MINISTÉRIO DA CULTURA, GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO E SECRETARIA DA CULTURA APRESENTAM

3 4 ENTRE A SÍNTESE E A DESAGREGAÇÃO 2 PAULO SCHILLER CRONOLOGIA 6 OBRAS DE BARTÓK NA TEMPORADA OSESP 2016 8

GRAVAÇÕES RECOMENDADAS 14

PRINCIPAIS OBRAS 16 1 PAULO SCHILLER ENTRE A SÍNTESE E A DESAGREGAÇÃO

BARTÓK NA TURQUIA, EM 1936

2 m maio de 1913, A Sagração da Primavera, de Stravinsky, estreou em Paris e provocou es- cândalo. Cerca de três meses antes, as Duas Imagens, de Béla Bartók, eram vaiadas em Esua primeira apresentação em Budapeste. Nascido em 1881, Bartók — tido por muitos como o maior compositor húngaro ao lado de Liszt —, viria a ser, juntamente com Stravinsky, um dos principais representantes da modernidade na música do sé- culo xx. Schoenberg teria afirmado certa vez, sem falsa modéstia, que Bartók era o “segundo” maior com- positor vivo. Professor de maestros como Fritz Reiner e Georg Solti, pianista de talento — cujas interpretações chegaram até nós em gravações históricas —, Bartók deixou uma obra extensa, que inclui composições para orquestra, concertos para piano, violino e viola, obras para coro, mú- sica de câmara, canções, uma ópera, dois balés e peças para piano solo — algumas delas didáticas, explorando virtualmente todos os recursos do instrumento. O conjunto de seus seis quartetos de cordas [que serão interpretados pelo Quarte- to Osesp ao longo de 2016 e 2017] é considerado como a obra mais importante no gênero depois do ciclo legado por Beethoven.

artók foi um menino-prodígio. Aos quatro anos, era capaz de tocar cerca de quarenta peças ao piano e, entre os nove e treze, contava com onze composições próprias. BDe início, ele se comprometeu com o estabele- cimento de uma linguagem musical modernista húngara, no contexto da busca de uma identidade nacional própria que mobilizava a Hungria desde 1848, ano da revolução frustrada contra o domínio austríaco. Na passagem do século, a música dita cigana, executada nos centros urbanos, era tida como a verdadeira expressão do espírito magiar. Ela consistia numa mescla entre melodias folclóri- cas domesticadas e uma adaptação do verbunkos, dança criada pelo exército austríaco, cuja fi- nalidade era seduzir jovens para o alistamento militar. Apresentava um movimento lento, em geral um lamento romântico, e uma sequência ritmada veloz, o csárdás, reconhecido popular- mente como a dança tradicional dos húngaros. 3 SUGESTÕES DE LEITURA Foi a partir desses elementos que Brahms e Liszt compuse-

Halsey Stevens ram suas obras de inspiração húngara. Nessa linha, e também inspirada na música de Richard THE LIFE AND MUSIC OF BÉLA BARTÓK Strauss, a primeira peça de fôlego de Bartók foi o poema sin- CLARENDON, 1993 fônico , composto em 1903, uma exaltação do líder 1848 1802-94 Ernö Lendvai da insurreição fracassada de , Lajos Kossuth ( ). Em 1904, de férias no campo, Bartók ouviu uma canção de BÉLA BARTÓK: AN ANALYSIS OF HIS MUSIC ninar entoada por uma jovem babá nativa da Transilvânia — KAHN & AVERILL, 1971 e o fato foi decisivo para a sua trajetória. Ele escreveu para sua

Ernö Lendvai irmã: “Tenho agora o plano de reunir as mais belas canções folclóricas húngaras e elevá-las a um patamar artístico”. O BARTÓK AND KODÁLY compositor rompeu com a ideia de que as melodias ciganas INSTITUTE FOR CULTURE, 1980 tocadas nos cafés de cidades como Budapeste representariam

Ernö Lendvai a cultura húngara e decidiu buscar entre os camponeses as “verdadeiras raízes” do que seria uma música nacional. THE WORKSHOP OF BARTÓK AND KODÁLY

EDITIO MUSICA, 1983 m 1905, Bartók conheceu Zoltán Kodály, aluno de

Elliott Antokoletz composição da Academia de Música de Budapeste, que tinha um interesse especial por folclore. Kodály THE MUSIC OF BÉLA BARTÓK: A STUDY OF TONALITY AND PROGRESSION IN tornou-se seu grande companheiro na missão de re- TWENTIETH-CENTURY MUSIC Eunir as canções camponesas e seria seu amigo até o final da UNIVERSITY OF CALIFORNIA PRESS, 1984 vida. Juntos, descobriram que as canções se estruturavam sobre uma determinada escala pentatônica, originária das Elliott Antokoletz estepes da Ásia Central e do norte da Sibéria. BÉLA BARTÓK: A GUIDE TO RESEARCH De 1906 a 1918, Bartók percorreu com um gramofone GARLAND, 1988 primitivo aldeias da bacia dos Cárpatos e, posteriormente, da Moldávia, da Valáquia e até mesmo da Argélia, e reuniu Ernö Lendvai melodias húngaras, eslovacas, romenas, sérvias, croatas, BARTÓK’S STYLE búlgaras, árabes e turcas. Muitas vezes, as aldeias em que AKKORD MUSIC, 1999 realizou as gravações ficavam a dezenas de quilômetros da estação ferroviária mais próxima, acessíveis por carroça, Amanda Bayley (org.) por caminhos precários. Frequentemente, dormia sobre THE CAMBRIDGE COMPANION TO BARTÓK palha ou um estrado de madeira, dividindo o quarto com CAMBRIDGE UNIVERSITY PRESS, 2001 toda uma família. Com milhares de canções registradas, transcritas, cata- Elliott Antokoletz logadas e classificadas com grande sofisticação, Bartók se MUSICAL SYMBOLISM IN THE OPERAS OF tornou um dos principais representantes da nascente etno- DEBUSSY AND BARTÓK: TRAUMA, GENDER, AND THE UNFOLDING musicologia. Ao incluir a produção de outras regiões do les- OF THE UNCONSCIOUS te europeu, do norte da África e de parte da Ásia, deu um OXFORD UNIVERSITY PRESS, 2004 salto para um universo musical que transcendia a cultura húngara, o que desagradou os nacionalistas. Lauro Machado Coelho NELA VIVE A ALMA DE SEU POVO: epois da Primeira Guerra, Bartók estreou sua úni- VIDA E OBRA DE BÉLA BARTÓK ca ópera, O Castelo do Barba-Azul (1911-7), compos- ALGOL, 2010 ta para grande orquestra e apenas dois cantores:

INTERNET um baixo ou baixo-barítono e uma soprano ou Dmezzo soprano. Muitos comentadores veem na obra um sen- ZTI.HU4 tido psicanalítico, como se, por meio do personagem princi- pal, Bartók revelasse seu próprio sofrimento diante grande prestígio em seu país natal. Desgostoso de uma mulher que desvenda progressivamente seus com a aliança que a Hungria selara com o regime segredos mais íntimos. nazista, o compositor emigrou para os Estados Na chegada dos anos 1920, Bartók já é reconhe- Unidos em 1940. Passou por dificuldades financei- cido como um dos principais compositores de seu ras, enfrentou a amargura do exílio e deixou de tempo. Deixa de lado suas viagens de pesquisa e per- compor durante os primeiros anos de sua estada corre a Europa e os Estados Unidos apresentando-se na América. Sempre teve uma saúde frágil e, em como pianista. Em seus concertos, tem a oportuni- 1943, estava internado havia três meses com sinto- dade de interpretar suas próprias obras, admiradas mas que se revelariam mais tarde serem fruto de pelos maestros mais expressivos da época, como uma leucemia. Fritz Reiner, Bruno Walter e Wilhelm Furtwängler. Num gesto de solidariedade, dois compatri- Um marco importante de sua evolução como otas célebres, o regente Fritz Reiner e o violin- compositor é a Suíte de Danças, de 1925, em que as ista Joseph Szigeti, instigaram Serge Koussev- tensões da juventude se resolvem e já se anunciam itzky, lendário maestro da Sinfônica de Boston, algumas das características das obras de maturidade. a encomendar um trabalho de grande porte a Bartók se opunha ao racionalismo de Schoenberg, Bartók. Como adiantamento, o maestro deixou que pretendia com o dodecafonismo garantir a su- uma soma considerável junto ao leito do com- premacia futura da música alemã. Junto com nomes positor. A encomenda teve um efeito poderoso: como Stravinsky, o húngaro apontava para outros Bartók deixou o hospital e se retirou numa casa caminhos musicais, sem abrir mão da emoção mes- de repouso, onde o Concerto Para Orquestra foi mo nas empreitadas de maior rigor formal. escrito em pouco menos de oito semanas. Mais Em 1932, insatisfeito com as músicas que seus fi- ou menos na mesma época, compôs outras duas lhos tocavam nas aulas de piano, Bartók deu início à peças importantes: a Sonata Para Violino Solo, a composição de , uma coleção de exercícios pedido de Yehudi Menuhin, e o Concerto Para para estudantes. Nessa miríade de pequenas peças Viola, que deixou inacabado. cheias de humor, as dificuldades técnicas são aborda- Com uma liberdade que talvez não tenha das com muita imaginação, municiando até hoje o tra- sido exercida por nenhum outro compositor, balho de professores de música do mundo todo. a música de Bartók resiste a uma classificação Foi por encomenda de Paul Sacher, regente da nítida. Sua obra compreende tanto as formas e Orquestra de Câmara de Basel, que Bartók escreveu as estruturas da música ocidental como o uni- uma das peças mais marcantes do repertório sinfô- verso de sons estilizados que representavam a nico de todos os tempos: Música Para Cordas, Percussão natureza, e ainda o mundo da música folclórica, e Celesta, de 1936. Nela, o compositor indica uma com seus ritmos assimétricos e o parlando-ruba- disposição original dos instrumentos no palco: duas to, “a fala entoada”, por meio da alusão ou da orquestras de cordas separadas por tímpanos, xilo- transcrição literal das texturas dos conjuntos fone, caixas, pratos, tam-tam e bombo, tendo ao instrumentais camponeses. centro o piano, explorado em sua dupla condição de Bartók transitou entre o sistema tonal e as instrumento de cordas e de percussão. O sucesso foi diferentes inovações instituídas pela música do imediato, e a peça rapidamente entrou no repertó- século xx, do politonalismo ao atonalismo (sem rio de grandes maestros como Hermann Scherchen ignorar o serialismo), levando as dissonâncias ao e Sir Thomas Beecham. limite. Sua música é uma expressão do equilíbrio entre a síntese, característica do classicismo, e a o longo da década de 1930, as compo- desagregação. Não buscou harmonizar o confli- sições de Bartók se tornaram cada vez to entre essas duas vertentes, mas sim encontrar mais serenas, em contraste com as ten- uma forma de coexistência entre elas. sões políticas que sacudiam a Europa, e Aa Hungria em particular. Apesar de ser um nome consagrado internacionalmente, Bartók não tinha PAULO SCHILLER é psicanalista e tradutor. 5

