CÂMARA DOS DEPUTADOS

DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO

NÚCLEO DE REDAÇÃO FINAL EM COMISSÕES

TEXTO COM REDAÇÃO FINAL

COMISSÃO ESPECIAL - PL 4874/01 - ESTATUTO DO DESPORTO EVENTO: Audiência Pública N°: 0129/02 DATA: 19/03/02 INÍCIO: 15:01 TÉRMINO: 17:46 DURAÇÃO: 02:45 TEMPO DE GRAVAÇÃO: 02:57 PÁGINAS: 66 QUARTOS: 34 REVISÃO: GILBERTO, LEINE, LIA, LUCI, MARLÚCIA, WALDECÍRIA SUPERVISÃO: ANA MARIA, CLÁUDIA LUIZA, LETÍCIA, YOKO, ZUZU CONCATENAÇÃO: LETÍCIA

DEPOENTE/CONVIDADO - QUALIFICAÇÃO WILSON DA SILVA PIAZZA - Presidente da Federação das Associações de Atletas Profissionais — FAAP. JORGE KAJURU - Jornalista da Rede TV! JOSÉ DA CRUZ E SOUZA - Jornalista esportivo do jornal Correio Braziliense.

SUMÁRIO: Discussão sobre o Estatuto do Desporto.

OBSERVAÇÕES Há orador não identificado. CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Nome: Comissão Especial - PL 4874/01 - Estatuto do Desporto Comissão Esp. - PL 4874/01 - Estatuto do Desporto Número: 0129/02 Data: 19/03/02

O SR. PRESIDENTE (Deputado José Rocha) – Havendo número regimental, declaro aberta a 12ª reunião da Comissão Especial destinada a apreciar e proferir parecer ao Projeto de Lei nº 4.874/01, que institui o Estatuto do Desporto.

Esclareço que o Presidente desta Comissão, Deputado Jurandil Juarez, está ausente devido a compromissos no Pará.

Informo aos Srs. Parlamentares que foi distribuída cópia da ata da 11ª reunião. Indago ao Plenário se há necessidade de sua leitura.

O SR. DEPUTADO RONALDO VASCONCELLOS – Sr. Presidente, solicito a dispensa da leitura da ata da reunião anterior.

O SR. PRESIDENTE (Deputado José Rocha) – Dispensada a leitura. Em discussão a ata. (Pausa.)

Não havendo quem queira discuti-la, coloco-a em votação.

Em votação.

Os Deputados que a aprovam permaneçam como se encontram. (Pausa.)

Aprovada.

Expediente.

Informo que o prazo inicial desta Comissão, de quarenta sessões, expirou-se no dia 10 deste mês. Foi deferida, pelo Presidente da Câmara, prorrogação por mais vinte sessões, prazo que deverá expirar-se no dia 10 de abril. Informo ainda que o

Presidente da Comissão, Deputado Jurandil Juarez, oficiou ao novo Ministro do

Esporte e Turismo, Caio Luiz de Carvalho, a fim de agendar data para audiência pública requerida pelo Deputado Silvio Torres e aprovada na reunião anterior. A data ainda não foi definida.

Ordem do Dia.

1 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Nome: Comissão Especial - PL 4874/01 - Estatuto do Desporto Comissão Esp. - PL 4874/01 - Estatuto do Desporto Número: 0129/02 Data: 19/03/02

Esta reunião foi convocada para ouvirmos, em audiência pública, o Sr. Wilson da Silva Piazza, Presidente da Federação das Associações de Atletas Profissionais

— FAAP; o jornalista Jorge Kajuru, apresentador e comentarista do programa Bola na Rede, da Rede TV!; e o Sr. José da Cruz e Sousa, jornalista esportivo do

Correio Braziliense.

Convido os expositores a tomarem assento à Mesa. (Pausa.)

Com a presença do Relator, Deputado Gilmar Machado, está composta a

Mesa.

Esclareço que para melhor andamento dos trabalhos usaremos os seguintes critérios: cada expositor disporá de vinte minutos para sua exposição, não podendo ser aparteado. Os Deputados interessados em interpelar os convidados deverão fazê-lo estritamente sobre o assunto da exposição, pelo prazo de três minutos, tendo o expositor igual tempo para responder. São facultadas a réplica e a tréplica pelo mesmo prazo, sendo vedado aos expositores interpelar quaisquer dos presentes.

Peço aos Deputados que se inscrevam previamente junto à Secretaria.

Concedo a palavra ao Sr. Wilson da Silva Piazza, Presidente da FAAP, por vinte minutos, para falar sobre o projeto do Estatuto do Desporto sob a ótica de dirigente e de ex-atleta.

O SR. WILSON DA SILVA PIAZZA – Sr. Presidente, Deputado José Rocha,

Sr. Relator, Deputado Gilmar Machado, demais membros da Mesa, Sras. e Srs.

Deputados, imprensa, dirigentes dos segmentos esportivos, é com muita satisfação que atendi ao convite da Comissão, por intermédio do Deputado e amigo Ronaldo

Vasconcellos, com quem sempre temos realizado reuniões para tratar do desporto

2 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Nome: Comissão Especial - PL 4874/01 - Estatuto do Desporto Comissão Esp. - PL 4874/01 - Estatuto do Desporto Número: 0129/02 Data: 19/03/02 brasileiro, visando ao aperfeiçoamento da legislação e das propostas que venham a melhorar aquilo de que há muito tempo nosso desporto carece em âmbito nacional.

O desporto no País é um tema bastante complexo, principalmente no momento que atravessamos. Há, realmente, necessidade de uma legislação que atenda mais de perto aos anseios do desporto nacional. Não venho aqui criticar nenhuma legislação anterior, medidas provisórias, a Lei Pelé, nº 9.615/98, ou a Lei nº 9.981. É evidente que não foi exatamente aquilo que a sociedade esportiva esperava, pois faltou a participação do segmento esportivo. Na parte do futebol, fomos até agraciados quando da formação do antigo Conselho do INDESP, pois pudemos apresentar proposta de regulamentação do futebol, principalmente em relação ao passe do atleta.

Para supressa nossa, esta Comissão foi formada posteriormente e meu nome constava dela, por indicação do ex-Ministro e companheiro de futebol Edson Arantes do Nascimento, o Pelé. Depois de formada, fomos surpreendidos, na condição de dirigentes de entidade de classe — a Associação de Minas Gerais e a própria FAAP

—, com uma proposta de regulamentação do passe, sendo que dela nem participamos. Achamos aquilo simplesmente esquisito. Mas o importante é que, na ocasião, torcíamos para que se produzisse uma legislação mais afeita aos interesses do desporto nacional e do próprio futebol. O tempo mostrou que, por mais que tenhamos lutado, a nova norma não atendeu à comunidade desportiva, razão pela qual o Congresso, que representa de forma singular a aspiração maior da nossa sociedade, na pessoa do Deputado Silvio Torres, apresenta um novo projeto de lei, o Estatuto do Desporto.

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Evidentemente, é um projeto que contém muitas minúcias. Não seria em poucos minutos que conseguiríamos debater tema tão importante, que exige maior concentração e profundos conhecimentos, e apresentar alguma idéia que contribuísse sobremaneira para o aperfeiçoamento da proposta. Entretanto, não poderíamos ficar omissos. Mantivemos contato inicial com o Deputado Ronaldo

Vasconcellos, que nos pediu participação e colaboração. Por isso, estamos respondendo ao convite, na certeza de que, no decorrer da discussão sobre o projeto, poderemos apresentar idéias que venham realmente engrandecer a importante iniciativa do autor, visando sempre ao interesse maior do nosso desporto, particularmente, pela minha experiência, do futebol.

Para não perder a linha de raciocínio, Sr. Presidente, permita-me passar à leitura de minha exposição. Logo depois poderemos passar ao debate de algumas questões peculiares à proposta. Durante a leitura, vou tecer algumas considerações e posteriormente a FAAP, por meio de trabalho mais preciso, enviará à Comissão propostas mais eficientes e objetivas.

Em primeiro lugar, queremos saudar e parabenizar os ilustres membros da

Comissão, não só pela iniciativa, mas também pelo conteúdo da proposta. O texto, numa primeira análise, dá sinais de que os proponentes possuem uma exata visão das questões relevantes do desporto nacional e de sua posição existencial diante da realidade dos esportes examinados, enfrentando tanto a realidade nacional quanto a realidade internacional, porquanto as atividades lúdicas dos esportes não possuem fronteiras e, se existem, prestam-se justamente a aproximar nações e povos. Essa proposta, como se vê, atinge tais objetivos. Há nela uma observação universal que identifica a cultura dos seus autores e que, embora qualificada, não é arrogante e

4 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Nome: Comissão Especial - PL 4874/01 - Estatuto do Desporto Comissão Esp. - PL 4874/01 - Estatuto do Desporto Número: 0129/02 Data: 19/03/02 está aberta às sugestões de todos os interessados. Razão pela qual a FAAP —

Federação das Associações de Assistência aos Atletas Profissionais, na qualidade de responsável pelo sistema de assistência socioeducacional a atletas profissionais e em formação, bem como a ex-atletas, proporcionando-lhes uma alternativa de profissão para quando deixarem a atividade, apóia a proposta com todo o seu entusiasmo e, evidentemente, com toda a força e experiência que possui.

Diante disso, tentaremos fazer breves comentários que servirão de introdução

às propostas efetivas que pretendemos articular e justificar durante a tramitação desse importante projeto de lei.

Do conteúdo da matéria vertente verifica-se que os proponentes possuem a perfeita percepção de que o desporto brasileiro carece da consolidação das leis desportivas, razão porque a criação de um estatuto abrangente vai ao encontro das necessidades de organização do desporto nacional e segue o modelo adotado pelos países mais adiantados, como Espanha, Itália, Portugal e França, citando apenas os latinos, que possuem entre si identificação histórica e universal. Há que se lembrar ainda que a própria União Européia, onde os esportes de um modo geral nasceram para a civilização ocidental e universal, considera-o hoje também uma atividade econômica. Estudos realizados no Brasil indicam que o PIB do esporte tem crescido nos últimos anos, proporcionalmente, mais do que o PIB brasileiro. Não é à toa que este País tem sido admirado e aplaudido pelo resto do mundo.

O projeto de lei tem a percepção de que o fato de as entidades desportivas do

País possuírem autonomia constitucional quanto à sua organização e funcionamento não significa que estejam socialmente alheias e isentas às obrigações com o povo brasileiro.

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A necessidade de consolidar os diversos textos já existentes, mas renovados com propostas atuais, faz-se necessária diante da dinâmica do desporto em geral, não só como atividade lúdica, mas também e fundamentalmente como competição e meio de vida para grande parte da população do País. De outra parte, novos esportes vão surgindo ou os já existentes vão sofrendo transformações e jamais se poderá, com uma legislação única, de caráter estatutário, suprir todas as necessidades existentes nas suas múltiplas formas. Faz-se necessária a obrigatoriedade de uma consolidação de leis esportivas atrelada às suas necessidades e nuanças especiais, tanto nas competições propriamente ditas quanto nos aspectos organizacionais: do ponto de vista corporativo e econômico, com as formas jurídicas e existenciais, como entidades desportivas; e do ponto de vista lúdico e empresarial, aí simultaneamente como geradores de empregos, criadoras de resultados econômicos e esportivos, bem como contribuintes de impostos e obrigações sociais.

Consolidar significa estabelecer a qualificação e diferenciação dos temas, de forma a identificar no mesmo contexto os já existentes, bem como criar espaços e expectativas para novas regras no aspecto formal ou material, para aconchegar as inovações que o mundo desportivo e as atividades afins imporão ao longo do tempo.

Consolidados todos os temas de forma organizada, será mais fácil sobreviver e progredir. Portanto, se na essência da proposta já existem conteúdos básicos para a primeira consolidação do desporto, é indispensável convocar a sociedade para qualificar os diversos temas com as suas experiências e proposições num prazo, evidentemente, mais curto possível.

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As práticas desportivas formais e não-formais já se encontram parcialmente delineadas no projeto, podendo, entretanto, com o apoio e o conhecimento dos interessados, assegurar-se melhor identificação das mesmas.

O papel do Estado está bem delineado no projeto. Todas as experiências nacionais e internacionais na organização das entidades merecem cuidados especiais, mormente quanto aos seus agentes, porquanto os escândalos pululam no mundo inteiro nas atividades desportivas: subornos, dopagem, falências, bem como a interferência da criminalidade. Exigem cuidados especiais no que se refere ao controle dos capitais investidores que não devem ser abertos de forma indeterminada, sob pena de perda de controle interno de quem vai gerir economicamente as atividades desportivas do País.

No que diz respeito a formação, assistência e educação do atleta, é nítida a despreocupação da sociedade ou do próprio Estado, que não lembra que esse trabalho deve ser permanente e preventivo. Soa como hipocrisia o noticiário diário sobre os atletas em dificuldade, decorrente do encerramento da atividade, da sua má formação ou mesmo da velhice, quando então aparecem nos jornais muitos personagens solidários, mas nenhum culpado. A obrigatoriedade da participação do

Estado na formação do atleta deve ser assegurada e fiscalizada, algo que nossa entidade defende e quer ver consagrado em lei de forma mais real e justa, sob pena de essa assistência tornar-se apenas mero anseio, quimera.

Recuperação do desporto: nosso País é lugar ideal para atividades desportivas durante todo o ano, devido ao clima. Entre as sugestões há um plano específico de recuperação econômica do desporto em geral, com incentivos à regularização dos compromissos devidos, mas com penalidades para os

7 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Nome: Comissão Especial - PL 4874/01 - Estatuto do Desporto Comissão Esp. - PL 4874/01 - Estatuto do Desporto Número: 0129/02 Data: 19/03/02 inadimplentes, inclusive no plano criminal, com a responsabilização dos titulares, objetivando inibir as reincidências.

Concluindo essas breves considerações, a FAAP propõe-se a atuar supletivamente, em apoio ao Congresso Nacional e ao Poder Executivo, colocando

à sua disposição anos de experiências e propostas sobre o tema que compõe o projeto de lei, ensejando e municiando com mais elementos, aos quais possui acesso, para que, finalmente, auditada plenamente toda a sociedade desportiva e os principais especialistas do País e do exterior, possa apresentar à Nação o novo esporte que ela merece, melhor e mais identificado com a importância e a grandeza dos seus atletas.

Sr. Presidente, sabemos que se trata de algo filosófico. Um dia teremos oportunidade de apresentar propostas mais concretas para o enriquecimento desse projeto de grande importância para o esporte nacional.

Estamos à disposição da Comissão, do próprio Relator, Deputado Gilmar

Machado, e de todos os membros do Congresso Nacional. Pretendemos trazer a

V.Exas. nossa vivência no mundo do futebol, mostrar-lhes os anseios dos clubes, das entidades de práticas esportivas, hoje denominados clubes; das entidades dirigentes, que são as federações; das entidades de administração do desporto, que são as confederações; e dos próprios atletas que fazem parte desse mundo.

Esperamos, realmente, que os trabalhos da Comissão frutifiquem e que ela consiga elaborar, o mais breve possível, legislação mais ajustada às necessidades do nosso desporto, de modo que ele possa começar a viver novos tempos. Estamos muito preocupados, às vésperas de uma nova Copa do Mundo. Sabemos da importância do futebol para o contexto social brasileiro. Não queremos mais ver

8 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Nome: Comissão Especial - PL 4874/01 - Estatuto do Desporto Comissão Esp. - PL 4874/01 - Estatuto do Desporto Número: 0129/02 Data: 19/03/02 nosso futebol tetracampeão passando por momentos constrangedores diante dos brasileiros e do mundo. Precisamos de mais seriedade. Não vamos culpar esse ou aquele dirigente. Todos os que fazem parte do processo — atletas, dirigentes de clubes e de entidades — têm de se preocupar com o assunto.

