloqueio, os artistas procuraram em conjunto, sobreviver à crise que estariam a passar em termos artísticos. Era necessário existir inovação, mudança, pensamento próprio. De certa forma, foi criada uma influência nos jovens artistas americanos, dada a variedade artística existente, fazendo com que Nova Iorque fosse colocada como uma das cidades de importância no que toca à arte. Aqui vê-se uma junção daquilo que é a emoção intensa do expressionismo alemão, com as escolas abstratas europeias, Cubismo, Futurismo e Bahaus. É uma corrente que expressa a liberdade do criativo, focando a sua subjetividade, originando um momento de criação no seu sentido mais puro e gestual. Alguns dos grandes nomes a focar neste movimento, e na coleção, seriam então Arshile Gorky, William Baziotes, Jackson Pollock e Willem de Kooning. - Nova Escola de Paris - Surgindo no segundo pós-guerra, século XX, e resulta da reformulação das definições de estética. A Escola de Paris iria sofrer uma mudança que a iria transformar, e que se prolongaria por um período de dez anos. Este núcleo demonstra dois aspetos do abstracionismo, que se caracterizam pela geometria das formas e a tendência lírica-informal. Depois de um período de crise política e social, a Europa sofre grandes mazelas das guerras mundiais, deixando todo um rasto de confusão e destruição, que liberta no povo, a incerteza do que estaria para vir. Assim, a arte começa mais uma vez a sofrer transformações que a fazem libertar-se da figuração, conduzindo-a mais uma vez ao abstrato, à expressão que era necessária numa obra. A Nova Escola de Paris seria assim, uma herdeira da arte cubista, surrealista e expressionista. - Arte Cinética e Op Art – Paris, 1955, aquando da inauguração de uma exposição que seria o ponto de partida para uma arte que se move. A Arte Cinética é um movimento que surge de forma a responder à necessidade de criar novos estilos de arte, que transpirem mudança e

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inovação, e ao mesmo tempo, que criem de alguma forma impacto. Esta recorre aos efeitos visuais, criados com uma tela e que nos causam a sensação de movimento, que será apenas uma ilusão de óptica. Assim, a Op Art é um exemplo da arte cinética. E esta faria uso da sensação de movimento, repetindo formas geométricas e utilizando tons e luzes que diferiam entre si, de forma a obter um efeito ilusivo no globo ocular, que se iria transparecer de outra forma quando ligado ao cérebro.

O número total de núcleos expostos inclui também os seguintes: Fernand Léger e Josef Albers; Grupo Zero; Fontana, Manzoni e Klein; Figuração Existencialista; “Presentness is Grace”; Descolagismo – Noveau Réalisme; Neodadaísmo; Pop Art Britânica; Pop Art Americana. Estes núcleos possuem artistas de vários locais do mundo, tentando apresentar o melhor de cada movimento. A então primeira exposição permanente do museu, abriu ao público em junho do ano de 2007. A Exposição Museu Coleção Berardo (1900-1960) pretende contar a história de uma época, que se demonstrou de extrema criatividade no que toca à inovação, à criação, à diversidade e à mudança, visto ser fruto de uma época crítica no que toca à política e aos valores sociais, que se faziam sentir devido às Guerras (Primeira Guerra Mundial e Segunda Guerra Mundial) e que mudariam e influenciariam não só a história social, mas também a história da arte.

2.5.1 Conservação, segurança e prevenção

No que diz respeito aos termos de conservação das obras, estas encontram-se expostas em condições adequadas. Não apresentando vestígios de degradação ou deterioração, ou sequer de alguma necessidade interventiva. É possível visualizar as obras no seu melhor estado, sendo este um aspecto que reflete o bom tratamento das mesmas.

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As obras, no seu geral variam entre pinturas, e esculturas, o que faz com sejam necessários suportes e molduras para as pinturas, e estrados ou suportes para as obras escultóricas. No caso das peças de pintura, as molduras ou suportes possibilitam proteção a possíveis deteriorações, que poderão ser influenciadas pela exposição ao ar; e/ou resguardo no que diz respeito a toques por vezes incontrolados do público em geral, seja por distração ou outro acaso, sendo que a vidraça da moldura permite que não existam toques diretos nas obras, evitando também que as obras ganhem sujidade ou sejam afetadas por fungos ou outras bactérias que as possam corroer ou causar outra espécie de danos. Ainda neste ponto, pode ainda referir-se que ao estarem suportadas e protegidas de forma integral por molduras, torna-se mais difícil que as obras se danifiquem por inteiro, não existindo possíveis rasgos ou estragos. No caso das peças de esculturas, devido ao seu tamanho e peso, algumas delas estão colocadas diretamente no chão das salas, sendo que outras estão apenas sobre o que aparenta ser uma folha de papel de cenário, e as demais encontram-se em suportes ou estrados, que permitem a delimitação do espaço que o visitante deve utilizar, quando esta não existe. Neste caso específico, seria necessária uma forma de demarcação, com um suporte ou através de linhas definidas com textura, para que não seja possível demasiada proximidade ou a causa de danos, sendo que no caso de que aconteça, exista uma forma de alerta para este acontecimento. Ao existirem obras demasiado expostas no percurso da exposição, situações como no caso das peças de pintura, podem levar adanos nos objetos de arte. No que diz respeito à segurança, como anteriormente referido, quase todas as obras estão de alguma forma fisicamente protegidas. Danos nas obras, poderão apenas acontecer devido a toques acidentais causados por situações pontuais, e que poderão originar a queda de alguma das obras levando à quebra ou danificação de outra natureza das mesmas. Para que isso não aconteça, a solução deveria então passar pela existência de linhas limitadorasda distância entre o espectador e a obra, linhas essas que deverão

41 Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo. possuir uma textura diferente da do piso em que se inserem, de forma a que se façam notar. Também no que se refere à segurança, existem funcionários do Museu, nas salas do espaço expositivo, que poderão não só auxiliar, mas também alertar o público para possíveis situações de risco. Por outro lado, e da mesma forma que existem os vigilantes ou assistentes da exposição, existem também os seguranças, que pretendem certificar que o espaço, e toda a exposição se encontram estáveis. Para isso, cada segurança circula pelas salas, equipado com rádios que permitem a comunicaçãoentre colegas e outros profissionais do museu, de forma a manter um contato em rede que permite a rápida circulação da informação. Em caso de situações de emergência ou alto risco, é possível observar por todas as salas, a existência de saídas de emergência devidamente assinaladas, extintores, telefones, alarmes e plantas do espaço, para que o ambiente seja mantido seguro e para que seja possível a existência de contato tanto de quem visita a exposição, como para os funcionários do museu, para que seja rápida a resolução de situações de maior risco.

2.5.2 A Apresentação

A exposição possui algumas falhas na sua leitura, sendo que durante o percurso, por não existir uma linha definida de circulação, poderão passar despercebidas algumas obras ao estarem fora do campo de visão. As salas possuem alguns problemas de organização, no que diz respeito à colocação das obras e por isso, torna-se por vezes difícil a sua leitura. Um dos exemplos deste aspecto, será o facto de certas obras se situarem no centro do espaço onde seria zona de circulação, impedindo que esta se realize de forma fluída e criando entraves aos visitantes. Por outro lado, e sendo igualmente um aspeto importante a referir, as salas, apesar de espaçosas, tornam-se de certa forma reduzidas, tendo em conta o número de obras expostas, principalmente no que diz respeito às

42 Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo. peças de escultura, visto que estas nem sempre estão/são colocadasda forma mais adequada à leitura e ao aproveitamento da sala. No que diz respeito à informação presente na exposição, esta é clara e sucinta. Por todo o percurso da exposição, observam-se pequenos textos que poderão ser lidos a curta distância e que permitem a passagem de informação complementar àquilo que é observado. No entanto, esta mesma distância torna-seem momentos demasiado curta, visto que se o visitante se encontrar alinhado com o texto, é possível que exista uma leitura rápida do mesmo, mas que, caso não seja possível estar diretamente exposto à informação, estando por exemplo num grupo maior de pessoas, poderá tornar-se difícil a leitura dos textos, e consequentemente impossibilitar a circulação do público pelo espaço, originando uma perda de informação. Existem também, em relação aos textos e legendas colocados pelo local, certos aspetos que os fazem falhar naquilo que seria a sua melhor. Por exemplo, as placas colocadas nas paredes, exercem demasiada carga visual, focando demasiada atenção para as mesmas, quando estas não deveriam prevalecer sobre as obras. É possível encontrar textos de cor preta e vermelha, que estarão sobre um fundo cinza, e que para além de dificultarem a sua leitura, devido ao contraste de cor, assumem também um aspeto de maior carga visual do que o que seria necessário. Relativamente às legendas, apesar de estas estarem maioritariamente legíveis e bem colocadas, em certas situações, é difícil compreender que legenda dirá respeito a que obra, por exemplo, principalmente nos casos das esculturas, encontram-se colocadas na parede quando as obras estão situadas no centro da sala em questão. De igual forma, existem também casos, em que as legendas não se encontram no campo visual, tornando-se necessário algum esforço para as encontrar e ler, existindo de igual forma legendas impressas em pequenas placas, que para além de retiradas do objeto a que correspondem, poderão serdemasiado pequenas para que se proceda à sua leitura. A solução poderia passar por serem colocadas diretamente sobre os suportes ou paredes, de forma a que não causem também ruído visual.

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Em relação ao percurso da exposição em si, como anteriormente referido, torna-se algo complicado entender o caminho a seguir, visto não existir um circuito pré-definido o que origina uma perda de certas linhas de informação para o observador. A existência de um sistema que facilite ao público o entendimento do melhor circuito da exposição, poderia auxiliar nesta situação, apesar de ser importante a liberdade deobservaçãoda exposição. As cores apresentadas no espaço, são identificativas do Museu. As paredes são de fundo branco, primando por fazer sobressair as obras, e utilizando apenas apontamentos de cor vermelha e preta nas explicações de cada núcleo expositivo e também na leitura das legendas. Possivelmente, seria solução optar por cores mais neutras ou suaves, substituindo as cores mais fortes por tons de cinza e/ou tons mais claros das cores originais. As peças expostas encontram-se colocadas de forma assimétrica pela exposição, organizando-se pelo espaço da sala em si. As peças de pinturas estão colocadas nas paredes a uma altura que permite que se encontrem situadas no campo visual do observador. Por outro lado, existem peças de esculturas, colocadas também elas assimetricamente pela exposição. A Exposição possui panfletos que complementam pormenores que possam passar despercebidos, ou introduções a elementos que serão a chave para a compreensão de tudo o que se observa. Estes encontram-se no átrio de entrada do edifício do centro de exposições, à entrada da exposição em si, e também na sua saída. Para que todos os panfletos e toda a informação da exposição seja compreendida por um maior número de pessoas, e tendo em conta que existem inúmeros visitantes que se deslocam do estrangeiro, estabeleceram-se duas línguas para a leitura de toda a informação, o português, língua mãe do país, e o inglês, a língua mais comum à maioria dos que visitam o espaço e que se deslocam de outros países. De uma forma geral, é possível entender-se que a informação é facilmente captada, denotando-se, no entanto, a existência de alguns aspectos que falham, e que, caso solucionados, facultam uma melhor leitura da exposição e do espaço em si, facilitando ao público a compreensão daquilo que observam.

