#05 quadrimestral abril ∞ julho

ENTREVISTA Bruno Aquino em busca da cultura cervejeira

LJUBOMIR STANISIC O cozinheiro que prefere cerveja artesanal

2019 . PORTUGAL CONTINENTAL € 3.90 2019 . PORTUGAL CONTINENTAL TENDÊNCIAS Cerveja sem álcool conquista mercado

CERVEJA E ARTE Vhils desenha coluna de cerveja CERVEJAS RUIVAS PARA VERDADEIROS EXPERTS!

BOHEMIA | 1163 | MAJOR ROÇADAS | CERVETECA | PETISCARIA ST.º ANTÓNIO | PURISTA BARBIÈRE POST SCRIPTUM | LUPUM | ROTA DAS TAPAS | CERVEJÃO | MUSA | DEFEITOS: OXIDAÇÃO | NOVIDADES A TUA NOVA CERVEJA purple EDITORIAL

proprietário e editor PurpleSummer Media & Events, Unip. Lda Lopes Henriques NPCpurple 513 091 378 • Capital Social € 5 000 A TUA NOVA CERVEJA Rua Manuel da Silva, n.º 2, 1º Frente 2700-552 Amadora | Portugal T. +351 211 352 336 diretora editorial Susana Marvão [email protected] T. +351 938 762 939 diretora executiva Maria Helena Duarte [email protected] T. +351 969 105 600 assessora da direção publicidade e assinaturas Cristina Ribeiro [email protected]

departamento comercial Célia Borges [email protected] T. +351 912 411 317 Isabel Vieira [email protected] T. +351 962 943 695 redatores António Mendes Nunes, Aquiles Pinto, Augusto Lopes, Bruno Aquino, Carlos Ramos, Cláudia Pinto, João Pereira Santos, João Durães, SUSANA MARVÃO Manuel Baiôa, Mafalda Freire, Maria Helena Duarte, diretora editorial Paulo Pimenta, Pedro Moura, Sérgio Costa Lopes, Susana Marvão, Tito Santos fotografia Carlos Figueiredo, Ernesto Fonseca, D.R.

Paixão Pela Cerveja tem o apoio da Associação Cervejeiros de Portugal

impressão LusoImpress, S.A. R. Venceslau Ramos, 28 4430-929 Avintes VNG À conquista da

tiragem 3000 exemplares maturidade do mercado distribuição VASP, MLP – Media Logistics Park Quinta do Grajal, Venda Seca 2739-511 Agualva Cacém Há demasiadas cervejas no mercado? À medida que vamos falando com cada vez

Registo ERC | 127067 mais produtores de cerveja, a opinião parece alastrar-se não em forma de inter- Depósito Legal | 435346/17 rogação mas de ponto final. Há demasiadas cervejas no mercado. Para quem não siga-nos on-line é do setor mas o acompanha, como nós, a mensagem que alguns produtores de revistapaixaopelacerveja cerveja nos passa é relativamente fácil de entender: a evolução do movimento #paixãopelacerveja www.revistapaixaopelacerveja.com craft tem de passar da quantidade à qualidade. “Já chega de brincarmos às expe-

A reprodução de textos e imagens tem de ser riências. Chegou a altura de fazermos cerveja para quem a consome e não apenas solicitada e autorizada. para o prazer de quem a produz”. Isto foi-nos dito mais do que uma vez, por estas estatuto editorial ou outras palavras. “Não basta colocar um novo nome e um novo rótulo para Disponível on-line termos uma nova cerveja”. periodicidade quadrimestral PPC #05 Os consumidores, apesar de ávidos por informação e novas experiências cerve- abril | maio | junho | julho jeiras, sentem alguma dificuldade em fidelizar-se ou identificar-se com marcas de cerveja artesanal dada a sua demasiada abrangência e multiplicidade de produtos disponíveis. Ora, para quem está de fora, a coisa é realmente simples de entender. O problema é que estar dentro é diferente. E se, por um lado, há que pagar contas e por isso produzir cerveja para os consumidores, por outro lado quem está no setor é por paixão. E o que gosta é de experimentar, de criar e de o mostrar ao mundo. Independentemente de o mundo consumir o produto. É do equilíbrio entre estes dois universos que estará o futuro do setor em Portugal. capa: fotografia por FXQuadro

EDIÇÃO 5 • PAIXÃO PELA CERVEJA • 3 ÍNDICE

36 Tema de Capa: 66 XVIII Congresso de Cervejas Ruivas Nutrição e Alimentação 42 Avaliação em prova cega 67 Brewers of Europe 46 Novidades em prova cega 68 Cerveja e Nutrição 50 Defeitos na Cerveja: Oxidação 56 60

6 Atualidade cervejeira 12 Bohemia 14 Nortada 15 Cerveja 1163 16 Major Roçadas 18 ÍCerveteca, Lisboa 20 Petiscaria St.ª António, Cedofeita 70 Bohemia 71 Nortada 52 Entrevista: Bruno Aquino 72 Coruja 21 Porto Fest 56 Na Fábrica: Post Scriptum 74 As Minhas Paixões 22 Super Música 58 Revelação: Lupum 24 Chef Ljubomir Stanisic 60 Rota das Tapas 28 Purista 64 Cervejão 52 30 Cerveja e Arte: Vhils 65 Jameson Caskmates / Musa 32 Tendências: Cerveja sem álcool 30 58

Siga-nos on-line Revista Paixão Pela Cerveja revistapaixaopelacerveja #paixãopelacerveja

4 • PAIXÃO PELA CERVEJA • EDIÇÃO 5

BEER CLIPPING

SPEEDBIRD Uma BECK’S 100 em forma de flute

A British Airways e a cervejeira escocesa BrewDog criaram a pri- Já é possível beber cerveja numa lata em forma de flute de meira cerveja artesanal feita a 40 mil pés de altitude para celebrar Champanhe. A nova cerveja chama-se Le Beck’s e assume-se o 100º aniversário da icónica empresa britânica. Com a ajuda das premium. As inovadoras latas têm um acabamento em alumí- cafeteiras do Boeing 787 Dreamliner, Martin Dickie e James Watt, nio escovado, sendo o rótulo um composto por um conjunto os dois responsáveis da BrewDog, misturaram o lúpulo, a ceva- de gravuras a laser e analógicas. A ideia inicial é que esta cer- da e a água. Assim nasceu a “Speedbird 100”, uma India Pale , veja possa “participar” em eventos sociais, inaugurações, como já disponível em lata e especialmente pensada para ser bebida a a abertura de uma exposição de arte, por exemplo. Para já só bordo nos voos de médio e longo curso, sendo que também está há na Alemanha, mas a Beck’s está a considerar lançar os flutes disponível em alguns “lounges” de aeroporto. de cerveja globalmente.

NINKASI chega a Portugal

Já pode beber a cerveja artesanal francesa Ninkasi em Portugal. Dificil será escolher entre a French IPA, feita com maltes e lúpulos exclusivamente cultivados em França, a Blanche, uma Weissbier premiada ao mais alto nível, ou a Triple, que já arrecadou alguns dos troféus mais cobiçados do mundo da cerveja. A Ninkasi é oriunda de Gerland, em Lyon, França. Foi fundada em 1997 por Christophe Fargier, que, após ter vivido nos EUA, regressa a França e implementa o conceito de American Micro-, ao mesmo tempo que retoma a tradição cervejeira de Lyon, que remonta a meados do séc. XVIII. A apresentação oficial aconteceu na Cerve- toria, em Lisboa. É um dos mais antigos espaços temáticos, idea- lizado por Karine Sarkisyan, foi o segundo bar de cerveja artesanal a abrir na capital portuguesa. Neste evento também foi possível ficar a conhecer a sidra francesa Ecusson, que este ano celebra 100 anos de existência. Ambas as marcas são importadas, distri- buídas e representadas pela Wildiscovery, uma empresa jovem e focada inicialmente em produtos oriundos de França.

6 • PAIXÃO PELA CERVEJA • EDIÇÃO 5 PALCO SAGRES com alinhamento de luxo para o NOS Alive

Sagres, a cerveja oficial do NOS Alive, apresenta-se, uma vez mais, no melhor festival nacional e um dos melhores do mundo, com um cartaz de bandas emergentes e também com nomes incon- tornáveis do cenário musical, que sobem ao Palco Sagres durante os dias 11, 12 e 13 de julho. A 11 de julho, sobe ao palco Sagres a norte-americana Sharon Van Etten, a ícone pop sueca Robyn e a britânica Jorja Smith, numa estreia em Portugal, a apresentarem os seus mais recentes trabalhos. Para dia 12, os festivaleiros vão poder assistir a atuações inéditas de Tash Sultana, Pip Blom, H.E.R e Cut Copy. Depois de já ter atuado em Portugal enquanto vocalista dos Radiohead, Thom Yorke, irá subir ao Palco Sagres no último dia do festival, também será possível assistir à atuação da banda punk britânica Idles, que irão apresentar o seu álbum editado em agosto e que se tornou num dos mais aclamados do ano. A Cerveja Sagres irá marcar ainda presença em todo o recinto do festival, oferecen- do animação, boa música, e de partilha de emoções fortes junto de todos os festivaleiros. Mais nomes serão anunciados brevemente.

PUB PUB

Produzida em RUA SÁ DA BANDEIRA PORTO • PORTUGAL

UM VENDAVAL DE SABOR • CRAFT BEER CERVEJA ARTESANAL segue-nos em cervejanortada cervejanortada CERVEJANORTADA.PT

SEJA RESPONSÁVEL. BEBA COM MODERAÇÃO

EDIÇÃO 5 • PAIXÃO PELA CERVEJA • 7 BEER CLIPPING CARLSBERG faz dupla com Diogo Rocha

SAISON BY THE SEA Imperial

Carlsberg é o novo parceiro de Diogo Rocha, o jogador pro- A Saison by the Sea é uma cerveja nascida da parceria entre a cerve- fissional de padel nº 1 no ranking nacional nos últimos seis jeira Dois Corvos e a Quinta Brejinho da Costa, resultando da combi- anos, e vai apoiá-lo enquanto Main Sponsor nos próximos nação de vários tipos de malte - Pilsner Malt, Vienna Malt, Wheat Malt dois anos. Diogo Rocha é o detentor dos melhores resultados e Oats. Mas a grande diferença é assinalada pelo facto de ter sido en- históricos em competições nacionais e internacionais da mo- velhecida em barricas de vinho branco e ter na sua composição um dalidade, dedicando-se à competição e ao ensino de padel lúpulo japonês: Sorachi Ace. O enólogo Luís Simões, revela que esta desde 2009. Carlsberg vai promover diversas iniciativas, como cerveja apresenta “um tom dourado e uma espuma bastante clara, Clínicas de Iniciação ao Padel sob orientação de Diogo Ro- tem aromas florais e herbais, mas também algumas notas de vinho; cha, sendo que o atleta irá marcar presença noutros eventos e na boca oferece sabores de limão, ervas e especiarias, num perfil sob a chancela da marca. Em Portugal, a Carlsberg foi lançada doce e delicado”, destacando ainda que é “cítrica, leve, aromática e em 1972 e integra o portefólio do Super Bock Group, posicio- gastronómica”, identificando-se com o estilo de vinhos da Quinta nando-se no segmento das marcas de cerveja premium. Brejinho da Costa, situada na Península de Setúbal.

SUPER BOCK ARENA Pavilhão Rosa Mota

Em 2019, o Porto vai contar com um venue recuperado e capaz de acolher eventos de grandes dimensões. Trata-se do Super Bock Arena – Pavilhão Rosa Mota, que desde 2017 estava em obras de reabilitação, mantendo a traça original, projeto que resulta de um investimento de oito milhões de euros por parte do consórcio constituído pelas empresas Lucios e PEV Entertainment – que venceu o concurso pú- blico internacional lançado pela Câmara Municipal do Porto, em 2014. O Super Bock Arena – Pavilhão Rosa Mota poderá acolher oito mil pessoas. “O seu potencial reflete-se ainda, entre outras oportunidades, na rentabilização da dinâmica que o turismo tem incutido na cidade, permitindo ao Porto acolher congressos e iniciativas de projeção internacional”, refere a administração do consórcio em comunicado.

8 • PAIXÃO PELA CERVEJA • EDIÇÃO 5 SUPER BOCK apoia a música

O Road to SBSR é um circuito de 25 concertos que acon- tecem até junho e passa por 18 cidades, de norte a sul do país, descentralizando a música ao vivo dos circuitos habi- tuais. Será em ambiente descontraído e de celebração que cada espetáculo vai revelar o que de melhor se faz na mú- sica portuguesa atual e proporcionar o espírito do Festival Super Bock Super Rock, sempre com a melhor experiência cervejeira. O Road to SBSR é organizado pela Super Bock em parceria com o Maus Hábitos e a Música no Coração, promotor do Super Bock Super Rock. O bilhete pode ser adquirido no local e terá um valor de consumo mínimo obrigatório que inclui a oferta de uma Super Bock. Mais informações em: www.facebook.com/sbsr/

AF_ED_IMPIlustracao_193x115mm.pdf 1 08/05/19 12:23

PUB

C

M

Y

CM

MY

CY

CMY

K

EDIÇÃO 5 • PAIXÃO PELA CERVEJA • 9 BEER CLIPPING MESAS BOHEMIA com nova Campanha

A nova Campanha de comunicação das Mesas Bohemia pro- move dois dos melhores atributos que o nosso país tem: a gastronomia e a cerveja. Os protagonistas dos dois novos fil- mes são dois cozinheiros bem conhecidos “da casa”, tendo já participado neste evento cervejeiro e gastronómico em que os restaurantes trocam de cidade. Elsa Ponte, do Restaurante Ribalta de Algoz, no Algarve e Júlio Vintém, do Restaurante Tomba Lombos, em Portalegre, apresentam, cada um, o seu prato mais emblemático e já apreciado por quem se sentou à mesa das Mesas Bohemia, numa harmonização mais que perfeita com a cerveja Bohemia. O filme protagonizado pelo Nova Restaurante Tomba Lombos apresenta umas Migas de Toma- te e Farinheira com Entrecosto acompanhadas pelas notas imagem de malte torrado e caramelo de uma Bohemia Original, en- quanto que o filme em que o Restaurante Ribalta de Algoz é ESTRELLA a estrela, o incontornável Jantarinho de Grão é harmonizado DAMM com as notas tostadas da Bohemia Bock.

O novo rótulo de Estrella Damm valoriza tanto a receita original de 1876, como os ingredientes com os quais é feita: água, mal- te, arroz e lúpulo, todos 100% naturais. No novo rótulo, os apreciadores podem ainda ter acesso aos inúmeros prémios de concursos internacionais, que ocupam um lugar destaque no novo selo.

DIZER NÃO ao plástico nas latas A partir do verão de 2020 a Diageo vai remover os anéis de plás- tico e a película retráctil dos packs de cervejas das suas marcas Guinness, Harp, Rockshore e Smithwick’s, substituindo-os por em- balagens recicláveis e biodegradáveis de cartão de origem susten- tável. Estas mudanças chegarão às prateleiras dos supermercados irlandeses em agosto e serão introduzidas no resto do mundo. A empresa está a investir 16 milhões de libras esterlinas neste projeto. Já em 2018 a Carlsberg anunciou que iria reduzir o uso de plástico e a marca de cerveja Corona também está a testar fibras biodegra- dáveis de origem vegetal para o conseguir substituir.

10 • PAIXÃO PELA CERVEJA • EDIÇÃO 5 Throw Away IPA é feita de CORNFLAKES

HEINEKEN tem equipamento inovador Desenhada de forma premium, a Heineken Blade permite ser- vir uma cerveja Heineken® de pressão perfeita, à temperatu- ra ideal, a qualquer momento, sem manutenção e evitando desperdícios. A mais recente novidade de Heineken® assenta essencialmente em três pilares: qualidade, eficiência e visi- bilidade. Sem necessidade de instalação, e ocupando pouco espaço no balcão (590 x 290 x 471 mm, incluindo a bandeja colectora), a Heineken Blade é assegurada através de um bar- Fabricada a partir dos cornflakes rejeitados pelas suas fábri- ril não retornável de oito litros (cerca de 32 cervejas em copos cas, a Kellogg’s aventurou-se e fez nascer a Throw Away IPA, de 25cl), sendo capaz de conservar a cerveja fresca durante cerveja produzida pela cervejeira Seven Bro7thers Brewery, 30 dias, após abertura do mesmo. Desenvolvidos com um em Manchester. Segundo explica um porta-voz da Kellogg’s, design premium, os barris de Heineken Blade, que apenas es- o conteúdo em cereal desta cerveja é composto por 70% de tão disponíveis para Heineken®, vão ter grande destaque em trigo e 30% por cornflakes excedentes, que de outro modo pontos de venda selecionados da marca, no canal HORECA, seriam desperdício alimentar. Esta Throw Away IPA é também de norte a sul do país, alargando também a oferta a estabe- uma cerveja solidária, já que parte das vendas reverterão a lecimentos onde anteriormente, por diversas razões, não era favor da organização FareShare. possível disponibilizar cerveja Heineken® de pressão. Super Bock SUPER ADEPTOS

Os adeptos de futebol têm agora à disposição uma nova platafor- ma online com conteúdos futebolísticos sempre atualizados. Su- per Bock Super Adeptos é uma página de futebol, que terá todas as novidades da modalidade, conteúdos exclusivos e experiências envolventes destinadas aos adeptos. Em superbocksuperadeptos. pt, os fãs da modalidade poderão consultar os resultados de todos os jogos e jornadas da Liga Portugal, assim como resu-mos, golos, lances e estatísticas de cada jogo. A plataforma também será palco de conte-údos exclusivos, produzidos com a Liga Portugal, clubes e jogadores, assim como sumá-rios das ações levadas a cabo por Super Bock Super Adeptos no futebol. E não vão faltar passatempos para oferta de bilhetes para os jogos da Liga Portugal.

EDIÇÃO 5 • PAIXÃO PELA CERVEJA • 11 LABEL & DESIGN

Bohemia Evolução à mesa

> texto Aquiles Pinto > fotografias D.R.

A Bohemia foi alvo, em fevereiro, de uma renovação de imagem. Com um visual gráfico mais “limpo” e moderno, a marca da Sociedade Central de Cervejas e Bebidas evidencia, agora, de forma ainda mais marcante cada uma das suas variedades, além de reforçar o posicionamento de “companheira” à mesa.

O logo da Bohemia fez parte do relança- indica, em declarações à Paixão Pela cerveja, como a cor e a expectativa orga- mento da marca, em 2016, e foi o resultado Cerveja, Ana Rita Garcia, gestora de mar- nolética”, explica Ana Rita Garcia. de vários exercícios cujo principal objetivo ca Bohemia. “Ao fazer esta atualização, Diferentes intensidades de malte, amargor foi rejuvenescer a imagem e incorporar al- não queríamos romper demasiado com a e densidade de corpo fazem de Bohemia guns elementos marcantes, como o “O” de imagem criada no relançamento há três Original, Bohemia Puro Malte e Bohemia Bohemia. Agora, foi lançada uma evolução anos, mas queríamos fazer uma evolu- Bock cervejas “únicas”, pensadas para os desse visual para torná-la mais leve, dar ção natural e mais moderna que desse momentos de ‘food pairing’ e para propor- especial destaque ao nome das variedades resposta aos nossos desafios”. cionar uma experiência completa à mesa. e suas características (Original, Puro Malte, De notar que a Sociedade Central de Cer- Bock e Pilsner), realçando também o tipo REFORÇO DO ‘PAIRING’ vejas e Bebidas recorreu, também, ao con- de comida mais indicado para acompa- O reforço do posicionamento da mar- tributo de apreciadores. “Sendo Bohemia nhar cada uma destas cervejas, dado que a ca ligado às refeições e a aposta em de harmonização gastronómica, também marca aposta em diversidade com diferen- diferentes estilos de cervejas foram, de existe referência a uma sugestão de ‘pai- tes harmonizações gastronómicas. acordo com a responsável de marketing ring’. Neste processo trabalhamos com Quando os resultados, parecem ser bons Bohemia, os principais motivos para este consumidores de cerveja e de Bohemia e o rumo o acertado, até porque qual- rejuvenescimento da imagem e que de- que nos ajudaram a perceber quais os ele- quer alteração de ‘label design’ é feita sencadearam todo o processo criativo. mentos mais importantes no momento da com” “pinças”. Foi precisamente o que “Todos os elementos da atual imagem de compra e do consumo. Com isto, preten- sucedeu na recente alteração operada à Bohemia são pensados numa ótica gas- demos estar mais próximos das reais ex- imagem da Bohemia. “Por um lado, ha- tronómica e cervejeira, nomeadamente pectativas de todos os portugueses que via uma necessidade de tornar a imagem o destaque para a variedade que ajuda a apreciam verdadeiramente cervejas, refor- mais leve e, por outro, de dar resposta enquadrar o estilo da cerveja. Mas tam- çando que as cervejas podem ser excelen- aos desafios de comunicação das dife- bém outros elementos que percebemos tes opções para acompanhar as refeições”, rentes variedades e suas características”, que são importantes na escolha de uma indica a gestora de marca Bohemia.

12 • PAIXÃO PELO CERVEJA • EDIÇÃO 5 1163 Ponte de Lima em rótulo

> texto Aquiles Pinto > fotografias D.R.

Aquele que é considerado por muitos historiadores o mais antigo foral atribuído a uma localidade portuguesa, o de Ponte de Lima, está ligado umbilicalmente ligada à Cerveja & Sidra Artesanal 1163. Sem surpresa, o processo criativo dos rótulos reflete isso mesmo.