Nossa responsabilidade é enorme. Não mais se pode permitir, neste mundo globalizado, de tecnologia avançada, falso amadorismo, principalmente na direção dos nosso clubes.

Posteriormente, de forma mais objetiva, faremos chegar à Comissão todas as nossas propostas ao projeto de lei.

O SR. PRESIDENTE (Deputado José Rocha) – Esta Comissão agradece a

V.Sa. a participação.

Nosso Relator, Deputado Gilmar Machado, estará à disposição para receber as contribuição que sua federação achar por bem nos enviar.

Dando continuidade aos trabalhos, passo a palavra, pelo tempo de vinte minutos, ao jornalista Jorge Kajuru, que enfocará o tema em debate sob a ótica da crônica esportiva.

O SR. JORGE KAJURU – Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, demais presentes, para não cometer a injustiça de esquecer algum nome, um abraço a todos. Este é o meu modo de falar, bem simples mesmo.

Sinto muito orgulho de estar aqui. Só vejo gente boa ao meu lado. O Juca, coitado, quando veio aqui, sofreu bastante. Ele tinha de olhar para todos os lados, embora houvesse muita gente boa.

A turma do cafezinho veio aqui, deixou o nome de todo mundo para mandar um abraço à Rede TV!. Escreveram eles o seguinte: “Kajuru, aquele homem que

9 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Nome: Comissão Especial - PL 4874/01 - Estatuto do Desporto Comissão Esp. - PL 4874/01 - Estatuto do Desporto Número: 0129/02 Data: 19/03/02 você está pensando, está andando com a cabeça baixa e tal...” Agradeci-lhes a brincadeira. Na hora em que fui ao restaurante, disse-lhes que estava muito feliz de estar em Brasília discutindo tão importante assunto.

Nunca aconteceu na história deste País discussão tão séria em torno do futebol. Fiquei assustado, ontem à tarde, ao receber um fax de uma companhia aérea, a Gol, informando-me que a Comissão havia me dado a passagem. Disse que não a aceitava, que eu próprio iria comprar a minha passagem; afinal, estava indo a Brasília, com muito prazer, para discutir tão importante tema para o futebol.

Aliás, quem deveria ter pago minha passagem era a Rede TV!, mas eu mesmo paguei.

Estou acompanhando os temores de cada um em relação ao Estatuto do

Desporto. O próprio autor da matéria, Deputado Silvio Torres, afirmou que a nova lei impedirá a prática dos desvios hoje freqüentes no esporte brasileiro. Por causa de brechas legais, perpetuam-se ilegalidades incríveis que terminam impedindo o esporte de desenvolver todo o seu potencial, inclusive de melhorar a situação social de vastas camadas da população.

Lembrou o Deputado Silvio Torres que o Brasil será melhor quando o esporte nacional for administrado com competência, visando ao interesse público. Concordo com S.Exa. em gênero, número e grau.

Fiz algumas observações referentes aos arts. 9º e 41, e uma pergunta humilde de minha parte: por que não um representante do Congresso Nacional, egresso da Comissão do Desporto, das duas Casas Legislativas, e um representante do Poder Judiciário?

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Quanto ao art. 19, sujeito à regulamentação em lei federal, não há previsão de prazo para tal ato regulamentador.

Os arts. 25 e 26 fazem a previsão — para mim, precisa, oportuníssima — da realização de jogos estudantis e populares. Não sei até onde vai a força da

Comissão para tanto, mas acrescento que — isso se pudéssemos realizar no Brasil um campeonato brasileiro maior, de agosto a agosto —, em meio ao pensamento dos arts. 25 e 26, colocássemos em todas as partidas de futebol a obrigatoriedade de uma partida preliminar de juniores, das categorias de base. Ou seja, toda vez que fosse ao estádio, o torcedor teria motivo para chegar mais cedo, porque estaria vendo os futuros craques do amanhã. Em vez de ficarmos na expectativa de uma competição de juniores por ano, uma em Belo Horizonte, que o Piazza conhece muito bem, a Taça BH; outra em São Paulo, a Taça São Paulo, que conhecemos muito bem, teríamos, paralelamente ao futebol profissional, o futebol promissor das categorias de base como obrigação de toda preliminar, de todo jogo profissional, juntamente com os jogos estudantis e os jogos populares.

Quanto ao art. 29 — auditoria do Poder Público a qualquer tempo —, precisaria saber, de qualquer forma, sob quais mecanismos poderia acontecer tal auditoria.

Gostaria também de ouvi-los com relação ao art. 36, sobre o tempo do mandato de um dirigente de futebol. Preocupa-me muito isso. Não consigo ver um dirigente ficar quatro anos, poder reeleger-se e ficar mais quatro. Acho isso muito perigoso, especialmente, porque no futebol... A imprensa vigia, fiscaliza quando alguém entra na política. Ela escreve quem é esse alguém, o que ele tem, se é fazendeiro, empresário, rico, ou pobre. No futebol isso não acontece. Um cara entra

11 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Nome: Comissão Especial - PL 4874/01 - Estatuto do Desporto Comissão Esp. - PL 4874/01 - Estatuto do Desporto Número: 0129/02 Data: 19/03/02 na presidência e normalmente a imprensa esportiva não tem a menor preocupação de saber quem ele é, a que veio, o que estava fazendo. E aí acontece o quê? Os nossos grandes times brasileiros foram devidamente assaltados — sem aspas — por pessoas que estavam falidas na vida pública, que não tinham mais nada a aspirar e conseguem entrar para o futebol, assumem um clube, ficam ricos rapidamente e os clubes, falidos. Precisávamos encontrar uma maneira de saber o porquê de aquele dirigente estar entrando para o clube e por quais motivos. Temos de saber por que cada dirigente entra para um clube e normalmente nele se perpetua.

No art. 72, preocupam-me as formas legais de coibir a pirataria e, no art. 84, seguro de vida e de acidente de trabalho.

No art. 85, a cessão e transferência de atleta profissional depende da expressa anuência deste. Pergunto também, de forma humilde, diante da minha ignorância esportiva: no caso de negativa por parte do atleta, este incorrerá em pena? O art. 109 também está em consonância com esse.

Art. 98: no caso de o atleta machucar-se, ele é mantido pelo clube? Constará isso no contrato? Será coberto pelo seguro? São perguntas para as quais gostaria de ouvir respostas dos senhores, hoje, ou em outra oportunidade.

Art. 98. Os deveres, em especial, da entidade empregadora, não poderiam ser mais abrangentes? Apenas três itens não são poucos?

Art. 105. O atleta impedido de atuar por sua própria e exclusiva responsabilidade, poderá o empregador ficar dispensado do pagamento de salário durante o prazo de impedimento. Os senhores não acham esse artigo um pouco vago?

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Art. 114. Nesse particular, recorro ao que disse nesta Casa o meu amigo e admirável Dr. Sócrates, que defendeu a previdência social para atletas e falou sobre a criação de um sistema de previdência social específico, com treino diário de no máximo cinco horas, curso para técnico esportivo e intervalo de pelo menos 72 horas entre as partidas de futebol. Essas foram algumas sugestões feitas aqui pelo

Dr. Sócrates. Nesse projeto de lei consta “contribuir com a previdência social vigente”. Aqui fala do atleta autônomo. E quando há categoria mista? O atleta recebe pelo clube ou via pessoa jurídica?

E, por fim, querendo conhecer mais e colaborar no que for possível — considero muito importante essa ação de todos os senhores para que, o mais rápido possível, o nosso principal esporte seja profissionalizado em todos os sentidos — gostaria de dizer que os senhores podem atentar para os prazos de regulamentação de uma série de artigos constantes no projeto de lei em pauta. Esses prazos já poderiam ser previstos. Imaginar-se que em 180 dias isso ocorrerá, como estabelece o art. 234, não sei se será possível. Não sei se me arriscaria a dizer que é um pouco utópico.

No que se refere à parceria de clube de futebol — por exemplo, a Hicks com o Cruzeiro, com o Corinthians e outros —, como ficaria a partir do advento da lei?

E, para terminar, aproveitando a presença do Piazza — só estou fazendo essa observação porque tenho respeito por ele não como jogador, até porque o achei um jogador comum, nada de extraordinário, mas como homem de moral elevada —, quero dizer que nos últimos domingos, na Rede TV!, discutimos assunto ligado ao sindicato de jogadores; não sei se o Piazza teve oportunidade de assistir aos programas. Fiquei estarrecido. Queria pedir sua interferência no assunto, porque

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Esse foi lá pessoalmente, no domingo seguinte, depois do Manezinho. O Juca

Kfouri, que é um jornalista, na minha opinião, referência em todos os sentidos, mas um sonhador, costuma ficar vinte minutos discutindo sobre sindicatos de jogador e a audiência fica zero... O Alberico, nosso chefe, entra no ponto e fala: “Não está dando audiência! Pelo amor de Deus, esse assunto não dá audiência!” E o Juca fala por vinte minutos, porque não abre mão de discutir as coisas sérias. Manezinho falou por vinte minutos e o Alfredo falou por 27. O Alfredo acusou o Manezinho, dizendo que o Manezinho é não sei o quê; porque o dinheiro não é esse; e não sei o quê... O

Alfredo acusou um tal de Miro, do sindicato dos atletas de Pernambuco. Agora, esse

Miro quer direito de resposta também. Domingo que vem, ele vai ao nosso programa fazer perder o nosso tempo por vinte minutos. A nossa audiência vai lá para baixo.

Vinte minutos, traço! Infelizmente, sabe como é: o torcedor quer ver gol, quer ver discussão sobre o Corinthians etc. E o Miro já ligou dizendo que vai lá também chamar os outros de ladrão. “Eles é que são ladrões. Vou provar com documento e tal.” Sei que não tem nada a ver com o assunto, mas Piazza, pelo amor de Deus, aparece alguém de sindicato de atleta, em quem moralmente podemos confiar, como você... Fiquei perdido. Em quem vou acreditar? Manezinho, Alfredo, Miro? Um chama o outro de ladrão. Não entendi mais nada! Um diz que são doze milhões; o outro, três milhões. O jogador diz que não viu nada e que ninguém depositou.

Estou falando sobre o que me questionaram como sendo um homem de mídia: transmissão de imagem de evento. O que falei é sobre direito de imagem. O

14 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Nome: Comissão Especial - PL 4874/01 - Estatuto do Desporto Comissão Esp. - PL 4874/01 - Estatuto do Desporto Número: 0129/02 Data: 19/03/02 dinheiro vai para o sindicato dos atletas, que reclama à Rede TV!, especialmente com o Juca, que é o plenário da imprensa esportiva para isso, tanto em jornal como em televisão. A cada hora ficamos estarrecidos com notícias de que os jogadores não receberam. Aqui em Brasília há informação de que os jogadores do Gama não receberam nada de direito de imagem até hoje, e o time do Gama disputa campeonato brasileiro há muito tempo.

Para terminar, queria sonhar um pouco — já que não custa nada — com relação ao que se pensa sobre modificações no futebol brasileiro. Pensei em permanência mínima de um ano para o treinador de futebol, que hoje virou uma péssima profissão para a maioria e, para uma minoria, a maior profissão do mundo.

Só existe uma profissão melhor que treinador: comentarista. Nunca perde jogo e sempre fala que acertou ou que, conforme falou, foi o que aconteceu.

Hoje, treinador de futebol virou uma coisa impressionante. Há treinador que recebe de cinco clubes e outros que ainda estão ganhando, por mês, cerca de 900 mil reais. Isso é uma coisa que tem de acabar. O treinador tem de ter garantia e uma certa estabilidade no emprego. Penso em um ano para cada treinador.

Tem que acabar essa farra do futebol, que leva os clubes à falência; não se pode pagar para um treinador de futebol duzentos a trezentos reais. Também não deviam ser permitidos contratos caros, que terminam um mês depois, sendo que a multa rescisória é continuar recebendo o salário por mais doze a dezesseis meses.

Dessa forma, o treinador vai trabalhar num clube e continua recebendo de seis outros.

Dou o exemplo do Sr. Joel Santana — grande treinador, por sinal. Sempre que a câmara o focaliza durante o jogo, está com uma prancheta na mão. Procura

15 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Nome: Comissão Especial - PL 4874/01 - Estatuto do Desporto Comissão Esp. - PL 4874/01 - Estatuto do Desporto Número: 0129/02 Data: 19/03/02 demonstrar que está vendo taticamente, mas não está vendo nada, aquilo é palavra cruzada. E seis clubes já ficaram pagando esse cidadão. Isso tem de acabar! Como

é que pode isso acontecer somente por causa do contrato? Deve haver uma lei com relação a treinador de futebol que o garanta por um tempo no serviço, mas que o clube não tenha, ao terminar o contrato de um ano, de pagar rescisão, multa etc.

Outra briga difícil, mas que já há muita gente em Brasília, graças a Deus, lutando entre os senhores, é sobre a exclusividade da televisão. Virou um monopólio. Já temos a ditadura da informação no Brasil e agora, a do futebol.

Eu, Juca e Juarez Soares, da Rede TV!, ficamos à mercê de outras televisões se não quiserem nos enviar gols. Ficamos duas horas discutindo futebol sem gol para mostrar. Isso ocorre porque se compra o direito de transmissão, repassa-se para quem quiser e os contratos são terríveis.

Por exemplo, peguei um contrato da Copa do Mundo sobre direitos de rádio.

Tenho uma rádio em Goiás cuja concessão não foi ganha em Brasília. Estou pagando em 36 vezes. A Rádio K, como é chamada, foi fechada seis vezes, porque há quatro anos mostra em Goiás o que acontece, de fato, na política.

No contrato de quem compra um direito de televisão está escrito que, no terceiro dia de atraso de pagamento, a empresa cobra o valor total do contrato. Quer dizer, se você atrasou três dias, ou paga tudo ou vai ter de pagar na Justiça. Então, os contratos são terríveis para quem compra os direitos, mas para quem os vende, não há esse tipo de cláusula.

Há pouco tempo, a TV Globo atrasou o pagamento da parcela da Liga Rio—

São Paulo por onze dias. E não fiquei sabendo que no contrato havia essa mesma cláusula de pagar o valor total após três dias de atraso. Então, é preciso discutirmos

16 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Nome: Comissão Especial - PL 4874/01 - Estatuto do Desporto Comissão Esp. - PL 4874/01 - Estatuto do Desporto Número: 0129/02 Data: 19/03/02 esses contratos de televisão e acabar com esse monopólio e com essa exclusividade, porque, realmente, é lamentável.

Falei sobre a questão do dirigente que entra no futebol. O dirigente precisa mostrar quem é. Por que somente os políticos são questionados pela imprensa, sobre o patrimônio que têm e o que são na vida privada? É necessário questionar por que um dirigente está entrando no futebol.

Será que quem entra no Vasco, Santos ou Flamengo o faz por amor e paixão? Que paixão é essa se, quando o clube está quebrado e o Brasil inteiro sabe que ele é o problema da falência do clube, ele não sai? Quem ama alguma coisa, para mim, renuncia, evidentemente; é capaz de renunciar para deixar viver quem ama.

