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. Missoes Franciscanas no Brasil (1500/1975) Centro de Investigação e Divulgação

PUBLICAÇÕES CID MISSõES FRANCISCANAS NO BRASIL História/3

Coordenadores (1500/1975)

ARCÂNGELO R. LEONARDO BOFF

Frei Venâncio Willeke, O.F.M. do Instituto Histórico e Gooar61/co Brssllolro

Petrópolis Editora Vozes Ltda.

1974

Coedlçfto com Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil © 1974 Editora Vozes Ltda. 1675/1975 Rua Frei Luis, 100 Evocando o Tricentenário da Província Francis­ 25600 Petrópolis, Rj cana da Imaculada Conceição do Brasil, apre­ Brasil sentamos o histórico das .Missões de 1500 a como prova de que o ideal missionário 1975 de São Francisco nunca deixou de se realizar, com a graça de Deus e o sacrifício dos arautos de Cristo.

CENTRO DE HISTÓRIA FRANCISCANA Rio de janeiro

Capa: Veneração dn Santa Cruz, por frei Henrique de Coimbra em Porto Seguro a de maio de 1500. 1°

.· Prefácio

A Igreja é missionária por natureza. ' E sempre assumiu a obra da evangelização como um dever fundamental. Imitando os Após­ tolos, que deixaram propriedades e familias para seguir Jesus Cristo e, depois de Pentecostes, partir para terras distantes a pregar o Evangelho e a batizar em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, padres e religiosos, e não po cos leigos, ao longo da história da Igreja, se predispuseram , ara a diffcil ta­ refa de levar a mensagem evangélica aos ,ovos distantes. A Igreja vê nesses voluntários pessoas rnarc_?.as por especial vo­ cação • e abençoou profusamente os Institutos Missionários. E o Concílio Vaticano li, que tanto estudou a Igreja e as manei­ ras modernas de difusão do Evangelho, dedicou todo um do­ cumento, o Ad Gentes, à atividade missionária na Igreja, pro­ curando <

A Ordem Franciscana, desde os primórdios, sempre se en­ volveu do espírito missionário e se enriqueceu espiritualmente nas missões entre os não-cristãos. E não seria de esperar outra coisa de uma Ordem que nasceu ouvindo o trecho do Evangelho onde Jesus envia seus discípulos - sem dinheiro e sem baga­ gem - a anunciar a proximidade do Reino dos Céu.s. • O pró­ prio São Francisco, depois de malogradas uma viagem à Sfria, em 1212, e outra ao Marrocos, em 1213 ', foi ao Sultão Mélek­ ei-Kámel, em 1219, enviado «não por autoridade humana, mas pelo Deus Altíssimo, para lhe ensinar, a ·ele e a seu povo, o

caminho da salvação c o Evangelho da verdade». • E' comoven­ te a página que nos relata como Francisco mandou cinco de seus frades ao Marrocos, os cinco que viriam a ser os prato-

7 mártires da Ordem: «A bênção do Altíssimo desça sobre vós como desceu sobre os Apóstolos, e vos fortifique, vos guie A perseguição pombalina, em grande parte responsável pelo c atraso cultural religioso do Brasil, extinguiu de vez todas as vos console nas tribulações. Não temais, o Senhor combaterá e missões do extremo norte e do nordeste, até Alagoas inclusive. convosco. Parti em nome de Deus. E' ele que vos envia». ' E Não apenas os franciscanos so'freram com a arbitrariedade do na Regra definitiva, de 1223, sobre a qual a Providência cons­ Marquês. Todas as demais Ordens e Congregações foram im­ truiu toda a história da Ordem até os nossos dias, São Fran­ pedidas de ter noviciados no Brasil. O que significou uma de­ cisco fala diretamente das Missões, da vocação missionária . . c cadência geral. Em meados do século XIX v1eram, a conv1te do da seriedade com que os Superiores devem olhar os que pedem Governo Imperial, missionários italianos que começaram cate­ para ir aos territórios de missão. • quese, em 1870, no estado do Amazonas. Surgiram aldeias cris� tãs nos rios Madeira, Solirnões e Vaupés. Mas esta obra teve Belíssimas páginas missionárias escreveram os franciscanos existência efêmera, extinguindo-se em 1894, quando se começava nas terras do Brasil, onde foram os primeiros entre os primei­ a restauração das Províncias de Santo Antônio e da Imaculada ros missionários, cabendo a um franciscano, Frei Henrique de Conceição, reduzidas a última a um único frade, e a primeira Coimbra, celebrar a Primeira Missa na nova terra, tão simbo­ a 9, por complexas razões político-sociais. Esta mesma restau­ licamente chamada de Vera Cruz e depois Terra de Santa Cruz. ração é outro marco expressivo da alma missionária, trazendo à História das Missões Fran Invade-nos grande alegria ao lermos a � cena algumas centenas de frades alemães que, em vindo para o ciscanas Brasil, 110 escrita pelo historiador c nosso confradc Fre1 Brasil, multiplicaram aqui o espírito evangélico em escolas, co­ Venâncio Willeke, agora editada pela Editora Vozes Ltda., numa légios, igrejas e pregações populares, tendo parte ativa inclusive homenagem ao Tricentenftrio da nossa Província da Imaculada em momentos críticos da história como foram as guerras de Ca­ Conceição. Durante os quase cinco séculos, em tempo algum fal­ nudos e do Contestado, correndo estados de ponta a ponta em taram as vocações generosas para a catequese indígena, desde lombo de mula, plantando a fé e a cultura, a educação e a alma a famosa cena imortalizada por V ítor Meirelles no Quadro da pacífica, hoje característica do povo brasileiro. Primeira Missa e descrita com tanto gosto por Pero Vaz de Caminha •, até as atuais missões entre os Tiriyó na Serra do Restauradas as duas Províncias, em 1901, a Santa Sé con­ Tumucumaque, no Pará. fiou aos franciscanos a Prelazia de Santarém do Pará, onde, em 1911, fundaram a missão entre os índios Mundurucu, ainda hoje No século XVI prevaleceram as missões avulsas de missio­ florescente. Em 1964, a Província de Santo Antônio aceitou, em caráter definitivo, a catequese entre os Tiriyó e os Caxúyana. nários vindos de Portugal, Espanha c Itália, até que, em 1585, se instalou a Custódia de Santo Antônio, com sede em Olinda, dando à catequese novos impulsos, sobretudo entre as tribos Po­ O número das missões, desde o descobrimento do Brasil até tiguara, Tobajara e Caeté. Essa fase missionária mereceu a aten­ o presente, eleva-se a mais ou menos 140, tendo algumas con­ ção especial dos cronistas franciscanos Frei Vicente elo Salvador, tado com um século e meio de assistência franciscana. Ao menos Frei Manuel da Ilha, Frei Apolinário da Conceição e Frei An­ seis missionários foram martirizados, a começar com os ?roto­ tônio de Santa Maria jaboatão. O maior contingente de missio­ mártires de Porto Seguro, por volta de 1518. nários, porém, entrou em ação em fins do século XVII, após a História das Missões - além de ser um sério e bem criação das Províncias Franciscanas da Imaculada Conceição e Esta documentado estudo histórico - vem muito a propósito no mo­ de Santo Antônio. A estas se acrescentam três comissariados na mento em que alguns setores da opinião pública brasileira le­ Amazônia, de modo que, em meados do século XVIII, havia vantam objeções à atividade missionária, tentando mesmo bloquear mais de 50 missões franciscanas em to.do o Brasil, cabendo 26 o acesso aos indígenas no pretexto de salvaguardar suas cul­ destas à Amazônia com mais de cem religiosos catequistas entre turas e proteger sua sadia ingenuidade. Ora, a ve� adeira missão os silvícolas do Maranhão e do Pará. não destrói, acrescenta. A Igreja lembra no ConciliO:� «Qualquer

8 9 um que se vai aproximar dalgum povo deve ter em grande estima seu patrimônio, línguas e costumes». •• E a Liturgia reformada tem condições de levar em conta - e até conservar intactos - todos os elementos culturais e cultuais autóctones que melhor Sumário exprimam a situação do homem diante de Deus", pois sua mis­ são não é ideológica, mas a de ser sal e luz 12 que conserve, ilumine e renove toda a criatura «para que tudo seja restaurado em Cristo, c Nele os homens constituam uma só familia e um só povo de Deus». 12

Frei Clarêncio Neotti, O.F.M. Prefácio, 7 Introdução, 15

MISSOES ESPORADICAS 1500·1585 I.

A primeira Missa no Brasil, 19 1 2. Os Protomártires 1. NOTAS do Brasil, 21 I 3. Segunda Missão de Porto Seguro - Rio do Frade, 25 I Outro Rio do Frade, 26 1 5. Os primeiros . 4. ' Ad Oentes, :!. Franc1scanos em Salvador, 26 1 6. A Missão entre os • Ad Oentcs, 23.I. Carijó de Mbyaçá, 27 Ermitão e Missionário, 29 • Ad Oentes, I; 7. Legenda Maior, cap. 111, Tomás de Celano, VIla Prima, 1 • Silo Bonvcnturn, 1208, 46. I 8. Frei Alvaro da Purificação, 30 1 9. Franciscanos cap. IX; Waddlng, Annatcs Mlrromm, ad an n. XX. I Legenda Maior, cap. 5; Celano, Vlta Prima, cap. espanhóis em Salvador e S. Paulo, • Sllo Donventurn, IX,IX, 8; Annales Mlnorum, ad 30 I • Boaventura, Legenda Maior, cap. Waddlng, 121�,Slo an n. 324. 1219, / ' Waddlng, Arwates Allnorum ad an n. 319. Esser. • Os Escritos de Silo Francisco, trad. do texto preparado por Kajetan MISSOES DA CUSTóDIA Petrópolis p. 107. 11. Editorn Vozes, l!l70, D. 1929, 47-49. DE SANTO ANTONIO • Pero Vaz de Caminha, Carta a E/ Rei Manuel. Ed. S.D., Rio p. 1585-1619 10 Ad Dentes, I 26.Concil/um, e I u Sacrosanctum 37 38. u un ação da Custódia e nomeação do Custódio, 1 Mt 5,13-14. I. I. . 34 10 Oentes, 2. Mtssoes� � Franc1scanas em particular, 36 a) Olinda, Ad 1 36 I b) Igaraçu, I c) Goiana, I d) São Miguel 39 40 do n , I e) Porto de Pedras, f) Paralba, 45 � 44 1 1 3. M1sstonanoslJ ��. de Destaque, 53 1 a) Frei Bernardino das Neves, 53 I b) Frei Manuel da Piedade, 55 c) Frei 1 Francisco do Rosário, 57 1 d) A serviço da Cruz e da Espada, I Praxe Missionária, 61 1 Epllogo, 60 4. 5. 68 I 6. Documentos, 75

MISSOES DA PROVINCIA 111. DE SANTO ANTONIO 1679-1863

Introdução, 79 I 2. Localização dos aldeamentos 81 1. 1 3. Missões de Pernambuco, Alagoas e Paralba, , 1 4. 83 Missões da Bahia e do Piauí, 86 1 5. Mlssõe11 e missionários em particular, 87 1 a) N. S. dnR Orutoa do juazeiro, I b) Bom Jesus da Glória dn jncobinn, 93 87 1

11 10 c) O santo Missionário da jacobina, 97 f 6. A Capela VIII. MISSAO TIRIYó da Missão, 99 1 7. O Missionário, 103 I 8. Sustento 107 109 i das Missões, 1 9. Sucesso e decadência, 1. O longo caminho dos preparativos 187 I 2. O Tr nômio , e a base econômica da Missão Tiriyó, 188 1 3. A Catequese, 190 IV. MISSõES DA PROVINCIA DA IMACULADA CONCEIÇAO 1692·1830 Epílogo, 193 Introdução, 116 1 1. São João de Peruíbe (1692-1803), 119 1 2. São Miguel Paulista (1698-1803), 120 I 3. Santo Bibliografia, 194 Antônio dos Guarulhos (1699-1758), 121 I 4. N. S. da Escada (1734-1804), 122 1 5. Cachoeira, Pedra e Tabatinga, 128 1 6. Aldeias elo Rio Grande do Sul, 129 I íNDICES 7. Missões esporádicas, 131 lndice das Missões, 197 1 índice das Tribos, 198 I lndice onomástico, 199 V. MISSõES DO MARANHÃO E DO PARA 1. Precursores da Custódia, 135 I a) Frei Francisco do Rosário, 135 1 b) Dois Capelães .Militares no .Maranhão, íNDICE DAS ILUSTRAÇõES 136 1 2. Comissariado de Santo Antônio elo Grão-Pará, 137 1 a) Comissariado, 137 1 b) O Comissariado passa a Missões avulsas 1500-1583 (mapa), 22 1 2. Missões I. Custódia, 140 1 c) Custodiato de Frei Cristóvão de Lisboa, ela Custódia 1586-1619 (mapa), 46 I 3. A Senhora elas 140 1 Em Olinda, 142 I No Ceará, 143 I No Maranhão, Grotas (Juazeiro), 90 I 4. Planta baixa da Missão 143 1 No Pará, 144 1 Jornada Missionária, 145 I Visitas de Jacobina, 101 I 5. Missão de S. Francisco elo Cururu, Pastorais, 146 1 Resgates, 147 I Lu ta incessante, 148 I cl) 173 I 6. Recôncavo elo Tumucumaque com a Missão Sucessores ele Frei Cristóvão de Lisboa, 150 I 3. Tiriyó (mapa), 189 I 7. Planta da missão Comissariado dn Piedade, 152 1 4. Comissariado ela e da aldeia Tiriyó, 191 Conceição, 153 1 Ap�ndicc - Missionários escritores, 155

VI. MISSõES DO AMAZONAS 1870-1894 \

158 160 Introdução, 1 1. Missão Regular (1870-1877), I 2. Prefeitura Missjonária (1877-1894), 163 I a) Prefeitura 'de Frei Machetti (1877-1890), 163 1 b) Medidas do Visitador Geral, 165 1 c) Gestão de Frei Anacleto Sonsini (1890-91), 165 1 d) Nova Gestão de Frei Machetti (1891-94), 166 I Epílogo, 166

VII. MISSAO DE S. FRANCISCO DO RIO CURURU

Introdução, 171 1 1. Rumo a Capicpi, 172 I 2. Começo da Missão, 174 1 3. Novos J\•\issionários e Novos Impulsos, 175 1 4. Mudança da Missão, 176 I 5. A Epidemia e a Morte de Fr. Bonifácio, 177 1 6. A Criação 178 de Gado e o Desenvolvimento da Agricultura, I 7. Visitas Imporhlntes, 178 1 8. Fatos dignos de Destaque, 178 1 9. A Catequese, 180 1 10. Estatística, 181 1 11. Outros Resultados, 182 I 12. Irmãs Missionárias, 184 I 13. Nova Direção, 184

12 13 Introdução

obra missionária representa o último desejo de Cristo aos seus Após­ A tolos: «

15 e prelados religiosos, resolvendo com a sua mesa de Consciência as A província da Imaculada Conceição, criada em 1675, com sede no dificuldades e questões do plano espiritual e consultando na corte a Rio de janeiro, encarregou-se principalmente de missões volantes, entre junta das Missões sobre a obra missionária. os silvícolas das capitanias do Rio de janeiro e São Paulo, estendendo­ E', pois, impossível compreender as missões isoladas da adminis­ as até o Rio Grande do Sul e ao Uruguai, até que em começos elo tração e legislação régias, uma vez que não figuravam apenas como século XIX foram paralisadas por falta de missionários. fenômeno particular de uma ou outra Ordem religiosa, mas sim como No Amazonas, surgiram ainda os comissariados da Piedade, em ponto substancial do programa político-religioso de «dilatar a fé e o e da Imaculada Conceição, em cujas missões foram pratica­ 1692, 1705, império�. mente extintas em meados do século XVIII. Antes de abordarmos o assunto das missões franciscanas do Brasil De 1870 a 1894, franciscanos italianos mantiveram missões na pro­ quinhentista, convém fazer uma advertência geral sobre as crônicas víncia do Amazonas. missionárias daquela época. Os cronistas das ordens religiosas descre­ Incumbida da prelazia de Santarém no Parâ, a provincia de S. viam, com demasiado otimismo, o desenvolvimento inicial da catequese. Antônio fundou, em 1911, a missão de São Francisco, entre os indios Com o primeiro entusiasmo que animava os religiosos em terras de Mundurucu, e a partir de 1964 assumiu definitivamente a catequese missões, apareciam também imprudências, indiscrições, rivalidades e dis­ entre os Tiriyó, na prelazia de Obidos, prosseguindo ambas as missões córdias com os membros vizinhos de outras ordens. Daí os litigios até o presente. freqüentes entre os missionários dos vários institutos, a encontrarem Sobre as atividades missionárias desenvolvidas de 1500 até hoje, eco nas crônicas que defendem ardorosamente os reais ou supostos informam as páginas seguintes, enquanto a escassa documentação permite. direitos da própria ordem, realçando as boas qualidades dos confra­ des, os seus métodos e sucessos na conversão dos pagãos, e silen­ ciando ou até diminuindo os direitos e sucessos ou exagerando os •• • • I defeitos e erros dos «concorrentes», para não dizer adversários, tanto I civis como eclesiásticos. Agradeço a valiosa colaboração prestada a este trabalho pelos ami­ A missionologia moderna procura libertar-se desta falta de obje­ gos e confrades .Pe. Raimundo Nonato Pinheiro, Manaus; Frei Matias tividade, substituindo, a um tempo, o estilo apologético dos historia­ Kiemen, Washington; Pe. Arlindo Rubert, Roma; João Santos, Santarém; dores, até há pouco em voga, pela exposição crítica e realista. Nem Frei Humberto Puetter, Salvador; Frei Floriano Surian, Frei Alban·o ) todos os missionólogos se conformam com os postulados da critica mo­ Marciniscyn e Otávio K. B. de Bezerra, Rio de janeiro; Frei Aurélio derna que não silencia o lado humano e fraco na sublime obra da Stulzer, Niterói, e Frei Angélico Mielert, Missão Tiriyó. propagação da fé. Entretanto, o próprio Evangelho nos serve de mo­ De modo especial, consigno a contribuição do primeiro Ministro ./ I delo, quando perpetua quedas desastrosas e fraquezas outras na inci­ Geral brasileiro, Pe. Dr. Frei Constantino Koser, O.F.M., o qual fran­ piente Igreja e até entre os apóstolos. E Leão XIII, abrindo aos es­ queou o material do arquivo geral de Roma, referente à missão de tudiosos os arquivos do Vaticano (em 1883), proclamava como lei Manaus, e favoreceu a fundação do Centro de História Franciscana do fundamental do historiador: cNão dizer nada de falso, nem silenciar Brasil, no Rio de janeiro, garantindo assim o prosseguimento das pes­ nada de verdadeiro:.. quisas históricas sobre o passado quase cinco vezes secular da Ordem na Terra de Vera Cruz.

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De 1500 a 1549, os franciscanos foram os umcos m1ss•onanos do Brasil. Como porém a sua cateques� não obedecesse a um plano pré­ concebido, nem tivesse continuidade ininterrupta, deixou de surtir resul­ tados duradouros. De 1585 a 1619, a custódia de S. Antônio, com sede em Olinda, estendeu a evangelização dos índios da Paraíba até às Alagoas e na capitania do Espírito Santb. Em 1617, criou-se o comissariado de S. Antônio no Grão-Pará, o qual, ·em 1624, foi promovido a custódia, recebendo como primeiro cus­ tódio Frei Cristóvão de Lisboa. Elevada a custódia de Olinda à província em 1657, recebeu novas missões, entre a Bahia e a Paraíba, mantendo-as em parte até meados do século XIX.

16 17 I I I Missões Esporádicas 1500/1585

I. A PRIMEIRA MISSA NO BRASIL

Corria o dia 8 de março de 1500, primeiro domingo da quaresma. O tempo de penitência não impedia a solenidade da procissão de relíquias e cruzes que levava Pedro Alvares Cabral e seus companheiros ao lugar do embarque. A esse préstito religioso presidiam as autoridades eclesiásticas representadas pelo bispo, cabido e clero e a civil pelo próprio Dom Manuel I, com sua corte real, enquanto Lisboa em peso dava um saudoso adeus aos 1.500 patrícios incumbidos de «dilatar a fé e o império», segundo rezava o lema português. Aos sons da música marcial e dos cânticos sagrados, diri­ gia-se o longo cortejo até às 13 velas, das quais conhecemos apenas a nau sotacapitânia «EI-Rei», a caravela redonda de bombarda grossa «São Pedro» e a caravela redonda mercante «Nossa Senhora Anunciada». Cabral entregava toda a difícil empresa da expedição ao patrocínio de N. S. da Esperança, cuja imagem levava consigo, quando no dia 9 de março ini­ ciaram a demorada jornada marítima. Iam na armada nove padres do clero secular, cujos nomes ignoramos, e oito franciscanos chefiados por Frei Henrique Soa­ res de Coimbra. 1 O destino de todos esses clérigos era a fndia. Quis porém a Providência que primeiramente participassem de um acontecimento único e inesperado. Eis que na terça-feira da Páscoa, dia 21 de abril, aparece uma novidade inaudita: nas ondas do mar flutuam ervas como sinais de terra vizinha, e no dia seguinte, à hora da véspera, ergue-se à grande distância um monte que Alvares Cabral, na viva lembrança da ressurrei­ ção, há pouco festejada, apelida espontaneamente MoNTE PAs­ COAL, enquanto a terra, aos poucos visível e a evocar a semann santa, recebe o nome TERRA DE VERA CRUZ. ' l 19 I Aos 24 de abril, a armada entrou na baía de Porto Seguro, 2. OS PROTOMARTIRES DO BRASIL quatro léguas da atual cidade homônima, onde ficaram até dois de maio para tomarem contactos com os índios Tupiniquim. J ' Ao ensejo do descobrimento do Brasil, a religião católica se Neste primeiro encontro de representantes de duas raças, tive­ apresentou aos silvícolas baianos por meio de sinais, cerimô­ ram os nativos · ensejo de apreciar a bordo as mostras de luxo nias e exemplos edificantes dos portugueses atraindo-lhes a aten­ e nobreza como símbolos da autoridade e provas de uma cultura ção para as belezas do culto divino. Entretanto, a rápida pas- . superior. Mas os filhos da selva ficaram insensíveis preferindo sagem dos descobridores pela Baía Cabrália não permitiu a e valorizando mais a cerimônia do domingo da pascoela que catequese ou implantação da fé cristã, ficando esta reservada Frei Henrique e seus companheiros celebravam no ilhéu da Coroa à segunda turma missionária franciscana composta de apenas Vermelha, na presença de cristãos e pagãos : a primeira missa dois religiosos e cujos nomes não constam. . ', do Brasil. Foi provavelmente a conselho de Frei Henrique de Coimbra , Pero Vaz de Caminha afirma que a missa «foi ouvida por que Dom Manuel 1, em 1516, mandou os primeiros catequistas seráficos para Porto Seguro. Mas. por que motivo a coroa todos com muito prazer e devoção», inclusive portanto os índios • que atentamente observavam as sagradas cerimônias e escutavam lusitana teria protelado a conversão dos Tupiniquim, uma vez as estranhas melodias, imitando fielmente os gestos dos portu­ que a carta de Caminha tanto insistira neste ponto? Porque antes de tudo convinha a El-Rei mandar estudar o tamanho/ gueses. E não satisfeitos com a participação passiva na santa e as condições da nova conquista. Passou, pois, a primeira dé-· liturgia, os Tupiniquim se levantaram em dado momento, dan­ cada do século XVI, sem ser estabelecida qualquer colônia no çando ao som de sua música primitiva, prestando a Deus a sua Brasil, senão alguma fortaleza como a de Cabo Frio, por Ves­ bem intencionada homenagem e dando provas de quanto lhes púcio (1501-1502). agradara o culto divino celebrado pelos brancos. Ignorando embora a data exata da vinda dos missionários, Cumprindo em seguida o mandato missionário de Cristo, sabemos no entanto que não se deu antes de 1516, nem depois Frei Henrique iniciou a infinda série de arautos da boa-nova, de 1521, ano este da morte de O. Manuel I, visto que ele, em pregando o primeiro sermão na Terra ele Vera Cruz, cujos ecos virtude do padroado, mandou os franciscanos portugueses. se repetem, até o presente, nas selvas da Amazônia. As fontes mais seguras são as cartas jesuíticas de 1550,

A 19 de maio de 1500, os Tupiniquim tiveram ocasião de tendo ainda a prerrogativa de não falarem pro domo •, e ser­ presenciar outro majestoso cenário com o levantamento da cruz vindo de base a quase todos os historiadores elos séculos se­ que eles próprios haviam carregado até o local do altar seguin­ guintes, porque os arquivos franciscanos ele Portugal, até então do-se o augusto sacrifício como remota iniciação nas belezas muito deficientes, foram organizados apenas em fins do século do culto cristão ao Deus verdadeiro. Pois, embora ignorassem XVI ou no incipiente século XVII. o profundo sentido das cerimônias sagradas e do subseqüente Historicamente consta que, por volta de 1516, chegaram a sermão do franciscano, ao menos terão adivinhado que devia Porto Seguro dois missionários da província de São Francisco tratar-se de coisa sublime e nunca antes apreciada. de Portugal, desenvolvendo em breve uma catequese exemplar Segundo atesta Frei Vicente do Salvador, os primeiros fran­ entre os Tupiniquim e prestando assistência espiritual aos colo­ ciscanos teriam cogitado em se demorar em Porto Seguro para nos, soldados e degredados lusos. Os franciscanos construiram se de.dicarem à catequese dos indígenas; mas Pedro Alvares Ca­ para o culto divino a primeira igreja do Brasil, dedicando--a bral teria urgido a ordem régia de todos os sacerdotes e religio­ provavelmente a São Francisco de Assis. Deveriam ter passado sos seguirem para a fndia, como de fato aconteceu. ' mais ou menos dois anos quando numerosos índios receberam a água batismal, depois de bem instruídos na doutrina crislfi l' prontos para renunciar aos costumes e cultos incompalívcis co111 a nova religião.

lU 21 Pelo prazo mínimo necessário para a devida instrução re­ ligiosa dos Tupiniquim, ou sejam dois anos, podemos concluir

M ISSIONÂRIOS AVULSOS · que o martírio não terá sido anterior a 1518. De fato, convém neste ponto também os autores que remontam o princípio da 1500-1583 catequese à primeira década quinhentista. Os missionários viam os seus labores bem remunerados peJo· êxito espiritual entre os silvícolas; pois a fé chegada ao Brasil em 1500 começara a criar raízes nos corações dos indígenas. O primeiro núcleo cristão entre os índios da Terra de Vera Cruz justificava as mais fagueiras esperanças. Mas também as forças elo mal estavam agindo. Colonos gananciosos exploravam e oprimiam os ingênuos . Tupiniquim e como a maldade desumana não conhecesse limites, os índios tra­ 1534 1583 taram de vingar-se, marcando uma feira de Porto Seguro para extermínio de toda a colônia lusa, sem excetuarem os inocentes

Porto Seguro missionários. Pelo contrário, iriam encetar o morticínio justa­ 1500 mente na igreja de São Francisco, vestindo em seguida os há­ 1516 bitos dos protomártires e dirigindo-se para a feira onde dariam o 1548 sinal de ataque geral aos demais Tupiniquim armados e escondidos. Guardado o mais rigoroso segredo sobre o horroroso plano, conseguiram os índios exterminar a colônia portuguesa. Apenas com a chegada dos jesuítas, foi possível aos 20 a 30 Tupiniquim

batizados e sobreviventes narrarem a pavorosa vingança e elo­ giarem a fervorosa atividade missionária de seus primeiros guias espirituais. O Pe. Nóbrega, S.J., transmitiu a notícia do massacre que o Pe. Anchieta mais tarde confirmou. Eis os tópicos mais

importantes da missiva de Nóbrega • :

«Neste Porto Seguro e nos Ilhéus, encontrei certa gente que vem a ser da casta Tupiniquim, entre os quais existem muitos dos nossos LEGENDA e dos naturais, ainda que dos cristãos tenham muitos maus exemplos e escândalos; e parece-me gente mais mansa que a da Bahia e se mostram ... Stnlldo do PtnetraçCo sempre amigos. E entre esses há cerca de vinte a trinta cristãos, e - llmll.. atuais dos Estado• alguns foram batizados por certos padres que mandou a boa memória del-Rei D. Manuel a este pais, os quais padres foram mortos por culpa dos mesmos cristãos, segundo ouvi:.. O primeiro cronista franciscano português a mencionar os confrades protomártires é Frei Manuel da Ilha citando o teste­ munho de um colono, segundo constava no arquivo provincial de Lisboa. O colono, um dos mais antigos de Porto Seguro, Já teve notícia da ótima reputação dos dois missionários cruel­ mente trucidados pelos pagãos, a quem eles ensinavam a dou­ trina católica. ' 22 23 O Pe. Anchieta relata um epílogo interessante: Não satis­ Os autores antigos não são unânimes em seus juízos, ale� gando Ilha, Cardoso e Soledade como razão do martírio fran­ feitos com o massacre perpetrado na feira, os Tupiniquim ten­ taram iludir um navio que passava perto de Porto Seguro. Pois ciscano a influência do demônio invejoso do êxito missionário entre os Tupiniquim. Se essa hipótese equivaler a maquinações os índios revestidos de hábitos franciscanos andaram pela praia, dos pajés e dos índios pagãos contra a própria religião cató­ fingindo com os breviários nas mãos a recitação do divino oficio lica, poderemos falar de genuínos mártires. e esperando destarte aliciar a tripulação a fim de provocar outro morticínio, o que porém malogrou. • jarric e Maffei ", que confundem esse grupo de missionários A data do martírio franciscano já não se pode calcular. O com outro de franciscanos italianos, atribuem o massacre aos dia 19 de junho indicado no Agiológio Lusitano de Jorge Car­ poucos conhecimentos lingüísticos dos mesmos religiosos, o que doso não pretende fixar a data histórica, e sim encaixar o fato, não passa de absurdo. O Pe. Anchieta cita o ódio dos Tupini­ ao modo do martirológio. Nem os anos de 1503-1505 referidos quim contra todos os portugueses. por Ilha e, quanto ele afirma, testemunhados pelos índios pro­ Embora não haja explicação satisfatória, à falta de documen­ vam qualquer prazo definido porque os silvícolas desconheciam tação suficiente, o termo «protomártires» generalizou-se há sé­ conceitos exatos do tempo, no sentido moderno. • culos. O que porém mais nos interessa é que a obra catequética A exploração da costa brasileira deve ter principiado, a iniciada, em 1516, não se perdeu entre os índios de Porto Se­ partir de 1516, porque foi nesse ano que D. Manuel I decretou guro, com o massacre de 1518. Pois os Tupiniquim convertidos a distribuição gratuita de machados e· enxadas a todos os por­ permaneceram fiéis à doutrina herdada de seus abarés francis­ tugueses dispostos a povoarem o Brasil. lO Aqui se trata prova­ canos, aceitando trinta anos depois a direção espiritual dos ina­ velmente do início da colonização e da catequese franciscana cianos e constituindo o primeiro núcleo de indígenas cristãos entre os Tupiniquim. " Antes de 1516, não terá existido qualquer elo Brasil. colônia, em Porto Seguro, que usurpasse os direitos humanos dos Tupiniquim e experimentasse a sangrenta vingança. De qualquer modo, o apostolado missionário dos francis­ 3. SEGUNDA MISSÃO DE PORTO canos, o estudo da língua indígena, o catecumenato e a cons­ SEGURO-RIO DO FRADE trução da igreja de Porto Seguro reclamavam ao menos dois anos até que os primeiros catecúmenos pudessem receber o batismo. Já foi mencionada a missão de franciscanos italianos igualmente A inocência dos mártires franciscanos é atestada pelo Pe. estabelecida em Porto Seguro e que Anchieta considera idêntica Nóbrega, o qual acusa os Tupiniquim por serem «bestiais e tão à dos protomártires. Por isso tratamos dela, desde logo, inter­ cruéis qtie matam até aqueles que não lhes fizeram mal, como rompendo a ordem cronológica. clérigos, religiosos e mulheres». ,. Não há quem explique por que os religiosos italianos es­ Visto que os protomártires desempenham papel importante colheram justamente o Brasil como seu campo de ação pastoral. na missionologia brasileira, ocuparam-se deles muitos autores, Talvez os mapas contemporâneos dos exploradores como Ves­ sem no entanto se limitarem aos dados estritamente históricos. púcio chamassem a atenção dos frades ou o recente projeto Daí as muitas versões diferentes e as contradições inevitáveis, missionário dos jesuítas lhes despertasse o desejo de doutrinar desde que entraram produtos de fantasia onde faltassem notícias os índios. objetivas. Retificando o erro de Anchieta, expõe o Pc. Nóbrega ": Resta elucidar se os dois frades menores de fato podem ser considerados mártires, no sentido canônico. O motivo do «Chegaram aqui dois padres de S. Antônio, os quais estiveram nl­ guns meses neste Porto Seguro e deixaram de si muito bom exemplo morticínio parece ter sido um só para colonos c missionários, i. é, a vingança da injustiça recebida, embora os franciscanos c grande nome pelas suas virtudes e eram italianos; mas, querendo fossem inocentes e não respondessem pela maldade de seus con­ passar para além, para os gentios, desejosos de sofrerem pela fé, a umas dez milhas daqui, um deles se afogou em um rio ... :.. terrâneos.

24 25 A pouca demora elos missionários em Porto Seguro ainda esclarece o fato de não terem aprendido o idioma indlgena. 6. A MISSÃO ENTRE OS CARIJO DE MBYAÇA Pois um deles lia aos Tupiniquim o evangelho em latim, res­ Como primeiro r ú leo cristão do Brasil, mereceu Porto Seguro pondendo aos colonos que por isso o criticavam : «Palavra de . . � � . Deus é ela; tem virtude para obrar neles». a assrstêncra rehgrosa dos francrscanos c jesultas. Mas, antes q re a Co p nhia de Jesus a eitasse a catequese entre os Tupi­ Procurando outra tribo, ao sul de Porto Seguro, os fran­ � . � � : . mqurm, mrss10nou outros rnd1os,, Já convertidos pelos filhos de ciscanos já haviam passado os rios Tororan, Maniape e Uru­ São Francisco. Trata-se dos Carijó de Mbyaçá, em Santa Ca­ buguape quando um deles se afogou no próximo rio, que desde tarina, centro catequético da chamada Província de Jesus, onde então se chama «Rio do Frade». O outro missionário voltou cerca de 20.000 Carijó haviam recebido o batismo. " para a Europa. •• Esta missão deve a sua origem (1537) a Frei Bernardo de Armenta e Frei Alonso Lebron, com outros três confrades 4. OUTRO RIO DO FRADE espanhóis! �ujos n?mes não foram transmitidos. � · Tendo vindo na expedrçao de Alvar de Cabrera, com destino\� ao Prata, so­ Na capitania de São Vicente, existe outro Rio do Frade que freram naufrágio e refugiaram-se na região elos rijó ... Como levou o cronista Frei jaboatão a parafrasear o caso do sul baiano. faltasse qualquer expectativa de prosseguirem vi gem, começa­ O que não se nega é que dois franciscanos portugueses, em ram os religiosos a doutrinar os pagãos de Mb açá, pedindo a colaboração d intérp etes espanhóis d zona aproveitando­ 1530, vieram com a expedição de Martim Afonso de Sousa para � � . �. c São Vicente; pois confirmam-no as fontes jesuíticas dizendo se da oportuna mtroduçao fe1ta pelo CanJÓ por n me Etiguara. que, antes deles, outros missionários 1<1 trabalharam. Pois este índio carismático dispusera os patrícios, desde há muito, para a missão dando-lhes normas de uma vida morigerada e E' porém mais que duvidoso o que somente Jaboatão conta recomendando-lhes que recebessem os mensageiros de Tupan baseado sobre um documento de fins do século XVII, enquanto como amigos. O progresso da catequese foi tal que os francis­ os jesuítas como contemporâneos e sucessores dos franciscanos o canos mantinham até dois internatos em Mbyaçá, um para mo­ ignoram, i. é, que um dos frades ao atravessar o rio teria sido ços e outro para moças, tanto para a instrução como para a flechado por um índio levado pelas ondas. O nome do rio c .. formação cristã mais profunda. " pode significar qualquer referência a um religioso, sem ser justa­ E' a esta tribo que Nóbrega se refere com os seguinteg mente a morte de um missionário. " elogios .. :

«Este é um dos melhores gentios que há nesta costa aos quais ' 5. OS PRIMEIROS FRANCISCANOS EM SALVADOR for�m, não faz muito tempo, dois frades castelhanos para os ensinar; e tao bem tomaram a sua doutrina que já tinham casas de recolhimento Seguindo novamente a ordem cronológica elas missões, voltamos para mulheres, como de freiras, e outra de homens, como de frades. isto durou muito tempo, até que o demônio levou para lá um navio E ao ano de 1534, quando a frota de Martim Afonso de Sousa, de bandidos e capturaram bom número deles:.. a caminho da lndia, foi desviada da rota costumeira pela tem­ pestade, procurando abrigo no porto de Salvador. Não consta Com os jovens internos queria Frei Bernardo criar a base quanto tempo terá ficado na Bahia e qual a missão desempe­ para uma comunidade cristã modelar. Em carta dirigida ao rei

nhada pelos franciscanos que iam a bordo, com destino para a de Espanha, confirma o frade o conceito do Pe. Nóbrega .. : lndia. O certo é que assistiram aos casamentos de duas filhas logo os ditos índios nos pediram que os doutrinássemos, nas de Diogo Alvares Correia, o Caramuru, e terão prestado todos . «E cotsas da nossa santa fé católica; pois, desejavam muito ser cristãos os socorros espirituais que a ocasião aconselhava e os baianos , e hav�ndo tão boa disposição, assim da parte elos índios como por solicitavam. . haver mtérpretes com quem efetuar o nosso desejo ensinamos a muitos deles o que lhes era necessário para receberem o batismo. Não bã 26 27 dúvida que Deus, em pouco tempo, realizou grandes coisas nos seus O Pe. Nóbrega não só aceitou a m1ssao, mas insistiu tam­ corações, conforme mostravam as obras. Pois, o que com grande difi­ bém com o governo para que os Carijó escravizados fossem res­ culdade e com longo decurso de tempo é abandonado pelos infiéis, estes em poucos meses o abandonaram, em particular, o uso que há entre litufdos à sua terra, terminando a carta: «pois, disto depende eles de terem muitas mulheres parentes como sejam irmãs-sobrinhas c tanto a paz e conversão deste gentio». " primas. Em conseqií�ncia de noss:t pregação, todos ficaram com uma Os jesuíta não hesitaram em reconhecer o meritório apos­ só e que não fosse parent:t ; e lhes proibimos que comessem carne � humana, o que tudo cumpriram, como se disse, para receberem o santo tolado ele Fret Bernardo de Armenta e Frei Alonso Lebron, batismo e serem cristãos�. promov:nclo ademais a libertação dos Carijó, a sua restituição ao forrao natal e o prosseguimento da missão de Mbyaçá pelo Entretanto, os missionários não se contentaram com o fun­ Pe. Leonardo Nunes, S.j. damento espiritual, promovendo a um tempo a colonização, se­ gundo informa uma carta de Frei Bernardo dirigida, a 19-V-1538, \ ao Dr. juan Berna! Diaz de Lugo, solicitando o superior a in­ 7. ERMITÃO E MISSIONARIO tervenção do destinatário, para obter outros doze confrades da Andaluzia e da província dos santos Anjos e pedindo campo­ No Espírito Santo, existe o famoso santuário mariano da Penha, neses, em lugar de soldados, e animais, trigo, instrumentos agríco­ cujos primórdios remontam a 1570, como simples capela votiva las e engenhos de açúcar, com técnicos peritos . constr�ída por Fre Pedro Palácios, O.F.M. Esse irmão espa­ • � Para provar que o auxilio requerido será bem (t til afirma nhol vtera ao Brasil, provavelmente sob influência de S. Pedro Frei Bernardo a melhor disposição dos Carijó, visto que já agora de Alcântara, para reunir ao ideal missionário o eremftico. Pois fornecem seus produtos para Buenos Aires, recusando porém os pertencia à custódia portuguesa da Arrábida, cujos religiosos se soldados, por causa ela vida leviana e do escândalo. A carta entregavam de preferência à vida de penitência em eremitérios. Cumprindo o duplo encargo no Brasil, Frei Palácios tornou-se o ficou sem resposta porque não chegou ao destinatário. u mais célebre de todos os franciscanos do século XVI. Enquanto a missão progredia a olhos vistos, três confracles cederam, em meados de 1538, à ordem de Cabrera seguindo com Desembarcando em Salvador, em data hoje desconhecida ele para Buenos Aires, justamente quando as visitas a tribos Frei Pedro pediu aos jesuítas as instruções necessárias para � distantes requeriam maior número de obreiros evangélicos. Em desempenho da catequese; e tanto impressionou os filhos de S. 1541, até os fundadores Frei Bernardo e Frei Alonso tiveram Inácio que Anchieta lhe tece elogios como estes ": «homem de que abandonar Mbyaçá para se dedicarem às missões do Pa­ vida exemplar o qual veio ao Brasil, com zelo pela salvação raguai, onde os esperava o novo governador Ãlvar Nunes Cabeza das almas e com ela andava pelas aldeias da Bahia, em com­ de Vaca, cuja ganância seguia o princípio: Onde não houver panhia dos padres jesuítas ... com o mesmo zelo se foi à capita­ ouro, não precisa de batismo. Não admira que os missionários nia do Espírito Santo, onde fez o mesmo, algum tempo». ao verem baldados os trabalhos pelo governador voltassem para De 1558 a 570, ano ele sua santa morte o missionário I Mbyaçá, em 1543, prosseguindo na consolidação ela religião en­ repartia o tempo entre a meditação e a cateqt ese de colonos tre os Carijó. índios Aimor de Vila Velha e dos arredores, ; pregando mais e ·é pelo exemplo do que pela palavra. Em vez de deixar à pos­ Frei Bernardo ·faleceu em 1546 ou em 1547. E' novamente teridade as es atísticas de seu apostolado, legou ao Espírito o Pe. Nóbrega que informa sobre o triste desfecho ela obra � . catequética. Em 1548, chegaram navios portugueses, cuja tripu­ Santo o santuano ela Penha, como única relfquia dos centros lação escravizou os Carijó para vendê-los em São Vicente e missiomírios franciscanos elo século XVI. .. Ilhéus. Frei Alonso acompanhou a viagem até São Vicente onde Em 1591, a custódia franciscana de O linda assumiu com embarcou para a Europa a fim de reclamar em Lisboa; caiu o santuário da Penha, também a catequese dos índios, rinci­ . p porém nas mãos de piratas franceses, sem deixar mais notícia. ptada por Frei Palácios.

28 29 assassinado por um soldado espanhol cuja vida escandalosa havia criticado. Não constam dados sobre os resultados missionários ALVARO DA PURIFICAÇÃO 8. FREI destes dois grupos. " outros Encerrando este capitulo afirmamos com razão que os mis­ E' provável que antes de Frei Alvaro da Purificação que em Olinda sionários aqui tratados escreveram a sua história na areia. Fala, franciscanos passaram por Pernambuco, visto diri�ida, mitos porém, em seu favor o repetido testemunho inequívoco dos je­ já existia a Ordem Terceira Franciscana Regular, � aJudara suítas, que com sinceros elogios mencionam a catequese de seus anos, por Dona Maria da Rosa. Esta alma apostóhca intérprete nas precursores franciscanos. muito aos jesuítas na catequese, servindo até de ainda não en­ confissões dos índios enquanto esses missionários ela mantinha um or­ tendiam o idioma Tobajar. •• Ultimamente era da Ordem fanato no convento de N. S. das Neves que Terceira. Logo que Frei Alvaro desembarcou em Pernambuco, em NOTAS à cura d'almas, 1577, forçado por ventos contrários, entregou-se . '_Em companhia de f'•·cl llenrlquc de Coimbra, viajavam seus súditos: rrel como pregador. Foi quando D. Mana Gaspar, Fr. l'rnnclsco da Cruz, Frei Slmllo de Oulm:�r!les Frei Luis do Salvador sendo muito apreciado sacerdotes e pregadoreR; Frei fllasseu, músico e organista· ' Prel Pedro Neto cori sta' frade á

30 ta • • r Jesultlcas I, p. 108s npud Vat, p. 87. ,. Ca Vat, sp. 85-91. " Jaboatlio I, 2 p. 17. falta de documentos franciscanos do século XVI, Prel jaboatlio e ouiros cronistas- À de sua ordem não resistiram tenta fi ção de in­ terpretar nomes como "Rio do Frade", "Ilha dos Frades" e o próprio " Rio de São Francisco" como sendo ligados no massacre de frades menores. VIsto que alguns autores citam esses casos como históricos, cumpre refutá-los ao menos sumariamente. 11 Frei Miguel de São Francisco, na sua "CrOnica do Convento de S. Bernardino de Angra dos Heis" cita outro Rio do Frade no atual Estado do Rio de janeiro vinculando o noO:e ao nssnsslnlo de um frade pelos lndios Oolnnn afirmando que Missões da Custódia o religioso teria vindo de S11o Vicente, em 1523, quando na real1 dade nfio havia franciscanos naquela região (cf. A. Moreira Pinto, Apontamentos para o Dlcclonarlo Oeograpltlco do Bras/i, Rio 1894, no 114}. - Jaboatão conta o caso de dois de Santo Antônio lrndes salvos de um naufrágio no rccOncavo baiano e em seguida mortos e devorados '-..... erpetua pelos selvagens de uma Ilha que p o fato. Também aqui fnltn qualquer tentam inter­ confirmação por outras fontes. - Frei Fortunnto Hucbcr c Wnddlng pretar 0 nome "Rio de S. Francisco" pelo morticínio de vários franciscanos de 1585/1619 Ollnda, à margem desse rio, em 1580. A mentira histórica niío requer refutação � porque 0 Rio de São Francisco, jâ nos 4 de outubro de 1501, recebeu esse nome quando descoberto por Amértco Vespúclo (cf. Fortunatus Hucberus, Menolo ium seu brevls et compendiosa /Iluminai/o, Munique 1698, col. 1917. O nutor se baseia sobreg Solon an ca s Fellx Reineccius, Fr cls mr , lnnsbruck 1649). obra missionana principiada pelo Pe. Custódio Frei Melchior " Vat, p. 98-103. A " Vat p. 51. - Equivocaram-se jalloatão I, p. 48-55; I, 2, p. 24-26 e de Santa Catarina sobressai da catequese precedente que as Primazia Scrá{lca na regiãot, da i a 1733, Frei Apoli�ãrio da Conceição, Amér c , Lisboa Primazia), dos Franciscanos Frei Ologo de Borlla, nove turmas missionárias franciscanas empreenderam, sem con­ p. !05s (cit. dando corno chefe to custódlo de Santo Tomé Pois nunca houve um superior regional desse nome seguir resultados duradouros nem apostolado ininterrupto, ao na tndla. Houve, sim, um lrnnclscnno secularizado que somente em 1538 che�:ou à tndla e um provincial dn Piedade de Portugal chamado Frei Ologo de Borba, passo que Frei Melchior estabeleceu definitivamente a Ordem sem nunca ter vindo ao Brasil ou Ido à lndia. ,. Pe Scrafim Leite, Novas Cartas, o. cit., p. 136. de São Francisco no Brasil, obtendo ademais inauditos suces­ •o Primazia, p. 103. - ]abontno I, 2, p. 27. ., Waddlng, t. XVI, n. 1736, p. 429, 11. sos na conversão elos indígenas. 1 22 Vai, P. 58-62. " Monumenta Brasl/lac, o. clt., I p. 149. Na conquista paulatina do imenso Brasil, coroa portu­ " Andrés Jl\illé, ronic de la rdcn Franciscana en la conquista de/ Peru, n Buenos Aires 1961, p.C 116.a O guesa não empregou apenas as tropas coloniais, senão também u Marcelino da Civezza, O.P.M. Storia del/e Misslonl frnncescanc, XI vols., as várias Ordens missionárias. Os arautos de Cristo introduzi­ Roma-Prato-Florença 1857-1895, VI., P. 730ss. •• Jl1onumenta Bras liae o. cll., p. 124s. ram os silvícolas nas verdades da fé, alçando outrossim a cruz ., Anchieta 111, p. l 319., I, O.P.M. O u Frei Basillo Roewer, Convento da Penha do s lr o Santo, Pe­ O.F.J\1. EOp lt diante deles quando os guiavam para novas «entradas», cons­ trópolis• 1965 p. 7-34. - Frei Sebastião Ellebracht, Servo de Deus Pedro Pa lácios In id XVI, no 22, 117ss (do sp e/ o truindo com eles fortalezas e pacificando iribos rebeldes. !'rei da autoria deV Freia Franciscana AntOnio da Piedade O.F.J\1.).P. - FreiE Venâncrolt '!t. Penitentes P h \1 Willeke O.F.M. Antologia do Convento da en a, ltória 1974, p. 61-76. Em fins do século XVI, a situação do Brasil-colônia recla­ :e 1> . Serafim Leite, S.J. Nóbrega o Doutlsslmo in Brotérla 72 (1961), p. 424ss. tnava a ocupação fortificação do litoral, porque negociantes •• Vat, p. 122ss. - Jaboat!io t, 2, p. 53 e 135. - Na expedição . paraibana c de Frutuoso Barbosa ( 1579 c 1581), houve também Franciscanos, CUJOS nomes franceses, ingleses e holandeses invadiam o país, instigando os e ntivldades não constam (Salvador, p. 256). Oonzaga, p. 1362. - Vnl, p. 278, •• índios contra Portugal ameaçando a existência ela colônia. • Ilha, 11. 288v. - Salvador, p. 114. - Vat, 150ss. c • p. Enquanto os portugueses residentes no Brasil convidavam as Ordens Religiosas da pátria para fundarem conventos na colônia, visando antes de mais nada a assistência espiritual das irmandades piedosas e a celebração das festas litúrgicas, o go­ verno colonial reclamava os frades para «dilatar a fé e o im­ pério». Principalmente o Sul de Pernambuco, habitat dos be­ licosos Caeté, e o Rio Grande do Norte, terra dos temidos Potiguara, pediam a ação missionária, visto que o exército colonial não conseguira impor a paz às tribos em parte vencidas. • Como porém faltassem, entre os índios de Pernambuco, 111issões propriamente ditas até 1584 •, compreendeu a coroa por­ tuguesa a urgência de mandar missionários para o Nordeste brasileiro a fim de catequisarem os silvícolas e lhes conquista­ rem a simpatia pela metrópole lusitana.