O foral foi atribuído à vila de Ponte de Lima anos, em setembro. “São símbolos da vila em 1125 pela rainha D. Teresa. A marca, po- onde estamos sedeados”, explica Vítor Ro- rém, é 1163. Porquê? A era de 1163 do foral drigues. pertence ao calendário hispânico, cujo pri- Original de Ponte de Lima, a 1163 dispõe de meiro ano corresponde ao de 38 a.C., o que uma sidra e quatro tipos de cerveja: Loira, equivale ao ano de 1125 do calendário cris- Preta, Rosé e Ruiva. O rótulo é igual em to- tão. “Em nome de Deus e da indivisa Trinda- dos os produtos, sendo a diferença apenas de. Eu, a rainha D. Teresa, filha do rei Afonso, a cor dos símbolos no caso das cervejas e saúdo-vos no Senhor. Hei por bem fazer vila do fundo no caso da sidra. Também as cáp- o supramencionado lugar de Ponte, e aí faço sulas assumem uma cor consoante a bebi- couto, e assim o decreto e quero que isto te- da em causa. nha toda a força e firmeza para todo o sem- A Loira é uma English com colora- pre desde hoje, 4 de março da era de 1163”, ção amarelo-dourado e aromas a lúpulos foi escrito, então, em nome de D. Teresa. e frutos tropicais. Com corpo leve, tem al- Há historiadores que defendem tratar-se guma maltosidade e baixo amargor. A Preta do mais antigo foral da nação, mas outros tem coloração escura e aroma a nozes, cho- apontam que há outros anteriores – como colate e café. A Rosé tem um forte aroma S. João da Pesqueira, Coimbra ou Santarém floral e notas a frutos vermelhos, juntando –, mas todos estão de acordo que está en- ao sabor doce notas cítricas. A Ruiva tem tre os primeiros. Ponte de Lima é, de resto, uma coloração escura e aromas a chocola- das localidades que mais “transpiram” his- te e caramelo, com amargor médio. A 1163 tória em Portugal. Ruiva, recorde-se, recebeu o Prémio Exce- Foi isso mesmo que Vítor Rodrigues, viticul- lência atribuído pela Paixão Pela Cerveja. tor e enólogo quis transmitir quando se de- Todas são “elaboradas através de métodos dicou às cervejas e sidras. “É esta a história artesanais e a partir de uma rigorosa sele- da marca e de onde derivou todo o proces- ção de matérias-primas”, de acordo com a so criativo”, disse à Paixão Pela Cerveja. marca fundada por Vítor Rodrigues. A marca desenvolve, ainda, produtos pon- PONTE DE LIMA EM RÓTULO tuais para algumas épocas festivas, como Além da própria marca, os rótulos e logóti- o Natal ou a Páscoa. Uma cerveja artesanal po da 1163 mostram o rio Lima, a ponte ro- de cacau é apenas um desses exemplos. Os mana, as torres da antiga muralha e a coroa aromas e sabores da cerveja e sidra artesa- de D. Teresa. Além disso, os raios remetem nal 1163 transportam-nos para uma viagem para o fogo de artifício das Feiras Novas, no tempo homenageando, assim, uma das que se realizam na vila minhota todos os vilas mais históricas de Portugal.

EDIÇÃO 5 • PAIXÃO PELO CERVEJA • 13 MUNDO DA CERVEJA

14 • PAIXÃO PELA CERVEJA • EDIÇÃO 5 A Lindinha que deu origem à Major Roçadas

> texto Susana Marvão > fotografias Carlos Figueiredo

A mensagem que a cerveja Lindinha Lucas queria passar para o mercado era complicada de transmitir, o que precipitou o nascimento da Major Roçadas, empresa de distribuição.

Dia 1 de maio de 2015 nascia a Lindinha uma história bastante mais longa no mun- Entre o portfólio das marcas representa- Lucas, uma marca de cerveja com a pre- do da cerveja necessita, faz tudo parte do das, Diogo Trindade destacou a finlandesa tensão de “servir” a zona do Porto. A Lin- crescimento natural do mercado. Portugal Pyynikin, as espanholas Nós e Montseny, dinha cresceu, ficou uma mulherzinha, e terá seis anos de cerveja artesanal e acho as cervejas da inglesa Magic Rock os mentores do projeto, Diogo Trindade, que aproveitamos muito bem esse tempo”. e a , que tem a característica de, Sofia Oliveira e Pedro Crispim, acharam para além de pouco álcool, ser produzida que provavelmente seria uma boa ideia IMPORTAÇÃO DIVERSIFICADA com uma pequena percentagem de água, entregar a sua distribuição a uma empre- A atividade da Major Roçadas é bastante um claro apelo à sustantabilidade. sa especializada. Mas a Lindinha Lucas ti- diversificada em termos de importação de nha algumas particularidades complicadas cervejas. Diversificada no sentido de que, PORTUGAL DÁ LUTA NA EUROPA de comunicar, o que acabou por levar à hoje, são muito os países dos quais impor- Questionado sobre se as cervejas euro- criação da empresa de distribuição Major tam produto. “Claro que temos os países peias têm em Portugal concorrência, Dio- Roçadas, precisamente para colmatar a mais clássicos, com por exemplo a Alema- go Trindade não tem qualquer dúvida que lacuna de marcas que precisavam de um nha a produzir excelentes novas cervejas. sim. “Há tão boas lá fora como aqui, esta- parceiro para serem distribuídas a nível na- Ou a Finlândia, Noruega, Bélgica, Inglater- mos a chegar a um bom nível”. cional. ra ou França. Mas depois temos Espanha, Quanto ao mercado da, digamos, cerveja Os primeiros produtos a serem coloca- com fabulosas cervejas a virem da Cata- ‘tradicional’, o fundador da Major Roça- dos no mercado pela Major Roçadas, para lunha ou do País Basco. Da mesma forma, das diz que está a “abrir-se”, introduzindo além da Lindinha Lucas, foram a Burguesa no Brasil e Estados Unidos há cervejas in- cervejas personalizadas, o que considera e a D’os Diabos, com o portfólio a depois teressantíssimas, assim como em Israel”. ser excelente para o movimento das arte- ir ganhando novos protagonistas com o Ou seja, Diogo Trindade acredita que hoje já sanais. “É verdade que a generalidade das passar do tempo. não é particularmente importante o país de pessoas confia mais depressa numa Super Passados dois anos, Diogo Trindade acre- onde vem a cerveja, dado que os seus clien- Bock, não o podemos negar. Por isso, se dita que o mercado está a crescer em qua- tes já começam a pedir o produto pelo tipo essas empresas enveredarem por fazer lidade. “Há ainda muitos ajustes a fazer, de cerveja ou até já pela marca, demons- versões artesanais os consumidores mais obviamente, mas isso também países com trando alguma maturidade já adquirida. rapidamente provam e são introduzidos a

EDIÇÃO 5 • PAIXÃO PELA CERVEJA • 15 Os primeiros produtos a serem colocados no mercado pela Major Roçadas, para além da Lindinha Lucas, foram a Burguesa e a D’os Diabos, com o portfólio a depois ir ganhando novos protagonistas com o passar do tempo.

todo um novo mundo da cerveja. E quan- Trindade “confessou-nos” que a Lindinha EXPORTAÇÃO TAMBÉM do da próxima vez provarem uma Lindinha Lucas vai voltar a produzir aquela que foi ESTÁ CONTEMPLADA Lucas não vão estranhar”. a sua primeira cerveja: uma Pilsner. “Não De resto, outra aposta da Major Roçadas é Mas nem só os mercados dos produ- fazemos cerveja para cervejeiros, faze- na exportação de produto. Só da Lindinha tores e fornecedores mudou. O pró- mos cerveja para os clientes e o público, Lucas, 30% já se destina ao mercado ex- prio cliente é, hoje, um consumidor antes de se aventurar numa IPA, vai-se terno. O “grupo” tem ainda no seu negó- mais informado e, logo, mais inteligente. identificar melhor com uma Pilsner. E isso cio uma forte componente de acessórios, “Mudou ainda o mercado da hotelaria, da depois abre caminho para outros tipos de sendo por exemplo distribuidores dos bar- restauração e até mesmo o das grandes cerveja”. ris Petainer para a Península Ibérica. Aliás, superfícies. Mas a questão é ainda ninguém Relativamente ao mundo da distribuição, Diogo Trindade diz que, hoje, quem quiser viu o panorama geral. Ainda não temos a Diogo Trindade explica que o mercado montar uma cervejaria ou um bar a em- percepção da imensidão do mundo das mudou e por isso os players deste imen- presa consegue entregar um projeto prati- cervejas. Nos países onde este mercado so “tabuleiro” vão ter de se adaptar a este camente quase chave-na-mão. está mais desenvolvido, a cerveja artesanal novo mundo. “A percepção que tinha do não é a exceção, é a regra”. Exatamente mercado há três anos é completamente CRAFT VS ARTESANAL como o vinho, ilustra Diogo Trindade. diferente da percepção que tenho hoje. A Um dos problemas do mercado, no en- Ou seja, o responsável pela Major Roçadas Major Roçadas não tem concorrência em tender de Diogo Trindade, é confundir o acha que os restaurantes ainda não per- Portugal porque nos conhecemos uns aos termo artesanal com ‘craft’. Para este em- ceberam que se tiverem para oferecer nas outros e somos amigos”. preendedor, o termo artesanal simples- suas cartas cervejas artesanais vão conse- mente não existe. “Para eu poder vender guir atrair o consumidor estrangeiro que já VENDA POR INTERNET É UM DESAFIO cerveja artesanal ao público tenho de a bebe cerveja artesanal sem pensar. “Vai ser Assim, o maior desafio e obstáculo da dis- fazer numa instalação industrial, aprovada um pouco mais cara, sim, mas vai cativar tribuição no nosso país é mesmo a venda pela ASAE e pela Alfândega e com todos outro tipo de clientes”. por internet das cervejas estrangeiras. “É os requisitos. Além de que teríamos de ter um novo desafio. Podemos ter o exclusi- carta e artesão”. A EVOLUÇÃO DAS IPA vo de algumas marcas, mas as empresas Assim, Diogo Trindade gosta mais de de- Assim, para Diogo Trindade o último ano e não conseguem controlar sites que ven- finir este movimento não por um nome, meio tem sido a evolução das IPA. “Tam- dam pela internet essas marcas”. Algo que, mas pela qualidade da matéria-prima, pela bém foi o ano das Farmhouse, das cervejas sendo “injusto”, é obviamente totalmente proibição de tudo o que sejam ingredien- mais florais e campestres. Estamos ainda legal. Para combater esta situação, a Major tes não necessários à cerveja para poupar numa época de aproximação às cerve- Roçadas optou por diminuir o seu portfólio dinheiro, como o milho, trigo... “Se a cer- jas mais fortes e às . O crescimento de distribuição. “Tivemos de nos adaptar. veja for de trigo, leva trigo. Mas não leva das cervejas feitas em barrica também tem Temos apenas o essencial e distribuímos apenas para ocupar espaço. Mesmo em sido exponencial”. as marcas que nos dão uma maior garantia termos de quantidade não me parece im- Curiosamente, e em primeira mão, Diogo de negócio”. portante. No meu entender é quem a faz,

16 • PAIXÃO PELA CERVEJA • EDIÇÃO 5

BEER GPS LISBOA

Cerveteca à descoberta de cerveja artesanal

> texto Mafalda Freire > fotografias Ernesto Fonseca

A Cerveteca Lisboa apresenta-se como o primeiro bar de cerveja artesanal da capital e comemora este ano o seu quinto aniversário. Hoje, tal como no primeiro dia, a estratégia é a mesma: dar a conhecer a cerveja artesanal.

Rui Matias e Carolina Cardoso são os res- lá”. Além disso, conforme relevou à Paixão a ser parte desse desenvolvimento”, referiu. ponsáveis da Cerveteca que nasceu com pela Cerveja, “tinha vontade de ter um ne- Para comemorar esta meia década de ati- o propósito de ser um “lugar de convívio e gócio próprio” e quando pesquisou desco- vidade, o espaço organizou uma iniciativa entretenimento com foco em cerveja ar- briu que em Portugal ainda “não havia nada”, chamada “5 anos, 5 festas” de janeiro até tesanal”, explicou o ex-gestor de projetos. estavam a “aparecer as primeiras marcas maio, sempre no último dia do mês, que O objetivo é que as pessoas vão “descobrir mas era tudo incipiente”. Daí, decidiu apos- culminou no dia do aniversário, 1 de junho. e aprender sobre cerveja ao seu próprio tar num espaço em Lisboa e abriu, em 2014, Atualmente, a Cerveteca tem disponíveis ritmo num ambiente descomprometido, o primeiro bar de cerveja artesanal na Praça 14 cervejas à pressão, que estão sempre convidativo a experimentar e divertido”. das Flores, bem no centro da cidade. em rotação de forma a ter “uma oferta va- A ideia para o espaço nasceu quando Rui riada e ter sempre novidades”. Matias estava em Barcelona. “Trabalhava MEIA DÉCADA DE QUALIDADE Já na cerveja engarrafada, a média é ter com uma pessoa que fazia cerveja em casa Rui Matias fez um “balanço positivo” dos 120 rótulos diferentes mas nunca desce e comecei a interessar-me e a ir a alguns cinco anos de atividade da Cerveteca. “Já abaixo dos 100. Esta oferta está intima- bares de cerveja artesanal. Nessa altura temos uma estrutura consolidada e vamos mente ligada ao que o bar “consegue en- também fiz algumas cervejas e o gosto conseguindo apresentar ao público por- contrar, importar, do que existe ou não no nasceu aí”, disse. tuguês coisas um bocadinho diferentes”. mercado e das novidades dos cervejeiros”. Estávamos em 2009 e a cerveja artesanal A estratégia do empreendedor sempre foi Já o público do bar da Rua das Flores é va- “começava a ganhar força” na capital da “ajudar o mercado da cerveja artesanal a riado e diversificado e tem perfis diferen- Catalunha. desenvolver-se em Lisboa” e há um senti- tes durante a semana e o fim-de-semana. O responsável da Cerveteca voltou a Portu- mento de dever cumprido: “Achamos que Se durante a semana há consumidores gal em 2011 e “o bichinho da cerveja estava isso está a acontecer porque nós estamos mais experimentados nas lides da cerveja

18 • PAIXÃO PELA CERVEJA • EDIÇÃO 5 artesanal “que saibam o que querem”, ao seguirmos boa cerveja porque havia pouca artesanal, se provar uma má vai criar anti- fim-de-semana, os clientes são “menos coisa em Portugal. Neste momento, já con- corpos que são complicados de eliminar”. informados e conhecedores da cerveja ar- seguimos com os portugueses ter um nível tesanal”, esclareceu Rui Matias. É por isso de oferta bastante simpático”, indicou. No FUTURO que apesar de na generalidade a cerveja início “para termos uma boa IPA tinha de vir Em relação às perspetivas para o futuro, mais consumida ser a IPA, APA, Sesssion de fora”, acrescentou o responsável. Rui Matias é perentório em dizer que a IPA, Weissbier, Belgian Ale, ao fim-de-se- Esta dificuldade tem vindo a ser ultrapassa- Cerveteca tem caraterísticas muito espe- mana, os clientes bebem também muito da pelo “facto de já haver muita coisa boa ciais mas que o conceito vai permanecer: e Pilsner. em Portugal. O mercado nacional tem um “Acreditamos e queremos manter um es- Uma das histórias que Rui Matias gosta de nível totalmente diferente. Desde 2014, a paço que privilegia a cerveja sobre tudo o contar sobre a Cerveteca e o sucesso da diferença é abismal”. O dono da Cerveteca resto e não me parece que isso vá ser alte- cerveja artesanal aconteceu no primeiro referiu ainda que “o mercado está a evo- rado nos próximos tempos”. concurso de cervejas caseiras do espaço. luir bem” e que houve “uma seleção pelo Sem planos de expansão, o ex-gestor de “Existiam pessoas a ligar a dizer que iam fa- lado da qualidade. Neste momento, há projetos acredita que o sucesso do seu zer 200 quilómetros para vir ao evento mas muitos bons cervejeiros em Portugal. Há “espaço de descoberta” vem da autentici- só se tivessem garantia de mesa”. Como o gente a fazer cervejas muito boas, umas dade, algo que partilha com a cerveja arte- espaço tem 10 mesas e parte estava ocupa- mais focadas em estilos, outras com mais sanal. “É algo que tem um cunho próprio, da com júri, essa era uma tarefa complicada. abrangência, outros com vocação para é algo que por definição é individual e au- Rui Matias revelou que, “ao princípio, havia mais quantidade mas acho que o mercado têntico e não acho que faça sentido andar esta necessidade de encontrar pontos de re- está a evoluir na qualidade e quantidade de a copiar coisas pois perde a autenticidade. ferência, de contacto, de reunião, que per- cervejeiras que estão disponíveis”. Acho que é antinatura no meio da cerveja mitissem às pessoas partilhar este amor pela Além disso, Rui Matias enalteceu o facto artesanal”, concluiu. cerveja artesanal”. A Cerveteca foi e continua de cada vez mais espaços disponibilizarem a ser certamente um desses locais. cerveja artesanal, mas deixou um alerta: “É CERVETECA muito positivo porque há mais público ex- Coordenadas GPS: DESAFIOS E O MERCADO NACIONAL posto à cerveja artesanal. Ainda há alguns 38°42’54.6”N 9°09’03.8”W Quanto aos desafios, Rui Matias salientou projetos - cervejeiros e eventos - que de- Praça das Flores 63, o facto de “ter sempre cerveja disponível viam ser mais trabalhados e pensados an- 1200-422 Lisboa para manter uma oferta coerente e apela- tes de serem colocados cá fora”. Horário: tiva” já que ao início o mercado nacional Isto porque vão dar “ao público um produ- Todos os dias das 15:30 à 01h não contribuía para este cenário. “No início to de menor qualidade, o que é mau para o Sextas e Sábados até às 02h www.cervetecalisboa.com tínhamos muito mais dificuldade em con- setor porque quem nunca provou cerveja

EDIÇÃO 5 • PAIXÃO PELA CERVEJA • 19 BEER GPS PORTO

Petiscaria S.to António A Praxis em Cedofeita

> texto Susana Marvão > fotografias D.R. Fomos a Cedofeita, no Porto, para conhecer a “sede” da cerveja Pattria e viemos de lá com uma novidade: a marca foi vendida e deu lugar a uma “delegação” da Petiscaria, que priveligia a venda da coimbrense Praxis.

Cedofeita, no Porto, ganhou um novo pro- em Mártires da Liberdade, onde anterior- cado. “Quando este espaço era Tap Room jeto. A Petiscaria, que já marcava presença mente estava a Pattria”. da Pattria tínhamos mais de 100 cervejas. na cidade invicta nas freguesias da Vitória Obviamente que para além dos petiscos, E, na verdade, 80% dos nossos clientes e Clérigos, ganhou um novo espaço, des- com as moelas e os enchidos a ganharem consumiam 20% das nossas referências. ta vez na rua Mártires da Liberdade. Os particular destaque, a oferta de cerveja Ou seja, a maior parte dos consumidores empreendedores e mentores da cerveja continua a ser rainha e senhora da casa, ainda prefere coisas relativamente consis- Pattria venderam a marca de cerveja, mas agora sob a batuta da Praxis, com quem de tentes e tradicionais. Os beer lovers sim, mantiveram no local o conceito da Pe- resto já tinham excelentes relações. “Hoje, gostam de experimentar coisas diferentes, tiscaria, agora com o selo da coimbrense somos a embaixada da Praxis no Porto, até numa postura de colecionismo e ava- Praxis. temos toda a sua gama de cerveja, quer liação”. Mas, diz honestamente, em termos de pressão quer de garrafa”, explicou Tia- de negócio, ainda não funciona. “Há casas MERCADO ESTÁ A CONSOLIDAR-SE go Almeida. Pilsner, , Ambar, Weiss, que conseguem, o Catraio é muito forte, Aliás, a Pattria é a prova de que o mercado Strong e algumas sazonais são, por isso, por exemplo, mas nós não estávamos a está a começar a consolidar-se. A marca presença diária na Petiscaria. conseguir os resultados esperados pelo foi efetivamente vendida, apesar de até à que tomamos uma decisão consciente. data de fecho desta edição o nome dos PRAXIS TEM UMA GAMA EQUILIBRADA O mercado é demasiado pequeno para a novos proprietários não poderem ser di- Para o empreendedor, a gama Praxis é, so- abertura de tantos espaços”. vulgados. Tiago Almeida, que juntamente bretudo, muito equilibrada, sendo a Pilsner com Jaime André deram corpo e alma à a mais consumida entre os clientes do es- PETISCARIA ST.º ANTÓNIO - CEDOFEITA cerveja Pattria, acharam esta era uma boa paço. “É a cerveja clássica que mais saída Coordenadas GPS: altura para ceder a marca. “No final do ano tem. Mas os gostos estão a mudar e hoje já 41°09’01.4”N 8°36’52.3”W passado reavaliamos os dois projetos, quer nos pedem muito as Weiss e a Dunkel tam- Rua Mártires da Liberdade, 30 | Porto o Pattria quer o Petiscaria e tomamos al- bém já têm o seu espaço no mercado. Já Horário: gumas decisões. Vendemos o espaço da há uma maior habituação do consumidor Terça a quinta: das 12h00 às 00h00. Petiscaria na rua da Fábrica, vendemos a a beber algo de diferente”. Sextas e sábados: das 12h00 à 01h00. Encerra aos domingos e segundas. marca Pattria a uma marca de cerveja na- Aliás, o empreendedor admite que existem http://www.petiscaria.pt cional e instalámos a Petiscaria Cedofeita demasiadas referências de cerveja no mer-

20 • PAIXÃO PELA CERVEJA • EDIÇÃO 5 Alfândega acolhe Porto Beer Fest

> texto Susana Marvão > fotografias D.R. O Porto Beer Fest mudou de casa. A quarta edição vai ter como palco a Alfândega do Porto onde, de 12 a 16 de junho, vão estar em prova 360 estilos de cerveja artesanal.

O Porto Beer Fest é já um clássico na ci- serão 360 os estilos em prova, confirmou necessidade que sentimos em determina- dade invicta. E se, até agora, eram os jar- Octávio Costa. No entanto, o responsável das questões de operação, que acabam dins do eterno Palácio de Cristal que aco- admite que não é o número o elemento por nos levar para a nova localização”. lhia o evento, a quarta edição vai ter um primordial. “Sim, significa a fascinante cria- Assim, a organização espera em 2019 um novo palco, de resto a grande novidade tividade e inquietude criadora dos produ- reconhecimento internacional em definiti- do evento deste ano. “O Palácio de Cris- tores cervejeiros, a sua dinâmica de fazer vo. “O Porto, enquanto cidade, ganhou um tal, que viu nascer e albergou este festival, mais e melhor. Mas no fim desse número, evento importante e o público reconhece sofreu a alteração nas suas funcionalida- quem ganhou foi o consumidor, enrique- o valor e desfruta deste festival, compa- des. E nós precisávamos de crescer quali- cido de experiências e sabores”. rece e aponta na agenda. As redes sociais tativamente e implementarmos dinâmicas vão-nos mostrando ao longo do ano nú- novas, introduzir inovação no modelo, FOCO NA INTERNACIONALIZAÇÃO meros impressionantes de adesão e ansie- dotando-o de conteúdos ainda mais atra- Octávio Costa diz haver um sólido foco dade pelas datas. São bons ‘feelings’”. tivos no seu formato”, disse à Paixão Pela em tornar o Porto Beer Fest num festival O grande desafio prende-se, assim, com a Cerveja Octávio Costa, da OG&Associa- cada vez com mais peso internacional e logística operacional de um novo local. “A dos, empresa responsável pelo evento. “O visibilidade além-fronteiras. “É um cami- forma de comunicar, já com a abrangência Parque nascente da Alfândega do Porto é nho estratégico óbvio para uma cidade de captar mercados internacionais também o nosso novo fermentador”. que se transforma e está cada vez mais é um desafio interessante”. De resto, novidades há sempre muitas, cosmopolita. O festival acompanha e for- na programação cervejeira, na animação talece essa ideia”. Assim, haverá cervejei- musical, na extensão aos bares e locais da ros de 12 países europeus que farão boa PORTO BEER FEST cidade parceiros. Uma novidade bastante companhia às 25 excelentes cervejeiras Coordenadas GPS: apelativa na oferta prende-se com um bal- portuguesas. 41º08’35.48 N 8º37’15.85W cão Pop Up de Cocktails e Mixology ba- “O Porto Beer Fest não nos tem parado de R. Nova da Alfândega, 4050-430 Porto seado em destilados com maturações de surpreender desde a primeira edição em Horário: cervejas icónicas - será a enorme surpresa! 2016. Na edição passada, o balanço foi ex- 12/06 às 17:00 – 16/06 às 23:59 Entretanto, este ano houve generoso in- tremamente positivo em todos os aspetos. www.facebook.com/portobeerfest/ cremento no número de cervejas: o todo Ao fazer o balanço, volto a lembrar-me da

EDIÇÃO 5 • PAIXÃO PELA CERVEJA • 21 DESTAQUE

25 anos de inspiração Super Bock “dá” música

> texto e fotografias D.R. Black Company, Mind Da Gap, Capicua, Slow J e Estraca juntaram-se à Super Bock para protagonizarem um filme de homenagem à Música, que conta a história do Hip Hop português nos últimos 25 anos, vivida na primeira pessoa, representando o legado dos artistas, as suas experiências e emoções em cada concerto e as histórias de amizade autêntica que surgem neste contexto.

