Quem Ri Por Último, Ri Melhor: Humor Gráfico Feminista (Cone Sul, 1975-1988)
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Cintia Lima Crescêncio QUEM RI POR ÚLTIMO, RI MELHOR: HUMOR GRÁFICO FEMINISTA (CONE SUL, 1975-1988) Tese submetida ao Programa de Pós-Graduação em História (PPGHST) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) para a obtenção do Grau de Doutora em História. Orientadora: Prof.ª Dr.ª Cristina Scheibe Wolff. Florianópolis 2016 AGRADECIMENTOS A pesquisa histórica, embora um trabalho solitário, é também coletivo. Por isso, nada mais justo que pessoas queridas e importantes sejam lembradas. À professora Cristina Scheibe Wolff agradeço a confiança e generosidade. Serei eternamente grata por todas as reuniões de orientação em que fui tratada com respeito, carinho e incentivo. Às professoras Joana Maria Pedro, Ana Maria Veiga, Janine Gomes da Silva, Luciana Klanovicz e Erica Brasil por terem aceitado o convite para participar da minha banca. Agradeço ainda a professora Maria Lygia Quartim de Moraes pelas contribuições durante meu exame de qualificação. Relembro ainda o professor Mark Sabine que me orientou durante meu estágio em Nottingham, experiência que contribuiu de maneira definitiva para a construção desta tese. A todos e todas colegas e docentes da pós-graduação, em particular Lorena Zomer, minha companheira de caminhada. Agradeço ainda às maravilhosas componentes do Laboratório de Estudos de Gênero e História (LEGH). O LEGH é repleto de sorrisos doces e sinceros, muitas vezes a única coisa que precisamos para seguir. Às pessoas maravilhosas que tive a oportunidade de conhecer na ilha: Rochelle Cristina dos Santos, Betty Kammers, Gleidiane de Sousa Ferreira, Tamy Amorim da Silva, Elias Ferreira Veras, Misael Correa, Ronaldo Vicente Guimarães, Gabriela Hessman, Soraia Carolina de Mello, Marcos Luã, Elton Francisco. Agradeço o carinho, todas as aventuras e cada conversa de bar. Agradeço especialmente Dona Ieda e seu Nabor que em muitos momentos me receberam no Campeche e fizeram com que eu me sentisse em casa. À Gizele Zanotto, minha eterna professora e amiga. Agradeço ainda à Elizandra Mafra, talvez a pessoa com quem mais conversei nos últimos meses de construção deste trabalho. Sou grata, Eliz, pelas duas horas semanais que dediquei a inspirar e expirar sob tua atenta e afetuosa observação. Um agradecimento especial também à Heloisa Pereira D‘Angelo, a jornalista/quadrinista/cartunista que produziu algumas das tirinhas que compõem minha tese. À(o)s colegas da Universidade de Nottingham que me acolheram, me apresentaram as maravilhas da comida turca/libanesa/britânica, as cores do outono, o fish and chips, os formal dinners e o melhor cheesecake do mundo. Miriam Grossi, Alberto Marti, Rubem Serem, Rui Miranda, Alexandra Campos, Rino Soares e Manu, obrigada por terem transformado uma experiência acadêmica em afeto. Ao Ricardo Rubem Rato Rodrigues, o portuga, agradeço o amor e a infinita bondade. Agradecimento especial à Jane-Marie Collins que compartilhou comigo sua sala de aula. À Erica Brasil que me acolheu em sua casa, em seu escritório, em sua sala de aula, em sua família. Foram infinitas as conversas, risadas e tristezas compartilhadas. Foram infinitos os abraços e beijos recebidos de sua filha, Gabi, uma pequena gigante capaz de conquistar qualquer coração. Erica e Gabi, obrigada pelo amor, um amor que só encontrei na 19, Bramwell Drive. Agradeço à minha família, especialmente às mulheres, àquelas que me ensinaram o valor da autonomia e da independência. Minha irmã Kendra comemorou como se fossem dela todas minhas conquistas, prova irrefutável de seu afeto genuíno. À minha vó Vilma que há mais de 10 anos informa as amigas do crochê que não sou boba, não vou casar, vou estudar e dominar o mundo. Obrigada por me aceitarem como sou e por acreditarem em mim. Aos homens da minha vida, Francisco e Breno, agradeço a chance de aprender a amar. Minha mãe Denise é responsável por cada linha deste trabalho. Sua força e coragem é que me permitiram trilhar meu caminho. Sem ela nada disso teria sido possível. Ao CNPq e à Capes pelas bolsas de estudo que tornaram minha pesquisa viável. [...] ditadores temem mais o riso do que as bombas [...] Arthur Koestler RESUMO O presente trabalho tem como objetivo analisar o uso do humor gráfico feminista produzido, publicado e divulgado em periódicos também feministas dos países do Cone Sul, especialmente, Brasil, Bolívia, Uruguai e Argentina, como ferramenta subversora entre os anos 1975 e 1988, momento de ditaduras civis e militares e de emergência dos movimentos feministas. A partir de charges e tirinhas – entendidas como discursos – que integram os jornais Brasil Mulher, Nós Mulheres e Mulherio, do Brasil; Persona, da Argentina; Cotidiano Mujer e La Cacerola, do Uruguai; La Escoba, da Bolívia; e de depoimentos de