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2.5.3 Divulgação | Identificação

No que diz respeito à divulgação da exposição e do espaço do Centro Cultural de Belém, é possível visualizar faixas identificativas do museu e da coleção, com a letra “B” que define a marca da Coleção Berardo, e que faz com que seja perceptível a aproximação ao espaço. As faixas possuem tamanho mais que suficiente para que sejam vistas a grande distância, e identificam o espaço por assumirem um contraste com letras em cor vermelha em relação ao resto do ambiente e da fachada do edifício que é predominantemente de cor clara. Posteriormente, no percurso até à entrada do edifício, existe igualmente um sinal luminoso com a letra “B”, assinalando assim a chegada à entrada do centro de exposições. No que toca à entrada do edifício em si, podem encontrar-se faixas que a marcam, e observando através das vidraças da entrada, é possível ver nas paredes esquemas que anunciam a chegada ao Museu. Passando a recepção, avistam-se tabelas que identificam as várias exposições que decorrem no espaço, e os espaços do Museu em si. Nestas tabelas, é possível ler as indicações sobre a exposição permanente “Museu Coleção Berardo 1900-1960”, sabendo em que andar a mesma se encontra, e indicando os meios que se poderão utilizar para lá chegar,entre outras informações genéricas, como por exemplo, se nesse piso se poderão ou não encontrar os lavabos. Perto dos locais onde se costumam situar os assistentes do museu, existem também uma série de panfletos informativos, que serão capazes de fornecer informação relativa ao museu de forma generalizada: exposições que decorrem, atividades e serviços do museu em si - serviços de guia, serviços didáticos, entre outros. No que diz respeito à exposição de arte moderna, ao subir as escadas ou o elevador para a exposição, poderá ser visualizada outra tabela indicativa do percurso a seguir.

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2.5.4 Percurso da Exposição

Em termos de orientação, é relativamente simples entender onde nos encontramos, bem como onde cada indivíduo se pretende dirigir. Existem identificações ao longo do percurso até ao Centro de Exposições, e o primeiro acesso à entrada, poderá ser realizado sem quaisquer dificuldades, seja pela rampa permitindo a circulação de pedestres ou pessoas com dificuldades motoras, nomeadamente portadores de cadeiras de rodas. O acesso ao piso superior poderá ser feito através de escadas, ou caso exista necessidade de circular com cadeira de rodas, é possível fazê-lo através de um elevador que existente perto das escadas mencionadas. Relativamente ao percurso na exposição, como já referido não existem indicações, sendo que o sinal que mostra a entrada, se apresenta como um paralelepípedo que mostra o nome da exposição e artistas presentes na mesma. No que diz respeito à forma como deveremos circular pelas salas, não existem indicações, pelo que se poderá circular como melhor for entendido. No que diz respeito aos acessos aos diferentes pisos, e neste caso específico ao piso dois, onde se encontra a exposição a ser analisada, o acesso poderá ser feito através das escadas em caracol que se encontram depois da recepção do edifício e da área de lavabos, ou subir através do elevador que irá conduzir exatamente ao andar solicitado, e que possibilita igualmente um acesso, sem entraves à exposição. O elevador para além da circulação natural, permitirá o acesso de pessoas com cadeiras de roda e/ou com dificuldades de mobilidade a pisos superiores e inferiores. Tal como nas restantes áreas do museu, os espaços expositivos permitem o acesso e circulação de pessoas com dificuldades motoras, e que necessitam de cadeiras de rodas para circular pelo espaço, sendo que as salas são relativamente amplas, e o piso é liso e regular. Na circulação da exposição, onde existem esculturas expostas, apenas estas poderão causar alguns entraves na passagem de indivíduos que possuam condicionantes na sua mobilidade, fazendo com que possa tornar não tão confortável e segura a

46 Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo. circulação dos mesmos. Esse seria então um aspecto menos bom, e que poderia ser resolvido de forma a criar mais espaço à circulação de todos os indivíduos, permitindo-lhes um maior à vontade.

2.5.5 Análise da Exposição da Coleção Permanente do Museu Coleção Berardo (1900-1960) 2.5.5.1 Tipologia

A Exposição Museu Coleção Berardo de 1900 a 1960 é uma exposição de arte moderna que se encontra de forma permanente no Museu – podendo,no entanto, sofrer algumas alterações no seu espólio, de forma a atualizar e/ou complementar a sua informação

2.5.5.2 Temática

A temática desta exposição, centra-se numa apresentação de obras realizadas por artistas que pertencem à arte moderna, no espaço de sessenta anos, e que representam, com algumas lacunas, obras de importância ao nível da arte mundial. Na exposição figuram uma série de obras, de artistas de renome, que reagindo a épocas de guerra (Primeira e Segunda Guerra Mundial), no século XX, surgiram através de movimentos e expressões que caracterizam uma altura de crise política e social, e que transparecem as problemáticas e vivências dos artistas e do povo nas várias partes do mundo, mas maioritariamente na Europa. Esta exposição é de leitura individual, e pretende de certa forma, gerar discussões entre os diferentes indivíduos que a visualizam, visto que através de cada obra se geram interpretações e visualizações que diferem para cada espectador, e puxa a uma temática que conduz a polémica, por ser parte da história. Assim, aos factos reais e inquestionáveis da história contada e conhecida através dos grandes livros, adicionamos aquela que foi a visão de

47 Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo. cada artista, relacionando as suas visões e vivências, e recriando-as através do objeto artístico. A exposição recorre às memórias do passado, busca aquilo que se conhece, de forma a completar e apreender novas visualizações, através de traçados fortes, de imagens surrealistas, e esculturas que se contorcem e criam imagens de fuga, ou de chegada à realidade. No fundo, a exposição é um reviver do passado para uns, e para outros é o conhecimento do que foi vivenciado outrora. Sendo acima de tudo, o contar da história por uma nova objetiva.

2.5.5.3 Modulação do Espaço

Na modelação do espaço desta exposição, observamos uma sala ampla que permite receber um grande número de obras, sendo uma das salas principais do Museu, e igualmente uma das maiores salas existentes no espaço, e que considerando o hall também ele como um local expositivo, se tornaria possível um maior aproveitamento de espaço. Depois da chegada ao piso dois, onde se encontra a exposição, pode avistar-se o hall mencionado. Não existe sinalética de circulação visível, sendo que o espectador deverá dirigir-se como pretender ao interior do espaço expositivo. Ao não existir uma definição do percurso, o público poderá decidir entrar pela entrada assinalada, seguindo em frente, e visionando a exposição da forma que entender. A problemática neste aspeto passa então por não existirem definições do que se poderá ou não seguir, e que poderá cortar com as linhas daquilo que seria compreendido, tendo em conta uma organização cronológica das obras apresentadas. O espaço é dividido por salas e paredes que originam circuitos de passagem. Neste caso, o problema poderá residir na falta de espaço para a circulação quando esta é realizada a pares por exemplo, e que poderia possivelmente ser resolvida com o encurtar do grande hall da exposição, tornando-se então necessário aumentar um pouco os corredores de passagem. No entanto, em algumas salas, é possível visualizar um maior espaço para

48 Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo. passagem e apreciação das obras, o que tende a ajudar um pouco no que diz respeito a este aspecto.

2.5.5.4 Espécimes Expostos

Todos os espécimes expostos nesta exposição, são obras originais que fazem parte da Coleção do Comendador Berardo e/ou da Coleção resultante do acordo entre o Comendador José Berardo com o Governo Português. Estes espécimes resultam da explosão de criatividade de autores de grande importância que figuram na história da Europa, na história do mundo, e principalmente na história da arte, e que refletem épocas de grandes problemáticas da vida do povo e das crises pessoais de alguns artistas. As obras observadas nesta exposição são peças de pintura e escultura que se unem e reúnem para contar determinados episódios.

2.5.5.5 Material Expositor

As obras de arte expostas pelas salas, na vertente da pintura, estão protegidas por molduras e ou vidraças, do que será tratada, de diferentes tonalidades e entalhes (variando entre madeira dourada e madeira escura), essas molduras protegem totalmente as obras por serem acompanhas de vidraças que protegem as obras de toda e qualquer partícula e ou particularidade que as possa danificar. As molduras estão assentes na parede com parafusos, que as mantêm firmes, e que não se apresentam visíveis, para que não interfiram na visualização do espaço expositivo. A existência dos parafusos, permite a firmeza das peças ao local onde se encontram, conferindo segurança e força, mesmo em obras de porte maior. Por outro lado, algumas das peças de escultura expostas, encontram-se protegidas por suportes que as colocam a uma área superior à do chão e à altura do campo e visão do público em geral, existindo também algumas peças que não se possuemesse suporte estando diretamente colocadas no chão, ou

49 Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo. possuindo apenas, aquilo que aparenta ser papel de cenário, e que apenas demarca o local onde se encontra a obra de arte em relação ao chão através do contraste. Os suportes utilizados são feitos em platex ou madeira mdf, e pintados a cor branca. Estes assentam no chão demais apoios.

2.5.5.6 Iluminação

Em termos de iluminação, a sala possui pontos de luz natural, fornecida pelas vidraças dos tetos, estando cobertas por estores que permitemo impedimentoda entrada de luz direta na sala, de forma a manter apenas a circulação da luz controlada pelo museu. Este aspecto permite o controlo de desgaste das obras de arte, visto que muitas delas são pinturas, e que poderão sofrer desgaste direto do sol, o que por vezes origina perdas de pigmentação nas peças. A cor clara da sala, o branco, atribui luz, brilho e foco no ambiente expositivo, fazendo com que por sisó, a sala seja já mais iluminada. O branco reflete com maior facilidade a luz em si, e ajuda a tornar todo o ambiente mais amplo e iluminado. Existe na sala uma iluminação ambiente, realizada através de focos de luz assentes nos tetos das salas, e que possibilitam a regulação da luz do local, tendo em conta que o espaço se poderá tornar mais claro ou mais escuro dependendo da iluminação vinda do exterior, o que influencia também a visualização das obras. Neste aspeto, os focos de luz colocados por toda a exposição, possuem uma luz esbranquiçada – luz fria – que evidencia e foca as cores e formas presentes nas obras. Noutros pontos da exposição, e maioritariamente sobre as obras colocadas nas paredes, existem projetores de luz, que são apontados de forma subtil para facilitar a visualização das formas e fazer sobressair a sua beleza. É necessária essa subtileza, para que as obras que possuem vidros de proteção não originem qualquer reflexo extremamente, que se poderá tornar

50 Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo. extremamente incomodativo, e o que poderá influenciar e intervir com a visualização da obra em si. Os projetores de uma luz, encontram-se colocados principalmente nas salas em que existem tetos mais baixos, e são postos de forma estratégica, para que ninguém para além dos funcionários do Museu possa exercer qualquer toque, e de forma a que não incomodem os espetadores aquando da visualização das obras.Estes projetores evidenciam a peça a destacar, resultando num ênfase a todas as cores e formas que transbordam de cada objeto visualizado.