Quando estava trabalhando em Goiás, na Rádio K, fui ameaçado de morte e tive confirmações do Secretário do Governo de que o próprio Governo estava fazendo isso contra mim. Infelizmente, a imprensa deu-me pouca cobertura. Só os jornais Folha de S.Paulo e O Globo fizeram reportagens sobre o assunto. Quando estava nas Olimpíadas, junto com Galvão Bueno, Juarez Soares e Wanderley

Luxemburgo, recebi, no hotel, um telefonema de alguém dizendo que minha mulher,

às 22h30min, havia sido agredida de forma covarde, a mando de gente do Governo de Goiás. Às 3 horas da madrugada, invadiram o meu apartamento ameaçando minha mulher, que, em prantos, decidiu, com sua família, ir embora de Goiás.

Simplesmente, ao voltar, tomei uma decisão: renunciei ao meu casamento, porque a pessoa que estava comigo corria risco. Saí de Goiás e fui trabalhar em São

Paulo com o Juca. Segui a minha vida, porque não tinha mais condições de viver

17 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Nome: Comissão Especial - PL 4874/01 - Estatuto do Desporto Comissão Esp. - PL 4874/01 - Estatuto do Desporto Número: 0129/02 Data: 19/03/02 num local — nem na máfia isso acontece mais — onde atingem minha família para atingir-me. Então, renunciei.

Dou esse exemplo porque quero aproveitar este momento com muitos

Deputados presentes. Toda vez que estiver em Brasília quero voltar a falar do assunto. Infelizmente, o Governo de Fernando Henrique Cardoso, que se diz tão democrático, não me permitiu falar isso. Por isso, minha rádio foi fechada seis vezes.

No futebol, é a mesma coisa. O dirigente que ama um clube que está falido, tem de tomar uma decisão. Tem de sair e passar o lugar para outro. Por que o dirigente quer perpetuar-se, mesmo sabendo que é o problema do clube?

Desculpem-me por ter citado um caso pessoal, mas acho que, no futebol, é a mesma coisa. Quem ama, renuncia. Mas esses cartolas que aí estão não amam os clubes coisa nenhuma. Amam o poder que exercem sobre ele. No dia em que saírem de lá, nunca mais vão ao estádio assistir a um jogo. Tanto é que, em clube de futebol, há eleição, mas quando uma pessoa perde, não vai mais ao estádio.

Quando uma pessoa vai disputar eleição, no final do ano, com o que está mandando no clube, fica torcendo para o time perder ou para o outro ir mal na administração e perder a eleição para o conselho. Que amor é esse? Como se pode torcer para o próprio time perder?

É preciso haver uma lei séria neste País, neste momento em que se quer fazer alguma coisa de valor para acabar com isso no futebol. Dirigente de futebol tem de ser punido e realmente fiscalizado por conselhos fiscais neutros e independentes e não por conselhos de clube, do qual participam pessoas da família do Presidente.

18 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Nome: Comissão Especial - PL 4874/01 - Estatuto do Desporto Comissão Esp. - PL 4874/01 - Estatuto do Desporto Número: 0129/02 Data: 19/03/02

Sonho em ver árbitros apenas trabalhando em futebol. Isso é uma coisa muito séria. O árbitro, coitado, não pode, durante a semana, ter de ser motorista de táxi — não pela profissão, que é muito digna —, ter que ser representante comercial para , no domingo, fazer um bico, ganhar duzentos reais para apitar uma partida de futebol. Isso tem de acabar. O árbitro tem de ser profissional, como é o jornalista esportivo, o técnico, o dirigente. Todos os dias, ele tem de preparar-se para apitar, vendo partidas de futebol, aprimorando-se, participando de reuniões, congressos, praticando atividade física. O árbitro de futebol não pode mais ficar nessa situação em que o futebol é bico para ele. E a maioria massacrante dos árbitros têm o futebol como bico. Hoje, uma minoria vive apenas do futebol.

Agradeço-lhes o convite. Estou à disposição da Comissão. Como jornalista, apurei a informação que faltava e gostaria de passá-la para V.Exas. Não consegui transmiti-la ao meu amigo Juca Kfouri. A ele, evidentemente, contaria as fontes.

Nesta Casa, na tentativa de usar o direito à liberdade de expressão que achamos que temos, mas que não temos, gostaria de dizer que o que todos lamentam, o que todos os senhores estão querendo, a aprovação da medida provisória, para moralizar de vez o futebol brasileiro...

Não sei se todos leram o relatório final da CPI do Futebol sobre a CBF, mas quero fazer um teste que prometi que faria quando chegasse aqui, e peço a colaboração dos senhores. Quem aqui leu todo o relatório da CPI do Futebol, as irregularidades, que, para mim, deveriam ser chamadas de crimes, cometidas pela

Confederação Brasileira de Futebol — CBF, desculpem-me, a casa bandida do futebol?

O SR. PRESIDENTE (Deputado José Rocha) – Todos leram.

19 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Nome: Comissão Especial - PL 4874/01 - Estatuto do Desporto Comissão Esp. - PL 4874/01 - Estatuto do Desporto Número: 0129/02 Data: 19/03/02

O SR. JORGE KAJURU – Todos leram o relatório inteiro?

O SR. PRESIDENTE (Deputado José Rocha) – Todos os que participaram da

Comissão leram.

O SR. JORGE KAJURU – Não sei se vou exagerar, mas para terminar...

O SR. PRESIDENTE (Deputado José Rocha) – Nobre expositor, gostaria que

V.Sa. se ativesse à questão para a qual foi convidado.

O SR. JORGE KAJURU – Sei disso, mas o Deputado Silvio Torres tocou no assunto.

O SR. PRESIDENTE (Deputado José Rocha) – Teremos uma sessão de debate após sua exposição.

O SR. JORGE KAJURU – Perfeito. Quem leu aquilo ficou estarrecido, com vergonha de assistir a jogo de futebol e de ir a estádios. Desculpe-me se saí do script, mas não obedeço a script nem na Rede TV!, onde trabalho, não iria obedecer a ele aqui. Sou realmente indisciplinado com relação a script.

Quem está atrapalhando toda a medida provisória no futebol brasileiro é o

Vice-Presidente da República, Marcos Maciel.

Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado José Rocha) – Não tenho procuração do

Vice-Presidente, mas, como homem do meu partido, refuto qualquer tipo de insinuações e de acusações feitas pelo convidado, mesmo porque Marcos Maciel é um exemplo de homem público neste País: sério, honesto e jamais se envolveria em coisa menor, como essa. Lamento que o convidado tenha esse conceito, mas o refuto, porque conheço o Vice-Presidente Marco Maciel. Jamais se levantou qualquer tipo de acusação contra S.Exa.

20 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Nome: Comissão Especial - PL 4874/01 - Estatuto do Desporto Comissão Esp. - PL 4874/01 - Estatuto do Desporto Número: 0129/02 Data: 19/03/02

Fui presidente do Esporte Clube de Vitória. Assumi com quatro campeonatos perdidos. Ganhamos um campeonato e construímos o Estádio Barradão. Usei apenas um mandato e meio, porque entrei num mandato em que o presidente era renunciatário. Quando saí, os torcedores queriam que eu ficasse, mas não quis perpetuar-me. Portanto, também existem dirigentes que não se utilizam dessa perpetuação no esporte.

Tem a palavra, por vinte minutos, nosso próximo convidado, o jornalista José da Cruz, que dará sua contribuição ao debate.

O SR. JOSÉ DA CRUZ E SOUZA – Sr. Presidente, Sr. Relator, Srs.

Parlamentares, Sr. Jorge Kajuru, meus colegas jornalistas, nos últimos dois anos, freqüentei esta Casa como jornalista esportivo acompanhando a CPI CBF/Nike e depois a CPI do Futebol. Não imaginava que um dia pudesse trazer sugestões para esta Comissão. Sinto-me honrado com o convite, mesmo porque temos em mãos um documento, resultado de tumultuadas sessões.

Hoje, temos a proposta de se moralizar o esporte brasileiro. Falo em esporte brasileiro, não especificamente em futebol, porque ao contrário do Wilson Piazza e do Jorge Kajuru, não analisei esse documento apenas pela ótica do futebol, mas pela ótica das demais modalidades esportivas. Os colegas que me antecederam enfatizaram os desmandos do futebol, mas a proposta de projeto de lei do Deputado

Silvio Torres abrange o esporte em geral.

Faço uma proposta ousada, embora difícil de ser executada, no sentido de que a Câmara dos Deputados e o Senado Federal pensem na possibilidade de se ter um documento específico para o futebol e outro para as demais modalidades.

Digo isso mesmo contrariando o pensamento de alguns especialistas em esporte,

21 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Nome: Comissão Especial - PL 4874/01 - Estatuto do Desporto Comissão Esp. - PL 4874/01 - Estatuto do Desporto Número: 0129/02 Data: 19/03/02 dentre eles o Dr. Mário Drumond, que está em plenário, um dos advogados mais respeitados do desporto brasileiro, que, inclusive, contribuiu para a redação da Lei

Pelé. Ele acredita que propor a redação de um texto específico para o futebol e outro para as demais modalidades olímpicas atrasaria muito a tramitação; seriam dois documentos, e isso levaria muito tempo.

A verdade, no entanto, é que o futebol tem especificidades tão grandes que, acredito, mereceriam ser tratadas num documento exclusivo, embora eu pense que as demais modalidades olímpicas também devam ser tratadas de forma profissional, como o futebol.

Por ter participado da cobertura das Comissões Parlamentares de Inquérito e por ter lido, Sr. Kajuru, tanto o relatório da CPI CBF/Nike quanto o relatório da CPI do Futebol, e por ter visto comprovadas as falcatruas e roubalheiras que se fazem no futebol brasileiro, é que acredito, mais do que nunca, no que está previsto nesta proposta, no Cap. II, art. 27: “aplicar-se-á às entidades dirigentes e associações dedicadas ao desporto nacional a legislação brasileira em defesa da ordem econômica, especialmente no que se refere a encargos fiscais, parafiscais e trabalhistas, bem como a responsabilização civil e criminal de seus dirigentes”....

Esse art. 27 já engloba aquilo que se pedia há muito tempo, no que diz respeito à fiscalização, aos desmandos que são praticados por dirigentes esportivos.

Mesmo assim, e por ter lido os documentos que foram gerados aqui e no Senado

Federal, acredito que o Ministério Público também deve envolver-se na fiscalização.

Nós somos testemunhas do que tem sido a atuação do Ministério Público, hoje em dia, na fiscalização e elucidação de vários casos. Por isso mesmo, o futebol, particularmente, está a merecer também a investigação dessa instituição, que nos

22 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Nome: Comissão Especial - PL 4874/01 - Estatuto do Desporto Comissão Esp. - PL 4874/01 - Estatuto do Desporto Número: 0129/02 Data: 19/03/02 parece séria, credenciada para agir de forma rápida e em condições de obter resultados específicos em relação àquilo que ela busca.

Essa é a primeira sugestão. Aliás, a segunda, porque a primeira propunha que o assunto fosse dividido em dois documentos: futebol e demais modalidades esportivas. A segunda sugestão recomendava incluir o Ministério Público entre as instituições com acesso a documentos e com poder de fiscalizar as instituições esportivas deste País.

Vou fazer agora alguns comentários rápidos, especificamente sobre as propostas apresentadas.

No que diz respeito ao Conselho de Desenvolvimento do Desporto Brasileiro, sugiro que se inclua um representante do Conselho Nacional de Educação Física. É uma sugestão. Além disso, não acredito que seja oportuna a participação, como prevê o projeto de lei, de um representante da imprensa. Acho que a imprensa é uma instituição que está mais afeita a críticas, ou melhor, críticas e notícias. No momento em que ela tiver assento numa instituição que tome decisões sobre o desporto nacional, ela poderá corroborar com algumas decisões erradas, e, com isso, perder sua isenção de crítica.

Então, minha outra sugestão é que representantes da imprensa não façam parte desse Conselho, embora eu reconheça o cuidado que teve o Deputado Silvio

Torres ao incluí-los, justamente por se tratar de pessoas intimamente ligadas à opinião pública, que dela ouvem informações, podendo trazer boas contribuições.

De qualquer forma, não considero oportuna essa participação.

Outro assunto que está precisando ser regulamentado com urgência, e que está previsto na legislação do desporto, diz respeito às verbas públicas. Sabemos

23 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Nome: Comissão Especial - PL 4874/01 - Estatuto do Desporto Comissão Esp. - PL 4874/01 - Estatuto do Desporto Número: 0129/02 Data: 19/03/02 que várias confederações brasileiras são hoje patrocinadas por instituições públicas.

Por exemplo, o Banco do Brasil patrocina o vôlei e o tênis; a PETROBRAS, o clube do Flamengo e agora a vela olímpica; os Correios, a natação, e assim por diante. No entanto, V.Exas. não imaginam a dificuldade que existe — duvido que alguém tenha conseguido ter acesso a essas contas. Quanto é liberado anualmente para as instituições? Que destino é dado a essas verbas? Quem decide sobre a aplicação das mesmas? Quanto o Banco do Brasil aplica efetivamente no vôlei? Esse dinheiro

é aplicado exclusivamente na Seleção, na equipe de ponta, ou é aplicado também na iniciação?

Faço essa observação, pois, vivendo em Brasília, não vejo nenhum clube ou entidade envolvida com a iniciação esportiva que tenha recebido verba do Banco do

Brasil. Se formos a Porto Alegre ou a Manaus veremos que a situação é a mesma.

Ocorre o mesmo com a natação, que os Correios e Telégrafos patrocinam há dez anos. Assim, se, em termos de marketing, é importante as instituições terem um esporte vinculado a seus nomes — e parece-me que isso traz resultados porque, do contrário, não renovariam por tantos anos esse patrocínio, o que é bom para o esporte —, por outro lado, é preciso que as autoridades se preocupem também com a fiscalização da aplicação das verbas públicas.

O art. 32 trata das entidades sem fins lucrativos relacionadas ao desporto.

Creio que, atualmente, um dos grandes conflitos que existem no desporto brasileiro em geral diz respeito justamente a essa questão da entidade sem fins lucrativos.

Sabemos que todas têm resultados no fim do ano. Nem sempre esses resultados vão para o patrimônio do clube, da empresa, da federação ou daqueles que estão

24 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Nome: Comissão Especial - PL 4874/01 - Estatuto do Desporto Comissão Esp. - PL 4874/01 - Estatuto do Desporto Número: 0129/02 Data: 19/03/02 investindo no esporte. Por isso, acho que essa questão das entidades sem fins lucrativos deve ter outra redação no art. 32.

O art. 36, de que tratou o Sr. Kajuru, trata dos quatro anos, com direito à renovação por mais quatro. Acredito ser um exagero espetacular. Na verdade, são dois ciclos olímpicos. Se tivermos um dirigente de confederação que foi muito mal em determinada olimpíada — e estamos com problemas no judô, no atletismo, não por por culpa do dirigente, decorrem de outras conjunturas —, temos de agüentar essa direção por mais quatro anos e vamos para dois ciclos olímpicos. Há três campeonatos mundiais o judô, a natação e o atletismo brasileiros não recebem nenhuma medalha. É um fato inédito no esporte brasileiro, confirmado em janeiro deste ano. Os campeonatos mundiais, depois da olimpíada, são os eventos mais fortes, e, nos três últimos, não trouxemos nenhuma medalha. No entanto, os dirigentes estão aí, recebendo atualmente vultosas verbas, em decorrência da Lei

Piva. Se ficarem quatro anos, com direito a renovação, eles praticamente se perpetuarão no cargo, pois teremos dois ciclos olímpicos. Hoje em dia, há dirigentes que estão há até dezesseis anos no cargo. Isso cria uma intimidade de poder impressionante com o patrimônio da confederação e das federações. Por exemplo, a

Confederação Brasileira de Atletismo, com sede em Manaus, tem um excelente estádio, uma excelente pista, piscina olímpica, ginásio, todas as condições de treinamento para os atletas — vêm atletas do exterior para treinar no Brasil. O presidente está há mais ou menos dezesseis anos no poder, é reconhecido internacionalmente, faz parte do Conselho da IAAF, que é a entidade máxima do atletismo mundial. O patrimônio todo da Confederação Brasileira de Atletismo foi construído sobre um terreno que pertence ao pai do presidente. Quer dizer, ele não

25 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Nome: Comissão Especial - PL 4874/01 - Estatuto do Desporto Comissão Esp. - PL 4874/01 - Estatuto do Desporto Número: 0129/02 Data: 19/03/02 pretende deixar nunca de ser presidente, caso contrário, como o patrimônio será transferido no dia em que sair? E assim acontece com outras federações.