32 AllssOes Pranc. Ed) 2949 - 2 33 FUNDAÇÃO DA CUSTóDIA � t. temporal das missões" e o Papa fran scano Sixto V, através E NOMEAÇÃO DO CUSTóDIO de letras apostólicas ", concedeu facujdades descomuns para a cura d'almas e a catequese dos índios. Foi nessa situação que o governador de Pernambuco, Jorge de Eis alguns privilégios: admitir 6oviços na colônia, escolher Albuquerque Coelho, pediu a Frei Francisco Gonzaga, superior n;i�si�ná�io� a própria e de outr�s províncias 'franciscanas, con­ geral dos franciscanos, mandasse fundar um convento em Olinda fenr jUrtsdtçao� para pregar, ouv1r confissões e administrar sa- . e, como Portugal desde 1580 pertencesse à coroa espanhola, cramentos, inclusive o matrimônio, gozar de voz ativa no ca­ ' • solicitou também apoio d El-Rei Filipe 11. pítulo provincial, ou em pessoa ou por um substituto devida­ P1·csidindo, em 13 de março de 1584, ao capítulo provin­ IIICnte delegado. 11 cial dos franciscanos em Lisboa, Frei Francisco Gonzaga apre­ Aos 12 de abril de 1585, desembarcaram os missionários sentou aos capitulares o requerimento de Jorge de Albuquerque. • Todos porém se pronunciaram contra a fundação solicitada, ale­ em Olinda, onde a terciária Franciscana regular Dona Maria gando a falta de religiosos e a pouca idade de sua província, da Rosa " já construíra um convento e uma igreja, na esperança criada em 1568. Ainda que fosse unânime a declinação do pe­ de obter futuramente uma fundação dos Frades Menores; como dido, o Superior geral impôs laconicamente a criação da missão porém todas as suas diligências neste sentido ficassem frustra­ brasileira, sob a denominação de «Custódia de S. Antônio», de­ das, ocupara o prédio junto com uma comunidade de recolhidas algumas órfãs. Ciente ela chegada dos franciscanos, ofereceu terminando-lhe como futura sede o projetado convento de Olin­ e da e incumbindo da fundação a província portuguesa de S. An­ Dona Maria ela Rost� a Frei Melchior a sua fundação; este tônio de Lisboa. Prevenindo-se, porém, contra qualquer resis­ aceitou a generosa oferta, ocupando o convento a 4 de ou­ tência vindoura por parte da província, Frei Francisco nomeou tubro de 1585. desde logo o primeiro custódio na pessoa de Frei Melchior de Antes de entrarmos no assunto .da própria catequese, apre­

S. Catarina Vasconcelos •, escolhendo ainda vários companheiros ciemos de relance a história de Pernambuco no período quinhen­ tidos como os melhores religiosos e os quais de bom grado tista. Enquanto o norte do litoral pernambucano bem cedo foi atenderam ao mandato missionário do Superior geral. ' ocupado pelos portugueses, o sul, isto é, dos Guararapes até Mesmo que Frei Francisco Gonzaga concedesse ao custódio Alagoas inclusive, exigiu sangrentas campanhas, a partir de 1554, faculdades excepcionais •, ameaçando ainda com penas eclesiás­ campanhas essas que recrudesceram com o assassínio do bispo ]9 ticas a quem tentasse contrariar os planos da obra missionária, do Brasil Dom Pero Fernandes Sardinha, morto pelos índios não deixaria de ser para Frei Melchior uma incumbência es­ Caeté ele Cururipe (Alagoas). A guerra só terminou em 1571 pinhosa a de providenciar o necessário até fins de 1584, num com derrota dos indígenas por Duarte Coelho de Albuquerque. a •• ambiente pouco favorável. Acrescia que a missão planejada de­ Logo a fertilidade das terras atraiu os colonos de além-mar veria constituir afinal uma obra duradoura após nove tentativas e das capitanias vizinhas c, dentro de poucos ano". predomi­ esporádicas e efêmeras, empreendidas desde 1500 por francis­ 11 nava no litoral o cultivo da cara de açúcar, surgindo engenhos canos portugueses, espanhóis e italianos. • por toda a parte. Da vida anterior do Pe. Custódio sabemos apenas que nas­ cera aproximadamente em 1546, filho de nobre família de Bri­ Ainda que os silvícolas tivessem sido rechaçados pelos por­ tiandos, vestira o hábito em 1562 e ocupara o cargo de definidor tugueses, continuavam a infestar as plantações dos colonos. Por provincial. •• Varão virtuoso e enérgico, desincumbia-se agora da isso o governo estava sumamente interessado na catequese dos nova missão pleiteando com o governo português a chamada ·filhos da selva, empresa dificílima e perigosa, da qual se incum­ biram os jesuítas à margem do rio lpojuca perto de Escada «Ordinária» para o convento de Olinda " e para futuras funda­ .. os franciscanos mais para o sul, na zona da atual Barreiros, ções do Brasil, consistindo essa graça na doação gratuita ele c farinha de trigo, vinho, cera e azeite para o culto divino. El-Rci à margem do Rio Una, ficando ambas as missões na extensa de Espanha conferiu poderes extraordinários na administração freguesia de São Miguel de Ipojuca. "

34 35 2. MISSõES FRANCISCANAS EM PARTICULAR Decerto se serviam de intérpretes nos primeiros meses da cate­ quese, até adquirirem os conhecimentos rudimentares da língua. a) Missões de Olinda Se ainda, em 1677, houve acusações de que alguns missionários franciscanos catequizaram os gentios sem ao menos entenderem

A atividade missionária dos franciscanos deve ter principiado a língua •, deve tratar-se de religiosos que acompanhavam as logo no ano de sua chegada a Olinda; pois Frei Francisco de entradas, urna vez que a província naquele tempo não adminis­ São Boaventura, indicado para superior do convento de Nossa trava missão nenhuma. Senhora das Neves de Olinda, ao ensejo da ocupação pelos J â em 1586 construíram os franciscanos de O linda, no sitio religiosos em outubro de 1585, mas a seus instantes rogos, dis­ de seu convento, uma casa «na qual se criassem dentro os fi­ pensado do cargo, «Cuidou logo em se aplicar à doutrina dos lhos dos índios convertidos, como em Seminário, para que bem fndios» ' e «logo determinou com outros companheiros mais ... instruídos primeiro nos rudimentos da Santa Fé, fossem depois sair à pregação e doutrina dos índios». Esta afirmação cor­ • é pregadores de seus mesmos naturais». Jaboatão motivou este roborada por Frei Francisco Gonzaga, o qual, na primeira me­ procedimento com a «semelhança da natureza e a propriedade tade de 1587, já incluiu, em sua crônica impressa, as primícias das línguas». • da catequese franciscana de Olinda, relatando: «Dia e noite, Não se trata aqui de seminário para vocações franciscanas, zelam pela salvação daqueles povos gentios como também dos mas de um internato que formava catequistas leigos conforme fiéis». ' Como, porém, não são enumeradas as aldeias visitad:�s Jaboalão dá a entender: «Era neste Seminário o principal cui­ pelos franciscanos, concluímos com probabilidade que ainda não dado dos Religiosos, depois ele bem instruidos nos principias havia aldeias cristãs, afirmando o próprio Pe. Anchieta, cru da Fé aqueles lndios, ensiná-los a ler e escrever para melhor 1584, sobre a capitania ele Pernambuco: «Nunca houve nela inteligência sua, a poderem ensinar também aos parentes e c conversão de gentio». • Realmente foi nesse ano que os jesuítas a paisanos». •• começaram a pregar missões nos engenhos e fazendas, visando Mas a obra bem estudada e intencionada provocou a in­ principalmente os negros e índios, enquanto a primeira noticia veja e cobiça de alguns moradores da ferra que, ambiciosos de de aldeia cristã em Pernambuco, administrada pelos jesuítas, criadagem barata, aliciaram os meninos do seminário e, levando­ data de 1589. • os para as suas casas, serviram-se deles como de escravos. Colhendo a primeira impressão da catequese franciscana em Para se justificarem, espalharam calúnias contra os francisca­ Pernambuco, Frei Francisco Gonzaga no-la transmite esperan­ nos. Entretanto, o tempo se encarregou de mostrar a falsidade çoso de ótimo sucesso entre os belicosos silvícolas, que se dis­ c a malícia dos caluniadores e a inocência dos missionários, tinguem na arte de atirar flechas, mas que mostram menor ap­ e o internato olindense voltou a gozar de paz prosperidade. " c tidão para os mistérios da religião católica. «Todavia, espera­ Os internos aprendiam a música tanto vocal como instrumental, mos muito a respeito de sua conversão à fé cristã, e isto dado chegando, em breve, a executar cânticos sacros, ladainhas, mis­ o cuidado dos nossos religiosos». • sas, etc. Um tal Francisco progrediu tanto que chegou mesmo Os cronistas salientam a facilidade e rapidez com que Frei a contrapontista. A formação musical elos indiozinhos visava, Francisco de São Boaventura, apesar de sua idade avançada, além dos fins culturais e religiosos, a atração dos adultos, ami­ aprendeu o idioma dos índios Tobajar, causando admiração aos gos da música, que muito admiravam alunos tão adiantados, próprios silvícolas, os quais, desconfiados de alguma interven­ confiando também os seus filhos ao cducandf1rio franciscano. " ção mágica, o chamaram de abaré-feiticeiro. ' Ademais, os internos, sob a orientação dos missionários, Também Frei Luís ela Anunciação, Frei Francisco do Ro­ prestaram um serviço inestimável à catequese, aplicando às pri­ sário, Frei Francisco dos Santos e outros destacaram-se como mitivas «gentílicas cantilenas» outros textos religiosos, conser­ excelentes «línguas», desmentindo as acusações gratuitas de que vando destarte os elementos culturais das tribos que não contra­ os missionf1rios franciscanos ignoravam o idioma elos nativos. dissessem a religião católica. '"

36 37 No mesmo sentido de aproveitar um costume tradicional O apostolado miss•onano entre os índios da zona olindense e multo apreciado por todos os nativos, os missionários fran­ l:ontinuou, ao que parece, até 1619, constando ainda a penna­ ciscanos fundaram a irmandade de N. S. das Neves, em ho. nência de Frei Cosme de São Damião entre 1611 e 1614.. . menagem à padroeira do convento, figurando entre as finalida­ des a de sepultar os defuntos. Outrossim instituíram, para sa­ tisfação geral dos índios, a comemoração dos finados, dia em b) Missões de lgaraçu que «costumavam ofertar suas primícias carregados de frutos que colhiam das suas lavouras». " A pedido da câmara e do povo ele Igaraçu, resolveu Frei Melchior Entre as festas litúrgicas; preferiam os neoconvertidos as de S. Catarina fundar um convento naquela vila pernambucana, de Natal, Domingo de Ramos, e «toda a semana santa em que instituindo como fundador e superior a Frei Antônio do Campo faziam muitas penitências» ... Um caso que ocorreu com Frei Maior, o qual acabara de chegar de Portugal com outros cinco Vicente do Salvador, quando missionário na Paraíba ( 1603-1606), confrades, e logo em junho de 1588 ' seguiu para a freguesia esclarece o conceito que os índios formavam das penitências, de S. Cosme e S. Damião de lgaraçu. Apesar de ser paróquia e em particular da disciplina: «Jorge ele Albuquerque, aldeaclo antiga, contava ainda muitas aldeias de índios pagãos, «alguns do nosso autor, estivera fora da missão durante a semana santa. de paz com os portugueses». Jaboatão afirma, meio indeciso, que Cien·te de que o povo se disciplinara nas endoenças, pediu per­ o grande número de pagãos talvez se explique «por falta de missão a Frei Vicente para se disciplinar na oitava da Páscoa Pastores Evangélicos que os intrometessem no rebanho da Igre­ quando voltava de viagem, alegando em sua defesa que sendo ja». ' Na realidade confirma este fato que até essa época nunca «grande valente» não podia deixar de fazer tal penitência, visto houvera conversão do gentio em Pernambuco. que até os meninos a tinham feito. Quando, porém, o missio­ Além dos trabalhos administrativos nas obras elo convento nário objetou que já passara o tempo da penitência, Jorge re­ e na assistência religiosa aos colonos, Frei Antônio do Campo plicou que assim ficaria desonrado e tido por fraco. Frei Vicente Maior e seus súditos em breve assumiram também a catequese concluiu portanto que eles consideravam tais penitências prova entre os silvícolas, avançando até Itapissuma, Ponta de Pedras de valentia». •• Afinal não se podiam esperar motivos meramente e Itamaracá •, onde organizavam centros catequéticos, por serem . sobrenaturais de um povo recém-convertido. essas as aldeias que melhor corresponderam às expectativas dos A admissão à Eucaristia constituía uma honra invulgar entre missionários. Nesses três distritos ergueram capelas que atraíam os índios, merecendo da parte deles uma preparação esmerada. cada vez mais os Potiguara até formarem missões florescentes, No dia da comunhão, ou observavam jejum ou então se abstinham segundo diz Frei Manuel da Ilha; anos depois os doze fran­ das comidas e bebidas, que consideravam incompatíveis com o ciscanos de Igaraçu encontraram muito serviço entre cristãos respeito que se deve ter ao Corpo de Deus. pagãos. • Como já ficou dito, os franciscanos aproveitaram na cate­ c quese os alunos do internato olinclense, levando-os nas suas via­ Transferido Frei Antônio para a nova fundação da Paraíba gens missionárias para instruírem e convencerem os pais e pa­ em 1589, substituiu-o Frei Bernardo da Anunciação, por três rentes. Mas são mencionados também dois velhos principais: anos, com o mesmo zelo apostólico. • Antônio e Francisco, como catequistas de renome e grande su­ Tornando a Igaraçu em 1592, Frei Antônio voltou a desen­ cesso, porque além da profunda convicção com que explicavam volver a mesma atividade, entregando o cargo em 1594 a Frei a doutrina, impunham-�e ao respeito de todos pela sua posição Afonso de S. Maria, superior que demorou até 1600. • e idade. u Jaboatão, que ressalta mais a incansável operosidade de Frei Embora o método observado na catequese olindense dife­ Antônio do Campo Maior, atribui os estupendos resultados ob­ risse em alguns pontos do que se aplicava às aldeias propria­ tidos na seara de Igaraçu tanto aos incessantes esforços do mente ditas, não havia contudo diferenças essenciais. No fim fundador como ao seu bom exemplo ele «Varão Apostólico e deste estudo, trataremos do método em geral. santo religioso». '

38 39 Os autores antigos que muito se estenderam em descrever A segunda n11ssao fundada por esse tempo na mesma zona o apostolado missionário dos franciscanos olindenses tanto mais de Goiana foi a de Tracunhaém que deve o nome ao rio homô­ resumidos foram na crônica de lgaraçu. nimo c a cujas margens ficava. Os seus índios se faziam igual­ mente temidos por sua ferocidade. •• As parcas notícias sobre esta aldeia relatam um ataque de índios hostis a Tracunhaém, c) As Missões de Goiana em 1597. "

Interrompendo a ordem cronológica em que foram fundadas as missões franciscanas, trataremos primeiro das de Pernambuco d) A Missão de São Miguel do Una e Alagoas, deixando para o fim as da Paraíbn, por serem mais numerosas e em parte fundadas no incipiente século XVII, en­ A Aldeia de São Miguel entre os Caeté tio Una ou lguna ' foi qunnto aquelas datam do último decênio do século XVI. a única missão que, administrada pela Custódia de S. Antônio, A atividade missionária que os franciscanos desenvolviam após uma interrupção de sessenta anos, tornou a receber a dire­ ção franciscana, já em tempo da Província do mesmo nome. em Igaraçu c O!inda criara fama, recebendo o Pe. Custódio Frei Melchior de S. Catarina convite para fundar missões na Os cronistas ela então custódia e província portuguesa Paraiba. Tendo pessoalmente estudado as condições «in loco», ocuparam-se mais com a primeira gestão franciscana da missão do Una do que o fizeram com a segunda os ela nossa provfncia, aceitou a incumbência c voltou por terra a Olincla. Repousando já então independente da província-mãe lusitana. O documento a· meio caminho, Ctll Goiana, o Superior franciscano foi pro­ curado pelos principais moradores dessa vila e por grande parte principal a transmitir notícias sobre os primórdios ele Una é o • do povo que instantementc lhe pediam missionários para uma manuscrito de Frei Manuel da Ilha. Seguem aqui os dados es­ • grande aldeia de índios pagãos que ficava à margem do Rio senciais referentes à aldeia de São Miguel ': Sobre a doutrina de São Miguel de Iguna da Custódia de S. Antônio do Brasil Capibaribe, entre Goiana c lgaraçu, c cujos habitantes, sendo os mais poderosos da zona, salteavam os colono�, deslruíam as - Doutrina Segunda. fábricas e lavouras ', roubavam insultavam os cristãos. c ' «Depois de o religioso padre Frei Melchior de S. Catarina aceitar, Interessavam-se, pois, os goianenses pela catequese da tribo sob sua direção e tutela, as missões e as aldeias da prefeitura na Paraíba, para trazer todos os seus gentios ao conhecimento da nossa para viverem em paz com os molestos vizinhos c mais ainda para os terem como amigos e defensores contra outras tribos santíssima fé católica, como foi dito; pelos quais ele mesmo e seus frades suportaram muitos trabalhos, como será dito embaixo, nunca, hostis. • no entanto, desistiram de continuar em tão santo labor. E assim movido, O Pe. Custódio acedeu ao pedido dos colonos interesseiros, ultimamente pelo Esplrito de Deus e cheio de zelo pelas almas, dedicou-se de corpo e alma, com seus frades, à volta e à conversão dos outros mandando os primeiros missionários em princípio de 1590, os quais, em breve, conseguiram resultados satisfatórios na missão, gentios que habitavam perto do rio lguna, vinte léguas distante do municlpio pernambucano c ela prefeitura do mesmo, pela parte do sul. erguendo uma igreja em honra de São Miguel Arcanjo, uma A conversão e a benevolência deles era sumamente tH il, tanto para residência franciscana, a indispensável escola c uma cerca forte proveito de suas almas, como para defesa dos mesmos cristãos, ajudando­ de pau e terra para se defenderem dos assaltos hostis. • os contra os outros étnicos mais ferozes, mais cruéis e inimigos que faziam sua habitação nos antros do deserto e das florestas, de onde, Entre os missionários que se incumbiram ela catequese na diariamente, atacavam ferozmente aos fiéis, de maneira que não podiam aldeia de São Miguel, os anais franciscanos ressaltam Frei Afonso cultivar as terras, nem colher delas os frutos. Entretanto, penetrando neles, de S. Maria, não constando pormenores sobre o desenvolvimento aos poucos, os pregadores evangélicos, os fizeram voltar à fé ortodoxa, da missão. ' batizando ali mesmo os meninos e catequisando os pais, como de costume. E todos os outros que ultimamente chegam das montanhas e das Esta aldeia, geralmente conhecida pelo nome de Goiana •, florestas, movidos pelo impulso do Espírito Santo, em cujo trabalho mas também chamada do Siri ou Ciri, tornou-se célebre porque prestam grande beneficio a Deus, quatro religiosos que sempre os reúnem nela nasceu, em 1601, Dom Filipe Camarão. • num certo recolhimento, à maneira de convento que os próprios neófitos

40 41 construíram de madeira e taipa, juntamente com uma grande igreja. E Com a fundação posterior da m1ssao do Porto de Pedras, além da doutrina da fé que eles comunicam àqueles gentios, também diminuiu o trabalho para os franciscanos do Una, razão por ensinavam a seus filhos a ler e escrever, e muitíssimos deles, que são peritos nas artes de cantar e tocar instrumentos, com os quais nos dias que, em lugar dos quatro religiosos que havia primeiro, fica­ festivos, abrilhantam o culto. Sustentam-se aqui estes cristãos pobres, ram apenas dois. e também nas outras aldeias, da farinha que se faz das raízes de certa Os missionários do Una, como os de todas as Aldeias, in­ planta que os mesmos étnicos cultivam e fazem. Sustentam-se também de carnes silvestres e de peixes que caçam e pescam. sistiam em que ao menos as índias vestissem roupa nas suas Nisso empregam grande habilidade e arte. A estas coisas dedicam­ visitas à igreja. Não estranhamos, entretanto, que a despissem se de corpo e alma.. Nunca usam vestes, mas sempre andam nus. E assim logo ao sair. Ainda hoje se observa que os silvícolas, acostuma­ nada têm de próprio; pois tudo lhes é comum. dos a andarem nus, vestindo roupa experimentam evidente Jnal­

Todavia ' os religiosos, em todas as suas missões, ordenam por estar, devido à pronunciada respiração cutânea. ' lei que ao menos todas as mulheres, quando vêm igreja, vista 1 à � O documento não esclarece a data precisa da fundação do túnicas por motivo de decência. Como, porém, em geral seguem ma1s Una. Sendo, porém, mais recente que as missões da Paralba, a tend ncia da própria natureza, saindo da igreja, · elas tiram as tú­ • nicas eê levam no braço. fundadas em 1589 e ainda aceitas pelo custódio Frei Melchior Aconteceram muitas coisas dignas de narração, neste primeiro tem­ de Santa Catarina, o qual entregou o cargo em 1594, fica um po, nas aldeias dos índios (não se pod escrever tud ), nas quais o prazo de 4 � . . ? a 5 anos, do qual tiramos mais um ano, baseados t:lementissimo Deus quis mostrar sua 'l,1 1senc6rd1a a f1m de fortalecer sobre o seguinte relatório de Luis Gomes, contemporâneo da estes neófitos ...» missão do Una: «Lá pelos fins de 1593, havendo uma festa de guarda, ia Luís Gomes assistir à missa na aldeia de Una; Segue no original um episódio miraculoso do gosto quinhen­ encontrando-se com Antônio Gonçalves, o Matuca por alcunha, tista, que se conta de um índio elo Una, sendo por jaboatão começaram a discutir sobre os clérigos. Noutra ocasião, conver­ localizado na missão de São N\iguel elo Siri. Um neófito, mor­ saram sobre os frades, dizendo o Matuca que se tivera vinte dido por uma serpente venenosa, é sacramentado pelo missio­ negros, todos mandara buscar cepos para fazer baraços para os nário e, falecendo no meio da con·fissão, vê-se no perigo imi­ frades». Logo, porém, todos o repreenderam, por causa dessas nente de ser lançado no inferno, quando São Francisco o salva palavras. Denunciando Luis Gomes aquelas palavras ao visita­ das garras do demônio com a exclamação: «Este é meu filho». dor do S. Ofício, esse lhe perguntou se as palavras se dirigiram Voltando pouco depois à vida, o índio conta o que se passou contra algum clérigo ou alguns frades em particular, ao que com ele, comparando a aparição do seu santo advogado com o Luís Gomes respondeu que se falaram em geral sem se decli­ painel da estigmatização que se acha na igreja missionária. nar algum nome «que quanto é dos frades lhe parece a ele O que na lenda miraculosa do índio Caeté interessa viva­ denunciante, que ele (o Matuca) o dizia pelos capuchos que mente é que na igreja de São Miguel já existia um grande doutrinam os gentios da aldeia do Una, porque os ditos capu­ quadro da estigmatização de São Francisco, como em geral os chos repreendem o dito Antônio Gonçalves que não esteja aman­ painéis ainda substituíam as imagens, e que os índios já ve­ cebado e viva bem». • neravam a S. Francisco como padroeiro dos agonizantes e guia A concluir pela narração de Luís Gomes, os missionários das almas, devoção esta que transparece ele certo modo nos capuchos (franciscanos) já em 1593 residiam na aldeia de Una azulejos e quadros dos nossos conventos de Olinda e Salvador, catequizando os índios e prestando assistência religiosa aos co­ onde o santo livra das chamas do purgatório as almas dos «seus lonos. Os únicos missionários de Una cujos nomes nos constam devotos e dos amigos de sua religião». na primeira temporada são: Frei Luís da Anunciação, apelidado Segundo o costume geral daquele tempo, os missionários «O Santo>>, e seu companheiro Frei João da Assunção. • do Una terão visitado também as malocas vizinhas, embora os Com razão, salienta Frei Manuel da Ilha, a grande utili­ seus habitantes ainda fossem bravos. Do contrário, não teriam dade da missão do Una para os colonos, até então constante­ conseguido a paz com a própria aldeia e as fazendas da zona. mente atacados pelos Caeté pagãos, contra os quais fora decretada

42 43 a escravidão perpétua em conseqüência do assassínio de Dom Frei Manuel da Ilha, único autor coevo a referir algo sobre Pero Fernandes Sardinha. Esta sentença dava carta branca a a missão do Porto, tem a seu favor a confirmação elo então cus­ todas as injustiças para com os silvícolas, enquanto estes, por tódio Frei Leonardo de Jesus, o qual, como testemunha ocular, assinou o manuscrito do cronista franciscano, em 1621 como sua vez, continuavam a hostilizar os brancos, até que, catequi­ O, zados pelos filhos de São Francisco, trocaram pela cruz o arco taml>ém baseia sobre a crônica ela Custódia, fonte insofismável e a flecha. que Frei Vicente elo Salvador deixara e cujo paradeiro nunca Criada a prefeitura apostólica da Paraíba, passou a mis­ mais foi descoberto. ' são de S; Miguel do Una às mãos do clero secular, em 1619. Narra, pois, o Insulano que Frei Antônio elo Campo Maior, Mas trans-corridos apenas cinco anos, foram os jesuítas encarre­ já septuagenário e acompanhado por vários confrades, rumou gados da mesma aldeia. Antes da segunda gestão franciscana para o novo campo ele catequese, durante a gestão de Frei Leo­ (1679-1742), também os Oratorianos parecem ter missionado nardo de Jesus. A escolha do superior recaíra sobre Frei An­ no Una. tônio por se ter este distinguido como missionário de ricas ex­ periências e raros dotes, desde Igaraçu à Paraíba. Também nesta nova vinha elo Senhor, o ancião trabalhou com o mesmo e) A Missão do Porto de Pedras espírito apostólico que sempre o animara. Mas, devido à sua velhice adiantada, demorou-se poucos anos no Porto de Pedras, Primícias da catequese nas Alagoas vendo-se obrigado a voltar a Olinda, onde faleceu octogenário 1596/1619 em 1601. • Apontando o progresso da cateqw�se, acrescenta Frei Manuel Cabe aos filhos de São Francisco a gloriosa primazia da cate­ ela Ilha que além dos índios aldeados na praia de Porto ele quese entre os silvícolas alagoanos. Sobre uma possível cate­ Pedras vieram aos ·poucos muitos outros das matas virgens pe­ quese anterior, embora efêmera, dos jesuítas nas Alagoas não dindo admissão entre os catecúmenos. À medida que os silví­ há fonte certa. ' Em todo caso, foran1 os franciscanos os pri­ colas se iam convertendo e civilizando, chegavam também co­ meiros que se estabeleceram nas Alagoas depois ele nelas terem lonos para povoar aquela região. Os franciscanos continuara111 penetrado, desde a missão elo Una. no seu sublime apostolado, até que todos os índios foram bati­ Sob o I Q custodiato de Frei Leonardo ele Jesus, sucessor zados, bem instruídos na doutrina e tanto progrediram na vida imediato de Frei Melchior de S. Catarina, seguiram vários fran­ cristã que <

44 45 que explorava tais dissensões para substituir qtl

Em princípios de 1589, foi o Pe. Custódio ele Olinda à Paraíba:

elevando consigo alguns Religiosos. Foram recebidos com especiacs demonstrações de gosto, e agrado de todo aquellc povo, e feita a aceitação da casa... a fez tambem logo de cinco aldeas de Gentio, que voluntariamente se lhe vierão offerecer». •

Em seguida, afirma jaboatão que Frei Melchior se demorou na Paraíba até começo do ano seguinte, o que parece inverossí­ mil, visto dois documentos importantes de 1589 e condicentes à� nossas missões paraibanas não referirem o nome do Pe. Cus­ t io sim o de Frei Antônio do ód , mas Campo Maior. • oes. OCTAVIO KlElJER 8.DEBfltRRA .. O cronista franciscano também se contradiz quanto à no­ Os nomes das cidades que têm conventos aparecem com maiúsculas e meação ntô io do Camp para gu rd ã de Frei A n o Maior a i o d:t O; os nomes das missões, com minúsculas e Filipéia (atual João Pes­ ra a, ora em •, ora que tev e. Pa íb afirmando que foi 1590 jfl e no soa), Olinda e Vitória missões cujos nomes ignoramos. tinham 46 47 meação em novembro de 1588 • quando já haviam chegado re­ de que o dito gentio fiquou mui satisfeito, porsempre pretenderem os petidos rogos para fundação do convento e das missões. De ditos padres pera os ensinarem e não quererem que outros de outra religião nenhuma tivessem dever com eles por assi o declararem os fato Frei Antônio deve ter chegado à Paraíba ao menos em lingoas q'com os principaes falarão e que cõ elles ficarão consolados c princípios de 1589, porque aos 2 de maio desse ano recebeu satisfeitos, e o dito padre guardião acceitou a dita posse na forma da de Frutuoso Barbosa o atestado ele que estava doutrinando o dita provizão e como tal lhe fora dada e conforme os autos atraz, e «Aimagra principal com sua gente» e mais aldeias. logo mandou ajuntar e eleuantar tres cruzes em hum calvario no meio T da aldea em sinal de posse como ja a tinha dantes conforme os autos Mas quanto à entrega definitiva das aldeias aos francisca­ atraz e mandado do senhor governador. E para fazerem Igreja cada vez nos, houve ainda, em 1589, uma sessão oficial. Foi quando o q'quizcrem conforme as suas patentes e breve do summo pontífice e governador Frutuoso Barbosa, perante a Câmara da Cidade Fi­ provizão de sua magestade como tudo nos foi aprezentado em compri­ mento da qual como dito he a dita camara e oficiaes o ouviram me lipéia (Paraíba) reunida, passou provisão ao Pe. Guardião Frei tido c emvestido da dita posse real e corporal, e actual e assi fiquou Antônio do Campo Maior e sucessores, segundo esclarece o se­ nela pacificamente sem aver pessoa gentio, nem branco, secular nem guinte texto: eclesiastico que o contradissesse, antes todos mto. contentes e satisfeitos e consolados, com o dito padre guardião o querer acceitar como acceitou

«Frutuoso Barbosa, fidalgo da C:�sa del Rei Nosso Senhor, capitão em seu nome e da ordem c asinarão todos sendo prezentes por teste­ e governador desta capitania, digo cidade Philippeia de Nossa Senhora munhas Duarte Gomes da Silva, Antonio Teixeira: Andre Machado e das Neves etc. Faço saber aos que esta minha provisão for mostrada Domingos Luis escrivão do ecclesiastico, todos moradores na dita ca­ e o conhecimento dela com direito pertencer que eu ei por serviço de pitania q'eu tabelião conheço. E eu frco tabelião do publico judicial e Deus de sua Magestade que os reverendos padres de São Francisco notas nesta Cidade por El Rei uosso sor q'o escrevi. capuch.os esteiam de posse da Aldeia do Almagra e que elles possão tor­ Antonio do Campo Maior; Amaro de Rezende : João Affonso f-r., nar a levantar a sua cruz, como dantes tinhão no mesmo lugar, onde Pamplona; Sebastião d'Ar:wjo; Duarte Gomes da Silva: Andre Macha­ estava dantes posta por meu mandado por a dita aldeia estar nos do: Domingos Luis; f r co Roiz; Pedro Coelho de Souza: Gaspar Manoel seus limites, que são do rio das marés, para as fronteiras porque de Machado: Antonio Ednes . . . � • tudo os mandei por de posse quando lhe entregaram por meu mandado as ditas aldeias assi as das fronteiras como as maes que estão do rio Ressaltamos no documento acima que o guardião Frei An­ das marés por diante. E mando a todos os gentios assi os da aldeia tônio do Campo Maior decerto terá insistido em ser empossado do Almagra como todos os das maes aldeias dalem do dito rio das pela segunda vez com toda a solenidade por vários motivos: 1 9) marés que obedeção aos ditos padres em tudo o que lhes mandarem para dar a entender que a administração das aldeias pelos fran­ e que daqui por diante senão possa passar nenhum lndio pa. outra p

48 49 Pedro Calmon atesta terem os franciscanos entrado na Pa­ 11 jacoca, e daí ao rio Urutagui ... Por esse tempo, 1593, assullli­ raíba para missionar tribos amansadas. ram os franciscanos ainda as missões de S. Agostinho, Assun­ Entretanto, a razão por que os Frades Menores foram cha­ ção, atual Alhandra que jaboatão confunde com jacoca, supon­ mados para a Paraíba era justamente a pacificação dos rebeldes do-as uma só 11, ficando, porém, Assunção às margens do rio Potiguara, sofrendo até a Filipéia diversos ataques. Sirva de Ipopoca e a dez léguas da Capital, rumo Sul, e jacoca, ou Con­ resposta a declaração que Frutuoso Barbosa aos 19 de setembro ceição de Nossa Senhora, atual Conde, sobre o rio Oramame ou ele 1589 lavrou no forte de S. Margarida (Paraíba), elogiando Eiguaraguaib a quatro léguas da capital (rumo Sul). A primeira o denodado Frei Antônio do Campo Maior: passou a ser freguesia em 1758 c a outra, em 1768 . .. Afinal «ao muito revdo. Senhor padre guardião fr. Antonio do Campo os padres franciscanos foram encarregados ainda da aldeia de . Mator em nome de seus prelados ... porquanto passou comigo pessoal­ Braço do Peixe ou Piragibe, atual Ilha do Piragibe. mente e com todo o seu gentio a fazer o forte dalem dos rios dentro Várias vezes se fala também na aldeia do Oramame, onde da terra do inimigo aonde nunca outrem passou ... (e) atualmente eu havia 4 religiosos •• no ano de 1596; lá residiu o síndico dos com o dito padre estamos hoje . ..» •• franciscanos Manuel de Azevedo .., de 1589 até 1595. Ficava Enquanto jaboatão atribui as anormalidades a «emulações a missão a 4 léguas da cidade, parecendo ser a mesma jacoca; de Religiosos de outra Família» ", Frei Manuel da Ilha, baseado pois deve uma e outra ser localizada sobre o Rio Oramame. " ao certo na crônica da custódia de Frei Vicente do Salvador, Esta aldeia era, segundo Jaboatão, a principal de todas, deduz das patentes e ordens acima referidas certa repugnância dada a sua vantajosa posição, desde que diversas aldeias tinham dos Padres da Companhia e dos seus meirinhos para com os sido mudadas para servirem de defesa dos engenhos e fazendas, índios confiados à catequese franciscana, procurando afastá-los sendo que em jacoca os índios da redondeza tinham um centro desta para que os Frades Menores não tivessem a quem pregar da vida religiosa e os franciscanos uma casa de recolhimento a doutrina cristã. " . c repouso.. . Como as hostilidades, mesmo depois da segunda posse dos Outra aldeia muito importante e central foi a de Assunção franciscanos, prosseguissem, até a chegada do novo governador ou Ipopoca, cujo conventinho missionário tinha capacidade para Feliciano Coelho de Carvalho, este referiu o caso a Filipe 11, agasalhar cinco ou seis franciscanos e uma igreja de pedra e recebendo ordem de instaurar um inquérito sobre a parte culpada, cal. Visto que o grande número de missões não podia dispor em cuja conseqüência os jesuítas, por decreto de 15 de março de assistência permanente dos religiosos, concentravam-se estes, de 1593, tiveram que abandonar a Paraíba e foram substituídos principalmente, nas aldeias de Jacoca e Assunção, donde visi­ tavam as demais. " pelos franciscanos na missão de Piragibe ou Braço do Peixe. •• Sobre esta missão que Frei Manuel da Ilha também chama As missões franciscanas foram, desde o começo, cinco : 1. - Almagra ou Almagre, na enseada do Tambaú, meia légua ao de Maracanaioacoca, encontramos algumas notas particulares: reunidos os antigos aldeados e os Potiguara, vivendo Norte do povoado homônimo, antiga aldeia da Praia; 2. - Praia, foram aqui com seu hospício de S. Antônio; 3. - Ouiragibe, ou Assento do todos nesta colônia na melhor harmonia. Quando levantaram a Pássaro, e mais tarde chamado de São Francisco, que ficava espaçosa igreja de N. S. da Assunção rompeu uma moléstia ao sul de Tebiri, a três léguas da cidade; 4. - joane ou Jcanc; atacando a garganta e causando geralmente a mudez, para em breve deixar as vítimas mortas. Fugiram inúmeros índios, para­ e 5. - Mangue, ambas à mesma distância na fronteira do sul. Com a perseverante catequese progredia também a pacifi­ lisando assim a construção da igreja e faltando até quem abrisse os túmulos. Nesta iminência, o missionário, pregando ao povo, cação, desfrutando naturais e moradores os benefícios da obra lança um corajoso apelo. Promete a quem trabalhar nas obras missionária c explorando-se em escala maior a aariculturao in-' clusive o cultivo da cana, em cuja zona surgiram alguns engenhos. do templo de N. S. a vitória sobre o contágio e sobr-e a própria morte. E, fato miraculoso, confiantes na promessa do missio­ Os religiosos das aldeias fundaram igrejas em todas elas nário, os aldeados enfrentaram novamente as obras da constru­ c foram aos poucos levando a linha da fronteira elo sul à ção, vendo-se, então, livres da epidemia. " 50 1 51 Orassando em certa ocas1ao uma epidemia entre as crian­ Parece ter sido por este tempo que os beneditinos da novel ças, os índios se lembraram de abrir coroas nas cabeças dos J abadia paraibana assumiram entre outras a direção da aldeia filhos, à maneira da coroa franciscana, o que em seguida tor­ de jacoca, ficando definitivamente com esta; pois «desde que nou-se moda geral naquela gente. chegaram à Paraíba, dedicaram-se aos índios, aldeando-os na Encerrando a sua singela relação sobre a Aldeia da As­ Jacoca e Utinga para poderem melhor doutriná-los». " sunção, Frei Manuel da Ilha não vacila em afirmar: «A Igreja Por volta de 1600, cessaram as intrigas com a remoção de cresce como nos tempos dos Apóstolos, ocupando aqui em As­ Feliciano Coelho. Foi durante a gestão do Pe. Custódio Frei sunção quatro franciscanos na administração dos santos sa­ Antônio da Estrela ( 1603-1605) que os franciscanos assumiram cramentos» ... além das antigas aldeias outros três novos centros entre os Que nem sempre continuou este fervor, prova-o, como tes­ Potiguara, cujos nomes não nos foram transmitidos. Cada um temunha ocular, Frei Vicente do Salvador, o qual anos depois dos centros recebia quatro franciscanos ••, orçando o total elas missionou na Paraíba, lamentando: aldeias novas entre 16 e 18. Por muito que os franciscanos sofressem sob as perse­ «Confesso que é trabalho labutar com este gentio com sua incons­ guições outros desgostos, perseveraram na sublime obra mis­ tância porque 110 priucipio eru gosto ver o fervor e devoção com que c acudiam igreja, c quando lhes tangiam o sino doutrina ou sionária uma vez começada. As rivalidades c emulações havidas à à � missa corriam com um ímpeto c estrépito que pareciam cavalos; mas, com os missionários de outras Ordens decerto poderiam ter sido em breve tempo, começaram a esfriar de modo que era necessário levá­ evitadas, se ele ambas as partes o ideal missionário tivesse su­ los força, c se iam morar nas suas roças e lavouras fora da aldeia perado o espírito de «igrej ismo». Mesmo <�ssim a g-igan­ por ànão os obrigare111 a isto». ,. tncrccc tesca obra catequética, realizada no decorrer ele I r in ta anos ( 1589- 1619), a admiração da posteridade. Novas provações sobrevieram às missões paraibanas con1 a vida desregrada de muitos colonos c mamelucos, com as injus­ tiças feitas aos índios com a ganância descomeclida dos pro­ c 3. MISSIONARIOS DE DESTAQUE prietários. Quando os missionários repreendiam o escândalo pú­ blico eram caluniados perseguidos pelos maus elementos . ., E c a) Frei Bernardino das Neves como a péssima conduta de Feliciano Coelho merecesse censuras, (IP sacerdote franciscano brasileiro) também este começou a indispor-se com os franciscanos, con­ testando-lhes «a autoridade no governo temporal dos catecúme­ Entre os missionários franciscanos dessa época salientam-se, tanto nos», rebaixando-os perante os aldeados, recriminando o sistema pelos dotes naturais como pelos sucessos obtidos na conversão missionário ela Ordem e facultando aos súditos da missão a elos índios, os dois irmãos carnais Frei Bernardino das Neves prática ou o abandono ela religião católica. Mesmo depois de e Frei Manuel da Piedade, filhos do capitão João Tavares e repreendido pelo governo da Bahia, Feliciano não desistiu ele de sua esposa D. Constância Dias. Naturais de Olinda, ambos suas intrigas. Para evitar prejuízos maiores o Pe. Custódio re­ os franciscanos entendiam e falavam perfeitamente a língua dos comendou aos missionários deixassem de pregar ao povo. En­ indlgenas, mostrando-se também familiarizéldos com a vida e tretanto, o triste efeito da campanha anti-religiosa não se fez costumes da terra. Do progenitor, que fora «primeiro conquis­ esperar, sendo não só os franciscanos, mas sim também o pró­ tador e povoador do Norte», os dois filhos haviam herdado prio governo desobedecidos pelos lndios, de modo qu

52 53 Tendo professado em 1588, não demorou muito em ser or­ Potiguara. Frei Bernardino achava-se ausente; acudiu porém com denado sacerdote, visto que já era homem de idade perfeita, tropas de Gramame, Jogo que soube do ataque. Mesmo com este propenso às coisas de Deus, zeloso pela conversão do gentio reforço não foi possível derrotar os inimigos. Pelo contrário, "'' e «dotado de bom entendimento, prudência e capacidade para os Potiguara, instigados pelos franceses, perseguiram os de Ora­ qualquer emprego�. Uma vez padre, foi em breve instituído mame a fim de aprisionar e matar os dois franciscanos. Ha­ pregador. ' vendo terra pantanosa naquela zona, Frei Bernardino correu para O abundante fruto que Frei Bernardino conseguiu na ca­ lá e, deitado no chão, conseguiu escapar aos seus perseguidores tequese dos índios era devido tanto ao seu zelo para salvação deles, que, apesar do olfato bem desenvolvido, não deram pela pre­ • como à clareza com que lhes falava; assim se explica que o sença do missionário. frade brasileiro era ocupado, de preferência, entre os índios, Resolvida a fundação elo convento do Recife, em 1606, foi principalmente nas aldeias novas, servindo de intérprete aos con­ para Já como um dos fundadores o veterano missionário Frei frades que ainda não dominavam o idioma dos aldeados e che­ Bernardino das Neves. • Mas, dois anos depois, a morte levou gando, no decorrer dos anos, a ser superior de uma ou outra esta alma apostólica para receber o prêmio eterno. ' missão. Benquisto e obedecido por todos, Frei Bernardino atendia onde o solicitassem para pacificar qualquer tribo rebelde, cus­ b) Frei Manuel da Piedade

tasse embora os maiores sacrifícios ele longas viagens. • Manuel Tavares já era órfão de pai quando, em 1597, aos Em 1597, seguiram Frei Bernardino e Frei João de São 16 anos de idade, resolveu envergar o hábito seráfico. A prema­ Miguel com a armada de Manuel Mascarenhas Homem para o tura morte do pai o exemplo edificante de Frei Bernardino Rio Grande do Norte, com o intuito de construir a fortaleza c hão de ter influenciado na escolha da vocação missionária fran­ dos Reis Magos (Natal) c expulsar os franceses. Além de ran­ ciscana de Frei Manuel da Piedade. corosos inimigos, encontraram as tropas maior embaraço nas bexigas que atacaram índios c brancos, multiplicando destarte O convento de Olincla eslava destinado a ser por muitos o trabalho dos missionários. Acresce que um padre jesuíta que anos o campo de trabalhos de Frei .Manuel. Aí deu os primei­ também acompanhava o exército deixou-se enganar por um índio ros passos como noviço; aí, pela profissão, se obrigou a observar chamado Surupibba, apesar de Frei Bernardino o ter prevenido a regra de São Francisco; aí completou os estudos em prepa­ contra a traição provável do silvícola. Mas como o inaciano in­ ração à ordenação sacerdotal e continuou, depois ele padre, como sistisse na sua opinião, seguiu-se de fato a traição dos selva­ professor do curso de artes. Somente em 1614 foi que Frei Manuel trocou a cátedra pela gens pouco depois, conforme Frei Bernardino previra. • No Rio Grande do Norte, demoraram-se os franciscanos vida agitada de campanhas militares, seguindo com Frei Cosme dois anos, conseguindo Frei Bernardino persuadir ao feiticeiro ele São Damião como capelão do exército «que ia lançar da índio Ilha Grande para fazer as pazes com os portugueses, o Ilha de São Luiz do Maranhão aos intrusos franceses». ' que trouxe grande vantagem à causa dos lusitanos e deu mo­ jaboatão apresenta Frei Cosme de São Damião como ex­ tivo para principiarem um povoado, chamado Natal, a meia légua guardião do convento paraibano e Frei Manuel como sendo da elo forte dos Reis Magos. • principal nobreza do Brasil e grande teólogo, ambos porém ele uma vida exemplar e ilustrados das maiores virtudes. A viela agitada elo missionário Frei Bernardino ainda con­ • tinuou até 1603, ano em que se retirou exausto para o con­ Sobre a despretensiosa missão elos dois filhos ele São Fran­ vento de Olinda. Frei Manuel ela Ilha refere um episódio que cisco, ouçamos Cândido Mendes de Almeida: «A estes Rcv. Pa­ 1.alvez não seja tmico na dura missão do franciscano olindcnse. dres �e não deu coisa alguma da fazenda ele S. Magcstacle, antes Em agosto de 1597, os hereges franceses haviam atacado as eles de esmolas se aviaram de cálices, ornamentos c tudo mais aldeias das fronteiras, na Paraíba, levando para isso numerosos do culto divino necessário e da comida com que fizeram infinitas 55 54 caridades a todos os da jornada a que puseram nome 'a mi­ aos lugares de maior perigo, animando os portugueses a pck'­ • lagrosa'». jarem pela pátria e pela fé contra os hereges, inimigos da Igreja Após uma viagem cheia de contratempos c dificuldades, c dos naturais. chegou o exército ao porto de Quaxenduba, fronteiro à Ilha de Retiraram-se os franciscanos de Olinda para o convento São Luís, c tendo-se confessado todos os soldados, houve renhido do Recife. Mas quando este foi também tomado pelos holandeses, combate aos 19 de novembro de 1614. Os religiosos arvoraram Frei Manuel da Piedade passou-se para o convento ela Paraíba. • a cruz à frente dos portugueses para animá-los à vitória. • Atri­ Durante os assaltos holandeses a Cabedelo, a 11 de dezem­ buindo a Maria SS. a vitória das armas lusitanas, os frades bro de 1631, quando Frei Manuel, com a cruz na mão, animava levantaram uma capela votiva a N. S. da Ajuda. as tropas brasileiras no meio ela batalha, um dos inimigos atra­ Na qualidade de excelente língua, Frei Manuel em breve vessou o peito elo destemido frade com a alabarda e, tirRndo-a achou abundante ocasião para apaziguar os índios rebekles que de novo, deu-lhe com ela outros golpes na cabeça. Segurando receavam ser escravizados logo após a campanha. Apenas obtido nas mãos a sua querida imagem do Crucificado, morreu o sol­ o desejado sucesso entre os filhos da selva, Frei Manuel, junto dado de Cristo sete dias após aqueles golpes mortais, encon­ com Frei Cosme, prestaram serviços de bom Samaritano à po­ trando o último repouso no convento da Paraíba. •• pulação atacada pelo sarampo. Como houvesse armistício, os Vinte anos após o meritório apostolado que Frei Manuel frades se dedicavam igualmente a brasileiros, portugueses e da Piedade e Frei Cosme de São Damião desenvolveram no franceses. • Maranhão, continuava ainda viva a impressão que estes dois Após a derrota completa dos franceses e sua retirada do franciscanos haviam deixado, segundo transparcce de uma carta .Maranhão, realizada a 3 de novembro ele 1615, continuou ainda elo governador maranhense jácome Raimundo de Noronha a El­ a missão dos dois franciscanos, então alojados no conventinho Rei. Aqui reproduzimos os primeiros tópicos dessa carta: dos capuchinhos franceses, pregando Frei Cosmc aos calvinistas franceses que preferiam ficar no Maranhão, enquanto Frei Ma­ «A coisa mais necessária que há naquelas partes, para ter o gentio delas sujeito, é visitá-los e ampará-los dos religiosos capuchos de S. nuel catequizava os índios. Em 1616 retiraram-se do Maranhão Antônio, aos quais todo o gentio tem em muita veneração e os amam nossos missionários, «vendo assistida aquela missão de operários como o únivo remédio de suas necessidades, porque conhecem deles a necessários» ou, para falar com Jaboatão, por terem surgido riva­ caridade com que os tratam e os 'perigos em que se põem para os defenderem assim paz como na guerra, o que ti."!m experimentado lidades entre eles e os jesuítas. • na Apesar de todos os pedidos em contrário, os franciscanos em todas as que houve naquela conquista que sempre nela se acharam por seu remédio os religiosos desta religião, como foi nos priucípios voltaram a Pernambuco, ficando tão profunda a impressão do e tomada do .Maranhão aos franceses o padre Frei Cosme c Frei seu bom exemplo que em 1617 outros franciscanos da mesma Manuel. . . >" província-mãe portuguesa de S. Antônio foram mandados para continuarem o belo apostolado e colocarem os fundamentos para o novo comissariado do Grão-Pará. ' c) Frei Francisco do Rosârio Frei Manuel da Piedade demorou pouco em Olinda, seguindo, em fins de 1617, como guardião para o convento de S. Antônio Ao nome do humilde irmão Frei Francisco do Rosário estit ·Ji­ de Ipojuca, onde permaneceu até 1620. ' gada boa porção da nossa crônica missionária. Por esta razão Mas como a custódia precisasse de professores, lembrou-se lhe dedicamos homenagem especial, tratando a um tempo dos de novo do lente olindense e confiou-lhe o ofício do magistério principais dados biográficos deste irmão catequista como do mo­ de 1620 até 1627. vimento missionário em que tomou parte. O capítulo celebrado em fins de 1627 colocou Frei Manuel Natural do Porto, onde nasceu mais ou menos em 1567, à frente do convento de Olinda, cargo que exerceu até a inva­ exerceu a profissão de tabelião até os 24 anos de vida, quando são holandesa em 1630. Quando o convento foi abandonado tomou o burel franciscano no convento de Olinda, professando pelos religiosos, o guardião e alguns dos seus súditos acudiram a 19 de maio de 1592. Apesar de bom conhecedor da língua

56 57 latina, Frei Francisco preferiu o humilde estado de irmão ao De fato, não foi muito difícil à custódia aceder ao pedido de sacerdote. Como porém fosse o melhor «língua>> da custódia, ele Frei Cristóvão, visto que desde 1619 os missionários se ha­ ajudou, durante muitos anos, aos padres missionários dos índios. viam retirado das aldeias. Outrossim várias Ordens religiosas Jaboatão afirma que já entre 1600 a 1615 nosso irmão foi procuravam trocar as missões do Nordeste pelas do extremo mandado ao Maranhão e Amazonas, onde doutrinava e batizava Norte a fim de evitarem rivalidades com os jesuítas. O governo os silvícolas, por ensejo elas entradas. ' português, por seu turno, mostrava bastante interesse na cate­ O que parece bem provável é que Frei Francisco do Ro­ quese dos índios maranhenses e paraenses para preservá-los da sário, em 1624, tenha acompanhado a turma de missionários influência de invasores franceses e holandeses. Neste conexo se que, sob a chefia de Frei Cristóvão de Lisboa, seguiram para compreende a proposta do governador do Brasil Gaspar de o comissariado do Grão-Pará. Assim o referem dois dos auto­ Souza, em 1617, no sentido de elevar a custódia de S. Antônio res sobre os quais se baseia Jaboatão: o do Agiológio lusitano à categoria de Província, para destarte destinar todas as voca­ que em 1655 recebera informações a esse respeito de Frei Se­ ções portuguesas ao Grão-Pará, enquanto a província brasileira bastião do Espírito Santo, o qual, por sua vez, fora custódio se limitaria às vocações indígenas. • do Brasil em 1650, ano da morte de Frei Francisco do Rosá­ Como porém o projeto não se realizou, havia conveniência rio •; e Berredo, autor dos «Anais Históricos do Estado do Ma­ em os missionários mais experimentados da custódia ajudarem ranhão», contemporâneo da Fundação franciscana em São Luís. a organizar a catequese no comissariado elo Grão-Pará, o que As «Memórias da Província de Portugal» enumeram o nosso realmente sucedeu. Com Frei Cristóvão seguiram o idoso Frei irmão entre os co-fundadores dos conventos de S. Luís e Belém. • Antônio do Calvário, excelente «língua» dos índios, Frei Manuel Não há dt'tvida de que Frei Francisco trabalhou entre os Batista e Frei João da Cruz, pregadores, como também os dois índios. Deixou dois opúsculos como frutos da catequese. O pri­ irmãos Frei Junípero e Frei Domingos, carpinteiro e oleiro, res­ meiro «Ritos, costumes, trajes e povoações dos Brasis» de que pectivamente. • os holandeses se apoderaram ao invadirem Pernambuco, e o Aos 12 de julho de 1624, embarcou a turma de missioná­ segundo: «Catecismo para o gentio do Brasil» na sua própria rios rumo ao Norte, demorando-se 15 dias em Fortaleza (Ceará), língua. • onde prestaram assistência religiosa a brancos e índios; e como Visto que o primeiro manuscrito caiu nas mãos dos inva­ o capitão Martin Soares Moreno insistisse muito na permanên­ sores, concluiu jaboatão que o autor já devia estar de volta cia de franciscanos em Fortaleza, Frei Cristóvão consentiu que do Maranhão a Olinda, em 1630. • Entretanto, poderia a obra ficassem dois confrades para cuidar do presídio e das aldeias remontar ao período que o irmão passou nas aldeias da própria de índios. E' óbvio que tanto em Fortaleza como nas duas fun­ custódia, tendo deixado o original no convento de Olinda. dações maranhense e paraense fosse destacado, cada vez ao me­ Em 1635, retirou-se Frei Francisco para o convento da nos, um dos missionários da custódia para introduzir os confrades Bahia, onde passou os últimos anos de sua velhice em «peni­ portugueses na obra missionária e servir-lhes de intérprete. ,. tências, vigílias, leituras e oração». • Encerrou a sua peregrinação terrestre nesse mesmo convento aos 24 de fevereiro de 1650, A permanência dos missionários olindenses no comissariado data esta que jaboatão defende, baseado em antigo livro de do Grão-Pará limitou-se, quanto parece, a poucos anos, visto óbitos. ' que Frei Manuel Batista, mais ou menos em 1628, já era en­ 1t Quando Frei Cristóvão de Lisboa, de passagem para o Ma­ carregado da guardiania de Ipojuca. ranhão, desembarcou em Pernambuco para livrar-se dos perse­ Frei João da Cruz, com os irmãos Frei Junípero ", Frei guidores holandeses prontos a invadir a Bahia, pediu ao cus­ Francisco do Rosário '" e Frei Domingos dos Anjos ( 1633), du­ tódio franciscano de Olinda, além dos dez confrades missioná­ rante a guerra holandesa 14 se encontrava na custódia. A sorte rios trazidos de Portugal, outros da custódia já experimentados de Frei Antônio do Calvário deixou de ser mencionada pelas nas lides da catequese, apresentando pat:a isso uma carta de fontes da custódia, pelo que podemos supor que morreu na cus­ recomendação do superior da Província-mãe de S. Antônio. tódia maranhense. 59 58 I Embora sejam parcos os dados fidedignos referidos nos Eis os pnnctpais religiosos que como soldados de Cristo anais franciscanos sobre o auxilio missionário que a custódia não se negaram a defender também os interesses do império tem­ de S. Antônio prestou ao recém-criado comissariado do Grão­ poral: Frei Antônio da Cruz e Frei Gaspar das Chagas acom­ Pará, é certo que atrás desses se esconde uma o-rande soma de panharam, em 1590, a guerra contra os Potiguara ', seguindo­ sacrifícios de trabalhos suportados pelos noss s antepassados se-lhes, em 1591, na segunda campanha contra a mesma tribo c � em prol ela catequese incipiente elo Norte. Frei Baltasar de S. Antônio e Frei Manuel do Portoalegre •; Frei Antônio da Ilha e outro confrade acompanharam Feliciano Coelho,

em 1593, até o Rio Grande do Norte • ; Frei Antônio do Campo cl) A Serviço da Cruz e da Espada Maior, jú septuagenário, segue com um confracle para uma guerra de 1594 , cedendo ainda por duas vezes dois súditos ' Durante os primeiros decênios da Custódia de S. Antônio, quase para acompanharem os soldados; afinal, Frei Bernardino das todos os franciscanos do Nordeste se dedicavam à catequese Neves c Frei João de São Miguel, como excelentes �lfnguas», dos índios. O próprio Pe. Custódio Frei Melchior de S. Cata­ são requisitados para a expedição que em 1597 seguiu para o Rio Grande do Norte • outra expedição igualmente demorada rina, ao lado das freqiientcs c demoradas viagens de Norte a Sul, ; . que se incumbia de expulsar os franceses do Maranhão teve a amda exercia o múnus apostólico merecendo entre os índios o título de Abaré Guaçu. assistência religiosa ele Frei Cosme de São Damião c de Frei Manuel da Piedade, de 1614-1616, segundo acima apreciamos. A atividade dos missionários não se restringia à evangeli­ zação; mas, a mit'tdo, o turbilhão ele guerras os arrastou para Nas obras de construção e consertos de fortalezas, salien­ o campo �e batalha, em tou-se Frei Antônio elo Campo Maior, enfrentando os trabalhos . dcfcsét das suas aldeias a tacadas por tnbos hostis, como no caso de Assento de Pássaro, cuja igreja em Cabedelo, Jnhobi c outra Casa Forte, cujo nome não foi fora incendiada pelos inimigos. transmitido. • • V Hoje estranhamos que os mensageiros de Cristo se tenham árias aldeias curadas pelos franciscanos ainda serviam de prestado para, de cruz na mão, chefiarem os índios nas cam­ defesa aos engenhos vizinhos, enquanto os frades se encarrega­ panhas bélicas. Mas no tempo das conquistas, vam também de dar assistência espiritual tanto aos moradores a cruz c a espada andavam geralmente inseparáveis porque se reputava um «ser­ da zona canavieira como aos soldados dos presídios.. . viço de Deus», inspirado pelo «grande amor da Fé», toda em­ Quem calculará a soma de fadigas, suores, privações, peri­ presa marítima e militar que visasse descobrir novos continentes gos c perseguições por que passaram os franciscanos em suas c subjugar os pagãos, à força d'armas, para incorporá-los ao campanhas militares? I Quanto espírito de rcnímcia c sacrificio, reino de Cristo e ao império luso-espanhol ', havendo até uma quanta caridade e zelo apostólico terão patenteado para com amigos e inimigos?! E quanto aos serviços prestados coroa bula pontifícia de João xxrr a permitir ao clero, tanto secular à de Portugal, não receamos ele repetir a afirmação: «0 reino como �egular� a participação ativa nas guerras, contanto que os cléngos nao matassem nem mutilassem inimic:ro algum mas colonial ergueu-se sobre os túmulos de nossos missionários». 0 I !ao-somente- se limitassem a animar e exortar as tropas, a cuja frente andavam. • De fato a influência do abaré franciscano 4. A PRAXE MISSIONÃRIA DOS FRANCISCANOS junto às tropas valia muitas vezes mais do que toda a estra­ tégia dos capitães e generais. Durante o seu curto prazo de existência, de 1585 até 1619, as Justamente por contarem com a plena confiança dos lndios missões franciscanas não chegaram propriamente a criar um mé­ é que os franciscanos não raro eram chamados para dirigirem todo missionário, ou seja, um sistema baseado sobre normas a construção ou conserto de fortalezas, saindo a mão-de-obra estabelecidas e sancionadas pelo governo da Província-mãe por­ senão de todo grátis, ao menos muito barata. tuguesa; em lugar disso procuravam-se observar as normas prá-