2.5.5.7 Aspetos a ter em conta

Sendo esta uma exposição permanente do Museu Berardo, seria de importância mantê-la e apresentá-la da melhor forma, de acordo com aquela que será a melhor forma de deixar passar a história que se pretende retratar. Esta exposição encontra-se exposta há cerca de oito anos, tendo sofrido ao longo destes, algumas alterações, quer nas obras expostas, quer por vezes no espaço em si. As obras expostas, como já referido, passam por fazer transparecer a história de entre as guerras, que tiveram grande influência na política, vida social e artística de todos os seres humanos. Transportando influências de todos os tipos e recorrendo e criando movimentos artísticos, denotam-se diferentes visões em cada pintura e escultura expostas. A pintura e escultura sofrem intervenções de vários tipos, desde a utilização de cores garridas, a formas geométricas, à abstração de qualquer aspecto, passando pelo surreal e conduzindo à expressão sem pensar, podemos encontrar uma vasta espécie de obras de um grande leque de artistas. Nesta exposição, e como é possível visualizar, encontra-se uma organização de obras que conta a história, através de alguns núcleos, de uma série de movimentos, artistas e obras do século XX, pretendendo representar em Lisboa aquela que é uma exposição de arte moderna.

51 Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.

Não existe um circuito definido, ou seja, não existe uma forma obrigatória ou até mesmo uma ajuda no que diz respeito à melhor forma, ou à mais adequada a que deveremos circular pelo espaço. De um modo geral, é um espaço fácil de compreender e relativamente bem conseguido e organizado. No entanto, existem algumas falhas que poderão ser corrigidas de forma a colmatar alguns problemas e a permitir uma compreensão ainda mais feliz. Apesar de a sala ser uma das maiores salas do Centro de Exposições e acolher aquela que foi a primeira exposição permanente do Museu, é uma sala que poderia obter melhor aproveitamento, caso certos aspectos fossem melhor organizados, ou até mesmo suprimidos. Sendo uma sala grande, deveriam existir opções para uma melhor apresentação. No que toca à organização das obras, são perdidos alguns elementos na sua visualização. Existem obras colocadas a meio da passagem do local, obras demasiado desprotegidas, e por vezes, obras demasiado acima do campo visual do público em geral. No decorrer da exposição, existem alguns textos de apoio que podem ser lidos a curta distância, no entanto, essa distância tende a tornar-se demasiado curta, caso não sejapossível que cada indivíduo se situediretamente na linha de leitura do texto, isto é, caso fosse prolongada a distância entre o observador e o texto, tornar-se-ia mais complicado entender as formas das letras e até mesmo as cores, que por vezes se tornavam difíceis de discernir, tendo em conta a cor do fundo, e a cor da letra em si. Este aspecto, seria então o foco de outra problemática, sendo que caso “todos” ou um grande número de visitantes se colocassem a uma curta distância do texto, era criado um acumulado de público que impedia não só a visualização do texto, como das obras, e até mesmo um impedimento da passagem do resto do público e/ou funcionários do Museu. Outro aspecto a focar, e sabendo que não existe um percurso sugerido ou obrigatório para a melhor compreensão do observador, perdem-se linhas de entendimento incutidas em certos aspectos organizativos do espaço. Não se visualiza um caminho contínuo, um seguimento óbvio, sendo que o público

52 Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo. acaba por circular desorganizadamente pelo espaço. Seria então uma falha a colmatar, não tendo obrigatoriamente de se definir um percurso, mas dar, pelo menos, linhas de seguimento que possam auxiliar quem observa. Não se torna complicado utilizar um circuito adequado, por outro lado, a circulação dentro da sala em si, nem sempre permite uma leitura cem por cento clara. No que toca às cores do espaço, a cor predominante, o branco, figura nas paredes estruturais da sala, bem como em todo o ambiente e módulos quer de suporte quer de passagem de umas salas para as outras. O único aspecto divergente, apresenta-sena cor do piso, de madeira envernizada, e que transfere à sala um ambiente mais quente e característico da época em que se insere. Os apontamentos de cor, situam-se então, (para além de nas obras em si), nas legendas e temáticas dos núcleos que são apresentados, utilizando em alguns textos explicativos, cores intensas, que exercem possivelmente uma carga visual demasiado elevada para aquilo que deveria exercer. As obras colocadas pelo espaço organizam-se de uma forma assimétrica, estando colocadas na sua maioria, de forma correta e ao nível de visão do público (com o ponto médio da obra situado a cerca de um metro e meio do chão), pondo-se por vezes, e como já referido, a problemática de obras colocadas demasiado acima do campo de visão, ou simplesmente colocadas de forma irregular pelo percurso. O espaço expositivo é considerado um espaço amplo e regular, de fácil circulação no que diz respeito à passagem de pessoas com dificuldades motoras (transportadas por cadeiras de rodas ou outro tipo de apoios do mesmo género), sendo que, no entanto, existiam por vezes dificuldades de circulação devido às medidas dos corredores ou espaços de passagem da sala, sendo que estes são por vezes demasiado curtos para permitir a passagem de duas ou mais pessoas pela mesma zona e ao mesmo tempo. Por outro lado, existem espaços de maior amplitude que fazem equilibrar este aspecto, e permitem aos observadores uma melhor leitura da sala, para que possam usufruir daquilo que encontram à sua frente.

53 Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.

Em termos de luz, encontram-se os projetores, de um modo geral bem colocados em relação às obras e ao restante espaço, logo, não podem ser considerados um problema de maior, e por isso um elemento a ser excluído daqueles que são os aspectos a melhorar nesta exposição.

2.6 O Serviço Educativo

Interpretando a arte como um estímulo e como forma de aprendizagem, o Museu Coleção Berardo coloca à disposição do público, nas várias faixas etárias – desde os dois anos de idade até à idade adulta -, atividades e programações que transpareçam essa vontade. O museu considera importante que exista inclusão em termos sociais, sendo que esta é a sua forma de permitir que tal aconteça, abrindo as suas portas para produzir mais cultura. “Envolver as crianças e os adultos, as famílias, as escolas e outros grupos, nas atividades educativas é uma prioridade do Museu Coleção Berardo. Conhecer melhor as obras e os seus criadores, desvendando pensamentos, refletindo e partilhando aprendizagens são as propostas do programa de atividades do Serviço Educativo, organizado de modo a responder aos interesses dos diversos públicos.”25. As atividades integradas no serviço educativo do museu, passam pelos vários tipos de visitas e visitantes, tendo ateliês abertos, atividades para professores, ateliês de férias, atividades de aprendizagem para pré-escola, e até mesmo para grupos sénior. Nas e para as suas atividades, são disponibilizados recursos pedagógicos do museu, como cartas, livros e panfletos, com informações complementares para uma melhor percepção do que se pode ver neste espaço. O museu oferece “O museu em festa”, para famílias e aniversários “o «peddy-paper» mais divertido de sempre! Junta os teus amigos e parte para a ventura no museu! Com um mapa na mão, muitas obras da Coleção Berardo e

25 vd. pt.museuberardo.pt/educacao/atividades.

54 Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo. desafios”26. O “PEEA”, projeto continuado para escolas, em parceria com o Ministério da Educação e Ciência, é “o projeto «Museu para que te quero», desenvolvido no âmbito do Programa de Educação Estética e Artística, promovido pelo Ministério da Educação e Ciência.”, que quer “desenvolver iniciativas gratuitas, destinadas a alunos e professores do ensino pré-escolar e do 1.º ciclo, que reflitam os princípios teóricos da Educação Artística”27, entre muitos outros que abrangem um vasto público e tem por base variadas preocupações relacionadas com a arte, os museus e a aprendizagem.

CAPÍTULO 3 O MUSEU NACIONAL DE ARTE CONTEMPORÂNEA - MUSEU DO CHIADO E O SEU SERVIÇO EDUCATIVO

3.1 A Missão do Museu

26 vd. pt.museuberardo.pt/educacao/atividades/o-museu-em-festa. 27 vd. pt.museuberardo.pt/educacao/atividades/peea.

55 Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.

Por meio do Decreto 1, de 26 de maio de 1911, nasce o Museu Nacional de Arte Contemporânea – Museu do Chiado. O Museu do Chiado resulta da divisão do Museu Nacional de Belas-Artes em duas entidades, sendo a outra o Museu Nacional de Arte Antiga. Assim, cada entidade passa a pertencer a uma localização distinta, sendo que o Museu Nacional de Arte Antiga fica na Rua das Janelas Verdes, e o Museu Nacional de Arte Contemporânea, fica localizado no Chiado, mais concretamente no Convento de São Francisco. Alguns anos depois, através de um novo Decreto-lei, o 112/94 de 2 de maio, a designação do museu é alterada apenas para “Museu do Chiado”. Pelo decreto, define-se que o museu deverá mostrar um acervo que possua obras dos tempos presentes, sendo, tal como mostrava a sua designação inicial, um museu de arte contemporânea - “(…) o Museu foi reunindo um acervo que se pretendia identificado com o seu tempo (…)”28. Pretendia-se também o crescimento do acervo, colecionando um maior número de obras, e mantendo- as através das boas práticas conservativas para que estas possam ser expostas ao público no seu melhor estado de conservação. Pelo decreto 112/94, e tendo igualmente em conta a zona em que o museu se insere, define-se que a entidade deverá considerar no seu acervo aquilo que é fruto da cultura do país, mostrando o trabalho de artistas portugueses, e também as obras que se relacionam histórica e culturalmente, com a zona em que este museu se insere. O MC é o único museu nacional de arte contemporânea existente em Portugal, apesar de existirem outras entidades no país que atuam em campos dentro da arte moderna e/ou contemporânea. Por fim, e aspira-se também que exista um estímulo para conhecer e explorar, para que existam confrontos e experimentações, seja entre artistas portugueses ou internacionais, ou até mesmo uma correlação entre os dois, fazendo ver aquilo que se faz ou fez, quer fora, quer dentro do território português.

28 Vd. Decreto-lei 112/94 de 2 de maio - https://dre.pt/application/file/252323.

56 Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.

Apesar de ser uma entidade única, e apesar da importância do seu papel no campo da arte contemporânea em Portugal, o MNAC não consegue competir com outras entidades, por não possuir meios que o sustentem nesse sentido – como instituição não lhe é possível mudar o nível em termos de aquisição de obras, logo não tem possibilidade de enriquecer mais, de certa forma, o seu património. Ainda assim, a sua coleção conta com cerca de 5000 obras em acervo, em obras de escultura, pintura, desenho, fotografia e vídeo.

3.2 A Vocação do Museu

A Coleção do Museu do Chiado abrange os séculos XIX, XX, tendo ainda uma pequena porção de obras referente ao século XXI, da Arte Contemporânea, sendo que se encontra situada desde o ano de 1850 e até aos dias de hoje, albergando então um período superior a 150 anos – “(…) recolhendo obras de arte representativas da produção artística da segunda metade do século XIX e do início do século XX, reportando-se as peças mais significativas a um período anterior a 1950.”. A sua vocação passa não só pela mostra de obras de arte contemporânea, mas também pela inserção da cultura e história da zona do Chiado – “(…) justifica-se a redefinição da vocação do Museu Nacional de Arte Contemporânea e o seu enquadramento na realidade histórica e cultural da zona do Chiado.”29. Esta coleção reúne uma grande variedade de movimentos artísticos, e de forma a tornar-se cada vez mais rica, esta mantém-se como uma coleção aberta. Através da arte praticada por artistas portugueses, e iniciando percurso através do Romantismo, podem visualizar-se imagens que provocam sensações inexplicáveis, através de paisagens de enorme exuberância que nos conduzem ao Animalismo e posteriormente ao Naturalismo, trazendo as novidades que vão acontecendo por todo o lado, e que são exercidas pelas mãos daqueles que vivem em território português.