Quem nos fornece esses dados é o Comitê Olímpico Brasileiro, que fez rigoroso levantamento sobre a situação de cada uma das confederações. Para que

V.Exas. vejam que a situação do nosso esporte olímpico é tão séria quanto a do futebol, temos apenas cinco das 32 confederações brasileiras com sede própria, outras dezessete não têm sede, que fica na casa do presidente. Isso para V.Exas. terem noção da gravidade do problema do nosso esporte olímpico.

Outro assunto — não me demorarei muito porque sei que V.Exas. têm um debate a seguir — refere-se ao art. 199, que trata do Sistema Brasileiro do Desporto

Educacional.

Temos hoje a Confederação Brasileira de Desporto Universitário, que há muitos anos era dirigida por um presidente que não era universitário. No ano passado, algumas pessoas, alguns senhores idosos — não tenho nada contra senhores idosos, até porque, aos 57 anos, já sou um deles — reuniram-se e criaram a Confederação Brasileira do Desporto Escolar, cujo presidente tem quarenta e tantos anos também e não é estudante

Com o devido respeito a essas pessoas que querem dar sua contribuição ao desporto brasileiro — e são pessoas experientes, ex-atletas, ex-dirigentes de federações, que ainda podem contribuir —, considero isso muito perigoso, mesmo porque essa prática está afastando da direção desses órgãos a pessoa que ali deve estar, o estudante universitário.

Aqui, em Brasília, temos um caso. Outro dia escrevi uma reportagem — e os que são de Brasília sabem disso — sobre o presidente da Federação Acadêmica da

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Universidade de Brasília, que fugiu da cidade depois de doze anos dirigindo a federação. Deixou a família e foi embora para lugar incerto e ignorado devido a desmandos praticados na federação.

Portanto, em relação às questões da CBDU e da CBDE, alerto o Sr. Relator nos sentido de que também dê uma olhada nisso.

O art. 216 fala sobre a arrecadação obtida em cada teste da Loteria Esportiva federal: 15% para as entidades de prática desportiva constantes de cada teste e

15% para o desporto educacional.

Gostaria de lembrar ao Relator que temos, em plena vigência, desde agosto do ano passado, a Lei Piva, que destina 2% das arrecadações das loterias federais para o desporto olímpico e paraolímpico brasileiro. Fui à Caixa Econômica Federal, levantei os dados referentes ao ano passado e, junto com os técnicos da Caixa

Econômica Federal, fiz a projeção para este ano. A expectativa é de que esses 2% das arrecadações das dez loterias federais que a Caixa Econômica administra representem, este ano, algo em torno de 60 milhões de reais. É muito dinheiro! O esporte brasileiro nunca teve esse dinheiro em toda a sua vida.

Para que se tenha uma idéia, no ano 2000, nas Olimpíadas de Sidney, o

Comitê Olímpico Brasileiro recebeu 5 milhões do Governo Federal para preparar sua equipe. Este ano, temos uma previsão de arrecadação de 60 milhões. Desses 60 milhões, 15% vão para o desporto paraolímpico e 85% para o desporto olímpico.

Desses 85% que ficam no desporto olímpico e dos 15% que ficam no paraolímpico,

15% devem ser obrigatoriamente aplicados no desporto escolar e 5% no desporto universitário.

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Chamo a atenção da Comissão, já que estamos tratando do Estatuto do

Desporto, para esses percentuais e para os valores que estão sendo previstos justamente para que se criem mecanismos que permitam averiguar se esses recursos estão sendo repassados às instituições devidas.

A CBDU e a CBDE estão brigando na Justiça porque não estão recebendo os valores que são devidos. Os comitês olímpicos e paraolímpicos têm suas razões para não repassar. Mas, já que estamos tratando do Estatuto do Desporto, essa questão deve ser abordada..

Em linhas gerais, eram essas as observações que queria fazer.

Para finalizar, gostaria de fazer uma consideração que sempre repito quando tenho oportunidade de falar, como nesta ocasião. O desporto brasileiro não se resume ao futebol, embora seja ele a nossa paixão, embora este seja um ano de

Copa do Mundo e estejamos todos envolvidos no assunto. Particularmente, gostaria muito de estar envolvido com treinamento de tênis, de ver colegas do atletismo correrem, de assistir a um treinamento à beira de uma piscina, de assistir, no Lago, à competição de iatismo nacional, que está ocorrendo aqui em Brasília. Mas, lamentavelmente, não faço isso há muito tempo, porque há muitos anos venho correndo atrás da corrupção, que é grande no esporte. Tenho feito graves denúncias, mas, infelizmente, a Câmara Legislativa do Distrito Federal não se tem pronunciado sob nenhuma hipótese. Lamentavelmente, os dirigentes esportivos silenciam, mas o que está acontecendo no desporto olímpico de Brasília e do Brasil

é de estarrecer.

Um pouco da culpa atribui-se também ao Poder Público, e aí entra o aspecto político. Reparem o seguinte: o esporte brasileiro passou a ser tratado pelo Estado

28 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Nome: Comissão Especial - PL 4874/01 - Estatuto do Desporto Comissão Esp. - PL 4874/01 - Estatuto do Desporto Número: 0129/02 Data: 19/03/02 em 1935, quando foi vinculado ao Ministério da Saúde. Depois houve pequenas mudanças. Em 1985 — estes dados são da Secretaria Nacional do Desporto —, durante a administração da então Ministra de Educação Esther de Figueiredo Ferraz, foi criado o Departamento de Educação Física, e, depois, a Secretaria de Educação

Física e Esporte — SEED, do MEC. A partir daí passaram a ocorrer mudanças de instituições e de nomes quase anualmente. Para que V.Exas. tenham uma idéia, de

1990 a 2000, ou seja, no período de uma década, ocorreram quatro mudanças de instituição: a SEED, o INDESP, a Secretaria Nacional, o Ministério Extraordinário do

Esporte, e nada mais, nada menos do que doze dirigentes, entre Ministros e

Secretários Nacionais de Esporte, mais de um por ano. Minha pergunta é a seguinte: como fixar uma política nacional de esportes com mudanças tão freqüentes em

âmbito institucional?

O Governo Federal e o Congresso Nacional devem preocupar-se com a forma como vão tratar o Ministério do Esporte. Nas recentes mudanças ocorridas nesse

Ministério houve uma grande expectativa entre os funcionários, porque eles não sabiam se o Ministério ia continuar como Ministério do Esporte e Turismo, ou se o turismo seria transferido para o Ministério da Indústria e Comércio e o esporte, para o Ministério da Educação. Isso causou polvorosa lá dentro, e tudo que havia sido feito até agora pelo Secretário Lars Grael e pelo ex-Ministro Carlos Melles poderia ir por água abaixo.

Finalmente, para concluir, sugiro ao Sr. Relator que solicite à Secretaria

Nacional de Esporte o Plano Nacional de Esporte, redigido por especialistas, atletas, técnicos e dirigentes, que está para ser aprovado. O Plano Nacional de Esporte é

29 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Nome: Comissão Especial - PL 4874/01 - Estatuto do Desporto Comissão Esp. - PL 4874/01 - Estatuto do Desporto Número: 0129/02 Data: 19/03/02 documento de suma importância, que deve ser lido por V.Exa. antes de ser redigido o texto final do parecer ao projeto de lei em discussão.

O SR. PRESIDENTE (Deputado José Rocha) – A Presidência agradece a participação a V.Sa. e passa a palavra ao Relator desta Comissão, Deputado Gilmar

Machado.

O SR. DEPUTADO GILMAR MACHADO – Obrigado, Sr. Presidente.

Inicialmente, farei algumas indagações rápidas, para não prejudicar o andamento dos trabalhos e para que todos possam fazer seus questionamentos.

Como Relator, posteriormente, vou-me ater apenas a ouvi-los e a anotar as observações para elaborar meu relatório.

Em primeiro lugar, gostaria de fazer uma pergunta ao Sr. Wilson Piazza, presente nesta Comissão na condição de presidente da Federação das Associações de Atletas Profissionais — FAAP. Embora tenha recebido o documento e tenha tido oportunidade de conversar com S.Sa. em outros momentos, gostaria de fazer-lhe ainda algumas perguntas. Primeiro, como está a situação dos ex-atletas hoje, mais especificamente dos jogadores de futebol? A FAAP só trata do futebol? Com relação aos demais atletas, não há outra federação que realize esse trabalho ou outras entidades que nos possam dar mais informações? A FAAP só cuida de futebol, e cada área tem sua respectiva entidade? Essa é a primeira pergunta. Assisti ao filme

“Os Boleiros”, e vi relatada a situação dramática — evidentemente não deve ser só esta; deve haver outras — de o atleta vender sua medalha de tricampeão para conseguir manter-se.

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Em segundo lugar, gostaria de saber a opinião do senhor com relação ao art.

217, que trata dessa questão. O senhor acrescentaria ou retiraria algo, ou faria alguma reformulação?

Outro questionamento é se o senhor tem conhecimento da existência de dois projetos apensados ao projeto do Deputado Silvio Torres: um do Deputado José

Rocha e outro do Deputado Chico Sardelli, que apresentam modificações ao projeto inicial.

Esses, portanto, são os questionamentos que gostaria de fazer.

Farei perguntas aos três convidados de uma vez só, para não cansá-los muito.

Uma das coisas que nos têm preocupado é exatamente a questão do direito de imagem. Não podemos ter uma lei de direito de imagem para o futebol e outra para os demais esportes. Como poderíamos fazer uma proposta de direito de imagem que contemplasse os vários esportes?

Já fazendo a mesma pergunta ao jornalista José Cruz, que foi claro em sua posição, gostaria de saber o seguinte: o senhor acha que deveríamos ter uma legislação para o futebol e outra para os demais esportes, ou numa legislação só seria possível contemplar e equacionar esse problema? Faço este questionamento porque não sou especialista em esporte — sou da área educacional, mas nos

últimos anos tenho acompanhado o esporte. Apesar de mineiro, sou torcedor do

Botafogo, graças a Deus, desde pequeno, assim como toda a minha família. Mas gostaria de saber como o senhor vê essa questão.

Outro questionamento que gostaria de fazer é com relação aos recursos destinados à área do esporte. Como o senhor é um homem de mídia, pergunto se

31 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Nome: Comissão Especial - PL 4874/01 - Estatuto do Desporto Comissão Esp. - PL 4874/01 - Estatuto do Desporto Número: 0129/02 Data: 19/03/02 poderíamos propor que uma parte dos recursos dos contratos seja destinada aos pequenos clubes. Uma das nossas preocupações é com o fato de que esses recursos vão sempre para os grandes clubes, enquanto os pequenos clubes do interior praticamente ficam fora do processo. Para que exista o grande clube, é preciso que também existam os pequenos, já que eles fazem a alegria dos demais.

Se não fosse o América, por exemplo, como o Flamengo se justificaria este ano?

Como poderíamos, então, elaborar alguma norma para ajudar esses times do interior, já que o futebol movimenta muitos recursos? Cito como exemplo o

Campeonato Mineiro, que, apesar de pequeno, gera um grande número de empregos para atletas e outros profissionais. Quando ocorre um jogo na minha cidade, Uberlândia, embora o número de pessoas seja pequeno, em torno de três mil pessoas participam do evento. Essas três mil pessoas movimentam-se entre o pessoal de bilheteria, os trabalhadores que arrumam o Estádio, os vendedores ambulantes, entre outros profissionais. Existe muita coisa em jogo além do atleta em si.

Outra questão que levanto refere-se aos demais esportes na mídia. A mídia preocupa-se em ter exclusividade na transmissão do futebol. No entanto, isso não ocorre em relação às demais modalidades, às quais, em minha opinião, os brasileiros também deveriam ter direito de assistir em TV aberta. Como poderíamos estabelecer normas sem impor, por exemplo, que, a partir de agora, toda emissora de televisão tem de transmitir um campeonato de vôlei ou de basquete? Não acredito que se possa estabelecer isso em lei nem interferir na programação das emissoras dessa forma, mas algo precisa ser feito para que as emissoras tenham

32 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Nome: Comissão Especial - PL 4874/01 - Estatuto do Desporto Comissão Esp. - PL 4874/01 - Estatuto do Desporto Número: 0129/02 Data: 19/03/02 pelo menos de abrir espaço para outras modalidades importantes que têm crescido no Brasil. Como podemos aperfeiçoar essa questão no processo legislativo?

Finalmente, Sr. José da Cruz, considero importantes as suas contribuições, inclusive em relação às demais áreas. O senhor citou o Comitê Olímpico e outras questões. É uma preocupação que tenho, já que fui o Relator do projeto e o autor do substitutivo que propôs a divisão. O projeto do Senador Piva previa apenas o repasse de 2% ao Comitê Olímpico. Fomos nós que, por sugestão do Deputado

Agnelo Queiroz, fizemos a divisão, destinando recursos também ao Comitê

Paraolímpico, que não os tinha. Ao mesmo tempo, introduzimos a proposta de que deveria haver recursos para o esporte educacional e o universitário. Seria um absurdo não dividirmos os recursos. Entretanto, ao elaborarmos o substitutivo, tínhamos a preocupação de não designar qualquer dirigente para gerir dinheiro do esporte educacional, recurso de valor considerável, que pode melhorar, e muito, o esporte educacional no Brasil.

Uma das coisas que também queremos fazer é unificar as ações. Hoje o volume de recursos é grande. Vemos, então, o Ministério da Educação promover olimpíada escolar; o Ministério do Esporte, outra modalidade, e agora a Lei Piva, da qual tivemos o prazer de ser um dos Relatores, também alocar dinheiro para outra entidade dirigir. Temos, então, três fontes de recursos públicos para fazer uma coisa só.

Como Relator, queremos equacionar essa questão. Ainda não temos nada definido, estamos ouvindo sugestões, mas queremos modificar isso. Não podemos continuar com esse exagero: três fontes de recursos, enquanto nada funciona.

Precisamos acertar essa questão.

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A mesma pergunta que dirigi ao outro convidado gostaria de lhe fazer, com relação aos atletas de outras modalidades. Como podemos trabalhar o direito de imagem? Um caso é o do jogador de futebol, que pode ficar até noventa minutos jogando; outro é o da ginasta, por exemplo, que dá um salto em questão de segundos, ou do nadador de cinqüenta metros, nado livre, que termina a competição rapidamente, ou do atleta, que corre cem metros em onze segundos. Como poderíamos trabalhar isso? Por tempo? Mas, assim, prejudicaríamos o atleta.

Como não sou especialista, e os senhores são da área, pergunto-lhes como vêem essa questão.