CRO NOLOGIA 1881 Nasce no dia 25 de março em Nagyszentmiklós, 1908 Publica em Budapeste seu primeiro artigo sobre Hungria (atualmente Sânnicolau Mare, na música popular. Começa a pesquisar a música Romênia), filho de um diretor de escola agrícola folclórica romena. Finaliza o Concerto Para e de uma professora, ambos músicos amadores. Violino nº 1 (publicado só após sua morte) e compõe diversas peças para piano, incluindo 1886 Começa a estudar piano com sua mãe. Quatorze Bagatelas. 1888 Morre o pai de Bartók. Nos seis anos seguintes, 1909 Casa com sua aluna de piano Márta Ziegler (1893- a família se muda frequentemente. -1967). Finaliza o Quarteto de Cordas nº 1. 1890 Escreve sua primeira composição, uma valsa. 1910 Nasce seu primeiro filho, Béla. 1894 A família de Bartók se estabelece em Pozsony, 1912 Compõe Quatro Peças Para Orquestra (cuja Hungria (atualmente Bratislava, na Eslováquia), orquestração seria concluída apenas em 1921). permitindo que ele se dedique de forma rotineira aos estudos gerais e de música. 1913 Trabalha com a coleta de música popular na Argélia. Lança seu primeiro livro de 1895 Sucede Erno Dohnányi como organista na etnomusicologia, sobre a música popular romena capela da escola. do distrito de Biharia. 1899 Inicia estudos em piano e composição na 1914 Eclode a Primeira Guerra Mundial, e Bartók é Academia de Música de Budapeste. Passa a ter rejeitado no serviço militar. Começa a compor o graves problemas respiratórios. balé O Príncipe de Madeira. 1901 Obtém sucesso como pianista em Budapeste, 1915 Trabalha com a coleta de música popular durante interpretando a Sonata Para Piano em Si Menor, suas visitas às regiões eslovacas. Compõe diversas de Liszt. peças para piano, incluindo , Danças Folclóricas Romenas e Canções Natalinas Romenas. 1903 Interpreta sua transcrição para piano de Ein Heldenleben [Uma Vida de Herói], de Richard 1917 Estreia do balé O Príncipe de Madeira, em Strauss, em Viena. Apresenta seu primeiro recital Budapeste, com grande sucesso. Finaliza o solo, em Nagyszentmiklós. Quarteto de Cordas nº 2. 1904 Seu poema sinfônico Kossuth é interpretado em 1918 Estreia da ópera O Castelo de Barba Azul, Budapeste e Manchester. Compõe Rapsódia Para composta em 1911. Contrai gripe espanhola. Piano, que considera seu Op.1. Assina contrato com a editora Universal, de Viena. 1905 Participa como pianista e compositor da 1919 Volta a se apresentar em concertos em Budapeste. Competição Rubinstein, em Paris, sem sucesso. Finaliza a composição O Mandarim Miraculoso Compõe a Suíte nº 1 e os três primeiros (que só seria orquestrada em 1924). movimentos da Suíte nº 2. 1921 Escreve muitos artigos para publicações 1906 Publica os primeiros arranjos de música popular estrangeiras. Compõe a Sonata nº 1 Para Violino e húngara com Zoltán Kodály. Inicia expedições Piano, inspirado pela violinista Jelly d’Arányi. anuais coletando música popular, utilizando um fonógrafo. 1922 Parte para uma longa e bem-sucedida turnê pela Europa. Participa da fundação da International 1907 Passa a integrar o corpo de pianistas da Academia Society For Contemporary Music (ISCM), em de Música de Budapeste, onde permanece até 1934. Salzburgo. Compõe a Sonata nº 2 Para Violino e Piano.

6 1923 Divorcia-se de Márta e casa-se com a pianista 1939 Depois de romper com a editora Universal, Ditta Pásztory (1903-82). assina contrato com a Boosey & Hawkes. Com o falecimento de sua mãe, decide deixar a 1926 Sua peça O Mandarim Miraculoso estreia em Hungria. Completa a série dos Mikrokosmos e Colônia, gerando polêmica. Compõe a Sonata compõe Divertimento Para Cordas e o Quarteto Para Piano e o Concerto nº 1 Para Piano. Começa de Cordas nº 6. a compor Mikrokosmos. 1940 Faz turnê pelos Estados Unidos e se muda para 1927 Faz sua primeira turnê pelos Estados Unidos, que Nova York. Recebe o título de doutor honoris dura até 1928. Compõe o Quarteto de Cordas causa da Universidade de Columbia. nº 3, ganhando o primeiro lugar pela peça, empatado com Alfredo Casella, numa competição 1941 Inicia uma parceria para pesquisa em em Filadélfia. etnomusicologia na Universidade de Columbia. Apresenta-se em concerto ocasionalmente, em 1928 Faz as primeiras gravações comerciais de seu geral em companhia de sua esposa Ditta Pásztory. trabalho. Compõe o Quarteto de Cordas nº 4. Escreve arranjo para dois pianos da Suíte nº 2. 1929 Faz turnê pela União Soviética. Compõe Vinte 1942 Passa por um período de depressão com a Canções Folclóricas Húngaras, para voz e piano. diminuição de seus concertos, aulas e publicações. Concentra suas energias 1930 Compõe e Quatro Canções na etnomusicologia. Folclóricas Húngaras, para coro misto. Edwin von der Nüll publica em Halle o primeiro estudo 1943 Faz seus últimos concertos em público. Apresenta sobre todo o trabalho de Bartók. o Concerto Para Dois Pianos, Percussão e Orquestra, em Nova York. Começa a dar 1931 Finaliza a composição do Concerto nº 2 aulas como professor convidado na Universidade Para Piano. de Harvard, mas o avanço de seus problemas de saúde o obrigam a parar. Compõe Concerto Para 1933 Estreia do Concerto nº 2 Para Piano, em Orquestra, comissionado pela Koussevitzky Frankfurt. É a última apresentação do Music Foundation. compositor na Alemanha. 1945 Compõe o Concerto nº 3 Para Piano. Escreve uma 1934 Deixa de atuar como professor na Academia primeira versão do Concerto Para Viola, de Música de Budapeste e passa a integrar encomendado por William Primrose, e algumas o Departamento de Música Popular da Academia ideias para um próximo Quarteto de Cordas, que Húngara de Ciências, onde permanecerá não chega a concluir. Morre de leucemia no dia até 1940. Compõe o Quarteto Para Cordas 26 de setembro, em Nova York. nº 5, encomendado pela Biblioteca do Congresso de Washington. 1936 Compõe Música Para Cordas, Percussão e Celesta, encomenda do maestro suíço Paul Sacher. 1937 Proíbe que suas obras sejam tocadas nas rádios alemãs e italianas. Compõe a Sonata para Dois Pianos e Percussão. 1938 Antevendo um futuro incerto, começa a retirar seus manuscritos da Hungria. Compõe Contrastes, por encomenda de Benny Goodman, e finaliza o Concerto nº 2 Para Violino. 7

