Comunidade Rock E Bandas Independentes De Florianópolis: Uma Etnografia Sobre Socialidade E Concepções Musicais
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TATYANA DE ALENCAR JACQUES COMUNIDADE ROCK E BANDAS INDEPENDENTES DE FLORIANÓPOLIS: UMA ETNOGRAFIA SOBRE SOCIALIDADE E CONCEPÇÕES MUSICAIS Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da Universidade Federal de Santa Catarina. Prof. Dr. Rafael José de Menezes Bastos Florianópolis 2007 2 PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ANTROPOLOGIA SOCIAL “COMUNIDADE ROCK E BANDAS INDEPENDENTES DE FLORIANÓPOLIS: UMA ETNOGRAFIA SOBRE SOCIALIDADE E CONCEPÇÕES MUSICAIS” TATYANA DE ALENCAR JACQUES Orientador: Dr. Rafael José de Menezes Bastos Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da Universidade Federal de Santa Catarina, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Antropologia Social, aprovada pelos seguintes professores: Dr. Rafael José de Menezes Bastos (Orientador – UFSC) Dra. Kátia Maheirie (PSI/UFSC) Dra. Carmen Rial (PPGAS/UFSC) Florianópolis, 08 de março de 2007. 3 À memória de meu amigo Rafael “Popão”. À minha irmã, Cristiane. 4 Agradecimentos Agradeço a todas as bandas independentes por existirem e proporem alternativas. Aos integrantes das bandas Cabeleira de Berenice, Lixo Organico, Os Cafonas, Os Ambervisions, Os Capangas do Capeta, Los Rockers, Kratera, Pão Com Musse, Xevi 50, Euthanasia, Black Tainhas, Brasil Papaya, Pipodélica e Zoidz, principalmente a Mancha, a Zimmer, a Amexa, a Dudz, a Boratto e sua esposa Ceciliana, a Paulinho Rocker, a Christian Mazza, a Xuxu, a Felipe Batata, a Cachorro, a Garganta, a Sil B e aos amigos Willy, Blu e Gustavo. Agradeço a meu orientador Rafael José de Menezes Bastos, com quem muito aprendi durante todo o processo de elaboração desta dissertação e a quem muito admiro e respeito, pela dedicação e apoio sempre. Também agradeço à Antropologia, por existir, e a todos os professores e funcionários do PPGAS/UFSC. Às instituições CAPES e CNPQ, pelas bolsas concedidas, que viabilizaram a efetuação desta pesquisa. Aos músicos Marcelo Muniz, Ronaldo de Sousa Maciel e ao jornalista Ricardo “Pena”, pelas entrevistas, e à produtora Juliana Barbi, à Neiva Ortega da Fundação Catarinense de Cultura e aos professores Carmen Rial e Sílvio Coelho dos Santos pela boa vontade e ajuda. Aos colegas do MUSA, que acompanharam ativamente todo o processo de elaboração desta, agradecimentos especiais pelas sugestões de Deise Lucy, Luís, Kátia, Allan, Acácio, Mig, Mirtes, Maria Eugênia, Sônia e Alexandre. Também a meus colegas de turma e amigos, Bárbara Arisi, Camila Codonho, Magdalena Toledo, Bruno Gomes, Tiago Coelho, Alberto Bys, Jean Segata, Viviane Assunção, Moreno Saraiva Martins, Daniel Scopel, Hanna Limilja, Sérgio Eduardo Quezada e Marta Magda Antunes Machado, por seu companheirismo, parceria e por suas sempre bem vindas sugestões. Por fim, a minha família. Um agradecimento todo especial a minha mãe, que com seu amor e boa vontade, muito me ajudou nos momentos de “pânico”. 5 Resumo Esta é uma etnografia do universo do rock alternativo e das bandas independentes de Florianópolis (SC). Tem como foco as concepções musicais e discursos sobre música. Analiso o trabalho de 14 bandas, observando como estas se apropriam do rock e constituem estilos particulares a partir de um gênero de circulação global. Também analiso as relações destas bandas com a indústria fonográfica e o papel da tecnologia como constituinte do fazer musical. Trato o rock como um gênero musical vinculado a um conceito de arte e a uma estética específicos, ligados a um universo hedonista. O compartilhamento desta estética, assim como de uma ética, leva à configuração do que chamo de comunidade rock. Expressões- chave: rock independente, indústria fonográfica, concepções musicais. Abstract This is an ethnography of the universe of independent rock music and bands in Florianópolis (SC), focusing on its musical conceptions and discourses. I have analyzed the work of 14 bands, studying their appropriation of rock music and creation of particular styles within this genre of global circulation. I have also analyzed the relationships of these bands with the recording industry and the role of technology as a constitutive process of musical creation. I have approached rock music as a genre that has a specific concept of art and aesthetics, linked to a hedonistic worldview. The share of this aesthetics, as well as of its correspondent ethic, leads to the configuration of what I call rock community. Key words: independent rock, recording industry, musical conceptions. 