61 60 ticas colhidas pela experiência no decorrer dos anos. Embora Os adultos recebiam instrução religiosa duas vezes por dia, existisse desde 1624, além da custódia de S. Antônio, o novo de manhã, Jogo após a missa, e à tardinha. A doutrina era ex­ comissariado missionário do Grão-Pará, os estatutos da Pro­ plicada na própria língua da tribo e pelo missionário, com a víncia editados em 1645 não traziam ainda determinações a res­ ajuda de um intérprete, se ainda não dominava o idioma. peito das missões, a não ser quanto à jurisdição dos Superio­ Embora as inteligências dos silvícolas fossem bastante rudes res e outras semelhantes. e pouco inclinadas a penetrar nas verdades abstratas da doutrina Na obra missionária podemos distinguir a evangelização cristã, aprendiam, no entanto, os principais ar i�os de fé e se como fim primário e a civilização como finalidade complementar. � esforçavam por seguir a moral pregada c v1v1da pelos seus O presente capítulo visa, principalmente, a evangelização. :�harés. No combate aos vícios, os franciscanos insistiam espe­ ciahnente na abstenção completa da antropofagia, da poligamia, Novas fundações O primeiro passo no sublime apos­ - e das festas pagãs com a inseparável embriaguez. tolado missionário consistia em estabelecer contato com os índios conquistar-lhes a confiança. Isso se tornava particularmente c Assimilação Segundo afirmam os autores franciscanos, - difícil quando a respectiva tribo fora perseguida pelos portu­ a idolatria não existia entre os índios pagãos aldeados e con­ gueses, como nas guerras de extermínio aos Caeté (Una e Porto vertidos no tempo da Custódia. Os costumes e usos da trib , de Pedras), ou quando havia preconceitos contra os portugueses, � que não contradissessem aos princípios cristãos ou que penm­ como entre os Potiguara instigados pelos franceses. tissem uma adaptação ao catolicismo, eram conservados ou as­ Como foi que os franciscanos resolveram o problema de similados. Objetos supersticiosos eram substituídos por outros estabelecer relações com as tribos hostis? No caso dos belicosos cristãos, como crucifixos, enquanto os textos de cantigas pagãs Caeté e Potiguara, informa Frei Manuel da Ilha que, partindo cediam o lugar a outros de caráter cristão, conservando-se po­ do axioma de que os índios se deixam impressionar com provas rém a melodia típica e querida da tribo. O culto dos antepassa­ de coragem nos maiores perigos, os franciscanos penetravam dos, tão acentuado entre os índios pagãos, foi assimilado e no território das ferozes tribos sem outra arma que a cruz, pre­ cristianizado pelas irmandades religiosas introduzidas nas mis­ gando-lhes destemidamente e deixando-os a um tempo admirados sões franciscanas que, a par dos enterramentos e das devo­ dispostos a aceitarem as visitas regulares dos missionários. ' c c ções para com as almas do purgatório, se incumbiam de visitar Havendo escolha entre várias aldeias da mesma zona, os os enfermos e praticar com eles a caridade cristã, virtude que missionários se decidiam por aquelas que melhor correspondes­ os silvícolas desconheciam por completo, abandonando os doen­ sem às expectativas de conversão. Levantavam em seguida o tes e velhos em qualquer perigo iminente. Para, no entanto, chamado «calvário» à entrada da aldeia, o qual consistia em obterem uma transformação entre os índios, os missionários re­ um ou três cruzeiros, sinal da missão fundada. forçavam os bons conselhos com o seu próprio exemplo de ca­ Doutrina Vencidos os preconceitos e as hostilidades dos ridade cristã e ligavam a prática desta virtude a uma tradição - silvícolas, os missionários estreitavam o contato com as famílias, predileta das tribos. Um uso introduzido da Europa e desde já por intermédio dos filhos, a quem ministravam instrução gra­ benquisto entre os silvlcolas foi a oferta das primícias da safra tuita. As escolas faziam parte integrante da catequese. O ensino pelo dia dos Finados. • visava tanto a instrução como a formação sólida, num ambiente Fenômenos etnológicos que não se incompatibilizavam com cristão e isento dos costumes pagãos da casa paterna. O resul­ a prática da religião, como, p. ex., a cuvade, eram tolerados. • tado foi surpreendente, desde a primeira experiência ele Olinda; pois os filhos tornaram-se os catequistas elos pais e parentes, Catecumenato O catecumenato era demorado, requeren­ - chamando-os à atenção toda a vez que incorriam em certas do-se instrução religiosa bem sólida, abstenção dos costu es e � . faltas ou vícios, como, p. ex., a embriaguez. • vícios pagãos acima mencionados e um prazo de expenenc1a.

62 63 de dois anos. Tal prazo era abreviado ou dispensado geralmente guias franciscanos, um sentido superior e mais nobre. •• Se ou­ para as crianças e, em perigo de morte •, para adultos. Mas tras Ordens eram mais exigentes quanto aos tributos de seus justamente o batismo conferido a pessoas enfermas levava, não aldeados, não pretendemos acoimá-las de gananciosas ", uma raras vezes, à superstição de que este sacramento trazia a morte. • vez que visavam o melhor desenvolvimento e organização da A admissão à recepção da Comunhão requeria

Vida litúrgica - Desde cedo os frades menores introduzi­ corporais a meninos c adultos, a homens e mulheres, a cristãos catecúmenos. ram os índios no espírito da liturgia, salientando os mistérios c principais pela solene comemoração das festas, em particular o Quanto aos meninos, embora os pais não adotassem o cos­ Natal e a Semana Santa. Dado o seu pendor à exterioridade, tume de castigar os filhos em casa, eram eles próprios que permitiam, e até pediam aos religiosos castigassem os filhos, os índios devotavam carinho especial às imagens c aos painéis dos santos, razão por que os missionários lhe confiavam a or­ demonstrando, assim, a sua confiança na justiça dos abarés namentação dos altares das irmandades. A recepção da comunhão educadores. dependia de certas provas demoradas, medida esta que encheu Aos adultos se aplicava a correção, e particularmente o os recém-convertidos de profunda admiração para com o San­ Ironco, toda a vez que um cristão ou catecúmeno assistisse a tíssimo Sacramento, enquanto os comungantes, pela sua vida cultos pagãos, ou em outros casos de escândalos pt'tblicos. Bas­ exemplar, procuravam corresponder à grande honra de serem tava o pejo por que passava o culpado para arrepender-se do admitidos à mesa eucarística. • mal cometido, sem precisar de outro castigo corporal. " E' gratuita a acusação formulada contra os missionários de Mal-entendidos Nem sempre os filhos da selva com­ terem com os castigos forçado a entrada elos índios na Igreja. - preendiam bem o sentido e a finalidade de certas práticas de D<1va-se justamente o contrário. Desde que algum catecúmeno virtude ou penitência. Consideravam, p. ex., a flagelação intro­ perpetrasse escândalo público, a recepção do b

Ed) 29·19 3 64 Mls�Ocs Pr�nc. - 65 Daí a vingança dos adúlteros que espalhavam toda a sorte de pudessem recorrer ao centro da missão, onde nunca faltavam calúnias contra os missionários, calúnias que encontram eco alé padres. em nossos dias. Nas suas visitas às igrejas e capelas filiais, os rnissioná­ Quanto aos muito discutidos «casamentos forçados», tratava­ rios levavam consigo alguns de seus alunos como catequistas se de casos de reparação por parte de índios solteiros que, auxiliares. O acerto desta forma de apostolado leigo era com­ havendo deflorado cunf1ãs, tencionavam abandoná-las à desonra. provado pelos bons resultados. Caso parecido ocorria com esposos pagãos que solicitavam o As entradas e guerras constituíam um estado anormal para batismo tão-somente para se livrarem da legítima esposa igua I­ a catequese. Nessas ocasiões o missionário exercia de preferên­ mente catecúmena e casarem com outra. Era natural que o sa­ cia as funções de chefe da campanha, animando e guiando os cerdote negasse a água batismal a todo o marido enquanto não índios para o combate, negociando a paz com os adversários se comprometesse a continuar com a legítima consorte. " c prestando socorros espirituais aos feridos e agonizantes. Nas Se hoje no século vinte nos parece um tanto duro o pro­ construções das fortalezas era também o abaré com seus índios cedimento dos missionários para com os seus subalternos, con­ que enfrentava as obras, garantindo destarte um serviço rápido vém lembrar-nos de que o sentido que hoje atribuímos ao castigo e poupando à coroa vuHosas despesas. Em tais situações anormais corporal não é o mesmo do século XVI. Ademais, os portugueses os próprios índios reconheciam a impossibilidade de se instruí­ se destacavam pelo rigor clescomum em matéria de educação. rem na doutrina cristã e prontificavam-se a continuar o estudo Cada século e cada povo devem ser julgados segundo a sua ela religião logo que se restabelecesse a viela pacífica e des­ própria mentaliclacle. preocupada. ,.

Erros A mawna dos erros que os franciscanos come­ Nudez Quanto ao uso ela indumentária, ela parte elos - - índios, os franciscanos se conformavam com as condições antro­ teram na catequese dos índios deve ser atribuída à sua com­ pológicas e a pobreza das tribos, obrigando apenas as mulheres pleta dependência elo governo português. Bem cedo se tornaram a se vestirem para os atos religiosos da igreja. Entretanto os evidentes as tristes conseqiiências ela falta ele separação entre os índios e colonos, conforme vimos nos casos do Una e da historiadores são unânimes em atestar que as representantes elo belo sexo se livravam elo peso insólito logo que saíam da igreja, Paraíba, onde as respectivas aldeias serviam de baluartes para e isso devido à sua acentuada respiração cutânea. Aliás o mesmo defesa dos colonos contra as vizinhas tribos hostis. Dai a quase fenômeno observado há séculos às portas das capelas missioná­ impossibilidade de se observar o isolamento dos aldcaclos e de rias ainçla se verifica, hoje em dia, entre os nossos índios. " preveni-los contra os escândalos dos colonos. Outro mal, este embora quase inevitável, constituíam as en­ Conventos missionários Depois das experiências colhi­ tJ·adas, guerras e obras de fortificações, as quais os franciscanos - das nas missões de Olinda, os franciscanos se estabeleciam nas tinham que acompanhar, tanto pela sua dependência da coroa aldeias entregues aos seus cuidados, já por causa das enormes portuguesa como pelas circunstâncias do momento que reclama­ distâncias que havia entre os conventos e as missões, já pelas vam, muitas vezes, medidas urgentes e decisivas para a vida vantagens que a convivência dos missionários com seus índios e morte da própria missão. trazia para a catequese. Nas aldeias mais afastadas e isoladas Para a · ausência de um método mais minucioso e rigoroso estabeleciarn-se, em cada qual, quatro sacerdotes. Desde que, po­ na catequese franciscana influíam, além de outras razões, a rém, a custódia franciscana não dispunha do número suficiente pouca, ou pelo menos insuficiente, compreensão por parte do de padres para atender aos constantes pedidos de novas mis­ governo da Província-mãe franciscana de Portugal e a falta sões, fundavam-se conventos e igrejas em posições centrais entre ele continuidade na orientação da custódia; vários custódios vol­ várias aldeias, de modo que os religiosos pudessem visitar as taram para o r·eino logo após a entrega do cargo, deixando os suas missões regularmente e os alcleados, em caso de urgência, seus sucessores em sérios embaraços. Todavia devemos admitir

66 67 que a Província-mãe enviou os seus melhores elementos, anima­ rthando seus novos pastores c não se podendo acostumar ao dos pelo ideal c espfrito missionário, e colaborou na medida do novo regime, muitos aldeados fugiram para as selvas. Mesmo possível para a propagação da . fé, trazendo ao seio da Igreja a pedido de Filipe II os franciscanos não aceitaram o convite inúmeros silvícolas elo Brasil, que à pregação elos abarés fran­ de tornar ao seu primitivo campo de catequese, sendo então ciscanos devem a luz do Evangelho. substituídos por missionários de outras ordens religiosas. '" Livres dos inúmeros desgostos e perseguições que haviam acompanhado o trabalho missionário, os franciscanos não aban­ 5. EPíLOGO donaram por completo a catequese entre os índios; pois em 1624 seguiu uma turma de Olinda para o comissariado do Grão-Pará Lançando um olhar retrospectivo sobre as missões da Custódia a fim de introduzir no árduo ministério os confrades recém-vin­ de S. Antônio, verificamos uma atividade intensa e perseverante, dos de Portugal, segundo acima já apreciamos. malgrado os obstáculos que os missionários encontraram de to­ A f:1se missionária de 1585-1619 representa a página mais dos os lados. brilhante nos anais da Custódia de S. Antônio porque os fran­ O resultado da catequese é brevemente apontado por Frei ciscanos, apesar das suas fraquezas humanas e com todos os Vicente do Salvador, «doutrinando-os [os índios] e batitando empecilhos, conservaram sempre vivo e animado o ideal mis­ os enfermos, que estavam in extremis, que foram mais de sete sionário. mil, fora as crianças e adultos catecúmenos, que foram 45.000, Afinal uma palavra sobre a defesa dos direitos humanos. como consta dos livros dos batizados, enquanto os t.ivemos a Em nome dos confracles missionários fala Frei Vicente do Sal­ nosso cargo». • vador, na sua História do Brasil, baseado na sua experiência A isto acrescenta Frei Manuel da Ilha que, durante as epi­ de superior de uma das missões paraibanas ( 1603-1606) e de demias, nenhum enfermo morria sem ter recebido os sacramen­ visitador das demais doutrinas franciscanas quando de sua ges­ tos •, e referindo-se ao resultado geral das missões franciscanas tão custod'ial (1614-1617). afirma que muitos milhares de almas foram convertidas à fé católica. O Heródoto brasileiro adverte o governo colonial de que os • missionários, além de prestarem benefícios espirituais aos filhos da E' verdade que a catequese dos índios constitufa a meta selva contribuem grandemente para a defesa das aldeias, for­ principal dos franciscanos do Nordeste, o que se conclui dos talez s, engenhos plantações contra os ataques de tribos ini­ dados estatísticos transmitidos pelo Insulano. Assim o convento � c migas e invasores estrangeiros. Eis o argumento: de lgaraçu abrigava 12 padres franciscanos que se dedicavam a cristãqs e pagãos '; as aldeias de Assunção', Una, ao menos «E' tão necessário ao bom governo do Brasil zelarem os governa­ temporariamente ", Jacoca ', as três aldeias anônimas dos Poti­ dores a conversão dos gentios naturais c a assistência dos religiosos com eles que isto se viesse a faltar, seria grande mal porque como guara, aceitas depois de 1603 \ e o Porto de Pedras •, contavam cada uma quatro missionários. No tempo do maior florescimento, estes !ndios não tenham bem que perder por serem pobríssimos e de­ sapropriados c por outra parte tão variáveis e inconstantes que os eleve ter havido 50-60 missionários entre os índios. leva quem quer, facilmente se espalham donde não podem acudir aos Criada em 1614 a prefeitura apostólica da Paraíba e no­ rebates dos inimigos como acodem das doutrinas em que os religiosos meado o primeiro prelado em 1616, tiveram os franciscanos or­ os têm juntos». '" dem de entregar ao Ordinário as missões dessa circunscrição eclesiástica que até então haviam sido «independentes dos Or­ Aduzindo desde logo uma prova de quanto os governos dinários enquanto ao espiritual e ainda dos governadores em estão convencidos da importância das missões prossegue o coisas temporais, por privilégios reais e breves pontifícios». '" franciscano : Uma vez baixada a ordem, os próprios franciscanos insis­ «Entendendo isto bem, o governador Diogo Botelho apertou muito tiram na entrega, a qual porém se realizou apenas em I 619 ", com o nosso custódio " que então era, que pois doutrinávamos os Ta­ sendo os frades menores substituídos pelo clero secular. Estra- bajares (do que os Potiguares estavam mui invejosos) desse tembem

68 69 ­ Vat, ordem e ministros que os doutrinassem; pois, esta foi a principal con • p. 185. 1• dição com que aceitaram as pazes na Paralba�. " Jaboatão, I, 2, p. 208s; Gonzaga, IV, p. 1350. " De fato, entraram em vigor os privilégios da ortllnárla em todas as fun- dações franciscanas do Brasil. p. '2 jaboatllo, 1, 2, t24s. Daí a conclusão de Frei Vicente de que o governo portu­ 10 jaboatão, I, 2, p. 121. " jaboatão, I, 2, p. 155-159. guês deve ajudar as missões, no próprio interesse da metrópole. ,. Dona Maria da Rosa Leitão, viúva de Pedro Leitão, prestara aos jesultas bons serviços de catequista e Intérprete nas confissões dos indlos (Anais da BI­ Como brasileiro, o autor pode falar com mais franqueza do que blioteca Nacional, Rio de janeiro, 49 (1936), p. Os, segundo Vat, p. 115), até os confrades portugueses, aporrtando em seguida a escravização que o primeiro bispo de Salvador proibiu o emprego de Intérpretes nas confissões (S. Leite, Nóbrega, o "Douttsslmo", In Brolérlo� Llsbo� 72 (1961), p. 42ss). dos índios e a defesa que deles tomou o clero: " Pereira da Costa, p. 315-316, 351-353, 3:�8 e 3w..!'. p. " Ibidem, 398. Leite, p. 496 e V, p. 344. 11 I, «Quebraram os pregadores os púlpitos sobre isto; mas, era pregar u Primeira VIsitação do Santo Ofício às portes do Brasil - Denunciações de Pernambuco - P. 172-173 e 25()-257 - Pereira da Costa, desconhecendo esta fonte, em deserto:... . considerava a paróquia mais nova. Igualmente Pereira da Costa reputava a missão de Una mais nova. E murmurando dos portugueses continua: Missões em particular

«.. . e quando vão ao sertão é a buscar índios forros, trazendo-os a) Missões de Olinda à força com engano para se servirem deles e os venderem com muito e jaboatiío, 1, 2, p. 291; Frei Basilio Roewcr, A Ordem Franciscana no encargo de suas consciências. E é tanta a fome que disto levam que, Brasil,1 O.P.J\1. Petrópolis 1947, p. 100, Yat., 11, p . 123. ainda que de caminho achem mostras ou novas minas, não as cavam 2 jaboatão, I, 2, p. 146. As duns nflrrnnções ncirnu contradiz Jaboatlio I, 2, p. 203, dando por começada a mlssllo em mcndos de abril de 1585, o que parece nem ainda as vêem ou as demarcam». " lnvcrosslmll. • Oonzngn, 11. 1301; Frei Lucas \Vadding, O.F.l\1. Amrales Mlnomm, I-XXV, Horna etc. 193lss, tomo 23, n. 45. Pela insistente reclamação dos direitos humanos, em favor • Apud \'at., I, p. 174. Leite, I, p. 4!J.1. Anch. t:nrtlts, p. 306. • Leite, p. 493ss. dos silvícolas, quer o destemido autor demonstrar a base na­ • Gonzaga, p. 1359; Vat., 11, p. 123. ' Rocwer, I, P.. 100. tural para que o múnus rnissionano surta algum resultado. • Prop. Pld. - Am. 1\·ler., I (1649-1713), fi. 202. • Jaboatão, I, 2, p. 148; Frei Dagoberto Romng, lllstórla dos Fran­ Pois, se representantes da religião católica não deixarem de es­ ciscanos no Brasil, 1500-1659, Curitiba 1940, p. 27; Roewer,O.F.lll. p. 100.

1 jaboatão, I, 2, p. 150; Romag, 27, alega como finalidade do In­ 0 Jl. cravizar os índios, como é que estes na qualidade ele pagãos ternato a educação de "jovens lndlos que tivessem Inclinação de tornar-se reli­ o reconhecerão a igreja como depositária ela verdade e da cari­ giosos", que é P.ouco provâvel. p. 149. " jaboatão, I, 2, dade cristãs? ., jaboatão, I, 2, p. 151; Roewcr, p. I OI. " aboatão, I, 2, p. 151. " jIbidem. Embora a publicação da História do Brasil demorasse 250 u Ibidem, 52. P.· 1 Frtl VIcente do Solvoàor, anos, prova para todo o sempre que os franciscanos por inter­ " Salvador, · p. 344. CI. Frei Venâncio Wllleke, O.F.M. O.P.M., In Rn•lsta do Instituto Histórico e Oeocrd(lco Brasileiro, vol. 277, p. 99ss; médio de seu custódio defenderam ardorosamente os direitos ina­ e do mesmo autor A ilfisslono/Ogia de Frei Vicente do Salvador O.F.M., In Revista do Instituto Histórico Geográfico de S. Paulo, vol. p. � e LXII, lol-191. lienáveis de seus aldeados. " jaboatão, I, 2, 52; Rocwer, p. 1* jaboatlio, 11, p. P. 150. 1 102.

b) Missões de lgaraçu

1 jaboatão, 1, 2, p. 56, :100 e 301, e 11, p. 324; Ilha, fi. 273v; Romag, p. 30; Roewer, p. 102. 2 jaboatão, 1, 2, p. 301. NOTAS • Ibidem. • Ilha, 11. 280. • jaboatão, I, 2, p. 301-302. Cf. as coulra.liçües )aboatllo em "As Missões Missões da Custódia da Paraiba", abaixo. de • Jaboatlio, 2, p. 311-312. 1, Vat., 185 jaboatão, I, 2, p. 20ll-307. 1 p. . 1 • P. A. Pereira du Costa, A11als Pernambucanos, I, 1951, p. 315s, 35ts� e 398s (clt. Pereira da Costll ). Recife ' Leite, I, p. 494. c) Missões de Goiana tltJ • Salvador, p. 272. Livro Tombo do .Mosteiro de Slfo Bento de O/Inda, ftcclfc 1948, p. 23s. jaboatno I, 2, p. 121s. 1 jaboatlio, I, 2, p. 366. • Jaboatl!o, I, 2, P. 120. 2 Ibidem, p. 169. Gonzaga, !?· 1359s. • Ibidem, p. 366. •' Ilha, foi. 270 jaboutão, 1, 2, p. 121. - • Ibidem, p. 169. • jaboatão, Ibidem. Ibidem, p. 366. • 70 71 Jaboatão, I, 2, p. 363. lbidem, p. 167, 169 e 170; Romag 34. • • · Leite, I, p. 505; Rocha Pombo, josl\ Francisco da, flistória do Brasil, X ' Jaboatão, l, 2, p. 312. •• vols., Rio 1905ss, V, p. 26. • Ibidem, 201. 11 Calmon, Pedro, História do Brasil I, São Paulo 1959. 11, 40!1. Jaboatão, José Antôniop. Gonsalves de Mello, D. Antlinio FlllrJe Camarão, Hecife 1954, p. 14. p. • I, 2, 60, afirma que, em 1593, quando os frnnclscanos assumiram Braço do Romag, p. 34; Hocwcr, p. 153. Não se tratn aqui da atual se.es vestidos" e "escandalizavam-se os franciscanos", ue é controvertido 20 o q 20 Salvador, p. 344. por Frei Manuel da Ilha, que alega uma praxe gemi em todas as missões da Sousa Amado, p. 160-169. custódia, (Ilha, fi. 294) e por jaboatão I, 2, p. 243, que testemunha a completa :r • Salvador, p. 232. nudez dos gentios, para a quase nudez dos convertidos alega a pobreza e necessidade. • c Castro, Joaquim José da Silva, Chronlca do Mosteiro de N. Sra. do /tlont­ Como os franciscanos administravam também a aldeia de S. Mlgnel do Cirl •• • Serrat da Parahyba do Norte, In Rev. do lnst. Hist. Bras. 21, I (1864), p. (Goiana), alguns escritores confundem uma com a outra, dando como ano da 12-1; jaboatão, 11, p. 360, Ignora o fato da entrega aos beneditinos, antes de 1600, lundação de Una 1591, sendo na realidade a de Clrl. jaboatão, I, p. 3!i8-3G9. supondo que se tenha dado em 1619 ou nt� mais tarde. Doc. Hlst., vol. 68, p. Jaboatão, 1, 2, p. 367, atribui até o caso da cobra a um IncHo de Clri . 247, su õe o ano de 1602. Visitação (Pe.) c Vnt., I, p. 181. p • H 263 Sa lvador, p. 344. De 1602 a 1606 figura como comissário das aldeias o • Jaboatão, 1, 2, p. 322-324; Pereira da Costa, 111, p. 53. Conforme jaboatão, •• Guardião do convento da Paralba, Frei Francisco dos Santos, segundo Informa o passaram os dois missionários quatro anos em Una, entre 1602 c 1615. Veja Livro dos Ouarditíes elo Convento de S. António ela Paralba, in Studia no (de­ documento 11 do ap ndice, p. 77. 19 ê zembro de 1966), P. 177, no C!. Carta de Frei Antônio da Estrela Corte: Documento 1, do apêndice, p. !).75. à e) Missão do Porto ele Pedras Missionários de destaque 1 Leite, I, P. 450. Abelardo Duarte. Tribos, Alllcias c llllssões de lndios nas Alagoas, In Rlii-AL, vol. 28 969), p. 123ss. jaboatão, I, 2, p. 172. (f a) Frei Bernardino das Neves • • Ibidem, p. 305; Ilha, fi. 309v e 310, ntesta urna assinatura de Frei Antônio do Campo Maior feita na Parafba, aos 14 de setembro de 1593. 1 Jaboatão, I, 2, P. 415 e 416, onde se alega a favor da ordenação precoce o • Jaboatão, I, I, p. 224, afirma que o novo custódio Frei Braz de São je­ Breve apostólico e a patente do Ministro Geral. rônimo chegou ao Brasil, ainda em 1596, aduzindo, porém, razões mais convincentes • jaboatlio, Ibidem e Ilha, 11. 292v. (11, p. 393) em favor da gestão de Frei Leonardo prorrogada até abril de 1597, • Salvador, p. 320-324, Barata, j. do Carmo, Apontamentos para a História quando este ainda assinava termos de profissões em Ollnda. eclesidstlca de Pernamb)ICO, Recife 1922, p. 330-331. Jaboatão, I, 2, p. 306. jaboatão, I, I, p. 169-170; Almeida, Cândido Mendes de, Memória para o • • • Ilha, fls. 300v e 31 !, com a data de 6 de agosto e o autógrafo de Frei teonardn. txtlnto Estado do .Maranfllfo, Rio 1874, p. xxlll e p. 508, nega, em parte, a ati­ 1 Frei Adriano Hypólito, O.F.M. Frei Vicente do Salvador e sua Crónlca da vidade de Frei Bernardino, sem no entanto provar, ao passo que jaboat!io, embora Custódia do Brasil, In Província Franciscana de Sunto Antônio do Brasil, Recife tenha escrito em 1761, baseava sobre rica documentação entllo ainda existente 1957, p. 220-244 (citado Hypóllto). no arquivo franciscano de Ollnda. Se o autor não se contentar com Isso, teremos Jaboa tão, I, 2, p. 306; Ilha, fi. 274. historiador contemporâneo de Frei Bernardino pessoalmente missionário 8 ainda o c Ilha, fi. 295, única folha que o autor dedica a esta missão Civezz:t-Stória da Paralba, de 1603 até 1606, Frei Vicente do Salvador, O.F.M. • - VIl, parte 11, p. 241, menciona duas aldeias de Una ao tratar das missões da Ilha, fi. 298; Machado, p. 129. • Custódia, querendo talvez referir-se no Porto de Pedras que representava o avanço jaboatão, 11. p. • 438. ela catequese do Una. Lemmens, O.F.M., Frei Leonardo, Oescllicllte der Franzislcaner­ ' Ilha, 11. 293; Romag, p. 37; Antônio Soares, Dicionário Histórico e Oeo­ mis.sionen, MUnster 1929. 273, nota 13; Romag, p. 34, conhtnde Ponta de Pedras grdfico do Rio Grande do Norte, Natal 1930, vol. I, p. 64-65. Pereira da Costa, p , com Porto de Pedra�. Wa ddlnf! , tomo 23, 1>. I 16. Dicionário Biográfico de Pernambucanos c�iebres, Recife 1882; Pio, Fernando, O Convento de S. Antônio do Recife e as fttndações franciscanas em Pernambttco, Recife 1939, p. 211, afirma que Frei Bernardino faleceu no convento de Ollnda. f) Missões da Paraíba Rutten, O.P.M., Frei Menandro, Livro de óbitos da Prov/ncla de S. AnUmlo, 1584- Recife 1957, Incluindo o óbito de Frei Bernardino sob a data de 19 de agosto, ' Hypóllto, p. 220-237, onde se prova a Influência de Frei Vicente do Salvador sobre deixá1957 no entanto em dúvida a data certa e o ano da morte, dizendo apenas o m�nuscrito de Frei J\lanuel da Ilha. que faleceu depois de 160G. • jaboatão, 11, p. 354; Roewer, p. 102. 8 .)aboatáo, I, 2, p. 168-169 c 11, p. 359, afirma que Frei Melchior voltou pora Pernambuco. b) Frei Manuel da Piedade • Ilha, fls. 304 c 306v. • Jaboatão, I, 2, p. 301. 1 jaboatão, 11, p. 380-3 81; Klcmen, p. 16; Salvador, fJ. Barata, p. 332. • Ibidem. p. 302. 403; jaboatlio, I, I, p. 185. ' Ilha, 11. 304; Jaboatlio, 11. p. 359. • Ibidem; Almeida, p. 172. Ilha, fls. 304 e 305, onde consta um atestadC! datado de 2-V-1589 e assluado • 8 Ilha, fi. 271 r e v; Salvador, p. 407. por Frutuoso Barbosa sobre o levantamento de um cruzeiro no Almagre por Prcl • I, Antônio do Campo Maior. 1 jaboatão, I, p. 198-201; Romag, p. 86-87.

72 73 • Jaboatão, I 1, p. 194-197 e 202-203. •• Ibidem, p. 63 e 70. 1 AHU de LlsboaJ Arquivo Histórico Ultramarino, Lisboa (clt. AHU), sem data ,. Idem, p. 69-70; Almeida Prado, p. 187, ressalta muito os castigos rigorosos (Papéis avulsos, 161:>), ol do que eleve Ir para a conquista do Pará, começa que eram adotados nas missões franciscanas, confrontando-os com os modos mais assim: "Primeiramente religiososR para a conversão das almas de que ha centenas suaves dos jesultas. de milhares mostranse aflelçoados a capuchos (1. é, franciscanos) pello que delles H ibidem. lhes dizem os lndlos do Nlaranhão", apud Klemen, O.F'.I\·1., Frei Mathlas C., The 10 Ilha, 293s; Almeida Prado, 2o tomo, p. 189, ressalta o pretenso rigor tndlan Pol/cy o{ Portugal in lhe Amazon Reglon, 11. 1614-1693, Washington 1954, p. dos franciscanos em quererem "todos os rapazes vestidos" e "escandalizavam-se os 18, nota 34. franciscanos", o que controvertido por Ilha (cl. supra) e Jaboatl!o, I, 2, 243, • LOI, p. 19, apud Willeke, O.F.M., Frei Venâncio, Resumo histórico do cott­ que testemunham a completaé nudez dos gentios alegando para a quase nudpez. dos vento de S. Ant6nlo e do Santuário Sr. S. Cristo de lpojuca, lpojuca 1938, convertidos a pobreza e a necessidade. p. 29 e 78. do jaboatão, 11, p. 384. •10 Santuário Marla tl Ibidem, p. 385; Santa Maria, Frei Agostinho de, l!.l IX Epllogo vols., Lisboa 1722-1723, tomo 3, livro 2, tlt. 47, p. 363; Pereira da Losta, Dlc. Biogr., p. 692. Salvador, 3·14. Apud Romag, p. 99, ABNU-Anals da Biblioteca Nacional, Rio de janeiro • 11 Ilha, p. 29Gv. (clt. ABNR), XXVI, p. 427-428. • • Ibidem,li. 11. 311. • Ibidem, fi. 280. Frei Francisco do Rosário • Ibidem, fi. 292v. c) Ibidem, fls. • 293v-29,1v. ' Ibidem, 29Gv. li. 1 jaboat5o, 11, p. 113-114. a Salvador, p. 343. 2 Ibidem, p. 116. • Ilha, fi. 295. Ibidem, p. 118. • •• Jaboatão, 1, 2, p, 363ss; i?omag p. 39. Ibidem, p. 114, I, p. 356, onde o titulo reza: "Hum tratado

d) A serviço da Cruz e da Espada DOCUMENTO N9 1

Jaboatão, 1, 2, p. 79. • CARTA INÉDITA DE FREI ANTôNIO DA ESTRELA, OFM, 1603 • Nogueira, Eurico Dias, O Padroado de Portugal no Ultramar, in Estudos, ano XXX, fase. 111-IV, Coimbra 1952, p. 188. • Souza Amado, tomo 7, p. 176, bula "Exlmlae devotlonls aflcctus", de 19-111-1410. FONTE Archivo General Simancas (Espanha) • jaboaão,t I, 2, p. 56-81 c 167-171. - de • Ibidem, p. 74, 304 e 305; Almeida Prado, p. 182. Secretarias Provirzciates, códice 1488, Cartas de 1603-1605, Jaboatllo, 1, 2, p. 309. ·• • Ibidem, p. 77. fls. 64-65. • Ilha, 11. 292v; Varnhagen, F. A. de, História Ocra/ elo Brasil, V vols., São Paulo s. d., 11, p. 53; Salvador, p. 329. Jaboatão, I, 2, p. 72; Almeida Prado, p. 186. «Uma das Províncias da família franciscana que Vossa Majestade tem •.o Ibidem. no seu Portugal é a Província de Santo Antônio dos Capuchos ou des­ neste Praxe missionária calços mui reformada. Desta se plantou haverá 19 anos uma Custódia Estado do Brasil por ordem d'Eirei Felipe 11 de feliz memória Vosso O. Pai e com um largo Breve do Sumo Pontífice Xisto V à instância de 1 Ilha, fi. 295v. - Veja documento 11 do apêndice (regulamento), p. 77. jaboatl!o, I, 2, p. 148-152 e 172. Sobre o ensino 2 de oficios etc. veja Gilberto Jorge de Albuquerque, Capitão então deste Pernambuco. Coube-me por Freyre, Casa Orande Senzala, Rio 1936, p. tt:!s. & sorte em uma Congregação que a Província fez em novembro passado • Jaboatão, I, 2, p. 151. • Ilha, 11. 299. De primeiro, os franciscanos combatiam a cuvade como sendo de 1602 ser eleito Custódio para esta nova familiazinha, e costumando costume supersticioso, vendo, porém, lodos os esforços baldados. • jaboatão, I, 2, p. 58. a Província até agora dar aos novos Custódios, quando vêm, 8 ou 10 • Ilha, 11. 299v. frades que sustentam e governam a Custódia, e me deram somente 2 1 Jaboatão, I, 2, p. 151-152. com meu companheiro e eu viemos 4. Contudo sem embargo essa • Salvador, p. 344. e • Ilha, li. 297. pouca suficiência vi que convinha à glória de Deus e ao serviço de jaboatão, I, 2, p. 00. 10 Vossa Majestade, de cuja parte me pediu também o Governador Diogo u Ilha, fi. 297. jaboatão, 1, 2, lll " 69 u p. . Botelho, tomar 16 ou 18 aldeias de gentio da Capitania da Paraíba,

74 75 demais das outras que dantes tínhamos, por mandamento de Vosso Pai, DOCUMENTO N!' 2 e nestas fiz três cristandades, as quais se congregam mais de 15 almas (sic) que com incrível insistência e fervor pediam a doutrina e batis­ REGULAMENTO PARA OS MISSIONAAIOS, 1606 mo. Para o qual ministério se requerem frades de confiança e auste­ ridade e assim pus lá os melhores que tinha nestas duas Capitanias, FONT� Arquivo Nacional da Torre do Tombo (Listwa) deixando por isso os Conventos mal acomodados. A isto se ajusta - Santo Antônio dos Capacl!os, que contra os estatutos desta Custódia, feitos pela Província e refor­ maço 18, n. 26, fi. 2v-3v. mados pelo Pe. Geral passado, passa o Provincial licenças e alguns que cá tomaram o hábito, para se irem ao Reino, por petição de pessoas nobres, representando necessidades, que na verdade o não são. E como Advertências para as nossas doutrinas suas patentes trazem censuras de necessidade as hei de cumprir. E assim 1. se embarcam agora para o Reino, com meu antecessor, entre filhos ela Custódia e da Província, 6 frades, havendo nós vindo somente E com Primeiramente se declara e ordena que nas nossas doutrinas de N. S. 4. pouca gente não se pode conservar estas cristandades que com um da Assunção na Paraíba e de São Miguel em lgnna, daqui em diante, pedaço de zelo e além do principal intento e do maior bem que nisto haja clausura por evitar alguns inconvenientes, nisto haver comodida­ se deve pretender e V. Majestade pretende em todas suas conquistas, que de, e religiosos para isso: c os que o quebrar fazem ou derem ocasião é a conversão e salvação das almas, é também isto importantíssimo ou conselho para incorram nas penas em que pelo mesmo caso isso, a paz deste gentio com os brancos, que sem doutrina não está segura, se incorre nas mais casas da Religião. • nem eles estiveram quietos agora. Portanto, om toda a humil­ Não se dispense nos impedimentos de consangiiinicl

FREI ANTÔNIO DA ESTRELA».

Em despacflo de Val/adolld Modo como se hão de haver os religiosos nas doutrinas O Rei manda que o Padre Comlsscírlo31-V-1604. Gero/ 2. de S. Francisco veja a carta supra. Primeiramente dita pela manhã clara a missa como é costume por res­ peito dos trabalhos dos índios e ensinada a doutrina, tanja-se à escola. Todo o tempo que os moços nela estiverem estarão de feição que tenham medo e respeito a quem os ensina. E a doutrina para que fique t:Om mais autoridade e gravidade se lhes dirá passeando pela igreja coru

0 capelo na cabeç-a. E fazendo prática terá o língua um escobelhi11lw

76 77 em o qual se sente. E passeando algumas vezes se tornará a seu lugar, por que já que é forma de pregação, é justo que se represente com gravidade enxertando os Hnguas com exemplos de Santos e fazendo-os esquecer de seus ritos gentllicos. 111 Todo o tempo que os moços estão na escola esteja a porta ferro­ Jhada; todo o mais tempo esteja com chave para que quem vier tanja. Missões da Província E a porta da igreja, acabada a missa, em o tempo em que se faz doutrina se feche Jogo com chave a qual não se abrirá em outro tempo, de Santo Antônio sem particular licença do presidente. Não se dêem palmatoriadas a índios já velhos principais porque os 1679/1863 tais mais se castigam com repreensão de palavras que com palmatoria­ das de moços. Quando o caso for tal que hajam mister castigo isto não há de ser menos que o tronco, ao qual não mandará algum língua indio ou índia, sem o consultar primeiro com o presidente. Nenhum reli­ I. INTRODUÇÃO gioso dê palmatoriada a mulher, mas havendo-as de dar seja umas á� outras, havendo respeito às velhas, às moças e meninas. E se o que tem cuidado da escola for sóbrio em açoitar os moços advirta o pre­ O único cronista provincial a tratar desta época missionária sidente nisso. vem a ser Frei Antônio de Santa Maria jaboatão, O.F.M. (t Não se consintam lndios nas celas dos frades, nem para que há 1779), limitando-se ele a parcas informações, embora não lhe os trazer dentro da casa, tirando três colomis para o serviço dela, estes faltasse oportunidade para pesquisas mais detalhadas. ' O ar­ os mais modestos c recolhidos, e quem presidir nunca diante deles re­ preenda os religiosos, porque os não fiquem tendo em menos conta. quivo provincial dos Franciscanos do Recife e outros arquivos Acabada a doutrina, não se ponha o religioso língua à porta da brasileiros c portugueses contêm, hoje em dia, poucos dados igreja para mandar dali os índios; mas, mande-os vir à escola dos mo­ missionológicos enquanto uma ou outra obra do século XV 1II ços e ai negocie com eles. permite desvendar alguns pormenores. Não fale o religioso com In dia só; mas, quando alguma se vier Como testemunhas desta era missionária existem ainda vá­ queixar, seja à portaria e tenha o llngua-companheiro consigo. Visitem as aldeias como é costume, duas vezes na semana, para rias capelas, p. ex., a de jacobina, ao passo que do tempo da saberem dos enfermos que há nela e nenhum religioso ande só pela custódia ( 1585-1619) não se salvRram vestígios elas capelas aldeia porque não se escandalizem os seculares; e visitarão as roças primitivas. quando for tempo de plantar porque, se plantarem pouco, possam plan­ A custódia de Santo Antônio, em 1657, foi elevada à ca­ tar mais porque não morram de fome. Persuadam aos lndios a ajudar aos brancos, e em especial àqueles tegoria de província autônoma, enquanto o primeiro capítulo em cujas terras estão. E não se intrometam os religiosos em seus pre­ provincial celebrado em 1659 reuniu os conventos entre Vitória ços. E em todo rancho haverá um índio de mais entendimento que avise c São Paulo em nova custódia que, por seu turno, passou a o língua de como se vive naquele rancho. ser a província da Imaculada Conceição, em 1675. Ambas as Não dêem os lndios para trabalhar fora sem fazerem primeiro suas províncias franciscanas continuavam a receber vocações missio­ roças; e exortem-nos a se confessarem muitas vezes no ano. Como t entrar a septuagésima até a páscoa não dêem ú1dios para trabalhar mai!' nárias de Portugal a é à independência do Brasil. • que quando muito oito dias por respeito da doutrina e confissão. Aqui se impõe a pergunta por que motivo os franciscanos 2 desistiram das atividades missionárias, durante 60 anos ( 1619- 1679). Uma das razões principais constituía a invasão holan­ desa que, até 1654, paralisou quase todo o apostolado Llos re­ ' O Capitulo J>TOvlnclal de 1607 não achou oportuna a Introdução da clausura. ligiosos do nordeste. Os batavos ocuparam todos os seis con­ algumas determinações sobre a disciplina regular dos francis­ • 2 Ainda seguem canos sem dizerem respeito propriamente às missões. O documento vem assinado franciscanos entre Pernambuco e Paraíba enquanto mais 27-X-1606, ventos pela junta custoc.lial com n data de sendo os componentes da juntn: 40 Frei AntOnio dn 13strcla, ex-custódio imediato; Frei Leonardo de Jesus. custódio de frades menores foram exilados e alguns até barbaramente atual; c os consultores Frei Francisco dos Santos, Frei AntOnio Boaventura, Frei AntOnio da Ilha, Frei AntOnio da lnsua. Local da junta custodinl reunida: o assassinados pelos invasores. convento de N. S. dns Neves de Ollnda, PE. Todo o regulamento presente com exceção do primeiro trecho referente à Nesse tempo tumultuoso, cumpriu-se o que frei Vicente do clausura, lol aprovado pelo capitulo provincial de Lisboa aos 21-VII-1607, en­ Salvador afirmara, a saber, que os índios catequizados c trando em vigor em todas as missões da Custódia Franciscana do Brasil. • ai- 78 79 deados facilmente podiam ser empregados contra ataques ini­ dança de clima priucipalun:ntc a lransfcrOm:ia dos lndios ser­ c migos; como a guerra holandesa acarretasse duras perseguições tanejos para a zona Htorâuea causava entre eles grande mor­ à Igreja e em particular às Ordens religiosas, o mesmo interesse tandade. Aceitas as razões das Ordens missionárias, surgiram católico reuniu portugueses, índios, negros e mestiços contra o numerosos centros de catequese na vasta bacia do São Francisco. inimigo comum da religião e da pátria. Assim se explica a para­ lisação das missões, durante muitos anos, até que os conventos quase arruinados se refizeram dos estragos, possibilitando o apos­ 2. A LOCALIZAÇÃO DOS ALDEAMENTOS tolado missionário bem organizado. Em 1624, Frei Cristóvão de Lisboa, ·primeiro custódio fran­ Na escolha dos sítios destinados aos aldeamentos, os missioná­ ciscano do Grão-Pará, levava de Olinda cinco missionários para rios respeitavam em geral as experiências e os costumes dos fundar missões e conventos no Ceará, Maranhão e Pará. Depois índios, dando preferência aos lugares eminentes, arejados e sau­ de terem introduzido os confrades recém-vindos de Portugal, dáveis, na vizinhança dos rios, matas e terras férteis, condições voltaram quatro deles para a custódia de Olinda, ao passo que estas que ainda hoje podemos observar nas antigas missões fran­ Frei Antônio do Calvário parece ter terminado seus dias no ciscanas de Sahy e Jacobina. Vez por outra prevalecia finali­ extremo Norte. dade diferente na escolha da aldeia, p. ex., um ponto estraté­ • Durante a segunda metade do século XVII, aparecem fran­ gico à margem do São Francisco cuja passagem reclamava a ciscanos como capelães militares das tropas coloniais, que auxi­ constante fiscalização e defesa, como era o caso em Juazeiro. liadas pelos índios batizados submetiam outras tribos e esten­ O peso das missões concentrava-se no vale do São Fran­ diam o domínio português sobre os sertões do nordeste. Em cisco por diversos motivos: 1 ) Pontos prediletos para localização dos aldeamentos forma­ missionários que civilizassem os nômades. vam as numerosas ilhas do rio São Francisco, por serem natu­ Enquanto os índios de primeiro eram transportados para ralmente defendidas da invasão de inimigos selvagens e civili­ o litoral, a fim de prestarem serviços nos engenhos e nas plan­ zados. Ficavam, nas ilhas, as missões franciscanas de Coripós, tações de cana, os missionários defendiam a permanência dos Aracapá, Pontal, Unhunhu e Zorobabé. 49) Como o rio São silvícolas no seu habitat ', onde deveriam receber o benefício Francisco liga o norte ao sul do país, os índios aldeados no de catequese e civilização. Pois a experiência provara que a mu- sertão ofereciam grande vantagem ao governo apoiando a de-

80 81 fesa da terra, acompanhando as conquistas e ajudando a sub­ 3. MISSõES DE PERNAMBUCO, ALAGOAS E PARAIBA meter tribos selvagens e rebeldes. Dada a enorme distância que os missionários tinham de Quanto podemos verificar, Provlncia rranci!lc�ulfl asslunlu a ns vencer, viajando de Salvador até as várias aldeias do São Fran­ primeiras missões no litoral de Pernambuco Alagoas, a sabc1 . c cisco, aproveitavam de bom grado o ponto de repouso que se Una, que já administrara, de 1593 a 1619, c Alagoas, co•no lhes oferecia nas missões de Massacará e Sahy, onde também aldeia nova. Em 1680, Dom Estêvão de Figueiredo, prinlt'lro renovavam os mantimentos para a jornada. Conta o missionário bispo de Olinda, menciona as duas missões franciscanas, num Capuchinho Frei Martinho de Nantes que de Aracapá até Sal­ relatório dirigido à Santa Sé ", constando em janeiro de 168 t vador gastava 25 dias de viagem conduzindo consigo os man­ uma consulta vinda de Lisboa quanto às mesmas. " Jaboatão timentos, inclusive água. " aponta dados contraditórios remontando a criação das missões Para formarmos uma vaga idéia dos sacrifícios a que se ora a 1679, ora a 1689 ••, merecendo a primeira data mais fé. expunham os nuss10nanos nas suas viagens apreciemos as dis­ Os primeiros franciscanos então encarregados de Una fo­ tâncias entre as missões franciscanas «vizinhas» : de Jacobina ram Frei Manuel das Chagas e Frei Lourenço de Jesus Maria, até Sahy 108 km; de Sahy até Juazeiro 120 km; de Jeremoabo os quais encontraram abundante serviço em virtude dos últimos até Massacará 100 km. Correspondem as distâncias, com exce­ tempos tumultuosos de guerra, epidemias e debandadas, tão ção da última, à linha de ferro, o que condiz mais ou menos prejudiciais à vida da missão. às primitivas estradas. De Sahy a Salvador regulam pela estrada Nesta segunda gestão, os franciscanos experimentaram os de ferro 458 km; de Juazeiro a Salvador 578 km, ou, no cômputo horrores da guerra dos Mascates. Ouçamos Pereira da Costa, dos antigos, I 00 léguas "; de Aricobé a Salvador (linha aérea) o «Pai da história Pernambucana» : 500 km, enquanto na realidade aumentava consideravelmente, devido aos rios e montanhas a atravessar. «Era na aldeia de S. Miguel de Una que em 1710 residia o ca­ pitão-mor dos índios D. Sebastião Pinheiro Camarão, onde acampava 111; e As altitudes das principais missões são estas: Sahy 59 1 o terço ou regimento de infantaria dos mesmos índios, sob o seu co­ jacobina 470 m; Juazeiro 375 m acima do nível do mar. mando; e esposando ele a causa dos mascates, a gente do partido Por via de regra, a aldeia ficava isolada de outras povoa­ adverso, em represália à sua atitude hostil contra os princípios políti­ ções, para melhor proveito dos aldeados. Havia, porém, casos t:os que os pernambucanos defendiam, invadiu e destruiu completamente o aldeamento, até mesmo lançou fogo às próprias plantações, pelo que de relativa união entre ambas como, p. ex., em Jacobina onde teve ele que mudar o seu aquartelamento para Santo Amaro, nas Ala­ a missão do Bom Jesus da Glória ficava apenas a um km clis­ goas, e onde permaneceu até que se restaurou a destruída aldeia. Aí, tante da. igreja (matriz) de Santo Antônio. naturalmente, faleceu o capitão-mor Camarão pelos anos de 1720». " A aldeia do Sahy, representando um ótimo ponto de comuni­ E, 1740, foram todos os aldeamentos do termo de Sirinhaém cação, recebeu em 1722 os foros de sede de termo, motivo por reduzidos a um só, passando os aldeados à missão de Una. que começou a atrair elementos portugueses e mestiços. ,. Diz a respeito o mesmo Pereira da Costa : A mudança de um aldeamento era, às vezes, aconselhada, senão exigida, por se acharem esgotadas as terras e caças ou «Havendo no termo da vila de Sirinhaém outros aldeamentos, em para evitar maus vizinhos. Esta mudança, porém, dependia da 1740 foram reduzidos a um só e reunidamente na povoação de Una, permissão do governo. acaso com certa oposição dos índios, porquanto encontramos que foi incumbido desse serviço o capitão Inácio de Souza Magalhães, que mar­ E' provável que os franciscanos tenham transferido uma chou da fortaleza de Tamandaré com 50 praças, às ordens do capitão­ ou outra missão, desde que a recebiam de ordens religiosas, mor de Sirinhaém, o que se conseguiu sem resistência alguma dos índios, indispostos com vizinhos importunos. no que teve muita parte e zelo e prudência do referido capitão». ,. Extinguindo-se uma missão, os aldeados gostavam de reco­ A segunda gestão dos franciscanos em Una durou pouco t I lher-se a outras aldeias, como no caso de Jeremoabo. mais de sessenta anos, terminando em 1742 ou 1743; pois a