Muito obrigado, Sr. Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Deputado José Rocha) – Com a palavra o Sr. Wilson

Piazza, primeiro inquirido pelo Relator Gilmar Machado.

O SR. WILSON DA SILVA PIAZZA - Sr. Relator, Deputado Gilmar Machado, permita-me tentar relatar sucintamente, porque sei da limitação do tempo, a história da Federação das Associações de Atletas Profissionais no Brasil.

Há 25 anos estou nisso de corpo e alma. É uma questão de honra, e agradeço a Deus o privilégio de, nesse período de tempo, poder cooperar e tentar repassar a muitos companheiros de clubes e da própria Seleção alguma força, algum apoio por meio da Federação das Associações de Atletas Profissionais.

Como foi criado esse sistema? Em 1970, o Brasil foi tricampeão mundial. Os jogadores, reunidos, perguntavam a si mesmo o que pedir ao Governo. Pensava-se em isenção de Imposto de Renda, nisso e naquilo, em aposentadoria especial de quinze anos.

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Ora, num país onde o salário mínimo é, por exemplo, hoje, de 180 reais, como o jogador de futebol vai ter aposentadoria especial aos 34 anos de idade — o

Piazza, por exemplo, com quinze anos de futebol? Seria inconcebível. Pensamos, pensamos e, em 1974, na época do governo militar, solicitamos ao Presidente

Ernesto Geisel que algo fosse feito em favor do atleta profissional no Brasil. Pedimos especificamente para o atleta profissional de futebol. O Sr. Presidente, sucintamente, disse que o Governo faria o que fosse possível. Aí tivemos a Lei nº 6.354, de 1976, que regulamentou a profissão do atleta, e depois tivemos algo extremamente importante, que foi a criação do Sistema de Assistência Complementar ao Atleta

Profissional no Brasil, não simplesmente atleta do futebol. A Lei nº 6.269, de 1975, votada e apreciada pelo Poder Legislativo, previa amparo, principalmente nos campos assistencial e educacional, a todo atleta considerado profissional, independentemente da modalidade. Na época, eram consideradas profissionais apenas cinco modalidades: golfe, automobilismo, boxe, futebol e tênis.

Todos esses atletas poderiam e deveriam fazer parte do sistema, só que as normas criadas foram direcionadas primeiramente ao futebol, que concorria com a maior parte dos recursos a serem repassados à Associação de Garantia aos Atletas

Profissionais. Atualmente, o sistema não contempla apenas o atleta profissional de futebol, mas, diante dessa situação mascarada existente nos outros esportes, fica impossível comprovar a condição de atleta profissional dos profissionais do vôlei, do basquete ou do futsal. Ou seja, o atleta joga no MRV Minas, defendendo as cores do

Minas Tênis Clube, mas não tem contrato direto com o clube para provar sua condição de atleta profissional. Por isso, ele não tem condições de se inscrever no

35 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Nome: Comissão Especial - PL 4874/01 - Estatuto do Desporto Comissão Esp. - PL 4874/01 - Estatuto do Desporto Número: 0129/02 Data: 19/03/02 sistema, que é aberto aos profissionais de todas as categorias do esporte especializado.

O previsto pelo art. 217, que está no bojo da proposta do Deputado Silvio

Torres, já consta do art. 57 da Lei nº 9.615, de 1998, que contempla diretamente a

Federação com os recursos provenientes de percentuais definidos de contratos, de jogos organizados pela entidade nacional dos dirigentes do desporto, de transferências e de penalidades pecuniárias aplicadas pelos Tribunais de Justiça

Desportiva ou pelos clubes.

A luta que travamos foi imensa. Trocaria, com prazer, todos os recursos que constam do art. 57 por uma arrecadação diretamente direcionada ao sistema de assistência socioeducacional. Infelizmente, não chegam ao conhecimento público as grandes dificuldades enfrentadas pelo sistema, que têm custado noites de sono a nós, dirigentes do sistema, hoje sob a coordenação da Federação das Associações dos Atletas. Nenhuma contribuição de indenização até hoje foi recolhida.

Por isso, o sistema passa no momento por uma situação difícil. Não queremos, entretanto, jogar ações e mais ações contra clubes e federações para viabilizar o sistema.

O SR. PRESIDENTE (Deputado José Rocha) - Com a palavra o Sr. Jorge

Kajuru.

O SR. JORGE KAJURU – Antes de responder as perguntas formuladas pelo

Deputado, cumprimento o companheiro José da Cruz e Souza pelo conhecimento que tem sobre o assunto. Pode-se dizer que S.Sa. é jornalista esportivo. Não tenho vergonha de dizer que sou jornalista futebolístico. Adoro futebol, que, para mim, é o esporte mais importante. Fico feliz por esta Casa ter convidado dois jornalistas com

36 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Nome: Comissão Especial - PL 4874/01 - Estatuto do Desporto Comissão Esp. - PL 4874/01 - Estatuto do Desporto Número: 0129/02 Data: 19/03/02 interesses diferentes: um fala só de futebol; o outro fala com propriedade dos outros esportes.

Entretanto, discordo do Sr. José da Cruz e Souza em relação à não- participação da imprensa. Acho que não adianta só criticar, como a imprensa faz — criticar é fácil —; ela tem de participar e apresentar sugestões. Concordo integralmente com a participação da imprensa.

V.Exa. mencionou o direito de imagem. Não há como comparar o futebol aos outros esportes. Se se comparar com base no tempo, como V.Exa. disse, haverá injustiça por causa da duração de noventa minutos da partida. Sugiro que haja preferência das grandes empresas estatais pelo patrocínio na televisão dos outros esportes de menor audiência, já que as empresas privadas, como fabricantes de cervejas e bancos, procuram o futebol.

Então, o certo seria o Governo Federal priorizar o patrocínio, na televisão, desses outros esportes. Por exemplo, vejo na Rede Globo, no domingo de manhã, mundial de areia, com oferecimento dos Correios, e mundial de jogo de botão, com oferecimento da Caixa Econômica Federal. Esse patrocínio poderia ser utilizado para transmissão de vôlei, basquete, atletismo e natação.

O próprio Governo Federal poderia corrigir isso, em parceria com as emissoras de televisão, que deveriam — e já tratarei do que V.Exa. disse sobre os demais esportes — ocupar sua programação de domingo com a transmissão de eventos relativos a esportes amadores.

Assim como o rádio é obrigado a transmitir A Voz do Brasil e o Projeto

Minerva e como existe horário político gratuito em rádio e televisão, Brasília deveria exigir que as emissoras de televisão destinassem suas programações matinais de

37 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Nome: Comissão Especial - PL 4874/01 - Estatuto do Desporto Comissão Esp. - PL 4874/01 - Estatuto do Desporto Número: 0129/02 Data: 19/03/02 domingo às transmissões dos grandes torneios de esporte amador, com o patrocínio de empresas do Governo Federal, já que para o futebol há muito patrocínio disponível, havendo inclusive empresas da iniciativa privada na fila.

A outra observação feita por V.Exa. foi sobre recursos para clubes menores.

Quanto a isso, só tenho uma sugestão a fazer, e não pode haver hipocrisia.

Sei que esta é uma briga difícil, que pouca gente na imprensa esportiva enfrenta. Só há uma solução no futebol para se cuidar dos outros times.

Discordo do meu companheiro Juca, que é contrário aos campeonatos estaduais. Sou favorável a eles. Está provado que é a rivalidade que dá o maior público nos estádios. Não adianta querer acabar com a rivalidade.

Além disso, o País está cada vez mais regionalizado. O mineiro revolta-se porque, no domingo, não vê o jogo do Atlético Mineiro e Grêmio e tem de ver — a televisão empurra goela abaixo — o jogo do Flamengo e Paissandu. Isso não tem cabimento! O mineiro quer assistir, na televisão, ao futebol de Minas Gerais. O mesmo pode ser dito das pessoas do Rio Grande do Sul, da Bahia etc.

Portanto, só há uma solução: acabar com as federações. Esta é uma decisão drástica. O futebol não precisa de federações. É preciso haver, em cada Estado, o síndico, que seria o representante dos clubes, uma liga melhorada.

Pergunto a V.Exas.: por que a Federação Paulista recebe 20% do que a Rede Globo paga ao futebol de São Paulo? No ano passado, a Rede Globo pagou ao futebol de

São Paulo 80 milhões. Como pode a Federação Paulista ganhar 16 milhões? Como pode a Federação ser mais rica do que o clube?

Em São Paulo acontece algo para que muita gente da imprensa bate palmas, que considero um absurdo: a Federação empresta dinheiro para os clubes. Ela

38 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Nome: Comissão Especial - PL 4874/01 - Estatuto do Desporto Comissão Esp. - PL 4874/01 - Estatuto do Desporto Número: 0129/02 Data: 19/03/02 compra um jogador e dá para o clube. O que é isso? É o clube que deveria ter dinheiro. É ele que coloca o jogador, é ele que faz o espetáculo. Como pode um intermediário ganhar uma fortuna como essa?

É preciso acabar, nos direitos de transmissão das partidas de futebol, com esse intermediário chamado federação, cujos dirigentes perpetuam-se no poder.

Não se conhecem ex-presidentes de federação. Isso não existe. Conhece-se o presidente que está há vinte ou trinta anos dirigindo a instituição. Com o dinheiro da

Federação ele compra fazendas e outros bens. Isso tem de acabar. Esta é a única forma de fazer com que os clubes grandes pensem nos pequenos.

Não adianta existir a Série A do Campeonato Brasileiro se não houver a Série

B. Apesar disso, querem acabar com a Série B. Como podem querer fazer isso? A

Série A tem de sustentar a Série B — é evidente! — para haver decência e rebaixamento no futebol.

Com que dinheiro a Série A sustentaria a Série B? Com o dinheiro da televisão. É só tirar os intermediários que isso se torna possível. O maior intermediário, que tira o dinheiro dos clubes menores, são as federações, que são mais ricas do que os clubes.

Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado José Rocha) - Concedo a palavra ao jornalista José da Cruz e Souza.

O SR. JOSÉ DA CRUZ E SOUZA - Antes de mais nada, desejo reconhecer o engano que cometi com relação ao Deputado Gilmar Machado. Desculpe-me, nobre

Deputado, por não ter citado o nome de V.Exa. De fato, V.Exa. foi o Relator do

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2% ao Esporte.

Eu a chamo de Lei dos 2% ao Esporte, e não de Lei Piva — raramente a chamo assim —, porque esta é uma denominação errada. A origem dessa lei é a

Câmara dos Deputados. Foi o Deputado Agnelo Queiroz quem apresentou originalmente esse projeto de lei, e só dois, três ou quatro meses depois surgiu um projeto similar no Senado Federal.

Por isso, chamá-la de Lei Piva é errado e até extravagante, porque a proposta no Senado era de 10%, o que jamais seria aprovado. O projeto original do Deputado

Agnelo Queiroz, por outro lado, fixava esse valor em 1,5%, e o Deputado Gilmar

Machado acabou encontrando esse meio termo de 2%. Está feito o devido reparo.

Sobre o direito de imagem para as demais modalidades, não sou um especialista na

área, mas darei um exemplo. A Confederação Brasileira de Atletismo — uso muito os exemplos da CBAT, porque esta é uma das modalidades que mais cubro e, portanto, com a qual tenho mais contato — recebe em torno de 1,5 milhão de reais por ano da Rede Globo. A Rede Globo paga a ela esse valor e, em troca, abre mão das imagens dos seus principais eventos, como o Troféu Brasil de Atletismo e o

Meeting Internacional de Atletismo, por exemplo. A Rede Globo vende suas quotas, por ocasião desses eventos, e deve receber sete a dez vezes mais do que esse 1,5 milhão de reais que repassa à CBAT.

No entanto, a pergunta que fica é a seguinte: onde o atleta entra no rateio desse 1,5 milhão de reais que a CBAT recebe? Alguns presidentes de confederações teriam de ser consultados a esse respeito e, talvez, até o próprio

Comitê Paraolímpico Brasileiro.

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Estamos falando de futebol, de várias modalidades esportivas, de falcatruas, de formas de correção, de Ministério Público, de fim de federações, de clubes, de

Governo do Estado, da participação do Estado no desporto, enfim, e o objetivo final desta discussão é termos atletas competitivos, que representem bem o Brasil e tragam resultados, o que é possível. Isso já está provado. Falta-nos só ordenação na nossa estrutura esportiva.

Peço licença aos nobres Deputados para ler frase que me foi passada por um amigo chamado José Carlos Marques, que está presente. Ele é um especialista em marketing esportivo, uma autoridade nesta área, e está fazendo análise detalhada sobre a Bolsa-Atleta, que o Governo está prestes a lançar, por meio de medida provisória.

Ele escreveu uma frase, e me parece oportuno deixar para o pensamento dos senhores. Diz ele: “A maior falha na consolidação do modelo de desenvolvimento esportivo no País é a falta de integração”. Segundo ele, não existe integração entre poderes, entre instituições, entre federação e clubes nem entre confederação e clubes. Existe uma hierarquia, que não é obedecida.

Deixo o pensamento desse especialista em esporte como contribuição à

Comissão.

O SR. PRESIDENTE (Deputado José Rocha) – Terminada esta fase, passaremos à lista de inscrição para os debates.

Concedo a palavra ao primeiro inscrito, Deputado Márcio Matos.

O SR. DEPUTADO MÁRCIO MATOS – Sr. Presidente, membros da Mesa, quando falamos em Estatuto referimo-nos a uma série de regras, de um regulamento que envolve o esporte, no caso, suas relações, as federações, os clubes, as

41 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Nome: Comissão Especial - PL 4874/01 - Estatuto do Desporto Comissão Esp. - PL 4874/01 - Estatuto do Desporto Número: 0129/02 Data: 19/03/02 confederações, as regras da competição em si, a relação entre capital e trabalho, a relação de imagem etc.

Imagino o Estatuto do Desporto como algo geral para que seja definida a especificidade de cada esporte. Quer dizer, há um estatuto geral e cada modalidade terá regras específicas.

Quando falamos de esporte, estamos falando da competição, do atleta pronto para a competição; porém, não falamos do atleta como homem, como cidadão. Isso faz parte do Plano Nacional do Esporte. O financiamento público do esporte deve direcionar-se para a formação do atleta. O dinheiro arrecadado, por exemplo, das loterias também deve ir para o esporte amador. Uma vez esse atleta pronto, ao ingressar no esporte profissional passa a contar com o financiamento das empresas.

Não sou contrário a que uma empresa estatal entre nessa área. Mas, preferencialmente, o dinheiro público tem de ser destinado para a formação e o privado para o desenvolvimento da imagem que dois segundos de mídia tanto valorizam.

É importante analisar a relação de um time de futebol como o Palmeiras, por exemplo, com a sociedade. Os donos têm o título do clube; a grande gama dos torcedores não é dona do time. Aquela sociedade que compra e vende, faz e desfaz, tem de dar alguma satisfação a outra parte, que ajuda a elevar o nome do time, fazendo com que seu emblema e sua logomarca se valorizem.

É uma relação interessante. O time, em si, é pessoa jurídica. Não é pública, mas é de interesse público. Por isso, o Governo participa desse relacionamento. Não se pode transformar o Corinthians, por exemplo, objeto de adoração de toda uma

42 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Nome: Comissão Especial - PL 4874/01 - Estatuto do Desporto Comissão Esp. - PL 4874/01 - Estatuto do Desporto Número: 0129/02 Data: 19/03/02 comunidade, numa empresa. Não sei como apresentar claramente esse tema, mas ele tem de ser discutido.