29 Vd. Decreto-lei 112/94 de 2 de maio - dre.pt/application/file/252323.

57 Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.

O interesse de focar estas épocas, resulta da necessidade de ver exposta uma época de grande importância, a época entre a Primeira e a Segunda Guerras Mundiais, e que, tal como em muitos outros lugares, foi um marco de importância e influência, quer na população em geral, quer nos artistas, principalmente os artistas portugueses. Estes foram influenciados não só pela história que os rodeava, mas também por aquilo que lhes foi de alguma forma transmitido por artistas internacionais. A importância desta coleção manifesta-se não só em termos artísticos, mas também em termos históricos. É uma coleção de extrema importância por mostrar, não só àqueles que vivem e usufruem da história do país, mas também para dar a conhecer, aquele que foi o trabalho de um povo, quer na sua história, quer na sua cultura. Fazem parte desta Coleção nomes como: Tomás da Anunciação, Cristiano da Silva, Anunciação e Luiz de Menezes, Miguel Ângelo Lupi, Silva Porto, Marques de Oliveira, António Ramalho, Columbano Bordalo Pinheiro, António Carneiro, Sousa Lopes, Amadeo de Souza-Cardoso, Santa Rita, Eduardo Viana, Mário Eloy, António Pedro, António Ferro, Almada Negreiros, Dordio Gomes, Abel Manta, Bernardo Marques, Carlos Botelho, Viana, Eloy, Canto da Maia, Diogo de Macedo, Francisco Franco, Manuel Filipe, Júlio Pomar, António Dacosta, Marcelino Vespeira, Fernando Lemos, Fernando de Azevedo, Jorge Vieira ou Mário Cesariny, Fernando Lanhas, Jorge Vieira, Nadir Afonso, Joaquim Rodrigo, Paula Rego, Joaquim Rodrigo, Jorge Pinheiro, Lourdes Castro, René Bértholo, Sá Nogueira, Noronha da Costa, Jorge Martins, António Sena, João Vieira, Alberto Carneiro, Helena Almeida, Julião Sarmento, Júlia Ventura, José Pedro Croft, Jorge Molder, Pedro Cabrita Reis, Rui Sanches, João Penalva, Rui Chafes, Ângela Ferreira, João Tabarra, Miguel Palma, Augusto Alves da Silva, Alexandre Estrela, João Onofre ou João Pedro Vale. 3.3 O Museu e a Coleção

O Museu do Chiado situa-se na zona histórica do Chiado, num edifício repleto de história, reconstruído após um incêndio, em 1988, que afetou esta

58 Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo. zona. Anos mais tarde, o edifício foi reinaugurado, reabrindo renovado no ano de 1994. Neste edifício pode encontrar-se um átrio que acolhe os visitantes, bem como vários outros pisos onde se encontram as salas de exposições, gabinetes e terraços. O museu beneficia do seu posicionamento num lugar histórico, fazendo uso deste não só para uma maior visitação, uma vez que o Chiado é uma zona de grande movimentação turística, mas também usufruindo da história que envolve o edifício e o Museu em si. O Museu do Chiado é, em conjunto com mais cerca de 28 museus, parte integrante do IMC30. Esta instituição é considerada o museu que transparece a riqueza e história da arte moderna e contemporânea portuguesa, tendo uma coleção de obras permanentemente exposta. Após vários anos a debater-se com falta de espaço, o edifício sofre em 2016 alterações, sendo alvo de obras. Reabre-se no mês de junho, o terceiro piso do edifício na Rua Serpa Pinto, com uma exposição da arte portuguesa dos séculos XX e XXI, com 80 obras da coleção, inseridas em diversos núcleos da arte moderna e contemporânea. As obras concluídas a meio do ano de 2016, concluíram a remodelação do edifício, e a ligação entre dois edifícios, em conjunto com a Rua Capelo31. O Museu do Chiado apresenta-se em funcionamento de forma permanente durante o ano, ou seja, a abertura ao público é feita de terça a domingo, das dez às 18 horas, e encerra segundas-feiras, e alguns dias feriados: 1 de janeiro, domingo de Páscoa, 1 de maio e 25 de Dezembro. Existe no MC uma política de entradas paga, estipulada pelo IMC, no valor de quatro euros, durante dias úteis e sábados, sendo que como é comum nos museus do país, domingos e dias feriados são dias em que se pode usufruir do museu gratuitamente até às catorze horas. Casos específicos, estão também isentos do pagamento da taxa de ingresso do museu – crianças até 14 anos,

30 Organismo do Ministério da Cultura – criado através do PRACE - Programa de Reestruturação da Administração Central do Estado, em 2007. O Instituto dos Museus e da Conservação tem por sua missão o desenvolvimento e execução de boas políticas no que diz respeito à cultura do país. 31 COTRIM, António. Museu do Chiado reabre terceiro piso com 80 obras dos séculos XX e XXI. Agência Lusa, 2016. Acedido em: observador.pt/2016/06/16/museu-do-chiado-reabre- terceiro-piso-com-80-obras-dos-seculos-xx-e-xxi/.

59 Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo. professores e alunos em visitas de estudo – desde que comprovada a autenticidade dos mesmos e o respetivo motivo da sua visita -, e portadores de alguns tipos de cartões da cidade de Lisboa, jornalistas em desempenho de funções, mecenas, membros de entidades parceiras, entre outras situações específicas. No que diz respeito à programação, são apresentadas várias exposições temáticas ao longo do ano, com ou sem relação direta com a coleção, sendo que para além da exposição permanente que o museu apresenta, torna-se possível usufruir também de exposições temporárias que pretendem enriquecer o museu, e mostrar as obras de outros artistas, e até mesmo de outras nacionalidades.

3.4 A Exposição

A “Exposição Permanente. 1850-1975” apresentada no Museu do Chiado, é a exposição que procura mostrar resumidamente aquilo que foi produzido em Portugal entre o ano de 1850 e o período mais recente de 1975. Por ser algo que diz respeito à história do povo no geral, mas principalmente à história do povo português, manifesta as ideias e produções daqueles que foram influenciados não só pela história, mas também pela arte.Encontra-se então de forma permanente, uma coleção que demonstra todos esses aspetos a quem o visita. Por possuir um espaço de pequena dimensão, situado no piso três do Museu, esta exposição, fica apenas capaz de mostrar uma pequena porção de cem obras selecionadas rigorosamente, e que se encontram expostas de forma cronológica, e pelas correntes artísticas de maior relevância de cada período, sendo estas o Romantismo, o Naturalismo, o Simbolismo, o Modernismo, o Neorrealismo, o Surrealismo, o Abstracionismo, a Nova Figuração, e as Neo Vanguardas. Existem nesta exposição obras de escultura e pintura, que se agregam formando uma linha de coerência para a boa leitura da exposição.

60 Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.

3.4.1 Tipologia e Temática

A “Exposição Permanente. 1850-1975” é, tal como o nome indica, a única exposição permanente neste museu.A temática desta exposição centra- se na Arte da Época Contemporânea (os séculos XIX e XX), expondo obras de artistas portugueses ou obras produzidas no território português durante o período referido.

3.4.2 Modulação do Espaço

No que toca à modulação do espaço, as obras dividem-se por temática, em quatro zonas que se interligam. Por serem espaços pouco amplos, torna-se necessário que os espécimes sejam expostos e escolhidos de forma cuidadosa, promovendo uma boa leitura expositiva.

3.4.3 Espécimes Expostos e Material Expositor

Todos os espécimes expostos são obras originais de autor, variando entre a escultura e a pintura.As obras expostas estão protegidas por molduras em madeira tratada, sendo que algumas estão envidraçadas para que as obras permaneçam protegidas de qualquer particularidade que as possa deteriorar. No caso das esculturas, nos casos possíveis e necessários, as obras encontram-se em suportes, para que se mantenham afastadas de possíveis toques e se mantenham em segurança. As molduras encontram-se assentes em paredes ou grades com parafusos, sendo que estes não são visíveis, mas aparentam segurança e força, para que possam suportar as obras com maiores dimensões. No que diz respeito aos suportes, apresentam-se também estes robustos para que sejam capazes de suportar as esculturas.

3.4.4 Iluminação

61 Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.

A iluminação no local é feita através de focos de luz fria/branca, assentes no teto ou colocados sobre as obras que carecem mais de iluminação, sendo que em alguns dos locais do edifício é possível de igual forma, observar alguns pontos de luz natural.

3.5 O Serviço Educativo

O MC oferece também, para além da mostra permanente do seu acervo, exposições temporárias que permitem a dinamização do espaço e a recepção de espólio que complemente o seu próprio. Em conjunto com estas atividades, realizam-se ateliês, e outras atividades educativas e pedagógicas, que pretendem estimular a ligação entre o público em geral, o museu, e a obra de arte, dinamizando a aprendizagem na grande parte das faixas etárias e nos diferentes grupos que visitam o museu – “(…) assenta a sua prática em dinâmicas pedagógicas de mediação e interpretação entre os públicos e a obra de arte (conteúdo do objeto artístico e das coleções) (…)”, “(…) A oferta de programações que se apresenta abrange todo o público, crianças, jovens, famílias e adultos, que visitem o museu em contexto individual ou em grupos organizados, escolares, culturais, seniores, acessibilidades ou outros.“32. A oferta nesta área, para além da sua grande abrangência em termos de faixas etárias, oferece também uma grande variedade no que diz respeito às atividades, promovendo para além das visitas, projetos pedagógicos e continuados, workshops, etc. – “(…) visitas pedagógicas, visitas comentadas, visitas guiadas, oficinas plásticas nas áreas do desenho, da colagem, da fotografia, etc. (…)”33. Para além de todas as oportunidades de enriquecimento que o museu oferece, este apresenta também oportunidades para professores, dando pontualmente cursos para os mesmos. Fora do horário comum de

32 Catarina Moura, Coordenadora do Serviço Educativo do MNAC – Museu do Chiado. Acedido em: www.museuartecontemporanea.pt/pt/educacao/servico-educativo. 33 Catarina Moura, Coordenadora do Serviço Educativo do MNAC – Museu do Chiado. Acedido em: www.museuartecontemporanea.pt/pt/educacao/servico-educativo.

62 Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo. funcionamento do museu, o espaço é também, pontualmente cedido para realização de concertos e conferências, organizados por entidades externas ao museu.

CAPÍTULO 4 O MUSEU CALOUSTE GULBENKIAN E O SEU SERVIÇO EDUCATIVO

4.1 A Missão do Museu

63 Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.