82� 83 congregação de junho de 17 42 ainda nomeou um missionário, respectivas alcleins para em seguida afastar inclistintalllcnte todos . o que não se repetiu no capítulo de dezembro ele 17 43. os missionários, quer o relatório falasse a favor destes ou con­ A missão das Alagoas, dedicada a Nossa Senhora das Vi­ tra. As missões, uma vez extintas, ou eram elevadas à cate­ tórias, parece ter sido 'fundada pelos 'franciscanos, tratando-se, goria de paróquias, ou reunidas a freguesias já existentes. Diz neste caso, de aldeados pagãos. Consta clescle 1681 a concessão jaboatão que o bispo ele Olinda concordou com as medidas da ordinária a ambas as missões para compra de vinho de clr{tsticas. " missa, farinha de trigo, cera e azeite, elevando-se à importância Não negamos que eram justificadas as pressões contra cer­ 30 mil réis, que posteriormente se estendeu também às outras tos missionários admitidos à Ordem sem a devida vocação e aldeias curadas pelos franciscanos. ,. mais tarde destinados à catequese para alívio das comunidades A missão de Palmar, Alagoas, que os frades menores acei­ religiosas. " taram em 1695, foi ent'regue em 1699, segundo algumas fontes. O procedimento brusco elo governador pernambucano destoa Nada sabemos dela senão a reclamação de Frei Manuel da En­ muito do balanço; pois, apesar da expulsão elos jesuítas, tanto carnação junto ao governador ele Pernambuco contra Diogo Soa­ os capuchinhos como os franciscanos continuaram o seu meritório res que usurpava terrenos da missão. •• apostolado entre os índios ela Bahia. Com todas as acusações A partir de 1702, os franciscanos penetraram no sertão de feitas aos missionários, 121 índios de Pontal chefiados pelo Pernambuco, encarregando-se das aldeias de Coripós e Zorobabé, cacique Tomás Barbosa refugiaram-se na missão de Juazeiro no rio São Francisco e distantes do litoral cerca de 600 km. da Bahia pedindo asilo com Frei Francisco de São Sebastião, Até lá se chegava ou por via terrestre acompanhando os rios O.F.M., porque a situação dos alcleados piorara depois ela re­ lpojuca, Capibaribe, Moxotó ou através ela Bahia pela primi­ tirada dos franciscanos ele Pontal. " tiva estrada aberta para o transporte do gado, existindo ambas A atitude de Dom Francisco Xavier Aranha, bispo de Olin­ as comunicações já em meados elo século XVII. " Segundo a da 1757-1771), afigura-se assaz suspeita, porque anteriormente lei de 19 de fevereiro ele 1700, os missionários tinham direito ( proibira aos jesuítas o ensino, mesmo antes que governo colo­ a alguns soldados que nas extensas jornadas os defendessem o ele índios bravos. " nial tomasse qualquer medida contra eles. Em 1705, a província franciscana recebeu em Pernambuco Visto que o Marquês ele Pombal, desde 1758, encenava a e à margem do São Francisco as missões de Unhunhu e Pontal perseguição elas Ordens religiosas, notadamente dos jesuítas, a =• e na Paraíba a ele Cariris, enquanto já em 1698 se menciona catequese extinguiu-se abruptamente, em grande parte do Brasil. um missionário franciscano anônimo em Campina Grande " sem Alegava-se como razão da restrição das Ordens a decadência que o arquivo provincial contenha qualquer documento alusivo. ela disciplina regular, cabendo porém ao próprio governo colo­ Cariris passou, em 1724, às mãos dos capuchinhos italianos. "' nial boa porção da culpa por ter concedido privilégios a muitos Como última aldeia aceita pelos franciscanos em Pernambuco religiosos, em prejuízo ela viela claustral, e por ter dedicado figura 1741 Pajeú na bacia elo rio homônimo, cujo primeiro pouca atenção aos problemas espirituais e pastorais. missionário parece ter sido Frei Lino ela Cruz. '" Uma medida de conseqüências funestas foi, p. ex., a proi­ T nfelizmente não existem dados sobre a catequese francis­ bição ele conventos missionários no sertão, permitindo o governo cana desta fase missionária ele modo que não podemos format· civil apenas um a dois religiosos em cada aldeia, enquanto era um juízo certo sobre quanto foram justos os motivos alegados preferível um convento central com 4 missionários para as vá­ em favor da expulsão, em 1760, dos missionários franciscanos rias aldeias de um distrito a exemplo do sistema observado em e capuchinhos, que trabalhavam na catequese ele Pernambuco, 1603 na Paraíba. Principalmente as missões elo rio São Fran­ Alagoas e Paraíba. cisco prestavam-se para isso porque ficavam pouco distantes

O governo colonial mandou uma comissão levantar os in­ I ' urnas das outras. Destarte, muitos perigos teriam sido evitados ventários elas missões e elaborar relatórios sobre o estado das pela observância da vida religiosa em comunidade. •o

84 85 4. MISSOES DA BAHIA E DO PIAUl ser melhor encarregar-se outra Ordem religiosa, visto que D. Lconor sentia bastante repugnância à Companhia de Jesus. Mas Durante a fase catequética da custódia de Santo Antônio, os o guardião de São Francisco c o Comissário dos terciários con­ franciscanos deixaram de fundar missões na Bahia porque a testaram haver tal repugnância, esclarecendo que D. Leonor ape­ cúria diocesana de Salvador não reconheceu as faculdades ex­ nas assinara algumas cartas indevidamente, i. é, sem saber de traordinárias que Frei Melchior de Santa Catarina recebera da que tratavam. Corte e do próprio Papa Xisto V. Somente em 1689, constam À vista destes fatos, poderá parecer que os franciscanos as primeiras missões franciscanas abertas entre os Tupinambá defenderam os interesses da «Casa da Torre», contra as Ordens de Itapicuru de Cima c os Cariri de Massacará. religiosas. O que não negamos é que reinava certa animosidade Durante a segunda metade do século XVII, os Jesuítas e entre jesuítas e franciscanos, tanto na Bahia como em outras capuchinhos viviam em constantes desinteligências com os Dias capitanias. Mas uma vez que as autoridades eclesiásticas e civis D'Avila (Bahia), chegando estes a derrubar cruzeiros e capelas reclamassem a reabertura das missões, os frades menores terão missionárias da Companhia de Jesus " e devastando não raras examinado o estado das coisas, chegando à conclusão ele haver vezes os terrenos das aldeias administradas por uma e outra mal-entendidos de ambos os lados litigantes. Ordem. " Ademais o missionário ele Aracapá, Frei Martinho de Nan­ Os jesuítas retiraram-se de algumas missões, ameaçando tcs, O.F.M.Cap., confessa que, por sua fraqueza, o próprio Dias com o completo abandono, se a «Casa da Torre» (Avilas) não D'Ávila deixou de ser desapropriado desterrado pelo Vice-Rei desse a devida satisfação e garantia para o futuro, ao passo c para Angola. Certo é também que tanto os jesuítas como os que os capuchinhos franceses foram obrigados a deixar o país, capuchinhos italianos reassumiram algumas missões aceitando estes sob a acusação de defenderem os interesses do Rei da França, até esmolas e presentes da «Casa da Torre» ••, o que supõe na realidade, porém, por não serem aceitos ao insaciável latifun­ um entendimento anterior. A final os próprios Dias D' Ávila terão diário Dias d'Avila. ,. aprendido com o caso dos jesuítas c capuchinhos, embora nunca Mas tanto o arcebispo da Bahia como o governo e a pró­ deixassem de aparecer choques entre eles os missionários. pria «Casa da Torre», interessados pela ininterrupta marcha da e Como se perdeu quase toda a documentação particular das catequese, recorreram às diversas Ordens estabelecidas na Bahia, missões, fazemos ao menos seguir o gráfico de todas, embora inclusive aos franciscanos. " também este incompleto, incluindo afinal os poucos dados que Foi uma das chamadas «Mulheres da Torre», Leonor O. constam sobre Juazeiro Jacobina. Pereira Marinho, que pediu ao Provincial dos franciscanos ce­ c desse alguns missionários para o rio São Francisco; este, Frei Jácome da Purificação, prevendo as futuras dificuldades e a 5. MISSõES E MISSIONÃRIOS EM PARTICULAR posição melindrosa que tomaria para com os inacianos, respon­ deu que não se negaria, contanto que o rei desse ordens neste a) Nossa Senhora das Gratas de Juazeiro-Bahia sentido; pois estaria sempre pronto a contribuir para dilatar a fé católica. " O maior rio genuinamente brasileiro é o São Francisco porque Quando, dias depois, o arcebispo da Bahia, Dom João desde as cabeceiras até a embocadura percorre a Terra de Santa Franco de Oliveira, quis apressar a volta dos jesuítas para as Cruz. Descoberto por América Vespucci aos 4 de outubro de aldeias recorrendo para isso também a D. Leonor, soube que 1501, trocou o nome antigo de Pará pelo do patriarca assisiense. J<:l os franciscanos haviam ocupado os lugares da Companhia Durante século e meio, o percurso deste gigante continuou em de Jesus nas missões ele Caruru, Rodelas e Arachá. •• grande parte desconhecido até que a <

86 87 MISSõES DA PROVINCIA DE SANTO ANTôNIO 1111 porte de suas inúmeras boladas. E como a cncrn,dlhndu, DO BRASIL, pelas artérias terrestre fluvial, constitulssc pouto 1679-1863 mada c 11111 estratégico, os senhores da Torre recorreram aos franciscanos

fUNDADAS DEVOLVIDAS pedindo missionários para uma nova aldeia a ser localizada na NOME DAS PADROEIROS (F) (D) .MISSÕES ou • ou própria passagem do rio, já então conhecida sob a designação ACEITAS (A) I EXTINTAS de Juazeiro. (E) Frisando a importância de juazeiro, desde os seus primór­ 1 ltapicuru de Ci­ S. Antônio N. S. 1689 1834 (E) & (F) dios, escreve Teodoro Sampaio: ma • da Saúde ' 2 Massacará SS. Trindade 1689 (F) 1854 (E) «A sua zona de influência comercial que, por um lado, atinge 3 Bom Jesus ela Bom Jesus da Glória 1706 (F) 184'1 (E) Cabrobó, 203 km rio abaixo, por outro, a Januária km rio acima. Jacobina afetando ainda os sertões de Piauí, por Oeiras e Paranaguá1.054 e os de 4 Saí N. S. das Neves 1697 (F) 1863 (E) Goiás por Palma e Natividade, é sem dúvida uma das mais vastas 5 juazeiro N. S. das Grotas 1706 (F) 1840 (E) do Brasil Central. . . juazeiro, fundado pelos fins do século XVII, se 6 Rodelas ' S. João Batista 1697 (A) (D) tornou logo um centro preferido das transações comerciais destas re­ • ? 7 Massarandupió' S. Antônio de Ar­ giões e cresceu e se constituiu o foco mais poderoso da civilização guim 1831 (A) (D) • ? e da riqueza desta parte elo Brasil que se pode designar como a Jeremoabo N. S. das Brotas 1702 1718 8 (f) (E) regiiio média, entre os rios São Francisco e Tocantins». • 9 Pambu N. S. da Conceição 1702 (A) (D) • ? 10 Curral dos S. Francisco c S. De fato, no ano de 1706, os franciscanos fundaram a mis­ Bois ' Antônio 1702 (F) 1843 (E) sfio de N. S. das Grotas elo Juazeiro, reunindo os índios Ta­ 11 Aracapá S. Francisco 1703 (A) (D) • ? 12 Camamu N. S. do Desterro 1703 (A) ' (D) lllaquim da redondeza para formarem a nova aldeia. • ? 13 Salitre S. Gonçalo 1703 (A) ' (D) ? Como para construção de novos conventos era necessária 14 Piagui S. Cruz 1706 ' (F) ? (D) a licença especial do governo requerendo um processo muito 15 Catu S. Antônio 1719 • (?) ? 16 Aricobé N. S. da Conceição 1739 (F) 1860 (E) demorado, somente em 1710, chegou a ser levantado o hospício 17 Alagoas N. S. da Vitória 1679 (F) 1761 (E) franciscano «no local onde atualmente existe a artéria urbana, 1699 (D) 18 Palmar S. Amaro 1695 (F) vulgarmente conhecida como rua da entrada no Horto». • Pos­ (A) 1742 (D) 19 Una ou lguna S. Miguel 1679 teriormente deve ter sido mudado para a rua 15 ele Novembro, 20 Coripós N. S. do Pilar 1761 (E) 1702 (A) cujo nome antigo ainda continua na boca do povo como rua 21 Zorobabé N. S. do ó 1702 (F) 1761 (E) 22 Unhunh� N. S. da Piedade 1705 (F) 1761 (E) do Convento. 23 Pontal N. S. dos Remédios 1705 (F) 1761 (E) A primeira igreja igualmente ele 1710 era voltada com a 24 Pajeú S. Antônio 1761 (E) 1741 (F) fachada para o rio e rente ao lugar da atual matriz, onde, Cariris N. S. do Pilar 1705 1724 (D) 25 (F) •• conforme a lenda, se encontrara a imagem da padroeira, tendo o templo servido ao culto divino até fins do século passado • As missões constam em Noticia geral de toda tsta capitania da Bahia, desde o seu descobrimento1-7 até o presente ano de por AntOnio Caldas, edlçlio quando ruiu por completo, visto que durante decênios seguidos fac-similar, Bahia p. 60ss. 1159, José 1951, • As missões ficavam nos seguintes estados: n• I. Sergipe resp. Bahia; n• e não houvera nem conservação nem restauração •, uma vez que 15 Bahia; 14 provavelmente Plaul; 16, outrorn Pernambuco e hoje Bahia; 2-13Ala­ goas; 19-24 Pernambuco; 25 Paralba. 17-18 em 1854 se assentara a primeira pedra para a definitiva matriz. • • "Fundada" significa criada pelos franciscanos ; "aceita" "' assumida de outro Ordem. Sobre a época da fundação, nada mais sabemos nem tampouco • "Devolvida" "' entregue ao bispo; "extinta" promovida a paróquia ou extinta. Em 1758 ern dos capuchinhos. = • Estas missões passaram poucos anos sob a administração franciscana, assim sobre os padres fundadores. corno• ArachA e Cnraru. ' Esta mlssllo foi, durante algum tempo, dos carmelltas. Impõe-se aqui a pergunta como foi possível os franciscanos Niío confundir esta missão com a homOnlmn dos jesultas entre Sentosé e Malhadlnhns. viverem em paz com a «Casa ela Torre», notórias que são as • Caiu nfto aparece nos documentos franciscanos mas sim nos Documentos Históricos, Rio de janeiro 1942 (LV), p. 268. desinteligências anteriores entre esta e as outras Ordens reli­ " As aldeias se compunham de lndlos destes grupos gerais: n9 Tupinnmbâ; nt 2-5, 11, 24, 25 Cariri, Calmbre; n• Procâ; n9 Oualmorê; n91-7 19·22 Tapula. 6 10 giosas. A resposta é fácil, pois o terceiro Garcia Dias D'Ávila,

88 89 A estatística acusa, em 1759, cem casais de fndlos em J ua­ zeiro. ,. Martius contou, em 1809, cento e poucas casas " e o vigário de Sento Sé registrou, em 1836, duzentos fogos ", sem no entanto distinguir os índios dos demais habitantes da vila, que entrementes fora criada em 1833, recebendo, um ano de­ pois, a câmara municipal. " Já em 1766, fora juazeiro elevado à categoria de julgado. Mas o rápido desenvolvimento da aldeia notou-se apenas depois de instalada a câmara municipal. A partir desta data, podemos melhor acompanhar a vida de juazeiro e verificar a constante reclamação da câmara como do próprio vigário de Sento Sé, no sentido de ser criada a paróquia de juazeiro. Assim apela a Câmara municipal para o Presidente e para a Assembléia da Província da Bahia, sob a data de 12 de janeiro de 1836, expondo as dificuldades que há na recepção elos sacramentos, visto que para casamentos e batizados precisam ela licença do vigário de Sento Sé. Por isso renovou o pedido da criação da freguesia de juazeiro.. . O Pe. Francisco Manuel dos Santos, vigário de Sento Sé, alega as mesmas dificuldades, ao responder a um inquérito de 8 de abril de 1836. Já a distância de vinte léguas que separa Segundo a lenda, um Tamaquim achado a imagem numa gruta teria Juazeiro da sede paroquial de Sento Sé aconselha a criação das vizinhanças de juazeiro. da nova paróquia, a qual poderá existir sem dificuldades. Pas­ sando a tratar do lado financeiro expõe o vigário textualmente: que promoveu a fundação desta aldeia, não era tão impehtoso «Os povos vivem na necessidade de pagarem. . . aos Religiosos e guerreiro como os seus antepassados, merecendo de Frei An­ ele São Francisco a quem pertence a Igreja de N. S. das Grotas, pelos sacramentos de necessidade que os mesmos administram tônio de Jaboatão os encômios irrestritos. • E no entanto não sendo oneroso a uma população já vantajosa porque só o po­ lhe faltaram ocasiões e pretextos para brigar, como no caso da nova estrada do Pontal aberta em terra dos Dias D'Ávila, voado da Vila excede a duzentos fogos utilizando estes Reli­ rnas contra a vontade deles, pelos índios de Curral dos Bois giosos de quase todos os deveres paroquiais». E com certo e jeremoabo, ambas missões franciscanas. ' Quando esta estra­ ressentimento se queixa de que o pc'iroco de Sento Sé carrega da, em 1722, foi inaugurada, a aldeia do Juazeiro perdeu muito o peso ao ensejo das eleições e jurados e por outro lado a · lgreja de N. S. das Grotas, apesar de seu estado arruinado, do seu movimento porque deixou de ser a única passagem e nunca mais teve conserto nem autorização para tal. " via que permitisse o transporte do gado do Piauí. • E' curioso que não aparece nenhum parecer dos francisca­ O trabalho missionário em juazeiro eleve ter sido muito mais nos sobre a desejada criação da paróquia, nem ao menos re­ árduo do que nas demais aldeias porque os aldeados viviam ferência a algum missionário determinado. Apenas o nome de em comunicação constante com estranhos que passavam pela Frei José de Santa Gertrudes figura nos documentos públicos, aldeia e porque daqui se tiravam soldados índios para os vários visto este se ter oposto à causa da independência do Brasil, encargos, ora pilotos, ora pedestres. A concluir pela mortan­ por ser ele mesmo português. • • · • dade entre os missionários, também a aldeia terá sofrido gran­ A Câmara municipal formula ainda queixas contra os abu­ des perdas de gente. sos praticados pelos procuradores da «Casa da Torre» " e, em

90 91 tlltllll p:tl'lc, suhrc a itu.lol!!uci.a dos indios, segundo esclarece do b) Bom Jesus da jacobina ollcio seguinte: Os antecessores dos missionários franciscanos na vasta rcgtao s tais pareceres depreciativos, aceitos em outras aldeias da exten�a jacobina, de vez que era concluímos pelo contrário que os missionários da jacobina pres­ difícil conseguir padres seculares para o alto sertão e mais ainda taram inestimáveis serviços à causa da catequese. Pois se não para catequese dos temidos Paiaiá, que, no principiante século tivessem reforçado constantemente o número dos aldeados com XVIII, causavam muita preocupação aos colonos, até que afinal elementos novos de tribos vizinhas, ainda pagãs e quiçá bravas, foram derrotados por tropas paulistas adrede contratadas. que os missionários visitavam neste intuito, a aldeia do Bom Escondem-se no anonimato tanto os fundadores como os de­ Jesus não teria profiado século e meio, tanto mais porque a mais missionários franciscanos que, antes de 1727, trabalharam vila de Jacobina ficava perto, distando apenas um quilômetro. na aldeia do Bom Jesus da Glória; e justamente estes merece­ Como exemplo de rápido crescimento de uma aldeia sirva riam ter os nomes perpetuados porque cultivaram uma vinha a missão jesuíta de Canabrava, atual Ribeira do Pombal, onde assaz pedregosà. Pois, entre 1710 c 1721, constam 532 homi­ em 1690 havia 900 índios; em 1700, apenas 800 aldeados "; cídios perpetrados na áurea Jacobina.. . e em 1759, ainda 100 casas. " Tal perigo receava-o para a Quem avaliará as lutas que os missionários travaram pela missão do Bom Jesus o síndico apostólico José de Antas Coelho liberdade dos seus aldeados, na zona aurífera, onde todos que­ em sua carta ao Ministro provincial dos franciscanos, embora riam enriquecer à custa do índio explorado ou a·té escravizado? os aldeados, em começo do século XIX, ainda fossem numerosos, Criado em 1724 o termo de jacobina em substituição ao ele Sahy, «assistidos sempre de Vigários Regulares, que sucessivamente se é possível que os crimes tenham cedido à ordem e disciplina. '" ocupavam em congregar e polir os índios, enchendo o seu dever» (cf. infra a carta na íntegra). A cobiça do ouro era tão comum que até se proibia a en­ Um golpe duro constituiu para a nossa aldeia calami­ trada de religiosos na zona das minas, co111 exceção dos esmo­ a leres franciscanos da Terra Santa, porque se receava que tam­ dade da seca e epidemia afugentando os índios da jacobina e I dando aos colonos ensejo para roubarem terras e bens da mis­ bém eles fossem contagiados pela «sacra auri fames». Conta a respeito um episódio significativo : «Um belo dia aconteceu que I são. Apreciemos os fatos narrados pelo zeloso síndico e test�­ munha ocular José de Antas Coelho. na jacobina se encontrasse um leigo, trazendo consigo cento e •• cinqüenta oitavas de ouro. O padre guardião do Convento de «jacobina, de junho de 1816. 2 São Francisco da Bahia Jogo fez um requerimento que as oi­ Nosso Revmo. Pe. Me. Provincial Sr. Fr. José de S. Tomás Corrca. tavas de. ouro, «achadas na mão do leigo, lhe pertenciam, por Muito meu Sr. Na qualidade de síndico desta missão, vou parti- serem de esmolas, tiradas nas Minas Gerais. E - escreve o cipar a V. Revma. certos fatos tendentes à mesma, para que de algum modo se dê providência, a fim de não cair de todo, como deve temer-se. vice-Rei, em 29 de outubro (de 1722?) a Pedro Barbosa Leal Esta missão foi criada, como todas as outras, por virtude do Régio - como na Casa da Moeda se assentou que o dito ouro era Alvará, que lhes deu estabelecimento, cujo jus é sólido e terminante, delas, lho mandei, com as declarações precisas e necessárias». existindo por esta causa (como consta) muito antes da criação desta E estendendo-se sobre a matéria, continua dizendo que a resi­ Vila, assistida �mpre de Vigários Regulares, que sucessivamente se dência de religiosos nos distritos elas minas contribui muito para ocupavam em congregar e polir os índios, enchendo o seu dever. Consta também ter-se dado à mesma Missão a Légua de terra em a perturbação da boa ordem - «porque lembrados mais elos observância do alvará, para parte do Poente, em lugares certos, que elos seus interesses que elas obrigações, procuram estabelecer foram assinalados com marcos, para que os índios ali fizessem as suas plantações, sem o que não podem existir. E nesta posse estiveram anos parcialidades, com grande prejuízo ela obediência c escândalo dos seculares . . . Todas estas circunstâncias me obrigam a ad­ bastantes, cujo número não posso declarar por falta de documentos, vertir vossa mercê que de nenhuma sorte consinta na sua ju­ sendo notório que os índios plantavam sem impedimento e pescavam no rio, extraiam barro para louça etc., e além disso, se a1gum colono risdição (da jacobina), nem na do Rio das Contas, religiosos se introduzia, pagava renda à missão, ou repugnando, era compelido alguns, exceto os que andarem no serviço de jerusalém e não por justiça. 94 l 95 Tal era o estado das coisas quando nos anos de 1807, 1808 c a população o que ainda há pouco aconteceu com os índios de Cabrobó, 1809 veio a grande seca, por causa da qual os índios desertaram todos que tiveram a animosidade de pedir a S.A. 14 léguas de terra, as quais ou quase todos, c até o Revdo. Pe. Fr. Domingos de S. José Lobo haviam de ser extraídas das fazendas vizinhas e o Soberano mandou que era o vigário, se recolheu a este com·ento, não para evitar a l;Ó . dar-lhes todas as ilhas do Rio São Francisco que estão naquela para­ fome e carestia de viveres, mas o ramo da peste, que levou a ma10r gem, muito mais em dobro do que pediam. Logo, com muito maior parte dos habitantes. Nesta época, ou pouco depois, vendeu Maurício razão de dar a egtes, as que lhes tiraram e já eram suas; mas, esta há Corrca de Sá, procurador do limo. e Exmo. Conde da Ponte. uma representação deve ser entregue a S.A. em mão própria e por sujeito porção das terras a Catarina Ludovica de Santana por pouco O. 100$000 que lhe exponha a substância; aliás ele não a vê. mais ou menos, outra a Marcelo Soares da Rocha por 70$000, e outra Agora se V. Revma. quer tomar a si este negócio, resolva o que a Francisco Vaz por 28$000, com o fundamento de ser o scsmciro das julgar melhor; se quer que eu intente a demanda, sem demora o farei; terras e, como tal, senhor. e se pensa mais acertado representar, esta carta tem dado as noções Voltaram depois os índios em número grande, conduzidos por outro precisas que são todas verdadeiras e constantes nesta Vila. já velho, de nome Antônio Gonçalves do Rosário, que morreu nessa Sou com o maior respeito o mais atento S. e Criado. cidade, e achando as terras vendidas, passaram a arrancar os marcos, fazendo várias violências, que de nada servem, porque os compradores jOSE BENTO D'ANTAS COELHO - Síndico de jacobina ... estão possuindo e os não consentem. O mesmo índio fez um requeri­ mento ao limo. e Exmo. Sr. Conde dos Arcos, pedindo a restituição ignoramos se a cúria provincial tomou as providências so­ das terras e foi mandado informar pelo Ouvidor da Comarca, cujo licitadas e se foram bem sucedidas. passo não foi bem sucedido, porque o Ministro mandando chamar três A definitiva extinção da missão jacobinense efetuou-se homens desta mesma Vila, de fé, para fazer deles a necessária ave­ c em 1859. riguação, estes não só disseram que não sabiam, mas depuseram, c Provavelmente m er servindo de base estes depoimentos foi a informação contrária à ver­ o nú ero dos índios já a bem reduzido, dade, e o Sr. Oal. nada decidiu. Porém o índio, incansável, não vendo falta de novos elementos forasteiros que enchessem devido à , resultado tornou a atacar o mesmo Exmo. Sr. com outro semelhante as lacunas. Por outra, a província franciscana já começara a requerimento que teve por despacho «Remetido ao Ouvidor da Comarca agonizar não dispondo de missionários moços para a obra mais para deferir com justiça:�>. Este me foi dado pelo Rcvmo. Vigário atual, rueritória urgente de todos os tempos. c eu mesmo o apresentei ao Ministro, que me disse havia de dar vista e às partes, urna vez que lhe requeressem, porque o Sr. Oal. assim or­ A grande vantagem da missão jacobinense consistiu na denava. Eis que o ponto da questão, e tendo feito várias conferências continuidade da catequese franciscana, durante século e meio, com o Revmo. Vig{trio, o Pc. José da Encarnação, assentamos participar e na vida exemplar do derradeiro missionário Frei José ela cu n V. Hevma. todo o fato para dirigir tudo com maduro conselho pelo caminho, para julgar mais acertado. • Encarnação. , • Quanto a mim, entrarmos em litígio parece-me desacerto, visto que havendo oposição, o êxito é duvidoso, porque no juízo Privativo têm saldo todas as causas a favor da Casa, sem que uma até agora saísse c) O Santo Missionário da jacobina contra. E por esta razão julgo mais prudente fazer-se uma represen­ tação à Sra. Condessa ou a seu filho narrando todo o fato e parece-me que, sabida a verdade, hão de mandar restituir as terras à missão, Entre os missionários da aldeia do Bom Jesus da Glória so­ sem mais contenda nem disputa : e penso assim porque, ainda em vida bressai a figura ele Frei José da Encarnação, apóstolo que aqui elo conde falecido, os moradores do arraial ela Saúde, pertencente a morejou mais de trinta anos c cuja memória o tempo não con­ esta Vila, pediram-lhe por um requerimento meia légua de terra ao !'eguiu apagar nesta zona aurífera. redor da capela, para patrimônio, e espontaneamente concedeu. v , Chamando-se no século José Custódio Sil estre nasceu mais Mas, acontecendo que aqueles Fidalgos não atendam à súplica, então 1780, deve recorrer a S.A.R. alegando a justiça dos lndios, a qual é sem ou menos em na freguesia de S. Maria de lv\oz, arcebis­ thívida incontrastãvel por todos os princípios de direito e prática atual pado de Braga, sendo filho legítimo de Manuel Antônio Sil­ do Ministério não só agora, mas de tempos mai!; antigos, porque os v t •• es re c josefa Maria de Oliveira. augustos Soberanos não querem jamais Aqueles povos sem do­ nossos Aos 18 de dezembro de 1804, tomou José o hábito ·fran­ micilio certo, e isto por duas razões, que são manifestas : engrossar Portugal, o número dos vassalos e reduzi-los à Religião; e para estes fins se ciscano e o nome de Frei José da Encarnação, ern 20 1805, v conseguirem, é indispensável dar-lhes as terras que precisarem, segundo professando a de dezembro de aos inte c cinco anos

F�anc. l!d) 2949 96 - Missões • 97 de idade, no Convento de Paraguaçu, Bahia, sendo presidente 1-!llgistramos aqui com satisfação o batizado que o missionário daquela comunidade religiosa Frei Domingos de São B�aven � octogenário administrou na matriz ao filho do seu grande tura. " Embora português de nascimento, consideramos Fre1 jose qunsc sfndico das missões do Sahy e do Bom Jesus, Coronel um reJicrioso brasileiro visto que aqui passou toda a sua vida antigo c Munucl Fulgêncio de Figueiredo, aos de junho de seráfica� pondo quase todo o seu múnus sacerdotal a serviço 12 1858. Ignoramos os motivos particulares que levaram Frei José, das missões entre os índios. demorar-se na missão, desde l embora na comunida­ Pouco depois de sua ordenação sacerdotal, Frei José deve a 849, de pudesse gozar os tradicionais privilégios de septuagenário. ter seguido para o alto sertão, pois, em ocupa o cargo 1810, �� Provavelmente não se retirou ao Convento de Salvador, devido de missionário em jacobina, onde o aguardavam cond1çoes pouco ao peso dos anos e à saúde abalada pelos labores apostólicos : lisonjeiras, visto terem os índios fugido, apavorados pela seca. •• pois a viagem de jacobina até Salvador fazia-se ou a pé ou a Após os dez primeiros anos, quase todos passados na aldeia cavalo em nada menos de 3 semanas, esforço demasiado para do Bom Jesus exerceu Frei José os cargos de presidente e mestre ' .. um ancião de setenta anos. elos noviços ( 1820-1824) no Convento de Paraguaçu. O santo missionário de Jacobina terminou a sua peregri­ Os anos de até o nosso missionário os repartiu 1824 1831, nação terrestre em 1859, não constando a data exata nem o entre as aldeias de juazeiro e jacobina 3'\ sendo em 1831 eleito lugar certo de sua sepultura. •• guardião do Convento de Paraguaçu, cargo honroso que Frei Frei José ela Encarnação terá o seu nome eternamente vin­ José renunciou. •• culado ao da missão jacobinense; pois, renunciando às honra­ · O capítulo provincial dos franciscanos celebrado em 1832 rias de sua Ordem, preferiu exercer o apostolado quase anônimo na Bahia transferiu Frei José da Encarnação para a Vila de entre os filhos ela selva, fechando com chave de ouro a lista São Francisco, de onde voltou em 1834 para a sua querida mis­ elos beneméritos apóstolos do Bom Jesus ela Glória. são jacobinense, à qual dedicou o resto de sua vi�a terrestre, passando apenas dois anos ( 1840 e 1841) na alde1a de Mas­ sacará. "' 6. A CAPELA DA MISSÃO A tábua capitular de 4 ele dezembro de 1847 aponta pela Visitando o local dos antigos aldeamentos verificamos que al­ última vez o nome de Frei José e a missão do Bom Jesus, e re­ guns desapareceram por completo, ou porq!le a missão se ex­ ferindo-se a esta diz o arquivo franciscano: «Esta já passou a tinguiu muito cedo ou porque os aldeados abandonaram o sítio freauesia» (de S. Antônio da Jacobina) dispensando, pois, a já esgotado e fraco ele caça, como parece ter sido o caso de pre�ença de missionários u; e como nas tábuas capitulares figu­ S. Gonçalo do Salitre, na vizinhança do atual povoado Abreus rassem apenas os religiosos que ocupavam algum cargo, o (Campo Formoso); outras missões desenvolveram-se nas cidades nome de Frei José da Encarnação deixou de aparecer desde florescentes, sendo a capela substituída por igreja moderna e 1849 até sua morte em 1859. sobrevivendo con1o únicas testemunhas da missão algum nome de Mesmo que a missão deixasse de existir a p �rtir de � 8_47, rua ou praça e uma ou outra venerando imagem, mudada para continuou Frei José no seu querido campo de açao apostohca, a matriz, como se deu em juazeiro (Bahia). Afinal há capelas onde era estimado e venerado não só pelos restantes índios que porfiaram à ação demolidora dos séculos e do «progresso», que permaneceram sob a sua direçã�, mas també� �ela po�u­ testemunhando ainda a gerações vindouras o apostolado francis­ , . Jação da paróquia, à cuja frente eshvera como v1gano mtenno cano, tal como presenciamos em Sahy, Aricobé, jacobina etc. em tendo-lhe curado muitas vezes tanto a matriz como Quanto parece, é a missão do Bom Jesus da Glória de as capelas1829, do interior. " Jacobina a que melhor conserva as feições originais, razão por A permanência de Frei José em jacobina até a s�a mor�e que segue aqui a sua descrição. está comprovada pelos livros paroquiais desta paróqUia, ba�t­ No ponto mais aprazível da cidade de jacobina, ergue-se zando ele ora na matriz, ora na capela do Bom Jesus da Glóna. a bicentenária capela do Bom Jesus da Glória, conhecida como «Igreja da Missão». Fundada em 1706, conservou-se esta aldeia 98 99 sob a direção dos franciscanos até meados do século passado, permanecendo ainda hoje viva a memória do último missionário, Frei José ela Encarnação, aqui 'falecido com fama de santo em 1859. . Enquanto desapareceu por completo o conventinho francis­ cano, outrora localizado ao lado direito da capela rnissionári;�, continua esta em bom estado ele conservação, graças aos es­ forços dos monges cistercienses, encarregados da paróquia ele Jacobina, e dos numerosos devotos do Bom Jesus. ·�� No meio de espaçoso terreiro, domina a igrejinha impondo­ se à aldeia e aos arredores. Ainda que a construção seja em todo sentido modesta, salienta-se todavia das choupanas pela posição central e isolada, por sua altura e linhas arquitetônicas. Engenheiros e construtores devem ter caprichado em executar . -. : · uma obrtt-prima a começar pela planta baixa que evita as linhas . ... :. f(f-' · . ��� :. . ·· monótonas, fazendo recuar e destacar as diversas partes da ca­ pela e aplicando uma graciosa graduação aos vários tetos, cada · . .. ' ·�..:...... , NAVE .. . :� qual com as vistosas beira-bicas a rodearem todo o telhado. � '• ' • : - Os dois alpendres do adro do oitão esquerdo, além de ,•::-:•' ·. .. · · c AL . defenderem o interior da capela do calor e das chuvas de vento, ..· . ;� combinam muito bem com a finalidade missionária a que se des­ PENDnE tinava este templo. Deparamos em espírito os inúmeros índios que, sentados sobre as bancadas de tijolo, escutavam o Padre Mestre franciscano, a explicar-lhes as verdades eternas do ca­ tecismo. Ademais estes alpendres terão desempenhado o papel das nossas escolas paroquiais e salões de reunião, enquanto as missas de festas extraordinárias e muito concorridas celebrav:tm­ se no alpendre lateral, assistindo o povo no terreiro, que depois do culto divino servia para os chamados mistérios, danças e outros divertimentos. O alpendre do oitão abriga duas escadas, uma dando ao púlpito e outra ao coro e ao primitivo campanário de madeira, onde o velho sino da missão convida ainda para as missas dominicais. Segundo o costume do principiante século XVIII, a fachada O brazão da Provinda de Santo Antônio (em cima es­ à da capela ten1 uma só porta e está ladeada por duas janelinhas querda) acha-se executado a cores sobre o arco triunfal da baixas que permitiam a visita ao Santíssimo sem se penetrar igreja. O pedestal diante do átrio indica o cru1.elro. na igreja. De.w!llflo de Frei Floriano Surian, O.F.M. O recinto do templo surpreende pela sua simplicidade, r;tzTto principal de sua beleza. Adivinha-se a tendência dos construtores na disposição da capela deixando eles o corpo da igreja desti-

100 101 estabelecida nesta capela c cujo orago era o Cristo a atenção dos fiéis para ••utrma fuído de arte para concentrar toda o ll.l�l'llltiO. altar-mor, que por sua vez salientava devido à rica pintura c ao majestoso trono, encimado pelas imagens do Bo111 Jesus, São A sacristia é que melhor conserva os traços de originalidade l'lllll �� pesad da de enormes gavetõos e metálicos puxadores. Francisco e Santo Antônio. � �ôm� vau da umca Janela com dois assentos feitos em alvenaria Também as paredes da capela-mor, o forro dividido em <> l't'onomiza espaço c cadeiras. A peça mais graciosa da sacristia retábulos e os próprios degraus do altar mostravam abundante rcprcsc ta o armário embutido com as suas vivas cores de pin­ pintura que posteriormente foi coberta a óleo, respectivamente � .. tura prumtJva, as belas gavetas e as portinhas de gradil. a cal. Em toda a capela, faltam por completo as obras de can­ Ao lado do evangelho c rente ao altar sobe uma escada . tarta, send os nesmos batentes das portas, com exceção de de madeira que leva ao trono para exposição elo Santíssimo. . .� ! dOIS, de tiJolo fmo posto gatgo. As cinco portas principais Uma cancela vedava a subida aos leigos. � . da capela obedecem ao esblo antigo das almofadas vistosas. ••• Dos dois antigos altares laterais de N. S. da Piedade e São Miguel restam apenas os vãos nas paredes com diversas Ao passo que o conventinho franciscano foi derrubado em imagens de barro e outras de madeira. I 860, servindo as pedras para construção do muro do ce ité­ rio hoje local do hospital), a capela do Bom Jesus da Glória:n Sobre o arco triunfal aparece vistoso o brasão franciscano tu� ua a cvocar o sublime aposto lado mi�sionário que os filhos pintado no próprio reboco. Este belo emblema recorda a gera­ con � . de Sao Franctsco exerceram entre os Paiaiá, de a 1859. ções futuras os missionários serãficos que nesta vinha morcja­ 1706 ram durante século e meio. A única peça de talha ainda existente e conservada na ca­ 7. O MISSIONARJO pela é o modesto púlpito de três faces, figurando à esquerda a cruz, sinal instrumento da salvação, para explicar que o c Nem tod r�ligioso que aportava no Brasil podia ser missionário nome do Bom Jesus da Glória significa Salvador. A meia lua � entre os mchos, mesmo que viesse para esse fim. O célebre mis­ pé da cruz representa N. S. das Dores. Aparece na face f\0 s onãrio Frei Martinho de Nantes, O.F.M.Cap., enumerou, pelo do centro o sol simbólico a interpretar as inovações «Jesus, � ftm do sé ul� XVII, as quatro básicas condições seguintes que sol da justiça» e «Jesus, esplendor da luz eterna». Com esta . � . cada nusswnano dev1a. possuir: I) suficiente conhecimento da figura contrastam os dois astros, direita, que pendentes para à língua da tribo; 2) amor aos filltos das selvas; 3) desprendi­ baixo ilustram a expressão evangélica «Ü céu e a terra passa­ ento dos bens terrenos; 4) firmeza na virtude da castidade, rão; não, porém, passarão as minhas palavras» (Mt 24,35). � Ja que as mulheres indígenas fadlmente se ofereciam a qual­ Assim receberam a pessoa e a doutrina de Cristo uma bela quer homem. " interpretação na arte primitiva desta capela. A escol�a, portanto, era limitada de antemão. Quando o . Todo o corpo da capela está dividido em sepulturas, à ma­ btspo de Ohnda recebeu um pedido que cedesse sacerdotes de . neira dos antigos conventos, tendo as antigas tampas inteiriças sua dwcese para assumirem algumas missões, escusou-se deli­ de madeira cedido a tábuas estreitas. Os missionários eram se­ cadamente, alegando que dificilmente encontraria entre seu nu­ pultados de preferência na capela-mor, onde, em 1859, o último n�croso clero padres em condições suficicn tes para um trabalho franciscano Frei José da Encarnação deve ter encontrado o repouso. tao penoso e de tamanha responsabilidade. " Comunicando com a capela-mor por meio de um gradil de Somente um grande amor pela salvação elas almas dos in­ madeira fica do lado da epístola o oratório dos religiosos, em clíge las podia mover o religioso para deixar o calmo e ordeiro continuação até o adro, uma capela lateral que ocupa um cor­ � ambH nte do claustro c embrenhar-se nas incertezas da floresta. redor, traindo 1udo feições do século passado, portanto cons­ : Por 1sso a Província de Santo Antônio concedia aos missiou!l­ trução mais recente do que a capela principal. Talvez se trate rios certos privilégios. Para prevenir, porém, abusos limitou em de obras realizadas pela irmandade do Bom Jesus da Paciência,

103 102 1695 a permanência do miSSionano no mesmo lugar ao períodc· Neste caso se compreende reter em seu poder escravos fugitivos de três anos. Terminado este, era transferido para outro lugar ou que se apartaram de seus senhores, ou furtados; e também compra ou venda dos índios, da missão... a que são livres, quando. os cativam Pou<:os frades conseguiram permanecer longos anos nas para os fazerem escravos, ou para outros fins injustos, ou para servirem deles; isto se reserva, ou os índios sejam bati­ missões. No período de 1777-1860, somente cinco franci::;canos se c· alcançaram vín te a quarenta anos de viela 111issíonária. Mesmo zados ou não». '8 Contudo, o superior da missão só podia mandar julgar e estes trocam um ou outro triênio pela vida claustral. .. Muitos . desistiram dos trabalhos missionários por motivos de saúde. Não pun1r em casos leves. Os casos graves eram reservados ao jul­ puderam enfrentar as doenças, principalmente as febres, acomo­ gamento pelas autoridades públicas. dar-se à penúria material e espiritual, suportar o peso da vida V árias autoridades possuíam competência para se pronun­ selvagem. Na zona do Rio São Francisco as doenças c os casos ciarem sobre questões relacionadas com as missões: o Superior de morte eram tão freqUentes, que havia continuamente quatro Provincial juntamente com o definitório e o visitador das mis­ frades em disponibilidade para substituí-los. Até o governo se sões, o bispo, a junta das missões, c o governo colonial, que mostrava complacente, permitindo· tacitamente que os lllis�ioná­ exigia dos índios prestação de serviço militar, em tempo de rios fossem excluídos do cômputo do número ele religiosos le­ guerra e nas expedições de conquistas quando deviam estar acom­ galmente permitido.. . panhados por um missionário, única pessoa em que eles confiavam Além da atividade espiritual propriamente dita, que incluía de modo absoluto. Exigia ainda dos missionários rigorosa admi­ também o cargo de pároco dos índios, o missionário via-se na nistração elo patrimônio elas missões, c elos índios a aprendiza­ obrigação de assumir a direção administrativa da aldeia, já que gem de trabalhos profissionais. •• os índios só se preocup<�vam com o presente e não pensavam Com tantos encargos, o missionário corria perigo de entre­ gar-se demasiadamente aos trabalhos temporais, relaxar-se nos 1�0 dia ele amanhã. Não raro as JlCccssiclaclcs materiais causa­ vam tantas preocupações que lhe consumiam a maior parte do deveres espirituais e naufragar em sua vocação. Não é, portanto, dia. De manhã, o trabalho devi<� ser distribuído, e durante o de admirar que houvesse queixas de fndios e de visitadores contra dia vigiado e dirigido. alguns missionários. •• Houve por parte do governo a tentativa de encarregar pes­ Para aliviar o peso dos encargos dos superiores das mis­ soas seculares com a administração das aldeias. Em breve, po­ sões, os estatutos provinciais aconselham aos missionários súdi­ rém, chegou a constatar maus resultados, porque estas pessoas tos que se coloquem à disposição do superior, e mesmo se encarre­ guem de algum setor de administração. Na realidade, o superior da procuravam seu próprio proveito c exploravam os indígenas. •• Em 1746, a junta das missões reivindicou então para os mis­ missão possuía somente poderes diretivos sobre os súditos, mas nem por isso podiam eles movimentar-se a seu bel-prazer. De­ sionários a administração total das aldeias. " viam reconhecer nele o seu legítimo superior e atuar sob a Em conseqüência ela situação patriarcal das rmssoes, o mis­ sua direção. " sionário exercia também o cargo de juiz. Ouvia as queixas elos índios. Proferia o veredicto. Vigiava sobre a ordem e a moral Tirando lições de más experiências, a direção da Provfncia públicas. Defendia os direitos dos silvícolas contra a prepotência aconselhava aos superiores das missões que colocassem os seus dos brancos e dos mestiços. Neste ponto, os missionários tinham súditos a par de todos os negócios para que, em casos de au­ in·teíra compreensão e enérgico apoio da parte do arcebispo ela sência, doença ou morte repentina, tudo pudesse continuar nor­ Bahia D. Sebastião Monteiro da Vide, que reservou para si malmente. " a absolvição dos crimes cometidos contra os direitos humanos, O superior devia colocar à disposição de cada súdito urri como claramente ressalta das seguintes palavras: «Reter o alheio, ou dois índios jovens, livres de qualquer outro compromisso, cujo dono se não sabe, que exceda a quantia de dez tostões. para auxiliá-lo ern seus trabalhos. No entanto, se quisessem

104 105 8. SUSTENTO DAS MISSõES mandá-los fazer serviço fora da missão, deviam pedir licença ao superior. Era-lhes também vedado intrometer-se na adminis­ De modo geral, cada missão devia prover a sua subsistência. tração da missão. •• Cada aldeia dispunha de uma légua quadrada de terras. No Por ordens baixadas em 1739, a Província impôs aos mis­ entanto, esta área demonstrou-se pequena demais para resolver . _ SJOnanos_ o dever de residirem nas aldeias dos índios e de nelas os problemas. Acontecia que o solo nem sempre apresentava celebrarem a missa aos domingos e dias santificados; proibiu boa fertilidade. As saúvas devastavam as lavouras. Depois da _ _ colheita a terra necessitava de recuperação, pois era lavrada a a c c:J�braça_o de n_t�s�a em casas particulares a não ser para adm1 1straçao do v atJco, apesar da existência dum privilégio que enxada; não recebia adubo; para fazer nova lavoura era ne­ ? . � pe1 m1ha aos franc's anc s celebrar fora da capela, quando ela cessário deixar crescer o mato, roçá-lo e queimá-lo para que : . � � estivesse a uma d1stanc1a ele mais pe -três quilômetros. Os su­ as cinzas servissem de adubo; assim empobrecia sempre mais. periores provinciais aconselhavam os missionários que registras­ Os missionários queixavam-se freqüentemente sobre a in­ vasão das terras das missões e sobre as devastações causadas sem a�ualmente todos os índios que cumprissem o preceito de clesobnga, bem como os que se casassem durante o ano. Com pelo gado dos fazendeiros. Os indios queixavam-se de que não a mftxima exatidão deviam ser manejados os seguintes livros: podiam criar gado suficiente, porque a légua quadrada não com­ portava mais elo que oitenta famílias e uma população de mais do regist�o de inventário, de batismos, de casamentos, de óbitos, e de rece1tas e despesas. No arquivo da Província existe, porém, de trezentas pessoas. A caça, seu principal alimento, minguava sempre mais.. . somente o ele inventário, feito em 1739. • • As missões franciscanas recebiam extraordinário auxilio da Nc111 sempre as Ordens religiosas acatavam a autoridade . família Dias d'Avila que diariamente doava um boi a uma al­ c�1sc?pal sob �e as missões. Preferiam apoiar-se nos antigos pri­ deia. •• Provia também as capelas de paramentos; pois assumira vilégiOs papa1s, como já fazia o primeiro Custódio Frei o ' sobre as mesmas uma espécie de padroado. Possuía grandes ter­ Melchior de Santa Catarina. Em 1732 o rei O. João v quei­ ritórios e tinha possibilidades de fazê-lo. x�va-se dos Superiores Provinciais que não requeriam juriscli­ Depois de acerbas discussões com os jesuítas, esses gran­ çao para as missões dos índios, não prestavam contas sobre a des proprietários resolveram viver em paz com as ordens reli­ catequese, apesar de que as missões estavam equiparadas às giosas. Davam, no entanto, preferência aos franciscanos. Mas, paróquias, e por isso sujeitas à autoridade elos bispos, nem se­ apesar dos seus generosos auxílios, não conseguiram vedar os quer admitiam visitadores episcopais. " olhos aos missionários para não verem certas injustiças cometidas A questão da visitação foi discutida, durante anos. Em 1744, pelos Dias d'Ãvila. O Superior Provincial recorreu à Corte contra . fo1 severamente instada junto aos bispos e provinciais. Em 1779, a invasão dos terrenos reservados às missões. No dia 24 de maio a Corte de Lisboa determinou por decreto real que as mis­ de 1757, recebeu despacho favorável e autorização ele mandar tllll medir novamente a légua quadrada das missões prejudicadas. •• sões se sujeitassem à visitação episcopal. •• Os auxílios do governo colonial para o culto divino, cha­ O Provincial dos franciscanos insistira, em 1776, nos an­ mados «ordinária», deviam ser especialmente requeridos para tigos direitos. O missionário de ltapicuru teve até um doloroso cada nova missão. Em 1707, Frei Cosme do Espírito Santo atrito com o visitador episcopal. Invocou os direitos concedidos requereu o respectivo dinheiro para todas as novas missões na pelo papa e o direito de Padroado. Declarou que só desistiria região do Rio São Francisco. •• elos privilégios por uma ordem emanada da autoridade real. As penosas viagens dos missionários desde o litoral até as O Provincial apelou às instâncias superiores. Em 1779, o l"�i missões eram feitas por conta do «viático» estatal, i. é, o go­ deu ganho de causa aos bispos, e o Provincial sujeitou-se à , verno as pagava. Além desse, o governo concedia muitos outros sentença, em 1 780 . . benefícios a favor das missões, como, p. ex., a isenção dos im­ postos alfandegários ... Mesmo a autorização para construir con