6 Sumário Agradecimentos 4 Resumo 5 Introdução 8 1 Algumas considerações históricas sobre o rock 13 1.1 O surgimento do gênero rock 13 1.1.1 Anos 1950-60 14 1.1.2 A contracultura e os anos 1970 17 1.1.3 O Punk 22 1.1.4 Os anos 1980 26 1.1.5 O rock alternativo 28 1.1.6 A contemporaneidade 31 1.2 O rock no Brasil 32 2 A cena rock de Florianópolis 39 2.1 A cidade de Florianópolis e o rock 39 2.2 Chegada ao campo 45 2.3 Considerações sobre as bandas 53 2.3.1 Kratera 54 2.3.2 Os Ambervisions 56 2.3.3 Os Capangas do Capeta 58 2.3.4 Pipodélica 60 2.3.5 Os Cafonas 61 2.3.6 Cabeleira de Berenice 62 2.3.7 Lixo Organico 66 2.3.8 Zoidz 68 2.3.9 Los Rockers 70 2.3.10 Xevi 50 70 2.3.11 Black Tainhas 72 2.3.12 Pão com Musse 74 2.3.13 Euthanasia 74 2.3.14 Brasil Papaya 75 3 As redes do rock e os gêneros musicais 77 4 O puro e o impuro no mundo do rock 84 4.1 Das relações com a indústria fonográfica 84 4.2 Da emergência de uma forma de se pensar arte 91 4.3 O rock como universo masculino 95 5 “Pegada” do rock 100 5.1 Do processo de composição musical 100 5.2 A música como uma “pegada” no mundo 107 5.3 Um quadro classificatório de categorias musicais 115 7 Considerações Finais 116 Bibliografia 119 Discografia 127 Anexo 1: Glossário 131 Anexo 2: Índice das Entrevistas 133 Anexo 3: Mapa 135 Anexo 4: Fotos 136 8 Introdução Esta é uma etnografia do universo do rock alternativo e das bandas independentes de Florianópolis. Tem como foco as concepções musicais e discursos sobre música em torno dos quais se configuram grupos, formados por músicos, técnicos de estúdio e shows e aficionados. É o conjunto destes grupos que chamo de comunidade rock. Entendo como “concepção musical” a forma de se pensar e de se fazer arte e música. Busco identificar entre os músicos quais valores estão em jogo quando estão tocando, compondo ou ouvindo música. Isto é, procuro conhecer o que legitima o rock enquanto arte para aqueles que o praticam. Trato o rock como um gênero musical vinculado a um conceito de arte e a uma estética específicos, que devem ser contextualizados e relacionados ao universo hedonista deste gênero. Tenho em mente a questão da relatividade dos valores ligados àquilo que tratamos como música e da diversidade das formas de se pensar esta que podemos encontrar em nossa sociedade. Quando tratamos de nossa sociedade, nem tudo que parece familiar é necessariamente conhecido (Vellho, 1999: 126). Uma avenida importante para compreender o grupo de que trato aqui é a idéia de neotribalismo de Maffesoli (2000 e 2005). Este autor observa na sociedade contemporânea a formação de comunidades afetuais caracterizadas pelo compartilhamento de uma ética e uma estética específicas. Estes agrupamentos, ou tribos, são redes de amizade que se estabelecem por processos de atração e repulsão e formam cadeias a partir da multiplicação das relações. Também utilizo o pensamento de Maffesoli (2000 e 2005) como referencial para o emprego do termo cena. O autor trata como cena a cristalização de ambientes dentro do fluxo de redes extensas de troca de informação. Cena é também um termo nativo, que diz respeito aos shows e festivais de rock alternativo, à produção independente de CDs, revistas e fanzines e a todas as pessoas constituintes da comunidade rock. 9 Além das idéias de Maffesoli (2000 e 2005), considero importantes para a compreensão do grupo que estudo os conceitos de alternativo, independente e underground. No mundo do rock, os três termos se referem a bandas que se opõem ao mainstream, constituído por bandas vinculadas às grandes gravadoras (majors) e associadas à cultura apontada pelos músicos independentes e por autores que trabalham com música popular ou indústria fonográfica como estabelecida e convencional. As bandas do mainstream são acusadas por esses músicos e autores de sucumbirem à lógica comercial das majors e de serem musicalmente caracterizadas pelo processo de estandardização. As independentes aparecem neste contexto como bandas com poucos recursos econômicos, fazendo música por prazer e não por dinheiro. Como não têm vínculos com as majors, contam apenas com sua iniciativa e recursos financeiros próprios para realizar shows e gravações. Elas frequentemente passam por dificuldades para a concretização de seu trabalho e acabam vinculando-se às gravadoras também independentes (indies), supostamente regidas pela mesma lógica do prazer e do amor pela música em oposição à da comercialização das majors. A oposição entre as lógicas do prazer e da comercialização aponta para o mundo das concepções e discursos sobre a música e para um sistema de valores que leva a um conceito específico de arte que será discutido no decorrer desta dissertação. As bandas independentes ainda são relacionadas a uma cultura tida como marginal e sem reconhecimento oficial, caracterizada pelo termo underground. Este surge com a contracultura, movimento que visa contestar valores centrais do ocidente (Roszak, 1969) e cuja visão de mundo é fundamental para a formação da comunidade rock de Florianópolis. Uma cena underground seria, assim, constituída “abaixo” do mainstream e da cultura reconhecida. Esta cena opor-se-ia à hegemonia na produção artística e à legitimidade única de uma forma de arte sustentada pelas elites.