Possuidor de uma enorme paixão pela arte e movido pela mesma, Calouste Sarkis Gulbenkian, colecionou obras de arte ao longo de vários anos. O resultado desta paixão originou um testamento, que pretendia a criação da Fundação Calouste Gulbenkian (FCG). Através do Decreto-Lei nº 40609034 de 18 de julho de 1956, e depois de os estatutos do mesmo serem aprovados pelo Estado Português, é então conseguida uma instituição capaz de englobar os campos da Arte, da Beneficência, da Ciência e da Educação. Esta fundação, apesar do seu cariz privado, seria capaz de servir o público em geral. A missão desta entidade passa por oferecer um contributo em todos os campos em que se propõe a atuar, fazendo uso dos conhecimentos que possui e recorrendo a parcerias, de forma a atribuir benesses a todas essas áreas, ou seja, através da sua mostra artística, do facto de conceder bolsas, e das suas publicações, o então Centro de Arte Moderna (CAM) permite que exista uma evolução no estudo da arte contemporânea, para que a sua coleção consiga sempre chegar a mais indivíduos. Apesar disso, e não retirando a importância às obras internacionais, a sua missão tem também a necessidade de se focar na arte criada em Portugal. Sediada em Lisboa, a fundação é possuidora de um Museu – agora definido como Museu Calouste Gulbenkian (MCG) -, e de uma Biblioteca de Arte, (possuindo de igual forma uma Orquestra e um Coro). A sede e o museu da fundação, encontram-se em funcionamento desde 1969. Sendo que o então Centro de Arte Moderna, foi anos depois inaugurado, mantendo-se em funcionamento conjunto com a fundação desde a data de 198335. Em fevereiro de 2016, o Conselho de Administração da FCG anunciou a fusão de duas das suas entidades. Desde julho do ano de 2016, que passou a existir apenas o MCG36, deixando de existir o Centro de Arte Moderna (CAM)/Centro de Arte Moderna José Azeredo Perdigão (CAMJAP). A junção

34 Decreto-Lei dos Estatutos da Fundação Calouste Gulbenkian – em anexo x. 35 Em 1993, o CAM passou a chamar-se Centro de Arte Moderna José Azeredo Perdigão. 36 Penelope Curtis, historiadora e curadora de arte britânica, é a atual diretora do MCG.

64 Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo. das duas entidades tem a pretensão de criar diálogo entre as duas coleções, tornando os dois núcleos juntos, mais eficazes37. Utilizando as suas posses e instalações, esta entidade é capaz de apresentar exposições, conferências, concursos e colóquios, que permitem uma linguagem de cultura artística e geral, organizando de igual forma um programa de atividades alargado e transversal a muitas outras áreas, e que se estende a todas as faixas etárias. Esta entidade teve um papel de enorme importância na sociedade portuguesa e lusófona desde a década de cinquenta, onde por essa altura, a preocupação passava por impulsionar a evolução quer na área da saúde, da formação, e da investigação, sendo que após a entrada de Portugal na Comunidade Europeia, os objetivos passaram a ser maiores, envolvendo a partir desse ponto, uma expansão internacional, que permitisse a procura de respostas e a reflexão sobre aqueles que são os problemas existentes nos dias que correm.

4.2 A Vocação do Museu

O antigo Centro de Arte Moderna (CAM) - agora entidade única como Museu Calouste Gulbenkian -, Museu de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian, foi criado no ano de 1983, e a sua vocação assenta na vontade de preservar, mantendo as obras no melhor estado conservativo possível, para que estas possam ser expostas; investigadas, para que seja possível descobrir e conhecer mais informação sobre as mesmas; e exibir a todo o público que queira adquirir mais conhecimento e cultura, aquilo que o Museu tem para oferecer. O CAM acolhia as obras posteriores à Coleção de Calouste Gulbenkian, obras que não foram colecionadas por este e adquiridas posteriormente pela

37 COTRIM, António. Museu Calouste Gulbenkian passará a integrar coleção de arte moderna. Agência Lusa, 2016. Acedido em: observador.pt/2016/02/19/museu-calouste-gulbenkian- passara-integrar-colecao-arte-moderna/

65 Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.

Fundação. Essas obras situam-se entre os séculos XX e XXI, sendo então uma coleção de arte moderna e contemporânea. A coleção é constituída por um grande acervo de obras, que se encontram no MCG, sendo que estas são apresentadas ao público através de exposições temporárias, que permitem a rotatividade das obras, mostrando o que é e foi feito em Portugal, e a nível internacional. É pretendido por esta instituição que exista um programa que faça prevalecer uma ligação entre artistas nacionais e internacionais, e destaca-se essa intenção através de um programa sobre arte internacional. Por outro lado, possui um programa de atividades capaz de servir a cultura e educação de forma coerente, impulsionando a descoberta e o conhecimento. Neste museu é possível encontrar expostos, nomes como Pierre Alechinsky, Maya Anderson, Salvador Dalí, Max Ernst, Paula Rêgo, de entre uma enorme variedade de nomes do meio nacional e internacional. O ano de 2013 foi um ano marcante para esta instituição, celebrando os trinta anos da sua existência, evento celebrado através de uma exposição intitulada “Sob o Signo de Amadeo”, que teve na apresentação da obra de Amadeo de Souza-Cardoso em Paris o foco principal.

4.3 O Museu

O agora Museu Calouste Gulbenkian é um museu que traz a público uma grande riqueza a nível nacional e internacional da arte moderna. Esta entidade possui um acervo de grande dimensão, inserido num edifício de grande porte, capaz de transportar uma série de funções (biblioteca, livraria, museu, jardim, entre outros). O MCG encontra-se aberto ao público no horário das dez às 18 horas, estando encerrado às terças-feiras, e dias feriados: 24 e 25 de dezembro, 1 de Janeiro, domingo de Páscoa e 1 de Maio. Este possui uma política de entradas pagas, no valor de dez euros, sendo que o preço das exposições temporárias varia. Tal como noutros museus portugueses a entrada torna-se gratuita aos domingos e dias “especiais”, como por exemplo o “Dia Internacional dos

66 Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.

Museus”. No caso desta entidade em específico, as entradas gratuitas funcionam: aos domingos após as catorze horas; para crianças menores de doze anos; jovens até aos dezoito anos – acompanhados por familiares -, membros do ICOM, AICA38 e APOM39; grupos organizados de entidades de Solidariedade Social, e acompanhantes de pessoas com mobilidade reduzida. Para além disso, existem também descontos para portadores de cartões de turismo de Lisboa (no valor de vinte por cento), e descontos para portadores de Cartão Jovem, estudantes até aos 30 anos e maiores de 65 anos (no valor de cinquenta por cento). Está situado junto à Praça de Espanha, em Lisboa, impondo a sua presença entre centros comerciais, embaixadas e outros edifícios de grande porte. Por se inserir numa zona de hotéis e se encontrar numa zona muito frequentada da cidade de Lisboa, é um local de grande visualização, e por isso um local fácil de aceder. Em termos de programação, o museu apresenta durante o correr do ano, uma grande variedade de exposições, quer relacionadas com o seu acervo, quer trazidas até ao Museu pelos seus colaboradores. Este é um museu que funciona através de exposições ocasionais, isto é, são realizadas várias exposições temporárias que por si só, ou com a complementação de obras vindas de outros museus, são capazes de criar uma linha de leitura. Através deste aspeto, é possível receber e dar a conhecer, não só aquilo que se encontra no acervo, mas também partilhar com o público que visita o museu aquilo que foi feito noutros países.

4.4 A Coleção

38 AICA – Associação Internacional de Críticos de Arte. Género de organização não governamental, criada em 1948 no âmbito da UNESCO. 39 APOM – Associação Portuguesa de Museologia. Agrupa os profissionais de museologia, ou instituições equiparadas a museus.

67 Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.

No que diz respeito ao MCG, por ser um local em que as obras e exposições se encontram em constante mudança, é difícil atribuir importância a uma exposição em específico. Neste caso, o importante será referir que as exposições acontecem com o fim de partilhar a informação e as obras colecionadas ao longo dos anos, e que por si só, contam histórias, transmitindo sentimentos e emoções, bem como atribuindo a importância que estas causam e causaram. Esta coleção diz respeito ao público em geral, por acomodar uma série tão grande de obras, que nos conduzem à Arte Moderna, e a épocas críticas da sociedade, e da cultura em si. O acervo possui obras que variam pela escultura, pintura, impressões e outros. E o Museu aposta na boa leitura da exposição, tentando sempre enquadrar da melhor forma a exposição ao espaço em que se insere. Por não ser possível falar sobre uma exposição em específico, e porque a riqueza do Museu Calouste Gulbenkian passa também pela sua vasta coleção de obras – 10500 na Coleção Moderna40, e cerca de 6440 na Coleção do Fundador41 -, existem as exposições temporárias, que fazem com que seja possível visualizar o máximo de obras possível no decorrer do ano. Durante o ano de 2015, por exemplo, aconteceram no antigo CAMJAP, onze exposições temporárias. Entre muitas outras, uma dessas exposições, que diz respeito à arte moderna, decorreu entre os meses de junho e outubro, “X de Charrua”, sobre a obra de António Charrua42, abstracionista. Esta exposição, fazia a mostra das principais obras do autor, desde os anos cinquenta, até aos anos noventa.

40 “A Coleção Moderna tem vindo sempre a crescer, através de aquisições ou doações, e conta atualmente com cerca de 10.500 obras (…)”. Situação atual do acervo da Coleção Moderna do Museu Calouste Gulbenkian. Acedido em: gulbenkian.pt/cam/colecao- moderna/sobre-colecao/. 41 “(…) as cerca de 6440 obras adquiridas por Calouste Gulbenkian encontravam-se finalmente juntas (…)”. Situação atual do acervo da Coleção do Fundador. Acedido em: gulbenkian.pt/museu/colecao-do-fundador/sobre-a-colecao/. 42 António Dias Charrua (1925-2008), artista plástico português, e bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian.

68 Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.

Entre novembro de 2015 e junho de 2016, foi apresentada “Hein Semke: um Alemão em Lisboa”, autor alemão que viveu em Portugal desde 1932 até ao fim da sua vida. A obra de Semke43 foi apresentada nesta exposição, divulgando obras menos conhecidas do autor. Esta exposição resultou como uma celebração, pela volumosa doação de peças feita à Fundação Calouste Gulbenkian, sendo estas exibidas em conjunto com obras emprestadas, de coleções particulares44, de forma a tornar a mostra o mais completa possível. “Olhos nos Olhos”, é também uma exposição de arte moderna, que utiliza obras de vários artistas situadas no acervo do MCG. Esta exposição decorreu no período de julho a outubro de 2015, e pretendia uma viagem sobre o retrato, passando por uma grande diversidade de autores e correntes artísticas da modernidade. A mostra pretendia celebrar o rosto e o olhar, tendo em conta o espaço, ocasião, celebração, e remetia a uma simbologia em que os olhos comunicavam por si só, “Olhos nos Olhos remete não apenas para o olhar do espetador que fita o retratado, mas também para o olhar do artista que observa o outro quando o retrata. Esta duplicidade de olhares é sugerida por um título que permite vários sentidos.”45. Pequenas exposições, durante períodos de meses, permitem a rotação, e permitem que estas mostras se vão completando umas às outras, trazendo ao de cima obras que contribuem para a aprendizagem da arte moderna.

4.4.1 Tipologia e Temática

As exposições são por norma exposições temporárias, que proporcionam a rotação do acervo da fundação. A temática das exposições

43 Hein Semke (1899-1995), escultor e pintor do expressionismo, proveniente de Hamburgo. Viveu a maior parte da sua vida em Portugal. 44 Relatório de Contas 2015 – Fundação Calouste Gulbenkian. 45 Citação Isabel Carlos, acedido em: gulbenkian.pt/cam/past-exhibit/olhos-nos-olhos-o-retrato- na-colecao-do-cam/

69 Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo. centra-se em torno da arte moderna, de entre séculos XIX e XX, expondo obras de artistas internacionais e portugueses, e/ou de peças produzidas em Portugal durante essas mesmas épocas.