107 106 espírito apos­ ventos fora dada a título de promoção da catequese entre os Não pensava assim o governo. Apelou para o falta desse índios. Esta licença foi suspensa em 1590, sob a alegação de tólico dos fundadores das missões e se queixou ela Concordou fi�alm�nte que �s que três conventos eram suficientes para promover a implan­ cspirito nos missionários atuais. . o sustento dos rnJSSJonános, mas li­ tação da fé. •• Em 1779, os franciscanos il1sistiram com o go­ indios contribuíssem para colidiam aqui dois verno para que facilitasse a recepção de noviços, porque por vremente, sem imposição. Manifestamente missionários Pois consta dum falta de novas forças diversas missões estavam mal providas. interesses, o do governo e o dos : . de que os 111dt0s começassem Para sete missões havia somente nove missionários, enquanto que documento de 1742 a exigência dízimo no prazo mais breve possivel. Para isso de­ antes cada uma contava com dois. •• parrar o a os igualaria viam ::.ser civilizados pelos missionários e o governo As rendas já não eram suficientes para o sustento das Jllis­ índios aos aos brancos. Desta maneira acabaria o ódio dos sões. Tornara-se necessário criar novas fontes. Sem abandonar brancos. •• a lavoura, os índios iniciaram a aprendizagem de profissões manuais. Tornaram-se oleiros, produzindo artcfa tos de barro, pedreiros, carpinteiros, tecelões, vaqueiros que tangiam o gaclo 9. SUCESSO E DECADtNCIA para o litoral, barqueiros, ele. •• No entanto eram vedados tra­ balhos fora da missão que durassem mais de quinze dias. A As fontes franciscanas até agora conhecidas nada apresentam observância dessa proibição era insistentemente recomendada aos sobre resultados espirituais dessa época missionária. Sorn�nte os missionários. •• referências ocasionais de autores antigos e modernos pcnmtern Para evitar a falta de pagamento pelo transporte ele gado, suspeitar grandes frutos na vinha do Senhor. os missionflrios sentiam-se obrigados a exigir seu adiantamento Euclides da Cunha conta: «Em 1702, a primeira missão em dinheiro ou em mantim entos. Deviam também providenciar dos franciscanos disciplinou aqueles lugares (Jeremoabo), tor­ que ao menos a terça parte dos homens perm

108 109 para Santo Amaro em Alagoas, que contava com cinqUenta. Na 1832, arcebispo da Bahia conseguiu do Visitador a realidade, no ano de 1740, todos os agrupamentos de Sirinhaém, Em o do poder do Definitório Provincial de nomear mtssto­ do sul de Pernambuco, estavam reunidos em Una. As trinta anulação nários. Desta maneira, a Província perdeu a influência na ad­ familias .de Pontal deviam unir-se às trinta de Zorobabé às e ministração das missões e foi perdendo também a simpatia do 25 de Coripós. As no mínimo 30 famílias de Unhunhu deviam governo, conquistada pelos trabalhos de catequese dos lndios. '" transferir-se para Curral dos Bois. ,. Jeremoabo, já em 1718, passara a ser paróquia e recebera Es1es dados não corrcspondem aos de 1759, que falam de tllll padre secular para pároco. Em 1840, chegou a vez de Jua­ aldeias franciscanas com 150 e 200 famílias ele indígenas. " A zeiro, que continuou durante um ano a ser adminlst�ado pelo proposta d� reunir diversas missões só se concretizou de ime­ úllimo missionário Frei Antônio de São Sebastião. HoJe é sede missão do Pontal foi supressa se diato em Una. Quando a c de bispado. Pambu foi sede paroquial por pouco tempo. Curral tentou transferir os seus habitantes para Aricobé, 121 índios opu­ elos Bois, atualmente Santo Antônio da Glória, foi elevado à seram-se c fugiram para juazeiro, na Bahia. paróquia em 1842. Houve um plano de entregar as missões ao clero diocesano O último missionário de jacobina, Frei José ela Encarnação e transformar os religiosos em missionários itinerantes. Preten­ Silvestre, faleceu em 1859. Era venerado pelo povo como um deu-se chamar os afamados missionários franciscanos de Varatojo, santo. Sua memória perdma até hoje, pois no cen·tcnário de em Portugal, e encarregá-los de peregrinarem continuamente de sua morte a rua principal que liga a cidade à antiga missão missão em missão. Mas todas as ordens, inclusive a franciscana, de Bom Jesus da Glória recebeu o seu nome. se opuseram a tal idéia, porque seria impossível dar aos índios A última missão, a de Sahy, extinguiu-se pclrl morte do a necessária instrução. ,. veterano Frei Antônio ela Trindade, em 1863. As capelas elas O m'tmero máximo de missões atendidas pelos franciscanos missões, que não foram elevadas a paróquia, passaram ao pa­ chegou a dezoito, no ano de 1702. V árias delas estiveram pouco trimônio paroquial, enquanto as terras, com exceção de Juazeiro, 1752, passaram ao município ou ao estado. tempo sob a sua orientação, e novas eram aceitas. Em eram apenas 13. Depois da paralisação das missões em Pernam­ No fim desse relatório sobre o segundo período das missões buco, ocorrida em 1760, sobraram sete e continuaram a diminuir. .. da Província de Santo Antônio. cujos trabalhos os cronistas Originariamente, cada missão contava no mínimo dois mis­ deixaram de anotar, queremos aduzir testemunhos de bispos, reis escritores. sionários. Com a exigência do governo de limitar a admissão e de noviços, seu número decaiu a tal ponto que as aldeias mis­ O rei D. João V, por um alvará datado de 30 de agosto sionárias deviam contentar-se com um padre apenas. " A maior de 1707, tomou sob sua proteção a Província de Santo Antônio, vista elos exemplos e das virtudes elos seus religiosos c dos parte elos missionários caiu no esquecimento. Dos 300 missio­ cu1 trabalhos realizados entre os índios. •• nários que devem ter pertencido à Província de Santo Antôniu, no correr dos anos 1679 a 1863, somente 120 são conhecidos O arcebispo da Bahia, D. Monteiro ela Vide, escreveu no di ele janeiro de 1715: nominalmente. Dos nomes que constam, uns encontram-se em a 8 documen1os da Província, outros em livros de batizados, arqui­ �os muito Rev. Pes. Capuchos desta Provlncia do Brasil, com seu vados nas cúrias diocesanas. !!rande zelo do serviço de Deus N. Senhor e bem das almas, assistiram Com o tempo, os brancos e os mestiços, fixando residência já nas ditas aldeias (Jercmoabo e Massacará) e em outras várias:.." nas aldeias e suas redondezas, tornaram-se majoritários. Sendo Pedia que continuassem o seu meritório apostolado. atendidos pelos missionários da mesma forma como os índios, D. José Fiâlho, bispo ele Olinda, em 1703, num relatório as aldeias passaram a ser elevadas à categoria de paróquias. à Santa Sé elogia os jesuítas, os carmelitas e os franciscanos De 1790 em diante, os missionários recebiam a provisão de pá­ com as seguintes palavras : « os Jesuítas, Carmclitas e Fran­ rocos, mesmo nas aldeias que ainda não constituíam paróquias. " ... tiscanos exercem o múnus nas colônias de índios com satisfa-

110 111 111, ção que é conhecida e bastante patente, todos dignos na ver­ " Ibidem, p. 53. - Além dos dois mlsslon:lrlos citados, constnm os nomes de Prel J\\anue1 dos(1727), Santos e l'rel osé da VIsitação(1728) {1697); rrel Plácido da{17 35 Purificação 73 ). dade das ocupações deste ministério». •• tntrchlo em Una Frei José o Desterro e Frei Llno da Cruz28 {1!134),e 1 42s.11 " Documentos Históricos (clt.J Doc. Hist.), (clt.Rio de Jnneiro, vol. p. No fim do século XlX, Euclides ela Cunha escreve : ao Arquivo Histórico Colonial de L.lsboa Arqtt. Col. ), Documentos do sé· cu/o XVII J. n9 4267-4269 1699 1700. - de O de agosto de c 25 de janeiro de AIIU •ernambuco, avulsos, ex. 10 (1698-1700), - J «A rara abnegação dos franciscanos introduziu os índios na ci­ .. José AntOnio Gonça.vcs de Mello, Três Notciros de Penetraçcio do Tcrrl- turlo Pernambucano, ci 1966, 2s. Re fe p. vilização,. •• , P�rcira da Costa, vol. IV p. 4911. . ., ldc111, vol. v, p. 83 e 16Ó. - Jaboatão, 11, p. 802. ,. l�pnminondas Cámara, Datas Campinenscs, João Pessoa 1947, p. 11. J.::lpldio E mais abaixo: de Almeida, História de Campina Grande, Campina Grande 1962, p. 36. u Jaboatlio, 11, p. 803. 417. cCada aldeia era um reduto contra os índios bravos,. " :• l'erclra da Costa, vol. VI, " )nboatão, 11, p. 803. p. fato que se deu enquanto jnboatllo terminava - O sna ol>r:t, tnereceu apenas esta apreciação: "As mais que lazem o numero de treze Terminando com o juízo que também para os nossos ban­ mh.süesl acima, se conservaram todas até estes anos passados de 1760 parn 1761, em1 411c com permissão do Sr. Bispo de Pernambuco e mandado de seu governador deirantes seráficos significa um elogio irrefutável : (dizem eles que por ordens pnrtlculares del-Hei), lol despachado do Heclfc um distritoscabo de mlliciatodos comos esuchlnhos franceses da l:lahía). •• Ao ensejo da visita astoral zona do Sllo Francisco, feita por volta de 1694, p à Quem percorrer no lombo do cavalo ou do burro os cen­ o arcebispo da Bnhln Dom joão Franco de Oliveira convenceu-se das opressões, usurpações e outras Injustiças de que eram vitimas os lndios, pedindo tros das antigas missões do subdesenvolvido interior nordestino, em seguida provid�nclas do governo para ser criado maior número de missões. Afonso Costa, História da jacobina, in Jornal do Comércio, Rio 31-8-1952. pode imaginar a soma de sacrifícios, penúrias c trabalhos, que u Eduardo Dias, Para a História dos Ar/las na Bahia, In Anais do I• Con­ gresso de História da Bahia, vol. 11, Salvador 1950, p. 372 e 385. AHU - Papéis os nossos antepassados suportaram para implantar o reino de avulsos da Bahia (27-Xl-1699). ,. Ibidem, p 372ss. A administração dessas missões pelos franciscanos parece Deus no meio de povos primitivos, selvagens e nômades. ter sido de pouéo tempo, visto que não consta dos arquivos lranclscanos. Rodelas foi aluda curada pelos frades menores em 1821. Cl. Frei Martlnho-l!detwelss {ap�ndlce), p. 43 . ., êduordo Dias, o, clt., p. :185ss. ,. t•rei Martinho-Edelwelss, p. 185.

NOTAS 5-9. Missões e Missionários em particular etc. 1-4. Introdução etc. João Fernandes da Cunha, Mt�nlclplo de j11azelro, BA, Memórias, In Anais do • Congresso de História da Baflla. 1950 11, 801-803. 1• Salvador {separata), p. 25s. ' Jaboatlio, p. • Documentos Históricos, vol. XLII, p. 336. • Frei Venâncio Wlllclce, O.F.M., A Provlncla de S. Antônio através de suas • joao Fernandes da Cunha, o. clt., p. 16s. E3tatlsticas 1585-1892, In Sl11dla n� 18 {1966), p. 193-207. • Livro cte registro das Leis e todos os se11s artigos, n9 I {C�marn Municipal), Salvador, p. 453s. Frei Vicente do Salvador lol preso pelos batavos em 1624. fi. 60v {ms) (clt. Registro ). • 34:i. · • Ibidem, p. • jo!o Fernandes da Cunhn, o. clt., p. p. trataremos 11, 274. 23. ' Ibidem, 456. Dns missões do Orlio-Pnrá abaixo. • Jaboat11o, p. • APR 41, 11. 41. F. Cunha, o. clt., p. 17s. ' Salvador, p, 209s. ' j.oâo Matos, Descriçtio do Municlpio de Curaçd 1918, apud J. F. Cunha, p. 17. 1 J 1 Conceição-Primazia, p. 6. História da Casa da Torre, p. 113 4 • Pedro Calmon, Rio 1939, e APR p. 107s. • Leite V, p. 281. •• Jos� AntOnio Caldas, Noticia Geral de Toda a Capitania da Bah44l a, Bahia 10 "A APR cada aldeia sempre se dará uma 1tgua quadrada, situando a 1950, p. 60s. aldeia 44, VIa em pelo Brasil, 1938, 11, à vontade dos lndlos, não dos sesmelros ou donatários". " F. Martins, g Rio p. 530ss. " Frei lrlartlnho-Edelwelss, p. 119. " R e istro {ms), loI. 60. Cunha, p. 12. g 19. u F Cunha, o. clt., p. u Lourenço Pereira da Silva, Memória lfls tórica e Oeogrdfica sobre a comarca " j.Reg is. tro {ms), loI. 52v. do Bonfim, Bahia 1915, p. 80. H Ibidem, lol. 60 e 60v. 1680 Rela- Revista do Instituto Histórico e Oeogrdtico da Bailia, 1898, 58. " Archlvurn Secrcturn Vatlcanurn - Congregatlo Concllll - (rns), u ano voi V, p. tório de 6-V/11-1680. " Registro (ms), lol. 40s. " AHU Pernambuco avulsos, ex. 7, 1680-1686. Documento de 2!:'·1-1681. u Livro de Expediente da Cdmara dos Vereadores de j11azeiro (ms), s. lnd. de fls. - u aboatlio, 11, p 802. 20. j " j. F. Cunha, o. cit., p. " Pereira Cos'ta,lll, s e IV, p. 409. •• da p. 53 Ibidem.

lt2 113 •• José AntOnio Caldas, o. clt. Juazeiro contava em 1159 cem famlllas. •• Ar 60s. 21 Jecobina figura aqui como termo genéric,o, não de localidade. qu. Col. de 18-V-1747. Doc. s 65& n l.elte, vol. V p. 281. - t., tomo VIl, 248, relata que em " APR I, foi. 168-173 e 115-194. 11/ p_. 1666 Avulsos de Pernambuco, o Pt. Rotant, S.. j mlssllo de Jacobina. AHU - ex. 68 doc. de 11-XI-1779. J. ,História \'31 à da acobina, :: u Afonso Costa, J o. cit., sem Indicar a fonte. APR I, p. 220. " Jabeatlio, 11, p. 802. - Apollnár�o-Prlmazia, p. 177. " Tábua capitular de 1832 In APR. Bandeiras e Sertanistas Baianos, •• ,. Urbino Viana, S. Paulo 1935, p. 82. APR 119, P. 21. - jaboatão ' 11' 783. ,. Ibidem, p. 76. • • APR 44, p. 112. " Doc. Hist., tomo 44, p. 352. ., Archlvum Secretum V:1tlcnnum - Resumo do d Bispado Congreg. Cone. 1730 - Estado :o Frei Martinho Edelwelss (comentário), p. 31. s:t o de Pernambuco (cóplns no ral IHOB) · •• Jos� Antônio Caldas, o. clt., p. 60. • • Cunha, p. I OI. 11• APR 91, lo!. 87-88v. " Cunha, p. 103. •••Frei José da Encarnnçfio de fato residia na missão desde 1810. APR 8. '" Cunha, p. 103s. •• VIsto que "' APR lol. 9. - AP!t 55. a praxe missionária dos franciscanos não é mencionada 00, boalão, deve por Ja­ "' APR 51. ter sido a mesma do tempo da custódia, de 1585 n 1619. •• APH 8. " APR 89, n• :i. •• APH 8 . .. APR 80, n• 3. at APR 8. •• APR 12 foi. 8. •• Arquivo ' Diocesano de Bonfim (BA) - Livros de batizados de facobina, frrguesia nova de S. Antônio. •• APR 59. - APR 21, p. 24ss. ••• Cf. Maria do Carmo Tavares de �liranda, Os l'ranclscanos e a Formação do Brasil, Recife 1969. •• Frei Marlinho-Edelweiss, P. 83. " Arqu. Col. 58, foi. 22. A declaração do bispo feltn ao ensejo da sessão dn junta das missões data de 10-12-1739. •• Provincla Franciscana de S. Antônio do Brasil, 1649- AtasRIH COaIJ pllutare, s da JSOJ, In vol. 286, p. 111 (atas de 1695). " Os 5 missionários eram Frei Antônio do Desterro, missionário de 1808- 1841; Prcl Antônio de Santa Clara, missionário de 1814-1849; Frei Florentino da Sacr:• Farnllia, mlssionàrio de 1820-1841; Frei Sebastião de S. Antônio, rnlsslon:lrlo tlc 1828- 85 ; Prel José da Encarnnçllo Silvestre, missionário de 1810-1859. 1 2 Avulsos Pemambuco •• AIIU - de - ex. 68 (ms). •• AI'R 39, vol. 2, foi. 17. - APR 44, p. 81. " Arqu. Col. lllanuscritos elas colônias, p. 122ss. •• Constituições primeiras do Arcebispado da Bahia. .. propostas e aceitas em o slnodo diocesano de 12-VI-1707, Coimbra 1120, c. 111; cf. Orlando Schulte O.F.M., De Prlmis Archidiocesis Baltiae Cons/1/ullonibus anno 1707 promulgalls, kontae 1962, p. 149-150. Enqunnto O. Sebastião da VIde deu minuciosas diretrizes para a pas­ toral dos escravos negros do Brasil, limitou-se a ressaltar apenas os direitos humanos dos lndlos. •• APR 128, foi. 107, 109, 110, 115. • O número das secularlzaçGes e apostasias toma vulto, desde que o governo cul(luinl• limitou a aceitaç�o de noviços ( 1164). " APR 91, foi. 31v. •• APR 91, foi. 32r. •• APR 91, foi. 32r-v. " APH 91, lol. 31r-v. " APR 91, foi. 3. •• APR 125, foi. 32 e 34. " APR 125, foi. 32. APH 91, foi. 58-66v. - Quando o arcebispo da Bahia, D. Scbnstlão da Vide, em 1715, pedia nos lranciscanos prosseguissem na catequese de Mnssacará c Jeremoabo, decl:�rou-se de acordo que os missionários ficassem In­ dependentes do vigário daquela zona e do visitador episcopal (APR 44, p. 112). u Arqu. Col. 133-138. " Jaboatilo, 11, p. 274. Como benfeitor dos franciscanos, Oarcia de Avila dispôs em 1134 que depois de morto fosse sepultado diante do altar de Nossa Senhora da Igreja de S. Francisco de �alvador, onde se conserva a sua campa sepulcral com o brasão da famlila. •• APR 91, foi. 35. •' APR 39. vo1. 11, p. 19. �,;, Ibidem, p. ls, 6, 17. '' APR 39, vol. I, p. 3. lU APR 40, p. 60-64. u APR 91, p. lss. Inventários ele 1739. •• APR 39, vol. l!, foi. IA, com data de 11-1-1701. •• Arqu. Col. vol. 20 (datu de 16-IX-1731l). •• Ibl(l em , 120, cap. 31-39. • APR 91, foi. 32 de 22-VI-1739. ••• Arqu. Col. 122-128 c 133. Os Scri6es, 1940, " Euclides da Cunha, Rio p. 102 (citado Cun/ra). " Arqu. Col. 18, vol. 12 de 16-IX-1739. ,. Ibidem, 1-24, foi. 27s. - Juuclro conta apenas 65 famlllas. 115 114 1\ss m gar �ntia�se melhor a liberdade dos aborígenes, a coloni­ zaçao� do mtenor, a segurança dos coloniza,dores e o comércio IV com as tribos das colônias espanholas. A juizo general Salvador Correia de Sá Benevides do c Missões da Província jesuítas ':_fr �nciscanos eram os melhores missionários; pois qu «a cxpenencta mostra que só eles conseguem manter os fndios� da Imaculada Conceição agrupados, observa� as leis reais contra escravidão, quando _ a missões percgrinantes que_ �utros a� neghgenctarn». ' Além das 1692/1830 as�tsltam continuamente a poucas aldeias, de que falaremos mais adtantc. Dos resulta.dos não há estatísticas, nem mesmo das tribos vilas favorecidas. c INTRODUÇÃO Qual a razão de tantas missões pcregrinantes crn detrimento de aldeamentos permanentes? Decerto porque as tribos aldea­ c Desta época de açi\o missionária dos franciscanos no sul do mentos eram tão numerosos que em excursões apostólicas melhor Brasil -irafam manuscritos e publicações. Os manuscritos são os c mais eram atendidas. Livros de Tombo da Província díl I maculada Conceição e elos que mel or se coadunava com a vida religiosa, do que os conventos de Taubaté e Itanh<1ém. Entre as publicações de Frei hosptctos�- de dots� a qu<1tro religiosos onde se tornava impossível Apolinário ela Conceição destacamos Epitome da Província Fran­ observar uma disciplina mais rigorosa. já os rnission/trios am­ ciscana da lmawfada Conceição do Brasil, in RIJ-JOB ( 1972), bttlaltes voltava n periodicamente ao convento disciplina mo­ Primazia Seráfica 1733), Claustro Franciscano 1740) e as c à ( ( nas!tca; ! costunJeJra,� de que muito se exigia naquela época de mais recentes obras de Frei Basilio Rõwer, O.F.M., Pártinas _ . florescune�to da vtda regular franciscana. Os carmelitas, por de História Franciscana do Brasil ( 1941 ). ' exemplo, tarn ao ponto de recusar catequização, ou abandoná-la Este novo capítulo baseia-se nas obras supra c sobre fontes se dentro de suas obrigações de abstinência ele carne não con� novas e até hoje inéditas. Antes ela Custódia passar para a Pro­ seguiam alimentação à base de peixe. Inegavelmente mais valia víncia ( 1675), bem antes mantinha missões entre os índios, por este sistema do aldeamento do que as missões itinerantes, pelos exemplo, nas imediações de Vitória elo Espírito Santo, onde _ rencltmentos que oferecia quanto à assimilação das práticas e o irmão Frei Pedro Palácios, O.F.M., de 1558 a 1570, atuou doutrina cristãs. como catequista c ermitão; e em 1591 por frades de Vitória ' c a partir de 1608 pelos elo Convento de Santo Antônio ela Se os frades dila·tavam demais a aceitação dos aldeamentos, o governo colonial, ou administração distrital tardiamente lhos Guanabara. Este Convento (fundado por Frei Vicente do Sal­ c . oferecia, sem dúvida entravam em questão as tristes experiências vador) dedicava-se também à civilização elos índios na vasta região que do Espírito Santo vai a S. Paulo. Entretanto, nos da Custódia, nos anos ele 1585 a 1619 levadas com os fun­ ci nári s do Fugiam de aceita , para evitar eventuais casos citados trata-se de missões peregrinantes, por visitas � ? governo. ( periódicas. e tguats contratempos. Eis que o primeiro aldeamento :.ceito foi • Consta que esta Província nos últimos decênios do século o ele S. João do Pcruíbe. XVII ocupava mais padres entre os índios que todas as outras As circunstâncias nas missões eram mais ou menos iguais, ordens juntas. Explica-se. Havia por aquele tempo doze con­ quer no Norte, quer no Sul. Pouco se diferenciavam os índios ventos no sul, ainda mais que a invasão no norte, dos holande­ claqt�i dos .de lá. Nômades ambos, ele baixo estágio ele cultura. O stslcma d pastoreio missionário deve ter sido uniforme, já ses, por v in te e quatro anos, obrigara os franciscanos a con­ � centrar suas atenções na parte meridional. ' que franc1scanos da Paraíba até S. Paulo, até a ereção da Prov,ncta?S . do Sul, em 1675, pelo período de 1585, obedeciam No sul, a política dos franciscanos era a mesma: fundação . de missões no interior, evitando trazer os índios para o litoral. a uma e mesma dtreção e orientação provincial. Certo que uma

116 117 ordem regular aceitava as boas expenenc1as das outras; certo também que a junta das Missões, .do Rio de janeiro, exercia I. SÃO JOÃO DO PERUIBE (1692-1803) sua influência sobre os métodos adotados pelas ordens desses missionários. No atual estado de S. Paulo existia, 12 km ao sul ,de Itanhaém, antiga redução de índios chamada de S. João do Peruíbe, ou A situação geográfica no Sul favorecia bem mais. Meno­ S. João de Itanhaém ou do Cai. De sua origem não há certeza. res as distâncias, menores as ausências dos conventos. O clima Outros regulares, anteriormente aos franciscanos I nunca a admi- subtropical não encerrava os mesmos perigos de epidemia corno • • mstraram. Entretanto, todos eram batizados. Por um século, a no Norte. Nem por isso a vida missionária era destituída de d"_linistração fora civil. Injustiças tremendas ocorreram, que os enormes sobre-humanos sacrifícios. ? c mchos, em grande parte, fugiram, até que as queixas alcançaram A perseguição religiosa da parte do Marquês de Pombal a Corte de Lisboa. Esta obrigou o governo de S. Paulo a tomar e a redução do número de noviços rendeu para o Sul menos providências. Saiu a Lei de 19 de abril de 1680, garRntindo-lhes . dificuldades que ao Norte. Menores eram as missões. Nem foram a hberdade. Para a fiel execução da lei exigiam as autoridades os missionários, ao contrário do que acontecera em Pernambuco o retorno dos índios às reduções. Daí surgia a necessidade ele e Alagoas, afastados com violência de seus postos. A falta de se lhes dar assistência religiosa. Para simplificar entre

A aldeia de S. Miguel Paulista já vem citada em 1567 pelo Pe. José de Anchieta. Dista 30 km da cida,de de São Paulo, e teve 3. SANTO ANTôNIO DOS GUÀRULHOS (1699-1758) também a designação de Ururaí, rio adjacente, em cujas mar­ gens estão suas terras. Estas datam de 1580. Em 1583, os je­ Beneditinos, jesuítas e capuchinhos já haviam pastoreado os ín­ suítas aceitavam S. Migl(e! com 500 índios. Não moravam, porém, dios Ouarulho, quando em 1699 os franciscanos foram substi­ entre eles, e sim no colégio em S. Paulo, donde vinham de duas iuir os capuchinhos franceses expulsos do Brasil. " A missão em duas semanas. '" Sofriam ataques dos Tupiniquim e ,dos bran­ ele S. Antônio dos Guarulhos está situada às margens do rio cos, além de muitas perseguições, pela defesa que assumiam em Paraíba, onde se localiza a cidade de Campos, no extremo norte favor da liberdade dos índios. Em 1612, eram expulsos defini­ do Estado do Rio de Janeiro. tivamente. ,. Uma administração civil explorou os índios de tal Logo de início, os franciscanos se obrigaram a constmi; forma, que o governo se viu obrigado a instituir os franciscanos um hospício novo. A capela continuou como estava. *' como seus missionários. De quatro a seis sacerdotes lotados na catequese da aldeia O arquivo da or,dem silencia sobre S. Miguel até 1716, davam assistência aos índios das vizinhanças. O primeiro su­ quando, como se relata, o superior representou junto ao Bispo perior de que temos notícia é o padre mestre Frei Antônio do Rio de Janeiro contra os ataques e raptos dos índios de S. ela Piedade Monção, que de 1700 a 1710 desenvolveu atividade Miguel, e este lançava a pena de excomunhão. Até 1765, atua­ frutuosa. Muitas vezes visitava os índios de fora, geralmente vam três franciscanos, depois só dois, e em 1784 um só. 11 pagãos, pregando-lhes o Evangelho e os convidava a se pas­ O número de aldeados oscilava, embora em 1698 voltassem sarem para a missão de Ouarulhos. " muitos. Em 1718 chegavam 200 de fora. " Frei Apolinãrio da Houve uma vez uma epidemia. Muitos índios fugiram para Conceição em t 730 se insurge contra o ato ,dos governantes, as matas de medo que o batismo a tivesse provocado. Com que duma só vez caçaram 300, depois mais de 160 para traba- grande e�forço dispendido, vencida a epidemia, conseguiu Frei 120 121 1

Antônio trazê-los de volta. Sua fama atingiu a corte de Lisboa. tônio do Vencimento Sá, provincial de 1691 a 1694, confirma, O rei o elogiou publicamente e ofertou à Missão significativa esmola. " em depoimento perante a junta das Missões, no Rio de janeiro, que todos os índios recrutados nessas condições, a empenho de Frei Miguel de Santo Antônio e Frei Antônio da Apresen­ patrões, eram instruídos na religião e batizados, muitas tação eram de igual estofo. Este narra que em 1726 a pregação seus se fizera em 72 malocas dos bravos Coroado, e 25 deles passa­ vezes por franciscanos. •• ram a viver na Missão. .. Posteriormente índios catequizados, Cardoso permitiu aos alforriados que fizessem suas planta­ acompanhados de um intérprete, procuraram-nos para convencê­ ções às margens do Paralba, de forma que automaticamente los a se filiarem em nova missão, encontrando porém índios passavam à jurisdição do padroado e da Câmara de Mogi das fugidos da missão que envenenavam os Coroado contra os mis­ Cruzes. Um capitão administrava longo período de tempo a sionários. Afinal c a custo parece que assim se fez, pois há aldeia e tinha poderes de autonomia. De acordo com o depoi­ notícia de que em 1729 novo patrimônio se constituiu de 6 mento do citado provincial, essas aldeias de administração civil léguas quadradas de terras. " dispunham de assistência religiosa, prestada por carmelitas e Em 1730, estourou uma briga entre jesuítas e os índios ela franciscanos. Opinava, porém, que havia necessidade de missio­ missão, devido às terras. À notícia de que a Companhia obtivera nários permanentes ... ganho de causa revoltaram-se, pondo fogo nas palhoças e des­ Os sacerdotes seculares andavam assoberbados ele serviço, truindo as plantações. Os inimigos da missão, por intrigas, in­ pela extensão das paróquias, e desconheciam a língua dos índios. criminavam o superior Frei Antônio da Apresentação, como man­ dante da insurreição. Injustamente, porém. Os índios foram coagi­ Quando Pedro li de Portugal em 169 I proibiu a adminis­ dos nos seus depoimentos. O padre mestre acabou sendo retirado tração civil das missões, dela foram encarregadas as ordens re­ de Guarulhos, mas simultaneamente foi-lhe atribuída, pela direção ligiosas. Escada não recebeu consideração; continuou a explo­ da Província, a dignidade definitorial, em virtude de sua atuação ração dos índios, ainda mais que eram ocupados no duro trabalho apostólica. ,. dos garimpos e nas bateias. Frei Constantino de Santa Maria, Parece que, de 1730 em diante, não entraram novos índios O.F.M., missionário em Peruíbe ( 1722), confirma: «Os garim­ para as reduções de Guarulhos, de forma que o número dos ha­ pos acabam com as aldeias; quem leva índio nunca mais o traz bitantes foi se reduzindo. Os peritos de então opinavam que em de volta. Lá permanecem até a morte, enquanto suas mulheres 20 anos se decretaria a decadência duma missão, vivem aqui em miséria». .. Grande culpa nestes abusos cabe aos se não so­ breviesse recrutamento. Em 1758, os franciscanos retiravam-se governadores. Em 1721, havia apenas 61 índios na Escada, de Guarulhos, sem que nos constem os motivos. Pelo que se entre adultos e crianças. Quando se pensava em acabar a re­ deduz do arquivo da Província os 60 anos de missão em S. dução e agrupar seus moradores em S. Miguel Paulista houve Antônio dos Guarulhos foram muito frutuosos. oposição da Câmara de Mogi das Cruzes. Depois de 1721, ocor­ reu uma melhora; pois que os governadores de S. Paulo pu­ nham empenho em trazê-los à sua jurisdição. Escada recebeu NOSSA SENHORA DA ESCADA (1734-1804) 4. um padre secular, Salvador Correa, mas as coisas não andavam bem. Por sorte cooperavam carmclitas c franciscanos. •• A ins­ Frei Sebastião Ellebracht, O.F.M. •• , trata difusivamente desta tâncias do visitador diocesano Dr. Alexandre Marques do Vale, missão c prova como h;\ ainda farto material para pesquisa nos ar­ os índios seu administrador Sebastião ele Siqueira Caldeira quivos. Os índios ela Escada vieram do interior de S. Paulo, c envidaram ingentes esforços para construir nova capela, dado trazidos por Gaspar Cardoso que os ocupava, como escravos, o estado precário ela anterior, terminando-se em fins de nas suas plantações. Meados do século XVII deu-lhes alforria, 1732 quando para sua instalação só ·faltavam a pedra d'ara c quando todos eram cristãos e conheciam a doutrina. Frei An- dois paramentos. As aldeias pediam padres ele Ordem, de pre- 122 123 fcrência carmclitas, já que, pelas distâncias de Jacarcí Mocri tra os mrsswnanos, os caluniavam e iam à prática .de atos de c 1:> ' morriam os índios sem sacramentos. ,,. terror. Novamente foram ouvidas testemunhas, a favor e contra. Frei Calixto continuou na missão, prova de sua correção. " Em 1734, começam os franciscanos sua rmssao regular na Finalmente, em 1739, passou a administração civil para os Escada : «Há um ano um mês, que estamos aqui», escreveu c missionários, e em 1742 foi consignada uma subvenção de o superior Frei Tomás de Santo Antônio. Entraram nas ativi­ 25$000. " dades dois (às vezes eram três), por ordem do provincial Frei Em 1744, outorgou o governador de S. Paulo as necessárias Luís da Rosa, do governador Conde de Sarzedas, Antônio Luís c terras. Em 1746, esta doação foi sancionada pela rainha Ana Távora. •• Como se previa, muitas dificuldades obstaram, pois •• O último superior missão, Frei José que na Escada nunca vigorara disciplina. Havia confusão. fn­ Maria da Áustria. da da Visitação, acusa, em 1804, a área de 18 léguas. " Inicial­ disciplinados pediam ao governador a retirada do superior da mente a direção da Província nomeava os missionários, cujo missão. Os missionários bem que se defendiam de acusações superior era concomitantemente vigário dos fndios, sem qualquer falsas. entendimento com o bispo diocesano ou o governo. Em 1774, Eram passados oito meses e Frei Tomás acusa muito às veio comunicação de que os superiores deviam ser nomeados autoridades a José Siqueira, por escândalo público, de viver pelo rei ou seu representante. Queixava-se também o bispo ele em concubinato com três índias, das quais tinha filhos; da mes­ Paulo, D. Manuel da Ressurreição, O.F.M. 1 774-1789), que ma forma a seu irmão Sebastião, que vivia maritalmente com S. ( os missionários de diversas ordens nunca pediam jurisdição e uma marneluca. As queixas feitas ao pai dos .dois, que ajudara que seus antecessores em vão procuravam remédio. " Deve ter na construção ela capela, deram péssimo resultado. Os três acir­ feito valer seus direitos, pois de 1782 ·em diant-e, após a visita raram os ânimos contra os missionários. •• E quando um índio pastoral, não há mais termo de nomeação de provincial ou visi­ recusara obediência às ordens de Frei Tomás, foi por este pu­ tador nos livros de Escada. nido com vara, revidando aquele, embora contido, a tempo, por terceiros. O acontecido rendeu, e o superior foi censurado Os missionários - Dos livros paroqlllars de Mogi das pelas autoridades. Mas a Câmara de jacarei teceu ótimo encômio Cruzes e Escada constam 38 franciscanos, entre brasileiros e por­ aos missionários: «Escada, antes deles, era ruína de capoeira tugueses. Os brasileiros aprendiam a língua desde crianças. Os de acordo com precisão. Nem eram mandados jovens, e mato. Sobre castigos, não tinham notícia; mas o ministério outros, a dos sacerdotes grandemente melhorava Escada e vizinhanças. An­ nléiS de idade madura. O estágio era reduzido. Poucos perma­ tes cometiam inominávcis abusos, andam agora regenerados, em­ neciam dilatados anos no mesmo lugar. Na Escada, e por mais

bora alguns índios cometam an-tigos desatinos». •• tempo, trabalharam Frei Diogo dos Anjos Parnaíba, Frei Fran­ cisco dos Remédios e Frei Francisco do Amparo de Jesus Maria . Acrescenta Frei Tomás que outras testemunhas a favor po­ . A atividade missionária dos franciscanos desfrutava de me­ derra arrolar, de Taubaté. Os índios não haviam como se quei­ recida boa fama; em 1739, poderiam ter sido afastados. Entre­ xar de judiação; até então, um só fora castigado, embora muito tanto, apesar das ocorrências adversas, foram confirmados no sofressem, em seu meio, os franciscanos. Até no conventinho e cargo e com todos os poderes. O governador de S. Paulo, Mar­ na sacristia tinham penetrado para subtrair mantimentos e peças tins Lopes Lobo ele Saldanha, escreve dizendo barbaridades. de fazenda. E as queixas junto ao chefe local não surtiam Acontece, porém, que este fora demitido de seu cargo pelas au­ efeito, pois que era o pai elos dois delinqüentes. A representa­ toridades civis e eclesiásticas. " Seu antecessor preferia mesmo ção de Frei Tomás recebeu o visto elo coronel Francisco Pinto os franciscanos por sua pobreza e modéstia ... do Rego e foram recomendados os missionários por modelar ati­ viclacl . Assin conl eccu governador a verdade. " O segundo � � � o A Comunidade de Escada - Havia índios e mamelucos. superror, Frct Cahxto Santa Helena, sofreu o mesmo, de c Civilização e religião, apenas um verniz. Consoante escritores avi�ou ao governador de sua intenção de largar a missão. Os do século XVIII, falecia aos aborígenes qualquer aspiração su­ escanclalos perduravam, os culpados envenenavam os índios con- perior; como não tinham capacidade de se governar, nem para

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\ estrada. Entretanto até hoje o ín.dio não tolera o trabalho. Cansa a pontualidade e a ordem", P. Diogo Soares, S.J., afirma, em depressa. 1735, que os índios, embora mantida sua liberdade, careciam Posteriormente trocaram-se essas disposições. A obrigação de viver agrupa.dos e de ter competente administrador; do con­ consistia em preparar roças de milho, feijão e arroz, apanhar trário relaxariam a si e a família. •• lenha c carregar água para o conventinho, cozinhar para os missionários e sacristão. No mais cada um trabalhava para si. • • Vida religiosa - Os mtsstonanos cumpriam zelosamente Não temos notícia sobre os tipos de ofícios ensinados. Até suas obrigações. Já o primeiro superior apontava resultados: hoje, ocupa-se a população de Escada com cerâmica. As auto­ «Antes viviam e morriam como hereges, agora já imitam os cris­ ridades usavam os índios para carregar carga de Santos a S. tãos». " Os dinheiros recebidos eram bem aplicados. No Museu e de Paulo até o Rio J<�neiro. Enormes c constantes eram as da Cúria de S. Paulo encontram-se: I relicário para a parti cu la solicitações para tal. Em 1758, o Marquês de Pombal colocava da Santa Cruz; 1 cálice, I cibório, que serve simultaneamente autoridades civis à testa das missões. Com isto imaginavam-se, como custódia, três coroas c I resplendor. " Ademais um altar os índios, desobrigados de prestar serviço à Ordem. Entretanto, com as armas franciscanas, artisticamente esculpidas. O con­ o Conde De Cunha asscgmava o direito dos missionários, confor­ ventinho, muito modesto, foi modestamente restaurado em 1767, 1739. me tinham sido regulados em •• A administração civil per­ por falta .de meios no seio mesmo do governo. •• mitiu a volta das explorações c malversações de antes. Nas festas religiosas, pelos índios muito apreciadas, davam-se 56 67 e Escada contava com índios homens c mulheres m suas danças e jogos. A desobriga era assunto muito sério. A 1766, de forma que não tinha a mesma chance que outras mis­ desídia era cominada com a pena de excomunhão mais três dias sões de se tornar autônoma c sede de paróquia. Também riva­ ele tronco e trinta chibatadas diárias. •• lizando, encontrava-se perto Mogi das Cruzes. Relatório do Go­ A morte dum índio, celebravam superior e missionário missa vernador Saldanha, em 1775, constatava as piores desordens. Os em sufrágio, ex caritate. A inumação ocorria na nave da igreja; índios não plantavam mais, não mais assistiam à missa c ne­ dos funcionários, porém, sob o arco do cruzeiro. " Além da as­ gavam obediência aos superiores das missões. .. Se estas desor­ sistência espiritual prestavam socorro material em remédios aos dens cabiam, por culpa, ao administrador, sobrou para o superior enfermos. Coronel Pinto do Rego afirma, em 1736, que, antes Frei Antônio da Madre de Deus também sua parte: era duro da chegada dos franciscanos, os doentes ficavam abandonados, c ameaçava os índios. Daí que estes preferiam trabalhar fora. já agora eram assistidos de maneira completa. " O superior de A defesa do superior não consta. •• S. Miguel, quando foi ataca.do por pouco cuidado que dispen­ sava aos doentes, retrucou que, antes pelo contrário, só os mis­ A dissolução - Em 1798, Escada contava novamente I 96 sionflrio's é que os assistiam com remédio. Sem eles nada teriam. "" i ndios, incluindo as crianças; em 1802, 210 habitantes com os mamelucos, 61 ausentes. 17 famflias viviam da agricultura, 20 da Vida econômica - Toda aldeia devia manter-se a si pró­ cerâmica e 8 chefes de familia ganhavam seu sustento fora. pria com os trabalhos da terra e de indústria caseira. Incessan­ Escada não estava próxima da decadência. Os livros de batis­ temente recomendava-se aos superiores que acostumassem os ín­ mos e de óbitos, começados em 1756, permitem concluir pela dios ao trabalho, para afastá-los do ócio e para que obtivessem existência de 200 habitantes. •• o sustento para si c seus filhos. De grandes progressos da aldeia não se pode falar. índio Na Escada encontravam grandes resistências, quando exi­ só pensa como há de passar no dia de hoje. A mortalidade giam o trabalho. Os franciscanos ao tomarem conta da admi­ infantil era grande: em 1798, nasceram cinco e morreram cinco, nistração civil obrigaram os índios por contrato a dar três mais um adulto. Casamento entre consangüíneos contribuía para dias de trabalho para a missão, excetuados os doentes e as o aniquilamento biológico. Pior do que isso a calamitosa admi­ mulheres grávidas. Tal contrato era usual e recebia a aprovação nistração civil. Dai que, em 1803, se tratou da dissolução do do governo. Os três dias seriam empregados na lavoura ou ou­ aldeamento. Os índios seriam equiparados aos outros brasileiros tros trabalhos de utilidade para a missão, como construção de 127 126 c as sedes passariam a freguesia... Frei José da Visitação, gou-se a examinar o caso, dando razão aos índios e missionários, O.F.M., neo-sacerdote, vem, em 1803, a fim de preparar a tran­ aos 20 de julho de 1750. •• sição da Escada em paróquia. Os índios negavam-se a contri­ Em 1752, por intercessão do novo provincial Frei Manuel buir para a manutenção da missão. Às reclamações do P. Visi­ de S. Roque, as três aldeias receberam do governador do Rio tador, mandou o governo que ali ficasse desse um jeito. Numa c de janeiro, Matias Coelho, 12 léguas de terras. O patrimônio reunião concordou-se em dar 25$000, que certamente não cobriam encerrava as três aldeias em sua circunferência. •• Foi confir­ as despesas, como tão certamente não seriam arrecadados. As mado pelo Rei em 1754. •• terras ameaçavam ser usurpadas. Depois deram-lhe opção: ou Quer no norte .do Rio de janeiro, quer no sul do Espírito ficar ou voltar ao convento. Mas até 23 de julho .de 1804 Santo os missionários visitavam as inúmeras malocas. Mas essa permaneceu. •• obra não duraria muito; no relatório do Provincial ao Governo, Os setenta anos de trabalhos missionários na Escada, sob já em 1765, não se mencionavam mais as missões; nem outras condição ultradifícil, dão-nos a mostra de como as Ordens re­ notícias se dão. ligiosas, com espírito de sacrifício, pregavam o Evangelho de Em 1781, começaram os Capuchinhos, na mesma região, Cristo e procuravam conquistar as almas para o reino de Deus. seus trabalhos evangelizadores, reconstituindo a obra dos fran­ ciscanos. Tanto é certo que a primeira aldeia, Gamboa, forma­ va-se de coroados cristãos, catequizados por estes e com estes 5. CACHOEIRA, PEDRA E TABATINOA co permaneciam em contato, através .de seu convento em Campos. •• Da mesma forma, a aldeia de Santo Antônio de Pádua. Gamboa Ouvira falar Frei Agostinho ele São José, o provincial 1748- ( e Santo Antônio de Pádua existem hoje na categoria de cidade. 1751), que nas cabeceiras do Muriaé, Campo dos Goitacaz, vi­ viam índios selvagens. Escalou dois padres experimentados: Frei Tomás das Chagas c Frei Antônio Nazaré Madeira, ambos então 6. ALDEIAS DO RIO GRANDE DO SUL nos Guarulhos. Mandou-os, aos I O de julho de 1749, ao novo campo de missão. A bênção divina acompanhou os trabalhos dos a) Aldeia de Nossa Senhora dos Anjos missionários. Após um mês já tinham conquistado três malocas ou Aldeia dos Anjos de Oravataí e se fixaram nas margens · sul do Muriaé. Logo se meteram em trabalhos de roça, construção da aldeia e da capela. Criava-se Encarregado da demarcação dos limites entre os domínios de o núcleo para vasta catequese entre outras 60 malocas. •• Portugal no Sul .do Brasil, o Vice-Rei Gomes Freire ele Andrade Contrariamente ao que clizem alguns escritores, foram três estabeleceu a aldeia dos Anjos que se compunha ele índios Tape aldeias, Cachoeira, Pedra e Tabatinga, construídas de novo, e do grupo Guarani, remanescentes dos Sete Povos das Missões não três transferências de aldeias decadentes para lá. " Real­ e de outros aí recolhidos de diversos redutos. Situada a quatro mente eram pagãos da família dos selvagens Guarulho, ao passo léguas ao nordeste de Porto Alegre e chamada hoje Gravataí, que nas outras aldeias, há muito, os índios eram cristãos ... esta aldeia foi entregue aos franciscanos da Província da Ima­ t\'\esmo que tenham tido contato, por dezenas de anos, como os culada Conceição do Rio de Janeiro. missionários, cristãos não se fizeram. De início, a missão teve três religiosos, dos quais o mais Como alhures, nestas aldeias, 40 km distantes de Campos, importante e que aí ficou todo o tempo da existência da aldeia desencadeou-se a cobiça dos colonos, que se apossaram, contra foi Frei Rafael da Purificação. Este encetou a sua ativida.de a lei, das terras, pela suspeita de que ali hottvesse ouro. Os •• apostólica a 25 de abril de 1760 tendo como companheiros índios representavam mão-de-obra barata. Frei Tomás de Santa Maria e Frei Domingos da Purificação. •• O provincial Frei Agostinho assumiu a defesa dos índios, Frei Tomás demorou-se apenas até setembro de 1761, re� cebendo como substituto o sacerdote secular e ex-jesuíta Pe. c por seu severo protesto, o general residente de Campos obri-

5 128 Mlsslles Fr:tnc. Ed) 2949 - 129 Bernardo Lopes da Silva, que já sabia a língua dos índios. Frei 1 lPIL'IInos da Província da Imaculada Conceição. Entre 1765 e 29 1765. Domingos faleceu na missão aos .de março de 1'17!1, aparece como cura Frei Valério do Sacramento, embora Periodicamente ajudou na cura d'almas Frei Valéria do Sa­ rum interrupções; pois, a partir de 1773, figura temporariamente cramento. Em 1766, retirou-se da missão o Pe. Bernardo Lopes 1'111110 vigário da novel paróquia de Nossa Senhora dos Anjos, da Silva. Aos 3 de junho de 1771, entra no ministério da aldeia vindo a falecer a 27 de julho de 1782, em São Nicolau ou na Frei João de Loreto, vindo a falecer a 25 de agosto de 1772; .1ldcia dos Anjos. Durante algum tempo, trabalhou na missão em seu lugar encontramos, a 24 de junho de 1773, como auxi­ ele São Nicolau Frei João (ou José?) do Rosário. liar do cura, a Frei João de Santa Catarina. O cura de São Nicolau percebia a côngrua de 60$000 e o Criada a paróquia em 1773, iigura como primeiro vigário �uisamcmo de 10$000 ao ano. Em 1779, consta a sua equipara­ Frei Valéria do Sacramento, ignorando-se o prazo de sua gestão �· fio aos vigários ganhando 108$073. " paroquial. ,. Frei Rafael da Purificação continuou na aldeia, A aldeia de São Nicolau não devia estar muito próspera; aparecendo seu nome nos documentos até 1788. " pois o governador do Continente do Rio Grande de São Pedro, Marcelino de Figueiredo, em carta de 5 de outubro de 1779, A partir de 3 de abril de 1780, encarregou-se do paroquiato José diz que se encontrava em Rio Pardo «a indicar e separar os o Pe. Bernardo Lopes .da Silva, que batizou o futuro 1 Q bispo limites desta freguesia com a de São Nicolau que fiz mudar do Rio Grande do Sul D. Feliciano Rodrigues Prates, cujos pais ucs·ta imediação para o Botucaraí, fican.do uma e outra de brancos, aí moravam entregues à agricultura criação de gado, como e pretos índios, os quais achei na maior desordem c vadiagem». " outros fazendeiros que fizeram suas casas na aldeia. c Numa relação de 1780, lemos: «Esta aldeia consta só de Com a ajuda do governo civil e o trabalho dos missioná­ índios e terá quatrocentas almas mais ou menos, todos da nação rios construiu-se «um bom templo feito de taipa, com casas Guarani. Tem um cura religioso de Santo Antônio». " para vivenda dos religiosos de Santo Antônio, que são os curas». " Não obstante o desejo do governa.dor para que a aldeia Cons·ta também que «há na aldeia para instrução dos rapazes elos índios de São Nicolau do Rio Pardo fosse extinta e divi­ índios um mestre-escola, outro de gramática, outro de solfa, c didos os seus habitantes entre as paróquias de Rio Pardo e um recolhimento para nele se ensinarem as raparigas a coser Cachoeira, criadas em 1779 e que dois anos depois deixou o etc.» " Outras notícias falam de um hospital para os índios. O orago de São Nicolau pelo de Nossa Senhora ela Imaculada mestre-escola e a mestra das meninas ganhavam mensalmente , Conceição, contudo não se deu; pois a aldeia continuou onde 9$600, ou sejam, 115$200 ao ano. . estava sob os cuidados do vigário do Rio Pardo, até que em 50$000 A côngrua inicial dos missionários era de anuais 1787 teve cura próprio, na pessoa do Pc. Antônio Pereira Sar­ e mais a ordinária em pão, carne, farinha, sal e velas de sebo. mento, presbítero secular. Mas, estabelecida a Junta da Real Fazenda no Continente do Rio Grande, começaram a perceber tudo em dinheiro, que im­ portava 91$913 c para guisamento mais 20$000. " MISSõES ESPORÁDICAS 7. No Uruguai atuavam os franci�canos ( 1680-1705) entre os ín­ b) Aldeia de São Nicolau de jacuí dios da Colônia do Sacramento. Apenas se conhecem os nomes ou São Nicotau do Rio Pardo dos primeiros missiom'trios Frei Francisco elo Rosário e Frei Lourenço da Trindade. •• Em 1728, seguiram novos missionários. Estabelecida por volta de 1755, esta aldeia recebeu o seu pri­ Nada consta de seus trabalhos. •• O bispo do Rio ele Janeiro, meiro missionário, na pessoa do Pe. Francisco Bernardes, S.j. Antônio do Desterro 1745-1773), destinava a um franciscano D. ( Localizada a uma légua do Rio Pardo, compunha-se exclusiva­ urna nova aldeia na região ele Cabo Frio, talvez Ipuca, onde mente de [ndios Guarani, vindos em boa parte das missões. anlcs os capuchinhos missionavam. - Também temporariamente Após a expulsão dos jesuítas, incumbiram-se da missão os fran- H11hslituem os jesuítas numa aldeia da região de Cantagalo c 130 131 1692, r mb Oernl I, foi. 00-00v. S. Pedro da Aldeia, Rj. " Em o governo entregou a fr. • n n • ·Horwcr-Ordem, p. 115. Antônio da Purificação, guardião .de Taubaté, o cuidado dos • lhhlcm, p. 116 • A dos Frades Brasil índios daquela zona. Não constam detalhes no arquivo provin­ l'rcl Somuel Tetteroo, O.F.M. Ordem Menores no São lnAu llel·lttl 1924, p. 46. - Expulsos os jesultas do Brasil passaram algumas cial, porque o encargo não foi tratado com o governo da pro­ ole •un• missões para os Franciscanos da Provlncia da lmaculndn Concelçllo ( 1767), u •1unl colocou desde já vinte missionários nas respectivas aldeias. A Provlncln víncia.. . - Em São Paulo, ainda são citadas, em 1770, duas nllnKirn o seu auge com 490 religiosos, baixando porém a 300 at� 1777 em con· ll,t•tUencln dn persegulção .eomballnn contando em 1870 apenas seis sobreviventes. . e missões franciscanas, a de Carapicuíba e Itapecerica, sem que Cl. �>ewcr-tllstóroa, p. 123s c 290. ,R Teixeira de Melo, Campos elos Ooitacazes Slio Pnulo 1881 (clt T • • J. 1\. delas mais se falasse. • A 8 de janeiro de 1830, autorizava o l o , 20. - Roewer-Páglnas, p. 647. - Roewer-HÍstórln, p. 99, conta qÜatrÔ A t•l ) fl· governo imperial ao provincial franciscano do Rio .de janeiro IIIIKROC& lrnnclscanas em 1745. ' Tombo ltanhaém, lot. 2Gvss. - Roewer-Pllglnas' p. 609-612. a enviar dois sacerdotes ao Mato Grosso. Pouco antes da par­ • Tombo ltanhaém, lol. 25v. '0 25. Epltome § Memórias sobre as Aldeias lndlos da tida os escolhidos são substituídos por outros dois, cujos nomes 11 J. A. Arouche de Toledo Rendon, fJro.,lncla de S. Paulo, in RIIIOB 1863, p. 302 (clt. Arouche). dos e trabalhos desconhecemos. " ,. Tombo ltanhaém, lol. 2!lv " Arouche, p. 380. - T. hlelo p 20 " Benedito Calixto, 1\temárla HÍstá;lca a Igreja e o da lma­ rula Conceição de ltanhaém, S. Paulo 1915,'sobre p. 8. Convento � � Leite, I, p. 306. EPILOGO 11 Tombo Gernl, 1, foi. 70. 11 Arouche, p. 306, nota 23. Roewer-Páglnas, 623. 11 Arouche, p. 302. P. Conceição-Primazia, p. 1° Recapitulando as atividades missionárias da província da Ima­ 20 Arouche, p. 312. 58. " Epltome 21. - Roewer-Histórln ' p. 97. culada Conceição, lamentamos que apenas uma .diminuta parcela u Roewer·Páginas,§ p. 626. foi perpetuada nos anais franciscanos, e esta com dados incom­ •• Ibidem, p. 628-630. ::• Epltomc § 10. pletos. Pois as missões peregrinantes que ocuparam a maior Rocwer-Páglnas, p. 532. - Em 17-1-1701, prometeu o governo colonial a esta mlsslio a ordinária e parnmentos. Biblioteca Nacional t-8-4-17. parte dos religiosos escapam à nossa ciência. A decadência das •• Roewcr-Ordem, p. 116. " Conceição-Primazia, p. 34. missões, provocada, entre outras causas, pelo fechamento dos " Roewer-Páglnas, p. 636s. noviciados, foi a mais dura das provações por que passaram " Tombo Geral, 11, foi. 24v. " Frei Scbastl5o E.llebracht, O.P.M. A Aldeia de N. S. da Escada' In Vida os franciscanos, vendo-se incapazes de reme.diar a falta de obrei­ Pranc!scana, ano XVll (1960), p. 13-39 (cit. Ellebracht). 0 Tombo Geral, 1, foi. 89v·9 1. Vej:. o documento 1 do apêndice · ros evangélicos. Mas o valor da obra missionária não é dimi­ 11 Ibidem. 10 Boletim do Arquivo do Estado de S. Paulo ' VI p 31s (clt Boletim) · • ' nuído pela trágica ruína. Pois centenas de religiosos sacrifica­ 11 Boletim V, p. 527-530 ' · ••• Ibidem, 109ss. ram-se pela sublime tarefa enfrentando condições desfavoráveis •• Boletim Vil,p . p. 215s. e empregando todos os meios para cumprir fielmen·te o mandato 11 Ibidem, VIl, p. 194s. •• Ibidem, VIl, p. 212-216. missionário de Cristo. ., Ibidem, VIl, p. 215s. •• Ibidem, VIl, p. 15-18. .. Arouche. 305. - Tombo Ocral' 1 ' foi. 64s. •• Tombo Geral,p. I, foi. 75-7Gv. " Boletim, Vlll, p. 93ss. 41 RIHOB (1957), vol. cspeclnl p. 64s. 41 Documentos Interessantes do Estado de S. Pall/O, XXVIII, p. 35-38 (clt. Doc. lnt. ). do' Arquivo " Doc. lnt.. LXIV, p. 149s. Ibidem, 111, p. 85-92. NOTAS <> 41 Ibidem, 111, p. 93-96. " Boletim, VIl, p. 212s. 1 Tombo Oeral da Provín cia, 4 vols. ms (citado Tombo Oeral) no arquivo pro­ 41 . Tombo Geral. 11, foi. 72 e 73. vincial dos Franciscanos de S. Pauto (clt. APSP). - Tombo do Convento de " Doc. lnt. LXVIII, p. 33s. /lanhaém (clt. Tombo ltanhalm) no APSP. - Tombo do Co11vento de Taubaté, •• Arouche, p. 307. Tombo Taubaté) ms. (clt. no APSP. - Frei Apollnárlo da Concelçllo, O.F.M. Livro de óbitos de Escada (ms. de 1657ss), foi 17. Epltome da Província Franciscana da Imaculada Concelçilo do Brasil :� (para citar Boletim, V, p. 27s. - Arquivo Estndual de S. Paulo - T. colonial-doc. 57. o titulo abreviado da t• edlçlo), obra póstuma, com Introdução e notas de Frei Boletim, VIl, p. 122ss. RIHOB, Epltome). - ••• Oentll Tltton, O.F.M., In vol. 296 (1972), p. 68-165 (clt. 12 Doc. lnt. LXV, p. 215s. Primazia Serdfica na rel!lam da América, Conce/çilo-Prlmazla). Lisboa 1733 (clt. "' Arnuchc, p. 306. Claustro Franciscano, Concelçlfo-C/austro) . - O mesmo: Lisboa 1740 clt. Frei 11 Doc. lnt. LXXIV, p. 253. Bnslllo Pdl!lnas de Hlstárla Franci(scana no Brasll - 1941 Roewer, O.F.M. Petr p olis •• Ibidem, LXX, p. 40ss. Roewer-Páglnas). A Ordem Franciscana no jjrasll, ó (clt. - O mesmo: Petrópolis• "' Boletim, Vlll, p. 122s; 155·162; 207-219. Roewer-Ordem). História da Provltlcla Pratlclscana da 1947 (clt. - O mesmo: " Documentos Avulsos do Arquivo do Estado de S. Paulo, VI, p. 24s. Imaculada Cotlcelçlfo do Brasil, Petró olis 1951 (cit. Roewer-Histárla). p Ellebrncht, p. 36-38. Frei Venâncio Wllleke, O.F.l\1., e Pedro Palácios, O.P./\1., a Penha do :: • Daqui em diante o nosso estudo se baseia nas obras de Pr. Basilio Roewer. Esplrlto Santo, Pr l e In RIHGB, vol. 286, p. 31. 11 Tombo Oeral, 11, foi. 121ss.