“25 Anos de Ispiração” é o nome da nova sos inegáveis atualmente. As gravações da Este termo, inventado pelos Mind Da Gap, campanha da marca de cervejas do Super nova campanha foram nos exatos locais é uma fusão das palavras “Gaia” e “Shaolin” Bock Group que utiliza imagens baseadas onde essas canções foram criadas, como que representa a cultura dos grafittis, da em factos reais para retratar a evolução da por exemplo, no café Avis, onde Capicua Música e dos dancers. Música em Portugal nos últimos 25 anos costumava compor as suas canções. Já o A Super Bock situa a nova campanha no e o percurso dos artistas nas diferentes Slow J partilhou com a Super Bock todo contexto da Música, mantendo o caráter gerações bem como o seu processo cria- o seu processo criativo em que chegava próximo e promovendo a melhor expe- tivo e inspiração para os grandes êxitos mesmo a dormir no chão do estúdio onde riência cervejeira, associada a momentos de hoje. O estilo do filme é o biopic, uma gravava. entre amigos e aos melhores ambientes e abordagem próxima do registo cinemato- Os Mind Da Gap são do Norte, pelo que as sonoridades. gráfico, utilizado pela primeira vez numa imagens do Porto e de Vila Nova de Gaia A propósito desta iniciativa, Bruno Albu- campanha publicitária. Super Bock é, as- não são estranhas em “25 anos de Inspi- querque, diretor de Marketing Cervejas sim, a primeira marca em Portugal a trazer ração”. Por esse mesmo motivo, a Super do Super Bock Group, salientou: “A Super este estilo de filme para o pequeno ecrã. Bock escolheu filmar os membros da ban- Bock tem uma forte tradição de apoio à Ao ser uma homenagem à Música, este da Ace e Presto, junto ao parque de esta- música em Portugal, através de projetos filme acompanha o processo criativo de cionamento da estação de comboios “Ge- inovadores, ao estar ao lado dos artistas, Black Company, Mind Da Gap, Capicua ou neral Torres” (Vila Nova de Gaia) onde se vê mas também a proporcionar experiências Slow J, o início de canções que são suces- a palavra “Gaiolin” na cena final do filme. únicas ao consumidor.”

22 • PAIXÃO PELA CERVEJA • EDIÇÃO 5

CHEF’S, CERVEJAS & PETISCOS

24 • PAIXÃO PELA CERVEJA • EDIÇÃO 5 Ljubomir Stanisic

> texto Cláudia Pinto > fotografias Fabrice Demoulin / 100 Maneiras

Franco, direto, sem rodeios. Ljubomir Stanisic não se cansa de dizer que vive para comer. Gosta de experimentar novos sabores e confessa que o amor não pode faltar enquanto ingrediente principal na vida de um cozinheiro. Dinâmico por natureza, multiplica-se em projetos e até já criou duas cervejas. A mais recente, lançada este ano, chama-se “Bicho do Mato” e foi produzida em parceria com a Cerveja Letra.

Quais os projetos a que se está atualmen- sintam assim, confortáveis, à vontade, com Como avalia a gastronomia em Portugal te a dedicar? boa música, sem medo de rir e falar alto, atualmente? Neste momento, estou 100% focado no com grandes cocktails, grandes vinhos e Já disse e repito: Portugal tem uma cozi- novo 100 Maneiras, que abrimos no dia um menu que inclui aquilo que gosto de nha maravilhosa. É uma cozinha de enge- 28 de fevereiro, no Bairro Alto, em Lisboa. comer em casa. Quanto ao perfil de clien- nho, de necessidade, em que um pedaço Foi um projeto que levou quase quatro tes, diria que os espaços se destinam a de pão seco, azeite, alho e coentros fazem anos desde a ideia inicial à abertura mas gente que gosta de comer, de se divertir uma açorda. É genial. Para além disso, te- que, hoje, não temos dúvida que abriu e de ser feliz. mos produtos incríveis, a começar pelo quando tinha de abrir. O restaurante é peixe e marisco, que são dos melhores do a evolução natural do antigo 100 Ma- Considera que o programa “Pesadelo mundo. Hoje, Portugal já tem mais noção neiras, aberto em 2009, duas portas ao na Cozinha” mudou um pouco a forma disso e há cada vez mais gente a valorizar lado deste novo espaço, e é um reflexo como os portugueses escolhem os res- esses mesmos produtos e tradições, e a perfeito de quem sou, da decoração aos taurantes para ter uma refeição? Na sua contribuir para que a cozinha portuguesa menus, passando pela importância da opinião, o que justifica o sucesso do pro- seja cada vez mais conhecida e reconhe- sustentabilidade. Uma vantagem destes grama e o que retirou dessa experiência a cida no mundo. quatro anos foi termos tido tempo para nível pessoal? pensar em cada detalhe e acredito que Honestamente, não faço ideia, mas a jul- Fale-nos da parceria com a Cerveja Letra isso se sente. gar pelas mensagens que recebo nas redes na criação da cerveja “Bicho do Mato”. O sociais acredito que sim. Acho que o pro- que levou a criar esta parceria e à escolha Como tem corrido a experiência deste grama tem uma mais-valia muito grande do nome? novo restaurante mas também do Bistro que é a de, no fundo, ser muito emocional. Esta não é a minha primeira cerveja. Em 100 Maneiras? Qual é o perfil de cliente O meu objetivo ali é ajudar pessoas, ajudá- 2015, com a Mean Sardine, tinha criado de ambos? -las a andarem para a frente, e isso mexe uma primeira cerveja chamada Lhubobeer. O 100 Maneiras acabou de abrir e tem sido com quem assiste ao programa, acabando Com a “Bicho do Mato”, decidi fazer uma ótimo, temos recebido muito bom feed- por ser muito mais que um programa só cerveja mais rústica, Double IPA, com algu- -back e tem sido uma experiência muito de cozinha. mas especiarias - como a minha preferida, boa para nós, enquanto equipa. O Bistro A nível pessoal… é difícil responder. Teve Ras el hanout. A parceria com a Letra, tal 100 Maneiras abriu em 2010 e foi dese- muita coisa boa e algumas coisas más, como já tinha acontecido com a Mean Sar- nhado para ser como a minha segunda como a dificuldade de passar incógnito, dine, apareceu por gostar muito das cerve- casa: um espaço onde me sinto muito algo que ainda tenho alguma dificuldade jas artesanais da marca. São das mais puras bem e quero que os clientes também se em lidar. do mercado e as que mais gosto de beber.

EDIÇÃO 5 • PAIXÃO PELA CERVEJA • 25 O nome é uma brincadeira que começou lhi este ingrediente para a Bicho do Mato, é povo, e hoje, temos as pazes mais que em Grândola, onde esta cerveja, aliás, foi uma mistura de especiarias muito presen- feitas. apresentada pela primeira vez, numa festa te na minha cozinha. Tomilho - a minha na aldeia. Comprei uma casa lá há uns me- erva de eleição está inclusive presente no O que o levou a abraçar a sua profissão? ses e os habitantes entretanto começaram painel que criámos para o meu novo fo- Porque decidiu ser Chef? a perceber o quanto eu gostava de caçar gão, com uma caveira rodeada de tomilho Não decidi tornar-me Chef: decidi tornar- e andar no mato… fiquei com a alcunha e onde se lê “Coquo ergo sum” (Cozinho, -me cozinheiro. Chef não é uma profis- acabei por batizar também a cerveja a par- logo existo). E amor - porque sem amor, são, é uma posição dentro de uma equipa. tir dela. Não posso deixar de referir tam- sem coração, nada funciona. Os meus braços, as minhas mãos, são de bém o Hélio Falcão, um artista e amigo, um cozinheiro: tenho queimaduras, cor- que criou aquele rótulo incrível e que tor- Que memórias e que ensinamentos trouxe tes, calos. Não sou um gestor. Tornei-me na a cerveja ainda mais especial. da sua infância e do facto de ter vivido a cozinheiro por acaso. Durante a guerra, guerra da Bósnia enquanto adolescente? aos 14 anos, empreguei-me numa padaria Na sua opinião, que pratos combinam Tenho muitas memórias, boas e não tão para sustentar a minha irmã e a minha mãe melhor com cerveja? boas, naturalmente. Acho que a guerra fez - naquela altura as mulheres não conse- Umas pork ribs, bacalhau frito e carnes de mim um guerreiro. Ensinou-me a rela- guiam arranjar emprego. Quando vim para grelhadas no geral… A “Bicho do Mato” é tivizar, primeiro, e a nunca baixar os bra- Portugal, acabei por procurar trabalho na uma cerveja muito equilibrada, fica bem ços. Não tenho medos, vou à luta sempre mesma área, na cozinha, e aos 18 anos, com praticamente tudo, mesmo com que for preciso. Atirem-me ao chão e eu talvez, percebi que queria levar isto a sério peixes mais gordos, azuis… A exceção levanto-me! e decidi estudar, estagiar, fazer tudo o que talvez sejam os doces por terem muito fosse preciso para ser o melhor cozinheiro açúcar. Costuma afirmar que quis fugir do seu que pudesse ser. país sobretudo pela falta de futuro. En- Gosta de beber cerveja? Tem preferên- controu em Portugal outra perspetiva de O que é preciso para se ser um bom co- cia pelas convencionais, as sidras ou as vida? zinheiro? artesanais? Claro que sim, basta olhar para mim. Che- Comer, sobretudo. Mais do que as técni- Gosto muito. Prefiro as cervejas artesa- guei em 1997, já passei mais tempo em- cas, é preciso provar o máximo possível e nais, sem surpresas. Já fiz duas e tenho Portugal do que em qualquer outro país. treinar o paladar. nos meus planos continuar a criar cerve- Sinto-me português. jas como estas, que sejam um reflexo de Mesmo tendo passado por alguns sustos quem eu sou. Tem saudades da sua Jugoslávia? relacionados com a ingestão de alimen- Sim, tenho saudades da minha Jugos- tos, continua a mover-se pela curiosidade Quais são os seus ingredientes de elei- lávia. Uma Jugoslávia antes da guerra, de experimentar novos sabores? ção? O que não pode faltar na cozinha? onde era um miúdo normal, muito fe- Claro que sim. Digo sempre que vivo para Ras el hanout - não é por acaso que esco- liz. Gosto muito daquela terra, daquele comer, não como para viver.

26 • PAIXÃO PELA CERVEJA • EDIÇÃO 5 Quais são os critérios essenciais para a seu. Acha que as pessoas o confundem Prefiro as cervejas escolha de profissionais que venham a in- muito com os traços de personalidade do artesanais, sem surpresas. tegrar a sua equipa? programa “Pesadelo na Cozinha”? Já fiz duas e tenho nos Tenho de saber que se um cozinheiro me Eu sou exatamente aquilo que as pessoas meus planos continuar a diz que vai estar no restaurante às 9h00, veem no programa. O que algumas pes- criar cervejas como estas, estará às 9h00. É preciso haver essa con- soas não percebem é que ali tenho uma que sejam um reflexo de fiança, em primeiro lugar. Depois, procuro semana para ajudar os restaurantes. Não quem eu sou. garra, vontade de trabalhar, de aprender, e tenho tempo para ser brando. Nas minhas também humildade, porque sem ela, não cozinhas há um trabalho diário, posso per- há espaço para o crescimento. O talento é der mais tempo a conhecer cada pessoa, importante mas sem o resto, sem o traba- a ensiná-la… Para o programa funcionar, lho de fundo, de nada vale. tenho de ser eficaz, e isso implica ser fron- tal, não posso estar com rodeios… De res- Quem são os seus Chefs de eleição e que to, aquele sou eu. Como no programa da o inspiram na sua profissão? RTP, sou eu também. Curioso, estudioso, Muitos. Felizmente há muitos bons Chefs e amistoso. Nunca conseguiria criar perso- estamos constantemente a ser inspirados nagens ou uma pessoa que não sou. Sou e a evoluir uns com os outros. Em termos cozinheiro, não um ator. globais, escolheria o Anthony Bourdain, por toda a filosofia e trabalho que fez. Vai lançar-se em novos projetos ainda durante o ano de 2019 que possa revelar? O programa da RTP, estreado em março Este ano, quero estar sobretudo focado deste ano, em que abordou a gastrono- no meu novo restaurante. Mas a verdade mia do séc. XVI e do século XX apresen- é que nunca paro quieto e é bem possível tou um registo completamente diferente que ainda surja muita coisa.

PUB PUB

C

M

Y

CM

MY

CY

CMY

K

EDIÇÃO 5 • PAIXÃO PELO CERVEJA • 27 CINCO SENTIDOS

Purista - Barbière A extensão da nossa sala de estar

> texto Mafalda Freire > fotografias D.R.

Beber cerveja e fazer a barba ou cortar o cabelo no mesmo sítio e ao mesmo tempo? Sim, é cada vez mas uma tendência e no Purista - Barbière não só é possível como é um sucesso.

Um bar que também é uma barbearia pa- música com DJ e pequenos concertos ao bém produtor de eventos, não deixa nada rece algo estranho mas quando se entra vivo aos fins-de-semana. ao acaso. É presença habitual no espaço no Purista – Barbière isso deixa de ser uma Mas O Purista é também uma “sala de estar que apelida de “seu Cheers” por isso quan- ‘preocupação’, tal é a naturalidade com e de convívio” revelou o responsável que é do visitar O Purista não se admire se for re- que convivem as duas atividades. fã da série de televisão dos anos 80 Cheers, cebido e servido pelo dono do bar. Situado na Rua Nova Trindade 16-C, não Aquele Bar e sempre “sonhou ser como o muito longe da famosa cervejaria Trindade, Sam Malone”. A fazer jus a essa imagem, há DE TEMPORÁRIO A DEFINITIVO o local escolhido já albergou a Livraria Ba- sofás em vários sítios para que os clientes O Purista nasceu com o lançamento da rateira. Nuno Mendes, mentor do projeto, e amigos que frequentam o bar-barbearia cerveja de abadia belga Affligem em Por- reconhece que pode mesmo ter sido um se sintam em casa. É alias esse um dos ob- tugal. Nuno Mendes explicou que como caso de memória afetiva já que era local jetivos do Purista: “ser a extensão da sala o produto era “muito tradicional” surgiu a de visita em pequeno com o seu avô. Tal- de estar dos clientes e que eles se sintam ideia de criar um local “vintage com bar- vez por isso mesmo, para além de fazerem em casa”. A função primordial do espaço é bearia onde fosse possível experimentá- barba e cabelo ou beberem um copo, os mesmo fazer com que as pessoas “se sin- -lo”. Foi assim que apareceu o ‘pop-up’ clientes têm também livros que podem ler. tam bem, sem complexos e sem fazerem com a duração de um mês. Após o suces- A versatilidade está bem patente no espaço cerimónia”. so, o projeto foi alargado a três meses e onde ainda existe uma mesa de snooker e Nuno Mendes, dono do espaço que é tam- depois Nuno Mendes pensou que, com

28 • PAIXÃO PELA CERVEJA • EDIÇÃO 5 base na sua experiência, poderia ser um tenção do espaço já que é um local que dustriais. As marcas privilegiadas são as da “bom negócio”. O que era algo temporário funciona de dia e de noite. “É sempre um Central de Cervejas já que o bar tem um passou a ser definitivo e nasceu O Puris- risco ter um espaço que abre à noite por- acordo com a empresa e as grandes es- ta– Barbière, que ao longo de cinco anos que muitas vezes de dia é feio, têm um ar trelas são a Lagunitas, a mais – comemorados em abril – tem mantido o degradado”, salientou. Mas não é isso que consumida nos EUA, e a Lager da Trindade, hype de bar e barbearia vivo. se passa com O Purista que com as suas a Áurea. Esta última é muito bem aceite cadeiras de barbeiro e decoração vintage pelos turistas já que usualmente pedem VINTAGE MAS ATUAL é uma espécie de regresso ao passado que algo de produção nacional para experi- O negócio “tem vindo a crescer” e um dos agrada aos olhos, quer de noite, quer de mentar. contributos tem sido dado pela realização dia. A frase promocional da altura do lan- Neste momento está em destaque uma de inúmeros eventos que dão a conhecer çamento da Affligem - “Num mundo em Triple IPA, a Lagunitas Waldos’ Special Ale, o local a outros públicos, mas o primeiro que olhamos constantemente para o futu- que é feita apenas uma vez por ano. ano “foi de construção da ‘casa’”, assumiu ro, tire algum tempo para apreciar o passa- Para os críticos e “mais puristas” que dizem Nuno Mendes. Hoje, o Purista tem vários do”, que continua a estar numa das laterais que as marcas de grande produção como clientes habituais e tem uma “boa relação da porta principal, combina na perfeição a Lagunitas já não são cerveja artesanal, o entre turistas e portugueses”, não tendo, com o espírito sentido lá dentro. Além dis- produtor de eventos contrapõe que isso por isso, uma dependência grande do tu- so, contrariamente a outro espaço lisboeta não é verdade porque “respeita os méto- rismo. que também privilegia a beleza masculina, dos de fabrico” e “os ingredientes”, sendo Durante a sua existência não faltam situa- as mulheres são sempre bem-vindas. isso “que distingue uma cerveja artesanal ções caricatas como quando o Benfica Os clientes variam conforme a hora do dia. de uma industrial”. ganhou o trigésimo terceiro campeonato Desde que abre às 10h30, de terça-feira a Nuno Mendes mostra-se otimista em re- e um cliente “rapou o cabelo e pediu aos sábado porque ao domingo a abertura é só lação ao mercado da cerveja artesanal: barbeiros que fizessem um 33 na cabeça” àss 15h00, as pessoas que frequentam O “Acredito que cada vez mais as pessoas ou “um noivo e acompanhantes que foram Purista são maioritariamente para a barbe- vão atrás da experiência de beber cer- cortar o cabelo e a barba, acabaram por ria, onde um dos destaques é fazer a barba veja artesanal”. O dono do Purista disse sair já com os copos para o casamento”. com toalha quente. Nesta altura, o bar é ainda que sente que os clientes “já estão Nuno Mendes partilhou ainda outra histó- uma “espécie de sala de espera”. Já ao final dispostos a pagar um bocadinho mais ria em que convidou um amigo, que tem da tarde e noite, a vertente de bar ganha para beberem uma cerveja de qualida- uma loja de velharias, para fazer “uma de- mais vida e a maioria dos clientes vai ao de” e “ter acesso a novidades”. Por outro coração especial” do espaço e este trou- espaço beber cerveja artesanal mas não só lado, crê que a cerveja artesanal “vai ter xe um “animal embalsamado” que acabou porque há também uma interessante sele- relevância cada vez mais no consumo por ser vendido a um grupo de clientes. ção de bebidas brancas. habitual das pessoas” e terá “tendência a crescer”. Até porque os cervejeiros têm NOITE VS DIA INDIA PALE ALE uma comunicação “mais focada” e che- A estratégia é “manter o que está bem fei- A IPA é o estilo mais consumido mas há gam “mais próximo do consumidor” do to e o que as pessoas gostam muito” mas oito cervejas artesanais, quatro delas em que as grandes produtoras de cerveja in- há desafios e o maior é na parte da manu- pressão, uma cerveja de abadia e cinco in- dustrial.

EDIÇÃO 5 • PAIXÃO PELA CERVEJA • 29 CERVEJA E ARTE

Vhils Obra de arte ao sabor da Super Bock

> texto Cláudia Pinto > fotografias Super Bock Group

É um caminho que tem sido feito em conjunto. A apoiar artistas nacionais há mais de uma década, e mais recentemente, a arte urbana, a marca e Vhils juntam-se para a criação de uma coluna de cerveja que estará em dez locais, de norte a sul do país.