três mulheres leitoras destes jornais, procuro compreender de que modo o humor com perspectiva feminista foi explorado. Para isso, ao longo do trabalho, procuro identificar, através da descrição e análise do humor gráfico feminista, indícios que demonstrem a potencialidade das mulheres feministas na produção do humor e do riso. O humor gráfico feminista e, consequentemente, o riso feminista, caracteriza-se por uma abordagem particular no tratamento de elementos culturais, sociais, políticos e econômicos, evitando, assim, a perpetuação de estereótipos comuns ao humor hegemônico. Tal modalidade de humor, contudo, na medida em que não faz uso da violência simbólica e da ridicularização do outro, estabelece uma relação complexa com a memória, o que fica evidenciado por depoimentos que apontam lembranças muito sutis sobre esta vasta produção. Ao mesmo tempo, o humor hegemônico, pautado na agressividade do riso do opressor, deixou marcas nas memórias feministas. Com tais reflexões pretendo problematizar a produção gráfica humorística feminista de autoria de mulheres – mas também de homens –, conteúdos que apontam um esforço feminista de afirmar as mulheres como sujeitos do humor. Por meio de tais reflexões foi possível reconhecer que, ao contrário do que os cânones indicam, as mulheres são responsáveis pela criação de extenso conteúdo humorístico com perspectiva feminista. Em contextos autoritários, a imprensa feminista, através da produção, publicação e divulgação do humor gráfico com teor feminista, contribuiu para a construção de uma cultura do humor e do riso baseada em modelos alternativos de comicidade. As feministas do Cone Sul, entre as décadas de 1970 e 1980, exploraram charges e tirinhas de modo a questionar uma cultura que as colocava como objeto de humor, nunca como seu sujeito. Contrariando visões que ignoram a existência de mulheres, principalmente as feministas, como produtoras de humor, este trabalho demonstra não apenas a habilidade feminista em fazer rir, como também sua capacidade em construir uma modalidade de humor que pode revolucionar estruturas. Palavras-Chave: Humor gráfico feminista. Cone Sul. Sujeitos do humor. Memórias. Modelos alternativos de comicidade. ABSTRACT This study aims to analyse the use of feminist graphic humour produced, published and released in feminist newspapers in the Southern Cone countries, mainly, Brazil, Bolivia, Uruguay and Argentina, as a subversive device between 1974 and 1988, during civil and military dictatorships and the emergence of the feminist movement. Through cartoons and comic strips – understood as discourses – integrated in the newspapers Brasil Mulher, Nós Mulheres and Mulherio, from Brazil; Persona, from Argentina; Cotidiano Mujer and La Cacerola, from Uruguay; La Escoba, from Bolivia; and through three testimonies of women readersof these same newspapers, I seek to understand how humour, with a feminist perspective, was explored. For that, throughout the study, I identify, describing and analysingfeminist graphic humour, evidence that show women‘s potential in the production of humour and laughter. Feminist graphic humour and, accordingly, feminist laughter, features a special approach in terms of understanding cultural, social, political and economic elements, avoiding, therefore, the perpetuation of stereotypes that are common in hegemonic humour. This sort ofhumour, however, doe snot explore symbolic violence and is not used to mock others, while setting a complex relationship with memory, as can be noted in the testimonies noting subtle remembrances about this extensive production. At the same time, hegemonic humour, based on the aggressive laughter of the persecutor, left scars in feminist memories. From these reflections I intend to recount feminist graphic humour production authored by women – but also men –, containing elements that suggest a feminist effort of claiming women as a subject of humour. By means of these reflections it was possible to recognise that women are responsible for the creation of a large humour content with feminist perspective, although the canon insists in ignoring them. In authoritarian contexts, the feminist press, through its production, publication and disclosure of feminist graphic humour, contributed to making a culture of humour and laugh based on alternative comic patterns. The feminists from the Southern Cone, between the decades of 1970 and 1980, explored cartoons and comic strips as a way to interrogate a culture that placed them as objects of humour, never as the subjects. Contrary to points of view that ignore women‘s existence, especially feminists, as humour producers, this study argues that the feminists did not just have a skill for creating laughter, but also the ability to create a type of humour that can revolutionise structures. Keywords: Feminist graphic humour.