132 133 •• T. Meto 21, •• p. RtHOB XVII ( 1854), p. 468. •• Ibidem, p. 469. - Tombo Geral, 11, foi. 143v. u Tombo Geral, 11, foi. 123. v •• Ibidem, 11, foi. 14Jv. no •• Ibidem, 11, foi. 143v. O original encontra-se APSP. u Roewer-Páglnas, p, 656. . •• Dos franciscanos destacados na mlss,;o de N. S. dos AnJOS, constarn em Missões do Maranhão Frei Ologo Freitas, O.F.M., E/encho Bloçraphlco dos rellgioso,s antigos da .Pro­ vinda Pranciscana da lmmaculada Concelç4o do Brasil, Petropolls 1931, apenas 332; estes: Prel Rafael da Purlflcaçllo no Frei Valérlo do Sacramento n• 191 ; Frei e do Pará de S. Catarina n• 330. - Frei Basilio Roewer, Os Pranclscanos no Sul, do jolío I1 Brasil, Petrópolis 1954, p. 57, cita Frei Tomé de S. Maria em lugar de rei Tom�s de S. 11\arla. ,. Ibidem p. 57. - RIHGB, tomo 21 (1858), p. 242ss. tt Frei Ótogo Freitas, o. cil., p. 134, afirma que l'rel Rafael faleceu no Rio de Janeiro em 1786. s Noticia Particular do Continente do Rio Grande, RIHGB, " · p· Betâmlo in vol 21, 11. 239ss (cl't. Betdmlo). Em 1781, foi superior da missão de ltapesserlca 0 �élebre botllnlco Frei josé Marl:mo da Conceição Vetoso, autor de um dl clonârlo tupl-portuguh. Cl. Frei Odullo vnn der Vat, Frei Veloso entre os lndlos, In Vozes 1. PRECURSORES DA CUSTóDIA 19·16, 111-IV, p. 226ss. " Betâmlo, Ibidem. " Uelaçlio das Despesas da Fazenda Real do RGS, em 1779. a) Frei Francisco do Rosário O.F.M. ,. Idem, Folha Eclcsláslicn (1790). Houve quem estranhasse, na revls5o das , contas, a existência de um vigário e de um cura na aldeia dos Anjos, �m 1780, por e c que ambos percebessem ordenado, embora sta razão fosse mais baixo que o da aldeia de S. Nlcolau, que era um só. Alguns autores antigos como Jorge Cardoso ' e Jaboatão afir­ ,. Reiaçllo das Despesas tia Fazenda Real do RGS, 1779. , ,. Biblioteca Nnclonnl do Correspondência com o Governador do Ulo nlam que os primeiros missionários do Maranhão e do Pará cód.Hlo - Or·andc 1779 Ollclo VI, 9, 4, 8-16. - Arlindo Informações u BctAmlo, p. 230. N.B.: Agradeço ao Pe. Rubert v•\rlas foram o irmão Frei Francisco do Rosário, português, e um con­ do br as missões franclscouns RS. so e frade sacerdote, entre os anos de I 600 e 1615. Outros, po­ u Ibidem, p. 570ss, Fernando La Co/onla de/ Sacramento, Monte· vidco Capurro, 1928, p. 17s, 189. r rém, duvidando que Frei Jaboatão se baseie em fatos reais em •• A qu. Col to, 1, 26, foi. •19v-51 (ms.). ., RIHOB, LXIII (1901), parte t•, p. 40. suas citações, e considerando a tendência ele atribuir aos fran­ u 11. Tombo Tnubnt�, 4v . • ,. Roewer-Histórln, p. 13<1. ciscanos a primazia das missões discordam do cronista fran­ u Rocwer-Ordcm, Ibidem, p. 254. - Tomllo Oeral, IV, fol. 7v-8. - p. 118. ciscano. Pois, caso se trate de fatos reais, os frades menores também no Maranhão e Pará teriam sido os primeiros evan­ gelizadores. Contudo não há motivo para dúvidas. Jaboatão não figura como primeira nem como a mais importante fonte de referência. Cem anos antes dele, Jorge Cardoso, baseado em de­ clarações do custódio Frei Sebastião do Espírito Santo ( 1650- 1653), já se referiu às ditas missões. Portanto, salvo prova em contrário, devem ser relegadas as dt'tvidas. Não é de estranhar que não encontremos referências so­ bre essas missões no extremo norte da parte dos contemporâ­ neos como Ilha e Salvador. Pois o primeiro escreveu em Por­ tugal, baseado principalmente em noticias orais, e a Crônica da Custódia, escrita pelo segundo, terminou em 1618 e cedo. se perdeu, podendo ter mencionado os missionários do Maranhão. 1624- Além do mais, do tempo anterior à guerra holandesa ( 1654) há poucos documentos franciscanos conservados no Brasil. A imprecisão dos anos de atividades missionárias de Frei Rosário explica-se pelo fato de Frei Sebastião do Espfrito San­ to só em 1655 as ter transmitido pessoalmente a Jorge Car­ doso. Irmão Rosário obteve grande sucesso entre os silvico ias,

135 134 frente das tropas e erguendo o crucifixo na mão incen­ tanto em suas viagens apostólicas pelo Maranhão como pelos ltaua un llvar:uu-nas para a batalha que saiu vitoriosa. • Em agradeci­ afluentes do Amazonas no Pará. • já nos referimos às suas mento pelo auxílio atribuído à intercessão de Maria SS. erigi­ obras inéditas que mais tarde se perderam. 1 Ainda jovem no­ ram uma capela votiva, sob o título de «Nossa Senhora da tário veio ao Brasil em 1590. Possuía conhecimentos de línguas Ajuda:.. indfgenas e latina. Apesar de recusar os estudos para o sa­ Quando depois da vitória dos portugueses, os fndios do cerdócio, trabalhou com grande zelo, primeiro na custódia de Maranhão com receio da escravi

sionários declarando textualmente .. : fazendo preparativos para a viagem e resolvendo certas dificul­ dades surgidas na administração das missões, baseado sem dúvi­ «Considerando quão importante é ao serviço de Deus e meu en­ da em notícias recebidas elos confrades de Una e nas experiên­ viarem-se desse Reino religiosos àquelas partes para tratarem de au­ mento de nossa santa fé e da conservação do gentio e celebrarem os cias dos ex-custódios de Olinda, após a entrega das missões ofícios divinos me parece que estes religiosos devem ser de S. Fran­ prelado da Paraíba. ao cisco da província de Santo Antônio a que compete aquela comissão: No dia 22 de abril de 1622, a província de Santo Antônio os quais irão com o novo governador, no número que parecer ne­ cessário:.. comunicou ao rei ter nomeado Frei Cristóvão primeiro superior da custódia do Grão-Pará pretendendo enviar junto com ele já em 1617, o governador do Brasil Gaspar de Sousa seis missionários para o Maranhão e quatro para o Pará. A um havia proposto ao rei a fundação de uma nova custódia fran­ tempo pediu o governo da província franciscana à coroa a im­ ciscana no Grão-Pará. Para não sobrecarregar a província-mãe portância de 350$000 para poder custear as despesas da expe­ de Santo Antônio, aconselhou que a custódia de Olinda fosse dição missionária ... Aos 9 de julho de 1622, veio a confirma­ promovida a província autônoma, já que possuía o pessoal e os ção oficial do custódio.. . conventos em números uficientes. •• Mas a província portugue­ . � Depois de ter solicitado informações sobre a situação no sa assumtu o compromtsso de manter as duas custódias opon­ Grão-Pará, o novo custódio junto com os seus futuros compa­ do-se, ainda em 1647 e 1657, à independência da custódia nheiros de missão dirigiu, a 17 de outubro de 1623, um reque­ olindense. Esta atitude dos franciscanos lusos pode ter sido mo­ rimento a EI-Rei no qual pedia regulamento sobre a adminis­ tivado pelo receio de o governo querer incumbi-los de outras tração material dos aldeias dos índios que necessariamente devia missões. estar sob a orientação dos franciscanos para se evitarem ex­ A escolha e o envio de missionários para o Grão-Pará de­ ploração e maus tratos dos indígenas e outras irregularidades morou ainda algum tempo. Uma carta de Dom Duarte de Madri que a miúdo aconteciam sob a administração de autoridades ci­ � datada de 9 de junho de 1622, transmite a Frei Cristóvão Se vis. Caso contrário, as missões correriam perigo de frustração verim de Lisboa felicitações pela sua nomeação para custódio ficando os portugueses cada vez mais odiados. Era, pois, de do Gr o-Pará. •• Neste posto, o frade tornou-se famoso pela interesse para a religião e para El-Rei ter os índios por amigos _ ã_ dedtcaçao de corpo e alma ao trabalho evangélico que lhe foi e não por adversários. " Do ofício transparece que os missioná­ destinado. rios do Una encontravam muitas dificuldades com os portugue­ ses, dados à avareza, e recomendaram ao custódio que pedisse c) Custodiato de Frei Cristóvão de Lisboa (1624-1635) ao governo diretivas por ele autorizadas. A petição teve a aprovação do ex-governador Gaspar de Frei Cristóvão nasceu em Lisboa, aos 25 de julho de 1583. Es­ Souza ,. e a confirmação da corte com a expressa proibição de tudou, em Évora, com seu irmão mais velho Manuel, que mais os leigos doravante administrarem as aldeias dos índios. " Ou­ tarde se tornou padre secular e famoso pela vasta cultura. Aos trossim, o governo concedia as ordinárias aos conventos c às

140 141 missões. Para bem cumprir o seu ofício de custódio e de co­ 11lonária por serem adaptados ao clima tropical e por faltarem Grão-Pará conventos espaçosos. mtssano do Santo Ofício, Frei Cristóvão obteve os devidos po­ 110 deres temporais e espirituais. Pois tinha que representar os No Ceará Aos 12 de julho de 1624, os missionários direitos dos índios como suprema instância, realizando ade­ - 16 mais visitas canônicas e pastorais com faculdades quase epis­ prosseguiram viagem até o Ceará, desembarcando, após seis dias, copais e extirpando as heresias introduzidas pelos holandeses e em Mucuripe. De lá o capitão Martim Soares Moreno os levou Fortaleza, onde permaneceram 15 dias doutrinando os índios franceses. a a prestando assistência religiosa aos portugueses. Edificado pelo c Em Olinda Aos 25 de março de 1624, Frei Cristóvão sucesso elos curas d'almas, Moreno pediu ao custódio - zelo c e dez confrades embarcaram para Pernambuco, onde aportaram alguns frades para a pastoral permanente entre brancos e indí­ no começo de maio, após uma viagem tranqüila. De Olinda con­ crcnas, na expectativa de pacificar definitivamente os silvicolas; seguiu levar mais cinco missionários para introduzir os novatos �ois aqui Frei Cristóvão já se achava na sua circunscrição ecle­ no método da catequese e no conhecimento da lfngua e dos siástica que abrangia os atuais estados do Ceará, Piauí, Mara­ costumes da terra. A respeito deste número de missionários des­ nhão, Pará e Amazonas.. . tinados à nova custódia já não há dúvida. Pois há pouco tem­ De fato Frei Cristóvão deixou dois padres no Ceará; um po achou-se um fragmento do texto original da História do era provaveÍmentc de Olinda para tratar ela catequese. Não Brasil de Frei Vicente do Salvador no qual se lê: «Frei Cris­ consta quanto tempo demoraram ai. A última referência é de tóvão Severim como custódio que viajou com quinze religiosos, 1626 quando o custódio os visitou.. . No século dezoito, os dez da província e cinco da Custódia» de Olinda. " Dos pri­ franciscanos de Pernambuco, quando recolhiam esmolas entre os meiros são nominalmente conhecidos: Frei Sebastião de Coim­ moradores do sertão cearense, administravam-lhes também os sa­ bra, Freis Luís da Assunção, Frei Antônio da Trindade Frei cramentos segundo provam os livros de batizados de algumas Agostinho das Chagas e Frei Francisco do Presépio. s de paróquias. Em 1923, a província de Santo Antônio assumiu os . O linda foram estes: Frei Antônio do Calvário, missionárioO ex­ trabalhos do maior santuário franciscano do mundo, em Camn­ periente e bom conhecedor da língua, Frei Manuel Batista Frei dé, donde exercem grande influência sobre a vida religiosa do João da Cruz, pregador, e os irmãos Frei Junípero d São Ceará e dos estados limítrofes . .. Paulo e Frei Domingos dos Anjos, aos quais Frei Jaboatão� acrescenta o célebre catequista Frei Francisco do Rosário. •• No Maranhão - Prosseguindo viagem por via marítima, chegaram os missionários a São Luís do Maranhão, a 6 de O convento de Nossa Senhora das Neves de Olinda ' o primeiro de todo o Brasil, figurava desde 1585 como sede da agosto ue 1624. Imediatamente começaram a construção do con­ vento da igreja, evangelizando ao mesmo tempo os índios custódia de Santo Antônio. Neste e no do Recife, os missioná­ c rios recém-vindos de Portugal encontravam hospedagem, duran­ elas aldeias vizinhas. Frei Cristóvão exercia o seu ofício defen­ te os dois meses que demoraram em Pernambuco. Frei Cris­ dendo os direitos humanos dos silvícolas ameaçando com penas tóvão achou em Olinda o ex-missionário do Maranhão, Frei Ma­ eclesiásticas a quem procurasse escravizar e explorar os índios. nuel da Piedade, pedindo ao certo informes e sugestões para o Nesta atividade não lhe faltaram contraditas da parte dos mo­ desempenho de sua árdua missão. radores e autoridades. Sempre ainda achava livros de doutrina Foi também neste primeiro contacto com o Brasil que os ele huguenotes, cartas de tocar ou de pacto com o demônio e frades portugueses conheceram as aldeias de índios vizinhas orações supersticiosas que recolhia e destruía. ' Já em fins de janeiro, o convento estava condições de a Olinda, e receberam a orientação para a próxima catequese crn no Maranhão. abrigar os frades e a igreja de Santa Margarida pront� para Os próprios mosteiros das comunidades franciscanas de servir ao culto divino: inauguraram-nos aos 2 de feveretro ele Olinda Recife terão merecido toda a atenção da turma mis- 1625, com a celebração ele missa solene. O custódio nomeou c 142 143 Frei Antônio da Trindade primeiro guardião da comunidade ma­ via marltima, em canoas, e de Caeté em diante por via terrestre. ranhense e seguiu com alguns frades para Belém ... Como a boa fama dos missionários, desde 1614, se espalhara Obedecendo a uma ordem da corte ficaram em São Luís em todo Norte, o custódio com sua comitiva foram por toda o cerca de dez franciscanos. Este número relativamente grande ex­ parte bem recebidos, aproveitando a ocasião para instruir os plica-se pelo abundante trabalho da evangelização incipiente. lndios nas verdades principais e administrando o batismo, em Sobre o método missionário adotado no Maranhão, os cro­ casos extremos. De aldeia em aldeia, aumentava o número dos nistas não nos informam, falando os documentos antigos quase indígenas que acompanhavam os missionários, de maneira que a exclusivamente da situação jurídica e dos atritos havidos com os sua entrada em Una se tornou triunfal, solenizada por música funcionários públicos e os colonos, em defesa dos direitos hu­ primitiva e ricos ornamentos. " manos dos índios. A falta de dados mormenorizados pode ser Tendo chegado a Una, em fins de abril de 1625, Frei Cris­ atribuída à perda total do arquivo provincial do Porto, em 1834. tóvão, já poucos dias depois, recebeu a visita do governador A fundação missionária de Frei Cristóvão de Lisboa, feita Bento Maciel, o qual pediu um missionário para cooperar na em São Luís, nem sempre continuaria com a Província de Santo expulsão dos holandeses que novamente haviam ocupado Guru­ Antônio; pois desta se desmembrou, em 1706, a nova província pá. O custódio cedeu o ex-comissário Frei Antônio de Marciana da Imaculada Conceição, à qual no ano seguinte se confiou o e animou os índios para aquela campanha, obtendo 300 volun­ convento de Santa Margarida com as respectivas missões ma­ tários que com 50 soldados partiram, a 2 de maio, sob o co­ ranhenses. Entre estas, conhecemos apenas a de S. João dos Po­ mando de Pedro Teixeira. ções que em 1759 com as demais seis doutrinas franciscanas ob­ Mal estava refeito da extenuante viagem, quando Frei Cris­ teve foros de paróquia autônoma. .. Por este tempo, o marquês tóvão, na qualidade de Comissário do Santo Oficio, realizou a de Pombal paralisou as ordens missionárias expulsando os re­ solene entrada em Belém. O senado e o povo receberam o alto ligiosos que não lhe agradavam e proibindo, em seguida, a ad­ dignitário, com júbilo, aos 14 de maio. Apresentando, porém, o missão de noviços. Começou assim a decadência claustral com alvará régio que abolia as mercês das administrações leigas das todas as conseqiiências funestas. Os frades menores do Maranhão aldeias de índios, achou o prelado má vontade, de modo que recusaram-se a aceitar as novas paróquias alegando que tal in­ teve de prorrogar a execução das ordens, até a chegada do cumbência não condizia à vida religiosa. Por isso, todos os mis­ novo governador que já se achava em Pernambuco. sionários retiraram-se ao convento de Santa Margarida. " Uma Ao ensejo da visita pastoral que o comissário do Santo Ofí­ relação datada de 6 de julho de 1797 conta apenas 27 francis­ cio então realizou em Belém, convenceu-se da corrupção geral canos no Maranhão. " reinante na cidade e da urgência de intensificar a cura d'almas, Com a rápida decadência da vida regular, parte do con­ razão por que desde já cuidou de fundar um convento com igre­ vento serviu de escola e de quartel, até que em 1838 nele se ja, ambos sob a invocação de Santo Antônio. instalou •o seminário diocesano. A um dos seus moradores, o bispo resignatário D. Joaquim de Nossa Senhora de Nazaré, jornada missionária - No dia 8 de agosto de 1625, teve O.F.M., coube o merecimento de preservá-lo do seqüestro inten­ início, sob a direção dG custódio, a primeira grande viagem tado por parte do governo. Como último inquilino franciscano missionária, subindo o rio Tocantins. Além de dois escrivães faleceu, em 1878, Frei Ricardo do Sepulcro. " Somente em 1952, seculares da visita pastoral, j oão da Silva e Manuel de Pina, prosseguiria o apostolado franciscano com a fundação da custó­ que conheciam bem a lingua dos índios, tomaram parte na ex­ dia de Nossa Senhora da Assunção pela província da Santa pedição os padres Frei Sebastião de Coimbra e Frei Cristóvão Cruz da Saxônia-Alemanha. de São José, o irmão Frei Domingos dos Anjos e provavelmente o famoso Frei Francisco do Rosário. Desviando-se do Tocantins subiram o Araguaia e chegaram ao Norte de Goiás. No Pará - Instalada a comunidade franciscana em São •• Luís, principiou Frei Cristóvão com alguns religiosos a viagem Frei Cristóvão de S. José anteriormente missionara algu­ até o Pará. A primeira etapa do longo itinerário, realizou-a por mas aldeias do Tocantins fundando também o aldeamento de

144 145 Camutã, de modo que desta vez puderam admitir ao batismo tinha chegado e em maio passado fora acordado que res­ o os adultos mais fervorosos e muitas crianças. Não se cogitava rrito t• ntraria em vigor com a vinda do governador. de estabelecer missões permanentes com algum religioso resi­ Em princípio de 1626, Frei Cristóvão encetou urna viagem dente entre os índios; mas a catequese se restringia a visitas por terra de 47 dias até S. Luís do Maranhão, onde a sua visi­ ocasionais que nas várias aldeias se estendiam sobre semanas, tac;ão pastoral foi mais bem recebida obedecida que no Pará. c conforme o serviço religioso a ser prestado. Querendo prosseguir a jornada até o Ceará e não havendo na­ Menção especial merece a demora dos franciscanos na al­ vio, resolveu ir de canoa. Partiu no dia 18 de maio. Mas o deia do cacique Tomagica, homem cruel e astucioso, embora se mar cncapelou-se tanto que o custódio desistiu das canoas e tivesse convertido ao catolicismo. Este índio, geralmente temido, continuou a pé. Mesmo assim não escapou dos perigos, sendo convidara os missionários que visitassem também a sua tribo, agredido por noventa ferozes índios Tapuia, Arechi e Uruatim. posto que os amigos de Frei Cristóvão de Li boa desacon e­ � . � Apesar de levar consigo 'Outros tantos índios, estes não estavam lhassem qualquer aproximação com o tuchaua tratçoetro. Os mts­ em condições de resistir àqueles. sionários, porém, ,entraram nessa aldeia sem mostra alguma de Quem salvou a situação foram alguns soldados portugue­ timidez e impondo-se aos silvícolas com a sua intrépida cora­ ses e I 5 experientes e valentes indígenas. O perigo era tão gem erigiram, desde já, o chamado Calvário ou sejam três cru­ _ grave que o próprio custódio, Frei João da Cruz e um sacerdote zeiros e uma capela de madeira e coberta de palha de palmetra. secular se viam forçados a empunhar as armas e lutar. Os dois Para tirar as dúvidas sobre a autêntica conversão de To­ últimos saíram feridos, três índios da comitiva foram mortos e magica e outros caciques, o custódio pediu e levou ?ara Dna _ t�lt perderam-se todas as provisões para a viagem. Os agressores, filho de cada qual deles para dar-lhes uma sóhda mstruçao vendo-se inferiores, fugiram para a floresta. Dois dias depois, cristã. Aos 3 de outubro de 1625, os missionários visitaram che­ como última aldeia a de Camutá, à margem esquerda do To­ a 25 de junho, a comitiva, exausta e com vários feridos, cantins, hoje sede da prelazia homônima. A notícia do feliz re­ gou a Fortaleza, onde Frei Cristóvão visitou os seus confrades torno da expedição encheu de admiração e alegria o povo de e provavelmente realizou a visita pastoral. .. Una e Belém, pois já corria o boato de os frades terem sido mortos pela tribo ele Tomagica. " Resgates - A 15 de agosto de 1626, o custódio embarcou junto com o novo governador, Francisco Coelho de Carvalho, o is para São Luís, onde foram festivamente recebidos. O chefe do Visitas Past ra - Logo após a volta, o custódio seguiu para Belém, a fim de continuar a visita pastoral há meses in­ governo foi imediatamente empossado. Para poder agir com mais terrompida. Encontrou a opressão dos índios e outros males re­ liberdade no Pará mandou o indesejável Bento Maciel de Belém crudescidos, sentindo-se obrigado em consciência a tomar enér­ para Madri e manteve apenas a administração das aldeias de aicas providências. Publicou então, no dia 21 de dezembro de índios já constituídas. Esta atitude despertou nos missionários l625, uma carta pastoral, lendo-a na igreja matriz de Belém a esperança de verem respeitados no futuro os direitos dos in­ exigindo a entrega da administração das aldeias de índios aos dígenas. Realmente, em I 628, o governador proibiu efetuar os c missionários, de acordo com o rescrito do rei. Aos insubmissos chat�ados resgat�s de índios nos vales dos rios e trazê-los para ameacava com a excomunhão. servtços de colomzadores e de funcionários públicos. h\as a população, instigada por Bento Maciel, interpretou Havia no entanto o costume de resgatar índios prisioneiros o rescrito de outra maneira, afirmando que ele não tinha valor de guerra; pois, se não fossem comprados, seriam mortoi e de­ no Pará porque no seu texto só constava o nome do Maranhão. vorados pelas tribos vencedoras. O resgate podia salvá-los e Frei Cristóvão retrucou que sua jurisdição se estendia sobre o contribuir para a sua conversão. Portanto não havia motivo para Maranhão � o Pará. Logo, o alvará deveria vigorar em to�o proibir esta maneira de resgate. Mas a ganância dos portu­ o territóric. Para não suscitar maiores resistênci::ts, o custódiO gueses não deixaria de arrebanhar também outros índios ilu­ aquietou-se novamente, já que o novo governador ainda não dindo ou forçando-os para se incluírem no número dos r�sga- 146 147 tados. Praticamente os resgatados passavam de uma escravidão hlu, como a escravização e venda dos nativos, assim como o à outra. Também na Amazônia, distinguia-se entre a compra da 11so de carne de jaboti, em dia de abstinência. " pessoa e a do trabalho, uma fraude que Frei Vicente do Sal­ Em 1627, o custódio visitou novamente as missões do Ma­ vador condenara com toda a veemência por justificar o trata­ ranhão. O número dos franciscanos não passara de vinte ' a mento desumano que se dispensava aos indígenas. saber, quinze no Maranhão e no Ceará e cinco no Pará de u odo qu catequese entre as várias tribos se restringia vi­ Os habitantes de Belém fizeram tanta pressão contra o de­ � � sitas penód1cas� dos religiosos. Como os missionários da custó­� creto do governador que ele afinal permitiu duas expedições lia olin ense tivessem que voltar para Pernambuco depois de anuais de resgate à procura de mão-de-obra barata, impondo, � antroduz1rem? os confrades, o número dos franciscanos da novel porém, a obrigação de sempre serem acompanhadas de um mis­ custódia maranhense baixou interinamente a quinze, retornando sionário. Frei Cristóvão negou-se a ceder missionários a tais todos, menos Frei Antônio do Calvário que provavelmente já expedições por considerá-las contrárias à lei. Ainda assim elas falecera no Maranhão. se realizavam. O custódio queixava-se amargamente sobre o Já que os missionários se opunham às arbitrariedades dos governador. Pois fora-lhe prometido, em que com a che­ 1625, governant s, desinteressavam-se estes pelas missões, de modo que gada deste entrariam em vigor as ordenações régias. � . . as comumdades rehgwsas passavam até necessidades. Em 1630, De 1626 a 1629, houve duas expedições do Amazonas che­ falt·ou-lhes o vinho para a celebração da missa. Finalmente vi­ fiadas por Pedro Teixeira e acompanhadas por Frei Cristóvão ram-se obrigados a retirar-se das aldeias, ao menos tempora­ de S. José, chegando ambas até a foz do Tapajós onde fica riamente. Não se realizara o desejo de Frei Cristóvão ver-se hoje a cidade de Santarém. Alegava-se o pretexto de resgate livre do cargo custodial; pois os sacrifícios da faina missio­ de índios, mas. o resultado foi insignificante porque o missioná­ nária haviam sido tantos que, já em janeiro de 1627' escre- rio, com sua influência e intervenção direta, frustrava as in­ via a seu irmão Manuel ": tenções dos expedicionários. cCrede-me que �or milagre sou vivo, não só porque vi a morte, dtante. dos olhos mUJtas vezes, nos perigos em que animosamente me Luta incessante Quando em 1629 os irlandeses, sob as pus pelo :;erviço de Deus d� Sua Magestade, mas principalmente - ' . , _ . � ordens do comandante irlandês Bernard O Brien, se renderam pelas afhçoes, moleshas e cutdados que me dão as exorbitâncias e ex­ às tropas portuguesas na Amazônia, estava presente o francis­ cess?s destas gentes porque são maiores estes perseguidores que a IgreJa, cá tem, que os hereges no levante, nem os turcos em toda a cano Frei Luís da Assunção, prometendo-se-lhes sob juramento . de serem bem tratados. Sem demora, porém, desrespeitaram o Asta ... Até o pasto d? Sacramento nos falta porque o vinho que EI-Rei manda dar para as mtssas o não dão seus ministros nem a terra tem solene juramento, razão por que Frei Cristóvão de S. José ver­ nlgum, tão miserável está». ' berou do púlpito a escandalosa traição. Em represália, os ofen­ didos invadiram convento franciscano e assassinaram um reli­ o . No decorrer dos anos, a custódia recebeu novos missioná­ gioso parecido oom o pregador. .. rios do Reino; pois consta que Frei Cristóvão em São Luis lhes ' Desde 1617, os franciscanos lutavam pela liberdade dos na­ cnsi ou filo ofia e teologia. Este curso de estudo super or e � � _ Í tivos, mas em vão. Houve até quem tentasse justificar teologica­ de !mf?Uas mdtg�nas prosseguiu, durante muitos tempo, segun­ mente o deslocamento dos índios, quando eles aceitassem livre­ do �nd1ca a relaçao posterior de professores como, por exemplo, mente trabalhar, por tempo determinado. Mas a realidade era Fre1 Alexandre da Trindade, Bernardo de Santa Teresa e Mateus que não se respeitavam nem a lei, nem as limitações impostas de 1 esus. •• A partir de 1627, compôs o custódio a famosa obra intitulada História Natural Moral do Maranhão Grão·-Pará por sentimentos humanos. Neste e em outros pontos, o custódio e e acusa ·o padre jesuíta Luis Figueira de anular os esforços dos da qual apenas se conservou a primeira parte publicada em edi­ franciscanos pela liberdade dos índios e de não acatar a sua ção fac-similar e póstuma, em t 967. " autoridade, em assuntos eclesiásticos. Afirma Frei Cristóvão que Residindo em São Luís, o custódio daí governava a sua o jesuíta dá liberdade em matérias que ele expressamente proi- circunscrição eclesiástica. Além dos conventos de Belém e São

148 149 Luís, fundou os hospícios de Camutá no Tocantins, Caité no as conquist�s de territórios dos índios pressupõem violência; . _ litoral paraense e outro cujo nome não consta. •• Voltando defi­ os nahvos sao os legítimos donos da terra nada fizeram pms ' nitivamente para Portugal, em 1635, Frei Cristóvão ainda ocupou mal e não se opuseram à pregação da fé cristã. Por isso vários cargos inclusive de pregador régio. Nomeado bispo dl' o ���:vitavcl�ente odiarão os portugueses e repudiarão a reli­ de Angola e do Congo, em 1644, não chegou a ser confirmado catóhca, se forem injustamente agredidos; c acrescenta o gwo . pela Santa Sé, falecendo em 1652. Mesmo repois de eleito bis­ l'x-cus ódiO, de antiga experiência, que os portugueses no Brasil po, continuou a defender os interesses das suas antigas mis­ :tproveJtam� qualquer portinhola para escravizar os fndios e insi­ sões. " O maior mérito de Frei Cristóvão é atestado numa tela nua ao governo o dever de evitar tudo o que neste sentido a óleo que o representa, dizendo o título: Frei Cristóvão de possa �ervir de pretex�o. Como prova aduz que no Ceará, numa Lisboa plantou a fé católica no Maranhão. �xt?nsao de 60 horas de viagem, havia também 60 aldeias de tnchos, havendo então uma só, enquanto as outras foram des­ povoadas pelo sistema de resgates. De modo semelhante acon- ' d) Sucessores de Frei Cristóvão de Lisboa teceu no Maranhão no Pará. c Tais declarações implicam o conselho de tratar os índios O sucessor imediato de Frei Cristóvão foi Frei João Batista, ele maneira mais humana e de proibir os resgates a fim de não nomeado custódio em 1637. Não chegou porém ao Brasil; pois, tornar o nome cristão ainda mais odiado do que já está. " com três confrades, caiu nas mãos de piratas da Algéria. •• Nesse i\ franqueza do ex-custódio surtiu efeito salutar·' pois nos anos tempo, o governador Francisco Coelho de Carvalho, dominado . ' segu nt es, um número maior ele missionários partiu para Ma- pela ganância, dificultou ao extremo o apostolado missionário : o ranhao. Entrementes, também a Congregação ela Propagação perseguindo os franciscanos de modo que muitos saíram da Fé patenteou seu interesse à custódia do Maranhão conce­ custódia para Pernambuco ou Portugal. Por ocasião de um mo­ da dendo-lhe a faculdade de sub-rogar missionários fora dos ca­ tim havido em São Luís, a 1 de maio de 1637, o povo in­ O pítulos provinciais. •• vadiu o convento sendo um religioso morto à espingarda.. . relatório oficial de 1673 fala de 20.000 índios cris- Jácome Raimundo de Noronha atesta, em seu relatório, que _ V m . taos e do conhnuo crescimento da Igreja no Maranhão. •• Em desde o tempo em que o rei enviou os franciscanos, as missões 75, o� f anciscan s cientificam gov rno de que, há 40 anos, entre os índios estavam em franco desenvolvimento que ulti­ I � . � � . o : e vem sstshndo. cspmtualmente a. alclcta de Guarapiranga que mamente a maior parte dos missionários se retirou permane­ � EI ReJ lhes entregou e onde agruparam índios de diversas re­ cendo apenas três padres, dois irmãos e um clérigo ... .: IOCS. Pedem, �ois, a administração da aldeia visto que os abo­ Em 1638, o guardião de Belém, Frei Agostinho das Cha­ � J 1- enes co vertJdos os acompanham nas viagens apostólicas às gas, o irmão espanhol Frei Domingos Brieva acompanharam � � c tnbos pagas e com caça pesca ajudam na manutenção dos a expedição de Pedro Teixeira para redescobrir todo o rio a c frades. " Amazonas, fundando no rio do Ouro a povoação de nome Criada a junt� das missões, recomendou EI-Rei que, além «Franciscana», em homenagem à cooperação dos frades menores, dos prelado franciscanos, fosse também admitido Frei João de � . e chegando a Quito em 1639, de onde voltaram para Belém Santo AtanasiO, por seus relevantes méritos missionários. Afi­ em 1640 . . . nal, 16�6, coube aos missionários, além da cura d'almas, a Rareiam cada vez mais as notícias sobre as missões, cons­ c'? a mnustraçao. temporal das aldeias. •• Em 1693, o governo colo­ tando que, em 1647, Frei Cristóvão de Lisboa, por ordem de D. ? lllal procedeu à nova distribuição territorial das missões entre João IV, comentou duas cartas que EI-Rei recebera do Mara­ as cltvcrsas ordens, cabendo aos franciscanos ele Santo Antônio nhão, sendo uma da Câmara e outra de Frei Luís da Assun­ tudo o que ficava ao norte elo rio Amazonas e o sertão cha­ ção, guardião de Belém e comissário da Amazônia. Pede a Câ­ •Jlado Cabo do Norte para que discorrendo pela margem do . . mara licença para conquistar os sertões enquanto Frei Lufs apre­ 1. 10-mar compreendessem os nos afluentes Jari e Paru a missão senta as suas dúvidas. Frei Cristóvão responde ao rei que todas c de V rubuquara. •• 150 t5l 3. COMISSARIADO DA PIEDADE Quando o marquês de Pombal tomou as rédeas do governo, No mesmo ano de 1693, chegaram ao Pará os primeiros mis­ ns missões da Amazônia foram extintas e os Franciscanos da sionários da província portuguesa da Piedade recebendo Ourupã Piedade expulsos, em 1757. •• e o território entre os rios Trombetas e Oueribi, bem como o vale do Xingu. •• Também estes franciscanos encontraram muita resistência da parte dos colonos quando tomaram a defesa dos 4. COMISSARIADO DA CONCEIÇÃO direitos dos índios. Frei Pedro de Redondo (t 1710), que ar­ dorosamente defendeu os nativos de Serapatuba reclamando con­ Desmembrada da província de Santo Antônio, a da Imaculada tra a exploração dos mesmos em trabalhos públicos, pagou ca­ Conceição recebeu parte das missões amazônicas, reunindo-as no ro sendo deposto. •• Nesta época, os índios Piriqui mataram os comissariado da Conceição. Em 1706, fundou em Belém o hos­ padres Frei Pedro de Évora e Frei Antônio da Vila Viçosa. O pício de São Boaventura, assumindo no decorrer dos anos o en­ exército colonial vingou o crime castigando os pagãos morado­ cargo de sete missões no Pará e duas no Maranhão, além do res do rio Atumá. •• convento de São Luís. Também estes missionários tiveram em A Câmara de Belém, em carta dirigida a EI-Rei e datada 1755 a ordem do governo de se retirarem das aldeias e se re­ de 19.VII.1704, critica duramente todas as ordens missionárias colherem ao convento de São Luís, já que se negaram a reger as pelas negociações excetuando apenas os franciscanos da Piedade novas paróquias que substituíam as missões alegando a incompa,... tibilidade entre a administração paroquial e a vida claustral. que «não faltam com a doutrina e cura espiritual, mas o (sic) consideram acessório à jurisdição temporal». •• Entre as missões da Conceição, conhecemos as seguintes: Em 1720, o comissariado da Piedade administrava as dez I. São Francisco de Caiá, na ilha de Joanes ou Marajó, com missões seguintes: 1. Nossa Senhora da Piedade de Ourupá; os índios Aruna e Aruan; 2. Nossa Senhora da Conceição, no 2. São José de Arapijó, entre os índios Capuna; 3. Santa Cruz, Igarapé da mesma ilha e com a citada tribo; 3. Santo Antônio composta dos seguintes grupos: Aracaju, Corascorati, Ambiqua­ de Aracajó, transferida mais tarde para São Francisco de Ooia­ ra, Manaus; 4. São Brás de Maturu, com ,os Torá; 5. São Fran­ ná; 4. Nossa Senhora da Conceição, no Marajó com os Ingaiba; cisco de Ourupatuba, com estes grupos: Tapiassu, Apama, Oon­ 5. Santo Antônio de Tuaré, transferida mais tarde para Jari; çari, Manaus; 6. Santo Antônio de Surubiu, com os Apama, 6. São João dos Poções, perto de São Luís do Maranhão, e Crossam e Manaus; 7. Santo Antônio de Curuamanema, com os que passou a ser chamada Vinhais; de datas posteriores são as Baré e os Taquiponá ou Nambiquará; 8 . Santa Ana de Pauxis missões: 7. Conceição de Tuaré, com .os Tucuju; 8. São Fran­ . (atual Obidos, sede prelatícia), com os Pauxis, Arapiu, Coria ti cisco, na foz do Jari, entre os Aroki; 9. São Boaventura, em e Candori; 9. São João Batista, com os Jamundá; 10. São João Caiá., e 1 O. Aramucu, no Jari, atual Arraiolos. Batista, com os Tocantim. •• A prematura extinção de todas as missões tornou-se particu­ Os Franciscanos da Piedade mereceram a seguinte aprecia­ larrnente fatal, na Amazônia. Pois a maior parte dos índios ficou ção do atual historiador mais afamado da Amazônia Ferreira praticamente abandonada a si mesma e sujeita a explorações, «. Reis ••: . . obtiveram êxitos sensíveis, montando aldeamentos, até que, no século XX, prosseguiu a catequese, desde 150 anos operando descimentos, convertendo dezenas de tribos, explorando interrompida, quando a Igreja·, livre das algemas do padroado, rios como o Trombetas e o Jamundá, disciplinando o gentio com pôde desenvolver toda a atividade missionária. que tomavam contacto ou sobre que recaía sua atenção mais Relatemos afinal as missões da Custódia de Santo Antônio, direta. Só em 1727, no Trombetas, conseguiram reduzir toda a enquanto administradas no século XVIII. Algumas tiveram a as­ massa gentílica, distribuída em mais de duas dezenas de tribos sistência dos franciscanos, durante 140 anos, e mesmo depois que se espalhavam, até a zona tida como fronteira da colônia holandesa de Surinam. Frei Francisco de São Marcos foi o herói ele transformadas em paróquias continuaram sob a direção des­ tes religiosos. Além das já citadas aldeias ele Una, Caité, Camutá desse feito». e Caviana dos primeiros tempos existiam: 1. Missão do Rosário, 152 153· na ilha de 1\1\arajó ou joanes, entre os índios Sacaca; 2. Bom APÊNDICE Jesus, na mesma ilha, com os Aruan c Murunu; 3. São José, Já mesmo, com os Aruan; 4. Nossa Senhora da Conceição, no rio · MISSIONÃRIOS ESCRITORES Paru, com os Aracaju; 5. Nossa Senhora das Graças de Urubu­ quara c 6. Santo Antônio de Anajatiba, com os Aruan; 7. Santo Cristo, em Mapuá; 8. Nossa Senhora da Graça, no Amazonas, 1. Impressos com várias tribos; 9. Guarapiranga, já acima referida ... História dos Animais Arvores do Maranhão, As 26 missões franciscanas do século XVIII distribuíam-se Frei Cristóvão de Lisboa ' e Lisboa 1967 (fragmento da obra monumental perdida em Lisboa : His­ assim sobre os três comissariados: nove da Custódia de Santo tória Natural de Moral do Maranhão e Grão-Pará). Frei Francisco dos Prazeres, Poranduba Maranhense, in RIHOB LIV Antônio, dez do comissariado da Piedade c sete da Conceição, ocupando ao todo mais de cem religiosos. •• (1891).