OBRAS DE BARTÓK NA TEMPORADA

8 2016 DA OSESP QUARTETO DE ABRIL, 17 CORDAS Nº1

QUARTETO DE JUNHO,12 CORDAS Nº2

QUARTETO DE SETEMBRO, 11 CORDAS Nº3

éla Bartók tinha 26 anos quando compôs seu primeiro quarteto de cordas. Era relati- vamente recente o impacto que a Sonata em Si Menor, de Liszt, e Assim Falou Zaratustra, Bde Richard Strauss, causaram no jovem compositor, que os escutara nos anos de 1901 e 1902, respectiva- mente, e o levaram à composição do poema sinfôni- co Kossuth (1903). Apesar de já ser obra representa- tiva da fase “húngara”, iniciada por volta de 1907, o Quarteto de Cordas nº 1 ainda guarda certas reminis- cências da juventude do compositor. O primeiro movimento, “Lento”, tem três par- tes, organizadas no padrão A-B-A, sendo a parte A densamente cromática e melancolicamente expres- siva. A seção central B é marcada pelo pedal em cordas duplas na região grave do violoncelo, dando suporte a melodias expressivas e de caráter recita- tivo, inicialmente na viola, depois no primeiro vio- lino. Essas são características do estilo appassionato de Bartók, presente no “Andante” inicial de Dois Retratos (1907), composto como representação idealizada da violinista Stefi Geyer — com quem esteve envolvido emocionalmente —, e depois rea- proveitado como primeiro movimento do Concerto Para Violino nº 1, dedicado a ela. O segundo movimento tem maior variedade expressiva, preservando em parte o caráter apai- xonado do “Lento”, mas acrescentando pitadas de humor e até mesmo certa violência, expressa pelos ostinatos e pelas sonoridades mais ásperas de certos acordes que combinam os extremos grave e agu- do. Pode-se dizer que o movimento se assemelha ESTÁTUA DE BÉLA BARTÓK EM BUDAPESTE a um scherzo, revelando bem a extensão emocional da música de Bartók, em que o retorno das seções sempre sofre alguma modificação substancial de caráter e de material harmônico, como o eventual uso da escala de tons inteiros. No terceiro e último movimento, Bartók reúne diversos gestos retóricos, explorando expressiva- 9 mente o estilo recitativo da introdução, associado repudiava —, e as estruturas rítmicas e harmônicas com ostinatos a partir de notas repetidas, como é co- se baseiam em proporções simétricas, ao invés da mum nas músicas de caráter popular ao violino ou à convencional dicotomia entre consonância e disso- rabeca. Usa frases em uníssono (ou em oitavas) nos nância. O musicólogo Ernö Lendvai sustenta que o quatro instrumentos, denotando a ideia de força, princípio da proporção áurea está presente em di- energia e comunhão, presentes na vida rústica e na versos aspectos da criação bartokiana.1 simplicidade do camponês. A música de Bartók des- Porém, Bartók não renega totalmente a tradi- se período reflete sua busca por uma identidade que ção musical europeia: o primeiro movimento do extrapola as complexas relações políticas do Leste Quarteto nº 2 é uma adaptação da forma-sonata Europeu, inserindo-se na cultura húngara e, muitas clássica, segundo os novos critérios que o com- vezes, se estendendo por toda a região dos Bálcãs. positor passou a pôr em prática. A exposição tem três temas, que reaparecem modificados e e no Quarteto de Cordas nº 1 (1907-8), ainda abreviados na recapitulação; a seção de desenvol- se encontram ecos de sua admiração pela vimento começa em estilo imitativo, a partir do música de Richard Strauss (1864-1949), o motivo do primeiro tema. SQuarteto nº 2 apresenta elementos que mol- O segundo movimento tem pelo menos três daram seu novo estilo de composição, forjado a par- partes marcantes: a seção inicial, com suas rápidas tir da sua pesquisa da música folclórica, iniciada em escalas em estilo cigano; a melodia expressiva do 1905. O mergulho nessas pesquisas foi tão profundo primeiro violino, com acompanhamento em pizzi- que modificou a maneira como Bartók compreen- cato; e o prestíssimo, em que as rápidas escalas de dia a música, seus processos de criação e de escuta. todos os instrumentos criam uma textura cuja flui- Basta dizer que o compositor se tornou um dos fun- dez antecipa certas criações de Ligeti (1923-2006). dadores de uma nova disciplina, a etnomusicologia. O espírito geral, entre o burlesco e o irônico, bem Inspirado pelo método do musicólogo finlandês como a forma, faz lembrar um scherzo. Ilmari Krohn (1867-1960), Bartók passou a buscar O terceiro movimento é sóbrio, de uma expres- novos “genótipos musicais”, catalogando caracte- sividade sem excessos. Começa com um tema à rísticas essenciais a partir das melodias populares maneira de diálogo entre os instrumentos, suge- que recolhia e anotava com precisão. Dentre essas re mudança para algo mais livremente melódico, características, estão os tipos de escala (ou modos), e logo retorna à trama densamente cromática do definindo constâncias que se tornaram identidade contraponto livre e atonal que caracteriza a lingua- cultural de um grupo étnico, povo ou nação; a for- gem harmônica do compositor. ma; o número de linhas melódicas; a nota cadencial de cada linha (a nota que, associada ao ritmo, dá uma m 1922, Bartók juntou-se a Igor Stravinsky, sensação de repouso à frase musical); a estrutura rít- Darius Milhaud e Alban Berg para fundar mica e silábica; e o âmbito (o alcance e o registro — a ISCM (International Society For Con- grave, médio ou agudo — da melodia). temporary Music), em Salzburgo. A Suíte E 1926 Ao considerar a música dos camponeses uma Lírica, para quarteto de cordas ( ), de Berg, manifestação artística pura, Bartók passou a desen- foi estreada nos concertos da ISCM e, segundo o volver procedimentos baseados nesses elementos musicólogo Elliott Antokoletz, teria influenciado “étnicos”, buscando se distanciar do sentimentalis- Bartók a compor os Quartetos nº 3 e nº 4. mo exagerado e de outras convenções presentes na Os quatro movimentos do Quarteto nº 3 são música europeia do século xix. Sua obra se torna tocados continuamente, sem interrupções. Ape- progressivamente “atonal” — termo que ele mesmo sar de intitulada “recapitulação”, a terceira parte