4.4.2 Modulação do Espaço

O espaço deste museu é constituído por salas amplas num edifício “Inaugurado em 1969, o projeto do edifício da Sede e Museu da Fundação Calouste Gulbenkian resulta de um concurso restrito dirigido pela Administração a três equipas de arquitetos, que decorreu entre 1959 e 1960.”46. Este edifício acolhe uma grande diversidade de serviços, estando entre eles o Museu, a Sede da fundação, auditórios, biblioteca, etc. Pelos diversos pisos do edifício são colocadas as exposições temporárias e permanentes, que se vão ajustando aos temas e às obras nelas expostas – “A distribuição e articulação das galerias de exposição permanente estão orientadas por uma sistematização cronológica e geográfica que determinou, dentro de um percurso geral, dois circuitos independentes. O primeiro circuito é dedicado à Arte Oriental e Clássica e evolui através das galerias da Arte Egípcia, Greco-Romana, Mesopotâmia, Oriente Islâmico, Arménia e Extremo Oriente. O segundo percurso é dedicado à Arte Europeia, com núcleos dedicados à Arte do Livro, à Escultura, Pintura e Artes Decorativas esta última com especial destaque para a arte francesa do século XVIII e para a obra de René Lalique. Expõe-se neste circuito uma diversidade de peças representativa das variadas manifestações artísticas da Europa, desde o século XI até meados do século XX.”47.

4.4.3 Espécimes Expostos e Material Expositor

Os espécimes expostos são peças recolhidas ao longo dos anos por Calouste Gulbenkian, sendo obras de autor, que variam entre escultura,

46 Vd. gulbenkian.pt/museu/colecao-do-fundador/edificio/. 47 Vd. gulbenkian.pt/museu/colecao-do-fundador/edificio/.

70 Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo. pintura, impressões, entre outros. As peças expostas são protegidas por molduras em madeira, estruturas de vidro, mesas e suportes também eles de madeira ou metal.

4.4.4 Iluminação

A iluminação no local é feita através de focos de luz, suspensos no teto ou colocados sobre as obras, tal como nos casos analisados nos anteriores capítulos, sendo que em algumas salas do edifício é possível de igual forma, observar alguns pontos de luz natural.

4.5 O Serviço Educativo

“O Gulbenkian Descobrir tem como missão estimular o pleno desenvolvimento da pessoa, de qualquer idade e origem, através do conhecimento e da vivência das artes, da cultura e da ciência”48. No que diz respeito à arte e ao serviço educativo, esta entidade possui um programa intitulado “Programa Gulbenkian Educação para a Cultura e Ciência”. O objetivo do programa passa capacitar um estímulo no desenvolvimento de cada um, independentemente da sua faixa etária ou do seu meio social. Através deste programa, a Fundação promove ações educativas, fazendo uso do património que possui, mas cooperando também com outras entidades e indivíduos externos à mesma. Neste programa, quer-se o desenvolvimento de estratégias, fomentando o pensamento e despertando sentidos. Partilham-se ligações e memórias, associam-se ideias e levantam-se questões, desfazem-se preconceitos e são experimentadas novas linguagens. A Fundação junta o Museu, a Orquestra e Coro, o Jardim, o Edifício e até o Instituto de Ciência – incluindo obviamente tudo o que é considerado património temporário, nomeadamente as exposições temporárias -, como

48 Vd. gulbenkian.pt/descobrir/mais/a-nossa-missao/.

71 Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo. fontes de informação sem fim, e que permitem viagens pelo mundo, e ao passado. Proporcionam-se atividades como oficinas, visitas, concertos, cursos e projetos especiais, utilizando estratégias lúdicas para que se cativem e envolvam todos os públicos. Não existem públicos em específico para estas atividades, qualquer grupo, ou indivíduo por si só, do mais novo ou mais velho, pode usufruir do que o museu proporciona.

CAPÍTULO 5 UMA PROPOSTA DE ROTEIRO EDUCATIVO DE ARTE MODERNA

72 Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.

5.1 Ligações: O Museu Berardo, o Museu do Chiado e o Museu Calouste Gulbenkian

Por serem entidades muito específicas, onde o passado recente e o presente se encontram para transmitir a sua história, os museus/centros de arte moderna e/ou contemporânea eram, em Portugal, quase inexistentes antes da Revolução de Abril, principalmente na cidade de Lisboa. No entanto, devido à sua importância no que à história da cultura e da arte diz respeito, necessitava-se da existência de tal entidade para que se contasse corretamente ao povo português, a história do entre e pós-guerras. A Primeira e Segunda Guerra Mundial tiveram enormes influências, quer no povo em geral, quer nos artistas. A própria arte sofreu mudanças que a fez modificar-se e revoltar-se contra aquilo que já existia. Momentos de crise e tragédia foram vividos, onde o sofrimento se fazia transparecer nos rostos e corpos de quem vivia rodeado por acontecimentos que faziam com que por vezes, a vontade de permanecer entre os vivos fosse quase inimaginável. Da revolta contra as guerras, e contra quem as criou, surgem mudanças na arte, mudanças essas que foram criando novos e diferentes movimentos, novas correntes artísticas que fizeram com que a arte tomasse um rumo muito diferente daquele que era o comum, e talvez mesmo, o esperado. Sendo, que a arte, o povo e os artistas se interligam de um forma inquestionável, surgem episódios em que é despoletado no artista uma vontade de mudar, de ser diferente, de se revolucionar, e tornar diferente tudo à sua volta, uma vontade de agir que o influencia nas pinceladas que insere sobre uma tela, e que por sua vezes, quando observada por outro indivíduo, faz com que se despertem nele vários sentimentos, sejam eles de revolta ou mesmo de transparência, adquirindo e usufruindo daquilo que lhe é transmitido através daquilo que observa. A arte, para além da sua importância em termos históricos, permite a existência de comunicação, fazendo com que existam elos de ligação entre todos os países e nacionalidades. Essas ligações, são também elas

73 Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo. possibilitadas pela existência da entidade museológica, do espaço que é o museu, que permite a interligação da obra de arte, da história, do espaço e do conhecimento. Aqui, existem os que observam, os que criticam e os que criam; e todos estes, contribuem de alguma forma para a expansão e comunicação deste elo. Através do conhecimento, criação e observação da arte, são transmitidas várias realidades, várias sensações, criando-se uma comunicação entre artistas que vivem do lado oposto do hemisfério, e que pela vontade de explorar a arte passada e presente noutros países, ou por de alguma forma se encontrar com outro artista, muda a sua visão e forma de atuar neste campo cultural. Os museus contam histórias. Histórias essas que se fazem transparecer pelos mais ínfimos pormenores. Os museus mudam também eles definições e percepções, influenciando a sociedade através dos conceitos que comporta. É aí que se centra o papel do espaço museológico, sendo um espaço de cultura, um elo de ligação que permite explorar, aprender e compreender, de uma forma objetiva ou subjetiva aquilo que é visualizado. O papel do museu é comunicar, mostrar, fazer ver. É através dos museus que se criam ligações, que existem interligações, que permitem a circulação das obras, e a sua visualização em qualquer parte do mundo. Devido a este papel de tão grande importância, e despoletado pela carência de um museu que exercesse esta função na sociedade portuguesa, no que diz respeito à Arte Moderna, fruto de uma coleção criada por alguém que se movia pela paixão pela arte, surge então o Museu Berardo, como centro da arte moderna em Lisboa, e em Portugal, sendo uma entidade ao serviço da sociedade para a enriquecer. Este é o museu que concentra a história, a cultura, a arte e o turismo num só, e que permite a mostra a público para que possa ser observado por todos. O facto de trazer para o centro da cidade um museu de arte moderna, com o usufruto de um espaço agradável e de grande cultura turística, permite o desenvolvimento deste ponto de interesse, dando- lhe ainda mais ênfase do que aquele que já lhe era atribuído. A coleção de arte moderna do Museu Berardo torna-se crucial para termos em Portugal obras de grande importância histórica e artística, não só

74 Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo. para o país, mas também para o mundo. O Museu Berardo torna-se uma peça central no que diz respeito à arte moderna no mundo, por conter obras fulcrais que marcaram no que diz respeito à história da sociedade geral. O espólio comporta principalmente obras internacionais, que provavelmente não teriam chegado a Portugal caso não tivessem sido colecionadas pelo Comendador. Assim, toma-se o Museu Berardo como ponto central da arte moderna em Lisboa, por ser o mais abrangente em termos de correntes, artistas, histórias e nacionalidades. Apesar de ser um museu que possui uma coleção de Arte Moderna e Contemporânea, o principal foco deste trabalho é a coleção de Arte Moderna, que permite uma relação com outras coleções existentes no país, mas de menor dimensão artística no que diz respeito a este núcleo. É possível ver neste espaço obras que caracterizaram épocas, e que não é possível encontrar em mais museu algum. Obras que se tornaram, por alguma razão, marcos da história, e que transparecem as suas marcas temporais. No que diz respeito ao Museu do Chiado, este é de igual forma uma entidade museológica que possibilita uma relação entre o observador, o crítico, a obra e o artista. Mas no caso deste Museu, pertencente ao Estado Português, este coloca o seu foco em questões distintas das do Museu Berardo. O Museu do Chiado é, tal como o Museu Berardo, um Museu de Arte Moderna e Contemporânea. Também aqui, a importância maior para o projeto, rege-se pela arte moderna. No entanto, no caso deste Museu, o seu ponto de visualização situa-se na mostra da arte moderna produzida por portugueses e/ou em território português. O seu acervo centra-se mais na história da arte moderna no país, e na cidade em específico. O MC é um Museu que apresenta um espólio que possibilita explorar a obra criada em território nacional, de forma a fazer contemplar a visão de artistas que pertencem a um povo que se tentou erguer por entre várias dificuldades, tal e qual como tantos outros na história da arte moderna. As exposições demonstram aquilo que foi sentido e visto, exercendo de igual forma uma relação com o que teria sido feito, e o que iria ser feito na posterioridade.

75 Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.

O Museu Calouste Gulbenkiané por fim a entidade que reúne o Museu Berardo ao Museu do Chiado. Sendo o acervo com maior número de obras, colecionadas por Calouste Gulbenkian, é também o museu que mostra as suas obras através da rotatividade, de forma a que possa ser mostrado aquilo que Calouste Gulbenkian e a Fundação por si instituída decidiram deixar ao povo português e a quem visita o país. O MCG é um museu, também ele de arte moderna, através da exposição das obras do seu acervo, trabalhando à base de exposições temporárias, este transmite a riqueza cultural mostrando o seu espólio, e trazendo a complementaridade ao seu próprio espólio por vezes com obras vindas de outros museus e ou coleções. Apesar de ser uma entidade privada, o MCG foi criado com o intuito de servir o público, de o desenvolver. Traz ao seu espaço exposições que façam evidenciar a história, da época do modernismo. É um Museu que apela à comunicação entre outras instituições e coleções, produzindo um enorme leque de exposições temporárias capazes de demonstrar aquilo que aconteceu um pouco por todo o lado.