Sobre Urubuquara noticia o historiador agostiniano Frei 2. Inéditos Agostinho de Santa Maria •• que os resultados dos missionários foram excepcionalmente abundantes porque os padres souberam Frei João de Santo Atanásio, Roteiro Moral para Missionários feito para afastar prudentemente os costumes pagãos, dando boa instrução a Costa do Maranllão . . . Dedicado a Et-Rei D. Pedro 11 (ms de 1145 p.). .. - às crianças, nas escolas. Os alunos aprendiam o português com ...... Frei jerônimo de 1-ranctsco, Breve e vána Htslorta do Estado S. a língua materna c demonstravam pronunciado talento para a do Maranhão, ms. 10 música. A aldeia situava-se a cem horas de viagem, Amazonas Frei Boaventura de Santo Antônio, Vocabttfúrios elas línguas Aruan e acima. Sacaca. Catecis Informação semelhante fornece o agostiniano sobre Guara­ Frei Joaquim da Conceição c Fr�i Mateus úe Jesus �aria, � mos ' súmulas, gramáticas e vocabufártos dos Aruan, AracaJU e Maraunu. piranga, onde além da escola existiam várias oficinas, para os Frei Ma teus de Jesus Maria e Frei joão de Jesus: Trataram da lin­ índios se aperfeiçoarem no artesanato. Os missionários traziam gua geral. ,. constantemente novos elementos pagãos para o centro catequético a fim de instruí-los na fé. " Embora elas outras missões não haja notícias minuciosas, devem ter tido um movimento parecido. Também a Custódia de Santo Antônio foi vítima dos sel­ vagens. Pois, aos 20 de novembro de 1701, os índios Moré de NOTAS Marajó massacraram Frei José de Santa Maria e Frei Martinho Jorge Cardoso, Agiológlo Lusitano, Lisboa lll, 1666, p. 508 (citado Cardoso). - • da Conceição. " Frei Apolinârlo da Conceição, O.P.III., Pequenos na Terra, Orandes no Céu, L.is.boa Adv. IV. - jaboatão, p. 81 li, p, 113. - Frei FranCISCO Ji32, I. I, 2, c 83! O método missionário terá sido o da Custódia de Olinda, Leite de Paria, O.P. /1\.Cap., Os Primeiros MlssJonarlos do Maranllllo, Llsbo'! 1961, p. 166 (cit. Faria). O autor, por desconhecer a cltaç1io de jaboat1io e por de1xar de visto que cinco religiosos desta introduziram os companheiros de consultar Cardoso, nega que Frei Rosário tenha mlsslonado no Maranhão por volta de 1600. A argumentação de Cardoso nllo permite que os capuchinhos sejam Frei Cristóvão ele Lisboa na catequese. considerados "primeiros missionários do Mnranh!lo" . jabontão, 11, p. 114. • , Apesar da campanha difamatória, encenada pelo marquês de • Cl. Cap. 11, Missões da Custódia de S. Anttlnto, Pr. Prancisco do osR no, â · Pombal contra as ordens missionárias, notadamente contra os je­ 4. Frei Rosário faleceu no convento de Salvador em 1650;, Frei Sebastilio donota F.splrlto Santo, quando cléril!o (1621 -1 624 ) , provavelmente tera co�hccldo Pr. suítas, não faltam vozes que lhes reconheçam e enalteçam os Hosllrio em Ollnda. Quando custódio (1650-1653), colheu os dados biográfiCOS, trans- em seguida Jorge Cardoso. mitindo-os a . relevantes serviços prestados ao Brasil. Escreve Ernesto Cruz so­ Par a, p, 20ss. Segundo o autor comunica, p, 81, os jcsultas e franc1scan�s • Maranhãoi censuravam os poucos conhecimentos!I c u hin os no Idioma tupl­ , do dos ap c h bre os franciscanos da Amazônia . : «Além de contribuírem para unmbâ (Salvador, p. 410). Deve-se, porém, levar crn conta que os frades franceses se achavam no Maranhão havia apenns dois anos. . . a obra ela catequese, com os sacrifícios mesmo de suas vidas, Salvador, p. 403. jaboatllo, 11, 127ss, dedica 111 págmas v1da do • - p . à pois alguns morreram nas mãos dos terríveis Aruan, difundiram Venerável Frei Cosme de S. Damião. - Ilha, 11. 271. • Salvador, p. 407. - Cândido l\lendes de Almeida, Memórias para o exlllliO a instrução, deram impulso às aldeias que missionavam, tornan­ P.stodo do Maranhão, Rio de janeiro 1874, 11, p. 172 (clt. C. !11. Almeida). ' aboatão, I, 1, p. 198-201 . - Rornng, p. 86. do pacíficos e operosos • boa o, 1, I, p. 194-197 e 202s. os silvícolas que doutrinavam». a tli JSalvador, p. 4105. • 154 155 •• " Ibidem, n. 534 e 543. - Lisboa, p. 13. - Jnboat:lo, 11, p. 123. - Romag, Jaboatão, 1, 1, 208. - Faria, p. 67. Também o governador do Pará, p . p. 03s. - Conceição-Primazia, p. 124. - C. S. oaventura, p. 1034ss. Francisco Caldeira de Castelo Branco, pedira franciscanos encabeçando com eles a B u Salvador, p. 510. - Oerredo, n. 546-554. - Klemen, p. 34s. - Romag, 94s. •• p. lista do que precisava: "Primeiramente religiosos para a conversão das almas de Klernen, p: 42. Frei Crlstóvllo de S. José, aludindo a Francisco Coelho de que hâ centenas de milhares; mostram-se afeiçoados a capuchos pelo que deles Carvalho disse na pregaçao : "... não espanta que uma cobra mate um veado; em Papéis avulsos do Pará, coelho lhes dizem os lndlos do Maranhão". AHU - 1615. Pernamb�co ouvi dizer que um tragou um navio com toda a sua enxArcla". - Ilha, fi. 27tv. •• Berredo, n. 557ss, 577ss. - Klemen, p. 37ss. Os jabotis passavam por peixes, " Veja o re:;ulnmento para os missionãrlos, documento 11 no apendlce do ca­ 77. no conceito popular enquanto Frei Cristóvão como naturalista o negava e ademais pitulo 11, p. se baseava na dout�lna da Igreja. O Pe. Fif!uelra, porém, estabelecia como norma " jnboatão, I, I, p. 208. - C. M. Almeida, I, p. I 17. - O alojamento pro­ Os Capuchos de S. a crença popular. - ABNR, vol. 51, p. 436. visório no forte do Presépio é atestndo por Ernesto da Cruz, Antônio no Pará, Revista de Cultura do Pará, Cruz •• Lisboa, p. 21. In I, n. 4, p. 85 (clt. •• ANTT, S. Antônio dos Capuclros, maço 6. A lnstalaç�o do �urso super 1or Ca uchos). O autor n3o cita fontes. - O governo cedeu desde logo a costumeira p no convento de S. Luis permite a conclusão de que vinham os franciscanos portu­ S. Antônio dos Capu­ e ordinária destinada A manutenção do culto divino (ANTT - �ueses ainda como clérigos estudantes para no Maranhão se nculturarem apren­ chos I, The 1ndian PoUcy maço n. 4, doc. 19, apud Mathias C. Klemen, O.F.M., derem a llngua indlgena perfeitamente. of ortugal in Amazon Region 1614-1693, New York' 1973, p. 19 (clt. Kiemen). P •• Depois de sua volta a Portul(al Prel Crlstóv�o tratou dos preparativos para Com este estudo, o nntor apresenta multas achegas novas para a história das a pub!icaçlio da volumosa História Nalural. Mas a Impressão nlio se realizou. Du­ missões franciscanas dn Amazônia. rante o terremoto de Lisboa, perderam-se provavelmente todos os originais com " jalloatão, I, t, p. 209. - Klemen, p. 10. exceção dn parte que toca fauna c flora, que foi reencontrada, em 1933. " jnboatllo, I, I, p. 210. à A Papéis avulsos do Para, Enquanto o custódio já em 1627 se relere à obra principiada, os naturalistas con­ '" Ibidem, p. 21 ls. - AHU - doc. de 31-1-1619, alega tratados pelos Invasores holandeses começaram apenas em 1637, cabendo, pois, ao cartas de Frei AntOnio de Marciana e Frei Cristóvão de S. José. - Frei Sebastllio franciscano a primazia como naturalista do Brasil, e não aos holandeses. do Rosllrlo viajara para Portugal a IIm de expor na corte a situação critica do Pará Papéis avulsos do Para,, .. Lisboa, p. 213. (AHU, ex. t ). Após a sua volta ao Brasil continuou •• Jllullos autores afirmam que Prel Cristóvão voltou para Portugal em 1636, rnlsslonãrio, durante anos (ANTT - S. Anlónlo dos Capuchos, maço como 23 enquanto o primeiro de todos a escrever, em 1638, nttsta o ano de 1635. �lsboa, p. 14. •• 7), apud Klernen, p. 21 (clt. TT-Cnp.). Archlvo General de Slmancas - Secretarias Provlnclates: 4 Religiosos presos " Salvador, p. 500. - jaboatllo, I, I, p. 215ss. rm Argel, 1639, . llbro 1470, li. 175r. " Romag, p. 89. Ernesto Cruz, História do Para, Belém 1963, p. 39 (cit. Cruz História). " Studart, 111, p. 46. n Studart, 111, p. 45-54. Klemcn, p. 44s. u Artur C. Ferreira Reis, A Pormaçlío tspirltual da Amaz6nla, In "Cultura", F. Reis. u Klemen, p. 54. I, p. 98 (clt. TT-Cap. m. 18, no 67). •• Papéis avulsos do MaranhiJo, • 1 Documentos para a 1/lstór/a do Brasil c especialmente a AHU doc. de 29-X-1647. Cl. Fre1 ven ..nc o " Guilherme Studnrt, Willeke, Frei Crislóvllo de Lisboa, O.F.M., In RIHGB, vot. 289!.. p. 112-136. do Ceartl, I, Studart). O.F.J\1., IV, Fortaleza 1904-1921, p. 14ts e 11, p. IOOs (clt. ANTT, S. Antónlo dos Capuclros, maço 5, doc. de 26-VIII·165;s. •• O •• Studart, 1, p. 129. juizo foi precipitado porque a custódia ollndense con­ •• Klemen, p. 134. - APR 125 fls. 32 e 34. - ABNR, vol. 32, 351. e p. tava apenas oito conventos e menos de cem professos, na maioria portugueses. ., Regimento e Leis sobre as llss/Jes do Estado do llfaranhllo rd c sobre Cartório dos Capuchos de S. Ant/Jnlo, a A Pa " ANTT, maço 6. Liberdade dos lndios, Lisboa t724 p. Guaraplranga ficava 12 léguas, Ama- u 40. Gaspar de Faria Severim Neto, sobrinho de Frei Crlstóvllo de Lisboa, oferece zonas acima, do lado norte (cit. keglmento). resumidos dados biográficos deste ( 1638), os quais figuram no relâclo obra História dos Animais c .Arvorts do llparanhllo, A u Regimento, p. 51. - Klemen, p. 158. de Frei Cristóvão de Lisboa, l Lisboa •• Concelçlio-Primazla, p. 125. - Leite, 111, 246. Lisboa). S. Anl6nio dos Capuclros, p. 1967 (obra póstuma), p. 10 (clt. Romng, p. 00, por Ignorar os dados •• AN1'T, maço 1 8, n. 41. O comissariado levantou, supra de Gaspar, nllrmn que Frei Crlstóvllo recebeu o buret franciscano na em Bel�m. o hosplclo de S. José. - Em 1694, surgiram deslntell enclas entre )esultas provlncia de S. AntOnio. e g •• franciscanos, por causa da repartlçfto das mlsslles do Xlngu. Cf. Regimento, p. 80. AHU, Códices de Consultas de Partes, n. 34, p. 49v, a ud Klemen, p. 29. • • p ., A aldeia de Serapntuba nlio aparece nas listas das mlsslles. ANTT, S. Ant6nlo dos Capuchos, maço 6, doc. de Junho de 1622, apud Os Franciscanos e a Formaçlío do O •• Jllarla do Carmo Tavares de Miranda, 29. Kiemen, p. Brasil, Rcclle 1969, p. 134. u AHU, Maranllllo, Papéis avulsos, •• doc. de 17-X-1623. AHU Papéis avulsos, Carta da Cdmara de Belém a Ei -Rci, 11. 3r e v. u Ibidem, sem datn (1623 ou 1624). •• Pe. Fernando Félix Lopes, O.F.M., Para a História dos Franciscanos portu­ u gueses Ibidem, doc. de 7-111-1624. O decreto régio de 15-111-1624, que prolbe a no Brasil, In S. Antônio, ano 23, n. 2, p. 55 (clt. Lopes). administração leiga das aldeias de lndlos, acha-se no ANTT, Cl!ancetaria de Felipe 111, 77. •• F. Reis, p. 36. livro 39, p. .. Marcos Carneiro de Mendonça, A Amaz6nla na Era Pombal/na, 111, R lo 1963, u Bernardo Pereira de Berrcdo, Anais 1//stórtcos do Estado do Maranhão, Mendonça) . • vol. 111, p. 1175 (cit. Florença 1905, I, n 522 ( cit. Berredo). - Salvador, p. 456. ., Lopes, p. 56s. - Concelçlio-Cinustro, p. Frei Pedro de Jesus Maria •• Cr6nica da S. Real Província109s. da -Imaculada Conceiç/Jo Lisboa, p. 15.' Faria Severlm cita o ms da História do Brasil, da autoria José, O.F.M., e de Por­ de Frei VIcente do Salvador, que foi mais fiel que as cópias posteriores. tugal •• .••, l..lsboa 1754, p. 255, 278. Jnbontão, 11, 117s e 122. - Klemen, p. 32. p . •• Lopes, p. 50s. - Conceição-Claustro, P.· 109. - Regimento, p. 40. u Lisboa, p. 1 5. O texto original de Prel VIcente aparece aqui mais exato •• Mendonça, 1, P. 153. •• que as cinco edições Impressas da História do Brasil; pois nestas se lê em vez Santuário Mariano, IX, p. 399. - Cf. Mendonça, p. 165, e 111, p. 1035, re­ "suas aldeias" "duas aldeias", que os frades curavam no CearA, passando o I, de ferindo que a junta das mlssOes Insiste no ensino da llngua portuguesa, 8-Xt-1751. equivoco a muitas obras. " Santuário Mariano, IX, p. 397. O autor baseia sobre dados do missionário ., Salvador, p. 510. Slío Francisco das Chagas de Can/nd�. Frei jofto de S. Oiogo, O.F.M. ao Frei Venâncio Willeke, O.F.M., Ca­ Poran­ r: Conceição-Primazia, 128. - Frei Francisco dos Prazeres, O.P.M., Santuário de S. Francisco duba Jlfarantrcnse, p. nlndé• 1973, p. 107-114. - (órgão da baslllca), 1923-1968. ín RII B vot. 54 (1891), p. 95s. - Santo António (revista lnternn da Provlncln de S. AntOnio), 1923-1072. W ,� •• Santuário Mariano, " Cruz Capuchos, p. 9u. Salvador, p. 456s, serve de base ao IX, p. 363-365, ha­ ,. Pe. Pern:tndo P. Lopes, O.F.M., Fontes Narrativas t Textos Legats para a vendo um trecho transcrito lpsls lltterls. - Berredo, n. 528s. - Frei Caetano de 11/stória da Ordem Franciscana em Porlugal, Paraiso mtstico da Sagrada Ordem dos Frades Menores, Madri 1949, p. S. Boaventura, O.I'.M., 88. C. S. Boaventura). '" Ibidem, p, 140. Porto 17!50, p. 413 (clt. - C. M. Almeida, I, p. 117-120. - Ordem, I u,7 . u F. Reis, p. 15s, npud Roewer, p. ltl. TT-Cap. m. 8, no O. Francisco de Paula e Silva, Apontamentos para a História Eclesidsllca do 1\fa­ ranhtlo, Bnhia 1922, p. 29 (clt. Pauta e Silva). - C. M. Almeida, n. I, p. 117-120. •• R e fundamentais com que o lrmlío Fret de S. Diogo apela ANTT, a.ziJ s Joc1o 1707, S. Antônio dos Capuchos, maço 18. - C. S. Boaventura, p. 415. •• Paula e Silva, p. 43. História Eciesitlstlca do llfaranhiJo, " O. Felipe Conduru Pacheco, Maranhão 1968. p. 99. u Paula e Silva, p. 209s, 318 e 452. " l..lsboa, p. 12. •• Oerredo, n. 533. 156 157 nllo, mas interessado em exercer o ministério sagrado no País, não podia ignorar o estado precário das províncias franciscanas VI brasileiras, nem deixar de declarar-se solidário com os confrades oprimidos. Ademais, a melhor garantia das projetadas missões Missões do Amazonas consistiria em recrutar religiosos brasileiros reabrindo-se, para esse fim, ao menos um dos noviciados franciscanos do País. 1870/1894 Desde que Dom Pedro tanto se interessava pela fundação das missões amazônicas, teria tido a alternativa de ou reabrir o no­ viciado ou ficar sem os missionários. Na Itália, Frei Samuel convenceu-se em breve das barreiras Quase todas as mtssoes tratadas no capítulo anterior ficavam no quase intransponíveis que se opunham ao seu projeto missioná­ então Estado do Grão-Pará que abrangia ·o Maranhão e o Pará. rio. O superior geral dos franciscanos, Frei Bernardino dal Vago, Este capítulo versa unicamente da catequese franciscana desen­ deu a entender que, em virtude da crise italiana, nenhuma pro­ volvida na então província do Amazonas que, até 1892, perten­ víncia poderia assumir encargos missionários em Manaus. E cia eclesiasticamente à diocese de Belém do Pará. quando o ministro brasileiro em Roma Dr. João Batista Figuei­ Desde que o marquês de Pombal, em 1758, mandara afas­ redo apelou para a Santa Sé a fim de acelerar a causa de Ma­ tar os religiosos das missões amazônicas, estava praticamente naus, Frei Bernardino apenas consentiu numa fundação provisó­ paralisada a catequese entre todas as tribos do extremo Norte. ria, sem oferecer qualquer garantia e fazendo depender tudo da Dom Pedro li desfechou, em 1855, o golpe mortal à vida claus­ missão boliviana. = tral interditando definitivamente os noviciados de todo o Brasil. P'ouco valera ao ministro a promessa de assumir todas as Mas, por contraditório que pareça, o mesmo imperador se viu despesas da futura missão ' e a gener·osa oferta que D. Macedo obrigado a contratar missionários europeus para a evangelização Costa, bispo de Belém do Pará, fizera a Frei Samuel facultan­ civilização dos silvícolas. Pois queria que os índios, a serem c do-lhe como residência o seminário menor de Manaus. • Entre­ aldeados pelos missi·onários, garantissem as zonas fronteiriças mentes, chegara outro confrade da Bolívia, Frei Jesualdo Ma­ contra o perigo da invasão e anexação pelos povos vizinhos. chetti, O.F.M., que desde 1853 trabalhara na catequese dos As negociações sobre a nova missão amazônica principia­ índios. Ambos aproveitaram as férias para recrutar voluntários ram em La Paz, Bolívia, onde o ministro brasileiro Lopes Neto, em 1869, tratou do assunto com o religioso italiano Frei Sa­ para as missões amazônicas. muel Mancini, O.F.M., a quem prezava como franciscano exem­ Aos 5 de setembro de 1870 D. Pedro II, recebendo em plar. Verificando que esse e outros frades já tinham prática na audiência os seis missionários destinados para Manaus, estra­ catequese dos índios bolivianos, e encontrando eco aos seus pro­ nhou o pequeno número ele catequistas para a imensa região jetos, o diplomata propôs a Frei Samuel uma visita ao Rio de amazônica. Em Belém do Pará; Frei Vicente Rochi adoeceu tão Janeiro, a fim de tratar com Dom Pedro 11. ' seriamente que voltou incontinenti para a Itália. A 19 de no­ O franciscano seguiu para o Brasil e, após uma audiência vembro chegaram a Manaus Frei Samuel, Frei Jesualdo e Frei com o imperador no Rio, continuou a viagem para a Itália. Na­ Teodoro Portaraso, e, no dia 24, Frei Luís Zaccagni e Frei An­ da consta das conversações havidas entre o monarca e o reli­ gelo Frattegiani. Depois de alguma demora no seminário menor, gioso, senão que este aceitou o convite confirmado de fundar passaram os franciscanos para a capela de São Sebastião, de­ missões com sede central em Manaus. A pronta aquiescência de dicando-se de início ao estudo do idioma, à cura d'almas e à Frei Samuel foi precipitada porque, na qualidade de franciscano, direção da Ordem Terceira por eles fundada. • deixou de procurar informes sobre a situação da Ordem Se­ ráfica no Brasil e suas relações com a corte. Pois, como estra-

158 159 1. MISSÃO REGULAR (1870-1877) dificuldades, sugerindo, a um tempo, os meios adequados para removê­ los. Do mesmo modo, informarão de que objetos precisam para a ca­ Logo após a chegada dos missionários a Manaus, o presidente tequese e os neófitos. do Amazonas José Miranda da Silva Reis assinou as determina­ 13. Sob pretexto algum, poderão os missionários ser impedidos de cumprir o seu mandato principal. ções do Ministério de Agricultura, Comércio e Obras Públicas, 14. Em casos extraordinários, o Governador enviará soldados para datadas de 8 de outubro de 1970 e estabelecidas para os missio­ as aldeias, como medida de segurança». nários franciscanos. O texto importante que faz-emos seguir é · uma versão do italiano publicado por Frei Jesualdo Machetti •: É de estranhar que aos missionários não se facultava ao menos a voz consultiva, em certas deliberações governamentais. 1. Depois de sua chegada, apresentar-se-ão os missionários ao Go­ O artigo 3 acima teria pedido uma restrição, no sentido de vernador ·do Estado. garantir a cada missão dois franciscanos ou de localizar as al­ 2. Entregar-se-á aos franciscanos uma casa conveniente como hospí­ deias não muito distantes entre si, de modo que os missioná­ cio provisório até à fundação de uma residência definitiva. rios dessem apoio moral uns aos outros. Na realidade, aconte­ Nas aldeias a se fundarem em locais escolhidos pelo Governo 3. Imperial, proposta do Governador, ficarão os indígenas sob a ime­ cia que um franciscano ficava a mais de mil kms distante do seu à diata jurisdição dos missionários, tanto nas coisas espirituais como ma­ «vizinho» mais próximo, porque o governo preferia as aldeias teriais, sem qualquer intervenção da autoridade do respectivo municí­ nas fronteiras da Bolívia, do Peru e da Colômbia. ' pio ou comarca. Aos 27 de dezembro de 1870, seguiram Frei Jesualdo Ma­ 4. No caso de algum aldeado cometer um delito em cuja pumçao chetti e Frei Teodoro M. Portaráso com o superior Frei Samuel deva intervir a autoridade civil, o respectivo missionário assistirá ao Mancini o rio Madeira acima para fundarem duas missões no processo do delinqüente como tutor e como tal pode depor ou pedir o · n o que for de justiça. limite da Bolívia, atual Rondônia. Te do deixad o · navio, r · · 5. Entender-se-ão os missionários com o Governador da Província na boca do Rio Jamari, pressegui a:m' • a: viagem a canoa. Na ·· a a e não receberão ordens de nenhum outro funcionário público. aldeia Jamari, interromperam á jonútda: p r visitar os ín­ · à 6. Caberá aos missionários tudo quanto servir para o progresso es­ dios da região e conhecer as coiidiÇões 'j) ra uma eventual piritual e material dos neófitos como também o ensino elementar até catequese. Pàssados dois ineses, voltoú Frei Mancini para Ma­ a fundação de uma escola, com professor próprio. naus,· por ter adoeCido. 7. Em cada aldeia, haverá um ferreiro e marceneiro para os tra­ Vist<� que os dois missionários não ei1contrassem indígenas balhos necessários e o aprendizado dos indígenas nestes ofícios. no jamari, dirigiram-se ao rio Machado, atual Rio Preto, onde 8. O terreno em que se fundarem as aldeias pertencerá legalmente acharam a tribo dos Torá, que de passagem fora catequizada aos índios; caso alguém possa provar quaisquer direitos sobre tal terreno por Frei Joaquim, O.F.M., de Belém, e em ·parte recebera o ba­ será devidamente indenizado pelo Governo. tismo. A primeira missão foi chamada de «São Francisco», acres­ Enquanto os indígenas .ainda forem neófitos outras pessoas só 9. centando-se, na zona do Madeira, as aldeias de Santo Antônio poderão estabelecer-se nas aldeias com a permissão dos missionários. Estes poderão expulsar os que de qualquer maneira se mostrarem ele­ e · de São Pedro Apóstolo e, nos vales dos rios Purus e ltuxi, mentos nocivos por mau exemplo ou fraude. outras duas missões. Afora algumas tribos selvagens como os 10. O Governo fornecerá aos padres os objetos de que precisarem Torá, Arara e Puma, tràtava-se em geral de índios pacíficos para fazer presentes aos índios, particularmente objetos que, pelo seu ma­ e trabalhadores que viviam de agricultura e pesca, negociando nejo, induzem ao trabalho. A distribuição não será uma simples doação, com farinha de mandioca e óleo de copaíba, enquanto os selva- mas antes uma espécie de troca, caso os indígenas atribuam aos obje­ . g-ens preferiam a vida nômada. tos algum valor, embora estes às vezes não o tenham ou não tanto. T Os índios darão em troca produtos de sua própria fabricação ou pre­ Frei eodoro Portaraso encarregou-se da missão de São paração. 'Francisco, sita na confluência dos rios Preto e Madeira. Na al­ 11. Cada missionário receberá 100 mil réis mensais de ordenado. deia, havia de início 135 índios Arara e 26 casas, capela, casa 12. Semestralmente apresentarão os missionários ao Governador um paroquial, doze casas de farinha e 60 roçados. Deste centro pro­ relatório sobre o estado e as necessidades das aldeias, sobre as eventuais . curava o missionário irradiar a catequese sobre outras tribos

Missões Franc. Ed) 2949 6 160 - 161 como os Tor á e U rupá-Manaca do Rio Preto, trazendo-os à servirem de párocos interinos em os rios Javari, Negro, Branco, missão para melhor introdução no cristianismo. Os Arara eram Purus e Jauaperi. No mesmo sentido, o embaixador Figueiredo muito perseguidos pelos Parintintim. • junto ao Vaticano dirigiu-se a generalado franciscano de Roma Numa carta dirigida ao generalado de Roma, Frei Machetti e este ao comissário geral da ordem na Bolívia e na Argentina elogia este confrade nos seguintes termos : «Há doze anos que solicitando missionários para Manaus. .. Em vez de engrossar a Frei Teodoro Portaraso vem civilizando os índios desta missão. fileira dos franciscanos, o superior geral transferiu Frei Zaccagni Basta dizer que os rapazes até seus vinte e cinco anos não sa­ para o comissariado da Terra Santa no Rio de janeiro, vindo bem apenas as verdades da fé mas também aprendem a ler, ao seu lugar, procedente do Peru, Frei Miguel de Prenofetta, escrever e fazer contas. Dia por dia, ele ensinava-os durante 4-5 em princípio de 1874. u horas, e isto com toda a paciência. No centro da missão, há Somente em 1877, Frei Machetti obteve na Itália cinco mis­ cerca de 50 residências bem construídas, formando uma rua de sionários, de modo que pôde ocupar melhor as aldeias e criar metros». Já o sucessor Frei Illuminato Coppi que, em duas missões novas. Aos 16 de julho desse ano, dois religiosos 200 • 1882, curava esta missão não ensinava com a mesma paciên­ recém-chegados seguiram para tal fim aos seus campos de ca­ cia, mas tratava as crianças com aspereza e castigando-as. Em tequese, sendo Frei Venâncio Zilocchi acompanhado do superior 1884 esta missão foi elevada a paróquia sendo entregue ao bispo até o rio Purus e cabendo a Frei Mateus Canioni a aldeia lo­ a de maio de •• A missão de São Pedro, em Papuna, calizada foz do ltuxi, afluente do Purus ... 22 1885. na sita à margem do Madeira e no distrito do Crato contava 75 índios Mura, 14 casas, oficinas, escola para ambos os sexos, 14 canoas e vários roçados. Em 1875 terminou a construção da 2. PREFEITURA MISSIONARIA (1877-1894) capela. Revezaram-se no aldeamento e assistência a esta tribo o irmão Frei Vitaliano Paolozzi e os padres Frei Jesualdo Ma­ a) Prefeitura de Frei Machetti (1877-1890) chetti e Frei Miguel Prenofetta. As desastrosas enchentes e a conseqüente decadência da missão ocasionaram a sua reunião Exonerado do cargo de superior regional, voltou Frei Samuel com a aldeia de S. Francisco, em 1879. Não constam detalhes Mancini para a Itália, enquanto Frei Jesualdo Machetti foi em­ da missão de Santo Antônio. ••• possado como primeiro prefeito da missão, no dia 1 Q de novem­ bro de 1877, cumulando o posto de superior conventual. ... Em Em junho de 1871, seguiu Frei Angelo Frattegiani pelo So­ limões até a fronteira peruana para fundar a missão de Cal­ janeiro de 1878, instalaram Frei José M. Dallorto e Frei Fran­ Belém do deirão, distante de Manaus 1.800 kms. O missionário regia tam­ cisco Vidaure a nova procuradoria missionária em bém a paróquia de Tabatinga. Caldeirão contava 250 índios Pará, a qual se tornara indispensável para o tratamento de con­ Tucano, 22 casas, muitos casebres, bons roçados e 100 reses de frades enfermos, para a chegada de novos missionários e para gado. Em começos de 1875, grassou a varíola matando 69 al­ muitos encargos que não se podiam resolver senão na capital deados. Os que escaparam com vida fugiram para a mata. do Pará. Como a missão nunca mais se refizesse satisfatoriamente foi Além de declinar a oferta .de novas missões no Pará e Mato extinta em 1877. " Grosso, a prefeitura teve que extinguir a missão de Caldeirão Em princípios de 1872, partiu Frei Zaccagni para o rio Ma­ no Solimões ... A morte de Frei Zaccagni e Frei Paolozzi abriu deira a fim de fundar outra missão, no rio Beni, afluente do novas clareiras na fileira dos missionários, fora algumas trans­ Madeira. No hospício de Manaus, ficavam apenas Frei Mancini ferências necessárias. " e o subdiácono espanhol Frei Angelo Levosende que viera do . Prosseguindo a falta de religiosos e não se registrando os Rio de Janeiro.. .. çlesejados resultados nas missões do rio Purus, o prefeito can­ A lei n. 256 de 30 de abril de 1873 autorizava o presi­ celou estas, em 1881, de acordo com o presidente da província . dente da província a contratar na Europa vinte missionários para . Destarte, as missões do Madeira e uma nova no rio Vaupés po-

162 163 seus súditos colocações em paróquias na zona de Manaus. Ma� diam dispor de maior número de mJsswnanos, cabendo a Frei o descontentamento dos Feligiosos sobre certas anormalidades da Canioni a de S. José de Maracaju no Vaupés. " vida regular ocasionou, em 1889, a volta definitiva de cinco Já se achava no rio Vaupés, desde 1880, Frei Venâncio missionários para as suas províncias, enquanto Frei Ambrósio Zilocchi estudando a melhor posição das aldeias e dividindo a Pardini, pouco depois de sua chegada a Manaus, falecera em zona em cinco missões, com oito capelas já construídas, visto 1886. 21 que o vale do Vaupés e de seus afluentes tem a população mais b) Medidas do Visita dor Geral densa, contando a aldeia São Francisco de Taraquá cerca de 400 almas das quais 245 na sede. A escola promete pouco re­ Como os missionários de Manaus procedessem de vanas pro­ sultado porque os índios são preguiçosos. O missionário recebe víncias italianas, haviam surgido desinteligências entre eles. Es­ ordem de os mandar fiar tucum para se vestirem, pois an­ tavam porém nnidos na desaprovação da deficiente administra­ dam nus. " ção do prefeito Frei Jesualdo, reclamando neste sentido junto à Frei José Maria Zattoni que, em meados de 1883, viera a Propaganda da Fé, como ao ministro geral da ordem. Este man­ Jv\anaus, teve que retirar-se, em janeiro de 1884, por causa de dou como visitador geral frei José Maria Dallorto, então co­ uma doença melindrosa. Segundo um ofício de Frei Jesualdo missário da Terra Santa em Petrópolis, o qual, em junho de endereçado ao presidente da província Teodoreto Carlos de Fa­ 1889, passou três semanas com os confradcs elo hospício central

ria Souto, todas as missões do Vaupés e do rio Tiquié contavam de Manaus tentando restabelecer a ordem c elaborando um rela­ em 1884 apenas os dois missionários Frei Venâncio e Frei Ma­ tório minucioso destinado ao generalado de Roma. teus Canioni, sendo que o terceiro, Frei Illuminato Coppi, foi à O visitador acusava não só o superior Frei Machetti, mas Itália procurar dois missionários, para cujas despesas o governo também os outros religiosos com exceção ele dois jovens, cri­ cedeu a verba de 1 :500$000. No mesmo documento, o prefeito ticando as falhas da administração material da parte elo prefeito

das missões se defende ele certas acusações dizendo que as mis­ e os negócios proibidos e o emprego ele dinheiro, sem que os sões não se acham tão atrasadas quanto afirmam alguns desa­ súditos prestassem contas ao superior. Nunca se chegara a um fetos dos frades. Antes ele viajar para a Europa, Frei llluminato acordo quanto a um regulamento ela casa. Para abolir os abu­ se estabelecera na missão ele Ipanoré, centro do alto Vaupés sos o visitador impôs desde logo certa disciplina mandando tam­ e Içana, com igreja bem construída, cemitério, escola e cadeia. " bém introduzir uma contabilidade fácil de ser examinada. Informado sobre a lamentável situação, o Padre Geral in­ Em 1884, disp(:)s a Propaganda da Fé que as missões de Manaus, de então em diante, dependessem do comissariado dagou se conviria suspender toda a missão ele Manaus ao que da Argentina porque a Bolívia ficava mui distante. Mas o co­ o visitador respondC!u que não, porque assim a opinião pública missário de Buenos Aires comentou que ele não podia dedicar se voltaria contra os rranciscanos; pois ele opinava que os con­ o devido interesse às missões amazônicas, achando melhor su­ frades, máxime frei Jesualdo c Frei Venâncio, gozavam boa bordiná-las diretamente ao ministro geral da ordem, conforme o fama encontrando apenas resistência da parte dos negociantes breve «Apostolicae Sedis» de Pio IX previa. •• gananciosos, para não se fundarem missões novas, em lugar das A terceira viagem de propaganda do prefeito Frei Jesualdo extintas. Assim propõe o visitador para restabelecer a concórdia rendeu, em 1886, dois novos colaboradores, Frei Ambrósio Par�ini entre os missionários que frei Anacleto Sonsini assuma a pre­ e Frei Pedro Batista, enquanto Frei llluminato Coppi em 1887 feitura e frei Jesualdo a procuradoria. " trouxe da Itália os confrades Frei Pedro Pietrelli e Frei Mário Cangini. Daí o plano de Frei Jesualdo de fundar novas Jl1is­ c) Gestão de Frei Anacleto Sonsini (1890-1891) sões no Rio Branco e no vale do Jâuaperi, plano que não vingou porque a fama dos religiosos já diminuíra aos olhos das autori­ Em virtude do capítulo geral, protelou-se a nomeação do novo dades, razão por que, em 1888, todos os frades se retirara1:n ' prefeito, até junho de 1890, e a sua chegada a Manaus, até ou- ao hospício de Manaus. O prefeito Frei Jesualdo conseguiu · para

Miss�es Franc. Ed) 2949 - 7 .165 164 tubro do mesmo ano. A escolha não fora feliz porque Frei Ana­ determinada província mas sim partia do governo imperial, fal­ cleto mostrou-se pessimista considerando toda a empresa missio­ tou, desde o princípio, toda a garantia, o número suficiente de nária irreparavelmente perdida. A sua desconfiança para com os confrades impediu a boa harmonia na comunidade religiosa. missionários e a indispensável escolha entre os voluntários, sendo Tanto ele .:omo três súditos pediram a transferência para as suas quase todos contratados por Frei Jesualdo Machetti. Ademais províncias de origem. Deixando Manaus a 24 de agosto de 1891, o governo desconhecendo a necessidade da vida em comunidade o ex-prefeito legou ao seu sucessor uma situação mais confusa colocou os religiosos separadamente nos postos tão distantes en­ do que encontrara. " tre si que lhes faltava todo apoio moral recíproco. '" Frei Samuel Mancini procurava remediar essa falta visitando todos os seus súditos, ao menos uma vez cada ano, ao passo d) Nova gestão de Frei Jesualdo Machetti (1891-1894) que Frei Jesualdo, depois de alguns anos, omitiu tal prova de caridade. •• Durante a gestão de Frei Jesualdo, foram extintas Em sua carta dirigida a Frei Anacleto, o novo ministro geral muitas missões para darem lugar a novas fundações. Deste mo­ Frei Aloísio Canali ordenava que com a chegada da missiva do, não se desenvolveu uma catequese sólida para descrédito reassumisse Frei Jesualdo o governo da prefeitura. Ademais lhe dos religiosos perante as autoridades. ' parecia oportuno mandar todos os missionários para as suas res­ As razões desfavoráveis que afetaram a catequese por par­ pectivas províncias ou para outra parte, visto que em Manaus te de estranhos são múltiplas, figurando em primeiro lugar a in­ já não se tratava propriamente de propagar a religião e por constância dos próprios silvícolas. Pois o nômade amante da isso os três religiosos eram supérfluos. lioer-dade foge ele toda a responsabilidade e obrigação. Quase Recebendo uma intimação da Propaganda da Fé no sentido todas as missões experimentavam má influência dos negociantes de empregar catequistas para melhor instrução dos neocristãos, sobre 'OS aldeaclos, enquanto os funcionários públicos toleravam respondeu o superior geral que era tarde, pois a extinção da tudo porque eratn venáveis. missão estava iminente. Também a maçonaria e as seitas protestantes causavam Em Manaus, permaneceram Frei Machetti e Frei Pietrelli muitos atritos com os missionários. " Apareceram até desinteli­ a fim de tomarem as últimas providências quanto à entrega ou gências com o clero secular e o próprio bispo de Belém que venda do patrimônio. O nosso bispo de Manaus pediu ao gene­ pretendia dispor dos missionários. •s ralado de Roma que mantivesse os dois franciscanos nos seus Apesar de tantas falhas humanas ocorridas na obra da postos, porque a diocese recém-criada dispunha apenas de nove. sacerdotes. Mas Frei Aloísio Canali indef.eriu o pedido alegando Evangelização, deve-se confessar que os índios da província do a enfermidade dos dois súditos e a falta de outros disponíveis. Amazonas, durante o século XIX, sentiram pelo menos tempo­ 1870, Aos 2 de dezembro de 1894, Frei Jesualdo Machetti e Frei Pe­ rariamente a benéfica influência da Igreja. Onde, em cinco dro Pietrelli partiram para Salvador onde esperavam curar-se, frades encetaram a propagação da fé, existem hoje - cem anos como hóspedes do célebre convento de S. Francisco. Foi este depois - treze prelazias com nove congregações missionárias o trágico fim das missões amazônicas, após 24 anos de lutas. •• diferentes.

EPíLOGO

As razões do relativo insucesso das missões amazonenses encon­ tram-se tanto com os franciscanos como fora da ordem seráfica. Visto que a fundação das missões não contava com o apoio de

166 167 MISSõES DO ESTADO DO AMAZONAS (1870-1889) Frei Jesu-aldo Machettl, O.F.M., Notízíe lnteressantí sul/a Provlncía dell'e Amazorti nel Nord. del Brasíle, Roma 1882; Idem, Retazione delta .Missione Francescana di Manaus presentata a/ 1?. P. Oenerale dei Minorí Francescani per 11 P. Oesualdo Machettí, Roma 1886 (cit. Relazione). Ml, fi. 14. • • MI, foi. 26r e v. - P. Leonardo Lemmens, O.F.M., Oesclllcllle der Fronzís­ ALDEIAS PADROEIROS CASAS ALMAS TRIBOS kanermísstonen, Muenster 1929, p. 275, equivocou-se afirmando que o bispo de Belém D. Antônio de Macedo Costa teria convidado os franciscanos para Manaus, ocor­ rendo o mesmo lapso com Frei Samuel Tetteroo, O.F.M., A Ordem cios Frades Menores rzo Brasil, S. João del-Rei 1924, p. 70. Frei Mancini e Frei Machetti visi­ taram, em 1870, a pátria italiana recrutando nessa ocasião 4 conlrades para a 1. Micurapecuma N. S. da Conceição 3-4 30 Tucano Amazônia. Aos 16 de agosto de 1870 embarcaram em Bordéos chegando ao Rio jurapecuma S. Pedro 7-8 79 de janeiro a 2 de setembro. Cf. Frei Pancr;lcfo Puetter, O.F.M., Missões Franciscanas 2. » no Estado do Amazonas, S. Antônio, I, p. Puetter) . Ananapecuma S. Bernardino 20-25 in I (1943), fase. 20 (cit. 3. 129 » " • Ml, foi. 271'. Taraquá Ml, foi. 34r e v, 37-38v. - Relatório do Superior Frei Samue/ Manclni, S. Francisco 40-42 245 » • 4. 27-7-1872, Relatório apresentar/o sesséío da 154 legislatura . . , Rio 1872, 5. Jpanoré S. jerônimo 63 336 Tariana fn à /9 . 6. anexo B, P. I. Jviturapecuma 4-5 rapaz • As determinações acham-se em Puetter, f, fase. 2, p. 3-4. 78 A juquira S. Miguel 14-16 ' Ibidem. 7. 164 Piratapui"a s Ml, foi. 44r e v. Relatório apresentado sessão da legislatura à 1� 16 8. jararete Santo Antônio 30-35 402 Tariana da Assembléia Provincial do Amazonas, Manaus 1877, p. 472 (cit. Rei.• Ass.). - Relatório da Preshléncía 9. Umari da Provlncia do Amazonas 1870-1877, vol. V, Rio 1908, 3-4 86 Tucano p. 91 (cit. Rei. Pres.). Caruri S. Brasl/e Ma11aus, Carta dirigida ao Pe. Geral 10. Leonardo 5-6 168 Ananá • Archlvum Gencrafe, 0.1:.M., 11. jutica (16-X-1882). - Frei Marcelino Civezza, O.F.M., Storía Universa/e del/e Jlfíssíone SS. Trindade 5-6 84 » Francescane, Storía). Tucano S. Roma, X!, vols. 1857-1895, VIl, p. 405 (cit. 12. Isabel 25-30 189 Tucano •• Archivurn Generale cit., rns X!, 9, fof. 237v. - Storla e outras fontes Uiraposo N. S. de Nazaré 10-12 250 afirmam que n missão foi elevada 11 J>MÓqufa em maio de 1886. - José Lustosa 13. » da Cunha Paranagufl, Dldrio ele uma Vwgem de Manaus a ltacoaliara ..., in Arquivo Maracaju S. José as 14. 11-13 309 » lmperlnl de Pctrópolfs (ms. de 1882), conta suas impressões pouco favoráveis Turi S. Pedro de Ale. 5-8 186 aos missionários c ao estado da missão de S. Francisco. 15. » Rei. Ass. sessão 1•, legislatura, 16•, ·172s. - Rei. Pres., p. 90s. - Turigarapé S. Luzia ••• p. 16. 1-2 162 » Ref. Ass. sessão 3•, legislatura 15•, P. 199; & sessão 4•, legislatura 15•, p. 290. 17. São Domingos Saggio, p. 360ss. " Rei. Pres. V, p. 89s. - Rei. Ass. sessão 4•, legislatura 14•, p. 199; sessão São Francisco 370 & 18. 4, legislatura 15•, p. 290; & sessão to, legislatura 16•, p. 473. - Saggio, P. 358. Papunha "" Ml foi . 44r e v 19. S. Pedro 100 Mura ' ; Aruaná S. Antônio " Ml, fof. 49 e 50 •. 20. Pama " Ml, foi. 73s, 274. Tapauá 21. N. S. da Conceição jamamandi "' Ml, fof. 136r c v. lm. Conceição "• Nunciatura do Rio de janeiro (citado NR/), ex. 47, Gestão RoncetU alirma 22. 70 que o ministro geral Prei Bernardino Da! Vago procedeu à exoneração por não estar satisfeito com a conduta de Frei Samuel Mancinl. O bispo de Belém D. Macedo Costa estranhou o motivo da exoneração porque Frei Mancini era ben­ quisto, enquanto Frei Jesualdo Machettl era duro com os índios. Notas: •• Ml, foi. 125ss, 138, 145v. As aldeias 1-11 ficavam no rio Vaupés; 12-15 no rio Tiquié· 16 no ' Papuri· '" Ml, foi. 194. 17 no lçana; 18 no !l·lachado (afluente do .1\oladeira); 19 e 20 no Madeira· 21 nÓ " 1\'11 foi. 372. - Relazione, p. 5. - Storia, p. 409. Relatório de Frei Mamuri:í; 22 no ltuxi. - A ll�ta das missões se baseia sobre Frei Jesualdo i1achetti Jesualdo ��lacl!et/1 de 18-111-1881, in Fala do Dr. Satyro Oliveira- Dias, presidente Cal�cll&se, In Exposição com que o limo. Exmo. Sr. Dr. Tlteodorelo Carlos dê da província do Amazonas p. Fana Souto, M. D. Presidente da Provincía, entregou a administração da mesma (4-IV-1881), Manaus 1881, 38-40. Ibidem. . ao Tte. Cel. Joaquim José •• Pues da Silvá Sarmento Manaus 1885 e Acta Ordinís Ofício •• lle Frei Jesualdo Macl!elli, datado de 7-VII-1884 c dirigido ao presi­ Fratrum Mlnorum, V ( 1886), p. 111, t44 e 175. -' Por dÓ ordem governo amazo­ dente da província do Amazonas, Dr. Theodoreto Carlos de Farias Souto. nense, tentaram os frades em 1887 tomar contacto com o Crlchana dos rios Branco •• Ml, foi. 419ss, 467, 472. Acta Ordinis Fratrum Minorum 3 (1884), p. jauaperi, para enfrentarem a invasão d;1s seitas protestantes vindas da Guiana - � llil. Plí IX Ponlificls max/m/ Acta, pars I, Roma s. d., VIl, p. 332-403. mglcsa. Mas não se fundou qu:�lquer miss�o. - "Ml, foi. 536, 554. M2, foi. 75, 209, 211, 231, 244, 299s.

22 M2, foi. 288s. O delegado geral Prcf Rafael Delarbre propusera em 1887 uma visita canônica. Mas o comissário geral da Argentina Frei Mazza não atendera por causa das enormes despesas. M2, foi. 114s, 170-176, 204, 207v, 260-268. " M2 foi. 259, 302, 330. - Diomedes Falconlo, O.F.M., I Miuorl Ríformati uegll Abruzzi, Roma, 1914, fi, p. 27, 59-61. - Acla Minorum period. cit. annus 48 ( 1929)' p. 175. •• M2, foi. 322r e v, 324s. O documento da Propaganda data de 10-Vff-1891. M2, fol. 330r e v, 347ss, 392, 406r c v, 408r c v. - Em Salvador, Frei Machetti NOTAS obteve a promessa de colaboradores para Manaus da parte dos franciscanos alemães da Saxônia, a qual porém deixou de ser cumprida, por causa da febre amarela. M2, foi. 424r .e v, 436. - Franciscanos holandeses, que de fato chegaram ao Ama­ 1 Serve de fonte principal a este estudo Jl1issio Manaus, em 2 vols. (ms), existente zonas para continuarem a obra de Frei Jesualdo, abandonaram Manaus porque caí­ no arquivo da cúria gera! dos franciscanos de Roma (cit. 1111 e M2). O próprio ram doentes. M2, foi. 495r e v. C!. Anonymus, 25 íaar In Brazilie, Weert 1924, p. 19. arquivo da missão que Frei Jesualdo, em 1894, levou até Salvador-BA desapareceu. Ml, fi. 145s. Em 1884, é ventilada a proposta de requisitar o convento de . •• Os segumtcs escritos podem ser usados com certa reserva: Frei Jesualdo Machetti, S. AntOnio do Rio ou o de S. Francisco da Bahia, para a missão de Manaus. (NRJ, O.F.M., Breve .Memória del/a Nuova llfissio11e Francescana nel Nord del Brasíle ex. 67, Gestão Cocchia, Documento do cardeal facobíní 17-11-1884). - Em 1885, t ' - Mllano 1877, o qual foi textualmente transcrito por Frei Marcclino Civezza surgiu o plano de instalar no convento da Bahia um seminário franciscano para Sa�t,:ío di 8/b//ograpll/a Sanfrancescana, d1l Saggio )i O.F.M., Prato 1879, p. 345-364 (cit. a missão de Manaus. (NRJ, ex. 62, Gestão Cocchia 11). Nesse particular, escreve 168 169 o provincial da Bahia Frei AntOnio de S. Camilo de Lellls Carvalho, a 7-IX-1885: " ...que lhes seja cedido ao menos este convento da Bahia, .Porque ainda quando todos os outros viessem a perder-se, este eu quisera que nao passasse nunca a outros possuidores que não fossem frades da Ordem". Aos 15-V-1886, respondeu VII a nunclatura ser o projeto Impraticável porque continuava em vigor a lei proibitiva dos noviciados no Brasil. (Nnj, livro 60, Gestão Cocchia e Spolverlnl). Agra­ deço ao confrade Frei Matlas C. Klemen os dados extraldos da NRJ. - A Missão de S. Francisco u Ml, fi. 463r .c v, 467. 21 Ml, fi. 47s, 215, 216v, 250r e v, 482r e v. 11. 159s, 231r e v. •• 1oH, do Rio Cururu N.B.: Ao prezado Confradc do Instituto Histórico Amazonense Pe. Raimundo Nonato Pinheiro agradeço cordialmente os preciosos Informes tirados dos arquivos e bibliotecas de Manaus como ainda a bondosa orientação em alguns casos duvidosos.

Pretendendo restaurar a Província Franciscana de Santo Antô­ nio quase extinta, o último Provincial Frei Antônio de São Ca­ milo Carvalho valera-se do pretexto de fundar uma missão de índios na zona de Belmonte-Bahia. O governo imperial de fato permitira a vinda de missioná­ rios franciscanos alemães; mas antes que estes chegassem ao Brasil foi proclamada a república, dando-se pouco depois a se­ paração da Igreja e do Estado. Deixando, pois, de lado a criação da missão, os frades me­ nores trataram tão-somente ele restaurar a vida regular nos íris­ seculares conventos. 1901, Afinal, em a cúria generalícia de Roma decretou as duas províncias franciscanas restauradas e autônomas enquan­ to a Santa Sé, em 1907, confiou à província de Santo Antônio a prelazia de Santarém - Pará - criada, em 1903, pelo Pa­ pa S. Pio X. A missão não surgiu, de um dia para outro, do nada. O seu desenvolvimento encerra fases de grandes esforços e de gran­ des penúrias, de suores derramados e de ingentes sacrifícios; fases de esperanças, sucessos e até de glórias, mas também de desânimos, de desilusões, de enganos e desenganos; fases, mos­ trando às vezes a grande boa vontade dos índios e outras ve­ zes a sua completa incompreensão para com o missionário.

«Foi aos de novembro de 1909 que os Padres Franciscanos Frei 16 Hugo Mense e Frei Luís Wand, ambos da Província-irmã da Imaculada Conceição, aparecer.am pela primeira vez, na embocadura do misterioso rio Cururu, denominado na linguagem dos indígenas Mundurucu «Cure­ curer . a " A origem da tribo Mundurucu permanece até hoje desco­ . nhecida. Há duas hipóteses. Uma supõe que veio da Bolívia. A

171 170 outra que constitui um povo expulso do Peru pelos incas. O seu idioma pode ser enquadrado no tupi. Segundo informes históricos, o primeiro contacto entre os civilizados e os Mundurucu ocorreu no século XVII, quando al­ guns garimpeiros trabalharam nas imediações da cachoeira do «Chorão». Há também quem afirme que os Mundurucu tenta­ ram, por volta de 1786, atacar a praça de Portei. Mas retira­ ram-se ao reconhecerem a superioridade das armas dos de'fen­ sores. É certo, porém, que essa tribo ocupava toda a zona elo rio Tapajós, a ponto ele ela ser cognominada de Munclurucânia. Os Munclurucu são de estatura grande, eram valentes e por isso temidos pelas trib0s vizinhas. Em 1875, o tenente Joaquim Cor­ reia, fundador de ltaituba, informava que a tribo se compunha ele 18.81 O índios. Já antes da atual evangelização, houve outras duas tenta­ tivas, sendo a mais importante a do capuchinho Fr·ei Pelino de Castro Valva, que no entanto não tiveram êxito por causa da intromissão de «regatões», aos quais não interessava a evan­ gelização, mas a captura dos índios para submetê-los ao tra­ balho escravo.