1. O musicólogo húngaro Ernö Lendvai (1925-93) foi um dos principais divulgadores fora da Hungria da obra e dos processos criativos de Bartók, e escreveu livros de referência sobre o compositor traduzidos para o inglês. O uso da proporção áurea e da sequência de Fibonacci nos ritmos e nas melodias de Bartók é um dos aspectos mais relevantes no 10 trabalho analítico de Lendvai. não é uma repetição exata da primeira, e a coda CONCERTO Nº2 MAIO, 26, 27, 28 (quarto movimento) acaba sendo correspondente PARA VIOLINO ao segundo movimento. A primeira seção, ou movimento, é a mais cur- esquisador exemplar e gênio da composição, ta e alterna entre apresentações do tema principal Béla Bartók mergulhou na busca de fontes fol- — apresentado logo após a sustentação do acorde clóricas para sua criação, no que de alguma inicial — e suas elaborações. Esse tema retorna no Pmaneira se encaixa o que por vezes se chama final da seção, tocado pela viola e pelo primeiro de “nacionalismo musical”. Contudo, tinha espírito violino sobre um ostinato do violoncelo. eminentemente crítico, em oposição às ideologias que A entrada do segundo movimento é marca- fortaleciam as pseudorraízes nacionais para construir da pelo trinado do segundo violino, seguido pelo uma superioridade violenta e cruel, como a do nazis- glissando ascendente da viola, com sequência de mo. Daí a sagacidade das formulações que podemos acordes de três notas no violoncelo. As melodias encontrar em seus muitos textos de etnomusicologia: são tocadas em pares de instrumentos, com diver- “O pesquisador [de música folclórica] deve esforçar-se sas texturas de acompanhamento, até a chegada de para esquecer todo sentimento nacional”; “querer se uma fuga dupla, cujo sujeito é apresentado pelo se- preservar de influências estrangeiras é retroceder” e gundo violino e pela viola, e respondido a seguir “a construção de muralhas da China para separar os pelo primeiro violino e pelo violoncelo. povos entre si seria evidentemente nociva ao desen- A dinâmica se intensifica, levando a uma pas- volvimento [da música folclórica]”. sagem em que os instrumentos tocam amplos glis- Já se notou o clima “folclorístico” do Concerto nº 2 sandos, passagens em que os dedos dos músicos Para Violino, de 1937-8. A peça traz também medi- “escorregam” rapidamente pela escala dos instru- tações a respeito dos aportes de Debussy e do do- mentos, dando uma sensação vertiginosa. Então, decafonismo vienense — sobre o segundo tema do o movimento se aquieta um pouco e leva às seções “Allegro Non Troppo”, Bartók teria dito que queria seguintes, em que começam as recapitulações mostrar a Schoenberg “que é possível empregar a modificadas da primeira e da segunda partes. técnica dos doze sons e permanecer tonal”. Apesar de extremamente conciso, com cerca de O resultado é uma obra que atinge a beleza quinze minutos, o Quarteto nº 3 de Bartók é uma das mais transcendente. Momentos líricos, profun- obras mais influentes do século xx e uma das mais dos e melancólicos alternam-se com ritmos que importantes da literatura para quarteto de cordas. se desencadeiam, ásperos. O Concerto fora enco- O ciclo de seis quartetos de Bartók equipara-se aos mendado pelo grande violinista Zoltán Székely, últimos quartetos de Beethoven como referências amigo e parceiro do compositor. Bartók criou incontornáveis para que as gerações posteriores de uma partitura de tremenda dificuldade para o compositores de todo o mundo explorem ao máxi- solista, colocando em evidência as qualidades do mo a expressividade e as possibilidades desse gênero. executante. Mas em nenhum momento essas exi- gências surgem apenas para o brilho do virtuose. Tudo em Bartók é rigor: um homem que, na vida PAULO DE TARSO SALLES é compositor, professor de e na arte, recusou sempre todas as concessões. teoria musical no Departamento de Música da ECA-USP [2009] e autor dos livros Aberturas e Impasses: o Pós-modernis- mo na Música e Seus Refl exos no Brasil, 1970-1980 JORGE COLI é professor na área de história da arte e (Ed. Unesp, 2005) e Villa-Lobos: Processos Composicio- da cultura na Unicamp e autor de A Paixão Segundo a nais (Ed. Unicamp, 2009). Ópera (Perspectiva, 2003).