5.2 A Importância do Trabalho em Rede

Sendo o ponto de partida o Museu Berardo, pelo conjunto de nomes que este possui, a interligação entre os três museus torna-se de óbvia importância. O trabalho em rede permite, de uma forma geral, que existam interligações entre entidades, não só necessariamente museológicas, e produz um efeito benéfico, por ser capaz de proliferar o trabalho em grupo ou em cadeia. No caso específico dos três museus, são entidades que produzem um efeito de grande importância na cidade de Lisboa. No caso do MB, apesar da sua importância, a Coleção do Comendador possui também algumas lacunas, e essas lacunas podem ser colmatadas com acervos de outros museus. Por exemplo, enquanto que a riqueza do Museu Berardo se centra no fim do século XIX, início do século XX, e em artistas internacionais, o espólio do Museu do

76 Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.

Chiado comporta mais arte portuguesa desses períodos. Ambas as partes podem ser complementadas se a história for colocada como um conjunto. Por outro lado, e tendo em conta que o Museu Calouste Gulbenkian se encontra constantemente a colocar em rotatividade o seu espólio e a trazer novas exposições de outros museus e outros países, também este é capaz de preencher, mesmo que temporariamente, algumas das lacunas dos outros dois museus. O público português de uma forma geral, e os estudantes de arte carecem de um programa que seja mais completo no que diz respeito à arte moderna. Um programa que os esclareça, ensine, desperte, e faça com que tenham vontade de aprender mais, mas também, que os faça saber dar valor àquilo que já foi vivido, absorvendo a história que já existe. Seria assim importante ter um roteiro que construísse e abrangesse os três museus, mesmo que as políticas vão diferindo de instituição para instituição. Seria importante criar um sistema que transportasse o conhecimento dos três museus, de forma a englobar toda a história de uma forma conjunta, e que incitasse à descoberta.

5.3 Uma Proposta de Roteiro da Arte Moderna

Como anteriormente referido, as três instituições são, caso exista entre elas uma interligação, capazes de se solucionar umas às outras. Utilizando um programa, ou um género de roteiro, que envolva as três entidades, o mesmo tem início no Museu Berardo, onde se torna possível uma viagem pelos principais movimentos artísticos da arte moderna, pós Primeira Guerra Mundial, e onde se encontram nomes sonantes da mesma. Por outro lado, e de forma a continuar a história, abrange-se no Museu do Chiado um pouco da arte moderna do século XIX e XX, mas num campo mais específico, onde se foca a atenção principal, para a arte portuguesa dessa época. Através desta possibilidade, conhecem-se duas realidades, a internacional, e a nacional, que se complementam e enriquecem a aprendizagem. Por fim, através de um acervo tão diversificado, cabe ao Museu Calouste Gulbenkian

77 Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo. permitir a colmatação de algumas lacunas, através da variedade da sua coleção, sendo que este possui também obras nacionais e internacionais – principalmente de origem oriental, por sua vez menos comuns nos dois espólios dos outros dois museus. Também a visita aos três locais diferentes da cidade de Lisboa, onde se encontram os museus, capacita o desenvolvimento e cultura artística dos visitantes. Sendo três locais marcantes da cidade, são três visitas complementares para absorção e aprendizagem sobre a cultura e história portuguesas. A aprendizagem não é só para os estudantes, e o facto de todos terem acesso a esta através da visita a estes museus, e a algumas das zonas com mais história do país, só poderia trazer vantagens. A visitação vinda dos vários cantos do país e do mundo, tornaria possível o ganho de mais conhecimento, não só em termos de arte e obras de arte moderna, mas também de zonas que caracterizam o país.

5.3.1 O Roteiro e a Oferta Educativa

Embora seja ainda desconhecido o valor a entrar em vigor no ano de 2017, as três entidades ficam na mesma situação no que diz respeito a taxas de ingresso nos museus, sendo todas elas pagas. Algumas das entidades, como é o caso do Museu do Chiado, criam oportunidades para que professores e alunos, crianças e idosos entrem no museu de forma gratuita, no entanto, esta não é uma situação aplicável a todos os indivíduos, nem a todas as entidades. Desconhece-se ainda o programa de descontos e entradas gratuitas do Museu Berardo, mas através da criação de um sistema de bilhete único entre os três museus, seria permitido que se comportassem e distribuíssem custos de bilheteira de igual forma, originando mais receitas, e consequentemente, mais visitas, visto que a possibilidade de conhecer três museus com um bilhete só, permite também a divulgação das entidades em si, e dos seus espaços. Por exemplo, existem já sistemas deste género, e que funcionam como “bilhetes únicos”, que permitem a entrada em vários locais/entidades que se

78 Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo. relacionam de alguma forma. Um desses casos é o bilhete de entrada no Coliseu, em Roma. Ao adquirir o bilhete de entrada no Coliseu, está também a fazer-se a aquisição de bilhete para a entrada no Fórum Romano, e no Palatino, tendo um bilhete único que permite a entrada nos três locais49. Por outro lado, temos o exemplo dos bilhetes de circulação dos transportes de Lisboa, em que permite a circulação metro/autocarro/comboio, e em que um único bilhete, conforme a tarifa comprada, permite a utilização dos vários tipos de transporte e das várias zonas da cidade de Lisboa50. São vários os exemplos que permitem a utilização de um bilhete único, sendo que esse facilita as visitas, tornando-as melhores e mais cómodas ao visitante. Neste caso, teria de ser implementado um bilhete conjunto, fruto da conjugação do preço das três entradas, nos três diferentes museus, em que esse bilhete único, permitira a entrada nos mesmos. Em relação ao roteiro em si, de forma a criar um ponto de situação para as visitas aos três museus, à semelhança do que foi criado para os museus da energia51, poderia ser criado um site onde fosse descriminada toda a informação sobre cada entidade museológica, e consequentemente possuir um indicativo de qual seria a melhor e mais vantajosa forma de proceder à visita. Ou seja, nesse site existiria informação detalhada sobre a compra dos bilhetes, horários de abertura dos três museus, descrições sobre cada entidade, e respetivas coleções, bem como as obras que cada acervo possui. Por outro lado, seria feita a ligação entre as três coleções, ou no caso, as suas exposições temporárias, sendo um local na internet que teria de ser constantemente atualizado, e que teria de funcionar em concordancia com as três entidades. Existiria também a organização mais proveitosa da visita, Museu Berardo, pela maior abrangência de obras, artistas e correntes artísticas, seguindo-se o Museu do Chiado, pela sua abrangência na arte arte

49 vd. Aquisição de bilhetes para visita ao Coliseu/Fórum/Palatino, Roma. www.ticketsrome.com/en/colosseum-tickets-on-line/colosseum-roman-forum-tickets. 50 vd. Aquisição de bilhetes para circulação nos transportes da cidade de Lisboa. www.portalviva.pt/lx/pt/homepage/tarifários/tarifas-ocasionais/bilhetes.aspx. 51 Roteiro Museus da Energia. Acedido em: museusdaenergia.org/.

79 Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo. moderna e contemporânea portuguesa, sendo a visita finalizada no Museu Calouste Gulbenkian, por possuir também um grande abrangência no que diz respeito à arte moderna, mas principalmente pela sua política de exposições temporárias, que permite que vão sendo completadas algumas das lacunas das outras duas coleções. Outra opção a seguir, poderia ser a de uma aplicação móvel, capaz de suportar toda essa informação, e incluir mapas e informações adicionais sobre a arte moderna de uma forma geral. Um bom exemplo dessa junção de informação, e do funcionamento em rede é a aplicação móvel dos Parques Naturais dos Açores52. Nesta, e à semelhança do poderia ser feito, juntam-se informações sobre diferentes centros ambientais, (local onde se encontram, horários de abertura, etc.), bem como informações sobre trilhos, como chegar aos mesmos, e as ligações entre os diferentes centros e parques naturais em cada ilha. Aplicando esta situação ao Roteiro da Arte Moderna, e à semelhança dos exemplos apresentados, poderia ser criado um mapa, que situasse a cidade de Lisboa, e respetivos museus de arte moderna, de forma a que aqueles que visitam a cidade, independentemente da sua lingua, sejam também capazes, se assim o quiserem, de percorrer a cidade enquanto se dirigem aos museus. Por outro lado, possuiria a informação sobre os museus, como chegar até eles, horários de abertura, locais para aquisição dos bilhetes, e tal como no exemplo do site, o descritivo da melhor forma para a visitação dos museus. No fundo, a aplicação smartphone seria uma forma de obter mais completa e melhor informação. No que diz respeito à programação em termos de serviço educativo, criando atividades através dos diferentes serviços educativos que permitam a interligação dos três museus, é também uma forma de enriquecer culturalmente o público. Se a missão de qualquer um dos serviços educativos, passa pela divulgação da arte moderna e/ou contemporânea, realizando atividades que permitam apreender conceitos, desenvolver criatividade e fruição, e até mesmo características pessoais para aprendizagem em outras

52 Aplicação Móvel dos Parques Naturais dos Açores. Descarregável em: play.google.com/store/apps/details?id=pt.azorit.azoresnatura&hl=pt_PT.

80 Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.

áreas que não a artística. Utilizando os casos de estudo apresentados no Capítulo 1, é possível entender que existem uma série de atividades que propiciam ao desenvolvimento cultural, social, pessoal, e artístico do indivíduo. Por exemplo, criando atividades entre si, em que os vários artistas e colaboradores dos diferentes museus sejam capazes de se deslocar às escolas pelo menos uma vez durante o mês, permite a rotação de diferentes artistas pelas diferentes escolas, e a capacidade de abranger um maior número de entidades e faixas etárias, propiciando o desenvolvimento dos mais pequenos aos mais adultos. Por outro lado, a visita do artista à escola, sendo feita em rede, e abrangendo por exemplo, três ou quatro diferentes correntes artísticas do modernismo, ajuda não só os alunos, mas também os profissionais, uma vez que existe cooperação e aprendizagem pelas duas (ou três, se incluirmos também outros funcionários da escola) partes. Através de visitas aos museus, das ligações entre os mesmos, e da existência de atividades para todas as faixas etárias, mas principalmente para as faixas etárias até aos dezoito anos, onde normalmente ainda existe frequência escolar, criam-se possibilidades para o desenvolvimento nas capacidades de aprendizagem, na cultura, na criatividade, entre muitas outras benesses. Estas atividades chamam os indivíduos aos museus, dando-lhes a oportunidade de se tornarem mais ricos em sabedoria, sem olhar à sua situação social, sendo uma forma de os manter na escola, de despertar o seu interesse e a sua criatividade. No caso das famílias, por exemplo, também os serviços educativos são capazes de intervencionar positivamente as mesmas. Ao criar atividades de aprendizagem sobre a arte moderna, como por exemplo a identificação das correntes artísticas através de reproduções em desenho, dirigidas às famílias de uma forma geral, sem olhar a faixas etárias em específico, estão também a proporcionar uma forma de interação das famílias para com os museus, e a arte moderna, mas também propiciam a que existe uma troca de informação entre as diferentes faixas etárias, entre os vários membros da família, desenvolvendo cada um deles de uma forma igual mas ao mesmo tempo singular, e que permite a discussão entre os vários membros do agregado

81 Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo. familiar. Por outro lado, esta ação do serviço educativo, permite também que exista uma relação entre a família em si, criando um momento de união familiar e aprendizagem conjunta. Nos dias que correm são cada vez mais causados entraves ao desenvolvimento e à aprendizagem geral, cultural, e artística, quer de crianças quer de adultos, e a cultura e a arte são bens necessários para o desenvolvimento, mas que infelizmente não estão ao alcance de todos. Tornar possíveis atividades que incluam todo o público, é também uma maneira de desenvolver o país. No fundo, é através do Museu Berardo que se sedimenta toda a história, no que diz respeito à arte moderna, pois é este que permite através de uma linha bem conjugada a leitura das várias correntes artísticas e interpretações da arte. E é também este que dá o mote para a compreensão dos outros dois museus. Mas não menos importante, seria a relação destes três museus, que seriam capazes de tornar muito mais rica a aprendizagem sobre a arte moderna no mundo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

82 Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.