Em 191O, vemos novamente Frei Hugo no alto rio colhendo informações sobre os Mundurucu e sobre as possibilidades lo­ cais no Cururu. «Em dezembro de 1'91O, o referido Padre em­ preendeu uma viagem de reconhecimento e chegou até a um afluente do rio Juruena, o Rio São Tomé, onde em 25 de fe­ vereiro de I 9 I 1 celebrou a primeira Missa para os seringueiros daquela região. Daí voltou até a foz do Rio São Manuel e iniciou os trabalhos apostólicos nos lugares adequados. Aos 1 O de março, empreende então a viagem que o levaria à fundação definitiva da missão entre os índios Mundurucu». '

I. RUMO A CAPICPI

Em maio de 1911, Frei Hugo c Frei Luís subiram novamente o Tapajós até o Rio Cururu, desta vez em companhia de Frei Crisóstomo Adams, então Comissário dos Padres da Prelazia. Tinham ali consultado um morador amigo, J uvenal da Mo­ ta Braga, que lhes indicou o lugar Capicpi como ponto favorá­ vel para uma missão. Os Mundurucu, porém, moravam . só nos meses de verão . em Capicpi, que fica uns 3 a 4 km distante

2!l-l!l Missões Franc:. Ed) - S 173 da 111argem do Cururu. • Segundo Frei Hugo, a entrada no Rio Para a educação cristã ela juventude indígena foram ins­

Cururu efetuou-se no dia 11 de julho. • talados dois pequenos colégios, um para os meninos, sob a di­ Já na primeira viagem dos Padres ao Tapajós, em reção dos Padres, outro para as meninas, dirigido pelas Irmãs. 1909, e tinham travado conhecimento com um índio mundurucu, cha­ mado João Caetano Boruapin. A Alegria do homem ao ver os missionários em sua choupana foi muito grande. . . Na manhã 3. NOVOS MISSIONÃRIOS E NOVOS IMPULSOS seguinte celebraram ali o Santo Sacrifício da Missa. E depois continuaram a viagem. Daí em diante, não mais encontraram Em outubro de 1915, Frei Hugo recebeu a visita de Frei Plá­ índios. ·• cido Toelle� Esse mais tarde escrevia acerca desta visita: «Fi­ Em 20 de julho, os Padres alcançaram o porto de canoas quei. três dias com Frei Hugo. Aí pude apreciar a sua fé e da maloca de Capicpi. Duas tendas foram armadas nas quais coragem, bem como a elas Irmãs. Se São Francisco ali apare­ a bagagem ficou agasalhada. Os Padres dormiam ao relento, cesse teria louvado a Deus por encontrar um filho seu vivendo

na beira da mata. Durante os últimos dias da viagem, Frei em pobreza mais do que franciscana . » Em novembro de .. ' Crisóstomo adoeceu e teve de regressar. • 1917, Frei Eduardo Herberhold, Provincial dos Franciscanos, vi­ Pouco tempo depois, apareceram os índios e carregaram sitou a Missão, batizando nesta ocasião os primeiros oito Mun­ tudo para a sua casa de campo, em Capicpi. durucu adultos e as mulheres destes. O Provincial ficou abisma­ Não é preciso ressaltar que os primeiros meses eram tem­ do com o estado em que encontrou a Missão. As construções pos de sacrifícios. E dias de amargura, de fome e de triste iso­ estavam em péssimo estado. Em toda parte, careciam de repa­ lamento, causados pelo ainda deficiente conhecimento elo dialeto ros. Precisaria, porém, de grande auxílio finan'ceiro, que o Pa­ mundurucu e da inicial desconfiança dos índios. ' dre Provincial prometeu. E ficou também combinada a vinda elo irmão Frei Berarclo Er'kmann - ótimo carpinteiro - para

fazer as novas construções . . . s• 2. COMEÇO DA MISSÃO Somente depois da estação chuvosa, em fins de abril de 1918, Frei Plácido chegou à Missão com Frei Berardo e um A convivência com os índios era agradável e ao mesmo tempo trahalhador. Cheios ele ânimo começaram os trabalhos. útil; pois, desde logo, os sacerdotes começaram a conhecer a vida de seus índios. Reconheceram, no entanto, a necessidade «Logo no decorrer dos primeiros meses, percebemos as sérias di­ ficuldades que trazia Missão o local em que ela se achava situada. de uma certa separação : eles, Missionários, necessitavam de casa à própria de uma capelinha. Puseram mãos obra. A 4 de Frei Bcrardo e eu fizemos 11111 orçamento da construção e um cálculo c à das despesas dos missionários c remetemos ao Padre Provincial. Ele outubro, conseguiram celebrar a Santa Missa, pela primeira vez, demonstrou boa vontade, mas ao mesmo tempo observou: como adquirir na nova capela. tanto dinheiro nestes tempos cr!ticos?l.. . Resolvi entr10 viajar até Re­ Outro empreendimento vital para a nova missão era abrir cife c explicar de viva voz o caso ao Definitório ali reunido. Não con­ uma escola com internato para as crianças das malocas distan­ segui dinht!iro; apenas promessas para o futuro. Falei ainda particularmente ao Padre Provincial c ele concordou em tes, sob a direção das Irmãs e dos Padres, para formar, desde que todos nós, irmãs, crianças e frades, nos retirássemos temporaria­ já, uma geração cristã. • Foi nesta ocasião que os Padres so­ mente para Santarém, ... " licitaram a cooperação das Irmãs Missionárias de Santarém, na árdua empresa da cristianização dos Mundurucu. E assim foi feito. A Missão do Cururu ficou suspensa, até As Irmãs foram bem recebidas pelos índios. Cheios de res­ que conseguisse vencer a crise. Para este fim, Padres e Irmãs fizeram longas viagens esmolando para a continuação- da Missão, peito observavam as Religiosas. Dentro em pouco, esta atitude de expectativa transformou-se em ilimitada confiança. Devido ao seu sendo que as Irmãs foram até ao Rio e S. Paulo. A Missão hábito branco e escapulário azul, foram denominadas pelos Mun­ ficara praticamente suspensa de maio a dezembro de 1919. Os durucu de «Filhas do Céu». A missão começou a desenvolver-se. Padres julgavam poder respirar um pouquinho, quando um novo

174 175 golpe veio atingi-los: o transporte das madeiras seria feito sob cou com a denominação de «Missão Velha». Em 1921, voltou a direção de Frei Berardo. Este, no entanto, que já não gozava Frei Luís à Missão. Os índios fiCaram bastante satisfeitos com de saúde necessária, veio a falecer no dia 20 de fevereiro o seu regresso, devido ao gênio alegre de que era dotado. Des­ de 1920. de logo, dedicou-se com muito zelo ao ensino da meninada, na Missão Velha. 4. A MUDANÇA DA MISSÃO Só em 2 de fevereiro de 1923 puderam efetuar a mudança definitiva para a «Missão Nova». Dom Frei Amando, Bispo da Uma questão de relevante importância para a Missão precisava Prelazia de Santarém e à qual a Missão eclesiasticamente pertence, ser resolvida: a transferência da Missão para outro local. O resolveu conhecer a Missão em 1924. Ficou satisfeito com o lugar, onde ela fora fundada, não era dos melhores, por ser que viu. Visitou também o local da antiga Missão, formando insalubre e de escassa alimentação. Em 1920, decidiram os mis­ a opinião acima referida. Dessa visita, porém, resultou algum sionários transferir a Missão para um lugar chamado «Terra proveito material, pois Dom Frei Amando comprou para a Mis­ Preta» que ficava três léguas do ponto primitivo e na margem são um terreno na Ilha Grande do Cururu, que domina a foz oposta do Cururu. A nova sede oferecia maiores vantagens para deste rio. a criação de gado e para a agricultura. O mérito desta mudança cabe, sem dúvida, ao missionário Frei Plácido que, em 1918, tinha chegado à Missão. Ai, na «Terra Preta» ou, como agora 5. A EPIDEMIA E A MORTE DE FREI BONIFACIO o local é chamado, na «Missão de S. Francisco do Cururu», cresceu o novo estabelecimento, lenta, mas constantemente. Pelo mês de junho de 1626, sobreveio uma epidemia de sa­ Regressando mais tarde à Missão, com a qual perdera o rampo, trazida para o Cüruru pelos caboclos do Tapajós e de contacto durante os anos da primeira guerra, Frei Lufs não for­ São Luís. Na Missão, os casos superaram o número de 100 mor­ mou opinião segura acerca da mudança. " Todos os demais, rendo mais de 20 pessoas, entre adultos e crianças. O ano se­ porém, que conheciam a Missão, os confrades, as Irmãs, etc., guinte trouxe também grandes perdas : primeiramente morreu o eram unânimes, o que D. Frei Amando Bahlmann, O.F.M., velho e fiel Leocádio que mesmo nas horas mais amargas nun­ assim traduziu: «Foi a tí nica coisa razoável». ca abandonou os Padres. Uma outra morte foi ainda mais sen­ Sobre a escolha do novo local para a Missão e os prepa­ sível para a Missão: a de Frei Bonifácio Budde. Voltara da rativos da mudança, recorda Frei Plácido: «Estávamos infor­ Alemanha e trouxera de lá um bom motor de barco. Chegando mados a respeito de um lugar chamado Terra Preta, situado a Santarém, demorou-se os meses necessários para terminar a exatan1ente à beira do rio perto do lago da Cigana. Achei a construção do barco. Feito isto, seguiu para a Missão e em via­ Terra excelente e começamos a fazer uma derrubada e a levan­ tar uma barraca. Em 22 de julho de 1920, queimou-se a roça ... gem morreu. No dia 7 de setembro, a plantação estava feita. Dentro em bre­ Frei Plácido, em suas recordações, escr·eve: «Eu esperava ve, poder-se-iam fazer as primeiras colheitas: melancias, arroz, Frei Luís juntamente com Frei Bonifácio, no mês de agosto. Desci até a boca do Cururu e quando ali perguntei por Frei feijão, milho e no ano seguinte macaxeira e mandioca. Do que precisávamos agora era de uma casinha mais se­ Bonifácio responderam: «Faleceu» I Esta notícia caiu sobre mim gura, de taipa, coberta com telhas de zinco e assoalhada. Isto como um raio. Numa carta, Frei Ambrósio Philipsenburg rela­ se fez em novembro e dezembro» ..... tou essa morte, dizendo que, depois de sacramentá-lo, tinha feito Neste meio tempo, em outubro, Frei Plácido foi até San­ o enterro no cemitério de Aveiro.. . ' tarém. De volta, levou em sua companhia Frei Bonifácio, hábil «jamais encontrei um irmão tão bom, trabalhador tão assí­ carpinteiro, que havia sido transferido para a Missão e mais uma duo e paciente para ensinar aos meninos; um irmão tão cheio religiosa, a irmã Oertrudes, que iria tomar conta da sala de de espfrito de oração e de amor à santa pobreza. . . Creio fir­ costura. Dirigiram-se à Missão primitiva que dai em diante fi- memente que ele está no Céu». "

176 177 6. A CRIAÇÃO DE GADO completa surdez que não permitiam mais a sua estada entre E O DESENVOLVIMENTO DA AGRICULTURA os Mundurucu. E os índios mais do que ninguém sentiram a falta do seu No ano de 1927, foi feita uma nova tentativa quanto à criação «Paim Hugó». O sucessor de Frei Hugo Mense foi Frei Angé­ de gado na Missão, depois das primeiras experiências sem êxito lico Mielert que chegou ao Cururu em 1939. E veio a tempo, devido à espécie de capim que não era própria. pois Frei Alberto, vítima de febres c anemia, sofreu um colapso Feito novo plantio tentou-se uma outra experiência já em nervoso e foi levado para Santarém. Em 1940, um cientista co­ 1933, a qual finalmente surtiu bom efeito. Atualmente a Missão lecionador da Califórnia, Mr. Blanchard, visitou a Missão. Nessa · possui mais de 200 cabeças de gado e conta, no mínimo, com mesma época, a Missão recebeu a primeira visita do Sr. Chuvas uma produção anual de 60 bezerros. A agricultura, baseando­ que ali se apresentou como agente do Serviço de Proteção aos se no cultivo primitivo dos índios, no plantio de mandioca e índios. Visitou também a Missão o cientista alemão Dr. H. cará, foi melhorada c ampliada. Em escala bastante grande, plan­ Sioli para fazer cstud.os Jimnológicos nas águas daquela região. · ta-se, hoje, milho, arroz, café, etc. O cafezal dá urna safra Entre março e abril, passou pelo Tapajós uma epidemia de sa­ anual de, aproximadamente, 2.000 kg de café. Os anos seguin­ rampo juntamente com gripe e bronquite e que não tardou em tes foram dedicados à organização interna da Missão e ao seu chegar até à Missão. Escreve Frei Plácido em suas recordações : desenvolvimento. Houve vftrias transferências e visitas. Assim, em «A moléstia em si não é tão perigosa, mas, devido à falta de 1927, Frei Luís Wand era nomeado superior da Missão, mas conhecimentos necessários por parte dos lndios, causou uma já em 1929 seguiu, corno vigário, para Alenquer. Para substi­ grande mortandade, principalmente entre crianças e mulheres. Na tuí-lo foi designado frei Alberto Kruse que, em 1931, chegou à dedicação para com os doentes, destacaram-se, além das Irmãs, , ·Missão, «dedicando-se ao estudo ela língua e elo canto indígena o Dr. Sioli e Frei Angélico». . O Dr. Sioli mais tarde escreveu. e ·também à música sacra» ... um artigo sobre esta epidemia de sarampo entre os Mundu­ rucu ... " comentando com espontaneidade os sacrifícios dos missionários para salvar essa tribo indigena. 7. VISITAS IMPORTANTES Em fins de 1943, houve uma mudança no regime interno da Missão; pois foi nomeado um novo superior na pessoa de Em abril de 1931, o Comissário Provincial Frei Rogério Voges Frei Ricardo Havertz. veio visitar a Missão. Fez a planta para a construção da nova Em 1944, chegou a notícia do falecimento de Frei Hugo capela que, logo iniciada e rapidamente concluída, foi inaugu­ Mcnse ocorrido no Rio a 22 de abril desse ano. rada na Festa da Natividade de Nossa Senhora. Em 1946, visitou a Missão o escritor norte-americano Ar­ Na Festa de São Francisco de 1933 foram batizados os thur Burks que se interessou pela sua história e depois escre­ pri.meiros índios Apiacá adultos. veu um livro como «best-seller» daquele ano. Este livro já foi Em 1936, Frei Ambrósio Philipsenburg, então Comissário, traduzido em português, «Sinos à margem do Cururu». É a veio visitar a Missão c aí faleceu. história um tanto romanceada da nossa Missão e dos Padres. " A Missão recebeu ainda a visita do Prelado Frei Anselmo Pie­ trulla, O.F.M. «A surpresa foi geral. Ninguém esperava por isso. 8. FATOS DIGNOS DE DESTAQUE O Prelado ao ver as casas - eram todas elas ainda de taipa Três fatos dignos de nota ocorreram em 1938: Frei Alberto - não teve muito boa impressão. Naturalmente ele ainda não Kruse foi nomeado superior da Missão; o Provincial Frei Hum­ havia lutado no interior, com falta ele recursos ou meios es­ berto Triffterer fez uma segunda visita canônica, durante a qual cassos» ... adoeceu gravemente ele paratifo; e, finalmente, Frei Hugo Mcnse O ano de 1952 trouxe novas visitas à Missão: uma co­ missão científica entendida em pesquisas do subsolo e que era retirou-se da Missão, devido ao estado de saúde e à quase

178 179 formada pelos Drs. Husum e Lima, aos quais se juntou o geó­ campos da Mundurucânia. Ele se estende, geograficamente, do grafo J. Zimmermann. Com instrumentos de precisão determina­ grau 4,30 até o grau 9 Lat. S. aproximadamente. Em outras vam a exata posição geográfica da Missão. O resultado foi o palavras: o serviço religioso é feito também entre os civiliza­ seguinte: Latitude sul 7" 34'02" - Longitude oeste de Gre­ dos em ambas as margens do longo rio Tapajós-juruena e nas cnwich 57• 34'34" - Declinação magnética ( 1952) 7" 1 0'05" margens de seus afluentes, os rios jamanchim, Tropas e São (7,105) - Inclinação magnética (1952) 11° 42'04" - Intensidade Manuel. A cura de almas, nestas zonas, tornou-se regular e assim horizontal 0,2816 Gauss. A altura da Missão sobre o nível do são visitados, durante o ano, os moradores do Cururu como os mar, conforme o Sr. J. Zimmermann, é de 140 metros. " Digno que habitam os campos e ainda os civilizados, moradores dos de menção é o desenvolvimento do pequeno aeroporto da Mis­ rios mencionados. O número da população, da qual os sacer­ são. Percebendo o aparente interesse demonstrado pela F AB, o dotes cuidam, pode ser avaliado em 3.000, sendo 2.000 civiliza­ Bispo Dom Frei Floriano Loewenau, O.F.M., achou conveniente dos e 1.000 Mundurucu. que se preparasse uma pista atrás da Missão. Todavia, só após O desenvolvimento da catequese entre os índios Mundurucu 4 anos viu-se que todo aquele esforço não fora perdido . . •• foi calmo e lento, um tanto vagaroso. Não se nota nada de . Pois a Missão com a sua pista exerceu um papel importante no precipitação, mas pelo contrário muita reflexão e muita paciên­ desfecho da revolta do Major Veloso. Felizmente a crise foi sa­ cia no �sperar pelo amadurecer da semente divina. Assim só depois de uma catequese e instrução ele seis anos, «por ocasião nada e restabeleceu-se a paz na Missão. O Major Rui Moreira salienta em documento o valioso auxílio que a Missão acabara da sua visita à Missão em 1917, o Padre Provincial Frei Eduar­ de prestar, Dois dias depois, Dom Floriano Frei Brás re­ do Herberhold batizou os primeiros Mundurucu adultos». " , e gressaram por sua vez a São Luís. . Por outro lado, a comu­ Até aquela data os missionários haviam batizado apenas nicação dos missionários com Santarém tornou-se mais fácil crianças ou adultos «in articulo mortis». As estatlsticas refe­ pois a FAB, generosamente, até certo ponto, ajuda a Missã rentes ao movimento religioso, intercaladas nas «Crônicas» de � «Santo Antônio» as mais das vezes, só indicam resultados par­ no transporte de encomendas. Todos os comandantes dos aviões das viagens ao Tapajós e afluentes, enfim, à zona dos daquela linha têm-se mostrado amigos da Missão. ciais civilizados.

10. ESTATISTICA 9. A CATEQUESE

Unicamente dos anos 1924 " e 1925 •• encontram-se dados com­ Foram feitos comentários, nas páginas anteriores, acerca da fun­ pletos que, para uma ligeira apreciação, sejam aqui citados p.u­ dação e da deficiência da Missão Velha, da sua transferência cialmente: índios batizados (total incluindo Maué e Apiacá) para outro local e do desenvolvimento da Missão Nova até os 1285 (no ano 1924); e 1510 (no ano 1925); Batizados de cri­ dias atuais; entretanto falou-se quase exclusivamente dos sacri­ anças 153; - Batizados de adultos 9, mas no ano seguinte: fícios suportados, dos trabalhos manuais, das construções rea­ 225; Crismas 148 e 95 (no ano de 1925) ; Comunhões 5.000 lizadas. Pouco, porém, elo ministério sacerdotal elos missioná­ (no ano de 1924) e 6.000, no ano seguinte. Casamentos 23. rios. Não obstante, deve-se dizer e acentuar que os Padres não Pregações, catequeses, instruções etc. 486. A comparação -dos se limitaram aos trabalhos materiais c sim que simultaneamente dados desses dois anos parece indicar certa estabilidade do mo­ · cumpriram seus deveres primários de mensageiros ele Deus e vimento religioso. da Santa Igreja. O trabalho preponderante dos padres é, sem 1285 1924, 151 Aliás, a cifra de lndios batizados em e O dúvida, na Missão e entre os índios Mundurucu. em 1925, respectivamente, são indicações relativas e insuficien­ Mas, para não dar uma idéia errônea do assunto, é preciso tes para se fazer uma comparação entre fndios batizados e pa­ destacar que o raio da ação pastoral dos missionários não se gãos, entre Mundurucu cristãos e o total da tribo. Pois por um estende somente da Missão até à boca do Cururu ou até aos lado estão incluídos índios de outras tribos (Maué, Aplacá) e,

180 181 por outro, também todos os Mundurucu cristãos já falecidos nos cânticos mais usuais, a de diversos catecismos para uso dos anos anteriores. · Padres, a dos Santos Evangelhos dominicais e festivos, a da Todavia, consta que, em tempos da atual Missão os Mun­ História Sagrada de Ecker e Linden e por fim a tradução de durucu nunca ultrapassaram muito a cifra de 1.200 a mas. Uma muitos outros trechos da Sagrada Escritura. Além disso, foi or­ nota do relatório de 1929 (portanto 5 anos mais tarde){ evi­ ganizado um dicionário mundurucu com mais de 4.000 palavras . dencia a verdade desta dedução. «0 número total dos Mundu­ e frases. O segundo resultado dos abnegados tr�balhos dos Pa­ rucu até agora batizados é de 916. . . A tribo inteira dos Mun­ dres é a sólida construção de uma estação missionária em Terra clurucu pode ser avaliada em 1109 indivíduos ...» " Segundo Preta, à margem esquerda do Cururu. Durante o primeiro de­ cênio, os religiosos tinham levantado suas casas semelhantes às e�tatística real zada n� ste ano (de 1932), sobre 945. Destes, VJVCm 32 no no� Tapajós, 333 no rio Cururu, 580 nos campos. dos índios na vizinhança da maloca Capicpi à margem direita ,. do rio. Desta ·forma, a casa dos missionários era antes um Dos 333 Mundurucu elo Cururu, 111 pertencem à Missão . . » . apêndice das casas indígenas. Daí a necessidade c!e levantar Hoj m di , este quadro mudou quase por completo, � � . ? _ também o nível cultural, social e cívico. verdade, os Mundu­ quan o a d1stnb t11Ç o gcog áfica da tribo como também quanto É � . ! rucu já não vivem exclusivamente da caça. Fizeram já inicio de ao numero� dos md10s. cnstaos. �s Munclurucu retiram-se sempre . uma primitiva agricultura. ma1s dos campos e dissolvem o antigo sistema de moradia em Todavia, a caça e a pesca formam ainda a base indispensá­ comum nas malocas, passando para o das casas de famílias in­ vel de sua existência e este fato exige necessariamente o con­ dividuais. Atualmente vivem no Tapajós cerca de 250 índios, graçamento da tribo para um trabalho e uma vida quase em nos campos gerais outros tantos e nas margens do rio Cururu comunidade. Daí resulta uma indevida «supressão» da persona­ cerca de 700, dos quais quase 200 na própria Missão. " lidade e da família. Estas circunstâncias, porém, formam uma base excessivamente estreita para o desenvolvimento da civili­ 11. OUTROS RESULTADOS zação e da cultura. Fez-se mister, não propriamente cortar, porém afrouxar os Como recapitulação e resumo de todo o assunto, de todos os laços da tribo, ou dos clãs (Sippenverband) e dar mais impor­ t abalhos dos Padres e dos êxitos alcançados, seja permitido tância à formação da família. � Com estes meios visava-se criar uma crescente compreen­ c1tar al uns trechos de u ma «C: nica» de «Santo Antônio» que � . ? . são relativamente à propriedade particular, ampliar a agricultu­ se ase1am sobre relatóno do JS der u_ In Anthropu� vol. 46 (1951), du Valer992-1018· 915-932 e vol. 47 (1952) p· ' e ��tter Ke�p, v.F.M., A Mitologiap. dos llfundurucus po 1Fsre• \ l. In de Pclr6 19 p. I..V-177. • VoÍts - 1 11 1AniiiÍr �s>.fo da Prtlazla S t ém n. 11 ( 1974) 11 de an ar , (mimeografado) 3" �. .: Es�e c pltulo se baseia sobre o estudo do etnólogo Ali U o � Protãslo lkei ssao e d S.. I ranclsco do Rio Cururu" ( cl nota 1 Fr ''A genero 2 0 ual também c' d� �mente os dados principais para o capliulo seguinie) � dos � e � mapa da rnl s• T royó. Por tllo \'allosa colaboração meu sincero agradecimento. � A mais nova das 140 missões que os franciscanos dirigiram, desde 1500, abrange os índios Tiriyó, com poucos remanescentes das tribos Kaxúyana e Ewarhoyana os quais tinham o seu habitat no extremo norte do Pará. Quanto consta, os Tiriyó tiveram o primeiro contacto com os portugueses em 1736, quando estes com o auxílio dos índios Oyarnpi tentaram escravizá-los. Con­ tinua na lembrança da tribo o triste acontecimento, razão por que até hoje se nota a reação dos Tiriyó contra os lusos. Desde 1727, es·ta tribo estabeleceu intercâmbio com os ho­ landeses e, no século XIX, entrou em contacto com os escravos africanos fugidos das Guianas francesa e holandesa. Desde o século passado, vários cientistas e viajantes se referem aos Tiriyó, assim, p. ex., R. Schomburgk ( 1840-44), O. Coudreau ( 190 I), de Goeje e o General Rondon ( 1928). A partir de 1950, algu­ mas incursões estrangeiras procuraram explorar a região dos

Tiriyó, deixando péssimas conseqüências, como epidemias c nu­ merosas vítimas mortais entre a população indígena. •

I . O LONGO CAMINHO DOS PREPARATIVOS

Os preparativos para o início da catequese prolongaram-se por mais de uma década. Pois, desde 1950, Frei Protãsio Frikel visitou a tribo quase anualmente para obter conhecimentos sobre a densidade populacional, faf'OI'CS hidrogeogréHicos, costumes, língua, cultura, elementos de religião e sociologia. Criada em 1957 a prelazia de óbidos c entregue à província de Santo Antônio, convinha a esta ·fundar uma nova missão por não haver nenhuma em toda a circunscrição eclesiástica. Caiu então a es­ colha definitiva sobre a tribo dos Tiriyó situada nas fraldas elas serras do Tumucumaque e orçada em 700-800 índios.

186 187 A dificuldade que se opunha ao plano missionário era o penoso acesso ao recôncavo do Tumucumaque; pois a viagem fluvial levava 80 dias, em virtude das muitas cachoeiras. Foi quando, em 1959, entrou em cena a Força Aérea Brasileira (F AB) que estava interessada na aculturação e fixação dos ha­ bitantes regionais para defesa das fronteiras-norte do Brasil, prometendo construir uma pista para pouso de aviões no citado ...... recôncavo. No mesmo ano, se concretizou a promessa, servindo ·-......

Frei Protásio de guia e intermediário entre os funcionários da ...... _ FAB e os índios...... _ ...... Ainda em 1959, o prelado de óbidos Dom Frei Floriano ...... -- Loewenau e o provincial Frei Serafim Prein, tendo visitado a maloca dos Tiriyó, tomaram contacto com o alto comando da FAB, em Belém. Em 1960, resolveu o governo da província fran­ ciscana de Santo Antônio aceitar a missão entre os Tiriyó, em caráter provisório. Até então, Frei Protásio havia sido revezado

P1CO temporariamente por Frei Francisco José Goedde e Frei Angé­ ou Ritf'rdofranco lico Mielert, para os índios se acostumarem à presença perma­ nente de religiosos. •

2. O TRINOMIO E A BASE ECONOMICA DA MISSÃO TIRIYó

Em 1961, a missão recebeu os primeiros missionários definitivos, o superior Frei Cirilo Haas e Frei Lamberto Hoetting. Assim pôde entrar em função o chamado «Trinômio» que basicamente constituiria uma colaboração mútua entre FAB, Tiriyó e Miss�o. Como este sistema se distingue das missões anteriores, reclama uma explanação. ���>�'R oe1y�pOt ou «A FA B encarregar-se-ia das comunicações e dos transportes ne­ M�o, _d�'":�nd e\dõé'emil6rio cessários para o suprimento da missão; prestaria ajuda aos lndios, l!t�:.� es­ ·- . pecialmente em caso de doenças, concedendo visitas médicas da FAB ·- I ...... ,.,./ e levando índios gravemente enfermos para o hospital da Aeronáutica, '·--...... _. __...... em Belém, onde teriam o tratamento adequado. - Os lndios poderiam LEGENDA ajudar na construção e conservação da pista, sob a supervisão da missão, PoSTA E PO� TIIIJÓ$ OA FA8 como de fato aconteceu. Era patente que inicialmente não se poderia + LI,.ITI: I!ITER,li

como orientadora e educadora dos lndios, como intermediária entre o pessoal da FAB os Tiriyó>. • e Recôncavo do Tumucumaque, Paré, com a Misslio Tirlyó

188 189 O primeiro cuidado dos franciscanos, ajudados desde 1968 MISS�O pelas Missionárias de Jesus Crucificado, consistiu em criar uma PLANTA DA E DA ALDEIA TIRIYÓ DO PARU DE OESTE(TUMUCUMAQUE BRASILEIRO) TIRIYÓ INSTAlAÇÕES base econômica para a manutenção da missão. Para dar uma DISTRIBUIÇÃO APROXIMADA DAS SIPES 00 GRUPO t<»<ÍÍ''I>JIA E DAS DA MISSÃO: Co1.o - 1.•-:'iln t.l�t� t •.1-:�) c::> OYOI • •• des idéia do desenvolvimento obtido até 1970, éitemos o seguinte St:nl-�ot A·: O Coso ����';'�����J�.:c(�IT:)·�����!t<ólAa) progresso: «A Missão do Paru de Oeste (veja o mapa) man­ eo:o s· Ot-K.-.:.)·(.10 �!'fi;"J'C/';, tém e possui uma oficina mecânica, uma serraria, uma olaria, 'O "'01".;\llo· dois veículos «Unimog», um trator para a agricultura, uma draga, uma turbina, uma farmácia bem sortida, uma pequena padaria, 12 máquinas de costura (para as mulheres e moças índias apren­ derem corte e costura), uma granjinha para criação de galinhas, perus, patos e porcos, hortas para verdura, luz elétrica, água encanada (com bica pública para os aldeados), uma descasca­ dei ra de arroz, uma desnatadeira (para fabricação de manteiga), um pequeno frigorífico, duas geladeiras, roças que servem à missão em geral (i. é, missionários e Tiriyó), casa de farinha, um pequeno rebanho de gado vacum, outro um tanto maior de 35 búfalos, um começo de criação de jumentos, cabras e car­ neiros. Foram feitos mais de 50 km de estradas e construídas meia dúzia de pontes sobre os rios Paru de Oeste, Akahé e Munêni. H. Instalações da Missão 1 Capela 1 2. Escola 1 3 4 5 Além disso, mantém uma capela de palha e uma escolinha. Os I. . . . Moradia dos padres 1 6. Farmácia e moradia do enfermeiro 1 1. missionários mesmos, inclusive as irmãs, moram ainda em casa Casa das Irmãs 1 8. Cozinha 1 9. Refeitório 1 10. Sala de costu­ de palha, como no primeiro período de adaptação mútua entre ras 1 11. Depósito de mercadorias 1 12. Moradia para visitantes religiosos e índios (cf. croquis da aldeia)». ' 1 13. Depósito I 14. Oficina mecânica 1 15. Garagem c padaria 1 1964, 16. Serraria 1 17. Depósito de madeira 1 18. Sanitários 1 19. Ga­ Frei Cirilo Haas, superior até é o construtor da mis­ linheiros 1 20. Hortas Ba�acão (de palha) do Museu Goeldi. são incumbindo-se da administração material e da instrução dos 1 a) índios nos vários trabalhos e ofícios. Desde 1967, acha-se entre os Tiriyó como enfermeiro e farmacêutico o Sr. Aldo Oliveira, da cozinha, da horta, da farinhada, da criação de galinhas e do prestando seus serviços como voluntário. recreio que forma um dos agradáveis acontecimentos diários da missão. O trabalho material é o ambiente mais propício para se incutirem os valores morais e cristãos que tornam o índio um 3. A CATEQUESE verdadeiro cristão. Figuram como primeiras missionárias as Irmãs Anita, Oermana, Luzia e Raimunda, sendo .duas professoras A catequese desenvolveu-se principalmente a partir de 1964, ano formadas. em que a província de Santo Antônio aceitou a missão, em A catequese não se limita a ensinar a doutrina e as orações, caráter definitivo, e colocou o novo superior Frei Angélico Mielert. mas promove o entrosamento do homem todo na civilização e na Este se ocupa das ·traduções para a catequese diária e da ela­ vida cristã, incentivando e orientando as iniciativas dos próprios boração da gramática tiriyó, preparando ademais os textos li­ índios. A instrução religiosa, máxime a bíblica, realiza-se diaria­ túrgicos e bíblicos, na mesma língua. mente após a missa e o culto ela tarde, sendo este, um dia, para As irmãs Missionárias de Jesus Crucificado, chegadas em os homens e, outro dia, para as mulheres. Embora não exista 1968, encontraram amplo apostolado, procurando formar o ele­ obrigação de freqüência diária, nem para a missa nem para o mento feminino da tribo. Encarregam-se elas aulas, da costura, culto, a assistência é relativamente numerosa.

190 191 Frei Angélico se preocupara muito com o tempo preciso em que pudesse batizar os primeiros Tiriyó, quando o Núncio Apos­ tólico D. Sebastião Baggio, à ocasião de sua visita à missão em 1966, tirou o escrúpulo do superior: «Não procure formar teólogos, mas bons cristãos». Desde 1967, administra-se o ba­ Epílogo tismo periodicamente, mas tão-somente a casais que em seguida recebem o sacramento do matrimônio. O trabalho missionário está sendo executado numa visão aberta para o futuro. São principalmente as crianças que me­ recem a atenção. Já que os pais não podem assimilar tudo, deles só se exige o necessário, para serem o esteio sadio da nova geração indígena, com todos os seus valores próprios, agora Encerrando o histórico das mtssoes franciscanas, frisamos que enriquecidos pelo cristianismo. • em todo o estudo nos preocupamos tão-somente com a evange­ Em 1968, chegou à missão Frei Davi Costa que mais tarde lização, silenciando a civilização c colonização, embora os fra­ foi substituldo por frei Bento Letschert e Frei Paulo Cavalcante. des menores, também neste setor, tenham prestado relevantes Enquanto o Trinômio funciona a contento de todos, o pro­ serviços. Mas o assunto exigiria outros volumes. selitismo protestante das missões de Suriname tem arrebanhado Como se perdeu grande parte da documentação missionária, dezenas de casais, obrigando os nossos missionários a chamar a presente exposição oferece um quadro incompleto, dando ao os Tiriyó elas malocas vizinhas para o local central da aldeia. leitor às vez.es uma imagem negativa, em conseqüência dos mil O último recenseamento feito em 1970 acusa na missão 222 obstáculos que embaraçaram a propagação ela fé, entre os nos­ aldeados, sendo I 03 do sexo masculino e 119 do feminino. sos silvícolas. Ainda assim lançamos esta edição, esperando sal­ • dar uma grande dívida para com os milhares de apóstolos da Visto que a missão Tiriyó conta apenas dez anos de ins­ selva, em sua maioria ainda anônimos, que construíram o Brasil talação definitiva, restringimo-nos ao acima exposto. O futuro sobre o alicerce da religião c da dignidade humana. desenvolvimento da catequese e da civilização justificará um E' em nome de todos os missionários franciscanos que es­ histórico exaustivo detalhado. c critores como Frei Vicente do Salvador e Frei Cristóvão de Lisboa levantam a voz reclamando à corte contra a exploração e escra­ vização dos índios e expondo que as injustiças praticadas tornam odioso o nome cristão entre os indígenas pagãos. Frei Vicente não duvidou que seus protestos c os do clero em geral seriam NOTAS desrespeitados. Pois afirma: «0 clero sobre isto quebrou os

Protflslo Frikel, Dez anos de ac ll ra do Tlriyó 1960-1970, Belém 1971, p. 8-14 púlpitos; mas, era pregar em deserto». Nem por isso deixou 1 Prlkel). - u u ç o rio (citado Como Frei Francisco de São Marcos descobriu Trombetas, In S. Ant6nlo, XIII, I, p. 45. de insistir nos direitos humanos de seus patrícios da selva, l o Tlrlyó - • APR, Pasta da il s t96Q. Informações sobre os Tlrlyó (ms). • Priket, p. 16. -l s/J PAB linha naquele tempo como chefe do Estado Maior para que à posteridade constasse a enérgica atitude da Igreja, A da I• Zona o Coronel jollo Camarão Teles Ribeiro. Conhecedor dos tra­ em favor dos oprimidos. balhos missionáriosAéren dos franciscanos entre os Mundurucu, resol\•·eu convidá-los para participarem do TrlnOmlo Tlrlyó. A FAB de fato vem cumprindo a sua promessa Para formarmos uma idéia exata do importante papel desem­ encarregando-se de dois transportes mensais, para suprimento da mlsslio, e levando para Belém os enfermos

192 193 ( - Sloria Unlversale del/e Missionl Francescane, Roma-Prato-Florença XI 1857-95. . ., Epltome da Província Franciscana da Conceição, Frei Apollnário da, O.F M Imaculada Concelçlfo do Brasil, R/11GB, vol. 296 (1972), .com Introdução e o In n tas de Frei Gentil Tltton, O.F.I\·1. - Claustro Franciscano, Lisboa 1740. - Primazia Serática na Região da América, Lisboa 1733. Constituições primeiras do Arcebispado da Balzla... Coimbra 1720. Bibliografia Costa, Afonso, História da Jacobina, in ornai do éomérclo, Rio 31-8-19!>2. e a da, Anais Pernam ucanos Hecife 1951. Costa, A. F. P reir t - Diclondrlo blogrtitlco de Pernambucanos céte6res, Recife 1882. Couto, Diogo de, Da As/a, Lisboa 1778-88. Cruz, Ernesto, /iistória do Parti, Belém 1963. - Os Capuclws de Santo Antônio no Parti, in Rev. r/e Cultura elo Pará, 1, 11� 4 (1971). Os Sertões, Cunha, Euclides, Rio1• 1940. Daça AntOnio, O.F.M., Cronlca General de N. P. S. Francisco y su apostollca Orden, Valla, dolld 1611. 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Mangue 50 Teles, Baltazar de, Crdnica da Companhia de Jesus, L( sbon 1634. Assunçllo 51, 68, 77 Mapuá 154 Tetteroo, Frei Samuel, O P.M , A Ordem dos Frades São Maracaju 164, 168 . Menores no Brasil, 865 João del-Rei 1924. . Bahia . ass r 82' 86, 88, 98, 111 154 M àca á Bom Jesus a s r p 88 Trindade Prel Paulo da, O.P.M., Conquista Espiritual do Oriente, I, Lisboa 1962. Al s a a du l Vai, Frei Odulfo van der, O.F.M., da Igreja Brasil, Petrópolis 1952. Maturu n Porto6 de Mós 152 Prlnciplos no Cachoeira = - Noticias sobre os Franciscanos na aralba no século 16, In Santo A11t6nlo 128 Mbyaçá 27ss 111 (1945). P Calá = Mo sarás 153 Mlcurapccuma 168 Calté n Vllhenn, Luis dos S os Recopilaçdo de Noticias sotero olltanas braslllcas 153 aut p e 162s (ms) apud Capistrano de Abreu,, Capltulos st r a Coton a Rio 1934. Caldelrllo S. dos Anjos 131 de Hl 6 l l �m�u Wndding, Frei Lucas, O.P.M., Annales Minoram seu trlum hvrdinum a S Fran- 88 N. S. da escada 129,122-128 Camutá 139, 146, 153 cisco lnstilutorum, uarachi 1931ss. · N. S. da Graça 154 Carapiculba 132 Wllleke, Frei Venâncio,Q O.P.M. Frei Melchior de Santa Catarina, I• Custódio N. S. do Ros!trlo 153 n• Franciscano do Brasil, In Vozes LV (1961 , 12. Cararu 86 ) Cariris S.l, 88 Olinda (2-3 missões) 36-40 - A Missiologia de Frei Vicente do alvador, in RIHO-S. P., vol. 62 (1966). Carurl 168 In S vol. - Primórdios da Fé no Brasil, Rl/108, 287 (1970). Caruru 86 - Antologia do Convento da Penha, VItória 1974. Pajeú 84, 88 Catu Amaro - Atas Ca da Provincla Franciscana Ant6nio do Brasil, 88 Palmar S:anto 84, 88 pllulares de Santo Cavlana = Vllarlnho do Monte 153 Pambu 88, 111 1649-189.1, In R/1108, vol. 286 ( 1970). CoiOnla do Sacramento 131 Papunha 168 Concelçl!o do Marajó 153 Paralba 40, 43, 45, 83ss Concelçllo do Paru = Alrnelrlm 154 Paru de Oeste 190 Ill. Revistas 81, 84, 88, t lO Corlpós Pauxls = óbldos 152 Curral dos Bois 88, 90, !tOs Pedra 128 A c ta Ordlnls Mino rum. Homa Curunmanema = Curuá 152 Pernambuco 83ss Akta Tr6plca, Basllc!la. Plagul 88 St. Augustln. Oamboa 129 Anlltropos, Plaul 86s Anuário Sa11tarém, Santarém. Goiana 40s de 151, 154 Pira glbe = Braço do Peixe 49ss Arcltlvo Ibero-Americano, Mad·rl. Ouaraplranga 39 Oulrugibc = Assento do Pássaro 50 Ponta de Pedras Archivum l'ranclscanum /listorfcum, Roma. Pontal 81, 84s, 88, 110 Boletim do Arquivo do Estado de S. S. Paulo. Ourupa 139, 152 Puuloá Porto de Pedras 43ss, 62, 68 Boletim do Museu Paraense Emlllo Qoeldl, elc!m. Ourupotuba Monte Alegre 152 = Porto Seguro 23-27 Brotérla, l..isboa. 20s, 50 Estudos, Lisboa. l garaçu 39s Praia Revista do nstll to e Qeogrdfico asllrlro Rio. Igarapé Salvaterra 153 l u Histórico Br = 86, 88 Santo Anltlnlo, Recife. , Imaculada Conceição 168 Rodelas Santuário de S{(o Francisco, Canlnd�. lpanoré t64 168 , 88, 94, Franciscatla, Silo Paulo. i puca 131 Sal Bis, 99, 111 Vii/a 88, 99 Vozes, Petrópolis. ltamaracé 30 Salitre ltapecerlca 132 Santa Cruz 152 ltaplcuru !!b, 88, 106 Santo Agostinho 51s ltaplssuma 30 Santo Amaro 110 l 168 Santo AntOnio do 1\ladeira 161 viturapecuma

196 197 Sunto AntOnio de Pádua 129 Tlrlyó 187-192 iNDICE ONOMASTICO Snnto AntOnio dos Ouarulltos 12Js Tracunhaém 41 Sfto Domingos 168 Tuaré = Tocré Espozende 153 Sfto Francisco do Cururu 171-185 Tucano 168 Slo Francisco do Jari 153 Tu ri 168 Slo Francisco do Machado 1615 Turlgarap� 168 ancis Branco 138 11 = Bispo • = fr c no Castelo Silo Francisco do SollmGes 168 a Castro Vnlva, Pellno de • 172 S!io João de amundé = Faro 152 UIra poso av lc , • J 168 Adams, Crls6stomo • 172, 174 C a ante Paulo 192 Slo Jollo de Perulbe JJ7 119, 123 Umarl • 168 Alberto, Cardeal 47 Chagas, Agostinho dns 142, 150 S. Joio dos PoçGes = lnhals ' 144, 153 = lguna 62, 68, 17, sp V 41-44, Albuquerque, Duarte Coelho de 35 Chagas, ar 61 Silo José do Maraj6 154 Una (I) 109s Chagas, ManuelOa das • Albuquerque, JerOnlmo 137 das • 83 S. Miguel Paulista = Urural 120s, 123 Una (11) 83,145s, 88, 153 Tomás da 138.r.. Albuquerque Jorge 75 Chagas, s • 128 Slo Nlcolau t30s Unhunhu 81, 88, 110 , 38, Coelho, Jorge de buque ue M, Almeida, CGndldo Mendes de 55 Al rq 34 Sl!o Pedro da A!dela 132 Urubuquara Prainha 151, 154 Almeida, Manuel Sonres de 139 Coelho, José B·entó Antas 95, 97 Silo Pedro do Madeira 161s Utlnga 53 Ana Mari · da Austrln 125 Coelho, l\latlas 129 Siri Clrl 40, 42 a Coimbra, llenrlque Soares de • 19ss = osé de 23ss, 2 Slrlnhaém Anchieta, 36, 1 0 • 110 VIla Velha 29 Andrade, Ó( omes Freire de Coimbra, Sebastião de 142, 145 Surublu = Alenquer 152 129 Conceição, Apollnárlo da • . 81, 116, 120s Anlta, lrml\ 191 81, 88, 110 Joaquim da • Zorobab� 84, Anjos, Domingos dos • 59, 142, 145 Conceiç11o, 155 Tabatlnga 128 Conceiç ão, Martlnho dn • 154 AntOnio 38 Tapauá 168 Faltam aqui as mlss/Je,ç Coppi, • N.B.: Anunciação, Bernardo da 39 llluminato 162, 164 Taraquá 164, 168 aceitas em cujos nomes18-18 não e Correia, Dlogo Alvares Anunciação, Luis da • 36, 43 (Caramuru) 26 Taubaté 132 constam. 1603 aq im 7 Aponte, Juan de • 30 Correia, Jo u 1 2 Correia, José de Tomás • 95 Apresentaçllo. AntOnio da 122s S. • Costa, AntOnio de Aranha, Francisco Xavier (B) 85 Jl\ncedo (B) 159 Costa, Davi • 192 Arcanjos, Antônio dos • I 19 u r nu 1 Armenta, Bernardo de • 27ss Co d e 87 • Assunção, olio da • 43 Cruz, AntOnio da 61 Cruz, Ernesto fNDICE DAS TRIBOS INDíGENAS Assunção, tuls da • 142, 148, !50 15� Jollo 147 Azevedo, Manuel de 51 Cruz, da • 59, 142. Cruz, Lino da • 84 Cunha, Euclides da 109, 112 Baggio, Sebastião (B) 192 A m r 29 i o é Manaca 162 Bahlmann, Amando • (BI 176� Ambl uara 152 M a Barbosa, Dallorto, José • 163, 165 2 an us 152 Frutuoso 47s, 5o Dávlla, Dias Anan 168 80, 86s, 89s, 1(}7 Maué 181 Barbosa, Tomás Apamé 1 52 Uatista, Manuel •85 59, 142 Desterro. AntOnio do (B) 131 Aplacá 178, 8 Mor é Dias. Constânci 53 1 1 Mundurucu 171-176, 154 lhtisla, Pedro • 164 a Aracaju 152. 17, 181 l I Duarte, Dom 140 154s ll'lura Benevides, Sa v dor Correia de 17, Arapaz 168 162, 168 123 a S� Araplú 1 52 Murunu 154 Ellebracht, Sebastião • 122 llernardes, Francisco 130 Encarnação, da • Arará 1615 llerredo 58 José 96s, 100, 102, I I 1 Nambiquara 152 Manuel • 84 Arcchl 147 Be�erra, Otávio K. B. de 17 Encarnação, da Erkm:mn, Berardo • I Aroki 153 Blanchard 179 75s Oyampi 187 Esplrflo Santo, Cosme do 107 Aruan 153ss Bolaíio, Alonso • • 15 • 58, Aruna 153 Oonkosch, Edmundo • 185 Espirlto Santo, Scbastl5o do 135 Palal:\ da • 9:1s, 103 l.loruapln 174 Estrela, AntOnio 53, 75s Pam:� 27 Bnré 152 168 notelho, Dlogo 69, 75 Ellguara (Carljó) P lnti t de • ar n im 162 llraga, Juvenal da Mola 112 l!vora, Pedro 152 Caeté 35, 42, 4�, 62 Pauxis 152 Brle,•a, Domingos • 150 i l pu " Fialho, D. José (B) 111 Calmbre 33, 88 P ra a l 168 Rudde, Bonifácio • 176s l' Arthur Figueira, l.uis 148 Cnmutá 13!1 lrlqui 152 Llurks, 186 Figueiredo, Estêvão de Cnndori 152 l'otlguara 83 39, 50s, 55, 61s, 69 Figueiredo, (8) Cnpuna Pro cá Cabeza de Vaca, Alvar Nuíics 28 João Batista 159, 163 152 88 Figueiredo, José 11\arcelino de 131 Cnrlj6 27s Puma 161 Cabral, Pedro Alvares 19s s 278 Futgêncio Cariri Cabrera, Alvar de Figueiredo, Manuel 99 o r ll 86, 88 Caldeira, Sebastião de Siqueira 123 Ffllpe 11 34, 47, 50, 69, 139 C rasco a 152 Sncaca 154 Calixto, Benedito 120 Frattegiani, • 162 Corlall 152 Angelo 159, Calmon, Pedro 50 Francisco 37s Coroado Tnmaquim 89 122 • 59, • Crlchana Tnpe Calvário, AntOnio do 80, 1·12, 149 Frikel, Prot:lslo 187s 68 129 C ã O. e ip C s m 1 amar o F l e 40 ros a 152 Tnplassu 152 , Camarão, Sebastião Pinheiro S:l Germana, Irmã 191 T:�puia 139 147 O. E , Camboa, Pedro Sarmlento de 30 Oertrudes, Irmã I 76 warhoyana 187 Taquipon� 88, 152 Caminha, Pero Vaz de 20s 188 Goedde, Prancisco José • Tariana 168 Camro Mnlor, AntOnio do • :1!1, 44s, Ooeje Oonçnri 152 187 Tlrlyó 17, 187-192 ·17-50, 61 Ou aguar RO ·r ba ar Canali, Aloisio • Gomes, Luis 43 o j :16, 69 t66 Gonçalves, AntOnio 43 Oualmoré 88 30, ocantirn 152 Cangini, Mârlo 164 • 3-1, 36 Guarani T • Gonzaga..�. Francisco 130s To rã Canionl, Mateus • 163s ua u 152, 16Js Guiso, ulogo de • 30 O r lho 121s, 128 Cardoso, Gaspar 122 Tucano 162, lfi8 Cardoso, Jorge 24s, 135 g a Tujucu 153 Haas, Cirilo 188. 190 ln alb 153 Carvajal, juan • 30 • Tupinamh:l 139 Havertz, Ricardo • 179 86, 88, 136s, Carvalho, AntOnio de S. Carnllo de n n a d Tupiniquim Herberhold Eduardo • 175, 181 J m m n i 168 20-27. 120 t.elis * 171 (8) Homem, i\!anuel Mascarenhas Jnmundá 152 Carvalho, f'ellci:mo Coelho de ·17, 50, 5-I Urunlim Hõttlng l.amberto • 188 147 52s, 61 , Knxilyana 87 U p - acn de 147, liusum ISO 1 ru á Man 162 Carvalho, Pranclsco Coelho 150

198 199 Solcdadc, Fernando da • 25 llhn, AntOnio da • Parnalba, Dio o dos Anjos • 125 �anto AntOnio, Baltasar de • OI OI g • 155 Sonslnl, Anacleto • 165s Ilha, Manuel da • 23, 25, 39, 41. 43, Pedro 11, de Portugal 123, 1:15 Santo AntOnio, Boaventura de * 122 Sousa, Gaspar de 59, 140s 45, 50ss, 54, 62, 68, 135 Pedro 11, do Brasil 159 Santo AntOnio, Miguel de 92 Sousa, Marllm Afonso de 26 Ilha Grande 54 Pedro Batista • 164 Santo Antônio, Sebastilio de • • 124 Souto, Teodorclo C. Faria 164 Pereira dn Costa, A. 83 Santo AntOnio, Tomâs de F'. de 151, "" Stulzer, Aurélio • 17 Jabonlllo, AntOnio de S. J\1. • 26, 36, Phlllpscnburg, Ambrósio • 177 Santo Atanásio, João • laa Surlan, Floriano • 17, 101 39, 47, 50 58, 79, 83, 85, 90, 135, t42 Piedade, Manuel da • 53, 5:1ss, 61, Santos, Francisco dos • 36, 138 !!,. 91 Surupibba 54 Jarricus 2.:> t36s, 142 Santos, Pe. Francisco Manoel dos Jesus, Jolio de • 155 I 7 Pietrelll, Pedro A. • 164, 166 Santos, João • Jesus, Leonardo de • 44s, 138 Pletrulla, Anselmo • (B) 179 . Sllo Boaventura, Domingos de 98 Tavares, João 53, 136 138 Távora, AntOnio Luis 124 Jesus, Mateus de • 149 Pimentel, Antônio da Silva 93s São tloaventura, Felipe de • · • 36 Teixeira, Pedro 145, 148, 150 Jesus, Tomé de • 80 l'lna, Manuel de 145 Silo Boaventura, Francisco de 39, 55ss, Toeile, Plácido • 175ss, 179, 182, 185 J oão IV, Dom 150 Pinheiro, Raimundo N. 17 São Damião, Cosme de • João V, Dom 106, 111 Pio 11 15 61, 136s Tomaglca 146 d Trlffterer, Humberto • 178 João XXII 60 Pio IX 164 São Francisco, jerônimo e 0 Iaa" de 44 " Trindade, Alexandre da • 149 Pio X 171 Sfio Jerônimo, Braz • Kiemcn, .Matlas • 17 Pombal, mitrquês de 86, 118, 127, São José Agostinho de • 128 Trindade, AntOnio da • 111, 142, 144 145, 148 Koser, Constantino • 17 144, 153, 158 São José: Crlstóo;ão de • 138sJ Trindade, Lourenço da • 131 • 1:>2 Kruse, Alberto • 178s Portaraso, Teodoro • 159, 161s São Marcos, Francisco de Portoale re, Manuel • 61 São Miguel, Jollo de • 54, 61 Vago, Bernardino dal • 152 g 142 Leal, Pedro Barbosa 94 Prates, Feliclano Rodrigues (B) 130 Sllo Paulo, Junlpero de • 59, Vale, Alexandre !11. do 123 D. 129 Leão XIII 16 PrazercR, Francisco dos • 1!>5 Sllo Roque, Manuel de • Vasconcelos, Luis Aranha 139 • 111 Lebron, Alonso • 27ss Prcin, Sernflm • 188 Silo Sebaslltlo, AntOnio de Vespúcio, Amérlco 25, 87 Leitão, Maria dn Rosa 30, 35 Prenofella, Miguel • 162s SAo Sebastião, Francisco de • 85 Vidaure, Francisco • 163 Leite, Seraflm 49 Presépio, Francisco do • 142 Santo Tomás, Pedro de • 80 VIde, Sebastllio Jllontetro da (AB) 4-1 104, Letschert, Bento • 192 Pueller, Humberto (Pancráclo) • 17 Sardinha, Pedro Fernandes (B) 35, 111 Levoscnde, Angelo • 162 Purlflcnç!lo, Alvaro da • 30 Sarmento, Antônio Pereira 131 Vila VIçosa, AntOnio da • 152 Lisboa, Cristóvno de 0 10, 58s, 80, Purlflcaçfio, AntOnio da • 132 Schomburgk 187 VIsitação, José da • 125, 128 140-150, 154s, 193 Purificação, Domingos da • 129 Sepulcro, Ricardo do • 144 Voges, Rogério • 178 Lobo, Domingos de S. José • 96 Purificação, Jácome da • 86 Severim, Manuel 140, 149 Lobo, Joaquim Pedro da Costa 92 Purificação, Ra fael da • 129s Silva, Berardo Lopes da 130 W�nd, Luis • 171s, 176ss Loewennu, Floriano • (A) 180, 187 Silva, João da 145 Lopes Neto 158 Zaccngni, • 159, 162s Raimunda, Irmã 191 Sloil, liarald 179 Loreto , João de • 130 Redondo, Pedro de • 152 Zattonl, José Maria • 164 Siqueira, José 124 Lugo, Juan Berna! Diaz 28 Rego. Francisco Pinto do 124, 120 Zllocchl, Vendnclo • IG3ss Slxto 35, 75, 86 Lumbria, Martin Garcia 119 Reichert, Ervano • 185 V Zimmermann, J. 180 Soares, Oiogo 84, 126 Luzia, lrmli 191 Reis, A. C. Ferreira 139 1:12 T!eis, José /lllrandn da Silva 160 Machelli, Jesunldo "' 159-167 Remédios, Francisco dos • 125 Maciel, Bento 145ss Ressurreiç!lo, Manuel da • (B) 125 Madeira, AntOnio Nnaré • 128 Rivadaneyrn, Juan de • 30 Madre de Deus, Antônio da • 127 Rochi, VI cente • 159 Mafleus 25 Romano, Francisco • 30 Magalhães, Inácio de Sousa 83 Rondou, Oeneral 187 Alanclni, Samuel • 158s, 161ss, 167 Rosa, Luis da • 124 I Manuel I 9s, 23s Rosário (1), Francisco do • 36, 57s, Marciana, AntOnio de • 138, 145 135, 142, 145 Marclnlscyn, Albano • t7 Rosário (11), Francisco do • 131 Marln, Francisco do Amparo de Jesus Rosário, Jo!lo do • 131

• 125 Rosário, Salvador do • 119 Maria, Lourenço de Jesus • 83 Rosário, Sebastião do • 138 Maria, Mateus de Jesus • 155 Rõwer, Basilio • 116 Marinho, Leonor Pereira 86s Rubert, Arlindo 17 Martius Ryan, Tlago (B) 185 91 • !\·lato Orosso, Pe. Caetano de Araújo 92 Mense, Hugo • 171-175, 178s, 182 Sã, AntOnio do Vencimento • 123 Jllielert, Angélico • 17, 1791 188, 190 Sâ, Mauricio Correa de 96 ll\onçlo, Antônio da Pledaoe • 121!t Sacramento, Valério do • 130s Monteiro, José de Sousa 93 Saldanha, Jllarllm Lopes-Lobo de 125, 127 Moreno, Jlíarlim Soares 143 Salvador, VIcente do • 20, 38, 45, 47, 50, 52, 68ss, 79, 109, I 16, 135ss, Nantes, Jllarlin de 82, 87, 103 139, 1-12, 148, 193 Nazar�. Joaquim de N. Senhora (8) 144 Sampaio, Teodoro 89 Neves, Bernardino das • 53ss, 61 Santa Bárbara, Miguel de • 121 Nóbrega, Manuel da 23ss, 27ss Santa Calnrlna, Jo!lo de • 80, 130 Noronhn Jácome Raimundo 57, 150 Santa Catarina, Melchior de • 30, 33ss, Nunes, Leonardo 29 39ss, 43s, 47, 60, 86, 106 Santa Ernerenciana Francisco de • 121 O'Brlen 148 Santa Oertrudes, j os� de • 91 Oliveira, Aldo 190 Santa Helena, Callxto de • 124s Oliveira, AntOnio 93 Santa Maria, Afonso de • 398 Oliveira, João Franco de (B) &l Santa Jllarla, Agostinho de 154 Santa !1\arla, Constantino de • 123 Palácios, Pedro • 29, 116 Santa J\larla, José de • 154 Paoloui, Vitallano • 162s Santa Jllaria, Tomás de • 129 Pardinl, Ambrósio • 164s Santa Teresa, Bernardo de • 149

200 201 Este i produzido livro fo nas oficinas gráficas da Editora Vozes Limitada no ano do Tricentenário e17Ulncipação da Franciscana da Província lnUiculada C 11ceiçã da o o do Brasil. /liEDIT ORA Y VOZES

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