Foi um segredo bem guardado. Os jorna- azo a criar algo especial e único.” Num forma de aprender e consideramos que listas convidados para a apresentação da trabalho que demorou cerca de seis me- fez um trabalho extraordinário porque a mais recente parceria entre o Super Bock ses, vários processos, quatro maquetes, e peça é um sonho”, explicou Maria Estar- Group e Alexandre Farto, também conhe- envolveu o esforço de 17 profissionais, os reja, diretora de patrocínios, águas, sidras cido por Vhils, em colaboração com a Un- desafios foram muitos durante o processo e outrascCategorias do Super Bock Group, derdogs Gallery, a Solid Dogma e o Vhils criativo. Desde logo, a maior dificuldade à Paixão Pela Cerveja (PPC), à margem do Studio, receberam um convite mas não técnica foi conseguir que o cimento che- evento. Vhils confirma: “Houve uma fase sabiam bem para ao que iam. E mesmo à gasse ao pormenor que o artista queria. de aprendizagem da nossa parte para que chegada, a surpresa foi mantida só sendo Este “não é por natureza um material que a peça respeitasse o sabor e as caracterís- desvendada no final da apresentação. Mas permita muito detalhe, mas, ao mesmo ticas da cerveja e foi interessante perceber valeu a pena a espera e aguentar a respeti- tempo, é super moldável e multifacetado. toda a história que está por trás, o esforço va curiosidade. No passado dia 9 de maio, Também era preciso atingir a resistência e e a dedicação das pessoas envolvidas”. foi apresentada uma coluna de cerveja, de a durabilidade que exige uma peça que vai Alexandre Farto refere ainda o duplo desa- autoria de Vhils, uma peça de arte ao esti- ficar num espaço semipúblico, para que fio de “reinventar uma peça que já foi tra- lo do que o artista plástico nos tem habi- as pessoas possam interagir com ela. Foi balhada tantas vezes por muitos artistas e tuado, no bar “O Bom, O Mau e o Vilão”, um processo moroso, mas chegou final- designers e, por outro, trabalhar com uma em Lisboa, junto ao Cais do Sodré. Este é mente o momento em que conseguimos a marca que tem um historial tão grande ao o primeiro de dez locais onde a nova obra resistência certa para o resultado final que nível da linguagem gráfica como a Super de arte vai estar exposta, de forma gradual, queríamos.” Bock. E só mantendo-me fiel tanto à he- naquela que é uma edição especial com o Houve ainda a preocupação de manter rança da marca como ao meu cunho pes- cunho do artista. as características da cerveja de pressão, e soal é que consigo, a meu ver, fazer algo A trabalhar com cimento desde 2004, Vhils também isso foi assegurado durante todo forte. É basicamente a combinação das já adaptou este material a vários forma- o trabalho. “O Alexandre trabalhou muito duas que eu tento fazer aqui.” A avaliar pe- tos, quer do ponto de vista arquitetónico bem com a assistência técnica da Super las reações de quem esteve presente nesta como utilitário. Chegou o ano em que o Bock pois era a primeira vez que criava apresentação, o objetivo foi conseguido. cimento foi utilizado para a criação deste uma peça deste género e há especifici- De igual modo, e por tratar-se de uma obra objeto tão emblemático para os amantes dades que têm de ser seguidas e assegu- de arte, os restantes espaços, de norte a de cerveja. “Agrada-me ver torres de cer- radas, ao nível de temperatura e outros sul do país, onde a mesma estará exposta, veja com muitos anos nestes espaços, dá aspetos a ter em conta. Foi para ele uma serão muito bem selecionados. “Estamos

30 • PAIXÃO PELA CERVEJA • EDIÇÃO 5 a estudar bem os locais para encontrar a exposição certa desta peça de arte que tem de ser tratada como tal”, explica a responsá- vel. A coluna será um elemento de decoração dos balcões onde será instalada e onde Vhils voltou a incorporar o olho tão presen- te nas suas obras. “A ideia era criar uma interação com quem vê a peça, mas também estabelecer a ligação com o resto da obra que tenho feito até hoje. De alguma forma, todos estes projetos, que para além de terem preocupações e contextos diferentes, se interajudam, contribuem para um corpo de trabalho”.

JUNTOS EM ESTRATÉGIA COMUM PELA ARTE Já vai longa a relação desta empresa com o trabalho do artista. “A Super Bock tem apoiado muitos projetos nossos, desde 2015, e fomos desenvolvendo um caminho até que chegou a um mo- mento em que já estávamos a trabalhar em tantas frentes e em que decidimos oficializar a parceria e criar um projeto diferente seguindo a vontade da Super Bock em apoiar, não só na música, como nas artes plásticas”, afirmou Vhils, à PPC. O facto de uma empresa privada decidir apoiar a arte urbana, enquanto mecenas, e de manifestar interesse em aumentar as parcerias com inúmeros artistas, é vista por Alexandre Farto como “uma mais-valia gigan- te”. Vhils destaca ainda a consideração da empresa pelas ideias desenvolvidas durante todo o processo. “Percebi de imediato que havia abertura e um enorme respeito pelo trabalho autoral para não ser algo meramente publicitário, e foi isso que me fez aceitar o projeto, encabeçá-lo, juntando muitos outros artistas que vão estar envolvidos, e com isso, criar mais espaço para novos even- tos, novas ideias e novas parcerias.” Foi a partir deste caminho que o Super Bock Group e Vhils co- meçaram a traçar uma estratégia comum no apoio à arte urbana. “Acho importante e interessante, que além do setor público, que nem sempre tem a força que deveria ter, o setor privado dê este primeiro passo, Ser artista nunca é visto como uma possível car- reira. Eu tive de lutar muito e hoje já temos vários artistas que con- seguem viver disto, as coisas foram mudando um pouco e há uma indústria a ser criada. A Super Bock, ao apoiar estes artistas, cria ‘goodwill’ e posiciona a arte num nível muito bom”, defende Vhils. Há que ver a arte pela positiva, acrescenta Maria Estarreja que não tem dúvidas do sucesso da parceria e antecipa que o ano de 2019 ainda trará muitas novidades sem, no entanto, desvendar quais. A marca apoia ainda o Festival Iminente, em Portugal e além fron- teiras, numa parceria que vai prolongar-se no tempo. Destaque ainda para a relação sólida com a Solid Dogma que trabalhou com a Super Bock no nascimento da Coruja, no que respeita à ima- gem e à campanha de comunicação. “No final do ano passado, também desenvolvemos peças de arte para a Coruja que estão em exposições itinerantes numa parceria Solid Dogma e a Under- dogs, com a participação de nove artistas.” A marca vai ainda apoiar as exposições de Vhils fora do país, como por exemplo, na Ásia, e o desenvolvimento de um documentário de arte urbana que o artista está a realizar. Em breve, irá nascer um mural de grandes dimensões na sede da empresa, em Leça do Balio, no Porto, reforçando a ligação com o artista. Uma parce- ria dinâmica, tal como a categoria de cerveja que continua muito presente na vida dos portugueses.

EDIÇÃO 5 • PAIXÃO PELA CERVEJA • 31 TENDÊNCIAS

Os consumidores estão a ingerir cada vez menos álcool e a adotar estilos de vida mais saudáveis, ao mesmo tempo que querem ter experiências de consumo com novos produtos

32 • PAIXÃO PELA CERVEJA • EDIÇÃO 5 Cerveja (mesmo) sem álcool e todo o sabor

> texto Susana Marvão > fotografias D.R. | Shuterstock

A Sociedade Central de Cervejas quer contribuir para a criação de uma nova categoria desta bebida: a Zona Zero, na qual o teor alcoólico é efetivamente 0%. Sagres, Heineken e Radler já têm produto isento de álcool.

Comecemos com um, digamos, ‘spoiler diretor de comunicação e de relações te metade das calorias de uma Heineken alert’: uma coisa são o que denomina- institucionais da Sociedade Central de standard. “É composta por água, cereais mos ‘cervejas sem álcool’, outra coisa são Cervejas. “Estas premissas, sustentadas e lúpulo”. as cervejas sem qualquer teor alcoólico. por uma série de estudos realizados por Seguindo esta tendência, também a Sa- Mas como é que uma cerveja sem álcool todo esse mundo, levou a que a Heineken gres lançou uma 0.0, claramente dife- pode, afinal, ter… álcool? Porque, de acor- lançasse para alguns países da Europa, em rente do produto sem álcool da mesma do com a legislação portuguesa, as ditas 2018, a cerveja 0.0”. O que constituiu uma marca, que ostenta 0,3% de teor alcoó- ‘cervejas sem álcool’ podem ter até 0,5% dupla novidade, não só pela total e abso- lico. Nas colorias, tem cerca de menos de teor alcoólico. No entanto, há todo luta isenção de álcool, mas porque era a 40% do que a Sagres tradicional. “Man- um novo movimento no mercado, com primeira vez na sua história que a marca temos a Sagres sem álcool, mas do que as grandes marcas a apresentarem aos holandesa lançava uma outra cerveja que estamos aqui a falar é de uma cerveja consumidores cervejas verdadeiramente não a sua tradicional Heineken. que pode ser bebida por grávidas”. Ou isentas de álcool, o que a Sociedade Cen- seja, diz Pinto de Magalhães que o con- tral de Cervejas (SCC) apelida de 0.0. E a NÃO TENDO ÁLCOOL, É CERVEJA? sumidor, provando este tipo de cervejas, aposta é notória: Sagres, Heineken e Ra- “É cerveja, apenas não tem álcool”, escla- escolhe a sua ocasião de consumo. “O dler já têm produto desta gama. receu de forma peremptória Nuno Pinto posicionamento é distinto de quando “Os consumidores estão a ingerir cada de Magalhães, explicando não ser um re- comunicávamos ‘se conduzir, não beba’. vez menos álcool e a adotar estilos de frigerante nem tão pouco uma ‘soft drink’. O consumidor tem agora ao seu dispor vida mais saudáveis, ao mesmo tempo Outro aspeto que ganha particular rele- uma cerveja com todas as suas carac- que querem ter experiências de consu- vo neste produto, associado aos estilos terísticas de cor, cheiro, olfato, sabor… mo com novos produtos”, disse à Paixão de vida saudáveis que cada vez mais os com todas as características organoléti- Pela Cerveja Nuno Pinto de Magalhães, jovens abraçam, é que tem precisamen- cas imputadas a uma cerveja”.

EDIÇÃO 5 • PAIXÃO PELA CERVEJA • 33 Estamos a falar de uma cerveja que pode ser bebida por grávidas.

PODER SER BEBIDA POR TODOS, MAS… Não tendo qualquer percentagem de ál- cool, as cervejas 0.0 podem ser bebidas por qualquer pessoa. No entanto, Nuno Pinto de Magalhães admite que a Cen- tral de Cervejas, posicionando-se de uma forma responsável, vai comunicar o produto como sendo para maiores de 18 anos. Afinal de contas, não deixa de ser uma cerveja. “Sim, vamos continuar a co- municar para esse target, apesar de por lei não sermos obrigados a isso. Mas em ter- mos de autorregulação, estamos a falar de marcas que têm produtos com álcool e, por isso, vamos continuar a comunicar só a partir as 22.30 horas na televisão e rádio. Mas é apenas por autorregulação. Se fosse uma marca que não tivesse as- sociada qualquer produto com álcool, provavelmente não o faríamos. Mas quer a Heineken, quer a Sagres quer a Radler têm, daí ser mais numa perspectiva de responsabilidade”.

A CATEGORIA ‘ZONA ZERO’ Ou seja, o objetivo da SCC é criar toda uma nova categoria de cervejas, que ape- lidou de ‘Zona Zero’. “Mesmo em termos de codificação, as cervejas são todas com tonalidade azul”. Assim, diz Nuno Pinto de Magalhães que mais facilmente poderiam ser identificados os produtos com zero álcool, uma tendência que o responsável gostaria ver abraçada por outras empre- sas da concorrência. “Gostaríamos que nos supermercados e no retalho hou- vesse uma Zona Zero, não só das nossas marcas, mas de outras, criando uma nova categoria para o consumidor optar”.

34 • PAIXÃO PELA CERVEJA • EDIÇÃO 5 O público-alvo para este tipo de produtos mento, segundo a Nielsen, têm uma quo- vai ser, assim, mais abrangente. “As pes- ta global de 2,2% em volume, duplicasse. soas que em certos momentos que não “Aliás, não estamos a inventar nada, esta- podendo beber cerveja por conter álcool mos sim a dar continuidade ao efeito do teriam de optar por outro tipo de bebida, trabalho feito no espaço europeu”. têm agora uma opção. Podem beber uma Na Polónia, por exemplo, foi um dos paí- cerveja a qualquer momento”. ses onde a duplicação da quota se veri- Relativamente a impostos, esta cerveja ficou. “Era importante que isto fosse um também apresenta uma vantagem. Sem movimento do setor. Gostávamos de ser álcool ou açúcar, está isenta de Imposto percursores, mas sempre com base em Especial de Consumo. “Não podemos es- estudos muito apurados de comporta- quecer que é um produto 100% natural, mentos e tendências dos consumidores. de cevada, cereais, lúpulo e água”. Estes lançamentos são realizados porque o mercado, os consumidores, expressam OS OBJETIVOS essa necessidade”. Com este lançamento, para além de pos- Relativamente ao consumo desta nova sibilitarem aos consumidores mais opções ‘categoria’ por parte dos portugueses, de escolha para diferentes momentos, a Nuno Pinto de Magalhães admite que Sociedade Central de Cervejas gostava somos naturalmente experimentalistas e que as cervejas sem álcool, que neste mo- isso “é evidenciado em muitos estudos”.

A COMUNICAÇÃO EM FORMA DE FILME A nova Sagres 0.0, uma das cervejas isentas de álcool lançada pela SCC, apresenta-se num novo filme de TV, que revela a descoberta desta inovação que é a nova cerveja com zero álcool. O filme retrata o momento em que o mestre cervejeiro dá a conhecer o seu grande feito, a nova Sagres 0.0, celebrando com toda a equipa esta conquista e espelhando o esforço e dedicação para conseguir uma cerveja com zero álcool. “A nova cerveja com zero álcool que é mesmo boa. Sagres 0.0 - Inacreditável” é a assinatura da campanha multimeios, e agora presente em TV, em formato de 20’s, que de forma descontraída desafia a conhecer esta grande tendência de consumo. A marca desafia a viver cada momento ao máximo e sem restrições. Com 0.0% de teor alcoólico e de sabor frutado, com notas de banana e cereais, o novo produto foi pensado para todos os que procuram um estilo de vida mais equilibrado. Uma cerveja 100% malte, que combina maltes de cevada e de trigo. Com apenas 25kcal/100ml, deve ser bebida fresca, a uma temperatura de 4-8ºC, e é indicada para todas as ocasiões. A Sagres 0.0 está disponível em formato 33cl, OW, Retornável e lata no canal Horeca. A mesma referência, em formato 4 pack OW e lata, está disponível na grande distribuição.

EDIÇÃO 5 • PAIXÃO PELA CERVEJA • 35 TEMA DE CAPA CERVEJAS RUIVAS

36 • PAIXÃO PELA CERVEJA • EDIÇÃO 5 Cervejas ruivas: Doces, quentes e gastronómicas

> texto Susana Marvão > fotografias D.R. Já sabemos que ‘ruiva’ não é, de todo, um estilo de cerveja. Mas a verdade é que esta cor parece imperar entre os gostos dos consumidores, inclusivamente portugueses. Doces, quentes e gastronómicas, as ruivas vão ganhando cada vez mais adeptos.

Em 2011, um estudo da Universidade de com as escuras (3,93, contra 3,69 das claras). Berkeley apontava que os utilizadores do Nas ruivas, o trono pertence à Imperial IPA, Ratebeer.com, um dos maiores arquivos com resenhas de 12.370 utilizadores. Em online de críticas a cervejas, tinham como seguida, 12.057 avaliaram a American IPA, estilos preferidos os associados às cervejas 6.870 a American , 6.255 a Ame- ruivas. A partir dos dados de 1,5 milhões rican e 5.951 a American . de críticas a 66 mil cervejas feitas entre E apesar de todos sabermos que ‘ruiva’ não janeiro de 1998 e novembro de 2011, os é claramente nenhum estilo de cerveja, responsáveis pelo estudo, para tornar os esta cor parece imperar entre os gostos dos dados manuseáveis, separaram as cerve- consumidores, inclusivamente em Portugal. jas em três grupos, juntando-as pelas co- res: ‘escuras’ (castanhas-escuras e pretas), DESCOBRIR SABORES ‘médias’ (acobreadas e castanhas-claras) E NOVAS EXPERIÊNCIAS e ‘claras’ (cor de palha, amarelas e doura- A relação de Pedro Sousa, fundador da Post das). Calcularam depois a média das notas Scriptum Brewery, com as cervejas ruivas já atribuídas pelos utilizadores às cervejas de vem de longa data. Uma experiência ma- cada um dos grupos e contabilizaram os terializada na Melindrosa, uma cerveja de utilizadores que criticaram cada estilo que fermentação alta com adição de mel em di- os compõem, separando os top cinco em ferentes estágios que lhe confere um sabor todas as categorias. caramelizado, com um aroma leve e bem As cervejas médias, as tais ruivas, recebe- balanceado a mel. Fora do espectro Post ram ‘reviews’ de 140 mil utilizadores - qua- Scriptum, Pedro Sousa elege a ruiva escoce- se o dobro das 72 mil das escuras e dos sa Jacobite Ale, da Traquair House Brewery. 98,5 mil que escreveram análises para as “Não só gosto da cor, do sabor, do aroma ou claras. As ruivas também tiveram as maio- do álcool que está bastante presente, mas res notas, em média, nos três quesitos também o ‘romantismo’ que envolve a fá- analisados pelos utilizadores do site. São brica que a produz, que já tem três séculos”. consideradas mais aromáticas (3,94 con- Para beber uma ruiva, se for escocesa, a tra 3,93 das escuras e 3,61 das claras), mais experiência tem de passar por um copo saborosas (4,01 contra 3,93 das escuras cuja base é em balão, mas a parte supe- e 3,71 das claras) e empatam na aparência rior em tulipa. Se fugirmos para uma rui-

EDIÇÃO 5 • PAIXÃO PELA CERVEJA • 37 Carne de porco na brasa, chouriço ou outros fumados são ideiais para serem acompanhados de uma cerveja ruiva

va belga, a melhor opção é um ‘clássico’ COR, MAS NÃO SÓ Extra, estilo Dopplebock e Vadia Thartaru- copo trapista, “uma taça aberta para deixar Para o mestre cervejeiro da Vadia, Nicolas ga, estilo IPA. Porém, como já tinha men- libertar todos os aromas e abundância de Billard, toda esta questão da denominação cionado Nicolas Billard, “a Rubi é aquela que odor”. Já na Alemanha, nada como beber das cervejas não é propriamente muito o nosso público define como a nossa ruiva”. este tipo de cerveja no Oktoberfest numa complicada. Nicolas Billard designa a cer- De resto, para Nicolas Billard o principal caneca. “Não perde muito por causa disso. veja ruiva como algo “entre o dourado e desafio na produção da Rubi é a dificul- Mas também a riqueza de aromas não será o castanho” e esclarece que alguns estilos dade de produzir qualquer cerveja de tipo como as anteriores”. se destacam, como a Red Ale britânica, ou Lager: conseguir um perfil aromático final Classificando esta cerveja como gastronó- a Märzen germânica. E apesar de admitir limpo, sabor ‘crispy’ com toque leve a ca- mica, até pela sua doçura, complexidade que a característica da cor da cerveja é ramelo, sem sabor torrado. “Damos princi- e fruta, Pedro Sousa acha que “combina fundamental para a identificação do estilo, pal atenção à qualidade dos ingredientes bem com sabores fortes, como as nossas também defende que outros estilos como bases, ao respeito rigoroso de todos os comidas típicas”. No entanto, o cervejeiro IPA ou Sour podem ser ruivas “porque a passos da brassagem, ao estado fisiológico também é apologista do contraste dos sa- cor, sendo importante, não é a única ca- das leveduras, ao respeito das temperatu- bores. “Neste mundo das harmonizações racterística diferenciadora”. ras de fermentação e ao tempo de matu- acontece muito isso: 90% das pessoas po- Quanto à Vadia ruiva, que passou a ser cha- ração (lagering)”. dem voltar-se para uma tendência, mas mada Rubi desde 2015, foi desde o início Assim, além da cor, Nicolas Billard é da não quer dizer que exatamente o oposto um grande sucesso, tendo em 2013 sido opinião que devemos esperar de uma cer- também não deixe de funcionar. Acho que eleita produto do ano. Entretanto, já foi veja ruiva um malte ligeiramente torrado o interessante é descobrir sabores e novas premiada em vários concursos internacio- e/ou caramelizado. experiências”. nais. “Nos festivais é, sem dúvida, a cerveja Quanto ao tipo de consumidor que nor- Quanto à temperatura a que este tipo de com maior sucesso e nas vendas em garra- malmente as cervejas ruivas atraem, o cer- cervejas deve ser bebida, Pedro Sousa arris- fa e a pressão entra sempre no trio de fren- vejeiro aceita ser um público cada vez mais ca numa simples regra: a temperatura deve te. É realmente um estilo de cerveja que as amplo. “Vamos dizer que, com a cerveja de ser igual ao seu grau alcoólico. “Não esta- pessoas associam a cerveja artesanal”. trigo, a cerveja ruiva é a primeira escolha remos muito longe do ideal com esta regra, A provar a importância deste estilo de cer- para quem quer arriscar provar outra cer- mas sempre com o prazer de beber uma veja no universo Vadia, são três as ruivas veja para além das tradicionais Pilsner”. cerveja refrigerada, por isso nas mais alcoóli- produzidas pela empresa de Oliveira de Para Nicolas Billard, os sabores maltado e cas o máximo será entre os 12 e os 14 graus”. Azeméis: Vadia Rubi, estilo Märzen; Vadia caramelizado acompanham bem todo o

38 • PAIXÃO PELA CERVEJA • EDIÇÃO 5 tipo de carne, principalmente grelhadas. “É do ponto de vista sensorial e organolético” por um lado, dão um atestado de credi- uma cerveja que se consome facilmente que nasceu a Munich Dunkel. bilidade e competência e, por outro lado, sozinha ou acompanhada de uma refei- Quanto à denominação ‘ruiva’, o respon- permitem-nos comunicar com o consu- ção, por isto pode beber-se praticamente sável é da opinião que vai deixar cada vez midor de uma forma diferente e motivá- em qualquer altura. Porém, o seu carácter mais de ser usada no mercado à medida -lo a que se introduza neste universo mais maltado e torrado não confere a frescura que as pessoas vão tendo um maior co- sofisticado de cervejas. Digamos que a de uma Weizenbier ou de uma Pilsner para nhecimento sobre a tal diversidade cerve- Munich Dunkel é um pouco mais profunda as alturas mais quente do ano”. jeira. E, uma vez mais, o exemplo da Se- nesse sentido”. leção 1927 foi dado, uma vez que com a No caso específico do Super Bock Group, A GASTRONÓMICA MUNICH DUNKEL Munich Dunkel é já introduzida a varieda- o consumo deste tipo de cerveja tem vin- De Leça do Balio, a Super Bock faz che- de da cerveja. “Aqui apresentamos o estilo, do a evoluir de forma “extremamente fa- gar ao mercado duas gamas diferentes de que vai buscar notas maltadas e um perfil vorável”, classifica Bruno Albuquerque. cerveja desta cor. A Abadia, que no seu mais doce. A sofisticação desta cerveja é “Este ano, e apesar de ainda não estarmos descritivo é assumida como ruiva e a Mu- ainda dada pelos ingredientes que utiliza- no verão, o crescimento no consumo das nich Dunkel, que dentro da Seleção 1927 mos. É produzida na Oficina da Cerveja, ruivas está “muito forte, na ordem dos dois também se classifica como cerveja ruiva. numa instalação totalmente autónoma e dígitos”. Para Bruno Albuquerque, isto tra- “Cada uma tem o seu papel no mercado onde os nossos mestres cervejeiros dão duz-se em algo particularmente interes- e acreditamos que as duas respondem às azo à sua criatividade e fazem o ‘estado sante: o ‘mito’ de que a cerveja só se con- necessidades atuais dos consumidores de da arte’ do panorama cervejeiro mundial”. some no verão começa a ‘cair por terra’. cerveja”, disse à Paixão Pela Cerveja (PPC) A provar esta “atitude” estão os prémios. A Bruno Albuquerque, diretor de marketing Seleção 1927 Munich Dunkel obteve dis- UMA AMPLA FAMÍLIA do Super Bock Group. Aliás, foi precisa- tinções de ouro no Frankfurt International Gustavo Gallas, fundador e dono da Gallas, mente para tentar “elevar um pouco a fas- Trophy, de resto uma competição na qual cerveja que começou a ser produzida no quia” e “introduzir o consumidor a um es- a Thames Porter também foi galardoada. Brasil e rapidamente navegou os oceanos tilo mais complexo mas muito consensual “São distinções muito importantes porque, até Lisboa, a denominação ruiva abarca