11 CONCERTO PARA JUNHO, 16, 17,18 VIOLA

DIVERTIMENTO PARA JUNHO, 5 CORDAS

uando morreu, em setembro de 1945, em Nova York, Béla Bartók deixou inacabadas duas obras: o QConcerto Para Piano nº 3, que dese- A RAZÃO ÁUREA java entregar como presente de aniversário à sua mulher, a pianista Ditta Pásztory, e o Concerto E A SÉRIE DE Para Viola, encomendado em 1944 pelo violista FIBONACCI escocês William Primrose. Acometido por leucemia e já bastante debili- tado, Bártok produziu catorze páginas de notas musicais, que constituíram a base do trabalho póstumo de conclusão da obra, realizado por seu amigo compositor e violista Tibor Serly. A super- posição de diversas correções no manuscrito e as inerentes incertezas quanto ao seu teor ensejaram o surgimento de novas revisões, entre as quais se notabiliza a que foi editada pelo filho do composi- tor, Peter Bartók, em 1995. Apesar do rigor dessas novas revisões, é a ver- Desde a antiguidade clássica, a razão áurea é são original de Tibor Serly — executada em pri- tida no mundo das artes como a mais agradável meira audição em dezembro em 1949 pelo próprio proporção entre dois segmentos e duas medidas. Primrose à frente da Orquestra de Minneapolis, Gerou fascínio entre os criadores pois é encontra- sob a regência de Antal Doráti — que vem sendo da na natureza – nas pétalas e folhas, nas conchas predominantemente adotada pelas orquestras no e no corpo humano, nas moléculas de DNA e até mundo [e que será interpretada pela Osesp]. mesmo nos furacões e nas espirais galácticas. Piet Em três movimentos, o Concerto Para Viola tem Mondrian, Le Corbusier e Leonardo da Vinci entre a mesma simplicidade de forma e transparência outros artistas, matemáticos e arquitetos, incorpo- orquestral do Concerto nº 3 Para Piano e, como ravam e incorporam a razão ou proporção áurea sempre na obra de Bartók, é marcado pelo rigor em seus trabalhos. A razão áurea é gerada pela di- estrutural e pelo uso constante da razão áurea e visão de uma linha em duas partes, de modo que da série de Fibonacci. a parte maior dividida pela parte menor é igual a No primeiro movimento, a viola em solo enun- todo o comprimento da linha dividido pela parte cia uma melodia popular modal que inclui refe- mais longa. Em forma de equação, é representada rências ao folclore escocês, possivelmente como pela fórmula: a / b = (a + b) / a. homenagem ao patrocinador da obra. Obedecendo Já a série de Fibonacci é uma sequência de à forma-sonata clássica, a melodia se alterna com números inteiros na qual cada elemento da série é cantilenas, passagens dramáticas e virtuosísticas. gerado pela soma dos dois anteriores: 0, 1, 1, 2, Um interlúdio conduzido pela viola em solo 3, 5, 8, 13, etc. Pares de números adjacentes nesta abre o segundo movimento, para o qual Serly em- série de Fibonacci, à medida que a sequência tende presta a mesma marcação de andamento, “Adagio ao infinito, se aproximam cada vez mais da pro- Religioso”, utilizada por Bartók no movimento 12 porção áurea. intermediário do Concerto nº 3 Para Piano. O mo- vimento se caracteriza pelo forte contraste en- O Divertimento revela uma clareza predomi- tre o lirismo das melodias em solo concertante nantemente diatônica, que encontra paralelos em da viola, o acompanhamento em coral realizado obras de Stravinsky, Prokofiev e Hindemith do pelas cordas e a presença episódica de floreios rít- mesmo período. A peça é construída com enorme micos da seção de madeiras. rigor, estruturada mais uma vez pelo uso da seção Um novo interlúdio conduz ao último movimen- áurea e da série de Fibonacci. to, suspiro criativo final do grande compositor. No primeiro e no terceiro movimentos, melo- dias populares misturam-se a ritmos pulsantes, o verão de 1939, com 58 anos e já que se entrelaçam sob formas tradicionais (forma- amplamente reconhecido, Béla Bar- -sonata e forma rondó, respectivamente) e exalam tók instalou-se num chalé em Saa- vigor, extroversão e bom humor. O segundo mo- Nnen, na Suíça, com a incumbência de vimento, por outro lado, é trágico e sombrio, sem escrever uma obra para a Orquestra de Câmara da perder o caráter de extrema delicadeza e profundi- Basileia, que resultou no Divertimento Para Cordas. dade. Ao escrevê-lo, talvez Bartók já pressentisse A encomenda fora feita pelo jovem regente, os trágicos eventos que marcariam o mundo e sua empresário e filantropo suíço Paul Sacher (1906- Hungria natal. 99), responsável também por encomendas de obras de outros grandes nomes da música do sé- PATRICIA VANZELLA é doutora em música pela Catho- culo xx, como Stravinsky, Strauss, Hindemith e lic University of America, coordenadora do Projeto Neu- Lutoslawski. Três anos antes, em 1936, na oca- rociência e Música da Universidade Federal do ABC e sião do aniversário de dez anos da Orquestra de professora adjunta no Departamento de Música da Uni- Cordas da Basileia, Sacher encomendara uma das versidade de Brasília. Formou-se em música na Escola de mais célebres obras do repertório bartokiano: Comunicações e Artes da USP e na Academia Superior Música Para Cordas, Percussão e Celesta. de Música Franz Liszt. Temporariamente isolado dos problemas eco- nômicos e políticos da Hungria e da atmosfera PHILIP YANG é mestre em administração pública pela Uni- de grande instabilidade que dominava a Europa versidade Harvard e fundador do Instituto Urbem. Formou- às vésperas da Segunda Grande Guerra, Bartók -se em música na Escola de Comunicações e Artes da USP respondeu rapidamente e, em apenas quinze dias, e na Academia Superior de Música Franz Liszt. compôs esta que é uma das obras mais leves e acessíveis de seu repertório. Com uma textura ao mesmo tempo delicada DANÇAS ROMENAS JUNHO, 16, 17, 18 e requintada, de caráter espirituoso e alegre, a obra cativa o ouvinte desde os compassos ini- MIKROKOSMOS AGOSTO, 7 ciais. Popularizado por Boccherini, Haydn e Mozart, o gênero divertimento caracteriza-se artók foi um dos pioneiros na pesquisa e na por composições que entretêm tanto os ouvin- coleta sistemática de melodias populares, tes como os intérpretes. Mas a obra de Bartók e por isso é considerado um dos primeiros não deixa de ser exigente do ponto de vista de Betnomusicólogos. Esse material teve impor- sua execução e jamais esbarra na frivolidade. tância vital na sua linguagem musical e foi a maneira Um número mínimo de instrumentistas em utilizada pelo compositor para se libertar da tradi- cada uma das seções da orquestra é especificado ção tonal-romântica. pelo compositor (seis primeiros violinos, seis se- As Danças Romenas nasceram como uma coleção gundos, quatro violas, quatro violoncelos e dois de peças para piano na década de 1910. São obras contrabaixos), que habilmente constrói o tecido curtas e leves, mas de grande qualidade musical. A musical no estilo de um concerto grosso barro- versão original, para piano, é ainda hoje a mais co- co, estabelecendo diálogos entre instrumentos nhecida. Mas o próprio Bartók arranjou as Danças solistas e massa orquestral. para orquestra e a popularidade da peça também 13 GRAVAÇÕES RECOMENDADAS motivou arranjos para diversas outras formações, como violino e piano, ou ainda sopros e cordas. CONCERTO FOR ORCHESTRA; FOUR ORCHESTRAL PIECES Chicago Symphony Orchestra s mais de 150 peças para piano que Pierre Boulez, regente compõem os seis volumes de Mikrokos- DEUTSCHE GRAMMOPHON, 1993 mos foram escritas entre 1926 e 1939. Concebido como repertório didático THE 3 PIANO CONCERTOS A para atender alunos iniciantes e avançados, o ci- Hungarian State Orchestra clo aproveita tanto elementos de tradições folcló- Adam Fischer, regente ricas quanto harmonias e ritmos empregados na György Sándor, piano música mais avançada de seu tempo.