Quem financia a Confederação Brasileira de Futebol? Os clubes? As rendas?

Os contratos? As federações? A CBF tem responsabilidade como representante da

Nação. Pode ser utópico, mas é um ponto que tem de ser pensado. Não podemos deixar um clube sob a decisão de dois ou três, esquecendo o resto da população. O que isso representa do ponto de vista social? Quero saber a opinião de V.Sas. a respeito.

Outra questão que me preocupa é que o nosso esporte é como laranja de temporão. Antigamente, o jogador de futebol surgia. Era pobrezinho, negrinho — sem discriminação alguma —, jogava na várzea e encontrava espaço. Hoje, ele tem de pagar escola: elitizaram até a formação do atleta. O Estado brasileiro falta com sua responsabilidade para com a bioética daquele cidadão que nasceu com potencial, mas não tem a oportunidade de despertá-lo.

O SR. PRESIDENTE (Deputado José Rocha) – Algum dos convidados quer fazer uso da palavra?

O SR. DEPUTADO RONALDO VASCONCELLOS – Sr. Presidente, peço a palavra pela ordem.

O SR. PRESIDENTE (Deputado José Rocha) – Tem V.Exa. a palavra.

O SR. DEPUTADO RONALDO VASCONCELLOS – Por que V.Exa. não junta os Deputados em grupos de três?

O SR. PRESIDENTE (Deputado José Rocha) – Vamos seguir a sugestão de

V.Exa.

Com a palavra o Deputado Iédio Rosa.

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O SR. DEPUTADO IÉDIO ROSA – Sr. Presidente, quero dirigir-me ao Sr.

Jorge Kajuru. Confesso que fiquei chocado com a explanação de S.Sa. e considero desrespeitosas algumas das posições manifestadas, talvez por não estar acostumado com o seu linguajar.

Assim como o Deputado José Rocha, aproveito para fazer um desagravo ao

Vice-Presidente da República, Marco Maciel. É a primeira vez que ouço alguém falar mal de S.Exa., que considero um grande estadista, embora eu não seja do mesmo partido.

Quero também dizer que nossa Casa é democrática. Por isso, estamos ouvindo a contribuição de V.Sas. para o bom andamento do nosso desporto.

Desejo fazer três perguntas e aproveitarei para fazê-las a esse grande atleta e jogador Wilson Piazza, que defendeu o Brasil dentro e fora do País. Já tenho 60 anos e pude acompanhar seu trabalho, sua dedicação, sua classe dentro do futebol.

Nós, que sempre gostamos de jogar futebol, sabemos que uma coisa é ser beque e outra é ser meio-campista, e o Piazza atuou das duas formas muito bem. É difícil deslocar um zagueiro para atuar no meio de campo como o Piazza fez. Parabéns,

Piazza, o Brasil deve muito a você pelo seu desempenho profissional!

Também se falou em perpetuar a direção desse ou daquele clube e você está há quinze anos na Presidência da Federação das Associações de Atletas

Profissionais pelo seu trabalho e sua dedicação, como nosso Presidente em exercício, Deputado José Rocha, que também já foi dirigente. O dirigente é eleito.

Não podemos generalizar.

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Aproveito para cumprimentar o jornalista José da Cruz, que é muito simpático e apresentou-se de forma diferente do Kajuru, que, acredito, agrediu um pouco todos nós.

Wilson Piazza, recebi um script com sugestões, falando sobre formação, assistência e educação do atleta. Gostaria de saber se tem alguma sugestão mais específica do que o que consta nessas quatro ou cinco linhas. Em outra audiência pública, cheguei a questionar — e aqui foi dito também — a respeito do árbitro do futebol. O futebol é profissional, o árbitro é amador. Nesse ponto, fui contestado pelo

Eurico Miranda. Assim, gostaria de saber sua opinião, a partir de sua vivência dentro do futebol profissional, se há possibilidade de se colocar também o árbitro como profissional, um homem que se dedique e tenha apenas essa profissão. Falou-se do

América; sou americano e já vi o América ser garfado várias vezes. No último jogo, o

Vasco, não sei por que razão, estava perdendo de um a zero e o juiz cismou de dar quatro minutos de prorrogação, como querendo que houvesse empate. De repente, o árbitro, como amador, não possui a devida independência. Sou defensor público e, por exemplo, em Minas e em São Paulo, o defensor público é contratado periodicamente. Quer dizer, ele não tem independência, não vai brigar contra o juiz, contra o Estado, contra a União ou contra o Município. Se ele fosse concursado, teria mais independência. Portanto, gostaria de saber do Wilson Piazza se o árbitro também deve ser um profissional.

As normas podem ser encaixadas no capítulo do Estatuto do Treinador sobre direitos e obrigações. Também sou favorável à declaração de bens por dirigentes, pois creio que isso não fere ninguém.

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Outro ponto, a Federação existe e está funcionando mal. Não seria o caso de modificar seu funcionamento ou, o que acho meio drástico, acabar com ela?

Por fim, há algum tempo, ouvi dizer que o Grêmio formou uma sociedade mercantil com supermercados etc. Não sei se ainda existe — não acompanho —, se deu certo, se teve ou não sucesso, pois é um meio de se administrar a empresa, o futebol amador.

Agradeço a V.Exas. a atenção.

Era o que tinha a dizer.

O SR. PRESIDENTE (Deputado José Rocha) – Com a palavra o Deputado

Ronaldo Vasconcellos, mineiro atleticano.

O SR. DEPUTADO RONALDO VASCONCELLOS – Sr. Presidente, Sr.

Relator, Srs. Deputados, senhores convidados e assessores, quero aproveitar a presença dos ilustres jornalistas e do Sr. Wilson Piazza para fazer uma constatação sem querer provocar polêmica. Às vezes, as pessoas dizem assim: “Ah!, mas a CPI do Futebol na Câmara não deu resultados. Deu resultado, sim. Talvez as pessoas não saibam, mas, por exemplo, na questão do INSS, os auditores fiscais — e tenho uma boa ligação com eles — têm garantido que o INSS está arrecadando mais pós-

CPI da Câmara. A mesma coisa ocorre no Banco Central e na Secretaria da Receita

Federal. Não quero entrar nessa seara para não virar polêmica, mas desejo dizer que a CPI deu alguns resultados positivos. Os dirigentes esportivos achavam-se acima da lei e não recebiam os auditores fiscais. Hoje já recebem os auditores fiscais, por exemplo, do INSS.

Vou fazer três perguntas bem objetivas para nossos ilustres convidados.

Estamos debatendo o Estatuto do Desporto. Cabe ao Parlamentar votar. Há

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18 anos para o estrangeiro? Quero saber a opinião dos três ilustres convidados. A segunda questão está relacionada à lei. Quero saber se devemos discutir a obrigatoriedade da segurança nos estádios, ou seja, se devem existir ou não catracas, alambrados — que tipo de alambrado — e cadeiras numeradas e definidas. O espectador deve ser respeitado não só quanto à segurança, como também quanto ao conforto no chamado espetáculo esportivo — é como um espetáculo de teatro, de cinema etc., onde é preciso ter o mínimo de dignidade —, a fim de que ele, prezado Jorge Kajuru, a quem assisto aos domingos pela televisão, prezados Wilson Piazza e José da Cruz, volte a freqüentar os estádios. Precisamos ter uma definição clara na lei sobre a segurança nos estádios.

Gostaria de saber também com relação à bebida nos estádios de futebol.

Bebo a minha cerveja de vez em quando, controlado, e toda vez que vou ao jogo — só assisto aos jogos do Clube Atlético Mineiro. Bebo duas ou três cervejinhas. O sujeito chega ao estádio a uma hora da tarde; às cinco horas, ele já tomou de doze a quinze cervejas. Portanto, não tem como se comportar adequadamente. Qual a opinião dos expositores sobre a questão da segurança nos estádios?

Quando entramos nesta Casa — talvez V.Sas. tenham conhecimento, e o

Deputado Gilmar Machado recorda-se também na Assembléia de Minas Gerais —, entregamos declaração de Imposto de Renda. “Olha, no ano passado, ganhei tanto.

Está aqui a minha declaração.” Depois de quatro anos de mandato, entrega-se a declaração e diz-se: “Olha, é o meu quarto ano. Está aqui a minha declaração de

Imposto de Renda”. Quem não quiser acreditar que fiscalize. Votei para que nossa declaração fosse divulgada na Internet. Fui derrotado. Por que não imputar ao

47 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Nome: Comissão Especial - PL 4874/01 - Estatuto do Desporto Comissão Esp. - PL 4874/01 - Estatuto do Desporto Número: 0129/02 Data: 19/03/02 dirigente esportivo também uma orientação qualquer nesse sentido ou a chamada

Lei de Responsabilidade do Desporto?

São essas três considerações. Ouvirei atentamente a palavra de quem entende, e muito, do assunto. Meus respeitos a Jorge Kajuru, a Wilson da Silva

Piazza e a José da Cruz e Souza.

O SR. PRESIDENTE (Deputado José Rocha) – Fiquem à vontade os três convidados para responder aos três ilustres Parlamentares: Márcio Matos, Iédio

Rosa e Ronaldo Vasconcellos.

O SR. JORGE KAJURU – Sr. Presidente, vou responder, primeiramente, ao

Deputado Márcio Matos. Concordei em gênero, número e grau com tudo o que

V.Exa. disse, especialmente sobre o dinheiro público. Creio que essa é uma discussão importantíssima, que deveria ser tese e, acima de tudo, lei. O dinheiro público deveria ser exclusivamente investido na formação de todos os atletas. Sei disso, Deputado, porque, em Goiás, há muitos atletas. O Osmanir, atleta maratonista, foi a uma competição no exterior. O Governo não quis, de forma alguma, ajudá-lo. Digo isso apenas para mostrar minha isenção política. Falei do atual Governo de Goiás naquele meu pronunciamento, mas foi o Governo anterior que não deu nem passagem para um atleta maratonista de uma olimpíada.

Conseguimos, então, na rádio patrocínio para ajudar o atleta, que foi destaque de uma reportagem de quatro páginas da Veja, à época da Olimpíada de Seul.

Portanto, essa discussão sobre o dinheiro público para formação do atleta é fundamental.

Em relação ao que V.Exa. comentou sobre clubes e CBF — é pelo que estamos mais lutando, assim como os Srs. Deputados aqui também —, queremos

48 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Nome: Comissão Especial - PL 4874/01 - Estatuto do Desporto Comissão Esp. - PL 4874/01 - Estatuto do Desporto Número: 0129/02 Data: 19/03/02 saber qual a origem do dinheiro que entra nos clubes e o porquê da parceria com a

Hicks — até brinco quando falo que não é Hicks, é “Pobricks”. Ela é Hicks lá fora, aqui é “Pobricks”, porque não quer investir mais dinheiro no Corinthians e nem quer contratar mais ninguém. Ninguém viu o contrato do Corinthians com essa empresa.

O clube disse que estava em cartório. Procuramos todos os cartórios de São Paulo e constatamos que não existe esse contrato em cartório. Nem o Conselho do

Corinthians viu o contrato de dez anos firmado com uma empresa americana — convenhamos, empresa americana nenhuma vem aqui se não for por lucro e muito lucro. Só que ela achou que futebol era hambúrguer, que era fácil, mas viu que o

Corinthians é um time de futebol, que é uma massa que quer título e craque toda hora. Então, é claro que devem ser investigados a CBF e seus contratos milionários.

V.Exas. viram o que aconteceu há pouco tempo com o último contrato da CBF com a

AMBEVE. Dez dias depois do contrato pronto, o Presidente da CBF presenteou um amigo seu — deu-lhe uma comissão pequena de 8 milhões —, que montou uma empresa correndo para ser a representante, a tal famosa intermediária do negócio.

Em relação ao que disse o Deputado Ronaldo Vasconcellos, o INSS é uma vitória de V.Exas. na Câmara dos Deputados, reconhecida já publicamente por Juca

Kfouri e por mim, porque antes não existia essa relação clube e, pelo contrário, não existia o medo, que hoje há. Isso se deve ao trabalho de V.Exas. E, de forma alguma, de nossa parte, isso foi esquecido. A questão do INSS é uma vitória indiscutível, assim como tudo que aconteceu aqui. Tanto é que fiz questão de iniciar meu primeiro discurso comentando pronunciamento de um Deputado que respeito muito, Silvio Torres, sobre essa discussão de todos nós aqui. Portanto, o trabalho da

Câmara dos Deputados, a meu ver, foi absolutamente importante.

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Em relação à proibição do jogador menor de 18 anos, vou mais além: estenderia a proibição para menor de 21 anos. Menor de 20 anos não pode sair do futebol. E mais: ainda tentaria manter o jogador aqui de alguma maneira, com esses grandes e milionários contratos que são feitos no futebol brasileiro, com os nossos maiores craques sendo adotados por grandes empresas.

Vemos tanto jogador brasileiro indo para o exterior e, um ano depois, querer voltar ao Brasil. Ele perde a ilusão, vê que não é nada do que pensou, vê que lá também os salários são atrasados, com raríssimas exceções. Mas ele tem de ser um craque, tem de ser um Rivaldo ou um Ronaldo, para jogar num grande time e seu salário não atrasar. Portanto, precisamos vigiar mais essa saída de jogadores.

Ora, há jogador de 12 anos de idade que está saindo do País e indo para a

Itália. Temos de buscar a razão na origem do problema. Qual é a origem do problema? Os empresários que não são empresários coisa alguma, que não ligam a mínima para o futebol brasileiro, apenas querem faturar com jogadores de 12 anos.

Temos de ir na origem do problema e precisamos de V.Exas. nesse combate.

A obrigação da segurança nos estádios é tão clara que vou dar a V.Exas. apenas um exemplo, a que puderam assistir. O que aconteceu no Estádio de São

Januário no jogo do Vasco contra o São Caetano? A decisão da Justiça foi algo hilário. Os responsáveis pelo Estádio São Januário foram punidos — alguns aqui sabem disso e outros talvez não, mas a punição foi simplesmente de 6 mil reais em cestas básicas. Essa a punição aos dirigentes responsáveis. A partir de agora, deveriam ser responsáveis de forma criminal, pois tragédias podem acontecer nesses estádios que estão caindo.

50 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Nome: Comissão Especial - PL 4874/01 - Estatuto do Desporto Comissão Esp. - PL 4874/01 - Estatuto do Desporto Número: 0129/02 Data: 19/03/02

Aproveitando o ensejo da presença de muitos mineiros, existe um grande estádio brasileiro que precisa urgentemente de cuidados: chama-se Mineirão.

Quando ele está lotado, dá até medo. A qualquer momento, poderá haver tragédia maior no futebol brasileiro, porque os responsáveis pelos estádios não são absolutamente punidos quando ocorrem tragédias como a de São Januário.

Dirigente prestar conta foi meu pronunciamento, pois acredito ter incitado

V.Exas., políticos, que são cobrados pela mídia, e a mídia esportiva estranhamente não cobra do dirigente como ele entrou no futebol, por que veio, qual seu patrimônio etc, até porque, infelizmente, parte da nossa mídia é muito comprometida. Quem leu o relatório final da CPI do Futebol viu quantos jornalistas foram para a Copa do

Mundo por conta da CBF, que com eles gastou 400 mil dólares em passagens aéreas e hotel. Por essa razão, deveria haver a cobrança da imprensa esportiva.