PUB PUB

EDIÇÃO 5 • PAIXÃO PELA CERVEJA • 39 De uma cerveja ruiva esperamos um malte ligeiramente torrado ou caramelizado

uma família muito ampla. Há a Red IPA, a calibrado, digamos. Um determinado mal- (Stout e Porter) e, num terceiro momento, Amber Ale, a Barleywines, a Belgian te, por exemplo, vem da maltaria (fabrica vai ‘flertar’ com as ruivas”. Normalmente, e a , mas também a American de maltes) constando na sua ficha técnica diz Gustavo Gallas que este é um consu- Strong Ale, a ESB, a Belgian Strong … EBC 60 a 90. Não é nem uma questão de midor com alguma experiência em artesa- “Até mesmo uma Double IPA pode ser rui- qualidade da maltaria, é uma questão da nais. “Em linhas gerais, as ruivas apresen- va..”, disse à Paixão Pela Cerveja. Para Gus- natureza mesmo”. O ‘ponto G’ ou o deno- tam uma complexidade um pouco maior tavo Gallas, a Arrogant Bastard, produzida minado ‘sweet-spot’ de uma cerveja ruiva do que as demais”. pela Stone, destaca-se como a sua favori- é, segundo Gustavo Galas, uma escala de Ou seja, para este cervejeiro, muitas vezes ta. “Trata-se de uma American Strong Ale cor EBC entre 40 e 50. “Portanto, para se as ruivas atraem consumidores em busca bastante potente, maltada e amarga”. Mas atingir uma cor ruiva correta, é necessário de cervejas mais fortes. “Sempre que apa- também a clássica Orval, uma Belgian Pale tomar muito cuidado com o cálculo da cor nho um Uber acabo por falar no assunto Ale, de fermentação espontânea, merece feito na receita, como também, em parte, do fabrico de cervejas. Os motoristas sem- particular “carinho” por parte do fundador contar com a sorte em receber os maltes pre perguntam: ‘Aquela cerveja fica mais da Gallas. “A Orval evolui muito em garra- com a cor correta. É muito comum ver escura por ter mais álcool?’ Nos festivais, fa. Se quer um verdadeiro néctar, compre cervejeiras a fazer ‘blends’ de uma brassa- é mais ou menos a mesma coisa, também uma garrafa de Orval e guarde-a por uns gem clara com uma escura, e dessa forma recebemos essa pergunta com uma certa quatro ou cinco anos”, aconselhou-nos obtém uma cor dentro do esperado”. frequência. No final das contas, a cor da Gustavo Gallas. cerveja não possui uma relação direta com Na produção de uma ruiva, diz este cerve- RUIVAS MAS NÃO MAIS ALCOÓLICAS o facto de ser forte ou fraca. É uma ques- jeiro que o maior desafio é mesmo chegar De uma cerveja ruiva Gustavo Gallas diz tão de percepção do consumidor”. à cor correta. “A cor da cerveja é medida que se espera um sabor maltado, muitas Pela experiência de Gustavo Gallas, Portu- em escala EBC [(European Brewing Con- vezes adocicado. “O corpo normalmente gal é um bom consumidor de ruivas’. “As vention] ou SRM [Standard Reference Me- é médio, com um final de boca seco. Há ruivas estão sempre a crescer e a ganhar thod]. Na Europa, usa-se mais a EBC. Cada vários estilos e uma infinidade de opções. mercado. A Orval e a La Trappe Quadrupel malte usado na cerveja possui uma faixa de Primeiro, o consumidor conhece as loiras são muito vendidas no nosso taproom, o EBC. Os maltes nunca têm um EBC exato, (Lager, Weiss, IPA…). Depois, as escuras 21 Brewpub”.

40 • PAIXÃO PELA CERVEJA • EDIÇÃO 5 Carne de porco na brasa, chouriço ou outros fumados ficam muito bem acompanhados por uma cerveja deste estilo. “Assim como os vinhos, nas cervejas convém começarmos por uma Sour ou uma Quanto ao tipo de consumidor IPA, para só no final degustarmos uma RIS, por exemplo. Na minha que normalmente as cervejas opinião, uma ruiva sabe bem no meio do caminho. Imagine tomar ruivas atraem, parece ser um um Grand Cru e depois tomar um vinho de mesa simples. O último público cada vez mais amplo. vinho não vai saber bem... Convém sempre começar pela bebida Há quem defenda que a cerveja mais leve, para depois entrar nas mais potentes”. ruiva é a primeira escolha para A temperatura do líquido, em linhas gerais, varia com o estilo. De quem quer arriscar provar uma forma geral, uma ruiva deve ser degustada não muito fresca. outra cerveja para além das “Ali à volta dos 6 a 8 graus acho que é uma ótima temperatura”, tradicionais Pilsner. esclareceu-nos Gustavo Gallas.

O CALOR DA BOHEMIA A Bohemia Original ‘apresentou’ a Sociedade Central de Cerve- jas e Bebidas (SCC) ao mundo das ruivas. Aliás, mais do que isso, apresentou o mercado nacional a este tipo de cervejas, disse à Paixão Pela Cerveja Pedro Vicente, mestre cervejeiro da SCC. O lançamento do produto ocorreu por volta de 2001 e a ideia foi “marcar a diferença”. E não só pela cor, disse o mestre cervejeiro PUB “Queríamos que o consumidor percebesse porque é que era di- ferente: tinha tudo a ver com uma questão de calor”. Isto porque a Bohemia foi criada basicamente para combater a sazonalidade desta bebida e, por isso, para ser mais apreciada durante o inver- no. Mais tarde, passou a fazer parte integrante do portfólio Sagres. “Foi realizado um forte investimento em marketing e comunica- ção da marca, com atores como Pierce Brosnan, na altura 007, e a brasileira Carolina Dieckman. O objetivo era dar um estatuto diferente à cerveja”. Com base na primeira Bohemia, agora apelidada de Original, sur- giu depois toda uma gama que se expandiu com duas ideias es- senciais: ser uma experiência de acompanhamento de refeições e que introduzisse o consumidor a estilos diferentes aos que estava habituado. “Esta tem sido uma forma de os consumidores des- cobrirem que há mais variedade de estilos de cerveja, isto sem- pre de uma forma acessível”. Um acessível que Pedro Vicente fez questão de esclarecer não ser apenas em preço mas sobretudo em sabor, em gosto. “São cervejas que o consumidor sabe que vão ser uma boa experiência, apesar de não tão desafiantes como uma artesanal pura. Normalmente, os consumidores que não es- tão muito habituados às artesanais, estranham. Por outro lado, com a nossa economia de escala, conseguimos que a cerveja seja a um preço mais acessível”. Por tudo isto, Pedro Vicente define o consumidor típico da Bohemia como uma pessoa que quer algo diferente mas de uma forma, diga- mos, controlada. “É um explorador seguro. Gosta de experimentar mas não quer ir para territórios onde se sinta muito desconfortável. São ainda pessoas que gostam de acompanhar a refeição com cer- veja e que valorizam mais a doçura e não tanto o amargor”.

EDIÇÃO 5 • PAIXÃO PELA CERVEJA • 41 NOTAS DE PROVA

Prova Cega de Cervejas

Na Revista Paixão Pela Cerveja, todas as provas de classificação quantitativa são cegas. As garrafas SOFIA OLIVEIRA TIAGO BRANDÃO não são mostradas nem no decorrer da prova nem na discussão final. As provas foram efetuadas numa sala com condições controladas no Hotel Tryp Aeroporto, Lisboa, com copos Schott Zwiesel. O painel de provadores selecionado pretende estabelecer uma relação de equilíbrio entre especialistas e consumidores em geral.

Classificação DIOGO TRINDADE MARTA FRAGA 45-50 Extraordinária Impressionante em qualquer parte do mundo

38-44 Excelente Excelente estilo para momentos perfeitos

30-37 Muito Boa Rica e elegante para desfrutar em pleno

21-29 Boa PEDRO NOVO RODRIGO DALH FILIPA SANTOS Equilibrada e harmoniosa

14-20 Média Simples e agradável

00-13 Fraca Defeituosa ou desequilibrada

LUÍS MESQUITA DIAS TERESA SAMPAIO ANTÓNIO LOPES

38-50 PRÉMIOS CERVEJAS PAIXÃO PELA CERVEJA EXTRAORDINARIAMENTE EXCELÊNCIA EXCELENTES E IMPRESSIONANTES! & PRESTÍGIO

45-50 Extraordinária | 38-44 Excelente | 30-37 Muito boa | 21-29 Boa | 14-20 Média | 00-13 Fraca

42 • PAIXÃO PELA CERVEJA • EDIÇÃO 5 NOTAS DE PROVA

45 BARONA 38 D’OURIQUE PRAZERES INDIA PALE ALE %Alc: 6,2 ESPECIAL BELGIAN INDIA PALE ALE %Alc: 7 INGREDIENTES Água, malte de cevada, lúpulo e levedura. INGREDIENTES Água, maltes de cereais, lúpulos, açúcares, APARÊNCIA Âmbar com reflexos alaranjados, com especiarias e leveduras. espuma marfim bem persistente, aspeto limpo. APARÊNCIA Cobre, com espuma marfim de boa AROMA Frutado, exuberante, com notas persistência, aspeto turvo. citrinas em evidência, cereais, AROMA Elegante, com predominantes notas de cereais, malte resina, pinho. adocicado, condimentos, citrinos, toque vinoso. SABOR Envolvente, cremosa, com bom volume, SABOR Quente, intenso, com boa acidez e amargor excelente acidez, perfeita para acompanhar a equilibrar, mantém cereais, caramelo, boa gastronomia, termina persistente. especiarias, deixa um final longo e cativante.

BARONA BREWING COMPANY D’OURIQUE FLAVOURS

45 BOHEMIA ORIGINAL 38 KEIZER KAREL . CHARLES QUINT RUBIS MARZEN %Alc: 6,2 BELGIAN STRONG ALE %Alc: 8,5 INGREDIENTES Água, malte de cevada, milho, cevada, INGREDIENTES Malte de cevada corante caramelo extrato de lúpulo. APARÊNCIA De cor cobre, espuma bege persistente, APARÊNCIA Cobre, com espuma creme persistente, aspeto limpo. aspeto limpo. AROMA Fantástico! Com evidentes notas de tofee, AROMA Elegante, com distintas notas de cereais, pão, tostados, frutos pretos, frutos secos, frutos secos, especiarias, madeira. licoroso. SABOR Envolvente, com excelente volume, revela SABOR Intenso em notas de caramelo e frutos notas de frutos pretos, secos, a doçura caramelizados, amadeirado, complexo, equilibrada pelo amargor, termina persistente rico, mantém o perfil aromático, termina e sedutora. persistente e exuberante. BROUWERIJ HAACHT BRASSERIE / BÉLGICA SCC - SOC. CENTRAL DE CERVEJAS E BEBIDAS SA IMPORTADA POR & TAILORS

45 SELECÇÃO 1927 38 SUPER BOCK ABADIA MUNICH DUNKEL %Alc: 6,4 CERVEJA ESPECIAL %Alc: 6,4 INGREDIENTES Água, malte de cevada e lúpulo. INGREDIENTES Água, malte de cevada, cereais não maltados (cevada) lúpulo e açúcar. APARÊNCIA Acobreado, com espuma creme, cremosa e intensa, aspeto limpo. APARÊNCIA Acobreada, com espuma marfim, aspeto limpo. AROMA Extraordinário! Com distintas notas de pão, AROMA Intenso. Com evidentes notas de cereais, tostados, frutos pretos, frutos caramelizados, malte adocicado, toque de caramelo, mel, especiarias. condimentos. SABOR Elegante, distinto, com excelente volume, Rico, envolvente, mantém o perfil e complexo, equilibrado, mantém o perfil, deixa SABOR acrescenta nuances resinosas, conjunto um final prolongado, seco e delicioso. equilibrado com alguma complexidade, deixa um final prolongado. SUPER BOCK GROUP SUPER BOCK GROUP

BUNNY STRONG 39 LOBA EDIÇÃO LIMITADA BELGIAN STRONG ALE %Alc: 8,5 INGREDIENTES Água, malte de cevada, cevada, malte de trigo, lúpulo e levedura. APARÊNCIA Castanho acobreado, espuma creme e persistente, aspeto limpo. Para beber uma ruiva belga, a AROMA Fantástico, com notas de caramelo, melhor opção é um ‘clássico’ copo tostados, especiarias, madeira, uvas passa, licoroso. trapista, uma taça aberta para SABOR Com excelente acidez e frescura a equilibrar deixar libertar todos os aromas e o conjunto, mantém o perfil, corpo denso e abundância de odor. envolvente, termina persistente. POST SCRIPTUM BREWERY / DISTRIBUÍDO POR HOPPY HOUSE BREWING

45-50 Extraordinária | 38-44 Excelente | 30-37 Muito boa | 21-29 Boa | 14-20 Média | 00-13 Fraca

EDIÇÃO 5 • PAIXÃO PELA CERVEJA • 43 NOTAS DE PROVA

35 THARTARUGA BY VADIA 30 ST. BERNARDUS ABT 12 AMERICAN IPA %Alc: 6,7 ABBEY ALE EXTRA STRONG BELGIAN BEER %Alc: 10 INGREDIENTES Água, malte de cevada, pils, caramelo lúpulo INGREDIENTES Água, cevada maltada, lúpulo, açúcar e e leveduras. levedura. APARÊNCIA Âmbar com tons acobreados, espuma de boa APARÊNCIA Castanho acobreado, espuma bege e intensidade. persistente, aspeto limpo. AROMA Frutado intenso com evidentes AROMA Caramelo, pão, doce, notas herbáceas, notas tropicais, destaque para maçã vermelha, cereja cristalizada. o maracujá. SABOR Intenso, com o álcool a deixar perfil doce, SABOR Intenso, com amargor bem posicionado a frutado, especiado, toque amadeirado, cativar, frutado, manga e ananás maduro, termina persistente. excelente final. BR. ST. BERNARD / BÉLGICA / IMPORTADA POR BEERS & TAILORS CERVEJA VADIA - ESSÊNCIA D’ALMA

34 LOBA 29 JAH HOPS / LOBA EDIÇÃO LIMITADA RYE RED ALE %Alc: 5,2 DOUBLE INDIA PALE ALE %Alc: 7,6 INGREDIENTES Água, malte de cevada, malte de centeio, INGREDIENTES Água, malte de cevada, cevada, malte de lúpulo e levedura. trigo, cevada, trigo, lúpulo e levedura. APARÊNCIA Castanho acobreado, com espuma bege, APARÊNCIA Cobre com tons laranja, espuma creme, cremosa e persistente. ligeiramente turva. AROMA Intenso em notas de caramelo, tostados, AROMA Com sedutoras notas de caramelo, frutos secos, madeira, especiaria. tostados, frutos citrinos, pêssego SABOR Envolvente, com boas notas de cereais, e manga. caramelo, frutos secos, figos e passas, SABOR Cereais, caramelo, toque fumado, lembra broa de mel, final longo, alguma fruta, especiarias, deixa um final seco e amargo. longo e amargo. POST SCRIPTUM BREWERY / DISTRIBUÍDO POR POST SCRIPTUM BREWERY / DISTRIBUÍDO POR HOPPY HOUSE BREWING HOPPY HOUSE BREWING

34 Y. M. C. ALE COLABORATION SERIES 28 ESTROINA DOUBLE OATMEAL INDIA PALE ALE %Alc: 8,3 RED ALE %Alc: 5,3 Água, malte de cevada, trigo, centeio, aveia, INGREDIENTES INGREDIENTES Maltes, água, levedura e lúpulo. lúpulos (summit, mosaic, ekuanot) e levedura. APARÊNCIA Cobre, espuma marfim, Âmbar com tons acobreados, espuma APARÊNCIA aspeto turvo. marfim, aspeto turvo. AROMA Intenso em notas de caramelo, Intenso em notas de caramelo, pão, malte adocicado, AROMA malte doce, tostados, notas cítricas especiarias. e frutadas, resina. SABOR Bom corpo e volume, amargor Mantém o perfil, tem bom amargor equilibrado, notas de caramelo, frutos SABOR e frescura, envolvente, deixa um final de bago, toque de mel, deixa um prazeroso e longo. final amargo e seco.

FERMENTUM (LETRA) / MUSA DOIS ESTROINAS UNIP.

31 XÓ CARAGO RUIVA 28 VADIA RUBI DUNKEL WEISSE %Alc: 5,5 MARZEN %Alc: 6,3 INGREDIENTES Malte, água, levedura e lúpulo. INGREDIENTES Água, maltes de cevada, lúpulo e levedura. APARÊNCIA Cobre, espuma bege intensa e cremosa, aspeto limpo. APARÊNCIA De cor avermelhada, tem espuma cremosa e densa. AROMA Com predominantes notas de cereais, caramelo, AROMA Notas envolventes de caramelo, malte tostado, fruta madura cereais, tostados, ligeiro frutado. e frutos secos. SABOR De amargor moderado, SABOR Mantém o perfil, tem bom corpo tem bom corpo e volume, doçura e volume, bom amargor a equilibrar, equilibrada, mantém os cereais, deixa um final longo. termina longa.

XÓ, FABRICO E COMÉRCIO DE BEBIDAS LDA ESSÊNCIA D’ALMA

45-50 Extraordinária | 38-44 Excelente | 30-37 Muito boa | 21-29 Boa | 14-20 Média | 00-13 Fraca

44 • PAIXÃO PELA CERVEJA • EDIÇÃO 5 NOTAS DE PROVA a! nosa! escolha! Novidades EM PROVA CEGA Cervejas de todos os estilos e cores, de Portugal e do Mundo, para descobrir e desfrutar!

@RevistaPaixaoPelaCerveja

#revistapaixaopelacerveja #paixãopelacerveja

EDIÇÃO 5 • PAIXÃO PELA CERVEJA • 45 NOTAS DE PROVA

42 BORIS 37 SELECÇÃO 1927 RUSSIAN IMPERIAL STOUT %Alc: 9 JAPANESE RICE LAGER %Alc: 5,1 INGREDIENTES Água, malte de cereais (cevada), lúpulo e levedura. INGREDIENTES Água, malte de cevada, cereais não maltados (arroz) lúpulo, flor de sal de tavira e kombu. Quase preta, espuma acastanhada de boa APARÊNCIA persistência, aspeto limpo. APARÊNCIA Amarelo dourado, espuma marfim cremosa, aspeto limpo. Exuberante, com distintas notas de café, AROMA grão torrados, cacao, frutos pretos, frutos AROMA Intenso em cereais, malte adocicado, secos, especiarias. flores, fruta, herbáceo, distinto Excelente, envolvente, com grande equilíbrio, e sedutor. SABOR mantém o perfil aromático, alguma SABOR Envolvente e equilibrado, tem ligeiríssimo complexidade, deixa um final exuberante. toque salino, mantém os cereais, ligeiro floral, bom amargor, final prolongado. GALLAS CARVALHO UNIP SUPER BOCK GROUP

40 BUSH 36 BOHEMIA PILSENER AMBER BELGIAN BEER %Alc: 12 GERMAN PILS %Alc: 5,7 INGREDIENTES Água, cevada maltada, lúpulo, açúcar e levedura. INGREDIENTES Água, malte de cevada, lúpulo e extrato de lúpulo. APARÊNCIA Dourado com tons acobreados, espuma marfim persistente, aspeto limpo. APARÊNCIA Dourada, com espuma marfim cremosa, aspeto limpo. AROMA Intenso, com distintas notas de caramelo, frutos pretos, tostados, AROMA Intenso em notas de cereais, pão, melaço, frutos secos, especiarias. doce, fruta, elegante. SABOR Cremoso, envolvente, doce, SABOR Equilibrada, com bom corpo com o álcool em evidência a complexar, e volume, mantém o perfil, toque amadeirado, volumoso, muito bem feita, deixa um final longo termina muito persistente. e prazeroso. BRASSERIE DUBUISSON FRÈRES / BÉLGICA SCC - SOC. CENTRAL DE CERVEJAS E BEBIDAS SA IMPORTADA POR BEERS & TAILORS

39 BUSKER 36 ROGUE HAZELNUT BROWN NECTAR 100 DAY MAIBOCK %Alc: 5,8 ALE NATURAL HAZELNUT FLAVOUR %Alc: 5,6 INGREDIENTES Água, malte de cevada, lúpulos e levedura. INGREDIENTES Água, lúpulo, malte, extrato de avelã, levedura. Âmbar, espuma branca muito cremosa, APARÊNCIA aspeto limpo. APARÊNCIA Cobre com tons acastanhados, espuma Interessante, distinto, com notas marfim, aspeto limpo. AROMA de cereais, banana, frutos secos, AROMA Intenso em notas de cereais, especiarias doces, frutos caramelizados. rutos secos, avelãs, especiarias, Mantém o perfil, seduz pela toque de caramelo. SABOR complexidade, volume, equilíbrio, SABOR Mantém o perfil, tem bom corpo deixa um final de boca prolongado e volume, cremosa, doce, e distinto. deixa um final longo e sedutor. GIPSY HILL BREWING COMPANY ROGUE ALES / USA / IMPORTADA (INGLATERRA) / MUSA (PORTUGAL) POR BEERS & TAILORS

39 GULDEN DRAAK 9000 35 BARONA ENTRUDA QUADRUPPEL BELGIAN BEER %Alc: 10,5 SOUR ALE %Alc: 3,9 INGREDIENTES Água, cevada maltada, lúpulo, açúcar e levedura. INGREDIENTES Água, malte de cevada e trigo, flocos de trigo, lúpulo, levedura Âmbar com reflexos laranja, espuma APARÊNCIA cremosa, aspeto turvo. APARÊNCIA Amarelo pálido, espuma branca, aspeto turvo. Excelente, com evidentes notas a pão, AROMA caramelo, fruta madura, cravinho, mostarda, AROMA Revela notas de cereais, citrinos, pêssego, vinagre balsâmico. melão, toque floral. Mantém o perfil, é volumosa SABOR Mantém o perfil aromático, SABOR e envolvente, doce, com boa acidez, mostra evidentes notas de lima e limão, com notas de frutos secos e caramelo, maracujá, toque fumado, bom corpo, final prolongado e sedutor. termina persistente.

