http://dx.doi.org/10.1590/2238-38752017v838 1 Universidade de Brasília (UnB), Instituto de Ciências Sociais, Departamento de Antropologia, Brasília, DF, Brasil
[email protected] Andréa Lobo I África... mas não muito! turismo e africanidade em cabo Verde O presente artigo explora algumas imagens de África que permeiam o que poderíamos denominar genericamente imaginário ocidental.1 O objetivo é re- fletir sobre as representações acerca do continente construídas por outsiders e como essas têm afetado autorrepresentações e processos. Mais especificamen- te, reflito sobre os sentidos de africanidade (re)elaborados na relação entre cabo-verdianos e turistas europeus que se deslocam para o arquipélago em busca de experiências africanas em um ambiente dito calmo, paradisíaco, exó- tico e tropical. Tais categorias, que permeiam os folders, sites e revistas de tu- dez., 2018 dez., rismo no arquipélago, são analisadas como formas de representação e de au- torrepresentação nesse contexto relacional que a viagem turística produz. Cabo Verde é um cenário interessante para pensar tais questões, uma 972, set.– 972, – vez que sua africanidade é, por si só, um tema de disputa. Diversos autores têm abordado as ambiguidades, tensões e estratégias presentes na elaboração da identidade dos ilhéus com reflexões e posicionamentos sobre as oscilações entre as duas matrizes, a europeia e a africana, ambas bases da formação social crioula (Trajano Filho, 2003; Furtado, 2013; Anjos, 2003, Vasconcelos, 2007). Tais pesquisadores, cada um a sua maneira, ressaltam os processos de instrumen- talização da caboverdianidade ou crioulidade que, a depender do período his- tórico, interesse ou lugar de fala, enfatizariam a matriz africana ou europeia, instrumentalizando-as.