Deputado Iédio Rosa, se V.Exa. considerou minha palavra desrespeitosa,

V.Exa. me desculpe, pois de forma alguma houve essa intenção. Não fui desrespeitoso e nem agredi ninguém. Apenas trouxe uma informação, que nem é minha opinião — alguém disse que seria minha opinião —, de que quem está freando a medida provisória para consertar e moralizar o futebol chama-se Marco

Maciel. Não critiquei S.Exa., não falei nada a seu respeito. Apenas trouxe uma informação. Desculpe-me, V.Exa., mas não tive intenção alguma de ser desrespeitoso ou de agredir alguém fazendo esse comentário e trazendo essa informação. Se V.Exa. torcesse para outro time grande, não iria, de forma alguma, ficar chateado com o comentário a meu respeito de ter sido agressivo nesta audiência. Como V.Exa. é torcedor sofrido do América, então, de forma alguma, vou ficar chateado com o que V.Exa. falou. Apenas acho que V.Exa. foi injusto comigo,

51 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Nome: Comissão Especial - PL 4874/01 - Estatuto do Desporto Comissão Esp. - PL 4874/01 - Estatuto do Desporto Número: 0129/02 Data: 19/03/02 pois, para mim, não é desrespeito nem agressão trazer uma informação que apurei e busquei sobre a responsabilidade do retardamento da medida provisória, pois todos que sonhamos com a seriedade do futebol queremos vê-la aprovada.

O SR. DEPUTADO IÉDIO ROSA – Sr. Presidente, peço a palavra pela ordem.

O SR. PRESIDENTE (Deputado José Rocha) – Tem V.Exa. a palavra.

O SR. DEPUTADO IÉDIO ROSA – Sr. Jorge Kajuru, apenas quero esclarecer que não falei nada a respeito dos seus conhecimentos. Ficamos até satisfeitos, citei algumas frases e posições suas. Mas realmente o considerei desrespeitoso não para comigo, mas sua fala com relação à nossa Casa, ao nosso Poder Legislativo, foi pejorativa.

O SR. JORGE KAJURU – Entrei elogiando a Casa!

O SR. DEPUTADO IÉDIO ROSA – O senhor elogiou agora, na segunda fase.

O SR. JORGE KAJURU – Elogiei no primeiro pronunciamento.

O SR. DEPUTADO IÉDIO ROSA – Na primeira fase, o senhor não elogiou, não.

O SR. JORGE KAJURU – Está tudo aqui. É só V.Exa. buscar o que falei. O que é isso? Acho que elogiei até demais.

O SR. DEPUTADO IÉDIO ROSA – A princípio, não.

O SR. JORGE KAJURU – Para ser sincero, elogiei até demais.

O SR. DEPUTADO IÉDIO ROSA – Então, considerei dessa forma. Agora, o fato de ser ou não América é irrelevante aqui. Ser América e carioca é irrelevante aqui.

O SR. JORGE KAJURU – Aí é mais irrelevante ainda! (Risos.)

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O SR. DEPUTADO IÉDIO ROSA – Isso é irrelevante. Não torço para o melhor, nunca; torço para quem gosto. Tenho amor ao América, e daí? Você acha que vou mudar porque quer que eu torça para outro time?

O SR. JORGE KAJURU – Não, mantenha sua torcida.

O SR. PRESIDENTE (Deputado José Rocha) – Mesmo porque, Iédio, quem assina a medida provisória não é Marco Maciel; quem a assina chama-se Fernando

Henrique Cardoso. Então, se algum problema existe, não é com o Marco Maciel, mas, sim, com o Presidente Fernando Henrique Cardoso.

Passo a palavra aos outros convidados que não tiveram oportunidade de falar sobre as argüições dos três primeiros Deputados.

O SR. WILSON DA SILVA PIAZZA – Sr. Presidente, peço licença da palavra.

Gostaria de iniciar pelo nobre Deputado Iédio Rosa.

Sr. Deputado, sem demagogia, quando falo a respeito do futebol brasileiro, peço desculpas, pois falo sempre com muita emoção, falo sempre com o coração.

Creio que o que fiz como atleta na Seleção Brasileira, fiz também como profissional, considerado à época, recebendo por tal. A maior compensação, além do título, daquilo que proporcionamos à Nação continua sendo o reconhecimento, o carinho do torcedor não apenas com a minha pessoa, mas também, sinceramente, extensivo a todos os demais companheiros daquela Seleção Brasileira de 70, que não foi evidentemente uma Seleção, no meu entendimento, mas uma verdadeira família.

Agradeço penhoradamente os elogios. Gostaria de retificar, na fala de V.Exa., com referência ao meu tempo junto à instituição, no caso, a FAAP, que foi criada em

1996, por direito e de fato, a partir de 1998, com a Lei nº 9.615, cujo art. 57 destinava recursos para que ela pudesse assumir o papel de coordenadora,

53 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Nome: Comissão Especial - PL 4874/01 - Estatuto do Desporto Comissão Esp. - PL 4874/01 - Estatuto do Desporto Número: 0129/02 Data: 19/03/02 fiscalizadora e repassadora desses recursos às entidades que prestam o sistema de assistência ao atleta profissional e aos atletas em formação no País.

Não estou como Presidente. Não gosto do continuísmo. Acho que tem de haver continuidade das boas idéias e das boas propostas, mas é evidente que continuo ligado há 25 anos, como creio, até morrer, à causa do nosso atleta. Como disse, é uma forma de retornar um pouco da contribuição no aspecto social a uma atividade onde poucos ganham muito e muitos ganham pouco ou que arruma a vida de poucos e desarruma a de muitos. Mas foi onde consegui, sinceramente, arrumar relativamente a minha vida.

Gostaria de dizer que, para que essa assistência ao futebol brasileiro fosse mais eficiente, precisaríamos realmente de mais recursos. No momento, tenho a responsabilidade de presidir a Federação e tenho de conduzir o sistema, que estamos reestruturando, pois esteve nas mãos do Governo desde 1975, quando criado, até a chegada da Lei Pelé, que tinha de arrecadar, fiscalizar e repassar os recursos para as instituições. Infelizmente, o Governo não cumpriu seu papel e o sistema ficou deteriorado, fragilizado, arrebentado. Nós o estamos reestruturando, fazendo auditoria nas entidades e, podem estar certos, felizmente, já consertamos corrupção, dinheiro malversado por vários dirigentes e vamos fazer com que isso chegue ao Governo, pois, na época, o INDESP era o responsável pelo repasse desses recursos.

Com referência à arbitragem, creio que o árbitro tem de ser realmente profissional, pois não pode haver árbitro amador num sistema profissional.

Quanto ao que disse o Deputado Ronaldo Vasconcelos sobre a segurança nos estádios, creio ser necessário e fundamental começarmos pela modernização

54 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Nome: Comissão Especial - PL 4874/01 - Estatuto do Desporto Comissão Esp. - PL 4874/01 - Estatuto do Desporto Número: 0129/02 Data: 19/03/02 de todos eles, principalmente no que se refere à setorização, necessária ao estádios modernos, o que a FIFA cobra, para proporcionar maior segurança.

O uso de bebidas alcoólicas deveria ser extirpado do futebol. Assisti à Copa do Mundo na Itália, por exemplo, e observei que lá se serviam bebidas, mas não alcoólicas. É, porém, um trabalho difícil. Deve ser proibida a venda de bebidas alcoólicas não só nos estádios, mas também nos estabelecimentos vizinhos, pois alguns torcedores chegam ao estádio já embriagados e com propósitos baderneiros.

Por fim, sobre a questão levantada pelo Deputado Márcio Matos, ou seja, a formação de atletas, vamos fazer chegar à Comissão as nossas sugestões, apesar de ainda não sabermos onde seria inserida a valorização do trabalho de base dos clubes. Gostaríamos que fosse definido o investimento para a formação do atleta, não apenas na parte técnica, mas também na formação moral e educacional; que os recursos destinados pelos clubes ficassem bem definidos. Quem sabe até se pudesse criar uma comissão de arbitramento semelhante à que a FIFA tem agora, que atuou no caso do Ronaldinho Gaúcho, para que, no caso de indenização ao clube formador do atleta, não se cerceie o seu direito de ir e vir, pois, antes de tudo,

é um cidadão. Há atletas saindo do País, sem nenhum compromisso com o futebol brasileiro ou com a própria Nação. Às vezes passam por situações constrangedoras e difíceis no exterior. Precisamos criar uma legislação que, sem agredir o direito de ir e vir do cidadão, valorize nosso futebol brasileiro.

O SR. PRESIDENTE (Deputado José Rocha) – Com a palavra o Sr. José da

Cruz e Sousa.

O SR. JOSÉ DA CRUZ E SOUZA – Antes de mais nada, saúdo o Deputado

Silvio Torres e cumprimento-o pelo trabalho. Fiz muitas entrevistas com V.Exa.,

55 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Nome: Comissão Especial - PL 4874/01 - Estatuto do Desporto Comissão Esp. - PL 4874/01 - Estatuto do Desporto Número: 0129/02 Data: 19/03/02 acompanhei a CPI e hoje estamos aqui prestando essa contribuição. Percebo que o esforço de V.Exa. teve continuidade.

Concordo com o que disseram Jorge Kajuru e Wilson Piazza, mas gostaria de abordar o ponto no qual insistiu o Deputado Márcio Matos. Trata-se da formação do atleta. Eu costumo afirmar que hoje em dia não falta dinheiro para o esporte brasileiro. Há muito dinheiro. V.Exas. têm como fazer um levantamento junto aos

órgãos públicos que patrocinam o esporte. Além dos 2% oriundos da arrecadação das dez loterias federais administradas pela Caixa Econômica Federal, está vindo mais uma, a Totó Bola. Serão onze, o que significa que os 60 milhões projetados para os Comitês Olímpico e Paraolímpico deverão ter acréscimo.

Então, há muito dinheiro para o esporte. A questão é: como esse dinheiro chega ao atleta? Ou melhor: como chega ao técnico? Muitas vezes, o atleta viaja sem o técnico e o fisioterapeuta. Só os atletas de elite têm esse privilégio. Como o dinheiro vai chegar ao atleta de base? Como envolver a escola na formação do atleta?

Apenas para que V.Exas. tenham uma idéia, a Caixa Econômica Federal, o

Banco do Brasil, a PETROBRAS e os Correios financiam os esportes. Por aí podemos calcular o que significa isso. No ano passado, entre agosto e dezembro, a

Caixa Econômica Federal repassou 13 milhões aos Comitês Olímpico e

Paraolímpico, quando começou a viger a lei dos 2%. Nunca houve tanto dinheiro no esporte brasileiro. Neste ano há previsão de 60 milhões. Em 2000, a SASSI

Seguros, ligada à Caixa Econômica Federal, promoveu torneio de tênis na Academia de Tênis de Brasília, evento para o qual foram destinados 50 mil reais. Ofereceram troféus e premiação aos melhores atletas do Centro-Oeste. Para onde foi o restante

56 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Nome: Comissão Especial - PL 4874/01 - Estatuto do Desporto Comissão Esp. - PL 4874/01 - Estatuto do Desporto Número: 0129/02 Data: 19/03/02 do dinheiro? Com 50 mil reais poderia ser sustentada uma escolinha de vinte alunos, por cerca de oito meses, para iniciar a formação do atleta. E com dinheiro público.

Então, peço aos Srs. Parlamentares que consultem os órgãos públicos e discutam a aplicação dos recursos. É claro que, em termos institucionais, em termos de marketing, é interessante ter atletas de elite, atletas que se destacam na mídia, ostentando a marca do Banco do Brasil, dos Correios, etc. Isso também é importante para o atleta, mas acho que deve haver melhor ordenamento na prestação de contas desse dinheiro e nos critérios utilizados para repassá-lo ao esporte, principalmente para privilegiar a iniciação dos atletas.

O SR. PRESIDENTE (Deputado José Rocha) – Com a palavra o último orador inscrito, Deputado Silvio Torres.

O SR. DEPUTADO SILVIO TORRES – Sr. Presidente, Sr. Relator, Sras. e

Srs. Deputados, prezados convidados, em primeiro lugar, peço desculpas por não ter estado aqui antes. Perdi o vôo. Especialmente por ser signatário do projeto, lamento não ter podido apreciar a palestra e ouvir as contribuições de V.Sas.

Na minha opinião, a medida provisória que tem sido aguardada desde dezembro, que representaria a modernização do futebol, não deve ser imaginada como a solução para os problemas desse esporte brasileiro. A intenção, ainda não concretizada, foi agir de imediato para atenuar os efeitos das denúncias gritantes que as duas CPIs apuraram sobre a administração do futebol brasileiro, especialmente sobre a conduta das entidades e de seus diretores. Durante os nove meses em que trabalhamos na CPI, nossa preocupação constante era utilizar o material colhido, as investigações e os depoimentos, e transformar essa riqueza de

57 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Nome: Comissão Especial - PL 4874/01 - Estatuto do Desporto Comissão Esp. - PL 4874/01 - Estatuto do Desporto Número: 0129/02 Data: 19/03/02 conhecimento e a nossa experiência em um projeto amplo para o esporte brasileiro.

Esse sempre foi o objetivo maior da nossa CPI.

É bom lembrar que não descobrimos muita coisa além do que a imprensa já vinha denunciando há anos. A diferença foi que, pela primeira vez, os fatos tornaram-se oficiais e, digamos assim, foram compartilhados com a opinião púbica.

Nossa intenção sempre foi elaborar um projeto de lei que desse ao esporte brasileiro normas, organização, planejamento, expectativa e, principalmente, futuro, a fim de que não dependesse de tantas circunstâncias, como ocorre hoje, o que certamente tem atrasado a sua evolução e o seu desenvolvimento.

Lamento que a medida provisória não tenha sido assinada. Acho que isso comprometeu nosso trabalho. Ainda acreditamos que é possível melhorar o esporte nacional, e o projeto de lei, como disse, é importante ponto de partida.

O Deputado José Rocha foi o Sub-Relator do projeto e teve oportunidade de presidir várias reuniões em que ouvimos pessoas especializadas e que muito contribuíram para o nosso projeto. Estamos caminhando agora para a definição do que, esperamos, seja o melhor para o esporte brasileiro. Essa definição, tenho certeza, vai contemplar todos os itens da medida provisória e, mais do que isso, vai dar ao Estado, por exemplo, condições de intervir, se necessário, na administração das entidades esportivas, e de atribuir-lhes a responsabilidade de incentivar o esporte nacional, desde a base até a prática profissional. Com isso, vai ser um parceiro imprescindível.

Vimos, depois da Constituição de 1988, que essa “autonomia” — entre aspas

— do esporte, especialmente do futebol brasileiro, acabou dando uma espécie de carta branca aos dirigentes para fazerem o que quisessem com os recursos

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Então, quero apenas enfatizar a importância desse projeto de lei, que deveria merecer maior atenção por parte da imprensa. Desculpem-me os jornalistas presentes, que deram excelente cobertura à CPI, mas acho que faltou a complementação. Queremos mudar definitivamente a situação do esporte brasileiro, ou seja, dar segurança aos investidores, expectativa de futuro melhor para quem deseja praticar algum esporte, sem ficar sujeito, tal como acontece hoje, a decisões da Justiça. Além da briga pelo passe, os atletas que não têm dinheiro ainda enfrentam dificuldades para pagar as despesas com transporte quando vão disputar campeonatos importantes. Enfim, todas essas mazelas são hoje mais destacadas até do que os próprios feitos dos desportistas brasileiros.