BROUWERIJ VAN STEENBERGE / BÉLGICA BARONA BREWING COMPANY IMPORTADA POR BEERS & TAILORS

45-50 Extraordinária | 38-44 Excelente | 30-37 Muito boa | 21-29 Boa | 14-20 Média | 00-13 Fraca

46 • PAIXÃO PELA CERVEJA • EDIÇÃO 5 NOTAS DE PROVA

35 BARONA BOLEIMA 30 KORISCA PETÚNIA WINTER ALE %Alc: 5,2 ENGLISH INDIA PALE ALE %Alc: 6,5 INGREDIENTES Água, malte de cevada, aveia, maçã, INGREDIENTES Malte, lúpulo, levedura e água lúpulo, levedura APARÊNCIA Acobreada, com espuma creme, APARÊNCIA Acobreada, com espuma bege aspeto turvo. e cremosa, limpa. AROMA Tem predominantes AROMA Muito interessante, com notas notas maltadas, pão, frutos pretos, de caramelo, mel, frutos secos, frutos secos, fumo, fumo e anis estrelado. especiaria doce. SABOR Doce, com notas tostadas, ligeiro gengibre, SABOR Envolvente, mantém o perfil, envolvente, deixa um final seco com notas destaca-se pelo amargor, volume, de caramelo. e final que é persistente.

BARONA BREWING COMPANY AZORES

33 EPICURA 30 MUSA DA COOPERATIVA BELGIAN ALE %Alc: 7,2 TANGERINE INDIA PALE ALE %Alc: 6,7 INGREDIENTES Água, cevada, lúpulo e levedura. INGREDIENTES Água, puro malte de cevada, flocos de trigo e aveia, raspas e sumo de tangerinas de santana, lúpulos APARÊNCIA Bronze com tons acastanhados, espuma americanos (galaxy, amarillo, citra), levedura marfim, aspeto turvo. APARÊNCIA Âmbar claro, espuma creme e aspeto turvo AROMA Intenso em cereais, pão, com ligeiras partículas. frutos pretos, frutos secos, com toque floral, resinoso. AROMA Com predominantes notas cítricas, cereais, malte, toque de goiaba. SABOR Com bom amargor, mantém o perfil e faz destacar notas SABOR Doce, cremosa, com notas de frutos citrinos caramelizadas aliadas aos frutos secos, em evidência, casca de laranja, amargo, termina longo. termina persistente.

FLOATING SATURN CERVEJA INDEPENDENTE MUSA / VILHOA

33 KILLA STOUT / LOBA EDIÇÃO LIMITADA 30 TAGUS IMPERIAL STOUT %Alc: 8,1 LAGER %Alc: 4,8 INGREDIENTES Água, malte de cevada, cevada, INGREDIENTES Água, malte de cevada, malte de trigo, lúpulo e levedura. milho, cevada, lúpulo APARÊNCIA Preto, com espuma castanha, APARÊNCIA Amarelo, muito brilhante, aspeto turvo. com espuma branca. AROMA Doce, com notas de café, grão torrados, AROMA Muito agradável. chocolate, madeira. Intenso em cereais, herbáceo, e notas frutadas. SABOR Intenso, com bom volume, Simples mas muito elegante, mantém as notas de café, chocolate, SABOR mantém o perfil aromático, tostados, licor, bom amargor, deixa um final harmonioso e sedutor. final persistente. POST SCRIPTUM BREWERY FONT SALEM DISTRIBUÍDO POR HOPPY HOUSE BREWING

30 KORISCA WILMA 29 A.M.O. HEFEWEISEN %Alc: 5,5 ALLEY CAT AMBER %Alc: 5,2 INGREDIENTES Malte, lúpulo, levedura INGREDIENTES Água, cevada, lúpulo e levedura e água APARÊNCIA Âmbar Claro, espuma marfim, APARÊNCIA Amarelo dourado, ligeiramente turva. espuma branca, AROMA Muito agradável apesar aspeto limpo. de mostrar algumas notas AROMA A revelar notas de pão, de oxidação, destaque cereais, fruta e especiarias para caramelo e tostados. Cereais, caramelo, frutos secos, SABOR Mantém o perfil, tem bom SABOR corpo e volume, amargor cativante, tem bom corpo e volume final longo. e deixa um final médio e amargo.

AZORES BITTER AMO BREWEXRY

45-50 Extraordinária | 38-44 Excelente | 30-37 Muito boa | 21-29 Boa | 14-20 Média | 00-13 Fraca

EDIÇÃO 5 • PAIXÃO PELA CERVEJA • 47 NOTAS DE PROVA

29 BARONA %Alc: 5,2 INGREDIENTES Água, malte de cevada, flocos de trigo, lúpulo e levedura. APARÊNCIA Âmbar, com espuma marfim de boa persistência, aspeto turvo. AROMA Com predominantes notas cítricas e tropicais, malte, cereais. SABOR Mantém o perfil fresco e tropical, ligeiros tostados, especiarias, final amargo e longo.

BARONA BREWING COMPANY

29 MUSA PSYCHO PILSNER 28 MUSA BALTIC SABBATH GERMAN PILSENER %Alc: 4,5 BALTIC PORTER %Alc: 7 INGREDIENTES Água, malte de cevada, lúpulos INGREDIENTES Água, malte de cevada, flocos de aveia, (perle, spalter select), levedura lúpulos (bullion, spalter select), levedura APARÊNCIA Amarelo intenso, espuma branca de média APARÊNCIA Preto, espuma bege e cremosa, persistência. aspeto turvo. AROMA Cereais, notas cítricas, florais, frutado ligeiro, AROMA Intenso, com evidentes notas de caramelo, sugere alguma oxidação. malte, frutos secos, grãos torrados. SABOR Mantém os cereais, pão, doce ligeiro, pimenta SABOR Mantém o perfil, acrescenta café, preta, deixa um final longo, amargo e seco. cevada e chocolate preto, noz, bom amargor, deixa um final de longa CERVEJA INDEPENDENTE MUSA persistência.

CERVEJA INDEPENDENTE MUSA

28 EPICURA 26 SAGRES 0,0% AMERICAN PALE ALE %Alc: 6,2 CERVEJA SEM ÁLCOOL %Alc: 0 INGREDIENTES Água, cevada, lúpulo e levedura INGREDIENTES Água, malte de cevada, malte de trigo, dióxido de carbono, extrato de lúpulo, APARÊNCIA Amarelo torrado, espuma marfim, aroma natural. aspeto turvo. APARÊNCIA Amarelo claro, espuma branca, média Notas de cereais, AROMA carbonatação. frutos citrinos e do pomar, flores. AROMA Notas de pão, cereais, flores, banana, doce. SABOR Na boca o caramelo sobressai, doce, aliado a notas frutadas SABOR Confirma o perfil aromático, e tostadas, seco, termina tem corpo médio, é agradável com média intensidade. e deixa um final de boca seco.

FLOATING SATURN SCC - SOC. CENTRAL DE CERVEJAS E BEBIDAS SA

28 FLYING DOG - THE TRUTH 24 JUDIA IMPERIAL INDIA PALE ALE %Alc: 8,7 CERVEJA DE CASTANHA %Alc: 7 INGREDIENTES Água, malte de cevada, malte de trigo, INGREDIENTES Água, malte de cevada, lúpulos, lúpulo e levedura. levedura e castanha judia. APARÊNCIA Amarelo dourado, espuma branca, aspeto APARÊNCIA Castanha, com espuma bege, limpo. aspeto turvo. AROMA A denunciar o álcool, forte e quente, tem AROMA Notas de cereais, tostado e fumados, notas cítricas e frutos de caroço, nuances frutos secos, especiaria. resinosas. SABOR Mantém o perfil, SABOR Revela notas de pão, mantém a fruta, tostados é simples mas agradável, e caramelo, termina amarga, de longa mantém o fruto seco persistência. ligeiro amargor, final médio. FLYING DOG BREWERY / U.S.A. IMPORTADA POR BEERS & TAILORS LINO MANUEL DA EIRA SAMPAIO

45-50 Extraordinária | 38-44 Excelente | 30-37 Muito boa | 21-29 Boa | 14-20 Média | 00-13 Fraca

48 • PAIXÃO PELA CERVEJA • EDIÇÃO 5 NOTAS DE PROVA

45-50 Extraordinária | 38-44 Excelente | 30-37 Muito boa | 21-29 Boa | 14-20 Média | 00-13 Fraca

EDIÇÃO 5 • PAIXÃO PELA CERVEJA • 49 CERVEJA PASSO A PASSO

Ciência Cervejeira Defeitos na Cerveja: Oxidação

> texto Tito Santos • Fizzlab.pt > fotografias Elevate / o autor escreve ao abrigo do anterior AO A oxidação é um processo que ocorre na cerveja que, em geral, é prejudicial.

Dependendo da cerveja e dos seus in- do tempo (Dalgliesh, 1977). Consoante o no seu processo metabólico antes que gredientes, a oxidação é um defeito que estilo de cerveja, este gráfico será dife- faça estragos. Na empastagem, contu- pode apresentar notas a “velho”, ranço, rente devido aos seus diferentes ingre- do, existe oxigénio presente a tempera- couro, papel, cartão molhado, caramelo dientes. tura suficientemente alta para que possa envelhecido, suor ou queijo. A primeira etapa da produção cervejeira ocorrer a oxidação de compostos que A exposição e captura de oxigénio dá-se onde pode ocorrer a captura de oxigé- acabam no produto final. praticamente em todo o processo pro- nio, além da própria moagem que de- O segundo local onde é mais prová- dutivo, desde a moagem, sala de bras- pende do tipo de moinho, acontece na vel de ocorrer a introdução de oxigénio sagem, fermentação, linha de engarra- empastagem. Esta problemática é tam- na cerveja, é na linha de enchimento. A famento e até dentro da própria garrafa bém conhecida como arejamento na quantidade de oxigénio que é captado após o seu enchimento. fase quente (“hot-side aeration”), pois depende largamente da sofisticação do Contudo a oxidação pode melhorar de- está relacionada com as fases do proces- equipamento de enchimento de garrafas terminadas cervejas, desde que seja de- so que envolvem calor. Pode ser resulta- ou barris, bem como da experiência ou liberadamente empregue em condições do de mexer a mistura de cereal e água cuidado dos operadores, mas o enchi- controladas. Tal é o caso da longa ma- (processo de massas) de forma exces- mento de vasilhame com zero captura turação e envelhecimento das siva, recirculação (“vorlauf”) demasiado de oxigénio é virtualmente impossível. em barricas que antecede o seu engarra- turbulenta durante a filtração do cereal Quanto mais oxigénio estiver presente famento, ou o envelhecimento cuidado ou durante os processos de transferência no produto final, mais depressa a cerveja de garrafas de barleywine. Esta oxidação entre caldeiras. ficará com as notas a “velho” ou ranço. lenta e graciosa, a qual pode ter efeitos Tendo em conta que a velocidade das Como já referido, é importante realçar similares à oxidação de certos vinhos li- reacções de oxidação aumenta com a que a velocidade de oxidação aumenta corosos, adiciona sabores complexos e temperatura, após a fervura quando o significativamente com a temperatura. torna a cerveja robusta, permitindo que mosto está frio e este é oxigenado pro- Assim e a título de exemplo, se tivermos a mesma seja guardada na garrafeira du- positadamente antes da inoculação das uma cerveja armazenada a 35 ºC duran- rante anos. leveduras, a sua baixa temperatura inver- te apenas um dia, irá apresentar as ca- No gráfico (ver página seguinte) pode- samente reduz a velocidade das reac- racterísticas de uma cerveja que esteve mos ver uma representação geral das al- ções de oxidação. Seguidamente, a leve- armazenada à temperatura ambiente (20 terações sensoriais da cerveja ao longo dura encarrega-se de utilizar o oxigénio ºC) durante 5 dias. Daqui se conclui que

50 • PAIXÃO PELA CERVEJA • EDIÇÃO 5 a armazenagem da cerveja a baixas tem- um dos ácidos-alfa presentes no lúpulo Em conclusão, com excepção dos efei- peraturas é fundamental para a sua esta- (humulona) sujeito a oxidação seja por tos agradáveis que uma oxidação lenta bilidade a longo prazo. armazenagem indevida ou matéria prima pode introduzir num número restrito de Esta situação é ainda mais crítica em de idade avançada, pode resultar na pre- estilos de cerveja, a palavra “oxidação” é estilos de cerveja que dependem dos sença de aroma/sabor a queijo, caracte- sempre pejorativa. Fazendo o paralelis- aromas e sabores do lúpulo, como as In- rística do ácido isovalérico. mo com o mundo dos vinhos, existem dia Pale Ale ou American Pale Ale. Estas Do ponto de vista químico e muito resu- alguns exemplos que são deliberada- apreciadas características podem co- midamente, a oxidação pode ser definida mente oxidados, como o xerez oloroso, meçar a declinar em tão pouco tempo como a adição de oxigénio ou remoção o Porto tawny e o vin jaune. Contudo, como 7 dias se as cervejas forem indevi- de hidrogénio. Neste último caso, o hi- não existem estilos de cerveja que são damente armazenadas. drogénio pode ser removido de uma deliberadamente oxidados antes de che- O oxigénio que é capturado durante substância por outros materiais que não garem ao consumidor. todo o processo produtivo, pode reagir o oxigénio, e a molécula à qual foi remo- com diversos constituintes da cerveja. A vido o hidrogénio ainda é chamada de sua reação com vestígios de ácidos gor- oxidada. Além destes dois mecanismos, dos (lípidos), resulta nas notas a velho e a oxidação pode também ser entendida cartão molhado e são mais característi- como a perda de electrões de uma subs- cas de cervejas claras. Já a oxidação de tância. melanoidinas que se formam no proces- Na cerveja o processo de oxidação é so de maltagem e na fervura do mosto algo complexo, envolvendo trocas entre (normalmente presentes em maltes mais vários compostos até resultar nos defei- escuros), podem resultar em leves notas tos indesejáveis descritos. Como é pra- a xerez ou em caramelo pronunciado ticamente impossível produzir cerveja com carácter a ranço. sem a captura de oxigénio, as estratégias No lado frio, ou após a fermentação, a de mitigação desta problemática passam Referências: oxidação do álcool pode resultar na for- por retardar esta cadeia de reacções de Beer Stability – Siebel Institute of Technology mação de aldeídos com notas a amên- oxidação, aumentando o tempo em que The Oxford Companion to Beer – Tom Colicchio, Garret Oliver doas ou maçã verde. Da mesma forma, o produto se apresenta estável. The Complete Beer Fault Guide – Thomas Barnes

EDIÇÃO 5 • PAIXÃO PELA CERVEJA • 51 ENTREVISTA

Bruno Aquino e Domingos Quaresma.

52 • PAIXÃO PELA CERVEJA • EDIÇÃO 5 Bruno Aquino Em busca da cultura cervejeira

> texto Susana Marvão > fotografias Mário Ambrózio

Lançou, juntamente com Domingos Quaresma, um livro sobre o mundo da cerveja artesanal portuguesa. Bruno Aquino, analista sensorial com especialização em cerveja, o que gostava mesmo era que Portugal visse a sua cultura cervejeira consolidada. O livro é o contributo dos autores para que isso aconteça.

Recentemente, lançou o livro ‘Uma via- cado ainda não tem maturidade suficiente ja, de bares e da percepção das pessoas gem pelo mundo da cerveja artesanal para ter um livro apenas sobre avaliação para os estilos de cerveja. Não obstante, portuguesa”, escrito juntamente com cervejeira. se compararmos esta realidade com ou- Domingos Quaresma. O mercado está a tras bebidas, nomeadamente com o vinho, crescer e os consumidores estão ávidos Não tem? vemos que há ainda um percurso muito por informação. Esta foi a altura ideal Não, continuamos a cometer muitos er- grande a fazer. E o percurso passa por coi- para o seu lançamento? ros. Porque vamos a um bar ou a um res- sas tão simples quanto isto: hoje, se quiser Foi. Há dois anos, surgiu o convite da edi- taurante e continuam-nos a servir cerveja ir almoçar perto do trabalho e beber uma tora para o escrever. Mas como tinha al- ‘estupidamente’ gelada, em copos sujos, cerveja artesanal ainda vai ter muita difi- guns projetos entre mãos, o livro acabou temperaturas desadequadas, não sabem culdade. Não está generalizado o acesso. por ser escrito apenas o ano passado. A quais os ingredientes da cerveja... E por Se for a um dos cinco maiores restaurantes editora estava bastante interessada no seu isso propusemo-nos, neste primeiro li- portugueses, se for a um restaurante com lançamento por isso juntamos o útil ao vro - gostávamos que fosse o primeiro de estrelas Michelin, qual deles é que neste agradável. vários -, a apresentar as bases para que as momento tem carta de cerveja? Mas to- pessoas tenham aquilo que chamamos de dos, sem exceção, têm carta de vinhos. E Que mensagem quiseram transmitir com ‘cultura cervejeira’. Perceber a história da quantos desses restaurantes é que têm um o livro. O que querem aportar ao mercado cerveja, os ingredientes, os estilos, as fa- ? Nenhum, certamente. Lá e aos consumidores com este desafio? mílias, o processo de fabrico, condições está, o percurso a percorrer é ainda muito Quando nos foi proposto fazer um livro de serviço e tudo o que é essencial para grande, o que não invalida termos crescido sobre cerveja artesanal, achamos que se- sabermos a razão pela qual uma cerveja significativamente. ria uma boa ideia fazer uma espécie de tem mais qualidade do que outra e assim anuário da cerveja. Porque o mercado da continuarmos a crescer em Portugal, não Quais são os próximos passos que, no seu cerveja é tão dinâmico que achamos que só em termos de consumo mas em termos entender, os intervenientes neste mundo seria interessante mostrar aos consumido- de prestação do próprio produto. deviam dar? res menos atentos o que se vai fazendo no Ganhar o que propomos no livro: cultura mercado, quais são as cervejas que mere- Mas hoje o mercado já está mais maduro cervejeira, que é o que nos falta. A partir cem ser trabalhadas, quais as novidades... ou estou a ser otimista? do momento que a pessoa perceba que Mas em conversa com a editora, acaba- Não, o mercado cresceu significativamen- uma cerveja pode ter muito aroma, sabor, mos por concordar que se calhar o mer- te, quer em termos de marcas de cerve- muitos estilos, muitas combinações gas-

EDIÇÃO 5 • PAIXÃO PELA CERVEJA • 53 tronómicas, se calhar já vai pedir a carta. rios outros cursos em Inglaterra ou Repú- Vou-lhe dar um exemplo. Encomenda- blica Checa, onde fiz um curso sobre ava- mos uma pizza por telefone e pedimos liação de cerveja. Daí fiquei sempre ligado, uma Coca-Cola. Muitas vezes, ouvimos do a escrever artigos, workshops, palestras, outro lado: pode ser Pepsi? Com a água a participar em festivais e, sobretudo, criar LEYA / CASA DAS LETRAS mesma coisa. Pedimos uma Água das Pe- muitas amizades e beber muita cerveja. ABRIL 2019 dras e respondem-nos que só têm Frize. Não partem pelo princípio que aceitamos Então como é que hoje o denomino? Uma Viagem pelo Mundo da Cerveja qualquer uma, como se fossem iguais. Mas Sou analista sensorial com especialização Artesanal Portuguesa, de Domingos se formos a um bar, normalmente pedi- em cerveja, com o máximo respeito por Quaresma e Bruno Aquino é uma visita mos uma cerveja. Não especificamos, tor- outros colegas que preferem designar-se guiada ao fabuloso mundo da cerveja nando a cerveja no produto mais anónimo de outra maneira. Mas isto é o que eu mais artesanal. que podia existir. gosto de fazer e naquilo que me tentei es- Num mundo perfeito toda a cerveja pecializar. seria artesanal, fruto da paixão inspirada de mestres cervejeiros e feita com E isso remete para a tal falta de cultura a melhor selecção de ingredientes cervejeira? Num dos primeiros artigos que escreveu em processos apurados ao longo de Exatamente. Quando essa cultura estiver para a Paixão Pela Cerveja o título era: ‘Da gerações. muito mais implementada, as pessoas vão bejeca à cerveja’. Que mensagem queria A cerveja é a mais popular e social pedir cervejas por marca, por estilo, vão transmitir? das bebidas. Cada copo de cerveja preocupar-se com a qualidade e isso vai Que as pessoas tivessem um bocadinho é um conjunto único de sensações, exigir mais de todos. Dos produtores, dos mais de cuidado com o produto cerveja concebido para ser partilhado entre sítios que vendem as cervejas artesanais e em geral. Não sou nada apologista de ra- amigos. mesmo da comunicação social, porque o dicalismos. Se eu for a uma esplanada ou O que os autores nos propõem é uma visita guiada a este mundo crescimento exponencial deste mercado à praia, nada me impede de beber aquilo a fabuloso – o da cerveja artesanal. vai obrigá-la a falar mais no setor. E vai im- que chamamos ‘cerveja industrial’, que em Uma visão abrangente sobre a história, pactar tudo, até trazer mais qualidade aos Portugal até têm muita qualidade. Ago- ingredientes, estilos e harmonizações festivais de cerveja. ra, acredito que o mercado vai crescer no com comida. E um incentivo claro a sentido de eu ir ao restaurante ou fazer um que se aventure a fazer a sua própria O que o levou a entrar neste mundo da jantar com amigos, de harmonizações, e cerveja. cerveja? saber que também na cerveja tenho mui- Sabia que há mais de 7 mil anos os povos Comecei a experimentar cervejas diferen- tas escolhas e muita oferta. E para todas as da Mesopotâmia já faziam cerveja? tes em 1998, quando estava fora do país. estações do ano! Sabia que pode produzir cerveja em casa de forma simples e barata? Em 2001, quando vi que não tinha com- Sabia que existem tipos de cerveja que panhia para beber as cervejas, criei um site O nosso tema de capa desta edição são pode deixar envelhecer e outros que e um fórum para a divulgação da cultura as ruivas, sendo que sabemos que não é deve beber logo? cervejeira, o cervejasdomundo.com. Co- um estilo de cerveja. Mas editorialmente Sabia que os vários estilos de cerveja mecei a conhecer pessoas do meio e em é complicado comunicar... devem ser bebidos a temperaturas 2005 fui tirar uma pós-graduação sobre Sim, até porque há vários estilos de cer- diferentes? análise sensorial à Bélgica, assim como fui veja ruiva. Ao usarmos essa denominação enriquecendo os conhecimentos com vá- estamos apenas a basear-nos na aparên-

54 • PAIXÃO PELA CERVEJA • EDIÇÃO 5 Acho que estamos a fazer o nosso caminho, nomeadamente no estilo Portuguese Grape Ale, que espero ver reconhecido internacionalmente.

cia abdicando de outros fatores como que tipo de malte e lúpulo foi utilizado, o que vai ser importante a partir do momento em que houver mais cultura cervejeira em todos os consumidores. É normal que ainda se designe assim, mas com a evo- lução do mercado vamos caminhar, e no meu entender corretamente, para desig- nar as cervejas pelo seu estilo. O interesse que tem havido pela cerveja artesanal vai ajudar a que isso aconteça. Repare que a primeira cerveja verdadeiramente arte- sanal a fazer alguma distribuição a nível nacional foi a Sovina. E em 2011. Estamos a falar de um mercado com pouco mais de oito anos.