Em resposta à necessidade de criar um roteiro que solucionasse o problema de visualização e fruição da oferta de arte moderna na cidade de Lisboa, tornou-se possível entender mais e melhor a cultura artística desta época e os museus que a representam nesta cidade. Sendo que o foco do projeto em questão foi o Museu Berardo e a arte moderna, foi possível perceber, através da análise da informação obtida, que este é um Museu com um passado recente, que se cria através de um acordo, de um, por assim dizer, provedor de mais-valias o Comendador Berardo, que se alia ao Estado Português para beneficiar o público nas lacunas da arte desse tempo. Este Museu, através do Decreto-Lei que o cria, define a sua missão e vocação como a de servir o público, dando-lhe a conhecer a arte moderna e contemporânea, e obtendo um destaque que o faz querer mostrar e conservar o património que enriquece a nação, colocando Portugal no mapa turístico- cultural. Também desta pesquisa resulta o conhecimento da figura por detrás de todo o alarido, que após colecionar durante vários anos, e impulsionado pela paixãoque detém pela arte, decidiu dar ao público, por assim dizer, um pouco daquilo que é seu, montando aquele que é o Museu Berardo. A coleção deste museu resultou da junção de duas coleções, a do Comendador Berardo e a que foi conseguida para complementar aquilo que por alguma razão falha na coleção em si.Foi partindo desta que foi se criou o Museu Coleção Berardo, não só como uma marca, mas também como património de conhecimento. Durante este processo de procura surgem pequenas curiosidades, que nos fazem levantar questões, e pensar no possível futuro deste Museu, bem como de muitos outros. Analisaram-se lacunas e problemáticas que caracterizam a exposição em si, ou a falta de meios que não permitem que esta sejam uma coleção ainda mais rica, quando já o poderia ser, se o país não se situasse numa fase crítica.

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Necessário também, é ver e compreender a forma como as obras são expostas, bem como tudo aquilo que é investido no diálogo entre o espectador e a obra. Todos os aspetos, deste a temática à forma como a legendagem é exposta na sala, influenciam o espectador, e a leitura deste, e por isso é necessário que tudo seja feito com clareza, e da melhor forma possível. É então necessário que se proceda à apresentação de cada obra colocando-a no campo de visão, acomodando-a da melhor forma, e permitindo a sua leitura. Depois de analisar toda a exposição e compreender a sua apresentação, é possível entender que certos aspetos poderiam ser corrigidos. Pequenas falhas podem ser alteradas e tornadas melhores, para que o usufruto da coleção seja maior. Por outro lado, e porque também destes museus provém o projeto, situa- se a história do Museu do Chiado como aquele que é, sem dúvida, um museu de grande importância no território português. Sendo um museu do Estado, este é sem dúvida um museu que conta a história daquilo que aconteceu em território português aquando da época da arte moderna. É este museu que permite a leitura e visualização da história do povo, da visão do artista português, da visão do artista que se encontrava em Portugal. Este Museu surge como resultado da divisão de dois Museus, e cria aquela que é a história, o ponto de partida. É por isso necessário entender e explorar a forma como este encara e debita a informação que incorpora. É necessário perceber que este museu é um ponto de partida para uma história maior, apesar do seu tamanho reduzido, a coleção de arte moderna deste museu, simula um ponto de grande focagem na história do país. No que diz respeito ao Museu Calouste Gulbenkian, que resulta da paixão de outro colecionador de arte, este conduz-nos a um acervo, a uma coleção, que nos traz um misto da arte portuguesa com a arte internacional, debitando exposições temporárias de grande importância para todo o tipo de público. Após a análise é possível compreender que este museu, apesar do seu cariz privado, ocupa um lugar de grande importância no território nacional.

84 Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.

A junção dos três museus, num roteiro educativo seria a melhor forma de trazer até ao público português e de outras nacionalidades, mas principalmente aos estudantes e educandos da sociedade, uma melhor compreensão da arte moderna. Seria de valor obter um programa, um roteiro, que organizasse os três museus de forma a atribuir-lhes a importância que estes representam. Não existem dúvidas de que estes Museus atribuem um conhecimento muito maior, não só das raízes, mas também das importações, que aconteceram, por assim dizer.É também importante compreender que não seria apenas um benefício para o público, mas também para as instituições. Com o roteiro educativo, seria possível que estas se completassem entre si, e acima de tudo que fossem capazes de completar a Coleção Berardo. A questão situa-se em: porque não beneficiar todos aqueles que visitam a cidade de Lisboa, juntando as três instituições e fazendo-as funcionar conjuntamente? Entende-se que existem situações de cariz privado, e o próprio Museu Berardo é uma situação especial, mas porque não a união, de uma forma coerente para os três Museus, e que beneficiasse o público? O conhecimento é um aspecto importante do crescimento intelectual, é assim necessário que este exista, e esta união proporciona esse acontecimento, através da complementação das três coleções/exposições estudadas. A união seria também um aspeto que iria trazer benesse a todos os três museus, sendo que aqueles com menos possibilidades, ou menor campo de ação, iriam ganhar um novo brilho, e uma nova capacidade de corresponder às necessidades que a cidade, e o país no seu geral possuem. E sendo que este roteiro inseria os três museus, os mesmos iriam ganhar um novo leque de visitantes, que os fariam sentir mais ricos de conhecimento, e que faria com existisse um novo estímulo de conhecimento e também uma maior abrangência. Porque não mudar, tornando aquilo que já existe, num polo de importância para todos, e fazendo com que desenvolvam espíritos críticos mais

85 Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo. aguçados, promovendo mais conhecimento, mais abertura, e tornando Portugal, num país com mais importância e interesse a nível cultural artístico? Porque não encontrar um novo caminho que conduza também à história portuguesa, mostrando-a e à sua importância? Porque não um novo roteiro que seja capaz de unir, não só as três entidades em questão, mas também os seus serviços educativos, e consequentemente a população de uma forma geral? É de extrema importância a existência dos três museus em questão na cidade que é a capital portuguesa. É também de extrema importância o trabalho realizado pelos três, naquela que é a divulgação da arte moderna para todos. Os serviços educativos têm necessidade de ser desenvolvidos e divulgados, e são necessárias as uniões, para que se possam colmatar dúvidas. Porque não dar lugar a algo que permite mais desenvolvimento, em tantas áreas e tantas pessoas?

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94 Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.

ANEXO A CURIOSIDADES: A FIGURA POR DETRÁS DA COLEÇÃO

O Comendador José Berardo José Manuel Rodrigues Berardo nasceu a 4 de Julho de 1944, na freguesia de Santa Luzia, Funchal, ilha da Madeira. O Comendador era o mais novo entre sete irmãos, e nasceu, naquela que era na altura, uma ilha da Madeira um pouco mais conservadora que a que conhecemos nos dias que correm. José Berardo começou a trabalhar com 12 anos, com o seu pai, Manuel Berardo Gomes, como loteador. Mais tarde, ao travar conhecimento com pessoas vindas de países como o Brasil, Venezuela e África do Sul, José Berardo começou então, a ambicionar uma expansão dos seus horizontes e procurou concretizar os sonhos que possuía. Aos 18 anos, José Berardo finalmente consegue, ainda que contra a vontade do pai, realizar o seu sonho e elege a África do Sul como o lugar a explorar. É aí que, mais tarde, conhece aquela que viria a ser sua esposa, Carolina Gonçalves, filha de pais madeirenses. Devido a ajudas prestadas à comunidade portuguesa no país onde vivia José Berardo é agraciado com o grau de Comendador da ordem do Infante D. Henrique, pelo então Presidente da República, General Ramalho Eanes em 1979. José Berardo possuiu vários negócios, desde a venda de produtos alimentares a refinarias de ouro e minas de diamantes. O Comendador é um ser humano com variadas facetas, desde homem de negócios, a filantropo e a colecionador de arte. O seu gosto por coleções brotou cedo, mas é só em inícios dos anos 90, depois de voltar a Portugal e de fundar o Banif, que este senhor começa a reunir a agora Coleção de Arte Moderna e Contemporânea hoje exposta, numa pequena parte, no Centro Cultural de Belém, que contou com a ajuda do Dr. Francisco Capelo, advogado do Banif.

95 Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.

ANEXO B CURIOSIDADES: SOL EM JOE BERARDO.COM | REAVALIAÇÃO DA COLEÇÃO BERARDO

Aquando da criação do Protocolo que originou o Museu Berardo, feita entre o Governo Português e o Comendador Berardo, a coleção de 863 peças, foi avaliada pela leiloeira Christie’s em cerca de 316 milhões de euros. Embora existisse quem defendesse que o valor da avaliação fosse extremamente favorável ao Estado Português, tendo em conta a crise financeira que em que se encontra o país, existe também quem afirme que este é um valor absurdo, incitando a que exista uma reavaliação da coleção. No entanto, para que exista essa reavaliação, são necessários dois aspetos, o primeiro, que passa por existir uma autorização por parte do Comendador José Berardo que se opõe à situação, e o segundo, a exigência de que haja financiamento para que a reavaliação aconteça. Atendendo a que o Governo Português, se encontra em falta em cerca de três anos com a contribuição anual para com o museu, conforme o estipulado no decreto-lei que instaura a criação do mesmo, é necessária a contribuição anual, para completar lacunas da coleção, gerando esta situação uma polémica extremamente desconfortável.

96 Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.

ANEXO C FOTOGRAFIAS DO MUSEU BERARDO: ESPAÇOS E ATIVIDADES DO SERVIÇO EDUCATIVO (Fotografias retiradas de: pt.museuberardo.pt/ - Autores desconhecidos)

Imagem 1: Vista Exterior do Centro Cultural de Belém – Museu Berardo.

Imagem 2: Peças da Exposição Permanente (1900-1960).

97 Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.

Imagem 3: Peças da Exposição Permanente (1900-1960).

Imagem 4: Atividade Pré-escolar, do Serviço Educativo do Museu Berardo.

98 Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.

ANEXO D FOTOGRAFIAS DO MUSEU DO CHIADO: ESPAÇOS E ATIVIDADES DO SERVIÇO EDUCATIVO (Fotografias retiradas de: www.museuartecontemporanea.pt - © DGPC)

Imagem 1: Hall do Museu do Chiado.

Imagem 2: Jardim das Esculturas do Museu do Chiado.

99 Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.

Imagem 3: Fotografia de pormenor da Exposição Permanente do Museu do Chiado.

Imagem 4: Atelier Educativo – Grupo do Leão.

100 Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.

ANEXO E PARQUES NATURAIS DOS AÇORES – IMAGENS DA APLICAÇÃO MÓVEL

101 Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.

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