SONY, 1991 CAMILA FRÉSCA é jornalista, doutora em música

PIANO CONCERTOS Nº 1-3 pela ECA-USP e autora de Uma Extraordinária Reve- Budapest Festival Orchestra lação de Arte — Flausino Vale e o Violino Brasileiro Iván Fischer, regente (Annablume, 2010). András Schiff, piano

APEX, 2011 CONCERTO PARA OUTUBRO, 13, 14, 15 THE PIANO CONCERTOS ORQUESTRA BBC Philharmonic Gianandrea Noseda, regente Jean-Effl am Bavouzet, piano bra sinfônica essencial da primei- CHANDOS, 2010 ra metade do século xx, o Concerto Para Orquestra, de Béla Bartók, é, COMPLETE SOLO PIANO MUSIC de certa forma, um testamento, György Sándor, piano O 1944 pois estreou em dezembro de , cerca de VOX, 2003 nove meses antes de sua morte. Pela recepção que teve no meio musical e pela sua imediata popularidade, o Concerto foi incorporado defini- Budapest Festival Orchestra tivamente no repertório das grandes orquestras Iván Fischer, regente e despertou um interesse renovado por toda a PHILIPS, 1998 obra do compositor. Embora “concerto” designe habitualmente THE MIRACULOUS MANDARIN; uma peça em que a orquestra acompanha um ou ; HUNGARIAN PICTURES mais instrumentos solistas, Bartók, para quem a Bournemouth Symphony Orchestra sinfonia havia de certa forma se esgotado, esco- Marin Alsop, regente lheu o termo pelo tratamento virtuosístico dado NAXOS, 2005 a algumas seções da orquestra. O primeiro movimento se inicia com uma in- CONCERTO FOR ORCHESTRA; trodução de caráter misterioso que, ao se desen- MUSIC FOR STRINGS, PERCUSSION AND CELESTA; HUNGARIAN SKETCHES volver, alterna passagens austeras para os metais Chicago Symphony Orchestra — talvez chamados para a eterna luta do povo Fritz Reiner, regente húngaro — com episódios de profundo lirismo, RCA, 1993 expressões da nostalgia de Bartók pela terra natal. O segundo movimento consiste numa sequên- cia de partes independentes em que os instrumen- 14 tos de sopro se apresentam aos pares, começando THE 6 STRING QUARTETS Quartet Takács

DECCA, 1997

VIOLIN CONCERTO Nº 2; Symphony Orchestra Saint Louis Leonard Slatkin, regente Pinchas Zukerman, violino e viola

BMG, 1991

DANCE SUITE; HUNGARIAN PICTURES; TWO PICTURES; ; ROMANIAN DANCE Hungarian State Symphony Orchestra Adam Fischer, regente

NIMBUS, 2000

VIOLIN CONCERTO Nº 2; RHAPSODIES FOR VIOLIN & ORCHESTRA BARTÓK E SUA MULHER DITTA PÁSZTORY SE APRESENTAM EM Hungarian National Philharmonic Orchestra BUDAPESTE, EM 29 DE MARÇO DE 1938 Zoltán Kocsis, regente Barnabás Kelemen, violino

HUNGAROTON, 2010

pelos fagotes, seguidos pelos oboés, pelos clarine- CONCERTO FOR ORCHESTRA; tes, pelas flautas e pelos trompetes com surdina. MUSIC FOR STRINGS, PERCUSSION AND CELESTA A “Elegia” central empresta o material temá- Baltimore Symphony Orchestra tico do início do primeiro movimento. O clima Marin Alsop, regente é de um canto fúnebre sombrio. No movimen- NAXOS, 2012 to seguinte, o compositor declara o amor pela pátria numa delicada serenata, interrompida de VIOLIN SONATAS súbito por um tema que ridiculariza a marcha Isabelle Faust, violino inicial da Sinfonia nº 7 — Leningrado, de Shos- Ewa Kupiec, piano takovich, que Bartók ouvira pelo rádio no leito Florent Boffard, piano do hospital. HARMONIA MUNDI, 2010 O “Finale” é uma mescla exuberante de temas folclóricos recolhidos por Bartók em viagens pela Hungria, Transilvânia e Eslováquia durante a juventude. Na apresentação que escreveu para o progra- ma de estreia do Concerto, Bartók diz que “a at- mosfera geral da obra representa — à exceção da jocosidade do segundo movimento — uma transição gradativa do início e da canção lúgubre do terceiro movimento para a afirmação final da vida num paroxismo de danças em que todos os povos do mundo se dariam as mãos”. [2012]

PAULO SCHILLER é psicanalista e tradutor. 15 BARTÓK NA SALA DE SUA CASA EM BUDAPESTE,