Pela sua experiência internacional, Por- tugal está a seguir o caminho ‘normal’ de crescimento? Sim. Basicamente, tal como qualquer ou- tro país, somos influenciados uns pelos outros. Quando começou o movimento da revolução da cerveja artesanal, da dé- cada de 60, nomeadamente nos Estados Unidos – país onde muita gente vai beber as inovações –, eles pegaram em estilos clássicos alemães, belgas e ingleses, e in- troduziram alguns ingredientes locais e cultura vinícola tão forte, acho que temos nos últimos anos, de resto o que acontece técnicas próprias. E criaram a escola nor- feito um trabalho magnífico. em todos os mercados. E em Portugal vai te-americana. Uma escola recente mas fa- acontecer a mesma coisa. As marcas que bulosa. Portugal capta muito do que vem Como gostava de ver o mercado em cin- tiverem mais preparadas, com o melhor desses países da vanguarda cervejeira, mas co anos? projeto irão subsistir e continuar a crescer. também temos feito as nossas explora- Acho que vamos crescer. Estamos a con- Notoriamente o mercado, em termos de ções internas, com produtos locais, como versar há pouco mais de vinte minutos consumo a aumentar, com a cerveja ar- o lúpulo já criado por alguns produtores. e provavelmente já apareceu mais uma tesanal a ganhar mais terreno. Muito im- Acho que estamos a fazer o nosso cami- marca de cerveja artesanal. Mas tenho a portante, é a consolidação que se espera nho, nomeadamente no estilo Portugue- certeza que vai haver consolidação, com na qualidade das cervejas artesanais. Por se Grape Ale, que espero ver reconhecido grandes empresas do mercado a comprar último, gostaria de ver uma consolidação internacionalmente. Num país com uma empresas artesanais que se têm destacado da tal cultura cervejeira.

EDIÇÃO 5 • PAIXÃO PELA CERVEJA • 55 REVELAÇÃO POST SCRIPTUM

56 • PAIXÃO PELA CERVEJA • EDIÇÃO 5 Post Scriptum Amor, persistência e consistência!

> texto Susana Marvão > fotografias Carlos Figueiredo

Cismou que havia de fazer cerveja. E fez. Com amor, persistência e muita consistência, Pedro Sousa almeja agora um novo futuro para a Post Scriptum na qual a eficiência e gestão (mais) profissionaliza seja uma realidade no dia-a-dia desta cervejeira da Trofa.

“Quem tem paixão pela cerveja não decide ção não de uma, mas de duas e três cer- ção”, Pedro Sousa admite que pode fazer com a cabeça, mas com o coração”. Foi vejas. “Isto acaba um pouco por provar a muito mais. Mas não tem tempo. “Tenho assim que Pedro Sousa, fundador da Post qualidade do nosso trabalho”, disse. uma fábrica relativamente grande e com Scriptum Brewery, apresentou o proje- Em termos de cerveja própria, com ênfase um sistema de reaproveitamento de ener- to ao qual dá alma, e muito corpo, desde nas marcas Ora et Labora e By Pedro Sou- gia que ainda não tive tempo para terminar 2013. Este eterno curioso não descansou sa, a empresa produz 200 a 300 mil litros dado o volume de trabalho que temos”. enquanto não conseguiu fazer uma cerve- de cerveja por ano. “Neste momento, pos- Com algum sangue, muito suor e umas ja digna desse nome. Em 2015, depois de so dizer que vendemos uniformemente lágrimas à mistura, de resto os ingredien- “muitas alterações”, surgiam as primeiras toda a gama, basicamente quatro cervejas tes para que um projeto seja apaixonante, cervejas da Post Scriptum Brewery. anuais e quatro sazonais, dependendo da Pedro Sousa avança que já terão sido mais Hoje, o cervejeiro instalado na Trofa vê o matéria-prima”. E se no princípio era o bo- de 600 mil euros o investimento realizado negócio orgulhosamente crescer. Já ex- ca-a-boca que fazia as vendas, com Pedro na Post Scriptum. “Costumo dizer que so- porta para países como França, Bélgica Sousa a tratar basicamente de tudo, des- mos o parente pobre do mercado. Somos e Holanda e, mais recentemente, para o de encomendas à produção, enchimento, a maior fábrica, com menos funcionários e mercado brasileiro. entregas e faturação, hoje já têm presença a fazer mais cerveja para muito projetos”. Mas nada disto é propriamente fácil. Pedro no litoral desde Caminha a Faro e, diz o Se vendia o projeto? Para já, a resposta Sousa admite que, ao contrário de uma responsável, até no interior já estão gene- de Pedro Sousa faz antever um não. Mas empresa ‘normal’, na qual as pessoas se rosamente presentes. nunca se sabe. “Passei uma fase em que sentam a delinear uma estratégia, neste era cervejeiro, apaixonado. Depois, conti- mercado “sentávamo-nos mas para im- CONSOLIDAÇÃO DO MERCADO nuei a pensar com o coração mas também provisar e responder às necessidades, que Admitindo que há muitos projetos a serem com cabeça. E depois, fiz cursos, hoje sou estão permanentemente a mudar”. vendidos basicamente por “falta de mo- também um empresário”. O que interessa Crítico, Pedro Sousa diz que, normalmente, tivação” e “falta de estrutura de negócio”, para este empreendedor é que, quando o consumidor que mais fala e tem mais opi- Pedro Sousa considera este fenómeno fizer 60 anos, “tenha a certeza que traba- nião é o que bebe menos. “Bebe de forma “normal” na evolução do próprio setor. “O lhei numa área que queria e que gostava. A inversamente proporcional à voz que tem”. mercado vai acabar por filtrar o problema. partir de determinado ponto posso já não Agora, e depois de ajustarem a sua produ- Esta é área que dá muito trabalho, desafios ter ‘unhas’ para continuar. A empresa está ção, Pedro Sousa assume que os 2300 litros constantes e diários, seja ao nível da venda a crescer e isto é uma unipessoal, uma car- por lote que produz começam a ser ade- e distribuição, até pela questão da valida- ga muito grande para mim”. quados ao que é o mercado em determina- de e consistência necessárias na cerveja”. Assim, para futuro, Pedro Sousa almeja dos segmentos. “O nosso foco e energia é O problema, diz o cervejeiro, é que “toda tornar a fábrica mais eficiente, haver uma satisfazer a procura dos nossos parceiros”. a gente faz um rótulo e um registo, faz as melhor organização do espaço, do volu- E são muitos os parceiros. A Post Scriptum, t-shirts e as bases para copos mas não têm me produzido, nomeadamente com a au- que terá neste momento a maior fábrica um cervejeiro com conhecimento para fa- tomatização de alguns processos simples. de cerveja do país, tem um acumulado de zer um bom produto ou até fábrica”. “Basicamente, espero ter uma melhor ges- 42 marcas para as quais produz, algumas E como “quem tem paixão pela cerveja tão de todos os recursos e alguém respon- delas entregando à Post Scriptum a produ- não decide com a cabeça, mas com cora- sável por isso”.

EDIÇÃO 5 • PAIXÃO PELA CERVEJA • 57 NA FÁBRICA LUPUM

58 • PAIXÃO PELA CERVEJA • EDIÇÃO 5 Lupum Brewery De amante de cerveja a empresário

> texto Susana Marvão > fotografias Carlos Figueiredo

Era “apenas” um amante de cerveja. Hoje, António Lopes, mentor do projeto Lupum Brewery, é um verdadeiro empresário. Mas isso não quer dizer que tenha perdido a paixão por fazer, mais do que tudo, cervejas que lhe dão efetivamente prazer.

António Lopes, empreendedor que deu PAIXÃO E PROFISSIONALISMO Criada em 2015 e com as primeiras cervejas vida à Lupum Brewery, uma microcervejei- A provar que é possível ser amante e em- a saírem de fábrica em 2017, os próximos ra de Avintes, em Vila Nova de Gaia, não presário está o facto de António Lopes tempos, para além de tornar o negócio quer ser conhecido por produzir muitos ti- apenas ter usado para a Lupum receitas de sustentável passa por dois pontos funda- pos de cerveja. Nada disso. Pelo contrário, cervejas de que gostava e que deram cor- mentais. Primeiro, investir numa nova linha quer ser conhecido pela sua Stout. “Não po a três bebidas com sabores diferentes. de enchimento. Depois, criar uma taproom concordo em andar a produzir demasia- A Imperial Stout é uma cerveja preta, forte, na fábrica para assim poder receber quem dos tipos de cerveja diferente e disseminar com nuances de chocolate, café e cara- queira provar as cervejas Lupum. “Esta é a escolha, não é bem essa a nossa estra- melo. Já a Belgian Strong Ale, também ela também uma forma de fazermos mais ne- tégia”. forte, tem um travo mais doce. A Ameri- gócio e equilibrarmos as contas, senão tor- Aliás, foco é uma palavra que parece as- can IPA apresenta-se mais amarga, frutada na-se muito complicado crescer. A venda sentar bem a este projeto. É que ao con- e aromática. ao público é muito interessante”, contou trário de tantos micronegócios, este foi Com capacidade de fermentação e ma- António Lopes à Paixão Pela Cerveja. pensado, estruturado, ponderado e matu- turação para 4500 litros por mês – apesar Aliás, ao nível de distribuição, a procura rado. Apoiado pelo Invest+ e InovaGaia, o de com estas cervejas mais alcoólicas esse pela Lupum é grande, pelo que a cervejeira cervejeiro tirou um curso de empreende- valor baixar para 2500 litros/mês – a em- não tem problema em escoar o produto. dorismo que o ajudou a solidificar o proje- presa apenas tem, neste momento, pro- “O objetivo é vender cada vez menos para to. “Tive de me criar como empresário, era dução própria, fora uma ou outra exceção fora e apostar antes num espaço próprio. apenas um amante da cerveja”. Mas lá por que tenha realizado nos últimos tempos. Queremos oferecer ao cliente um espa- se ter tornado empresário não quer dizer No entanto, António Lopes admite que ço único cá em Portugal: uma fábrica no que a chama da paixão tenha diminuído produzir para terceiros é um negócio in- meio da quinta. No meio da natureza. de intensidade – ou como se lê no blogue teressante. “É uma situação em que temos Catraio e Letraria, no Porto e Flor de Lúpulo e ‘cervejadepressao’ quando descreve a Lu- a chave na mão e entregamos o produto. Cerveteca em Lisboa são alguns dos espaços pum, “projetos sem espaço para paixões, Não temos de nos chatear com a venda ou onde pode encontrar a cerveja de António não são projetos, são golpes”. distribuição, o que é excelente”. Lopes. “Não vendia meu negócio”, remata.

EDIÇÃO 5 • PAIXÃO PELA CERVEJA • 59 DESTAQUE

60 • PAIXÃO PELA CERVEJA • EDIÇÃO 5 Rota das Tapas Pelos caminhos de Portugal

> texto e fotografias D.R.

Iniciativa da Estrela Damm decorre em simultâneo em nove cidades: Lisboa, Porto, Braga, Faro, Aveiro, Évora, Viseu, Caldas da Rainha e Castelo Branco

Lisboa, Porto, Braga, Faro, Aveiro, Évora, Vi- uma novidade: novas tapas e o melhor dos A esta Rota junta-se também ‘o_pinheiro- seu, Caldas da Rainha e Castelo Branco in- sabores nacionais e locais. O único ingre- jose’: o designer gráfico e instagrammer tegram o ‘rally’ Rota das Tapas no qual uma diente que se mantém? A habitual receita natural de Amarante é o responsável pela tapa e uma Estrella Damm custa três euros. de Estrella Damm. A cada edição, a nos- nova imagem da Rota de Tapas. Com uma Ao todo, foram 202 os restaurantes de nor- sa ambição é sempre oferecer tapas cada estética minimalista e cores pastel, José te a sul do país que aderiram a esta iniciativa vez melhores e representar novas regiões Pinheiro cria pontes entre a realidade e a que decorreu entre 23 e 9 de junho. do nosso país, num evento que pretende, fantasia, fazendo-nos viajar para outras Assim, Castelo Branco e Caldas da Rainha acima de tudo, promover o convívio entre dimensões. Com experiência em diversas são as grandes novidades desta edição, amigos e o melhor dos sabores à mesa”. instituições e marcas portuguesas e inter- juntando-se às sete cidades que já recebe- Em Castelo Branco, são 21 os restauran- nacionais, no seu trabalho procura uma ram esta iniciativa em edições anteriores: tes envolvidos nesta iniciativa, onde os reinvenção constante, sem nunca perder Lisboa, Porto, Braga, Faro, Aveiro, Évora e habitantes podem desfrutar do melhor o sentido de estética e o lado conceptual Viseu. No total, são 18 dias e mais de 202 da gastronomia local, com tapas como das suas composições. Nesta edição, ofe- restaurantes, que brindam todos os pre- a típica Empada Beirã, “a caça” da beira rece o ingrediente que faltava para uma sentes com as iguarias da gastronomia baixa, Moelas à Salgueiro do Campo, e Rota ainda mais apetecível. nacional e local, dando as boas vindas ao muito mais. Em Caldas da Rainha, Maria bom tempo. Xica – Brunch & Tapas, Taberna do Zé e INÍCIO REMONTA A 2013 “Exaltar a boa gastronomia, a um preço Vespa são apenas alguns do 18 restau- A Rota de Tapas da Estrella Damm teve iní- acessível, acompanhada da receita original rantes que aderem à iniciativa, com tapas cio em 2013, em Lisboa, e vai já na sua 13ª da Estrella Damm, ao mesmo tempo que como o Camarão da Chica (pão saloio de edição, estando pela primeira vez presen- visitamos (ou revisitamos) diversas cidades mistura torrado, com pasta de abacate, te em Castelo Branco e Caldas da Rainha. do nosso país. É este o convite da Estrel- pepino japonês e camarão), a Viscaina Nesta edição, a iniciativa ocupa nove cida- la Damm ao continuar a apostar na Rota (tosta de salmão almado com pimentos des, oferecendo um leque de sabores ain- de Tapas” referiu Vanessa Germano, Brand assados) e a Ferrespa (ovo, pimentos, da mais alargado aos portugueses de norte Manager da Estrella Damm. “Para além das queijo flamengo, tomate cherry, azeitona a sul do país, acompanhados pela cerveja duas novas cidades, a nossa Rota é sempre e molho agridoce). Estrella Damm.

EDIÇÃO 5 • PAIXÃO PELA CERVEJA • 61 62 • PAIXÃO PELA CERVEJA • EDIÇÃO 5 AS CIDADES DA ROTA DE TAPAS típicas da capital e os sabores mais delicio- a riqueza de sabores que se vive à beira CASTELO BRANCO sos de cada zona. mar. 21 restaurantes e 21 tapas espalhados Foie caramelizado, tosta de queijo de ove- pelas principais ruas da cidade de Faro. lha de Castelo Branco, choco frito em fa- PORTO rinha de milho e uma triologia de carnes 18 dias, 23 restaurantes e 37 tapas. Sim, na AVEIRO entitulada “A Caça da Beira Baixa”. A estas Invicta são vários os restaurantes que não Na cidade dos moliceiros também há lugar juntam-se mais 16 tapas que podem ser se ficam por uma só iguaria: rolinhos de para grandes momentos de convívio entre provadas e aprovadas com a receita origi- alheira e sonhos de bacalhau, tataki e cevi- amigos. Gaspacho, enguia, batatas bravas, nal de Estrella Damm nos 20 restaurantes che de salmão, alheira com broa frita e es- alheira ou frango “adobado” são alguns dos de Castelo Branco que se juntam à Rota petadas de enchidos. Num só local, os visi- sabores que integram o “mapa” desta rota, mais deliciosa do país. tantes da cidade do Porto podem degustar que indica o caminho para os 24 restauran- logo duas das iguarias que compõem esta tes e as 24 tapas da cidade de Aveiro. CALDAS DA RAINHA rota, seguindo “viagem” por outros spots Contam-se 18 novos restaurantes com de algumas das ruas mais emblemáticas ÉVORA 18 saborosas tapas para provar. Presun- da Cidade. Abadia, Bodeguita de Aviz e Xafarica são to barrado a queijo, salmão no pão, cro- apenas três dos 19 restaurantes que inte- quete tremoço e camarão com crocante BRAGA gram a Rota de Tapas na Cidade de Évora, de pevide, morcela beirã com compota No Bar da Esquina, na Dona Petisca ou na oferecendo 19 iguarias com nomes inspi- de cebola roxa e muitas outras tapas com Pregaria da Sé. São 27 os restaurantes que radores. “Amigos Improváveis”, “Tapa Ebo- nomes que despertam a curiosidade, vão abriram a porta a mais uma edição da Rota ra” e “Frango Ui Ui” são algumas das tapas fazer todos os habitantes da nova cidade de Tapas. Camarão, chouriço, moelas, que vão gerar a curiosade de todos os que da Rota de Tapas querer voltar. bolo do caco, tomate e mangericão, estes passarem por Évora de 23 de maio a 9 de e muitos mais ingredientes compõem as junho. LISBOA 27 tapas que farão as delícias dos braca- Às novidades desta rota juntam-se as já renses durante 18 dias. VISEU habituais zonas típicas lisboetas num total Moelhas, petinga frita, queijo, azeitonas e de 32 restaurantes e 32 tapas para degus- FARO muitos outros sabores bem portugueses tar. Entre o pica-pau de porco com fari- No sul, a receita original de Estrella Damm chegam a Viseu, num total de 18 tapas em nheira, a tábua de mexilhão panado e tár- também se junta à mesa das iguarias algar- 18 restaurantes bem conhecidos da Cidade taro de salmão com beterraba sobre chips vias. Arroz de Polvo, sushi alentejano, os- de Viseu. “Senhora da Beira”, “Prova e Fica” de batata doce, as opções são muitas e os tras, pataniscas de lingueirão ou lulinhas à e “Tapa Tre Santi” são algumas das iguarias motivos muito fortes para revisitar as ruas taska, as relíquias são muitas e evidenciam que compõem a ementa desta cidade.

PUB

EDIÇÃO 5 • PAIXÃO PELA CERVEJA • 63 FERMENTAÇÕES CRIATIVAS

Casamento à minhota > texto Aquiles Pinto > fotografias D.R.

O Cervejão Vinhão Grape Inspired, um híbrido entre cerveja e vinho, de cor avermelhada, acidez equilibrada e aromas frutados, é a primeira de uma trilogia de cervejas que se espera do casamento minhoto entre Adega de Ponte da Barca e Letra. Um desafio sensorial para amantes de cervejas e de vinhos.

A cerveja Letra e a Adega Cooperativa bor e cor característico da casta Vinhão dadores da cerveja Letra foram colegas de Ponte da Barca e Arcos de Valdevez jun- com uma frescura persistente. Francisco faculdade na Universidade do Minho, pelo taram-se para desenvolver uma trilogia de Pereira cofundador, com Filipe Macieira, que a porta à parceria já estava aberta há cervejas experimentais. O primeiro fruto da Letra e especialista cervejeiro, enaltece muito tempo. A decisão da união de es- deste casamento à minhota é um híbrido a facilidade de harmonização da cerveja. forços foi simples e rápida. “Em outubro, entre cerveja e vinho que resulta da fusão “[Pode] acompanhar os pratos intensos e falámos e dissemos que tínhamos a pos- de uma Red IPA com uvas da casta Vi- saborosos da nossa gastronomia regional, sibilidade de fazermos um vinhão com o nhão. Além deste Cervejão Vinhão Grape como um sarrabulho, mas também queijos mosto das vindimas. A recetividade foi tal Inspired, haverá uma cerveja branca, que fortes e outros de outras paragens”. que acabamos por projetar não uma, mas está em desenvolvimento, e uma stout, Foram produzidas cerca de 600 garrafas três cervejas”, conta Bruno Almeida. em fase de criação. de meio litro, com rolha típica de espu- Filipe Macieira salienta que a inovação e a fle- Em outubro de 2018, a Adega selecionou mante. O valor de cada garrafa é de 5 eu- xibilidade “foram sempre importantes” para as uvas da casta Vinhão – caracterizadas ros na loja e de 8,5 euros na restauração. a Letra. “Numa grande empresa, um novo pela cor intensa vermelho-granada, aroma A procura está a ser superior à oferta, pelo projeto demora um ano. Neste caso, demo- e sabor a frutos vermelhos e uma acidez que a venda já está a ser feita com rateio. rámos duas semanas. Por isso é que fazemos refrescante – para originar um mosto, o cerca de 60 novas cervejas por ano”. qual fermentou com o mosto cervejeiro. RECETIVIDADE TOTAL Sobre a questão regional, Filipe Macieira O Cervejão Vinhão Grape Inspired sofreu Na base da parceria entre as partes está “o salienta que não é por acaso que a Letra duas finalizações. Primeiro, uma segunda desejo de pegar numa casta difícil e pro- tem a palavra “Minhota” na assinatura. O fermentação com uma levedura vínica. Em duzir uma cerveja”, de acordo com o dire- potencial que Adega Cooperativa de Ponte segundo lugar, a adição de um lúpulo ale- tor de marketing da Adega Cooperativa de da Barca e Letra veem neste híbrido entre mão da variedade ‘hallertau blanc’. Ponte da Barca e Arcos de Valdevez, Bruno cerveja e vinho é tal que, segundo apurá- O resultado é um produto com 9% de ál- Almeida. “Aqui está”. mos, a ideia é que todos os anos possa ha- cool, aromas frutados e cítricos e um sa- O diretor de marketing da Adega e os fun- ver produções limitadas da bebida.

64 • PAIXÃO PELA CERVEJA • EDIÇÃO 5 Musa e Jameson Caskmates realizam um Casório por mês

> texto PPC > fotografias Ernesto Fonseca

Celebrar os sentidos e casar experiências é a proposta da Musa e Jameson Caskmates, que uma vez por mês, e durante nove meses, vão dar vida a uniões improváveis. Mas há mais, a Musa celebrou três anos vai abrir na Bica (Lisboa) e nas Virtudes (Porto).