Quero fazer este apelo à imprensa, que tem em vocês, jornalistas, os representantes de maior credibilidade: ajudem-nos a tornar esse projeto de lei tão importante quanto a CPI, ou seja, pressionem o Congresso Nacional a votar essa matéria. Não pensem que vai ser fácil mudar uma cultura de tantos anos. Será outra luta, talvez tão grande, tão difícil quanto a CPI, porque não vão faltar interesses contrariados.

Creio que nosso projeto, além de mais abrangente, é também muito mais democrático, porque permite a participação de todos os setores do esporte brasileiro. Eu penso que assim vamos chegar a um resultado muito melhor.

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Sem querer me estender, eu queria falar agora, Sr. Presidente, se V.Exa. me permite, sobre algumas questões pontuais.

Dirijo-me ao Sr. Wilson Piazza. Não quero emocioná-lo novamente, mas quero que saiba que tenho a mesma opinião do Deputado Iédio Rosa sobre o seu comportamento e a sua trajetória no futebol brasileiro. Eu queria saber a opinião de

V.Sa. sobre um dos artigos do nosso projeto que prevê a figura do esportista autônomo, do atleta profissional autônomo. Tal artigo permitirá que o atleta que não esteja ligado a nenhum clube, em qualquer esporte, recolha a contribuição do INSS, faça a declaração de Imposto de Renda e tudo o mais, ou seja, permitirá ao atleta ser um verdadeiro cidadão brasileiro. Dessa forma se estabelece uma independência maior com relação aos clubes, até quando se tornarem empresas, o que me parece ser o melhor caminho, a médio prazo.

A segunda questão: V.Sa. acompanhou, como dirigente sindical, o lançamento do Instituto de Assistência ao Futebol Brasileiro, se não em engano, em

1997, pela CBF, pelo Sr. Ricardo Teixeira. Não me lembro agora, mas está no relatório. O órgão daria assistência a atletas e ex-atletas, principalmente àqueles que foram relegados pela sociedade. A entidade, em quatro anos, conforme investigamos, só fez destinar dinheiro para as empresas do Sr. Ricardo Teixeira, promovendo eventos ou dando empregos para apaniguados da CBF.

De que forma o sindicato e a federação acompanharam o trabalho desse instituto, que me parece ter sido extinto? E qual é a opinião de V.Sa. sobre a ação dos empresários no futebol brasileiro? Como os dirigentes sindicais cuidam disso?

Meu quase vizinho Kajuru — sou de São José do Rio Pardo e V.Sa. é de

Cajuru, a cinqüenta quilômetros de distância —, em primeiro lugar, gostaria de

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Quero dizer também — trata-se agora de depoimento pessoal — que podemos esperar que Ministério Público e Judiciário façam aquilo que, infelizmente, não nos cabe fazer, ou seja, penalizar aqueles que, comprovadamente, tenham cometido crimes e irregularidades contra o esporte brasileiro, contra o futebol especialmente, o que ficou demonstrado em nosso relatório. Todos sabem que ele não foi votado, mas serviu de complemento ao relatório do Senado, especialmente na parte da administração da CBF, literalmente repetida. Quase nada ficou de fora.

Nesse sentido, o Ministério Público pôde obter os elementos necessários para promover ações competentes diante dos indícios de irregularidades apontados pelo relatório da CPI do Senado. O Ministério Público tem agido, independentemente de tudo. A Justiça Federal do Rio de Janeiro já acatou denúncia contra o Sr. Ricardo

Teixeira sobre dois empréstimos dos quais já havia recebido informação do Banco

Central. E o Sr. Ricardo Teixeira já foi ouvido. Fui convidado a depor, no próximo dia

14 de maio, como testemunha de acusação sobre o caso dos empréstimos, ocasião em que poderei acrescentar outras informações.

Estou dando essas informações à Comissão e, especialmente, aos nossos convidados, para mostrar que as coisas não pararam de acontecer. Há muito a se fazer pelo futebol brasileiro para que ocorram as mudanças necessárias, que romperão padrões antigos de comportamento dos dirigentes. Tenho plena convicção de que nós da CPI colaboramos — como disse o Deputado Ronaldo Vasconcellos —

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Muito obrigado, Sr. Presidente.

O SR. DEPUTADO EURICO MIRANDA – Sr. Presidente, peço a palavra pela ordem.

O SR. PRESIDENTE (Deputado José Rocha) – Tem V. Exa. a palavra.

O SR. DEPUTADO EURICO MIRANDA – Sr. Presidente, infelizmente, não pude estar presente ao início desta audiência, por motivo de viagem, mas cheguei a tempo de dizer que elas não servem para promoção pessoal. Acho que o Deputado tem a função específica de exercer seu mandato, sem fazer promoção pessoal em determinados assuntos, principalmente o futebol. A pior coisa que existe é alguém começar a falar de um assunto que desconhece ou que conhece muito pouco.

Futebol, por ouvir falar, é muito diferente do verdadeiro futebol e do verdadeiro esporte. Tanto a CPI da Câmara quanto a do Senado cumpriram seu papel. Aqueles que delas participaram, bem ou mal, não devem utilizar essa prerrogativa para promoção pessoal e com objetivos eleitoreiros.

O SR. DEPUTADO SILVIO TORRES – V.Exa. é tão corajoso! Poderia dar os nomes?

O SR. DEPUTADO EURICO MIRANDA – Vou dar os nomes. Quando cheguei, era V.Exa. que estava falando. Eu não tenho por que deixar de expressar isso. Não podemos ser pautados. A mídia não tem o direito de pautar nem de utilizar este ou aquele Deputado para promover determinada situação.

Parece-me que haveria uma audiência pública para falarmos sobre o novo estatuto do jogador. E o que tem a ver o Ministério Público e o Sr. Ricardo Teixeira

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Por que reavivar sempre essa situação, como se o Ministério Público estivesse atrás deste ou daquele; como se, depois da CPI, o futebol tivesse melhorado em alguma coisa? A CPI não contribuiu em nada para o futebol, absolutamente em nada. Se houve alguma contribuição da CPI, foi o impedimento de novos investimentos no futebol. E quem fala é alguém que está no ramo há mais de trinta anos.

Em bom momento foi criada esta Comissão para discutir o Estatuto do

Desporto, sem a preocupação de saber se o Sr. Ricardo Teixeira é bom ou mau; se ele tem de ser preso ou não. Esse assunto está absolutamente encerrado e não contribui em nada para os debates atuais. O Relator não vai se beneficiar em nada se souber que o Ministério Público está processando o Sr. Ricardo Teixeira, que

Fulano já depôs, que Beltrano já depôs. A contribuição que pode ser dada ao

Relator é a opinião dos diversos segmentos esportivos em relação ao projeto e as sugestões sobre possíveis alterações.

Como não tenho tempo e cheguei depois do encerramento das inscrições, só quis me manifestar em relação ao que ouvi e não posso fazer qualquer tipo de indagação aos palestrantes.

Obrigado, Sr. Presidente.

O SR. DEPUTADO SILVIO TORRES – Sr. Presidente, pela ordem.

O SR. PRESIDENTE (Deputado José Rocha) – Tem V.Exa. a palavra.

O SR. DEPUTADO SILVIO TORRES – Não tenho a menor intenção de polemizar com o Deputado Eurico Miranda, que vem defendendo uma posição há

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Se o Deputado Eurico Miranda tivesse chegado antes, teria percebido que em toda a minha fala e na dos demais havia lógica e coerência: começo, meio e fim.

S.Exa. ouviu apenas a parte em que dava uma informação, sem a menor intenção de me promover, porque quem se promove com o esporte, com o futebol, na verdade, é S.Exa. e não eu. Eu nunca tive essa veleidade.

O SR. DEPUTADO EURICO MIRANDA – Sou réu confesso.

O SR. DEPUTADO SILVIO TORRES – Acho que o futebol, o esporte brasileiro merece, até em virtude do projeto do Estatuto do Desporto, ser discutido em todas as suas nuanças. E, certamente, a administração do futebol brasileiro, seja a CBF, sejam as federações, sejam os clubes, merece também todas as informações necessárias.

Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado José Rocha) – Não havendo mais nenhum

Deputado inscrito, nós agradecemos...

O SR. DEPUTADO SILVIO TORRES – Sr. Presidente, gostaria de lembrar que fiz algumas perguntas ao Sr. Wilson Piazza.

O SR. PRESIDENTE (Deputado José Rocha) – Desculpe, Deputado Silvio

Torres.

Com a palavra o Sr. Wilson Piazza.

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O SR. WILSON DA SILVA PIAZZA – Sr. Deputado Silvio Torres, espero que

V.Exa. tenha a colaboração de todos os Parlamentares e da sociedade desportiva ligada diretamente ao projeto de lei de sua autoria, que ora tramita nesta Casa e ao qual foram apensados outros projetos. Cumprimento ainda o Deputado Eurico

Miranda.

Gostaria de dizer que, com referência aos atletas autônomos, sinceramente, no futebol não conheço. Ainda não tive conhecimento de outra forma de contratação de atletas, a não ser com carteira profissional, mas não acredito que seja por aí, ou seja, o atleta não deve ser caracterizado como profissional do vôlei, do basquete etc.

Penso que precisamos acabar com isso. Não sei se essa é a idéia. Tenho de me informar mais a respeito.

Com referência aos empresários, penso que seja normal, natural, assim como existe o corretor de imóveis e o representante comercial. Agora, tudo depende da forma como as coisas acontecem, depende de sabermos quem é quem no processo.

O futebol brasileiro, infelizmente, pelo que observamos, tem quantidade enorme — sem nenhum tipo de compromisso, de regulamentação — de empresários, principalmente de atletas profissionais do futebol, que os levam, quase sempre, a tristes resultados. Quem desarruma a vida da maioria dos atletas do

Brasil? Não são as mulheres, como se comenta, mas os falsos amigos e, principalmente, os chamados empresários

É preciso regulamentação, principalmente para definir quem é quem no processo. Assim, poderemos ter, de um lado, o empresário cumprindo o seu papel, e, de outro, o atleta tendo segurança e condições para dar seqüência à sua atividade.

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Quanto ao Instituto de Assistência ao Futebol Brasileiro, confesso que me surpreendi com o que foi dito. Os atletas e Zico foram convidados

— não sei exatamente em que ano, mas parece-me que a partir de 1997 — a fazer parte desse instituto, que tem proposta social realmente importante. Não me furto à confissão de que, quase simbolicamente, sou o Diretor Patrimonial do instituto. Na verdade não exerço esse papel. Talvez até possa estar sendo instrumento de uma proposta de trabalho diferente da que me foi apresentada. Se isso realmente for constatado por mim, imediatamente vou sair do instituto.

Ele foi criado para que a CBF pudesse se aproximar do futebol do interior, principalmente, por intermédio dos Municípios, fazendo convênios para possibilitar o acesso das crianças ao esporte, alternativa de socialização que tentaria evitar o tráfico e o uso de drogas. Foi essa a proposta.

Portanto, surpreendo-me com o que foi dito aqui. Sinceramente, sem querer duvidar de V.Exa., espero que não seja verdade. Ficaria muito magoado, chateado mesmo e, evidentemente, não me caberia outra atitude a não ser renunciar ao cargo que ocupo, mesmo que de forma simbólica, no instituto

Se aparecer oportunidade, quero contribuir, principalmente com o futebol, mas às vezes podemos entrar em uma canoa furada.

O SR. PRESIDENTE (Deputado José Rocha) – Muito bem.

O SR. DEPUTADO EURICO MIRANDA – Sr. Presidente, só queria dizer ao

Sr. Wilson Piazza que me disponho a fornecer as informações que obtivermos sobre esse assunto.

O SR. WILSON DA SILVA PIAZZA – Agradeço a V.Exa., Sr. Deputado.

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O SR. PRESIDENTE (Deputado José Rocha) – Alguém mais deseja usar da palavra para comentar a fala do Deputado Silvio Torres?

O SR. JOSÉ DA CRUZ E SOUZA – Tenho uma informação a dar, referente ao atleta autônomo. No triatlo e no tênis isso já vem acontecendo de forma muito intensiva.

(Não identificado) – No golfe também.

O SR. DEPUTADO RONALDO VASCONCELLOS – Intensiva e positiva?

O SR. JOSÉ DA CRUZ E SOUZA – Positiva, com contratos particulares e cada um recolhendo seus impostos. Muitas vezes isso é feito em parceria com os técnicos.

O SR. PRESIDENTE (Deputado José Rocha) – Com a palavra o Sr. Jorge

Kajuru.

O SR. JORGE KAJURU – Deputado, apenas gostaria de agradecer a oportunidade e externar meu respeito pela Casa, por propiciar debate tão oportuno, para o qual me preparei. Fiz observações sobre trinta artigos do projeto de lei, que passo às suas mãos.

Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado José Rocha) – Com a palavra o Sr. Wilson

Piazza.

O SR. WILSON DA SILVA PIAZZA – Gostaria de acrescentar, Deputado

Silvio Torres, que não tenho nada contra os sindicatos. Gostaria de ver todos funcionando muito bem. Só que, sem querer condenar — não estou aqui para isso

—, faço parte do sistema de assistência, que há muito tempo foi dirigido pelo

67 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Nome: Comissão Especial - PL 4874/01 - Estatuto do Desporto Comissão Esp. - PL 4874/01 - Estatuto do Desporto Número: 0129/02 Data: 19/03/02

Governo e hoje está sendo administrado pela federação, entretanto, sem nenhuma ligação ao sindicato.

O SR. PRESIDENTE (Deputado José Rocha) – A Ordem do Dia já começou no plenário, e temos de encerrar a reunião. Antes disso, concedo a palavra ao

Deputado Eurico Miranda, pela ordem.

O SR. DEPUTADO EURICO MIRANDA – Sr. Presidente, o Sr. Wilson Piazza há muitos anos lida com a assistência ao jogador profissional. É feito um desconto na arrecadação do futebol. A lei não é aplicada; ou é mal aplicada. Seria importante que V.Sa. nos mandasse informações sobre o que está acontecendo nesse setor.

Quero deixar registrado, em relação ao Instituto de Assistência ao Futebol

Brasileiro que faz parte da CBF, que tem sido feito um trabalho em diversos

Municípios. No Rio de Janeiro, Roberto Dinamite integra o instituto.

Seria fundamental para nós, principalmente para o Relator, a fim de aperfeiçoar essa parte da assistência ao jogador, que o Sr. Wilson Piazza nos desse a sua colaboração.

O SR. PRESIDENTE (Deputado José Rocha) – Não havendo mais nenhum

Deputado inscrito, resta-me agradecer aos convidados, Srs. Jorge Kajuru, José da

Cruz e Souza e Wilson Piazza, por atenderem ao convite e participarem desta reunião, o que, sem dúvida alguma, foi muito importante para os nossos trabalhos.

Peço permissão aos Srs. Deputados para avançar até o Item 2 da pauta.

Requerimento nº 76/02, de autoria do Deputado Jurandil Juarez, que propõe seja convidado o ex-jogador de futebol e comentarista esportivo Paulo Roberto

Falcão para participar de audiência pública, a fim de debater a matéria objeto de apreciação por esta Comissão.

68 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Nome: Comissão Especial - PL 4874/01 - Estatuto do Desporto Comissão Esp. - PL 4874/01 - Estatuto do Desporto Número: 0129/02 Data: 19/03/02

Em votação.

Os Deputados que o aprovam permaneçam como se acham. (Pausa.)

Aprovado o Requerimento nº 76/02.

Nada mais havendo a tratar, encerro os trabalhos, informando que o

Presidente titular, Deputado Jurandil Juarez, convocará oportunamente a próxima reunião desta Comissão.

Está encerrada a presente reunião.

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