EM 1908

PRINCIPAIS OBRAS BALÉ E ÓPERA MÚSICA DE CÂMARA O Castelo do Barba Azul [1911] Sonata nº 1 Para Violino e Piano [1921] O Príncipe de Madeira [1914-7] Sonata nº 2 Para Violino e Piano [1922] O Mandarim Miraculoso [1918-24] Rapsódia nº 1 Para Violino e Piano [1928] Rapsódia nº 2 Para Violino e Piano MÚSICA ORQUESTRAL [1928, revisada em 1935] Kossuth [1903] Sonata Para Dois Pianos e Percussão [1937] Táncszvit [Suíte Para Dança] [1923] Contrastes Para Violino, Clarinete e Piano [1938] Música Para Cordas, Percussão e Celesta [1936] Sonata Para Violino Solo [1944] Divertimento Para Cordas [1939] Concerto Para Orquestra [1943, revisado em 1945] QUARTETOS DE CORDAS Quarteto de Cordas nº 1 [1908-9] CONCERTOS Quarteto de Cordas nº 2 [1914-7] Concerto nº 1 Para Piano [1926] Quarteto de Cordas nº 3 [1927] Concerto nº 2 Para Piano [1930-1] Quarteto de Cordas nº 4 [1928] Concerto nº 3 Para Piano [1945] Quarteto de Cordas nº 5 [1934] Concerto nº 1 Para Violino [1907-8] Quarteto de Cordas nº 6 [1939] Concerto nº 2 Para Violino [1937-8] Concerto Para Dois Pianos, Percussão e Orquestra [1940] MÚSICA PARA PIANO Concerto Para Viola [1945] [finalizado por Tibor Serly] Rapsódia [1904] Para Crianças [1908-10] MÚSICA VOCAL Quinze Canções Camponesas Húngaras [1914-8] Quatro Canções Folclóricas Húngaras Antigas Danças Romenas [1915] [1910, revisadas em 1926] Oito Improvisações Sobre Canções Falun: Três Cenas de um Vilarejo [1926] Camponesas Húngaras [1920] Cantata Profana (Os Nove Cervos Encantados) [1930] Suíte Para Dança [1925] Desde os Tempos Antigos [1935] Mikrokosmos [1926-39] Sete Coros Com Orquestra [1937-41]

16 ORQUESTRA SINFÔNICA DO ESTADO DE SÃO PAULO

DIRETORA MUSICAL E REGENTE TITULAR MARIN ALSOP REGENTE ASSOCIADO CELSO ANTUNES DIRETOR ARTÍSTICO ARTHUR NESTROVSKI

FUNDAÇÃO OSESP PRESIDENTE DE HONRA FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO PRESIDENTE FÁBIO COLLETTI BARBOSA VICE-PRESIDENTE ANTONIO CARLOS QUINTELLA CONSELHEIROS ALBERTO GOLDMAN HEITOR MARTINS HELIO MATTAR JOSÉ CARLOS DIAS LILIA MORITZ SCHWARCZ MANOEL CORRÊA DO LAGO PAULO CEZAR ARAGÃO PEDRO PARENTE SÁVIO ARAÚJO

CONSELHO DE ORIENTAÇÃO PEDRO MOREIRA SALLES FERNANDO HENRIQUE CARDOSO CELSO LAFER HORACIO LAFER PIVA JOSÉ ERMÍRIO DE MORAES NETO

CONSELHO FISCAL JÂNIO GOMES MANOEL BIZARRIA GUILHERME NETO MIGUEL SAMPOL POU

CONSELHO CONSULTIVO ANDRÉ VITOR SINGER ANTONIO CARLOS CARVALHO DE CAMPOS ANTONIO CARLOS VALENTE DA SILVA AUGUSTO LUIS RODRIGUES DRAUZIO VARELLA EDUARDO GIANNETTI EDUARDO PIRAGIBE GRAEFF EUGÊNIO BUCCI FÁBIO MAGALHÃES FRANCISCO VIDAL LUNA GUILHERME WISNIK GUSTAVO ROXO FONSECA JAC LEIRNER JAYME GARFINKEL JOSÉ EUSTACHIO JOSÉ HENRIQUE REIS LOBO JOSÉ PASTORE JOSÉ ROBERTO WHITAKER PENTEADO LORENZO MAMMÌ O CONTEÚDO DAS NOTAS DE PROGRAMA LUIZ SCHWARCZ É DE RESPONSABILIDADE DE SEUS RESPECTIVOS AUTORES MONICA WALDVOGEL NELSON RUSSO FERREIRA EDIÇÃO FINALIZADA EM 22 DE MARÇO DE 2016 PERSIO ARIDA PHILIP YANG EDITOR RICARDO TEPERMAN RAUL CUTAIT RICARDO LEAL SUPERVISÃO EDITORIAL ANA PAULA MONTEIRO RICARDO OHTAKE RÔMULO DE MELLO DIAS ASSISTENTE EDITORIAL KAREN FERREIRA SÉRGIO ADORNO SÉRGIO GUSMÃO SUCHODOLSKI PREPARAÇÃO DE TEXTOS FLÁVIO CINTRA DO AMARAL STEFANO BRIDELLI TATYANA FREITAS REVISÃO LUIZ FUKUSHIRO THILO MANNHARDT VITOR HALLACK PROJETO GRÁFICO FUNDAÇÃO OSESP WILLIAM VEALE ZÉLIA DUNCAN

DIRETORIA EXECUTIVA A OSESP ENVIDOU TODOS OS ESFORÇOS PARA LICENCIAR AS MARCELO LOPES DIRETOR EXECUTIVO IMAGENS E TEXTOS CONTIDOS NESTA EDIÇÃO. TEREMOS PRAZER FAUSTO A. MARCUCCI ARRUDA SUPERINTENDENTE EM CREDITAR OS PROPRIETÁRIOS DE DIREITOS QUE PORVENTURA NÃO TENHAM SIDO LOCALIZADOS.

CRÉDITOS BÉLA BARTÓK © HUNGARIAN ACADEMY OF SCIENCES INSTITUTE FOR MUSICOLOGY BARTÓK NA TURQUIA © HUNGARIAN ACADEMY OF SCIENCES INSTITUTE FOR MUSICOLOGY ESTÁTUA DE BÉLA BARTÓK © LEONARD REYNOLDS CONCERTO EM DUO COM SUA ESPOSA DITTA PÁSZTORY © HUNGARIAN ACADEMY OF SCIENCES INSTITUTE FOR MUSICOLOGY BARTÓK NA SALA DE SUA CASA EM BUDAPESTE © HUNGARIAN ACADEMY OF SCIENCES INSTITUTE FOR MUSICOLOGY 5 OSESP.ART.BR

REALIZAÇÃO

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