A reconhecida marca de whiskey irlan- nex e Quim Albergaria, esperam-se duplas “O nosso amor pelo que fazemos já não dês Jameson tem agora duas referências improváveis de artistas portugueses para cabe nas quatro paredes da nossa casa pri- que unem a bebida ao mundo da cerveja. os próximos oito meses, divulgando talen- meira em Marvila e é por isso que em bre- Chamaram-lhe Jameson Caskmates e são tos numa fusão de sons única e irrepetível. ve abriremos as portas a mais duas casas, whiskeys envelhecidos em barris de cerve- Em simultâneo, há que desfrutar das cer- na Bica (Lisboa) e nas Virtudes (Porto).” ja artesanal, um é Stout Edition e outro é vejas artesanais Musa, proporcionando Dizem em comunicado, avançando que IPA Edition. novas experiências de consumo. as festividades começam a 18 de Maio, na E juntamente com a Cerveja Musa fizeram De salientar a Musa nasceu há três anos, a Fábrica MUSA em Marvila,passam para a nascer o projeto “Casório”, promovendo a 13 de maio, mantendo sempre um espírito Bica com a inauguração do nosso novo união entre ambas bebidas, ao estilo shot apaixonado e irreverente. A equipa cres- taproom a 1 de Junho e culminam a 15 de & beer, aliada à música. A primeira edição ceu, contando já com mais de 20 colabo- Junho no nosso - ainda muito despido - realizou-se no passado dia 5 de abril, ce- radores, e já foram produzidos mais de 30 espaço nas Virtudes, no Porto.” lebrando o “casório” também entre Moulli- tipos diferentes de cerveja. O futuro promete! Parabéns equipa Musa.

EDIÇÃO 5 • PAIXÃO PELA CERVEJA • 65 CERVEJEIROS DE PORTUGAL

Cervejeiros de Portugal debatem “Cerveja & Dieta Mediterrânica”

> texto D.R. > fotografias Shutterstock

Os Cervejeiros de Portugal dinamizaram um simpósio no XVIII Congresso de Nutrição e Alimentação, uma iniciativa da Associação Portuguesa de Nutrição, que decorreu no Centro de Congressos da Alfândega do Porto, nos dias 16 e 17, sob o mote “O Valor da Nutrição”.

Os Cervejeiros de Portugal dinamiza- à questão “Cerveja: o que a evidência nutricionista Natália Cavaleiro Costa. ram, no passado dia 17 de maio, um científica tem demonstrado?”, com a Esta foi a 18ª edição do Congresso de simpósio satélite no XVIII Congresso de presença da nutricionista e Professo- Nutrição e Alimentação, que este ano Nutrição e Alimentação, uma iniciativa ra Associada com Agregação da NOVA abordou a questão do valor da nutri- da Associação Portuguesa de Nutrição, Medical School - Faculdade de Ciên- ção. Durante dois dias, nutricionistas e que decorreu no Centro de Congressos cias Médicas, Conceição Calhau, e da outros profissionais e estudantes com da Alfândega do Porto, nos dias 16 e 17, Professora Associada na Escola Superior interesse na área da alimentação e nu- sob o mote “O Valor da Nutrição”. de Biotecnologia do Porto e Diretora do trição analisaram e debateram temas “Cerveja & Dieta Mediterrânica” foi o Centro de Investigação CBQF - Centro como a “Economia e Nutrição”, “Nutri- tema abordado neste simpósio satélite, de Biotecnologia e Química Fina, Manue- ção e Geração de Valor” e “Nutrição e o que contou com um debate dedicado la Pintado. A conversa foi moderada pela valor para as comunidades”.

66 • PAIXÃO PELA CERVEJA • EDIÇÃO 5 À mesa com Cervejas, O Mar

> texto e fotografias PPC

No passado dia 28 de maio, o restaurante Atlântico foi palco de um jantar muito especial, preparado pela arte culinária do chef Miguel Lafan, com o apoio dos mestres cervejeiros e uma sommelier de cervejas.

A cerveja foi o mote e elo de ligação, o mar es- teve sempre presente. “Queremos abrir o verão mostrando que a cerveja pode estar presente em qualquer mesa”. Não faltaram combinações im- prováveis, como cerveja com ostras, cerveja com charutos ou cerveja com música. O jantar foi or- ganizado por “À Mesa Com.” para a Confraria da Cerveja. profissionais e estudantes com interesse na área da alimentação e nutrição analisaram e debateram temas como a “Economia e Nutrição”, “Nutrição e Geração de Valor” e “Nutrição e o valor para as comunidades”.

EDIÇÃO 5 • PAIXÃO PELA CERVEJA • 67 CERVEJA E NUTRIÇÃO

68 • PAIXÃO PELA CERVEJA • EDIÇÃO 5 Pode o consumo de cerveja ser incluído numa dieta saudável! Natália Cavaleiro Costa Nutricionista > fotografia Shutterstock

Em dezembro de 2013, a UNESCO classifi- vasculares, assim como uma maior lon- Este grupo foi submetido a duas diferentes cou a Dieta Mediterrânica como Patrimó- gevidade. Posteriormente, outros estudos pesquisas: consumo de cerveja sem álcool nio Mundial e Imaterial da Humanidade. vieram atribuir mais vantagens à prática e o consumo de cerveja tradicional, nunca Portugal, apesar de não fazer parte da ba- desta dieta, como a prevenção da diabetes ultrapassando os 30g de álcool/dia para os cia do mediterrâneo, foi juntamente com e alguns tipos de cancro. homens e as 15g álcool/dia nas mulheres Itália, Chipre, Marrocos, Espanha, Grécia A questão que hoje trago para a mesa é: (400 e 200ml respectivamente). e Croácia integrado como um dos embai- será que a cerveja pode ser incluída numa Foi igualmente pedido que mantivessem os xadores desta dieta, que vai muito além da dieta saudável? Numa dieta como a medi- hábitos alimentares e de actividade física ha- alimentação ou forma de confeção. É um terrânica? bituais, não havendo qualquer intervenção estilo de vida. Haverá vantagens no consumo desta bebi- nutricional nem incremento de exercício. Trocas comerciais entre estes países vizi- da, que permitam potenciar ou agregar as Após 12 semanas, verificou-se a manuten- nhos, ao longo de vários séculos, fez com qualidades deste estilo de vida? ção do peso, assim como o perímetro ab- que houvesse também um vinculo gastro- Se olharmos para a sua origem e longe- dominal, deitando por terra o mito de que nómico que acabou por se traduzir em há- vidade, a cerveja é a bebida fermentada a cerveja faz aumentar o peso e o volume bitos alimentares. mais antiga e que sempre esteve presente abdominal. Tendo em conta a geografia, a fauna, a na nossa alimentação. Outro dado interessante foi o aumento da flora e acima de tudo o clima, esta dieta De acordo com dados epidemiológicos, capacidade antioxidante da lipoproteina tem um consumo elevado de fruta fresca os efeitos do consumo de álcool na saúde HDL (o chamado bom colesterol), dimi- e legumes da época, cereais não refina- são dose-dependentes, onde os benefícios nuindo assim os efeitos oxidativos da LDL dos e leguminosas. As carnes vermelhas são observados no consumo com mode- ( mau colesterol) e oferecendo maior pro- são consumidas muito raramente e há ração, em comparação com a abstinência tecção cardiovascular, evitando o depósito um consumo moderado de peixe, carnes ou excesso. Claro está que a exceção são lipídico nas artérias. brancas e lacticínios, na forma de queijo e as bebidas destiladas – bebidas brancas - E é aqui que voltamos à dieta mediterrâni- iogurtes essencialmente. onde existe uma grande concentração de ca, onde o vinho tinto já tem lugar cativo. As vantagens desta dieta começaram a álcool numa pequena porção. Os benefícios do seu consumo moderado ser estudadas nos anos 50 pelo fisiologis- Um artigo publicado em setembro do ano são em tudo similares à da cerveja. Assim ta americano Ancel Keys. Através de uma passado em Espanha, sob o título Impacto sendo, já vai sendo hora de incluir esta be- investigação, com base na prevalência de da Ingestão Moderada de Cerveja e Saúde bida milenar, produzida de forma natural, doenças coronárias e cardiovasculares em Cardiovascular em indivíduos com exces- por vezes até artesanal, numa alimentação sete diferentes países - Japão, Finlândia, so de peso, vem ao encontro desta ideia. e estilo de vida saudáveis. Cada vez mais há Holanda, EUA, ex-Jugoslávia, Itália e Gré- Foi convidado a participar um grupo de investigação nesta área e o caminho faz- cia -, chegou-se à conclusão que as po- indivíduos, entre os 40 e 60 anos, de am- -se precisamente por aí: desmistificando e pulações da bacia do mediterrâneo tinham bos os sexos, com excesso de peso/obe- dando provais reais, e fundamentadas, das uma menor incidência de doenças cardio- sidade, sem qualquer patologia associada. vantagens do seu consumo moderado.

EDIÇÃO 5 • PAIXÃO PELA CERVEJA • 69 ACABADAS DE CHEGAR

Bohemia Pilsener Leve e refrescante

> texto e fotografia D.R.

A Bohemia Pilsener é uma cerveja de perfil suave e foi desenvolvida para acompanhar com diferentes pratos do dia a dia, desde a famosa francesinha do norte à bifana típica portuguesa, e é perfeita para ser apreciada entre boas conversas com amigos.

Assente na experiência Cervejeira e espe- selecionados, simultaneamente em Lisboa cialmente desenhada para acompanhar e Porto, onde será possível experimentar com pratos do dia a dia e petiscos, che- a nova Bohemia Pilsener acompanhada ga agora à mesa a nova Bohemia Pilsener, de diversos petiscos, os restaurantes que uma cerveja leve, refrescante e muito ver- fazem parte da iniciativa poderão ser con- sátil, de cor clara, onde a doçura do malte sultados na respetiva coleção Zomato. equilibra o amargor do lúpulo. Há opções para todos os gostos e pen- Cerveja do estilo German Pils, inspiração sadas para os diferentes momentos de alemã do estilo Pilsener, conhecido e apre- “foodpairing”. A Bohemia Original, cerveja ciado em todo o mundo, a mais recente de cor ruiva, assume notas maltadas que novidade Bohemia chega pelas mãos do contrastam com caramelo e revelam-se mestre cervejeiro Pedro Vicente e junta- num corpo denso, vai bem com carnes -se à mesa para uma experiência cervejei- vermelhas. A Bohemia Bock, no seu tom ra ainda mais completa e inesquecível. A escuro dado pelos maltes torrados, é uma nova Bohemia Pilsener está disponível em cerveja encorpada e de amargor modera- formatos de 33cl OW e barril 30L, no canal do que vai bem com assados e estufados. Horeca, e a mesma referência em forma- Bohemia Puro Malte, uma cerveja dourada to 6 pack, na grande distribuição. Tem um elaborada apenas com malte de cevada e teor alcoólico de 5,7% e deve ser consumi- lúpulos seleccionados é uma cerveja re- da entre os 4ºC e 8ºC. frescante de amargor acentuado que vai Para o lançamento desta nova variedade, bem com aves, caça, peixe e marisco. E a marca apresenta as Tábuas Bohemia, agora, a nova Bohemia Pilsener, uma cer- uma ativação que irá decorrer em vários veja de sabor suave que vai bem com pra- momentos do ano em pontos de venda tos do dia a dia e petiscos.

70 • PAIXÃO PELO CERVEJA • EDIÇÃO 5 Nortada Bob Barley com flores de cânhamo

A Nortada apresentou a Bob Barley, a pri- ervais. Tal como as restantes cervejas da Nor- Canas, a primeira portuguesa com formação meira cerveja aromatizada com flores de tada, a Bob Barley não é filtrada nem pasteu- da escola alemã VLB. cânhamo - Cannabis Sativa L - produzida rizada, para que possa manter intactos tanto Pedro Mota, CEO da Cerveja Nortada, em Portugal. Esta edição, para além das o sabor como o aroma. Esta cerveja pretende destacou que: “Na Nortada, procuramos quatro matérias-primas base (água, malte, espelhar e reafirmar o caráter divertido, infor- sempre inovar e desafiar-nos a nós e aos lúpulo e levedura), foi aromatizada com flo- mal e o espírito jovem da marca. Para além consumidores a provar algo diferente. Foi res de cânhamo, uma planta da família do dos clássicos da marca, estas edições espe- por isso que decidimos fazer uma cerve- lúpulo. ciais como a Bob Barley são um produto do ja com cânhamo (Cannabis Sativa L), para A O resultado é uma cerveja com sabor e trabalho e da pesquisa de uma equipa de pro- criar uma cerveja com um aroma e sabor aroma distintos, de onde se realçam as notas dução orientada pela Mestre Cervejeira Diana arrojado.”

PUB

EDIÇÃO 5 • PAIXÃO PELA CERVEJA • 71 ACABADAS DE CHEGAR

Plena de leveza Coruja Hoppy Lager

> texto e fotografias D.R.

Hoppy Lager é a nova cerveja especial da gama Super Bock Coruja, mais leve e fácil de beber. O aroma cítrico, proveniente do dry hopping, evoca desde logo notas tropicais. A suavidade e leveza da cerveja que tem malte de trigo na sua composição faz com que se distinga, como uma cerveja refrescante e muito fácil de beber.

Já está disponível! A nova Coruja Hoppy Desde o lançamento, em 2018, que a Lager é adequada para o consumo em gama Super Bock Coruja tem desafiado a momentos de convívio com amigos, no- curiosidade dos consumidores para que meadamente ao final de tarde e noite. conheçam melhor o universo cervejeiro Pelo perfil, a nova cerveja Hoppy Lager e experimentem as variedades disponí- possibilita também a evolução do con- veis. Tem associado as premissas do Super sumo das cervejas tradicionais para as da Bock Group em oferecer novidade, em di- especialidade. Junta-se agora à American namizar o setor cervejeiro nacional e em Amber Lager e à India Pale Ale compon- possibilitar a melhor experiência de con- do, assim, a gama permanente de Coruja sumo, através da diversificação da oferta, que fica disponível com três cervejas de sempre com o selo de garantia e qualidade diferentes estilos e características únicas da cerveja Super Bock. em termos de intensidade, aroma e sabor. Bruno Albuquerque, diretor de Marketing Recorde-se que a American Amber Lager Cervejas Portugal do Super Bock Group, afirma-se como uma cerveja doce e onde destacou que: “A Hoppy Lager foi produ- o malte é protagonista. Quanto à India zida especialmente para trazer uma nova Pale Ale, é uma cerveja amarga e intensa variedade de cerveja ao mercado que fos- graças a uma presença maior do lúpulo. se mais muito apetecível por aqueles que A gama de cervejas especiais Coruja são preferem cervejas mais leves, refrescantes criadas pelos mestres cervejeiros do Su- e pouco amargas. Compõe a gama atual per Bock Group nas quais usam apenas de Coruja e distingue-se por ser uma cer- ingredientes de origem 100% natural e são veja mais leve, suave e refrescante para o produzidas com recurso à técnica de dry consumo no dia-a-dia. Mantém as premis- hopping que, neste caso, por ser usada em sas da marca Super Bock, ao trazer novi- grande escala, é um processo inovador e dade e inovação, o que permite continuar- inédito em Portugal. Esta técnica consiste mos a dinamizar o mercado e, neste caso no adicionar tardio do lúpulo no processo sob a chancela da gama Coruja, a oferecer de fabrico e que intensifica o aroma e a ex- diversidade no segmento das cervejas es- periência sensorial. peciais”.

72 • PAIXÃO PELO CERVEJA • EDIÇÃO 5 Trevo tem nova identidade e muitas latas!

A micro-cervejeira nacional Trevo apre- novação da nossa identidade. No último (Organic American Pale Ale), a Great Seal sentou recentemente a nova identidade ano, o nosso crescimento foi considerá- (American Pale Ale), e em toda a sua co- visual e as cervejas em lata. A marca de vel e por isso era necessário rever toda a municação. cerveja artesanal de João Brazão e dos nossa comunicação. O exercício levou- No mês passado, a micro-cervejeira na- irlandeses Mick O’Toole e Conor Boylan, -nos a fazer uma mudança de fundo”, in- cional apresentou uma nova cerveja em existe há três anos na Costa de Caparica. dica João Brazão, um dos responsáveis da lata – a Vila Caparica – e agora decidiu O projeto de rebranding foi realizado pela Trevo. apostar neste material para a sua restante Deadinbeirute em cocriação com os cer- A nova identidade, e especialmente a co- gama de produtos. A Trevo adquiriu re- vejeiros, que decidiram mudar por com- municação, exploram os conceitos de centemente uma linha de enchimento de pleto a sua imagem, mantendo algumas sorte e azar, que já faziam parte da nar- latas que vai estar disponível nas suas ins- particularidades da sua ainda recente his- rativa original da marca. Essa ideia é es- talações e também como serviço aos res- tória neste mercado de nicho. pelhada no “naming” das cervejas princi- tantes cervejeiros nacionais, esperando “Com a afirmação da marca no setor cer- pais da marca: a Rolling Dice (India Pale assim contribuir para o uso deste material vejeiro artesanal, entendemos que era a Ale), a Black Cat (Oatmeal Stout), a Lucky e permitindo a outras marcas lançarem altura certa para apostarmos numa re- Number Seven (Blonde Ale), a Jar of Stars cervejas em lata. Quinas Vila Morena assinala Rosa os 45 anos do 25 de abril

A nova Cerveja Quinas Rosa é uma ho- A Barona Brewing Company, de Marvão, menagem às mulheres de Portugal e lançou mais uma edição limitada da cerve- do mundo do séc. XXI. Trata-se de uma ja temática Vila Morena. Esta cerveja pro- cerveja do tipo lager e uma infusão de duzida em colaboração com a cervejeira ginja. Apresenta aromas a ginja e frutos Aroeira surgiu em 2017 para homenagear vermelhos, num sabor suave e ligeira- o capitão de abril Salgueiro Maia, natural mente adocicado. A garrafa exibe uma da vila Alentejana de Castelo de Vide. A Vila identidade visual delicada, um tribu- Morena é uma cerveja comemorativa do to florido que se liga à paixão, numa 25 de abril com o estilo India Brown Ale, ode ao feminino, feito sentimento de onde “o lúpulo é quem mais ordena, os- gratidão. “No grafismo podem ler-se tentando uma revolução de aromas e sa- nomes femininos, representando esta bores a citrinos e pinho”. Para equilibrar o mulher incrível, dos nossos dias, de amargor foi criada uma estrutura de maltes forma personalizada”, destacam. que lhe conferem travos de caramelo, pas- sas e biscoito.

EDIÇÃO 5 • PAIXÃO PELA CERVEJA • 73 AS MINHAS PAIXÕES

Provas às cegas ou às claras?

> fotografia Ernesto Fonseca

Cada um de nós sente sensações de maneira muito própria. Somos seres únicos. Temos sentidos igualmente únicos. E nas provas? Se em prova cega os sentidos estão mais “sintonizados”, em prova às claras Maria Helena Duarte fundadora Paixão Pela Cerveja damos vantagem ao olhar... e ao coração.

Muito se fala sobre a forma como são fei- e dura, mas sim uma valorização em ato capacidade de usar os sentidos: visão, ol- tas as avaliações de bebidas e até iguarias de consumo, por exemplo, em busca da fato e paladar. Primeiro é avaliado o aspeto gastronómicas. Se uns defendem que a harmonia com iguarias gastronómicas, já visual da cerveja, depois os aromas, os sa- prova é mais ímpar e isenta às cegas, ou- faz falta haver uma explicação extra, uma bores e o final de boca. As características tros defendem que às claras pode ser mais história, uma experimentação mais real e de cada cerveja devem estar em confor- abrangente. Como será afinal a melhor integrada, abraçando todos os sentidos e midade com o estilo que representam. Os forma de provar cervejas? sensações. Mas neste caso, já estamos na provadores têm de reunir conhecimentos O ser humano é rico em sentimentos, te- reta final de vida da cerveja: o consumo. e prática para, poderem em efetivo, trans- mos “um coração grande” dizem as gen- Há, assim, para mim, mais vantagens na mitir avaliações credíveis, que podem, até, tes. E temos mesmo. Se desejamos avaliar prova cega. condicionar o impacto nas vendas de uma uma cerveja, a nossa atenção pode pren- Quando nos sentamos para avaliar cerve- determinada marca, seja pela fraca pon- der-se, desde logo, à imagem do rótulo, jas em prova cega, já sabemos a dimensão tuação (impacto negativo) ou pela boa / ao nome, ao formato da garrafa... E mais da missão. Já estamos com o foco sinto- excelente pontuação (impacto positivo). do que isso, à história. Sim, porque todas nizado, os sentidos em ponto de partida, A prova cega é uma boa forma também as cervejas, especialmente as artesanais, prontos a seguir em frente, com o objetivo de praticar e desenvolver a potencialida- contam uma história. Então, a qualidade, único de reter cada característica, posi- de que os sentidos oferecem. Estimular os ou a falta dela, pode facilmente ser influen- tiva e/ou negativa, com vista à nota final. sentidos é crescer como provador e como ciada pelos sentimentos extras gerados no Não há distrações, não há tendências de consumidor. Saber reconhecer pontos po- momento da prova. Um rótulo bonito, ou- design, não há histórias, não há amizades, sitivos e negativos, vai proporcionar mo- sado ou irreverente, pode ser positivo para não há ídolos e nem há preferências. Há mentos de consumo mais intensos e pra- uns e negativo para outros. Se o provador apenas cerveja. zerosos. gostar de rótulos circulares de orientação Numa prova cega, as cervejas são servi- Perfeito mesmo, é quando podemos jun- clássica, pode achar logo que uma cerveja das por um critério previamente definido, tar ambas provas. Primeiro às cegas, para que apresente um rótulo de cores garridas, não há qualquer informação para além do de forma isenta, registarmos as sensações nome atrevido e cortantes inovadores, é estilo. Todas são servidas em condições transmitidas. E depois às claras, juntando uma “modernice fermentada”, mais uma adequadas de temperatura e em copos sentimentos e fatores externos. No final, o experiência do cervejeiro, e desde logo, normalizados para prova. Tem de haver gosto de cada um de nós é que irá imperar. ser levado a desvalorizar o conteúdo líqui- boa iluminação e uma temperatura am- Às cegas ou às claras: prove! Descubra do. É um simples exemplo entre as várias biente estável e agradável, água e bola- cada estilo, cada nova cerveja que vai che- combinações sensoriais. Por outro lado, chas sem sabor (tipo crackers ou similar) gando ao mercado e partilhe com os ami- se o objetivo não for uma avaliação pura para ir limpando o palato. E tem de haver a gos. Deixe-se apaixonar...

74 • PAIXÃO PELA CERVEJA • EDIÇÃO 5